Dilemas Éticos
Dilemas Éticos
Dilemas Éticos
RESUMO
¹Graduanda de Enfermagem pela Universidade Estadual de Feira de Santana. Membro do Núcleo Interdisciplinar
de Pesquisas e Estudos em Saúde – NIPES - UEFS. Bolsista PROBIC do Projeto de Pesquisa
“Vivencias de conflitos e dilemas éticos na percepção da equipe enfermagem no centro cirúrgico.
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Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual de Feira
de Santana. Membro do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Estudos em Saúde – NIPES - UEFS.
Coordenadora do Projeto de Pesquisa “Vivencias de conflitos e dilemas éticos na percepção da equipe
enfermagem no centro cirúrgico”.
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Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual de Feira
de Santana. Membro do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Estudos em Saúde – NIPES - UEFS.
Vice-Coordenadora do Projeto de Pesquisa “Vivencias de conflitos e dilemas éticos na percepção da equipe
enfermagem no centro cirúrgico”.
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Médico. Atua no Hospital D. Pedro de Alcântara e Programa Saúde da Família. Feira de Santana-Ba.
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Graduanda de Enfermagem pela Universidade Estadual de Feira de Santana. Membro do Núcleo
Interdisciplinar de Pesquisas e Estudos em Saúde – NIPES - UEFS. Bolsista PROBIC do Projeto de Pesquisa
“Vivencias de conflitos e dilemas éticos na percepção da equipe enfermagem no centro cirúrgico
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Graduanda de Enfermagem da Universidade Estadual de Feira de Santana. Bolsista de Iniciação Científica pela
FAPESB. Membro do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Estudos em Saúde (NIPES). Bolsista projeto de
pesquisa "Vivências de conflitos e dilemas éticos na percepção da equipe de enfermagem no centro cirúrgico".
Voluntária do Projeto de Extensão "Produção do cuidado para promoção do conforto de famílias no Hospital
Geral Clériston Andrade". Membro do Diretório Acadêmico de Enfermagem Fátima Telles- Gestão Coletividade
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Graduanda de Enfermagem pela Universidade Estadual de Feira de Santana. Membro do Núcleo
Interdisciplinar de Pesquisas e Estudos em Saúde – NIPES - UEFS. Bolsista PROBIC do Projeto de Pesquisa
“Vivencias de conflitos e dilemas éticos na percepção da equipe enfermagem no centro cirúrgico
INTRODUÇÃO
A saúde no Brasil tem passado por problemas econômicos e estruturais, como a falta
de recursos e despreparo de profissionais da equipe multiprofissional, bem como os baixos
salários. Essas situações podem interferir diretamente na qualidade da assistência prestada por
esses profissionais, principalmente em relação ao centro cirúrgico (CC), em que os problemas
estruturais podem ocasionar dilemas éticos, em especial para os enfermeiros, que atuam nesse
setor.
Para Fernandes e outros (2013), o CC é considerado um dos ambientes mais
complexos da unidade hospitalar, por sofrer transformações no que diz respeito as tecnologias
e evolução das técnicas cirúrgicas, envolvendo um alto custo, por depender de normas
técnicas que devem ser respeitadas e desenvolvidas.
No que concerne aos dilemas éticos, para Oliveira e Santa Rosa (2015) surgem quando
há necessidade de fazer uma escolha diante de mais de uma alternativa, onde ambas parecem
ser indesejadas.
Os dilemas éticos podem ser vivenciados pelos profissionais da equipe cirúrgica que
atuam no cuidado a pessoa no perioperatório, em especial o enfermeiro, pois realiza funções
administrativas e assistências no seu cotidiano. Para Fernandes e outros (2013), a equipe
cirúrgica é composta pela equipe de enfermagem, anestesistas, cirurgiões e instrumentador
cirúrgico, que atuam no CC.
Essa diversidade de profissionais por vezes pode vivenciar discordâncias de opiniões e
atitudes, o que possibilita emergir dilemas éticos na prática do enfermeiro, já que é o
profissional responsável por gerenciar o cuidado de enfermagem no perioperatório.
O perioperatório é entendido por Lima (2014) como o período em que a pessoa doente
estar sob os cuidados dos profissionais que atuam no CC, esse tempo envolve as etapas do
pré, intra e pós-operatório, sendo o tempo de duração dependente de fatores como a patologia
e a gravidade da cirurgia que será realizada.
