Processo Penal - Princípios
Processo Penal - Princípios
Processo Penal - Princípios
Bibliografia utilizada: Manual de Processo Penal, Renato Brasileiro de Lima; Curso de Direito Constitucional, Marcelo
Novelino; Novo Curso de Direito Processual Penal, Nestor Távora.
CONCEITO DE PROCESSO PENAL
Conceito (Frederico Marques): direito processual penal é o conjunto de princípios e normas que regulam a aplicação
jurisdicional do direito penal, bem como as atividades persecutórias da Polícia Judiciária, e a estruturação dos órgãos da função
jurisdicional e respectivos auxiliares.
Nota: tanto princípios (mandamentos de otimização. Ex.: dignidade da pessoa humana) como regras (mandamentos
definitivos. Ex.: art. 121 do CP) são espécies de normas jurídicas.
Até o advento da CRFB/88, tal princípio só existia de forma implícita, como decorrência da cláusula do devido processo
legal.
CRFB, Art. 5º, LVII: “Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”.
CPP, Art. 413. O juiz, fundamentadamente, pronunciará o acusado, se convencido da materialidade do fato e da existência de
indícios suficientes de autoria ou de participação.
Em razão do princípio in dubio pro reo, a qualificadora do crime de roubo pelo uso de arma será excluída se o réu alegar ter utilizado
um simulacro de arma de fogo que tenha sido confundido pela vítima;
R.: Errado.
(Delegado/RJ-2012 | FUNCAB_adaptada): A presunção de inocência possui axiologia tridimensional, atuando como regra de
tratamento, regra de julgamento e regra de garantia.
R.: Correto.
(PEFOCE/2011 | CESPE) O indivíduo que for preso em flagrante devido à prática de crime inafiançável não terá direito à concessão
de liberdade provisória, devendo permanecer preso durante o inquérito e a ação penal. Tal vedação não caracteriza violação do
princípio da inocência, visto que o flagrante por si só tem força coativa.
R.: Errado.
(PGE-BA/2013 | CESPE) Acerca das provas, das sentenças e dos princípios do direito processual penal, julgue o item a seguir. Em
razão do princípio constitucional da presunção de inocência, é vedado à autoridade policial mencionar anotações referentes à
instauração de inquérito nos atestados de antecedentes que lhe forem solicitados.
R.: Errado.
(PC-PA/2016 | FUNCAB) Leia as frases a seguir e a partir dos respectivos conteúdos responda.
1. “Esse princípio fundamental de civilidade representa o fruto de uma opção garantista a favor da tutela da imunidade dos inocentes”
(Luigi Ferrajoli).
1
O tema será aprofundado quando tratarmos de ‘Teoria da Prova’.
2
CPP, Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício:
1
2. “Basta ao corpo social que os culpados sejam geralmente punidos, pois é seu maior interesse que todos os inocentes sem exceção
sejam protegidos" (Lauzé di Peret).
3. “A metafísica do direito penal propriamente dita é destinada a proteger os culpados dos excessos da autoridade social; a metafísica
do direito processual tem por missão proteger dos abusos e dos erros da autoridade todos os cidadãos inocentes e honestos"
(Francesco Carrara).
Qual princípio a seguir melhor sintetiza o conteúdo, as idéias e as preocupações acima expostas?
A) Princípio da verdade real
B) Devido processo penal
C) Ampla defesa contraditório
D) Nemo tenetur se detegere
E) Presunção de inocência
Gab.: ‘E’.
(ii) regra de tratamento: significa a impossibilidade de o Poder Público comportar-se, em relação ao suspeito, como
se condenado fosse, antes do trânsito em julgado da sentença penal condenatória (ex.: não pode prisão ex lege).
(PC-BA/2013 | CESPE) Julgue os itens seguintes, considerando os dispositivos constitucionais e o processo penal. A presunção de
inocência da pessoa presa em flagrante delito, ainda que pela prática de crime inafiançável e hediondo, é razão, em regra, para que
ela permaneça em liberdade.
Gab.: correto.
Dimensões de tratamento: (1) interna: o ônus da prova recai integralmente sobre a parte acusadora (há divergências, como
visto); prisões cautelares devem ser utilizadas de modo excepcional; (2) externa: proteção contra a publicidade abusiva e a
estigmatização do acusado, algo que deve ser protegido pelo juiz das garantias (art. 3º-F, CPP, cuja eficácia encontra-se suspensa
por força de decisão proferida nas ADIs 6298, 6299, 6300 e 6305 pelo STF)
Obs.: art. 13, I e II, da Lei de Abuso de Autoridade.
