Um Novo Começo - Josiane Veiga

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Um Novo

Começo
UM NOVO COMEÇO
ELE FOI ABANDONADO COM UM FILHO NOS BRAÇOS. ENTÃO ELA APARECEU PARA PROVAR
QUE O AMOR AINDA EXISTIA...

JOSIANE VEIGA

1ª Edição

2020
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser

reproduzida ou transmitida por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo


fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
autorização escrita da autora.

Esta é uma obra de ficção. Os fatos aqui narrados são produto da imaginação.
Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real deve ser
considerado mera coincidência.

Título:

Um Novo Começo

Romance

ISBN – 9798676788018

Texto Copyright © 2020 por Josiane Biancon da Veiga


Sinopse:

***** ATENÇÃO: NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 18 ANOS *****

Toda mulher gosta de um badboy.

Talvez por isso Noah não tinha sorte no amor. Apesar de ser um cara
estruturado, com uma boa aparência e gentil com as pessoas, ele não dava
sorte em relacionamentos.

E agora, aos trinta e poucos anos, abandonado com um filho nos


braços, ele não sentia vontade de recomeçar.

Contudo, quando Clarissa se tornou a babá de seu garotinho, ele


percebeu que a vida podia trazer grandes surpresas.

Eles eram duas almas amarguradas, com passados doentios e com


medo de seguir em frente. Mas, o amor era um sentimento difícil de afastar.
Sumário
Sinopse:
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
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Capítulo 1
Noah

Eu estava com dor de cabeça. Era algo comum quando se vive no


inverno, em Esperança. O vento minuano que soprava com força do sul,
trazendo o gelado do atlântico, parecia ainda mais intenso naqueles dias frios
e curtos, comuns em julho.

Apesar da janela fechada, minha cabeça podia sentir o ar que se


formava no lado externo do escritório. Suspirei, observando a imagem que na
minha janela parecia cada vez mais nublada, pensando no comprimido de
aspirina que descansava na gaveta.

Esperança era uma cidade pacata, parada, quase se arrastando no


tempo. Adiante, na rua principal perto da fábrica, alguns carros mais novos
cruzavam por veículos dos anos sessenta, como se o passado se recusasse a ir
embora.

O passado sempre parecia voltar àquele pedaço de terra.

Volvi meu corpo para o notebook. Na tela, planilhas de Excel


desenhavam o montante do lucro que a fábrica havia dado naquele mês.

Desde que se casou, Manuel Fontes estava mais preocupado em


cultivar sua família que gerar renda através da fábrica. Foi assim que me
tornei o maior acionista. Porque, ao contrário dele, eu não tinha uma bela
esposa em casa me aguardando.

Desliguei meu note e fiquei sentado no silêncio do meu escritório por


alguns segundos. Estava ficando tarde, mas não tinha nenhuma motivação
real para sair. Havia trabalho que ainda precisava ser feito, mas eu tinha que
chegar em casa em breve para aliviar a babá de seus deveres com Miguel,
meu filho de quatro anos. Ele já estaria na cama, porque a babá sempre o
colocava para dormir após o banho. Mesmo assim, queria vê-lo antes de eu
mesmo ir me deitar.

Eu gostaria de ter mais tempo para passar com ele, mas os negócios
não paravam, e consequentemente eu também não. Sentia real necessidade
ficar por dentro das coisas, senão tudo poderia desmoronar. Poderia estar
sendo excessivamente dramático sobre isso, mas não conseguia renunciar à
segurança que o dinheiro podia dar.

O dinheiro era meu alicerce.

Quando você cresce numa família desestruturada, e depois disso forma


uma família igualmente disfuncional, você precisa se apegar a algo. Eu me
apeguei ao poder.

Além disso, adoro trabalhar. Sempre gostei. Esse sentimento de


realização, de vitória num mundo tão difícil, é algo único.

Suspirei e me levantei para deixar o escritório. Tinha sido um dia


bastante produtivo. Comecei na Fábrica de cigarros há cerca de dez anos,
quando ainda era estudante universitário. Aconteceu tão rápido, um caminho
que começou no escritório de contabilidade e foi subindo até que eu, agora
com trinta e dois anos, me tornara o presidente dessa empresa tão grande.

E isso era a realização de um sonho.

Tomei um gole de uísque e fiquei lá no meu escritório, olhando pela


janela do prédio. A cidade abaixo parecia tão morta, mas eu me perguntava o
que os habitantes estariam fazendo naquela noite.

Companhia era algo espetacular. Eu gostaria de ter alguém comigo


para aproveitar esses dias.
Ah, odiava admitir isso, mas estava sozinho a maior parte do tempo.
Realmente me ocorreu tarde da noite, quando todo mundo tinha ido para casa
e era só eu trabalhando no escritório, o quanto eu era isolado. Gosto da paz e
da serenidade, mas às vezes desejava ter outra pessoa para compartilhar a
vida.

Eu não namorava há um ano, talvez um pouco mais. E a maioria dos


encontros que havia tido foram frustrantes tentativas de encontrar a pessoa
certa. Isso geralmente me deixa um pouco deprimido. Eu queria a conexão,
um amor na minha vida, mas não estava acontecendo. Suponho que poderia
ter trabalhado mais nisso, mas estava muito ocupado com os negócios e
tentando ser o melhor pai que poderia.

Terminei o uísque e deixei o escritório para passar a noite. O elevador


me levou até a garagem do andar térreo e caminhei até o meu carro
apreciando a maneira como meus passos ecoavam na garagem vazia.

Entrei no carro e liguei o motor. Saí da garagem e entrei na rua no


centro Esperança. Era uma noite típica, vazia e gelada. Eu sempre pensei em
sair dessa cidade. Estava muito afogado em seu clima para conseguir pensar
direito, mas algo em Esperança sempre me inclinou a ir embora. Todavia, era
muito ocupado para seguir adiante com esses planos, e esse era o lugar em
que passei toda a minha vida.

Eu já viajei o mundo e descobri muitos outros lugares que eu mais


gostava. Passei anos em Porto Alegre estudando e tinha uma casa lá. Mas,
por algum motivo, eu sempre retornava a Esperança.

Ainda era cedo o suficiente para que eu não tivesse que estar em casa
imediatamente. Eu poderia pagar a babá um extra por um atraso e ela ficaria
feliz porque sei que estava precisando de dinheiro. Meu menininho estava
dormindo a essa altura e eram apenas oito horas.

Eu precisava fazer algo antes de voltar para casa. Isso se tornou um


ritual para mim, uma maneira de relaxar à noite. Descobri que, quando não
fazia isso, andava em casa até tarde da noite, incapaz de dormir. Esse
pequeno ritual me manteria no chão o suficiente para me acalmar o suficiente
para dormir naquela noite.

Parei no estacionamento da cafeteria de Esperança, um lugar que


frequentava várias noites por semana. Não havia nada de inerentemente
especial nesse ambiente, e eu preferia beber sozinho em casa. Eu não era de
beber socialmente. Eu realmente não entendia esse aspecto da vida. Parecia
um desperdício de dinheiro, mesmo que eu tivesse reservas polpudas.

Não, a verdadeira razão pela qual parei neste local foi por causa de
Clarissa Rebelo, uma das novas garçonetes do lugar, contratada por Noeli
para substituir Helena (a garçonete mais famosa daquele lugar se casou com
um dos advogados Gatti), que estava na segunda gravidez. Helena ainda
trabalhava, mas como o movimento era sempre intenso, Clarissa acabou
ficando permanente.

Ah, e Clarissa era linda, doce, divertida e sensual. Eu a conheci cerca


de três meses quando decidi parar para tomar um café. Começamos a
conversar e meio que nos demos bem. Desde então, fiz questão de parar pelo
menos duas ou três vezes por semana para conversar com ela.

No entanto, eu não tinha encontrado coragem dentro de mim para


convidá-la para sair. Eu queria, claro, e pensei que ela poderia estar
interessada, mas não tinha certeza de que era a hora certa.

A realidade era que eu ainda estava tão ferido... A mãe de Miguel,


Tânia, havia destruído minha sanidade.
Tânia e eu estávamos juntos há alguns anos quando descobri que ela
estava me traindo. Eu tinha minhas suspeitas por causa de uma mensagem de
texto que encontrei no celular dela enquanto ela estava no chuveiro. Eu entrei
no banheiro para pegar alguma coisa e o telefone dela tocou. Por instinto,
apenas olhei para o aparelho e peguei um flash rápido de uma mensagem que
apareceu em sua tela.

Eu não tinha certeza do que fazer, mas quando comecei a observar


mais de perto, notei Tânia se afastando das rotinas normais e, por isso, a
segui por algumas semanas e logo tinha fotografias incriminatórias que
provavam minhas suspeitas.

Eu mostrei as evidências e ela ainda tentou mentir. Eu a expulsei e ela


tentou retornar à minha vida, causando um verdadeiro inferno desde então.
Contudo, Tânia estava fora dos meus planos. E ela ficaria assim.

Eu era o tipo de cara que não trai. Se eu não sou desleal, não aceito
deslealdade comigo.

Desde então, meu coração estava tão protegido, tão bem abrigado, que
tive medo de confiar novamente. Eu pensei que o que Tânia e eu tínhamos
era real, mas acabou que não era o que eu pensava que era. Você pode passar
anos ao lado de alguém sem realmente saber o que se passa no coração dessa
pessoa.

Mesmo assim, quando eu olhava para Clarissa... Ah... ela era incrível.

Eu deslizei no meu lugar de sempre na cafeteria e esperei Clarissa


perceber que eu estava lá. O local não estava muito ocupado. Era quarta-feira
e esse dia costumava ser bastante morto.

Clarissa terminou de atender outro cliente e olhou para o lado para me


notar naquele momento. Seus lindos olhos verdes se fixaram nos meus e ela
sorriu amplamente. Então ela fez o seu caminho com passos rápidos.

Ela usava uma blusa clara com o emblema da cafeteria por cima de um
jeans apertado. Esse era o traje habitual dela.

— Olá — Clarissa disse enquanto se inclinava sobre a mesa na minha


frente, para passar um pano. Eu tive que lutar contra a tentação de olhar para
o decote dela.

Por que eu não podia simplesmente convidá-la para sair? Isso estava se
tornando estúpido. Eu nunca tive um problema em convidar uma mulher para
sair, mas desde a coisa com Tânia, eu não conseguia me permitir sair com
qualquer mulher com quem eu sentisse algum tipo de conexão real. E até
agora, a única mulher que se candidatara a essa conexão era Clarissa. Foi
algo que senti no momento em que a conheci. Havia essa vinculação que eu
não conseguia explicar, desde o começo. E, a julgar pela maneira como ela
interagiu comigo, ela também sentiu.

— Olá, tudo bem?

— Tudo sim. — disse ela. — Um pouco melhor agora. Finalmente


tenho alguém legal para conversar.

— Aposto que você diz isso a todos os caras — eu disse.

— Vai me culpar? Eu preciso das gorjetas — ela deu uma piscadela


que fez meu coração saltar. — Ei, presidente — ela sempre me chamava
assim e eu achava engraçado como uma garota gentil de uma cafeteria podia
entonar a voz daquele jeito alegre. — Te contei que me convidaram para
cantar numa banda?

— Uma banda?

— Eu tenho uma ótima voz — ela apontou. — E seria mais um


dinheiro entrando.

Eu não sabia nada da vida de Clarissa além do que ela contava de


forma esporádica. Eu me perguntava como era sua vida financeira? Era tão
difícil quanto havia sido a minha?

— Você parece tão cansado — ela apontou diante do meu silêncio. —


Aposto que você está no escritório desde as seis da manhã, não é?

— Como você adivinhou?

— Porque eu percebo pela maneira como suas olheiras ficam mais


escuras.

Ela reparava assim em mim? Por algum motivo, fiquei feliz.

— O que você vai beber hoje à noite? O de sempre?

Era uma cafeteria, mas também serviam bebidas alcoólicas. Mesmo


numa variação de garrafas na estante, fiquei com o básico.

— Sim.

Ela pegou uma cerveja e colocou na mesa na minha frente. Peguei a


garrafa e tomei um gole. O sabor era refrescante. Parecia que o dia inteiro
havia levado a esse ponto e eu já estava sentindo o relaxamento da grande
companhia e uma bebida maravilhosa, aliviando o estresse da mente e do
corpo.

— Você precisa sair mais e se divertir — disse Clarissa. — Eu posso


dizer que você está muito estressado.

— Oh, eu me divirto — eu disse. — Meu trabalho é minha diversão.

Eu percebi como isso soou no momento em que eu disse.


— Não foi isso que eu quis dizer, presidente — ela respondeu.

Eu não tinha certeza se ela estava sugerindo algo para mim, assim eu
deveria aproveitar esse momento para finalmente convidá-la para sair, ou o
quê? Mas eu não mordi a isca. Esse bloqueio mental ainda estava lá. Eu teria
que esperar até me sentir bem.

Claro, poderia ter chamado ela para sair. Esse não era realmente o
problema. Mas eu teria sentido esse sentimento doentio e medroso sobre se
estava ou não pronto para seguir em frente ou se apenas estaria
desperdiçando nosso tempo.

— Eu sei — disse, depois de um breve silêncio. — Eu vou ter que


trabalhar nisso. — Busquei desesperadamente mudar o assunto. — Então, eu
não sabia que você cantava.

— E toco violão — ela contou. — Mas, fiquei um tempo sem tocar


então... estou voltando recentemente. E agora que estou tocando, fico me
perguntando por que abandonei a música. Não é interessante como podemos
nos apaixonar por algo que achamos que é só uma fase?

— Eu adoraria ouvir você tocar algum dia.

— Bem, quando você quiser. — Seus olhos flertaram comigo


enquanto ela sorria.

Eu adorava ver essa mulher sorrir. Ela tinha aquele sorriso especial que
poderia derreter até o coração mais frio. E isso tomou conta do meu coração.

— Olhe que eu vou aceitar... — eu disse, devolvendo o sorriso.

Um cliente a sinalizou para um café e ela foi cuidar dele por um


momento. Eu a observei trabalhar, olhando para o corpo curvilíneo se
movendo para trás e para frente naqueles jeans justo que se agarravam
lindamente à sua bunda. Porra, ela era uma mulher bonita.

Dei um longo gole na minha cerveja, terminando. Eu segurei a garrafa


quando Clarissa voltou e ela me trouxe outra cerveja. Ela se inclinou contra o
balcão novamente e seus olhos fixaram em mim. Eu senti o cheiro de seu
perfume e ele começou a me deixar ferino quando entrou em minhas narinas.
Suspirei enquanto pensava em me inclinar e beijá-la. Como ela reagiria? Ela
me beijaria de volta?

De onde eu tirava essas ideias. Aquela garota estava trabalhando e


flertar comigo era parte do que ela fazia para ganhar mais gorjetas.

— Então, como está a situação do namoro? — Clarissa me perguntou.

Eu ri. Algumas semanas antes eu lhe contara sobre a dificuldade que eu


tinha em encontrar alguém depois da decepção que passei com a mãe do meu
filho.

— Por que você quer saber sobre esse assunto chato?

— Porque eu estou curiosa — disse ela.

— Sério? Você está começando a ser contaminada pelo espírito de


fofoca de Esperança? Ou você está perguntando por que quer saber se
continuo solteiro? — Pisquei, rindo do flerte bobo.

— Talvez eu queira saber se continua solteiro. — Os olhos dela


brilharam para mim.

— Isso seria interessante, mas acho que você é muito mulher para meu
caminhãozinho.

— Nisso você tem razão.

Bebi um novo gole. Respirei fundo.


— O que eu posso dizer? Não sou o cara mais sortudo no mundo
quando o negócio é romance. Você sabia que eu já chamei Tatiana — apontei
para outra garçonete loira que servia uma mesa afastada — para sair? Levei
um fora tremendo. Nem fazia ideia de que ela estava namorando Bruno Gatti.
Quero dizer, eu já convidei várias garotas da cidade para um jantar..., mas, eu
não sou o tipo de cara que chama a atenção. Sou comum demais.

— Isso não é verdade. Você é bonito e rico. E é inteligente, e tem bom


papo. Qualquer mulher adoraria passear pelas ruas de Esperança de braços
dados contigo.

Ela se inclinou um pouco mais perto enquanto dizia isso. Eu sabia que
a atração estava lá. Nós dois podemos sentir isso. Mas não era o momento
certo para mim. Meu cerne gritava que estava errado, enquanto minha mente
me avisava que não daria certo se eu tentasse algo com ela, agora.

— Obrigado. Talvez um dia eu tenha sorte, mas agora não está nos
meus planos.

Conversamos um pouco mais e depois eu encerrei a noite e voltei para


casa. Senti uma sensação de aperto no estômago ao fazê-lo. Eu queria tanto
contar a Clarissa como me sentia sobre ela, mas havia esse sentimento
incômodo dentro de mim que me dizia o quão errado era o momento. Eu teria
que lidar com isso por enquanto, pelo menos até que o tempo acabasse e eu
pudesse me libertar desse grilhão em que me encontrei.

Mas eu não conseguia parar de pensar nisso. Eu não conseguia parar de


pensar em Clarissa. Ela era tudo o que eu sempre quis em uma mulher e eu
tinha a sensação de que ela nunca seria do tipo que trairia seu homem. Mas,
novamente, eu tinha pensado o mesmo sobre Tânia. Claramente, eu era um
péssimo juiz de caráter, pois permitira que isso acontecesse debaixo do meu
nariz.

Todos em Esperança me chamaram de corno manso. Foi um momento


difícil e eu superei por amor ao meu filho, porque até em suicídio pensei.

Quando um homem é traído, ele se torna assunto de deboche. Quando


o presidente da maior empresa da cidade é traído, o sentimento de escárnio é
ainda maior.

Talvez eu nunca conseguisse confiar em alguém novamente.

Talvez nenhum risco valesse a pena.

A paz, provavelmente, era tudo que eu precisasse.


Capítulo 2
Clarissa

Eu assisti Noah sair do bar com uma sensação de afundamento no meu


coração.

Deslizei um pano no balcão limpando a mancha úmida que sua cerveja


deixou na mesa.

Noah era um cara legal.

Era seguro dizer que eu tinha uma queda enorme por ele desde que o
conheci. Ele era bonito, suave, carismático e muito sensual. Além disso, o
fato de ele ser um homem trabalhador e bem-sucedido parecia coroar aquela
perfeição. E ele tinha aquela atmosfera... Um homem genuinamente bom. Eu
sabia. Claro, Noah tinha uma reputação de tigre nos negócios, mas era visível
que ele também tinha um grande coração. Ele amava seu filho e trabalhava
duro para manter a Fábrica. Eu o respeitava muito.

E sabia que ele tinha uma atração por mim. Era óbvio, mas por algum
motivo ele não me convidava para sair. Eu tinha pensado em convidá-lo
algumas vezes, mas me continha. Não era que eu tivesse medo de ser
recusada, mas sabia que ele provavelmente diria não. E mesmo que ele
dissesse sim, sabia que ele não estava pronto para namorar alguém
seriamente.

E eu certamente não estava procurando nada casual.

Não era esse tipo de garota.

Terminei de recolher as xícaras de uma das mesas enquanto meditava


sobre aquele homem.
Podia ver o quanto seu coração estava machucado. Ele não falou muito
sobre isso, apenas que havia tido um desagradável rompimento.

Finais difíceis sempre deixavam lacunas. Eu também sabia disso.

Terminei meu turno e, depois de limpar e arrumar tudo, fui para casa.
Liguei o rádio alto quando entrei no carro e me perdi rapidamente em Ed
Sheeran. Depois de paquerar e trocar piadas com clientes a noite toda, só
queria distância das pessoas. Eu estava pronta para relaxar no sofá com uma
cerveja gelada e assistir a algo na televisão. A Amazon Prime havia colocado
em seu catálogo The Office e eu precisava de um pouco de Michel Scott para
alegrar minha vida.

Eu morava num complexo de apartamentos do Minha Casa Minha


Vida e ainda estava pagando prestações. Um dos principais motivos de eu
paquerar com todos os homens era exatamente porque as gorjetas ajudavam a
manter as prestações em dia. Você perde um pouco do senso de moralidade
quando precisa pagar a prestação do seu apartamento, água, luz, gás, boletos,
etc.

Quando cheguei no condomínio, o estacionamento estava escuro,


graças ao poste que não tinha sua lâmpada trocada há mais de dois meses,
apesar das minhas ligações para a central de energia elétrica. Estava ansiosa
pelas eleições porque sabia que o atual prefeito seria chutado da sua cadeira.

Suspirei enquanto deixava meu celta e andava em direção a porta do


prédio. Toda mulher entende o sentimento que nos apetece quando estamos
andando sozinhas no escuro. Eu sempre estava convencida de que um dia
algum estuprador sairia das sombras e me atacaria.

Esse medo que me perseguia me fez comprar um tubo de spray de


pimenta no mercado livre, e eu o mantinha na bolsa. Eu gostaria de ter uma
arma, mas no Brasil as coisas eram tão difíceis.

Naquele instante, o pensamento voltou a Noah. Eu realmente gostava


dele. Queria tanto que ele me pegasse, me puxasse através da cafeteria e
seguisse meu caminho comigo. Queria que ele fosse o homem a me proteger
na escuridão. Fantasiei sobre isso várias vezes, com bastante regularidade. E
isso até levou à fantasia masturbatória mais do que o ocasional. Eu me
perguntei se ele tinha algum desses tipos de fantasias sobre mim.

Estava chegando perto da porta quando meu pior medo se tornou


realidade e vi uma figura grande saindo das sombras. Eu tropecei para trás e
cheguei a minha bolsa para pegar o spray, se necessário. Mas não estava lá.
Merda. Estava na outra bolsa.

De repente, a sombra apareceu no clarão da porta do prédio. E eu


reconheci meu antigo e abusivo ex-namorado parado com os olhos fixos em
mim.

Meu coração afundou. Droga.

— Thiago.

Thiago Carpes e eu namoramos por cerca de seis meses, até que eu


percebi que merda ele era e acabei desistindo. Ele começou a me perseguir e
a me dizer que eu pertencia a ele e que nós dois ficaríamos juntos para
sempre. Não havia outra escolha. Ele me disse que me possuía. Eu o ignorei o
máximo que pude e ele continuou me perseguindo.

Você sempre lê notícias sobre mulheres que tem ex namorados ou


maridos que não as deixam em paz e se pergunta como elas deixam isso
acontecer. Quando é com você, a verdade fica escancarada. Não é uma
escolha. Não há outra oportunidade. O homem avassala você de todas as
formas, respira todo o oxigênio a ponto de te sufocar, e quando você tenta
buscar ajuda, descobre que medidas protetivas são apenas rabiscos num
papel.

— O que você está fazendo aqui? — perguntei.

— Como foi o trabalho hoje à noite? — ele indagou como se fosse


natural estar ali questionando sobre minha vida.

— Isso não é da sua conta. Você não tem mais nada a ver comigo.

Ele sorriu. Eu odiava quando ele sorria assim. Sempre parecia saber
algo que eu desconhecia.

— O que foi? — inquiri.

— Você ainda não entendeu que é pra sempre, né? Você e eu. Para
sempre — reafirmou. Havia tanta convicção na sua voz que me desarmou. —
Você não usa e depois me joga de lado como se eu fosse um nada. Você acha
engraçado tratar as pessoas dessa maneira?

— Não foi isso que aconteceu. Você é louco. O fato de você estar aqui
agora falando comigo dessa maneira simplesmente prova isso. Procure ajuda.
Você realmente precisa de um tratamento com um psiquiatra.

Ele deu um passo à frente bloqueando minha entrada enquanto eu me


dirigia para a porta. Eu gemi e fiquei lá olhando para ele. Thiago pairou sobre
mim com sua raiva fervendo por entre os dentes.

— Eu já disse que não quero que me chame de louco — disse ele. —


Se eu estou louco, é por causa do que você fez comigo. Isso ainda não
acabou. Por que você não pode aceitar isso?

— Por que você não pode aceitar que nós não temos mais nada?

— Porque eu amo você e não vou deixar que seu medo de


compromisso acabe com o que é o relacionamento mais incrível em que
algum de nós já esteve. Isso é real. Nós dois estamos destinados. E não vou
deixar sua paranoia acabar com isso. Por que você não para de brincar de
gato e rato e apenas admite que sente minha falta? Você me ama e sente falta
do que tínhamos.

— Isso n ão é verdade. Acho que nunca cheguei perto de me apaixonar


por você, e depois do que você fez comigo... percebi que não posso e não
quero confiar em você. Eu não confio em você ou acredito em uma palavra
que você diz. Acabamos. Agora saía do meu caminho.

— Você vai se arrepender disso — ameaçou, como sempre fazia.

E como sempre, eu me perguntava quando ele iria cumprir suas


promessas.

