Material Do ALUNO - MOD 01 - 2014-1

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 300

LÍNGUA

PORTUGUESA
e LITERATURA

Módulo 1 •  Língua Portuguesa e Literatura


GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Governador Vice-Governador
Sergio Cabral Luiz Fernando de Souza Pezão

SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO

Secretário de Educação Chefe de Gabinete


Wilson Risolia Sérgio Mendes

Secretário Executivo Subsecretaria de Gestão do Ensino


Amaury Perlingeiro Antônio José Vieira De Paiva Neto

Superintendência pedagógica Coordenadora de Educação de Jovens e adulto


Claudia Raybolt Rosana M.N. Mendes

SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Secretário de Estado
Gustavo Reis Ferreira

FUNDAÇÃO CECIERJ

Presidente
Carlos Eduardo Bielschowsky

PRODUÇÃO DO MATERIAL NOVA EJA (CECIERJ)

Diretoria Adjunta de Extensão Coordenação de Diagramação


Elizabeth Ramalho Soares Bastos Desenvolvimento Instrucional Alexandre d' Oliveira
Flávia Busnardo Alessandra Nogueira
Coordenadora de Formação Continuada
Bianca Lima
Carmen Granja da Silva Paulo Vasques de Miranda Carlos Eduardo Vaz
Diretoria Adjunta de Material Didático Desenvolvimento Instrucional Juliana Fernandes
Cristine Costa Barreto Flávia Busnardo Juliana Vieira
Patrícia Seabra
Elaboração Lívia Tafuri Giusti Ricardo Polato
Edna Maria Santana Magalhães Ronaldo d' Aguiar Silva
Julia Fernandes Magalhães Coordenação de Produção
Marco Antonio Casanova Fábio Rapello Alencar Ilustração
Maria Antonieta Antunes Cunha Bianca Giacomelli
Projeto Gráfico e Capa
Monica P. Casanova Clara Gomes
Andreia Villar
Revisão de Língua Portuguesa Fernando Romeiro
Julia Fernandes Lopes Imagem da Capa e da Abertura das Jefferson Caçador
Unidades Sami Souza
Sami Souza Produção Gráfica
Verônica Paranhos

Copyright © 2012, Brasilia


Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros,
sem a prévia autorização, por escrito.

L755
Linguagens, códigos e suas tecnologias. Módulo I - Linguagens
e códigos. / Magalhães, Edna Maria...[et al.] - Rio de Janeiro:
Fundação CECIERJ, 2013.
298 p.; 21 x 28 cm - (Nova EJA.).
ISBN: 978-85-7648-877-4
1. Linguagem. 2. Código. 3. Tecnologia. 4. Cultura.
I. Magalhães, Edna Maria. II. Série.
CDD: 401.4

Referências Bibliográficas e catalogação na fonte, de acordo com as normas da ABNT e AACR2.


Sumário
Unidade 1  •  Cultura e Identidade 5

Unidade 2  •  Linguagem, cultura e variação linguística 33

Unidade 3  •  Língua falada, língua escrita e gêneros textuais 73

Unidade 4  •  A Prescrição 107

Unidade 5  •  A Narração 139

Unidade 6  •  A narração: os elementos linguísticos e


tipos de discurso 167

Unidade 7  •  Literatura: A arte da palavra 199

Unidade 8  •  A Literatura através do Tempo 225

Expansão  •  A norma culta e suas diversas ramificações 267


Prezado Aluno,

Seja bem-vindo a uma nova etapa de sua formação. Estamos aqui para auxiliá-lo numa jornada rumo ao

aprendizado e conhecimento.

Você está recebendo o material didático para acompanhamento de seus estudos, contendo as informações

necessárias para seu aprendizado, exercício de desenvolvimento e fixação dos conteúdos.

Com este material e a ajuda de seus professores, novos mundos surgirão para você.

Conte conosco.

Fundação Cecierj e Seeduc!

Nada lhe posso dar que já não exista em você mesmo.


Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além
daquele que há em sua própria alma.
Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso,
a chave.
Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e
isso é tudo.
Hermann Hesse
Módulo 1  •  Língua Portuguesa e Literatura  •  Unidade 1

Cultura e
Identidade
Para início de conversa...

Quando alguém diz que os brasileiros têm pouca cultura, essa pessoa

pode estar certa, mas pode estar falando uma grande asneira. Pode estar mal in-

formada sobre formas de entender a cultura brasileira e pode estar demonstran-

do um tremendo preconceito. De todo modo, o certo é que clarear as formas de

entender a cultura é um passo importante para nos percebermos como pessoas e

para compreendermos a linguagem como nossa riqueza maior.

Nesta primeira unidade, vamos discutir diversos entendimentos do termo

cultura para, depois, vermos sua íntima relação com questões de linguagem e de

língua. Vamos ver, também, traços da cultura brasileira, criadores de uma identi-

dade nacional, entre os quais a língua aparece como fundamental.

Pronto para iniciar os estudos? Então, vamos lá!

Objetivos de aprendizagem
ƒƒ Reconhecer a linguagem como elemento constituidor e constituinte da cultura.

ƒƒ Identificar as relações entre língua e identidade.

Língua Portuguesa e Literatura 5


Seção 1
Cultura: os muitos significados da palavra

Vamos começar a aula pensando em algumas questões.

a. Em sua opinião, o que é “cultura”?

b. Quando se diz que alguém “tem muita cultura”, o que, em sua opinião, caracteriza essa pessoa?

É bem provável que, suas respostas para as perguntas acima, não apenas no seu entendimento como no de

muita gente, “ter cultura” signifique ter muitas leituras, falar uma ou várias línguas estrangeiras, ter muitos conheci-

mentos sobre História, Geografia, sobre artes, sobre questões atuais de política, economia etc.

Mas será que é isso mesmo?

Veja as manifestações ilustradas a seguir:

Figura 2: Música – Dia da Independência: 7 de setembro – Brasil.

Figura 1: Literatura de Cordel – A Mulher Roubada,


de João Martins de Athaide.

Figura 3: Namoradeiras – Artesanato (MG). Figura 4: Dança Afro (Salvador-Bahia).

6
Isso também não é cultura?
Cultura é o conjunto de conhe-
Quando expandimos nosso olhar, percebemos que
cimentos de um povo, transmi-
cultura é muito mais do que só as manifestações de algu- tidos através de gerações. Estes
conhecimentos congregam arte,
mas pessoas ou classes sociais. Ela envolve todas as mani-
folclore, lenda, comportamentos
festações da vida de um povo. sociais, modos de vida, sentimen-
tos, linguagem, modos de vida,
Os especialistas chamam de “cultura erudita” aque- ocupações etc.
la que se cria ou se divulga nas universidades, institui-

ções científicas e outros centros de estudos e se apoia basicamente em registros e documentos. É, por excelência,

o conhecimento de prestígio.

Para os mesmos estudiosos, ao lado dessa forma de cultura, existe a “cultura popular” – aquela cujo

desenvolvimento dá-se à margem dos registros oficiais e longe das academias e sistemas de ensino. É transmitida,

sobretudo, oralmente, ou por meio de registros bastante simples, basicamente artesanais, nos mais diferentes am-

bientes de convivência dos grupos envolvidos. Essa cultu-

ra evidencia-se nas artes (literatura, música, teatro, dança,


Veja algumas lendas folclóricas bra-
escultura etc.), no tratamento de doenças, nas festas e co- sileiras fazendo uma busca no site

memorações. O folclore é um exemplo dessa cultura. Você http://www.suapesquisa.com

conhece alguma lenda folclórica da sua região? Qual (is)?

Se a cultura erudita pode ser mais valorizada, não é isso que ocorre com a cultura popular: Esta nem sempre

chamou a atenção dos cientistas e é, com frequência, vítima de preconceitos e desconsiderada. No entanto, felizmen-

te, ela sempre foi visitada pela sensibilidade dos grandes artistas. Poderíamos dizer que boa parte da melhor arte, no

mundo inteiro, e em todos os tempos, tem sua origem na cultura popular.

Para dar apenas exemplos brasileiros, pensemos em escritores, como Ariano Suassuna, cuja obra literária e te-

atral tem como fonte a cultura popular. Ou em Heitor Villa-Lobos, o grande compositor erudito brasileiro, que tem na

cultura popular a inspiração de suas composições mais conhecidas. Ou em Antônio Nóbrega, cuja formação erudita

não o impediu de ter sua arte marcada pelo folclore nordestino.

Folclore é a tradição de um povo, os costumes, as crenças, as superstições, transmitidos de geração


em geração. Assim, as lendas, os contos, as canções, as danças, os artesanatos, os jogos, a religiosida-
de, as brincadeiras e as cantigas infantis, os mitos, as adivinhações, as festas e as atividades culturais
são manifestações do folclore de um povo. O folclore é a cultura popular que identifica um determi-
nado grupo ou povo. Por isso, é parte essencial da cultura de uma nação.

Língua Portuguesa e Literatura 7


Ariano Suassuna nasceu em 1927, em João Pessoa (PB), mas desde 1942 mora em
Recife (PE), de onde exerce sua arte de romancista, poeta e dramaturgo e sua luta
em favor da cultura popular nordestina. Escreveu mais de 25 obras, entre as quais
se destacam Auto da Compadecida, O santo e a porca, A pedra do reino. Foi o criador
do Movimento Armorial, cuja proposta era, em todas as artes, propagar a cultura
regional. Tem sua obra traduzida em sete países.

Para ler e ver Ariano Suassuna acesse os sites http://www.releituras.com/asu-


assuna_menu.asp.

Heitor Villa-Lobos nasceu no Rio de Janeiro, em 1887, e morreu em 1959. Maestro


e compositor, foi o principal nome da música brasileira no Modernismo. Desde 12
anos tocava violoncelo. Escreveu composições de inspiração barroca, como as fa-
mosas Bachianas, mas também inúmeras outras, de inspiração na cultura popular,
como Choros, Serestas e Cirandas. Teve seu talento reconhecido mundialmente. No
Rio de Janeiro, há o Museu Villa-Lobos, que você pode conhecer pela Internet. Veja
mais em www.villa-lobos.org.br e http://www.museuvillalobos.org.br/.

Ouça Villa-Lobos – Bachiana nº 5, orquestrada e cantada em várias partes do mun-


do em http://www.youtube.com/watch?v=NxzP1XPCGJE.

Antônio Nóbrega é de Recife, onde nasceu em 1952. Violinista desde criança acabou integrando o
Quinteto Armorial, como instrumentista e compositor. Em carreira solo, criou uma série de espetácu-
los, unindo música, teatro e dança, pelos quais ganhou os mais altos prêmios no Brasil. Eis alguns deles:
Brincante, Figural, que percorrem o Brasil e o mundo: já se apresentou em temporadas, em Cuba, Rús-
sia, França, Portugal, Alemanha, Espanha, entre outros países. Vários de seus espetáculos estão em CD
e DVD, e Lunário Perpétuo foi transformado em filme, sob a direção de Walter Carvalho. Consulte ainda
www.antonionobrega.com.br e assista aos shows em WEB – ver se é possível disponibilizar os vídeos
em nosso ambiente http://www.youtube.com/watch?v=x2GDYP26mNc&feature=related

Que manifestações de cultura popular são comuns em sua cidade ou em seu bairro?

Você participa de alguma delas? Alguma lhe parece especialmente interessante? Por quê?

8
Há, por fim, a “cultura de massa”, típica do mundo industrializado em que vivemos. Ela se instala a partir do

desenvolvimento de produtos e serviços em escalas industriais, criados e oferecidos para uma massa consumidora,

gerando consumo que pode ocorrer, em alguns casos, simultaneamente a esse processo de produção. Esta cultura

vale-se de um sistema de comunicação complexo e sofisticado, que pretende atingir um número cada vez maior de

pessoas – o que se consegue, na maioria das vezes, pela homogeneização e nivelamento das mensagens, oferecidas

a milhões de “participantes” anônimos, espalhados por grandes territórios.

São veículos dessa modalidade de cultura, sobretudo, a televisão, o rádio, a imprensa, com ênfase, agora, na Internet.

Figura 5: Transmissão em Beirute Figura 6: Portal do MEC

1. Possivelmente, você vê televisão ou ouve rádio.

a. Qual sua programação preferida, em cada caso?

b. A que programação você definitivamente não assiste? Por quê?

2. Você costuma ler jornais e revistas? Explique por quê, caso leia ou não.

3. Quais são os jornais e as revistas? E quais os assuntos preferidos?

Língua Portuguesa e Literatura 9


As três modalidades de cultura – erudita, popular e de massa – estão muitas vezes entrelaçadas na nossa vida e,

em alguma medida, toda a sociedade e seus cidadãos usufruem delas.

Talvez possamos dizer que a chamada cultura erudita é a mais distante da sociedade como um todo, uma vez que

ela exige certo hábito de leitura, certa escolarização, ou pede espaços que não são frequentados facilmente pela popu-

lação em geral. Essa cultura está nos museus, nos teatros, nas galerias, arquivos e bibliotecas, lugares que nem sempre

têm acesso gratuito ou preços razoáveis. Outras vezes, parecem até espaços sagrados, não é?

Em seu bairro, vilarejo ou cidade, quais são os espaços de cultura que estão à dispo-

sição da população? Qual (is) deles você frequenta regularmente?

E com relação à cultura de massa? Quem participa dela?

Vale lembrar que, praticamente, todas as camadas sociais participam dela – e nem poderia ser diferente. O

nome – de massa, indica que muitas pessoas.

Quanto a ser esta cultura irremediavelmente alienadora e destruidora da cultura mais original e mais típica de

um povo, conviria pensarmos que, se esta forma de cultura não for exclusiva, seus “perigos” ficam bem diminuídos.

Se conviverem, no cotidiano das pessoas, as várias modalidades de cultura, possivelmente os ganhos serão muitos.

Então, que tal uma pesquisa em um meio de comunicação de massa?

10
Produção textual em sala de aula

Em geral, os jornais têm um caderno especial de ‘cultura’. Escolha um desses cader-

nos de um jornal de circulação regional ou nacional e liste todas as seções ou os assuntos

incluídos neste. Veja se os três tipos de cultura estão representados e se algum tem mais

importância para o jornal. Elabore um texto de aproximadamente 10 linhas sobre o tipo de

cultura que é mais representada e explorada em sua região. Descreva como esse tipo de

cultura se manifesta no dia a dia das pessoas.

Tantas formas de entender e classificar cultura mostram que, como muitos outros fenômenos ou questões
relacionadas ao Homem, este assunto está sempre em aberto.

Para nós, no entanto, é importante abordar a cultura na perspectiva da Antropologia, ciência que estuda o homem a
partir da análise de seus diversos modos de viver. A Antropologia amplia o conceito de cultura para além das manifestações.
Para ela, a cultura se manifesta a todo momento em nossas relações sociais e em nossa relação com o lugar onde vivemos.

Podemos, assim, ver traços culturais em várias situações e nas inúmeras relações que estabelecemos no nosso
cotidiano. Observe algumas dessas situações ilustradas nas imagens a seguir:

Figura 7: Ao telefone, conversando. Figura 8: Cafezinho.

Figura 9: Futebol. Figura 10: Um cybercafé, em Paris.

Língua Portuguesa e Literatura 11


A cultura é uma construção histórica e diz respeito à vida social, englobando o conjunto de fazeres e
usos, todas as formas de conhecimento, todos os modos de expressão, e todos os valores construídos
no processo de desenvolvimento social de cada agrupamento.

Nesse sentido, podemos assegurar que não existe agrupamento humano, nem ser humano sem cultura.
Da mesma forma, podemos afirmar que não temos critérios firmes para sustentar que uma cultura é
melhor do que outra, uma vez que cada agrupamento tem um modo de estar no mundo que satisfaz as
suas necessidades e aspirações, criadas social e historicamente.

A cultura constitui-se a partir do desenvolvimento da fala e da capacidade do homem de criar instrumentos de

atuação sobre a natureza. Nesses dois pontos, funda-se a característica humana da cultura.

Foi o desenvolvimento da linguagem oral pelo homem que gerou potencialidades extraordinárias para a cul-

tura. A primeira delas é a capacidade de o ser humano acumular conhecimento (de toda natureza), o que tem como

consequência o avanço incessante da cultura.

Seção 2
As relações entre cultura, língua
e identidade cultural
Um dos grandes interesses dos vários estudiosos com relação à cultura está no fato de os agrupamentos hu-

manos apresentarem tantas e tão acentuadas diferenças entre si. Esta é mesmo uma questão crucial, que pressupõe
uma outra: em que elementos comuns se baseia a cultura de cada agrupamento humano?

Dito de outra maneira: se, por exemplo, o Brasil é diferente culturalmente de outros países, o que nos

identifica como país?

Você já pensou no que faz você se sentir brasileiro? Pense um pouco nisso e responda:

a. Em que situações ou acontecimentos, você gosta de ser reconhecido como

brasileiro?

b. Em que situações, você gostaria de não ser brasileiro?

12
Leia o poema a seguir e responda às questões apresentadas..

Esse poema foi extraído de um livro de Leo Cunha, autor mineiro que
já escreveu mais de 40 livros para o público jovem e de crianças entre
crônicas, romances, contos e poemas. Com vários deles, ganhou dife-
rentes prêmios nacionais. Algumas de suas obras: Na marca do pênalti,
Pela estrada afora, Contos de gringolados, Clave de lua, Conversa pra
boy dormir, Vendo poesia.
CUNHA, Leo. Poemas pra ler num pulo. Belo Horizonte: Dimensão, 2010. p. 43.

a. O poema fez você lembrar de alguma música? Qual?

b. Que verso mais surpreendeu? Por quê?

c. Segundo o poema, em que atividades aparece a ginga?

d. A que atividades as palavras “bola” e “samba”, respectivamente, estão se referindo?

e. Este poema poderia ter outro título bastante óbvio, em vez de “Tropical”. – Brasil,
por exemplo. Em sua opinião, qual é mais interessante? Por quê?

f. Que traços de identidade do Brasil o poema procura indicar?

g. Observemos, agora, a imagem da página do poema. Ela superpõe três camadas.

1. A camada de fundo é verde. A que elementos do texto ela se refere?

2. A segunda camada é um retângulo amarelo em perspectiva. O que ele sugere?

3. Em primeiro plano, está a figura circular. O que ela representa? Por que está
em destaque ?

4. Observe os pequenos traços mais escuros em toda a página do poema. O


que você acha que eles estão sugerindo?

Língua Portuguesa e Literatura 13


h. O conjunto da imagem na página sugere a você algum outro símbolo brasileiro?

Podemos, sim, afirmar que o futebol e o carnaval são expressões culturais identificadoras do nosso país. É as-

sim que, com certeza, muitos estrangeiros nos veem. Mas essa talvez seja apenas a parte mais visível, mais superficial

do Brasil. Nenhum país caracteriza-se de forma tão simples, nenhuma sociedade é tão homogênea e não se mostra
totalmente nas formas preferidas de lazer.

Vamos ler, agora, o início de uma crônica de Zuenir Ventura, na qual ele aborda as

dificuldades para a definição de identidades e as simplificações sempre perigosas que os

rótulos promovem.
7

Verbete

Zuenir Ventura, nascido em 1930, em Além Paraíba, é jornalista dos mais influentes e premiados
do Brasil. Trabalhou nos mais importantes jornais e revistas do país e hoje é articulista de O Globo
e da revista Época. Seu livro 1968, O ano que não acabou recebeu vários prêmios, assim como O
Acre, de Chico Mendes.

O Brasil o que é?

Há uma pergunta clássica que não só os brasileiros vivem se fazendo, mas também

os estrangeiros: que país é esse no qual convivem tantas contradições e que parece se di-

vertir em ser irredutível às classificações e rebelde às previsões? Um francês, Roger Bastide,

chamou-o de “país dos contrastes”, mas é possível que seja mais do que isso, que seja país

da ambiguidade.

14
Vai ver que não foi por acaso que “inventamos” o mulato, nosso jeitinho contra a po-

larização, síntese mais literal e metafórica do homem brasileiro. Para o antropólogo Rober-

to DaMata, o mulato é a ilustração da tese de que o Brasil, ao contrário dos EUA e da África
7
do Sul, admite o intermediário, o meio-termo, o ambivalente e o ambíguo. (...)

Os jornalistas estrangeiros, principalmente os franceses, perguntam-nos muito: “o Bra-

sil é cordial ou violento? Se é cordial, como se explica tanta violência? Se é violento, por que as

pessoas têm tanta alegria de viver, joie de vivre, como se pode observar, andando pelas ruas?”

(...) O Brasil nunca é uma coisa ou outra, mas as duas. Não é isso ou aquilo, mas isso e aquilo.

Complexo e meio imprevisível, ao mesmo tempo cordial e violento, generoso e mes-

quinho, honesto e corrupto, operoso e preguiçoso, egoísta e solidário, o povo brasileiro a

toda hora desmente o que se diz dele, a favor ou contra. Somos cheios de altos e baixos:

mudamos facilmente de humor e de opinião, passamos rapidamente de um extremo a

outro. Dependendo da cotação de nossa autoestima, ou somos os melhores ou somos os

piores do mundo. Ou somos o primeiro ou não somos nada.

Diz-se também que o brasileiro é omisso, não cumpre suas obrigações cívicas. No dia

a dia, de fato, nem sempre servimos de exemplo para a civilidade e a cidadania. Mas também

vivemos num cotidiano iníquo de violência e de miséria. Em compensação foi esse mesmo

povo que levou o país a tomar posição contra o nazifascismo na Segunda Guerra, que saiu

às ruas para lutar contra as ditaduras (...).e que, sobretudo, provocou o impeachement de um

presidente corrupto no começo dos anos 90. E isso sem sangue e sem violência.

É provável que o Brasil seja um laboratório, no sentido de lugar ou de espaço


onde se fazem experiências em geral boas ou más. De fato um laboratório de
miscigenação, de multiculturalismo, de música, de cinema, de arquitetura e,
claro, de futebol. É curioso como o país nasceu com essa sina. Não é só uma
vocação que ele tem, mas que lhe atribuem. (...)
27 de fevereiro de 2004

Língua Portuguesa e Literatura 15


Verbete

Ambiguidade - o que pode apresentar vários sentidos ou dupla interpretação.

7
Polarização - fenômeno observado quando ideias, sentimentos ou interesses opostos de um grupo são
confrontados nitidamente.

Iníquo - injusto, desigual, sem igualdade.

1. As afirmações a seguir estão relacionadas às ideias e à linguagem do trecho lido. Mar-

que com V as afirmações que correspondem e com F as que não correspondem ao pen-

samento ou à linguagem do texto.

a. (  ) A caracterização do brasileiro não admite certezas.

b. (  ) O negro é uma boa representação do jeitinho brasileiro.

c. (  ) Mais do que contraditório, o brasileiro é ambivalente.

d. (  ) O brasileiro é imprevisível e complexo.

e. (  ) O brasileiro ama a polarização.

f. (  ) O texto usa muito o verbo de ligação ser, por se tratar de uma tentativa de

caracterização.

g. (  ) O uso frequente das interrogações mostra a dificuldade de se chegar a uma con-

clusão sobre o assunto.

2. Dentre os apontados pelo cronista, que traços do Brasil estão mais presentes e visíveis

no seu cotidiano e no de seus colegas?

16
Produção textual

Depois das reflexões feitas, que tal agora você criar seu próprio texto sobre o Brasil?

Pode ser um texto com suas ideias sobre a nossa identidade ou mesmo um poema.
8

Na identificação de situações em que você e seus colegas sentem-se mais brasileiros e, agora, na produção

desse texto, você deve ter percebido que apareceu um traço fundamental de brasilidade: a Língua Portuguesa.

Nossa língua é, por excelência, um traço criador de nossa identidade. Por nascermos no Brasil e convivermos

desde cedo com nossos familiares e grupo social, aprendemos e comunicamo-nos, usando o Português. E esta língua

será o maior instrumento de expressão de nossa cultura.

Pessoas, obras das mais variadas manifestações artísticas, paisagens, comidas, a língua: as mais diferentes ex-

pressões e atividades humanas podem despertar em nós um profundo sentimento de patrimônio compartilhado, de

pertencimento ao mesmo território, enfim, um sentimento de identidade com o que é a nação brasileira.

Assim, um acarajé, um feijão tropeiro, uma toalha bordada à mão, um folheto de cordel, um sino repicando de

manhãzinha, um maracatu, uma situação aparentemente simples acorda em nós a memória clara de um lugar a que

pertencemos. A página de um jornal ou de um livro, a fala de um conterrâneo lembra-nos nossa pátria.

A nossa língua é o traço unificador por excelência.


Como já disse um importante estudioso da linguagem, “a língua não informa sobre o mundo, informa
o mundo.” É, sobretudo, a língua, que cria esse sentimento de identidade, de irmandade, de perten-
cimento, fundamental para que o ser humano perceba-se como ser social – sua característica mais
fundamental.

E sendo a língua marca cultural de um povo, torna-se, então, o elemento agregador que nos identifica nesse gru-

po. A cultura, por sua vez, é responsável pela identidade entre as pessoas de uma comunidade, de um povo e de seu país.

Língua Portuguesa e Literatura 17


Assim, todas as culturas são equivalentes e, como não existe sociedade nem pessoa sem cultura, nenhuma é

melhor do que outra: cada uma tem as características fundamentais para o seu funcionamento. É a língua que une os

elementos de uma dada sociedade ou país, tornando-se o principal traço de sua identidade.

Valorizar a cultura de qualquer povo e, consequentemente, sua língua materna, é um exercício de cida-

dania. Pense nisso!

Veja ainda

1. Procure conhecer mais sobre Ariano Suassuna

Visite o site da Academia Brasileira de Letras em http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.

htm?sid=305

Assista às entrevistas com Ariano Suassuna em http://www.youtube.com/watch?v=_nLDgT3Ifmg

2. Navegue pelo Museu Villa Lobos e conheça mais sobre este músico que participou da Semana de Arte Mo-

derna, em 1922. http://www.museuvillalobos.org.br/

3. Conheça mais sobre a arte no Brasil navegando no site: http://www.programaartebrasil.com.br/hist_arte-

sanato/hist_arte.asp

4. Que tal conhecer vários recantos de nosso grandioso, “ gingante” Brasil? Viaje através do site http://www.

brasilviagem.com/materia/?CodMateria=42

5. Você sabia que, em 2009, foi criado o Instituto Nacional dos Museus – IBRAM através do Ministério da Cul-

tura? Visite alguns de nossos museus: http://www.museus.gov.br/

6. Leia mais!!!

Sugestão: que tal um pouco de Literatura de Cordel? Você sabe que os poemas de Cordel fazem parte da cul-
tura do Nordeste?

a. Academia Brasileira de Literatura de Cordel: http://www.ablc.com.br/

b. Casa de Rui Barbosa: http://www.casaruibarbosa.gov.br/cordel/

7. Apresentamos a você um site onde você pode encontrar vários assuntos para suas pesquisas escolares.

Quer saber mais sobre o folclore? E sobre dança? Nossa história? Então: http://www.suapesquisa.com/fol-
clorebrasileiro/dancas_folcloricas.htm

18
Referências

ƒƒ VENTURA, Zuenir. Melhores crônicas. São Paulo: Global, 2004.p. 55-56. Fragmento.

Imagens

  •  Acervo pessoal  •  Sami Souza

  •   http://www.flickr.com/photos/admiriam/4049658898/

  •  http://www.flickr.com/photos/massacoletiva/5188249048/

  •  http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=5431

  •  http://www.sxc.hu/browse.phtml?f=view&id=215067

  •   http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Ariano_Suassuna.jpg Autor: Wilson Dias/ABr

  •  http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Heitor_Vila-Lobos_%28c._1922%29.jpg

  •  http://www.sxc.hu/photo/714137 Autor: H Assaf

  •  http://portal.mec.gov.br/index.php

  •  http://www.sxc.hu/photo/504540

  •  http://www.sxc.hu/photo/235764

  •  http://www.sxc.hu/photo/603150

Língua Portuguesa e Literatura 19


  •  http://www.dominiopublico.gov.br/download/imagem/mf000391.jpg

  •  http://www.sxc.hu/photo/517386

20
Seção 1. Cultura: os muitos significados da palavra

a. Esta questão é apenas uma proposta para aguçar sua curiosidade sobre o assun-

to da unidade – cultura. No entanto, vale dizer que cultura, entre outros concei-

tos é o conjunto de saberes de um povo, de hábitos, atitudes desse povo que é

passado de geração para geração e que assinala sua identidade no mundo.

b. Quando se diz que alguém tem cultura, de modo geral o que se pretende dizer

é que aquela pessoa possui estudo, conhecimento. Mas, todos têm cultura. Uma

cultura pode ser diferente da outra, mas todas têm sua grandeza por representar

um povo e sua forma de ser no mundo.

Atividade 1

1. Resposta pessoal. As respostas de caráter pessoal são importantíssimas e serão assunto

da reunião do grupo. Elas indicam exatamente o que cada pessoa tem de particular –

o que é um direito de cada um, mas pode indicar também enganos que precisam ser

discutidos. Daí a importância de serem sempre respondidas com sinceridade, de forma

a permitir uma discussão adequada da cultura.

Atividade 2

1. Resposta pessoal.

2. Resposta pessoal.

3. Resposta pessoal.

Atividade 3

Esta atividade tem resposta pessoal. Mas veja: os espaços destinados à cultura po-

dem ser bibliotecas, praças, cinemas, teatros, museus, exposições, locais onde há artesana-

to, dança, esporte, lazer etc.

Língua Portuguesa e Literatura 21


Atividade 4

Esta é uma atividade de pesquisa. Nos jornais, há sempre um espaço que mostra

o que acontece na região, como: eventos de música, exposições, opções de lazer, indica-

ção de filmes, livros e peças de teatro, entrevistas com artistas etc. Você deverá pesquisar

nos jornais notícias relativas à cultura erudita – peças de balé, apresentação de orquestras,

exposições de pintura, por exemplo, entre outros – à cultura popular – literatura de cor-

del, artesanatos regionais, danças típicas da região, restaurantes de comida típica, jogos

de futebol etc.- e à cultura de massa – grandes shows, grandes eventos que reúnem muitas

pessoas diferentes ao mesmo tempo.

Atividade 5

a. Resposta pessoal

b. Resposta pessoal

Atividade 6

a. Você deve ter-se lembrado do Hino Nacional, que apresenta o verso “Gigante pela

própria natureza”. Se não se lembrou, procure a letra do Hino, para relembrá-lo.

b. Um verso que se destaca é: Gingante – a palavra é criada pelo autor (um neologis-

mo) para mostrar que é próprio do brasileiro a ginga no futebol e no samba. Com

o neologismo, o poema brinca com nosso Hino e com duas paixões dos brasileiros.

c. A ginga aparece no futebol e no samba. É o elemento comum às duas expres-

sões populares.

d. Futebol e carnaval

e. Resposta pessoal. Mas não podemos deixar de registrar que o título “Tropical”

traz uma surpresa, é mais original do que “Brasil”. Talvez você e seus colegas até

se lembrem da composição musical de Jorge Benjor, que canta: “Moro num país

tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza”.

22
f. O poema mostra dois traços importantes da cultura dos brasileiros, com os quais

até os estrangeiros identificam-nos. Note a diagramação do poema com o for-

mato da Bandeira do Brasil.

g. 1. Um campo de futebol. Mas também sugere o fundo da Bandeira Nacional.

2. Lembra o losango da Bandeira Nacional, com um círculo, que será comenta-

do adiante.

3. A marcação do campo de futebol (círculo central), mas também o círculo cen-

tral da nossa bandeira. Observe a imagem: o círculo faz uma composição entre

a bola e o pandeiro, instrumento musical, usado em rodas de samba. O tipo de

música é o samba, como mostra o texto.

4. Os confetes e serpentinas que são jogados tanto no carnaval quanto nos cam-

pos pelos participantes.

h. Como já sugerido em cada resposta da pergunta G, a página nos lembra a bandeira

nacional, mais um elemento de nossa identidade, ao lado do futebol e do carnaval.

Atividade 7

1. a) V; b) F;c) V; d) V; e) F; g) V

2. Esta questão apresenta resposta pessoal. No entanto, você deve considerar o fato de

que o brasileiro tem como característica a pluralidade e o multiculturalismo. Considere

para responder a essa questão o seguinte fragmento: “Complexo e meio imprevisível,

ao mesmo tempo cordial e violento, generoso e mesquinho, honesto e corrupto, ope-

roso e preguiçoso, egoísta e solidário, o povo brasileiro a toda hora desmente o que se

diz dele, a favor ou contra (...)”.

Atividade 8

Resposta pessoal. Expresse o que você sente ou como vê o Brasil e sua identidade.

Leve seu texto para discutir com seus colegas e com seu professor.

Língua Portuguesa e Literatura 23


O que perguntam por aí?

ENEM 2009

Resposta: Letra A

Comentário: Nesta questão, o importante é observar os traços de regionalismo na fala de Chico Bento como

“arguma coisa” no lugar de “alguma coisa”.

Língua Portuguesa e Literatura 25
ENEM 2010

Resposta: Letra c

Comentário: O que marca a linguagem informal na fala entre a avó e seu neto é a redução da forma “está” para “ta”.

26 Anexo
Atividade extra
Módulo 1  •  Língua Portuguesa e Literatura  •  Unidade 1
Cultura e identidade

Leia o texto para responder às questões 1 e 2

O último computador

Um dia, todos os computadores do mundo estarão ligados num único e definitivo sistema, e o centro do sis-

tema será a cidade de Duluth, nos Estados Unidos. Toda a memória e toda informação da humanidade estarão no

Último Computador. As pessoas não precisarão mais ter relógios individuais, calculadoras portáteis, livros, etc. Tudo o

que quiserem fazer – compras, contas, reservas – e tudo o que desejarem saber estará ao alcance de um dedo. Todos

os lares do mundo terão terminais do Último Computador. Haverá telas e botões do Último Computador em todos os

lugares frequentados pelo homem, desde o mictório ao espaço. E um dia, um garoto perguntará ao pai:

- Pai, quanto é dois mais dois?

- Não pergunte a mim, pergunte a Ele.

O garoto apertará o botão e, num milésimo de segundo, a resposta aparecerá na tela mais próxima. E, então,

o garoto perguntará:

- Como é que eu sei que isso está certo?

- Ora, ele nunca erra.

- Mas se desta vez errou?

- Não errou. Conte nos dedos.

- Contar nos dedos?

- Uma coisa que os antigos faziam. Meu avô me contou. Levante dois dedos, depois mais dois... Olhe aí. Um,

dois, três, quatro. Dois mais dois quatro. O Computador está certo.

Língua Portuguesa e Literatura 27
- Bacana. Mas, pai. E 363 mais 17? Não dá para contar nos dedos. Jamais vamos saber se a resposta do Compu-

tador está certa ou não.

- É...

- E se for mentira do Computador?

- Meu filho, uma mentira que não pode ser desmentida é verdade.

- Quer dizer, estaremos irremediavelmente dominados pela técnica, mas sempre sobrará a filosofia.

Luís Fernando Veríssimo http://www.sitescorreio.com.br/blogs/cronica-maravilhosa-de-luis-fernando-verissimo/

Questão 1

De acordo com o texto, no futuro:

a. Haverá um sistema de computadores que ligará todos os países e lugares.

b. As pessoas terão mais liberdade de escolha pelo desenvolvimento tecnológico.

c. Haverá um retorno ao passado, principalmente em relação aos cálculos matemáticos.

d. Os jovens terão mais facilidade de aprendizagem, pois tudo estará centralizado em um computador.

Questão 2

“Último Computador”, como é apresentado no texto, terá a função de

a. Controlar e armazenar toda a informação da humanidade.

b. Auxiliar os homens, principalmente, nos cálculos matemáticos.

c. Levar a humanidade a um maior conhecimento de sua realidade.

d. Abrigar e definir os locais e os espaços frequentados pelos homens.

Leia o texto para responder às questões 3 e 4

Coisa de Homem

28
A dança se origina do movimento e caracteriza a vida. Muitas pessoas acham que o balé é coisa só para mulher,

e isso é um grande preconceito. Dança é arte, é movimento. Béjart disse que a dança é masculina. Independentemen-

te do sexo, certo é que os homens estão cada vez mais conquistando seu lugar em companhias de balé, provando

assim que toda arte é assexuada.

(RUVIN BER, José Singal. São Paulo – SP Revista O Globo 2/10/2011. Carta p.49)

Glossário:

Béjart: Maurice Bérjart, nome artístico de Maurice Jean Berger (Nasceu em Marselha, 1 de Janeiro de 1927 – e

faleceu em Lausana, 22 e Novembro de 2007) foi um dançarino e coreógrafo francês.

Questão 3

A dança é uma manifestação cultural e uma identidade para os povos. O autor do texto revela melhor essa

afirmação no trecho:

a. “Béjart disse que a dança é masculina.”

b. "... provando assim que toda arte é assexuada.”

c. “A dança se origina do movimento e caracteriza a vida”

d. “Muitas pessoas acham que o balé é coisa só para mulher,..”

Questão 4

O texto “Coisa de Homem” é identificado como uma

a. exposição

b. narração

c. descrição

d. argumentação

Língua Portuguesa e Literatura 29


Questão 5

A natureza é sábia

Mas não compreende um fato

Por que só tem uma mãe

E tanto parente chato?

Millôr Fernandes

A expressão “Por que”, no terceiro verso da estrofe de Millôr Fernandes, tem como finalidade introduzir

a. uma explicação

b. uma finalização

c. uma contradição

d. um questionamento

Questão 6

Em Portugal, você poderá ter alguns probleminhas se entrar numa loja de roupas desconhecendo certas su-

tilezas da língua. Por exemplo, não adianta pedir para ver os ternos — peça para ver os fatos. Paletó é casaco. Meias

são peúgas. Suéter é camisola — mas não se assuste, porque calcinhas femininas são cuecas. (Não é uma delícia?).

(Ruy Castro. Revista Viaje Bem. Ano VIII, no 3, p78.)

Esse texto destaca diferenças entre o português do Brasil e o de Portugal. Qual é o aspecto focalizado?

30
Gabarito

Questão 1
A B    C     D

Questão 2
A B    C     D

Questão 3
A B    C     D

Questão 4
A B    C     D

Questão 5
A B    C     D

Questão 6

A língua portuguesa falada e escrita no Brasil apresenta diferenças da língua empregada em Portugal em vários

níveis. Esse texto apresenta exemplos de variação nas palavras usadas, respectivamente, no Brasil e em Portu-

gal, como terno/fato; suéter/camisola.

Língua Portuguesa e Literatura 31


Módulo 1  •  Língua Portuguesa e Literatura  •  Unidade 2

Linguagem,
cultura e
variação
linguística
Para início de conversa...

Você sabia que se criássemos juntos um bebê humano e um macaquinho,

não veríamos muitas diferenças nas reações de cada um, nos primeiros contatos

com o mundo e as pessoas?

O desenvolvimento da percepção, do modo de pegar os objetos, do jogo

com os adultos é feito de forma similar. Até que, em dado momento, por volta dos

dezoito meses, o progresso do bebê humano vai se tornar bem diferente. E você

sabe por quê?

Porque o bebê vai começar a falar!

Língua Portuguesa e Literatura 33


Leia um trecho interessante do livro do antropólogo Roque de Barros Laraia: Acompanhando o desen-
volvimento de uma criança humana e de uma criança chimpanzé até o primeiro ano de vida, não se
nota muita diferença: ambas são capazes de aprender, mais ou menos, as mesmas coisas. Mas quando
a criança começa a aprender a falar, coisa que o chimpanzé não consegue, a distância torna-se imensa.
Através da comunicação oral, a criança vai recebendo informações sobre todo o conhecimento acu-
mulado pela cultura em que vive. (...)

É interessante observar que não falta ao chimpanzé a mesma capacidade de observação e de inven-
ção, faltando-lhe, porém, a possibilidade de comunicação. Assim sendo, cada observação realizada por
um indivíduo chimpanzé não beneficia a sua espécie, pois nasce e acaba com ele. No caso humano,
ocorre exatamente o contrário: toda experiência de um indivíduo é transmitida aos demais, criando
um interminável processo de acumulação.

Assim sendo, a comunicação é um processo cultural. Mais explicitamente, a linguagem humana é um


produto da cultura, mas não existiria cultura, se o homem não tivesse a possibilidade de desenvolver
um sistema articulado de comunicação oral. (...)

Eis aí a grande diferença entre homens e animais! A LINGUAGEM!

O homem é um ser social por excelência e diferencia-se dos animais pela faculdade da linguagem. Só o homem

é capaz de comunicar os seus pensamentos por meio de diferentes recursos e, principalmente, pela fala.

O que é a linguagem? Será que expressamos a linguagem somente com palavras?

E o que é língua? Será que só existe uma forma válida de se utilizar a Língua Portuguesa? Ou existem variadas

formas para diferentes situações?

Tudo isso é o que nós vamos estudar nesta unidade. Ao final, talvez você descubra que há muito mais formas

de utilizar a nossa língua do que você imaginava!

Objetivos de aprendizagem
ƒƒ Compreender a linguagem como uma atividade social e exclusiva do homem;

ƒƒ Identificar como a diversidade linguística manifesta-se;

ƒƒ Analisar a adequação de determinados usos linguísticos em diferentes situações de interação.

34
Seção 1
Linguagem como criação e criadora de cultura

Você já imaginou como seria uma pessoa criada sozinha, sem contato com outros seres humanos? E se essa

pessoa fosse criada por animais, como diz a lenda do Tarzan?

A lenda do Tarzan conta a história de um menino que, após um naufrágio, e com os pais mortos, é
“adotado” por uma macaca gorila no continente africano. Assim, Tarzan é criado como um macaco,
assimilando todos os costumes e hábitos da selva. Vinte anos depois, é encontrado por...

Veja mais no site abaixo:

http://www.youtube.com/watch?v=dFwhKVRpC8Q – Trata-se de um filme que mostra o menino Tar-


zan em sua vida com os macacos, e os seus primeiros contatos com os humanos. Por ser mudo, é inte-
ressante perceber como o menino aprende novos hábitos de vida, incorpora-os à sua rotina na selva
e aprende a ‘falar’.

Outro filme interessante é o “O enigma de Kaspar Hauser”, do diretor Werner Herzog, lançado em 1974,
e baseado em um livro de mesmo nome. Narra a história de uma criança abandonada, encontrada
na Alemanha.  Ela não sabia falar, nem andar e não tinha o comportamento de um ser humano. Seu
grande enigma mantém-se até hoje, sendo sua origem desconhecida.
http://www.youtube.com/watch?v=2m0GVRpl5dA&playnext=1&list=PL9C7A9176D5935EB6&index=12

Respondendo às perguntas dadas acima, você deve ter pensado em diferentes situações: essa pessoa sozinha

não aprenderia a falar, não teria como desenvolver hábitos comuns a outros, não teria uma história anterior ou mode-

los que a ajudassem a se colocar no mundo ou mesmo se proteger. Se estivesse em meio a animais, como no caso do

Tarzan, certamente acabaria por se comportar e andar como eles.

E como será que nasceu a linguagem? Será que ela só se expressa por meio das palavras?

Você já deve ter ouvido falar nos homens da caverna. Na história da humanidade, houve um momento em que,

pela primeira vez, um homem fez um sinal na parede de uma caverna, fez um gesto ou emitiu um som, conferindo a

eles certo significado que foi, então, compartilhado com outros seres humanos.

Essa capacidade de simbolizar, isto é, de construir e de atribuir significados a desenhos, gestos e sons são ex-

clusivos do ser humano, que, assim, criou diferentes linguagens para se comunicar.

Língua Portuguesa e Literatura 35


Veja as gravuras encontradas em algumas cavernas na Serra da Capivara, no Piauí no site da Fundação
Museu do Homem Americano, http://www.fumdham.org.br/pinturas_rupestres.html. As gravuras fo-
ram inscritas na rocha no decorrer de um período que remonta há 12.000 anos. Retratam animais, hu-
manos, árvores, danças, caçadas e com significações para os grupos sociais que viveram nesse período.

E do tempo das cavernas até os dias de hoje? Que linguagens o homem usa para se comunicar?

Figura 1: O celular: a rapidez na comunicação.

Figura 2: O computador e a linguagem universal do e-mail.

36
Figura 3: Os símbolos

E então? Não é difícil perceber que em nosso dia a dia convivemos com diferentes linguagens, não é?

Mas o que é linguagem?

Linguagem é o conjunto de sinais, signos, que podem ser gestos, cores, símbolos, palavras etc., usados
na comunicação. Cada sinal criado pelo homem para sua comunicação corresponde a um significado e,
por isso, esses sinais são denominados signos linguísticos.

Podemos expressar nossas ideias, pensamentos e sentimentos por meio de palavras – a chamada linguagem

verbal –, mas também por meio de outros sistemas de representação como: o jogo de cores na pintura, o desenho, os sis-

tema de gestos, os sons da música, a expressão corporal da dança, entre outros – a denominada linguagem não verbal.

Figura 4: O relógio representando o tempo.

Língua Portuguesa e Literatura 37


Figura 5: O amor

Figura 6: A música uma das formas mais antigas de comunicação.

38
1. Indique, para cada situação de comunicação a seguir, se a linguagem usada é verbal,

não verbal ou mista (isto é, misturam a linguagem verbal e a não verbal):

a. os sinais de trânsito numa estrada

b. uma conversa informal entre alunos e professores

c. as cores das bandeiras e dos semáforos

d. as cantigas infantis

2. Reescreva em linguagem verbal a mensagem dos símbolos que apresentamos a seguir:

a.

b.

c.

3. Após a elaboração das mensagens na questão 2, qual é o tema central que une os três textos?

Língua Portuguesa e Literatura 39


Com o advento das novas tecnologias e o avanço científico, verificamos que são múltiplas as formas e os recur-

sos de interação disponibilizados no século XXI. Por meio deles, construímos novos modos de ver, de estar e de agir,

no mundo a nossa volta.

Por tudo isso, dizemos que o homem é, em sua essência, um ser de linguagens: está sempre buscando novas

formas de se expressar. Essa expressão torna-se cada vez mais complexa em termos dos recursos utilizados e dos

modos de representar o que se quer ‘dizer’.

Seção 2
Língua, identidade cultural e variação linguística

A linguagem verbal, oral ou escrita, desenvolvida por diferentes grupos humanos, concretiza-se em diversas
línguas, como: o português, o inglês, o chinês, o espanhol etc.

E o que é língua?

Língua é todo conjunto de sinais verbais (expressos pelas palavras) organizados em regras que se com-
binam entre si, usados pelas pessoas de uma mesma comunidade para se comunicarem e interagirem.

No caso do Brasil, a nossa língua materna é a Língua Portuguesa, herdada como língua oficial em decorrência

da chegada dos portugueses, em 1500.

Mas por que será, então, que o nosso Português é tão diferente do de Portugal?

40
Veja algumas diferenças de vocabulário entre o Português no Brasil e em Portugal.

No Brasil é: Em Portugal é: No Brasil é: Em Portugal é:

abridor tira-cápsulas apostila sebenta

banheiro casa de banho fila bixa

aeromoça hospedeira de bordo blusão camisola

água sanitária lixívia bonde eléctrico

calcinha cueca cafezinho bica (usado em Lisboa)

Em primeiro lugar não podemos esquecer que o Brasil, quando os portugueses chegaram, já era habitado por

índios que falavam idiomas indígenas, como o Tupi, por exemplo. Depois vieram os africanos, que incorporaram à Lín-

gua Portuguesa novas expressões e vocábulos, e tantos outros imigrantes de outros países que, em épocas diferentes,

trouxeram suas expressões.

Língua Portuguesa e Literatura 41


Leia a seguir alguns exemplos, extraídos do livro Método Moderno de Tupi Antigo do professor Eduardo
de Almeida Navarro:

“Reparando bem, todo mundo tem pereba, só a bailarina que não tem”, diz uma canção de Chico Buar-
que de Holanda. Pereba, do tupi, significa ferida.

“Pare com esse nhenhenhém”. A expressão vem do verbo nhe’eng (falar, piar) e significa pare de ficar
falando, de falar sem parar, de resmungar. (...)

“Velha coroca” é uma velha resmungona. O termo nasceu do verbo kuruk, que significa resmungar.

O verbo “cutucar”, em Português, origina-se do tupi kutuk, cujo significado original – furar, espetar –
modificou-se ligeiramente. Em Português, cutucar é tocar com a mão ou com o pé.

“Estar jururu” é estar melancólico, tristonho, cabisbaixo. O termo indígena aruru, de onde surgiu a pa-
lavra, tem o mesmo significado.

Várias palavras mantiveram pronúncia e significado praticamente originais: mingau (papa preparada
geralmente com farinha de mandioca), capim, mirim (que significa pequeno) e socar (do verbo sok,
com o mesmo significado).

Mas, e no Brasil? A Língua Portuguesa é usada igualmente em todos os lugares?

Você tem familiares, ou conhece alguma pessoa que é de outro estado brasileiro? Já

percebeu se há diferenças na maneira como eles falam, comparando com a maneira como

se fala na cidade onde você mora? Em caso positivo, preencha o quadro abaixo, explicando

quais são as diferenças observadas:

Quem? De onde é? Qual a diferença observada

42
Você já deve ter observado, até mesmo em programas de rádio e de televisão, que há mesmo diferenças na

forma como as pessoas falam em diferentes regiões do Brasil. Muitas dessas diferenças estão no vocabulário; outras,

na forma como constroem a frase (na sintaxe), ou na forma de pronunciar palavras e frases. Por exemplo:

1. Em São Paulo, as pessoas descem do ônibus. No Rio de janeiro, elas saltam do ônibus. Em Caxias do Sul,

elas desembarcam!

2. Uma média, na capital paulista, é café com leite.  Em Santos, média é um pãozinho.

3. Em Porto Alegre, pãozinho é cacetinho. Em Itu, é filão. O filão, em São Paulo capital, é um pão grande e em

outras cidades é simplesmente uma fila grande, comprida.

Além de variações regionais, há outras variações sociais relacionadas a alguns grupos e causadas por fatores,

como: a escolaridade, nível social, nível de formalidade, idade, pertencimento a um grupo específico como um grupo

de Rap etc. Exemplos dessas variações são:

ƒƒ Falar (dependendo do grupo social em que se está inserido) “Nós vai pra festa”/“Nós vamos para a festa”;

“Nós se encontremo depois”/ ”Nós nos encontramos depois”; muié/mulher, alevantar/levantar etc.

ƒƒ Utilizar gírias (determinadas pela idade ou pertencimento a um grupo específico) como: “Vaza” ( vai embo-

ra); “mina” ( namorada); “se liga” (preste atenção/entenda); “desencana” ( não se preocupe), “curtir um som”

( ouvir musica).

É interessante notar como certos grupos utilizam uma linguagem própria, afirmando, assim, sua identidade

grupal pela linguagem. Pense na linguagem utilizada pelos grupos de pagode, funk, rap, metaleiros etc.

PRODUÇÃO TEXTUAL

Pesquise na biblioteca, na Internet, ou até mesmo com pessoas em seu bairro, exem-

plos de variações na Língua Portuguesa. Elabore um pequeno texto em que você enumera

as variações lingüísticas encontradas na sua região, em seu bairro ou mesmo em sua casa.

E não se esqueça de dizer se essa diversidade lingüística traz (ou não) algum problema na

comunicação entre as pessoas.

Você pode mostrar exemplos de variação diacrônica (que ocorre através do tempo,

Língua Portuguesa e Literatura 43


como, por exemplo: ladroens (1712) /ladrões (2011)), ou regionalismos (de acordo com as

regiões do Brasil), ou mesmo de variações sociais (que se referem à escolaridade, nível so-

cial, grau de formalidade, idade, pertencimento a um grupo etc.).

E então? Após verificar essas diferenças, será que podemos dizer que uma dessas

variações é mais correta do que a outra?

E como será que isso pode acontecer, se falamos todos a mesma língua?

Qualquer um de nós aprendeu naturalmente a língua em contato com a família e o grupo social. E, ao se co-

municar, faz escolhas dentre o conjunto de saberes que tem sobre a língua e sobre o assunto de que vai falar. Isso, no

entanto, não prejudica o caráter de unidade da língua (todos nós falamos Português), nem é contrário aos usos e os

diversos modos de expressão de outros falantes.

Podemos dizer, assim, que a língua possui variações e, embora seja a mesma, apresenta diferenças de região

para região, de pessoa para pessoa, de acordo com o grau de intimidade (formalidade) entre as pessoas, a faixa etária,

a classe social, o grau de escolaridade, as profissões, etc.

44
Figura 7: A nossa língua apresenta variações de região para região, mas mesmo
assim conseguimos nos comunicar!

Essa variação linguística é totalmente legítima e, por isso, não há como dizermos que existe um jeito
certo ou errado de falar, nem um padrão de linguagem melhor ou pior do que outro. O que determina a
utilização de uma ou outra variedade, ou de uma ou outra forma, é o contexto comunicativo, a situação
concreta de comunicação que se estabelece.

Ao reconhecer as possibilidades de variação da língua, estamos sendo coerentes em afirmar que ela expressa

a variedade cultural existente na sociedade.

Agora, divirta-se, conhecendo algumas versões de um mesmo texto, mas com sujeitos de estados diferentes. É

um bom exemplo de variação regional.

(...)
ASSALTANTE MINEIRO
Ô sô, prestenção. Issé um assarto, uai! Levantus braçu e fiketin quié mióprucê. Esse trem na minha mão
tá chein di bala... Mió passá logo os trocado que eu num to bão hoje. Vai andano, uai ! Xispa daqui!!! Tá
esperanuquê,sô?!

Língua Portuguesa e Literatura 45


ASSALTANTE BAIANO
Ô meu rei... (pausa). Isso é um assalto... (longa pausa). Levanta os braçosmas não se avexe não... (outra
pausa) Se num quiser nem precisa levantar, pra num ficar cansado. Vai passando a grana, bem devagarinho
(pausa pra pausa). Num repara se o berro está sem bala, mas é pra não ficar muito pesado. Não esquenta
meu irmãozinho, (pausa). Vou deixar teu documentos na encruzilhada.

ASSALTANTE PAULISTA
Isto é um assalto! Erga os braços! Porra, meu!...Passa logo a grana, meu. Mais rápido, meu, que eu ainda pre-
ciso pegar a bilheteria aberta pru jogo do Corintias, meu!... Pô, agora se manda, meu, vai... Vai...

ASSALTANTE CARIOCA
Aí, perdeu, mermão! Seguiiiinnte, bichxu. Isso é um assalto, sacô? Passa a grana e levanta usch braço rapá...
Não méchxi que eu te passo o cerol....Vai andando vira a isssquina e se olhar pra tráiiss vira presunto...
(Circulando pela INTERNET, com adaptações)

Seção 3
Variações e registros linguísticos

PRODUÇÃO TEXTUAL

Imagine-se agora na seguinte situação: você precisa de dinheiro emprestado e pode

pedir para três pessoas diferentes: um amigo (ou parente), seu patrão e um gerente de ban-

co. Que linguagem você usaria para falar com cada um? Certamente, você falaria de forma

diferente, não é? Elabore as mensagens.

a. Pedido a um amigo ou parente

b. Pedido ao patrão

c. Pedido ao gerente de um banco

46
As três manifestações de uso da Língua Portuguesa na atividade anterior foram diferentes, não foram? Quais

foram as diferenças? Nas palavras empregadas, na forma de se dirigir a cada uma das pessoas, em função de suas

posições sociais?

Observe que o que mudou em cada situação foi a forma como você registrou a mensagem.

A essa variação que ocorre em função do uso que se faz da língua e que depende das condições da
situação de comunicação (com quem se fala, o que se fala, quando, por que e como se fala), chama-
mos de registro.

Os registros de uma língua podem ser basicamente:

a. Formal ou informal, de acordo com o grau de formalismo do discurso e o nível de intimidade existente

entre as pessoas.

Exemplos: Formal: Nós vamos construir uma nova creche no bairro. (Contexto: administrador de uma

empresa, falando a um grupo)

Informal: A gente vai ter uma nova creche aqui no bairro.

(Contexto: Morador do bairro informando a um vizinho)

Veja a diferença no uso de expressões como “Nós vamos” e “A gente vai”. A mensagem é a mesma, mas o que

modifica, isto é, varia, é o registro diante da situação: o primeiro, mais formal – ou culto; o segundo, informal – ou coloquial.

O que delimita ser um registro formal ou culto é o conjunto de regras determinadas por uma elite in-

telectualizada de uma língua. Essas regras estão (pré) determinadas em livros e gramáticas consagradas e veiculadas

também pelos dicionários ou pelas academias, como a Academia Brasileira de Letras.

b. Falado ou escrito, segundo a modalidade de uso. Observe os exemplos a seguir:

Um jovem FALANDO para um amigo:

“Olha, cara, sabe que as mina de hoje só querem namorá com caras que podem gasta dinhero com elas.”

O mesmo jovem ESCREVENDO numa redação para o professor:

“Todos sabemos que as moças de hoje só querem namorar rapazes que podem gastar dinheiro com elas.”

Língua Portuguesa e Literatura 47


Assim, embora escrevendo, se usamos uma expressão “Ta bom” num texto, dizemos que houve um

registro de fala, pois reproduzimos a forma como a pessoa falou a expressão. Além disso, também, será um registro

informal, pois não houve preocupação com as normas gramaticais fixadas.

E, então: será que, agora, você pode responder às perguntas?

1. O que é, afinal, falar e escrever corretamente?

2. Existe uma única norma a ser seguida?

Leia o texto a seguir e responda a essas e a outras questões na próxima atividade!

A Norma Culta (padrão) da Língua

Entre as variações da língua, existe uma que tem maior prestígio: é a norma culta ou norma padrão. Ela é utili-

zada em grande parte dos livros, documentos, revistas, jornais, noticiários, artigos científicos entre outros.

A norma culta de uma língua é considerada uma variante que confere prestígio àqueles que a usam.

Em geral, entende-se por norma culta ou norma padrão a variedade linguística, que vem descrita em manuais

de ensino, gramáticas e dicionários. Além de ser nessa norma em que se redigem os documentos oficiais, livros técni-

cos, científicos, didáticos e religiosos, comunicados oficiais, reportagens etc., ela também é importante em inúmeras

situações sociais na nossa vida que exigem uma maior formalidade, como uma entrevista de emprego, uma redação

em uma prova ou concurso, uma carta de reclamação dirigida a alguma entidade, uma apresentação em público etc.

Não conhecer essa norma padrão pode acarretar ao falante problema tanto para produzir textos, quanto para com-

preendê-los, principalmente, porque, em várias situações sociais, na prática diária, esse conhecimento faz-se necessário.

Imagine-se em uma entrevista de trabalho, diante do presidente de uma importante siderúrgica. Se você não

for capaz de se expressar com clareza, com correção vocabular, poderá, por melhor profissional que você seja, perder

a vaga para outro candidato, cuja expressão verbal o qualifica melhor para o cargo pretendido.

(Texto elaborado especialmente para este material didático.)

48
Releia o texto A Norma Culta (padrão) da Língua, marcando o que você achou de

mais interessante. A seguir, faça as atividades:

1. Entende-se por norma culta, de acordo com o texto:

a. a norma usada em situações corriqueiras do cotidiano;

b. aquela definida em nossa Constituição;

c. a variante linguística usada como prestígio social;

d. a modalidade formal da língua de uso obrigatório por todos.

2. Assinale a opção em que a situação descrita NÃO necessita de preocupação com a nor-

ma culta da língua:

a. um ensaio jornalístico;

b. um discurso político;

c. uma carta para o irmão;

d. um edital de concurso público.

3. Das alternativas abaixo, assinale aquela que está em registro informal:

a. Foi ele quem comprou o carro.

b. Alguns de nós seremos vitoriosos.

c. A maior parte das pessoas faltou ao encontro.

d. Estou indo pra São Paulo amanhã.

Língua Portuguesa e Literatura 49


Seção 4
A organização da frase, oração e período –
Identificando Sujeito e predicado.

Todo texto falado ou escrito, seja em linguagem formal/ culta ou informal/ coloquial, organiza-se, inicial-

mente em frases.

Frase é todo enunciado ou informação com sentido completo em uma situação de comunicação. Na
língua escrita, é finalizada por um sinal de pontuação – ponto final (.), ponto de exclamação (!), ponto
de interrogação (?) ou reticências (...).

As frases podem ser escritas sem verbos (chamadas frases nominais), como em:

a. Boa noite, professora!

b. Socorro!

c. Cafezinho delicioso aquele do bar da esquina: saboroso, quente e doce, na medida.

Ou podem conter verbos (chamadas frases verbais ou orações), como em:

a. O ônibus estava lotado hoje.

b. Cheguei atrasado para as aulas e não fui à biblioteca.

c. O cafezinho daquele bar da esquina é mesmo delicioso: saboroso, quente e doce na medida!

Mas é interessante notar que não é qualquer sequência de palavras que formam uma frase. Por exemplo, se

disséssemos:

“Rapaz ontem a moça para passear convidou.”

Ninguém entenderia nada, pois essa não é uma ordenação de palavras possível no Português. Agora, se

disséssemos:

50
“Ontem o rapaz convidou a moça para passear.”; ou

“O rapaz convidou a moça para passear ontem.”, aí, sim, todos a compreenderiam.

Isso mostra que a língua tem, além de palavras, algumas normas que estabelecem como é possível relacionar,

combinar ou ordenar essas palavras na frase, para que elas tenham sentido. Isso é a “sintaxe” da língua. Ela é que regu-

la as relações, as combinações e as ordens possíveis entre os termos no interior de um enunciado.

Mais adiante, faremos a análise sintática de orações e períodos, identificando sua estrutura e as funções dos

termos que os compõem.

Mas antes, vamos relembrar o que é oração e período?

Oração – É o enunciado que apresenta uma estrutura organizada em torno de um verbo ou locução
verbal. Exemplos:

a. O ônibus estava lotado hoje. (Uma oração)

b. Cheguei / antes que começasse a aula. (Duas orações)


Para identificar as orações é preciso primeiro buscar onde estão os verbos ou as locuções verbais

Verbo: palavra que indica ação, estado ou fenômeno da natureza. Ex.: Pedro trabalhou muito.; Ele é
mineiro.; Trovejou bastante.

Locução verbal: verbo composto por duas ou mais palavras. Ex. Marcos estava estudando na bibliote-
ca; Marta vai continuar no curso.

Atenção: Embora algumas frases sejam também orações, como ocorre no exemplo “O ônibus estava
lotado”, uma oração nem sempre é uma frase! Veja que a segunda oração do exemplo b. acima (... antes
que começasse a aula.), não constitui uma frase, porque não tem sentido completo em si.

Período – É uma frase verbal, organizada com uma ou mais orações.

Exemplos:

a. O ônibus estava lotado hoje. (É um período simples porque é constituído de uma

só oração).

b. Cheguei atrasado para as aulas e / não fui à biblioteca. (É um período composto,

pois é constituído de duas ou mais orações).

Língua Portuguesa e Literatura 51


Iniciando a análise sintática do período simples

Vimos antes que fazer a análise sintática de uma oração ou período nada mais é do que observar como ela(e)

se organiza, identificando a sua estrutura interna, seus elementos (termos) e as relações entre eles.

Você vai ver que não é nada complicado! Comecemos analisando a oração:

“O ônibus estava lotado hoje.”

Os termos essenciais de uma oração são o sujeito e o predicado.

O sujeito é o termo sobre o qual se diz algo. Assim, considerando a oração acima, o sujeito é [o ônibus], pois é

dele que se fala: “estava lotado hoje” (predicado).

O predicado, geralmente, contém o verbo e diz algo sobre o sujeito. É por isso que, na norma culta, o verbo do

predicado quase sempre concorda com o sujeito (em número e pessoa). Veja os exemplos a seguir:

a. [O ônibus] estava lotado.


SUJEITO

b. Estavam lotados [o ônibus e a van].


SUJEITO

c. [Nós] queremos um transporte de melhor qualidade.


SUJEITO

d. Na sexta-feira, [a minha prima e eu] fomos à prefeitura reclamar.


SUJEITO

52
Quando identificamos o sujeito, torna-se mais fácil identificar o predicado na oração, pois o predicado é tudo

aquilo que se declara sobre o sujeito. Assim, no último exemplo apresentado acima, o predicado é:

ƒƒ Na sexta-feira, fomos à prefeitura reclamar.

Trata-se de um predicado verbal, pois o verbo “ir” é um verbo de ação e é o núcleo do predicado.

Por outro lado, observe que, embora seja mais comum o sujeito aparecer no começo, antes do verbo, há muitas

orações em que o sujeito aparece depois do verbo, como em:

“Estavam lotados [o ônibus e a van]”.

Nesse exemplo, observe também que o sujeito é composto, porque possui dois núcleos: “ônibus” e “van”, o que

obrigou o verbo a ser escrito no plural: “Estavam”. Nesse caso, dizemos que é um SUJEITO COMPOSTO.

O sujeito pode também estar oculto, como na oração:

“Participei da manifestação.”

De quem se diz “participei da manifestação”? Eu, não é?! Embora não esteja escrito, sabemos que há um sujeito

oculto que é “Eu”.

Língua Portuguesa e Literatura 53


1. Identifique os sujeitos nos períodos abaixo, sublinhando também os verbos ou locu-

ções verbais com os quais eles se relacionam:

a. Todo falante da língua sabe gramática.


6
Sujeito:

b. Nas situações familiares ou encontros entre amigos, usamos a linguagem infor-

mal.

Sujeito:

c. Numa palestra, a linguagem padrão deve ser utilizada.

Sujeito:

d. Cada vez mais, nos dias de hoje, vemos manifestações contra o preconceito lin-

guístico.

Sujeito:

e. Achei um texto bem interessante sobre a identidade dos brasileiros.

Sujeito:

2. Complete os espaços em branco com a forma adequada dos verbos que aparecem en-

tre parênteses, considerando o sujeito de cada um. Para facilitar essa tarefa, antes de

usar o verbo, identifique o sujeito.

O preconceito linguístico _______________ (estar baseado) na crença de que só

existe uma variedade de língua. Isso não ____ (ser) verdade. ___________ (existir) diferen-

tes variações da língua. Tanto a variante da língua falada no sul, quanto a falada no norte

__________ (ser) legítimas. Assim, nós não _________ (poder) dizer que há uma variante

melhor do que a outra.

54
Resumo

Estamos no final desta unidade. Vimos que a linguagem é um sistema de signos construído socialmente, que

respresenta uma identidade cultural e que existem alguns princípios importantes no que se refere à linguagem verbal

e sua variação:

ƒƒ o uso da linguagem deve ser adequado a cada situação de interação, de comunicação;

ƒƒ nenhuma língua é usada de maneira uniforme por seus falantes;

ƒƒ o falante nativo pode dominar diferentes variantes linguísticas usadas em seu país;

ƒƒ todas as variantes linguísticas são formas legítimas de expressão de um povo;

ƒƒ não há um falar certo ou errado, mas, sim, usos adequados a cada situação de interação social;

ƒƒ É importante conhecer e saber usar também a norma culta da língua porque ela é necessária em muitas

situações de nossa vida.

Veja ainda

1. Você sabia que na Pré-História os homens documentavam seus costumes com pinturas nas paredes das

cavernas? Estas pinturas são chamadas de rupestres. No Brasil, encontramos várias pinturas rupestres. Veja

as imagens em http://www.fumdham.org.br/pinturas_rupestres.html em e http://www.fotosdeminas.com.


br/fotosminas/port/rupestres.asp

2. Você pode aprofundar seus estudos sobre variações linguísticas em http://enemnota100.blogspot.

com/2007/08/variantes-lingsticas-variao-lingstica.html.

3. Preconceito linguístico acontece quando desprezamos a forma como um indivíduo ou grupo social usa a
língua, seja por causa do sotaque, dos regionalismos usados ou por considerarmos esta forma de maior ou

menor prestígio. Este preconceito levou muitos povos indígenas a desconsiderarem suas línguas nativas. Co-

nheça mais esse assunto no artigohttp://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/textos/p00003.htm

4. A linguagem virtual é a que usamos quando nos comunicamos na Internet. Leia sobre o assunto em http://

www.webartigos.com/articles/10408/1/Variantes-Linguisticas-no-Contexto-da-Internet/pagina1.html

Língua Portuguesa e Literatura 55


5. Que tal um pouco de leitura? Sugestões:

a. O Diário de Tati. Heloísa Pèrissè. Editora Objetiva.

Em "O Diário de Tati”, o leitor poderá curtir, numa boa, as paixões, medos, ale-

grias e desilusões desta adolescente rebelde e divertidissíma. “Mas fala sério, tem coisa

aqui que você não vai poder contar nem pra sua mãe, tudo bem?”

b. Estive Pensando. Antônio Prata. Editora Marco Zero.

“Estive Pensando”, de Antônio Prata, é um livro de crônicas que trata de questiona-

mentos muito comuns: Existe vida após a morte? Por que as pessoas põem faixas para Santo

Expedito? Você já viu filhote de pomba? Eva tinha celulite? Vale a pena conferir.

Referências

ƒƒ Extrato de: LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 16ª.ed. Rio de Janeiro: Zahar,

2003. p. 51-52.

ƒƒ Extraído de NAVARRO, Eduardo de Almeida. Método Moderno de Tupi Antigo. São Paulo; Global, 2006.

Imagens

  •  Acervo pessoal  •  Sami Souza

  •   http://www.sxc.hu/photo/1307593

  •  http://www.sxc.hu/photo/1208424

  •  http://www.sxc.hu/photo/1265709

56
  •  http://www.sxc.hu/photo/1223568

  •   http://www.sxc.hu/photo/1228973

  •  http://www.sxc.hu/photo/1094543

  •  http://www.sxc.hu/photo/1266576 Autor: Svilen Milev.

  •  http://www.sxc.hu/photo/388500 Autor: Sándor Balázs.

  •  http://www.freedigitalphotos.net/images/Other_Metaphors_and__g307-Wood_Pencil_With_Green_Leaf_
p34601.html

  •  http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Flag_of_Portugal.svg  •  http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Flag_of_Brazil.svg

  •  http://www.sxc.hu/photo/1038123

  •  http://www.sxc.hu/photo/683225

  •  http://www.sxc.hu/photo/517386

Língua Portuguesa e Literatura 57


Atividade 1

1. a. mista; b. verbal; c. não verbal; d. verbal

2. Sugestões de respostas:

a. Recicle; b. Jogue o lixo no lixo; c. Proteja as florestas.

3. Poderia ser ecologia ou preservação do meio ambiente.

Atividade 2

A resposta depende das diferentes falas observadas. Por exemplo: Arlindo, do Ceará:

Fala “girimum” no lugar de “abóbora” e “cabra macho” no lugar de “homem valente”.

Atividade 3

Esta é uma atividade de pesquisa. Na seção “Veja Ainda” desta unidade, são apresen-

tados alguns sites que discutem Variação Linguística.

Atividade 4

Resposta pessoal. Mas observe que em (a), a linguagem será mais informal e em (b)

e (c) a linguagem será formal, pois a mensagem é enviada ao patrão e ao gerente do banco.

Atividade 5

1.C; 2.C; 3. D

58
Atividade 6

1. a. Todo falante da língua sabe gramática.

Sujeito: Todo falante da língua

b. Nas situações familiares ou encontros entre amigos, usamos a linguagem informal.

Sujeito: Nós (oculto)

c. Numa palestra, a linguagem padrão deve ser utilizada.

Sujeito: a linguagem padrão

d. Cada vez mais, nos dias de hoje, vemos manifestações contra o preconceito linguístico.

Sujeito: nós – oculto

e. Achei um texto bem interessante sobre a identidade dos brasileiros.

Sujeito: Eu (oculto)

Nota: O sujeito oculto também pode ser chamado de desinencial ou elíptico, e é

também um sujeito simples, pois traz um núcleo apenas.

2. Identifique o sujeito para cada verbo entre parênteses, completando os espaços em

branco com a forma adequada.

O preconceito linguístico está baseado (estar baseado) na crença de que só existe

uma variedade de língua. Isso não é (ser) verdade. Existem (existir) diferentes variações da

língua. Tanto a variante da língua falada no sul, quanto a falada no norte são (ser) legítimas.

Assim, nós não podemos (poder) dizer que há uma variante melhor do que a outra.

Língua Portuguesa e Literatura 59


O que perguntam por aí?

ENEM 2009

Língua Portuguesa e Literatura 61
62 Anexo
Resposta: Letra D

Comentário: A valorização das coisas simples é o tema central nesse poema, de Manoel de Barros.

Resposta: Letra B

Comentário: O papel da arte poética a ser considerada é que possui valores sociais e humanos atualizáveis e

permanentes no patrimônio literário nacional.

Língua Portuguesa e Literatura 63


Atividade extra
Módulo 1  •  Língua Portuguesa e Literatura  •  Unidade 2
Linguagem, cultura e variação linguística

Questão 1

Concordo plenamente com o artigo "Revolucione a sala de aula". É preciso que valorizemos o ser humano, seja

ele estudante, seja professor. Acredito na importância de aprender a respeitar nossos limites e superá-los, quando

possível, o que será mais fácil se pudermos desenvolver a capacidade de relacionamento em sala de aula. Como ar-

quiteta, concordo com a postura de valorização do indivíduo, em qualquer situação: se procurarmos uma relação de

respeito e colaboração, seguramente estaremos criando a base sólida de uma vida melhor.

SOUZA, Tania Bertoluci de. Porto Alegre, RS,Disponível em www.kanitz.com.br/veja/cartas.htm>. Acesso em: 2 maio 2009. 
Adaptado

O texto pertence ao gênero textual “carta do leitor”. Considerando os elementos de comunicação, afirma-se que

a. o texto usa uma linguagem coloquial, já que os interlocutores são adolescentes e se comunicam através

de uma rede social.

b. o emissor usa uma linguagem muito formal, pois a carta tem como destinatários profissionais executi-

vos de grande empresa.

c. o texto é uma narrativa, na medida em que há uma opinião do emissor em relação ao tema, uma repor-

tagem que foi publicada no jornal.

d. o referente, isto é, o assunto central da carta, é uma reportagem que foi publicada na revista anterior-

mente, motivo pelo qual o emissor apresenta sua opinião.

Língua Portuguesa e Literatura 65
Questão 2

SOUZA, Maurício de. [Chico Bento]. O Globo, Rio de Janeiro, Segundo Caderno, 19 dez. 2008, p.7.

O personagem Chico Bento pode ser considerado um típico habitante da zona rural, comumente chamado de

“roceiro” ou “caipira”. Considerando a sua fala, essa tipicidade é confirmada primordialmente pela

a. transcrição da fala característica de áreas rurais.

b. redução do nome “José” para “Zé”, comum nas comunidades rurais.

c. emprego de elementos que caracterizam sua linguagem como coloquial.

d. escolha de palavras ligadas ao meio rural, incomuns nos meios urbanos.

Questão 3

Na tirinha de Chico Bento, o autor registrou a fala do personagem. Considerando a origem, a classe social do

personagem e o contexto da tirinha, percebe-se que o autor optou por fazer um registro da língua

a. culta

b. formal

c. escrita

d. regional

66
Questão 4

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia

Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia

Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.

[...] O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.

Quem está ao pé dele está só ao pé dele. [...]

(Fernando Pessoa - http://www.insite.com.br/art/pessoa/ficcoes/acaeiro/tejo.php

No verso "O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia". O sujeito do verbo correr é

a. Tejo

b. rio

c. que (no lugar de rio)

d. aldeia

Questão 5

"Batem leve, levemente,

Como quem chama por mim...

Será chuva? Será gente?

Gente não é certamente

E a chuva não bate assim."

(Augusto Gil – excerto) - http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/agil.htm)

O sujeito é um dos termos essenciais da oração. Qual é o sujeito de "Batem leve, levemente"?

a. sem sujeito

b. sujeito indeterminado

c. sujeito oculto

d. sujeito composto

Língua Portuguesa e Literatura 67


Questão 6

http://clubedamafalda.blogspot.com.br/

Pelo conceito conhecido de sujeito e analisando a charge, afirma-se que

a. a resposta esperada pela menina era “a rua”.

b. o sujeito da pergunta de Mafalda é inexistente.

c. a resposta que Miguelito teria que dar era: “Esse lixo”.

d. o nome Miguelito é o sujeito da oração no 2º. quadrinho.

Questão 7

[...] O que não sugeria nenhum sentimento especial. O pai, a mãe e a filha olhavam já há algum tempo, sem

propriamente um pensamento qualquer. Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha. O pai afinal decidiu-se

com certa brusquidão:

— Se você mandar matar esta galinha nunca mais comerei galinha na minha vida! [...]

Clarice Lispector - excerto - http://www.releituras.com/clispector_galinha.asp

O sujeito é o termo da oração que realiza ou sofre com uma ação verbal e concorda com o verbo. Ele pode ser

classificado em três tipos. Na oração: "Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha." O sujeito e o tipo de sujeito

desta oração, respectivamente é:

a. Nunca ninguém / composto.

b. Ninguém / simples.

c. Ninguém /indeterminado.

d. Nunca / simples.

68
Questão 8

O padrão formal da linguagem é o modelo utilizado na escrita, que segue rigidamente as regras gramaticais.

Nos três primeiros quadrinhos, a linguagem utilizada é mais formal e, no último, mais informal. Assinale a alternativa

que traga, primeiro, uma marca da formalidade e, depois, uma marca da informalidade presentes nos quadrinhos.

a. Vilania; vosso.

b. Vós; você.

c. Estou; você.

d. Tenhais; segui.

Questão 9

A linguagem

na ponta da língua

tão fácil de falar

e de entender.

A linguagem

na superfície estrelada de letras,

sabe lá o que quer dizer?

Professor Carlos Góis, ele e quem sabe,

e vai desmatando

o amazonas de minha ignorância.

Figuras de gramática, esquemáticas,

atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me.

Ja esqueci a língua em que comia,

em que pedia para ir lá fora,

em que levava e dava pontapé,

Língua Portuguesa e Literatura 69


a língua, breve língua entrecortada

do namoro com a priminha.

O português são dois; o outro, mistério.

(Carlos Drummond de Andrade. Esquecer para lembrar. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979.)

No poema, a referência à variedade padrão da língua está expressa no trecho:

e. (A) “A linguagem / na ponta da língua” (v.1 e 2).

f. (B) “[a lingua] em que pedia para ir lá fora” (v.14).

g. (C) “[a lingua] em que levava e dava pontapé” (v.15).

h. (D) “A linguagem / na superfície estrelada de letras” (v.5 e 6).

Questão 10

Gerente – Boa tarde. Em que eu posso ajudá-lo?

Cliente – Estou interessado em financiamento para compra de veículo.

Gerente – Nós dispomos de várias modalidades de crédito. O senhor é nosso cliente?

Cliente – Sou Júlio César Fontoura, também sou funcionário do banco.

Gerente – Julinho, é você, cara? Aqui é a Helena! Cê tá em Brasília? Pensei que você inda tivesse na agência de

Uberlândia! Passa aqui pra gente conversar com calma.

(BORTONI-RICARDO, S. M. Educação em língua materna. São Paulo: Parábola, 2004 (Adaptado).

Na representação escrita da conversa telefônica entre a gerente do banco e o cliente, por que a maneira de

falar da gerente foi alterada?

70
Gabarito

Questão 1
A B    C     D

Questão 2
A B    C     D

Questão 3
A B    C     D

Questão 4
A B    C     D

Questão 5
A B    C     D

Questão 6
A B    C     D

Língua Portuguesa e Literatura 71


Questão 7
A B    C     D

Questão 8
A B    C     D

Questão 9
A B    C     D

Questão 10

Houve adequação da fala da gerente com relação ao cliente a partir do momento em que ela descobriu que ele

era seu amigo. A conversa, então, foi marcada pela informalidade.

72
Módulo 1  •  Língua Portuguesa e Literatura  •  Unidade 3

Língua falada,
língua escrita e
gêneros textuais
Para início de conversa...

“Pois é. U purtuguêis é muito fáciu di aprender, purqui é uma língua qui  a


genti iscrevi ixatamenti cumu si fala. Num é cumu inglêis qui dá até vontadi di ri

quandu a genti discobri cumu é qui si iscrevi algumas palavras. Im portuguêis, é

só prestátenção. U alemão pur exemplu. Qué coisa mais doida? Num bate nada

cum nada. Até nu espanhol qui é parecidu, si iscrevi muito diferenti. Qui bom qui

a minha lingua é u purtuguêis. Quem soubé falá, sabi iscrevê.”

[Extrato de texto. Jô Soares, Revista Veja, 28 de novembro de 1990].

Você deve ter estranhado muito o texto acima. Ele foi apresentado justa-

mente para que você percebesse como seria a nossa língua escrita se escrevêsse-
mos exatamente como falamos. Você deve ter pensado: não é assim que se escreve!

Além disso, o fato de ter sido escrito desta forma não facilitou muito a lei-

tura de algumas palavras e a compreensão da informação. Isso nos mostra como

seria complicado se cada um escrevesse do modo que entendeu ou ouviu. Já ima-

ginou? Se não tivéssemos um padrão para a escrita de textos, como seria para

uma criança ou qualquer pessoa aprender a escrever em nossa língua?

Língua Portuguesa e Literatura 73


Nesta unidade, vamos perceber que em qualquer língua, inclusive na Língua Portuguesa, as pessoas falam de

um jeito e escrevem de outro. Vamos identificar as diferenças entre a língua oral e a língua escrita, e apreciar diferen-

tes tipos de texto, seus usos e funções.

Objetivos de aprendizagem
ƒƒ Identificar as diferenças entre linguagem oral e linguagem escrita.

ƒƒ Reconhecer o que é texto.

ƒƒ Compreender o que é gênero textual.

74
Seção 1
Duas modalidades da Língua Portuguesa:
língua falada e língua escrita

Já vimos anteriormente que não há como dizermos que existe um jeito de falar melhor ou mais legítimo do

que outro. O que determina quando usamos uma ou outra forma de linguagem é a situação de comunicação em que

estamos, ou seja, com quem falamos, o que falamos, o grau de formalidade que temos com a pessoa, o lugar onde

estamos e os objetivos que temos.

Quando falamos (oralidade) ou quando escrevemos (escrita), produzimos informações que se realizam de

modo diferente. A fala realiza-se por meio de sons (fonemas) que emitimos, e a escrita pela representação gráfica ou

grafia de letras (grafemas) e outros símbolos, como pontos e acentos.

Mas há outras diferenças também. Quando falamos, usamos outros recursos, como a entonação, gestos, movi-

mentos do corpo e dos olhos, expressões faciais, pausas, ritmo etc. que nos ajudam a sermos compreendidos pelo outro.

Como estamos diante da pessoa que ouve, se ela não entender alguma coisa, poderá, a qualquer momento,

interromper-nos e pedir explicações. Podemos repetir ou acrescentar detalhes que a ajudem a compreender o que

falamos e o que queremos.

E na escrita? É diferente, não é? Embora possamos até pensar na pessoa que receberá o texto, estamos sozinhos quan-

do escrevemos, e o leitor também não poderá contar com a nossa presença no momento em que receber a mensagem.

É por isso que o texto precisa estar claro, ter o assunto bem organizado e conter todas as informações necessá-

rias para o leitor compreender a mensagem. Se isso não for feito, a comunicação não se efetivará.

Figura 1: Falando ao celular e lendo os classificados do jornal.

Língua Portuguesa e Literatura 75


No caso de um texto jornalístico, por exemplo, os editores têm que pensar em escrever os textos em uma lin-

guagem que seja facilmente compreendida por número grande de leitores, conforme a área de circulação do jornal.

Já imaginou um jornal como o O Globo que circula no Brasil inteiro? Para atingir seu objetivo – ser lido por um público

de leitores variado e numeroso – deve procurar uma escrita que seja clara e acessível a todos.

Chegamos a uma conclusão simples:

A fala e a escrita são duas modalidades diferentes da Língua Portuguesa. As pessoas não escrevem
como falam. Fatores como o contexto de produção, a intenção dos usuários, a temática, as formas
próprias de cada uma dessas modalidades, determinam essa diferença.

Dentre as diferenças entre a língua falada e a escrita está a não correspondência entre os “sons” (fonemas)
das palavras e os seus símbolos gráficos (grafemas). Numa palavra, como “queijo”, por exemplo, o som ou
fonema inicial “k” corresponde, na escrita, a duas letras: “qu”. Assim, a palavra “queijo”, na língua falada,
tem 5 fonemas, e 6 grafemas, ou letras na língua escrita.

Essa não correspondência dos fonemas com os grafemas (letras) é muito observada no nosso vocabu-
lário. Muitas vezes, um mesmo fonema possui vários possíveis grafemas na língua escrita. Por exemplo,
pronuncie estas palavras:

“cansado”, “acessível”, “extraordinário”

Em todas elas, temos o som /s/ e, no entanto, ele é representado por diferentes letras em cada uma delas:
“s”, na primeira, “c”, “ss”, na segunda e “x” na terceira. È por isso que, para escrever, precisamos conhecer a
ortografia da Língua Portuguesa – isto é o conjunto de regras que determina a grafia das palavras e o uso
de sinais gráficos, como acentos, hífen etc.

Falando nisso, você já conhece a nova convenção ortográfica da Língua Portuguesa que foi acordada
entre todos os países de Língua Portuguesa?

Veja no link: http://www.atica.com.br/novaortografia/index.htm

76
O que aproxima a oralidade (fala) da escrita?

Ambas fazem referência a uma situação de interação social, precisam ser organizadas e adequadas à situação de
comunicação, ou seja, respeitar o que as pessoas sabem ou não sobre o assunto tratado, o nível de conhecimento que
elas têm sobre a língua (observe que não falamos/escrevemos do mesmo jeito para uma criança e um adulto, por exem-
plo), o grau de intimidade com a pessoa (amigo, familiar, patrão, um estranho etc..) e, claro, os objetivos da comunicação.

Além disso, é preciso pensar em que tipo de registro usar: o mais formal (culto) ou o menos formal (coloquial).

Tanto na forma oral quanto na forma escrita, o ser humano utiliza-se da linguagem para interagir com os ou-
tros e para isso utiliza TEXTOS.

Marque um X ao lado das imagens que podem ser exemplos de textos.

1. ( ) 2. ( )

3. ( ) 4. ( )

5. ( )

Língua Portuguesa e Literatura 77


Normalmente, as pessoas pensam que texto é só o que está escrito. Mas na verdade, TEXTO é muito mais que isso.

Na Atividade 1, por exemplo, todas as figuras trazem uma “mensagem” e provocam uma interação com o “lei-

tor”. Todas têm alguma coisa a dizer, não é mesmo? E, nós, exercemos uma ação interpretativa sobre elas. Claro que

a interpretação do que cada uma diz está relacionada com o conhecimento de mundo, com a cultura de uma forma

geral e, principalmente, com as vivências que temos em nosso cotidiano.

Todas são, assim, TEXTOS.

Então o que você chamaria de texto agora?

Texto é toda e qualquer produção que resulta da comunicação ou interação entre as pessoas. É pro-
duzida com o objetivo de comunicar algo a uma ou mais pessoas e provocar interação.

"Pois é! A interação social é a base para que a sociedade se organize porque deixamos de ser indivíduos e pas-

samos a nos comportar como grupo. O que provoca essa interação é a comunicação."

Interlocução
Quando duas pessoas ou dois grupos de pessoas se comunicam a patir de uma situação concreta,
mesmo que num texto escrito, estabelece-se um diálogo entre as partes porque houve interaçção
entre eles. Chamamos de INTERLOCUÇÃO a esse processo entre as partes envolvidas numa situação
comunicativa. Assim, tanto emissor quanto receptor são chamados de INTERLOCUTORES.

Veja bem: quando uma pessoa (A) fala com outra pessoa (B) produz uma mensa-

gem e provoca uma reação. O que A fez? Elaborou um texto. Daí, B responde, provocan-

do nova reação em A porque elaborou outra mensagem, outro texto, e assim sucessiva-

mente. É por meio desse processo que nos comunicamos e interagimos com o outro e

identificamo-nos como membro de um grupo.

78
No entanto, podemos nos comunicar não apenas por meio da fala, mas também da escrita ou por meio de si-

nais, de uma pintura, de um gesto, de uma escultura etc. Então, toda mensagem produzida a partir de um processo de

comunicação, que provoca uma reação no outro (que pode ser chamado de receptor, leitor ou interlocutor, conforme

a situação comunicativa) é um texto.

Este texto, por sua vez, está impregnado das impressões de quem produz a mensagem (que é chamado de

emissor, autor ou também interlocutor). O texto, assim, carrega muito além da mensagem porque também carrega

atitudes, expectativas e sentimentos de quem o produz. Por isso provoca reação e, consequentemente, interação.

Os Elementos da Comunicação
Para que a comunicação realmente possa se concretizar são necessários SEIS elementos de
comunicação:

1. o emissor: aquele que emite a mensagem. É o autor do texto escrito, o interlocutor num

processo de comunicação, o falante numa produção oral, o remetente.

2. o receptor: aquele que recebe a mensagem. É o destinatário e também chamado de in-

terlocutor no processo de comunicação.

3. a mensagem: é todo o texto falado/escrito/gesticulado/codificado elaborado pelo emis-

sor em que o conteúdo da comunicação é processado.

4. o canal: é o meio através do qual a mensagem é transmitida. Por exemplo, numa con-

versa oral, o canal de comunicação é o ar; num texto escrito, o papel; num programa de

televisão, a emissora do programa.

5. o código: é o conjunto de sinais através do qual a mensagem é elaborada. Num texto

escrito ou falado no Brasil, o código é a Língua Portuguesa.

6. o referente: é o assunto, o objeto, o evento a que se refere a mensagem. Também é cha-

mado de contexto.

E, atenção: só haverá comunicação quando houver esses seis elementos coexistindo e se


articulando numa situação.
Se, por exemplo, o emissor estiver falando sobre futebol (o referente) e o receptor estiver
preocupado com a política (outro referente), ninguém irá estabelecer uma conversa, não
é mesmo? Por quê? Os referentes da comunicação são distintos.

Língua Portuguesa e Literatura 79


Dessa forma, ler um texto não é apenas decodificar os sinais usados na elaboração da mensagem, mas tam-

bém identificar:

em que situação esse texto foi produzido,

com que propósito foi elaborado,

que papel e função desempenha no processo de interação social.

Seção 2
Gêneros textuais

a. Vamos fazer uma reflexão: qual foi o primeiro documento de sua vida? Para que

serve esse documento? Que informações ele traz? Onde e para que você o usa ou

usava? Elabore um pequeno texto encadeando as respostas a essas perguntas.

b. Mas são vários os tipos de textos com que nos deparamos todos os dias, não?

Então, leia os textos a seguir e identifique quais as situações de uso em que eles

se inserem. Qual seria a função de cada um deles?

Texto 1

Paratodos
O meu pai era paulista
Meu avô, pernambucano
O meu bisavô, mineiro
Meu tataravô, baiano
Meu maestro soberano
Foi Antonio Brasileiro
(...)
Vi cidades, vi dinheiro
Bandoleiros, vi hospícios
Moças feito passarinho
Avoando de edifícios
Fume Ari, cheire Vinícius

80
Beba Nelson Cavaquinho
(...)
O meu pai era paulista
Meu avô, pernambucano
O meu bisavô, mineiro
Meu tataravô, baiano
Vou na estrada há muitos anos
Sou um artista brasileiro
(Chico Buarque de Holanda. Fragmentado. http://letras.terra.com.br/chico-
-buarque/45158/)

Situação de uso:

Função:

Texto 2

Nascido na cidade mineira de Três Corações, filho de Celeste e de João Ramos


do Nascimento, jogador de futebol no sul de Minas Gerais, conhecido como Dondinho,
Pelé desde criança manifestou a vontade de ser jogador de futebol como o pai. Em
1945, a família mudou-se para Bauru, interior de São Paulo. Com dez anos Pelé já jo-
gava em times infanto-juvenis. O pai, então, o estimulou a montar o seu próprio time:
o Sete de Setembro. Pelé trabalhava como engraxate e para adquirir material, como
bolas e uniformes, os garotos do time chegaram a vender produtos em entrada de
cinema e praças.