Lei 13.689/2019, Art. 13. Constranger o preso ou o detento, mediante violência, grave ameaça ou redução de sua capacidade de
resistência, a:
I - exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade pública;
II - submeter-se a situação vexatória ou a constrangimento não autorizado em lei;
Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária
competente, em decorrência de prisão cautelar ou em virtude de condenação criminal transitada em julgado. (Redação dada pela
Lei nº 13.964, de 2019)
(iii) regra de garantia (Luiz Flávio Gomes): para o autor, com base no art. 8º, ‘2’, da Convenção Americana sobre
Direitos Humanos, pode-se falar numa regra de garantia, segundo a qual a única forma de se afastar a presunção de inocência do
3
Assunto com grande probabilidade de cobrança em provas subjetivas.
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Ver: https://www.dizerodireito.com.br/2019/11/stf-decide-que-o-cumprimento-da-pena.html
2
acusado seria comprovando-se legalmente sua culpabilidade. Renato Brasileiro discorda, afirmando que tal regra já está inserida
na regra probatória.
CRFB, Art. 5º, LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório
e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.
Obs.1: essa participação não deve ser meramente formal. Precisa ser efetiva, densificando a igualdade material no
processo. Ex.: não basta ao acusado ter um defensor (art. 261, CPP); a defesa técnica deve ser eficaz, sendo viável ao juiz nomear
defensor ao acusado quando considera-lo indefeso (art. 497, V, CPP).
Obs.2: prevalece na doutrina e na jurisprudência (STF, 2ª Turma, HC 99.936/CE) que a observância do contraditório
não é obrigatória na fase investigatória, já que o inquérito é procedimento administrativo de caráter informativo.
(PC-BA/2013 | CESPE) Julgue o item seguinte, considerando os dispositivos constitucionais e o processo penal. Tanto o
acompanhamento do inquérito policial por advogado quanto seus requerimentos ao delegado caracterizam a observância do direito
ao contraditório e à ampla defesa, obrigatórios na fase inquisitorial e durante a ação penal.
Gab.: errado.
Obs.3: tratando-se de fatos letais envolvendo atividade policial, deve-se notificar o investigado quando da instauração do
procedimento investigatório (art. 14-A, CPP, c/c art. 16-A, CPPM).
• Contraditório para a prova e contraditório sobre a prova
(i) contraditório para a prova ou contraditório real: a produção da prova ocorre na presença do órgão julgador e das
partes (ex.: prova testemunhal colhida em juízo);
(ii) contraditório sobre a prova ou contraditório diferido/postergado: reconhecimento da atuação do contraditório após
a formação da prova. Ou seja, ciência das partes posteriormente à produção da prova. Ex.: interceptação telefônica.
(STM/2018 | CESPE) A garantia, aos acusados em geral, de contraditar atos e documentos com os meios e recursos previstos
atende aos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa.
Gab.: Correto.
(PC-SC/2017 | FEPESE) É correto afirmar sobre o princípio constitucional do contraditório e da ampla defesa.
A) O contraditório é de observância obrigatória durante a investigação criminal.
B) O contraditório obriga o magistrado a sempre ouvir o Ministério Público antes de proferir decisões contrárias ao acusado.
C) Nos crimes dolosos contra a vida, é dispensada a observância dos princípios do contraditório e da ampla defesa.
D) O princípio do contraditório é exclusivo da acusação, ao passo que o princípio da ampla defesa deve beneficiar a defesa do
acusado.
E) A ampla defesa assegura ao acusado a utilização dos meios e recursos inerentes durante o curso da ação penal.
Gab.: ‘E’.
Ligada ao contraditório (art. 5º, LV, CRFB). Visando à igualdade material, permite-se que o réu possua privilégios em
detrimento da acusação (revisão criminal pro reo, in dubio pro reo, etc.).
(TRE-BA/2017 | CESPE) Indiciado em determinado inquérito policial, Pedro requereu, por meio de seu advogado, acesso aos autos
da investigação. O requerimento foi negado pelo delegado de polícia. Nessa situação hipotética, a decisão da autoridade policial
está
A) correta, pois, sendo procedimento inquisitório, não há de se falar em assistência de advogado no curso do inquérito policial.
B) incorreta, pois o exercício do direito de defesa e contraditório são plenamente aplicáveis ao inquérito policial.
C) incorreta, pois afronta o princípio da publicidade, igualmente aplicável às ações penais em curso e aos inquéritos policiais.
D) correta, pois o inquérito policial, sendo procedimento inquisitório, deve ser mantido em sigilo até o ajuizamento da ação penal.
E) incorreta, pois o acesso do indiciado, por meio de seu advogado, aos autos do procedimento investigatório é garantia de seu
direito de defesa.
Gab.: ‘E’. Ver súmula vinculante 14 do STF.
(PC-DF/2013 | CESPE) Considerando, por hipótese, que, devido ao fato de estar sendo investigado pela prática de latrocínio, José
tenha contratado um advogado para acompanhar as investigações, julgue os itens a seguir. Embora o inquérito policial seja um
procedimento sigiloso, será assegurado ao advogado de José o acesso aos autos.
Gab.: correto.
(PC-AL/2012) Apesar do sigilo do inquérito policial, é assegurado o seu amplo acesso ao investigado e a seu advogado, em qualquer
circunstância, ainda que haja diligências em curso.
Gab.: errado.
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1.3.1 DEFESA TÉCNICA (DEFESA PROCESSUAL OU ESPECÍFICA)
Deve ser efetuada por profissional habilitado, seja um defensor público (NÃO precisa estar inscrito na OAB; STJ. 2ª Turma.
REsp 1.710.155-CE), seja advogado (regularmente inscrito; estagiário, advogado suspenso não pode).
• Defesa técnica exercida pelo próprio réu
Juízes e promotores, a despeito do conhecimento jurídico, NÃO podem exercer a própria defesa, diferentemente de um
advogado regularmente inscrito na OAB.
• Características
É OBRIGATÓRIA (art. 261, CPP), INDISPONÍVEL e IRRENUNCIÁVEL (mesmo nos procedimentos do Juizado Especial
Criminal – cuidado com o art. 10 da Lei 10.529/01 [ADI 3168]), sob pena de configuração de nulidade absoluta (art. 564, III, ‘c’, CPP).
Tal defesa técnica precisa ser plena e efetiva. Para tanto, deve haver um tempo razoável entre a comunicação do ato em
relação ao qual deverá ser exercida a defesa e o prazo final para tal exercício.
Súmula 523 STF - No processo penal, a falta da defesa TÉCNICA constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se
houver prova de prejuízo para o réu.
• Direito de escolha
O réu tem direito de escolher seu defensor:
• Autodefesa
É aquela exercida pelo próprio acusado em momentos cruciais do processo. É DISPONÍVEL (ainda que não seja
desprezível). Necessária a citação/intimação pessoal em regra5.
Visualiza-se a autodefesa de várias formas:
(a) direito de audiência: direito de apresentar-se pessoalmente ao juiz da causa. Materializa-se por meio do
interrogatório (natureza de meio de defesa).
(b) direito de presença: acompanhamento dos atos da instrução pelo réu. Necessidade intimação obrigatória de todos
os atos processuais. Todavia, o réu NÃO é obrigado a comparecer; o defensor, sim. O direito de presença é relativizado pelo art.
217 do CPP.
Obs.: ver art. 20 da Lei de Abuso de Autoridade.
Art. 20. Impedir, sem justa causa, a entrevista pessoal e reservada do preso com seu advogado:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem impede o preso, o réu solto ou o investigado de entrevistar-se pessoal e
reservadamente com seu advogado ou defensor, por prazo razoável, antes de audiência judicial, e de sentar-se ao seu lado e com
ele comunicar-se durante a audiência, salvo no curso de interrogatório ou no caso de audiência realizada por videoconferência.
Atos processuais em outras comarcas (ex.: oitiva de testemunhas)? Em julgados mais recentes, STF tem entendido que a
alegação de necessidade da presença do réu em audiências deprecadas, estando ele preso, configura nulidade relativa, devendo-
se comprovar a oportuna requisição e também a presença de efetivo prejuízo à defesa (RE 602.543).
(c) capacidade postulatória autônoma: o acusado pode interpor recursos (CPP, art. 577, caput), impetrar habeas
corpus (CPP, art. 654, caput), ajuizar revisão criminal (CPP, art. 623), assim como formular pedidos relativos à execução da pena
(LEP, art. 195, caput).
(DPE-RO/2015 | FGV) A Constituição da República prevê os princípios da ampla defesa e do contraditório como fundamentais. O
Código de Processo Penal, por sua vez, traz previsões para o tratamento do acusado e de seu defensor, algumas vezes em
consonância com as ideias desses princípios e outras não. De acordo com o Código, é correto afirmar que:
A) a audiência não poderá ser adiada pela ausência do defensor, ainda que justificada;
B) para constituição do defensor é sempre indispensável o instrumento de mandato;
C) a intimação do réu não revel para o ato de seu interrogatório é facultativa;
D) o acusado revel será julgado independente da presença de defensor ou advogado;
E) a intimação do defensor público nomeado será pessoal.
Gab.: ‘E’.
5
Súmula 351 do STF. É nula a citação por edital de réu preso na mesma unidade da federação em que o juiz exerce a sua jurisdição.
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C) na investigação criminal, a defesa é imprescindível, uma vez que, nessa fase, são assegurados o contraditório, a ampla defesa e
a assistência do advogado ao preso em flagrante.
D) a autodefesa, composta pelo direito de audiência e pelo direito de presença, é dispensável pelo juiz, mas dela o acusado não
poderá renunciar, devendo a ele ser imposta.
Gab.: ‘A’.
Até o início de 2020, o STJ entendia que, nos procedimentos administrativos destinados à apuração de falta grave do preso,
era imprescindível a instautração de Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD). Inclusive, chegou a editar uma súmula a esse
respeito.
Súmula nº 533 do STJ: “Para o reconhecimento da prática de falta disciplinar no âmbito da execução penal, é imprescindível a
instauração de procedimento administrativo pelo diretor do estabelecimento prisional, assegurado o direito de defesa, a ser realizado
por advogado constituído ou defensor público nomeado”.
A oitiva do condenado pelo Juízo da Execução Penal, em audiência de justificação realizada na presença do defensor e do Ministério
Público, afasta a necessidade de prévio Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD), assim como supre eventual ausência ou
insuficiência de defesa técnica no PAD instaurado para apurar a prática de falta grave durante o cumprimento da pena. STF. Plenário.
RE 972598, Rel. Roberto Barroso, julgado em 04/05/2020 (Repercussão Geral – Tema 941) (Info 985 – clipping).
Logo, a súmula 533 do STJ encontra-se superada, ainda que não tenha sido formalmente cancelada.
Ademais, a ampla defesa incide, inclusive (em regra), na transferência e inclusão de presos em estabelecimentos penais
federais de segurança máxima (art. 5º, §2º, Lei 11.671/08). Em casos urgentes (ex.: rebelião), essa transferência não necessita de
oitiva prévia da defesa (art. 5º, §6º, Lei 11.671).
Súmula n. 639 do STJ: “Não fere o contraditório e o devido processo decisão que, sem ouvida prévia da defesa, determine
transferência ou permanência de custodiado em estabelecimento penitenciário federal”.
(TJSP/2016 | VUNESP) Dos princípios constitucionais do processo penal a seguir enumerados, assinale o que admite que a
legislação infraconstitucional estabeleça exceções.
A) Princípio do contraditório.
B) Princípio da publicidade.
C) Princípio da presunção da inocência.
D) Princípio da imunidade à autoacusação.
Gab.: ‘B’.
(TJMS/2015 | VUNESP) Com relação ao Princípio Constitucional da Publicidade, com correspondência no Código de Processo
Penal, é correto afirmar que
A) a publicidade ampla e a publicidade restrita não constituem regras de maior ou menor valor no processo penal, cabendo ao poder
discricionário do juiz a preservação da intimidade dos sujeitos processuais.
B) a publicidade restrita tem regramento pela legislação infraconstitucional e não foi recepcionada pela Constituição Federal, que
normatiza a publicidade ampla dos atos processuais como garantia absoluta do indivíduo.
C) de acordo com o artigo 93, inciso IX, da Constituição Federal, com nova redação dada pela EC 45/2004, os atos processuais
serão públicos, sob pena de nulidade, cabendo ao juiz limitar a presença, nas audiências, de partes e advogados.
D) a publicidade restrita é regra geral dos atos processuais, ao passo que a publicidade ampla é exceção e ocorre nas situações
expressas em lei, dependendo de decisão judicial no caso concreto.
E) a publicidade ampla é regra geral dos atos processuais, ao passo que a publicidade restrita é exceção e ocorre nas situações
expressas em lei, dependendo de decisão judicial no caso concreto.
Gab.: ‘E’
5
Obs.1: no processo penal, a busca da verdade sujeita-se a restrições: vedação de provas ilícitas (art. 5º, LVI, CRFB);
limitações de depoimentos (art. 207, CPP); impossibilidade de revisão criminal contra sentença absolutória (art. 621, CPP).
Obs.2: no procedimento dos juizados especiais, fala-se em verdade consensuada.
Referido princípio será abordado com mais propriedade na parte relativa às provas.
• Normas protetivas
(i) A jurisdição é exercida por órgãos instituídos pela CRFB; (ii) o órgão julgador deve existir antes do fato; (iii) a competência
deve ser definida de modo objetivo.
• Descontaminação do julgado
CPP, Art. 157, § 5º O juiz que conhecer do conteúdo da prova declarada inadmissível não poderá proferir a sentença ou acórdão.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Eficácia Suspensa
Deve-se ter cuidado para, com má-fé, as partes juntem aos autos provas ilícitas simplesmente para afastar o juiz.
• Lei modificadora de competência
Os processos em andamento, de acordo com a doutrina, não podem ser deslocados, sob pena de violação do princípio do
juiz natural, que deve ser analisado quando o crime é praticado. A jurisprudência, contudo, entende que lei que altera competência
deve ser aplicada imediatamente, salvo se já houver sentença de mérito.
• Juízes de 1º grau substituindo desembargadores
Desde que observada diretrizes legais, não há ofensa ao princípio do juiz natural (STJ). Ainda que o órgão julgador seja
composto majoritariamente por juízes convocados (STF).
• Varas especializadas
NÃO viola o juiz natural. Ex.: vara especializada em crimes contra a ordem econômica.
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1.8 PRINCÍPIO DO “NEMO TENETUR SE DETEGERE” OU PROIBIÇÃO DE AUTOINCRIMINAÇÃO
Consubstancia-se na ideia de que ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo. Previsão: CADH (art. 8º, 2, g) e
na CRFB/88 (art. 5º, LXIII).
CRFB/88, Art. 5º, LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada
a assistência da família e de advogado;
Apesar de a CRFB mencionar apenas o ‘preso’, a doutrina entende que a proteção abrange qualquer pessoa a quem seja
imputada a prática de um ilícito criminal.
• Testemunha
Apesar do dever de dizer a verdade, a testemunha sob pena de cometer crime de falso testemunho (art. 342, Código Penal),
não está obrigada a responder perguntas sobre fato que, em tese, possa incriminá-la.
Se o indivíduo é convocado para depor como testemunha em uma investigação e, durante o seu depoimento, acaba confessando
um crime, essa confissão não é válida se a autoridade que presidia o ato não o advertiu previamente de que ele não era obrigado a
produzir prova contra si mesmo, tendo o direito de permanecer calado. STF. 2ª Turma. RHC 122279/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 12/8/2014 (Info 754).
(Prefeitura de Marcação/PB – 2016 | FACET) Sobre o princípio de vedação de autoincriminação, passemos a analisar as seguintes
assertivas:
I. O direito ao silêncio se aplica a testemunha, ante a indagação de autoridade pública de cuja resposta possa advir imputação da
prática de crime ao declarante.
II. O indiciado em inquérito policial ou acusado em processo criminal pode ser compelido pela autoridade a fornecer padrões vocais
para a realização de perícia sob pena de responder por crime de desobediência.
III. O acusado em processo criminal tem o direito de permanecer em silêncio, sendo certo que o silêncio não importará em confissão,
mas poderá ser valorado pelo juiz de forma desfavorável ao réu.
IV. O STF já pacificou entendimento de que é lícito ao juiz aumentar a pena do condenado, utilizando como justificativa o fato do réu
ter mentido em juízo, dada a reprovabilidade de sua conduta.
Assinale:
A) Se apenas as afirmativas I e II estiverem corretas.
B) Se apenas as afirmativas II e III estiverem corretas.
C) Se apenas as afirmativas I e IV estiverem corretas.
D) Se apenas as afirmativas I, II e IV estiverem corretas.
E) Se apenas a afirmativa I estiver correta.
Gab.: ‘E’.
Houve violação do direito ao silêncio e à não autoincriminação na realização desse “interrogatório travestido de entrevista”. Não se
assegurou ao investigado o direito à prévia consulta a seu advogado. Além disso, ele não foi comunicado sobre seu direito ao silêncio
e de não produzir provas contra si mesmo. STF. 2ª Turma. Rcl 33711/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/6/2019 (Info 944).
(PC-BA/2013 | CESPE) Julgue o item seguinte, considerando os dispositivos constitucionais e o processo penal. O direito ao silêncio
consiste na garantia de o indiciado permanecer calado e de tal conduta não ser considerada confissão, cabendo ao delegado informá-
lo desse direito durante sua oitiva no inquérito policial.
