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Convergências Entre Os Modelos de Piaget e Fuster

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ISSN: 1984-1655

Cérebro e Mente:
Convergências entre os modelos de Piaget e Fuster
Helena Vellinho CORSO

Todo o grande acúmulo de informações impulsionadas pela década do cére-


bro (1991-1999), permaneceram inacessíveis a Piaget, morto em 1980. Mesmo assim, é
impressionante a convergência entre suas proposições e esses conhecimentos em neuro-
ciências. Entre os diferentes modelos neuropsicológicos, o modelo de funções executivas
de Fuster oferece uma descrição perfeitamente compatível com as proposições piagetia-
nas.

Neste ensaio teórico, apontamos para essas convergências entre o modelo


piagetiano de desenvolvimento cognitivo e o modelo de Fuster. Quanto a este último,
usamos como fonte o livro (não traduzido para o Português) The Prefrontal Cortex (2008),
um trabalho de síntese, em que o resultado de anos de pesquisa é apresentado em termos
de um modelo coerente e empiricamente fundamentado. Trata-se da quarta edição do
livro, fato que importa muito, já que a primeira edição data de 1980, e nos 28 anos que
separam essas duas edições, muito se fez em pesquisa sobre cérebro, contribuindo para
a fundamentação empírica do modelo final do neuropsicólogo.

No livro em questão, Fuster examina as funções executivas, ou as funções


cognitivas do córtex pré-frontal. Para tanto, ele lida com a natureza anatômica e fisioló-
gica das redes cognitivas em geral, não só no córtex pré-frontal, mas no córtex como um
todo. Segundo ele, essa abordagem compreensiva da cognição cortical é essencial porque
todas as funções cognitivas do córtex pré-frontal – e, portanto, as funções executivas –
são dependentes de suas interações com outros córtices, assim como com estruturas sub-
corticais. Essa interdependência é uma consequência direta do caráter largamente distri-
buído e interativo das redes corticais cognitivas. Assim, o modelo de funções executivas
de Fuster envolve toda uma descrição de estrutura e funcionamento cerebral, em uma
perspectiva filo e ontogenética, e é nesta descrição que podemos encontrar uma corres-
pondência notável com o modelo piagetiano de cognição e desenvolvimento cognitivo.

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O modelo baseia-se em quatro proposições gerais, que encontram nos acha-


dos da neurologia um indiscutível suporte empírico (detalhadamente apresentados ao
longo de sete capítulos, envolvendo estudos de anatomia, neurotransmissores, Neu-
ropsicologia e neuroimagem): 1. A totalidade do córtex do lobo frontal está devotada à
representação e produção de ações em todos os níveis de complexidade biológica; 2. O
substrato neural para a produção de qualquer ação é idêntico ao substrato para a sua
representação correspondente; 3. Esse substrato está organizado hierarquicamente, com
as ações mais elementares ocupando os níveis mais baixos dessa hierarquia, no córtex
orbitofrontal e no córtex motor, enquanto que as ações mais complexas e abstratas cor-
respondem ao córtex pré-frontal lateral; 4. As funções do lobo frontal são também orga-
nizadas hierarquicamente, com as funções mais simples englobadas em, e servindo às,
funções mais globais.

O neuropsicólogo explica que todas as cinco funções cognitivas essenciais do


cérebro humano – quais sejam, atenção, percepção, memória, inteligência e linguagem –
consistem de transações neurais entre e intra redes cognitivas do cérebro, chamadas por
ele de cognits. Cognits são unidades de conhecimento e memória. As funções executivas
do córtex pré-frontal são variantes, componentes ou combinações dessas cinco funções
cognitivas, usando essas redes ou cognits para servir à organização das ações dirigidas
a um objetivo.

Quanto à metodologia seguida neste ensaio, selecionamos tópicos dentro da


questão da cognição e, dentro de cada um deles apresentamos as posições – convergen-
tes – de um e outro modelo. Assim, abordamos, nesta ordem, as noções de: interação,
construção, desenvolvimento cognitivo e cerebral, estruturas de ação, e conhecimento e
controle sobre a própria cognição.

Interação – plano psicológico e neurológico

Para Piaget (1987), o conhecimento decorre da interação entre o sujeito e o


objeto. Tal interação expressa uma tendência de significado biológico – trata-se da adap-
tação do organismo ao seu ambiente. A adaptação cognitiva, como a sua equivalente
biológica, consiste em um equilíbrio entre assimilação e acomodação. A inteligência

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nada mais é do que um caso particular da adaptação do organismo ao meio, onde o


organismo assimila o meio à sua estrutura ao mesmo tempo em que a acomoda ao meio.

Em trabalho anterior (Corso, 2009), verificamos que os processos ‘psicológi-


cos’ de assimilação e acomodação definidos por Piaget podem ser explicados em termos
neurocientíficos pela própria atividade neuronal – que garante as trocas com o meio.
Assim, estruturas receptoras (neurônios aferentes ou sensitivos) recebem a informação
do meio, a enviam a regiões específicas do córtex cerebral, processando-a (através dos
neurônios associativos), o que resulta numa resposta do organismo enviada ao meio
através das estruturas efetoras (neurônios eferentes ou motores). Convergindo com essa
ideia, Ramozzi-Chiarottino (1972) afirma que a estruturação do sistema nervoso aparece
como intermediária entre o aspecto fisiológico e o aspecto mental, já que a reação ner-
vosa garantiria a transição entre a assimilação fisiológica e a assimilação cognitiva, isto
é, permitiria a integração de objetos ou situações aos esquemas de ação e, finalmente,
aos esquemas operatórios.

A própria noção de adaptação ao meio sofre evolução na obra de Piaget, que


em obras posteriores ao Nascimento da Inteligência na Criança faz referência a processos
de equilibração e de autorregulação. Em Biologia e Conhecimento, os processos cognitivos
são apresentados como sendo, simultaneamente, a resultante da autorregulação orgâ-
nica e os órgãos dessa regulação no âmbito das interações com o exterior. Como esclarece
Piaget (1973), em nenhum domínio (físico-químico, genético, embriológico, fisiológico,
neurológico) o organismo sofre as influências do meio tais quais, mas se mostra ao con-
trário essencialmente ativo com relação a elas. O mesmo acontece com respeito ao com-
portamento. Toda a organização vital, em todos os degraus, contém autorregulações, e
isso continua sendo válido no terreno do comportamento. Para Piaget, as funções cogni-
tivas seriam os órgãos especializados da autorregulação das trocas a nível do comporta-
mento. Como ele explica, o comportamento está exposto a todos os desequilíbrios, pois
depende de um meio ilimitado e instável. A autorregulação deve ser entendida no sen-
tido de uma interação cibernética, como sequências de compensações ativas do sujeito
em resposta às perturbações exteriores e de regulagem ao mesmo tempo retroativa, atra-
vés de feedback, e antecipadora, que constitui um sistema permanente dessas compen-
sações.

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A interação entre sujeito/organismo e objeto/meio, encontra seu correspon-


dente no modelo de Fuster no conceito de ciclo percepção-ação, no contexto do qual as
funções executivas tomam sentido. Ele explica que as funções executivas servem a uma
ampla variedade de atividades cognitivas e motoras, do movimento ocular à fala e ao
raciocínio, servindo ao propósito geral de ordenar sequencialmente ações em direção a
um objetivo – qualquer que seja ele. As funções executivas ocupam o topo do ciclo per-
cepção-ação.

O ciclo percepção-ação é um princípio biológico que se aplica a todas as es-


pécies superiores, e que regula a organização de todas as ações dirigidas para um obje-
tivo no domínio temporal. Tal ciclo caracteriza o fluxo de informação entre o organismo
e o seu ambiente em qualquer sequência deste tipo de ação, e o córtex pré-frontal é o
integrador temporal supremo, no topo do ciclo.

Como explica o neuropsicólogo, em todas as formas de comportamento, do


mais automático ao mais deliberado, uma ação motora não é desencadeada apenas por
sinais sensoriais novos ou inesperados, mas também é regulada por feedback sensorial
gerado por mudanças que a própria ação induz no ambiente externo. Assim, um padrão
circular de influências está operando no comportamento: desde o meio sobre o orga-
nismo através de receptores sensoriais, desde o organismo sobre o meio através de efe-
tores motores, desde o meio de volta sobre o organismo novamente através de receptores
sensoriais, e assim por diante.

Segundo Fuster, a primeira formulação desse conceito remonta ao biólogo


Uexküll (1926), que identificou esse padrão circular em muitas espécies animais. Ele teria
sido chamado mais tarde de “ciclo gestalt” por Viktor von Weizsäcker (1950), um neu-
rologista que teria reconhecido nele o princípio de indissolúvel união entre percepção e
movimento no sistema nervoso. Apenas em anos mais recentes, esse princípio e seus
aspectos operacionais teriam sido caracterizados como o “ciclo ação-percepção” (Arbib,
1981, 1985) ou, onde a ênfase não é tanto sobre o comportamento motor quanto sobre a
cognição, simplesmente o “ciclo de percepção” (Neisser, 1976). Mas, enfatiza Fuster, in-
dependentemente do termo que se use para designá-lo, o princípio é de um inquestio-
nável e crítico significado biológico, sendo inclusive o assunto explícito ou implícito de

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uma vasta literatura que trata dos mecanismos psicofísicos e neurais da interação sensó-
rio-motora, a base da neurocibernética e da robótica.

Nos sistemas nervosos dos organismos superiores, o ciclo percepção-ação


tem uma importante característica nova, qual seja o feedback interno dos efetores para
os sensores. Isso significa que, ao agir sobre o meio, a capacidade do sujeito de represen-
tar a ação em curso retroalimenta as estruturas sensoriais, o que permite modular os
próximos inputs sensoriais, e a partir daí, garante o controle da própria ação e planeja-
mento da sequência dela.

Toda a estrutura conectiva do sistema nervoso central e suas funções recep-


tivas e motoras permite reconhecer um ciclo de sensação-ação em todos os níveis das
hierarquias neurais para a sensação e o movimento, da medula espinhal para cima. A
cada nível de qualquer das hierarquias, sensorial ou motora, há comunicação com o meio
através de um nível correspondente da outra hierarquia. Este tipo de conectividade se
estende pelo córtex, onde o ciclo se torna o ciclo de percepção-ação e onde as conexões
recíprocas entre as duas hierarquias corticais servem às funções cognitivas do ciclo no
seu mais alto nível, na direção de sequências de ação em direção aos seus objetivos.

Construção – plano psicológico e neurológico

No sistema piagetiano, o conceito de interação e construção são interdepen-


dentes e complementares, pois a atividade assimiladora e acomodadora, que se desen-
rola na ação do sujeito, resulta, pelo próprio funcionamento, na formação de esquemas
– estruturas novas – que se sucedem em complexidade, e que garantem uma adaptação
cada vez mais perfeita ao real.

Coll (2004) argumenta que a ideia original do construtivismo teve uma pri-
meira formulação articulada e precisa nos trabalhos de Piaget e colaboradores, sendo
que esta ideia caracteriza um determinado paradigma do psiquismo humano. Segundo
tal paradigma o conhecimento resulta de uma dinâmica de interação entre as caracterís-
ticas do objeto e os aportes do sujeito, sendo fruto, portanto, da atividade mental cons-
trutiva

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A ideia de construção remete ao aspecto estrutural da inteligência. Pois, se o


equilíbrio entre a assimilação e a acomodação caracteriza a adaptação ao meio, esta é
indissociável da organização dos esquemas. O esquematismo da organização é insepa-
rável da atividade assimiladora e acomodadora, cujo funcionamento explica o desenvol-
vimento das sucessivas estruturas. Tais estruturas cognitivas, são, de fato, orgânicas, e
localizam-se no córtex cerebral. Mas elas não estão inscritas, como estruturas, desde o
início do desenvolvimento, e sim resultam do funcionamento cerebral.

Em trabalho anterior (Corso, 2009), procuramos encontrar a descrição neu-


rocientífica desse processo pelo qual o funcionamento de troca acaba resultando na cons-
trução de novas estruturas, ausentes no início do desenvolvimento. Na tentativa de en-
contrar o substrato neural do esquema piagetiano, chegamos ao conceito de engrama,
que caracteriza uma modificação estrutural do sistema nervoso, decorrente da sinapse;
esta, por sua vez, caracteriza a conexão entre neurônios decorrente da chegada de um
estímulo no processo de trocas com o meio. As conexões neuronais “detonadas” pelo
estímulo geram alterações moleculares ao nível do neurônio. A retenção dessas altera-
ções é representada pelo engrama, ou memória. Piaget (Piaget; Inhelder, 1979) salientou
a proximidade dos conceitos de esquema e memória.

Nesta pesquisa inicial, sobre as correspondências entre a teoria piagetiana e


o conhecimento neurocientífico, encontramos conceitos correspondendo de modo um
pouco genérico à ideia da construção cognitiva resultante da interação. Já no trabalho de
Fuster verificamos um modelo completo, abrangendo estrutura e dinâmica cerebral, que
descreve de forma detalhada a formação no córtex dessas estruturas cognitivas – redes
neurais, redes cognitivas, ou “cognits”. A descrição esclarece a organização hierárquica
que essas estruturas vão seguindo durante o processo de sua formação, bem como a
forma como elas processam a informação, conforme se tratar de percepção ou ação. Além
disso, o modelo esclarece o quanto há de integração entre essas estruturas de níveis hie-
rárquicos diferentes.

Como no modelo piagetiano, no modelo de Fuster também se verifica a des-


crição da formação de estruturas próprias para o ato de conhecer - as redes neurais ou

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cognits – a partir do ciclo percepção-ação. Tal ciclo vai dando lugar, pelo próprio funci-
onamento cerebral, e a partir de redes já presentes no início do desenvolvimento (estru-
turas inatas, ou memória filogenética), à formação de redes neurais progressivamente
mais complexas. O modelo apresenta toda a organização hierárquica dessas redes neu-
rais – redes cognitivas, ou, ainda, memórias – no córtex cerebral. Enquanto as redes per-
ceptivas localizam-se no córtex posterior, as redes motoras ou executivas encontram-se
no córtex frontal. Essa distribuição não é casual: nos mamíferos o eixo nervoso divide-se
longitudinalmente em duas partes, cada uma dedicada a uma das duas funções que são
as funções por excelência do sistema nervoso: a parte posterior para a função sensitiva,
e a anterior para a ação. Nos primatas, as áreas posteriores do córtex são dedicadas à
sensação, e as frontais ao movimento. No córtex cerebral humano, vemos isto aplicado
também às funções cognitivas, já que o córtex occipital, parietal e temporal dão suporte
à percepção e à memória perceptiva, enquanto o córtex frontal dá suporte à ação e à
memória executiva ou motora.

Fuster explica que a maior parte do nosso comportamento está baseado na


experiência, e que especialmente o comportamento deliberado requer o funcio-
namento apropriado do córtex cerebral, porque é nele que as representações da
experiência sensorial individual e das ações comportamentais residem. Iniciando
pela hierarquia posterior, o neuropsicólogo explica que a memória e o processa-
mento perceptuais e a representação de imagens e conceitos do mundo externo
estão ancorados na parte posterior do córtex, em grandes redes de neurônios in-
terconectados. Estas redes perceptivas transcendem áreas anatômicas e modula-
res, e estão organizadas em uma hierarquia, de áreas interconectadas, depen-
dendo do seu conteúdo ser sensitivo, ou ser mais complexo e abstrato. O desen-
volvimento dessas hierarquias começa na base, no córtex sensitivo, e progride
para cima, em direção aos córtices de associação.

Novas redes decorrem em grande medida de inputs sensoriais que ocorrem


simultaneamente, mas inputs internos, a partir de memórias preexistentes, também par-
ticipam da constituição dessas novas redes. São inputs vindos das redes de memória de

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longo prazo que foram evocados e reativados por inputs sensoriais. Deste modo, os in-
puts novos vão estabelecer novos links associativos com links mais antigos, já estabele-
cidos. Assim, novas memórias, ou novas redes, são expansões de redes anteriores.

A formação de redes de memória no córtex, tanto em termos de filogenia,


quanto de ontogenia e de conectividade, segue uma direção bastante definida do córtex
sensorial primário em direção às áreas associativas do córtex1. A formação de novas re-
des de memórias sobre as antigas, do córtex sensitivo primário até o córtex associativo,
leva à sobreposição de redes mais amplas representando conhecimento e memória mais
abstratos e mais categóricos em áreas hierarquicamente mais altas do córtex posterior.
Consequentemente, memórias sensoriais unimodais ficam na base, imediatamente
acima das áreas sensitivas primárias, que constituem, elas próprias, uma forma de me-
mória: memória sensorial filogenética, ou “memória da espécie”.

A memória da espécie corresponde à estrutura física do córtex sensitivo pri-


mário, e está na base de toda a hierarquia da memória. É uma memória estrutural inata,
geneticamente adquirida, que foi formada ao longo da evolução, com a adaptação do
organismo ao seu ambiente. Tal memória sensorial filogenética é ensaiada durante certos
períodos críticos no começo da vida e é mais tarde recuperada com cada ato perceptivo.
Crescem sobre esta base, em níveis sucessivamente mais altos, todas as outras memórias
perceptivas: as redes da memória unimodal e polimodal, memória episódica, memória
semântica e memória conceitual. Assim, as camadas progressivamente superiores da
hierarquia perceptiva acomodam progressivamente redes mais amplas que representam
informação progressivamente abstratas e complexas, adquiridas através dos sentidos.

1 As áreas primárias, também chamadas de áreas de projeção, estão diretamente relacionadas com a motri-
cidade ou a sensibilidade. As áreas associativas são de dois tipos - de associação unimodal (envolvidas no
processamento do mesmo tipo de informação que as áreas primárias às quais elas se encontram bem pró-
ximas), e de associação heteromodal ou supramodal (relacionam informações de diferentes modalidades)
(Cosenza, 2004). Nos seres humanos, cerca de 75% do córtex cerebral está formado por áreas de associação;
elas integram informações variadas dos córtices senosoriasis e enviam a informação integrada ao córtex
motor, dando início ao comportamento intencional e à expressão de pensamento lógico e refletido (Ster-
neberg, 2008).

