Livro 2 Completo Curso Icls - Margem 1
Livro 2 Completo Curso Icls - Margem 1
Livro 2 Completo Curso Icls - Margem 1
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Sumário
1. O uso das palavras como indicação concreta de fenômenos observáveis. .....................1
2. O uso dialético das palavras. ..........................................................................................3
3. A depuração dialética da Lua e da experiência imediata dos fenômenos em geral. .......4
4. A educação formal obrigatória e o recrutamento profissional nas escolas. ....................8
5. A depuração dialética do Sol. ......................................................................................12
6. Exposição do método de ensino do curso. ...................................................................14
7. Vocação intelectual e educação formal obrigatória. ....................................................18
8. Mais considerações sobre a importância do trabalho de depuração dialética. .............21
9. O simbolismo das três cores primárias.........................................................................23
10. Teoria geral do simbolismo: o universo como discurso da Mente Divina. ..................29
11. Alfabeto astrológico. ....................................................................................................35
12. A relação entre as estações do ano e os signos cardinais, fixos e mutáveis. ................37
13. A relação entre os signos cardinais, fixos e mutáveis e as três cores primárias. ..........38
14. O problema da diferença entre as estações no Hemisfério Norte e no Hemisfério Sul.
.....................................................................................................................................40
16. A importância dos símbolos e de sua percepção. .........................................................44
18. A importância da prática de uma religião tradicional para manter mente sã................47
Índice ...............................................................................................................................277
1. Os limites morais e práticos da Astrologia Horária. ..................................................278
2. A idéia de situação consolidada como requisito prévio à leitura de um mapa horário.
...................................................................................................................................279
3. O cenário ideal para se responder uma pergunta horária. ..........................................281
4. O que fazer quando os quesitos de uma pergunta são representados pela mesma casa.
...................................................................................................................................283
5. O papel que o astrólogo desempenha na identificação dos problemas efetivos do
cliente e na correta formulação das perguntas a serem respondidas. .........................285
6. Primeira pergunta horária analisada: “o trabalho dará certo?”...................................287
7. Segunda pergunta horária analisada: “ficarei com a minha amante de alguma forma?”
...................................................................................................................................296
8. Ainda sobre os limites morais e práticos de uma pergunta horária. ...........................299
9. Terceira pergunta horária analisada: “minha licença para armas de fogo será expedida
sem complicações?” ...................................................................................................301
10. Quarta pergunta horária analisada: “a Fulaninha gosta de mim?” .............................305
11. Mais considerações sobre a idéia de situação consolidada e a correta formulação das
perguntas horárias. .....................................................................................................309
12. A diferença entre as técnicas de leitura de mapas natais e de mapas horários. ..........311
13. A Astrologia pode ser usada como instrumento para guiar a vida espiritual? ...........312
Índice ...............................................................................................................................329
1. Apresentação do mapa natal a ser analisado – cálculo de temperamento e mentalidade
do Lobão. ...................................................................................................................331
2. O Ascendente, o Descendente, o Fundo do Céu, o Meio Céu e as casas astrológicas.
...................................................................................................................................331
3. A maneira correta de se indicar a posição dos planetas no mapa. ..............................334
4. Primeiro determinante do temperamento: signo Ascendente, regente do signo
Ascendente e planetas em aspecto com o signo Ascendente......................................335
4.1. O signo Ascendente. ..................................................................................................335
4.2. O planeta regente do signo Ascendente e sua posição oriental ou ocidental..............337
4.3. Planetas que formam aspecto com o regente do Ascendente. ....................................338
5. Segundo determinante do temperamento: fase da Lua, seu dispositor e planetas que
formam aspecto com ela. ...........................................................................................343
5.1. Como determinar a fase em que a Lua está. ...............................................................343
5.2. O dispositor da Lua - e dos planetas em geral. ...........................................................343
5.3. Planetas que formam aspecto com a Lua. ..................................................................345
6. Terceiro determinante do temperamento: a estação do Sol. .......................................346
7. Quarto determinante do temperamento: o planeta mais forte do mapa. .....................346
8. Outros determinantes do temperamento: estrelas fixas; natureza e condição do regente
do Ascendente e do seu dispositor; mentalidade; planetas que se destacam por razões
excepcionais. ..............................................................................................................351
8.1. As estrelas fixas. ........................................................................................................352
8.2. Natureza e condição do regente do Ascendente e do seu dispositor. .........................352
8.3. Mentalidade e seu cálculo. .........................................................................................352
8.4. Planetas que se destacam por razões excepcionais. ...................................................353
9. Finalizando o cálculo de temperamento. ....................................................................355
10. Descrição das mentalidades venusina, jupterina-marcial e jupterina-venusina..........357
11. Considerações gerais acerca do temperamento e da mentalidade. .............................358
12. Mais considerações sobre os determinantes da mentalidade. .....................................364
13. Mais considerações gerais acerca do temperamento e da mentalidade. .....................366
14. Considerações sobre Saturno e outros planetas na Casa XII, e sobre a mútua recepção.
...................................................................................................................................368
15. O que fazer quando um planeta está a menos de 5º de uma casa. ..............................370
16. Considerações sobre a Casa VIII. ..............................................................................372
Índice ...............................................................................................................................376
1. Primeiro exemplo de cálculo de temperamento e mentalidade: São Thomas More...377
2. Segundo exemplo de cálculo de temperamento e mentalidade: Santa Teresa D’Ávila.5
...................................................................................................................................389
3. Sobre as diferenças entre mentalidades regidas por planetas benéficos e maléficos..398
4. O papel do Sol e da Lua na determinação da mentalidade. ........................................401
5. Terceiro exemplo de cálculo de temperamento e mentalidade: Hitler.8 .....................401
6. A base fundamental da personalidade humana: o temperamento e a mentalidade. ....409
7. Temperamento e espírito vital....................................................................................412
8. Mentalidade e disposições naturais da alma como o intelecto e a sindérese. .............413
9. Considerações finais sobre a Lua e o Sol como determinantes da mentalidade. ........418
10. O problema da aplicação simultânea de diferentes técnicas astrológicas...................419
Índice ...............................................................................................................................424
1. Introdução ao tema da aula: teoria do simbolismo. .................................................426
2. Os objetos categóricos. .............................................................................................426
3. Os objetos não categóricos. .......................................................................................427
4. Os Céus (experiências não categóricas ou espirituais) e a Terra (experiências
categóricas) de que fala a Bíblia. ...............................................................................429
5. O erro do dualismo cartesiano: considerar como realidade apenas a Terra (res
extensa e res cogitans) e negar a realidade dos Céus (espírito). ............................432
6. Os objetos não categóricos (ou Céus) como símbolos e medida valorativa dos objetos
categóricos (ou coisas terrestres). ............................................................................433
7. A diferença entre o símbolo e o signo (ou sinal). ...................................................438
8. O simbolismo do dia e da noite, do Sol e da Lua......................................................441
9. Importância e natureza das práticas religiosas. ........................................................444
10. O simbolismo de Saturno. ........................................................................................445
11. O cristianismo como mística da encarnação. ...........................................................448
12. O simbolismo de Marte e Vênus. ..............................................................................450
13. O simbolismo de Mercúrio e Júpiter. .......................................................................450
14. O simbolismo de um mapa natal...............................................................................455
15. Esquema do simbolismo dos planetas e dos signos por eles regidos. ........................457
15.1. Sol e Lua, regentes de Leão e Câncer respectivamente. 5 ..................................459
15.2. Marte, regente de Áries e Escorpião, e Vênus, regente de Touro e Libra. .......459
15.3. Mercúrio, regente de Gêmeos e Virgem, e Júpiter, regente de Sagitário e
Peixes. .......................................................................................................................460
15.4. Saturno, regente de Capricórnio e Aquário. .......................................................462
16. A metade solar e lunar do zodíaco. ............................................................................462
17. O modo de presença de Saturno nos diversos signos. .............................................463
18. Considerações finais acerca da natureza do simbolismo dos planetas e signos......467
1
A primeira coisa que devemos aprender nesse curso é que existem duas
maneiras de usarmos as palavras (na verdade ainda existe uma terceira
forma, que é irrelevante para as finalidades desse curso). A primeira
delas é usarmos as palavras como uma indicação concreta dos
fenômenos que testemunhamos. Por exemplo, quando dizemos que “a
sala tem uma parede branca”, não estamos falando da filosofia da
brancura, sobre o que é o fenômeno da brancura. Quando dizemos
“parede branca”, indicamos apenas um fenômeno concreto. As palavras
não nos ajudam a compreender o que é isso que chamamos de “branco”,
apenas indicam a existência do fenômeno.
3
Então, o que sabemos de fato sobre a Lua? Sabemos que ela é um corpo
celeste o qual é possível de se ver desde a Terra; sabemos que ela possui
várias fases; e percebemos ainda que, quando a sombra dela se muda,
isso significa que ela ocupa diferentes posições. Mas agora esbarramos
em outro problema: como sabemos que a Lua é um “corpo” sem fazer
referência a uma teoria astronômica? Alguém poderia dizer: “A sombra
5
da Terra pode ser projetada nela. Ela reflete luz, então tem que ter um
corpo físico.” Ao que deveríamos responder: “Como sabemos que é a
sombra da Terra que se projeta nela?”
não foi de nos educar. Não saímos sabendo mais do que um analfabeto
que não freqüentou a escola. Se estudamos direito, há três coisas que
sabemos melhor do que ele: ler, escrever e fazer contas. O que
aprendemos de química, física, biologia, astronomia, política e história,
na verdade, não aprendemos nada. Recebemos amostras para ver se
alguma coisa nos interessava. Muitas pessoas terminam o colegial com a
impressão de que entenderam alguma coisa. Pura impressão, pois elas
pensam que estavam na escola para compreender melhor as coisas. Isso
é mentira, pura ilusão subjetiva. Na escola as pessoas podem aprender
muitas coisas fora da aula. Por exemplo, talvez elas também tenham
aprendido a conviver com pessoas, obter informações e se comunicar.
Porém, isso é assim apenas porque a escola está no mundo. Se todos
estivessem no campo trabalhando, teriam aprendido essa parte do
mesmo jeito.
isso há o ciclo das estações. Falarei do Sol porque o que estou a fim de
girar é ele, e se o sujeito ficar escandalizado comigo por isso, direi para
não me amolar. Se observarmos o Sol quando ele passa no meridiano
todo dia, de um dia para o outro há uma variação na altura dele: no
inverno ele está bem baixo e no verão ele está bem alto. Se observarmos
quando o Sol passa no meridiano e ele está no ponto mais baixo, ele só
voltará a passar no meridiano, nesse ponto mais baixo, daqui a quatro
anos. Por quê? Pois a órbita da Terra não se dá em um numero inteiro de
dias.
Quando comecei a fazer esse curso, tinha um projeto ideal para ele: um
ano de depuração dialética, um ano de simbolismo (ou teoria simbólica)
e um ano de técnica astrológica. Acontecia que, depois de seis meses de
depuração dialética, restavam três alunos. Se as aulas fossem na minha
casa, tudo bem; eu não teria que viajar e não gastaria com ônibus. Mas
não dá para viajar para outro estado para dar aula para três alunos. Não é
por maldade, é que o sujeito que foi para a escola não está acostumado
com o que é o trabalho intelectual - ele não tem idéia do que é isso.
Por que é quebrar pedra? Porque a mente humana não gosta de fazer a
depuração dialética. Essa não é uma atividade espontânea da mente
humana, é uma habilidade que deve ser treinada. Porque a tendência do
sujeito é ficar preso no conceito que ele aprendeu na escola. Essa é, hoje,
uma autoridade para as pessoas. Ela é a igreja que existia há quinhentos
anos. O sujeito pode dizer: “Eu tinha senso crítico com seis anos de
idade, ouvia os professores etc.” Ele não tinha senso crítico, era pura
lavagem cerebral. Ou ele acreditava que os professores eram uma
autoridade, ou não estava nem aí para eles. Se alguém alguma vez
prestou um pouco de atenção naquilo que os professores diziam, não foi
por senso crítico, foi porque pensavam: “Vamos confiar, porque esse
cara pode saber algo que eu não sei. Ele falou algo e parece mesmo que
ele sabe disso.”
Essa é a pedra que teremos de quebrar nesse curso, e a mente não dos
alunos não quer fazê-la. Mas, dito isso, alguém pode perguntar: “Fiquei
onze anos na escola obedecendo alguém só para escolher uma
profissão?” Sim! Porém, pensem pelo lado positivo: a culpa não é nossa.
Portanto, devemos aceitar esse fato agora para podermos chorar em casa
depois.
Em minha idade escolar, todos os anos meus pais tinham que ir à escola
para dizer o seguinte: “Você não vai reprovar o meu filho por faltas.”
Isso porque eu e meus irmãos sempre estourávamos o número de faltas.
Nos primeiros oito meses do ano não havia um dia em que pedíamos à
nossa mãe para faltar à aula que ela dizia “não”. No fim do ano, nossos
pais diziam: “Não, agora é bom começar a freqüentar um pouco mais
para termos um argumento pelo menos.” Tínhamos faltado metade do
ano. Quanto às notas, se havia alguma matéria que gostássemos, ela saía
alta naturalmente. Não éramos forçados a estudar para provas. O
professor perguntava: “Você não tem ambição?” E eu respondia: “Não,
não tenho.”
A escola não é nada mais do que isso. Podem achar que isso desmoraliza
todas as discussões sobre educação hoje em dia. De fato, desmoraliza,
mas a verdade é essa, não nos iludamos. Quem é bom e honesto, hoje,
no meio educacional, diz: “Como podemos fazer os alunos aprenderem a
ler, escrever e
19
fazer contas; e, junto com isso, dar uma boa amostra das profissões
necessárias?” E atualmente os alunos não aprendem nem a ler e
escrever. Ficam tentando fingir que a escola tem um propósito superior e
não cumprem nem o propósito real da coisa. Se dermos um parágrafo de
um livro para um aluno do ensino médio ler, ele dirá: “Você está
achando que eu sou doutor?”
Aluno: Logo depois que comecei a fazer esses cursos, não agüentava
mais a faculdade. A repulsa foi muito grande. Fazia isso para me
sustentar financeiramente, mas joguei tudo para o alto. Hoje sei quem
sou quando olho no espelho. Em contrapartida, financeiramente vejo que
isso não foi muito bom.
Gugu: Isso é assim mesmo. Dar aulas e cursos de filosofia, ética etc.
nunca deu lucro, sempre foi prejudicial à vida financeira. Hoje está até
mais fácil do que há dez anos atrás, pois conseguimos repercutir em
mais pessoas; mas antes era mais limitado. Por isso, nessa parte não vou
poder ajudar muito, porque é uma escolha que o sujeito deve fazer. O
que deve ser questionado é o seguinte: “Eu quero saber isso aí? Quero.
Então dane-se.” Se os pais reclamarem, diga: “Eu dou duas escolhas
para vocês: é isso ou heroína. Escolha!”
Falemos agora algo sobre simbolismo. Quais são as três cores primárias?
Azul, vermelho e amarelo. Todos sabem a diferença entre essas três
cores, e por isso não precisamos explicá-las. Mas, por incrível que
pareça, sempre algum sujeito levanta esta objeção: “Como você sabe que
o vermelho é vermelho e não apenas uma coisa do seu cérebro?” Porém,
ninguém levantará essa objeção nesse curso, e portanto não precisarei
enfrentá-la pela enésima vez na vida. Vermelho, amarelo e azul: todos
sabem o significado concreto dessas palavras. Mas, agora, não faremos a
depuração dialética dos conceitos de vermelho, amarelo e azul;
falaremos do simbolismo dessas cores. E o que fazemos para falar do
simbolismo das cores?
Tomada essa precaução, dos fatos que listamos sobre o vermelho, o azul
é o que dele está mais distante. E o que o azul tem que o vermelho e o
amarelo não têm? Calma, serenidade, profundidade, confiança,
segurança. Devemos prestar muita atenção nisso. Quando dissemos
“calma” nos referindo ao azul, temos que nos lembrar de que essa cor
realmente evoca esse sentimento, para que não tenhamos de refazer o
trabalho depois. O que mais o azul evoca? O céu, a água, o frio, a
limpeza; há muitos produtos de limpeza que são azuis. Podemos dizer
ainda que ele evoca pouca luminosidade, ambientes pouco luminosos.
Na verdade, dessas três cores, o azul parece ser o menos luminoso.
Portanto, ele traz à mente a escuridão, as trevas, ausência de luz, e isso
não necessariamente num sentido negativo. Se tivéssemos esses três
lápis de cores para representarmos a noite, escolheríamos o azul.
Mas, agora, na escala do azul, quem está mais perto dele? Isso não é tão
evidente como quando começamos na escala do vermelho. A resposta
para isso é: depende. Para alguns aspectos do azul, pode ser o amarelo
que está mais próximo dele; para outros, pode ser o vermelho. A relação
não é simétrica.
Não dá para dizer simplesmente que a escala do azul é o contrário de
uma ou outra coisa. Às vezes é, às vezes não. Essa é uma nota
importante. Por quê? Pois estamos lidando com um ternário real. Não
estamos lidando com o número um, o número dois e, no meio destes,
com o um e meio. Por exemplo, se falarmos sobre pai, mãe e filho, isso
não é um ternário real. O filho é um termo entre o pai e a mãe. Não
podemos dizer que esse terceiro termo é um termo pleno como os outros
dois. No caso das cores, estamos tratando de três termos que são
realmente independentes.
26
Se fizéssemos uma escala, pegássemos o número um, o número dois e
número três, poderíamos nos perguntar qual a qualidade do um. Porém,
não teríamos uma resposta para isso, e então buscaríamos a diferença em
termos quantitativos, com base em qual número está mais próximo de
qual. Que número está mais perto do um? O dois. E que número está
mais longe? O três. Assim procedendo, a escala será sempre simétrica. E
do número três, quem está mais perto? O número dois e depois o número
um. Esse é um tipo de relação reversível. Por quê? Pois esse termo está
realmente entre dois.
E o amarelo? O que ele tem que o azul e o vermelho não têm? Brilho,
como o Sol e o ouro, riqueza, alegria, alarme. Ele é o mais irradiante, o
mais luminoso e o mais brilhante dessas três cores. Então, se pintarmos
uma sala inteirinha de azul - ainda que seja um azul bem clarinho, que é
quase igual ao branco
27
-, outra sala inteirinha de vermelho e mais outra sala inteirinha de
amarelo, qual delas será a sala mais clara? De longe a sala amarela. O
amarelo se expande, se irradia.
Mas às vezes o amarelo pode ser algo que indica desespero, pode ser
algo que está fugindo de si pela sua excessiva fugacidade. Ele também
pode ser invasivo, irradiante e perturbador, no sentido de que precisamos
sair de uma determinada posição para outra. Nas placas de rua, por
exemplo, o amarelo é usado como sinal de cautela. Também lembra a
morte, não no sentido do ato de matar, mas de alguma coisa morta. Já o
vermelho lembra a morte no sentido de matar algo violentamente.
Quando pensamos no amarelo, pensamos em algo muito brilhante, mas
ele também pode ser algo opaco, doentio. Os significados dessa cor não
são unívocos. Só que todas as qualidades dela implicam certa espécie de
deslocamento causada por um elemento perturbador, como, por
exemplo, a alegria irradiando. Há um movimento nisso.
Isso indica que, de algum modo, essas coisas estão enraizadas nas
próprias cores como fenômenos perceptivos. A tomada de consciência
dessas qualidades não deriva apenas da cor. Tanto é assim que uma
pessoa toma consciência primeiro da força, outra toma consciência
primeiro da tensão, outro ainda toma consciência primeiro da raiva, do
amor etc. Aquilo que vem à consciência imediatamente não deriva
apenas da cor, deriva de conteúdos prévios da nossa consciência. Porém,
quando uma pessoa que primeiramente não enxergou determinada
qualidade na cor a olha procurando essa qualidade, ou ela verifica que
essa qualidade está realmente lá, ou ela não verifica. Esse é o ponto.
Quando disseram que o vermelho lembrava força, todos o olhamos e
concordamos que essa qualidade realmente estava nele.
E por que alguns não pensaram em força primeiro? Porque uns sentiram
intensidade, outros desejo, outros paixão, outros raiva etc. Destacou-se
na consciência de cada um de nós, em primeiro lugar, um conteúdo
diferente. Mas juntamos cada um desses conteúdos e olhamos a cor
vermelha para verificar se ela os possui ou não. E qual o resultado? O
vermelho lembra raiva, sangue, intensidade? Sim para todas essas
características. Além de podermos ver todas essas qualidades no
vermelho, conseguimos ainda enxergar uma certa profundidade nele;
profundidade essa que é algo mais próxima de “profundeza” ou
“densidade” do que de “profundidade” em si.
não se expressa bem; nem todo mundo é dialético. Porém, tudo está na
mesma direção, e se tudo está na mesma direção é porque essas coisas
estão realmente lá. Não é projeção.
Aluno: Para todas essas coisas eu vejo que há um fundo narrativo que
não é uma coisa tão estática quanto o conceito da cor em si.
1
Nota do revisor: os símbolos utilizados nessa transcrição foram encontrados no Google e estão de acordo com
os símbolos que vieram junto do download dessa aula.
37
Em primeiro lugar, devemos notar uma coisa óbvia: cada estação do ano
dura três meses. Áries (primavera), Câncer (verão), Libra (outono) e
Capricórnio (inverno) correspondem ao primeiro mês de cada uma das
estações. Se as observarmos bem, veremos que no primeiro mês delas é
o momento em que notamos uma qualidade distinta, diferente à da
estação anterior. Nos dias em que o Sol entrou em Câncer, por exemplo,
começamos a sentir tudo mais quente, porque é o primeiro mês do verão.
Já no primeiro mês da primavera, as coisas começam a renascer, a
vegetação volta a se expandir etc. No segundo mês de cada uma das
quatro estações, percebemos a intensificação das qualidades do mês
anterior. As qualidades e características distintas que surgiram no
primeiro mês se tornam marcantes no segundo. Por fim, o terceiro mês é
marcado, geralmente, pela dissolução dessas qualidades e antecipação,
às vezes, das qualidades da estação seguinte. Então, os signos que
começam as estações são chamados de signos cardinais (depois veremos
a parte astronômica do porque eles serem chamados de cardinais); os do
segundo mês são signos fixos, pois as qualidades das estações se
fixaram, estão mais firmes; e os últimos são os mutáveis, justamente
porque a estação começa a mudar para outra.
Então, algo pode ser precioso porque tem uma função, uma capacidade
ou qualidade dada por um projeto bem executado, ou porque tem
qualidades dadas por um material precioso em si mesmo. Claro que é
possível haver um projeto excepcional realizado num material valioso. É
42
possível haver uma Ferrari de ouro. Nesse caso, estaríamos no topo da
escala de valor. Devemos ter em mente que uma pepita de ouro vale
alguma coisa, mas uma escultura do Rodin feita de ouro vale mais do
que essa pepita ou do que o mesmo peso em ouro bruto. Da mesma
forma, um colar de ouro bem feito vale mais do que o mesmo peso de
ouro bruto.
2
Nota do revisor: o professor acabou passando um pouco rápido demais no tema, e acho que isso pode gerar
alguma confusão no entendimento de alguns alunos. Tomei a liberdade de trocar alguns termos que foram
usados para a melhor compreensão dos alunos. Quando isso ocorrer, haverá indicação por meio de notas.
3
Nota do revisor: aqui o professor usa o termo “essência”. Porém, como ele mesmo explica em outros cursos
de Cosmologia, a essência é aquilo que define um ente concreto tanto materialmente como formalmente.
Qualquer ente que exista concretamente no
mundo da physis possui um aspecto formal e um aspecto material. Essa é uma distinção real-formal, e não
uma distinção real-real. Explicando um pouco melhor: podemos distinguir num ente esses seus dois
aspectos, pois eles de fato existem. Porém, ambos não
43
podem existir separadamente, pois a forma de um ente só pode se manifestar numa porção de matéria, e uma
porção de matéria terá necessariamente alguma forma.
4
Nota do revisor: aqui o professor usa o termo “substância”, porém esse termo é um pouco elástico, e creio que
não transmite a
45
idéia da explicação de maneira correta. “Substância” é tudo aquilo que existe em si mesmo. Por exemplo:
quando falamos em cores, automaticamente, no fundo de nossas mentes, sabemos que uma cor existe em
algo; quando falamos em sabores, sabemos que algo os têm; quando pensamos em ações como correr, andar,
falar, latir, sabemos que é algo que as pratica. Todas essas coisas que listamos aqui são acidentes, pois não
existem em si mesmas. A “substância”, pelo contrário, existe em si mesma. Quando pensamos num gato, não
aparece no fundo de nossa mente uma indicação de que ele deva existir em outra coisa, tal como ocorre
quando pensamos nas cores, nos sabores e nos outros acidentes. Esse tema ainda será abordado na aula dois e
na aula seis.
Há aí também outra questão que pode ser levantada: podemos dizer que, no mundo real, no mundo da
physis, a matéria é uma substância que existe em si mesma, pois ela é quem recebe a forma. Porém, o mundo
real e concreto não pode existir em si e por si mesmo. Antes de algo passar a ter existência concreta, ele deve
existir como possibilidade no conjunto da possibilidade universal. E, nesse sentido, podemos dizer que as
formas é que existem em si mesmas, pois antes da manifestação concreta de todos os entes que existem no
mundo da physis, eles já existiam no conjunto da possibilidade universal com suas determinações essenciais,
portanto formais e materiais. Percebam que as determinações materiais de um ente não são em si mesmas
materiais, razão pela qual a matéria não pode existir antes de algo que a determina e que não é material.
5
Nota do revisor: a forma a que os signos correspondem é invariável. Porém, da mesma maneira que uma
xícara de cerâmica é
diferente de uma xícara de plástico uma vez que suas matérias são diferentes, também o Sol quando está em
Áries irá se manifestar materialmente de maneira diferente no Hemisfério Norte e no Hemisfério Sul. Da
mesma forma isso se dá quando comparamos no que consiste o verão no Hemisfério Norte e no Hemisfério
Sul, assim como nas outras estações: o princípio formal destas é o mesmo, porém se manifestam
materialmente de maneiras diferentes.
46
6
Nota do revisor: esse tópico foi amplamente desenvolvido na aula seis, e mencionado brevemente logo no
começo das aulas sete e oito.
49
Hoje em dia todo mundo quer explicação para tudo. Por que devemos
rezar? Minha Santa Mãe de Deus, se o sujeito quiser uma explicação do
porquê ele ter de rezar, do porquê ele ter de jejuar, do porquê ele ter de
dar esmola, ele que escute as aulas passadas, porque já demos essa
explicação. E explicação também não ajuda em muita coisa. Por quê?
Porque na hora de colocar em prática, a explicação não estará clara. Por
que temos que fazer isso então? Porque pessoas muito melhores do que
nós falaram que devemos. Todos os santos falaram que devemos, todos
os profetas falaram que devemos, então temos de fazer. Temos de
lembrar que durante onze anos confiamos nos professores da escola,
portanto agora passemos mais onze anos confiando em Moisés, em São
Francisco, em Jesus. Temos de rezar todos os dias, temos que dar
esmolas todas as vezes que nos pedirem. E se estivermos sem dinheiro?
Então daremos nossos sapatos. E se tivermos apenas o dinheiro do
ônibus para voltar para casa? Acontece, então daremos nossos sapatos.
Alguém, ouvindo esses conselhos, pode dizer: “Mas isso complicará
tanto a minha vida!” Então não encha o saco. Não estamos na Idade
50
Média, não é tão difícil assim obter um sapato; antes o sujeito herdava as
botas do pai dele. Insistente, essa pessoa dirá: “Mas isso aqui custou
quatrocentos reais!” E por que alguém usa um sapato de quatrocentos
reais?! O que essa pessoa quer da vida?! Não tem como ter paciência
com alguém assim. Não iremos ficar explicando.
São Francisco, que era um mendigo, dividia os bens dele com quem
pedia. E todo mundo que é normal reza todos os dias as orações
tradicionais. As pessoas hoje acham que são normais, mas não, elas não
são, apenas pensam que são. Elas não são doidas, não têm uma demência
mental. Notem: o homem é composto de corpo, alma e espírito. E
existem três tipos de doença: as do corpo, as da alma e as do espírito.
Então elas podem não ser doidas, podem não ter uma doença mental,
podem não comer giz etc. Mas se não rezam as orações tradicionais
todos os dias, então têm uma doença espiritual. E na hora em que essas
pessoas forem confrontadas com um tipo de conhecimento que foi
desenvolvido e discutido por pessoas que rezavam todos os dias, essas
doenças irão começar a afetá-las agora ou postumamente. Isso é
evidente. Se os alunos desse curso não rezarem todos os dias, então eu
não os garanto. Se eles começarem a entrar em contato com a verdade
do universo; se começarem a perceber que a cor não é apenas uma cor,
não é apenas uma vibração, não é apenas um fenômeno sensorial, mas é
uma palavra, é uma entidade espiritual e intelectual ilimitada (isso é um
fato sobre as coisas, um fato real sobre o mundo em que vivemos); se as
mentes deles se confrontarem com isso e eles não fizerem o mínimo,
então o destino deles não é responsabilidade do professor.
É claro que há coisa que são predeterminadas, mas estamos aqui, por
assim dizer, no chão; e os caminhos do mundo são curvos e não vemos
para onde eles levam. Então pensamos que determinada trajetória pode
ser a melhor a ser seguida e, de repente, há uma mudança súbita de curso
e enveredamos em algum lugar ruim. A ascensão espiritual é assim
chamada, pois é como se estivéssemos vendo as coisas mais de cima.
51
Assim, dos vários caminhos do mundo, passamos a enxergar melhor
aonde cada um deles nos leva, ampliando a nossa liberdade. E assim
ampliamos a nossa liberdade real: ampliando o conhecimento que temos
de como as coisas são determinadas. Se disserem que não acreditam
nisso e quiserem provas, não provo mais. Estou a dois passos de desistir
de dar aulas no Brasil, porque começo a ensinar e após quatro meses a
turma diminui pela metade. Em cinco meses temos que voltar a falar de
assuntos que haviam sido dados no primeiro mês.
Por que então temos de fazer isso? Por que temos de rezar durante esse
tempo para Deus facilitar o nosso entendimento? Uma coisa tem que ver
com a outra? Sim, e se alguém acha que a atitude correta perante esse
tipo de conhecimento é o ceticismo e que não combina com a maneira
com a qual damos o curso, não há nenhum problema. Porém, não
fazemos mais o esforço de explicar coisas que são princípios básicos do
comportamento humano. Não faremos isso que fizemos nessa aula
novamente daqui a dois meses. E não estamos falando nada estranho
para ninguém; não estamos falando para ninguém fazer três horas de
yoga no gelo. O que estamos dizendo é que devemos rezar o rosário
todos os dias e dar esmolas
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Claro que podem existir, nos seres humanos, dúvidas legítimas. Por que
o homem reza se Deus sabe tudo? Mas primeiro devemos começar a
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fazer o que é bom, e quando isso virar um hábito explicaremos
novamente o motivo dessas coisas. Porque se esperarmos a explicação
para começarmos a fazer, três meses depois iremos parar. Willian Lilly,
na primeira página do seu tratado de astrologia, diz que a primeira coisa
que o estudante deve fazer é rezar muito, ter muita devoção. Isso porque
o mundo é um discurso divino, então podemos entendê-lo nos
assimilarmos a esse divino. E se alguém ainda estiver com alguma
dúvida sobre a legitimidade desses conselhos, paciência. Essa pessoa
que vá estudar. Não temos mais disposição e nem explicaremos mais
essas coisas. Ela não pratique isso, não tenha religião. Se quiser aprender
astrologia, ensinaremos. Porém, tudo isso que explicamos irá acontecer.
Ou fazemos a coisa do jeito certo, ou trilharemos um caminho muito
perigoso para nossa saúde mental e espiritual. Mas não devemos nos
iludir e achar que somos muito cristãos por fazer esse mínimo, pois isso
seria uma piada! O que dissemos aqui é apenas uma gota. Façamos isso,
e sabe o que irá acontecer? Todos teremos mais paz em nossas vidas,
entenderemos mais as pessoas da nossa família e entenderemos nós
mesmos. Muitas coisas melhorarão mesmo.
Então Deus olha para elas e diz: “Essas pessoas querem entender
Astrologia? É melhor não, porque elas irão abusar. Por que devo deixá-
las mais inteligentes? Elas não têm compaixão com a pessoa que está
sofrendo, morando na rua e querem ficar inteligentes? Querem isso para
depois saírem falando como são possuidoras da sabedoria tradicional, da
filosofia e do discernimento para meio mundo? Para quê? Não, Eu não
permitirei isso.” Então Deus vai emburrecendo as pessoas, porque Ele
não quer que elas fiquem mais inteligentes, pois elas não tiveram o
mínimo de boa vontade para com o próximo. E quando falamos para o
aluno rezar o rosário e dar esmolas, ele começa a fazer isso, a ir na
igreja, a falar com o padre e mais um monte de coisas. Mas não foi isso
que aconselhamos. Esse aluno também irá emburrecer. Ele acha que o
padre injetará graça nele, mas não. Há muito mais valor em sentarmos
todos os dias em casa e orarmos solitariamente. Isso é tecnicamente dos
santos. Há mais valor nisso do que ir para o templo uma vez por semana.
Esses são dados técnicos da religião. Mas o aluno não quer fazer isso e
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vai à igreja para o padre injetar a graça divina passivamente nele. É
óbvio que quem não está acostumado a isso se sentirá estranho rezando
o rosário pela primeira vez, mas devemos fazê-lo. Pode ser que
tenhamos uma sensação estranha, pode ser que não nos sintamos bem.
Mas não falamos isso para nos sentirmos bem e entendermos qual o
sentido disso tudo. Devemos fazer isso pois é bom. Perseveremos nisso e
daqui a dois anos nossa vida estará muito melhor.
Aula 02
Tópicos da aula:
Transcrição da aula:
Gugu: [...] Sem dizer o que é esse algo. Então esse tamanho - limitação de tamanho – é
um qualificativo atribuído a alguma coisa. O tamanho não explica o que o corpo é por si
mesmo e sozinho, o tamanho é um predicado daquilo que é corpo. Você não pode dizer
que o corpo é um tipo de tamanho, ou um limite de tamanho. Ele é um tipo de quê?
Imagine que eu diga: “O que é um cachorro?” Eu não digo: “Um cachorro que tem quatro
patas.” Nem digo: “Um que late.” Porque se eu disser “um que late”, dirão: “O que é que
late?” E a pessoa responderá: “É um animal que late.” Então, você chega mais perto da
resposta do que é um cachorro respondendo “é um animal” do que respondendo “é um
que late”. A expressão “um que late” subentende outro sujeito; já a expressão “um
animal” não subentende outro sujeito além dele mesmo; deu para perceber a diferença?
Quando você fala “um que late”, ou “um que tem tamanho”, fica subentendido: “Um o
quê que late?” Ou: “Um o quê que tem tamanho?” Quando você fala “um animal” não fica
subentendido um “quê” diferente de animal. Se eu pergunto: “O que é a parede?” Ou: “O
que é isso?” A resposta “um branco” subentende algo que é branco, mas quando eu
respondo “é uma parede”, a própria parede não subentende nada distinto da própria parede
- a mente não fica procurando outro algo. Essa é a diferença fundamental que Aristóteles
faz entre substância e acidente. A fala de um acidente fica aberta na sua mente sempre
esperando que venha: “O que é isso que é branco?” Ou: “O que é isso que late?” O
acidente não é inteligível sozinho. Quando você entende o que ele é, você percebe que o
ser dele depende de outro ser. “É um branco?” É uma parede branca. “É um que late?” É
um animal que late. Quando a gente fala: “O corpo é algo que tem tamanho ou que
implica em contato.” O que é isso que implica em contato ou que tem tamanho?
Aluno: Se falar: “Uma coisa.” Não resolve, não é? Uma coisa que eu não posso atravessar
com a mão, que oferece uma resistência ao meu movimento...
Gugu: Resolve. Olha só, na verdade, se você observar a própria idéia de resistência, ela
implica na idéia de que o corpo tem um tamanho, por exemplo: o maço de cigarros é um
corpo e tem um tamanho, se eu tentar atravessá-lo, ele oferece certa resistência. O que eu
quero dizer com essa resistência? Quero dizer que esse tamanho que está aqui - esse
volume - é dele; o fato desse volume ser posse do maço de cigarros faz com que haja uma
resistência para que o meu volume ocupe esse mesmo espaço. Tanto o contato quanto a
resistência que o corpo tem a ser penetrado por outro, derivam do fato de que a magnitude
dele é realmente dele, é um aspecto do ser efetivo dele. Na verdade, quando falamos de
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tamanho, espaço ou de formas geométricas, tendemos a pensar nessas coisas em abstrato:
“O maço de cigarros tem uns 10 centímetros por 5 centímetros por mais 2 centímetros.” E
esses 10 centímetros parecem apenas uma idéia matemática, mas o volume real do maço
de cigarros não é um ente puramente geométrico; é um ente que é mensurado
geometricamente, mas ele [o volume do maço] é uma entidade efetiva no maço de cigarro;
e é essa efetividade que resiste à efetividade que é a minha mão. Então, eu posso dizer:
“Um corpo é uma coisa que tem tamanho, que tem tamanho limitado.” Aí, terei que
esclarecer um pouquinho o que eu quero dizer com “coisa”, porque a palavra “coisa”, de
duas uma: ou ela significa tudo o que existe, tudo aquilo que é possuidor de existência,
aquilo que é existente; ou ela significa algum tipo de existência. Quando eu falo
“tamanho”, tamanho é um tipo de existência, não qualquer coisa que existe. Quando eu
falo “coisa”, a palavra coisa pode significar existência em geral, tudo aquilo que existe; e,
se ela significa tudo o que existe, quando eu me refiro a “uma coisa que tem tamanho”, a
palavra “coisa” não ajuda muito. É a mesma coisa que dizer: “É um tamanho que existe.”
No entanto, a palavra “coisa” tem uma relação etimológica com a palavra “causa”; a
palavra “coisa” indica qualquer ente que possua efetividade sobre outros, porque essa é
uma característica universal dos entes: tudo o que existe é eficaz de algum modo. Então
“coisa” ajuda um pouquinho, mas não muito, porque não é uma característica própria
deles o fato ter efetividade ou causar alguma coisa; isso é uma característica geral de tudo
o que existe. Os espíritos também são coisas, pois eles também causam.
Então, teremos que entrar na questão do Aristóteles. Se eu digo que um corpo “é uma
coisa que tem tamanho”, o que eu gostaria de dizer é que ele é uma substância que tem
tamanho. Com substância quero dizer que ele é um sujeito que possui em si outros tipos
de atributos. Percebam o seguinte... Quando falamos: “O que é isso?” “Ah, é um
cachorro.” Quando você entende o que é cachorro, a palavra cachorro, a idéia, a noção
cachorro na sua mente, não exige pensar em outra coisa (outro ente) para ter um
entendimento completo do que é cachorro. Quando você fala em cor, tamanho, lugar ou
uma referência de tempo - ontem, hoje, etc. -, cada uma dessas noções exige pensar em
alguma outra coisa que tenha cor, sabor ou tamanho. O acidente é aquilo que não pode ser
entendido plenamente sem que se entenda outra coisa à qual ele pertence, na qual ele
existe. Se eu disser: “Entendi o que é um cachorro.” Para explicar melhor o que é um
cachorro, não preciso recorrer à outra coisa; eu desdobro intelectualmente essa coisa que é
cachorro em diversas partes inteligíveis. Eu digo: “É um animal que late.” Olha só, ser
animal e latir não são coisas realmente distintas do cachorro, são aspectos dele.
Aluno: Apesar de o “corpo” me parecer que é uma substância, ele também tem essa
imprecisão quando a gente quer imaginar um corpo... “Desenhe um corpo!” ”Que corpo?”
Também é difícil imaginar, mais que um cachorro ou um animal que tem uma
abrangência - aí é mais fácil. Mas “corpo” tem essa dificuldade de precisar.
Gugu: Quando falamos “cachorro”, essa palavra designa uma espécie; e a espécie é
dividida em indivíduos. Devido à espécie ser dividida imediatamente em indivíduos, uma
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espécie é algo imaginável - basta você imaginar um indivíduo daquela espécie. Você fala
“cachorro” e o sujeito imagina um cachorro; alguns imaginam um cachorro preto, alguns
imaginam um cachorro branco e outros um cachorro malhado; mas todos eles são
cachorros igualmente. Quando falamos “corpo” ou “animal”, não estamos falando de uma
espécie, estamos falando de um gênero; e um gênero é de difícil imaginação, porque um
gênero não é dividido em indivíduos, ele é dividido em espécies. Então, de fato, se eu
falar “corpo”, cada um pode imaginar uma coisa totalmente diferente da imaginada pelo
outro. Embora todas essas imaginações sejam de algum corpo concreto, esses diversos
corpos não pertencem necessariamente à mesma espécie, porque um pode pensar no Sol,
outro em um cachorro, outro em um cadáver, outro em uma pessoa viva, outro em uma
pedra e outro ainda em um rio; e cada uma dessas coisas é corpo, mas todas elas são muito
diferentes umas das outras. Quando falamos “cachorro” é muito mais imaginável, ou
quando falamos “ser humano”... De fato, a palavra “corpo” é de caráter muito mais geral
do que a palavra “cachorro”; na verdade, ela é até mais geral do que a palavra “animal”,
porque o sentido inteligível da palavra “corpo” está incluído no sentido de animal - animal
inclui a noção de corpo também.
Aluno: Assim como eu posso dizer que as espécies se subordinam aos gêneros, eu posso
dizer que os acidentes se subordinam as espécies?
Gugu: Não exatamente. Em que sentido as espécies se subordinam aos gêneros? O que eu
quero dizer quando digo que as espécies se subordinam aos gêneros? Quero dizer que a
noção do gênero está incluída na espécie. Quando eu penso “cachorro”, meu pensamento
já inclui de maneira subentendida -ainda que não esteja desdobrado e explícito - o
pensamento animal; não é possível o sujeito saber o que é um cachorro sem saber que faz
parte do ser dele ser animal. E é nesse sentido que dizemos que a espécie está subordinada
ao gênero; quer dizer, a inteligibilidade do gênero está incluída na inteligibilidade da
espécie, e a inteligibilidade do acidente não está incluída nas espécies em geral, ela está
incluída na substância. Num certo sentido eu posso dizer que o acidente está subordinado
à substância, embora não seja uma subordinação lógica. Ela não é uma subordinação
lógica porque a inteligibilidade da substância não está contida na inteligibilidade do
acidente; a inteligibilidade do acidente depende da inteligibilidade da substância. Em
outras palavras, se eu entender o que é um cachorro, entender o que é um cachorro inclui
entender o que é um animal; mas eu não preciso pensar de maneira distinta em um animal
para entender o que é um cachorro. Por quê? Porque animal está totalmente incluído no
que é um cachorro. Porém, se eu penso “branco” ou “trinta centímetros cúbicos”, para eu
entender o que é “trinta centímetros cúbicos”, eu tenho que entender: “O que é capaz de
ter trinta centímetros cúbicos? O que tem essa possibilidade?” E a resposta não vem pela
simples idéia de trinta centímetros cúbicos. Eu vou ter que dizer: “Espera aí, é um corpo
que tem trinta centímetros cúbicos.” E a inteligibilidade de corpo não está incluída na
inteligibilidade de trinta centímetros cúbicos; as duas coisas estão relacionadas, porque
trinta centímetros cúbicos só tem sentido real e efetivo em alguma coisa que possua essa
medida. “Corpo”, de fato, é mais difícil de imaginar do que “cachorro” ou até mesmo
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“gente”. “Gente” é uma espécie de corpo, mas é imediatamente imaginável porque é uma
espécie íntima já dividida em acidentes concretos. “Corpo” é mais difícil de imaginar
porque é uma visão mais genérica mesmo, é uma noção mais geral. E não somente é uma
noção geral, mas, como veremos mais adiante, só porque uma coisa é um corpo não quer
dizer que ela seja somente um corpo. Por exemplo, quando falamos “animal”: não é
porque uma coisa é um animal que ela é só um animal; sendo um animal ou um corpo,
não é um ente tão fechado em suas possibilidades que não admite dimensões que não
sejam corpóreas ou animais.
Em última análise, você pode definir corpo como: substância mutável de extensão
limitada. O pessoal já entendeu o que é substância; já a palavra “mutável” entra na própria
definição da palavra extensão; e extensão é algo por definição divisível - uma extensão
sempre tem uma parte fora da outra, e, portanto, é divisível. Um corpo é uma substância
mutável de extensão limitada... Se eu pegar só essas quatro noções (substância, mutável,
extensão, limitada), é possível tirar dessas quatro noções as noções dos quatro elementos;
mas não é possível tirar dessas quatro noções uma árvore, porque a inteligibilidade de
árvore inclui noções características que não derivam dessas quatro, derivam de outra
coisa. No caso de animal, não dá para dizer que ele é uma substância mutável de extensão
limitada; dá para dizer que o animal inclui nele essa dimensão também, mas ele inclui
outras características que não são derivadas dessa. Por exemplo: o cachorro late. O ato de
latir pode ser deduzido do simples fato de uma coisa ser uma substância? Não, porque
para latir você precisa estar vivo; e a noção de vivo não está incluída na noção de
substância. Dá para tirar o ato de latir da noção de mutável? Também não. Dá pra tirar o
ato de latir da noção de extensão? Só porque algo tem tamanho ele é capaz de latir? Não.