Percebe-se que a cada dia os enfermeiros procuram capacita-se e refletir sobre a sua
práxis, a fim de promover o cuidado com qualidade e ética e prevenir dilemas que surgem no
CC, frente às iatrogenias.
O CC é um ambiente onde o risco iminente de morte está presente, em todo o
momento a pessoa que se encontra no perioperatório, tal situação gera estresse entre os
profissionais da equipe de enfermagem que atuam nessa unidade, e podem contribuir para o
situações que desencadeiam negligência, imperícia e imprudência.
Coutinho (2012) define negligência como a falta de ação, quando o profissional tem o
dever prestar assistência a pessoa doente, e não a faz, acarretando em um ato danoso;
imprudência consiste na assistência sem a cautela necessária; e a imperícia consiste na falta
de conhecimentos técnico e científico, necessário para desenvolver determinada assistência.
Importante que os profissionais que atuam no CC, em especial o enfermeiro, atuem em
equipe, no sentido de reduzir o número de situações não éticas, além disso, o trabalho em
equipe pode fazer com que as atribuições gerenciais do enfermeiro sejam facilitadas, já que a
sobrecarga de trabalho também pode ser um fator de ocorrências de iatrogenias.
O CC considerado por Fernandes e outros (2013) como uma unidade especial, com
áreas especificas e profissionais com competência para realizar procedimentos anestésicos e
cirúrgicos, eletivos, de urgência e emergência, que possa proporcionar atendimento
qualificado aos pacientes, com minimização dos riscos inerentes aos mesmos, os enfermeiros
devem prevenir situações que desencadeiem as iatrogenias.
Andrade e outros (2013, p. 99) entendem que “as práticas de enfermagem vão além de
cuidar e propiciar conforto aos pacientes e familiares, o enfermeiro deve ampliar este papel de
modo a enfatizar a promoção da saúde e prevenção de doenças, educar, gerenciar e
pesquisar”.
Os enfermeiros que atuam no CC são responsáveis pelo gerenciamento das atividades
exercidas pela enfermagem, como exemplo, o escalonamento de profissionais da equipe de
enfermagem, além disso, é o enfermeiro que deve elaborar os mapas das cirurgias que irão
acontecer.
Estas situações são potenciais geradores de dilemas éticos, principalmente quando o
hospital tem uma demanda de cirurgias de emergência, além da sua capacidade física e
estrutural. Para Oliveira e Santa Rosa, (2015, p. 1160), “no planejamento e organização do
CC, é de a responsabilidade dos enfermeiros proverem a unidade com os materiais
necessários para o cuidado perioperatório”.
Para Cunha e Lima (2013), as tarefas no CC são complexas e executadas na maioria
das vezes sobre pressão, o que torna o ambiente estressante. Portanto, os enfermeiros devem
comunicar-se com a equipe cirúrgica de forma harmoniosa e ter atenção redobrada nos
processos que envolvem a pessoa no perioperatório. Nesse sentido, Oliveira e Santa Rosa,
(2015) salienta que no CC, a comunicação do enfermeiro é salutar nas relações que requerem
atitude para liderar e gerenciar a equipe.
Assim, por ser um ambiente estressante, no CC existe a possibilidade de emergirem
iatrogenias, que na maioria das vezes, são decorrentes de situações que estão relacionadas à
imprudência, imperícia e negligência. Entende-se que o enfermeiro ao assumir o
gerenciamento do CC, tem responsabilidade na prevenção desses eventos, a partir do
momento em que suas ações devem ser realizadas observando os princípios éticos e morais.
O Manual de Práticas Recomendadas pela Associação de Enfermeiros de Centro
Cirúrgico, Recuperação Anestésica e Central de Material e Esterilização (SOBECC, 2012),
subdivide as atribuições do enfermeiro de CC em: atribuições relacionadas ao funcionamento
da unidade, atribuições técnico administrativas, atividades assistenciais e atividades de
administração de pessoal. Martins (2013, p. 17) afirma que “no centro cirúrgico a prática de
enfermagem busca proporcionar condições para a realização dos procedimentos anestésico-
cirúrgicos com qualidade e segurança para o usuário e para os profissionais que exercem suas
atividades nesse campo”.