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Fuster explica que, de modo muito parecido com o que acontece nas áreas
corticais posteriores, as áreas frontais abrigam também uma hierarquia, mas aqui envol-
vida com a representação e o processamento da ação. No nível mais baixo desta hierar-
quia frontal está o córtex motor primário. Acima dele estão as áreas de associação uni-
modal, e acima destas estão as áreas do córtex pré-frontal. A memória motora, portanto,
também é hierárquica, como a memória perceptual, e as memórias motoras são repre-
sentadas de uma maneira ordenada naquela hierarquia das áreas frontais. Mais ainda,
de forma similar ao modo como a percepção é processada hierarquicamente no setor
cortical posterior, assim também a ação é processada hierarquicamente no setor frontal.
A execução de ações motoras resulta em grande medida da recuperação de memórias
motoras, isto é, de redes executivas no lobo frontal, e do seu papel na preparação do
aparato motor para a sua reapresentação.

Apesar dessas similaridades, há diferenças entre as hierarquias corticais pos-


terior e frontal. No córtex posterior o fluxo conectivo principal parte das áreas de pro-
cessamento primárias (sensitivas), no nível cortical mais baixo, e procede através das
áreas associativas. No córtex frontal o fluxo ocorre na direção contrária, partindo das
áreas associativas (pré-frontais), o nível cortical mais alto da hierarquia motora, e proce-
dendo através do córtex pré-motor em direção à área motora primária.

De todo o modo, o que está claro no modelo de Fuster é que, em ambas as


hierarquias, verifica-se nos níveis mais baixos redes que são inatas (memória filogené-
tica) e, ao contrário, nos níveis mais elevados, as redes são formadas por modulação si-
náptica associativa através da experiência de vida.

Desenvolvimento cognitivo e cerebral - caráter integrativo da sucessão de estruturas

Cada estágio do desenvolvimento cognitivo é descrito por Piaget como


sendo construído através da diferenciação, integração e síntese de novas estruturas a
partir das estruturas anteriores, o que torna a sequência dos estágios cognitivos logica-
mente necessária. Assim, os estágios seguem uma ordem constante, assim como pos-
suem um caráter integrativo: estruturas mais baixas permanecem contidas nas estrutu-
ras de nível superior.

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Para Piaget (1973), três características definem os estágios ou fases do desen-


volvimento cognitivo. Em primeiro lugar, a ordem de sucessão dos comportamentos é
constante, independentemente de acelerações ou retardamentos que modificam as ida-
des cronológicas médias, em função de experiências particulares. Em segundo lugar,
cada fase é definida por uma estrutura de conjunto, que caracteriza todos os comporta-
mentos novos da fase. Em terceiro lugar, o processo de sucessão desses estágios tem uma
natureza integrativa, isto é, cada nova estrutura é preparada pela estrutura precedente,
ao mesmo tempo em que permanece contida na estrutura seguinte.

O caráter integrativo do desenvolvimento das estruturas cognitivas descrito


por Piaget encontra uma fundamentação incontestável na neurobiologia, o que fica claro
na descrição de Fuster acerca do modo como cada nível de ambas as hierarquias – pos-
terior e frontal – estão totalmente imbricados uns nos outros.

Como explica Fuster, nas duas hierarquias representações simples ficam na


base, enquanto as mais abstratas ocupam o topo. Entretanto, também em ambas hierar-
quias, a sobreposição de categorias cognitivas não pode ser tomada muito rigidamente,
nem em termos estruturais, nem em termos funcionais. Na realidade não existe separa-
ção clara entre as categorias dos cognits, pois suas redes são misturadas. Elas contêm
populações neurais constituintes de diferentes níveis hierárquicos. Isto é em parte com-
preensível se considerarmos como as redes cognitivas são formadas, da base para cima.
Em qualquer nível, as redes mantêm laços com o nível abaixo, redes mais simples que
contribuíram para a sua formação e permanecem encaixadas nelas. Como consequência,
não há memória pura de nenhuma categoria. Memória semântica, por exemplo, é feita a
partir da base para cima por instâncias de experiências de um nível mais baixo. (por
exemplo, episódico); as memórias do nível mais baixo se tornam parte inextricável das
redes superiores.

Ainda acerca da integração entre as diferentes camadas das hierarquias fron-


tal e posterior, o neuropsicólogo explica que a própria reativação dos cognits de um nível
inferior servirá como o acesso associativo para a recuperação dos cognits de um nível
superior. De forma similar, na hierarquia executiva, movimentos simples e a suas repre-

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sentações contribuirão para a formação de representações de ações motoras maiores (su-


periores). Eles também se tornarão parte integral de sua atuação. Portanto, se a organi-
zação hierárquica das redes de memória é um princípio geral sólido com uma base neu-
robiológica sólida, também fica evidente que tanto no conteúdo representacional como
funcional dessas redes (perceptivas e executivas) há um grau considerável de interação
entre camadas hierárquicas.

