Um Novo Começo - Josiane Veiga
Um Novo Começo - Josiane Veiga
Um Novo Começo - Josiane Veiga
Começo
UM NOVO COMEÇO
ELE FOI ABANDONADO COM UM FILHO NOS BRAÇOS. ENTÃO ELA APARECEU PARA PROVAR
QUE O AMOR AINDA EXISTIA...
JOSIANE VEIGA
1ª Edição
2020
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser
Esta é uma obra de ficção. Os fatos aqui narrados são produto da imaginação.
Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real deve ser
considerado mera coincidência.
Título:
Um Novo Começo
Romance
ISBN – 9798676788018
Talvez por isso Noah não tinha sorte no amor. Apesar de ser um cara
estruturado, com uma boa aparência e gentil com as pessoas, ele não dava
sorte em relacionamentos.
Eu gostaria de ter mais tempo para passar com ele, mas os negócios
não paravam, e consequentemente eu também não. Sentia real necessidade
ficar por dentro das coisas, senão tudo poderia desmoronar. Poderia estar
sendo excessivamente dramático sobre isso, mas não conseguia renunciar à
segurança que o dinheiro podia dar.
Ainda era cedo o suficiente para que eu não tivesse que estar em casa
imediatamente. Eu poderia pagar a babá um extra por um atraso e ela ficaria
feliz porque sei que estava precisando de dinheiro. Meu menininho estava
dormindo a essa altura e eram apenas oito horas.
Não, a verdadeira razão pela qual parei neste local foi por causa de
Clarissa Rebelo, uma das novas garçonetes do lugar, contratada por Noeli
para substituir Helena (a garçonete mais famosa daquele lugar se casou com
um dos advogados Gatti), que estava na segunda gravidez. Helena ainda
trabalhava, mas como o movimento era sempre intenso, Clarissa acabou
ficando permanente.
Eu era o tipo de cara que não trai. Se eu não sou desleal, não aceito
deslealdade comigo.
Desde então, meu coração estava tão protegido, tão bem abrigado, que
tive medo de confiar novamente. Eu pensei que o que Tânia e eu tínhamos
era real, mas acabou que não era o que eu pensava que era. Você pode passar
anos ao lado de alguém sem realmente saber o que se passa no coração dessa
pessoa.
Mesmo assim, quando eu olhava para Clarissa... Ah... ela era incrível.
Ela usava uma blusa clara com o emblema da cafeteria por cima de um
jeans apertado. Esse era o traje habitual dela.
Por que eu não podia simplesmente convidá-la para sair? Isso estava se
tornando estúpido. Eu nunca tive um problema em convidar uma mulher para
sair, mas desde a coisa com Tânia, eu não conseguia me permitir sair com
qualquer mulher com quem eu sentisse algum tipo de conexão real. E até
agora, a única mulher que se candidatara a essa conexão era Clarissa. Foi
algo que senti no momento em que a conheci. Havia essa vinculação que eu
não conseguia explicar, desde o começo. E, a julgar pela maneira como ela
interagiu comigo, ela também sentiu.
— Uma banda?
— Sim.
Eu não tinha certeza se ela estava sugerindo algo para mim, assim eu
deveria aproveitar esse momento para finalmente convidá-la para sair, ou o
quê? Mas eu não mordi a isca. Esse bloqueio mental ainda estava lá. Eu teria
que esperar até me sentir bem.
Claro, poderia ter chamado ela para sair. Esse não era realmente o
problema. Mas eu teria sentido esse sentimento doentio e medroso sobre se
estava ou não pronto para seguir em frente ou se apenas estaria
desperdiçando nosso tempo.
Eu adorava ver essa mulher sorrir. Ela tinha aquele sorriso especial que
poderia derreter até o coração mais frio. E isso tomou conta do meu coração.
— Isso seria interessante, mas acho que você é muito mulher para meu
caminhãozinho.
Ela se inclinou um pouco mais perto enquanto dizia isso. Eu sabia que
a atração estava lá. Nós dois podemos sentir isso. Mas não era o momento
certo para mim. Meu cerne gritava que estava errado, enquanto minha mente
me avisava que não daria certo se eu tentasse algo com ela, agora.
— Obrigado. Talvez um dia eu tenha sorte, mas agora não está nos
meus planos.
Era seguro dizer que eu tinha uma queda enorme por ele desde que o
conheci. Ele era bonito, suave, carismático e muito sensual. Além disso, o
fato de ele ser um homem trabalhador e bem-sucedido parecia coroar aquela
perfeição. E ele tinha aquela atmosfera... Um homem genuinamente bom. Eu
sabia. Claro, Noah tinha uma reputação de tigre nos negócios, mas era visível
que ele também tinha um grande coração. Ele amava seu filho e trabalhava
duro para manter a Fábrica. Eu o respeitava muito.
E sabia que ele tinha uma atração por mim. Era óbvio, mas por algum
motivo ele não me convidava para sair. Eu tinha pensado em convidá-lo
algumas vezes, mas me continha. Não era que eu tivesse medo de ser
recusada, mas sabia que ele provavelmente diria não. E mesmo que ele
dissesse sim, sabia que ele não estava pronto para namorar alguém
seriamente.
Terminei meu turno e, depois de limpar e arrumar tudo, fui para casa.
Liguei o rádio alto quando entrei no carro e me perdi rapidamente em Ed
Sheeran. Depois de paquerar e trocar piadas com clientes a noite toda, só
queria distância das pessoas. Eu estava pronta para relaxar no sofá com uma
cerveja gelada e assistir a algo na televisão. A Amazon Prime havia colocado
em seu catálogo The Office e eu precisava de um pouco de Michel Scott para
alegrar minha vida.
— Thiago.
— Isso não é da sua conta. Você não tem mais nada a ver comigo.
Ele sorriu. Eu odiava quando ele sorria assim. Sempre parecia saber
algo que eu desconhecia.
— Você ainda não entendeu que é pra sempre, né? Você e eu. Para
sempre — reafirmou. Havia tanta convicção na sua voz que me desarmou. —
Você não usa e depois me joga de lado como se eu fosse um nada. Você acha
engraçado tratar as pessoas dessa maneira?
— Não foi isso que aconteceu. Você é louco. O fato de você estar aqui
agora falando comigo dessa maneira simplesmente prova isso. Procure ajuda.
Você realmente precisa de um tratamento com um psiquiatra.
— Por que você não pode aceitar que nós não temos mais nada?
Eu passei por ele e abri a porta do meu prédio. Deixei fechar atrás de
mim e parei um momento antes de continuar. Eu tinha certeza de que ele
tentaria me seguir até meu apartamento, mas a única maneira de realmente
escapar dele naquele momento era fechar a porta na cara dele. Eu só esperava
que ele não me seguisse.
— Não sei. Estou tão apavorada que temo olhar para fora pela janela...
Eu gostei dela desde o começo. Não sei por que, mas parecíamos nos
conectar pelo telefone. Talvez seja pelo fato de sermos mulheres. Só uma
mulher pode entender outra.
— Sim.
— Ok, se você usar a ordem restritiva ele poderá ser preso. Posso
mandar um policial aí agora.
E ele ficaria alguns dias preso, isso senão algumas horas, e depois viria
atrás de mim com ainda mais gana.
Desejei que ele estivesse aqui, comigo. Ele poderia me segurar em seus
braços fortes, me proteger e me manter a salvo de pessoas como Thiago. Eu
não me estaria sozinha, nem me sentiria tão isolada.
Assim, me tornei uma pessoa que aprendeu a não depender dos outros,
tanto financeiramente quanto psicologicamente. Como eu nunca tinha
ninguém para me apoiar, sabia que era apenas eu e Deus.
E esse é o preço que se paga por ser um espírito livre. Eu passei tanto
tempo sozinha que eventualmente, as pessoas falavam algo ou faziam algo
que me deixava desconfortável ou pressionada, mesmo que não fosse a
intenção delas. Bastava um momento para sentir-me sufocada. E então eu me
afastava.