Gab.: Correto.
Obs.: a falta de comunicação ao acusado sobre o direito de permanecer em silêncio é causa de nulidade relativa, cujo
reconhecimento depende de comprovação do prejuízo (Tese - STJ, edição 69).
(TRF1/2017 | CESPE) A não comunicação ao acusado de seu direito de permanecer em silêncio é causa de nulidade relativa, cujo
reconhecimento depende da comprovação do prejuízo.
Gab.: Correto.
(PC-DF/2013 | CESPE) Com base no que dispõe o Código de Processo Penal, julgue o item que se segue. A falta de advertência
sobre o direito ao silêncio não conduz à anulação automática do interrogatório ou depoimento, devendo ser analisadas as demais
circunstâncias do caso concreto para se verificar se houve ou não o constrangimento ilegal.
Gab.: Correto.
- Entrevistas concedidas pelos presos, sem que antes seja alertado sobre o direito de ficar calado, são provas
válidas? 1ªC) Não, em razão da eficácia horizontal dos direitos fundamentais, os particulares também deveriam fazer o ‘aviso de
Miranda’; 2) Sim, pois o ‘aviso de Miranda’ circunscreve-se aos agentes públicos (STF, HC 99558).
Art. 15. Constranger a depor, sob ameaça de prisão, pessoa que, em razão de função, ministério, ofício ou profissão, deva guardar
segredo ou resguardar sigilo:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. (VETADO).
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem prossegue com o interrogatório: (Promulgação partes vetadas)
I - de pessoa que tenha decidido exercer o direito ao silêncio; ou
II - de pessoa que tenha optado por ser assistida por advogado ou defensor público, sem a presença de seu patrono.
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O direito à não autoincriminação NÃO abrange os dados qualificativos (art. 186, CPP) do interrogando (ex.: nome, profissão,
etc.).
(DPF/2013 | CESPE) É apresentada uma situação hipotética, seguida de uma assertiva a ser julgada em relação ao inquérito policial
e suas peculiaridades, às atribuições da Polícia Federal e ao sistema probatório no processo penal brasileiro.
José foi indiciado em inquérito policial por crime de contrabando e, devidamente intimado, compareceu perante a autoridade policial
para interrogatório. Ao ser indagado a respeito de seus dados qualificativos para o preenchimento da primeira parte do interrogatório,
José arguiu o direito ao silêncio, nada respondendo. Nessa situação hipotética, cabe à autoridade policial alertar José de que a sua
recusa em prestar as informações solicitadas acarreta responsabilidade penal, porque a lei é taxativa quanto à obrigatoriedade da
qualificação do acusado.
Gab.: Correto.
(2) direito de não ser constrangido a confessar a prática de ilícito penal: acusado não é obrigado a confessar a
prática do delito.
(3) inexigibilidade de dizer a verdade: apenas se tolera6 que o acusado minta (não há uma sanção para sua
mentira). Ex.: negar falsamente a prática de infração penal (STF, 1ª Turma, HC 68.929/SP).
É crime: (a) formular falsas acusações (mentiras agressivas) contra terceiros inocentes; (b) acusar-se, perante a autoridade,
de crime inexistente ou praticado por outrem (art. 341, CP); (c) identificar-se com nome falso (art. 307 do CP) perante autoridade
policial para obter alguma vantagem (RE 640.139).
(PCRN/2021 | FGV) O direito processual penal é regido por diversos princípios, dentre os quais o do nemo tenetur se detegere, pelo
qual ninguém será obrigado a produzir prova contra si mesmo. Com base no princípio em questão e na jurisprudência dos Tribunais
Superiores:
A) a atribuição de falsa identidade pelo suspeito ou investigado, ainda que em situação de autodefesa, configura fato típico;
B) a recusa do investigado em prestar informações quando intimado em sede policial poderá justificar, por si só,o seu indiciamento
pela autoridade policial;
C) as provas que exijam comportamento passivo do investigado não poderão ser produzidas sem sua concordância;
D) a alteração de cena do crime pelo agente não configura fraude processual;
E) apenas o preso poderá valer-se do direito ao silêncio, não se estendendo tal proteção aos investigados.
Gab.: ‘A’.
(4) direito de não praticar qualquer comportamento ativo que possa incriminá-lo: é necessário consentimento
para tanto. Ex.: acareação, reconstituição do crime, exame grafotécnico, padrões vocais, etc. Logo, a recusa não configura crime.