— Eu já me arrependo de ter posto os olhos em você — falei, sem


medir as palavras.

Eu passei por ele e abri a porta do meu prédio. Deixei fechar atrás de
mim e parei um momento antes de continuar. Eu tinha certeza de que ele
tentaria me seguir até meu apartamento, mas a única maneira de realmente
escapar dele naquele momento era fechar a porta na cara dele. Eu só esperava
que ele não me seguisse.

Mas ele estava ficando mais ousado. Estava começando a me


aterrorizar. Eu não tinha mais outra escolha, precisava acabar com isso de
uma vez. Não queria usar as medidas protetivas contra ele porque temia
irritá-lo ainda mais, mas não havia escolha. Isso estava ficando perigoso.
Thiago estava ficando louco e eu estava com muito medo do que ele poderia
fazer se isso continuasse assim.

Quando entrei no meu apartamento, fechei a porta e a tranquei. Eu


verifiquei duas vezes e depois fui para a geladeira, peguei a cerveja e tomei
um longo gole. Eu ia beber mais hoje à noite do que tinha planejado. Eu
precisava de algo para lavar o medo e limpar a cabeça.

Sentei-me e busquei meu telefone. Então liguei para a polícia. Disse


que não era uma emergência, apesar de achar que isso poderia se qualificar
dessa forma.

O primeiro policial, masculino, passou a ligação para alguém da


delegacia da mulher. Eu expliquei a situação a ela, que disse estar anotando
as informações básicas e encaminhando um pedido ao juiz para Thiago
comparecer no fórum de Encanto, a cidade vizinha.

— Ele ainda está aí? — ela questionou.

— Não sei. Estou tão apavorada que temo olhar para fora pela janela...

— Entendo, apenas relaxe e fique ao telefone comigo. Você vai ficar


bem.

Eu tinha vinte e seis anos e a mulher parecia ter mais ou menos a


minha idade ou um pouco mais. Ela era alegre, mas compassiva e tinha um
efeito calmante na voz. Fiquei feliz por ter feito a ligação.

— Seu nome é Clarissa, não é?

— Sim, Clarissa Rebelo — eu disse.

— Prazer, Clarissa. Eu sou Tânia — ela disse.

Eu gostei dela desde o começo. Não sei por que, mas parecíamos nos
conectar pelo telefone. Talvez seja pelo fato de sermos mulheres. Só uma
mulher pode entender outra.

— Enquanto conversamos, você quer me explicar melhor sobre seu


relacionamento com Thiago? — Tânia me perguntou.

— Ele é meu ex-namorado. Ele fica me perseguindo. – Minha voz


tremia. - Me assedia, continua me ligando, mesmo que meu número tenha
mudado três vezes, ele continua invadindo minhas mídias sociais e hoje à
noite ele apareceu do lado de fora do meu prédio.

— Ele já te ameaçou antes? — ela perguntou, a ponta da preocupação


clara em sua voz.

Era vergonhoso responder. Mas, eu não tinha escolha.

— Sim.

— Ok, se você usar a ordem restritiva ele poderá ser preso. Posso
mandar um policial aí agora.

E ele ficaria alguns dias preso, isso senão algumas horas, e depois viria
atrás de mim com ainda mais gana.

Eu odeio a (in)justiça brasileira.

— Eu acho que se alguém falasse com ele, explicasse a situação...


talvez não tenha necessidade da prisão...

Ela entendeu imediatamente. Depois de mais um pouco de conversa,


desliguei o telefone. Senti-me melhor pelo simples fato de ter desabafado.

Bebi outro gole de cerveja e imediatamente pensei novamente em


Noah.

Desejei que ele estivesse aqui, comigo. Ele poderia me segurar em seus
braços fortes, me proteger e me manter a salvo de pessoas como Thiago. Eu
não me estaria sozinha, nem me sentiria tão isolada.

É mais de que querer um homem para me sentir protegida. Eu já sou


uma mulher adulta e me sinto capaz de cuidar de mim mesma. Contudo,
quando se tratava de Noah...

Como explicar? Eu tinha amigos, mas muitas vezes eu estava sozinha.


Acho que isso vem de uma criação péssima, uma infância complicada,
zanzando de uma casa de parente para outra, por causa de uma mãe que
queria curtir a vida e não tinha tempo para criar uma filha.

Assim, me tornei uma pessoa que aprendeu a não depender dos outros,
tanto financeiramente quanto psicologicamente. Como eu nunca tinha
ninguém para me apoiar, sabia que era apenas eu e Deus.

E esse é o preço que se paga por ser um espírito livre. Eu passei tanto
tempo sozinha que eventualmente, as pessoas falavam algo ou faziam algo
que me deixava desconfortável ou pressionada, mesmo que não fosse a
intenção delas. Bastava um momento para sentir-me sufocada. E então eu me
afastava.

E era por isso que eu não tinha coragem de ir adiante contra Thiago,
pela lei. Porque uma parte de mim se culpava por ter terminado com ele,
mesmo ele sendo um cara nojento que tentava me intimidar o tempo todo em
que estivemos juntos.

E mesmo assim, mesmo sabendo que eu era essa pessoa estranha, meu
coração ainda ansiava por Noah. Por quê? Não sei. Mas, ansiava. De alguma
maneira, eu me via nele. E sabia que ele estava sofrendo. Eu não o culpo nem
um pouco. Ele me contou um pouco o que aconteceu com a ex. Eu sabia que
era doloroso para ele pensar, muito menos falar sobre isso. No entanto, ele
me confidenciou em várias ocasiões como ser traído dói.

Eu nunca traí. Não sei como as pessoas podem ter coragem de


massacrar alguém assim. Lealdade é algo tão importante.
Talvez por isso esperava que um dia ele me deixasse ajudá-lo. Inferno,
provavelmente poderíamos nos ajudar. Eu queria desesperadamente estar
com ele ao mesmo tempo que não tinha certeza de que seria uma boa ideia
para qualquer um de nós.

Mas eu queria. Sim, eu queria muito.

Eu só esperava que ele percebesse que sentia a mesma coisa antes que
fosse tarde demais.
Capítulo 3
Noah

Olhei para Raul, um dos meus amigos mais antigos e contador da


cidade, e sorri, enquanto acenava em direção ao bocado de sushi.

— Eu nunca vou entender por que estamos comendo isso. Não parece
meio doce?

— O que posso dizer? Como gaúchos, a carne salgada e bem assada


parece mais saboroso, mas é bom incentivar o comércio local.

A nova namorada dele, Melissa, havia aberto um pequeno restaurante


de sushi. Ninguém em Esperança gostava daquela coisa, mas todos fingiam
gostar porque parecia “chique” e porque nas novelas todo mundo comia
sushi.

Além disso, fazia parte de ser um amigo tentar incentivar a propriedade


de Melissa. Raul ficou contente quando sugeri que jantássemos lá.

— Então, como estão as coisas com Melissa? — Eu perguntei.

Tomei um gole da minha cerveja e me inclinei para trás, deixando a


comida assentar.

— Está tudo tão incrível... Talvez... você sabe, eu faça o pedido —


disse ele.

Era uma agradável surpresa. Raul teve muitas mulheres, muitas


namoradas. Achei que ele jamais encontraria alguém que o fizesse mudar sua
concepção de compromisso.

— E quanto a você? Miguel está bem na escola?


— Sim, ele está na pré-escola. Ainda acho muito cedo levá-lo a escola,
eu mesmo só fui para o colégio aos sete anos, mas acabou que foi uma
oportunidade boa. Ele está aprendendo muito. Coisas que eu não saberia
ensinar, como misturar tintas, ou fazer modelagem na argila...

Ele balançou sua cabeça.

— É uma fase ótima para aprendizado. Eles crescem tão rápido.

Eu ri. O tom amenizado de Raul era sugestivo. Ele tinha uma filha não
assumida que poucos sabiam ser sua. A verdade é que ele teve um encontro
romântico com uma mulher de Esperança quando ela ainda era noiva, e eles
terminaram tudo antes do casamento. Porém, oito meses depois nasceria uma
pequena que tinha os olhos de Raul. A menina, hoje, tinha cinco anos, e era
quase uma cópia do contador. Ele a via sempre que levava Miguel a escola.

Talvez por isso ele costumava pedir para levar Miguel a escola com
frequência, usando a desculpa de ser o padrinho.

— Mudando de assunto... Eu quis jantar com você essa noite porque


estou pensando em investimentos...

Ele suspirou e passou a mão pelos cabelos. Então ele tomou um gole
grande de seu vinho.

— Acha que é o melhor momento para falarmos disso? O mercado está


decrescendo...

— Se alguém está perdendo dinheiro, então alguém está ganhando —


apontei. — Dinheiro não some do nada.

Ele arqueou as sobrancelhas.

— OK, estou ouvindo. O que você precisa de mim?


— Você é um investidor, por isso preciso que você invista e, em
seguida, preciso que você confie que sei o que estou fazendo e que farei seu
dinheiro crescer e render. Eu sei que isso vai te deixar nervoso, mas não há
realmente nenhuma razão para estar. Eu vou cuidar de tudo, como sempre
faço em qualquer negócio que fizemos juntos, certo?

— De quanto estamos falando?

Puxei um bloco de notas do bolso do paletó e lhe entreguei um número


rabiscado.

— É muito dinheiro. Eu estava preparado para investir talvez dez a


trinta por cento desse valor.

Arqueei os ombros. Eu sabia que Raul tinha esse dinheiro, e eu


realmente o queria como sócio. Não que a fábrica de cigarros não estivesse
dando lucro, mas se projetar em demais ramos era deveras interessante.

— Não sei por que confio em você tão bem, mas confio. Vamos fazer
isso. Podemos entrar nesse negócio juntos, mas conto com você para me dar
um ótimo retorno. Caso contrário, talvez eu precise matá-lo.

Eu ri.

— Não sabia que você era da máfia.

— Sou dos Bianconi — ele riu, apontando um segmento que ainda


assombrava a pequena Esperança com sua violência praticada anos antes.

Apertamos as mãos com firmeza. Eu conhecia Raul há cerca de oito


anos, quando entrei para a administração da fábrica. Em pouco tempo nos
tornamos amigos e investimos juntos na bolsa. Isso provou ser bastante
lucrativo e, desde então, passamos a trabalhar em vários outros acordos. Foi
um ótimo momento para estar nos negócios.
— Mudando um pouco de assunto, Melissa me comentou de uma
amiga solteira...

Neguei com a face. Era um assunto que não me cabia no momento.

— Olha, não quero namorar ninguém agora. Eu estou bem com as


coisas como estão.

— Por que eu não acredito em você? — ele perguntou.

— Porque você sempre pensou que ninguém pode ser feliz sozinho. Só
que isso é um erro. Uma pessoa é perfeitamente capaz de ser feliz sozinha.
Além disso, eu tenho Miguel...

— Bem, isso é coisa de Melissa, mas também estou preocupado com


você. Depois do que aconteceu... Depois do que Tânia fez, eu entendo porque
você é tão hesitante, mas acho que a melhor coisa a fazer é seguir em frente.
Você precisa de uma mulher. Isso curará o desgosto mais rápido do que
qualquer outra coisa.

— Bem, talvez eu goste um pouco do desgosto — Apontei. — Talvez


me sinta confortável em me apegar a isso.

— Por quê? Você se sente culpado por algo? Se sim, então você
precisa parar com isso agora. Você não fez nada errado, eu te conheço a
muito tempo e sei que foi o melhor homem que podia para Tânia.

Dei de ombros.

— Não é exatamente isso. Apenas, só quero relaxar dessa obrigação de


estar com alguém. Quero colocar meu filho e meu trabalho como prioridade.

— Eu posso entender isso, mas vou lhe dizer que não está fazendo isso
da maneira certa. — Ele deu mais uma bocada no hot e depois me encarou.
— Você pelo menos está de olho em alguém? Que tal aquela gostosa da
cafeteria de Noeli que você me contou?

Eu tinha comentado a ele sobre Clarissa. O que era uma merda.


Precisava aprender a manter meus pensamentos e sentimentos para mim.

— Ela é ótima, mas ainda não estou pronto para ir em frente.

— Mas ela está interessada?

— Realmente não sei.

— Como você não sabe? Você não a vê várias vezes por semana? Não
flertam?

— Sei lá... a gente só conversa — eu disse. — Acho que ela também


tem sua bagagem emocional, mas não revela muito.

— Mesmo? Divorciada, também?

Dei de ombros.

— Acho que não. Mais como... um antigo namoro complicado. Quando


conversamos é como se ela buscasse coragem de ir adiante, mas retrocedesse
a cada avanço. Exatamente como eu.

— Bom, não custa nada se atentar a dicas... isso, claro, se ela der
alguma.

— Sim, ela dá dicas. O problema é que como garçonete, ela deve


flertar com todos. Então nunca sei se ela quer melhorar a gorjeta ou se está a
fim de mim. E eu sou um péssimo adivinho.

Ele me deu um olhar confuso, como se achasse que eu fosse um idiota.

De repente, um grande sorriso se formou em seu rosto. Eu sorri de


volta, e dei de ombros, de bom humor. Nunca sabia o que seus sorrisos
queriam dizer, mas não me sentia intimidado por eles.

— Melissa disse que Tânia... — ele começou.

— Melissa fala com Tânia?

Eu sabia que elas eram conhecidas, mas não sabia que a namorada de
Raul podia ser um leva-e-traz sobre minha vida para Tânia.

Raul pareceu assustado por um momento.

— Sim, acredito que se falam. Algum problema?

— Tânia fez uma coisa horrível comigo e com Miguel. Ela nos traiu,
traiu nossa família. É estranho a namorada do meu melhor amigo ainda falar
com minha ex.

— Olha, se Melissa quer ser amiga de Tânia, então é problema dela. Eu


não vou me meter nisso. Não estou falando com Tânia se é isso que você está
sugerindo. Se eu me encontrasse na mesma sala com ela, sairia sem dar um
bom dia. — Ele deu mais um gole no vinho. Levou alguns segundos até
trazer outra questão à tona. — Diga-me... Você ainda sente algo por ela? Se
arrepende da separação? Talvez queira que Melissa entregue algum recado...

Eu balancei minha cabeça. Tânia era a última coisa que eu queria


pensar agora.

— No momento só quero terminar meu sushi — avisei.

Ele concordou.

Comemos em silêncio, mas o clima permaneceu pesado entre nós até a


hora de ir embora. Era sempre assim, quando o nome de Tânia surgia.
Capítulo 4
Clarissa

Subir uma ladeira parecia a coisa mais difícil que eu já havia realizado
na vida. Minhas vistas turvaram e eu senti que minha pressão baixou.
Recostei-me na calçada enquanto Catiane, minha amiga a longa data, parou
ao meu lado e continuou a correr no lugar, agitada.

— Vamos lá, você tem que se animar. Andamos apenas meio


quilometro. Isso é bem patético. — Apontou. — Como você vai perder peso
assim?

— Eu nem me importo em ser gordinha.

Ela suspirou e balançou a cabeça.

— Se não se importasse não teria aceitado a oferta de caminhar no final


das tardes. Você é a mãe da preguiça. Então, vamos lá, coragem! Eu sei que
você consegue.

Quando Catiane sugeriu que começássemos a correr cerca de duas


semanas atrás, parecia uma boa ideia. Eu queria começar a ficar em melhor
forma e achei que também seria uma boa maneira de aliviar o estresse. Mas
isso era mais difícil do que eu pensava que seria. Imaginei que estava em
melhor forma do que realmente estava. O que era ridículo, levando-se em
conta que eu sempre fugia das aulas de educação física na escola e que minha
permanência numa academia nunca durou mais que cinco meses.

Tomei um grande gole da minha garrafa de água.

Ergui-me e comecei a andar vagarosamente ao lado da minha amiga.

— Então, novidades? Sinto que não conversamos muito esta semana


— ela disse.

— Eu tenho estado um pouco ocupada. Estou com a ordem de


restrição, e Thiago não pode mais se aproximar de mim ou ele será preso. O
problema é que não confio muito no papel e você sabe que ele tem dinheiro
para se safar...

— Devia acreditar mais nas nossas leis. Maria-da-Penha é uma das


poucas coisas que funcionam nesse país.

— Tenho medo — assumi. — De ele me machucar — completei. —


Eu sei que era apenas uma questão de tempo antes que isso acontecesse.
Então, não tive escolha a não ser denunciá-lo. As coisas estavam piorando
com seu comportamento assustador.

— Isso é difícil. Alguns homens acham que são os donos das mulheres.
Mas, nós podemos lutar para reconstruirmos nossas vidas sem um homem
achar que é nosso dono.

— Ele veio ao meu apartamento outro dia. Ele estava me esperando


quando cheguei em casa e ele basicamente me ameaçou. Seu comportamento
ficou cada vez mais estranho. Não aguento mais esse medo que parece me
sufocar. Eu tenho medo pela minha vida, medo de não viver, de não amar
novamente, medo de perder a chance de conhecer uma boa pessoa por conta
do que Thiago fez comigo.

Estava tremendo, quase chorando agora, quando tudo voltou correndo


através de mim. Catiane colocou a mão no meu ombro e depois me puxou
para mais perto, num abraço gentil.

— Ei, está tudo bem. Você fez a coisa certa. É melhor que esse merda
não chegue perto de você ou ele vai se ver comigo, certo?
Eu observei minha amiga frágil de um metro e cinquenta e quase ri
diante da sua coragem.

— Seria lindo ver você chutar a canela dele — brinquei.

— Ah, cadela — ela me deu um tapa no ombro, gargalhando.

Cruzamos por uma padaria e eu senti uma enorme necessidade de bolo.


Fugir para a comida era algo que eu fazia com frequência. Precisava controlar
esse impulso antes que ficasse doente com diabetes ou coisa pior.

— Não sei o quanto Thiago está disposto a arriscar. Realmente só


depende dele. E não saber é aterrorizante. Só estou esperando que ele se
decida, esperando que ele venha e faça algo contra mim ou que ele me
esqueça.

— Amada, isso não é a maneira de viver sua vida. Você precisa tirá-lo
da cabeça e tomar as devidas precauções, caso algo aconteça.

Precauções.

Eu pensei imediatamente numa arma. As leis dificultavam muito a


posse e a compra, mas seria fácil adquirir uma em Encanto. Eu conhecia uma
garota que o irmão arrumava armas... Talvez eu devesse ter uma, torcendo
para nunca precisar usá-la.

Eu descansei minha mão na parte de trás do meu pescoço e apertei


alguns músculos tensos. Minha mandíbula também estava cerrada, e de
repente percebi o quanto minha situação era injusta.

Por que isso estava acontecendo comigo? Thiago estava tirando tudo
de mim. Minha liberdade, minha paz... Ele era a pessoa com uma ordem de
restrição nas costas, mas era eu que me sentia como se estivesse em algum
tipo de prisão. Isso não estava certo. Eu tinha uma imagem na minha cabeça
dele vindo para mim e matando-me.

A menos que eu o matasse primeiro.

Eu balancei minha cabeça para tirar aquele pensamento de mim. Eu me


sentia doente ao pensar nisso. Esperava que nunca tivesse que fazer algo
assim, mas se ele decidisse fazer algo realmente violento comigo, não teria
escolha. E isso seria culpa dele, não minha. Se isso acontecesse, seria devido
a uma escolha que ele fez. Eu não tinha escolha a não ser estar preparada para
me proteger.

— Vou encaminhar um pedido de posse de arma para a Polícia Federal.

— Sério?

— Diz que o processo pode demorar meses, mas tem um policial que é
instrutor de tiro que vai a cafeteria, vou pedir uma ajuda na papelada. Seria
mais rápido comprar uma sem registro, mas eu me sentiria péssima em ter
uma arma assim.

— Bom, dizem que com o novo presidente, a aquisição está mais fácil.

— Mas, pelo que sei ainda demora uns seis meses. Mesmo assim, eu
não tenho escolha.

Catiane começou a correr e eu tentei acompanhá-la. Ela estava em tão


boa forma que era ridículo.

— Então, como está a situação com aquele cara que costumava entrar
na cafeteria o tempo todo, que você me contou? Eu pensei que as coisas
estavam indo bem com ele...

— Não sei dizer. Ele vem algumas vezes por semana. Entra, toma
algumas cervejas e nós fazemos nosso pequeno flerte. Noah parece ser um
bom rapaz. Não sei tanto sobre ele quanto gostaria, mas gosto do pouco que
sei.

— Então qual é o problema?

— O que você quer dizer? — Eu perguntei.

— Por que não o convida para sair?

— Isso parece coisa de mulheres mais independentes, mulheres mais...


determinadas.

— E você não é isso? Não vejo problemas em você dar o primeiro


passo. Ao contrário, acho que demonstra que você realmente vai atrás do que
quer. Eu já fiz isso e nunca fui recusada.

— Mas, não parece um pouco estranho e masculino?

— Deus, você ainda está enraizada em tantas coisas antiquadas. Nem


parece que sorri para os homens por gorjetas. Prometa-me que vai chamá-lo
para sair.

Eu ri baixinho, sentindo borboletas no estômago.

— Eu farei isso. Eu prometo. Só não sei quando.


Capítulo 5
Noah

Eu estava entediado.

Entretanto, mantive o sorriso no rosto o melhor que pude, enquanto


passeava pelo grande salão, apertando as mãos de pessoas da elite da nossa
cidade, Esperança. Deveria ter sido um bom momento, mas eu simplesmente
não estava com disposição para nada disso. Eu queria ir para casa e passar um
tempo com meu filho ou ler um bom livro depois que ele fosse para a cama,
talvez beber algum uísque e, principalmente, ficar quieto no meu canto.

Todavia, era bom para os negócios participar desses tipos de eventos;


mas eram tão chatos que eu estava pronto para arrancar meus cabelos no final
da noite. Eu sabia sobre o Baile Anual para arrecadar dinheiro para a caridade
há alguns meses. Estava no meu calendário, eu estava pronto para dar minha
doação e sorrir para as fotos fazendo essa doação – a velha tática de bom
samaritano -, e eu estava pronto para todo o papo de negócios que iria
acompanhar a doação- mas eu ainda odiava esses momentos mesmo com toda
a preparação.

Acho que teria sido melhor se eu não estivesse sozinho. Quase todo
mundo estava com alguém significativo, ou pelo menos em algum encontro
divertido. Mas, eu estava andando só e essa foi uma decisão consciente que
eu tomei. Claro, poderia ter chamado alguém para sair, poderia ter chamado
alguém especialmente para essa função e qualquer mulher teria dito sim, mas
eu não estava pronto para fazer isso.

Contudo, nesse momento desejava ter escolhido alguém para ao menos


me acompanhar. Inferno, eu poderia ter perguntado a Patrícia. A
administradora do Hotel Laureana era minha amiga. Começamos como
parceiros de negócios alguns anos atrás em alguns empreendimentos e
continuamos sendo bons amigos. Éramos muito diferentes para algo
romântico se desenvolver, mas éramos bons parceiros de negócios. Ela era
atraente e inteligente. Fiquei realmente surpreso que ela não estivesse aqui.
Inferno, ela fazia parte da comunidade empresarial, a elite rica, e fora
convidada, mas fora sábia o suficiente para recusar.

— Você precisa experimentar aqueles enroladinhos de salsicha. Eles


são excelentes. Inferno, eu comi tantos deles que devo estar com o hálito
como do capeta. Mathilde vai me matar... Ela quer começar uma dieta
orgânica e saudável em casa, por causa do bebê que estamos esperando.

A voz falando atrás de mim era de Manuel Fontes, o homem mais rico
de Esperança. Sou amigo dele há alguns anos e nunca fomos rivais, apesar de
sermos concorrentes na presidência da fábrica.

Eu me virei e apertei sua mão, feliz por ver um rosto familiar.

— Como tá indo? — Eu perguntei.

— Bem. Mathilde está grávida de novo — ele contou, como se alguém


em Esperança não soubesse.

— Incrível como o tempo passa. Quanto tempo já estão casados?

— Quase três anos.

— É um bom tempo para se ter um bebê.

— Estive muito ocupado com o outro bebê para pensar em ter mais um
filho, mas não nego que a notícia me deixou em êxtase.

De repente notei uma mulher bonita chegando até ele. Ela estava
carregando uma bebida e sorrindo como se já tivesse tomado algumas doses a
mais, mas era muito hábil em manter uma compostura sólida enquanto estava
bêbada. Impressionante.

— Você conheceu Fernanda? — Perguntou Manuel.

— Eu não tive o prazer — eu disse, pegando a mão de Fernanda


enquanto ela oferecia.

— Encantada — disse Fernanda.

Sim, com uma única frase ficou claro que ela estava descaradamente
dando em cima de mim, porque provavelmente eu era o único ali que estava a
seu alcance, já que Manuel só tinha olhos para sua esposa.

— Fernanda foi contratada para intermediar o planejamento da fábrica


de cerveja que planejo construir com Messina — Manuel contou.

