Material Do ALUNO - MOD 01 - 2014-1
Material Do ALUNO - MOD 01 - 2014-1
Material Do ALUNO - MOD 01 - 2014-1
PORTUGUESA
e LITERATURA
Governador Vice-Governador
Sergio Cabral Luiz Fernando de Souza Pezão
Secretário de Estado
Gustavo Reis Ferreira
FUNDAÇÃO CECIERJ
Presidente
Carlos Eduardo Bielschowsky
L755
Linguagens, códigos e suas tecnologias. Módulo I - Linguagens
e códigos. / Magalhães, Edna Maria...[et al.] - Rio de Janeiro:
Fundação CECIERJ, 2013.
298 p.; 21 x 28 cm - (Nova EJA.).
ISBN: 978-85-7648-877-4
1. Linguagem. 2. Código. 3. Tecnologia. 4. Cultura.
I. Magalhães, Edna Maria. II. Série.
CDD: 401.4
Seja bem-vindo a uma nova etapa de sua formação. Estamos aqui para auxiliá-lo numa jornada rumo ao
aprendizado e conhecimento.
Você está recebendo o material didático para acompanhamento de seus estudos, contendo as informações
Com este material e a ajuda de seus professores, novos mundos surgirão para você.
Conte conosco.
Cultura e
Identidade
Para início de conversa...
Quando alguém diz que os brasileiros têm pouca cultura, essa pessoa
pode estar certa, mas pode estar falando uma grande asneira. Pode estar mal in-
cultura para, depois, vermos sua íntima relação com questões de linguagem e de
língua. Vamos ver, também, traços da cultura brasileira, criadores de uma identi-
Objetivos de aprendizagem
Reconhecer a linguagem como elemento constituidor e constituinte da cultura.
b. Quando se diz que alguém “tem muita cultura”, o que, em sua opinião, caracteriza essa pessoa?
É bem provável que, suas respostas para as perguntas acima, não apenas no seu entendimento como no de
muita gente, “ter cultura” signifique ter muitas leituras, falar uma ou várias línguas estrangeiras, ter muitos conheci-
mentos sobre História, Geografia, sobre artes, sobre questões atuais de política, economia etc.
6
Isso também não é cultura?
Cultura é o conjunto de conhe-
Quando expandimos nosso olhar, percebemos que
cimentos de um povo, transmi-
cultura é muito mais do que só as manifestações de algu- tidos através de gerações. Estes
conhecimentos congregam arte,
mas pessoas ou classes sociais. Ela envolve todas as mani-
folclore, lenda, comportamentos
festações da vida de um povo. sociais, modos de vida, sentimen-
tos, linguagem, modos de vida,
Os especialistas chamam de “cultura erudita” aque- ocupações etc.
la que se cria ou se divulga nas universidades, institui-
ções científicas e outros centros de estudos e se apoia basicamente em registros e documentos. É, por excelência,
o conhecimento de prestígio.
Para os mesmos estudiosos, ao lado dessa forma de cultura, existe a “cultura popular” – aquela cujo
desenvolvimento dá-se à margem dos registros oficiais e longe das academias e sistemas de ensino. É transmitida,
sobretudo, oralmente, ou por meio de registros bastante simples, basicamente artesanais, nos mais diferentes am-
Se a cultura erudita pode ser mais valorizada, não é isso que ocorre com a cultura popular: Esta nem sempre
chamou a atenção dos cientistas e é, com frequência, vítima de preconceitos e desconsiderada. No entanto, felizmen-
te, ela sempre foi visitada pela sensibilidade dos grandes artistas. Poderíamos dizer que boa parte da melhor arte, no
Para dar apenas exemplos brasileiros, pensemos em escritores, como Ariano Suassuna, cuja obra literária e te-
atral tem como fonte a cultura popular. Ou em Heitor Villa-Lobos, o grande compositor erudito brasileiro, que tem na
cultura popular a inspiração de suas composições mais conhecidas. Ou em Antônio Nóbrega, cuja formação erudita
Antônio Nóbrega é de Recife, onde nasceu em 1952. Violinista desde criança acabou integrando o
Quinteto Armorial, como instrumentista e compositor. Em carreira solo, criou uma série de espetácu-
los, unindo música, teatro e dança, pelos quais ganhou os mais altos prêmios no Brasil. Eis alguns deles:
Brincante, Figural, que percorrem o Brasil e o mundo: já se apresentou em temporadas, em Cuba, Rús-
sia, França, Portugal, Alemanha, Espanha, entre outros países. Vários de seus espetáculos estão em CD
e DVD, e Lunário Perpétuo foi transformado em filme, sob a direção de Walter Carvalho. Consulte ainda
www.antonionobrega.com.br e assista aos shows em WEB – ver se é possível disponibilizar os vídeos
em nosso ambiente http://www.youtube.com/watch?v=x2GDYP26mNc&feature=related
Que manifestações de cultura popular são comuns em sua cidade ou em seu bairro?
Você participa de alguma delas? Alguma lhe parece especialmente interessante? Por quê?
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Há, por fim, a “cultura de massa”, típica do mundo industrializado em que vivemos. Ela se instala a partir do
desenvolvimento de produtos e serviços em escalas industriais, criados e oferecidos para uma massa consumidora,
gerando consumo que pode ocorrer, em alguns casos, simultaneamente a esse processo de produção. Esta cultura
vale-se de um sistema de comunicação complexo e sofisticado, que pretende atingir um número cada vez maior de
pessoas – o que se consegue, na maioria das vezes, pela homogeneização e nivelamento das mensagens, oferecidas
São veículos dessa modalidade de cultura, sobretudo, a televisão, o rádio, a imprensa, com ênfase, agora, na Internet.
2. Você costuma ler jornais e revistas? Explique por quê, caso leia ou não.
Talvez possamos dizer que a chamada cultura erudita é a mais distante da sociedade como um todo, uma vez que
ela exige certo hábito de leitura, certa escolarização, ou pede espaços que não são frequentados facilmente pela popu-
lação em geral. Essa cultura está nos museus, nos teatros, nas galerias, arquivos e bibliotecas, lugares que nem sempre
têm acesso gratuito ou preços razoáveis. Outras vezes, parecem até espaços sagrados, não é?
Em seu bairro, vilarejo ou cidade, quais são os espaços de cultura que estão à dispo-
Vale lembrar que, praticamente, todas as camadas sociais participam dela – e nem poderia ser diferente. O
Quanto a ser esta cultura irremediavelmente alienadora e destruidora da cultura mais original e mais típica de
um povo, conviria pensarmos que, se esta forma de cultura não for exclusiva, seus “perigos” ficam bem diminuídos.
Se conviverem, no cotidiano das pessoas, as várias modalidades de cultura, possivelmente os ganhos serão muitos.
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Produção textual em sala de aula
incluídos neste. Veja se os três tipos de cultura estão representados e se algum tem mais
cultura que é mais representada e explorada em sua região. Descreva como esse tipo de
Tantas formas de entender e classificar cultura mostram que, como muitos outros fenômenos ou questões
relacionadas ao Homem, este assunto está sempre em aberto.
Para nós, no entanto, é importante abordar a cultura na perspectiva da Antropologia, ciência que estuda o homem a
partir da análise de seus diversos modos de viver. A Antropologia amplia o conceito de cultura para além das manifestações.
Para ela, a cultura se manifesta a todo momento em nossas relações sociais e em nossa relação com o lugar onde vivemos.
Podemos, assim, ver traços culturais em várias situações e nas inúmeras relações que estabelecemos no nosso
cotidiano. Observe algumas dessas situações ilustradas nas imagens a seguir:
Nesse sentido, podemos assegurar que não existe agrupamento humano, nem ser humano sem cultura.
Da mesma forma, podemos afirmar que não temos critérios firmes para sustentar que uma cultura é
melhor do que outra, uma vez que cada agrupamento tem um modo de estar no mundo que satisfaz as
suas necessidades e aspirações, criadas social e historicamente.
atuação sobre a natureza. Nesses dois pontos, funda-se a característica humana da cultura.
Foi o desenvolvimento da linguagem oral pelo homem que gerou potencialidades extraordinárias para a cul-
tura. A primeira delas é a capacidade de o ser humano acumular conhecimento (de toda natureza), o que tem como
Seção 2
As relações entre cultura, língua
e identidade cultural
Um dos grandes interesses dos vários estudiosos com relação à cultura está no fato de os agrupamentos hu-
manos apresentarem tantas e tão acentuadas diferenças entre si. Esta é mesmo uma questão crucial, que pressupõe
uma outra: em que elementos comuns se baseia a cultura de cada agrupamento humano?
Dito de outra maneira: se, por exemplo, o Brasil é diferente culturalmente de outros países, o que nos
Você já pensou no que faz você se sentir brasileiro? Pense um pouco nisso e responda:
brasileiro?
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Leia o poema a seguir e responda às questões apresentadas..
Esse poema foi extraído de um livro de Leo Cunha, autor mineiro que
já escreveu mais de 40 livros para o público jovem e de crianças entre
crônicas, romances, contos e poemas. Com vários deles, ganhou dife-
rentes prêmios nacionais. Algumas de suas obras: Na marca do pênalti,
Pela estrada afora, Contos de gringolados, Clave de lua, Conversa pra
boy dormir, Vendo poesia.
CUNHA, Leo. Poemas pra ler num pulo. Belo Horizonte: Dimensão, 2010. p. 43.
e. Este poema poderia ter outro título bastante óbvio, em vez de “Tropical”. – Brasil,
por exemplo. Em sua opinião, qual é mais interessante? Por quê?
3. Em primeiro plano, está a figura circular. O que ela representa? Por que está
em destaque ?
Podemos, sim, afirmar que o futebol e o carnaval são expressões culturais identificadoras do nosso país. É as-
sim que, com certeza, muitos estrangeiros nos veem. Mas essa talvez seja apenas a parte mais visível, mais superficial
do Brasil. Nenhum país caracteriza-se de forma tão simples, nenhuma sociedade é tão homogênea e não se mostra
totalmente nas formas preferidas de lazer.
Vamos ler, agora, o início de uma crônica de Zuenir Ventura, na qual ele aborda as
rótulos promovem.
7
Verbete
Zuenir Ventura, nascido em 1930, em Além Paraíba, é jornalista dos mais influentes e premiados
do Brasil. Trabalhou nos mais importantes jornais e revistas do país e hoje é articulista de O Globo
e da revista Época. Seu livro 1968, O ano que não acabou recebeu vários prêmios, assim como O
Acre, de Chico Mendes.
O Brasil o que é?
Há uma pergunta clássica que não só os brasileiros vivem se fazendo, mas também
os estrangeiros: que país é esse no qual convivem tantas contradições e que parece se di-
chamou-o de “país dos contrastes”, mas é possível que seja mais do que isso, que seja país
da ambiguidade.
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Vai ver que não foi por acaso que “inventamos” o mulato, nosso jeitinho contra a po-
larização, síntese mais literal e metafórica do homem brasileiro. Para o antropólogo Rober-
to DaMata, o mulato é a ilustração da tese de que o Brasil, ao contrário dos EUA e da África
7
do Sul, admite o intermediário, o meio-termo, o ambivalente e o ambíguo. (...)
sil é cordial ou violento? Se é cordial, como se explica tanta violência? Se é violento, por que as
pessoas têm tanta alegria de viver, joie de vivre, como se pode observar, andando pelas ruas?”
(...) O Brasil nunca é uma coisa ou outra, mas as duas. Não é isso ou aquilo, mas isso e aquilo.
toda hora desmente o que se diz dele, a favor ou contra. Somos cheios de altos e baixos:
Diz-se também que o brasileiro é omisso, não cumpre suas obrigações cívicas. No dia
a dia, de fato, nem sempre servimos de exemplo para a civilidade e a cidadania. Mas também
vivemos num cotidiano iníquo de violência e de miséria. Em compensação foi esse mesmo
povo que levou o país a tomar posição contra o nazifascismo na Segunda Guerra, que saiu
às ruas para lutar contra as ditaduras (...).e que, sobretudo, provocou o impeachement de um
presidente corrupto no começo dos anos 90. E isso sem sangue e sem violência.
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Polarização - fenômeno observado quando ideias, sentimentos ou interesses opostos de um grupo são
confrontados nitidamente.
que com V as afirmações que correspondem e com F as que não correspondem ao pen-
f. ( ) O texto usa muito o verbo de ligação ser, por se tratar de uma tentativa de
caracterização.
2. Dentre os apontados pelo cronista, que traços do Brasil estão mais presentes e visíveis
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Produção textual
Depois das reflexões feitas, que tal agora você criar seu próprio texto sobre o Brasil?
Pode ser um texto com suas ideias sobre a nossa identidade ou mesmo um poema.
8
Na identificação de situações em que você e seus colegas sentem-se mais brasileiros e, agora, na produção
desse texto, você deve ter percebido que apareceu um traço fundamental de brasilidade: a Língua Portuguesa.
Nossa língua é, por excelência, um traço criador de nossa identidade. Por nascermos no Brasil e convivermos
desde cedo com nossos familiares e grupo social, aprendemos e comunicamo-nos, usando o Português. E esta língua
Pessoas, obras das mais variadas manifestações artísticas, paisagens, comidas, a língua: as mais diferentes ex-
pressões e atividades humanas podem despertar em nós um profundo sentimento de patrimônio compartilhado, de
pertencimento ao mesmo território, enfim, um sentimento de identidade com o que é a nação brasileira.
Assim, um acarajé, um feijão tropeiro, uma toalha bordada à mão, um folheto de cordel, um sino repicando de
manhãzinha, um maracatu, uma situação aparentemente simples acorda em nós a memória clara de um lugar a que
E sendo a língua marca cultural de um povo, torna-se, então, o elemento agregador que nos identifica nesse gru-
po. A cultura, por sua vez, é responsável pela identidade entre as pessoas de uma comunidade, de um povo e de seu país.
melhor do que outra: cada uma tem as características fundamentais para o seu funcionamento. É a língua que une os
elementos de uma dada sociedade ou país, tornando-se o principal traço de sua identidade.
Valorizar a cultura de qualquer povo e, consequentemente, sua língua materna, é um exercício de cida-
Veja ainda
htm?sid=305
2. Navegue pelo Museu Villa Lobos e conheça mais sobre este músico que participou da Semana de Arte Mo-
sanato/hist_arte.asp
4. Que tal conhecer vários recantos de nosso grandioso, “ gingante” Brasil? Viaje através do site http://www.
brasilviagem.com/materia/?CodMateria=42
5. Você sabia que, em 2009, foi criado o Instituto Nacional dos Museus – IBRAM através do Ministério da Cul-
6. Leia mais!!!
Sugestão: que tal um pouco de Literatura de Cordel? Você sabe que os poemas de Cordel fazem parte da cul-
tura do Nordeste?
7. Apresentamos a você um site onde você pode encontrar vários assuntos para suas pesquisas escolares.
Quer saber mais sobre o folclore? E sobre dança? Nossa história? Então: http://www.suapesquisa.com/fol-
clorebrasileiro/dancas_folcloricas.htm
18
Referências
VENTURA, Zuenir. Melhores crônicas. São Paulo: Global, 2004.p. 55-56. Fragmento.
Imagens
• http://www.flickr.com/photos/admiriam/4049658898/
• http://www.flickr.com/photos/massacoletiva/5188249048/
• http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=5431
• http://www.sxc.hu/browse.phtml?f=view&id=215067
• http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Heitor_Vila-Lobos_%28c._1922%29.jpg
• http://portal.mec.gov.br/index.php
• http://www.sxc.hu/photo/504540
• http://www.sxc.hu/photo/235764
• http://www.sxc.hu/photo/603150
• http://www.sxc.hu/photo/517386
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Seção 1. Cultura: os muitos significados da palavra
a. Esta questão é apenas uma proposta para aguçar sua curiosidade sobre o assun-
to da unidade – cultura. No entanto, vale dizer que cultura, entre outros concei-
b. Quando se diz que alguém tem cultura, de modo geral o que se pretende dizer
é que aquela pessoa possui estudo, conhecimento. Mas, todos têm cultura. Uma
cultura pode ser diferente da outra, mas todas têm sua grandeza por representar
Atividade 1
da reunião do grupo. Elas indicam exatamente o que cada pessoa tem de particular –
o que é um direito de cada um, mas pode indicar também enganos que precisam ser
Atividade 2
1. Resposta pessoal.
2. Resposta pessoal.
3. Resposta pessoal.
Atividade 3
Esta atividade tem resposta pessoal. Mas veja: os espaços destinados à cultura po-
dem ser bibliotecas, praças, cinemas, teatros, museus, exposições, locais onde há artesana-
Esta é uma atividade de pesquisa. Nos jornais, há sempre um espaço que mostra
o que acontece na região, como: eventos de música, exposições, opções de lazer, indica-
ção de filmes, livros e peças de teatro, entrevistas com artistas etc. Você deverá pesquisar
nos jornais notícias relativas à cultura erudita – peças de balé, apresentação de orquestras,
exposições de pintura, por exemplo, entre outros – à cultura popular – literatura de cor-
del, artesanatos regionais, danças típicas da região, restaurantes de comida típica, jogos
de futebol etc.- e à cultura de massa – grandes shows, grandes eventos que reúnem muitas
Atividade 5
a. Resposta pessoal
b. Resposta pessoal
Atividade 6
a. Você deve ter-se lembrado do Hino Nacional, que apresenta o verso “Gigante pela
b. Um verso que se destaca é: Gingante – a palavra é criada pelo autor (um neologis-
mo) para mostrar que é próprio do brasileiro a ginga no futebol e no samba. Com
o neologismo, o poema brinca com nosso Hino e com duas paixões dos brasileiros.
sões populares.
d. Futebol e carnaval
e. Resposta pessoal. Mas não podemos deixar de registrar que o título “Tropical”
traz uma surpresa, é mais original do que “Brasil”. Talvez você e seus colegas até
se lembrem da composição musical de Jorge Benjor, que canta: “Moro num país
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f. O poema mostra dois traços importantes da cultura dos brasileiros, com os quais
do adiante.
tral da nossa bandeira. Observe a imagem: o círculo faz uma composição entre
4. Os confetes e serpentinas que são jogados tanto no carnaval quanto nos cam-
Atividade 7
1. a) V; b) F;c) V; d) V; e) F; g) V
2. Esta questão apresenta resposta pessoal. No entanto, você deve considerar o fato de
roso e preguiçoso, egoísta e solidário, o povo brasileiro a toda hora desmente o que se
Atividade 8
Resposta pessoal. Expresse o que você sente ou como vê o Brasil e sua identidade.
Leve seu texto para discutir com seus colegas e com seu professor.
ENEM 2009
Resposta: Letra A
Comentário: Nesta questão, o importante é observar os traços de regionalismo na fala de Chico Bento como
Língua Portuguesa e Literatura 25
ENEM 2010
Resposta: Letra c
Comentário: O que marca a linguagem informal na fala entre a avó e seu neto é a redução da forma “está” para “ta”.
26 Anexo
Atividade extra
Módulo 1 • Língua Portuguesa e Literatura • Unidade 1
Cultura e identidade
O último computador
Um dia, todos os computadores do mundo estarão ligados num único e definitivo sistema, e o centro do sis-
tema será a cidade de Duluth, nos Estados Unidos. Toda a memória e toda informação da humanidade estarão no
Último Computador. As pessoas não precisarão mais ter relógios individuais, calculadoras portáteis, livros, etc. Tudo o
que quiserem fazer – compras, contas, reservas – e tudo o que desejarem saber estará ao alcance de um dedo. Todos
os lares do mundo terão terminais do Último Computador. Haverá telas e botões do Último Computador em todos os
lugares frequentados pelo homem, desde o mictório ao espaço. E um dia, um garoto perguntará ao pai:
O garoto apertará o botão e, num milésimo de segundo, a resposta aparecerá na tela mais próxima. E, então,
o garoto perguntará:
- Uma coisa que os antigos faziam. Meu avô me contou. Levante dois dedos, depois mais dois... Olhe aí. Um,
dois, três, quatro. Dois mais dois quatro. O Computador está certo.
Língua Portuguesa e Literatura 27
- Bacana. Mas, pai. E 363 mais 17? Não dá para contar nos dedos. Jamais vamos saber se a resposta do Compu-
- É...
- Meu filho, uma mentira que não pode ser desmentida é verdade.
- Quer dizer, estaremos irremediavelmente dominados pela técnica, mas sempre sobrará a filosofia.
Questão 1
d. Os jovens terão mais facilidade de aprendizagem, pois tudo estará centralizado em um computador.
Questão 2
Coisa de Homem
28
A dança se origina do movimento e caracteriza a vida. Muitas pessoas acham que o balé é coisa só para mulher,
e isso é um grande preconceito. Dança é arte, é movimento. Béjart disse que a dança é masculina. Independentemen-
te do sexo, certo é que os homens estão cada vez mais conquistando seu lugar em companhias de balé, provando
(RUVIN BER, José Singal. São Paulo – SP Revista O Globo 2/10/2011. Carta p.49)
Glossário:
Béjart: Maurice Bérjart, nome artístico de Maurice Jean Berger (Nasceu em Marselha, 1 de Janeiro de 1927 – e
Questão 3
A dança é uma manifestação cultural e uma identidade para os povos. O autor do texto revela melhor essa
afirmação no trecho:
Questão 4
a. exposição
b. narração
c. descrição
d. argumentação
A natureza é sábia
Millôr Fernandes
A expressão “Por que”, no terceiro verso da estrofe de Millôr Fernandes, tem como finalidade introduzir
a. uma explicação
b. uma finalização
c. uma contradição
d. um questionamento
Questão 6
Em Portugal, você poderá ter alguns probleminhas se entrar numa loja de roupas desconhecendo certas su-
tilezas da língua. Por exemplo, não adianta pedir para ver os ternos — peça para ver os fatos. Paletó é casaco. Meias
são peúgas. Suéter é camisola — mas não se assuste, porque calcinhas femininas são cuecas. (Não é uma delícia?).
Esse texto destaca diferenças entre o português do Brasil e o de Portugal. Qual é o aspecto focalizado?
30
Gabarito
Questão 1
A B C D
Questão 2
A B C D
Questão 3
A B C D
Questão 4
A B C D
Questão 5
A B C D
Questão 6
A língua portuguesa falada e escrita no Brasil apresenta diferenças da língua empregada em Portugal em vários
níveis. Esse texto apresenta exemplos de variação nas palavras usadas, respectivamente, no Brasil e em Portu-
Linguagem,
cultura e
variação
linguística
Para início de conversa...
não veríamos muitas diferenças nas reações de cada um, nos primeiros contatos
com os adultos é feito de forma similar. Até que, em dado momento, por volta dos
dezoito meses, o progresso do bebê humano vai se tornar bem diferente. E você
É interessante observar que não falta ao chimpanzé a mesma capacidade de observação e de inven-
ção, faltando-lhe, porém, a possibilidade de comunicação. Assim sendo, cada observação realizada por
um indivíduo chimpanzé não beneficia a sua espécie, pois nasce e acaba com ele. No caso humano,
ocorre exatamente o contrário: toda experiência de um indivíduo é transmitida aos demais, criando
um interminável processo de acumulação.
O homem é um ser social por excelência e diferencia-se dos animais pela faculdade da linguagem. Só o homem
é capaz de comunicar os seus pensamentos por meio de diferentes recursos e, principalmente, pela fala.
E o que é língua? Será que só existe uma forma válida de se utilizar a Língua Portuguesa? Ou existem variadas
Tudo isso é o que nós vamos estudar nesta unidade. Ao final, talvez você descubra que há muito mais formas
Objetivos de aprendizagem
Compreender a linguagem como uma atividade social e exclusiva do homem;
34
Seção 1
Linguagem como criação e criadora de cultura
Você já imaginou como seria uma pessoa criada sozinha, sem contato com outros seres humanos? E se essa
A lenda do Tarzan conta a história de um menino que, após um naufrágio, e com os pais mortos, é
“adotado” por uma macaca gorila no continente africano. Assim, Tarzan é criado como um macaco,
assimilando todos os costumes e hábitos da selva. Vinte anos depois, é encontrado por...
Outro filme interessante é o “O enigma de Kaspar Hauser”, do diretor Werner Herzog, lançado em 1974,
e baseado em um livro de mesmo nome. Narra a história de uma criança abandonada, encontrada
na Alemanha. Ela não sabia falar, nem andar e não tinha o comportamento de um ser humano. Seu
grande enigma mantém-se até hoje, sendo sua origem desconhecida.
http://www.youtube.com/watch?v=2m0GVRpl5dA&playnext=1&list=PL9C7A9176D5935EB6&index=12
Respondendo às perguntas dadas acima, você deve ter pensado em diferentes situações: essa pessoa sozinha
não aprenderia a falar, não teria como desenvolver hábitos comuns a outros, não teria uma história anterior ou mode-
los que a ajudassem a se colocar no mundo ou mesmo se proteger. Se estivesse em meio a animais, como no caso do
E como será que nasceu a linguagem? Será que ela só se expressa por meio das palavras?
Você já deve ter ouvido falar nos homens da caverna. Na história da humanidade, houve um momento em que,
pela primeira vez, um homem fez um sinal na parede de uma caverna, fez um gesto ou emitiu um som, conferindo a
eles certo significado que foi, então, compartilhado com outros seres humanos.
Essa capacidade de simbolizar, isto é, de construir e de atribuir significados a desenhos, gestos e sons são ex-
clusivos do ser humano, que, assim, criou diferentes linguagens para se comunicar.
E do tempo das cavernas até os dias de hoje? Que linguagens o homem usa para se comunicar?
36
Figura 3: Os símbolos
E então? Não é difícil perceber que em nosso dia a dia convivemos com diferentes linguagens, não é?
Linguagem é o conjunto de sinais, signos, que podem ser gestos, cores, símbolos, palavras etc., usados
na comunicação. Cada sinal criado pelo homem para sua comunicação corresponde a um significado e,
por isso, esses sinais são denominados signos linguísticos.
Podemos expressar nossas ideias, pensamentos e sentimentos por meio de palavras – a chamada linguagem
verbal –, mas também por meio de outros sistemas de representação como: o jogo de cores na pintura, o desenho, os sis-
tema de gestos, os sons da música, a expressão corporal da dança, entre outros – a denominada linguagem não verbal.
38
1. Indique, para cada situação de comunicação a seguir, se a linguagem usada é verbal,
d. as cantigas infantis
a.
b.
c.
3. Após a elaboração das mensagens na questão 2, qual é o tema central que une os três textos?
sos de interação disponibilizados no século XXI. Por meio deles, construímos novos modos de ver, de estar e de agir,
Por tudo isso, dizemos que o homem é, em sua essência, um ser de linguagens: está sempre buscando novas
formas de se expressar. Essa expressão torna-se cada vez mais complexa em termos dos recursos utilizados e dos
Seção 2
Língua, identidade cultural e variação linguística
A linguagem verbal, oral ou escrita, desenvolvida por diferentes grupos humanos, concretiza-se em diversas
línguas, como: o português, o inglês, o chinês, o espanhol etc.
E o que é língua?
Língua é todo conjunto de sinais verbais (expressos pelas palavras) organizados em regras que se com-
binam entre si, usados pelas pessoas de uma mesma comunidade para se comunicarem e interagirem.
No caso do Brasil, a nossa língua materna é a Língua Portuguesa, herdada como língua oficial em decorrência
Mas por que será, então, que o nosso Português é tão diferente do de Portugal?
40
Veja algumas diferenças de vocabulário entre o Português no Brasil e em Portugal.
Em primeiro lugar não podemos esquecer que o Brasil, quando os portugueses chegaram, já era habitado por
índios que falavam idiomas indígenas, como o Tupi, por exemplo. Depois vieram os africanos, que incorporaram à Lín-
gua Portuguesa novas expressões e vocábulos, e tantos outros imigrantes de outros países que, em épocas diferentes,
“Reparando bem, todo mundo tem pereba, só a bailarina que não tem”, diz uma canção de Chico Buar-
que de Holanda. Pereba, do tupi, significa ferida.
