SPR Orquideas 0
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SPR Orquideas 0
ISBN 978-85-98316-16-1
1
Professor Titular - Departamento de Ciências Biológicas - ESALQ/USP - prcastro@usp.br
2
Mestrando em Fisiologia e Bioquímica de Plantas - ESALQ/USP -bruno.angelini@usp.br
3
Mestranda em Fisiologia e Bioquímica de Plantas - ESALQ/USP - ana.carolina.mendes@usp.br
4
Professor Titular - Departamento de Ciência do Solo - ESALQ/USP - ardechen@usp.br
5
Bibliotecária - Divisão de Biblioteca - ESALQ/USP - emgarcia@usp.br
Orquídeas
Série Produtor Rural
Número Especial
DOI: 10.11606/9788598316161
Piracicaba
2017
DIVISÃO DE BIBLIOTECA - DIBD
Av. Pádua Dias, 11 - Caixa Postal 9
13418-900 - Piracicaba - SP
biblioteca.esalq@usp.br • www.esalq.usp.br/biblioteca
Orquídeas / coordenação de Paulo Roberto de Camargo e Castro ... [et al.]. - - Piracicaba: ESALQ -
Divisão de Biblioteca, 2017.
º
181 p. : il. (Série Produtor Rural, n Especial)
Bibliografia.
ISSN: 1414-4530
ISBN 978-85-98316-16-1
DOI: 10.11606/9788598316161
CDD 635.93415
O74
Cymbidium Dorothy Stockstill ‘Forgotten Fruits’
Homenagem aos Ilustres Mestres e Orquidófilos
In Memoriam
SUMÁRIO
Brassolaeliocattleya Yamanashi
Figura 1 - Lineu e sua obra Species Plantarum (Adaptado de Sales e Santos, 2007)
Na mesma obra, Peter Osbeck, discípulo de Lineu, publicou seu trabalho, descrevendo
244 plantas coletadas nas viagens que fez a Cantão. Em 1757, este escreveu seu diário
de viagem e incluiu a descrição do então classificado Epidendrum ensifolium, como
sendo uma planta usada em vasos, que apresentava um perfume muito agradável.
Nos anos subsequentes, diversos missionários europeus e exploradores
visitaram a China, coletando numerosas plantas, incluindo algumas orquídeas, e as
enviaram para a Europa, onde foram descritas em publicações botânicas e de
horticultura.
Outro missionário jesuíta, Joannis de Loureiro, em 1789 descreveu e nomeou
os gêneros Aerides, Phaius, e Sarcopodium e este conceito foi mantido por Bentham
e Hooker no Genera Plantarum (1862 e 1883). Ele também descreveu Habenaria,
Spiranthes, Dendrobium e Cymbidium.
John Lindley (1799-1865), em seu Genera and Species of Orchidaceus Plants,
publicado em 1830 e 1840, fez o primeiro anúncio sistemático de orquídeas chinesas.
Ele listou todas as orquídeas chinesas conhecidas em seu tempo – 21 gêneros e 33
espécies. O trabalho de Lindley, bem como as publicações de Olof Peter Swartz
(1760-1818), Carl Ludwig von Blume (1796-1862) e Heinrich Gustav Reichenbach
(1824-1889), são ainda muito importantes para o estudo das orquídeas chinesas.
Robert Allen Rolfe (1855-1921), botânico inglês, escreveu em 1903 uma revisão
completa sobre Orchidaceae na China, Coréia e Ilha Kyukyu no Index Floral Sinensis,
de Forbes e Hemsley. Rolfe enumerou 77 gêneros e 270 espécies de orquídeas
chinesas, incluindo um novo gênero e várias novas espécies. Trabalho posterior,
relatando orquídeas dessas regiões, foi o Orchideologiae Sino-Japonicae Prodomus
por Friedrich Richard Rudolf Schlechter (1872-1925), publicado em 1919. Ele listou
102 gêneros e 582 espécies na China. Este incluiu 67 gêneros e 214 espécies de
Taiwan, e 13 gêneros e 23 espécies do Tibete. Esta lista adicionou um novo gênero
e 75 novas espécies. As contribuições de Rolfe e Schlechter são ainda importantes
referências, apesar de algumas de suas espécies terem sido reduzidas a sinônimos.
B. Hayato (1906-1921), N. Fukuyama (1932-1944), G. Masamune (1932-1978) e
outros botânicos publicaram diversos novos taxa de Taiwan, mas a falta de
comparação com as plantas do continente tornou incerta a validade de algumas
delas. Um importante trabalho com orquídeas de Taiwan foi Orchids of Southern
Ryukyu Island de Leslie Andrew Garay (1924) e Herman R. Sweet (ambos
aposentados pelo Oakes Ames Orchid Herbarium, Harvard University). Outros livros
de orquídeas dessa região são o Formosan Orchids de Chow Heng (1970), Native
Orchids of Taiwan por Tsan-Piao Lin (1970), e ilustrações coloridas de Indigenous
Orchids, vol. 1, por Shao-shun Ying (1977). A extensa flora da China, preparada pelo
Botanical Institute of Beijing, inclui extenso tratado de orquídeas.
De acordo a antiga lenda chinesa, o poderoso imperador Shi-kotei (da dinastia
Shin, 249-207 a.C.) e sua bela esposa, Yohki-Li, poderiam ter o que quisessem, com
exceção de filhos. Um dia ela foi envolvida pela fragrância de Cymbidium, em seguida
engravidou e teve um filho. O perfume do Cymbidium parecia possuir qualidades
verdadeiramente mágicas, pois depois de sua exposição a ele, o casal teve 13 bravos
e sábios filhos. Então a orquídea adquiriu o nome Ju-san-tai-lo, que significa “13
grandes tesouros”. Este nome ainda é aplicado ao Cymbidium gyokuchin, o qual foi
recentemente reduzido para o sinônimo de C. ensifolium.
No primeiro século depois de Cristo, Dioscorides, médico grego que serviu como
cirurgião do exército romano, reuniu informações sobre 500 plantas medicinais,
entre elas duas “orchis”, no trabalho intitulado Materia Medica. Esse era um período
em que as pessoas acreditavam em geração espontânea de plantas e animais, em
superstições e o uso do som em tratamentos médicos. Baseado no conhecimento
em medicina dos antigos gregos, que eram muito respeitados e admirados, as ideias
e os escritos de Dioscorides prevaleceram por um longo período na Europa. Grande
parte das pesquisas realizadas durante a Idade Média e posteriormente foram
baseadas em encontrar na Europa espécies iguais às dioscorianas da Ásia Menor.
Essas pesquisas contribuíram para o número de espécies do Mediterrâneo e Europa
conhecidas pelo homem, elevando de uma ou duas para treze em 1561, e próximo a
cinquenta em 1633.
Ao longo de um lapso de quinze ou dezesseis séculos, a Doutrina das Assinaturas
prevaleceu. Era a crença de que a forma, cor ou estrutura de uma planta indicava
para qual uso era destinada e influenciou o pensamento e a prática médica da época.
Assim, a nogueira era boa para o cérebro, erva-impigem ou sanguinária do Canadá
agia contra a anemia, o boneset (Eupatorium sp.) curava fraturas, e assim por
diante. Segundo esta teoria, as orquídeas foram consideradas ervas valiosas, pois
eram associadas à fertilidade e virilidade.
Por causa da Doutrina das Assinaturas, as orquídeas foram por muito tempo
associadas à atividade sexual. A lenda mencionada por Skinner em 1911 mostra
mais claramente a origem e a relação de sensualidade com essas plantas:
“A beleza da orquídea é contraditória a sua origem, pois a primeira orquídea
surgiu como o filho de uma ninfa e um devasso, resultado de um desejo proibido.
Em um festival, Baco, alterado pelas bebidas, atacou uma sacerdotisa, quando então
toda a congregação agiu fatalmente sobre ele, dilacerando-lhe membro a membro.
Seu pai rezou aos deuses para colocá-los juntos novamente, mas os deuses
recusaram, reafirmando sua gravidade, no entanto, dizendo que, enquanto o referido
tinha sido um estorvo em sua vida, ele deve ser a satisfação em sua morte, então
eles criaram a flor que leva seu nome. Mesmo a flor sendo acusada de manter a
calma, quem comesse da sua raiz estava destinado a sofrer de conversão
instantânea para o estado de sátiro”.
A expansão do conhecimento sobre orquídeas na Europa acontece juntamente
com o período das Grandes Navegações e está diretamente relacionado com o
fechamento do mercado oriental e a descoberta do continente americano.
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WITHNER, C.L. The orchids: a scientific survey. New York: American Orchid
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Rhynchostylis gigantean var. Semi Alba
Leonardo Soriano
2 MORFOLOGIA E GENÉTICA
Pós-Doc no Centro de Energia Nuclear na Agricultura/USP, Piracicaba, SP;
Consultor de Conteúdo - Diretoria de Planejamento Acadêmico e Avaliação -
Kroton Educacional, Valinhos, SP
soriano84@gmail.com
2.1 Crescimento
O crescimento das orquídeas ocorre de maneira muito diversa, pois de acordo
com o ambiente em que se encontram, predominam certas formas de crescimento.
As orquídeas podem apresentar crescimento: contínuo ou sazonal; simpodial ou
monopodial; agrupado ou espaçado; ascendente ou pendente; aéreo ou subterrâneo.
Nas áreas tropicais o crescimento contínuo é mais evidente, porém existem
espécies de crescimento sazonal. Em áreas sujeitas a secas ou frio intenso, o
crescimento costuma ser sazonal. As orquídeas monopodiais costumam crescer
de maneira contínua, contudo, as simpodiais apresentam certa sazonalidade.
2.2 Raízes
As orquídeas não apresentam raízes primárias, caracterizadas como raízes
centrais principais de onde brotam outras raízes secundárias, mas apenas as raízes
secundárias, as quais brotam diretamente do caule e ocasionalmente de outras
raízes, apresentando de tal maneira, raízes fasciculadas. Frequentemente atuam
como depósitos de nutrientes e água e ajudam as plantas a reterem e acumularem
material nutritivo.
A durabilidade das raízes é variável, inferior à duração dos caules, e novas raízes
costumam brotar durante ou no final do período de crescimento vegetativo da planta.
Podem penetrar no substrato ou se fixar no suporte onde a planta esteja vivendo,
auxiliando em sua sustentação.
Em alguns casos, as raízes são também órgãos clorofilados, capazes de
realizarem fotossíntese durante os períodos em que as plantas perdem as folhas.
Variam em espessura, de muito finas a extremamente grossas. A estrutura das
raízes diferencia-se muito entre as orquídeas, conforme a maneira e local onde
crescem. As espécies epífitas, por exemplo, geralmente apresentam raízes grossas
e cilíndricas enquanto aéreas e, após aderirem ao substrato, assumem formato
achatado.
2.3 Caules
O caule das orquídeas é do tipo rizoma, ou seja, desenvolve-se paralelamente
ao local onde vive. As espécies epífitas sempre apresentam caules perenes. Nas
epífitas de crescimento simpodial, o caule geralmente é composto por parte aérea,
sem eixo principal formado por gemas laterais, que podem ou não encontrar-se
espessados em estrutura para reserva de água e nutrientes, denominada
pseudobulbo. Por outro lado, nas que apresentam crescimento monopodial, o caule
é único e aéreo (eixo principal), ereto ou pendente, não apresenta pseudobulbos,
sendo auxiliado no armazenamento de nutrientes pelas folhas e raízes que brotam
continuamente ao longo de todo o caule.
Porém, já as espécies terrestres, podem ou não apresentar caules desenvolvidos
e estes, podendo ser parcialmente decíduos. Algumas das orquídeas terrestres
apresentam caules muito longos, para os quais há registros que podem chegar a
mais de seis metros de comprimento.
O caule pode ser separado em alguns órgãos que apresentam características
próprias, sendo resumido da seguinte forma:
• Rizoma: parte da planta que se estende sobre o substrato, originando caules e
pseudobulbos. As divisões do rizoma são marcadas por anéis, sendo
verdadeiras articulações, podendo ser facilmente separáveis.
• Pseudobulbo: caules espessos que desempenham função de reservatório. Não
apresentam folhas senão junto à base, variando muito em tamanho e em formas
(fusiforme, redondo, orbicular, cilíndrico, obovoide, oblongoide, depresso,
comprimido, clavado, etc.).
• Caule: ostenta folhas e diferentemente dos pseudobulbos, apresenta grossura
uniforme, emergindo do rizoma.
2.4 Folhas
Majoritariamente, as orquídeas apresentam folhas com nervura paralela de
cruzamentos dificilmente visíveis, usualmente dispostas em duas carreiras opostas
e alternadas em ambos os lados do caule. Muitas espécies apresentam apenas
uma folha terminal. O formato, espessura, estrutura, quantidade, consistência, cor
e tamanho e maneira de crescimento das folhas, apresentam extensa diversidade.