Ela concordou, num riso gentil.

Ele se virou para Fernanda.

— Esse cara esmaga qualquer um nos negócios. Ele foi a melhor


aquisição da fábrica nos últimos anos, tanto é que nem reclamei em dar meu
cargo para ele.

Eu odiava falar sobre isso, até porque “roubar” o cargo de Manuel foi
uma das coisas que mais me incomodava naquela posição. Todavia, eu estava
focado nos negócios e ele estava focado no amor. Foi relativamente fácil ficar
com a presidência.

Muitas pessoas tinham ciúmes do sucesso que eu estava desfrutando.


Não faziam ideia de que o tanto que eu era feliz nos negócios, eu era infeliz
na vida pessoal.

— Com tanto talento assim, deve ser difícil ficar em Esperança. Já


pensou em ir para uma cidade maior? Presidir uma empresa internacional? —
indagou Fernanda.

— A fábrica de fumo é internacional. Fornecemos cigarro para fora do


país, também.

Eu estava entediado com essa conversa e toda a festa.

— Bom, com licença — desconversei.

Me afastei sem esperar que Manuel dissesse mais alguma coisa. Movi-
me por algumas mesas e conversei brevemente com várias pessoas e casais
que eu conhecia, principalmente fazendo as rondas para que eu pudesse dizer
que estava lá e fiz a minha parte. Eu esperava partir logo, mas não queria
causar qualquer sensação de desrespeito, especialmente quando muitas dessas
pessoas me ajudaram a ganhar dinheiro investindo em minhas empresas.

Eu estava indo em direção ao bar para pegar outro uísque quando senti
meu telefone vibrar. Verifiquei e era Joice, a babá. Isso não parecia certo. Por
que ela ligaria?

Miguel.

Saí do salão para um corredor bastante silencioso e atendi o telefone.

— Joice? O que há de errado?

— É o Miguel. Ele está tendo problemas para respirar. É algum tipo de


convulsão. Eu já chamei o Samu.

— Como isso aconteceu?

— Ele estava montando um quebra-cabeça e simplesmente caiu para o


lado e começou a convulsionar.

— Ok, diga a eles para levá-lo ao hospital particular de Encanto, vou te


encontrar lá. Certifique-se de que o levem a Unimed, ok? Ligue-me quando
estiver na ambulância.

Eu sabia que nunca chegaria em casa antes que o levassem ao hospital.


E não era a primeira vez que isso acontecia.

Miguel tinha tantos problemas de saúde. Meu filho nasceu prematuro e


passou as primeiras semanas de sua vida debaixo de vidro. Ele teve sorte de
ter conseguido. Mas tudo isso deixou cicatrizes e agora ele era um garoto
doente. Aparecia algo novo a cada dia.

Cheguei ao hospital cerca de uma hora depois. Miguel acabara de ser


trazido e eles estavam trabalhando nele.

— Os paramédicos conseguiram acordá-lo — disse Joice. — Mas ele


ainda está tendo problemas para respirar.

Fui até a recepção e expliquei a situação. Meu filho acabava de ser


trazido e eu queria estar ao lado dele.

— Sinto muito, senhor — disse a recepcionista. — O senhor terá que


esperar. Os médicos estão trabalhando para fazê-lo respirar por conta própria.
No momento, ele continua entrando e saindo da consciência.

Aquelas palavras me deixaram zonzo. Miguel era tudo que eu tinha.


Era a pessoa mais importante da minha vida. A possibilidade de perder meu
filho parecia demais para suportar.

Eu vivia para ele. Se algo acontecesse com ele, eu não teria um mínimo
motivo para acordar a cada manhã.

Eu esperei no saguão por cerca de meia hora antes que um médico


finalmente saísse para falar comigo.
— Como está o Miguel?

— Ele está bem agora", disse o médico. — Está estável.

O médico tinha cerca de cinquenta anos, alto, com uma expressão


sombria no rosto, coberta por um bigode grosso.

— O que aconteceu com ele?

— Ele já teve crises assim antes?

— Não convulsões, mas ele sempre teve asma grave.

— Bem, a crise de hoje não temos certeza do que a provocou. Mas


vamos mantê-lo durante a noite para executar mais alguns testes e ver o que
descobrimos.

— Certo — eu disse — Posso vê-lo?

— Por favor, por aqui...

Eu segui o médico naquele momento.

Quando voltei, Miguel estava lá olhando para mim com seu rosto doce
e sorridente. Ele parecia tão inocente e meio contente, mesmo depois de tudo
o que passara. Ele sempre mantinha a cabeça erguida.

— Ei, filhão...

— Oi, papai — ele respondeu.

E o som da voz dele era tão encantadora.

Aproximei-me da cama. Sentei-me ao seu lado, meus dedos passeando


por sua testa.

— Como está se sentindo?


— Eu estou melhor. A festa foi legal?

Ele era tão pequeno, e mesmo assim ele se preocupava mais com meus
negócios do que com a própria saúde.

— A festa não importa, filho. Você importa.

Então Miguel se elevou na cama e me abraçou. Senti seus pequenos


bracinhos cercando meu pescoço enquanto sua cabeça descansava no meu
ombro.

— Eu te amo, papai.

Foi o ápice para me fazer explodir em lágrimas.

Logo, lentamente e gentilmente eu o empurrei. Depois, deixei o quarto


no mesmo instante. Não queria que ele visse o quão triste eu estava.
Capítulo 6
Clarissa

Noah entrou na cafeteria um pouco depois das sete e estava com os


ombros caídos e derrotados como eu jamais havia visto. Normalmente, ele
tinha um sorriso doce, mas confiante, quase arrogante, em seu rosto bonito,
mas hoje à noite parecia que algo terrível tinha acontecido. Não tinha certeza
de que ele iria falar sobre o assunto, mas o recebi com o mesmo sorriso de
sempre.

Noah tinha seus demônios e eu carregava os meus. Um precisava ser o


bálsamo do outro, ao menos pelos poucos minutos que nós nos víamos
durante a semana.

Peguei uma xícara e coloquei cerca de duas doses de expresso, então


pus na frente dele.

Café preto, expresso, dose forte e dupla, era maior e mais intenso no
corpo humano que qualquer álcool. Noah deslizou em seu banquinho. Ele
pegou o café e bebeu rapidamente.

— Pode me dar outro?

— Vai detonar seu estômago.

— Então me dê uma cerveja.

Assenti. Derramei a bebida numa caneca.

— Está tudo bem? — Eu perguntei.

— Não — ele respondeu. — Eu estava no pronto-socorro ontem à


noite até as seis da manhã com meu filho.
— O que aconteceu?

Ele me explicou sobre as convulsões e o ataque de asma.

— Ele está bem agora. Os médicos não conseguem explicar o que


causou a convulsão, mas suspeitam que ele possa ser epilético.

— Eu sinto muito — fui sincera. — E como ele está agora?

— Miguel é um guerreiro. Mais bravo do que eu. Não... essa


comparação não é justa. Miguel é mais forte do que eu. Creio que estou
prestes a desabar a qualquer momento.

— As crianças são mais resilientes que nós, adultos — eu disse. —


Ele vai se recuperar bem.

Estendi a mão e peguei na sua. Ele olhou para cima e sorriu para mim.
Eu amei aquele sorriso.

— Obrigado.

Eu senti aquela faísca estranha entre nós, naquele momento. Era como
um tipo de eletricidade que existia entre nós dois. Era como se eu estivesse
tão perto dele. Amei o grande homem e pai que ele era. Eu sabia que ele
estava sofrendo e lidando com muitas coisas, mas ele ainda estava fazendo
isso com a cabeça erguida. Noah se sentia quebrado a maior parte do tempo,
mas a maneira como ele continuava e lidava com tudo era bastante admirável.

Ali estava, aquela proximidade com Noah. Nós éramos muito


parecidos. Isso só me deixou mais atraída por ele.

— Miguel sempre teve esses problemas?

— Ele nasceu prematuro e teve que lutar por cada respiração desde
então. É algo que ele pode ter que lutar pelo resto da vida. Essa é a coisa
triste. Eu só queria que houvesse algo que eu pudesse fazer. Não há nada que
faça um homem se sentir mais impotente do que saber que seu filho está
doente e você está de mãos atadas. Eu odeio esse sentimento.

— Ele está recebendo o melhor atendimento possível. Então, você está


fazendo tudo o que pode.

— Obrigado — ele repetiu. Aqueles agradecimentos sempre deixavam


meu coração quente. — Suas palavras ajudam. Às vezes é um pouco
esmagador ser pai solo. Mas ele é um garoto muito corajoso. Eu sei que ele
vai passar por isso de uma maneira ou de outra.

— Está certo. Você também é corajoso — eu disse. Peguei outro copo


e derramei um pouco de cerveja nele. Então eu tomei tudo num só gole. —
Por Miguel.

— Por Miguel — disse Noah.

Ele também bebeu tudo de uma só vez.

Eu não tinha certeza de que era a hora certa, mas senti que algo poderia
acontecer. Então decidi ir em frente.

— Então, eu estou curiosa — eu disse. — O que você vai fazer na


quinta à noite?

— Quinta-feira? Não tenho certeza. Trabalhar até tarde,


provavelmente. Depois vir aqui e depois voltar para casa. Apenas um dia de
semana normal. Por quê?

— Bem, eu estou de folga nessa noite. Você gostaria de sair para


jantar?

Ele pareceu surpreso com a pergunta. E não respondeu por alguns


segundos. Senti a tensão acontecendo. Eu mal podia respirar.

Droga. Por que eu fiz isso? Não deveria ter feito essa pergunta. Tempo
errado. Ele estava com problemas.

Bem, eu pensei que isso poderia animá-lo um pouco. E parecia que


estávamos realmente gostando da companhia um do outro, então fui em
frente. Eu esperava que não tivesse cometido um erro horrível.

A porta se abriu naquele momento e a campainha soou sobre a porta.


Minha mente mal registrou o fato, pelo menos não a princípio. Eu ainda
estava esperando a resposta de Noah, que estava demorando muito.

De repente, senti algo. Minha cabeça começou a girar lentamente em


direção à figura que havia emergido da porta.

Thiago.

Merda.

Thiago estava lá. Ele estava no meu trabalho. Era a primeira vez que
ele se atrevia a tanto.

Eu imediatamente me virei para Helena, que costumava administrar o


local quando Márcia não estava, mas não a vi. Lembrei que ela saiu mais
cedo e eu estava praticamente atendendo sozinha.

Havia uma expressão de puro ódio em seus olhos quando ele se


aproximou do balcão. Ele andou devagar, tirando o capuz e caminhando em
minha direção com fogo em seu corpo. Ele estava pronto para fazer algo
drástico. Eu tinha certeza.

— O que você está fazendo aqui? Eu tenho uma ordem de restrição


contra você. Eu posso chamar a polícia e você vai para a cadeia. — Tentei
manter minha voz firme, mas estava tremendo. Senti meu corpo
enfraquecendo. Eu estava quase desmaiado.

Na manhã daquele dia, uma mulher em Viamão foi assassinada pelo


ex-marido apesar de cinco B.O.s contra ele e várias ordens de restrição
desrespeitadas. Outra moça em Soledade havia sido esfaqueada pelo ex-
namorado que também tinha uma ordem de restrição contra si.

No final de tudo, era apenas papel. Abusadores não respeitavam leis.

— Você acha mesmo que isso vai me manter longe? Estamos


destinados a ficarmos juntos. Por que diabos você não aceita?

Ele estava ficando barulhento. Pude ver que ele já estava um pouco
bêbado. Ele bateu as mãos sobre a mesa com raiva, como se estivesse
tentando defender sua opinião. Recuei alguns passos até que minhas costas
estavam contra a parede atrás de mim. Eu estava tão assustada. Eu senti como
se estivesse prestes a entrar num surto.

Thiago tinha mania de gritar. Ele berrava o tempo todo quando estava
comigo. Os sobressaltos que me causava ainda me deixavam em pânico.
Mesmo estando separados por meses, se alguém gritasse perto de mim, tanto
fazia se era para chamar alguém na rua ou numa expressão de alegria, meu
coração parecia prestes a saltar pela boca.

— Acabamos. Você sabe disso. Você precisa aceitar isso. Existe um


documento legal contra você. Respeite isso.

— Não vai funcionar. Esse tipo de merda está me irritando. Você tem
alguma ideia do que isso significa?

— Saia do meu trabalho. — Eu gritei.

— Vou embora quando eu quiser!


Sua arrogância era tão extrema. Isso o fez parecer um idiota. Eu odiava
aquela característica dele. Na verdade, com o passar do tempo, passei a odiar
muita coisa em Thiago.

A dor e a miséria que ele me fez passar foram suficientes para


enlouquecer alguém. Eu gostaria de ter uma arma. Eu tinha certeza de que
poderia usá-la se ele tentasse alguma coisa comigo. Mas eu não tinha. Porque
que queria respeitar a porra da lei e esperar o prazo legal para tê-la, apesar de
já ter encaminhado papeis pela internet.

Estava errado. Eu precisava esquecer a lei. Se Thiago, o abusador, não


respeitava, por que eu precisava respeitar?

— Você ouviu a senhora — disse Noah.

Levei um choque. Só me lembrei dele naquele instante. O observei e o


percebi parado na frente de Thiago.

Thiago era alguns centímetros mais alto, mas estava mais fora de forma
que Noah. Era difícil dizer através do terno que ele estava sempre vestindo,
mas eu podia dizer que Noah tinha músculos firmes e bíceps másculos.

Não queria que ele se envolvesse, mas era tarde demais. Isso estava
acontecendo. E eu sabia que Thiago não era do tipo que recuava.

Thiago riu.

— Esse cara é seu novo homem ou algo assim? — ele me encarou. —


Bem, é melhor você dizer a ele para se afastar antes que apanhe!

Eu senti meu coração pulando no peito. Eu já tinha visto Thiago em


brigas antes. Ele era bastante brutal e era capaz de causar danos sérios
rapidamente.
— Noah, está tudo bem. Eu cuido disso.

Noah não disse nada, mas também não se esquivou. Ele realmente deu
um passo à frente na direção de Thiago.

Thiago, por um segundo, pareceu chocado e irritado, e eu detectei uma


pitada de medo que me deixou confusa. Seus olhos perderam contato com
Noah por um momento e olharam para o lado e depois de volta. Ele parecia
desconfortável, mas estava ficando mais irritado a cada segundo.

Parecia uma carga aumentando mais e mais.

— Thiago, eu tenho uma ordem de restrição — relembrei. — Estou


ligando para a polícia agora. Você quer acrescentar perturbação pública a
essa acusação?

Peguei meu telefone e comecei a discar para a polícia. Thiago viu que
eu estava falando sério.

— Puta do caralho! — ele rosnou. — Isso não acabou. Está apenas


começando.

Thiago olhou para Noah e depois saiu do local. Fiquei feliz que Thiago
se foi, mas sabia que ele voltaria. Talvez não hoje, mas ele não ia me deixar
em paz. Simplesmente não havia como. Ele estava nisto por completo e não
iria recuar.

Quando a polícia chegou, fiquei instantaneamente aliviada. Eu relatei


que Thiago havia acabado de quebrar as condições de sua ordem de restrição
e me ameaçou na frente de testemunhas. Os policiais disseram que iriam atrás
dele.

Ele provavelmente iria para a cadeia agora, não é?


— Você está bem? — Noah perguntou quando os homens foram
embora.

Eu estava tremendo e tentando manter tudo sob controle, mas


visivelmente não estava bem.

— Sim, eu vou ficar bem. Obrigada. Você não deveria ter interferido,
no entanto.

— Está certo. Mas, tinha que ser feito. Esse tipo de homem só recua se
enfrenta outro homem. Eles acham que as mulheres são objetos que lhes
pertencem e não temem a elas ou as atitudes delas.

Era verdade.

— Você deve estar se perguntando quem é — sugeri.

— Não nego que estou, mas entendo se é da sua conta e você não
deseja compartilhar.

— Não, está bem. Você me defendeu. O mínimo que posso fazer é


informar o porquê. Esse é o Thiago. Ele é meu ex. Nós namoramos por um
tempo, pensamos que as coisas estavam ficando sérias, e então ele revelou
sua verdadeira face. Ele se tornou louco, abusivo e estava até mesmo
vendendo drogas. E quando eu terminei as coisas, ele se tornou ameaçador e
está me perseguindo desde então.

— Imagino como é difícil — disse Noah. — Mas você foi bem em


enfrentá-lo. Você fez o que tinha que fazer e mostrou que não será ameaçada.
Isso é importante. Você é muito forte e corajosa. Isso me dá um pouco de
esperança. Só espero que eu possa enfrentar obstáculos na minha vida com o
mesmo nível de coragem.

— Tenho certeza que sim.


Meus problemas empalidecem em comparação com os seus.

— Espero que Miguel comece a se sentir melhor e supere a doença. Às


vezes isso acontece com as crianças, de repente o sistema imunológico entra
em ação e eles melhoram. Eu trabalhava como babá e costumava ver coisas
assim.

— Babá?

— Você não me acha capaz de cuidar de crianças? — provoquei.

A intenção era brincar, mas Noah não mordeu a isca.

— Não queria insinuar isso...

Eu o bati de brincadeira no antebraço.

— Estou zoando! — observei o balcão, retornando para meu lugar. —


Mais cerveja?

— Mais uma — ele assentiu.

Busquei outra lata e a abri, derramando em seu copo. Ele olhou para
mim enquanto tocava o copo.

— Eu queria dizer... Eu agradeço pela sua amizade — ele disse. — O


ano passado foi uma loucura e entrar aqui e conversar com você parece ser
parte de uma cura.

— Me sinto da mesma forma — eu disse.

Noah olhou o relógio e terminou a bebida.

— É melhor eu ir para casa e dar uma folga para a babá.

— Certo — eu disse. — E obrigada novamente.

— Quando precisar — ele respondeu.


Ele saiu pela porta sem responder meu pedido para sairmos.

Não o vi novamente por quase três semanas.


Capítulo 7
Noah

Fiquei pensando no ex namorado dela. Um bastardo. A maneira como


ele conversara com Clarissa era horrível. Ele realmente achava que poderia
tê-la de volta com força e intimidação. Aquele idiota merecia enfrentar
alguém do seu tamanho para aprender a respeitar uma mulher. Eu estava tão
perto de arrebentá-lo que precisei conter todos os instintos do meu corpo para
não iniciar uma briga na cafeteria.

Ele era grande e em forma, mas não tinha nada nos olhos. Era do tipo
estúpido, não lutador, o tipo de cara que conseguia as coisas no berro ao
invés do esforço. Eu podia tê-lo arrebentado em segundos.

Mas estou feliz que não tenha chegado a isso. Tudo o que eu não
precisava era que esse tipo de coisa aparecesse nas fofocas locais. Isso não
faria bem para a minha imagem, o presidente da fábrica se engalfinhando
com outro homem..., mas, maldito seja, eu teria batido em Thiago se a
oportunidade surgisse novamente.

E eu sabia que ele podia ver nos meus olhos que estava perto disso.
Estava passando por muito estresse por causa da saúde do meu filho, bater
em alguém parecia quase uma terapia.

Só que eu não era esse tipo de pessoa. Apenas, ele não me intimidou
nem um pouco com seu jeito valentão. E isso o assustou. Ele recuou assim
que teve a oportunidade. Aquele homem usava o medo e a intimidação como
suas armas principais. Se isso não funcionasse, ele só tinha seu físico superior
para ampará-lo. No caso de enfrentar outro homem, isso não o tornava tão
avassalador ao oponente.
Cheguei em casa e percebi o lugar silencioso. Eu sabia que Miguel
estaria na cama. Senti falta de não ter a chance de colocá-lo para dormir, mas
tive que trabalhar até tarde e achei que seria melhor parar na cafeteria para
conversar com Clarissa porque aquele breve momento era sempre algo que
me mantinha são. Minha melhor terapia. E, às vezes, era o único momento
que eu possuía na semana para resgatar um pouco da minha alto-estima.

A saúde de Miguel estava me rasgando. Eu não tinha certeza do que ia


fazer. O estresse de tudo isso estava me matando.

Encontrei a babá, Joice, lendo um livro na sala de estar com pouca luz.
Ela se assustou quando entrei na sala.

— Ah, eu não ouvi você entrar.

— Desculpe. Como está o Miguel?

— Ele estava bem, perfeitamente normal. Ele comeu e foi para a cama
sem problemas.

— Ótimo.

Ela se levantou do sofá e respirou fundo. Parecia estar buscando algum


tipo

— Senhor, há algo que eu preciso lhe dizer, no entanto.

Isso não parecia bom. Eu me preparei. De repente, desejei ter uísque na


mão. As más notícias sempre eram muito melhores se fossem seguidas por
uísque.

— Acabei de falar no telefone com minha irmã. Minha mãe está


doente. Eu preciso ficar com ela. Sinto muito fazer isso com o senhor, mas
não sei quanto tempo terei com minha mãe antes de ela falecer. É câncer.
Estágio três. Inoperável e ela está desaparecendo a cada dia. Está cada vez
menor, acho que consigo carregá-la no colo como faço com Miguel. Enfim,
eu estou me demitindo. Sei que isso foi algo inesperado, mas pretendo ir até
Encanto acompanhar minha mãe no hospital a partir de amanhã.

Meu coração afundou. Coloquei as mãos nos quadris e me preparei


quando as notícias me atingiram de uma só vez e respirei fundo várias vezes.

— Eu entendo — disse. — Há algo que eu possa fazer por você?


Espero que sua mãe não esteja sofrendo e lamento saber de sua doença.

Não havia nada que eu pudesse fazer por ela, da mesma forma que
nada podia fazer por meu filho. Eu era a porra de um homem inútil.

Paguei a Joice e ela foi embora. Agora eu estava sozinho na casa,


exceto meu filho que estava dormindo em seu quarto.

O que eu ia fazer agora? Eu precisava de uma babá imediatamente.


Precisava de alguém em quem pudesse confiar.

Merda.

Isso realmente seria difícil.

Peguei meu note. Fiz uma pesquisa por babás qualificadas, mas
francamente, a gente morava na porra de Esperança. O que eu encontraria
além de alguma coitada sem experiência tentando arrumar uns trocos?

Eu tinha um filho doente, não podia ser qualquer mulher.

Uma enfermeira, talvez? Contudo, não havia muitas dispostas a um


turno integral para cuidar de um menino.

Não tinha jeito... Eu teria que trabalhar em casa nos próximos dias e
agora era um período difícil, onde estava acertando uma negociação no
Mercosul.

Deus, não tinha tempo para isso.

E honestamente, eu precisava da distração. Eu precisava manter minha


mente longe das coisas e de quantos problemas meu menino poderia estar
com sua saúde. Meia hora por semana na cafeteria me mantinha em pé, com a
cabeça erguida, apesar de tudo que estava acontecendo.

Fui ao minibar e me servi Bourbon. Eu precisava de algo para me


aliviar, caso contrário, dormir seria uma possibilidade remota se eu tivesse
sorte. Esse já era o caso, já que eu teria que fazer um monte de trabalho
durante a noite para garantir que eu pudesse tirar a maior parte do amanhã de
folga já que ficar em casa era mais que ficar sentado na frente do notebook.
Miguel precisava que alguém fizesse seu café da manhã, cuidasse dos seus
remédios, e lhe desse atenção.

Sentei-me novamente e de repente me ocorreu: Minha sobrinha.

Ela era filha da minha meia irmã. Luisa tinha quinze anos e eu estava
ajudando a pagar seus estudos.

Perguntei-me se ela estaria disponível. Eu pagaria, é claro, e isso me


liberaria para ir ao escritório à tarde, quando ela estivesse fora da escola.
Então eu poderia voltar para casa por volta das oito ou mais e tudo ficaria
bem. Certo. Isso funcionaria. Eu só esperava que ela estivesse disponível.

— Oi Mana. Como vão as coisas? — Eu perguntei quando Lucenir


atendeu o telefone.

— Você ligando? Faz mais de um mês que não tenho notícias suas.
Estava trabalhando como um louco, não é?

— Sim — não dava para negar. — Mas, como está?


— Bem. E você? E Miguel?

— Estamos indo. E Luisa?

— Oh, ela está bem. Na verdade, ela passou na peneira de um time...


Você sabe que ela quer jogar futebol, né?

O futebol feminino era extremamente desvalorizado no nosso país, mas


ainda assim eu jamais me arriscaria em desmotivar minha sobrinha.

— Ela começa a treinar em duas semanas. Luisa está tão animada.

— Ah, isso é incrível — eu disse. Fiquei realmente impressionado. —


Vou ter que ir a alguns jogos para torcer por ela. Você só precisa me avisar
quando e onde.

— Pode deixar.