Sua consagração veio na Copa do Mundo da Suécia, em 1958, quando o Brasil foi
pela primeira vez campeão mundial. Depois, Pelé participou ainda da Copa de 1966, na
Inglaterra, e da Copa de 1970 no México, quando a seleção trouxe para o Brasil a taça Jules
Rimet. Apelidado de “O Rei” pela imprensa francesa, criou e aperfeiçoou jogadas que en-
cantaram o mundo: o chute a gol do meio do campo, a tabela nas pernas do adversário, o
drible sem bola no goleiro, a paradinha na cobrança do pênalti.

Em 2000, na eleição de Melhor Jogador do Século da FIFA, Pelé foi aclamado como o
melhor de todos os tempos, à frente do craque argentino Diego Maradona.

(Adaptação de http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u724.jhtm)

Língua Portuguesa e Literatura 81


Situação de uso:

Função:

Texto 3

“Eu sou brasileiro e não desisto nunca” – Agência Lew, Lara – ABA http://www.aba.

com.br/omelhordobrasil/

Situação de uso:

Função:

Texto 4

Texto 5

82
Como você deve ter percebido, esses textos apresentam funções e usos diferentes. Cada um foi produzido,
levando em conta uma determinada situação ou contexto e, portanto, possui uma estrutura própria.

ƒƒ O texto 1 é uma música/poesia e tem a função de encantar, entreter, emocionar;

ƒƒ O texto 2 é uma biografia e tem como objetivo apresentar a história de vida de Pelé;

ƒƒ O texto 3 é parte de uma campanha publicitária: “Eu sou brasileiro e não desisto nunca”, cuja função foi

promover um movimento pró-autoestima da população, conscientizando, despertando e incentivando o

sentimento de orgulho e satisfação nas pessoas a respeito de suas próprias realizações e potencialidades,

e também salientando o efeito de suas atitudes e ações para sua autorrealização e para o futuro do Brasil;

ƒƒ O texto 4 é um anúncio de emprego da seção de classificados de um jornal;

ƒƒ E o texto 5 é um bilhete.

Podemos dizer que são as funções que determinam o conteúdo, a estrutura, a linguagem a ser usada e o modo
de apresentação dos textos.

Cada um representa um gênero textual. E cada gênero tem uma função e uma estrutura definida.

Os gêneros textuais possuem algumas formas padronizadas, como se fossem marcas de identificação.
Veja alguns exemplos. Muitos, você já deve conhecer ou ter ouvido falar:

ƒƒ Poema, crônica, conto, novela, piada, charge, tirinhas...

ƒƒ Bilhete, e-mail, carta, aviso, cartaz...

ƒƒ Receita culinária, receita médica, bula, manual de instrução...

ƒƒ Anúncio, carta de leitor, relatos, notícia, entrevista, reportagem...

ƒƒ Biografia, currículo...

ƒƒ Filmes, peças teatrais, músicas, desenhos animados, histórias em quadrinhos...

ƒƒ Aula, conferência, artigo...

ƒƒ Certificados, procurações, documentos...

Língua Portuguesa e Literatura 83


Conhecer as diferentes variedades linguísticas, assim como os diferentes gêneros textuais, permite que esteja-
mos preparados para nos comunicar de forma efetiva nas diferentes situações da vida, proporcionando a todos nós
o exercício da cidadania.

Vamos, agora, explorar alguns outros gêneros textuais.

Na atividade 2, você percebeu que os textos se apresentam de formas diferentes, e,


porque têm propósitos comunicativos também diferentes, pertencem a diversos gêneros
textuais. No entanto, todos os textos falam um pouco da identidade de cada brasileiro, não?

Agora é a sua vez.

1. Em cada um deles, como é expressa a identidade? Que elementos demonstram a iden-

tidade de quem é descrito?

a. No documento da atividade 2.a:

b. Nos textos 1, 2 e 3 da atividade 2.b:

2. A organização e a estrutura de um texto, elementos que determinam seu gênero textual,

estão diretamente ligadas a sua finalidade e ao propósito comunicativo do emissor em

relação ao seu receptor, seu público-alvo.

Considerando os textos da atividade 2b, identifique qual o propósito comunicativo de


cada texto e para que tipo de receptor foi elaborado.

Texto1: Propósito comunicativo:

Tipo de receptor:

Texto 2: Propósito comunicativo:

Tipo de receptor:

Texto 3: Propósito comunicativo:

Tipo de receptor:

Texto 4: Propósito comunicativo:

Tipo de receptor:

Texto 5: Propósito comunicativo:

Tipo de receptor:

84
Seção 3
Analisando gêneros textuais: Currículo e Carta

Vamos analisar alguns textos de diferentes gêneros textuais?

Vamos começar estudando o Currículo, cuja função é, também, a de apresentar-nos, dizer quem somos do

ponto de vista profissional, geralmente a uma empresa ou organização, num processo de seleção de pessoal.

Currículo

Este é um gênero textual muito importante para quem quer se candidatar a alguma vaga de emprego. É uma

maneira de se apresentar, de se identificar e, ao mesmo tempo, distinguir-se dos demais. Por isso, ele é um dos instru-
mentos utilizados para selecionar os candidatos a uma vaga em processos seletivos diversos.

O currículo ou Curriculum Vitae –CV (nome que vem do Latim e significa “carreira de vida”) é um documento

que reúne informações sobre a formação, capacitações e experiências profissionais de alguém que se candidata a um

emprego, concurso ou uma bolsa de estudo, entre outros.

Em geral, um currículo contém basicamente os seguintes itens: dados pessoais, formação e experiência profis-

sional e outras informações epecíficas como idiomas, por exemplo.

Veja, a seguir, um exemplo de currículo.

Currículo

Paulo Pedroso Alves


Dados Pessoais:
Brasileiro, solteiro, 29 anos
Endereço: Rua Castor de Afluentes Andradas, número 21
Bairro Prado – Belo Horizonte – MG
Telefone: (31) 8721-0009 / E-mail: fespalaug@gmail.com.br
Objetivo
Cargo de Analista Financeiro.

Formação
Graduado em Administração de Empresas. UFMG, conclusão em 2003.
Ensino Médio Profissional de Auxiliar Administrativo. Colégio Carmo, conclusão em 1998.

Língua Portuguesa e Literatura 85


Experiência Profissional

2004-2008 – Luzia & Rodrigues Investimentos

Cargo: Analista Financeiro.

Principais atividades: Análise técnica de balanço patrimonial, análise de custo de oportunidade, aná-
lise de estudos de mercado.

2001-2003 – ABRAÇO Tecnologia da Informação

Cargo: Assistente Financeiro

Principais atividades: Contas a pagar e a receber, controle do fluxo de caixa, pagamento de colabora-
dores, consolidação do balanço mensal.

2000-2001 - FIAT Automóveis

Estágio extracurricular com duração de 6 meses junto ao Departamento de Custeio

Outros Cursos

Curso Complementar em Gestão de Investimentos de Renda Variável (2004).

Inglês – Number One, 7 anos, conclusão em 2001.

Informática: Word, Excell, Power Point – SENAC, 04 meses, março a junho de 1998.

Belo Horizonte, 18 de fevereiro de 2011.


Paulo Pedroso Alves

PRODUÇÃO TEXTUAL

Agora chegou a hora de você fazer o seu Currículo Vitae. Organize as informações e,

que tal ir ao computador para editá-lo?

Mãos à obra! Veja abaixo a estrutura básica. Mas saiba que você pode ampliá-lo, de-

pendendo da posição a que você quer se candidatar.

86
Observe a estrutura de um Curriculum Vitae ou currículo:

DADOS PESSOAIS

Nome:

RG:

Endereço:

Telefone(s):

E-mail:

FORMAÇÃO

(Informar o seu maior grau de escolaridade, nome da escola e a data de conclusão)

EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL

Informar as experiências profissionais anteriores ou estágios realizados. Começar pelo período em que
trabalhou, nome completo da empresa,função ou cargo exercido e atividades atribuições desenvolvi-
das.

OUTROS CURSOS

Informar cursos relacionados à vaga/cargo pleiteado e línguas estrangeiras ( se tiver)

Local e data

Assinatura

Para ver dicas e modelos de currículo, acesse: http://www.meucurriculum.com/ http://www.trabalhan-


do.com/detallecontenido/c/candidato/idnoticia/6798/?gclid=CJHnt9DfxqYCFVBe2godpSelHw Veja in-
formações sobre os 10 erros mais graves que são cometidos pelas pessoas na hora de fazer um currículo.

Carta

Vejamos, agora, outro exemplo de gênero textual: a carta. Certamente, você já escreveu ou recebeu cartas.

Como é esse texto? É bem diferente de um documento ou de um currículo, não é?

Língua Portuguesa e Literatura 87


Uma carta tem elementos que a configuram como tal: a estrutura física (formato), o assunto (conteúdo) e o

modo de falar (a seleção do vocabulário e a organização do assunto). Esses mesmos elementos serão organizados

diferentes se, por exemplo, a carta for endereçada a um parente ou ao departamento de pessoal de uma empresa que

está recrutando pessoal. .

Veja esta carta, enviada por um candidato respondendo a um anúncio de emprego:

Esse texto tem todos os elementos que o configuram como uma carta:

ƒƒ local e data, que identificam de onde e quando foi escrita a carta;

ƒƒ a saudação (ou vocativo), que introduz a pessoa para quem se escreve, o destinatário;

ƒƒ o assunto, que contém informações sobre como a pessoa que escreve a carta espera encontrar o destinatá-

rio , o motivo da carta e outras informações que se deseja comunicar;

ƒƒ a despedida, que é uma forma elegante de encerrarmos a nossa carta.

ƒƒ a assinatura de quem escreve.

88
A linguagem usada nessa carta do Paulo para a empresa contratante utilizou uma linguagem mais formal, já

que se trata de uma carta de apresentação para se candidatar a uma vaga de emprego e não há familiaridade entre o

emissor (Paulo) e o receptor(a empresa).

Mas uma carta também pode ser escrita em linguagem mais informal, quando é para um amigo ou familiar.

Para enviar a carta pelo correio é preciso providenciar um envelope. No caso de Paulo, veja como ele preencheu

o envelope para enviar sua carta à empresa. Na parte da frente colocou seu nome (remetente) e endereço completo;

no verso, colocou o nome do destinatário, isto é, da empresa, e o endereço completo.

PRODUÇÃO TEXTUAL

Escreva uma carta a um (a) amigo(a), contando-lhe as novidades de sua vida e que

você está fazendo esse curso de Ensino Médio. Aproveite para convidá-lo, se ele não tiver

concluído seus estudos, para voltar a estudar também.

Língua Portuguesa e Literatura 89


Nesta atividade, vamos trabalhar com outro gênero textual: a bula.

Imagine que você comprou um remédio e, como toda pessoa cuidadosa, resolveu ler a bula.

90
1. A partir da leitura da parte “COMPOSIÇÃO QUÍMICA”, responda:

Que tipo de linguagem é usado nesta parte do texto?

Quem é o receptor para quem o laboratório escreveu esta parte do texto? 6

A mensagem desta parte do texto ficou clara para você? Justifique sua resposta.

De acordo com a linguagem utilizada nesta parte, é possível dizer que o propósi-

to da comunicação foi cumprido para todo e qualquer receptor? Por quê?

Assim, todo e qualquer texto promove interação com quaisquer leitores? Por quê?

2. Imagine que você queira ter certeza de que o medicamento realmente é indi-

cado para o mal diagnosticado pelo médico. Leia novamente a parte relativa a

INDICAÇÕES ou INFORMAÇÕES AO PACIENTE e:

Identifique a finalidade do medicamento. Caso você não compreenda o signifi-

cado de alguma palavra, busque o dicionário.

De acordo com o que você compreendeu, explique como o(a) paciente poderia
reagir ao texto, se ele(a):

a. morasse em um lugar quente, onde não houvesse energia elétrica e, por-


tanto, geladeira.

b. tivesse pânico de agulha.

c. estivesse amamentando.

Língua Portuguesa e Literatura 91


A bula de um medicamento é um gênero textual que apresenta uma dada organização e estrutura porque tem
a finalidade de orientar médicos e pacientes sobre o produto. Assim, este texto está geralmente dividido em: apre-
sentação do produto; forma de uso, composição e informações ao paciente – onde são apresentadas as indicações,
cuidados de armazenamento, a maneira de usar e possíveis efeitos colaterais.

Brasil terá duas bulas de remédio até o final do ano

“Até o final do ano, o Brasil terá duas bulas de medicamentos: uma com linguagem

técnica, destinada a médicos, e outra voltada ao paciente, com informações mais didáticas.

A bula do paciente continuará dentro da caixa do remédio, enquanto a outra será ele-

trônica, disponível no site de ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Os pacientes

também poderão acessá-la.

As letras e os espaçamentos entre os parágrafos no texto da bula devem ficar maiores,

para facilitar a leitura dos textos. (...)”

(Fragmento de http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u504556.shtml,

acesso em 02/04/2011.)

Nesta unidade, pudemos perceber que estamos mergulhados em uma reali-

dade social que inclui a produção e recepção de diferentes textos que se manifestam

com variadas linguagens e com propósitos distintos.

Vimos também que os textos organizam-se em categorias (gêneros textuais),

de acordo com sua função e o uso que deles fazemos.

Perceber a existência e conhecer vários gêneros textuais como os que vimos

nesta unidade (documento, currículo, carta, bula etc.), faz com que possamos intera-

gir e expressar-nos de forma mais efetiva nas várias situações da vida, expandindo,

assim, o exercício de nossa cidadania.

92
Veja ainda!

1. Assista aos vídeos sobre gêneros textuais, para aprofundar seus estudos:

ƒƒ Programa Escrevendo o Futuro - Gêneros Textuais - Patrocínio Itaú http://www.youtube.com/

watch?v=OQPw-xUK_tk

ƒƒ Entre a imagem e a palavra: reflexões sobre fala, escrita e ensino, trecho do vídeo, parte integrante da Cole-

ção Luiz Antonio Marcuschi, iniciativa do Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPE.

Direção/Edição: Augusto Noronha e Karla Vidal. Seleção de imagens: Angela Paiva Dionisio. http://www.you-

tube.com/watch?v=zYWYpHdpg7E

2. Nos sites a seguir você poderá encontrar vários modelos de currículo e de carta:

http://www.meucurriculum.com/modelos-de-curriculum.php

http://www.brasilescola.com/redacao/carta.htm

3. Conheça mais sobre a Língua Portuguesa, visitando o site http://cvc.instituto-camoes.pt/aprender-portu-

gues.html

4. Dica de leitura: Tudo o que eu queria te dizer. Martha Medeiros. Editora Objetiva.

O que você sempre quis dizer a alguém - e nunca teve coragem? O que precisa falar de uma vez por todas - mas

desiste, espera, até chegar o momento mais apropriado? Em ‘Tudo que eu queria te dizer’, Martha Medeiros encarna

personagens que assinam cartas reais, trágicas, por vezes cômicas, devastadas por sua dor.

5. Assista ao programa IMAGENS DA PALAVRA, que vai ao ar todo DOMINGO às 17h 30min pela TVE/JF - canal

12, e fique por dentro do mundo da palavra através da poesia, da música, dos livros.

Referências

Imagens

  •  Acervo pessoal  •  Sami Souza

  •  http://www.sxc.hu/photo/607218

Língua Portuguesa e Literatura 93


  •  http://www.sxc.hu/photo/160688

  •  http://www.cidadededeus.org.br:8080/

  •  http://www.sxc.hu/photo/1151676

  •  http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Flag_of_Brazil.svg

  •  http://www.sxc.hu/photo/1193666

  •  http://www.sxc.hu/photo/517386

  •  http://www.sxc.hu/985516_96035528

94
Atividade 1

Todos os cinco itens representam um texto.

Atividade 2

a) O primeiro documento é a certidão de nascimento que traz os dados de nossos pais,


avós, naturalidade (cidade e estado) e nossa nacionalidade. Usamos para fazer matrícula nas
escolas, nos postos de saúde, ou em qualquer outro lugar em que precisamos ser identificados.

b) Texto 1: Um poema

Situação de uso: quando queremos buscar prazer na leitura; sua função é fazer o
leitor refletir sobre o que está sendo tratado ou se emocionar, ou chamar a atenção.

Texto 2: Uma biografia - Situação de uso: quando queremos informar ou informar-


nos sobre a história de vida de uma pessoa. Função: descrever fatos e informações sobre a
trajetória de vida de uma pessoa.

Texto 3: Uma propaganda - Situação de uso: quando se quer convencer ou influen-


ciar a opinião ou a vontade das pessoas sobre alguma coisa. Função: influenciar ou conven-
cer alguém sobre alguma coisa.

Texto 4: Anúncio de jornal - Situação de uso: quando se quer anunciar ou procurar um


emprego, pois trata-se de um anúncio na seção de Classificados de um jornal. Função: Anunciar
uma posição que está disponível, descrevendo a função e os requerimentos exigidos para a vaga.

Texto 5: Bilhete - Situação de uso: quando se pretende transmitir um recado escrito


a alguém. Função: Transmitir a alguém, na forma escrita, uma pequena mensagem.

Atividade 3

1. No documento (2. a): Identifica um indivíduo como cidadão brasileiro, indican-


do nome, filiação, naturalidade e nacionalidade

No texto 1 (2. b): No poema, o autor cria a identidade de Antônio Brasileiro, que

pode ser qualquer brasileiro. Mostra que todos somos constituídos de várias culturas de

várias regiões do Brasil.

Língua Portuguesa e Literatura 95


No texto 2 (2. b):): A identidade de um jogador de futebol é apresentada pela sua

trajetória de vida, onde são descritos dados pessoais e fatos marcantes da vida do jogador.

No texto 3 (2.b.): A campanha “Sou Brasileiro e não desisto nunca” ressalta a capacida-

de dos brasileiros de serem lutadores e não desistirem facilmente do que querem.

2. Texto1: Propósito comunicativo: Identificação de um indivíduo

Tipo de receptor: qualquer outra pessoa ou órgão que necessita identificar um

indivíduo.

Texto 1: Propósito comunicativo: Possibilitar prazer estético e reflexão sobre o conteúdo.

Tipo de receptor: qualquer leitor

Texto 2: Propósito comunicativo: Informar sobre a trajetória de vida e os feitos do rei Pelé.

Tipo de receptor: leitor interessado em conhecer sobre a vida do jogador

de futebol.

Texto 3: Propósito comunicativo: convencer ou influenciar a opinião dos brasileiros

sobre si mesmos, provocando um aumento em sua autoestima e incentivando o sentimento

de orgulho e satisfação sobre suas próprias realizações e potencialidades.

Tipo de receptor: brasileiros

Texto 4: Propósito comunicativo: buscar alguém interessado em um emprego e que

tenha as condições exigidas.

Tipo de receptor: um leitor a procura de um emprego, no caso, uma auxiliar de

enfermagem.

Texto 5: Propósito comunicativo: passar um recado

Tipo de receptor: uma amiga, um parente ou alguém próximo.

Atividade 4

Esta atividade é uma produção pessoal.

96
Atividade 5

Esta atividade é uma produção textual. Como toda atividade de elaboração de

texto, procure fazer um planejamento antes de iniciar a escrita. Após a escritura do texto,

releia-o, faça as correções necessárias e passe a limpo em um papel.

Atividade 6

1. I. Uma linguagem científica, com vocabulário ligado à farmácia, à química.

II. Provavelmente, o receptor é um médico, ou farmacêutico.

III. Resposta pessoal. Provavelmente não, pois a compreensão da composição quí-

mica do remédio é difícil para uma pessoa leiga comum.

IV. Não. Porque a comunicação só é clara para quem tem domínio de um vocabulá-

rio científico.

V. Não. Porque a interação só acontece quando a mensagem é completamente

compreendida pelos leitores. E, nesse caso, nem todos os leitores a compreenderiam.

2. I. A finalidade é antiinflamatório – para inflamações, antialérgico - melhora esta-

dos de alergia- e antirreumáticos – para problemas de reumatismo.

II. a. Provavelmente, o remédio não poderia servir mais, depois de pouco tempo, já

que a bula informa a necessidade de o medicamento ser mantido no gelo.

b. Provavelmente, o paciente não faria uso do medicamento, já que a bula informa

que é injetável (através de injeção).

c. A paciente não faria uso do medicamento, pois poderia prejudicar o bebê que

está amamentando.

Língua Portuguesa e Literatura 97


O que perguntam por aí?

ENEM 2010

Resposta: Letra E

Língua Portuguesa e Literatura 99
Comentário: Como pode ser observado em textos de horóscopos em geral, sua função é aconselhar os nativos

de cada signo sobre amor, família, saúde, trabalho etc.

Resposta: Letra C

Comentário: A presença de termos técnicos pode ser observada nesse texto, voltado para os profissionais dessa área.

100 Anexo
Atividade extra
Módulo 1  •  Língua Portuguesa e Literatura  •  Unidade 3
Lingua falada. Lingua escrita e gêneros textuais

Questão 1

Sabemos que linguagem é todo sistema de signos que serve de meio de comunicação entre indivíduos, e pode

ser percebido pelos diversos órgãos dos sentidos. São exemplos, respectivamente, de linguagem auditiva e visual:

a. buzina de automóvel – placas de sinalização de trânsito

b. placas de sinalização de trânsito – buzina de automóvel

c. reprodução de CD musical – buzina de automóvel

d. leitura de e-mail – reprodução de CD musical

Texto 1

Até o fim

Quando eu nasci veio um anjo safado

O chato dum querubim

E decretou que eu tava predestinado

A ser errado assim

Já de saída a minha estrada entortou

Mas vou até o fim.

(Chico Buarque - CD)

Língua Portuguesa e Literatura 101
Texto 2

Poema de Sete Faces

Quando nasci, um anjo torto

desses que vivem na sombra

disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. [..]

( DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. Obra completa. Aguilar )

Questão 2

O anjo é um elemento comum aos dois textos. De que forma são tratados os anjos nos textos?

Questão 3

Brigadeiro de micro-ondas

Ingredientes

1 lata de leite condensado

1 colher de sopa de margarina

3 colheres de sopa de chocolate em pó

Granulado a gosto

Modo de preparo

Em um recipiente próprio para micro-ondas, de preferência redondo e de borda alta, misture todos os ingre-

dientes.

Leve ao micro-ondas por 6 minutos em potência alta ou na tecla brigadeiro do próprio micro-ondas. Mexa a

mistura na metade do tempo.

Depois de pronto, retire do forno e mexa até ficar uma massa lisa e brilhante.

Leve à geladeira para esfriar, depois enrole os docinhos, passe no granulado e coloque nas forminhas.

Fonte: http://tudogostoso.uol.com.br/receita/456-brigadeiro-de-microondas.html. Acesso em 15/01/13.

102
A receita lida foi publicada em um site de culinária para

a. vender os brigadeiros para as festas.

b. instruir os leitores a saber como fazer brigadeiros.

c. informar sobre os valores nutricionais que a guloseima contém.

d. fazer propaganda da margarina usada para a confecção do doce.

Questão 4

Roda Viva

Tem dias que a gente se sente

Como quem partiu ou morreu.

A gente estancou de repente

Ou foi o mundo, então, que cresceu.

(Chico Buarque - CD)

Há nesse texto palavras que são marcas de oralidade, ou seja, que são usadas predominantemente em diálo-

gos orais. Quais são elas?

Questão 5

Carta de Pero Vaz de Caminha

De ponta a ponta é toda praia rasa, muito plana e bem formosa. Pelo sertão, pareceu nos do mar muito gran-

de, porque a estender a vista não podíamos ver senão terra e arvoredos, parecendo-nos terra muito longa. Nela, até

agora, não pudemos saber que haja ouro nem prata, nem nenhuma coisa de metal, nem de ferro; nem as vimos. Mas,

a terra em si é muito boa de ares, tão frios e temperados, como os de Entre-Douro e Minho, porque, neste tempo

de agora, assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas e infindas. De tal maneira é graciosa que, querendo

aproveitá-la dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem.

(In: Cronistas e viajantes. São Paulo: Abril Educação, 1982. p. 12-23. Literatura Comentada. Adaptado.)

Língua Portuguesa e Literatura 103


Nesse trecho da Carta de Caminha, ao refletir sobre suas características textuais, percebe-se que

a. as características argumentativas e narrativas predominam.

b. o principal objetivo do texto é ilustrar experiências vividas.

c. o relato das experiências vividas é feito com aspectos descritivos.

d. a intenção do autor é apresentar uma oposição aos fatos mencionados.

104
Gabarito

Questão 1
A B    C     D

Questão 2

O anjo de Drummond vem desenhado bem no estilo grave que lhe impõe a língua culta já o anjo de Chico Bu-

arque, vem no estilo bem popular com que o autor o coloca na sua composição “safado”, “chato” e menos culto,

bem na linhagem dos malandros que costumam ser brindados nas composições do autor.

Questão 3
A B    C     D

Questão 4

A palavra “tem” no lugar “há”, do verbo haver. / A expressão “a gente” no lugar do pronome pessoal “nós”.

Questão 5
A B    C     D

Língua Portuguesa e Literatura 105


Módulo 1  •  Língua Portuguesa e Literatura  •  Unidade 4

A Prescrição
Para início de conversa...

Você já imaginou o que aconteceria se andássemos pelas estradas e ruas

sem nenhuma orientação sobre onde dobrar, parar, estacionar ou mesmo reduzir

a velocidade? Ou se junto aos produtos eletroeletrônicos que adquirimos, não

houvesse instruções para sua instalação e uso?

Como seria se, ao consultarmos um médico, ele não nos orientasse sobre

como realizar um tratamento? Ou se, na academia, não nos apontassem como

executar os exercícios físicos?

E se tentássemos fazer um prato novo sem uma receita culinária? Ou se

fôssemos a um restaurante onde não houvesse certas regras de comportamento?

Ou, ainda, já pensou como seria infernal a nossa vida num condomínio

sem regras e normas?

Figura 1: Você já se sentiu perdido alguma vez, sem saber para onde ir, o
que fazer ou como manusear determinado aparelho? Pois é, assim é uma
vida sem orientações.

Língua Portuguesa e Literatura 107


Devem ter passado pela sua cabeça várias cenas em que o resultado provocado pela inexistência de orienta-

ções, instruções e normas seria bem negativo ou até desastroso, não é?

Esta Unidade vai abordar o tipo de texto que tem a função de orientar nossas ações no dia a dia e nossa vida

em sociedade. Vamos trabalhar com a prescrição e com os textos de natureza prescritiva, suas manifestações, elemen-

tos e estrutura. Vamos nessa?

Figura 2: Se mesmo com placas e leis previstas algumas pessoas ainda


desrespeitam as normas de trânsito, imagine se não houvesse nenhum
tipo de regulamentação... O mundo seria um caos!

Objetivos de aprendizagem

ƒƒ Reconhecer as características de textos prescritivos.

ƒƒ Reconhecer textos prescritivos em diferentes situações do cotidiano.

ƒƒ Analisar textos prescritivos a partir de suas características linguísticas.

ƒƒ Reconhecer os modos verbais e empregá-los adequadamente.

ƒƒ Identificar a formação do modo imperativo.

ƒƒ Usar o modo imperativo na produção de textos prescritivos.

108
Você sabia que as placas de sinalização são classificadas em três categorias,

com funções e características específicas? São elas:

Regulamentação

regulamentam o uso da via, definindo suas proibições, permissões e restri-

ções, devendo ser obedecidas pelos condutores e pedestres, sob pena de

cometerem infração de trânsito. Ex: placa de proibido estacionar.

Advertência

têm a função de alertar, orientar e advertir o condutor sobre uma situação

que ele vai encontrar mais à frente, normalmente situações em que deva ter

mais atenção e cuidado.

curva acentuada em "S" a esquerda

Indicação

têm a finalidade de indicar, orientar e dar localização ao condutor. Indica o

caminho a ser tomado para um determinado destino, a quilometragem a ser

percorrida, a quilometragem da via naquele local, a proximidade de cidades,

praias, restaurantes e postos de gasolina, o nome ou prefixo da rodovia, etc.

Para saber mais sobre a sinalização de trânsito, você pode consultar:

http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/sinais-de-transito/sinais-de-transito.php

Língua Portuguesa e Literatura 109


Seção 1
Prescrição

Para evitar as cenas caóticas que você deve ter imaginado e para facilitar a nossa vida, há um determinado tipo

de texto que é responsável pela manifestação e explicitação de regras, normas, instruções, orientações, etc. Chama-

mos esse texto de prescrição, ou ainda, segundo alguns autores, injunção.

Para iniciarmos a discussão, analise os textos a seguir e responda às questões propostas.

Texto 1

Modo de preparo :

Coloque o sachê em uma xícara de chá e adicione água fervente. Deixe de 3 a 5 mi-

nutos ou até atingir a cor e o sabor desejado. Adoce a gosto.

Texto 2

Placas de regulamentação

Dê a preferência Pare Proibido virar à esquerda Siga em frente-

Texto 3

Dicas para ser feliz

1 - Seja ético. A vitória que vale a pena é a que aumenta a sua dignidade e reafirma

valores profundos.

2 – Estude sempre e muito.

3 – Acredite sempre no amor. Não fomos feitos para a solidão.

4 – Seja grato(a) a quem participa das suas conquistas. O verdadeiro campeão sabe

que as vitórias são alimentadas pelo trabalho em equipe.

110
(...)

7 – Tenha metas claras. Ter objetivos claros evita desperdícios de tempo, energia e

dinheiro.

8 – Cuide bem do seu corpo. Alimentação, sono e exercício são fundamentais para

a vida saudável.

(...)

10 – Amplie os seus relacionamentos profissionais. Os amigos são a melhor referên-

cia em crises e a melhor fonte de oportunidades na expansão. Ter bons contatos é essencial

em momentos decisivos.

(...)

20 – Celebre as vitórias. Compartilhe o sucesso, mesmo as pequenas conquistas,

com pessoas queridas.


(Extrato de texto de Roberto Shinyashiki, Jornal Lourdes, janeiro de 2012, Caxias do Sul – RS.)

1. Qual o objetivo de cada um dos textos e em que situações eles se encontram?

2. Que palavras e elementos são utilizados em cada um dos textos para dar conta

dos objetivos propostos?

3. Como os textos estão estruturados? Quais são as partes que os compõem?

Língua Portuguesa e Literatura 111


Produção textual

Faça um levantamento de cinco situações no seu dia a dia, nos quais você se depara

com textos prescritivos ou tem que produzi-los. Agora, elabore um texto apontando a im-

portância desses textos na vida social e profissional das pessoas. Em seguida, compartilhe

sua pesquisa e seu texto com seus colegas.

Após realizar as atividades, observe que as suas respostas devem ter apontado para o fato de que, apesar de

tratarem de assuntos diferentes e de encontrarem-se em situações diferenciadas, os três textos da Atividade 1 têm um

objetivo comum, que é o de orientar nossas ações.

No primeiro texto, temos os passos para preparação de um chá (coloque, deixe, adoce). No segundo, instru-

ções precisas sobre como agir no trânsito (placas de sinalização e o que elas significam – dê a preferência, proibido,

siga, etc.). E no terceiro, como devemos agir para conquistar a felicidade (seja ético, estude muito, acredite, etc.).

Dessa maneira, podemos constatar, nos três textos, a expressão de exercícios de prescrição.

A prescrição, assim como a narração, a descrição e a argumentação, constitui uma espécie de tipologia textual

e atua como uma função da linguagem que nos permite apresentar e receber, de forma precisa e organizada, os pas-

sos de uma sequência, instruções, conselhos, ordens, orientações sobre como agir e se comportar e de como executar

certas ações concretas.

Fornecemos informações e temos contato com textos prescritivos quando somos condutores de um processo

ou temos de seguir ordens ou orientações, como por exemplo, quando damos ordens, quer no ambiente familiar ou

no trabalho, quando orientamos o que as pessoas devem fazer em uma sequência (primeiro faça isso, depois, realize

tal ação, etc.), quando vamos ao médico e ele nos dá uma receita de como tratar nossos sintomas, etc.

Prescrever se relaciona com ordenar, instruir, determinar regras, fixar limites. Nos textos prescritivos predomina

a função conativa/apelativa da linguagem (voltada para o receptor) e eles visam tentar convencer ou persuadir quem
ouve a obedecer a uma vontade, a fazer, ou a não fazer algo, seja ordenando ou pedindo gentilmente.

112
Os textos prescritivos são, portanto, aqueles que trazem informação sobre como realizar ações. Eles estão pre-

sentes com frequência em nosso dia a dia, podendo ser extremamente simples, como uma receita de bolo e ordens

de exercícios escolares, ou assumir uma natureza mais complexa, como bulas de medicamentos, regulamentos de

cursos, leis, instruções de montagem e utilização de máquinas e equipamentos, dentre outras formas.

Eles têm a função de regular com precisão o comportamento humano para a realização de algum objetivo,

e são constituídos por uma explicação detalhada de como fazer determinada tarefa e, muitas vezes, contam com o

auxílio de gráficos e sinais para ilustrar o conteúdo.

Figura 3: Você já imaginou como a nossa vida seria complicada se não fossem os manuais? Como
seria difícil, por exemplo, manusear esta máquina de costura se não houvesse um manual, não
é verdade?

Língua Portuguesa e Literatura 113


Seção 2
Organização estrutural
e linguística do texto prescritivo

Como se constituem os textos prescritivos? Para respondermos a essa questão, vamos retomar as respostas

que você deu às questões 2 e 3 da Atividade 1.

Conforme já apresentado, por meio das palavras, dos elementos gráficos e estruturação é que podemos reco-

nhecer a tipologia de um texto. No caso dos textos analisados, as palavras e expressões que nos indicam a existência

da prescrição são:

ƒƒ coloque, adicione, deixe, adoce (Texto 1);

ƒƒ as imagens das placas e o que elas significam: dê, pare, proibido, siga (Texto 2);

ƒƒ seja, acredite, tenha, cuide, amplie, celebre (Texto 3);

ƒƒ e associadas a elas, as expressões modo de preparo, regulamentação e dicas, que nos apontam o que vai

ser apresentado.

Podemos perceber por esse levantamento que na linguagem prescritiva são predominantemente utilizados

verbos de ação.

Os verbos são palavras que indicam uma ação, um processo, inseridos no tempo. Veja: feitas ou sofridas por

alguém (correr, passear, etc.);

ƒƒ fenômenos da natureza (chover, nevar, ventar, etc.)

ƒƒ um estado (ser, estar) ou mudança de estado (ficar, tornar-se).

Também destacamos que os verbos têm papel fundamental na frase, pois são os termos essenciais dos enunciados.

Mas será que diante desses processos assumimos sempre o mesmo tipo de atitude enquanto falantes?

É evidente que não, pois dependendo dos nossos objetivos, escolhemos diferentes formas de expressão para

indicar o que queremos. Podemos apenas declarar o que fazemos ou o que pensamos; podemos apresentar nossos

desejos, hipóteses e condições sobre determinados assuntos ou assumir postura de ordem, de organização de ações.

Surge aqui, então, a noção de MODO VERBAL.

114
Modo Verbal

O modo verbal expressa a atitude do sujeito que fala em relação aos processos expressos pelo verbo. São três

os modos verbais em Português:

Indicativo:

modo da realidade, da informação, da certeza.

Os tempos do modo indicativo são:

ƒƒ presente;

ƒƒ pretéritos – perfeito, imperfeito e mais que perfeito;

Exemplos :

ƒƒ Estou de saída; já fiz o que vim fazer. Gosto muito daqui. (presente)

ƒƒ O computador surgiu para promover desenvolvimento aos povos. (pretérito perfeito)

ƒƒ Ele sempre dizia que adorava futebol. (pretérito imperfeito)

ƒƒ Ele me falou agora há pouco que esquecera (havia esquecido) de fazer a tarefa. (preté-

rito mais que perfeito)

ƒƒ Viajarei na terça-feira e devo estar de volta no próximo sábado. (futuro do presente)

ƒƒ Eu adoraria ter tempo para viajar mais. (futuro do pretérito)

Língua Portuguesa e Literatura 115


Subjuntivo:

modo da hipótese, da suposição, da dúvida, do desejo.

Os tempos deste modo são:

ƒƒ presente

ƒƒ pretérito imperfeito

ƒƒ futuro

Exemplos:

ƒƒ Quero que você chegue em casa cedo. Talvez eu compre alguma roupa naquela promoção. (presente)

ƒƒ Eu sairia mais de casa se não fosse tão frio. (pretérito imperfeito)

ƒƒ Se ele fizer o que eu digo, tudo dará certo. (futuro)

Imperativo:

modo do mando, da ordem, do pedido, do conselho.

Exemplos:

ƒƒ Saia agora daqui.

ƒƒ Não esqueça de levar o material para a aula.

ƒƒ Mantenha este produto fora do alcance das crianças.

ƒƒ Se for dirigir, não beba.

116
Como a prescrição pressupõe a ordenação, a instrução, a orientação, assumimos uma postura de controladores

dos processos e das ações e o modo imperativo é aquele que nos permite assumir tal postura. E isso pode ser feito

de forma afirmativa (quando queremos que alguém faça algo) ou de forma negativa (quando manifestamos o que

não queremos que alguém faça). Daí decorrem o que se denomina de Imperativo Afirmativo e Imperativo Negativo.

E como se forma o modo imperativo de um verbo? A fórmula é sempre a mesma e é muito simples. Envolve

apenas o conhecimento das conjugações do Presente do Indicativo e do Presente do Subjuntivo. Veja um exemplo

utilizando o verbo acreditar.

Pronomes pessoais (pessoas Presente Presente


Imperativo Afirmativo Imperativo Negativo
do discurso) do Indicativo do Subjuntivo

Eu acredito ----------------- --------------- acredite


Tu acreditas acredita não acredites acredites
Ele/Ela/Você acredita acredite não acredite acredite
Nós acreditamos acreditemos não acreditemos acreditemos

Vós acreditais acreditai não acrediteis acrediteis


Eles/Elas/Vocês acreditam acreditem não acreditem acreditem

Pelo quadro anterior, podemos perceber que o Imperativo Negativo é formado a partir do Presente do Subjun-

tivo e que no Imperativo Afirmativo, as segundas pessoas (tu e vós), são oriundas do Presente do Indicativo sem o – s

final da conjugação e as outras pessoas se originam do Presente do Subjuntivo.

Agora, preste atenção em alguns aspectos importantes envolvidos na formação do Imperativo:

1. Não utilizamos o imperativo para a primeira pessoa, pois as ordens sempre se destinam a uma se-
gunda pessoa.

2. A forma do imperativo afirmativo a ser utilizada depende da pessoa gramatical que empregamos
para nos dirigir aos nossos receptores.

Se utilizamos tu (2ª pessoa) como forma de tratamento, então teremos como forma do Imperativo Afir-
mativo aquelas decorrentes do Presente do Indicativo. Se utilizamos você (3ª pessoa), então teremos as
formas do Presente do Subjuntivo como fonte.

Considerando que apenas em algumas regiões do nosso país usam a 2ª pessoa, o que encontraremos
em textos de domínio público, na publicidade, nas campanhas, nos manuais de instrução, nas normas,
etc., será a forma do Imperativo decorrente do uso da 3ª pessoa. O mais importante não é a pessoa
usada, mas sim a utilização da forma correspondente correta do Imperativo

Por exemplo, podemos dizer:

• Evita (tu) o desperdício.

• Evite (você) o desperdício.

Língua Portuguesa e Literatura 117


Utilizando-se do quadro de referência, forme o Modo Imperativo dos verbos ter e

seguir a partir da sua conjugação no Presente do Indicativo e Presente do Subjuntivo

Verbo ter

Pronomes pessoais Presente do Imperativo Imperativo Presente do


(pessoas do discurso) Indicativo Afirmativo Negativo Subjuntivo

Eu
Tu
Ele/Ela/Você
Nós

Vós
Eles/Elas/Vocês a

Verbo seguir

Pronomes pessoais (pessoas Presente do Imperativo Imperativo Presente do


do discurso) Indicativo Afirmativo Negativo Subjuntivo

Eu
Tu
Ele/Ela/Você
Nós

Vós
Eles/Elas/Vocês a

118
. Reescreva as frases, transformando os verbos e expressões destacadas por verbos

no Modo Imperativo.

1. É proibido estacionar aqui.

2. Você deve trazer a tarefa amanhã sem falta

3. É necessário que tu evites o consumo excessivo de álcool.

4. Após aberto, o produto deve ser mantido em geladeira por no máximo 30 dias.

5. A recomendação do professor é para seus alunos prestarem atenção às ordens

dadas se eles quiserem ter sucesso nas tarefas.

6. É vedada a utilização de produtos químicos nesta área de agricultura.

Que estrutura os textos prescritivos apresentam de modo geral?

Os textos prescritivos, em função da sua natureza, apresentam, de modo geral, as seguintes características:

ƒƒ são textos geralmente curtos, com frases curtas e precisas e com léxico específico do tema, especialmente verbos

de ação;

ƒƒ utilizam verbos no imperativo ou no infinitivo quando há a indicação de passos;

ƒƒ possuem expressões temporais para ordenar a sequência de ações, ou formas de ordenação e esquematização,

como a numeração de passos a serem seguidos, roteiros, etc.;

ƒƒ utilizam imagens, gráficos e ilustrações como complemento da informação textual.

Língua Portuguesa e Literatura 119


Figura 4: A função dos manuais é nos orientar a realizar algu-
ma atividade com êxito. Mas, às vezes, não é bem assim! Não
é difícil encontrar alguns manuais enormes, com linguagem
e desenhos confusos que mais nos atrapalham do que aju-
dam, não é verdade?

Seção 3
Outras manifestações de textos
prescritivos e suas características
Até agora trabalhamos com textos prescritivos que apresentam ordens e instruções diretas. No entanto,

conforme já mencionamos no início desta Unidade, há outros textos que trazem informações de condutas a

serem adotadas, além de normas e regras que não são expressas de forma direta. Entre eles estão, por exemplo,

as regras dos jogos, os regulamentos e as bulas dos remédios, onde são utilizadas outras formas para marcar as

orientações, que não o verbo no Imperativo.

Regulamentos

Vamos começar analisando um trecho de um modelo de regulamento. O texto que segue, é apenas um

modelo de regulamento de um condomínio e está disponível no site www.jurisway.org.br.

120
Regulamento Interno do Condomínio

1 - DAS NORMAS REGULAMENTARES

1.1 - Todos os condôminos, seus inquilinos e respectivos familiares, seus prepostos

e os empregados do condomínio são obrigados a cumprir, respeitar e, dentro de sua com-

petência, a fazer cumprir e respeitar as disposições deste regulamento.

1.2 - Fica estabelecido que, conforme a convenção do condomínio, no período de

22h às 6h, cabe aos moradores guardarem silêncio, evitando-se ruídos ou sons que possam

perturbar o sossego e o bem-estar dos demais moradores.

1.3 - Durante 24 horas, o uso de aparelhos que produzam som ou instrumentos mu-

sicais deve ser feito de modo a não perturbar qualquer morador, observadas as disposições

legais vigentes, salvo em ocasiões especiais, devidamente comunicadas com antecedência

ao síndico, mas respeitando o horário estabelecido no item 1.2.

1.4 - Os jogos e/ou brincadeiras infantis somente poderão ser praticadas em locais

apropriados, em geral das 9h às 22h, ressalvados os específicos para locais expressamen-

te determinados, na forma e condições previstas neste Regulamento Interno, ou defini-

das previamente pelo síndico.

(...)

2 - DO USO DAS ÁREAS COMUNS

2.1 - É permitido aos moradores usar e usufruir das partes comuns do Condomínio,

desde que não impeçam idêntico uso e fruição por parte dos demais condôminos.

2.2 - É vedado, a qualquer título, ceder ou alugar as partes comuns do edifício, no

todo ou em parte, a pessoa que não residir no mesmo, para grupos, agremiações ou enti-

dades de qualquer natureza, com ou sem fins lucrativos.

(...)

2.6 - É proibido o uso de bicicletas, skates, patins e similares nas áreas comuns,

salvo se existir local apropriado e previamente determinado por este Regimento ou pela

administração.

Língua Portuguesa e Literatura 121


2.7- E expressamente proibida a utilização da recepção como extensão de sala de

jogos ou lazer, como também colocar os pés ou deitar sobre os sofás, realizar brincadeiras

ou qualquer outro jogo que possa causar danos aos móveis e guarnições das mesmas,

ficando seus transgressores sujeitos ao pagamento das multas previstas neste Regimento.

(...)

2.16- As portas corta-fogo deverão ser mantidas permanentemente fechadas.

(...)

4 - DOS DIREITOS E DEVERES DOS CONDÓMINOS

4.2- DOS DEVERES

Constituem deveres dos condôminos, seus inquilinos e respectivos familiares (en-

tendidos como tais os que com eles coabitarem);

4.2.1- Cumprir e fazer cumprir a Convenção e o presente Regimento Interno e as

normas de Procedimento editadas pela administração.

4.2.2- Contribuir para as despesas comuns do edifício na proporção constante na

Convenção do Condomínio, efetuando o recolhimento nas ocasiões oportunas.

4.2.3- Guardar decoro e respeito no uso das coisas e partes comuns, não as usando

nem permitindo que as usem, bem como as unidades autônomas, para fins diversos da-

queles a que se destinam.

(www.jurisway.org.br)

Você deve ter notado que o texto está estruturado em itens e subitens (1; 1.1; 2; 2.1; etc.), conforme categorias

de espaços, condutas, e natureza das normas. Isso permite a consulta a itens desejados e ordena as ações a serem

respeitadas.

Pois bem, essas são formas e estruturas utilizadas nesse tipo de documento para expressar o que deve e o que

não deve ser feito. A utilização dessas expressões garante que todos tenham clareza sobre os seus deveres e respon-

sabilidades.

Como os Regulamentos dirigem-se a uma coletividade e servem como documento público, a utilização dessas

formas têm um papel não de ordem direta, mas sim de guia de comportamento geral e coletivo.

122
Regras de jogos

Outras formas são utilizadas nos textos que acompanham jogos de baralho, de tabuleiro, etc. Vejamos, por

exemplo, um pequeno extrato de um texto com regras do jogo de damas.

Jogo de Damas: Regras Oficiais

O jogo de damas é praticado em um tabuleiro de 64 casas, claras e escuras.