Dentre as características representativas das folhas das orquídeas, destacam-
se:
• A forma das lâminas foliares pode ser circular, elíptica, lanceolada, obovada,
linear, espatulada, oblonga, além de infindável variedade de outras formas
intermediárias destas;
• A ponta das folhas pode ser arredondada, reta, acuminada, fina ou espessa,
radial, ou desigual;
• Suas margens geralmente são suaves, parcialmente curvas, raramente
denticuladas;
• A estrutura das folhas pode apresentar pecíolo ou não, com diferente número
de nervações longitudinais paralelas, bastante visíveis ou quase
imperceptíveis a olho nu;
• A espessura das folhas varia de muito finas e maleáveis ou carnosas, firmes
e quebradiças, até inteiramente suculentas;
• Geralmente verdes nas mais diversas gradações, suas cores podem ainda
variar completamente conforme a face, de vermelho a marrom escuro, tons
acinzentados, azulados ou amarelados. Algumas espécies apresentam folhas
maculadas, estriadas ou pintalgadas por cores diversas;
• Geralmente com superfície brilhante, podem ainda apresentar-se foscas ou com
aparência farinosa.
2.5 Flores
As orquídeas possuem uma espetacular diversidade floral e muitas são
polinizadas por uma única espécie de polinizador. Embora sejam usualmente
autocompatíveis, a estrutura floral das orquídeas geralmente é especializada, de
forma a prevenir a autofertilização espontânea e promover a alogamia. A produção
de frutos quase sempre depende dos polinizadores, sendo o nível de estruturação
genética influenciado pelo comportamento dos mesmos. A polinização de espécies
da família Orchidaceae ocorre principalmente por insetos (Hymenoptera, Diptera,
Lepidoptera e Coleoptera), e por aves, sendo os Hymenoptera, principalmente as
abelhas, reconhecidos como os principais polinizadores de orquídeas (cerca de 60%
das espécies).
As inflorescências apresentam número de flores variado (de uma a centenas de
flores). Podem ser apicais, laterais ou basais, racemosas ou paniculadas, formando
ramos, com flores simultâneas ou sucessivas, ao longo da inflorescência ou brotando
sempre no mesmo ponto de inserção, a partir dos pseudobulbos. Algumas espécies
dos gêneros Psychopsis e algumas das Masdevallia apresentam estruturas perenes
que servem apenas para floração.
As complexas flores desenvolveram-se a partir de uma espécie de lírio que,
aos poucos, foi adaptando-se a cada um dos polinizadores, eliminando estruturas
desnecessárias e acrescentando elementos estruturais facilitadores da polinização
por agentes específicos. Por ser o local de pouso de insetos, a pétala inferior adaptou-
se e diferenciou-se cada vez mais em relação às outras duas pétalas, modificação
esta responsável pelo aumento de sua atratividade.
As orquídeas apresentam, de forma geral, flores hermafroditas, mas, é possível
encontrar flores exclusivamente masculinas ou femininas. O tamanho das flores
também é variável (de dois milímetros a mais de vinte centímetros).
Dentre os elementos atrativos das flores das orquídeas, um aspecto importante
é a sua coloração. Suas cores vão de quase transparentes ao branco, com tons
esverdeados, rosados ou azulados até cores intensas, amarelos, vermelhos ou
púrpura escuro e muitas flores são multicoloridas.
As flores normalmente apresentam simetria bilateral, com seis tépalas divididas
em duas camadas, três externas chamadas sépalas e três internas denominadas
pétalas e podem ocasionalmente apresentar-se parcialmente ou inteiramente
soldadas. O ovário é ínfero, tricarpelar e possui até cerca de um milhão de óvulos.
Os grãos de polem quase sempre se encontram aglutinados em massas cerosas
chamadas polínias, mas podem encontrar-se também agrupados em massa pastosa,
ou raríssimamente soltos.
Em muitos gêneros, a pétala diferenciada chamada de labelo, apresenta um
prolongamento tubular oco ou um nectário próximo ao local em que se fixa à coluna.
O padrão do labelo é uma característica amplamente utilizada para reconhecimento
das diferentes espécies de orquídeas.
As temperaturas frescas aumentam muito a duração das flores, ao contrário da
luminosidade, da chuva e do orvalho, que diminuem a duração das flores. Não convém
mudar as orquídeas do lugar onde foram cultivadas, pois essa troca de habitat pode
prejudicar no desenvolvimento da planta.
2.6 Frutos
As orquídeas se caracterizam por apresentar baixa frutificação, sendo que nas
espécies não autógamas menos de 10% das flores produzem frutos. A baixa
produtividade é compensada por uma enorme quantia de sementes produzidas em
cada polinização.
Após a fecundação, o ovário geralmente se desenvolve em uma cápsula.
Praticamente todas as orquídeas apresentam frutos capsulares, os quais diferem
entre si de acordo com a dimensão, forma e cores. As epífitas possuem frutos com
paredes carnosas e espessas, no entanto, as espécies terrestres apresentam frutos
mais finos com paredes mais delgadas. De uma forma geral, os frutos das orquídeas
apresentam formato triangular, ligeiramente arredondados e com número de lamelas
que podem variar de três a nove.
Os frutos podem apresentar aspecto externo liso, rugoso ou até mesmo repletos
de tricomas e protuberâncias em sua superfície. Desenvolvem-se de acordo com o
espessamento do ovário presente na base da flor, o qual geralmente é fragmentado
em três câmaras. O tempo de amadurecimento da cápsula pode variar de 2 a 18
meses, e quando maduro, o fruto desidrata-se completamente e, em seguida, abre-
se em três ou seis partes ao longo de seu comprimento que, embora não inteiramente,
ainda se mantém preso à inflorescência. Com a abertura do fruto, um grande volume
das microscópicas sementes são liberadas, sendo parte depositadas sob a planta-
matriz e a outra parcela amplamente dispersada através do vento.
2.7 Sementes
A dispersão de sementes pode ser mais importante que o fluxo de polem para o
fluxo gênico interpopulacional, pois, em geral, quase todas as orquídeas apresentam
sementes minúsculas e leves, constituídas por um pequeno aglomerado de células
de cobertura abrigando um embrião e tem dispersão anemocórica, podendo serem
dispersas a longas distâncias, o que promove a homogeneidade entre populações.
Porém, muitas sementes são dispersas próximas a planta-matriz, o que pode causar
estruturação genética espacial (entre indivíduos dentro de populações). Por outro
lado, espécies rupícolas frequentemente apresentam alta diversidade genética e
baixa diferenciação entre populações, devido à auto incompatibilidade e à
anemocoria em ambientes abertos.
Por não possuir endosperma em suas sementes, as orquídeas utilizam-se de
um processo simbiótico com fungo (micorriza), o qual disponibiliza os nutrientes à
jovem orquídea a partir da decomposição da matéria orgânica encontrada próxima
à semente, permitindo que o embrião seja capaz de realizar o processo fotossintético
rapidamente.
2.8 Polinização
As estruturas reprodutivas das orquídeas são dependentes do auxílio de agentes
externos para o transporte de polem e assim promover a fecundação cruzada. Deste
modo, ao longo do processo evolutivo, as orquídeas selecionaram estratégias
fascinantes de modo a forçar os agentes polinizadores a carregarem o polem, ao
visitarem as flores, porém de maneira tão complexa que somente o agente
polinizador é capaz de realizar tal função.
A chance de polinização da flor é única, de modo que o polem é condensado em
somente um polinário e este é removido por completo de uma vez, através do
polinizador específico. Por sua vez, o labelo de suas flores apresenta grande
diversidade de estruturas que objetivam direcionar o agente polinizador na posição
correta para que as polínias sejam aderidas ao seu corpo.
As flores podem possuir formas, tamanhos, cores, aromas que atraem a atenção
de polinizadores diversos que correspondem à sua morfologia, como abelhas,
borboletas, mariposas diurnas e noturnas, besouros e beija-flores.
As flores do gênero Coryanthes, por exemplo, secretam continuamente um
líquido de natureza viscosa o qual se deposita em um compartimento formado por
seu labelo. Insetos que atuam como agentes polinizadores, ao tentar coletar este
líquido caem no interior do labelo e somente podem sair por uma pequena abertura.
Desse modo, ao passar por este estreito espaço, os insetos carregam consigo
polínias em seu dorso.
Outra característica peculiar no que diz respeito à polinização está presente
nas flores do gênero Catasetum, as quais podem ser masculinas, femininas ou
hermafroditas. As flores masculinas são comumente mais vistosas que as femininas
e apresentam duas anteras muito sensíveis e próximas ao labelo, as quais, quando
tocadas por agentes polinizadores, ejetam o polinário com força suficiente para
atingir o inseto polinizador, aderindo o polinário ao seu corpo, ou ser lançado em
longas distâncias em uma fração de segundo.
CALVO, R.N. Inflorescence size and fruit distribution among individuals in three
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NEILAND, M.R.M.; WILCCOK, C.C. Fruit set, nectar reward, and rarity in the
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TREMBLAY, R.L.; ARCKERMAN, J.D. Gene flow and effective population size in
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Oncidium Cheiro Kukko “Tokyo”
Daniela da Silva Pereira
3 MÉTODOS DE CULTIVO
Aluna da disciplina de Fitofisiologia Ecológica do Curso de Pós-
Graduação em Fisiologia e Bioquímica de Plantas da ESALQ/USP (2009)
A origem das orquídeas se deu por todo o globo terrestre, desde o Ártico até
os Trópicos, tendo nas regiões mais quentes a maior abundância e variedade de
espécies. Nessa ampla distribuição geográfica, podem-se encontrar espécies
mais restritas a um determinado ambiente e ainda espécies que se desenvolvem
em diferentes habitats, desde lodaçais até prados úmidos, florestas sombrias,
dunas, manguezais, subsolos, árvores, prados e relvados secos.
O sucesso de um cultivo de orquídeas inicia-se na identificação correta do
gênero e espécie e o conhecimento de seu habitat de origem, determinando-se
as suas necessidades naturais em seu meio de dispersão. De acordo com o
ambiente de origem, as orquídeas são classificadas como epífitas, terrestres
ou rupículas.
Epífitas constituem a maior parte das orquídeas. Vivem sobre troncos de
árvores, utilizando-os como suporte. Representam 90% das espécies de
orquídeas, sendo a maior parte das espécies epífitas, tropicais e sub-tropicais.
Terrestres são as que vivem como plantas comuns na terra, em florestas densas
ou campos limpos. Mas ocorrem em uma porcentagem muito pequena em relação
às epífitas. Alguns exemplares, mais cultivados são Cymbidium, Paphiopedilum,
Arundina, Neobenthamia, Bletia. Apesar de terrestres, aceitam muito bem o plantio
em xaxim desfibrado, pois necessitam de substrato para fixar suas carnosas raízes
e nutrir-se de detritos vegetais. A grande maioria das orquídeas de zona temperada
são terrestres.
Rupículas são as que vivem sobre rochas a pleno sol. Mas entenda-se que elas
não vivem agarradas a uma pedra lisa, mas fixadas nos liquens e folhagens
decompostas acumuladas nas fendas e partes rebaixadas da pedra. Ex.: Laelia flava.
Para o cultivo essas preferem regas moderadas.
Sabe-se que ao se retirar uma orquídea de seu habitat, seu metabolismo pode
tentar se adaptar ao ambiente, porém há grandes chances de insucesso na adaptação
e produção de flores ou de outros órgãos, determinando uma baixa produção. Muitas
vezes isso pode ser contornado com boas práticas de manejo, revitalizando o vigor
das plantas. Mas mesmo assim é aconselhável verificar a origem das espécies
para se determinar o local de cultivo.
3.4 Hibridação
Atualmente a hibridação possibilita a aquisição de novas características de valor
no mercado, possibilitando cruzamentos que poderiam ser difíceis de acontecer
em situações naturais. A popularidade das espécies híbridas tem como principal
impulsionador a notável melhoria das qualidades das flores, de aromas, a facilidade
de cultivo e uma maior longevidade de florações provenientes destes cruzamentos.
A criação e cultivo de híbridos têm levado a extensos e trabalhosos tipos de
cruzamentos, os quais nem sempre resultam em boas aquisições de características
melhoradas.
Visando uma aceleração e uma maior possibilidade de cruzamentos, as técnicas
de propagação in vitro vêm propiciando uma aceleração de programas de hibridação
pela maior possibilidade de controle dos fatores adversos presentes no meio e
pelas quantidades de indivíduos gerados a cada geração, neste sentido muitos
trabalhos focaram no estabelecimento de meios de cultura ideais, enquanto outros
tiveram por objetivo o estabelecimento de cruzamentos ideais, visando selecionar
as características de interesse de cada grupo, pela seleção de genótipos.