— Ótimo. Escute, Luisa ainda está fazendo uns extras como babá?
Acabei de perder minha babá e preciso de alguém para cuidar Miguel com
urgência depois da pré-escola.

— Vou perguntar a ela — disse ela.

Eu ouvi Lucenir murmurando para frente alguns momentos e então ela


voltou à linha.

— Ela disse que ficaria feliz em ganhar uns trocados, mas apenas até o
treino começar em duas ou três semanas.

— Já está fazendo muito, agradeço demais. Eu devo conseguir uma


babá permanente até lá. Mas esse prazo vai me dar um tempo para procurar.
Agradeça a ela e diga que eu a vejo amanhã depois do almoço.

Conversamos mais alguns minutos e eu concordei em jantar na casa


dela no domingo. Ela queria desesperadamente ver Miguel também.
Depois que a ligação terminou, eu me vi respirando um pouco mais
tranquilo.

Ok, isso seria difícil. Eu tinha certeza de que Luisa ficaria bem com
Miguel, mas conseguir trabalhar, ter reuniões, e apenas estar lá para fazer
acordos, enquanto buscava por uma alternativa a Joice era algo que me tiraria
o sono durante essas duas semanas.

E, também não podia ser qualquer pessoa. Lembro de ter visto na


televisão babás desequilibradas que batiam nas crianças... Céus, precisava ser
alguém da minha confiança...

Talvez eu tivesse que desistir da presidência como Manuel Fontes fez.


Ele priorizou sua família, e eu devia fazer o mesmo. Afinal, meu filho sempre
foi o primeiro em minha vida. Eu tinha que fazer o que tinha que fazer.

A menos que encontrasse alguém para me ajudar. Alguém com


experiência em crianças e alguém que...

Tomei um gole de uísque e pensei em Clarissa.

Não no motivo óbvio de ela ter me contado que já trabalhara como


babá, mas... no fato de eu não ter respondido seu chamado para sair.

Ela significava muito para mim. Eu via isso agora. Eu sentia falta dela
durante todo o tempo que não nos víamos. Queria levá-la para um encontro.
Queria abraçá-la. Beijá-la e senti-la contra mim. Precisava que o corpo dela
estivesse com o meu.

Deus, desejava desesperadamente estar dentro dela. Precisava dela.


Mal podia suportar não estar com ela naquele momento.

Mas não ficaria perto dela por um tempo. Isso seria fisicamente
doloroso. Ela provavelmente seguiria em frente e se interessaria por outra
pessoa. Eu me tornaria o cara que podia ser, mas não foi.

Ri da ideia, mas era muito real. Eu me perguntava o quanto ela


realmente se importava comigo. Ou eu era apenas um cliente para ela?

Tentei bloquear esses pensamentos negativos, mas eles eram


persistentes. Voltei novamente a atenção para o notebook e me concentrei em
trabalhar. Respondi e-mails e fiz algumas pesquisas de mercado. Depois que
terminei, examinei meu calendário e tentei ver o que seria capaz de mudar
para fazer minhas novas responsabilidades se ajustarem à minha agenda.

Quando dei por mim, já era muito tarde e eu decidi ir para a cama.

Fui até o quarto de Miguel, beijei sua testa e o cobri melhor. Após isso,
fui até minha suíte, e tomei um banho quente. Mais tarde, deslizei na cama,
nu, como sempre dormia. A maneira como os lençóis deslizaram contra meus
órgãos genitais foi muito agradável como sempre é. Fechei meus olhos e
imaginei como seria bom ter Clarissa ali mesmo para esfregar meu corpo,
deslizar contra mim, e sentir sua mão alcançar meu pau e acariciá-lo com a
maior força possível e depois levá-lo a boca suculenta.

Eu estava acariciando meu pau, puxando-o embaixo dos lençóis.


Segurei minhas bolas com a mão esquerda e acariciei meu pau com a mão
direita ao mesmo tempo. Adorava assim. Havia algo sobre bater meu pau que
me tirava um pouco do estresse. Apertei as bolas com mais força agora no
meu punho, esmagando-as contra a palma da minha mão e estremecendo alto
de dor que de alguma forma intensificou o prazer do golpe.

Eu estava duro, minha mente cheia de imagens das coisas que Clarissa
faria no meu pau. Imaginei sua boca abrangendo todo o alcance da minha
cintura e comprimento, engolindo meu pau com zelo. A luxúria estava
tomando conta da mente e corpo.
Naquele instante, eu vi Clarissa entre meus olhos entreabertos, meu
sonho de ter aquela mulher para mim. Ali estava, seus olhos cheios de luxúria
me encarando enquanto eu enchia sua boca com minha pica. Eu podia sentir a
cabeça deslizando contra suas amígdalas e empurrando sua traqueia, tão
apertada, tão quente, tão molhada, e ela estava tão ansiosa...

Agora eu estava batendo meu pau furiosamente com meu punho. Foi
tão rápido que fiquei tão absorto nessa fantasia que nem percebi que estava
prestes a vir até que isso acontecesse.

Uma carga pesada pairou no ar, deixando meu pau livre dos lençóis,
meus olhos observando como a semente quente voou no ar acompanhada pela
sensação de felicidade total que balançava por todo o meu corpo.

Peguei alguns lenços da minha mesa de cabeceira e me limpei jogando-


os no pequeno cesto de lixo ao lado da cama. Então fechei os olhos e tentei
dormir.

Uma parte de mim se perguntava se um dia Clarissa estaria nessa cama


comigo, tornando minha fantasia uma realidade.

Esse tinha sido um dos meus pensamentos dominantes desde que a


conheci. Eu me encontrei no trabalho sonhando acordado com isso muito
mais do que provavelmente deveria estar, mas essa mulher tocou
profundamente em minha alma.

Eu a queria. Eu precisava dela.

Eu a amava.

Era ridículo pensar nisso, já que sequer trocamos um abraço ou um


beijo..., mas, sim... Sim. Era isso ... eu sabia que era real.

O que eu sentia por ela era real. Não havia dúvida na minha mente. Eu
queria que essa mulher fantástica me completasse. Ela era a única mulher que
poderia.

Só esperava que, de alguma forma, eu pudesse fazer isso acontecer.

Mas, ao mesmo tempo, o que isso faria comigo emocionalmente? Me


entregar a um sentimento assim, de novo? Eu não estava pronto. Nunca
estaria.

Havia muita coisa na minha cabeça.

Ser traído mexe assim com você. É mais do que esmagar sua
autoconfiança, é fazer com que você sinta desconfiança até mesmo dos seus
sonhos.
Capítulo 8
Clarissa

Olhei para o banheiro e quase me engasguei.

Eu sabia que Helena e Tatiana já haviam passado por isso, mas era a
primeira vez que me acontecia. Alguém resolvera cagar em todos os lados, e
limpar a bunda na parede.

Recuei e coloquei as mãos nos quadris para me firmar. Essa era a coisa
que eu mais odiava fazer. Limpar banheiros. Obviamente eu queria que
houvesse alguém para fazer aquilo no meu lugar, mas Márcia havia reduzido
custos e nosso papel, além de servir, era também limpar.

Eu queria poder mandar todo mundo se foder e ir para casa, mas


precisava da grana. Precisava muito. E quando você precisa de um emprego
você se submete a tudo, até mesmo limpar ao cocô de outra pessoa.

Afastei-me do banheiro e olhei em volta da cafeteria quase vazia.


Ainda havia apenas alguns dos clientes regulares, mesmo depois das nove.
Era terça-feira. Parecia uma noite morta.

— Ei, muito obrigado a quem bosteou o banheiro inteiro. Talvez da


próxima vez você possa tentar cagar dentro do vaso.

Todos eles me ignoraram. De noite em Esperança, só ficava na cidade


quem já estava com a vida acabada. Esperança era uma cidade agrícola, que
enchia de gente durante o dia, mas que nas noites via sua população ficar em
casa. A noite só ficava perambulando bêbados e infelizes (como eu), sem
família.

Talvez por isso que a presença de Noah uma e outra noite por semana
parecia um bálsamo para mim.

Puxei as luvas de borracha e comecei a limpar. Cerca de vinte minutos


depois, o banheiro estava limpo, e cheirava dez vezes melhor do que nunca.
Por outro lado, eu me sentia suja como se a merda houvesse me infestado.

Queria derramar um balde com QBoa na minha cabeça!

Eu estava tão acabada com este trabalho. Costumava ficar bem, mas
ultimamente isso realmente começou a afetar minha saúde mental. Estava
ficando deprimida e simplesmente não feliz. Eu ia começar a procurar outra
coisa, tinha que haver outra forma de pagar minhas contas.

Alguns meses atrás eu costumava agradecer a Deus por ter um


emprego. Hoje, eu só queria ficar na cama deitada e nunca levantar.

Voltei para trás do balcão e me sentei. Enquanto olhava ao redor,


percebi o que estava faltando tanto. Havia uma coisa que me motivava
naquele trabalho... E agora, sem ela, nada ali tinha luz.

Noah. Eu não o via há quase três semanas, desde aquela noite em que
Thiago havia entrado.

Thiago havia sido preso mais tarde naquela noite, solto no dia seguinte
e agora estava enfrentando acusações. Eu teria que testemunhar contra ele
sobre tudo o que ele fez comigo e, se eu tivesse sorte, ele seria preso
permanentemente por me ameaçar, me incomodar e perturbar a paz.

E depois ele poderia querer vingança.

Deus, eu precisava que descobrissem mais podres dele, porque só as


acusações... eu tinha quase certeza de que ele se livraria dessa com fiança.

Mas, por fim, Thiago não apareceu mais. Era um alívio. Queria nunca
mais vê-lo. Como um dia fui capaz de ficar com esse homem?

Tudo que eu queria agora era seguir em frente.

E queria seguir em frente com Noah.

Mas ele, de repente, se foi também. Eu sabia que tinha muita coisa
acontecendo com Miguel. Gostaria de saber se tudo estava ok. Eu não queria
ser intrometida, mas estava genuinamente curiosa sobre como uma mãe foi
capaz de abandonar seu filhinho doente com o pai.

Se eu tivesse um filho... nada me faria deixá-lo para trás.

Pensei em Miguel. Não o conhecia, mas o imaginava pequeno e frágil.

Um calor súbito subiu pelo meu peito. Decidi naquele momento que
tinha que saber se ele estava bem.

Eu tinha o número de Noah. Na primeira vez que nós nos conhecemos,


ele me deu seu cartão de visitas. Lembro de ter achado cafona, quem ainda
usava cartões? Mas, guardei ele numa gaveta da cafeteria.

Decidi que o usaria para ligar para ele agora. Era estranho, insistente, e
ele provavelmente pensaria que eu era uma espécie de desesperada, mas,
naquele momento, não me importei. Eu tinha que saber com certeza o que
estava acontecendo com ele.

O som chamou uma vez, duas... Eu fiquei lá andando de um lado para


o outro atrás do balcão enquanto esperava que Noah atendesse. Uma parte de
mim esperava que ele não o fizesse, pois isso significava que eu não teria que
passar por esse constrangimento, mas no quarto toque ouvi sua voz.

— Sim?

Congelei. Por um momento, esqueci quem eu era e por que motivo


estava ligando. Então voltei a mim.

— Oi. É Clarissa — disse.

Houve uma pausa. Certo... ele provavelmente esqueceu quem eu era, o


que significava que eu pensava nele muito mais do que ele pensava em mim.

Boa Clarissa! Humilhação concluída com sucesso.

— Oi — disse a voz do outro lado. Eu reconheci que era de fato a voz


de Noah. — Como vai? — Ele estava obviamente estranhando que eu
liguei.

Por que eu fiz isso?

— Bom, eu apenas pensei em ligar para você, já que eu não tenho te


visto nas últimas semanas. Queria ter certeza de que você e Miguel estavam
bem. Costumo notar quando meu cliente favorito não aparece por algumas
semanas.

— Ah, sim. Eu estive tão inundado de trabalho. Minha babá teve uma
emergência familiar e pediu demissão. Até agora, não tive sorte em encontrar
alguém para substitui-la.

— Isso explica sua ausência — disse eu voz alta, mas queria ter apenas
pensado. Por fim, resolvi ser sincera. — Eu pensei que você não queria mais
me ver.

Meu Deus, senti lágrimas nos olhos. Era deprimente demais.

— Oh sim, foi por isso também — ele riu.

O riso dele me acalmou, me acalentou.

— Espero que você encontre uma babá em breve.


Ele suspirou.

— Sim, mas a busca não está indo bem. Eu entrevistei cerca de vinte
pessoas, mas nenhuma delas é adequada para o trabalho.

— Entendo.

Então a ideia me atingiu.

— Espere... estou curiosa... quanto você paga?

— Como?

— Para o trabalho de babá. Qual é o salário?

— Bem, seria um salário-mínimo e meio, caso Miguel fosse uma


criança normal, mas como ele tem limitações pela saúde, eu pago o salário de
cuidador mais benefícios e extras. O horário varia dependendo da minha
agenda, mas eles são razoavelmente próximos das 8 horas diárias.

Isso era mais do que eu estava fazendo no bar, mesmo com gorjetas. E
a natureza do trabalho era muito melhor. Eu estava cansada de trabalhar
durante a noite. E eu queria voltar a estudar e precisava de um emprego com
algum tempo de inatividade que facilitasse isso e me permitisse, pelo menos,
fazer aulas presenciais.

— Eu poderia fazer uma entrevista?

— Como assim?

— Para o trabalho de babá.

Noah não falou por um momento. Eu tinha medo de que ele pensasse
que era uma péssima ideia, mas eu tinha esperança. Era otimista às vezes.

— Hum... Você quer ser babá? Você é uma ótima garçonete. Achei que
gostasse de trabalhar na cafeteria.

— Não. Eu odeio trabalhar aqui. Eu ganho pouco, tenho que sorrir para
todo mundo, e aguentar uma chefe chata. Eu quero tentar algo novo.

Mais silêncio. Esperei pela recusa, mas de repente sua voz pareceu
vibrar.

— Nossa, isso seria ótimo. Eu já te conheço, então está contratada se


estiver realmente interessada. Você precisa de um aviso prévio?

— Eu devia dar o aviso, mas foda-se. Márcia, a gerente, é uma idiota.


Só vou dizer a ela que tô saindo. Eu posso começar amanhã.

— Isso seria incrível — disse ele.

Noah detalhou o que o trabalho envolvia, as horas, deixando Miguel na


pré-escola, buscando-o, alimentando-o, ajudando-o na hora do banho, na hora
de dormir, nas brincadeiras, etc. Tudo parecia bem. Na verdade, eu já havia
trabalhado como babá antes, então não estava preocupada.

Eu estava pronta para isso.

O que eu não estava pronta era para lidar com os sentimentos que tinha
por Noah. Eu não sabia se ele se sentia da mesma maneira que eu, mas estava
desesperada para descobrir. E eu sabia que a situação poderia se tornar
complicada com a proximidade diária. Mas eu estava disposta a arriscar.
Estava pronta para uma mudança.

Liguei para Márcia que nem me deixou falar e já começou a reclamar


porque eu havia dito que não faria hora extra no sábado. Quando ela
terminou, avisei que era minha última noite. Ela tentou protestar e me
ofereceu um aumento, mas eu a interrompi desligando o telefone.
Sentiria falta de Tatiana e Helena, minhas companheiras de trabalho,
mas estava aliviada por dar o fora dali. Não entendia por que as duas não
faziam o mesmo já que eram tão bem casadas.

Naquela noite, quando saí da cafeteria senti uma sensação de total


satisfação.

Era como se uma tonelada estivesse saindo das minhas costas. Só


entenderia esse tipo de alívio quem já lidou com um chefe abusivo.

Cheguei em casa naquela noite e me sentei no sofá com uma sensação


de emoção ecoando pelo meu corpo.

Peguei meu celular e fui direto no Facebook, pesquisando sobre Noah,


algo que eu evitava fazer até então. Eu não sabia por que não o havia
perseguido on-line antes, mas agora de repente parecia uma boa ideia fazer.
Sua página não continha quase nada, então fui para o Google.

Ali sim havia muita coisa.

Tinha uma infinidade de imagens on-line e eu passei a próxima hora


vasculhando todas elas, encontrando várias páginas, vários blogs escritos
sobre ele e matérias sobre sua carreira promissora. Era tudo fascinante, mas
eu tinha a sensação de que nada disso realmente mostrava uma imagem exata
de quem ele realmente era. Nenhuma dessas pessoas conheciam esse homem
tão bem quanto eu.

Eu ainda podia ouvir a voz dele no telefone. Aquele barítono quente e


baixo parecia tão atraente.

Eu queria ouvir mais.

Eu o queria.
Queria as mãos dele em mim, sua boca e mãos deslizando pela minha
pele. Mais tarde naquela noite, quando subi na cama, fechei meus olhos e
imaginei como seria bom estar com ele ao meu lado. Eu odiava dormir
sozinha. E eu sabia que Noah seria o homem que poderia me fazer sentir
aquele sentimento doce que eu tanto ansiava.

Volvi para a gaveta da minha mesa de cabeceira e puxei meu


segredinho sujo de lá, um vibrador grosso e longo. Parecia um pau grande e
bonito. Glorioso. Eu o tinha usado várias vezes nos últimos meses desde que
o comprei. Sempre me dava bons orgasmos.

Enfiei-o na boca e imaginei que estava chupando o pau longo e duro de


Noah. Eu podia sentir seu corpo pulsando dentro da minha boca, seus quadris
alimentando seu pau para mim, sua mão na parte de trás da minha cabeça
acariciando meu cabelo e me guiando, tentando me forçar a ir mais rápido
enquanto eu me segurava o suficiente para deixá-lo louco. Eu podia sentir seu
sêmen enquanto eu engolia sua espada de carne e esperava minha
recompensa.

Então, antes que ele viesse, ele rolaria em cima de mim e entraria entre
as minhas pernas. Seu pau duro me abriria e eu me encontraria à beira do
orgasmo. Eu não seria capaz de segurar tanto tesão.

Empurrei o vibrador em minha boceta com força agora, me esticando


enquanto minha boceta molhada o abraçava e o engolia quase inteiro. Puxei-o
e empurrei-o repetidamente, movendo-me devagar, e depois rápido, às vezes
suave e às vezes mais duro quando fechei os olhos e fiz acreditar que Noah
estava ali comigo. Ele estava em cima de mim. Sua bunda apertada estava em
minhas mãos enquanto eu o segurava e envolvia minhas pernas em torno de
seu torso.
Pareceu incrível. Eu estava à beira de um penhasco e não me importava
de cair de lá.

Podia sentir o prazer vindo. Meus dedos estavam curvados. Minha


pelve se esticando mais para cima. Meus pés agarraram a cama enquanto eu
batia o vibrador com mais força na minha boceta. Eu mantive meus olhos
fechados e deixei meus gemidos de prazer escaparem alto. Eu não tinha
motivos para ficar quieta. Eu estava quase lá. Oh, tão... perto...

Suspirei pesadamente quando cheguei no orgasmo. Apertei meus


quadris no colchão e minha parte inferior do corpo se levantou dos lençóis no
ar, esticando os tendões. O orgasmo sacudiu meu corpo e eu lentamente
comecei a entrar em colapso quando ofeguei de prazer.

Puxei o vibrador para fora da minha boceta molhada e o vi pingando.


Eu queria que o pau de Noah estivesse coberto com meus sucos naquele
momento. Isso me excitou demais. Eu só o queria. Eu tinha que tê-lo. De um
jeito ou de outro, sabia que ele seria meu. Eu não tinha certeza de como, mas
acreditava que havia algo entre nós.

Sorri para mim mesma quando fechei os olhos mais tarde e tentei
descansar. Sempre foi mais fácil depois de um bom orgasmo. Nada induzia o
sono tão facilmente.

Quando acordei na manhã seguinte, estava pronta para trabalhar. Tinha


que chegar na casa de Noah às sete para poder levar Miguel para a pré-escola.
Meu alarme disparou na hora e acordei facilmente, apesar de ter tido apenas
quatro horas de sono. Estava exausta, mas tinha um trabalho a fazer. Era meu
primeiro dia e eu estava determinado a causar uma ótima impressão.

Eu estava nervosa dirigindo para a casa de Noah, mas senti que estava
fazendo o que era certo.
A noite passada surgiu na minha mente. A possibilidade parecia tão
real, como se isso pudesse realmente acontecer. Eu me perguntava como seria
bom.

Céus... eu já estava me molhando de novo pensando sobre isso e agora


eu precisava prestar atenção ao trabalho.

Além disso, era muito possível que Noah não quisesse que tivéssemos
algo romântico enquanto eu estivesse trabalhando para ele.
Capítulo 9
Um mês depois

Noah

A vida foi se tornando mais fácil à medida que eu tinha alguém em


quem podia confiar para cuidar do meu filho.

Clarissa era uma babá incrível.

A maneira como ela e Miguel se deram bem foi fenomenal. Adorava


assistir cada minuto da inteiração dos dois.

— Vegeta é o melhor herói — ela comentou ao lado dele, enquanto


ambos assistiam televisão.

— É o Goku! — Miguel interpôs.

— Goku é um idiota! — ela fez uma careta que fez Miguel rir.

— Goku é o melhor guerreiro — ele fez um movimento com os braços


como se estivesse lutando.

Clarissa suspirou pesadamente.

— Ok. Vou aceitar isso, mas só porque você concorda comigo que a
Bulma é a melhor personagem.

Ele concordou rindo, e eu fiquei ainda mais admirado pela maneira


como ela o tratava.

— Crianças não são retardadas. Não preciso fazer voz de fresca.


Crianças odeiam isso. Talvez porque eu as trato com respeito elas gostam de
mim — ela me confidenciou numa noite, antes de ir embora.
Por causa disso, me vi voltando para casa mais cedo e mudando um
pouco o trabalho para vislumbrar os dois juntos. Isso significava que eu tinha
que compensar esse trabalho mais tarde em meu escritório, e as três horas de
sono a menos por noite estavam me matando, mas valia a pena.

Todavia, agora, eu seriamente tinha que voltar à minha rotina normal,


não importava o quanto quisesse estar com os dois.

Percebi que amava Clarissa nos primeiros dias em que ela frequentava
regularmente minha casa. Eu já tinha minhas suspeitas antes, e até tentei
ignorar esses sentimentos durante as poucas semanas em que estive muito
ocupado para passar pela cafeteria. Quase me convenci de que o que sentia
por ela era um sentimento passageiro, talvez uma simples atração, mas nada
tão sério. Ledo engano. Era sério. Eu sabia, eu sentia. Eu vivia isso em cada
movimento ritmado do meu coração.

No momento em que ela entrou na minha vida, tudo mudou. Ela era
única. Ela era a mulher que eu estava esperando. Ela era a mulher que eu
desejava que Tânia fosse e não foi.

Miguel se apaixonou por Clarissa instantaneamente. Os dois tinham


um relacionamento incrível juntos e eu podia dizer que ela definitivamente
amava crianças. Ela tinha um vínculo com ele que era muito mais forte do
que o que ele tinha com Tânia.

Não me entenda mal, Tânia amava Miguel, mas de muitas maneiras ela
o tratava como um troféu para tentar fazê-la parecer bem, normal, natural. Ela
estava sempre colocando postagens on-line que mostravam que mãe incrível
ela era e era fácil perceber que as postagens eram sobre ela e ele era
realmente apenas um acessório.

Com Clarissa, o vínculo era genuíno. Parecia mais natural. Mas por
mais que eu odiasse Tânia e tentasse mantê-la fora da vida de Miguel, ela era
sua mãe e sempre estaria por perto uma vez ou outra.

Ela o recebia em visitas uma vez por mês durante um fim de semana.
Eu realmente não queria que ela tivesse mais contato com ele do que isso e
lutei no tribunal. Além de me trair, percebi que Tânia tinha casos com
pessoas que eu não considerava de confiança, gente envolvida com coisas
erradas, e temia deixar meu filho perto dessa gente. Casos de abusos físicos e
emocionais a crianças estava se tornando tão comum... Porém, todas as vezes
que disse isso no tribunal, fui observado como o ex-ciumento que não
aceitava que a antiga esposa seguisse em frente.

Além disso, Tânia era policial. As pessoas veem a polícia como seres
incapazes de cometerem atos errôneos ou se envolverem com gente que não
presta.

Ela ficou enfurecida quando eu trouxe isso à tona, mas acabou que
aceitou de bom grado o acordo da visita mensal. Eu nem sabia por que ela
queria ver Miguel, já que desde que saiu de casa não o procurava. E eu pensei
que estava sendo bastante generoso em ignorar meu sentimento de proteção e
deixá-lo ficar com a mãe que estava sempre cercada de amantes estranhos.

Pensei em tudo isso quando entrei na minha garagem. Tinha sido um


longo dia. Agora estava escuro como breu, e a casa estava quieta. Eu sabia
que Miguel já tinha tomado banho e estava na cama. Eu odiava não ter dito
boa noite para ele, mas iria procurá-lo mais tarde e dizer que o amava. Não
importava se ele pudesse me ouvir ou não.

