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TJSP

O Tribunal de Justiça de São Paulo julgou parcialmente procedente o recurso da autora e improvido o recurso da requerida em ação indenizatória por danos morais decorrentes da morte da genitora da autora em hospital. Foi majorado o valor da indenização para R$100.000,00, mantidos os juros e correção monetária, e revogada a gratuidade da requerida.

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O Tribunal de Justiça de São Paulo julgou parcialmente procedente o recurso da autora e improvido o recurso da requerida em ação indenizatória por danos morais decorrentes da morte da genitora da autora em hospital. Foi majorado o valor da indenização para R$100.000,00, mantidos os juros e correção monetária, e revogada a gratuidade da requerida.

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fls.

835

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2021.0000750621

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de


Apelação Cível nº 1004050-14.2021.8.26.0003, da Comarca de São Paulo, em
que é parte recorrente ----, é a parte recorrida ----.

ACORDAM, em sessão da 10ª Câmara de Direito Privado, proferir a seguinte


decisão: NEGARAM PROVIMENTO ao recurso da ré e DERAM PARCIAL
PROVIMENTO ao apelo da autora. v.u. Sustentou oralmente o Dr. André Duarte Santos
(OAB/SP 425.087)., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores: ELCIO TRUJILLO


(Presidente sem voto), COELHO MENDES E J.B. PAULA LIMA.

São Paulo, 14 de setembro de 2021.

JAIR DE SOUZA
Relator
Assinatura Eletrônica
Voto nº: 9368
Apelação nº: 1004050-14.2021.8.26.0003
Órgão Julgador: 10ª Câmara de Direito Privado
Comarca de origem: São Paulo
Foro de origem: Foro Regional de Jabaquara
Vara de origem: 2ª Vara Cível
Juiz(a) de origem: Jomar Juarez Amorim
Recorrente: ---
Recorrido(a): ---

APELAÇÃO. RESPONSABILIDADE CIVIL.


INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. Insurgência em face
da r. sentença que condenou a requerida ao pagamento de
indenização por dano moral em razão da morte de sua genitora,
internada em hospital para tratamento, sofreu acidente que
ocasionou traumatismo craniano. Interpostos recursos por ambas
as partes. Nulidade por cerceamento de defesa (prova pericial).
Descabimento. Matéria controvertida unicamente de direito,
desnecessária a produção de outras provas, além da documental.
Causa do óbito relacionada também à idade avançada da
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

paciente, graves comorbidades apresentadas e decisão prévia por


cuidados paliativos. Ausência de nexo causal. Descabimento.
Causa da morte expressamente relatada na certidão de óbito
(hemorragia subdural e traumatismo crânio encefálico). Danos
morais. Ocorrência. Majoração do valor, vez que ultrapassou os
dissabores cotidianos (morte de um ente querido). Cabimento em
parte. Majoração que se impõe, mas não nos moldes pleiteados.
Peculiaridades do caso que autorizam sua incidência. Quantia
fixada em R$ 100.000,00. Valores corrigidos monetariamente
pela Tabela Prática do TJSP, com incidência de juros de mora de
1 % ao mês contados a partir do trânsito em julgado. Impugnação
à concessão de justiça gratuita à requerida. Cabimento. Alteração
que se impõe. Documentos e patrimônio que não evidenciam a
incapacidade para custear a demanda. Benefício revogado.
Sentença parcialmente reformada. Adoção parcial do art. 252 do
RITJ. RECURSO DA REQUERENTE PARCIALMENTE
PROVIDO e RECURSO DA REQUERIDA DESPROVIDO.

Apelação Cível nº 1004050-14.2021.8.26.0003 - Voto nº: 9368*allm 2/15


Trata-se de recurso de apelação interposto contra a r. sentença de fls. 723/726, que
julgou procedente o pedido formulado pela parte então autora, consistente em síntese na
indenização por danos morais em prestação de serviços médicos.

R. sentença cujo dispositivo se colaciona a seguir:

"(...) Pelo exposto, acolho o pedido (CPC, arts. 487, inc. I, e 490) e
condeno a ré no pagamento de R$20.000,00, atualizados
monetariamente (tabela prática TJSP) desta data em diante (Súmula 362
do STJ) e acrescidos de juros moratórios de 1% ao mês contados da
citação. Mantenho a gratuidade da justiça concedida à ré, que arcará
com as custas, despesas e honorários advocatícios de 10% do valor total
da condenação, mas a exigibilidade da obrigação condiciona-se à
superveniência de capacidade financeira (CPC, arts. 85, § 2º, e 98, § 3º;
Súmula 326 do STJ). P.R.I.”

