Recai Da
Recai Da
Recai Da
PÉRICLES ZIEMMERMANN
26/09/2018 2
JOSÉ PLÍNIO DO AMARAL ALMEIDA
MINIDICIONÁRIO DE TERMOS
ABTEMIOLÓGICOS
Abstemiólogos, abstemiologistas, abstêmios-
intensa da drogadição. Uso intenso de secundário).
terapeutas, reeducadores abstêmios ou drogas/álcool. Compulsão e obsessão por Drogadição, Uso efetivo de drogas/álcool,
abstêmios-cuidadores, pessoas que estudam a drogas/álcool. Período de enorme crise pessoal, normalmente, se refere a longos períodos.
abstemiologia e que tem por função explorar, afetiva, profissional, sentimental, emocional, Utilização de alguma substância que altera o
mostrar, identificar e compreender o processo de cognitiva, social e espiritual. O drogadito mais juízo pessoal de criticidade. É o uso de
abstinência, bem como guiar, conduzir ou indicar complexo. Pessoa que está no processo de drogas/álcool. Ocorre com mero usuário, usuário
a jornada abstêmia para todos aqueles que adicção. abusivo e adicto. É aquilo que o abstêmio tenta
desejam iniciar, manter ou evoluir através do Busílis, Centro da questão. Foco principal. Real superar. Técnica equivocadamente utilizada para
caminho abstêmio. Pessoas que são dificuldade. sentir prazer, alívio de dor ou fuga da realidade.
responsáveis pela abstêmio-terapia. Cláusulas pétreas abstêmias, Consistem em A drogadição prolongada pode resultar em
Abstêmio, Pessoa que pode estar em qualquer determinadas regras que não podem ser adicção. Drogadição pode, ou não, gerar
uma das cinco fases de abstinência: abstêmio desprezadas durante a abstinência porque se adicção. Enquanto a drogadição envolver apenas
mínimo, abstemenor, abstemaior, abstemaior forem desrespeitadas podem gerar fissuras ou o período de mero usuário será um mecanismo
real ou mega-abstêmio. Também pode ser usado recaídas. Ex.: “evite o primeiro gole/dose”, e, “só social amplamente difundido e aceito. Quando a
como sinônimo de como abstêmio positivo ou por hoje”. intensidade da drogadição atingir os patamares
abstêmio propriamente dito. Pessoa que percorre Codependência, Característica ligada ao rol de de usuário abusivo e de adicto a sociedade
sua jornada abstêmia. Pessoa integrante do pessoas que fazem parte do cotidiano do adicto. desautoriza o uso.
processo de abstinência. Homo abstemius. São vítimas do fenômeno da adicção por _______________________________________
Adicção, Período da vida de uma pessoa associação com entes queridos que, Nomenclaturas sugeridas por JOSÉ PLÍNIO
vinculado ao uso de drogas/álcool de forma efetivamente, são adictos. No processo abstêmio DO AMARAL ALMEIDA:
abusiva, constante, permanente e degradante. haverá a transição de codependente para abstemiólogos
Característica de uma pessoa que a conduz a coevolucionando. abstemiologistas
um período de uso de drogas/álcool muito Comorbidades, São doenças que se somam à abstêmios-terapeutas
intenso. Doença psicológica. Doença adicção. Podem ter origem anterior,
psiquiátrica. Doença espiritual. Doença biológica. concomitante ou posterior ao fenômeno adicto. Termo constante no livro: “Abstemiologia:
Enfermidade. Hábitos degradantes. Falta de Podem ser doenças, transtornos ou síndromes primeiro tratado abstemiológico brasileiro”:
caráter. Falta de espiritualidade. Falta de “Deus de origem biológica, psicológica, social, afetiva reeducadores-abstêmios
no coração”. Aumento acentuado da ou espiritual. São situações que agravam o
autopiedade. Egoísmo. Narcisismo. Imaturidade. processo de adicção. Podem ser uma das Nomenclatura sugerida por PÉRICLES
Irresponsabilidade. Problema. (ver: Teoria causas originárias da adicção (efeito primário) ou ZIEMMERMANN:
poliédrica da adictologia). causas que decorrem da adicção (efeito abstêmios-cuidadores
Adicto, Pessoa que está numa fase muito
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JOSÉ PLÍNIO DO AMARAL ALMEIDA
TEORIA DO
PROCESSO DE RECAÍDA
A TEORIA DO PROCESSO DE RECAÍDA ESTUDA:
DADOS ESTATÍSTICOS sobre recaídas
Tratamento de prevenção de recaída (TPR): como evitar o desencadeamento ou a evolução do processo de recaída
Definições diversas: os conceitos de fissura, gatilho e recaída, lapso de uso, desvio abstêmio, nexo de displicência e pirâmide
da recaída
Modelos de prevenção de recaídas: modelo moral, modelo médico, modelo cognitivo e comportamental, modelo dinâmico,
Modelo de Gorski, Modelo sócio-cognitivo (Marlatt) e modelo abstemiológico (Ziemmermann)
Breve histórico sobre fissura (craving)
Fissura para o modelo abstemiológico
Classificação de fissuras
Características da fissura
Fenômeno da recaída sem fissura
Técnicas para neutralizar GATILHOS e FISSURA
Caráter pedagógico da recaída
Raciocínio crítico
Princípios aplicáveis à prevenção de recaída
Efeitos gerados pelo processo de recaída
Síndromes manifestadas durante o processo de recaída
Teorias abstemiológicas sobre o processo de recaída
Espécies de recaídas sobre o ponto de vista abstemiológico
Técnicas aplicáveis à prevenção de recaída: triângulo da prevenção, técnica do evite e do procure e 33 técnicas do modelo
abstemiológico
Abreviaturas:
DAI decisões aparentemente irrelevantes
SAA síndrome de abstinência do álcool
SPA substância psicoativa
SAR situações de alto risco
PR prevenção de recaída
TPR tratamento da prevenção de recaída
PÉRICLES ZIEMMERMANN
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JOSÉ PLÍNIO DO AMARAL ALMEIDA
DADOS SOBRE
PREVENÇÃO DE RECAÍDA
A seguir, serão apresentados alguns dados científicos muito relevantes:
70% das recaídas ocorrem 90 (noventa) dias após o internamento ou início do período de abstinência1. É
o ciclo dos 03 (três) meses. Com isso, a probabilidade de recaída do abstêmio menor – ou recuperando – é muito
superior ao índice de recaídas do abstêmio maior – ou abstêmio propriamente dito – que, por sua vez, também é muito
maior que o número de recaídas como abstêmio duplo positivo – ou pós-abstêmio.
As 03 (três) maiores causas motivadoras das recaídas2: pensamentos negativos (35%), estressores sociais
(20%) e convivencialidade conflitiva (16%).
Ambientes relacionados ao período de ativa disparam GATILHOS bioquímicos e psicológicos que são
interpretados pelo abstêmio como fissura.
Os pensamentos automáticos que geram fissura são embasados na tríade da erronia (erro, engano e
omissão), ou seja, distorções cognitivas profundamente enraizadas nos juízos de valores inadequados3.
Alterações de humor indicam sinais de desorganização do pensamento. Ex.: humor eufórico e acelerado,
melodramas, desinibição, grandiosidade, marasmo, pessimismo permanente e baixa autoestima. É comum que o
abstêmio menor apresente sinais de anedonia, ou seja, a perda do prazer. Isso ocorre quando atividades cotidianas não
proporcionam prazer nem satisfação.
Questão da gaiola de ratos: ratos – gaiola com comida ou nicotina - dependência em nicotina muito
severa – mudança da estrutura gaiola – introdução de diversos brinquedos – dependência de nicotina muito pequena.
O problema não estava nos ratos ou na nicotina, mas na gaiola.
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HIPOCRISIA
SOCIAL
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QUADRILÁTERO
ABSTÊMIO
O que todos os abstinentes possuem em comum?
Uma das questões fundamentais para entender a abstinência é compreender o conjunto de ideias que os abstinentes possuem em comum
já que são essas ideias que os afastaram da adicção. É preciso “dissecar” a consciência do abstinente de modo a compreender todo o
conjunto de ideias que lhes pertencem. Assim, empiricamente, podemos perceber que os abstinentes possuem em comum a alteração de
alguns conceitos e, tais conceitos, podem ser classificados de acordo com seus critérios: ético, cronológico, racional e espiritual. Esses
critérios serão lentamente reformulados pelos abstêmios para se amoldarem a Vida Abstêmia. Como são quatro critérios abstêmios
podem ser denominados de quattuor criterium abstemius ou, simplesmente, quadrilátero abstêmio. Veremos a seguir que o triângulo da
recuperação (honestidade, mente aberta e boa vontade), bem como o triângulo da trindade abstêmia (serenidade, sabedoria e coragem)
representam três exemplos de critérios abstêmios. Por isso, o quattuor criterium abstemius pode ser exemplificado pelo triângulo da
recuperação ou da trindade abstêmia somado ao critério cronológico.
CRITÉRIO ÉTICO
PASSO ZERO
RESPONSABILIDADE
HONESTIDADE
CORAGEM
CRITÉRIO
RACIONAL CRITÉRIO
CRONOLÓGICO
ABSTINENTE
INFORMAÇÕES ABSTÊMIO
TÉCNICAS ALTERAÇÃO DE
MENTE ABERTA PARADIGMA
SABEDORIA
CRITÉRIO ESPIRITUAL
12 PASSO
BOA VONTADE
SERENIDADE
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TRATAMENTO SOBRE
PREVENÇÃO DE RECAÍDAS
A tratamento de prevenção de recaída (TPR) exige:
Grupo de suporte e sustentação emocional
Identificação das situações de risco e dos sinais precoces de recaída
Elaboração de mapas de recaída
Estratégias para evitar o desencadeamento e agravamento do processo de recaída
Mudança de estilo de vida
Aplicação adequada de técnicas
Problemas do TPR:
Desvinculação precoce
Fadiga da cessação
Flutuações da assiduidade
Seguimento dos lapsos e recaídas
Em regra, o TPR (tratamento de prevenção de recaída) exige três passos: fase de desintoxicação, estabilização e
desabituação.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
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DEFINIÇÃO DE RECAÍDA
PARA A ABSTEMIOLOGIA
Recaída é o processo que ocorre quando o abstêmio, após ter percorrido uma linha causal de
desdobramentos fáticos, realiza o abortamento traumático do processo de abstinência, reconduzindo-se ao
processo de adicção e ao meio insalubre, periculoso e degradante do qual, supostamente, tentava sair.
Recaída é um ato individual de vontade. Entretanto, só recai quem estava em abstinência, ou seja, se não havia
um processo de abstinência não haverá recaída, mas mero reuso de drogas/álcool. Para recair precisa percorrer toda
uma linha de causas e desdobramentos fáticos, de modo que, a recaída não deriva de um único ato, mas de
sucessivos erros e equívocos ocorridos em diversas fases anteriores. Recaída é uma sucessão de erros. Precisamos
entender como ocorre essa sucessão de desdobramentos que culminam com a recaída, faremos isso no próximo
tópico.
Para TRIGO (p. 299-328, 2006) na síndrome da recaída: “Os autores comparam a recuperação da dependência ao
subir de uma escada rolante que gira em sentido descendente. Nesta situação, não é necessário fazer nada para
descer ou recair, mas exige-se um esforço ativo para conseguir subir ou recuperar. Assim, quando não há uma
estratégia concreta de recuperação, dá-se início ao «processo de recaída» que é um fenómeno desencadeado muito
antes do uso efetivo da substância. Isto quer dizer que apesar da pessoa se manter abstinente, a passividade perante o
tratamento, a negação das dificuldades ou o desenvolvimento de mitos e crenças erradas podem-se tornar
disfuncionais e levar à recaída.”
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SEQUÊNCIA DE ATOS PARA A
REINTOXICAÇÃO FÍSICA
LINHA DE
DESDOBRAMENTO EXEMPLIFICANDO A RECAÍDA
FÁTICO DA RECAÍDA
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PIRÂMIDE DA RECAÍDA
PARA A ABSTEMIOLOGIA
ANALISANDO A PIRÂMIDE DA RECAÍDA
A recaída é um processo que culmina com a reintoxicação do abstêmio, mas que se inicia muito antes desse ato.
Reintoxicação física: é a última etapa do processo de recaída culminado com o uso efetivo de drogas/álcool. É a recaída real.
Reintoxicação emocional: são os fatos antecipadores imediatamente anteriores ao uso de drogas/álcool. Tais como: comprar ou pedir
drogas/álcool. É a “recaída emocional”.
Fatos auxiliadores antecedentes: são as artimanhas para o uso. Por exemplo, discussões desnecessárias, mentiras, ardil, fuga, obtenção
de meios, aumento da irritabilidade ou isolamento.
Fatos cognitivos estratégicos: ocorrem internamente, apenas na mente da pessoa como desorganização mental e cogitações de uso.
Fatos cognitivos permissivos: constituem-se pela manutenção de reservas, teimosia, ausência de flexibilização conceitual. É uma
espécie de orgulho, mas, como é um orgulho exagerado, é comum dizer que é orgulho inflado.
Então, a recaída entendida como reintoxicação física se inicia muito antes, mas quando se inicia a recaída? Nos fatos cognitivos permissivos:
acompanham a pessoa desde a interrupção do uso de drogas/álcool e não são eliminadas pelo seu juízo de criticidade já que há ausência de
lucidez abstêmia e falta de aplicação da técnica do triângulo da recuperação (honestidade – boa vontade – mente aberta).
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MODELOS DE PROGRAMAS DE
PREVENÇÃO ÀS RECAÍDAS
MODELOS DE PROGRAMAS DE PREVENÇÃO DE RECAÍDAS
MODELOS DE COMPREENSÃO
O QUE É MOTIVOS
DA RECAÍDA
Prevenção de recaída (PR): conjunto de técnicas Busca de alívio Modelo moral
para evitar a recaída. Por sua vez, a recaída pode ser
um resultado ou um processo Recompensa Modelo médico
imediata
Lapso: difere da recaída por ser um breve momento Modelo cognitivo e
de retorno ao comportamento adicto anterior prazer Comportamental: são lineares
Lapso translúcido ou limpo: sem reintoxicação física relaxamento Modelo Dinâmico: não lineares,
mas baseados na teoria da
Lapso fosco ou turvo: com reintoxicação física socialização catástrofe e em relações
multifatoriais
Na verdade, O LAPSO É APENAS UMA RECAÍDA desinibição
COM EFEITOS MODERADOS. O processo de Modelo de GORSKI
recaída sempre gerará efeitos: GRAVÍSSIMOS, sensação de
GRAVES OU MODERADOS. Não existe processo de controle e bem- Modelo sócio-cognitivo
recaída com efeito leve estar (MARLATT)
sensação de
Modelo abstemiológico
melhora no
(ZIEMMERMANN): teoria
desempenho
poliédrica1
Quadro criado com base nos estudos de SAKIYAMA (2012).
1
Adaptação da teoria poliédrica do italiano ALBERTO ASQUINI (1889-1972).
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MODELO DE GORSKI
MODELO DE GORSKI
TRIGO (p. 299-328, 2006) afirm que: “Terence Gorski é um psicoterapeuta cognitivo-comportamental internacionalmente
conhecido pelos seus contributos no domínio da TPR. As ideias e métodos desenvolvidos por Gorski baseiam-se na sua
experiência clínica e, de forma substancial, nos princípios subjacentes ao Programa dos Doze Passos dos Alcoólicos
Anónimos, os quais influenciaram o seu livro – STAYING SOBER. Ao contrário de MARLATT, a concepção de Gorski é
fortemente influenciada pelo modelo médico.”
Em suma, GORSKI: Aplica o modelo de recuperação progressiva e seu modelo é relacionado diretamente com o modelo médico.
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MODELO DE GORSKI
As fases e sinais de aviso da recaída apresentados por TERENCE GORSKI. GORSKI (1973) apresenta 37 (trinta e sete) sinais de recaída que foram
divididos em 11 fases. Então, de forma esquematizada, foram dispostos no próximo quadro. O texto que serviu de base para a formação do quadro é de
AMADERA (2012):
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PSICOPATOLOGIA DO PROCESSO DE
RECAÍDA PARA A ABSTEMIOLOGIA
PSICOPATOLOGIA DA RECAÍDA PARA A ABSTEMIOLOGIA:
1. Autobanalização da técnica do evite pessoas, hábitos e lugares da ativa
2. Pensamentos negativos (ex. autoculpa, autovitimização, autofracasso, autopunição)
3. Ciclagem do humor (ex. humor eufórico ou disfórico, ansiedade, depressão)
4. Procrastinação da dedicação e zelo com o processo abstêmio (ex. negligência, acomodação
existencial, descontinuidade da “agenda protetiva”).
5. Preconização equivocada ou desfocalização abstêmia (ex. focar em emprego, família, dívidas
e deixar o processo abstêmio em segundo ou terceiro plano)
6. Recaída é erro evitável (ex. não precisa reintoxicação física, pode manter-se abstêmio mesmo
tendo acionamento de gatilhos, fissura ou recaída emocional)
7. Puerilização dos efeitos da farmacoterapia (ex. não utilizar os medicamentos nas dosagens e
horários recomendados e, também, não compreender os efeitos colaterais que podem ser
gerados pela medicação)
8. Sistemática quebra de regras oriundas da técnica do combinados (ex. não cumprir horários,
faltar aos compromissos abstêmios, desorganizar-se)
9. Orgulho exacerbado e teimoso (ex. dificuldade em fazer mudanças)
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PSICOPATOLOGIA DÓ PROCESSO DE
RECAÍDA PARA A ABSTEMIOLOGIA
PATOLOGIA DA RECAÍDA
A experiência indica que as sucessivas recaídas apresentam uma patologia em comum, qual seja: o resultado
da IRRESPONSABILIDADE pelos seus atos. Toda recaída é o resultado de sucessivos atos irresponsáveis e
que culminaram no maior dos erros: a recaída. Ademais, a recaída é apenas o efeito da irresponsabilidade
pelos mais variados desacertos no processo de abstinência. Utilizando o modelo proposto por José Plínio do
Amaral Almeida temos que:
Do ponto de vista evolutivo, ou seja, quando se analisa a vida do adicto é possível estabelecer as
seguintes incoerências: distanciamento da evolução existencial (indiferença à vida, negligência),
acídia existencial (vontade fraca – hipobulia, preguiça, inércia), acomodação existencial (sem
esforço, vida medíocre), anacronismo existencial (a idade mental não corresponde a idade física),
ansiedade, assédio espiritual, desorientação de destino (não sabe o que deseja fazer na vida),
autofracasso constante (falta de acabativa), automimetismo negativo (repete exemplos ruins e não
repete os exemplos bons), decidofobia (medo de tomar decisões), e, por fim, aventurismo (para
preencher o vazio existencial qualquer aventura inútil serve).
A negação da adicção é o esquema mental desadaptativo remoto que caracteriza o pensamento
patológico do adicto.
FUNÇÃO ENTRÓPICA OU DESESTABILIZADORA DA RECAÍDA
A recaída durante o processo de abstinência tende a gerar mais desequilíbrio, desorganização e desordem no
cotidiano do abstêmio. A entropia é um conceito universal que afirma: todas as formas de vida se movem na
direção da desorganização e da morte. A recaída é desestabilizadora na forma de vida abstêmia.