Estruturas de ação – esquemas e cognits

O modelo de Fuster define as funções executivas como funções que servem


a uma ampla variedade de atividades cognitivas e motoras, do movimento ocular à fala
e ao raciocínio. Em todas as instâncias, elas servem ao propósito geral de ordenar se-
quencialmente ações para alcançar um objetivo. Todas as ações dirigidas para um fim
requerem as funções integrativas do córtex pré-frontal.

Nem todos os construtos da ação, mesmo que longos e complexos, estão re-
presentados no córtex pré-frontal, como é o caso das ações de sequência automática ou
bem ensaiadas. As áreas pré-frontais estão envolvidas em ações sequenciadas apenas
durante o estágio de aprendizado da tarefa. Depois é como se o engrama da tarefa, a
memória procedural dela, tivesse migrado para áreas mais baixas da hierarquia frontal.
Mas as variantes novas de estruturas de ação antigas são também representadas no cór-
tex pré-frontal.

Segundo Fuster, a novidade de uma estrutura pode ser determinada pela


necessidade de adaptação às mudanças do ambiente, ou pode ter sido gerada pelo indi-
víduo, a partir da criação de uma imagem mental de um novo programa de ação, um
novo plano. Mas o que queremos chamar atenção aqui é para como Fuster define essa
estrutura da ação. Segundo ele, ela é uma gestalt temporal que, como as gestalts espaci-
ais, segue a lei da proximidade – elementos contíguos ou próximos são tratados como
pertencendo à mesma configuração; elementos distantes não. No caso da gestalt da ação,
a coesão é garantida também pelo objetivo desta ação, além da proximidade temporal
dos atos do indivíduo. Além disso a gestalt temporal é um composto de perceptos sen-
soriais e ações motoras. Nas gestalts, espaciais ou temporais, o significado encontra-se
não nas suas partes componentes, mas nas relações associativas das partes entre si, o

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que, no caso de gestalts temporais, incluem ordem das ações e também o timing, ou a
habilidade de execução no tempo certo. Importante destacar que, ao aproximar a estru-
tura da ação do conceito de gestalt, isto parece se dar em função da noção de totalidade
presente no conceito. Fuster faz uma ressalva importante ao tomar emprestada a noção
de gestalt, o que o aproxima novamente da posição piagetiana acerca do conhecimento
e do desenvolvimento cognitivo. Ele esclarece que a sua posição diverge da psicologia
da Gestalt no sentido de não concordar com o inatismo que prejudica a teoria gestáltica
clássica. Segundo ele, o organismo não experimenta meramente gestalts temporais; ele
as constrói sob forma de comportamento, com a assistência fundamental do córtex pré-
frontal.

Fuster afirma que a representação desta gestalt da ação é o equivalente do


que muitos escritores chamam de esquema. O esquema significa o plano ou programa
de ação. Não representa todos os seus elementos e passos, mas em vez disso ele é um
resumo abstraído daquele plano ou programa, que pode conter alguns dos seus compo-
nentes e também contém, de alguma maneira, seu objetivo. O neuropsicólogo diz, lite-
ralmente, que o esquema é quase idêntico ao esquema de Piaget, citando também outros
psicólogos cognitivos que estabeleceram conceitos para expressar esquemas mentais ou
memórias que resumem ações complexas (Neisser, Grafman, Schank e Abelson). Para
ele esquemas novos, planos e programas são representados em cognits executivos, isto
é, em redes de larga escala do córtex pré-motor e pré-frontal que atravessam diversos
domínios de ação. Além disso, essas representações frontais são a pré-condição para a
sua execução, já que eles existem justamente para guiar ações na direção dos seus obje-
tivos. É o córtex pré-frontal que realiza o monitoramento do comportamento, no sentido
de verificar se ele está coerente com todo o plano de sequências de ação, e com o objetivo
final.

Conhecimento e controle sobre a própria cognição – abstração refletidora e funções


executivas

Para Piaget (1973), a construção das estruturas cognitivas caracteriza um


processo de abstração refletidora, pois procede por abstrações sucessivas, processo que
pode ser analisado tanto do ponto de vista formal quanto psicológico. Sob o ponto de
vista formal ou lógico, o desenvolvimento de uma estrutura a partir da abstração de

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elementos retirados da estrutura anterior, que serão recombinados num novo plano. A
nova estrutura se faz a partir da anterior, ao mesmo tempo que a engloba. Do ponto de
vista psicológico, este processo de abstração é característico do pensamento lógico ma-
temático e se faz sobre as ações ou as operações prévias do próprio sujeito com seus
resultados. Trata-se de um processo de reconstrução, num plano superior, do que foi
transferido ou retirado de um plano inferior, permitindo a integração da estrutura pre-
cedente numa mais rica e de nível superior.