A grande diagonal (escura) deve ficar sempre à esquerda de cada jogador. O
objetivo do jogo é imobilizar ou capturar todas as peças do adversário.

O jogo de damas é praticado entre dois parceiros, com 12 pedras brancas de


um lado e 12 pedras pretas de outro lado.

O lance inicial cabe sempre a quem estiver com as peças brancas. Também
jogam-se damas em um tabuleiro de 100 casas, com 20 pedras para cada lado
- Damas Internacional.

A pedra anda só para a frente, uma casa de cada vez. Quando a pedra atinge
a oitava linha do tabuleiro, ela é promovida à dama.

Língua Portuguesa e Literatura 123


A dama é uma peça de movimentos mais amplos. Ela anda para a frente e
para trás, quantas casas quiser. A dama não pode saltar uma peça da mesma
cor.

Se, no mesmo lance, se apresentar mais de um modo de capturar, é obriga-


tório executar o lance que capture o maior número de peças (Lei da Maioria)..

www.xadrezregional.com.br

Nesse tipo de texto, percebe-se que, além do uso de expressões que indicam os movimentos (é obrigatório

executar, a dama não pode saltar, etc.), são apresentados elementos descritivos e de constituição do jogo (número de

peças, objetivo do jogo, número de jogadores, características do tabuleiro, etc.).

Bulas de medicamentos

As bulas de medicamentos apresentam mais ou menos características similares aos textos de regras de jogos.

Como o objetivo das bulas é fornecer informações sobre o medicamento aos usuários e orientar para uma administra-

ção segura, o texto contém desde a composição, até as indicações legais. A estrutura das bulas, em geral, contempla

várias partes e, cada uma delas, dependendo da sua função, apresenta formas descritivas e prescritivas.

124
Escolha uma bula de um medicamento e apresente as partes que a compõem, identi-

ficando quais são de caráter prescritivo. Discuta análise feita com o professor e seus colegas.

Para saber mais sobre a forma de constituição das bulas,


você pode acessar os sites:

http://bulario.net/,

www.helpsaude.com/bulas,

www.anvisa.gov.br

Instruções de exercícios físicos

Os textos instrucionais de exercícios físicos, quer aqueles de relaxamento, de musculação, laborais, aeróbicos,

ou até aqueles de ginástica olímpica, apresentam uma sequência de passos bem marcados que devem ser seguidos

à risca para garantir o efeito desejado do exercício e não haver prejuízos para a saúde. Eles vêm geralmente acompa-

nhados de ilustrações e imagens que auxiliam na identificação dos movimentos e facilitam a sua execução correta.

Por essa natureza instrucional, são utilizados marcadores temporais de sequência (primeiro, segundo, em

seguida, após, etc.) e verbos no Modo Imperativo (dobre, gire, puxe, erga, etc.).

Esses textos são encontrados em revistas especializadas em saúde e beleza e também em vídeos.

Língua Portuguesa e Literatura 125


Para você conferir exemplos do assunto que foi
exposto nesta aula, sugerimos acessar os sites:

www.furg.br

www.minhavida.com.br

www.anvisa.gov.br

Para finalizar, devemos reconhecer a função e importância que os textos prescritivos têm em nossa vida en-

quanto seres humanos e como cidadãos.

Por meio dos textos prescritivos, podemos ter informações importantes para cuidar da nossa saúde, controlar
a utilização de produtos na nossa alimentação, conhecer e estabelecer normas de convivência em sociedade, saber

operar aparelhos e máquinas, executar ações de forma orientada e orientar a ação de outras pessoas, dentre outras

possibilidades.

126
Produção Textual

Agora que já vimos que as manifestações

prescritivas fazem parte da nossa vida e do nos-


6
so dia a dia e permitem a construção de espaços

de respeito e cidadania, bem como orientam as

nossas ações cotidianas, que tal aproveitarmos o

tema da Campanha da Fraternidade 2012 - Saúde

Pública - para realizar nossa produção de final de

unidade?
A proposta de texto é que você elabore um pe-
queno guia com dicas e cuidados de alimentação, saú-
de, exercício e convivência que possam fazer com que
sejamos mais saudáveis e tenhamos mais qualidade de
vida.

O seu texto deve ter em torno de dez dicas, e


deverá ser apresentado aos seus colegas sob a forma
de folheto, panfleto, ou cartaz, como se você estivesse
liderando uma campanha. Você escolhe!

Mas não se esqueça de colocar um título e de


organizar as informações levando em conta os elemen-
tos linguísticos e estruturais estudados.

Bom trabalho!

Veja ainda

1. Estude mais sobre textos prescritivos. Consulte os sites:

ƒƒ http://www.brasilescola.com/redacao/textos-injuntivos-prescritivos.htm

ƒƒ http://www.mundoeducacao.com.br/redacao/texto-injuntivo-texto-prescritivo.htm

Língua Portuguesa e Literatura 127


2. Você sabia que as receitas culinárias são textos prescritivos? Busque alguns sites sobre o assunto!

ƒƒ http://tudogostoso.uol.com.br/

ƒƒ http://www.clickgratis.com.br/receita/

Atividade 1
1. Qual o objetivo de cada um dos textos e em que situações eles se encontram?

Texto 1: Orientar a preparação de um chá, indicando os passos.

Texto 2: Regular o trânsito, orientar os motoristas sobre os procedimentos e direções a se-

rem adotados.

Texto 3: Ensinar como se pode ser feliz, indicar o que se deve levar em consideração, dar

conselhos sobre como agir para ser feliz.

2. Que palavras e elementos são utilizados em cada um dos textos para dar conta dos

objetivos propostos?

Texto 1: coloque, adicione, deixe, adoce.

Texto 2: as imagens das placas e o que elas significam: dê, pare, proibido, siga.

Texto 3: seja, estude, acredite, tenha, cuide, amplie, celebre

Associadas a essas palavras, as expressões modo de preparo, regulamentação e dicas.

3. Como os textos estão estruturados? Quais são as partes que os compõem?

São textos curtos, com frases curtas, estruturados em partes que apontam uma sequência

específica de passos (Texto 1), ou de prioridade (Texto 3). No caso do Texto 2, há utilização de ima-

gens que, para os motoristas, trazem significado, independente das palavras.

Atividade 2

ƒƒ no café da manhã, quando temos à nossa frente produtos alimentícios, cujos rótulos indicam

as condições de conservação, de validade, etc.

ƒƒ na rua, quando nos dirigimos ao trabalho e vemos placas de NÃO PISE NA GRAMA

ƒƒ ou outdoors de propagandas de cursos – ESTUDE INGLÊS NA ESCOLA .....

ƒƒ em ônibus e restaurantes, quando vemos o aviso de NÃO FUME.

ƒƒ na escola, quando vemos as regras de boa convivência expostas em cartazes nas salas de aula.

ƒƒ na livraria, quando vemos livros de auto-ajuda, que nos dizem como viver melhor.

128
Atividade 3

Utilizando-se do quadro de referência, forme o modo imperativo dos verbos ter e seguir a

partir da sua conjugação no Presente do Indicativo e do Presente do Subjuntivo.

Verbo Ter

Pronomes
Presente do Imperativo Imperativo Presente do
pessoais (pessoas
Indicativo Afirmativo Negativo Subjuntivo
do discurso)

Eu tenho ---------------- ---------------- tenha


Tu tens tem não tenhas tenhas
Ele/Ela/Você tem tenha não tenha tenha
Nós temos tenhamos não tenhamos tenhamos

Vós tendes tende não tenhais tenhais


Eles/Elas/Vocês têm tenham não tenham tenham

Verbo seguir

Pronomes pesso-
Presente do Imperativo Imperativo Presente do
ais (pessoas do
Indicativo Afirmativo Negativo Subjuntivo
discurso)

Eu sigo ------------------- ----------------- siga


Tu segues segue não sigas sigas
Ele/Ela/Você segue siga não siga siga
Nós seguimos sigamos não sigamos sigamos

Vós seguis segui não sigais sigais


Eles/Elas/Vocês seguem sigam não sigam sigam

Língua Portuguesa e Literatura 129


Atividade 4

Reescreva as frases, transformando os verbos e expressões destacadas por verbos no

Modo Imperativo

1. É proibido estacionar aqui.

Não estacione aqui.

2. Você deve trazer a tarefa amanhã sem falta

Traga a tarefa amanhã sem falta.

3. É necessário que tu evites o consumo excessivo de álcool.

Evita o consumo excessivo de álcool.

4. Após aberto, o produto deve ser mantido em geladeira por no máximo 30 dias.

Após aberto, mantenha o produto em geladeira por no máximo 30 dias.

5. A recomendação do professor é para seus alunos prestarem atenção às ordens dadas se

eles quiserem ter sucesso nas tarefas.

Prestem atenção às ordens dadas para terem sucesso nas tarefas.

6. É vedada a utilização de produtos químicos nesta área de agricultura.

Não utilize produtos químicos nesta área de agricultura.

Atividade 5

As partes mínimas que devem estar presentes em uma bula:

ƒƒ nome do produto;

ƒƒ identificação do produto (forma farmacêutica e composição);

ƒƒ informações ao paciente (condições de armazenamento, prazo de validade, contra-indica-

ções, precauções e cuidados com o uso);

ƒƒ informações técnicas (características, indicações, contra-indicações, precauções e advertên-

cias, interações medicamentosas, posologia , cuidado de uso, modo de usar, superdosagem);

ƒƒ informações sobre o número de registro, farmacêutico responsável, número do lote, dados

sobre o laboratório (nome, endereço, telefone, CNPJ).

130
Atividade 6

Esta questão é pessoal, porém preparamos um modelinho de panfleto para você se

orientar melhor.

Referências

Imagens

  •  Acervo pessoal  •  Sami Souza

  •   http://www.sxc.hu/photo/418215

  •  http://www.flickr.com/photos/cbnsp/3570818895/sizes/m/in/photostream/

  •  http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/sinais-de-transito/sinais-de-transito.php

Língua Portuguesa e Literatura 131


  •  http://www.flickr.com/photos/ateliervanessamaurer/2802891625/sizes/m/in/photostream/

  •   http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Ariano_Suas suna.jpg Autor: Wilson Dias/ABr

  •  http://www.sxc.hu/photo/1153877

  •  http://www.sxc.hu/photo/1023776

  •  http://www.cnbb.org.br

  •  http://www.sxc.hu/photo/984791

132
O que perguntam por aí?

CEPERJ - 2008 - Concurso Prefeitura Angra dos Reis

Canção do exílio

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá;

As aves, que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,

Mais prazer eu encontro lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,

Que tais não encontro eu cá;

Em cismar –sozinho, à noite–

Mais prazer eu encontro lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,

Sem que eu volte para lá;

Língua Portuguesa e Literatura 133
Sem que disfrute os primores

Que não encontro por cá;

Sem qu'inda aviste as palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

Gonçalves Dias

Está flexionada no modo imperativo a forma verbal destacada no verso:

a. “Não permita ...”; ( )

b. “...que eu morra”; ( )

c. “Sem que eu volte...”; ( )

d. “ Sem que desfrute...; ( )

e. “Sem qu’inda aviste...”; ( )

Resposta: A letra A está no imperativo negativo, na 3ª pessoa do singular.

134 Anexo
Atividade extra
Módulo 1  •  Língua Portuguesa e Literatura  •  Unidade 4
A prescrição

Questão 1

Sabão em barra caseiro

Ingredientes:

1/2 kg de soda cáustica

1 litro de água;

3 litros de óleo de cozinha (usado e já saturado em frituras);

2 litros de álcool (de posto de gasolina).

Preparo: Ferva 1 litro de água.Simultaneamente, esquente bem 3 litros de óleo.Coloque a soda cáustica na

água fervendo, dentro de um balde de plástico e,imediatamente,Retire o óleo do fogo e despeje por cima.Em seguida

coloque o álcool.Mexa (com um pedaço de pau) durante 15 minutos.Despeje numa caixa de papelão forrada com

sacolas de plástico, vire as borda delas umpouco para cima.

Observação: A altura do sabão, dentro da caixa de papelão é em torno de 5 a 6 cm.

Dica:Fazendo o sabão na lua nova, ele ficará melhor.http://www.ecologiaonline.com/receitas-para-preparar-

-sabao-caseiro

Língua Portuguesa e Literatura 135
Assinale a alternativa correta com base nas afirmações:

I- A receita é um texto injuntivo/prescritivo pertencente ao gênero instruir.

II- A receita de sabão apresenta o imperativo na 3ª pessoa do singular, mostrando menor formalidade.

III - A receita de sabão é um texto injuntivo formal porque dá ordens precisas sobre a produção do sabão.

IV- A receita apresentada não é um texto injuntivo/ prescritivo porque não contém verbos no imperativo.

a. I e II estão corretas

b. III e IV estão corretas

c. I, II e III estão corretas

d. todas estão corretas

Questão 2

Observe o anúncio e responda:

O anúncio em questão apresenta o verbo pôr

a. no imperativo negativo e indica uma ordem.

b. no imperativo afirmativo e indica um pedido.

c. no presente do indicativo e indica uma sugestão.

d. no presente do subjuntivo e recomenda cuidado.

Bom conselho

Ouça um bom conselho

Que eu lhe dou de graça

Inútil dormir que a dor não passa

Espere sentado
Ou você se cansa

Está provado, quem espera nunca alcança

Venha, meu amigo

Deixe esse regaço

Brinque com meu fogo

Venha se queimar

Faça como eu digo

Faça como eu faço

Aja duas vezes antes de pensar

Corro atrás do tempo

Vim de não sei onde

Devagar é que não se vai longe

Eu semeio vento na minha cidade

Vou pra rua e bebo a tempestade

(www.chicobuarque.com.br)

Questão 3

Na canção “Bom Conselho”, o autor modifica o sentido de vários provérbios. Identifique três dessas referências.

Questão 4

Por que essa canção é um exemplo de tipo de texto prescritivo ou injuntivo?

Questão 5

Quais são os recursos linguísticos apresentados no texto que confirmam essa ideia?

Língua Portuguesa e Literatura 137


Gabarito

Questão 1
A B    C     D

Questão 2
A B    C     D

Questão 3

Resposta esperada:

Referência 01 - Inútil dormir que a dor não passa;

Referência 02 - Faça como eu digo / Faça como eu faço;

Referência 03 - Devagar é que não se vai longe.

Questão 4

Resposta esperada: Porque tem como objetivo aconselhar o leitor ou o ouvinte a não confiar naquilo que é

estabelecido como verdade.

Questão 5

O emprego de verbos no imperativo, que é o modo do mando, do pedido, da ordem, além da escolha do título

da canção “bom conselho”.


Módulo 1  •  Língua Portuguesa e Literatura  •  Unidade 5

A Narração
Para início de conversa...

Você já deve ter reparado que o nosso dia a dia está cercado de momentos

em que respondemos (e fazemos) perguntas como:

O que há de novo?
E daí, o que aconteceu na aula ontem?

Você não sabe o sonho que tive ontem. Foi assustador! Quer ouvir?

Sabe aquele gato que conheci na nossa festa na empresa outro dia? Encontrei
com ele de novo e foi uma emoção só!

É isso mesmo! Gostamos de saber o que acontece com as pessoas que nos

cercam e de contar o que acontece conosco. Ficamos empolgados, envolvemo-nos

e até mesmo rimos ou choramos das histórias que nos contam. Fazemos questão

de deixar registradas as nossas vivências e a nossa forma de viver em cada tempo.

Contar histórias é uma experiência constante na evolução de todos os po-

vos. Verdadeiras ou inventadas, mesmo sendo pura ficção, eram, no início, conta-

das apenas oralmente, transmitidas de boca em boca pela comunidade; depois,

escritas ou usando outras formas de expressão, as histórias são sempre uma ten-
tativa de o homem entender o mundo, entender-se, expressar-se.

Assim, contar histórias, escritas ou faladas, é uma das formas que utiliza-

mos para criarmos uma identidade entre as pessoas de nosso grupo, o que nos

permite maior interação no meio em que vivemos. E mais, através dessas histó-

rias, vamos reafirmando e construindo nossa cultura, transmitindo nossos vários

conhecimentos de mundo através de gerações.

Língua Portuguesa e Literatura 139


Esta unidade vai abordar, pois, essas manifestações e o tipo de texto que construímos para concretizar essas

ações. Vamos trabalhar com a narração, com os textos narrativos, suas manifestações, seus elementos e estrutura.

Convidamos você a entrar e conhecer esse universo. Bom trabalho!

Figura 1. Leitura no bosque

Objetivos de aprendizagem
ƒƒ Reconhecer o conceito de narração.

ƒƒ Identificar os elementos e características de um texto narrativo.

ƒƒ Reconhecer a estrutura do texto narrativo.

ƒƒ Elaborar textos narrativos.

140
Seção 1
A narração

Mas afinal, o que é narrar?

Podemos dizer que o ser humano é, por natureza, histórico. Precisamos deixar registrada a história da existên-

cia humana: suas conquistas, suas descobertas, sua forma de viver o dia a dia, sua cultura. Fazemos questão de passar

de geração a geração as nossas histórias.

E como fazemos isso?

Produzindo textos – orais e escritos – que vão


Esses textos constituem relatos, narra-
retratar vivências, acontecimentos e formas de ver o ções, textos narrativos.

mundo, construindo nossa cultura, conforme o tem-

po vai passando.

Para entender melhor o conceito de narração, leia os textos a seguir e responda às

questões propostas.

Texto 1

Certo dia, um homem resolveu se inscrever em um concurso para locutor de rádio.

O diretor da rádio perguntou:

- O seu nome?

- Jo-jo-ão dda Ssssil-silva Ssantos.

Espantado, o diretor disse:

- Ora, meu senhor, como você espera participar de um concurso para locutor, se

você é gago?

Prontamente, o homem respondeu;

- Não, eu não sou gago. Gago era meu pai e incompetente foi o escrivão que me

registrou com esse nome!


(Circulando na Internet. http://www.piadas.com.br/piadas/curtas -adaptado)

Língua Portuguesa e Literatura 141


Texto 2

As descobertas lusitanas. Por Márcio Cabral de Moura.

A descoberta do Brasil

Em 22 de abril de 1500, chegavam ao Brasil 13 caravelas portuguesas, lideradas por

Pedro Álvares Cabral. À primeira vista, eles acreditavam tratar-se de um grande monte e

chamaram-no de Monte Pascoal.

O descobrimento do Brasil ocorreu no período das grandes navegações quando Por-

tugal e Espanha exploravam o oceano em busca de novas terras.(...) em 1492, Cristóvão Co-

lombo, navegando pela Espanha, chegou à América(...) Diante do fato de ambos terem as

mesmas ambições e com objetivo de evitar guerras pela posse das terras, Portugal e Espanha

assinaram o Tratado de Tordesilhas, em 1494. De acordo com este acordo, Portugal ficou com

as terras recém-descobertas que estavam a leste da linha imaginária (200 milhas a oeste das

ilhas de Cabo Verde), enquanto a Espanha ficou com as terras a oeste desta linha.
(Adaptado de http://www.suapesquisa.com/historia/descobrimentodobrasil/)

Sobre os textos:

1. No primeiro texto, o que é contado? E como é contado? Qual o objetivo comunicativo

desse texto?

142
2. E no segundo, que acontecimento é relatado? E como é feito o relato? O propósito co-

municativo é o mesmo que o anterior? Qual a diferença?

Conforme podemos perceber, embora os dois textos tenham objetivos comunicativos diferenciados na apresenta-
ção dos fatos, eles têm uma função em comum: tomar fatos e contá-los para dar a conhecer aos outros o que aconteceu.

O primeiro texto é uma piada e tem por propósito, pelo relato de uma situação engraçada, provocar no leitor o riso.

O segundo é um texto de natureza didática e tem a função de apresentar ao leitor, o relato de um aconteci-
mento que marcou a nossa história.

Pelo que vimos até agora, narrar é relatar, contar fatos e episódios (reais ou fictícios) passados para dar a conhe-
cer a alguém experiências e vivências. Narrar é contar uma história, curta ou longa.

E, quando narramos?

Narramos quando queremos que os outros saibam o que aconteceu conosco, quer para emocionar, provocar
sentimentos de solidariedade, quer para divertir e mostrar os nossos (pre) conceitos e formas de encarar o mundo
e as pessoas. Nossas conversas, confidências entre amigos, fofocas são exemplos desse tipo de exercício narrativo.

Narramos quando queremos, através de concepções coletivas e culturais, explicar o mundo e seu funciona-
mento e (re) criar realidades. Daqui surgem as lendas e as fábulas, as crônicas, contos, romances etc.

Narramos quando queremos dar a conhecer o que se passa no mundo e na sociedade e aí temos as notícias
veiculadas em telejornais, jornais escritos etc.

Narramos quando queremos deixar registrados os acontecimentos e fatos da história da Humanidade.


Aí temos os textos que fazem parte da disciplina História.

Narramos, quando queremos simplesmente divertir e animar. As piadas, as anedotas, as histórias em


quadrinhos, os desenhos animados servem para essa função.

Como vimos até agora, o nosso dia a dia está marcado pela narração, em diferentes gêneros textuais. O ser humano
precisa deixar registrado o seu tempo e a forma como vive. As histórias (relatos) passadas de geração a geração, oralmente, fo-
ram e são ainda em algumas comunidades a forma de preservar a cultura de um povo. Com o advento da escrita e das desco-
bertas da imprensa, muitos desses relatos passaram a constituir um acervo para o conhecimento da história da humanidade.

Língua Portuguesa e Literatura 143


Seção 2:
Características e elementos do texto narrativo

Que tal entendermos um pouco sobre como se estrutura uma narração, quais são seus elementos constitutivos

e suas características?

Apresentamos um exemplo de texto narrativo e algumas questões como desafio para que possamos definir os

elementos que caracterizam esse tipo de texto.

Figura 2. A princesa sobre os colchões.

A princesa e a ervilha

Hans Christian Andersen

Era uma vez um príncipe que queria casar com uma princesa — mas tinha de ser uma princesa verdadeira.

Por isso, foi viajar pelo mundo afora para encontrar uma. Viu muitas princesas, mas nunca tinha a certeza

de serem genuínas. Havia sempre qualquer coisa que não parecia estar como devia ser. Por fim, regressava a casa,

muito abatido.

144
Uma noite, houve uma terrível tempestade. No meio dela, alguém bateu à porta e o velho rei, pai do príncipe,

foi abri-la.

Deparou-se com uma princesa. O estado em que ela estava era deplorável. A água escorria-lhe pelos cabelos e

pela roupa, e saía pelas biqueiras e pela parte de trás dos sapatos.

No entanto, ela afirmava ser uma princesa de verdade.

A velha rainha não disse nada e foi ao quarto de hóspedes, onde a moça iria dormir, desmanchou a cama toda

e pôs uma pequena ervilha no colchão. Depois empilhou mais vinte colchões e vinte cobertores por cima.

De manhã, perguntaram-lhe se tinha dormido bem.

A princesa respondeu que não havia pregado o olho a noite toda, pois tinha sentido algo na cama que a inco-

modou profundamente e que deixara manchas roxas em sua pele.

Então ficaram com a certeza de terem encontrado uma princesa verdadeira, pois ela tinha sentido a ervilha

através de vinte cobertores e vinte colchões. Só uma princesa verdadeira podia ser tão sensível.

Então o príncipe casou com ela. E a ervilha foi para o museu.

Adaptado de: http://www.educacional.com.br/projetos/ef1a4/contosdefadas/princesaervilha.html

A partir da leitura do texto, identifique e aponte o que é


solicitado.

1. Qual é o título do texto?

2. Quem é o autor do texto? Você já ouviu falar dele?

3. O que está sendo contado? Que fato, acontecimento gera/desencadeia a história?

4. Quem são os personagens (sujeitos) envolvidos na história?

5. Quem conta a história? É possível identificar o narrador?

6. Em que tempo e lugar a história ocorre? Que elementos no texto mostram-nos isso?

Língua Portuguesa e Literatura 145


Hans Christian Andersen nasceu em Odense - Di-
namarca, em 02 de abril de 1805 e faleceu em 04
de agosto de 1875. Ele foi um importante escritor
de histórias infantis - os famos contos de fadas.
Era filho de sapateiro e teve uma infância mui-
to pobre, mas apesar disso, sempre teve contato
com histórias que lhe eram contadas e encenadas
pelo seu pai. Apesar de todas as dificuldades por
que passou na vida, tornou-se um escritor famo-
so e seus textos ultrapassam os séculos e ainda
hoje encantam crianças e adultos. Entre os seus
contos, destacam-se O Patinho feio, A Caixinha de Surpresas, O Soldadinho
de Chumbo, A Princesa e a Ervilha, A Pequena Sereia, A Vendedora de Fósforos,
A Roupa Nova do Rei, Os Sapatinhos Vermelhos, dentre outros.

Você deve ter percebido que as questões já apresentam “pistas” sobre que elementos fazem parte da narração:

o fato, gerador/desencadeador da história, personagens, narrador, enredo (a sequência de fatos e ações que formam

a história em si), o tempo (a ordenação em que as ações são contadas e quando) e o lugar, isto é, o espaço/ambiente,

onde ocorre a história.

No texto analisado, o autor Hans Christian Andersen, através de um narrador que não se identifica no texto,

conta a história de um príncipe que procurava incessantemente por uma princesa para se casar.

Em dado momento, numa noite de tempestade, após ele ter retornado à casa, uma moça bate a sua porta. Este

fato desencadeia a história. A rainha resolve se certificar da afirmação da moça de que era uma princesa e coloca uma

ervilha em meio aos colchões e cobertores. E assim, a história vai se desenvolvendo, desenrolando-se, até que a moça

acorda na manhã seguinte e afirma ter sentido algo que a incomodara em meio às cobertas. Este é o ponto máximo

da história, o instante que cria certo clima de suspense no leitor, que vai querer saber o que acontece em seguida.

Dessa forma, através dos outros personagens, reconhece-se que ela era mesmo uma princesa. E a história ter-

mina com o casamento da moça, agora princesa, e o príncipe. É o desfecho da história.

A história acontece num tempo distante e num lugar onde havia reis, príncipes e princesas, próximo à natureza.

Assim, este texto é um exemplo típico de narrativa, com elementos característicos da narração: fato, persona-

146
gens, narrador, espaço/ambiente, tempo, enredo – dividido em apresentação, complicação (o fator problema), clímax

e desfecho - e a constituem como tal.

Vamos sintetizar essas noções?

Fato gerador/desencadeador da história

A narração pressupõe sempre a existência de um fato gerador/desencadeador para uma sequência de ações

que se estruturam, a partir de uma organização lógico-temporal.

Por fato gerador, entende-se aquele que, numa dada situação e tempo, merece destaque e, por
isso, será narrado. Os fatos geradores podem ser reais ou ficcionais, imaginários, promovendo
relatos referenciais/ informativos, no caso da narração de fatos reais, ou literários, se ficcionais.

Estes fatos geram uma sequência de outros fatos que, articulados entre si, formam o enredo da história.

Personagens

Uma narração envolve a presença de sujeitos que vivem as ações apresentadas. Esses sujeitos podem

ser reais (aqueles que aparecem em relatos referenciais, como notícias de jornal) ou criados pela imaginação de alguém,

personagens (como nos relatos literários, como o conto e a novela, as piadas, as fábulas etc.).

Os personagens são a razão de ser das narrativas, uma vez que os acontecimentos dizem respeito a eles.

Qualquer ser, inclusive os imaginários, ou outro elemento pode se transformar em personagem.

Chamamos um personagem de protagonista, quando é o principal da narrativa; e de secun-


dário, quando dá suporte aos eventos que giram em torno dos personagens principais.
O antagonista é o personagem que se opõe ao principal.

Língua Portuguesa e Literatura 147


Tempo e espaço da narrativa

Nas narrativas, a indicação do tempo e o espaço é imprescindível, mesmo que de forma implícita, percebida

apenas na medida em que se lê ou ouve-se a história, pois estes elementos estão nas ações narradas que se transfor-

mam em relato.

A narrativa obrigatoriamente insere-se num tempo, uma vez que acontecimentos surgem numa sequência

temporal, isto é, a sequência em que os fatos são narrados.

A duração de uma narrativa pode variar, conforme a espécie de gênero e outras características da história. Nos

“causos”, piadas e anedotas, os acontecimentos duram minutos, às vezes menos. São, portanto, narrativas menores.

Em narrativas em que se focalizam uma ou várias gerações de uma pessoa ou grupo social, ou as etapas de um casa-

mento, por exemplo, o tempo decorrido pode ser bem longo, dando origem a narrativas longas, como nos romances.

Narrador e foco narrativo

Um relato sempre envolve a presença de um autor, que não pode ser confundido com o narrador.

O autor é aquele que idealiza a história e manifesta, por meio do


texto, intencionalidades e objetivos específicos (fazer rir, emocionar,
polemizar, informar etc.).

O narrador é a figura que assume no texto o papel de ser, pode-se


dizer, o porta-voz do autor.

O narrador pode ser um personagem que vive a história ou assiste-a, ou alguém que se coloca como se esti-

vesse do lado de fora da história e observa tudo o que acontece.

O narrador é o responsável pela história. Para nos apresentá-la, ele escolhe um ângulo, um ponto de vista de

onde ele nos conta os fatos. Ele funciona como o diretor do filme, no cinema: só vemos o que eles (narrador, no texto,

e diretor, no filme) nos permitem ver daquele lugar onde eles nos puseram, para tomar conhecimento da história.

Chamamos a essa escolha do ponto de vista do narrador de foco


narrativo.

148
O papel que o narrador tem na narrativa está ligado a esse foco:

a) ele pode contar a história como um personagem, participando e interferindo nas ações narradas. Daí,

dizemos que o foco narrativo é interno, e o narrador é chamado de narrador-personagem ou participante;

b) ou, ainda, como simples observador, tentando ver, objetivamente, sem interferência nas ações dos per-

sonagens e nos fatos. Nesse caso, dizemos que o foco narrativo é externo.

É claro que, conforme o foco narrativo, o ouvinte ou leitor vai perceber uma história bem diferente, não é?

Note a diferença nos exemplos que analisamos adiante.

Se tivermos, na narrativa, um narrador-personagem, esta é construída na 1ª. Pessoa (eu/nós). Veja o trecho a seguir:

“Já estava cansada de tanto esperar por uma solução para o problema do lixo na nossa comunidade. Resolvi,
então, tomar uma atitude e ir procurar meu grupo de colegas da escola para, juntos, pensarmos uma cam-
panha para conscientizar a sociedade da importância do cuidado com os resíduos domésticos.”

(texto especialmente elaborado para este material – os autores)

No exemplo anterior, percebemos que quem conta a história também é o personagem que resolve, depois de

muito tempo, convivendo com um problema, agir e buscar alternativas de solução. Os elementos em 1ª pessoa, como

“estava”, “resolvi” e o pronome “meu” indicam que o narrador é um personagem.

Se o narrador não faz parte da história como personagem, mas como alguém que apenas presencia e ob-
serva os acontecimentos, ou relata o que lhe contaram, a narrativa dá-se na 3ª. pessoa e o narrador é chamado de

observador. Nesse caso, o narrador pretende ou quer dar a impressão de total objetividade e não tece comentários,

apenas relata fatos do modo mais preciso possível. Além disso, não se misturam com as personagens. Essa narração

“externa”, mais distante, raramente ocorre.

O narrador mais comum é o narrador onisciente, aquele que narra em 3ª pessoa, sem participar
da história, e, como um deus, conhece tudo, vê tudo, está em todos os lugares e informa-nos até
sobre o espírito dos personagens, seus pensamentos, suas intenções e sentimentos.

Língua Portuguesa e Literatura 149


Veja alguns exemplos de trechos com narrador em 3ª pessoa.

• Com narrador observador:

“Era uma vez uma menina que se chamava Mariana. Ela morava numa cidade pequena e vivia dizendo que
um dia iria embora. Quando a menina cresceu, ela foi estudar numa grande cidade e logo na sua chegada
ficou encantada com o que viu: os prédios eram enormes, as ruas eram largas, o movimento dos carros era
intenso e os cheiros dos restaurantes enchiam sua mente.”

(trecho especialmente elaborado pelos autores para este material)

• Com narrador onisciente:

“Todos os espaços da casa traziam a João lembranças da sua infância. Passavam por sua cabeça os momen-
tos em que fora feliz ali: as brincadeiras de esconde-esconde com os irmãos, as fugas das brigas dos pais, o
carinho da mãe que o pegava e fazia-lhe cócegas... Que saudade sentia daqueles tempos!”

(trecho especialmente elaborado pelos autores para este material)

Os dois trechos são escritos em 3ª pessoa (“chamava-se Mariana”, “ela morava”, “todos os espaços traziam”, “sua

infância”) e demonstram que o narrador encontra-se do lado de fora aos acontecimentos. São narradores que contam

a história de outras pessoas (personagens).

No primeiro caso, o narrador apenas conta o que conhece, ouviu ou viu sobre a menina, chamada Mariana. Ele

assume apenas uma postura de observador.

Já no segundo, o narrador vai além do que é visto e manifesta os sentimentos mais escondidos do persona-

gem. Ele parece saber o que o personagem está sentindo ao andar pela casa, onde passou a sua infância. Então, ele

passa a ter uma postura de onisciência.

Ao escolher o ponto de vista, o narrador está privilegiando sua visão de mundo. E mais: ele não só
conhece os mais íntimos pensamentos e reações de cada personagem, como também decide o
perfil e a sorte de cada um deles. É a partir desse narrador que vamos definindo nossas opiniões
a respeito dos personagens, torcendo por uns e abominando outros.

150
Seção 3
A estrutura do texto narrativo –
a constituição do enredo

Os textos narrativos têm uma forma própria de organização e articulação entre as partes que os constituem

e permitem a construção do enredo. Vamos explorar a estrutura da narrativa? Retome o texto A Princesa e a Ervilha,

e responda à atividade seguinte.

Para apresentarmos as partes que estruturam uma narrativa, vamos solicitar sua

ajuda, pode ser? Responda às questões e, em seguida, leia as explicações apresentadas.

1. Como se inicia o texto A princesa e a ervilha? Quais são os elementos apresentados?

Que expressão marca este início?

2. Evidencie o problema focalizado em torno do personagem principal.

Conforme você deve ter respondido, no início do texto há a apresentação de um dos

personagens – o príncipe –, e do seu problema – não encontrar uma princesa verdadeira para

se casar, identificado no trecho que vai de

“Era uma vez (...)” até “queria uma princesa verdadeira.”

A esta parte chamamos de SITUAÇÃO INICIAL e nela há a apresentação do ambiente, dos


personagens, criando um pano de fundo onde ocorrerão as ações (como tudo estava, quem
participa da história).

3. Qual o fato gerador da história e que leva a uma possibilidade de resolução do problema?

No texto, surge um fato diferente que cria expectativa no leitor e essa parte está

compreendida entre “Uma noite houve uma tempestade” até “foi abri-la.”

O fato diferente que cria expectativa no leitor constitui uma segunda parte do texto, que
chamamos de FORÇA TRANSFORMADORA (complicação/problema), onde há a apresen-
tação do(s) fato(s) gerador(es) da história. Considera-se como um problema em textos nar-
rativos, qualquer acontecimento que desfaz uma ordem estabelecida.

Língua Portuguesa e Literatura 151


4. Enumere os fatos desencadeados, a partir do fato gerador do problema.

Você percebeu que, apesar do seu estado, a moça afirma ser uma princesa. Mas, para

se certificar disso, a rainha colocou uma ervilha entre todos os cobertores e colchões onde

a princesa iria dormir, na expectativa de que ela pudesse de fato sentir a presença dela.

A moça acordou, no dia seguinte, queixando-se de que não conseguira dormir, porque

algo a incomodou a noite inteira, compreendido no trecho “Deparou-se com uma princesa”

até “manchas roxas em sua pele”.

Temos aqui uma terceira parte do texto, denominada Dinâmica de Ação (ações), onde é
apresentado o desenvolvimento da sequência de ações da história, obedecendo a uma or-
ganização lógico-temporal (o que aconteceu primeiro e depois e depois...).

5. Aponte a solução dada ao problema do personagem.

O rei, a rainha e o príncipe descobrem, então, que ela era uma princesa verdadeira.

No texto, esta parte refere-se ao trecho de “Então ficaram com a certeza” até “sensível.”

A esta parte, chamamos de FORÇA EQUILIBRANTE (equilíbrio), na qual há a apresentação


de uma situação ou conjunto de ações que levam à resolução do problema apontado no
início do texto (o que resolveu o problema apresentado)

6. E como termina a história?

Enfim, o príncipe casa-se com a princesa e surge uma linda história.Esta etapa cor-

responde à parte “Então o príncipe (....) museu”.

Aqui temos a última parte da narrativa, a que denominamos SITUAÇÃO FINAL –


desfecho, mostrando como a história acabou e houve o desenlace do problema inicial.

152
Você percebeu com essa análise que um texto narrativo não se estrutura simplesmente em início, meio e fim.

Na verdade, ele se estrutura em mais partes que nos permitem ter maior visibilidade da história e da sua organização

no tempo e no espaço.

Assim, de acordo com a concepção aqui abordada, o texto narrativo padrão é composto por:

1º Situação Inicial

2º Força transformadora (complicação/problema)

3º Dinâmica de Ação (ações)

4º Força Equilibrante (equilíbrio)

5º Situação Final (desfecho)

Assim, nesta unidade, você percebeu que:

a) contar histórias faz parte de nossa cultura há muito tempo.

b) as narrativas sofreram mudanças ao longo do tempo, mas sempre exerceram fascínio nas pessoas, para fa-

zer rir, ou chorar, ou apenas para trazer conhecimento. A curiosidade em saber o que aconteceu, com quem,

como, onde e o porquê, sempre fez parte da natureza humana.

c) contar histórias, então, permite-nos criar uma identidade com o outro e faz-nos sentir parte do grupo

social em que vivemos.

Na próxima unidade, voltaremos a estudar as narrativas, abordando seus aspectos linguísticos. Até lá!

Produção Textual

Agora que você já compreendeu o que é narração e que você teve a oportunidade
de ler e analisar os elementos que compõem os textos narrativos e sua estrutura, chegou a

hora de colocar em prática sua capacidade de contar histórias.

Certamente, ao longo da sua vida, você vivenciou algumas situações marcantes. Si-
tuações em que você teve medo, alegria, emoção, incertezas, constrangimento etc. Lem-
bre-se de um desses momentos e conte como ele aconteceu.

Língua Portuguesa e Literatura 153


Seu texto deverá ter em torno de 30 linhas e contemplar os elementos estudados e

a estrutura proposta.

Leve o texto para a sala de aula e mostre ao seu professor e a seus

colegas

Apresentamos algumas questões que poderão nortear a sua escrita. Não se esqueça de fazer o plano do seu

texto, antes de iniciar a produção.

Como esse momento constitui parte da sua história, não tenha medo de utilizar a forma que melhor lhe aprou-

ver e dar o tom e colorido que você quiser. Você pode adotar uma postura mais objetiva, engraçada, dramática etc.

Afinal, o texto é seu!

Orientações para produção de texto narrativo


Que título terá seu texto?

Qual será o foco narrativo? (1ª ou 3ª pessoa?)

Quem participou da história (personagens)?

Quando aconteceu?

Onde aconteceu?

O que aconteceu, qual foi o fato que desencadeou a história?

O que aconteceu como consequência do fato (sequência das ações)?

Como você iniciará o texto?

Como tudo se resolveu?

Como a sua história acabou?

154
Veja ainda

A TV Escola, canal do MEC com programas variados sobre educação, traz a série Salto para o Futuro – Cotidiano,

Imagens e Narrativas, onde debate os cotidianos escolares sob três focos: as diferentes identidades, a educação ecoló-

gica e o uso de artefatos culturais na criação de tecnologias. Vale a pena você assistir a uma das séries.

http://tvescola.mec.gov.br/index.php?option=com_zoo&view=item&item_id=5598

Imagens

  •  Acervo pessoal  •  Sami Souza

• http://www.flickr.com/photos/ana_cotta/2088960357

• http://www.flickr.com/photos/mcdemoura/4462708377

• http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Jesperhus,_dk,_20050820,_16_ubt.jpeg

• http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:HCAndersen.jpeg

  •  http://www.sxc.hu/photo/517386

  •  http://www.sxc.hu/985516_96035528

Língua Portuguesa e Literatura 155


Atividade 1

1. O primeiro texto é uma piada e é contado o momento da entrevista de homem, filho de

um gago, para locutor de rádio. O objetivo do texto é fazer o leitor/ouvinte rir e divertir-se.

2. O acontecimento contado é a Descoberta do Brasil. O relato é feito de uma forma mais

objetiva, com o objetivo comunicativo de informar aos leitores sobre um acontecimento

histórico. Neste texto, não se tem a pretensão de fazer rir, e sim de informar de forma

objetiva o que aconteceu.

Atividade 2

1. A princesa e a ervilha

2. Hans Christian Andersen. (O restante da resposta é pessoal.)

3. Está sendo contada a história de um príncipe que por muito tempo procurou uma prin-

cesa verdadeira. O fato que desencadeia a história é o aparecimento de uma princesa na

casa do príncipe, numa noite de tempestade.

4. O príncipe, a princesa, o rei e a rainha

5. A história é contada por um narrador desconhecido, que não faz parte dela.

6. A história passa-se num tempo distante onde existiam reis, rainhas, príncipes e princesas.

Vemos isso pela própria forma como os personagens são nomeados.

Atividade 3

1. No início do texto, há a apresentação de um dos personagens – o príncipe –, e do seu

problema – não encontrar uma princesa verdadeira para se casar, identificado no trecho

que vai de “Era uma vez (...)” até “queria uma princesa verdadeira.

2. O problema está centrado no fato de o príncipe não encontrar uma princesa verdadeira

para se casar.

156
3. O fato foi a chegada de uma moça que se dizia ser uma princesa à casa do príncipe, numa

noite de tempestade.

4. Apesar do seu estado, a moça afirma ser uma princesa e, para se certificar disso, a rainha

colocou uma ervilha entre todos os cobertores e colchões onde a princesa iria dormir, na ex-

pectativa de que ela pudesse de fato sentir a presença dela. A moça acordou no dia seguinte,

queixando-se de que não conseguira dormir, porque algo a incomodou a noite inteira.

5. O rei, a rainha e o príncipe descobrem, então, que ela era uma princesa verdadeira.

6. No final, o príncipe casa com a princesa e a ervilha vai para o museu.

Atividade 4

Resposta pessoal. Sugerimos que você discuta seu texto com o professor, para que

ele possa avaliá-lo.

Língua Portuguesa e Literatura 157


O que perguntam por aí?

FCC - 2011 - TRE-RN - Técnico Judiciário - Programação de


Sistemas

Rio Grande do Norte: a esquina do continente

Os portugueses tentaram iniciar a colonização em 1535, mas os índios potiguares resistiram e os franceses in-

vadiram. A ocupação portuguesa só se efetivou no final do século, com a fundação do Forte dos Reis Magos e da Vila

de Natal. O clima pouco favorável ao cultivo da cana levou a atividade econômica para a pecuária. O Estado tornou-se

centro de criação de gado para abastecer os Estados vizinhos e começou a ganhar importância a extração do sal –

hoje, o Rio Grande do Norte responde por 95% de todo o sal extraído no país. O petróleo é outra fonte de recursos: é o 

maior produtor nacional de petróleo em terra e o segundo no mar. Os 410 quilômetros de praias garantem um lugar

especial para o turismo na economia estadual.

O litoral oriental compõe o Polo Costa das Dunas - com belas praias, falésias, dunas e o maior cajueiro do mun-

do –, do qual faz parte a capital, Natal. O Polo Costa Branca, no oeste do Estado, é caracterizado pelo contraste: de

um lado, a caatinga; do outro, o mar, com dunas, falésias e quilômetros de praias praticamente desertas. A região é

grande produtora de sal, petróleo e frutas; abriga sítios arqueológicos e até um vulcão extinto, o Pico do Cabugi, em

Angicos. Mossoró é a segunda cidade mais importante. Além da rica história, é conhecida por suas águas termais, pelo

artesanato reunido no mercado São João e pelas salinas.

Caicó, Currais Novos e Açari compõem o chamado Polo do Seridó, dominado pela caatinga e com sítios ar-

queológicos importantes, serras majestosas e cavernas misteriosas. Em Caicó há vários açudes e formações rochosas

naturais que desafiam a imaginação do homem. O turismo de aventura encontra seu espaço no Polo Serrano, cujo

clima ameno e geografia formada por montanhas e grutas atraem os adeptos do ecoturismo.

Outro polo atraente é Agreste/Trairi, com sua sucessão de serras, rochas e lajedos nos 13 municípios que com-

põem a região. Em Santa Cruz, a subida ao Monte Carmelo desvenda toda a beleza do sertão potiguar – em breve, o

Língua Portuguesa e Literatura 159
local vai abrigar um complexo voltado principalmente para o turismo religioso. A vaquejada e o Arraiá do Lampião

são as grandes atrações de Tangará, que oferece ainda um belíssimo panorama no Açude do Trairi.

(Nordeste. 30/10/2010, Encarte no jornal O Estado de S. Paulo).

O texto se estrutura notadamente

a) sob forma narrativa, de início, e descritiva, a seguir, visando a despertar interesse turístico para as atrações

que o Estado oferece.

b) de forma instrucional, como orientação a eventuais viajantes que se disponham a conhecer a região, apre-

sentando-lhes uma ordem preferencial de visitação.

c) com o objetivo de esclarecer alguns aspectos cronológicos do processo histórico de formação do Estado e

de suas bases econômicas, desde a época da colonização.

d) como uma crônica baseada em aspectos históricos, em que se apresentam tópicos que salientam as forma-

ções geográficas do Estado.

e) de maneira dissertativa, em que se discutem as várias divisões regionais do Estado com a finalidade de com-

provar qual delas se apresenta como a mais bela.

Resposta: Letra A

Comentário: O primeiro parágrafo traz um pouco sobre a história do Estado; em seguida, o autor descreve as

belezas naturais do lugar, mostrando ao leitor que se trata de um lugar bastante aprazível para o turismo, como se

pode constatar pelas expressões " atraem os adeptos do ecoturismo. "; "voltado principalmente para o turismo reli-

gioso"; "oferece ainda um belíssimo panorama no Açude do Trairi. "

160 Anexo
ENEM 2010

Resposta: Letra C

Comentário: Embora seja um texto narrativo, porque narra um fato, note que o objetivo do autor - um jorna-

lista - foi o de informar o fato ao leitor, o que justifica a resposta C como correta.