“Pare com esse nhenhenhém”. A expressão vem do verbo nhe’eng (falar, piar) e significa pare de ficar
falando, de falar sem parar, de resmungar. (...)
“Velha coroca” é uma velha resmungona. O termo nasceu do verbo kuruk, que significa resmungar.
O verbo “cutucar”, em Português, origina-se do tupi kutuk, cujo significado original – furar, espetar –
modificou-se ligeiramente. Em Português, cutucar é tocar com a mão ou com o pé.
“Estar jururu” é estar melancólico, tristonho, cabisbaixo. O termo indígena aruru, de onde surgiu a pa-
lavra, tem o mesmo significado.
Várias palavras mantiveram pronúncia e significado praticamente originais: mingau (papa preparada
geralmente com farinha de mandioca), capim, mirim (que significa pequeno) e socar (do verbo sok,
com o mesmo significado).
Você tem familiares, ou conhece alguma pessoa que é de outro estado brasileiro? Já
percebeu se há diferenças na maneira como eles falam, comparando com a maneira como
se fala na cidade onde você mora? Em caso positivo, preencha o quadro abaixo, explicando
42
Você já deve ter observado, até mesmo em programas de rádio e de televisão, que há mesmo diferenças na
forma como as pessoas falam em diferentes regiões do Brasil. Muitas dessas diferenças estão no vocabulário; outras,
na forma como constroem a frase (na sintaxe), ou na forma de pronunciar palavras e frases. Por exemplo:
1. Em São Paulo, as pessoas descem do ônibus. No Rio de janeiro, elas saltam do ônibus. Em Caxias do Sul,
elas desembarcam!
2. Uma média, na capital paulista, é café com leite. Em Santos, média é um pãozinho.
3. Em Porto Alegre, pãozinho é cacetinho. Em Itu, é filão. O filão, em São Paulo capital, é um pão grande e em
Além de variações regionais, há outras variações sociais relacionadas a alguns grupos e causadas por fatores,
como: a escolaridade, nível social, nível de formalidade, idade, pertencimento a um grupo específico como um grupo
Falar (dependendo do grupo social em que se está inserido) “Nós vai pra festa”/“Nós vamos para a festa”;
“Nós se encontremo depois”/ ”Nós nos encontramos depois”; muié/mulher, alevantar/levantar etc.
Utilizar gírias (determinadas pela idade ou pertencimento a um grupo específico) como: “Vaza” ( vai embo-
ra); “mina” ( namorada); “se liga” (preste atenção/entenda); “desencana” ( não se preocupe), “curtir um som”
( ouvir musica).
É interessante notar como certos grupos utilizam uma linguagem própria, afirmando, assim, sua identidade
grupal pela linguagem. Pense na linguagem utilizada pelos grupos de pagode, funk, rap, metaleiros etc.
PRODUÇÃO TEXTUAL
Pesquise na biblioteca, na Internet, ou até mesmo com pessoas em seu bairro, exem-
plos de variações na Língua Portuguesa. Elabore um pequeno texto em que você enumera
as variações lingüísticas encontradas na sua região, em seu bairro ou mesmo em sua casa.
E não se esqueça de dizer se essa diversidade lingüística traz (ou não) algum problema na
Você pode mostrar exemplos de variação diacrônica (que ocorre através do tempo,
regiões do Brasil), ou mesmo de variações sociais (que se referem à escolaridade, nível so-
E então? Após verificar essas diferenças, será que podemos dizer que uma dessas
E como será que isso pode acontecer, se falamos todos a mesma língua?
Qualquer um de nós aprendeu naturalmente a língua em contato com a família e o grupo social. E, ao se co-
municar, faz escolhas dentre o conjunto de saberes que tem sobre a língua e sobre o assunto de que vai falar. Isso, no
entanto, não prejudica o caráter de unidade da língua (todos nós falamos Português), nem é contrário aos usos e os
Podemos dizer, assim, que a língua possui variações e, embora seja a mesma, apresenta diferenças de região
para região, de pessoa para pessoa, de acordo com o grau de intimidade (formalidade) entre as pessoas, a faixa etária,
44
Figura 7: A nossa língua apresenta variações de região para região, mas mesmo
assim conseguimos nos comunicar!
Essa variação linguística é totalmente legítima e, por isso, não há como dizermos que existe um jeito
certo ou errado de falar, nem um padrão de linguagem melhor ou pior do que outro. O que determina a
utilização de uma ou outra variedade, ou de uma ou outra forma, é o contexto comunicativo, a situação
concreta de comunicação que se estabelece.
Ao reconhecer as possibilidades de variação da língua, estamos sendo coerentes em afirmar que ela expressa
Agora, divirta-se, conhecendo algumas versões de um mesmo texto, mas com sujeitos de estados diferentes. É
(...)
ASSALTANTE MINEIRO
Ô sô, prestenção. Issé um assarto, uai! Levantus braçu e fiketin quié mióprucê. Esse trem na minha mão
tá chein di bala... Mió passá logo os trocado que eu num to bão hoje. Vai andano, uai ! Xispa daqui!!! Tá
esperanuquê,sô?!
ASSALTANTE PAULISTA
Isto é um assalto! Erga os braços! Porra, meu!...Passa logo a grana, meu. Mais rápido, meu, que eu ainda pre-
ciso pegar a bilheteria aberta pru jogo do Corintias, meu!... Pô, agora se manda, meu, vai... Vai...
ASSALTANTE CARIOCA
Aí, perdeu, mermão! Seguiiiinnte, bichxu. Isso é um assalto, sacô? Passa a grana e levanta usch braço rapá...
Não méchxi que eu te passo o cerol....Vai andando vira a isssquina e se olhar pra tráiiss vira presunto...
(Circulando pela INTERNET, com adaptações)
Seção 3
Variações e registros linguísticos
PRODUÇÃO TEXTUAL
pedir para três pessoas diferentes: um amigo (ou parente), seu patrão e um gerente de ban-
co. Que linguagem você usaria para falar com cada um? Certamente, você falaria de forma
b. Pedido ao patrão
46
As três manifestações de uso da Língua Portuguesa na atividade anterior foram diferentes, não foram? Quais
foram as diferenças? Nas palavras empregadas, na forma de se dirigir a cada uma das pessoas, em função de suas
posições sociais?
Observe que o que mudou em cada situação foi a forma como você registrou a mensagem.
A essa variação que ocorre em função do uso que se faz da língua e que depende das condições da
situação de comunicação (com quem se fala, o que se fala, quando, por que e como se fala), chama-
mos de registro.
a. Formal ou informal, de acordo com o grau de formalismo do discurso e o nível de intimidade existente
entre as pessoas.
Exemplos: Formal: Nós vamos construir uma nova creche no bairro. (Contexto: administrador de uma
Veja a diferença no uso de expressões como “Nós vamos” e “A gente vai”. A mensagem é a mesma, mas o que
modifica, isto é, varia, é o registro diante da situação: o primeiro, mais formal – ou culto; o segundo, informal – ou coloquial.
O que delimita ser um registro formal ou culto é o conjunto de regras determinadas por uma elite in-
telectualizada de uma língua. Essas regras estão (pré) determinadas em livros e gramáticas consagradas e veiculadas
“Olha, cara, sabe que as mina de hoje só querem namorá com caras que podem gasta dinhero com elas.”
“Todos sabemos que as moças de hoje só querem namorar rapazes que podem gastar dinheiro com elas.”
registro de fala, pois reproduzimos a forma como a pessoa falou a expressão. Além disso, também, será um registro
Entre as variações da língua, existe uma que tem maior prestígio: é a norma culta ou norma padrão. Ela é utili-
zada em grande parte dos livros, documentos, revistas, jornais, noticiários, artigos científicos entre outros.
A norma culta de uma língua é considerada uma variante que confere prestígio àqueles que a usam.
Em geral, entende-se por norma culta ou norma padrão a variedade linguística, que vem descrita em manuais
de ensino, gramáticas e dicionários. Além de ser nessa norma em que se redigem os documentos oficiais, livros técni-
cos, científicos, didáticos e religiosos, comunicados oficiais, reportagens etc., ela também é importante em inúmeras
situações sociais na nossa vida que exigem uma maior formalidade, como uma entrevista de emprego, uma redação
em uma prova ou concurso, uma carta de reclamação dirigida a alguma entidade, uma apresentação em público etc.
Não conhecer essa norma padrão pode acarretar ao falante problema tanto para produzir textos, quanto para com-
preendê-los, principalmente, porque, em várias situações sociais, na prática diária, esse conhecimento faz-se necessário.
Imagine-se em uma entrevista de trabalho, diante do presidente de uma importante siderúrgica. Se você não
for capaz de se expressar com clareza, com correção vocabular, poderá, por melhor profissional que você seja, perder
a vaga para outro candidato, cuja expressão verbal o qualifica melhor para o cargo pretendido.
48
Releia o texto A Norma Culta (padrão) da Língua, marcando o que você achou de
2. Assinale a opção em que a situação descrita NÃO necessita de preocupação com a nor-
ma culta da língua:
a. um ensaio jornalístico;
b. um discurso político;
Todo texto falado ou escrito, seja em linguagem formal/ culta ou informal/ coloquial, organiza-se, inicial-
mente em frases.
Frase é todo enunciado ou informação com sentido completo em uma situação de comunicação. Na
língua escrita, é finalizada por um sinal de pontuação – ponto final (.), ponto de exclamação (!), ponto
de interrogação (?) ou reticências (...).
As frases podem ser escritas sem verbos (chamadas frases nominais), como em:
b. Socorro!
c. O cafezinho daquele bar da esquina é mesmo delicioso: saboroso, quente e doce na medida!
Mas é interessante notar que não é qualquer sequência de palavras que formam uma frase. Por exemplo, se
disséssemos:
Ninguém entenderia nada, pois essa não é uma ordenação de palavras possível no Português. Agora, se
disséssemos:
50
“Ontem o rapaz convidou a moça para passear.”; ou
“O rapaz convidou a moça para passear ontem.”, aí, sim, todos a compreenderiam.
Isso mostra que a língua tem, além de palavras, algumas normas que estabelecem como é possível relacionar,
combinar ou ordenar essas palavras na frase, para que elas tenham sentido. Isso é a “sintaxe” da língua. Ela é que regu-
Mais adiante, faremos a análise sintática de orações e períodos, identificando sua estrutura e as funções dos
Oração – É o enunciado que apresenta uma estrutura organizada em torno de um verbo ou locução
verbal. Exemplos:
Verbo: palavra que indica ação, estado ou fenômeno da natureza. Ex.: Pedro trabalhou muito.; Ele é
mineiro.; Trovejou bastante.
Locução verbal: verbo composto por duas ou mais palavras. Ex. Marcos estava estudando na bibliote-
ca; Marta vai continuar no curso.
Atenção: Embora algumas frases sejam também orações, como ocorre no exemplo “O ônibus estava
lotado”, uma oração nem sempre é uma frase! Veja que a segunda oração do exemplo b. acima (... antes
que começasse a aula.), não constitui uma frase, porque não tem sentido completo em si.
Exemplos:
só oração).
Vimos antes que fazer a análise sintática de uma oração ou período nada mais é do que observar como ela(e)
se organiza, identificando a sua estrutura interna, seus elementos (termos) e as relações entre eles.
Você vai ver que não é nada complicado! Comecemos analisando a oração:
O sujeito é o termo sobre o qual se diz algo. Assim, considerando a oração acima, o sujeito é [o ônibus], pois é
O predicado, geralmente, contém o verbo e diz algo sobre o sujeito. É por isso que, na norma culta, o verbo do
predicado quase sempre concorda com o sujeito (em número e pessoa). Veja os exemplos a seguir:
52
Quando identificamos o sujeito, torna-se mais fácil identificar o predicado na oração, pois o predicado é tudo
aquilo que se declara sobre o sujeito. Assim, no último exemplo apresentado acima, o predicado é:
Trata-se de um predicado verbal, pois o verbo “ir” é um verbo de ação e é o núcleo do predicado.
Por outro lado, observe que, embora seja mais comum o sujeito aparecer no começo, antes do verbo, há muitas
Nesse exemplo, observe também que o sujeito é composto, porque possui dois núcleos: “ônibus” e “van”, o que
obrigou o verbo a ser escrito no plural: “Estavam”. Nesse caso, dizemos que é um SUJEITO COMPOSTO.
“Participei da manifestação.”
De quem se diz “participei da manifestação”? Eu, não é?! Embora não esteja escrito, sabemos que há um sujeito
mal.
Sujeito:
Sujeito:
d. Cada vez mais, nos dias de hoje, vemos manifestações contra o preconceito lin-
guístico.
Sujeito:
Sujeito:
2. Complete os espaços em branco com a forma adequada dos verbos que aparecem en-
tre parênteses, considerando o sujeito de cada um. Para facilitar essa tarefa, antes de
existe uma variedade de língua. Isso não ____ (ser) verdade. ___________ (existir) diferen-
tes variações da língua. Tanto a variante da língua falada no sul, quanto a falada no norte
__________ (ser) legítimas. Assim, nós não _________ (poder) dizer que há uma variante
54
Resumo
Estamos no final desta unidade. Vimos que a linguagem é um sistema de signos construído socialmente, que
respresenta uma identidade cultural e que existem alguns princípios importantes no que se refere à linguagem verbal
e sua variação:
o falante nativo pode dominar diferentes variantes linguísticas usadas em seu país;
não há um falar certo ou errado, mas, sim, usos adequados a cada situação de interação social;
É importante conhecer e saber usar também a norma culta da língua porque ela é necessária em muitas
Veja ainda
1. Você sabia que na Pré-História os homens documentavam seus costumes com pinturas nas paredes das
cavernas? Estas pinturas são chamadas de rupestres. No Brasil, encontramos várias pinturas rupestres. Veja
com/2007/08/variantes-lingsticas-variao-lingstica.html.
3. Preconceito linguístico acontece quando desprezamos a forma como um indivíduo ou grupo social usa a
língua, seja por causa do sotaque, dos regionalismos usados ou por considerarmos esta forma de maior ou
menor prestígio. Este preconceito levou muitos povos indígenas a desconsiderarem suas línguas nativas. Co-
4. A linguagem virtual é a que usamos quando nos comunicamos na Internet. Leia sobre o assunto em http://
www.webartigos.com/articles/10408/1/Variantes-Linguisticas-no-Contexto-da-Internet/pagina1.html
Em "O Diário de Tati”, o leitor poderá curtir, numa boa, as paixões, medos, ale-
grias e desilusões desta adolescente rebelde e divertidissíma. “Mas fala sério, tem coisa
aqui que você não vai poder contar nem pra sua mãe, tudo bem?”
mentos muito comuns: Existe vida após a morte? Por que as pessoas põem faixas para Santo
Expedito? Você já viu filhote de pomba? Eva tinha celulite? Vale a pena conferir.
Referências
Extrato de: LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 16ª.ed. Rio de Janeiro: Zahar,
2003. p. 51-52.
Extraído de NAVARRO, Eduardo de Almeida. Método Moderno de Tupi Antigo. São Paulo; Global, 2006.
Imagens
• http://www.sxc.hu/photo/1307593
• http://www.sxc.hu/photo/1208424
• http://www.sxc.hu/photo/1265709
56
• http://www.sxc.hu/photo/1223568
• http://www.sxc.hu/photo/1228973
• http://www.sxc.hu/photo/1094543
• http://www.freedigitalphotos.net/images/Other_Metaphors_and__g307-Wood_Pencil_With_Green_Leaf_
p34601.html
• http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Flag_of_Portugal.svg • http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Flag_of_Brazil.svg
• http://www.sxc.hu/photo/1038123
• http://www.sxc.hu/photo/683225
• http://www.sxc.hu/photo/517386
2. Sugestões de respostas:
Atividade 2
A resposta depende das diferentes falas observadas. Por exemplo: Arlindo, do Ceará:
Atividade 3
Esta é uma atividade de pesquisa. Na seção “Veja Ainda” desta unidade, são apresen-
Atividade 4
Resposta pessoal. Mas observe que em (a), a linguagem será mais informal e em (b)
e (c) a linguagem será formal, pois a mensagem é enviada ao patrão e ao gerente do banco.
Atividade 5
1.C; 2.C; 3. D
58
Atividade 6
d. Cada vez mais, nos dias de hoje, vemos manifestações contra o preconceito linguístico.
Sujeito: Eu (oculto)
uma variedade de língua. Isso não é (ser) verdade. Existem (existir) diferentes variações da
língua. Tanto a variante da língua falada no sul, quanto a falada no norte são (ser) legítimas.
Assim, nós não podemos (poder) dizer que há uma variante melhor do que a outra.
ENEM 2009
Língua Portuguesa e Literatura 61
62 Anexo
Resposta: Letra D
Comentário: A valorização das coisas simples é o tema central nesse poema, de Manoel de Barros.
Resposta: Letra B
Comentário: O papel da arte poética a ser considerada é que possui valores sociais e humanos atualizáveis e
Questão 1
Concordo plenamente com o artigo "Revolucione a sala de aula". É preciso que valorizemos o ser humano, seja
ele estudante, seja professor. Acredito na importância de aprender a respeitar nossos limites e superá-los, quando
possível, o que será mais fácil se pudermos desenvolver a capacidade de relacionamento em sala de aula. Como ar-
quiteta, concordo com a postura de valorização do indivíduo, em qualquer situação: se procurarmos uma relação de
respeito e colaboração, seguramente estaremos criando a base sólida de uma vida melhor.
SOUZA, Tania Bertoluci de. Porto Alegre, RS,Disponível em www.kanitz.com.br/veja/cartas.htm>. Acesso em: 2 maio 2009.
Adaptado
O texto pertence ao gênero textual “carta do leitor”. Considerando os elementos de comunicação, afirma-se que
a. o texto usa uma linguagem coloquial, já que os interlocutores são adolescentes e se comunicam através
b. o emissor usa uma linguagem muito formal, pois a carta tem como destinatários profissionais executi-
c. o texto é uma narrativa, na medida em que há uma opinião do emissor em relação ao tema, uma repor-
d. o referente, isto é, o assunto central da carta, é uma reportagem que foi publicada na revista anterior-
Língua Portuguesa e Literatura 65
Questão 2
SOUZA, Maurício de. [Chico Bento]. O Globo, Rio de Janeiro, Segundo Caderno, 19 dez. 2008, p.7.
O personagem Chico Bento pode ser considerado um típico habitante da zona rural, comumente chamado de
“roceiro” ou “caipira”. Considerando a sua fala, essa tipicidade é confirmada primordialmente pela
Questão 3
Na tirinha de Chico Bento, o autor registrou a fala do personagem. Considerando a origem, a classe social do
personagem e o contexto da tirinha, percebe-se que o autor optou por fazer um registro da língua
a. culta
b. formal
c. escrita
d. regional
66
Questão 4
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
No verso "O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia". O sujeito do verbo correr é
a. Tejo
b. rio
d. aldeia
Questão 5
O sujeito é um dos termos essenciais da oração. Qual é o sujeito de "Batem leve, levemente"?
a. sem sujeito
b. sujeito indeterminado
c. sujeito oculto
d. sujeito composto
http://clubedamafalda.blogspot.com.br/
Questão 7
[...] O que não sugeria nenhum sentimento especial. O pai, a mãe e a filha olhavam já há algum tempo, sem
propriamente um pensamento qualquer. Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha. O pai afinal decidiu-se
— Se você mandar matar esta galinha nunca mais comerei galinha na minha vida! [...]
O sujeito é o termo da oração que realiza ou sofre com uma ação verbal e concorda com o verbo. Ele pode ser
classificado em três tipos. Na oração: "Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha." O sujeito e o tipo de sujeito
b. Ninguém / simples.
c. Ninguém /indeterminado.
d. Nunca / simples.
68
Questão 8
O padrão formal da linguagem é o modelo utilizado na escrita, que segue rigidamente as regras gramaticais.
Nos três primeiros quadrinhos, a linguagem utilizada é mais formal e, no último, mais informal. Assinale a alternativa
que traga, primeiro, uma marca da formalidade e, depois, uma marca da informalidade presentes nos quadrinhos.
a. Vilania; vosso.
b. Vós; você.
c. Estou; você.
d. Tenhais; segui.
Questão 9
A linguagem
na ponta da língua
e de entender.
A linguagem
e vai desmatando
(Carlos Drummond de Andrade. Esquecer para lembrar. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979.)
Questão 10
Gerente – Julinho, é você, cara? Aqui é a Helena! Cê tá em Brasília? Pensei que você inda tivesse na agência de
Na representação escrita da conversa telefônica entre a gerente do banco e o cliente, por que a maneira de
70
Gabarito
Questão 1
A B C D
Questão 2
A B C D
Questão 3
A B C D
Questão 4
A B C D
Questão 5
A B C D
Questão 6
A B C D
Questão 8
A B C D
Questão 9
A B C D
Questão 10
Houve adequação da fala da gerente com relação ao cliente a partir do momento em que ela descobriu que ele
72
Módulo 1 • Língua Portuguesa e Literatura • Unidade 3
Língua falada,
língua escrita e
gêneros textuais
Para início de conversa...
só prestátenção. U alemão pur exemplu. Qué coisa mais doida? Num bate nada
cum nada. Até nu espanhol qui é parecidu, si iscrevi muito diferenti. Qui bom qui
Você deve ter estranhado muito o texto acima. Ele foi apresentado justa-
mente para que você percebesse como seria a nossa língua escrita se escrevêsse-
mos exatamente como falamos. Você deve ter pensado: não é assim que se escreve!
Além disso, o fato de ter sido escrito desta forma não facilitou muito a lei-
ginou? Se não tivéssemos um padrão para a escrita de textos, como seria para
um jeito e escrevem de outro. Vamos identificar as diferenças entre a língua oral e a língua escrita, e apreciar diferen-
Objetivos de aprendizagem
Identificar as diferenças entre linguagem oral e linguagem escrita.
74
Seção 1
Duas modalidades da Língua Portuguesa:
língua falada e língua escrita
Já vimos anteriormente que não há como dizermos que existe um jeito de falar melhor ou mais legítimo do
que outro. O que determina quando usamos uma ou outra forma de linguagem é a situação de comunicação em que
estamos, ou seja, com quem falamos, o que falamos, o grau de formalidade que temos com a pessoa, o lugar onde
Quando falamos (oralidade) ou quando escrevemos (escrita), produzimos informações que se realizam de
modo diferente. A fala realiza-se por meio de sons (fonemas) que emitimos, e a escrita pela representação gráfica ou
Mas há outras diferenças também. Quando falamos, usamos outros recursos, como a entonação, gestos, movi-
mentos do corpo e dos olhos, expressões faciais, pausas, ritmo etc. que nos ajudam a sermos compreendidos pelo outro.
Como estamos diante da pessoa que ouve, se ela não entender alguma coisa, poderá, a qualquer momento,
interromper-nos e pedir explicações. Podemos repetir ou acrescentar detalhes que a ajudem a compreender o que
E na escrita? É diferente, não é? Embora possamos até pensar na pessoa que receberá o texto, estamos sozinhos quan-
do escrevemos, e o leitor também não poderá contar com a nossa presença no momento em que receber a mensagem.
É por isso que o texto precisa estar claro, ter o assunto bem organizado e conter todas as informações necessá-
rias para o leitor compreender a mensagem. Se isso não for feito, a comunicação não se efetivará.
guagem que seja facilmente compreendida por número grande de leitores, conforme a área de circulação do jornal.
Já imaginou um jornal como o O Globo que circula no Brasil inteiro? Para atingir seu objetivo – ser lido por um público
de leitores variado e numeroso – deve procurar uma escrita que seja clara e acessível a todos.
A fala e a escrita são duas modalidades diferentes da Língua Portuguesa. As pessoas não escrevem
como falam. Fatores como o contexto de produção, a intenção dos usuários, a temática, as formas
próprias de cada uma dessas modalidades, determinam essa diferença.
Dentre as diferenças entre a língua falada e a escrita está a não correspondência entre os “sons” (fonemas)
das palavras e os seus símbolos gráficos (grafemas). Numa palavra, como “queijo”, por exemplo, o som ou
fonema inicial “k” corresponde, na escrita, a duas letras: “qu”. Assim, a palavra “queijo”, na língua falada,
tem 5 fonemas, e 6 grafemas, ou letras na língua escrita.
Essa não correspondência dos fonemas com os grafemas (letras) é muito observada no nosso vocabu-
lário. Muitas vezes, um mesmo fonema possui vários possíveis grafemas na língua escrita. Por exemplo,
pronuncie estas palavras:
Em todas elas, temos o som /s/ e, no entanto, ele é representado por diferentes letras em cada uma delas:
“s”, na primeira, “c”, “ss”, na segunda e “x” na terceira. È por isso que, para escrever, precisamos conhecer a
ortografia da Língua Portuguesa – isto é o conjunto de regras que determina a grafia das palavras e o uso
de sinais gráficos, como acentos, hífen etc.
Falando nisso, você já conhece a nova convenção ortográfica da Língua Portuguesa que foi acordada
entre todos os países de Língua Portuguesa?
76
O que aproxima a oralidade (fala) da escrita?
Ambas fazem referência a uma situação de interação social, precisam ser organizadas e adequadas à situação de
comunicação, ou seja, respeitar o que as pessoas sabem ou não sobre o assunto tratado, o nível de conhecimento que
elas têm sobre a língua (observe que não falamos/escrevemos do mesmo jeito para uma criança e um adulto, por exem-
plo), o grau de intimidade com a pessoa (amigo, familiar, patrão, um estranho etc..) e, claro, os objetivos da comunicação.
Além disso, é preciso pensar em que tipo de registro usar: o mais formal (culto) ou o menos formal (coloquial).
Tanto na forma oral quanto na forma escrita, o ser humano utiliza-se da linguagem para interagir com os ou-
tros e para isso utiliza TEXTOS.
1. ( ) 2. ( )
3. ( ) 4. ( )
5. ( )
Na Atividade 1, por exemplo, todas as figuras trazem uma “mensagem” e provocam uma interação com o “lei-
tor”. Todas têm alguma coisa a dizer, não é mesmo? E, nós, exercemos uma ação interpretativa sobre elas. Claro que
a interpretação do que cada uma diz está relacionada com o conhecimento de mundo, com a cultura de uma forma
Texto é toda e qualquer produção que resulta da comunicação ou interação entre as pessoas. É pro-
duzida com o objetivo de comunicar algo a uma ou mais pessoas e provocar interação.
"Pois é! A interação social é a base para que a sociedade se organize porque deixamos de ser indivíduos e pas-
samos a nos comportar como grupo. O que provoca essa interação é a comunicação."
Interlocução
Quando duas pessoas ou dois grupos de pessoas se comunicam a patir de uma situação concreta,
mesmo que num texto escrito, estabelece-se um diálogo entre as partes porque houve interaçção
entre eles. Chamamos de INTERLOCUÇÃO a esse processo entre as partes envolvidas numa situação
comunicativa. Assim, tanto emissor quanto receptor são chamados de INTERLOCUTORES.
Veja bem: quando uma pessoa (A) fala com outra pessoa (B) produz uma mensa-
gem e provoca uma reação. O que A fez? Elaborou um texto. Daí, B responde, provocan-
do nova reação em A porque elaborou outra mensagem, outro texto, e assim sucessiva-
mente. É por meio desse processo que nos comunicamos e interagimos com o outro e
78
No entanto, podemos nos comunicar não apenas por meio da fala, mas também da escrita ou por meio de si-
nais, de uma pintura, de um gesto, de uma escultura etc. Então, toda mensagem produzida a partir de um processo de
comunicação, que provoca uma reação no outro (que pode ser chamado de receptor, leitor ou interlocutor, conforme
Este texto, por sua vez, está impregnado das impressões de quem produz a mensagem (que é chamado de
emissor, autor ou também interlocutor). O texto, assim, carrega muito além da mensagem porque também carrega
atitudes, expectativas e sentimentos de quem o produz. Por isso provoca reação e, consequentemente, interação.