Sementes e embriões imaturos (óvulos) são usados na produção de híbridos,
principalmente em orquídeas tropicais. Usa-se esse método para diminuir o tempo
de germinação das sementes e de produção de mudas, na maior parte das orquídeas
comerciais. Atualmente existem cerca de 120.000 híbridos registrados, produtos
dos cruzamentos mais diversos, como entre os gêneros Cattleya, Laelia,
Sophronites, Brassavola, Oncidium, Odontoglossum, Miltonia, Dendrobium, etc. No
Brasil, duas grandes famílias são muito representativas de sua espécie, pela beleza,
cor, textura e porte; são as Cattleyas e as Laelias e seus híbridos, Laeliocattleya,
por apresentarem alto vigor em forma e excelente coloração.
Uma vantagem da polinização artificial é que o polem pode ser guardado durante
alguns meses para polinizar uma flor, isso para obter um híbrido de espécies que
florescem em épocas diferentes.
3.13 Substrato
Com exceção das orquídeas terrestres os sistemas radiculares das orquidáceas
não gostam de terra e precisam que suas raízes fiquem bem arejadas, portanto não use
terra ou pó de xaxim, empregue o xaxim desfibrado, carvão vegetal, piaçava ou coxim.
Se ela for terrestre, não use terra preta pura, misture-a em partes iguais com xaxim
desfibrado e areia lavada. Em qualquer hipótese coloque uma camada de pedra brita,
argila expandida ou cacos de vaso no fundo para que a água possa drenar rapidamente.
Os substratos mais comuns são:
· Coco desfibrado com pó: secagem lenta.
· Coco desfibrado sem pó: secagem moderada.
· Musgo ou cubos de coxim: secagem lenta.
· Carvão ou piaçaba: secagem rápida.
· Casca de pínus: secagem moderada, quando sem pó, e lenta se tiver pó.
· Mistura de grãos de isopor, casca de pínus e carvão: secagem rápida.
Um substrato bastante usado é preparado com a mistura em partes iguais de
terra, xaxim e areia. Homogeneizado este substrato deve ser colocado em um vaso
de barro com uma boa drenagem, que pode ser facilitada com a colocação de cacos
de telha ou de vaso.
3.14 Adubação
A orquídea tem crescimento lento se comparado com outras plantas de flores.
Para que seu crescimento ocorra mais facilmente é necessária a aplicação de adubo
podendo ser orgânico ou inorgânico. A frequência de adubação varia com a produção
e pode ocorrer diariamente, semanalmente, quinzenal ou mesmo mensal.
A fertirrigação poderá ser realizada na parte da manhã, principalmente nos dias
frios, sendo que a planta consegue assimilar melhor o adubo se aplicado no período
da manhã (até no máximo às 10hs da manhã), devido ao sol forte a partir deste
período, podendo causar queimaduras nas plantas.
O melhor método de adubação dificilmente é definido e aplicável para qualquer
sistema em todos os locais de produção. A seguir algumas recomendações são
demonstradas para fertirrigação:
· Durante a fase de crescimento adube semanalmente ou quinzenalmente com um
produto que tenha a formulação NPK 30-10-10; na fase que antecede a floração,
podendo ser 3 meses antes do mês previsto para a floração, passe a aplicar uma
formulação NPK 10-30-20; depois que a planta florir, não aplique mais nada até
que comece a brotar de novo, neste caso deve ser aplicada novamente a
formulação NPK 30-10-10.
· Sulfato de amônio, STP e cloreto de potássio, com concentração percentual de 5-
10-10, acrescentando solução com 5% de sulfato de magnésio.
· Sulfato de amônio 0,9 kg, STP 3,2 kg e cloreto de potássio a 60% 0,4 kg e salitre do
Chile 0,5 kg. Dissolver esses 5 kg de mistura em 10 L de água, aplicar uma vez
por mês, dissolvendo 100 ml da solução estoque em 10 litros de água, fertirrigando
a parte aérea e o substrato com 1 L por vaso.
A aplicação de fertilização foliar pode ser melhor em horários próximos da manhã
ou da noite, quando as plantas estão mais túrgidas, fato que aumenta a eficiência da
fertilização, já que os nutrientes podem entrar melhor na planta.
As condições de qualidade da água é um importante fator que influencia no cultivo
de orquídeas. A salinidade na água de irrigação, o excesso de água e a falta, são
fatores que devem ser observados antes de afetarem a qualidade da produção e o
desenvolvimento da planta. A melhor qualidade da água é quando ela apresenta
menos de 125 ppm de sais solúveis.
3.15 Luminosidade
É uma cultura que requer cuidados diários, apresentando a necessidade de ser
cultivada em locais protegidos, como estufas, em que os fatores de produção estão
devidamente controlados.
As estufas devem ser orientadas de norte a sul, para que ao caminhar do sol no
sentido leste-oeste, ele vá gradativamente passando por toda a superfície da planta
e propiciar determinadas temperaturas conforme os gêneros que estão sendo
cultivados. A tabela 1 demonstra as temperaturas exigidas por gêneros e período
do dia:
Tabela 1 - Temperaturas exigidas por gêneros e período do dia
Além disso, sabe-se que os gêneros Laelia, Catteya, Oncidium, Encyclia, Leptotes
e seus híbridos preferem os locais mais iluminados, sendo que os gêneros Stanhopea,
Bifrenaria, Zygopetalum, Gomeza e entre outros, preferem locais mais sombreados.
Nos dias de verão verifica-se que a temperatura pode subir excessivamente,
não precisando de grandes preocupações desde que se possibilite uma circulação
de ar fresco e seco. Sendo que essa ventilação deve ser controlada no inverno.
Para isso permite-se uma ventilação nessa estação apenas por volta do meio dia,
não deixando o ambiente extremamente seco.
O ideal é manter as plantas sob uma tela sombrite de 50 a 70%, dependendo da
intensidade da insolação local. Assim elas receberão claridade em luz difusa
suficiente para realizarem a sua função vital que é a fotossíntese. Além disso, elas
agradecem muito um complemento de luz artificial no inverno, quando os dias são
muito curtos. Se essas conservarem uma cor verde-alface significa que o equilíbrio
de luz está perfeito. Se as folhas estiverem com cor verde garrafa, é sinal de que
estão precisando de mais luz e como resultado disso, no caso de Cattleyas e gêneros
afins, os bulbos ficam alongados e caídos com sérios prejuízos para a inflorescência.
E se estiverem com uma cor amarelada, estão com excesso de luz e isso poderá
causar uma grave desidratação da planta e consequente atrofiamento. Existem
orquídeas que exigem mais sombra: é o caso das microorquídeas, Paphiopedilum,
Miltonias colombianas. Para estas plantas pode ser usada uma tela de 80% ou
uma tela dupla de 50% cada. Há outras que exigem sol direto, como a Vanda teres
e Renanthera coccinea que, se estiverem sob uma tela, poderão crescer
vigorosamente, mas dificilmente darão flor. Além disso, existem outras que exigem
sol direto como C. warscewiczii, C. persivaliana, Cyrtopodium pela simples razão
de ser esse o modo como vivem nativamente.
Referências
SUNSET BOOOK. How to grow orchids. Menlo Park: Lane Book, 1973. 64 p.
TAKANE, R.J.; FARIA, R.T.; ALTAFIN, V.L. Cultivo de orquídeas. Brasília: Editora
LK, 2006. 131 p. (Tecnologia Fácil, 75).
WALDEMAR, S. Cultivo de orquídeas no Brasil. São Paulo: Nobel, 1966. 62 p.
WATANABE, D.; MORIMOTO, M.S. Orquídeas: manual de cultivo. 2. ed. São Paulo:
Associação Orquidófila de São Paulo São Paulo, 2007. 348 p.
Erie stricta
Marisa Vazquez Carlucci1
4 FISIOLOGIA DA PLANTA
Mariah Izar Francisquini2
1
Empresária, produtora de palmeiras ornamentais -
Flora Mata Atlântica, Santos, SP
marisa@floramataatlantica.com.br
2
Bióloga, Doutora em Ciências pelo Centro de Energia
Nuclear na Agricultura/USP, Piracicaba, SP
mariah.francisquini@gmail.com
Engler Cronquist
4.3 Morfologia
Família Orchidaceae: plantas herbáceas perenes terrestres ou epífitas,
rizomatosas ou caulescentes, com raízes suculentas ou não, algumas vezes
trepadeiras com caule escandente (Vanilla) e excepcionalmente saprófitas e então
sem clorofila. Raízes com velame nas espécies epífitas. Pseudobulbos frequentes,
originados do caule intumescido ou do pecíolo da folha. Folhas em geral mais ou
menos suculentas. Flores isoladas ou em panículas ou racemos, às vezes em espiga.
Flor fortemente zigomorfa, com perigônio coralino, composto de 6 elementos, sendo
3 externos semelhantes a 2 internos e o terceiro interno mais desenvolvido e
geralmente bem diferente, o labelo, de posição inferior no botão, devido a uma torção
de 180O do ovário ou do pedúnculo, é colocado em posição superior, por ocasião da
antese. Labelo altamente modificado em certos gêneros, com esporão, ou então
parcialmente soldado à coluna. Androceu composto por dois (Diandrae) ou, o caso
mais frequente, por um (Monandrae) só estame fértil e, neste caso, com filete
totalmente soldado ao estilete formando a coluna. Deste estame fértil somente a
antera está diferenciada. Esta ocupa uma posição terminal no ápice da coluna. Antera
com duas teças, com o polem na maioria das espécies aglutinado em massas
cerosas; estas, as políneas, em número de 2 a 8 por antera, às vezes prolongadas
em uma porção estéril, o caudículo. Antera apoiando-se em um lobo do estigma,
que se prolonga como uma membrana, o rostelo, e que impede, mais ou menos, a
entrada para os lobos férteis do estigma (2), que frequentemente são confluentes.
Estaminódios às vezes desenvolvidos sob a forma de sistemas glandulares. Em
certos gêneros o rostelo modificado integra-se à estrutura da polínia, constituindo-
se em uma ou mais porções pegajosas, chamadas de viscídias. Ovário ínfero,
tricarpelar, uni ou trilocular, não muito diferenciado por ocasião da antese, com muitos
óvulos em 3 placentas parietais. Fruto capsular deiscente por 3 fendas. Sementes
minúsculas, sem endosperma e com embrião não diferenciado (JOLY, 1976).
Hoehne (1946) caracteriza as orquidáceas desse modo: as Orchidaceas cabem,
nas monocotiledôneas, na série das microspermas, isto é, das plantas de sementes
microscópicas, quase imperceptíveis quando encontradas fora das cápsulas. Entre
as microspermas, constituem a subsérie das gynandras, por apresentarem o
androceu e o gineceu concrescidos em uma coluna ou ginostema. A estrutura das
suas flores obedece o tipo predominante nas monocotiledôneas: cinco verticilos de
ternos, ou seja 3 sépalas, 3 pétalas, 3 estames do verticilo externo e 3 do interno e
3 estiletes. Tudo sofre, entretanto, grande modificação tanto pela supressão de
segmentos do perianto como do androceu e gineceu, como pela transformação e
inversão de algumas partes. As sépalas podem ser total ou parcialmente
concrescidas entre si e algumas vezes também com as pétalas; mas estas
determinam uma maior modificação no aspecto do perianto, porque o ímpar
transforma-se em labelo e como o ovário quase sempre executa uma completa
torção, apresenta-se não voltado, mas afastado da raque, virado para a bráctea.
Desta preliminar devemos partir quando pretendemos estudar a morfologia das
orquidáceas, porque, no reino vegetal, as características essenciais para distinção
de ordens, séries, tribos, gêneros, espécies e variedades estribam-se na estrutura
floral.
4.11 Substratos
Segundo Silva (1972), o principal material para o plantio de orquídeas é o xaxim,
que é retirado do tronco de uma planta semelhante a uma palmeira, cujo nome
vulgar é samambaia-ussu e seu nome botânico é: Dicksonia sellowiana. O substrato
de D. sellowiana é constituido pelo sistema radicular aéreo dessa pteridófita da
família das Ciatheaceas que forma um pseudocaule nas condições naturais (CASTRO
et al., 1977). Retira-se a fibra que envolve o tronco e têm-se as placas de xaxim,
que devem ser desintegradas numa picadora de forragem ou máquina semelhante,
após o que a fibra está pronta para ser usada. Infelizmente essa excelente fibra foi
explorada excessivamente sendo rara atualmente.
Ainda, segundo Silva (1972), depois do xaxim, temos o Polypodium, que é também
uma espécie de samambaia. Produz essa planta uma quantidade enorme de raízes
que são macias e também ótimas para o plantio de orquídeas.
Outro material, que serve de substrato para as referidas orquídeas é a fibra da
raiz da Osmunda regalis, chamada vulgarmente de samambaia-real. A Osmunda é a
principal fibra para os europeus e americanos.