A assistência a pessoa no perioperatório, muitas vezes se torna prejudicada, visto que
há uma grande rotatividade, principalmente em hospitais de grande porte que as cirurgias em
geral são emergenciais, tal fato pode fazer com a segurança dessas pessoas fiquem
prejudicadas, já que na maioria das vezes o número de profissionais é inferior à demanda.
Marinho (2012) destaca que frequentemente, o cuidado é realizado em um ambiente
pressionado por resultados e onde tudo acontece de forma dinâmica, envolvendo um grande
aparato de tecnologia e muitas decisões e julgamentos individuais pelos profissionais de
saúde. Então, acredita-se que nessas circunstâncias, as situações não éticas podem acontecer.
Percebe-se que a organização das demandas de cirurgias é de responsabilidade do
enfermeiro, que além de designar qual deve ser priorizada desenvolve outras atividades de sua
competência, a fim de que não fiquem demandas acumuladas.
Porto e Regis (2011, p. 335) apresentam que “alguns pacientes têm recebido uma
assistência de enfermagem mecanizada e sem o alcance de todas as suas necessidades. Essa
situação contribui para um contexto de insatisfações, o que leva a uma desvalorização do
cuidado”.
Para Barros e outros (2012) a implantação da Sistematização da Assistência de
Enfermagem (SAE) proporciona a adesão de etapas fundamentais para o processo de
enfermagem, sendo eles o histórico de enfermagem, diagnóstico, planejamento,
implementação e avaliação de enfermagem o que dará embasamento para as condutas
praticadas pela equipe.
Acredita-se que essa ferramenta pode ajudar a minimizar atos iatrogênicos
vivenciados pelo enfermeiro do CC, à medida que permite um planejamento prévio da
assistência, ou em parte dela, já que nesse contexto as demandas ocorrem constantemente de
maneira inesperada.
De acordo com Alves e Maia (2011) a ocorrência de qualquer situação que leve a
iatrogenia passa a ser não só indesejável, como prejudicial, fazendo surgir à demanda de uma
assistência de qualidade.
As situações que desencadeiam as iatrogenias podem trazer prejuízos, para a pessoa
que se encontra no CC e que irá submeter-se ao procedimento cirúrgico, enfermeiros e demais
profissionais da equipe cirúrgica, pois poderão sofrer dilemas éticos das situações vividas.
A motivação para realização desse estudo emergiu pela minha participação no Núcleo
Interdisciplinar de Pesquisas e Estudos em Saúde, da Universidade Estadual de Feira de
Santana, e ter realizado com bolsista pesquisa intitulada “DILEMAS ÉTICOS
VIVENCIADOS PELA EQUIPE CIRÚRGICA FRENTE A IATROGENIAS NO CENTRO
CIRÚRGICO”. A partir dessas vivências surgiu o meu interesse em aprofundar o
conhecimento sobre as iatrogenias vivenciadas pelos enfermeiros no centro cirúrgico, e
compreender os dilemas éticos frente as iatrogenias.
Diante do exposto emergiu a seguinte questão de investigação: Como os enfermeiros
vivenciam os dilemas éticos frente às iatrogenias no CC?
O estudo tem como objeto dilemas éticos vivenciados pelo enfermeiro no centro
cirúrgico frente às iatrogenias e os objetivos compreender os dilemas éticos vivenciados pelo
enfermeiro no centro cirúrgico frente às iatrogenias e descrever os dilemas éticos vividos pelo
enfermeiro no centro cirúrgico frente às iatrogenias.
A relevância social deste estudo consiste na importância dessa temática para os
profissionais de saúde, em especial, os enfermeiros que atuam no CC, que vivenciam dilemas
éticos frente às iatrogenias, bem como proporcionar a compreensão dessa temática a fim
prevenir os dilemas éticos na prática frente as iatrogenias.
METODOLOGIA
ANÁLISE E DISCUSSÃO
ANÁLISE IDEOGRÁFICA
Iatrogenias são erros que acontecem dentro setor e que muitas vezes a
gente consegue reverter. (Enf. 4)
Para Enf. 4 a iatrogenia é compreendida como erro que ocorrem na unidade e as vezes
não existe a possibilidade de reverter.