E também não é possível deduzir o ato de lato a partir da idéia de limitação. O que dá para
dizer é o seguinte: latir não é [inaudível] nosso. É possível que tenha uma coisa na qual
estão incluídas essas quatro noções, e que além disso também está incluída também a
capacidade de latir; ou, por exemplo, no caso do ser humano, a capacidade de pensar ou
de falar; mas essa quinta noção (o pensamento ou a fala) não é derivada das quatro
primeiras. Não dá para deduzir das quatro primeiras noções que definem um corpo o ato
de latir e muito menos o ato de pensar e falar, e é por isso que a gente não diz que um
animal ou um ser humano é um corpo, mas que ele tem um corpo. Faz parte do ser dele
um corpo, mas isso não quer dizer que ele é um corpo, porque tem coisas que ele faz que
não derivam da noção de corpo. Não dá para explicar a noção de latir ou falar a partir das
quatro noções de substância mutável de extensão limitada.
Esse é um ponto importante, porque é o que vai explicar para a gente o porquê os quatro
elementos são elementos. Se eu pegar essas quatro noções (substância mutável de
extensão limita), não posso inferir dela a reprodução dos animais e dos vegetais, não
posso inferir a sensação que é a característica dos animais, não posso derivar o
pensamento humano; qualquer uma dessas variações terá que ser explicada no animal, no
ser humano, no vegetal, por meio do uso de outras noções, e é por isso que a gente não diz
que um animal é um corpo, mas que ele tem um corpo, porque eu não posso dizer: “Ah,
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corpo.” E disso concluir: “Ah, entendi, algo capaz de latir, é óbvio.” Não é auto-evidente.
A inteligibilidade do animal não está toda incluída na noção corpo. E um elemento - dos
quatro elementos de Aristóteles - será algo cuja inteligibilidade está toda incluída nessas
quatro noções que definem o que é corpo. Por exemplo, dizemos que corpo tem extensão,
tem tamanho; e o tamanho é por definição divisível; e se é divisível eu posso dizer o
seguinte: ou está se dividindo, ou se está se mantendo indiviso - não há terceira
alternativa, ou está em processo de divisão, ou está coeso. Uma vez que eu percebi que
tenho só essas duas alternativas, posso levantar várias hipóteses. Porque, ou para o corpo é
indiferente estar dividido ou não, estar em processo de divisão ou estar se mantendo
coeso; ou não é indiferente, existe nele um principio real pelo qual ele tende a alguma
coisa ou outra.
Se você observar em sua experiência comum quando você vai dormir, o ar é mole, você
pode passar pelo ar. E sua cama é firme, seu travesseiro é mais ou menos firme - você
pode apoiar nele e ele não sai do lugar -, o chão é firme. Quando você acorda no dia
seguinte, o chão continua firme e o ar continua mole. Tudo isso é uma indicação de que
não é indiferente para o ar e para o chão ser mole ou ser duro, não é fruto do acaso, não é
como quando você joga uma moeda e pode dar cara ou coroa – às vezes dá cara, às vezes
dá coroa. Não, todo dia você acorda e o chão está firme e o ar está mole. Isso quer dizer o
quê? Que no ar há uma tendência, uma tensão, uma força, um princípio pelo qual ele é
mole na superfície do nosso planeta; e no chão há um princípio, uma tendência, uma força
pela qual ele é duro nas mesmas condições. Quer dizer, o ar tem nele um poder de ser
mole no nosso mundo, e a terra - o chão -, tem um poder de ser duro no nosso mundo.
Então, dessas quatro noções que são substância mutável de extensão limitada, dizemos
que os corpos variam na extensão e no limite dela [da substância], porque eles não podem
variar em substância - pois todos os corpos são igualmente substâncias, não existe nenhum
intermediário entre a substância e o acidente, uma coisa não pode ser mais ou menos
substância, ou mais ou menos acidente; ou é substância, ou é acidente; ou depende de
outro algo para ser entendido, ou não depende. E a extensão? Ora, a extensão também é
sempre extensão, não importa o quanto de extensão tem; a extensão não muda de espécie
pelo fato de ser maior ou menor, continua sendo igualmente extensão; mas uma extensão
dividida é diferente em espécie de uma extensão indivisa. Olha só, dois cigarros - duas
extensões – é um negócio dividido. Em um único cigarro as partes estão todas unidas, é
uma coisa só. São espécies de extensão diferentes: extensão em várias partes e extensão
em uma parte só. Se eu acender o cigarro, o que acontece? O fogo nele começa a dividir
as partes do cigarro; uma parte vai virar fumaça que eu vou absorver com os meus
pulmões, outra parte vai virar cinza que vai lá para o cinzeiro. No entanto, a fumaça que
veio para mim fazia parte do cigarro, assim como a cinza que foi lá para o cinzeiro
também fazia parte do cigarro. A fumaça tem um certo tamanho e um certo volume, e a
cinza tem um outro tamanho. Então no ato de ser queimado, o tamanho do cigarro foi
dividido em duas extensões de espécies diferentes: uma a gente chama de fumaça, a outra
a gente chama de cinza. Assim, iremos dizer que o fogo no sentido Aristotélico é
justamente um corpo quando ele tem uma tensão, uma força que divide a extensão dele
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em espécies diferentes. Toda vez que você põe fogo em uma coisa, você divide ela em
partes; não somente divide ela em partes iguais, mas você divide ela em partes de espécies
diferentes.
Vamos fazer isso com o cigarro para demonstração prática... Olha, a fumaça é parte do
cigarro, e a cinza que está formando na ponta é parte dele também. O que está separando
isso? O fogo. Ao acender o cigarro, eu dei a ele uma propriedade do elemento fogo - a
propriedade de dividir as partes, de separar as partes. Agora, ao contrário do fogo, se eu
jogar um pouco de água perto de outro pouco de água, elas viram uma só massa de água.
Se a extensão é divisível, posso dizer que, ou ela está em processo de divisão, ou ela está
mantendo a coesão. Se ela está em processo de divisão, ela o está devido a um princípio,
uma força... Vamos dizer assim para usar um termo mais moderno. Princípio parece uma
coisa estranha para a mentalidade de hoje. Hoje em dia quando a gente estuda física na
escola tudo é força, energia, radiações; força talvez pegue a imaginação do pessoal um
pouco mais claramente, embora ela seja uma palavra imprecisa em seu significado.
Princípio é apropriado porque designa o aspecto da coisa que é conhecido, aquilo em que
primeiro começa. Se a gente tem um corpo e as partes dele estão se separando, é porque
nele tem um princípio de separação; esse princípio de separação é o que Aristóteles chama
de calor, tomando como analogia o calor da temperatura. Se, pelo contrário, um corpo
mantém as partes dele unida, é porque ele tem um princípio para se manter coeso, e esse
princípio de coesão é o que Aristóteles chama de frieza. Mas independente das partes se
manterem unidas ou estarem em processo de divisão, como a extensão de que se trata é
uma extensão limitada - portanto contida por uma superfície -, essa superfície mesma é
capaz de um acidente, independente da divisão ou coesão, e esse acidente é a figura, o
formato da coisa. Se você pegar uma pedra, por exemplo, ela tem formato definido. Se
você pegar o ar, ele não tem formato definido; o ar ou a água tem o formato da pedra que
tiver perto deles. Quer dizer, o ar e a água são mais maleáveis do que as pedras ou a
madeira. Então, você tem aqui um outro par de acidentes: você tem a propriedade da
maleabilidade e a propriedade a firmeza, ou fluidez e solidez. Ora, se existe fluidez e
solidez é porque no corpo que é sólido existe um princípio de solidez - é o que Aristóteles
chama de secura. Se um corpo é fluido e maleável é porque existe nele um princípio de
fluidez ou de maleabilidade que Aristóteles vai chamar de umidade.
Quando ele [Aristóteles] fala calor, frieza, secura e umidade, ele não está tomando essas
palavras em seu sentido literal. Ele não está dizendo que a palavra “secura” significa
literalmente na sua origem o princípio de solidez dos corpos. A palavra “secura” significa
aquilo que não tem nenhuma umidade extrínseca - uma esponja está seca quando não tem
água nos poros dela. A palavra umidade, pelo contrário, significa justamente a presença
desse líquido extrínseco que não faz parte do ser da coisa. Esses são sentidos literais das
palavras, mas ele toma essas palavras para designar os princípios mesmos de
diferenciação dos corpos. Então, quando falamos em cosmologia da secura e umidade,
frieza e calor - e depois em astrologia essas palavras tomarão um outro significado ainda -,
não estamos usando o sentido literal; estamos falando de quatro princípios dos corpos que
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existem realmente. Quer dizer, você pode observar todos os corpos que existem e dizer
quais são sólidos ou não, quais estão em processo de divisão ou não. E olha só, eu não tive
que incluir nenhuma noção estranha à definição de corpo para dizer que ele é quente e
seco, por exemplo; quente e seco são possibilidades que já estão contidas na própria
definição de substância mutável de extensão limitada. Quando eu digo que “o cachorro
está latindo”, latir é uma noção que já está incluída na noção de cachorro, só estou
afirmando uma efetividade concreta, mas não estou dando uma informação
intelectualmente nova acerca do ser cachorro, eu estou dando uma informação nova acerca
de um fato concreto. Se falo que “um corpo está latindo”, latindo aqui é uma
inteligibilidade nova, é uma noção nova que não está contida na noção de corpo; eu tenho
que explicar alguma coisa, pois, entre “corpo” e “latindo”, alguma coisa aconteceu que
não é nem corpóreo, nem corpo, nem simples latir, e que é a noção animal e a noção
cachorro. Observe o caminho que a sua mente tem que fazer. Entre “corpo” e “está
latindo” a sua mente deu um salto, e ela te diz que há um vazio entre uma noção e outra
que precisa ser preenchido com alguma coisa. Quando você fala “o corpo está latindo”, é
evidente que você deu uma informação incompleta. Mas quando você fala “o corpo é
sólido”, você não deu esse salto, porque a noção de solidez já é uma possibilidade que está
contida no corpo; ou quando falo “o corpo é quente”, estou dando de fato uma informação
nova, uma idéia. A definição de corpo não fala para você se está existindo algum corpo,
então além da noção abstrata de corpo, eu tenho que dizer que “esse corpo que existe é
sólido”. A noção de sólido, aqui - que é uma afirmação de uma efetividade concreta -, é
claro que ela é, num certo sentido, uma novidade em relação à idéia abstrata “corpo”. Mas
a novidade aqui está apenas na existência efetiva, não no conteúdo de solidez; o conteúdo
“solidez” já poderia ser inferido como uma possibilidade de “corpo”.
Aluno: Por isso que oferecer resistência não explicava todas as possibilidades...
Gugu: Isso. Seria a mesma coisa que eu falar “esse animal ou esse corpo é médico”. Se eu
falar “corpo médico”, faltou alguma coisa no meio do caminho. Se você diz que “o corpo
é médico”, entre “corpo” e “médico”, eu dei um salto. A palavra “corpo” pode se referir a
uma pedra e uma pedra não pode ser médica. Ou então se digo que “o corpo é filósofo”...
Mas uma pedra não pode ser filósofa. Se eu falo que “o corpo é sólido”, aí é suficiente,
porque de fato qualquer corpo pode ser sólido, basta que ele esteja numa circunstância
apropriada para que se manifeste a sua solidez. Nesse caso não há salto. O único salto aqui
é entre a possibilidade e a efetividade; quer dizer, um corpo pode ser sólido - esse corpo
aqui concreto ou é sólido ou não é. O salto é entre ato e potência. Mas é evidente que
solidez é um ato da própria corporalidade. Se entendermos o calor como um princípio de
divisão da extensão, a frieza como um princípio da coesão da extensão, a secura como um
princípio de solidez e a umidade como princípio de fluidez, veremos que se eu digo “o
corpo é quente” ou “o corpo é frio”, ou “o corpo é úmido” ou “o corpo é seco”, não estou
dando nenhuma informação nova, exceto a informação da efetividade. É a mesma coisa
quando eu digo “este número é par”. Ora, paridade ou imparidade são possibilidades
intrínsecas dos números; eu não disse nada de novo no que diz respeito aos números,
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apenas disse algo sobre este número em particular. Se você já tinha entendido a noção de
número, dela você já poderia ter tirado a idéia de que alguns números são pares e outros
são ímpares. Também é a mesma coisa que dizer “este ser humano é mulher” ou “aquele
ser humano é homem”. Homem e mulher não acrescentam uma inteligibilidade à idéia
“humano”; acrescenta uma inteligibilidade à este indivíduo humano concreto. Pense
assim, “o corpo está latindo”...
Aluno: Mas não seria graças ao fato de que homem ou mulher que alguém pode vir a ser
humano? Então, portanto, os dois sexos fazem parte da substância?
Gugu: É a mesma coisa que dizer: “Olha, o seu cabelo é escuro, o meu cabelo é escuro e o
cabelo do outro ali é claro”. Todo mundo já sabe que o cabelo tem cor, e que a cor pode
ser clara ou escura. Dizer que o cabelo do sujeito é claro não aumentou a inteligibilidade
nem do sujeito, nem do cabelo; eu só defini um fato. Eu falei que das diversas
possibilidades de cor de cabelo, a deste sujeito é esta aqui.
Aluno 2: Neste caso, homem ou mulher são possibilidades do ser humano. Existe alguma
substância cujas possibilidades sejam infinitas, incontáveis, inumeráveis?
Gugu: Sim. Se você imaginar uma substância que seja ilimitada em sua eficiência, em sua
efetividade, é evidente que ela é inumerável. Por exemplo, qual o número de noções que
há na mente divina? As noções na mente divina são uma multidão transcendente
inumerável; elas não são apenas inumeráveis concretamente - como o número de grãos de
areia que há na terra e que na prática sabemos que é impossível de numerar, apesar de
sabermos que eles existem em um número definido -, são também efetivamente
inumeráveis, por que a mente divina é ilimitada na sua capacidade de apreender noções.
Aluno: Gugu, para mim ainda está meio confusa aquela coisa de ser humano e de homem
e mulher. Porque não sei se dá para entender ser humano desvinculado da idéia de se
tornar homem ou mulher. Então, quando eu digo que é homem ou mulher, posso estar
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explicando o que é ser humano por duas possibilidades. Para mim ainda não é claro se é
possibilidade – ser homem ou mulher, ou se são coisas que são inevitáveis...
Gugu: Se eu digo “isto é um homem” ou “isto é uma mulher”, eu não estou explicando o
que é a noção geral do ser humano; eu estou explicando o que é este ser humano
individual e concreto. Isso porque a noção geral de ser humano já inclui as duas
possibilidades.
Aluno: Mas é porque você está fragmentando, não é? Porque na hora de você dizer que é
homem ou mulher, você está vendo de um determinado ângulo o ser humano, e existem
vários ângulos para se ver o ser humano além do ponto de vista fisiológico-sexual.
Gugu: É claro! Quando eu digo que é homem ou que é mulher, não estou explicando tudo
aquilo que a coisa é; só o que eu estou dizendo é que a noção de masculino e a noção de
feminino não acrescenta nenhum conteúdo à noção de ser humano, porque a noção de
masculino e feminino já estão incluídas como possibilidades nesta. É semelhante a dizer
que o café é líquido. A noção de líquido não acrescenta nada à noção de corpo, apenas à
noção deste corpo individual e concreto, porque a possibilidade de liquidez já estava
incluída na noção de corpo. Dizer “é líquido” não é uma explicação de corpo, é uma
explicação deste corpo. Do mesmo jeito, dizer que “é mulher” não é uma explicação do
que é ser humano, é uma explicação deste ser humano.
Aluno: Acho que a minha dificuldade está mais no fato de conseguir enxergar de uma
forma mais geral o que é o ser humano.
Gugu: Vou dar outro exemplo. Se eu digo que um corpo é líquido, esta é uma informação
sobre este corpo; não é uma informação sobre e não acrescenta nenhuma noção à
corporalidade em geral. Agora, se eu digo que o corpo está latindo, ou que o corpo é
mulher, então é bastante evidente que há algo faltando no meio do caminho, porque da
noção de corpo não se pode inferir a noção de ser mulher e de se estar latindo; eu não
afirmei apenas uma efetividade concreta que já estava incluída como possibilidade
concreta na noção de corpo. Mas quando eu falo que este ser humano é mulher, estou
apenas dando uma nota concreta acerca deste ser humano em particular e não da noção
humana em geral. Deu para perceber a diferença? Pense assim: se você falar que “este
corpo é uma mulher”, dá para perceber que a noção de mulher - ou de feminilidade e
masculinidade -, não está em si incluída na noção de corpo apenas? Porque para ser
mulher ou homem, é necessária a capacidade de se reproduzir. E a idéia de ser capaz de se
reproduzir não está contida em corpo, porque para ser capaz de se reproduzir é necessário
ser vivo; e vida não está incluída na noção de corpo. A distinção aqui é importante, pois
ela indica como a nossa inteligência capta as coisas, portanto como as coisas são. Tente
reparar quando você pensar “o corpo está latindo”; para dar um sentido a esta afirmação, é
preciso colocar no meio a noção de um ente capaz de latir; a afirmação exige no meio um
termo que não está explícito. Mas se eu disser que “este corpo é sólido”, isso não exige
66
uma terceira noção no meio. A nossa inteligência é mais sutil do que pensamos. Quando
pensamos “o corpo está latindo”, a inteligência imediatamente coloca de maneira
inexpressa a noção cachorro entre uma coisa e a outra; não houve o pensamento
discursivo de que “o corpo que é um cachorro está latindo. Isso porque a inteligência é
mais rápida do que o pensamento discursivo.
Então, se pegarmos as quatro propriedades que podemos inferir da simples noção de corpo
que são o calor, a frieza, a umidade e a secura, é fácil de perceber que temos aqui dois
pares de contrário; e que uma coisa não pode ser ao mesmo tempo fria e quente ou seca e
úmida. Se temos dois pares de contrários, é evidente que só é possível a existência de
quatro elementos fundamentais: uma coisa pode ser simultaneamente quente e seca, ou
quente e úmida, ou fria e seca, ou fria e úmida. E qualquer coisa que você pegar que seja
um corpo irá realmente, em cada circunstância concreta, efetivamente corresponder a um
desses pares. Por exemplo, no ar que estamos respirando agora as partes estão em
constante movimento, umas empurrando as outras, elas soltas umas das outras; isso quer
dizer que ele é quente, elas [as partes do ar] não estão coladas uma na outra, não tendem a
se manter juntas; ao mesmo tempo ele é maleável, então ele não é somente quente, mas
também úmido. O mesmo vale para a fumaça do cigarro. Esses dois corpos concretos [o ar
que respiramos e a fumaça do cigarro] estão na forma do elemento ar do Aristóteles. Se
observarmos o café do copo, veremos que ele tem as suas partes unidas; elas [as partes do
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café] não estão se separando umas das outras e sim se mantendo juntas; mas ele [o café]
também é maleável, ele toma a forma do copo; isso quer dizer que se as partes estão se
mantendo unidas ele é frio...
[Risos]
Aluna: No caso do cigarro, por exemplo, ele pertence ao elemento fogo, pois ele se divide
e sólido; ele é quente e seco, não é?
Tales: Aceso.
Gugu: Vamos fazer com o cigarro apagado primeiro: as partes se mantêm unidas, então
ele é frio; e a forma dele também é rígida, então ele é seco; ele pertence ao elemento terra.
Agora, quando eu acendo ele, na ponta dele onde há a brasa, ele pertence ao elemento
fogo, pois a brasa está separando as partes dele, mas a própria brasa tem uma forma
definida. Esse é um ponto interessante, porque a idéia de quente e seco é um pouco
estranha. Parece que, no corpo que é quente e seco, calor e secura estão em conflito um
com o outro. É fácil entender frio e seco, as duas coisas parecem que combinam; já o calor
e a secura parecem que não combinam muito bem. E é justamente dessa tensão entre as
qualidades do elemento fogo que você deriva o simbolismo do fogo. É por isso que o fogo
simboliza processos de transformação, violência, força, ruptura; porque uma coisa quente
e seca é uma coisa na qual se manifesta mais claramente essa ruptura, essa crise – são
duas qualidades em crise. Agora, se você observar mais cuidadosamente ainda, verá que
cada um desses quatro elementos se caracterizam por um par de qualidades. Se você
observar esses pares concretamente, verá que essas qualidades não estão exatamente no
mesmo patamar em cada elemento, verá que há qualidades que são apenas um suporte
para que a outra se manifeste; e é disso que deriva o simbolismo dos elementos. A secura
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do fogo manifesta com mais evidência o que é o calor, o princípio de ruptura, de
separação; então, no fogo, a secura está subordinada ao calor.
Gugu: Vamos lá. Olhem o elemento ar, que é quente e úmido. Se você observar o calor do
ar, a sua tendência a separar as partes só manifesta mais evidentemente a sua umidade ou
a sua adaptabilidade. Ele é úmido e quente. O calor serve de suporte para a umidade, e a
umidade é a qualidade principal. Na água é o contrário; a umidade fica subordinada à
frieza. A adaptabilidade da água serve para mostrar como ela é capaz de se manter unida e
de juntar as partes. Então a água é primeiramente fria e secundariamente úmida. E, na
terra, a qualidade que se destaca é a secura; ela é evidentemente o elemento mais sólido. A
frieza, a coesão, é simplesmente suporte da solidez, da secura. Então temos aí quatro tipos
de movimentos, já temos um pé para dar um salto para os elementos na astrologia. O
temperamento de fogo, o temperamento ígneo, é aquele que procura um ponto de partida
firme – a secura – para saltar, para agir, para se mover; o temperamento colérico é o
temperamento que o sujeito tem posições firmes que servem de suporte para a sua ação,
para o seu movimento; é a secura a serviço do calor. Já o temperamento melancólico, o
temperamento de terra, o sujeito tem a frieza, a capacidade de concentração, de conter e
incluir as coisas, servindo de suporte para a estabilidade...
Tales: Deixa eu dar uma nota aqui, só um segundinho. Signos de fogo: Áries, Leão e
Sagitário. Signos de terra: Touro, Virgo e Capricórnio. Só para o pessoal ir anotando...
Gugu: Correto.
Aluna: Nos elementos, uma característica se subordina à outras, não é? No ar, por
exemplo, predomina o úmido sobre quente. Mas, e no caso do fogo? Ele é mais seco,
quente...?
[Falando para o Gugu] Ela queria saber qual aspecto predomina no fogo: se é o calor ou a
secura. Aí eu disse que era o calor.
Gugu: Exatamente, o calor. A secura serve de suporte para evidenciar o calor. Isso porque
numa coisa como o ar - que também é quente -, o que se destaca não é o calor, é a
umidade; a umidade parece que supera o calor. Assim como no fogo o calor supera a
secura, no ar a umidade supera o calor.
Tales: Espera aí, pois acho que alguém tem alguma pergunta.
Aluno: Quando a gente pega o fogo – que é quente e seco -, caso haja dúvidas sobre qual
dessas características seja a predominante, é só comparar com o outro elemento quente –
que é o ar.
Um exemplo: eu e o Tales temos mapas bem diferentes; ele tem o Sol em Peixes e eu em
Áries, ele tem ascendente em Sagitário e eu em Leão, ele tem Lua em Touro e eu em
Câncer... Os mapas são bastante diferentes, mas, se você fizer o cálculo do temperamento,
verá que nossos temperamentos são muito parecidos - quase idênticos até. Então, quando
éramos crianças, as pessoas o tempo todo perguntavam aos nossos pais se nós dois éramos
gêmeos; e a gente olhava um para o outro e não fazia idéia do porquê elas pensavam isso.
Mas era por causa do temperamento; a disposição básica da psicologia era a mesma.
Você pode dizer assim: “Pelo mapa desse sujeito, ele é inteligente ou burro?” Isso
depende, porque ele pode ser inteligente durante um tempo da vida dele e ser burro
durante o outro. “Ele é forte ou é fraco? Tem boa saúde ou uma saúde frágil?” Olha, tudo
isso aí pode variar com o tempo, mas os elementos que predominam nele são a base da
sua existência e permanecem os mesmos até o fim. O sujeito sangüíneo é sangüíneo do
nascimento até a morte. É claro que essa diferença não é muito grande. Obviamente
estamos fazendo uma analogia entre propriedades físicas (ou corpóreas) – calor, frieza,
umidade e secura – e as inclinações psicológicas do sujeito; por isso é claro que uma coisa
não encaixa exatamente na outra. E se num temperamento predomina um elemento sobre
o outro, os sete planetas continuam todos lá no mapa de todo mundo e as propriedades
elementares dos planetas continuam as mesmas independentemente do mapa. Mas, por
exemplo, antes de olharmos um mapa para vermos a disposição de saúde ou doença de
alguém, temos que saber o temperamento dele para saber de antemão o que já falta ou há
em excesso naturalmente no seu corpo. Só depois disso podemos ver as tendências que ele
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tem relacionadas à saúde. Outro exemplo que é muito comum hoje são os mapas de
sinastria: “Vamos comparar os mapas desse sujeito com essa moça para ver se eles são
compatíveis astrologicamente.” Aí o pessoal fica olhando só as posições dos planetas para
ver se eles estão bem relacionados. Mas os planetas estarem bem relacionados não
significa nada, porque os temperamentos podem ser profundamente incompatíveis. Então,
a primeira coisa a ser analisada teria que ser o temperamento.
Tales: Vamos fazer uma pausa de mais ou menos meia hora para o pessoal tomar um café.
[Intervalo]
Então, vamos fazer uma listinha agora. O pessoal tem que ter entendido bem que os
quatro elementos são um dado da natureza que derivam da simples análise ontológica do
que é corpo. E, na astrologia, você pega essas quatro categorias e as transpõem para a
psicologia do indivíduo - nessa transposição há evidentemente um salto, pois propriedades
corpóreas não são propriedades psíquicas -, assim, antes de considerar o mapa em geral da
pessoa, você tem que chegar ao temperamento dela.
E aí nós temos o primeiro problema astrológico: não existe um método infalível de cálculo
do temperamento. Os grandes astrólogos dão fórmulas ligeiramente diferentes um do
outro, e, se vocês seguirem essas fórmulas passo a passo em cada caso, os temperamentos
irão bater na maioria dos casos; mas de vez em quando você encontra alguns mapas em
que o cálculo não bate - você olha a pessoa, conversa com ela e vê que o temperamento
dela não é o que deu no resultado do cálculo da fórmula que você usou. O próprio William
Lilly, que é um dos grandes astrólogos da Idade Média e do Renascimento, dá uma
fórmula de cálculo de temperamento no seu grande tratado de astrologia e, quando chega
nos exemplos, há casos em que pela fórmula dele o sujeito é sangüíneo, mas ele [William
Lilly] constata que o sujeito – que tinha convivência com ele - na verdade seria
melancólico; ao invés de ser ar – que é quente e úmido -, o sujeito do exemplo seria terra
– que é frio e seco. Isso porque ele conhecia o sujeito e sabia qual era o temperamento
dele. Então, nenhuma fórmula é infalível. O sujeito terá que aprender a identificar as
características de cada temperamento e, ao aplicar as fórmulas, ver se não há nenhuma
exceção. No decorrer do curso, quando observarmos mais mapas de alunos, mostraremos
– mais ou menos – quando algum caso poderá ser uma exceção à regra; há algumas dicas
astrológicas para perceber quando o temperamento não bate com a fórmula – mas mesmo
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essas são apenas dicas práticas, também não são um sistema infalível. O primeiro passo
para investigar o que um sujeito é astrologicamente, já é um passo um pouco confuso, não
é exato. Mas, de modo geral, se você pegar as fórmulas básicas, nove entre dez casos
estarão de acordo com o temperamento real da pessoa.
Tales: Só um minuto, Gugu, eles querem que eu repita a lista dos signos primeiro:
A primavera é de ar.
O verão é de fogo.
O outono é de terra.
O inverno é de água.
Tales: Aliás, tem uma explicação sobre isso na última aula – a questão do Hemisfério
Norte e Hemisfério Sul -, do porquê Peixes é um signo de inverno no Hemisfério Norte e
aqui é de verão. Aquário também, no Hemisfério Norte ele é de inverno, mas aqui é de
verão. O Gugu explicou o porquê não inverte o simbolismo na última aula.
Aluno: Na última aula o Gugu passou outra associação das estações para os signos (*ver a
nota acima). Que os signos de verão seriam Câncer...
Tales: Sim, isso é outra coisa. Se você pegar o inverno, que é de água, ali terá signos de
vários outros elementos. Você está vendo só a tabela isolada [de signos e estações], mas
no final vai tudo bater. Pode continuar aí, Gugu.
A Lua é de água.
Marte é de fogo.
Júpiter é de ar.
Saturno é de terra.
*Nota do transcritor: lembrem-se que o Gugu comentou o motivo de não levar em conta
os planetas de Urano, Netuno e Plutão, que é por eles não serem vistos a olho nu.
Depois mandaremos um texto com a tabelinha bonitinha para vocês, mas é bom anotar
agora. Vejam que as duas fases crescentes - do período que ela [a Lua] está crescendo –
são quentes, quando ela está diminuindo são fases frias.
2- O segundo componente é a estação do ano moderada (ou modulada) pelo signo em que
está o Sol.
3 – O terceiro componente é a fase da Lua modulada pelo signo em que ela [a Lua] está.
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4 – O quarto componente é o planeta mais forte do mapa - o regente do mapa – modulado
pelo signo em que ele [o planeta] está.
Tales: A Larissa.
Gugu: Bom, o Zet-9 tem a tabela do horário de verão do Brasil até o ano passado, então
ele já inclui automaticamente.
2 – Aí nós temos a estação. O sol está em escorpião, então é outono no Hemisfério Norte.
E outono é terra. Na segunda linha, então, vocês coloquem mais uma nota em terra.
Agora, o Sol está num signo de água, então anotem aí também que há um pouquinho de
umidade, o Sol é moderado um pouquinho na umidade – a água tem em comum com a
terra a frieza, mas ela tem lá a umidade; então coloque um “u” pequenininho ali do lado
para você lembrar que há um pouco de umidade.
3 – Agora, a fase da Lua. A Lua está em Sagitário; ela acabou de passar por uma
conversão com o Sol, então está entre a Lua Nova para a Meia-Lua crescente. Isso, se
vocês lembrarem, é de ar; num signo de fogo – está em Sagitário. Isso aí enfraquece um
pouco a umidade do ar e fortalece um pouquinho o calor.
Então olha só, esse temperamento é razoavelmente fácil de definirmos. Dos quatro
componentes principais, três são de terra. O que nós podemos inferir do temperamento
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melancólico – o temperamento de terra? São, primeiro, pessoas de opiniões firmes e
claras; pessoas que não se adaptam à mudanças inesperadas; pessoas firmes como a terra.
Como tem um pouquinho do ar e um pouquinho de fogo lá no mapa, e tem muito pouco
do elemento água – o único lugar que a água aparece é no signo em que está o Sol -; então
é um temperamento fortemente melancólico. A pessoa é como uma montanha, como uma
pedra. Qual o lado bom desse temperamento melancólico? A pessoa é confiável. Ela é
direta, tem a mentalidade direta – não é que ela é direta no sentido de dizer tudo o que
pensa de maneira clara, mas sim que ela tem a mentalidade franca e direta. Outra coisa,
ela também é uma pessoa discreta, reservada. São pessoas que você pode contar segredos.
E quais são as limitações? A pessoa pode ser um pouco teimosa demais. Também pode ser
uma pessoa fechada; os amigos podem estar querendo ajudá-la, mas ela não conta qual o
problema. A pessoa pode ter a tendência a querer carregar todo o fardo da vida sozinha. O
que mais que pode ter? Se os planetas de terra não estiverem muito bem colocados –
fracos - e a pessoa tem um forte temperamento de terra, ela pode ter doenças
características do excesso do elemento terra. Como nesse caso Saturno – que é o principal
planeta de terra – está domiciliado na Casa 1, é o regente do mapa, então isso não é uma
preocupação grave. Outra dificuldade é que a pessoa não é muito adaptável ou maleável.
Se você faz amizade com essa pessoa, ela tende a ser fiel à essa amizade durante muito
tempo; mas se acontecer de você formar uma inimizade, será muito difícil reverter essa
situação.
Aluna: É... O meu caso, eu acho, é um daqueles em que o mapa astral não se adapta
muito. Eu sempre me considerei mais fleumática.
Gugu: Olha só, geralmente, no temperamento, somos a pior pessoa para olhar para nós
mesmos, porque o temperamento é quase que uma presença física. É como os outros no
sentem diante do mundo. Se você quiser saber se o sujeito é mais fleumático ou mais
melancólico é simples, se os amigos dele dizem: “Olha, a gente gosta dele, ele é nosso
amigo, mas ninguém entende o que acontece na cabeça dele.” Se esse for o caso, ele é
uma pessoa fleumática. Você não sabe o que se passa na cabeça dele, pois ele é todo
voltado para dentro. Já a pessoa melancolia, você demora a conhecê-la, mas depois que a
conhece, sabe exatamente como ela vai agir. Os temperamentos frios são mais interiores,
mais voltados para dentro; então eles são mais difíceis de serem conhecidos mesmo.
Porém, o melancólico, porque é fixo – seco -, depois que você o conhece não há surpresas.
O fleumático não, ele é um sujeito que você não sabe como vai agir.
Gugu: Isso, faça a entrevista com as pessoas que te conhecem bem: “Não, o que vocês
acham de mim? Eu sou mais um tipo confiável ou um tipo maluco que segue inspirações
que vocês não sabem de onde vieram?” Nós não somos as melhores pessoas para nos
analisarmos a nós mesmos, a não ser que percebamos muito bem que o temperamento é a
raiz da psicologia da pessoa. É óbvio que, se a pessoa tem Sol em Escorpião, há um
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elemento fleumático nela – todo Sol em Escorpião tem, porque o Sol é uma força de ação,
a força pela qual o sujeito age. Mas esse elemento fleumático está apoiado sobre uma base
melancólica. Entre ser uma pessoa de opiniões estáveis e uma pessoa de opiniões
inspiracionais, movidas pelo momento e pelas circunstâncias, você será uma pessoa que
tem opiniões mais estáveis. O fleumático é o sujeito que de um modo ou de outro está
absorvendo a situação do momento para reagir de acordo com ela, enquanto o melancólico
não. O elemento de absorção dele [do fleumático] é totalmente subordinado à definição da
sua personalidade e do seu caráter. O sujeito fleumático até diria: “Ah, eu não tenho a
menor idéia de qual é o meu temperamento, acho que cada dia é de um jeito.” Ou: “O
quê?! As pessoas são sempre de um jeito?”
Olha só, temos água, fogo, fogo e terra. Aqui nós temos um temperamento mais
equilibrado onde há vários elementos dentro dele. Esse é um dos casos em que
conhecendo a pessoa nós podemos dizer com mais precisão sobre o temperamento dela.
Eu diria que nesse temperamento há uma leve tendência em alternar subitamente entre o
colérico e o fleumático. Por temperamento, ela tem impulsos de atividade que a fadigam e
que depois são saboreados interiormente; e há pouca comunicação entre essas duas fases.
O elemento que menos aparece nesse mapa é o temperamento sanguíneo. Então, eu diria
que ela tem súbitos impulsos de atividade do temperamento colérico, mas que se esgotam,
e aí a pessoa passa para um estado fleumático.
Tales: Vamos perguntar para o marido dela... Bate o resultado? Ele disse que bate
totalmente.
Gugu: Exatamente. Ela tem súbitos impulsos de atividade, e, quando eles se esgotam, ela
se volta para dentro. E se você perguntar para ela: “O que aconteceu?” Ela não sabe
responder.
Tales: O marido dela está pergunta se ela é uma pessoa que se acalma fácil...
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Gugu: Sim.
Gugu: Esses são dois casos que não são ambíguos. Vamos ver se achamos um mapa que
será mais difícil de ler somente pela fórmula.
Tales: Olha, eu acho interessante pegarmos o Fulano e o Sicrano. Como eles são irmãos,
depois o outro pode julgar o resultado que chegarmos. Faça o do Fulano primeiro. A data
de nascimento é vinte e seis de dezembro de mil, novecentos e sessenta e oito
(26/12/1968). O horário de nascimento é às vinte horas (20:00). A cidade é São Paulo,
capital.
Tales: Eu conheço bem ele, e realmente... Acho que o resultado bate bem com o
temperamento dele. Explica aí o temperamento fleumático com um toque de colérico que
depois o irmão dele vai julgar o resultado.
[Risos]
[Risos]
79
Gugu: É um sujeito que você tem que espremer para saber o que acontece dentro dele.
Tales: As pessoas pensam que o fleumático é introvertido, mas não tem nada a ver.
Gugu: Não é que é introvertido... Veja bem, ele é um volume de água e o mundo é a água
que está acumulando dentro dele. A atenção dele pode estar totalmente voltadas para
coisas exteriores a ele. Ser fleumático não significa que a atenção do sujeito esteja
totalmente voltada para a sua própria psicologia interior. O sujeito introvertido é o sujeito
que está lá, pensando dentro da cabeça dele o tempo todo. O fleumático não está pensando
nele mesmo ou na sua própria psicologia interna; ele não é um sujeito com problemas
psicológicos. Apenas a sua psicologia não se destaca de maneira auto-evidente. Ele pode
estar com a atenção totalmente voltada para algo fora dele, mas os outros não sabem. O
fleumático é o sujeito que você olha e se pergunta: “Ele está triste ou está contente?” Em
noventa por cento das vezes você não vai ter uma resposta. Não é que ele seja
encimesmado ou introvertido, é que a energia física dele se volta para dentro.
Fulano: Tales, não sei se o Gugu está me ouvindo, mas esse temperamento passa a
impressão para as pessoas que você é distante, não está interessado nelas, embora você
esteja sinceramente pensando nas coisas da realidade presente? Passa a impressão para
quem não te conhece mais profundamente de que você é desinteressado, distante?
Gugu: Exatamente! Mas ele está prestando atenção, dedicando a atenção dele para aquilo,
mas não é evidente para o outro. As pessoas vêem o fleumático e não sabem o que se
passa na cabeça dele. E porque elas não sabem, elas pensam que ele está voando longe. É
exatamente o contrário do sujeito colérico. O colérico é o sujeito que “está na lata” o
tempo todo.
Agora, o caso da “aluna z” que tem a Lua em Libra é assim... Primeiro tem a estação, e o
signo só modifica um pouquinho a estação, mas ele não é tão importante quanto a fase em
que ela [a Lua] está. É que nem o Sol.
Aluno: O Fulano, não sei se é porque eu o vejo falando sempre francamente sobre a
situação política, mas a impressão que me dá é que tem a emoção muito à flor da pele,
muito evidente. Talvez é porque ele se abre muito aqui nos nossos assuntos. E, também,
ele tem Lua em Áries...
Gugu: Quanto a isso – aos sentimentos à flor da pele -, quando ele [Fulano] começa a
expressar as opiniões que ele tem acerca do certo e do errado, do melhor e do pior, das
doutrinas que estão na mente dele, então aí o sentimento dele é mais evidente. Mas são
sentimentos derivados das suas idéias.
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Tales: Ele disse que isso é um problema para ele. Mas bateu o resultado, segundo o irmão
dele.
Gugu: Se você dá uma coisa para ele [Fulano] comer e se pergunta: “Ele gostou ou não?”
Aí vai demorar para você perceber. Se ele está na roda de conversa, ele está contente de
fazer parte daquilo, mas parece que ele não está prestando atenção.
Deu para entender? O temperamento é uma coisa quase física no sujeito; ele é a base
física da psicologia do sujeito. O temperamento pode ser tão diferente da psicologia
global, que se você ler a pessoa falando das opiniões dela, você começa a imaginar uma
pessoa; mas se você sentar do lado dele e ela tiver um temperamento diferente daquelas
opiniões, você pensa: “Será que é esse cara mesmo que escreveu aquilo?”
Tales: Vamos ver o Sicrano, irmão do Fulano. A data de nascimento é trinta de maio de
mil, novecentos e sessenta e cinco (30/05/1965), às onze da noite (23:00), São Paulo –
capital.
Gugu: Ele tem ascendente em Aquário, que é ar; há um Saturno aí no ascendente, mas ele
já está em Peixes e quase na casa dois, então ele não conta muito como modificador do
ascendente. Como o Sol é em Gêmeos a estação é a primavera, que também é de ar; então
reforça um pouco as características do ar. A Lua está em conjunção com o Sol e também
em gêmeos; está na fase do seu começo [a Lua Nova], então também é de ar. Não é
preciso de muito para chegar à conclusão acerca desse temperamento. Agora o planeta
mais forte... Esse caso está um pouco complicado; estou na dúvida entre Vênus e Saturno;
mas consideremos Vênus ocidental, que é água. Então, esse é um temperamento
fortemente sangüíneo. O lado bom primeiro: é amigável, comunicativo, fácil de perceber
o que ela está sentindo, ela adapta o que sente para não agredir o ambiente; num certo
sentido é o contrário do fleumático, porque é um sujeito que está sempre ali. Porém, ele
não está sempre na turma como o colérico, que está sempre brigando um pouquinho com
os outros, ocupando um pouco de espaço demais. O sangüíneo não ocupa espaço demais,
exceto quando ele começa a falar, porque aí ele não para mais...
[Risos]
Gugu: Esse caso aqui é muito claro, porque essas características estão muito fortes. O
temperamento sangüíneo é um temperamento bem fácil de encontrar. Qual o lado ruim? O
sujeito pode ser instável nas suas opiniões, nas suas posições; ele pode ficar indeciso,
porque pode haver poucos elementos de perseverança, pouca firmeza. Hoje ele pode estar
81
de um jeito e amanhã ele já pode ter mudado de opinião; ou ele continua com a mesma
opinião, mas perde a vontade de fazer daquele jeito.
Tales: Estão falando aqui que está batendo cem por cento.
Aluna: Uma pergunta... Eu vejo que todos os temperamentos estão batendo exatamente
com os ascendentes – o ascendente em Aquário é sangüíneo, eu tenho ascendente em
Capricórnio e sou melancólica, ele tem ascendente em Câncer e é fleumático. O
ascendente é bem determinante, não é?
Gugu: Olha só, é apenas uma coincidência. Mas isso facilita você identificar no sujeito de
maneira mais evidente qual o seu temperamento. Quando o temperamento bate certinho
com o temperamento... O que é o ascendente? É o papel que o sujeito quer ocupar no
mundo, é como ele se pensa no mundo, é quem você pensa que é ou o que você quer ser
quando crescer. Se o sujeito tem o temperamento que bate com o signo ascendente, é fácil
para ele usar aquela força do temperamento para ser do jeito que ele já queria ser; mas isso
não é sempre assim. Por exemplo, no meu caso e do Tales, ele tem ascendente em
Sagitário e eu em Leão – os dois são signos de fogo -, e nós dois temos o temperamento
sangüíneo – não com muito exagero, mas é sangüíneo.
Tales: O Marcelo, seu antigo aluno. Ele nasceu em vinte e sete de janeiro de mil,
novecentos e oitenta e nove (27/01/1989), às quatro e dez da tarde (16:10). A cidade é
Salvador – Bahia.
Tales: Deu para entender. A gente só tem mais uns cinco ou dez minutos de aula, então, se
você quiser fazer umas observações finais, pode fazer.
Gugu: Está bom. Vamos fazer umas observações finais sobre qual a importância do
temperamento. Ela consiste no seguinte: cada parte do mapa terá um significado diferente,
como alguém falou: “Ah, a casa I é um modelo ideal para o sujeito, é como ele pensar ser
dentro do mundo, o que ele vai fazer, realizar...” É mais ou menos o ascendente. Aí, nós
temos Júpiter: “Não, o que é fácil na minha vida?” Saturno: “O que é difícil e
problemático?” Só que tudo isso aí é com base no seguinte: qual é a energia básica de que
você dispõe para realizar essas coisas? Esse é o temperamento. O temperamento é tanto a
sua disposição, energia física fundamental, quanto a sua inclinação psicológica
fundamental. Por exemplo, se você pega o sujeito sangüíneo e o colocar para ficar parado
durante muito tempo, ele começa a estagnar, a mofar interiormente. Já o temperamento
melancólico, se você começa a exigir muitas mudanças, adaptabilidade e flexibilidade do
sujeito o tempo todo, ele começa a ficar deprimido, porque ele não sabe mais onde está
andando – o terreno que ele pisa está muito pantanoso. Se você tenta segurar o sujeito
colérico, você não consegue, porque ele precisa se lançar em direção às coisas, ele precisa
tentar as coisas, precisa gastar energia que nem o fogo – se você contém o fogo, ele
explode. Se você exige do fleumático que ele traga as coisas para você quando você quer,
ele não consegue; a psicologia dele é como que reativa, vai reagindo de pouquinho em
pouquinho, assim como a água – ela pode ser muito forte, mas só quando ele acumula. O
temperamento fleumático não é um temperamento de iniciativa; já os temperamentos
quentes são. Se pudéssemos perguntar assim: “Ah, como funciona?” É simples: o
temperamento sangüíneo dá a idéia, o temperamento colérico vai lá e começa a fazer, o
temperamento melancólico termina, e o temperamento fleumático faz uma música
dizendo como é que foi.”
