Ética Do Amor e Santo Agostinho e São Tomas
Ética Do Amor e Santo Agostinho e São Tomas
Ética Do Amor e Santo Agostinho e São Tomas
O DESENVOLVIMENTO DA ÉTICA DO AMOR DE SANTO AGOSTINHO NA
ÉTICA DAS VIRTUDES DE SÃO TÓMAS DE AQUINO: A VIRTUDE COMO
AMOR DE CARIDADE.
Marcos Vinícios Chiaretti Guedes
Rio de Janeiro
2021
Marcos Vinícios Chiaretti Guedes
Trabalho de Conclusão de curso apresentado
como requisito para aprovação no curso de
pós-graduação Lato Sensu / Especialização em
Filosofia. Política da Estácio de Sá, sob
orientação do Professor Emerson Ferreira da
Rocha.
Rio de Janeiro
2021
Marcos Vinícios Chiaretti Guedes
________________________________________________
Examinador
Prof. Mestre
PALAVRAS-CHAVE: Virtude. Amor. Ética.
RIEPILOGO
Questo testo mira a ricercare alcuni dei punti centrali dell'etica cristiana, in particolare il modo in cui si
svolge nell'opera di Agostino e Tommaso d'Aquino. Ricercando gli argomenti relativi ai due autori,
intendiamo sviluppare il rapporto che esiste tra il pensiero etico di Agostino, con la sua "Etica
dell'Amore", e il pensiero etico di Tommaso, con la sua "Etica delle Virtù". L'obiettivo è comprendere
meglio il ruolo della virtù e dell'amore in entrambi i sistemi e le possibili relazioni tra questi sistemi.
Pertanto, questo testo cercherà di distinguere le idee di virtù e amore per ogni autore e sviluppare le
relazioni che esistono tra loro in questo contesto.
2 JUSTIFICATIVA.................................................................................................6
3 REVISÃO DE LITERATURA............................................................................7
4 OBJETIVOS.........................................................................................................8
4.1 GERAIS...................................................................................................8
4.2 ESPECÍFICOS.........................................................................................8
5 MÉTODO...............................................................................................................9
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO.........................................................................10
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................21
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................24
8.1 FONTES PRIMÁRIAS............................................................................24
8.2 FONTES SECUNDÁRIAS......................................................................25
3
INTRODUÇÃO
1
Conceito formulado por Agostinho em seus estudos sobre a liberdade.
4
se confunde com o amor” (STREFLING, 2015, p. 71) e é daí que vem a expressão de
que “o amor é o motor da vontade” (LIMA, 2011, p. 59).
Nesse sentido se inicia a reflexão ética do autor, pois o amor sendo “motor da
vontade” é o que move o homem na direção do bem, esse bem é a verdade (que para
Agostinho é o próprio Deus), mas para alcançar tal verdade Agostinho define como
caminho necessário o caminho da virtude porque, “a virtude é nada senão amor perfeito
a Deus” (De moribus ecclesiae catholicae et de moribus Manichaeorum, I 15, 25,
tradução nossa). Portanto em Agostinho se ama a Deus através da virtude que é a forma
mais perfeita de ama-Lo.
Após essa introdução das ideias de Santo Agostinho se faz necessária também
uma explanação inicial das ideais tomistas, desse modo antes de partir para as próximas
partes desse trabalho é importante se deter na introdução a obra de São Tomás.
Na ética de São Tomás todo ato visa algum bem e no caso da ética esse bem é a
felicidade, segundo ele para atingir tal bem é necessária a virtude que é um meio termo,
uma justa medida dos atos humanos.
Como em Tomás a moral é uma ciência dos atos humanos e a finalidade desses
atos é a felicidade eterna, ele propõe um estudo dos princípios gerais da moral que
poderiam levar a essa felicidade. A partir disso, Tomás identifica a liberdade como fator
necessário a moral, podendo o homem errar nas suas escolhas e torna-se ou não apto a
essa vida feliz, por isso a concepção de liberdade de Santo Tomás repousa sobre uma
espécie de “colaboração harmônica” entre o Intelecto que apreende o verdadeiro e a
vontade que tende para o bem, compondo, portanto, a ação humana. Ou seja, o homem é
livre quando sua ação apreende o bem e tende para esse bem.