Sobrecarga de trabalho
Os relatos de Enf.2 e Enf.3 desvelam que as iatrogenias que ocorrem no CC, em sua maioria,
estão relacionados à sobrecarga de trabalho do enfermeiro, já que eles necessitam ter mais de um
vínculo empregatício para suprir suas demandas pessoais. O duplo vínculo, ou mais, pode corroborar
para um aumento do cansaço físico e mental e consequentemente diminui o desempenho desses
profissionais em ambos locais de trabalho.
ANÁLISE NOMOTÉTICA
Após a análise ideográfica iniciou-se a análise nomotética, que para Martins e Bicudo
(2005), é o momento em que o pesquisador irá remeter as ideias do individual para o geral,
possibilitando uma análise mais aprofundada das divergências e convergências identificadas
durante o primeiro momento da análise.
Essas complicações podem causar danos ao paciente, mas também aos enfermeiros,
visto que a ocorrência de iatrogenias gera dilemas éticos, já que esses profissionais têm que
tomar decisões que nem sempre são fáceis.
Os autores Silva e outros (2015) apontam que as necessidades pessoais do trabalhador
de enfermagem e sua ansiedade em relação às circunstâncias com as quais se defronta,
geralmente prejudicam o tipo de atendimento que ele gostaria de oferecer, podendo ocorrer
sofrimento profissional.
Percebe-se por tanto, que o sofrimento moral que acomete o enfermeiro, pode
comprometer a qualidade da assistência prestada por ela, podendo propiciar a ocorrência de
outras situações não éticas, já que o trabalho dessa profissional exige além de conhecimentos
técnicos científicos, atenção em relação aos cuidados prestados a pessoa no perioperatório.
Já o pensamento do Enf. 6 diverge com outros enfermeiros, visto que a as iatrogenias
segundo ele ocorrem quando o profissional excede suas responsabilidades, ou quando não tem
conhecimento específico para realizar determinadas ações de sua competência e mesmo assim
a executa. De acordo com Schneider e Ramos (2012) faz-se necessário que o enfermeiro
conheça o seu código de ética e a legislação relativa à sua profissão, do contrário ele poderá
cometer erros, ao realizar ações que não são de sua responsabilidade.
Os Enf.1 e Enf. 4 desvelam que a iatrogenia está relacionada a erros que os
profissionais da equipe cirúrgica comentem, os quais na maioria das vezes não podem ser
revertidos. Esses erros para os Enf. 2 e Enf. 5 são decorrentes de falhas no processo de
trabalho dos profissionais. Percebemos que existe a convergências nos depoimentos dos
enfermeiros 1, 4, 2 e 5 no que concerne à compreensão da iatrogenia.
Entendemos que os enfermeiros precisam ter conhecimento das suas competências, já
que a imperícia é uma das causas da iatrogenia, isto é, o profissional realiza ações sem ter
conhecimento para tal. Dessa forma, torna-se importante que os enfermeiros que atuam no
centro cirúrgico tenham conhecimento de suas atribuições, tal fato garante uma assistência de
qualidade prestada a pessoa no perioperatório e contribui para diminuição da ocorrência de
ações iatrogênicas.
Como a iatrogenia está relacionado à falta de atenção no cumprimento do processo de
trabalho do enfermeiro no perioperatório, o que está relacionada à imprudência, essa falha
pode ser caracterizada também pela imperícia, quando os profissionais da equipe de CC não
têm habilidades para realizar determinado procedimento, e mesmo assim o faz, ou negligência
quando esses profissionais não realizam suas funções.
Importante salientar que, as falhas relacionadas aos processos de trabalho do
enfermeiro, não estão ligadas exclusivamente a competência do profissional, mas também a
falta de infraestrutura do hospital, assim como falta de recursos materiais e humanos e
número de salas operação menor que a demanda dos pacientes.
Isto é, excede ao que é preconizado, tal fato tem como causa a falta de investimentos
no setor da saúde, que obriga esse funcionário a trabalhar com um número grande de
pacientes, reduzindo assim a qualidade da assistência. Outra condição para desencadear a
iatrogenia é a levando ao profissional ter mais de um vínculo empregatício.
O documento de referência para o Programa de Segurança do Paciente (2014, p.25)
observa que:
A pressão para que o profissional da Saúde produza mais em empresas
privadas, em tempo mais curto, para reduzir custos, e as superlotações de
serviços de emergência do SUS são exemplos bastante corriqueiros neste
País de condições de trabalho que causam intenso sofrimento aos
profissionais da Saúde e podem ser responsáveis por eventos adversos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS