@BibliotecaCrista - A Voz Do Monte - Richard Simonetti
@BibliotecaCrista - A Voz Do Monte - Richard Simonetti
@BibliotecaCrista - A Voz Do Monte - Richard Simonetti
A voz do monte
Medicina do futuro
1
A condição fundamental
2
Quando a dor redime
3
Os herdeiros do planeta
4
A justiça que planejamos
5
Se houvesse misericórdia
6
A retomada da pureza
7
O nascimento divino
8
Os heróis maiores
9
O assédio das sombras
10
O tempero da vida
11
O brilho do Bem
12
A palavra de Deus
13
Ante o próximo
14
Para desativar explosivos
15
Para não complicar
16
O quarto mandamento
17
Mutilações
18
O problema do divórcio
19
O cultivo da verdade
20
Do talio à boa vontade
21
A grande revolução
22
O Bem sem propaganda
23
Ante a oração
24
Como orar
25
Condição reafirmada
23
Jejum
27
Tesouros
28
Maneira de vestir
29
O desafio da prosperidade
30
À distância do Reino
31
Autofagia
32
O aspecto sagrado
33
As respostas do Céu
34
Para fazer o que faria Jesus
35
Atletismo espiritual
36
Profetas transviados
37
O mais importante
38
A Legislação Maior
A voz do monte
Após quase quatro décadas de sua primeira edição, a FEB Editora tem a
satisfação de trazer a lume reedição repaginada em novo projeto editorial
de A voz do monte, obra para a qual Simonetti sempre teve carinho
especial, pela grande importância nos estudos do Centro Espírita Amor e
Caridade, de Bauru (SP), por tanto tempo dirigido pelo dedicado
trabalhador do bem.
O livro é considerado um clássico pela posição que ocupa na
divulgação do Espiritismo, citado constantemente por autores e
palestrantes das lides doutrinárias, tornando-se referência de estudo e
reflexão na relevante temática evangélica.
Esperamos que ao conhecer ou revisitar o conteúdo desta obra, possa o
leitor amigo sentir e viver a palavra de Jesus no mais significativo Sermão
de todos os tempos, explicados com simplicidade pela Doutrina Espírita.
Brasília (DF), julho de 2018.
A condição fundamental
Os herdeiros do planeta
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados (Mateus, 5:6).
Se houvesse misericórdia
A retomada da pureza
Bem-aventurados os que têm limpo o coração, porque verão a Deus (Mateus, 5:8).
O nascimento divino
Filhos de Deus todos o somos, visto que criados por Ele. Todavia, há
tantas imperfeições, tanta maldade no ser humano, que se poderia até
colocar em dúvida nossa origem divina.
Veja-se, por exemplo, um Átila, tão sanguinário que se ufanava de que a
erva não mais crescia onde ele passava com seu cavalo; ou um Hitler, que
exterminou cerca de seis milhões de judeus, sob o pretexto de preservar a
pureza da raça ariana; ou um Nero, que se divertia vendo o gigantesco
incêndio de Roma por ele próprio ordenado. Gente assim e todos aqueles
que se comprazem no Mal poderiam, com muito mais propriedade, situar-
se como filhos das sombras.
Sabemos, todavia, que somente Deus tem o poder de criar Espíritos,
seres pensantes, dotados de inteligência e livre-arbítrio. A maldade não faz
parte de nossa natureza divina. Trata-se de doença contraída por nós
mesmos quando cultivamos a rebeldia e o desatino. O indivíduo mau, por
isso, é alguém que pede o concurso do tempo e a terapia da dor, a fim de
recompor-se no caminho da evolução.
Parecerá estranho o quadro dos conflitos da alma humana, onde
identificamos, com muito maior frequência, o desajuste, fruto de nossas
incursões no Mal, do que a harmonia que deveria caracterizar nossa
origem divina. É que nos falta uma visão em profundidade, e não
percebemos que as próprias contradições humanas, com seus desajustes e
males, fazem parte do processo de maturação espiritual que prepara o filho
verdadeiro de Deus.
