2016 Obra Completa de Ricardo Reis
2016 Obra Completa de Ricardo Reis
2016 Obra Completa de Ricardo Reis
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"Obra Completa de Ricardo Reis" fecha a trilogia das obras completas dos três principais heterónimos pessoanos, editada
pela Tinta-da-China. O volume reúne pela primeira vez toda a prosa e poesia.
"Obra Completa de Ricardo Reis" já se encontra disponível para venda nas livrarias
Autor
Rita Cipriano ritapcipriano Email
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A história é conhecida: em junho de 1914, três meses depois do surgimento de Alberto Caeiro, Fernando Pessoa fez
nascer um outro poeta, de “índole pagã”, a que chamou Ricardo Reis. Ao contrário do seu Mestre Caeiro, Reis continuou
a existir quase até à morte de Pessoa, a 30 de novembro de 1935. O seu último poema, “Vivem em nós inúmeros”, é de
dia 13 desse mês.
Como em Pessoa, em Reis também viveram “inúmeros”. Primeiro foi lisboeta, depois portuense. Neoclássico quase desde
a nascença, opôs-se ao Integralismo Lusitano, à República e exilou-se no Brasil. Depois de conhecer Alberto Caeiro —
com quem planeou “iniciar uma renascença neoclássica na Europa”–, dedicou-se a prefaciar a sua obra. Defensor da
obra perfeita de John Milton, escreveu odes ao jeito de Horácio e prosa sobre sexualidade, ciência e
religião. Foi um autor de múltiplas facetas que surgem, pela primeira vez, reunidas num só volume.
Obra Completa de Ricardo Reis, o mais recente livro da Coleção Pessoa da Tinta-da-China, dirigida por Jerónimo
Pizarro, é a primeira edição portuguesa a reunir cronologicamente toda a prosa e poesia de Reis, completando assim a
trilogia das obras integrais dos três principais heterónimos pessoanos — Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo
Reis. (Pela Tinta-da-China, encontra-se ainda editado o Livro do Desassossego, do semi-heterónimo Bernardo Soares).
A edição é de Jerónimo Pizarro, responsável pela Coleção Pessoa da Tinta-da-China, e de Jorge Urbe
O heterónimo é referido pela primeira vez num texto de 29 de janeiro de 1914, intitulado “Vida e Obra”, vários meses
antes de o primeiro poema de Reis ter surgido. Aí, Pessoa explica que a ideia para um teórico neoclássico terá surgido
depois de ter ouvido “uma discussão sobre os excessos, especialmente de realização, da arte moderna”. “Então achou
interessante desenvolver uma teoria neoclássica ‘segundo princípios’ que não adotava nem aceitava”, explicou Pizarro.
Esse texto, juntamente com o primeiro poema e a famosa carta sobre a génese dos heterónimos enviada a Adolfo Casais
Monteiro a 13 de janeiro de 1935, dão a entender que Pessoa “imaginou mais de uma data de nascimento para Reis”.
“Reis foi primeiro um processo e depois, em 1914, um acontecimento”, salientou o investigador ao Observador.
“
Quando é que surgiu plenamente? Talvez no seu próprio mês triunfal de julho. Porém, isso significa que Pessoa
inventou uma história no ‘Vida e Obra’, o que é muito provável.”
Ou seja: como Alberto Caeiro e outros heterónimos, Reis também foi sendo construído. “Em volumes anteriores, insisti
muito (até porque a organização de cada livro é cronológica) num ponto muito simples: Caeiro, Campos e Reis foram-se
transformando com o tempo”, frisou Pizarro, não só literariamente, mas também biograficamente.
“Campos e Reis eram inicialmente lisboetas. Mais tarde, o primeiro tornou-se tavirense e o segundo portuense. Quer as
datas — necessárias para os horóscopos — quer as características — necessárias para a nossa imaginação — não foram
imediatas e, até certo ponto, Pessoa não acabou de moldar nenhum deles”, explicou o pessoano.
Manuscrito da ode “Sê lanterna, sê luz com vidro em torno”, datado de 3 de março de 1929
“Quando escreveu a Casais Monteiro sobre Caeiro, Campos e Reis em 1935, ainda estava a inventá-los. Se Pessoa tivesse
publicado as obras heterónimas e escrito mais sobre Caeiro, Campos e Reis, talvez tivesse acrescentado dados aos que
hoje conhecemos. Reis passou a ser monárquico apenas em 1919 porque, apesar de ele brincar com a ideia simbolista de
exílio, a História (neste caso, o fracasso da instauração da monarquia no norte do país) tê-lo-á marcado e perturbado.”
O curioso é que, apesar de Reis ser hoje considerado um dos principais heterónimos pessoanos, não começou por sê-lo.
De acordo com Jerónimo Pizarro, só a “pouco e pouco” é que “foi integrando o conjunto que, em 1928,
Pessoa denominou de ‘drama em gente’ e dialogando mais e mais com os outros heterónimos, Caeiro e
Campos”.
“ Por exemplo, em abril de 1928, Reis faz troça de Campos por ter publicado, em janeiro desse ano, um poema com
um verso ‘Fui, como ervas, mas não me arrancaram’, porque esse verso, segundo Reis, leva a crer que Campos ‘é
herbívoro’….”
Outras novidades de Obra Completa de Ricardo Reis prendem-se, como explicou Jerónimo Pizarro, com “a ortografia
ricardiana, a cronologia dos textos, a inclusão de inéditos, as novas propostas de alguns versos e de algumas passagens
da prosa”. As odes e o prefácio aos poemas de Alberto Caeiro também foram reorganizados, fechando um ciclo de
publicação das obras completas dos três principais heterónimos de Fernando Pessoa.
“Este volume dialoga com os anteriores: a obra de Alberto Caeiro, mestre de Ricardo Reis, e a obra de Álvaro de Campos,
antagonista estético de Reis. Completa-se, assim, uma trilogia que dá a ler pela primeira vez em Portugal as obras
integrais de Caeiro, Campos e Reis”, salientou Pizarro. “Projetando uma publicação ‘sob vários nomes’ de ‘várias obras
de várias espécies’, em 1915, Fernando Pessoa já tinha manifestado este desígnio ao dizer ‘Serei eu próprio toda uma
literatura’ e ao deixar num plano de livros a publicar este apontamento: ‘Toda uma Literatura — (Alb.
Caeiro — R. Reis — Alv.
de Campos)’. Cumpre-se assim o seu desejo.”
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