Congruência Ideológica e Política em Angola - GMJ
Congruência Ideológica e Política em Angola - GMJ
Congruência Ideológica e Política em Angola - GMJ
Orientadora:
Doutora Ana Maria da Conceição Belchior, Professora Associada
ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa
Agosto, 2012
Agradecimentos
Este momento de agradecimentos pode ser um ‘‘momento de desagradecimentos’’,
sobretudo, e neste caso, quando é impossível lembrarmos de todos quantos de maneira
significativa ou não, deram o seu prestimoso contributo para pragmatização deste
trabalho. Não que isso tenha de significar, necessariamente, um pedido de desculpas
antecipado, não! Não, porque ainda assim, este trabalho humilde não o seria se deixasse
de agradecer a todos quanto nele e para ele contribuíram.
Quero neste ‘‘momento de desagradecimento’’, agradecer em especial e em
primeiro lugar, a minha querida orientadora de pesquisa, Professora Doutora Ana Maria
Belchior, pela sempre pontual atenção que dedicou a este trabalho, pelas críticas sempre
construtivas que me deu, pelo zelo que sempre dedicou a este trabalho, e pela procura
incansável das melhores soluções para os obstáculos que foram surgindo no trilhar deste
caminho…, querida Professora, muito obrigado!
Os meus agradecimentos vão também para a minha família, que apesar de
distante, sempre constituiu o suporte mais importante para continuar essa caminhada,
em especial, a minha mãe e aos meus irmãos.
Agradeço o apoio incondicional da Dra. Elisa Beatriz Daniel que com muito
carinho sempre esteve ao meu lado nos bons e nos maus momentos; agradeço o apoio
dos meus colegas e irmãos com quem partilhei os dias dessa trajectória.
Quero também expressar os meus agradecimentos aos Deputados da Assembleia
Nacional de Angola que calorosamente aceitaram colaborar para a recolha de dados
para este trabalho, e aqui, um agradecimento especial à deputada Dra. Emília Carlota e
ao Grupo Parlamentar das Mulheres, aos líderes dos Grupos Parlamentares do MPLA,
da UNITA, da FNLA, do PRS e da ND coligação; os meus agradecimentos ao Mestre
Hélder Bahú, ao Prof. Doutor Yura Udumyan pela amizade e pelo contributo que me
prestaram nesta caminhada.
De maneira geral, mas não menos importante, aos professores do mestrado de
Ciência Política do ISCTE, em particular ao Professor Doutor José Viegas e ao
Professor Doutor André Freire, os meus agradecimentos. E, mais uma vez, um
agradecimento, também especial, a todos que, apesar de não citados aqui, contribuíram
para a concretização deste trabalho.
Muito obrigado!
ii
Resumo
Esta pesquisa disserta sobre o tema da congruência ideológica e política nos partidos
políticos em Angola. O tópico é abordado sob a óptica da congruência ideológica e
política entre eleitos e eleitores.
Partindo da literatura relevante sobre o tópico, o objectivo central desta pesquisa
consiste em estudar, numa perspectiva descritiva, a congruência ideológica e política
nos partidos políticos angolanos através da aferição das posições ideológicas e políticas,
e em termos de prioridades em preferências políticas entre os eleitos (deputados dos
partidos políticos com assento na Assembleia Nacional de Angola) e eleitores
(estudantes de licenciatura em ciência política, direito, economia e sociologia).
Este trabalho pretende contribuir para o estudo da representação ideológica e
política de maneira geral (sob a perspectiva da congruência entre representantes e
representados), e, em particular, para a compreensão desta em sistemas políticos em que
a democracia não está ainda consolidada, como é o caso angolano. Tal implica um olhar
alternativo sobre o estudo da representação ideológica e política, dado colocar em
perspectiva um caso pouco ortodoxo; ou seja, este trabalho, ao contrário dos que têm
sido realizados, traz à discussão a problemática num país ainda em transição para a
democracia.
iii
Abstract
This research talks about the theme of congruence in the ideological and political in
political parties in Angola. The topic is addressed under the perspective of ideological
and political congruence between elected officials and voters.
On the basis of relevant literature on the topic, the central objective of this
research is to study, a descriptive perspective, ideological and political congruence in
the Angolan political parties, using the benchmarking of ideological and political
positions, in terms of priorities in policies preferences among elected (members of
political parties with seats in the National Assembly of Angola) and voters (students of
Bachelor's degree in political science, law, economics and sociology).
This work intends to contribute to the study of ideological and political
representation in a general way (from the perspective of the congruence between
representatives and represented), and, in particular to the understanding of this political
systems in which democracy is not yet consolidated, as is the case in Angola. This
implies an alternate look on the study of ideological and political representation, as put
into perspective an unorthodox case, i.e. this work, this work, unlike that have been
conducted, brings to discussion the problematic in a country still in transition to
democracy.
iv
Índice Geral
Índice de Quadros ............................................................................................................ vi
Índice de Gráficos ........................................................................................................... vii
Glossário de Siglas ........................................................................................................ viii
Introdução ........................................................................................................................1
Capítulo I – A Representação Política Sob a Óptica da Congruência
Intrapartidária .................................................................................................................3
1.1 Sobre a Representação Ideológica e Política ........................................................3
1.2 Representação Ideológica e Política Medida por Congruência ............................7
1.3 Objecto e Objectivos da Pesquisa.........................................................................9
v
Índice de Quadros
Quadro 2.1 – Síntese dos objectivos e da operacionalização das três dimensões da
congruência......................................................................................................................16
Quadro 3.1 – Resultados das eleições legislativas de 1992 .............................................19
Quadro 3.2 – Resultados das eleições presidenciais de 1992 ..........................................20
Quadro 3.3 – Resultados das eleições legislativas de 2008 .............................................21
Quadro 3.4 – Avaliação da Freedom House sobre Angola (1975-2012) ........................23
Quadro 4.1 – Autoposicionamento médio na escala esquerda-direita entre deputados e
eleitores com respectivas diferenças................................................................................30
Quadro 4.2 – Congruência entre deputados e eleitores em assuntos políticos por partido
político (%). .....................................................................................................................32
Quadro 4.3 – Prioridades em 3 objectivos mais importantes para o país (diferenças
médias gerais entre deputados e eleitores do MPLA) .....................................................35
Quadro 4.4 – Prioridades em 3 objectivos mais importantes para o país (diferenças
médias entre deputados e eleitores da UNITA) ...............................................................36
Quadro AI.1 – MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) ............................ i
Quadro AI.2 – UNITA (União Nacional para Libertação Total de Angola) .................... ii
Quadro AI.3 – FNLA (Frente de Libertação Nacional de Angola) ................................. iii
Quadro AI.4 – PRS (Partido de Renovação Social) ........................................................ iv
Quadro AI.5 – ND (Nova Democracia-Coligação) ...........................................................v
Quadro AI.6 – Síntese Comparativa dos 5 Partidos Políticos ......................................... vi
Quadro AII.1 – Respostas dos deputados por Grupo Parlamentar (%) ........................... ix
Quadro AII.2 – Segmentação dos deputados pelas variáveis grupo parlamentar e pelas
variáveis sociodemográficas: sexo, idade e escolaridade (%) ......................................... ix
Quadro AII.3 – Segmentação dos estudantes pela variável da identificação partidária e
pelas sociodemográficas: sexo, idade e escolaridade do pai (%) .................................... xi
vi
Índice de Gráficos
Gráfico 4.1 – Autoposicionamento na escala esquerda-direita entre deputados e eleitores
(distribuição de frequências) ..........................................................................................28
Gráfico 4.2 – Autoposicionamento médio entre deputados e eleitores por partido
político na escala esquerda-direita ...................................................................................29
Gráfico 4.3 – Prioridades em 3 objectivos mais importantes para o país (diferenças
médias entre deputados e eleitores) .................................................................................34
Gráfico AII.1 – Distribuição dos estudantes por curso (%) ............................................ xi
vii
Glossário de Siglas
AD – Angola Democrática Coligação
AMA – Associação da Mulher Angolana
ANIA – Aliança Nacional Independente de Angola
D – Deputados
Dif. – Diferença
DP – Desvio Padrão
E – Eleitores
EUA – Estados Unidos da América
FDA – Fórum Democrático Angolano
FNLA – Frente Nacional de Libertação de Angola
FpD – Frente para Democracia
GP – Grupo Parlamentar
JMPLA – Juventude do Movimento Popular de Libertação de Angola
JFNLA – Juventude da Frente Nacional de Libertação de Angola
JPDP-ANA – Juventude do Partido Democrático para o Progresso – Aliança Nacional
Angolana
JURA – Juventude Unida Revolucionária de Angola
LIMA – Liga da Mulher Angolana
M – Média
MPDA – Movimento para a Democracia de Angola
MPLA – Movimento Popular de Libertação de Angola
N – Número absoluto
ND – Nova Democracia, Coligação Eleitoral
OMA – Organização da Mulher Angolana
PAJOCA – Partido da Aliança da Juventude Operária e Camponesa
PDP-ANA – Juventude do Partido Democrático para o Progresso – Aliança Nacional
Angolana
PLD – Partido Liberal Democrático
PNDA – Partido Nacional Democrático de Angola
PSD – Partido Social Democrata
PRD – Partido da Renovação Democrática
PRS – Partido da Renovação Social
viii
PSIA – Partido Social Independente de Angola
PSL – Partido Socialista Liberal
UADPDD – União Angolana pela Paz, Democracia e Desenvolvimento
UMRS – União das Mulheres da Renovação Social
UNITA – União Nacional para a Independência Total de Angola
UND – União Nacional para a Democracia
UNRD – União Nacional para a Renascença Democrática
URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
ix
INTRODUÇÂO
O artigo seminal de Miller e Stokes ‘‘Constituence Influence in Congress’’ publicado
em 1963 na American Political Science Review inaugurou uma tradição proeminente no
estudo da representação ideológica e política cujo paradigma assenta na aferição da
congruência entre as preferências dos eleitos e eleitores, tradição que se tem centrado
nos estudos da representação ideológica e política nas democracias ocidentais, nunca se
aventurando na esfera de outros regimes políticos.