Cooperação passiva (mera tolerância) não precisa de consentimento. Ex.: reconhecimento pessoal.
- E o bafômetro? O indivíduo não é obrigado a ‘soprar’ o bafômetro ou submeter-se a exame de sangue para
constatação de álcool em seu organismo. Admite-se, no entanto, a utilização de etilômetro que, ao não exigir qualquer participação
ativa do indivíduo, limita-se a absorver o ar em seu entorno para verificação da presença de álcool.
(TJ/AL-2018 | FGV) Carlos conduzia seu veículo automotor de maneira tranquila, quando foi parado em uma operação que verificava
a condução de veículo automotor em via pública sob a influência de álcool. Apesar de estar totalmente consciente de seus atos,
Carlos havia ingerido 07 (sete) latas de cerveja, razão pela qual temia que o teste do “bafômetro” identificasse percentual acima do
permitido em lei. De acordo com a jurisprudência majoritária dos Tribunais Superiores, Carlos:
A) não é obrigado a realizar o exame, que exige um comportamento positivo seu, respeitando-se a regra de que ninguém é obrigado
a produzir prova contra si, diferentemente do que ocorreria se fosse necessária apenas cooperação passiva;
B) é obrigado a realizar o exame, tendo em vista que esse é indispensável para a configuração do tipo, sempre podendo o resultado
ser utilizado como meio de prova;
C) não é obrigado a realizar o exame, pois ninguém é obrigado a produzir prova contra si, seja através de cooperação ativa seja
com cooperação passiva, como no caso de ato de reconhecimento de pessoa;
D) é obrigado a realizar o exame, ainda que este seja desnecessário para a configuração do tipo, que pode ser demonstrado por
outros meios de prova;
E) é obrigado a realizar o exame, mas seu resultado poderá ou não ser utilizado como meio de prova de acordo com a vontade de
Carlos, já que ninguém é obrigado a produzir prova contra si.
Gab.: ‘A’.
(AL-RO/2018 | FGV) )Analise as assertivas a seguir, que tratam sobre os princípios aplicáveis ao Direito Processual Penal.
I. Com base no princípio da presunção de inocência, a prisão preventiva deve ser decretada apenas quando as medidas cautelares
alternativas não forem suficientes, não mais havendo prisão automática em razão de sentença condenatória de primeira instância;
II. Inspirado no princípio de que ninguém é obrigado a produzir provas contra si, o agente pode se recusar a realizar exame de
etilômetro (bafômetro), podendo, porém, o crime ser demonstrado por outros meios de prova; III. Com base no princípio da
irretroatividade da lei processual penal, uma lei de conteúdo exclusivamente processual penal, em sendo mais gravosa ao réu, não
poderá retroagir para atingir fatos anteriores a sua entrada em vigor.
Com base na jurisprudência dos Tribunais Superiores, está(ão) correta(s), apenas, as assertivas previstas nos itens
A) I, II e III.
B) I e II.
C) I e III.
D) II e III.
E) I
Gab.: ‘B’.
(5) direito de não produzir nenhuma prova incriminadora invasiva: provas invasivas são as intervenções
corporais que pressupõem penetração no organismo humano. Ex.: exame de sangue. Provas não invasivas consistem numa
inspeção ou verificação corporal. Ex.: exame de DNA com saliva encontrada num copo; raio-X (STJ, HC 149.146).
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Para alguns, porém, o acusado tem o DIREITO DE MENTIR, porque no Brasil não existe crime de perjúrio.
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Nota: prova não invasiva NÃO PRECISA de consentimento. Prova invasiva, mesmo no cível, precisa (ex.: DNA para saber
se é pai)7.
(PF/2012 | CESPE) Como o sistema processual penal brasileiro assegura ao investigado o direito de não produzir provas contra si
mesmo, a ele é conferida a faculdade de não participar de alguns atos investigativos, como, por exemplo, da reprodução simulada
dos fatos e do procedimento de identificação datiloscópica e de reconhecimento, além do direito de não fornecer material para
comparação em exame pericial.
Gab.: errado. O acusado NÃO pode recusar-se a participar da identificação datiloscópica (art. 4º, Lei 12.037/2009), nem do
reconhecimento, já que este não exige qualquer postura ativa dele (art. 226, II, CPP).
CTB, art. 305. Afastar-se o condutor do veículo do local do acidente, para fugir à responsabilidade penal ou civil que lhe possa ser
atribuída:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.