[Risos]
O temperamento também tem uma importância muito grande – embora isso seja uma
consideração de outra ordem – nas técnicas de meditação, de oração e de práticas
espirituais; isso é modulado de acordo com o temperamento do sujeito, porque esse é o
elemento da psicologia dele que vai permanecer o mesmo do começo ao fim no processo
de mudança. Então todo mundo tem que remover certos vícios e chegar a obter certas
virtudes, só que, nesse processo de mudança, o que continuará igual em você? O
temperamento. Se você for para o inferno e era sangüíneo, lá você continua assim – do
mesmo modo que se você for ao paraíso. O temperamento é a nota fundamental que é
sempre a mesma no sujeito, portanto é aquilo que você pode esperar dele sempre. O
sangüíneo é bom no quê? Em dar idéia ou para contar o que está acontecendo no momento
em que acontece. O colérico é bom para sair da idéia e começar a fazer as coisas. O
melancólico é bom para terminar: “Não, eu não queria começar, mas agora que começou,
vamos terminar. Agora vamos até o fim, não esse negócio de fogo de palha.” Você
também pode olhar como cada temperamento enxerga os outros temperamentos. Os outros
temperamentos olham para o sangüíneo e pensam: “O sangüíneo fala, fala e fala, mas não
faz nada.” Quando olham para o colérico: “Ah, esse cara aí só pensa em dar porrada, está
sempre brigando. Não liga para a gente, não tem empatia, não está nem aí para o que a
gente está sentindo.” O melancólico: “Ele é sério demais, está sempre deprimido.” E o
fleumático: “Olha, ninguém sabe nada desse cara, ele é enigmático, um pouco fora do
normal. Ele está sempre reagindo às situações anteriores.
Aula 03
Tópicos da aula:
Transcrição da aula:
Gugu: ... As imagens que eu tenho na mente, as impressões que eu tenho no corpo, tudo
isso acontece comigo. Isso é uma parte do que sou “eu”. Outra parte do que sou “eu” é
aquilo que percebo que posso fazer. Por exemplo, falar. Nunca acontece de eu estar
falando sem ter decidido falar primeiro. Também nunca acontece de eu estar andando sem
que eu decida ter andado antes. Então eu percebo que uma parte do meu ser é aquilo que
acontece comigo, acontece em mim; outra parte do meu ser é o que eu faço, o que eu
realizo com ele. Mas a amostra que eu tenho disso é, na verdade, muito pequena. Em
qualquer momento da minha vida, o conjunto de experiências e decisões que eu posso
lembrar e que eu posso prever é muito pequeno em relação à totalidade da minha vida.
Isso quer dizer que a simples auto-observação não é suficiente para o sujeito chegar a ter
autoconhecimento. Algum método é necessário. Por que isso? Porque o ser humano é um
ser complexo. E conhecê-lo, ou mesmo conhecer-me, é, em certa medida, recapitular toda
a realidade. Isso porque, como diziam os antigos, o ser humano é um micro-cosmo, então
ele tem em si os diversos extratos da realidade que você encontra em partes nos outros
objetos.
Então podemos fazer um quaternário com isso. Na base, embaixo, está o temperamento.
Em cima está a inteligência pura. Do lado esquerdo, temos o pensamento, que é o
primeiro instrumento do intelecto possível. E do lado direito, a imaginação, que é a
capacidade de moldar as impressões, de construir conteúdos mentais com base nas
impressões. Então, se vocês lembrarem o esquema das cores que nós vimos na primeira
aula, vocês podem colocar, do lado esquerdo, do lado do pensamento, aquela seqüência
que passa entre o roxo, o azul e até o verde. E do lado direito, aquela seqüência que vai do
amarelo, laranja até o vermelho. A característica mais importante, tanto do lado do
intelecto possível, que gera as suas primeiras concepções sobre o que é a realidade, quanto
do lado das impressões e da imaginação, é que as nossas concepções e impressões geram
disposições apetitivas ou desejos. Dependendo de como você pensa ou imagina uma
situação, é como você se sente em relação a ela. Percebam que existe uma diferença
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bastante grande entre o pensamento e a imaginação. Se vocês, por exemplo, imaginarem
que do lado de fora da sala há um incêndio, vocês não irão sentir nada; talvez, dependendo
da maneira como vocês o imaginem, podem sentir satisfação ou insatisfação – alguns
podem imaginar isso como a coisa mais legal do mundo, outros não. Porém, imaginar que
há um incêndio do lado de fora da sala não irá causar uma disposição de ação em relação
ao que foi imaginado. Por outro lado, se vocês pensarem que há realmente um incêndio do
lado de fora da sala, imediatamente irão sentir uma inclinação à ação. Está clara a
diferença? A imaginação não é uma opinião acerca da realidade, ela não envolve um
juízo. Ela pode ser usada para ilustrar um julgamento, ou até para reforçar uma
mensagem; ela é usada para dar eficácia e força para um pensamento. É muito importante
vocês entenderem que as disposições gerais da alma são geradas nessa coluna da esquerda
[a coluna do intelecto possível]. Já a coluna da direita reforça ou enfraquece essas
disposições [a coluna da imaginação]. Quer dizer, a imaginação, por si, não produz ação,
mas pode ser usada para reforçar ou atenuar uma idéia, um pensamento, uma opinião, ou
uma crença. E toda a atividade da nossa mente se dá nessas duas colunas. De um lado, o
que eu penso sobre as coisas? O que eu estou percebendo? O que eu estou vendo,
ouvindo? O que eu acho? Do outro lado, como eu reajo a isso? E aí entra em jogo a
imaginação.
Então, nós vamos associar simbolicamente essas duas colunas. A da esquerda, que é
aquela ascendente, a coluna das concepções e do pensamento, iremos associá-la
simbolicamente aos vegetais – daqui a pouco explicamos o porquê. E a coluna da direita
iremos associar aos animais. A associação com as cores é muito fácil, porque a coluna da
esquerda sobe para o verde, e a maior parte dos vegetais têm algo do verde. E a [coluna]
da direita desce para o vermelho, e a maior parte dos animais têm sangue vermelho. Por
que associamos os vegetais com a coluna da esquerda? Pois ela é a coluna da atividade
terrestre do homem. Quer dizer, o homem é capaz de perceber a realidade; e como ele é
um animal racional, esse “racional” da fórmula está aí para indicar que ele é
psicologicamente consciente da sua inteligência, ele é capaz de ser cônscio da atividade
intelectual, ele é capaz de inteligir. Ora, porque essa capacidade é meramente potencial
nele, ela corresponde não à coluna da influência celeste, mas à coluna da atividade
terrestre. A inteligência é onde o homem pode subir. A coluna do pensamento é por onde
você sobe da experiência bruta até a intelecção das coisas. E a coluna da direita, é a coluna
de onde você desce da intelecção à integração e reintegração ativa do seu ser na
inteligência.
Agora, vejam bem, quando falamos que o ser humano pode entender, pode inteligir, o que
queremos dizer com isso? Isso quer dizer que ele tem um potencial, uma possibilidade, de
trazer para a sua consciência individual tudo aquilo que é inteligível. No conjunto da
realidade, isto que é inteligível já é inteligível. As coisas não são inteligíveis porque eu
tenho a capacidade de entendê-las. São inteligíveis mesmo que eu não exista. A própria
essência, ou raiz, do real da inteligência é a inteligibilidade das coisas. Isso quer dizer que,
em nós, a consciência é posterior à existência. Não é que fomos concebidos e
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imediatamente passamos a ter consciência. Não, esta veio depois, ela é progressiva, ela é
um esforço de subida desde a existência até a inteligência. Mas no momento mesmo que
eu passei a existir, a inteligência passou a operar em mim. Isso quer dizer que, no homem,
a inteligência é anterior à consciência; e ela [a inteligência] molda, determina, rege os
conteúdos da consciência. E desde quando você começa a existir, a inteligência em você
ordena o seu organismo na direção da consciência. Porque a inteligência a ordena assim, o
seu organismo começa a moldar órgãos sensoriais e te inclinar na direção da percepção
sensorial.
Após nascermos, começamos a sentir o mundo. Luzes, cores, sons. Neste momento, para
você, o mundo é duas informações básicas. A informação número um é que o mundo
existe. Essa é a informação que a sua inteligência recebe. Existe o mundo, os seres e um
monte de coisas. Agora, a informação “coisas”, “monte”, “um”, nenhuma delas você
recebeu ainda, pois você não possui tais conceitos logo ao nascer. Então, você tem uma
informação que é o Ser. E a outra informação engloba as cores, sons, texturas,
temperaturas, ou seja, as informações sensoriais brutas. Porém, a informação sensorial
bruta é de duas espécies para o bebê. Percebam que o recém-nascido ainda não discerne os
diversos tipos de entes, mas dentre os que são percebidos pelas sensações, ele distingue
duas categorias: agradável e desagradável, bom e mau. Imediatamente ele começa a
perceber isso e a classificar o mundo nessas duas categorias: o que é bom e o que é mau.
Assim que ele começa a ter um certo controle do seu corpo, a primeira coisa que ele
percebe é que pode estender a mão e agarrar as coisas. E o que ele faz quando as agarra?
A primeira coisa que os bebês fazem quando aprendem a agarrar é levar a coisa agarrada
até a boca. Por que eles colocam as coisas na boca? Para ver se é bom ou mau. Ele já
aprendeu que o mundo ou é bom ou é mau, ou é agradável ou desagradável. Então temos
aqui três noções que são as primeiras que adquirimos quando nascemos. A primeira noção
é a de existência, a noção de Ser; na primeira sensação já percebemos isso, e
provavelmente já percebemos isso na vida intra-uterina, pois ali já temos sensações, ainda
que bastante atenuadas. Depois que nascemos, dois outros conceitos surgem em nossa
mente, derivados da nossa experiência do real: bom e mau; bom é o que gostamos e
queremos, mau é o que não gostamos e não queremos. Isso antes de aprendermos que
existem coisas. Não temos o conceito de “eu” ou o conceito de “coisas”. Tudo é um Ser
só. E o Ser se divide em bom e mau antes de se dividir em espécies. Só depois começamos
a aprender as outras coisas. “Ah, tem a mamãe, o papai, eu - o nenê -, o chão...” Enfim, as
coisas. Começamos a adquirir vários outros conceitos. Esses conceitos são muito mais
úteis para navegarmos do que o simples conceito que tínhamos de “era bom” e “era mau”.
No entanto, esses dois conceitos ainda estão subjacentes em nossa psicologia. Com o
passar dos anos, várias outras atividades mentais continuam acontecendo. Adquirimos o
conceito de “eu”, “outros”; experimentamos com mais clareza as nossas disposições
interiores e nossas capacidades; e esquecemos aquelas três primeiras experiências do real,
ou seja, a experiência de Ser, a de bom e a de mau.
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Mas vejam bem: quando aplicados às coisas, os conceitos de bom e mau são muito
importantes, úteis e vantajosos. “Ser picado por uma serpente é mau, pois vou morrer ou
ficar doente.” “Comprar uma casa é bom, pois vou ficar protegido das intempéries.”
Perceba como esses conceitos são extremamente importantes para você lidar com as
coisas. Porém, a verdade é que eles são profundamente inadequados para lidarem com o
Ser. E eles surgiram como uma maneira de classificar o Ser, e não as coisas. Estas [as
coisas] realmente se dividem em boas, más e indiferentes. Mas a própria existência não se
divide nessas três categorias. Mesmo sem pensar no assunto, e como essas descobertas
aconteceram antes de você ser capaz de pensar, essas três categorias são a raiz do seu
pensamento. Você tem essa raiz e, lá no final, tem essa capacidade ou possibilidade de
entender toda a realidade, de entender tudo o que é inteligível. A primeira coisa que te
impede de entender o que é inteligível é ter classificado o Ser em bom e mau, sendo que
são as coisas que são boas e más. A existência não é boa ou má. Não existem duas
existências. Existe apenas uma existência. Vejam que aquela classificação em bom e mau
não veio da sensação enquanto ato de “ser”, mas da qualidade específica, da característica
particular que ela tinha. E às vezes uma característica particular completamente acidental.
Uma coisa pode ser desagradável num momento, numa circunstância, e incrivelmente
agradável em outra. Porém, a informação “existe o Ser”, veio do simples conteúdo da
sensação. Como conseqüência do fato de pensarmos que o Ser se divide em bom e mau, e
simultaneamente, por ter uma disposição receptiva para captar toda a realidade, temos
uma disposição, uma expectativa passiva de escapar do mal e alcançar o bem. A primeira
inclinação básica que temos, antes de qualquer desejo particular, é a expectativa de que:
“Eu vou escapar do mal e vou alcançar o bem.”
Então nós temos bem e mal, e agora olhamos as coisas e confirmamos esse fato: algumas
coisas são boas e algumas são más, algumas experiências são boas e outras são más, e
assim por diante. Isso não quer dizer só as coisas no sentido material, mas também as
coisas no sentido de experiências, no sentido do ato da percepção. “Ah, mas como escapar
do mal e alcançar o bem? Simples, eu me afasto das experiências más e me aproximo das
experiências boas.” Cada vez que passamos por uma experiência boa, por um breve
instante, esquecemos completamente a possibilidade de que ela venha a terminar e que,
em seguida, chegue a próxima experiência que será ruim. Do mesmo jeito, cada vez que
sofremos uma experiência má ou desagradável, por um breve instante pensamos: “Será
que existem coisas boas mesmo? Será que existe algum bem na realidade?” Então aí nós
temos duas questões. A primeira pergunta – que na verdade é uma ilusão, um engano-,
que é o primeiro problema cognitivo humano real, é: “Será que a realidade é boa?” Essa
pergunta é gerada diante de cada experiência má. A segunda pergunta – na verdade não é
uma pergunta, é uma ilusão ou engano, uma armadilha mental na qual estamos: “Existem
experiência boas, e a coleção delas me deixará feliz.” Assim, os primeiros obstáculos
(inaudível) são: uma dúvida de base e um engano fundamental (ou uma ilusão
fundamental). A dúvida, toda vez que temos uma experiência ruim, é: “Será que a
realidade é boa? Será que existe o bem mesmo?” E o engano é quando temos uma
experiência boa e pensamos: “Nossa, agora é para sempre!” Ou: “Depois dessa virá outra,
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e outra, e outra... E a sucessão das boas experiências irá garantir a minha felicidade.” Veja
bem que nenhuma dessas duas coisas possui uma base intelectual no sentido puro. Uma
tem uma base no esquecimento, e o esquecimento consiste no seguinte: quando
apreendemos o Ser, não apreendemos se ele era bom ou mau; mas apreendemos junto com
ele essa sensação particular que era boa ou má. Então as duas experiências encavalaram. E
o nosso juízo acerca da existência ficou esquecido, ele foi soterrado, e está enterrado por
baixo das classificações das coisas. Quanto mais olhamos as coisas e as experiências, mais
na dúvida ficamos, porque umas são boas e outras são más, e elas não nos dão uma
resposta definitiva. E a ilusão, a idéia confusa que uma hora iremos alcançar a felicidade,
só dispersa a nossa inteligência, pois, com essa expectativa, procuramos as experiências
boas e fugimos das más. Num certo sentido, isso aí é uma reverberação do elemento
vegetal do nosso ser na nossa psicologia.
No homem, então, temos três estágios semelhantes ao do vegetal. E por que iremos dizer
que eles são semelhantes ao do vegetal? Pois em todas as operações, observamos que o
vegetal é passivo em relação ao ambiente em torno. Se o vegetal é colocado em um
ambiente sem nutrientes que não favorecesse o seu crescimento, ele não pode fazer nada.
Quando ele é colocado num lugar onde tem alimento, ótimo, ele irá crescer. Se tirarmos
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ele dali, pior para ele, que não poderá mudar em nada isso. No homem, o lado vegetativo
da psicologia humana corresponde a três operações da mente diante das quais somos
passivos. Antes de tudo temos a experiência da realidade e a sua classificação em boa ou
má. E aí nós temos no fundo de nossa psicologia uma dúvida fundamental em relação ao
valor da existência. Quando temos uma experiência ruim, pensamos: “Será que existe o
bem mesmo? Será que algum dia irei escapar do sofrimento?” Essa dúvida fundamental é
a primeira circunstância. A segunda circunstância passiva é quando acontece uma coisa
boa e nós temos a ilusão de que tudo foi resolvido. Vocês percebem essa experiência em
vocês mesmos, não percebem? Quando acontece uma coisa ruim, ainda que seja por um
breve instante, fica essa dúvida; e em algumas experiências ruins essa dúvida se estende
psicologicamente durante certo tempo, de maneira que você consegue refletir e pensar
sobre o assunto. Mas em toda experiência ruim a dúvida aparece, nem que seja por um
breve instante psicológico. E na experiência agradável ou boa, há a expectativa contrária
de que tudo foi resolvido e está bem. Essas duas reações são passivas às experiências. A
terceira é a conseqüência dessas duas, é a memória que temos de nossas próprias
existências. E essa memória é colorida pelas outras duas circunstâncias, é determinada
pela combinação delas. Se estamos numa experiência ruim nesse momento: “Ah, caiu uma
pedra no meu dedão. Que horrível!” Aí começamos a lembrar de outras experiências ruins
em nossas vidas e pensamos: “Pô, a minha vida é uma droga!” Ou somos levados pela
memória a lembrar das experiências boas: “Ah, mas nem tudo é ruim...” Então aqui nós
temos o grande segredo alquímico-astrológico: essas instâncias passivas da nossa
psicologia tem um símbolo astrológico. Quando temos uma experiência ruim e ficamos
em dúvida sobre se a realidade é boa ou não, se existe o bem ou não, essa experiência
normalmente está colorida pela posição onde temos Saturno. Então, naquele círculo das
cores, embaixo vocês coloquem “temperamento”. Em cima, “inteligência”. Do lado
esquerdo, na base, no roxo, coloquem “Saturno”. No meio, na direção do azul, coloquem
“Júpiter”, que está associado à essa ilusão ou engano de que tudo ficará bem quando
temos uma experiência boa. E em cima do verde coloquem a Lua, que representa a reação
à memória, não à circunstância presente. A memória é evocada pela circunstância
presente, mas é outra coisa.
Como vocês podem notar, o símbolo de Júpiter é composto dos mesmos elementos de
Saturno: a cruz e o semicírculo. Só que, agora, o semicírculo está do lado da cruz,
começando no mesmo plano que ela, e subindo um pouquinho. Então, Júpiter representa
aquelas instâncias da sua experiência, ou da sua vida, ou da sua psicologia interna, em que
o fato da experiência indica uma possibilidade de receber algo, ou a possibilidade de
crescimento. Saturno é, por definição, o planeta da contração; Júpiter é o planeta da
expansão.
Ela é composta pelo semicírculo dobrado. Então, ela representa aquelas circunstâncias da
experiência em que a capacidade de recepção depende apenas da sua disposição interna.
Quer dizer, às vezes, a sua impressão acerca da realidade como um todo é determinada por
isso: “Será que existe alguma coisa boa? Porque o bem está todo enterrado no fato bruto.”
Depois, Júpiter: “Nossa, eu acho que agora vai dar certo! Nessa cruz aqui tem uma
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abertura!” E, terceiro, a Lua: “Se o mundo é bom ou mau, depende apenas da memória
que você tem de sua vida.”
[Queda na transmissão].
Gugu: Bom, a Lua é o semicírculo dobrado sem nenhuma cruz. Isso quer dizer que, aqui,
o juízo que fazemos da realidade como um todo depende apenas de conteúdos internos da
nossa mente, depende apenas da memória que temos do passado; ou então depende do
sentimento presente que temos, e não da relação com a realidade externa, com a cruz dos
fenômenos.
Se pegarmos esses três planetas, veremos então que o semicírculo foi subindo de baixo da
cruz, para o meio da cruz, e, por fim, se soltando da cruz. Soltando-se da cruz ele se
acrescenta outro elemento, que é outro semicírculo. Num certo sentido, a cruz foi
transformada em outro semicírculo. Essa subida tem dois significados: um para o homem
comum, quer dizer, o homem que ainda não sabe se a realidade é boa ou má; e outro para
o homem santificado, o homem santo, o homem iluminado. Para o homem comum, essa
subida do semicírculo é simplesmente um aumento no desvio subjetivo da sua percepção
da realidade. O primeiro [desvio] é uma dúvida, da dúvida subimos para o engano, e do
engano subimos para o solipsismo. Agora estamos fechados em nossa própria psicologia,
temos o nosso universozinho inventado por nós mesmos. E não tem jeito dos fatos
entrarem nela e nos libertarem. O único jeito de nos libertarmos desse solipsismo é
quando acontece uma experiência negativa e nos põe em contato com a realidade
novamente. É o famoso “tapa na cara da realidade”. E por que isso é diferente em um
santo? Porque, em cada um desses estágios, ele discerniu o conteúdo intelectivo, o
conteúdo universal baseado na experiência de Ser, do conteúdo particular baseado nas
formas de cada uma das experiências. Vejam bem que o solipsismo em que chegamos no
final tem como base o fato de termos pensado, na primeira experiência lá embaixo: “Ih, o
Ser é bom ou mau.” [O solipsismo tem como base] o fato de termos acreditado nessa
estória. Não sei se vocês já repararam, se já deram uma lida no gênesis, mas lá diz que “os
problemas do homem começaram quando ele comeu o fruto da árvore do conhecimento
do bem e do mal”. Ora, que interessante! “Comeu o fruto.” Por que eles não usaram uma
outra analogia? “Ele leu o livro do conhecimento do bem e o mal.” “Ele viu o filme do
conhecimento do bem e do mal.” “Ele entrou na turma do conhecimento do bem e do
mal.” Fala-se em “comer o fruto”, pois isso deriva das nossas primeiras experiências
gustativas. São nelas que primeiro experimentamos e discernimos bem e mal. É por isso
que colocamos tudo na boca. É para saber: “Que fruto é esse? Opa, esse é bom. Já esse
aqui é mau.” E essas experiências encobriram, fecharam, enterraram a nossa disposição
receptiva para entender o que é a realidade.
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Comer, nutrir-se, é a primeira operação do vegetal. Psicologicamente, comer consiste no
seguinte. Temos uma primeira experiência ruim... Já repararam que existem dois tipos de
experiência ruim em geral? Na verdade não são dois tipos, são só dois extremos diferentes
de uma mesma escala, não são tipos reais. De vez em quando acontece algo ruim, cai uma
pedra no meu dedão, por exemplo, e penso: “Ah, que droga!” E chuto a pedra, esqueço o
que aconteceu e sigo com a minha vida. Outras vezes acontece uma experiência ruim e eu
penso: “É sempre assim, nunca nada dá certo...” Quer dizer, algumas experiências são
ruins, mas são ruins apenas na hora em que acontecem; outras experiências evocam, no
fundo da mente, essa dúvida fundamental. “Não sei se a realidade é boa ou má, e, porque
eu não sei, minha vida será sempre ruim.” Mais adiante estudaremos o simbolismo dos
signos, mas para aqueles que já conhecem algo de astrologia, reparem que o signo e a casa
em que ele tem Saturno – principalmente o signo –, as experiências que são
simbolicamente afins com o signo que o sujeito tem em Saturno, são as experiências em
que ocorrem, com mais freqüência, essa experiência: “Na minha vida tudo sempre dá
errado, nunca nada dá certo...” Reparem nessas quatro palavras que elas são muito
importantes: tudo, sempre, nunca e nada. Essas são palavras de Saturno. É óbvio e
evidente que não podemos derivar da experiência de uma coisa um juízo universal sobre a
realidade, mas na hora temos essa impressão. Agora vem a nota psicológica difícil de
perceber. Embora eu esteja explicando isso e cada um de vocês se lembrem dessas
experiências – “nunca nada dá certo, sempre tudo dá errado” -, para fazermos esse
exercício que falarei agora a memória não será suficiente, pois ela [a memória] é uma
faculdade diferente da experiência, [a memória] é uma instância da sua psicologia distinta
da experiência. A memória é regida pela Lua, e não por Saturno. Então, quando temos
essa experiência – “nunca nada dá certo, sempre tudo dá errado” -, essa inclinação a
formular desta maneira a realidade, surge do fato de olharmos a experiência e sabermos
que de fato ela é ruim. Se observe e se pergunte: de onde vem este conhecimento? Pois há
coisas que sabemos que são ruins por meio do estudo, de algum exercício, etc. Por
exemplo, eu sei que a minha conexão aqui é ruim, e que o Skype é uma droga; e eu sei
disso pela experiência que nós temos agora mesmo. Pois bem, quando temos a experiência
do “tudo, sempre, nada, nunca”, olhemos para nós mesmos e nos perguntemos: “Como sei
que essa experiência é ruim?” Não se pergunte sobre “tudo” ou “nada”. Sobre “tudo” ou
“nada” não sabemos porcaria nenhuma! Mas que essa experiência particular [ou seja,
quando temos a experiência do “tudo, sempre, nada, nunca”] é ruim, e que ela é quase um
paradigma do ruim para nós, isso sabemos. De onde vem esse conhecimento, essa certeza?
Vejam bem que não quero colocar em dúvida a possibilidade de sabermos o que é bom ou
o que é mau, e nem afirmar que apenas Deus pode saber isso e que, portanto, temos que
nos conformar. O meu propósito não é esse. Pois, de fato, nessa hora você sabe que a
experiência é ruim. Eu quero que você se pergunte: “Como é que eu sei disso? De onde
vem esse conhecimento?”
Isso já indica também que uma prática religiosa, ou uma fé, tem um valor duplo. Por um
lado, diante da circunstância mais difícil, quando se pensa que “na vida sempre tudo dá
errado”, essa experiência tem, para esse sujeito, duas saídas: uma para dentro e outra para
cima. A saída para dentro é aquela que em princípio existe para todos, e é a melhor saída,
mas nem sempre o sujeito tem a capacidade de tirar proveito dela. Quanto à saída para
cima, o sujeito pode pensar: “É, na minha vida nunca nada dá certo, mas uma hora ela
acaba e aí eu vou para o céu...” Então, a prática religiosa favorece, por um lado, para o
sujeito agüentar a experiência ruim; por outro lado, para ele encará-la cognitivamente,
porque ele já poderá ter a expectativa de haver uma resposta positiva no final.
No entanto, se a prática religiosa arma o sujeito para procurar essa saída para dentro, ela
não inclina o sujeito necessariamente a fazer essa saída. Se ela inclinasse, seria uma
questão de tempo de prática religiosa para que todos atingissem a santidade. O sujeito
pode passar a vida toda praticando a religião e não ficar santo, mas pelo menos quando ele
morrer irá realmente para o céu, a saída para cima estará realmente aberta para ele. Isso
porque, quando o sujeito morreu, aquela cruz que cobria o círculo foi desfeita para ele.
Aquela cruz é o fato bruto da experiência do mundo corpóreo, e com a morte ela não
existe mais. Com a morte, a saída para cima e a saída para dentro passam a coincidir. No
sujeito que nunca teve nenhuma prática religiosa, o provável é que, quando ele morrer,
simplesmente irá se confirmar a inclinação e a disposição que ele tinha durante a vida.
Como a inclinação fundamental durante a vida era o medo de encarar esse núcleo
problemático da experiência, quando ele morre, e a saída para cima é a mesma que a saída
para dentro, o medo move ele para longe do centro. E é justamente esse que é o processo
da condenação. Vejam bem que isso é uma questão de inclinação. Excepcionalmente pode
acontecer de um sujeito realizar as práticas religiosas sem colocar o interior dele de
maneira nenhuma durante a vida nessas práticas, e aí esse sujeito irá para o inferno
também. E pode haver um sujeito que não praticou nenhuma religião formal, mas a vida
dele foi uma prática que, estruturalmente, seria aquilo que a religião o mandaria praticar; e
para ele a saída para cima também estará aberta. Porém, esses dois casos são
excepcionais, não são comuns.
Eu falo nessas coisas porque, no tempo em que se ensinava esse negócio de astrologia, de
como nós realmente funcionamos, de como funciona nossa alma e a nossa mente... Veja
que a maior parte das pessoas não consegue mapear isso, são vítimas passivas de suas
psicologias e têm pouquíssima liberdade interior. Quando se ensina alquimia e astrologia
para alguém, é dado a ele armas de mapeamento do seu interior. Então, quando se
ensinava essas coisas, todo mundo praticava a religião. Todo mundo. Então, o sujeito
mapeava a mente dele e pensava: “Opa! Descobri que na minha mente há, de um lado,
uma porta para o céu; do outro, uma porta para o inferno. Há essas duas portas dentro de
mim. Sei também mais ou menos em que direção essas portas estão.” Como o sujeito
vivia desde a infância uma vida de prática religiosa, a inclinação dele já era em direção à
porta do céu, e não da porta do inferno. Aí ele acabava entrando nesse caminho, de
maneira que o ensino de astrologia e alquimia era, em geral, favorável para as pessoas que
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estudavam essas ciências. Mas uma hora isso começou a não valer mais. E o que o pessoal
que sabia essas ciências começou a fazer? Eles começaram a ensinar astrologia e não
ensinar alquimia. “Não, astrologia é só a parte teórica, é só para o sujeito fazer a colheita,
é para escolher um bom casamento para o rei...” A partir daí não conseguiram mais
entender que a astrologia é uma ferramenta para mapear a mente, e é só com a chave
alquímica que o sujeito entende isso. Separou-se o ensino das duas coisas, e começou-se a
escrever manuais de astrologia cada vez mais explícitos e detalhados em matéria
preditiva; por outro lado, manuais de alquimia cada vez mais obscuros quando se tratava
dos simbolismos.
Nesse curso, pela primeira vez, estamos dando a chave completa: teoria cosmológica,
astrologia e alquimia. É por isso que, de tempos em tempos, saímos das explicações dos
simbolismos e passamos a enfatizar a prática religiosa. Eu digo isso para o próprio bem de
vocês, pois, aqueles entre vocês que aprenderem a mapear a psicologia humana do jeito
que estamos ensinando, saberão como as pessoas em torno funcionam melhor do que elas
mesmas. E usar isso para lidar com as pessoas é muito perigoso, é como um caminho em
direção à porta do Inferno. Usar isso para retificar o rumo geral da sua psicologia e da sua
vida colocará vocês na direção da porta do Céu. Mas usar essas ferramentas para levar
vantagem sobre as outras pessoas os colocará na direção da porta do Inferno. E vos
colocará na direção da porta do Inferno mesmo que, supostamente, vocês queiram usar
esses instrumentos para retificar a vida da pessoa sem a autorização dela. Quem disse que
vocês têm esse direito? Não podemos lidar com as camadas mais profundas da psicologia
do outro sem informá-lo, mesmo com a melhor das intenções. Só Deus pode fazer isso.
Existe um jeito de fazer isso, de tentar retificar a vida do sujeito sem que ele saiba?
Preguem e ensinem a religião. Ela trata das questões mais profundas da existência humana
e atuará na raiz e no centro do sujeito sem que ele perceba, porém é Deus que está agindo
nele. O homem é apenas um veículo de transmissão. Deus pode fazer isso porque, se o
homem é consciência, em relação à Deus, ele [o homem] é mineral, é não-consciência -
nesse caso Deus é consciência no sentido supremo. Então Ele cuida dos homens como se
estes fossem criancinhas, pois em relação a ele, se chegarmos no grau de criancinhas, isso
já é um grau elevado.
Hoje em dia isso não está no imaginário das pessoas no ocidente, pois vivemos numa
sociedade pagã. Então pensamos que somente são perfeitos como seres humanos os santos
como São Francisco, São Domingos, Santo Inácio e etc; as pessoas que só jejuavam,
rezavam e faziam caridade. Porém, quando existia a cristandade não era assim. Todos
sabiam que existiam muitas pessoas perfeitas, mas que do ponto de vista da ação eram
simplesmente pessoas boas. A alma de um sujeito desses era idêntica à de um santo, mas
na ação ele era somente uma pessoa muito boa. Nos ambientes em que ainda existe a
tradição isso é muito claro. Por exemplo, aqui no Marrocos isso é muito evidente. Todo
mundo sabe que o sujeito não precisa voar para ser santo; ele não precisa brilhar, não
precisa abrir o Mar Vermelho para que saibam que ele é santo. Está cheio de gente por
aqui que, durante a convivência do dia-a-dia, passa uma serenidade, uma luz, uma
bondade que é subjacente ao comportamento. É possível sentir a presença espiritual da
pessoa mesmo que ela esteja realizando uma atividade perfeitamente comum. Num
ambiente normal, essa é uma experiência comum. Está cheio de pessoas perfeitas cujas
circunstâncias não pediram virtudes heróicas.
Pois bem, a alquimia era um mapa da mente humana para o sujeito ter uma técnica para se
aproximar desse tipo de perfeição. A alquimia não era senão isso, e um dos seus sinais era
o milagre da transformação física do fungo em ouro (nota do transcritor: não sei se o
termo foi exatamente “fungo” ou “fundo”, o áudio está ruim). Uma operação realmente
milagrosa e que não pode ser realizada pela mera repetição de certas etapas. Uma
transformação alquímica não é uma operação química (quer dizer, a combinação de certo
minerais numa certa ordem, numa certa proporção, numa certa circunstância); ela é
realmente uma transformação milagrosa, como a transubstanciação ou um milagre de
algum santo. E os alquimistas sabiam disso: “Olha, existem inúmeras maneiras de você
produzir isso aqui. Nós te damos as linhas gerais, mas cada um acaba fazendo de um jeito,
pois isso é um milagre, e todo milagre é único.” Então, isso aqui é um mapa para o sujeito
buscar a perfeição, só que esse mapa também indica qual a direção contrária – o caminho
99
da imperfeição. E não é nada impossível um sujeito simplesmente seguir o caminho
contrário. Por isso que essas eram ciências ocultas. “Não, você não pode ensinar isso para
que esse conhecimento não caia em mãos erradas.” Tudo isso tem sentido. E por isso
resolvi dar esse curso dessa vez e ver o que acontece daqui a alguns anos. Depois teremos
que ver quantos dos alunos teremos que matar depois...
Alunos: Risos.
Gugu: Brincadeira, as coisas não vão tão longe assim. E a gente ensina isso porque hoje
em dia há um esquecimento total delas. E essas são coisas que realmente não devem ser
perdidas.
Então, voltando. Se nos três planetas do lado lunar o semicírculo foi subindo, no lado
contrário teremos um processo semelhante. O lado contrário começa com Vênus, lá na
altura do amarelo.
Depois de Vênus vem Marte, que também é composto dos mesmos elementos.
ou
Gugu: Exatamente! Eles seguram o globo com a cruz em cima. E isso representa
justamente o que eu acabei de dizer. O rei é a ponta de lança do esforço de
aperfeiçoamento da nação; o esforço para trazer a justiça para o reino. “Ah, esse negócio
de justiça que os padres ensinam é muito bonito! Mas quem é que vai fazer isso aí?” “Ah,
o povo precisa de prosperidade, de alimento e de segurança! Mas quem é que vai fazer
isso aí?” É o rei.
Aqui o círculo está liberto da cruz e há um novo ingrediente: um ponto central. É a mesma
coisa que a Lua: ela é o semicírculo separado da cruz, ao qual se acrescentou um novo
semicírculo. O Sol é o círculo separado da cruz, ao qual se acrescenta um ponto central.
Ele representa o estado de posse consciente daquele centro, daquela semente que aparecia
no primeiro estágio. Lembram do que dissemos antes? Se o sujeito analisa a experiência
negativa dele da maneira correta no momento em que ela acontece, ele acaba percebendo
que existe uma semente de certeza, infinitude e paz nele mesmo. O Sol, portanto,
representa a posse perfeita desse centro.
Ele é o único planeta a ter no seu símbolo os três elementos: o semicírculo, o círculo e a
cruz. Mercúrio é uma síntese da psicologia total do homem. Ele é, num certo sentido, o
símbolo do próprio homem. O semicírculo é a receptividade voltada para cima, para um
elemento transcendente; o círculo, no centro, é a perfeição; e a cruz, embaixo. Então, a
receptividade se tornou inteligência pura e se volta somente para o Céu; a perfeição está
102
no meio, e serve de ligação entre o Céu e a Terra; e esta [a Terra] está embaixo. Mercúrio
representa o instrumento, o meio com o qual lidamos com cada uma das instâncias de
nossa alma. Digamos que nossa vida possui seis capítulos: Saturno, Júpiter, Lua, Vênus,
Marte e Sol. Mercúrio é o meio que usamos para entender o significado de cada um desses
capítulos, e também o meio que usamos para colocá-los cada um em seu devido lugar. Ele
é o símbolo do próprio homem.
Recapitulando. Do lado esquerdo temos esses três estágios. 1) Saturno, que representa a
experiência que nos indica que a realidade deve ser negativa; representa a experiência que
gera a impressão de que a realidade, o Ser, a existência é má. 2) Júpiter, que representa a
experiência que indica que a realidade, o Ser, a existência é boa. 3) A Lua, que indica um
solipsismo. “Pode ser que a realidade é boa, pode ser que seja má.” Na outra coluna não se
trata apenas de uma percepção da realidade, mas sim de uma atividade em relação a ela. 4)
Então Vênus indica: “Ah, a realidade é boa? Oba, eu quero!” 5) Marte indica: “Ah, a
realidade é má? Então vou encher de porrada!” 6) O Sol é: “Ah, posso fazer o que quiser!”
Se a Lua de certo modo é uma indicação de dúvida quanto a realidade ser boa ou má, o
Sol é onde o sujeito tem a certeza que pode ser bom ou mau. Vênus indica que algo neste
mundo é bom. “Café é bom. Cigarro é bom, não importa o que digam os anti-tabagistas.
Então eu quero e vou correr atrás.” Marte indica: “Isso é mau, então vou tentar bater ou
fugir.” Percebam que Vênus nos inclina para um tipo de ação, Marte à outra. O Sol indica
que podemos fazer tanto uma coisa quanto a outra, ele é simplesmente uma capacidade de
ação. No homem comum, no homem não santo, ele é a pura e simples liberdade de
escolha em cada ato: “Agora posso fazer ou não fazer isto.” No santo, ele não é apenas a
liberdade de escolha entendida como essa possibilidade arbitrária, e sim a percepção das
possibilidades de ação a partir do centro do estado humano (inaudível) e o conhecimento
real do que realmente se quer fazer e do que realmente é bom para o indivíduo. O santo é
o sujeito que, quando olha para si mesmo, escolhe fazer aquilo que no fundo é melhor de
qualquer maneira. E toda vez que ele procura ele acha esse fundo. Em nós não é assim. A
experiência do homem comum com o Sol é a de liberdade de ação, mas essa liberdade, em
última análise, acaba tendo como critério de decisão Vênus e Marte. O que é gostoso, o
sujeito vai e pega; o que é ruim, ele ou bate ou foge.
Essa é a chave dos significados astrológicos dos planetas. Saturno significa aquilo que é
difícil, aquilo onde encontramos um obstáculo insuperável. Júpiter, ao contrário, é onde
encontramos uma oportunidade muito maior do que aquilo que podíamos esperar. A Lua é
onde às vezes achamos que tudo é bom, às vezes achamos que tudo é mau. Vênus é onde
algo é bom, e, portanto, gera uma inclinação a buscar esse algo. Marte é onde algo bem
definido é mau, gerando a inclinação de combate ou de fuga do indivíduo. E o Sol é onde
podemos ou não agir, onde temos liberdade total de escolha – às vezes fazemos de um
jeito, às vezes de outro. A diferença entre a primeira e a segunda colunas é que, na
primeira, os três estados são disposições passivas: ou sentimos que nada presta, ou que
tudo presta, ou que mais ou menos. Na coluna da direita, não: “Isto aqui é bom” Não é:
“Tudo é bom.” – Como em Júpiter. Júpiter também é símbolo da preguiça. Por quê? “Ah,
103
se tudo é bom, não precisa fazer nada...” Tanto Júpiter quanto Saturno encolhem a ação do
sujeito. Um porque “não dá para fazer nada mesmo” (Saturno); outro porque “não precisa
fazer nada” (Júpiter). A Lua encolhe a ação porque o sujeito fica fechado na sua
psicologia. Já os três planetas da coluna da direita são o contrário: os três são capacidade
de ação, de atividade; os três representam disposições ativas. E, por último, Mercúrio. Por
que ele é diferente aqui? Como falamos, ele é como uma imagem do próprio homem.
Vejam bem, no temperamento lidamos com a base mais baixa da nossa psicologia, aquilo
que é menos humano em nós, a base da cruz do Mercúrio. O próprio Zodíaco representa a
nossa inteligência, o topo supra-humano da nossa existência, que está logo em cima do
semicírculo de Mercúrio. Essa inteligência – representada pelo Zodíaco - é a mesma para
todos nós, então não existe um cálculo da inteligência no homem como existe um cálculo
do temperamento. Os temperamentos são individuais, mas a inteligência pura é a mesma
para todos. Aquilo que sabemos, aquilo que temos inclinação ou hábito para entender com
facilidade ou dificuldade varia de uma pessoa para outra, mas a própria inteligência é
igual para todos, e por isso ela é representada pelo Zodíaco comum. Mas, se não existe um
cálculo da inteligência, existe um cálculo da mentalidade, ou seja, da nossa identidade
humana. Bem, o cálculo do temperamento é baseado no ascendente. Já o cálculo da
mentalidade é baseado na posição de Mercúrio. As regras para o cálculo da mentalidade
são:
1) Qual é o planeta que tem mais dignidades essenciais no ponto do Zodíaco em que
Mercúrio se encontra no mapa natal?
2) Os planetas que formam aspecto com Mercúrio; sendo que o Sol só esquenta (ou
aumenta a disposição ativa), e a Lua esfria (aumenta a disposição passiva). Sol e Lua não
são significadores de mentalidade. Isso quer dizer que, se o Sol ou a Lua forem os
planetas com mais dignidades essenciais no ponto do Zodíaco em que Mercúrio está,
nenhum deles serão significadores de mentalidade. Nesse caso, o primeiro significador
será o próprio Mercúrio, seguido imediatamente do segundo planeta que tiver mais
dignidade essencial do lugar onde estiver.
3) Os planetas que formam aspecto com o planeta que tem mais dignidade – com exceção
de Sol e Lua, que não contam -, e o grau de dignidade geral que esse planeta tem.
Faremos um cálculo de mentalidade para exemplificar o que foi dito até agora. Para isso,
vamos usar o mapa do aluno x, nascido em 15 de agosto de 1981, em Mogi das Cruzes –
SP. Vamos lá. Mercúrio está em 28º de Leão. Quem teria mais dignidade aí, em princípio,
é o Sol, pois ele é o regente. Mas, como falamos, o Sol não é significador de mentalidade,
então partimos para o segundo, que é Júpiter, o regente da triplicidade. Júpiter então é o
significador geral da mentalidade desse sujeito, ou [o significador] do caráter dele. Em
astrologia, caráter não era entendido no sentido moral, era simplesmente entendido no
sentido de uma marca fixa da pessoa. Então, aqui nós temos o significador principal que é
Júpiter, um pouco mais quente por causa do Sol, ou seja, é um Júpiter um pouco mais
104
ativo, um pouco mais expansivo. Se olharmos a condição de Júpiter no mapa, ele está
exaltando e, também, em conjunção perfeita com Saturno. Qual a mentalidade geral de um
sujeito cujo significador principal é Júpiter? Ou: como um sujeito desse prefere agir
conscientemente? Ele prefere ser uma pessoa justa, aberta, imparcial. Como Júpiter está
exaltando e em conjunção exata com Saturno, isso indica que a pessoa é expansiva, mas
admira a seriedade e a sobriedade; a natureza geral de um sujeito assim é expansiva, mas
ele acha que a seriedade é melhor do que a expansividade. Quais as características mais
positivas de Júpiter enquanto significador da mentalidade? Realmente uma tendência à
imparcialidade: “Deixa eu ver se meu adversário não está certo.” Também uma
predisposição otimista em relação à vida. Essas são as suas melhores qualidades. Quais a
piores características? “Não, o mundo é bom, as coisas são boas...” “Se o mundo é bom,
por que fazer alguma coisa?” Júpiter, às vezes, tende a um certo farisaísmo de achar que já
está no caminho bom. “Nós já somos o povo eleito, por que precisamos cumprir a lei? Isso
é apenas um detalhe menor.” Quer dizer, é um sujeito que às vezes tende a pensar o
seguinte: “Olha, eu já faço tantas coisas boas, e agora você irá me julgar só por essa
coisinha ruim e pequena que eu fiz aqui?” Ou: “Você não sabe que eu sou um cara legal
em geral? Eu também tenho direito de pensar em mim mesmo de vez em quando.” Júpiter
é o planeta significador dos sacerdotes: “Mas eu já dou o sacramento, vocês ainda querem
que eu seja bom?” Porém, de modo geral, é uma mentalidade fácil de se lidar. É uma
mentalidade nobre. Júpiter é também significador da elevação, da pessoa que deseja que a
sua passagem pelo mundo não deixe este pior; para ela, o mundo é uma coisa boa e não
merece ser piorado; a vida é uma coisa boa e não merece ser diminuída.
Vejam que o temperamento é gasolina que a pessoa tem para agir; já a mentalidade é
como ela vai usar conscientemente essa gasolina. Se as duas coisas batem, então um
determinado traço será muito marcante no sujeito. Caso uma pessoa tenha Júpiter como
significador da mentalidade (nota: lembrar que no cálculo do temperamento os planetas
têm qualidades dos elementos, e Júpiter é um planeta de ar), e seja ainda de temperamento
sanguíneo (também do elemento ar), ou seja, se a mentalidade dela é Jupiterina e o
temperamento sanguíneo, então esse traço será muito marcante. Podemos dizer que o
temperamento é o combustível que a pessoa usa na vida dela, ou o material de construção;
já a mentalidade é o projeto. Se o projeto e o material combinam é mais fácil, fica mais
marcante aquilo no sujeito. Se você quer fazer uma espada e tem o metal como material,
então vai ser fácil; se você quiser fazer um incêndio e o material for o fogo, sem
problemas. Mas se você quiser fazer um incêndio e o material for água, aí será um pouco
mais complicado; se você quiser fazer uma casa, mas o material for o fogo, isso também
não é recomendável.
