O Tutor - Joane Silva
O Tutor - Joane Silva
O Tutor - Joane Silva
Sinopse
Marina sempre viveu uma vida perfeita, cercada de luxos e mimos.
Até que, aos seus 17 anos, uma tragédia muda o rumo de sua vida: a perda de
seu pai, único parente vivo e pessoa que ela mais ama, deixando-a
desamparada e sozinha no mundo. E, para completar o pesadelo em que passa
a viver, a garota se vê obrigada a viver sob a tutela de Erick Estevan, melhor
amigo de seu pai, de quem guarda antigas e profundas mágoas.
Erick vê seu mundo inteiro virar do avesso com a chegada da filha de
seu falecido melhor amigo aos seus cuidados. Tendo sua vida inteira
planejada, a adição inesperada não seria um problema, se não fosse o doentio
desejo que sente pela garota que viu crescer.
Marina é agora uma linda e proibida mulher, que assombra seus
pensamentos e desperta sentimentos que o homem tanto luta para suprimir.
Na batalha entre obrigação e desejo, será a razão capaz de definir o
que é certo e errado?
Copyright © 2018 Joane Silva
1ª Edição
Marina
— É hoje, Brasil! — pulo da cama logo cedo. É hoje que Erick vai
conhecer a verdadeira Marina. Não que eu espere que ele vá beijar minha
boca e declarar amor eterno. Posso ter acabado de completar dezesseis anos,
mas a falta de noção característica da maioria dos adolescentes não faz parte
da minha personalidade. Tenho consciência da minha idade e do fato de ele
ser um homem maduro, de trinta e quatro anos.
Preciso fazê-lo entender que os sinais mandados durante esses meses
não são uma ilusão ou apenas joguinhos de uma adolescente deslumbrada
pela ideia de se relacionar com um homem mais velho. Quero apenas deixá-
lo consciente da veracidade do que sinto, que me dê a esperança de um dia,
quando a barreira da diferença de idade não tiver um peso tão grande,
possamos nos relacionar da forma que sonho desde meus quinze anos. Não
quero que ele me veja como uma menina boba, a filha do seu melhor amigo,
e sim como a mulher que será a mãe dos seus filhos, um dia.
Já que madruguei, dedico as primeiras horas da manhã para ficar linda
para o encontro. E como necessito ser notada por ele, visto-me com roupas
mais ousadas e pouco recomendadas para uma adolescente. No rosto, a
maquiagem escolhida em nada lembra o rosto da criança que ele insiste em
enxergar. Tenho certeza de que seria facilmente confundida com uma mulher
de, no mínimo, vinte anos.
Que bom! É isso que eu quero.
Preciso que ele vislumbre minha imagem aos dezoito; que entenda que
não serei para sempre uma adolescente.
Erick
— Eu te amo, Erick — diz ela, bem próxima, olhando em meus olhos.
Fico momentaneamente lhe encarando, sem saber como reagir. Apesar de
saber desde o início das ilusões que ela vem tendo sobre nós dois, ouvi-la
dizer assim, tão diretamente, me assusta como o diabo.
— Eu também te amo, princesa — digo, passando a mão em seu
rostinho de menina. — Você é como se fosse minha família. Seu pai é um
irmão e você é praticamente minha sobrinha – minto.
— Não sou sua parenta, tá me entendendo? — diz, enfurecida, tirando
bruscamente minhas mãos do seu rosto. — Não sou uma criança e muito
menos sua sobrinha. Sou mulher formada, será que você não percebe isso? —
fala, emotiva, em mais uma rápida mudança de humor – característica
marcante de uma imaturidade nada incomum em meninas da sua idade.
— Pra mim, você sempre vai ser aquela garotinha que vi crescer —
reforço. Mas já não a vejo assim há um bom tempo. Até mais tempo do que
seria o recomendado. Para ser bem sincero, Marina tem deixando meu sangue
quente apenas por respirar ao meu lado, fato que não tem me deixado dormir
à noite. Sinto-me sujo a cada pensamento impuro que tenho a seu respeito.
— Garotinha? Então que tal isso? — pergunta, ao abrir os botões de
sua camisa, que outrora ostentava um decote pouco indiscreto. — Isso te
parece adulto o suficiente? — termina de abrir os botões e abre as duas partes
da blusa. No mesmo instante, sinto o fôlego me faltar. Diante dos meus olhos
está a constatação final de que ela realmente cresceu. Escondido sob o sutiã
de renda preta, estão seus lindos seios, que têm o tamanho ideal para segurá-
los em minhas mãos. Eles ostentam algumas pequenas sardas que fazem
minha boca salivar por vontade de beijar e lamber cada sinal ali exposto.
Foco, Erick! Foco!
— Qual é o seu problema? Ficou louca? É assim que você age nas
festinhas, com seus amiguinhos? Mostrando o corpo como uma vadia? —
digo, e sinto o forte tapa da sua pequena mão no meu rosto.
Ao ver seus olhos marejados me encarando, percebo que exagerei em
minhas palavras.
A única justificativa que tenho para essa atitude exagerada é o fato de o
ciúme me corroer por dentro, somente por imaginá-la fazendo isso com
outros. Não quero que ninguém ponha os olhos compridos nela. Sei que isso
não é certo, uma vez que não tenho a intenção de reivindicá-la. Porém, essa é
uma coisa que não consigo controlar.
— Nunca mais me ofenda dessa maneira. Você não tem ideia do que
está falando. Não entende que eu te amo? Me magoa muito ouvi-lo falar
assim. Eu sou uma mulher e quero ser a sua mulher — coloca as duas
mãozinhas em meu peito, indo direto ao ponto.
— Não, Marina, você não me ama. Isso aí é apenas coisa da idade,
daqui a algumas semanas estará apaixonada por um garotão e nem lembrará
desse velho aqui — sinto uma dor apenas em imaginar isso acontecendo, não
quero pensar nela com outro.
— Isso nunca, pra mim só existe você. O que sinto não vai passar. Sei
que não podemos ter nada agora, mas queria que prometesse me esperar. Que
quando eu for maior, nós poderemos ficar juntos como um casal — pede,
com os olhos em expectativa.
— Já disse que não. Para com isso, menina. A idade é o de menos, até
porque você vai envelhecer. O que eu não quero é trair a confiança do meu
amigo. Jamais me perdoaria se perdesse a confiança do seu pai — digo,
tirando suas mãos do meu peito.
— Esquece isso, Erick, ninguém precisa saber, só a gente — diz, com o
rosto tão próximo que sinto seu hálito doce em meu rosto.
— Marina, eu... — seguro seus ombros, na tentativa de afastar seu
calor sedutor.
— Não pense, Erick, apenas sinta — segura minha cabeça e cola sua
boca na minha.
É nesse momento que sinto minha vida sair de foco. De repente, sem
ao menos esperar, vejo-me com os lábios colocados na garota que vi crescer,
minha menina. E que Deus me perdoe, mas que boquinha gostosa.
Se a sensação de ter seus doces lábios juntos aos meus é
indescritível, imagina como seria tê-la por inteiro sobre meu corpo. Sinto ela
meio insegura ao movimentar a boca desajeitadamente, o que faz meu pau
subir a meio mastro, somente pela certeza de que nem ao menos sua boca
pertenceu a outro homem. Sou o primeiro, e que Deus me ajude, mas quero
ser o primeiro em tudo. Ensiná-la a me dar e receber prazer.
Já ao ponto de perder completamente o controle, em vias de arrastá-la
rumo ao local mais reservado do parque, decido tomar as rédeas da situação.
Separo sutilmente nossas bocas e, olhando em seus olhos anuviados de
desejo, digo:
— É assim que se faz, bebê — colo novamente nossas bocas e vou
entreabrindo seus lábios macios com a ponta da minha língua, até tê-la
completamente dentro, e assim, com movimentos lentos e calculados,
consigo-a totalmente entregue. Timidamente, Marina começa a imitar meus
movimentos, passando a sugar minha língua para dentro de sua boca.
E nisso, não sei se passaram-se segundos, minutos ou horas. Quando
dou por mim, nós dois estamos nos agarrando no meio do parque como dois
loucos, em uma confusão de dentes e línguas que seria descrito como
atentado violento ao pudor por uma pessoa mais conservadora que nos visse
assim. O filhote? Não sei onde foi parar. Só sei que nos braços dela não está,
já que tem suas mãos ocupadas, tentando arranhar minhas costas com suas
unhas afiadas. A parte mais alegre na minha anatomia encontra-se sufocada
entre nossos corpos, tão juntos quanto é humanamente possível.
Minha nossa, preciso entrar nela, preciso marcá-la como minha,
penso, ao soltar sua boca e dar pequenos beijos e lambidas em seu pescoço
perfumado.
— Vamos sair daqui, Erick, preciso de você — diz, rouca de tesão. —
Me faça sua, sei que você quer isso.
Quero, quero muito isso. É tudo o que eu mais quero nesse momento.
Espera um pouco, eu estou mesmo caindo na armadilha de uma
adolescente? Ela está claramente tentando me seduzir; e eu, fraco com sou,
quase me deixei sucumbir ao desejo, esquecendo todas as razões para isso ser
errado.
— Não, Marina, para com isso. Não podemos continuar. Me perdoe se
dei essa impressão — digo, virando-me de costas. Ela não pode perceber o
quanto está sendo difícil falar isso.
— Para de mentir pra mim e pra você mesmo. Eu sei o que senti nesse
beijo e em seu corpo, Erick. Vi que me deseja tanto quanto eu te quero.
— Não, foi apenas um momento de fraqueza que não vai mais se
repetir.
— Mentira, você está mentindo — abraça-me por trás, deitando sua
cabeça em minhas costas. Tremo, com medo de ela sentir as batidas
frenéticas do meu coração, entregando meus verdadeiros sentimentos.
— Para com isso, menina, não quero te magoar — solto suas mãos da
minha cintura e viro-me para encarar seu rosto. — Você precisa de um rapaz
da sua idade e não de um homem que não pode te dar o que você procura —
Deus! Como me dói dizer isso. Meu coração parte ao ver seus olhos
marejados.
— Não acredito em você, seu corpo não mente — fala,
maliciosamente, olhando minha ereção. — Me leva daqui, sim? Quero que
seja meu primeiro e último homem — agarra-me novamente e tenta me beijar
outra vez.
— Já chega — seguro seus pulsos firmemente. — Eu quis fazer isso da
melhor forma, mas você não me dá outra escolha — sofro com o que virá a
seguir. — Eu não te quero, tá me ouvindo? Acha mesmo que eu me prenderia
a uma pirralha mimada como você? Eu posso ter a mulher que eu quiser e
não me contentaria com a filha do meu amigo, que ainda fede a leite — jorro,
cruelmente. — E sabe do que mais? Eu nunca gostei realmente de você.
Sempre tive pena da pobre menininha rejeitada pela mãe, você me cansa —
despejo, até ser interrompido por um novo tapa no rosto.
Em seus olhos, vejo uma dor que não sei se um dia conseguirei
esquecer. Eles se esvaem em lágrimas, quando pouco a pouco vão mudando
para uma frieza que me assusta.
— Entendi — diz, pausadamente, ao limpar o rosto. — Finalmente me
fez enxergar. E não se preocupe, nunca mais será obrigado a olhar pra uma
pessoa que tanto detesta.
— Como assim, nunca mais? — vira-se de costas, indo em direção à
entrada do parque, mas não sem antes pegar o filhote na grama.
— Marina, volte já aqui, porra! — grito, mas sem sucesso.
— Jorge, vá atrás dela, por favor — ligo imediatamente. — Não a
perca de vista.
Meu Deus, o que foi que eu fiz?
Sangrando
Marina
Erick
Quando João me chamou em seu escritório e me fez prometer cuidar de
Marina, caso um dia algo lhe acontecesse, eu aceitei sem muito relutar.
Afinal, além de não conseguir negar um pedido dele, também não pensei que
um dia teria de cumprir essa promessa. Seria absurdo pensar que um homem
tão jovem e bem desposto nos deixaria tão precocemente, antes mesmo de
sua filha completar a maior idade e ter total autonomia para responder por
todos os seus atos.
No entanto, aqui estamos nós. Uma menina de dezessete anos, órfã de
pai e mãe e tendo eu, que mal sei cuidar de um cachorro, como seu
responsável pelos próximos meses O testamento do meu amigo ainda não foi
lido, mas não preciso ser um gênio para saber que, com a promessa feita por
mim, ele deve ter se achado no direito de garantir que eu a cumpra em uma
das cláusulas do testamento. Não que eu já não tivesse esperando por isso, eu
e ele sempre tivemos relação de irmãos, e como não tinha mais em quem
confiar, resolveu deixar sob meus cuidados o seu bem mais precioso. Aliás,
nosso bem mais precioso.
Depois de ter magoado tanto a minha menina, ela simplesmente não
deixou que eu me aproximasse mais dela, e olha que não foi por falta de
tentativa. Eu, com todo o meu orgulho, passei meses tentando me desculpar e
quem sabe resgatar o carinho e a proximidade que sempre tivemos um com o
outro. Tentei e tentei mais um pouco, até o dia em que cansei de ser esnobado
e deixei que as coisas ficassem como estavam. Agora que nos olhamos como
dois estranhos, seremos obrigados a manter uma convivência forçada, pelo
menos para ela, que não quer me ver em sua frente nem pintado de ouro. Eu,
apesar de apavorado com a ideia e devastado por ter conseguido isso às
custas da morte do meu amigo, agradeço aos céus por ter essa chance. Chega
desse distanciamento, preciso recuperar sua amizade e tê-la de volta em
minha vida, nem que para isso tenha que obrigá-la a me ouvir.
— Não disse nada. Vamos, o testamenteiro já deve estar a caminho e
nós precisamos saber da última vontade do seu pai – dou-lhe a mão na
intenção de levá-la em meu carro.
— Esquece, não vou a lugar nenhum com você – faz birra. Pelo visto
não amadureceu nada, continua a mesma impetuosa e emburrada de sempre.
Mas para seu azar, eu sou tão teimoso quanto ela é imatura.
— Tem duas opções: ou você entra naquele carro com as próprias
pernas, ou te levo carregada – não sairei daqui sem ela. – Então, qual é sua
resposta? – indago.
– A resposta é: – se aproxima até estar bem perto do meu rosto – vai se
foder! – diz, dando-me as costas.
Garota louca.
— Eu avisei – seguro suas pernas, jogando-a bruscamente em meus
ombros. No mesmo instante me arrependo ao perceber onde minha mão
direita está apoiada.
Céus, que bundinha macia. Espalmo minha mão com gosto em seu belo
traseiro. Não conseguindo resistir à tentação, dou uma palmada de força
mediana na bunda macia e em seguida passo a mão carinhosamente no local
que certamente deve estar ardido. Que delícia deve ser surrar essa bundinha
redonda e empinada enquanto meto por trás em sua bocetinha.
Acho que não foi uma boa ideia tocá-la dessa forma. Agora, a imagem
dela de quatro sobre uma cama enorme, tomando meu pau até o talo em seu
rabinho, não sai da minha mente suja.
Caralho! Todo esse tempo de afastamento por opção dela, mas que
acabei me acostumando depois, em nada adiantou para me fazer tirar essa
fixação da cabeça. Achei que já estaria preparado para estar junto dela sem
sentir nenhum tipo de atração física ou constrangimento com alguma de suas
investidas. No entanto, aqui estou, com o pau duro feito pedra e a cabeça
cheia de pensamentos luxuriosos com a garota. Que tipo de doente sou? Meu
amigo e pai dela acaba de falecer e eu aqui, quase diante de sua lápide,
desejando sua filha, que por sinal ficará sob minha tutela.
— Me solte agora, seu brutamonte – grita, balançando as pernas
freneticamente ao dar murros de mão fechada nas minhas costas. – Me solta,
porra!
Continuo andando em direção ao carro e ignorando suas ordens e sua
boca suja. Ao chegar ao lado da porta do carona, solto-a com cuidado,
descendo-a lentamente pela parte da frente do meu corpo.
Outra má ideia.
Ao encostar seu corpo no meu de forma tão apertada, noto o quanto ela
mudou nesse pouco tempo: pernas mais grossas e bem torneadas, cinturinha
mais fina, e finalmente minha parte preferida, os belos e avantajados seios,
que deixam minhas mãos coçando para tocá-los. O rosto eu não preciso nem
falar, o que sempre foi belo se tornou deslumbrante. Com o cabelo mais
moderno e curto, seu rosto ganhou um destaque especial pela maquiagem
mais pesada e escura que provavelmente usava, antes de borrá-la com as
lágrimas derramadas diante do túmulo do pai. De menina passou a ser uma
mulher em poucos meses. Nem parece que passou tão pouco tempo, e que
apesar de parecer mais velha, ela ainda não tem dezoito anos.
— Seu idiota! – acerta a mão em meu rosto. Chego a arregalar os olhos
com a surpresa do seu ato. – Nunca mais me toque dessa forma e sem minha
permissão.
Sinto a fúria subir rapidamente por minhas veias, e quando dou por
mim, já perdi completamente o controle da situação.
— Escuta aqui, garota – encaro seu rosto de perto, quase tocando
nossos narizes. – Atreva-se a me agredir mais uma vez e eu acabo com você,
tá entendendo? – ameaço, furioso. – Acho que sua ficha anda não caiu, mas
as coisas mudaram por aqui e logo você vai aprender que não deve me
desafiar.
— Você só pode estar louco, do que você está falando? – questiona,
vermelha de raiva.
— Entra no carro e vai descobrir.
Percebendo que a coisa é mais séria do que imagina, Marina entra no
carro sem questionar e começo a dirigir rumo à reunião que mudará nossas
vidas para sempre.
O Tutor
Marina
Erick
— Pois se depender de mim, sua responsabilidade não durará mais que
alguns meses, não vou aceitar sua interferência na minha vida – ela estava
furiosa com toda essa loucura. Eu entendo sua fúria, afinal, ela não teve o
tempo que eu tive para me acostumar com as mudanças que acontecerão em
nossa rotina. – Se for preciso, eu me caso com o primeiro mendigo que
aparecer na minha frente, mas você não vai ficar no lugar do meu pai. Não
vai! – pai? Ela acha mesmo que é isso que eu pretendo ser para ela. Será que
ela não percebeu que sinto tudo menos amor fraterno? As batidas frenéticas
do meu coração e as reações do meu pau em sua presença se rebelam
imediatamente contra sua afirmação equivocada.
— Você não se atreveria, menina, eu já falei e vou repetir: teste meus
limites e eu acabo com você – encaro seu rosto, que de furioso mudou para
uma expressão de desafio. Ficamos numa batalha visual até que o pigarro do
advogado desperta novamente nossa atenção.
— Desculpa interromper essa... conversa de vocês, mas precisamos
concluir a reunião – diz, olhando-nos com curiosidade.
— Desculpa, Doutor, pode continuar.
— Acho que já ficou tudo esclarecido. A senhorita ficará sob sua
tutoria até os dezoito anos. No que tange a todas as propriedades e sua parte
do escritório – aponta para Marina – será gerenciada por Erick até que
complete vinte e um, ao menos que se case antes disso, nesse caso, seus bens
serão de sua inteira responsabilidade.
— Isso não será um problema, Doutor, já tenho um namorado e estou
esperando apenas completar a maioridade pra casar com ele.
Como é que é? Namorado? Casar?
Não, isso não pode ser verdade, minha princesa não pode estar falando
sério. Sei que é hipocrisia de minha parte exigir alguma coisa dela, quando eu
mesmo tive minha cota de casos e transas durante todo esse período, não é
razoável pensar ou até mesmo exigir que ela, sendo tão jovem, tenha ficado
me esperando quando eu mesmo lhe afastei para longe. Meu lado racional
pensa assim, o lado que sabe os motivos de não podermos ficar juntos, mas
meu lado ciumento e possessivo, o lado que é louco por ela, que sente tesão
só em sentir seu cheiro, não aceita outro cara tocando sua pele, beijando seu
corpo macio.
Não, eu não aceito isso! Ela é minha, só minha, diz meu lado
apaixonado, irresponsável e inconsequente, que a cada minuto que passa
toma conta do meu corpo e pensamentos.
— Isso é tudo, espero que as coisas deem certo pra vocês – aproxima-
se, estendendo a mão em despedida. Aperto sua mão e despeço-me com um
breve aceno.
— Adeus, senhorita – aperta a mão dela e sai da sala, deixando-nos a
sós.
Ainda atordoada, Marina deixa o documento que mudou nossas vidas
em cima da mesa e fixa o olhar em meu rosto.
Passam-se mais alguns minutos, nos quais nos encaramos em mais uma
batalha de vontades, até que ela decide acabar com o silêncio hostil.
— Se era só isso, já pode se retirar. Preciso descansar um pouco, estou
exausta – acho que a minha boneca ainda não entendeu como as coisas vão
funcionar por aqui.
— Tudo bem, descanse. Tenho muitas coisas pra arrumar, ver o que
trazer e onde me instalar – revelo, e vejo o choque em seu rosto.
— Instalar? Você enlouqueceu? – agora ela perdeu o controle.
— Marina, qual a parte de sou o seu tutor você não entendeu? –
indago. — Nós vamos morar juntos e isso não entra em discussão. Você
escolhe onde, se aqui na mansão ou no meu apartamento.
Mudanças
Marina
— Eu não vou morar com você – falo, pausadamente, ainda que queira
gritar. Preciso me controlar, mesmo que minha vontade seja sair quebrando
tudo que está a minha volta. Era só o que me faltava, o Erick começar a agir
como se fosse meu pai. – Aceito que você seja meu tutor legal, mesmo que
por pouco tempo. Mas daí a morarmos juntos é um pouco de exagero. Acho
que sou grandinha o suficiente pra não precisar de babá – dou meu ponto, na
esperança de fazê-lo compreender.
— Marina, por favor, seja razoável – pede, aparentando um cansaço
não só físico como também psicológico. Será que ele não vê que isso será o
melhor para nós dois? Não quero ser um fardo para ele, isso me magoaria
além do que talvez eu possa suportar.
— Seja razoável você, Erick, você não tem a obrigação de virar,
literalmente, minha babá. Posso muito bem viver aqui com os empregados,
não vou estar sozinha. Além disso, sua namorada não vai gostar de saber que
está vivendo com outra mulher – jogo um verde para descobrir se tem alguém
em sua vida. Não sou tão ingênua para achar que ele não teve ou tem outras
mulheres em sua cama. Mesmo que me doa pensar nisso, sei que ele é um
homem lindo, bem sucedido, e deve ter uma longa lista de conquistas. A
única coisa que me consola é o fato de ele nunca ter aparecido com nenhuma
namorada, seja aqui em casa ou em público. Acho que não aguentaria vê-lo
dar para outra o que sempre se recusou a me dar.
— Eu não vou deixar você com os empregados, Marina, isso seria um
absurdo. Seu pai pediu pra eu cuidar de você, não os empregados – nisso eu
tenho que concordar. Por mais que esteja irritada com ele, não posso negar
sua lealdade ao meu pai. – E com relação a namoradas, você pode ficar
despreocupada, eu não tenho uma, e mesmo que tivesse, não seria um
problema, minha prioridade é você – diz, e sinto meu coração bater acelerado
com sua afirmação. Ainda não decidi se fiquei mais feliz com a confirmação
de que ele não tem nenhuma namorada ou com o fato de eu ser sua
prioridade.
— Acha mesmo necessário vivermos juntos? – pergunto, decidida a
conversarmos civilizadamente, como dois adultos. – Não quero atrapalhar sua
vida desse jeito – desabafo meu maior medo.
— Vem, sente-se aqui, Marina – acomoda-se na ponta do sofá e bate
no assento ao seu lado. Sento com o corpo inclinado em sua direção e sinto
todos os pelos do meu corpo se arrepiarem com a proximidade que há tanto
tempo deixou de ser natural e costumeira. – Por favor, me deixa fazer o que
precisa ser feito, princesa. Jamais me perdoarei se decepcionar seu pai.
Preciso fazer a coisa certa, por você e por ele – suplica, ao erguer a mão e
acariciar de forma terna o lado esquerdo do meu rosto. Como é bom sentir
seu toque; ver seu olhar preso de forma tão intensa ao meu. Simplesmente
não posso lhe negar nada, não quando ele me pede dessa forma. Acho que
sou capaz de fazer qualquer coisa quando ele me pede tão ternamente.
— Tu-tudo bem – gaguejo, desconcertada, inclinando o rosto para
sentir melhor seu carinho. Quem vê a cena de fora poderia nos comparar com
um cachorrinho recebendo carinho do seu dono. Mas isso não me importa.
Tudo que eu queria, ainda que inconscientemente, era essa conexão e
cumplicidade que estamos tendo agora. E pela intensidade com que está me
olhando, posso notar que ele também almeja isso. – Podemos morar juntos,
mas se você não se incomodar, eu prefiro que fiquemos aqui mesmo, na
mansão. A casa é grande, tem os empregados e todas as lembranças de papai,
prefiro manter isso, pode ser? – digo, ao afastar o resto, quebrando a tensão
que paira entre nós dois. Se quero que as coisas deem certo, preciso me
controlar para não parecer uma boba a sua volta.
— Claro, princesa. Preciso apenas fazer minhas malas, fechar meu
apartamento e venho pra cá o mais rápido possível – sinto um frio na barriga
só em imaginar como serão os próximos meses.
— Que dia você vem? – pergunto, na esperança de ter pelo menos mais
um fim de semana sozinha, antes de ter que lidar com ele e com toda essa
confusão de sentimentos.
— Hoje à noite. Não vou pro escritório, portanto, tenho o dia todo pra
organizar as coisas – diz, levantando-se do sofá.
Mas que porra! Pelo visto o fim de semana não vai rolar.
— Não precisa ter pressa, Erick. Resolva suas coisas com calma, eu
vou ficar bem – tento falar num tom que aparenta gentileza e não uma
tentativa de postergar sua vinda. Preciso de um tempo para levantar minhas
defesas, que estão praticamente inexistentes com apenas algumas horas de
reencontro. Preciso me policiar, senão ainda hoje estarei lhe atacando. Nada
diferente do que costumava fazer há alguns meses.
Isso não pode acontecer, minha cota de humilhação por ele já foi o
suficiente.
— Não se preocupe, minha linda, sei que está preocupada, mas tá tudo
sob controle. Ainda hoje dormiremos sob o mesmo teto – pisca, no caminho
da porta de saída. Ele está me provocando?
— E outra coisa, Marina: peça pra governanta preparar o quarto de
hóspedes que eu costumava usar, é nele que vou ficar – diz, antes de sair.
Puta que pariu, ele só pode estar de brincadeira. O quarto que ele se refere é
localizado exatamente em frente ao meu.
— É, Floquinho, parece que vai ser mais difícil do que eu imaginei.
Seu pai está disposto a infernizar a minha vida – me jogo no sofá, segurando
minha gatinha, que acabou de entrar. – Mas deixa estar, esse é um jogo que
dois podem jogar.
Erick
Depois de empacotar a última caixa com meus pertences, faço uma
inspeção visual pela ampla sala do meu duplex; aqui, onde vivi desde o dia
em que conquistei minha independência ao sair da casa dos meus pais. Onde
passaram tantos amigos leais ou mulheres que nem ao menos consigo lembrar
os nomes ou rostos. Um local que apesar de tudo, não me traz nenhum tipo de
sentimento mais profundo de apego ou nostalgia. Aqui, tudo é distante e
impessoal, apesar de ser o lugar onde eu deitava meu corpo cansando depois
de um dia de trabalho.
Sei que deveria estar apreensivo com tamanha mudança, que a
responsabilidade contraída me fizesse adiar o máximo possível a minha ida
para a mansão. No entanto, o único sentimento que me cerca é o de
ansiedade. Ansiedade por saber que irei viver na casa onde sempre senti
como sendo meu verdadeiro lar. O local onde tenho minhas melhores
lembranças, onde viveram e vivem as pessoas que eu mais amo na vida.
Longe de mim querer colocar em xeque o sentimento entre meus pais e
João e Marina, até porque não tem como comparar. Entenda, eu amo minha
família; um amor que somente um filho amado e compreendido poderia
dedicar a seus pais. Mas o amor, a ligação que eu tinha com João e depois
passei a ter com Marina, vai além do que a compreensão possa explicar, e
talvez seja esse e motivo da minha alegria e ansiedade. Sinto-me como se
estivesse indo para o meu verdadeiro lar, o lugar ao qual eu sempre pertenci,
junto da minha menina bonita.
Continuo divagando por mais alguns minutos, até ter meus
pensamentos interrompidos pelo toque da campainha, e provavelmente deve
ser pessoal da transportadora, que veio me auxiliar com a mudança.
— Oi, senhor Erick, beleza? – cumprimenta-me o rapaz, assim que
abro a porta. — O caminhão já está estacionado ali embaixo.
— Que bom – digo, ao apertar sua mão. — As caixas são aquelas ali.
Vou na frente com meu carro e vocês me seguem, tudo bem? – indago, ao
sair rumo à garagem.
Erick
Papai?
Dessa vez ela foi longe demais!
Me irrito e saio disparado atrás dela. Tudo bem que merecia isso,
afinal, fui eu quem começou com essas provocações idiotas. Mas chamar de
pai foi além dos limites.
— Marina, volta aqui agora, sua peste – grito, sem controle, ao
alcança-la e segura-la pelo braço. — Do que foi que me chamou? Acho que
não ouvi direito – rosno, e da maneira mais provocante possível, ela
aproxima o rosto do meu e repete:
— Papai.
— Acho que você tá um pouco confusa, meu bem – digo, sem afastar-
me um centímetro sequer da nossa perigosa proximidade. — Eu não sou seu
pai, seu tio e nem nada que seja pelo menos próximo a algum tipo de
parentesco – esclareço, para que não fiquem dúvidas. — Entenda uma coisa:
apesar de ser bons anos mais velho, sou um homem maduro e ativo
sexualmente. Ativo até demais – falo, e vejo seu semblante mudar. Seu rosto
assume uma máscara de frieza que só pode ser interpretada como ciúmes.
Isso, meu amor, é isso que eu quero de você. Porque da minha parte não tem
um único fio de sentimento paternal por você. — Estou falando isso pra que
fique tudo bem claro entre a gente. Não fique achando que sua maneira de se
vestir – olho seu corpo de maneira maliciosa — e suas provocações vão
passar batidas, porque te garanto que não vão. Saiba que eu posso e vou
revidar, e que talvez você não esteja preparada para as minhas reações —
digo, olhando em seus olhos, para que fique claro que em pé estamos.
— Entendi, agora dá pra me soltar, por favor? – puxa o braço e vai para
a cozinha. — Vou preparar algo pra comer, quer alguma coisa? – pergunta,
mudando drasticamente de assunto. É, parece que deixei minha gatinha
chateada. Mas é bom que fique mesmo, prefiro deixar tudo esclarecido.
— Quero, sim. Na verdade, estava justamente indo procurar algo pra
comer, estou faminto – digo, e ela vira para trás, me olhando desconcertada
por ter notado o duplo sentido da frase.
Rio internamente com esse fato. Se prepara, bebê, isso é só o começo.
Já na ampla e mobiliada cozinha, Marina prepara sanduíches naturais e,
andando de um canto a outro, ela faz nosso lanche, sem deixar de me ignorar
como se estivesse sozinha no ambiente. Mas isso não significa que tenha
deixado passar a oportunidade de atazanar meu juízo e meu pau a cada vez
que propositalmente se abaixa para pegar algo na geladeira. A safada faz
questão de pegar um ingrediente por vez, e a cada abaixada, eu consigo
visualizar suas coxas torneadas e uma minúscula calcinha, que está
deliciosamente enfiada dentro da sua bunda. Como não sou bobo nem nada
parecido, aproveito para dar uma boa conferida, até porque o fato de não
poder tocar não me impede de apreciar o banquete.
— Erick? – saio do transe com ela chamado meu nome. – Te chamei
três vezes e você não escutou. Onde você estava? – pergunta, divertida.
Ah, gatinha, é melhor você nem imaginar por onde andavam meus
pensamentos.
— Desculpa, estava pensando em trabalho – minto.
— Fiz um suco de morango pra acompanhar, espero que goste – diz,
colocando a jarra e o prato com os sanduíches em cima da bancada de
mármore estilo cozinha americana, e depois de pegar os copos, ela senta ao
meu lado.
— Obrigada, meu amor – agradeço, sincero, ao dar a primeira mordida.
— Tá uma delícia. Cuidado, senão eu fico mal acostumado – brinco.
— Fica nada. Sei que deve comer comidas muito melhores que isso –
dá de ombros de maneira charmosa.
Eu estou tão vendido por essa menina que até os mais simples gesto me
encanta. Não que exista algum dia em que eu não tenha estado vendido por
ela. A única diferença é que agora, depois de tanto tempo separados, parece
que está tudo mais intenso; o que já era grande tomou proporções
inexplicáveis. Estou ficando cansado de negar, de reprimir o que não pode
mais ser reprimido, de negar o que nós dois queremos há tanto tempo. Por
mais que minha consciência diga que é errado por todos os motivos que estou
cansado de repetir a mim mesmo, meu coração e meu corpo clamam por ela,
por seu toque, seus beijos e seus abraços. Uma palavra dela e eu jogo tudo
para o alto, me permitindo viver esse amor.
— Pode ser, mas essa é especial, porque foi você quem fez – digo.
— Para, Erick, assim você me deixa sem jeito – diz, encabulada com o
elogio.
— Apenas a verdade.
— Mas diz aí, tô pronta pra casar? – tenta brincar, e consegue me
deixar furioso.
Casar? Essa mulher só pode ser louca. Ela acha mesmo que aquela
baboseira de casamento vai adiante? Vai acontecer no dia em que eu estiver
morto.
— Não, você não tá pronta e nem vai casar, Marina – afirmo, curto e
grosso. — E essa história de casamento é real, ou está falando isso pra me
irritar? — pergunto, vendo-a abocanhar o último pedaço do pão. E com uma
estranha calma, ela termina de tomar seu suco e responde:
— O casamento é real, Erick, só te resta aceitar. E tem mais, eu sou
uma mulher livre e faço da minha vida o que eu quiser. Pelo menos nessa
parte sou eu quem decide. Então, por favor, não se meta – ouço, e minha
vontade é de esganar o moleque que se atreveu a tocar nela. Mas isso não vai
ficar assim. Ninguém vai atravessar meu caminho. Está decidido, não sei
quando e como, mas vou fazê-la minha, e tenho pena de quem se atrever a
entrar no meu caminho. É isso, chegou o fim da fase de negação. Vou à luta
reconquistar a amor da minha mulher.
— Não, princesa – toco sua bochecha com o dedo indicador. — Você
não vai casar, pelo menos não com ele – digo, e saio da cozinha.
Vou deixar que pense sobre o que acabei de dizer.
— O nosso momento finalmente chegou, meu amor – afirmo para mim
mesmo.
Seus braços
Marina
Não, princesa. Você não vai se casar, pelo menos não com ele.
Marina, como você pode ser tão trouxa, menina?
Já são quase 03h da madrugada e eu aqui, rolando de um lado para o
outro na aconchegante cama, que agora não parece tão aconchegante assim.
A frase dita por ele não parou de martelar na minha cabeça desde que saiu da
sua maldita boca.
Não vou ser hipócrita em afirmar que nunca vi um olhar seu de desejo
em minha direção, e apesar de negar e de eu saber que nunca faria nada a
respeito, eu sempre tive a nítida sensação de que, no fundo, ele tenta reprimir
um sentimento além do fraternal. Talvez seja justamente esse o motivo do
meu sofrimento e a causa do meu afastamento. Acho que saber que ele
sempre sentiu algo, mas que nunca faria nada a respeito, machuca mais do
que se ele não retribuir esse amor.
Agora, eu me sinto completamente perdida, vendo o muro de proteção
construído a minha volta desmoronar em apenas um dia de convívio. As
dúvidas e questionamentos de outrora voltaram com força total. A prova
disso é o fato de eu estar acordada até agora.
O que ele quis dizer com não vou casar? Será que ele ficou com
ciúmes?
Que infantilidade a minha, inventar um namorado imaginário apenas
para provocá-lo. Não quero nem pensar nele descobrindo essa mentira tão
deslavada. Posso até ter dado uns beijos por aí durante esse tempo, mas nada
que chegue perto de um namorado, quem dirá de um noivo.
Chega! Não aguento mais pensar nisso! Vou enlouquecer.
Maldito, Erick, por que teve que vir bagunçar quando estava tudo sob
controle? Mas ele está muito enganado se acha que vou passar por esse
tormento sozinha. Aqui vai ser olho por olho e dente por dente. Vou usar de
todas as armas disponíveis, afinal, no amor e na guerra vale tudo. Só espero
que no nosso caso seja amor.
Ai, Erick... Erick... Erick... minha mente dá voltas e voltas até cair em
um sono raso e perturbado.
Erick
No auge da madrugada, dormindo um sono sereno e tranquilo, logo
após tomar a decisão que tirou um enorme peso das minhas costas, desperto
bruscamente ao ver a claridade vinda do corredor. Em seguida, a porta do
meu quarto é aberta de maneira cuidadosa, e acho que não preciso pensar
para deduzir quem entrou aqui.
Mas o que ela faz acordada à essa hora da madrugada? O dia deve estar
quase amanhecendo.
Fico quietinho, esperando seu próximo passo e tudo o que ouço são
seus soluços incontidos.
Meu Deus! O que aconteceu com minha garota para fazê-la chorar
assim?
Vem, meu bem, vem para os meus braços que eles estão abertos para te
proteger. Para defendê-la de tudo e de todos, até de mim mesmo. Porque uma
coisa eu posso garantir: nada e ninguém lhe fará mal enquanto eu estiver
aqui. E se você quiser, eu sempre estarei.
Quando ela finalmente deita atrás de mim, sinto todo o meu corpo
retesar pelo calor tão bem-vindo quanto inesperado. Marina é tão silenciosa
em suas ações, que se eu realmente estivesse dormindo, não teria percebido
sua presença na minha cama. Aliás, tenho certeza de que era justamente essa
a intenção: dormir aqui e sair pela manhã, sem que eu soubesse de nada. Mas
para minha sorte, eu estou acordado, muito bem acordado, diga-se de
passagem.
— O que você faz aqui, bebê? – pergunto, ao sentir as mãozinhas da
minha boneca circulado minha cintura ao me abraçar por trás.
— Desculpa, Erick, tive um pesadelo com papai e não consigo ficar no
quarto. Deixa eu dormir aqui essa noite, por favor? — arrepiei-me ao sentir o
calor de sua respiração em meu pescoço, enquanto ela se aconchega ainda
mais em mim.
— Tudo bem, princesa, só não chore mais. Estou aqui e vou te proteger
– falo, ao virar de frente para ela e, com o dedo, secar as suas lágrimas. —
Vem, deita aqui – peço, ao abrir os braços e abraçá-la de costas. Logo que
tenho a ideia, percebo o quanto ela é péssima. Aqui estou eu, deitado de
conchinha com a minha maior tentação. A menina que me foi entregue como
uma sobrinha, mas que só me traz pensamentos impuros. Pensamentos esses
que envolvem nos dois nus, suados em cima de uma superfície plana, seja
uma cama, mesa, dentro de um carro... que seja, a única coisa que consigo
pensar ultimamente é em transar com essa garota.
Já aceitei que não tem mais nada que eu possa fazer a respeito, a minha
decisão foi tomada. Nunca passou pela minha cabeça trair de alguma forma a
memória de João, e espero de todo o meu coração que, de onde estiver, ele
entenda o que estou prestes a fazer.
— Sinto tanto a falta dele, Erick. Sonhei com nós dois em um parque,
andando de bicicleta, do jeito que costumávamos fazer quando eu era
pequena, lembra? – pergunta, ainda chorando copiosamente, e eu não sei o
que fazer para fazê-la se sentir melhor.
— Lembro, sim, meu anjo – e como poderia esquecer dela aos sete
anos, com o olhar mais doce que uma criança pode ter? Não tinha uma única
vez em que eu não pensava nela como sendo a coisa mais bela do mundo. É
assim até hoje. Marina certamente é a definição do que há de mais lindo
sobre a face da terra.
— Nós dois estávamos nos divertindo, quando de repente, ele
desaparece. Olho pro lado, olho pro outro e não o encontro em lugar nenhum.
E sabe a qual a pior parte? – pergunta, desvencilhando-se dos meus braços e
deitando de lado. Agora, estamos frente a frente, com os corpos a menos de
um palmo de distância. Mas acho que não é hora de pensar nisso. A
prioridade agora é outra.
— O pior é acordar e ver que não foi só um pesadelo, ele realmente me
deixou, Erick, a única pessoa que eu tinha – cola o corpo junto ao meu e
desaba, com o rosto encostado no meu peito desnudo. — Eu nunca me senti
tão sozinha como agora. Eu sei que estou sozinha – uma porra que ela está só.
E eu? Será que não sou nada?
— Ei, olha pra mim, Marina – peço, levantando seu rosto para que olhe
dentro dos meus olhos. Preciso dela bem atenta para ouvir o que tenho a lhe
dizer. — Nunca mais, você tá me ouvindo? Nunca mais repita isso. Você tem
a mim, o seu Erick, lembra? Eu nunca te deixei e nunca vou deixar. Enquanto
você me quiser, eu estarei aqui, do seu lado – afirmo enfaticamente, ao secar
suas lágrimas que insistem em cair.
— É diferente, Erick, as coisas mudaram tanto entre nós. E tem a
história da tutoria...
— Não, Marina, nada mudou. Esquece essa porra de tutoria. Será que
você não percebe que se isso não existisse, eu ainda estaria aqui? Nessa
cama, te consolando? – não resisto a enxurrada de sentimentos e circulo seu
corpo em um abraço ainda mais apertado. Acho humanamente impossível
ficarmos mais colados que isso. — Nós temos que permanecer unidos, meu
anjo, era isso que seu pai queria quando nos deixou nesta situação – digo,
realmente começando a acreditar nisso.
— Promete, Erick – pergunta, já menos chorosa. Acho que minha
princesa está um pouco carente.
— Eu prometo, linda – digo, olhando firmemente em seus olhos, assim
como ela olha nos meus.
Fixamos os olhares e, sem qualquer aviso, a atmosfera muda de
melancolia para tensão sexual. Nossos rostos, que já não estavam tão
distantes, diminuem mais ainda o espaço entre eles. Quando dou por mim,
nossas bocas estão coladas e imóveis uma na outra. Sua respiração misturada
com a minha e a minha misturada com a dela.
— Erick – fala, de maneira ofegante.
— Marina – sussurro, quase inaudível.
Entrega
Erick
— Isso mesmo que você ouviu. Hoje é cada um pro seu canto –
assevera, com o narizinho arrebitado ainda mais em pé. Essa menina sabe
exatamente onde puxar as cordas. É impressionante.
— Mas eu pensei que você tivesse me perdoado e que a gente tivesse
numa boa – tento fazer cara de cachorro que caiu da mudança, para ver se
amoleço seu coração de pedra.
— Eu entendi o que você quis fazer, Erick, e até perdoei – não para de
subir os degraus enquanto conversa comigo, e eu estou claramente vendo
minha oportunidade escorrer pelos dedos. — Só que isso não significa que
você não mereça um castigo.
— Como você é má, garota – constato um fato. — Tudo bem. Eu sei
que esse castigo também será seu – olho maliciosamente para meu pau, e
seus olhos seguem o mesmo caminho.
Com o rosto rubro, vejo que titubeia um pouco em sua decisão e eu me
parabenizo por ter pensado certinho na melhor maneira de provocá-la. Como
diria minha avó, seu desejo de conhecer os prazeres da carne é grande demais
para que possa recusar quando eu me ofereço tão prontamente.
Nunca imaginei que chegaria esse dia; o dia em que eu usaria de
artifícios para conseguir dormir com alguém. Nunca estive tão feliz por estar
tão enganado quanto a isso, sei que minha vida com ela não vai ser
monótona, que cada dia será uma experiência e aventura diferente.
Que venham mais dias como os de hoje, porque apesar de tudo que
aconteceu, tivemos a oportunidade de estar juntos.
— Não venha querer me provocar, Erick, sei muito bem o que está
tentando fazer aqui – é, pelo visto minha ideia não deu tão certo assim, se
tivesse dado, eu a teria correndo para os meus braços e não na direção
contrária. — Além disso, eu não preciso tanto assim de você – para o
caminhar no primeiro degrau da escada. — Eu tenho o Maneco – diz, e eu
fico surpreso mais uma vez. Só para variar.
— Maneco? Quem é Maneco? – pergunto, enciumado, e ela dá de
ombros, zombando da minha cara.
— Isso você vai ter que descobrir – se limita a dizer, antes de sumir
pelo corredor onde fica a ala dos quartos.
Ao todo, a mansão contém oito quartos, o meu e o da Marina ficam na
ala esquerda, onde as amplas janelas fazem vista para os jardins bem
cuidados que enfeitam o local lá fora. Quem ocupa os quartos da ala direita
tem o privilégio de ter a vista da piscina, onde por tantos anos Marina fez
festas em comemoração ao seu aniversário. Todos já estão tão acostumados
com esses eventos, que viraram uma tradição.
— Marina, volta aqui, caralho – grito em vão, porque já não vejo mais
seu rastro.
Resignado, decido que é melhor dar um tempo e aceitar o castigo que
me foi imposto, pelo menos por hora. Ela realmente precisa descansar depois
do susto de agora há pouco, e eu tenho que encontrar algo para comer.
Na cozinha, me deparo com Márcia, a senhora que por muitos anos tem
administrado tão bem a residência.
— Boa noite, Márcia – cumprimento, e ela para o que está fazendo.
— Boa noite, Doutor, deseja alguma coisa? – pergunta, formal.
— Se tiver alguma coisa pra comer, eu agradeço.
— Tem, sim, a cozinheira preparou um filé ao molho madeira – afirma,
logo após confirmar nas travessas o conteúdo do alimento. — O senhor vai
jantar aqui ou prefere que eu prepare um prato e leve no seu quarto?
— Se não for dar muito trabalho, eu gostaria de jantar lá em cima –
preciso urgentemente tomar uma ducha fria, talvez assim o cansaço e a tensão
do dia atribulado deixem meu corpo. — Vou tomar uma ducha, tudo bem? É
o tempo de ficar tudo pronto.
Ela assente e subo para o quarto, mas não sem antes conferir Marina.
Aproximo meu ouvido da porta do seu quarto e escuto som de vozes
conversando. Ela certamente cumpriu a palavra e está assistindo séries. Sem
conseguir frear os impulsos, pego a maçaneta, giro-a calmamente para que
ela não perceba que eu estou tentando descumprir o castigo, mas logo sou
surpreendido pela porta trancada.
É inacreditável que Marina tenha mesmo me deixado do lado de fora. E
esse tal de Maneco? Será que é mesmo o que estou imaginando?
O melhor mesmo é eu tomar meu banho frio, hoje não é um bom dia
para se ter certas ideias e pensamentos, não quando meu corpo cansado clama
por uma cama. É claro que não vai ser a mesma sensação que teria se ela
estivesse dormindo do meu lado. Mas fazer o que, se é isso o que a minha
garota quer?
Depois de um demorado banho e de um bom prato de refeição,
finalmente deito minha cabeça sobre o travesseiro e tenho meu merecido
descanso. Antes de dormir, não deixo de me recordar que amanhã é sábado, e
que eu terei dois dias inteiros só para mim e minha mulher. Vamos ter mais
tempo para curtir um ao outro, sem nos preocuparmos com horários ou com
interrupções impertinentes.
— Puta que pariu! – xingo, por ser acordado com um barulho
estrondoso agredindo os ouvidos de quem acabou de acordar.
Sento-me tão rápido que acabo ficando meio tonto, pego meu celular e
me surpreendo ao ver que já são 09h30 da manhã. É, eu realmente estava
precisando dessa noite de sono, fazem anos que eu não durmo tão bem assim,
o sono de quem sabe que pela manhã terá coisas boas à sua espera.
Ainda desnorteado pelo despertar abrupto, levanto, faço minha higiene
matinal e saio para ver o que Marina está aprontando logo cedo, quer dizer,
não tão cedo assim, já são quase dez da manhã.
Desço para a sala, me aproximo da ampla janela de vidro e não me
surpreendo com o que vejo. Minha jovem namorada montou todo o
equipamento iPod ao lado da churrasqueira, assim como faz em suas festas de
aniversário, e está tranquilamente deitada sobre uma das muitas
espreguiçadeira que ficam em volta da piscina. De longe, não consigo ver
bem o que veste, só sei que não é nada comportado, porque além de querer
me provocar, como é seu costume, ela também é muito segura de si e
aparentemente não tem qualquer complexo com o corpo. Marina sempre foi
assim, segura de que é e do que quer para si.
— Bom dia, senhor – uma moça uniformizada entra na sala,
carregando uma bandeja de café da manhã e tirando-me do meu torpor.
— Bom dia.
— Estou levando o desjejum da senhorita Marina, o senhor vai querer
também? – indaga, atenciosa, e eu reparo no quanto os funcionários dessa
casa são competentes; todos os que já tive o prazer de conhecer foram
prestativos e educados.
É impressionante como a mudança de situação também tem o poder de
mudar a visão que se tem sobre determinadas coisas. Esse caso dos
funcionários é um ótimo exemplo disso. Há quantos anos eu frequento a
mansão, sem no entanto reparar em coisas como essas. Talvez esses
empregados sempre tenham estado aqui e só agora eu tenha começado a me
permitir reparar em cada um deles, em como me tratam com a mesma
devoção que provavelmente tratavam o antigo patrão, que acabou de falecer.
Não me admira que Marina tenha dito não precisar de mim porque tinha os
empregados. Talvez seja por isso.
Aqui, dentro dessas quatro paredes que foram o único lar que ela
conheceu, Marina tem o conforto e a proteção de pessoas que nem parentes
são, mas que cuidam dela com toda a dedicação que merece. E tenho certeza
de que isso é mais que a prestação de um bom trabalho, certamente é a
retribuição do mesmo carinho e respeito que Marina lhes dedica.
— Quero, sim. Qual o nome da senhorita? – indago a moça negra, que
aparenta ter seus vinte e poucos anos. Se não estiver enganado, ela deve ser a
filha da Márcia. Lembro bem do dia em que João comentou a respeito do
assunto; com sua autorização, a governanta trouxe a filha mais velha para
trabalhar como ajudante da cozinheira, para conseguir cobrir os gastos que
tem com a faculdade. E se não me falha a memória, ela conquistou uma bolsa
de estudos para o curso de chefe de cozinha.
— Me chamo Maya, senhor – responde prontamente.
— Tudo bem, senhorita Maya. Pode preparar outra igual a essa e levar
lá na piscina, por favor – digo, ao reparar tudo o que tem ali. — Deixa que eu
mesmo levo isso aqui – pego gentilmente a bandeja de suas mãos.
Com a bandeja em mãos, paro em frente à sua espreguiçadeira, fazendo
sombra ao sol que lhe esquentava. Com um susto, minha namorada tira os
óculos de sol que cobria seus olhos e abre o sorriso quando vê que sou eu.
— Bom dia, meu amor – abaixo o tronco e dou um beijo leve nos seus
lábios, que têm um sabor doce de chiclete, proveniente de uma dessas coisas
que as mulheres gostam de usar. — Como foi sua noite? – pergunto, ao
colocar seu desjejum em cima da mesinha de madeira que fica ao lado da sua
espreguiçadeira. Existem mais delas espalhadas em vários locais da área
externa da mansão, e é claro que foi ideia da minha namorada. Segundo
Marina, as mesinhas são necessárias para que os convidados tenham onde
colocar seus pertences quando vêm para as festas que costumam ser aqui
fora, não só as dela, mas também as confraternizações que eu e
João precisávamos fazer para a galera dos escritórios e também para alguns
clientes mais importantes.
— Foi muito boa. E a sua? – a danada ajeita a parte de cima do
pequeno biquíni azul turquesa, que deixa pouco à imaginação. Eu quero
muito pensar que ela está usando ele apenas para mim. Não quero bancar o
machista com ela, tenho idade o suficiente para saber que isso não é nada
legal e muito menos saudável. Eu só acho difícil refrear meu lado possessivo
quando o ciúme ataca. Meu sangue ferve nas veias só de imaginá-la exposta
aos olhos dos moleques que costumavam frequentar essa casa na época de
colégio. Vez ou outra eu dava meus pulos por aqui e me deparava com a
galera em volta da piscina, incluindo entre eles, garotos com hormônios em
ebulição.
Com esse biquíni, não, quero essa visão só para mim.
— Foi muito proveitosa – me agacho ao seu lado, para logo em seguida
colocar uma mecha de cabelo que voou para seu rosto, atrás da orelha. —
Pena que minha cama estava tão vazia.
— Oh, pobrezinho, meu Deus – zomba da minha afirmativa. — Não
deve estar acostumado a dormir sozinho, não é mesmo? – diz, sarcástica.
— Do que você está falando? – estranho a agressividade em sua voz
quando não tem motivos para estar assim.
— Você já não teve tantas mulheres? Deveria ter chamado uma delas
pra te fazer companhia – sentencia, ao recolocar os óculos sobre os olhos.
— Você tem certeza disso que você está falando, Marina? – tiro sem
avisar os óculos de sol, obrigando-a a olhar nos meus olhos. Vendo que fiquei
chateado com o que disse, ela senta ereta e me estende os braços, pedindo um
abraço.
— Desculpa, amor – pede, quando eu me curvo para receber seu
abraço. — Eu não consigo me conter.
— Nós já conversamos sobre seus impulsos, não foi? – pego suas
pernas, coloco-as de lado, dando assim espaço para que eu sente na sua
frente. — Você precisa conversar comigo antes de tirar conclusões
precipitadas e ter esse tipo de reação.
— Eu sei – diz, amuada.
— E para que você saiba, não tem motivos pra ter ciúmes – acaricio
sua coxa lisinha. — Você foi a primeira. Eu nunca dormi com outra além de
você, nunca senti essa necessidade. Depois que o sexo terminava, elas já
sabiam que tinham que sair.
— Tá bom, eu não quero saber desses detalhes – corta.
— Desculpa interromper – Maya traz meu desjejum. — Aqui está —
coloca a bandeja ao lado da de Marina. — Bom apetite.
— Obrigado – eu e Marina falamos juntos, e ela tem seu sorriso
voltado para a minha namorada, que a retribui com um piscar de olho.
Espero Maya sumir de nossas vistas para questionar:
— Vocês são amigas?
— Mais ou menos. Mas eu quero muito voltar a me aproximar dela –
diz, me enchendo de orgulho; para ela não tem isso de classe social, trata
todos de igual maneira.
— Como é isso de mais ou menos amigas?
— Ela é filha da minha babá, Márcia, lembra? – pergunta, e eu balanço
a cabeça em confirmação. — Então, é que quando éramos crianças, Márcia
trazia Maya pra brincar comigo, mas, por algum motivo que desconheço, um
dia ela parou de vir e perdi a amiga. Agora que está de volta, quero me
reaproximar dela.
— Que bom, é interessante reaver amizades antigas – afirmo,
lembrando da Ângela. Talvez seja cisma minha contra ela, mas ainda assim
não é bom tê-la tão dependente dessa garota. — Agora vamos comer antes
que isso tudo aqui esfrie.
Passamos os próximos minutos conversando; enquanto nos
alimentamos, falamos de assuntos corriqueiros e trocamos experiências de
como foram nossas vidas durante todo o período em que ficamos separados.
Quando terminamos, Marina decide que é uma boa ideia darmos um
mergulho na piscina, e eu não penso duas vezes ao aceitar a sugestão. Não
com o dia tão quente como o de hoje.
Depois de trocar a bermuda por uma sunga de banho, pego Marina de
surpresa ao nos jogar com tudo dentro da piscina.
— Que susto, seu idiota – emerge com os cabelos molhado e todo
grudado ao rosto. — Eu poderia ter me afogado, sabia?
— Não sabe nadar, princesa? – tiro os cabelos de seu rosto.
— Sei, sim – percebe que ficou brava em vão. — Poderia ter me
matado de um susto – ela tem razão, eu realmente fui sorrateiro ao me
aproximar.
— Vem, minha menina bravinha – lhe abraço mais apertado e ela
enrola as longas pernas na minha cintura. — Deixa de conversa e me dá um
beijo – seguro sua cabeça e abocanho sua boca apetitosa. Num piscar de
olhos o beijo vai de casto a intenso, e de intenso para impróprio para
menores. Não sei em que momento isso aconteceu, só sei que agora eu tenho
ela presa entre meu corpo e a parede da piscina. Entre beijos e mordidas,
esfrego meu pau duro contra sua boceta sedenta, ela se contorce nos braços e
eu não tenho outra alternativa senão calar seus gemidos com beijos e mais
beijos, sem nunca desgrudar nossas bocas. Não que eu esteja achando ruim,
até porque tenho um verdadeiro vício por sua boca e acho que seria capaz de
passar horas e horas beijando-a sem nunca me cansar. O problema aqui são
seus peitos, que estão tão apetitosos com os biquinhos salientes querendo
perfurar a porra do pedaço de pano que ela chama de biquíni. Minha vontade
é rasgar ele com os dentes, só para ter acesso a esses montículos
intumescidos que me pertencem.
— Amor – paro o corpo e solto sua boca, quando pelo canto dos olhos
vejo um movimento no canto mais afastado do jardim. — É melhor pararmos
por aqui ou então seremos flagrados pelo jardineiro – digo, e ela cora quando
também repara que ele estava ali o tempo todo.
— Mas eu queria...
— Eu também quero – interrompo sua fala, ao colocar o dedo
indicador sobre seus lábios inchados por meus beijos duros. — Você quer
subir lá pro meu quarto? – convido, esperando que ela entenda o que significa
esse convite. Que entenda que, se depender de mim, essa decisão já está
tomada, o próximo passo dependerá apenas de sua decisão.
— Quero – responde, com a firmeza de quem sabe o que
realmente quer. — Agora – exige.
— Então vamos – entrelaço nossos dedos.
Um só
Marina
Erick
— Aí, caralho – contorce o corpo, louca de desejo, e eu tão ou mais
necessitado que ela, desmancho o laço do pedaço de pano que cobre meu
paraíso tão desejado.
Inebriado com o cheiro da sua excitação, encosto meu nariz na sua
boceta, me embebedando com o mais doce aroma, o cheiro da minha mulher.
Sem mais conseguir me segurar, coloco a boca no seu centro e começo a
comê-la como um louco que há muito não prova da sua comida preferida.
Alternando entre chupar seus grandes lábios para dentro da minha boca e
enfiar a língua dentro da sua vagina, eu a levo cada vez mais perto do
orgasmo.
— Erick, eu não aguento mais. Eu vou... – implora por alívio, e eu
desacelero o sexo oral. Dessa vez, eu a quero gozando no meu pau, com ele
todo socado dentro da sua boceta.
Sob o protesto de Marina, afasto-me do meio das suas pernas, e sob sua
intensa supervisão, tiro a sunga, deixando minha dolorida ereção livre aos
seus olhos e ela o fita abertamente, com o rosto encantadoramente esbaforido.
— Erick, será que ele – para a frase no meio do caminho e eu
completo.
— Sim, linda – me toco, querendo prolongar seu olhar de admiração.
— Você vai conseguir comportá-lo aí dentro – olho malicioso para sua
boceta depilada.
Sem demora, vou até a cômoda do criado-mudo, que fica do lado
esquerdo da minha cama, e de lá pego três pacotes de preservativo e os jogo
em cima da cama. Depois disso, deito novamente entre as pernas da minha
garota e, sem querer perder nem mais um segundo sequer, pergunto:
— Está pronta, meu amor? – desço minha mão até seu sexo, testando
sua umidade. Não quero machucá-la mais do que o necessário. Enfio
primeiramente um e depois dois dedos, fazendo movimentos de vai e vem
dentro do seu sexo.
Quando a tenho completamente encharcada e prestes a gozar, retiro
minha mão, pego a camisinha, visto meu pau e coloco a ponta na entrada da
sua abertura. Com os olhos arregalados, ela me olha como se só agora se
desse conta do que vai acontecer aqui.
— Marina, se você quiser... – ofego, me segurando para não socar até o
talo em seu interior.
— Não, querido. Eu confio em você – tenta mexer os quadris. — Só
me faça sua, por favor.
— Me desculpa por isso – começo a entrar lentamente, parando ao
sentir a barreira da sua virgindade. — Prometo nunca mais te machucar dessa
forma – soco até o fundo e vejo uma lágrima escorrendo por seu rosto quando
seus olhos refletem a dor da penetração.
— Caralho – grita o xingamento, e eu imagino que até os funcionários
que trabalham do lado de fora da casa devem ter ouvido sua voz, — Não
pensei que fosse doer tanto – tenta se movimentar e eu seguro novamente seu
quadril.
— Calma, meu amor – peço docemente. — Isso – elogio quando a
sinto relaxar. — Deixe seu corpo se acostumar – acomodo melhor seu corpo,
tendo cuidado para que não lhe machuque. Depois de um tempo, vendo que
está mais relaxada pergunto:
— Tá doendo menos? – ela me olha com adoração e eu tenho vontade
de sentar, colocá-la sobre meu colo e lhe abraçar por horas a fio, apenas
abraçar. Até que ela entenda que é todo o meu mundo.
— Sim, eu só preciso que você se mexa – ela responde.
Tendo cuidado para não mais lhe causar dor, eu começo a me
movimentar, retiro meu pau lentamente para depois o enfiar até a base.
— Assim? – continuo, e ela acena com a cabeça, soltando o primeiro
gemido de prazer.
— Isso, amor, mais rápido – afobada, tenta encontrar minhas estocadas
no meio do caminho. — É uma gostosa mistura de dor e prazer.
— Logo a dor sumirá e você vai sentir apenas o prazer – beijo seu
pescoço úmido de suor. — Eu só preciso que facilite as coisas aqui. Fique
quietinha, menina gulosa – aumento um pouco da velocidade das
arremetidas. — Essa primeira vez, vamos apenas fazer amor – chupo seus
mamilos rígidos. — Na próxima, a gente vai foder, trepar, fazer sexo ou seja
lá como queira chamar – agarro sua coxa, me permitindo um maior contato.
— Vamos fazer do jeito que eu acho que você gosta, sua safada.
— Que delícia – apoia o corpo nos cotovelos para poder ver o
movimento do meu pau entrando e saindo. Percebendo sua curiosidade,
levanto o tronco e ela tem uma melhor visão. — Tá vendo, princesa? Como
somos bons juntos – tiro e coloco até a base dentro da sua boceta. — Isso
aqui é apenas o começo – seus olhos escuros de tesão acompanham minha
mão, que começa a massagear seu clitóris. Com seus olhos fixos na cena, eu
trabalho com meu cacete dentro da sua boceta e com os dedos em cima do
clitóris.
— Goza pra mim, pequena – soco cada vez mais rápido. — Molha meu
pau com seu creme, quero ele todo meladinho. Vai, meu amor, isso – enrolo
suas pernas na minha cintura ao penetrar, ensandecido.
— Erick... Ahhh – grita a plenos pulmões quando é atingida por um
potente orgasmo.
Em busca do meu próprio alívio, abaixo meu tronco, encosto meu peito
contra o seu e com seus pés fincados às minhas costas, dou mais cinco
estocadas até encher a caminha de porra, o sêmen jorra numa quantidade e
intensidade que me tiram as forças, e tenho que me esforçar para sustentar o
peso do meu corpo e não deixar meus cotovelos cederem.
Fazendo esforço para respirar, levanto a cabeça do seu pescoço, vejo
seu corpo úmido de suor tanto quanto o meu, que pinga nos seus seios, e
pergunto:
— Tá tudo bem, minha linda? – inspeciono-a da cabeça aos pés e já
sinto o bastardo ficar alegre. Se os homens precisam de um tempo para se
recuperarem, talvez meu pau não concorde quando se trata dessa boceta. —
Não está machucada?
— Não – se mexe, e eu vejo o sinal de desconforto passar por sua
expressão. — Tá, talvez um pouco ardida lá em baixo. Mas nada demais,
nada que apague o prazer que você me deu.
— Valeu a pena, não é? – deito do seu lado e entrelaço nossos dedos.
— Valeu a pena esperarmos.
— Demais – levanta nossos braços e beija minha mão. — Pra ter nós
dois juntos, como estamos nesse momento, eu esperaria quantos anos fossem
necessários.
— Eu também, meu amor – agora sou eu que beijo sua mão, que de tão
delicada, quase some quando em contato com a minha. — Mesmo você tendo
demorado um pouco mais que o recomendado, acredito que nascemos
destinados a viver isso aqui – passo os olhos por nossos corpos nus e
saciados.
— Erick – ela deita de lado, com o corpo deleitoso virado em minha
direção.
— O que foi, pequena? – reparo no seu rosto pensativo.
— Será que já podemos fazer de novo?
Cuidado
Erick
Ok :)
Erick
— Você pode segurar as pontas aqui, Patrícia? – olho meu pulso pela
décima vez em cinco minutos. — Os detalhes você já sabe, é só repassar com
o Bruno quando ele chegar – digo, desconfortável. Tenho a sensação de que o
nó da minha gravata está ficando cada vez mais apertado em volta do meu
corpo.
Eu vou matar o incompetente do Bruno. Como pode se atrasar e me
deixar aqui com essa mulher, ele não disse que estava a caminho? Se ao
menos eu sonhasse que ele ainda não estava aqui, eu teria enrolado um pouco
mais no escritório.
— Não, querido – me aborreço com o fato de ela me tratar com uma
intimidade que não temos, e meu semblante deve ter demonstrado exatamente
isso, já que ela rapidamente se corrige. — Quer diz, Erick, você sabe como o
João era minucioso com esses eventos. Agora que ele se foi, passou a ser sua
responsabilidade – eu gostaria de esquecer esse fato.
Nosso escritório é conhecido pelas grandes recepções que oferece a
cada causa grande ganha ou quando somos contratados para atuar em causas
milionárias. Isso nunca foi problema para mim, eu até que gostava, é nesses
eventos que toda a equipe ronda os convidados atrás de novas causas e,
consequentemente, mais ganho e prestígio para o escritório. O problema é
que, diferente das outras vezes em que eu me preocupava apenas em
comparecer, hoje tenho não só que tomar a frente, como também ouvir e
concordar com todos os detalhes irritantes.
É disso que se trata esse almoço. Não sei por qual razão, mas Bruno e
Patrícia – que não foi demitida ainda porque tenho desconfianças a seu
respeito que preciso averiguar mais de perto – são as pessoas que, junto com
João, organizam esses eventos, e segundo eles, uma recepção para Ulisses
Casagrande, dono da conceituada rede de cosméticos SempreBella, é
extremamente necessária, e como eu confio no discernimento de Bruno, tive
que vir a esse almoço.
— Tem razão – digo a contragosto, olhando novamente o relógio. —
Mais cinco minutos, se ele não aparecer, eu vou me retirar e deixar por conta
de vocês. Tenho outro compromisso – na verdade, não tenho, só preciso fazer
a costumeira ligação para Marina. Todos os dias eu ou ela nos ligamos para
saber como o outro está.
Estou a ponto de pegar meu celular dentro do bolso interno do paletó,
quando na mesa de canto vejo uma movimentação, olho mais atento e me
surpreendo por ver que é minha Marina quem está neste momento
levantando-se para ir embora.
— Licença – saio da mesa sem esperar pela resposta que a mulher com
certeza daria.
Paro em frente à amiga estranha e pergunto, sem rodeios:
— Pra onde ela foi? – ela permanece calada, me olhando.
— Eu não estou de brincadeira, garota. Cadê a minha namorada?
— Aqui ela não está, como pode perceber – debocha, e eu tenho
vontade de matá-la
— Eu não gosto de você, garota. E nem daquele seu primo – declaro.
Essa menina tem alguma coisa que não se encaixa.
— Então estamos empatados, porque eu também não vou com a sua
cara. Cuida bem da minha amiga ou então vai se ver comigo. E você não tem
ideia do que sou capaz – ameaça.
— Você é louca? – indago, sem paciência. Mas pelo menos deu para
perceber que ela gosta mesmo da Marina.
— Sou, sim – assevera. — Volta pro seu almoço, ela não está nada
contente.
— Que se foda, eu tenho que ir atrás de Marina – saio apressado.
Depois de muito quebrar a cabeça tentando imaginar para onde Marina
poderia ter ido, decido confiar no seu bom senso e ir direto para casa.
Quando entro com o carro na garagem, reparo que o veículo que o
motorista usa quando sai com ela está aqui, então provavelmente Marina veio
para casa.
Entro e encontro a sala em total silêncio. Se minha namorada não fosse
tão apegada emocionalmente a esse lugar, eu com certeza já teria lhe
convencido a irmos morar no meu apartamento, que tem o espaço adequado
para duas pessoas. Essa mansão não, ela é tão grande que se Marina quiser
me dar um castigo, é só se esconder e depois me fazer procurá-la.
Tendo em mente a certeza de que ela está aqui em algum desses
milhares de cômodos, decido deixá-la um pouco sozinha, dar um tempo para
que se acalme e tire suas conclusões, para só depois conversarmos.
Depois de almoçar – coisa que não deu tempo de fazer no restaurante –
tomar banho e revisar alguns processos no antigo escritório de João, que
agora estou utilizando, saio para procurar minha garota.
Chega de se esconder, princesa.
Primeiro procuro nos quartos, na sala de cinema e até mesmo no banco
que fica entre as roseiras bem cuidadas do jardim, e não a encontro em
nenhum deles.
Por fim, dirijo-me ao último lugar onde ela poderia estar: a academia.
Se tem um espaço que minha garota não frequenta nesse lugar, é a
academia, não que ela precise, pelo contrário, seu corpo é naturalmente
gostoso e sem uma única gordurinha fora de lugar. Segundo ela, somente as
pessoas sadomasoquistas praticam esse tipo de tortura quando não é
estritamente necessário.
Por outro lado, ela adora ficar me olhando treinar. Todas as noites
depois que chego do trabalho, malho sob seu olhar faminto. Marina me
admira abertamente, sem conter a excitação de ver meu corpo suado pelos
exercícios intensos, e como não gosto de deixar minha mulher passar
vontade, eu a como ali mesmo, seja contra a parede espelhada, seja sentados
em cima de um dos aparelhos de musculação ou mesmo no chão, nós sempre
acabamos suados e ofegantes, depois de uma foda de boas-vindas.
Minha pequena parece ter sido feita na medida certa para mim, é
impressionante o quanto temos nos dado bem em pouco mais de um mês de
namoro. O nosso ainda tem um diferencial que é o fato de morarmos juntos.
O que poderia ser um ônus para quem acabou de iniciar uma relação, para
nós se tornou um bônus, pois foi essa necessidade de morarmos juntos quem
me ajudou a perceber que a grande diferença de idade que nos separa não é
um empecilho para o nosso entendimento. Ela me fez perceber que muitas
das nossas diferenças vêm em decorrência das personalidades distintas do
que propriamente das mentalidades, que têm bons anos de distância uma da
outra.
Entro no amplo espaço, que é todo revestido em vidro, e também
encontro o recinto em completo silêncio. Passo os olhos rapidamente pelo
ambiente e quando não a vejo, aceito que não só não está aqui, como também
não veio para casa.
Porra! Onde você se meteu, meu amor?
"Que meu amor, não será passageiro, te amarei de janeiro a janeiro"...
Estou quase fechando a porta da academia quando ouço sua voz
cantando bem baixinho.
Porra! Ela está aqui!
Escancaro a porta outra vez e dessa voz olho com mais atenção. Avisto
Marina deitada num cantinho entre a parede e uma esteira. Ela veste um short
preto bem curtinho e um top cinza que cobre seus seios, deixando sua barriga
lisa à mostra. Tem nos ouvidos um fone branco, e por ele sai uma música
melosa que ela vez ou outra cantarola.
Fico um tempo apenas olhando minha pequena, imaginando o que se
passa pela sua cabeça depois do que presenciou lá no restaurante ou o que
imagina ter visto. Não a culpo se tiver interpretado de forma errada. Se
tivesse lhe encontrado almoçando com outro, também ficaria chateado, pelo
menos na hora.
Silenciosamente, caminho até onde está deitada, sento em cima da
esteira e sacudo seu corpo de leve.
— Amor – chamo-a, e ela tira os fones-de-ouvido. Com cuidado, lhe
ajudo a sentar sobre o tapete emborrachado que usamos para fazer exercícios
de aquecimento. — O que você está fazendo aqui? – indago, notando que
aparentemente não andou chorando.
— Achei que seria um lugar ideal para pensar – diz, com aparente
tranquilidade.
— E pensou? – sondo.
— Acho que sim. Só estava ouvindo música mesmo – mostra seu iPod.
— E você, por que chegou tão cedo? – pelo visto ela não vai tocar no
assunto.
— Eu vi você no restaurante, Marina – decido ser direto. Sei que o
assunto está lhe incomodando e ela aparentemente não quer tocar nele. — Foi
embora sem falar comigo – acuso, e ela me olha, incrédula.
— Não queria atrapalhar o almoço com sua amiga – diz, sarcástica,
mostrando finalmente a Marina que eu conheço.
— Ela não é minha amiga e você não atrapalharia nada que não fosse
um almoço de negócios – justifico-me. — E se você tivesse esperado mais
um pouco, teria visto que estávamos esperando um outro advogado que
infelizmente se atrasou – se Bruno fosse pontual, eu não teria que passar por
essa situação desagradável. Não é só por Marina que digo isso, é por mim
mesmo, que tive que aguentar aquela mulher se jogando. Ela fez os poucos
minutos parecerem horas.
— Entendi – fala, com sinceridade. — Mas não vou me desculpar –
deixa claro sua posição.
— E nem eu quero que se desculpe, meu amor – coloco uma mecha
que escapou do seu coque frouxo atrás da orelha. — Na verdade, eu estou
muito orgulhoso.
— Orgulhoso? – pergunta, surpresa.
— Sim, orgulhoso – levanto-a do tapete, para em seguida sentá-la no
meu colo. Será que algum dia vou ser capaz de estar no mesmo recinto que
ela e não ter essa necessidade de sempre estar lhe tocando? — Agiu muito
bem numa situação como a que presenciou – beijo seu pescoço cheiroso e sou
retribuído com mãos macias massageando meu coro cabeludo. — Veio para
casa e me esperou para conversarmos – distribuo beijos por todos os lados do
seu rosto. — Minha garota madura – finalmente capturo sua boca, sendo
recebido com o mesmo entusiasmo da primeira vez.
Ficamos nos beijando preguiçosamente por alguns minutos, apenas
curtindo nosso tempo juntos.
O fato de estarmos morando juntos, de dormirmos e acordarmos todos
os dias lado a lado, não é o suficiente para tirar a sensação ruim que por vezes
sufoca o meu peito.
Eu, que sempre fui um homem mais prático do que religioso, tenho me
visto preocupado com os sonhos que têm atormentado minhas noites nesses
últimos dias. Acordo suado e ofegante com a imagem de Marina desfalecida
nos meus braços, ela tem o rosto pálido, e por mais que eu chame e balance,
seu corpo permanece inerte. Não consigo ver seus bonitos olhos porque ela
não os abre.
Toda manhã eu acordo procurando seu corpo. Nas vezes em que não
sinto seu calor junto ao meu, simplesmente lhe puxo para os meus braços
enquanto deixo o alívio me tomar. Depois de ter certeza de que tudo não
passou de um pesadelo, vem a fome; o desespero de tomar seu corpo, como
se não tivéssemos mais tempo, como se o depois nunca fosse chegar. Então
eu lhe abraço, declaro meus sentimentos e vou para o escritório. Vou, mas
fico ansioso pela volta, onde todo o ciclo se repete.
— Já disse que te que amo hoje? – pergunto, ao interromper o beijo
quando nós dois precisamos de ar e eu deixo de lado os maus pensamentos.
Nada de ruim vai lhe acontecer. Ninguém se atreveria a tirá-la de mim.
— Não nas últimas horas – brinca, deixando transparecer que já
superou o incidente de mais cedo.
— Que cabeça essa minha – devolvo, com bom humor. — Querida,
sobre o almoço...
— Eu entendi que era um almoço de negócios, amor. Já passou.
— Não é isso – nem sei como abordar o assunto. — Lembra daqueles
eventos que seu pai costumava fazer aqui no jardim para o pessoal lá do
escritório?
— E como eu poderia esquecer? – sinto a mudança no seu humor
quando seu corpo contrai em cima do meu. — Ficava muito irritada quando
papai me fazia comparecer. Por mim, ficava trancada dentro do quarto até
que aquela gente chata fosse embora – confessa, e eu não deixo de concordar.
Só compareço porque é necessário.
— Mas você entende que eles são necessários?
— Eu entendo, Erick – afirma. — Mas isso não quer dizer que goste.
— O almoço era pra discutir esse assunto. Nós fomos escolhidos para
defender Ulisses Casagrande, então Patrícia e Bruno, que eram responsáveis
por essa parte junto com seu pai, vão dar uma recepção em homenagem a ele.
— Eu não quero essa mulher dando ordem na minha casa, Erick – ela
levanta-se num rompante. — Não quero.
— Não vai, meu amor – levanto-me em seguida, lhe abraçando pela
cintura. — Vou falar com ela amanhã mesmo.
Marina tem razão, não tem por que se submeter a isso. Sei que talvez
esteja comprando uma perigosa briga e que isso pode se voltar contra nós
dois. Mas também não posso deixar Patrícia tão próxima de Marina.
Tenho que averiguar se essa mulher esconde algo que possa prejudicar
Marina de alguma forma e só então afastá-la de nossas vidas.
Rapidinha
Marina
Marina
A cena que vejo não poderia ser mais grotesca. Tendo Marina acuada
entre ela e a parede, Patrícia segura fortemente o seu braço – enquanto fala
barbaridades que só pude ouvir o final – e lhe sacode bruscamente. Minhas
entranhas se contorcem ao ver no rosto da minha pequena as lágrimas que ela
tenta não derramar e que ainda assim escorrem.
— Você enlouqueceu, caralho? – grito, furioso, fazendo-a se assustar,
largar o braço de Marina e se afastar alguns passos para trás.
De imediato, vou ao encontro de Marina, que não faz nada além de
tremer incontrolavelmente. Nesse momento, tenho que me segurar para não
fazer uma besteira.
Como essa vadia ousou tocar na minha mulher dessa forma?
— Erick – Patrícia está na nossa frente, totalmente desconcertada, não
pelo que estava fazendo e sim por eu ter visto. — Marina e eu estávamos
apenas conversado. Fala pra ele, menina – pede. Quando olho em seu rosto,
vejo a pequena encarar a loira com incredulidade.
— Você acha que eu sou idiota, não é mesmo? – lhe surpreendo. Para o
seu azar, eu sei exatamente com quem estou lidando. — Você estava
agredindo minha namorada, não vem com essa de que estavam apenas
conversando.
— Aquilo não foi nada – faz pouco caso da própria agressividade. —
Marina que é sensível demais, não é, querida?
Quando ela diz isso, sinto todo o corpo de Marina se enrijecer. Ela tira
minha mão da sua cintura, dá alguns passos até onde está Patrícia e
surpreendentemente estapeia seu rosto. Não sei se pela surpresa do ato ou
pelo tapa em si, mas a mulher fica cambaleante quando instintivamente leva a
mão ao rosto.
— Está vendo, querido? – não sei se algum dia serei capaz de ouvir
essa palavra novamente. — Essa menina não está bem, precisa de uma ajuda
profissional urgente. Tá totalmente descompensada.
Meu Deus! Essa mulher não tem limites. Ela chegou ao ponto de
colocar em dúvida a sanidade da Marina.
— Fora da minha casa – minha garota aponta o dedo na direção da
porta.
Sua atitude me enche de orgulho. Essa é a Marina que eu conheço, a
mulher que, apesar de ser sensível e aparentar fragilidade, não deixa de se
defender quando é atacada. É como ver uma gatinha se transformar numa
leoa.
— Eu não te conheço e nem sei qual é o seu problema comigo – diz, ao
encarar a loira de perto. — Se for pelo Erick, você pode se conformar. Nós
estamos juntos e nem você nem ninguém pode dizer o contrário – ela diz,
vindo novamente para os meus braços, e eu circulo sua cintura, tendo que
segurar as evidências do tesão que sua atitude está me causando. — Saia
daqui, esquece da minha existência e do meu namorado também.
— Sua... – ainda tenta insultar Marina, mesmo depois de tudo que
ouviu e de carregar no rosto a marca da minha ferinha furiosa.
— Cuidado com suas palavras – corto, antes que a situação piore. — E
diante de tudo que presenciei aqui, nós não temos condições de continuar
trabalhando juntos. Passe amanhã no escritório para acertarmos tudo. Seus
serviços estão dispensados – faço o que já devia ter feito.
Tenho que arrumar outra forma de neutralizar as ações dela. Deixando-
a perto de Marina é que não vai ser.
— Você não pode estar falando sério – diz, furiosa. — Não pode
simplesmente me dispensar por causa dessa mimada.
— Não só posso, como vou. Se retire, por favor – sinalizo para a porta,
assim como Marina fez.
— Eu vou – sai, mas não sem antes dizer: — Vocês ainda vão ouvir
falar de mim. Isso não vai ficar assim – ameaça, e logo depois bate à porta
num barulho estrondoso.
Quando ela sai, Marina solta meus braços da sua cintura e vai
caminhando lentamente até a cama. Chegando lá, ela se senta na beirada e
solta as lágrimas que até então estavam contidas. Seu corpo treme tanto que
começo realmente a me preocupar.
— O que foi, meu amor? – seco seu rosto ao me agachar a sua frente.
— Fala comigo, estou ficando preocupado – toco seu braço, fazendo reagir
com um sobressalto.
— Eu vou matar aquela desgraçada – tento me levantar, mas sou
impedido quando seu braço toca meu ombro. — Ela não devia ter feito isso –
sinto um nó na garganta por ver a pele branquinha do seu braço ostentando
um enorme hematoma, que começa a ficar roxo. Nele está o exato formato da
mão daquela vadia dos infernos.
Maldita a hora em que João a colocou nas nossas vidas. O que foi que
você fez, meu amigo?
— Fica, amor – me abraça pelo pescoço. — Tô chorando, mas é de
raiva – com cuidado para não me afastar do seu abraço, levanto
cuidadosamente, para em seguida sentar em nossa cama com ela em cima do
meu colo.
— O que foi que ela te disse? – indago. Tenho que tentar descobrir
qual é a motivação da Patrícia para ter toda essa raiva por uma pessoa que ela
nem ao menos conhece. Pelo menos até onde eu sei.
— Basicamente me acusou por ter sido afastada desse evento – porra!
Isso é tudo culpa minha. Não devia ter mencionado o nome da Marina
quando lhe dispensei.
— Só isso? – pressiono, depois de perceber que já está mais calma.
— Não. Ela mencionou alguma coisa sobre eu ter nascido apenas para
trazer problemas – um alarme toca dentro da minha cabeça. — Não acha isso
estranho? Falar algo tão cruel, a mulher não sabe nada da minha vida – suas
palavras deixam claro que ela não desconfiou de nada. Talvez seja melhor
assim, quanto mais distante eu conseguir manter Patrícia, melhor será para
Marina.
— Vamos esquecer essa mulher, pequena – beijo seu rosto ainda
úmido. — O importante é que está fora das nossas vidas.
— Tem razão, não vamos deixar que estraguem nossa noite – seca o
rosto com altivez.
— Assim que se fala. Agora vamos olhar esse braço – levanto com ela
nos meus braços, e lhe carrego para dentro do banheiro. Chegando lá, coloco-
a no chão e ela fala, assustada ao se ver no espelho:
— Meu Deus! Tô parecendo um monstro – começa a limpar a mínima
mancha preta que escorreu dos seus olhos. — Não posso sair assim – ajeita-
se rapidamente e com uma assustadora habilidade.
— Será que uma bolsa de gelo dá jeito nisso? – toco de leve o local
arroxeado.
Enquanto minha prioridade é o braço, a sua é a bendita maquiagem
borrada.
Mulheres!
— Tá tudo bem, Erick. Na hora doeu, mas já tá melhor – se vira para
mim, dá um beijinho em minha boca e continua: — Parece pior do que
realmente é.
— Não te incomoda sair assim? – aponto. — As pessoas vão comentar.
— Deixe que comentem, se for difícil pra você, eu posso colocar um
casaco – oferece.
— Não, linda, só tô preocupado com seu bem-estar. O que estiver bom
pra você também vai estar pra mim.
Contente com minhas palavras e já com o rosto tão perfeito como
antes, ela vira de frente para mim, enlaça meu pescoço num novo e delicioso
abraço apertado.
Encostados na bancada que sustenta o espelho, permanecemos por um
momento, apenas sentindo o calor do outro, até que minha gatinha quebra o
silêncio:
— Erick, isso que eu estou sentindo é... – chego mais perto do seu
corpo para que não fique nenhuma dúvida.
— O que eu posso fazer se te ver toda dona se si, se defendendo tão
brevemente, me deixou com tesão? Não que já não estivesse antes. Esse tem
sido meu estado desde a hora em que te vi tão gostosa com esse vestido,
presenciar sua força somente potencializou meu desejo que já não era
pequeno.
— Tesão, é? – leva a mão até minha ereção, e sobre o tecido da calça,
aperta meu pau com a força necessária, dizendo baixinho no meu ouvido: —
Agora imagina como anda a situação aqui em baixo. Talvez ela tenha ficado
feliz e queira agradecer por você ter me chamado de sua mulher – movimenta
a mão lentamente por todo o cumprimento. Mesmo que por cima da calça,
ainda sou capaz de sentir o calor do seu toque.
— Minha mulher – curvo parcialmente seu corpo contra a bancada,
para depois lamber o vão desnudo entre seus seios. — Minha mulher.
— De novo – pede, tirando a mão do meu pau, levando as duas para o
meu cabelo. Enquanto ela busca apoio, aproveito para esfregar minha ereção
na sua boceta.
— Você é a minha mulher – ela ofega, desejosa. — Minha namorada,
meu tudo – afasto o tecido para o lado e abocanho seu seio esquerdo.
— Ai. Isso! Não para – pede, insinuando o quadril para frente.
— Não vou parar – ajeito seu corpo e como sua boca num beijo duro.
— Diz que quer me dar essa boceta, diz.
— Eu quero que você coma, agora – ouvir isso, tendo seus olhos sobre
os meus, leva o fio de sanidade que eu tentava manter.
Seu modo cadela safada me tira a capacidade de raciocínio. Não me
importo de ter pessoas lá embaixo me esperando ou com o risco de sermos
ouvidos por quem estiver na sala. Marina e eu não podemos ser classificados
como um casal discreto. Quando o sexo fica intenso além do normal, tenho
que tapar sua boca com a mão. Se não o fizer, no dia seguinte ela estará se
escondendo com vergonha dos funcionários.
Não é como se eles fossem achar que seus gritos são ocasionados por
uma surra, quer dizer, é uma surra, só que uma surra de pau. E essa surra eu
garanto que ela gosta de levar.
— Eu vou, minha gostosa – mordo a ponta da sua orelha para depois
aliviar com uma lambida. — Vou meter tão profundo dentro dessa bocetinha
apertada, que quando nós voltarmos para a festa, todos vão notar o que
estávamos fazendo aqui em cima – troco nossas posições. Agora ela está
virada de frente para o espelho e eu estou abraçando-a por trás, fitando seu
rosto através dele. O cenário não poderia ser mais excitante, tudo tem um ar
de proibido e transgressor. — Você vai ficar envergonhada, é claro. Mas, por
outro lado, vai gostar, sabe por quê? Todas aquelas pessoas saberão quem é
seu macho, quem é o homem que tem estado entre suas pernas por horas a
fio, em todas as oportunidades que nos aparecem, assim como também
saberão que Erick Estevam não está mais disponível, que meu pau domado
está mais que satisfeito por socar apenas em uma boceta, a sua boceta.
— Caralho – amo como sua boca fica suja quando está louca de tesão.
— Você vai gostar disso, não vai? – começo a subir seu vestido,
deixando a parte de baixo toda enrolada na altura da cintura. — Me diz.
— Sim – baixo a vista para sua bunda e sinto todo o sangue que circula
meu corpo correr até o pau.
A safada tem uma pequena calcinha de renda preta toda socada dentro
da bunda. A imagem é tão excitante que nesse momento tenho meu pau
babando dentro da cueca. Mais um pouco e estarei passando vergonha aqui.
— Gostosa – levo minha mão até a parte da frente, encontrando a peça
deliciosamente molhada. Com os dedos, passo a massagear seu montículo por
sobre a calcinha. Ensandecida, minha putinha safada profere todos os tipos de
insultos, sem nunca deixar de esfregar a bunda redonda no meu pau.
Estamos quase fodendo a seco dentro do banheiro e de portas abertas,
quando uma voz feminina chama por Marina.
— Marina? – Maya chama, ainda do lado de fora do quarto.
Puta que pariu!
Burburinho
Marina
Sei que pode parecer bobo e que outras pessoas poderiam pensar em
mil maneiras de se passar o aniversário, mas para mim, é diferente. Acordar e
ver a vida que eu tenho é o melhor presente que poderia ter no dia de hoje. O
dia em que, perante à sociedade, eu me torno uma adulta, responsável por
tudo que possa fazer daqui para frente.
Com exceção aos momentos de tristeza pela falta do papai, meu dia
não poderia ser mais feliz. Aqui, onde eu vivi durante toda a minha vida,
tenho tudo o que julgo necessário para me sentir agradecida. Além de um
amigo e namorado, que me faz mais feliz do que qualquer devaneio
adolescente meu poderia fantasiar, tenho meus dois bebês Floquinho e Thor,
minha irmã Ângela e por fim, mas não menos importantes, colegas do
colégio que mesmo depois do natural afastamento pós-formatura, não
deixaram que a amizade morresse.
Então, sim! Eu posso dizer que esse é meu melhor aniversário, que eu
sou feliz, como nunca antes estive.
Hoje pela manhã, quando a luz fraca do sol adentrou pela fresta da
cortina, me deparei com um Erick ainda dormindo, o que foi uma surpresa, já
que ele ou sai antes de eu acordar ou me acorda para um suado sexo de bom
dia.
Hoje ele não fez nem um nem outro. Foi só depois de alguns minutos,
quando já estava cem por cento desperta, que me dei conta do que estava
acontecendo. Esse homem lindo, gostoso e que fode como um deus do sexo,
decidiu ficar e acordar comigo no dia do meu aniversário. Se meu tesão já
não estivesse alto o suficiente – é assim que eu acordo desde que ele me
acostumou a trepar logo cedo – ele foi às alturas com essa percepção, e foi o
estopim para me fazer pular em cima dele. Dessa vez foi eu quem o acordou
acessa e não o contrário.
E se, como diz ele, a nossa transa de bom dia foi meu primeiro presente
de aniversário, nem reclamaria de não receber outro.
Depois de tomarmos nosso café da manhã e combinarmos por alto a
festa de amanhã, saímos cada um para um lado, ele para o seu escritório e eu
para o estúdio em que trabalho há algumas semanas.
Ter a oportunidade de trabalhar com o que eu gosto e com uma pessoa
tão adorável quanto Lua tem sido uma ótima experiência de primeiro
emprego. Com seu bom humor, eu até agora não entendi como é que ela pôde
se envolver com o taciturno Bruno, que de adorável só tem o azul intenso dos
olhos. Ela infelizmente teve um caso com ele, se apaixonou, para logo em
seguida levar um pé na bunda. Quando questionei Erick qual era o problema
dele – além do óbvio – meu namorado apenas deu de ombros, como quem já
está acostumado com o jeito do amigo, e disse que era para minha amiga ficar
feliz com o rompimento. Que mulher nenhuma merece o peso que Bruno
carrega nas costas. É disso que estou tentando convencer minha chefe nos
últimos dias.
Graças a Deus ela fechou contrato com uma grande campanha editorial
e nós não temos tido tempo para que ela pense em Bruno e sua falta de tato
com as mulheres.
Quero nem imaginar uma realidade em que uma amiga minha esteja
envolvida com um babaca desse. Minha sorte é que Ângela não chegou a
conhecê-lo, porque ele parece ter tudo o que ela gosta e não precisa ter em
sua vida, que já me parece atribulada o suficiente.
Ao terminar um cansativo, porém produtivo dia de trabalho, mando a
costumeira mensagem para Erick, obtendo como resposta a ótima notícia de
que já chegou em casa.
Cheia de saudades, entro no quarto, pulo nos seus braços, mas ele trata
de jogar o balde de água fria quando interrompe minhas más intenções ao
dizer que vamos sair. Como não sou boba, trato logo de me aprontar para o
passeio.
Agora, parada diante da visão que enquanto eu viver jamais sairá da
minha memória e do meu coração, as palavras simplesmente somem, tudo o
que consigo fazer é rir e chorar na mesma medida.
— Fala alguma coisa, meu amor – ele pede.
— Erick eu... – me jogo nos seus braços. — Te amo tanto, mas tanto,
que chega a doer – as palavras saem abafadas porque tenho cabeça enterrada
no seu pescoço.
— Ei, não fiz isso para te ver chorar, princesa – me afasta gentilmente,
secando meu rosto no processo. — Não gostou?
— Eu amei, Erick, você não poderia ter preparado um presente melhor
que esse – digo, ao olhar maravilhada para todos os lados.
No mesmo parque e perto da mesma árvore que me trouxe no meu
aniversário de dezesseis anos, o último e fatídico em que passamos juntos;
Erick preparou um ambiente intimista e agradável.
Ao ar livre, e sendo iluminados apenas pela luz da lua, por alguns
pequenos refletores e por singelos pontinhos de luz que foram colocados nos
galhos da bela árvore, ele forrou a grama com uma grossa toalha branca e em
cima dela foram deixadas algumas almofadas coloridas e pétalas de rosas
vermelhas. Ao canto, se vê uma pequena mesa para dois, sortida de bebidas e
pelo que pude ver, alguns tipos de massas, meu prato favorito. Tudo está tão
lindo e tão delicado que é difícil crer que todos os detalhes tenham saído da
cabeça de um homem.
Eu daria meu braço esquerdo em apostar como tem o dedo da Ângela
nisso. Ela tem andado muito misteriosa – mais que o normal – nos últimos
dias. Sempre me fazendo perguntas estranhas e inusitadas. Saber disso me
deixa ainda mais feliz, ver meus dois amores se acertando é um alívio.
— Eu imaginei que seria um pouco arriscado, considerando as
lembranças do nosso último passeio que foi exatamente aqui. Mas, como
disse, quero que construa novas memórias. Dessa vez, felizes.
— Nem me fale, são cenas que minha mente deletou com o passar do
tempo – vejo que disse a coisa errada quando seu semblante cai um pouco e
logo trato de concertar. — Mas até que aquele piquenique não foi de todo
ruim – enfio a mão dentro de sua camisa, passando a alisar preguiçosamente
suas costas.
— Não foi? – aconchega-me melhor em seus braços.
— Esqueceu que foi aqui que você me deu Floquinho, meu presente
inesquecível? – indago, e ele me fita, surpreso.
— Confesso que tinha esquecido. A aquele dia eu só consigo associar o
nosso rompimento que durou quase dois anos – admite, pesaroso.
— Esquece isso, querido – falo, lembrando de como foi difícil fazê-lo
parar de resistir a esse tratamento. Segundo ele, a palavra "querido" só o faz
lembrar da Patrícia, que a usava todas as vezes em que queria forçar uma
intimidade inexistente.
E por falar em Patrícia, depois de o acontecido na recepção e de ter
sido dispensada por Erick, nunca mais se ouviu falar na mulher. A sensação
que tenho é de que ela está por aí, sempre à espreita, querendo uma chance
para se vingar, para destruir a felicidade que dia após dia fomos construindo.
É claro que isso também pode ser paranoia da minha cabeça, por causa da
última ameaça que ela fez. E é justamente por isso que não compartilho dos
meus medos com Erick, já bastam as noites em que ele acorda amedrontado
com os pesadelos que tanto vêm lhe atormentado.
— O importante é que hoje estamos aqui – olho em volta. — Juntos e
bem.
— Vamos jantar? – desfaz nosso abraço, entrelaça nossas mãos e me
leva para perto da mesa. Em cima dela, existe um único girassol, que ele logo
pega, quebra o galho e coloca atrás da minha orelha.
— Você ainda lembra disso? – fico surpresa por ele se recordar de um
detalhe como esse, depois de tanto tempo longe um do outro.
E como costumava ser no passado, hoje o girassol voltou a ser minha
flor preferida.
— Lembro de tudo relacionado a você, linda. Vem – educado, puxa a
cadeira para que eu me sente e logo em seguida senta no seu lugar.
Depois de um agradável jantar, Erick me convida para que sentemos
entre as almofadas que ele tão atenciosamente pediu para que para que
fossem colocas em cima da grama.
Comigo sentada entre suas pernas e com a cabeça encostada no seu
peito, Erick e eu ficamos num confortável silêncio, momento em que apenas
nos permitimos ouvir o barulho da cachoeira que ali perto jorrava cascatas
d'água.
— Tá feliz? – ele quebra o silêncio ao me abraçar e deixar um delicado
beijo em cima do meu ombro.
— Muito. Esse é o melhor aniversário da minha vida – confesso. —
Para estar perfeito, só falta o papai comigo – um pouco de nostalgia me abate
quando volto a lembrar dele. Por ser o primeiro ano passado sem ele,
especialmente hoje sua ausência é mais sentida.
— Eu também sinto a falta do João, meu amor – fica pensativo por uns
instantes, mas logo diz: — Vamos deixar os pensamentos tristes do lado de
fora, hoje é seu dia e só quero te ver sorrir.
— Tristeza? Já passou – saio de dentro dos seus braços e sento com as
pernas cruzadas uma na outra, de frente para ele. — Não acha que está na
hora de esquentar as coisas?
— Tá com frio? – faz-se de desentendido apenas para me provocar.
— Não, querido. Pra falar a verdade, eu tô é com calor – o dia foi
quente e a noite realmente está entre fresca e abafada, mas eu tenho certeza
de que ele sabe que o calor ao qual me refiro em nada tem a ver com o clima.
— Com muito calor. Só acho que você poderia me esquentar um pouco mais
– digo, ao ficar de joelhos e abrir o primeiro botão da minha saia jeans curta.
— Eu não só posso como vou, minha garota insaciável – segura minha
mão e eu entendo que ele tem algo a dizer. — Mas antes, tenho outro
presente para te dar.
— Erick, você não precisava – ele me cala ao também se ajoelhar, me
puxa mais para perto do seu corpo e diz:
— Eu fiz todo esse cenário, mas seu presente na realidade é outro –
diz, colocando a mão dentro do bolso da calça. — Só, por favor, não entra em
pânico.
Ele volta com a mão fechada e quando a abre, o que tem dentro me tira
completamente a capacidade de respirar.
Compromisso
Erick
Olhando para a pequena caixa azul de veludo, Marina não faz nenhum
movimento, além de fitar hora a caixa aberta, hora meu rosto, que espera por
sua resposta.
Só espero não ter exagerado. Em minha defesa, só tenho a dizer que fiz
exatamente o que meu coração pediu.
— O que isso significa? – pergunta, depois de um tempo, ao pegar a
caixinha da minha mão e analisar de perto.
Dentro do pequeno compartimento quadrado, tem um anel de prata,
com as bordas delicadamente salpicadas de pequenas pedras de diamante.
Quando pensei na escolha, o que me veio à cabeça foi algo simples – assim
como a minha garota – mas que também fosse elegante. Com a ajuda da
Ângela e da vendedora, que deram alguns toques, cheguei no anel que julgo
ser o ideal para ela. Simples como a sua essência e valioso como ela é para
mim.
— Significa o compromisso que há muito tempo selamos. Esse anel é
apenas a prova material, meu amor – acaricio seu rosto, que tem os olhos
brilhando pelas lágrimas não derramadas.
— Ele é tão lindo – diz, ao passar o dedo em cima da joia delicada. —
Tenho até medo de tocar e estragar ele.
Acho graça das suas palavras, pois sei que não diz isso deslumbrada
pelo valor econômico que a peça possui, mas sim pelo valor sentimental a ela
atribuída.
— Assim como você – elogio.
Minha ligação com Marina é tão forte, que não consigo lembrar de um
dia em que não tenha estado apaixonado por ela. É como se toda a minha
vida antes de ter me entregado a esse amor não tivesse existido. A Marina
criança que eu via como da família e a adolescente que até os quinze não
levava a sério, nem de longe me faz lembrar da mulher que ela tem se
tornado. A Marina que eu tenho aqui, durante os dias e nas noites passadas na
intimidade do nosso quarto, é a mulher que mesmo sendo tão jovem, tem
tudo o que eu preciso.
Com ela, me sinto completo como nenhuma outra mulher mais
"adequada" seria capaz de me fazer sentir.
E como eu sei disso? Sei pela experiência. Tive vinte anos da minha
vida, anos em que Marina nem bem existia, para comprovar esse fato. Foram
anos e anos procurando me encontrar, sem nunca achar. Até que um dia eu
cansei de desejar a suposta vida tranquila do meu amigo, que tão jovem tinha
encontrado o amor e a calmaria de uma vida tranquila. Foi isso o que eu
almejei até que Cristina abandonou João e a filha ainda tão pequena.
Quando parei de imaginar a vida em que uma mulher seria capaz de
aplacar a solidão que a distância da minha família deixou, comecei a
acumular diversos namoros rápidos e casos sem importância, até que, sem
pedir licença, ela veio e me mostrou que às vezes, mesmo sem planejar, a
vida pode nos surpreender.
— Vem, deixa que eu faço isso – pego a caixinha da sua mão, tiro o
anel e o coloco no seu dedo.
— Perfeito – contente, ela olha para a mão esticada, que agora ostenta
um lindo anel brilhante.
— Agora é a minha vez – pego o meu, que deixei separado no bolso da
minha calça, e lhe entrego para que também o veja.
Ela o pega e deixa transparecer sua surpresa por eu ter comprado um
para mim. Talvez tenha pensado que somente ela usaria.
— Estar com você é não ter um segundo de monotonia – assevera,
enquanto coloca o anel no meu dedo. — Sempre arranja um jeito de me
surpreender e eu te amo por isso.
— Tudo por você, que me faz tão feliz – digo, quando ela vem para o
meu colo e começamos um beijo que se estende até o momento em que nosso
jantar é discretamente posto sobre a mesa.
As horas que se seguem são divididas entre beijos apaixonados contra a
árvore que batizamos como nossa, um jantar composto com os seus pratos
favoritos, terminando com nós dois nadando pelados e fazendo amor dentro
da cachoeira; que por horas embala a nossa noite com o som de suas águas
revoltas que descem como cascatas.
À meia-noite, meu feliz aniversário é dito com eu e ela tão unidos
quanto duas pessoas podem estar, e com a lua sendo a testemunha silenciosa
de que, enquanto eu estiver aqui e ela me quiser, do seu lado eu sempre
estarei.
Em casa, uma Marina radiante de alegria dorme nos meus braços
enquanto, empolgada, me ouve contar como toda a surpresa foi planejada.
— Amor...
Na manhã de sábado, acordo tendo uma sensação de Déjà vu. Estou
sozinho na cama e da janela se ouve o barulho estrondoso de batidas que
imagino serem músicas de funk.
Quando me levanto e aproximo da janela para olhar, vislumbro a cena
que por vários anos tenho presenciado: o jardim está abarrotado de jovens
alegres e falantes. Uns dançam, outros nadam e alguns estão comendo
petiscos que o garçom contratado por Marina serve. Mais afastadas da galera
e perto da churrasqueira, vejo minha namorada conversando com Ângela e
com outras garotas. Ela está tão animada mostrando o anel que eu dei, que é
praticamente impossível não ter vontade de descer e me juntar à galera.
— Deixa de ser bobo, Erick – digo a mim mesmo, ao pensar alto. — O
que de ruim pode acontecer? Você só vai passar um tempo com a galera da
sua mulher – digo, tentando me convencer.
Ainda estou na janela, decidindo se desço ou não, quando Marina nota
minha presença ali, manda um beijo e de maneira nada discreta me chama
para se juntar a ela. Dando-me por vencido, faço minha higiene matinal, tomo
meu café e em seguida desço para lhe fazer companhia.
Conforme o dia vai seguindo, começo a me sentir mais à vontade e a
interagir com seus amigos – até mesmo com os que ficam secando seu corpo
com olhos famintos – até que me dou conta de que tudo dará certo. Nada está
fora do lugar.
Percebo que minha apreensão de me juntar com os garotos era derivada
apenas do medo de não me ajustar. De perceber o quão diferente o meu
mundo e o de Marina são.
Felizmente, tudo tem corrido bem.
Tirando uns engraçadinhos que me chamam de tio, as reações são
polarizadas entre respeito e admiração por parte dos rapazes e de suspiros e
cobiça por partes das meninas. Quem não gostou muito dessa parte foi a
minha mulher ciumenta, que não perdeu uma chance de mostrar que sou dela
e que o homão da porra – expressão entranha que elas me atribuíram e da
qual eu nunca tinha ouvido falar – está fora da pista.
— Amor, vou subir para trabalhar um pouco, tudo bem? – falo no seu
ouvido, assim que o dia começa a virar noite. — Quando eles forem embora,
me avisa que eu paro pra te dar a atenção que você merece — discretamente,
passo a língua por seu lábio inferior.
— Não vejo a hora de expulsar esse povo daqui de uma vez – confessa,
ao levantar da espreguiçadeira e sair do meio das minhas pernas, lugar em
que discretamente estava sentada e onde nós dois aproveitamos o clima
descontraído dos seus amigos para namorar. Não o tipo de namoro
apropriado para um lugar cheio de gente, e sim do tipo que meu pau estava
duro contra sua bunda e onde nossas bocas não se abstiveram de dar beijos
nada inocentes, daqueles em que nossas línguas fazem o que a parte de baixo
do corpo não pode fazer no momento.
— Eu também não – levanto-me em seguida, rezando para que o short
seja capaz de esconder o meu estado – parando com o corpo colocado junto
ao de Marina, que não veste nada além de um biquíni indecentemente
pequeno. — Te aguardo, meu amor – dou um beijo casto, porém repleto de
promessas, ao mesmo tempo em que aperto as bochechas da sua deliciosa
bunda, que eu ainda não tive o prazer de conquistar.
Depois de uma revigorante ducha fria, entro na minha sala, sento à
mesa; ligo meu notebook e enfim começo a trabalhar.
Não é como se eu fosse um viciado que não pode ficar sem trabalho
mesmo aos fins de semana, o único ponto aqui é que o dia hoje foi agitado
demais para uma alma mansa como a minha. O trabalho talvez me faça sentir
mais como eu mesmo e menos como um garoto apaixonado pela primeira
namoradinha e que só quer ficar grudado e demarcando seu território. Foi
isso que eu fiz na frente dos seus colegas? Foi exatamente o que fiz.
Estou tão concentrado no processo em que ando trabalhando, que nem
me dou conta do momento em que o barulho de música e som de vozes
diminuem. Mais um pouco e terei minha linda entrando por essa porta, alegre
e cheia das más intenções. Ou seria boas?
Por alguns segundos, paro o que estou fazendo quando percebo que o
trinco da porta está sendo girado. Imaginando quem seja, volto ao que estava
fazendo e, satisfeito, digo:
— Até que enfim, pequena – falo, sem levantar os olhos, finalizando a
petição que estava redigindo. — Finalmente veio dar atenção para o seu
pobre e abandonado namorado – brinco.
Silenciosa, minha pequena entra e fecha a porta atrás de si.
— Olá, Erick Estevan, sentiu a minha falta? – ouço as palavras e essa
voz com certeza não é da Marina.
Na minha frente, está uma mulher de cabelos pretos e longos, vestida
com um sobretudo preto, e no rosto tem um grande par óculos escuros que
esconde seus olhos e parte do seu rosto.
— Quem é você e o que fez com a minha namorada?
Marina é a única pessoa que me vem à cabeça, na hora em que uma
sensação estranha toma conta do meu corpo.
Chantagem
Erick
Atento e observando tudo à minha volta, torço para que tudo saia como
o esperado. Hoje, no último dia do prazo estabelecido pela louca, faço
exatamente o que ela exigiu.
Em frente ao escritório, onde o fim do dia deixa a rua ainda mais
movimentada de pessoas que apressadamente se dirigem para as suas casas,
fico me perguntando onde Patrícia está escondida. Doente do jeito que é, ela
certamente não iria deixar de ver com os próprios olhos a cena que eu fiz
questão que fosse aqui, em frente ao meu local de trabalho, onde curiosos
verão e ajudarão a espalhar a notícia.
Isso sim será um prato cheio para a mídia e línguas maliciosas. Não
ficarão dúvidas da veracidade dos nossos atos.
Alguns minutos depois, uma Marina arrasada e com uma expressão
assassina, vem como um furacão em minha direção. No ato, pessoas que até
então andavam apressadas e descontraídas, param para observar com
curiosidade a iminente briga de um casal. Para eles, não um casal qualquer, e
sim Marina e Erick, o casal que de repente passou a ser interessante para a
mídia.
— Erick, me escuta – ela segura as lapelas do meu terno, como quem
tenta me impedir de lhe virar as costas.
— O que você está fazendo aqui, Marina? – seguro suas mãos,
afastando-as para longe do meu corpo. — Eu não te pedi para esperar em
casa?
— Não pude esperar, você precisa me ouvir, querido – diz, tentando
me provocar com esse tratamento.
— Aqui não. Vá para casa, por favor – peço, dando sinal para que o
show comece.
— Não vou, me ouve, Erick – lágrimas começam a escorrer dos seus
olhos e ela volta a colocar as mãos em cima do meu peito. A ideia aqui é que
eu saia como o vilão de toda a cena.
— Tá vendo? Foi esse tipo de comportamento que me abriu os olhos
para o erro que estava cometendo em me envolver com uma garota como
você – mantenho o tom de voz alto o suficiente para que os curiosos e
Patrícia – que está em algum lugar por aqui – escutem.
— Uma garota como eu? O que quer dizer com isso? – ela parece estar
descontrolada e eu tenho que me esforçar para não cair na risada.
— Não me faça dizer o que eu não quero aqui meio da calçada,
Marina. Em casa nós conversaremos melhor – finjo virar-lhe as costas, só que
ela me impede ao segurar meu braço.
— Não, agora você vai falar – é insistentemente irritante. — Que tipo
de garota eu sou, Erick Estevan? – indaga, fazendo aspas com os dedos
quando diz a palavra “garota”. — Anda, que tipo de garota eu sou?
— O tipo irritante e infantil, que não tem maturidade nem pra entender
um pedido simples quanto esse – solto meu braço do seu agarre e continuo de
maneira dura. – É por isso que não temos mais como continuar.
— Você não pode estar fazendo isso comigo – começa a chorar. —
Não faz isso com a gente, meu amor.
— Acabou, Marina. Queria que fosse de outra forma – ela tenta se
aproximar e eu dou dois passos para trás, como se não quisesse o seu toque.
— Só que você não me deu alternativa.
— Você só queria me usar, cara, agora que se cansou está me
descartando como um pedaço de lixo – dramatiza ainda mais a situação.
— Você sabe que não é isso, respeito muito a memória do seu pai. Eu
só não te amo mais – dou o golpe final, ao mesmo tempo em que avisto
Patrícia se esgueirando por trás de uma coluna que fica do outro lado da rua.
Aparentemente satisfeita, ela observa tudo com atenção e sem notar
que eu lhe vi ali. Eu poderia muito bem ter feito isso de outra forma, só não
fiz porque quanto maior a nossa cena, maior será o seu convencimento de que
o término é real.
Não sei se sua mente doente cogita a ideia de que eu realmente não
quero mais Marina, ou a de que estou falando isso da boca para fora, apenas
porque fui obrigado. O que importa é que ela realmente acredite no que vê,
que estou fazendo exatamente o que me chantageou a fazer.
Fazendo isso aqui, em frente ao escritório e onde não só meus colegas
de trabalho, como qualquer outra pessoa possa nos ver, lhe deixará segura de
que não estou tramando nada por trás.
— Já amou algum dia? – seus olhos estão tão magoados, que meu
coração aperta dentro do peito.
Mais tarde preciso compensar minha linda por fazê-la ouvir esse tanto
de bobagem.
— Provavelmente não – digo, friamente. — Desculpa se te fiz pensar
de outra forma. Adeus, Marina – viro as costas, deixando-a sozinha e
chorando.
Os curiosos que desde o início acompanham todo esse circo, agora lhe
fitam, com pena.
Ao entrar no meu carro, vejo Patrícia sorrir satisfeita com o que viu e
virar as costas, indo – pelo que presumo – para o seu próprio carro. De
imediato, mando uma mensagem para minha gata, que ainda está parada no
mesmo lugar, recebendo palavras de carinho de algumas senhoras que
presenciaram o suposto término do seu relacionamento.
Ao longe, vejo-a abrir a bolsa, pegar o celular e abrir seu lindo sorriso
ao ler meu curto, porém sincero texto, que diz:
Parabéns, minha gata, você foi perfeita em tudo. Agora, limpe essas
lágrimas de crocodilo que nós só temos motivos para comemorar.
— Finalmente, Erick – ela pula nos meus braços assim que abro a porta
usando a chave reserva. A outra eu lhe devolvi.
Quando pensamos em uma saída para o nosso impasse, decidimos que
para que o rompimento ficasse mais verossímil, seria melhor se eu deixasse a
mansão e voltasse para o meu apartamento, e foi exatamente isso que
fizemos.
— Eu não via a hora de chegar, minha linda – beijo seu pescoço
cheiroso e lhe carrego nos braços para o meu quarto, que agora eu chamo de
nosso.
Chegando lá, sento na ponta da cama, com ela sobre as minhas pernas e
digo, cheio de empolgação:
— E o Oscar de melhor atriz vai para...
— Marina! – ela bate palmas, exultante de alegria. — E das lágrimas,
gostou?
— Você foi perfeita, minha gata – elogio. — Tenho certeza que agora
ela deve estar se regozijando com a vitória.
— Será que Patrícia de alguma forma vai tentar se aproximar de você?
– indaga, preocupada.
— Se aproximar em que sentido? – ela não pode estar com ciúme da
louca.
— Dessa mesmo que passa pela sua cabeça – quando fala, toda rígida,
eu tento e não consigo segurar o riso.
— Amo quando sente ciúmes, minha menina possessiva – aperto sua
cintura, deixando-a melhor acomodada contra o meu sexo. — Tenho vontade
sabe de quê?
— De se comportar?
— Não. De te comer todinha, até que não consiga se mexer ou até que
entenda que só tenho olhos para você, minha gata – passo as mãos por baixo
da sua blusa. — Meu pau e meu coração pulsam por você – agora é sua vez
de rir.
— Mas, falando sério, toma cuidado com ela. Se na mente perturbada
já achou que poderia te conquistar, nada a impede de fazer alguma coisa para
te ter. Ainda mais agora que pensa ter eliminado uma concorrente.
— Pode deixar, princesa. Eu também não acredito que Patrícia esteja
fazendo isso apenas por vingança. Ela tem outros interesses além desse.
— É claro que tem, amor. Será que não percebe? Ela está de olho em
você – acusa, com convicção. — Acha mesmo que ela irá se contentar em
perder a mordomia que teve ao lado de papai durante todos esses anos?
Patrícia quer você e não vai medir esforços até conseguir isso – seus ombros
caem pelo desânimo.
— É por isso mesmo que devemos ser cautelosos a partir de agora.
Tenho medo de pensar no que ela pode fazer com você – confesso, ao tirar as
mãos de dentro da sua blusa e abraçá-la apertado. — Eu não sei o que seria
de mim se te perdesse, pequena.
Revelo o medo que me consome lentamente. Resolver essa situação e
garantir que estejamos bem e mais unidos do que nunca, em nada serviu para
abrandar o meu temor, pelo contrário, ele a cada dia cresce mais. Agora, além
dos pesadelos, tem o medo de sermos descobertos e das consequências que
isso pode causar.
— Vai dar tudo certo, Erick – Marina assevera, ao beijar minha boca
com carinho. — Quando ela descobrir tudo, nós já estaremos um passo à
frente. Eu confio em você.
— Chega de falar em coisas ruins – pego a barra da sua blusa e ela
levanta os braços para que eu possa tirá-la. — Que tal comemorarmos? Não
esqueça que agora nosso tempo é contado.
A pior parte disso tudo é não poder dormir a acordar do lado da minha
mulher. Ter que nos encontrar às escondidas.
— Nem me lembre disso – começa a desabotoar os botões minha
camisa, já que o terno eu deixei dentro do carro. — Nem sei como vou
dormir sem você – faz um biquinho, que eu logo desfaço com uma mordida
leve.
— Não se preocupe com isso, todas as noites eu vou te ligar e garantir
que tenha uma noite bem relaxada – pisco com malícia e ela entende o tipo de
conversa que teremos.
— Eita! – se anima. — E agora, o que pretende fazer, meu homem?
— Isso – sem aviso, levanto com ela nos meus braços, lhe jogo em
cima da cama, para em seguida cair por cima do seu corpo. — Se prepara
para a nossa foda de comemoração, porque ela está prestes a começar, minha
garota fogosa.
Por telefone
Marina
— Não acredito que teve coragem de fazer isso, Marina – uma Ângela
abismada, em seu biquíni azul que combina com os seus olhos e seus cabelos
negros, me questiona.
— Fiz – afirmo, sem jeito.
Depois de esconder por vários dias, não consegui levar adiante a
mentira, não para Ângela, que me conhece mais do que qualquer um –
tirando o Erick – e já estava começando a desconfiar desse término.
Se Erick me deu o Oscar pela atuação na cena do término do nosso
namoro, pela atuação com minha amiga certamente me entregaria o troféu
framboesa.
Depois de ter me visto tão triste pelas atitudes do meu namorado e de
posteriormente ter recebido de mim a notícia de que Erick tinha acabado a
nossa relação e saído de casa, Ângela se sentiu na obrigação de me consolar e
passou a me visitar todos os dias.
Nas ocasiões, eu não sabia se ficava feliz pela sua lealdade ou se
irritada por ter que mentir todos os dias para ela, que não merece isso de
mim.
Depois dos primeiros dias em que eu realmente estava mais sentida por
não ter Erick tão perto, passei a ficar cada dia mais à vontade e Ângela cada
vez mais desconfiada das minhas reações. Não que ela tenha me perguntado
isso diretamente, era mais como um olhar mais avaliativo. Ângela ficava me
encarando com olhos de rapina e eu como uma mosca atraída pela luz, ficava
doida para abrir toda a verdade.
Como deixar minha maior confidente de fora desse capítulo da minha
história?
O fato de ter conseguido esconder por duas semanas não foi o
suficiente para assegurar que o segredo continuaria.
Não depois da noite que tivemos na quinta e de ontem pela manhã.
Como explicar as marcas de chupadas em várias partes das minhas
costas, as bochechas da minha bunda marcadas dos seus dedos, que me
segurou com possessividade e, para piorar, o fato de eu estranhamente estar
andando com as pernas meio abertas?
Dessa vez, ela não só perguntou de maneira direta o que já
desconfiava, como também me deu bronca por ter mentido por tantos dias. A
sua chateação só diminuiu quando eu revelei que fizemos isso apenas para
não envolvê-la ou colocá-la em perigo.
— Meu Deus! Nunca pensei – vejo que tenta procurar palavras. — E
foi bom?
— Muito bom, tanto que não vejo a hora de fazer de novo – confesso,
relembrando tanto a delícia quanto a intensidade do ato.
— Esse seu namorado te transformou numa safada, Marina – diz, com
os olhos fechados e a cabeça erguida para o sol.
Como é sábado e o dia amanheceu quente, convidei Ângela para
tomarmos sol e dar uns mergulhos na piscina. Só não lembrei que pelo meu
corpo ainda teriam as marcas da noite agitada que Erick nos proporcionou.
— Juro que não consigo imaginar uma coisa dessas. Um pau cutucando
um buraco tão pequeno e fechado – fala, sem rodeios e com sua boca suja de
sempre. — Mas, confesso que tenho certa curiosidade – confidencia,
ignorando o fato de eu estar sem jeito pelo assunto.
— E o Diego? Nunca mais falou dele – mudo de assunto do jeito que
posso.
— Nem me fale o nome daquele idiota – pede, e de repente seu humor
muda.
O idiota a quem ela se refere é um playboy, filho de amigos esnobes
dos seus pais. Com vinte e três anos, o cara que eu vi poucas vezes teve um
breve relacionamento com minha amiga. Foi com ele que Ângela perdeu a
sua virgindade e a capacidade de acreditar no romantismo.
Pressionada por pai e mãe ambiciosos, que não sei até que ponto
controlam as suas vontades, Ângela se relacionou por alguns meses com
Diego, até que felizmente se livrou dele e em circunstâncias que ela não me
fala qual foi.
Só sei que, de tanto tentar, ela conseguiu se livrar do namoro insosso e
hoje é mais cínica do que uma pessoa da nossa idade deveria ser.
— Acabou mesmo? – tento tirar alguma coisa da pessoa que, quando
quer, se fecha como uma ostra.
— Acabou e dessa vez em definitivo – deve ser mesmo, porque tem
meses que não ouço falar o nome dele. — Graças a Deus – levanta a mão
para o céu.
— Por que namorava ele? – sei que tem o dedo dos pais dela nisso,
mas desconfio que tem algo a mais e que Ângela não quer me falar.
— Prefiro não falar disso, até porque não tem mais importância – pega
o protetor e começa e lambuzar a pele branca novamente.
— Tudo bem – ajeito meus óculos de sol que estavam escorregando
pelo nariz.
— Amiga, quem é que vem ali? – nós ficamos de olho quando de longe
o portão automático da garagem começa a subir. — Quando eu cheguei, o
Jorge estava aqui. Tá esperando alguém?
— Não estou. Que estranho – utilizando o carro que tem os vidros
escuros, não consigo ver quem é a pessoa que Jorge carrega dentro do
automóvel. Se é que tem alguém lá dentro, talvez ele tenha apenas levado o
carro para fazer manutenção.
Quando as portas do motorista e carona se abrem, meu sorriso cresce
por ver quem é a minha visita.
— Erick – sorrio de canto a canto.
— Que gato, meu Deus – Ângela exclama, mas eu estou tão
concentrada no fato de tê-lo aqui, que nem presto atenção às suas palavras.
— Muito gostoso – minha boca fica seca por vê-lo vestido de maneira
casual.
— Eu quero esse homem – Ângela enfatiza, e de olhos arregalados,
olho para ela, que tem o rosto vidrado em meu namorado.
— Ângela? – chamo sua atenção e sou solenemente ignorada.
Devo ter um enorme ponto de interrogação na minha testa ou ela disse
que quer o meu namorado?
Será que foi o sol?
— Não importa o que eu tenha que fazer, quem eu tenha que tirar do
meu caminho, vou ter ele na minha cama ou eu não me chamo Ângela
Albuquerque – finalmente me olha, e de mim seu olhar retorna para a
garagem.
Fazendo o mesmo que minha amiga, olho na mesma direção é só então
percebo que Erick não está sozinho. Do seu lado, caminha um alto e sério
Bruno, vestindo um jeans escuro e camisa gola polo vermelha. Na sua mão,
tem o que suponho ser um bastão de ferro que ele não ousa abrir, ao contrário
disso, Bruno caminha compassadamente ao lado do meu namorado, que de
modo tranquilo acompanha os seus passos.
— Ei, amor – levanto da espreguiçadeira e dou um selinho, assim que
chegam do nosso lado. — Não estava te esperando.
— Eu percebi isso – responde, quando seus olhos varrem meu corpo de
cima a baixo, se demorando na parte de baixo do meu biquíni vermelho,
estilo fio dental. — Dormiu bem? – abaixa a cabeça e cheira o meu pescoço.
— Poderia ter dormido melhor – digo, com malícia, até que um pigarro
chama a nossa atenção.
— Não sei se o casal apaixonado percebeu, mas tem mais pessoas aqui
– Bruno, com seus óculos escuros estilo aviador, assevera com a voz grossa.
— Então você notou a minha presença? – com a voz sarcástica, Ângela
também se levanta e chega bem perto de um Bruno que segue sério.
— Essa voz...
— O que tem a minha voz, não gostou? – se insinua Ângela, que nem
de longe lembra a que eu conheço. Ousada, a safada encosta nele e como
quem tenta testar as reações, toca de leve no braço do cara.
Olho para os dois lado a lado, e de longe sinto o cheiro de desastre.
Isso simplesmente não tem como dar certo, de todos os homens no
mundo, Bruno seria o último em uma lista de preferência a ser recomendo
para Ângela. Seria como ver trens desgovernados se chocando em um terrível
acidente. Onde somente restariam escombros para contar a história.
— Não tinha como não notar – não entendo sua afirmação e acho que
ela também não. Em seguida, meus olhos veem ela afastar tanto a mão quanto
o corpo de perto dele.
— O que quis dizer com isso? – indaga, sem jeito, de uma forma que
ela raramente fica. Atrás de mim, Erick fica em silêncio, com os braços em
volta da minha cintura e apenas observando tudo.
— Não importa, garota – responde, grosseiro.
— Devia pelo menos ser educado e falar isso olhando nos meus olhos.
Puta que pariu! Ângela não devia ter dito isso. Na hora em que ele
ouve suas palavras, o rosto que já estava sério, fica mais sério ainda.
De modo brusco, ele se agiganta em cima dela, encosta os seus corpos
de maneira firme e, um tanto grosseiro, avisa:
— Fica longe de mim, menina. Para o seu bem e para o meu, apenas se
mantenha distante – vira-lhe as costas e sai em direção à casa, andando com
seus costumeiros passos curtos. — Você vem, Erick? Não tenho o dia todo.
— Vou lá para o escritório, amor – beija os meus lábios, sem se
importar com a presença de uma mortificada Ângela. — Vamos discutir a
melhor maneira de resolver aquele assunto – diz, e parece não se importar
com o fato da minha amiga já estar sabendo de tudo.
Esse fato me deixa esperançosa que tudo está chegando ao fim, se não
estivesse, ele teria ficado incomodado por eu ter metido mais uma pessoa no
assunto.
— Tudo bem – mando beijo e ele apressa os passos para alcançar o
amigo.
— Porra! O que foi que aconteceu aqui? – dramática, ela se joga na
espreguiçadeira e continua. — Esse homem é lindo e tenho a sensação de já
tê-lo visto antes.
— Ângela...
— Pena não ter visto os olhos, qual será a cor deles? – eu sento de
frente para ela e fico sem saber o que dizer. O melhor seria não alimentar as
suas loucuras.
— Escuta o que ele disse, fica longe – suplico pelo olhar. — Vai ser
melhor pra vocês.
— Ele tem namorada? – lembro-me de Lua, que não é mais, mas tem
esperança de voltar a ser.
— Tem, é a minha chefe, Lua – minto, e me sinto culpada por estar
fazendo isso, mas, depois ter visto o estado em que Lua ficou depois do fora e
de saber da história do Bruno através do Erick, não acho que minha amiga
precise dele em sua vida. E também não acho que ele queira isso.
Ângela merece ser feliz, assim como eu estou sendo e Bruno não será o
cara a fazer isso por ela.
— Que pena – diz, e no seu rosto não tem nada que acuse a sua real
desistência. — Pra ela.
Quando eu penso que a paz está perto de chegar, Ângela vem com mais
essa.
Trunfo
Erick
— Bom dia – minha voz soa abafada, talvez por minha boca estar
contra os travesseiros. — Vejo que alguém acordou animado – digo, ao sentir
seu corpo quente pairar sobre o meu e quando sua boca começa a descer
beijos desde o meu pescoço e ir deslizando pelas costas. No processo, Erick
vai abaixando pouco a pouco o pano fino que cobre a minha nudez.
— Do seu lado eu sempre acordo animado e você sabe disso, minha
garota safada – afirma, ao dar uma mordida bem perto de onde ficam as
minhas costelas, depois, ele continua descendo o pano, até que consiga
desnudar a minha bunda. Ao fazer isso, Erick fica em silêncio, apenas me
observando com atenção.
— Algum problema, querido? – indago, preocupada.
— Amor, não acha que tá na hora de nós pegarmos um pouco mais
leve? – seu dedo alisa alguns pontos da minha pele, e pelo que parece, seus
olhos só agora repararam nas costas que acabou de beijar.
— Onde você está querendo chegar com essa conversa, Erick? – viro
meu rosto para trás, na intenção de enxergar melhor o seu rosto, pois o corpo
morto de preguiça e ainda lânguido pelas atividades da noite anterior,
permanece deitado de bruços.
— Se você estivesse vendo o que eu vejo, iria entender, querida. Suas
costas e bunda... – ele começa e já sei o fim da frase.
— Não vem com esse papo de novo – repreendo. — E daí que no meu
corpo tem algumas marcas? Suas costas também têm marcas das minhas
unhas, mas e daí? Isso é o que nós somos, meu amor, e você não pode refrear.
— É que... – fica por um momento apreensivo. — Eu fico doente só de
pensar que de alguma forma possa estar te machucando. Sei que você sente
prazer, quer dizer, que nós dois sentimos prazer com o tipo de sexo que
estamos fazendo, mas...
Quando ele vai começar a dissertar os seus temores, viro com a barriga
para cima, oportunidade em que seus olhos vão direto para as duas marcas
que sua boca deixou nela, e já não tenho certeza se deveria ter feito isso.
Como não quero dar tempo para que pense demais, coloco a mão na sua boca
e digo:
— Não tem um "mas", Erick, já disse que não sou uma boneca, que a
qualquer momento vai se quebrar. Elas parecem piores do que são, mas é por
que sou branca demais e esse é o único problema aqui.
— Tem ideia do que as pessoas pensarão ao verem isso aqui? –
pensativo, alisa as marcas na minha barriga.
— Ninguém vai ver, assim como não vão ver os arranhões nas suas
costas – digo, ao acariciar a sua barba por fazer, que ele aprendeu a deixar,
depois de eu ter confessado gostar dela assim. — E se ver, vou falar que meu
namorado faz o sexo mais delicioso do mundo, que as mesmas marcas que eu
tenho, ele também carrega na pele.
— Você tem mesmo dezoito anos? – paira o corpo sobre o meu e sua
boca beija o meu pescoço. — É muito madura sabia?
— São dezoito anos, mas a mentalidade tenta acompanhar a seriedade
do meu homem.
— Não fala assim – pede, e a mão fica despreocupadamente em cima
do meu peito.
— O que foi que eu falei? – indago, sem entender onde foi que me
perdi.
— Meu homem – responde, e já sei que a neura passou e o modo
safado foi ativado. — Quando diz isso, fico com vontade de te comer
todinha. Minha mulher!
— E eu fico com vontade de me dar para você, quando me chama de
sua mulher.
— Você quer, ou acha que ainda é muito cedo para isso? – pergunta, e
percebo certa insegurança na sua voz.
Eu já não sou a mulher dele? Pelo menos foi isso que acabou de
afirmar.
— Isso o quê? Você está bem? – pergunto. — Desde a hora em que
abriu esses lindos olhos azuis está agindo e falando coisas estranhas.
Ele não responde, mas vira o corpo para a beira da cama, estende o
braço, abre a primeira gaveta do criado mudo branco e de lá tira alguma coisa
que eu não tenho ideia do que seja.
— Tô bem, só um pouco nervoso – revela, deixando claro que tem algo
importante para dizer.
Nesse momento, meu coração dispara e eu não sei se estou preparada.
Depois da turbulência pela qual a nossa relação passou, ando meio cabreira
sempre que ele tem alguma coisa séria para dizer.
— Posso só ir ao banheiro antes? – peço.
Além de a minha bexiga estar cheia, não quero ter outra conversa –
além da que os nossos corpos costumam ter na maioria das manhãs – com os
olhos cheios de remela e com mau hálito matinal.
— Claro, querida – afirma, ao dar um selinho na minha boca e ainda
com o objeto na mão esquerda, levantar-se e dizer: — Também preciso usar o
banheiro. E também quero que tenha privacidade – afirma, e veste sua calça
jeans que estava jogada no chão, já que a cueca provavelmente ficou pelo
meio do caminho até aqui.
— Tá bom – digo, e ele dá uma piscadela antes de tentar passar pela
porta fechada.
— Meu amor? Tudo bem? – chego do seu lado, me esforçando para
segurar o riso e checando a sua testa, que acabou de dar um beijo na porta.
— Sim – diz, todo sem jeito e desconcertado, uma característica que
ele nunca demonstrou ter, porque de fato não tem. — Até mais, linda. Nos
encontramos aqui?
— Sim – confirmo. – Vai poder passar o dia aqui comigo?
Hoje é domingo e tudo que eu quero é passá-lo ao lado do meu
namorado. Sem preocupação e nada para fazer. Apenas curtindo a preguiça e
namorando.
Não sei nem descrever o susto e a alegria sentida quando, lá pelas 03h
da manhã, Erick se deitou do seu lado da cama. Segundo ele, esse é o melhor
horário de aparecer por aqui, já que é a hora de menor movimentação e
consequentemente levanta menos suspeita.
Sei que ele tem muito medo do que possa acontecer caso a víbora nos
descubra e talvez por isso não o pressiono – tanto – quando quero que ele
passe a noite em casa, coisa que acontece todos os dias.
— É claro, amor, mas nós vamos ter que ficar trancados aqui e só
poderei sair de madrugada, assim como cheguei hoje.
— Amei esse castigo – digo, ele abre um sorriso, me dá outro beijinho
e sai do quarto.
Com pressa, entro no banheiro e faço o que tenho que fazer.
— Meu Deus! Você está pavorosa, Marina – digo a mim mesma, em
frente ao espelho.
Erick
— Como você é burro, Erick – repreendo a mim mesmo na frente do
espelho, depois de ter feito minha higiene básica matinal. — Passando
vergonha na frente da sua garota – digo em voz alta, ao pegar o objeto
brilhante de dentro do bolso traseiro das calças.
Depois da conversa em que o Bruno abriu os meus olhos para a
situação em que Marina e eu já vivemos, não me aguentei, e horas depois,
estava na mesma loja em que comprei o anel de compromisso, comprando
outro anel, só que dessa vez, um anel de noivado.
Com o brilhante bem na frente das minhas vistas, fico me perguntando
se vou fazer a coisa certa. Se não estarei sendo precipitado demais.
Bem, a resposta eu só vou saber se for lá e perguntar a ela.
Bruno tem razão em tudo que disse. Marina e eu vivemos como marido
e mulher desde o início do namoro.
A fase em que cada um mora para um lado, dormindo juntos por
algumas vezes, só veio agora e foi somente porque fomos induzidos a isso. Se
não fosse por Patrícia nos ameaçando, eu e ela não teríamos tido e sensação
de um namoro convencional.
Meu amigo também teve razão quando me alertou que o medo de fazer
a proposta é ilegítimo. Minha garota, apesar da idade, tem plenas condições
de entender exatamente o que um noivado e um casamento implicam. E
também, não é como se fôssemos casar amanhã mesmo. Na minha cabeça, o
noivado é apenas o primeiro passo de uma caminhada rumo ao destino final,
resumido em tê-la oficialmente minha.
A aliança no seu dedo é como tornar ainda mais definitivo o nosso
relacionamento, é deixar que todos saibam que ela tem dono, assim como eu
também tenho, sim, pois, da mesma forma que fiz com o anel de
compromisso, estou disposto a usar a minha aliança. Não tenho a intenção
nenhuma de tentar passar a ideia de que estou livre, quando a realidade não
poderia ser mais diferente.
— Vamos lá, cara – digo em voz alta, tendo decidido que o tempo de
ser cagão acabou. — Ela já deve estar preocupada com a demora.
Depois de me convencer que estou tomando a decisão certa, saio do
quarto e rezo para que Marina me dê a resposta que eu espero obter.
Ao entrar novamente dentro do nosso quarto, encontro Marina sentada
no sofá de dois assentos, que fica na lateral direita do quarto e com seu
vestidinho florido e de alças, ela abaixa o celular que até então encarava com
total concentração e me fita, esperando eu falar alguma coisa.
— Atrapalho? – aponto para o celular.
— Não, só estava lendo meu livro enquanto você não vinha – afirma,
me fazendo lembrar do quanto ela gosta de ler. Os romances são sua paixão e
minha garota é adepta aos livros digitais, pois, segundo seu entendimento,
são práticos e mais leves.
— Marina... – me ajoelho na sua frente, apoiando as mãos em cima do
seu colo. — Eu não sei como fazer isso sem parecer um completo idiota –
estou tão nervoso que minha voz sai enguiçada.
— Estou ficando preocupada, amor. Você está tremendo? –
preocupada, meu anjo passa a mão pelo meu rosto.
Estou, sim!
— Se a situação fosse outra, faria tudo do jeito que você merece –
começo a me justificar. — É só que... Não posso mais esperar e não posso
fazer do jeito grandioso que gostaria e que você merece – confesso a verdade.
Eu sei que poderia esperar e aguentar mais uns dias até fazer isso da
maneira que ela merece. Mas, a empolgação de saber que estamos prestes a
ter a nossa liberdade de volta foi tanta, que não aguentei, quando dei por mim
já estava na joalheria, assim como estou aqui, de joelhos e sem saber ao certo
o que dizer.
— Erick, você não vai... – começa e se emocionar e coloca a mão na
boca para disfarçar o fato.
É, meu amor, é exatamente isso que passa pela sua cabeça.
— Vou, sim – abaixo a sua mão esquerda e abro a direita, que até então
estava fechada em cima do seu colo. — Eu amo você mais que tudo nessa
vida, por isso queria saber... — Sim! — ... casa comigo?
Falamos ao mesmo tempo, e com os olhos marejados, Marina olha para
o anel que ostenta uma brilhante pedra de diamante, pedra essa que tem
dentro dela o formato de dois corações entrelaçados, assim como eu quero
que seja a nossa vida daqui em diante.
Noivos
Marina
Erick
O tom sombrio da sua voz gela meus ossos e eu passo a observar com
atenção todos os seus movimentos. Pelo meu canto de visão, reparo poucas
pessoas transitando tranquilamente, ao se dirigirem para suas casas, e mais à
frente, Jorge se encontra dentro do carro de vidros escuros. Esperto como é,
eu espero que ele perceba a movimentação estranha a nossa volta e que não
faça nada ou que tenha o bom senso de agir apenas se necessário.
— Aqui não, Patrícia. Vá embora, por favor, amanhã eu te procuro.
Nós precisamos conversar – tento falar com tranquilidade, ao passo que do
meu lado, Marina permanece quieta, com sua mão agora unida à minha.
— Não vou, o tempo de me fazer de idiota acabou, Erick Estevan –
afirma. — Não sei o que disse para essa idiota, mas isso não vai ficar assim,
você e todo aquele escritório serão meus – diz, ao começar a caminhar na
nossa direção. — E essa vadia mirim que vá para o inferno.
— Pare aí mesmo, Patrícia. Não chega perto dela – empurro o corpo da
minha pequena para trás do meu e prossigo: — Acabou pra você. Eu sei do
seu envolvimento no crime de apropriação indébita no caso dos Ferraz, então
é o seguinte: ou você se afasta de nós ou eu mesmo vou à imprensa e a
polícia para contar do seu pequeno deslize – ameaço, e seu rosto começa a se
contorcer em fúria. — Acho que você não gostaria de se ver envolvida num
escândalo desse tamanho, não é mesmo? – termino.
Essa conversa era para ter sido de outra forma, longe o suficiente para
que essa mulher não tivesse a oportunidade de colocar os olhos em cima da
Marina.
— Isso não vai ficar assim, não vai. Nada está saindo como eu planejei,
querido. Eu ia me livrar dela e nós dois seríamos felizes, mas você teve que
estragar tudo. Se deixou sujar pela mediocridade dessa menina e agora está
aí, me ameaçando – desnorteada, ela começa a dar passos para trás, ficando
cada vez mais distante de nós – quando viro de costas para checar se minha
noiva está bem, ainda sou capaz de ouvi-la repetir por incontáveis vezes:
Não vai.
Marina
— Com calma, amor – digo, quando sete dias depois de sair do coma,
Marina finalmente recebe alta e agora eu a tenho em meus braços, lhe
levando para o nosso quarto.
— Não seja exagerado – diz, irritada. Talvez o meu excesso de cuidado
esteja fazendo isso com o seu humor. — Não é como se eu fosse me
desintegrar apenas por mexer meus dedos dos pés – afirma, não perdendo o
tom de ironia nem mesmo numa situação como essa.
Se fosse diferente, não seria a Marina que eu conheço e amo.
— Me deixa cuidar de você, por favor – peço, e ela olha nos meus
olhos, entendendo que é uma coisa que eu preciso fazer.
De alguma forma, tenho que lhe compensar por tudo o que fez por
mim, preciso tirar pelo menos um pouco do peso que me abate os ombros.
Não uma carga de culpa que ela ou alguém esteja colocando, longe disso, é
um peso que eu mesmo me imponho.
— Erick, você tem que entender que nada do que aconteceu foi culpa
sua – inicia a mesma conversa que tem tido comigo desde o dia em que abriu
os olhos. — Eu fiz o que fiz e não me arrependo de nada. Não poderia
simplesmente ver uma bala vindo em sua direção e não fazer nada. Aquilo foi
o instinto do momento e eu tenho certeza de que você faria o mesmo que eu,
se estivesse na mesma situação.
— Não há nada que eu não faria por você – afirmo, colocando-a
sentada com o corpo apoiado na cabeceira estofada da cama de casal.
— Então esse assunto está encerrado. De uma vez por todas – assevera.
— E a Patrícia?
— Está presa, o Bruno está cuidando do caso e me garantiu que vai
fazer de tudo para que ela passe uns bons anos vendo o sol nascer quadrado –
aviso.
Durante essa última semana em que Marina permaneceu no hospital,
pois, segundo ordens médicas, teria que ficar em observação, eu finalmente
pude acertar as minhas contas com a ordinária que teve a infeliz ideia de
atravessar o meu caminho.
Escondendo o fato de Marina, dois dias depois de ela ter finalmente
despertado do coma, eu fui ao presídio ver a cara da mulher que fez isso
conosco. Como o coração cheio de ódio, tinha a intensão de cuspir na cara
dela o tamanho do meu desprezo e falar sobre o meu desejo de vê-la
apodrecer dentro de uma cela.
Mas, quando me vi frente a frente com ela, percebi que não valia a
pena gastar saliva desejando nada de ruim em sua vida, simplesmente porque
ela mesma se encarregou disso. Na minha frente, totalmente despida da
vaidade exagerada que sempre teve, eu vi uma mulher completamente
descompensada, que não parava de repetir o quanto seria poderosa e feliz
quando eu e ela nos casássemos.
Nos poucos minutos em que me obriguei a permanecer na sua
presença, quase cheguei a sentir pena de uma mulher que tinha tudo para
seguir bem na vida, mas preferiu não só acabar com a sua vida, como
também a minha e da minha mulher. A compaixão que comecei a sentir se
esvaiu no exato momento em que Patrícia abriu a boca para desejar a morte
da rival – sim, é dessa forma que ela se refere a Marina.
Na hora, foi preciso que Bruno e os guardas que estavam do lado de
fora da sala a invadissem, antes que eu mesmo fosse preso por esganá-la. No
fim, saí com o aviso para que ela se esqueça da nossa existência, ou a prisão
será o menor dos seus castigos.
Desde então, não dediquei um pensamento sequer para a infeliz. O caso
eu deixei nas mãos de Bruno – o mais competente advogado criminalista do
país – que me garantiu que os crimes cometidos não ficarão impunes e que
ela passará muitos anos presa.
— Que alívio, não quero mais ouvir falar dessa mulher – afirma, e no
seu rosto não vejo o ódio que outra pessoa demonstraria, caso estivesse
vivendo a mesma situação. Diferente da maioria, minha linda é agradecida
demais para perder tempo com quem não merece um segundo dos seus
pensamentos.
— E não vai, querida – sento ao seu lado e digo: — Acabou. Somos só
eu e você e que ninguém se atreva a tentar nos separar novamente.
— Até porque não vai conseguir, não é mesmo? – Marina faz graça
com a situação, que é até engraçada, se formos parar para pensar que nem em
situações extremas, como foi a da chantagem, nós conseguimos ficar
separados.
— Nem se tentarem com muito afinco.
— Não quer chegar mais perto? – indaga, ao me encarar abertamente.
— Marina, nós já conversamos sobre isso – lembro, sabendo que
vamos iniciar mais uma vez o dilema dos últimos dias.
— Já mesmo, inclusive, eu acabei de te falar que não sou de vidro –
rebate, num misto de irritação e frustração.
Se ela soubesse o quanto eu também estou sofrendo.
Nos últimos três dias, eu posso dizer que a situação entre Marina e eu
está tensa. A frustração sexual já alcançou níveis insuportáveis e não sei o
que fazer para conter o seu e muito menos o meu desejo de fazer amor. Não
sei se foi pelo risco que corremos de nunca mais estarmos juntos ou se foi o
tédio de ficar dias a fio em um quarto de hospital, quando claramente ela já
estava bem o suficiente para receber alta, mas a verdade é que o tesão vem
nos consumindo em fogo brando, hora após hora.
Tirando os horários em que a chatinha, a Maya, o Bruno e os outros
colegas da Marina estavam no quarto de visitas, o restante do tempo em que
estivemos a sós foi uma verdadeira tortura.
Marina, depois de uma primeira investida em que foi repelida por mim
– que estava preocupado demais com o seu ferimento para arriscar uma
rapidinha em cima do colchão do hospital – não deu mais nenhum indício de
que queria transar. Pelo menos não abertamente, ela fez coisa muito pior ao
me tentar, até conseguir derrubar a minha convicção de só voltar a comê-la
depois que estivesse cem por cento recuperada.
Safada com só ela sabe ser, minha gostosinha passou a me torturar da
maneira mais cruel que existe. Quando não ficava me encarando com um
olhar esfomeado e cheio de luxúria, daqueles que pedem sem palavras para
que eu a pegue com força, do jeito que nos faça delirar de prazer, ela
arrumava um jeito de deixar partes bem particulares do seu corpo delicioso à
mostra. Quando isso acontecia, eu tinha que pedir licença e ir ao banheiro
fazer o serviço com as próprias mãos. Ou era isso ou ter um severo caso de
bolas azuis.
A pior situação aconteceu no nosso último dia no hospital, que
terminou com o constrangedor flagrante da enfermeira que entrou no quarto
sem aviso prévio e bem na hora em que Marina – depois de finalmente
conseguir me seduzir – estava com a língua dentro da minha boca e com a
mão dentro da minha calça, isso enquanto dividíamos a mesma cama, que
claramente não foi feita para duas pessoas deitarem. A pobre coitada ficou
tão vermelha que na mesma hora virou de costas e se dirigiu para a porta,
saindo sem dar uma única palavra.
— Não diga que eu não te avisei, sua safada – uma adrenalina começa
a fluir pelo meu corpo, me fazendo mandar para o inferno todo o lance do
cuidado. Marina obviamente está mais que sarada, para não ter medo do
perigo e estar me provocando dessa forma.
Mal sabe ela que está provocando uma fera adormecida e faminta. E
um homem que quase viu a sua razão de respirar lhe deixar de maneira tão
repentina não pode ser considerado como o mais paciente e nem o mais
controlado.
— Dê o seu melhor, meu garanhão, ou seria o seu pior? – provoca, se
esfregando contra o meu pau.
— Aí é você quem escolhe, minha gata – digo, e sem aviso, meto o pau
até o fim, fazendo-a ofegar pelo prazer de finalmente se ver cheia de mim.
— Satisfeita? Não era você quem queria meu pau nessa bocetinha
quente? Então toma, minha gostosa – faço um bate e volta gostoso, indo até o
fim para depois tirar lentamente e voltar a socar de uma vez só.
— Isso, mais rápido, mais forte. Caralho! – xinga, com dificuldade
quando, mudando de posição, fico de joelho sobre a cama e seguro as suas
pernas em volta da minha cintura. — Isso, amor – nessa posição, a
penetração é ainda mais profunda e eu estou me segurando para não gozar
antes dela.
— Ainda não, gata selvagem – recolho as suas mãos, que estavam
prestes a ir até as minhas costas e arranhá-las até que a sua marca fique
gravada nelas. — Só quando disser que pode – aviso, tão ou mais
ensandecido que ela, metendo com força, levando nossos corpos a se baterem
e os pés da cama a rangerem contra o chão. — Agora é a sua vez, vem –
seguro a sua cintura e a coloco em cima das minhas pernas. — Dê seu pior,
garota sacana.
Marina
Deus, eu vou casar e é com o Erick, o meu Erick. O amor de toda uma
vida.
Não deixo de me emocionar, quando dias depois de fazer a escolha do
cardápio que será servido na recepção, me vejo refletida no enorme espelho
do ateliê, refletindo o belíssimo vestido de noiva feito por Honória Braga, a
estilista das estrelas, e feito exclusivamente para mim.
— Como você está linda, minha amiga – uma Ângela emocionada e
com olhos brilhantes me fita. — Parece uma princesa. Tenho certeza que tio
Erick vai enfartar antes do sim.
— Mais algumas provas e ele estará pronto, minha querida. Você vai
ser a noiva mais bela que essa cidade vai ver esse ano – elogia a mulher de
meia-idade e talentosa com as suas agulhas e linhas.
Com a mente viajando para o tão esperado dia, que rapidamente se
aproxima, fico por um bom tempo me olhando e alisando o tecido do vestido
que molda meu corpo, até que algo chama a minha atenção.
Do lado de fora da porta de vidro, uma mulher de cabelos escuros e
aparentando seus quarenta anos me observa e tem os olhos cheios de
lágrimas. Do seu lado, tem dois menininhos de cabelos lisos e castanhos e
que parecem ignorar o estado em que a mãe se encontra, já que discutem de
maneira ferrenha por alguma bobeira qualquer, que só na mente das crianças
é uma coisa grande.
Incomodada com as crianças brigando e a mãe dura como uma pedra
me olhando e sem ao menos piscar os olhos, não penso antes de descer do
caixote que Honória me colocou, e sob os olhos especulativos da costureira e
minha amiga – que param de falar quando presenciam o meu movimento –
vou até a porta e confronto a senhora que tanto me encara, como se quisesse
me falar alguma coisa.
— Algum problema, senhora? – indago, e quando lhe encaro mais de
perto, penso que teria sido melhor se não tivesse vindo até aqui.
— Cristina? – é claro que é ela, apesar de mais velha, a mulher
continua a mesma das poucas fotos antigas que até alguns anos atrás
enfeitavam a sala da mansão, e mesmo sem elas eu seria capaz de reconhecer
a pessoa que tem vários traços parecidos com os meus.
— Minha filha? – com a mão trêmula, ela a sobe até a altura do meu
rosto, voltando a abaixá-la quando me esquivo.
— Não me chame de filha – peço, e assim como ela, eu tremo da
cabeça aos pés, tendo que me segurar na porta antes que as minhas pernas me
deixem na mão.
— Desculpa – pede com a voz embargada, mas o que me chama a
atenção é fato de os dois garotinhos terem parado de discutir e agora me
olharem com curiosidade. — Eu soube do que aconteceu, você está bem?
— Estou ótima, mas não graças à sua prima – acuso. — Eu posso saber
o que a senhora está fazendo aqui, depois de tantos anos de abandono? –
limpo uma lágrima solitária que insiste em cair.
— Nós precisamos conversar, minha filha – pede.
— Não temos nada para conversar, senhora. Teve tantos anos para
fazer isso, e agora, no momento mais importante da minha vida, você resolve
dar as caras? – desabafo, não conseguindo conter minhas palavras.
Mas como poderia, se não posso nem ao menos olhar para os rostos das
crianças que tiveram tudo o que eu nunca tive: o amor de uma mãe?
— Não faz isso, Marina. Eu sei que minhas ações não têm perdão. Eu
fui fraca por não lutar pra ficar com você e também ambiciosa, quando decidi
aceitar o dinheiro que o João me deu para sair do país...
— Aí, deixa eu adivinhar: em um mundo maravilhoso, onde não existia
uma criança para abandonar, você acabou encontrando um príncipe
encantado e até teve dois filhinhos – aponto para eles, e me dou conta do
quanto estou sendo cruel, eles são apenas crianças que não têm culpa dos
erros da mãe, assim como eu não tive culpa dos erros dos meus pais.
— Se pode me ouvir, será que pode me perdoar? – pede, e eu não
consigo acreditar no que estou ouvindo.
— Não, eu não posso fazer isso, pelo menos não agora e talvez nunca –
com os olhos marejados, me volto para dentro da loja, mas antes faço uma
única pergunta:
— Cristina – a mulher que permanece parada no mesmo lugar, levanta
a cabeça e, esperançosa, espera pelo que tenho a dizer. — Como eles se
chamam?
— Victor e Artur, seus irmãos.
— Tudo bem – entro de vez, deixando meu corpo cair em cima da
primeira cadeira que vejo pela frente.
— O que foi, Marina? – preocupada, Ângela se agacha à minha frente.
— Suas mãos estão geladas e você está tremendo.
— A Cristina, aquela mulher... era a minha mãe – ela me olha com
olhos de surpresa. — Mas não quero falar sobre isso agora, eu só preciso ir
pra casa – levanto-me novamente e peço: — Me ajuda a tirar ele.
De imediato, ela se levanta e me ajuda a abrir os milhares de botões
perolados que tem na parte de trás da vestimenta.
— Tem certeza que está tudo bem, querida? – sem saber de nada,
senhora Honória indaga, certamente por perceber a mudança no meu estado
de espírito.
— Sim, obrigada por perguntar – agradeço, com as mãos ainda
trêmulas, coisa que não passa batido por Ângela, que pergunta:
— Não é melhor que eu ligue para o Erick vir te buscar? Você não tá
legal – afirma, quando finalmente consegue me livrar do vestido.
— Não – digo, categórica. — Ele ainda está no escritório e eu não
quero atrapalhá-lo – falo, sabendo que não posso sair correndo para ele a
cada acontecimento fora da rota, que venha atrapalhar o meu dia.
Mesmo que seja essa a minha vontade.
— Vamos com o motorista. Quando chegar em casa eu aviso a ele.
Tudo o que preciso no momento é ficar sozinha.
Sozinha para pensar em tudo o que aconteceu agora há pouco e quem
sabe liberar a frustração e a dor que comprime o meu peito.
Erick
— Mas que porra! – erro pela terceira vez a mesma frase que estou
digitando no computador.
Uma semana.
Sete dias.
Faltam apenas sete dias para que esse inferno chegue ao fim.
— Que mau humor é esse, meu caro? – sem bater na porta, como
sempre, e pisando tão leve que cada entrada sem avisar é um susto diferente,
Bruno invade a sala e presencia mais uma vez a minha frustração. — Ainda
sem transar?
— Sim, e toda vez que me lembro disso tenho vontade de torcer o
pescoço da intrometida da Ângela.
Há pouco mais de dois meses, quando Marina me falou da ideia
absurda de passar os últimos quinze dias que antecedem o casamento na casa
da Ângela, porque segundo a própria, isso tornaria tanto a nossa experiência
como marido e mulher quanto a nossa noite de núpcias ainda mais prazerosa
e especial, eu fiquei tão puto que preferi nem tocar mais no assunto. Pelo
contrário, eu e Marina começamos a trepar como dois coelhos, o negócio
ficou tão intenso que eu até esqueci do plano idiota. Até achei que ela
também tivesse esquecido, mas a safada estava tão insaciável, justamente por
não ter esquecido, estava apenas aproveitando antes da separação.
Há sete dias quase tive um infarto, ao chegar em casa e encontrar suas
malas prontas no meio da sala. Nesse dia, nós dois discutimos e ela bateu o
pé, me dizendo que depois eu iria agradecer.
Eu não tive outra saída a não ser deixá-la ir, mas não sem antes – em
cima do sofá, já que estava com tanta pressa de se livrar de mim – lhe mostrar
o que ela estaria perdendo e meus motivos de acreditar que não conseguiria
aguentar por muito tempo.
Mas, o tempo mostrou que quem estava enganado era eu. Ela não só
aguentou, como tem um cão de guarda a sua volta e toda vez que eu apareço
na residência dos Albuquerque para ver a minha noiva, sempre estamos sobre
os olhos atentos do filhote de megera, que parece adivinhar todas as vezes em
que o clima está esquentando.
A garota sempre aparece para interromper.
De toda essa situação insuportável, pelo menos não tive o desprazer de
esbarrar com o primo, que depois da prisão da Patrícia e de ela ter entregado
que foi ele quem disse do namoro falso, o covarde fugiu de casa e ainda não
teve coragem de aparecer para arcar com as consequências dos seus atos.
— Quer dizer que o grande Erick Estevan está comendo poeira por
causa de uma garotinha? – ele tateia a cadeira e se senta, mais uma vez sem
convite.
— Garotinha? Bem se vê que você não conhece a Ângela, aquela ali é
o próprio demônio.
— Isso eu já percebi, tão quente, quer dizer, tão insuportável... – diz
isso com um sorriso enigmático que não me passa batido.
— Que cara é essa, Bruno...?
— Nem começa com os seus delírios. O assunto aqui é você com a sua
bunda mole. Pelo menos tentou furar a defesa da general empata foda?
— O que você acha? Não foi por falta de tentativa, meu caro. No
entanto, hoje tem sete dias que eu não transo com ninguém além da minha
mão. Ângela é a minha definição perfeita para demônio de saia.
— Poxa, mais uma semana na seca? Boa sorte – diz, ao levantar e ir na
direção da porta.
— Queria alguma coisa?
— Não, só te provocar mesmo, já que ontem à noite bati uma boceta
bem gostosa.
— Vai se danar, porra – atiro um grampeador em sua direção, mas ele
é rápido o suficiente e o mesmo se quebra contra a porta fechada.
Chatinha dos infernos, será que não faz nada além de empatar os meus
planos?
Pensando bem e sendo justo, até que ela não é de todo mal. É Ângela,
com a sua força e companhia, que tem ajudado Marina a esquecer do
desconcertante encontro que teve com a mãe há pouco mais de dois meses.
Depois do encontro entre elas, eu como noivo e maior interessado no
bem-estar da minha garota, fui atrás de saber mais da vida da Cristina e
descobri coisas bem interessantes.
Para começar, não existe nada de romântico na história do abandono e
tal qual a louca falou, Cristina, apesar de ameaçada por João, trocou a
companhia da filha por dinheiro.
Jovem e ambiciosa, a mulher partiu para Portugal e pouco tempo
depois se casou com um português. Um empresário bem sucedido e que foi
capaz de satisfazer suas ambições. Depois de tentar vários tratamentos e não
conseguir realizar o desejo de ser mãe novamente, Cristina desistiu da ideia,
até que oito anos atrás conseguiu engravidar e dar à luz os gêmeos que hoje
têm sete anos de idade.
Apesar de ser feliz e realizada, não conseguiu esquecer a filha, tanto
que, com a ajuda do marido, acompanhou a vida da Marina pelos últimos seis
anos, o que não apaga o erro de nunca ter tentado entrar em contato e só
fazendo isso depois da merda que a prima fez.
E como eu sei disso tudo?
A própria me contou, quando – desconfiado das suas intenções –
busquei seu contato e marquei um almoço em um restaurante perto do
escritório. Na ocasião, lhe aconselhei a dar um tempo para a filha e para não
forçar a barra. Expliquei que quando estiver preparada, a própria Marina vai
entrar em contato, nem que seja por causa dos dois irmãos que tanto lhe
chamaram a atenção.
No mesmo dia, contei para a minha noiva a respeito do tal almoço e
fora a chateação por eu ter feito sem avisá-la, Marina levou numa boa e até
concordou com o meu conselho para que a mãe se mantenha longe.
Desde então, Marina, com a sua fiel escudeira, não tem outra
preocupação além de ajeitar os detalhes do nosso casamento. É por isso que
digo que Ângela é noventa e nove por cento demônio e um por cento anjo. Eu
até poderia me apegar nesse um por cento, mas a saudade da minha mulher é
quem está no comando e como não sou de passar vontade e muito menos de
desistir do que quero, levanto-me da cadeira e, dando o expediente por
encerrado um pouco antes do normal, saio do escritório e vou diretamente
para a casa da megera.
Às 06h da tarde, dentro do carro e parado em frente ao portão do
inimigo, vejo as duas chegarem com as mãos cheias de sacola. Sem perda de
tempo, saio do veículo e quando a linda me vê, ela entrega as suas sacolas
para Ângela e se joga nos meus braços, enlaçando os braços no meu pescoço
e as pernas na minha cintura.
— Você veio, amor, pensei que dormiria sem te ver.
— Nunca – vou beijar a sua boca, mas já no início abro os olhos e vejo
o cão de guarda nos observando com a mão na cintura.
Eu tenho que presenciar o dia em que ela for casar, porque se Marina
não fizer a mesma sacanagem que ela está fazendo com a gente, eu juro que
eu mesmo faço.
— Eu não vou conseguir fazer isso tendo a Chatinha nos vigiando com
esses olhos de rapina. Faça alguma coisa, por favor – peço, ela solta braços e
pernas, vai até a general e conversa alguma coisa – baixo o suficiente para
que eu não possa ouvir – e logo em seguida e de cara amarrada, vejo Ângela
atravessar o portão, nos deixando sozinhos.
Finalmente.
— Enfim, sós – enlaço sua cintura, e quando vou beijá-la, Marina
coloca a mão sobre a minha boca e declara:
— Não pense que o fato da Ângela ter nos deixado sozinhos é um
indício de que você vai conseguir entrar na minha calcinha, pois não é.
— Sério? – indago, já sentindo a minha empolgação cair pela metade.
— Não mesmo. Eu prometi isso pra ela – avisa. — Pense em como vai
ser gostoso, meu amor. Nós dois, depois de tantos dias de tesão acumulado,
matando toda a vontade na noite de núpcias.
— Diz isso para o meu pau – pego a sua mão e a coloco em cima da
minha ereção, que aumentou de tamanho no exato momento em que entrou
em contato com o seu corpo. — É ele quem não entende – como se o local
estivesse pegando fogo – e está mesmo – Marina tira a mão, não a deixando
nem tempo o suficiente para fazer um agrado.
— Se comporta – a aprendiz de megera bate o pé, cheia de convicção.
— Vou me comportar, só que dentro do carro – digo, e antes que ela
perceba, já estamos na parte de trás e com seu corpo bem acomodado em
cima do meu colo.
— Você não tem jeito, não é? – reclama, agora sem muita firmeza,
quando levanto a barra do seu vestido longo, até tê-lo enrolado até a altura da
cintura.
Marina não tem ideia do quanto me fascina vê-la usar vestidos e acho
que seria capaz de comprar dezenas deles só para ter mais da bela visão.
— Não tem mal algum em dar uns amassos dentro do carro, coisa que
não faço desde a adolescência – revelo. — Aí vai mais uma experiência nova,
minha gata.
Segurando na parte de trás da sua cabeça, saqueio a boca gostosa num
beijo faminto que há muito estava a fim de fazer, e do beijo a coisa toda saiu
do controle. Do beijo eu desci as alças do seu vestido e chupei os seus seios
que claramente estão carentes por atenção. Dos seios, decidi fazê-la gozar
com os dedos e assim como eu lhe dei prazer, minha safada também me deu,
quando desceu a minha calça e me chupou até engolir, literalmente, cada gota
da minha sanidade.
Longe de me sentir saciado e com os vidros do carro já embaçados,
estou a ponto de tirar a sua calcinha, mas sou impedido por ela, que diz:
— O foi que conversamos? – sai do meu colo, se ajeitando e
arrumando o vestido. — Sem sexo.
— O que fizemos aqui não deixa de ser sexo – afirmo, me referindo ao
fato de nós dois termos gozado com masturbação e sexo oral.
— Não fizemos, não, isso aqui foi apenas um aperitivo do que nos
espera daqui a uma semana.
Quando diz isso, é como se tivemos um insight simultâneo e no mesmo
instante, paramos o que estamos fazendo, nós olhamos com intensidade e é
Marina quem primeiro fala:
— Sete dias para o passo mais importante da minha vida até aqui.
— Sete dias para a decisão mais acertada que tomei – completo,
trazendo na memória a minha melhor escolha, o dia em que joguei para o alto
todos os receios, preconceitos com idade e medo de julgamentos, o dia em
que sem saber, disse sim para o seu amor e para a felicidade que nos foi
guardada
O grande dia
Erick
— Puta que pariu – com força, arranco a gravata do meu pescoço. Será
que esqueci como se faz um simples nó de gravata, coisa que faço há anos?
— Calma, meu filho. Me dá isso aqui, deixa que eu te ajudo – meu pai
vem em meu socorro ao pegar o pedaço de tecido e fazer em segundos o que
tenho tentado há alguns minutos. — Você está nervoso e eu sei exatamente
como é sentir isso.
— Sabe?
— Como você acha que eu fiquei no dia do meu casamento com a sua
mãe? – antes que termine de falar, já tenho a minha gravata no lugar certo,
fazendo conjunto com o meu terno.
Finalmente chegou o grande dia e não poderia estar mais feliz, além de
estar prestes a me casar com a minha pequena, ainda tenho o prazer de ter a
minha família do meu lado. Eles chegaram há dois dias e se instalaram aqui
na mansão, que tem quartos de sobra. A melhor parte de tê-los por perto,
além de matar a saudade, é poder me distrair da saudade que tenho da
Marina, que cumprindo com a sua palavra, não me deu mais que um beijinho.
Ainda bem que o casamento acontece só uma vez, pois não sei se
aguentaria passar por isso novamente, principalmente essa última semana que
ela andou tão atarefada na preparação dos meus últimos detalhes.
Mas enfim, hoje acaba a tortura e eu terei a minha mulher de volta e
com um novo status: o de minha esposa.
— Me admira o senhor ainda lembrar disso – brinco com o senhor de
sessenta e oito anos, mas que a idade em nada combina com a sua lucidez e
vivacidade.
— Me respeita, garoto – diz, e eu sorrio por pensar que só mesmo o
meu pai para me chamar de garoto. — Agora, falando sério, filho.
— Sou todo ouvidos – sabendo não ter como estar mais preparado do
que já estou, dou uma última olhada para o espelho e me viro para o meu
velho, pois sei que seja lá o que tenha para dizer, será algo que eu preciso e
devo ouvir.
— Faça o possível e o impossível para fazer a sua mulher feliz, Erick –
aconselha, olhando nos meus olhos e com a mão meu ombro. — Marina é
uma menina muito especial, e se Deus lhe concedeu a graça de tê-la como sua
companheira, faça de tudo para preservar esse amor.
— Farei, papai. Aquela garota é toda a minha vida e a partir de hoje,
viverei para fazê-la a mulher mais feliz, assim como ela me faz, a cada
sorriso que me presenteia.
— Eu não esperaria nada menos de você, meu filho – me abraça, dá
batidinhas nas minhas costas e quando se afasta, segura meu rosto com ambas
as mãos e fala: — Seja feliz.
— Eu vou ser, seu Lauro. Na verdade, já sou e serei mais ainda,
quando ver a minha Marina andando em minha direção, tendo Deus, amigos
e quem quiser ver como testemunhas da nossa união.
— Assim que se fala. Agora deixa de papo, já está pronto? Lembre-se
que quem costuma chegar atrasada é a noiva.
Marina
— Que aflição – reclamo mais uma vez, dentro da tenda que fica a
alguns metros do local da cerimônia.
Comigo estão a minha sogra, Carmem, e Ângela, a minha madrinha e
melhor amiga, que não estão nem um pouco contentes com o meu
nervosismo e ansiedade.
— Você lembra que o noivo entra primeiro, não é?
— Claro que lembro – afirmo, estalando os dedos em sinal óbvio de
nervosismo.
Eu planejei e sonhei tanto com esse dia que agora que chegou, temo
estar sonhando ou que algo dê errado.
— Então, só fique calma que já está quase na hora – ela diz ao abrir
uma fresta no tecido da tenda e espiar a movimentação dos convidados
chegando.
Como não tinha nenhum sonho particular ou preferência por alguma
igreja em especial, Erick e eu decidimos que a cerimônia de casamento seria
na praia e por volta das 05h da tarde.
Hoje vejo que não poderíamos ter feito melhor escolha, já que o sol
laranja do fim de tarde dá um clima mágico ao local. Simples, porém
elegante, a decoração escolhida é basicamente constituída por médios vasos
de flores, que acompanham o tapete branco até a pequena tenda onde o padre
irá realizar a cerimônia e que tem o mar de águas verdes e límpidas como
pano de fundo. Nas laterais do corredor de flores, foram colocadas cento e
cinquenta cadeiras para os convidados, que acabaram sendo em maior
quantidade do que imaginávamos. O importante é que deu tudo certo e eu não
poderia estar mais feliz com o resultado, apesar do nervosismo.
— Como você está linda minha, querida – minha sogra se vira para
mim e, toda emocionada, finaliza: — Meu filho tem muita sorte em ter
conquistado uma moça como você, tão linda e que o ama na mesma
intensidade com que ele te ama.
Ouvir suas palavras é um alívio para mim, pois, de todos os
preconceitos e falta de aceitação que o nosso relacionamento poderia ter, os
seus pais, ainda que à distância, era uma preocupação que vez ou outra
passava por minha cabeça. Se quando souberam, disseram apoiar o nosso
namoro, eu não sabia como seria quando nos vissem pessoalmente, o que é
uma realidade bem diferente de quando só se sabe, mas não presencia. Com a
graça de Deus, ao nos ver pela primeira vez há alguns dias, quando chegaram
para o casamento, meus sogros deixaram mais do que claro não só não serem
contra, como também o fato de estarem satisfeitos por estarmos dando esse
passo importante.
— Obrigada, por tudo – digo, e ela me presenteia com um abraço.
— O que é isso, querida. Vamos parar que eu não quero borrar as
nossas maquiagens e nem amassar o seu vestido – avisa, ao olhá-lo com
olhos de encanto, o mesmo encanto com o que eu mesma o olho, desde o dia
em que Honória me mostrou o desenho com o modelo que tinha imaginado
para mim.
De alças e no modelo princesa, que começa acinturado e vai abrindo na
parte da saia, o vestido liso é todo trabalhado em renda francesa e finalizado
com uma pequena calda. Num estilo mais simples e delicado, assim como a
minha maquiagem de tons claros, preferi deixar os meus cabelos soltos e
enfeitados por leves ondas, onde uma tiara de flores dá o toque final, em uma
noiva que se casa ao fim de um dia de verão, tendo o verde límpido do mar
como pano de fundo e o som das águas se quebrando contra as pedras, como
trilha sonora.
— Tem razão, nada de choro, e obrigada por estarem aqui – abraço e
elas me retribuem com sorrisos sinceros, os melhores que eu poderia querer
ao meu lado neste momento.
Em outra situação, quem deveria estar presente aqui comigo era a
minha mãe, mas, na situação em que nos encontramos, não seria apropriado
forçar uma aproximação, já que as poucas vezes em que aceitei me encontrar
com ela não foram suficientes para tamanha intimidade. Por outro lado, esse
laço que se estreitou com os gêmeos me trouxe a sensação de ter uma família
além do Erick.
O triste disso tudo, tanto para mim quanto para eles, é saber que em
breve terão de voltar para Portugal, mas a Cristina prometeu trazê-los para
me visitar sempre que for possível.
— Tá quase na hora – dessa vez, é minha sogra quem espia a
movimentação. — Eu já vou, pois seu noivo está prestes a entrar.
Dito isso, ela sai e ficamos eu e a Ângela, que com seu longo vestido
lilás, é certamente a madrinha mais linda que uma noiva poderia ter, uma
madrinha nada satisfeita com o padrinho escolhido. Mas, que eu posso fazer
se Erick escolheu o Bruno como o seu padrinho?
— Tudo bem? – ela chega perto de mim e segura as minhas mãos. —
Suas mãos estão trêmulas e geladas – se preocupa.
— Isso sem contar o frio na barriga, mas eu tenho certeza que quando
ver o Erick no altar, me esperando, todo o nervosismo vai passar.
— Tô muito feliz por você, sabe disso, não é?
— Sei, sim, obrigada por tudo – vou abraçá-la e sou impedida.
— Nada de lágrimas e abraços. Vamos guardar eles para depois.
Agora, você tem que estar linda – afirma, ao ajeitar as mechas onduladas do
meu cabelo.
Alguns minutos depois, vejo Ângela entrando pelo corredor de braços
dados com Bruno, e respirando fundo, saio da tenda, caminho os poucos
metros e quando o instrumental começa a tocar a marcha nupcial, eu, sozinha
e com um buquê de girassóis nas mãos, começo a caminhada na direção do
meu noivo.
Como imaginava, no momento em que o vejo, tão lindo no seu terno
escuro e me esperando, todo o nervosismo e apreensão caem por terra,
restando somente a plenitude do amor e a vontade de chegar até ele e vê-lo
segurar a minha mão.
Depois de percorrer o que pareceu ser um longo caminho, finalmente
me vejo frente a frente com o meu amor, e por alguns instantes ficamos nos
encarando com olhares de amor e encantamento, até que ele, ainda de mãos
dadas comigo, se aproxima do meu ouvido e sussurrando, diz:
— Você está linda neste vestido, meu amor, e eu não vejo a hora de
tirá-lo do seu corpo – elogia e emenda com uma sacanagem.
Se não fosse assim, não seria o Erick.
Sob os olhares curiosos dos convidados e do padre, ainda estamos no
nosso momento, até que com um pigarro o ele nos interrompe:
— Senhores, podemos começar?
— Sim – dizemos juntos e entre risadas discretas, somos presenteados
com um olhar impaciente pelo religioso.
Como um borrão, todo o sermão passa, onde eu só tenho consciência
da minha mão unida a do meu amor e na minha cabeça passando um filme de
tudo o que passamos para chegarmos até aqui, dos percalços no meio do
caminho, da luta diária para construirmos uma relação sólida, mas
principalmente, da fé que depositamos no nosso amor. Isso tudo foi o que nos
trouxe ao dia de hoje, o dia em que, perante Deus, concretizarmos a nossa
união.
— Senhorita – a voz do padre me traz para o presente, onde ele e Erick
me fitam. — É de livre e espontânea...
— Sim! – mal termino de dizer e me jogo nos braços do meu marido,
que ao me envolver com braços e lábios famintos, apaga quase por completo
a noção do que acontece a nossa volta, sendo possível ainda ouvir o som de
palmas e um pouco mais baixa e demostrando cansaço, a voz do padre dizer:
— Sendo assim, eu vos declaro marido e mulher.
Na frente de todos e sem o menor pudor, meu marido devora a minha
boca, o que não inibe o sacerdote de terminar o protocolo.
— O noivo pode... é.... Ah, deixa pra lá.
— Beijar a esposa – completa Erick, ao pegar a minha mão esquerda e
beijar a aliança de ouro que acabou de colocar. — E esse marido não vê a
hora de estar a sós com a mulherzinha dele – sussurra, discreto, antes de me
beijar novamente, sob o som de aplausos, assobios e pétalas de flores jogadas
nas nossas cabeças.
Fugidinha
Marina
— Tenho certeza de que você vai ser a minha morte, mulher – digo, de
boca seca, ao ver a gostosa parar bem na minha frente, que assim como ela,
decidi me preparar. Preparo que consiste em fazer uma rápida higiene pessoal
no meu antigo quarto, voltar para o nosso, tirar a blusa e o short branco e
deitar, vestindo somente a minha boxer da mesma cor.
— Você também não está nada mal – a safada, que veste uma
indecente camisola branca e que deixa pouco à imaginação, manja o meu pau
sem o menor pudor.
De igual modo, eu bebo da sua beleza, que mais me lembra um anjo do
pecado com essa seda branca, onde as rendas cobrem partes estratégicas, mas
não cobrem por inteiro a sua pequena calcinha. Nesse momento, eu estou tão
excitado que será um milagre se eu não gozar na primeira arremetida.
— Vem cá, vem – chamo, e me sento com as pernas abertas na beirada
da cama. – Quero você.
Trazendo o seu perfume e o corpo exuberante, minha mulher para entre
as minhas pernas e eu penso que finalmente a tortura acabou, que hoje não
tem quem me impeça de amar a minha gostosa.
— Quero tanto, que você vai ter que me perdoar por fazer isso – seguro
a parte de cima da sua camisola e a rasgo de fora a fora, deixando somente
com a calcinha fio dental clara, que em nada ajuda a esconder a evidência do
seu desejo.
— Não poderia ter me pedido pra tirar, seu homem das cavernas? –
pergunta, sem estar brava realmente.
— Poderia, mas tenho certeza que as meninas vão me perdoar por isso,
afinal, ela era um empecilho entre mim e eles – abocanho seu seio esquerdo,
enquanto com a mão belisco o outro mamilo excitado. — E muito menos isso
– solto seu seio e desço a mão até levá-la para dentro da sua calcinha.
— Tão molhadinha, meu amor quer gozar? – meto dois dedos dentro
do seu sexo pulsante, fazendo movimentos de entra a sai, enquanto o meu
está tão duro que beira a dor. — Quer que eu acabe com esse vazio de dias
que deve estar sentindo?
— Sim, eu já não suporto mais – abre mais as pernas, permitindo que
meus dedos a penetrem com maior profundidade. — Nunca mais quero ficar
tanto tempo sem isso – confessa entre gemidos, ao tomar a iniciativa de um
dos beijos quentes que já demos, e enquanto ela me fode com a língua, eu a
fodo com os dedos.
— Goza pra mim... – peço, com a boca na sua. — Isso, minha putinha,
rebola, vai – incentivo e sem largar a minha boca, minha mulher senta sob o
meu dedo, até que entre gemidos abafados pelos meus lábios, ela goza em
cima deles e nesse momento eu não resisto a levá-los à sua boca, induzindo-a
a chupá-los e sentir o seu próprio gosto.
— Tá sentindo o quanto você é gostosa? – ela me encara com
intensidade, chupando os meus dedos como quem chupa o mais doce pirulito.
— Vem, quero experimentar – exijo, ao segurar os cabelos da sua nuca e
trazer a boca deliciosa para dentro da minha.
Enquanto eu como a boca da minha delícia com sofreguidão, ela desce
a mãozinha pelo meu abdômen e, assim como eu fiz, começa a me masturbar
por dentro da cueca.
— Fica em pé, querido – pede, e eu obedeço de prontidão. Quando o
faço, ela se ajoelha na minha frente, desce a Calvin Klein por minhas pernas e
quando tem meu pau duro e pulsante bem na frente do seu rosto, a gostosa o
segura com as duas mãos macias e o chupa do jeito que gosta de fazer.
Primeiro passa a língua na cabeça e depois o engole até onde consegue. E o
que sua boca não dá conta, ela compensa com a mão, que faz delirantes
movimentos e se reveza entre leves apertos e um vai e vem cadenciado.
Se no início eu a deixo comandar os movimentos, depois que o meu
último resquício de controle se esvai, pego a sua cabeça, parando os seus
movimentos e eu mesmo começo a meter.
— Isso, porra – tiro e vou até que seus olhos estejam cheios de
lágrimas. — Engole, sua safada – meto, e quando sinto que estou prestes a
esporrar dentro da sua boca, saio e lhe estendo a mão. — Vem aqui, eu quero
fazer isso dentro da minha bocetinha.
— Me come – pede, linda além do limite, com uma enorme mancha na
frente da calcinha e a boca avermelhada dos meus beijos e de me levar quase
até o talo.
— Agora – deito-a de costas no centro da cama, e sem deixar de lhe
encarar, tiro a última peça que me impede de vê-la por inteira. — Como eu
senti falta da minha bocetinha – abaixo até seu sexo, assopro, fazendo com
que os pelinhos claros dos seus braços se arrepiem e deixo um beijo na parte
de cima da sua pélvis. — E desse cheiro.
— Nem me lembre... – fala, com a voz rouca pelo tesão.
— Abre bem as pernas – Marina faz o que peço e me enfio entre elas,
tomando cuidado para não sufocá-la com o meu peso. — Ainda está tomando
o anticoncepcional?
— Sim – fico feliz por poder senti-la mais uma vez, sem nada entre
nós.
— Minha esposa – observando todas as emoções que passam por seu
rosto, começo a meter até que fique completamente dentro dela.
— Meu marido... – ofega, ao me sentir sair, para depois penetrá-la com
rapidez. — Dessa vez eu quero com força.
— Assim? – soco com brutalidade, fazendo com que nossos quadris se
batam e ela solte um gritinho de contentamento.
— Mais fundo – pede, seguro a sua coxa e ela entende o meu pedido ao
enlaçar as pernas na minha cintura. Dessa forma e fazendo do jeito que minha
gata gosta, a penetração fica mais profunda.
Não sei quanto tempo se passa, só sei que nos minutos seguintes,
Marina e eu colocamos para fora toda a frustração de duas semanas sem fazer
sexo. Fazemos o sexo no sentido mais puro da palavra, uma transa que nada
tem a ver com amor, é puro tesão em forma de uma foda épica.
Depois de comê-la na tradicional papai e mamãe e ainda sem permitir
que nenhum de nós dois encontre alivio, ainda experimentamos novas e
loucas posições. No fim, depois de gozar e de me fazer pensar que não
aguenta mais nada antes de algum descanso; a minha esposa, cheia de fogo,
ainda me atiça para o sexo anal, e como eu não sou de deixar oportunidades
passarem, dou a ela o que nós dois gostamos.
Quando paramos no meio da madrugada e com o som bem menos
barulhento, estamos em frangalhos e com corpos e cabelos pingando de suor,
que não temos forças nem para um banho.
É só depois de um cochilo e um banho revigorante que temos a chance
de nos amar.
Dessa vez, com calma e olhando nos olhos um do outro, Marina e eu
fazemos o nosso primeiro amor como marido e mulher.
— Eu te amo – de mãos dadas e lânguidos, declaro as palavras que são
poucas para descrever a grandeza do que eu realmente sinto. — Muito! E isso
é definitivo.
— Pra sempre, Marina e Erick – com um sorriso no rosto, meu amor
cai novamente no sono e eu lhe trago para os meus braços, lugar onde sempre
quero tê-la.
Com o sol alto batendo no meu rosto, desperto e encontro o lado da
Marina vazio, e no momento em vou me levantar para procurá-la, ouço a sua
voz encher o ambiente.
— Tô aqui na varanda, querido – vou até lá e a encontro observando o
nosso jardim, que apesar de vazio, ainda ostenta a decoração da festa.
— Tudo bem? – abraço-a por trás e encosto a cabeça no seu ombro.
— Não poderia estar mais feliz. Só estava pensando na nossa história.
— Você sempre soube, não é?
— Acho que sim. Mesmo na época que parecia errado amar você, eu
tinha a esperança de que o tempo se encarregaria de eliminar todas as
barreiras, até que te fizesse enxergar que o meu amor era real e não é errado
amar como nos amamos. Nunca foi.
— E conseguiu, amor. No dia em que eu decidi assumir os meus
verdadeiros sentimentos, eu não quis outra coisa além de te fazer feliz, assim
como você me faz pelo simples fato de existir. Obrigado!
— Pra sempre – afirma, emocionada, ao entrelaçar os nossos dedos.
— Pra sempre – confirmo, tendo a brisa suave que acaricia os nossos
rostos e o sol da manhã que beija nossa pele, como testemunha de um amor
que vai além da compreensão.
Um amor que tinha tudo para dar errado, mas que enfrentou e venceu
todos os obstáculos que se interpuseram no meio do caminho, isso porque
decidimos lutar por ele e abraçar o tão aguardado final feliz.
Quer dizer, começo feliz, pois o nosso caminho rumo ao para sempre
está apenas começando.
— E então, minha esposa, não quer descer e tomar o primeiro café
como a senhora Estevan? – pergunto, ao dar uma leve mordida no seu
pescoço, para depois lamber o local que prontamente ficou avermelhado.
— Só se for agora – fala, e se encolhe entre os meus braços, quando o
balançar das árvores traz um vento mais forte. — Pra falar a verdade, eu
estou tão varada de fome, que seria capaz de comer um bolo inteiro.
— Imagino que seria mesmo – viro-a de frente para mim. — Depois
das atividades intensas e suadas dessa madrugada.
— Não vem me dizer que você não está faminto.
— Estou, com certeza – afirmo, alisando a sua cintura, que está coberta
pelo robe de cetim lilás e tendo por baixo somente um conjunto de calcinha e
sutiã. — Mas eu garanto que tem outra fome bem mais intensa e urgente –
encosto minha ereção matinal na altura da sua barriga.
— Avisa pra sua outra fome que ela vai ter de esperar um pouquinho,
pois a sua mulher aqui, apesar de querer matar a outra fome, precisa
recuperar as energias e comer antes de ser comida.
— Então vamos logo – chamo, para depois soltar a sua cintura e
entrelaçar os nossos dedos. — Estou doido para receber a minha sobremesa –
pisco para os seus seios, querendo provocá-la. — Espera aqui, só um
minutinho — peço, e me mando para dentro do banheiro.
Depois de rapidamente lavar o rosto e escovar os dentes, saio do
banheiro e encontro a minha mulher sentada na ponta da cama, apenas me
esperando para descermos juntos.
— Vamos? – estendo a mão e Marina a segura.
— Espera um pouco – ela dá uma leve puxada no meu braço, assim
que dou o primeiro passo para fora do quarto. — Você vai descer assim? –
aponta para o meu corpo e só então percebo que não visto nada além da cueca
boxer preta.
Para sempre
Marina
Erick
Marina
Um vibrador.
Meu marido saca de dentro da bolsa um vibrador de tamanho médio e
que imita perfeitamente um pau de verdade.
Sob o seu olhar especulativo, eu não sei se fico surpresa por não ter
visto um pessoalmente – apesar de uma vez ter insinuado o contrário – ou se
pelo fato de ele estar pretendendo usar a coisa comigo.
— Amor, eu ... – vou dizer alguma idiotice qualquer, mas felizmente
sou impedida quando ele coloca a mão em cima dos meus lábios e fala:
— Só relaxa, linda – coloca os objetos sobre a cama e começa a abrir o
botão da minha camisa. — Lembra quando eu disse que ia gostar de me dar a
sua bunda? – confirmo com a cabeça. — Pois é. Dessa vez não vai ser
diferente e eu te garanto que vai ser umas das experiências mais prazerosas
que você vai ter na vida sexual. Tanto que vai querer fazer de novo e de
novo... – fala ao meu ouvido, ao mesmo tempo em que tira a minha blusa e
eu já nem lembro mais da apreensão inicial.
— Eu quero...
— Eu sei que quer, esposa – pega a minha mão, me levanta da cama e
em seguida tira restante da minha roupa. Quando me tem nua, Erick continua:
— Você é como eu, gosta de sexo, de experimentar o novo. De dar e receber
prazer.
— É você quem me encoraja – como ele fez antes, desço as mãos até o
cós do seu jeans e desajeitadamente abro o botão e desço o zíper.
— Tão linda – elogia, ao passar a mão pelo meu corpo desnudo. — Eu
quero você, Marina.
Mal termina de falar e então não leva mais do que alguns segundos
para terminar de tirar a própria roupa e me deitar em cima da cama.
As horas que se seguem realmente são as mais intensas da minha vida
sexual. Famintos um do outro, como só duas semanas separadas podem estar,
Erick e eu nos empenhamos em compensar todo o distanciamento que nos foi
imposto.
Como o prometido, Erick me apresenta o tipo de sexo mais depravado
e quente que uma pessoa como eu poderia experimentar, e posso garantir que
não só vale a pena, como também já estou ansiosa para repetir.
Com toda a sua perícia sexual e a safadeza que lhe é característica, meu
amor me prepara da melhor maneira que pode, até conseguir me comer com o
pênis e o vibrador ao mesmo tempo. Enquanto está deitado e me tem por
cima, Erick pouco a pouco penetra o meu ânus com o pênis de borracha e na
frente faz o mesmo, ao foder a minha boceta com o seu pau. Ao fazer isso,
me sinto estranhamente mais próxima dele, como se não existisse mais nada
que não o pertencesse em meu corpo e alma.
Meu marido passa vários minutos me comendo pela frente e por trás, e
quando já pingando de suor eu acho que me deixará gozar, ele faz questão de
desacelerar as metidas frenéticas tanto do pênis quanto do vibrador. Isso
quando não está me levando à loucura, ao inverter as coisas e comer a minha
bunda e na boceta enfiando o cacete de plástico.
No fim do dia, estamos exaustos e precisamos de um bom banho e
depois de fazermos exatamente isso, caímos em um necessário e delicioso
sono.
Sono do qual eu só agora consigo despertar, depois de sentir a barba
por fazer do meu esposo fazer cócegas nas minhas costas.
— Ei, acorda, preguiçosa – continua a descer os beijos, até chegar aos
furinhos gêmeos que enfeitam o início da minha bunda. — Já está
escurecendo, sabia?
Ao ouvi-lo, me viro de frente e vejo pelo relógio que já são 18h30 da
tarde.
— Céus! Como o dia passou rápido – volto a jogar a cabeça contra o
colchão.
— Passou mesmo. Só não sei se passamos a maior parte dele dormindo
ou trepando.
— Acho que meu corpo dolorido tem a resposta, meu amor.
— Oh, meu Deus! – paira a parte superior do corpo contra o meu e
continua: — Eu judiei do meu bebê, foi? – fala com a voz mais mansa,
beijando em cima dos meus olhos, depois e ponta do meu nariz e por fim o
canto da minha boca.
— Nada que eu não tenha gostado, muito – pisco, cheia de ousadia.
— Que bom saber que eu proporcionei um dia à altura da minha gata.
Mas pode ir se acostumando, porque hoje foi só o primeiro de longos vinte
dias.
— Estou tão ansiosa para saber o nosso destino.
— Amanhã você vai saber, linda – senta e começa a recolher as nossas
roupas. — Só posso te garantir que seremos muito felizes lá.
— Só eu e você – me levanto e me sento às suas costas, para depois
encostar a cabeça no seu ombro. — Juntos.
— Para sempre – completa, ao segurar a minha mão e beijar a minha
bonita aliança de ouro.
Epílogo
Marina
— Me falem, cadê a minha mulher? Por que ela não está com você?
— Calma, meu rapaz – o homem mais velho repete a frase odiosa.
Volto meu olhar para Ângela e ela me tranquiliza.
— Está tudo ótimo com Marina – a chatinha afirma, com um sorriso no
rosto, o mesmo sorriso que Maya tem. — Ela só pediu que você suba por um
instante.
Ângela mal termina de falar e eu já estou subindo as escadas de dois
em dois degraus.
Ao entrar no quarto, minha menina está sentada e chorando como um
bebê.
— Meu Deus! – corro para perto e pergunto, preocupado: — O que
está acontecendo com você, princesa? Me fala o que eu posso fazer para... –
paro de falar quando ela coloca as mãozinhas em cima da minha boca.
— É um choro de alegria, meu amor. Só de alegria.
— Alegria? Desculpa, mas eu não...
— Nós vamos ter um filho, Erick. Eu estou grávida.
— Como? – no ato, me levanto da cama e viro-lhe as costas.
Um filho.
Eu e o meu amor vamos ter um bebê.
Pai, vou ser pai. Porra!
— Eu pensei que você quisesse, já tínhamos até parado de fazer sexo
protegido – me viro em sua direção e a voz e expressão triste me fazem
entender que passei a impressão errada.
Você é um burro, Erick!
— Eu quero, princesa – sento ao seu lado e lhe abraço bem apertado.
— Perdão se a surpresa me faz passar os sinais errados – seguro seu rosto e o
beijo por todos os lados. — Hoje você me fez o homem mais feliz do mundo.
— De verdade? – limpa as lágrimas e me abre o mais lindo dos
sorrisos.
— É claro, princesa, nós já estávamos tentando, não é?
— Sim, só não pensei que seria tão rápido.
— Pra você ver como sou bom no que faço – lhe provoco. — Só mirei
e acertei em cheio. O importante é que o garotão do papai já está aqui dentro
– toco em sua barriga, que ainda não dá nenhum sinal da recente gestação.
— Não se esqueça que pode ser uma garotinha.
— Não me importa, meu amor – com cuidado, empurro seu tronco e
ela termina deitada como estava antes. — O que vale é que o nosso filho já
está aqui dentro – levanto a sua blusa e começo a distribuir beijos por todos
os lados da sua barriga.
— A nossa sementinha, ele deve ser tão pequeno ainda, querido.
— Sim, mas o papai já ama muito, não é, meu amor? – converso com o
bebê, que há poucos minutos não sabia da existência e que já tenho um amor
incondicional.
— Eu tenho certeza de que vai ser um excelente pai – diz, emocionada.
Ao ouvir sua declaração, subo o meu corpo e quando tenho meu rosto
bem próximo do seu, declaro:
— E você vai ser uma excelente mãe, assim como é uma excelente
esposa – digo. — Eu te amo, hoje ainda mais por me dar esse presente e
tornar a nossa felicidade completa.
— Pra sempre – afirma.
— Eu, você, nosso amor e a família que construiremos.
O dia em que era para comemorarmos o aniversário do nosso segundo
ano de casamento, fica marcado como um dos dias mais especiais, não só
para mim e minha mulher, mas também para os nossos amigos que ficam
felizes por estarem presentes na dupla comemoração.
E como o planejado, dois dias depois estamos viajando para a Itália e lá
curtimos a nossa novidade, mas não tão intensamente como das outras vezes,
pois, devido ao estado da Marina, preferimos deixar as nossas aventuras
sexuais para depois do nascimento do bebê. Quer dizer, eu decido; Marina
passa toda a gravidez me testando e tentando me induzir a fazer o sexo
selvagem que costumávamos fazer. Como não sou de pedra, acabo
sucumbindo por algumas vezes, mas não o suficiente para que possa de
alguma forma prejudicar o nosso filho.
Oito meses depois, e com bem menos trabalho e sexo selvagem, nasce
o nosso pequeno e saudável João Guilherme.
Em um ambiente rodeado pelos amigos mais próximos, inclusive pela
mãe e irmãos da minha pequena, o nosso menino vem para coroar a nossa
felicidade e para ser a prova viva de que quando o amor bate à porta e é de
verdade, como o meu e o da sua mãe, não adianta fugir, como eu tentei, ele
sempre voltará para uma segunda chance. A oportunidade de reparar os erros
e agarrar o que a vida tem para oferecer.
A recompensa? Essa eu tenho aqui, dentro dos meus braços e perto do
meu coração.
— Papai te ama muito, pequeno – minha linda nos olha da porta do
nosso quarto e tem o sorriso mais lindo do mundo. Sorriso que me deixa um
pouco mais apaixonado a cada vez que o lança em minha direção.
Fim
A quem chegou aqui, obrigado. Espero que tenha gostado e se gostou,
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