A abstração refletidora permite compreender a presença simultânea da no-


vidade e da continuidade no processo de construção do conhecimento. O processo ge-
nético é a um só tempo construtivo e reflexivo. Há construção, já que cada nova estrutura
amplia e generaliza a estrutura precedente, por combinação com os elementos próprios
do novo plano de reflexão, o que se constitui em novidade. Ao mesmo tempo há conti-
nuidade, já que no processo de reflexionamento dá-se a reconstrução da estrutura pre-
cedente. E este processo construtivo e reflexivo pode ser recuado indefinidamente pois
é próprio de toda a organização viva, o que atesta a continuidade afirmada por Piaget
entre o orgânico e o mental.

A função autorreguladora dos mecanismos cognitivos conduz às mais está-


veis formas de equilíbrio conhecidas pelo ser vivo, quais sejam as das estruturas da in-
teligência, cujas operações lógico-matemáticas se impõem necessariamente. O ápice da
construção cognitiva na descrição piagetiana é o estágio das operações formais, que
provê o indivíduo com a habilidade de raciocinar sobre conceitos abstratos, ou sobre
hipóteses, graças, justamente, à inversão de sentido entre o real e o possível, garantido
pela passagem da estrutura das operações concretas à estrutura das operações formais.
São também estas últimas que permitem o sistemático planejamento do futuro.

Na descrição de Fuster, as funções executivas representam o ápice do ciclo


percepção-ação e envolvem claramente, embora não só, o córtex pré-frontal. Comporta-
mentos novos e elaborados requerem operações levadas a cabo principalmente pelo cór-
tex pré-frontal: é preciso prestar atenção ao ambiente, em busca de pistas significativas,
é preciso realizar movimentos intencionais e elaborados, é preciso monitorar e atualizar

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informações relevantes e checar essas informações junto ao esquema de ação e seu obje-
tivo. Essas operações são as funções executivas, que, segundo Fuster, são basicamente
três. Este é um número cardinal: não há uma ordem entre as funções, e elas aparecem
completamente inter-relacionadas, de modo que a descrição separada é feita apenas por
razões operacionais. A atenção executiva, primeira das funções executivas nomeadas
pelo autor, adota três formas complementares: preparação, memória de trabalho, e con-
trole da interferência. A segunda função é o planejamento, e a terceira é a tomada de
decisão. Tais funções não correspondem a localizações anatômicas, pois são funções in-
tegrativas – integram inputs de muitas regiões corticais e subcorticais, e, portanto, são
distribuídas na corticalidade. Mesmo assim, há um foco de domínio dentro do córtex
pré-frontal.

Consideremos de forma breve cada uma dessas funções. A atenção executiva


corresponde a uma ativação neural geral, de origem largamente subcortical, que o autor
caracteriza como um drive básico. Drive, diz Fuster, é a fonte de alerta ou atenção geral,
e de interesse no mundo e no self, que determina a iniciativa e o vigor com os quais o
organismo desempenha ações comportamentais. A atenção executiva possui três aspec-
tos. O primeiro deles é set, ou preparação para a ação, que envolve a coordenação ante-
cipadora de ações para o atingimento do objetivo principal ou dos sub-objetivos neces-
sários para o atingimento do principal objetivo. A preparação começa nos níveis mais
altos da hierarquia pré-frontal, que codifica regra, planos e objetivos de longo prazo, e
então progride através de níveis mais baixos, pré-motores e motores que codificam ações
mais concretas para o atingimento de objetivos parciais em direção ao objetivo principal.
A memória de trabalho, o segundo aspecto da função executiva, é um tipo de atenção
focada sobre uma representação interna, ou sobre uma rede cognitiva executiva para o
processamento de uma ação prospectiva. O controle da interferência, terceiro aspecto da
atenção executiva, protege o que está no foco de interferências vindas da percepção ou
da memória, e que não é pertinente à tarefa.

O planejamento, como as outras funções executivas, tem uma perspectiva de


futuro, mas eles estão ancorados em memória executiva já estabelecida. Um novo plano,
explica Fuster, é um rearranjo desta memória com um novo conjunto de objetivos, uma
nova ordem um novo cronograma, e um novo e recente objetivo. A tomada de decisão,

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terceira função executiva, descrita por ele, é definida como a formulação de um curso de
ação com a intenção de executá-la e envolve a análise e avaliação de uma variedade de
itens vindos da percepção sensorial, memória e motivação, sendo que a maioria desses
itens, ou todos eles, podem ser inconscientes.