Ainda usada, se bem que em escala reduzida, tem sido a casca de barbatimão,
a qual precisa ser previamente analisada quimicamente.
Os norte-americanos praticamente resolveram o problema de substrato para o
cultivo de orquídeas, passando a usar a casca de algumas variedades de pinheiros
e que são apresentadas no mercado sob o nome de “fir-bark”. Não temos no Brasil
essas mesmas variedades de pinheiro de que dispõem os americanos, mas nos últimos
anos tem sido intensivo o plantio de algumas espécies de pinus, tais como elliottii,
taeda e caribea. Conquanto não tenhamos ainda procedido a uma análise química da
casca do Pinus elliottii a primeira impressão é que esse material parece ser adaptável
para o plantio de orquídeas, especialmente de Cymbidium, devendo-se, porém, não
esquecer que uma adubação mensal se torna indispensável, para uma boa nutrição.
Há referências ainda quanto ao uso da fibra de coco, material à disposição dos
orquidófilos da região do estado da Bahia até o Ceará. Excelente sob todos os
aspectos, (e muito especialmente para Dendrobium) tem apenas o inconveniente
de exigir uma boa desfibradora, para poder ficar em condições de uso.
Devemos também fazer referência à argila expandida que é um material utilizável
para o cultivo, mas requerendo também uma adubação química, pois, tratando-se
de um substrato inerte, logicamente requer o auxilio de nutrientes onde as plantas
possam buscar os elementos necessários para seu desenvolvimento. Argila
expandida é nada mais que barro submetido industrialmente a uma alta temperatura
e apresentado no comércio em vários tamanhos sob a designação de cinasita. O
emprego dessa argila expandida, em vasos pequenos destinados a plântulas parece-
nos inconveniente, porque tendem a secar com facilidade e necessitariam de mais
de uma rega diária. Mas, no caso de vasos de tamanho médio ou grande, o emprego
dessa argila é aconselhável sob vários aspectos, inclusive na parte sanitária, pois
se trata de um substrato limpo de pragas e doenças se considerarmos que ele é
submetido a uma altíssima temperatura na sua fase de elaboração.
Poucos estudos foram realizados sobre a nutrição e adubação das orquídeas.
As soluções de Hoagland e Arnon e de Wagner e Poesch, em concentrações
adequadas, mostraram resultados favoráveis ao estado nutricional dessas epífitas
em experimentos realizados nos Estados Unidos. Em nosso meio, Malavolta e Kobal,
tentativamente, verificaram resultados promissores com a utilização de uma
mistura de sulfato de amônio, superfosfato triplo e cloreto de potássio, de modo
que o teor porcentual resultante era 5 - 10 - 10 ou seja, 5% de Nitrogênio, 10% de,
P2O5 e 10%, de K2O; além da adição, à mistura, de 5% de sulfato de magnésio. As
orquídeas podem ser nutridas totalmente pela adubação foliar. O Departamento de
Genética da ESALQ utiliza a formulação:
a) Prepara-se a seguinte solução estoque:
sulfato de amônio ................................... 0,9kg
salitre do chile ........................................ 0,5kg
superfosfato ........................................... 3,2kg
cloreto de potássio ................................. 0,4kg
total ......................................................... 5,0kg
b) Uma vez por mês, dissolver 100 mL da solução estoque em 10 litros de água e
regar as plantas (parte aérea e substrato), na proporção de 1 litro por vaso de
orquídea.
———ppm———
Ca 1
Mg 33
K 113
Na 41
P 103
Cl 14
S 46
Fe 0,8
Carboidratos 246
Proteínas 16
Lipídios 1
Baseado nos dados acima calculou níveis de soluções nutritivas para orquídeas
que considerou ideal, estando dentro destes limites:
———ppm———
A fórmula abaixo calculada, a partir dos níveis considerados ideais, foi tida como
satisfatória:
———g———
Fosfato de potássio 14
Nitrato de potássio 14
Nitrato de sódio 14
Sulfato de amônio 14
Sulfato de magnésio 14
Ácido muriático 3 ou 4 gotas
Água 38 litros
4.13 Fotossíntese
As orquídeas podem fixar o carbono existente na atmosfera através de dois
modelos fotossintéticos principais: orquídeas terrestres (thin-leaved), que fixam
carbono pelo modelo C3 e aquelas thick-leaved, que apresentam o modelo CAM
(metabolismo ácido das crassuláceas) de fixação do carbono.
Orquídeas terrestres (thin-leaved) fixam carbono pelo modelo C3. Evidências
diretas para isto foram obtidas a partir de experimentos com CO2 radioativo (14CO2).
Após 60 minutos de exposição à luz e 14CO2, cerca de 1/3 do carbono fixado foi
encontrado no primeiro produto estável do modelo C3 (PGA ou ácido 3-fosfoglicérico).
Pouco mais de 50% foi incorporado em açúcares de seis carbonos (AVADHANI et
al., 1982). Arditti (1994) descreve outras evidências de que as orquídeas terrestres
apresentam fotossíntese do tipo C3:
4.15 Respiração
A energia consumida pelas orquídeas pode ser obtida a partir de carboidratos,
lipídeos, proteínas e outras substâncias, numa série de reações conhecidas como
respiração, que apresenta como base a oxidação controlada de substâncias
orgânicas. Na respiração, o carbono é oxidado a gás carbônico e água, sendo
produzido ATP. De maneira geral, a respiração utiliza ácido pirúvico como substância
que dará início ao Ciclo de Krebs, também conhecido como Ciclo do Ácido Cítrico.
As reações da respiração podem ser agrupadas em três processos principais:
glicólise, ciclo do ácido cítrico e fosforilação oxidativa.
A sequência inicial de reações responsáveis pela liberação de energia para a
célula é conhecida como glicólise. A glicólise ocorre inicialmente com uma glicose,
substrato mais comumente utilizado pelas plantas nessa etapa, que será
parcialmente oxidada via açúcares de seis carbonos (hexoses-fosfato) e açúcares
de três carbonos (trioses-fosfato), para ao final produzir um ácido orgânico
(piruvato). Nas orquídeas o ácido pirúvico é convertido em acetil-coenzima A (acetil-
coA), que então entra no Ciclo de Krebs para ser completamente oxidado. Isso gera
a maior parte do poder redutor (16NADH + 4FADH2 equivalentes, por sacarose). Parte
da energia da oxidação do acetil-coA é utilizada para converter adenosina difosfato
(ADP) em adenosina trifosfato (ATP) em uma cadeia transportadora de elétrons,
que consiste em um conjunto de proteínas de transporte de elétrons ligadas à
membrana mitocondrial interna. Tal sistema transfere elétrons do NADH e FADH2
produzidos nas etapas anteriores, ao oxigênio. O ATP é utilizado pelos organismos
em reações que requerem energia.
4.16 Fotorrespiração
Uma rota respiratória que ocorre em conjunto com a fotossíntese, mais
comumente em plantas C3 é denominada de fotorrespiração. Isto se deve graças a
uma importante propriedade da rubisco, de catalisar tanto a reação de carboxilação,
quanto a reação de oxigenação, iniciando uma série de eventos fisiológicos, em
que a absorção de oxigênio dependente da luz está associada à liberação de CO2
em folhas fotossinteticamente ativas. Este processo funciona em direção oposta à
fotossíntese, causando uma perda de CO2 fixado pelo ciclo de Calvin.
A oxigenação pela rubisco no cloroplasto gera um intermediário que é
rapidamente quebrado em 2-fosfoglicolato e 3-fosfoglicerato. O 2-fosfoglicolato é
rapidamente hidrolisado à glicolato. O metabolismo sequente do glicolato envolve a
cooperação de outras duas organelas: peroxissomas e mitocôndrias.
O glicolato difunde-se para o peroxissoma, produzindo H2O2 e glioxilato. O H2O2
é destruído, formando O2, enquanto o glioxilato passa por uma transaminação,
formando glicina. A glicina então deixa o peroxissoma e entra na mitocôndria, em
que duas moléculas de glicina serão convertidas a uma molécula de serina, com a
concomitante liberação de gás carbônico (por isso o processo é conhecido como
fotorrespiração, pois ocorre liberação de CO2) e NH4+. A serina então flui para o
cloroplasto, onde é fosforilada a 3-fosfoglicerato, e incorporada ao ciclo de Calvin.
Evidências mostram que orquídeas thin-leaved como Spathoglottis plicata e
Eulophia keithii fotorrespiram. Outras espécies de orquídeas que também
fotorrespiram são: Arundina graminifolia, Coelogyne mayeriana, Coelogyne
rochussenii, Oncidium flexuosum, Oncidium sphacelatum, Paphiopedilum barbatum
e Tainia penangiana.
Referências
AVADHANI, P.N.; GOH, C.J.; RAO, A.N.; ARDITTI, J. Carbon fixation in orchids. In:
ARDITTI, J. (Ed.). Orchid biology: reviews and perspectives. Ithaca: Cornell
University Press, 1982. p. 173-193.
BOSE, T.K; MUKHOPADHYAY, T.P. Effect of the day length on growth and flowering
of some tropical orchids. Orchid Review, London, v. 85, n. 1010, p. 245-247, 1977.
DYCUS, A.M.; KNUDSON, L. The role of the velamen of the aerial roots of orchids.
Botanical Gazette, Chicago, v. 119, p. 78-87, 1957.
ROTOR JR., G.B. The photoperiodic and temperature responses of orchids. In:
WITHNER, C.L. (Ed.). The orchids: a scientific survey. New York: John Wiley,
1959. p. 397-418.
SILVA, W. Cultivo de orquídeas no Brasil. 2. ed. São Paulo: Nobel, 1972. 100 p.
WITHNER, C.L. Orchid physiology. In: ______. (Ed.). The orchids: a scientific
survey. New York: John Wiley, 1959. p. 315-360.
Brassolaeliocattleya Yellow Imperial var. Golden Graf
Leonardo Cirilo da Silva Soares
5 FOTOPERIODISMO E TEMPERATURA
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5.1 Introdução
Fatores ambientais e genéticos, operando conjuntamente por meio de
processos fisiológicos, controlam o crescimento e desenvolvimento das plantas.
A duração da luz, considerando-se especialmente a duração do período luminoso,
ou fotoperíodo, corresponde a um dos principais aspectos da interação das
plantas com seu ambiente, controlando o desenvolvimento por influenciar
processos como a floração, germinação de sementes, crescimento de caules e
folhas, formação de órgãos de reserva, e partição de assimilados. As respostas
ao fotoperíodo são moduladas pela temperatura.
O crescimento vegetativo e a floração de muitas plantas podem ser
controlados através da variação do comprimento do dia. Esta é a essência do
fotoperiodismo, que foi definida como a resposta das plantas para o período
diário de luz. Quando Garner e Allard divulgaram seus resultados em 1920, grande
surpresa foi expressa por muitos pesquisadores, embora esta não fosse a primeira
vez que o fenômeno tivesse sido observado. Dentro de um curto período, os estudos de
comprimento do dia em um grande número de espécies de plantas, foram publicados
por vários pesquisadores.
Fotoperíodo pode ser definido como o tempo em horas entre o nascer e o pôr-
do-sol. Em um determinado lugar, o fotoperíodo é função da latitude local, sendo a
principal variável associada à influência da data de semeadura sobre a maturação.
Contudo, outras variáveis, como a acumulação térmica e a umidade do solo, podem
apresentar efeitos importantes no desenvolvimento das plantas.
O uso de baixas temperaturas para induzir a floração em algumas plantas, é
conhecido há muitos anos e tem sido referida como termo-indução. Aipo e repolho
são exemplos de plantas que têm sido utilizados para demonstrar a indução de
flores por meio de tratamentos com baixa temperatura.
Parece que os fatores determinantes do ambiente, que controlam o crescimento
e o desenvolvimento, são a temperatura e a luz (sua presença ou ausência), e que,
uma vez que estes fatores tenham a oportunidade de operar com o grau necessário,
um novo conjunto de condições, incluindo a relação entre carbono e nitrogênio,
relações hídricas, nutrição geral, e assim por diante, passam a operar e determinar se
uma planta deve apresentar crescimento vegetativo, em última instância ou pré-produção.
Os produtores de plantas ornamentais têm estado geralmente muito preocupados
com os fatores que promovem o crescimento ótimo sendo que em muitos casos, é
o comprimento do dia ou a temperatura ou ambos, que são responsáveis pela indução
da floração. Produtores de orquídeas em particular, têm consciência disso, embora
alguns tenham ajustado inconscientemente as suas operações de forma a coincidir
com a duração do dia ou da temperatura, em condições de suas localidades.
Até 1948, orquídeas nunca tinham sido utilizadas para estudos de
comprimento do dia, embora a essa altura praticamente todas as flores de corte
importantes já haviam sido pesquisadas. Na verificação do comprimento do dia
e reações à temperatura de sessenta e nove ornamentais, considerou-se que a
formação de gemas em orquídeas ainda não havia sido estudada de uma forma
detalhada.