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PSICOPATOLOGIA DÓ PROCESSO DE
RECAÍDA PARA A ABSTEMIOLOGIA
Então, podemos estabelecer o seguinte quadro para a PATOLOGIA DA RECAÍDA:
PATOLOGIA DA RECAÍDA1
RECAÍDA NÃO É: RECAÍDA É:
Falta de motivação Erro evitável. É tentativa: acerto
X erro
Incompetência pessoal Enfraquecimento dos vínculos
abstêmios
Falha no tratamento Ocorrência normal, mas evitável
do processo de abstinência
Falta de aceitação da É falha no raciocínio
doença
Falta de vergonha na cara Distorção de pensamento e
erro cognitivo
Falta de “Deus no Erro de interpretação de crenças
coração” rígidas formadoras de um
esquema
cognitivo disfuncional
Começar tudo do zero Gol contra, é uma muleta
quebrada
Por tudo a perder Puxar seu próprio tapete
(autossabotagem)
Uma ocorrência isolada e Teimosia, é chover no molhado
unifatorial
Incapacidade de ficar Dar rasteira no vento ou
abstinente escrever na água
Quadro: Patologia da recaída.
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MODELO DE MARLATT
MODELO DE MARLATT
TRIGO (p. 299-328, 2006), ao mencionar sobre estudos de Marlatt, explica que:
“O que Marlatt propõe é uma terceira via, na qual a dependência é encarada segundo um
continuum governado por princípios comuns a outros processos de aprendizagem, em oposição
direta ao modelo moral. Desta forma, a dependência de substâncias, à semelhança de outros
HÁBITOS, pode ser modificável pela aquisição de novos padrões funcionais, através dos quais a
obtenção do prazer e a modelação de estados emocionais não são mediados pela ingestão de
psicoativos. Deste modo, torna-se crucial compreender os determinantes sócio-cognitivos das
condutas de dependência, incluindo os antecedentes ambientais, as crenças e expectativas, as
consequências desses comportamentos ou a história pessoal. Nesta perspectiva, classificam-se os
determinantes da recaída em duas categorias: (1) determinantes imediatos e (2) antecedentes
cobertos. Com base na avaliação sistemática das situações de risco ou de recaída, a abordagem
terapêutica desenvolve-se igualmente em duas estratégias: (1) intervenções específicas,
focalizadas nos determinantes imediatos da recaída e (2) ações globais que visam equilibrar os
estilos de vida e identificar os antecedentes cobertos.” (destaques nossos)
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MODELO DE MARLATT
DETERMINANTES DA RECAÍDA
DETERMINANTES IMEDIATOS ANTECEDENTES COBERTOS
Situações de risco elevado ou situação de alto risco: Situações de alto
risco são formadas por determinantes intrapessoais e interpessoais
Determinantes intrapessoais: estados emocionais positivos e
Estilos de vida
negativos, estados físicos negativos, teste de controle pessoal e fissura
Determinantes interpessoais: conflitos, pressão social, estados
emocionais positivos experienciados em situações sociais
Estratégias de confronto (coping) Decisões aparentemente irrelevantes (DAI)
Urgência e desejo: Contrariando novamente o modelo
médico, Marlatt & Gordon sugerem que a urgência
Expectativas de gratificação (dimensão compulsiva) e o desejo de consumir (dimensão
obsessiva) são suscitados pela exposição direta ou indireta
aos estímulos
Efeito de violação da abstinência (EVA). Embora o modelo médico refira o
efeito fisiológico das substâncias como o principal responsável pela recaída,
Marlatt & Gordon introduziram a noção de EVA para descrever o conjunto de DESBALANÇO NO ESTILO DE VIDA
reações emocionais e atribuições cognitivas suscitadas pela quebra da DESEJO POR INDULGÊNCIA
abstinência. Genericamente, o EVA caracteriza-se por dois elementos GRATIFICAÇÃO IMEDIATA
cognitivo-emocionais: (1) dissonância cognitiva (conflito, pensamento FISSURAS
dicotómico e catastrófico) e (2) atribuição pessoal (autodesvalorização e COMPULSÕES
culpabilização). Com a introdução deste conceito, deixou de considerar-se RACIONALIZAÇÃO
inevitável que um lapso progrida para um colapso, passando a entender-se que NEGAÇÃO
este movimento resulta da intensidade do EVA. Esta, por seu turno, varia em DAI
função de fatores como o esforço despendido, a intensidade do compromisso,
a justificação encontrada para a recaída, a duração e importância em manter a
abstinência ou a presença de pessoas significativas no momento da recaída
Quadro formulado com base nos estudos de MARLATT apresentados por TRIGO (p. 299-328, 2006).
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MODELO ABSTEMIOLÓGICO
PARA PREVENÇÃO DE RECAÍDA
Para a compreensão do que seja adicção optamos por uma TEORIA POLIÉDRICA DA ADICÇÃO1. Explico. A
adicção pode ser analisada sob diversos ângulos como se fossem as faces de um diamante ou os diversos lados de algum
poliedro. Assim, quando focamos na adicção, sob o ponto de vista dos efeitos da drogadição no corpo humano, teremos o
estudo apenas de um dos lados desse poliedro, qual seja o lado físico, bioquímico ou médico. Entretanto, não nos parece que
a adicção tenha apenas esse viés. Ao que tudo indica, a adicção deve ser analisada através de diversas outras facetas. Para
exemplificar, podemos analisar a adicção através dos seguintes métodos:
Análise médica ou análise da adicção como doença
Análise social
Análise histórica ou cultural
Análise religiosa
Análise psicológica
Análise temporal ou cronológica
Análise moral
Análise conscienciológica
PÉRICLES ZIEMMERMANN
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JOSÉ PLÍNIO DO AMARAL ALMEIDA
MODELO ABSTEMIOLÓGICO
PARA PREVENÇÃO DE RECAÍDA
Esse estudo NÃO optou em dar uma nova visão sobre o processo de adicção. Por outro lado, a proposta que será
apresentada consiste em entender, desenvolver e compreender as diversas formas de como podemos resolver o problema da
adicção. Nesse sentido, surge o estudo do modo de romper com o processo de adicção. Então, não é mais a adicção que interessa, mas
o modo de como será possível superar tal processo. Assim, não interessa “o que é”, “porquê” ou “como” se desenvolveu a adicção.
Por sua vez, o objeto a ser analisado será a sobriedade e o processo de se obter a abstinência. Para tanto, vamos nos aprofundar na
ANÁLISE ESTRUTURAL ou MODELO ABSTINENTE-ABSTINÊNCIA-SOBRIEDADE (Modelo A-A-S)1 que tem por
escopo o processo de abstinência. Assim, o corte para estudo epistemológico se faz em outro ciclo, no ciclo da abstinência. É a análise
do modo de interromper o círculo de drogadição e de recaídas que interessa e NÃO o processo adicção.
O Modelo A-A-S deve analisar “o que” e “o como” é possível manter a abstinência. É um estudo da evolução consciencial da
pessoa que está inserida no processo abstêmio. Assim, a adicção pode continuar sendo estudada pelo MODELO DOENTE-
DOENÇA-DEPENDÊNCIA (Modelo D-D-D), entretanto, a abstinência passa a ser analisada pelo modelo ABSTINENTE-
ABSTINÊNCIA-SOBRIEDADE (Modelo A-A-S).
A estrutura ABSTINENTE-ABSTINÊNCIA-SOBRIEDADE pode ser estudada, após o estabelecimento de seus conceitos gerais,
da prevenção de recaída, das síndromes, dos períodos de abstinência, dos efeitos abstêmios, dos princípios abstêmios e da participação
de terceiros no processo abstêmio. O objetivo da análise estrutural ou Modelo A-A-S é a substituição de paradigmas, ou seja, procura-
se substituir o atual modelo de adicção por um modelo futuro de sobriedade.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
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JOSÉ PLÍNIO DO AMARAL ALMEIDA
MODELO ABSTEMIOLÓGICO
PARA PREVENÇÃO DE RECAÍDA
O modelo de sobriedade almejado pelo novum abstêmio e pelos seus familiares/cuidadores
deve ser o objeto central da análise estrutural. Então, os motivos pelos quais a dependência
eclodiu na vida do adicto importam menos do que o modo pelo qual a sobriedade pode ser
alcançada na vida do abstêmio. De fato, isso altera o paradigma atual já que a sobriedade
passa a ser um dos objetivos do processo abstêmio, mas não o único.
O modelo de abstinência a ser alcançado é que deve ser o propósito do estudo e da análise
estrutural da abstinência. A grande mudança teórica que se faz é a substituição da ideia de
doença pela ideia de abstinência.
O que as famílias, terapeutas1, cuidadores e, principalmente, os abstêmios almejam não é
informação sobre seu estado atual, mas sobre a forma de como podem superar a crise que se
instalou. Para isso, o conhecimento empírico é de fundamental relevância já que o modo de
romper com o processo de adicção se baseia, profundamente, em tais informações.
1
Terapeutas, cuidadores e profissionais ligados ao processo de abstinência devem ser denominados (RE)EDUCADORES ABSTÊMIOS.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
26/09/2018 23
JOSÉ PLÍNIO DO AMARAL ALMEIDA
MODELO ABSTEMIOLÓGICO
PARA PREVENÇÃO DE RECAÍDA
Então, enquanto a recaída é o retorno ao paradigma anterior, a abstinência passa a ser o objeto de estudo do paradigma
futuro e desejado. Agora, com o foco do problema deslocado para a solução, ou seja, para a abstinência e sobriedade,
podemos começar a estudar os motivos pelos quais é tão difícil migrar do Modelo D-D-D para o Modelo A-A-S.
A questão central não é apenas atingir o Modelo A-A-S, mas como fazer para alcançar esse novo modelo e romper com o
modelo anterior. As famílias, os dependentes e os cuidadores buscam incansavelmente o fim da adicção, bem como o
rompimento do ciclo doente-doença-dependente e sobrepujamento desse circuito de desgraças e iniquidades. A boa notícia é
que a experiência demonstra que o processo de adicção possui vários caminhos que possibilitam sua substituição e
mitigação. O objetivo não é estudar a drogadição em si, mas aprender com aqueles que estão há longos períodos em
abstinência. O estudo da evolução da consciência daqueles que estão em abstinência, dos seus modos de vida, das suas
ambições, das suas aflições, das dificuldades e das suas experiências é o que interessa ao novo Modelo ABSTINENTE-
ABSTINÊNCIA-SOBRIEDADE.
A experiência demonstra que existem certos critérios comuns a todos os abstêmios. Em geral, a abstinência exige o
rompimento com ideias (critérios) meramente emocionais baseados em decisões impulsivas, leviandades e
irresponsabilidades. Tais características não são condizentes com o processo de abstinência de longo prazo e devem ser
substituídas (substituição de paradigma) por critérios éticos, racionais e espirituais.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
26/09/2018 24
JOSÉ PLÍNIO DO AMARAL ALMEIDA
MODELO ABSTEMIOLÓGICO
PARA PREVENÇÃO DE RECAÍDA
ESQUEMAS DISFUNCIONAIS OU IRRACIONAIS
Durante o processo de adicção ocorrem inversões ou distorções das crenças racionais e a
abstinência se torna algo irracional, enquanto que a adicção, de forma muito equivocada,
parece ser um caminho natural. Esses equívocos podem ser sintetizados com o seguinte
esquema, por exemplo, “todos meus amigos usam drogas/álcool e, se todos usam, também
vou usar”. Esse raciocínio não representa a realidade, mas para o adicto se torna uma
realidade inquestionável. É uma crença muito rígida.
Os esquemas disfuncionais ou irracionais são um conjunto de verdades que, para cada
pessoa, é entendido como realidade. É a sua capacidade de compreender o mundo. É a sua
própria filosofia de vida. É a sua cultura pessoal. É o seu código de valores pessoais e
íntimos. São suas verdades a respeito de você, dos outros e do mundo.
O abstêmio tende alterar suas crenças desadaptativas substituindo-as por novas crenças
saudáveis e racionais. O processo de abstinência serve para substituir o conjunto de juízos
de valores inadequados por novos valores. Por exemplo, o abstêmio precisa substituir a
crença de que pode fazer “o que gosta”, pela crença de que deve fazer “o que precisa”.
Outro exemplo, o abstêmio precisa substituir a crença de que “pode beber na sexta-feira
porque trabalhou toda a semana”, pela crença de que “mesmo tendo trabalhado tanto não
preciso beber”.
O processo abstêmio se percorre através de pequenos passos e a confiança de que esses
passos terão um sentido. Por exemplo, evitar o primeiro gole é o primeiro passo para o
grande sentido da abstinência. O abstêmio deve renunciar ao estilo de vida anterior
substituindo aquelas crenças irracionais pela crença funcional de “um dia de cada vez”.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
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NEM RECAÍDA, NEM LAPSO:
ENTENDENDO OS DESVIOS ABSTÊMIOS
Os desvios abstêmios ou descaminhos ocorrem quando a abstinência é utilizada para fins diversos que não correspondem
aos seus reais propósitos. O principal objetivo direto da abstinência, além da sobriedade, é a recuperação da dignidade
humana. Por seu turno, o principal objetivo indireto da abstinência é estabelecer uma evolução consciencial fazendo com
que a pessoa aprimore seus critérios ideológicos. Entretanto, algumas vezes, a abstinência pode ser utilizada de modo
equivocado para desviar dessas metas e atingir outros escopos. É possível distinguir três grupos de desvios abstêmios: os
desvios de primeiro, segundo, terceiro ou quarto escalão.
Os desvios de primeiro escalão representam o processo de recaída propriamente dito, ou seja, são os desvios que podem
resultar na reintoxicação física do abstêmio. Podem ocorre em qualquer fase do processo abstêmio.
Os desvios de segundo escalão se baseiam na pessoa abstêmia, mas que ainda possui reservas capazes de mantê-la no
sistema ideológico de mero usuário (S.I.U.+). São os abstêmios desintoxicados, mas que ainda acreditam que podem voltar a
usar drogas/álcool. Esses desvios mantém o abstêmio em outra linha de desdobramento abstêmio (eixo abstêmio diverso) e o
afastam do modelo teórico de evolução consciencial abstêmia.
Os desvios de terceiro escalão se constituem por abstêmios que ainda possuem o sistema ideológico de usuário abusivo
(S.I.U.-). São pessoas que estão vinculadas a um modelo grave e que tendem a permanecer curto período em abstinência.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
26/09/2018 26
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NEM RECAÍDA, NEM LAPSO:
ENTENDENDO OS DESVIOS ABSTÊMIOS
PÓS-
ABSTÊMIO
ABSTÊMIO
MAIOR
ABSTÊIMO
MENOR
MERO
USUÁRIO
DESVIOS DE 2º ESCALÃO
USUÁRIO
ABUSIVO
DESVIOS DE 3º ESCALÃO
PÉRICLES ZIEMMERMANN
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NEM RECAÍDA, NEM LAPSO:
ENTENDENDO OS DESVIOS ABSTÊMIOS
NEXO DE DISPLICÊNCIA
A jornada abstêmia hipotética consiste na permanência e evolução do nível de consciência fazendo com que a pessoa mude seu sistema
ideológico e não retorne aos sistemas ideológicos anteriores. Entretanto, na realidade, existe uma comunicação constante entre o modelo
abstêmio e seus desvios. Dessa maneira, por exemplo, a pessoa pode estar na fase de abstemaior e às vezes realizar determinadas condutas são
condizentes com desvios de 2º, 3º ou 4º escalão.
JORNADA ABSTÊMIA
NEXO DE DISPLICÊNCIA
MERO
USUÁRIO DESVIOS DE
2º ESCALÃO
USUÁRIO
ABUSIVO DESVIOS DE
3º ESCALÃO
DESVIOS DE
ADICTO
4º ESCALÃO
PÉRICLES ZIEMMERMANN
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NEM RECAÍDA, NEM LAPSO:
ENTENDENDO OS DESVIOS ABSTÊMIOS
Exemplificando para facilitar a compreensão: se o abstemaior resolver praticar determinada conduta mesmo tendo sido
advertido que isso é incoerente com seu processo abstêmio pode estar sobre os efeitos da teimosia, orgulho ou arrogância
que são características determinantes da adicção, ou seja, o abstemaior estará manifestando ações que se referem ao desvio
de 4º escalão. Por outro lado, se o abstemaior estiver utilizando pretextos para saciar suas reais intenções, estará sofrendo os
desvios de 3º escalão já que o usuário abusivo é quem se utiliza de pretextos para saciar seus desejos. Em outro momento, a
pessoa pode entender que não tem problema se expor a situações de perigo e frequentar lugares em que haja consumo de
drogas/álcool. Nesse caso, o abstemaior estará se expondo de forma desnecessária e isso representa uma atitude de mero
usuário de forma que o abstemaior estará padecendo de desvio de 2º escalão.
Todos esses desvios ocorrem constantemente no cotidiano abstêmio. Então, surgem dois problemas: o primeiro é a
frequência com que ocorrem esses desvios e o segundo é o tempo em que o abstêmio permanece desviado, ou seja, a
intensidade. Quanto maiores forem esses dois elementos (frequência e intensidade da exposição), maior será a
probabilidade de o abstêmio mergulhar no processo de recaída (desvio de 1º escalão). A comunicação, linha, liame ou
conexão entre o eixo abstêmio e os desvios de 2º, 3º ou 4º escalão é denominado de NEXO DE DISPLICÊNCIA e, por
sua vez, o desvio de 1º escalão consiste no processo de recaída.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
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NEM RECAÍDA, NEM LAPSO:
ENTENDENDO OS DESVIOS ABSTÊMIOS
NEXO DE DISPLICÊNCIA
PROCESSO DE RECAÍDA
É a manifestação dos desvios de 2º, 3º ou 4º É desvio de 1º escalão
escalão
Pouco frequente e pequena intensidade Possuem fase assintomática e fase
sintomática
É uma conduta É processo
Ações isoladas Conjunto de ações
Inerente a todo ser humano Faz parte do universo da drogadição
Não culmina com uso de drogas/álcool Termina com a reintoxicação física
Pode gerar gatilhos Possuem gatilhos e fissura
Demonstram as reservas mentais Demonstram a inabilidade na aplicação de
técnicas e o descaso com o processo
abstêmio
É a exposição dos maus hábitos, É uma latência da drogadição
pensamentos, sentimentos e emoções da
drogadição
É desleixo ou descuido É irresponsabilidade abstêmia
Tem uma fase interna (psicológica) e outra Tem um efeito dominó interno (“eu recaio”) e
externa (ação ou conduta), mas não gera externo (“eu induzo outras recaídas”) e refere-
efeito dominó porque é pontual e específica se a diversos fatos, atos ou condutas
gerando consequências previsíveis
Consequências previsíveis Consequências imprevisíveis
Quadro: nexo de displicência X processo de recaída.
Dessa forma, existe uma enorme diferença entre nexo de displicência e processo de recaída. O processo de recaída culmina com a
reintoxicação física do abstêmio e, em caos mais graves, com o retorno ao processo de adicção ou sistema ideológico adicto (S.I.A. -). Dessa
maneira, o processo de recaída se direciona a execução de atos que culminarão, na última etapa, com o uso de drogas/álcool. De outro lado, o
nexo de displicência consiste na prática de condutas incompatíveis com o processo de abstinência, mas que não fazem parte da pirâmide da
recaída porque são atos realizados com pouca frequência ou intensidade.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
26/09/2018 30
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NEM RECAÍDA, NEM LAPSO:
ENTENDENDO OS DESVIOS ABSTÊMIOS
DESVIRTUAMENTO DA ABSTINÊNCIA
A abstinência também pode ser desvirtuada. O desvirtuamento da abstinência pode ocorrer como forma de pressão, barganha ou
manipulação para obtenção de favores ou vantagens. Por exemplo, não praticar a reparação com determinada pessoa porque, essa
pessoa, era da época da ativa e precisam-se evitar o contato com pessoas adictas. Outro ex.: “preciso ter esse veículo mais moderno
porque o veículo que eu tinha antes era usado durante minha adicção”. Outro ex.: “Preciso sair com o carro porque existem pessoas da
época da ativa na vizinhança e não quero encontrar com elas”. Nestes três exemplos a abstinência esta sendo manipulada para evitar
reparação ou obter vantagens. O abstêmio que praticar tais atos não está em abstinência real, está apenas utilizando a abstenção do uso
de drogas/álcool para manipular e controlar os outros. Tais atos são muito comuns, principalmente, no início do processo de
abstinência quando os defeitos de caráter que se avolumaram na época da ativa ainda estão sendo superados. Aquele que perceber tais
atitudes por parte do abstêmio tem o dever moral de apontá-las para que elas sejam identificadas e superadas.