Como em Tomás a moral é a ciência dos atos humanos buscando um fim que é a
felicidade e ao estudar os princípios gerais dessa ciência se compreende que para atingir
essa felicidade é preciso exercitar a liberdade presente no agir sempre em direção ao
bem de maneira harmônica, ou seja, através da virtude, então a felicidade só é possível
mediante a vida virtuosa.
(AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. IIª seção IIª parte, q. 23, a.6.), isso porque
existe uma posição tomista de que todas as virtudes dependam da caridade. Sua tese
provem do posicionamento fundamental da Tradição Bíblica a qual defende que entre as
virtudes teologais a caridade é a mais importante. A partir disso percebe-se que em
Tomás só se alcança a virtude através do amor, pois a virtude nada mais é do que uma
forma de amor.
Isto posto, nota-se que os dois autores possuem em sua ética tanto um conceito
de virtude quanto uma consideração do amor enquanto agente necessário a essa
constituição ética. Portanto, esse trabalho buscará se orientar no sentido de esclarecer
esses conceitos chaves dos autores e procurar entre eles pontos de convergência que
demonstrem as possíveis concordâncias que podem existir entre as duas obras.
2 JUSTIFICATIVA
Santo Agostinho e São Tomás são relevantes por si mesmos, suas obras
influenciaram e influenciam profundamente a história de filosofia até os tempos atuais,
se aprofundar na sua obra já seria justificável a partir disso, mas para além disso, nota-
se que há certos temas de grande relevância que pouco foram pesquisados até o
momento, assim é com o tema desse trabalho, apesar das diversas pesquisas
desenvolvidas no âmbito da ética sobre os dois autores, poucas, ou até mesmo nenhuma,
buscaram relacionar seus conceitos e tentar entende-los em conjunto. A partir disso,
pode-se justificar o tema, dada a relevância dos autores e do tema e a pouca explanação
desenvolvida sobre o mesmo. É importante declinar-se sobre o assunto na tentativa de
melhor desenvolver e entender os autores e a sua obra que são até hoje profundamente
relevantes para a filosofia como um todo.
Ademais, nota-se, em qualquer estudo sobre o autor, que Santo Agostinho
influenciou e influencia diversos dos autores que vieram depois dele e entre esses está o
próprio São Tomás, Segundo Le Goff “Depois de São Paulo, Santo Agostinho é o
personagem mais importante da instalação e o desenvolvimento do Cristianismo. É o
7
grande Professor da Idade Média” (LE GOFF, 2007, p.31), portanto buscar entender o
pensamento de Agostinho é crucial para desenvolver de maneira adequada uma reflexão
sobre as ideias de São Tomás.
Por fim, no âmbito da ética cristã pode-se afirmar sem medo algum que esses
dois autores são os mais importantes expoentes, suas obras são as mais relevantes nesse
sentido, por isso buscar entende-las em conjunto pode trazer diversos pontos positivos
ao pensamento cristão contemporâneo. Entender a ideia de amor ao longo do
desenvolvimento da história cristã é fundamental para retomar esse conceito na
atualidade, diante de um mundo repleto de caos, ódio e miséria, um olhar para o outro é
fundamental na elaboração de uma ética que ajude o ser humano a melhorar, portanto
entender a relação do amor e da ética pode dar passos longos em direção a esse ideal.
Além disso, pesquisar esse tema pode trazer novos conceitos e ideias relevantes para os
pensadores atuais e para o cristianismo como um todo.
3 REVISÃO DE LITERATURA
Feita a busca dos estudos primários, outro ponto muito importante a ser
observado é a seleção dos estudos a serem utilizados. Essa avaliação pode se dar através
de uma breve leitura do título e do abstract (ou resumo), ou ainda, para uma revisão
mais detalhada, a leitura da introdução e da conclusão do estudo. A partir disso serão
selecionados os textos que melhor atenderem aos critérios estabelecidos pela
delimitação do tema e esses deveram ser levados em conta na revisão na construção do
texto a ser produzido, os artigos retirados nessa etapa serão, portanto, os artigos
presentes na bibliografia final desse trabalho.
4 OBJETIVOS
1.1 GERAIS
Pesquisar os diversos conceitos dos dois autores sobre ética em geral e buscar
relacionar um ao outro na tentativa de entender e associar melhor as ideias de cada um e
as influências de Agostinho sobre Tomás, bem como os pontos em que concordam.