Se abrirmos um ovo choco, sentiremos náuseas ante o mau cheiro
exalado por aquela pasta viscosa, disforme. Entretanto, o que nos parece
decomposição é apenas transformação; o que se nos afigura repugnante é
apenas o berço de uma nova vida, que desabrochará, em breve, repetindo a
beleza e a poesia sempre sublimes do pintainho que rompe a casca do ovo.
Da mesma forma o ser humano, se analisado em suas tendências, se
dissecado em suas fragilidades, parecerá pouco atraente e até repulsivo,
quando comprometido com o Mal.
É que de certa forma também estamos em processo de gestação no
ventre da Natureza. Mas, potencialmente, somos bons, fomos criados para
o Bem, tanto que somos realmente felizes apenas quando o praticamos.
E será o Bem que acabará por prevalecer em nossa personalidade, ainda
que se faça necessário o concurso dos milênios. Então, rompida a casca da
animalidade, surgirá o anjo, o filho verdadeiro de Deus.
Aproximam-se dessa gloriosa realização os que, segundo Jesus, são
pacificadores.
Pacificar é trazer a paz.
Perfeitamente lógico que a capacidade de favorecer a paz seja a
característica principal do filho verdadeiro de Deus. O primeiro dever de
um filho é o de respeitar a casa de seu pai, trabalhando por mantê-la em
ordem e harmonia.
Alguém que xinga, que discute, que atormenta os familiares,
transformando o lar num verdadeiro inferno, pode ser chamado filho, sob
o ponto de vista biológico, mas moralmente é um bastardo, um filho das
sombras, por faltar-lhe o elementar dever de gratidão e respeito para com
aqueles que o colocaram no mundo, que lhe garantiram a vida nos
primeiros anos, que lhe ofereceram sustento e moradia.
Todos temos, no círculo de nossas relações, pessoas admiráveis que
procuramos nos momentos difíceis, em busca de fortalecimento e
orientação. Ao seu lado, a vida nos parece menos complicada, os
problemas menos difíceis, as dificuldades menos constrangedoras.
Essas criaturas maravilhosas não são necessariamente cultas,
portadoras de diplomas. Não raro são até muito simples, de pouca
instrução. Mas há algo que as distingue: são filhos verdadeiros de Deus,
que realizaram a paz em seus corações e estão trabalhando por edificá-la
no mundo.
8
Os heróis maiores
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor à justiça, porque deles é o Reino dos
Céus (Mateus, 5:10).
Bem-aventurados sereis quando, por minha causa, vos injuriarem e perseguirem e, mentindo,
disserem todo Mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande vosso galardão nos
Céus, pois assim perseguiram os profetas que viveram antes de vós (Mateus, 5:11 e 12).
O tempero da vida
Vós sois o sal da Terra; ora, se o sal perder o seu sabor, para que haverá de servir, senão para
ser lançado fora e pisado pelos homens? (Mateus, 5:13)
O brilho do Bem
Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; nem se
acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e ilumina todos os que
se encontram na casa. Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as
vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos Céus (Mateus, 5:14 a 16).
A palavra de Deus
Não penseis que Eu vim destruir a Lei ou os profetas; não os vim destruir, mas cumprir. Porque
em verdade Eu vos digo que, enquanto o Céu e a Terra não passarem, nem um só jota, nem um
só til da Lei passarão, sem que tudo se cumpra (Mateus, 5:17 e 18).
Ante o próximo
Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, ainda que dos menores, e assim o ensinar aos
homens, será chamado menor no Reino dos Céus; ao passo que aquele que os observar será
chamado grande no Reino dos Céus. Porque vos digo que se a vossa justiça não exceder em
muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no Reino dos Céus (Mateus, 5:19 e 20).
Ouvistes o que foi recomendado aos antigos: “Não matarás” e “quem matar, estará sujeito a
julgamento”. Eu, porém, vos digo que quem quer que se encha de cólera contra seu irmão,
estará sujeito a julgamento; que aquele que disser a seu irmão: “Raca”, estará condenado pelo
tribunal; e que aquele que lhe disser: “És louco”, merecerá condenação ao fogo do inferno
(Mateus, 5:21 e 22).