ABSTINÊNCIA CADUCADA
A abstinência caducada é uma abstinência vencida, ou prescrita, em que seu com prazo de validade está expirando. A abstinência
sem evolução consciencial permanente tem prazo de validade. Deixar de lado o aprofundamento do autoconhecimento conduz a uma
abstinência vazia e destituída de sentido espiritual, intelectual e social. Esse modelo abstêmio tende a ser muito frágil e não consegue
permanecer por muito tempo já que, se o abstêmio não se aprofundar em autoconhecimento, tenderá a retornar aos velhos hábitos que
lhe conduziram ao processo de adicção.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
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NEM RECAÍDA, NEM LAPSO:
ENTENDENDO OS DESVIOS ABSTÊMIOS
PÉRICLES ZIEMMERMANN
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NEM RECAÍDA, NEM LAPSO:
ENTENDENDO OS DESVIOS ABSTÊMIOS
ABSTINÊNCIA DIABÓLICA
É importante saber a diferença entre simbólico e diabólico. Ambas as palavras possuem o radical grego “bolós” que significa movimentar,
mover, levar ou mexer. O radical “sin” significa trazer para perto ou aproximar. Enquanto que, o radical “dia” tem o significado de levar para
longe, afastar ou sair. Dessa forma, a palavra “simbólica” representa intenção de “trazer para perto” e, em contrapartida, a palavra
“diabólica” reflete a ideia de “levar para longe”. Em suma, a abstinência diabólica consiste no ato de afastar-se do caminho abstêmio
embora, apenas aparentemente, a pessoa não esteja fazendo isso.
Essa abstinência se manifesta, em regra, nas fases iniciais do processo de abstinência e ocorre, por exemplo, quando a pessoa comparece a
todas as reuniões diárias de grupos anônimos, faz diversos tratamentos simultâneos, realiza acompanhamentos psicológicos e psiquiátricos,
estuda sobre seu processo de adicção e, mesmo assim, acaba recaindo em poucos meses. Aparentemente, o abstêmio estava fazendo tudo correto,
tudo conforme determinam as regras de experiência, mas então por que ele recaiu? Para entender essa recaída vou exemplificar mais uma vez:
quando alguém quer aprender um idioma ou praticar exercícios físicos e se matricula no curso ou na academia significa que ele já sabe o idioma
ou que ele já é um atleta? Isso não representa, nem sequer, o “primeiro passo” em direção ao seu objetivo porque é necessário comparecer as
aulas, fazer o dever de casa, estudar, realizar provas e somente após muitos anos o resultado será obtido. Nesse sentido e nessa linha de
raciocínio, o abstêmio não recaiu porque fez tudo que estava ao seu alcance para ficar em abstinência, ele recaiu porque não fez o “primeiro
passo”, ou seja, não admitiu que fosse impotente perante o uso de drogas/álcool e que tinha perdido o domínio sobre sua própria vida. Por isso,
essa falsa abstinência gera a sensação de que o processo abstêmio não funciona. Contudo, o que não funciona é esse modelo de abstinência
distanciado da realidade em que a pessoa não admite sua impotência perante o consumo de drogas/álcool. De fato, não existe processo de
abstinência sem mudança interna, sem aceitação de sua impotência perante as drogas/álcool.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
26/09/2018 33
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NEM RECAÍDA, NEM LAPSO:
ENTENDENDO OS DESVIOS ABSTÊMIOS
ABSTINÊNCIA LEVIANA
Consiste na usurpação da abstinência, é uma espécie de falsa abstinência. É usar o período de abstinência para saciar seus próprios
desejos. Por exemplo, o abstêmio diz que deseja ir passear no parque, mas que não pode porque usava drogas/álcool naquele local,
então ele convence seus familiares a lhe emprestarem dinheiro para que ele vá passear, em outro local, no shopping. Porém, desde o
início sua real intenção era ir até o shopping. Outro exempo: pedir de dinheiro para jantar fora com a namorada já que não pode ir
para a “balada” com ela. Mais um exemplo: pedir dinheiro para ir a prostíbulo porque está em abstinência e, pelo fato de estar “preso”
em casa não consegue ter nenhum relacionamento afetivo. Isso é irresponsabilidade por seus atos e uso indevido da abstinência para
saciar seus próprios desejos. Isso é abuso da abstinência. É manipulação.
ABSTINÊNCIA DISSIMULADA
A abstinência dissimulada faz parte do modelo de fingimento de uma decisão. Popularmente, a abstinência dissimulada “parece
abstinência, mas não é abstinência”. Por exemplo, o adicto deixou de ingerir a sua droga de eleição, mas a substituiu por outra.
Percebe-se que “fazer de tudo para ficar em abstinência” é muito diferente de “fazer aparentemente tudo para ficar em abstinência”.
Destaque-se que, por vezes, o que se vê são pessoas que “fazem de tudo para recair”. Dissimular a abstinência é uma forma de usar o
processo abstêmio para obter outros benefícios. Exemplificando: o adolescente deixa de usar drogas/álcool por alguns meses senão
não terá dinheiro para poder viajar com seus amigos no final do ano e, daí sim, usar drogas/álcool. Outro exemplo: o marido deixa de
ingerir bebida alcoólica nos finais de semana quando está na presença de sua esposa, mas se embriaga durante a semana já que ela não
estará presente. Essa abstinência fake é muito parecida com o “discurso com retórica simbólica”.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
26/09/2018 34
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MODELO ABSTEMIOLÓGICO
PARA PREVENÇÃO DE RECAÍDA
RECAÍDA É AUTOCONSENTIMENTO PARA O USO DE DROGAS/ÁLCOOL
O consentimento exige, no mínimo, 03 (três) elementos: capacidade para consentir,
que a disponibilidade do direito e uma autoautorização anterior ou concomitante ao
uso em si. Assim, ao recair, o dependente acredita que pode dispor de sua saúde, que
tem o direito e a capacidade para usar drogas/álcool e que pode usar sua substância
eletiva sem maiores consequências. O autoconsentimento para o uso não é medida
aleatória e esporádica que ocorre ocasionalmente, mas, por outro lado, medida
permanente e duradoura que está ocorrendo antes, durante e depois do uso de drogas
em si. Ao recair o dependente está se consentindo a usar drogas. Por outro lado, quem
está em abstinência sabe que esse consentimento equivocado é ato autorrevogável , ou
seja, o abstêmio pode a qualquer momento desistir desse autoconsentimento para o
uso de drogas/álcool.
CONTUMÁCIA ABSTÊMIA
A contumácia é a teimosia, insistência, persistência em desobedecer sugestões, regras,
exemplos, técnicas. A contumácia do abstêmio é sinal de orgulho exacerbado e pode
sinalizar fissura, recaída ou descaso com o processo de abstinência.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
26/09/2018 35
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MODELO ABSTEMIOLÓGICO
PARA PREVENÇÃO DE RECAÍDA
VIOLAÇÃO DE CONDUTAS PROTETIVAS: Os resultados decorrem de condutas.
O resultado “recaída” deriva do conjunto de sucessivas condutas negligentes e
imprudentes e não é apenas um fato isolado. Não é possível analisar apenas um fato
de forma isolada e atribuir a esse evento o ponto onde a “recaída” iniciou já que
existem diversos fatores que influenciam o modelo. A recaída consiste em ser uma
conduta pré-ordenada ou efeito dominó das condutas negligentes anteriores. Em
palavras mais simples, a recaída não é a causa do problema, mas é a consequência de
uma longa sequência de condutas negligentes ou imprudentes. A regra é que as
pessoas tentam maximizar os resultados com o mínimo de esforço e na abstinência
esse raciocínio conduz, infalivelmente, a outra “recaída”. Por exemplo, ao invés de
participar de 90 (noventa) reuniões ininterruptas de grupos anônimos, o abstêmio
menor decide que só precisa de algumas reuniões já que está sem usar drogas/álcool
há alguns dias. Assim, o abstêmio deixa de comparecer as reuniões e procrastina o
seu desenvolvimento autoconsciencial. Em outras palavras, a pessoa não realiza sua
autoanálise e não compreenderá as futuras situações, tais como: fissuras, recaídas
emocionais ou relações afetivas doentias.
Por fim, indaga-se: “Por que se violam regras protetivas?” Ao que tudo indica, isso
ocorre por diversos motivos, por exemplo: ingenuidade, imaturidade, orgulho,
teimosia, arrogância, autossabotagem ou autossuficiência.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
26/09/2018 36
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MODELO ABSTEMIOLÓGICO
PARA PREVENÇÃO DE RECAÍDA
DEDICAÇÃO E ZELO
O adicto tem total dedicação para usar drogas/álcool. O abstêmio deve ter
dedicação e zelo com o processo de abstinência. O abstêmio deve se
dedicar totalmente (100%) à abstinência porque qualquer descuido o
remeterá, novamente, ao processo de adicção. Aqui, a técnica da
refocalização das prioridades é de fundamental relevância.
Discussão:
• O que é a dedicação e zelo no tratamento?
• Por que devemos ter dedicação e zelo no tratamento?
• Devemos ter dedicação e zelo com o quê?
• Devemos ter dedicação e zelo com quem?
• Até quando devemos ter dedicação e zelo?
• O que ocorre se não tivermos essa dedicação e zelo?
• Você tem dedicação e zelo no tratamento?
PÉRICLES ZIEMMERMANN
26/09/2018 37
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MODELO ABSTEMIOLÓGICO
PARA PREVENÇÃO DE RECAÍDA
RISCOS PERMITIDOS OU TOLERADOS
Existem riscos de exposição que são permitidos e tolerados, mas a análise é casuística e deve ser adotado um procedimento
próprio para cada abstêmio. O exemplo mais comum é o famoso caso do happy hour em que funcionários da empresa irão se
reunir depois do trabalho em um bar para comemorar algum fato corrido na empresa. A regra, no processo de abstinência, é a de
que o abstêmio não vá nesse happy hour, porém se isso não for possível, ou seja, se o comparecimento do abstêmio for
extremamente necessário ele poderá se utilizar diversas outras técnicas para reduzir o impacto dos riscos. Como exemplo dessas
técnicas pode-se citar: ir acompanhado de padrinho do A.A. ou N.A., ficar o menor tempo possível no local, alimentar-se bem
antes de comparecer na festa, já ir medicado até o local, ou, depois da confraternização, procurar grupos anônimos para
conversar sobre o que ocorreu e como se comportou.
Aqui vale destacar uma das funções da “técnica dos combinados”. A “técnica dos combinados” visa, em um primeiro
momento, estabelecer quais serão os riscos permitidos e tolerados e quais serão as responsabilidades abstêmias pelo
descumprimento dos “combinados”. Assim, quando o abstêmio superar o limite dos riscos permitidos ou tolerados ele estará,
imediatamente, respondendo pelos seus atos através da responsabilidade abstêmia. A maior pena que pode ser estabelecida pela
irresponsabilidade abstêmia será o interrompimento abrupto do processo de abstinência e que consiste, como já foi visto
anteriormente, em óbito ou retorno ao processo adicto.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
26/09/2018 38
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MODELO ABSTEMIOLÓGICO
PARA PREVENÇÃO DE RECAÍDA
DESVIO DA FINALIDADE ABSTÊMIA
Atitude muito comum no abstêmio e que consiste em procurar ajuda num primeiro momento, mas, logo
em seguida, visualizar o grupo anônimo ou terapeuta como pessoas que podem lhe proporcionar outras
finalidades que não estejam diretamente relacionadas com o processo de tratamento. Em palavras mais
simples, o grupo ou terapeuta servem para qualquer coisa menos para abstinência. Um exemplo comum
ocorre quando o abstêmio comparece em grupos com a intenção de encontrar parceiros(as), namorados(as),
novos amigos(as) ou emprego. A finalidade do processo abstêmio é manter a pessoa em abstinência e,
simultaneamente, se possível, auxiliá-la em sua evolução consciencial. O desvio da finalidade abstêmia, se
persistir por relativo período, pode desencadear o processo de recaída.
NATUREZA BIVALENTE DA RECAÍDA
A recaída é parte da sintomatologia usada como base para o diagnóstico da adicção e, simultaneamente,
prognóstico da própria adicção. Assim, a recaída sinaliza a existência da adicção já que aquele que recai tem
grande probabilidade de ser adicto (diagnóstico) e, concomitantemente, é uma consequência derivada da
adicção que pode se manifestar há qualquer momento durante a abstinência (prognóstico). Dessa forma, a
recaída tem natureza bivalente sendo, sincronicamente, diagnóstico e prognóstico da adicção. Por isso, a
recaída sinaliza a existência da adicção, mas não da abstinência. Ninguém recai porque está abstêmio,
pelo contrário, recai porque é adicto. A causa inerente a toda e qualquer recaída não é a abstinência,
mas é a adicção.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
26/09/2018 39
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MODELO ABSTEMIOLÓGICO
PARA PREVENÇÃO DE RECAÍDA
RUPTURA DO PROCESSO DE RECAÍDA
Todo processo de recaída sempre pode ser abortado. É possível rescindir a recaída e evitar um mal maior. E de quem é a
responsabilidade de abortar o processo de recaída? A primeira pessoa com LUCIDEZ suficiente para identificar os sinais de
recaída derivados dos sucessivos atos irresponsáveis que estão sendo praticados pelo abstêmio deverá alertá-lo sobre isso.
Porém, a responsabilidade pela recaída deve ser imputada ao abstêmio que recaiu. Quanto mais próximo do ápice da pirâmide da
recaída, mais difícil será a possibilidade de ruptura do processo de recaída. Assim, por exemplo, em tese, é muito mais fácil
tentar persuadir o abstêmio a romper com suas reservas do que dissuadi-lo da reintoxicação física iminente.
ROL DE CONDUTAS EQUIPARÁVEIS À RECAÍDA
Não precisa usar drogas/álcool para recair, o uso de drogas/álcool corresponde apenas a última etapa do processo de recaída
que é a reintoxicação. O abstêmio irá recair antes mesmo do uso de drogas/álcool. A recaída é um processo de forma que o seu
último ato é o uso de drogas/álcool. Quais são as condutas equiparáveis à recaída? Podemos citar os seguintes exemplos:
comprar ou pedir drogas/álcool, discussões desnecessárias, mentiras, ardil, fuga, obtenção de meios, aumento da irritabilidade,
isolamento, desorganização mental, cogitações de uso, manutenção de reservas, teimosia, ausência de flexibilização conceitual
ou orgulho inflado. Todas essas condutas, como vistas anteriormente, são equiparáveis à recaída. Destaque-se que a recaída é um
processo e que seu ato final corresponde à reintoxicação que é o efetivo uso de drogas/álcool.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
26/09/2018 40
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MODELO ABSTEMIOLÓGICO
PARA PREVENÇÃO DE RECAÍDA
PROBLEMA DO COMPROMISSO ESTÉTICO
Essa questão é muito frequente e consiste no descompromisso com a abstinência, não é compromisso, é descomprometimento. O compromisso estético
ocorre quando o abstêmio aplica uma técnica, mas de forma errada ou irrelevante. Por exemplo, a pessoa comparece as reuniões de grupos anônimos, mas
fica calada, não participa ativamente e sai antes do horário previsto para o término da reunião. Outro exemplo: o abstêmio afirma que está tomando sua
medicação, mas não tem remédio suficiente para os próximos dias. Essa falta de comprometimento com o processo de abstinência é desmascarada pelo
“compromisso meramente estético”. Na realidade, essa forma de compromisso estético do abstêmio representa o “descompromisso” com o processo de
abstinência. Aqui, as famílias e os cuidadores são as principais vítimas desse problema já que podem acreditar, equivocadamente, que o abstêmio está
fazendo a “coisa certa” e o que não está funcionando são as orientações prestadas. Daí, é comum que as famílias, por terem sido induzidas em erro, mudem
de terapeutas, dos locais de reuniões e dos medicamentos. Porém, mesmo com todas essas mudanças, se o abstêmio vier a recair – reintoxicação física – a
família estabelece uma crise com os terapeutas (reeducadores abstêmios) e costuma romper os laços com esses profissionais. Como isso foi uma sequência
de erros, a família sente “vergonha” de voltar a estabelecer laços com os profissionais e assumir que foi enganada pelo abstêmio. Aqui vai um recado para as
famílias e cuidadores: se nem mesmo os familiares conhecem muito bem o abstêmio, imagine o tempo que demorará em que os profissionais consigam
conhecê-los. A mudança constante de terapeutas faz com que o abstêmio se esconda “psicologicamente” dos terapeutas já que eles não conseguiram
conhecê-lo porque terão pouco tempo para isso.
De fato, entre todas as formas de manipulação que o abstêmio pode utilizar, o “compromisso estético” é a que representa o maior descalabro, torpeza e
infâmia. Cuidado, aqui não vale a regra: “em time que está perdendo, a gente mexe”. Se o abstêmio está recaindo pode ser que ele deva permanecer nos
grupos, terapeutas ou médicos que o acompanham há mais tempo, principalmente, se ele estiver usando desta técnica manipulativa do “compromisso
estético”. Isso é uma sugestão.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
26/09/2018 41
JOSÉ PLÍNIO DO AMARAL ALMEIDA
MODELO ABSTEMIOLÓGICO
PARA PREVENÇÃO DE RECAÍDA
PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE
A falta de razoabilidade durante o tratamento gerará consequências que NÃO são necessariamente
proporcionais. A responsabilidade é o resultado necessário e adequado que se obtém através dos meios e fins
que são propostos. Nunca existe uma recaída pequena, não importa se durante a recaída se fez uso de drogas
por um dia ou por vários meses. Do ponto de vista cognitivo, a recaída que gerou o uso de drogas por um dia
é a mesma recaída que gerou o uso de drogas por vários meses. Quem recaiu e usou drogas por um dia ou
por um ano tiveram o mesmo ponto de saída: A RECAÍDA. Ex.: se a pessoa disser que recaiu, mas foi só
durante um dia, ou só usou um pouco, ou usou uma substância mais fraca, na realidade, essa pessoa está
minimizando o problema e NÃO tem a real noção de que o motivo desencadeou essa recaída também
desencadeará outras intermináveis e sucessivas recaídas. Entretanto, o tempo em que a pessoa permanece
recaída serve para analisar – e autoanalisar – seu compromisso com o processo abstêmio. Se o abstêmio, ao
recair, pedir ajuda imediatamente os efeitos produzidos pela recaída serão menos deletérios que os efeitos
produzidos pela recaída mais alongada.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
26/09/2018 42
JOSÉ PLÍNIO DO AMARAL ALMEIDA
MODELO ABSTEMIOLÓGICO
PARA PREVENÇÃO DE RECAÍDA
RESSOCIALIZAÇÃO E NEOSSOCIALIZAÇÃO
A ressocialização entendida como a volta do abstêmio ao meio social não pode
ocorrer no mesmo universo em que ele estava quando adicto. O abstêmio deverá se
socializar em outro meio já que deve evitar pessoas, hábitos e lugares da ativa.
