Eliana Aparecida Goncalez Albonette Frois
Eliana Aparecida Goncalez Albonette Frois
Eliana Aparecida Goncalez Albonette Frois
PUC/SP
SÃO PAULO
2009
Eliana Aparecida Gonçalez Albonette Frois
PUC/SP
SÃO PAULO
2009
São Paulo, _______/_______/_______
BANCA EXAMINADORA
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Eu sou a prova viva de que a aprendizagem ao longo da
saber que nada sei e que isso nos impolsiona para a busca
ELIANA FROIS
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar agradeço a Deus por mais esta jornada, por mais esta conquista. As
oportunidades me foram apresentadas e a elas me agarrei, e mesmo com dificuldades e
barreiras estou concretizando mais uma etapa da minha vida.
Para que minha trajetória fosse percorrida, pude contar com amigos especiais, compartilhar
experiências únicas e acreditar, ainda mais que, somos capazes.
Agradeço também à CAPES e CNPQ pela liberação da Bolsa de Estudo, imprescindível para
concretização deste doutorado.
Às professoras Maria Lúcia Carvalho da Silva, Maria Carmelita Yasbek, Maria Ester
Braga Faria, Myriam Veras Batista, Liduina Oliveira e Profa. Elza Koumrouyan, por
aceitarem o convite para comporem minha banca de defesa.
A presente tese tem como tema O processo de formação profissional do assistente social:
desafio permanente, cujo problema foi o de investigar a atuação docente nesse processo. Para
sua realização foi percorrida um trajetória investigativa sobre Serviço Social e a Educação.
Nesta tese procuro explorar os limites e possibilidades para que se formem assistentes sociais
críticos e éticos, destacando o papel docente no processo de formação, tomando por base o
Projeto ético político de profissão e o seu Código de Ética. Um dos principais pressupostos no
qual a pesquisa se apoia é o reconhecimento de que o assistente social enquanto docente do
curso de Serviço Social necessita de conhecimentos de natureza didática e pedagógica para
exercer essa prática, pois só o exercício profissional não o qualifica para isso. Para realização
da pesquisa buscou-se conhecer o processo de ensino aprendizagem dos alunos de graduação
de Serviço Social na sua concretude, compreendendo as determinações e as particularidades
deste processo. Para tanto buscou-se como universo de pesquisa o curso de Serviço Social da
Universidade Estadual de Londrina-PR. O objetivo de pesquisar a prática profissional docente
do professor do curso de graduação em Serviço Social da UEL/PR, foi alcançado
conhecendo-se ainda as requisições que são postas para estes profissionais, compreendendo os
determinantes e as peculiaridades deste tipo de atuação, detectando como tem ocorrido o
processo de ensino-aprendizagem dos alunos do curso de Serviço Social. Finalizando a tese,
são tecidas considerações recuperando os limites e principalmente as possibilidades contidas
na realidade concreta vivenciada no âmbito escolar, onde se dá a formação do assistente
social, destacando algumas propostas no sentido de colaborar com a categoria, direcionando
ações capazes de potencializar a formação do assistente social como um desafio permanente.
The current thesis has the social worker majoring process: a permanent challenge as a theme
whose aim was to scrutinize the academician acting in this procedure. In order to make it
happen, a investigative path has been ridden on Education and social service altogether. In
this theses I try to explore the limitations and possibilities as to critical and ethical social
workers are majored, highlighting academician role in the information process, taking into
account the ethical-political project and its ethical code as a craft as well. One of the major
promises in which the research has its heart on, is a acknowledgement that the social worker
as a social services majoring academician needs some knowledge from teaching to exercise
this practice, for only professional exercise doesn’t make them eligible for such. To perform
such research it was necessary to study a graphic learning process for the Social Services
graduates in its completion comprehending the ground rules and peculiarities of this process.
For such, it has been searched as a Universe of research the Universidade Estadual de
Londrina, PR, the social work majoring course. The aim of researching the academician
professional exercise in graduation level in social services from UEL/ PR, had been reaching
and yet, knowing the requirements which are made for those professionals, concerning the
determiners and peculiarities of this kind work detect as the teaching/learning process has
been happening to the Social services majoring undergraduates. In closing the thesis,
considerations are composed retrieving the limitations and mostly the possibilities held in the
concrete reality on the daily basis, in school vicinity, where soon-to-be social workers are
majored, highlighting some purposes in a sense of collaborating with such category. Directing
enabling actions to enhance the social worker majoring as a permanent challenge.
Key words: majoring, social worker, teaching and learning process and social ethical /
political project in social services.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 13
18
CAPÍTULO 1- PARÂMETROS EDUCACIONAIS PARA O SERVIÇO SOCIAL.. 18
1.1 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação .............................................................. 21
1.1.1 O Sistema de Ensino Superior....................................................................... 22
1.2 As Diretrizes para o Currículo de Serviço Social .................................................. 29
1.3 A Profissão de Serviço Social e os Entraves Atuais ............................................. 38
1.4 Do Projeto Pedagógico ao Projeto Educacional do Assistente Social .................. 38
1.4.1 O Projeto Pedagógico ...................................................................................
1.4.2 A Educação e a Formação do Assistente Social e a Consolidação do Projeto 56
Ético-Político do Serviço Social ................................................................... 73
1.4.3 O Processo Educacional ...............................................................................
85
CAPÍTULO 2 – COMPETÊNCIA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR .................... 90
2.1 Aprendizagem: mais que um conceito, um objetivo .............................................
2.2 As Competências e Habilidades do Professor para se Constituir como um Profis- 109
sional da Aprendizagem ........................................................................................ 117
2.3 A Didática .............................................................................................................
121
CAPÍTULO 3 – A CONSTRUÇÃO DA PESQUISA ............................................. 122
3.1 O Processo de Construção da Pesquisa ................................................................ 129
3.2 O Contexto e o Universo da Pesquisa .................................................................. 132
3.2.1 O Estado do Paraná .................................................................................... 132
3.2.2 A Cidade de Londrina-PR .......................................................................... 135
3.2.3 A Universidade de Londrina-PR – (UEL) .................................................. 148
3.2.4 O Curso de Serviço Social da UEL ............................................................ 159
3.3 Os Sujeitos da Pesquisa ........................................................................................ 160
3.3.1 Os Docentes ................................................................................................ 161
3.3.2 Os Alunos ...................................................................................................
TECENDO CONSIDERAÇÕES: limites e possibilidades no processo de formação do
assistente social .........................................................................................................
166
INTRODUÇÃO
Obtive êxito, e no mês de janeiro de 2005 estava eu, fazendo minha matrícula para
iniciar o doutorado também tão almejado e sonhado, que parecia ser inacreditável, que alguém
que saiu do interior, onde tudo parece impossível, que não tem teatro, não tem cinema,
conseguir chegar até aqui.
Também, em decorrência do mestrado, neste mesmo mês, janeiro de 2005, fui
convidada a ingressar na carreira docente na Universidade de Marília, onde conclui minha
graduação e especialização. Mais um sonho estava se realizando.
No dia 01 de Fevereiro de 2005 iniciei minha carreira de docente universitária, me
responsabilizando pela Disciplina de Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do
Serviço Social V, VI,VII E VIII; e pela OTCC (Orientação de Trabalho de Conclusão de
Curso).
No primeiro semestre minha carga horária foi de 8 horas, no segundo semestre de 12
horas, depois de 16 horas, no quarto semestre 18 horas, no quinto semestre 20 horas e assim
por diante. Com certeza, o ambiente de sala de aula, conciliado com a minha prática de
serviço social no Judiciário e o doutorado sempre tornaram as instâncias entre si ricas e
prazerosas.
Pelo fato de ser uma doutoranda e lecionar em uma universidade, passei a ser
convidada a ministrar cursos e palestras, sempre envolvendo temáticas ligadas à minha prática
profissional e docente, bem como à minha área de pesquisa do mestrado.
Só consegue definir ou expressar o real significado de estar, de participar e de ser
aluna do Programa de Estudos Pós-graduados em Serviço Social da PUC-SP, quem realmente
tem a possibilidade de fazê-lo.
Ser aluna deste programa proporciona uma clareza enorme do significado do nosso
Código de Ética, pois ali presenciamos lutas contra o preconceito, recebemos tratamento
igualitário, e o melhor de tudo, a maioria dos professores é portador de um valor humano
imensurável. Conseguem fazer com que passemos a acreditar mais em nós mesmos, nos
fazem sentirem seguros e capazes de enfrentar os desafios que a prática profissional e docente
nos impõe.
Além de tudo isso, estar neste programa e nesta universidade é maravilhoso! É banho
de saber e de conhecimento, e o melhor, muita atualização! A oportunidade de estar aqui é
única, por isso me agarrei a ela. Entendi ainda durante esse processo, que, na nossa profissão
tem lugar para todos, principalmente quando somos detentores de um conhecimento, e que
saber é poder, e só esse saber nos proporciona a autonomia.
15
Então, estando no doutorado e tendo como orientadora a Profa. Dra. Maria Lúcia
Martinelli, que percebeu minha paixão pela área acadêmica e pela docência, direcionamos
minhas buscas para essa área.
Assim sendo, depois de muitas orientações, leituras, pesquisas bibliográficas, a
presente tese fechou-se no tema O processo de formação profissional do assistente social:
desafio permanente.
Muito se tem discutido, recentemente, acerca da precarização na formação do
assistente social por conta do grande número de cursos que estão abrindo e, principalmente,
pelos cursos à distância, que estão se disseminando assustadoramente.
Nesta tese procuro explorar os limites e possibilidades para que se formem assistentes
sociais críticos e éticos, destacando o papel docente no processo de formação, tomando por
base o Projeto ético político de profissão e o seu código de ética.
Fundamentado na teoria crítica o Projeto Ético-Político e o Código de Ética foram
pensados e elaborados como um novo panorama de atuação, rompendo-se com o
conservadorismo. Vinculam a profissão para uma nova ordem societária, sem exploração,
dominação, à favor da equidade de da justiça social, consolidando a cidadania e garantindo os
direitos civis, políticos e sociais das classes trabalhadoras, bem como da participação política
e socialização da riqueza socialmente produzida.
E como bem lembra NETTO:
Embora esta tese tenha um capítulo específico para expor a pesquisa, vou tecer essa
teia narrativa juntamente com os sujeitos da pesqisa, utilizando suas valiosas contribuições,
no contexto dos capítulos, sendo necessário utilizar trechos longos de suas falas, mas que se
conectam perfeitamente com a teoria abordada, possibilitando uma maior compreensão.
Estou querendo falar para 750 mil pessoas, 750 mil jovens, que eu li, pelo
jornal O Globo, que fizeram parte de 1,5 milhão de pessoas desempregadas
que foram, Senador Wellington Salgado, às agências de trabalho e saíram de
lá sem emprego, apesar de que as vagas existiam. Havia 1,5 milhão, 720 mil
conseguiram o emprego e 750 mil vagas continuaram vagas, porque aqueles
que procuraram o trabalho não tinham condições de exercê-lo. Este é um
país onde existem vagas e desempregados, e os desempregados não casam
com as vagas por falta de qualificação. Quero falar para esses que hoje
procuram emprego, sabem que existem vagas e sabem que as vagas não
serão dadas a eles. E nem serão dadas a ninguém, porque no Brasil, hoje - e
essa matéria do jornal O Globo mostra -, não há pessoal qualificado para
preencher a demanda que nós temos. O título da matéria é: Sem fôlego para
crescer. Nós nos acostumamos a ver que o Brasil não cresce por falta de
porto, de estrada, de energia, o chamado "apagão de infra-estrutura" que o
Brasil vive. Mas esquecemos um apagão maior do que esse, e mais difícil de
resolver, porque leva anos para formar uma pessoa: é o apagão de
qualificação profissional. Essa matéria do jornal O Globo mostra empresas
que estão se preparando para ir embora porque aqui não vão ter mão-de-obra
preparada; mostra empresários que começam a desativar seus investimentos
19
por falta daqueles que querem, que precisam trabalhar e que não estão
preparados (Pronunciamento do Senador no Senado Federal em 6 de
novembro de 2007).
Percebe-se com essa fala de Buarque que a demanda é grande e as vagas são poucas,
porém, mesmo as vagas não sendo condizentes ao número de desempregados, as mesmas não
são preenchidas pela falta de qualificação dos candidatos. Essa qualificação vai desde a
escolaridade média até uma especialização em determinada área.
Quando se faz uma leitura minuciosa da LDB fica clara a finalidade de preparar o
aluno para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Algo extremamente
importante, porque o trabalho é fonte de vida e liberdade para o homem, proporcionando-lhe
autonomia e possibilidades de organizar e pensar sua própria vida.
Assim sendo, o Artigo 3º. dessa mesma lei estabelece os princípios da educação, sendo
eles:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o
pensamento, a arte e o saber;
III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas;
IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância;
V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
VII - valorização do profissional da educação escolar;
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da
legislação dos sistemas de ensino;
IX - garantia de padrão de qualidade;
X - valorização da experiência extra-escolar;
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.
dever de elaborar e executar sua proposta pedagógica, sendo responsabilidade dos docentes
sua participação na elaboração da referida proposta e seu plano de trabalho elaborado de
acordo com a mesma.
Assim sendo, cabe a todo estabelecimento de ensino elaborar seu projeto político-
pedagógico em relação ao ensino a que está se propondo, atendendo e respeitando as normas e
princípios legais.
a) Universidades
São instituições pluridisciplinares, públicas ou privadas, de formação de quadros
profissionais de nível superior, que desenvolvem atividades regulares de ensino, pesquisa e
extensão.
b) Universidades Especializadas
São instituições de educação superior, públicas ou privadas, especializadas em um
campo do saber como, por exemplo, Ciências da Saúde ou Ciências Sociais, nas quais são
desenvolvidas atividades de ensino e pesquisa e extensão, em áreas básicas e/ou aplicadas.
c) Centros Universitários
São instituições de educação superior, públicas ou privadas, pluricurriculares, que
devem oferecer ensino de excelência e oportunidades de qualificação ao corpo docente e
condições de trabalho à comunidade escolar.
Como o foco da pesquisa é o ensino superior, é óbvio que cada qual terá que ter um
projeto pedagógico próprio.
No caso do Serviço Social, além de respeitar a LDB, que busca formar cidadãos e
trabalhadores, tem-se que observar as Diretrizes Curriculares as quais devem orientar a
formulação do referido projeto direcionando a formação dos assistentes sociais. Porém, cabe
aqui historicizar o processo de conquista da Proposta de Diretrizes Curriculares para o Serviço
Social.
Essas Diretrizes foram estudadas e propostas pela ABEPSS.
gerais para o curso de Serviço Social. Foi quando a ABESS, enquanto órgão nacional
representante das IES no âmbito do Serviço Social, encaminhou a nova proposta curricular
para a apreciação do CNE e do MEC.
Como mostra o organograma abaixo, a ABEPSS é organizada da seguinte forma:
Essa concepção também está relacionada ao trabalho do próprio assistente social, pois
suas ações sugerem que o processo de trabalho do assistente social deve ser apreendido a
partir de um debate teórico-metodológico que permita a reflexão crítica do ideário
profissional e, conseqüentemente da inserção dos profissionais, recuperando o sujeito que
trabalha enquanto indivíduo social.
O objetivo central das diretrizes é a permanente (e contínua) construção (e revisão)
dos conteúdos (teóricos, éticos, políticos e culturais) que permitam uma intervenção
profissional na sociedade de forma dinâmica, flexível, assegurando uma formação de elevado
padrão.
Assim sendo, primeiramente deve-se recorrer ao Parecer 492/01 do CNE/CES
(Conselho Nacional de Educação/ Câmara Superior de Educação), que trata das Diretrizes
27
Curriculares Nacionais de alguns cursos de graduação, entre eles o curso de Serviço Social.
Portanto, este instrumento coloca como diretrizes do curso de Serviço Social os
seguintes requisitos: “1) Perfil dos formandos; 2) As competências e habilidades; 3)
Organização do curso; 4) Conteúdos Curriculares; Estágio Supervisionado e Trabalho de
Conclusão de Curso (TCC) e 6) Atividades complementares”.
Quanto ao perfil do formando, este será considerado apto ao exercício da profissão
quando estiver preparado para atuar nas expressões da Questão Social, enfrentando-as com
propostas de intervenção, levando os usuários do Serviço Social a exercerem a cidadania,
tanto na vida pessoal quanto profissional.
Exigem-se, ainda, competências e habilidades gerais as quais viabilizem a capacitação
teórico-metodológica e ético-política, preparando-o para o exercício das atividades técnico-
operativas, compreendendo o significado social e o desenvolvimento sócio-histórico da
profissão no Brasil e no cenário internacional, encontrando ações para cada realidade,
identificando demandas, formulando respostas de enfretamento da Questão Social, utilizando-
se de recursos da informática.
Quanto às competências e habilidades específicas, essas devem desenvolver a
capacidade de:
exercício profissional, sendo necessário que a supervisão seja feita por um professor
supervisor e por um profissional do campo, com base em planos de estágio elaborados em
conjunto pelas escolas e organizações que oferecem o estágio.
Como atividades complementares entendem-se todas as atividades de monitoria,
visitas monitoradas, iniciação científica, projetos de extensão, participação em seminários,
publicações e outras atividades definidas no plano acadêmico do curso.
Então, o curso de Serviço Social deve atender à LDB e às Diretrizes Curriculares,
significando que, além de formar cidadãos críticos e éticos e prepará-los para viver a
cidadania no seu sentido mais pleno, deve prepará-los para que estejam aptos a fazer valer o
direito à cidadania dos usuários que serão atendidos pelos mesmos. Isso sugere um
compromisso muito grande na formação destes profissionais.
Assim, como todo curso superior tem que ter seu projeto pedagógico específico,
projeto este que direciona a formação do aluno e o desempenho dos mais diversos papéis no
processo de formação, é óbvio que este plano deve estar coerente com as Diretrizes
Curriculares, uma vez que elas foram discutidas e aprovadas pela categoria e transformada em
Lei.
Dessa forma, o curso de Serviço Social, no processo de formação do aluno:
Então, essa lógica curricular deve ser proposta e pensada no projeto pedagógico do
curso, necessitando sempre de muita atenção e avaliação, pois a realidade é dinâmica e o
Serviço Social sofre mudanças constantes, vejamos a seguir.
O Serviço Social, como muitas profissões, tem passado por muitas transformações e
enfrentado lutas para seu fortalecimento.
Desde que foi instituído o Projeto Ético Político de Profissão (1993), a Lei de
Regulamentação da Profissão (1993) e as Diretrizes Curriculares (1996), pretendia-se a
formação de profissionais sérios e comprometidos com uma sociedade mais justa e igualitária,
tentando ainda unificar a categoria, entendendo, porém, que a total hegemonia era e é difícil.