Estudou-se a iniciação floral e o desenvolvimento de gemas em Cattleya x Pinole
e concluiu-se que a formação de gemas florais foi definitivamente relacionada com
o comprimento da parte aérea no desenvolvimento vegetativo de pseudobulbos.
Mas a conclusão com Cattlyea x Pinole não foi constatada em estudos com várias
espécies de Cattleya que foram pesquisadas, e é duvidoso que a formação de flores
e brotações tenha qualquer relação com o comprimento do pseudobulbo em
desenvolvimento.
TEMPERATURA (oc)
ESPÉCIES EFEITOS DE DIAS LONGOS EFEITOS DE DIAS CURTOS
CRESCIMENTO BROTAMENTO
AWAD, M.; CASTRO, P.R.C. Introdução à fisiologia vegetal. São Paulo: Nobel,
1983. 177 p.
BLEASDALE, J.K.A. Fisiologia vegetal. São Paulo: EPU; EDUSP, 1977. 176 p.
GARNER, W.W.; ALLARD, H.A. Effect of relative lenght of day and night and others
factors of the environment growth and reproduction in plants. Journal of
Agricultural Research, Washington, v. 18, n. 11, p. 553-606, 1920.
GOUDRIAAN, J.; VAN LAAR, H.H. Modelling potential crop growth processes:
textbook with exercices. Amsterdam: Kluwer Academic Press, 1994. 238 p.
______. Florist crop production and marketing. New York: Orange Judd Publ.,
1949. 891 p.
SCULLY, N.J.; DOMINGO, W.E. Effect of duration and intensity of light upon
flowering in several varieties and hybrids of castor bean. Botanical Gazette,
Chicago, v. 108, n. 4, p. 556-570, 1947.
VAZ, A.P.A.; SANTOS, H.P.; ZAIDAN, L.B.P. Floração. In: KERBAUY, G.B. Fisiologia
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WHATLEY, J.M.; WHATLEY, F.R. A luz e a vida das plantas. Trad. de G. M. Felipe.
São Paulo: EDUSP, 1982. 101 p.
WHYTE, R.O. History of research in vernalization. In: MURNEEK, A.E.; WHITE, R.O.
Vernalization and photoperiodism. New York: The Ronald Press, 1948. (A
Chronica Botanica Publication, 1).
Phalaenopsis schilleriana
José Djair Vendramin1
6.1 Introdução
Um grande número de pragas têm sido registrado atacando orquídeas,
embora boa parte delas não provoque danos consideráveis às plantas. Insetos
e ácaros constituem-se em problema frequente, além de lesmas, caracóis e
tatuzinhos que também podem causar danos significativos nessa ornamental.
De modo geral, o sistema de cultivo, as mudanças climáticas (especialmente
de temperatura e chuvas), a eliminação de inimigos naturais através da aplicação
de produtos químicos não seletivos, podem levar ao aparecimento ou aumento da
população de pragas.
Algumas dessas pragas atacam apenas um ou dois gêneros de orquídeas,
enquanto outras apresentam distribuição mais ampla atacando os mais diversos
gêneros.
É comum se observar o aparecimento de pragas pouco tempo após a introdução
de novas plantas nos orquidários. Isso pode ser evitado com a manutenção de uma
área onde as plantas introduzidas podem ser isoladas do resto da coleção por
algumas semanas. Durante esse período, duas ou três aplicações de produtos com
ação inseticida e acaricida, espaçadas de 10 a 15 dias, normalmente evitam focos
de infestação. Além disso, é recomendável que se faça a inspeção contínua das
plantas. É importante aprender a reconhecer a praga, já que isto pode auxiliar na
seleção da técnica de controle a ser empregada.
Assim, as informações contidas neste trabalho têm o objetivo de servir como
um guia para facilitar o reconhecimento e estabelecer o método de controle das
mais importantes pragas das orquídeas assinaladas no Brasil.
INSETOS
6.2.3 Prejuízos
Os danos causados pelas cochonilhas são basicamente resultantes da sucção
contínua de seiva vegetal e injeção de toxinas, o que provoca atraso no
desenvolvimento, amarelecimento e até o secamento da planta, dependendo da
população de insetos e da estrutura vegetal atacada. As substâncias açucaradas
excretadas continuamente pelas formas imaturas e adultas favorecem o
desenvolvimento da fumagina, um fungo de coloração escura, que também é
prejudicial, por alterar os processos fisiológicos das plantas. As formigas doceiras
também atraídas por essas substâncias, contribuem para a disseminação das
cochonilhas, podendo dar picadas doloridas em pessoas que estão em contato com
as plantas.
Todas as cochonilhas citadas ocorrem em orquídeas dos gêneros Laelia e
Cattleya. Também já foi constatado o ataque de P. proteus em Vanda; P.
parlatorioides em Oncidium; C. ficus em Coelogyne, Vanda e Dendrobium; A.
epidendri em Paphiopedilum, Oncidium, Miltonia e Encyclia, além de Saissetia
sp., P. noacki e Planococcus sp. em Dendrobium.
6.2.4 Controle
Em ataques iniciais, recomenda-se a eliminação ou limpeza das partes
infestadas. Em ataques intensos, pode ser feita a poda e destruição das partes
mais infestadas. O controle químico dependerá da população de cochonilhas:
pulverização com óleo mineral a 1% em baixas infestações; mistura de óleo mineral
a 1% e fosforados não sistêmicos em populações intermediárias e pulverização
com sistêmicos ou granulados no substrato (carbamatos ou fosforados) em ataques
intensos. Tanto os óleos minerais como os granulados devem ser aplicados com
cuidado, pois, em certas concentrações, podem ser fitotóxicas. No caso de
sistêmicos aplicados no substrato, deve ser colocada quantidade inferior a uma
colher de café do produto por planta, espalhando o inseticida e cobrindo-o após a
aplicação. A irrigação deve ser feita para que o produto sistêmico possa translocar pela
planta. No caso de cochonilhas móveis, deve-se sempre aplicar produtos sistêmicos.
6.3.1 Prejuízos
Essas três espécies provocam danos bastante semelhantes. Tanto as ninfas
como os adultos sugam a seiva das plantas levando ao aparecimento, nos locais
da picada, de pequenas manchas arredondadas (em grande número), de cor
amarelada, em contraste com o fundo verde das folhas. Tal sintoma é
denominado estigmonose (Prancha 2C). Atacam principalmente as folhas de
Cattleya, Laelia e Encyclia.
6.3.2 Controle
Pulverização com fosforados, clorofosforados ou carbamatos, utilizando-se,
sempre, como nos demais casos, produtos de baixa toxicidade ao aplicador e de
alta seletividade a inimigos naturais. A adição de sal de cozinha (NaCl) na
concentração de 0,5% (50 g de sal para cada 10 L de calda inseticida), permitirá a
redução da dose do produto em até 50%.
6.4.1 Prejuízos
Os danos são semelhantes àqueles causados pelas cochonilhas (Prancha 4B,
5C e D). Formam grandes colônias nas folhas, brotações e inflorescências, onde
sugam seiva continuamente provocando o enfraquecimento das plantas, reduzindo
o desenvolvimento, provocando deformações, além de propiciar o desenvolvimento
de fumagina. Todas as espécies citadas apresentam preferência por plantas de
Cattleya e Laelia.
6.4.2 Controle
Como medida mecânica, utilizar telados antiafídios em torno dos orquidários. O
controle químico pode ser feito através de pulverização com sistêmicos (carbamatos
ou fosforados) ou produtos sistêmicos no substrato.
6.5.1 Prejuízos
A fêmea adulta perfura o ovário da flor ou as espatas ainda fechadas para
ovipositar e as larvas raspam os botões florais, o interior dos ovários e as flores. O
ataque às espatas leva à destruição de toda a flor (Prancha 6B). Além das
inflorescências, o inseto ataca também as folhas novas. As duas espécies têm sido
assinaladas em Laelia, Cattleya, Epidendrum e Dendrobium.
Mordellistena cattleyana Champion. Vulgarmente denominada larva-mineira-
das-orquídeas, mede, na fase adulta, cerca de 2,0 mm de comprimento; apresenta
formato cuneiforme e coloração geral marrom com duas faixas escurecidas em
cada élitro. A postura é efetuada no interior de um orifício feito pela fêmea na face
superior das folhas.
6.5.2 Prejuízos
As larvas fazem galerias nas folhas, geralmente na direção das nervuras. Em
geral, na face inferior, o tecido foliar apresenta-se necrosado. Podem ser encontradas
diversas larvas em uma só folha. Completado o ciclo, o adulto emerge, deixando
um orifício característico. Ataca principalmente plantas de Laelia e Cattleya.
Sparnus globosus Clark. É um besouro com hábito saltador, semelhante a
pulgas, com cerca de 6,0 mm de comprimento e coloração amarela, com sete
ou nove manchas negras em cada élitro. A cabeça, as pernas e o abdome são
amarelos.
Exartematopus sp. Também apresenta o hábito de saltar; mede cerca de 8,0
mm de comprimento e tem coloração amarela sem manchas. A cabeça, as pernas
e o abdome são negros.
Diabrotica speciosa (Germar). Caracteriza-se por possuir em cada élitro seis
manchas amarelas. Tem coloração geral verde e 4,5 a 5,0 mm de comprimento
(Prancha 7).
6.5.3 Prejuízos
S. globosus e Exartematopus sp. causam escarificações em folhas novas,
rebentos, espatas, botões florais e flores. Os danos provocados por D. speciosa
podem se restringir a simples raspaduras ou podem destruir áreas do tecido floral
de que se alimentam. As três espécies têm sido referidas principalmente em plantas
de Laelia e Cattleya.
6.5.4 Controle
Os besouros podem ser controlados através de pulverização com produtos com
efeito de choque (piretróides ou fosforados) ou com reguladores vegetais ao início
do ataque. A coleta e eliminação de adultos e a poda e eliminação das partes
infestadas, são também recomendadas.
6.6.1 Prejuízos
Os danos são causados pelas larvas no interior dos pseudobulbos e brotações,
cujos tecidos são destruídos, o que leva ao intumescimento dessas estruturas. Os
brotos, além da hipertrofia, ficam frágeis, adquirindo inicialmente coloração pardo-
avermelhada, enegrecendo a seguir. Nas plantas atacadas, normalmente ocorre
atraso do desenvolvimento, destruição da flor ainda na fase inicial e secamento
dos brotos, o que, em altas infestações, pode culminar com a morte da planta. A
infestação dessa praga é mais comum no inverno.
Calorileya nigra Gomes. É uma vespinha que na fase adulta apresenta coloração
geral escura, com cerca de 2,5 mm de comprimento (Prancha 9A). As larvas são
esbranquiçadas, ápodas e recurvadas, medindo de 2,0 a 2,5 mm de comprimento,
quando completamente desenvolvidas.
6.6.2 Prejuízos
Atacam as raízes, provocando a formação de galhas na região apical (Prancha
9B e C). O ciclo evolutivo completa-se em 50 a 60 dias e o adulto sai da raiz através
de um orifício na galha.
6.6.4 Controle
As vespas e abelhas podem ser controladas por meio de poda e eliminação
(queima) de regiões atacadas e colocação de superfícies plásticas ou de papelão
(retângulos de 5 x 10 cm) no orquidário, contendo inseticidas fosforados, solução
açucarada e cola (sticky) para atração e captura de vespinhas. Os adultos podem
ser controlados com a pulverização de fosforados, clorofosforados ou piretróides.
No caso da abelha-irapuá, eliminar os ninhos em árvores.
6.7.1 Prejuízos
Os adultos e ninfas de A. orchidearum, ao se alimentarem dos tecidos florais,
provocam a formação de manchas necróticas que depreciam o valor comercial da planta
(Prancha 10 C e D). T. xanthius ataca principalmente plantas de Cattleya e Laelia
além de seus híbridos. Adultos e ninfas raspam e sugam a face superior das folhas
novas ainda fechadas, provocando lesões simétricas em forma de V, de coloração
pardo-avermelhada e, na sua evolução, podem até causar a morte das plantas.
6.7.2 Controle
Armadilhas adesivas brancas (idênticas àquelas descritas para vespinhas)
dependuradas no orquidário, para coleta de adultos e pulverização com fosforados.
6.8.1 Prejuízos
As lagartas penetram no tecido vegetal e efetuam galerias no seu interior (Prancha
11B). Ao final do desenvolvimento, o adulto sai pelo orifício utilizado pela lagarta para
eliminação das excreções. As partes atacadas apresentam-se amarelecidas.
6.8.2 Controle
Poda e eliminação de pseudobulbos atacados e pulverização com fosforados,
clorofosforados, carbamatos, piretroides, reguladores vegetais (preferíveis por
serem mais seletivos) ou produtos biológicos como Bacillus thuringiensis (Bt).