Assim, o abstêmio deverá se neossocializar já que não poderá apenas se
ressocializar. Como o abstêmio irá mudar seu sistema ideológico também deverá
mudar seu ambiente social. Por isso, o abstêmio deverá se socializar em outro
ambiente muito mais protetivo e saudável. Esse novo ambiente será o fruto de uma
neossocialização do abstêmio. A neossocialização é muito mais abrangente e segura
já que a simples ressocialização poderá devolver ao abstêmio ao mesmo meio
insalubre e periculoso em que ele vivia antes.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
26/09/2018 43
JOSÉ PLÍNIO DO AMARAL ALMEIDA
HISTÓRICO DO CONCEITO
DE “FISSURA”
AMADERA (2012), apresenta uma cronologia da história da pesquisa sobre a FISSURA da
seguinte forma:
1) “Isbell (1955), que descreveu tanto os tipos de fissuras físicas (indicados por sintomas de abstinência) quanto
psicológicos (relacionados a expectativas de resultado e a premência).
2) Jellinek (1960) associou a fissura com uma perda de controle e com a incapacidade de se abster do álcool,
enfatizando tanto a abstinência física quanto a compulsão impulsiva de beber.
3) Edwards e Gross (1976) descreveram uma “síndrome de dependência do álcool” caracterizada por um
estreitamento do repertorio de beber, relevância do beber, tolerância, abstinência e “consciência subjetiva da
compulsão de beber”. A última característica associava-se tanto à fissura, definida como um desejo irracional
de beber, quanto à̀ perda de controle.
4) Bickel e colaboradores (1998) propuseram que o fenômeno da perda de controle pode ser explicado pela teoria
da economia comportamental, baseada na desvalorização dos reforçadores retardados. Em essência, os
abusadores de substâncias selecionam impulsivamente reforçadores menores e mais imediatos em lugar de
reforçadores maiores, retardados.
5) Siegel, Krank e Hinson (1988) propõem que tanto a fissura quanto os sintomas de abstinência podem atuar como
respostas condicionadas compensatórias da droga, com frequência na direção oposta ao efeito real da
substância não condicionada.
6) Os sintomas de abstinência e fissura podem também se limitar a situações em que ocorreu a aprendizagem
prévia das respostas preparatórias aos efeitos da droga, como nas respostas à exposição ao gatilho de droga
(Siegel, Baptista, Kim, McDonald e Weise, 2000).
7) Mais recentemente, a fissura tem sido bastante definida por modelos de reforço condicionado (Li, 2000), de
sensibilização ao incentivo (Robinson e Berridge, 2000), de regulação do sistema de dopamina (Grace, 1995),
da teoria de aprendizagem social (Marlatt, 1985) e de processamento cognitivo (Tiffany, 1990).
8) O estado atual do conhecimento relacionado à̀ fissura e à recaída conduz à integração das teorias fisiológicas,
de aprendizagem e cognitiva na adicção a drogas. Um modelo transacional, em que as respostas fisiológicas, a
tolerância, as expectativas de resultado e/ou a autoeficácia intermediam a relação entre os relatos subjetivos de
fissura e recaída na adicção a drogas, deve ser testado em pesquisa futura (Niaura, 2000).”
PÉRICLES ZIEMMERMANN
26/09/2018 44
JOSÉ PLÍNIO DO AMARAL ALMEIDA
HISTÓRICO DO CONCEITO
DE “FISSURA”
Continuando o tema FISSURA, AMADERA (2012), aponta que:
“ Um achado comum da pesquisa recente sobre adicção é a ausência de forte
associação entre os relatos subjetivos de fissura e recaída (por exemplo, Kassel e
Shiffman, 1992; Tiffany, 1990). Drummond e colaboradores (Drummond, Litten,
Lowman e Hunt, 2000) identificaram quatro possíveis explicações para o achado:
1. a fissura e a recaída são fenômenos únicos e independentes;
2. a fissura é preditiva da recaída, mas as avaliações atuais da mensuração da fissura não são
suficientemente sensíveis para detectar essa correlação;
3. a fissura só́ é indicativa de recaída em condições específicas;
4. “a experiência subjetiva da fissura não é preditiva de recaída”, mas os mecanismos subjetivos
e correlatos da fissura são preditivos de recaída.
Baseados nesse modelo, Marlatt e colaboradores (Larimer, Palmer e Marlatt, 1999)
distinguem a fissura, ou o desejo subjetivo de usar uma substância adictiva, de
uma premência, a intenção comportamental ou impulso de consumir álcool ou
drogas. Usando essa conceituação, as fissuras podem ser reduzidas ou eliminadas,
concentrando-se nos vieses subjetivos do paciente e nas expectativas de resultado
quanto a uma substância desejada.”
ATUALMENTE, para a abstemiologia, fissura está desligada do
processo de recaída sendo um fenômeno RELATIVAMENTE
INDEPENDENTE.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
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JOSÉ PLÍNIO DO AMARAL ALMEIDA
“FISSURA” PARA A
ABSTEMIOLOGIA
A fissura pode ser compreendida como um somatório de sintomas que tendem a induzir a conclusão de
que o abstêmio está com vontade de se reintoxicar usando drogas/álcool. O combate à fissura necessita
informação, esclarecimento e aplicação de técnicas adequadas. Toda fissura pode ser superada pelo processo
abstêmio. Dessa forma, podemos definir a fissura como:
Fissura é o momento em que o abstêmio, após ter percorrido uma linha causal de desdobramentos
fáticos ou emocionais, normalmente desencadeado por GATILHOS, podendo apresentar sintomas ou
não, de forma consciente ou inconsciente, deseja intensamente reintoxicar-se e reconduzir-se ao
processo de adicção.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
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JOSÉ PLÍNIO DO AMARAL ALMEIDA
“GATILHOS” PARA A
ABSTEMIOLOGIA
SINALIZADORES DE GATILHOS
Para entender o significado de GATILHOS existe uma definição dada por JOSÉ PLÍNIO DO AMARAL ALMEIDA que diz:
“Gatilhos são memórias vivenciadas que disparam sinaléticas
relacionadas ao uso de drogas/álcool. Essas memórias terão
seus efeitos diminuídos com o aumento do período abstêmio”.
Isto posto, podem-se compreender os GATILHOS como sendo um mecanismo desencadeador de memórias, ou
seja, existe um conjunto de pensamentos (crenças) que dão suporte ao processo adicto e que podem ser desencadeados por um
GATILHO. Assim, surge o problema de que os pensamentos que sustentam o sistema ideológico adicto (S.I.A. negativo ou S.I.A.-)1
podem surgir imediatamente após o acionamento do GATILHO. Por exemplo, ao simplesmente visualizar “cinzas em um cinzeiro”
o abstêmio pode sentir vontade de fumar, de participar de alguma festa, bem como pensar na sensação de prazer que sentia ao
usar drogas/álcool ou relembrar de pessoas, hábitos e lugares da ativa. Isso tudo ocorre com base somente no GATILHO. Em
palavras mais simples, porém necessárias à compreensão, os GATILHOS podem desencadear FISSURAS que, por sua vez, se
não forem neutralizadas podem deflagrar o processo de recaída. Por isso, identificar quais são os “seus próprios” GATILHOS, a
fim de manter-se sem FISSURAS, é de fundamental relevância.
Destaque-se que, os GATILHOS são, em sua estrutura mais singela, RECURSOS MNEMÔNICOS de forma que a
memória dispara uma sequência de pensamentos assim que encontrar um elemento de associação. Dessa forma, os GATILHOS
podem ser emoções (tristeza, depressão, ansiedade), imagens (ex. cenas de filmes), odores (ex. perfumes, odor de determinada
droga), sons (ex. músicas, risadas altas), situações do cotidiano (ex. solidão, exaustão física ou mental, tédio), entre outros.
Em suma, os GATILHOS são mecanismos mnemônicos capazes de acionar um conjunto de pensamentos, sentimento
ou ações que condizem com o universo adicto. Se, os GATILHOS, não forem devidamente identificados e neutralizados pela
aplicação correta de técnicas podem gerar FISSURA.
Cuidado: GATILHOS podem gerar FISSURAS, mas a relação entre GATILHO e FISSURA é como
veremos, adiante, relativamente independente. Assim, existem GATILHOS que podem gerar FISSURAS
(sintomáticas ou assintomáticas) e GATILHOS que, simplesmente, não geram nenhuma FISSURA
porque, apenas, fazem o abstêmio pensar nos malefícios que o uso de drogas/álcool gerou em sua
vida. Isso ocorre porque “PENSAR” em drogas/álcool é diferente de “PENSAR EM USAR”
drogas/álcool, veremos isso logo a seguir.
1
Para distinguir do sistema ideológico abstêmio (S.I.A. positivo ou S.I.A.+).
PÉRICLES ZIEMMERMANN
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JOSÉ PLÍNIO DO AMARAL ALMEIDA
“GATILHOS” PARA A
ABSTEMIOLOGIA
EFEITO PIPELINE (TUBO CONDUTOR)
Aqui podem ser classificadas as diversas formas de GATILHOS para a fissura e futura recaída. Esses GATILHOS são elementos de
associações que o abstêmio faz diretamente com o uso de drogas/álcool. Exemplificando:
Ao visualizar cinzas em um cinzeiro o abstêmio pode ter vontade de fumar.
Ao assistir filmes que contém fortes cenas de drogas/álcool o abstêmio pode ter fissura.
Ao restabelecer contato com outros dependentes pode voltar a ter crises de fissura ou aumentar sua irritabilidade.
Ao ouvir músicas da época da ativa poderá associá-las com uso de drogas/álcool.
Esses exemplos são meramente elucidativos e cada abstêmio deve identificar quais são seus próprios GATILHOS. É preciso fazer um
levantamento individual e preciso para conseguir identificar tais associações. Nesse momento, cabe destacar o detalhe importante de que essas
associações podem gerar fissuras muito intensas mesmo após longos períodos de abstinência. Basta haver a incidência, concomitante, de
qualquer um desses GATILHOS com o momento emocional pelo qual está passando o abstêmio que, isso, pode ser devastador. Como exemplo,
basta imaginar o impacto negativo que a associação (GATILHO) pode causar se o abstêmio estiver passando por depressão, problemas
financeiros ou envolvimentos afetivos instáveis. Deste modo, o GATILHO pode ser potencializado e elevar o grau de fissura do abstêmio a
níveis muito perigosos para sua abstinência. O bom nisso tudo é que o GATILHO também pode ser minimizado se o momento emocional do
abstêmio for muito positivo, por exemplo, felicidade, equilíbrio financeiro ou relacionamento afetivo saudável. Para facilitar a compreensão
existe a seguinte fórmula:
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“GATILHOS” PARA A
ABSTEMIOLOGIA
Assim, podemos perceber claramente que os GATILHOS, serão extremamente reduzidos quanto maior for o tempo de abstinência. Por outro
lado, no início do processo de abstinência os gatilhos tendem a ser muito intensos. Então, os GATILHOS são um fenômeno que possuem
intensidade, assim como a fissura também possui sua própria intensidade. Aqui é muito importante entender: assim como a fissura, os
GATILHOS também podem ter níveis de intensidade. Desta forma, podem existir pequenos gatilhos que desencadeiam pequenas fissuras ou
pequenos gatilhos que desencadeiam grandes fissuras. O sistema de gatilhos e fissuras possuem relação entre si, mas geram resultados
independentes. O quadro a seguir sintetiza isso:
• FISSURA FORTE
GATILHO FRACO
• FISSURA FRACA
• FISSURA FORTE
GATILHO FORTE
• FISSURA FRACA
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“GATILHOS” PARA A
ABSTEMIOLOGIA
Por sua fez, o inverso também é verdadeiro, ou seja, a fissura fraca pode ter origem em gatilho
forte ou gatilho fraco, ou, a fissura forte pode ter origem em gatilhos fracos ou gatilhos fortes.
Assim, temos:
• GATILHO FORTE
FISSURA FRACA • GATILHO FRACO
• GATILHO FORTE
FISSURA FORTE • GATILHO FRACO
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“FISSURA” PARA A
ABSTEMIOLOGIA
ENTENDENDO A FISSURA (PATHWAYS OF CRAVING)
O termo fissura para os abstêmios representa a vontade, o
desejo ou a necessidade de usar drogas/álcool. Toda fissura é o
resultado que ocorre após um fato gerador que desencadeia o
processo de fissura. Esse fato gerador ou evento que pode
desencadear a fissura é conhecido como GATILHO. Nem
sempre é acionado apenas um GATILHO, mas, por vezes, são
movimentados concomitantemente uma sucessão de
GATILHOS.
Entre o fato gerador (evento) e a fissura existe um lapso
temporal em que transcorrem a fase assintomática e,
posteriormente, a fase sintomática da fissura.
Então, quando se torna possível identificar algum sintoma de
fissura é porque já houve uma cadeia sucessiva de eventos.
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“FISSURA” PARA A
ABSTEMIOLOGIA
Essa sucessão de eventos que podem, ou não, culminarem com o uso de drogas/álcool é
conhecida como: pathways of craving (caminhos da fissura). Existem diversos modelos de
pathways of craving, por exemplo, modelo comportamental, modelo neurobiológico e modelo
psicossocial. Optamos, aqui, em apresentar um modelo multidimensional. Destaque-se que não nos
interessa o modelo que culmina com a adicção e, sim, o modelo que tem o seu fim na manutenção da
abstinência. Para visualizar o raciocínio anterior:
PÉRICLES ZIEMMERMANN
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“FISSURA” PARA A
ABSTEMIOLOGIA
Então podemos entender que existe, no mínimo, quatro fases que ocorrem no fenômeno
da fissura, são elas:
1. Acionamento de gatilhos
2. Fase assintomática
3. Fase sintomática
4. Fase terminativa: manutenção da abstinência ou desencadeamento do
início do processo de recaída
ANTECIPAÇÃO BIOCIBERNÉTICA
Em regra, para cada ato de vida praticado existirá uma consequência natural ou lógica.
Por exemplo, ao comer muito doce é previsível que a pessoa aumente de peso. Outro
exemplo, ao assistir um filme que contenha cenas de drogas/álcool é previsível que a
pessoa pense em drogas/álcool nos dias seguintes ou que tenha fissuras. Assim, a
maioria dos atos de vida que são praticados podem ser previamente antecipados pelo
abstêmio a fim de evitar o desencadeamento de fissuras. Essa antecipação biocibernética
demanda experiência e autoconhecimento já que a pessoa precisará entender quais são
seus gatilhos desencadeadores de fissura e quando eles podem aparecer.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
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FASE SINTOMÁTICA DA “FISSURA”
PARA A ABSTEMIOLOGIA
Existem certos sintomas de fissura que são frequentemente relatados pelos abstêmios. São
exemplos desses sintomas:
Irritabilidade
Desorganização (mental, física, com seus pertences ou com a higiene pessoal)
Insônia
Cólicas
Isolamento
Tristeza irracional
Pouca alimentação
Verborragia
Ansiedade
Querer sair sozinho
Sentir-se preso
Falta de esperança de um futuro melhor
Pensamentos negativos
Silêncio
Síndrome amotivacional
Falta de concentração ou desconcentração
Ausência de comparecimento a reuniões de abstêmios
Discussões desnecessárias
Afobação
Praticar atos incompatíveis com a abstinência
Aproximar-se das pessoas, hábitos e lugares da ativa.
Mentiras
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AGENTES EXTINTORES QUE ATUAM
CONTRA OS AGENTES ESTRESSORES
AGENTES EXTINTORES QUE ATUAM CONTRA OS AGENTES ESTRESSORES
A fissura deve ser controlada com agentes extintores que são as técnicas terapêuticas de controle e prevenção de recaídas.
Os agentes extintores devem ser ampliados ao máximo e somente cada um, de forma muito particular e pessoal, pode
identificar o tamanho da fissura e qual será o melhor agente extintor para combatê-la. Nesse ponto não existe espaço para o
ditado popular de que “não se usa canhão para matar passarinho” porque mesmo tendo pouca fissura o abstêmio pode optar
por técnicas muito eficazes como o internamento preventivo ou domiciliar. Quem deve avaliar qual será a técnica a ser
usada para superar a fissura é o abstêmio, mas seus terapeutas também podem recomendar outras técnicas a serem usadas já
que conhecem a trajetória de vida do abstêmio. Volto a enfatizar, aqui pode ser usada técnica severa para fissura pequena e,
até mesmo, técnicas mais simples para fissuras muito intensas desde que o abstêmio tenha autoconhecimento para tanto.
Lembre-se, na dúvida, opte por aquilo que for mais prudente.
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AGENTES EXTINTORES QUE ATUAM
CONTRA OS AGENTES ESTRESSORES
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NÃO ERA UM
CASO ISOLADO
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“FISSURA” PARA A
ABSTEMIOLOGIA
BARREIRAS À FISSURA
A fissura entendida como vontade de usar drogas/álcool pode ser evitada se forem solidamente construídas algumas barreiras a fim de evitar o
pensamento repetitivo e compulsivo dirigido ao uso de drogas/álcool. Nesse sentido, podemos citar, como exemplos, as barreiras químicas
(medicamentos), físicas ou ambientais (abster-se de sair do interior de sua casa), emocionais (evitar envolver-se em conflitos emocionais), entre
outras. Assim, o clássico exemplo da mãe que acorrenta o filho à cama para que ele não fuja de casa e não use drogas/álcool pode ser
compreendida como uma barreira física ou ambiental. Noutro exemplo, o familiar que afirma que prefere ver o abstêmio medicado ao invés de
usando drogas/álcool pode ser entendido como exemplo de barreira química. Essas formas de barreiras à fissura são comumente demonstradas
pela imprensa e podem ocorrer no âmbito doméstico e, até mesmo, no meio profissional como em clínicas especializadas. Essas medidas são
denominadas de contenção e já eram usadas há muito tempo pela humanidade como nas “camisas de força” (barreira física), o isolamento em
manicômios ou leprosários (barreiras ambientais) e, atualmente, a internação.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
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“FISSURA” PARA A
ABSTEMIOLOGIA
DIFERENÇA ENTRE PENSAR EM DROGAS/ÁLCOOL E FISSURA
O “pensar em drogas/álcool” não significa, necessariamente, a mesma coisa que “pensar em USAR drogas/álcool”. A fissura se inicia
quando o abstêmio pensa em “usar” drogas/álcool e não consegue interromper esse pensamento. Desse modo, essas meras ideias de “uso”
transformam-se em obsessão e, posteriormente, compulsão. A fissura é a “vontade de usar” drogas/álcool e não se confunde com o pensamento
sobre os efeitos devastadores que as drogas/álcool causaram na vida do abstêmio. O pensamento sobre as consequências que o uso de
drogas/álcool fez na vida do abstêmio deve ser constantemente relembrado, porém isso não significa que ele está pensando em “usar”
drogas/álcool. Pensar e analisar criticamente sobre o nefasto resultado que o uso de drogas/álcool causaram ao abstêmio é lucidez e
discernimento. Essa distinção é muito importante durante o processo de abstinência já que as consequências do uso abusivo de drogas/álcool
devem ser constantemente autoinvestigadas justamente para que a “vontade de usar” seja afastada.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
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“FISSURA” PARA A
ABSTEMIOLOGIA
AUTOCOLOCAÇÃO E HETEROCOLOCAÇÃO EM PERIGO
O abstêmio pode se colocar voluntariamente em perigo (autocolocação), ou ser colocado nessa situação por fatos de
terceiros (heterocolocação). Assim, se de forma repentina e inesperada o abstêmio perceber que está colocando sua
abstinência em risco de forma voluntária – se autotestando – deve fazer uma análise pessoal do que o levou a se comportar
desse jeito. Por outro lado, se outra pessoa colocar o abstêmio nessa situação, o abstêmio deve analisar o fato para entender
porque está sendo colocado em risco e se tem condições de enfrentar tais riscos. Como exemplo, podem-se citar os diversos
casos de pessoas em processo de abstinência que foram resgatar adictos em uso de drogas/álcool e acabaram recaindo, logo
em seguida, porque não tinham condições emocionais nem cognitivas para essa atitude.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
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“FISSURA” PARA A
ABSTEMIOLOGIA
FISSURA É REAÇÃO ALÉRGICA À ABSTINÊNCIA
O primeiro sintoma da abstinência após a cessação do uso de drogas/álcool é a fissura. É como se a fissura fosse uma reação alérgica do
organismo que está tentando se desintoxicar. Então, ao que tudo indica, o organismo que não tiver fissura ainda não está desintoxicado ou, pior,
não está em processo de desintoxicação. A abstinência exige a responsabilidade de superação da fissura biológica e, depois, psicológica do uso
de drogas/álcool. A fissura é a responsabilidade natural que decorre da suspensão do uso de drogas. Repetindo o que já foi dito antes, a primeira
responsabilidade do abstêmio é superar a fissura.