Mesmo com todas essas ações implantadas e enfrentadas pelos órgãos representantes
da categoria, a precarização da profissão assola a categoria. Não bastasse o fato de que muitas
IES não têm um ensino de qualidade, o que prejudica a qualidade profissional, começa a
aumentar assustadoramente o número de cursos de Serviço Social à distância devido à
proposta de Reforma Universitária apresentada pelo governo Lula. O Decreto nº. 5.622, de 19
de dezembro de 2005, especifica a oferta de ensino à distância em todos os níveis. Tal fato
assusta a categoria e os seus órgãos representativos, pois isso significa uma maior
precarização e banalização da formação profissional.
Em artigo publicado na revista Serviço Social e Sociedade nº. 94, Boschetti traz dados
alarmantes quanto a esta realidade:
Os dados trazidos pela autora nos levam a perceber que a intenção do governo é
ampliar a oportunização ao ensino superior sem se preocupar com a qualificação profissional,
uma vez que só a titulação não a garante.
Boschetti (2008) entende que o que vem acontecendo é uma mudança no sentido de
universidade, pois a mesma deixa de ser vista como espaço de produção de pesquisa e
conhecimento e passa a ser uma “usina de produção e titulação”.
Até as universidades públicas federais têm oferecido cursos de graduação à distância,
porém não oferecem, ainda, cursos de Serviço Social.
31
A mesma autora chama a atenção para a possibilidade das IES públicas federais
abrirem cursos de Serviço Social presencial, pois assim ampliaria a possibilidade de os alunos
se interessarem mais pelo ensino presencial do que nos à distância, uma vez que não teriam
custos com mensalidades e garantiriam a qualidade.
Algo que não foi comentado pela autora, mas que é evidenciado, é que se isso
acontecesse, as vagas para a docência também se ampliariam, e por sua vez mais profissionais
buscariam a qualificação (mestrado e doutorado), principalmente àqueles que tivessem
interesse com a carreira docente, cabendo às IES a seleção dos docentes.
instituições a estruturar seus conteúdos a partir do exame como já vem ocorrendo com
ENADE, pode incentivar o desencadeamento de cursos preparatórios, jogando a culpa da não
aprovação nos profissionais, como se não houvesse a responsabilidade do Estado na ausência
de avaliação e acompanhamento das instituições de ensino.
Essa situação pode trazer prejuízos à profissão, pois pode ocorrer um número grande
de desempregados, rebaixamento dos salários que já são precários, e ocorrer a precarização na
contratação dos profissionais.
Outros justificam que o exame seria uma forma de qualificar a categoria, e que só
exerceria quem realmente tivesse tido uma formação de qualidade e tivesse os conhecimentos
necessários.
Rodrigues (2008) expõe que:
33
Seria uma simplificação do debate crer que estamos diante da escolha entre
duas alternativas absolutamente excludentes: ou advogamos a favor do
exame de proficiência no Serviço Social e damos as costas para os princípios
e tradições que conformam o projeto ético político, ou refutamos
peremptoriamente o dito exame e damos continuidade e aprofundamento à
agenda política e às formas de luta que nossas entidades têm sustentado nos
últimos 29 anos.
Colocar as coisas nestes termos é plantar um falso dualismo que, mesmo
ilusório, porque distorce a realidade, arrisca a minar a unidade da luta pela
defesa do nosso projeto profissional. (...) Além de apostar na possibilidade
que o exame pode ter de adensar as lutas de defesa do projeto ético-político,
creio que é perfeitamente possível construí-lo em nossa profissão em moldes
diferentes dos vigentes em outras categorias. Estou convencida de que os
assistentes sociais dispõem de imaginação e maturidade suficientes para
elaborar um exame de proficiência radicalmente distinto de uma avaliação
tecnicista e instrumental capaz de atestar apenas a competência técnica de
egressos dos cursos de graduação. (...) Não podemos esquecer a trajetória do
Serviço Social brasileiro (...), não podemos desconsiderar a particularidade
das nossas entidades, em especial do conjunto CFESS/CRESS
(RODRIGUES, 2008, p. 32).
A autora explicita que o Serviço Social já possui muitos meios disciplinadores que
regulam a profissão, como exemplo, a Lei de Regulamentação, o Código de Ética, que
impedem a atuação do assistente social sem o devido registro, regulamenta o estágio,
suspende o registro profissional. Então o exame seria mais um meio de disciplinar a profissão.
Para ela,
(...) o exame de proficiência está sendo proposto ao Serviço Social não como
um desvio de rota na defesa do projeto ético-político, mas como uma
estratégia defensiva, legítima e à altura dos desafios que temos pela frente.
Estratégia protetiva de projeto profissional que deve ser concebida e
empreendida como um dos ingredientes de uma política mais ampla de
preservação da auto-imagem que o Serviço Social brasileiro conseguiu
construir nos últimos 29 anos e que está sob uma grave ameaça na
conjuntura atual (Rodrigues, 2008, p. 36).
O CFESS, após o Encontro Nacional, dando continuidade às lutas pela categoria, cria
o documento Parâmetros para a Atuação dos Assistentes Sociais na Saúde, elaborado em
Brasília, em março de 2009. Este documento foi repassado para toda a categoria via e-mail, e
muitos Cress montaram grupos de estudos para o estudarem.
O mesmo servirá de referência para os profissionais que trabalham ou pretendem
trabalhar na área específica, ou para socialização do trabalho na área.
Na data de 25 de agosto de 2009, a ABEPSS repassou um e-mail para os seus
representantes cujo conteúdo tratava da portaria do governo federal descredenciando a
UNITINS, um dos maiores pólos de ensino à distância, tendo a mesma que fechar os cursos
de Serviço Social e de outras áreas.
38
Deste currículo, este atual, na época que ele estava sendo construído, eu
estava no doutorado, eu estava em licença. Mas eu vi, participei de reuniões.
A construção dele demonstra a dificuldade da participação, porque(...), eu
tenho algumas reservas, todo mundo conhece, mas independente disso, ele
foi construído verdadeiramente por um pequeno grupo que naquele momento
estava mais comprometido, mais interessado, enfim, mais envolvido com a
necessidade de fazer mudanças no anterior. Eu acho que nesse caso para esse
grupo motivou muito a recusa, a palavra não é recusa, mas o questionamento
ao eixo anterior, que é a história, teoria e método, então, as pessoas que não
concordavam com isso, com a centralidade das disciplinas, em particular no
eixo de fundamentos: história, teoria e método, se envolveram mais que
outras, de modo que as pessoas que estavam naquele momento, a Jô
acompanhou de perto, o corpo docente naquele momento não participou
verdadeiramente (SANDRA).
Evidencia-se aqui que o assunto teórico debatido é comprovado na prática com a fala
dos sujeitos, pois o ideal é a participação, e cada instituição deve encontrar a melhor forma de
fazer isso acontecer, e no caso específico da UEL eles encontraram uma maneira onde
docentes e discentes tem a oportunidade de contribuirem e proporem.
Pinto destaca, ainda, que:
Esse é o grande desafio. Será que todos estão disponíveis e abertos a aprender a pensar
diferente para um fazer coerente?
Os sujeitos da pesquisa, durante o grupo, fizeram a seguinte discussão em relação a
esse ponto:
(...) você pegar todas as nossas reformas, a historia das nossas reformas
curriculares, todas elas tiveram um tipo de participação diferente, estratégias
diferentes de participação, mas a idéia sempre foi que elas fossem
participativas, o que não significa concretamente que 100%, seria o ideal.
Mas o ideal a gente nunca atinge, que as pessoas tivessem envolvidas de
verdade. Quando a e pessoa não está envolvida de verdade, acontecem
situações, que a gente vivenciou muito, na sua época inclusive Jô, como
coordenadora de colegiado, a pessoa pega uma disciplina, que tem um
ementa, ela até constrói o programa que deveria ser (SANDRA).
Porque tem que passar pela aprovação do colegiado, mas em sala de aula ele
dá outra coisa, o que der, o que queira dar(...)Mas isso é mais quando a
pessoa não incorpora o espírito da coisa. Hoje eu acho que a gente vive
muito menos isso, pelo menos é a minha imagem. Mas antigamente as
pessoas não incorporavam a proposta da disciplina, não incorporavam as
mudanças, as inovações que o currículo tinha trazido, então punham no
papel, mas no dia a dia continuava fazendo: Movimentos Sociais continuou
sendo Desenvolvimento de Comunidade, Fundamentos Históricos Teóricos e
Metodológicos continuou sendo História, Oficina continuava sendo a
Prática. A pessoa tinha a dificuldade e resistência de mudar, e incorporar as
inovações. Eu acho que é mais sério do que... (SANDRA).
Nós temos hoje, elementos, olhando o material que a gente tem no colegiado
das EDS, das pesquisas, nós temos elementos muito interessantes pra pensar
a reforma curricular, a gente tem tudo esquematizado e quem participou das
reuniões, quem vem participando do processo, já está construindo novo
projeto político pedagógico, agora é uma diferença enorme, eu agora e eu
quando entrei. (OLEGNA).
(...) eu estava me referindo a uma coisa mais séria que isso, por exemplo, no
currículo anterior nós tínhamos a tal disciplina de metodologia I e II. Essa
disciplina foi pensada, pra fazer naquela época, os 3 grandes métodos. O que
acontecia com a disciplina de metodologia, a pessoa não concordava do
ponto de vista teórico, de concepção, de ideologia, não concordava com a
necessidade, com a importância de você trabalhar os grandes métodos, então
a pessoa ia pra sala de aula, tinha a ementa, não cumpria a ementa, e ao invés
de discutir isso ia discutir qualquer outra coisa, família, qualquer outra coisa
(SANDRA).
Com esse diálogo percebe-se que a participação coletiva pode ocorrer, mas um outro
problema é conseguir adesão do coletivo institucional nas mudanças necessárias, e que os
docentes assumam o novo, respeitando uma decisão coletiva, decisão da categoria
profissional. E de acordo com a professora Jolinda e a professora Sandra, hoje a participação
dos alunos também tem deixado a desejar, e que a mesma já não acontece como na época em
que ambas estavam na graduação. Sobre isso destaca-se:
Agora eu acho que a participação dos estudantes a cada tempo está pior. Eu
como estudante da UEL que fui, eu me lembro, tenho até fotografia
participando de discussão de currículo como estudante, a gente brigava
naquela época por paridade, nós queríamos paridade com os professores do
curso, e hoje eles tem as vagas, eles não se organizam, tem alguns que sim,
mas eles têm um espaço e não vão participar (JOLINDA).
Eu acho que nós vivemos hoje, e isso é uma coisa que me preocupa muito, a
formação profissional muito vinculada com uma perspectiva
neoconservadora e pragmática. Acho que nós temos hoje, na formação
profissional, uma preocupação com a competência, e é legal que tenha. Mas
não competência vinculada a esse projeto, mas a gente está correndo o risco
de ter uma competência pragmática, neoconservadora, tecnicista, eu vejo
isso porque o mercado exige essa habilidade, exige essa competência, esse
trânsito entre essa competência e uma direção ética e política, eu acho que a
gente está bem longe disso(...) mas o neoconservadorismo ou o
conservadorismo nos ronda cotidianamente (OLEGNA).
Porque eles entram achando que as coisas vão mudar, vêem que as coisas
não são bem assim, se frustram, e também, pensam que vão acabar com o
capitalismo, e de repente vê que não vai acabar, tem que aprender a viver
nesse capitalismo. Eu fico muito brava(...) Faça a crítica, faça, é profissional.
Só que as pessoas precisam (...), que nós vivemos numa sociedade
capitalista, e em cima disso é que tem que achar estratégias, pois, ao invés de
ficar só criticando não ‘tá’ fazendo nada, a profissão não vai avançar, não vai
consolidar, não vai ter o reconhecimento que a gente gostaria que tivesse,
porque a gente fica só criticando. Nós temos que entender o contexto
contraditório e buscar alternativas. Existe uma população, uma sociedade
que depende da nossa atuação, nós temos um papel fundamental e o que a
gente tem que fazer, conquistar esse espaço. (ELIANE)
Com essa afirmação entende-se que a educação como prática mediadora dependerá
muito de uma série de fatores que estão a ela relacionados, como exemplo, a instituição de
ensino, as propostas e projeto pedagógico, o educador. Portanto o educador deve estar em
constante aprimoramento e aprendizado, para que a mediação não seja apenas instrumento de
46
Analisando esse perfil proposto pelas Diretrizes Curriculares surgem mais indagações,
ou seja, como garantir essa capacidade de promover os exercícios plenos de cidadania e a
inserção criativa e propositiva dos usuários? Como alcançar isso? O que é necessário? Por ser
uma profissão interventiva, não deveria ser exigido dos docentes a prática profissional
enquanto assistente social?
Para a professora Olegna, um dos sujeitos da pesquisa
(...) As duas questões pra mim envolvem a legislação, a legislação que hoje
estabelece as competências e atividades privativas do Assistente Social, que
é a nossa lei de regulamentação, das 2 formas ela deixa muito claro: 1) que
tendo o titulo de graduação do Serviço Social é possível ser professor da
universidade, não é exigido do professor, em princípio, a não ser que seja
exigência do concurso publico que ele tenha pratica profissional, em
principio não, tendo graduação e sendo credenciado, cadastrado no CRESS
ele pode ser docente. (...) embora ele possa, por força de lei, ser docente,
faltam-lhe elementos de vivência da prática profissional cotidiana do
Assistente Social para que ele dê conta das questões que a profissão exige.
Partindo do princípio que a nossa profissão tem natureza interventiva, ela é
uma profissão de natureza interventiva, houve toda uma discussão histórica,
se a gente fazia ou não ciência, se o Serviço Social produz ou não
conhecimento, chega se ao final, depois da reconceituação, que a gente
produz conhecimento sim, mas não é uma ciência, e que, portanto, é uma
profissão que tem natureza interventiva. Ora, se ela tem natureza
48
interventiva, você ter apenas a graduação, isso não lhe prepara, não lhe
qualifica totalmente(...) mas eu acho que faltam elementos. Eu acho que
seria necessário o docente ter a prática profissional. A outra questão, a
prática docente é caracterizada como uma pratica profissional? Para mim,
essa é uma questão muito polêmica, para mim não. A prática docente é uma
pratica docente, uma pratica pedagógica por natureza. Nós somos filiados
aos sindicatos dos professores, e aquilo que a gente exerce no cotidiano com
os nossos alunos, que é para quem a gente direciona nossa pratica docente,
não significa necessariamente a pratica profissional do Assistente Social
(JOLINDA).
A professora Jolinda faz uma reflexão durante a discussão em grupo sobre a docência
em Serviço Social, elencando aspectos legais e práticos importantíssimos.
Portanto, entende-se que a formação do assistente social deve ocorrer:
Então tudo isso deve ser pensado antes da elaboração do projeto político-pedagógico,
que, segundo Veiga (1998), deve-se levar em conta a estrutura organizacional da escola,
geralmente dividindo-se em dois tipos básicos: a estrutura administrativa e a estrutura
pedagógica. A análise da estrutura organizacional da escola vai identificar quais estruturas são
valorizadas e por quem, verificando as relações funcionais entre elas. É preciso ficar claro que
a escola é uma organização orientada por finalidades, controlada e permeada pelas questões
do poder.
É importante saber como, quando e até onde vai a autonomia e liberdade de cada
membro participante do projeto político-pedagógico, levando-se em conta as questões
hierárquicas de poder, os limites, os conflitos, as fragilidades, as possibilidades e a realidade.
Conhecendo, portanto, todos estes aspectos, é necessário constar do PPP os conteúdos
curriculares.
Neste caso em debate, o curso de Serviço Social necessita de um currículo que
possibilite a formação do profissional que se almeja colocar no mercado de trabalho.
Esse é o indivíduo que se deve formar. Esses são os pressupostos da educação básica.
Portanto, em relação ao aluno de Serviço Social, tem-se que pensar no reforço da formação
deste cidadão e na sua formação profissional, ou seja, formar um cidadão assistente social,
que conheça, vivencie e lute por processos de cidadania. É preciso se formar um cidadão
profissional com princípios de cidadania. E, ainda, capazes, críticos, competentes nas funções
que vier a exercer. Então nesse PPP implica uma busca por um projeto societário e um projeto
de profissão.
A organização escolar requer a construção de um projeto pedagógico que, elaborado
coletivamente, possibilite à escola cumprir sua função de instância socializadora do saber.
Partindo dessa perspectiva a responsabilidade dos profissionais da escola (professores ou
não) na tomada de decisões nortearão o projeto pedagógico. O acesso, a permanência e o
sucesso dos alunos, assim como o fracasso ou a exclusão escolar, podem ser resultantes,
dentre outros fatores, da direção tomada no processo de construção do projeto pedagógico.
Por isso, na fase de elaboração do PPP deve-se ter em mente um ponto básico, o
tempo. Tempo que se move, tempo que torna muitas coisas possíveis e outras impossíveis.
50
Em relação ao PPP, o tempo escolar é fundamental, pois dele dependerá a execução desse
projeto. Ou seja, o calendário escolar irá direcionar a realização e o seu cumprimento, bem
como marcar e delimitar o início e o fim das tarefas escolares.
Isso significa que se deve tomar cuidado com sucessivos períodos breves dedicados às
disciplinas muito diferentes entre si, sem que haja uma seqüência lógica entre elas, sem que
haja tempo de discussão, de troca, de diálogo que possibilite o crescimento conduzindo o
aluno a uma busca continuada pelo conhecimento, extensivo ao espaço escolar.
Quanto a esse tempo, o mesmo deve garantir espaço para alterar a qualidade do
trabalho pedagógico estabelecendo períodos de estudo e reflexão docentes.
É preciso tempo para:
• que os docentes aprofundem seu conhecimento sobre os alunos e sobre o que estão
aprendendo;
• acompanhar e avaliar o PPP em ação;
• os estudantes organizarem e criarem seus espaços para além da sala de aula.
A fala de um dos sujeitos da pesquisa, a aluna Michele, durante a entrevista,
demonstra a importância da afirmação da autora quanto ao último item:
(...) pra mim o que contribuiu mais foi eu entrar no projeto de pesquisa com
a Olegna, que ela discute o projeto ético político, eu acho que isso contribuiu
mais pra eu ter o conhecimento. (...) porque só a disciplina é o básico, e eu
sinto que é muito complexo, tem umas discussões muito complexas que eu
nem sabia, entrando no projeto da Olegna que eu fui saber, eu fui conhecer o
LESSA, eu fui ler as discussões que ele faz, que ele é até contra algumas
coisas, eu fui me aprofundando nessa discussão. (AFRÂNIA).
Ainda, ao se organizar o PPP tem-se que buscar qual concepção de educação deve ser
apropriada, pois para Paulo Freire:
Assim sendo, de processo educacional pode-se chamar todo o movimento que ocorre
para que a educação se efetive e se consolide em sua totalidade. Como bem entende a aluna
Afrânnia:
Acho que foram poucas as vezes que as professoras proporcionaram
discussões na sala. Mas eu sinto, que quando você fala, você expõe seu
conhecimento, você sente(...) que você aprendeu, mas as vezes você lê, mas
quando a professora pergunta, você não consegue explicar(...) acho que esse
método de falar, da discussão, eu acho que contribui, mesmo o seminário
também, eu acho que...
em dúvida as lições que ensina. Para isso, é preciso que ambos (educador e
educando) aprendam e ensinem lições que nos ajudem a viver, a
compreender a realidade, a transformar o mundo e contribuir para a
construção de uma nova história.
O processo educacional, entendido sob esta ótica, direciona a conquista dos objetivos
propostos no PPP de cada curso e de cada Instituição Educacional. Como destaca
Pimentel(2006), a universidade que não se deseja é aquela que é meramente uma reprodutora
de conceitos; que não estimula o ensino crítico, e sim, uma absorção do maior número de
informações; que é alheia à sua realidade; o professor aparece como o dono da verdade, e o
que há é uma imposição de conhecimento. Ainda segundo ele, uma universidade sem pesquisa
não deve, rigorosamente, ser chamada de universidade. Já a universidade que queremos, seria
aquela em que as pessoas estão abertas à reflexão; onde os conhecimentos são
horizontalizados e avaliados, e não simplesmente deglutidos; que é eminentemente crítica;
que possua sujeitos comprometidos com a soberania do país; que luta por espaços de
liberdade.
Por alcançar esse objetivo, há necessidade de que todos os envolvidos no processo de
ensino-aprendizagem sejam partícipes na elaboração do Projeto Pedagógico da sua IES.
No caso do Serviço Social, além dos elementos já citados, as Diretrizes Curriculares
indicam algumas matérias básicas a serem ministradas aos alunos durante a formação na
graduação.
a) garantir carga horária mínima de 2.700 horas com duração média do curso
de 4 anos, conforme o parecer 462/82 do CFE/MEC; b) garantir maior carga
horária nas disciplinas de Serviço Social; c) Cursos diurno e noturno com o
mesmo padrão de qualidade; d) até 5% da carga horária total dos currículos
plenos deve ser destinada a atividades complementares podendo incluir
monitoria, iniciação científica, pesquisa, extensão, seminários e outras
atividades definidas no plano acadêmico do curso; e) estágio supervisionado
constitui-se como momento privilegiado de aprendizado teórico-prático do
trabalho profissional tendo como carga horária mínima de 15% da carga
horária mínima do curso (2.700 horas) (p. 72).
Cabe aqui uma reflexão sobre o TCC e o estágio, levantados na pesquisa de campo:
Tem aluno que vai pro campo de estágio, tem uma aluna, ela foi pro campo
de estágio e voltou falando, professora, eu vou às casas e as pessoas falam -
olha dona eu sou daqui, eu moro aqui, mas eu não sou daqui – eu sou de
outro lugar – eu moro aqui, mas eu não sou daqui. Então uma questão muito
simples como essa a aluna percebeu a seguinte questão – o que leva o cara a
não se sentir pertencente àquele espaço e como é duro viver sem se sentir
pertencente ao dom do espaço. Mas como que você viu isso, perguntei pra
ela. Não professora, eu estava lembrando do que você disse na aula, do
exemplo que você deu do brejo e da cruz, e eles não se lembram mais que
eles eram crianças e que comiam luz, e aí, eu fiquei pensando, será que eles
se lembram do lugar de origem ou não, que lugar é esse, como que ele vai
construir um projeto de vida se ele não tem nem noção de espaço
(OLEGNA).
(...) o TCC sempre foi um momento muito traumático. Então a gente criou
uma atividade, que agora o ano passado se tornou oficialmente uma
disciplina, que é o seguinte, no primeiro mês enquanto o coordenador de
TCC está coletando as informações, e fazendo a distribuição, e o aluno ainda
não tem um orientador definitivo, a gente vai para a sala de aula, resgata
alguns conteúdos de pesquisa, em particular a questão da metodologia e do
projeto de pesquisa do TCC, tentando desmistificar um pouco aquele dragão,
e passa um mês ajudando eles a definir as grandes coisas do projeto do TC:
objeto, problema e objetivo. E depois, no segundo semestre, a gente volta
pra fazer um seminário de TCC, que tem três objetivos, o de socializar na
turma os TCCs que já se encaminharam, preparar o aluno para a banca,
porque ele tem um momento de apresentação e depois o momento em que a
turma e os professores que estão na sala, fazem contribuições para ele, então
já faz esse treino, vamos dizer (SANDRA).
A educação escolar, como consta da LDB, deve preparar seu aluno para ser um
trabalhador e para viver em sociedade.
Apesar de a educação não ser a única fonte de transformação radical da sociedade, mas
com certeza ocupa um papel importantíssimo no processo de transformação social.
Isso significa dizer que existem outros limites concretos refletidos pelas condições
sociais, econômicas, políticas, “enfim, limites infra-estruturais da própria sociedade: saúde,
moradia, alimentação, transporte, trabalho precoce das crianças, violência etc.” (VALE, 2001,
p. 67).
Esses fatores interferem na educação e ferem o homem na sua dignidade, porque o
mesmo vive um processo amplo de vulnerabilidade.
Frente a essa situação, cabe ao educador refletir sobre o tipo de educação que ele
deseja construir para formar cidadãos preparados para enfrentar a vida em sociedade. Quando
alcança isso, consegue interferir no campo social e educacional, demandando
comprometimento político, coragem e ousadia.
A finalidade principal da educação é o de preparar o aluno para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Além dos princípios educacionais que norteiam a LDB, a mesma coloca algumas
finalidades direcionadas à Educação Superior, as quais devem ser trabalhadas durante o
processo educacional:
Visando a preparação para que o aluno exerça sua cidadania, ou seja, visando a
construção de uma melhor sociedade, portanto, a Educação e suas finalidades vinculam-se
referidas a um projeto societário.
Os projetos societários são projetos coletivos; mas seu traço peculiar reside
no fato de se constituírem projetos macroscópicos, como propostas para o
conjunto de sociedade. Só eles apresentam esta característica - os outros
projetos coletivos, como os projetos profissionais, não têm esse nível de
amplitude e inclusividade (NETTO, 2007, p. 142-143).
Dessa forma, compreende-se através de Netto, que projeto societário significa que a
sociedade, como um todo, deve lutar para construção de uma sociedade pautada em objetivos
sólidos e humanitários. Ou seja, é a partir da sociedade que se almeja que se propõem ações a
serem executadas para sua implantação.
Sobre isso, Braz (2004) esclarece que quando se fala em projeto, é importante que se
saiba que se trata de um plano de ação para realização de um ato. É a antecipação ideal da
finalidade que se quer alcançar, com objetivos e concretização de metas.
Um projeto, de acordo com Neto (2000), pode ser individual, coletivo ou societário,
ou seja, ele pode ser desenvolvido por uma pessoa, uma categoria ou um país.
O projeto societário, por sua vez, é aquele que apresenta a imagem de uma sociedade a
ser construída; uma sociedade ideal que se pretende alcançar, construir. Para que sua
construção seja viável, é preciso que haja adesão de grande parte da sociedade aos valores e
meios propostos pelo projeto, para que ele seja hegemônico. No Brasil o Projeto Societário
vigente é o neoliberalismo.
Segundo Braz (2004), o Projeto ético-político é um conjunto de valores e concepções
ético-políticas onde setores significativos da categoria dos assistentes sociais se expressam
tornando-o representativo e por vezes hegemônico. Vale citar que ele tem um núcleo e o
58
Serviço Social, onde ela vai em Gramsci, ela não toca na propriedade
privada, ninguém toca, Faleiros, Marilda, então todo mundo fala da critica a
sociedade burguesa, de uma outra perspectiva, mas ninguém põe a mão na
idolatrada propriedade privada, então...(OLEGNA).
Mas eu concordo, eu acho que é isso mesmo, porque na verdade nós não
estamos aqui para questionar a propriedade privada, entendeu, não é isso...
(JOLINDA).
Não, então como que a gente fala de uma perspectiva crítica (OLEGNA).
O código de ética tem complicações, tem incoerências internas, ele joga para
um ideário que é complicado para as pessoas, para os reles mortais, entender
o que é a ontologia do Serviço Social, por quê? Porque ele faz um
distanciamento, ele ainda é uma expressão do que a gente viveu nas décadas
anteriores, de uma dicotomia da academia e o resto, e quem tá, entre aspas,
na prática. Isso que você tá colocando Jô, tem a ver com isso no seguinte
sentido, o que eu acho que é complicado é que essa formação, vinda de um
ponto de vista mais crítico, dessa forma que a Olegna tá falando, é muito
complicado para o aluno durante a formação profissional introjetar e
compartilhar, porque essa formação profissional tem fragilidades, mas acima
de tudo, ele tem uma pressão do que a gente vive. Essa pressão não está
neles, essa pressão está em nós, quando um de nós se diz crítico, mas na
hora, no dia a dia, da gente enquanto individuo, nós estamos reproduzindo,
estamos agindo e reproduzindo o ideário.Ideais conservadores, porque que a
gente não tem como fazer, de ser de outro modo, porque é nesse mundo que
a gente vive. Então eu entendo que o X da questão é outro. Como é que a
formação profissional pode reforçar ou trabalhar essa idéia do código de
ética, porque para ele entender a estrutura, ele não precisa entender todo o
código de ética, ele precisa entender que perspectiva teórica é essa que esse
código está pregando e assimilar essa perspectiva, e ai você tem um
programa muito sério, que é o eixo História, Teoria e Método. (SANDRA)
Ensinar! (OLEGNA)
Não, mas não é bem isso que eu falei Sandra, não é por ai. É a inserção dele,
ele tem uma inserção pela via do assalariamento, então o que eu estava
discutindo é um pouco mais atrás disso, não necessariamente que ele vá
fazer a opção por, brigar pelos princípios, não, não é isso. Eu estou dizendo
que existe uma questão complicada que está entre as duas formas de você
considerar ou conceber ou ver a profissão, uma você vê, você pode ditar as
normas, as regras e dizer é isso que nós vamos fazer, e outra que está
limitada pelas condições de trabalho do Assistente Social (JOLINDA)
Vai. (SADRA)
Eu não consigo ver o método tão instrumental assim, inclusive tem que
aparecer aqui que método é esse. Nós sabemos, mas, ‘né’. (ANDREA)
Vai querer dizer que ele vai garantir que aquele profissional tenha uma ação
mais... (ANDREA)
Sandra uma vez o Zé Paulo me disse uma coisa, já lá pelas tantas, acho que
numa, um dia assim, não lembro exatamente em que circunstancias, mas que
me fez pensar muito, ele disse assim: “Olegna, cuidado, não fique sonhando,
não existe a possibilidade de um Serviço Social Marxista como você sonha”.
62
(OLEGNA)
Eu sei que não foi disso. Mas eu acho que esse é um parâmetro, se a gente
pensar essa questão também, que uma coisa é a gente conseguir formar,
como a Andréa coloca, dentro de uma perspectiva crítica, ponto. (OLEGNA)
Que envolve método, mas envolve muito mais que o método Sandra, não é
só o método. (OLEGNA)
(...) O compromisso com cidadania, com igualdade, você não esta fazendo
nada além do que garantir o direito do sujeito, quando você vai
instrumentalizá-lo para que ele tenha acesso aos direitos que são
constitucionais. (JOLINDA)
O diálogo dos sujeitos no grupo focal, apresentada acima, foi longa mas rica,
contribuindo com o assunto pesquisado teóricamente.
As bases que contornam o Projeto Ético-Político podem ser situadas em três
dimensões: a dimensão teórica, jurídica e político-organizativa.
O aspecto político desse projeto posiciona-se em favor da equidade e justiça social; a
universalização do acesso de bens e serviços relativos a políticas sociais; ampliação e
consolidação da cidadania como condição para a garantia de direitos civis, políticos e sociais
das classes trabalhadoras.
Existe um grande antagonismo entre o Projeto Político do Serviço Social e o Projeto
Societário vigente no Brasil, pois o projeto de profissão é que se lute em prol do alcance da
igualdade, direito a ter direitos iguais a qualquer coisa. Então aqui entram os direitos
humanos, direitos de ter uma boa moradia, trabalho e salário digno e justo, suficiente para
sustentar a família, a ter uma vida digna e de qualidade. Mas, o neoliberalismo, fato
confirmado pelas políticas dos governos, onde o projeto neoliberal promove a liquidação dos
direitos sociais, a privatização do Estado, a desnacionalização da economia, o desemprego, a
desproteção social e a centralização de riquezas, ou seja, formou-se um ambiente político-
econômico favorável ao capital financeiro, concentrando a riqueza nas mãos dos capitalistas
rentistas levou a um aprisionamento do Estado brasileiro pelo capital financeiro.
Mesmo com a troca de governos (FHC para LULA), continua-se a presenciar o
63
ética profissional.
No caso do Serviço Social tem-se buscado com os códigos de éticas a intenção de
ruptura, buscando uma ação libertária e restauradora.
A professora Olegna, que leciona a disciplina de Ética na UEL, descreve o programa
da disciplina:
Dentro do meu programa eu trabalho com a noção do sujeito ético, a relação
entre esse sujeito e a vida da cidade, e aí eu faço um mapeamento, primeiro
histórico de como se vê esse sujeito nessa cidade a partir do ethos, como é
que nasce o ethos numa determinada cidade, como isso é pensado, como isso
é refletido e como é que isso existe. Então eu vou da Grécia até o Séc.
VXIII. Claro eu pego só algumas expoentes, mas eu faço esse caminho.
Então eu vou Sócrates, Platão e Aristóteles, aí eu pego uma das perspectivas
subjetivistas que acontece quando Aristóteles morre, que é historicismo,
epicurismo, fectismo, pego só o historicismo, que eu penso que é uma coisa
de conformar-se com pré-destinação, uma coisa muito presente, então eu
trabalho isso. Depois eu falo sobre a ética cristã, a noção do sujeito com
Deus e depois Deus para cidade, da interioridade da ética cristã e aí a
desconstrução dessa interioridade no Renascimento até chegar o Séc. XVIII
e aí o Capitalismo, Niilismo, a noção de homem, sujeito, de conquista e a
centralidade da ética passa a ser a liberdade. Então eu faço todo esse
caminho no primeiro semestre. No segundo a gente dá centralidade da ética
na liberdade, no sujeito, aí eu entro com a crítica marxista, código de ética,
aí a gente passa todos os códigos de ética vinculando esses códigos aos
conteúdos do primeiro bimestre.O primeiro código de 48, centrado no bem e
no mal, idealista, cristão. Aí eu retomo o conteúdo anterior, e vou indo
assim, pegando os códigos e fazendo uma analogia. (OLEGNA)
Assim todo esse contexto de renovação teve seu rebatimento naquilo que
está chamando de uma nova moral profissional e de uma nova ética no
interior do serviço social, a qual aponta para o compromisso com as classes
trabalhadoras, tendo aí, então, dois sujeitos fundamentais: de um lado as
unidades de ensino, de outro, as entidades da categoria (Silva, 2004, p. 142).
O Código de Ética de 1986 torna o Assistente Social, além de executor das políticas
sociais, mais participante dos espaços de decisão das instituições. Além disso, a partir dele, o
usuário ganha a possibilidade de denunciar a prática profissional quando a mesma contraria o
Código de Ética.
Mesmo com essas conquistas, esse Código ainda precisava ser reformulado,
principalmente, porque no processo de formação do assistente social, a ética, enquanto
disciplina, ocupava um lugar secundário no currículo escolar, porque como sendo obrigatória
dentro do currículo mínimo, ela passa a ser oferecida com descaso, vista como menos
importante, e a assumiam professores despreparados. A ética não se reduz ao Código,
expresso em cláusulas e artigos, mas está sujeito à apreciação da sociedade, indivíduo.
Com essa afirmação entende-se que a ética profissional, enquanto ética social e
instrumento legal, não é apropriada por todos os assistentes sociais.
Ainda, destaca-se no Código de 1986 a necessidade de compromisso profissional,
democratização das informações aos usuários, criar espaços de participação dos mesmos nos
66
(...) viabilização dos direitos sociais, o A.S. se depara no seu dia a dia com a
questão da cidadania. Assumir essa categoria como um valor central requer
que se atribuísse a ela uma qualificação precisa, a partir dos processos
históricos concretos, buscando a superação de seus limites enquanto
referência civil e política do pensamento liberal (SILVA, 2004, p. 169).
Entende-se assim que o 7º. CBAS foi fundamental para a reformulação do Código de
Ética, pois nele foram feitas propostas das quais sugeria um projeto profissional voltado para
a construção de uma nova sociedade de base igualitária e democrática, e coloca a necessidade
do compromisso como a liberdade, entendendo-a como “como valor básico da moralidade”.
Lei de Regulamentação da Profissão, o CRESS do Rio de Janeiro explica que essa lei, entre
muitas modificações:
Essa lei foi resultado de um amplo processo de debate e discussão dos assistentes
sociais brasileiros e institucionalizou o espaço democrático de deliberação coletiva sobre os
problemas que envolvem a profissão. Passa então a ser um complemento do Código de Ética
de 1993 e não dá para ver um separado do outro, ou para não considerar essa lei como parte
do Código. Ambos se complementam e direcionam as ações do assistente social onde quer
que exerça a profissão. Conhecer essas leis é fundamental para que o assistente social tenha
uma atuação ética.
Com tudo isso, em 1996 é formulado um novo projeto de formação profissional
culminando então em novas alterações na grade curricular do curso de graduação do Serviço
Social, direcionando-as para a implantação do novo projeto ético-político-profissional.
Diante de tantas mudanças que o Serviço Social sofreu no decorrer de sua história,
vale lembrar que para compreendê-las é preciso conhecê-las e também é necessário que o
profissional reveja seus conceitos.
As mudanças sofridas pela profissão constituíram importantíssimos sinais para a busca
do novo projeto ético-político-profissional, pois sem conhecer sua história, mais difícil ficam
as mudanças.
A ética profissional, primeiramente, baseia-se em princípios teóricos, filosóficos e
metodológicos e também num Código, que é fundamental para qualquer profissão.
(...) eu vejo os alunos quando eles começam o curso, nas primeiras aulas eles
vão ficando assim maravilhados com a descoberta do que é ética,(...) eu
venho trabalhando perspectivas diferentes de entender a ética e quando eu
estou trabalhando com as perspectivas idealistas, eles vão tranqüilos, mas
quando eu mudo a rota para trabalhar a ética numa perspectiva materialista
crítica, com uma outra proposta, com uma outra concepção de homem, que
daí não é uma concepção essencialista, eles ficam com aquelas carinhas de
espanto, desconfortados, é como se tivesse causado um desconforto(...) e eu
percebo que eles tentam acomodar as duas perspectivas, acomodar essa
perspectiva crítica a uma perspectiva essencialista cristã que a maioria
tem.(...)Então eu sinto que eles lidam o tempo todo tencionando princípios,
eu percebo eles amadurecendo(...) mas vão, caminhando, caminhando, e é
muito gostoso ver o aluno descobrindo uma outra forma de refletir sobre as
escolhas, sobre a liberdade, sobre os valores, esse é o trabalho que eu faço no
primeiro semestre. O segundo semestre é bem mais tranqüilo, porque o
segundo semestre eu centro no Serviço Social, nos princípios, vinculo os
princípios aos direitos e aos deveres, e ai eu vou trabalhando tudo com
exemplo, ai eu dou um texto básico de fundamentação teórica, e trabalho
muito com exemplos a partir do texto, ai eles gostam muito, é uma coisa
mais tranqüila, é outra proposta (...) (OLEGNA).
Desta forma, o professor como profissional, deve exercer a educação como práxis, ou
seja, deve exercer uma prática transformadora. Transformar o aluno em um profissional, que
por sua vez tenha em sua formação elementos para também exercer essa mesma prática no
cotidiano profissional, e, além disso, desencadeando reflexões com a finalidade de
71
A busca pelo projeto de profissão passou por uma luta estratégica levantada por
profissionais da vanguarda que buscaram e incentivaram o envolvimento de profissionais nos
fóruns e em eventos profissionais.
Não se pode esquecer que o docente no curso de Serviço Social, ministrando as aulas,
cujos conteúdos são específicos do Serviço Social, deve ser um assistente social, e que como
tal tem a responsabilidade de exercer a profissão de assistente social e de educador, visando a
formação deste profissional.
E ainda existe outro ponto de análise muito importante, sobre os quais se pode refletir
a partir dos seguintes questionamentos: como ter certeza que esse aluno tem seu perfil
direcionado para concretização desse projeto ético-político-profissional? É só ter nota nas
provas? É só ser aprovado? Como o professor consegue saber se o aluno está apto para
exercer a profissão, sendo um profissional crítico e ético?
Durante a pesquisa, os professores entrevistados deram sua contribuição. A professora
Eliane explicitou que ela percebe se o aluno vai ser um profissional crítico e ético quando
entra no campo de estágio:
Já a professora Líria, percebe que o aluno está aprendendo e se transformando quando:
vivência que você tem com o aluno durante aquele período, e durante aquele
período você tem um papel importante, tanto para o bem quanto para o mal,
você pode tanto contribuir, como você pode acabar com algumas coisas que
o aluno traz (...). (ELIANE)
(...) se eles conseguem aprender eu não tenho certeza, é certo que alguns
sim, os que participam da aula, que se posicionam, que desenvolvem bem
uma avaliação, uma prova. Agora se eles vão conseguir, no outro ano, usar,
eu não sei. O que eu faço muito é refletir toda essa discussão dos
fundamentos do Serviço Social trazendo exemplos do meu cotidiano
profissional e, eu entendo que isso fica. Isso eu consigo e acho que é
essencial. Então eu sempre digo para os estudantes, se no ano todo, eles
conseguirem compreender qual a natureza do Serviço Social, para mim já
está valendo, se eles conseguirem compreender como que o Positivismo
influencia o Serviço Social, como o Marxismo influencia o Serviço Social
historicamente, aí isso para mim já vale, já ganhei.
73
Quanto aos alunos se tornarem profissionais críticos e éticos ela entende que:
O que é ético é muito subjetivo, o que é o projeto ético, o que é critica, acho
que aquele dia a gente entrou em um debate interessante, eu não acredito que
o Marxismo se materializa no Serviço Social, eu entendo que o Marxismo é
uma opção daquele sujeito e certamente isso irá influenciar nas ações, mas o
Marxismo é essencial para entender o lugar do Serviço Social nas relações,
do modo de produção capitalista, então só a partir do Marxismo a gente
consegue entender onde se situa o Serviço Social nessas relações, as
contradições da sociedade.(...) eu não acredito que o Marxismo se
materializa no Serviço Social, eu entendo que o Marxismo é uma opção
daquele sujeito e certamente isso irá influenciar nas ações. (...)Agora o
estudante de Serviço Social é critico sim, ele é critico porque a gente tem
uma história da profissão, ele tem um posicionamento crítico, o Marxismo
influencia muito, acho que por isso que estou falando tanto do Marxismo.
Agora a questão ética vai depender muito de uma discussão filosófica, o que
é ética, o que é um posicionamento ético.(ANDREA)
Não Consegue... rsrsr, pois uma prova aplicada não lhe dá essa certeza, mas,
penso eu, por meio de debates,discussões em sala, enfim acho mais
aproveitado do que uma simples de prova frente e verso... (Veranice).
Quando ele avalia não apenas através das provas, mas engloba outras
atividades, e principalmente quando verifica as dificuldades dos estudantes e
ajuda a superá-las. Mas sinceramente, considero que a maioria não sabe se
realmente aprendemos ou apenas decoramos e logo esqueceremos o que
julgam termos aprendidos (Fabiana).
A grosso modo pela nota que ele me dá, mas como disse, é relativo, uma vez
que eu posso ter decorado a matéria de uma prova e não saber nada sobre
aquilo, não sabem empregar o que aprendi, então pra mim não aprendi nada
(Christiane).
O homem pode se conformar com o sistema capitalista, como pode também negá-lo.
Assim, cabe aos educadores e pesquisadores em educação apresentar propostas para a
implantação de políticas educacionais que propiciem a compreensão da realidade social, a
formação do ser humano como ser crítico e que busque a transformação social.
Essa é uma atividade conjunta e social. É necessária uma comunicação e relação com
o “outro”.
Nesse sentido o professor tem um papel fundamental na promoção da “atividade de
estudo”, pois a ele cabe organizar e proporcionar situações e meios para que o aluno assimile
e construa sua aprendizagem.
Para isso é necessário organização e clareza do trabalho pedagógico, lembrando que
existem alguns aspectos que interferem no desempenho dos estudantes.
(...) aluno trabalhador (...) dificuldade em cumprir com as tarefas, eles não
têm tempo de participar de atividades fora da sala de aula, então a sala de
aula acaba sendo o único momento que eles têm de discussão dos conteúdos
da profissão, ou de estudo inclusive. Porque tem aluno que só vai estudar
realmente a partir do momento que ele está na sala de aula, porque eles não
tem tempo de participar de um grupo de extensão, eles não tem tempo de
participar de um grupo de pesquisa, e você consegue ver isso claramente,
quando ele vai fazer o projeto, quando ele vai fazer o trabalho de conclusão
de curso, porque ele tem, é o primeiro trabalho. Para um número considerado
de alunos é o primeiro momento que ele vai realizar uma pesquisa, porque
durante o curso ele foi impossibilitado por essa condição de aluno
trabalhador. (LÍRIA).
Essa é a contradição existente na nossa sociedade capitalista e que ela pode ser
utilizada pela educação como elemento para despertar o conhecimento dessa realidade ou
mantê-la camuflada.
Assim, o professor não só trabalhará para a construção da aprendizagem do aluno,
como também terá que trabalhar na sua formação enquanto ser humano.
Para isso, há necessidade desse professor também passar por um processo de formação
adequado onde ele aprenda a ensinar.
Durante a realização do grupo de discussão com os professores da UEL, esse assunto foi
profundamente debatido quando o assunto discutido foi sobre o assistente social e o assistente
social docente.
Eu acho que essa questão ela tem dois lados, duas questões subjacentes a ela
que a gente tem que considerar: Uma, é a questão que, a prática docente do
Assistente Social é uma pratica profissional? A outra se, a graduação dá
conta de preparar o profissional para ser docente? As duas questões pra mim
envolvem a legislação, a legislação que hoje estabelece as competências e
atividades privativas do Assistente Social, que é a nossa lei de
regulamentação, das 2 formas ela deixa muito claro: 1º, que tendo o titulo de
graduação do Serviço Social é possível ser professor da universidade, não é
exigido do professor, em princípio, a não ser que seja exigência do concurso
público que ele tenha prática profissional. Em principio não. Tendo
graduação e sendo credenciado, cadastrado no CRESS ele pode ser docente.
(...) eu acho que, embora ele possa, por força da lei ser docente, faltam-lhe
elementos de vivência da prática profissional cotidiana do Assistente Social
para que ele dê conta das questões que a profissão exige. (...) A prática
docente é uma pratica docente, uma pratica pedagógica por natureza. Nós
somos filiados aos sindicatos dos professores, e aquilo que a gente exerce no
cotidiano com os nossos alunos, que é para quem a gente direciona nossa
pratica docente, não significa necessariamente, a prática profissional do
Assistente Social. Por isso eu digo que é polemico. (JOLINDA).
(...) isso não é um problema só do Serviço Social, mas das outras disciplinas
que, como o Serviço Social, são das tais Ciências Sociais Aplicadas. Então
não é só o Serviço social que não tem habilitação em licenciatura,
contabilidade, direito, uma série de outras, também não tem essa habilitação.
No meu entendimento faz falta, e é uma coisa que a gente tem que enfrentar.
Por quê? Eu me lembro que eu era uma professora antes de fazer licenciatura
mesmo, de ir na faculdade de educação, estudar o que é didática, o que é
pratica, o que é estrutura de ensino. E depois que eu fiz isso eu virei outra
professora. (...) as disciplinas de formação para carreira docente fazem
diferença, e muita diferença na hora de você atuar como docente.
Então, eu vejo que isso não é um problema só do Serviço Social, mas falta a
disciplina de educação, de caráter formativo então, por exemplo, a gente pode
ter um colega, que é um excelente profissional no campo de atuação, trabalha
super bem, e ele não sabe dar aula, ele não sabe ensinar. Então ele precisaria
passar por uma formação mesmo, para ele ser professor. (OLEGNA).
(...) o que a gente tem pro Serviço Social é, uma formação, graduação em
78
Serviço Social, não pra ser professor. Aí as pessoas, pelo menos é a reflexão
que eu faço, as pessoas vão dar aula, vão ter uma graduação em Serviço
Social e vão dar aula para o Serviço Social, então tem, que via de regra,
passar, pelo menos, por uma especialização, que aí, traria então uma vivencia
pra poder dar aula, melhor ainda um mestrado e doutorado, independente da
área (ANDREA).
Eu acho que a graduação não forma não para a docência. Eu acho que a
docência exige habilidade que a formação de Assistente Social não dá, por
outro lado, eu entendo assim que ser professor sem ter uma experiência
profissional é muito complicado, porque, eu brinco assim: sem amassar o
barro, ele perde a dimensão do que é realmente a necessidade do aluno, e o
que ele está vivenciando na prática, então eu entendo que é fundamental que
ele tenha essa experiência, não só uma questão de exemplo não, mas para
entender os limites da prática (...) (SANDRA).
Esse debate faz o entrelaçamento com todas as teorias estudadas por esta
pesquisadora, constatando que só ser profissional com determinada graduação não o qualifica
para a docência. E que no Serviço Social isso não é diferente, pois a responsabilidade é de se
formar para exercer a cidadania e levar os usuários a terem seus direitos garantidos.
Para que isso ocorra o docente necessita se apropriar da didática, podendo ser
considerada como a arte de ensinar. Rios (2006) apresenta a Didática como saber, ramo do
conhecimento, uma ciência e uma disciplina que compõe a grade curricular dos cursos que
79
formam professores.
O objeto da didática é, portanto, o ensino. É quem ensina algo a alguém, o que torna
compreensível dizer que ele está articulado à aprendizagem.
Não é necessário somente ensinar, é preciso ensinar e é preciso que os alunos
aprendam. Assim sendo, o professor tem que exercer a docência, e ser docente significa
aquele que está desenvolvendo um processo de ensinar.
Neste processo didático o aluno aprende com o docente e este aprende no processo de
ensinar. A didática é teoria e prática do ensino, é a capacidade de levar o aluno a aprender a
aprender e do professor de ensinar a ensinar. Isso significa que este processo didático é
contínuo e se constitui em processo de trabalho.
Assim sendo, o docente, como trabalhador, emprega sua força de trabalho, apesar de
que essa força não gere mais valia, mas expressa um resultado, a educação/formação.
E como trabalhador, inserido no mercado de trabalho, recebendo pela sua força de
trabalho empregada que é paga dentro do sistema capitalista de produção, deve atender aos
princípios educacionais colocados no PPP da instituição de ensino, bem como deverá se
inserir e se integrar a ela, deparando-se com a matéria-prima a ser produzida por esta
instituição. “Qualquer processo de trabalho implica uma matéria-prima ou objeto o qual
incide a ação, meios ou instrumentos de trabalho” (RIOS, 2006, p. 61).
Quando inserido numa IES particular, se deparará com uma matéria-prima a ser
alcançada, que para a instituição deve ser a formação dos alunos, sendo o lucro apenas o
resultado. Caso contrário, a execução do PPP proposto, ou seja, corre-se o risco de que este
não se efetive.
Talvez não haja interesse dominante para que as classes populares tenham essa
oportunidade, correndo-se o risco de se tornarem críticos.
Assim a escola pode ser entendida como espaço de conflitos e lutas de classes, onde,
com o conhecimento, as classes populares podem avançar em rumo a uma transformação
social.
Por isso os educadores devem se conscientizar da importância de sua participação no
80
processo educacional e no desafio de buscar clareza quanto ao tipo de escola que quer ajudar
a construir.
“Sem querermos atribuir à educação a responsabilidade maior pelo processo de
transformação social, estamos igualmente convictos de que ela representa um peso
fundamental no processo” (VALE, 2001, p. 105). Isso porque a escola é um espaço onde a
luta pode se iniciar, tanto em busca de uma nova sociedade como de uma nova escola.
Além de pensar o educador, inserido neste processo de trabalho, deve-se pensar que no
processo educacional é necessário direcionar a formação do aluno de Serviço Social como um
profissional que compreenda que será um trabalhador inserido no mercado de trabalho
assalariado.
Dessa maneira, o assistente social deve ter sua formação direcionada para o trabalho
interventivo. Intervenção esta direcionada às expressões da Questão Social. Para Turck(2006)
a questão social constituída como pano de fundo gerador das desigualdades e da exclusão
social possibilita ao assistente social que o seu processo de trabalho ao ser implementado,
possa intervir na realidade de seus usuários ao operacionalizar o método dialético materialista
através processo de conhecimento e processo de intervenção.
É preciso adquirir conhecimento, elementos informativos, entender o problema e antes
disso as suas causas, para, em seguida, esquematizar as ações; é pensar em estratégias de
ação, vislumbrando os possíveis resultados, ou seja:
A autora entende que a educação pode ter dois caminhos, um leva o homem à
aceitação das normas e valores impostos pela sociedade, ou leva este homem a se tornar livre
para escolher, criar e recriar sua própria vida.
Entende ainda que a educação deva ter como “objetivo principal” construir uma
sociedade justa.
Assim sendo, a preparação, a formação do assistente social tem que estar vinculada a
essa realidade, além, é claro, de estar vinculada aos objetivos educacionais como um todo.
Já em 1980, a autora se questiona quanto ao processo de formação dos alunos de
Serviço Social, pois já nesta década o número de profissionais que se formava era grande e
com isso ocorre a depreciação dos salários. Também nesta década ela já questionava o
aumento do número de cursos noturnos e de escolas particulares, oferecendo:
82
A autora se pergunta:
Isso acontece também nos dias de hoje, pois o perfil da maioria dos alunos do S.S. é:
estudam à noite, trabalham durante o dia, estagiam uma vez na semana ou nos finais de
semana. Tal fato se evidencia na fala da professora Líria, citada anteriormente, quando ela
aborda que o processo de ensino-aprendizagem tem que ser repensado a partir do momento
que a Universidade e o curso de Serviço Social têm recebido um grande número de alunos
trabalhadores. Pois sabe que se tem que imprimir um padrão de qualidade na formação do
aluno, mas também de um aluno trabalhador, aluno que trabalha o dia inteiro e estuda à noite,
ou que trabalha tarde e noite e estuda de manhã. São alunos de classes populares cujos
empregos são altamente exploratórios, vêm para faculdade cansados e têm dificuldades no
processo de abstração, além de não conseguir participar de outras atividades, principalmente
as atividades extra-classe. Por isso entende que há necessidade de mudanças do ponto de vista
pedagógico e do exercício docente, necessitando de aulas mais dinâmicas e de que o professor
não seja um mero reprodutor de conteúdo. De outro lado, por ser um aluno trabalhador, ela o
percebe mais amadurecido e com outro nível de contribuição em sala de aula.
Diante dessa realidade, que em pouco mudou de 1980 para 2008 (quase trinta anos),
no momento em que o aluno se torna profissional e cai no mercado de trabalho, ele percebe
sua dificuldade para conseguir um lugar na instituição empregadora. Aí se frustra e condena a
faculdade e seus ex-professores, esquecendo-se que a aprendizagem é um processo, onde ele
participou e foi conivente, por isso é importante procurar uma forma de desenvolver e de se
envolver no processo de ensino-aprendizagem.
Assim sendo, o profissional de Serviço Social atendendo a uma metodologia
específica de trabalho, deverá, segundo Gentilli, reunir neste trabalho,
aprendizagem em sua disciplina pode ser prejudicado, entendendo que os alunos podem não
ter elementos suficientes para a compreensão dos conteúdos propostos.
Comprova-se aqui o compromisso do assistente social docente em ser um educador e
não um mero repassador de conteúdo.
85
As mais recentes diretrizes gerais para o curso de Serviço Social propostas pela
Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS, 1996) foram
regulamentadas através do Parecer 492/01 do CNE/CES (Conselho Nacional de Educação/
Câmara Superior de Educação), que trata das Diretrizes Curriculares Nacionais de alguns
cursos de graduação, entre eles o curso de Serviço Social.
Elas tratam das disciplinas e conteúdos a serem trabalhados durante o curso, na
tentativa de unificar um aprendizado e um perfil profissional em todo o país.
Porém, as mesmas diretrizes e nem sequer qualquer outra instituição ou legislação
tratam do processo de aprendizagem e nem do processo de avaliação dos alunos que estão
cursando Serviço Social.
A professora Jolinda da UEL, sujeito da pesquisa, entende que essa questão envolve a
legislação que regulamenta a profissão. A princípio a lei coloca que ser docente no curso de
Serviço Social, das matérias específicas, é uma atribuição privativa do A.S., sem ser
necessário que tenha uma prática ou um curso. Então, pela lei, qualquer assistente social pode
ser docente. Só que vai depender das faculdades que contratam os docentes fazerem as
exigências quanto à preparação e tempo de prática. Ela entende, ainda, que o docente que tem
uma prática profissional consegue ter mais elementos concretos para relacionar a teoria à
prática e consegue então ter mais elementos para trabalhar em sala de aula. Destaca que para
ela a prática docente não é uma prática profissional do assistente social. Para ela a prática
docente é uma prática pedagógica e, portanto, a ela cabe peculiaridades a qualquer docente,
pois é uma prática pedagógica por natureza. E que então, não é só porque a lei de
regulamentação da profissão diz que a docência em Serviço Social é prática privativa do
assistente social que ela concorda com isso.
O papel do professor no processo de aprendizagem é fundamental, mas há necessidade
de uma competência pedagógica, que possivelmente tenha sido adquirida no seu processo de
formação.
Porém, uma preocupação surge em relação aos professores do curso de Serviço Social,
86
pois o último curso no estado de São Paulo, específico para formação de professores
assistentes sociais aconteceu em 1976.1 Esses tipos de cursos sempre estão relacionados à
área da Educação, esquecendo-se de que aluno é aluno em qualquer curso e que todo
professor tem que ser um educador, um profissional da educação em primeiro lugar.
Todo professor do curso de serviço social, principalmente aqueles que são
profissionais de Serviço Social, conseguem ser professores educadores, ou são apenas
profissionais em sala de aula? Estes têm a competência pedagógica para ensinar e avaliar seu
aluno?