1.2 ESPECÍFICOS
9
5 MÉTODO
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A ética de Agostinho leva sempre em conta o amor como o que move o homem
a felicidade. Segundo Agostinho: “Essa felicidade, essa vida que é a única feliz, todos a
11
querem, todos querem a alegria que provém da verdade” (AGOSTINHO, 1997, p. 177).
O Santo se questiona a partir daí:
É importante ressaltar, como deixa claro Lima, “que essa divisão do ser virtuoso
em quatro virtudes (temperança, força, justiça e prudência) não corresponde a quatro
tipos de amor, mas expressões de um mesmo amor” (LIMA, 2011, p. 37). Nota-se que
de “tão elevado que é o amor ele se confunde com a própria noção de virtude” (LIMA,
2011, p. 66). Pois somente o amor ordenado manifesta virtude, ou melhor, o amor
ordenado é a própria definição de virtude. Lima, vai afirmar ainda que, para Agostinho,
“o amor é o motor da vontade” (LIMA, 2011, p. 59). Portanto, como já elencado, a
noção de amor em Santo Agostinho é fundamental para seu conceito de virtude.
O amor, desta maneira, é visto como essa ética universal, promotor da virtude e
capaz de orientar o homem em todos os aspectos necessários, conforme Lima deixa
claro:
podem haver muitos amores, mas é só o amor ordenado que manifesta a virtude “A
virtude é a ordem do amor” (AGOSTINHO, 1996, p. 1399). A partir daí, Agostinho
cunha os termos “utilizar” e “fluir”, que denotam a disposição adequada do amor:
Entre as coisas, há algumas para serem fruídas, outras para serem utilizadas e
outras ainda para os homens fruí-las e utilizá-las. As que são objetos de
fruição fazem-nos felizes. As de utilização ajudam-nos a tender à felicidade e
servem de apoio para chegarmos às que nos tornam felizes e nos permitem
aderir melhor a elas (AGOSTINHO, 2002, p. 34).
Suponhamos que somos peregrinos, que não podemos viver felizes a não ser
em nossa pátria. Sentindo-nos miseráveis na peregrinação, suspiramos para
que o infortúnio termine e possamos enfim voltar à pátria. Para isso, seriam
necessários meios de condução, terrestre ou marítimo. Usando deles
poderíamos chegar a casa, lá onde haveríamos de gozar. Contudo, se a
amenidade do caminho, o passeio e a condução nos deleitam, a ponto de nos
entregarmos à fruição dessas coisas que deveríamos apenas utilizar,
acontecerá que não quereríamos terminar logo a viagem. Envolvidos em
enganosa suavidade, estaríamos alienados da pátria, cuja doçura unicamente
nos faria felizes de verdade (AGOSTINHO, 2002, p. 34-35).
A verdadeira vida feliz só é possível quando usamos dos bens temporais para
alcançar as realidades eternas, até mesmo no que se refere aos homens, o amor
recíproco também deve obedecer a esse critério. Assim, a ordenação do amor em
Agostinho está expressa pela regra de ouro, não amar o que não deve ser amado e não
deixar de amar o que deve ser amado:
“Portanto, tudo aquilo que quereis que os homens vos façam de bem, fazei-o
vós a eles, porque, isto é, a Lei e os Profetas (Mt. 7,2)”. Essa Lei torna-se
máxima moral regida pela ordenação do amor que une o homem a Deus e tal
amor só pode ser atingido após o pecado original, pela graça concedida pelo
próprio Deus.
Pode-se dizer que apesar de concupiscência ainda permanecer depois do
recebimento da graça, tal graça concede que pouco a pouco a natureza seja
regenerada até a regeneração final que é a ressurreição (GUEDES, 2019, p.
36).
Isso porque é importante que esteja claro no texto que é a partir do amor que as
virtudes se elevam e seguem de encontro as virtudes teologais, que conduziram o
homem ao mais alto grau de perfeição possível na vida terrestre.
Dessa forma, a cidade celeste, como todos os outros povos, vive no temporal,
na cidade terrestre, pois existem bens temporais necessários à vida.
Entretanto, mesmo estando no tempo, vivem pelo amor a Deus e pela busca
da beatitude. Assim sendo, não havia uma razão para um desacordo entre
ambas as cidades, visto a possibilidade da compatibilidade entre a virtude
civil e a virtude cristã (PIRATELI, 2002, p.92).