No caso de aplicação de reguladores vegetais, maior eficiência é obtida se as
lagartas forem pequenas.
6.9.2 Prejuízos
É uma praga de rápida disseminação. Inicialmente, as larvas se alimentam de
fungos presentes no substrato. Com o aumento da população, as larvas passam a
se alimentar das raízes das orquídeas, formando galerias no seu interior e facilitando
a entrada de microrganismos oportunistas. Em pouco tempo pode ocorrer, além da
podridão do tecido atacado, a murcha e morte das plantas. Essa praga é comumente
encontrada em orquídeas dos gêneros Phalaenopsis, Dendrobium, Oncidium, Vanda
e Cymbidium.
6.9.3 Controle
Realizar a solarização, tratamento químico ou autoclavagem visando à esterilização
de substrato. No caso da reutilização de vasos e bandejas, promover a desinfestação
com hipoclorito de sódio ou água sanitária a 10%. A utilização de produtos biolarvicidas
de mosquitos à base da bactéria Bacillus thuringiensis variedade israelensis pode
ser uma boa opção. Vale ressaltar que a aplicação desses produtos deve ocorrer
no final do dia, período em que a larva se encontra na superfície do substrato e/ou
vaso, devido ao decréscimo da temperatura ambiental e da luminosidade. Ácaros
são comumente vendidos por empresas para controle dessa praga.
Outras pragas
6.10 Ácaros
6.10.2 Prejuízos
Causam prateamento e seca de folhas e transmitem o vírus da mancha das
orquídeas (Orchid fleck virus - OFV), que provoca áreas necróticas nas folhas. A
transmissão desse vírus pelo ácaro já foi citada em vários países, inclusive no
Brasil (vide principais doenças das orquídeas no Brasil).
6.10.4 Prejuízos
Inicialmente, a face superior das folhas atingidas apresenta manchas cloróticas
irregulares, enquanto na face inferior surgem pontuações esbranquiçadas entre as
nervuras que se mantêm verdes. A seguir, as folhas apresentam clorose geral,
secam, podendo mesmo ocorrer a morte da planta sob altas infestações.
6.10.6 Prejuízos
As folhas atacadas tornam-se prateadas, murcham e sofrem abscisão prematura.
6.10.7 Controle
Os ácaros podem ser controlados com acaricidas específicos ou piretróides.
Fazer rodízios na aplicação de produtos acaricidas para diminuir problemas de
resistência.
6.11.2 Prejuízos
Raspam raízes e brotos de orquídeas.
6.11.3 Controle
Iscas à base de açúcar mascavo ou melaço (100 g), farelo de trigo (1000 g),
inseticida fosforado (100 g) e água (1/2 litro).
6.12 Lesmas e caracóis (Ordem Stylommatophora)
Vaginula sp. e Veronicella sp. São lesmas que possuem hábito noturno,
abrigando-se durante o dia em lugares escuros e úmidos, onde depositam massas
de ovos translúcidos, cuja coloração varia do creme ao amarelo-brilhante.
Bradybaena similaris (Férussac). Um dos caracóis mais encontrados em
orquídeas, caracteriza-se pela presença de uma concha calcária de 10,0 a 15,0 mm
de diâmetro, de coloração pardo-clara ou amarelada. Quando importunados, os
caramujos recolhem o corpo dentro da concha, permanecendo imóveis.
6.12.1 Prejuízos
As lesmas (Prancha 14) e caracóis são prejudiciais principalmente às orquídeas
quando atacam plântulas. Podem causar grandes estragos destruindo brotos novos,
botões e flores, além de raízes.
6.12.2 Controle
Armadilhas com cerveja ou farelo de trigo ou ração como atraentes são
recomendadas. A cerveja deve ser colocada em recipientes no substrato, embebida
em sacos de estopa ou misturada com resíduos de farelo de trigo ou ração. Se
possível, eliminar os ninhos ou locais que sirvam de abrigo aos moluscos. O controle
químico pode ser feito com iscas à base de metaldeído (5% de metaldeído, 85% de
farelo de trigo e 10% de melaço com açúcar mascavo). Fazer uma mistura e
distribuir entre os vasos. A isca é tóxica e deve-se tomar cuidados para sua
aplicação.
Hemiptera
Cochonilhas
Diaspididae Diaspis boisduvali Signoret
Diaspididae Parlatoria proteus (Curtis)
Diaspididae Pseudoparlatoria parlatorioides (Comstock)
Diaspididae Niveaspis cattleyae Lepage
Diaspididae Chrysomphalus ficus (Asmead)
Diaspididae Furcaspis biformis Cockerell
Conchaspididae Conchaspis baiensis Lepage
Asterolecaniidae Asterolecanium epidendri Bouché
Margarodidae Icerya brasiliensis Hempel
Coccidae Coccus pseudohesperidium Green
Coccidae Platinglisia noacki Cockerell
Coccidae Saissetia sp.
Pseudococcidae Planococcus sp.
Percevejos
Miridae Tenthecoris orchidearum (Reuter)
Miridae Neoneella zikani Lima
Miridae Neofurius carvalhoi Lima
Pulgões
Aphididae Cerataphis latanae (Boisduval)
Aphididae Macrosiphum luteum (Buckton)
Aphididae Myzus persicae (Sulzer)
Aphididae Aphis sp.
Coleoptera
Curculionidae Diorymerelllus lepagei Monte
Curculionidae Diorymerelllus minensis Monte
Mordellidae Mordellistena cattleyana Camp.
Alticidae Sparnus globosus Clark
Alticidae Exartematopus sp.
Chrysomelidae Diabrotica speciosa (Germar)
Hymenoptera
Eurytomidae Eurytoma orchidearum (West.)
Eurytomidae Calorileya nigra Gomes
Apidae Trigona spinipes (F.)
Thysanoptera
Thripidae Aurantothrips orchidearum.(Bondar)
Thripidae Taeniothrips xanthius (Williams)
Thripidae Selenothrips rubrocinctus (Giard)
Thripidae Frankliniella sp.
Phloeothripidae Gynaikothrips ficorum (Marchal)
Lepidoptera
Castniidae Castnia therapon Kollar
Diptera
Sciaridae Bradysia sp.
II - OUTRAS PRAGAS
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Biólogo Heraldo Negri de Oliveira pela parte fotográfica;
à Dra. Renata Chiarini Monteiro Cônsoli, pela identificação do tripes Aurantothrips
orchidearum e ao Dr. Gilberto José de Moraes, pela identificação do ácaro
Brevipalpus californicus.
Prancha 1 - Cochonilhas
Prancha 2 - Ninfa (A), adulto (B) e dano (C) de Tenthecoris orchidearum
Fonte: Lepage e Figueiredo Jr. (1947)
DEKLE, G.W.; KUITERT, L.C. Orchid insects, related pests and control.
Gainesville: Florida Department of Agriculture, Division of Plant Industry, 1968.
28 p. (Bulletin, 8).
GALLO, D.; NAKANO, O.; SILVEIRA NETO, S.; CARVALHO, R.P.L.; BAPTISTA, G.C. de;
BERTI FILHO, E.; PARRA, J.R.P.; ZUCCHI, R.A.; ALVES, S.B.; VENDRAMIM, J.D.;
MARCHINI, L.C.; LOPES, J.R.S.; OMOTO, C. Entomologia agrícola. Piracicaba:
FEALQ, 2002. 920 p.
LEPAGE, H.S.; FIGUEIREDO JÚNIOR, E.R. As pragas das orquidáceas. São Paulo:
Instituto Biológico, 1947. 48 p.
7.2 Bacterioses
7.2.3 Etiologia
A. avenae é uma bactéria baciliforme, Gram-negativa móvel e aeróbica restrita,
movimenta-se por meio de flagelos polares. Em meio de cultura produz colônias
não fluorescentes de coloração creme, lisas ou com os bordos levemente recortados.
A fonte de inóculo primário é constituída basicamente pelo uso de mudas
contaminadas. A disseminação da bactéria ocorre basicamente por insetos, água
de irrigação ou de chuva.
7.2.4 Sintomas
Têm início com a formação de lesões irregulares, esbranquiçadas e encharcadas
que progridem, aumentando de tamanho e tornando-se necróticas, escuras ou
pardacentas, bem delimitadas, semelhantes a queimaduras de sol (Prancha 1).
Também pode ocasionar morte de gemas e de plantas. Em plantas simpodiais, como
as do gênero Cattleya, a bactéria fica restrita a algumas lesões em poucas folhas
mais velhas, não sendo letal e importante.
Exsudados podem ser observados nas regiões sintomáticas, servindo como fonte
de inóculo para possível disseminação, principalmente com o auxílio de água.
7.2.7 Etiologia
Essas bactérias apresentam forma de bastonetes, Gram-negativas, não
pigmentadas, anaeróbicas facultativas, móveis por flagelos peritríqueos. Em meio
de cultura produzem colônias de coloração creme e de crescimento rápido. Possuem
ampla gama de hospedeiros, sendo pectinolíticas e oportunistas, aproveitam-se do
estado de debilidade da planta, como ferimentos, para início de infecção. Em muitos
casos infecções que têm início em pseudobulbos velhos são oriundas de aberturas
‘naturais’ originárias da queda de folhas nos mesmos. A fonte de inóculo primário é
constituída principalmente por mudas contaminadas. A disseminação dessas
bactérias ocorre por insetos, água de irrigação ou de chuva. Temperatura e umidade
elevadas, alta densidade de plantio e excesso de adubação favorecem a doença.
7.2.8 Sintomas
Ocorrem principalmente em orquídeas que apresentam folhas não eretas, ou
com ângulo de inserção de aproximadamente 90o, as quais propiciam o acúmulo de
água e favorecem o desenvolvimento do patógeno. Estas bactérias produzem enzimas
que degradam substâncias pectolíticas presentes na lamela média, causando
desagregação dos tecidos. Os sintomas são observados principalmente na inserção
das folhas, onde ocorre acúmulo de água. Entretanto, essa podridão pode atingir
todas as partes da planta, incluindo o pseudocaule e raízes. Observam-se, em folhas
e bulbos, lesões foliares inicialmente encharcadas evoluindo para podridão mole,
ou mela (Prancha 2), que acaba, praticamente destruindo toda a área afetada. Odor
fétido de exsudados é forte indicativo de infecção com essas bactérias, sendo útil
para a diagnose. Inoculações de partes de orquídeas afetadas, em frutos de pimentão
ou tubérculos de batata, é um método simples e seguro para comprovar a presença
do patógeno. Para isso, basta umedecer um palito de fósforo na área lesionada da
orquídea e, em seguida, provocar um ferimento no fruto ou no tubérculo com o
palito contaminado. Mantém-se o fruto ou tubérculo de batata inoculado em local
protegido, a 28oC. O aparecimento de podridão aquosa e de odor fétido é indicativo
da infecção por estas espécies de bactérias.
7.2.11 Etiologia
B. gladioli é uma bactéria baciliforme, Gram-negativa, aeróbica restrita que se
move por meio de flagelos polares. Forma colônias não fluorescentes de coloração
creme, lisas ou com um leve enrugamento, em meio de cultura. A fonte de inóculo
primário é constituída principalmente pelo uso de mudas contaminadas e a
disseminação ocorre basicamente por água de irrigação ou de chuva. Apresenta
crescimento ótimo entre as temperaturas de 30 e 35oC.
7.2.12 Sintomas
Têm início com a formação de lesões foliares escuras, grosseiramente circulares.
Com a evolução da doença as lesões tornam-se irregulares e muitas vezes
comprometendo todo o limbo foliar (Prancha 3). Em plantas monopodiais, como as
do gênero Phalaenopsis, pode ocorrer morte rápida da planta em função do
apodrecimento da gema apical.
Esta bacteriose é mundialmente conhecida pelos danos consideráveis relatados
em Dendrobium e Phalaenopsis no Havaí.
7.3 Doenças fúngicas
7.3.3 Etiologia
Essa doença representa um dos mais sérios problemas da orquidicultura. A
podridão negra é causada por este complexo de Oomicetos que são parasitas
facultativos, possuem hifas cenocíticas e ramificadas bem desenvolvidas e de
coloração branca. Apresentam parede celular com celulose e beta glucanas,
esporangióforos, esporângios de formato variável. São altamente agressivos durante
os períodos de alta umidade, com temperatura de 10 a 22oC (P. ultimum) ou 10 a
20oC (P. cactorum). A unidade de dispersão e infecção constitui-se de zoósporos
biflagelados, disseminados quase que exclusivamente por água livre. Possui como
forma de resistência, às condições adversas, estrutura denominada oósporo, com
prolongada viabilidade. A introdução dos patógenos na cultura pode ocorrer,
principalmente, por meio da água de irrigação e/ou chuva, mudas, substratos e
vasos contaminados.