Esta pesquisa é uma dissertação para a obtenção do grau de mestre em ciência
política, subordinado ao tópico da congruência ideológica e política em Angola,
colocando em perspectiva um caso de estudo de uma democracia não consolidada, e ao
mesmo tempo, um caso de estudo nunca antes aflorado sob a óptica da congruência
ideológica e política.
Os objectivos específicos deste trabalho são: primeiro, aferir a congruência por
meio dos cálculos médios dos autoposicionamentos entre eleitores e eleitos na escala
ideológica esquerda-direita; segundo, aferir a congruência por meio dos cálculos médios
dos graus de concordância entre eleitores e eleitos em assuntos políticos tipicamente
caracterizadores da dimensão esquerda-direita tradicional; e o terceiro, aferir a
congruência por meio do cálculo das preferências em termos de prioridades de políticas
públicas para o país.
Esta dissertação está substancialmente estruturada em quatro capítulos. O
capítulo I apresenta a revisão da literatura mais relevante sobre a representação política,
em particular, no que respeita à sua medição através de medidas de congruência, bem
como, problematiza e apresenta a questão de pesquisa, o objecto e os objectivos de
pesquisa.
O capítulo II, essencialmente metodológico, apresenta as razões da escolha do
caso de estudo, a operacionalização da congruência nas três dimensões em análise:
escala ideológica esquerda-direita, assuntos políticos e políticas públicas. Debruça-se
também sobre os critérios e dimensão das amostras seleccionada para esta pesquisa e
sobre os instrumentos de recolha de dados.
Dado que a realidade política que se estuda nesta pesquisa tem uma natureza sui
generis no contexto dos estudos sobre representação ideológica e política aferida
mediante medidas de congruência, torna-se necessário compreender as principais
características do sistema político e partidário. Com este intuito, faz-se no capítulo III,
1
uma breve incursão e caracterização do contexto do regime político em Angola, tal
como se apresenta, sistematizadamente, a caracterização do sistema partidário angolano.
No capítulo IV, faz-se a apresentação e interpretação dos resultados empíricos
obtidos nas três dimensões em análise nesta pesquisa: escala ideológica esquerda-
direita, assuntos políticos esquerda-direita e em termos de prioridade de políticas
públicas, fazendo-se a discussão e enunciação das principais conclusões da
investigação.
O capítulo I é apresentado de imediato.
2
CAPÍTULO I – A REPRESENTAÇÃO POLÍTICA SOB A ÓPTICA DA
CONGRUÊNCIA INTRAPARTIDÁRIA
3
representado? São as características sociais dos indivíduos que devem ser representadas,
ou devem ser representadas concepções de bem comum (Grofman, 1982; Pantoja e
Sejura, 2003; Belchior, 2010b:71 e outros)?
Para Pitkin (1976), a representação das características dos indivíduos é
substancialmente uma representação de cariz tipológico das principais categorias
sociais, igualmente, designada por representação descritiva (ver também Pantoja e
Sejura, 2003).
De outro modo, a representação das concepções de bem comum remete-nos para
a qualidade da representação no sistema político, e por sua vez, revela-se mais
complexa de determinar (Thomassen e Schmitt, 1999:3-21).
Uma outra questão que há muito se levanta na literatura sobre a representação
política consubstancia-se em saber se os representantes devem compelir a actividade de
representação à vontade dos que os elegeram ou se deve o vínculo quebrar-se após à
eleição como preceitua Schumpeter (1996)?
Sobre esta questão, a literatura destaca que a representação política pode,
legitimamente, por um lado, assumir uma lógica mais mandatária, subordinada à
congruência com os eleitores, ou, por outro lado, assumir uma feição mais independente
das indicações dos eleitores.
O estilo de representação pode ser mandatário quando exercido linearmente em
função das directrizes dos eleitores, ou independente, quando pautado pelo julgamento
pessoal do representantes. Do mesmo modo, a representação política pode focar-se nos
interesses da circunscrição ou nos interesses nacionais (Eulau et al., 1959; Birch 1971;
Thomassen, 1994 e ver também: Belchior, 2010b cap. II).
Para alguns autores (Eulau, 1987:212, Thomassen, 1994:240-249), o estilo
mandatário traduz uma visão menos lógica e até mesmo obsoleta da democracia
representativa. Anthony H. Birch no seu livro Representation (1971:100) alega que ‘‘ a
teoria do modelo mandatário pode ser razoável como conjunto de recomendações do
que deve acontecer, mas esta é enganadora se tomada como modelo de prática
concreta’’.
Como nos lembram Converse e Pierce (1986: 493-495), o modelo mandatário
tem a sua ancoragem nos valores democráticos, onde essa visão define o representante
como uma espécie de ‘‘delegado’’ de quem se espera que actue de acordo com as
instruções explícitas dos seus constituintes.
4
Neste diapasão, na medida em que o governo representativo deve preservar uma
certa autonomia na decisão sobre a vontade dos seus eleitores, o modelo mandatário
desloca-se, definitivamente, dos postulados modernos da democracia representativa
(Manin, 1995: cap. V, citado por Belchior, 2010a:131). Neste sentido, este modelo deve
ser visto como idílico, potencialmente nocivo e contraditório aos interesses
democráticos.
A percepção da perspectiva independente foi celebrizada pelo filósofo e político
anglo-irlandês Edmund Burke numa lógica do ‘‘mandato não imperativo’’ no seu
discurso aos eleitores de Bristol em 1774, onde este coloca o peso da gravidade da
representação política no julgamento independente dos representantes, mais compatível
com os pressupostos da democracia moderna (Birch, 1971:79; Dalton, 1985:269, ver
também Aurélio, 2009:53).
Segundo os escritos dos The Federalist Papers, a representação teria mesmo o
papel de aperfeiçoar e clarear a compreensão dos problemas políticos, fazendo-os passar
pelo crivo de um corpo de cidadãos especialmente escolhidos para isso. Os
representantes poderiam, portanto, de acordo com Madison (1982 [1787]), até entender
melhor aquilo que seria o bem comum do que o povo.
Neste debate mandatário versus independente, é incontornável o substancial
contributo de Hanna Pitkin (1967). Pitkin (1967:155) reconhece a dificuldade de tomar
uma posição irredutível a favor de uma ou de outra, tendo em conta os argumentos que
cada uma tem a seu favor.
Contudo, numa perspectiva mais conciliadora sobre este debate, a autora afirma
que ‘‘representar significa agir no interesse dos representados, de forma a corresponder
a eles’’, embora, em pronunciação com a premissa de que a acção do representante é
independente dos representados (Pitkin, 1967:209).
Em suma, a representação remete para algum grau de congruência entre
representantes e representados, podendo, no entanto, haver incongruência se assim o
interesse público o justificar (Jacobs e Shapiro, 2000:303-306 citados em Belchior
2010b:132).
Todavia, apesar de ser um tópico de reconhecida relevância científica e social, o
estudo da representação política revela-se substancialmente centrado em estudos
realizados em democracias liberais já estabilizadas (Thomassen, 1994; Blais e Bodet,
2006; Powell, 2009; Freire e Viegas, 2009a; Golder e Stramski, 2010; Belchior, 2010a e
5
2010b). Este tema é ainda relativamente inexplorado noutros âmbitos, como é o estudo
de sistemas não democráticos, sendo que, são inexistentes os estudos relevantes sobre a
representação política feitos com casos de democracias não liberais, ou, em casos de
democracias em transição.
De forma sumária, os resultados encontrados na generalidade dos estudos sobre
a representação ideológica e política nas democracias liberais mostram que à esquerda e
à direita, a elite parlamentar se posiciona mais nos extremos do espectro ideológico do
que os seus eleitores, sendo tal especialmente visível à esquerda (Weisberg, 1978;
Dalton, 1985; Converse e Pierce, 1986; Thomassen e Schmitt, 1999; Miller et al., 1999;
Kitschelt et al., 1999; Blais e Bodet, 2006; Freire e Viegas, 2009; Freire e Belchior
2009; Golder e Stramski, 2010; Belchior, 2010a e 2010b).