Ao falar de São Tomás, é importante comentar que sua obra é a tentativa mais
bem sucedida de união entre a razão grega e a fé cristã, nesse sentido seu programa
ético redige e atualiza aquilo que está presente no famoso tratado de ética aristotélico
“Ética a Nicômaco”.
Considerando que para Aristóteles todos os atos visam algum bem, e bem é
também aquilo a que todas as coisas visam a ética aristotélica é uma ética da finalidade
e essa finalidade é o bem, mas não qualquer bem e sim a felicidade. Sendo assim a ética
de Aristóteles é uma ética da felicidade, Tomás bebeu desta fonte ao elaborar sua ética,
bem como concorda com o conceito aristotélico de virtude, hábito voluntário que
conduz o ser humano ao bem3. Ainda nesse sentido, virtude tanto para Aristóteles como
3
Lembrando que para Tomás há dois tipos de virtude, a perfeita e a imperfeita: sendo a imperfeita quando
aparece como uma simples inclinação, algo que faça o indivíduo agir bem, virtuosamente, fruto de uma
16
para Tomás corresponde ao meio termo determinado pela razão, a ‘justa medida’ que
nada mais é que o ponto de equilíbrio que determinado individuo atinge ao agir, não
pecando pela falta, nem pelo excesso.
Por isso, o Filósofo define o hábito como uma disposição que nos torna bem
ou mal dispostos; e diz mais que pelos hábitos é que nos havemos bem ou
mal, relativamente às paixões. Assim, pois, o modo conveniente à natureza
de uma coisa é por essência bom; e mau por essência o que não lhe convém.
E como a natureza é primeiramente considerada, nas coisas, o hábito é tido
como a primeira espécie de qualidade (AQUINO, Tomás de. Suma
Teológica. Iª seção IIª parte q. 49, a.2.).
Tomás classifica as virtudes como hábitos bons que tornam o homem bom,
dando condições de fazer o melhor uso possível da liberdade com o intuito de colocar
em ordem harmoniosa as paixões no caminho das bem-aventuranças. As virtudes que
ultrapassam o domínio humano e são infundidas pela Graça divina dá-se o nome de
Virtudes Teologais e as virtudes adquiridas pelo hábito são divididas em Morais, que
dizem respeito a parte apetitiva da alma, ou vontade, e Intelectuais que dizem respeito
ao intelecto, ou a razão. Sendo assim, enquanto as virtudes intelectuais aperfeiçoam o
intelecto especulativo e prático, as virtudes morais aperfeiçoam a potência apetitiva.
inclinação ou costume. Já a virtude será perfeita a partir do momento em que for realizada segundo um
hábito, um hábito que faz com que a ação se dirija sempre no sentido de efetivar boas obra.
Essa distinção é importante, pois a adição do conceito de virtude imperfeita é adição da reflexão Tomista
sobre a ideia de virtude.
17
Para agir bem, é necessário que não só a razão esteja bem disposta pelo
hábito da virtude intelectual, mas que a potência apetitiva também o esteja
pelo hábito da virtude moral. Tal como o apetite se distingue da razão, assim
também a virtude moral se distingue da intelectual. E como o apetite é
princípio dos atos humanos enquanto participa, de algum modo, da razão,
assim o hábito moral tem a razão de virtude humana, na medida em que se
conforma com a razão (AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Iª seção IIª
parte, q. 58, a.2.).
Além disso, como dito anteriormente, há uma classe de virtudes que não pode
ser obtida pelo hábito, mas somente pela infusão da graça divina. Portanto a divisão das
virtudes se dá entre as que são infusas, as que estão em conformidade com o apetite e as
que estão em conformidade com a razão.
Das virtudes em Tomás as que mais importam para a atual pesquisa são as
virtudes teologais, pois é dentre elas que se encontra a virtude da Caridade, objeto de
estudo e de comparação com a obra de Agostinho, pois a caridade em Tomás é
entendida, basicamente, nos mesmo termos que o amor em Agostinho. A caridade é, a
partir disso, a virtude mais perfeita, pois resume o próprio ideal cristão do amor sendo a
primeira, como veremos a seguir, das virtudes teologais, dado isso vem o objeto de
comparação entre os dois autores que compreendem a importância do amor/caridade na
constituição da virtude e da ética.