PENSAR EM SACIAR SUA COMPULSÃO É DIFERENTE DE PENSAR NOS EFEITOS DEVASTADORES E NEFASTOS QUE O
USO PROLONGADO DE DROGAS/ÁLCOOL CAUSA
O pensamento pode conduzir o abstêmio a pensar em drogas/álcool isso é um processo natural durante a abstinência. Entretanto, é necessário
que o próprio abstêmio substitua de forma gradual o pensamento no uso da sua droga de eleição pelo pensamento dos efeitos que esse uso de
drogas/álcool lhe trouxe na vida. Isso, tecnicamente, é um opositor à falsa sensação de que a droga/álcool pode, ainda, trazer algum prazer.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
26/09/2018 62
JOSÉ PLÍNIO DO AMARAL ALMEIDA
CLASSIFICAÇÃO DA FISSURA
PARA A ABSTEMIOLOGIA
A experiência demonstra que podemos classificar a
fissura de diversas formas. A classificação mais útil,
para fins didáticos, é dividir a fissura em:
1. NÍVEIS: leve, mediano e intenso
2. MOMENTOS: a priori, internus e a posteriori
3. INTENSIDADE: mero pensamento, obsessão,
compulsão
4. FORMAS: ação (fazer algo que gera fissura) e
omissão (deixar de fazer algo gera fissura)
PÉRICLES ZIEMMERMANN
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JOSÉ PLÍNIO DO AMARAL ALMEIDA
CARACTERÍSTICAS
DA FISSURA
Dissecando a fissura podemos encontrar as seguintes características:
• ALERTABILIDADE: serve de alerta para o abstêmio, é o primeiro sinal de que as “coisas” estão fugindo do
controle.
• ANESTESIADORA: a fissura anestesia a afetividade do abstêmio deixando-o irritado, insensível e
intolerante a críticas.
• DESESTABILIZADORA: desestabiliza emocionalmente, racionalmente, biologicamente e espiritualmente o
abstêmio.
• DESMOTIVACIONAL: a fissura retira motivação para outros atos da vida já que toda a energia psíquica
do abstêmio se dirige para a superação de seus sintomas.
• INCONFORTABILIDADE: é causa de enorme desconforto emocional no abstêmio gerando insônia, tristeza
e pensamentos negativos obsessivos.
• INSUSTENTABILIDADE: a fissura não se sustenta sozinha, precisa ser retroalimentada com pensamentos e
emoções negativas para aumentar. Em contrapartida, pode ser diminuída se for retroalimentada com pensamentos e
emoções positivas.
• NÃO PUNITIVISTA: não representa nenhuma punição, sendo um efeito normal e natural de quem se
dispõe a obter a abstinência.
• NATURALIDADE: a fissura é um efeito natural de um desejo artificialmente criado.
• PERPETUIDADE: pode surgir em qualquer momento da vida do abstêmio, por isso será perpétua.
Entretanto, não é permanente e terá curto temporariedade.
• PETRIFICADORA: a fissura petrifica, estagna, trava o abstêmio. O pensamento fica direcionado e focado
durante o processo de fissura.
(continua)
PÉRICLES ZIEMMERMANN
26/09/2018 64
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CARACTERÍSTICAS
DA FISSURA
•
PLASTICIDADE: a fissura se esconde atrás de certas atitudes ou pensamentos. O abstêmio pensa que pode realizar
determinada conduta e não perceber que o motivo impulsionador desta conduta é a fissura. O recuperando pensa: “posso sacar
aquele dinheiro no banco” quando, na verdade, a fissura afirma: “preciso de dinheiro para recair”.
• PRECIPITABILIDADE: a fissura antecipa tomada de decisão irracional e inconsequente, toda decisão efetuada
durante a fissura deve ser criteriosamente avaliada.
• PRIORITARIEDADE: representa prioridade absoluta no abstêmio entender os motivos de sua fissura para superá-la
conscientemente. A fissura tem prioridade absoluta para ser superada, analisada e combatida.
• REFLEXIBILIDADE: a fissura reflete nas condutas e decisões que devem ser tomadas pelo abstêmio. Decisões
prudentes atenuam os efeitos da fissura, decisões impulsivas aumentam exponencialmente a fissura.
• RESPONSABILIDADE: a fissura gera duas responsabilidades. A primeira é a responsabilidade que a vida cobra pelo
uso prolongado de drogas/álcool e a interrupção do ciclo de adicção. A segunda é a responsabilidade de ser superada para
quem deseja ficar em abstinência.
• SUFOCABILIDADE: a fissura sufoca o abstêmio a tal ponto que o alívio da dor e a fuga do sofrimento, através do uso
de drogas/álcool, parecem ser excelentes decisões ilusórias.
• SUPORTABILIDADE: toda fissura é suportável.
• TEMPORARIEDADE: tem tempo curto de duração, mas nem sempre é efêmera. Podendo surgir em qualquer
momento durante toda a vida do abstêmio (perpetuidade), mas com curta duração.
• TENSIONADORA: aumenta os níveis de tensão, a ansiedade, a irritabilidade do abstêmio.
• TOLERABILIDADE: a fissura precisa ser tolerada, compreendida e analisada racionalmente.
• TRATABILIDADE: a fissura tem tratamento, existem diversas maneiras de ser combatida, atenuada e suportada.
• UNIVERSALIDADE: absolutamente todos os abstêmios superaram, sentiram e, a qualquer momento, podem voltar a
sentir fissuras.
• VARIABILIDADE: pode aumentar (progressiva), diminuir (regressiva) ou permanecer estacionada na mesma
intensidade por certo período de tempo.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
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JOSÉ PLÍNIO DO AMARAL ALMEIDA
FENÔMENO DA RECAÍDA
SEM FISSURA
FENÔMENO DA RECAÍDA SEM FISSURA
Parece que é comum e existência de recaída sem fissuras, ou seja, a recaída não exige necessariamente a existência de uma fissura que será
saciada através do reuso de drogas/álcool. Ao entender que existem dois processos de recaías independentes (FÍSICA e EMOCIONAL) podemos
perceber que a recaída não exige uma pré-fissura. A fissura inclusive, não faz parte da recaída já que ocorre antes mesmo da recaída. É possível
recair sem fissura e, por sua vez, é possível ter fissura e não recair. A fissura não faz parte nem mesmo da recaída emocional.
A recaída emocional, como visto antes, é um processo que se desenvolve antes da recaída física. A fissura, entretanto, depende de
acionamento de gatilhos. São dois assuntos diferentes e com resultados diferentes já que a recaída leva a pessoa ao REUSO, enquanto a fissura
pode conduzir ou não, à RECAÍDA. Assim temos que a relação que ocorre é entre GATILHO-FISSURA e RECAÍDA EMOCIONAL-
RECAÍDA FÍSICA. Deste modo, a fissura não significa recaída emocional e, muito menos, recaída física.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
26/09/2018 66
JOSÉ PLÍNIO DO AMARAL ALMEIDA
TÉCNICAS DE NEUTRALIZAÇÃO
DOS GATILHOS E DAS FISSURAS
Existem dois grupos de técnicas relacionadas à
fissura:
1. Técnicas que EVITAM os acionamentos dos GATILHOS
2. Técnicas que são utilizadas APÓS os acionamentos dos
GATILHOS, ou seja, quando a fissura já está instalada.
É preciso compreender a distinção entre esses dois
momentos: um momento anterior à fissura e o
momento concomitante ou posterior à fissura. Deste
modo, são aplicadas técnicas para neutralização dos
efeitos dos gatilhos e técnicas de neutralização da
fissura em si.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
26/09/2018 67
JOSÉ PLÍNIO DO AMARAL ALMEIDA
TÉCNICAS DE NEUTRALIZAÇÃO
DOS GATILHOS E DAS FISSURAS
TÉCNICAS DE NEUTRALIZAÇÃO DOS GATILHOS
Como dito antes, evitando o acionamento de gatilhos impede-se o surgimento - e desenvolvimento - da fissura. A seguir serão apresentados alguns mecanismos
técnicos de neutralização de gatilhos:
Evitar pessoas, hábitos e lugares da ativa
Procure acabativa, rotina, agenda protetiva
Tomar medicação na dosagem e nos horários recomendados pelo médico
Não ficar com fome ou sede por longos períodos
Participar ativamente do grupo de abstêmios
Não cansar demasiadamente
Ser honesto e sincero “consigo mesmo”
Rever suas crenças disfuncionais ou irracionais
Procurar informações sobre abstinência
Ir devagar e com calma
Identificar os possíveis GATILHOS que podem desencadear fissuras: cansaço físico, filmes com cenas de drogas/álcool, imagens de drogas/álcool etc.
Manter-se organizado
Técnica da diferença entre “posso fazer” e “devo fazer”1
Técnica da distração2
Técnica dos cartões de enfrentamento3
Simples relaxamento ou automassagem
Técnica da refocalização e baralho do exagero4
Técnica da substituição por imagens positivas ou negativas5
Criação de âncoras6
Regulação do ciclo vigília-sono como um importante aliado na manutenção da abstinência e na fixação de um novo ritmo biológico abstêmio7
1 Tal técnica consiste em formular constantemente a autopergunta: “Eu posso fazer isso, mas eu devo fazer isso?”.
2 Consiste em encontrar formas de distrair-se com ocupações protetivas e que preenchem a agenda diária.
3 Consiste em elaboração de diversos cartões que explicam quais são as técnicas e os mecanismos que podem ser aplicados para evitar o acionamento de gatilhos e o combate a fissura.
4 Essa técnica se baseia na ideia de que o abstêmio deve constantemente lembrar-se daquilo que mais lhe interessa: a abstinência. O foco na abstinência pode ser perdido no decorrer do tempo e
a refocalização é muito importante. O comparecimento periódico aos grupos anônimos tem o efeito de refocalizar no busílis da4 Consiste em fazer com que o abstêmio imagine ideias e imagens
positivas para se contraporem as ideias e imagens negativas geradas pelos gatilhos e fissuras.
4
É uma técnica de programação neurolinguística (PNL) que consiste em criar uma crença positiva baseada em momentos felizes, prazerosos e evolutivos. Ex.: música que lembre bons momentos,
criar um álbum de imagens positivas ou concentrar-se em emoções positivas.
4
Contribuição de José Plínio do Amaral Almeida.
5 Consiste em fazer com que o abstêmio imagine ideias e imagens positivas para se contraporem as ideias e imagens negativas geradas pelos gatilhos e fissuras.
6
É uma técnica de programação neurolinguística (PNL) que consiste em criar uma crença positiva baseada em momentos felizes, prazerosos e evolutivos. Ex.: música que lembre bons momentos,
criar um álbum de imagens positivas ou concentrar-se em emoções positivas.
7
Contribuição de José Plínio do Amaral Almeida.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
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TÉCNICAS DE NEUTRALIZAÇÃO
DOS GATILHOS E DAS FISSURAS
TÉCNICAS DE NEUTRALIZAÇÃO DA FISSURA
Se forem acionados os gatilhos o efeito será o inicio do processo de fissura. A fissura, por sua vez, pode também ser neutralizada. Porém, após
sua instalação – ou alojamento mental – o risco de iniciar o processo de recaída é muito grande. São exemplos de combate às fissuras:
Utilizar todas as técnicas para neutralização dos gatilhos
Terapia do telefone1
Medicação específica para esses momentos2
Desabafar
Aproximar-se de abstêmios
Avisar que está com fissura aos seus familiares3
Proteger-se ainda mais (aplicação da técnica de autocontenção)
Solicitar internamento preventivo
Ouvir opiniões dos abstêmios e acatar aquilo que for necessário4
Identificar o GATILHO que desencadeou a fissura e o motivo pelo qual ele surgiu5
Elaborar sua lista de gratidão6
Técnica do ciclo medicamentoso7
Técnica do ciclo de revigoramento abstêmio8
1 Na prática, a pessoa que telefona para pedir ajuda não costuma recair, pelo menos, naquele mesmo dia. Esse mecanismo é muito utilizado, sobretudo
quando o abstêmio tiver algum padrinho que posso orientá-lo.
2 Essa é a técnica da automedicação. Cuidado: não é apenas automedicar-se, mas é medicar-se utilizando medicamentos que foram prescritos pelo médico
e que podem – e devem – ser utilizados caso o abstêmio aumente demasiadamente sua ansiedade. Por exemplo, utilizar medicamentos específicos para
diminuir a ansiedade durante alguns dias caso seja submetido a estresse ou, até mesmo, antes de ficar ansioso.
3 É fazer um pedido de ajuda.
4 Aplicação da técnica “mente aberta”.
5 Saber a origem da fissura é um exercício muito importante de autoconhecimento.
6 Essa lista é uma carta em que o abstêmio agradece A ELE MESMO tudo aquilo que ele conseguiu estando em abstinência. Essa lista serve para lembrar o
que é possível conquistar quando a pessoa estiver em sua jornada abstêmia. A lista de gratidão é um “autolembrete”.
7 Essa técnica consiste em ingerir medicamentos para diminuir a ansiedade a cada período (ciclo) de 60, 40 ou 30 dias. Independe de o abstêmio menor
estar, ou não, se sentindo ansioso já que na maioria dos casos ele não tem autoconhecimento sobre seu estado emocional. Com o decorrer da jornada
abstêmia esse ciclo medicamentoso pode ser aumentado ou diminuído, à medida que evolua o autoconhecimento do abstêmio sobre seu estado emocional.
8 Essa técnica funda-se na ideia de que durante o processo abstêmio a pessoa pode “esquecer” ou minimizar sua condição abstêmia e retornar ao processo
adicto. Para evitar que isso aconteça, por exemplo, a cada bimestre o abstêmio participará de várias reuniões de grupos anônimos de forma ininterrupta.
Esse ciclo conduz, inexoravelmente, ao revigoramento dos princípios abstêmios e ajuda na refocalização de prioridades.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
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CARÁTER PEDAGÓGICO
DA RECAÍDA
O LADO BOM DA FISSURA: A fissura também tem seu lado positivo: 10 (dez) efeitos positivos atribuídos à fissura:
1°. Representa o rompimento do ciclo de adicção. Só tem fissura quem interrompeu o ciclo de uso. Quem está usando drogas/álcool não tem
fissura. Por outro lado, aquele que interrompeu o suo de drogas/álcool terá, inevitavelmente, algum nível de fissura.
2°. A fissura é o primeiro sinal de que as drogas/álcool estão fisicamente longe do recuperando.
3°. A fissura exige do adicto uma íntima reavaliação sobre sua posição diante do uso de drogas/álcool. Ex.: devo ceder à fissura ou posso
superar a fissura?
4°. Ao perceber os sintomas da fissura o recuperando começa a desenvolver seu senso de autopercepção dos sintomas da adicção.
5°. A fissura é o resultado de uma necessidade artificialmente criada pelo uso prolongado de drogas/álcool. Se o uso era uma necessidade
artificial (adicção) pode ser superado por uma necessidade real (abstêmio). É a cobrança da vida no momento atual sobre os fatos praticados
anteriormente.
6°. A fissura é uma das melhores formas de sinalizar ao adicto que ele havia perdido o controle sobre o uso das drogas/álcool. Quando o
adicto percebe que sua mente e corpo desejam muito usar drogas/álcool consegue perceber que não existe mais o controle sobre esse
consumo. A fissura é um efeito decorrente da abstinência.
7°. A superação da fissura representa uma forma de adiamento das satisfações/prazeres imediatos.
8°. A superação da fissura gera sensação de autocontrole sobre os atos de sua própria vida. Pode representar o início da recuperação
existencial.
9º. A superação da fissura exige que o recuperando “peça ajuda” e que comece a utilizar técnicas terapêuticas eficazes ao seu processo de
recuperação.
10. A fissura existe para mostrar a fragilidade com que o recuperando pode estar “levando” sua recuperação. É um sinal de alerta.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
26/09/2018 70
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PRINCÍPIOS APLICÁVEIS À
PREVENÇÃO DE RECAÍDA
PRINCÍPIO DA AUTORRESTRIÇÃO PROTETIVA
Somente o abstêmio sabe quais devem ser suas restrições e qual o nível de restrição que deve ter para
conseguir se autoproteger. O abstêmio deve ser honesto e sincero “consigo mesmo” para identificar “o que”
deve ser restringido e “o quanto” deve ser restringido.
PRINCÍPIO DA RECAÍDA POR CONEXÃO (Princípio proposto por JOHANN HARI)
Esse princípio, apresentado por Johann Hari, estabelece que o oposto de vício não seria sobriedade, mas
seria conexão. Para Johann Hari as relações sociais, afetivas, familiares e o modo de vida que o adicto criou
são os fatores que sustentação à adicção. Assim, o uso de drogas/álcool poderá ser interrompido quando for
alterado o meio de vida que culminou com a adicção. Dessa forma, a abstinência exige que sejam realizadas
novas conexões abstêmias. A conexão com a ideologia abstêmia tende a sedimentar a abstinência, por sua
vez, a conexão com ideologias adictas tende a gerar a adicção.
PRINCÍPIO DO AJUDANDO A SI MESMO
Para evitar a recaída o abstêmio deve acima de tudo: ajudar a si mesmo. A abstinência é um processo de
autoajuda, antes de qualquer outro conceito. Por isso, existem certos mecanismo que evitam a recaída
quando a pessoa quer “ajudar a si mesmo”, tais como: autoperdão, autocura, autoconhecimento e
autoenfrentamento.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
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PRINCÍPIOS APLICÁVEIS À
PREVENÇÃO DE RECAÍDA
PRINCÍPIO DA RECAÍDA PELA ESFERA DE ASSOCIAÇÃO (Créditos a Maria Cristina Leandro Ferreira)
A esfera de associação consiste no conjunto de informações que estão associadas e inter-relacionadas. Exemplificando. Quando
ouvimos a palavra “bolsa”, em regra, uma mulher poderá forma muito mais associações que um homem, v.g., bolsa está
relacionada com marcas, cores, tamanhos, formas, preços e diversas outras associações. Outro exemplo: quando ouvimos a
palavra “bola”, em regra, um homem poderá formar mais associações que uma mulher já que, em regra, o homem utiliza esse
objeto muito mais que as mulheres. Seguindo esse raciocínio, quando o adicto ouve as palavras “cocaína, maconha, álcool,
drogas ou crack” formará em sua mente uma esfera associação muito maior que uma pessoa que não seja adicta. Isso possui
extrema relevância já que diversos fatos e emoções na vida do adicto estão relacionados ao uso de drogas/álcool.