Neste diapasão, parece-nos pertinente e interessante tentar perceber o fenómeno
complexo da representação ideológica e política com um estudo de caso que foge à
‘‘regra de ouro’’ dos estudos sobre a representação ideológica e política, isto é, um
estudo sobre a congruência ideológica e política entre eleitos e eleitores, não numa
democracia liberal já estabilizada, mas, numa democracia em transição – Angola.
Mais precisamente, esta pesquisa visa o estudo da congruência ideológica e
política do caso angolano, onde procuraremos responder à seguinte questão descritiva:
quais os níveis de correspondência ideológica e política que são gerados entre os
eleitores (estudantes universitários do 4.º ano dos cursos de Direito e do curso de
Sociologia da Faculdade de Ciências Sociais, do curso de Ciência Política da Faculdade
de Ciências Sociais e do curso de Economia da Faculdade de Economia pertencente à
Universidade Agostinho Neto) e eleitos (deputados dos partidos políticos com assento
na Assembleia Nacional da República de Angola) em três dimensões de análise: na
escala ideológica esquerda-direita, em assuntos políticos da dimensão esquerda-direita
tradicional, e em termos de prioridades de políticas públicas para o país?
Não obstante a complexidade do estudo da representação ideológica e política
por meio de medidas de congruência, a congruência entre eleitores e eleitos, é
reconhecidademente, uma característica relevante para estudar a representação
ideológica e política e que deve ser encorajada (Dahl, 1956; Pitkin, 1967).
Contrariamente ao admitido em outras pesquisas (Barnes, 1977:118), não se
pretende buscar na sobreposição de posições entre eleitos e eleitores o reconhecimento
ou ausência de uma representação ideológica e política mais ou menos democrática,
6
sendo que, nesta pesquisa a congruência é entendida apenas como uma abordagem da
representação ideológica e política, que de entre outras, se reconhecem importantes
limitações quanto às inferências a extrair (Belchior, 2010b:75).
Portanto, tendo em consideração que nem sempre os maiores níveis de
democracia implicam, necessariamente, maiores níveis de congruência ou de
representação democrática (Esaisson e Holmberg, 1996; Przeworski, Stokes e Manin,
1999), nesta pesquisa não se concebe a congruência ideológica e política entre eleitores
e eleitos como sinónimo, nem como reconhecimento ou inferência de representação
ideológica e política mais ou menos democrática para o caso angolano.
1
Importa sublinhar que não existe propriamente um ‘‘modelo da congruência’’, mas antes,
formas de medir a representação que assentam em medidas de congruência, como por exemplo,
o trabalho seminal de Miller e Stokes (1963): que mede congruência através de correlações; as
sugeridas por Achen (1978): centrismo, proximidade e correspondência; ou ainda as medidas
sugeridas por Golder e Stramski (2010): congruência absoluta e congruência relativa (ver,
Achen,1978; Golder e Stramski, 2010), sendo que, ao longo do texto, nos referimos ao ‘‘modelo
da congruência’’ para designar – de maneira simplificada – o conjunto de medidas ou
pressupostos metodológicos baseados em medidas de congruência para o estudo da
representação ideológica e política.
7
Segundo este modelo, cumpre aos eleitores – com suporte nas informações sobre
os partidos – uma actuação eleitoral consciente e racional, e, aos eleitos que perfaçam
com eficácia o mandato que lhes é atribuído pelos eleitores. O ‘‘modelo do partido
responsável’’ pressupõe que a escolha eleitoral fornece aos constituintes o controlo
indirecto sobre as decisões políticas, uma vez que o partido cumpre as promessas que
presumivelmente traduzem as vontades dos seus eleitores (Dalton, 1985; Converse e
Pierce, 1986; Huber e Powell, 1994; Marsh e Wessels, 1997, Miller et al., 1999;
Thomassen e Schmitt, 1999; Powell, 2009; Golder e Stramski, 2010; Freire e Viegas,
2009a; Belchior 2010a e 2010b).
O ‘‘modelo do partido responsável’’ tem sido acusado – por um lado – de
levantar muitas dúvidas e por fornecer, normativamente, uma visão populista da
democracia, por outro lado, por representar um modelo empiricamente irrealista – pelo
facto de os eleitores não terem conhecimento do pacote de políticas públicas propostas e
consequentemente quanto ao grau da sua influência na decisão do voto. Mas, do mesmo
modo reconhecem-se as suas virtualidades, não só por ter um suporte teórico que
sustenta esta pesquisa, mas, por ser reconhecidamente admitido na literatura como um
modelo viável para o estudo sistemático do papel dos diferentes atores no processo de
representação, bem como permite padronizar requisitos sob os quais é possível avaliar o
processo de representação (Thomassen e Schmitt, 1999:16; ver também Freire e
Belchior, 2009 e Belchior, 2010b:74).
Segundo Dalton (1985:280) ‘‘os partidos são representativos dos seus eleitores
quando as opiniões das elites partidárias são similares às dos seus eleitores’’,
concebendo a similaridade como o grau de consenso, correspondência ou congruência
entre as posições dos eleitos e eleitores. O estudo da representação política por meio da
congruência pressupõe, usualmente, a comparação das preferências dos eleitores de um
determinado partido com as orientações dos deputados desse mesmo partido com
representação.
Por seu turno, a representação medida por meio da congruência também tem
sido alvo de algumas críticas, sendo acusado de uma certa visão populista da
democracia devido ao seu carácter eminentemente bottom-up (de baixo para cima) do
processo de representação, colocando o peso da gravidade da representação nas
preferências dos eleitores e no imperativo da congruência entre as orientações dos
eleitos e dos eleitores enquanto indicador substancial da qualidade da representação. Na
8
prática, o estudo da representação política por meio da aferição da congruência estará
mais próximo de uma visão realista do estilo mandatário, sem ao mesmo tempo, ser
incompatível com a visão realista da independência dos eleitos (Powell, 2009; Freire e
Viegas, 2009; Belchior 2010a e 2010b).
Porém, não obstante as críticas feitas ao ‘‘modelo da congruência’’ para o estudo
da representação ideológica e política, vários autores corroboram que a congruência é
um pressuposto relevante e deve ser encorajada. Assim sendo, nesta pesquisa – e tal
como em outras pesquisas sobre a representação ideológica e política (Achen 1977;
1978; Weisberg, 1978; Dalton, 1985; Converse e Pierce, 1986; Thomassen e Schmitt,
1999; Miller et al., 1999; Kitschelt et al., 1999; Blais e Bodet, 2006; Freire e Viegas,
2009; Freire e Belchior, 2010; Golder e Stramski, 2010; Belchior, 2010a e 2010b, e
outros) opta-se pelo estudo da congruência ideológica e política assente na comparação
dos posicionamentos e preferências dos eleitos e eleitores.
9
médios dos graus de concordância entre eleitores e eleitos em assuntos políticos
tipicamente caracterizadores da dimensão esquerda-direita tradicional; e o terceiro,
aferir a congruência por meio do cálculo das preferências em termos de prioridades de
políticas públicas para o país.
10
CAPITULO II – DESIGN DA PESQUISA
11
Como já referido, esta pesquisa estuda a congruência ideológica e política entre
eleitos e eleitores em Angola, onde, após a realização de eleições em Setembro 2008,
um distanciamento de quase dezassete anos em relação às primeiras realizadas em 1992,
saíram das últimas eleições legislativas realizadas cinco partidos políticos com
representação parlamentar (MPLA, UNITA, PRS, FNLA e a ND coligação).
A escolha do caso angolano é justificada por duas razões. Primeira, os estudos
sobre representação ideológica e política têm sido, na sua generalidade, feitos em países
com regimes democráticos já consolidados, e nunca ou raramente feitos em democracias
em transição. A presente pesquisa refere-se a um caso/país onde o regime é
caracterizado como estando em transição para a democracia.
Segunda razão, Angola esteve mergulhada durante quase 32 anos numa guerra
civil, o que impossibilitou a realização de eleições legislativas durante dezassete anos.
Por isso, pensa-se ser interessante olhar para a realidade do caso ‘‘sui generis’’
angolano para se perceber, apesar de o regime ser caracterizado em transição
democrática, se, à revelia da existência de eleições democráticas, existe congruência
ideológica e política entre deputados e eleitores, colocando em perspectiva as
conclusões enunciadas por Esaiasson e Holmberg (1996), de que a inexistência de
eleições democráticas pode não influenciar os níveis de congruência entre deputados e
eleitores.
12
os sistemas proporcionais geram melhores níveis de congruência em relação aos
sistemas maioritários.
A presente pesquisa estuda a congruência ideológica e política por meio do
cálculo médio dos posicionamentos dos eleitos e eleitores. Concebendo-se por
congruência a proximidade em termos de valores médios dos autoposicionamentos dos
deputados e eleitores.
Para aferição da congruência utilizou-se a forma mais simples de medir a
congruência, que pressupõe o cálculo dos posicionamentos médios dos eleitos e dos
eleitores e suas respectivas diferenças, tal como foram utilizadas em outros estudos
sobre representação (veja-se por exemplo: Miller e Stokes, 1963; Barne, 1977; Page et
al. 1984; Converse e Pierce, 1986; Huber e Powell, 1994; Esaiasson e Holmberg, 1996;
Powell, 2004, ver também Belchior, 2010a e outros).