Os Elementos da Comunicação
Para que a comunicação realmente possa se concretizar são necessários SEIS elementos de
comunicação:
1. o emissor: aquele que emite a mensagem. É o autor do texto escrito, o interlocutor num
4. o canal: é o meio através do qual a mensagem é transmitida. Por exemplo, numa con-
versa oral, o canal de comunicação é o ar; num texto escrito, o papel; num programa de
mado de contexto.
bém identificar:
Seção 2
Gêneros textuais
a. Vamos fazer uma reflexão: qual foi o primeiro documento de sua vida? Para que
serve esse documento? Que informações ele traz? Onde e para que você o usa ou
b. Mas são vários os tipos de textos com que nos deparamos todos os dias, não?
Então, leia os textos a seguir e identifique quais as situações de uso em que eles
Texto 1
Paratodos
O meu pai era paulista
Meu avô, pernambucano
O meu bisavô, mineiro
Meu tataravô, baiano
Meu maestro soberano
Foi Antonio Brasileiro
(...)
Vi cidades, vi dinheiro
Bandoleiros, vi hospícios
Moças feito passarinho
Avoando de edifícios
Fume Ari, cheire Vinícius
80
Beba Nelson Cavaquinho
(...)
O meu pai era paulista
Meu avô, pernambucano
O meu bisavô, mineiro
Meu tataravô, baiano
Vou na estrada há muitos anos
Sou um artista brasileiro
(Chico Buarque de Holanda. Fragmentado. http://letras.terra.com.br/chico-
-buarque/45158/)
Situação de uso:
Função:
Texto 2
Sua consagração veio na Copa do Mundo da Suécia, em 1958, quando o Brasil foi
pela primeira vez campeão mundial. Depois, Pelé participou ainda da Copa de 1966, na
Inglaterra, e da Copa de 1970 no México, quando a seleção trouxe para o Brasil a taça Jules
Rimet. Apelidado de “O Rei” pela imprensa francesa, criou e aperfeiçoou jogadas que en-
cantaram o mundo: o chute a gol do meio do campo, a tabela nas pernas do adversário, o
drible sem bola no goleiro, a paradinha na cobrança do pênalti.
Em 2000, na eleição de Melhor Jogador do Século da FIFA, Pelé foi aclamado como o
melhor de todos os tempos, à frente do craque argentino Diego Maradona.
(Adaptação de http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u724.jhtm)
Função:
Texto 3
“Eu sou brasileiro e não desisto nunca” – Agência Lew, Lara – ABA http://www.aba.
com.br/omelhordobrasil/
Situação de uso:
Função:
Texto 4
Texto 5
82
Como você deve ter percebido, esses textos apresentam funções e usos diferentes. Cada um foi produzido,
levando em conta uma determinada situação ou contexto e, portanto, possui uma estrutura própria.
O texto 2 é uma biografia e tem como objetivo apresentar a história de vida de Pelé;
O texto 3 é parte de uma campanha publicitária: “Eu sou brasileiro e não desisto nunca”, cuja função foi
sentimento de orgulho e satisfação nas pessoas a respeito de suas próprias realizações e potencialidades,
e também salientando o efeito de suas atitudes e ações para sua autorrealização e para o futuro do Brasil;
E o texto 5 é um bilhete.
Podemos dizer que são as funções que determinam o conteúdo, a estrutura, a linguagem a ser usada e o modo
de apresentação dos textos.
Cada um representa um gênero textual. E cada gênero tem uma função e uma estrutura definida.
Os gêneros textuais possuem algumas formas padronizadas, como se fossem marcas de identificação.
Veja alguns exemplos. Muitos, você já deve conhecer ou ter ouvido falar:
Biografia, currículo...
Tipo de receptor:
Tipo de receptor:
Tipo de receptor:
Tipo de receptor:
Tipo de receptor:
84
Seção 3
Analisando gêneros textuais: Currículo e Carta
Vamos começar estudando o Currículo, cuja função é, também, a de apresentar-nos, dizer quem somos do
ponto de vista profissional, geralmente a uma empresa ou organização, num processo de seleção de pessoal.
Currículo
Este é um gênero textual muito importante para quem quer se candidatar a alguma vaga de emprego. É uma
maneira de se apresentar, de se identificar e, ao mesmo tempo, distinguir-se dos demais. Por isso, ele é um dos instru-
mentos utilizados para selecionar os candidatos a uma vaga em processos seletivos diversos.
O currículo ou Curriculum Vitae –CV (nome que vem do Latim e significa “carreira de vida”) é um documento
que reúne informações sobre a formação, capacitações e experiências profissionais de alguém que se candidata a um
Em geral, um currículo contém basicamente os seguintes itens: dados pessoais, formação e experiência profis-
Currículo
Formação
Graduado em Administração de Empresas. UFMG, conclusão em 2003.
Ensino Médio Profissional de Auxiliar Administrativo. Colégio Carmo, conclusão em 1998.
Principais atividades: Análise técnica de balanço patrimonial, análise de custo de oportunidade, aná-
lise de estudos de mercado.
Principais atividades: Contas a pagar e a receber, controle do fluxo de caixa, pagamento de colabora-
dores, consolidação do balanço mensal.
Outros Cursos
Informática: Word, Excell, Power Point – SENAC, 04 meses, março a junho de 1998.
PRODUÇÃO TEXTUAL
Agora chegou a hora de você fazer o seu Currículo Vitae. Organize as informações e,
Mãos à obra! Veja abaixo a estrutura básica. Mas saiba que você pode ampliá-lo, de-
86
Observe a estrutura de um Curriculum Vitae ou currículo:
DADOS PESSOAIS
Nome:
RG:
Endereço:
Telefone(s):
E-mail:
FORMAÇÃO
EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL
Informar as experiências profissionais anteriores ou estágios realizados. Começar pelo período em que
trabalhou, nome completo da empresa,função ou cargo exercido e atividades atribuições desenvolvi-
das.
OUTROS CURSOS
Local e data
Assinatura
Carta
Vejamos, agora, outro exemplo de gênero textual: a carta. Certamente, você já escreveu ou recebeu cartas.
modo de falar (a seleção do vocabulário e a organização do assunto). Esses mesmos elementos serão organizados
diferentes se, por exemplo, a carta for endereçada a um parente ou ao departamento de pessoal de uma empresa que
Esse texto tem todos os elementos que o configuram como uma carta:
a saudação (ou vocativo), que introduz a pessoa para quem se escreve, o destinatário;
o assunto, que contém informações sobre como a pessoa que escreve a carta espera encontrar o destinatá-
88
A linguagem usada nessa carta do Paulo para a empresa contratante utilizou uma linguagem mais formal, já
que se trata de uma carta de apresentação para se candidatar a uma vaga de emprego e não há familiaridade entre o
Mas uma carta também pode ser escrita em linguagem mais informal, quando é para um amigo ou familiar.
Para enviar a carta pelo correio é preciso providenciar um envelope. No caso de Paulo, veja como ele preencheu
o envelope para enviar sua carta à empresa. Na parte da frente colocou seu nome (remetente) e endereço completo;
PRODUÇÃO TEXTUAL
Escreva uma carta a um (a) amigo(a), contando-lhe as novidades de sua vida e que
você está fazendo esse curso de Ensino Médio. Aproveite para convidá-lo, se ele não tiver
Imagine que você comprou um remédio e, como toda pessoa cuidadosa, resolveu ler a bula.
90
1. A partir da leitura da parte “COMPOSIÇÃO QUÍMICA”, responda:
A mensagem desta parte do texto ficou clara para você? Justifique sua resposta.
De acordo com a linguagem utilizada nesta parte, é possível dizer que o propósi-
Assim, todo e qualquer texto promove interação com quaisquer leitores? Por quê?
2. Imagine que você queira ter certeza de que o medicamento realmente é indi-
cado para o mal diagnosticado pelo médico. Leia novamente a parte relativa a
De acordo com o que você compreendeu, explique como o(a) paciente poderia
reagir ao texto, se ele(a):
c. estivesse amamentando.
“Até o final do ano, o Brasil terá duas bulas de medicamentos: uma com linguagem
técnica, destinada a médicos, e outra voltada ao paciente, com informações mais didáticas.
A bula do paciente continuará dentro da caixa do remédio, enquanto a outra será ele-
(Fragmento de http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u504556.shtml,
acesso em 02/04/2011.)
dade social que inclui a produção e recepção de diferentes textos que se manifestam
nesta unidade (documento, currículo, carta, bula etc.), faz com que possamos intera-
gir e expressar-nos de forma mais efetiva nas várias situações da vida, expandindo,
92
Veja ainda!
1. Assista aos vídeos sobre gêneros textuais, para aprofundar seus estudos:
watch?v=OQPw-xUK_tk
Entre a imagem e a palavra: reflexões sobre fala, escrita e ensino, trecho do vídeo, parte integrante da Cole-
Direção/Edição: Augusto Noronha e Karla Vidal. Seleção de imagens: Angela Paiva Dionisio. http://www.you-
tube.com/watch?v=zYWYpHdpg7E
2. Nos sites a seguir você poderá encontrar vários modelos de currículo e de carta:
http://www.meucurriculum.com/modelos-de-curriculum.php
http://www.brasilescola.com/redacao/carta.htm
gues.html
4. Dica de leitura: Tudo o que eu queria te dizer. Martha Medeiros. Editora Objetiva.
O que você sempre quis dizer a alguém - e nunca teve coragem? O que precisa falar de uma vez por todas - mas
desiste, espera, até chegar o momento mais apropriado? Em ‘Tudo que eu queria te dizer’, Martha Medeiros encarna
personagens que assinam cartas reais, trágicas, por vezes cômicas, devastadas por sua dor.
5. Assista ao programa IMAGENS DA PALAVRA, que vai ao ar todo DOMINGO às 17h 30min pela TVE/JF - canal
12, e fique por dentro do mundo da palavra através da poesia, da música, dos livros.
Referências
Imagens
• http://www.sxc.hu/photo/607218
• http://www.cidadededeus.org.br:8080/
• http://www.sxc.hu/photo/1151676
• http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Flag_of_Brazil.svg
• http://www.sxc.hu/photo/1193666
• http://www.sxc.hu/photo/517386
• http://www.sxc.hu/985516_96035528
94
Atividade 1
Atividade 2
b) Texto 1: Um poema
Situação de uso: quando queremos buscar prazer na leitura; sua função é fazer o
leitor refletir sobre o que está sendo tratado ou se emocionar, ou chamar a atenção.
Atividade 3
No texto 1 (2. b): No poema, o autor cria a identidade de Antônio Brasileiro, que
pode ser qualquer brasileiro. Mostra que todos somos constituídos de várias culturas de
trajetória de vida, onde são descritos dados pessoais e fatos marcantes da vida do jogador.
No texto 3 (2.b.): A campanha “Sou Brasileiro e não desisto nunca” ressalta a capacida-
indivíduo.
Texto 2: Propósito comunicativo: Informar sobre a trajetória de vida e os feitos do rei Pelé.
de futebol.
enfermagem.
Atividade 4
96
Atividade 5
texto, procure fazer um planejamento antes de iniciar a escrita. Após a escritura do texto,
Atividade 6
IV. Não. Porque a comunicação só é clara para quem tem domínio de um vocabulá-
rio científico.
II. a. Provavelmente, o remédio não poderia servir mais, depois de pouco tempo, já
c. A paciente não faria uso do medicamento, pois poderia prejudicar o bebê que
está amamentando.
ENEM 2010
Resposta: Letra E
Língua Portuguesa e Literatura 99
Comentário: Como pode ser observado em textos de horóscopos em geral, sua função é aconselhar os nativos
Resposta: Letra C
Comentário: A presença de termos técnicos pode ser observada nesse texto, voltado para os profissionais dessa área.
100 Anexo
Atividade extra
Módulo 1 • Língua Portuguesa e Literatura • Unidade 3
Lingua falada. Lingua escrita e gêneros textuais
Questão 1
Sabemos que linguagem é todo sistema de signos que serve de meio de comunicação entre indivíduos, e pode
ser percebido pelos diversos órgãos dos sentidos. São exemplos, respectivamente, de linguagem auditiva e visual:
Texto 1
Até o fim
Língua Portuguesa e Literatura 101
Texto 2
Questão 2
O anjo é um elemento comum aos dois textos. De que forma são tratados os anjos nos textos?
Questão 3
Brigadeiro de micro-ondas
Ingredientes
Granulado a gosto
Modo de preparo
Em um recipiente próprio para micro-ondas, de preferência redondo e de borda alta, misture todos os ingre-
dientes.
Leve ao micro-ondas por 6 minutos em potência alta ou na tecla brigadeiro do próprio micro-ondas. Mexa a
Depois de pronto, retire do forno e mexa até ficar uma massa lisa e brilhante.
Leve à geladeira para esfriar, depois enrole os docinhos, passe no granulado e coloque nas forminhas.
102
A receita lida foi publicada em um site de culinária para
Questão 4
Roda Viva
Há nesse texto palavras que são marcas de oralidade, ou seja, que são usadas predominantemente em diálo-
Questão 5
De ponta a ponta é toda praia rasa, muito plana e bem formosa. Pelo sertão, pareceu nos do mar muito gran-
de, porque a estender a vista não podíamos ver senão terra e arvoredos, parecendo-nos terra muito longa. Nela, até
agora, não pudemos saber que haja ouro nem prata, nem nenhuma coisa de metal, nem de ferro; nem as vimos. Mas,
a terra em si é muito boa de ares, tão frios e temperados, como os de Entre-Douro e Minho, porque, neste tempo
de agora, assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas e infindas. De tal maneira é graciosa que, querendo
aproveitá-la dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem.
(In: Cronistas e viajantes. São Paulo: Abril Educação, 1982. p. 12-23. Literatura Comentada. Adaptado.)
104
Gabarito
Questão 1
A B C D
Questão 2
O anjo de Drummond vem desenhado bem no estilo grave que lhe impõe a língua culta já o anjo de Chico Bu-
arque, vem no estilo bem popular com que o autor o coloca na sua composição “safado”, “chato” e menos culto,
bem na linhagem dos malandros que costumam ser brindados nas composições do autor.
Questão 3
A B C D
Questão 4
A palavra “tem” no lugar “há”, do verbo haver. / A expressão “a gente” no lugar do pronome pessoal “nós”.
Questão 5
A B C D
A Prescrição
Para início de conversa...
sem nenhuma orientação sobre onde dobrar, parar, estacionar ou mesmo reduzir
Como seria se, ao consultarmos um médico, ele não nos orientasse sobre
Ou, ainda, já pensou como seria infernal a nossa vida num condomínio
Figura 1: Você já se sentiu perdido alguma vez, sem saber para onde ir, o
que fazer ou como manusear determinado aparelho? Pois é, assim é uma
vida sem orientações.
Esta Unidade vai abordar o tipo de texto que tem a função de orientar nossas ações no dia a dia e nossa vida
em sociedade. Vamos trabalhar com a prescrição e com os textos de natureza prescritiva, suas manifestações, elemen-
Objetivos de aprendizagem
108
Você sabia que as placas de sinalização são classificadas em três categorias,
Regulamentação
Advertência
que ele vai encontrar mais à frente, normalmente situações em que deva ter
Indicação
http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/sinais-de-transito/sinais-de-transito.php
Para evitar as cenas caóticas que você deve ter imaginado e para facilitar a nossa vida, há um determinado tipo
de texto que é responsável pela manifestação e explicitação de regras, normas, instruções, orientações, etc. Chama-
Texto 1
Modo de preparo :
Coloque o sachê em uma xícara de chá e adicione água fervente. Deixe de 3 a 5 mi-
Texto 2
Placas de regulamentação
Texto 3
1 - Seja ético. A vitória que vale a pena é a que aumenta a sua dignidade e reafirma
valores profundos.
4 – Seja grato(a) a quem participa das suas conquistas. O verdadeiro campeão sabe
110
(...)
7 – Tenha metas claras. Ter objetivos claros evita desperdícios de tempo, energia e
dinheiro.
8 – Cuide bem do seu corpo. Alimentação, sono e exercício são fundamentais para
a vida saudável.
(...)
cia em crises e a melhor fonte de oportunidades na expansão. Ter bons contatos é essencial
em momentos decisivos.
(...)
2. Que palavras e elementos são utilizados em cada um dos textos para dar conta
Faça um levantamento de cinco situações no seu dia a dia, nos quais você se depara
com textos prescritivos ou tem que produzi-los. Agora, elabore um texto apontando a im-
portância desses textos na vida social e profissional das pessoas. Em seguida, compartilhe
Após realizar as atividades, observe que as suas respostas devem ter apontado para o fato de que, apesar de
tratarem de assuntos diferentes e de encontrarem-se em situações diferenciadas, os três textos da Atividade 1 têm um
No primeiro texto, temos os passos para preparação de um chá (coloque, deixe, adoce). No segundo, instru-
ções precisas sobre como agir no trânsito (placas de sinalização e o que elas significam – dê a preferência, proibido,
siga, etc.). E no terceiro, como devemos agir para conquistar a felicidade (seja ético, estude muito, acredite, etc.).
Dessa maneira, podemos constatar, nos três textos, a expressão de exercícios de prescrição.
A prescrição, assim como a narração, a descrição e a argumentação, constitui uma espécie de tipologia textual
e atua como uma função da linguagem que nos permite apresentar e receber, de forma precisa e organizada, os pas-
sos de uma sequência, instruções, conselhos, ordens, orientações sobre como agir e se comportar e de como executar
Fornecemos informações e temos contato com textos prescritivos quando somos condutores de um processo
ou temos de seguir ordens ou orientações, como por exemplo, quando damos ordens, quer no ambiente familiar ou
no trabalho, quando orientamos o que as pessoas devem fazer em uma sequência (primeiro faça isso, depois, realize
tal ação, etc.), quando vamos ao médico e ele nos dá uma receita de como tratar nossos sintomas, etc.
Prescrever se relaciona com ordenar, instruir, determinar regras, fixar limites. Nos textos prescritivos predomina
a função conativa/apelativa da linguagem (voltada para o receptor) e eles visam tentar convencer ou persuadir quem
ouve a obedecer a uma vontade, a fazer, ou a não fazer algo, seja ordenando ou pedindo gentilmente.
112
Os textos prescritivos são, portanto, aqueles que trazem informação sobre como realizar ações. Eles estão pre-
sentes com frequência em nosso dia a dia, podendo ser extremamente simples, como uma receita de bolo e ordens
de exercícios escolares, ou assumir uma natureza mais complexa, como bulas de medicamentos, regulamentos de
cursos, leis, instruções de montagem e utilização de máquinas e equipamentos, dentre outras formas.
Eles têm a função de regular com precisão o comportamento humano para a realização de algum objetivo,
e são constituídos por uma explicação detalhada de como fazer determinada tarefa e, muitas vezes, contam com o
Figura 3: Você já imaginou como a nossa vida seria complicada se não fossem os manuais? Como
seria difícil, por exemplo, manusear esta máquina de costura se não houvesse um manual, não
é verdade?
Como se constituem os textos prescritivos? Para respondermos a essa questão, vamos retomar as respostas
Conforme já apresentado, por meio das palavras, dos elementos gráficos e estruturação é que podemos reco-
nhecer a tipologia de um texto. No caso dos textos analisados, as palavras e expressões que nos indicam a existência
da prescrição são:
as imagens das placas e o que elas significam: dê, pare, proibido, siga (Texto 2);
e associadas a elas, as expressões modo de preparo, regulamentação e dicas, que nos apontam o que vai
ser apresentado.
Podemos perceber por esse levantamento que na linguagem prescritiva são predominantemente utilizados
verbos de ação.
Os verbos são palavras que indicam uma ação, um processo, inseridos no tempo. Veja: feitas ou sofridas por
Também destacamos que os verbos têm papel fundamental na frase, pois são os termos essenciais dos enunciados.
Mas será que diante desses processos assumimos sempre o mesmo tipo de atitude enquanto falantes?
É evidente que não, pois dependendo dos nossos objetivos, escolhemos diferentes formas de expressão para
indicar o que queremos. Podemos apenas declarar o que fazemos ou o que pensamos; podemos apresentar nossos
desejos, hipóteses e condições sobre determinados assuntos ou assumir postura de ordem, de organização de ações.
114
Modo Verbal
O modo verbal expressa a atitude do sujeito que fala em relação aos processos expressos pelo verbo. São três
Indicativo:
presente;
Exemplos :
Estou de saída; já fiz o que vim fazer. Gosto muito daqui. (presente)
Ele me falou agora há pouco que esquecera (havia esquecido) de fazer a tarefa. (preté-
presente
pretérito imperfeito
futuro
Exemplos:
Quero que você chegue em casa cedo. Talvez eu compre alguma roupa naquela promoção. (presente)
Imperativo:
Exemplos:
116
Como a prescrição pressupõe a ordenação, a instrução, a orientação, assumimos uma postura de controladores
dos processos e das ações e o modo imperativo é aquele que nos permite assumir tal postura. E isso pode ser feito
de forma afirmativa (quando queremos que alguém faça algo) ou de forma negativa (quando manifestamos o que
não queremos que alguém faça). Daí decorrem o que se denomina de Imperativo Afirmativo e Imperativo Negativo.
E como se forma o modo imperativo de um verbo? A fórmula é sempre a mesma e é muito simples. Envolve
apenas o conhecimento das conjugações do Presente do Indicativo e do Presente do Subjuntivo. Veja um exemplo
Pelo quadro anterior, podemos perceber que o Imperativo Negativo é formado a partir do Presente do Subjun-
tivo e que no Imperativo Afirmativo, as segundas pessoas (tu e vós), são oriundas do Presente do Indicativo sem o – s
1. Não utilizamos o imperativo para a primeira pessoa, pois as ordens sempre se destinam a uma se-
gunda pessoa.
2. A forma do imperativo afirmativo a ser utilizada depende da pessoa gramatical que empregamos
para nos dirigir aos nossos receptores.
Se utilizamos tu (2ª pessoa) como forma de tratamento, então teremos como forma do Imperativo Afir-
mativo aquelas decorrentes do Presente do Indicativo. Se utilizamos você (3ª pessoa), então teremos as
formas do Presente do Subjuntivo como fonte.
Considerando que apenas em algumas regiões do nosso país usam a 2ª pessoa, o que encontraremos
em textos de domínio público, na publicidade, nas campanhas, nos manuais de instrução, nas normas,
etc., será a forma do Imperativo decorrente do uso da 3ª pessoa. O mais importante não é a pessoa
usada, mas sim a utilização da forma correspondente correta do Imperativo
Verbo ter
Eu
Tu
Ele/Ela/Você
Nós
Vós
Eles/Elas/Vocês a
Verbo seguir
Eu
Tu
Ele/Ela/Você
Nós
Vós
Eles/Elas/Vocês a
118
. Reescreva as frases, transformando os verbos e expressões destacadas por verbos
no Modo Imperativo.
4. Após aberto, o produto deve ser mantido em geladeira por no máximo 30 dias.
Os textos prescritivos, em função da sua natureza, apresentam, de modo geral, as seguintes características:
são textos geralmente curtos, com frases curtas e precisas e com léxico específico do tema, especialmente verbos
de ação;
possuem expressões temporais para ordenar a sequência de ações, ou formas de ordenação e esquematização,
Seção 3
Outras manifestações de textos
prescritivos e suas características
Até agora trabalhamos com textos prescritivos que apresentam ordens e instruções diretas. No entanto,
conforme já mencionamos no início desta Unidade, há outros textos que trazem informações de condutas a
serem adotadas, além de normas e regras que não são expressas de forma direta. Entre eles estão, por exemplo,
as regras dos jogos, os regulamentos e as bulas dos remédios, onde são utilizadas outras formas para marcar as
Regulamentos
Vamos começar analisando um trecho de um modelo de regulamento. O texto que segue, é apenas um
120
Regulamento Interno do Condomínio
22h às 6h, cabe aos moradores guardarem silêncio, evitando-se ruídos ou sons que possam
1.3 - Durante 24 horas, o uso de aparelhos que produzam som ou instrumentos mu-
sicais deve ser feito de modo a não perturbar qualquer morador, observadas as disposições
1.4 - Os jogos e/ou brincadeiras infantis somente poderão ser praticadas em locais
(...)
2.1 - É permitido aos moradores usar e usufruir das partes comuns do Condomínio,
desde que não impeçam idêntico uso e fruição por parte dos demais condôminos.
todo ou em parte, a pessoa que não residir no mesmo, para grupos, agremiações ou enti-
(...)
2.6 - É proibido o uso de bicicletas, skates, patins e similares nas áreas comuns,
salvo se existir local apropriado e previamente determinado por este Regimento ou pela
administração.
jogos ou lazer, como também colocar os pés ou deitar sobre os sofás, realizar brincadeiras
ou qualquer outro jogo que possa causar danos aos móveis e guarnições das mesmas,
ficando seus transgressores sujeitos ao pagamento das multas previstas neste Regimento.
(...)
(...)
4.2.3- Guardar decoro e respeito no uso das coisas e partes comuns, não as usando
nem permitindo que as usem, bem como as unidades autônomas, para fins diversos da-
(www.jurisway.org.br)
Você deve ter notado que o texto está estruturado em itens e subitens (1; 1.1; 2; 2.1; etc.), conforme categorias
de espaços, condutas, e natureza das normas. Isso permite a consulta a itens desejados e ordena as ações a serem
respeitadas.
Pois bem, essas são formas e estruturas utilizadas nesse tipo de documento para expressar o que deve e o que
não deve ser feito. A utilização dessas expressões garante que todos tenham clareza sobre os seus deveres e respon-
sabilidades.
Como os Regulamentos dirigem-se a uma coletividade e servem como documento público, a utilização dessas
formas têm um papel não de ordem direta, mas sim de guia de comportamento geral e coletivo.
122
Regras de jogos
Outras formas são utilizadas nos textos que acompanham jogos de baralho, de tabuleiro, etc. Vejamos, por
O lance inicial cabe sempre a quem estiver com as peças brancas. Também
jogam-se damas em um tabuleiro de 100 casas, com 20 pedras para cada lado
- Damas Internacional.
A pedra anda só para a frente, uma casa de cada vez. Quando a pedra atinge
a oitava linha do tabuleiro, ela é promovida à dama.
www.xadrezregional.com.br
Nesse tipo de texto, percebe-se que, além do uso de expressões que indicam os movimentos (é obrigatório
executar, a dama não pode saltar, etc.), são apresentados elementos descritivos e de constituição do jogo (número de
Bulas de medicamentos
As bulas de medicamentos apresentam mais ou menos características similares aos textos de regras de jogos.
Como o objetivo das bulas é fornecer informações sobre o medicamento aos usuários e orientar para uma administra-
ção segura, o texto contém desde a composição, até as indicações legais. A estrutura das bulas, em geral, contempla
várias partes e, cada uma delas, dependendo da sua função, apresenta formas descritivas e prescritivas.
124
Escolha uma bula de um medicamento e apresente as partes que a compõem, identi-
ficando quais são de caráter prescritivo. Discuta análise feita com o professor e seus colegas.
http://bulario.net/,
www.helpsaude.com/bulas,
www.anvisa.gov.br
Os textos instrucionais de exercícios físicos, quer aqueles de relaxamento, de musculação, laborais, aeróbicos,
ou até aqueles de ginástica olímpica, apresentam uma sequência de passos bem marcados que devem ser seguidos
à risca para garantir o efeito desejado do exercício e não haver prejuízos para a saúde. Eles vêm geralmente acompa-
nhados de ilustrações e imagens que auxiliam na identificação dos movimentos e facilitam a sua execução correta.
Por essa natureza instrucional, são utilizados marcadores temporais de sequência (primeiro, segundo, em
seguida, após, etc.) e verbos no Modo Imperativo (dobre, gire, puxe, erga, etc.).
Esses textos são encontrados em revistas especializadas em saúde e beleza e também em vídeos.
www.furg.br
www.minhavida.com.br
www.anvisa.gov.br
Para finalizar, devemos reconhecer a função e importância que os textos prescritivos têm em nossa vida en-
Por meio dos textos prescritivos, podemos ter informações importantes para cuidar da nossa saúde, controlar
a utilização de produtos na nossa alimentação, conhecer e estabelecer normas de convivência em sociedade, saber
operar aparelhos e máquinas, executar ações de forma orientada e orientar a ação de outras pessoas, dentre outras
possibilidades.