Se, pois, quando apresentares no altar a tua oferenda, te lembrares de que teu irmão tem
qualquer coisa contra ti, deixa-a diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com ele; depois,
então, vem apresentar a tua oferta. Faze o mais depressa possível as pazes com o teu
adversário, enquanto estás a caminho com ele, para não suceder que ele te entregue ao juiz,
este ao oficial de justiça e que sejas metido na prisão. Em verdade te digo que dali não sairás
enquanto não houveres pago até o último centavo (Mateus, 5:23 a 26).
O quarto mandamento
Ouvistes o que foi dito aos antigos: “Não cometerás adultério”. Eu, porém, vos digo: qualquer
que olhar para uma mulher com intenção impura no coração, já cometeu adultério com ela
(Mateus, 5:27 e 28).
Mutilações
Se teu olho direito te leva ao pecado, arranca-o e atira-o longe de ti, porquanto melhor te é que
pereça um dos órgãos do teu corpo do que ser todo este lançado na Geena. Se tua mão direita
te leva ao pecado, corta-a e lança-a longe de ti, porquanto melhor te é que se perca um dos
membros do teu corpo do que ir todo este para a Geena (Mateus, 5:29 e 30).
O problema do divórcio
Ouvistes o que foi dito aos antigos: “Quem abandonar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio. Eu,
porém, vos digo que quem repudiar sua mulher, a não ser por causa de infidelidade, a torna
adúltera; e qualquer que casar com a repudiada comete adultério” (Mateus, 5:31 e 32).
O cultivo da verdade
Ouvistes o que foi recomendado aos antigos: “Não jurarás falso, mas cumprirás com o Senhor
os teus juramentos. Eu, porém, vos digo que não jureis de forma alguma; nem pelo Céu, que é o
trono de Deus; nem pela Terra, que é o escabelo de seus pés; nem por Jerusalém, que é a cidade
do grande Rei. Não jurareis tampouco pela vossa cabeça, porque não podeis tornar branco ou
preto um só de seus cabelos. Limitai-vos a dizer: sim, sim; não, não. O que disso passar procede
do Maligno” (Mateus, 5:33 a 37).
Sabeis que vos foi antigamente dito: “Olho por olho e dente por dente”. Eu, porém, vos digo que
não oponhais resistência ao homem mau; que, ao contrário, se alguém vos bater na face direita,
lhe apresenteis a outra; e, àquele que quiser demandar convosco em juízo para vos tomar a
túnica, cedei-lhe também a capa. E se alguém vos forçar a caminhar mil passos, caminhai com
ele dois mil” (Mateus, 5:38 a 41).
No livro Êxodo (21:24 e 25), Jeová diz assim: “Olho por olho, dente por
dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferimento por
ferimento, golpe por golpe”.
Em Levítico (24:19 e 20), repete: “Se alguém causar defeito a seu
próximo, que receba o mesmo Mal: fratura por fratura, olho por olho,
dente por dente. Como ele tiver desfigurado a algum homem, assim se lhe
fará”.
E em Deuteronômio (19:21), ratifica: “[...]Vida por vida, olho por olho,
dente por dente, mão por mão, pé por pé”.
É a famosa pena de talião (do latim talio, de talis; a pena “tal” o
crime), de prescrições incríveis: numa agressão, se a vítima fica sem
dentes, o agressor sofrerá idêntica perda; se fica cega, o agressor terá
vazados os olhos; se morre, o agressor será morto; o ladrão terá cortada a
mão; o caluniador ficará sem a língua.
Esta justiça terrível, que recendia vingança, era usada com braço de
ferro por Moisés para disciplinar um povo materialista e rebelde, sempre
disposto, por iniciativa própria, a empregar o talio, castigando os
ofensores sem esperar pelo concurso das autoridades.