Para a medição da congruência na escala ideológica esquerda-direita utilizou-se,
tanto para os eleitos como para os eleitores, uma escala de 0 a 10, onde, 0 significa o
máximo de esquerda e 10 o máximo de direita – tal como em outros trabalhos já
realizados (ver por exemplo Freire e Viegas, 2009b; Golder e Stramski, 2010; Freire e
Belchior, 2010; Belchior, 2010a e 2010b, e outros).
Para aferir a congruência em assuntos políticos2 utilizou-se uma bateria de oito
temas, onde, sete temas estão ligados à dimensão socioeconómica da esquerda-direita e
uma questão ligada à dimensão autoritária-libertária, mais concretamente, ligada à
questão da garantia da ordem e segurança. Para a sua medição utilizou-se uma escala de
concordância de 1 a 5, em que, 1 corresponde a discordo totalmente e 5 corresponde a
concordo totalmente (tal como já foi utilizado noutras pesquisas por Thomassen, 1999;
Freire e Belchior, 2009b). No final, para apresentação dos resultados obtidos constrói-se
um índice de concordância por meio da soma das percentagens das respostas
‘‘concordo’’ e ‘‘concordo totalmente’’ entre deputados e eleitores e suas respectivas
diferenças por identificação partidária.
2
Por uma questão de clareza e pelo facto de os termos assuntos políticos e políticas públicas
representarem, potencialmente, a mesma coisa, nesta pesquisa a dimensão relativa aos assuntos
políticos diz respeito unicamente às políticas que caracterizam tipicamente a dicotomia
esquerda-direita tradicional. Políticas públicas, neste caso, remetem para algumas das propostas
em termos de políticas a implementar, metas ou objectivos, contidos no programa de governo
do MPLA para o período 2009-2012.
13
E por último, para medir o grau de congruência em termos de prioridades em
políticas públicas, utilizou-se uma bateria com 12 políticas públicas, onde se pediu aos
deputados e eleitores para escolherem de entre as várias políticas públicas, três políticas
que considerassem prioritárias (para mais detalhes ver os inquéritos aplicados em anexo
AII). No que respeita à análise, procedeu-se à contagem das políticas públicas mais
escolhidas em termos médios para os eleitores e para os eleitos, e posteriormente, à
comparação entre os valores médios por parte dos deputados e eleitores.
No respeitante as políticas públicas em análise, neste caso representam algumas
das propostas em termos de políticas a implementar, metas ou objectivos, contidos no
programa de governo do MPLA para o período 2009-20123, no qual consideraram-se as
seguintes: reconstrução nacional; erradicação da pobreza; modernização e diversificação
da economia; combater à fome e à miséria; crescimento económico; habitação para
todos; garantir a paz e a estabilidade; dar mais intervenção aos cidadãos; reconstruir
vias de transportes; garantir a liberdade de expressão; criar mais emprego.
A escolha das políticas públicas do programa do MPLA justifica-se, em
primeiro, pelo facto de este partido ser o partido governamental. Segundo, porque o
MPLA representa mais de 81% do eleitorado. Terceiro, devido à relevância destas
políticas para a realidade do caso em análise.
Quarto, porque Angola afigura-se um país mergulhado num grande desafio de
ultrapassar as dificuldades do subdesenvolvimento, como por exemplo: o combate à
fome e à pobreza, a reconstrução física e espiritual do país, a erradicação do
analfabetismo, o garante e consolidação da paz, o desafio da liberdade e da garantia dos
direitos humanos, da modernização e diversificação da economia, o da redistribuição da
riqueza (entre outros). E por último, porque no essencial tais políticas representam
objectivos e desafios consensuais por parte da elite parlamentar, e de forma geral, no
país.
3
Consultado em: (http://www.mpla10.org/download/programa_governo2009-2012.pdf).
14
Os motivos pelos quais foram seleccionados os estudantes universitários como
amostra para os eleitores recorrem, em primeiro lugar, por serem mais escolarizados,
como sugerido pelo trabalho de Alvarez e Franklin (1994), onde os autores mostram
que eleitores pouco escolarizados e pouco informados têm, geralmente, grandes
dificuldades em situarem-se no espectro ideológico e político, ou até mesmo, tendem a
não manifestar a sua opinião (ver também Golder e Stramski, 2010:203).
Segundo, a amostra é não probabilística por não existirem condições financeiras
para realizar um estudo com uma amostra estatisticamente representativa pela dimensão
geográfica e demográfica do país em questão.
Terceiro, e por consequência do segundo motivo, o critério da conveniência da
amostra é justificado porque Angola é um país que há bem pouco tempo esteve
mergulhada numa guerra civil e que se encontra em fase de transição democrática,
sendo provável que o ‘‘cidadão comum’’ não se sinta muito a vontade para expressar
‘‘livremente’’ as suas opiniões, para além de poder ser difícil o acesso –
comparativamente aos estudantes universitários – a estes cidadãos.
Quarto, em relação aos cursos escolhidos, estes justificam-se pelo facto de
poderem corresponder às expectativas em termos de informações pretendidas para a
realização desta pesquisa, até mesmo, pela natureza das questões contidas no
questionário para recolha de dados que subjazem um certo nível de ‘‘cultura política’’,
uma vez tratarem-se de áreas (cursos) cuja relevância social e política correspondem às
expectativas desta pesquisa.
No que respeita aos eleitos (deputados), visou-se a aplicação do questionário ao
universo dos 220 deputados na Assembleia Nacional, sendo que o número de respostas
válidas obtidas foi de 79, isto é, 36% do total dos 220 deputados que compõe a mesma
(para ver mais detalhes sobre a caracterização das resposta obtidas para os eleitos ver
quadros AII.1 e AII.2, em anexo II).
Os inquéritos para recolha de dados foram aplicados pessoalmente pelo
pesquisador. Para os deputados optou-se por várias estratégias, sobretudo, pelo contacto
com os líderes das bancadas parlamentares que por sua vez viabilizaram os
preenchimentos individuais dos inquéritos por parte dos deputados (os detalhes do
processo de inquirição constam no anexo AII).
15
Quadro 2.1 – Síntese dos objectivos e da operacionalização das três dimensões da congruência
Objectivos Específicos Dimensão da Congruência Questão formulada Fonte de recolha de
informação
1.º Aferir a congruência por Em política é usual falar-se da «esquerda» e da «direita»
meio dos cálculos médios dos como é que se posicionaria nessa escala, em que 0
autoposicionamentos entre Ideológica representa a posição mais à esquerda e 10 a posição mais Inquérito
eleitores e eleitos na escala à direita?
esquerda-direita;
2.º Aferir a congruência por Para cada frase, diga-nos por favor o seu grau de
meio dos cálculos médios dos concordância ou discordância.4
graus de concordância entre Assuntos Políticos Inquérito
eleitores e eleitos em assuntos
políticos;
3.º Aferir a congruência por Das medidas abaixo indicadas, assinale por favor a que
meio do cálculo das preferências considera mais importante para o país. E a segunda mais
em termos de prioridades de Políticas Públicas importante? E terceira mais importante? (utilize 1ª, 2ª e Inquérito
algumas políticas públicas 3ª).5
4
Colocamos apenas aqui o formato da pergunta em geral por uma questão de manter a coesão gráfica do texto, sendo que a pergunta completa pode ser
visualizada com mais pormenor no inquérito que consta da ficha técnica em anexo II.
5
Ibdem.
16
CAPÍTULO III – O CONTEXTO POLÍTICO ANGOLANO
Este capítulo tem como objectivo explicar, sucintamente, o contexto político angolano.
Está estruturado em três secções. A primeira secção é denominada ‘‘Sobre o Contexto
Político de Angola – Uma Sinopse’’. A segunda secção é intitulada ‘‘O Regime Político
Angolano. E a terceira, intitulada ‘‘O Sistema Eleitoral e O Sistema Partidário
Angolano.
10
O termo inventado remete para o facto de o território geográfico que hoje é Angola ser
resultado da partilha – pelas potências colonias – de África, feita na Conferência de Berlim
(1885) de onde resultou uma partilha que não respeitou nem a história, nem a etnicidade e a
familiaridade dos povos do continente africano.
11
Recente porquanto Angola enquanto território, povo independente, país soberano e membro
de pleno direito do direito internacional o é desde a sua independência conquistada em 11 de
Novembro de 1975.
12
Importa não esquecer que a luta que culminou com a conquista da independência de Angola
foi protagonizada por três movimentos de luta para a independência de Angola (MPLA, FNLA
e UNITA), que em Janeiro de 1975 assinaram em Alvor (Algarve, Portugal) um acordo que
ditava os termos em que devia processar-se a independência de Angola e o ordenamento
institucional que deveria vigorar durante o período de transição até ao momento da transferência
do poder (ver Correia, 1996:25 e também Imbamba, 2003:87).
13
Constituição da República Popular de Angola, 1975, artigo 2.º (Araújo, 2000).
17
14
político da I República caracterizou-se por concentrar poderes legislativos e
executivos de grande amplitude no presidente da República. O presidente da República
arrogava a chefia do Estado, o comando supremo das Forças Armadas, a presidência do
Conselho da Revolução e da Assembleia do Povo, além da chefia do partido (CRPA,
1975, artigos: 31.º, 41.º e 52.º).