Entretanto, quando uma pessoa que não mergulhou no processo de adicção assiste a algum filme onde aprecem cenas de uso
de drogas/álcool ela não terá as mesmas lembranças, emoções, vínculos e desejos daqueles que são foram adictos. Esse princípio
vem a reforçar a importância da ideia do evite pessoas, hábitos e lugares. A esfera de associação na abstemiologia engloba
fatores pessoais, familiares, sociais, econômicos e, até mesmo, políticos. Nesse sentido, o uso da droga/álcool pode representar
um ataque ao sistema político vigente e desafio às autoridades e normas instituídas. Pode significar rebeldia.
PRINCÍPIO DA SUBSTITUIÇÃO DA SUBCULTURA ADICTA
A adicção também consiste em ser um fenômeno social de modo a estabelecer certas características e linguagens próprias
como qualquer outro evento social. A adicção tem gírias, linguagem, expressão verbal, formas sociais de manifestação e locais
próprios para consumo de drogas/álcool. Toda essa subcultura adicta, durante o processo de abstinência, deverá ser substituída
por outra forma de interação com o meio, outros conceitos e outras expressões de linguagem. A cultura adicta consiste no
conjunto de todos os elementos que compõem o universo da drogadição, tais como: expressões corporais, frases de efeito,
crenças, pensamentos, sentimentos, prazeres, amizades, locais preferidos, filmes preferidos, músicas, acontecimentos, modelos
de pessoas ou profissões escolhidas. É tudo que pode ser associado à drogadição. É tudo aquilo em que o adicto acredita ou o
que ele tenha por verdadeiro. Esse somatório de valores é o que deverá ser substituído pela nova ideologia abstêmia.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
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PRINCÍPIOS APLICÁVEIS À
PREVENÇÃO DE RECAÍDA
PRINCÍPIO DO CASUÍSMO DIFERENCIADO NA JORNADA E ISONÔMICO NA
RESPONSABILIDADE ABSTÊMIA
A observação empírica demonstra que cada processo de adicção deverá ser tratado de forma casuística, ou
seja, cada dependente terá um processo abstêmio ligeiramente diferenciado de forma que não haverá
nenhuma fórmula, geral e abstrata, que se encaixa perfeitamente em todos os casos de dependência. No
mesmo sentido, qualquer pessoa em processo de abstinência terá que percorrer sua própria jornada e assumir
sua responsabilidade abstêmia.
Entretanto, a responsabilidade abstêmia é isonômica já que os atos responsáveis serão recompensados
com a abstinência e os atos irresponsáveis serão punidos com a recaída. Em suma, o caminho da abstinência
é individual e personalíssimo, mas a responsabilidade abstêmia é isonômica.
PRINCÍPIO DA INTOLERÂNCIA DA RECAÍDA
A recaída não pode ser banalizada nem tolerada. Toda recaída é algo extremamente traumático para todos
os envolvidos no processo de abstinência. Qualquer forma de recaída deve ser profundamente investigada
para que seja possível conhecer as reservas mentais que deram base para o reuso de drogas/álcool.
PRINCÍPIO DA INTRANSFERIBILIDADE DA RESPONSABILIDADE PELA RECAÍDA
A responsabilidade pela recaída não pode ser transferida para nenhuma outra pessoa além da dimensão
individual do abstêmio. O abstêmio que recaiu é o único responsável pelo seu ato de reiniciar o processo de
adicção e, interromper abruptamente, seu processo abstêmio. A responsabilidade pela recaída não pode ser
direcionada para familiares, amigos ou terapeutas.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
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PRINCÍPIOS APLICÁVEIS À
PREVENÇÃO DE RECAÍDA
PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO
A consunção é o definhamento evolutivo do organismo causado por outro agente (um terceiro). Cada recaída torna o
organismo do abstêmio mais debilitado, mas não é só isso. Sua psique1 também definha já que o uso constante de
drogas/álcool tem o poder de destruir sua cognição. O princípio da consunção se aplica quando ocorre uma sucessiva
quebrar de princípios combinada com a má aplicação de técnicas que culmina com a recaída da pessoa. A sucessão de erros
leva ao resultado final: recaída. Desta forma, a recaída consiste em uma cadeia de erros, omissões e equívocos que foram a
sua própria causa. Por outro lado, a abstinência existe quando estiverem presentes princípios e técnicas eficazes. Assim, a
abstinência consiste no resultado da superação dos erros, omissões e equívocos.
PRINCÍPIO DA RECAÍDA SEM USO
Assim como “não é preciso usar para pedir ajuda”2, também “não precisa usar para recair”. A sistemática violação da
responsabilidade e do compromisso com os princípios da abstinência ou regras de condutas saudáveis já é suficiente para
indicar que o abstêmio encontra-se em processo de recaída. Destaque-se que a existência da própria recaída emocional -
onde ainda não existe a reintoxicação física - já sinaliza que foi deflagrado o processo de recaída. Na recaída emocional o
abstêmio ainda não usou drogas/álcool, mas já está recaído e na iminência de se reintoxicar fisicamente. Por isso, é comum
afirmar que a recaída emocional é uma reintoxicação psicológica, enquanto a recaída real é, apenas, a reintoxicação física.
Assim, para concluir, é perfeitamente possível recair sem usar drogas/álcool.
1
No sentido de espírito, alma ou ideologia.
2
Agradecimentos ao consultor em dependência química Paulo César Rodrigues.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
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EFEITOS GERADOS PELO
PROCESSO DE RECAÍDA
EFEITO LAG1
O efeito lag corresponde ao período de latência do processo de adicção que permanece no abstêmio durante todo o
processo de abstinência. Em outras palavras, o processo de adicção tem seu fim no ponto “F” (que corresponde ao óbito ou
abstinência), porém esse marco final da adicção é, apenas, aparente porque existe um elemento de latência inerente à adicção
e que permanece por todo o processo abstêmio. A adicção permanece latente durante toda a jornada abstêmia e poderá a
qualquer momento voltar a se manifestar em toda sua complexidade. Então, o crescimento e desenvolvimento da abstinência
reduz a amplitude da adicção, mas não consegue extingui-la por completo. O processo de abstinência sempre permanecerá
com um pequeno núcleo irredutível que poderá servir de futuro suporte para desencadear todo o processo adicto novamente.
Para que o processo de adicção retorne ao seu curso basta que o abstêmio se (re)intoxique fisicamente. Entretanto, antes
disso, o abstêmio precisará desencadear seu processo de recaída que sinaliza a interrupção do caminho da abstinência
podendo culminar com o retorno à adicção que permaneceu, sempre, latente. O processo de recaída é o meio de
manifestação do efeito lag que, por sua vez, indica a iminência permanente do processo de adicção. O efeito lag da recaída é
responsável por reconduzir o abstêmio até a adicção porque mantém constantemente na pessoa abstêmia um pequeno núcleo
adicto irredutível e latente.
1 LAG é abreviação da expressão “latency at game” que em tradução livre significa “latência no jogo”.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
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EFEITOS GERADOS PELO
PROCESSO DE RECAÍDA
EFEITO REPRISTINATÓRIO DA RECAÍDA
A adicção possui um efeito intrínseco ao seu estado irracional que consiste em fazer com que a pessoa possa
voltar ao processo de adicção no exato momento de reuso das drogas/álcool. Esse retorno à adicção ocorre durante a
reintoxicação física (última etapa da recaída). Ao que tudo indica o efeito de repristinar ao estado adicto
acompanhará o abstêmio durante toda sua vida. Por óbvio, quanto maior for o tempo de abstinência menor será a
intensidade do efeito repristinatório. Por exemplo, a pessoa com 04 (quatro) anos de abstinência estará muito mais
suscetível aos efeitos repristinatórios do que alguém com 15 (quinze) anos de abstinência. O efeito repristinatório
faz com que a pessoa volte ao S.I.A. negativo, porém a intensidade com que o S.I.A. negativo irá se restabelecer na
consciência do abstêmio depende diretamente da robustez da internalização do S.I.A. positivo ou, em outras
palavras, da intensidade do vínculo abstêmio.
Em suma, o efeito repristinatório consiste em restabelecer na pessoa o S.I.A. negativo, porém a intensidade do
S.I.A. negativo dependerá diretamente da foça com que o abstêmio se vinculou ao seu novo sistema ideológico. Por
isso, a recaída de alguém que não está engajado no seu próprio processo evolutivo consciencial tende a ser muito
mais gravosa do que a recaída de alguém que esteja participando ativamente do seu novo sistema ideológico.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
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EFEITOS GERADOS PELO
PROCESSO DE RECAÍDA
Embora tenham alguns pontos em comum, o efeito repristinatório não se confunde com o efeito lag já que:
EFEITO EFEITO
REPRISTINATÓRIO LAG
Decorre do processo de adicção e Também decorre do processo de
não do processo abstêmio adicção e não do processo abstêmio
Acompanha o abstêmio durante todo Também acompanha o abstêmio
o processo abstêmio durante todo o processo abstêmio
Ocorre logo após a reintoxicação Permanece durante toda a
física jornada abstêmia
É pontual É permanente
Só se manifesta com a Existe independentemente de
reintoxicação física reintoxicação física
Refere-se ao sistema ideológico que Refere-se à latência do próprio
sustenta o processo de adicção processo de adicção
(S.I.A.-)
Mantém o abstêmio que recaiu pelo Conduz o abstêmio ao processo de
maior período possível na adicção adicção, através do processo de
recaída
É real É potencial
É imanente É iminente
É o fim do processo de recaída É o início do processo de recaída
Exige a reintoxicação física Exige a abstinência
É o núcleo máximo da adicção É o núcleo mínimo da adicção
É característica do adicto É característica do abstêmio
É amplo É restrito
Quadro: comparação entre efeito repristinatório e efeito lag.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
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EFEITOS GERADOS PELO
PROCESSO DE RECAÍDA
EFEITO REBOTE OU REVERSO (ABERRATIO)
É o resultado diverso daquele que foi pretendido. Quando colocado “na parede” o abstêmio opta por
voltar a usar drogas/álcool já que não consegue se comprometer com a responsabilidade por sua própria
abstinência e nem com todas as mudanças que serão necessárias para manter-se na jornada abstêmia. O
exemplo mais clássico desse efeito é a recaída durante o período do reality shock.
EFEITO DEVOLUTIVO DA IRRESPONSABILIDADE
A falta de responsabilidade por seus próprios atos gera o efeito de devolver o abstêmio ao uso de
drogas/álcool, ou seja, a quebra de seu dever de cuidado durante o processo de abstinência é a causa
determinante de sua própria recaída.
EFEITOS INTRÍNSECOS E EXTRÍNSECOS DA RECAÍDA
O efeito interno ou intrínseco da recaída ocorre na própria pessoa do abstêmio que precisa reconsiderar
suas reservas, seu descaso com o tratamento, suas procrastinações e suas irresponsabilidades. O efeito
interno da recaída é a autoanálise dos equívocos e dos conceitos errôneos que ainda permanecem na
cognição do abstêmio. Por sua vez, o efeito externo ou extrínseco da recaída ocorre em relação às outras
pessoas (terceiros), por exemplo, os cuidadores se sentem mais impotentes, os colegas de “sala” percebem
que o processo de adicção continua vivo e implacável, os terapeutas sentem que o paciente ainda não está
estabilizado e os familiares renovam suas angústias e dores.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
26/09/2018 78
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EFEITOS GERADOS PELO
PROCESSO DE RECAÍDA
EFEITO REGRESSIVO DA RECAÍDA
É a falsa estabilização ou centralização terapêutica. Tal fenômeno ocorre quando o dependente repassa
sua responsabilidade para as instituições formais de controle. Ex.: a clínica é a responsável pela abstinência
e quando o dependente recebe alta da clínica, em poucos dias, recai novamente. Isso é o deslocamento da
responsabilidade pela sua própria abstinência para terceiros, pode ser com: clínica, terapeuta, grupo de
apoio, entre outros.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
26/09/2018 79
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EFEITOS GERADOS PELO
PROCESSO DE RECAÍDA
EFEITO DOMINÓ NA RECAÍDA
O efeito dominó consiste numa sequência de atos que termina em reintoxicação física (efeito
dominó interno) ou na indução da recaída de outros abstêmios (efeito dominó externo). É o efeito
gerado pela recaída infecta ou recaída dominó.
O efeito dominó interno resulta no último ato do processo de recaída, ou seja, após a prática de
vários atos anteriores que indicavam haver um processo de recaída a pessoa decide reutilizar
drogas/álcool. Assim, o processo de recaída gera um efeito dominó que resulta na reintoxicação
física do, antes, abstêmio. Aqui, vale à máxima: “recaído ele já estava, só faltava usar”.
O efeito dominó externo ocorre quando um abstêmio recai e isso faz com que outros abstêmios
também recaíam sucessivamente. A recaída pode gerar um efeito de recaídas sucessivas (mesma
pessoa recai várias vezes seguidas) ou coletivas (várias pessoas recaem logo após a recaída de “um”
abstêmio que fazia parte do grupo deles). Não é uma recaída em grupo que ocorre quando vários
abstêmios se reúnem e decidem recair juntos de maneira simultânea. O efeito dominó externo gera a
recaída de um grupo de abstêmios, porém eles recaem de forma individual e sucessiva. Cada um
recai individualmente, após a recaída de um dos membros. É como se os abstêmios tivessem em
comum, o fato de fundar sua abstinência em um mesmo fato/pessoa que, ao recair, gera a recaída de
todos outros. O efeito dominó externo é sintetizado pela máxima: “a bruxa está solta”.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
26/09/2018 80
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MODELOS ABSTEMIOLÓGICOS DE SÍNDROMES
MANIFESTADAS NO PROCESSO DE RECAÍDA
SÍNDROME DA INEFETIVIDADE DAS MEDIDAS PROTETIVAS
O raciocínio é simples: se houve “recaída” as medidas protetivas que foram tomadas são insuficientes. Todavia, isso nem sempre é
verdadeiro. Deste modo, o regime disciplinar que será estabelecido após a recaída e o retorno do abstêmio ao seio familiar pode ser alterado,
ou não. É possível manter as mesmas restrições que se mostraram ineficazes antes da recaída e não precisa, necessariamente, tomar medidas
protetivas mais rigorosas. O que deve ser rigoroso não é a medida disciplinar aplicada, mas o seu efetivo cumprimento. O comprometimento
com as medidas protetivas deve ser mais importante que a própria medida em si.
Essa síndrome é de vital importância ao processo de tratamento. A ideia é a seguinte: quando o corpo estiver cansado a mente irá pensar
em algo que lhe dê energia e, dessa forma, se o corpo estiver muito cansado a mente pensará em algo com muita energia. Em contrapartida,
se o corpo estiver apenas um pouco cansado a mente pensará em algo que lhe dê apenas um pouco de energia. Então, uma pessoa que nunca
foi usuária de drogas/álcool ao se sentir cansada pensará em comer chocolate ou qualquer outro alimento adocicado. Todavia, quando a
pessoa já foi usuária de drogas/álcool, ao cansar seu corpo, sua mente pensará em outras formas de obter energia, ou seja, o subconsciente
fará o abstêmio sentir vontade de utilizar drogas ou álcool. Para concluir, faz-se o seguinte raciocínio meramente exemplificativo, o
abstêmio ao cansar fisicamente “um pouco” pensará – ainda que de forma subconsciente – em fumar apenas um cigarro. Em contrapartida,
quando o abstêmio cansar fisicamente de forma excessiva, sua mente lhe fará pensar em drogas mais potentes ou em álcool.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
26/09/2018 81
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MODELOS ABSTEMIOLÓGICOS DE SÍNDROMES
MANIFESTADAS NO PROCESSO DE RECAÍDA
1
Informação disponível em:
<http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:T2jPQzBqNhMJ:www.tertuliaconscienciologia.org/index2.php%3Foption
%3Dcom_docman%26task%3Ddoc_view%26gid%3D1395%26Itemid%3D3+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br>. Acesso em 18
março 2018.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
26/09/2018 82
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MODELOS ABSTEMIOLÓGICOS DE SÍNDROMES
MANIFESTADAS NO PROCESSO DE RECAÍDA
SÍNDROME DAS RECAÍDAS SUCESSIVAS (OU RECAÍDAS EM CADEIA INDIVIDUAIS OU RECAÍDAS
CONTINUADAS)
Caracterizam-se por uma sequência de recaídas em curto espaço temporal de modo a gerar a conclusão que são apenas
uma recaída, mas que se divide em diversas etapas. Ex: recaída na segunda-feira, depois no sábado, depois em 10 (dez) dias
etc. A sucessão de recaídas além de intoxicarem o corpo do abstêmio também o colocam em situação de periculosidade. É
preciso estabelecer a cessação dessa síndrome o quanto antes.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
26/09/2018 83
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MODELOS ABSTEMIOLÓGICOS DE SÍNDROMES
MANIFESTADAS NO PROCESSO DE RECAÍDA
1 Doença prevista pelo CID 10 através do F 68.1 como “Intentional production or feigning of symptoms or disabilities, either physical or
psychological (factitious disorder). The patient feigns symptoms repeatedly for no obvious reason and may even inflict self-harm in order to
produce symptoms or signs. The motivation is obscure and presumably internal with the aim of adopting the sick role. The disorder is often
combined with marked disorders of personality and relationships.” Também conhecida como: Hospital hopper syndrome, Münchhausen
syndrome, Peregrinating patient. Exemplos mais comuns: factitial dermatitis (L98.1), and, person feigning illness (with obvious motivation)
(Z76.5).
PÉRICLES ZIEMMERMANN
26/09/2018 84
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MODELOS ABSTEMIOLÓGICOS DE SÍNDROMES
MANIFESTADAS NO PROCESSO DE RECAÍDA
1 Síndrome de Cassandra é: “Em psicologia e psicanálise, o complexo de Cassandra, também chamado de síndrome de Cassandra ou maldição de
Cassandra ocorre quando várias predições, profecias, avisos e coisas do tipo são tomadas como falsas ou desacreditadas veementemente. O termo se
origina na mitologia grega: Cassandra, filha de Príamo, rei de Troia, conquista a paixão de Apolo, que lhe dá o dom da profecia, porém, quando o deus
percebe que a jovem não corresponde a seus sentimentos amorosos, a amaldiçoa, fazendo com que todas as suas profecias, avisos e predições sejam tidas
pelos demais como mentiras, impossibilitando-a também de comprovar a validez de suas visões. Portanto, o complexo de Cassandra se aplica a pessoas
que, apesar de estarem dizendo a verdade, são tomadas como mentirosas, ou quando uma pessoa, visando o melhor, avisa e dá conselhos, mas tem seus
conselhos ignorados. Pode-se aplicar também o termo à pessoas que sentem constantemente que serão tidas como mentirosas.” (WIKIPÉDIA, Complexo de
Cassandra, 2015).
2 Caso real da Mademoiselle “X” descrita por Jules Cotard, em 1880, no livro “Le délire des négations”.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
26/09/2018 85
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MODELOS ABSTEMIOLÓGICOS DE SÍNDROMES
MANIFESTADAS NO PROCESSO DE RECAÍDA
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MANIFESTADAS NO PROCESSO DE RECAÍDA
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MODELOS ABSTEMIOLÓGICOS DE SÍNDROMES
MANIFESTADAS NO PROCESSO DE RECAÍDA
SÍNDROME DA BARGANHA
A barganha é um dos fatores que formam a manipulação adicta e quando permanecer
vinculada ao processo abstêmio poderá desencadear uma síndrome que culminará com a
recaída. Explico. A manipulação adicta é um mecanismo desenvolvido durante o processo de
drogadição e que precisa, obrigatoriamente, existir para que a adicção se desenvolva. Sem
manipulação não existe adicção. Porém, esse mecanismo é tão forte que permanece durante
muito tempo com o abstêmio e pode fazer com que ele manipule, também, sua abstinência.