Que garantias existem de que os alunos que tiram notas maiores serão melhores
profissionais do que os que tiram notas menores?
Quanto à avaliação, a aluna Afrânnia declara:
(...)pra prova, ela, de certa forma, falava que podia estudar só com os slides,
mas eu acho melhor pegar o texto, pra você entender todo o contexto,
entender toda uma conjuntura, e pra você entender melhor, porque se você
ficar muito no “esqueminha” acaba ficando meio ‘decoreba’. Eu acho que eu
aprendo, mas aprendo melhor lendo, com certeza. E discutindo também, eu
acho que eu aprendo melhor. Acho que foram poucas as vezes que as
professoras proporcionaram discussões na sala. Mas eu sinto que quando
você fala, você expõe seu conhecimento, ai parece que você sente que você
conheceu, que você aprendeu. Mas às vezes você lê, mas quando a
professora pergunta pra você, você não consegue explicar.
De acordo com as pesquisas teóricas realizadas, pode-se afirmar que o principal é que
o aluno consiga aprender os conteúdos passados pelo professor e que o professor saiba
detectar se o aluno apreendeu, e aí está a grande incógnita, como saber se o aluno conseguiu
atingir a aprendizagem necessária para ser um bom profissional?
Dando significado às falas das professoras entrevistadas na pesquisa, destacam-se suas
opiniões em relação ao aprendizado dos alunos:
1
Dados passados pela Profª. Dra. Maria Lúcia Martinelli, em orientação realizada na PUC/SP em 09/10/2007.
87
Andreia – A mesma não consegue ter clareza se os alunos realmente aprendem o conteúdo de
sua disciplina. Ela percebe que alguns alunos vão bem na sua prova, tiram boas notas. Porém,
ela não pode afirmar que isso seja indício de que no próximo ano ele vai saber tudo o que ela
trabalhou. Destaca ainda a questão subjetiva de cada aluno, não podendo então generalizar.
Sandra – Ela coloca que antes de se ter uma prova, ela consegue perceber o aprendizado do
aluno pela qualidade de sua participação em sala de aula, pelas suas intervenções, pois ela tem
uma relação de muita proximidade com os alunos e jamais tolhe algum aluno que queira sanar
uma dúvida, fazer um comentário, etc.
Eliane – Diz que é possível perceber isso, porém destaca a questão individual de cada aluno e
a turma como um todo. Afirma que não atinge 100% e que ainda existe uma defasagem, pois
os alunos têm certa imaturidade e dificuldade de colocar a teoria estudada em ações concretas.
No seu caso ela percebe com maior clareza quando eles entram no campo de estágio no
terceiro ano e têm que fazer um diário de campo. E que eles até entendem visita, entrevista,
mas têm dificuldade de colocar em prática aquele instrumento.
Líria – Consegue perceber que os alunos aprenderam em sala de aula mesmo, e isso acontece
quando os mesmos conseguem visualizar a interdisciplinaridade dos conteúdos, e percebe que
o aluno consegue fazer “conexões, que não é só com os textos, mas com as outras
disciplinas...”. E, ainda, percebe através das colocações que eles vão fazendo no decorrer do
curso.
isso, responsável pela transmissão desse conhecimento para seus alunos, e é assim que muitos
alunos ainda têm essa imagem do professor.
Em relação a isso, a professora Andrea demonstra sua frustração:
(...) tem o texto base, então a didática acaba sendo esse feijão com arroz, (...)
tenho tentado estimular a leitura, estimular para que eles construam
conhecimento, porque só aula expositiva pra mim não é o modelo ideal, mas
infelizmente os estudantes trazem um modelo de educação, que é de aula
expositiva, e é o que eles querem. Esse modelo de aula expositiva não me
agrada, mas os estudantes preferem, pelo menos eu tenho sentido isso, e isso
não me agrada, eles gostam quando pegam uma aula e dá aquela aula
expositiva, esmiúça o texto, e ai foi a melhor aula e aí, o professor é bom. Se
tenta, “gente vamos ler, vamos discutir”, que ai pra mim, a meu ver constrói
mais, ai conversa sobre outros assuntos, não focam no texto, então ai acabo
ficando mais frustrada, então tenho dado mais aula expositiva do que...
(ANDREA).
Para que essa transmissão do conhecimento se faça de forma eficaz, é preciso que o
professor tenha a totalidade da atenção dos alunos, de modo não apenas a facilitar a sua
concentração na exposição das idéias e temas, mas também para que possa escolher, entre as
muitas noções do conhecimento, aquelas que efetivamente devem ser transmitidas, segundo
sua ótica exclusiva.
Em outras palavras, além de transmissor, o professor é o gestor do conhecimento,
porque a ele compete também escolher aquilo que deve ser transmitido e aquilo que não tem
importância, tendo por base o currículo proposto por outros especialistas da instituição de
ensino e de fora dela.
A presença do aluno e sua participação são quase que secundárias no processo de
escolha do currículo, pois, na visão do senso comum, a noção é de que o aluno deve
comparecer às aulas para “assisti-las”, e desse modo sua participação no processo de escolha
do conteúdo, de montagem das aulas, não é essencial.
Vale aqui lembrar a fala da professora Sandra, sujeito da pesquisa, quando ela abordou
que há alguns docentes que são resistentes a mudanças e que eles até elaboram um programa
adequado e coerente porque o mesmo tem que ser aprovado pelo colegiado, mas na sala de
aula eles fazem o que querem e ministram o que querem, sem se comprometerem com a
formação do aluno.
Em artigo publicado no Suplemento Sinapse, do Jornal Folha de São Paulo, o
educador e psicanalista Rubem Alves afirma:
A idéia de Rubem Alves de que os professores, em geral, não estão envolvidos com
seus alunos, pelo menos não de forma integral, pode parecer cruel à primeira vista, mas é
profundamente verdadeira para quem conhece a realidade do dia a dia da sala de aula.
Fundamentalmente, o que importa é cumprir os conteúdos programáticos dados, e garantir um
mínimo de ordem e disciplina que permita o cumprimento desses conteúdos.
O controle de presença se incumbe de ser o coibidor do excesso de faltas dos alunos,
enquanto que as provas regulares cujos resultados que determinam aprovação, ou não, se
incumbem de garantir um mínimo de atenção dos alunos à exposição do professor.
O professor controla a eficiência de seu trabalho pelo resultado obtido nas avaliações
e, não raro, um professor que dá notas muito baixas para seus alunos, ou mesmo que reprova
uma grande parcela deles, é tido como um professor cuja severidade e seriedade serão
fundamentais para a formação profissional deles. É um professor a ser elogiado, e nunca
responsabilizado pelo fracasso dos alunos, que, de resto, é só deles.
Com essa visão cristalizada em grande parte das instituições de ensino no Brasil, não
causa espanto que a figura do aluno seja quase uma figura secundária nas instituições de
ensino. O professor, o currículo, os recursos e equipamentos utilizados por uma determinada
instituição merecem maior destaque do que o bem-estar dos alunos em seu processo de
aprendizagem e avaliação.
Na atualidade, a utilização de recursos tecnológicos e o grau de formação dos
professores (doutores, mestres, especialistas), por exemplo, são fatores muito mais
valorizados nas instituições de ensino, em especial nas de nível superior, do que a satisfação
dos alunos, ou a forma como ocorreu a aprendizagem durante o curso e a formação que dela
resultou.
De outro lado, para significativa parte dos alunos, a aprendizagem também se mede
pelos resultados obtidos nas provas realizadas durante o curso, e, mais tarde, pelos resultados
obtidos na relação que conseguem estabelecer com o mercado de trabalho.
A seguir, a aluna Afrânia, sujeito da pesquisa, fala da maneira que detecta seu
aprendizado:
Mas eu acho que em segundo dá pra dizer que talvez a prova, porque na hora
que você escreve, vamos supor, se for uma prova dissertativa, você
escrevendo, você vai vendo como você arrumou suas idéias, não tanto por
90
causa da nota, mas acho que a nota ajuda um pouco, porque, mesmo que
indo contra nota um pouco, esse método meio quadradinho, a gente está
acostumado, se tira uma nota baixa fica magoado. Mas acho que a prova
dissertativa, você vai construindo suas idéias, também da para concluir se
você aprendeu. (AFRÂNNIA).
Com esse pano de fundo, entende-se ser um retrato rápido, porém fiel, da realidade de
grande parte das escolas brasileiras na atualidade, esta tese pretende refletir sobre o processo
de ensino-aprendizagem do aluno de Serviço Social e a importância da avaliação, discutindo a
aprendizagem como foco da atividade do professor, e as competências necessárias para que
um professor atue tendo como principal preocupação a aprendizagem de seus alunos, e não
apenas seus próprios conhecimentos e a forma de transmiti-los, ou o cumprimento de
programas propostos no currículo da instituição educacional; bem como de que maneira
proceder nas avaliações exigidas pela universidade, sem que essa tenha um caráter repressor.
Vejamos a fala da aluna Michele:
Eu não gosto, a prova traz medo, traz ansiedade, e tem professor que dá uma
prova ‘decoreba’ mesmo, uma prova que se você leu, decorou, você pode
não entender mais nada. No dia seguinte você vai bem. E você precisa tirar
nota sim, pra passar, então, você vai se revoltar, e falar não, eu não vou
fazer. Teve vezes que sim, na sala, mas não é um movimento tão forte ainda.
Mas eu não gosto desse tipo de avaliação, de medir o conhecimento, eu acho
que não é uma coisa mensurável, sabe. Eu acho que poderia ser uma coisa
mais para expandir, se tem que avaliar, eu preferiria um trabalho, ir a campo,
relacionar uma experiência com o estágio. E não nessa perspectiva. A gente
até brincou, que a educação é como um banco, de depositar, assim... eu acho
que tem muito mais coisa para contribuir, os elementos da realidade, e essa
coisa de decorar fecha muito e a gente esquece qual a nossa responsabilidade
lá fora, e que estamos na universidade pública (...). (aluna Michele)
que forma ele deve deixar de ser apenas passivo para se tornar um agente com participação
contínua do processo de aprendizagem.
Primeiramente, é preciso considerar que existe uma marcante diferença entre
aprendizado e aprendizagem. Aprendizado sugere aquilo que pode ser medido como correto
em um processo de avaliação convencional, que premia ou castiga com notas, aprovações ou
reprovações, o desempenho do aluno ao final de um dado período de tempo, inclusive
capacitando-o para alçar novos estágios de aprendizado, teoricamente mais complexos,
estabelecendo os chamados marcos evolutivos de um curso.
Já, a aprendizagem envolve, desde o início, uma idéia de movimento e, frise-se desde
logo, não de qualquer movimento, mas de um tipo que se faça continuamente e em conjunto
com outros agentes.
De fato, aprendizagem é termo que carrega consigo a identidade de um processo que
nunca chega ao seu final, que se renova permanentemente impulsionado por sucessivos
interesses e que, uma vez despertado e desenvolvido no aprendiz, será capaz de fazê-lo
assumir permanentemente a responsabilidade por sua formação, dividindo-a com professores
e colegas, em um moto-contínuo de energia geradora de mais aprendizagem.
Nesse contexto, aprendizagem é ainda um objetivo que não pertence só a alunos, mas
também a professores os quais deverão estar envolvidos juntamente com os alunos na
identificação de temas, problemas e questões que devam ser conhecidos, estudados,
pesquisados, debatidos e que sejam esses professores, ainda, capazes de lançar novos
propósitos a serem alcançados juntamente com seus alunos.
Por outro lado, esses temas, problemas e questões que serão trabalhados
conjuntamente por professores e alunos não se restringem ao chamado conhecimento técnico,
capaz de criar habilidades específicas para o desenvolvimento de certa atividade profissional.
Mais do que isso, a aprendizagem pressupõe a escolha de um elenco de temas, problemas e
questões que sejam profundamente motivadores para alunos e professores e, por isso mesmo,
tratem de aspectos mais amplos da pessoa, envolvendo sua cidadania, sua participação social
e política, as experiências vividas por cada um dos participantes da relação ensino-
aprendizagem, e os objetivos que traçam para seu futuro pessoal e profissional.
Nesse sentido, Ribas (2.000), afirma:
Hoje já não se quer um aluno passivo e sim alguém que seja sujeito de sua
própria aprendizagem e da própria história, que desenvolva a capacidade de
pensar crítica e criativamente, que seja apto para obter informações e
interpretá-las adequadamente, que construa/reconstrua o saber, que saiba
definir o destino e nele atuar. Tal mudança de concepção torna mais difícil o
93
Você vê o aluno que entra aquela criançona e sai maduro, crítico, com uma
perspectiva clara do que quer(...). Eu acho que esse é um dos melhores
retornos que eu tenho, os alunos me dão esse feedback. (OLEGNA)
ser o melhor que eu posso, e eu trabalho pra isso, eu gosto muito de ser
professora, gosto muito de dar aula, acho que a sala de aula é a minha grande
questão. Não tenho pretensão de ser perfeita e de ser unanimidade, por isso
que faço questão de ser avaliada todo ano pelos meus alunos, e leio e reflito,
e a partir dos pontos que vão sendo colocados. Acho que tenho muita coisa
pra aprender ainda sabe, acho que que eu tenho muita coisa pra aprender
ainda, e acho que isso é que faz a gente, parte desse processo. (LÍRIA)
Nessa vertente, é imperioso que o professor adote uma nova forma de atuação, despida
por completo dos conceitos tradicionais que envolvam sua atividade. Não mais a autoridade
advinda do fato de ser o detentor exclusivo do conhecimento, mas a autoridade pela
constância na participação e na troca. Não mais a distância que a legitimidade do saber
construído permitia, mas a disposição para aceitar as experiências vividas pelos alunos como
parte da construção da aprendizagem. Não mais a impessoalidade na transmissão de
informações, mas a troca de experiências que não raro contempla a afetividade e a emoção.
Não mais a palavra final expressa em uma nota de aprovação ou reprovação, mas a disposição
para pesquisar e produzir em conjunto com os alunos, avaliando também em conjunto o
resultado final do trabalho desenvolvido.
Nesse sentido, afirma Masetto (2001, p. 89):
importante refletir sobre quem é o professor que participa desse processo de aprendizagem e
de que forma ele atua com os alunos.
Quanto à aprendizagem, Claxton (2005) entende que existe uma “caixa de
ferramentas” para ela, com diferentes compartimentos. Isso o faz crer que nem todos se
ajustarão a um determinado tipo de ensino e educação, e que acabará sendo prejudicado.
Se assim for,
(...) tem uma aluna que mandou um e-mail contando da empresa que ela foi
trabalhar, e que um funcionário chegou lá apavorado porque tinha
descoberto que o filho era homossexual, e que ela foi lembrando da aula, do
princípio à diversidade, das discussões que a gente fez, e que ela conversou
muito com o pai e foi legal porque ela conseguiu deixar o vínculo da família
mais forte, sem segredos. E aí ela falou, Olegna, foi tão legal que eu lidei
com tanta naturalidade que fortaleceu o vínculo da família, aí veio a mãe, aí
veio o pai, veio todo mundo falar comigo. Você vê, é um princípio ético que
o aluno aprendeu e que ele utilizou. (OLEGNA)
(...) vou te dar um exemplo prático pra te mostrar como a gente consegue
perceber, você consegue perceber, por exemplo, quando você discute uma
nova ética no trabalho, a questão que o trabalho é uma categoria central, ele
é importante, ele é um elemento decisivo na formação do ser social, só que
não é qualquer tipo de trabalho, é um trabalho humanizado, um trabalho com
direitos, e você percebe que alguns alunos acreditam que a pessoa tem que
trabalhar independente do valor que é pago, que é o trabalho pelo trabalho,
então não interessa se é um trabalho com direitos garantidos, que é um
trabalho altamente exploratório não tem problema, as pessoas tem que
trabalhar. Você percebe essa dificuldade, essa existência do caráter
conservador da nossa sociedade, muito presente nos nossos alunos, e ai a
gente consegue visualizar isso, e aí você consegue, você faz o embate, você
vai para o debate, e ai o aluno fala “ eu vou trabalhar”, eu vou trabalhar
como Assistente Social mesmo que seja por Seiscentos Reais, porque eu
preciso sobreviver. A luta pela sobrevivência justifica algumas opções e isso
é um resultado. Você consegue ver como esse aluno vai se portar, e ai eu
acho que é o limite da nossa atuação, pois aí você não consegue, quando ele
senta naquela verdade absoluta, você pode possibilitar momentos de
reflexão, mas quem vai decidir se vai romper com essa posição. (LÍRIA)
O meu sonho é dar aula para estudantes que leiam o texto, que sentemos em
circulo e discutamos o texto. Esse é o meu sonho, mas infelizmente eu
descobri que o sonho dos estudantes é o professor que vem e dá uma aula
expositiva, fala todo o tempo, e mastiga todo o texto, joga, e ai eu sou isso.
Me deu até vontade de chorar agora, porque eu estou numa crise com relação
a isso, e eu tenho feito isso e bem, tenho feito isso muito bem, mas não é o
que eu gostaria, acho que essa história de ter ido para o doutorado, está
mexendo nesse aspecto, eu docente, porque eu voltei a ser aluna, então eu
estou de novo nesse papel, de dizer “a sala não está boa, isso aqui não está
legal, esse professor está enrolando”, eu acho que eu cumpro esse papel que
os estudantes esperam, que vem ali e fala, que infelizmente é o modelo de
educação, que eles aprenderam assim, estudaram assim, que vai ser assim, e
que volta e meia quando eu tendo quebrar com isso eu me frustro bastante.
(ANDREA)
Através da análise das falas das professoras Eliane, Olegna, Líria e Andréa, fica claro
os alunos que terão um bom desempenho profissional, os que serão apenas mais um assistente
97
social e aqueles que serão muito bons mesmo e que vão lutar pelos ideais de profissão.
Alguns deixam claro sua resistência para sair do comodismo em relação às novas
metodologias de ensino propostas pelo professor. Então, a resiliência é um diferencial,
segundo o autor, daqueles que vão ser simplesmente um assistente social dos que vão fazer a
diferença dentro da categoria profissional.
Claxton (2005) diz que o fato de os pais ou qualquer outra pessoa ajudar uma criança a
realizar uma tarefa difícil, ou seja, eliminar os obstáculos, não ajuda em nada, pois ela sempre
será incapaz de persistir nos obstáculos. Pois quando ela sabe que é capaz de enfrentar as
dificuldades é que a faz superar os problemas.
As pessoas devem ser encorajadas nas tarefas difíceis, fazendo com que se concentrem
no processo que ela vai enfrentar para atingir determinado resultado, e não ficar, desde o
início, focado apenas no resultado. Exemplo disso é quando o aluno foca suas forças e
pensamentos apenas na nota que precisa ou quer tirar, mas não planeja e não se dedica ao
processo que o vai fazer chegar lá.
Claxton cita em sua obra o pensador Edward Bono, o proponente do pensamento
lateral. Este declarou que as pessoas que são inteligentes – e que se enxergam como tal – na
visão limitada e racional do que seja talento, podem bem ser piores aprendizes do que aquelas
que não se comportam desse modo.