Aula 04
Tópicos da aula:
Transcrição da aula:
Temos algum mapa aí para usarmos de exemplo? Então vamos usar o do Fulano. Ele
nasceu em 28 de junho de 1964, em São Paulo – SP, às 14:30.
Mercúrio está a 8º (oito graus) de Câncer e em conjunção com o Sol. Aqui, o planeta mais
forte é Júpiter, pois ele está exaltado e é o regente do termo. O termo é uma subdivisão
entre alguns graus e o signo. Então, temos aqui um ascendente em Escorpião, e subjacente
a ele há esse temperamento jupiterino; logo, é um ascendente em Escorpião um pouco
mais macio, generoso e indulgente do que a média.
Gugu: Indulgente de modo geral: o jupiterino é indulgente tanto com ele quanto com os
outros. Por ter uma mentalidade regida por Júpiter, a pessoa tem uma preferência pela
imparcialidade e pela justiça de julgamento, e, ao contrário do miserável signo de
Escorpião, não gosta de pensar que o sujeito é culpado antes de ter provas acerca disso.
Existe um elemento conflituoso aqui. O sujeito tem ascendente em Escorpião, portanto é
desconfiado. Por outro lado, por ter a mentalidade jupiterina, ele fica o tempo todo
pensando: “Você não pode desconfiar das pessoas sem saber, sem motivos!” O elemento
jupiterino também denota um senso de humor.
Aluno: O fato de Júpiter estar perto do descendente em Touro também contribui para isso?
108
Gugu: Naturalmente que acrescenta algo. Júpiter mais próximo do ângulo aparece mais na
tipologia da pessoa. Isso acaba reforçando um traço da personalidade. Mas mesmo que ele
não estivesse no ângulo, o modo da pessoa pensar já corresponderia à Júpiter. Júpiter na
casa VII é um tanto como as pessoas te vêem, mas a mentalidade não. A mentalidade é
um critério interno nosso, como achamos que devemos agir, como achamos que é mais
razoável agir. Como nós temos cinco regentes fundamentais para a mentalidade
(Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno) temos cinco tipos básicos de mentalidade. 1)
A mentalidade jupiterina tende à imparcialidade, à generosidade, à liberalidade. Mas
também à indulgência excessiva, a ter uma visão de si um pouco superior ao que de fato
ele é; Júpiter se julga mais pelas suas intenções do que por suas ações. É uma mentalidade
otimista, mas às vezes preguiçosa (inaudível).1 Só sabemos que essa é uma nota que está
por baixo das interpretações que faremos depois. O temperamento e a mentalidade são o
material de que o sujeito é feito - e não o que ele é. Isso não explica tudo o que ele é, mas
imprime um tom nisso. 2) A mentalidade mercurina é curiosa, mas superficial,
inconstante. Ás vezes, ela é um limitador. A pessoa gosta muito de assimilar o
comportamento de outros; ela vê o comportamento de outras pessoas e pensa: “Ah, isso
aqui é como eu quero ser!” E então ela começa a agir conforme esse modelo, nem sempre
captando a psicologia do outro de forma profunda; ela capta apenas o comportamento
externo. De modo geral é um sujeito mais adaptável. A mentalidade mercurina tem muito
mais facilidade de se comunicar com as pessoas e explicar o que ela pensa do que uma
mentalidade de tipo saturnina ou mesmo jupiterina.
Vamos fazer o seguinte... Se eu não me engano, começamos a falar na aula passada sobre
a nossa natureza vegetativa e de nossas primeiras experiências da inteligência ainda na
infância. Bem, o ser humano possui dois tipos de órgãos perceptivos, duas faculdades de
percepção. Um tipo é igual ao dos animais, que é a percepção sensorial (visão, audição,
tato, olfato e paladar) e a estimativa. Cada um dos nossos sentidos possui um objeto
próprio de percepção. Por exemplo, a cor é um objeto próprio da visão, o som é o objeto
próprio da audição e assim por diante. Então, como a cor entra no campo da visão, pelo
simples ato de ver podemos comparar uma cor com a outra, pois com o mesmo órgão
percebemos o azul e o amarelo, por exemplo. Mas não percebemos com o mesmo órgão o
grave, o azul, o doce ou o amargo.
Como procedemos para saber a diferença entre o verde e o doce se o verde é percebido
pela visão e o doce pelo paladar? É evidente que temos que ter um depósito comum de
percepções sensoriais; e esse é o sentido comum. Temos que ter uma raiz perceptiva
aonde chega todos os dados de cada um dos sentidos particulares. Porém, percebam que a
1
Nota do transcritor: lembrando da explicação do simbolismo de Júpiter da aula passada, ele tende à ilusão de
que as coisas sempre vão dar certo, e por isso pode deixar de agir; essa ilusão anestesia Júpiter quanto à
necessidade de agir em certas situações, já que ele acha que tudo vai ficar bem independentemente do que quer
que aconteça.
109
diferença entre os objetos dos sentidos é percebida somente na presença deles. Se eu digo
que o verde é diferente do roxo, vocês entenderão do que eu estou falando pois estarão
lembrando da diferença; mas não estarão percebendo ela justamente porque eu não a
mostrei, apenas me referi verbalmente à ela. Os sentidos só operam na presença atual dos
objetos. É óbvio que, depois que percebemos uma diferença com os sentidos, podemos
gravá-la na memória. No entanto, relembrar não é o mesmo que perceber. No ato mesmo
de lembrar algo, sabemos que não o estamos percebendo.
Mas nem tudo o que percebemos ao nosso redor com os sentidos é a percepção de uma
presença atual. Às vezes percebemos um copo em cima da mesa e pensamos: “Esse copo
cairá.” Mas ele ainda não caiu. Quando olhamos um animal, podemos pensar: “Esse
cachorro está com medo.” Ou: “Ele vai me morder.” Ou ainda, em relação a uma pessoa:
“Esse sujeito é muito forte; se eu brigar com ele vou levar uma coça.” Notem que esse
tipo de percepção tem algo em comum com os sentidos. E o que essa percepção tem em
comum com os sentidos é que ela é uma avaliação particular, é uma avaliação que é válida
para a circunstância concreta. Olhamos uma árvore e pensamos: “Ah, eu consigo subir
nela.” Não pensamos que conseguimos subir em árvores de maneira geral, mas que
conseguimos subir nessa árvore que estamos percebendo em particular. Isso é a avaliação
de um dado concreto. “Esse cachorro quer me morder.” “Esse sujeito é muito forte.” Ora,
foi a cor desses objetos que nos disse isso? Foi o tamanho deles? O som que eles faziam?
Não, não foi em nenhum desses dados de maneira isolada. No conjunto de dados que eles
ofereciam, percebemos um potencial para ação. A essa capacidade de perceber o potencial
das coisas concretas, damos o nome de estimativa.
Quando nascemos, ainda não temos linguagem e não sabemos de nada. Mas no momento
mesmo em que nascemos já estamos percebendo os objetos, tanto com os sentidos quanto
com a estimativa ou mesmo com a inteligência. Nascemos e já há uma luz em nossos
rostos. E essa luz é, ao mesmo tempo, três vezes: ela é, primeiro, desagradável; depois,
potencialmente hostil; e por último ela também é a existência. Os sons que ouvimos, os
cheiros que sentimos e tudo o mais que chega até nós, vamos percebendo nessas três
claves. Numa delas, que é a sensorial, a diferença entre as diversas categorias de
fenômenos é muito grande. Alguns objetos aparecem como extremamente desagradáveis,
e outros como extremamente agradáveis. Logo que nascemos a realidade já se divide em
dois grupos: o grupo do agradável e o grupo do desagradável. Depois descobrimos que
temos mãos, braços, que podemos agarrar as coisas e colocá-las na boca para vermos se
são agradáveis ou desagradáveis, se são comestíveis ou não. Ao mesmo tempo as
2
Nota do transcritor: realmente o bolo não engorda. Cientificamente falando, a lei da termodinâmica aplicada à
nutrição diz que o ganho de peso só ocorre caso o nível de calorias ingeridas por alguém seja maior do que o seu
gasto energético diário. Então, mesmo que a pessoa só coma bolos, se diariamente ela não ingerir mais calorias
do que o seu corpo gasta, ela não irá ganhar peso.
111
percebemos como existência. Se não percebêssemos assim, não teríamos como, depois,
perceber que há uma diferença entre sonho e vigília.
Às vezes, quando estamos sonhando, não sabemos que estamos sonhando; mas,
geralmente, quando estamos acordados, sabemos que estamos acordados. Vejam que
agradável ou desagradável não são modos de existência da coisa, são modos das relações
entre as coisas e nós. O que é agradável ou desagradável depende não só do que a coisa é,
mas depende também daquilo que somos. Já o objeto do sonho e o objeto da vigília não
são diferentes apenas em relação a nós; o ser deles é de natureza diferente. As leis que
regem os objetos do sonho são diferentes das leis que regem os objetos da vigília. A
diferença, nesse caso, está no modo de existência do objeto; enquanto que agradável e
desagradável dependem não só do modo de existência, mas do modo de existência do
sujeito e da relação entre ela [a coisa desagradável ou agradável] e ele [o sujeito
cognoscente]. Quando estamos com fome, muitas coisas parecem gostosas; se estamos
sem fome, tudo parece sem graça. O alimento não muda, nós é que mudamos. Porém, não
importa como nos sentimos, os objetos do sonho jamais serão regidos pelas leis a que
estão submetidos os objetos no estado de vigília. Se fizermos algo hoje acordados,
podemos contar que amanhã ele já estará feito. Quando sonhamos algo hoje, não podemos
contar que ela voltará amanhã ou que o sonho seguirá uma seqüência ordenada; não
importa qual a nossa disposição em relação ao sonho; quando dormimos, cada dia
sonhamos com algo diferente. Já quando acordamos, na maioria das vezes acordamos na
mesma cama em que dormimos. Essa diferença [de sonho e vigília] é percebida pela
inteligência; ela nem sempre é percebida pela imaginação ou pela estimativa enquanto
dormimos. Quando estamos dormindo e sonhamos, não sabemos que este sonho em
particular é um sonho (e muitas vezes temos os mesmos sentimentos que temos quando
estamos em vigília), mas continuamos sabendo a diferença entre o que é sonho e o que é
vigília. O que não sabemos é como aplicar essa diferença no caso concreto. É a mesma
coisa que um sujeito que tem uma alucinação. Não é que ele não saiba o que é a diferença
entre uma alucinação e uma percepção; ele não sabe dizer que está sofrendo uma
alucinação no momento em que ela ocorre. A informação faltante é a da estimativa e a dos
sentidos.
Na medida em que nós vamos crescendo, seria razoável pensar que vamos conseguindo
perceber essa confusão das nossas primeiras experiências e, aos poucos, diferenciamos
corretamente um juízo da inteligência de um juízo da percepção sensorial; ou seja, que o
que é bom ou mau é a sensação que nos chega pelos sentidos, e que à existência mesma
essas duas características [bom e mau] não se aplica. Porém, não é isso o que acontece.
Ao longo da vida tendemos a confirmar essa divisão da realidade em duas categorias –
bom e mau – do que a cancelar essa diferença inicial. Isso porque quando começamos a
lidar com as coisas, percebemos que algumas delas são boas e outras são más; quando
começamos a lidar com as pessoas, percebemos que algumas são boas e outras são más;
começamos a perceber que algumas coisas em nós mesmos são boas e outras são más. Em
nenhum momento recordamos do problema inicial, pelo menos não instintivamente ou
espontaneamente, ou ainda por um simples estágio de desenvolvimento físico. Alguém
terá que vir até nós e nos recordar do problema, de que não é a existência, o ato de existir,
que se divide em boa e má, e sim as coisas concretas.
Aluno: No começo o bebê já entende que o bom e o agradável apenas coincidem, ou ele
entende de forma confusa o que é bom e o que é agradável e só com o tempo ele entende
que tal coisa pode ser boa e agradável, e tal outra pode ser boa mas não agradável?
Gugu: Quando somos bebês não sabemos o que é agradável, nós experimentamos coisas
agradáveis. E essas coisas agradáveis que experimentamos, entram na categoria intelectual
do bom. Todas essas primeiras experiências entram nessas categorias da inteligência de
bom e mau, e só depois começamos a perceber que existem outras categorias do bom e do
mau que não coincidem com o agradável e com o desagradável. Só quando nossos pais
começam a nos corrigir e a nos dizer que não devemos fazer algo porque é feio, por
exemplo, é que começamos a perceber que algumas coisas podem ser agradáveis, mas
talvez elas podem não ser boas. Porém, por mais que sejamos ensinados quais ações são
boas e quais são más, ainda assim o problema original [de dividir a existência em boa e
má] não está resolvido. Enquanto essa questão da existência se dividir em boa e/ou má
não estiver resolvida, estamos como que programados para fugir do que é mau e procurar
o que é bom. Podemos perceber isso cada vez que percebemos ou experimentamos algo
bom e agradável, ou algo mau e desagradável. Se nos observarmos, percebemos que no
ato de experimentar algo bom ou agradável, no fundo de nossa psicologia algo diz que
tudo ficará bem, de que finalmente escapamos do mal e alcançamos o bem. E quando
experimentamos algo mau ou desagradável, no fundo de nossa mente fica uma dúvida
sobre se algum dia escaparemos daquilo que é mau.
Júpiter, no mapa, indica onde está radicada essa expectativa de que escapamos do mal e
finalmente encontramos o bem; e Saturno indica essa dúvida que temos sobre se algum
dia conseguiremos escapar do mal. Se olharmos a posição de Júpiter de alguém num
mapa, sabemos que aquela posição indica as experiências que geram essa expectativa de
que a realidade será boa para com essa pessoa; é nesse tipo de experiências que ela achará
que existe de fato uma chance da realidade ser boa e não má. Já a posição onde Saturno
está, indica as experiências que geram a certeza de que a realidade é mesmo má. Tanto
Júpiter quanto Saturno aparecem na psicologia do sujeito primeiro como inclinações
apetitivas. Podemos dizer que um aparece como uma cenoura e o outro como um chicote,
e não conseguimos permanecer somente no lado positivo e sempre escapar do lado
negativo, pois esses dois tipos de experiência sempre se alternam. Como já avaliamos a
realidade dividindo-a em boa e má, o problema fundamental nos aparece já enquadrado
nessas categorias. Ele não aparece em termos intelectuais: “O que é isto que é bom e o que
é isto que é mau?” “Bem e mal são categorias da realidade ou são apenas coincidências?”
Não, o problema aparece em termos práticos: “Como posso escapar do mal e alcançar o
bem?”
Colocada de maneira abstrata, a questão é muito fácil de ser respondida. Todos sabemos
que o que é bom e o que é mau, depende da pessoa para quem esse algo é bom ou mau. Se
perguntássemos para um peixe sobre o que é mau, ele diria que o ar é uma das piores
114
coisas que existem, que sair fora da água é uma das piores coisas que existem. Já para nós,
permanecer embaixo d’água é uma das piores coisas que há. Todos sabemos que bem e
mal são relações que existem entre um objeto e um sujeito. Vejam que dizer que é uma
relação entre objeto e sujeito, não é a mesma coisa que cair num reducionismo
subjetivista. “Não, tudo é relativo, cada um é cada um.” De maneira nenhuma é isso. De
fato existem relações universais. Ficar cego, por exemplo, é ruim em qualquer hipótese,
mesmo que queiramos ficar cegos. As coisas serem boas ou más dependem sim da relação
entre sujeito e objeto, mas uma relação ser boa ou má não depende da nossa opinião
acerca dela; essa relação que há entre um sujeito e objeto é, objetivamente, ou boa ou má
ou indiferente. Uma pessoa pode nos falar: “Ah, você não deve dar esmola, porque vicia o
cidadão.” Bem, essa pessoa pode ter essa opinião; a opinião que ela tem acerca do ato de
dar esmolas não modifica o fato de que dar esmolas é uma coisa boa, independentemente
do que achemos disso.
Aluno: Eu havia entendido, sobre o que você disse antes, que o julgamento da inteligência
se refere ao Ser (que pode ser bom e/ou mau), e que o julgamento dos sentidos (que pode
ser agradável ou desagradável) e o julgamento da estimativa (que pode ser útil ou hostil)
dependem da relação entre o sujeito e objeto.
Para essa pergunta existem três tipos de respostas, e nós procuraremos um tipo muito
específico. A primeira resposta é aquela que responde pelos efeitos: “Essa comida me
deixa contente porque é doce, macia, cheirosa.” A segunda é aquela que responde pela
definição da coisa: “Ah, eu tomo isso daqui porque é café.” Só que nós não queremos
ouvir a definição de algo. Essa não é uma pergunta para formularmos uma resposta, mas
uma pergunta para assimilarmos uma resposta que não virá em forma discursiva. Na hora
em que experimentamos algo que é bom, devemos olhar para ela e buscar aquilo que o faz
uma coisa boa, ou seja, o que é o bem em si, e não esta coisa em particular. Não estamos
investigando a coisa boa que adquirimos ou experimentamos, estamos investigando o
116
próprio conceito de bem; só que não estamos investigando ele em nossa mente, mas no
objeto que está na nossa frente e que representa um bem para nós. Demos na aula passada
que no fundo de nossa mente existe uma capacidade de discernimento, que é como uma
semente bem pequena. Pois bem, é este ato de olhar o que é bom com a intenção de
descobrir o que é o bem; esta é a água que rega essa pergunta. Isso é um esforço
contemplativo, uma orientação contemplativa; não é ainda um ato de contemplação, mas
uma orientação nessa direção; é um direcionamento da nossa mente.
Aluno: Como isso se encaixa com os três tipos de pergunta que você mencionou antes?
Isso não ficou claro para mim.
Gugu: Quando estamos diante de alguma coisa que é boa e que gera algum tipo de
satisfação em nós, podemos dizer três tipos de coisa acerca dela. No primeiro caso,
dizemos que ela é boa porque gera um certo efeito agradável nos órgãos sensoriais, seja na
língua, no olho, na audição, no cérebro e assim por diante. No segundo caso, dizemos que
ela é boa pela própria definição ou quididade da coisa, por exemplo, quando dizemos:
“Isso é bom porque é um amigo.”3 Ou: “Isso é bom porque é nutritivo.”4 Mas no terceiro
caso, nos referimos ao próprio ato de ser bom; não queremos saber por que algo em
particular é bom, mas por que algo em geral é bom.
Aluno: Considerando uma coisa boa de uma forma mais básica para o ser humano, essa
coisa boa não seria aquilo que preserva a sua existência?
Gugu: Sim, pois manter-se vivo é um bem fundamental, porém não é o primeiro bem que
percebemos. Se a preservação da vida não envolvesse nada que é agradável, não faríamos
nenhuma escolha para preservá-la. Quando encostamos a boca no peito de nossa mãe pela
primeira vez, nosso desejo não era o de preservar a nossa vida; nosso desejo de continuar
mamando vinha do fato de que aquilo era agradável à nós. Só aprendemos mais tarde que
a vida é uma coisa que deve ser preservada.
Aluno: Essa experiência de observar aquilo que é bom em uma coisa nem sempre se dá
com algo fundamental para a nossa existência; pode se dar com a contemplação de uma
paisagem...
Gugu: Claro, pode se dar com qualquer coisa que está efetivamente gerando satisfação.
Na hora em que estamos experimentando algo que está gerando contentamento, devemos
olhar para ele procurando identificar esse caráter de bem. Esse algo particular que gerou
essa satisfação não necessariamente deve ser um bem fundamental à vida humana; pelo
contrário, pode ser a coisa mais acidental do mundo.
3
Nota do transcritor: ou seja, da própria definição de “amigo” decorre que ele é um bem.
4
Nota do transcritor: como no caso do amigo, da própria definição de “nutritivo” decorre que ser nutritivo é um
bem.
117
Embora a preservação da vida seja um bem fundamental, ela é feita por meio de inúmeros
atos. E nesses atos pode não estar imediatamente presente o caráter de bem; às vezes está
só de maneira mediata. Se estamos com fome e só temos acesso a uma comida ruim, então
comemos a comida ruim, pois sabemos que é melhor comer algo ruim do que não comer
nada. Mas não iremos dizer que é bom comer comida ruim; isso é apenas útil. Porém,
quando comemos, escolhemos a comida não somente para preservar a nossa vida, mas
para que o ato de comer naquele momento seja bom. Por que, quando vamos a um
restaurante, não pegamos a comida e a misturamos toda, fazendo dela uma massa
uniforme para depois comermos? Essa massa tem o mesmo valor nutritivo do que a
comida “normal”. O fato é que com isso perdemos alguma coisa, e essa comida passou a
ser um bem mediato, um bem intermediário, ou seja, comemos essa massa de comida para
um bem [preservar a vida]. Não existe um término aí, não repousamos nesse ato;
repousamos no resultado dele. O bem mediato é aquilo que a ação visa em função de um
bem posterior, portanto ele [o bem mediato] não nos serve como objeto de experiência na
hora de investigar o que é o bem. Outro exemplo disso é o trabalho. Quando estamos
trabalhando, há momentos que estamos pensando no bem que vamos obter depois; mas há
momentos que estamos pensando justamente naquilo que estamos fazendo naquele
momento, pois aquilo é interessante.
[Pausa na transmissão.]
Gugu: É importante que essas coisas sejam feitas no ato da percepção, porque a
capacidade de registrar na memória aquilo que é percebido depende em grande medida do
entendimento prévio do objeto. Aquilo que sabemos o que é, registramos melhor do que
aquilo que ainda desconhecemos. Embora já tenhamos os conceitos de bom e mau, a
própria captação do que é bom, no seu próprio ato de ser, é muito breve na mente, porque
o efeito psicológico do que é bom é muito grande. A atenção rapidamente desce do
princípio que causa a satisfação em nós para o próprio ato da satisfação. Diante de algo
satisfatório, é fácil esquecer a coisa é ficar só no sentimento que temos. Temos uma
tendência maior de analisar algo que é ruim do que algo que é bom. A tendência da nossa
inteligência diante de algo que é bom é se entorpecer. Só o esforço de penetração
intelectiva do que é bom que nos permite analisar exatamente se o ato da existência é
bom, maus ou indiferente. Quanto mais observarmos aquilo que é bom, mais nos
aproximamos intelectualmente da raiz de bondade das coisas. Num primeiro olhar sobre o
que é bom, captamos apenas o acidente mais superficial, e a essência mesma fica
subjacente, fica subentendida. O que olhamos mais nesse primeiro momento é a natureza
da coisa, a quididade do objeto; e é só com muito tempo de prática que começamos a
discernir a qualidade de bem da coisa na qual ela reside.
Aluno: Júpiter é onde a pessoa enxerga uma saída para o mal, e Saturno é onde ela não
enxerga essa saída. O que acontece quando Júpiter e Saturno estão em oposição? E o que
acontece quando eles estão em conjunção?
118
Gugu: O caso da oposição é bem simples: a pessoa terá essa experiência em campos
opostos da realidade. Por exemplo, a pessoa tem Saturno na casa X e Júpiter na casa IV.
Então o trabalho será um fardo e ela só gostará de ficar em casa; o problema do mundo,
para ela, é que todos precisam trabalhar, e a melhor coisa que existe é poder ficar em casa.
Agora, se Saturno estiver na casa IV e Júpiter na casa X, será o contrário. A vida
doméstica será um inferno e o trabalho será um escape para ela. A oposição não é
complicada justamente porque ela aparecerá em áreas muito diferentes da vida. Já a
conjunção de Saturno e Júpiter, em termos práticos, é muito favorável para o sujeito. É um
lugar comum na astrologia que, se um sujeito possui Júpiter em conjunção com Saturno, a
maior parte dos efeitos mais pesados e externos de Saturno apareçam aliviados para ele;
nesse caso Saturno não dói tanto. De maneira geral, uma pessoa que tem Saturno em
conjunção com Júpiter, pensará que tudo, em princípio, é bom; que às vezes problemas
podem acontecer, mas a vida mesmo é boa. O mal aparece para esse sujeito menos como
um fato bruto do destino a que ele está submetido, e mais como acidentes ocasionais da
vida. Não que a pessoa terá menos problemas que outros, mas que esses problemas não
aparecem para ele como um destino total. A condição humana aparece como menos
amarga para ela.
Vamos falar um pouco de trígono agora. Quando Saturno e Júpiter estão em trígono, esses
dois extremos não parecem tão opostos. Na ocasião em que o sujeito experimenta o mal,
na ocasião que ele se pergunta: “Caramba, será que nos livramos do mal?” Então, nessa
ocasião, ele rapidamente se lembra das experiências de bem: “Bom, isso aqui não é tudo.”
Vejam bem, isso não é a mesma coisa do que a conjunção; nesta, a coisa não aparece
como tão ruim. Para o sujeito que tem o trígono, o mal aparece tão mal quanto aparece
para os outros, mas ele não se esquece da experiência do bem. Do mesmo modo, na
experiência do bem, ele não perde o senso de que o contrário, o mal, também existe. O
trígono sempre representa uma relação favorável. A oposição é sempre uma relação
desfavorável; ela indica que a pessoa será desequilibrada e terá que compensar isso
conscientemente. O trígono faz com que a pessoa, diante de alguma situação boa ou má,
não perca de vista a outra experiência oposta. Para ele é mais fácil comparar as
experiências do que para as outras pessoas; pois é fácil para ele lembrar a experiência
contrária diante de algum acontecimento. É fácil para ele lembrar da experiência do bem,
diante da experiência do mal; e é fácil lembrar da experiência do mal, diante da
experiência do bem. O sujeito que tem um trígono em Júpiter e Saturno é um realista, ele
tem uma visão equilibrada. O sujeito que tem a conjunção, tem uma visão meio
anestesiada da situação; a martelada no dedão dele não dói tanto.
Aluno: Quais são as diferenças que existem entre os efeitos que as estrelas fixas têm sobre
as pessoas e os efeitos que os planetas têm sobre elas?
Gugu: A primeira diferença é que as estrelas fixas demoram muito tempo para rodar o
zodíaco, quer dizer, milhares de anos. Isso quer dizer que, durante toda nossa vida, uma
119
estrela fixa que esteja em nosso mapa tem exatamente o mesmo efeito durante toda nossa
existência. Já o planeta, no decurso de nossa vida, circula o zodíaco inteiro pelo menos
umas duas vezes, e por isso experimentamos ele de outras maneiras. O efeito de uma
estrela fixa é mais constante em nossa vida, e por isso entra mais no pano de fundo dela e
menos na zona de consciência diferenciada; o efeito da estrela fixa fica mais no
subconsciente do que na consciência. Por exemplo, se alguém tem Spica na cúspide da
casa X, o trabalho para ele sempre será melhor do que para os outros; mas o sujeito não
necessariamente se dará conta disso. Como esse é um efeito constante e permanente na
vida dele, ele não tem medida de comparação. Se dissermos que ele é um sujeito que tem
sorte no trabalho por ter Spica no Ascendente, que ele é um sujeito que nasceu com a
bunda virada para a Lua, que ele tem mais sorte que as outras pessoas, ele dirá: “Ah, não!
Sou um miserável, azarado e desgraçado que nem todo mundo!” Mas, analisando
objetivamente a vida dele, vemos que ele de fato tem mais sorte do que os outros; para ele
aparecem oportunidades acima da média. O que acontece é que ele não sente isso.
Já os planetas têm efeitos que nós sentimos. Se alguém tem Sol em Leão, ele tem certas
inclinações de que está consciente: “Eu quero assim, sinto assim.” Enquanto as
inclinações dos outros dependerão de onde os planetas estejam posicionados. O sujeito
que tem Sol em Leão percebe suas inclinações como um fato objetivo. As estrelas fixas
são mais um molde externo da nossa existência do que da nossa psicologia. Elas têm
muito mais importância na astrologia preditiva do que na astrologia psicológica. Notem
que os efeitos que os planetas têm sobre as pessoas não são maiores, são apenas mais
perceptíveis para elas mesmas. As estrelas fixas em conjunção entre elas, ou em
conjunção com os planetas, têm um efeito imenso, mas é constante; e a pessoa não sente
esse efeito como algo que aparece para a consciência dela.
Aluno: E esses efeitos são os mesmos para uma enorme faixa da população; há gerações
que estão submetidas às mesmas influências.
Gugu: Exatamente. Em primeiro lugar, porque elas permanecem muito tempo no mesmo
lugar, então esses efeitos ocorrem para muita gente; segundo, porque esses efeitos são de
alguma forma permanentes na vida das pessoas. Se alguém perde o emprego, briga com a
namorada, está com contas para pagar, mas dizemos que ele tem Spica no Ascendente e,
portanto, é um sortudo, então ele dirá: “Não, sou um desgraçado como todo mundo. Que
história é essa que eu tenho sorte?” Ora, não é que nada de ruim possa acontecer com ele,
e sim que aparecem melhores oportunidades para ele do que para alguém que esteja ao seu
lado. Já se o sujeito tem (inaudível) na mesma posição de Saturno e Júpiter, essa será uma
experiência marcante na vida do sujeito. É claro, a pessoa não saberá que essas
experiências indicam que Saturno está em tal ou qual casa; ela não estudou astrologia para
dar o nome astrológico dessas experiências. Porém, ela sentirá esses efeitos. Se
começarmos a descrever para ela o seu mapa, depois de um tempo (inaudível) do que
aconteceu na vida dele.
120
Tales: Quais são as principais estrelas fixas boas e más?
Gugu: Bom, há somente uma que é sempre boa e somente uma que é sempre má. Spica
(na constelação de Virgo) é sempre boa; Caput Algol (na constelação de Andrômeda) é
sempre má – o seu nome em latim significa “pilhas de cadáveres”, e em árabe significa
“cabeça do diabo”; se olharmos os eclipses que antecedem toda e qualquer catástrofe, há
sempre um aspecto importante com ela.
As quatro principais além dessas duas são Aldebaran (na constelação de Touro), Regulus
(na constelação de Leão), Antares (na constelação de Escorpião) e Fomalhaut (no sul da
constelação de Peixes e ao lado da constelação de Aquário). Essas quatro estrelas são, em
princípio, benéficas; mas às vezes podem ser maléficas. Delas, podemos dizer que
Aldebaran e Regulus tendem mais a serem benéficas do que Antares e Fomalhaut; porém,
dependendo das circunstâncias e da posição que estão no mapa, todas elas podem ser
benéficas.
Aluno: Há algum meio para se neutralizar o efeito de uma estrela fixa maléfica como
Caput Algol? Por exemplo, se um país foi fundado sob uma estrela fixa maléfica como
Caput Algol.
Gugu: Se um país foi fundado sob Caput Algol, ele está ferrado, não tem saída! Uma
pessoa pode rezar muito e tentar evitar essa área, mas o país está ferrado! Eu imagino que
se algum país foi fundado sob Caput Algol, ele deve ter tido o mesmo destino da
República de Weimar, ou seja, durou quinze anos e acabou.
Mais para adiante, iremos explicar exatamente como os trânsitos funcionam. Na prática
atual, analisam o trânsito da seguinte forma: “Ah, retorno em Saturno significa isso.”
Tudo bem, mas quando o sujeito sentirá esse retorno? Isso depende de outra coisa, que são
os períodos planetários, e isso só explicaremos mais adiante quando entrarmos mesmo na
interpretação. Porém, já adiantando um pouco, a teoria é a seguinte. Cada planeta rege um
certo período de tempo. Por exemplo, o Sol tem um período de dezenove anos. Se o
sujeito tem ascendente em Leão, o regente dele será o Sol; isso quer dizer que o primeiro
121
período de dezenove anos da vida dele é regido pelo Sol, e se quisermos saber o que
acontece com o sujeito nos primeiros dezenove meses, devemos analisar os trânsitos do
Sol. Passando dezenove meses, o Sol entregará a regência para Mercúrio, que é o regente
de Virgo (signo que vem depois de Leão); e durante vinte meses (se não me engano o
período de Mercúrio é de vinte anos ou vinte meses ), para saber o que acontece na vida
do indivíduo, devemos olhar o trânsito do Sol em Mercúrio.
Então, se desejamos saber algo do retorno de Saturno, devemos olhar qual o período
astrológico que a pessoa está passando, pois esse período pode ser extremamente
favorável. Supondo um período em que Marte entrega para Júpiter, que é um período de
crescimento e expansão na vida, mesmo o retorno de Saturno sendo um aspecto
desfavorável ou desagradável, o período pelo qual a pessoa está passando é bom. As
interpretações dos trânsitos dependem muito dos períodos. Se buscarmos os fatos mais
marcantes na vida de alguém, eles não coincidem com o trânsito, eles coincidem com o
final ou o começo do período. Basicamente, o trânsito tem um significado em abstrato,
porém não indica nenhum acontecimento no mapa natal. Temos que olhar o período
astrológico que o sujeito está passando, saber analisar a qualidade desse período, que aí
conseguiremos enxergar a relação entre os planetas que regem o período com o retorno de
Saturno. Por exemplo, se Saturno estiver entre os graus “x” e “y” uns meses antes do final
do período e depois no começo do outro período, isso indica uma certa ordem de
acontecimentos que se relaciona principalmente com o fim de um período e o começo de
outro, e não somente com o retorno de Saturno isoladamente. O trânsito entra na vida das
pessoas por meio dos períodos astrológicos.
Gugu: Scion significa broto, aquilo que nasce da terra. Antiscion é a palavra grega para
sombra. Ou seja, o broto cresce para cima e a sombra dele cresce para baixo. Então, o
Antiscion do planeta é a sua sombra. Qual o significado dele? No mapa natal não tem
muito significado, mas ele tem bastante importância na astrologia horária. Às vezes
fazemos uma pergunta horária qualquer: “Vou conseguir um emprego ou não?” Aí vemos
que o regente da casa X e o regente da casa I não se encontram e estão em signos
disjuntos, mas eles têm uma conjunção com Antiscion. Isso quer dizer que a pessoa
conseguirá o emprego, porém da maneira que a pessoa que perguntou espera. Por
exemplo, o entrevistador estará de saco cheio de fazer entrevistas e a escolherá de uma
vez, ao invés de escolhê-la pelos seus méritos. Antiscion indica que algo irá acontecer, só
que não do modo normal que se espera que esse algo aconteça. O sujeito que contrata
pedirá suborno para contratar o sujeito, e este o dará. Agora, há também o Contra-
Antiscion, e uma conjunção com ele significa o contrário, é como se aqueles dois planetas
estivessem opostos, ou seja, é como se fosse uma oposição do Antiscion. Geralmente, no
mapa horário, é um indicativo de problema ou conflito. Vejam, não é que eles não tenham
nenhuma importância no mapa natal, eles só não têm tanta importância assim. Eles são
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como um eco dos planetas no mapa natal, e em algumas circunstâncias podem vir a ser
importantes, mas normalmente não.
O período da Lua é de (25) vinte e cinco anos, (25) vinte e cinco meses, (25) vinte e cinco
dias, (25) vinte e cinco horas e assim por diante. Esses anos são anos de (360) trezentos e
sessenta dias e meses de (30) dias; não são anos nem tropicais nem siderais. Um período
da Lua é, então, trezentos e sessenta vezes vinte e cinco (360x25). Se o sujeito tem
ascendente em Câncer, terá os primeiros vinte e cinco anos regidos pela Lua – notem que
não serão exatamente os vinte e cinco anos de um calendário, mas um pouco menos. O
período do Sol é de (19) dezenove anos, (19) dezenove meses, (19) dezenove dias, (19)
dezenove horas e etc. Mais uma vez, esses anos têm (360) trezentos e sessentas dias e
meses de (30) dias. O período de Mercúrio é de (20) vinte anos, (20) vinte meses, (20)
vinte dias, (20) vinte horas e etc. O período de Vênus é de (8) oito anos, (8) oito meses,
(8) oito dias, (8) oito horas e etc. Tudo o que é bom dura pouco. Vênus e Júpiter têm os
períodos mais curtos. O período de Marte é de (15) quinze anos, (15) quinze meses, (15)
quinze dias, (15) quinze horas e etc. O período de Júpiter é de (12) doze anos, (12) doze
meses, (12) doze dias, (12) doze horas e etc. O período de Saturno é de (30) trinta anos,
(30) trinta meses, (30) trinta dias, (30) trinta horas e etc.
Esses períodos de ano são subdivididos em períodos de meses. Vamos supor que os
primeiros vinte e cinco anos de um sujeito sejam regidos pela Lua. Desses vinte e cinco
anos, os primeiros vinte e cinco meses e trinta dias a Lua entrega o regente para ela
mesma. Passados mais vinte e cinco meses, ele entrega o regente para o Sol, que é o
regente de Leão (signo que vem logo após Câncer); esse então será um período com
alguma dificuldade; a Lua é toda macia e mole, e o Sol é quente e pesado. O significado
dos períodos, de um modo geral, corresponde à relação natural entre os dois planetas – o
regente do período e o regente do trânsito. Passados dezenove meses, pois este é o trânsito
do Sol, a Lua entre o regente para Mercúrio. E assim vai.
Ao fazer a interpretação de um mapa natal e ver como é a vida de alguém, a primeira coisa
que devemos fazer é um quadro dos períodos astrológicos da vida dele. Somente após isso
é que olhamos os trânsitos em cada um desses períodos. Por exemplo, se temos um
período de alguém com Ascendente em Touro ou Libra, o regente será Vênus; portanto, a
primeira vez que o sujeito teve consciência de que a vida dele tinha um rumo foi por volta
dos seus oito anos de idade; ele percebeu alguma coisa na vida que antes não havia
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percebido. Se o ascendente era Leão, ele teve essa intuição aos dezenove anos. Se o
Ascendente era Câncer, aos vinte anos.
Aluno: Eu tenho um bom exemplo. Meu Ascendente é em Escorpião e aos quinze anos
comecei a trabalhar; e era o que eu queria, era uma coisa muito forte.
Gugu: É o sujeito que toma consciência de si mesmo de maneira clara. Ele tem o senso de
que a vida dele adquiriu um novo rumo que ele esperava, mas que não havia previsto
antes. Se olharmos os períodos da casa X, vemos que são períodos de responsabilidade;
são modos de consciência da responsabilidade dele sobre a vida, e assim por diante.
Então, os trânsitos que acontecem nesses períodos serão classificados por estes. Por
exemplo, o sujeito tinha o trânsito de Saturno na casa X: isso significa que ele trabalhará
como um camelo; não é que ele trabalhou mais quantitativamente, mas ele sentirá que
realizou um esforço tremendo para realizar aquela mudança significada pelo período. Para
ilustrar isso, a astrologia chinesa só leva em conta os períodos. “Que trânsito que nada!
Existem planetas em trânsito? Que nada, só existem os períodos!” O negócio dos chineses
é só a conta matemática dos períodos. E funciona! Hoje em dia, fora esses períodos, eles
possuem vários outros, e eles só interpretam os trânsitos com base no período. Não é que
nada aconteça no trânsito, é que pode não acontecer nada marcante. Às vezes acontecem
coisas na nossa vida que só nos damos conta muitos anos depois.
Percebam que, os grandes períodos regidos por planetas maléficos, não são
necessariamente períodos maléficos. Nesses trinta anos, Saturno estará entregando sua
autoridade nos períodos menores. Se essa entrega possuir uma significação benéfica,
então isso será bom. Digamos que temos um período de trinta anos, e nos primeiros trinta
meses Saturno entrega sua autoridade a si mesmo; então esse será um período pesado e de
responsabilidades. Depois ele entrega a autoridade para Júpiter. Isso quer dizer que antes
havia um chefe sério e tirânico que passou sua autoridade para um chefe mais bonachão.
Então, o período que Saturno entrega a autoridade para Júpiter é um período
extremamente benéfico. Evidentemente que jamais encontraremos um período que seja
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mais benéfico que Júpiter entregando a sua autoridade para Vênus ou Vênus entregando a
sua autoridade para Júpiter. Porém, se a pessoa tem um período de Saturno, isso quer dizer
que ele necessariamente sofrerá por trinta anos? Não! Um período maior de Saturno
entregando para Júpiter, como dissemos, é muito benéfico; e com certeza é um período
melhor do que aquele em que Júpiter entrega sua autoridade para Saturno. Imaginem isso
como se fossem duas pessoas diferentes, e uma está passando a autoridade para a outra.
Para quem é entregue a autoridade, conta mais do que aquele que a entrega. É claro que
uma colateralidade entre os dois planetas será mais favorável. Por exemplo, é difícil
pensarmos em um período pior do que Marte entregando a autoridade para Saturno, mas,
nesse período, no mapa do sujeito, Marte e Saturno estão bem colocados? Digamos que
Saturno estava em Aquário e Marte em Escorpião, ou seja, eles estavam bem
posicionados. Então, o sujeito irá até mesmo dizer que aquele foi um período produtivo na
vida dele; apesar de ter despendido muito esforço, ele teve bastantes resultados. Ele não
dirá que foi um período fácil, obviamente, mas ainda assim que foi um período produtivo.
Os períodos mais difíceis e complicados acontecem quando um planeta benéfico entrega
para um planeta maléfico, e esse maléfico está ou em queda ou em exílio na casa XII
natal; esse certamente será o período de maior dificuldade para o sujeito. Não importará,
nesse caso, nem mesmo que Júpiter esteja em retorno, pois essa pessoa nem sentirá esses
efeitos; Júpiter estará voltando para a casa dele e nem olhará para ela [a pessoa].
É claro que também podemos olhar períodos menores ainda. Se pegarmos um período de
dezenove meses, podemos olhar os primeiros dezenove dias. Mas, evidentemente, na
medida em que diminuímos a escala de tempo do período, também diminuímos a
significação dele na vida do sujeito como um todo. Um período que seja de poucos dias é
logo esquecido, pois é logo substituído por um período contrário também de poucos dias.
Porém, se dividirmos os períodos em horas, podemos chegar até a avaliar a variação de
humor de alguém.
Mais tarde pegaremos o mapa de alguma celebridade que conheçamos bem os dados
autobiográficos para fazer um paralelo entre isso e os períodos astrológicos da vida dela;
veremos que os acontecimentos que marcaram a vida dela correspondem com os períodos.
Faremos isso ou a lista das combinações entre temperamento e mentalidade. Mais uma
vez, o temperamento e a mentalidade descrevem como a pessoa é fundamentalmente; e os
períodos não servem para fazer esse tipo de descrição, mas para descrever como a vida da
pessoa é, o que aconteceu na vida dela. Numa descrição psicológica, as coisas que
dizemos nem sempre são auto-evidentes para a pessoa. “Ah, eu tenho Saturno na casa X.
Como é Saturno nessa casa?” Se explicarmos como é a psicologia de alguém com Saturno
na casa X, não necessariamente ela verá aquelas características em si mesma. Por outro
lado, se descrevemos o que aconteceu, então ela terá essa percepção mais imediata, pois
ela sabe o que aconteceu com ela mesma.
Aula 05
Tópicos da aula:
Transcrição da aula:
Gugu: Nas últimas aulas, demos uma introdução sobre o cálculo do temperamento e da
mentalidade. Essas são avaliações prévias ao estudo de um mapa natal. Se queremos saber
como uma pessoa é, primeiro devemos olhar do que ela é “feita”. O temperamento e a
mentalidade são como materiais disponíveis; eles não informam muito sobre a biografia
da pessoa, sobre o que aconteceu na vida dela, mas informam qual o material original que
ela tinha para reagir diante das circunstâncias. Porém, uma vida não é uma série de
reações mecânicas a estímulos externos, como, por exemplo, o movimento de uma pedra,
que é uma reação à seqüência de estímulos externos. Uma vida implica não somente as
reações do sujeito, como também em ações que possuem um princípio interno. Isso quer
dizer que um ser vivo tem uma diretriz interna de comportamento. Por exemplo, um
vegetal tem como diretriz a reprodução; toda atividade dele visa à reprodução, e os
acidentes externos são apenas instrumentos favoráveis ou desfavoráveis a esse projeto
interno do próprio vegetal. O vegetal está ordenado à reprodução independentemente de
ter um meio adequado para isso ou não – o meio só permitirá ou não que ele se reproduza,
mas a inclinação à reprodução é do próprio vegetal. No animal a coisa se dá do mesmo
modo, pois que este é inclinado ao prazer. O desejo do animal de alcançar o prazer é
próprio dele, e não do ambiente no qual ele foi criado; e isso determinar a vida dele tanto
quanto o meio em torno.
Um exemplo simples do esquema de um ser que não vivo é a bola de bilhar. Todos os
movimentos e mudanças que ocorrem a ela (para onde vai, onde pára, etc.) são devidas a
influências externas. A bola não determina nada disso, ela não tem um impulso interno
128
para se mover de uma maneira ou de outra, ou um impulso para se mover ou deixar de se
mover nessa ou naquela situação. É o meio que a impulsiona numa direção, com uma
certa força, numa certa velocidade e assim por diante. Um ser vivo não é assim. Se
observarmos as pessoas ou os cachorros em torno, quando ficamos horas fora de casa e
retornamos após essa ausência, eles estão em um estado diferente que é resultado de um
impulso interno deles. Não desligamos a cabeça deles quando saímos para religá-la
quando voltamos. Ambos possuem um impulso interno que é próprio deles.