E era por isso que eu não tinha coragem de ir adiante contra Thiago,
pela lei. Porque uma parte de mim se culpava por ter terminado com ele,
mesmo ele sendo um cara nojento que tentava me intimidar o tempo todo em
que estivemos juntos.
E mesmo assim, mesmo sabendo que eu era essa pessoa estranha, meu
coração ainda ansiava por Noah. Por quê? Não sei. Mas, ansiava. De alguma
maneira, eu me via nele. E sabia que ele estava sofrendo. Eu não o culpo nem
um pouco. Ele me contou um pouco o que aconteceu com a ex. Eu sabia que
era doloroso para ele pensar, muito menos falar sobre isso. No entanto, ele
me confidenciou em várias ocasiões como ser traído dói.
Eu só esperava que ele percebesse que sentia a mesma coisa antes que
fosse tarde demais.
Capítulo 3
Noah
— Eu nunca vou entender por que estamos comendo isso. Não parece
meio doce?
Eu ri. O tom amenizado de Raul era sugestivo. Ele tinha uma filha não
assumida que poucos sabiam ser sua. A verdade é que ele teve um encontro
romântico com uma mulher de Esperança quando ela ainda era noiva, e eles
terminaram tudo antes do casamento. Porém, oito meses depois nasceria uma
pequena que tinha os olhos de Raul. A menina, hoje, tinha cinco anos, e era
quase uma cópia do contador. Ele a via sempre que levava Miguel a escola.
Talvez por isso ele costumava pedir para levar Miguel a escola com
frequência, usando a desculpa de ser o padrinho.
Ele suspirou e passou a mão pelos cabelos. Então ele tomou um gole
grande de seu vinho.
— Não sei por que confio em você tão bem, mas confio. Vamos fazer
isso. Podemos entrar nesse negócio juntos, mas conto com você para me dar
um ótimo retorno. Caso contrário, talvez eu precise matá-lo.
Eu ri.
— Porque você sempre pensou que ninguém pode ser feliz sozinho. Só
que isso é um erro. Uma pessoa é perfeitamente capaz de ser feliz sozinha.
Além disso, eu tenho Miguel...
— Por quê? Você se sente culpado por algo? Se sim, então você
precisa parar com isso agora. Você não fez nada errado, eu te conheço a
muito tempo e sei que foi o melhor homem que podia para Tânia.
Dei de ombros.
— Eu posso entender isso, mas vou lhe dizer que não está fazendo isso
da maneira certa. — Ele deu mais uma bocada no hot e depois me encarou.
— Você pelo menos está de olho em alguém? Que tal aquela gostosa da
cafeteria de Noeli que você me contou?
— Como você não sabe? Você não a vê várias vezes por semana? Não
flertam?
Dei de ombros.
— Bom, não custa nada se atentar a dicas... isso, claro, se ela der
alguma.
Eu sabia que elas eram conhecidas, mas não sabia que a namorada de
Raul podia ser um leva-e-traz sobre minha vida para Tânia.
— Tânia fez uma coisa horrível comigo e com Miguel. Ela nos traiu,
traiu nossa família. É estranho a namorada do meu melhor amigo ainda falar
com minha ex.
Ele concordou.
Subir uma ladeira parecia a coisa mais difícil que eu já havia realizado
na vida. Minhas vistas turvaram e eu senti que minha pressão baixou.
Recostei-me na calçada enquanto Catiane, minha amiga a longa data, parou
ao meu lado e continuou a correr no lugar, agitada.
— Isso é difícil. Alguns homens acham que são os donos das mulheres.
Mas, nós podemos lutar para reconstruirmos nossas vidas sem um homem
achar que é nosso dono.
— Ei, está tudo bem. Você fez a coisa certa. É melhor que esse merda
não chegue perto de você ou ele vai se ver comigo, certo?
Eu observei minha amiga frágil de um metro e cinquenta e quase ri
diante da sua coragem.
— Amada, isso não é a maneira de viver sua vida. Você precisa tirá-lo
da cabeça e tomar as devidas precauções, caso algo aconteça.
Precauções.
Por que isso estava acontecendo comigo? Thiago estava tirando tudo
de mim. Minha liberdade, minha paz... Ele era a pessoa com uma ordem de
restrição nas costas, mas era eu que me sentia como se estivesse em algum
tipo de prisão. Isso não estava certo. Eu tinha uma imagem na minha cabeça
dele vindo para mim e matando-me.
— Sério?
— Diz que o processo pode demorar meses, mas tem um policial que é
instrutor de tiro que vai a cafeteria, vou pedir uma ajuda na papelada. Seria
mais rápido comprar uma sem registro, mas eu me sentiria péssima em ter
uma arma assim.
— Bom, dizem que com o novo presidente, a aquisição está mais fácil.
— Mas, pelo que sei ainda demora uns seis meses. Mesmo assim, eu
não tenho escolha.
— Então, como está a situação com aquele cara que costumava entrar
na cafeteria o tempo todo, que você me contou? Eu pensei que as coisas
estavam indo bem com ele...
— Não sei dizer. Ele vem algumas vezes por semana. Entra, toma
algumas cervejas e nós fazemos nosso pequeno flerte. Noah parece ser um
bom rapaz. Não sei tanto sobre ele quanto gostaria, mas gosto do pouco que
sei.
Eu estava entediado.
Acho que teria sido melhor se eu não estivesse sozinho. Quase todo
mundo estava com alguém significativo, ou pelo menos em algum encontro
divertido. Mas, eu estava andando só e essa foi uma decisão consciente que
eu tomei. Claro, poderia ter chamado alguém para sair, poderia ter chamado
alguém especialmente para essa função e qualquer mulher teria dito sim, mas
eu não estava pronto para fazer isso.
A voz falando atrás de mim era de Manuel Fontes, o homem mais rico
de Esperança. Sou amigo dele há alguns anos e nunca fomos rivais, apesar de
sermos concorrentes na presidência da fábrica.
— Estive muito ocupado com o outro bebê para pensar em ter mais um
filho, mas não nego que a notícia me deixou em êxtase.
De repente notei uma mulher bonita chegando até ele. Ela estava
carregando uma bebida e sorrindo como se já tivesse tomado algumas doses a
mais, mas era muito hábil em manter uma compostura sólida enquanto estava
bêbada. Impressionante.
Sim, com uma única frase ficou claro que ela estava descaradamente
dando em cima de mim, porque provavelmente eu era o único ali que estava a
seu alcance, já que Manuel só tinha olhos para sua esposa.
Eu odiava falar sobre isso, até porque “roubar” o cargo de Manuel foi
uma das coisas que mais me incomodava naquela posição. Todavia, eu estava
focado nos negócios e ele estava focado no amor. Foi relativamente fácil ficar
com a presidência.
Me afastei sem esperar que Manuel dissesse mais alguma coisa. Movi-
me por algumas mesas e conversei brevemente com várias pessoas e casais
que eu conhecia, principalmente fazendo as rondas para que eu pudesse dizer
que estava lá e fiz a minha parte. Eu esperava partir logo, mas não queria
causar qualquer sensação de desrespeito, especialmente quando muitas dessas
pessoas me ajudaram a ganhar dinheiro investindo em minhas empresas.
Eu estava indo em direção ao bar para pegar outro uísque quando senti
meu telefone vibrar. Verifiquei e era Joice, a babá. Isso não parecia certo. Por
que ela ligaria?
Miguel.
Eu vivia para ele. Se algo acontecesse com ele, eu não teria um mínimo
motivo para acordar a cada manhã.
Quando voltei, Miguel estava lá olhando para mim com seu rosto doce
e sorridente. Ele parecia tão inocente e meio contente, mesmo depois de tudo
o que passara. Ele sempre mantinha a cabeça erguida.
— Ei, filhão...
Ele era tão pequeno, e mesmo assim ele se preocupava mais com meus
negócios do que com a própria saúde.
— Eu te amo, papai.
Café preto, expresso, dose forte e dupla, era maior e mais intenso no
corpo humano que qualquer álcool. Noah deslizou em seu banquinho. Ele
pegou o café e bebeu rapidamente.
Estendi a mão e peguei na sua. Ele olhou para cima e sorriu para mim.
Eu amei aquele sorriso.
— Obrigado.
Eu senti aquela faísca estranha entre nós, naquele momento. Era como
um tipo de eletricidade que existia entre nós dois. Era como se eu estivesse
tão perto dele. Amei o grande homem e pai que ele era. Eu sabia que ele
estava sofrendo e lidando com muitas coisas, mas ele ainda estava fazendo
isso com a cabeça erguida. Noah se sentia quebrado a maior parte do tempo,
mas a maneira como ele continuava e lidava com tudo era bastante admirável.
— Ele nasceu prematuro e teve que lutar por cada respiração desde
então. É algo que ele pode ter que lutar pelo resto da vida. Essa é a coisa
triste. Eu só queria que houvesse algo que eu pudesse fazer. Não há nada que
faça um homem se sentir mais impotente do que saber que seu filho está
doente e você está de mãos atadas. Eu odeio esse sentimento.
Eu não tinha certeza de que era a hora certa, mas senti que algo poderia
acontecer. Então decidi ir em frente.
Droga. Por que eu fiz isso? Não deveria ter feito essa pergunta. Tempo
errado. Ele estava com problemas.
Thiago.
Merda.
Thiago estava lá. Ele estava no meu trabalho. Era a primeira vez que
ele se atrevia a tanto.
Ele estava ficando barulhento. Pude ver que ele já estava um pouco
bêbado. Ele bateu as mãos sobre a mesa com raiva, como se estivesse
tentando defender sua opinião. Recuei alguns passos até que minhas costas
estavam contra a parede atrás de mim. Eu estava tão assustada. Eu senti como
se estivesse prestes a entrar num surto.
Thiago tinha mania de gritar. Ele berrava o tempo todo quando estava
comigo. Os sobressaltos que me causava ainda me deixavam em pânico.
Mesmo estando separados por meses, se alguém gritasse perto de mim, tanto
fazia se era para chamar alguém na rua ou numa expressão de alegria, meu
coração parecia prestes a saltar pela boca.
— Não vai funcionar. Esse tipo de merda está me irritando. Você tem
alguma ideia do que isso significa?
Thiago era alguns centímetros mais alto, mas estava mais fora de forma
que Noah. Era difícil dizer através do terno que ele estava sempre vestindo,
mas eu podia dizer que Noah tinha músculos firmes e bíceps másculos.
Não queria que ele se envolvesse, mas era tarde demais. Isso estava
acontecendo. E eu sabia que Thiago não era do tipo que recuava.
Thiago riu.
Noah não disse nada, mas também não se esquivou. Ele realmente deu
um passo à frente na direção de Thiago.
Peguei meu telefone e comecei a discar para a polícia. Thiago viu que
eu estava falando sério.
Thiago olhou para Noah e depois saiu do local. Fiquei feliz que Thiago
se foi, mas sabia que ele voltaria. Talvez não hoje, mas ele não ia me deixar
em paz. Simplesmente não havia como. Ele estava nisto por completo e não
iria recuar.
— Sim, eu vou ficar bem. Obrigada. Você não deveria ter interferido,
no entanto.
— Está certo. Mas, tinha que ser feito. Esse tipo de homem só recua se
enfrenta outro homem. Eles acham que as mulheres são objetos que lhes
pertencem e não temem a elas ou as atitudes delas.
Era verdade.
— Não nego que estou, mas entendo se é da sua conta e você não
deseja compartilhar.
— Babá?
Busquei outra lata e a abri, derramando em seu copo. Ele olhou para
mim enquanto tocava o copo.
Ele era grande e em forma, mas não tinha nada nos olhos. Era do tipo
estúpido, não lutador, o tipo de cara que conseguia as coisas no berro ao
invés do esforço. Eu podia tê-lo arrebentado em segundos.
Mas estou feliz que não tenha chegado a isso. Tudo o que eu não
precisava era que esse tipo de coisa aparecesse nas fofocas locais. Isso não
faria bem para a minha imagem, o presidente da fábrica se engalfinhando
com outro homem..., mas, maldito seja, eu teria batido em Thiago se a
oportunidade surgisse novamente.
E eu sabia que ele podia ver nos meus olhos que estava perto disso.
Estava passando por muito estresse por causa da saúde do meu filho, bater
em alguém parecia quase uma terapia.
Só que eu não era esse tipo de pessoa. Apenas, ele não me intimidou
nem um pouco com seu jeito valentão. E isso o assustou. Ele recuou assim
que teve a oportunidade. Aquele homem usava o medo e a intimidação como
suas armas principais. Se isso não funcionasse, ele só tinha seu físico superior
para ampará-lo. No caso de enfrentar outro homem, isso não o tornava tão
avassalador ao oponente.
Cheguei em casa e percebi o lugar silencioso. Eu sabia que Miguel
estaria na cama. Senti falta de não ter a chance de colocá-lo para dormir, mas
tive que trabalhar até tarde e achei que seria melhor parar na cafeteria para
conversar com Clarissa porque aquele breve momento era sempre algo que
me mantinha são. Minha melhor terapia. E, às vezes, era o único momento
que eu possuía na semana para resgatar um pouco da minha alto-estima.
Encontrei a babá, Joice, lendo um livro na sala de estar com pouca luz.
Ela se assustou quando entrei na sala.
— Ele estava bem, perfeitamente normal. Ele comeu e foi para a cama
sem problemas.
— Ótimo.
Não havia nada que eu pudesse fazer por ela, da mesma forma que
nada podia fazer por meu filho. Eu era a porra de um homem inútil.
Merda.
Peguei meu note. Fiz uma pesquisa por babás qualificadas, mas
francamente, a gente morava na porra de Esperança. O que eu encontraria
além de alguma coitada sem experiência tentando arrumar uns trocos?
Não tinha jeito... Eu teria que trabalhar em casa nos próximos dias e
agora era um período difícil, onde estava acertando uma negociação no
Mercosul.
Ela era filha da minha meia irmã. Luisa tinha quinze anos e eu estava
ajudando a pagar seus estudos.
— Você ligando? Faz mais de um mês que não tenho notícias suas.
Estava trabalhando como um louco, não é?
— Pode deixar.
— Ótimo. Escute, Luisa ainda está fazendo uns extras como babá?
Acabei de perder minha babá e preciso de alguém para cuidar Miguel com
urgência depois da pré-escola.
— Ela disse que ficaria feliz em ganhar uns trocados, mas apenas até o
treino começar em duas ou três semanas.
Ok, isso seria difícil. Eu tinha certeza de que Luisa ficaria bem com
Miguel, mas conseguir trabalhar, ter reuniões, e apenas estar lá para fazer
acordos, enquanto buscava por uma alternativa a Joice era algo que me tiraria
o sono durante essas duas semanas.
Ela significava muito para mim. Eu via isso agora. Eu sentia falta dela
durante todo o tempo que não nos víamos. Queria levá-la para um encontro.
Queria abraçá-la. Beijá-la e senti-la contra mim. Precisava que o corpo dela
estivesse com o meu.
Mas não ficaria perto dela por um tempo. Isso seria fisicamente
doloroso. Ela provavelmente seguiria em frente e se interessaria por outra
pessoa. Eu me tornaria o cara que podia ser, mas não foi.
Quando dei por mim, já era muito tarde e eu decidi ir para a cama.
Fui até o quarto de Miguel, beijei sua testa e o cobri melhor. Após isso,
fui até minha suíte, e tomei um banho quente. Mais tarde, deslizei na cama,
nu, como sempre dormia. A maneira como os lençóis deslizaram contra meus
órgãos genitais foi muito agradável como sempre é. Fechei meus olhos e
imaginei como seria bom ter Clarissa ali mesmo para esfregar meu corpo,
deslizar contra mim, e sentir sua mão alcançar meu pau e acariciá-lo com a
maior força possível e depois levá-lo a boca suculenta.
Eu estava duro, minha mente cheia de imagens das coisas que Clarissa
faria no meu pau. Imaginei sua boca abrangendo todo o alcance da minha
cintura e comprimento, engolindo meu pau com zelo. A luxúria estava
tomando conta da mente e corpo.
Naquele instante, eu vi Clarissa entre meus olhos entreabertos, meu
sonho de ter aquela mulher para mim. Ali estava, seus olhos cheios de luxúria
me encarando enquanto eu enchia sua boca com minha pica. Eu podia sentir a
cabeça deslizando contra suas amígdalas e empurrando sua traqueia, tão
apertada, tão quente, tão molhada, e ela estava tão ansiosa...
Agora eu estava batendo meu pau furiosamente com meu punho. Foi
tão rápido que fiquei tão absorto nessa fantasia que nem percebi que estava
prestes a vir até que isso acontecesse.
Uma carga pesada pairou no ar, deixando meu pau livre dos lençóis,
meus olhos observando como a semente quente voou no ar acompanhada pela
sensação de felicidade total que balançava por todo o meu corpo.
Eu a amava.
O que eu sentia por ela era real. Não havia dúvida na minha mente. Eu
queria que essa mulher fantástica me completasse. Ela era a única mulher que
poderia.
Ser traído mexe assim com você. É mais do que esmagar sua
autoconfiança, é fazer com que você sinta desconfiança até mesmo dos seus
sonhos.
Capítulo 8
Clarissa
Eu sabia que Helena e Tatiana já haviam passado por isso, mas era a
primeira vez que me acontecia. Alguém resolvera cagar em todos os lados, e
limpar a bunda na parede.
Recuei e coloquei as mãos nos quadris para me firmar. Essa era a coisa
que eu mais odiava fazer. Limpar banheiros. Obviamente eu queria que
houvesse alguém para fazer aquilo no meu lugar, mas Márcia havia reduzido
custos e nosso papel, além de servir, era também limpar.
Talvez por isso que a presença de Noah uma e outra noite por semana
parecia um bálsamo para mim.
Eu estava tão acabada com este trabalho. Costumava ficar bem, mas
ultimamente isso realmente começou a afetar minha saúde mental. Estava
ficando deprimida e simplesmente não feliz. Eu ia começar a procurar outra
coisa, tinha que haver outra forma de pagar minhas contas.
Noah. Eu não o via há quase três semanas, desde aquela noite em que
Thiago havia entrado.
Thiago havia sido preso mais tarde naquela noite, solto no dia seguinte
e agora estava enfrentando acusações. Eu teria que testemunhar contra ele
sobre tudo o que ele fez comigo e, se eu tivesse sorte, ele seria preso
permanentemente por me ameaçar, me incomodar e perturbar a paz.
Mas, por fim, Thiago não apareceu mais. Era um alívio. Queria nunca
mais vê-lo. Como um dia fui capaz de ficar com esse homem?
Mas ele, de repente, se foi também. Eu sabia que tinha muita coisa
acontecendo com Miguel. Gostaria de saber se tudo estava ok. Eu não queria
ser intrometida, mas estava genuinamente curiosa sobre como uma mãe foi
capaz de abandonar seu filhinho doente com o pai.
Um calor súbito subiu pelo meu peito. Decidi naquele momento que
tinha que saber se ele estava bem.
Decidi que o usaria para ligar para ele agora. Era estranho, insistente, e
ele provavelmente pensaria que eu era uma espécie de desesperada, mas,
naquele momento, não me importei. Eu tinha que saber com certeza o que
estava acontecendo com ele.
— Sim?
— Ah, sim. Eu estive tão inundado de trabalho. Minha babá teve uma
emergência familiar e pediu demissão. Até agora, não tive sorte em encontrar
alguém para substitui-la.
— Isso explica sua ausência — disse eu voz alta, mas queria ter apenas
pensado. Por fim, resolvi ser sincera. — Eu pensei que você não queria mais
me ver.
— Sim, mas a busca não está indo bem. Eu entrevistei cerca de vinte
pessoas, mas nenhuma delas é adequada para o trabalho.
— Entendo.
— Como?
Isso era mais do que eu estava fazendo no bar, mesmo com gorjetas. E
a natureza do trabalho era muito melhor. Eu estava cansada de trabalhar
durante a noite. E eu queria voltar a estudar e precisava de um emprego com
algum tempo de inatividade que facilitasse isso e me permitisse, pelo menos,
fazer aulas presenciais.
— Como assim?
Noah não falou por um momento. Eu tinha medo de que ele pensasse
que era uma péssima ideia, mas eu tinha esperança. Era otimista às vezes.
— Hum... Você quer ser babá? Você é uma ótima garçonete. Achei que
gostasse de trabalhar na cafeteria.
— Não. Eu odeio trabalhar aqui. Eu ganho pouco, tenho que sorrir para
todo mundo, e aguentar uma chefe chata. Eu quero tentar algo novo.
Mais silêncio. Esperei pela recusa, mas de repente sua voz pareceu
vibrar.
O que eu não estava pronta era para lidar com os sentimentos que tinha
por Noah. Eu não sabia se ele se sentia da mesma maneira que eu, mas estava
desesperada para descobrir. E eu sabia que a situação poderia se tornar
complicada com a proximidade diária. Mas eu estava disposta a arriscar.
Estava pronta para uma mudança.
Eu o queria.
Queria as mãos dele em mim, sua boca e mãos deslizando pela minha
pele. Mais tarde naquela noite, quando subi na cama, fechei meus olhos e
imaginei como seria bom estar com ele ao meu lado. Eu odiava dormir
sozinha. E eu sabia que Noah seria o homem que poderia me fazer sentir
aquele sentimento doce que eu tanto ansiava.
Então, antes que ele viesse, ele rolaria em cima de mim e entraria entre
as minhas pernas. Seu pau duro me abriria e eu me encontraria à beira do
orgasmo. Eu não seria capaz de segurar tanto tesão.
Sorri para mim mesma quando fechei os olhos mais tarde e tentei
descansar. Sempre foi mais fácil depois de um bom orgasmo. Nada induzia o
sono tão facilmente.
Eu estava nervosa dirigindo para a casa de Noah, mas senti que estava
fazendo o que era certo.
A noite passada surgiu na minha mente. A possibilidade parecia tão
real, como se isso pudesse realmente acontecer. Eu me perguntava como seria
bom.
Além disso, era muito possível que Noah não quisesse que tivéssemos
algo romântico enquanto eu estivesse trabalhando para ele.
Capítulo 9
Um mês depois
Noah
— Goku é um idiota! — ela fez uma careta que fez Miguel rir.
— Ok. Vou aceitar isso, mas só porque você concorda comigo que a
Bulma é a melhor personagem.
Percebi que amava Clarissa nos primeiros dias em que ela frequentava
regularmente minha casa. Eu já tinha minhas suspeitas antes, e até tentei
ignorar esses sentimentos durante as poucas semanas em que estive muito
ocupado para passar pela cafeteria. Quase me convenci de que o que sentia
por ela era um sentimento passageiro, talvez uma simples atração, mas nada
tão sério. Ledo engano. Era sério. Eu sabia, eu sentia. Eu vivia isso em cada
movimento ritmado do meu coração.
No momento em que ela entrou na minha vida, tudo mudou. Ela era
única. Ela era a mulher que eu estava esperando. Ela era a mulher que eu
desejava que Tânia fosse e não foi.
Não me entenda mal, Tânia amava Miguel, mas de muitas maneiras ela
o tratava como um troféu para tentar fazê-la parecer bem, normal, natural. Ela
estava sempre colocando postagens on-line que mostravam que mãe incrível
ela era e era fácil perceber que as postagens eram sobre ela e ele era
realmente apenas um acessório.
Com Clarissa, o vínculo era genuíno. Parecia mais natural. Mas por
mais que eu odiasse Tânia e tentasse mantê-la fora da vida de Miguel, ela era
sua mãe e sempre estaria por perto uma vez ou outra.
Ela o recebia em visitas uma vez por mês durante um fim de semana.
