Controle Estrategico Dos Carrapatos Nos Bovinos
Controle Estrategico Dos Carrapatos Nos Bovinos
Controle Estrategico Dos Carrapatos Nos Bovinos
Controle estratégico
9 dos carrapatos nos
bovinos
Renato Andreotti
Marcos Valério Garcia
Wilson Werner Koller
Introdução
O controle do carrapato dos bovinos no Brasil tem como alvo apenas uma espécie de
carrapato, o carrapato-do-boi, Rhipicephalus (Boophilus) microplus, endêmica em pratica-
mente todo o território nacional. A cadeia produtiva de bovinos, pela importância de produzir
carne e leite em condições adequadas de consumo, com qualidade e segurança alimentar,
protegendo, o meio ambiente e buscando produtividade e competitividade no mercado,
tanto interno como externo, necessita realizar o controle do carrapato utilizando as melhores
informações técnicas para obter uma eficácia satisfatória, com base no viés econômico.
O carrapato-do-boi causa grandes prejuízos econômicos à cadeia produtiva de bo-
vinos no Brasil e o seu controle ainda é realizado predominantemente com acaricidas, e
apenas quando o gado se apresenta visualmente altamente infestado por esse ectopa-
rasita, já no final da fase parasitária. Neste momento, a maior parte dos danos já se torna
irreversível, mas, há um efeito desse tratamento quanto ao impacto positivo de redução
de infestações posteriores.
Este carrapato, por se alimentar de sangue, necessita obrigatoriamente passar uma
fase de sua vida no hospedeiro, preferencialmente os bovinos. As fêmeas são as princi-
pais consumidoras de sangue durante a fase de vida parasitária e representam a maior
parte do problema, causando espoliação nos animais por ingerir uma grande quantidade
de sangue (0,5 mL a 1,0 mL durante a sua vida). Esse valor, multiplicado pelo número de
parasitas sobre cada animal, permite estimar o total de sangue que o animal perde durante
cada infestação.
Além disso, durante a hematofagia, os carrapatos caso estiverem portando agentes
patogênicos, podem transmitir estes patógenos pela saliva, imunomodulando a resposta
124 Carrapatos na cadeia produtiva de bovinos
O uso de acaricidas, embora seja a principal, é apenas uma das ferramentas no pro-
cesso de controle. A ação baseada no conhecimento da biologia do parasita resultará em
um melhor controle, menor custo, retardamento no avanço da seleção para resistência e
menor impacto no ambiente pela redução da quantidade de acaricidas utilizada no con-
trole deste ectoparasita.
O carrapato sofre influência da temperatura e umidade no ambiente e isso determina a
produção de futuras gerações da sua população na pastagem. Tomando como exemplo o
Brasil Central, temos uma definição de dois períodos no ano determinados pela umidade
do ar: de abril a setembro o período de seca e outubro a março o período das águas.
Controle estratégico dos carrapatos nos bovinos Capítulo 9 125
Para cada produto a ser testado devem ser utilizados pelo menos dez carrapatos
grandes (fêmeas ingurgitadas), que serão mergulhados em cada produto já diluído,
além de outros dez carrapatos para mergulhar na água (que é o tratamento usado para
Controle estratégico dos carrapatos nos bovinos Capítulo 9 127
A b
4 - Segurança do operador.
Para aplicação da calda deve invariavelmente ser a favor do vento, para proteção
do aplicador, o qual, desde o início do preparo da solução deverá estar protegido com
macacão, óculos, botas, luvas e máscara, para evitar o contato com o produto químico.
Os acaricidas são tóxicos que atuam principalmente no sistema nervoso central, cau-
sando alergias, intoxicações, malformações de órgãos fetais e podem deflagrar o surgi-
mento de processos tumorais.
Geralmente, as pessoas que têm contato com parasiticidas são as mesmas na proprie-
dade e, como o fazem com frequência, são mais expostas aos riscos e tendem a diminuir
o cuidado no manuseio com dessas substâncias tóxicas.
130 Carrapatos na cadeia produtiva de bovinos
É importante que as pessoas que trabalhem com acaricidas sejam devidamente instru-
ídas, tanto sobre os perigos dessa tarefa, quanto sobre os cuidados para proteger-se ao
máximo. Além disso, devem ter conhecimento suficiente sobre os sintomas mais comuns
que sinalizam uma possibilidade de intoxicação e a necessidade de procurar imediata-
mente a assistência médica.
O processo do banho por aspersão inicia-se pelo preparo da solução para pulveriza-
ção com a quantidade de acaricida indicada pelo fabricante, a qual deve ser adicionada
a uma pequena quantidade de água (calda). Somente depois de a calda estar misturada
homogeneamente, adiciona-se o volume de água necessário para completar a quantidade
total da solução a ser preparada. A solução final também deve ser muito bem misturada
para se obter uma diluição homogênea.
A aplicação do acaricida por aspersão deve ser feita com o animal contido, um animal
por vez. O equipamento deve ser prático, o mais confortável que se dispõe, e capaz de
possibilitar um banho com pressão forte o suficiente para pulverizar a solução acaricida na
forma de uma nuvem de gotículas, para que cheguem até o couro do animal.
São diversos os equipamentos utilizados na aplicação de acaricida, tais como, o pulve-
rizador costal; a bomba de pistão manual; os vários tipos de adaptação de bombas d’água
elétricas e a câmara atomizadora. Como regra geral, a escolha do tipo de equipamento
a ser utilizado depende do tamanho do rebanho. Independentemente do tipo de equi-
pamento, o seu uso deve seguir as recomendações descritas, capazes de permitir uma
pulverização correta.
A câmara atomizadora, com seu túnel repleto de bicos aspersores é a maneira mais
prática e eficiente de aplicação de acaricida pelo método de aspersão em rebanhos mé-
dios ou grandes.
Produtos não recomendados para animais, como formulações caseiras feitas, entre
outros, com produtos destinados a pragas agrícolas, não devem jamais ser empregados.
Além de possibilitarem resultados insatisfatórios no controle do parasita, podem causar
sérias intoxicações nos animais e também severa contaminação ambiental.
Os períodos de carência de cada produto para posterior utilização do leite e carne
devem ser respeitados, para garantir segurança alimentar. Cuidado especial deve ser
tomado quando se for adquirir o produto a utilizar, pois existem no mercado diferentes
produtos com o mesmo nome comercial, os quais podem ou não ser aplicados em animais
em lactação, dependendo da forma de aplicação (por exemplo, “pour on” ou “injetáveis”).
Quando da aquisição de acaricidas, se houver orientação para a troca de base quí-
mica, é preciso uma verificação cuidadosa pois apenas trocar de nome comercial não
significa trocar a base química. Tal cuidado é necessário porque, para cada base química,
existe uma gama variada de marcas comerciais, e a resistência tem apenas a ver com as
bases químicas e suas associações e não com as diferentes formulações comerciais.