Segundo Huntington, a terceira ‘‘vaga de democratização’’ teve o seu início em
1974 com a ‘‘Revolução dos Cravos’’ (1991). Desde então, com as transições
verificadas na América Latina nos anos 80, e no seguimento da queda do muro de
Berlim e do fim da guerra fria, os processos de mudança com um cariz democratizante
multiplicaram-se um pouco por todo mundo. Assistiu-se a democratizações na América
Latina, na Europa do Leste, na Ásia e em África15. Neste caso particular, Angola não foi
uma excepção.
Durante o período de 1990 a 1992, Angola – à semelhança de muitos regimes de
inspiração marxista-leninista – iniciou processo de transição para a democracia
multipartidária, transição essa que, para o caso angolano, foi ao mesmo tempo
económica, política e militar. Tal processo iniciou com o abandono oficial da ideologia
marxista-leninista pelo MPLA, tendo sido adoptado um novo texto constitucional em
que se consagrava o Estado de direito, a democracia multipartidária e a economia de
mercado.16 Foi com base neste clima de transição e reformas que foram convocadas as
primeiras eleições multipartidárias legislativas e presidências em Angola, ocorridas nos
dias 29 e 30 de Setembro de 1992).
O veredicto final das eleições multipartidárias de 1992 dava aos partidos e
candidatos presidenciais, mais votados, os seguintes resultados: vitória do MPLA com
53,74% dos votos nas eleições legislativas, o que lhe dava 129 dos 220 assentos do
parlamento, ficando a UNITA como segundo partido mais votado com 34,10%,
14
A I República de Angola compreendeu ao período de 1975 a 1991.
15
É certo que, no caso concreto africano e não só, existem alguns recuos nesta tendência de
democratização. Mas, mesmo estes recuos não diminuem a viragem histórica que ocorreu nos
últimos trinta e oito anos, em que desde os meados dos anos 70, muitos países iniciaram
processos de mudança constitucional com vista à adopção de normas que permitissem a
competição partidária e a realização de eleições livres.
16
Este processo começou com o III Congresso do MPLA, realizado em 1990, acompanhado ao
mesmo tempo com fortes negociações políticas e diplomáticas entre o MPLA e a UNITA e que
se consubstanciaram nos acordos de Bicesse de 1991 (Hodges, 2003; Imbamba, 2003; Santos,
2009).
18
equivalentes a 70 lugares, sendo que estes dois representaram cerca de 90% do
panorama político. Depois destes, ficaram a FNLA com 2,40% (5 deputados), o PLD
com 2,39% (3 deputados), o PRS com 2,27% (6 deputados); o PRD, a AD-Coligação, o
PSD, o PAJOCA, o FDA, o PDP-ANA e o PNDA, conseguiram eleger 1 deputado cada
um (quadro 3.1).
Nas presidenciais, José Eduardo dos Santos com 49,57% levou vantagem sobre
Jonas Savimbi que contava com 40.07% (quadro 3.2). Como nenhum dos dois
conseguira a maioria absoluta, tudo ficou remandado para uma segunda volta, segunda
volta esta nunca realizada.17
17
Perante este quadro – talvez inesperado – a UNITA decidiu boicotar as eleições como tendo
sido maciça e sistematicamente fraudulentas, apesar de terem sido consideradas pela
representante especial do Secretário-Geral (Margaret Anstee) como sendo ‘‘na sua globalidade
livres e justas’’ (Imbamba, 2003:99).
19
Quadro 3.2 – Resultados das eleições presidenciais de 1992
18
Apesar de inaugurada na revisão de 1991 (Lei n.º 12/91, de 6 de Março), é com a aprovação
da lei de revisão constitucional de 1992 (Lei n.º 23/92 de 6 de Setembro) que se estabelece o
corpo constitucional de enquadramento da II República angolana (ver Araújo, 2000). A II
República angolana vigorou durante o período de 1992-2010, e consagrava o sistema
semipresidencialista, de governo misto de forte pendência presidencialista (para mais detalhes
sobre o sistema político da II República ver Santos, 2009).
20
Quadro 3.3 – Resultados das eleições legislativas de 2008
Partido/Coligação % de N.º de
Votos Assentos
(220)
Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) 81.64% 191
União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) 10.39% 16
Partido de Renovação Social (PRS) 3.17% 8
Nova Democracia (ND) 1.20% 2
Frente Nacional para Libertação de Angola (FNLA) 1.11% 3
Os resultados foram muito claros, o MPLA sai como o partido mais votado,
desta vez, com uma vitória esmagadora de 81,64% dos votos, elegeu 191 deputados; a
UNITA continuou como o segundo partido mais votado – apesar de uma derrota
gritante em relação as eleições legislativas de 1992 – com 10.39% dos votos, elegeu 16
deputados; o PRS foi o terceiro partido mais votado com 3.17% dos votos e conseguiu
eleger 8 deputados; a coligação eleitoral ND ficou com 1.20% dos votos, elegendo 2
deputados; por último ficou a FNLA com 1.11% dos votos e elegeu 3 deputados.
Desta vez, apesar de terem sido surpreendentes, os resultados eleitorais foram
genericamente aceites pelas diversas forças políticas, nenhum partido boicotou o acto
eleitoral e a avaliação geral da comunidade internacional foi de que as eleições foram,
globalmente, credíveis e transparentes19 (Venes, 2008).
Em suma, com o resultado das eleições legislativas de 2008, ‘‘o que era o
domínio maioritário do MPLA assumiu proporções hegemónicas muito próximas das
totalitárias, o partido do governo que já dominava a quase totalidade das instituições dos
Estado’’ (Santos, 2009:71). O MPLA assumiu deste modo, – e quase como na I
19
Apesar de algumas denúncias eleitorais por parte de alguns agrupamentos políticos, na sua
maioria: questões relativas a organização e logística, ao acesso aos meios do Estado e da
comunicação social pública, precisamente, a ocorrência de situações de violência. De assinalar
também que alguns órgãos da imprensa internacional foram proibidos de entrar em Angola para
cobrir as eleições, colocando deste modo, questões sobre a liberdade de expressão e de imprensa
em Angola (Carvalho, 2008; Santos, 2009:71).
21
República – o controlo desmesurado da Assembleia Nacional, esmagando toda e
qualquer oposição, tornando quase impossível a existência de pluralismo político
significativo, bem como, pode dispensar qualquer negociação sobre assuntos
constitucionais. Foi neste contexto que o MPLA aprovou uma nova constituição em
2010, entrando desta forma na III República, onde Angola adoptou constitucionalmente
um atípico sistema ‘‘presidencialista-parlamentar’’.
A nova constituição aprovada em 2010 vem, substancialmente, alterar o sistema
político semipresidencialista (com dinâmica presidencial) e constitucionalizar os
poderes absolutos do presidente da República.
O mais crítico é que constituição vigente veio retirar a eleição por sufrágio
universal directo, passando agora a ser eleito por meio do parlamento, isto é, o cabeça
de lista do partido mais votado passa a ser, por inerência, o presidente da República.
Segundo o constitucionalista Vasconcelos (2010:16), há manifestamente uma excessiva
concentração de poderes no Presidente da República que o desresponsabiliza
politicamente e que o dispensa do dever de prestação de contas.
22
quando em causa está a classificação de regimes híbridos, ou até mesmo regimes em
transição democrática20.
Levando em consideração as avaliações da Freedom House e não só21, é fácil
perceber que o regime angolano tem sido, geral e sistematicamente, avaliado nas
últimas posições dos rankings sobre a qualidade democrática dos regimes políticos (ver
quadro 3.4).
Tal facto é na realidade, uma característica geral da maioria dos países africanos
da geração democrática da terceira vaga (Braga, 2006), onde existe fraca relevância das
instituições estatais, insuficiência governativa e administrativa, desrespeito pelas regras
constitucionais e políticas, uma quase ‘‘universalização das redes clientelares’’ pela
elite no poder, abuso de autoridade, a não efectiva garantia dos direitos e liberdades
fundamentais, concentração de exacerbados poderes numa pessoa, colocando em causa
a separação de poderes, Angola, não está impune a esta realidade.
20
Genericamente, a democracia e o autoritarismo extremam o espectro da classificação dos
regimes políticos, onde, são considerados regimes híbridos aqueles em que se verificam
características de um e de outro, ou pelo menos, aqueles que habitam entre ambos e aqueles que
se encontram em transição, embora, muitas vezes, em transições com avanços e recuos (que é o
caso do regime angolano).
21
Vários indicadores de diferentes organizações internacionais (Banco Mundial, Fundo
Monetário Internacional, Nações Unidas) e vários rankins (Democracy Index, Menagement
Index, Status Index) colocam sistematicamente Angola nos últimos lugares.