Então, a crença de que a inteligência como recurso mental, e competência intelectual
como a principal qualidade da mente tem efeito negativo, com isso na sociedade moderna se
deturpa a natureza da inteligência supervalorizando apenas uma de suas formas.
A resiliência deve ser cultivada no aprendiz, pois com ela este consegue ser confiante
e competente, superando sentimentos negativos, porque a aprendizagem é uma atividade
emocional, que Claxton coloca como 1º. pilar da aprendizagem.
Esses sentimentos estão relacionados às emoções, por isso é necessário entender que
lugar as emoções ocupam no processo de aprendizagem, como aprender a lidar, contê-las e a
tolerá-las. A isso o autor denomina “inteligência emocional”.
Claxton (2005) coloca também sobre a decisão de aprender:
Quando alguém opta por não aprender, é porque não sente que isso seja
98
bastante seguro, ou porque acredita não possuir habilidades que isso requer,
ou não há tempo bastante, ou os possíveis sacrifícios envolvidos são grandes
demais, ou simplesmente isso não é importante o suficiente (p. 39).
Às vezes você está sem condições psicológicas, chega nervoso, com dor de
barriga pra fazer a prova, já aconteceu com uma amiga minha, ela sabia, na
hora deu piriri, errou tudo, foi mal. Eu não sei até que ponto, porque falam
que a universidade tem uma certa autonomia, tem, mas não sei onde fica
isso, parece que o sistema continua mesmo centrado no professor.
(MICHELE)
Com a fala da aluna, sujeito da pesquisa, percebe-se que a questão emocional é muito
séria no processo de ensino-aprendizagem, e os alunos que conseguem dominar suas emoções
podem tem um sucesso maior.
Um exemplo disso é a tensão no pescoço e ombros que causa dores, agitação, pressão
sanguínea, baixa no sistema imunológico. Todas essas reações servem para destruir ainda
mais a energia para a aprendizagem e a disposição para se envolver nela.
O medo também afeta muito a aprendizagem, pois ele pode levar o aprendiz a
Isso acontece porque somos seres possuidores de sentimentos e emoções, por isso
deve-se sempre buscar por sentimentos positivos. Por isso para que as pessoas desenvolvam o
seu potencial de aprendizagem é preciso entender a necessidade das emoções no processo de
aprendizagem, e saber, ainda, lidar com elas.
Ciente da necessidade do conhecimento e controle do fundo emocional há a
necessidade do aprendiz ser desenvolto, ou seja, “precisa saber o que fazer quando não sabe o
que fazer” (Claxton, 2005, p. 51).
Para isso, o aprendiz pode construir sua aprendizagem através da imersão, que
significa aprender por meio da experiência. E uma das imersões que mais é significativa é o
papel do professor.
Muitos têm a visão de que o ensino tem a ver com a personalidade e que ocorrerá
quando o professor tiver conhecimento, entusiasmo e empatia sem limites.
Não consegue reconhecer que é parte de seu trabalho desenvolver e praticar uma série
de maneiras de ajudar os alunos a aprenderem e saberem.
O autor aborda ainda o poder da intuição para a aprendizagem. Além disso, entende
que os insights, pressentimentos e suposições também são fundamentais.
Explica que o ato de esforçar-se para a aprendizagem pode ter vários efeitos, e um
deles pode destruir a criatividade.
Em primeiro lugar (...) ele pode tornar-nos menos sensível a fontes sutis de
informação, tanto aquelas de percepção quanto aquelas das nossas próprias
lembranças. Em segundo lugar, ele tende a envolver o ego, a parte de nós
que se preocupa com a aparência e com o desempenho, e por isso faz com
que nos sintamos ansiosos e sob pressão. Em qualquer campo sabemos como
a pressão conduz à auto-percepção, à tensão e à perda de perícia. Em terceiro
lugar, ele tende a nos puxar para o pensamento rígido (Claxton, 2005, p.
113).
Com essa afirmação Claxton indica que muitas vezes a aprendizagem ocorre em
momentos em que você está fora do próprio processo, pois estando mais relaxado você
consegue compreender, entender algo, concretizando assim a aprendizagem. Ele entende
101
ainda que além de ser resiliente e desenvolto o aprendiz precisa ser reflexivo, sendo então a
reflexão o terceiro pilar da boa aprendizagem.
Além disso, a idéia de que a inteligência é puramente cognitiva não é válida porque a
pessoa enquanto aprendiz não se separa de suas qualidades, valores, crenças, disposições e
personalidade.
Como cita Claxton:
Além dessa segurança a ser transmitida, as crianças devem ser estimuladas com
“opções de aprendizagem interessantes e desafiadoras”.
Uma criança cujos pais podem lhe proporcionar recursos materiais, pode cuidar, dar-
lhe brinquedos, jogos, férias, viagens, passeios a parques, jardins, tem um tipo de
oportunidade de aprendizagem.
Os que não têm esses recursos possuem uma diferenciada oportunidade de
aprendizagem. Porém, as bases de uma vida de aprendizagem são determinadas tanto por
considerações financeiras e políticas quanto pelas condições psicológicas.
Mais importante que os meios materiais é a relação que se tem com as pessoas com as
quais convive: seus pais, cuidadores, irmãos, irmãos mais velhos; e se as interações entre eles
são responsivas e recíprocas a aprendizagem ocorrerá mais facilmente.
É também fundamental que
Além disso, Claxton adverte que os pais não devem querer proteger seus filhos da
angústia, resolvendo os problemas de aprendizagem por eles.
Devem permitir que eles lutem com as dificuldades. Devem ensinar-lhes que não
precisam se envergonhar ou se preocupar com isso. Mas ao contrário, muitos pais transmitem
104
Por isso a idéia de que precisamos preparar os jovens para lidar bem com a
incerteza, e estar prontos para construir suas próprias mentes a fim de lidar
com dilemas complexos, não é algo oposto à idéia de que as crianças
precisam de estrutura, proteção e orientação. É claro que devemos dar a elas
a base mais segura que pudermos. Contudo, atualmente, uma estrutura moral
tem de ser a plataforma de lançamento para as perguntas e as explorações de
uma criança, e não um código de ética, rigidamente, imposto que impeça
essa aprendizagem (CLAXTON, 2005, p. 195).
As escolas também são extremamente importantes, mas o ensino está muito longe de
proporcionar a qualidade de educação necessária.
Hoje a educação deve lidar com um futuro imprevisível. Assim o que se deve tentar é
preparar jovens para lidar com as incertezas.
Como disse John Holt na década de 1960: como não podemos saber que
conhecimento será mais necessário no futuro, não faz sentido tentar ensiná-
lo antecipadamente. Em vez disso devemos formar as pessoas que gostam
muito de aprender e aprendem tão bem para que elas sejam capazes de
aprender qualquer coisa que precise ser aprendida (CLAXTON, 2005, p.
201).
O objetivo da educação deve ser então o de preparar o jovem para que no futuro tenha
uma vida feliz, seja responsável e bem sucedido. E isso é possível quando ele desenvolve todo
o seu potencial de aprendizagem.
Os alunos não desafiam seus professores por temer irritá-los e assim, não
conseguirem a nota que precisam [...]. E talvez alguns professores perpetuem
o embotamento, porque seus empregos dependem de um bom feedback dos
alunos e porque as finanças da sua universidade dependem de um bom
recrutamento[...]. Quanto menos os alunos forem desafiados, estimulados a
pensar mais ou escrever com mais clareza, menos eles passarão a esperar por
isso – e a ser capazes de tolerá-los quando acontecer. E, quando a auto-
estima torna-se mais frágil e a resiliência entra em colapso, também os
professores, devido a um amálgama curioso de preocupação e interesse
próprio, recuam [...] Mesmo em uma visão relativamente convencional da
educação superior, a forma de avaliação tem um profundo impacto naquilo
105
Todas as propriedades, recursos e capitais que a criança consegue abstrair das relações
sociais efetivas, significam dizer que:
De certo modo, podemos dizer que os casos de fracassos escolares são casos
de solidão dos alunos no universo escolar (os tipos de orientação cognitiva,
os tipos de práticas de linguagem, os tipos de comportamentos próprios à
escola), as formas escolares de relações sociais (LAHIRE, 2004, p. 19).
Muitas vezes as crianças não possuem condições e nem disposições cognitivas para
atender às necessidades escolares, e então ficam sozinhas e alheias diante das exigências
escolares. Quando vão para casa levam um problema escolar e as pessoas de suas relações
sociais não podem ajudá-las e elas permanecem mais uma vez alheias e sozinhas, carregando
problemas insolúveis.
A família pode ajudar de forma positiva, não necessariamente voltada ao domínio
escolar, mas a domínios periféricos.
Além desses fatores, o autor é contra a idéia de que as famílias populares cujos filhos
tiveram sucesso na escola exerçam práticas de supervalorização. Significando muitas vezes
que os estudos dos filhos passaram a ser o projeto exclusivo da família, tornando-se uma
obsessão, buscando que seu filho tenha um seguro sucesso.
Mas isso muitas vezes tem a ver com pais que querem ver os filhos chegarem aonde
não chegaram. Mas isso tudo é perigoso, pois:
Quanto a isso, vai depender dos modelos de famílias, cujos filhos garantem “sucesso
escolar”, pois as famílias populares alcançam isso com seus filhos em várias hipóteses:
projeto escolar, superinvestimento escolar, família operária militante (que por serem
militantes religiosos, sindicais, políticos, desenvolve um interesse intelectual maior), famílias
107
autodidatas (operário especializado), famílias que intervêm nas condições morais, financeiras
e afetivas.
O capital cultural a ser transmitido ou adquirido depende das relações sociais duráveis.
É um mito a omissão parental como fator do fracasso escolar.
Muitos professores fazem deduções a partir de comportamentos e dos desempenhos
escolares dos alunos. Alegando que os pais não se importam com os filhos.
O futuro herdeiro do ‘capital cultural’ nem sempre encontra condições adequadas para
receber determinada herança.
Entendendo a aprendizagem dessa forma, necessário se faz entender melhor como o
professor deve proceder no momento de avaliar o aluno. Entende-se que o processo de
avaliação está aliado ao processo de aprendizagem, e que a aprendizagem não pode estar
ausente quando se discute a avaliação.
Quanto a isso, Masetto entende que:
Todos os professores querem que seus alunos aprendam, mas nem todos
estão atentos a algumas características do processo de aprendizagem.
Embora na teoria saibam que as pessoas são diferentes, não são homogêneas,
que ritmos de aprendizagem variam de indivíduo para indivíduo e até mesmo
no próprio indivíduo, dependendo de uma série de circunstâncias, no entanto
agem de forma contraditória ao elaborar um plano para todo o grupo, sem
flexibilidade para ritmos diferentes entre os alunos, para situações de erros,
para dificuldades maiores na consecução dos objetivos. Quando se dão conta
dessas questões, tratam-nas como problemas que aparecem quando não
deviam e surgem para complicar as atividades docentes ou atrasar o
programa (MASETTO, 2003, p. 149).
De acordo com CURY (2006, p.89): “Bons alunos são repetidores de informações,
alunos fascinantes são pensadores”.
O autor nos remete a uma reflexão muito importante. Muitos professores aplicam suas
provas e só valorizam aquilo que o aluno repete, tanto do conteúdo dos textos ou das palavras
do próprio professor. Será que assim se garante um aluno fascinante, que consegue ordenar
seus pensamentos e se tornar um pensador crítico?
Se ninguém é igual a ninguém, então:
Analisando essa afirmação de Cury, fica clara a idéia de que um bom aluno é esse, e
muitas vezes aquele aluno que aparenta ser “mau aluno” ou “desinteressado” é um ótimo
crítico e saberá como conduzir-se na profissão. E o risco de traumas e sequelas causadas por
atitudes impensadas de professores muitas vezes causam situações irreversíveis.
que seja sólida e consistente, mas não apenas isso. Terá que estar associada a outras
competências para construir um profissional capaz de participar efetivamente de um processo
que tem como visto no item anterior, os alunos como centro da aprendizagem.
Uma primeira dificuldade se coloca para a discussão das habilidades desse professor.
Em que sistema educacional ele atua e como se coloca nele?
Perrenoud (2002, p. 12) adverte que:
Portanto, lícito concluir que não se pode refletir sobre competências de um professor
isolado, mas que se deve ter em conta, também, o sistema educacional do qual este professor
faz parte, assim como as dificuldades e limitações que isso implica.
O professor capaz de desenvolver as competências necessárias para a implantação de
uma efetiva aprendizagem está situado em um sistema educacional ainda bastante elitista e
precário. Sistema que trafega entre a busca da profissionalização e do sucesso econômico
existente em grande parte das escolas privadas do país, e a miserabilidade quase absoluta a
que se encontram reduzidas as escolas públicas, nos diferentes graus de formação de seus
alunos.
É, portanto, com os “pés no chão” da realidade brasileira, cuja educação para além do
nível fundamental é ainda um artigo de luxo de expressiva parcela da população, e onde o
ensino universitário nos grandes centros urbanos ocorre mais em instituições privadas e
comprometidas com seus próprios resultados financeiros do que em instituições públicas
compromissadas apenas com a relação ensino-aprendizagem, que se pretende refletir sobre
111
Por isso que eu acho complicado afirmar que é possível ensinar o projeto
ético político, teria que ter maior investimento nisso, maior carga horária,
por exemplo, a minha carga horária é minúscula, então eu faço o possível
mas não dá. (OLEGNA)
E com o Arrocho, que a gente foi sofrendo nos últimos anos, eles foram
diminuindo, então agora para cada grupo de 10 alunos, nós só temos 7 horas,
ou seja, nós temos cerca de 35 minutos por aluno. (SANDRA)
Eu sempre quis ser docente. Qualquer profissão que seu escolhesse eu seria
professora. Minha mãe já dizia, desde pequinininha que eu não cansava de
explicar. Então ela falava: ela vai ser professora, não tem jeito. Então eu não
sei se a gente pode chamar isso de aptidão, vocação, não sei, eu acho que é
você gostar de fazer aquilo, eu me realizo, eu me realizo dando
aula.(JOLINDA)
Eu acho que você tem o cara que é professor e o cara que está professor.
(SANDRA)
curricular dos cursos de graduação em Serviço Social e revisão do Código de Ética e da Lei
de Regulamentação da profissão.
Assim, a formação do Assistente Social perpassa por diversos campos para que ele se
prepare para enfrentar o mercado de trabalho e, acima de tudo, seja um profissional
comprometido com os princípios éticos, e é por isso que no “projeto político da profissão a
formação dos futuros assistentes sociais ocupa lugar central”.
Esta formação está alicerçada nos “princípios da formação profissional” expressos nas
Diretrizes Curriculares da ABEPSS(1986), que também abrange três núcleos de
fundamentação para esta formação, sendo eles: núcleo de fundamentos teórico-metodológicos
da vida social, núcleo de fundamentos da particularidade da formação sócio-histórica da
sociedade brasileira e núcleo de fundamentos do trabalho profissional.
Esses núcleos são “a essência da formação profissional e dão suporte teórico-prático à
compreensão dos fundamentos teórico-metodológicos da crítica marxiana, vendo o ser social
enquanto totalidade histórica” (ALBIERO, 2006, p. 80).
É fundamental que o assistente social consiga compreender e assimilar esses
117
fundamentos para que possa realizar uma intervenção consciente e comprometida com seus
usuários, buscando a garantia de seus direitos, enquanto cidadão, com dignidade.
E, neste caso, a avaliação formativa é o melhor caminho, entendida como uma ética da
libertação e não como instrumento de domesticação, para assim conseguir a formação de
profissionais críticos.
2.3 A Didática
Eu conheci, um dia desses, uma guria que se formou o ano passado e está
dando aula, então tem de tudo nesse mundo, a menina se formou em
dezembro e em fevereiro já estava dando aula em Serviço Social. Uma
loucura. (ANDREA)
Nas falas das professoras percebe-se que a preocupação com a formação docente é
recorrente, pois existe diferença entre o docente que se prepara e o que não se prepara para a
docência. E que existem, ainda, docentes que mal terminaram a graduação e já estão
lecionando. Que preparo para a docência ele tem, se nem uma especialização ele ainda fez?
A Didática desempenha um papel fundamental como instrumento de orientação,
ajudando a conceber as situações de aprendizagem. Mas é também o instrumento privilegiado
de análise, identificando questões, sugerindo alternativas.
Os professores, como quaisquer outros profissionais, têm os seus quadros de
referência próprios, construídos de forma a fundamentar e justificar as suas práticas. O
contato com outros quadros de referência, proporcionado por excursões pelos mais diversos
domínios, proporciona um maior leque de escolhas e estimula o surgimento de inquietações,
criando as condições para uma mudança de valores e concepções educativas e conduzindo a
novas práticas.
Então, o professor que consegue fazer com que o aluno aprenda, pode ser visto como o
professor que tem uma “excelente didática” em sala de aula. Ele consegue chamar a atenção
do aluno e despertar seu interesse em relação ao conteúdo trabalhado.
Nesse aspecto, cada docente tem seu estilo próprio de trabalho, e isso ficou claro com
os resultados da pesquisa de campo, pois os entrevistados têm maneiras diferentes de se
trabalhar. Alguns se utilizam de filmes, poemas, contos, músicas; outros de discussão de
casos, situações de estágio, discussão de textos, aulas expositivas, visitas, proporcionando aos
alunos maneiras diferentes de desenvolver seu aprendizado.
121
A CONSTRUÇÃO DA PESQUISA
122
Compreende-se, portanto, que a pesquisa social, a pesquisa na área das ciências sociais
tem seu objeto “essencialmente qualitativo”. “A realidade social é o próprio dinamismo da
123
vida individual e coletiva com toda a riqueza de significados dela transbordante” (MINAYO,
2003, p. 15).
E quando se conhece a realidade é possível reinventá-la. Reinventar novas estratégias,
novas ações, novos perfis, novos modelos. Consegue-se ainda uma busca pela quebra de
paradigmas.
Afirmando que a pesquisa social tem seu objeto na história, e que este é estudado
através da pesquisa qualitativa, não significa que a pesquisa quantitativa não seja importante e
necessária. Acontece que ambas só têm significado quando se completam.
Como explicita Martinelli:
[...] à medida que fui vivendo minha vida profissional, realizando minhas
atividades docentes, trabalhando com famílias, com crianças, a cada
momento via mais claramente que a pesquisa quantitativa era importante
para dimensionar os problemas com os quais trabalhamos, para nos trazer
grandes retratos da realidade, mas era insuficiente para trazer as concepções
dos sujeitos. Como pensam sua problemática? Que significado atribuem às
suas experiências? “Como vivem a sua vida”? (1999, p. 20).
A escolha pela UEL se deu pelo fato de a pesquisadora residir no Estado de São Paulo,
na cidade de Palmital e por esta estar na divisa com o Paraná.
Observem no mapa abaixo em destaque a cidade de Palmital-SP e Londrina-PR,
ficando distantes aproximadamente 180 km.