126
Produção Textual
unidade?
A proposta de texto é que você elabore um pe-
queno guia com dicas e cuidados de alimentação, saú-
de, exercício e convivência que possam fazer com que
sejamos mais saudáveis e tenhamos mais qualidade de
vida.
Bom trabalho!
Veja ainda
http://www.brasilescola.com/redacao/textos-injuntivos-prescritivos.htm
http://www.mundoeducacao.com.br/redacao/texto-injuntivo-texto-prescritivo.htm
http://tudogostoso.uol.com.br/
http://www.clickgratis.com.br/receita/
Atividade 1
1. Qual o objetivo de cada um dos textos e em que situações eles se encontram?
rem adotados.
Texto 3: Ensinar como se pode ser feliz, indicar o que se deve levar em consideração, dar
2. Que palavras e elementos são utilizados em cada um dos textos para dar conta dos
objetivos propostos?
Texto 2: as imagens das placas e o que elas significam: dê, pare, proibido, siga.
São textos curtos, com frases curtas, estruturados em partes que apontam uma sequência
específica de passos (Texto 1), ou de prioridade (Texto 3). No caso do Texto 2, há utilização de ima-
Atividade 2
no café da manhã, quando temos à nossa frente produtos alimentícios, cujos rótulos indicam
na rua, quando nos dirigimos ao trabalho e vemos placas de NÃO PISE NA GRAMA
na escola, quando vemos as regras de boa convivência expostas em cartazes nas salas de aula.
na livraria, quando vemos livros de auto-ajuda, que nos dizem como viver melhor.
128
Atividade 3
Utilizando-se do quadro de referência, forme o modo imperativo dos verbos ter e seguir a
Verbo Ter
Pronomes
Presente do Imperativo Imperativo Presente do
pessoais (pessoas
Indicativo Afirmativo Negativo Subjuntivo
do discurso)
Verbo seguir
Pronomes pesso-
Presente do Imperativo Imperativo Presente do
ais (pessoas do
Indicativo Afirmativo Negativo Subjuntivo
discurso)
Modo Imperativo
4. Após aberto, o produto deve ser mantido em geladeira por no máximo 30 dias.
Atividade 5
nome do produto;
130
Atividade 6
orientar melhor.
Referências
Imagens
• http://www.sxc.hu/photo/418215
• http://www.flickr.com/photos/cbnsp/3570818895/sizes/m/in/photostream/
• http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/sinais-de-transito/sinais-de-transito.php
• http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Ariano_Suas suna.jpg Autor: Wilson Dias/ABr
• http://www.sxc.hu/photo/1153877
• http://www.sxc.hu/photo/1023776
• http://www.cnbb.org.br
• http://www.sxc.hu/photo/984791
132
O que perguntam por aí?
Canção do exílio
Língua Portuguesa e Literatura 133
Sem que disfrute os primores
Gonçalves Dias
b. “...que eu morra”; ( )
134 Anexo
Atividade extra
Módulo 1 • Língua Portuguesa e Literatura • Unidade 4
A prescrição
Questão 1
Ingredientes:
1/2 kg de soda cáustica
1 litro de água;
Preparo: Ferva 1 litro de água.Simultaneamente, esquente bem 3 litros de óleo.Coloque a soda cáustica na
água fervendo, dentro de um balde de plástico e,imediatamente,Retire o óleo do fogo e despeje por cima.Em seguida
coloque o álcool.Mexa (com um pedaço de pau) durante 15 minutos.Despeje numa caixa de papelão forrada com
-sabao-caseiro
Língua Portuguesa e Literatura 135
Assinale a alternativa correta com base nas afirmações:
II- A receita de sabão apresenta o imperativo na 3ª pessoa do singular, mostrando menor formalidade.
III - A receita de sabão é um texto injuntivo formal porque dá ordens precisas sobre a produção do sabão.
IV- A receita apresentada não é um texto injuntivo/ prescritivo porque não contém verbos no imperativo.
a. I e II estão corretas
Questão 2
Bom conselho
Espere sentado
Ou você se cansa
Venha se queimar
(www.chicobuarque.com.br)
Questão 3
Na canção “Bom Conselho”, o autor modifica o sentido de vários provérbios. Identifique três dessas referências.
Questão 4
Questão 5
Quais são os recursos linguísticos apresentados no texto que confirmam essa ideia?
Questão 1
A B C D
Questão 2
A B C D
Questão 3
Resposta esperada:
Questão 4
Resposta esperada: Porque tem como objetivo aconselhar o leitor ou o ouvinte a não confiar naquilo que é
Questão 5
O emprego de verbos no imperativo, que é o modo do mando, do pedido, da ordem, além da escolha do título
A Narração
Para início de conversa...
Você já deve ter reparado que o nosso dia a dia está cercado de momentos
O que há de novo?
E daí, o que aconteceu na aula ontem?
Você não sabe o sonho que tive ontem. Foi assustador! Quer ouvir?
Sabe aquele gato que conheci na nossa festa na empresa outro dia? Encontrei
com ele de novo e foi uma emoção só!
É isso mesmo! Gostamos de saber o que acontece com as pessoas que nos
e até mesmo rimos ou choramos das histórias que nos contam. Fazemos questão
vos. Verdadeiras ou inventadas, mesmo sendo pura ficção, eram, no início, conta-
escritas ou usando outras formas de expressão, as histórias são sempre uma ten-
tativa de o homem entender o mundo, entender-se, expressar-se.
Assim, contar histórias, escritas ou faladas, é uma das formas que utiliza-
mos para criarmos uma identidade entre as pessoas de nosso grupo, o que nos
permite maior interação no meio em que vivemos. E mais, através dessas histó-
ações. Vamos trabalhar com a narração, com os textos narrativos, suas manifestações, seus elementos e estrutura.
Objetivos de aprendizagem
Reconhecer o conceito de narração.
140
Seção 1
A narração
Podemos dizer que o ser humano é, por natureza, histórico. Precisamos deixar registrada a história da existên-
cia humana: suas conquistas, suas descobertas, sua forma de viver o dia a dia, sua cultura. Fazemos questão de passar
po vai passando.
questões propostas.
Texto 1
- O seu nome?
- Ora, meu senhor, como você espera participar de um concurso para locutor, se
você é gago?
- Não, eu não sou gago. Gago era meu pai e incompetente foi o escrivão que me
A descoberta do Brasil
Pedro Álvares Cabral. À primeira vista, eles acreditavam tratar-se de um grande monte e
tugal e Espanha exploravam o oceano em busca de novas terras.(...) em 1492, Cristóvão Co-
lombo, navegando pela Espanha, chegou à América(...) Diante do fato de ambos terem as
mesmas ambições e com objetivo de evitar guerras pela posse das terras, Portugal e Espanha
assinaram o Tratado de Tordesilhas, em 1494. De acordo com este acordo, Portugal ficou com
as terras recém-descobertas que estavam a leste da linha imaginária (200 milhas a oeste das
ilhas de Cabo Verde), enquanto a Espanha ficou com as terras a oeste desta linha.
(Adaptado de http://www.suapesquisa.com/historia/descobrimentodobrasil/)
Sobre os textos:
desse texto?
142
2. E no segundo, que acontecimento é relatado? E como é feito o relato? O propósito co-
Conforme podemos perceber, embora os dois textos tenham objetivos comunicativos diferenciados na apresenta-
ção dos fatos, eles têm uma função em comum: tomar fatos e contá-los para dar a conhecer aos outros o que aconteceu.
O primeiro texto é uma piada e tem por propósito, pelo relato de uma situação engraçada, provocar no leitor o riso.
O segundo é um texto de natureza didática e tem a função de apresentar ao leitor, o relato de um aconteci-
mento que marcou a nossa história.
Pelo que vimos até agora, narrar é relatar, contar fatos e episódios (reais ou fictícios) passados para dar a conhe-
cer a alguém experiências e vivências. Narrar é contar uma história, curta ou longa.
E, quando narramos?
Narramos quando queremos que os outros saibam o que aconteceu conosco, quer para emocionar, provocar
sentimentos de solidariedade, quer para divertir e mostrar os nossos (pre) conceitos e formas de encarar o mundo
e as pessoas. Nossas conversas, confidências entre amigos, fofocas são exemplos desse tipo de exercício narrativo.
Narramos quando queremos, através de concepções coletivas e culturais, explicar o mundo e seu funciona-
mento e (re) criar realidades. Daqui surgem as lendas e as fábulas, as crônicas, contos, romances etc.
Narramos quando queremos dar a conhecer o que se passa no mundo e na sociedade e aí temos as notícias
veiculadas em telejornais, jornais escritos etc.
Como vimos até agora, o nosso dia a dia está marcado pela narração, em diferentes gêneros textuais. O ser humano
precisa deixar registrado o seu tempo e a forma como vive. As histórias (relatos) passadas de geração a geração, oralmente, fo-
ram e são ainda em algumas comunidades a forma de preservar a cultura de um povo. Com o advento da escrita e das desco-
bertas da imprensa, muitos desses relatos passaram a constituir um acervo para o conhecimento da história da humanidade.
Que tal entendermos um pouco sobre como se estrutura uma narração, quais são seus elementos constitutivos
e suas características?
Apresentamos um exemplo de texto narrativo e algumas questões como desafio para que possamos definir os
A princesa e a ervilha
Era uma vez um príncipe que queria casar com uma princesa — mas tinha de ser uma princesa verdadeira.
Por isso, foi viajar pelo mundo afora para encontrar uma. Viu muitas princesas, mas nunca tinha a certeza
de serem genuínas. Havia sempre qualquer coisa que não parecia estar como devia ser. Por fim, regressava a casa,
muito abatido.
144
Uma noite, houve uma terrível tempestade. No meio dela, alguém bateu à porta e o velho rei, pai do príncipe,
foi abri-la.
Deparou-se com uma princesa. O estado em que ela estava era deplorável. A água escorria-lhe pelos cabelos e
pela roupa, e saía pelas biqueiras e pela parte de trás dos sapatos.
A velha rainha não disse nada e foi ao quarto de hóspedes, onde a moça iria dormir, desmanchou a cama toda
e pôs uma pequena ervilha no colchão. Depois empilhou mais vinte colchões e vinte cobertores por cima.
A princesa respondeu que não havia pregado o olho a noite toda, pois tinha sentido algo na cama que a inco-
Então ficaram com a certeza de terem encontrado uma princesa verdadeira, pois ela tinha sentido a ervilha
através de vinte cobertores e vinte colchões. Só uma princesa verdadeira podia ser tão sensível.
6. Em que tempo e lugar a história ocorre? Que elementos no texto mostram-nos isso?
Você deve ter percebido que as questões já apresentam “pistas” sobre que elementos fazem parte da narração:
o fato, gerador/desencadeador da história, personagens, narrador, enredo (a sequência de fatos e ações que formam
a história em si), o tempo (a ordenação em que as ações são contadas e quando) e o lugar, isto é, o espaço/ambiente,
No texto analisado, o autor Hans Christian Andersen, através de um narrador que não se identifica no texto,
conta a história de um príncipe que procurava incessantemente por uma princesa para se casar.
Em dado momento, numa noite de tempestade, após ele ter retornado à casa, uma moça bate a sua porta. Este
fato desencadeia a história. A rainha resolve se certificar da afirmação da moça de que era uma princesa e coloca uma
ervilha em meio aos colchões e cobertores. E assim, a história vai se desenvolvendo, desenrolando-se, até que a moça
acorda na manhã seguinte e afirma ter sentido algo que a incomodara em meio às cobertas. Este é o ponto máximo
da história, o instante que cria certo clima de suspense no leitor, que vai querer saber o que acontece em seguida.
Dessa forma, através dos outros personagens, reconhece-se que ela era mesmo uma princesa. E a história ter-
A história acontece num tempo distante e num lugar onde havia reis, príncipes e princesas, próximo à natureza.
Assim, este texto é um exemplo típico de narrativa, com elementos característicos da narração: fato, persona-
146
gens, narrador, espaço/ambiente, tempo, enredo – dividido em apresentação, complicação (o fator problema), clímax
A narração pressupõe sempre a existência de um fato gerador/desencadeador para uma sequência de ações
Por fato gerador, entende-se aquele que, numa dada situação e tempo, merece destaque e, por
isso, será narrado. Os fatos geradores podem ser reais ou ficcionais, imaginários, promovendo
relatos referenciais/ informativos, no caso da narração de fatos reais, ou literários, se ficcionais.
Estes fatos geram uma sequência de outros fatos que, articulados entre si, formam o enredo da história.
Personagens
Uma narração envolve a presença de sujeitos que vivem as ações apresentadas. Esses sujeitos podem
ser reais (aqueles que aparecem em relatos referenciais, como notícias de jornal) ou criados pela imaginação de alguém,
personagens (como nos relatos literários, como o conto e a novela, as piadas, as fábulas etc.).
Os personagens são a razão de ser das narrativas, uma vez que os acontecimentos dizem respeito a eles.
Nas narrativas, a indicação do tempo e o espaço é imprescindível, mesmo que de forma implícita, percebida
apenas na medida em que se lê ou ouve-se a história, pois estes elementos estão nas ações narradas que se transfor-
mam em relato.
A narrativa obrigatoriamente insere-se num tempo, uma vez que acontecimentos surgem numa sequência
A duração de uma narrativa pode variar, conforme a espécie de gênero e outras características da história. Nos
“causos”, piadas e anedotas, os acontecimentos duram minutos, às vezes menos. São, portanto, narrativas menores.
Em narrativas em que se focalizam uma ou várias gerações de uma pessoa ou grupo social, ou as etapas de um casa-
mento, por exemplo, o tempo decorrido pode ser bem longo, dando origem a narrativas longas, como nos romances.
Um relato sempre envolve a presença de um autor, que não pode ser confundido com o narrador.
O narrador pode ser um personagem que vive a história ou assiste-a, ou alguém que se coloca como se esti-
O narrador é o responsável pela história. Para nos apresentá-la, ele escolhe um ângulo, um ponto de vista de
onde ele nos conta os fatos. Ele funciona como o diretor do filme, no cinema: só vemos o que eles (narrador, no texto,
e diretor, no filme) nos permitem ver daquele lugar onde eles nos puseram, para tomar conhecimento da história.
148
O papel que o narrador tem na narrativa está ligado a esse foco:
a) ele pode contar a história como um personagem, participando e interferindo nas ações narradas. Daí,
b) ou, ainda, como simples observador, tentando ver, objetivamente, sem interferência nas ações dos per-
sonagens e nos fatos. Nesse caso, dizemos que o foco narrativo é externo.
É claro que, conforme o foco narrativo, o ouvinte ou leitor vai perceber uma história bem diferente, não é?
Se tivermos, na narrativa, um narrador-personagem, esta é construída na 1ª. Pessoa (eu/nós). Veja o trecho a seguir:
“Já estava cansada de tanto esperar por uma solução para o problema do lixo na nossa comunidade. Resolvi,
então, tomar uma atitude e ir procurar meu grupo de colegas da escola para, juntos, pensarmos uma cam-
panha para conscientizar a sociedade da importância do cuidado com os resíduos domésticos.”
No exemplo anterior, percebemos que quem conta a história também é o personagem que resolve, depois de
muito tempo, convivendo com um problema, agir e buscar alternativas de solução. Os elementos em 1ª pessoa, como
Se o narrador não faz parte da história como personagem, mas como alguém que apenas presencia e ob-
serva os acontecimentos, ou relata o que lhe contaram, a narrativa dá-se na 3ª. pessoa e o narrador é chamado de
observador. Nesse caso, o narrador pretende ou quer dar a impressão de total objetividade e não tece comentários,
apenas relata fatos do modo mais preciso possível. Além disso, não se misturam com as personagens. Essa narração
O narrador mais comum é o narrador onisciente, aquele que narra em 3ª pessoa, sem participar
da história, e, como um deus, conhece tudo, vê tudo, está em todos os lugares e informa-nos até
sobre o espírito dos personagens, seus pensamentos, suas intenções e sentimentos.
“Era uma vez uma menina que se chamava Mariana. Ela morava numa cidade pequena e vivia dizendo que
um dia iria embora. Quando a menina cresceu, ela foi estudar numa grande cidade e logo na sua chegada
ficou encantada com o que viu: os prédios eram enormes, as ruas eram largas, o movimento dos carros era
intenso e os cheiros dos restaurantes enchiam sua mente.”
“Todos os espaços da casa traziam a João lembranças da sua infância. Passavam por sua cabeça os momen-
tos em que fora feliz ali: as brincadeiras de esconde-esconde com os irmãos, as fugas das brigas dos pais, o
carinho da mãe que o pegava e fazia-lhe cócegas... Que saudade sentia daqueles tempos!”
Os dois trechos são escritos em 3ª pessoa (“chamava-se Mariana”, “ela morava”, “todos os espaços traziam”, “sua
infância”) e demonstram que o narrador encontra-se do lado de fora aos acontecimentos. São narradores que contam
No primeiro caso, o narrador apenas conta o que conhece, ouviu ou viu sobre a menina, chamada Mariana. Ele
Já no segundo, o narrador vai além do que é visto e manifesta os sentimentos mais escondidos do persona-
gem. Ele parece saber o que o personagem está sentindo ao andar pela casa, onde passou a sua infância. Então, ele
Ao escolher o ponto de vista, o narrador está privilegiando sua visão de mundo. E mais: ele não só
conhece os mais íntimos pensamentos e reações de cada personagem, como também decide o
perfil e a sorte de cada um deles. É a partir desse narrador que vamos definindo nossas opiniões
a respeito dos personagens, torcendo por uns e abominando outros.
150
Seção 3
A estrutura do texto narrativo –
a constituição do enredo
Os textos narrativos têm uma forma própria de organização e articulação entre as partes que os constituem
e permitem a construção do enredo. Vamos explorar a estrutura da narrativa? Retome o texto A Princesa e a Ervilha,
Para apresentarmos as partes que estruturam uma narrativa, vamos solicitar sua
personagens – o príncipe –, e do seu problema – não encontrar uma princesa verdadeira para
3. Qual o fato gerador da história e que leva a uma possibilidade de resolução do problema?
No texto, surge um fato diferente que cria expectativa no leitor e essa parte está
compreendida entre “Uma noite houve uma tempestade” até “foi abri-la.”
O fato diferente que cria expectativa no leitor constitui uma segunda parte do texto, que
chamamos de FORÇA TRANSFORMADORA (complicação/problema), onde há a apresen-
tação do(s) fato(s) gerador(es) da história. Considera-se como um problema em textos nar-
rativos, qualquer acontecimento que desfaz uma ordem estabelecida.
Você percebeu que, apesar do seu estado, a moça afirma ser uma princesa. Mas, para
se certificar disso, a rainha colocou uma ervilha entre todos os cobertores e colchões onde
a princesa iria dormir, na expectativa de que ela pudesse de fato sentir a presença dela.
A moça acordou, no dia seguinte, queixando-se de que não conseguira dormir, porque
algo a incomodou a noite inteira, compreendido no trecho “Deparou-se com uma princesa”
Temos aqui uma terceira parte do texto, denominada Dinâmica de Ação (ações), onde é
apresentado o desenvolvimento da sequência de ações da história, obedecendo a uma or-
ganização lógico-temporal (o que aconteceu primeiro e depois e depois...).
O rei, a rainha e o príncipe descobrem, então, que ela era uma princesa verdadeira.
No texto, esta parte refere-se ao trecho de “Então ficaram com a certeza” até “sensível.”
Enfim, o príncipe casa-se com a princesa e surge uma linda história.Esta etapa cor-
152
Você percebeu com essa análise que um texto narrativo não se estrutura simplesmente em início, meio e fim.
Na verdade, ele se estrutura em mais partes que nos permitem ter maior visibilidade da história e da sua organização
no tempo e no espaço.
Assim, de acordo com a concepção aqui abordada, o texto narrativo padrão é composto por:
1º Situação Inicial
b) as narrativas sofreram mudanças ao longo do tempo, mas sempre exerceram fascínio nas pessoas, para fa-
zer rir, ou chorar, ou apenas para trazer conhecimento. A curiosidade em saber o que aconteceu, com quem,
c) contar histórias, então, permite-nos criar uma identidade com o outro e faz-nos sentir parte do grupo
Na próxima unidade, voltaremos a estudar as narrativas, abordando seus aspectos linguísticos. Até lá!
Produção Textual
Agora que você já compreendeu o que é narração e que você teve a oportunidade
de ler e analisar os elementos que compõem os textos narrativos e sua estrutura, chegou a
Certamente, ao longo da sua vida, você vivenciou algumas situações marcantes. Si-
tuações em que você teve medo, alegria, emoção, incertezas, constrangimento etc. Lem-
bre-se de um desses momentos e conte como ele aconteceu.
a estrutura proposta.
colegas
Apresentamos algumas questões que poderão nortear a sua escrita. Não se esqueça de fazer o plano do seu
Como esse momento constitui parte da sua história, não tenha medo de utilizar a forma que melhor lhe aprou-
ver e dar o tom e colorido que você quiser. Você pode adotar uma postura mais objetiva, engraçada, dramática etc.
Quando aconteceu?
Onde aconteceu?
154
Veja ainda
A TV Escola, canal do MEC com programas variados sobre educação, traz a série Salto para o Futuro – Cotidiano,
Imagens e Narrativas, onde debate os cotidianos escolares sob três focos: as diferentes identidades, a educação ecoló-
gica e o uso de artefatos culturais na criação de tecnologias. Vale a pena você assistir a uma das séries.
http://tvescola.mec.gov.br/index.php?option=com_zoo&view=item&item_id=5598
Imagens
• http://www.flickr.com/photos/ana_cotta/2088960357
• http://www.flickr.com/photos/mcdemoura/4462708377
• http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Jesperhus,_dk,_20050820,_16_ubt.jpeg
• http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:HCAndersen.jpeg
• http://www.sxc.hu/photo/517386
• http://www.sxc.hu/985516_96035528
um gago, para locutor de rádio. O objetivo do texto é fazer o leitor/ouvinte rir e divertir-se.
histórico. Neste texto, não se tem a pretensão de fazer rir, e sim de informar de forma
Atividade 2
1. A princesa e a ervilha
3. Está sendo contada a história de um príncipe que por muito tempo procurou uma prin-
5. A história é contada por um narrador desconhecido, que não faz parte dela.
6. A história passa-se num tempo distante onde existiam reis, rainhas, príncipes e princesas.
Atividade 3
problema – não encontrar uma princesa verdadeira para se casar, identificado no trecho
que vai de “Era uma vez (...)” até “queria uma princesa verdadeira.
2. O problema está centrado no fato de o príncipe não encontrar uma princesa verdadeira
para se casar.
156
3. O fato foi a chegada de uma moça que se dizia ser uma princesa à casa do príncipe, numa
noite de tempestade.
4. Apesar do seu estado, a moça afirma ser uma princesa e, para se certificar disso, a rainha
colocou uma ervilha entre todos os cobertores e colchões onde a princesa iria dormir, na ex-
pectativa de que ela pudesse de fato sentir a presença dela. A moça acordou no dia seguinte,
queixando-se de que não conseguira dormir, porque algo a incomodou a noite inteira.
5. O rei, a rainha e o príncipe descobrem, então, que ela era uma princesa verdadeira.
Atividade 4
Resposta pessoal. Sugerimos que você discuta seu texto com o professor, para que
Os portugueses tentaram iniciar a colonização em 1535, mas os índios potiguares resistiram e os franceses in-
vadiram. A ocupação portuguesa só se efetivou no final do século, com a fundação do Forte dos Reis Magos e da Vila
de Natal. O clima pouco favorável ao cultivo da cana levou a atividade econômica para a pecuária. O Estado tornou-se
centro de criação de gado para abastecer os Estados vizinhos e começou a ganhar importância a extração do sal –
hoje, o Rio Grande do Norte responde por 95% de todo o sal extraído no país. O petróleo é outra fonte de recursos: é o
maior produtor nacional de petróleo em terra e o segundo no mar. Os 410 quilômetros de praias garantem um lugar
O litoral oriental compõe o Polo Costa das Dunas - com belas praias, falésias, dunas e o maior cajueiro do mun-
do –, do qual faz parte a capital, Natal. O Polo Costa Branca, no oeste do Estado, é caracterizado pelo contraste: de
um lado, a caatinga; do outro, o mar, com dunas, falésias e quilômetros de praias praticamente desertas. A região é
grande produtora de sal, petróleo e frutas; abriga sítios arqueológicos e até um vulcão extinto, o Pico do Cabugi, em
Angicos. Mossoró é a segunda cidade mais importante. Além da rica história, é conhecida por suas águas termais, pelo
Caicó, Currais Novos e Açari compõem o chamado Polo do Seridó, dominado pela caatinga e com sítios ar-
queológicos importantes, serras majestosas e cavernas misteriosas. Em Caicó há vários açudes e formações rochosas
naturais que desafiam a imaginação do homem. O turismo de aventura encontra seu espaço no Polo Serrano, cujo
clima ameno e geografia formada por montanhas e grutas atraem os adeptos do ecoturismo.
Outro polo atraente é Agreste/Trairi, com sua sucessão de serras, rochas e lajedos nos 13 municípios que com-
põem a região. Em Santa Cruz, a subida ao Monte Carmelo desvenda toda a beleza do sertão potiguar – em breve, o
Língua Portuguesa e Literatura 159
local vai abrigar um complexo voltado principalmente para o turismo religioso. A vaquejada e o Arraiá do Lampião
são as grandes atrações de Tangará, que oferece ainda um belíssimo panorama no Açude do Trairi.
a) sob forma narrativa, de início, e descritiva, a seguir, visando a despertar interesse turístico para as atrações
b) de forma instrucional, como orientação a eventuais viajantes que se disponham a conhecer a região, apre-
c) com o objetivo de esclarecer alguns aspectos cronológicos do processo histórico de formação do Estado e
d) como uma crônica baseada em aspectos históricos, em que se apresentam tópicos que salientam as forma-
e) de maneira dissertativa, em que se discutem as várias divisões regionais do Estado com a finalidade de com-
Resposta: Letra A
Comentário: O primeiro parágrafo traz um pouco sobre a história do Estado; em seguida, o autor descreve as
belezas naturais do lugar, mostrando ao leitor que se trata de um lugar bastante aprazível para o turismo, como se
pode constatar pelas expressões " atraem os adeptos do ecoturismo. "; "voltado principalmente para o turismo reli-
160 Anexo
ENEM 2010
Resposta: Letra C
Comentário: Embora seja um texto narrativo, porque narra um fato, note que o objetivo do autor - um jorna-
lista - foi o de informar o fato ao leitor, o que justifica a resposta C como correta.
Questão 1
Romildo gostava de sua escola por causa dos amigos. Lá ia todos os dias para encontrá-los e esquecer, nas
brincadeiras, um pouco da dura vida que a pobreza lhe impunha. Instrução mesmo a sua escola quase não oferecia.
Quando muito, havia professores; e a estrutura física do velho prédio não oferecia um ambiente propício à reflexão,
aos estudos.
Três dias antes do aniversário de Romildo, apareceu um novo garoto pela vizinhança. Ele se mudou para uma
das casas bonitas da Rua do Ramalhete. Não era um daqueles arrogantes da Zona Sul. Tanto que convidou os meninos
da rua, inclusive Romildo e seus amigos para jogar uma pelada na quadra da escola em que estudava.
http://portugueseproducao.blogspot.com.br/2008/03/exemplo-de-texto-narrativo-e.html
Os textos narrativos apresentam elementos que tornam o entendimento de uma história compreensível. Nes-
se texto, por exemplo, Há presença de personagem (Romildo); de foco narrativo é em 3ª. pessoa do discurso; de local
a. O ideal é que todos colaborem, caso contrário, o Brasil continuará sem rumo.