23
Entretanto, importa registrar que não obstante essas características – que se
sublinhe, não é o que está em causa nesta pesquisa, como de início já se referiu –,
alguns autores (veja-se por exemplo, Diamond, 2002; Chabal e Vidal, 2007; Rice e
Patrik, 2008), reconhecem que Angola também tem características apontadas aos
regimes híbridos ou em transição democrática, sendo que – e como em qualquer
transição democrática – este país enfrenta os obstáculos relativos ao confronto entre o
regime político constitucionalmente definido e a sua aplicabilidade prática.22
22
Para mais detalhes sobre as características do regime angolano, em particular, e em geral os
regimes políticos africanos ver por exemplo, Diamond (2002); Chabal e Vidal (2007); Rice e
Patrik (2008); Bonefácio (2011) e outros.
23
Lei Eleitoral n.º 6/05 de 10 de Agosto da República de Angola.
24
componentes principais: o potencial de coligação, potencial de intimidação e a
polarização ideológica (ver também Pasquino, 2010).
O sistema partidário angolano é resultado, substancialmente, dos partidos
históricos (movimentos da luta de libertação/independência), FNLA, MPLA e UNITA,
sendo claramente dominado pela polarização MPLA/UNITA (que representam cerca de
90% do eleitorado), em que o MPLA tem um poder hegemónico, que governa este país
desde a proclamação da independência de Angola (Santana, 2006). Podemos observar
duas vagas de partidos políticos em Angola.
A primeira corresponde a vaga dos movimentos de libertação nacional, também
designados partidos históricos que se efectivaram como tal no contexto pós guerra fria.
A segunda corresponde a vaga de partidos políticos que surgiram no seguimento da
transição democrática para a II República de Angola.
Não percamos de vista que Angola é um país a trilhar a viragem para a
democracia, onde só se realizaram até agora (2012) duas eleições multipartidárias 24
onde o MPLA mantém-se como partido maioritário (1992) e hegemónico (2008), e a
UNITA, o maior partido da oposição, embora, claramente reduzida nos resultados das
eleições de 2008.
Quanto ao critério numérico, o sistema partidário angolano é multipartidário,
como mostram os resultados de 2008 (ver quadro 3.3), onde têm assento parlamentar 5
partidos Políticos (MPLA, UNITA, FNLA, PRS e ND). Mas, até agora, tem-se revelado
um sistema multipartidário não concorrencial de partido hegemónico, onde o MPLA
venceu as duas eleições já realizadas, e particularmente, nesta última com uma
vantagem quase totalitária, onde também, não é previsível que neste sistema outros
partidos possam – num futuro próximo – ganhar as eleições ou substituir o partido
liderante do governo.
Quanto ao critério da relevância, a realidade do sistema partidário angolano
tem-se mostrado com um potencial de coligação bastante grande nos partidos da
segunda vaga (sobretudo os de dimensão mais pequena), como o exemplo da ND que é
uma coligação de 6 pequenos partidos nas eleições de 2008, sendo que até as eleições já
realizadas, não houve ainda uma coligação entre os partidos da primeira vaga.
24
Embora as eleições legislativas já foram oficialmente convocadas para o dia 31 de Agosto de
2012.
25
No que diz respeito ao potencial de intimidação, a realidade mostra que é quase
inexistente, sendo que, em circunstâncias muito particulares, os partidos da oposição –
geralmente por iniciativa da UNITA – acertam posições para intimidar, fazer recuar ou
até mesmo obrigar o partido hegemónico do governo (MPLA) a ‘‘negociar’’ questões
pontuais, o que nem sempre é possível dada a esmagadora maioria parlamentar do
MPLA.
No plano ideológico (ver quadros em anexo AI, onde constam os ideários dos
partidos políticos), os partidos que mais claramente se polarizam são o MPLA e a
UNITA, tal facto decorre também da polarização doutrinária que influenciou a
condução das políticas económicas e o comportamento político dos países africanos
durante os primeiros anos de independência, fortemente influenciada pela luta
ideológica entre o bloco socialista versus bloco capitalista.
De modo geral, o grau de polarização ideológica ainda é baixo, sendo que é
difícil caracterizar os partidos políticos de uma forma substantiva sobre o seu
posicionamento ideológico na dicotomia esquerda-direita – que corresponde à uma das
dimensões em análise sobre a correspondência ideológica para o caso angolano –. Não
obstante o baixo nível de polarização ideológica do sistema partidário angolano, pode-se
afirmar, em termos relativos, que a polarização ideológica mais relevante se verifica
entre o MPLA e a UNITA.
O MPLA revela uma posição de maior proximidade à esquerda fruto do seu
percurso histórico reflectido no socialismo de tendência marxista-leninista, adoptando
desta forma os princípios associados à esquerda afirmando-se como um partido social-
democrático. O MPLA defende o papel do Estado de regulador da economia e
coordenador do desenvolvimento económico nacional. Preconiza também um Estado
regulador que vise assegurar a justiça social, e o bem-estar económico e social das
populações (ver quadro AI.1 em anexo AI).
Em relação à UNITA, esta localiza-se num flanco ideológico mais associado ao
centro-direita, tendo também recebido influências do bloco capitalista ao longo do seu
percurso histórico. A UNITA assenta os seus princípios fundamentais na liberdade
económica, defende o liberalismo democrático associado a uma lógica de mercado livre;
defende a coexistência do sector público e privado. A UNITA preconiza ainda a
existência de instituições financeiras independentes e a elevação dos valores e dos
princípios morais como factor de coesão social (ver quadro AI.2 em anexo AI).
26
Quanto à FNLA, o seu posicionamento ideológico não é muito claro, talvez por
ter vindo a perder sistematicamente expressão eleitoral, sendo que, não obstante este
facto, esta força política se define como um ‘‘partido de simbiose ou de intersecção do
nacionalismo e da democracia cristã’’. Os seus princípios colocam este partido histórico
à esquerda, defendendo fortemente o papel do Estado na economia, na justiça e no
garante das liberdades e garantia sociais, na participação dos cidadãos na defesa dos
interesses superiores (ver quadro AI.3 em anexo AI).
O PRS defende o direito à propriedade e livre iniciativa económica, a
importância da família e dos princípios fundamentais como o casamento e filiação,
temas que o associam a ‘‘velha direita’’, ao mesmo tempo que defende o Estado como
condutor de uma economia mista e privada, e inovador ao defender um Estado federal,
se calhar por ser um partido bastante regionalista (ver quadro AI.4 em anexo).
A ND é o partido-coligação mais difícil de caracterizar, e dentre os 5 partidos
políticos com assento parlamentar, é o que mais se afasta em termos organizacionais –
uma vez que nasce de uma coligação de 6 pequenos partidos –. Tem como lema central
‘‘dar emprego e pão para todos’’ e defende um sistema económico que deverá assentar
na coexistência de diversos tipos de propriedades (pública, privada, mista, cooperativa e
familiar). Defende também o Estado como o garante e orientador da economia nacional,
privilegiando uma aproximação da sociedade civil às decisões políticas, configurando
assim um perfil programático que pode estar mais próximo dos partidos da esquerda
(ver quadro AI.5 em anexo AI).
Portanto, esta sucinta caracterização ideológica dos partidos políticos angolanos
denota (tal como já avançado no início deste ponto) que o grau de polarização ou
diferenciação ideológica é baixo, exceptuando-se, relativamente, o MPLA e a UNITA.
E, como já referenciado em pesquisas sobre o grau de institucionalização dos sistemas
partidários e a sua influência no plano ideológico (ver por exemplo Mainwaring e
Torcal, 2005; Sanches, 2011), os sistemas partidários pouco institucionalizados, como
parece ser o caso angolano, geram pouca diferenciação ideológica, e tendem a ser
personalistas.
27
CAPÍTULO IV – ANÁLISE DOS RESULTADOS
28
O gráfico 4.1 reporta a distribuição de frequências do autoposicionamento
ideológico dos deputados e leitores na escala esquerda-direita.
Os resultados denunciam que a elite parlamentar se posiciona tendencialmente
ao centro esquerda, sendo que o eleitorado também se posiciona tendencialmente ao
centro, mas, com maior dispersão na escala. Por exemplo mostra o seguimento do
eleitorado (cerca de 17,1%) que se posiciona radicalmente à direita (ver gráfico 4.1).
Se por um lado, os resultados denunciam uma maior polarização dos deputados à
esquerda face ao eleitorado (como tem sido demonstrado pela literatura sobre a matéria,
antes enunciada), por outro lado, os resultados revelam uma maior polarização dos
eleitores à direita em relação à elite parlamentar (gráfico 4.1).
Todavia, no cômputo geral, deputados e eleitores posicionam-se,
maioritariamente ao centro, e mais à esquerda em relação ao eleitorado no que respeita
aos deputados (apesar dos eleitores se posicionarem com maior dispersão na escala),
como indica o posicionamento médio geral para os deputados que é de 3,48 e para os
eleitores 4,48).
25
Importa referir que foi feita uma análise por parte dos eleitores – estudantes – para aferir se
existe alguma diferença significativa em termos de autoposicionamento médio por parte destes
por curso. Os resultados obtidos revelaram não existirem diferenças significativas entre os
eleitores por curso.
30
Todavia, em relação aos desvios-padrão associados ao posicionamento dos
eleitores são mais elevados do que os verificados para a elite parlamentar em qualquer
dos partidos políticos, variando na ordem dos 3,76 pontos, o que demostra a ideia de
menor ancoragem ideológica destes por comparação aos deputados, em conformidade
com os resultados alcançados nos estudos sobre as democracias liberais (Achen 1977;
Converse e Pierce, 1986; Esaiasson e Holmberg, 1996; Thomassen e Schmitt, 1999;
Belchior, 2010b).