131
Desta forma optou-se pela escola da Região Sul I da ABEPSS, que tem algumas
características que, além da proximidade, levou-a a ser escolhida, como por exemplo, ser uma
universidade pública, ser referência para a categoria, ter boas notas no ENADE e ser
reconhecida pela ABEPSS.
Com isso buscou-se dados qualitativos para a pesquisa.
Por tratar-se de pesquisa qualitativa o seu universo não pode ser muito amplo, e de
acordo com Martinelli (1999, p. 23-24):
maiores, mas essa não é nossa busca nessa metodologia de pesquisa. Como
não estamos procurando medidas estatísticas, mas sim tratando de nos
aproximar de significados, de vivências, não trabalhamos com amostras
aleatórias, ao contrário, temos a possibilidade de compor intencionalmente o
grupo de sujeitos com os quais vamos realizar nossa pesquisa.
O Estado do Paraná localiza-se na região sul do país, ocupando uma área de 199.314
km², que corresponde a 2,3% da superfície total do Brasil, contando atualmente com 399
municípios.
Os centros de convenções de Curitiba, Foz do Iguaçu e os Conventions Bureaux
dessas cidades e de Londrina, Maringá e Ponta Grossa marcam definitivamente a entrada do
Paraná na área de congressos e convenções, provocando um acréscimo significativo nas
empresas organizadoras e prestadoras de serviços, totalizando 91 empresas. No litoral, com 98
km de extensão, está localizada a baía de Paranaguá com 300 km² de área, uma das mais
importantes do Sul do Brasil, onde se destacam os portos de Paranaguá e Antonina.
A população estimada em 9,9 milhões de habitantes (IBGE - 2003) é formada,
predominantemente, por descendentes de diversas etnias como: poloneses, italianos, alemães,
ucranianos, holandeses, espanhois e japoneses que aqui se fixaram, juntando-se ao índio, ao
português e ao negro, os três elementos básicos que formaram o povo e a cultura paranaense,
fazendo com que o Paraná seja conhecido como a “Terra de Todas as Gentes”. A diversidade
de paisagens, a fertilidade do solo, os usos, costumes e as características de sua gente fazem
do Paraná um Estado sui generis e o coloca em privilegiada situação no cenário nacional.
cursos, ofertados à época, congregando áreas afins, dentro do sistema de créditos, então
vigente, e os Departamentos afins, por sua vez, foram reunidos em Centros de Estudos.
Iniciou suas atividades com um total de 13 cursos de graduação: História, Geografia,
Letras Anglo-Portuguesa e Letras Franco-Portuguesa, Pedagogia, Ciências (1º grau), Direito,
Odontologia, Medicina, Farmácia e Bioquímica, Ciências Biomédicas, Ciências Econômicas e
Administração.
A pós-graduação também se iniciou na instituição na década de 1970 com o retorno
dos docentes que se encontravam em capacitação, sendo implantado, em 1972, o Curso de
Especialização em Odontopediatria, seguido, no ano de 1973, pela implantação de seis áreas
de Residência em Medicina e pelos Mestrados em Ciências de Alimentos (1975) e em Direito
(1978) e tem se desenvolvido de forma expressiva quali e quantitativamente.
Enquanto Fundação Estadual contou com recursos provenientes da contribuição do
alunado e do Governo do Estado. Em 1978, foi implantado o ensino gratuito no nível de
graduação, sendo transformada em Autarquia pela Lei Estadual 9.663, de 16/07/91.
Possui autonomia didático-científico-administrativa e de gestão financeira e
patrimonial, mas é dependente financeiramente no Governo Estadual, de onde se origina a
maior parte dos recursos que asseguram sua operação e manutenção.
Em 2005, adotou o sistema de cotas para estudantes negros e os oriundos de escolas
públicas em seu vestibular.
Está localizada em Londrina–PR, uma das maiores cidades do sul do país, é
reconhecida como potencializadora econômica, com influência direta e indireta aos
municípios localizados no norte do Estado do Paraná, Sul de São Paulo e Mato Grosso do Sul.
Em um Estado que conta com 192 instituições de Ensino Superior (2 federais, 17 estaduais, 3
municipais, e 170 particulares), a UEL é reconhecida como uma das melhores universidades
do País, desempenhando um papel decisivo no dinâmico desenvolvimento da cidade e região,
com destaque na prestação de excelentes serviços de saúde, na pesquisa e extensão à
sociedade e no ensino de qualidade para a formação de profissionais, em diferentes áreas de
conhecimento.
138
Bibliotecas
A UEL possui uma Biblioteca Central localizada no calçadão do campus, três
Bibliotecas Setoriais (no HU, Escritório de Aplicação e COU) e uma Biblioteca Especial (no
CLCH).
Livraria
A Livraria EDUEL trabalha com livros de sua própria editora - EDUEL - e também
com livros das demais editoras - universitárias e comerciais, aceitando, inclusive encomendas.
Editora
A EDUEL já publicou mais de trezentos títulos, alguns deles em parceria com outras
importantes editoras. Sua linha editorial está voltada para o público universitário, publicando
livros de docentes da UEL e de outras universidades também. A EDUEL também funciona
como campo de estágio para diversos cursos da Instituição. Fone/Fax: 3371-4656 e 3371-
4674 - e-mail: eduel@uel.br - www.uel.br/editora.
139
Casa de Cultura
A Casa de Cultura é um dos órgãos responsáveis pela promoção cultural na
Universidade. Sua sede é um Centro Cultural Integrado que fica no centro de Londrina. A
Casa de Cultura possui quatro divisões: a Divisão de Música, que além de participar da
realização do Festival de Música de Londrina, realiza atividades de musicalização infantil e
adulta, administra 1 orquestra, 6 corais (Infantil, Juvenil, Adulto, de Terceira Idade, H.U. e
Campus), 2 grupos de música antiga (o NEUMA Ensamble Universitário de Música Antiga e
o ARS Mensurabilis). A Orquestra Sinfônica da UEL e os corais da UEL realizam concertos
oficias e didáticos e já gravaram vários CDs. No início de cada semestre, voluntários da
comunidade externa e interna da UEL podem inscrever-se para processo seletivo dos corais.
Não é necessário conhecimento prévio de música. A Divisão de Artes Cênicas organiza o
FILO - Festival Internacional de Teatro de Londrina, e presta assessoria a grupos de teatro. A
Divisão de Artes Plásticas promove a Semana de Arte, desenvolve oficinas e cursos e mantém
espaços de exposição. A Divisão de Artes Cinema e Vídeo priorizando a exibição de obras
que estão excluídas do circuito comercial tradicional. A Casa de Cultura mantém ainda o
CINE TEATRO OURO VERDE, o maior da cidade, com quase mil lugares que se localiza no
centro de Londrina. O prédio faz parte do patrimônio Histórico do Paraná. Neste espaço
também são apresentados shows musicais, peças de teatro e espetáculos de dança. Fone:
3323-8562 - e-mail: ccultura@uel.br - www.uel.br/ccultura.
Laboratório de Línguas
Situado no centro de Letras e Ciências Humanas, no Instituto de Referência em
Ciências Humanas (IRCH), 2º piso, o Laboratório de Línguas dá apoio às atividades de ensino
do curso de Letras e dos cursos de graduação do CLCH. Também oferece cursos de línguas
nos idiomas: Francês, Espanhol, Italiano, Alemão, Inglês e Japonês (em diferentes níveis)
140
Rádio Universidade FM
empréstimos.
Escritório de Aplicação de Assuntos Jurídicos
O EAAJ é um Órgão Suplementar do CESA, presta assistência jurídica à população
economicamente carente de Londrina, permitindo-lhe acesso à justiça e consequentemente ao
exercício da cidadania, e ao mesmo tempo é campo de estágio para os estudantes do Curso de
Direito, Serviço Social e Psicologia da UEL.
Linha de Ônibus
Banco
Correio
Segurança
Serviço de Bem-Estar da Comunidade - SEBEC
Restaurante Universitário - RU
Passe Escolar
Convênios com Profissionais da Área de Saúde e Laboratórios
Atendimento Ambulatorial à Comunidade Universitária
Seleção e Triagem Sócio-Econômica
Apoio Sócio-Familiar
Atenção, Educação e Prevenção em Saúde
Programa de Prevenção dos Riscos do Uso de Drogas
Fotocópias
Cantinas
Capela Ecumênica da UEL
Moradia Estudantil/Casa do Estudante – CEUE
cartazes, o período de inscrições para novos moradores. O SEBEC faz o processo de seleção
em conjunto com a diretoria da Casa do Estudante. Informe-se pelo fone 3371-4654 sobre a
documentação necessária ou diretamente na Casa do Estudante, localizada na Av. JK, 2006.
Centro Acadêmico – CA
O SIMBOLO DA UEL
Nos cursos de graduação existem 13.630 alunos matriculados, sendo 6.217 do sexo
masculino e 7.413 do sexo feminino.
A universidade também oferece cursos de pós-graduação lato-sensu e stricto-sensu,
tendo 14 cursos de doutorado com 309 alunos matriculados, 33 cursos de mestrado com 846
alunos matriculados, 154 cursos de Especialização com 2.335 alunos matriculados.
Os docentes da universidade totalizam 1.619, divididos pela seguinte titulação:
Graduação 49, Especialização 129, Mestrado 579, Doutorado 844, Pós-doutorado 16, Livre-
docência 2, sendo que destes, 1.296 trabalham em regime integral e 323 em regime parcial.
Ciências Contábeis
Ciências Econômicas
Ciências Sociais
Comunicação Social - Habilitação: Jornalismo
Comunicação Social - Habilitação: Relações Públicas
Design de Moda
Design Gráfico
Direito
Educação Artística
Educação Física
Enfermagem
Engenharia - Habilitação: Engenharia Civil
Engenharia - Habilitação: Engenharia Elétrica
Esporte
Farmácia
Filosofia
Física
Fisioterapia
Geografia
História - Habilitação: Licenciatura
Letras
Matemática
Medicina
Medicina Veterinária
Música - Habilitação: Licenciatura
Odontologia
Pedagogia
Psicologia
Química
Secretariado Executivo
Serviço Social
Zootecnia
148
1º ANO
Fundamentos do Serviço Social
Formação Política e Social Cultural do BR
Oficina de Serviço Social
Oficina de Letras
Economia Política
Filosofia E
151
Ciência Política
Sociologia
2º ANO
Psicologia Social B
Fundamentos do Serviço Social II
Oficina de Serviço Social II
Ética Profissional
Política Social A
Pesquisa Serviço Social I
Antropologia
3º ANO
Oficina de Estatística
Prática Profissional I
Gestão em Serviço Social I
Política de Seguridade Social
Instituições de Direito
Planejamento Social
Políticas Setoriais
Oficina III
4º ANO
Prática Profissional II
Gestão em Serviço Social II
Movimentos Sociais e Direitos Sociais
Persp. Profissional na Atualidade
Trabalho e Sociedade
O Ensino da Sup. no Serviço Social
Oficina de Serviço Social IV
Oficina de Serviço Social V
Comunicação
Elaboração de TCC
152
1ª Série
Economia Política
Diferentes escolas do pensamento econômico e as diferentes interpretações sobre a
economia capitalista: liberal, marxista , keynesiana e neoliberal.
Filosofia E
Concepção de Filosofia. Perspectivas filosóficas para reflexão sobre a racionalidade, a
ontologia, a epistemologia, a ética e a política.
Oficina de Letras
Teoria e prática de redação, resumo, resenha, monografia, relatório. Revisão de textos.
Leitura, interpretação e elaboração de texto acadêmico.
Fundamentos do Serviço Social I
O Serviço Social como profissão: a lei de regulamentação da profissão. Concepções
sobre a origem e evolução do Serviço Social. História do Serviço Social no Brasil. Influência
das correntes filosóficas e sociológicas no Serviço Social.
Formação Política e Social do Brasil
O processo histórico e cultural de desenvolvimento do Brasil. A constituição do
Estado Brasileiro. As diferentes configurações do Estado brasileiro e sua relação com a
sociedade civil.
Oficina de Serviço Social I A
Investigação da realidade social. A expressão da questão social no cotidiano da
profissão. A contribuição do Serviço Social no estudo da questão social.
Ciência Política
Política, Poder e Estado. A concepção liberal. A política enquanto forças sociais.
Sociologia
As correntes clássicas do pensamento sociológico: o positivismo, a teoria
compreensiva e o materialismo histórico.
2ª Série
Psicologia Social B
Análise das relações entre indivíduo e sociedade na perspectiva do materialismo
153
3ª Série
Oficina de Estatística
Estatística aplicada à pesquisa em Serviço Social. Introdução à estatística básica.
Distribuição de frequência e apresentação gráfica. Medidas de posição e dispersão, medidas
154
4ª Série
Estágio Supervisionado II
Planejamento, execução, avaliação e proposição de práticas profissionais.
Comunicação Social
155
OS SUJEITOS DA PESQUISA
160
3.3.1 Os Docentes
Observando os dados, percebe-se que os docentes são do sexo feminino, sendo esta
uma característica histórica em relação aos assistentes sociais, que desde os primórdios da
profissão são as mulheres quem a exercem.
As mesmas são jovens, pois nenhuma tem mais que 50 anos de idade. Das
participantes três são doutoras e três são mestres, e apesar de não constar do quadro, duas
estão cursando o doutorado, sendo a professora Líria e a professora Andréa. Cinco se
graduaram em Universidades Públicas, uma se graduou em IES privada, sendo que das que se
graduaram em IES públicas, três se graduaram na própria UEL.
Entre as docentes, apenas duas possuem mais de 20 anos de docência, sendo a
161
professora Jolinda com 27 anos e Sandra com 23 anos. Das demais, três são docentes há 9
anos, sendo a docente Olegna, Líria e Eliane. A mais nova na carreira docente é a professora
Andréa, com 5 anos de exercício docente.
3.3.2 - Os Alunos
Quatro das alunas entrevistadas têm uma característica em comum, todas concluíram o
segundo grau em escola pública e todas são do Estado do Paraná.
Por terem concluído o ensino médio em escola pública, fica aqui um elemento para
uma reflexão mais aprofundada, que não cabe aqui, pois pelo conhecimento do senso-comum,
são os alunos que estudam em escolas privadas que conseguem as vagas em universidades
públicas.
É importante destacar a situação da aluna Veranice, que mais que estudar em escola
pública, conseguiu concluir o segundo grau através do Ensino Supletivo, estando na faixa
etária de 26 a 33 anos.
Apenas uma sempre estudou em escola particular.
Uma das alunas diz que o curso de Serviço Social foi sua segunda opção de escolha, e
que as matérias é que chamaram sua atenção.
Três delas escolheram pelo fato de a profissão possibilitar a proximidade com o ser
humano, e uma diz que desde o primeiro ano de curso tenta se responder essa pergunta, mas
não consegue, mas sabe que é o que quer para ela.
No quadro a seguir, as alunas expõem um pouco mais sobre elas e a escolha pelo curso
de Serviço Social.
163
AFRANIA pois me identifico com a acha que o Conhece o básico sobre Sempre participa dos
área das ciências envolvimento com o ele, mas o que ajudou movimentos e lutas
sociais, e a profissão movimento estudantil mesmo foi ela ter da universidade e diz
mesmo com traços e influencia muito entrado no grupo de que isso já é da sua
heranças conservadoras, pesquisa que discute personalidade
traz o amadurecimento, a sobre o projeto ético
perspectiva critica e a político
prática
profissional voltada
à conquista
de políticas públicas
e sociais em relação aos
usuários, conquistas para
a categoria profissional, e
as demais lutas que
buscam a ampliação de
direitos e defesa da
democracia.
CHRISTIANE porque me faz pensar Sim, posso dizer que Sim, faço pesquisa Não, nunca.
mais sobre o mundo. não sairei da sobre esse tema na
universidade com UEL.
aquele mesmo
pensamento de senso
comum que eu entrei,
hoje tenho uma visão
mais ampliada das
pessoas saio mais
julgando como fazia
164
Com as respostas obtidas fica nítida a preferência dos alunos pelas aulas dinâmicas e
que instigam os alunos a refletirem, indicando sua contrariedade com as aulas expositivas.
Num segundo momento foi-lhes perguntado como elas conseguem aprender, e essas
foram as respostas:
Sim, consigo, através das aulas, mas também pelos textos e principalmente
pela experiência no campo de estágio (Christiane).
Quando consigo relacionar o que julgo ter aprendido com outras coisas,
fatos, filmes, e/ou com a prática (Fabiana).
Put’s, é uma pergunta que não sei responder e que inclusive estava
discutindo isso com uma professora antes das férias. Eu acho que aprendi
quando sei discutir sobre um assunto, quando estou no estágio e chega
alguma questão sobre BPC, por exemplo, e eu sei se o caso se enquadra nos
critérios ou não; quando consigo lembrar de alguma lei que possa ajudar um
usuário ou quando de alguma forma posso responder a demanda que me
chega, quando isso acontece, eu acho que aprendi o que me foi ensinado na
sala de aula, pois posso colocar na prática o que aprendi na teoria. Não sei se
estou equivocada, mas é essa forma que eu tenho de saber se aprendi. A nota
também é importante, mas é relativo (Christiane).
Todas as respostas evidenciam que para elas o que lhes dá a certeza do aprendizado é
quando conseguem falar sobre o conteúdo aprendido, quando conseguem relacioná-lo com a
prática ou enxergá-lo em atos e situações sociais. Somente uma citou sobre a nota, mas
mesmo a que disse isso aponta a nota como algo relativo enquanto identificador de
aprendizado.
Para uma última reflexão, lhes foi questionado sobre como considera que o professor
consegue saber que aprendeu?
Não Consegue... rsrsr, pois uma prova aplicada não lhe dá essa certeza, mas,
penso eu, por meio de debates,discussões em sala, enfim acho mais
aproveitado do que uma simples de prova frente e verso... (Veranice).
Quando ele avalia não apenas através das provas, mas engloba outras
atividades, e principalmente quando verifica as dificuldades dos estudantes e
ajuda a superá-las. Mas sinceramente, considero que a maioria não sabe se
realmente aprendemos ou apenas decoramos e logo esqueceremos o que
julgam termos aprendidos (Fabiana).
A grosso modo pela nota que ele me dá, mas como disse, é relativo, uma vez
que eu posso ter decorado a matéria de uma prova e não saber nada sobre
aquilo, não sabem empregar o que aprendi, então pra mim não aprendi nada
(Christiane).
166
Nesta pergunta as alunas demonstram mais uma vez que não acreditam em provas, que
estas não medem seus conhecimentos, pois quando estudam, decoram, na verdade não é nesse
momento que elas aprendem ou não, pois podem ir bem na prova e não ter entendido nada, ou
pode ir mal na prova e ter aprendido muito, por isso dizem que isso é relativo. Concretiza-se
então a idéia de que a prova, como instrumento para medir o aprendizado é vista pelos alunos
como meio de punição e não de construção, e que não é na prova ou estudando para a prova
que conseguem aprender.