Língua Portuguesa e Literatura 161


Atividade extra
Módulo 1  •  Língua Portuguesa e Literatura  •  Unidade 5
A narração

Questão 1

Romildo gostava de sua escola por causa dos amigos. Lá ia todos os dias para encontrá-los e esquecer, nas

brincadeiras, um pouco da dura vida que a pobreza lhe impunha. Instrução mesmo a sua escola quase não oferecia.

Quando muito, havia professores; e a estrutura física do velho prédio não oferecia um ambiente propício à reflexão,

aos estudos.

Três dias antes do aniversário de Romildo, apareceu um novo garoto pela vizinhança. Ele se mudou para uma

das casas bonitas da Rua do Ramalhete. Não era um daqueles arrogantes da Zona Sul. Tanto que convidou os meninos

da rua, inclusive Romildo e seus amigos para jogar uma pelada na quadra da escola em que estudava.

http://portugueseproducao.blogspot.com.br/2008/03/exemplo-de-texto-narrativo-e.html

Os textos narrativos apresentam elementos que tornam o entendimento de uma história compreensível. Nes-

se texto, por exemplo, Há presença de personagem (Romildo); de foco narrativo é em 3ª. pessoa do discurso; de local

(Rua do Ramalhete); de enredo (episódio ocorrido com Romildo).

Entre os trechos que seguem, a frase que apresenta características narrativas é:

a. O ideal é que todos colaborem, caso contrário, o Brasil continuará sem rumo.

b. Quando ocorreu a explosão, Rodrigo e Juliana estavam na sala.

c. Minha casa tem dois andares, os quartos ficam na parte de cima.

d. Ela tem olhos azuis e cabelos louros, nem parece brasileira.

Língua Portuguesa e Literatura 163
Questão 2

Os dicionários de meu pai

Pouco antes de morrer, meu pai me chamou ao escritório e me entregou um livro de capa preta que eu nunca

havia visto. Era o dicionário analógico de Francisco Ferreira dos Santos Azevedo. Ficava quase escondido, perto dos cinco

grandes volumes do dicionário Caldas Aulete, entre outros livros de consulta que papai mantinha ao alcance da mão numa

estante giratória. Isso pode te servir, foi mais ou menos o que ele então me disse, no seu falar meio grunhido. Era como se

ele,cansado, me passasse um bastão que de alguma forma eu deveria levar adiante. E por um tempo aquele livro me ajudou

no acabamento de romances e letras de canções, sem falar das horas em que eu o folheava à toa; o amor aos dicionários,

para o sérvio Milorad Pavic, autor de romances-enciclopédias, é um traço infantil de caráter de um homem adulto.

http://www.chicobuarque.com.br/texto/artigos/mestre.asp?pg=artigo_piaui_junho.htm

Um texto pode ser organizado sob forma de descrição, narração, exposição, argumentação, por exemplo.

No texto “Os dicionários de meu pai”, qual é modo predominante de organização textual?

Leia os dois sonetos de Olavo Bilac, que fazem parte de um conjunto de poemas chamado "Via Láctea" para

responder às questões 3 e 4.

XII

Sonhei que me esperavas. E, sonhando,


Saí, ansioso por te ver: corria...
E tudo, ao ver-me tão depressa andando,
Soube logo o lugar para onde eu ia.

E tudo me falou, tudo! Escutando


Meus passos, através da ramaria,
Dos despertados pássaros o bando:
"Vai mais depressa! Parabéns!" dizia.

Disse o luar: "Espera! Que eu te sigo:


Quero também beijar as faces dela!"
E disse o aroma: "Vai que eu vou contigo!"
E cheguei. E, ao chegar, disse uma estrela:
"Como és feliz! como és feliz, amigo,
Que de tão perto vais ouvi-la e vê-la!"

164
XIII

Ora (direis) ouvir estrelas! Certo


Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto


A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!


Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!


Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".

http://www.biblio.com.br/defaultz.asp?link=http://www.biblio.com.br/conteudo/OlavoBilac/vialactea.htm

Questão 3

Existe alguma relação de conteúdo entre esses dois poemas? Por quê?

Questão 4

Em qual deles predomina o tipo textual denominado narração? Por quê?

Língua Portuguesa e Literatura 165


Gabarito

Questão 1
A B    C     D

Questão 2

O modo predominante de organização textual é a narração, porque há uma sequência de fatos apresentados, a

presença de um narrador e de personagens, além de referência temporal.

Questão 3

Os poemas fazem referência ao luar, às estrelas, às constelações, à Via-Láctea. Há sentimentalismo em ambos os

textos, sonho, fantasia e diálogos com estrelas.

Questão 4

Ambos são narrativos. Nos dois, há personagem, ação, tempo, espaço.

166
Módulo 1  •  Língua Portuguesa e Literatura  •  Unidade 6

A narração:
os elementos
linguísticos e
tipos de discurso
Para início de conversa...
Na unidade anterior, estudamos a narração: seu conceito, os elementos que a
constituem e sua forma de estruturação.

Vimos também que os textos narrativos estão presentes em nossa vida diária, por
meio das piadas, das notícias, dos contos infantis, das fábulas, dos quadrinhos, das histó-
rias que contamos e ouvimos na rua, dentre outras manifestações.

Além disso, deixamos evidenciado que narrar faz parte da vida do ser humano, que
deixa, por meio de suas histórias, registradas a sua cultura e as suas formas de ver o mundo,
passando, de geração em geração, as manifestações de uma época e de uma sociedade.

Nesta unidade, vamos avançar no estudo dessa forma de expressão cultural e


descobrir como os elementos narrativos - tempo, ambiente, personagens, ações, enredo
- organizam-se e associam-se por meio da linguagem.

Para isso, vamos explorar duas outras manifestações culturais: a lenda e as piadas.
Bom estudo e divirta-se!

Objetivos de aprendizagem
ƒƒ Reconhecer os principais elementos e mecanismos linguísticos que constituem a nar-
ração: verbos, advérbios e expressões adverbiais, indicadores de tempo, sinais de pon-
tuação.

ƒƒ Aplicar os elementos e os mecanismos linguísticos de forma adequada em exercícios


e na produção de textos.

Língua Portuguesa e Literatura 167


Seção 1
Os elementos linguísticos e o texto narrativo

Para definirmos o que entendemos por elementos linguísticos e qual sua função, vamos nos colocar numa

situação concreta e que faz parte da nossa vida.

Começamos a escrever um texto e de repente nos deparamos com questões, tais como:

Que palavras é melhor eu usar? Que termos eu posso usar para não ficar repetindo sempre as mesmas palavras? É melhor eu
usar ponto ou vírgula nessa parte? Que expressões eu posso usar para unir uma frase à outra e um parágrafo ao outro para dar
sequência ao texto?

Figura 1: Escrevendo...

Pois bem, questões como estas remetem exatamente ao que chamamos de elementos linguísticos e à noção

de que palavras, frases, sinais de pontuação etc., precisam ser utilizados adequadamente e conectados entre si para

que o texto que construímos tenha sentido e seja coerente.

Para entendermos isso melhor ainda, podemos fazer uma comparação com uma construção de um prédio.

Este só vai existir a partir do momento em que tivermos um projeto e materiais à disposição (tijolo, madeira, ferro

etc.), e que se unem para dar forma ao que foi projetado. Para estabelecermos a ligação, a fusão destes materiais entre

168
si, precisamos de elementos que os juntem, unam de forma sólida e adequada. Nesse caso, o cimento é um desses

elementos de ligação.

No caso dos textos, ocorre o mesmo processo. Para se ter um texto, é necessário um projeto e matéria-prima

para sua construção – as palavras, as frases, os sinais de linguagem, a pontuação, que se juntam, unem, articulam para

dar forma aos textos.

Isso acontece com todos os tipos de texto e com o texto narrativo não poderia ser diferente. Contudo, cada

tipo de texto tem suas especificidades, quanto ao uso e junção dos seus elementos linguísticos.

E é sobre as especificidades do texto narrativo que iremos tratar nesta unidade.

Para iniciarmos o nosso trabalho de exploração desses elementos específicos do

texto narrativo, propomos a leitura do texto A Vitória Régia, que é uma lenda indígena que

explica o surgimento da vitória régia, uma planta natural da Amazônia.

As lendas são narrativas de natureza fantasiosa e fictícia, transmitidas pela


tradição oral aos povos ao longo do tempo. As lendas contam histórias pela
combinação da realidade e da imaginação. Podemos dizer que elas têm sua
origem nos mitos e apresentam explicações para fenômenos e acontecimen-
tos misteriosos e sobrenaturais para os quais não se tem explicações científicas
comprovadas. As lendas integram o folclore de um povo e acabam tendo for-
tes componentes regionais. No Brasil, algumas das lendas e mitos folclóricos
mais conhecidos são a do Saci-Pererê, do Boitatá, da Mula-sem-cabeça.

Figura 2: Uma flor da vitória-régia

Língua Portuguesa e Literatura 169


A Vitória-Régia
01 Corre entre o povo da Amazônia uma história muito contada pelos

02 pajés tupis-guaranis.

03 Eles diziam que, no início dos tempos, a Lua escondia-se no hori-

04 zonte para viver com suas virgens prediletas. Contavam também que, se

05 a Lua gostasse de uma jovem, imediatamente a transformava em uma es-

06 trela do Céu.

07 A filha de um chefe e princesa da tribo, chamada Naiá, sempre fi-

08 cava muito impressionada com a história que era contada. Durante mui-

09 to tempo, todas as noites, quando todos dormiam e a Lua andava pelo

10 céu, ela, subia as colinas e perseguia a Lua na esperança que esta a visse e

11 transformasse-a em estrela. Porém, a Lua parecia não notá-la e Naiá chora-

12 va e seus soluços de tristeza podiam ser ouvidos ao longe.

13 Certa noite, a índia viu, nas águas límpidas de um lago, a figura da

14 Lua. A pobre moça, imaginando que a Lua havia chegado para buscá-la,

15 atirou-se nas águas profundas do lago e nunca mais foi vista.

16 A Lua quis recompensar o sacrifício da bela jovem e resolveu trans-

17 formá-la em uma estrela diferente. Transformou-a então numa “Estrela das

18 Águas”, que é conhecida como a planta Vitória Régia, que tem flores per-

19 fumadas e brancas que só se abrem à noite.


Texto adaptado http://www.fabulasecontos.com.br/?pg=descricao&id=188

1. A expressão “ela” (linha 10) aponta para que personagem da história?

2. O termo “eles” (linha 03) refere-se a que outro personagem da história?

3. Associe os personagens com as ações por eles realizadas.

a. pajés tupis-guaranis

b. Lua

c. Naiá

(  ) ficava

(  ) diziam

170
(  ) andava

(  )  se escondia

(  )  a transformava

(  ) contavam

(  ) subia

(  ) perseguia

(  ) chorava

4. a. Retire do texto as expressões presentes no 3º parágrafo que situam no tempo as

ações dos personagens:

a.1:  “ficava muito impressionada”.

a.2:   “ela subia as colinas e perseguia a Lua na esperança de que esta a visse e a trans-

formasse em estrela”.

b. As expressões que você retirou do texto indicam que as ações dos personagens

se repetiram várias vezes ao longo do tempo ou aconteceram uma única vez

num determinado dia?

5. No 4º e 5º parágrafos, são utilizados os verbos viu, atirou, foi (vista), quis, resolveu, trans-

formou.

a. Que tempo eles indicam: presente, passado ou futuro?

b. Com que expressões de tempo eles estão associados?

c. Os verbos mencionados e as expressões de tempo utilizadas indicam que as ações

dos personagens repetiram-se várias vezes ou aconteceram uma única vez?

Língua Portuguesa e Literatura 171


Pelo que foi solicitado nas questões, você deve ter percebido que existem palavras e expressões que predomi-

nam no texto narrativo.

Vamos, nas próximas seções, apresentar cada um desses elementos e sua associação com os elementos da

narração.

Seção 2
Os substantivos e pronomes

Conhecemos os personagens numa narração a partir da forma como os nomeamos e como os retomamos no

texto. Fazemos isso, utilizando o que, na gramática, chamamos de substantivos e pronomes. Na lenda sobre a vitória

régia, na atividade anterior, aparecem palavras, como: Naiá, moça, pajés, Lua que são consideradas substantivos e têm

a função de nomear os personagens do texto.

Quando precisamos retomar ou referir-nos a eles, sem termos de usar os seus nomes, podemos utilizar os

pronomes. O pronome ela (linha 10), por exemplo, retoma a personagem Naiá; o pronome eles (linha 03) retoma os

pajés tupi-guaranis.

Definindo esses elementos, temos, então que:

ƒƒ Substantivos são palavras que nomeiam os seres. Estes seres podem ser pessoas, perso-

nagens, objetos, lugares, sentimentos, etc.

ƒƒ Pronomes são palavras que retomam ou referem-se a outros termos já mencionados no texto.

Os pronomes referem-se sempre às pessoas do discurso, ou seja,

ƒƒ quem fala (eu, nós);

ƒƒ para quem se fala (tu, vós);

ƒƒ e de quem ou do que se fala (ele, eles, ela, elas).

172
Estes são os chamados pronomes pessoais retos: Eu, tu, ele, nós , vós, eles.

Aos pronomes pessoais, associam-se outras formas de pronomes, como os pronomes possessivos que indicam

posse. Por exemplo, quando dizemos: “Este é meu caderno”, a palavra meu é um pronome que indica de quem é a

posse desse material.

E quando dizemos: “Fazia muito tempo que não via a Carla. Outro dia a encontrei, sem querer, no shopping”, o

termo destacado – a – é um pronome e indica que eu encontrei alguém e este alguém foi a Carla.

No quadro a seguir, apresentamos essas formas.

Eu Meu(s), minha(s), me, mim, comigo

Tu Teu(s), tua(s), te, ti, contigo

Ele/ela Seu(s), sua(s), dele, dela, se, consigo

Nós Nosso(s), nossa(s), nos, conosco

Vós Vosso(s), vossa(s), vos, convosco

Eles/Elas Seu(s), sua(s), deles, delas, se, consigo

Além dos pronomes pessoais, existem também outros tipos de pronomes:

ƒƒ os pronomes demonstrativos – este(s), esta(s), aquele(s), aquela(s), isso, isto

ƒƒ os pronomes de tratamento - Vossa Senhoria, Senhor, Vossa Excelência

ƒƒ os pronomes relativos – que, qual, quais, cujo(s), cuj(a), onde etc.

ƒƒ os pronomes interrogativos – quem? Onde? Qual? Quando? etc.

ƒƒ os pronomes indefinidos: tudo, nada, ninguém, todos, alguém, etc.


Se você estiver interessado em se aprofundar no assunto, consulte uma Gramática ou um site, como
http://www.brasilescola.com/gramatica/

Língua Portuguesa e Literatura 173


No trecho da lenda urbana O homem do saco, retire os pronomes pessoais e indi-

que a qual outro(s) termo(s) do texto eles se referem.

"Esta é uma lenda surgida entre os mendigos que vagam em todas as cidades. As

mães contam-na para assustar os seus filhos malcriados que saem para brincar sozinhos

na rua. De acordo com ela, um velho malvestido e com um enorme saco de pano nas cos-

tas anda pela cidade, levando embora as crianças que fazem “arte”. Há ainda versões mais

detalhadas em que o velho (mendigo ou cigano) leva as crianças para sua casa e lá faz

sabonetes e botões com elas."

(http://blog.maisestudo.com.br - texto adaptado)

Por exemplo: veja que, na frase: “As mães contam-na...” aparece o pronome “a”, que se

refere ao substantivo “lenda”. Assim:

(n)a (contam) – o “a” refere-se à lenda.

Agora é a sua vez. Busque os outros pronomes conforme o exemplo.

Para finalizar esta seção, é importante ressaltar que o uso dos substantivos e dos pronomes é de fundamental

importância no texto narrativo, na medida em que, por meio deles, sabemos quem são os personagens e como eles

podem ser retomados ou mencionados no texto.

Seção 3
Os verbos e os tempos verbais

Agora que já vimos que podemos identificar os personagens num texto, por meio do uso dos substantivos e

dos pronomes, vamos explorar como as ações que constituem o enredo de um texto efetivam-se.

174
Estas ações são conhecidas pelo leitor a partir do uso dos verbos e num tempo específico: o passado.

Mas o que são verbos afinal?

Os verbos são palavras que indicam:

ƒƒ - ações feitas ou sofridas por alguém (correr, passear etc.) Ex.: Ele corre muito.

ƒƒ - fenômenos da natureza (chover, nevar, ventar etc.) Ex.: Choveu ontem.

ƒƒ - estados (ser, estar). Ex.: Ela está feliz.

ƒƒ - mudanças de estado (ficar, tornar-se). Ex.: Ele ficou chateado.

Os verbos são termos essenciais nos enunciados. E no caso do texto narrativo, especialmente os verbos de

ação, são fundamentais para o estabelecimento da progressão da história e constituição do enredo.

E como saber em que tempo essas ações, fenômenos e estados aconteceram ou acontecerão?

É fácil! É só olhar o verbo e ver o tempo que a palavra mostra. Por exemplo, na frase: “Ela foi ao lago” – A forma

do verbo mostra que o tempo verbal é passado (pretérito). Se fosse: “Ela irá ao lago” – A forma do verbo mostraria que

é futuro.

Veja agora como, no texto A Vitória Régia, o verbo transformar indica uma ação e assume diversas formas:

“transformava” (linha 04), “transformá-la” (linha 14) e “transformou” (linha 14). As modificações no verbo servem para

mostrar o tempo em que a ação de “transformar” aconteceu.

Para saber mais e ampliar o estudo sobre os Verbos e tempos verbais, consulte uma gramática. Suge-
rimos:

Nossa gramática completa Sacconi: teoria e prática. Luiz Antonio Sacconi. Editora Nova Geração.

Gramática reflexiva: texto, semântica e interação. CEREJA & MAGALHÃES. São Paulo: Atual, 1999.

Gramática: teoria e exercícios. PASCHOALIN & SPADOTO. São Paulo: FTD, 2008.

Nesta unidade, vamos explorar os verbos no pretérito, pois eles são a grande marca do texto narrativo. Isso não

significa que os outros tempos e formas verbais não estejam presentes no texto narrativo. Contudo é nos pretéritos

que está a ênfase deste tipo de texto, já que só se conta aquilo que já aconteceu, não é? Mesmo quando inventamos

uma história, ela já aconteceu em nossa imaginação. Daí, nas narrativas, predominarem os verbos no pretérito.

Língua Portuguesa e Literatura 175


Você lembra que existem diversos pretéritos: perfeito, imperfeito e mais-que-perfeito)? Por que será?

Bom, primeiro isso se justifica porque nem tudo aconteceu no passado num mesmo tempo. Veja os exemplos:

1. Certa noite, a índia viu, nas águas límpidas de um lago, a figura da Lua.

Aqui, a ação de ver ocorreu num determinado momento bem determinado do passado.

Quando apontamos ações, fenômenos e estados acontecidos em um determinado momento no pas-


sado e que só se realizaram de uma determinada forma uma única vez, temos o que chamamos de
pretérito perfeito.

2. Os pajés tupis-guaranis diziam que, no início dos tempos, a Lua escondia-se no horizonte.

Aqui, o narrador conta algo que acontecia no passado rotineiramente sem determinar um momento exato

em que ocorreu.

Quando queremos marcar ações que se repetiam ou eram rotina no passado, usamos o pretérito im-
perfeito.

3. A pobre moça, imaginando que a Lua havia chegado (chegara) para buscá-la, atirou-se nas águas profun-

das do lago.

Neste trecho, tem-se como sequência dos fatos no tempo: 1º) a imaginação da índia, quanto à chegada da

Lua, e 2º) a ação de ela atirar-se no lago. Ou seja, ela se atirou no lago porque acreditou que a Lua havia
chegado para buscá-la.

Se quisermos marcar que uma ação no passado ocorreu antes de outra também no passado, temos o
pretérito mais-que-perfeito.

176
O uso adequado dos pretéritos no texto narrativo é fundamental, pois é por meio deles que sabemos:

ƒƒ como era o ambiente onde a história aconteceu;

ƒƒ como era a rotina e o estado dos personagens;

ƒƒ o que aconteceu e em que sequência.

No primeiro caso, para a contextualização da história – caracterização do tempo, do espaço, do estado e rotinas

dos personagens, o pretérito imperfeito é o tempo verbal apropriado. O pretérito imperfeito está presente nas descri-

ções que funcionam como o pano de fundo para o que está sendo contado. O trecho “Eles diziam que, no início dos

tempos, a Lua escondia-se no horizonte para viver com suas virgens prediletas.” exemplifica isso.

Já, para conhecermos a sequência das ações na narrativa, o pretérito perfeito e o mais-que-perfeito são essenciais

porque eles determinam a ordem que essas ações aconteceram no passado.

O pretérito perfeito e o pretérito mais-que-perfeito marcam a progressão da história – ou seja, constituem o

próprio exercício narrativo. Vemos isso no trecho:

Certa noite, a índia viu (...) a figura da Lua. A pobre moça, imaginando que a Lua havia chegado para buscá-la,

atirou-se nas águas profundas do lago.

Preencha as lacunas das fábulas a seguir com os verbos entre parênteses no preté-

rito (perfeito, imperfeito ou mais-que-perfeito) adequadamente. Observe a utilização dos

pretéritos para estabelecer a contextualização e sequência das ações da história e a con-

cordância verbal adequada.

O cão e a ovelha

Um cão .............-se (por) a discutir com uma ovelha, dizendo que lhe ..............(haver)

emprestado um belo osso para evitar que morresse de fome. A ovelha ........................ (respon-

der) que nunca lhe ..................... (pedir) emprestada coisa alguma, e ainda menos ossos, pois

nem seus dentes nem seu estômago................... (aceitar) este tipo de alimento, pois .........

(ser) herbívora e não carnívora.

Mas, pobre dela! O cão .................. (achar) como testemunha um lobo, um urubu e

um gavião. Os três se .............................(associar) ao cão e .......................( jurar) ter visto a ovelha

receber o osso do cão e .........................(afirmar) que a ................. (ver) roê-lo faminta. Com esse

testemunho, ela, então, .................(ser) condenada.

Língua Portuguesa e Literatura 177


MORAL: Por mais razão que tenhas, fuja de brigas; contra o pobre, o rico e o podero-

so nunca falta apoio de testemunhas corruptas capazes de tudo.

http://www.fabulasecontos.com.br/ Texto adaptado

Seção 4
As expressões temporais (advérbios e
expressões adverbiais)

Vamos avançar, agora, nas formas de articulação dos fatos numa história.

Para podermos marcar a articulação entre as partes de uma história e constituir o enredo e a sequenciação das

ações no texto, é necessário que utilizemos palavras e expressões que indiquem as circunstâncias em que ocorreram

as ações. A essas palavras e expressões chamamos de ADVÉRBIOS e EXPRESSÕES ADVERBIAIS. Elas podem atribuir

noções de tempo, de modo, de lugar, intensidade às ações e fatos que estamos contando. Veja, por exemplo:

ƒƒ Advérbios de Tempo: cedo, tarde, no início da manhã, no final, sempre, nunca etc.

ƒƒ Advérbios de Modo: Calmamente, nervosamente, ansiosamente, rapidamente etc.

ƒƒ Advérbios de Lugar: ao longe, perto, em cima, no horizonte, lá, aqui etc.

ƒƒ Advérbios de Intensidade: muito, pouco, demais, bastante

Para exemplificar melhor, vamos retomar o texto A Vitória Régia e as respostas que você deu às questões. Você

viu que, no segundo e terceiro parágrafos do texto, foram usados predominantemente verbos no pretérito imperfei-

to – diziam, contavam, escondia, dormiam, subia – e associados a eles havia expressões como: no início dos tempos do

mundo, sempre, quando todos dormiam, todas as noites, durante muito tempo.

178
Pois bem! Estas expressões indicam uma duração de tempo mais longa e que abrange períodos de tempo

maiores.

Quando, no entanto, iniciamos o relato dos fatos propriamente dito com a utilização dos verbos no pretérito

perfeito – viu, quis, resolveu, transformou – as expressões que se associam para dar conta disso são aquelas que indi-

cam tempos mais exatos, pontuais e que indicam uma duração menor no tempo – certa noite, então.

Todas essas palavras e expressões são advérbios e expressões adverbiais. Veja outros (as) no texto: no horizonte,

ao longe, sempre, no início dos tempos, quando todos dormiam...

Para aplicar as noções até aqui construídas sobre os verbos e as expressões adver-

biais, a seguir você encontra uma versão popular da lenda O Negrinho do Pastoreio, cujas

partes foram tiradas da ordem original.

Cabe a você, depois de ler cada uma das partes, reconstituir a ordem do texto de forma

correta, numerando-as de 1 a 7. Observe as palavras que estabelecem a conexão entre cada

uma das partes e a sequenciação do texto e sublinhe aquelas que você julga terem essa função.

(  ) Num dia de inverno, fazia muito frio e o fazendeiro mandou que um menino

negro de quatorze anos fosse pastorear cavalos e potros recém-comprados.

(  ) Na volta à estância, o patrão, ainda mais irritado, espancou o garoto e amar-

rou-o, nu, sobre um formigueiro.

O Negrinho do Pastoreio é uma lenda com origem africana e cristã.


Ela foi muito contada no final do século passado pelos brasileiros que
defendiam o fim da escravidão. É muito popular no sul do Brasil. Sua
origem data do final do século XIX e nasceu no Rio Grande do Sul.

Língua Portuguesa e Literatura 179


(  ) Ao lado dele, a Virgem Nossa Senhora e, mais adiante, o baio e os outros cava-

los. O estancieiro jogou-se no chão pedindo perdão, mas o negrinho nada res-

pondeu. Apenas beijou a mão da Santa, montou no baio e partiu, conduzindo

a tropilha.

(  ) No dia seguinte, quando ele foi ver o estado de sua vítima, ficou extremamen-

te assustado. O menino estava lá de pé, com a pele sem nenhuma marca das

chicotadas.

(  ) No final do tarde, quando o menino voltou, o estancieiro disse que faltava um

cavalo baio. Pegou o chicote e deu uma surra tão grande no menino que ele

ficou sangrando. Forçou, então, o menino a resgatar o cavalo. Muito preocupa-

do, ele foi à procura do animal.

(  ) Nos tempos da escravidão, havia um estancieiro malvado que gostava de mal-

tratar os negros e os peões que viviam na fazenda.

(  ) Em pouco tempo, achou-o pastando. Laçou-o, mas a corda partiu-se e o cavalo

fugiu de novo.

Seção 5
Os Discursos na Narração

Você lembra que, na unidade anterior, mencionamos que o narrador escolhe a forma como quer fazer chegar

a história ao leitor-ouvinte? Pois bem, ele faz isso pela utilização dos discursos, ou seja, pela forma como apresenta as

falas e pensamentos das personagens.

Vamos ler uma adaptação de uma piada bem conhecida e ver como isso acontece.

180
Bancando os espertos

Num determinado dia, dois meninos foram ao

campo e, por um valor irrisório, compraram um porco

de um velho camponês. O homem combinou entre-

gar-lhes o animal no dia seguinte. Mas, quando eles

voltaram para levar o porco, o camponês lhes disse:

— Eu lamento muito, mas tenho uma má no-

tícia. O porco já era. Ele morreu ontem.

— Então, por favor, devolva-nos o dinheiro!

— Não posso, já gastei todo o dinheiro.

— Não importa, de qualquer forma, queremos o porco.

— E para que o querem? O que vão fazer com ele?

— Nós vamos fazer uma rifa com ele.

— Estão loucos? Como vão rifar um porco morto?

— É evidente que não vamos dizer a ninguém que ele está morto.

Algum tempo passou-se e o camponês encontrou-se novamente com os garotos e perguntou-lhes:

— E então, o que aconteceu com o porco?

— Como já lhe dissemos, rifamos o porco. Vendemos muitos números a 5 reais cada e arrecadamos o triplo do

dinheiro que pagamos ao senhor.

— E ninguém se queixou?

— Só o ganhador, porém lhe devolvemos os 5 reais e tudo foi resolvido.

(Texto elaborado especialmente para este material)

Língua Portuguesa e Literatura 181


As piadas são textos narrativos curtos que contam fatos e acontecimentos engraçados, envolvendo
situações de mal-entendidos, de não entendimento de certos raciocínios e lógicas, de percepções
ingênuas sobre a realidade; enfim, situações que envolvem a natureza humana e as peculiaridades
dos diversos tipos humanos. Nesse sentido, há piadas para todos os gostos e envolvendo os mais
diversos grupos humanos: de loiras, de escola, do Joãozinho, de sogras, de portugueses etc. As pia-
das têm o objetivo de divertir e fazer rir.

Na mesma direção, encontram-se as anedotas, com a diferença de que estas últimas normalmente
são mais extensas e trazem algum ensinamento.

Para conhecer mais sobre a diversidade de piadas que existem, consulte os sites:

www.piadas.com.br

www.piadasnet.com

www.piadasdodia.com.br

piadasantigasenovas.blogspot.com

Responda às questões:

1. Que história é contada na piada?

2. Como ficamos sabendo o que aconteceu com o porco? Pela voz do narrador ou do(s)

próprio(s) personagen(s)?

No texto analisado, temos uma história de dois meninos que, após serem enganados por um velho camponês,

elaboram um plano para tirar vantagem da situação. A história passa-se no campo (ambiente, lugar). O narrador não

participa da história, mas contextualiza as ações dos personagens, que, por meio das suas falas, acabam levando o

leitor a saber o que aconteceu com eles.

A utilização do discurso a que chamamos de direto, onde aparecem as falas das personagens, é uma forma de

contar histórias que é muito frequente em piadas, anedotas, crônicas, testemunhos e depoimentos.

Mas existem outros tipos de discurso e que são utilizados de acordo com a adequação à situação e objetivos

que se tem.

Eles podem ser de três tipos: direto, indireto e indireto livre.

182
a. discurso direto: é aquele em que o narrador passa a palavra aos personagens. Assim, o próprio persona-

gem, diante de leitores ou ouvintes, apresenta-se, com sua linguagem, suas emoções, sua personalida-

de. Foi o que vimos na piada Bancando os espertos, onde, conforme já dito, os personagens – os meninos

– pela sua voz associada ao do narrador, contam o que aconteceu e como saíram ganhando da situação.

Neste tipo de discurso, aparecem os famosos verbos “dicendi”, que introduzem ou seguem a fala dos

personagens. São alguns deles: dizer, perguntar, reclamar, afirmar, declarar etc.

b. discurso indireto: é aquele em que o narrador como que traduz a fala ou o pensamento do personagem.

A preocupação do narrador não é apresentar como o personagem disse as coisas, mas apenas o que foi

dito. Nesse caso, o vocabulário próprio do personagem, suas emoções ficam de fora.

Como exemplo, temos “Os meninos contaram que tinham feito a rifa e que conseguiram lucrar com ela.”

Nesse caso, o narrador toma as palavras dos meninos e reproduz-as de forma direta e objetiva.

c. discurso indireto livre: é aquele em que se mistura o discurso do narrador e a fala ou pensamento do

personagem. Por isso, encontramos nesse discurso algumas características das personagem, seu voca-

bulário e emoções.

Para exemplificar, vamos tomar o seguinte trecho:

Eduardo saiu de casa sem saber como deveria agir. Estava extremamente ansioso pelo encontro com sua ex-

-namorada. Meu Deus! Quanto tempo se passou! Será que ela vai ainda me achar atraente? Enquanto caminhava, ia

relembrando o quanto fora feliz com aquela mulher...,

Neste exemplo, percebe-se, nas frases em destaque, a presença do discurso do personagem, que manifesta sua

emoção e ansiedade com o encontro com sua ex-namorada. Esses sentimentos não são contados pelo narrador e sim,

pelo próprio personagem. Vemos isso no uso da expressão Meu Deus e pela pergunta que Eduardo faz a si mesmo.

Seção 6
A pontuação nos discursos das narrativas

Para estruturação desses discursos, os sinais de pontuação são essenciais. Vamos aprender como utilizá-los?

No caso do discurso direto, onde aparecem as falas dos personagens, o uso dos travessões, dos dois pontos,

das interrogações e exclamações são fundamentais e têm uma função de articulação e construção de sequência e de

sentido. Nesse sentido, deixam de ser vistos apenas como sinais formais de transcrição da fala.

Língua Portuguesa e Literatura 183


O travessão ( - )

Tem a função de indicar a fala do personagem ou a mudança de interlocutor no diálogo. Por exemplo:

“Algum tempo passou-se e o camponês encontrou-se novamente com os garotos e perguntou-lhes:

– E então, o que aconteceu com o porco?”

Além disso, pode servir para colocar em evidência palavras, expressões e frases. Um exemplo disso pode ser

visto em “O acidente – e que acidente! – deixou muitos mortos e vários feridos.”

Os dois pontos (:)

São usados para anunciar:

1. a fala dos personagens numa narrativa.

Exemplo:

“... o camponês disse-lhes:

- Lamento muito, mas tenho uma má notícia: o porco já era. Ele morreu ontem.”

2. uma enumeração.

Exemplo:

"Foi ao supermercado e comprou os seguintes produtos: farinha, chocolate, carne, verduras etc."

3. uma citação.

Exemplo:

"Nunca consegui esquecer do verso do famoso escritor Camões : “o amor é fogo que arde sem doer”.

Os pontos de interrogação (?) e de exclamação (!)

São sinais que marcam a expressividade no texto. O ponto de interrogação tem a função de marcar perguntas

e questionamentos; os de exclamação marcam a manifestação de admiração, espanto, alegria, emoção dos interlo-

cutores.

184
Exemplo:

“– Estão loucos? Como vão rifar um porco morto?”

– “ Não acredito! Vocês esqueceram meu aniversário!”

– “Socorro!”

Vamos tentar exercitar o uso desses sinais de pontuação?

Foram retirados os sinais de pontuação dos textos a seguir e cabe a você reescrevê-

-los, em seu caderno, colocando os sinais de pontuação (ponto final, travessão, dois pontos,
6
pontos de interrogação e exclamação) adequados para a construção do sentido. Não se

esqueça de utilizar as letras maiúsculas no início de cada frase.

Texto 1

Dois amigos encontram-se depois de muito anos e um deles fala casei separei e já

fizemos a partilha dos bens o outro amigo pergunta e as crianças prontamente o primeiro

disse o juiz decidiu que ficariam com aquele que mais bens recebeu sem titubear o amigo

pergunta então ficaram com a mãe o amigo separado exclama não, ficaram com nosso

advogado.

Texto 2

Um homem e uma bonita mulher estavam jantando à luz de velas num restaurante

de luxo de repente o garçom notou que o homem escorregava lentamente para debaixo

da mesa a mulher parecia não reparar que o companheiro tinha desaparecido perdão, se-

nhora disse o garçom mas eu acho que seu marido está debaixo da mesa a mulher res-

ponde não está não e olhando calmamente para o garçom afirma meu marido acabou de

entrar no restaurante.

Produção de texto

Nesta unidade, você teve a oportunidade de estudar mais sobre diferentes gêneros

que se utilizam da narração, como as lendas e as piadas. Estes gêneros também integram e

expressam diversas formas culturais e fazem parte do nosso dia a dia.

Língua Portuguesa e Literatura 185


Agora é sua vez de manifestar um pouco da sua cultura. Escolha um fato folclórico,

misterioso ou sobrenatural que seus pais, avós, tios ou idosos da sua comunidade e região
6 contavam, e contam ainda hoje, e elabore um texto narrativo relatando esses fatos.

Não se esqueça de estruturar seu texto de acordo com o que se estudou e de utilizar

os verbos, as expressões temporais, a pontuação de forma adequada. Faça um plano de

texto, antes de iniciar a escrita. Insira a fala dos personagens, utilizando discurso direto para

dar vivacidade e colorido à narrativa.

Seu texto deve ter em torno de 30 linhas.

Bom trabalho!

Veja ainda

1. As lendas fazem parte de nossa cultura. Conheça outras histórias de nosso folclore. Pesquise em:

ƒƒ http://www.suapesquisa.com/mitos/

ƒƒ http://www.fabulasecontos.com.br/?pg=descricao&id=188

ƒƒ www.brasilfolclore.hpg.ig.com.br/lendas.htm

2. Você já ouviu falar das lendas urbanas, que “povoam” o imaginário das cidades, passadas de boca em boca.

São situações de suspense e de horror, quase sempre.

São histórias que ouvimos de um amigo, que ouviu de outro amigo que...

186
Pesquise:

ƒƒ www.mrmalas.com/lendas;

ƒƒ vultosnanoite.vilabol.uol.com.br/lendas.htm 

Referências

Imagens

  •  Acervo pessoal  •  Sami Souza

  •  http://www.sxc.hu/photo/492145

  •  http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Vit%C3%B3ria_R%C3%A9gia.jpg

  •  Autor: jakared.http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Negrinhodopastoreio.jpg

  •  http://www.sxc.hu/photo/1344320

  •  http://www.sxc.hu/photo/517386

Língua Portuguesa e Literatura 187


Atividade 1

1. A expressão “ela” (linha 10) aponta para que personagem da história?

“Ela” - refere-se à Naiá.

2. O termo “eles” (linha 03) refere-se a que outro personagem da história?

“Eles” - refere-se aos pajés tupis-guaranis.

3.

a. pajés tupis-guaranis

b. Lua

c. Naiá

( c )  ficava

( a )  diziam

( b )  andava

( b )  se escondia

( b )  a transformava

( a )  contavam

( c )  subia

( c )  perseguia

( c )  chorava

4.

a. ..Sempre................................... “ficava muito impressionada”. (linhas 06 e 07)

Durante muito tempo, todas as noites, quando todos dormiam “ela subia as co-

linas e perseguia a Lua na esperança de que esta a visse e a transformasse em

estrela”. (linhas 07,08 e 09)

b. ( x )  repetiram-se várias vezes ao longo do tempo.

188
5.

a. (  ) Presente ( x )  Passado (  )  Futuro

b. Com que expressões de tempo eles estão associados?

Viu – atirou - quis- resolveu - Certa noite

foi (vista) - nunca mais

transformou - então

c. ( x )  aconteceram uma única vez.

Atividade 2

Esta é uma lenda surgida entre os mendigos que vagam em todas as cidades. As
mães contam-na para assustar os seus filhos malcriados que saem para brincar sozinhos
na rua. De acordo com ela, um velho malvestido e com um enorme saco de pano nas cos-
tas anda pela cidade, levando embora as crianças que fazem “arte”. Há ainda versões mais
detalhadas em que o velho (mendigo ou cigano) leva as crianças para sua casa e lá faz
sabonetes e botões com elas.

(n)a (contam) – a lenda

seus (filhos) – da mãe

(com) ela – com a lenda

sua (casa) – do velho

(com ) elas – as crianças

Atividade 3

O cão e a ovelha.

Um cão pôs- se a discutir com uma ovelha, dizendo que lhe havia emprestado um

belo osso para evitar que morresse de fome. A ovelha respondeu que nunca lhe pedira

emprestada coisa alguma, e ainda menos ossos, pois nem seus dentes nem seu estômago

aceitavam este tipo de alimento, pois era herbívora e não carnívora.

Língua Portuguesa e Literatura 189


Mas, pobre dela! O cão achou como testemunha um lobo, um urubu e um gavião.

Os três se associaram ao cão e juraram ter visto a ovelha receber o osso do cão e afirmaram

que a viram roê-lo faminta. Com esse testemunho, ela, então, foi condenada.

Atividade 4

Ordenação dos parágrafos do texto: 2, 5, 7, 6, 3, 1, 4

Texto: O Negrinho do Pastoreio

Nos tempos da escravidão, havia um estancieiro malvado que gostava de maltratar

os negros e os peões que viviam na fazenda.

Num dia de inverno, fazia muito frio e o fazendeiro mandou que um menino negro

de quatorze anos fosse pastorear cavalos e potros recém-comprados.

No final do tarde, quando o menino voltou, o estancieiro disse que faltava um cava-

lo baio. Pegou o chicote e deu uma surra tão grande no menino que ele ficou sangrando.

Forçou, então, o menino a resgatar o cavalo. Muito preocupado, ele foi à procura do animal.

Em pouco tempo, achou-o pastando. Laçou-o, mas a corda se partiu e o cavalo fugiu

de novo.

Na volta à estância, o patrão, ainda mais irritado, espancou o garoto e o amarrou, nu,

sobre um formigueiro.

No dia seguinte, quando ele foi ver o estado de sua vítima, ficou extremamente as-

sustado. O menino estava lá de pé, com a pele sem nenhuma marca das chicotadas.

Ao lado dele, a Virgem Nossa Senhora, e mais adiante o baio e os outros cavalos. O

estancieiro se jogou no chão pedindo perdão, mas o negrinho nada respondeu. Apenas

beijou a mão da Santa, montou no baio e partiu conduzindo a tropilha.

Texto adaptado http://www.fabulasecontos.com.br/?pg=descricao&id=188

Atividade 5

Responda às questões:

1. A história é a de dois meninos que, depois de enganados por um velho camponês na

compra de um porco, resolvem rifá-lo mesmo estando morto.

190
2. Tomamos conhecimento do que aconteceu com o porco por meio da fala dos persona-
gens . Sabemos que o porco morreu quando o velho camponês fala :..o porco já era. Ele
morreu ontem à noite.) e que o porco foi rifado quando os meninos dizem: como já lhe

dissemos, rifamos o porco.

Atividade 6

Resposta Pessoal. Sugerimos que você peça ao seu professor para avaliar o seu texto.

Texto 1

Dois amigos encontram-se depois de muito anos e um deles fala:

— Casei, separei e já fizemos a partilha dos bens.

O outro amigo pergunta:

— E as crianças?

Prontamente, o primeiro diz:

— O juiz decidiu que ficariam com aquele que mais bens recebeu.

Sem titubear o amigo pergunta:

— Então ficaram com a mãe?

O amigo que iniciou a conversa exclama:

— Não, ficaram com nosso advogado!

http://www.piadasnet.com/piada1938curtas.htm (texto adaptado)

Texto 2

Um homem e uma bonita mulher estavam jantando à luz de velas num restaurante
de luxo. De repente o garçom notou que o homem escorregava lentamente para debaixo
da mesa. A mulher parecia não reparar que o companheiro tinha desaparecido.

Língua Portuguesa e Literatura 191


— Perdão, senhora - disse o garçom -, mas eu acho que seu marido está debaixo da mesa.

A mulher responde:

— Não está não!

E olhando calmamente para o garçom afirma:

— Meu marido acabou de entrar no restaurante.

http://www.piadasnet.com/ (texto adaptado)

192
O que perguntam por aí?

ENEM 2010

Língua Portuguesa e Literatura 193
Resposta: Letra E

Comentário: As biografias também são textos narrativos.

Resposta: Letra E

Comentário: O uso correto dos conectivos é fundamental para a coesão de um texto.

194 Anexo
Atividade extra
Módulo 1  •  Língua Portuguesa e Literatura  •  Unidade 6
A narração: os elementos linguísticos e tipos de discurso

Leia os textos para responder às questões 1 e 2

Perto do coração selvagem


Devagar veio vindo o pensamento. Sem medo, não cinzento e choroso como viera até agora, mas nu e
calado embaixo do sol como a areia branca. Papai morreu. Papai morreu. Respirou vagarosamente. Papai
morreu. Agora sabia mesmo que o pai morrera."

(Clarice Lispector)

A terceira margem do rio


(...) "Ele só retornou o olhar em mim, e me botou a bênção, com o gesto me mandando para trás. Fiz que
vim, mas ainda virei, na grota do mato, para saber. Nosso pai entrou na canoa e desamarrou, pelo remar."

(Guimarães Rosa)

Questão 1

Caracterize a posição do narrador em cada texto.

Língua Portuguesa e Literatura 195
Questão 2

Retire de cada um dos textos uma passagem que justifique sua resposta anterior.

Leia o fragmento a seguir para responder às questões 3 e 4:

"A mãe disse: - "Está ai assim há meia hora, chorando que nem maluco.Não sei mais o que faço".

Já lhe prometi tudo mas ele continua berrando desse jeito".

Questão 3

Transcreva o fragmento para o discurso indireto.

Questão 4

Por que nesse fragmento o narrador optou pelo uso do discurso direto?

Questão 5

Reestruture o texto a seguir, dando-lhe a forma de discurso indireto.

Deixando sobre a mesa os papéis necessários, o funcionário perguntou, nervoso, ao chefe:

- O senhor assinará agora ou depois?

- Já, imediatamente! bradou o outro.

196
Gabarito

Questão 1

"Perto do coração selvagem" - Narrador de terceira pessoa, onisciente.

“A Terceira margem do rio” – Narrador de primeira pessoa.

Questão 2

Passagem: "Devagar veio vindo ... mas nu e calado"

"Agora sabia mesmo que o pai morrera."

Questão 3

A mãe disse que ele estava ali assim havia meia hora, chorando que nem maluco, e que ele não sabia mais o

que faria.

Questão 4

Para dar voz à personagem aumenta a carga expressiva do enunciado.

Questão 5

Deixando sobre a mesa os papéis necessários, o funcionário perguntou, nervoso, ao chefe se ele assinaria na-

quele momento ou depois. O chefe bradou que assinaria imediatamente.

Língua Portuguesa e Literatura 197


Módulo 1  •  Língua Portuguesa e Literatura  •  Unidade 7

Literatura:
A arte da palavra
Para início de conversa...

Muito se ouve falar de ARTE. Arte popular, arte erudita, arte moderna, arte

clássica... Enfim, percebemos que a arte está em toda parte e em todos os mo-

mentos de nossas vidas, manifestando-se por meio da música, do teatro, da dan-

ça, das imagens e da palavra, nos momentos de felicidade, de prazer, de reflexão,


de indignação, raiva, medo etc. Assim, a Arte manifesta-se de várias formas e em

situações diversas.