STF: “(...) “A regra que prevê o crime do art. 305 do CTB é constitucional posto não infirmar o princípio da não incriminação, garantido
o direito ao silêncio e as hipóteses de exclusão de tipicidade e de antijuridicidade”. À semelhança do que já fora decidido pelo
Supremo no julgamento do RE 640.139, quando se afirmou que o princípio constitucional da autoincriminação não alcança aquele
que atribui falsa identidade perante autoridade policial com o intuito de ocultar maus antecedentes, prevaleceu o entendimento de
que não há direitos absolutos e que, no sistema de ponderação de valores, há de ser admitida certa mitigação, até mesmo do
princípio da não autoincriminação. Na visão da Corte, a exigência de permanência no local do acidente e de identificação perante a
autoridade de trânsito não obriga o condutor a assumir expressamente sua responsabilidade civil ou penal e tampouco enseja que
seja aplicada contra ele qualquer penalidade caso assim não o proceda. Na verdade, a depender do caso concreto, a sua
permanência no local pode até constituir um meio de autodefesa, na medida em que terá a oportunidade de esclarecer, de imediato,
eventuais circunstâncias do acidente que lhe sejam favoráveis”. (STF, Pleno, RE 971.959/RS, Rel. Min. Luiz Fux, j. 14/11/2018).
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O tratamento, todavia, não é o mesmo daquele conferido no âmbito penal, em que vigora o princípio da vedação à não autoincriminação
e, também, o da presunção de inocência. Vide o art. 232 do Código Civil.
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1.10.5 PRINCÍPIO DA OFICIOSIDADE
A atuação oficial da persecução criminal, em regra, ocorre sem necessidade de autorização. Exceções: ação penal
condicionada à representação ou à requisição do Ministro da Justiça (art. 24, CPP).
(PC-SC/2017 | FEPESE) Assinale a alternativa que indica corretamente o princípio processual penal, em que a autoridade policial
tem o dever legal de instaurar o inquérito policial quando da ciência da prática de um crime que se apure mediante ação penal pública
incondicionada.
A) princípio da oficialidade
B) princípio da obrigatoriedade
C) princípio do delegado natural
D) princípio da indisponibilidade
E) princípio do impulso oficial
Gab.: ‘B’.
Decorrência lógica do princípio da obrigatoriedade, aponta que, iniciado o inquérito ou processo, não podem as autoridades
deles disporem (arts. 17, 42 e 576, CPP).
Indisponibilidade mitigada: o instituto da suspensão condicional do processo (art. 89, Lei 9.099/95) mitigou o princípio em
questão.
Disponibilidade: iniciada a ação penal privada, poderá a vítima dela dispor (art. 60, CPP).
CPP, Art. 315, § 2º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão,
que: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)
I - limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão
decidida; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso; (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019) (Vigência)
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo
julgador; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)
V - limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que
o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) (Vigência)
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de
distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
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O devido processo legal não implica o reconhecimento da existência do duplo grau em nível constitucional.
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No Brasil, adotou-se a teoria do não prazo9. Resulta daí que o controle acerca da razoabilidade da duração do processo
será feito conforme o caso concreto.
(TJSC/2018 | VUNESP) A respeito dos princípios e garantias processuais penais, é correto dizer que
A) encerrada a instrução criminal, não há que se reconhecer excesso de prazo da prisão, restando superada eventual ofensa ao
princípio da duração razoável.
B) a ampla defesa, princípio constitucional implícito, abrange tanto a defesa técnica quanto a autodefesa.
C) a criação de justiça especializada é vedada, em nosso sistema jurídico, já que viola o princípio do juiz natural, por ensejar um
“tribunal de exceção”.
D) o princípio do duplo grau de jurisdição é princípio constitucional explícito, aplicando-se, inclusive, aos feitos de competência
originária.
E) no que diz respeito ao princípio da publicidade, o interesse público à informação, segundo a Constituição, não se sobrepõe à
proteção da intimidade.
Gab.: ‘A’. Entendimento sumulado nº 52 do STJ: “encerrada a instrução criminal, fica superada a alegação de constrangimento por
excesso de prazo”.
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Apesar disso, a legislação prevê alguns prazos que funcionariam como parâmetro: art. 400, CPP (60 dias procedimento comum ordinário);
art. 412, CPP (90 dias, primeira fase do júri); art. 22, PÚ, Lei 12.850 (120 dias, se réu preso, prorrogáveis por mais 120 dias).
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