Eu realmente não queria que ela tivesse mais contato com ele do que isso e
lutei no tribunal. Além de me trair, percebi que Tânia tinha casos com
pessoas que eu não considerava de confiança, gente envolvida com coisas
erradas, e temia deixar meu filho perto dessa gente. Casos de abusos físicos e
emocionais a crianças estava se tornando tão comum... Porém, todas as vezes
que disse isso no tribunal, fui observado como o ex-ciumento que não
aceitava que a antiga esposa seguisse em frente.
Além disso, Tânia era policial. As pessoas veem a polícia como seres
incapazes de cometerem atos errôneos ou se envolverem com gente que não
presta.
Ela ficou enfurecida quando eu trouxe isso à tona, mas acabou que
aceitou de bom grado o acordo da visita mensal. Eu nem sabia por que ela
queria ver Miguel, já que desde que saiu de casa não o procurava. E eu pensei
que estava sendo bastante generoso em ignorar meu sentimento de proteção e
deixá-lo ficar com a mãe que estava sempre cercada de amantes estranhos.
— Foi ótimo — ela respondeu. — Tudo estava bem. Como foi o dia
na empresa?
— Tudo bem.
Eu pensei um momento.
Clarissa mencionou casualmente, dias atrás, que agora que ela não era
garçonete e que podia usar suas noites para ensaiar com a banda, estava
realmente progredindo naquilo. Mas eu não tinha ouvido mais nada desde
então.
— A escritora de eróticos?
Ela estava admirada com o meu pequeno discurso, sua boca aberta.
Dei de ombros.
— O quê?
Ela riu.
— Por isso você é tão focada na música? Por que desistiu de outras
coisas importantes e agora não quer desistir disso?
Seus olhos ficaram fixos nos meus por alguns segundos. Meu coração
acelerou.
— Tanto faz.
Seus lábios eram tão macios, mas um pouco úmidos. Seu hálito era
quente e agradável e, pela maneira como ela mexia os lábios, parecia saber
exatamente como me tocar. Eu esperava que meu pau estivesse entre aqueles
lábios doces em breve.
Mas eu tinha que ser paciente e tomar as decisões certas. Eu não queria
assustá-la. E eu sabia que estava me adiantando demais. Este era um processo
lento e gradual e, se eu começasse a apressá-lo, certamente acabaria fazendo
as coisas desandarem.
Merda. O beijo foi uma má ideia? Não. Não poderia ter sido. Eu amei
demais. Era perfeito demais, ainda mais perfeito do que eu jamais poderia ter
imaginado. Eu estava tropeçando nos meus pés enquanto tentava mudar meu
peso para o outro pé. Minhas pernas estavam fracas e trêmulas. Os lábios
dessa mulher haviam tirado toda a minha força vital de mim no momento. Eu
era tão viciado nela e em seu doce toque. Eu ansiava por isso novamente.
Ela me deu uma última olhada antes de pegar suas coisas e sair pela
porta da frente. Eu a fechei atrás dela e, em vez de vê-la ir para o carro,
simplesmente voltei para dentro.
Eu sabia que ela sentiu as mesmas coisas durante aquele beijo que eu
senti. Era erótico demais para ela ter sentido nada. Mas estava cruzando uma
linha. Eu era o chefe dela agora. Ela estava confortável com esse tipo de
coisa? Ou ela estava com medo de que, se fosse adiante, ficaria sem
emprego?
Eu esperava que não, mas se ela o fizesse, eu teria que respeitar seus
desejos.
Capítulo 10
Clarissa
Ela deu uma grande mordida no sorvete e gemeu quase parecendo ter
um orgasmo com a sensação do sabor. Eu tive que rir. Aquela mulher forte
era a pessoa mais divertida que eu conhecia. Essa foi possivelmente a única
razão pela qual eu saí com ela. Tínhamos pouco em comum, mas durante os
meses que eu trabalhei na cafeteria, acabei por me encantar pela força da
esposa do advogado da cidade.
Helena era uma fortaleza que sobreviveu a tudo. A cidade inteira falava
dela – falava mal dela! – mas todos que a conheciam se encantavam.
E ela sempre me deu conselhos sobre como viver minha vida da forma
mais digna possível.
— Bem, hoje à noite, quando ele chegar em casa, apenas converse com
ele sobre isso. Diga a ele que você tem esses sentimentos por ele e veja como
ele se sente.
— Não posso fazer isso. Receio que ele possa me dizer que não é uma
boa ideia. Ele tem muitos muros. Não o culpo, eu também os tenho. Apenas...
minhas defesas desmoronam quando estou perto dele.
— Pela maneira como você descreveu que ele age não soa como se
estivesse se esquivando de você.
Revirei os olhos.
— Oh, ele é realmente forte. Inferno, isso é parte do motivo pelo qual
tenho medo de me afundar nos meus sentimentos. Estou preocupada que isso
possa não dar certo e ele vai me mostrar a porta e eu vou ter que voltar a
minha vida horrenda novamente — suspirei. — Mas estou mais preocupada
que eu realmente me apaixonei por ele.
— Não tenho certeza de que isso é algo que você possa controlar. Você
sabe a história do gato de Gato de Schroedinger?
— Então você sabe que a única forma de saber se o gato está vivo ou
morto é abrindo a caixa. Isso ou esquecer tudo.
— Sim...
— Então ele obviamente queria te beijar. E você deu a entender que ele
está tendo problemas para se controlar...
Eu ri.
— É o que parece...
— Sim. Tenho certeza de que está certa, mas estou com medo por
algum motivo. Não sei se é porque estou empolgada com isso, ou se estou
super preocupada que isso atrapalhe alguns dos planos que tenho.
Clarissa assentiu, agindo com calma enquanto tinha brilho nos olhos.
Seus olhos se arregalaram e eu pude ver que ela estava feliz com isso.
Aquilo foi um bom sinal. Fiquei feliz em ver sua resposta expressa no seu
rosto gentil.
— Ok... — ela murmurou. — Eu estava preocupada que você
pensasse que era algo que não deveríamos fazer novamente. Comecei a
trabalhar aqui e realmente não quero fazer nada para prejudicar isso.
— Isso não é algo com que você precisa se preocupar. Mas você
gostou do beijo?
O cabelo dela era tão sedoso. Foi a coisa mais suave que já toquei. Isso
fez minha pele formigar com antecipação. Descansei minha mão na parte de
trás da cabeça dela e me inclinei para beijá-la suavemente.
Clarissa fechou os olhos e se inclinou, pressionando os lábios contra os
meus. Eu afundei no beijo derretendo completamente nela. Os lábios de
Clarissa se abriram, nossa respiração se fundiu e nossas almas se misturaram.
Eu senti suas paixões irrompendo dentro da minha boca enquanto sua língua
deslizava contra a minha. Eu chupei e a eletricidade do tesão veio cruzando
mais rápido dentro de mim. Nossas línguas balançaram juntas deslizando
para cima e para baixo. Eu gostei do longo eixo deslizando na minha própria
língua quando coloquei minha mão na parte inferior das costas femininas e
comecei a deslizá-la sob a blusa.
— Quarto.
Eu amei isso. Meu pau estava na mão dela agora. Eu gemi alto quando
seus dedos tocaram minha pica totalmente ingurgitada.
Oh, eu queria isso por tanto tempo. Ela dançou os dedos no eixo até
chegar à cabeça e depois me tirou da minha calça completamente. As calças
caíram no chão nos meus tornozelos.
Então foi até a cama. Clarissa se virou e se despiu. Ela estava nua
parada na minha frente agora. Eu nunca tinha visto algo tão bonito. Seus
seios grandes e cheios eram imaculados, seus mamilos redondos estavam
totalmente eretos, sua pele era macia e bronzeada, seu corpo era curvilíneo e
tonificado, e suas longas pernas pareciam perfeitas para mim. Por fim,
concentrei-me no espaço vazio entre as pernas dela. Sua boceta molhada
estava lá esperando por mim.
Puxei meu dedo e chupei o suco nele. Ela tinha um gosto perfeito.
Fechei os olhos e imaginei como seria divino beber aquela boceta. Depois eu
definitivamente me entregaria a isso, mas naquele momento meu pau
precisava mais dela.
Eu separei seus lábios da buceta com meu pau e deslizei sem esforço.
Ela estava molhada, tão apertada. Minha espessura pressionou contra suas
paredes apertadas enquanto eu caminhava dentro dela. Uma vez lá dentro,
parei um momento. Eu a segurei em um abraço suave. Beijei-a suavemente e
passei meus dedos pelos cabelos novamente, com amor, carinho. Queria que
ela soubesse o quanto eu a apreciava e o quanto eu gostava dela. Não era
apenas uma foda. Não, isso foi muito mais importante. Isso tinha muito
significado para mim.
Meu pau estava bombeando mais forte nela o tempo todo, um pouco
mais rápido com um pouco mais de propósito a cada impulso. Eu estava tão
perto de vir. Do jeito que ela estava balançando os quadris, eu sabia que ela
também estava.
Então eu a senti gozar também. Sua boceta apertou meu pau e foi
difícil ficar dentro dela. Eu queria bombear o máximo de mim. Parecia tão
satisfatório e certo.
Mesmo assim, não queria parar de trabalhar. Claro, estava ficando mais
e mais cansada e um pouco esgotada, mas o medo de perder a inspiração era
maior que a fome que fazia meu estômago roncar. Eu não tinha tomado café
da manhã, pular refeições era um padrão na minha vida desde Thiago.
Contudo, depois que comecei a trabalhar para Noah, eu havia mudado aquela
atitude, já que fazia refeições com o pequeno Miguel.
Eu sabia que estava me apaixonando por ele. Não pude evitar. Era a
coisa errada a fazer. Eu senti isso em todas as partes dos meus ossos, mas era
o que era. Eu precisava dele. Eu não conseguia pensar em literalmente mais
nada. Mesmo enquanto eu trabalhava na minha música, ele era tudo o que eu
conseguia visualizar e a música, invariavelmente, acabava sendo sobre meus
sentimentos por ele, o que era interessante porque era infinitamente melhor
do que quando eu tinha algum assunto enfadonho do mundo real para
escrever. Assim, fiquei feliz com o que estava criando.
Eu não queria que Miguel passasse pela mesma coisa. Claro, não havia
como eu substituir uma mãe – eu era só a babá, pelo amor de Deus! – mas...
quem sabe se eu tentasse falar numa boa com a ex de Noah, ela se
interessasse mais pelo filho.
Eu ri.
— Isso é fantástico. Mas acho que você deve estabelecer uma direção
mais clara de onde está indo e do que está acontecendo. Para não se
machucar.
— Estou feliz com o jeito que as coisas estão. Sem sonhos, sem
promessas. Não há razão para estabelecer algo assim. Nem sabemos se isso
vai durar. O importante é que sabemos que isso não vai afetar meu trabalho
porque Miguel é uma prioridade. Estou apenas vivendo.
— Obrigada.
— Fico feliz que você decidiu ligar para me dar um resumo de tudo.
Isso significa que somos amigas, né?
— Você tem sido de uma grande ajuda. Muito obrigada. Claro que
somos amigas.
Miguel tinha muita energia. Ele era uma das crianças mais doces que
eu já conheci.
— Ei garoto — eu disse a ele quando nós encontramos na porta da
escola.
Ele era tão pequenino e com bochechas fofas que logo o ergui no colo
e esfreguei minha própria bochecha nele.
Era demais. Era a coisa mais linda e mais intensa do mundo. Todavia,
eu precisava me proteger daquele amor mais do que dos sentimentos que
nutria pelo pai dele. Nunca podia esquecer do papel que representava na vida
deles.
Mais tarde, fiz o jantar para ele, dei-lhe banho e coloquei-o na cama.
Ele estava triste por Noah não estar em casa para lhe dar boa noite, mas
estava tão cansado que caiu no sono cinco minutos depois que eu fechei a
porta, para que a tristeza não durasse muito.
Aquilo estava errado. Se a mãe não aparecia, o pai tinha que dar-lhe
atenção. Não sei quais eram as grandes ambições de Noah, mas ele teria que
ter mais tempo para o filho.
Eu falaria isso a ele assim que pudesse, assim que abrisse uma brecha
para trazer esse assunto à tona.
Eu estava tão pronta para Noah que não conseguia pensar em mais
nada naquele momento. Eu me perguntei se ele me queria tanto quanto eu o
queria.
— Boa noite — disse Noah ao entrar. Ele pôs a maleta e tirou o blazer
antes de entrar na cozinha para pegar uma cerveja na geladeira.
— Olá — respondi.
— Eu odeio não poder vê-lo todas as noites antes que Miguel vai
dormir. Mas estou trabalhando. Quando eu terminar esse novo
empreendimento...
Ele pôs sua cerveja na mesa e estendeu a mão para pegar na minha.
Comecei a derreter imediatamente. Oh, ele era tão incrível. Eu não conseguia
pensar direito quando estava com ele.
Sua boca tinha um gosto tão bom. Era firme e um pouco úmida com
aquele ar quente fluindo entre seus lábios nos meus. Eu podia sentir a língua
dele. Queria provar de novo. Queria sugá-lo e puxá-lo profundamente em
minha própria boca. Desejava provar seu doce pau entre meus lábios
novamente e sentir sua pica entrando na minha boceta, me esticando e me
batendo com força, mostrando-me o quanto eu tinha que me submeter a ele.
Então ele rapidamente puxou minha calça jeans junto com minha
calcinha. Eu estava exposta para ele agora. Também estava molhada tanto
quanto possível e minha boceta estava latejando de dor e desejo por ele.
Merda, eu o queria tanto dentro de mim. Minha respiração estava saindo em
suspiros curtos de antecipação.
Seu pênis duro estava contra mim agora. Era bom ter a cabeça bulbosa
massageando entre a minha fenda. Ele estava testando, apenas brincando
agora. Esperei pacientemente, mas estava tão prestes a chegar ao ápice que
senti que poderia explodir a qualquer segundo.
Noah puxou meu cabelo enquanto me fodia por trás. Seu pau estava
realmente me batendo agora, me esticando o mais longe que quisesse. Parecia
fenomenal. Todo o meu corpo foi jogado à beira do orgasmo quando minha
luxúria se espalhou por todo o meu sistema. Fiquei pensando na imagem de
seu pênis e em como era bonito. E seu pau era para mim agora. Eu estava
silenciosamente reivindicando isso.
Tentei evitar que minha voz gritasse muito alto, mas não estava sob
meu controle naquele momento. Eu estava muito perto.
— Sim, venha para mim, gostosa... oh, isso é tão bom no meu pau...
Eu adorava ouvir o diálogo de Noah. Isso me excitou como louca. Só
de saber que eu estava dando a ele tanto prazer quanto o prazer que ele estava
me dando, me fez querer ordenhar seu pau.
Ele bombeou seu pau em mim o mais rápido e mais forte que pôde. Eu
podia sentir meu corpo apertando-o incontrolavelmente, mas ele estava quase
lá. Eu senti seu pau crescer ainda mais e a sensação parecer mais apertada
agora.
Noah rosnou atrás de mim quando seu pau começou a tremer e então
ele atirou sua semente quente dentro de mim. Eu amei o que senti por ele
entrar em mim. Eu sabia que era arriscado. Eu não queria engravidar agora,
mas o fato de estarmos flertando com o desconhecido também foi
emocionante. E foi tão bom ter o suco dele dentro de mim.
Ele me segurou com força por trás naquele momento. Sua boca
encontrou a minha e ele me beijou quando virou minha cabeça para ele.
— Eu também.
Eu amei estar lá. Enrolada em seus braços. Eu amei viver isso com ele.
E mesmo que eu odiasse admitir isso para mim, estava apaixonada. Como
isso aconteceu tão rapidamente?
Eu não tinha certeza, mas não iria pensar muito nisso agora.