Fechei a porta da garagem atrás de mim quando desliguei o motor do


carro, peguei minhas coisas e entrei. Encontrei Clarissa sentado no sofá lendo
um livro. Ela parecia tão bonita sentada ali apenas relaxando em uma
camiseta e um par de calças jeans. Ela era o tipo de mulher que conseguia ser
atraente até mesmo em um blusão velho.

Arrebatadora. Difícil não olhar.

— Boa noite — a cumprimentei. — Como foi o dia?

Deixei minhas coisas ao lado do outro sofá. Depois fui ao minibar e


comecei a me servir uma bebida.

— Foi ótimo — ela respondeu. — Tudo estava bem. Como foi o dia
na empresa?

Sorri. Era a primeira vez que eu recebia aquela pergunta. Compartilhar


meu dia era algo estranho.

— Tudo bem.

Ela riu do meu tom. Eu também reconhecia a exaustão nas minhas


palavras.

— Deixe-me perguntar: A vida no corporativismo é realmente um


devorando o outro?

— Detectei um pouco de sarcasmo? Você parece não gostar do mundo


corporativo?

— Não é cheio de lobos famintos por dinheiro que atacam todas as


ovelhas inocentes do mundo?

Eu pensei um momento.

— Bom, está cheio de caras como eu que possibilitam que essas


ovelhas tenham empregos.

Balancei a cabeça e ela sorriu. Ela adorava me provocar sobre qualquer


assunto. Lembro-me de que quando meu time, o Inter, perdia, ela passava
semanas tirando sarro. Juro que as vezes atrasava um ou dois dias minha
visita a cafeteria quando o colorado passava vergonha.

Sentei-me em frente a ela com minha bebida na mão.

— Como a sua banda está indo?

Clarissa mencionou casualmente, dias atrás, que agora que ela não era
garçonete e que podia usar suas noites para ensaiar com a banda, estava
realmente progredindo naquilo. Mas eu não tinha ouvido mais nada desde
então.

— A maioria das pessoas não se compromete de verdade. É como se


esperassem ser bons o suficiente para tocar em shows sem ensaiar. Temos
apenas três músicas, e mesmo essas precisam de algum trabalho. Mal
podemos tocá-las três vezes sem estragar tudo. Vai levar alguns meses para
estarmos prontos para um show. Isso é fato. E esses idiotas acham que
podemos simplesmente subir lá e arrasar. As vezes acredito que eles pensam
estar vivendo em um filme de Hollywood. Não existe sucesso sem
comprometimento. — Clarissa mordeu o lábio inferior antes de continuar. —
Você conhece a mulher do veterinário?

— A escritora de eróticos?

Foi um escândalo quando Gabriel se casou com uma escritora de livros


sexuais da Amazon.

— São romances — Clarissa me corrigiu. — As mãos dela são


inchadas de tanto escrever. Ela tem muito comprometimento. Conversamos
um dia e Maria Clara comentou que trabalha cerca de quinze a dezoito horas
por dia.
— Nunca pensei que a arte era difícil. Sempre achei que era aquela
coisa de dom, que você nasce sabendo... Não é de admirar que tantos artistas
passam por problemas.

— Verdade, é muito trabalhoso. Fico tentada a mandar todo mundo a


merda e conseguir novos parceiros. Sabe... Hoje é muito mais fácil divulgar
sua música, fazê-la ser ouvida. Colocar tudo on-line tornou tudo muito
simples, mas é claro que ainda existe competição, então você precisa fazer
algumas coisas para se destacar. Eu queria produzir uma ótima música para
conseguir bons colegas para a banda.

— Um amigo meu é um empreendedor da Internet. Ele é muito bem-


sucedido online. Ele provavelmente poderia lhe dar ótimas dicas. Uma coisa
que o ouvi dizer um milhão de vezes é que para o conteúdo se destacar, é
necessário ser ótimo de forma consistente e produzir uma quantidade louca
dele. Sabe, como livros? Escritores hoje, de sites como a Amazon, produzem
uma média de dez livros por ano. E precisam ser bons. Por isso a maioria das
pessoas desiste depois de não chegar a lugar nenhum por seis meses de
trabalho duro. Mas se você continuar, persistir, e lutar... quem sabe consegue.

Ela estava admirada com o meu pequeno discurso, sua boca aberta.

— Uau, estou impressionada.

Dei de ombros.

— É tudo sobre quem você conhece... quem pode te ajudar a se


destacar.

— Entendo — disse ela. — Estou gostando de conhecer mais de você.

— Bom, sou um livro aberto.

— Me revelou um traço de você, seus amigos, seu conhecimento.


Agora, minha vez. Pergunte algo para mim — ela pediu timidamente.

A língua dela deslizou pelos lábios suavemente. Isso me excitou como


um louco e eu me senti quente por todo o lado. Tomei um gole do meu uísque
e mantive meus olhos nela o tempo todo. Ela largou o livro e agora estava
sentada com as pernas ligeiramente afastadas, como se estivesse sugerindo
algo para mim.

— Isso é interessante — eu disse. — O que devo perguntar?

Ela encolheu os ombros. Fiquei tentado a levar isso para algum


território sexual, mas não teria sido apropriado. A menos que fosse o que ela
queria. Parecia que ela estava sugerindo isso.

— Quando foi a sua primeira vez? — Eu perguntei.

A boca dela ficou aberta.

— O quê?

Ela estava fingindo estar chocada. Eu não estava comprando aquele


teatro.

— Quando você fez sexo pela primeira vez?

Ela ficou mais ereta. Então sorriu.

— Eu tinha dezoito anos. Foi em uma festa de despedida do ensino


médio. Fiquei com esse cara...

— Como foi? Você namorou ele por um tempo?

— Não. Ele praticamente me chutou no dia seguinte.

— Ok — eu ri. — E você o fez pagar por isso?

— O que você quer dizer?


— Não sei... você bateu no cara? Falou mal dele para todos os seus
amigos? Bom, ele te deixou depois da primeira vez, você não pode ter
simplesmente dado de ombros e deixado para lá.

Ela riu.

— Eu estava bem. E realmente não queria um relacionamento na


época. Eu só estava tentando ser igual a todas as minhas colegas. Ninguém
mais era virgem, além de mim. Mas, no final, a escola acabou, a vida
continuou, e eu percebi que só desperdicei um momento com um idiota
porque não queria ser diferente das outras garotas.

— Por isso você é tão focada na música? Por que desistiu de outras
coisas importantes e agora não quer desistir disso?

— De certa forma. A música é minha maior paixão. E eu não tenho


outros dons. Não tenho estudo. Ou era trabalhar a vida toda de garçonete e
ficar grata por apenas isso, ou ter um sonho... e lutar por ele.

Achei a maneira dela de ver o mundo muito fascinante.

— Eu gostaria de poder ser tão sonhador.

— Por que você não pode? Inferno, você é dono do mundo


praticamente. Você pode fazer o que quiser da sua vida.

— Eu realmente não tenho tanta liberdade. Duvido que muitas pessoas


o tenham. Eu trabalho demais, como você pode ver. Gosto disso, mas
gostaria de ter muito mais tempo para passar em casa e fazer outras coisas,
mas é o caminho que escolhi. Eu não peço desculpas por isso. Um dia planejo
desacelerar, mas duvido muito que aconteça.

— Espero que você possa um dia. Mas eu entendo. O problema é o


medo de ver o tempo passando e perder a chance de ser feliz...
— Você sempre tem tempo. Você pode começar de novo e tentar
novamente, não importa o que esteja fazendo ou queira fazer. Inferno, faço
isso o tempo todo quando começo um novo empreendimento.

Seus olhos ficaram fixos nos meus por alguns segundos. Meu coração
acelerou.

— Bom, já terminei meu horário — ela disse e eu me preparei para ela


ir embora. Contudo, Clarissa não se moveu. — Eu poderia tomar uma bebida,
sabe.

Olhei para o bar e depois terminei minha bebida. Levantei-me e


caminhei em direção ao bar.

— O que você gostaria?

— Tanto faz.

Eu arrumei martini e, quando me virei para caminhar em direção ao


sofá para lhe entregar a bebida que eu havia feito, percebi que ela estava bem
na minha frente. Eu não tinha previsto isso acontecendo. Mas lá estava ela,
incrível, sensual e sedutora. Eu a queria tanto naquele momento. Eu precisava
dela. Queria abraçá-la, tocá-la, acariciar seu corpo, correr minha língua para
cima e para baixo em sua espinha e depois dar a volta para enterrar meu rosto
entre suas pernas...

Eu fiquei instantaneamente duro. Minha ereção estava roçando minhas


calças, deslizando contra o zíper, causando um pouco de dor, mas apenas o
suficiente para ser de alguma forma erótica. Foi ótimo. Mas não tão bom
quanto eu sabia que poderia ser se eu passasse muito mais tempo com essa
mulher incrível.

— Obrigada — disse ela.


Clarissa tomou um gole da bebida e a colocou no bar atrás de mim. Ela
estava tão perto de mim. Eu não conseguia mais me conter. Eu tive que ir em
frente. E é isso que eu fiz.

Estendi a mão e toquei seu pescoço, segurando-a com as duas mãos


gentilmente e depois puxei seu rosto para o meu. Meus lábios estavam nos
dela então. O beijo começou doce e rapidamente se tornou muito mais
apaixonado. Senti como se estivesse pegando fogo por toda parte, com
luxúria e desejo. Meu corpo estava começando a suar. Meu pulso disparou.
Eu até me senti tremendo um pouco com a sua doce boca na minha.

Seus lábios eram tão macios, mas um pouco úmidos. Seu hálito era
quente e agradável e, pela maneira como ela mexia os lábios, parecia saber
exatamente como me tocar. Eu esperava que meu pau estivesse entre aqueles
lábios doces em breve.

Eu sonhava com esse momento por tanto tempo e tê-lo finalmente


concretizado foi incrível para mim. Eu queria tanto essa mulher. Eu a
desejava. Ela era como uma droga que eu simplesmente não conseguia tomar
o suficiente e agora que eu realmente provei, sabia que isso nunca iria acabar,
meu desejo por ela seria infinito.

Só iria continuar a crescer. Ela estava se tornando uma força motriz no


meu mundo e eu vi um futuro longo com ela.

Mas eu tinha que ser paciente e tomar as decisões certas. Eu não queria
assustá-la. E eu sabia que estava me adiantando demais. Este era um processo
lento e gradual e, se eu começasse a apressá-lo, certamente acabaria fazendo
as coisas desandarem.

Eu me afastei do beijo e suspirei pesadamente. Continuei segurando


seu rosto doce com as mãos. Eu senti vontade de beijá-la novamente.
Inclinei-me e Clarissa recostou-se, dando um passo. Ela sorriu e me olhou
nos olhos.

— É melhor eu ir embora. Está ficando tarde.

Merda. O beijo foi uma má ideia? Não. Não poderia ter sido. Eu amei
demais. Era perfeito demais, ainda mais perfeito do que eu jamais poderia ter
imaginado. Eu estava tropeçando nos meus pés enquanto tentava mudar meu
peso para o outro pé. Minhas pernas estavam fracas e trêmulas. Os lábios
dessa mulher haviam tirado toda a minha força vital de mim no momento. Eu
era tão viciado nela e em seu doce toque. Eu ansiava por isso novamente.

Mas eu mantive minhas emoções sob controle. Mal pisquei. Eu não


perguntei o porquê. Eu não me deixei envolver o suficiente com o barulho em
minha própria cabeça para alterar de alguma forma meu comportamento. Eu
tive que permanecer estoico. Era assim também nos negócios. No momento
em que você deixa as emoções interromperem o jogo, tudo acaba.

— Ok. Vejo você amanhã.

— Sim, você vai — ela respondeu sexualmente.

Ela me deu uma última olhada antes de pegar suas coisas e sair pela
porta da frente. Eu a fechei atrás dela e, em vez de vê-la ir para o carro,
simplesmente voltei para dentro.

No momento em que fechei a porta atrás de mim e me inclinei contra


ela, colocando as mãos nos joelhos, minha cabeça estava com uma corrida
louca de sangue. Tentei me acalmar. Isso estava ficando intenso.

Bom, era questão de tempo, desde que a conheci.

E foi um passeio de emoção maravilhoso. Eu senti vontade de pular.


Eu senti vontade de correr pela casa gritando como um homem louco.
Mas eu mantive tudo quieto, absorvido em minha razão,
principalmente por causa do meu filho dormindo no andar de cima.

E eu queria manter minha compostura.

Isso estava ficando interessante.

Eu sabia que ela sentiu as mesmas coisas durante aquele beijo que eu
senti. Era erótico demais para ela ter sentido nada. Mas estava cruzando uma
linha. Eu era o chefe dela agora. Ela estava confortável com esse tipo de
coisa? Ou ela estava com medo de que, se fosse adiante, ficaria sem
emprego?

Não tinha pensado nisso.

Droga! E se isso não der certo?

Eu seria capaz de manter Clarissa aqui como babá de Miguel? Eu


gostaria. Eu não era o tipo de cara que a demitia por algo assim, mas a
situação se tornaria estranha, era inegável.

Mas eu estava disposto a arriscar. Eu estava disposto a arriscar que as


coisas fossem estranhas.

Eu estava disposto a tudo.

Sentei-me no sofá e terminei minha bebida enquanto tentava me


distrair com um pouco de televisão. Eu queria ligar para ela. Eu queria falar
com ela e ver o que ela realmente pensava do beijo. Ela me diria que isso não
poderia acontecer novamente? Ela diria que foi um erro?

Eu esperava que não, mas se ela o fizesse, eu teria que respeitar seus
desejos.
Capítulo 10
Clarissa

Empurrei o sorvete na boca enquanto observava a mulher bonita na


minha frente.

Ela deu uma grande mordida no sorvete e gemeu quase parecendo ter
um orgasmo com a sensação do sabor. Eu tive que rir. Aquela mulher forte
era a pessoa mais divertida que eu conhecia. Essa foi possivelmente a única
razão pela qual eu saí com ela. Tínhamos pouco em comum, mas durante os
meses que eu trabalhei na cafeteria, acabei por me encantar pela força da
esposa do advogado da cidade.

Helena era uma fortaleza que sobreviveu a tudo. A cidade inteira falava
dela – falava mal dela! – mas todos que a conheciam se encantavam.

E ela sempre me deu conselhos sobre como viver minha vida da forma
mais digna possível.

Então, quando precisei de conselhos, eu a busquei. A convidei para um


sorvete e acabei contando sobre o beijo na noite passada com Noah.

E, céus... que beijo. Eu continuava repetindo isso em minha mente.


Naquele momento, pareceu incrível, tudo que eu precisava, tudo o que eu
desejava desde que vi Noah entrar na cafeteria meses antes.

Estava se construindo entre nós, desde então, e a recompensa valeu a


pena. E agora eu queria isso de novo. Eu queria mais. Eu precisava. Foi isso.
Eu precisava daqueles lábios nos meus.

Noah era perfeito, tudo o que eu sempre quis em um homem. Eu estava


deixando-o escorregar entre meus dedos? Por que eu saí abruptamente depois
que aconteceu? Eu deveria tê-lo beijado mais forte e deixado as coisas
progredirem. Ele queria e eu também. Por que não? Eu deveria ter deixado
claro que queria? Porra! Eu era uma covarde.

— Mas, talvez tudo seja um erro — eu disse.

— Por que diz isso?

— Hoje de manhã mal conversamos. Eu estava um pouco atrasada e


Noah saiu correndo de casa para ir trabalhar.

— Bem, hoje à noite, quando ele chegar em casa, apenas converse com
ele sobre isso. Diga a ele que você tem esses sentimentos por ele e veja como
ele se sente.

— Não posso fazer isso. Receio que ele possa me dizer que não é uma
boa ideia. Ele tem muitos muros. Não o culpo, eu também os tenho. Apenas...
minhas defesas desmoronam quando estou perto dele.

— Pela maneira como você descreveu que ele age não soa como se
estivesse se esquivando de você.

Revirei os olhos.

— Oh, ele é realmente forte. Inferno, isso é parte do motivo pelo qual
tenho medo de me afundar nos meus sentimentos. Estou preocupada que isso
possa não dar certo e ele vai me mostrar a porta e eu vou ter que voltar a
minha vida horrenda novamente — suspirei. — Mas estou mais preocupada
que eu realmente me apaixonei por ele.

Eu comecei a rir desastrosamente.

— Meu Deus, eu já estou cheia de sonhos. Vamos nos casar e vou


começar a ter bebês. E daí ele vai me decepcionar como todo homem faz. Já
perdi muito tempo com isso. Não posso me envolver com alguém agora. Por
que desenvolvi sentimentos por ele?

— Não tenho certeza de que isso é algo que você possa controlar. Você
sabe a história do gato de Gato de Schroedinger?

— Eu assisto The Big Bang Theory.

— Então você sabe que a única forma de saber se o gato está vivo ou
morto é abrindo a caixa. Isso ou esquecer tudo.

Eu gemi. A segunda alternativa me fazia sentir-me mal.

— Você precisa relaxar. Está pensando demais nisso. Apenas vá em


frente. Ele te beijou, certo?

— Sim...

— Então ele obviamente queria te beijar. E você deu a entender que ele
está tendo problemas para se controlar...

Eu ri.

— É o que parece...

— Você só precisa ser honesta com ele. E seja honesta consigo


mesma.

— Sim. Tenho certeza de que está certa, mas estou com medo por
algum motivo. Não sei se é porque estou empolgada com isso, ou se estou
super preocupada que isso atrapalhe alguns dos planos que tenho.

— Falando nisso, como está indo a banda?

— Nada bem. Eu simplesmente não consigo encontrar alguém que se


comprometa. Mas estou economizando para um software de gravação,
criando algumas melodias e vou começar a reunir algumas gravações e enviá-
las para a internet. Também quero criar um canal no Youtube, algo
profissional. Depois, só espero que alguém me descubra e queira me ouvir.

— Isso parece incrível. — Ela mordeu outro pedaço do sorvete e


depois despejou sem misericórdia. — Então, hoje à noite você vai dormir
com Noah?

Eu me engasguei enquanto Helena riu e terminou o sorvete. Nós duas


ficamos em silêncio por alguns minutos. Minha cabeça agora estava cheia de
tantas ideias conflitantes. Mas tentei me concentrar em momentos e coisas
mais felizes.

O que ia acontecer entre Noah e eu?

— Francamente? Não faço ideia.


Capítulo 11
Noah

Estava sentado no sofá em frente a Clarissa, exatamente como na noite


passada quando as coisas começaram a esquentar entre nós. Tínhamos
acabado de colocar Miguel na cama e agora estávamos desfrutando de uma
xícara quente de café descafeinado.

Eu estive pensando sobre isso o dia todo. Eu mal consegui dormir na


noite passada porque queria tanto vê-la. Estava me corroendo o dia inteiro,
durante reuniões e visitas ao local de trabalho. Eu senti como se estivesse
distraído o dia todo.

Mas agora Clarissa e eu estávamos aqui e tínhamos tempo para


conversar sobre o que nos assolava. Eu estava pronto para ouvir seus
pensamentos e expressar como me sentia sobre as coisas.

Eu era a porra de um adulto, afinal de contas.

E tinha tomado a decisão de deixá-la saber que não lamentava o beijo,


nem um pouco. Isso tinha acontecido e eu queria que acontecesse novamente.
Eu queria experimentar tudo com ela.

— Eu quero falar sobre ontem.

Clarissa assentiu, agindo com calma enquanto tinha brilho nos olhos.

— Eu me sinto incrivelmente atraído por você — assumi. — Eu queria


beijar você há muito tempo. E foi incrível.

Seus olhos se arregalaram e eu pude ver que ela estava feliz com isso.
Aquilo foi um bom sinal. Fiquei feliz em ver sua resposta expressa no seu
rosto gentil.
— Ok... — ela murmurou. — Eu estava preocupada que você
pensasse que era algo que não deveríamos fazer novamente. Comecei a
trabalhar aqui e realmente não quero fazer nada para prejudicar isso.

— Isso não é algo com que você precisa se preocupar. Mas você
gostou do beijo?

— Oh, sim. Eu amei. Eu queria te beijar há muito tempo também.


Acho que a primeira vez que te vi me senti realmente atraída por você, mas
sei que você está passando por algumas coisas — ela pigarreou e eu aguardei
— Não tenho certeza do que estou procurando. Mas sei que quero manter
isso casual, porque estou tentando fazer alguns sonhos se tornarem realidade.
Há coisas na vida que quero realizar, mas não quero sacrificar nada disso me
envolvendo com alguém. E você me comentou certa vez na cafeteria que não
tinha mais sonhos como ter outros filhos...

— É verdade. Eu quero que Miguel seja único.

— Então... sem expectativas ou sonhos de algo mais sério... Enfim...


não vejo por que deixar isso passar sem viver a experiência.

— Eu entendo totalmente. Também quero ver isso acontecer.

Ela sorriu para mim e assentiu.

— Hum — disse, em sinal de aceitação.

Eu me levantei e caminhei até ela. Sentei-me ao lado dela e olhei em


seus lindos olhos. Estendi a mão e passei os dedos pelos cabelos macios,
afastando-os da testa enquanto seguia os fios.

O cabelo dela era tão sedoso. Foi a coisa mais suave que já toquei. Isso
fez minha pele formigar com antecipação. Descansei minha mão na parte de
trás da cabeça dela e me inclinei para beijá-la suavemente.
Clarissa fechou os olhos e se inclinou, pressionando os lábios contra os
meus. Eu afundei no beijo derretendo completamente nela. Os lábios de
Clarissa se abriram, nossa respiração se fundiu e nossas almas se misturaram.
Eu senti suas paixões irrompendo dentro da minha boca enquanto sua língua
deslizava contra a minha. Eu chupei e a eletricidade do tesão veio cruzando
mais rápido dentro de mim. Nossas línguas balançaram juntas deslizando
para cima e para baixo. Eu gostei do longo eixo deslizando na minha própria
língua quando coloquei minha mão na parte inferior das costas femininas e
comecei a deslizá-la sob a blusa.

Ela gemeu baixinho, o que me excitou ainda mais. Adorei a ideia de


lhe dar prazer. Eu podia sentir sua intensidade aumentando e eu queria ver
exatamente o quão longe eu poderia ir. Eu pressionei minha mão na camisa
dela até que eu estava na alça do sutiã. Com um rápido movimento dos meus
dedos, eu soltei o sutiã. Ela riu sob o gemido naquele momento quando eu a
beijei com mais força. Sua língua estava correndo selvagem dentro da minha
boca agora. Seus lábios deslizaram contra os meus como loucos.

Ela se afastou de repente.

— Quarto.

Eu assenti. Afinal, não estávamos sozinhos em casa.

Peguei a mão dela e a levei pelas escadas. Dentro do quarto, para


minha surpresa, quando a porta foi fechada, Clarissa caiu de joelhos e
começou a mexer no meu cinto. Ela rapidamente o desfez e começou a
desabotoar minha calça e, por último, o zíper foi abaixado.

Ela alcançou o interior enquanto mantinha forte contato visual em


mim.

Eu amei isso. Meu pau estava na mão dela agora. Eu gemi alto quando
seus dedos tocaram minha pica totalmente ingurgitada.

Oh, eu queria isso por tanto tempo. Ela dançou os dedos no eixo até
chegar à cabeça e depois me tirou da minha calça completamente. As calças
caíram no chão nos meus tornozelos.

Antes que eu pudesse processar o que estava acontecendo, ela colocou


meu pau em sua boca. Seus lábios macios estavam presos ao redor do meu
eixo e ela moveu a boca em mim até a base, engolindo meu pau grosso.
Fechei os olhos por um momento e tentei não desmaiar de prazer.

Suas mãos estavam segurando minhas bolas e apertando-as da maneira


perfeita enquanto sua boca trabalhava. Ela me chupou com tanta força
naquele momento, apertando os lábios com o número certo de dentes.

Meu corpo respondeu quase involuntariamente, empurrando meu pau


em sua boca cada vez mais rápido. Ela abriu a garganta e me engoliu com a
maior facilidade, gemendo alto enquanto fazia isso e passando os lábios em
volta do meu pau para frente e para trás como se estivesse passando batom.
Isso, combinado com a atenção dela para minhas bolas, foi esmagadoramente
intenso. Eu pensei que poderia vir a qualquer momento. Não seria capaz de
aguentar isso por muito tempo.

Sentindo que eu estava prestes a explodir, Clarissa me puxou para fora


da boca e levantou-se naquele momento. Ela me beijou com força na boca.
Mordeu minha língua entre os dentes e me puxou para dentro da boca o mais
profundo que pôde.