Desse modo, é preciso entender que, segundo Tomás, não basta ao homem
somente os princípios naturais pelos quais o homem consegue agir bem de acordo com
suas possibilidades, para ordená-lo a bem aventurança, pois, estes excedem a natureza
humana.
É necessário, pois, que lhes sejam acrescentados por Deus certos princípios
pelos quais ele se ordene a bem-aventurança sobrenatural, tal como está
ordenado ao fim que lhe é conatural por princípios naturais que, porém, não
excluem o auxílio divino. Ora, esses princípios se chamam virtudes teologais,
primeiro por terem Deus como objeto, no sentido que nos orientam retamente
para ele; depois por serem infundidos só por Deus; e, finalmente, porque
essas virtudes são transmitidas unicamente pela revelação divina, na sagrada
escritura. (AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Iª seção IIª parte, q. 62,
a.1.)
Vale Ressaltar que, Segundo Mcintyre (1984, p.311), apesar das diferenças
vistas na lista de virtudes referentes a Aristóteles e a São Tomás podem se perceber dois
pontos de convergência essenciais. O primeiro é que nas duas tradições a virtude possui
a mesma estrutura conceitual:
Virtude é, assim como para Aristóteles, uma qualidade cujo exercício leva a
conquista do telos humano. O bem para o homem é, naturalmente, um bem
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Além disso, a relação das virtudes como meios para o fim, que é a entrada do
homem no reino dos céus num futuro vindouro, e interna, e não externa,
exatamente como em Aristóteles MCINTYRE, 1984, p.311).
Dito isso, também é necessário entender que a diferença nas virtudes teologais,
segundo o autor, está no objeto que nas virtudes teologais é o próprio Deus, fim último
das coisas, enquanto que nas virtudes morais e intelectuais, o objeto é algo que a razão
humana pode compreender. Daí, as virtudes teologais ordenam o homem a bem
aventurança sobrenatural:
No âmbito das virtudes morais e intelectuais Tomás vai explanar que essas
podem ser adquiridas pelo homem por meio dos seus próprios atos mediante a razão e a
vontade:
Juvenal Savian Filho, deixa claro que na ética tomista não somente é necessária
a pratica contemplativa e o habito (virtude), mas esses só se concretizam na realidade
transcendente protagonizada pela virtude do amor:
Com efeito, a ética tomasiana não prevê que todo o dinamismo da felicidade
(eudaimonía) seja orientado para a atividade contemplativa do sábio, mas que
esse mesmo dinamismo, que se efetiva concretamente na prática das virtudes,
seja alimentado por uma relação não apenas de contemplação intelectual, mas
também de gozo afetivo, com a Realidade Transcendente da qual depende
tudo aquilo que existe [...] Nesse quadro, a virtude do amor (charitas) tem
papel central, e, para a realização do amor, cujo motor tem raízes profundas
19
Enquanto isso, ficou claro anteriormente, que as virtudes teologais “não são
causadas por nossos atos, mas são infundidas em nós, por um dom divino” (AQUINO,
Tomás de. 2012, p. 105). Depois disso também é preciso ter em mente que as virtudes
teologais possuem certa primazia sobre as morais e as intelectuais, pois seu objeto é o
próprio Deus que é o fim ultimo das coisas. E, entre essas, dá-se a caridade a primazia
enquanto virtude:
Entre as virtudes teologais, será mais excelente aquela que mais alcançar a
Deus. Ora, a fé e a esperança alcançam Deus na medida em que recebemos
dele ou o conhecimento da verdade ou a posse do bem. Mas a caridade
alcança Deus para que nele permaneça e não para que dele recebamos algo
(AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. IIª seção IIª parte, q. 23, a.6.).