Ao longo de sua história, o homem utilizou diferentes instrumentos e lin-

guagens como forma de expressão artística: as cores, os sons, os gestos, a expres-

são corporal, as palavras, entre outros. Surgiram, assim, as diferentes manifesta-

ções artísticas: a pintura, a escultura, a arquitetura, a dança, a música, a literatura.

E o que é a literatura? Qual a diferença entre um texto literário e não lite-

rário? Por que apreciamos um texto literário de maneira tão diferente do que um

texto não literário? O que leva o homem a produzir e apreciar literatura?

Nesta unidade, das

várias formas de expressão

artística, vamos conhecer

e desfrutar daquela que

trabalha com as palavras.

Bem-vindo ao mun-

do magnífico da Literatura!

Objetivos de

Língua Portuguesa e Literatura 199


aprendizagem
ƒƒ Reconhecer o que é literatura e sua ligação com a cultura e a realidade histórica.

ƒƒ Identificar características de textos literários e não literários.

ƒƒ Interpretar textos literários e não literários.

200
Seção 1
O que é Literatura?

Você já deve ter lido alguns tipos de texto literário,

como poemas, contos, romances, crônicas etc. Alguns Literatura é a arte da palavra.

desses textos, ou parte deles, foram apresentados em

unidades anteriores.

Que diferença você percebe na leitura de textos literários e de outros, não literários, como os manuais

de instrução, as cartas, os documentos, as notícias?

Vamos perceber juntos?

Leia este poema de Álvares de Azevedo, poeta romântico do século XIX, que morreu aos 21 anos de

idade, vítima de tuberculose.

Texto 1
Manuel Antônio ÁLVARES DE
AZEVEDO nasceu em São Pau-
Se eu morresse amanhã!
lo, em 12 de setembro de 1831
Álvares de Azevedo
e faleceu no Rio de Janeiro em
25 de abril de 1852. Foi um dos
Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã; principais poetas da Segunda
Minha mãe de saudades morreria Geração do Romantismo, esti-
Se eu morresse amanhã! lo literário da primeira metade
do século XIX. Devido a sua
Quanta glória pressinto em meu futuro! morte prematura, todos os
Que aurora de porvir e que manhã! trabalhos de Álvares de Azevedo foram publicados pos-
Eu perdera chorando essas coroas
tumamente: Lira dos Vinte Anos (1853, antologia poética);
Se eu morresse amanhã!
Macário (1855, peça de teatro); Noite na Taverna (1855,

Que sol! que céu azul! que doce n’alva contos). Álvares de Azevedo também escreveu muitas
Acorda a natureza mais loucã! cartas e ensaios, e traduziu para o Português o poema Pa-
risina, de Lorde Byron, e o quinto ato de Otelo, de William
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã! Shakespeare

Mas essa dor da vida que devora


A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos Louçã Afã
Se eu morresse amanhã!
bela, formosa ânsia, grande vontade
(Fonte: http://www.dominiopublico.gov.br)

Língua Portuguesa e Literatura 201


Como você pode perceber, o poeta preocupou-se com a organização do texto e com a elaboração da mensa-

gem. Vejamos:

1. o texto apresenta uma formatação organizada em blocos – que chamamos estrofes;

2. as linhas não são contínuas – marcando versos e, portanto, caracterizando o texto como um poema;

3. não há preocupação em organizar frases completas: o verso 2 ,“Fechar meus olhos minha triste irmã”, por

exemplo, é continuação do verso 1;

4. percebe-se um tom de melodia, pois o poeta usa palavras com sons semelhantes para fechar alguns versos

– as rimas: irmã/amanhã; manhã/amanhã; louçã/amanhã;

5. muitas vezes, o poeta reordena a linguagem comum e corriqueira, invertendo a ordem direta, a mais co-

mum, da estrutura das frases: “Minha mãe de saudades morreria”, ao invés de “Minha mãe morreria de sau-
dades”, por exemplo;

6. a repetição do verso “Se eu morresse amanhã”, encerrando cada estrofe, expressa um tom de lamento e de

tristeza.

A partir desta análise, podemos reconhecer que o poeta preocupou-se com a elaboração da mensagem,

com a seleção das palavras e a maneira de combiná-las entre si. Além disso, a forma como elaborou a mensagem

criou uma relação entre autor e leitor, pois quanto mais lemos o poema, mais sentimos a melancolia, a tristeza e o

lamento do poeta.

Esta é a função do texto literário: fazer-nos perceber um novo olhar sobre um fato comum.

Se o texto fosse escrito, sem a preocupação em como elaborar a mensagem, não conseguiríamos nos identificar

com os sentimentos do poeta.

Compare, agora, o poema de Álvares de Azevedo com um fragmento de uma notícia sobre a morte do poeta

Vinícius de Moraes:

202
Texto 2

Há 30 anos, morria o poeta Vinícius de Moraes


Um dos maiores poetas brasileiros do século 20, Vinícius também ficou famoso por músicas e parcerias
Rose Saconi – Estado de S. Paulo

Foi com emoção que o Brasil recebeu, no dia 9 de julho de 1980, a notícia da morte do poeta e compositor
Vinícius de Moraes. Depois de passar a madrugada, compondo músicas infantis com seu parceiro Toquinho,
sentiu-se mal ao acordar pela manhã. Antes que a ambulância chegasse, morreu ao lado de sua mulher,
Gilsa. Estava com 66 anos de idade.
Além da notícia estampada na capa do Estado, duas páginas inteiras foram dedicadas para homenagear o poeta. (...)

(Extrato do texto de Rose Saconi, publicado no jornal Estado de São Paulo em 09/07/2010. Disponível na íntegra em
http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,ha-30-anos-morria-o-poeta-vinicius-de-moraes,578925,0.htm. Acesso
em 23/01/2011)

Percebeu a diferença? A linguagem do poema, que é um texto literário, é subjetiva, pessoal, figurada e pluris-

significativa, isto é, permite vários sentidos, várias interpretações, de acordo com os diferentes leitores em diferentes

épocas. Já a linguagem da notícia é clara, direta, permitindo apenas uma única interpretação.

A literatura permite-nos ver o mundo de uma forma diferente, sob outra perspectiva. Os textos literários
recriam a realidade, a vida.

Funções da Linguagem
Quando nos comunicamos, existe sempre um propósito, um objetivo que queremos alcançar diante
do nosso ouvinte ou leitor, não é mesmo?

Desse modo, através da linguagem podemos querer convencer alguém, informar, emocionar, chamar a
atenção do ouvinte, criar novos sentidos para uma realidade banal, ou explicar sobre o que se fala ou es-
creve. Portanto, podemos dizer que a linguagem apresenta diferentes FUNÇÕES. São seis as Funções da
Linguagem, e cada uma apresenta características predominantes que a distinguem de uma outra função.

Assim:

Função Emotiva ou Expressiva: predomínio da primeira pessoa (eu/nós), preocupação com os sentimen-
tos pessoais, com a subjetividade. Dizemos, então, que esta função tem a preocupação de emocionar o

Língua Portuguesa e Literatura 203


leitor em relação aos sentimentos do próprio EMISSOR - quem está elaborando a mensagem.

Função Conotativa ou Apelativa: predomínio da segunda pessoa (tu/vós), de pronomes de tratamen-


to (vocês, senhor, V.SA.), de verbos no imperativo (compre/alugue/beba, etc.), de vocativos - termos de
chamamento. Assim, estamos usando a linguagem para convencer o RECEPTOR de alguma coisa, como
ocorrem nas propagandas, por exemplo.

Função Poética: é a função própria da literatura, quando o autor está preocupado com a maneira como
vai usar a linguagem para elaborar a MENSAGEM, preocupando-se com a forma (como nos poemas em
que vai escrever em versos), utilizando uma linguagem mais conotativa, com diferentes figuras de lingua-
gem. Mas, atenção: não é só a poesia que apresenta função poética. Muitas propagandas, por exemplo,
nos dias de hoje, utilizam uma mensagem elaborada, com linguagem figurada e subjetiva, por exemplo.

Função Refrencial ou Denotativa: é a linguagem própria da informação. Portanto, a linguagem é mais


impessoal, com predomínio da terceira pessoa, o REFERENTE, aquele que é o assunto, o objeto da men-
sagem. É a função da linguagem usada pelos jornais e pela ciência.

Função Metalinguística: a linguagem é utilizada para explicar o próprio texto que está sendo elaborado,
ou mesmo explicar sobre a própria linguagem, como acontece no dicionário. Assim, dizemos que esta
função da linguagem está centrada no CÓDIGO. Na poesia, por exemplo, é comum observarmos a META-
LINGUAGEM, quando o autor explica o que é poesia através de um poema.

Função Fática: é a função que a linguagem assume quando queremos estabelecer contato com alguém,
verificar se o CANAL de comunicação está aberto para elaborarmos efetivamente a mensagem que que-
remos passar para nosso interlocutor. São situações como aquelas em que, por exemplo, apenas que-
remos saber se a outra pessoa do outro lado da linha do telefone está mesmo nos ouvindo, ou se é o
receptor com que queremos falar.

A seguir, vamos ler outro texto literário? Agora, o texto está escrito em prosa!

Prosa

texto escrito em linhas contínuas, organizadas em parágrafos.

Texto 3
Triste fim de Policarpo Quaresma – Primeira Parte

Como de hábito, Policarpo Quaresma, mais conhecido por Major Quaresma, bateu em casa às quatro e quinze
da tarde. Havia mais de vinte anos que isso acontecia. Saindo do Arsenal de Guerra, onde era subsecretário,
bongava pelas confeitarias algumas frutas, comprava um queijo, às vezes, e sempre o pão da padaria francesa.

204
Não gastava nesses passos nem mesmo uma hora, de forma que, às três e quarenta, por aí assim, tomava o
bonde, sem erro de um minuto, ia pisar a soleira da porta de sua casa, numa rua afastada de São Januário,
bem exatamente às quatro e quinze, como se fosse a aparição de um astro, um eclipse, enfim um fenômeno
matematicamente determinado, previsto e predito. (...)

(Lima Barreto. Triste fim de Policarpo Quaresma. São Paulo: Editora Brasiliense, 1979, 22ª edição, p. 21)

Afonso Henrique de Lima Barreto, o Lima Barreto, nasceu a 13/05/1881, em São Paulo, e faleceu em
01/11/1922. Nunca se casou e viveu a vida toda com os pais. Esteve internado diversas vezes por
alcoolismo. Foi o iniciador do romance dito engajado, pois sua obra traz as marcas de sua participação
e comprometimento com o Brasil de sua época. Era um mulato e, por isso mesmo, sua existência foi
marcada pela luta constante contra a discriminação e o preconceito social que eram as características
da sociedade do seu tempo. Sua obra é um dos importantes marcos da luta em favor da dignidade
humana e da liberdade dos oprimidos.
(Texto produzido para este livro e resultante de fontes diversas sobre o autor.)

Observe como o autor cria uma realidade imaginária, ou faz uma representação da realidade de uma maneira
muito pessoal, com a intenção de sensibilizar, provocar estranhamento, envolver o leitor.

O processo de criação do texto literário envolve uma capacidade dos autores para criar uma nova dimensão (estéti-
ca ou artística) da realidade, com uma intenção estética, que não se encontra, necessariamente, vinculada ao mundo real.

Por isso dizemos que, na literatura, temos um mundo ficcional, uma visão individual (subjetiva) de aspectos da
realidade que não tem compromisso algum com o caráter documental ou com a realidade concreta tal qual ela nos é
apresentada de fato. Por isso, também faz parte da literatura a intenção lúdica, de criação e de imaginação.

Mundo ficcional
é relativo à ficção. Ficção é toda e qualquer interpretação, criação ou adaptação imaginária da realidade.

Intenção estética
é uma maneira particular de dar vida à experiência humana, ultrapassando e transgredindo os limites da observação de fatos.
Pela estética, construímos outros modelos de realidade, mediados pela ficção e reinterpretamos não somente o mundo real, mas
também um mundo dos possíveis.

Intenção lúdica
é o jogo de sentidos, criado na obra literária ou artística, visando ativar o lado criativo, imaginativo. Pode se manifestar em dois
planos: o real (denotativo) e o figurado (conotativo).

Língua Portuguesa e Literatura 205


Uma característica especial da literatura é que o seu mundo é ficção e seus contornos são ficcionais
também. Tudo é possível e passa a existir, quando falamos de literatura.

Leia o que escreve o poeta Mário Quintana sobre a


necessidade de recriação da realidade dos escritores e responda

às questões a seguir.

Mário Quintana é um poeta gaúcho.


Considerado o "poeta das coisas simples",
com um estilo marcado pela ironia, pela
profundidade e pela perfeição técnica, ele
Monumento a Mário
trabalhou como jornalista, quase toda a
Quintana (sentado) e Car-
los Drummond de Andra- sua vida.
de, na Praça da Alfândega
de Porto Alegre. Obra de
Francisco Stockinger.

PAUSA

“Quando pouso os óculos sobre a mesa para uma pausa na lei-

tura de coisas feitas, ou na feitura de minhas próprias coisas, surpreen-

Indagar do-me a indagar com que se parecem os óculos sobre a mesa.

perguntar Com algum inseto de grandes olhos e negras e longas

pernas ou antenas?

Com algum ciclista tombado?

Não, nada disso me contenta ainda. Com que se parecem mesmo?

E sinto que, enquanto eu não puder captar a sua implícita imagem-poema, a

inquietação perdurará.

206
[...]

E paira no ar o eterno mistério dessa necessidade da recriação das coisas em

imagens, para terem mais vida, e da vida em poesia, para ser mais vivida. [...]”

Fonte: Extrato da crônica “Pausa”, de Mario Quintana. Mário Quintana. A vaca e o hipógrifo. Porto Alegre: Garatuja,
1977, p. 59-60.

1. Que imagens o poeta vê ao contemplar os óculos sobre a mesa?

2. Como o poeta vê a necessidade que ele sente da recriação das coisas em imagens?
( ) Ele acha que é normal e que todas as pessoas sentem essa necessidade.
( ) Ele acha que é um mistério, algo que não tem uma explicação clara.

( ) Ele acha que é uma necessidade de pessoas desequilibradas.

Outra função da literatura é fazer o homem refletir e questionar a realidade em que vive, conforme seus an-

seios, expectativas e vivências no mundo que o cerca, dentro da sociedade de que faz parte.

Como uma obra de arte, a literatura representa a manifestação do artista diante da realidade de seu
tempo, a maneira como essa realidade é percebida pelo artista, em sua época e em seu espaço, de
acordo com sua visão de mundo, suas impressões e emoções diante das várias situações vivenciadas e
experimentadas.

E o espectador dessa obra de arte vivencia o estado de espírito do artista, questiona essa realidade
recriada na obra, que estimula novas sensações. Por isso, a arte tem uma função social, pois agrega os
indivíduos de um grupo social e permite a reflexão do mundo que os cerca.

Língua Portuguesa e Literatura 207


Compare os dois textos a seguir:

Texto 1: Mão do lixo

A mão que eu cato o lixo

Não é a mão com que eu devia ter.

Não tenho para ganhar

Na mesa da minha casa

O pão bom de cada dia.

Como não tenho, aqui estou.

Catando lixo dos outros,

O resto que vira lixo.

Não faz mal se ficou sujo,

Se os urubus beliscaram,

Se ratos roeram pedaços,

Mesmo estragado me serve,

Porque fome não tem luxo.

(...)
(Mello, Tiago, Mão do Lixo. fragmento.In: http://www.partes.com.br/meio_ambiente/poesia)

Texto 2:

“(...) No México, são chamados de pepenadores. Na Argentina, são conhecidos como

cartoneros. Os brasileiros chamam-nos de catadores; os peruanos, de moscas. Cada país na

América Latina e no Caribe tem um termo próprio para designar os catadores de lixo e, em

certos países, seu número está crescendo. Eles podem ser vistos, separando sacos de lixo

nas calçadas das cidades, parques públicos ou junto a supermercados e prédios de apar-

tamento. Alguns puxam carroças que pouco a pouco vão enchendo com garrafas plásticas

ou latas de alumínio. Muitos trabalham no alto de enormes monturos, em aterros sanitários

municipais. Homens, mulheres e crianças participam dessa atividade. Em certos países, fa-

mílias inteiras de catadores de lixo vivem em cortiços ao lado ou no alto de aterros sanitários

que garantem sua única fonte de renda. (...)”


(Fragmento. Milhares de latino-americanos ganham a vida catando lixo. In http://www.ecolnews.com.br)

208
1. Os textos 1 e 2 tratam do mesmo tema: o lixo. No entanto, percebe-se que há uma enor-

me diferença entre os dois. Aponte essas diferenças, considerando:

a. Como é a linguagem usada em cada um.

b. Qual dos dois textos provocou em você maior reflexão? Qual dos dois transmitiu

a você mais sentimentos e indignação? Por quê?

Seção 2
Textos literários e textos não literários

A partir das leituras e análises feitas na seção anterior, podemos definir textos literários e não literários da se-

guinte maneira:

Textos não literários buscam informar as pessoas sobre fatos de uma dada realidade e o fazem de
forma direta e objetiva, adequando-os aos fins e aos usos de que as pessoas necessitam. Podem ser
usados para documentar informações, registrar atos ou simplesmente noticiar diversos assuntos ou
acontecimentos, reais ou não.

Os textos literários são aqueles que possibilitam uma reflexão sobre a realidade, sem compromisso com
a verdade ou com os fatos. Nesses textos, percebemos uma visão pessoal sobre o fato, impregnada de
impressões que apenas aquele autor vê no evento, e pode apresentar uma carga de sentimentos e emoções.

Língua Portuguesa e Literatura 209


Vimos que a linguagem usada em textos literários é bastante diferente da que se usa nos textos não literários, não é?

A linguagem ocupa um lugar muito importante, quando falamos da diferença entre textos literários e não

literários. Observe o “jogo” de palavras no texto literário, onde se busca atribuir às palavras de nossa língua novos

sentidos. Esse uso faz-se em função de uma intenção lúdica e estética do autor e resulta de um trabalho criterioso com

a língua, para a criação de um mundo outro que pode não ter vínculo algum com a realidade, vivida por ele ou pelo

leitor de seu texto.

Tudo na literatura está diretamente ligado ao lado da imaginação, da recriação de realidades diversas
e cujos limites são impostos pelos jogos de linguagem.

Denotação e conotação

Uma das grandes diferenças entre o texto literário e o texto não literário são os níveis de significação das pala-

vras usadas nos textos: a denotação e a conotação.

A denotação refere-se ao sentido usual ou literal atribuído à palavra, àquele que está no dicionário. Seu sentido

é claro, explícito, objetivo, designando os objetos e seres do mundo de forma que todos os reconheçam, a partir de

uma mesma descrição.

A linguagem denotativa ou referencial é usada em textos informativos, como em jornais, bulas de remé-
dios, em um manual de instruções, textos científicos, documentos diversos etc.

A conotação refere-se à ampliação dos sentidos de uma palavra, de maneira contextualizada. Dizemos que a palavra

assume um novo sentido em função da necessidade de se retratar ou referir-se a uma outra realidade ou a um símbolo.

Por exemplo, quando dizemos: “Ele perdeu a cabeça”, não estamos querendo dizer que ele realmente perdeu

sua cabeça, mas sim que ele se descontrolou; quando dizemos “Ela é uma Maria vai com as outras”, queremos dizer

que ela se deixa influenciar facilmente pelos outros, não tem opinião própria, e assim por diante.

Em várias situações do cotidiano, empregamos uma palavra ou uma expressão em sentido conotativo.

210
Identifique as palavras ou expressões que estão sendo utilizadas no sentido cono-

tativo nas frases abaixo e, em seguida, substitua-as por outra(s) de valor denotativo. Mas

lembre-se que é preciso manter o sentido original da mensagem.

a. A literatura permite-nos viajar.

b. A comissão técnica está dissolvida, do goleiro ao ponta-esquerda.

c. Indispensável à boa forma, o exercício físico detona músculos e ossos, se mal

praticado.

d. Alta nos juros atropela sonhos da classe média.

e. Você é a luz da minha vida.

Em geral, ao usar a conotação, atribuímos um caráter lúdico à palavra – resultante de um jogo de sentidos – e

ela passa a representar ou a evocar outras realidades ou sentidos por associações que esse emprego provoca.

A linguagem conotativa ou figurada é muito utilizada, em textos literários, alguns textos publicitários,
piadas, provérbios ou ditos populares etc. Mas é importante que você tenha em mente que também
empregamos a conotação em nossa linguagem cotidiana, ainda que não tenhamos consciência disso.

Língua Portuguesa e Literatura 211


Conotação e Figuras de Linguagem
A linguagem conotativa é também chamada de linguagem figurada. Por quê?

Quando queremos criar uma imagem e, para isso, empregamos determinados recursos, como:

a. repetição de determinados fonemas

Exemplo: "Vozes veladas veludosas vozes"

Observe a repetição dos fonemas /v/e/z/.

b. atribuir novos sentidos às palavras;

Exemplo: Sua filha é uma boneca!

Nesse exemplo, a palavra boneca assumiu um novo sentido, não é mais um brin-

quedo, mas uma qualidade, a partir de uma associação entre filha/boneca.

c. estabelecer associações que fogem da regra geral, do sentido comum;

Exemplo: Estava desesperada! Sua vida havia se acabado!

Veja que, aí, há uma associação entre o desespero e o término da vida - que não

corresponde, de fato, com a realidade - estabelecendo, assim, uma ideia de exagero

com a intenção de realçar a mensagem.

d. criamos novas ordens sintáticas para organizarmos uma frase

Exemplo: Ao mar e à Iemanjá os pescadores iriam para cumprir suas promessas.

Com a finalidade de chamar mais atenção para os elementos "mar e Iemanjá", nesse

exemplo, o autor utilizou-se do recurso de inverter os termos sintáticos, já que a or-

dem mais comum seria "Os pescadores iriam ao mar e à Iemanjá para cumprir suas

promessas.

Estamos utilizando uma figura de linguagem no texto.

Isso mesmo! A imagem que o autor consegue nos fazer perceber através de palavras,

e das diferentes combinações entre essas palavras, forma uma FIGURA. E como essa

figura foi construída com a linguagem verbal, dizemos: FIGURAS de LINGUAGEM.

Pois bem, as figuras de linguagem estão organizadas em quatro grupos:

a. figuras sonoras - aquelas em que se dá mais atenção à sonoridade da mensagem,

através da repetição de fonemas e de palavras;

212
b. figuras de palavras - quando usamos uma palavra em outro sentido, atribuindo-lhe

um novo valor na mensagem;

c. figuras de pensamento - são aquelas que trabalham com a subjetividade, a partir da

exploração de novos sentidos que se encontram por trás de uma palavra ou da asso-

ciação de ideias;

d. figuras de construção ou de sintaxe - consistem em usar novas construções sintá-

ticas na organização de frases para criar novos sentidos e/ou dar mais expressivi-

dade à mensagem.

Meus oito anos

Casimiro de Abreu

Oh! que saudades que tenho O céu bordado d’estrelas,

Da aurora da minha vida, A terra de aromas cheia,

Da minha infância querida As ondas beijando a areia

Que os anos não trazem mais! E a lua beijando o mar!

Que amor, que sonhos, que flores,


Oh! dias da minha infância!
Naquelas tardes fagueiras,
Oh! meu céu de primavera!
À sombra das bananeiras,
Que doce a vida não era
Debaixo dos laranjais!
Nessa risonha manhã!

Como são belos os dias Em vez das mágoas de agora,

Do despontar da existência! Eu tinha as delícias

- Respira a alma inocência De minha mãe as carícias

Como perfumes a flor; E beijos de minha irmã!

O mar é - lago sereno,


Livre filho das montanhas,
O céu – um manto azulado,
Eu ia bem satisfeito,
O mundo – um sonho dourado,
Da camisa aberto o peito,
A vida – um hino d’amor!
- pés descalços, braços nus -,

Língua Portuguesa e Literatura 213


Que aurora, que sol, que vida, Correndo pelas campinas

Que noites de melodia À roda das cachoeiras,

Naquela doce alegria, Atrás das asas ligeiras

Naquele ingênuo folgar! Das borboletas azuis!

[...]

Casimiro de Abreu nasceu em 04/01/1839, na Freguesia da Sacra Família


da Vila Barra do São João, na então província do Rio de Janeiro. Faleceu
em 18/10/1860, vitima de tuberculose. Está entre os grandes poetas
da Língua Portuguesa e é um dos maiores do Romantismo brasileiro.
Sua poesia teve grande repercussão na alma do povo e muitas de suas
produções eram declamadas repetidamente e até musicadas. Corriam
de boca em boca, ao ponto de algumas quase se tornarem anônimas.

1. Qual o tema central tratado no poema Meus oito anos?

2. A linguagem nesses versos é denotativa ou conotativa? Explique a sua resposta.

3. Note que o poeta utiliza-se de comparações, associações, entre elementos da natureza

e a infância querida e bela. Retire da segunda estrofe duas comparações.

Bem, ao chegar ao final desta unidade, percebemos que ler textos literários é, antes de tudo, estabelecer um

acordo com o autor da obra, no qual você aceita embrenhar-se em mundos de ficção a que ele o convida... Ser e estar

aberto para participar dos jogos de sentidos que se criam... É se deixar levar, viajar. Mas também é fazer reflexões,

questionamentos. Assim, interagimos com esse universo lúdico e ficcional para, novamente, (re) criar novos mundos.

214
“A literatura é a porta para variados mundos que nascem das várias leituras que dela se fazem. Os
mundos que ela cria não se desfazem na última página do livro, na última frase da canção, na última
fala da representação nem na última tela do hipertexto. Permanecem no leitor, incorporados como
vivência, marcos da história de leitura de cada um. Tudo o que lemos nos marca.”
(Extrato de Marisa Lajolo. Literatura : leitores & leitura. São Paulo: Moderna, 2001. págs. 44-45)

Veja ainda

1. No site domínio público (www.dominiopublico.gov.br), você pode acessar obras de diferentes autores.

2. A TV Cultura é um canal de televisão que apresenta vários programas sobre diferentes manifestações ar-

tísticas e literárias. Você pode pesquisar no site alguns desses programas: http://www2.tvcultura.com.br/

aloescola/literatura/

3. A TV Escola é um canal de educação, com programações variadas sobre todas as áreas do conhecimen-

to, como Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Vale a pena acessar: http://tvescola.mec.gov.br/index.

php?&option=com_zoo&view=item&item_id=5295

Referências

Imagens

  •  Acervo pessoal  •  Sami Souza

  •  http://www.sxc.hu/photo/107467

  •  http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:%C3%81lvares_de_Azevedo.jpg

  •  http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Drummond_e_Quintana.jpg

  •  http://www.sxc.hu/photo/490557

Língua Portuguesa e Literatura 215


  •  http://www.sxc.hu/photo/517386

  •  http://www.sxc.hu/985516_96035528

Atividade 1

1. As imagens de um inseto e um ciclista. Veja: “Com algum inseto de grandes olhos e

negras e longas pernas ou antenas? /Com algum ciclista tombado?”

2. ( X ) Ele acha que é um mistério, algo que não tem uma explicação clara.

Atividade 2

1. a. No texto 1, a linguagem é mais pessoal, subjetiva poética, preocupada com a

forma do texto e o ritmo. No texto 2, a linguagem é clara, objetiva, direta e

impessoal.

b. Resposta pessoal. Mas, provavelmente é o texto 1, pois nos faz refletir sobre

a questão da fome através de sentimentos e emoções. O texto 2 apenas traz

informação.

Atividade 3

Há várias possibilidades para essas respostas e, por isso, as respostas aqui

apresentadas são meras sugestões. Leve suas respostas para a sala de aula para que seu

professor possa avaliá-las.

a. A literatura permite-nos viajar.

A literatura permite-nos imaginar.

b. A comissão técnica está dissolvida, do goleiro ao ponta-esquerda.

A comissão técnica foi dissolvida toda.

216
c. Indispensável à boa forma, o exercício físico detona músculos e ossos, se mal

praticado.

Indispensável à boa forma, o exercício físico prejudica músculos e ossos, se mal

praticado.

d. Alta nos juros atropela sonhos da classe média.

Alta nos juros interrompe sonhos da classe média.

e.  Você é a luz da minha vida.

Você é muito importante pra mim / Você é quem dá sentido à minha vida./

Você é uma alegria na minha vida.

Atividade 4

1. A saudade da infância

2. É mais conotativa, pois utiliza muitas imagens e comparações, usando palavras no

sentido conotativo, como em O céu bordado d’estrelas, As ondas beijando a areia, E a lua

beijando o mar!

3. Associa a infância ao mar e ao céu. Veja: O mar é - lago sereno, / O céu – um manto

azulado.

Língua Portuguesa e Literatura 217


O que perguntam por aí?

ENEM 2010

Resposta: Letra A

Língua Portuguesa e Literatura 219
Resposta: Letra C

220 Anexo
Atividade extra
Módulo 1  •  Língua Portuguesa e Literatura  •  Unidade 7
Literatura: a arte da palavra

Questão 1

Comenta-se, um pouco rápido demais, que a predileção que os leitores sentimos por um ou outro perso-
nagem vem da facilidade com que nos identificamos com eles. Esta formulação exige algumas pontuações:
não é que nos identifiquemos com o personagem, mas sim que este nos identifica, nos aclara e define
frente a nós mesmos; algo em nós se identifica com essa individualidade imaginária, algo contraditório com
outras 'identificações semelhantes', algo que de outro modo apenas em sonhos haveria logrado estatuto de
natureza. A paixão pela literatura é também uma maneira de reconhecer que cada um somos muitos, e que
dessa raiz, oposta ao senso comum em que vivemos, brota o prazer literário.

(Traduzido de SAVATER, Fernando. "Criaturas del aire". Barcelona: Ediciones Destino,1989.)

Esse texto trata de um conceito importante na teoria da literatura: o conceito de catarse.

De acordo com o autor, pode-se definir catarse como o processo que afeta o leitor no sentido de

a. valorizar o imaginário

b. superar o senso comum

c. construir a personalidade

d. liberar emoções reprimidas

Língua Portuguesa e Literatura 221
Leia os textos I e II para responder às questões 2 e 3.

I- "... o objetivo da poesia (e da arte literária em geral) não é o real concreto, o verdadeiro, aquilo que de fato

aconteceu, mas sim o verossímil, o que pode acontecer, considerado na sua universalidade."

SILVA,Vítor M. de A. "Teoria de Literatura". Coimbra: Almedina, 1982.

II- Verossímil. 1. Semelhante à verdade; que parece verdadeiro. 2. Que não repugna à verdade, provável.

FERREIRA. A. B. de Holanda, Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

Questão 2

A partir da leitura de ambos os fragmentos, deduz-se que a obra literária tem o objetivo de

a. opor-se ao real para afirmar a imaginação criadora

b. anular a realidade concreta para superar contradições aparentes

c. construir uma aparência de realidade para expressar dado sentido

d. buscar uma parcela representativa do real para contestar sua validade

Questão 3

Em cada ato de fala, dependendo de sua finalidade, predomina um dos elementos da comunicação. Por isso,

afirma-se que a linguagem apresenta diferentes funções, cada uma delas com características específicas. Geralmente,

em cada texto que lemos ou ouvimos, há o predomínio de uma dessas funções. Nos textos I e II, destaca-se a função

referencial ou denotativa. Por quê?

222
Gabarito

Questão 1
A B    C     D

Questão 2
A B    C     D

Questão 3

Esses trechinhos transmitem informações em uma linguagem bem objetiva. Neles predomina o caráter re-

ferencial, presente na maioria dos atos de comunicação. É a linguagem encontrada em livros didáticos, nas

definições de dicionários, por exemplo.

Língua Portuguesa e Literatura 223


Módulo 1  •  Língua Portuguesa e Literatura  •  Unidade 8

A Literatura
através do
Tempo
Para início de conversa...

Quem sou eu diante do mundo? Que mundo é esse? Nascer, morrer... Por

quê? O corpo ou o espírito? O Amor... Ah! O amor... Quanta dor! Oh! Deus, por que
sofro? Por que existo?

Questões como essas sempre fizeram parte da natureza humana, não é

mesmo?

A arte e a literatura mostram a expressão do homem no mundo, seus senti-

mentos, suas dúvidas, seus sonhos, seus descontentamentos ou suas aceitações.

Por isso, a produção artística passa a ser um reflexo da sociedade de uma deter-

minada época e espaço.

Como leitores, “viajamos” por mundos desconhecidos, vivenciamos outras

épocas, percebemos as impressões de um tempo que não volta mais. Questiona-

mos diferentes situações e emoções e, por isso, somos influenciados por artistas

e pelas diferentes manifestações artísticas: o teatro, o cinema, a pintura, a música,

a dança...

Agora, reflita: você, em alguns momentos de sua vida, já se sentiu tão

emocionado que escolheu expressar seus sentimentos escrevendo alguns ver-

sos? E, quando criança, passou pela experiência de encenar uma peça de teatro,

na escola, ou com um grupo de amigos? Já inventou, recontou ou leu um caso

divertido ou impressionante para seus amigos?

Língua Portuguesa e Literatura 225


Figura 1: Elaborando textos e recontando histórias.

Pois é! Em todos esses momentos, fazendo poema, montando e encenando uma peça de teatro, criando ou

lendo uma narrativa, você estava interagindo com os chamados gêneros literários. E este é um dos objetos de estudo

desta unidade.

Vamos conhecer os três gêneros literários básicos em que a literatura tem sido organizada: gênero lírico (principal-

mente na poesia); gênero dramático (teatro) e gênero épico/narrativo (histórias narradas, como romances, contos etc.).

E mais: vamos perceber como esses gêneros refletem a época e a realidade em que foram produzidos. Veremos

que - se no transcorrer dos tempos, o ser humano modifica sua forma de ver, sentir e pensar sobre o mundo – tam-

bém, na literatura, essas mudanças acontecem.

Dessa forma, a história do homem pode ser contada através do conjunto das manifestações literárias de cada

época. Isso porque as obras de arte expressam os costumes e as várias formas de pensamento do momento histórico,

econômico e social em que foram produzidas. Daí a importância de estudar a produção literária de um povo, de uma

época, em um país, em uma região. E este é o outro aspecto da Literatura que propomos a você nesta unidade: des-

vendar os sentimentos e emoções de um tempo; vivenciar os anseios do homem nesse tempo, conhecer costumes,

viajar pelos eventos; é sentir como a vida acontecia e fazia acontecer. Pronto para começar?

Objetivos de aprendizagem
ƒƒ Reconhecer os diferentes gêneros literários.

ƒƒ Analisar textos de gêneros literários diferentes.

ƒƒ Compreender o conceito de estilo de época na Literatura, a partir do estudo


dos períodos literários.

ƒƒ Estabelecer relações entre textos de épocas diferentes, situando aspectos do


contexto histórico, social e político no Brasil.

226
Seção 1
O que são gêneros literários

Para iniciarmos o estudo sobre gêneros literários, escolhemos dois textos: o primeiro é o início do conto “A

Cartomante”, de Machado de Assis; o segundo é um poema do mesmo autor.

Propomos uma atividade inicial para que você possa perceber a diferença entre os dois textos. Vamos lá?

“A Cartomante” é um conto de Machado de Assis que traz a história de Camilo, Rita e Vilela envolvidos em
um triângulo amoroso. A cartomante pode ser considerada outra personagem, devido a sua grande influ-
ência no conto. A história começa numa sexta-feira de novembro de 1869 com um diálogo entre Camilo
e Rita. Rita fala de uma cartomante que visitou e acredita poder ver e resolver todos os seus problemas e
angústias. Camilo, que no começo zomba de Rita, depois vai recorrer a esta mesma cartomante para saber
sobre o seu caso com Rita e por que Vilela (seu amigo e marido de Rita) o havia chamado à sua casa... Conti-
nue a ler o conto em www.dominiopublico.gov.br. O desfecho da história é inesperado!

Texto 1

A Cartomante (fragmento)
Hamlet observa a Horácio que há mais cousas no céu e na terra do que sonha
a nossa filosofia. Era a mesma explicação que dava a bela Rita ao moço Cami-
lo, numa sexta-feira de Novembro de 1869, quando este ria dela, por ter ido
na véspera consultar uma cartomante; a diferença é que o fazia por outras
palavras.
— Ria, ria. Os homens são assim; não acreditam em nada. Pois saiba que fui,
e que ela adivinhou o motivo da consulta, antes mesmo que eu lhe disses-
se o que era. Apenas começou a botar as cartas, disse-me: "A senhora gosta
de uma pessoa..." Confessei que sim, e então ela continuou a botar as cartas,
combinou-as, e no fim declarou-me que eu tinha medo de que você me es-
quecesse, mas que não era verdade...
— Errou! Interrompeu Camilo, rindo.
— Não diga isso, Camilo. Se você soubesse como eu tenho andado, por sua
causa. Você sabe; já lhe disse. Não ria de mim, não ria...

Machado de Assis
(Fonte: http://www.dominiopublico.gov.br/)

Língua Portuguesa e Literatura 227


Texto 2

Livros e flores
Teus olhos são meus livros.
Que livro há aí melhor,
Em que melhor se leia
A página do amor?
Flores me são teus lábios.
Onde há mais bela flor,
Em que melhor se beba
O bálsamo do amor?

Machado de Assis
(Fonte: www.dominiopublico.gov.br)

Comparando os dois textos, responda:

1. Em que texto houve maior preocupação com a formatação das ideias e com o ritmo da

linguagem usada pelo autor? Por quê?

2. Identifique o texto em que o autor se preocupa em descrever o ambiente, em contar

uma história em uma sequência temporal.

3. Qual dos dois textos apresenta maior carga de sentimentalismo e de subjetividade?

Justifique sua resposta com elementos do texto em foco.

4. Nos dois textos literários, o autor teve o mesmo objetivo comunicativo? Mostre a dife-

rença que você conseguiu perceber.

228
Machado de Assis (1839 - 1908) foi um escritor
brasileiro, amplamente considerado como o
maior nome da literatura nacional. Escreveu em
praticamente todos os gêneros literários, sendo
poeta, cronista, dramaturgo, contista, folheti-
nista, jornalista e crítico literário. Testemunhou
a mudança política no país quando a República
substituiu o Império e foi um grande comenta-
dor, e relator dos eventos político-sociais de sua
época. Detalhe: Machado de Assis era mulato,
filho de um operário e neto de escravos que re-
ceberam a alforria. Pobre, foi criado no morro do
Livramento e não tinha condições de frequentar
cursos regulares na escola. Como, então, ele se
tornou esse grande nome na literatura nacional?
Descubra, lendo a biografia completa do autor
no site:

h t t p : / / e d u c a c a o. u o l. c o m . b r / b i o g r a f i a s /
ult1789u180.jhtm

A partir desta atividade, é possível observar que, entre os dois textos, há diferenças:

a. Em relação à intenção e à estrutura:

ƒƒ o texto 1 propõe-se a contar um fato; por isso, apresenta os personagens - dois amantes, em determi-

nada situação - a personagem Rita conta que foi consultar uma cartomante, descrevendo o ambiente

em que estão inseridos;

ƒƒ o texto 2 já se preocupa em expressar os sentimentos e percepções do mundo subjetivo do autor, em

relação a como ele vê a mulher amada.

b. Em relação à forma:

ƒƒ o primeiro é escrito em prosa (em linhas contínuas) e organizado em parágrafos, sem se preocupar em

combinar as palavras para criar tom melódico ou rimas;

ƒƒ o segundo, é escrito em versos e organizado em estrofes. Percebe-se uma preocupação em criar os ver-

sos que criam um certo ritmo e o tom sentimental.

Língua Portuguesa e Literatura 229


O texto em prosa é aquele escrito em linhas contínuas, organizado através de períodos que compõem
os parágrafos.

No texto em versos, o autor não se preocupa com a sequência linear das frases e dos períodos. A forma
como escreve os versos está ligada ao ritmo que o autor quer colocar no seu texto. Assim, os versos são
linhas descontínuas que estão organizadas em blocos a que chamamos estrofes.

Resumindo: considerando que os dois textos apresentam diferentes objetivos, estruturas e formas de compo-

sição, podemos dizer que eles pertencem a gêneros literários distintos.

A seguir, veremos que o texto 1 pertence ao gênero narrativo, enquanto o texto 2 é do gênero lírico.

A seguir, vamos conhecer mais sobre estes gêneros literários e também sobre um terceiro gênero literário, o

dramático, que são textos escritos para o teatro.

Seção 2
A Literatura e seus gêneros

Tradicionalmente, as produções literárias têm sido classificadas em três gêneros literários principais, de acordo

a estrutura do texto e a finalidade para o qual foi escrito:

1. Épico/narrativo (narrar histórias)

1. Lírico (exprimir emoções e sentimentos)

2. Dramático (encenar no teatro)

1. O gênero épico/narrativo

Você já sabe que o conto “A Cartomante” é um texto do gênero narrativo, porque conta uma história que se

desenvolve num tempo e lugar, envolve um narrador e personagens. Observou, também, que ele é escrito em prosa

e não versos, como a maior parte dos textos de gênero narrativos da atualidade.

Mas será que sempre foi assim?

230
O que vamos descobrir, agora, é que, na Antiguidade, os textos narrativos eram escritos em versos também!

Na Antiguidade, era comum os escritores narrarem feitos heroicos e grandiosos, representando grandes fatos

históricos de um povo ou de uma nação. Eram as epopeias, narrativas literárias de grande extensão, que tratavam de

grandes viagens, guerras e aventuras, sempre enaltecendo e valorizando os heróis e seus feitos.

Nessa época, essas narrativas grandiosas quase sempre eram narradas em verso e usavam elementos da Mito-

logia Grega nos episódios, contando aventuras heroicas em que misturavam o real e o fantasioso. Daí ser chamado

de gênero épico.

Figura 3: Pintura do artista italiano Francesco Hayez (1791–1882).Retrata uma passagem da epopeia A Odisseia, de Homero,
escritor da Antiguidade Clássica.

Originalmente, o gênero épico é uma narrativa em versos que apresenta um episódio heroico da
história de um povo.

Mas as epopeias não são exclusivas da Antiguidade. Por exemplo, mais tarde, no XVI, durante o Classicismo,

Luís de Camões, grande autor português, escreveu uma das maiores epopeias da literatura: Os Lusíadas. Nela, o autor

português exalta a glória do povo português, a partir da viagem do “herói” navegador Vasco da Gama às Índias, que

buscava expandir a fé ,o número de cristãos e conquistar novas terras para Portugal.

Leia as duas estrofes do Canto V de Os Lusíadas, narrando a passagem da esquadra de Vasco da Gama pela

costa africana.

Língua Portuguesa e Literatura 231


Figura 4: Pintura de Vasco da Gama, protagonista por excelência de Os Lusíadas, na chegada à Índia.

Henrique
O décimo-sétimo Rei de Portugal, tendo governado entre 1578
Canto V – estrofes 4 e 5
e a sua morte, em1580.
Assim fomos abrindo aqueles mares,
Que geração alguma não abriu, Mauritânia
As novas ilhas vendo e os novos ares,
Atualmente, é um país situado no noroeste da África, na região
do deserto do Saara.
Que o generoso Henrique descobriu;

De Mauritânia os montes e lugares, Anteu


Na mitologia grega, era filho de Posídon e Gaia. Extremamente
Terra que Anteu num tempo possuiu,
forte quando em contato com o chão (ou a Terra, a sua mãe),
Deixando à mão esquerda; que à direita
desafiava todos os seus possíveis rivais para combates corpo a
Não há certeza doutra, mas suspeita. corpo, que terminavam invariavelmente com a morte do seu
adversário.
Passamos a grande Ilha da Madeira,
Que do muito arvoredo assim se chama, Ilha da Madeira
Das que nós povoamos, a primeira,
Principal ilha do arquipélago da Madeira, situado no Oceano
Mais célebre por nome que por fama: Atlântico, a sudoeste da costa portuguesa.
Mas nem por ser do mundo a derradeira
Vénus
Se lhe aventajam quantas Vénus ama,
Deusa romana equivalente a Afrodite na tradição grega; é a
Antes, sendo esta sua, se esquecera
deusa do Amor e da Beleza
De Cipro, Gnido, Pafos e Cietra.

Fonte: http://www.oslusiadas.com/content/view/22/45/

232
Cipro, Gnido, Pafos e Cietra

O culto de Afrodite, deusa grega da beleza e do amor, era universal. Na Grécia, seus templos principais eram os de Pafos, Ama-
tonte e Idalia na Ilha de Chipre; o de Gnido em Carla; o de Cietra no Peloponeso e do Monte Erix na Sicília

Com o passar do tempo, já a partir do século XIX, a narração de histórias passou a ocorrer predominantemente

em prosa, e não mais apenas em versos, motivo pelo qual os estudiosos passaram a denominar de gênero narrativo.

O conto “A Cartomante”, de Machado de Assis, é um exemplo do gênero narrativo.

Os textos do gênero épico/narrativo apresentam um narrador, aquele que conta uma sucessão de
ações (enredo) dos personagens no tempo e no espaço.

Bem, e a que conclusão podemos chegar?

Os gêneros literários sofrem as mesmas influências do tempo como qualquer outro fenômeno ou traço da arte

e da cultura. A epopeia, por exemplo, narrativa em versos sobre os feitos e heróis de um povo de que falamos antes,

foi importantíssima na Antiguidade Clássica e no Classicismo, já no século XVI. Por outro lado, a partir do século XIX, o

homem passou a contar suas histórias preferencialmente em prosa, e, com o Romantismo, desenvolveu-se um tipo de

narrativa, chamada de romance, e, posteriormente, o conto – gêneros que continuam até hoje.

2. O gênero dramático

Produção Textual

Você já teve oportunidade de ver ou de participar da encenação de uma peça de

teatro? Como era o texto da peça? Relate a sua experiência.

O gênero dramático é aquele que se realiza no teatro. Quer dizer: o texto dramático é para ser encenado, repre-

sentado numa peça teatral. Também é o gênero usado para a criação de filmes, séries e novelas de TV, etc.

Para compreender melhor o gênero dramático, propomos a você uma atividade. Vamos lá?

Língua Portuguesa e Literatura 233


Leia o seguinte fragmento de um texto de teatro. Num primeiro momento, apenas

observe a organização do texto na página. Note os vários tipos de letra usados do texto.