Então foi até a cama. Clarissa se virou e se despiu. Ela estava nua
parada na minha frente agora. Eu nunca tinha visto algo tão bonito. Seus
seios grandes e cheios eram imaculados, seus mamilos redondos estavam
totalmente eretos, sua pele era macia e bronzeada, seu corpo era curvilíneo e
tonificado, e suas longas pernas pareciam perfeitas para mim. Por fim,
concentrei-me no espaço vazio entre as pernas dela. Sua boceta molhada
estava lá esperando por mim.

Ela lambeu os lábios e deslizou na beira da cama. Ela abriu as pernas


prontas para mim. Eu me acariciei algumas vezes para garantir a máxima
dureza. Então eu dei um passo à frente e subi entre as pernas dela.

Abaixei-me e deslizei meu dedo indicador profundamente em sua


vagina. Estava apertado e molhado, totalmente pronta para mim. Oh, ela
queria muito. Eu também. Eu estava pronto.

Puxei meu dedo e chupei o suco nele. Ela tinha um gosto perfeito.
Fechei os olhos e imaginei como seria divino beber aquela boceta. Depois eu
definitivamente me entregaria a isso, mas naquele momento meu pau
precisava mais dela.

Eu separei seus lábios da buceta com meu pau e deslizei sem esforço.
Ela estava molhada, tão apertada. Minha espessura pressionou contra suas
paredes apertadas enquanto eu caminhava dentro dela. Uma vez lá dentro,
parei um momento. Eu a segurei em um abraço suave. Beijei-a suavemente e
passei meus dedos pelos cabelos novamente, com amor, carinho. Queria que
ela soubesse o quanto eu a apreciava e o quanto eu gostava dela. Não era
apenas uma foda. Não, isso foi muito mais importante. Isso tinha muito
significado para mim.

Eu puxei completamente e empurrei de volta para dentro até estar


totalmente enterrado nela. Ela estava ofegando e gemendo com cada impulso
da minha pica dura. Continuei a abraçá-la enquanto nós fodíamos,
balançando meus quadris para frente e para trás. Nós rapidamente nos
acomodamos no ritmo. Ela se inclinou contra mim. A segurei ainda mais,
minha cabeça ao lado da dela agora enquanto me aconchegava contra seu
pescoço.

Eu beijei sua pele macia. Eu chupei. Eu lambi. Eu trouxe aqueles beijos


para cima da jugular feminina e depois para baixo novamente.

Meu pau estava bombeando mais forte nela o tempo todo, um pouco
mais rápido com um pouco mais de propósito a cada impulso. Eu estava tão
perto de vir. Do jeito que ela estava balançando os quadris, eu sabia que ela
também estava.

Eu gritei quando apunhalei duro dentro dela. Eu podia sentir meu


esperma explodindo do meu pau em sua boceta macia e apertada. Ela ofegou
quando eu o fiz e seus quadris se levantaram, trazendo as pernas para cima
também. Era como se ela tivesse involuntariamente se posicionado para
absorver mais de mim dentro dela.

Então eu a senti gozar também. Sua boceta apertou meu pau e foi
difícil ficar dentro dela. Eu queria bombear o máximo de mim. Parecia tão
satisfatório e certo.

Clarissa gemeu alto no meu ouvido. Eu a segurei com força. Eu a fodi


com mais força ainda me mantendo dentro dela. Se eu saísse, não tinha
certeza se poderia voltar pois sua vagina estava apertando mais forte.

Seu corpo arqueou e tremeu violentamente enquanto ela tentava se


segurar. Finalmente, depois de alguns momentos, ela relaxou e deixou os
efeitos posteriores de seu orgasmo terminarem.

Então nós relaxamos um com o outro na cama. Eu estava suando. Meu


corpo estava cansado. Mas me senti mais relaxado do que em muito tempo. E
me senti contente, mais feliz do que havia me sentido há anos. Uau, era isso
que eu estava esperando e sonhando. Foi perfeito. Foi além do perfeito.
Eu olhei para Clarissa e sorri. Então eu passei meu braço em volta dela
e a trouxe para mais perto de mim para fazer um doce aconchego. Ela
descansou a cabeça suavemente no meu ombro. Fechei os olhos e depois os
abri novamente enquanto olhava para o teto. Eu não tinha certeza de onde
estávamos indo ou quanto tempo isso iria durar, mas eu estava pronto para
viver cada segundo. Eu sabia que estava lutando com meus sentimentos de
insegurança que desenvolvi como resultado de meus problemas com Tânia e
do que ela havia feito comigo, mas sabia que Clarissa estava lidando com
problemas maiores por causa daquele psicopata chamado Thiago. Nós dois
tínhamos isso em comum.
Capítulo 12
Clarissa

Esfreguei meus olhos sem conseguir evitar a exaustão. Eu estava


trabalhando numa música nova nas últimas quatro horas.

Eu já havia percebido que trabalhar com arte requeria muita atenção e


completa entrega. Mesmo uma simples melodia, estava me levando horas e
meus dedos estavam calejados de tanto tocar o violão.

Mesmo assim, não queria parar de trabalhar. Claro, estava ficando mais
e mais cansada e um pouco esgotada, mas o medo de perder a inspiração era
maior que a fome que fazia meu estômago roncar. Eu não tinha tomado café
da manhã, pular refeições era um padrão na minha vida desde Thiago.
Contudo, depois que comecei a trabalhar para Noah, eu havia mudado aquela
atitude, já que fazia refeições com o pequeno Miguel.

Meu rosto enrubesceu enquanto a imagem de Noah surgia e eu pensei


sobre a noite anterior.

Eu não podia acreditar que isso finalmente aconteceu. E aconteceu


novamente mais tarde depois da primeira vez. Acordei e encontrei o rosto de
Noah entre as minhas pernas me provando. A boca dele era tão boa. Ele sabia
exatamente como me dar prazer, como eu nunca imaginei.

Eu sabia que estava me apaixonando por ele. Não pude evitar. Era a
coisa errada a fazer. Eu senti isso em todas as partes dos meus ossos, mas era
o que era. Eu precisava dele. Eu não conseguia pensar em literalmente mais
nada. Mesmo enquanto eu trabalhava na minha música, ele era tudo o que eu
conseguia visualizar e a música, invariavelmente, acabava sendo sobre meus
sentimentos por ele, o que era interessante porque era infinitamente melhor
do que quando eu tinha algum assunto enfadonho do mundo real para
escrever. Assim, fiquei feliz com o que estava criando.

Entrei na cozinha e fiz um sanduíche para mim. Eu me senti estranha


por estar na casa de Noah quando ele não estava lá, mas ele me disse para me
sentir em casa, mesmo que Miguel não estivesse lá para me fazer companhia
(o pequeno havia ido na escolinha).

Eu sentia falta dele. Havia naquela criança uma carência que eu


reconhecia em mim mesma. Pensei no fato de minha mãe também ter me
abandonado na mesma idade, para ir viver sua vida com sua nova família.
Minha avó me criou até falecer e depois passei por casas de familiares. Não
tive uma estrutura familiar verdadeira, talvez por isso tomei péssimas
decisões ao percurso da minha existência: como me envolver com Thiago.

Eu não queria que Miguel passasse pela mesma coisa. Claro, não havia
como eu substituir uma mãe – eu era só a babá, pelo amor de Deus! – mas...
quem sabe se eu tentasse falar numa boa com a ex de Noah, ela se
interessasse mais pelo filho.

Sentando-me com meu sanduíche, decidi ligar para Helena. Ela e eu


estávamos conversando muito mais ultimamente, apesar de não mais
trabalharmos juntas. Desde que comecei a trabalhar na cafeteria, ela foi uma
amiga incrível. Havia outras meninas lá, e Tatiana..., mas, eu nunca fui
próxima de Tati porque a beleza dela me intimidava demais.

E, também, era divertido conversar com Helena, especialmente sobre


minha vida amorosa, mesmo que ela tivesse conselhos demais e ficasse brava
se eu tentasse refutar esses conselhos.

Quando ela respondeu, contei tudo o que havia acontecido, embora


tenha pulado os detalhes de fazer amor.
— Então, como foi?

Eu ri.

— Foi incrível, na verdade. Eu não acredito que finalmente aconteceu.

— Isso é fantástico. Mas acho que você deve estabelecer uma direção
mais clara de onde está indo e do que está acontecendo. Para não se
machucar.

— Estou feliz com o jeito que as coisas estão. Sem sonhos, sem
promessas. Não há razão para estabelecer algo assim. Nem sabemos se isso
vai durar. O importante é que sabemos que isso não vai afetar meu trabalho
porque Miguel é uma prioridade. Estou apenas vivendo.

— Entendo. Não sei se é o melhor caminho, mas respeito.

— Obrigada.

— Fico feliz que você decidiu ligar para me dar um resumo de tudo.
Isso significa que somos amigas, né?

Eu ri, porque para mim aquilo já era muito claro.

— Você tem sido de uma grande ajuda. Muito obrigada. Claro que
somos amigas.

Logo depois encerramos a ligação. Terminei meu almoço e voltei a


trabalhar na música.

Logo, chegou a hora de pegar Miguel na escola. Eu amava aquele


garotinho. Ele era um doce raio de sol. E ele tinha um forte sentimento por
mim. Eu era tão carente quanto ele, então criamos um vínculo.

Miguel tinha muita energia. Ele era uma das crianças mais doces que
eu já conheci.
— Ei garoto — eu disse a ele quando nós encontramos na porta da
escola.

— Ei garota — ele respondeu e eu ri.

Ele era tão pequenino e com bochechas fofas que logo o ergui no colo
e esfreguei minha própria bochecha nele.

— Como foi sua aula?

— Foi boa. Aprendemos a fazer bonequinhos com argila.

— Sério? E você fez algum para mim?

Ele pareceu pensar.

— Eu fiz, mas ainda não está pronto.

— Oh, eu quero vê-lo — fingi birra.

— Não. Tem que esperar ficar pronto — ele afirmou, sério.

— Ok, eu vou ser paciente — suspirei fundo e fingi estar magoada.

Então suas duas mãozinhas seguraram meu rosto e eu senti um beijo na


face. Meu coração aqueceu e eu me senti transbordar.

Era demais. Era a coisa mais linda e mais intensa do mundo. Todavia,
eu precisava me proteger daquele amor mais do que dos sentimentos que
nutria pelo pai dele. Nunca podia esquecer do papel que representava na vida
deles.

Quando voltamos para a casa de Noah, eu fiz um sanduíche para


Miguel e depois brincamos com seus caminhões de brinquedo e assistimos a
alguns filmes infantis.

Mais tarde, fiz o jantar para ele, dei-lhe banho e coloquei-o na cama.
Ele estava triste por Noah não estar em casa para lhe dar boa noite, mas
estava tão cansado que caiu no sono cinco minutos depois que eu fechei a
porta, para que a tristeza não durasse muito.

Aquilo estava errado. Se a mãe não aparecia, o pai tinha que dar-lhe
atenção. Não sei quais eram as grandes ambições de Noah, mas ele teria que
ter mais tempo para o filho.

Eu falaria isso a ele assim que pudesse, assim que abrisse uma brecha
para trazer esse assunto à tona.

Desci as escadas e preparei um bule de chá enquanto continuava lendo.


Eu amava as horas tranquilas da noite. Era sempre um prazer sentar-me com
uma boa bebida e um bom livro à noite, em vez de servir um bando de gente
chata na esperança de obter algumas boas gorjetas.

Eu estava entrando na história quando Noah chegou em casa.


Instantaneamente, perdi o interesse pelo livro e o coloquei na mesa lateral.
Ele parecia incrível como sempre. Ele era tão alto e atlético, seu corpo
parecendo ser esculpido em algum tipo de pedra sob seu terno fino.

Porra, esse era um espécime rara de homem. Eu estive pensando sobre


esse momento o dia todo. E agora ele estava aqui.

Eu estava tão pronta para Noah que não conseguia pensar em mais
nada naquele momento. Eu me perguntei se ele me queria tanto quanto eu o
queria.

— Boa noite — disse Noah ao entrar. Ele pôs a maleta e tirou o blazer
antes de entrar na cozinha para pegar uma cerveja na geladeira.

— Olá — respondi.

— Como foi o seu dia? — Ele perguntou.


— Bom.

— Miguel já está dormindo?

— Sim, ele está dormindo. — De repente, meus planos de trazer o


assunto à tona delicadamente caíram por terra. — Ele ficou muito triste por
você não estar em casa ainda. Eu tentei explicar para ele que você estava
trabalhando.

— Eu odeio não poder vê-lo todas as noites antes que Miguel vai
dormir. Mas estou trabalhando. Quando eu terminar esse novo
empreendimento...

— Vai haver outro empreendimento? — devolvi. — Tenho certeza de


que Miguel um dia vai entender que você precisava trabalhar. Mas, o que vai
ser difícil explicar é porque o pai não vivenciou sua infância. Quando ele
ficar adulto, ele não vai se lembrar do seu trabalho, e sim da sua ausência.

Ele pôs sua cerveja na mesa e estendeu a mão para pegar na minha.
Comecei a derreter imediatamente. Oh, ele era tão incrível. Eu não conseguia
pensar direito quando estava com ele.

— Você está certa — afirmou. E isso me deixou surpresa. Pensei que


fosse se defender mais um pouco. — Senti sua falta — confessou. — Deus,
eu senti sua falta.

Meu coração começou a disparar. Ele se inclinou e me beijou.

Eu deixei toda a tensão que eu estava segurando dentro de mim o dia


inteiro se libertar naquele momento.

Pensei em Noah desde que abri os olhos naquela manhã.

Contudo, de manhã, quando acordei, ele já havia saído para trabalhar.


Durante o dia todo esperei por um telefonema ou uma mensagem, mas ele
não apareceu.

Aquilo me corroeu, mas eu escondi a sensação. Eu não a queria.

Era sem compromisso. Sem cobranças. Apenas viver o momento.


Certo?

Sua boca tinha um gosto tão bom. Era firme e um pouco úmida com
aquele ar quente fluindo entre seus lábios nos meus. Eu podia sentir a língua
dele. Queria provar de novo. Queria sugá-lo e puxá-lo profundamente em
minha própria boca. Desejava provar seu doce pau entre meus lábios
novamente e sentir sua pica entrando na minha boceta, me esticando e me
batendo com força, mostrando-me o quanto eu tinha que me submeter a ele.

Suas mãos estavam subitamente na minha parte inferior das costas, me


segurando mais perto dele. Eu amei a sensação de ter suas mãos em mim.
Isso me fez sentir como se estivesse tão segura e protegida do mundo ao meu
redor. Eu me senti cuidada. Não estava sozinha. Eu havia sido tão só na
minha vida que agora era incrível ter alguém lá que realmente se importava
comigo.

Noah de repente me pegou nos braços e me carregou pelas escadas.


Chegamos ao quarto e ele fechou a porta atrás de nós. Ele me pôs de joelhos
no chão, o corpo curvado em direção à cama. Eu o ouvi rapidamente
mexendo nas calças.

Então ele rapidamente puxou minha calça jeans junto com minha
calcinha. Eu estava exposta para ele agora. Também estava molhada tanto
quanto possível e minha boceta estava latejando de dor e desejo por ele.
Merda, eu o queria tanto dentro de mim. Minha respiração estava saindo em
suspiros curtos de antecipação.
Seu pênis duro estava contra mim agora. Era bom ter a cabeça bulbosa
massageando entre a minha fenda. Ele estava testando, apenas brincando
agora. Esperei pacientemente, mas estava tão prestes a chegar ao ápice que
senti que poderia explodir a qualquer segundo.

Então ele se empurrou para dentro de mim. Eu aceitei cada pedaço de


seu pau enorme.

— Ah, cacete! — Eu gemi.

Noah puxou meu cabelo enquanto me fodia por trás. Seu pau estava
realmente me batendo agora, me esticando o mais longe que quisesse. Parecia
fenomenal. Todo o meu corpo foi jogado à beira do orgasmo quando minha
luxúria se espalhou por todo o meu sistema. Fiquei pensando na imagem de
seu pênis e em como era bonito. E seu pau era para mim agora. Eu estava
silenciosamente reivindicando isso.

Me segurei na cama abaixo de mim enquanto tentava me equilibrar,


mas Noah estava me fodendo com mais força a cada impulso. Eu estava
começando a pular. Ele segurou meu cabelo ainda mais firme e tentou forçar
meu corpo a ficar no lugar enquanto ele me esmurrava com seu pau.

— Eu vou gozar! — Eu gritei.

Tentei evitar que minha voz gritasse muito alto, mas não estava sob
meu controle naquele momento. Eu estava muito perto.

Eu explodi. Minhas mãos apertaram os lençóis abaixo de mim e senti


minha cabeça balançar para frente e para trás como se eu estivesse tendo
algum tipo de convulsão. Não consegui falar. Minha garganta estava muito
paralisada pela tensão. A felicidade estava inundando meu corpo.

— Sim, venha para mim, gostosa... oh, isso é tão bom no meu pau...
Eu adorava ouvir o diálogo de Noah. Isso me excitou como louca. Só
de saber que eu estava dando a ele tanto prazer quanto o prazer que ele estava
me dando, me fez querer ordenhar seu pau.

Ele bombeou seu pau em mim o mais rápido e mais forte que pôde. Eu
podia sentir meu corpo apertando-o incontrolavelmente, mas ele estava quase
lá. Eu senti seu pau crescer ainda mais e a sensação parecer mais apertada
agora.

Noah rosnou atrás de mim quando seu pau começou a tremer e então
ele atirou sua semente quente dentro de mim. Eu amei o que senti por ele
entrar em mim. Eu sabia que era arriscado. Eu não queria engravidar agora,
mas o fato de estarmos flertando com o desconhecido também foi
emocionante. E foi tão bom ter o suco dele dentro de mim.

Ele me segurou com força por trás naquele momento. Sua boca
encontrou a minha e ele me beijou quando virou minha cabeça para ele.

— Querida... eu não consigo parar de pensar em você... eu te desejo o


tempo todo — disse Noah entre suspiros.

— Eu também.

Aquelas duas palavras pareceram corroer minha alma. Eu estava


admitindo que o lance casual não estava funcionando. Ou seria ainda mais
arriscado do que um relacionamento normal.

Deitamo-nos na cama juntos e relaxamos. Eu me aconcheguei em seus


braços, sentindo a doce energia masculina que ele estava exalando.

Eu amei estar lá. Enrolada em seus braços. Eu amei viver isso com ele.
E mesmo que eu odiasse admitir isso para mim, estava apaixonada. Como
isso aconteceu tão rapidamente?
Eu não tinha certeza, mas não iria pensar muito nisso agora.

Eu só quero viver essa sensação enquanto posso. Eu esperei por esse


tipo de romance a vida toda. Eu finalmente o encontrei e não faria nada para
estragá-lo.
Capítulo 13
Noah

Ela estava maravilhosa.

Clarissa olhou para mim com aqueles lindos olhos que refletiam mais
do que ela pudesse expressar com palavras, e sorriu. Então ela se recostou
nos meus braços e colocou as mãos mais completamente em volta da minha
nuca.

O rosto dela se iluminou perfeitamente.

Amei o jeito com que ela parecia brilhar quando estava feliz.

E eu adorava fazê-la feliz.

O mais triste...? Talvez Clarissa nunca saberia o quão feliz ela me


fazia.

Toda vez que ela olhava para mim, ou sorria na minha direção, meu
mundo inteiro ficava muito mais leve. Aquela tonelada de pesos psicológicos,
aquela carga que fui juntando com o passar dos anos, parecia ser iluminada
pela simples presença daquela mulher.

Contudo, talvez nunca conseguisse explicitar isso com palavras.

— Estou prestes a arrancar os olhos daquela loira, se ela não parar de


olhar para você.

Olhei para a direita, onde ela inclinou a cabeça para gesticular. Eu vi a


mulher em questão, e ela definitivamente estava me olhando.

Eu ri.

— Bem, duas mulheres brigando por mim seria uma carícia ao ego.
Clarissa riu e balançou a cabeça.

— Seu azar é que estou tentando ser civilizada. É um mundo diferente


para mim.

Olhei em volta para o ambiente abafado e romântico em que


estávamos. Sim, era esse tipo de mundo novo para ela. E para mim, alguns
anos antes. Eu tinha decidido levar Clarissa para um encontro apropriado e
divertido naquela noite.

Era uma sexta-feira.

Foi muito difícil, mas cumpri a ordem judicial e deixei Miguel com
Tânia nos dias que eram correspondentes. Depois fui direto buscar Clarissa
para uma noite romântica, porque realmente eu queria viver qualquer coisa
que me fizesse esquecer que meu filho estava com a mãe, uma pessoa que eu
absolutamente não confiava.

Acabou que foi a nossa primeira noite sozinhos desde que começamos
a nos ver.

— Você parece preocupado — ela murmurou.

— Pareço? Mas, eu não devia. Tânia é uma policial — afirmei mais


para mim do que para ela.

Que lugar podia ser mais seguro para uma criança do que ao lado da
mãe que servia a lei?

Contudo, quando deixei meu filho com ela, Tânia parecia entregue,
olhos mortificados. Será que enfim um dos namorados fê-la usar drogas?

Eu soube que ela teve um caso com um presidiário. Quando eu a


questionei sobre isso, ela me disse que as pessoas mudam e que merecem
uma chance.

Como ela estava mantendo seu emprego na delegacia era um mistério


para mim.

— Você viu a notícia daquela mãe que matou o filho no norte do


estado?

— Sim... Você está pensando isso da sua ex?

— Não... ela não faria mal a ele..., mas...

Eu pensava em reivindicar que as visitas fossem assistidas. Eu temia


que algum dos caras com ela prejudicasse meu filho.

Eu odiaria que Miguel perdesse contato com sua mãe. Ele a amava e
um menino precisava de sua mãe, mas se ela o estava colocando em perigo
(mesmo que inadvertidamente), eu tinha que fazer o que era melhor para
protegê-lo. Eu faria qualquer coisa pela segurança do meu filho.

Clarissa e eu estávamos desfrutando de uma bela dança depois de


terminar uma ótima refeição. Estávamos prontos para pegar uma sobremesa
quando notei um olhar estranho em seu rosto, como se ela estivesse pensando
profundamente. Esperei um momento enquanto dançávamos lado a lado,
ouvindo a música suave e romântica, e então perguntei a ela:

— O que foi?

Ela se livrou do seu pequeno devaneio e disse:

— Nada.

— Não. Algo, com certeza, está em sua mente. O que está


acontecendo?

Ela suspirou.
— Eu estava pensando... Quando é muito cedo para dizer as três
pequenas palavras em um relacionamento?

Fiquei surpreso com a pergunta dela no começo, mas depois me


esquentei. Eu tinha que me perguntar, ela estava perguntando por que estava
realmente interessada na resposta a essa pergunta, ou por que queria saber se
estava sendo muito adiantada ao falar desses assuntos comigo logo agora?

— Bem, acho que depende realmente de como você se sente. Acho que
nunca deveria haver limites de tempo para coisas assim. A vida é muito curta.
Você tem que fazer o que quiser, o que parece certo para você. Se a outra
pessoa se sente da mesma maneira ou não, se ela se importa com você, pelo
menos, ela respeitará isso. Eles confirmarão seus próprios sentimentos ou
dirão que é muito cedo.

— Então, e se eu te dissesse que acho que estou me apaixonando


completamente por você? Isso é loucura?

Meu coração errou uma batida e meu batimento cardíaco rasgou no


meu peito. Limpei minha garganta enquanto continuava a dançar com ela.

— Não. Eu não acho que isso seja loucura.

Ela olhou para mim com os olhos cheios de esperança e as lágrimas


começaram a se espalhar, mas eu podia ver pelo sorriso lentamente se
formando em seus belos lábios que eram lágrimas de felicidade. Todo o seu
corpo parecia subir naquele momento.

Eu sorri para ela.

— Eu me sinto da mesma maneira. Eu sei que estou me apaixonando


por você. Eu sei desde que te vi pela primeira vez na cafeteria. Só não tinha
certeza de como trazer isso à tona. Eu tinha medo de agir porque não estava
no lugar certo. Eu tinha medo de te machucar, de desperdiçar seu tempo. Isso
não teria sido justo com você.

Eu a beijei suavemente e segurei o beijo por quinze segundos, sem


aumentar a pressão, apenas desfrutando o carinho mútuo entre nós dois.

— Sim, eu tenho certeza disso. Eu te amo - disse suavemente.

Eu a segurei perto de mim, sussurrando em seu ouvido antes de beijar


seu lóbulo e depois esfregar seu pescoço em um abraço quente. Seu cabelo
macio e longo roçou suavemente contra o meu rosto. Eu adorei. Estava
obcecado com cada pequena parte dela.

— Eu também te amo — disse ela. — Deus, eu te amo muito. Eu não


sei como eu pude viver toda a minha vida até então sem você.