Ainda hoje, apesar da evolução das leis e dos costumes, muita gente
julga que a pena de talião resolveria o problema da criminalidade,
tornando os homens menos agressivos.
Milenar engano, porquanto toda violência, ainda que praticada sob
amparo legal, apenas gera violência. O Mal não pode ser combatido com
suas próprias armas, sob pena de expandir-se. Temos um exemplo na Idade
Média, quando a pena de talião foi usada em larga escala para punir
criminosos. O resultado todos conhecemos: um dos períodos mais
violentos da História.
Por isso, no combate ao Mal é fundamental ver no criminoso um doente
a exigir tratamento e no ofensor um irmão perturbado que pede
compreensão.
Estas noções, que vão sendo assimiladas paulatinamente pela justiça
humana (dia virá em que as prisões serão transformadas em eficientes
hospitais do Espírito), são fruto da nova moral instituída por Jesus, ao
recomendar que não oponhamos resistência ao ofensor.
Naturalmente suas palavras devem ser observadas sob o aspecto
simbólico, porquanto, se tomadas ao pé da letra, teremos a consagração da
passividade, favorecendo a desordem.
O que o Mestre pretende é que não reajamos negativamente ao Mal que
nos façam, respondendo na mesma dose de agressividade, pagando na
mesma moeda. Sua filosofia de vida pode ser resumida numa afirmativa
que não é sua, mas consta do Evangelho e é sempre lembrada nas
comemorações do Natal: a proclamação dos anjos, diante dos espantados
pastores de Belém: “Glória a Deus nas Alturas, paz na Terra aos homens
de boa vontade” (Lucas, 2:14).
O mais precioso de todos os dons é a paz. Sem ela, esvaziam-se,
inevitavelmente, todas as alegrias e satisfações. Segundo os anjos, Jesus
viera trazer paz, mas somente aos homens de boa vontade.
A boa vontade, portanto, deve ser recurso para todas as horas,
principalmente quando alguém nos molesta. Somente com ela nos
habilitaremos à vivência dos ensinamentos evangélicos. E a todo instante,
em variadas circunstâncias, somos convocados ao seu exercício.
Num cruzamento, surge um automóvel em desabalada carreira. Por
pouco não se choca com nosso carro. Mal refeitos do susto, observamos
que ele se detém um pouco adiante. O motorista põe a cabeça para fora e
nos insulta, proferindo palavrões. E parte novamente, sem esperar por
resposta. Reação à Moisés: Irritamo-nos profundamente — “O imbecil
entrou mal na pista, agindo com imprudência, e ainda se atreve a ofender!”
— e saímos em sua perseguição, a fim de tomarmos satisfações. Só Deus
sabe o que poderá acontecer se o alcançarmos!...
Será muito mais prático e racional usar de boa vontade. Voltar a outra
face seria compreender que aquele motorista, ou está com problemas
muito sérios, e a tensão o levou à imprudência e à agressividade, ou é
alguém grosseiro, temperamental, a quem a vida ensinará boas maneiras...
Às vezes, querem tirar-nos a túnica. Quantas ações dão entrada na
justiça, envolvendo disputas, problemas de aumento de aluguel, de
execução de serviços, de herança, porque as partes não entram em acordo,
prendendo-se a bagatelas. Boa vontade, aqui, seria usar um pouco de
desprendimento, considerando que as disputas em que nos envolvemos,
quando decidimos endurecer em nossos pontos de vista, ou no que
chamamos de nossos direitos, nos causarão tantas dores de cabeça e tantas
irritações que fatalmente viremos a lamentar nossa intransigência...
Diante do chefe impertinente, o funcionário se exaspera, discute, briga,
perde o emprego. Depois, passa por aperturas financeiras, submetendo a
família a toda sorte de privações. Seria bem melhor se estivesse disposto a
caminhar os dois mil passos da tolerância, cultivando boa vontade.
A grande dificuldade é que muita gente acha que se comportar assim é
ser bobo ou covarde. Num mundo onde imperam o desatino e a violência,
o bom senso e a mansuetude serão sempre recebidos com estranheza.