167
categoria na busca de sua elaboração e efetivação. A ABEPSS trouxe uma nova lógica
curricular, deixando o conservadorismo e colocando o Serviço Social na categoria de
profissão que se baseia nas Ciências Sociais, tendo como referência a teoria marxista, o que
significa uma teoria crítica, sendo o objeto do Serviço Social a Questão Social, aquela gerada
pela relação Capital/Trabalho e que se expressa de variadas formas em nosso meio social.
No contexto da tese refletiu-se sobre os entraves que a profissão tem buscado superar,
relacionados à própria precarização na formação do assistente social, desvelando aqui
algumas possibilidades. Se o governo federal ampliasse a oferta de cursos de Serviço Social
nas universidades federais ampliaria muito o número de vagas gratuitas para as pessoas
interessadas no curso, que poderiam deixar o ensino à distância, que é pago, para frequentar
um ensino presencial de qualidade. Ainda possibilitaria a contratação de muitos docentes,
mestres e doutores, incentivando a busca pela qualificação no nível stricto-sensu.
o fato da ABEPSS não citar essa questão da ampliação de vagas para docentes
possivelmente se dê pela sua obviedade, pois se há alunos há professores. Mas essa
possibilidade é rica para a categoria, pois é certo que temos muitos profissionais que se
interessam pela carreira docente.
O Projeto Político Pedagógico foi definido e interpretado, sendo possível o
entendimento de que é ele que oferece as bases para o planejamento de um curso em
determinada universidade. E esse planejamento deve ser participativo, envolvendo todas as
instâncias que tem relação direta na formação do aluno.
Quanto ao Projeto Político Pedagógico do Curso de Serviço Social, este deve seguir na
mesma linha, porém, deve ser pensado como um um projeto pedagógico para o curso de
Serviço Social. Em se tratando de Serviço Social, deve ser elaborado e pensado de acordo
com as Diretrizes Curriculares da ABEPSS(1996), que direciona a formação de profissionais
críticos e éticos, preparados para trabalhar com as expressões da Questão Social, participando
de uma categoria profissional comprometida com o Projeto Ético Político de Profissão.
Como a formação do assistente assistente social se dá na universidade, e sendo a
universidade um estabelecimento educacional, regido pela LDB, fiscalizado pelo MEC, trata-
se de um local de práticas educativas, de uso da metodologia de ensino e, portanto local de
prática pedagógica e didática. Há necessidade de uma prática pedagógica ao ensinar os
fundamentos históricos teóricos e metodológicos do Serviço Social, ao ensinar sobre os
instrmentos tecnico operativos e como se dá uma intervenção profissional nas diversas áreas
de atuação.
170
Sendo assim, todo docente é visto como um professor, inclusive chamado pelos seus
alunos de professor. Mas professor é aquele que se formou para ser professor.
No caso do Serviço Social, muito bem lembrado por um dos sujeitos da pesquisa, pela
professora Jolinda, é atribuição privativa do assistente social dar aulas em curso de Serviço
Social. Mas o assistente social não tem em sua formação nenhuma disciplina ou
direcionamento para o aprendizado do exercício da docência. Então não é ilegal e, nem
podemos dizer incorreto, se qualquer assistente social lecionar em um curso superior.
Infelizmente isso tem acontecido nos cursos à distância. Os tutores, muitos deles, tem
exercido a tutoria desses cursos sem nenhum conhecimento pedagógico e, muitas vezes sem
um conhecimento profundo da própria teoria que norteia a profissão. Então a precarização se
evidencia tanto naquele que forma como nos que se formam a partir de seus ensinamentos.
Entendendo então a prática docente do assistente social como uma prática de natureza
pedagógica, buscou-se aprofundar a reflexao sobre a aprendizagem, indicando os momentos
de aprendizagem que são proporcionados e quando e quais momentos os alunos definem
como os melhores momentos desse acontecimento, conhecendo ainda como e quando o
professor detecta que o aluno aprendeu, quando o aluno sabe que aprendeu e se ele consegue
identificar quando o professor sabe que ele aprendeu.
Os estudos teóricos aliados à pesquisa de campo direcionam ao entendimento de que o
assistente social e a docência, necessariamente, não caminham juntos, pois o assistente social
só com a graduação não reúne elementos suficientes para participar efetivamente do processo
de ensino-aprendizagem. Pode ser que ele reúna elementos de caráter vocacional e que o
impulsionam à docência. Porém, só isso também não o qualifica. Razão pela qual deve-se se
partir do pressuposto de que para lecionar em curso superior, quase que em sua totalidade, as
IES exigem, no mínimo, o curso de especialização, que então preparou aquele assistente
social para a docência. Mas será que todos os cursos de especialização contemplam algum
tipo de disciplina direcionada a tal objetivo? Não. Muitos cursos não oferecem e nem pensam
nisso, pensando sempre na qualificação do profissional para a intervenção, pois a profissão é
de natureza interventiva.
A pesquisa mostra que quando o assistente social tem o exercício da prática, de modo
coerente e competente, consegue exercer melhor a docência, pois aliada à teoria que já teve na
graduação, a prática lhe dá elementos para conseguir relacionar a teoria à prática.
Uma outra situação é que o assistente social tenha feito um curso de Metodologia, um
curso em educação, em licenciatura, ou que ele seja mestre ou doutor, pois aí se garante uma
docência de qualidade. Foram referidas situações de que há docentes que são doutores e que
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não exercem uma docencia de qualidade, pois não tem uma boa didática e não sabem como
ensinar.
Pode-se considerar então, que o ideal é que o assistente social docente reúna todos
esses quesitos para realizar uma boa prática docente: que tenha vocação, que exerça ou tenha
exercido uma prática profissional competente e ética, que tenha feito um curso específico para
metodologia do ensino superior, e que se valorize mais os docentes mestres e doutores, que
possuem uma bagagem teórica grande, mas que nem por isso, tenha tido uma disciplina ligada
à metodologia de ensino. A maioria dos cursos de mestrado e doutorado não oferecem essas
disciplinas, sendo, na sua grande maioria, os programas de educação quem oferecem.
Como todo curso superior tem que ter seu Projeto Pedagógico, mais uma vez fica
evidente a necessidade do docente de Serviço Social ter conhecimentos de caráter
pedagógicos educacionais, pois como pensar num currículo, que além de contemplar as
diretrizes curriculares, ainda alcance sucesso com os alunos, porque para ele também foram
pensadas práticas educativas.
Diante disso, vale destacar a importância da participação docente e discente na
elaboração deste projeto. Com o posicionamento da professora Olegna, sujeito da pesquisa,
ficou evidente a diferença na atuação docente e na organização de uma disciplina quando o
docente participa da elaboração, planejando sua disciplina, o caminho que vai traçar, e os
objetivos que quer alcançar. Algumas dificuldades são pontuadas quanto a participação
docente e discente, pois não são todos os que estão abertos a participar, e não são todos que
estão abertos a mudanças, preferindo ficar na sua zona de conforto, sem esforço em torno da
formação do aluno.
Como o curso de Serviço Social é uma profissão considera liberal, a mesma possui um
código de ética que foi pensado e elaborado com base num projeto ético político de profissão.
Verifica-se que é possível a formação de um aluno dentro de uma perspectiva crítica, sendo
destacada algumas dificuldades quanto à formação ética de acordo com os príncipios que
norteiam o código de ética do Serviço Social, uma vez que os princípios estão mais
direcionados a busca por uma sociedade justa e igualitária, e que é bastante desafiante dentro
de um país capitalista, com ideais neoliberais, onde não se critica a propriedade privada, e
onde a justiça que se prega dificilmente será alcançada. Então que justiça buscamos? Que
igualdade queremos?
Então quanto a essa formação ética baseada nos príncipios do Código de ética,
considera-se a possibilidade de um estudo mais aprofundado, uma vez que houve divergências
172
de opinões. Quanto a uma formação aliada aos princípios éticos do Código destaca-se a fala
da profa. Eliane:
O grande problema que eles vem para fazer o curso e imaginam que uma
coisa, no segundo ano eles entram em crise, porque eles acharam que ia
ajudar e não vão poder ajudar, ele acha que entra fazer esse curso, tem uma
criticidade e acha que não vão fazer nada, porque as políticas sociais,
compensatórias ...Não vão conseguir mudar o mundo, e eu odeio o curso, se
formam, fazem o primeiro concurso e entram e vão ser assistentes sociais.
Então, né eu acho que isso não sei. A gente tem que buscar resgatar para que
eles entendam, né, se vc tá fazendo um curso, e vc tem uma grande
possibilidade de exercer a profissão que vc exerça com qualidade. Mas isso,
na cabeça dos alunos é muito complexo. Porque eles acham, que eles, entram
achando que as coisas vão mudar, veem que as coisas não são bem assim, se
frustram, e também(...). Que não vai, né, tem que aprender a viver nesse
capitalismo. (Eliane)
Essa fala sugere que os alunos, quando conhecem os princípios éticos, que pregam a
justiça, a igualdade, a busca por uma sociedade igualitária, distribuição da riqueza, se frustram
quando se enxergam dentro da dura realidade capitalista na qual estão inseridos, e da
dificuldade de se conseguir essa igualdade, vista por este prisma. Alguns professores
acreditam que a igualdade e exercício de cidadania estão ligados a garantia de direitos que o
profissional deverá buscar para seus usuários. Basta saber trabalhar essa contradição dentro do
próprio curso, pois na verdade os alunos deverão entender essa contradição e entender que é
de dificil solução e o que existe são as políticas sociais.
Quanto ao relacionamento com os alunos, foi destacado que no processo de ensino-
aprendizagem tanto o discente quanto o docente são essenciais e que só haverá esse processo
se ambos cumprirem com seus papéis e responsabilidades. O relacionamento deve ser de
respeito mútuo, de compreensão e de humildade, pois tanto professor quanto aluno aprendem
neste processo. Fica evidente que alguns alunos aprendem mais que outros, pois existe a
subjetividade de cada um e segundo CLAXTON, grande estudioso dessa matéria, os alunos
resilientes alcançam maior sucesso que os demais, pois não tem medo e nem preguiça de
enfrentar situações novas de aprendizagem. Outra questao é que, hoje, mesmo em uma
universidade pública, muitos alunos trabalham fora, tendo o professor que pensar estratégias
novas de aprendizado, pois são alunos sem tempo para buscarem por si só momentos que lhe
possibilitem maior aprendizagem, como é o caso de grupos de extensão, pesquisas, estágios
extra-curriculares.
Essa realidade do aluno trabalhador e do ensino noturno já acontece há muito tempo
nas instituições de ensino privadas. Então essa realidade para docentes destas IES não é
novidade, ao contrário, muito se discute sobre isso, pois os alunos só tem tempo para a sala de
173
aula, e já temos encontrado alunos que necessitam faltar às aulas pois é dia de plantão no
trabalho, ou que trabalham no comércio, necessitam trabalhar à noite em datas comemorativas
e outras situações desa natureza. Então com essa dura realidade tanto o professor quanto o
aluno necessitam rever sua forma de vivenciarr a universidade, neste caso, tendo os alunos um
compromisso maior em organizar tempo possível para se dedicar aos estudos.
Por isso é que professores, principalmente aqueles mais acessíveis e humanos
repensam sua prática e se colocam também numa situação de aprendizagem, vejamos:
Jolinda: Eu acho que essa é uma outra questão que é bem polemica, e que
demonstra que ensinando você também aprende. Então o que a Olegna está
acabando de dizer é que ela está aprendendo esse relacionamento no
processo de ensino e aprendizagem, então eu vejo que é uma relação entre
sujeitos, embora exista o papel do professor e o papel do aluno, os dois são
sujeitos, e tem que haver muito respeito. Então o que é o respeito, é o aluno
cumprir com a sua responsabilidade e o professor também cumprir com a
sua responsabilidade, não pode virar bagunça, não pode deixar tudo, mas eu
não consigo ver a classe de uma forma massificada. Quando eu vejo que tem
um aluno com mais dificuldade, a turma da manha é uma turma
diferenciada, porque vem aqui, o pai paga pra estudar, a turma da noite é
uma turma que trabalha o dia inteiro, dorme na sua frente, então eu acho que
é o mínimo de exigência que você tem, e ai a gente aprende também com os
estágios em docência. Eu tive a Bete que fez estágio em docência, ela estava
fazendo mestrado, ela foi lá comigo participar da minha aula. Eu dou
fundamentos, trabalho Marilda, trabalho Zé Paulo, e aí um dia ela falou pra
mim: Jolinda metade da turma não entende o que você fala. Ai eu falei:
como não entendem, eu falo mais claro.“Não, eles não estão conseguindo
entender, você acha que está claro, mas aquilo que pra você é básico pra eles
ainda não é”. Eu comecei a partir de então, por isso eu digo que é um
aprendizado, a observar eles depois da primeira prova. Então, na primeira
prova eu sou super exigente, eu dou questões bem complexas, aí eu vou ver
o nível da turma, ai eu vou ter que voltar e rever. Ai o que eu aprendi a fazer
também, eu levo esses critérios de avaliação para a sala de aula, eu exponho
todos no quadro, e vou dizendo vocês tinham que ter respondido isso nessa
questão para ter tirado dois pontos, porque ela vale dois pontos. Ai eles
falam: “professora, você foi muito rigorosa, porque você não perguntou
direito, isso que você perguntou aqui não da pra gente...” . Então eu estou
aprendendo com eles a avaliar. Se a gente ficar com uma postura, eu vou ser
muito rígida daí eu perco o parâmetro, porque quando eu começo a falar eu
“destramelo”, e a Bete me fez ver isso, e a partir disso, eu tenho monitores, e
o monitor ajuda muito, porque o monitor vai no aluno que está com
problema e fala “olha fulano realmente não esta conseguindo acompanhar” e
as vezes você acha que a pessoa não esta vindo porque ela é displicente, e
não, ela está com um grande problema que ela não tem coragem de dizer.
Então eu já fui pega por surpresas, dessa forma, eu testar falando de
exemplos e a pessoa não vir mais na aula, e aí, professora o fulano falou que
não veio mais na aula, ela falou que aquele exemplo que você deu era pra
ela. Esquizofrênica. Mas eu teria que ter tido mais cuidado, mas eu tenho
uma forma, justamente pra quem estou entrando com Fundamentos, eu quero
impactar, a minha idéia é desconstruir esse modelo ideal que eles tem da
mocinha boazinha que faz Serviço social que vem para ajudar todo mundo,
174
com a questão da igreja, não vamos negar essa realidade, ela existe, mas eu
quero desconstruir essa idéia, colocar a idéia de profissão, e com isso, às
vezes eu agrido. Ai nessa agressão que eu achei que era pedagógica, mas
muitas vezes não é. Então eu também estou me revendo, mas eu não consigo
nivelar todo mundo da mesma forma, ai quando eu percebo que tem um
aluno que foi pior, não vou dar o trabalho pra ele, mas já aconteceu de eu
perdoar um aluno, eu não sou rigorosa, não veio na prova vai ter que entrar
com processo, eu falo tem que entrar com processo, tem pagar a taxa, mas
depois eu não peço pra pagar a taxa nada, é tem que fazer o papel. Ai na
questão da presença tem que apresentar o atestado lá na CAI, traz o atestado
aqui. Então assim, está conversando demais, eu falo por favor você quer sair,
você já tem presença, sai, você está atrapalhando a aula. Então, eu acho
assim é muito melhor você trabalhar com eles no sentido de eles estarem
conscientes, eu prefiro uma turma que está ali consciente, que eu percebi que
eles estão ali porque eles estão gostando e tal, se não eu tenho que me rever,
se a maioria foi mal na prova problema é meu não é deles, e se eles não estão
ficando na sala também, é porque a minha aula não está sendo interessante e
eu não estou dando conta do recado, então eu acho que essa é uma questão
que a gente tem que pensar muito, qual a relação adequada com os alunos é
difícil você medir, eu acho que você tem que aprender muito com eles, e
você tem que dar chance pra eles se colocarem também num processo de
igual pra igual, com responsabilidade, nos seus limites, mas eles têm que ser
sujeitos, a profissão exige que eles sejam sujeitos, que eles se
responsabilizem também com os critérios de avaliação, o que vocês fariam
nesse caso, tem hora que eu falo o que eu faço com vocês, está todo mundo
abaixo da média, o que nós vamos fazer. É nesse sentido que havendo o
comprometimento entre sujeito com responsabilidade a gente tenta achar o
adequado, porque é complicado o adequado.
um projeto de profissão e por sua vez num projeto societário, almejando uma sociedade justa
e igualitária. Essas particularidades tem a ver também com o perfil dos alunos que procuram
pelo curso de Serviço Social, pois a fala da professora Olegna ratifica o perfil dos alunos
pesquisados.
(...) quem escolhe Serviço social gosta de trabalhar com pessoas, gosta de
gente, da forma como as pessoas se relacionam, do tipo de relação que as
pessoas estabelecem, e quer ajudar de alguma forma nessa área de relações
entre as pessoas. Então o Assistente Social é sempre aquele cara bem
intencionado, isso é muito comum, o aluno entra no primeiro ano, ele entra
com essa vontade de bem intencionar a sala, de colaborar com a sala, então é
uma outra característica. Uma outra característica que é do Serviço Social
brasileiro, e que eu acho que a gente conseguiu construir e eu tenho muito
orgulho disso, é esse tom político, nossos alunos que vem hoje, vem já
politizados, vem com uma proposta política, com uma perspectiva política. E
outra característica que nós ainda não nos desvencilhamos da nossa origem é
a religiosidade, os Assistentes Sociais entram, muitos ainda, vinculados a
uma cultura religiosa, fazem parte de algum movimento da igreja, a gente
tem uma colega no departamento, que pesquisa isso, essa são características
que saltam aos olhos, no meu entendimento.(Olegna)
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191
APÊNDICES
192
Atenciosamente.
Cara professora
Você está sendo convidado(a) para participar, como voluntário, em uma pesquisa. Após ser
esclarecido(a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, assine
ao final deste documento, que está em duas vias. Uma delas é sua e a outra é do pesquisador
responsável. Em caso de recusa você não será penalizado(a) de forma alguma. Em caso de
dúvida você pode procurar o Comitê de Ética em Pesquisa da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo – Campus Perdizes – telefone: 11 - 36704000.
Dados da Pesquisa:
1) TEMA
2) PROBLEMA
3) OBJETO
4) HIPÓTESE(S) OU PREMISSAS:
5) OBJETIVO GERAL
6) OBJETIVOS ESPECÍFICOS
8) SUJEITOS DA PESQUISA
196
_________________________________________
Eliana A.G.Albonette Frois
CRESS 22037
197
Eu, ________________________________________________________________,
RG/____________________________ CPF/__________________________________,
assim como a importância de minha participação. Foi-me garantido que posso retirar meu
Nome: ________________________________________________
Assinatura: _____________________________________________
198
QUESTÕES NORTEADORAS
1)Nome:
3) Ano de Formação:
5) Disciplina lecionada
7) Titulaçao
1) Nome -
3) De onde você é
10) Participa de algum movimento estudantil, conselho de classe, conselho de curso, etc?
201
4 - Como você considera que o professor consegue saber que você aprendeu?
202
4 - Como você percebe ou detecta que o aluno aprendeu ou não o que você ensinou?