— Bem, eu não vou a lugar nenhum. E podemos viver a vida um ao


lado do outro, a partir de agora.

Dançamos um pouco mais antes de decidirmos pular a sobremesa e


voltar para minha casa.

Eu a beijei suavemente e ela deslizou a língua na minha boca. Foi tão


amoroso e doce. O jeito que ela se sentia dentro de mim como se eu estivesse
dentro dela.

Nós éramos verdadeiramente um. Eu quase podia sentir algo mudando


no ar, algo cósmico que eu não conseguia identificar. Eu nunca fui tão
espiritual, mas definitivamente me senti muito diferente de tudo que já
experimentei antes. Eu sabia que esse era o tipo de amor que eu procurava
por toda a minha vida. E agora eu tive a sorte de encontrá-lo.

— Então, o que devemos dizer a Miguel? Quando devemos contar a


Miguel? Que eu sou mais do que apenas a babá dele, agora? Que estamos
juntos? Ele realmente entenderá?

— Bem, na mente dele provavelmente irá assumir que você é a nova


mamãe dele ou algo assim. Crianças de sua idade veem as coisas de uma
maneira muito preto no branco. Mas acho que ele descobrirá à sua maneira. E
nós deveríamos facilitar isso para ele.
Capítulo 14
Clarissa

Viver uma relação saudável te muda de uma forma inexplicável. Eu


passei a me amar mais na medida que Noah também me amava.

Agora eu caminhava nas manhãs, eu gostava de arrumar o cabelo,


passei a usar batom, até tentei um novo corte nas madeixas para mudar os
ares.

Eu estava tão feliz que tudo resplandecia nas coisas que eu fazia.
Estava me sentindo muito mais confiante. Antes, estava tão preocupada com
Thiago que decidi que só pensava em me exercitar para estar pronta se tivesse
que me defender. Agora, eu só queria me sentir melhor ainda, deixar que os
hormônios fizessem sua parte.

Terminei uma breve corrida e parei para recuperar o fôlego. Meus


pulmões pareciam explodir. Meus pés doíam quando batiam na calçada
embaixo deles. Peguei minha garrafa de água e tomei um gole enorme. Senti
meus pulmões queimando e minhas pernas queriam cair, deixando meu corpo
no chão. Havia uma dor no meu lado, como algum tipo de faca invisível
rasgando minha carne.

Tentei respirar com calma enquanto caminhava até o meu apartamento.


Nesse interim, pensei em como mal podia esperar para ver Noah.
Ultimamente, eu tinha ficado muito tempo na casa dele, mas nós dois
concordamos que seria mais fácil para Miguel se eu dormisse na minha casa
também.

Percebemos que não estávamos prontos para fazer Miguel entender que
a babá e o pai agora eram um casal. Levaria tempo para chegar lá. No
momento, Miguel e eu ainda estávamos nos acostumando, mas senti que
tínhamos uma grande amizade.

Tomei um banho rápido e depois comi um pouco de aveia no café da


manhã. Eu senti falta de acordar com Noah naquela manhã. Eu me acostumei
a senti-lo ao meu lado enquanto dormia e acordava com seu rosto ali, comigo.
Eu o amava tanto. Eu só queria que ele estivesse comigo o tempo todo, que
eu morasse com ele permanentemente. Talvez como um plano futuro.

Casamento... eu estava pensando em casamento. Eu?

Sério, a gente mal se conhecia, ainda tínhamos um longo caminho a


trilhar, e eu já imaginava meus bebês com ele. Ainda estávamos nos estágios
iniciais de estar juntos, mas nossos sentimentos um pelo outro haviam
progredido tão rápido. Nós estávamos apaixonados. Não havia dúvida sobre
isso para nenhum de nós.

Eu tive que admitir para mim mesma que era um pouco assustador.
Não estava pronta para qualquer coisa na minha vida tão intensa, mas o
momento era algo que você não pode controlar às vezes.

Eu sabia que não devia me afastar disso. Foi a melhor coisa que já
aconteceu comigo e entendia que Noah me respeitava e nunca iria interferir
nos meus sonhos.

Até porque eu não deixaria. Eu era uma nova mulher, alguém pronta a
lutar por coisas que importavam para mim.

E Noah era o tipo de homem que acrescenta, e não subtrai. Ele se


importava muito comigo e com o que eu queria da vida. E tínhamos o tipo de
relacionamento que permitiria que cada um de nós tivesse partes separadas
para nós mesmos. Isso era importante para que toda a nossa identidade não
estivesse envolvida no relacionamento.
Eu estava prestes a sair pela porta quando meu telefone tocou. Quase o
ignorei, mas depois decidi que poderia ser importante. O número dizia que
não estava disponível no identificador de chamadas, então imaginei que fosse
telemarketing ou algo assim, mas, por qualquer motivo, decidi atender.

— Alô?

— Qual é a sensação?

A voz era de uma mulher. Não parecia necessariamente familiar, mas


havia algo sobre isso que me impressionou.

— O quê? — Eu perguntei.

— Como é a sensação de destruir uma família? Roubar o marido de


uma esposa?

Eu não sabia como responder. Fiquei ali por alguns segundos,


atordoada pela acusação. Que diabos estava acontecendo?

— Do que você está falando?

— Sua puta! Noah é meu homem! Você me entende? Se você não o


deixar em paz, não saberá o que diabos te atingiu. Você me entendeu? Vou te
destruir, vou acabar com você, piranha.

Eu estava ficando brava. Quem essa cadela pensou que ela era?

— Quem diabos é você e com quem você pensa que está falando?

— Com você, sua vagabunda!

— Ninguém me ameaça! Vou descobrir quem você é e a gente vai se


ver na lei.

A linha ficou muda.


Eu estava lívida agora. Eu fiquei lá na frente da porta prestes a sair
segurando meu telefone tremendo de raiva. Fazia muito tempo desde que
alguém me deixou tão irritada. Um homem psicótico como Thiago poderia
me assustar, mas outra mulher? De jeito nenhum. Eu não tinha conhecido
uma mulher na minha vida que me botasse medo. Eu tinha sofrido alguns
arranhões na minha vida, a maioria deles no ensino médio e sempre fui capaz
de me proteger muito bem.

— Você não tem ideia de quem era? — Noah me perguntou quando


cheguei à casa dele cerca de vinte minutos depois.

— Não. A voz estava bem normal. Acho que não reconheço, mas você
conhece alguma mulher que me acusaria de uma coisa dessas?

Ele balançou sua cabeça. Eu estava o estudando, tentando ver se


alguma coisa estava atingindo seus nervos. Era possível que ele estivesse
vendo outra pessoa?

Não. Eu descartei a ideia instantaneamente. Isso era um absurdo. Ele


nunca faria algo assim. Eu sabia.

Mas a ideia havia sido plantada ali por essa mulher desconhecida.

Os olhos de Noah se iluminaram.

— Espere... Tânia?

— Sua ex?

— Sim. Eu não consigo pensar em ninguém além dela. Céus, as vezes


me pergunto se não a estou perseguindo, sendo injusto, só pensando o mal
dela, mas... francamente... de todas as mulheres que conheço, ela é a única
tão baixa... Enfim, vou procurar descobrir se ela está por trás disso. — Ele
mordeu o lábio inferior por um segundo e depois me contou. — Ela ainda
acha que vamos voltar um dia.

— Bem, eu não posso culpá-la. Você é impossível de superar. Eu não


poderia fazer isso.

Ele sorriu feliz, se inclinou e me beijou.

— Não se preocupe com Tânia. Tenha um bom dia. Vou tentar chegar
em casa um pouco mais cedo essa noite e, se descobrir alguma coisa, ligo
para você.

— Obrigada.

Noah saiu e eu estava sozinha com Miguel, que estava lá em cima


ainda tentando se vestir. Subi para ajudá-lo. Ele tinha que tomar café da
manhã e ir para a escola logo.

Enquanto ajudei Miguel a se arrumar, pensei em Tânia e em como ela


deveria estar perturbada ao pensar que realmente tinha chance de voltar com
Noah. Claro, ela queria sua família de volta e ela era o tipo de pessoa que não
se responsabilizaria por suas ações. Isso não era tão absurdo.

Levei Miguel para a escola e depois voltei para trabalhar em algumas


músicas. Era estranho ter tanto tempo para fazer isso agora. Eu estava
ganhando dinheiro como babá, mas Miguel estava na escola metade do dia e
o resto do tempo seus cuidados eram mínimos. Foi então que percebi que
Noah me pagava muito, porque realmente dava valor a tudo que eu fazia.

E, também, porque ele era apaixonado por mim.

Sorri, encantada. Quando surgiu a ideia de me tornar babá de Miguel,


ele aceitou prontamente.

Tentei me concentrar na música em que estava trabalhando, mas aquela


coisa com Tânia — se fosse ela naquele telefone! — continuava mexendo
comigo. Por mais que eu tentasse dizer a mim mesma que não estava nem um
pouco assustada com isso, a coisa toda tinha me desequilibrado.

Eu só não queria lidar com algo tão irritante. Se essa mulher viesse
atrás de mim, seria a cadela mais triste que já existiu. Eu não era do tipo que
apanhava quieta. Mesmo com Thiago, eu nunca deixei de reagir.

Mas e se eu não a visse vindo? Eu não sabia nada sobre ela. Ela era um
enigma para mim. Só sabia o que Noah havia me dito e muito disso era vago.

Eu não estava disposta a deixar alguma idiota me tirar da vida de Noah.


Não mesmo! Isso não iria acontecer. Eu estava com ele. Eu o amava e ele me
amava. E pensava que ele poderia me propor casamento um dia. Esse
sentimento parecia sério e duradouro.

Eu amava Noah. E amava Miguel. Eu queria isso. Queria essa família.


Eu fui feita para isso. Parecia que Noah e eu fomos literalmente criados para
nos encontrar. Era um sentimento tolo e eu nunca tinha gostado dessas
fábulas amorosas, mas ultimamente eu estava me sentindo exatamente assim.

Eu trabalhei a manhã toda e depois decidi pedir uma pizza para o


almoço. Estava faminta. Eu não tinha certeza do porquê, mas na semana
passada eu quis comer um X Calota (é um tipo de hambúrguer que pesa
quase um quilo) sozinha.

A pizza tinha um gosto bom. Eu pedi uma grande e a devorei. Depois


disso, eu ainda estava com fome, mas meu problema com peso me fez
controlar a ansiedade.

Fiquei desconfortável enquanto tentava relaxar um pouco antes de


pegar Miguel na escola. Estava com a sensação de que era observada de
alguma forma. Era uma maneira boba de se sentir. Sabia que não estava
sendo vigiada, mas simplesmente não podia ter certeza. Continuei indo para
as janelas e olhando para fora, esperando ver o que estava me fazendo sentir
assim, mas não via nada lá fora toda vez que eu verificava.

Eu estava me assustando. Aquele maldito telefonema havia cumprido


sua missão de me irritar e me colocar no limite. Porra. Eu tinha que me
controlar. Não havia como eu deixar uma idiota arruinar o meu dia.

Eu não ficaria assustada.

Eu não seria uma vítima.

Nunca mais.
Capítulo 15
Noah

— Vagabunda! — Eu gritei no volante enquanto dirigia.

Bati as mãos na direção e tentei resistir à vontade de jogar o carro


contra um muro de tijolos e destruí-lo. Eu estava tão bravo. Isso não estava
certo.

Eu me casei com Tânia muito cedo. Eu queria uma família. Eu a


respeitei durante todos os dias do nosso casamento. Eu fiquei feliz quando ela
engravidou e a enchi de mimos, apesar de algumas pessoas dizerem que eu
não era o pai. Eu até ignorei algumas traições e evitei o teste de DNA com
Miguel para tentar manter a família unida.

Mas, enfim, quando me livrei dela e conheci uma mulher maravilhosa


com quem realmente queria algo, aquela cadela estava tentando arruinar a
melhor coisa que já me aconteceu além de Miguel nascer. Eu não podia
acreditar que ela se rebaixou tanto, mas, novamente, era Tânia.

E ela era assim. Demorou a maior parte da manhã, mas um amigo meu
no departamento de polícia foi capaz de investigar o telefonema e ele, de
alguma forma, conseguiu determinar que vinha do mesmo lugar de onde
Tânia passava as manhãs – uma academia perto do seu apartamento.

Essa foi toda a confirmação que eu precisava. Não seria o suficiente


para um B.O, mas era o suficiente para mim. Eu sabia que era ela. Não havia
mais ninguém que foderia minha vida sem medir as consequências.

A menos que eu tivesse uma admiradora psicótica secreta por aí em


algum lugar, era Tânia.
Eu estava a caminho da sua casa. Tinha que confrontá-la sobre isso.
Precisava que ela entendesse que não queria esse tipo de intromissão em
minha vida.

E se ela insistisse, a destruiria. Eu a odiava. Depois do que ela fez


comigo... e agora ela estava tentando arruinar as coisas quando eu finalmente
encontrei a felicidade. Isso não iria acontecer. Não. Eu não podia deixar.
Estava indo até ela para assumir o controle. Eu senti que tinha que proteger
Clarissa e tinha que proteger o que tínhamos.

Parei na casa de Tânia e olhei em volta. O lugar estava calmo, mas eu


sabia que ela estava lá. Seu pequeno carro estava estacionado na garagem.
Seu apartamento era no térreo e eu pude ver uma janela semiaberta,
mostrando uma cortina clara.

Saí do carro e caminhei até a pequena varanda dela. Bati na porta e


aguardei.

Ela não apareceu prontamente. Provavelmente estava esperando que eu


fizesse uma cena. Puxei meu telefone e o coloquei no bolso frontal com a
câmera ligada, gravando vídeo. Eu o usaria como uma arma de defesa porque
sabia que ela era do tipo de mulher que mentiria numa situação dessas, se
valendo da lei para tentar me derrotar, já que não conseguiu de outras formas.

Bati de novo, um pouco mais suave desta vez. Eu podia ouvir farfalhar
lá dentro, como se Tânia estivesse tentando se livrar de alguma evidência. Eu
precisava dar uma dica anônima ao departamento de polícia sobre ela. Eles
podem fazer um teste aleatório de drogas e pegá-la desprevenida. Eu tinha
certeza de que ela estava afundada no tráfico. Talvez até vendendo.

A porta se abriu e Tânia parecia um pouco sonolenta.

— Bem, isso é uma surpresa agradável — disse. — O que te traz aqui?


— Eu acho que você sabe por que estou aqui — eu disse.

Ela sorriu, paquerando.

— Se eu disser que sei, você faria tudo que eu dissesse para fazer?

Tânia estendeu a mão para minha virilha e eu bati na sua mão.

— Pare com isso! Eu sei que você ligou para Clarissa. Você fez
ameaças. No que você estava pensando? Você realmente está tentando
destruir o meu relacionamento? Como você soube de nós?

— Uau, tantas perguntas, tantas acusações. O que você está dizendo?


Eu não fiz nada de errado.

Sua voz era robótica e sarcástica. Eu queria estrangulá-la. Comecei a


cerrar os dentes e o punho repetidamente para manter minha sanidade
controlada. Esta cadela estava tentando me desestruturar.

— Eu sei que você fez isso. Você vai admitir? Ou eu tenho que abrir
um processo contra você? Sabia que assédio funciona de ambos os lados?
Não é porque você é mulher que é intocável.

— O assédio é mesmo um crime? Eu não tenho tanta certeza.

— Então você admite? Você fez a ligação.

— Eu não admito nada — disse ela. — Eu não fiz nada.

— Você pode ficar aí mentindo na minha cara o quanto quiser, mas eu


sei o que você fez. Eu sei disso e não importa se posso provar ou não. Você
não vai destruir esse relacionamento.

Ela sorriu e revirou os olhos.

— Tanto faz. Você não me assusta. Diga-me que você não sente minha
falta. Você me quer de volta no seu pau cavalgando. — Ela se aproximou de
mim. Estranhamente, apesar do perfume, seu cheiro não era tão bom. Talvez
minhas preferências tenham subido de nível. — Você sente falta de ter uma
mulher de verdade nessa vara.

— Vá se foder. E deixe Clarissa em paz. Nunca mais ligue para ela.


Você me entendeu?

— Claro, amor — disse ela. — Tenha um bom dia.

Ela fechou a porta na minha cara e eu saí. A odiava tanto agora. Ela me
colocou no inferno, primeiro me traindo, depois tentando mentir, depois
lutando pela custódia de Miguel, depois expondo-o a drogados e traficantes, e
agora ela estava tentando arruinar meu relacionamento com Clarissa.

Aquela maldita puta.

Entrei no meu carro e saí girando na estrada rapidamente. Eu tive que


me afastar dela antes de dizer ou fazer algo que me arrependeria.

Como eu me importei com ela a ponte de me casar? Ela tinha sido


diferente. Ou eu simplesmente estava tão cego que não vi sua verdadeira face.

Essa era a coisa assustadora de se apaixonar. Você nunca sabe se está


se apaixonando pela pessoa genuína.

Clarissa surgiu em minha mente.

Penso que conheço Clarissa. Eu sinto que ela é a pessoa certa. Mas ela
pode ser o pior tipo de mulher. Eu já tinha sido enganado antes.

— Tire essa merda da sua cabeça — ordenei em voz alta.

Eu estava me sentindo um pouco estranho com as coisas. Essa foi uma


das razões pelas quais esperei tanto tempo para me envolver com alguém. Eu
estava com medo de estar lidando com o diabo novamente.

Mas eu tinha que confiar. Tinha que acreditar. Eu não poderia viver
minha vida nesse tipo de prisão. Eu tinha que passar por isso e saber que
havia algo real neste mundo e eu o encontrei com Clarissa. Eu a amava. Faria
qualquer coisa para protegê-la e defender o que tínhamos. Eu não deixaria
isso ser afetado por Tânia.

Quando voltei para casa, Clarissa estava trabalhando em alguma


música. Eu decidi tirar o resto do dia de folga. Estava cansado de uma forma
nova.

Ela ficou surpresa ao me ver.

— Ei, está tudo bem?

— Sim. Aquele telefonema... foi Tânia.

— Ela admitiu?

— Não, mas eu sei que ela fez isso. Eu a confrontei e é claro que ela
negou e tentou jogar seus joguinhos, mas eu sei que era ela...

Ela estudou as palavras por um momento.

— Você acha que ela vai parar?

— Não sei. Acredito que sim. Caso contrário, podemos abrir um


boletim contra ela. E eu pretendo contratar um detetive para mostrar que ela é
uma mãe inadequada. Temo por Miguel. — Suspirei. — Sinto muito que
você tenha sido levada para toda essa loucura. Eu me sinto mal. Como se
fosse minha culpa ou algo assim.

— Não é sua culpa. Eu sei disso. Não culpo você nem me ressinto
disso. Faz parte do curso da vida. Eventualmente, você encontrará alguns
malucos que vão tentar tornar sua vida um inferno. É assim que as coisas são.
Eu tive minha dose disso com Thiago.

— Você é tão legal. — Eu a segurei perto de mim naquele momento.

Beijei-a com força na boca. Seus lábios tinham um sabor doce, quente
e amoroso. Senti meu corpo respondendo. Estava ficando tão difícil segurar
meu tesão quando estava com ela. Meu corpo inteiro começou a formigar.

Clarissa me beijou de volta com tanta força e suas mãos começaram a


tatear para mim, eventualmente, descansando na minha bunda. Ela apertou
minha bunda pelas calças enquanto caminhávamos até o sofá. Eu a virei
rapidamente e a inclinei sobre o sofá. Então rapidamente abri minhas calças,
cheguei dentro e agarrei meu pau duro e furioso. Puxei e pressionei contra
suas nádegas.

Parei um momento, saboreando os sentimentos e emoções que


percorriam meu corpo.

— Eu te amo — sussurrei em seu ouvido e então abri suas nádegas


com minha pica e entrei em sua boceta molhada e apertada. Ela gemeu
quando eu o fiz. Então começou a ofegar por uma respiração entremeada por
pequenos e agradáveis ​gemidos.

Eu empurrei profundamente. Fiquei surpreso como ela já estava


molhada, tão apertada. Seu corpo me abraçou com força enquanto eu
empurrava dentro e fora dela. A umidade estava crescendo. Era tão bom
deslizar por dentro dela e depois sair lentamente, ouvindo seus suspiros doces
de liberdade. Eu estava indo preenchê-la com porra. Eu queria ver meu sêmen
branco pingando fora dela, porque isso só aumentava a excitação.

Eu a bombeei com mais força e rapidez. Eu ia explodir uma carga


enorme. Eu podia sentir isso chegando.
Meu pau escorregou dela todo o caminho. Eu me atrapalhei
rapidamente para empurrá-lo de volta, mas percebi que estava contra o seu
rabo. Parei um momento e um pensamento me ocorreu. Sim... eu queria...

— Você já foi fodida aqui? — Eu perguntei.

— Não... — ela respondeu.

— Eu quero... você me deixa tentar?

Ela parou um momento e depois sorriu quando concordou:

— Sim... sim... foda-me!

Peguei meu pau pela base e o coloquei em seu rabo apertado.

— Ah... Ah... — ela gemeu alto com surpresa e prazer.

Eu continuei me movendo lentamente até estar dentro dela. Deixei ficar


ali por um momento e agarrei seus quadris para movê-los um pouco para
frente e para trás. Foi quando ela se mexeu, rebolando.

Foi alucinante. Foi fantástico. Eu tinha feito anal algumas vezes antes,
mas nunca me senti tão bem, tão apertado. Movi meu pau para a esquerda e
direita ligeiramente para sentir as diferentes texturas desse novo orifício que
me abraçou com força e deslizou para cima e para baixo no meu pau com
sensações inesperadas. Fazia tanto tempo desde que eu fiz isso e agora estava
fazendo isso com a mulher que amava.

Comecei a foder com mais força, movendo-me em um ritmo mais


uniforme.

— Oh merda... isso é tão... bom... — Clarissa grunhiu quando sua


bunda deu um salto contra mim.

Eu amei que ela estava adorando. Não demorou muito para eu entrar
fundo no seu cu. Fiquei tenso e soltei um rugido enorme de prazer retorcido.
Meu pau estremeceu e começou a bombear seu rabo apertado cheio da minha
semente quente. Ela gemeu junto comigo mais alto.

Quando terminei dentro de sua bunda, estendi a mão e toquei seu


clitóris. Era gordo e duro, pronto para desencadear seu próprio orgasmo. Eu
continuei empurrando meu pau em seu rabo enquanto eu a tocava e ela
começou a quase convulsionar em total prazer.

Em segundos, ela estava gritando. Quando ela terminou, seu corpo caiu
sobre o sofá. Eu saí suavemente de sua bunda e olhei para o buraco apertado
e aberto daquela linda entrada. Um pouco do meu esperma estava rolando
para fora. Essa foi a coisa mais quente que eu já vi na minha vida.

Ela olhou para mim e depois soltou uma risada ampla. Eu me juntei a
ela enquanto descansava contra suas costas. Eu a segurei perto de mim. Seu
corpo macio era sempre tão excitante.

E foi tão bom. Ela se sentiu tão bem. Eu a amava tanto.

— Isso foi inesperado — disse ela.

— Sim, sua bunda é tão gordinha e gostosa, não resisti.

— Bem, foi muito bom.

— Concordo. Parecia tão primitivo.

Eu a beijei e esfreguei meus dedos suavemente em seus cabelos.

— Tudo vai ficar bem, certo? — ela me perguntou.

— Claro. Tudo está bem. Não deixe Tânia te preocupar.

— Eu não estou. Estou preocupada conosco. Eu te amo. E não quero


que isso acabe, mas estou esperando demais? Ainda não nos conhecemos tão
bem.

— Verdade, mas isso tudo leva tempo.

— Eu sei, mas estou me sentindo impaciente, eu acho. Nunca senti


nada assim antes e tenho medo de que, de alguma forma, escorregue pelos
meus dedos. Estou preocupado que isso acabe e nem vou saber o porquê.

— Por que você se sente assim? De alguma forma, você sente que não
merece ser feliz?

— Talvez. Porque para mim, felicidade sempre foi algo inatingível,


difícil... e com você parece tão simples, fácil...

— Está errado. O amor não tem que ser algo que a gente lute para ter.
O amor deve ser fácil quando duas pessoas se querem.

Eu senti quase como se estivesse me convencendo. Eu não tinha


certeza de onde as palavras vieram. Mas elas tocaram dentro de nós dois.
Enquanto as lágrimas escorriam dos cantos dos olhos de Clarissa, eu segurei
seu rosto em minhas mãos e a beijei novamente suavemente. Eu queria
transmitir meu amor para ela.

Também fui despertado instantaneamente. O amor que eu sentia por ela


frequentemente se transformava em excitação física e tornava a fisicalidade
do nosso sentimento muito mais forte do que qualquer coisa que eu já
conheci. Eu estava duro como uma pedra mais uma vez.