Língua Portuguesa e Literatura 163
Questão 2
Pouco antes de morrer, meu pai me chamou ao escritório e me entregou um livro de capa preta que eu nunca
havia visto. Era o dicionário analógico de Francisco Ferreira dos Santos Azevedo. Ficava quase escondido, perto dos cinco
grandes volumes do dicionário Caldas Aulete, entre outros livros de consulta que papai mantinha ao alcance da mão numa
estante giratória. Isso pode te servir, foi mais ou menos o que ele então me disse, no seu falar meio grunhido. Era como se
ele,cansado, me passasse um bastão que de alguma forma eu deveria levar adiante. E por um tempo aquele livro me ajudou
no acabamento de romances e letras de canções, sem falar das horas em que eu o folheava à toa; o amor aos dicionários,
para o sérvio Milorad Pavic, autor de romances-enciclopédias, é um traço infantil de caráter de um homem adulto.
http://www.chicobuarque.com.br/texto/artigos/mestre.asp?pg=artigo_piaui_junho.htm
Um texto pode ser organizado sob forma de descrição, narração, exposição, argumentação, por exemplo.
No texto “Os dicionários de meu pai”, qual é modo predominante de organização textual?
Leia os dois sonetos de Olavo Bilac, que fazem parte de um conjunto de poemas chamado "Via Láctea" para
responder às questões 3 e 4.
XII
164
XIII
http://www.biblio.com.br/defaultz.asp?link=http://www.biblio.com.br/conteudo/OlavoBilac/vialactea.htm
Questão 3
Existe alguma relação de conteúdo entre esses dois poemas? Por quê?
Questão 4
Questão 1
A B C D
Questão 2
O modo predominante de organização textual é a narração, porque há uma sequência de fatos apresentados, a
Questão 3
Questão 4
166
Módulo 1 • Língua Portuguesa e Literatura • Unidade 6
A narração:
os elementos
linguísticos e
tipos de discurso
Para início de conversa...
Na unidade anterior, estudamos a narração: seu conceito, os elementos que a
constituem e sua forma de estruturação.
Vimos também que os textos narrativos estão presentes em nossa vida diária, por
meio das piadas, das notícias, dos contos infantis, das fábulas, dos quadrinhos, das histó-
rias que contamos e ouvimos na rua, dentre outras manifestações.
Além disso, deixamos evidenciado que narrar faz parte da vida do ser humano, que
deixa, por meio de suas histórias, registradas a sua cultura e as suas formas de ver o mundo,
passando, de geração em geração, as manifestações de uma época e de uma sociedade.
Para isso, vamos explorar duas outras manifestações culturais: a lenda e as piadas.
Bom estudo e divirta-se!
Objetivos de aprendizagem
Reconhecer os principais elementos e mecanismos linguísticos que constituem a nar-
ração: verbos, advérbios e expressões adverbiais, indicadores de tempo, sinais de pon-
tuação.
Para definirmos o que entendemos por elementos linguísticos e qual sua função, vamos nos colocar numa
Começamos a escrever um texto e de repente nos deparamos com questões, tais como:
Que palavras é melhor eu usar? Que termos eu posso usar para não ficar repetindo sempre as mesmas palavras? É melhor eu
usar ponto ou vírgula nessa parte? Que expressões eu posso usar para unir uma frase à outra e um parágrafo ao outro para dar
sequência ao texto?
Figura 1: Escrevendo...
Pois bem, questões como estas remetem exatamente ao que chamamos de elementos linguísticos e à noção
de que palavras, frases, sinais de pontuação etc., precisam ser utilizados adequadamente e conectados entre si para
Para entendermos isso melhor ainda, podemos fazer uma comparação com uma construção de um prédio.
Este só vai existir a partir do momento em que tivermos um projeto e materiais à disposição (tijolo, madeira, ferro
etc.), e que se unem para dar forma ao que foi projetado. Para estabelecermos a ligação, a fusão destes materiais entre
168
si, precisamos de elementos que os juntem, unam de forma sólida e adequada. Nesse caso, o cimento é um desses
elementos de ligação.
No caso dos textos, ocorre o mesmo processo. Para se ter um texto, é necessário um projeto e matéria-prima
para sua construção – as palavras, as frases, os sinais de linguagem, a pontuação, que se juntam, unem, articulam para
Isso acontece com todos os tipos de texto e com o texto narrativo não poderia ser diferente. Contudo, cada
tipo de texto tem suas especificidades, quanto ao uso e junção dos seus elementos linguísticos.
texto narrativo, propomos a leitura do texto A Vitória Régia, que é uma lenda indígena que
02 pajés tupis-guaranis.
04 zonte para viver com suas virgens prediletas. Contavam também que, se
06 trela do Céu.
08 cava muito impressionada com a história que era contada. Durante mui-
10 céu, ela, subia as colinas e perseguia a Lua na esperança que esta a visse e
14 Lua. A pobre moça, imaginando que a Lua havia chegado para buscá-la,
18 Águas”, que é conhecida como a planta Vitória Régia, que tem flores per-
a. pajés tupis-guaranis
b. Lua
c. Naiá
( ) ficava
( ) diziam
170
( ) andava
( ) se escondia
( ) a transformava
( ) contavam
( ) subia
( ) perseguia
( ) chorava
a.2: “ela subia as colinas e perseguia a Lua na esperança de que esta a visse e a trans-
formasse em estrela”.
b. As expressões que você retirou do texto indicam que as ações dos personagens
5. No 4º e 5º parágrafos, são utilizados os verbos viu, atirou, foi (vista), quis, resolveu, trans-
formou.
Vamos, nas próximas seções, apresentar cada um desses elementos e sua associação com os elementos da
narração.
Seção 2
Os substantivos e pronomes
Conhecemos os personagens numa narração a partir da forma como os nomeamos e como os retomamos no
texto. Fazemos isso, utilizando o que, na gramática, chamamos de substantivos e pronomes. Na lenda sobre a vitória
régia, na atividade anterior, aparecem palavras, como: Naiá, moça, pajés, Lua que são consideradas substantivos e têm
Quando precisamos retomar ou referir-nos a eles, sem termos de usar os seus nomes, podemos utilizar os
pronomes. O pronome ela (linha 10), por exemplo, retoma a personagem Naiá; o pronome eles (linha 03) retoma os
pajés tupi-guaranis.
Substantivos são palavras que nomeiam os seres. Estes seres podem ser pessoas, perso-
Pronomes são palavras que retomam ou referem-se a outros termos já mencionados no texto.
172
Estes são os chamados pronomes pessoais retos: Eu, tu, ele, nós , vós, eles.
Aos pronomes pessoais, associam-se outras formas de pronomes, como os pronomes possessivos que indicam
posse. Por exemplo, quando dizemos: “Este é meu caderno”, a palavra meu é um pronome que indica de quem é a
E quando dizemos: “Fazia muito tempo que não via a Carla. Outro dia a encontrei, sem querer, no shopping”, o
termo destacado – a – é um pronome e indica que eu encontrei alguém e este alguém foi a Carla.
"Esta é uma lenda surgida entre os mendigos que vagam em todas as cidades. As
mães contam-na para assustar os seus filhos malcriados que saem para brincar sozinhos
na rua. De acordo com ela, um velho malvestido e com um enorme saco de pano nas cos-
tas anda pela cidade, levando embora as crianças que fazem “arte”. Há ainda versões mais
detalhadas em que o velho (mendigo ou cigano) leva as crianças para sua casa e lá faz
Por exemplo: veja que, na frase: “As mães contam-na...” aparece o pronome “a”, que se
Para finalizar esta seção, é importante ressaltar que o uso dos substantivos e dos pronomes é de fundamental
importância no texto narrativo, na medida em que, por meio deles, sabemos quem são os personagens e como eles
Seção 3
Os verbos e os tempos verbais
Agora que já vimos que podemos identificar os personagens num texto, por meio do uso dos substantivos e
dos pronomes, vamos explorar como as ações que constituem o enredo de um texto efetivam-se.
174
Estas ações são conhecidas pelo leitor a partir do uso dos verbos e num tempo específico: o passado.
- ações feitas ou sofridas por alguém (correr, passear etc.) Ex.: Ele corre muito.
Os verbos são termos essenciais nos enunciados. E no caso do texto narrativo, especialmente os verbos de
E como saber em que tempo essas ações, fenômenos e estados aconteceram ou acontecerão?
É fácil! É só olhar o verbo e ver o tempo que a palavra mostra. Por exemplo, na frase: “Ela foi ao lago” – A forma
do verbo mostra que o tempo verbal é passado (pretérito). Se fosse: “Ela irá ao lago” – A forma do verbo mostraria que
é futuro.
Veja agora como, no texto A Vitória Régia, o verbo transformar indica uma ação e assume diversas formas:
“transformava” (linha 04), “transformá-la” (linha 14) e “transformou” (linha 14). As modificações no verbo servem para
Para saber mais e ampliar o estudo sobre os Verbos e tempos verbais, consulte uma gramática. Suge-
rimos:
Nossa gramática completa Sacconi: teoria e prática. Luiz Antonio Sacconi. Editora Nova Geração.
Gramática reflexiva: texto, semântica e interação. CEREJA & MAGALHÃES. São Paulo: Atual, 1999.
Gramática: teoria e exercícios. PASCHOALIN & SPADOTO. São Paulo: FTD, 2008.
Nesta unidade, vamos explorar os verbos no pretérito, pois eles são a grande marca do texto narrativo. Isso não
significa que os outros tempos e formas verbais não estejam presentes no texto narrativo. Contudo é nos pretéritos
que está a ênfase deste tipo de texto, já que só se conta aquilo que já aconteceu, não é? Mesmo quando inventamos
uma história, ela já aconteceu em nossa imaginação. Daí, nas narrativas, predominarem os verbos no pretérito.
Bom, primeiro isso se justifica porque nem tudo aconteceu no passado num mesmo tempo. Veja os exemplos:
1. Certa noite, a índia viu, nas águas límpidas de um lago, a figura da Lua.
Aqui, a ação de ver ocorreu num determinado momento bem determinado do passado.
2. Os pajés tupis-guaranis diziam que, no início dos tempos, a Lua escondia-se no horizonte.
Aqui, o narrador conta algo que acontecia no passado rotineiramente sem determinar um momento exato
em que ocorreu.
Quando queremos marcar ações que se repetiam ou eram rotina no passado, usamos o pretérito im-
perfeito.
3. A pobre moça, imaginando que a Lua havia chegado (chegara) para buscá-la, atirou-se nas águas profun-
das do lago.
Neste trecho, tem-se como sequência dos fatos no tempo: 1º) a imaginação da índia, quanto à chegada da
Lua, e 2º) a ação de ela atirar-se no lago. Ou seja, ela se atirou no lago porque acreditou que a Lua havia
chegado para buscá-la.
Se quisermos marcar que uma ação no passado ocorreu antes de outra também no passado, temos o
pretérito mais-que-perfeito.
176
O uso adequado dos pretéritos no texto narrativo é fundamental, pois é por meio deles que sabemos:
No primeiro caso, para a contextualização da história – caracterização do tempo, do espaço, do estado e rotinas
dos personagens, o pretérito imperfeito é o tempo verbal apropriado. O pretérito imperfeito está presente nas descri-
ções que funcionam como o pano de fundo para o que está sendo contado. O trecho “Eles diziam que, no início dos
tempos, a Lua escondia-se no horizonte para viver com suas virgens prediletas.” exemplifica isso.
Já, para conhecermos a sequência das ações na narrativa, o pretérito perfeito e o mais-que-perfeito são essenciais
Certa noite, a índia viu (...) a figura da Lua. A pobre moça, imaginando que a Lua havia chegado para buscá-la,
Preencha as lacunas das fábulas a seguir com os verbos entre parênteses no preté-
O cão e a ovelha
Um cão .............-se (por) a discutir com uma ovelha, dizendo que lhe ..............(haver)
emprestado um belo osso para evitar que morresse de fome. A ovelha ........................ (respon-
der) que nunca lhe ..................... (pedir) emprestada coisa alguma, e ainda menos ossos, pois
nem seus dentes nem seu estômago................... (aceitar) este tipo de alimento, pois .........
Mas, pobre dela! O cão .................. (achar) como testemunha um lobo, um urubu e
receber o osso do cão e .........................(afirmar) que a ................. (ver) roê-lo faminta. Com esse
Seção 4
As expressões temporais (advérbios e
expressões adverbiais)
Vamos avançar, agora, nas formas de articulação dos fatos numa história.
Para podermos marcar a articulação entre as partes de uma história e constituir o enredo e a sequenciação das
ações no texto, é necessário que utilizemos palavras e expressões que indiquem as circunstâncias em que ocorreram
as ações. A essas palavras e expressões chamamos de ADVÉRBIOS e EXPRESSÕES ADVERBIAIS. Elas podem atribuir
noções de tempo, de modo, de lugar, intensidade às ações e fatos que estamos contando. Veja, por exemplo:
Advérbios de Tempo: cedo, tarde, no início da manhã, no final, sempre, nunca etc.
Para exemplificar melhor, vamos retomar o texto A Vitória Régia e as respostas que você deu às questões. Você
viu que, no segundo e terceiro parágrafos do texto, foram usados predominantemente verbos no pretérito imperfei-
to – diziam, contavam, escondia, dormiam, subia – e associados a eles havia expressões como: no início dos tempos do
mundo, sempre, quando todos dormiam, todas as noites, durante muito tempo.
178
Pois bem! Estas expressões indicam uma duração de tempo mais longa e que abrange períodos de tempo
maiores.
Quando, no entanto, iniciamos o relato dos fatos propriamente dito com a utilização dos verbos no pretérito
perfeito – viu, quis, resolveu, transformou – as expressões que se associam para dar conta disso são aquelas que indi-
cam tempos mais exatos, pontuais e que indicam uma duração menor no tempo – certa noite, então.
Todas essas palavras e expressões são advérbios e expressões adverbiais. Veja outros (as) no texto: no horizonte,
Para aplicar as noções até aqui construídas sobre os verbos e as expressões adver-
biais, a seguir você encontra uma versão popular da lenda O Negrinho do Pastoreio, cujas
Cabe a você, depois de ler cada uma das partes, reconstituir a ordem do texto de forma
uma das partes e a sequenciação do texto e sublinhe aquelas que você julga terem essa função.
( ) Num dia de inverno, fazia muito frio e o fazendeiro mandou que um menino
los. O estancieiro jogou-se no chão pedindo perdão, mas o negrinho nada res-
a tropilha.
( ) No dia seguinte, quando ele foi ver o estado de sua vítima, ficou extremamen-
te assustado. O menino estava lá de pé, com a pele sem nenhuma marca das
chicotadas.
cavalo baio. Pegou o chicote e deu uma surra tão grande no menino que ele
fugiu de novo.
Seção 5
Os Discursos na Narração
Você lembra que, na unidade anterior, mencionamos que o narrador escolhe a forma como quer fazer chegar
a história ao leitor-ouvinte? Pois bem, ele faz isso pela utilização dos discursos, ou seja, pela forma como apresenta as
Vamos ler uma adaptação de uma piada bem conhecida e ver como isso acontece.
180
Bancando os espertos
— É evidente que não vamos dizer a ninguém que ele está morto.
— Como já lhe dissemos, rifamos o porco. Vendemos muitos números a 5 reais cada e arrecadamos o triplo do
— E ninguém se queixou?
Na mesma direção, encontram-se as anedotas, com a diferença de que estas últimas normalmente
são mais extensas e trazem algum ensinamento.
Para conhecer mais sobre a diversidade de piadas que existem, consulte os sites:
www.piadas.com.br
www.piadasnet.com
www.piadasdodia.com.br
piadasantigasenovas.blogspot.com
Responda às questões:
2. Como ficamos sabendo o que aconteceu com o porco? Pela voz do narrador ou do(s)
próprio(s) personagen(s)?
No texto analisado, temos uma história de dois meninos que, após serem enganados por um velho camponês,
elaboram um plano para tirar vantagem da situação. A história passa-se no campo (ambiente, lugar). O narrador não
participa da história, mas contextualiza as ações dos personagens, que, por meio das suas falas, acabam levando o
A utilização do discurso a que chamamos de direto, onde aparecem as falas das personagens, é uma forma de
contar histórias que é muito frequente em piadas, anedotas, crônicas, testemunhos e depoimentos.
Mas existem outros tipos de discurso e que são utilizados de acordo com a adequação à situação e objetivos
que se tem.
182
a. discurso direto: é aquele em que o narrador passa a palavra aos personagens. Assim, o próprio persona-
gem, diante de leitores ou ouvintes, apresenta-se, com sua linguagem, suas emoções, sua personalida-
de. Foi o que vimos na piada Bancando os espertos, onde, conforme já dito, os personagens – os meninos
– pela sua voz associada ao do narrador, contam o que aconteceu e como saíram ganhando da situação.
Neste tipo de discurso, aparecem os famosos verbos “dicendi”, que introduzem ou seguem a fala dos
personagens. São alguns deles: dizer, perguntar, reclamar, afirmar, declarar etc.
b. discurso indireto: é aquele em que o narrador como que traduz a fala ou o pensamento do personagem.
A preocupação do narrador não é apresentar como o personagem disse as coisas, mas apenas o que foi
dito. Nesse caso, o vocabulário próprio do personagem, suas emoções ficam de fora.
Como exemplo, temos “Os meninos contaram que tinham feito a rifa e que conseguiram lucrar com ela.”
Nesse caso, o narrador toma as palavras dos meninos e reproduz-as de forma direta e objetiva.
c. discurso indireto livre: é aquele em que se mistura o discurso do narrador e a fala ou pensamento do
personagem. Por isso, encontramos nesse discurso algumas características das personagem, seu voca-
bulário e emoções.
Eduardo saiu de casa sem saber como deveria agir. Estava extremamente ansioso pelo encontro com sua ex-
-namorada. Meu Deus! Quanto tempo se passou! Será que ela vai ainda me achar atraente? Enquanto caminhava, ia
Neste exemplo, percebe-se, nas frases em destaque, a presença do discurso do personagem, que manifesta sua
emoção e ansiedade com o encontro com sua ex-namorada. Esses sentimentos não são contados pelo narrador e sim,
pelo próprio personagem. Vemos isso no uso da expressão Meu Deus e pela pergunta que Eduardo faz a si mesmo.
Seção 6
A pontuação nos discursos das narrativas
Para estruturação desses discursos, os sinais de pontuação são essenciais. Vamos aprender como utilizá-los?
No caso do discurso direto, onde aparecem as falas dos personagens, o uso dos travessões, dos dois pontos,
das interrogações e exclamações são fundamentais e têm uma função de articulação e construção de sequência e de
sentido. Nesse sentido, deixam de ser vistos apenas como sinais formais de transcrição da fala.
Tem a função de indicar a fala do personagem ou a mudança de interlocutor no diálogo. Por exemplo:
Além disso, pode servir para colocar em evidência palavras, expressões e frases. Um exemplo disso pode ser
Exemplo:
- Lamento muito, mas tenho uma má notícia: o porco já era. Ele morreu ontem.”
2. uma enumeração.
Exemplo:
"Foi ao supermercado e comprou os seguintes produtos: farinha, chocolate, carne, verduras etc."
3. uma citação.
Exemplo:
"Nunca consegui esquecer do verso do famoso escritor Camões : “o amor é fogo que arde sem doer”.
São sinais que marcam a expressividade no texto. O ponto de interrogação tem a função de marcar perguntas
e questionamentos; os de exclamação marcam a manifestação de admiração, espanto, alegria, emoção dos interlo-
cutores.
184
Exemplo:
– “Socorro!”
Foram retirados os sinais de pontuação dos textos a seguir e cabe a você reescrevê-
-los, em seu caderno, colocando os sinais de pontuação (ponto final, travessão, dois pontos,
6
pontos de interrogação e exclamação) adequados para a construção do sentido. Não se
Texto 1
Dois amigos encontram-se depois de muito anos e um deles fala casei separei e já
fizemos a partilha dos bens o outro amigo pergunta e as crianças prontamente o primeiro
disse o juiz decidiu que ficariam com aquele que mais bens recebeu sem titubear o amigo
pergunta então ficaram com a mãe o amigo separado exclama não, ficaram com nosso
advogado.
Texto 2
Um homem e uma bonita mulher estavam jantando à luz de velas num restaurante
de luxo de repente o garçom notou que o homem escorregava lentamente para debaixo
da mesa a mulher parecia não reparar que o companheiro tinha desaparecido perdão, se-
nhora disse o garçom mas eu acho que seu marido está debaixo da mesa a mulher res-
ponde não está não e olhando calmamente para o garçom afirma meu marido acabou de
entrar no restaurante.
Produção de texto
Nesta unidade, você teve a oportunidade de estudar mais sobre diferentes gêneros
que se utilizam da narração, como as lendas e as piadas. Estes gêneros também integram e
misterioso ou sobrenatural que seus pais, avós, tios ou idosos da sua comunidade e região
6 contavam, e contam ainda hoje, e elabore um texto narrativo relatando esses fatos.
Não se esqueça de estruturar seu texto de acordo com o que se estudou e de utilizar
texto, antes de iniciar a escrita. Insira a fala dos personagens, utilizando discurso direto para
Bom trabalho!
Veja ainda
1. As lendas fazem parte de nossa cultura. Conheça outras histórias de nosso folclore. Pesquise em:
http://www.suapesquisa.com/mitos/
http://www.fabulasecontos.com.br/?pg=descricao&id=188
www.brasilfolclore.hpg.ig.com.br/lendas.htm
2. Você já ouviu falar das lendas urbanas, que “povoam” o imaginário das cidades, passadas de boca em boca.
São histórias que ouvimos de um amigo, que ouviu de outro amigo que...
186
Pesquise:
www.mrmalas.com/lendas;
vultosnanoite.vilabol.uol.com.br/lendas.htm
Referências
Imagens
• http://www.sxc.hu/photo/492145
• http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Vit%C3%B3ria_R%C3%A9gia.jpg
• Autor: jakared.http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Negrinhodopastoreio.jpg
• http://www.sxc.hu/photo/1344320
• http://www.sxc.hu/photo/517386
3.
a. pajés tupis-guaranis
b. Lua
c. Naiá
( c ) ficava
( a ) diziam
( b ) andava
( b ) se escondia
( b ) a transformava
( a ) contavam
( c ) subia
( c ) perseguia
( c ) chorava
4.
Durante muito tempo, todas as noites, quando todos dormiam “ela subia as co-
188
5.
transformou - então
Atividade 2
Esta é uma lenda surgida entre os mendigos que vagam em todas as cidades. As
mães contam-na para assustar os seus filhos malcriados que saem para brincar sozinhos
na rua. De acordo com ela, um velho malvestido e com um enorme saco de pano nas cos-
tas anda pela cidade, levando embora as crianças que fazem “arte”. Há ainda versões mais
detalhadas em que o velho (mendigo ou cigano) leva as crianças para sua casa e lá faz
sabonetes e botões com elas.
Atividade 3
O cão e a ovelha.
Um cão pôs- se a discutir com uma ovelha, dizendo que lhe havia emprestado um
belo osso para evitar que morresse de fome. A ovelha respondeu que nunca lhe pedira
emprestada coisa alguma, e ainda menos ossos, pois nem seus dentes nem seu estômago
Os três se associaram ao cão e juraram ter visto a ovelha receber o osso do cão e afirmaram
que a viram roê-lo faminta. Com esse testemunho, ela, então, foi condenada.
Atividade 4
Num dia de inverno, fazia muito frio e o fazendeiro mandou que um menino negro
No final do tarde, quando o menino voltou, o estancieiro disse que faltava um cava-
lo baio. Pegou o chicote e deu uma surra tão grande no menino que ele ficou sangrando.
Forçou, então, o menino a resgatar o cavalo. Muito preocupado, ele foi à procura do animal.
Em pouco tempo, achou-o pastando. Laçou-o, mas a corda se partiu e o cavalo fugiu
de novo.
Na volta à estância, o patrão, ainda mais irritado, espancou o garoto e o amarrou, nu,
sobre um formigueiro.
No dia seguinte, quando ele foi ver o estado de sua vítima, ficou extremamente as-
sustado. O menino estava lá de pé, com a pele sem nenhuma marca das chicotadas.
Ao lado dele, a Virgem Nossa Senhora, e mais adiante o baio e os outros cavalos. O
estancieiro se jogou no chão pedindo perdão, mas o negrinho nada respondeu. Apenas
Atividade 5
Responda às questões:
190
2. Tomamos conhecimento do que aconteceu com o porco por meio da fala dos persona-
gens . Sabemos que o porco morreu quando o velho camponês fala :..o porco já era. Ele
morreu ontem à noite.) e que o porco foi rifado quando os meninos dizem: como já lhe
Atividade 6
Resposta Pessoal. Sugerimos que você peça ao seu professor para avaliar o seu texto.
Texto 1
— E as crianças?
— O juiz decidiu que ficariam com aquele que mais bens recebeu.
Texto 2
Um homem e uma bonita mulher estavam jantando à luz de velas num restaurante
de luxo. De repente o garçom notou que o homem escorregava lentamente para debaixo
da mesa. A mulher parecia não reparar que o companheiro tinha desaparecido.
A mulher responde:
192
O que perguntam por aí?
ENEM 2010
Língua Portuguesa e Literatura 193
Resposta: Letra E
Resposta: Letra E
194 Anexo
Atividade extra
Módulo 1 • Língua Portuguesa e Literatura • Unidade 6
A narração: os elementos linguísticos e tipos de discurso
(Clarice Lispector)
(Guimarães Rosa)
Questão 1
Língua Portuguesa e Literatura 195
Questão 2
Retire de cada um dos textos uma passagem que justifique sua resposta anterior.
"A mãe disse: - "Está ai assim há meia hora, chorando que nem maluco.Não sei mais o que faço".
Questão 3
Questão 4
Por que nesse fragmento o narrador optou pelo uso do discurso direto?
Questão 5
196
Gabarito
Questão 1
Questão 2
Questão 3
A mãe disse que ele estava ali assim havia meia hora, chorando que nem maluco, e que ele não sabia mais o
que faria.
Questão 4
Questão 5
Deixando sobre a mesa os papéis necessários, o funcionário perguntou, nervoso, ao chefe se ele assinaria na-
Literatura:
A arte da palavra
Para início de conversa...
Muito se ouve falar de ARTE. Arte popular, arte erudita, arte moderna, arte
clássica... Enfim, percebemos que a arte está em toda parte e em todos os mo-
situações diversas.
rário? Por que apreciamos um texto literário de maneira tão diferente do que um
Bem-vindo ao mun-
do magnífico da Literatura!
Objetivos de
200
Seção 1
O que é Literatura?
como poemas, contos, romances, crônicas etc. Alguns Literatura é a arte da palavra.
unidades anteriores.
Que diferença você percebe na leitura de textos literários e de outros, não literários, como os manuais
Leia este poema de Álvares de Azevedo, poeta romântico do século XIX, que morreu aos 21 anos de
Texto 1
Manuel Antônio ÁLVARES DE
AZEVEDO nasceu em São Pau-
Se eu morresse amanhã!
lo, em 12 de setembro de 1831
Álvares de Azevedo
e faleceu no Rio de Janeiro em
25 de abril de 1852. Foi um dos
Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã; principais poetas da Segunda
Minha mãe de saudades morreria Geração do Romantismo, esti-
Se eu morresse amanhã! lo literário da primeira metade
do século XIX. Devido a sua
Quanta glória pressinto em meu futuro! morte prematura, todos os
Que aurora de porvir e que manhã! trabalhos de Álvares de Azevedo foram publicados pos-
Eu perdera chorando essas coroas
tumamente: Lira dos Vinte Anos (1853, antologia poética);
Se eu morresse amanhã!
Macário (1855, peça de teatro); Noite na Taverna (1855,
Que sol! que céu azul! que doce n’alva contos). Álvares de Azevedo também escreveu muitas
Acorda a natureza mais loucã! cartas e ensaios, e traduziu para o Português o poema Pa-
risina, de Lorde Byron, e o quinto ato de Otelo, de William
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã! Shakespeare
gem. Vejamos:
2. as linhas não são contínuas – marcando versos e, portanto, caracterizando o texto como um poema;
3. não há preocupação em organizar frases completas: o verso 2 ,“Fechar meus olhos minha triste irmã”, por
4. percebe-se um tom de melodia, pois o poeta usa palavras com sons semelhantes para fechar alguns versos
5. muitas vezes, o poeta reordena a linguagem comum e corriqueira, invertendo a ordem direta, a mais co-
mum, da estrutura das frases: “Minha mãe de saudades morreria”, ao invés de “Minha mãe morreria de sau-
dades”, por exemplo;
6. a repetição do verso “Se eu morresse amanhã”, encerrando cada estrofe, expressa um tom de lamento e de
tristeza.