7.3.4 Sintomas
Quando o ataque desses patógenos ocorre em sementeiras e plântulas,
observam-se sintomas típicos de tombamento ou “damping-off” (Prancha 4). Em
plantas adultas a infecção produz manchas aquosas, tipicamente negras na região
do colo (Prancha 5), que progridem de forma ascendente para as folhas das plantas,
acarretando na redução significativa do vigor, ausência de florescimento e, em
situações críticas, leva à morte das plantas. Sintomas são observados em raiz,
haste, pseudobulbos ou folhas, sendo a penetração do fungo preferencialmente pela
raiz e/ou colo da planta.
Um método fácil para diagnose destes fungos é colocar pedaços de folhas sadias
de orquídeas em recipientes com água, juntamente com regiões de plantas atacadas
por P. cactorum e/ou P. ultimum. Após 2 a 3 dias observa-se, com o auxílio de
microscópio óptico, a formação de estruturas de frutificação (esporângios) e esporos
(zoósporos) na periferia das folhas inicialmente sadias. Tal método é designado de
método de iscas.
7.3.7 Etiologia
Esta enfermidade é causada por um fungo que, em meio de cultura, apresenta
colônias salmão, com micélio cotonoso, favorecido por temperatura na faixa de 25
a 30oC. Apresenta hifas septadas e produz macro e microconídios curvos, fusiformes,
septados ou não. Podem produzir os clamidósporos, que são estruturas de
resistência, responsáveis pela sobrevivência do patógeno sob condições adversas
de desenvolvimento e na ausência de hospedeiros. Trata-se de um patógeno vascular
que infecta as plantas através das raízes ou de ferimentos nos rizomas, produzidos
principalmente durante a divisão das plantas para propagação.
7.3.8 Sintomas
A doença ocorre especialmente no gênero Cattleya, podendo causar a morte
rápida ou o declínio lento e progressivo das plantas O sintoma principal da fusariose
é observado nos rizomas na forma de uma coloração escura, oriunda da atuação
de toxinas produzidas pelo patógeno ou ainda, mais tipicamente, círculos de
coloração púrpura escuro na epiderme e hipoderme (Prancha 7) que inicialmente
apresentam feixes vasculares de coloração púrpura clara. O rizoma inteiro pode
ser invadido e mostrar coloração púrpura. Como na podridão negra, os sintomas
têm início nas raízes e evoluem de forma ascendente (Prancha 6) até tomar as
folhas que se tornam flácidas e se destacam facilmente do pseudobulbo.
Plantas severamente atacadas podem morrer em um prazo de 3 a 9 semanas.
Em casos excepcionais a planta pode continuar viva por anos, porém com contínuo
declínio no desenvolvimento.
7.3.9 Antracnose - Colletotrichum crassipes e C. gloeosporioides
7.3.11 Etiologia
Esses patógenos possuem distribuição mundial, porém são encontrados com
maior frequência em climas tropicais e subtropicais. São incluídos como sinonímias,
Gloeosporium affine, Glomerella cincta, G. cingulata e Colletotrichum cinctum.
Formam acérvulos circulares, subepidérmicos, com setas e conidióforos simples,
nos quais são produzidos conídios hialinos unicelulares, ovais ou oblongos,
aglutinados por uma substância gelatinosa. A sua disseminação ocorre
principalmente através de mudas doentes e pela ação de ventos e respingos de
água de chuva e irrigação. A antracnose é favorecida por umidade superior a 80% e
intervalo de temperatura de 18 a 25OC.
7.3.12 Sintomas
O patógeno pode atacar qualquer parte da planta, porém, geralmente os sintomas
são mais frequentes em folhas e pseudobulbos, onde o primeiro sintoma visível é
uma descoloração parda em forma circular levemente deprimida e bastante definida.
A lesão aumenta rapidamente de tamanho e, em condições propícias, pode atingir
todo o limbo foliar. O centro da lesão caracteriza-se por ser deprimido, de coloração
castanho pardacenta e com inúmeros anéis concêntricos (Prancha 8) onde estruturas
de frutificação do fungo (acérvulo) podem facilmente ser visualizadas como pontos
escuros de onde emerge uma matriz mucilaginosa com conídios de coloração
rosada. Nas sépalas e pétalas de flores velhas podem ocorrer pequenas manchas
marrons ou negras. Essas manchas, ao se desenvolverem, podem cobrir a maior
parte ou completamente a inflorescência.
7.3.13 Ferrugens - Desmosorus oncidii; Sphenospora kevorkianii;
S. mera; S. saphena; Uredo epidendri; Uredo nigropuncta
Várias espécies de fungos causadores de ferrugem podem ocorrer em orquídeas
no Brasil. Essas espécies já foram relatadas em: Batemannia, Bletia, Bletilla,
Brassavola, Brassia, Bulbophylum, Capanemia, Catasetum, Cattleya, Caularthron,
Cochlioda, Cycnoches, Cyrtopodium, Dendrobium, Encyclia, Epicattleya,
Epidendrum, Gongora, Hexisea, Huntleya, Ionopsis, Laelia, Leochilus, Lockhartia,
Lycaste, Masdevallia, Maxillaria, Miltonia, Mormodes, Notylia, Odontoglossum,
Oeceoclades, Oncidium, Pelexia, Peristeria, Pescatorea, Ornithocephalus, Phaius,
Pleurothallis, Polystachya, Rodriguezia, Schomburgkia, Sigmatostalix, Sobralia,
Spathoglottis, Stanhopea, Trichoceros, Trichopilia, Trigonidium, Xylobium,
Zygopetalum e Zygostates.
7.3.14 Etiologia
Um número representativo destes fungos tem sido relatado causando ferrugens
em orquídeas. Pertencem à ordem Uredinales, subdivisão Basidiomycotina. São
endoparasitas, favorecidos por alta umidade relativa e temperaturas que variam
entre 18 a 25oC. Desenvolvem-se especialmente nas regiões baixas e úmidas, onde
o vapor d’água condensa-se à noite. A maioria delas forma pequenas pústulas, de
coloração que varia do amarelo ao marrom, sobre o limbo foliar. Os esporos
(urediniósporos) são disseminados pelo vento e por respingos de água.
7.3.15 Sintomas
Ocorrem apenas nas folhas, quase que exclusivamente na face inferior, onde
inicialmente se observam pequenas pústulas de coloração amarelo-laranja ou
marrom-avermelhada. Essas pústulas, em função da idade, podem enegrecer e se
desenvolver de modo concêntrico de forma a lembrar a aparência de um alvo
(Prancha 9). Regiões cloróticas são observadas na região foliar oposta à pústula.
7.3.19 Sintomas
Têm início com pequenas manchas circulares, em qualquer parte da superfície
das flores. Em geral as lesões são circundadas por um halo de coloração rosada
(Prancha 10). Com a evolução da doença, observa-se a formação de uma massa
pulverulenta de coloração cinza, constituída por um grande número de propágulos
(conídios). Flores severamente atacadas murcham e caem.
7.3.23 Sintomas
Os sintomas mais comuns de cercosporiose aparecem na face inferior das
folhas, principalmente nas mais velhas. Apresentam-se como áreas irregulares e
amareladas, que progridem para deprimidas pardo-púrpuras com o centro pardo
claro e com pontuações de coloração negra, correspondentes às frutificações do
fungo (Prancha 11). Na face superior do limbo foliar observa-se uma área clorótica
que, eventualmente, se torna necrótica, na área correspondente à lesão na face
inferior. Ao evoluírem, causam a destruição do limbo foliar e, em alguns casos, a
morte das plântulas.
7.3.26 Etiologia
S. rolfsii caracteriza-se por possuir hifas septadas, finas, ramificadas, de
coloração branca. Sobrevive de maneira saprofítica em restos de cultura, na forma
de micélio e escleródio. Estes podem sobreviver por cinco anos ou mais. A
disseminação ocorre através da água de chuva ou irrigação e por meio de bulbos,
solo, substrato ferramentas e implementos contaminados. A infecção é favorecida
por solo ou substratos úmidos, ácidos, compactos e temperaturas elevadas,
superiores a 25oC.
7.3.27 Sintomas
S. rolfsii pode causar podridão de raízes, colo e pseudobulbo em vários gêneros
de orquídeas. Os danos provocados às raízes comprometem a absorção de
nutrientes, prejudicando o desenvolvimento e causando sintomas de murcha e
deficiência nutricional. Pode ser observada a presença de micélio cotonoso
primeiramente na base da planta, podendo espalhar-se por todo o pseudobulbo e
folhas. Com a evolução da doença pode-se visualizar a formação de escleródios
com cerca de 1 mm de diâmetro de coloração castanha ou marrom-escura (Prancha
12). Ocorrência esporádica, normalmente ligada a substrato contaminado. O
problema é facilmente contornado através da higienização do substrato.
7.3.30 Etiologia
Uma série de fungos pode causar sintomas de manchas foliares, sendo as que
ocorrem com maior frequência são Selenophoma sp., Phyllosticta sp. e
Pestalotiopsis sp., infectando um grande número de gêneros. No entanto,
Phyllosticta sp. é um dos mais comuns nas condições brasileiras. Phyllosticta sp.
apresenta estruturas escuras denominadas picnídios, caracterizados por serem
ostiolados, lenticulares e globosos, sendo imersos ao tecido do hospedeiro e
apresentando apenas pequenas projeções perceptíveis na epiderme. Internamente
a esta estrutura são observados conídios unicelulares, hialinos, ovóides e alongados.
Selenophoma sp. produz picnídios marrons, globosos, erumpentes, ostiolados,
imersos no tecido e conídios hialinos, unicelulares, curvos ou não. Pestalotiopsis
sp. produz conidióforos e conídios dentro de acérvulos. Alta umidade e temperaturas
entre 23 a 28oC favorecem o aparecimento das manchas foliares, e a disseminação
do fungo ocorre principalmente pela ação de respingos de água associados ou não
a vento.
7.3.31 Sintomas
As manchas de Phyllosticta sp. não representam sério problema sob o ponto
de vista de prejuízo no desenvolvimento da planta. Deteriora a qualidade visual da
orquídea para comercialização, pois, as folhas atacadas mostram manchas
castanhas escuras circulares ou ovaladas, com bordos bem definidos e centro de
coloração pardo-clara, onde podem ser observados picnídios do fungo. Halos
amarelados podem ocorrer, sendo função da espécie infectada (Prancha 13).
7.3.34 Etiologia
Rhizoctonia solani caracteriza-se por apresentar micélio septado, vigoroso, de
coloração variável de branco a marrom, com ramificações em ângulo reto e com
frequentes constrições na região dos septos. É favorecido por alta umidade do ar e
do substrato e temperatura ao redor de 18 a 22oC, podendo sobreviver em restos de
cultura, saprofiticamente, ou ainda na forma de escleródios (estrutura de
resistência). Possui ampla gama de hospedeiros. Pode ser disseminado,
principalmente, por água e substrato contaminado.
7.3.35 Sintomas
A podridão de raízes é raramente encontrada em plantas adultas de Phalaenopsis
e Cattleya. Causa deterioração do sistema radicular, com sintomas reflexos de
murcha na parte aérea. Quando o fungo ocorre em sementeiras e plântulas têm-se
sintomas de tombamento ou “damping-off”. Existem relatos deste fungo acarretando
podridão seca e marrom na região basal de pseudobulbos de plantas adultas, porém
neste caso, o desenvolvimento da doença é lento, sendo a planta normalmente
descartada pelo produtor pela sua perda de vigor e falta de novas brotações.
7.4 Outras doenças
Relatado em 2007 no Estado Rio de Janeiro em Brassolaeliocattleya. Os sintomas
ocorrem em folhas e caracterizam-se pelo aparecimento de lesões amareladas
que posteriormente evoluem para necrose, aumentando de tamanho, passando à
marrom escuro e, em seguida, negras, tomando rapidamente toda a lâmina foliar.
7.6.3 Etiologia
O CyMV pertence ao gênero Potexvirus, família Alphaflexiviridae, apresentando
partículas flexuosas com cerca de 475 x 13 nm. O ORSV pertence ao gênero
Tobamovirus, família Virgaviridae e apresenta partículas rígidas e alongadas com
dimensões aproximadas de 300 x 18 nm. Os dois vírus são bastante estáveis, não
possuem vetores conhecidos e não há evidências de transmissão por sementes.
São transmitidos através dos instrumentos de corte utilizados na desbrota, retirada
do excesso de raízes e colheita de inflorescências. Há também possibilidade de
serem transmitidos através de vasos ou solo contaminados. O uso de
micropropagação, ou cultura de tecidos de plantas infectadas, é também responsável
pela perpetuação destes vírus.