Clarissa olhou para mim com aqueles lindos olhos que refletiam mais
do que ela pudesse expressar com palavras, e sorriu. Então ela se recostou
nos meus braços e colocou as mãos mais completamente em volta da minha
nuca.
Amei o jeito com que ela parecia brilhar quando estava feliz.
Toda vez que ela olhava para mim, ou sorria na minha direção, meu
mundo inteiro ficava muito mais leve. Aquela tonelada de pesos psicológicos,
aquela carga que fui juntando com o passar dos anos, parecia ser iluminada
pela simples presença daquela mulher.
Eu ri.
— Bem, duas mulheres brigando por mim seria uma carícia ao ego.
Clarissa riu e balançou a cabeça.
Foi muito difícil, mas cumpri a ordem judicial e deixei Miguel com
Tânia nos dias que eram correspondentes. Depois fui direto buscar Clarissa
para uma noite romântica, porque realmente eu queria viver qualquer coisa
que me fizesse esquecer que meu filho estava com a mãe, uma pessoa que eu
absolutamente não confiava.
Acabou que foi a nossa primeira noite sozinhos desde que começamos
a nos ver.
Que lugar podia ser mais seguro para uma criança do que ao lado da
mãe que servia a lei?
Contudo, quando deixei meu filho com ela, Tânia parecia entregue,
olhos mortificados. Será que enfim um dos namorados fê-la usar drogas?
Eu odiaria que Miguel perdesse contato com sua mãe. Ele a amava e
um menino precisava de sua mãe, mas se ela o estava colocando em perigo
(mesmo que inadvertidamente), eu tinha que fazer o que era melhor para
protegê-lo. Eu faria qualquer coisa pela segurança do meu filho.
— O que foi?
— Nada.
Ela suspirou.
— Eu estava pensando... Quando é muito cedo para dizer as três
pequenas palavras em um relacionamento?
— Bem, acho que depende realmente de como você se sente. Acho que
nunca deveria haver limites de tempo para coisas assim. A vida é muito curta.
Você tem que fazer o que quiser, o que parece certo para você. Se a outra
pessoa se sente da mesma maneira ou não, se ela se importa com você, pelo
menos, ela respeitará isso. Eles confirmarão seus próprios sentimentos ou
dirão que é muito cedo.
Eu estava tão feliz que tudo resplandecia nas coisas que eu fazia.
Estava me sentindo muito mais confiante. Antes, estava tão preocupada com
Thiago que decidi que só pensava em me exercitar para estar pronta se tivesse
que me defender. Agora, eu só queria me sentir melhor ainda, deixar que os
hormônios fizessem sua parte.
Percebemos que não estávamos prontos para fazer Miguel entender que
a babá e o pai agora eram um casal. Levaria tempo para chegar lá. No
momento, Miguel e eu ainda estávamos nos acostumando, mas senti que
tínhamos uma grande amizade.
Eu tive que admitir para mim mesma que era um pouco assustador.
Não estava pronta para qualquer coisa na minha vida tão intensa, mas o
momento era algo que você não pode controlar às vezes.
Eu sabia que não devia me afastar disso. Foi a melhor coisa que já
aconteceu comigo e entendia que Noah me respeitava e nunca iria interferir
nos meus sonhos.
Até porque eu não deixaria. Eu era uma nova mulher, alguém pronta a
lutar por coisas que importavam para mim.
— Alô?
— Qual é a sensação?
— O quê? — Eu perguntei.
Eu estava ficando brava. Quem essa cadela pensou que ela era?
— Quem diabos é você e com quem você pensa que está falando?
— Não. A voz estava bem normal. Acho que não reconheço, mas você
conhece alguma mulher que me acusaria de uma coisa dessas?
Mas a ideia havia sido plantada ali por essa mulher desconhecida.
— Espere... Tânia?
— Sua ex?
— Não se preocupe com Tânia. Tenha um bom dia. Vou tentar chegar
em casa um pouco mais cedo essa noite e, se descobrir alguma coisa, ligo
para você.
— Obrigada.
Eu só não queria lidar com algo tão irritante. Se essa mulher viesse
atrás de mim, seria a cadela mais triste que já existiu. Eu não era do tipo que
apanhava quieta. Mesmo com Thiago, eu nunca deixei de reagir.
Mas e se eu não a visse vindo? Eu não sabia nada sobre ela. Ela era um
enigma para mim. Só sabia o que Noah havia me dito e muito disso era vago.
Nunca mais.
Capítulo 15
Noah
E ela era assim. Demorou a maior parte da manhã, mas um amigo meu
no departamento de polícia foi capaz de investigar o telefonema e ele, de
alguma forma, conseguiu determinar que vinha do mesmo lugar de onde
Tânia passava as manhãs – uma academia perto do seu apartamento.
Bati de novo, um pouco mais suave desta vez. Eu podia ouvir farfalhar
lá dentro, como se Tânia estivesse tentando se livrar de alguma evidência. Eu
precisava dar uma dica anônima ao departamento de polícia sobre ela. Eles
podem fazer um teste aleatório de drogas e pegá-la desprevenida. Eu tinha
certeza de que ela estava afundada no tráfico. Talvez até vendendo.
— Se eu disser que sei, você faria tudo que eu dissesse para fazer?
— Pare com isso! Eu sei que você ligou para Clarissa. Você fez
ameaças. No que você estava pensando? Você realmente está tentando
destruir o meu relacionamento? Como você soube de nós?
— Eu sei que você fez isso. Você vai admitir? Ou eu tenho que abrir
um processo contra você? Sabia que assédio funciona de ambos os lados?
Não é porque você é mulher que é intocável.
— Tanto faz. Você não me assusta. Diga-me que você não sente minha
falta. Você me quer de volta no seu pau cavalgando. — Ela se aproximou de
mim. Estranhamente, apesar do perfume, seu cheiro não era tão bom. Talvez
minhas preferências tenham subido de nível. — Você sente falta de ter uma
mulher de verdade nessa vara.
Ela fechou a porta na minha cara e eu saí. A odiava tanto agora. Ela me
colocou no inferno, primeiro me traindo, depois tentando mentir, depois
lutando pela custódia de Miguel, depois expondo-o a drogados e traficantes, e
agora ela estava tentando arruinar meu relacionamento com Clarissa.
Penso que conheço Clarissa. Eu sinto que ela é a pessoa certa. Mas ela
pode ser o pior tipo de mulher. Eu já tinha sido enganado antes.
Mas eu tinha que confiar. Tinha que acreditar. Eu não poderia viver
minha vida nesse tipo de prisão. Eu tinha que passar por isso e saber que
havia algo real neste mundo e eu o encontrei com Clarissa. Eu a amava. Faria
qualquer coisa para protegê-la e defender o que tínhamos. Eu não deixaria
isso ser afetado por Tânia.
— Ela admitiu?
— Não, mas eu sei que ela fez isso. Eu a confrontei e é claro que ela
negou e tentou jogar seus joguinhos, mas eu sei que era ela...
— Não é sua culpa. Eu sei disso. Não culpo você nem me ressinto
disso. Faz parte do curso da vida. Eventualmente, você encontrará alguns
malucos que vão tentar tornar sua vida um inferno. É assim que as coisas são.
Eu tive minha dose disso com Thiago.
Beijei-a com força na boca. Seus lábios tinham um sabor doce, quente
e amoroso. Senti meu corpo respondendo. Estava ficando tão difícil segurar
meu tesão quando estava com ela. Meu corpo inteiro começou a formigar.
Foi alucinante. Foi fantástico. Eu tinha feito anal algumas vezes antes,
mas nunca me senti tão bem, tão apertado. Movi meu pau para a esquerda e
direita ligeiramente para sentir as diferentes texturas desse novo orifício que
me abraçou com força e deslizou para cima e para baixo no meu pau com
sensações inesperadas. Fazia tanto tempo desde que eu fiz isso e agora estava
fazendo isso com a mulher que amava.
Eu amei que ela estava adorando. Não demorou muito para eu entrar
fundo no seu cu. Fiquei tenso e soltei um rugido enorme de prazer retorcido.