Em seguida, cite três diferenças entre este texto e os textos 1, narrativo, A Cartoman-
te, e o 2, o poema Livros e Flores, apresentados na Atividade 1, no início desta unidade.

O Pagador de Promessas

Padre Olavo surge na porta da igreja.

SACRISTÃO (Como se tivesse sido surpreendido em falta.) Padre Olavo!...


ZÉ – Preciso falar com ele.
Sacristão dirige-se apressadamente à igreja. Para na porta, ante o olhar intimi-
dador do Padre. É um padre moço ainda. Deve contar, no máximo, quarenta
anos. Sua convicção religiosa aproxima-se do fanatismo.Talvez, no fundo, isto
seja uma prova de sua falta de convicção e uma autodefesa. Sua intolerância -
que o leva, por vezes, a chocar-se contra princípios de sua própria religião e a
confundir com inimigos aqueles que estão do seu lado – não passa, talvez, de
uma couraça com que se mune contra a fraqueza consciente.

PADRE (Para o Sacristão) – Que está fazendo aí?

SACRISTÃO (À guisa de defesa.) – Estava conversando com aqueles homens.

PADRE – E eu lá dentro à sua espera, para ajudar à missa. (Repara em Bonitão e


Zé-do-Burro.) Quem são?
SACRISTÃO - Não sei. Um deles quer falar com o senhor.

ZÉ (Adianta-se.) - Sou eu, Padre. (Inclina-se, respeitoso, e beija-lhe a mão.)


PADRE - Agora está na hora da missa. Mais tarde, se quiser...
ZÉ - É que vim de muito longe, Padre. Andei sete léguas.
PADRE - Sete léguas? Para falar comigo?
ZÉ - Não, pra trazer esta cruz.

PADRE (Olha a cruz detidamente.) - E como a trouxe, num caminhão?


ZÉ - Não, padre, nas costas.

SACRISTÃO (Expandindo infantilmente a sua admiração.) - Menino!

PADRE (Lança-lhe um olhar enérgico.) - Psiu! Cale a boca! (Seu interesse por Zé-
-do-Burro cresce.) Sete léguas com esta cruz nas costas. Deixe ver seu ombro.
Zé-do-Burro despe um lado do paletó, abre a camisa e mostra o ombro. Sacris-
tão espicha-se todo para ver e não esconde a sua impressão.
SACRISTÃO - Está em carne viva!

PADRE (Parece satisfeito com o exame.) - Promessa?

234
ZÉ (Balança afirmativamente a cabeça.) - Pra Santa Bárbara. Estava esperando
abrir a igreja...
SACRISTÃO - Deve ter recebido dela uma graça muito grande!
Padre faz gesto nervoso para que Sacristão se cale.
ZÉ - Graças à Santa Bárbara a morte não levou o meu melhor amigo.

PADRE (Parece meditar profundamente sobre a questão.) - Mesmo assim, não


lhe parece um tanto exagerada a promessa? E um tanto pretensiosa também?
ZÉ - Nada disso, seu Padre. Promessa é promessa. É como um negócio. Se a
gente oferece um preço, recebe a mercadoria, tem de pagar. Eu sei que tem
muito caloteiro por aí. Mas comigo, não. É toma lá, dá cá. Quando Nicolau
adoeceu, o senhor não calcula como eu fiquei.
PADRE - Foi por causa desse... Nicolau, que você fez a promessa?
ZÉ - Foi. Nicolau foi ferido, seu Padre, por uma árvore que caiu, num dia de
tempestade.
SACRISTÃO - Santa Bárbara! A árvore caiu em cima dele?!
ZÉ - Só um galho, que bateu de raspão na cabeça. Ele chegou a casa, escorren-
do sangue de meter medo! Eu e minha mulher tratamos dele, mas o sangue
não havia meio de estancar.
PADRE - Uma hemorragia. ZÉ - Só estancou quando eu fui ao curral, peguei um
bocado de bosta de vaca e taquei em cima do ferimento.

PADRE (Enojado) Mas, meu filho, isso é atraso! Uma porcaria!


ZÉ - Foi o que o doutor disse, quando chegou. Mandou que tirasse aquela
porcaria de cima da ferida, que senão Nicolau ia morrer.
PADRE - Sem dúvida.
ZÉ - Eu tirei. Ele limpou bem a ferida e o sangue voltou que parecia uma ca-
choeira. E quede que o doutor fazia o sangue parar? Ensopava algodão e mais
algodão e nada. Era uma sangueira que não acabava mais. Lá pelas tantas, o
homenzinho virou pra mim e gritou: corre, homem de Deus, vai buscar mais
bosta de vaca, senão ele morre!
PADRE - E... o sangue estancou?
ZÉ - Na hora. Pois é um santo remédio. Seu Vigário não sabia? Não sendo de
vaca, de cavalo castrado também serve. Mas há quem prefira teia de aranha.
PADRE - Adiante, adiante. Não estou interessado nessa medicina.
ZÉ - Bem, o sangue estancou. Mas Nicolau começou a tremer de febre e no dia
seguinte aconteceu uma coisa que nunca tinha acontecido: eu saí de casa e
Nicolau ficou. Não pôde se levantar. Foi a primeira vez que isso aconteceu, em
seis anos: eu saí, fui fazer compras na cidade, entrei no Bar do Jacob pra tomar
uma cachacinha, passei na farmácia de seu Zequinha pra saber das novidades
– tudo isso sem Nicolau. Todo mundo reparou, porque quem quisesse saber
onde eu estava, era só procurar Nicolau. Se eu ia à missa, ele ficava esperando
na porta da igreja...
PADRE – Na porta? Por que ele não entrava? Não é católico?

Língua Portuguesa e Literatura 235


ZÉ – Tendo uma alma tão boa, Nicolau não pode deixar de ser católico. Mas
não é por isso que ele não entra na igreja. É porque o vigário não deixa. (Com
grande tristeza.) Nicolau teve o azar de nascer burro, de quatro patas.
PADRE – Burro?! Então esse que você chama de Nicolau é um burro?! Um animal?!

Fonte: Fragmento de: GOMES, Dias. O pagador de promessas. 34.a edição. Rio de Janei-
ro: Bertrand do Brasil,1997. p. 62-67

O Pagador de Promessas, de Dias Gomes, é uma das peças brasileiras mais premiadas e que, levada para
o cinema, recebeu prêmios em festivais internacionais importantes. Tem como personagem principal
um homem simples do sertão baiano, que faz a promessa de carregar uma enorme cruz de madeira
até uma igreja de Santa Bárbara. Sua mulher acompanha-o, sem a convicção dele. Depois de andar
sete léguas, chega à igreja, que está fechada. Ingênuo, ele não percebe a malícia e a má fé de pessoas à
volta da igreja, para a festa da Santa. O trecho apresenta a cena em que a igreja é aberta e ele conversa
com Sacristão e com o Padre.

Bem, após a leitura do fragmento de O Pagador de Promessas, você deve ter percebido que:

1. os nomes das personagens que vão falar aparecem em destaque, em geral em caixa alta (como “PADRE”).

2. o texto dramático não apresenta um narrador, como acontece no texto narrativo; e, por isso, seu autor usa

as chamadas rubricas, isto é, as orientações que são colocadas entre parênteses, geralmente em letra dife-

rente (itálico), para indicar a forma como aquela situação/fala deve ser desenvolvida. Veja, por exemplo,

no início do texto:

PADRE (Para o Sacristão) – Que está fazendo aí?

SACRISTÃO (À guisa de defesa) – Estava conversando com aqueles homens.

PADRE – E eu lá dentro à sua espera para ajudar à missa. (Repara em Bonitão e Zé-do-Burro.) Quem são?

(...)

As rubricas podem apresentar informações sobre o cenário, sobre as personagens, sua entrada e saída de

cena, suas reações e manifestações. Perceba que elas praticamente substituem as descrições e trechos que,

numa narração, seriam do narrador.

236
Essa apresentação gráfica diferente, com uso de diferentes tipos de letra costuma afastar as pessoas da

leitura de peças teatrais. No entanto, se você entender as rubricas como uma substituição do narrador, logo

se acostumará com essas características e se sentirá à vontade lendo textos do gênero dramático (teatro).

3. Outra característica do texto de teatro é que ele é dividido em cenas e atos. Cena é um momento da peça

em que estão no palco as mesmas personagens. Ato é um conjunto de cenas que formam uma unidade,

dentro da história/conflito.

Agora, vamos compreender melhor o enredo do texto O Pagador de Promessas.

Leia novamente o texto de teatro apresentado e responda às perguntas que se se-

guem.

a. O padre surpreendeu-se com a promessa feita pelo Zé-do-Burro? Por quê?

b. Quais as características principais do protagonista (personagem principal) Zé-

-do-Burro? Como você o descreveria?

c. Por que o Padre quis ver o ombro de Zé-do-Burro?

d. Na sua opinião, o Zé-do-Burro conseguirá entrar na igreja com a cruz? Por quê?

e. Qual é a problemática social discutida no texto?

Ainda, de acordo com o assunto e a maneira de tratá-lo, o gênero dramático pode se apresentar em diferentes

espécies, que variam bastante: a tragédia, a comédia, o auto, o drama e a tragicomédia.

Na Antiguidade, os gregos cultivavam duas espécies de peças teatrais: a tragédia e a comédia. A tragédia ali-

mentava-se de situações trágicas, vindas da fatalidade, que tornava o protagonista ao mesmo tempo culpado e ví-

tima. Era dirigida aos nobres, numa linguagem requintada e em verso. A comédia era oferecida à população plebeia

(classe menos favorecida) e retratava pessoas do povo. Sua linguagem era muito mais próxima da coloquial e, por

vezes, até mesmo vulgar.

Língua Portuguesa e Literatura 237


3. O gênero lírico

A origem do nome lírico vem do instrumento musical de cordas – a lira - que, na Antiguidade acompanhava os

poemas, que eram cantados. Isso mesmo: os poemas eram escritos para serem cantados.

Figura 5: Mulher tocando lira. Fotografia que reproduz a Antiguidade Clássica.

A poesia lírica é aquela que fala de sentimentos íntimos, emoções, e inquietações individuais, geralmente

ligadas a questões amorosas e bem subjetivas, como lamentos, melancolia, tristeza, alegria. Esses sentimentos são

“falados” por um EU e, por isso, dizemos que é um ‘eu lírico’.

Durante a Idade Média, o movimento literário é chamado de Trovadorismo.Os poemas eram escritos para se-

rem cantados e o poeta era chamado de trovador. Por isso, os poemas são chamados de cantigas. Veja, no exemplo a

seguir, uma cantiga lírica de amigo de um dos mais famosos trovadores da Idade Média, D. Diniz.

Trovadorismo
O primeiro movimento literário em Língua Portuguesa é chamado de Trovadorismo, que surgiu du-
rante a Idade Média e começou a despontar em Portugal, por volta do século XII. São chamados de
trovadores aqueles que compunham as poesias e as melodias que as acompanhavam. Essas poesias
cantadas eram chamadas cantigas.

As cantigas recebiam classificações, conforme o conteúdo que apresentavam: as que expressavam


sentimentos e emoções de um “eu lírico”, ou seja, a voz que nos fala pelos versos, são chamadas de can-
tigas de amigo e cantigas de amor; também compunham cantigas de cunho satírico, como propósito
de criticar pessoas e costumes – são as cantigas de escárnio e de maldizer. Em todas elas, os autores
eram homens, mas, nas cantigas de amigo, o autor expressa os sentimentos de uma mulher, isto é, o
autor é um homem, mas quem fala e expressa os sentimentos é um “eu lírico” feminino.

238
Repare que a voz que fala nos versos (o “eu lírico”) não é a do autor e sim a de uma mulher que canta a ausência

do seu namorado e a aflição de sentir-se abandonada. Ela representa os sentimentos de muitas donzelas que se viam

abandonadas pelos homens que iam para a guerra. Por isso, é uma cantiga de amigo.

Ai flores, ai flores do verde pinho


se sabedes novas do meu amigo, pinho
ai deus, e u é?
pinheiro.

Ai flores, ai flores do verde ramo,


eué
se sabedes novas do meu amado,
e onde está?
ai deus, e u é?

do que pôs comigo


Se sabedes novas do meu amigo,
aquele que mentiu do que pôs comigo, sobre aquilo que combinou comigo.
ai deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado,


aquele que mentiu do que me há jurado
ai deus, e u é? [...]

Veja uma interpretação da cantiga de amigo no site:


http://www.youtube.com/watch?v=xYcoFmyOfo0&feature=related

Nesta cantiga, o poeta é um homem, mas “encarna” os sentimentos de uma mulher – uma moça solteira que

sente saudades do namorado. Assim, o autor é masculino, mas o eu-lírico – a voz que fala no poema - é uma mulher.

Em geral, essas cantigas têm como cenário um ambiente natural e o diálogo se dá entre uma donzela, que expressa

seus setimentos em relação ao “ namorado”, e sua mãe ou alguma amiga. É, portanto, uma poesia do gênero lírico.

Língua Portuguesa e Literatura 239


O gênero lírico tem como característica essencial a exposição de emoções, da subjetividade, por meio de
um “eu” que fala no poema, que conta suas emoções e sentimentos. Esse “eu” que fala no texto do gênero
lírico é chamado de “eu-lírico” e não é o poeta.

Em geral, nos textos líricos, predomina o tempo presente – afinal, o sentimento de que trata o texto está sendo

“sentido” no momento em que se fala. Por isso, dizemos que a lírica é sempre atual e atemporal.

Vamos ler e experimentar a seguir, um poema lírico de Luís Vaz de Camões, escritor português de uma época

conhecida como Renascimento, no século XV, porque o artista propõe um “renascer” dos valores da Antiguidade Clás-

sica. Classicismo, ou Quinhentismo (pois acontece no século XV), é o nome dado ao período literário que surgiu nessa

época do Renascimento, um período de grandes transformações culturais, políticas e econômicas.

Amor é fogo que arde sem se ver;


É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer

É um não querer mais que bem querer;


É um solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;


É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor


Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

(http://pt.wikipedia.org/wiki/Amor_%C3%A9_fogo_que_arde_sem_se_ver)

240
1. Quanto à composição das estrofes:

Este poema é composto por 4 estrofes (conjuntos de versos): duas estrofes de 4 versos (quartetos) e duas de

3 versos (tercetos ou trios). Essa é a estrutura de um SONETO. Todos os sonetos são organizados dessa mesma forma.

2. Quanto à sonoridade:

O poema apresenta valorização da sonoridade, evidente no ritmo e em várias combinações sonoras.

O ritmo é uma sucessão de sons ou movimentos que se repetem regularmente. No poema, o ritmo se constrói,

principalmente, pela métrica, isto é, pela divisão das sílabas poéticas de cada verso.

Conforme a análise da primeira estrofe do poema, percebemos que a métrica é regular, composta apenas por

versos com 10 sílabas poéticas (versos decassílabos ou em medida nova):

A / mor / é / fo / go / que-ar / de / sem / se / ver;


1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

É / fe / ri / da / que / dói / e / não / se / sen / te;


1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

É / um / com / ten / ta / men / to / des / con / ten / te;


1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

É / dor / que / de / sa / ti / na / sem / do / er


1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

A Métrica
Métrica é a medida de um verso, definida pelo número de sílabas poéticas ou métricas.
A sílaba poética nem sempre corresponde a uma sílaba gramatical. Na divisão (ou contagem) das síla-
bas poéticas de um verso, devemos considerar a emissão de voz do verso como um todo. Assim, para
contarmos corretamente as sílabas poéticas, devemos ter atenção para alguns aspectos:

1. não contamos as sílabas poéticas que estão após a última sílaba tônica do verso;

2. os ditongos têm valor de uma só sílaba poética;

3. duas ou mais vogais, átonas ou até mesmo tônicas, podem fundir-se entre uma palavra
e outra, formando uma só sílaba poética.

Língua Portuguesa e Literatura 241


A sonoridade envolve as várias combinações sonoras. A primeira dessas combinações é a que ocorre nas rimas,

nos finais dos versos. Trata-se de uma coincidência de sons, no final de cada verso, a partir da última sílaba tônica.

Veja as rimas na primeira estrofe do soneto:

Amor é fogo que arde sem se vER; (A)

É ferida que dói e não se sENTE; (B)

É um contentamento descontENTE; (B)


É dor que desatina sem doER (A)

Você observou que as partes marcadas nas palavras se repetem? Perceba a rima de,vER com doER, e de dOR,

com fOR. Pois é, para marcar como as rimas acontecem, usamos as letras maiúsculas do alfabeto. Assim, a cada nova

rima, atribuímos uma letra do alfabeto.

De acordo com a “arrumação” das rimas nos versos, podemos dizer que Camões usou, nas primeira e segunda

estrofes do soneto, um esquema de rimas que se organiza em ABBA.

Assim como o gênero épico, também o lírico se transforma com o homem no transcorrer do tempo, da mesma

forma que os homens mudam seus pensamentos, suas formas de expressão, formas de se comportar etc.

Camões, por exemplo, viveu num tempo em que se enfatizava o amor platônico – aquele que fica só no campo

das ideias. No entanto, ele demonstrava, em vários de seus sonetos, uma constante luta interior entre o amor ideali-

zado, espiritualizado e o amor material, terreno, carnal, fonte de sofrimento constante.

Em outras épocas, diferentes autores fizeram poemas com o tema do amor. Veja alguns exemplos mais atuais:

1.
Eu não vou negar Que a vida é feita pra viver.
Que sou louco por você, É o Amor,
"Tô" maluco pra te ver; Que veio como um tiro certo
Eu não vou negar. No meu coração;
(...) Que derrubou a base forte
Eu não vou negar Da minha paixão
Que sou louco por você, E fez eu entender que a vida
"Tô" maluco pra te ver; É nada sem você.
Eu não vou negar.
(...)

(Fragmento É o Amor. Zezé de Camargo e Luciano, in: http://letras.terra.com.br/zeze-di-camargo-e-luciano/65177/

242
2.

E assim, quando mais tarde me procure [...]


Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):


Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Extrato Soneto de Fidelidade - Vinícius de Moraes

Seção 3
A Literatura reflete o tempo

Além dos elementos que caracterizam o gênero literário de uma obra, exercem grande influência os contextos

social, político, econômico, filosófico em que ela foi escrita. Dessa forma, uma obra passa a ter as características desse

tempo, comuns a diferentes artistas durante um mesmo período, ou seja, pertence a um estilo de época.

Estilo de época é o conjunto de características que um grupo de escritores e artistas apresenta em co-
mum, devido às mesmas circunstâncias históricas, políticas e sociais que os envolveram e os influencia-
ram. Apesar de os artistas de um mesmo tempo apresentarem características comuns, cada um escreve,
expressar sua arte, de acordo com seu próprio estilo, segundo suas características pessoais, ou seja, seu
estilo individual.

Se, em dado momento, o homem se vê impregnado de pessimismo diante da vida, vivenciando situações de

morte ou de desilusões, numa realidade que não o satisfaz, também sua obra, sua arte, irá tratar esses temas e expres-

sar esses sentimentos, determinando um estilo de época literário.

Veja, a seguir, a reprodução de uma pintura do século XVII, do Barroco. Nessa época, as questões religiosas

eram conflitantes e a dúvida era uma constante. Note o jogo entre a claridade (à esquerda da tela) e a escuridão (à

direita); perceba ainda as sombras e a fisionomia dos personagens que transparecem o que sentem na situação.

Língua Portuguesa e Literatura 243


Figura 6: A Coroação de Cristo, Van Dyck, 1620, Flandres, exposto em Madrid.

Por outro lado, se a ciência toma um novo rumo, se novas descobertas acontecem, modificando a maneira de

se ver a sociedade, a arte também vai representar este momento; apresentará mais razão, mais objetividade, menos

emoção e sentimentos. Logo, teremos outro estilo, que caracteriza outra época.

Por exemplo, do século XIV até o século XVI, durante o Renascimento, houve grandes descobertas científicas

e tecnológicas que motivaram o homem a pensar de maneira mais racional, preocupando-se com a condição desse

homem no mundo.

Diferente da pintura barroca na Figura 6 anterior, a Figura 7, a seguir, de Leonardo da Vinci, representa o Re-

nascimento do século XV. Apesar de retratar também um tema religioso – o Anjo Gabriel anuncia a chegada de Jesus

a Maria - observe a claridade da tela ao fundo, a simetria entre os elementos retratados e a ausência de expressão

de sentimentos nos personagens. Esses elementos demonstram mais objetividade do artista na forma de retratar as

cenas de uma época mais racional, em equilíbrio com as questões do mundo e, portanto, com mais clareza diante das

situações.

Figura 7: A anunciação, Leonardo da Vinci.

244
E agora, vamos observar essa diferença de estilos de época na literatura?

Quando os portugueses chegaram ao Brasil, em 1500, Pero Vaz de Caminha escre-

veu uma carta ao rei de Portugal, relatando a nova terra recém- descoberta. Leia o frag-

mento desta carta, considerada como o primeiro documento escrito sobre nossa terra e

nossa gente.
Texto 1

A Carta
Senhor,
Posto que o Capitão-mor desta Vossa frota, e assim os outros capitães escre-
vam a Vossa Alteza a notícia do achamento desta Vossa terra nova, que se ago-
ra nesta navegação achou, não deixarei de também dar disso minha conta a
Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que — para o bem contar e
falar— o saiba pior que todos fazer!
(...)
E dali avistamos homens que andavam pela praia, uns sete ou oito, segundo
disseram os navios pequenos que chegaram primeiro.(...)
(...) Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira, é graciosa que, querendo-a
aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem!
Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta
gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar.
(...)

Pero Vaz de Caminha


(In. http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000283.pdf )

A linguagem desta carta pode parecer meio estranha para nós, não? Contudo, vale

lembrar que há uma distância temporal bastante significativa entre a época em que foi

escrita e a época de hoje.

1. Retire do texto o trecho em que Pero Vaz de Caminha conta ao Rei:

a. o descobrimento da nova terra;

b. que há um povo que vive nessa terra;

c. a beleza e os recursos naturais dessa nova terra;

d. a necessidade de catequizar os índios, considerados primitivos pelos portugueses.

Língua Portuguesa e Literatura 245


Já no início do século XX, Oswald de Andrade, poeta do Modernismo, outro estilo

de época, fez uma paródia da Carta de Caminha, fazendo uma crítica à colonização portu-

guesa.

Intertextualidade e Paródia
Quando um texto faz uma referência explícita ou implícita a um outro, ou
quando uma obra faz alusão à outra, dizemos que ocorreu intertextuali-
dade, ou seja, um diálogo entre os dois textos.

A paródia é uma forma de intertextualidade, pois a voz do texto original


é retomada, mas seu sentido modificado, levando o leitor a uma nova
reflexão, às vezes crítica, às vezes cômica. O autor da paródia utiliza-se de
elementos do texto original para criar uma nova versão.

Leia o fragmento em que Oswald de Andrade mostra que os portugueses encontra-

ram o povo que aqui habitava:

Texto 2

Pero Vaz de Caminha


(...)
Os selvagens
Mostraram-lhes uma galinha
Quase haviam medo dela
E não queriam pôr a mão
E depois a tomaram como espantados
(...)

Oswald de Andrade
(in: http://arquivos.unama.br/nead/graduacao/cche/letras/4semestre/form_lit_bras/
atividades/pdf/uni_1_atividade1.pdf )

246
No poema, Oswald de Andrade colocou-se na mesma perspectiva de Caminha no

momento em que os portugueses aqui chegaram. Assim, mostra a maneira como os colo-

nizadores se sentiam superiores em relação ao povo que encontraram na nova terra.

2. Que elemento o autor do texto usou para mostrar o desprezo dos portugueses pelos índios?

3. De acordo com o que é relatado na estrofe do poema, como podem ser caracterizados

os índios, segundo a visão dos portugueses colonizadores?

Agora, leia o fragmento de outra paródia da Carta de Caminha. Esta foi escrita em

nossos dias e está disponível em um blog na Internet:

Paródia da Carta de Caminha


Olá, meu amado Rei, aqui quem fala é o Pero Vaz. Está me ouvindo bem?
Peguei emprestado o celular de um nativo aqui da nova terra. Tudo bem, Capi-
tão Pedro está lhe mandando um abraço. Chegamos na terça, 21 de abril, mas
deixei para ligar no Domingo porque a ligação é mais barata.
É aqui tem dessas coisas. Os nativos ficaram espantados com a nossa chegada
por mar, não achavam que éramos Deuses, Majestade. Acharam que éramos
loucos de pisar em um mar tão sujo.
(....)
É uma terra muito rica, Majestade. Acho que desta vez acertamos em cheio.
Isso aqui ainda vai ser o país do futuro...

(por Bond Bilau.In http://www.oclick.com.br/colunas/humor10.html, acesso em


02/07/2011.)

Também aqui, o autor do texto se coloca como se fosse o próprio Caminha que rela-

tasse o descobrimento do Brasil.

4. Retire do texto os elementos que descaracterizam o tempo passado, de 1500, e que

trazem o fato para os nossos dias.

5. Na Carta original, Caminha diz que as “As águas são muitas, infindas(...)”. Que crítica per-

cebe-se na paródia em questão?

6. Considerando que o ponto de partida para a criação da paródia é uma carta escrita em 1500,

que outra crítica percebe-se no final do texto, em “Isso aqui ainda vai ser o país do futuro...”?

Língua Portuguesa e Literatura 247


E então, você percebeu como, a partir de um mesmo fato - o Descobrimento do Brasil –, os autores dos textos

mostraram diferentes visões? Na verdade, cada autor retratou o mesmo fato de acordo com a visão própria da época

em que cada um vive, adaptando a linguagem ao seu tempo. Veja:

a. Em A Carta, de Pero Vaz de Caminha, temos a visão do colonizador que, em virtude do Ciclo das Nave-

gações, vai em busca de novas terras para enriquecer seu povo e seu país;

b. No poema de Oswald de Andrade, depreendemos uma crítica a este povo colonizador, em uma tenta-

tiva de desfazer o caráter heroico que o povo português ainda recebia na época (início do século XX);

c. Já na paródia do blog, notamos uma preocupação com o Brasil de hoje, com a poluição dos recursos

naturais e com o futuro do país que ainda parece incerto, apesar do avanço tecnológico (afinal, ele – no

caso Caminha - fala ao celular com o Rei de Portugal!).

Dessa forma, cada texto apresenta um conjunto de características próprias do seu tempo e pertence a um

determinado estilo de época.

Cada estilo de época ocorre num determinado espaço de tempo, denominado período literário. Assim, cada

período literário corresponde a uma fase em que determinados valores ideológicos, filosóficos, históricos, culturais

e estéticos propiciam a criação de obras literárias que se aproximam pelo estilo que adotam e pela visão de mundo

que apresentam.

Estéticos

relativo à estética - estudo que determina o caráter daquilo que é belo nas produções naturais e
artísticas. A estética também aborda o sentimento que alguma coisa bela desperta dentro de cada
um de nós.

Seção 4
Os períodos literários

Os períodos literários também são conhecidos como escolas, correntes ou movimentos literários. Estudar os

períodos literários ao longo da história é compreender o conjunto de valores artísticos, culturais e ideológicos do

homem dentro de uma sociedade.

248
E o que marca o início e o término de cada período literário?

Há certas circunstâncias históricas – como crises políticas, guerras, mudanças abruptas de poder político e eco-

nômico, entre outras condições – que motivam a criação de uma arte nova, de um estilo novo e de uma nova maneira

de registrar as coisas. Isso proporciona o surgimento de um novo período literário.

Entretanto, o nascimento de uma nova corrente artística, estética, literária não apaga a beleza, os sentimentos

e as características do período anterior – até porque as obras escritas nesse período continuarão a existir e a serem

lidas, não é mesmo? Dessa forma, elas continuarão a influenciar as pessoas ao longo do tempo.

No Brasil, por causa da colonização portuguesa, nossa literatura corresponde às influências das manifestações

e dos estilos de época que aconteciam em Portugal e na Europa. Até o século XIX, quando o Brasil tornou-se indepen-

dente de Portugal, as manifestações literárias eram uma espécie de desdobramento da Literatura Portuguesa. Aos

poucos, tal qual nossa nação, também a literatura foi se tornando independente e ganhou plena autonomia no início

do século XX, dando início a um novo estilo de época, chamado Modernismo.

A história da literatura brasileira está dividida em dois grandes momentos: a Era Colonial e a Era Nacional. Esses

momentos acompanham toda a trajetória política e econômica de nosso país. Vejamos:

2. 1. Os estilos de Época da Era Colonial

Períodos
Quinhentismo Barroco Arcadismo
Literários
Época Século XVI Século XVII Século XVIII
a) Expansão Marítima de a) Movimento da Contrarrefor- a) Na Europa:

Portugal: novos descobri- ma na Europa - movimento da


ƒƒ Iluminismo
mentos Igreja Católica para retomar o

seu poderio pela Europa. ƒƒ a Revolução Francesa


b) A Companhia de Jesus:

Fatos b)o ciclo da cana-de-açúcar na b) No Brasil


Movimento católico que
Históricos Bahia e a chegada dos negros
leva padres missionários (je- ƒƒ o ciclo do ouro, em Minas

suítas) às novas terras portu- c) escravos vindos da África; as Gerais;

guesas recém-descobertas invasões dos holandeses no


ƒƒ a Inconfidência Mineira.
Brasil.
c) O Descobrimento do Brasil.

Língua Portuguesa e Literatura 249


ƒƒ A Literatura de Informa- ƒƒ A poesia de Gregório de ƒƒ A poesia lírica: Tomás An-
ção: os cronistas portu- Matos Guerra, Bahia. tônio Gonzaga, Cláudio
gueses, a Carta de Cami- Manoel da Costa.
Manifestações ƒƒ Os sermões de Padre Antô-
nha.
nio Vieira ƒƒ A poesia épica: Basílio da
Literárias
ƒƒ A Literatura Jesuítica ou Gama, Santa Rita Durão.
de Catequese: a poesia
de Padre Anchieta.

2.2.Os estilos de época da Era Nacional no Brasil

A partir de 1822, com a Independência do Brasil proclamada, iniciou-se uma arte e uma literatura com mais

autonomia em relação a Portugal. Nossas obras, poemas e romances dão mais atenção aos problemas, costumes e

cultura nacionais. Daí, a Era Nacional, que corresponde aos seguintes períodos literários:

Períodos Realismo, Naturalismo


Romantismo Simbolismo Modernismo
Literários e Parnasianismo

Época Século XIX – 1ª metade Século XIX – 2ª metade Fins do século XIX Século XX

a) Na Europa: a) Na Europa: a) Na Europa: a) Na Europa:

ideais da Revolução - cientificismo - período de con- -a Segunda Guerra Mundial;


Francesa:liberdade; bur- flito – pré-guerra
- socialismo -a crise econômica mundial.
guesia no poder; início mundial;
do confronto de classes -evolucionismo -novas invenções: a máquina,
- a divisão da África;
sociais . a velocidade, a luz.
- as lutas de classe.
- Psicanálise de
b) No Brasil: b) No Brasil:
b) No Brasil: Freud.
- a chegada da família -o ciclo do café no Rio de Ja- - a política do café com leite
Fatos b) No Brasil:
real de Portugal; (Minas Gerais e São Paulo),
neiro e em São Paulo;
Históricos - as revoltas no Bra-
- abertura dos portos; - a Semana de Arte Moderna,
-a decadência da monar- sil – da Armada, da
em São Paulo, em 1922.
- Rio de Janeiro como ca- quia; Vacina, da Chibata,
pital da colônia; - a Era Vargas.
-luta pela Abolição da escra- de Canudos;
- ampliação da vida cul- vatura; - a República de
tural, com teatros, biblio- -e pela Proclamação da Re- Floriano Peixoto.
tecas, imprensa. pública.

250
Poesia Lírica: Prosa Realista: Poesia Simbo- Rica produção de obras em
prosa e em verso.
1ª geração: Poesia Na- ƒƒ romances, contos e lista
Divide-se em três fases:
cionalista e Indianista crônicas em que pre-
ƒƒ valorização a) Primeira Fase (1922 a
Autor: Gonçalves de Ma- dominam a razão,a
da intuição e 1930):
galhães e Gonçalves Dias frieza,ausência de
do sonho;
sentimentos e a ob- ƒƒ visão nacionalista e
ƒƒ 2ª geração: Poesia
servação minuciosa ƒƒ temas subje- crítica da realidade
Mal do Século ou brasileira;
dos fatos. tivos;
Ultrarromântica
Autores: Álva- ƒƒ Autores: Oswald de An-
ƒƒ Principal autor: Ma- ƒƒ aproximação
res de Azevedo, drade, Manuel Bandei-
chado de Assis com a música. ra e Mário de Andrade,
Fagundes Varela,
Antônio de Alcântara
Casimiro de Abreu Prosa Naturalista: ƒƒ Autores:
Machado.
Cruz e Sousa,
ƒƒ 3ª geração: Poesia ƒƒ predomínio de ro- b) Segunda Fase ( 1930 a
Alphonsus de
Social ou Condo- mances de cunho so- 1945):
Guimaraens
reira cial e urbano;narram ƒƒ consolidação dos
Autor: Castro Alves fatos em que o ideais da primeira fase;
homem é visto como problemas sociais
Prosa Romântica: produto do meio em e políticos do povo
brasileiro.
Romances Indianistas, que vive e, como re-
Social e Urbanos, Regio- sultado, é um homem ƒƒ Autores: Poesia - Ce-
Manifesta- nalistas. com vícios, desejos cília Meireles e Murilo
incontroláveis e pro- Mendes
ções
ƒƒ Contos blemas de caráter. ƒƒ Prosa - Jorge Amado,
Literárias Graciliano Ramos e
ƒƒ Autores: José de ƒƒ Autores: Aluísio de
Raquel de Queirós.
Alencar, Joaquim Azevedo, Raul Pom-
Manuel de Mace- c) Terceira Fase (a partir
peia, Inglês de Sousa,
do, Bernardo Gui- de 1945):
Júlio Ribeiro.
marães, Franklin ƒƒ momento cultural mui-
Távora, Visconde Poesia Parnasiana: to rico, com produções
D’Taunay, literárias;
ƒƒ valorização da esté-
Teatro: Martins ƒƒ diferentes gêneros
tica e da perfeição
Pena literários
artística; preocupa-
ção formal. ƒƒ experimentos temáti-
cos e linguísticos.
ƒƒ Autores: Alberto de
Oliveira, Olavo Bilac, ƒƒ Autores:
Raimundo Correia, na prosa, destacam-
Francisca Júlia. -se Guimarães Rosa e
Clarice Lispector ; na
No teatro: Artur Azevedo, poesia, Carlos Drum-
Machado de Assis mond de Andrade,
Murilo Mendes, Cecília
Meireles,João Cabral
de Melo Neto, Vinicius
de Moraes.

Língua Portuguesa e Literatura 251


Agora que você já tomou conhecimento das características gerais dos estilos de época da Literatura após a

Independência do Brasil, vamos fixar melhor o conteúdo?

Os poemas que seguem são, respectivamente, de Álvares de Azevedo, do Romantis-

mo, e de Augusto dos Anjos, do Pré-Modernismo, com influência do Simbolismo.


6 Lendo e analisando-os, você perceberá uma nítida diferença entre a concepção de

mundo expressa por ambos os autores, embora o assunto seja o mesmo – a morte. Dessa

forma, procure retratá-las, levando em consideração o fato de que os estilos de época são

demarcados por características distintas.

Elabore um texto objetivo e claro em que você compara os dois poemas:

Lembrança de Morrer
Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nenhuma lágrima
Em pálpebra demente.
E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.
Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poento caminheiro,
... Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;

Álvares de Azevedo
(AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. São Paulo: Melhoramentos, 1999. )

252
Versos íntimos
6
“Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -

Foi tua companheira inseparável!


Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!


O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,


Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!”

Augusto dos Anjos


(ANJOS, Augusto dos (1996). Obra Completa. Rio de Janeiro, Aguilar.)

Terminada a atividade, você deve ter percebido que, ao longo do tempo, embora de maneira diferente, carac-

terizando diferentes estilos literários, o homem acaba apresentando preocupações semelhantes. Dessa forma, através

do estudo das obras literárias, podemos realmente "sentir" como determinados fatos motivaram as diferentes manei-

ras de ser e de pensar a vida através dos tempos.

Língua Portuguesa e Literatura 253


Veja ainda

1. Para vivenciar o gênero dramático, assista aos filmes, que estão disponibilizados em DVD, em qualquer

locadora:

a. O AUTO DA COMPADECIDA, de Ariano Suassuna, adaptada para a TV e para o cinema, dirigida por Guel

Arraes.

b. SHAKESPEARE APAIXONADO, dirigido por John Madden.

Referências

Sites

1. http://literarizando.wordpress.com/2011/10/03/barroco-links-analise-de-texto-e-material-para-download/

2. http://pessoal.educacional.com.br/up/4380001/1434835/t133.asp

3. http://www.colegioweb.com.br/literatura/motivos-classicos-da-poesia-arcade.html

4. http://www.algosobre.com.br/literatura/pos-modernismo-e-literatura-no-brasil.html

Imagem

  •  http://www.sxc.hu/photo/1094969 Autor: cierpki

  •  http://www.sxc.hu/photo/1145735 Autor: Horton Group

  •  http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Machado-450.jpg

254
  •  http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Francesco_Hayez_028.jpg

  •  http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Vascodagama.JPG

  •  http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Lyre1913.jpg

  •  http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Anthonis_van_Dyck_004.jpg

  •  http://pt.wikipedia.org/wiki/Leonardo_da_Vinci

Atividade 1

1. No texto 2, pois ele está escrito em versos e em estrofes, apresentando um certo ritmo

e rimas com algumas palavras como “flor”/”amor”.

2. O texto 1. Veja que o narrador “avisa” ao leitor sobre a situação que irá acontecer.

3. O texto 2. Ele tem uma linguagem subjetiva, expressando com sentimentalismo e emo-

ção como ele vê a mulher amada. O autor compara os olhos da mulher amada a livros e

os lábios a flores, onde se bebe “o bálsamo do amor”. A linguagem é conotativa. “Flores

me são teus lábios/Onde há mais bela flor/Em que melhor se beba/O bálsamo do amor”

4. No texto 1, o autor teve a intenção de contar uma história. No texto 2, o propósito foi

expressar os sentimentos em relação a como o autor vê a mulher amada.

Língua Portuguesa e Literatura 255


Atividade 2

Resposta Pessoal

Você deverá elaborar um texto onde relata sua experiência. O tempo predominante

deve ser passado, com a presença de narrador personagem e protagonista no texto. Apre-

sente seu texto ao professor para que ele possa tecer comentários referentes à correção.

Atividade 3

Os textos A Cartomante e O Pagador de Promessas são escritos em prosa e contam

uma história. Mas o primeiro apresenta um narrador, já o segundo está organizado em

diálogos e não descrição das cenas, que serão encenadas. O texto 2, Livros e Flores, é es-

crito em verso e tem preocupação em passar as emoções e os sentimentos de um eu lírico,

diferente dos dois anteriores.

Atividade 4

a. Sim. A surpresa deve-se ao fato de que a promessa foi feita em um terreiro de

Candomblé e não em uma Igreja Católica.

b. Zé-do-Burro é um homem simples, humilde, da zona rural.

c. O padre acreditava que a ferida relatada era do personagem, Zé-do-Burro, e não

do animal.

d. Resposta pessoal

e. A questão do preconceito religioso.

Atividade 5

a. “(...) a notícia do achamento desta Vossa terra nova (...)”

256 Anexo
b. “E dali avistamos homens que andavam pela praia, uns sete ou oito, segundo

disseram os navios pequenos que chegaram primeiro.”

c. “Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira, é graciosa que, querendo-a aprovei-

tar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem!”

d. “Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente.”

2. A forma como se refere aos índios, como selvagens.

3. Como pessoas inferiores, ignorantes (não conheciam sequer a galinha) e medrosos;

portanto, passíveis de serem colonizados.

4. A linguagem usada pelo autor é de nosso tempo, bem como a presença de celular e

da poluição das águas.

5. O autor faz uma crítica à poluição das águas.

6. Percebe-se que, desde 1500, ainda não conseguimos avançar e crescer verdadeiramen-

te como país, na perspectiva do autor desse texto que reconstrói a Carta de Caminha,

colocando-se nos dias atuais, com um novo enfoque (daí ser uma paródia).

Atividade 6

1. Partindo do pressuposto de que o eu lírico romântico se vê como alguém pessimista,


como alguém que não alimenta nenhuma perspectiva diante das coisas mundanas, tal

posicionamento é fruto da indignidade que o poeta se vê diante das coisas mundanas.

Entretanto, tal sentimento, quando comparado ao poeta Augusto dos Anjos, simbolista,

por sua vez, vai além de uma simples frustração, cuja característica se define por uma

profunda busca do “eu”, só que levada às últimas consequências, chegando a ultrapas-

sar as camadas do inconsciente. Dessa forma, evidenciamos que a morte, para o primei-

ro, poema do Romantismo, é a salvação para o sofrimento da vida, enquanto que, para

o segundo, e a morte é uma maldição a que o homem está destinado e para quem a

vida é apenas matéria.

Língua Portuguesa e Literatura 257


O que perguntam por aí?

Resposta: Letra D

Comentário: As crônicas, os contos e os romances marcaram as produções literárias no final do século XIX e início
do Século XX.

Língua Portuguesa e Literatura 259
Resposta: Letra D

Comentário: Note que, em ambos os fragmentos, a narrativa apresenta a descrição do espaço como um elemento

onde os menos favorecidos vivem: no primeiro, os personagens moram na praia, embaixo da ponte; no segundo, os persona-

gens vivem às margens do rio.

260 Anexo
Atividade extra
Módulo 1  •  Língua Portuguesa e Literatura  •  Unidade 8
A Literatura através do Tempo

Leia o texto para responder às questões 1 e 2.

Metade pássaro

A mulher do fim do mundo

Dá de comer às roseiras,

Dá de beber às estátuas,

Dá de sonhar aos poetas.

A mulher do fim do mundo

Chama a luz com um assobio.

Faz a virgem virar pedra,

Cura a tempestade,

Desvia o curso dos sonhos.

Escreve cartas ao rio,

Me puxa do sono eterno

Para os seus braços que cantam.

(Murilo Mendes)

Língua Portuguesa e Literatura 261
Questão 1

Cite o movimento de vanguarda a que esse texto é associado.

Questão 2

No texto, o autor desestrutura o senso e instaura o contra-senso.

Teça um breve comentário que justifique essa afirmativa.

Leia o texto para responder às questões 3 e 4.

"Numa das voltas olhando para trás, viu a montanha curvada, com o sol lhe mordendo as ilhargas. Era Loge,
deus do incêndio... As montanhas desembestavam assustadas, grinpando os itatins com gestos de socorro, contorci-

das. Loge perseguia as medrosas, lambido de chamas, trinando. Fraulein escutou um xilofone, o tema conhecido. E o

encantamento do fogo principiou para Brunilda."

Nesse trecho aparecem traços de estilo e composição muito característicos da corrente estética da modernida-

de que, reconhecidamente, mais influenciou na feitura de "Amar, verbo intransitivo".

Questão 3

Qual é essa corrente estética?

Questão 4

Identifique duas características dessa corrente presentes no texto, indicando exemplos.

Questão 5

O homem em conflito é uma característica muito explorada na escola literária denominada Barroco. Por isso,
afirma-se que a figura de linguagem muito frequente nessa escola literária é a

262
a. metonímia

b. hipérbole

c. pleonasmo

d. antítese

Questão 6

Entre as escolas literárias portuguesas e brasileiras há movimentos literários que existiram na história

portuguesa, porém não fazem parte do histórico de movimentos literários brasileiros. Por que existe essa

diferença? Cite um movimento literário que existe na história da literatura portuguesa, porém não existe

na brasileira.

Texto para os itens 7, 8 e 9

A SANTA INÊS

Cordeirinha linda,

Como folga o povo,

Porque vossa vinda

Lhe dá lume novo!

Cordeirinha santa,

De Jesus querida,

Vossa santa vida

O Diabo espanta.

Por isso vos canta

Com prazer o povo,

Porque vossa vinda

Lhe dá lume novo.

Língua Portuguesa e Literatura 263


Nossa culpa escura

Fugirá depressa,

Pois vossa cabeça

Vem com luz tão pura.

Vossa formosura

Honra é do povo,

Porque vossa vinda

Lhe dá lume novo.

José de Anchieta.Disponível em http://brain92.wordpress.com/2012/09/01/quinhentismo- Acesso em 05 jul 2013

Questão 7

Transcreva o fragmento em que parte José de Anchieta menciona o poder de Santa Inês para os povos indígenas.

Questão 8

Destaque no poema de José de Anchieta o trecho em que há a existência do bem e do mal.

Questão 9

São características da poesia do Padre José de Anchieta

a. linguagem cômica, que divertia os indígenas brasileiros.

b. temas religiosos, que eram cantados ou recitadas facilmente.

c. preocupação em ensinar os jovens jesuítas chegados ao Brasil.

d. desenvolvimento de ideias sem qualquer preocupação estética.

264
Gabarito

Questão 1

Surrealismo.

Questão 2

A falta de lógica apresentada em cada verso, na relação dos verbos com os substantivos.

Exemplo: 2°v, 3°v, 6°v, etc.

Questão 3

Expressionismo.

Questão 4

Descrição levando em conta associações subjetivas ("E o encantamento do fogo principiou para Brunilda").

Questão 5

Natureza em sofrimento ("o sol lhe mordendo as ilhargas").

Questão 6
A B    C     D

Questão 7

O Brasil só foi “descoberto em 1500”, ou seja, não havia registros literários aqui antes de seu descobrimento
pelos Portugueses. O Trovadorismo é um exemplo de movimento literário que não existe na literatura brasileira.

Língua Portuguesa e Literatura 265


Questão 8

“Porque vossa vinda

Lhe dá lume novo”

Questão 9

“Cordeirinha santa/De Jesus querida/Vossa Santa vida /O Diabo espanta”

Questão 10
A B    C     D

266
Módulo 1  •  Língua Portuguesa e Literatura  •  Expansão

A norma culta
e suas diversas
ramificações
Para início de conversa...