Opostos embargos de declaração pela requerida (fls. 729/731), restaram


rejeitados (fls. 740).
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

No presente instante, inconformadas, recorrem ambas as partes.

Em suas razões, a parte recorrente-requerente suscita: i) a majoração do


valor fixado a título de danos morais em R$ 200.000,00, vez que a indenização é para
reparação do falecimento de sua mãe, uma pessoa que entrou para um atendimento
hospitalar por causas totalmente diversas daquelas as quais causaram sua morte; ii) a
aplicação de juros moratórios à taxa de 1% ao mês, nos termos do art. 406 do Código
Civil1, c.c. art. 161, § 1º, do Código Tributário Nacional, a partir do evento danoso
(neste caso a data da queda, conforme art. 398, do Código Civil 3 e Súmula 54, do STJ;

Apelação Cível nº 1004050-14.2021.8.26.0003 - Voto nº: 9368*allm 3/15


iii) Revogação da justiça gratuita concedida indevidamente a parte apelada

Recurso tempestivo e sem preparo, observado o deferimento da


gratuidade judiciária à apelante (fls. 287).

A parte recorrida apresentou contrarrazões (fls. 796/815), requerendo o


desprovimento do presente recurso.

Em suas razões, a parte recorrente-requerida suscita: i) a nulidade da r.


sentença - flagrante cerceamento de defesa decorrente do julgamento antecipado e
necessidade de prova pericial; ii) as provas comprovam a adequação da assistência
médico-hospitalar e inexistência de nexo causal absoluto entre a queda e o óbito, vez que
alegado que a paciente havia caído há 20 dias antes da internação, sem ter procurado
atendimento médico; iii) a paciente se encontrava hipotensa e taquicárdica no momento
da admissão, tendo sido diagnosticada pielonefrite; iv) a mesma foi classificada com risco
de queda, motivo pelo qual se manteve em uso de pulseira do protocolo de prevenção de
queda, com as grades do leito elevadas; v) que na 2ª admissão da paciente, foi conversado
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com a família, e em razão das múltiplas comorbidades da paciente, foi optado, em comum
acordo entre a família e os prepostos da associação apelante, pelos cuidados paliativos
durante a internação; vi) que a queda sofrida não guarda qualquer relação com a conduta
praticada pelos profissionais de saúde, sendo que logo após a queda, a paciente foi
atendida prontamente pelos prepostos da associação apelada, sendo a causa do óbito
relacionada também à idade avançada, graves comorbidades apresentadas e decisão
prévia por cuidados paliativos; vii) requer o termo a quo para o cômputo dos juros
moratórios do arbitramento (art. 407 cc) e indíces de atualização monetária e juros de
mora conforme caderneta de poupança, nos moldes do tema 810/STF.

Apelação Cível nº 1004050-14.2021.8.26.0003 - Voto nº: 9368*allm 4/15


Recurso tempestivo e sem preparo, observado o deferimento da
gratuidade judiciária à apelante (fls. 726).

A parte recorrida apresentou contrarrazões (fls. 796/815), requerendo o


desprovimento do presente recurso.

Houve oposição ao julgamento virtual (fls. 758 e 823).

O recurso está formalmente em ordem.

É o relatório.

O recurso da recorrente-requerente merece PARCIAL PROVIMENTO


e o recurso da recorrente-requerida NÃO merece PROVIMENTO.
fls. 839

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Pois bem. Inicialmente, a preliminar de cerceamento de defesa deve ser


AFASTADA.

Dispõe o art. 355, do CPC:

Art. 355. O juiz julgará antecipadamente o pedido, proferindo sentença


com resolução de mérito, quando:
I - não houver necessidade de produção de outras provas;
II - o réu for revel, ocorrer o efeito previsto no art. 344 e não houver

Apelação Cível nº 1004050-14.2021.8.26.0003 - Voto nº: 9368*allm 5/15


requerimento de prova, na forma do art. 349 .

Com efeito, se a matéria controvertida for unicamente de direito,


desnecessária se afigura a produção de outras provas, além da documental. Nessa
hipótese, impõe-se o julgamento do feito no estado, não implicando tal circunstância em
violação aos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa.