Podemos analisar esse impulso interno sob dois pontos de vista. O primeiro é o ponto de
vista da espécie: que espécie de coisa é essa? É um cachorro? É um ser humano? É uma
minhoca? É uma macieira? Dependendo da espécie do objeto, ele terá um tipo específico
de impulsos. Podemos designar isso como motivo ou motivação - se tirarmos desses
termos o aspecto psicológico e dizer que eles são o simples impulso ou inclinação para
operar. Então, um vegetal tem uma inclinação para operar no sentido da reprodução, para
operar todas as operações necessárias para que ele se reproduza. E mesmo que ele não
tenha isso como motivação psicológica, ele a tem como motivação existencial. Isso é o
que ele fará se houver a oportunidade. Também podemos analisar as capacidades
operacionais do ser humano e dizer que ele possui um impulso específico. Ele é capaz de
reprodução, como os vegetais; ele é capaz de prazer e desprazer, como os animais; e ele é
capaz de entender o ambiente e os objetos em torno. Cada uma dessas operações entrará
no conjunto de motivações fundamentais do ser humano. De uma maneira geral, podemos
dizer que a motivação fundamental em qualquer ente corresponde à mais ampla de suas
possibilidades, ou à realização daquilo que ele é mais capaz.
Todos conseguem delinear bem a diferença entre perceber com os sentidos e perceber com
a inteligência? Conseguem perceber a diferença entre entender e ver, ouvir, cheirar e
assim por diante? Um exemplo clássico: uma cabra, quando olha uma montanha, percebe
nela com imensa clareza o seu potencial de escalabilidade. A cabra sabe disso com uma
precisão muito maior do que nós, apenas percebendo a montanha visualmente - ela sabe
onde pode se apoiar, que lugares agüentam o peso dela e etc. Portanto, a cabra é
espontaneamente mais capaz de escalar a montanha do que nós. Porém, ela não é capaz de
separar na mente dela a escalabilidade que existe nesta montanha (que oferece as
possibilidades “a”, “b” e “c” de escalabilidade e que ela está percebendo visualmente) do
fato concreto percebido; ela não é capaz de separar todas as possibilidades que ela percebe
visualmente naquela montanha do fato concreto percebido. A cabra não é capaz de reduzir
a escalabilidade desta montanha a um esquema mental separado do fato concreto “esta
montanha”. E é por isso que ela é incapaz de criar ou inventar instrumentos de escalada
para tornar escalável aquilo que não é. A cabra possui uma capacidade de escalar
naturalmente superior à nossa, mas nós possuímos uma capacidade técnica de escalar
superior à dela, pois inventamos todos os equipamentos de alpinismo, a escada, o
elevador, a corda, ou seja, tudo o que uma cabra não é capaz de inventar. Para poder
inventar instrumentos de escalabilidade, o ser humano teve que separar, na mente dele, as
condições gerais de escalabilidade do fato concreto da escalabilidade de um objeto da
percepção visual em particular.
Aluno: Fazendo um gancho com o que você acabou de falar sobre a escalada da
personalidade, podemos dizer que o sujeito que ainda está na quarta camada vive uma
vida animal, somente fugindo da dor e buscando o prazer?
Gugu: Sim, num certo sentido podemos. Essas são como que camadas pré-humanas. Se a
pessoa vive conscientemente em busca disso, a vida consciente dela será uma vida animal.
No entanto, ela é uma pessoa. A identidade de espécie é anterior à identidade de
consciência. Antes de ganharmos um nome e pensarmos “eu sou fulano”, já somos um ser
humano; antes de perceber qualquer coisa já estávamos existindo nessa espécie. O
impulso fundamental, a motivação fundamental da existência, é dado previamente à
minha consciência. Se alguém está vivendo somente pensando no prazer e na satisfação, é
simples, essa pessoa estará frustrando a própria vida. Isso porque algo em nós, algo em
nossa própria existência, nos move a uma direção maior que isso. Então, não é muito
adequado dizer que a pessoa está vivendo uma vida animal. Seria mais correto dizer que
ela está vivendo uma vida sub-humana ou infra-humana. A partir do momento em que o
animal se dá conta que a sua existência se resume em escapar da dor e buscar o prazer,
então ele está vivendo plenamente. No caso de um ser humano, se ele vive somente em
função da dor e do prazer, ele não esta vivendo plenamente, então não é exatamente
comparável a um animal.
Tales: A própria capacidade do ser humano de julgamento do que é certo e o que errado
viria dessa capacidade de percepção abstrata?
Gugu: Sim, o julgamento do que é certo ou errado é a primeira aplicação concreta dessa
capacidade de percepção abstrata. No momento em que experimentamos prazer ou
desprazer na infância, já começamos a separar prazer e desprazer da circunstância
concreta em que o prazer e o desprazer são experimentados, e então vamos chegando ao
conceito de bem e mal. Por isso, todo julgamento de bem e mal para com animais é
descabido. O animal não faz nada que é imoral, ele é simplesmente bem-sucedido ou mal-
sucedido, mas nunca moral ou imoral.
Vejam, não somente somos capazes, nas experiências de prazer e desprazer, de extrair
delas as noções de bem e mal, como do simples fato de estarmos realizando operações
vitais (ou seja, vendo, sentindo, ouvindo, cheirando etc.) somo capazes de perceber a
existência da nossa própria vida. E a nossa vida é um conjunto que ainda não conhecemos.
No momento mesmo em que o ser humano começa a experimentar a vida, ele não sabe o
que acontecerá amanhã, semana que vem, mês que vem, ano que vem, na década que vem
e muito menos o que acontecerá quando ele morrer. Porém, o ser humano é plenamente
capaz de conceber que ele tem uma vida que se estenderá durante algum tempo. O animal
vai de uma operação que gera satisfação à outra. E como ele não é capaz de separar a idéia
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de vida de cada uma das operações vitais que foi realizando, ele não sente a necessidade
ou impulso de planejar a sua própria biografia. Enquanto em nós, a necessidade de
antecipar a vida como um todo vai aumentando a cada ano, até que chega uma certa idade
em que definimos que uma pessoa é adulta.
O que queremos dizer quando definimos alguém como uma pessoa adulta? Significa dizer
que a pessoa é mais ou menos capaz de antecipar que ela possui uma existência que vai do
nascimento à morte, e que ela é quem tem que planejar e guiar a própria vida até a morte.
Alguns anos antes disso (isto é, a passagem para a vida adulta), surge em nós o desejo de
guiar. Lá por volta dos 15 anos de idade já queremos guiar e planejar nossas próprias
vidas. A idéia de alguém de fora guiá-la por nós, começa a parecer cada vez mais
intolerável. Isso quer dizer que o ser humano possui uma motivação fundamental que é
orientar a sua vida de acordo com um rumo pré-estabelecido. Essa é uma motivação
fundamental do ser humano. Queremos chegar em algum lugar com a nossa vida. Só que,
antes de chegar nesse lugar, temos um desejo de saber onde chegaremos. E queremos
chegar nesse lugar por conta própria. Essa sensação surge em nós durante a adolescência;
é a partir dela que começamos a desejar um rumo para nossa própria vida.
Mas se alguém nos pergunta – não só na adolescência, como também anos após ela – qual
é esse rumo, onde queremos chegar com a existência, a resposta não estará clara para nós.
Isso é algo que vamos tateando e montando a partir de certas experiências. Por exemplo,
se em algum momento não temos dinheiro para comprar algo ou pagar uma conta,
pensamos: “Ah, ter dinheiro é melhor do que não ter.” Se noutro momento estamos
trabalhando e o chefe nos manda fazer algo idiota, ficamos chateados e pensamos: “É
melhor ser chefe do que ser empregado.” E assim sucessivamente. É uma seqüência de
experiências que vão acrescentando notas à idéia de onde afinal queremos chegar. Vamos
tateando isso no escuro, não nascemos com um manual de instruções. Compomos esse
manual de instruções no decorrer dos anos e no decurso das nossas experiências.
Agora devemos aplicar a capacidade tipicamente humana a esse problema (isto é, “qual o
rumo da vida?”). Como falamos, o ser humano é capaz de separar as idéias das
circunstâncias concretas; então, somos capazes de observar a vida das pessoas e dizer que
umas são felizes e outras infelizes. A partir daí podemos nos perguntar: quais são os
instrumentos pelos quais algumas pessoas realizam a felicidade enquanto outras não
conseguem realizá-la? Ou seja, isso significa que podemos considerar a questão da
existência humana em termos abstratos; não precisamos considerá-la apenas baseados na
série de experiências que nos ensinou o que é melhor e o que é pior. Podemos considerar a
noção da existência humana, a noção da vida humana, e analisá-la desde um ponto de
vista geral. Isso não é difícil de se fazer, como efetivamente foi feito de maneira brilhante
em inúmero tratados de moral. A ciência moral não é senão a ciência de examinar qual o
sentido da vida, qual o melhor rumo que a vida pode tomar e quais são os melhores meios
a serem aplicados para que se alcance esses resultados. Só que, se há algo que a vida nos
ensina, é que as pessoas são muito diferentes das outras; e que um esquema geral, muitas
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vezes não é suficiente para explicar por que uma pessoa é feliz e a outra infeliz. Não são
exatamente as mesmas circunstâncias que conduzem duas pessoas diferentes à mesma
felicidade.
Então, um terceiro componente que devemos estudar num mapa astrológico, antes de
avaliar a vida de uma pessoa, é o modo que a motivação primária dela se diferencia da
motivação primária do ser humano em geral. É ponto pacífico que todo ser tem a
inclinação a realizar suas capacidades no curso de sua existência; em todos os seres vivos,
essas capacidades são operações vitais. No caso do ser humano, a principal capacidade é
justamente ter uma visão de conjunto da própria vida, e também a realização do propósito
que ele concebe à ela. O tempo todo ouvimos as pessoas falando: “Você tem que realizar
o seu potencial.” Isso é muito bonito, realmente devemos realizar o nosso potencial. Mas
qual é o potencial de cada um de nós? Do que as pessoas estão falando quando nos dizem
isso? O potencial das pessoas não é sempre o mesmo. Até podemos definir que uma vida
boa consiste na realização consciente, por parte do homem, de um sentido em
conformidade com a espécie humana. Esse é, basicamente, o esquema geral da felicidade
para todos nós: dar-nos conta do que queremos, realizá-lo, e que este algo esteja de acordo
com o esquema da espécie humana.
Porém, aquilo que está de acordo com o esquema da espécie pode variar ilimitadamente;
qualquer atividade que é por natureza um bem moral está de acordo com o esquema da
espécie; qualquer coisa que façamos e que não seja imoral, que não seja contrária à
natureza humana, está de acordo com a espécie. Mas a experiência nos mostra que não é
por fazer qualquer coisa que é boa e moral que o sujeito adquire um senso de que está
realizando a sua vida e dando a ela o rumo desejado. Por exemplo, ser cirurgião é uma
coisa muito boa; um cirurgião salva vidas e ajuda as pessoas. Porém, a idéia de ficar
vendo tripas o dia todo pode ser repugnante para algumas pessoas, e dificilmente elas
encontrarão nessa atividade um senso de realização da existência humana. Cuidar de
crianças, educá-las, ensiná-las, fazê-las crescer como bons seres humanos é ótimo,
perfeitamente moral. Mas crianças são muito chatas, porque não podemos conversar de
filosofia com elas. Criar e treinar cachorros para defesa, para vigiar o quintal é muito bom,
mas os cachorros são piores do que as crianças, porque não dá para conversar de
absolutamente nada com eles. Então, há inúmeras atividades que podemos conceber como
compatíveis com a forma humana, e, portanto, como potenciais de felicidade para o ser
humano em geral. Mas cada uma dessas atividades não será necessariamente o que gerará
a felicidade para um indivíduo em particular.
Isso significa que temos, logo no início da vida, um duplo problema. Primeiramente, não
adianta escolher como o caminho da felicidade algo que é contrário à natureza humana,
pois, se existimos em uma sociedade relativamente saudável, alguém irá nos jogar em um
buraco, numa cela ou então dará um tiro em nossa cabeça se tentarmos fazer isso. “Ah, eu
encontro o sentido da minha existência, a máximo satisfação, quando mato as pessoas e
como as tripas delas.” “Ah, é? Então iremos te matar.” Então, o primeiro problema geral é
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o sujeito dar para a vida dele um rumo que seja moralmente, ou humanamente,
satisfatório. Um grande problema na existência é o indivíduo se manter no rumo direito.
Só que não basta que o indivíduo se mantenha num rumo direito para que ele viva uma
existência satisfatória. O sujeito que fez tudo certo a vida toda, mas nunca tirou nenhuma
satisfação disso, dificilmente é o exemplo de felicidade e sucesso humano que propomos.
Tirar alguma satisfação consciente do que fazemos faz parte de um projeto de vida
humanamente saudável. Vejam que não estamos falando de achar a profissão adequada
para alguém, não estamos falando de uma questão vocacional. Uma pessoa dificilmente
pode trabalhar em alguma profissão que lhe é insatisfatória ou repugnante e ainda assim
alcançar a máxima felicidade, mas ela pode trabalhar a vida toda em uma profissão que
lhe é indiferente e reservar o grosso da sua atividade para algo fora do trabalho.
Por exemplo, um sujeito pode viver como um monge, e, portanto, trabalhará o dia todo.
Todo monge trabalha o dia todo, todo mosteiro bom distribui 8, 10 e até mesmo 12 horas
de trabalho por dia. Porém, os bons monges sabem que todo esse trabalho é necessário
apenas para a alimentação e a moradia, e que isso não tem nada a ver com a vida deles. A
vida destes monges centra-se na meditação, na leitura, na oração, e não no trabalho que
ele precisa desempenhar no mosteiro. Não que ele trabalhe menos do que os outros; pelo
contrário, ele trabalha a mesma quantia de horas que os outros monges; mas num
mosteiro, as categorias de trabalho são reduzidas a categorias que tendem a ser neutras do
ponto de vista da satisfação. “Plantamos, colhemos, criamos umas galinhas, tiramos os
ovos delas etc.” Esse tipo de trabalho dificilmente será extremamente repugnante uma vez
que alguém estiver treinado nele, pois a vida da pessoa estará voltada a outra coisa. A
questão da felicidade não está centrada na questão vocacional ou profissional. Basta que o
indivíduo encontre uma profissão que não lhe seja repugnante e que lhe dê os meios de
manter o seu corpo e sua vida do ponto de vista físico, pois assim ele poderá, em outro
momento, em outro período fora do trabalho, realizar aquilo que é realmente da essência
da sua existência.
Isso é importante, pois, hoje em dia, as pessoas confundem essas duas questões. É muito
comum que as pessoas, em questões astrológicas, perguntem qual a melhor carreira para
elas. Mas por que elas querem saber disso? E se elas escolherem o melhor trabalho, mas
não encontrarem felicidade na vida? Outro ponto: o que significa o melhor trabalho? É
aquele que ficamos contentes? Em nenhum trabalho ficaremos contentes sempre! O
melhor trabalho é aquele que dá mais dinheiro? Nem todo mundo fica contente quando
possui um monte dinheiro! O melhor trabalho é aquele em que somos o chefe? Nem todo
mundo fica contente com a posição de chefe! O melhor trabalho é aquele que dá prestígio
e fama? Nem todo mundo fica contente com prestígio e fama! A questão fundamental não
é sobre qual a melhor carreira, profissão ou trabalho. A questão fundamental é sobre o que
podemos produzir na existência cujo resultado, quando olhado por nós, pensamos: “Minha
existência valeu a pena.” Isso pode ser conseguido no trabalho, fora dele, pode ser sentado
sozinho, pode ser com um monte de gente etc. Qualquer atividade decente tem esse
potencial. Há pessoas que podem trabalhar 10 horas por dia em qualquer coisa, e as duas
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horas que ela passa com os amigos após isso é a essência da vida delas – interagir com
outros seres humanos é a essência da vida dessas pessoas. Outros sujeitos trabalham 10
horas por dia em alguma outra coisa, e após isso passam duas horas por dia estudando
filosofia - e essas duas horas são o que há de mais importante na vida dele. Ou então pode
ser que ele dedique essas duas horas à reza, à família, ao cachorro.
Aluno: A maioria desses exemplos são alguma forma de produção. Por exemplo, quando
salvamos alguém, produzimos um resultado para um terceiro; quando educamos uma
criança, produzimos uma melhora num terceiro. Você acha possível que uma atividade
puramente interna - por exemplo, estudar e não compartilhar o que foi aprendido – possa
completar uma pessoa? É possível haver um plano de realização pessoal que seja
profundamente interno?
Gugu: Claro, é evidente! Um eremita procura um plano de vida que é exclusivo dele; o
resultado que ele procura obter da vida só existe dentro dele; e ele ainda faz isso separado
de todo mundo. Quanto mais interior e secreto o plano dele, melhor! Um eremita não tem
facebook.
Aluno: Eu digo isso porque parece que o esquema predominante hoje é que todo mundo
deve gostar de estar feliz, todo mundo deve estar metido em alguma atividade fantástica,
todo mundo deve estar em um trabalho que é a coisa mais gostosa do mundo, todo mundo
deve ter um carrão, um estilo de vida bacana e ainda ostentar isso. Ou seja, em suma, a
vida tem que ser uma declaração. Acho que isso gera uma certa ansiedade nas pessoas,
pois, por mais que elas busquem a felicidade, jamais chegam nela.
Gugu: Hoje em dia, existem basicamente três tipo de plano de vida, isto é, as pessoas
acham que vão achar a satisfação da vida dela em uma dessas três casas. 1) Na Casa X,
que está relacionada ao sucesso profissional, a uma carreira excelente, a ganhar muito
bem, a encontrar um trabalho que se gosta e se é apaixonado, enfim, qualquer modalidade
profissional. 2) Na Casa XI, que é o desejo de ser uma celebridade não importando o que
se faça para isso; se a pessoa ficar famosa está tudo bem, mesmo que ela seja o maníaco
do parque. O facebook, por exemplo, é um instrumento que se alimenta desse desejo que
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temos: “Olha só, as pessoas saberão o que estou fazendo e vão admirar, aplaudir ou
cuspir! Não importa, mas elas saberão.” 3) E na Casa XII, que está relacionada ao desejo
de nos doparmos; ficar doidão é o objetivo supremo da existência. Essas são as três
categorias de plano de vida que existem hoje. Por quê? É simples. Houve um tempo em
que a maior parte dos exemplos de existência que tínhamos, vinham de duas fontes: da
nossa interação pessoal (família, amigos e pessoas que conhecemos), e de livros e
biografias. Hoje em dia temos o cinema, a música, a televisão, a internet; e tudo isso nos
bombardeia com informações biográficas, informações sobre vidas humanas. Se
observarmos a maior parte dos meios de comunicação hoje, veremos que eles nos
informam acerca de tipos específicos de pessoas: as que estão no topo das suas carreiras,
os políticos, os esportistas, os atores e atrizes, as pessoas que são simplesmente famosas; e
as pessoas que deram profundamente erradas, como os dopados e o os criminosos. Temos
muito mais exemplos de biografias nessas categorias que se encaixam nas Casas X, XI e
XII, do que em outras categorias que fogem disso.
Quais seriam essas outras categorias de biografia? Pegue o seu caderno e faça a lista das
pessoas da sua família que você conhece. Suponha que você colocou quinze pessoas nela.
Agora façamos a lista de amigos, que daria mais uns vinte ou trinta nomes. Depois
façamos uma lista de celebridades que você viu no jornal, na televisão, no rádio etc., e
veremos que só nela há umas duzentas e cinqüenta pessoas! Então, por causa dessa
amostra desproporcional, temos a impressão de que essas três áreas da vida são muito
mais cruciais: “Olha, a maior parte das pessoas são pessoas que tem como característica
uma dessas três dimensões.”
Imaginem o mundo sem televisão e sem internet. Quantas pessoas ricas e milionárias
vocês veriam na vida? Talvez uma. Quantas celebridades vocês veriam na vida? Agora,
com a internet, a televisão e o cinema, quantas pessoas dessas vocês já viram? Vocês
vêem o tempo todo. A lista de nomes de celebridades que podemos oferecer é sempre, no
mínimo, dez vezes maior do que a lista de pessoas com as quais interagimos
concretamente. Antigamente, quando as pessoas se perguntavam sobre as pessoas que
eram felizes, elas as buscariam entre os amigos, entre a família e nas biografias que elas
por acaso houvessem lido – pessoas já mortas, pessoas do passado. E elas procurariam
extrair a idéia de qual o rumo que a vida tem que tomar, do que é felicidade, dessa
amostra. Veja bem, a inteligência funciona independentemente da consciência. Esse é um
fato importantíssimo de se entender no ser humano. Nossa inteligência opera mesmo
quando não estamos pensando num assunto. O tempo todo estamos recebendo amostras de
vidas humanas, e a inteligência já calcula: “Preciso ter uma vida feliz.” Essa é a premissa
número um. E a premissa número dois é: “Essas são as pessoas que existem, e a maior
parte delas se destacam por um desses três fatores. Então, minha única chance de me
destacar na existência é por um desses três fatores.”
Aluno: Quando eu estava na faculdade e conversava com os alunos, eles sempre diziam:
“Tenho que me formar para ficar rico. Eu quero é ganhar dinheiro.” E sempre que eu
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escutava isso, ficava me perguntando se eles sempre quiseram isso na vida, se eles já
nasceram pensando em entrar na faculdade para ganhar dinheiro. Não lembro se foi você
ou seu pai que falaram um dia sobre a posição da criança que quer ser policial, bombeiro
ou professor, e não pelo dinheiro ou pelo status, mas porque é algo bom. E aí chega uma
fase em nossa vida que perdemos isso e só pensamos de maneira utilitarista. Como você
vê essa situação, e como perdemos isso? É uma perda do senso da hierarquia do bom, o
medo de ficar pobre, o desejo de agradar os amigos e impressionar os outros com um
diploma do Mackenzie ou da USP? É interessante que eu conheci professores na
faculdade que eram pessoas estabilizadas, mas que demonstravam ser pessoas depressivas.
Eles diziam que tomavam remédios tarja-preta, faziam sessões de psiquiatria etc. Então eu
perguntava: “Vocês não sonhavam? Vocês não realizaram os sonhos de vocês?” E esses
professores é que são os exemplos dos alunos, e eles pensam de uma forma meio
utilitarista.
Gugu: Há umas décadas atrás, se perguntássemos para uma criança o que ela gostaria de
ser quando crescesse, a escolha dela corresponderia de certa forma com a vocação
orgânica do ser humano – no sentido de uma disposição física mesmo. A maior parte dos
meninos queria ser policial, bombeiro, militar, enfim, lutar e combater. Por quê? Pois o
corpo masculino é evidentemente estruturado para o combate: ele tem o esqueleto mais
pesado, uma massa muscular maior, um tamanho maior e assim por diante. Já as meninas
queriam ser professoras, enfermeiras, e cuidar de maneira geral. Por quê? Pois o corpo
feminino é todo mole, oferece alimento, é todo protetivo etc. Era uma tomada de
consciência do próprio organismo. Também é evidente que o impulso era moral, era de
melhorar a vida de alguém, era de melhorar a vida em torno. No caso do policial ou do
bombeiro isso se daria pelo combate ao mal e com a salvação de pessoas; e no caso da
professora e da enfermeira, isso se daria com o cuidado de outras pessoas. Hoje em dia já
é um pouco diferente. Se entrevistarmos as crianças, os meninos dirão que querem ser
jogador de futebol, e as meninas que querem ser atriz de cinema ou cantora ou dançarina
de funk.
Isso é um sinal de alerta, pois quer dizer que desde muito cedo na infância as crianças já
estão submetidas a estímulos muito anti-naturais, a uma amostragem do que é a existência
humana muito anti-natural. Se observarmos, o instinto da criança antigamente era
derivado da forma da espécie, e particularizado pela disposição orgânica. Com poucas
exceções, veríamos que os meninos procuravam atividades que eram morais, mas
fundamentadas no seu organismo masculino e no fato de que eles tinham um corpo mais
forte. E as meninas procuravam o mesmo instinto adaptado ao organismo delas. Isso
indica que a amostragem de existências na vida das crianças não era muito desequilibrada.
Havia crianças com esses desejos, ou então as crianças que queriam fazer exatamente a
mesma coisa que os seus pais faziam. Essas eram as categorias de sonhos infantis. Só que,
como essas idéias infantis mudam muito no curso da existência - quer dizer, quando
chegamos nos quinze ou vinte anos de idade já mudamos bastante nosso plano -, a questão
dessa alteração já na infância é menos importante para considerarmos hoje.
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O que é importante que nós consideremos é que muitas pessoas são bons profissionais,
bons professores, bons mecânicos etc., e, no entanto, são pessoas deprimidas que tomam
remédios tarja-preta, drogas estimulantes, calmantes ou qualquer coisa dessas, pois não
encontram satisfação na vida. Isso se deriva de dois fatores. 1) Um geral e que vale para
todo o mundo em que existem os meios de comunicação modernos, que é o desejo de se
destacar em uma carreira profissional, o desejo de ser célebre, ou, se não se conseguir
nenhuma dessas duas coisas, encher a cara passa a ser a melhor saída. 2) E as neuroses
locais ou nacionais, que no caso do Brasil é uma quarta saída, isto é, o pensamento de que
não importa o que se faça, contanto que se consiga muito dinheiro - mesmo que a vida do
sujeito seja uma droga, mesmo que ele seja desconhecido, e mesmo que ele não possa
encher a cara o tempo todo. Isso é interessante pois é um grande desvio de perspectiva.
Não necessariamente extrairemos a felicidade de uma profissão, não extrairemos a
felicidade do status de celebridade e, evidentemente, não extrairemos a felicidade do ato
de nos doparmos. Dopar-se é anestesiar-se: “A vida é tão ruim que eu preciso agüentá-la.”
Essa é a última saída. Mas a verdade é que a satisfação da vida pode ser tirada de uma
área que não necessariamente esteja ligada a uma profissão. Encontramos gente feliz
estudando, rezando, cuidando dos filhos, praticando algum hobby etc. Então, é muito
importante separar uma categoria da outra. A satisfação da vida como um todo tem
alguma ligação com a nossa profissão, mas essa ligação não é nada mais do que a
profissão não interferir nisso. Basta que a profissão não seja profundamente insatisfatória,
caso contrário viveremos num jogo de compensações em que o nosso nível de felicidade
será neutro.
Então, como podemos mapear aquilo que pode nos deixar feliz? Como já disse
Aristóteles, a felicidade envolve inúmeros componentes, dentre eles, algum nível de bens
materiais, boas relações, bons amigos, um bom ambiente familiar, uma boa educação,
fortes valores morais, enfim, muitas coisas. Porém, todas essas coisas são instrumentos da
felicidade. É o material, a base circunstancial da nossa felicidade. O que
fundamentalmente causa a felicidade no ser humano é ele encontrar conscientemente
satisfação em realizar algo que ele planeja e que esteja de acordo com forma da espécie.
Se o sujeito diz que a vocação existencial dele – não meramente profissional – é roubar
bancos, então não vai adiantar muita coisa, pois isso não está de acordo com a forma da
espécie, da mesma forma como vender drogas também não está. Esse é um problema que
coloca o indivíduo em conflito com todos os outros de sua espécie.
Aluno: Esse perfil que você está dando praticamente não existe na literatura brasileira.
Esse tipo de indivíduo raramente é retratado, com algumas exceções, por exemplo, no
José Geraldo Viera, em Terreno Baldio. Quando você deu a aula sobre Machado de Assis
e Lima Barreto, praticamente não se vê esse tipo de personagem. O brasileiro é sempre
aquele cara baixo, vulgar, malandro (inaudível). Não encontramos um exemplo. Talvez,
para nós que estamos aqui, você e o seu pai (o Olavo de Carvalho) foram as primeiras
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pessoas que falaram alguma coisa sincera. A gente não tem muitos exemplos de pessoas
assim (inaudível).
Nosso problema aqui não somente ser um bom ser humano, porque esse é um problema de
filosofia moral: “Ah, o que é um bom ser humano?” Esse não é um problema específico
de um curso de cosmologia ou astrologia. O problema de um curso de astrologia é
descobrir, dentre as inúmeras possibilidades de ser humano que existem, quais são aquelas
que auxiliam a cada um de nós na realização de uma vida feliz. Como já dissemos, um
sujeito pode viver uma vida boa e até excelente no campo moral em certo sentido, e
mesmo assim possuir um nível de felicidade medíocre. Basta que ele tenha escolhido a
atividade errada para que isso aconteça. Está cheio de bons policiais, bons médicos e bons
professores que sofrem por aí. Se perguntarmos: “A sua vida faz sentido?” Eles dirão:
“Não sei, não tenho certeza. Tenho que esperar para ver, porque, até agora, não faz.” Isso
acontece simplesmente porque o sujeito centra as atividades dele num campo que é
humanamente proveitoso, mas não individualmente proveitoso.
Só para resumir, o que estamos tratando hoje não é a questão moral – qual o sentido da
existência humana e qual a melhor existência humana possível. Até podemos fazer uma
aula sobre isso, pois é um assunto interessante. Mas iremos considerar que isso já é
assunto resolvido. O problema é que esse esquema geral do que é uma vida humana
satisfatória pode ser preenchido de inúmeras maneiras concretas. O problema aqui é saber
concretamente e especificamente qual a maneira que um indivíduo pode encontrar aquilo
que gerará satisfação a ele e que, naquela atividade específica, o possibilite enxergar o
senso de realização humana que ela oferece. Essa é a diferença entre um bom músico e um
músico que está absurdamente contente com o fato de tocar. Um músico que encontra em
sua atividade musical um dos elementos de sua existência humana está contente mesmo
tocando sozinho, tocando para a família ou tocando para um milhão de pessoas, esteja
ganhando ou perdendo dinheiro com isso. É ao realizar essa atividade que ele toma
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consciência de algo da dimensão humana da existência. E ele nem precisa ser muito bom
para isso. Se for um músico medíocre, ele ainda pode encontrar uma tremenda satisfação
em sua atividade. Vejam, se ele for um músico ruim então ele não será um músico, mas
ele não precisa estar muito acima da média para realmente encontrar a felicidade ali.
Como podemos saber que estudar música ou compor músicas irá acrescentar algo à
existência dele antes mesmo que ele tente isso? De uma forma mais geral, quais são as
atividades que irão gerar mais satisfação em termos humanos antes de tentarmos praticá-
las? O número de atividades humanas que existem é incalculável, e não podemos tentar
tudo até descobrirmos aquilo que nos é bom. Quando descobrirmos as principais
atividades, ou os tipos de atividades, que irão gerar essa felicidade em nós, quais serão os
principais obstáculos que teremos em nossas vidas ao tentarmos realizá-las? Essa é a
questão de hoje: identificar a motivação primária do indivíduo na existência e os
principais obstáculos que se colocam na realização dessa motivação.
[Intervalo de aula.]
Em termos astrológicos, como uma pessoa pode olhar o próprio mapa, ou o mapa de
alguém, e dizer qual a motivação primária do sujeito? Percebam que a motivação primária
não está ligada a uma atividade específica, ou então a um gênero de atividades, mas a um
tipo de resultado que se pode obter a partir de uma atividade específica. Isso quer dizer
que pode haver centenas de atividades diferentes, e cada uma delas pode oferecer aquele
tipo de realização, bem como um só tipo de atividade pode oferecer realizações diferentes
para pessoas diferentes. Não podemos dizer para alguém que se ele tocar um instrumento
ele será mais feliz, ou então que se ele comprar um cachorro ele será mais feliz. Porém,
podemos dizer que se ele tiver um cachorro e fizer “x”, “y” e “z”, e obtiver do cachorro
“a”, “b” e “c”, então ele será mais feliz; ou dizer isso de uma atividade como a música, o
estudo etc.
O primeiro ponto: o que o sujeito quer? A primeira coisa que olharemos é o signo
Ascendente. A segunda coisa que olharemos é o signo onde está o regente do ascendente e
o dispositor do regente do ascendente (quer dizer, o regente do signo do planeta regente).
Por exemplo, se uma pessoa tiver ascendente em Sagitário, temos que ver onde está
Júpiter. De um modo geral, deveríamos nos perguntar: “Que tipo de coisa um Sagitariano
puro iria querer realizar?” Saberíamos então que o primeiro impulso desse sujeito é
realizar tal coisa. Aí olharíamos a posição de Júpiter. Suponhamos que ele está em Touro.
Então deveríamos acrescentar a nota “Touro”, procurar a posição de Vênus e saber que o
principal modo do indivíduo de realizar essa nota “Touro” é com o que Vênus é capaz de
fazer. Precisamos aqui, então, uma dupla lista. 1) A das orientações que são significadas
pelos signos: “Qual é o impulso de Áries? Qual é o impulso de Touro? Qual é o impulso
de Vênus? Etc.”
Aluno: O ascendente também indica o que a pessoa deseja em termos de realização social?
Ou apenas indica o que ela deseja em termos de realização pessoal e interior?
Gugu: Ele não indica nem num sentido, nem no outro. Indica que, se a pessoa realizar essa
coisa na esfera pessoal, ela estará contente com a própria vida; se encontrar isso na esfera
social, estará contente com a vida social; se encontrar isso na esfera profissional, estará
contente na esfera profissional.
Retomando: 1) temos que ver onde está o ascendente, 2) onde está o planeta que rege o
signo ascendente e 3) onde está o dispositor (o planeta que rege o signo onde está o
planeta regente do ascendente). Vamos dar algum exemplo para vocês entenderem
melhor. Suponhamos alguém que tenha o ascendente em Gêmeos. Qual o regente de
Gêmeos? Mercúrio. Em que signo, nesse mapa específico, está o planeta Mercúrio?
Geralmente Mercúrio está perto do Sol, então usaremos Aquário como exemplo. Logo, o
dispositor será Saturno. Outro exemplo: uma pessoa que tenha o ascendente em Sagitário.
Qual o regente de Sagitário? Júpiter. Em que signo está Júpiter? Suponhamos que esteja
em Aquário mais uma vez. Logo, o dispositor será Saturno. Agora, ascendente em Libra.
Qual o regente de Libra? Vênus. Em que signo está Vênus? Digamos que esteja em Leão.
Logo, o dispositor será o Sol.
- Áries – Dar início a algo; iniciativa; ser o primeiro; avançar primeiro; dar o pontapé
inicial. Ele sempre está na ofensiva.
- Touro – Enriquecer; ampliar os resultados obtidos por Áries; aumentar o valor das
coisas; embelezar.
- Gêmeos – Descobrir o que são as coisas; descobrir coisas novas; experimentar trocar
as coisas de lugar; falar.
- Câncer – Coletar; guardar as coisas para que elas cresçam; cuidar; preservar. Câncer
é o curador – não no sentido de curandeiro, e sim de curador de museu, pois é ele quem
cuida das coisas.
- Libra – Diferenciar os lados da situação; saber qual o lado do bem e qual o lado do
mal; qual o time de um e qual o time de outro; estabelecer alianças; equilibrar; compensar.
- Sagitário – Apontar para o que está além das dificuldades; ver além da circunstância
concreta; animar; contar piadas.
- Peixes - Confortar e recuperar a paz quando a dificuldade não pode ser superada;
consolar. Numa situação muito ruim o pisciano é o sujeito que diz: “Poderia ser pior.”
Agora daremos alguns exemplos disso. Começaremos com o Fulano. Ele tem ascendente
em Gêmeos, Mercúrio em Aquário, e Saturno em Capricórnio. Se o ascendente é Gêmeos,
então o instinto fundamental do sujeito é descobrir e experimentar. Ele é impulsionado e
movido pela curiosidade e pelo desejo de descobrir coisas novas. Como o dispositor é
Saturno, então, na prática, o principal meio de ação que ele tem para manifestar esse
impulso fundamental é saturnino. Ou seja, ele irá manifestar o impulso de descobrir e
experimentar pelo planejamento cuidadoso, pelo esforço de longo prazo, pela organização
e pela disciplina. Uma atividade que pode simbolizar isso é o trabalho em um laboratório
de química. Percebam que não necessariamente o sujeito irá tirar satisfação dessa
atividade. Essa é uma atividade que nos serve apenas como um tipo ou modelo. Por
exemplo, suponha que ele lide com crianças. O que dará satisfação a ele ao cuidar de
crianças? Entender como a criança pensa. Como ele irá fazer isso? Mandando ela fazer
determinada tarefa, jogando um jogo com ela e estabelecendo as regras claras desse jogo
etc. Quando esse indivíduo faz isso com uma criança, ele encontra alguma coisa
interessante no ato de cuidar. Mas se fosse uma pessoa com ascendente em Câncer nessa
situação, ela obteria plena satisfação pelo simples fato de estar cuidando de uma criança.
Podemos usar também o mapa do Tales, que tem ascendente em Sagitário. O impulso
fundamental dele é instigar, motivar, animar, apontar para o sentido além das
circunstâncias. Ele está sempre procurando ver o que está além da situação atual: “Para
onde vamos? Em que direção estamos indo? Onde a nossa vida irá aumentar ou ampliar?”
O ascendente em Sagitário indica que a pessoa gosta de ter uma visão geral de para onde a
vida caminha. O regente de Sagitário é Júpiter, que, nesse caso, está em Aquário. E
Aquário é regido por Saturno. Isso quer dizer que o sujeito tende a encontrar satisfação na
capacidade de ordenar a vida dele em torno de uma visão otimista. Em qualquer área em
que o sujeito for agir, seja na vida pessoal, na vida profissional, na vida social etc., é isso
que ele estará tentando fazer o tempo todo. Por exemplo, conversando com um amigo, o
modus operandi natural dele será: “Como posso mostrar ao meu amigo qual é o sentido
maior da existência dele? E como ele pode fazer isso em suas ações cotidianas de uma
144
maneira ordenada e disciplinada?” Ele agirá dessa maneira no âmbito familiar, no âmbito
profissional e em qualquer âmbito da vida dele. Se a pessoa sentir que está fazendo isso,
ficará contente.
Usemos agora o Beltrano como mais um exemplo. Ele tem ascendente em Câncer, então
sua motivação primária é cuidar das coisas e preservá-las. Após isso, temos que buscar a
posição da Lua no mapa. Nesse caso, ela está em Áries, na casa IX. Desse modo, o
dispositor da Lua é Marte. O que significa isso? Marte é o princípio da combatividade, do
esforço, da superação de obstáculos. Então, o que mais irá gerar satisfação na vida dele
será cuidar de coisas que estão de algum modo em perigo, cuidar de coisas que exigem
um esforço para superar dificuldades. A atividade emblemática que mais simboliza isso é
a de um funcionário da FEBEM, que cuida de crianças problemáticas. Mas percebam que
não necessariamente a pessoa deve se dedicar a essa atividade especificamente. Essa
profissão apenas simboliza de maneira muito clara como o indivíduo com essa
mentalidade busca realizar o seu impulso fundamental. E, também, isso não é uma
indicação que vale estritamente para o âmbito profissional. Um sujeito assim pode pensar:
“Cara, isso é chato. Eu sei, porque o dispositor do regente do meu ascendente também é
Marte. Mas gosto de resolver problemas, gosto do que dá trabalho. Não é que eu goste do
trabalho em si, mas quando resolvo um problema que envolve um certo esforço
combativo, estou no meu melhor.” Como uma pessoa com essa mentalidade pode tirar a
máxima satisfação das suas amizades? Quando ela resolve os problemas dos amigos.
Como ela pode tirar a maior satisfação do seu trabalho? Quando ela resolve os problemas
do trabalho. Quando o dispositor do regente do ascendente é Marte, então a pessoa nasceu
para lutar. E o único jeito decente de lutar é lutar contra coisas ruins. Então esse indivíduo
deve procurar onde estão os problemas, seja na esfera profissional, seja na esfera pessoal,
na relação com os amigos, no casamento, na educação dos filhos etc. Em qualquer esfera
o sujeito deve procurar quais são as questões problemáticas que exigirão um esforço para
serem resolvidas.
Gugu: Antes disso, queria fazer um alerta. Poderíamos nos perguntar: “Como chegamos a
essas conclusões quanto ao simbolismo dos signos e dos planetas?” Hoje, antes da aula,
fiquei em dúvida se deveria entrar nesse plano mais teórico ou se devia partir para um
plano mais prático. Essa parte teórica precisará realmente de uma aula inteira, e nós não
faremos isso hoje. Portanto, agora, somente daremos os princípios gerais de cada planeta.
Também listaremos algumas profissões típicas de cada um deles, embora isso não seja
uma recomendação vocacional, e sim apenas uma aparência. Dizer que uma coisa é
parecida com outra não é dizer que uma coisa aconselha a outra.
Tales: A música está vinculada a qual planeta? A profissão de músico é parecida com a de
ator. Dessa forma, a música não estaria ligada a Júpiter?
146
Gugu: A música está ligada ao planeta Marte e à Lua. O músico é diferente do ator, pois
ele não se dirige ao público. Na verdade, a direção dele é para dentro, é do público para
ele. O músico absorve a disposição do público e gera música para dentro. Apenas
acidentalmente o músico se expõe. O ator é uma profissão que por definição é diante de
outros, já o músico não. O músico muitas vezes tira mais satisfação da sua atividade
tocando sozinho do que tocando na frente de outras pessoas. A música é uma arte que
reproduz uma espécie de combate emocional interno. O sujeito cria um sentimento dentro
dele, e, por meio da música, tenta se libertar desse sentimento. Essa arte é uma espécie de
Marte interiorizado. Ela cria uma relativa desarmonia, para depois criar uma harmonia
mais profunda. O ator, por definição, mostra algo para as outras pessoas. Não faz sentido
o ator atuar sozinho. Como o sacerdote ou o político, ele tem um público amplo, e quer
convencê-lo de alguma coisa. Num certo sentido, a diferença aqui é a direção da atividade
psicológica: o ator, o político e o sacerdote estão todos voltados na mesma direção.
Thales: Se vocês não souberem quais são os planetas regentes de cada signo, poderão
encontrar uma lista na apostila do curso.
Gugu: Também indico a leitura do The Horary Textbook, do John Frawley.5 Ele é uma
cartilha básica. Usando esse livro durante três ou quatro semanas para responder
perguntas horárias, descobrimos, mais ou menos, como o negócio funciona.
Quando lidamos com o simbolismo dos signos, podemos nos perguntar: “Por que Áries
significa isso? E por que Touro significa aquilo? Por que o Sol significa isso? E por que a
5
Há uma tradução dessa obra feita pelo Marcos Monteiro.
147
Lua significa aquilo?” A noção geral do impulso fundamental da pessoa torna-se muito
mais clara quando entendemos o simbolismo referente aos planetas e signos. Porém, é
muito difícil explicar por que os signos e planetas simbolizam certas atividades. Por que
eles simbolizam certas atividades? Por que a Lua ou Câncer simbolizam o ato de cuidar?
Pois, se nos atentarmos ao simbolismo, veremos que a atividade de cuidar apresenta certas
características semelhantes ao traço simbólico universal da Lua ou de Câncer. Só que
esse traço simbólico universal não tem um nome, pois ele não é um objeto concreto.
Por exemplo, se o sujeito tem ascendente em Gêmeos e Mercúrio (que é o planeta regente
do signo de Gêmeos) em Aquário, então essa diretriz está apontada na direção de realizar
Gêmeos à maneira de Saturno (que é o regente de Aquário, e, nesse caso, o dispositor de
Gêmeos). Isso não tem um nome. Há um nome para o simbolismo astrológico, mas esse
nome não significa nada para quem não é astrólogo. Grande parte do trabalho nas
próximas aulas será aprender o que significa esses nomes; por exemplo, o que significa
Vênus etc. Para isso, o que teremos de fazer ao olhar o mapa natal desse indivíduo com
ascendente em Gêmeos e que tem Saturno como dispositor? Em que mês e em que estação
a pessoa nasceu? Ela nasceu quando era primavera no hemisfério Norte. O que acontece
no terceiro mês da primavera? Respondendo a essa pergunta, temos uma nota. Qual dos
quatro elementos está associado à característica que encontramos no terceiro mês da
primavera? Outra nota obtida. Que atividade humana pode simbolizar Gêmeos? Vendas,
conversa, diálogo, comunicação; mais uma nota. Vamos acumulando notas até que chega
um ponto em que começamos a perceber que todas elas têm um traço comum, assim como
fizemos no exercício do simbolismo das cores. Se o vermelho está associado à violência, à
paixão e ao calor, então todas essas coisas têm algo em comum. No momento em que
percebemos isso, começamos a farejar essa diretriz.
Esse é o grande salto deve ser dado no estudo da astrologia. Devemos passar da mera
coleção de significados para um eixo simbólico destes. Enquanto estivermos apenas
colecionando os significados, não seremos capazes de discernir o que eles significam. Por
exemplo: o que significa a Casa VI? Ela pode significar saúde, doenças, a organização das
tarefas, o cuidado com os horários, materiais de escritório, os pequenos animais (como
cachorros, gatos, ovelhas, coelhos), os prédios e as edificações em torno da casa em que
moramos. Querem uma lista de significados? Há excelentes livros com listas de
significados, e eles são ótimos instrumentos para aprender astrologia. Porém, não
entenderemos astrologicamente o que é a Casa VI, enquanto não percebermos o que todas
essas coisas listadas possuem em comum. Esse é o grande problema. Isto que todas as
coisas têm em comum não tem um nome particular. A linguagem humana é feita para
significar qüididades, isto é, formas perfeitamente distintas de outras formas. Quando
149
estamos falando de um simbolismo, não estamos procurando uma forma distinta das
outras formas, mas exatamente o elemento análogo das diversas formas.