Mas, se estamos preocupados com a opinião alheia, jamais seremos
cristãos. E Jesus não nos prometeu um diploma de consagração popular. O
que Ele nos oferece é um áspero caminho de renovação, repleto de
espinhos e sacrifícios, mas o único capaz de favorecer a edificação da paz
em nossos corações. E, afinal, não é isso o que mais almejamos?
21
A grande revolução
Ouvistes o que foi dito: “Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo”. Eu, porém, vos digo:
Amai vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem, para que vos torneis filhos de vosso Pai
que está nos Céus, porque Ele faz levantar-se seu Sol sobre bons e maus e faz chover sobre
justos e injustos. Por que se amardes aos que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem o
mesmo os publicanos? E se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis de especial? Não
fazem os gentios também o mesmo? Sede vós, portanto, perfeitos, como perfeito é o vosso Pai
Celestial (Mateus, 5:43 a 48).
Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles; do
contrário, recompensa não recebereis do vosso Pai que está nos Céus. Quando, pois, derdes
esmolas, não mandeis tocar a trombeta à vossa frente, como fazem os hipócritas nas sinagogas e
nas ruas, para serem elogiados pelos homens. Em verdade vos digo que esses já receberam a
sua recompensa. Quando derdes esmola, não saiba a vossa mão esquerda o que faz a direita, a
fim de que a esmola fique secreta; e vosso Pai, que vê o que se passa em segredo, vos
recompensará (Mateus, 6:1 a 4).
Ante a oração
E quando orares, não sereis como os hipócritas, porque gostam de orar em pé, nas sinagogas e
nos cantos das praças para serem vistos dos homens. Em verdade vos digo que eles já
receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a
porta, orarás a teu Pai que está em secreto. E teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. E,
orando, não useis de vãs palavras, como os gentios, porque presumem que pelo muito falar
serão ouvidos. Não vos assemelheis, pois, a eles, porque Deus, o vosso Pai, sabe o de que
tendes necessidade, antes que lho peçais (Mateus, 6:5 a 8).
Como orar
Portanto, vós orareis assim: Pai Nosso, que estás nos Céus, santificado seja o teu nome; venha o
teu Reino, faça-se a tua Vontade, assim na Terra como no Céu. O pão nosso de cada dia dá-nos
hoje e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores. Não nos
deixes cair em tentação, mas livra-nos de todo Mal [...] Amém (Mateus, 6:9 a 13).
Condição reafirmada
Se perdoardes, pois, aos homens, as suas faltas, também o Pai Celestial vos perdoará. Se,
porém, não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai perdoará as vossas faltas (Mateus,
6:14 e 15).
Jejum
Quando jejuardes, não tomeis um ar triste como os hipócritas, que desfiguram o semblante para
que os homens vejam que eles estão jejuando. Em verdade vos digo que já receberam a sua
recompensa. Vós, porém, quando jejuardes, ungi a cabeça e lavai o rosto, a fim de não
mostrardes aos homens que estais jejuando, mas somente ao vosso Pai, que está em secreto; e
vosso Pai, que vê em oculto, vos recompensará (Mateus, 6:16 a 18).
Tesouros
Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a Terra, onde a traça e a ferrugem corroem e
onde ladrões escavam e roubam. Mas ajuntai para vós outros tesouros no Céu, onde nem a
traça nem a ferrugem corroem, e onde ladrões não escavam nem roubam. Porque onde estiver o
teu tesouro, aí estará também o teu coração (Mateus, 6:19 a 21).
Maneira de vestir
São teus olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será
luminoso; se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto,
caso a luz que há em ti sejam trevas, que grandes trevas serão! (Mateus, 6:22 e 23).
O desafio da prosperidade
Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou aborrecerá a um e amará o outro; ou se unirá
a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas (Mateus, 6:24).
À distância do Reino
Por isso vos digo: não andeis cuidadosos da vossa vida, pelo que haveis de comer ou beber,
nem do vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento e o corpo
mais que a roupa? Olhai as aves do céu, que não semeiam nem ceifam nem ajuntam em celeiros
e, entretanto, vosso Pai Celestial as alimenta. Porventura, não valeis vós muito mais que elas?