Em vista disso, Tomás conclui que as virtudes teologais, são mais excelentes que
as virtudes morais e intelectuais, e no tratado da caridade, Tomás ressalta a excelência
dessa virtude em relação às demais e considera também a virtude da Prudência como
excelência diante das virtudes morais:
A partir desse estudo sobre os dois autores, podem-se identificar alguns pontos
comuns entre a ética na obra de Santo Agostinho e na obra de São Tomás, como a ética
enquanto caminho que busca uma finalidade que nos dois se identifica como Deus, a
importância do conceito de vontade na constituição do sujeito ético, a divisão das
21
Portanto, a ética, nesses autores, nada mais é que uma ética do amor de caridade.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Muitos outros aspectos da ética dos dois autores poderiam ser abordados nessa
pesquisa científica, mas nela buscou-se abordar os conceitos chaves na ética de
Agostinho de Hipona e Tomás de Aquino, sabe-se que há uma imensidão de escritos,
conceitos e ideias dos dois autores em seus tratados de ética, portanto seria inviável para
este artigo apresenta-los de maneira adequada, por esse motivo escolheu-se delimitar a
pesquisa através de alguns conceitos chave retirados das obras dos dois. Delimitando
conceitos chaves dentro da obra dos dois filósofos foi possível se aprofundar nesses
conceitos e tentar compreende-los a luz de comentários posteriores e de profunda
reflexão filosófica. Os conceitos chaves identificados se deram pela pesquisa direta na
obra dos autores, onde as ideias de virtude e de amor receberam destaque, pois se
4
cardeal Robert Sarah, no dia 21 de janeiro de 2014, em uma conferência dada em Barcelona (Espanha).
22
mostraram presentes e essenciais na obra dos dois acerca da moralidade. Para uma
compreensão mais profunda das ideias de cada um o leitor pode buscar o estudo dos
diversos textos apresentados na bibliografia sobretudo os textos dos próprios autores.
5
Os Doutores da Igreja são aqueles que deram uma grande contribuição para a Igreja deixando
profundos ensinamentos teológicos e de testemunho de vida, que o magistério da igreja absorveu e
tomou como ensinamento para todos os fiéis leigos e religiosos. Podemos dizer que estes homens e
mulheres são verdadeiros “gigantes”, pois foram personagens que viveram uma vida intensa de oração
(muitos deles com inúmeras experiências místicas), de penitência, de profundo estudo da sagrada
escritura e do saber teológico, e por seus escritos pelos quais eles confirmam a doutrina cristã e que
impactaram para sempre a história da igreja. Fonte: https://www.diocesesa.org.br/2020/10/doutores-
da-igreja-qual-e-processo-para-se-reconhecer-um-santo-doutor-da-igreja-catolica-apostolica-romana/
6
felicidade profunda de quem desfruta a presença de Deus, e que só poderá ser atingida em sua plenitude
na vida eterna.
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8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGOSTINHO, Santo. A cidade de Deus (Vol. I). 2º Ed. Lisboa: Calouste Gulbenkian,
1996.
_______. Comentário da primeira epístola de São João. São Paulo: Paulinas, 1986.
_______. A Doutrina Cristã. Col. Patrística, 17, 1º Ed. São Paulo: Paulus, 2002.
_______. A verdadeira religião. Col. Patrística, 19, 19° Ed. São Paulo: Paulus, 2017.
_______. Contra las dos epistolas de los pelagianos. Madrid: Biblioteca de Autores
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_______. Confissões. Col. Patrística, 10. 1º Ed. São Paulo: Paulus, 1997.
_______. O Sermão da montanha. Col. Patrística, 36, 1º Ed. São Paulo: Paulus, 2017.
_______. Suma Teológica (Coleção Completa-9 Volumes). São Paulo: Loyola, 2005.
ALMEIDA, Frederico Soares de. O amor como elemento fundamental na ética de Santo
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BROWN, P. Santo Agostinho, uma biografia. 6ª.ed. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de
Janeiro: Record, 2011.
PAULA, Andriely Samanda de; MELO, José Joaquim Pereira. O amor e a felicidade
em Santo Agostinho como elementos para a formação do homem. X Jornada de
Estudos Antigos e Medievais II Jornada Internacional de Estudos Antigos e Medievais –
Universidade Estadual de Maringá. setembro, 2011.
VARGAS, Roberto. Deus e o mal em Agostinho. Versão eletrônica disponível em: <
http://guerrapelaverdade.blogspot.com/2010/03/deus-e-o-mal-em-agostinho.html>
Acessado em: 25 de janeiro de 2019.
VIEIRA, Carlos Alberto Pinheiro. O amor como fundamento da ordem social em Santo
Agostinho. PARALELLUS Revista de Estudos de Religião – UNICAP. Recife, n. 1,
jan./jun. 2010.