Por oportuno, consigne-se que a norma constante do dispositivo acima


transcrito é impositiva, não atribuindo ao juiz uma faculdade mas sim o dever de assim
proceder.

No caso em exame, como a controvérsia diz respeito a matéria


unicamente de direito, a prova é eminentemente documental, sendo, pois, desnecessária
(e até mesmo descabida) a dilação probatória, impondo o julgamento antecipado do
mérito prestigiado em primeira instância.

Além disso, em sendo o juiz o destinatário da prova, cabe a ele analisar a


fls. 840

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necessidade de sua produção (CPC, arts. 130 e 131), ressaltando-se a recente


jurisprudência do C. STJ a respeito:

“De acordo com a orientação jurisprudencial vigente nesta Corte


Superior, pertence ao julgador a decisão acerca da conveniência e
oportunidade sobre a necessidade de produção de determinado meio de
prova, inexistindo cerceamento de defesa quando, por meio de seu
convencimento motivado, indefiro pedido de dilação da instrução
probatória” (AgInt no AREsp 1652989/SP, rel. Ministro Marco Aurélio
Bellizze, j. 08.05.2020).

Apelação Cível nº 1004050-14.2021.8.26.0003 - Voto nº: 9368*allm 6/15


Rejeitada esta preliminar por tais fundamentos.

E, ainda, quanto à gratuidade judiciária conferida à recorrente-requerida,


cabe ressaltar que o benefício da justiça gratuita é devido a quem se diz impossibilitado
de custeá-la, sujeito a comprovação da referida condição de hipossuficiência da parte que
a pleiteou.

Desta feita, para fins de deferimento, não se exige o estado de miséria


absoluta do requerente da benesse, mas a pobreza na acepção jurídica do termo, ou seja,
o direito será concedido se houver a respectiva prova de que haverá efetivo prejuízo.

A gratuidade almejada no caso concreto se fundamenta na suposta


ausência de condições da parte agravante (pessoa jurídica) para arcar com as custas
processuais por ser entidade de caráter filantrópico. No entanto, a natureza jurídica da
pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos e a “alegação” de prejuízos
financeiros ao longo dos anos, não é fato que, por si só, fundamenta a hipossuficiência
financeira.
fls. 841

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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Nesta seara, tem-se que os genéricos elementos constantes nos autos não
autorizam concluir que a parte agravante efetivamente não possui condição financeira
para arcar com as custas e despesas processuais. E por não estarem preenchidas as
condições para o deferimento da justiça gratuita, de rigor, o provimento do recurso da
recorrente-requerente para revogar o benefício concedido à recorrente-requerida.

No mérito, em que pese a argumentação da parte apelante, a r. sentença


demonstra-se suficientemente fundamentada, aqui também parcialmente adotada como

Apelação Cível nº 1004050-14.2021.8.26.0003 - Voto nº: 9368*allm 7/15 razão

de decidir, nos termos do art. 252 do Regimento Interno do TJ/SP.

Na Seção de Direito Privado desta Corte, o art. 252 do Regimento Interno


do TJ/SP tem sido reiteradamente utilizado por esta Câmara, que prevê em seu texto a
possibilidade de ratificação dos fundamentos da decisão recorrida, em que possui
motivação suficiente, conforme segue:

Art. 252. Nos recursos em geral, o relator poderá limitar-se a ratificar


os fundamentos da decisão recorrida, quando, suficientemente
motivada, houver de mantê-la.

Aliás, este dispositivo regimental tem sido aplicado para dar concretude à
garantia constitucional da tutela jurisdicional célere, previsto no art. 5º, LXXVIII, da CF.

Ademais, o C. STJ tem prestigiado este entendimento ao reconhecer a


possibilidade da ratificação do juízo de valor firmado em sentença, transcrevendo-a em
acórdão. (REsp n° 662.272-RS, 2ª Turma, Rei.Min. João Otávio de Noronha, j . de
4.9.2007; REsp n° 641.963-ES, 2ª Turma, Rei. Min. Castro Meira, j . de 21.11.2005;
fls. 842

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REsp n° 592.092-AL, 2ª Turma, Rei. Min. Eliana Calmon, j . 17.12.2004 e REsp n°


265.534- DF, 4ª Turma, Rei. Min. Fernando Gonçalves, j de 1.12.2003).