Caso o abstêmio comece a usar sua abstinência para realizar seus desejos – desvirtuamentos
abstêmios – poderá estar se enleando nessa síndrome.
Por exemplo, se o abstêmio diz que precisa fazer uma viagem porque não pode ficar
sozinho na sua cidade durante o período de feriado e colocar sua abstinência em risco, mas, na
realidade, ele só deseja viajar porque irá encontrar uma pessoa com quem quer se relacionar.
Essa manipulação de fatos pode se desenvolver e gerar a síndrome da barganha. No exemplo
citado, o abstêmio poderia ficar com outro familiar, comparecer a várias reuniões seguidas de
grupos anônimos, pedir um internamento preventivo ou expor a verdade dos fatos e qual é o
seu real desejo. A manipulação adicta não pode se tornar em manipulação abstêmia sem que
isso gere consequências. Quanto mais requintada for a manipulação, mas desenvolvida estará
a síndrome da barganha. Isso pode se sintetizado na frase: “na abstinência não tem como fazer
negocinho”.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
26/09/2018 88
JOSÉ PLÍNIO DO AMARAL ALMEIDA
TEORIAS ABSTEMIOLÓGICAS
SOBRE O PROCESSO DE RECAÍDA
PÉRICLES ZIEMMERMANN
26/09/2018 89
JOSÉ PLÍNIO DO AMARAL ALMEIDA
TEORIAS ABSTEMIOLÓGICAS
SOBRE O PROCESSO DE RECAÍDA
PÉRICLES ZIEMMERMANN
26/09/2018 90
JOSÉ PLÍNIO DO AMARAL ALMEIDA
TEORIAS ABSTEMIOLÓGICAS
SOBRE O PROCESSO DE RECAÍDA
GRANDIOSIDADE
HIPERSENSIBILIDADE A CRÍTICAS
ORGULHO EXACERBADO -
ORGULHÃO
CENTRAR-SE EM SI MESMO -
UMBIGÃO
VAIDADE
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TEORIAS ABSTEMIOLÓGICAS
SOBRE O PROCESSO DE RECAÍDA
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TEORIAS ABSTEMIOLÓGICAS
SOBRE O PROCESSO DE RECAÍDA
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TEORIAS ABSTEMIOLÓGICAS
SOBRE O PROCESSO DE RECAÍDA
Por fim, é possível compreender que o processo de recaída constitui no resultado de uma dissonância patente entre o abstêmio e seu
processo de abstinência e que quanto maior for essa dissonância maior será a intensidade da recaída.
Aqui se faz necessário afirmar que o lastro abstêmio consiste em critério meramente cronológico para conseguir reinserir o abstêmio dentro
da escada abstêmio. Por sua vez, a teoria da dissonância patente (TDP) corresponde a um critério misto (subjetivo-objetivo) capaz de avaliar o
nível de comprometimento do sujeito (abstêmio que recaiu) perante seu próprio processo de abstinência através dos efeitos produzidos pelo
processo de recaída. Assim, para concluir, surge o seguinte gráfico representativo da teoria da dissonância patente (TDP):
DISSONÂNCIA
PATENTE
– +
VÍNCULO DO ABSTÊMIO COM SEU
PROCESSO DE ABSTINÊNCIA
Parece ser evidente que quanto maior for o vínculo do abstêmio com seu processo de abstinência menor será a dissonância patente ou, por
outro lado, quanto maior forem os efeitos da recaída maior será a dissonância patente. Assim, a pessoa que possuir um grande lastro abstêmio e
um grande vínculo com seu processo de abstinência tenderá a retornar muito mais rapidamente ao caminho abstêmio.
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TEORIAS ABSTEMIOLÓGICAS
SOBRE O PROCESSO DE RECAÍDA
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TEORIAS ABSTEMIOLÓGICAS
SOBRE O PROCESSO DE RECAÍDA
CICLO
BIOLÓGICO
DESENVOLVIMENTO
DA ADICÇÃO CICLO
BIO-PSICOLÓGICO
CICLO
BIO-PSICO-SOCIAL
DESENVOLVIMENTO
DA ABSTINÊNCIA CICLO
BIO-PSICO-SÓCIO-
ESPIRITUAL
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TEORIAS ABSTEMIOLÓGICAS
SOBRE O PROCESSO DE RECAÍDA
TÁBUA DE EQUILÍBRIO DO ABSTÊMIO
ABSTINÊNCIA RECAÍDA
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TEORIAS ABSTEMIOLÓGICAS
SOBRE O PROCESSO DE RECAÍDA
TEOREMA DO ACTION ITEM (ITEM DE AÇÃO)
O teorema do action item consiste em demonstrar, através de um processo lógico e racional, qual é o
principal item de ação para que se possa obter a abstinência, ou seja, qual é o ponto de ação que se não
existir fará com que a abstinência também não exista? Onde o abstêmio deverá agir para ficar em
abstinência? Qual é o fator que sustenta toda a abstinência? Todas essas perguntas parecem ter sempre
a mesma resposta: a abstinência não exige um “não fazer” que consiste em não usar drogas/álcool em
qualquer situação e sobre qualquer contexto. Então, na verdade, a abstinência exige um “fazer’, mas
esse fazer é negativo já que é um “não fazer”. A abstinência se cria, se solidifica e se propaga através
de uma inação que é caracterizada por um “não fazer”.
O teorema do action item nos informa que o ponto de ação da abstinência é uma inação. Esse é o
contrassenso uma vez que para “não fazer” o uso de drogas/álcool a pessoa precisa “fazer” muita
coisa. Dessa forma, o ponto de ação para atingir a abstinência se baseia numa ação negativa - ou em
um “não fazer” - que só pode ser obtida “fazendo” muitas outras ações, tais como: terapias, aplicação
de técnicas abstêmias, participação ativa em grupos anônimos, uso de ferramentas medicamentosas ou
pedidos de ajuda. Se a pessoa conseguir “fazer” todo o grupo de fatores que são necessários para ficar
em abstinência, ela conseguirá fazer uma “inação” que consiste em não usar drogas/álcool. Veja que o
simples fato de não uras drogas/álcool já é uma das formas de obter a abstinência, mas essa ainda não é
a abstinência real. O simples fato de não usar drogas/álcool é apenas uma das formas de
desvirtuamento da abstinência que se caracteriza pela abstinência putativa.1 O teorema do action item
nos mostra que para ficar em abstinência precisamos “fazer” de tudo, para “não fazer” o uso de
drogas/álcool. Como o próprio termo diz: abstinência é abster-se, mas é abster-se do uso de
drogas/álcool fazendo muitas outras ações, por isso entendo que a abstinência é algo que se obtém
ativamente, e não passivamente.
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ESPÉCIES DE RECAÍDAS SOBRE O
PONTO DE VISTA ABSTEMIOLÓGICO
1
Se contrapõem a recaída sucessiva ou em cadeia individual que consiste na recaída de uma mesma pessoa, mas por várias vezes e em curto espaço
temporal.
2
Metáfora de comparação com peças do jogo de dominó onde são colocadas peças, uma após a outra, formando um caminho – trilha – e, após derrubar a
primeira das peças todas as outras cairão sucessivamente.
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ESPÉCIES DE RECAÍDAS SOBRE O
PONTO DE VISTA ABSTEMIOLÓGICO
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ESPÉCIES DE RECAÍDAS SOBRE O
PONTO DE VISTA ABSTEMIOLÓGICO
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ESPÉCIES DE RECAÍDAS SOBRE O
PONTO DE VISTA ABSTEMIOLÓGICO
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ESPÉCIES DE RECAÍDAS SOBRE O
PONTO DE VISTA ABSTEMIOLÓGICO
RECAÍDA EMOCIONAL
Ocorre quando a pessoa que estava em qualquer uma das fases da abstinência está emocionalmente muito fragilizada encontrando-
se na iminência de usar drogas/álcool para aliviar esses sintomas. É a fase que antecede a recaída real já que o abstêmio não usou a
droga/álcool, mas está na iminência de usar. É a manifestação sofisticada da fissura. Essa recaída é muito difícil de ser autopercebida,
mas é mais facilmente diagnosticada por terceiros.
RECAÍDA EMOCIONAL COMPLETA
É a consequência de uma série de eventos precedentes: fatos cognitivos permissivos, fatos cognitivos estratégicos, fatos
auxiliadores antecedentes e reintoxicação emocional. Nesse caso, o abstêmio estará à beira da reintoxicação física. Essa recaída, se
diagnosticada rapidamente, pode ser combatida pela internação preventiva, internação domiciliar, uso de medicamentos ou
acompanhamento de cuidador. Nas fases iniciais de abstinência, ou seja, para o abstêmio mínimo ou o abstemenor, essa recaída
emocional é muito difícil de ser neutralizada porque tende a ser assintomática ou com sintomas muito discretos. Contudo, quanto ao
abstemaior ou o mega-abstêmio, a recaída emocional tende a ser sintomática e os sintomas ficam muito aparentes. Destaque-se que,
em ambos os casos, ou seja, em qualquer fase abstêmia, a recaída emocional apresentará mais sintomas na medida em que estiver
mais próxima da fase de reintoxicação física. Dessa forma, quando as pessoas (terceiros) percebem os sintomas da recaída emocional
no abstêmio, isso sinaliza que a reintoxicação física é iminente. Aqui vale a máxima: “recaído ela já estava, só faltava usar”.
RECAÍDA ANUNCIADA OU RECAÍDA RESULTADO
É o resultado do descaso com o tratamento (absentia longa et mors aequiparantur - a longa ausência e a morte se equiparam). A
falta de tratamento manifestada através do descaso no comparecimento aos grupos anônimos ou terapias, o desprezo pelas opiniões
terapêuticas ou pelas sugestões dos colegas de tratamento pode caracterizar revelia no tratamento. O resultado, cedo ou tarde, pode ser
a recaída.
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ESPÉCIES DE RECAÍDAS SOBRE O
PONTO DE VISTA ABSTEMIOLÓGICO
RECAÍDA DE ÍMPETO
A recaída de ímpeto consiste na recaída por impulso repentino, ou seja, é um rompante e arroubo em direção a
reintoxicação física. Nesse modelo de recaída, o abstêmio percorre todas as fases do processo de recaída de forma muito
violenta e veloz. É como se a reintoxicação física ocorresse sem que o abstêmio tivesse percorrido toda a sequência de
desdobramentos fáticos da pirâmide da recaída. Todavia, na realidade, o que ocorre é que o abstêmio percorre a linha de
desdobramentos fáticos necessários para recair de forma muito rápida. Isso ocorre porque o abstêmio ainda não conseguiu
desenvolver mecanismos para evitar o acionamento dos gatilhos, técnicas para combater os gatilhos que foram acionads,
métodos de combater e evitar a fissura ou vínculos abstêmios capazes de evitar o desencadeamento da sequência piramidal
da recaída. A ausência completa de técnicas e de mecanismos estratégicos protetivos faz com que a pirâmide da recaída seja
percorrida muito rapidamente.
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ESPÉCIES DE RECAÍDAS SOBRE O
PONTO DE VISTA ABSTEMIOLÓGICO
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TÉCNICAS APLICÁVEIS À
PREVENÇÃO DE RECAÍDA
SÍNTESE DE RELAÇÃO DE TÉCNICAS APLICÁVEIS A QUALQUER DOS MODELOS DE PREVENÇÃO DE RECAÍDA: o quadro
abaixo sintetiza uma série de técnicas aplicáveis a TPR. Para formar o quadro foram utilizados estudos de TRIGO (p. 299-328, 2006), SANTOS
(201?) e ZIEMMERMANN (2018):
Quadro: foram utilizados estudos de TRIGO (p. 299-328, 2006), SANTOS (201?) e ZIEMMERMANN (2018).
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TRIÂNGULO DA
PREVENÇÃO
Como é o triângulo da prevenção?
O triângulo da prevenção consiste em evitar pessoas, hábitos e lugares da ativa. Essa fórmula é muito bem sucedida no processo de
abstinência. De fato, o abstêmio é uma pessoa com novos hábitos, com novos relacionamentos e com novos lugares. O abstêmio é outra pessoa,
se comparado ao adicto que era antes.
TRIÂNGULO
DA
PREVENÇÃO
EVITE
LUGARES DA ATIVA
Mas, o que deve ser EVITADO? O abstêmio deve evitar: a primeira dose, as pessoas, hábitos e lugares da ativa, o orgulho ou egocentrismo
exacerbado, o excesso de vaidade, o sentimento de raiva, a mentira, a autopiedade, gerar mais desafetos, o ressentimento, a procrastinação, a
preguiça, o isolamento, a ira, o ódio, o ciúme, a desonestidade, o medo incoerente, a autovitimização, a ilusão do “só mais uma vez”, entre
outros. Em suma, o abstêmio deve evitar procurar atalhos no processo de abstinência.
Por outro lado, o que o abstêmio deve PROCURAR? O abstêmio deve manter seu foco para fazer a coisa certa pelo motivo certo, superar o
estigma de ser um adicto, ter companheirismo, manter o anonimato, ter consciência de grupo, aprender a lidar com a vida como ela realmente é,
admitir que é impotente – bioquímica e psicologicamente – ao uso de drogas/álcool, entre outros. O abstêmio deve lembrar constantemente que a
adicção afeta a fisiologia do corpo, dos pensamentos e dos sentidos.
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TÉCNICA ABSTEMIOLÓGICA DO
EVITE E DO PROCURE
Antes de discutir qualquer tema relacionado à prevenção d recaída precisa-se conhecer, enfaticamente a TÉCNICA DO EVITE E
DO PROCURE:
EVITE PROCURE
Primero gole/dose Comparecer às reuniões dos grupos anônimos
Pessoas, hábitos e lugares da ativa Aplicar os princípios
Sentimentos de culpa, raiva e medo Espiritualidade
Orgulho exacerbado Honestidade, boa vontade e mente aberta
Manipulações Rebaixamento sadio da autoimportância1
Tomar o chá do “já tô bom” Aplicação correta das técnicas
Isolamento Assimilar e absorver muita informação
Sentir sede ou fome por longos períodos automotivação
Cansaço/esforço que gere exaustão
Partilhar e ouvir as partilhas dos outros
física/psicológica
Procrastinação Aumento da lucidez abstêmia
Autossuficiência Sobriedade e sanidade
Quadro: fundamentado no livro “Abstemiologia: primeiro tratado abstemiológico brasileiro”.
1
Agradecimento e créditos à José Plinio do Amaral Almeida.
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TÉCNICA ABSTEMIOLÓGICA DO
EVITE E DO PROCURE
Para demonstrar a relevância da técnica do evite e do procure, no 1º CENTRO
ABSTEMIOLÓGICO localizado na Rua Domingas Nicco, nº 264, Bairro Mossunguê,
Curitiba-PR, CEP 81200-280, Fone: (41) 99838-3024, existe o seguinte banner:
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1º CENTRO ABSTÊMIO
1º CENTRO ABSTEMIOLÓGICO localizado na Rua Domingas Nicco, nº 264, Bairro
Mossunguê, Curitiba-PR, CEP 81200-280, Fone: (41) 99838-3024
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1º CENTRO ABSTEMIOLÓGICO localizado na Rua Domingas Nicco, nº 264, Bairro
Mossunguê, Curitiba-PR, CEP 81200-280, Fone: (41) 99838-3024
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1º CENTRO ABSTÊMIO
1º CENTRO ABSTEMIOLÓGICO localizado na Rua Domingas Nicco, nº 264, Bairro
Mossunguê, Curitiba-PR, CEP 81200-280, Fone: (41) 99838-3024
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1º CENTRO ABSTÊMIO
1º CENTRO ABSTEMIOLÓGICO localizado na Rua Domingas Nicco, nº 264, Bairro
Mossunguê, Curitiba-PR, CEP 81200-280, Fone: (41) 99838-3024
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TÉCNICAS DO MODELO
ABSTEMIOLÓGICO
TÉCNICAS DO MODELO ABSTEMIOLÓLOGICO
PODEM/DEVEM SER UTILIZADAS TODAS AS TÉCNICAS DOS MODELOS ANTERIORES
PSIQUIATRIA
PSICOLOGIA
CONSCIENCIOLOGIA1
SOCIEDADE BRASILEIRA DE EUBIOSE2
GRUPOS ANÔNIMOS
CENTROS DE ABSTINÊNCIA ou CENTROS ABSTÊMIOS
TÉCNICA DO EVITE: PESSOAS, HÁBITOS E LUGARES DA ATIVA
TÉCNICA DOS EXAMES TOXICOLÓGICOS PERIÓDICOS
TÉCNICA DA PERPÉTUA E CONTÍNUA MANUTENÇÃO TERAPÊUTICA
TÉCNICA DA PREVISIBILIDADE DOS FATOS GERADORES DA FISSURA: Existe aqui uma pequena divisão da
previsibilidade já que é possível haver previsibilidade sobre determinados fatos comuns (previsibilidade objetiva) e a
previsão individual do abstêmio sobre fatos da sua própria vida (previsibilidade subjetiva).
TÉCNICA DA AUTOINDAGAÇÃO HONESTA E SINCERA: Tal técnica consiste em se autoperguntar se a atitude que
está sendo tomada – ou foi, ou irá ser tomada - condiz com quem deseja ficar em abstinência. A autoindagação resolve
uma série de problemas corriqueiros que aparecem no cotidiano do abstêmio. Porém, tal técnica deve ser utilizada
desde que a autopergunta e a autorresposta seja honestas e sinceras. Se o abstêmio tiver tendência à autossabotagem,
tal técnica pode resultar em tomada de decisão geradora de risco para fissuras ou, até mesmo, recaídas. A
autoindagação gera o autoaprendizado sobre si mesmo e isso é a base primordial para a formação da estrutura
abstemia.
TÉCNICA DA CRIATIVIDADE DO AMBIENTE PROTETIVO
Quadro: fundamentado no livro “Abstemiologia: primeiro tratado abstemiológico brasileiro”.
1
Para maiores informações: <http://www.iipc.org/as-ciencias/conscienciologia/>. Acesso em 18 março 2018.
2
Para maiores informações: <http://www.eubiose.org.br/site/br/>. Acesso em 18 março 2018.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
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TÉCNICAS DO MODELO
ABSTEMIOLÓGICO
TÉCNICAS DO MODELO ABSTEMIOLÓLOGICO
TÉCNICA DA DEFORMAÇÃO DA IDEOLOGIA ADICTA
TÉCNICA DO GUARDA-CHUVA OU ESCUDO: No início do processo de abstinência, o abstêmio deve se
abster de tomar decisões relevantes sobre sua própria vida. Decisões sobre divórcio, casamento, compras
vultosas, mudança de emprego ou início de relacionamentos afetivos não devem ser tomadas durante esse
período. Para isso, o recuperado pode nomear uma pessoa de sua confiança para decidir questões profissionais
ou pessoais. Essa pessoa terá a função de escudeiro ou guarda-chuva evitando com que informações
desagradáveis possam interferir no processo de abstinência já que podem desanimar – ou animar –
excessivamente o abstêmio.
TÉCNICA DA RECUPERAÇÃO GRADUAL DA AUTONOMIA: Essa técnica consiste em atribuir lenta e
gradualmente mais autonomia ao abstêmio de modo que, com o tempo, ele possa readquirir totalmente sua
independência. A retomada abrupta de todos os atos da vida pode gerar uma sensação de autossuficiência no
abstêmio que dificultará a evolução do seu processo de abstinência. Por outro lado, a recuperação gradual da
autonomia serve para que o abstêmio analise alguns aspectos pessoais e possa verificar se está em condição
de assumir certas responsabilidades ou, até mesmo, renegar certas atribuições para que possa permanecer em
abstinência.