Contudo, ao analisar o posicionamento na escala esquerda-direita levantam-se
potencialmente problemas metodológicos no que respeita ao entendimento que eleitos e
eleitores têm desta dimensão. Está dificuldade é particularmente importante neste
estudo de caso, dado que não existem estudos prévios que dêem uma indicação sobre o
posicionamento ideológicos de ambos os actores que possa ser usada como referência.
31
Quadro 4.2 – Congruência entre deputados e eleitores em assuntos políticos por partido político (%)
A educação deve ser garantida sobretudo pelo 86,2 88,4 2,2 100,0 84,8 15,2 100,0 100,0 0,0 100,0 71,4 28,6 100,0 100,0 0,0
Estado
O Estado deve garantir uma rede de segurança 88,2 99,0 10,8 100 90,9 9,1 100 100 0,0 100 85,7 14,3 100,0 100,0 0,0
social estável à população
Os políticos não deveriam intervir na economia 0,0 16,7 16,7 20 42,4 22,4 0,0 20,0 20 0,0 14,3 14,3 0,0 0,0 0,0
Garantir a ordem e a segurança deve ser o mais 94,8 88,2 6,6 80 68,8 11,2 66,6 60 6,6 33,3 50,0 16,7 100,0 100,0 0,0
importante
O rendimento e a riqueza do país devem ser 78,9 80,0 1,1 100,0 90,9 9,1 100 100 0,0 100 100 0,0 100,0 100,0 0,0
redistribuídos para o cidadão comum
32
Os resultados evidenciam que deputados e eleitores concordam que os políticos
devem intervir na economia, ao mesmo tempo que afirmam ser o mais importante a
redistribuição da riqueza do que o crescimento, posições fortemente ancoradas à
esquerda (ver quadro 4.2).
Os resultados afectos à questão da garantia da ordem e segurança mostram
claramente que deputados e eleitores são tendencialmente autoritários, sendo os
primeiros mais autoritários, contrariando os resultados alcançados em outras pesquisas
semelhantes, que mostram uma tendência mais libertária no geral, em particular, a elite
parlamentar é tendencialmente mais libertária em relação aos eleitores (ver por exemplo
Freire e Belchior, 2009b e Belchior, no prelo). Estes resultados demostram a
preocupação com a garantia da ordem e estabilidade, o que poderá estar relacionada
com o facto da experiência recente da guerra civil e com o clima de relativa
instabilidade que se vive neste país.
No concernente às diferenças entre deputados e estudantes por partido, o MPLA
é a força política com a diferença média percentual mais baixa em relação ao seu
eleitorado, verificando-se um posicionamento ligeiramente à esquerda face ao seu
eleitorado, tal como no posicionamento na escala ideológica esquerda-direita que consta
no gráfico 4.2.
A UNITA, à semelhança do posicionamento da sua elite parlamentar
tendencialmente à direita face ao posicionamento dos seus constituintes na escala
ideológica, volta a revelar uma inclinação à direita face aos seus eleitores, com a maior
diferença percentual entre os 4 partidos, ou seja, os eleitores deste partido demostram
tendencialmente uma postura mais esquerdista do papel do Estado em relação aos
deputados (quadro 4.2).
Os resultados obtidos pela FNLA mostram que a elite parlamentar deste partido
e os respectivos eleitores são congruentes no posicionamento à esquerda do papel do
Estado face às questões socioeconómicas. Na mesma tendência e com diferenças
percentuais aproximadas, estão os partidos PRS e ND, em que deputados e eleitores
corroboram com o pleno papel esquerdista do Estado na garantia da educação, saúde,
rede de segurança social, e distribuição da riqueza (quadro 4.2).
No entanto, as diferenças alcançadas mostram existir congruência política entre
deputados e eleitores a nível intrapartidário, como indicam as percentagens médias da
diferença entre eleitores e deputados por partido em que a máxima observada é de
33
13,6%, na UNITA. Outrossim, estes resultados demostram o posicionamento à esquerda
da elite parlamentar (como já verificado na secção anterior sobre o posicionamento
ideológico entre deputados e eleitores), e em relação ao eleitorado, esbate-se à dispersão
do posicionamento na escala esquerda-direita, estando claramente à esquerda.
34
Outrossim, estes resultados indicam uma relativa proximidade entre eleitos e eleitores
no ordenamento das prioridades das políticas (gráfico 4.3).
Os resultados figurados no gráfico 4.3 demostram que por parte dos eleitos, há
um claro consenso quanto à prioridade do garante da paz e da estabilidade nacional,
sendo este objectivo o mais prioritário para os eleitos. O que, mais uma vez, denota a
importância que é atribuída pela elite parlamentar a questão da segurança (como
também demostrado na congruência política). Por parte dos eleitores, o objectivo mais
prioritário é o da reconstrução nacional.
Por parte da elite parlamentar, a seguir ao garante da paz e da estabilidade
nacional como objectivo prioritário para Angola, está, o combate à fome e à miséria. Do
mesmo modo, para o eleitorado, a seguir a reconstrução nacional como objectivo
prioritário, está o combate à fome e à miséria.
Como terceira política pública mais prioritária os deputados elegem a
reconstrução nacional do país. Já os eleitores, contrariamente aos deputados, elegem
como terceira prioridade para o país a garantia da paz e da estabilidade nacional (ver
gráfico 4.3).
Apresenta-se a seguir, os resultados obtidos entre eleitos e eleitores por partido,
mais concretamente, do MPLA e UNITA. A razão pela qual apresentamos apenas os
resultados destes dois partidos está ligada ao baixo número de respostas absolutas
obtidas por parte dos deputados e eleitores da FNLA, do PRS e da ND em relação à
dimensão em análise.
36
remetendo, novamente, o foco da congruência nos objectivos da garantia da paz e da
estabilidade nacional e no combate à fome e à miséria.
Os deputados da UNITA e do MPLA divergem na eleição do terceiro objectivo
primordial, sendo que a elite parlamentar do partido governamental escolhe a
reconstrução nacional e a elite parlamentar do maior partido da oposição elege a
liberdade de expressão, que poderá estar ligado à questão das liberdade e garantias dos
direitos dos cidadãos em relação à democracia.
Todavia, é interessante verificar que, em termos de médias e em termos de
ordenamento das prioridades, com excepção ao combate à fome e à miséria em que
deputados e eleitores apresentam diferenças insignificativas, os resultados demostram
existir congruência no grau de prioridade dos três objectivos para este país (Angola),
como ilustram os valores contidos no gráfico 4.6.
Outrossim, na generalidade os resultados confirmam um consenso entre a elite
parlamentar e seus respectivos eleitores, tal como dão uma indicação congruente entre
ambos sobre o grau de importância das questões ligadas ao garante da paz e da
estabilidade do país, à reconstrução nacional do país, assim como o combate à fome e à
miséria em Angola.
37
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Antes de qualquer outra inferência a retirar, é imprescindível não perder de vista a
consideração de que a congruência ideológica e política, é sempre uma realidade muito
complexa de aferir, sobretudo, quando estudada por meio do cálculo de
posicionamentos médios entre eleitos e eleitores como nesta pesquisa sobre o caso ´´sui
generis´´ angolano.
O primeiro objectivo desta pesquisa visou a aferição da correspondência por
meio dos cálculos médios dos autoposicionamentos de eleitos (deputados) e eleitores
(estudantes) na escala esquerda-direita, onde sucintamente se observou que o campo
ideológico das médias gerais dos autoposicionamentos tanto para os deputados como
para os eleitores destaca-se tendencialmente ao centro, sendo o MPLA o partido em que
os deputados revelam uma posição mais à esquerda na escala esquerda-direita.
De um modo geral, no respeitante ao autoposicionamento esquerda-direita, o
partido com a maior diferença entre eleitos e eleitores é a FNLA – desta forma, menos
congruente ao seu eleitorado. A UNITA é o partido com a menor diferença média entre
deputados e eleitores, por isso, mais congruente ao seu eleitorado.
O segundo objectivo visou a aferição da congruência por meio dos cálculos
médios dos graus de concordância entre deputados e eleitores em assuntos políticos da
dicotomia esquerda-direita. Neste concluiu-se, em termos gerais, que deputados e
eleitores têm o mesmo posicionamento, defendendo claramente, um papel esquerdista
do Estado nas questões socioeconómicas, como a garantia da saúde, da educação, da
rede de segurança social para aos cidadãos, bem como, a redistribuição da riqueza.
O terceiro – e último – objectivo compreendeu a aferição da congruência entre
deputados e eleitores, por meio do cálculo médio das preferências em termos de
prioridades de políticas públicas para o país.
Neste, conclui-se que, não obstante ao facto de os dados mostrarem diferenças
irrelevantes quanto ao que os deputados têm como objectivo mais prioritário em
comparação ao eleitorado, ambos se colocam no mesmo plano; isto é, têm como
prioridade as políticas que garantam a paz e estabilidade, o combate à fome e à miséria
e a reconstrução nacional. O que indica existir congruência entre eleitos e eleitores em
termos de prioridades nas políticas públicas analisadas.