Neste sentido, deve ser ressaltado o seguinte trecho da r. sentença, em


que demonstra-se suficientemente motivada, no que concerne às alegações da recorrente:

“Julgo antecipadamente o pedido, pois não é necessária instrução em


audiência (CPC, art. 355, inc. I) e tampouco a perícia médica indireta
apontada pela ré (fl. 720). Não se pôs em dúvida que a morte causada
por hemorragia subdural e traumatismo crânio encefálico (fl. 26)

Apelação Cível nº 1004050-14.2021.8.26.0003 - Voto nº: 9368*allm 8/15


relaciona-se diretamente ao evento ocorrido em 2/8/20, quando às
7h40min a paciente foi encontrada no chão ao lado do leito, sentada e
com sangramento ativo no nariz, evoluindo rapidamente com "gasping"
(respiração agônica) e anisocoria ou desigualdade entre as pupilas (fls.
244, 297, 298 e 507). Afinal, a defesa reconhece que o óbito "decorreu
da inevitável queda sofrida" (fl. 301). Em verdade, a responsabilização
almejada pela autora não se baseia em negligência, imperícia ou
inadequação de conduta estritamente médica, mas sim falha material na
assistência hospitalar dispensada pela ré, pelo que seria inútil a análise
da documentação juntada aos autos. Com a réplica tornou-se
incontroverso que a ré não exercia no caso atividade remunerada, pois
o atendimento foi custeado pelo SUS (fls. 304 e 698), mas isto
evidentemente não elide a sua responsabilidade objetiva enquanto
prestadora de serviço público, segundo a teoria do risco administrativo
(Constituição da República, art. 37, § 6º; Código do Consumidor, art.
22, "caput" e parágrafo único). Negando a relação entre o fato danoso
e os cuidados exigíveis dos profissionais de saúde que trabalham no
hospital, a ré aludiu a um protocolo operacional padrão denominado
"Prevenção de Queda" e à colocação de pulseira de risco na paciente
(fl. 300). Tal documento não instruiu a contestação, mas foi trazido pela
autora (fls. 706-714). Dele consta que o monitoramento dos pacientes
deve ser "feito de forma intensiva" (fls. 695 e 709), mas a ré não
demonstrou como, nas circunstâncias concretas do evento, o intervalo
temporal entre as passagens de visitas devia distinguir-se e
efetivamente distinguiu-se na rotina geral da enfermagem e, portanto,
não deduziu os elementos fáticos indicativos do cumprimento do
protocolo hospitalar. Em síntese, a ré não justificou minimamente o
tempo de 1h40min desde o contato com a paciente às 6h00 (fl. 296)
como adequado ao estalão de eficiência juridicamente exigível do
serviço. Além disso, a ré não trouxe informações sobre a abertura de
fls. 843

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sindicância interna para averiguar os fatos e se houve exação na


assistência à paciente, para eventual alteração e aprimoramento do
protocolo "Prevenção de Quedas". E não deixa de causar estranheza que
se não tenha viabilizado o acesso da autora ao prontuário da mãe senão
mediante a ação de produção antecipada da prova (autos
1017282-30.2020.8.26.0003). Enfim, os elementos existentes nos autos
evidenciam a obrigação da ré pelo dano relacionado ao serviço
prestado. O dano moral é presumível com a perda de afeição legítima e
consequente dor psicoemocional.”

Em complemento à r. sentença, consta dos autos que a paciente, genitora


da apelante, foi internada no Hospital São Paulo, também conhecido como SPDM
Associação Paulista para Desenvolvimento da Medicina.

Apelação Cível nº 1004050-14.2021.8.26.0003 - Voto nº: 9368*allm 9/15


Referido hospital é uma Associação civil sem fins lucrativos, de natureza
filantrópica, que atende a população por intermédio do SUS, cujos pagamentos são
realizados pelo Ministério da Saúde pelos serviços prestados.

Desta feita, inaplicável, à espécie as regras atinentes ao Código de Defesa


do Consumidor, segundo precedente recente do C. STJ:

“(...) 6. Segundo estabelecem os arts. 196 e seguintes da CF/1988, a


saúde, enquanto direito fundamental de todos, é dever do Estado,
cabendo à iniciativa privada participar, em caráter complementar (art.
4º, § 2º, da Lei 8.080/1990), do conjunto de ações e serviços que visa a
favorecer o acesso universal e igualitário às atividades voltadas a sua
promoção, proteção e recuperação, assim constituindo um sistema
único o SUS , o qual é financiado com recursos do orçamento dos entes
federativos.7. A participação complementar da iniciativa privada na
execução de ações e serviços de saúde se formaliza mediante contrato
ou convênio com a administração pública (parágrafo único do art. 24
da Lei 8.080/1990), nos termos da Lei 8.666/1990 (art. 5º da Portaria nº
2.657/2016 do Ministério da Saúde), utilizando-se como referência,
para efeito de remuneração, a Tabela de Procedimentos do SUS (§ 6º
do art. 3º da Portaria nº 2.657/2016 do Ministério da Saúde).8. Quando
prestado diretamente pelo Estado, no âmbito de seus hospitais ou postos
de saúde, ou quando delegado à iniciativa privada, por convênio ou
contrato com a administração pública, para prestá-lo às expensas
fls. 844

PODER JUDICIÁRIO
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do SUS, o serviço de saúde constitui serviço público social. 9. A


participação complementar da iniciativa privada seja das pessoas
jurídicas, seja dos respectivos profissionais na execução de
atividades de saúde caracteriza-se como serviço público indivisível
e universal (uti universi), o que afasta, por conseguinte, a incidência
das regras do CDC.(...)“ (grifo nosso. RECURSO ESPECIAL Nº
1.771.169 - SC [2018/0258615-4] RELATORA: MINISTRA NANCY
ANDRIGHI).

Não obstante, a inaplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor


não inibe a responsabilidade civil da entidade ré, em verdade em nada altera o resultado
da ação.

Apelação Cível nº 1004050-14.2021.8.26.0003 - Voto nº: 9368*allm 10/15


Ocorre que a paciente sofreu o referido acidente dentro do Hospital-
requerido, quando da sua internação para tratamento de outras enfermidades, mas que
nada tinham a ver com hemorragia subdural e traumatismo crânio encefálico, conforme
atesta a certidão de óbito como “causa mortis” (fls. 26).

A responsabilidade civil do nosocômio e de seus prepostos foi


amplamente comprovada pelo prontuário apresentado na ação de produção antecipada de
provas, proposta pela recorrente-requerente, portanto, o art. 186 do Código Civil é
suficiente à manutenção da r. sentença neste sentido.

Desprovido, portanto, o recurso da requerida neste sentido.

Inobstante o brilhantismo de aludido entendimento, mostra-se necessário


o apego a novos fundamentos a fim de autorizar a parcial reforma da r. Sentença. No
tocante ao pedido de majoração da indenização moral, este merece prosperar.
fls. 845

PODER JUDICIÁRIO
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Em situações como esta, tem-se que afigura-se desnecessária a prova do


dano moral, pois “já hoje a jurisprudência amplamente majoritária decidiu que o dano
moral é um dano 'in re ipsa', isto é, um tipo de prejuízo que, justamente, não necessita de
prova para ser indenizado” (Maria Celina Bodin de Moraes, Danos à pessoa humana, p.
285, Renovar, 2003).

Desta feita, observa-se que a lesão de interesses extrapatrimoniais


tutelados pelo ordenamento jurídico não comporta ressarcimento, tida por

Apelação Cível nº 1004050-14.2021.8.26.0003 - Voto nº: 9368*allm 11/15


materialmente inviável a recomposição de um bem imaterial violado, inexistentes
condições práticas que possibilitem a restauração do direito ofendido com fiel
equivalência à sua extensão.

Entretanto, a compensação pecuniária do dano moral corresponde ao


preço da dor sofrida pela parte ofendida, bem como à sanção ao responsável ofensor e,
simultaneamente, a tentativa de compensação da parte ofendida.

Ademais, no presente caso, vislumbra-se situação de excepcionalidade


apta a justificar a indenização desta espécie, uma vez que a vida de sua genitora foi
perdida, reflexos mais do que aptos a ultrapassar a esfera do mero dissabor.

Com relação ao quantum indenizatório, à luz da prudência e


razoabilidade, o julgador deve considerar quando de sua fixação, a princípio: a extensão
e gravidade do dano, as circunstâncias (objetivas e subjetivas) do caso, a situação pessoal
e social do ofendido e a condição econômica do lesante, na busca de relativa objetividade
com relação à satisfação do direito atingido, preponderando, como orientação, a ideia de
sanção do ofensor, como forma de obstar a reiteração deste tipo de conduta.
fls. 846

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Assim, a indenização moral deve ser majorada para R$ 100.000,00 (cem


mil reais), sendo este o valor que melhor se adapta às circunstâncias do caso em tela, com
precedentes desta C. Câmara, não proporcionando enriquecimento ilícito para a parte
ofendida, nem consequências irrisórias para parte ofensora.