O que você faria se presenciasse a seguin-

te situação: uma pessoa entra num bar, vira para as


pessoas que se encontram tomando uma cerveja e

vendo um jogo de futebol e diz: “– Não há realmen-

te nada mais edificante para o ser humano do que

acompanhar um match do velho esporte bretão em

meio à degustação de pequenos acepipes”?


Figura 1
Com certeza, você pensaria de imediato: “– ou este sujeito não regula bem,

ou ele veio de um outro planeta”. Por que isto acontece? Porque a situação infor-

mal não é compatível com uma linguagem extremamente formal.

Vocabulário
Edificante é um termo para designar algo que desempenha um papel positivo no apri-
moramento de alguém.
Acepipe é uma palavra não tão usual para falar de petiscos em geral.

Bem, mas pensemos agora no caso oposto: imagine que você trabalha como

responsável pela contratação de pessoal numa empresa de computadores. Uma

bela tarde, você recebe um candidato a uma vaga como representante de vendas.

No meio da entrevista, então, o candidato se vira e diz: “Qual é, Mané! Tu tá

pensando que a parada tá resolvida? N’um tá não! Quer me contratar me contra-

ta, num quer, eu num tô nem aí”.

Língua Portuguesa e Literatura 267


Figura 2

Com certeza absoluta, você também experimentaria neste caso uma sensação de espanto e se posicionaria

negativamente em relação à contratação do candidato. Por quê? Porque a situação de uma entrevista de emprego

exige uma posição mais formal.

O que temos, então, nestes dois casos? A desconsideração de uma diferença que ocupará incessantemente os

nossos esforços na presente unidade: a diferença entre linguagem formal e informal.

Como veremos aqui, um dos elementos mais importantes para o sucesso da comunicação é justamente a ca-

pacidade de se adequar ao caráter de cada situação e de saber quando é a hora em que é preciso seguir um registro

formal e quando seguir um registro informal.

Pronto para seguir uma tal diferença?

Objetivos de aprendizagem
ƒƒ Diferenciar linguagem formal e linguagem informal;

ƒƒ Reconhecer a importância da adequação da linguagem em diferentes situações;

ƒƒ Associar usos linguísticos formais ou informais com certos gêneros textuais específicos;

ƒƒ Identificar o papel da organização da língua por meio de processos de seleção (fonologia/morfologia) e de com-
binação (sintaxe);

ƒƒ Compreender a importância das normas gramaticais para a manutenção da língua viva pelo povo;

ƒƒ Empregar as principais regras de acentuação e de uso do hífen, considerando o Novo Acordo Ortográfico;

ƒƒ Reconhecer a importância dos sinais de pontuação para o registro escrito da língua;

ƒƒ Pontuar adequadamente enunciados por meio dos sinais ponto final, ponto e vírgula e vírgula.

268
Seção 1
Linguagem formal e linguagem informal:
Um elemento de nosso cotidiano!

Uma das coisas mais importantes no estudo de língua portuguesa, assim como na compreensão ampla do

fenômeno da linguagem e de seus códigos, é jamais perder de vista o fato de que tudo o que se aprende em tal

campo pertence ao mundo da vida de cada um de nós. Neste sentido, uma tarefa primordial para o estudo de língua

portuguesa e da experiência da linguagem propriamente dita é encontrar em nossa realidade cotidiana os elementos

que estão em jogo.

Essa tarefa, por sua vez, é bastante simples quando o que está em questão é a distinção entre linguagem for-

mal e linguagem informal.

Em verdade, todos nós conhecemos essa distinção, por mais que muitas vezes não prestemos muita atenção

nela. Imagine que uma menina convida o seu namorado para ir pela primeira vez até a sua casa. Como é que você

acha que ele se comportará ou que ele deveria ao menos se comportar?

Você acha que ele deveria bater nas costas do pai da menina e dizer: “E aí sogrão, que serviço de primeira a

chefia não fez com a gata”!

Duvido muito que, se você fosse o “sogrão”, você ficaria bem impressionado com o rapaz. E o que aconteceria

se, em seguida, ele se virasse para a mãe da menina, desse um apertão na barriga dela e dissesse: “E aí sogrinha, andou

exagerando nas gordurinhas?” Se ele fizesse isto, é bem provável que a sua entrada na nova família tivesse um final

nada feliz.

O que aconteceu na cena acima: o que aconteceu não foi outra coisa senão uma desconsideração do tipo de

situação em jogo. Situações formais (o primeiro encontro com os pais de uma namorada é uma situação formal) exi-

gem uma linguagem formal. Se nós não levamos este fato em consideração, as consequências podem não ser nada
boas. Mas o contrário também pode acontecer e as consequência também são as piores.

Agora imagina que algum amigo lhe convida para ir a uma roda de samba na casa de uma amiga em comum.

Quando você chega lá, todos estão já cantando, bebendo e se divertindo. Em seguida, porém, chega uma pessoa que

você nunca viu e começa, então, a cumprimentar as pessoas da seguinte forma: “Muito prazer. Meu nome é Asdrúbal

e estou encantado de travar um conhecimento com vossa senhoria”.

Neste caso, seria difícil conter o riso. Por quê? Porque esse modo extremamente formal de se apresentar não é
de modo algum compatível com a informalidade da situação.

Língua Portuguesa e Literatura 269


Figura 3

O que nós podemos concluir a partir daqui?

ƒƒ Situações informais pedem uma linguagem informal

ƒƒ Situações formais exigem uma linguagem formal

Bem, mas o que dissemos até aqui envolve a obediência a um certo conjunto de passos que precisamos exer-

citar aqui:

1. Identificação da situação – sem a identificação da situação, não há como se preparar adequadamente para

o tipo de linguagem que é adequado.

2. Apreensão dos graus de formalidade e informalidade – as coisas não são sempre tão divididas assim. Muitas

vezes há situação um pouco formais, mais ou menos formais, quase informais, extremamente formais etc.

3. Conhecimento dos registros formais e informais – domínio das regras e princípios que regulam os dois

registros.

4. Estudo da língua culta – enquanto a linguagem informal se funda basicamente em nossas vivências

Será que você consegue cumprir as etapas desse processo?

270
Identifique o caráter da situação e a linguagem que lhe é adequada:

1. situação formal – linguagem formal;

2. situação informal – linguagem informal.

a. Seu chefe pede para que você escreva um discurso de final de ano em nome de

todos os funcionários e avisa que os donos da firma estarão presentes. (  )

b. Depois do serviço, seus colegas de trabalho o (a) convidam para jantar e para

tomar um chope no restaurante da esquina. (  )

c. Na escola, você escuta uma conversa sobre corrupção no Brasil e procura expor

a sua opinião. (  )

d. Você tem marcada uma entrevista para receber uma possível bolsa de estudo

no exterior. (  )

e. Você tem um churrasco em comemoração aos 10 anos de formatura na escola, no qual

você vai encontrar uma série de antigos amigos que você não vê há muito tempo. (  )

Identifique os textos abaixo quanto ao seu caráter formal ou informal:

1. linguagem formal,

2. linguagem informal.

a. “Srs. Senadores, a medida que vos venho propor não se inspira
somente nas pro-

pensões naturais do meu temperamento e nas antecedências
de minha vida,

empenhada, como se sabe, em substituir, nos
costumes deste regímen, o arbí-

trio pela justiça, o ódio pela união entre
os brasileiros. Essa providência benfaze-

ja consulta, igualmente, as tradições
e os sentimentos que têm animado, em ge-

ral, os atos desta assembleia:
tradições de moderação e equidade; sentimentos

Língua Portuguesa e Literatura 271


de governo e de
ordem. A ordem está no equilíbrio da vida exterior com a vida ínti-

ma
de uma sociedade, na correspondência normal entre as superfícies aparentes
da

existência humana e as suas profundezas, onde se geram as
correntes, as vagas e as

tempestades. Não reside nas exposições e nos
triunfos da vaidade e da força, no sacri-

fício da honestidade e do direito
à expansão dos melhoramentos materiais em metró-

poles de países arruinados, no cintilar da luz pelas arestas das baionetas vigilantes às

portas
dos quartéis, no desfilar dos regimentos ao som de fanfarras e tambores
pelas

ruas das cidades, no sofrer e calar dos povos longamente resignados
aos hábitos de

servir. No que ela consiste, politicamente, é na conformidade
espontânea entre os

aparelhos legais de uma nação e os elementos
vivos do seu organismo”. (Rui Barbosa,

Discurso sobre a anistia, Sessão de 5 de agosto de 1905). (  )

b. “Cara, quando eu penso na mulambada que tá jogando no meu time, eu fico

muito bolado. A quantidade de perna de pau é algo fora do comum. O meio de

campo não existe, a defesa é uma teta, passa até um bicho preguiça, os laterais

não apoiam nem defendem, o goleiro é um mão de quiabo... Não sei o que dá pra

fazer, mas do jeito que tá não dá. Só tem uma coisa a fazer: mandar todo mundo

embora e botar a molecada dos juniores para jogar. Vamos galera!” (  )

Seção 2
O segredo do sucesso: saber o que dizer, a
hora de dizer e o registro adequado para dizer:

Sucesso: essa é uma palavra que envolve sempre muitos elementos. Não há normalmente como ter re-

conhecimento das pessoas sem aplicação, dedicação, conhecimento de causa, talento, assim como sem uma

boa dose de sorte.

272
A adequação da linguagem, porém, também é um elemento central desse processo. Não há como alcançar êxi-

to em qualquer profissão, sem ao mesmo tempo saber como se deve falar em cada situação. É por isto que, para uma

pessoa que sabe lidar com todo tipo de gente, costumamos usar uma expressão como “ele sabe falar a nossa língua”.

Saber falar a língua de cada pessoa com a qual entramos em contato: este é o segredo para evitar incompreensões e

atritos desnecessários e para alcançar em cada caso os seus objetivos.

Uma tal capacidade, por outro lado, envolve antes de tudo a correta análise do registro de fala. Não há em

verdade nada proibido em linguagem. Mesmo o palavrão e a gíria possuem o momento correto de uso. Do mesmo

modo, existe um momento onde a utilização da norma culta pode produzir uma sensação de elitismo e causar, por

isto, um distanciamento entre o falante e o ouvinte, o emissor e o receptor.

Há, então, uma importância enorme em saber quem é o seu receptor e qual o caráter específico da situação,

para que uma série de consequências indesejáveis não se apresente e para que você possa conquistar uma plena

realização da comunicação. Vejamos algumas dessas consequências em situações específicas de fala.

ƒƒ Se um político ou um padre em um discurso para uma comunidade carente, composta antes de tudo por

pessoas muito pobres, escolhe um registro muito formal de fala, opta pela língua culta e por certas carac-

terísticas da língua culta, o resultado será certamente o seguinte: um estranhamento e um distanciamento

em relação ao político ou padre, ou seja, uma incapacidade de compreensão da mensagem propriamente

dita que ele tinha a transmitir.

ƒƒ Se em situações formais optamos por uma linguagem completamente informal, se nos valemos de gírias e

de palavrões e desrespeitamos incessantemente as regras que regem a norma culta, o efeito que se produz

é o contrário daquele que obtemos em situações informais. Alguém poderia pensar que a linguagem infor-

mal, exatamente por seu caráter mais livre e solto, sempre produziria aproximação. No caso acima, contudo,

o efeito seria o inverso. Em situações formais, quando utilizamos uma linguagem informal, o receptor tende

a se fechar e a evitar justamente toda proximidade.

Podemos chegar, assim, a uma primeira conclusão: a desconsideração da linguagem adequada para cada si-

tuação tende, incessantemente, a produzir um distanciamento e um comportamento negativo no receptor, isto é,

incompreensão e dificuldade de comunicação.

Mas há também o caso oposto. É possível analisar as consequências positivas da adequação plena entre a

linguagem e a situação:

ƒƒ Quando em uma situação informal, tal como no encontro com amigos ou num jogo de futebol, usamos uma

linguagem informal, esse uso acaba produzindo naturalmente uma proximidade com as pessoas e uma sen-

sação de compreensão mútua. Isto se dá porque a linguagem informal é aqui a linguagem adequada.

Língua Portuguesa e Literatura 273


ƒƒ Ao mesmo tempo, quando em uma situação formal como uma entrevista de emprego, um discurso públi-

co, a visita a pessoas que não conhecemos, utilizamos o registro formal, esse uso acaba fazendo com que o

falante conquiste respeito e seja olhado com consideração e distinção. A linguagem formal funciona neste

caso como um elemento positivo na avaliação que as pessoas fazem de você.

O que podemos concluir daqui?

A utilização da linguagem adequada para cada situação tem um grande potencial na aproximação entre as

pessoas que nos são conhecidas e na construção de nossa imagem junto às pessoas com as quais não temos um

contato mais direto.

Será que você consegue analisar as consequências do que dissemos acima em alguns exemplos?

Analise as consequências da plena adequação ou da desconsideração da linguagem

adequada com vistas ao caráter da situação nos exemplos abaixo.

O que você acha que aconteceria se você estivesse acompanhando as seguintes situ-

ações? Quais seriam as reações das pessoas envolvidas? Como você se posicionaria diante

dos modos como as pessoas estariam falando?

a. Um rapaz de seus vinte anos vai ao banco para pedir um empréstimo. Chegando

lá, ele vira para a gerente de sua conta e diz: “– Qual é, chefia, tudo bem? O ne-

gócio é o seguinte. Tô com uns problemas de cascalho e num sei como resolver.

Andei gastando meu dinheiro todo com as minas e num sei como pagar agora

umas continhas que chegaram. Nego tá no meu pescoço que nem catinga de

bode. Eu sei que eu tô sem crédito aqui no banco, mas num tem um jeito de tu

quebrar essa pra mim?”

274
b. Em uma entrevista de emprego, uma moça recém formada procura mostrar

suas qualificações para a posição de gerente de vendas e diz: “– Eu sei que

não tenho nenhuma experiência na área para além do estágio remunerado

que fiz no ano passado. De qualquer modo, toda a minha formação foi pau-

tada por uma total dedicação aos estudos e ao aprendizado dos princípios

básicos de uma administração moderna, humana e solidária. Com isto, tenho

certeza que possa compensar a falta de experiência inicial com muita dedi-

cação e respeito mútuo. Sou uma pessoa muito responsável, nunca chego

atrasada, não tenho qualquer problema em permanecer no serviço até mais

tarde, estou disposta a fazer cursos de reciclagem contínuos e a me entregar

de corpo e alma para a empresa”.

c. Em uma mesa de bar, depois de uma boa pelada, uma pessoa do grupo,

extremamente formal, resolve expressar sua opinião sobre o casamento:

“– O que os senhores têm de entender é que o casamento é uma institui-

ção extremamente importante para a vida em sociedade, uma instituição

sem a qual nós não conseguiríamos nos distinguir muito dos animais. A

traição, por sua vez, coloca em risco o casamento, além de ser um crime

perante Deus e a ruptura de um compromisso firmado nos céus. É isto

que os senhores têm de manter em mente, antes de ficarem se entregan-

do à luxúria e ao vício”.

Língua Portuguesa e Literatura 275


(Conversa de bar – Quadro de Joan Sloan – 1912

Seção 3
Linguagem e gênero textual: como saber o
registro de linguagem a ser escolhido?

Não é apenas nas situações cotidianas que a adequação da linguagem é decisiva. Ao contrário, a escolha do

registro de linguagem, formal ou informal, também é decisiva no caso de certos gêneros textuais.

276
Há uma diferença entre a linguagem oral e a escrita, entre a linguagem jornalística informativa e os editoriais for-

madores de opinião, entre situações solenes ou cotidianas... Um discurso de agradecimento em um aniversário é muito

mais informal do que um discurso de final de ano para todos os funcionários de uma firma. Crônicas diárias, por exemplo,

têm um registro mais informal e abrem um espaço maior para a utilização de gírias, de modos de falar mais comuns e mes-

mo para a utilização de certos recursos que são característicos da linguagem informal. É o que podemos ver claramente

em um trecho de uma excelente crônica de Luiz Fernando Veríssimo no jornal O Globo, no dia 9 de setembro de 2012:

O prêmio de melhor slogan eleitoral até agora vai para um candidato a vereador em Nova Iguaçu: ‘Edilson
que o povo gosta’. Não sei qual é o sentimento real do povo em relação ao Edilson, mas isto não importa.
O que interessa é que o trocadilho é bem bolado e o Edilson tem senso de humor, o que talvez ajude a ser
vereador em Nova Iguaçu.
O Barack Obama bem que gostaria de ter uma frase sintética como a do Edilson para enfatizar sua principal
virtude eleitoral, a simpatia. O sorriso de boca apertada do Mitt Romney não se compara ao largo sorriso
do magrão (...).

Figura 1: Romney (esquerda) e Obama (direita) durante a campanha eleitoral de 2012.

Veja como Luiz Fernando Veríssimo busca uma proximidade com o leitor por meio da ironia, de um texto mais

direto e sem floreios, assim como de um tratamento mais informal da questão. Ter senso de humor, claramente, não

é a principal virtude para um candidato a político. Ao mesmo tempo, não há nada de formal em chamar o presidente

dos Estados Unidos de “magrão”.

Língua Portuguesa e Literatura 277


Por outro lado, seria completamente descabido manter o estilo informal de uma crônica em um texto científi-

co, por exemplo.

Na verdade, textos científicos precisam se valer de uma linguagem formal, e, quando eles se valem de uma

linguagem um pouco mais informal, isto normalmente precisa ser feito com muito cuidado para que tal uso não seja

confundido com falta de seriedade e rigor. É o que podemos acompanhar claramente na passagem abaixo de um

artigo sobre a questão agrária no Brasil escrito por João Pedro Stedile – este texto é, para nós, particularmente interes-

sante, porque ele não é um texto direto de militância, por mais que Stedile também tenha um trabalho de militância,

no qual a linguagem escolhida é naturalmente informal:

O conceito ‘questão agrária’ pode ser trabalhado e interpretado de diversas formas, de acordo com a ênfase
que se quer dar a diferentes aspectos do estudo da realidade agrária. Na literatura política, o conceito ‘ques-
tão agrária’ sempre esteve mais afeto ao estudo dos problemas que a concentração da propriedade da terra
trazia ao desenvolvimento das forças produtivas de uma determinada sociedade e sua influência no poder
político. Na Sociologia, o conceito ‘questão agrária’ é utilizado para explicar as formas como se desenvolvem
as relações sociais, na organização da produção agrícola. Na Geografia, é comum a utilização da expressão
‘questão agrária’ para explicar a forma como as sociedades, como as pessoas vão se apropriando da utili-
zação do principal bem da natureza, que é a terra, e como vai ocorrendo a ocupação humana no território.
Na História, o termo ‘questão agrária’ é usado para ajudar a explicar a evolução da luta política e a luta de
classes para o domínio e o controle dos territórios e da posse da terra. Aqui, vamos trabalhar o conceito de
‘questão agrária’ como o conjunto de interpretações e análises da realidade agrária, que procura explicar
como se organiza a posse, a propriedade, o uso e a utilização das terras na sociedade brasileira.

(http://portal.sipeb.com.br/santana/files/2010/08/A-QUEST%25C3%2583O-AGR%25C3%2581RIA-NO-BRASIL.pdf )

Figura 2: Foto de um grupo do movimento dos Sem Terra em passeata

Que tal reconhecer agora os gêneros textuais com vistas ao seu caráter formal ou informal?

278
Procure enumerar as características da linguagem formal e informal de acordo com os

gêneros literários abaixo:

a. Discurso de posse do Presidente Luiz Inácio da Silva em 1 de janeiro de 2003: “Exce-

lentíssimos senhores chefes de Estado e de Governo; visitantes e chefes das missões

especiais estrangeiras; excelentíssimo senhor presidente do Congresso Nacional,

Senador Ramez Tebet; Excelentíssimo senhor vice-presidente da República, José

Alencar; excelentíssimo senhor presidente da Câmara dos Deputados, deputado

Efraim Morais; excelentíssimo senhor presidente do Supremo Tribunal Federal, mi-

nistro Marco Aurélio Mendes de Faria Mello; senhoras e senhores ministros e minis-

tras de Estado; senhoras e senhores parlamentares, senhoras e senhores presentes

a este ato de posse. ‘Mudança’: esta é a palavra-chave, esta foi a grande mensagem

da sociedade brasileira nas eleições de outubro. A esperança, finalmente, venceu o

medo e a sociedade brasileira decidiu que estava na hora de trilhar novos caminhos.

Diante do esgotamento de um modelo que, em vez de gerar crescimento, produziu

estagnação, desemprego e fome; diante do

fracasso de uma cultura do individualismo,

do egoísmo, da indiferença perante o pró-

ximo, da desintegração das famílias e das

comunidades, diante das ameaças à sobe-

rania nacional, da precariedade avassalado-

ra da segurança pública, do desrespeito aos

mais velhos e do desalento dos mais jovens;

diante do impasse econômico, social e mo-

ral do país, a sociedade brasileira escolheu

mudar e começou, ela mesma, a promover

a mudança necessária”.

Língua Portuguesa e Literatura 279


b. Blog do jornalista Renato Maurício Prado, texto publicado no dia 16 de abril de

2013: “Com o título estadual quase no papo, a pergunta que mais tenho ouvido

dos torcedores do Botafogo é se esse time poderá brilhar também no Campeo-

nato Brasileiro. Creio que sim. Não falo somente pelos resultados do Carioquinha,

que podem ser enganosos, mas pela forma envolvente de jogar que a equipe de

Oswaldo de Oliveira vem demonstrando jogo após jogo”.

Se você gosta de esportes e, principalmente, de futebol, talvez queira


conferir o Blog do Renato Maurício Prado. Para isso, basta acessar o link:
http://oglobo.globo.com/esportes/rmp/

c. Trecho do conto “O homem nu” de Fernando Sabino:

Ao acordar, disse para a mulher:


— Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem aí o
sujeito com a conta, na certa. Mas acontece que ontem eu não trouxe dinheiro
da cidade, estou a nenhum.
— Explique isso ao homem — ponderou a mulher.

280
— Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigoro-
samente as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto
aqui dentro, não faz barulho, para ele pensar que não tem ninguém. Deixa ele
bater até cansar — amanhã eu pago.
Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banheiro para tomar um
banho, mas a mulher já se trancara lá dentro. Enquanto esperava, resolveu fa-
zer um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de serviço para apanhar o pão.
Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e para
outro antes de arriscar-se a dar dois passos até o embrulhinho deixado pelo
padeiro sobre o mármore do parapeito. Ainda era muito cedo, não poderia
aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão, a porta atrás de si
fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento.

(Preste atenção no fato de que o texto mistura linguagem formal e informal)

Língua Portuguesa e Literatura 281


Seção 4
A língua culta: seu papel na unidade viva do
povo e suas muitas ramificações.

A língua culta não é apenas importante para alcançarmos pleno sucesso em situações formais e para podermos

nos movimentar plenamente no interior de certas experiências de fala ou de escrita. A língua culta é pura e simplesmen-

te decisiva para a constituição do modo de ser e da unidade propriamente dita de um povo. E isto porque a língua cor-

rente, a língua falada no dia a dia não é senão uma variante por demais fluida e multifacetada da língua culta. É o que ve-

mos expresso, por exemplo, em uma passagem de um discurso de Olavo Bilac em 1916 intitulado “A língua portuguesa”:

o povo, depositário, conservador e reformador da língua nacional, é o verdadeiro exército da sua defesa:
mas a organização das forças protetoras depende de nós: artífices da palavra, devemos ser os primeiros
defensores, a guarnição das fronteiras da nossa literatura, que é toda a nossa civilização.

O povo, por mais que possa reformar e mesmo renovar a língua, é aquele que se nutre imediatamente daquilo

que precisa defender. Na verdade, a língua é aquilo que o caracteriza, que o determina, que promove a sua relação

com o mundo, com as pessoas e consigo mesmo. Ela é toda a civilização que temos, porque é ela que marca o conte-

údo de nossa experiência civilizatória, o conjunto de nossas ações humanas, demasiadamente humanas.

Olavo Bilac (Rio de Janeiro, 16 de dezembro de 1865 — Rio de Janeiro,


28 de dezembro de 1918):

Foi um jornalista e poeta brasileiro, membro fundador da Academia Bra-


sileira de Letras. Criou a cadeira 15, cujo patrono é Gonçalves Dias.

Conhecido por sua atenção à literatura infantil e, principalmente, pela


participação cívica, era republicano e nacionalista; também era defensor
do serviço militar obrigatório. Bilac escreveu a letra do Hino à Bandeira e
fez oposição ao governo de Floriano Peixoto. Foi membro-fundador da
Academia Brasileira de Letras, em 1896.

Em 1907, foi eleito "príncipe dos poetas brasileiros". Bilac, autor de alguns dos mais populares poemas
brasileiros, é considerado o mais importante de nossos poetas parnasianos.

282
Ora, mas o que torna possível a manutenção e mesmo a elevação da língua culta? Quais as características que

precisam ser obedecidas para que a língua culta possa experimentar uma tal manutenção e elevação?

O que podemos dizer é que a língua culta obedece a ao menos três campos fundamentais: os campos da fo-

nologia, da morfologia e da sintaxe.

ƒƒ FONOLOGIA é o estudo dos sons que compõem as palavras, sem considerar esses sons isoladamente. Para a

fonologia, o que importa não é simplesmente identificar os sons, mas sim acompanhar em que medida cer-

tos sons alteram significados. Por exemplo, as palavras bala e vala. Nessas palavras, a alteração de um som

produziu uma alteração no significado da palavra. Ao mesmo tempo, a fonologia detém-se sobre as regras

que definem certos processos cotidianos. Por exemplo, o fato de o “r” normalmente não ser pronunciado

na linguagem corrente, quando ele se encontra no final da palavra. O que se costuma dizer é: “gostaria de

comprá (ao invés de comprar) um saco de farinha”.

A fonologia é muito importante porque a alteração dos sons tem quase sempre consequências sobre o
significado.

ƒƒ MORFOLOGIA: a morfologia trata da composição das palavras por meio de unidades significativas. Em uma

palavra, temos invariavelmente a sua raiz e alguns elementos que se ligam à raiz e que determinam gênero,

número e pessoa. Por exemplo, na frase corrente: “um chope e dois pastel”, a manutenção da palavra no

singular, apesar de sua ligação com o numeral dois, indica uma utilização errada do elemento distintivo

do plural. O correto seria “um chope e dois pasteis” porque “eis” é a terminação própria para a indicação do

plural. O mesmo vale para frases do tipo “a gente somos inútil” (frase da música do grupo de rock da década

de 1980, Ultraje a rigor) e “nós vai tomar a Serrinha” (letra de um funk do Mc G3). Essas frases, que podem

ser extremamente adequadas em relação ao seu contexto de fala, não respeitam a morfologia da língua,

uma vez que não utilizam os elementos morfológicos próprios para a indicação de plural e da 1a pessoa do

plural. O correto morfologicamente seria: “a gente é inútil” e “nós vamos tomar a Serrinha”.

ƒƒ Por fim, temos ainda a SINTAXE que estuda as relações das palavras nas frases e das frases no discurso. Ao

mesmo tempo, a sintaxe dedica-se ao estudo das relações lógicas entre as frases, relações essas que podem

ser de dependência e de independência, de qualificação, de complementação, de realização de funções

sintáticas entre outras. A sintaxe é a parte mais ampla da gramática, exatamente porque trata de um cam-

po bastante vasto: classe de palavras, funções sintáticas assumidas pelas palavras na frase, construção de

períodos a partir da ideia de coordenação e subordinação, concordância nominal e regência verbal, assim

como colocação de pronomes oblíquos e uso de crase.

Língua Portuguesa e Literatura 283


Nós veremos aqui alguns exemplos de fonologia, morfologia e sintaxe que são decisivos para a construção,

para a manutenção e para a plena realização da norma culta.

Corrija os erros de fonologia, morfologia e sintaxe presentes nos exemplos

abaixo de acordo com a norma culta. Os erros encontram-se em negrito:

a. Trecho da música “Tiro ao Álvaro” de Adoniran Barbosa: “De tanto levar frechada

do teu olhar, meu corpo até parece sabe o que? ‘Táubua’, de tiro ao Álvaro, não

há mais onde furar”.

b. Passagem do romance Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa: “O gerais cor-

re em volta. Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o

senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães”.

c. “Ô rapá! Vê se tu limpa aqui porque as borda da piscina tá suja”.

d. “A gente estávamos jogando pra frente, pro ataque, sem pensar na defesa. Os

gringo, então, vierum para cima e a coisa ficou preta. Eu olhei pro dentuço e dis-

se: ‘Dente, temo de segurá as ponta, senão num vai dar! Tu puxa o cachaça pra

cá que eu ajeito as coisa por aqui”.

284
Um dos elementos mais importantes para a realização da norma culta é justamente

a pontuação, o uso correto de vírgula, ponto e vírgula e ponto final. Depois de ler atenta-

mente as regras principais de utilização da vírgula, do ponto e vírgula e do ponto, pontue


6
de maneira adequada o texto que se segue abaixo:

Uso da Vírgula:

ƒƒ Use a vírgula para separar elementos repetidos ou enumerações. Por exem-

plo: Vieram à festa João, Maria, Pedro e Lúcia.

ƒƒ Use a vírgula para separar elementos de explicação, que quebram a ordem

direta da frase. Por exemplo: Carolina, uma jovem do interior do Pará, demo-

rou muito para se aclimatar na grande cidade.

ƒƒ Empregue a vírgula para separar a indicação do lugar, do tempo ou do modo

como a ação do verbo se realiza, quando essa indicação acontecer no início da fra-

se. Por exemplo: No frio do inverno, Julho passeava pelas ruas desertas da cidade.

ƒƒ Empregue a vírgula para separar orações independentes, ou seja, orações

coordenadas. Por exemplo: Ele viajou por algum tempo, mas seu casamento

não sofreu qualquer abalo.

Língua Portuguesa e Literatura 285


Uso do ponto e vírgula:

ƒƒ O uso do ponto e vírgula obedece mais ou menos à lógica da vírgula: ele


6 também é utilizado em enumerações e serve para indicar pausas. A diferença

aqui é a duração da pausa. Quando temos uma enumeração, por exemplo,

muitas vezes procuramos destacar mais cada um dos elementos em jogo e,

para tanto, nos valemos do ponto e vírgula. Vejamos: “O Brasil tem muitos

problemas a resolver: a diferença financeira e cultural entre pobres e ricos; a

péssima qualidade dos serviços e a má formação dos prestadores de serviço;

a falta de infraestrutura condizente com os níveis de produção; e, por fim, a

falta de integração entre os diversos estados da federação”.

Emprego do ponto final:

ƒƒ A utilização do ponto final se orienta fundamentalmente por um ponto: a con-

clusão de uma ideia. Nós usamos o ponto, em verdade, quando concluímos um

todo de sentido e nos encaminhamos para a articulação com outros períodos.

Por exemplo: “A situação ecológica do planeta, apesar de todos os esforços das

pessoas preocupadas com o futuro das novas gerações, é uma situação catas-

trófica. Com o crescimento da população mundial, aumentou enormemente a

quantidade de lixo, de resíduos materiais, assim como se intensificou vertigino-

samente o processo de deterioração dos recursos naturais”.

O texto abaixo de Arnaldo Jabor, escrito por ocasião da eliminação do mundial

de futebol de 2006, não possui nenhum sinal de pontuação. Pontue o texto de

acordo com as regras apresentadas acima:

As chuteiras sem pátria


Quando chega um fax com barulhinho de cornetas celestiais eu já sei: é carta
do Nelson Rodrigues Não deu outra Nelson me pedia para publicar um texto
sobre a Copa, já que está sem contato nas redações: “Eu sou do tempo do Pom-
peu de Souza do Prudente de Morais Neto... Não conheço esses meninos da
redação...” . Muito bem aqui vai seu comentário sobre o sábado da desgraça:

286
Amigos a derrota é um grande momento de verdade Só diante da vergonha é
que entendemos nossa miséria Num primeiro momento queremos encontrar
uma explicação para o fracasso mas fracasso não se improvisa — é uma obra
calculada caprichada durante meses anos até Não adianta berrar no bote-
quim que o Parreira é uma besta ou que o Ronaldo é um gordo perna-de-pau 6
Não Nosso fracasso começou antes porque esta seleção não foi a pátria de
chuteiras foram as chuteiras sem pátria
Para nossos jogadores ricos e famosos o Brasil é a vaga lembrança da infân-
cia pobre humilhada O país virou um passado para os plásticos negões fa-
lando alemão francês inglês todos de brinco e com louras vertiginosas Não
são maus meninos ingratos não mas neles está ausente a fome nacional a
ânsia dos vira-latas querendo a salvação O povo todo estava de chuteiras para
esquecer os mensalões e os crimes mas nossos craques não perderam quase
nada com a derrota tiveram apenas um mau momento entre milhões de dóla-
res e chuteiras douradas pela Nike

A unidade 4 tratou da linguagem formal e informal, assim como da necessidade de se

avaliar com clareza em que contextos cada uma delas é a mais adequada, para que se possa

obter uma plena realização da comunicação. Ao mesmo tempo, tivemos a oportunidade de

acompanhar aqui alguns elementos importantes para a norma culta, elementos tais como os

relativos às noções de fonologia, morfologia e sintaxe e como o uso correto da pontuação.

Resumo

Veja abaixo os tópicos centrais de nosso estudo:

ƒƒ Nós vimos como a diferença entre linguagem formal e informal faz parte de nosso dia a dia.

ƒƒ Em seguida, tivemos a oportunidade de perceber em que medida a boa avaliação do registro no qual nos

movimentamos, ou seja, a plena identificação de se estamos em um contexto formal ou informal, é decisiva


para o sucesso da comunicação.

Língua Portuguesa e Literatura 287


ƒƒ Depois de acompanharmos a relação entre linguagem e contexto, tratamos da norma culta em suas três

áreas fundamentais: fonologia, morfologia e sintaxe.

ƒƒ Por fim, consideramos algumas regras básicas de pontuação, com vistas à construção do discurso em sin-

tonia com a norma culta.

Veja Ainda

Dicas de leitura e de cinema: como o que estava em questão aqui era a distinção entre linguagem formal e

informal, nossas dicas vão na direção de filmes e livros que dão vida a personagens que se movimentam nesses dois

registros!

1. Rubem Fonseca. O cobrador. São Paulo: Companhia das letras, 1998. (Excelente exemplo de construção de

um personagem a partir da linguagem informal)

2. Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Editora Abril, 2005. (Exemplo de domínio

absoluto da norma culta, sem a perda da proximidade com o leitor)

3. Pixote. A lei do mais fraco. Filme dirigido por Hector Babenco com Fernando Ramos da Silva e Marília Pera.

Adaptação do romance de José Louzeiro.

4. Orgulho e preconceito. Um filme dirigido por Joe Wright com Keira Knightley e Matthew MacFadyen.

Referências

Livros

ƒƒ BARBOSA, Rui. Escritos e discursos seletos. Lisboa: Nova Aguilar, 2001.

ƒƒ BILAC, Olavo. “A defesa nacional”. IN., BUENO, Alexei. Olavo Bilac: obra reunida. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,

1996. (Liga da Defesa Nacional, Rio, 1917)

ƒƒ ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Brasiliense, 2005.

ƒƒ SABINO, Fernando. O homem nu. Rio de Janeiro: Record, 2008.

288
Imagens

  •  Acervo pessoal  •  Sami Souza

  •  http://www.sxc.hu/photo/1171697 – Michal Zacharzewski

  •  http://www.sxc.hu/photo/286892 – Rajesh Sundaram

  •  http://www.flickr.com/photos/sergiohsg/6164760823/sizes/m/in/photostream/

  •  https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/a/a1/McSorley%27s_Bar_1912_John_Sloan.

jpg/586px-McSorley%27s_Bar_1912_John_Sloan.jpg)

  •  http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Mitt_Romney_by_Gage_Skidmore_6.jpg

  •  http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:President_Barack_Obama.jpg

  •  http://farm9.staticflickr.com/8233/8444616400_9d54fc7168_z.jpg)

  •  http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Lula_-_foto_oficial05012007_edit.jpg

  •  (Foto do Filme – O homem nu de 1997 – http://www.flickr.com/photos/ministeriodacultura/8497713023/

sizes/m/in/photostream/)

  •  http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Olavobil.jpg

Língua Portuguesa e Literatura 289


Atividade 1

a. 1 – A situação é formal. Trata-se de um discurso de final de ano com a presença

dos donos da firma. Por isto, a linguagem adequada precisa ser também formal;

b. 2 – Tomar um chope depois do trabalho com os amigos é um exemplo de situa-

ção informal que pede uma linguagem informal;

c. 2 – Por mais que a discussão seja na escola, o contexto é antes informal, porque

você está expondo a sua opinião para os amigos. Isto requer linguagem informal;

d. 1 – Uma entrevista para tentar conseguir uma bolsa é naturalmente uma situação

formal que exige uma linguagem formal;

e. 2 – Churrasco de confraternização é claramente uma situação informal que exige

uma linguagem informal. Se você se portar de maneira formal, todos os seus an-
tigos amigos vão achar que você ficou esnobe.

Atividade 2

a. 1 – O belíssimo discurso de Rui Barbosa se vale nitidamente de uma linguagem

formal para tratar de um tema relevante em um discurso para senadores da Re-

pública;

b. 2 – O comentário sobre a situação do time se vale de linguagem informal, com a

utilização de contrações, de gírias e de expressões algo vulgares.

Atividade 3

a. Ao lidar com o gerente do banco de modo totalmente informal, o rapaz certa-

mente causará um certo estranhamento e uma postura reativa do gerente. É claro

que o gerente pode se adaptar ao inusitado da situação e lidar com a linguagem

informal de maneira aberta, rindo um pouco do modo de falar do rapaz. De qual-

quer forma, porém, ele terá certamente mais dificuldades em conseguir se fazer

ouvir do que alguém que se valesse da linguagem formal;

290
b. Ao empregar a linguagem formal, mesmo sem uma experiência na área, a moça

vai conquistar para si toda a simpatia do entrevistador. A sinceridade e a cor-

reção no uso da língua criam uma atmosfera de boa vontade que tem sempre

repercussões sobre o que se pretende alcançar;

c. Sem dúvida alguma, todos na mesa olharão uns para os outros espantados e,

depois de alguma hesitação, vão tender a uma boa gargalhada. Na verdade, nin-

guém espera que, em uma mesa de bar, alguém faça um discurso sobre o lugar

do casamento enquanto instituição.

Atividade 4

a. O Discurso de posse do Presidente Luiz Inácio da Silva em 1 de janeiro de 2003

possui todas as características de um discurso feito em sintonia com o caráter

da situação. Trata-se de um discurso de posse, feito para chefes de Estado de

outros países, para figuras proeminentes da política e da sociedade, assim como

de uma primeira impressão sobre o que estava por vir. Com isso, Lula obedece

a uma pontuação primorosa, capaz de acentuar as pausas do discurso, se vale

de termos não vulgares, oriundos da língua culta e conta ainda com o caráter

emotivo da situação;

b. O Blog do jornalista Renato Maurício Prado, publicado no dia 16 de abril de 2013,

é todo construído com a linguagem informal. Expressões como “o título estadual

está quase no papo” criam uma proximidade com o leitor, que se sente imedia-

tamente tocado pelo texto;

c. No trecho selecionado conto “O homem nu” de Fernando Sabino, o autor mescla

linguagem formal e informal, criando um ritmo bastante interessante. Quando

temos o narrador, a linguagem fica formal, com um tom mais distante. Quando

o homem fala com sua mulher, por outro lado, a linguagem se torna coloquial,

informal, o que traduz bem o clima entre os dois.

Língua Portuguesa e Literatura 291


Atividade 5

a. “De tanto levar flechada do teu olhar, meu corpo até parece sabe o que? ‘Tábua’,

de tiro ao Álvaro, não há mais onde furar”;

a. “O gerais corre em volta. Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer

aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniões” (Aqui é importante

perceber como obedecer a norma culta torna a passagem menos expressiva);

a. “Ô rapaz! Vê se tu limpas aqui porque as bordas da piscina estão sujas”;

a. “Nós estávamos jogando pra frente, pro ataque, sem pensar na defesa. Os grin-

gos, então, vieram para cima e a coisa ficou preta. Eu olhei pro dentuço e disse:

‘Dente, nós temos de segurar as pontas, senão não vai dar! Tu puxas o cachaça

pra cá que eu ajeito as coisas por aqui”.

Atividade 6

As chuteiras sem pátria

Quando chega um fax com barulhinho de cornetas celestiais, (separação da indicação

do tempo) eu já sei: é carta do Nelson Rodrigues. (conclusão de ideia) Não deu outra. (conclu-

são de ideia) Nelson me pedia para publicar um texto sobre a Copa, (separação de orações

independentes) já que está sem contato nas redações: “Eu sou do tempo do Pompeu de Souza

do Prudente de Morais Neto... Não conheço esses meninos da redação...”. Muito bem, (separa-

ção de uma expressão de modo) aqui vai seu comentário sobre o sábado da desgraça:

Amigos, (vocativo) a derrota é um grande momento de verdade. Só diante da ver-

gonha é que entendemos nossa miséria. Num primeiro momento, (separação da indicação

de tempo) queremos encontrar uma explicação para o fracasso, (separação de orações in-

dependentes) mas fracasso não se improvisa — é uma obra calculada, caprichada durante

meses, anos até. (conclusão de ideia) Não adianta berrar no botequim que o Parreira é uma

besta ou que o Ronaldo é um gordo perna-de-pau. Não. (Conclusão de ideia) Nosso fracasso

começou antes, (separação de orações independentes) porque esta seleção não foi a pátria

de chuteiras foram as chuteiras sem pátria. (conclusão de ideia)

292
Para nossos jogadores ricos e famosos, (separação de locução explicativa) o Brasil é a

vaga lembrança da infância pobre humilhada. (conclusão de ideia) O país virou um passado

para os plásticos negões falando alemão, francês, inglês, (enumeração) todos de brinco e com

louras vertiginosas. Não são maus meninos, ingratos não, (enumeração e separação de ora-

ções independentes) mas neles está ausente a fome nacional, a ânsia dos vira-latas querendo

a salvação. (conclusão de ideias) O povo todo estava de chuteiras para esquecer os mensalões

e os crimes, (separação de orações independentes) mas nossos craques não perderam quase

nada com a derrota, (separação de orações independentes) tiveram apenas um mau momen-

to entre milhões de dólares e chuteiras douradas pela Nike. (conclusão de ideias)

Língua Portuguesa e Literatura 293


O que perguntam por aí?

Questão 1 (ENEM 2006):

Aula de português
A linguagem
na ponta da língua
tão fácil de falar
e de entender.
A linguagem
na superfície estrelada de letras,
sabe lá o que quer dizer?
Professor Carlos Gois, ele é quem sabe,
e vai desmatando
o amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, esquipáticas,
atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me.
Já esqueci a língua em que comia,
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a priminha.
O português são dois; o outro, mistério.

(Carlos Drummond de Andrade. Esquecer para lembrar. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979.)

Língua Portuguesa e Literatura 295
Explorando a função emotiva da linguagem, o poeta expressa o contraste entre marcas de variação de usos

da linguagem em:

a. situações formais e informais.

b. diferentes regiões do país.

c. escolas literárias distintas.

d. textos técnicos e poéticos.

e. diferentes épocas.

Resposta: Letra A.

Comentários: Carlos Drummond de Andrade fala justamente sobre a diferença entre a língua formal, inaces-

sível, misteriosa, inatingível, e a língua informal, a língua do dia-a-dia, com a qual expressamos nossos desejos e nos
relacionamos com as pessoas que nos são queridas.

296 Anexo
Atividade extra
Módulo 1  •  Língua Portuguesa e Literatura  •  Expansão
A norma culta e suas ramificações

Como sabemos, em situações informais, usamos uma linguagem informal e, em situações formais, usamos

uma linguagem formal. Isso nos leva a perceber a importância de usar a linguagem adequada a cada situação.

Por isso, a variedade padrão da língua é ensinada na escola, utilizada nos livros didáticos e nos artigos cientí-

ficos, por exemplo.

Questão 1

A letra X é utilizada em português para representar sons diferentes, como por exemplo, as seguintes palavras

: nexo, explosão, enxame e exame.

O mesmo som de X em “nexo” está presente em

a. exército

b. explicação

c. fixo

d. vexame

Língua Portuguesa e Literatura 297
Questão 2

O uso do sinal indicativo da crase é obrigatório em

a. A influência das redes sociais sobre a maioria da população é inegável.

b. Para atender a necessidade básica dos moradores, todos devem cuidar da saúde.

c. O crescimento das cidades ligado a índices de consumo considerados muito altos.

d. O planejamento doméstico é essencial para não levar a família a uma situação intolerável.

Questão 3

No trecho “Como boa parte do léxico político disponível, o termo ‘oligarquia’ tem origem na linguagem dos

antigos gregos.”, as palavras destacadas são acentuadas graficamente porque são proparoxítonas. O grupo em que as

palavras devem ser acentuadas devido à mesma regra é

a. raízes, armário

b. tóxico, amável

c. médico, matemática

d. consórcio, sustentável

Questão 4

Sabe-se que a ortografia remete-nos a um dos muitos entraves de alguns usuários da língua, tornando-se por

vezes estigmatizada e, sobretudo, fazendo com que a Língua Portuguesa se torne objeto de repulsa. Assim sendo,

tendo em vista que o aprimoramento de determinadas habilidades relacionadas à linguagem escrita se dá de forma

gradativa, teça um comentário no que se refere a tal ocorrência.

298
Gabarito

Questão 1
A B    C     D

Questão 2
A B    C     D

Questão 3
A B    C     D

Questão 4

Em se tratando desse perfil gradativo, no que se refere às habilidades, vale mencionar que o aperfeiçoamento é
fator preponderante em tal quesito, pois à medida que nos despertamos para a leitura e para a assiduidade da

escrita, mais aprimoramos nossas competências. Outro aspecto que também se faz relevante é o enriquecimen-

to lexical que se dá mediante a essa postura, tornando nosso vocabulário ainda mais refinado. Assim sendo, não

há razão para concebermos a língua que falamos como um estigma, pois aos poucos vamos aprendendo como

se materializam as muitas regras e as possíveis exceções que dela fazem parte.

Língua Portuguesa e Literatura 299

Você também pode gostar