O desenvolvimento pleno do córtex pré-frontal – última etapa do desenvol-


vimento neurológico (Ohlweiller, 2006) – e foco principal das funções executivas, corres-
ponde, no plano psicológico, ao desenvolvimento da estrutura operatória de nível for-
mal. Eis como Fuster descreve o que seria o ápice da evolução – tanto filogenética quanto
ontogenética – o máximo de desenvolvimento que o ciclo percepção-ação permite. Para
o neuropsicólogo, o desenvolvimento evolucionário de áreas cada vez mais altas de as-
sociação, tanto no córtex posterior quanto no anterior, reflete a abertura de possibilida-
des cada vez maiores para a abstração (simbolismo) e para as ações com objetivos, ela-
boradas e deliberadas. Essas possibilidades atingem um máximo (que é, na verdade, in-
finito) nos humanos, em que o desenvolvimento dessas duas regiões associativas gran-
des, uma posterior e outra pré-frontal, provê o substrato cortical para o raciocínio lógico
e para a compreensão e a expressão da linguagem. A expansão evolucionária de possi-
bilidades se estende no domínio temporal, o que fica evidente quando se considera as
funções integrativas temporais do córtex pré-frontal que derivam de suas capacidades
representacionais - isto é, da riqueza de suas redes cognitivas, seus cognits executivos. E
parte desta riqueza, pondera o neuropsicólogo, repousa na capacidade de representar o
futuro.

Em termos funcionais, afirma Fuster, nada distingue tanto o córtex pré-fron-


tal de outros córtices (e especialmente o córtex pré-frontal dos humanos em relação aos
córtices dos outros animais), quanto a sua capacidade de representar o futuro e preparar
o organismo para ele. Pelo menos metade das funções pré-frontais ‘olham para o futuro’;
implícita ou explicitamente o futuro está na maioria daquelas funções – preparação, pla-
nejamento, previsão de valor, ação corretiva, etc. Para ele, seria ainda mais correto dizer
que todas as funções identificadas do córtex pré-frontal têm uma perspectiva de passado
e uma perspectiva de futuro. Todas aquelas funções estão baseadas em representações
do passado com vistas a uma ação a ser realizada em algum momento no futuro, não
importa se próximo ou remoto. É essa perspectiva de futuro que confere teleologia às

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funções pré-frontais. Num desvio em relação à metodologia científica convencional, é


praticamente impossível compreender causalidade na fisiologia frontal sem o raciocínio
teleológico. Tal raciocínio recruta redes cognitivas representando ações que irão aconte-
cer ou que poderiam acontecer – em outras palavras, cognits prospectivos ou potenciais.

Considerações finais

Como enfatizamos em nosso primeiro trabalho que buscou relacionar a teo-


ria piagetiana com conhecimentos neurocientíficos (Corso, 2009), é preciso considerar o
comportamento, a cognição e a base neural da atividade mental humana como níveis de
análise relativamente independentes (Mansur & Radanovic, 2004). Mesmo assim, é sem-
pre de interesse buscar as relações entre esses aspectos. Tais relações podem enriquecer
reciprocamente a compreensão sobre cada um desses níveis. Nesse sentido, parece-nos
procedente o estabelecimento de aproximações entre o modelo piagetiano e o de Fuster.

É inegável o envolvimento do cérebro no comportamento, mas isso não deve


ser visto num sentido reducionista e determinista, como se todo o comportamento fosse
determinado pelo cérebro. Reconhecer o papel do sistema nervoso nos processos de
comportamento e aprendizagem não corresponde a entender essas bases neurológicas
como inatas, e emergindo de acordo com um cronograma maturacional. Os modelos
dentro da Neuropsicologia há muito superaram essa visão de causalidade unidirecional
do cérebro para o comportamento. Pelo contrário, como explica Pennington (2009), a
relação entre cérebro e comportamento é uma via de mão dupla. O chamado Co- cons-
trutivismo Biocultural, proposto por alguns neurocientistas (Li, 2006; Nelson, 2006), en-
fatiza o envolvimento da experiência e do ambiente no desenvolvimento cerebral. Fica
claro que, dentro de modelos de desenvolvimento interacionistas ou construtivistas –
como os propostos por Piaget e Fuster – levar em conta as bases neurológicas do conhe-
cimento não significa desconsiderar ou diminuir o papel do meio – o que inclui a escola
– naquele processo.

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Referências

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