Assim também entendeu este E. TJSP a respeito:

Apelação Cível nº 1004050-14.2021.8.26.0003 - Voto nº: 9368*allm 12/15


“APELAÇÃO CÍVEL E RECURSO ADESIVO. Ação indenizatória
julgada parcialmente procedente. Erro médico. RECURSO DA
REQUERIDA. Insurgências que não prosperam. Conduta culposa e
nexo de causalidade comprovados, a concorrer, decisivamente, para o
óbito. Danos morais configurados "in re ipsa". Óbito de filha menor.
Justa reparação. Manutenção do valor arbitrado em R$ 100.000,00
(cem mil reais) à genitora. RECURSO ADESIVO DA
REQUERENTE. Majoração do "quantum" indenizatório. Critérios de
razoabilidade e proporcionalidade bem aplicados na r. sentença de
origem. (...) RECURSO DE APELAÇÃO NÃO PROVIDO E
RECURSO ADESIVO PARCIALMENTE PROVIDO.” (TJSP;
Apelação Cível 1007674-03.2015.8.26.0223; Relator (a): Márcio
Boscaro; Órgão Julgador: 10ª Câmara de Direito Privado; Foro de
Guarujá - 2ª Vara Cível; Data do Julgamento: 03/06/2021; Data de
Registro: 03/06/2021)

Provido o recurso da requerida neste sentido.

Porém, ressalte-se, ainda, que os valores devem ser corrigidos


monetariamente pela Tabela Prática do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, com
incidência de juros de mora de 1 % ao mês contados a partir do trânsito em julgado.
Incabível, portanto, a utilização do alegado Tema 810/STF, posto que trata
especificamente das condenações contra a Fazenda Pública.

No caso em tela, quanto à indenização por danos morais, mesmo


fls. 847

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existindo fato que cause abalo moral ao ofendido, a obrigação de indenizar somente surge
a partir do trânsito em julgado da decisão judicial que a arbitrou, vez que não existe
prejuízo aferível, mas estimado ou presumido. Por consequência, diferentemente dos
casos de indenização por danos materiais, não se pode afirmar que o ofensor estaria
inadimplente, exigindo-lhe juros de mora a contar do suposto evento danoso, aplicando,
nestes casos, a súmula 54 do STJ.

Apelação Cível nº 1004050-14.2021.8.26.0003 - Voto nº: 9368*allm 13/15


Desprovido, portanto, os recursos da requerida e requerente neste
sentido.

Destarte, o recurso de apelação da parte requerente deve ser


PARCIALMENTE PROVIDO para reformar a r. Sentença, condenando a parte
recorrente ao pagamento de indenização moral no importe de R$ 100.000,00, corrigidos
monetariamente, com incidência de juros de mora de 1 % ao mês contados a partir do
trânsito em julgado. DESPROVIDO o recurso da requerida.

Portanto, no tocante aos honorários advocatícios sucumbenciais,


incabível a sua majoração, nos termos do art. 85, §11, do CPC, em razão do presente
parcial provimento, mantidos portanto, os termos da r. sentença neste sentido, ou seja,
10% do valor total da condenação à recorrente-requerida.

Por último, de forma a evitar a oposição de embargos de declaração


destinados meramente ao prequestionamento e de modo a viabilizar o acesso às vias
extraordinária e especial, considera-se prequestionada toda a matéria constitucional e
infraconstitucional suscitada nos autos, uma vez que apreciadas as questões relacionadas
à controvérsia por este Colegiado, ainda que não tenha ocorrido a individualização de
fls. 848

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cada um dos argumentos ou dispositivos legais invocados, cenário ademais incapaz de


negativamente influir na conclusão adotada, competindo às partes observar o disposto no
artigo 1.026, §2º do CPC.

Apelação Cível nº 1004050-14.2021.8.26.0003 - Voto nº: 9368*allm 14/15


Diante do exposto, pelo meu voto, NEGO PROVIMENTO ao recurso
da ré e DOU PARCIAL PROVIMENTO ao apelo da autora.

JAIR DE SOUZA
Relator
(assinatura eletrônica)
fls. 849

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Apelação Cível nº 1004050-14.2021.8.26.0003 - Voto nº: 9368*allm 15/15

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