A partir desta análise, podemos reconhecer que o poeta preocupou-se com a elaboração da mensagem,
com a seleção das palavras e a maneira de combiná-las entre si. Além disso, a forma como elaborou a mensagem
criou uma relação entre autor e leitor, pois quanto mais lemos o poema, mais sentimos a melancolia, a tristeza e o
lamento do poeta.
Esta é a função do texto literário: fazer-nos perceber um novo olhar sobre um fato comum.
Se o texto fosse escrito, sem a preocupação em como elaborar a mensagem, não conseguiríamos nos identificar
Compare, agora, o poema de Álvares de Azevedo com um fragmento de uma notícia sobre a morte do poeta
Vinícius de Moraes:
202
Texto 2
Foi com emoção que o Brasil recebeu, no dia 9 de julho de 1980, a notícia da morte do poeta e compositor
Vinícius de Moraes. Depois de passar a madrugada, compondo músicas infantis com seu parceiro Toquinho,
sentiu-se mal ao acordar pela manhã. Antes que a ambulância chegasse, morreu ao lado de sua mulher,
Gilsa. Estava com 66 anos de idade.
Além da notícia estampada na capa do Estado, duas páginas inteiras foram dedicadas para homenagear o poeta. (...)
(Extrato do texto de Rose Saconi, publicado no jornal Estado de São Paulo em 09/07/2010. Disponível na íntegra em
http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,ha-30-anos-morria-o-poeta-vinicius-de-moraes,578925,0.htm. Acesso
em 23/01/2011)
Percebeu a diferença? A linguagem do poema, que é um texto literário, é subjetiva, pessoal, figurada e pluris-
significativa, isto é, permite vários sentidos, várias interpretações, de acordo com os diferentes leitores em diferentes
épocas. Já a linguagem da notícia é clara, direta, permitindo apenas uma única interpretação.
A literatura permite-nos ver o mundo de uma forma diferente, sob outra perspectiva. Os textos literários
recriam a realidade, a vida.
Funções da Linguagem
Quando nos comunicamos, existe sempre um propósito, um objetivo que queremos alcançar diante
do nosso ouvinte ou leitor, não é mesmo?
Desse modo, através da linguagem podemos querer convencer alguém, informar, emocionar, chamar a
atenção do ouvinte, criar novos sentidos para uma realidade banal, ou explicar sobre o que se fala ou es-
creve. Portanto, podemos dizer que a linguagem apresenta diferentes FUNÇÕES. São seis as Funções da
Linguagem, e cada uma apresenta características predominantes que a distinguem de uma outra função.
Assim:
Função Emotiva ou Expressiva: predomínio da primeira pessoa (eu/nós), preocupação com os sentimen-
tos pessoais, com a subjetividade. Dizemos, então, que esta função tem a preocupação de emocionar o
Função Poética: é a função própria da literatura, quando o autor está preocupado com a maneira como
vai usar a linguagem para elaborar a MENSAGEM, preocupando-se com a forma (como nos poemas em
que vai escrever em versos), utilizando uma linguagem mais conotativa, com diferentes figuras de lingua-
gem. Mas, atenção: não é só a poesia que apresenta função poética. Muitas propagandas, por exemplo,
nos dias de hoje, utilizam uma mensagem elaborada, com linguagem figurada e subjetiva, por exemplo.
Função Metalinguística: a linguagem é utilizada para explicar o próprio texto que está sendo elaborado,
ou mesmo explicar sobre a própria linguagem, como acontece no dicionário. Assim, dizemos que esta
função da linguagem está centrada no CÓDIGO. Na poesia, por exemplo, é comum observarmos a META-
LINGUAGEM, quando o autor explica o que é poesia através de um poema.
Função Fática: é a função que a linguagem assume quando queremos estabelecer contato com alguém,
verificar se o CANAL de comunicação está aberto para elaborarmos efetivamente a mensagem que que-
remos passar para nosso interlocutor. São situações como aquelas em que, por exemplo, apenas que-
remos saber se a outra pessoa do outro lado da linha do telefone está mesmo nos ouvindo, ou se é o
receptor com que queremos falar.
A seguir, vamos ler outro texto literário? Agora, o texto está escrito em prosa!
Prosa
Texto 3
Triste fim de Policarpo Quaresma – Primeira Parte
Como de hábito, Policarpo Quaresma, mais conhecido por Major Quaresma, bateu em casa às quatro e quinze
da tarde. Havia mais de vinte anos que isso acontecia. Saindo do Arsenal de Guerra, onde era subsecretário,
bongava pelas confeitarias algumas frutas, comprava um queijo, às vezes, e sempre o pão da padaria francesa.
204
Não gastava nesses passos nem mesmo uma hora, de forma que, às três e quarenta, por aí assim, tomava o
bonde, sem erro de um minuto, ia pisar a soleira da porta de sua casa, numa rua afastada de São Januário,
bem exatamente às quatro e quinze, como se fosse a aparição de um astro, um eclipse, enfim um fenômeno
matematicamente determinado, previsto e predito. (...)
(Lima Barreto. Triste fim de Policarpo Quaresma. São Paulo: Editora Brasiliense, 1979, 22ª edição, p. 21)
Afonso Henrique de Lima Barreto, o Lima Barreto, nasceu a 13/05/1881, em São Paulo, e faleceu em
01/11/1922. Nunca se casou e viveu a vida toda com os pais. Esteve internado diversas vezes por
alcoolismo. Foi o iniciador do romance dito engajado, pois sua obra traz as marcas de sua participação
e comprometimento com o Brasil de sua época. Era um mulato e, por isso mesmo, sua existência foi
marcada pela luta constante contra a discriminação e o preconceito social que eram as características
da sociedade do seu tempo. Sua obra é um dos importantes marcos da luta em favor da dignidade
humana e da liberdade dos oprimidos.
(Texto produzido para este livro e resultante de fontes diversas sobre o autor.)
Observe como o autor cria uma realidade imaginária, ou faz uma representação da realidade de uma maneira
muito pessoal, com a intenção de sensibilizar, provocar estranhamento, envolver o leitor.
O processo de criação do texto literário envolve uma capacidade dos autores para criar uma nova dimensão (estéti-
ca ou artística) da realidade, com uma intenção estética, que não se encontra, necessariamente, vinculada ao mundo real.
Por isso dizemos que, na literatura, temos um mundo ficcional, uma visão individual (subjetiva) de aspectos da
realidade que não tem compromisso algum com o caráter documental ou com a realidade concreta tal qual ela nos é
apresentada de fato. Por isso, também faz parte da literatura a intenção lúdica, de criação e de imaginação.
Mundo ficcional
é relativo à ficção. Ficção é toda e qualquer interpretação, criação ou adaptação imaginária da realidade.
Intenção estética
é uma maneira particular de dar vida à experiência humana, ultrapassando e transgredindo os limites da observação de fatos.
Pela estética, construímos outros modelos de realidade, mediados pela ficção e reinterpretamos não somente o mundo real, mas
também um mundo dos possíveis.
Intenção lúdica
é o jogo de sentidos, criado na obra literária ou artística, visando ativar o lado criativo, imaginativo. Pode se manifestar em dois
planos: o real (denotativo) e o figurado (conotativo).
às questões a seguir.
PAUSA
pernas ou antenas?
inquietação perdurará.
206
[...]
imagens, para terem mais vida, e da vida em poesia, para ser mais vivida. [...]”
Fonte: Extrato da crônica “Pausa”, de Mario Quintana. Mário Quintana. A vaca e o hipógrifo. Porto Alegre: Garatuja,
1977, p. 59-60.
2. Como o poeta vê a necessidade que ele sente da recriação das coisas em imagens?
( ) Ele acha que é normal e que todas as pessoas sentem essa necessidade.
( ) Ele acha que é um mistério, algo que não tem uma explicação clara.
Outra função da literatura é fazer o homem refletir e questionar a realidade em que vive, conforme seus an-
seios, expectativas e vivências no mundo que o cerca, dentro da sociedade de que faz parte.
Como uma obra de arte, a literatura representa a manifestação do artista diante da realidade de seu
tempo, a maneira como essa realidade é percebida pelo artista, em sua época e em seu espaço, de
acordo com sua visão de mundo, suas impressões e emoções diante das várias situações vivenciadas e
experimentadas.
E o espectador dessa obra de arte vivencia o estado de espírito do artista, questiona essa realidade
recriada na obra, que estimula novas sensações. Por isso, a arte tem uma função social, pois agrega os
indivíduos de um grupo social e permite a reflexão do mundo que os cerca.
Se os urubus beliscaram,
(...)
(Mello, Tiago, Mão do Lixo. fragmento.In: http://www.partes.com.br/meio_ambiente/poesia)
Texto 2:
América Latina e no Caribe tem um termo próprio para designar os catadores de lixo e, em
certos países, seu número está crescendo. Eles podem ser vistos, separando sacos de lixo
nas calçadas das cidades, parques públicos ou junto a supermercados e prédios de apar-
tamento. Alguns puxam carroças que pouco a pouco vão enchendo com garrafas plásticas
municipais. Homens, mulheres e crianças participam dessa atividade. Em certos países, fa-
mílias inteiras de catadores de lixo vivem em cortiços ao lado ou no alto de aterros sanitários
208
1. Os textos 1 e 2 tratam do mesmo tema: o lixo. No entanto, percebe-se que há uma enor-
b. Qual dos dois textos provocou em você maior reflexão? Qual dos dois transmitiu
Seção 2
Textos literários e textos não literários
A partir das leituras e análises feitas na seção anterior, podemos definir textos literários e não literários da se-
guinte maneira:
Textos não literários buscam informar as pessoas sobre fatos de uma dada realidade e o fazem de
forma direta e objetiva, adequando-os aos fins e aos usos de que as pessoas necessitam. Podem ser
usados para documentar informações, registrar atos ou simplesmente noticiar diversos assuntos ou
acontecimentos, reais ou não.
Os textos literários são aqueles que possibilitam uma reflexão sobre a realidade, sem compromisso com
a verdade ou com os fatos. Nesses textos, percebemos uma visão pessoal sobre o fato, impregnada de
impressões que apenas aquele autor vê no evento, e pode apresentar uma carga de sentimentos e emoções.
A linguagem ocupa um lugar muito importante, quando falamos da diferença entre textos literários e não
literários. Observe o “jogo” de palavras no texto literário, onde se busca atribuir às palavras de nossa língua novos
sentidos. Esse uso faz-se em função de uma intenção lúdica e estética do autor e resulta de um trabalho criterioso com
a língua, para a criação de um mundo outro que pode não ter vínculo algum com a realidade, vivida por ele ou pelo
Tudo na literatura está diretamente ligado ao lado da imaginação, da recriação de realidades diversas
e cujos limites são impostos pelos jogos de linguagem.
Denotação e conotação
Uma das grandes diferenças entre o texto literário e o texto não literário são os níveis de significação das pala-
A denotação refere-se ao sentido usual ou literal atribuído à palavra, àquele que está no dicionário. Seu sentido
é claro, explícito, objetivo, designando os objetos e seres do mundo de forma que todos os reconheçam, a partir de
A linguagem denotativa ou referencial é usada em textos informativos, como em jornais, bulas de remé-
dios, em um manual de instruções, textos científicos, documentos diversos etc.
A conotação refere-se à ampliação dos sentidos de uma palavra, de maneira contextualizada. Dizemos que a palavra
assume um novo sentido em função da necessidade de se retratar ou referir-se a uma outra realidade ou a um símbolo.
Por exemplo, quando dizemos: “Ele perdeu a cabeça”, não estamos querendo dizer que ele realmente perdeu
sua cabeça, mas sim que ele se descontrolou; quando dizemos “Ela é uma Maria vai com as outras”, queremos dizer
que ela se deixa influenciar facilmente pelos outros, não tem opinião própria, e assim por diante.
Em várias situações do cotidiano, empregamos uma palavra ou uma expressão em sentido conotativo.
210
Identifique as palavras ou expressões que estão sendo utilizadas no sentido cono-
tativo nas frases abaixo e, em seguida, substitua-as por outra(s) de valor denotativo. Mas
praticado.
Em geral, ao usar a conotação, atribuímos um caráter lúdico à palavra – resultante de um jogo de sentidos – e
ela passa a representar ou a evocar outras realidades ou sentidos por associações que esse emprego provoca.
A linguagem conotativa ou figurada é muito utilizada, em textos literários, alguns textos publicitários,
piadas, provérbios ou ditos populares etc. Mas é importante que você tenha em mente que também
empregamos a conotação em nossa linguagem cotidiana, ainda que não tenhamos consciência disso.
Quando queremos criar uma imagem e, para isso, empregamos determinados recursos, como:
Nesse exemplo, a palavra boneca assumiu um novo sentido, não é mais um brin-
Veja que, aí, há uma associação entre o desespero e o término da vida - que não
Com a finalidade de chamar mais atenção para os elementos "mar e Iemanjá", nesse
dem mais comum seria "Os pescadores iriam ao mar e à Iemanjá para cumprir suas
promessas.
Isso mesmo! A imagem que o autor consegue nos fazer perceber através de palavras,
e das diferentes combinações entre essas palavras, forma uma FIGURA. E como essa
212
b. figuras de palavras - quando usamos uma palavra em outro sentido, atribuindo-lhe
exploração de novos sentidos que se encontram por trás de uma palavra ou da asso-
ciação de ideias;
ticas na organização de frases para criar novos sentidos e/ou dar mais expressivi-
dade à mensagem.
Casimiro de Abreu
[...]
Bem, ao chegar ao final desta unidade, percebemos que ler textos literários é, antes de tudo, estabelecer um
acordo com o autor da obra, no qual você aceita embrenhar-se em mundos de ficção a que ele o convida... Ser e estar
aberto para participar dos jogos de sentidos que se criam... É se deixar levar, viajar. Mas também é fazer reflexões,
questionamentos. Assim, interagimos com esse universo lúdico e ficcional para, novamente, (re) criar novos mundos.
214
“A literatura é a porta para variados mundos que nascem das várias leituras que dela se fazem. Os
mundos que ela cria não se desfazem na última página do livro, na última frase da canção, na última
fala da representação nem na última tela do hipertexto. Permanecem no leitor, incorporados como
vivência, marcos da história de leitura de cada um. Tudo o que lemos nos marca.”
(Extrato de Marisa Lajolo. Literatura : leitores & leitura. São Paulo: Moderna, 2001. págs. 44-45)
Veja ainda
1. No site domínio público (www.dominiopublico.gov.br), você pode acessar obras de diferentes autores.
2. A TV Cultura é um canal de televisão que apresenta vários programas sobre diferentes manifestações ar-
tísticas e literárias. Você pode pesquisar no site alguns desses programas: http://www2.tvcultura.com.br/
aloescola/literatura/
3. A TV Escola é um canal de educação, com programações variadas sobre todas as áreas do conhecimen-
to, como Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Vale a pena acessar: http://tvescola.mec.gov.br/index.
php?&option=com_zoo&view=item&item_id=5295
Referências
Imagens
• http://www.sxc.hu/photo/107467
• http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:%C3%81lvares_de_Azevedo.jpg
• http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Drummond_e_Quintana.jpg
• http://www.sxc.hu/photo/490557
• http://www.sxc.hu/985516_96035528
Atividade 1
2. ( X ) Ele acha que é um mistério, algo que não tem uma explicação clara.
Atividade 2
impessoal.
b. Resposta pessoal. Mas, provavelmente é o texto 1, pois nos faz refletir sobre
informação.
Atividade 3
apresentadas são meras sugestões. Leve suas respostas para a sala de aula para que seu
216
c. Indispensável à boa forma, o exercício físico detona músculos e ossos, se mal
praticado.
praticado.
Você é muito importante pra mim / Você é quem dá sentido à minha vida./
Atividade 4
1. A saudade da infância
sentido conotativo, como em O céu bordado d’estrelas, As ondas beijando a areia, E a lua
beijando o mar!
3. Associa a infância ao mar e ao céu. Veja: O mar é - lago sereno, / O céu – um manto
azulado.
ENEM 2010
Resposta: Letra A
Língua Portuguesa e Literatura 219
Resposta: Letra C
220 Anexo
Atividade extra
Módulo 1 • Língua Portuguesa e Literatura • Unidade 7
Literatura: a arte da palavra
Questão 1
Comenta-se, um pouco rápido demais, que a predileção que os leitores sentimos por um ou outro perso-
nagem vem da facilidade com que nos identificamos com eles. Esta formulação exige algumas pontuações:
não é que nos identifiquemos com o personagem, mas sim que este nos identifica, nos aclara e define
frente a nós mesmos; algo em nós se identifica com essa individualidade imaginária, algo contraditório com
outras 'identificações semelhantes', algo que de outro modo apenas em sonhos haveria logrado estatuto de
natureza. A paixão pela literatura é também uma maneira de reconhecer que cada um somos muitos, e que
dessa raiz, oposta ao senso comum em que vivemos, brota o prazer literário.
De acordo com o autor, pode-se definir catarse como o processo que afeta o leitor no sentido de
a. valorizar o imaginário
c. construir a personalidade
Língua Portuguesa e Literatura 221
Leia os textos I e II para responder às questões 2 e 3.
I- "... o objetivo da poesia (e da arte literária em geral) não é o real concreto, o verdadeiro, aquilo que de fato
aconteceu, mas sim o verossímil, o que pode acontecer, considerado na sua universalidade."
II- Verossímil. 1. Semelhante à verdade; que parece verdadeiro. 2. Que não repugna à verdade, provável.
FERREIRA. A. B. de Holanda, Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
Questão 2
A partir da leitura de ambos os fragmentos, deduz-se que a obra literária tem o objetivo de
Questão 3
Em cada ato de fala, dependendo de sua finalidade, predomina um dos elementos da comunicação. Por isso,
afirma-se que a linguagem apresenta diferentes funções, cada uma delas com características específicas. Geralmente,
em cada texto que lemos ou ouvimos, há o predomínio de uma dessas funções. Nos textos I e II, destaca-se a função
222
Gabarito
Questão 1
A B C D
Questão 2
A B C D
Questão 3
Esses trechinhos transmitem informações em uma linguagem bem objetiva. Neles predomina o caráter re-
ferencial, presente na maioria dos atos de comunicação. É a linguagem encontrada em livros didáticos, nas
A Literatura
através do
Tempo
Para início de conversa...
Quem sou eu diante do mundo? Que mundo é esse? Nascer, morrer... Por
quê? O corpo ou o espírito? O Amor... Ah! O amor... Quanta dor! Oh! Deus, por que
sofro? Por que existo?
mesmo?
Por isso, a produção artística passa a ser um reflexo da sociedade de uma deter-
mos diferentes situações e emoções e, por isso, somos influenciados por artistas
a dança...
sos? E, quando criança, passou pela experiência de encenar uma peça de teatro,
Pois é! Em todos esses momentos, fazendo poema, montando e encenando uma peça de teatro, criando ou
lendo uma narrativa, você estava interagindo com os chamados gêneros literários. E este é um dos objetos de estudo
desta unidade.
Vamos conhecer os três gêneros literários básicos em que a literatura tem sido organizada: gênero lírico (principal-
mente na poesia); gênero dramático (teatro) e gênero épico/narrativo (histórias narradas, como romances, contos etc.).
E mais: vamos perceber como esses gêneros refletem a época e a realidade em que foram produzidos. Veremos
que - se no transcorrer dos tempos, o ser humano modifica sua forma de ver, sentir e pensar sobre o mundo – tam-
Dessa forma, a história do homem pode ser contada através do conjunto das manifestações literárias de cada
época. Isso porque as obras de arte expressam os costumes e as várias formas de pensamento do momento histórico,
econômico e social em que foram produzidas. Daí a importância de estudar a produção literária de um povo, de uma
época, em um país, em uma região. E este é o outro aspecto da Literatura que propomos a você nesta unidade: des-
vendar os sentimentos e emoções de um tempo; vivenciar os anseios do homem nesse tempo, conhecer costumes,
viajar pelos eventos; é sentir como a vida acontecia e fazia acontecer. Pronto para começar?
Objetivos de aprendizagem
Reconhecer os diferentes gêneros literários.
226
Seção 1
O que são gêneros literários
Para iniciarmos o estudo sobre gêneros literários, escolhemos dois textos: o primeiro é o início do conto “A
Propomos uma atividade inicial para que você possa perceber a diferença entre os dois textos. Vamos lá?
“A Cartomante” é um conto de Machado de Assis que traz a história de Camilo, Rita e Vilela envolvidos em
um triângulo amoroso. A cartomante pode ser considerada outra personagem, devido a sua grande influ-
ência no conto. A história começa numa sexta-feira de novembro de 1869 com um diálogo entre Camilo
e Rita. Rita fala de uma cartomante que visitou e acredita poder ver e resolver todos os seus problemas e
angústias. Camilo, que no começo zomba de Rita, depois vai recorrer a esta mesma cartomante para saber
sobre o seu caso com Rita e por que Vilela (seu amigo e marido de Rita) o havia chamado à sua casa... Conti-
nue a ler o conto em www.dominiopublico.gov.br. O desfecho da história é inesperado!
Texto 1
A Cartomante (fragmento)
Hamlet observa a Horácio que há mais cousas no céu e na terra do que sonha
a nossa filosofia. Era a mesma explicação que dava a bela Rita ao moço Cami-
lo, numa sexta-feira de Novembro de 1869, quando este ria dela, por ter ido
na véspera consultar uma cartomante; a diferença é que o fazia por outras
palavras.
— Ria, ria. Os homens são assim; não acreditam em nada. Pois saiba que fui,
e que ela adivinhou o motivo da consulta, antes mesmo que eu lhe disses-
se o que era. Apenas começou a botar as cartas, disse-me: "A senhora gosta
de uma pessoa..." Confessei que sim, e então ela continuou a botar as cartas,
combinou-as, e no fim declarou-me que eu tinha medo de que você me es-
quecesse, mas que não era verdade...
— Errou! Interrompeu Camilo, rindo.
— Não diga isso, Camilo. Se você soubesse como eu tenho andado, por sua
causa. Você sabe; já lhe disse. Não ria de mim, não ria...
Machado de Assis
(Fonte: http://www.dominiopublico.gov.br/)
Livros e flores
Teus olhos são meus livros.
Que livro há aí melhor,
Em que melhor se leia
A página do amor?
Flores me são teus lábios.
Onde há mais bela flor,
Em que melhor se beba
O bálsamo do amor?
Machado de Assis
(Fonte: www.dominiopublico.gov.br)
1. Em que texto houve maior preocupação com a formatação das ideias e com o ritmo da
4. Nos dois textos literários, o autor teve o mesmo objetivo comunicativo? Mostre a dife-
228
Machado de Assis (1839 - 1908) foi um escritor
brasileiro, amplamente considerado como o
maior nome da literatura nacional. Escreveu em
praticamente todos os gêneros literários, sendo
poeta, cronista, dramaturgo, contista, folheti-
nista, jornalista e crítico literário. Testemunhou
a mudança política no país quando a República
substituiu o Império e foi um grande comenta-
dor, e relator dos eventos político-sociais de sua
época. Detalhe: Machado de Assis era mulato,
filho de um operário e neto de escravos que re-
ceberam a alforria. Pobre, foi criado no morro do
Livramento e não tinha condições de frequentar
cursos regulares na escola. Como, então, ele se
tornou esse grande nome na literatura nacional?
Descubra, lendo a biografia completa do autor
no site:
h t t p : / / e d u c a c a o. u o l. c o m . b r / b i o g r a f i a s /
ult1789u180.jhtm
A partir desta atividade, é possível observar que, entre os dois textos, há diferenças:
o texto 1 propõe-se a contar um fato; por isso, apresenta os personagens - dois amantes, em determi-
nada situação - a personagem Rita conta que foi consultar uma cartomante, descrevendo o ambiente
b. Em relação à forma:
o primeiro é escrito em prosa (em linhas contínuas) e organizado em parágrafos, sem se preocupar em
o segundo, é escrito em versos e organizado em estrofes. Percebe-se uma preocupação em criar os ver-
No texto em versos, o autor não se preocupa com a sequência linear das frases e dos períodos. A forma
como escreve os versos está ligada ao ritmo que o autor quer colocar no seu texto. Assim, os versos são
linhas descontínuas que estão organizadas em blocos a que chamamos estrofes.
Resumindo: considerando que os dois textos apresentam diferentes objetivos, estruturas e formas de compo-
A seguir, veremos que o texto 1 pertence ao gênero narrativo, enquanto o texto 2 é do gênero lírico.
A seguir, vamos conhecer mais sobre estes gêneros literários e também sobre um terceiro gênero literário, o
Seção 2
A Literatura e seus gêneros
Tradicionalmente, as produções literárias têm sido classificadas em três gêneros literários principais, de acordo
1. O gênero épico/narrativo
Você já sabe que o conto “A Cartomante” é um texto do gênero narrativo, porque conta uma história que se
desenvolve num tempo e lugar, envolve um narrador e personagens. Observou, também, que ele é escrito em prosa
e não versos, como a maior parte dos textos de gênero narrativos da atualidade.
230
O que vamos descobrir, agora, é que, na Antiguidade, os textos narrativos eram escritos em versos também!
Na Antiguidade, era comum os escritores narrarem feitos heroicos e grandiosos, representando grandes fatos
históricos de um povo ou de uma nação. Eram as epopeias, narrativas literárias de grande extensão, que tratavam de
grandes viagens, guerras e aventuras, sempre enaltecendo e valorizando os heróis e seus feitos.
Nessa época, essas narrativas grandiosas quase sempre eram narradas em verso e usavam elementos da Mito-
logia Grega nos episódios, contando aventuras heroicas em que misturavam o real e o fantasioso. Daí ser chamado
de gênero épico.
Figura 3: Pintura do artista italiano Francesco Hayez (1791–1882).Retrata uma passagem da epopeia A Odisseia, de Homero,
escritor da Antiguidade Clássica.
Originalmente, o gênero épico é uma narrativa em versos que apresenta um episódio heroico da
história de um povo.
Mas as epopeias não são exclusivas da Antiguidade. Por exemplo, mais tarde, no XVI, durante o Classicismo,
Luís de Camões, grande autor português, escreveu uma das maiores epopeias da literatura: Os Lusíadas. Nela, o autor
português exalta a glória do povo português, a partir da viagem do “herói” navegador Vasco da Gama às Índias, que
Leia as duas estrofes do Canto V de Os Lusíadas, narrando a passagem da esquadra de Vasco da Gama pela
costa africana.
Henrique
O décimo-sétimo Rei de Portugal, tendo governado entre 1578
Canto V – estrofes 4 e 5
e a sua morte, em1580.
Assim fomos abrindo aqueles mares,
Que geração alguma não abriu, Mauritânia
As novas ilhas vendo e os novos ares,
Atualmente, é um país situado no noroeste da África, na região
do deserto do Saara.
Que o generoso Henrique descobriu;
Fonte: http://www.oslusiadas.com/content/view/22/45/
232
Cipro, Gnido, Pafos e Cietra
O culto de Afrodite, deusa grega da beleza e do amor, era universal. Na Grécia, seus templos principais eram os de Pafos, Ama-
tonte e Idalia na Ilha de Chipre; o de Gnido em Carla; o de Cietra no Peloponeso e do Monte Erix na Sicília
Com o passar do tempo, já a partir do século XIX, a narração de histórias passou a ocorrer predominantemente
em prosa, e não mais apenas em versos, motivo pelo qual os estudiosos passaram a denominar de gênero narrativo.
Os textos do gênero épico/narrativo apresentam um narrador, aquele que conta uma sucessão de
ações (enredo) dos personagens no tempo e no espaço.