No começo do estudo de astrologia é muito difícil dar esse salto. Se dissermos que
Gêmeos significa “x”, “y” e “z”, alguém que não saiba procurar esse eixo simbólico não
saberá qual significado usar ao interpretar um mapa natal. Qual desses significados deve
ser usado num caso concreto? Para fazer essa transposição, temos que aprender a saborear
esse eixo simbólico geral. Temos que acostumar a nossa mente a pressentir as coisas que,
por exemplo, Saturno pode significar. O único jeito de obter isso é ouvir as várias
significações que os planetas podem ter e perguntar: “Por que Saturno significa isto
mesmo? Qual é a relação entre esse significado nesse caso, e aquele outro significado
naquele outro caso?” É só pela exposição exaustiva do assunto que podemos dar esse
salto.
Por isso recomendamos esse livro do John Frawley, pois a técnica da astrologia horária
implica um grau mínimo de percepção e compreensão do simbolismo astrológico, e,
então, o sujeito já começa a ver mais ou menos como o sistema funciona. Esse livro é um
conjunto de indicações práticas. O Frawley pegou muito leve na teoria e deu muitas
aplicações práticas simples no estudo de um mapa horário, justamente para que as pessoas
pudessem ver como a coisa funciona. O livro ajudará a dar esse salto de que falamos,
porque vocês perceberão, de algum modo, que os planetas normalmente significam essas
coisas. E vocês começarão a captar esses significados à medida que forem respondendo as
perguntas horárias e percebendo que a técnica realmente funciona. Isso dará a vocês a
experiência da relação entre os planetas e os seus significados, as casas e os seus
significados etc. É uma amostra experimental e real.
Aluno: A astrologia horária é permitida pela religião? Qual a suposta periculosidade dela?
150
Gugu: Olha, ninguém sabe. A atitude oficial do Vaticano varia ao longo dos séculos. Hoje
em dia, dizem que é um pecado e, por isso, temos de confessar. Se o sujeito aplica
astrologia horária hoje e confia integralmente no Vaticano - se ele é católico de carteirinha
-, então ele terá de confessar. Talvez o padre nem entenda a confissão dele, mas ele terá de
confessar. “Padre, eu havia perdido a chave do carro, fiz uma pergunta horária para achá-
la e a encontrei. Porém, tenho de confessar, porque é errado.” Para o padre, isso estará no
mesmo nível de matar galinha preta. Hoje em dia, o pessoal católico é assim: “O que o
Vaticano diz? O que a doutrina oficial diz?” Ah! Peguem o que a doutrina oficial diz
sobre o que é fundamental e geral, e tentem guiar as suas vidas por isso. Se vocês forem às
minúcias, aos detalhes, irão se ferrar bonito! Por quê? Pois uma instituição do tamanho da
Igreja Católica age num ritmo secular, não no ritmo quotidiano da vida de cada indivíduo.
Imaginem que vocês vão a um padre e digam: “Padre, dormi com a minha namorada.” O
que ele diria? Ele lhes daria uma diretriz que daria no século XII: “Ah, agora você tem
que apanhar!” Hoje em dia, se o sujeito pretende casar com uma mulher que ele não
conhece, se ele não sabe o que esperar de casamento, e se ele pretende seguir estritamente
a regra da Igreja Católica no que se refere à moralidade sexual e moralidade do
casamento, então ele desgraçara a própria vida! Ele entrará num casamento que só se
preservará na base do sadomasoquismo. Se essa situação específica que vivemos hoje e
que se refere ao casamento continuasse exatamente a mesma, daqui a cem anos o Vaticano
ofereceria uma resposta que poderia se aplicar. Esse é um ritmo de ação do Vaticano. É
feito para durar séculos. Entendeu? Vocês podem praticar astrologia horária? A decisão é
de vocês, mas, para o Vaticano, não, não podem. Agora, se a pergunta fosse feita no
século XIII, responderiam: “Claro. Por que não poderia?! Que pergunta idiota! Isso é um
negócio necessário para a vida!”
Aluno: Não sou casado na Igreja. Fui me confessar, e o padre disse que eu não poderia
comungar, porque estava pecando nesse aspecto. É um padre conservador. Então fui a um
padre da teologia da libertação que me disse: “Isso é conservadorismo. Você não é
obrigado e não precisa fazer isso.” O que o senhor acha disso?
Gugu: É um pouco mais complicado do que cada um deles respondeu. Por quê?
Tecnicamente falando, o casamento acontece quando um homem e uma mulher decidem
não somente dormir um com o outro, mas decidem cuidar um do outro para o resto da
vida, e, também gerar filhos. Casamento é a decisão mútua de cuidar um do outro e de
gerar filhos para o resto da vida. Todo casamento tem como intenção a vida toda. “Ah,
mas no budismo e no islam pode divórcio.” Pode, mas o casamento só é válido se a
intenção for para a vida toda. A validade depende da intenção de cuidar um do outro a
vida toda e de haver um certo grau de consciência de que essa intenção é mútua.
151
Porém, os casais humanos não são ilhas num oceano de solidão, pelo contrário, eles vivem
em sociedade. Se duas pessoas têm a intenção de se casarem, para que essa intenção seja
plenamente válida, deve-se comunicá-la publicamente. As outras pessoas devem saber que
essa é a mulher do Fulano e que o Fulano é marido dela. Se ninguém souber disso, outros
homens também dormir com ela. E, então, o Fulano não poderá falar nada, pois ninguém
sabe que ela é mulher dele. Esse é um outro nível de exigência. O casamento é
tecnicamente válido se o casal tem a consciência da intenção que mencionamos. Mas se
essa intenção não for comunicada aos outros, subsiste um certo grau de imoralidade no
ato, pois está se criando dificuldades humanas.
Num certo período na história da Europa, havia sacerdotes para todos os lados. Então a
Igreja estabeleceu a seguinte disciplina: “Olha, meu filho, se você comunicar para o
sacerdote essa intenção, valeu como se você tivesse comunicado para todo mundo. Isso
porque o sacerdote é o representante da moral coletiva. Ele é o fiador da moral coletiva.”
Assim foi criado o matrimônio católico cristão como nós o conhecemos.
Dessa forma, são três os graus de exigência moral para um casamento válido: 1) a decisão
do casal de que cuidarão um do outro pelo resto da vida, 2) de que querem filhos e 3) a
consciência recíproca dessa intenção. Esso é um voto que o casal faz um para o outro. A
moral fundamental, assim, está garantida. Por quê? Porque existem circunstâncias em que
o casal não pode levar o ato ao público. Suponhamos que temos um caso como o de
Romeu e Julieta. Se a família de um dos apaixonados souber que houve casamento,
alguém tomará um tiro. Nesse caso, o casamento deve de ser secreto. Como podemos
garantir a moral fundamental desse ato? Estabelecendo o voto entre o casal. Se um casal
nessa situação perguntar sobre a validade desse casamento a um padre que entenda do
assunto, ele responderá: “Meu filho, se vocês fizeram isso, seu casamento é válido diante
da Igreja. Vocês estão casados.” Se perguntarem para um padre especialista em direito
canônico, ele dirá: “Vocês são casados. Não pode casar de novo na Igreja. Vocês só terão
um rito de comunicação oficial. Se vocês dois já freqüentavam a Igreja antes de fazer esse
voto, o voto deverá ser validado diante do padre.”
É imoral o cara dormir com a mulher quando eles estabeleceram essa intenção? Não, não
é imoral se eles estabeleceram essa intenção. Se eles dois estabeleceram essa intenção, a
moralidade fundamental está garantida. Se o casal se dirigir a um padre e fizer o rito
conforme as exigências da Igreja - com o padre jogando a água benta e dizendo o “eu vos
declaro marido e mulher” -, mas não tiver essa intenção consciente lá dentro, então
acabou! Se algum deles estiver pensando: “Ah, se der errado eu vou dar o fora.” Nesse
caso, não teve casamento. O cerimonial pode ter sido seguido à risca, mas foi só o
cerimonial.
152
Moral não é um conjunto de regrinhas. Moral consiste em tomar decisões fundamentais de
acordo com uma diretriz impositiva para o ser humano. Uma religião nos ensina certas
regras para facilitar essas decisões. Quando o Vaticano fala: “Casamento? Só se for na
Igreja, na frente do padre.” O que ele está fazendo? Está fazendo uma regra prática para
facilitar as coisas para as pessoas. Quando um casal for até o padre querendo se casar, ele
dirá: “Casamento implica numa intenção para a vida toda etc.” Ele explicará o que valida
um casamento segundo a Lei Natural. E, então, o casal faz os votos em público. Esse é um
instrumento prático para garantir uma tomada de decisão correta, mas isso não causa a
moralidade do casamento. Se para o casal está claro a decisão de cuidar um do outro por
toda a vida, e, se possível, gerando filhos nesse processo, a moral fundamental está
garantida. A decisão certa já foi tomada: é casamento.
Praticar astrologia horária é moral ou imoral? Podemos até discutir quais são as
circunstâncias que a tornam moral ou não. É assim como dormir com uma mulher. Dormir
com uma mulher é moral ou imoral? Depende, se ao fazer isso ninguém estiver violando
um voto já feito para uma outra pessoa antes, então esse ato é moral. Se ninguém estiver
fraudando ninguém, não tem o que discutir, houve casamento (o que também não quer
dizer que o Vaticano, sem analisar cada caso concreto por meio de um especialista em
Direito Canônico, pode dizer que, em geral, as pessoas podem fazer somente os votos um
para o outro). Se me perguntarem qual é a regra atual da Igreja sobre a prática da
astrologia, direi: “Não pratiquem a astrologia horária, não pratiquem nenhuma forma de
astrologia.” Isso aí está claro no Novo Catecismo, com todas as letras. Mas essa é uma
diretriz geral. Quer dizer, todo mundo que fizer isso estará cometendo uma imoralidade?
Não necessariamente. É como o sexo fora do matrimônio. Sexo fora do matrimônio é
errado. O que é “fora do matrimônio”? Dormir com uma mulher com a intenção de se
aproveitar dela em um dado momento e depois não querer mais saber dela. Isso é errado e
não tem discussão. Isso é sexo fora do matrimônio. Porém, se o sujeito não casou na
Igreja, isso não quer dizer que o cara está cometendo sexo fora do matrimônio. Moral é
um conjunto de decisões individuais e concretas que são tomadas tendo em vista uma
direção certa. Um conjunto de regras separadas da vida concreta não garante a moralidade
de nada.
A história da Igreja é criar alguma regra e depois dizer: “Ih, Espera aí! Em tal caso, essa
regra não vale.” Fora os 10 Mandamentos, não dá para fazer um conjunto de regras que
vale sempre. Fora regras muito gerais, não tem como. Isso é mais ou menos um conjunto
de regras para consertar um carro. Quando chega um carro na oficina, o mecânico diz:
“Nesse caso, a gente vai fazer diferente e vai funcionar melhor.” Se julgarem pelo manual
técnico, dirão que o mecânico procedeu de forma errada. Só que o mecânico obteve o
melhor resultado. Com moral é a mesma coisa. Moral diz respeito a obter um resultado na
153
vida humana. É claro que há um manual de instruções para isso, mas também há exceções.
Podemos elaborar isso um pouco mais na próxima aula.
Aula 06
Tópicos da aula:
Transcrição da aula:
Gugu: Hoje iremos mudar um pouco o foco das aulas. Portanto, caso haja
alguma dúvida em relação às aulas passadas, esse é o momento de
manifestá-la.
Gugu: Essa dúvida será, em parte, respondida pela mudança de foco que
daremos. Hoje, em vez de continuarmos comentando a técnica astrológica,
falaremos um pouco dos conceitos filosóficos subjacentes à técnica
astrológica. E, nessa análise, também discorreremos sobre o conceito de
substância. Tentaremos explicar como a astrologia funciona em geral, bem
como daremos o quadro filosófico em que ela está inserida - o que nos
permitirá entendê-la. Se conversarmos com uma pessoa relativamente
informada acerca da cultura atual, e falarmos a ela que a astrologia
funciona, podemos prever dois tipos de reação: ou ela rirá, ou, quando
provarmos o que dissemos, alguns parafusos se soltarão da cabeça dela
imediatamente. Nesse último caso, ouviremos: “Como é possível que haja
essa relação entre uma coisa e outra?” Há também uma segunda questão
envolvida nisso. Se somos capazes de dizer para um sujeito quando ele se
casará, ou então como será a relação dele com a esposa nesse casamento,
como é possível que se diga que há algo como o livre-arbítrio? Se estava
tudo escrito nos planetas, como é que esse sujeito pode ter alguma
155
liberdade? Tentaremos dar um quadro geral do assunto para que o
entendamos de maneira mais fácil.
6
Nota do revisor: centavo, aqui, está se referindo à noção de moeda, e não de quantidade.
159
que uma pedra possa existir concretamente e que ela possa existir em si
mesma. Já a cor verde, será que é possível conceber que ela exista em si
mesmo e em nada mais? Não. Podemos conceber que exista um líquido
verde ou uma pedra verde, porém a existência no mundo concreto de algo
como um verde exclusivo é algo inconcebível. E o mesmo vale para a
noção de doce ou para a noção espacial “em cima”. É possível que exista,
no mundo concreto, um “em cima” dissociado de tudo o mais? Não, pois a
noção de “em cima” implica em uma coisa estar em cima de outra.
Pensemos ainda na ação andar. É possível que exista concretamente
somente o ato andar sem a existência de alguma coisa que ande? Também
não. Os acidentes em geral só podem existir caso exista alguma substância
da qual eles são predicados. Por fim, lembremos de mais exemplo dado em
uma das primeiras aulas. Foi feita a pergunta: quem ou o quê late? O
cachorro late. É concebível o ato de latir sem um cachorro que o pratique?
Não. O ato de latir é inconcebível sem um agente. Isso quer dizer que as
ações também são acidentes, e elas só podem existir caso haja uma
substancia que seja o sujeito que as pratica. Se dissermos “late”, a primeira
pergunta que virá à nossa mente será: “O quê late?” Se dissermos “verde” a
primeira pergunta quem virá à nossa mente será: “O quê é verde?” Se
dissermos “dois”, a primeira pergunta que virá à nossa mente será: “Dois
de quê?” Se dissermos “em cima” ou “à direita”, a primeira pergunta que
virá à nossa mente será: “O quê está em cima? O quê está à direita?”
Aluno: Podemos exemplificar o que foi falado sobre a substância não ser
gerada por si mesma se pensarmos, por exemplo, no leite e na manteiga. O
leite pode deixar de ser leite e passar a ser manteiga. O leite é uma
substância diferente da manteiga, mas esta não seria possível sem aquele. E
mesmo o leite também não seria possível se não houvesse uma vaca.
Gugu: Realmente, “ser vivo” é mais amplo e mais geral do que “homem”.
Mas poderíamos, então, usar outra comparação. Qual a diferença entre
falar que “Sócrates é um ser vivo” e falar que “Sócrates é uma substância”?
Atenção: estamos usando a palavra substância no mesmo sentido que
usamos agora há pouco. Pois então, qual é a diferença? Os dois são gêneros
de Sócrates. Se dissermos que “Sócrates é um homem”, que “Sócrates é
um ser vivo”, e que “Sócrates é uma substância”, quais são as
características comuns a essas três afirmações?
O acidente é algo que pode estar presente ou não em uma coisa. Ele é algo
que caracteriza o indivíduo concreto, mas não é uma determinação da sua
essência. É algo que é verdadeiro quando afirmado de indivíduo em
particular, mas não é verdadeiro quando afirmado da espécie. Quando
dizemos que “Sócrates é sábio”, isso é verdadeiro acerca de Sócrates, mas
não necessariamente é verdadeiro acerca do homem em geral, pois nem
todos os homens são sábios. Mais ainda, quando dizemos que “Sócrates é
sábio”, isso quer dizer que Sócrates foi sábio desde que nasceu? Quando
ele era um bebê de dois meses, já era ele sábio? Não, Sócrates tornou-se
sábio. E ao se tornar sábio, ele não mudou de espécie de maneira alguma.
Ele já era um ser humano aos dois meses de idade e continuou um ser
humano durante toda a sua vida. Então, o acidente - a predicação acidental
- é aquilo que, quando afirmado ou negado, não muda a definição da
espécie. Mas há um tipo de acidente que, embora não faça parte da
essência, possui uma relação mais direta com ela. Por exemplo: “O Fulano
ri.” Ora, o ato de rir é um acidente que é característico dos seres humanos.
Se o sujeito nunca ri, ele não deixa de ser humano. Por algum período da
nossa biografia, é possível que sejamos definidos como alguém que não ri.
E é provável que durante alguns minutos, ou horas, ou dias (como os
primeiros dias da sua vida), não rimos em nenhum momento. No entanto,
este não é um acidente como, por exemplo, ter peso. Ter peso não é
característico do ser humano, é característico dos entes corpóreos. A este
tipo de acidente chamamos propriedade. Algo que é próprio, característico,
mas que não explica o que a coisa é.
167
Por último, temos a predicação da diferença específica. Da mesma forma
que podemos dizer que “Sócrates é um animal”, também podemos dizer
que “Sócrates é racional”. “Racional” é uma determinação da nossa
essência, uma diferença da nossa essência; é o que nos diferencia dos
outros animais; é um atributo essencial. Portanto, “racional” é algo bem
diferente do gênero. Devemos perceber que, quando dizemos que “Sócrates
é um animal”, a palavra “animal”, aqui, refere-se concretamente à
animalidade racional que existe no Sócrates. Não queremos dizer “animal”
no mesmo sentido de quando dizemos que o “cavalo é um animal” - a não
ser que queiramos ofendê-lo, mas este já é um uso secundário da palavra.
O elemento “racional”, nesse caso, está indeterminado, pois não o
explicitamos. E é por isso que podemos usar o predicado “animal” de
maneira ofensiva. Porém, quando dizemos “racional”, não incluímos a
referência à animalidade nem mesmo de maneira indeterminada. É de se
notar que a palavra “animal” já carrega em si um potencial de maior
determinação. Quando dizemos “animal” nos referindo ao cavalo, essa
palavra já inclui algo mais; quando dizemos “animal” nos referindo a
Sócrates, essa palavra já indica algo mais, ainda que de maneira
indeterminada. Já quando dizemos “racional”, a noção de animal não está
incluída nem de maneira indeterminada, nem de maneira implícita. Se
observarmos bem, quando predicamos de algo “animal” – por exemplo: “o
cavalo é um animal” –, já deixamos subentendido que existe alguma outra
noção que complementa a noção de animal, e que, junto a esta, pode
explicar o que é um cavalo. Se juntarmos essa noção subentendida à noção
de “animal”, explicamos o que é um cavalo.
Aluno: A diferença é que o anjo faz a conta de cabeça e o ser humano tem
que fazer no papel!
Gugu: Mas essa não é uma diferença racional, e sim uma diferença da
memória. É uma diferença do referencial concreto. Toda vez que um anjo
faz uma conta e acerta, e toda vez que um homem faz uma conta e acerta, o
resultado dessas operações é sempre o mesmo. Qualquer outra condição
não modifica a racionalidade, porque a racionalidade é uma diferença
última. Ela [a racionalidade] é que é a modificadora de outras condições.
Poderíamos perguntar se, nesse caso, a racionalidade é um sinônimo de
lógica. E a resposta é não, a racionalidade não é um sinônimo de lógica. A
170
racionalidade é a capacidade de realizar operações intelectuais e abstratas.
Isso inclui a lógica? Claro, mas inclui a ilógica também, e inclui operações
que são anteriores à lógica.
Vimos nas aulas passadas que o ser humano tem a capacidade de, ao
pensar, por exemplo, em um leão, ele ser capaz de pensar abstratamente no
leão, e não em um leão em particular ou em um leão que está prestes a lhe
causar algum mal. Essa também é uma capacidade racional. Podemos nos
referir mentalmente e verbalmente ao leão, independentemente da nossa
circunstância concreta. Não precisamos ouvir um rugido para pensarmos
em leão. Isso não é lógica, mas é uma operação racional. A lógica é um
capítulo da racionalidade, e não o livro inteiro. E também é claro que há
alguma diferença concreta entre as operações que realizamos com a nossa
racionalidade enquanto humanos e as operações que um arcanjo realiza
com a racionalidade dele enquanto arcanjo. Mas, como já dito, também há
diferenças concretas entre as operações racionais que um ser humano
realiza em comparação a outros seres humanos. Portanto, essas são
diferenças de grau, são diferenças concretas, e não diferenças na própria
racionalidade. Os resultados, uma vez certos, têm de ser os mesmos. Os
resultados racionais, derivados da inteligência, têm de ser os mesmos nos
seres humanos, nos arcanjos, e até em Deus. Se não fosse assim, não teria
sentido o homem relacionar-se com os anjos ou com Deus. A relação entre
o homem e Deus seria sempre igual à que existe entre o homem e os
cachorros. No máximo, seria uma relação afetiva; haveria um elemento
unilateral nela. Mas todas as grandes religiões afirmam que a relação com
Deus é completamente bilateral. Isso não significa que o homem e Deus
são iguais: nós morremos, e Deus não. Isso já é uma grande diferença.
[Intervalo.]
Agora, e se uma pessoa viesse nos visitar algum dia e urinasse no meio da
sala? Sentiríamos a mesma coisa que sentimos quando o cachorro faz a
mesma coisa? Ficaremos com vontade de bater nesse sujeito. Só que
também podemos ficar com vontade de bater no cachorro. Então, qual é a
diferença entre a vontade de bater na pessoa que fizer isso e a vontade
bater no cachorro? Como falamos antes, o cachorro não urina dentro da
sala porque ele tem a intenção de nos contrariar. E quem inventou essa
coisa de “sala” fomos nós, e não ele. Já o ser humano, pode até ser possível
que ele esteja urinando dentro da sala sem a intenção por ter um cérebro
meio canino, mas é mais provável que ele esteja fazendo isso de
sacanagem mesmo. E isso, na teoria do delito, é o que se chama de dolo e
culpa, isto é, o sujeito pode cometer um crime com ou sem a intenção de
praticá-lo. O cachorro pode urinar dentro de casa, mas o fará sem a
intenção de nos contrariar deliberadamente; já uma pessoa, é bem mais
provável que o faça apenas de má vontade.
Aluno: É por isso que as Artes Liberais ampliam a nossa percepção? Para
que se amplie o nosso universo de escolhas e possamos ser mais livres?
Gugu: Elas são chamadas de Artes Liberais justamente por causa disso.
Nós somos mais livres do que os animais, porque temos mais modos de
percepção do que eles. Para um animal, a desculpa de que ele não sabia
que não se podia urinar dentro de casa é válida. Para o homem, nem
sempre. Pois podemos falar: “Você não sabia, mas devia saber!” O animal
não tem nenhuma escolha além das escolhas concretas. Quando ele quer
urinar, ele pensa: “Faço xixi aqui ou não? Já que eu não vou deitar aqui,
mas vou deitar ali, então faço xixi aqui e pronto. Tenho esse espaço para
fazer o xixi, e ali um espaço para deitar”. Suponhamos que alguém, na casa
de outra pessoa, urina na sala desta: “Para mim é simples. Faço xixi ali no
canto e me deito no sofá.” Mesmo que esse alguém não estivesse
informado de nada mais, a pessoa, dona da casa, poderia dizer: “Se você
não estava informado, deveria estar!” Com o animal, no máximo, podemos
dizer: “Poxa, ele estava mal informado acerca da situação. Pior para ele,
pobre coitado.” Mas não podemos dizer que ele devia estar mais
informado. Está clara a diferença entre “podia estar mais informado” e
“devia estar mais informado”? Está claro que o animal não tem deveres
intrínsecos? Os deveres vêm sempre de fora, nunca de dentro. Então, se
algum cachorro urina na sala, ninguém diz: “Esse cachorro devia saber não
fazer xixi na sala.” Caso aconteça de algum cachorro urinar na sala, dirão:
“Deviam treinar esse cachorro para que ele não faça mais xixi na sala.”
Tales: O Fulano disse que o ser humano também tem esse elemento de
condicionamento na infância, pois não é razoável exigir de uma criança
que ela saiba dessas coisas. Então, por isso, a criança deve ser educada do
mesmo modo que um cachorro. Mas é bom notarmos que esse elemento,
no ser humano, é uma etapa provisória, ao passo que, no animal, é um
178
estado definitivo. Rapidamente o ser humano passa por essa fase; já o
animal, é toda a vida dele.
Tales: Aliás, é por isso que essa noção de ressocialização de presos, com
base numa política de quase adestramento, chega a ser desumana.
Aluno: Para educar o aluno, o professor faz com que ele adquira
consciência da situação de todo ser humano; o professor faz com que ele
transcenda a situação concreta dele, chegando a um contexto universal.
Então, um professor que queira adestrar o aluno, procura limitá-lo à
situação concreta momentânea e distanciá-lo desta percepção geral do ser
humano.
180
Gugu: A diferença entre educação e adestramento é simples: na educação,
quer-se dar ao educando as mesmas possibilidades que o educador tem; no
adestramento, não se quer dar novas possibilidades para o adestrado,
apenas o adestrador procura fazer uso das possibilidades do outro para
benefício próprio. E aí poderiam perguntar: “Pode-se dizer que a educação
brasileira seria basicamente um adestramento?” Isso não é novidade. O
sujeito não quer ensinar algo que ele saiba. O adestramento sempre
envolve um elemento de ocultação. E o que caracteriza a liberdade humana
– e a educação humana - é o fato dessa liberdade ser medida por dois eixos
diferentes. No caso do animal, a liberdade dele é medida somente no eixo
da circunstância concreta e necessidades internas. O animal, opera desse
modo: “Eu preciso de comida, e há aquela gazela ali.” Se ele conseguir
resolver essa equação – a necessidade de comida e a disponibilidade da
gazela que está ali -, terá sucesso; se não, fracassará. No caso do ser
humano, não é só isso, há também outro eixo: além das necessidades
internas e a circunstância concreta7 existe o panorama da existência
humana.8 Se o leão roubar a gazela caçada por outro leão, ele não é um
canalha. Mas se um homem roubar a presa de outra pessoa, há algo de
errado.
7
Podemos chamar esse eixo de eixo horizontal.
8
E esse eixo podemos chamar de eixo vertical.
181
dez dias da vida dele. É, de certa forma, um assassinato em menor escala.
Por isso sempre foi um pecado e um crime graves. Não é algo pequeno
como se costuma dizer: “Só roubou, mas não matou.” É um passo na
direção do matar.
Gugu: A unidade que sempre manteve todo povo coeso, sempre foi a
religião, que pregava essa moral fundamental. E todo povo que não teve
isso, não durou muito tempo. A religião é, em certo sentido, a catalisadora
da existência humana. Em princípio, pode-se derivar essa moral
fundamental da própria experiência. Para isso, basta que reflitamos, pois
essa moral está baseada na estrutura mesma da inteligência humana. Mas
como ter o poder de nos lembrarmos todos os dias da moral concreta? É
nesse ponto que a religião entra em jogo. Ela é, digamos, o despertador que
nos permite acordar na hora do trabalho. Sabemos que é necessário acordar
todos os dias em uma determinada hora para irmos trabalhar, e para isso
não precisamos de um despertador. Porém, precisamos do despertador para
acordar. A moral, enquanto estrutura essencial, não é derivada da religião,
mas a religião é o alimento fundamental da consciência moral concreta. A
religião não sobrepõe algo à natureza humana; ela é algo para que o ser
humano possa tirar proveito de sua natureza; ela existe para que se possa
tirar o máximo proveito dessa natureza. Toda religião tem um fundador
que está claramente no topo da inteligência, da virtude, da sabedoria. Esse
é o primeiro instrumento pelo qual a religião é catalisadora da moral. Ela
dá uma ilustração de até onde a natureza humana pode chegar. Em segundo
lugar, ela dá uma série de meios para que esse limite fique impregnado na
mente dos seus adeptos. A relação entre as duas coisas é como a diferença
entre uma pessoa que estuda um tratado de teoria musical, sem nunca
tentar aprender a tocar um instrumento. Isso é evanescente, evidentemente.
Pode parecer que aquilo tudo é só uma coisa mental. A moral sem religião
tende a se dissolver nesse sentido. Ela não se torna necessariamente
inválida ou errônea, porém fica frágil. Um ateu pode inferir os mesmos
princípios morais que um não-ateu, mas a moralidade dele tende a ser
frágil, no sentido de ser apenas um conteúdo mental.
Aluno: Isso quer dizer que a pessoa não é livre de suas inclinações
pessoais, mas é livre em tomar as decisões de acordo com as inclinações
que possui?
Aula 07
187
Tópicos da aula:
Transcrição da aula:
Gugu: Boa tarde. Antes de entrarmos no assunto, fica uma curiosidade que
vamos explicar mais adiante no curso. Como ficamos um pouco atrasados,
fiz a pergunta horária: “Haverá aula hoje?” E temos aqui um mapa para
interpretar. Claro que, como os alunos ainda não sabem astrologia horária
muito bem, não é possível explicar exatamente como funciona.
Porém, isso levanta uma questão mais geral. Alguém perguntou, em uma
das aulas passadas, sobre a Igreja e a atitude dela em relação à astrologia.
Tentaremos explicar, hoje, três questões de maneira um pouco mais geral:
1) a questão do livre-arbítrio; 2) a questão da astrologia em face da Igreja e
do cristianismo; e 3) a questão da astrologia e a ciência.
9
Nota do revisor: É interessante lembrar, no entanto, das aulas do professor Olavo que dizem respeito ao início
da Modernidade. A prática de astrologia, alquimia e magia, bem como a difusão das seitas esotéricas e
sociedades secretas, foram fatos marcantes desse período, porém varridos para debaixo do tapete da História.
192
mensagem das religiões e toda a mensagem cristã não têm sentido. Todas
as religiões pregam: “Você deve se comportar desse jeito, e não daquele ; e
você deve porque você pode, porque é você que decide.” Então, sempre
temos de ter em mente aquilo que é permanente e aquilo que é transitório.
Só que o sujeito desatento ouve toda essa conversa, abre o catecismo e está
lá:
10
Nota do revisor: O capítulo IV da Introdução à Astrologia Ocidental, de Marcos Vinicius Monteiro, também
trata do tema.
193
consciência. Cada um deve olhar para si mesmo e analisar: “Espera aí, eu
acredito que os planetas mandam mais que Deus ou que eles estão em pé
de igualdade a Ele? Eu acredito que se Júpiter e Deus decidirem competir,
Júpiter tem alguma chance?” Se alguém acredita nisso, não deve praticar
astrologia e nem estudá-la. Outro ponto a ser analisado: “Eu acredito
mesmo que não sou responsável pelas minhas ações? Acredito que aquilo
que faço não é culpa minha?” Caso alguém também acredite nisso, não
deve praticar e nem estudar astrologia. O quanto você acredita nisso, ou
não, é você que tem que decidir. Eu não posso decidir isso para você, nem
o catecismo, nem o livro de astrologia, e nem o papa. Ninguém é substituto
da sua consciência. Só você sabe o que você sabe e pensa a respeito dessas
questões. Esse é o ponto mais importante. Se alguém tem dúvidas se a
astrologia é permitida ou proibida pela igreja, já demos aqui as linhas
gerais para que procure os textos e reflita acerca dessas questões. Essas
linhas gerais que estamos dando aqui não são substitutas da análise que,
individualmente, cada um deve fazer em caso de dúvida real.
Às vezes, só porque demos essas linhas gerais o sujeito pensa que não tem
esse perigo: “Não creio nem na maluquice da existência de vários deuses,
nem que os planetas são deuses, e nem que eles podem determinar alguma
coisa independente de Deus e em contradição a Ele. Também não acredito
que são os outros, ou os planetas, que decidem o que eu decido. O que eu
decido, sou eu que decido mesmo. Bem ou mal, a culpa é minha.” Só que a
crença dele pode não ser essa realmente, ainda mais se tratando de quem
tem pouca prática religiosa. Mais ainda, se o indivíduo está procurando
alguma coisa em que possa jogar a culpa por aquilo que fez, ele deve
estudar biologia comportamental, genética comportamental, teoria
revolucionária da história etc. Essas matérias fornecem meios muito mais
poderosos para defender a tese de que ninguém é culpado de nada,
aliviando então a consciência pesada que a pessoa possa ter. E esses são
meios mais populares também. Podemos dizer: “A culpa não é minha, é de
Júpiter.” Nesse caso, muita gente rirá da nossa cara. Agora, também
podemos dizer: “A culpa não é minha, é do sistema.” Então, muita gente
irá nos aplaudir, e é capaz até que ganhemos um dinheiro.
194
Se alguém tem alguma dúvida acerca da relação entre a religião cristã - ou
qualquer outra religião - e a prática e o estudo da astrologia, analise essas
questões e vá procurar os termos, porque é somente a consciência
individual que pode esclarecer isso. No meu caso, sei que o estudo e a
prática de astrologia não são contrários a nada disso. Na verdade, eles são
benéficos para a minha religião.
O grande problema é que a maioria dos cristãos, hoje em dia, por mais
religiosos que sejam, estão contaminados de uma forma muito intensa pelo
determinismo. Por isso, é fundamental aquela purificação da mentalidade
que falamos na primeira aula. Hoje em dia é muito mais importante o
sujeito procurar se limpar de outras contaminações não astrológicas de
determinismo do que se preocupar com astrologia. Há muitos cristãos que
dizem: “Sou cem por cento cristão, mas isso que aquele sujeito faz, não é
ele, é a sociedade.” Ou: “Não é ele, são os ricos que o espoliam, são os
banqueiros, a culpa é dos banqueiros.” Ou ainda: “A ciência diz que é o
DNA. O cara nasceu com o gene errado.” Antigamente se falava que a
pessoa nascia sob uma estrela ruim, hoje em dia se diz que ela nasceu com
195
um gene ruim. Então, o sujeito está se afastando da religião dele por
muitos outros meios que ele não percebe. E, embora não seja, de maneira
nenhuma, má política da Igreja manter esse artigo na edição nova do
catecismo, é uma péssima política não ter acrescentado outros detalhes,
como por exemplo, que a biologia determinista também é contrária à fé,
que teoria da história determinista também é contrária a fé etc. Essas outras
coisas poderiam ter sido incluídas no catecismo, porque essas são questões
um tanto quanto urgentes que estão na mente de muitas pessoas.
Antigamente, quando uma pessoa dizia que fulano fez algo por causa de
beltrano, ela queria apontar uma influência emocional, e não afirmar a
existência de uma filosofia determinista por detrás. Ela só estava falando
do palco em que fulano agiu. É óbvio que as pessoas não agem num
cenário abstrato, mas diante de informações e da reação interna a essas
informações. Porém, a decisão da ação não é determinada nem pela
informação objetiva, nem pela informação subjetiva. A decisão é escolhida
a cada momento. Todo mundo sabia disso. Por exemplo, poderiam dizer:
“Ele fez isso porque a esposa o traiu.” Então, ninguém achava que a culpa
era da esposa e do amante dela. Não havia uma crença determinista.
Ninguém tirava o marido traído do banco do tribunal para colocar a esposa.
Hoje em dia, diz-se que foi por causa disso, foi por causa daquele outro etc.
Ou então, por causa do uso social da terra, o integrante do MST sai do
banco dos réus, e o proprietário da terra é quem fica na posição de culpado.
E vão dizer o seguinte para justificar isso: “Isso aqui é determinismo
196
sociológico. O cara do MST não tem escolha, ele tem que agir assim.” Esse
modo de pensar é um tipo de filosofia determinista. Então, atualmente há
tantas outras formas de determinismo tão mais difundidas e tão mais
poderosas, que seria de uma certa importância mencioná-las no catecismo.
Aluno: No novo catecismo, comandado por Ratzinger, eles tinham consciência dessa
distinção que acabamos de mencionar?
Gugu: É claro que tinham. Mas temos que entender que o catecismo não é um profundo e
elaborado tratado de teologia. Digamos que o livro para o teólogo deveria ser a Suma
Teológica. O catecismo é leitura para o homem comum, para o pai de família, e não para o
teólogo. Se ficassem elaborando muitas distinções sutis, as pessoas não leriam. Tentem
convencer o católico médio a ler o catecismo. Apenas dez por cento dos católicos lêem o
catecismo. Se a terminologia do catecismo fica muito complicada, reduz-se a proporção
de cristãos que o lêem. Isso só pioraria a situação. O catecismo sempre tem que ser uma
leitura mais fácil, compactada, mas tem que dar indicações suficientes. Não foi errado
terem listado a consulta de horóscopos e a astrologia como exemplos, mas faltaram todas
essas outras coisas que mencionamos aqui. Mas, de maneira geral, o catecismo tem que
ficar mais na linha da segurança do que na linha da insegurança. É preferível que um
católico não corra nenhum risco de consultar um mau astrólogo. Então, o catecismo, como
um conjunto de instruções práticas, sempre tem que ter uma simplificação que seja mais
favorável à salvação do que à precisão teológica ou dialética.
Por tudo isso, deveriam ter incluído um aviso sobre as formas de divulgação científica,
porque estas simplificam os estudos dos pesquisadores sérios na direção da ideologia do
sujeito que está fazendo a divulgação. Um aviso desse tipo seria importante.
Por exemplo, quando alguém leva o carro no mecânico, este pode dizer: “Olha, temos que
trocar a borrachinha da rebimboca da parafuseta, porque ela está queimada.” Daí, quando
se abre o capô do carro, a borrachinha da rebimboca da parafuseta está queimada, e, ao
trocá-la, o carro volta a funcionar. Não interessa saber a técnica que o mecânico usou para
formular a opinião dele. O ponto chave da questão é: a opinião que ele emitiu é verdadeira
ou falsa? A opinião, e não a técnica! Um mecânico pode dizer que ouviu um barulho
estranho, outro pode dizer que estava saindo uma fumaça, outro ainda pode dizer que
estudou engenharia automobilística etc. A técnica que se usa, desde que a opinião seja
verdadeira, não importa.
Isso é muito importante de entender, pois existe uma tremenda diferença. Podemos
perguntar: “A astrologia funciona?” Olha, a boa astrologia funciona; já a astrologia ruim,
não. Por meio da boa astrologia, o bom astrólogo formula opiniões verdadeiras em casos
que, sem a astrologia, não daria para se formular uma opinião. Isso é como o método de
diagnóstico dos chineses. Os médicos chineses só vêem o pulso para fazer diagnósticos,
pois eles tratavam das princesas chinesas e só podiam tocar no pulso delas. Imaginem se
198
eles dissessem para as princesas: “Tire a camisa, pois quero ver como é.” Se dissessem
isso, cortavam a cabeça deles. Então, eles tiveram que desenvolver uma técnica de
diagnóstico só com o pulso. Essa técnica é verdadeira ou falsa? A técnica não é nem
verdadeira é falsa. A opinião do médico chinês, quando ele diagnostica um problema que
deve ser tratado de uma maneira específica, é verdadeira ou falsa? Essa é a única pergunta
que tem cabimento.
No entanto, podemos perguntar se uma determinada técnica é razoável, partindo dos seus
pressupostos gerais. Uma técnica pode funcionar, mas pode ser impossível de ser
transmitida. Por exemplo, caso haja algum mecânico que descubra o problema de um
automóvel tocando tambor, dificilmente ele conseguirá ensinar essa técnica para outro
mecânico. Para ensinar a técnica para outro mecânico, ele teria que ter uma iluminação
mística que mostrasse outro mecânico capaz de receber a mesma técnica interiormente, ou
ele teria que ser capaz de expor a técnica a partir dos seus pressupostos razoáveis. Então,
esse é outro problema. E, nesse ponto, a astrologia também é uma técnica extremamente
razoável.
As perguntas sobre a validade da astrologia têm que ser atacadas em quatro planos
diferentes, assim como as perguntas sobre qualquer outra técnica humana. Isso é um
esquema universal. Quando alguém diz que tem uma técnica para avaliar algo, essa
técnica tem que ser avaliada segundo esses quatro critérios ou quatro dimensões.
Gugu: É verdade. Até o papa em uma ocasião disse que o simbolismo é uma coisa
objetiva. E, não só isso, como ele também fala que o Guénon prova que o simbolismo é
uma coisa objetiva, e não uma projeção; ele diz que esse fenômeno é, portanto, a base
para a constituição de uma ciência simbólica. Ou seja, para os fedelistas11 de plantão: o
papa Ratzinger estudou René Guénon! O papa Ratzinger já saiu da tradição, já é anátema!
E o que é pior, ele estudou, continuou estudando e falou publicamente. Todos os
fenômenos naturais apresentam relações analógicas uns com os outros e têm um potencial
para simbolizar outros. Se estudarmos um pouco as obras do Guénon sobre simbolismo,
entenderemos que isso é um fato natural. Mas podemos passar a vida toda nos
especializando em estudar o simbolismo astrológico, o simbolismo dos planetas, o
simbolismo dos signos e das casas, e ainda assim não aprenderemos quase nada de
astrologia, porque a astrologia não é apenas o estudo do simbolismo. A astrologia é o
conjunto de técnicas criadas com base na observação do simbolismo astrológico. Só que,
hoje em dia, todo mundo é muito preguiçoso. O sujeito pode dizer: “Não sei se esse
negócio de simbolismo é verdadeiro.” Bem, é fácil resolver isso, é só ler uns dez livros e
meditar sobre a questão. Após ouvir essa resposta, uma pessoa mais teimosa irá replicar:
“Fácil? Como fácil?” Claro que é fácil! Só é necessário ler dez livros e meditar um pouco.
Isso é fácil demais! Então, em geral, a pessoa prefere ficar com a crença de que há o
simbolismo ou a crença de que não há.
11
Nota do revisor: Orlando Fedeli foi fundador e presidente da Associação Cultural Montfort, e é conhecido por
acusar o professor Olavo de Carvalho e o professor Gugu de gnósticos e modernistas.
200
formuladas a partir da aplicação dessas técnicas são, geralmente, mais verdadeiras do que
as opiniões formuladas sem o uso da técnica. A pessoa aprende isso fácil.
Resumindo, se alguém perguntar por que a astrologia funciona, respondam: “Há a teoria
de Platão, a teoria de Aristóteles, a teoria das perturbações gravitações etc. Mas também
pode não ser nenhuma delas.” Suponhamos que o sujeito diga: “Se você não sabe como
sua técnica funciona, você não devia usá-la.” Então, respondam que da próxima vez que
ele for ao dentista, ele não deve usar anestesia, pois esse é exatamente o caso da
anestesiologia. A anestesiologia é uma técnica que ninguém sabe por que funciona. Há
pelo menos cem anos a ciência médica tenta entender o porquê, quando se injeta essa
substância em alguém, essa pessoa pára de ter sensibilidade táctil. Então, digam a esse
sujeito: “Não use a técnica que você não compreende teoricamente. Quando você for ao
dentista, não use anestesia.” Obviamente isso é uma tremenda bobagem, pois as técnicas
práticas sempre vêm antes do conhecimento teorético de qualquer ciência. Quantos
mecânicos de automóvel têm o conhecimento da fundação teorética da sua arte? Quantos
mecânicos têm um diploma de física, ou de química, ou sequer de engenharia? Quase
nenhum! Imaginem: se fosse proibido ser mecânico de automóveis sem algum diploma da
área, quantos mecânicos existiriam no Brasil? Uns dez. E em conseqüência disso haveria
uma fila de dez anos para consertar um carro. Nessa situação seria melhor usar o ônibus.
Tales: Mesmo na teologia é assim. Se observarmos a história das religiões, primeiro surge
a declaração daquilo em que temos de crer e a declaração de como devemos agir. A
religião é, em primeiro lugar, uma série de técnicas apresentadas pelo seu fundador para
nos tornarmos santos, mais sábios e mais espirituais. A consciência da teologia subjacente
a essas técnicas vem bem depois. Na religião é assim. A teologia é algo bem posterior. E
mesmo nas ciências é assim. Somente agora estão descobrindo por que um tipo de metal é
mais duro que o outro etc.
Gugu: Exatamente. Depois de séculos sabendo que o metal “x” é mais duro e o metal “y”
é mais mole, e sabendo também como deixar um metal mais duro e outro mais mole, é
que surge uma teoria científica que explique esses fenômenos. A técnica sempre precede a
teoria. Alguém poderia dizer que a teoria é superior à técnica, mas essa é apenas a ordem
202
de concepção das coisas, e não a ordem de construção real. O adulto também transcende o
infante, mas a infância vem primeiro em nossas vidas. Apenas os socialistas têm a
opinião de que primeiro surge a teoria e só depois a técnica. Esse negócio não dá muito
certo.
Por fim, entramos na quarta questão. Qualquer técnica que é praticada por tempo
suficiente, sem fundamentação teorética, acumula um conjunto de crenças supersticiosas.
Isso é óbvio. Todo mundo quer saber o porquê do que faz. Por exemplo, na maioria das
sociedades animistas, o sujeito que trabalha com o metal é considerado um bruxo. As
pessoas, nessas sociedades, atribuem um poder sobrenatural ao sujeito que trabalho com o
metal. Na África, aquele que é ferreiro, é considerado um bruxo. Outro exemplo: o sujeito
que diz que é o DNA que determina o comportamento. Isso é a mesmíssima coisa. Não há
nenhum conhecimento científico que afirme isso. Isso é uma crença supersticiosa baseada
no fato de que descobriram o DNA, e este explicar algumas diferenças entre as pessoas.
Então, digamos que um sujeito com determinado gene “x” é preto, aquele outro sujeito
com o gene “y” é branco. Realmente, isso é verdade. Mas, partindo disso, a pessoa conclui
que deve haver um gene da psicopatia e um gene da santidade.
Então, isso prova a astrologia? Não, isso não prova a astrologia, mas prova,
sim, que nem todas as técnicas astrológicas são coelhos tirados de cartolas.