Outrossim, em função dos resultados alcançados, pode-se concluir que
deputados e eleitores são congruentes, uma vez observados na generalidade das três
38
dimensões em análise, valores médios muito próximos entre a elite parlamentar e o
eleitorado.
Conquanto, não se deve deixar de ter em conta as limitações desta generalização,
uma vez tratando-se de uma congruência aferida por meio da comparação de cálculos
médios de duas amostras independentes (em volume e dispersão) e por ser também
reconhecido que o autoposicionamento médio da elite parlamentar e do eleitorado
significam conceptualmente posições diferentes, na medida em que os deputados
formam uma entidade colectiva e os eleitores afigurarem-se mais dispersos.
Portanto, esta pesquisa deixa em aberto a questão de partida sobre a congruência
política para o caso angolano, por um lado, pela limitação inerente à quase inexistência
de estudos sobre este tópico para o caso angolano, por outro, pelas várias questões que a
partida podem levantar-se sobre este fenómeno em Angola, como por exemplo, a
questão sobre quais poderão ser os factores explicativos para a correspondência política
entre eleitos e eleitores em Angola.
39
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44
ANEXO AI – CARACTERIZAÇÃO GERAL DOS PARTIDOS POLÍTICOS
COM ASSENTO PARLAMENTAR
i
Quadro AI.2 – UNITA (União Nacional para Libertação Total de Angola)
ii
Quadro AI.3 – FNLA (Frente de Nacional Libertação de Angola)
iii
Quadro AI.4 – PRS (Partido de Renovação Social)
iv
Quadro AI.5 – ND (Nova Democracia-Coligação)
v
Quadro AI.6 – Síntese Comparativa dos 5 Partidos Políticos
vi
cultura e desporto ciência ciência e tecnologia; cidadãos à
educação instrução, à
cultura e ao
desporto
ORGANIZAÇÃO ECONÓMICA
Princípios Princípios fundamentais Princípios O sistema
fundamentais (Papel (liberdade económica; (subordinação do económico visa
do Estado de subordinação do poder poder económico ao criar as
regulador da económico ao poder poder político; condições para o
economia e político democrático; coexistência do seu
coordenador do coexistência do sector sector público, funcionamento
desenvolvimento público, privado e do privado, sector eficaz no
económico nacional sector cooperativo e familiar e do sector interesse do
harmonioso, nos social de propriedade dos cooperativo social desenvolvimento
termos da meios de produção; de propriedade dos económico
Constituição e da Lei; propriedade pública dos meios de produção; nacional e da
Livre iniciativa recursos naturais e de liberdade de satisfação das
económica e meios de produção; iniciativa de necessidades dos
empresarial, a exercer planeamento e controlo organização cidadãos
nos termos da Lei; democrático, empresarial no O Sistema
Livre mercado, na participativo e âmbito de uma económico
base dos princípios e descentralizado do economia mista e assenta na
valores da sã desenvolvimento privada) coexistência de
concorrência, da económico e social; diversos tipos de
moralidade e da ética, participação das propriedade,
previstos e organizações pública, privada,
10
assegurados por Lei; representativas dos mista,
Respeito e protecção trabalhadores e das cooperativa e
à propriedade e organizações familiar.
iniciativa privada; representativas das
Responsabilidade actividades económicas
social da propriedade; na definição das
Redução das principais medidas de
assimetrias regionais política; Banco Central
e desigualdades independente;
sociais; Concertação transparência, rigor e
social; Defesa do verdade na execução
consumidor e do orçamental e na gestão
ambiente) das finanças públicas;
Sectores económicos fiscalização
(coexistência dos contabilística,
sectores público, patrimonial, financeira e
privado e operacional dos planos,
cooperativo; direito programas e orçamentos
ao uso e fruição de órgãos públicos)
comunitária de meios
de produção)
Institucionalização de um
12 Sistema Nacional de
Segurança Social
viii
ANEXO AII – FICHA TÉCNICA
ix
O processo de inquirição decorreu no seguinte faseamento:
1.º Envio de uma carta à Secretaria da Assembleia Nacional de Angola e aos
cinco grupos parlamentares, solicitando a colaboração dos deputados para a presente
pesquisa, feito pessoalmente pelo pesquisador;
2.º Quase duas semanas depois, e sempre em constante contacto com a secretaria
da AN (de onde não obtivemos resposta) e dos respectivos grupos parlamentares,
foram marcados e realizaram-se encontros formais com quatro dos cinco líderes das
bancadas parlamentares, exceptuando-se o grupo parlamentar do MPLA, em que fui
recebido pelo Secretário do Bereau Político para os Assuntos Políticos e Eleitorais.
Nestes encontros, para além de uma breve explicação dada pelo pesquisador sobre a
natureza da pesquisa e da necessidade da colaboração dos deputados, foi também
apresentado aos respectivos o inquérito a ser aplicado aos deputados. Ficou
combinado nestes encontros que os grupos parlamentares entrariam em contacto com
o pesquisador para avisar quando iniciar com a inquirição aos respectivos deputados,
uma vez que na sua maior parte, os deputados encontravam-se em actividades já
agendadas atempadamente.
3.º Depois de muito tempo de espera sem um feedback, resolveu-se partir por
outras vias, desta feita, por meio de um contacto informal com uma deputada, que
muito amavelmente se predispôs a ajudar no processo de inquirição. É assim que de
comissão a comissão, de deputado/a a deputado/a, se iniciou, finalmente, a inquirição
dos deputados. Foi um processo muito difícil de concretizar por várias razões,
algumas ligadas ao acesso à elite parlamentar, devido a densa agenda que esta tem,
outras ligadas à cultura política do regime angolano. Mas ainda assim, vários foram
os deputados e deputadas que prontamente colaboraram para a concretização do
processo de inquirição.
A aplicação dos inquéritos para os eleitores visou o universo dos estudantes com idade
igual ou superior aos dezoito anos do 4.º ano dos cursos de Ciência Política, Direito,
Economia e Sociologia da Universidade Agostinho Neto. No total obtiveram-se 152
respostas válidas por parte dos estudantes dos 4 cursos. O gráfico AII.1 mostra a
segmentação dos estudantes por curso.
x
Gráfico AII.1 – Distribuição dos estudantes por curso (%)
Das 152 respostas válidas obtidas por parte dos estudantes (eleitores), a
distribuição dos mesmos por curso é relativamente uniforme, onde o curso de direito
obteve uma ligeira maior percentagem de 33,8% de respostas dentre os estudantes, em
que os outros 3 cursos têm quase a mesma distribuição (gráfico 2.1).
xii
Inquérito aplicado aos Deputados
2.1 Das medidas abaixo indicadas, assinale por favor a que considera mais
importante para o país. E segunda mais importante? E a terceira mais
importante? (utilize 1ª, 2ª e 3ª).
Garantir a reconstrução nacional do país……...………………………………….....
Erradicar o analfabetismo..……………………………………………………….....
Diversificar e modernizar a economia nacional…………………………………......
Combater a fome e a miséria com a redução da pobreza……….……………………
Manter um nível elevado de crescimento económico……………………………......
Construir habitações acessíveis, incluindo, os mais desfavorecidos..…….…………
Garantir a paz e a estabilidade nacional......................................................................
Dar aos cidadãos mais capacidade de intervenção nas decisões mais importantes
do governo……………………………………………………………………….......
Controlar a subida do custo dos bens essenciais…………………………………….
Reconstruir as vias de transporte e circulação de pessoas e bens……………………
Defender e garantir a liberdade de expressão……………………………………….
Criar mais emprego…………………………………….…………………………….
xiii
3. Para cada frase, diga-nos por favor o, seu grau de concordância ou discordância.
Esquerda Direita
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
xiv
5. Pode, por favor indicar qual o seu género?
Masculino Feminino
xv
Inquérito aplicado aos Estudantes
1. Das medidas abaixo indicadas, assinale por favor a que considera mais
importante para o país. E segunda mais importante? E a terceira mais
importante? (utilize 1ª, 2ª e 3ª).
Erradicar o analfabetismo..……………………………………………………….....
Dar aos cidadãos mais capacidade de intervenção nas decisões mais importantes
do governo……………………………………………………………………….......
xvi
2. Para cada frase, diga-nos por favor, o seu grau de concordância ou discordância.
Esquerda Direita
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
xvii
4. Existe algum partido político do qual se sinta mais próximo do que de outros? Se
sim, qual é esse partido?
MPLA……………………………………………………………….…1
UNITA………………………………………………………………...2
PRS…………………………………………..………………………...3
FNLA………………………………………………………………….4
ND-Coligação…………………………..………………………….…..5
Outro______________________..........................................................6
Não……………………………………….……………………………7
Masculino Feminino
9. Pode, por favor, dizer qual o grau de escolaridade mais elevado que seu pai
completou?
xviii
Curriculum Vitae
Dados Pessoais
Dados Académicos
Experiência Profissional
xix
Experiências Voluntárias
Domínio de Línguas
Português: nível C2
Inglês: nível C1
Espanhol: A1
xx