Os gêneros literários sofrem as mesmas influências do tempo como qualquer outro fenômeno ou traço da arte
e da cultura. A epopeia, por exemplo, narrativa em versos sobre os feitos e heróis de um povo de que falamos antes,
foi importantíssima na Antiguidade Clássica e no Classicismo, já no século XVI. Por outro lado, a partir do século XIX, o
homem passou a contar suas histórias preferencialmente em prosa, e, com o Romantismo, desenvolveu-se um tipo de
narrativa, chamada de romance, e, posteriormente, o conto – gêneros que continuam até hoje.
2. O gênero dramático
Produção Textual
O gênero dramático é aquele que se realiza no teatro. Quer dizer: o texto dramático é para ser encenado, repre-
sentado numa peça teatral. Também é o gênero usado para a criação de filmes, séries e novelas de TV, etc.
Para compreender melhor o gênero dramático, propomos a você uma atividade. Vamos lá?
observe a organização do texto na página. Note os vários tipos de letra usados do texto.
Em seguida, cite três diferenças entre este texto e os textos 1, narrativo, A Cartoman-
te, e o 2, o poema Livros e Flores, apresentados na Atividade 1, no início desta unidade.
O Pagador de Promessas
PADRE (Lança-lhe um olhar enérgico.) - Psiu! Cale a boca! (Seu interesse por Zé-
-do-Burro cresce.) Sete léguas com esta cruz nas costas. Deixe ver seu ombro.
Zé-do-Burro despe um lado do paletó, abre a camisa e mostra o ombro. Sacris-
tão espicha-se todo para ver e não esconde a sua impressão.
SACRISTÃO - Está em carne viva!
234
ZÉ (Balança afirmativamente a cabeça.) - Pra Santa Bárbara. Estava esperando
abrir a igreja...
SACRISTÃO - Deve ter recebido dela uma graça muito grande!
Padre faz gesto nervoso para que Sacristão se cale.
ZÉ - Graças à Santa Bárbara a morte não levou o meu melhor amigo.
Fonte: Fragmento de: GOMES, Dias. O pagador de promessas. 34.a edição. Rio de Janei-
ro: Bertrand do Brasil,1997. p. 62-67
O Pagador de Promessas, de Dias Gomes, é uma das peças brasileiras mais premiadas e que, levada para
o cinema, recebeu prêmios em festivais internacionais importantes. Tem como personagem principal
um homem simples do sertão baiano, que faz a promessa de carregar uma enorme cruz de madeira
até uma igreja de Santa Bárbara. Sua mulher acompanha-o, sem a convicção dele. Depois de andar
sete léguas, chega à igreja, que está fechada. Ingênuo, ele não percebe a malícia e a má fé de pessoas à
volta da igreja, para a festa da Santa. O trecho apresenta a cena em que a igreja é aberta e ele conversa
com Sacristão e com o Padre.
Bem, após a leitura do fragmento de O Pagador de Promessas, você deve ter percebido que:
1. os nomes das personagens que vão falar aparecem em destaque, em geral em caixa alta (como “PADRE”).
2. o texto dramático não apresenta um narrador, como acontece no texto narrativo; e, por isso, seu autor usa
as chamadas rubricas, isto é, as orientações que são colocadas entre parênteses, geralmente em letra dife-
rente (itálico), para indicar a forma como aquela situação/fala deve ser desenvolvida. Veja, por exemplo,
no início do texto:
PADRE – E eu lá dentro à sua espera para ajudar à missa. (Repara em Bonitão e Zé-do-Burro.) Quem são?
(...)
As rubricas podem apresentar informações sobre o cenário, sobre as personagens, sua entrada e saída de
cena, suas reações e manifestações. Perceba que elas praticamente substituem as descrições e trechos que,
236
Essa apresentação gráfica diferente, com uso de diferentes tipos de letra costuma afastar as pessoas da
leitura de peças teatrais. No entanto, se você entender as rubricas como uma substituição do narrador, logo
se acostumará com essas características e se sentirá à vontade lendo textos do gênero dramático (teatro).
3. Outra característica do texto de teatro é que ele é dividido em cenas e atos. Cena é um momento da peça
em que estão no palco as mesmas personagens. Ato é um conjunto de cenas que formam uma unidade,
dentro da história/conflito.
guem.
d. Na sua opinião, o Zé-do-Burro conseguirá entrar na igreja com a cruz? Por quê?
Ainda, de acordo com o assunto e a maneira de tratá-lo, o gênero dramático pode se apresentar em diferentes
Na Antiguidade, os gregos cultivavam duas espécies de peças teatrais: a tragédia e a comédia. A tragédia ali-
mentava-se de situações trágicas, vindas da fatalidade, que tornava o protagonista ao mesmo tempo culpado e ví-
tima. Era dirigida aos nobres, numa linguagem requintada e em verso. A comédia era oferecida à população plebeia
(classe menos favorecida) e retratava pessoas do povo. Sua linguagem era muito mais próxima da coloquial e, por
A origem do nome lírico vem do instrumento musical de cordas – a lira - que, na Antiguidade acompanhava os
poemas, que eram cantados. Isso mesmo: os poemas eram escritos para serem cantados.
A poesia lírica é aquela que fala de sentimentos íntimos, emoções, e inquietações individuais, geralmente
ligadas a questões amorosas e bem subjetivas, como lamentos, melancolia, tristeza, alegria. Esses sentimentos são
Durante a Idade Média, o movimento literário é chamado de Trovadorismo.Os poemas eram escritos para se-
rem cantados e o poeta era chamado de trovador. Por isso, os poemas são chamados de cantigas. Veja, no exemplo a
seguir, uma cantiga lírica de amigo de um dos mais famosos trovadores da Idade Média, D. Diniz.
Trovadorismo
O primeiro movimento literário em Língua Portuguesa é chamado de Trovadorismo, que surgiu du-
rante a Idade Média e começou a despontar em Portugal, por volta do século XII. São chamados de
trovadores aqueles que compunham as poesias e as melodias que as acompanhavam. Essas poesias
cantadas eram chamadas cantigas.
238
Repare que a voz que fala nos versos (o “eu lírico”) não é a do autor e sim a de uma mulher que canta a ausência
do seu namorado e a aflição de sentir-se abandonada. Ela representa os sentimentos de muitas donzelas que se viam
abandonadas pelos homens que iam para a guerra. Por isso, é uma cantiga de amigo.
Nesta cantiga, o poeta é um homem, mas “encarna” os sentimentos de uma mulher – uma moça solteira que
sente saudades do namorado. Assim, o autor é masculino, mas o eu-lírico – a voz que fala no poema - é uma mulher.
Em geral, essas cantigas têm como cenário um ambiente natural e o diálogo se dá entre uma donzela, que expressa
seus setimentos em relação ao “ namorado”, e sua mãe ou alguma amiga. É, portanto, uma poesia do gênero lírico.
Em geral, nos textos líricos, predomina o tempo presente – afinal, o sentimento de que trata o texto está sendo
“sentido” no momento em que se fala. Por isso, dizemos que a lírica é sempre atual e atemporal.
Vamos ler e experimentar a seguir, um poema lírico de Luís Vaz de Camões, escritor português de uma época
conhecida como Renascimento, no século XV, porque o artista propõe um “renascer” dos valores da Antiguidade Clás-
sica. Classicismo, ou Quinhentismo (pois acontece no século XV), é o nome dado ao período literário que surgiu nessa
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Amor_%C3%A9_fogo_que_arde_sem_se_ver)
240
1. Quanto à composição das estrofes:
Este poema é composto por 4 estrofes (conjuntos de versos): duas estrofes de 4 versos (quartetos) e duas de
3 versos (tercetos ou trios). Essa é a estrutura de um SONETO. Todos os sonetos são organizados dessa mesma forma.
2. Quanto à sonoridade:
O ritmo é uma sucessão de sons ou movimentos que se repetem regularmente. No poema, o ritmo se constrói,
principalmente, pela métrica, isto é, pela divisão das sílabas poéticas de cada verso.
Conforme a análise da primeira estrofe do poema, percebemos que a métrica é regular, composta apenas por
A Métrica
Métrica é a medida de um verso, definida pelo número de sílabas poéticas ou métricas.
A sílaba poética nem sempre corresponde a uma sílaba gramatical. Na divisão (ou contagem) das síla-
bas poéticas de um verso, devemos considerar a emissão de voz do verso como um todo. Assim, para
contarmos corretamente as sílabas poéticas, devemos ter atenção para alguns aspectos:
1. não contamos as sílabas poéticas que estão após a última sílaba tônica do verso;
3. duas ou mais vogais, átonas ou até mesmo tônicas, podem fundir-se entre uma palavra
e outra, formando uma só sílaba poética.
nos finais dos versos. Trata-se de uma coincidência de sons, no final de cada verso, a partir da última sílaba tônica.
Você observou que as partes marcadas nas palavras se repetem? Perceba a rima de,vER com doER, e de dOR,
com fOR. Pois é, para marcar como as rimas acontecem, usamos as letras maiúsculas do alfabeto. Assim, a cada nova
De acordo com a “arrumação” das rimas nos versos, podemos dizer que Camões usou, nas primeira e segunda
Assim como o gênero épico, também o lírico se transforma com o homem no transcorrer do tempo, da mesma
forma que os homens mudam seus pensamentos, suas formas de expressão, formas de se comportar etc.
Camões, por exemplo, viveu num tempo em que se enfatizava o amor platônico – aquele que fica só no campo
das ideias. No entanto, ele demonstrava, em vários de seus sonetos, uma constante luta interior entre o amor ideali-
Em outras épocas, diferentes autores fizeram poemas com o tema do amor. Veja alguns exemplos mais atuais:
1.
Eu não vou negar Que a vida é feita pra viver.
Que sou louco por você, É o Amor,
"Tô" maluco pra te ver; Que veio como um tiro certo
Eu não vou negar. No meu coração;
(...) Que derrubou a base forte
Eu não vou negar Da minha paixão
Que sou louco por você, E fez eu entender que a vida
"Tô" maluco pra te ver; É nada sem você.
Eu não vou negar.
(...)
242
2.
Seção 3
A Literatura reflete o tempo
Além dos elementos que caracterizam o gênero literário de uma obra, exercem grande influência os contextos
social, político, econômico, filosófico em que ela foi escrita. Dessa forma, uma obra passa a ter as características desse
tempo, comuns a diferentes artistas durante um mesmo período, ou seja, pertence a um estilo de época.
Estilo de época é o conjunto de características que um grupo de escritores e artistas apresenta em co-
mum, devido às mesmas circunstâncias históricas, políticas e sociais que os envolveram e os influencia-
ram. Apesar de os artistas de um mesmo tempo apresentarem características comuns, cada um escreve,
expressar sua arte, de acordo com seu próprio estilo, segundo suas características pessoais, ou seja, seu
estilo individual.
Se, em dado momento, o homem se vê impregnado de pessimismo diante da vida, vivenciando situações de
morte ou de desilusões, numa realidade que não o satisfaz, também sua obra, sua arte, irá tratar esses temas e expres-
Veja, a seguir, a reprodução de uma pintura do século XVII, do Barroco. Nessa época, as questões religiosas
eram conflitantes e a dúvida era uma constante. Note o jogo entre a claridade (à esquerda da tela) e a escuridão (à
direita); perceba ainda as sombras e a fisionomia dos personagens que transparecem o que sentem na situação.
Por outro lado, se a ciência toma um novo rumo, se novas descobertas acontecem, modificando a maneira de
se ver a sociedade, a arte também vai representar este momento; apresentará mais razão, mais objetividade, menos
emoção e sentimentos. Logo, teremos outro estilo, que caracteriza outra época.
Por exemplo, do século XIV até o século XVI, durante o Renascimento, houve grandes descobertas científicas
e tecnológicas que motivaram o homem a pensar de maneira mais racional, preocupando-se com a condição desse
homem no mundo.
Diferente da pintura barroca na Figura 6 anterior, a Figura 7, a seguir, de Leonardo da Vinci, representa o Re-
nascimento do século XV. Apesar de retratar também um tema religioso – o Anjo Gabriel anuncia a chegada de Jesus
a Maria - observe a claridade da tela ao fundo, a simetria entre os elementos retratados e a ausência de expressão
de sentimentos nos personagens. Esses elementos demonstram mais objetividade do artista na forma de retratar as
cenas de uma época mais racional, em equilíbrio com as questões do mundo e, portanto, com mais clareza diante das
situações.
244
E agora, vamos observar essa diferença de estilos de época na literatura?
veu uma carta ao rei de Portugal, relatando a nova terra recém- descoberta. Leia o frag-
mento desta carta, considerada como o primeiro documento escrito sobre nossa terra e
nossa gente.
Texto 1
A Carta
Senhor,
Posto que o Capitão-mor desta Vossa frota, e assim os outros capitães escre-
vam a Vossa Alteza a notícia do achamento desta Vossa terra nova, que se ago-
ra nesta navegação achou, não deixarei de também dar disso minha conta a
Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que — para o bem contar e
falar— o saiba pior que todos fazer!
(...)
E dali avistamos homens que andavam pela praia, uns sete ou oito, segundo
disseram os navios pequenos que chegaram primeiro.(...)
(...) Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira, é graciosa que, querendo-a
aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem!
Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta
gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar.
(...)
A linguagem desta carta pode parecer meio estranha para nós, não? Contudo, vale
lembrar que há uma distância temporal bastante significativa entre a época em que foi
de época, fez uma paródia da Carta de Caminha, fazendo uma crítica à colonização portu-
guesa.
Intertextualidade e Paródia
Quando um texto faz uma referência explícita ou implícita a um outro, ou
quando uma obra faz alusão à outra, dizemos que ocorreu intertextuali-
dade, ou seja, um diálogo entre os dois textos.
Texto 2
Oswald de Andrade
(in: http://arquivos.unama.br/nead/graduacao/cche/letras/4semestre/form_lit_bras/
atividades/pdf/uni_1_atividade1.pdf )
246
No poema, Oswald de Andrade colocou-se na mesma perspectiva de Caminha no
momento em que os portugueses aqui chegaram. Assim, mostra a maneira como os colo-
2. Que elemento o autor do texto usou para mostrar o desprezo dos portugueses pelos índios?
3. De acordo com o que é relatado na estrofe do poema, como podem ser caracterizados
Agora, leia o fragmento de outra paródia da Carta de Caminha. Esta foi escrita em
Também aqui, o autor do texto se coloca como se fosse o próprio Caminha que rela-
5. Na Carta original, Caminha diz que as “As águas são muitas, infindas(...)”. Que crítica per-
6. Considerando que o ponto de partida para a criação da paródia é uma carta escrita em 1500,
que outra crítica percebe-se no final do texto, em “Isso aqui ainda vai ser o país do futuro...”?
mostraram diferentes visões? Na verdade, cada autor retratou o mesmo fato de acordo com a visão própria da época
a. Em A Carta, de Pero Vaz de Caminha, temos a visão do colonizador que, em virtude do Ciclo das Nave-
gações, vai em busca de novas terras para enriquecer seu povo e seu país;
b. No poema de Oswald de Andrade, depreendemos uma crítica a este povo colonizador, em uma tenta-
tiva de desfazer o caráter heroico que o povo português ainda recebia na época (início do século XX);
c. Já na paródia do blog, notamos uma preocupação com o Brasil de hoje, com a poluição dos recursos
naturais e com o futuro do país que ainda parece incerto, apesar do avanço tecnológico (afinal, ele – no
Dessa forma, cada texto apresenta um conjunto de características próprias do seu tempo e pertence a um
Cada estilo de época ocorre num determinado espaço de tempo, denominado período literário. Assim, cada
período literário corresponde a uma fase em que determinados valores ideológicos, filosóficos, históricos, culturais
e estéticos propiciam a criação de obras literárias que se aproximam pelo estilo que adotam e pela visão de mundo
que apresentam.
Estéticos
relativo à estética - estudo que determina o caráter daquilo que é belo nas produções naturais e
artísticas. A estética também aborda o sentimento que alguma coisa bela desperta dentro de cada
um de nós.
Seção 4
Os períodos literários
Os períodos literários também são conhecidos como escolas, correntes ou movimentos literários. Estudar os
períodos literários ao longo da história é compreender o conjunto de valores artísticos, culturais e ideológicos do
248
E o que marca o início e o término de cada período literário?
Há certas circunstâncias históricas – como crises políticas, guerras, mudanças abruptas de poder político e eco-
nômico, entre outras condições – que motivam a criação de uma arte nova, de um estilo novo e de uma nova maneira
Entretanto, o nascimento de uma nova corrente artística, estética, literária não apaga a beleza, os sentimentos
e as características do período anterior – até porque as obras escritas nesse período continuarão a existir e a serem
lidas, não é mesmo? Dessa forma, elas continuarão a influenciar as pessoas ao longo do tempo.
No Brasil, por causa da colonização portuguesa, nossa literatura corresponde às influências das manifestações
e dos estilos de época que aconteciam em Portugal e na Europa. Até o século XIX, quando o Brasil tornou-se indepen-
dente de Portugal, as manifestações literárias eram uma espécie de desdobramento da Literatura Portuguesa. Aos
poucos, tal qual nossa nação, também a literatura foi se tornando independente e ganhou plena autonomia no início
A história da literatura brasileira está dividida em dois grandes momentos: a Era Colonial e a Era Nacional. Esses
Períodos
Quinhentismo Barroco Arcadismo
Literários
Época Século XVI Século XVII Século XVIII
a) Expansão Marítima de a) Movimento da Contrarrefor- a) Na Europa:
A partir de 1822, com a Independência do Brasil proclamada, iniciou-se uma arte e uma literatura com mais
autonomia em relação a Portugal. Nossas obras, poemas e romances dão mais atenção aos problemas, costumes e
cultura nacionais. Daí, a Era Nacional, que corresponde aos seguintes períodos literários:
Época Século XIX – 1ª metade Século XIX – 2ª metade Fins do século XIX Século XX
250
Poesia Lírica: Prosa Realista: Poesia Simbo- Rica produção de obras em
prosa e em verso.
1ª geração: Poesia Na- romances, contos e lista
Divide-se em três fases:
cionalista e Indianista crônicas em que pre-
valorização a) Primeira Fase (1922 a
Autor: Gonçalves de Ma- dominam a razão,a
da intuição e 1930):
galhães e Gonçalves Dias frieza,ausência de
do sonho;
sentimentos e a ob- visão nacionalista e
2ª geração: Poesia
servação minuciosa temas subje- crítica da realidade
Mal do Século ou brasileira;
dos fatos. tivos;
Ultrarromântica
Autores: Álva- Autores: Oswald de An-
Principal autor: Ma- aproximação
res de Azevedo, drade, Manuel Bandei-
chado de Assis com a música. ra e Mário de Andrade,
Fagundes Varela,
Antônio de Alcântara
Casimiro de Abreu Prosa Naturalista: Autores:
Machado.
Cruz e Sousa,
3ª geração: Poesia predomínio de ro- b) Segunda Fase ( 1930 a
Alphonsus de
Social ou Condo- mances de cunho so- 1945):
Guimaraens
reira cial e urbano;narram consolidação dos
Autor: Castro Alves fatos em que o ideais da primeira fase;
homem é visto como problemas sociais
Prosa Romântica: produto do meio em e políticos do povo
brasileiro.
Romances Indianistas, que vive e, como re-
Social e Urbanos, Regio- sultado, é um homem Autores: Poesia - Ce-
Manifesta- nalistas. com vícios, desejos cília Meireles e Murilo
incontroláveis e pro- Mendes
ções
Contos blemas de caráter. Prosa - Jorge Amado,
Literárias Graciliano Ramos e
Autores: José de Autores: Aluísio de
Raquel de Queirós.
Alencar, Joaquim Azevedo, Raul Pom-
Manuel de Mace- c) Terceira Fase (a partir
peia, Inglês de Sousa,
do, Bernardo Gui- de 1945):
Júlio Ribeiro.
marães, Franklin momento cultural mui-
Távora, Visconde Poesia Parnasiana: to rico, com produções
D’Taunay, literárias;
valorização da esté-
Teatro: Martins diferentes gêneros
tica e da perfeição
Pena literários
artística; preocupa-
ção formal. experimentos temáti-
cos e linguísticos.
Autores: Alberto de
Oliveira, Olavo Bilac, Autores:
Raimundo Correia, na prosa, destacam-
Francisca Júlia. -se Guimarães Rosa e
Clarice Lispector ; na
No teatro: Artur Azevedo, poesia, Carlos Drum-
Machado de Assis mond de Andrade,
Murilo Mendes, Cecília
Meireles,João Cabral
de Melo Neto, Vinicius
de Moraes.
mundo expressa por ambos os autores, embora o assunto seja o mesmo – a morte. Dessa
forma, procure retratá-las, levando em consideração o fato de que os estilos de época são
Lembrança de Morrer
Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nenhuma lágrima
Em pálpebra demente.
E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.
Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poento caminheiro,
... Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;
Álvares de Azevedo
(AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. São Paulo: Melhoramentos, 1999. )
252
Versos íntimos
6
“Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Terminada a atividade, você deve ter percebido que, ao longo do tempo, embora de maneira diferente, carac-
terizando diferentes estilos literários, o homem acaba apresentando preocupações semelhantes. Dessa forma, através
do estudo das obras literárias, podemos realmente "sentir" como determinados fatos motivaram as diferentes manei-
1. Para vivenciar o gênero dramático, assista aos filmes, que estão disponibilizados em DVD, em qualquer
locadora:
a. O AUTO DA COMPADECIDA, de Ariano Suassuna, adaptada para a TV e para o cinema, dirigida por Guel
Arraes.
Referências
Sites
1. http://literarizando.wordpress.com/2011/10/03/barroco-links-analise-de-texto-e-material-para-download/
2. http://pessoal.educacional.com.br/up/4380001/1434835/t133.asp
3. http://www.colegioweb.com.br/literatura/motivos-classicos-da-poesia-arcade.html
4. http://www.algosobre.com.br/literatura/pos-modernismo-e-literatura-no-brasil.html
Imagem
• http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Machado-450.jpg
254
• http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Francesco_Hayez_028.jpg
• http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Vascodagama.JPG
• http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Lyre1913.jpg
• http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Anthonis_van_Dyck_004.jpg
• http://pt.wikipedia.org/wiki/Leonardo_da_Vinci
Atividade 1
1. No texto 2, pois ele está escrito em versos e em estrofes, apresentando um certo ritmo
2. O texto 1. Veja que o narrador “avisa” ao leitor sobre a situação que irá acontecer.
3. O texto 2. Ele tem uma linguagem subjetiva, expressando com sentimentalismo e emo-
ção como ele vê a mulher amada. O autor compara os olhos da mulher amada a livros e
me são teus lábios/Onde há mais bela flor/Em que melhor se beba/O bálsamo do amor”
4. No texto 1, o autor teve a intenção de contar uma história. No texto 2, o propósito foi
Resposta Pessoal
Você deverá elaborar um texto onde relata sua experiência. O tempo predominante
deve ser passado, com a presença de narrador personagem e protagonista no texto. Apre-
sente seu texto ao professor para que ele possa tecer comentários referentes à correção.
Atividade 3
diálogos e não descrição das cenas, que serão encenadas. O texto 2, Livros e Flores, é es-
Atividade 4
do animal.
d. Resposta pessoal
Atividade 5
256 Anexo
b. “E dali avistamos homens que andavam pela praia, uns sete ou oito, segundo
c. “Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira, é graciosa que, querendo-a aprovei-
tar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem!”
d. “Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente.”
4. A linguagem usada pelo autor é de nosso tempo, bem como a presença de celular e
6. Percebe-se que, desde 1500, ainda não conseguimos avançar e crescer verdadeiramen-
te como país, na perspectiva do autor desse texto que reconstrói a Carta de Caminha,
colocando-se nos dias atuais, com um novo enfoque (daí ser uma paródia).
Atividade 6
Entretanto, tal sentimento, quando comparado ao poeta Augusto dos Anjos, simbolista,
por sua vez, vai além de uma simples frustração, cuja característica se define por uma
sar as camadas do inconsciente. Dessa forma, evidenciamos que a morte, para o primei-
ro, poema do Romantismo, é a salvação para o sofrimento da vida, enquanto que, para
o segundo, e a morte é uma maldição a que o homem está destinado e para quem a
Resposta: Letra D
Comentário: As crônicas, os contos e os romances marcaram as produções literárias no final do século XIX e início
do Século XX.
Língua Portuguesa e Literatura 259
Resposta: Letra D
Comentário: Note que, em ambos os fragmentos, a narrativa apresenta a descrição do espaço como um elemento
onde os menos favorecidos vivem: no primeiro, os personagens moram na praia, embaixo da ponte; no segundo, os persona-
260 Anexo
Atividade extra
Módulo 1 • Língua Portuguesa e Literatura • Unidade 8
A Literatura através do Tempo
Metade pássaro
Dá de comer às roseiras,
Dá de beber às estátuas,
Cura a tempestade,
(Murilo Mendes)
Língua Portuguesa e Literatura 261
Questão 1
Questão 2
"Numa das voltas olhando para trás, viu a montanha curvada, com o sol lhe mordendo as ilhargas. Era Loge,
deus do incêndio... As montanhas desembestavam assustadas, grinpando os itatins com gestos de socorro, contorci-
das. Loge perseguia as medrosas, lambido de chamas, trinando. Fraulein escutou um xilofone, o tema conhecido. E o
Nesse trecho aparecem traços de estilo e composição muito característicos da corrente estética da modernida-
Questão 3
Questão 4
Questão 5
O homem em conflito é uma característica muito explorada na escola literária denominada Barroco. Por isso,
afirma-se que a figura de linguagem muito frequente nessa escola literária é a
262
a. metonímia
b. hipérbole
c. pleonasmo
d. antítese
Questão 6
Entre as escolas literárias portuguesas e brasileiras há movimentos literários que existiram na história
portuguesa, porém não fazem parte do histórico de movimentos literários brasileiros. Por que existe essa
diferença? Cite um movimento literário que existe na história da literatura portuguesa, porém não existe
na brasileira.
A SANTA INÊS
Cordeirinha linda,
Cordeirinha santa,
De Jesus querida,
O Diabo espanta.
Fugirá depressa,
Vossa formosura
Honra é do povo,
Questão 7
Transcreva o fragmento em que parte José de Anchieta menciona o poder de Santa Inês para os povos indígenas.
Questão 8
Questão 9
264
Gabarito
Questão 1
Surrealismo.
Questão 2
A falta de lógica apresentada em cada verso, na relação dos verbos com os substantivos.
Questão 3
Expressionismo.
Questão 4
Descrição levando em conta associações subjetivas ("E o encantamento do fogo principiou para Brunilda").
Questão 5
Questão 6
A B C D
Questão 7
O Brasil só foi “descoberto em 1500”, ou seja, não havia registros literários aqui antes de seu descobrimento
pelos Portugueses. O Trovadorismo é um exemplo de movimento literário que não existe na literatura brasileira.
Questão 9
Questão 10
A B C D
266
Módulo 1 • Língua Portuguesa e Literatura • Expansão
A norma culta
e suas diversas
ramificações
Para início de conversa...
ou ele veio de um outro planeta”. Por que isto acontece? Porque a situação infor-
Vocabulário
Edificante é um termo para designar algo que desempenha um papel positivo no apri-
moramento de alguém.
Acepipe é uma palavra não tão usual para falar de petiscos em geral.
Bem, mas pensemos agora no caso oposto: imagine que você trabalha como
bela tarde, você recebe um candidato a uma vaga como representante de vendas.
Com certeza absoluta, você também experimentaria neste caso uma sensação de espanto e se posicionaria
negativamente em relação à contratação do candidato. Por quê? Porque a situação de uma entrevista de emprego
O que temos, então, nestes dois casos? A desconsideração de uma diferença que ocupará incessantemente os
Como veremos aqui, um dos elementos mais importantes para o sucesso da comunicação é justamente a ca-
pacidade de se adequar ao caráter de cada situação e de saber quando é a hora em que é preciso seguir um registro
Objetivos de aprendizagem
Diferenciar linguagem formal e linguagem informal;
Associar usos linguísticos formais ou informais com certos gêneros textuais específicos;
Identificar o papel da organização da língua por meio de processos de seleção (fonologia/morfologia) e de com-
binação (sintaxe);
Compreender a importância das normas gramaticais para a manutenção da língua viva pelo povo;
Empregar as principais regras de acentuação e de uso do hífen, considerando o Novo Acordo Ortográfico;
Pontuar adequadamente enunciados por meio dos sinais ponto final, ponto e vírgula e vírgula.