De fato parece que há alguma correlação. É um indício de que o fenômeno
existe e merece ser investigado. Desse ponto até a astrologia entrar no
currículo das ciências naturais, se tudo continuar normalmente, irá demorar
uns trezentos anos.
205
Então, para quem tiver interesse, mande um e-mail que mandamos a lista
toda dos experimentos e das contestações publicadas. Só saibam de uma
coisa: é necessário estudar estatística primeiro, porque esses caras estão
fazendo ciência, não divulgação científica. Quem não entende realmente de
ciência estatística, não entenderá nada do que eles estão falando. Porém, é
de grande valia para quem tem interesse no método científico moderno e
no método experimental. Para quem tem interesse em ciência e quer ter
alguma indicação científica de que astrologia tem algum potencial, que é
algo que pode ser considerado, há essa literatura.
A pessoa que quer se livrar desse problema deve ler dois livros: The
Science Delusion, de Rupert Sheldrake; e o outro é Cosmos and
Transcendence, de Wolfgang Smith, que já recomendamos, e que também
vale para explicar essa problemática da cosmovisão científica. Este último
autor diz que muitas pessoas, hoje, levantam objeções a muitas coisas,
porque estas não se enquadram na nossa visão científica de universo.
Porém, para ele, esse negócio de visão científica do universo é uma grande
ilusão. Existe ciência, trabalho científico, pesquisa científica, mas visão
científica do universo é uma bobagem. Wolfgang Smith diz que não
sabemos ainda o que é o universo, pois ainda não existe essa ciência. Este é
um livro muito bom. Todos aqueles que acham há uma explicação
científica para tudo devem lê-lo. O autor mostra claramente que entramos
em contato com os fenômenos muito antes de termos uma explicação
científica para eles. Há muitos problemas que podem surgir na mente
humana e que provavelmente não terão explicação científica nos próximos
mil anos. Outra coisa que ele nota nesse livro é o grande perigo da visão
209
cientificista do mundo bloquear o avanço da própria ciência. O Wolfgang
Smith faz um alerta muito grande sobre isso. E o problema da relação entre
astrologia e ciência, hoje, está muito ligado a isso. Se alguém disser que
deveríamos pesquisar sobre a hereditariedade astral, muitos cientistas
dirão: “Não! Isso é astrologia, o que não se enquadra em nossa visão
científica do universo, portanto não vamos estudar!” Pronto, excluem o
fenômeno do terreno da ciência.
As pessoas, hoje, acham que isso é meio maluco. Pode até ser, mas está
demonstrado e ninguém é capaz de refutar o que disse Aristóteles. Então,
quando dizem que “naquele tempo o pessoal acreditava que tudo girava em
torno da Terra”, isso não é bem verdade. Era o povo que acreditava nisso.
Santo Tomás de Aquino acreditava que tudo girava em torno do primeiro
motor imóvel. Se procurarmos pelas palavras dele, veríamos que ele dizia
que “é mais razoável crer, dados os fatos, que o primeiro motor imóvel se
localiza no centro da Terra, e que, portanto, tudo gira em torno dela”. De
211
certo modo é isso o que vemos. Mas o que é que sabemos de fato? Santo
Tomás diria que “sabemos que tudo gira em torno do primeiro motor
imóvel”.
Não é que devemos incentivar essas pessoas a fazer esses estudos. Por quê?
Porque isso é precipitado. Se o sujeito tem interesse em estudar a
astrologia do ponto de vista da ciência moderna, então será uma outra coisa
que ele terá de estudar. Não será ainda uma teoria causal que ele deverá
estudar, mas sim fazer uma delimitação mais cuidadosa do fenômeno, da
mesma maneira que o pessoal que já está estudando o assunto está fazendo.
Por exemplo: “Quais são as hipóteses de hereditariedade astral? Vamos
fazer uma verificação estatística sobre isso. E quais são as hipóteses de
escolha profissional? Vamos fazer uma verificação estatística sobre isso
também.” O que é preciso é fundamentar esses experimentos, pois é neste
estágio que a pesquisa se encontra no momento. Apenas daqui a uns
cinqüenta anos é que poderão começar algum tipo de levantamento de
hipóteses causais. Mas, de fato, a teoria do Seymour é realmente genial. Só
que há um porém nisso. A pessoa pode lê-lo e ficar fascinada com ele, e
essa fascinação pode levá-la a não querer ler literatura astrológica anterior.
E então ela nunca aprenderá astrologia. Então, pessoalmente, sou um
pouco crítico quanto a isso, mas não tanto quanto o Frawley. Isso depende
de cada talento individual.
Se observarmos a história do Seymour, veremos que ele fez isso por causa
de suas convicções mais profundas: “Ah, eu não agüento preconceito!
Quando alguém me diz que não se pode estudar a astrologia
cientificamente, fico puto! Sou um cientista, e não agüento essa conversa.
Não quero engolir essa estória da carochinha de ficar delimitando o que
pode ser ciência ou não. E mostrarei para essas pessoas que não preciso
engolir essa besteirada, que elas são idiotas, e que não estão agindo em
nome da nossa ciência!” Quando vemos a história dele, o entendemos. E se
a coisa tivesse acontecido conosco, teríamos feito o mesmo.
Vamos agora recapitular um pouco do que já foi dito. Temos, primeiro, que
aprender a observar e assimilar os fatos que são necessários para a
assimilação de uma determinada técnica. No caso de quem conserta
automóveis, essa pessoa precisa aprender que o ferro é duro e que a
borracha é mole; precisa aprender que a borracha pode esquentar e
queimar; também que um tanque furado não segura gasolina etc. Alguém
que queria ser mecânico tem que observar esses fenômenos. No caso de
astrologia, temos que entender o simbolismo astral, temos que entender
que as coisas são símbolos. Os astros e o céu são símbolos do quê? Qual a
diferença simbólica entre Júpiter e Saturno? E entre Marte e Vênus? Temos
de saber essas coisas. Em segundo lugar, devemos aprender o conjunto
mesmo da técnica. Temos que aprender a interpretar os mapas segundo a
técnica astrológica. Se quiséssemos ser mecânicos, teríamos que aprender a
218
interpretar o barulho que o carro faz, o cheiro que sai do motor, o
movimento das peças etc. Em terceiro lugar, após termos aprendido essas
duas coisas, temos que examinar o terreno cognitivo intermediário entre
elas. Ou seja, quais são as hipóteses ou teorias causais que existem entre o
fenômeno e a técnica? Existe alguma teoria explicativa? Qual é o seu
fundamento? O quanto ela foi testada? Essa teoria é de tipo filosófico-
metafísica ou física-moderna-natural? Em quarto lugar, temos de depurar,
do estudo da técnica, a superstição que acompanha a prática.
Aula 08
Tópicos da aula:
Transcrição da aula:
12
Nota do revisor: estes textos são: 1) Ao estudante de Astrologia; 2) Simbolismo na Astrologia; 3) Notas Sobre
Astrologia Horária; e 4) Dignidades Essenciais e Acidentais. Eles estão disponíveis para download no arquivo da
aula 08 do curso.
224
Dessa forma, se nada impõe a ele uma escolha, como é que o sujeito
decide? Ele joga na moeda? Quantas vezes por dia tomamos decisões com
base no cara ou coroa? A maior parte das nossas decisões não são tomadas
assim. Tomamos nossas decisões olhando para aos resultados finais das
ações que se colocam como possíveis diante de nós.
Por exemplo, o sujeito que deseja comprar uma camisa legal imagina que,
ao vesti-la, irá impressionar alguma menina e que as pessoas o acharão um
cara legal; mas esse sujeito também imagina que, se não comprar a tal
camisa, ele terá dinheiro para quando surgir alguma necessidade. Para
tomarmos uma decisão, então, imaginamos e sentimos uma situação
concreta. Após isso, não precisamos mais compreender a situação, pois já a
compreendemos imaginativamente, e essa imaginação gera um impulso
numa ou noutra direção.
Porém, esse impulso também não obriga a nossa vontade. O que acontece é
que, na ausência de um obstáculo, a vontade cede naturalmente a um
impulso. Esse é um princípio da natureza humana. Se praticar uma ação é
legal, é agradável, é útil, é conveniente e não temos nenhum princípio
moral que vai contra ela, então a praticamos. Isso não viola o livre-arbítrio,
porque, teoricamente, seria possível para o sujeito rejeitar a ação. Mas a
vontade humana tem uma inclinação padrão, e, na ausência de obstáculos,
segue a sua inclinação.
225
Quando o sujeito possui um obstáculo moral, geralmente, aparecerá no
mapa horário que ele tem alguma restrição contra aquilo. Então, os
princípios morais do sujeito são significados, ora pela casa IX, ora pela X.
Se encontrarmos o regente da casa IX ou da casa X afligindo o querente ou
o quesito, veremos que esse indivíduo deseja algo que vai contra seus
princípios morais. Então, normalmente, começamos a descrever quais são
as vantagens e desvantagens de ele obter o que quer, e a resposta que
damos é dependente das alternativas que ele pode escolher.
A pessoa que faz uma pergunta horária já chega com certas expectativas,
de modo que estas não são criadas pelo mapa horário. Esse mapa pode, no
máximo, responder que aquilo que a pessoa quer: 1) acontecerá; 2) não
acontecerá; 3) acontecerá, mas não será tudo aquilo que ela pensou que
seria; e 4) acontecerá, mas com muitas dificuldades. Porém, a expectativa
do sujeito é prévia à pergunta. Isso quer dizer que a inclinação primária da
vontade dele é prévia à pergunta. E, na verdade, isso é um traço da ação
humana em geral.
226
Para que tivéssemos essa aula hoje, eu tive que decidir vir até aqui para dá-
la, e vocês tiveram que decidir vir até aqui assisti-la. A decisão de vocês
virem me assistir, para mim, é parte do cenário da aula, porque eu não
tenho poder sobre essa decisão. Já para vocês, a minha decisão de dar a
aula é parte do cenário das suas vidas.
Então, quando o cliente chega para uma pergunta horária, ele já tem dentro
dele uma expectativa que não é parte do cenário, e sim algo que ele está
criando dentro dele mesmo. Mas a expectativa desse cliente é, para o
astrólogo, parte do cenário da existência, e não algo sobre o qual este
último agiu. Evidentemente que o astrólogo terá alguma ação na formação
dessa decisão futura, dependendo do conselho que der sobre ela. Porém,
essa decisão futura não foi tomada ainda durante a consulta horária.
No caso da previsão de que o gato que está perdido voltará para casa, a
coisa é mais fácil ainda, pois o gato não tem livre-arbítrio. Ele não é capaz
de criar uma formulação racional da situação, e seguirá necessariamente as
suas próprias inclinações. O gato não tem nem a possibilidade teorética de
refletir: “Tenho essas inclinações, mas por algum motivo que não sei, não
vou segui-las.”
Isso quer dizer que a vontade tem um funcionamento natural. Esse modo
natural da vontade operar é parte do cenário da astrologia horária, pois é
parte do cenário do mundo. E, às vezes, o cenário está tão consolidado que
parece que os astros decidiram alguma coisa. Mas os astros só indicaram
que, na verdade, a raiz da decisão do sujeito já tinha sido tomada. Às vezes
acontece de um sujeito dizer que quer se casar e perguntar se isso é uma
boa idéia. E, quando olhamos o mapa, dizemos que ele realmente se casará.
Isso é assim, pois, na verdade, ele já tomou a decisão interiormente e às
vezes ainda nem notou. O sujeito já tomou a decisão, mas não a dialetizou
para si mesmo.
Aluno: Posso dar o meu. Nasci em São Paulo, no dia 05 de maio de 1978,
às 12 horas e 50 minutos.
230
(Mapa 1.1)
231
(Mapa 1.2)
13
Nota do revisor: o programa usado para calcular o mapa em questão foi o ZET7, e, de acordo com o cálculo,
Júpiter de fato não forma nenhum aspecto com o Sol.
232
dignidade, pois Vênus também está forte o bastante no mapa. Júpiter é um
melhor candidato porque também é o dispositor de Vênus.
Aluno: Podemos usar o meu mapa como exemplo? Nasci em São Paulo, no
dia 08 de junho de 1989, às 13:20.
(Mapa 2.1)
233
(Mapa 2.2)
Gugu: Nesse caso, mais uma vez, não há erro. Só um planeta possui
dignidade maior: Saturno domiciliado em Capricórnio. Ele também está na
casa IV, que é uma boa casa. Nesses dois exemplos que usamos agora, só
há um planeta com dignidade maior. Só teríamos dúvida de qual o planeta
regente nesses casos, se Júpiter (no primeiro caso) e Saturno (no segundo)
estivessem ou na casa VIII ou na casa XII ou na casa VI.
Daremos agora uma olhada nas questões de astrologia horária que haviam
sido propostas para essa aula. É importante que os alunos acompanhem
essa análise com o texto Notas Sobre Astrologia Horária. O primeiro
exemplo será o da questão: “Vai ter aula hoje?” 14
14
Nota do revisor: também coloquei, para facilitar a visualização do pontos indicados pelo professor, os mapas
do programa ZET7 e ZET9. Outro ponto a se notar é que, a depender do sistema de casas usado, a posição destas
pode variar ligeiramente. O professor usou o sistema Regiomontanus nos mapa dos exemplos dados em aula.
234
235
(Mapa 3.1)
236
(Mapa 3.2)
237
(Mapa 3.3)
Muito bem, fiz essa pergunta um pouco antes de começar a última aula no
mês passado. Eu estava bastante atrasado na ocasião, então pensei: “Será
que haverá aula hoje?” Desse modo, podemos ver que o mapa acima é
referente a essa pergunta. E, para começar a interpretá-lo, vamos usar
como base o texto já mencionado sobre astrologia horária.
Essa é uma pergunta bem fácil, mas, muitas vezes, alguém irá ao astrólogo
com algumas perguntas confusas. Por exemplo, uma moça pode perguntar:
“Então, há esse cara, e eu não sei muito bem...” Nesse caso, o astrólogo
deve replicar: “O que você quer dizer? Essa é uma pessoa com quem você
deseja namorar? É uma pessoa que você já está namorando? É uma pessoa
238
que você já namorou?” Então, o astrólogo deve entender bem claramente a
pergunta.
Bem, esse é um passo que não deu problema algum para essa questão em
particular, pois eu já estava com as horas bem na minha frente. Apenas tive
o trabalho de rodar o programa e tudo foi calculado. Porém, às vezes o
astrólogo aceita uma pergunta num determinado local – seja no trabalho,
na faculdade, no ônibus etc. – e numa determinada hora, mas faz o cálculo
da mesma num momento posterior. Nesse caso, não esqueçam de anotar a
hora em que a pergunta foi aceita.
Isso, muitas vezes, também é causa de erros. Às vezes, por algum lapso, o
astrólogo insere algum dado errado no programa do computador, que dará
uma resposta errada.
15
Nota do revisor: isto é - “vai ter aula hoje?”
16
Nota do revisor: está no lado esquerdo, embaixo da tabela “aspects”.
240
primeira dessas doze partes é regida por ele mesmo, a segunda parte do dia
é regida por Júpiter, a terceira parte por Marte e assim vamos seguindo a
seqüência dos planetas.
17
Nota do revisor: na tabela “aspects”, há a indicação de quadratura entre a Lua e Mercúrio.
241
Devemos considerar isso, de certa forma, como um “meio impedimento”.
Não é um impedimento completo, mas um “meio impedimento”.
18
Nota do revisor: ler a apostila Introdução ao Simbolismo Astrológico para checar qual planeta rege qual signo,
e em que signo os planetas estão exaltados.
243
Por que fazemos essas considerações sobre a casa VII quando a pergunta
não diz respeito a ela? Pois a casa VII é a significadora natural do
astrólogo, isto é, aquele a quem a pergunta é feita. Se a casa VII é muito
ruim, há a possibilidade de uma má interpretação do mapa pelo astrólogo.
Se a questão não envolve algo que diz respeito à casa VII e essa casa
estiver muito ferrada, isso é uma indicação de que o astrólogo não
conseguirá ler corretamente o mapa, e portanto é melhor que ele suspenda
o julgamento e o deixe para outro momento.
Se alguém estiver meio perdido com tudo isso que estamos dizendo, fique
tranqüilo. Nas próximas aulas traremos muitos exemplos, portanto não se
preocupe se não estiver entendendo nada.
A casa IV que começa em 18º de Leão e vai até 17º de Virgo. Podemos ver
que dentro da casa IV há outro planeta: Marte em 14º de Virgo.19 Ele está
desenhado na casa IV, mas entre ele e o começo da casa V a diferença é de
apenas 3º. Isto quer dizer que ele está em conjunção com a casa V, e,
portanto, está nela. Outro ponto interessante a se notar é que ele não está
retrógrado. Se olharmos o planeta Júpiter na casa II, vemos que ele está
marcado com um “R”, que indica o movimento dele. Mas, mesmo que
Marte estivesse retrógrado, ele ainda estaria em conjunção com a casa V.
Após isso, chegamos na casa VII, que começa em 16º de Sagitário e vai até
11º de Capricórnio. Essa casa é exatamente oposta à casa I. Podemos ver
que Vênus está nessa casa.
19
Nota do revisor: a posição dos planetas foi arredondada para cima no programa ZET7, por isso a ligeira
diferença com a posição que o professor indica.
20
Nota do revisor: a cúspide é a reta que indica o início de cada casa astrológica.
246
Tales: Podemos fazer uma pergunta horária para os alunos verem como se
interpreta um mapa, e então o professor vai interpretando e explicando a
interpretação.
A partir disso, como vimos que não existem impedimentos sérios, vamos
direto para quem é o querente e quem é o quesito.23 No caso, já sabemos se
haverá aula, pois o quesito é o regente da casa IX. Feito isso, procuramos:
onde está o regente da casa IX? O regente da casa IX é Saturno e está na
casa VI. Saturno na casa VI indica atraso. Isso é até obvio, porque a aula já
estava atrasada e eu já sabia de antemão que o mapa não estava me dando
nenhuma novidade, apenas estava só me indicando que o atraso era
significativo.
21
Nota do revisor: o professor está se referindo aos mapas disponibilizados no começo da aula, e que se
encontram no arquivo de download desta.
22
Nota do revisor: usar tanto o mapa da questão horária disponibilizado pelo professor quanto o mapa feito pelo
ZET7.
23
Nota do revisor: o quesito significa aquilo sobre o que se faz a pergunta, e o querente significa o próprio
sujeito que faz a pergunta.
247
Pois bem, o querente é representado por Mercúrio e pela Lua. Mercúrio
também está na casa VI e retrógrado, portanto indicando dificuldades.
Porém, a Lua está se aplicando a uma quadratura com Saturno. Saturno
está em 14º de Escorpião e a Lua está em 10º de Aquário. Como todos
sabem, o Sol e a Lua nunca ficam retrógrados. E a Lua também é o planeta
mais rápido, então ninguém vai interferir na velocidade dela. Ela está se
aplicando a uma quadratura com Saturno e minha pergunta é: “Vai ter aula
hoje?” A resposta é sim, vai ter aula hoje. O querente e o quesito se
encontram no aspecto que vai se completar. Então, a resposta é: vai ter
aula, apesar das dificuldades e atrasos. E foi de fato o que aconteceu.
Outro ponto que devemos tocar rapidamente nesse momento é sobre o que
são os aspectos.24 Um sextil é quando dois planetas estão 60º distantes
entre si. A quadratura é quando dois planetas estão a 90º de distância um
do outro. Temos o trígono quando dois planetas estão a 120º de distância
um do outro. Quando dois planetas estão a 180º de distância um do outro,
chamamos isso de oposição. E quando dois planetas estão exatamente no
mesmo grau e minuto de qualquer signo, dizemos que eles estão em
conjunção. Junto com o texto sobre astrologia horária, demos outro texto
sobre o simbolismo na astrologia, chamado Curso de Astrologia
Tradicional - Os Elementos do Sistema Simbólico na Astrologia. Nesse
texto há, isoladamente, os significados básicos de cada um dos elementos
no mapa.
Então, olhando nesse texto, vemos, por exemplo, que o trígono é a divisão
do círculo por três, ou seja, 120º. E ele representa a harmonia entre dois
princípios que tendem a realizações diferentes, mas complementares.
Portanto, o trígono é um aspecto harmônico. Num mapa natal, se a pessoa
tem um trígono com qualquer outro planeta, isso é sempre indicativo de
algo bom. O trígono sempre indica que aquelas duas áreas da vida estarão
em harmonia uma com a outra, que uma irá complementar a outra.
24
Nota do revisor: durante a aula houve de fato uma pergunta relacionada a isso e que foi respondida. Porém, o
áudio estava ruim, o que me levou, para explicar um pouco melhor como identificar os aspectos, a usar o
capítulo I do livro I da Astrologia Cristã, de William Lilly. Essa explicação também pode ser encontrada no
texto Curso de Astrologia Tradicional - Os Elementos do Sistema Simbólico na Astrologia, mencionado logo à
frente pelo professor.
248
E se alguém perguntar: “Por que não ganho na loteria?” Bem, podemos até
olhar a resposta para essa pergunta, mas é provável que apareça uma casa
V bem ruim no mapa dizendo que é porque o sujeito é azarado mesmo.
Também podem perguntar: “Como faço para ganhar na loteria?” Se o
sujeito fizer essa pergunta, geralmente o mapa indicará que não há nada
que se possa fazer. Mas, por exemplo, existe a pergunta: “Como eu faço
para melhorar minha situação econômica?” Essa já é uma pergunta mais
razoável, porque a resposta padrão é que, muitas vezes, existem vários
meios para se melhorar a situação econômica de alguém. No caso da Mega
Sena, nem sempre existe um meio para ganhar o prêmio.
249
Tales: Darei um exemplo disso. Há uns dez anos atrás, fiz essa pergunta
sobre como melhorar minha situação econômica e a resposta foi que esta
só iria melhor dali a muito tempo. Mais recentemente, há uns meses atrás,
perguntei sobre a mesma coisa mais uma vez. A reposta foi que eu deveria
continuar fazendo o que já estava fazendo porque portas iriam se abrir para
mim e a minha situação econômica melhoraria. Pouco tempo depois disso,
surgiu este instituto, as celebridades começaram a me escrever querendo
saber mais sobre nosso trabalho e apareceram propostas de editoras.
Gugu: Posso dar outro exemplo. Faz um tempo que um sujeito chegou para
mim e perguntou: “Perdi todos os meus bens esse ano. Vou me levantar de
novo algum dia de algum jeito? Isso vai acontecer de novo? Vou perder
tudo de novo?” E o retorno solar desse cara foi o pior retorno solar em
termos econômicos que já vi em toda a minha vida. O indivíduo estava
ferrado mesmo. Se havia um ano para ele perder tudo na vida, era esse.
Porém, o próximo retorno solar dele já indicava uma boa melhora e que
ofertas de trabalho do passado ressurgiriam. Então, eu disse para ele:
“Procure as relações de trabalho que você tentou estabelecer no passado e
comece a tentar reatá-las. Ligue para as pessoas, mande e-mails e refaça
esses contatos, porque disso surgirá alguma coisa.”
Tales: Deixem-me falar outra coisa bem legal sobre isso. O Avicena, que
era médico, também era especialista em astrologia horária. Só que nem
todo médico era astrólogo, apesar de todos os hospitais possuírem
astrólogos. Por volta dos séculos XII e XIII, todos os hospitais islâmicos da
região da Pérsia possuíam astrólogos especialistas em questões horárias
voltadas a diagnósticos médicos.
Por exemplo, há um tempo atrás, minha filha estava dando sinais de que
uma doença crônica que ela tem iria atacar. Fiz uma consulta com um
astrólogo e este disse que ela deveria ficar em casa durante uns três dias
que a coisa iria passar. E foi de fato o que aconteceu. Também
recentemente, uma pessoa fez uma pergunta relacionada à saúde ao Gugu,
e vimos que, dentre outras coisas, na casa VI estava Caput Algol. Ou seja,
a pessoa deveria tomar muito cuidado, pois poderia chegar até mesmo a
250
morrer. Depois ficou realmente comprovado que ela estava com uma
doença muito grave, e que não era apenas uma dor qualquer. Então, a
maior parte dos médicos de antigamente possuíam algumas noções básicas
de astrologia horária.
25
Nota do revisor: esse mapa está disponibilizado no arquivo de download desta aula. Também acrescentei os
mapas feitos nos programas ZET7 e ZET9.
251
(Mapa 4.1)
252
(Mapa 4.2)
253
(Mapa 4.3)
A pergunta que o cliente fez nesse mapa foi: “A minha situação financeira
irá melhorar?” Então, devemos começar desde o comecinho. Voltemos no
texto das Notas sobre Astrologia Horária. Qual o primeiro cuidado?
26
Nota do revisor: o texto está disponibilizado no arquivo desta aula. Também no texto Introdução ao
Simbolismo Astrológico podemos ver qual planeta rege qual signo, e onde os planetas estão exaltados, em exílio
ou queda.
257
Como vimos, encontramos apenas um dos impedimentos dessa lista. Mas
devemos considerar que, com apenas um impedimento, ainda é possível
olhar o mapa e tentar dar uma resposta. Só para relembrarmos, o
impedimento se refere ao regente da hora e o regente do Ascendente não
terem nenhum tipo de parentesco. Porém, é até inadequado tomar somente
esse impedimento como base para não darmos uma resposta, justamente
pelo fato do regente da casa VII estar tão bem colocado.
Porque Júpiter está exaltado, isso significa que a situação da pessoa que fez
essa pergunta irá melhorar? Antes de responder a essa pergunta, devemos
primeiro analisar a situação do querente. Há três notas relacionadas a isso.
Já sabemos que a situação financeira dele, no momento da pergunta, era
ruim. Como? Há três indicações: 1) Em primeiro lugar, Marte, que é um
planeta maléfico, está no Ascendente. Marte ascendendo significa que o
cliente está afligido pela situação financeira dele naquele momento. 2) Em
segundo lugar, o regente do Ascendente é Mercúrio, que está na casa III.
Se o olharmos no mapa, veremos que ele está retrógrado. Isso nos mostra
outra debilidade, que indica que o indivíduo está arrependido da sua
situação financeira e das suas decisões, e que por isso está por baixo. 3)
27
Nota do revisor: lembrando que o quesito significa aquilo sobre o que se faz a pergunta, e o querente significa
o próprio sujeito que faz a pergunta.
258
Por fim, devemos lembrar que a Lua, que sempre é co-significadora do
querente, acabou de entrar em Capricórnio, o seu exílio.
Agora, vejamos o que está previsto para acontecer com ele. Devemos
notar, em primeiro lugar, que a Lua está em Capricórnio e se aplicando a
uma conjunção com Vênus, que é o regente da Casa II. O fato de o regente
da casa II ser um planeta benéfico já é uma boa indicação. Vênus, no
começo de Capricórnio, está no seu termo. O que é um termo? Termo é
259
uma dignidade menor.28 Isso quer dizer o quê? Estando Vênus numa
dignidade menor, isso indica que muito em breve o sujeito receberá algum
dinheiro. Como é Vênus que está em termo, essa será uma quantia até que
razoável - digamos que não será nenhuma esmolinha -, mas também nada
que deixará o indivíduo maravilhado, pois o termo, como dissemos, é uma
dignidade menor. O termo indica que o cliente ficará em bons termos e
seguro da situação. Ao ver isso, podemos dizer para a pessoa do mapa:
“Não se preocupe que você não se afogará em dívidas no mês que vem.
Surgirá alguma coisa razoavelmente estável que te manterá acima da
água.”
O que todos esses dados indicam? Temos três indicações quanto à Vênus,
isto é, três vezes o cliente se encontra com Vênus, que é o regente da casa
II: 1) a conjunção entre ela a Lua, 2) o sextil entre ela e Mercúrio
retrógrado e 3) o sextil entre ela e Mercúrio direto. Isso indica que, durante
um tempo, o cliente receberá algum dinheiro, mas nada excepcional.
Depois disso, Mercúrio se encontrará com Saturno e Marte, o que nos
28
Nota do revisor: ver na tabela de dignidades essenciais e acidentais.
29
Nota do revisor: é possível encontrar essa tabela no site astro.com.
30
Nota do revisor: não está aparecendo a distância exata entre os planetas no mapa, mas ela é de 57º 35’ 22’’.
Portanto, o aspecto ainda está para se completar.
260
indica que o sujeito ganhará uma grana que estabilizará a sua condição e
que irá permitir a ele pagar as dívidas daquele momento. Por fim, ele
ganhará uma bolada, pois é o que indica o trígono que irá se formar entre
Mercúrio e Júpiter exaltado na casa IX. Júpiter é o significador natural da
riqueza, do excesso, da plenitude; e, além disso, está exaltado. Isso quer
dizer que esse dinheiro é mais do que o indivíduo está acostumado. A casa
XI é a casa das expectativas da pessoa, do que ela deseja; também é a casa
do salário e das rendas. Mercúrio formará um trígono com Júpiter exaltado
na casa XI, o que indica que o nosso cliente ganhará uma bolada.
31
Nota do revisor: no texto de Introdução ao Simbolismo Astrológico está definido o que significa um signo ser
cardinal, fixo ou mutável, bem como quais signos são uma ou outra coisa.
261
situação mude, isso é geralmente uma indicação positiva. Se os ângulos
estiverem em signos fixos, isso é uma indicação de que a situação se fixará
por um tempo.
Já o mapa horário nos indica apenas aquilo que se relaciona à pergunta que
foi feita. A casa XI, por exemplo, é indicadora de várias coisas, mas nessa
pergunta que analisamos agora ela indica a situação financeira do cliente.
Se alguém está com problemas de relacionamento e deseja solucioná-los,
essa pessoa deve perguntar ao astrólogo, que verá o mapa da hora em que a
pergunta foi feita, para, a partir deste, analisar tudo o que for relativo a
relacionamentos. E caso duas pessoas fizerem a mesma pergunta na mesma
hora e local, os mapas de cada uma delas serão os mesmos,
independentemente do momento e do lugar em que ambas nasceram.
A astrologia horária tem como premissa básica a idéia de que não existe
coincidência. No momento em que entendemos e aceitamos uma pergunta,
aquela situação passa a existir para nós. O mapa que fazemos esclarece a
questão que está em nossas mentes. Se entendermos errado a pergunta,
mesmo que leiamos o mapa corretamente, daremos a resposta errada.
“Se não tem aspecto não ocorre o esperado, exceto em três casos: 1.
Quando um terceiro planeta forma aspecto com um dos regentes e
depois com o outro, sem o envolvimento de um quarto – melhor
ainda se o terceiro planeta forma recepção com os regentes. 2. Mútua
recepção por dignidade maior – positiva mas nem tanto se Marte está
em Touro e Vênus em Áries. 3. Quando não há impedimentos e a
resposta natural ou padrão é positiva.”
Por exemplo, nesse nosso mapa, a Lua se aplica a uma conjunção com
Vênus, e depois de fazer essa conjunção, forma um sextil com Mercúrio.
Porque a Lua é muito rápida, temos aqui um caso do que se chama
“translação de luz”. A Lua encontra Vênus e passa o que encontra nesta
para Mercúrio. Um terceiro planeta forma aspecto com o quesito e o
querente sem um quarto planeta interferir.
Se o assunto é casa, vou olhar a casa IV. O dono da casa é significado pela
casa IV da casa IV do mapa. Ou seja, se considerarmos a casa IV do mapa
como a casa I, portanto, deveremos andar três casas para alcançarmos a
casa IV. Então, andando três casas a partir da casa IV, chegaremos à casa
VII.
Gugu: E por que o preço é significado pela casa VII da casa IV? Porque
esse é um dos significados gerais da casa VII. A casa VII representa a outra
parte, o outro, a segunda metade. Por exemplo, a casa VII representa a sua
esposa, a sua cara metade; o seu sócio, a outra parte do negócio; o seu
adversário, a outra parte na competição; e no valor de um objeto, há um
valor intrínseco, mas há outro valor, que é o seu preço - o outro valor.
Tales: Resumindo, se a casa IV está boa, então a casa é boa. Se a casa VII
– que representa o dono da casa - está forte, ele não precisa do dinheiro e
está em uma situação boa, então ele irá se fazer de difícil. Se casa X está
boa, há um monte de gente querendo comprar a casa; ela está concorrida e
o nosso cliente terá de implorar ao dono e aceitar o preço que este
estabelecer.
Gugu: Vamos interpretar esse nosso mapa como se, hipoteticamente, nosso
cliente quisesse comprar uma casa.32 A pergunta é, então: “Devo comprar
esta casa?” Quando alguém faz uma pergunta dessas – por exemplo:“Devo
comprar uma coisa?” -, o que, em geral, ela está perguntando? Não
precisamos dos detalhes. Ela irá tirar dessa coisa mais beneficio do que se
32
Nota do revisor: ver mapa 4 (cliente/dinheiro).
268
guardar o dinheiro da compra? Não importa se esse benefício é a felicidade
de se morar ou alugar uma casa, ou se é um investimento para vender a
casa no futuro. Objetivamente, o que vale mais, guardar o dinheiro ou
comprar a coisa?
Então, a primeira coisa que devemos ver é a condição da casa. E por que
não vemos o querente primeiro? Pois se o sujeito veio perguntar se deve
comprar a casa, isso já é, de maneira geral, uma indicação de que ele tem
como adquirir os meios para comprá-la. Seria diferente se ele tivesse
perguntado: “Vou conseguir juntar o dinheiro para comprar a casa.” Nesse
caso, seria outro problema.
Começamos então olhando a casa IV. Qual o regente da casa IV? Ela
começa em Sagitário, portanto o regente é Júpiter. O planeta Júpiter é o
significador natural da riqueza, da expansão e do crescimento, o que já é
um bom sinal. Ele está exaltado em Câncer, o que também é um ótimo
sinal, pois significa que a casa está em ótimas condições. Mais ainda:
Júpiter está na casa XI, ou seja, a casa preenche todas as expectativas e um
pouco mais. Então, a casa está ótima.
Vamos agora ver o preço dela. Devemos verificar a casa VII da IV.
Lembrem-se: se a considerarmos a casa IV como a casa I, para chegarmos
à casa VII, devemos andar seis casas; logo, nesse caso, devemos verificar a
casa X. Em que signo está a casa X? A casa X começa em Gêmeos,
portanto o seu planeta regente é Mercúrio. Onde Mercúrio se encontra? Em
Escorpião, na casa III. Ele está bem ruim: peregrino e retrógrado. Isso
significa que o preço está baixo, e que pode-se conseguir um preço bem
abaixo do valor de mercado.
De maneira geral, se a casa vale muito e o preço tende a estar mais baixo,
podemos responder ao sujeito: “Compre a casa, pois vale a pena.” Mas será
que o sujeito terá margem para negociar ainda mais? Vejamos se ele terá
margem para isso.
269
Então, agora devemos ver a situação do dono da casa, que é significado
pela casa IV da IV. Mais uma vez: se considerarmos a casa IV como a casa
I, para chegarmos à casa IV, devemos andar três casas; logo, nesse caso,
devemos verificar a casa VII. Em que signo está a casa VII? Em Peixes.
Então qual será o planeta regente? Júpiter. Isso significa que o dono da
casa está por cima da carne seca. Ele não precisa do dinheiro, então
provavelmente não estará muito disposto a deixar o preço menor do que ele
já ofereceu.
Agora, com essas quatro informações, como deveríamos ler esse mapa? O
que diríamos ao cliente? Deveríamos dizer que: “A casa é muito boa e o
preço está muito em conta. Sei que o preço parece alto, pois você está
numa situação difícil. Mas, se eu fosse você, faria tudo para comprá-la pelo
preço que o dono estiver oferecendo.”
Esse era um mapa muito bom. A pessoa fez a pergunta nessa hora deu
muita sorte.
Agora, como só temos mais dez minutos, não será possível interpretar
outro mapa. Vamos então terminar de ler terceira regra geral:
33
Nota do revisor: as casas cadentes são a III, a VI, a IX e a XII.
272
num signo cardinal e numa casa sucedente,34 o que nos indica uma escala
intermediária.
Então, vamos analisar isso nessa escala com mais calma. Sabemos que o
sujeito está numa situação extremamente ruim e que ele precisa de
dinheiro. Vimos em seguida que há dois aspectos bem próximos, que são o
sextil de Mercúrio com Vênus, e a conjunção da Lua com Vênus. Isso
indica que muito rápido algo acontecerá. Em questão de uma semana algo
irá acontecer. A conjunção da Lua com Vênus indica que em uma ou duas
semanas ele receberá algum dinheiro. Portanto, esse aspecto calculamos
que será mais ou menos em uma semana. Se a escala é de semanas, a
escala para o trígono de Mercúrio com Júpiter será de semanas também.
Então, convertendo semanas em meses, podemos responder que dali a uns
quatros meses ele receberá uma bolada. Dezessete semanas dá algo em
34
Nota do revisor: as casas sucedentes são a II, a V, a VIII e a XI.
273
torno de quatro meses. Devemos lembrar que tudo indicava uma escala
intermediária.
Deu para pegar uma impressão geral de como funciona o sistema? Uma
dica: leiam todos os textos até a próxima aula. Olhem esses dois mapas de
exemplo que usamos para lembrar o que foi falado em aula, e apliquem o
que consta nos textos para esses dois mapas. Vocês aplicarão errado muitas
vezes. Isso é normal quando se está aprendendo uma técnica nova. Já o
significado geral dos aspectos dos planetas e dos signos está nos outros
textos, e não nos textos de astrologia horária. Os arquivos de texto que eu
enviei estão numerados de um a quatro, e eles devem ser lidos nesta ordem.
O primeiro é a carta de William Lilly ao estudante de astrologia. Essa carta
é importante porque dá dicas muito claras de quais devem ser as
disposições do astrólogo e do querente numa pergunta horária.
Por que esse mapa que analisamos foi tão claro para respondermos?
Simples: porque quando o cliente perguntou sobre a melhora da sua
situação financeira, isso não foi uma questão que surgiu na cabeça dele
naquela hora. Não foi algo que deu na telha. Ele já estava tentando resolver
a sua situação financeira há tempos. Ele, por si mesmo, já estava
trabalhando e rezando para aquilo ser resolvido. E, depois de fazer esse
esforço, ele chegou à conclusão: “Talvez um conselho possa me ajudar.”
Portanto, a questão estava clara para ele, o qual havia se dedicado àquela
por um tempo. Essa é a melhor condição para uma questão horária. Na
carta de William Lilly, este fala explicitamente que a pessoa deve
considerar a questão no mínimo um dia e uma noite e rezar para a solução
274
desta antes de perguntar ao astrólogo. Se ele o cliente não fizer isso, não há
muitas chances da pergunta ser respondida com seriedade.
www.icls.com.br
Cosmologia e Astrologia
Medieval – Aula 09
Prof. Luiz Gonzaga de Carvalho
275
Índice
Por si mesmo, o mapa horário não pode nos dizer se existe ou não uma
situação consolidada que é passível de ser expressa na pergunta que o
querente fez. Isso quer dizer que o mapa não determina a situação, ele
apenas a representa, caso ela efetivamente exista. E dificilmente há
realmente um plano de seriedade interior no sujeito quando chegamos
em sua quinta ou sexta pergunta. Assim, o limite da Astrologia Horária
é, num certo sentido, o limite da realidade. Se existe uma situação
consolidada, explicável e definível em termos humanos, o mapa deve,
em tese, representar de maneira adequada as forças atuantes. Mas o
próprio mapa não pode dizer se existe uma situação ou não.
1
Nota do revisor: as limitações morais relativas à Astrologia foram comentadas brevemente no fim da aula
um, amplamente desenvolvidas na aula seis e sete, e retomadas brevemente no começo da aula oito.
2
Nota do revisor: é imoral na medida em que, sabendo o astrólogo da impossibilidade de se responder uma
pergunta, ao aceitá-la, estará ludibriando o seu cliente.
281
3
Nota do revisor: portanto, a cúspide dessa casa ou estava em Áries ou estava em Escorpião.
287
Esse exemplo que estamos usando agora foi uma pergunta realmente
feita por um de nossos alunos, o Fulano. Comentaremos agora o mapa,
aberto às 20 horas, no dia 16 de janeiro de 2014, em Mogi das Cruzes. O
tal trabalho é algo relacionado com arte, pois a profissão dele é ser
desenhista.
288
O que podemos dizer logo de cara? Que nem tudo será mil maravilhas.
Por quê? O Ascendente está 28º de Câncer. Quando o Ascendente está
no final do signo, isso significa que a situação está praticamente
definida. Como já vimos, o negócio do aluno estava praticamente
fechado nesse momento. A Lua não está domiciliada, mas está na Casa I,
em Leão. Entre o regente da Casa I e o regente da Casa X, que é Vênus,
não há nenhum aspecto. Vênus está em Capricórnio e a Lua está em
Leão. Essa não é uma relação ideal. No entanto, todo o signo de Leão
está contido Casa I, o que nos indica que o Sol é cosignificador do
querente.4 E o Sol também está em 26º de Capricórnio. Já Vênus está
289
retrógrado, em de 17º de Capricórnio. Isso é interessante, pois o Sol é
um significador natural dos princípios e
4
Nota do revisor: o aluno deve se lembrar das regras apontadas nas Notas sobre Astrologia Horária.
Conforme exposto nesse texto, querente é o sujeito que faz a pergunta, e quesito é aquilo sobre o que se faz a
pergunta. Como se determina qual planeta significa o querente e qual planeta significa o quesito? Ainda de
acordo o texto indicado nesta nota, a Casa I e seu regente sempre significam o querente, que geralmente
também é cosignificado pela Lua. Já o quesito deve ser determinado pela Casa referente ao objeto da
pergunta que foi feita. No caso deste exemplo, a Lua é a significadora do querente, pois a cúspide da Casa I
está em 28º de Câncer, que é regido por este planeta. Já Vênus é o significador do quesito, pois a Casa X está
em Touro, que é regido por este planeta. Por que a casa X deve representar o quesito nessa pergunta? Pois
esta é ela que se refere, entre outras coisas, à realização e vocação profissional.
290
O que mais dizer deste mapa? Que o trabalho não dará tão certo assim.
Considerando que o negócio já está fechado e acontecerá, o que mais
poderíamos dizer? Que algum dinheiro o negócio dará, pois o Sol sairá
de Capricórnio, entrará em Aquário e formará uma conjunção com a
Parte da Fortuna e com Mercúrio, que é o regente da Casa II.
Considerando que este é um trabalho de longo prazo, podemos dizer que
ele gerará algum dinheiro, pois Mercúrio não está mal posicionado. Ele
está angular, em conjunção com a Fortuna, e em Aquário, que é um
signo fixo. Mercúrio, em suma, está bem posicionado. Então, em termos
financeiros, o negócio irá gerar algum retorno.
O fato do regente da Casa IX, que é Marte, estar na Casa III, indica que
devemos começar a analisá-lo como prováveis dificuldades que podem
ocorrer nas coisas significadas pela Casa III? Aqui levantamentos um
ponto que é então bastante razoável: onde aparecerão essas dificuldades?
As dificuldades provavelmente aparecerão na Casa III. Como esse aluno
pode apresentar esse trabalho de maneira perfeitamente profissional e ao
mesmo tempo de acordo com os seus princípios? Isso de fato pode gerar
um pouco de dificuldade para ele. Mas Marte, aqui, não representa os
opositores ao projeto, porque ele está representando a cúspide da Casa
IX, em Áries.
5
Nota do revisor: a Casa IX é geralmente associada à filosofia, à religião e aos ideais e convicções mais
superiores da pessoa. No mapa deste exemplo ela é regida por Marte, pois a sua cúspide se encontra em Áries.
293
No entanto, nesse ponto surge mais uma questão: uma vez que o sujeito
tem uma informação dessas, o que ele pode fazer? Porque se há a
vontade de fazer aquele trabalho, se ele está completamente imerso nisso
e olha que a coisa não está tão favorável assim, fica complicado. Até que
ponto deveríamos levar a leitura da Astrologia Horária para nossas
opções práticas? Bem, o sujeito munido dessa distinção dada pelo
astrólogo pode se perguntar: “O que é mais urgente na minha vida
agora?” E, no caso do nosso exemplo, essa não parece uma batalha tão
ruim assim. Fulano apenas terá de fazer um esforço para conciliar uma
coisa com a outra. Mas pensando bem, de modo geral, não temos de
fazer esse esforço todo o dia em qualquer trabalho que fazemos? Essa
análise de fato não moveu o Fulano a desistir de seu projeto. Como para
ele o bem advindo disso é grande demais, a interpretação que demos o
moveu a se empenhar ainda mais. E, agora, munido dessa leitura, ele
sabe o que esperar, e ficou bastante contente.
Outra coisa que devemos ter em mente é que as pessoas são diferentes.
Se fosse outra pessoa, talvez ela só prosseguisse nesse negócio caso
necessário, tanto por motivos de princípios morais, quanto por motivos
materiais. Se alguém quer muito um trabalho alinhado com as suas
convicções e princípios, e tem a consciência de que haverá muitas
batalhas para se chegar ao resultado, então vale a pena o esforço, porque,
apesar de tudo, o objetivo será alcançado. Já se o sujeito precisa de um
negócio que renda dinheiro num período muito próximo, talvez esse não
seja o trabalho mais adequado para isso. Se ele está contando com esse
dinheiro para pagar as contas no mês seguinte, esse trabalho não é o
mais indicado. Por quê? Como vimos, terá de haver toda uma mudança
de estágio para o negócio render algum dinheiro efetivamente. Por isso,
nesse caso específico de uma necessidade financeira imediata, o mais
prudente é dizer: faça outra coisa! Em qualquer outra situação, o que
deveríamos dizer? Que ele deve se fortalecer e se consolidar, porque
nem tudo será um mar de rosas. Será algo que demandará muito suor.