Meu pau estremeceu e começou a bombear seu rabo apertado cheio da minha
semente quente. Ela gemeu junto comigo mais alto.
Em segundos, ela estava gritando. Quando ela terminou, seu corpo caiu
sobre o sofá. Eu saí suavemente de sua bunda e olhei para o buraco apertado
e aberto daquela linda entrada. Um pouco do meu esperma estava rolando
para fora. Essa foi a coisa mais quente que eu já vi na minha vida.
Ela olhou para mim e depois soltou uma risada ampla. Eu me juntei a
ela enquanto descansava contra suas costas. Eu a segurei perto de mim. Seu
corpo macio era sempre tão excitante.
— Por que você se sente assim? De alguma forma, você sente que não
merece ser feliz?
— Está errado. O amor não tem que ser algo que a gente lute para ter.
O amor deve ser fácil quando duas pessoas se querem.
— Eu ganhei?
— Sim?
— A guarda é minha?
— Unilateral.
Fazia duas semanas desde que ela fez a primeira ligação para Clarissa.
Isso desencadeou uma cadeia de eventos. Depois que eu disse a ela para ficar
longe de Clarissa, Tânia deu a louca, e começou a ligar para Clarissa
diariamente.
Eu ignorei Tânia e saí pela porta. Mal podia esperar para contar as boas
notícias a Clarissa.
Eu estava grávida.
Eu sabia.
Eu deveria saber que isso iria acontecer mais cedo ou mais tarde. Só
que eu esperava que fosse mais tarde. Esperava que, de alguma forma,
escapasse por enquanto. Não sabia se era o momento ideal. Eu estava feliz,
desejava ser mãe, mas o momento ainda era de incertezas.
Bom, Noah era um pai incrível. Ele amava Miguel. Mas ele me disse
repetidamente que não queria mais filhos. Ele não queria passar pelos sustos
de saúde que passara com Miguel, de não saber se seu filho sobreviveria a
noite, às vezes.
Céus, como ele iria lidar com isso? Eu não queria que ele ficasse com
um filho que ele não queria apenas porque me amava. Ele faria isso?
Eu realmente não acho que ele iria terminar comigo por causa disso,
mas ele poderia. E se ele não terminasse, eu passaria a vida toda imaginando
o quanto ele se ressentia de nosso filho e quanto tempo levaria até ele desistir
e simplesmente nos abandonar ou nos pedir para ir embora.
Eu sabia que estava rasgando minha sanidade com tudo isso, mas era
assim que eu me sentia. Tinha que saber com certeza o que ele pensaria.
Tinha que contar a ele.
Tânia lutou contra eles, mas logo ela perdeu a luta e aceitou seu
destino.
Ela havia atacado uma mulher. Uma mulher grávida. Quando isso
caísse em sua ficha, com certeza perderia seu emprego e seria presa.
Senti pena dela, mas meu pesadelo acabou. Eu ainda estava em choque
com o que aconteceu. Ela tentou me matar. Eu tive sorte que ela não me
atacou com uma arma. Eu não tinha comprado uma, mas ela tinha acesso.
Eu só queria viver minha vida em paz. Por que eu não podia ser feliz?
O que eu havia feito de tão ruim para essas pessoas? Thiago me agredia sem
eu nunca ter feito nada para merecer isso, e Tânia arruinou seu casamento
antes de eu conhecer Noah.
Fui chamada para uma sala de exames cerca de dez minutos depois. Eu
contei à enfermeira tudo sobre o teste de gravidez em casa e como eu só
queria confirmar. Ela pegou meus sinais vitais e depois me disse que o
médico chegaria em breve.
Mas eu sabia que seria um grande erro. Ele provavelmente me diria que
não queria ser pai de um segundo bebê. Ele destilaria sua lista de motivos
mais uma vez. E então nosso relacionamento terminaria.
Teria que passar por tudo isso sozinha, como minha mãe passou. Ela
desistiu e me deixou com minha avó e depois se casou de novo e teve sua
própria família, com um marido que queria filhos – dele. Sem espaço para
mim.
Eu não queria desistir, eu queria ser forte. Pelo bebê. Mas, não sabia se
conseguiria.
Eu tinha que sair da cidade e tinha que deixar Noah. Não havia
nenhuma maneira de eu suportar a decepção que viria dele ao saber da
criança.
Isso iria destruir o que ele sentia por mim e como ele se sentia por nós.
A responsabilidade era de nós dois, mas eu sentia que a culpa caia sobre
mim.
— Não é isso. Eu amo Miguel. Mas há algo que eu tenho que cuidar,
alguns negócios da família. Não sei quanto tempo vai demorar ou quando
voltarei.
— São Paulo.
Partiu meu coração perceber que ele não entendia que era o fim. Na
cabeça dele eu resolveria as coisas e voltaria.
Suspirei.
— Não, acho que não. Pelo menos por enquanto, precisamos dar um
tempo. Eu sinto muito. Eu sei que isso não faz sentido, mas confie em mim. É
melhor assim.
— Mas... eu não entendo. Isso é loucura. Por que temos que dar um
tempo? Você quer ver outro homem?
Com isso, saí pela porta e entrei no meu carro. Noah estava parado na
porta com o olhar mais confuso no rosto.
Então tudo fez sentido. Dei uma olhada melhor em Clarissa. Eu podia
ver o inchaço no estômago dela. E ela estava comprando roupas e acessórios
para bebê. Meu Deus...
O detetive riu.
— Parabéns.
— Boa sorte.
Não havia como enfrentar uma viagem de carro até lá. Eram mais de
trinta horas de rodovia, mais de 2 mil quilômetros, então fui a Porto Alegre e
peguei um avião até Cuiabá. Depois, aluguei um carro e com o serviço do
GPS, dirigi até lá.
Eu trafeguei a noite toda sem descanso. Não estava cansado, o que era
a coisa mais estranha. Havia uma adrenalina louca correndo em minhas veias.
Eu precisava encontrar Clarissa. Eu queria abraçá-la e dizer o quanto a
amava. Não queria que ela sentisse que tinha que carregar tudo sozinha.
O bebê.
Eu disse a ela que filhos não faziam parte do meu futuro. Eu não queria
outro bebê, não depois de todas as noites em claro, todas as lágrimas
derramadas, de me ter visto com uma criança doente dos braços e uma mãe
relapsa que a abandonou.
Eu fui sincero com ela. Mas isso foi antes de uma nova criança existir.
Eu já amava meu novo bebê. Só a ideia deste momento já me deixou
apaixonado por essa possibilidade.
E eu não a culpo por isso. Ela fez o que achou certo, o que achou que
eu teria pedido para ela fazer. Eu realmente tinha sido tão insensível com seus
desejos e necessidades? Eu nunca perguntei se ela queria ter seus próprios
filhos um dia. Eu assumi egoisticamente que Miguel seria suficiente. Para
ambos.
Oh, a voz dele. Eu sentia falta da sua voz profunda e masculina. Sentia
muita falta de tudo nele. Noah era tudo que eu pensava desejar de um
homem. E todo dia eu ficava me perguntando se foi um erro ter ido embora.
Dizia a mim mesma que na amanhã seguinte eu ligaria para ele. Mas,
não ligava. E o ciclo se repetia, sempre levado pela minha covardia. Até
agora.
Eu não tinha certeza se deveria deixá-lo entrar, mas não pude evitar.
Recuei e abri a porta para ele. Depois, a fechei. Então apontei para o sofá,
num convite mudo.
— Eu senti tanto sua falta. Por que você foi embora? Por que você me
deixou?
— Vamos começar de novo? Por favor, volte para casa comigo - pediu.
— E se casar comigo?
Ele me beijou com força na boca e depois colocou o anel no meu dedo.
Foi um ajuste perfeito. Eu não podia acreditar nos meus olhos. Foi a coisa
mais linda que eu já vi.
Pelo reflexo da joia pude ver a nós dois. O casal que se conheceu na
adversidade e que criou e construiu um amor.