TÉCNICA DA ANAMNESE DA RESPONSABILIDADE: Consiste na entrevista sincera com o terapeuta ou
padrinho expondo os fatos e defeitos de caráter que o levaram ao uso de drogas/álcool. Essa anamnese deve
ser periódica para evitar que se acumule “lixo emocional”. Ex.: reparações que já poderiam ter sido feitas e não
foram, análise de pequenas atitudes diárias que podem acabar gerando grandes problemas no futuro etc.
TÉCNICA DO BENEFÍCIO DA DÚVIDA: Se o abstêmio estiver em dúvida sobre como deve proceder, se não
sabe qual será o resultado de sua atitude, deve sempre tomar uma decisão direcionada a abstinência. Na
dúvida sobre como proceder, deve decidir no sentido da abstinência sempre. Prevenção é quando o abstêmio
sabe dos resultados de sua atitude. Precaução é quando o abstêmio não sabe qual será o resultado de suas
atitudes.
Quadro: fundamentado no livro “Abstemiologia: primeiro tratado abstemiológico brasileiro”.
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TÉCNICAS DO MODELO
ABSTEMIOLÓGICO
TÉCNICAS DO MODELO ABSTEMIOLÓLOGICO
TÉCNICA DA EXPOSIÇÃO ABSTÊMIA CRESCENTE: Em regra, o abstinente menor deverá ser colocado lentamente à
exposição de agentes estressores já que não poderá chocar-se diretamente com situação para as quais ainda não está
preparado. Essa preparação consiste em saber como deve reagir a algumas situações, por exemplo, como dizer “não”
para alguém que lhe ofereça álcool/drogas, como explicar que não pode ficar até mais tarde em alguma festividade
porque precisa tomar sua medicação ou por que está comparecendo a reuniões de grupos anônimos. Cuidado: a
exposição crescente se refere a agentes estressores e não se direciona a exposição crescente de contato com
drogas/álcool. A exposição ao contato com drogas/álcool deve ser no sentido inverso, ou seja, rapidamente decrescente.
TÉCNICA DO “QUERER FAZER ALGO” E “TER APTIDÃO PARA FAZER ALGO”
TÉCNICA DO PODE E DEVE
TÉCNICA DA “LIBERDADE DE” E DA “LIBERDADE PARA”1: A logoterapia proposta por Viktor Frankl apresenta um
critério muito prático e que pode ser usado no cotidiano do abstêmio. A liberdade exige responsabilidade. A adicção é
escravidão. A evolução no processo de abstinência exige o reconhecimento de limitações e um novo sentido de vida.
Então, embora a abstinência traga uma série de limitações aos abstêmios ela não retira toda a liberdade. Os abstêmios
perdem a “liberdade de”, mas adquire um rol de “liberdades para”. Vamos exemplificar para facilitar a compreensão: o
abstêmio não tem a “liberdade de” voltar a praticar atos da época da ativa, mas tem a “liberdade para” conhecer,
aprender e praticar novos atos saudáveis. O abstêmio se afasta, tanto quanto possível, da “liberdade de” e se aproxima
da “liberdade para”. Achar um novo objetivo de vida parece ser a nova meta a ser obtida na vida abstêmia. Por isso, ao
aplicar a técnica dos 12 (doze) passos, de forma muito coerente o 12º (décimo segundo) passo corresponde à prestação
de assistência aqueles que estão no início de sua caminhada rumo à abstinência. Um novo sentido de vida pode ser
obtido pelo abstêmio quando realiza sua autotranscedência e passa a ajudar outros companheiros. A logoterapia como
sendo a busca de sentido na vida é muito benvinda no universo abstêmio.
Quadro: fundamentado no livro “Abstemiologia: primeiro tratado abstemiológico brasileiro”.
1
Técnica apresentada pela logoterapia. Escola de Viktor Frankl.
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TÉCNICAS DO MODELO
ABSTEMIOLÓGICO
TÉCNICAS DO MODELO ABSTEMIOLÓLOGICO
TÉCNICA DOS BILHETES DE LUCIDEZ : Essa técnica consiste na prévia elaboração de pequenos bilhetes que serão lidos
periodicamente pelo abstêmio para que ele mantenha sua evolução consciencial e reposicione seu foco abstêmio. A lucidez é
royalty da abstinência e a elaboração de bilhetes para lembrar isso é muito relevante e prática.
TÉCNICA DO “SÓ POR HOJE” E SEU REDUCIONISMO: A expressão “só por hoje” sintetiza uma tríplice característica já que pode ser
entendida como sendo PRINCÍPIO, TÉCNICA e EFEITO. Aqui, o que interessa é a técnica do “só por hoje” e que consiste em ficar abstêmio
apenas hoje. Um dia de cada vez. Essa técnica pode ser reduzida (REDUCIONISMO) para períodos menores, tais como: “só por essa manhã”,
“só por essa tarde”, “só por essa noite”, “só por essa hora” ou “só por esse minuto”. O raciocínio é sempre o mesmo: ficar abstêmio por algum
período de tempo referente ao “dia de hoje”. Esse raciocínio faz com que seja possível levar a vida um dia de cada vez. Destaque-se, apenas,
o fato de que quanto menor for o período que o abstêmio está precisando para se manter abstêmio, mais em risco estará seu processo
abstêmio. Por exemplo, o abstêmio que diz “só por esse minuto não vou usar drogas/álcool” está, provavelmente, com muito mais dificuldade
de manter a abstinência do que aquele que diz “só por esse dia não usarei drogas/álcool”. Então, se o período de comprometimento para ficar
abstêmio for muito diminuto, talvez seja necessária a aplicação simultânea de outra técnica. Por fim, sinalizo que a técnica do “só por hoje” se
baseia no autocomprometimento do abstêmio com seu caminho de abstinência.
TÉCNICA DA REEDUCAÇÃO FÍSICA: O abstêmio, em geral, pratica esportes físicos de forma saudável. Isso é bom, inclusive,
para recuperar o corpo desgastado pelo uso prolongado de drogas/álcool. Essa técnica ajuda com que o abstêmio conheça novos
hábitos, pessoas e lugares. Sem dúvida, a prática de esportes é um excelente mecanismo de autoajuda. Entretanto, cabe destacar
que no início do processo abstêmio a pessoa não pode se submeter a cansaço físico excessivo já que isso a fará pensar em “algo”
que lhe dê energia, ou seja, em usar drogas/álcool. Muita atenção: o esforço físico em excesso pode ser, inclusive, fonte de
fissuras desencadeadas pelo gatilho “fadiga”. O abstêmio menor está mais sujeito a esses gatilhos porque é quem está mais
próximo, cronologicamente, ao processo de adicção. A prática reiterada de atividades físicas poderá ser mais intensa quanto maior
for o período de abstinência. Por outro lado, quanto menor for o período abstêmio mais moderada deverá ser a atividade física. Na
realidade, o abstêmio não precisa ser atleta, mas deve ser reeducado fisicamente. Por isso, a técnica é de educação física e o
abstêmio não precisa ser atleta, competidor ou ginasta.
TÉCNICA DO BINÔMIO INICIATIVA E ACABATIVA1, 2
Quadro: fundamentado no livro “Abstemiologia: primeiro tratado abstemiológico brasileiro”.
1
Termo desenvolvido pela Conscienciologia no verbete “Acabativa falha”.
2
Informação disponível em: <http://www.tertuliaconscienciologia.org/index2.php?option=com_docman&task=doc_view&gid=1755&Itemid=3 >. Acesso em 17 março 2018.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
26/09/2018 118
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TÉCNICAS DO MODELO
ABSTEMIOLÓGICO
TÉCNICAS DO MODELO ABSTEMIOLÓLOGICO
TÉCNICA DO BINÔMIO NECESSÁRIO E SUPÉRFLUO
TÉCNICA DA PONDERAÇÃO ABSTÊMIA
TÉCNICA DA AUTOCONTENÇÃO
TÉCNICA DA DIFERENÇA ENTRE O BEM E O BOM
TÉCNICA DA LISTA DE GRATIDÃO E DA CARTA DE GRATIDÃO: São técnicas muito semelhantes, mas possuem
pequena distinção. Na lista de gratidão o abstêmio faz uma relação de tudo que conseguiu obter durante a jornada abstêmia –
recuperação da dignidade, melhoras cognitivas, espirituais e materiais – e fica com essa lista para reler sempre que for
necessário. Entretanto, na carta de gratidão, o abstêmio fará duas listas: a primeira, corresponde àquilo que o abstêmio
conseguiu durante sua abstinência; a segunda, será relativa a tudo o que ele perdeu durante sua adicção. Em seguida, o
abstêmio lê essa carta de gratidão para as pessoas a quem cabe o agradecimento pela ajuda e dedicação durante todo o
processo de superação da adicção. Em suma, a lista de gratidão é algo pessoal e diz respeito às vitórias conquistadas pelo
abstêmio, porém a carta de gratidão será lida para terceiros e se refere aos sucessos e fracasso que o abstêmio teve durante
sua jornada de vida. Por óbvio, a lista de gratidão é muito mais objetiva e direta, enquanto a carta de gratidão é algo muito
mais emotivo e depende da participação de outras pessoas.
TÉCNICA DOS COMBINADOS
TÉCNICA DA ARQUITETURA DE NEUTRALIDADE: Podemos observar que os abstêmios, em geral, possuem certa
neutralidade em alguns momentos da vida. Ser neutro, nesse caso, significa que internamente o abstêmio evita “grandes
emoções”, sobretudo quando estiver nas fases iniciais do processo abstêmio. “Ser neutro” não significa “ser passivo”, mas é
permanecer paciente e tolerante consigo e com os outros. É comum ouvir de pós-abstêmios a máxima de que: “para manter a
abstinência a pessoa precisa ficar em 50 (cinquenta), não pode atingir 51 (cinquenta e um) e nem cair ao 49 (quarenta e
nove)”.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
26/09/2018 119
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TÉCNICAS DO MODELO
ABSTEMIOLÓGICO
TÉCNICA DA TANGÊNCIA
Consiste no pequeno contato do abstêmio com o universo adicto, desde que por pouco tempo.
Explico. O abstêmio pode ter pequeno contatos com adictos, por exemplo, quando participa de
reuniões de grupo de ajuda mútua ou quando precisa comparecer a algum happy hour com
amigos do trabalho. Nesses casos, o abstêmio ficará o tempo que for necessário para fazer suas
explicações (primeiro caso) ou marcar sua presença (segundo caso) e se retira rapidamente do
local. Dessa forma, haverá uma breve quebra da técnica de evitar pessoa hábitos e lugares, mas
por outro lado, será aplicada a técnica da tangência. Destaque-se que esses contatos são
necessários para a vida em sociedade, mas devem ser breves e esporádicos. Só para registro,
também é possível que o abstêmio compareça nesses locais com seu “padrinho” porque estará se
utilizando de outra técnica que consiste em sair com uma pessoa “protetiva”.
PÉRICLES ZIEMMERMANN
26/09/2018 120
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TÉCNICAS DO MODELO
ABSTEMIOLÓGICO
MÉTODO DE APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS VIA SHOT GUN (OBSTINAÇÃO TERAPÊUTICA)
Na abstinência pode ser aplicada uma técnica mais restritiva ou conservadora para solucionar uma pequena crise ou um problema menor.
É um disparo enorme para resolver – matar ou acabar – um problema pequeno. Como dito antes, quando analisado os agentes extintores
que atuam sobre os agentes estressores, é possível à utilização de técnica mais restritiva para solucionar uma pequena crise. Por exemplo,
em um caso real, após assistir a algum filme onde tenha cena de pessoas utilizando álcool/drogas a pessoa ficou com fissura e pediu um
internamento preventivo passando cerca de uma semana internada. Esse internamento ocorreu antes de qualquer uso de drogas/álcool e, a
própria pessoa, de forma voluntária e consciente pediu para ser internada já que o filme “mexeu” muito com ela. É que, quando analisarmos
o fato em si, não temos a possibilidade de medir os efeitos que foram causados na mente do indivíduo e se ele optar por uma técnica muito
severa para combater um problema aparentemente pequeno é porque talvez existam outros fatores que não foram mencionados nem
contabilizados na equação. O contrário disso é que pode ser perigoso, por exemplo, ao aplicar uma técnica pouco restritiva ou severa para
uma crise muito profunda. Aqui, ao utilizar uma das diversas técnicas existentes, o abstêmio a aplica com o método shot gun para sinalizar
seu compromisso com a abstinência e demonstrar seu autoconhecimento. Um exemplo muito comum de aplicação de técnica via shot gun
pode ser visto quando temos os membros do A.A. ou N.A. que participam ativamente da instituição desde que iniciaram seu caminho
abstêmio, há 20 (vinte) ou 30 (trinta) anos atrás. Pela doutrina do A.A. ou N.A. a pessoa deveria participar de, pelo menos, 90 (noventa)
reuniões ininterruptas, mas esses membros estão participando de reuniões há décadas. É um excelente modelo de aplicação de técnica via
shot gun.
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MÁXIMAS aplicáveis à prevenção de recaída ou raciocínio crítico sobre recaídas. Essas
máximas correspondem a uma parte da abstemiologia relacionada à prevenção de recaída. São
também denominadas de CLÁUSULAS PÉTREAS ABSTÊMIAS:
(1) Só por hoje;
(2) Evite o primeiro gole/dose;
(3) Insanidade é fazer as mesmas coisas
(21) não refletir sobre o erro é pior que errar;
(22) não teste seus limites, não se exponha
excessivamente;
(23) nunca se esqueça da estrutura
(44) evite pessoas, hábitos e lugares da ativa;
(45) faça por si o que você pode, mesmo que
seja pouco
(46) Existe recaída sem reintoxicação física.
esperando resultados diferentes; bioquímica permanente da adicção; Ex. recaída emocional.
(4) Serenidade para aceitar o que não pode (24) aprenda a dizer “NÃO”; (47) Existe reintoxicação física sem recaída.
ser modificado, coragem para mudar o que Ex.: tratamento médico urgente (cirurgia),
pode ser mudado e sabedoria para (25) seja honesto e sincero “consigo mesmo”;
(26) faça uma reforma interna; vítima de crime (“boa noite cinderela”).
distinguir uma das outras;
(27) o oposto de dependência, não é (48) Atualmente, se entende que a fissura
(5) Não precisa beber para pedir ajuda; NÃO faz parte do processo de recaída,
(6) Primeiro “as primeiras coisas”; independência, mas é LIBERDADE; sendo fenômeno independente.
(7) Se a doença é progressiva, a recuperação (28) seja responsável pelos seus atos; (49) Existe reintoxicação física sem fissura.
também deve ser progressiva; (29) aumente a sua tolerância, seja paciente; Ex.: o abstêmio simplesmente usa
(8) Não importa “o porquê isso aconteceu”, (30) cuidado com os pensamentos negativos; drogas/álcool sem sentir nenhuma vontade
mas o que interessa é o “para que isso (31) adicção só tem autocura; de usar e, alguns casos, até mesmo contra
aconteceu”; (32) descubra sua espiritualidade; sua própria vontade. O que nos faz pensar
(9) a pessoa que “eu era” usava, então a que existe um enorme índice de
(33) previna-se da euforia excessiva; reintoxicações físicas (processo de recaída
pessoa que “eu era” voltará a usar;
(34) não crie grandes expectativas; completo) por força do HÁBITO de usar
(10) amplie o seu repertório, suas drogas/álcool adquirido durante o longo
informações e seu conhecimento; (35) lembre-se que o orgulho obscurece a
razão; período de drogadição.
(11) não banalize o autodiagnóstico; (50) SAKIYAMA (p.14, 2012): “Fissuras e
(36) transforme seu infortúnio em sua
(12) vá, mas vá com calma; felicidade; compulsões fazem parte do processo de
(13) se você tem dúvida sobre se é, ou não é, (37) tenha sempre acabativa nos seus atos já recuperação e não com o fracasso ou
adicto, então você é; que, para o abstêmio, terminar é mais ineficiência do tratamento.”
(14) supere os minifracassos; importante que começar; Fundamentos de grupos anônimos nos itens
(1), (2), (3), (6) e (12).
(15) seja grato; (38) aumente sua racionalidade e lucidez Conceito popular de insanidade.
(16) deixe a autopiedade de lado; diante dos fatos da vida; Oração da serenidade ou “oração dos
(17) seja autodisciplinado; (39) a ingenuidade te joga no buraco; desesperados”.
(18) altere seus conceitos (oscilação (40) adicção é autoprisão; Agradecimentos ao consultor em dependência
conceitual e flexibilização); (41) faça um rebaixamento sadio da Paulo César Rodrigues pelos itens (5), (9) e (27).
(19) sempre se recorde do centro de todos os sensação de autovalorização; Agradecimentos ao terapeuta José Plínio do
Amaral Almeida pelos itens (10), (11), (18), (31) e
seus problemas; (42) os princípios devem estar acima da (41).
(20) mude suas companhias evolutivas; personalidade; Ideia desenvolvida pela Conscienciologia.
(43) conserte a si mesmo e não os outros;
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Referências
ALMEIDA, José Plínio do Amaral. Diversos textos esparsos produzidos por este autor, bem como seminários e vídeos foram compilados para que
fosse possível elaborar todo esse documento. Todos agradecimentos e créditos ao autor e amigo.
ÁLVAREZ, Armando M. Alonso. Fatores de risco que favorecem a recaída no alcoolismo. J Bras Psiquiatr. 2007; 56: 188-93.
COMORBIDADE. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2015. Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Comorbidade&oldid=43880762>. Acesso em: 11 set. 2018.
DIEHL, Alessandra. et al. Dependência química [recurso eletrônico] : prevenção, tratamento e políticas públicas. Porto Alegre : Artmed, 2011.
LARANJEIRA, Ronaldo. et al. Consenso sobre a Síndrome de Abstinência do Álcool (SAA) e o seu tratamento. Rev. Bras. Psiquiatr., São Paulo ,
v. 22, n. 2, p. 62-71, June 2000. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462000000200006>. Acesso em 13
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Referências
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Universidade/UFRGS, 2000.
PETRIBÚ, K. Comorbidade em transtorno obsessivo-compulsivo [dissertação]. Recife: Universidade Federal de Pernambuco; 1996.
______. Comorbidade no transtorno obsessivo-compulsivo. Rev. Bras. Psiquiatr., São Paulo , v. 23, supl. 2, p. 17-20, Oct. 2001 . Disponível
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462001000600006&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 11 set. 2018.
SAKIYAMA, Helena Miyaco Takeyama. Programa de prevenção de recaída e treinamento de habilidades sociais. Disponível em:
<https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&cad=rja&uact=8&ved=2ahUKEwi0xezutr_dAhUBkJAKHQtBaEQFjAAegQIABAC&url=https%3A%2F
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TRIGO, Miguel. Terapia para a prevenção da recaída na dependência de substâncias: Os modelos de Alan Marlatt e de Terence Gorski.
Aplicações à nicotina-dependência. Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, [S.l.], v. 22, n. 3, p. 299-328, maio 2006. ISSN 2182-5173.
Disponível em: <http://www.rpmgf.pt/ojs/index.php/rpmgf/article/view/10244/9980>. Acesso em: 16 set. 2018.
ZIEMMERMANN, Péricles. Abstemiologia: primeiro tratado abstemiológico brasileiro. Curitiba/PR: Edição do autor, 2018.
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AGENDA PARA PREVENÇÃO DE RECAÍDA
AGENDA PROTETIVA
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