294
Podemos ainda fazer alguns comentários extras. O Sol e a Lua, que são o
significadores do querente, não estão nem no signo de Mercúrio, nem na
Casa II e nem na Casa XI. Portanto, o Fulano, que fez essa pergunta, está
mais interessado em seus princípios e idéias do que numa renda
imediata. Não parece que essa necessidade financeira imediata seja a
questão principal que está em jogo. Na verdade, o que está em jogo é a
ordenação dos seus princípios e convicções com seu trabalho, de modo
que ele possa gerar algum bem com isso que não seja exclusivamente
material. Como dito, o mapa mostra que isso é possível, porém com
muito esforço.
O que sabemos sobre Fulano que nos indica ser a resposta que demos a
mais adequada? Sabemos que ele basicamente faz esse esforço
diariamente no seu trabalho; isso é algo que ele já conhece. Mesmo em
trabalhos atuais, ele nos diz que seu retorno financeiro aparece em
apenas um ou dois anos. O trabalho específico dessa questão é, então,
apenas uma continuidade do que ele já faz. É só um acordo com pessoas
diferentes, só isso. Então, o que aconselhamos é: faça o acordo. Só
aconselharíamos de modo diferente se a pessoa não tivesse nenhuma
expectativa quanto à necessidade de tamanho esforço para conciliar
essas duas dimensões, que são os princípios do sujeito e o seu trabalho.
Porém, de maneira geral, esse esforço interno já existe em todas as
pessoas, em todos os momentos e em todos os trabalhos. E o Fulano está
bastante consciente disso e se mostrou disposto a pagar o preço.
6
Nota do revisor: no caso, o Gugu.
296
7
Nota do revisor: como a cúspide da Casa I está em Leão, o regente dela é o Sol, que passa a ser o significador
do querente.
8
Nota do revisor: a Casa V tem a sua cúspide em Sagitário e a Casa VIII tem a sua cúspide em Peixes, sendo
ambas as casas regidas por Júpiter. Porém, nenhuma delas pode significar a amante.
299
Não é que não exista um sistema para responder esse tipo de pergunta. A
morte é um fenômeno muito específico e só acontece uma vez em nossas
vidas, por isso a técnica não pode responder essa pergunta sem que já
exista um cenário prévio. Então, o máximo que podemos fazer quando
alguém nos pergunta quando morrerá é dizer para ele não se preocupar e
que não será agora. Devemos dizer para o sujeito tirar isso de sua
cabeça, convidar uma menina para sair e ir assistir a um filme. Também
podemos dar aquela resposta evasiva básica: “Você morrerá antes do que
gostaria.”
301
9. Terceira pergunta horária analisada: “minha licença para armas de fogo será
expedida sem complicações?”
Mas a pergunta não foi essa. A pergunta foi se a licença ainda demoraria
muito para ser expedida. Podemos notar que o teor da pergunta é
indicado pela posição de Mercúrio, que está junto à cúspide da Casa VI,
que, entre outras coisas, significa os entraves burocráticos e a burocracia
em geral. O regente dessa casa, a qual tem a cúspide em Aquário, é
Saturno, que está na Casa III. Também notamos que ambos os planetas
estão em signos fixos, e que Mercúrio está a dez graus de se aplicar a
uma quadratura com Saturno, o que indica que a licença demorará a ser
expedida.9 Porém, temos certeza que ela sairá, porque Mercúrio se
aplicará a um trígono com a licença, que é Marte, o regente da Casa III.
Outro ponto que reforça essa certeza é que a Cabeça do Dragão, o
Nódulo Norte, está na cúspide da Casa III. Por isso sabemos que a
licença será sim expedida, mas como Saturno, o regente da burocracia,
está também na Casa III e o querente se aplicará a uma quadratura com
ele, então a coisa continuará atrasando por mais um tempo.
9
Nota do revisor: olhando as efemérides, a quadratura se formará no dia 25 de janeiro de 2014. A posição de
Mercúrio será 21º 28’ em Aquário e a de Saturno será 22º 11’ em Escorpião.
305
Outro ponto que poderia gerar alguma dúvida e que devemos comentar
aqui é o fato de Mercúrio estar quase em sextil com a Parte da Fortuna.
Isso afeta a leitura do mapa de alguma forma? Não afeta em nada, pois a
Parte da Fortuna não é um significador do interesse amoroso do
querente, ela é um significador natural do seu interesse material. Se essa
fosse uma pergunta sobre dinheiro, este seria certamente um indicador
favorável. Numa pergunta sobre relacionamento amoroso, não significa
muita coisa.
Sobre esse tipo de questão em que uma pessoa não está interessada na
outra, devemos analisar muito bem a circunstância concreta em que o
cliente está. No caso específico do nosso aluno, sabemos que ele tem
vinte e poucos anos, e, talvez, daqui a um ou dois anos, encontrará
novamente essa garota e a questão poderá surgir mais uma vez. Isso é
uma coisa de astrologia horária, é coisa de momento. E contrapondo-se a
esse exemplo prático que demos, temos a situação em que alguém
casado há dezessete anos faz uma pergunta parecida a respeito da
esposa. Nessa situação, caso
307
10
Nota do revisor: o mapa foi aberto em aula, no dia 18 de janeiro de 2014, por volta das 20:55.
11
Nota do revisor: lembrando mais uma vez que, por estar a menos de cinco graus da cúspide da Casa XI,
considera-se que Júpiter está nela.
12
Nota do revisor: Júpiter “gosta” da Lua justamente por estar na Casa XI, regida pelo signo de Câncer, e por
estar neste próprio signo.
13
Nota do revisor: de acordo com as efemérides, no dia 20 de janeiro de 2014, dois dias após esse mapa ter
sido aberto, a Lua estará a 11º 20’ de Virgem e formará um sextil com Júpiter, que estará a 13º 36’ de
Câncer.
308
saia uma resposta semelhante à que vimos agora, sabemos que ela será
de uma gravidade muito maior. Não teremos como dizer que, talvez,
depois de um ou dois anos, marido e mulher podem se reencontrar e
engatar de novo o casamento. Não, numa situação assim o
relacionamento realmente terminou. Portanto, temos de contextualizar a
situação e pôr as coisas em escala.
No caso do nosso aluno e da garota que ele gosta, agora ela não está
interessada nele. Júpiter, que a representa, está em termo e face, então
ela tem uma boa disposição para com ele. Na verdade, ela o considera
apenas um cara legal. Nosso aluno não está na lista de pessoas que ela
odeia. Mas a questão era sobre um potencial relacionamento amoroso, e
ambos estão disjuntos.
Gugu: É muito raro, por exemplo, o sujeito passar quarenta anos sem
batalhar para ficar rico e, numa pergunta horária, descobrir que ficará
rico muito rápido. Da mesma forma, é raríssimo que um sujeito o qual
nunca procura mulher, numa pergunta horária, descubra que em um mês
conhecerá a pessoa com quem ele se casará. Essas são situações
raríssimas.
Mas também pode ser que aconteçam, porque tudo acontece na vida, até
mesmo cair meteorito na cabeça das pessoas! Já aconteceu de cair raio
sete vezes numa pessoa durante o curso da sua vida. Há também um
famoso azarado na história americana, cujo quintal foi o palco da
primeira batalha da guerra civil em seu país. Sabe-se que ele fugiu da
cidade, e a guerra seguiu para a cidade em que ele foi morar, e então ele
fugiu para outra cidade, e a guerra seguiu para a nova cidade em que ele
foi morar. Mas o fato mais engraçado dessa história é que o armistício
310
foi assinado no fundo do quintal dele, sendo que durante todos os anos
da guerra ele teve de fugir dela. Coisas estranhas acontecem na vida.
Mas elas acontecem com um sujeito entre milhões.
14
Nota do revisor: como visto na nota anterior, em apenas dois dias Júpiter formará um sextil com a Lua, o
que é uma indicação desfavorável às pretensões do querente, representado por Mercúrio, pelo menos para um
futuro próximo.
311
E há ainda mais um erro que alguém pode cometer: aprender como são
respondidas as perguntas horárias e aplicar isso à leitura do próprio mapa
natal. Por exemplo, pode ser que uma pessoa faça um pergunta aleatória
a um astrólogo. E, após ouvir a pergunta, este responderá que o objeto da
questão pode ser significado por Marte em queda e em oposição com
algum outro planeta qualquer. Depois disso, o astrólogo abrirá o mapa
natal do cliente, verá um Marte em queda e em oposição com a Lua e
deixará a pessoa que fez a pergunta pensando que está destinada ao
sofrimento. Por isso, é importante enfatizar que nós não somos uma
questão horária. Diferente da questão horária, que representa uma
situação temporária, um quadro menor numa existência humana mais
ampla, o mapa natal deve representar a vida de alguém como um todo, e
por isso funciona numa escala diferente. Então, nunca devemos
interpretar um mapa natal utilizando a técnica de interpretação da
Astrologia Horária. Se assim fizermos, sairemos com algum tipo de
ilusão, seja ela deprimente ou não. Num mapa natal, outras coisas são
relevantes que não a força ou a fraqueza isolada dos planetas.
Agora chegamos numa questão que sempre surge para nossos alunos:
através da Astrologia Horária podemos ter uma idéia sobre a situação
espiritual de uma pessoa e a partir disso ajudá-la? Depende do grau de
entendimento e familiaridade que se tem com o assunto “espiritualidade
humana”. Antes de tudo, teríamos que entender realmente o que é estar
313
com problemas espirituais para poder usar a Astrologia Horária. Isso se
dá da mesma maneira com a Medicina, por exemplo. Podemos usar
Astrologia Horária na Medicina, mas, para isso, também temos que
entender de Medicina. Portanto, antes devemos saber se uma pessoa está
realmente com problemas espirituais, ou se simplesmente estamos vendo
as coisas de maneira errada.
Mas se Medicina já é algo que demora dez anos para ser entendida,
“espiritualidade” já leva uns vinte e cinco anos. E quem tem dez anos de
estudos em Medicina é considerado apenas um principiante! As pessoas
normalmente se encontram qualificadas para falar profundamente sobre
espiritualidade por volta dos setenta anos. Essa é a idade normal das
pessoas que dão conselho sobre esse assunto. Dentre os cartuchos, não
há um monge com menos de sessenta anos que abre a boca para falar
disso! Alguém que está lá dentro desde os vinte anos, com sessenta
começa a abrir a boca para a molecada. Antes disso, ele nem abre a boca.
Isso não é brincadeira. A idade média dos bons conselheiros espirituais é
de setenta a oitenta anos.
314
Nessa época, Dom Plácido tinha uns oitenta e seis anos, e nos contou
que entrou no mosteiro com dezoito. Já eram setenta anos rezando,
buscando e servindo a Deus. Alguém alguma vez ouviu falar do São
Plácido brasileiro? Ninguém nunca ouviu falar e nem ouvirá. Mas ele é
um santo que já está no céu. Não tenho a menor dúvida disso. Empenho
minha palavra, minha honra, que é um santo que já está no céu.
15
Nota do revisor: bairro da cidade de São Paulo.
320
Padre Pio fez isso porque ele era um bom padre, o que não é verdade.
Ser um bom padre é celebrar a missa e ensinar a doutrina corretamente.
Mas as habilidades do Padre Pior não são frutos disso, são frutos dele
rezar incessantemente desde a infância rezando.
Porém, no geral, com a idade o disfarce dos bispos some. Se for ele for
um sujeito mau isso será sempre mais evidente quanto mais velho ele
for. No caso de um monge ou de um padre, se ele for veado, parecerá
uma tia afetada; se ele for
323
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Índice
1
Nota do revisor: ela se encontra no arquivo da aula de número oito.
334
Então, os alunos terão duas coisas para memorizar durante esse mês:
primeiro, o alfabeto astrológico básico, isto é, os doze signos, e os sete
planetas. Depois de decorar o alfabeto, terão que olhar um mapa
qualquer e saber dizer quase espontaneamente as posições dos planetas e
das casas.
335
Sabendo isso, quais planetas nesse mapa estão orientais e quais estão
ocidentais? A Lua, Júpiter, Marte e Mercúrio estão orientais. Já Vênus e
Saturno estão ocidentais. Mais uma vez: os planetas ocidentais o são
porque, nesse dia, irão se pôr depois do Sol.
Um ponto que deve ser muito enfatizado é: os alunos não devem pensar,
quando estamos falando da posição dos planetas, “à direita” ou “à
esquerda” não são posições fixas que significam “oriental” e “ocidental”
respectivamente. Nesse mapa os orientais estão à direita, mas se o Sol
estivesse na Casa IV, os orientais estariam à esquerda, pois surgiriam no
338
horizonte antes dele. Por isso, é melhor pensar em “antes do Sol” ou
“depois do Sol”. Aqueles que surgiram ou surgirão na linha do
Ascendente, que representa a posição onde os planetas surgem no
horizonte, antes do Sol são orientais. E aqueles que surgiram ou surgirão
na linha do Ascendente depois do Sol são ocidentais.
Ascendente Capricórnio x
Ascendente Capricórnio x
Sol de outono x
Marte oriental
Mercúrio oriental
Planetas em
aspecto com o Júpiter oriental
ASC
Lua3
Nodo Norte
2
Nota do revisor: as estações dos signos foram mencionadas na aula um e também no texto de número cinco,
chamado
Temperamento – Qualidades.
3
Nota do revisor: logo a frente será explicado como definir a fase da Lua, e quais características atribuir a cada
uma delas.
343
Ascendente Capricórnio x
Sol de outono x
Marte oriental x
Planetas em
aspecto com o Mercúrio oriental x
ASC
Júpiter oriental x x
345
Lua minguante – 3ª x
fase
Nodo Norte x x
Passemos aos planetas que formam algum aspecto com a Lua. Aspectos
são só conjunção, sextil, quadratura, trígono e oposição. Olhando o mapa
vemos que a única coisa em aspecto com esse planeta é a Cauda do
Dragão, ou Nodo Sul, que não é um planeta. Ele é o ponto de intersecção
entre o zodíaco e a órbita da Lua. A Cabeça e a Cauda do Dragão são os
pontos do zodíaco onde podem acontecer os eclipses. Pois bem, a Cauda
do Dragão está formando uma conjunção com a Lua, apesar de estar a
uns 7º de distância dela. Porém, como ela e o Sol têm um orbe muito
grande, iremos considerar isso como uma conjunção.
Notem que Júpiter está em sextil e mútua recepção com Vênus. O que é
uma mútua recepção? Vênus é o planeta regente de Libra, signo em que
Júpiter está; e Júpiter é o planeta regente de Sagitário, signo em que
Vênus está. Essa é mais uma regra de Astrologia Tradicional: planetas
em mútua recepção maior formando um aspecto benéfico – trígono ou
sextil -- são o mesmo que um planeta que esteja ele mesmo domiciliado
em seu signo. Devemos imaginar que Júpiter é um rei que está no
palácio de Vênus, e Vênus é uma rainha que está no palácio de Júpiter.
Os dois se deram procurações para fazerem o que quiserem no palácio
um do outro. Então, é como se eles estivessem em seus próprios
palácios.
4
Nota do revisor: se diz que um planeta está combusto quando ele está muito próximo do Sol.
348
Determinante Símbolo Calor Umidade Frieza Se
Ascendente Capricórnio x
Sol de outono x
Marte oriental x
Mercúrio oriental x
Planetas em
Júpiter oriental x x
aspecto com o
ASC
Lua minguante – 3ª x
fase
Nodo Norte
Também podemos ver que outro planeta com dignidade essencial forte
nesse mapa é a Lua, que está exaltada. Mas entre um planeta na Casa X e
um planeta na Casa V, ambos com dignidade essencial, aquele que
estiver na Casa X prevalece em noventa por cento dos casos. Outra nota
é que a Lua também está disposta por Vênus.
349
5
Nota do revisor: disponibilizada no arquivo da aula oito.
350
Ascendente Capricórnio x
Sol de outono x
Marte oriental x
Mercúrio oriental x
Planetas em
Júpiter oriental x x
aspecto com o
ASC
Lua minguante – 3ª x
fase
Nodo Norte x x
Total - 6 4 5
Considerações
351
Temperamento
Mas devemos ter calma agora, pois o cálculo ainda não terminou. Notem
que na tabela está escrito “total” e, embaixo disso, temos
“considerações” e “temperamento”. Se olharmos no texto Temperamento
- Qualidades, o item número cinco dos determinantes do temperamento
são as “considerações”:
Temos agora, ao fim deste cálculo, quatro “+” para calor e quatro “+”
para umidade. Sumiu um empate, mas apareceu outro. Agora calor e
frieza estão bem desempatados. Então, o resultado é “quente”. E entre
umidade e secura, não está tão desempatado assim. Se antes havia quatro
pontos para umidade, agora há seis. Outro ponto importantíssimo: quatro
“+” não significam quatro pontos. Cada “+” vale, no máximo, meio
ponto.
Ascendente Capricórnio x
Sol de outono x
Marte oriental x
Mercúrio oriental x
Planetas em
Júpiter oriental x x
aspecto com o
ASC
Lua minguante – 3ª x
fase
Nodo Norte x x
Total - 6 4 5
Temperamento - 8 6 5
Então ficamos com oito pontos para o calor, seis pontos para a umidade,
cinco pontos para a frieza, e oito pontos para a secura. Como temos um
diferença de três pontos entre o par calor-frieza, diremos que eles estão
razoavelmente desempatados. Já o par umidade-secura tem dois pontos
apenas de diferença, o que indica que eles estão mais empatados.
Portanto, podemos dizer que esse temperamento, em geral, é levemente
colérico, com um toque de sanguíneo. Por que levemente colérico? Pois
ainda não há tanta
357
“Junto com Marte, Júpiter faz dos homens durões, guerreiros, hábeis em
matérias militares, impetuosos, ousados, francos, rápidos na ação, amigos das
disputas e discussões, generosos, judiciosos e felizes”.
6
Nota do revisor: caso o aluno ainda não saiba, o Gugu está se referindo ao professor Olavo de Carvalho.
360
Gugu: Na verdade, se é para ter algum planeta na Casa XII, que seja
Saturno, porque, afinal, a Casa XII é a casa do gozo de Saturno. Esta é a
casa do isolamento. Ela significa asilos, hospícios, mosteiros. Ora,
Saturno é o planeta da solidão, do recolhimento, do silêncio. Então ele
não está tão mal colocado num
369
No caso de nossa aluna Fulana, a Casa XII dela é regida por Vênus, e ela
tem Vênus em Áries. Porém, devemos lembrar que um benéfico mal
colocado traz menos benefícios do que ele gostaria. Ele é uma pessoa
boa, mas pobre. Um maléfico mal colocado é uma pessoa ruim com
poder.
No caso do Fulano, ele tem como regente da Casa XII o planeta Marte,
que está em Touro. Mas Marte está em trígono com Vênus, que está em
Capricórnio. Então, é como se ele tivesse Marte em Capricórnio, que é a
exaltação desse planeta. Supondo que Fulano não tivesse Vênus bem
colocada em seu mapa, e apenas Marte estivesse em Touro, imagine que
tivesse só Marte em Touro, a sua Casa XII estaria enrolada. A Astrologia
370
é muito sutil. Fulano achava que seu Marte era mal colocado, mas ele
nunca teve problemas de Casa XII. E isso porque ambos estão em
trígono, Marte está no signo de domicílio de Vênus, e Vênus está no
signo de exaltação de Marte. Essa é a mesma situação do mapa do
Lobão: seu Vênus e seu Júpiter estão em mútua recepção e formando um
bom aspecto.
Pode ser que isso dificulte na hora de fazer o mapa de uma pessoa que
não conhecemos. Em situações assim, devemos faz saber quais são as
perguntas fundamentais a serem feitas para matar a charada. Mas, às
371
vezes, fazer perguntas também não adianta. Há casos em que se deve
olhar o mapa para ver se adianta fazer à pessoa perguntas sobre ela
mesma, pois pode ser que ela não consiga ou não queira responder. Por
exemplo, um melancólico não iria querer falar, e um fleumático não
conseguiria falar. Já um sanguíneo falaria demais e ainda perguntaria por
que motivo estávamos perguntando isso para ele.
Outra pergunta que sempre surge quando falamos isso é: qual é a relação
da Casa VIII com essa coisa da última hora? Bem, a Casa VIII é aquilo
que se apresenta para nós como uma mudança inevitável. Quando
alguém convida uma pessoa para sair de última hora, aquela impôs uma
escolha para esta, que terá de escolher entre sair ou não. Colocou-se um
limite para quem foi convidado, e tirou-se um horizonte de escolha que
antes ele tinha. Antes, essa pessoa não estava nem obrigada a escolher
algo, e agora ela tem um horizonte de escolha muito limitado.
Essa casa também tem uma ligação direta com a morte, pois, após a
morte, não há escolha alguma. A morte é o limite último das escolhas, o
limite último da liberdade. Até a morte temos alguma liberdade de
escolha, após ela não mais.
A pessoa que tem Marte na Casa VIII sente essas situações de escolhas
súbitas como pequenas tragédias. Ela sente como que fora imposto um
destino inevitável sobre sua vida. Por exemplo, se alguém disser que ela
precisa ir à padaria nesse exato momento pois esta fechará em dez
minutos, ela dirá: “Caramba! Por que você não me lembrou uma hora
atrás?!” É realmente um drama.
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Cosmologia e Astrologia
Medieval – Aula 11
374
Prof. Luiz Gonzaga de Carvalho
Índice
1
Nota do revisor: em aula, como dito pelo professor, o mapa foi descrito sem ser dado o nome, a data, a
hora e o local de nascimento de São Thomas More. Porém, para facilitar a vida dos alunos e a minha, já
coloquei o mapa dele para que melhor se acompanhe este exercício de cálculo.
2
Nota do revisor: na aula passada, o professor explicou como saber se um planeta está ocidental ou oriental.
Em suma, deve-se traçar uma linha reta que vai desde a posição em que o Sol está até o grau e signo
opostos a ele. Os planetas que estiverem nos
primeiros 180º dessa linha reta em sentido horário estarão orientais, pois nascerão/nasceram antes do Sol.
Os planetas que estiverem posicionados após esse primeiro trecho estarão ocidentais, pois
nascerão/nasceram depois do Sol.
380
Determinante Símbolo Calor Umidade Frieza
Ascendente Sagitário x
Lua 1ª fase x x
Planetas em
Aspecto com o
Vênus ocidental x
ASC
Como dito, a Lua está em sua primeira fase -- entre a Lua Nova e a
Meia-Lua crescente --, e, portanto ela é quente e úmida. Por isso,
anotaremos duas vezes essa suas qualidades, tanto na coluna de
“Planetas em aspecto com o Ascendente”, quanto na coluna de “Fase da
Lua”.
Lua 1ª fase x x
Planetas em
Aspecto com o Vênus ocidental x
ASC
Fase da Lua 1ª fase x x
Ascendente Sagitário x
Lua 1ª fase x x
Planetas em
Aspecto com o
Vênus ocidental x
ASC
Fase da Lua 1ª fase x x
Vênus ocidental x
(conjunção)
Júpiter x
ocidental
(conjunção)
Planetas em Mercúrio x
aspecto com a oriental
Lua (sextil)
Sol de inverno x x
(sextil)
Cabeça do Dragão ou x
Nodo Norte (trígono)
Vejamos agora o planeta mais forte do mapa. Para isso, devemos ver a
Tabela de Dignidades Essenciais e Acidentais. Nesse caso, Júpiter
ocidenal em Áries é o candidato favorito. Ele está em trígono com o
Ascendente, é o regente do Ascendente e está na sua triplicidade.
383
Então, quanto pontos temos de calor até agora? Cinco: um ponto de
calor porque o Ascendente é Sagitário; um ponto de calor porque a Lua
forma aspecto com o Ascendente; um ponto de calor porque a Lua está
sanguínea, isto é, está em sua primeira fase; um ponto de calor para
Marte oriental, que é o dispositor da Lua; e um ponto de calor para
Mercúrio oriental formando aspecto com a Lua.
Ascendente Sagitário x
Lua 1ª fase x x
Planetas em
Aspecto com o
Vênus ocidental x
ASC
Fase da Lua 1ª fase x x
Vênus ocidental x
(conjunção)
Júpiter x
ocidental
(conjunção)
Planetas em Mercúrio x
aspecto com a oriental
Lua (sextil)
Sol de inverno x x
(sextil)
Cabeça do Dragão ou x
Nodo Norte (trígono)
Total - 5 10 2
385
Devemos fazer uma observação: contamos o Sol duas vezes, tanto
porque ele está em aspecto com a Lua, quanto por ele ser um fator
determinante no temperamento.
3
Nota do revisor: o True Outspeak era um programa transmitido pelo professor Olavo de Carvalho, em que
ele, adotando um personagem boca suja, respondia a perguntas enviadas e tecia comentários sobre os
eventos recentes do Brasil.
4
Nota do revisor: o aluno deve se lembrar do tópico oito da aula de número dez. Nele, podemos ver outros
fatores determinantes do
temperamento, que são: estrelas fixas; natureza e condição do regente do Ascendente e do seu dispositor;
mentalidade; planetas que se destacam por razões excepcionais. No cálculo do mapa ora analisado, não
foram levados em consideração tais fatores. Porém, caso os levássemos, não chegaríamos a um resultado
muito diferente do que chegamos. Talvez as características de calor e frieza ficassem mais equilibradas.
389
5
Nota do revisor: em aula, como dito pelo professor, o mapa foi descrito sem ser dado o nome, a data, a
hora e o local de nascimento de Santa Teresa D’Ávila. Porém, para facilitar a vida dos alunos e a minha, já
coloquei o mapa dela para que melhor se acompanhe este exercício de cálculo.
392
Devemos nos lembrar de contá-la duas vezes: uma vez pelo aspecto
com o Ascendente, e outra por causa de sua fase:
Ascendente Áries x
Marte
Planetas em
ocidental
Aspecto com o
(sextil)
ASC
Júpiter x
ocidental
(sextil)
393
Fase da Lua 4ª fase x x
Após isso devemos ver a estação do Sol, que está em Áries. Neste
signo, o Sol está na primavera, e portanto suas qualidades são o calor e
a umidade.
E o planeta mais forte deste mapa qual seria? O Sol está exaltado e
angular no Ascendente, então ele é o candidato favorito. Para
procurarmos o planeta mais forte, a primeira coisa que procuramos é se
há algum planeta com dignidades maiores que está ou domiciliado ou
exaltado. Se houver, devemos verificar se ele está numa casa boa, se
está angular e se não está afligido nem por Marte e nem por Saturno.
Caso essas condições se verifiquem, então esses serão os planetas
candidatos. No caso deste, como dissemos, o planeta mais forte é
mesmo o Sol. Alguns poderiam pensar em Vênus, que está exaltado.
Porém, ele está na Casa XII.
394
Então, contamos o Sol duas vezes: uma porque ele é um dos fatores
determinantes do temperamento, e outra porque ele é o planeta mais
forte do mapa.
6
Nota do revisor: o sextil se forma quando dois planetas estão a 60º de distância um do outro.
395
Determinante Símbolo Calor Umidade Frieza
Ascendente Áries x
Marte
Planetas em
ocidental
Aspecto com o
(sextil)
ASC
Júpiter x
ocidental
(sextil)
Fase da Lua 4ª fase x x
Júpiter x
ocidental
(trígono)
Marte
Planetas em ocidental
aspecto com a (trígono)
Lua Saturno x
oriental
(sextil)
Mercúrio
ocidental
(quadratura)
Estação do Sol Primavera x x
(Hemisfério Norte)
Ficamos então com três pontos de calor, seis pontos de umidade, quatro
pontos de frieza e sete pontos de secura. Praticamente está tudo
empatado! E isso quer dizer o quê? Que essa pessoa tem o melhor
temperamento que existe: o temperamento equilibrado.
O lado bom até que é razoável. Mas devemos nos lembrar que Vênus e
Saturno estão bem mal colocados neste mapa. Por isso, o lado mau
dessa mentalidade deve aparecer com mais naturalidade:
398
7
Nota do revisor: o aluno deve se lembrar do tópico oito da aula de número dez. Nele, podemos ver outros
fatores determinantes do temperamento, que são: estrelas fixas; natureza e condição do regente do
Ascendente e do seu dispositor; mentalidade; planetas que se destacam por razões excepcionais. No cálculo
do mapa ora analisado, não foram levados em consideração tais fatores. Porém, caso os levássemos, não
chegaríamos a um resultado muito diferente do que chegamos.
400
Outro exemplo disso: se ele desse cinqüenta reais para sua filha do
meio, ela diria: “Muito obrigado, pai!” Já se ele desse o mesmo tanto
para sua filha mais velha, ela diria: “Só isso? Não dá para dar mais?”
Portanto, a filha do meio é mais facilmente educável, enquanto que as
outras com mentalidades e temperamentos mais difíceis é preciso ser
mais rigoroso. Não dá para pensar em educar todas as crianças da
mesma forma, e quem tem vários filhos ou lidou com crianças vê isso
claramente.
8
Nota do revisor: idem notas dois e cinco.
403
Ascendente Libra x x
9
Nota do revisor: o professor esqueceu de mencionar o trígono da Lua com o Sol, mas acabei o adicionando
na transcrição e na tabela do cálculo.
405
Determinante Símbolo Calor Umidade Frieza
Ascendente Libra x x
Planetas em Mercúrio x
Aspecto com o oriental
ASC (oposição)
Fase da Lua 3ª fase x
Júpiter x x
oriental
(conjunção)
Vênus ocidental
(trígono)
Planetas em Marte
aspecto com a ocidental
Lua (trígono)
Sol de primavera x x
(trígono)
Cauda do Dragão
(conjunção)
Ascendente Libra x x
Planetas em Mercúrio x
Aspecto com o oriental
ASC (oposição)
Fase da Lua 3ª fase x
407
Dispositor da Lua Saturno ocidental
Júpiter x x
oriental
(conjunção)
Vênus ocidental x
(trígono)
Planetas em Marte
aspecto com a ocidental
Lua (trígono)
Sol de primavera x x
(trígono)
Cauda do Dragão
(conjunção)
Pois bem, e de quem seria este mapa agora visto? De Hitler. Como
temos duas pessoas com mentalidade saturnina-marcial, podemos
indicar alguns aspectos favoráveis que o mapa de São Thomas More
nos mostrou e outros aspectos desfavoráveis revelados pelo mapa de
Hitler. No primeiro caso, o planeta mais forte era, sem sombra de
dúvidas, o regente do Ascendente. Qual é o signo Ascendente de São
Thomas More? Sagitário, cujo planeta regente, Júpiter, está em Áries,
formando um trígono com o Ascendente. Assim, podemos ver que o
regente do Ascendente está mais ou menos livre. Já no caso de Hitler,
apesar de o regente do Ascendente estar dignificado, ele se encontra
cercado de maus sinais: está retrógrado na direção de um Marte
debilitado, está numa conjunção partil no mesmo grau que Marte, na
cúspide da Casa VIII, está fugindo de Saturno e está cercado por este e
Júpiter. Este é o tipo de mapa que, quando analisado, se revela o de um
tirano. Uma pessoa com um mapa como o de Hitler deve ser bem
educada desde pequena.
409
Outra coisa muito interessante que também podemos ver nesse exemplo
é a posição chave de algumas estrelas fixas malignas: a Lua está em
conjunção à Facies, uma das principais estrelas maléficas do zodíaco
associada à violência e a acidentes; Mercúrio está em conjunção com
Vértex, estrela também associada à violência; e Saturno está em
conjunção com Praesepe, uma terceira estrela associada à violência.
Sobre Marte e Saturno, podemos dizer que eles são dois planetas muito
inflexíveis. Se juntarmos a isso a condição da Alemanha antes do
nazismo, percebemos que muitos alemães estavam revoltados com a
humilhação e a condição em que seu país se encontrava. Então, é fácil
para um sujeito criado nessa época, com um mapa como o de Hitler,
sentir que a pátria estava sendo colocada abaixo da sua dignidade e
começar a pensar em um monte de idéias malucas. E é muito fácil
também que, numa situação assim, essas idéias encontrem ressonância
nas outras pessoas. Tanto os franceses como os alemães vêm de povos
que eram muito marciais, muito orgulhosos, muito altivos. Isso não é
uma coisa ruim em si, mas era uma inclinação deles, o que acaba os
inclinando a uma coisa desse tipo.
Por exemplo, se temos que brigar, essa energia toma uma forma vital
análoga ao fogo e produz em nós uma inclinação de movimento análoga
a esse elemento. Prova disso é que, se nos preparamos para uma briga,
nosso corpo começa a esquentar, a tremer e não conseguimos ficar
parados. Se temos que falar, pensar ou caminhar livremente, o espírito
vital toma uma forma análoga ao ar.
10
Nota do revisor: essa é a apostila chamada Notas sobre a mentalidade ou disposição da mente.
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Índice
15. Esquema do simbolis mo dos planetas e dos signos por eles regidos ...........
425
15.1. Sol e Lua, regentes de Leão e Câncer respectivamente ........................
15.2. Marte, regente de Áries e Escorpião, e Vênus, regente de Touro
e Libra......................................................................................................
15.3. Mercúrio, regente de Gê meos e Virge m, e Júpiter, regente de
Sagitário e Peixes .................................................................................
15.4. Saturno, regente de Capricórnio e Aquário ............................................
2. Os objetos categóricos.
Por isso enfrentamos uma barreira toda vez que nos perguntamos por
que alguma coisa é bela. Seria pela proporção? Pela simetria? Pela
cor? Na verdade, isso é tudo conversa fiada, pois num caso pode ser
a simetria que revela a beleza de algo, noutro caso pode ser a
proporção, noutro ainda pode ser a cor ou qualquer outra coisa. Cada
vez que algum idiota inventa um conceito de beleza, na semana
seguinte surge um artista que faz uma coisa bonita contrária a esse
conceito. Se um idiota diz, por exemplo, que a beleza do rosto
humano é a simetria, na semana seguinte surge um artista que
desenha um rosto assimétrico e bonito e outro simétrico e feio. É
algo que não podemos agarrar nem em termos lógicos ou
categóricos, e nem em termos quantitativos e materiais. A beleza, a
verdade e a bondade são coisas que são ou não percebidas. Ou a
pessoa tem a sensibilidade para percebê-las ou não tem. Elas não
podem ser pensadas, agarradas ou medidas. São dons espirituais.
429
que é mais nobre e menos nobre. Todo o senso do que é bom, do que
é importante, do que é dign o e do que não é, vem da experiência que
se tem dos Céus.
E devemos notar que até agora falamos apenas da criação, e que não
tratamos do Criador ainda. Uma coisa comum nos dias de hoje é que,
quando falamos dessas coisas espirituais, as pessoas as entendam
como algo divino, sobrenatural ou místico. Sempre haverá alguém
para dizer que as experiências espirituais não fazem parte da esfera
da ciência e do conhecimento. Esse sujeito deve calar a boca! Não
estamos falando de Deus. Estamos falando do que vemos com
nossos próprios olhos, do que saboreamos com nossa própria
língua, do que sentimos com nosso coração. Estamos falando da
nossa vida, da vivência humana, da vida de todos os seres humanos.
Os Céus, isto é, a beleza, a bondade e a verdade, são a razão de
existência da Terra. Um animal procura o alimento porque o
alimento é bom e belo para ele, e não porque o alimento o destrói.
Tudo que existe na Terra está sempre em busca do s Céus, e estes
são a escala pela qual as coisas terrestres podem ser medidas
realmente.
6. Os objetos não categóricos (ou Céus) como símbolos e medida valorativa dos
objetos categóricos (ou coisas
terrestres).
Aluno: (inaudível).
Aluno: (inaudível).
Gugu: O sujeito pode inventar o que for, mas, no final, isso é uma
escolha arbitrária, porque ele não quer reconhecer que em sua
experiência há algo de ilimitado. Ele não quer reconhecer que sua
experiência e sua vida real se abrem para certas possibilidades que
transcendem as coisas. Mas a verdade é que a vida do cachorro o
inclina a esse propósito transcendente. Mesmo a existência das
pedras as inclina a isso, pois cada pedra tem um molde que ela capta
em si mesmo e nas coisas, e ao qual ela tenta corresponder. E é claro
que, quando falamos na captação da pedra, não queremos dizer ser
essa uma captação que remeta a faculdades cognitivas. Porém, há sim
uma captação desse propósito transcendente nelas.
Aluno: (inaudível).
As exigências da vida fazem com que nos levemos muito a sério. Por
quê? Porque temos que fazer contas, temos que trabalhar, temos que
receber um salário e isso dá um trabalho muito grande. Por isso nos
levamos tão a sério. E de vez em quando precisamos parar e pensar
que isso tudo não é importante, que um dia morreremos. Devemos
parar de pensar nessas coisas para olhar o pôr do Sol e esquecer a
vida um pouco. E então veremos que as árvores estão fazendo isso
naturalmente, pois elas não se sobrecarregam de “arboricidade”
como nos sobrecarregamos de humanidade. Elas não fazem drama
acerca da vida delas, enquanto nós somos cheios de drama e
estamos sempre pensando em como somos importantes, em como
ninguém gosta de nós, em como fizemos algo bom para alguém e
outra pessoa brigou com a gente. Ficamos muito carregados disso e
de vez em quando precisamos descarregar. Quando São Francisco
olhava as coisas naturais, ele via que elas nunca reclamam. Se damos
uma machadada na árvore, ela não reclama.
438
Esse é o porquê dos sinais não poderem ser símbolos, pois sempre
podemos trazer à outra pessoa o objeto em sua integridade e
inteireza, sempre podemos mostrar a cadeira da qual estamos
falando, sempre podemos dar a definição da estrutura formal do
objeto do qual estamos falando com seu gênero próximo e sua
439
diferença específica. O sinal é, portanto, meramente conveniente,
pois teríamos muito trabalho se, ao falar, precisássemos apontar cada
objeto a que nos referimos. As palavras então são sinais
convenientes, mas, caso necessário, se o receptor da mensagem
estiver muito em dúvida, podemos lhe mostrar a cadeira ou lhe dar a
definição teórica de cadeira.
“Disse Deus: Haja luz; e houve luz. E viu Deus que a luz era boa; e fez
separação entre a luz e as trevas. Chamou Deus à luz Dia, e às trevas Noite.”
1
Nota do revisor: a Lua, então, representa a participação e intimidade nossa e das coisas celestes com Deus;
ela representa co mo que um retorno de tudo o que é espiritual ao seu princípio e origem. Já o Sol representa
a transcendência e infinitude das pr óprias coisas celestes e de Deus; ele representa como que o caminho
inverso da Lua, ou seja, representa o caminho da unidade ao inf inito e transcendente.
2
Nota do revisor: o planeta regente de Leão é o Sol.
3
Nota do revisor: o planeta regente de Câncer é a Lua.
444
Mas alguém poderia nos perguntar: há, para cada pessoa, algo que
determina a percepção dessas realidades celestes? Na verdade, essa
percepção é um dom divino. É Deus quem a dá, pois o Espírito sopra
onde quer. O que podemos fazer é nos esforçar muito. Mas como?
Em primeiro lugar, devemos constatar que os Céus existem, estão
diante de nós e passam por nossas vidas. Então, após isso, devemos
nos dedicar a todos os exercícios religiosos de purificação, de
limpeza e de humildade, para que nos tornemos mais receptivos a
essas realidades celestes. Por fim, devemos aprender a sempre
equilibrar o dia com a noite, ou seja, devemos aprender a perceber o
quanto os Céus são grandes e maiores, mas também o quanto eles nos
são profundamente íntimos.
O Sol então está no meio, mais abaixo dele está a Lua, e mais em
cima está Saturno.4 Como dissemos, o Sol representa a presença do
celestial, a manifestação do celestial, e a Lua representa aquilo que
abraça o celestial imediatamente por uma afinidade profunda, porque
no fundo ambos compartilham de uma mesma natureza. A Lua é a
afinidade, a intimidade ou a familiaridade do sujeito em relação à
presença celestial. E Saturno? Ele representa, pelo contrário, a
ausência e a descontinuidade entre qualquer fenômeno terrestre e os
fenômenos celestiais. Saturno, em seu melhor, representa a
consciência de que os Céus não são a Terra. Na perspectiva desse
planeta, não adianta explicarmos a natureza da beleza, pois qualquer
explicação terrestre acerca dela estará distante de sua realidade.
Saturno é a intuição do celestial pela diferença entre este e o terrestre.
Nesse sentido, Saturno é o oposto do Sol, que é a intuição pela
446
presença imediata. Saturno intui o ilimitado pela diferença entre este
e o limitado.
4
Nota do revisor: é interessante que o aluno veja a figura um do tópico quinze desta aula.
447
Vênus é o céu que está logo abaixo ao Sol, e Marte, o céu logo
acima. Podemos notar que Marte e Vênus são justamente como que
os dois efeitos mais imediatos da presença do celestial. Então, Marte
representa o fervor interno de quem sente a necessidade, quando nota
a presença, a nobreza e a dignidade celestial, de agir dessa maneira.
Marte representa o romper com a nossa mesquinhez e pequenez.
Assim, Marte representa essa vitalidade de rompermos com o que é
menor em nós. E Vênus representa, pelo contrário, o aspecto de
beleza da presença celestial, representa a presença celestial como fim
almejado.
Por isso, podemos dizer que Marte é um Sol enfatizando a vida que
surge em nosso interior para que vençamos e superemos nosso mal e
pequenez. E Vênus representa a razão pela qual queremos superar
esses aspectos negativos, representa onde queremos chegar. Marte é
um leve desequilíbrio na direção do movimento, e Vênus é um leve
desequilíbrio na direção do repouso, considerando o Sol como a
manifestação mais centrada e equilibrada do celestial. O Sol é a
nobreza, Marte é o aspecto guerreiro dessa nobreza, e Vênus o
aspecto cortês.
no fim da vida, quem olhar para nós verá também um mapa dos
Céus. E este será muito parecido com nosso mapa natal. Por
exemplo, digamos que o Saturno de alguém que procedeu dessa
maneira estava em Touro. Então, o aspecto celestial representado por
esse signo aparecia na vida desse sujeito como uma ausência, como
uma intuição daquilo que não foi captado, como um “não é isso!” O
Sol nesse mesmo signo aparecia como um modo de presença, ou seja,
era onde podíamos ver a nobreza dessa pessoa, a sua correspondência
espontânea e imediata à inspiração celeste. E assim por diante.
Mas também podemos não fazer esse esforço. Podemos pensar que
não existe a beleza, a bondade e a verdade. Podemos achar que o
desejo de nos enobrecermos e de nos tornarmos seres humanos
melhores, assim como a esperança de nossa salvação, são coisas dos
antigos. Podemos acreditar que devemos mesmo é aproveitar a vida e
encher a barriga, e que devemos fazê-los de maneira científica,
obviamente, para que todas essas coisas sejam feita da maneira mais
eficaz possível! No entanto, nosso mapa natal, nesse caso, será
simplesmente a indicação de uma frustração e de como realmente
não fomos nada, porque esse mapa não é realmente nosso, mas é sim
o mapa dos Céus. Só houve uma coincidência de termos nascido
naquele momento.
Fig.1.
458
Fig. 2.
459
5
Nota do revisor: observar a figura dois para os tópicos subsequentes.
462
Devemos lembrar ainda que há uma metade solar e uma metade lunar
do zodíaco. Temos, por exemplo, um signo mercurino solar e um
signo mercurino lunar. E podemos perceber que o primeiro é um
Mercúrio no estilo do Sol, no estilo da presença, da medida objetiva
e da exaltação dos Céus, enquanto o segundo signo, que é Gêmeos,
é um Mercúrio no estilo da Lua, no estilo da intimidade, do que vem
de dentro e é afim às realidades celestes.
6
Nota do revisor: deve-se perceber o movimento de Capricórnio, que se volta para fora de acordo com o
simbolismo do Sol, e o movimento de Aquário, que se dá para dentro de acordo com o simbolismo da
Lua.
7
Nota do revisor: ver a figura dois.
465
Por isso, não se trata apenas de uma ausência. Mas tendo Saturno
num determinado signo, o sujeito experimenta a vivência daquela
dimensão celestial e diz: “Caramba! Isso aqui é melhor do que tudo.
Se eu viver só nisso, todos seus problemas acabaram!” Porém, ele
tenta uma coisa, tenta outra coisa e tenta outra ainda, mas nunca
consegue atingir esse objeto desejado.
As pessoas querem salvar suas almas, querem ser santas, querem ser
muito religiosas, mas não aprenderam a receber nem mesmo o
primeiro dom de Deus, que é a criação. E a criação em sua totalidade
é composta de Céus e Terra, e não somente a mesquinhez das
coisinhas terrestres. Estas são veículos acidentais da beleza, da
bondade e da verdade.
Por isso, em primeiro lugar temos que agradecer a Deus pela criação,
temos que perceber como tudo isso que o Senhor fez é muito bom. E
depois, temos que nos perguntar: como corresponder a iss o? As
pessoas querem ficar muito santas antes de se alimentarem da criação
de Deus por uma doideira que há na cabeça delas. Elas separam o
sobrenatural e o natural, e pensam que se ficarem apenas orando um
anjo lhes aparecerá e lhes falarão. Não, isso está errado. Quando
vemos a beleza de uma flor, quando vemos a bondade de alguém,
quando surge em nós a bondade e temos o desejo de fazer uma coisa
470
boa e a fazemos, isso são os Céus falando conosco. Temos que
reparar nessas coisas e escutar os Céus.