7.6.4 Sintomas
Plantas infectadas com esses vírus podem estar assintomáticas ou apresentar
leve clorose, mosaico nas folhas (Pranchas 14, 15, 16 e 17) e pequena redução no
número e tamanho das flores. Podem ainda mostrar sintomas severos de manchas
anelares ou irregulares, cloróticas ou necróticas nas folhas (Pranchas 18 e 19),
necrose e/ou descontinuidade da coloração natural das pétalas e sépalas (“color
break”) (Pranchas 20 e 21), aborto dos botões florais, etc. Os sintomas podem ser
bastante variáveis, dependendo de fatores ambientais, idade do tecido vegetal, gênero
e variedade da planta, tempo de infecção, entre outros. Algumas plantas infectadas
são assintomáticas, dificultando a identificação e detecção desses vírus baseando-
se apenas nos sintomas. Podem ocorrer isoladamente ou em infecção dupla, sendo
que neste caso os sintomas causados são indistinguíveis em diversos gêneros de
orquídeas. A ocorrência de infecção dupla (ORSV + CymMV) pode levar à sintomas
mais drásticos do que a infecção com cada um dos vírus isoladamente.
7.6.7 Etiologia
O OFV possui partículas na forma de bastonetes, não envelopadas, de
aproximadamente 32 – 40 nm de largura e 100 a 150 nm de comprimento. O genoma
é constituído por duas moléculas de RNA de fita simples, o RNA 1 com 6413
nucleotídeos e o RNA 2 com 6001 nucleotídeos. Nas células infectadas o efeito
citopático característico é a presença de partículas virais dispersas ou em grupos,
no núcleo e citoplasma e a indução de uma inclusão nuclear, o viroplasma, que
representaria um sítio de acúmulo de material viral. Este tipo de alteração é referido
como nuclear, dentre os vírus transmitidos por ácaros Brevipalpus. O OFV pode
fazer parte de um grupo distinto dentro da família Rhabdoviridae, e a classificação
taxonômica não está completamente definida, tendo sido proposto o gênero
Dichorhavirus. O OFV é transmitido pelo ácaro Brevipalpus californicus de maneira
persistente. Tanto as ninfas como os adultos de B. californicus transmitem o vírus,
mas não as larvas. Não há relatos sobre a transmissão do OFV por sementes ou
através de instrumentos de corte. O combate ao ácaro B. californicus deve propiciar
controle satisfatório dessa virose em orquídeas, uma vez que na maioria dos casos,
a infecção é localizada nos pontos de alimentação do vetor. Após o perfeito controle
do ácaro recomenda-se, sempre que possível, a remoção das folhas sintomáticas,
para reduzir fontes de inóculo do vírus e pela questão de estética da planta.
7.6.8 Sintomas
Os sintomas causados por esse vírus são variáveis, de acordo com o gênero de
orquídea infectada. Sintomas localizados do tipo anéis necróticos espalhados pelo
limbo foliar, intercalados por áreas aparentemente normais, parecem ser os mais
comuns (Prancha 22). Orquídeas dos gêneros Cymbidium, Calanthe, Dendrobium
e Phalaenopsis, no entanto, apresentam infecção aparentemente sistêmica na
forma de lesões cloróticas ou necróticas após 1 a 2 meses (Prancha 23). Não
há registros de lesões nas flores causadas pelo OFV. A variabilidade
sintomatológica dificulta a diagnose visual. Esta pode ser feita com precisão
através de RT-PCR com oligonucleotídeos iniciadores específicos para o gene
do nucleocapsídio viral ou testes sorológicos como ELISA, uma vez que se dispõe
de anticorpo específico.
Relatos recentes da ocorrência do OFV em orquidários comerciais em Atibaia e
Piracicaba, Estado de São Paulo, apontaram incidência de 2,85% de plantas
infectadas com esse vírus.
Durante levantamentos de OFV no orquidário do Dept. Genética da ESALQ, foram
observadas plantas com sintomas similares aos causados pelo OFV, mas os tecidos
das lesões revelaram alterações celulares típicas das causadas por vírus
transmitido por ácaros Brevipalpus, do tipo citoplasmático (VTB-C) (como o da
leprose C dos citros). Este possível vírus não pode ser identificado.
Experimentalmente o vírus da mancha anular de Solanum violaefolium (Solanum
violaefolium ringspot virus - SvRSV), um VTB-C, causou lesões em algumas
orquídeas, mas ainda não foram encontrados casos de infecção natural (E.W.Kitajima,
comunicação pessoal).
7.6.11 Etiologia
O CMV é uma espécie do gênero Cucumovirus, Família Bromoviridae, cujas
partículas são isométricas e medem aproximadamente 29 nm de diâmetro. É um
vírus de distribuição mundial, capaz de infectar mais de 1.000 espécies vegetais. É
transmitido por diversas espécies de afídeos de maneira não persistente (picada
de prova).
7.6.12 Sintomas
Caracteriza-se pela presença de estrias brancas e deformação nas flores. A
incidência de CMV em orquídeas não parece ser um fenômeno comum e raros são
os relatos de infecção de orquídeas com esse vírus. No entanto, é sempre
recomendável a adoção de medidas preventivas de controle, como a eliminação de
hospedeiros alternativos desse vírus das proximidades do plantio, tais como
trapoeraba (Comellina sp), fumo, pimentão, entre outras. Também deve-se evitar a
presença de afídeos em plantas próximas do plantio.
7.7.1 Água
O uso inadequado da água no processo de irrigação pode ocasionar sérios
problemas ao cultivo de orquídeas. Além de ser um fator associado com a
disseminação e o desenvolvimento de diferentes patógenos (ver doenças
fúngicas e bacterianas), a ausência ou excesso de água pode provocar danos
irreversíveis às plantas (Prancha 24). Assim sendo, o controle da quantidade
de água utilizada na irrigação deve ser bem feito, levando-se em consideração
o tipo de vaso, substrato utilizado para o desenvolvimento das plantas, bem
como o local onde as plantas estão situadas. Além da quantidade, também se
deve atentar para a qualidade da água. A utilização de água salina deve ser
evitada, pois além de provocar um acúmulo de sal no substrato, quando aplicada
através de aspersão pode ocasionar um acúmulo de sal nas folhas, hastes e até
mesmo raízes expostas, sendo identificado na forma de manchas
esbranquiçadas. Nos Estados Unidos, recomenda-se uso de água com
concentrações de sal na faixa de 875 ppm com cautela, devendo-se evitar as de
concentração superior. Água salobra, com sais de cálcio ou magnésio, pode ser
utilizada em orquídeas, porém sem molhar as folhas para evitar deposição de
sal após a evaporação da água. Em certas situações, o uso de água salobra
pode ser benéfico, funcionando como suprimento de cálcio para as plantas ou
evitando acidez do substrato. Produtores com problemas na água de irrigação
podem utilizar água da chuva, considerada altamente pura (exceto em áreas
industriais). Neste caso deve-se dar atenção especial ao recipiente de
armazenamento, evitando aqueles que potencialmente possam liberar resíduos
tóxicos na água, e/ou a introdução de contaminantes (fungos e bactérias).
7.7.2 Luz
Determinar a iluminação adequada para o bom desenvolvimento de orquídeas é
praticamente impossível, uma vez que diferentes espécies, cujas necessidades de
luz variam de 10 a 100% da intensidade da luz solar, são comumente cultivadas na
mesma área. Assim sendo, diversos podem ser os problemas relacionados com
esse fator. De acordo com a Dra. O. Wesley Davidson, citada no excelente livro
“Orchid Pests and Diseases”, alguns dos problemas com o crescimento de orquídeas
associados à luminosidade são: subdesenvolvimento e ausência de flores causadas
por insuficiência de luz; subdesenvolvimento e falha no florescimento devido a altas
temperaturas provocadas por lâmpadas incandescentes na área de cultivo; bom
desenvolvimento e falhas no florescimento causadas por iluminação prolongada de
plantas que normalmente requerem curto fotoperíodo para florescimento.
Acrescente-se a esses a ocorrência de queimaduras em folhas provocadas pela
exposição excessiva à luz do sol (Prancha 25).
7.7.3 Nutrição
Aparentemente poucos são os problemas nutricionais associados com orquídeas,
devido principalmente aos cuidados tomados pela maioria dos orquidófilos. No
entanto, casos de super ou sub-fertilização podem eventualmente ocorrer
(Prancha 26). Deficiência de nitrogênio pode ocasionar amarelecimento de folhas.
Deficiência de cálcio pode tornar-se bastante evidente em Cattleya,
Paphiopedilum e outros gêneros durante os meses mais quentes do ano. Neste
caso, folhas novas em estádio de crescimento podem apresentar as pontas
pretas, podendo espalhar-se para a base da folha, sempre precedido por um
halo amarelo. Em casos extremos pode tomar toda a folha. Essa anomalia ocorre
com mais frequência quando o conteúdo de cálcio na folha é inferior a 1,4%.
Sintomas de deficiência de cálcio podem ser confundidos com queimadura de
sol. Deficiência de ferro provoca mosqueado clorótico nas folhas. Problemas
de podridão de sépalas podem estar associados com alta concentração de
nitrogênio ou altos níveis de poluentes atmosféricos. Problemas de
superfertilização acidental podem ser minimizados aplicando-se grande
quantidade de água no vaso e permitindo o escoamento na base.
7.7.4 Temperatura
Grande número de espécies de orquídeas, associada com a variabilidade de
condições ambientais sob as quais as espécies são encontradas, podem apresentar
diferentes anomalias, conforme abordado para o fator luz. No caso da temperatura,
sintomas do tipo “color break” (quebra na continuidade da cor das pétalas) são
relativamente comuns em Cattleya, podendo ser provocados por queda brusca de
temperatura.
Variações bruscas de temperatura foram associadas com o aparecimento de
anéis cloróticos nas folhas mais novas de Phalaenopsis, especialmente em plantas
com flores de coloração branca (Prancha 27).
Amarelecimento e aborto de botões florais, comum em gêneros como Cymbidium
e Phalaenopsis, podem ser provocados por uma combinação de temperatura e
fotoperíodo inadequados à planta, no período que antecede ao florescimento.
7.7.5 pH
O conhecimento do pH da água é de extrema importância para uma eficiente
adubação e aplicação de defensivos. O pH da água na faixa de 5,8 a 6,4 é recomendado
para uma eficiente absorção de nutrientes. No caso de defensivos, é necessária
atenção no ajuste do pH da calda para que o produto seja eficiente no controle de
pragas e/ou doenças.
Variações no pH dos substratos também podem afetar as orquídeas. Os pHs
ácidos (abaixo de 4,5) podem acarretar deformações radiculares e sintomas de
necrose facilmente confundidos com doenças de etiologia fúngica. Em casos
extremos, observa-se a formação de nódulos radiculares que podem ser atribuídos,
erroneamente, a nematoides ou mesmo a insetos.
7.7.6 Fitotoxidez
Orquídeas podem ser eventualmente afetadas pela aplicação de defensivos
(inseticidas, acaricidas, fungicidas, herbicidas, etc). Os sintomas de fitotoxidez
geralmente estão associados com a utilização de produto inadequado, mistura
incorreta de defensivos ou aplicação excessiva ou sob condições ambientais
impróprias (alta temperatura). Sintomas de fitotoxidez são bastante variáveis
incluindo queimaduras nas bordas das folhas, podendo em casos severos, atingir
toda lâmina foliar; perda de clorofila em partes das folhas; morte de áreas foliares;
alteração na coloração da folha; morte da planta em situações extremas; etc.
(Prancha 28).
Infelizmente, nada pode ser feito após o aparecimento de fitotoxidez provocada
por defensivos químicos. Em casos menos severos, no entanto, com o
desenvolvimento das plantas as folhas novas podem exibir remissão dos sintomas.
PRANCHAS SOBRE DOENÇAS
Prancha 8 - Antracnose
Prancha 9 - Ferrugem
FREITAS, J.C.; CALDARI J.R.P.; GIORIA, R. Doença das plantas ornamentais. In:
KIMATI, H.; AMORIM, L.; REZENDE, J.A.M.; BERGAMIN FILHO, A.; CAMARGO, L.E.A.
Manual de fitopatologia. São Paulo: Ceres, 2005. v. 2, p. 523-539.
KONDO, H.; MAEDA, T.; TAMADA, T. Orchid fleck virus: Brevipalpus californicus
transmission, biological properties, and genome structure. Experimental and
Applied Acarology, Amsterdam, v. 30, p. 215-223, 2003.
LAWSON, R. H. Viruses and their control. In: AMERICAN ORCHID SOCIETY. Orchid
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MAEDA, T.; KONDO, H.; MITSUHATA, K.; TAMADA, T. Evidence that Orchid fleck
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Edimburg. Abstracts…
SIMONE, G.W.; BURNETT, H.C. Diseases caused by bacteria and fungi. In:
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UCHIDA, J.Y. Diseases of orchids in Hawaii. Plant Disease, St. Paul, v. 78,
p. 220-224, 1994.
Pode publicar
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