268
Seção 1
Linguagem formal e linguagem informal:
Um elemento de nosso cotidiano!
Uma das coisas mais importantes no estudo de língua portuguesa, assim como na compreensão ampla do
fenômeno da linguagem e de seus códigos, é jamais perder de vista o fato de que tudo o que se aprende em tal
campo pertence ao mundo da vida de cada um de nós. Neste sentido, uma tarefa primordial para o estudo de língua
portuguesa e da experiência da linguagem propriamente dita é encontrar em nossa realidade cotidiana os elementos
Essa tarefa, por sua vez, é bastante simples quando o que está em questão é a distinção entre linguagem for-
Em verdade, todos nós conhecemos essa distinção, por mais que muitas vezes não prestemos muita atenção
nela. Imagine que uma menina convida o seu namorado para ir pela primeira vez até a sua casa. Como é que você
Você acha que ele deveria bater nas costas do pai da menina e dizer: “E aí sogrão, que serviço de primeira a
Duvido muito que, se você fosse o “sogrão”, você ficaria bem impressionado com o rapaz. E o que aconteceria
se, em seguida, ele se virasse para a mãe da menina, desse um apertão na barriga dela e dissesse: “E aí sogrinha, andou
exagerando nas gordurinhas?” Se ele fizesse isto, é bem provável que a sua entrada na nova família tivesse um final
nada feliz.
O que aconteceu na cena acima: o que aconteceu não foi outra coisa senão uma desconsideração do tipo de
situação em jogo. Situações formais (o primeiro encontro com os pais de uma namorada é uma situação formal) exi-
gem uma linguagem formal. Se nós não levamos este fato em consideração, as consequências podem não ser nada
boas. Mas o contrário também pode acontecer e as consequência também são as piores.
Agora imagina que algum amigo lhe convida para ir a uma roda de samba na casa de uma amiga em comum.
Quando você chega lá, todos estão já cantando, bebendo e se divertindo. Em seguida, porém, chega uma pessoa que
você nunca viu e começa, então, a cumprimentar as pessoas da seguinte forma: “Muito prazer. Meu nome é Asdrúbal
Neste caso, seria difícil conter o riso. Por quê? Porque esse modo extremamente formal de se apresentar não é
de modo algum compatível com a informalidade da situação.
Bem, mas o que dissemos até aqui envolve a obediência a um certo conjunto de passos que precisamos exer-
citar aqui:
1. Identificação da situação – sem a identificação da situação, não há como se preparar adequadamente para
2. Apreensão dos graus de formalidade e informalidade – as coisas não são sempre tão divididas assim. Muitas
vezes há situação um pouco formais, mais ou menos formais, quase informais, extremamente formais etc.
3. Conhecimento dos registros formais e informais – domínio das regras e princípios que regulam os dois
registros.
4. Estudo da língua culta – enquanto a linguagem informal se funda basicamente em nossas vivências
270
Identifique o caráter da situação e a linguagem que lhe é adequada:
a. Seu chefe pede para que você escreva um discurso de final de ano em nome de
b. Depois do serviço, seus colegas de trabalho o (a) convidam para jantar e para
c. Na escola, você escuta uma conversa sobre corrupção no Brasil e procura expor
a sua opinião. ( )
d. Você tem marcada uma entrevista para receber uma possível bolsa de estudo
no exterior. ( )
você vai encontrar uma série de antigos amigos que você não vê há muito tempo. ( )
1. linguagem formal,
2. linguagem informal.
a. “Srs. Senadores, a medida que vos venho propor não se inspira somente nas pro-
trio pela justiça, o ódio pela união entre os brasileiros. Essa providência benfaze-
poles de países arruinados, no cintilar da luz pelas arestas das baionetas vigilantes às
ruas das cidades, no sofrer e calar dos povos longamente resignados aos hábitos de
campo não existe, a defesa é uma teta, passa até um bicho preguiça, os laterais
não apoiam nem defendem, o goleiro é um mão de quiabo... Não sei o que dá pra
fazer, mas do jeito que tá não dá. Só tem uma coisa a fazer: mandar todo mundo
Seção 2
O segredo do sucesso: saber o que dizer, a
hora de dizer e o registro adequado para dizer:
Sucesso: essa é uma palavra que envolve sempre muitos elementos. Não há normalmente como ter re-
conhecimento das pessoas sem aplicação, dedicação, conhecimento de causa, talento, assim como sem uma
272
A adequação da linguagem, porém, também é um elemento central desse processo. Não há como alcançar êxi-
to em qualquer profissão, sem ao mesmo tempo saber como se deve falar em cada situação. É por isto que, para uma
pessoa que sabe lidar com todo tipo de gente, costumamos usar uma expressão como “ele sabe falar a nossa língua”.
Saber falar a língua de cada pessoa com a qual entramos em contato: este é o segredo para evitar incompreensões e
Uma tal capacidade, por outro lado, envolve antes de tudo a correta análise do registro de fala. Não há em
verdade nada proibido em linguagem. Mesmo o palavrão e a gíria possuem o momento correto de uso. Do mesmo
modo, existe um momento onde a utilização da norma culta pode produzir uma sensação de elitismo e causar, por
Há, então, uma importância enorme em saber quem é o seu receptor e qual o caráter específico da situação,
para que uma série de consequências indesejáveis não se apresente e para que você possa conquistar uma plena
Se um político ou um padre em um discurso para uma comunidade carente, composta antes de tudo por
pessoas muito pobres, escolhe um registro muito formal de fala, opta pela língua culta e por certas carac-
Se em situações formais optamos por uma linguagem completamente informal, se nos valemos de gírias e
de palavrões e desrespeitamos incessantemente as regras que regem a norma culta, o efeito que se produz
é o contrário daquele que obtemos em situações informais. Alguém poderia pensar que a linguagem infor-
mal, exatamente por seu caráter mais livre e solto, sempre produziria aproximação. No caso acima, contudo,
o efeito seria o inverso. Em situações formais, quando utilizamos uma linguagem informal, o receptor tende
Podemos chegar, assim, a uma primeira conclusão: a desconsideração da linguagem adequada para cada si-
Mas há também o caso oposto. É possível analisar as consequências positivas da adequação plena entre a
linguagem e a situação:
Quando em uma situação informal, tal como no encontro com amigos ou num jogo de futebol, usamos uma
linguagem informal, esse uso acaba produzindo naturalmente uma proximidade com as pessoas e uma sen-
sação de compreensão mútua. Isto se dá porque a linguagem informal é aqui a linguagem adequada.
co, a visita a pessoas que não conhecemos, utilizamos o registro formal, esse uso acaba fazendo com que o
falante conquiste respeito e seja olhado com consideração e distinção. A linguagem formal funciona neste
A utilização da linguagem adequada para cada situação tem um grande potencial na aproximação entre as
pessoas que nos são conhecidas e na construção de nossa imagem junto às pessoas com as quais não temos um
Será que você consegue analisar as consequências do que dissemos acima em alguns exemplos?
O que você acha que aconteceria se você estivesse acompanhando as seguintes situ-
ações? Quais seriam as reações das pessoas envolvidas? Como você se posicionaria diante
a. Um rapaz de seus vinte anos vai ao banco para pedir um empréstimo. Chegando
lá, ele vira para a gerente de sua conta e diz: “– Qual é, chefia, tudo bem? O ne-
gócio é o seguinte. Tô com uns problemas de cascalho e num sei como resolver.
Andei gastando meu dinheiro todo com as minas e num sei como pagar agora
umas continhas que chegaram. Nego tá no meu pescoço que nem catinga de
bode. Eu sei que eu tô sem crédito aqui no banco, mas num tem um jeito de tu
274
b. Em uma entrevista de emprego, uma moça recém formada procura mostrar
que fiz no ano passado. De qualquer modo, toda a minha formação foi pau-
tada por uma total dedicação aos estudos e ao aprendizado dos princípios
certeza que possa compensar a falta de experiência inicial com muita dedi-
cação e respeito mútuo. Sou uma pessoa muito responsável, nunca chego
c. Em uma mesa de bar, depois de uma boa pelada, uma pessoa do grupo,
sem a qual nós não conseguiríamos nos distinguir muito dos animais. A
traição, por sua vez, coloca em risco o casamento, além de ser um crime
do à luxúria e ao vício”.
Seção 3
Linguagem e gênero textual: como saber o
registro de linguagem a ser escolhido?
Não é apenas nas situações cotidianas que a adequação da linguagem é decisiva. Ao contrário, a escolha do
registro de linguagem, formal ou informal, também é decisiva no caso de certos gêneros textuais.
276
Há uma diferença entre a linguagem oral e a escrita, entre a linguagem jornalística informativa e os editoriais for-
madores de opinião, entre situações solenes ou cotidianas... Um discurso de agradecimento em um aniversário é muito
mais informal do que um discurso de final de ano para todos os funcionários de uma firma. Crônicas diárias, por exemplo,
têm um registro mais informal e abrem um espaço maior para a utilização de gírias, de modos de falar mais comuns e mes-
mo para a utilização de certos recursos que são característicos da linguagem informal. É o que podemos ver claramente
em um trecho de uma excelente crônica de Luiz Fernando Veríssimo no jornal O Globo, no dia 9 de setembro de 2012:
O prêmio de melhor slogan eleitoral até agora vai para um candidato a vereador em Nova Iguaçu: ‘Edilson
que o povo gosta’. Não sei qual é o sentimento real do povo em relação ao Edilson, mas isto não importa.
O que interessa é que o trocadilho é bem bolado e o Edilson tem senso de humor, o que talvez ajude a ser
vereador em Nova Iguaçu.
O Barack Obama bem que gostaria de ter uma frase sintética como a do Edilson para enfatizar sua principal
virtude eleitoral, a simpatia. O sorriso de boca apertada do Mitt Romney não se compara ao largo sorriso
do magrão (...).
Veja como Luiz Fernando Veríssimo busca uma proximidade com o leitor por meio da ironia, de um texto mais
direto e sem floreios, assim como de um tratamento mais informal da questão. Ter senso de humor, claramente, não
é a principal virtude para um candidato a político. Ao mesmo tempo, não há nada de formal em chamar o presidente
Na verdade, textos científicos precisam se valer de uma linguagem formal, e, quando eles se valem de uma
linguagem um pouco mais informal, isto normalmente precisa ser feito com muito cuidado para que tal uso não seja
confundido com falta de seriedade e rigor. É o que podemos acompanhar claramente na passagem abaixo de um
artigo sobre a questão agrária no Brasil escrito por João Pedro Stedile – este texto é, para nós, particularmente interes-
sante, porque ele não é um texto direto de militância, por mais que Stedile também tenha um trabalho de militância,
O conceito ‘questão agrária’ pode ser trabalhado e interpretado de diversas formas, de acordo com a ênfase
que se quer dar a diferentes aspectos do estudo da realidade agrária. Na literatura política, o conceito ‘ques-
tão agrária’ sempre esteve mais afeto ao estudo dos problemas que a concentração da propriedade da terra
trazia ao desenvolvimento das forças produtivas de uma determinada sociedade e sua influência no poder
político. Na Sociologia, o conceito ‘questão agrária’ é utilizado para explicar as formas como se desenvolvem
as relações sociais, na organização da produção agrícola. Na Geografia, é comum a utilização da expressão
‘questão agrária’ para explicar a forma como as sociedades, como as pessoas vão se apropriando da utili-
zação do principal bem da natureza, que é a terra, e como vai ocorrendo a ocupação humana no território.
Na História, o termo ‘questão agrária’ é usado para ajudar a explicar a evolução da luta política e a luta de
classes para o domínio e o controle dos territórios e da posse da terra. Aqui, vamos trabalhar o conceito de
‘questão agrária’ como o conjunto de interpretações e análises da realidade agrária, que procura explicar
como se organiza a posse, a propriedade, o uso e a utilização das terras na sociedade brasileira.
(http://portal.sipeb.com.br/santana/files/2010/08/A-QUEST%25C3%2583O-AGR%25C3%2581RIA-NO-BRASIL.pdf )
Que tal reconhecer agora os gêneros textuais com vistas ao seu caráter formal ou informal?
278
Procure enumerar as características da linguagem formal e informal de acordo com os
nistro Marco Aurélio Mendes de Faria Mello; senhoras e senhores ministros e minis-
a este ato de posse. ‘Mudança’: esta é a palavra-chave, esta foi a grande mensagem
medo e a sociedade brasileira decidiu que estava na hora de trilhar novos caminhos.
a mudança necessária”.
2013: “Com o título estadual quase no papo, a pergunta que mais tenho ouvido
nato Brasileiro. Creio que sim. Não falo somente pelos resultados do Carioquinha,
que podem ser enganosos, mas pela forma envolvente de jogar que a equipe de
280
— Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigoro-
samente as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto
aqui dentro, não faz barulho, para ele pensar que não tem ninguém. Deixa ele
bater até cansar — amanhã eu pago.
Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banheiro para tomar um
banho, mas a mulher já se trancara lá dentro. Enquanto esperava, resolveu fa-
zer um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de serviço para apanhar o pão.
Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e para
outro antes de arriscar-se a dar dois passos até o embrulhinho deixado pelo
padeiro sobre o mármore do parapeito. Ainda era muito cedo, não poderia
aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão, a porta atrás de si
fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento.
A língua culta não é apenas importante para alcançarmos pleno sucesso em situações formais e para podermos
nos movimentar plenamente no interior de certas experiências de fala ou de escrita. A língua culta é pura e simplesmen-
te decisiva para a constituição do modo de ser e da unidade propriamente dita de um povo. E isto porque a língua cor-
rente, a língua falada no dia a dia não é senão uma variante por demais fluida e multifacetada da língua culta. É o que ve-
mos expresso, por exemplo, em uma passagem de um discurso de Olavo Bilac em 1916 intitulado “A língua portuguesa”:
o povo, depositário, conservador e reformador da língua nacional, é o verdadeiro exército da sua defesa:
mas a organização das forças protetoras depende de nós: artífices da palavra, devemos ser os primeiros
defensores, a guarnição das fronteiras da nossa literatura, que é toda a nossa civilização.
O povo, por mais que possa reformar e mesmo renovar a língua, é aquele que se nutre imediatamente daquilo
que precisa defender. Na verdade, a língua é aquilo que o caracteriza, que o determina, que promove a sua relação
com o mundo, com as pessoas e consigo mesmo. Ela é toda a civilização que temos, porque é ela que marca o conte-
údo de nossa experiência civilizatória, o conjunto de nossas ações humanas, demasiadamente humanas.
Em 1907, foi eleito "príncipe dos poetas brasileiros". Bilac, autor de alguns dos mais populares poemas
brasileiros, é considerado o mais importante de nossos poetas parnasianos.
282
Ora, mas o que torna possível a manutenção e mesmo a elevação da língua culta? Quais as características que
precisam ser obedecidas para que a língua culta possa experimentar uma tal manutenção e elevação?
O que podemos dizer é que a língua culta obedece a ao menos três campos fundamentais: os campos da fo-
FONOLOGIA é o estudo dos sons que compõem as palavras, sem considerar esses sons isoladamente. Para a
fonologia, o que importa não é simplesmente identificar os sons, mas sim acompanhar em que medida cer-
tos sons alteram significados. Por exemplo, as palavras bala e vala. Nessas palavras, a alteração de um som
produziu uma alteração no significado da palavra. Ao mesmo tempo, a fonologia detém-se sobre as regras
que definem certos processos cotidianos. Por exemplo, o fato de o “r” normalmente não ser pronunciado
na linguagem corrente, quando ele se encontra no final da palavra. O que se costuma dizer é: “gostaria de
A fonologia é muito importante porque a alteração dos sons tem quase sempre consequências sobre o
significado.
MORFOLOGIA: a morfologia trata da composição das palavras por meio de unidades significativas. Em uma
palavra, temos invariavelmente a sua raiz e alguns elementos que se ligam à raiz e que determinam gênero,
número e pessoa. Por exemplo, na frase corrente: “um chope e dois pastel”, a manutenção da palavra no
singular, apesar de sua ligação com o numeral dois, indica uma utilização errada do elemento distintivo
do plural. O correto seria “um chope e dois pasteis” porque “eis” é a terminação própria para a indicação do
plural. O mesmo vale para frases do tipo “a gente somos inútil” (frase da música do grupo de rock da década
de 1980, Ultraje a rigor) e “nós vai tomar a Serrinha” (letra de um funk do Mc G3). Essas frases, que podem
ser extremamente adequadas em relação ao seu contexto de fala, não respeitam a morfologia da língua,
uma vez que não utilizam os elementos morfológicos próprios para a indicação de plural e da 1a pessoa do
plural. O correto morfologicamente seria: “a gente é inútil” e “nós vamos tomar a Serrinha”.
Por fim, temos ainda a SINTAXE que estuda as relações das palavras nas frases e das frases no discurso. Ao
mesmo tempo, a sintaxe dedica-se ao estudo das relações lógicas entre as frases, relações essas que podem
sintáticas entre outras. A sintaxe é a parte mais ampla da gramática, exatamente porque trata de um cam-
po bastante vasto: classe de palavras, funções sintáticas assumidas pelas palavras na frase, construção de
períodos a partir da ideia de coordenação e subordinação, concordância nominal e regência verbal, assim
a. Trecho da música “Tiro ao Álvaro” de Adoniran Barbosa: “De tanto levar frechada
do teu olhar, meu corpo até parece sabe o que? ‘Táubua’, de tiro ao Álvaro, não
re em volta. Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o
d. “A gente estávamos jogando pra frente, pro ataque, sem pensar na defesa. Os
gringo, então, vierum para cima e a coisa ficou preta. Eu olhei pro dentuço e dis-
se: ‘Dente, temo de segurá as ponta, senão num vai dar! Tu puxa o cachaça pra
284
Um dos elementos mais importantes para a realização da norma culta é justamente
a pontuação, o uso correto de vírgula, ponto e vírgula e ponto final. Depois de ler atenta-
Uso da Vírgula:
direta da frase. Por exemplo: Carolina, uma jovem do interior do Pará, demo-
como a ação do verbo se realiza, quando essa indicação acontecer no início da fra-
se. Por exemplo: No frio do inverno, Julho passeava pelas ruas desertas da cidade.
coordenadas. Por exemplo: Ele viajou por algum tempo, mas seu casamento
para tanto, nos valemos do ponto e vírgula. Vejamos: “O Brasil tem muitos
pessoas preocupadas com o futuro das novas gerações, é uma situação catas-
286
Amigos a derrota é um grande momento de verdade Só diante da vergonha é
que entendemos nossa miséria Num primeiro momento queremos encontrar
uma explicação para o fracasso mas fracasso não se improvisa — é uma obra
calculada caprichada durante meses anos até Não adianta berrar no bote-
quim que o Parreira é uma besta ou que o Ronaldo é um gordo perna-de-pau 6
Não Nosso fracasso começou antes porque esta seleção não foi a pátria de
chuteiras foram as chuteiras sem pátria
Para nossos jogadores ricos e famosos o Brasil é a vaga lembrança da infân-
cia pobre humilhada O país virou um passado para os plásticos negões fa-
lando alemão francês inglês todos de brinco e com louras vertiginosas Não
são maus meninos ingratos não mas neles está ausente a fome nacional a
ânsia dos vira-latas querendo a salvação O povo todo estava de chuteiras para
esquecer os mensalões e os crimes mas nossos craques não perderam quase
nada com a derrota tiveram apenas um mau momento entre milhões de dóla-
res e chuteiras douradas pela Nike
avaliar com clareza em que contextos cada uma delas é a mais adequada, para que se possa
acompanhar aqui alguns elementos importantes para a norma culta, elementos tais como os
Resumo
Nós vimos como a diferença entre linguagem formal e informal faz parte de nosso dia a dia.
Em seguida, tivemos a oportunidade de perceber em que medida a boa avaliação do registro no qual nos
Por fim, consideramos algumas regras básicas de pontuação, com vistas à construção do discurso em sin-
Veja Ainda
Dicas de leitura e de cinema: como o que estava em questão aqui era a distinção entre linguagem formal e
informal, nossas dicas vão na direção de filmes e livros que dão vida a personagens que se movimentam nesses dois
registros!
1. Rubem Fonseca. O cobrador. São Paulo: Companhia das letras, 1998. (Excelente exemplo de construção de
2. Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Editora Abril, 2005. (Exemplo de domínio
3. Pixote. A lei do mais fraco. Filme dirigido por Hector Babenco com Fernando Ramos da Silva e Marília Pera.
4. Orgulho e preconceito. Um filme dirigido por Joe Wright com Keira Knightley e Matthew MacFadyen.
Referências
Livros
BILAC, Olavo. “A defesa nacional”. IN., BUENO, Alexei. Olavo Bilac: obra reunida. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,
ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Brasiliense, 2005.
288
Imagens
• http://www.flickr.com/photos/sergiohsg/6164760823/sizes/m/in/photostream/
• https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/a/a1/McSorley%27s_Bar_1912_John_Sloan.
jpg/586px-McSorley%27s_Bar_1912_John_Sloan.jpg)
• http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Mitt_Romney_by_Gage_Skidmore_6.jpg
• http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:President_Barack_Obama.jpg
• http://farm9.staticflickr.com/8233/8444616400_9d54fc7168_z.jpg)
• http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Lula_-_foto_oficial05012007_edit.jpg
sizes/m/in/photostream/)
• http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Olavobil.jpg
dos donos da firma. Por isto, a linguagem adequada precisa ser também formal;
c. 2 – Por mais que a discussão seja na escola, o contexto é antes informal, porque
você está expondo a sua opinião para os amigos. Isto requer linguagem informal;
d. 1 – Uma entrevista para tentar conseguir uma bolsa é naturalmente uma situação
uma linguagem informal. Se você se portar de maneira formal, todos os seus an-
tigos amigos vão achar que você ficou esnobe.
Atividade 2
pública;
Atividade 3
quer forma, porém, ele terá certamente mais dificuldades em conseguir se fazer
290
b. Ao empregar a linguagem formal, mesmo sem uma experiência na área, a moça
reção no uso da língua criam uma atmosfera de boa vontade que tem sempre
c. Sem dúvida alguma, todos na mesa olharão uns para os outros espantados e,
depois de alguma hesitação, vão tender a uma boa gargalhada. Na verdade, nin-
guém espera que, em uma mesa de bar, alguém faça um discurso sobre o lugar
Atividade 4
de uma primeira impressão sobre o que estava por vir. Com isso, Lula obedece
de termos não vulgares, oriundos da língua culta e conta ainda com o caráter
emotivo da situação;
está quase no papo” criam uma proximidade com o leitor, que se sente imedia-
temos o narrador, a linguagem fica formal, com um tom mais distante. Quando
o homem fala com sua mulher, por outro lado, a linguagem se torna coloquial,
a. “De tanto levar flechada do teu olhar, meu corpo até parece sabe o que? ‘Tábua’,
a. “O gerais corre em volta. Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer
a. “Nós estávamos jogando pra frente, pro ataque, sem pensar na defesa. Os grin-
gos, então, vieram para cima e a coisa ficou preta. Eu olhei pro dentuço e disse:
‘Dente, nós temos de segurar as pontas, senão não vai dar! Tu puxas o cachaça
Atividade 6
do tempo) eu já sei: é carta do Nelson Rodrigues. (conclusão de ideia) Não deu outra. (conclu-
são de ideia) Nelson me pedia para publicar um texto sobre a Copa, (separação de orações
independentes) já que está sem contato nas redações: “Eu sou do tempo do Pompeu de Souza
do Prudente de Morais Neto... Não conheço esses meninos da redação...”. Muito bem, (separa-
ção de uma expressão de modo) aqui vai seu comentário sobre o sábado da desgraça:
gonha é que entendemos nossa miséria. Num primeiro momento, (separação da indicação
de tempo) queremos encontrar uma explicação para o fracasso, (separação de orações in-
dependentes) mas fracasso não se improvisa — é uma obra calculada, caprichada durante
meses, anos até. (conclusão de ideia) Não adianta berrar no botequim que o Parreira é uma
besta ou que o Ronaldo é um gordo perna-de-pau. Não. (Conclusão de ideia) Nosso fracasso
começou antes, (separação de orações independentes) porque esta seleção não foi a pátria
292
Para nossos jogadores ricos e famosos, (separação de locução explicativa) o Brasil é a
vaga lembrança da infância pobre humilhada. (conclusão de ideia) O país virou um passado
para os plásticos negões falando alemão, francês, inglês, (enumeração) todos de brinco e com
louras vertiginosas. Não são maus meninos, ingratos não, (enumeração e separação de ora-
ções independentes) mas neles está ausente a fome nacional, a ânsia dos vira-latas querendo
a salvação. (conclusão de ideias) O povo todo estava de chuteiras para esquecer os mensalões
e os crimes, (separação de orações independentes) mas nossos craques não perderam quase
nada com a derrota, (separação de orações independentes) tiveram apenas um mau momen-
Aula de português
A linguagem
na ponta da língua
tão fácil de falar
e de entender.
A linguagem
na superfície estrelada de letras,
sabe lá o que quer dizer?
Professor Carlos Gois, ele é quem sabe,
e vai desmatando
o amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, esquipáticas,
atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me.
Já esqueci a língua em que comia,
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a priminha.
O português são dois; o outro, mistério.
(Carlos Drummond de Andrade. Esquecer para lembrar. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979.)
Língua Portuguesa e Literatura 295
Explorando a função emotiva da linguagem, o poeta expressa o contraste entre marcas de variação de usos
da linguagem em:
e. diferentes épocas.
Resposta: Letra A.
Comentários: Carlos Drummond de Andrade fala justamente sobre a diferença entre a língua formal, inaces-
sível, misteriosa, inatingível, e a língua informal, a língua do dia-a-dia, com a qual expressamos nossos desejos e nos
relacionamos com as pessoas que nos são queridas.
296 Anexo
Atividade extra
Módulo 1 • Língua Portuguesa e Literatura • Expansão
A norma culta e suas ramificações
Como sabemos, em situações informais, usamos uma linguagem informal e, em situações formais, usamos
uma linguagem formal. Isso nos leva a perceber a importância de usar a linguagem adequada a cada situação.
Por isso, a variedade padrão da língua é ensinada na escola, utilizada nos livros didáticos e nos artigos cientí-
Questão 1
A letra X é utilizada em português para representar sons diferentes, como por exemplo, as seguintes palavras
a. exército
b. explicação
c. fixo
d. vexame
Língua Portuguesa e Literatura 297
Questão 2
b. Para atender a necessidade básica dos moradores, todos devem cuidar da saúde.
d. O planejamento doméstico é essencial para não levar a família a uma situação intolerável.
Questão 3
No trecho “Como boa parte do léxico político disponível, o termo ‘oligarquia’ tem origem na linguagem dos
antigos gregos.”, as palavras destacadas são acentuadas graficamente porque são proparoxítonas. O grupo em que as
a. raízes, armário
b. tóxico, amável
c. médico, matemática
d. consórcio, sustentável
Questão 4
Sabe-se que a ortografia remete-nos a um dos muitos entraves de alguns usuários da língua, tornando-se por
vezes estigmatizada e, sobretudo, fazendo com que a Língua Portuguesa se torne objeto de repulsa. Assim sendo,
tendo em vista que o aprimoramento de determinadas habilidades relacionadas à linguagem escrita se dá de forma
298
Gabarito
Questão 1
A B C D
Questão 2
A B C D
Questão 3
A B C D
Questão 4
Em se tratando desse perfil gradativo, no que se refere às habilidades, vale mencionar que o aperfeiçoamento é
fator preponderante em tal quesito, pois à medida que nos despertamos para a leitura e para a assiduidade da
escrita, mais aprimoramos nossas competências. Outro aspecto que também se faz relevante é o enriquecimen-
to lexical que se dá mediante a essa postura, tornando nosso vocabulário ainda mais refinado. Assim sendo, não
há razão para concebermos a língua que falamos como um estigma, pois aos poucos vamos aprendendo como