Ela sentiu meu pau roçar contra seu estômago e acariciou-o


suavemente com o dedo enquanto eu continuava a beijá-la. Os lábios dela se
abriram e sua língua saiu para cumprimentar a minha.

Clarissa recostou-se no sofá e descansou as costas contra a extremidade


enquanto abria as pernas.
Fui para cima dela. Comecei a empurrar em sua boceta. Eu a beijei
mais profundamente.

Nunca seria o suficiente.


Capítulo 16
Noah
O juiz bateu o martelo. Eu fiquei lá atordoado. Virei-me para o meu
advogado com os olhos interrogativamente.

— Eu ganhei?

— Sim?

— A guarda é minha?

— Unilateral.

Eu abracei o advogado, ignorando seu aperto de mão.

— Não posso agradecer o suficiente.

— Não é necessário. Isto tinha de ser feito. A justiça seguiu o caminho


certo hoje.

— Você não vai se safar disso! Seu desgraçado!

Tânia estava gritando do outro lado do corredor. Seu advogado e um


oficial de justiça estavam tentando impedi-la de vir até mim. Eu não entendia
por que ela estava tão chateada. Ela nem se importava com Miguel, por que
ter as visitas assistidas parecia tão perturbador?

Fazia duas semanas desde que ela fez a primeira ligação para Clarissa.
Isso desencadeou uma cadeia de eventos. Depois que eu disse a ela para ficar
longe de Clarissa, Tânia deu a louca, e começou a ligar para Clarissa
diariamente.

Na verdade, era até previsível, então contratei um detetive particular


para segui-la. Não foi difícil descobrir seus podres. Ela trabalhava na polícia,
mas também traficava. Ela usava de seu conhecimento dentro da corporação
para escapar das investigações.

Com aquele material em mãos, apresentei uma petição com urgência


informando meu medo e temor pela vida do meu filho. A custódia total de
Miguel não demorou a sair.

Eu ignorei Tânia e saí pela porta. Mal podia esperar para contar as boas
notícias a Clarissa.

— Isso é ótimo! — ela gritou ao telefone quando ouviu. — Estou tão


feliz.

— Eu também — respondi. — Vamos celebrar. Que tal um jantar a


dois?

— Que tal um jantar a três. Dessa forma, será uma verdadeira


celebração.

— Eu gosto dessa ideia.

Gostava mais ainda do sentimento de que Clarissa incluía Miguel em


seus planos.

— Clarissa. Eu te amo. Este é o começo de mudanças ainda mais


surpreendentes em nossas vidas. Está tudo difícil agora, querida. Mas, eu vou
terminar esses novos projetos e vou me dedicar mais a Miguel e a você. Eu
prometo.

— Eu também te amo — disse ela rindo. Ela adorava quando eu estava


animado. — Eu vou cobrar essa promessa.

Saí do tribunal me sentindo incrível, mas, mesmo assim, ainda havia


um sentimento de afundamento dentro de mim que me dizia que algo não
estava certo. Eu sabia que Tânia não deixaria isso barato, mas ela teria muitos
problemas com seu próprio departamento, já que o detetive iria entregar as
provas para a Civil.

Eu também tinha apresentado uma ordem de restrição em meu nome e


no de Clarissa. Se ela violasse esse acordo, poderia ser presa. E por tudo que
fez, era esse seu lugar.

Contudo, agora, Tânia precisava se livrar dos entorpecentes e encontrar


o caminho de volta antes que algo trágico lhe acontecesse. Ela estava jogando
sua vida fora. Por que ela não podia ver isso?

Naquela noite, Clarissa e eu levamos Miguel para um ótimo


restaurante. Ele amou. Meu garotinho era adorável de terno e gravata. Ele fez
tudo corretamente e foi o mais bem comportado que eu já o vi em público.
Ele estava realmente começando a crescer.

— Papai, quando Nissa será minha nova mamãe? — ele perguntou


quando Clarissa se levantou para ir ao banheiro.

Era apenas uma questão de tempo até eu oficialmente fazer a pergunta.


Eu sabia disso.

— Em breve, Miguel... Em breve.

Eu só esperava que ela dissesse sim.


Capítulo 17
Clarissa

Dois meses depois...

Olhei para o horário no meu telefone enquanto caminhava em direção


ao estacionamento. Eu só tinha cerca de uma hora e meia para ir ao médico.
Antes disso, tinha que levar as compras para casa. Havia comprado coisas
que podiam estragar no carro, caso ficassem ali, mal armazenadas.

Suspirei, pensando na minha promessa de fazer um jantar especial


naquela noite. Não devia. Estava nervosa demais para isso. Talvez eu devesse
ligar para Noah e cancelar.

Provavelmente era o melhor a fazer.

Na última semana eu não me senti bem e procurei o posto de saúde do


meu bairro. E a suspeita do que me afligia caiu sobre mim como uma bomba
não planejada.

Eu estava grávida.

E não era uma surpresa.

Eu sabia.

Eu sabia desde a primeira ânsia de vômito numa manhã ensolarada. Eu


tinha feito um teste de gravidez em casa que também o confirmou. No posto,
houve uma breve confirmação, que precisava ser finalizada com um exame
de sangue. Fui ao laboratório, coletei material, e agora estava indo ao médico
para ter certeza absoluta. Mas nem precisava. Eu podia sentir que estava
grávida.

Eu deveria saber que isso iria acontecer mais cedo ou mais tarde. Só
que eu esperava que fosse mais tarde. Esperava que, de alguma forma,
escapasse por enquanto. Não sabia se era o momento ideal. Eu estava feliz,
desejava ser mãe, mas o momento ainda era de incertezas.

Não havia como saber o sentimento de Noah sobre isso.

Bom, Noah era um pai incrível. Ele amava Miguel. Mas ele me disse
repetidamente que não queria mais filhos. Ele não queria passar pelos sustos
de saúde que passara com Miguel, de não saber se seu filho sobreviveria a
noite, às vezes.

A paternidade foi muito estressante para ele. Miguel estava


melhorando à medida que envelhecia, mas os primeiros anos realmente
cobraram seu preço. E ele não queria que isso acontecesse novamente.

Tentei explicar-lhe que a situação de Miguel não necessariamente se


repetiria com um próximo filho. Ele entendeu isso, mas não demonstrou
mudar de ideia na vontade de mais filhos.

O que, naquela hora, não me incomodou, porque eu também nunca


quis ser mãe biológica. Talvez adotar uma criança no futuro, mas parir? Não.

No entanto, quando percebi que estava grávida, tudo mudou em mim.

Céus, como ele iria lidar com isso? Eu não queria que ele ficasse com
um filho que ele não queria apenas porque me amava. Ele faria isso?

No entanto, eu tinha medo do que poderia acontecer. Toda vez que eu


pensava nisso, quase caia em prantos. Estava tão deprimida ultimamente. Eu
não podia contar a Noah sem ter certeza de como isso podia desestabilizar
nossa relação. Ao mesmo tempo, como esconder algo assim?

Eu realmente não acho que ele iria terminar comigo por causa disso,
mas ele poderia. E se ele não terminasse, eu passaria a vida toda imaginando
o quanto ele se ressentia de nosso filho e quanto tempo levaria até ele desistir
e simplesmente nos abandonar ou nos pedir para ir embora.

Obviamente, se a criança estivesse saudável e não tivesse nenhum


problema pudesse ser uma história diferente. Mas, e se a criança não fosse
saudável? E se durante esses primeiros meses Noah decidisse que não poderia
lidar com isso?

Eu sabia que estava rasgando minha sanidade com tudo isso, mas era
assim que eu me sentia. Tinha que saber com certeza o que ele pensaria.
Tinha que contar a ele.

Eu estava a meio caminho do carro quando vi a sombra vindo ao meu


lado. Mal tive tempo de me virar e largar a sacola de compras que estava
carregando antes que a figura balançasse um longo pedaço de madeira na
minha cabeça. Eu mal consegui me esconder.

Os mantimentos atingiram o chão com um barulho alto e foram por


toda parte. Estranhamente, a comida foi a primeira coisa que me preocupei.
Contudo, em seguida, me vi lutando pela minha vida.

Eu esperava que fosse Thiago. Todavia, era Tânia. Após minha


primeira reação a empurrando, ela retornou até mim levantando o que parecia
um cabo de enxada. Seus olhos tinham uma loucura assassina. Ela girou o
cabo na minha cabeça e eu desviei. Quando ela passou por mim com o
impulso de seu balanço perdido, levantei meu joelho e a peguei logo abaixo
das costelas.

Tânia caiu no estacionamento se espalhando pelo chão. Eu me joguei


contra ela, mas Tânia foi surpreendentemente rápida. Ela se virou e pegou o
cabo do chão e depois o jogou novamente para mim.

Quando ela errou, balancei o pé em seu rosto e colidi com o lado de


sua cabeça. Ela soltou um gemido e caiu de novo. Estava machucada. A luta
estava começando a deixá-la exausta, mas sua insanidade estava pegando
fogo.

O sangue estava jorrando do nariz dela. Tânia cambaleou para se


levantar. Ela estava vindo para mim para mais uma rodada. O que havia de
errado com essa louca?

— Eu vou te matar, puta! — Tânia rugiu.

Ela ficou de pé e se preparou para atacar novamente. De repente, vi


movimento nas costas. Era um guarda da segurança do supermercado. Ele
estava correndo para ajudar. Antes que Tânia pudesse reunir forças
suficientes para correr para mim, ele a agarrou por trás. O cabo caiu no chão.

— NÃO! — Tânia gritou. — Eu tenho que matá-la!

Outro guarda se juntou a ele alguns momentos depois eles conseguiram


controlar Tânia.

Tânia lutou contra eles, mas logo ela perdeu a luta e aceitou seu
destino.

Ela havia atacado uma mulher. Uma mulher grávida. Quando isso
caísse em sua ficha, com certeza perderia seu emprego e seria presa.

Senti pena dela, mas meu pesadelo acabou. Eu ainda estava em choque
com o que aconteceu. Ela tentou me matar. Eu tive sorte que ela não me
atacou com uma arma. Eu não tinha comprado uma, mas ela tinha acesso.

Depois que a polícia chegou, tive que ficar e responder a todas as


perguntas. Isso levou algum tempo, mas não demorou muito para que eles
pudessem reunir a história e entender o que aconteceu. Depois que saí,
consegui ir até o médico.
Meus planos para um bom jantar foram arruinados. Acho que teríamos
que pedir pizza, o que deixaria Miguel muito feliz.

Quando cheguei ao consultório, entrei e me sentei para esperar. Então


tudo me atingiu com força, o que tinha acabado de acontecer comigo. Senti as
lágrimas saindo dos meus olhos e começando a escorrer pelo meu rosto. Eu
me senti enojada. Alguém tentou me matar. Eu não estava a salvo de nenhum
desses malucos. Eu ainda estava esperando Thiago fazer alguma coisa louca,
mas jamais esperei isso de outra mulher.

Eu só queria viver minha vida em paz. Por que eu não podia ser feliz?
O que eu havia feito de tão ruim para essas pessoas? Thiago me agredia sem
eu nunca ter feito nada para merecer isso, e Tânia arruinou seu casamento
antes de eu conhecer Noah.

Fui chamada para uma sala de exames cerca de dez minutos depois. Eu
contei à enfermeira tudo sobre o teste de gravidez em casa e como eu só
queria confirmar. Ela pegou meus sinais vitais e depois me disse que o
médico chegaria em breve.

Sentada ali, esperando, me vi tremendo, mas desejando ter contado a


Noah. Talvez eu ainda pudesse. Eu poderia ligar para ele e explicar, e ele se
apressaria para ficar ao meu lado enquanto o médico me dizia a notícia. Eu
não queria ficar sozinha com essa informação. Eu queria que Noah
compartilhasse o momento.

Mas eu sabia que seria um grande erro. Ele provavelmente me diria que
não queria ser pai de um segundo bebê. Ele destilaria sua lista de motivos
mais uma vez. E então nosso relacionamento terminaria.

Eu não aguentaria isso.

Teria que passar por tudo isso sozinha, como minha mãe passou. Ela
desistiu e me deixou com minha avó e depois se casou de novo e teve sua
própria família, com um marido que queria filhos – dele. Sem espaço para
mim.

Eu não queria desistir, eu queria ser forte. Pelo bebê. Mas, não sabia se
conseguiria.

O médico entrou. Ele explicou que o laboratório logo entregaria meus


exames.

Pouco tempo depois, foi confirmado que eu estava realmente grávida.

Saí do consultório chorando. Não sabia o que fazer. Eu me senti mal


por toda a minha própria irresponsabilidade.

Enquanto eu estava sentada no carro dirigindo para a casa de Noah,


minha mente se decidiu.

Eu tinha que sair da cidade e tinha que deixar Noah. Não havia
nenhuma maneira de eu suportar a decepção que viria dele ao saber da
criança.

Ele inflexivelmente não queria filhos. E eu estava grávida.

Isso iria destruir o que ele sentia por mim e como ele se sentia por nós.
A responsabilidade era de nós dois, mas eu sentia que a culpa caia sobre
mim.

Naquela noite, depois que Miguel estava na cama, eu disse a Noah:

— Temos que conversar.

Ele pareceu um pouco preocupado.

— Estou indo embora.


Ele parou um momento e depois olhou para mim.

— Entendo... você não quer mais ser babá de Miguel?

— Não é isso. Eu amo Miguel. Mas há algo que eu tenho que cuidar,
alguns negócios da família. Não sei quanto tempo vai demorar ou quando
voltarei.

— Isso parece sério — disse ele. — Onde é esse negócio de família?

— São Paulo.

— Bah, tão longe? Bem, de qualquer maneira eu posso ajudar de


alguma forma?

Partiu meu coração perceber que ele não entendia que era o fim. Na
cabeça dele eu resolveria as coisas e voltaria.

Suspirei.

— Tenho que fazer isso sozinha.

— Sem problemas, eu vou te ver o mais rápido possível — disse ele.


— A viagem de avião é rápida, o problema é a ida para Porto Alegre, para o
Aeroporto. Mas, eu vou dar um jeito. Tem uma estimativa de tempo? De
qualquer forma, faremos tudo dar certo.

— Não, acho que não. Pelo menos por enquanto, precisamos dar um
tempo. Eu sinto muito. Eu sei que isso não faz sentido, mas confie em mim. É
melhor assim.

— Mas... eu não entendo. Isso é loucura. Por que temos que dar um
tempo? Você quer ver outro homem?

— É muito difícil explicar agora. — Deixei em aberto, não queria dar


esperanças. — Eu tenho que ir para casa e fazer as malas. Vou sair logo de
manhã. Entrarei em contato.

Com isso, saí pela porta e entrei no meu carro. Noah estava parado na
porta com o olhar mais confuso no rosto.

O que eu estava fazendo? O que eu estava fazendo?


Capítulo 18
Noah

Três meses depois

O telefone tocou no meu escritório. A ligação que eu tanto esperava.


Enfim, atendi. Do outro lado da linha, uma voz masculina começou a explicar
pelo processo de busca que transcorreu nos últimos meses, e no sucesso da
empreitada.

— Essa é uma excelente notícia! Você tem certeza de que é ela?

Depois de tanto tempo, era isso. Finalmente estava prestes a descobrir


onde Clarissa estava. Eu tinha que falar com ela. Tinha que ver o que ela
estava fazendo e por que ela decidiu deixar a mim e a Miguel. Não fazia
sentido para mim. Tinha que haver uma razão, mas o que era tão ruim que ela
que a fez fugir? Essa pergunta estava me deixando louco.

— Sim, eu tenho certeza. Vou mandar o vídeo que gravei — disse o


detetive particular que contratei para encontrar Clarissa.

— É ela — concordei quando o vídeo apareceu na tela do meu


computador e comecei a reproduzi-lo. — Sim! É ela. E ela está em Nova
Mutum? O que diabos ela está fazendo em Mato Grosso? Ela me disse que
estava indo para São Paulo.

— Ela realmente não quis deixar rastros, mas eu consegui descobrir um


contrato de aluguel com o CPF dela nessa cidade.

— Ótimo trabalho! Obrigado novamente.

— Você percebeu onde ela está?

Eu olhei para o local gravado. A cena transcorria em uma loja. Clarissa


mexia em roupas...

— Uma loja de bebê? Por que ela...?

Então tudo fez sentido. Dei uma olhada melhor em Clarissa. Eu podia
ver o inchaço no estômago dela. E ela estava comprando roupas e acessórios
para bebê. Meu Deus...

— Ela está grávida?

O detetive riu.

— Isso ou eu diria que ela tem um problema de engordar só na barriga.

— Jesus — eu disse. — Eu não acredito.

— Parabéns.

— Obrigado. — Estranhamente eu não pestanejei um segundo em


saber que aquele bebê era meu. — Eu tenho que ir vê-la.

— Boa sorte.

Encerrei a ligação e imediatamente arrumei uma mala rápida. Liguei


para a atual babá de Miguel, e perguntei se ela poderia passar alguns dias em
minha casa, se necessário. Ela concordou imediatamente, até porque eu
pagaria um bom extra, e então fui me despedir do meu filho.

Não havia como enfrentar uma viagem de carro até lá. Eram mais de
trinta horas de rodovia, mais de 2 mil quilômetros, então fui a Porto Alegre e
peguei um avião até Cuiabá. Depois, aluguei um carro e com o serviço do
GPS, dirigi até lá.

Eu trafeguei a noite toda sem descanso. Não estava cansado, o que era
a coisa mais estranha. Havia uma adrenalina louca correndo em minhas veias.
Eu precisava encontrar Clarissa. Eu queria abraçá-la e dizer o quanto a
amava. Não queria que ela sentisse que tinha que carregar tudo sozinha.

Percebi naquele momento porque ela me deixou.

O bebê.

Eu disse a ela que filhos não faziam parte do meu futuro. Eu não queria
outro bebê, não depois de todas as noites em claro, todas as lágrimas
derramadas, de me ter visto com uma criança doente dos braços e uma mãe
relapsa que a abandonou.

Eu fui sincero com ela. Mas isso foi antes de uma nova criança existir.
Eu já amava meu novo bebê. Só a ideia deste momento já me deixou
apaixonado por essa possibilidade.

E eu estava tão apaixonado por Clarissa. Eu senti tanto a falta dela. Eu


comecei a procurá-la na semana seguinte depois que ela foi embora. Apesar
de dizer que entraria em contato, ela nunca se comunicou comigo. Ela mudou
seu número de telefone, cancelou seu Facebook e até Helena – que eu sabia
que era sua amiga — não sabia onde ela estava.

Comecei a me perguntar onde eu errei. Quebrei a cabeça vivenciando


cada palavra, cada conversa, tentando ver se fui desrespeitoso de alguma
forma... Conversei com as amigas, os antigos colegas da cafeteria, as pessoas
com quem ela tocava, qualquer pessoa que pudesse saber alguma coisa. E
tudo isso me levou a nada.

Mas agora, depois de contratar um profissional, eu tinha as respostas


que estava procurando. Ele levou todo esse tempo para encontrá-la, o que
provou que ela realmente queria se esconder.

Finalmente cheguei a Nova Mutum por volta do meio-dia. Não foi


difícil encontrar a casa de Clarissa. Aquela cidade lembrava muito Esperança,
extremamente agrícola, mas todos pareciam se conhecer.

Fui em alguns lugares e mostrei fotos e logo alguém apontou para um


conjunto de prédios onde alguns alugavam quitinetes.

Enquanto me aproximava do local, tentei ficar calmo. Eu nem sabia se


ela falaria comigo. Ela pode me odiar pelo que sei. Ela podia me culpar por
ter mudado sua vida, seu corpo, seus sonhos. Ela precisou desistir da banda
por causa da gravidez. Por minha causa.

E eu não a culpo por isso. Ela fez o que achou certo, o que achou que
eu teria pedido para ela fazer. Eu realmente tinha sido tão insensível com seus
desejos e necessidades? Eu nunca perguntei se ela queria ter seus próprios
filhos um dia. Eu assumi egoisticamente que Miguel seria suficiente. Para
ambos.

Mais algumas perguntas para os residentes. Logo, um rapaz apontou o


número do apto da “gaúcha”. Era estranho ela ter esse apelido quando metade
da cidade vinha ou descendia do Rio Grande do Sul.

Bati na porta e esperei o inevitável. Para minha surpresa, Clarissa abriu


rapidamente depois que bati.

Lá estava ela. Meu anjo. E ela parecia incrível.

O olhar em seu rosto era de total perplexidade. Ela ficou chocada e


confusa. Ela não esperava nunca mais me ver.

Mas eu estava ali. E ficaria ao lado dela para sempre.


Capítulo 19
Clarissa

Isso não estava acontecendo.

Ele não estava aqui.

Não poderia ser.

Mas lá estava ele na minha frente. Em carne e osso, de pé na minha


porta. Eu não conseguia acreditar. Simplesmente não podia crer que isso
estava realmente acontecendo.

— Oi — disse Noah, inseguro.

Oh, a voz dele. Eu sentia falta da sua voz profunda e masculina. Sentia
muita falta de tudo nele. Noah era tudo que eu pensava desejar de um
homem. E todo dia eu ficava me perguntando se foi um erro ter ido embora.

Dizia a mim mesma que na amanhã seguinte eu ligaria para ele. Mas,
não ligava. E o ciclo se repetia, sempre levado pela minha covardia. Até
agora.

— Você está ótima — Noah comentou, quase casualmente.

— Obrigada — respondi. — Você também.

Ele sorriu, os dedos se contorcendo na mão.

— Posso entrar? Eu realmente preciso falar com você.

Eu não tinha certeza se deveria deixá-lo entrar, mas não pude evitar.
Recuei e abri a porta para ele. Depois, a fechei. Então apontei para o sofá,
num convite mudo.
— Eu senti tanto sua falta. Por que você foi embora? Por que você me
deixou?

As lágrimas escorreram pelo meu rosto.

— Eu sinto muito. Mas, precisei. Descobri que estava grávida e sabia


seu pensamento sobre isso. Eu não aguentava te contar e encarar o que
pudesse acontecer, então sai da cidade. E lamento isso. Eu deveria ter sido
forte o suficiente para lhe dizer a verdade, mas tinha medo de ver a decepção
em seu olhar.

— Querida, você realmente pensou que eu te expulsaria da minha


vida?

— Eu não tinha certeza, mas imaginei que, mesmo se você tentasse


fazer a coisa certa, acabaria se cansando e me dizendo para sair. Eu não
aguentava essa ideia. Eu simplesmente não aguentaria ser expulsa da sua
vida.

— Você devia ter me dado uma chance — disse Noah. — Mas eu


entendo por que você estava com medo. Eu fui insensível. Não pensei em
todas as implicações do que estava dizendo quando lhe disse que nunca mais
queria ter filhos. Eu estava errado. Eu sinto muito por isso. Deveria ter falado
melhor sobre esse assunto, ou ao menos, devia ter falado de outra forma.
Tinha que ter explicado melhor as coisas. Assim você teria mais segurança de
vir até mim e me falado a verdade. Isso foi culpa minha. Sinto muito que
você sentiu que tinha que ir embora.

— Eu também sinto muito. Eu gostaria de ter ficado e conversado com


você. Não sei por que fiquei tão assustada. Eu me arrependo todos os dias
desde então.

Ele se aproximou e tocou meu rosto com seus dedos quentes.


— Eu amo você. Eu te amo mais do que palavras podem expressar.

Limpei uma lágrima do meu olho e disse:

— Também te amo. Eu senti tanto sua falta.

— Vamos começar de novo? Por favor, volte para casa comigo - pediu.

Era tão terno. Nem pestanejei.

— Mal posso esperar para voltar para casa.

— E se casar comigo?

Noah se ajoelhou e puxou um anel do bolso. Meus olhos agora estavam


nublados de lágrimas de alegria. Eu estava quase prestes a desmaiar pelo
gesto bonito.

— Clarissa, você me dará a honra de ser minha esposa?

— Sim, claro que vou me casar com você. Eu te amo!

Ele me beijou com força na boca e depois colocou o anel no meu dedo.
Foi um ajuste perfeito. Eu não podia acreditar nos meus olhos. Foi a coisa
mais linda que eu já vi.

Pelo reflexo da joia pude ver a nós dois. O casal que se conheceu na
adversidade e que criou e construiu um amor.

O futuro podia ser bonito e feliz. Só dependia de nós.


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Josiane Biancon da Veiga nasceu no Rio Grande do Sul. Desde cedo, apaixonou-se por
literatura, e teve em Alexandre Dumas e Moacyr Scliar seus primeiros amores.
Aos doze anos, lançou o primeiro livro “A caminho do céu”, e até então já escreveu mais
de vinte livros, dos quais, vários se destacaram em vendas na Amazon Brasileira.
WWW.JOSIANEVEIGA.COM.BR

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