Qual de vós, por mais preocupado que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso da sua
vida? E com as vestes, por que vos inquietais? Considerai como crescem os lírios do campo:
eles não trabalham nem fiam. Contudo, vos afirmo que nem Salomão, em toda a sua glória, se
vestiu como um deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã será
lançada ao forno, quanto mais a vós, homens de pouca fé? Portanto, não vos inquieteis,
dizendo: “Que comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos?” Os gentios é que
procuram todas estas coisas, pois vosso Pai Celestial sabe que precisais de todas elas. Buscai,
pois, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão
acrescentadas. Portanto, não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os seus
cuidados; bastam a cada dia os seus próprios males (Mateus, 6:25 a 34).
Autofagia
Não julgueis, para que não sejais julgados; porque, com o juízo com que julgardes, sereis
julgados; e a medida de que usardes, dessa usarão convosco, e ainda se vos acrescentará. Por
que vedes o argueiro no olho de vosso irmão e não enxergais a trave que tendes no vosso? Ou
como podereis dizer ao vosso irmão: “Deixa-me tirar um argueiro do vosso olho” —, quando
tendes no vosso uma trave? Hipócritas! tirai primeiro a trave dos vossos olhos, e então vereis
claramente para tirardes o argueiro do olho de vosso irmão (Mateus, 7:1 a 5).
Maledicência é o ato de falar mal das pessoas. Definição bem amena para
um dos maiores flagelos da Humanidade.
É mais terrível que uma agressão física. Muito mais que o corpo, fere a
dignidade humana, conspurca reputações, destrói existências.
Mais insidiosa do que uma epidemia, na forma de boato — o “ouvi
dizer” — alastra-se como rastilho de pólvora. Mera visão pirotécnica em
princípio: “Ele paga suas contas com atraso” ou “Ela sai muito de casa”.
Depois, explosiva: “Ele é um ladrão!” ou “Ela está traindo o marido!”.
Arma perigosa, está ao alcance de qualquer pessoa, em qualquer idade,
e é muito fácil usá-la: basta ter um pouco de maldade no coração.
Tribunal corrupto, nele o réu está, invariavelmente, ausente. É acusado,
julgado e condenado, sem direito de defesa, sem contestação, sem
misericórdia.
Tão devastadora e, no entanto, não implica nenhum compromisso para
quem a emprega. Jamais encontraremos o autor de um boato maldoso, de
uma “fofoca” comprometedora. O maledicente sempre “vende” o que
“comprou”.
Ninguém está livre dela, nem mesmo os que se destacam na vida social
pela sua capacidade de realização, no setor de suas atividades. Estes, ao
contrário, são os mais visados. Nada mais gratificante para o maledicente
do que mostrar que “fulano não é tão bom como se pensa”.
Não há agrupamento humano livre da maledicência. Está presente
mesmo onde jamais deveria haver lugar para ela: em instituições
inspiradas em ideais religiosos de serviço no campo do Bem. Quando se
manifesta nessas comunidades, infiltrando-se pela invigilância de
companheiros desavisados, que se fazem agentes do Mal, é algo
profundamente lamentável, provocando o afastamento de muitos
servidores dedicados e aniquilando as mais promissoras esperanças de
realização espiritual.
Nem mesmo o Cristo, inspiração suprema desses ideais, esteve livre
dela. Exemplo típico de seu poder infernal foi o comportamento da
multidão, que reverenciou Jesus na entrada triunfal, em Jerusalém; no
entanto, poucos dias depois, instigada pela maledicência dos sacerdotes
judeus, festejou sua crucificação, cercando a cruz de impropérios e
zombarias.
A maledicência tem sua origem, sem dúvida, no atraso moral da
criatura humana. Intelectualmente, a Humanidade atingiu culminâncias.
Chegamos à Lua, desintegramos o átomo. Moralmente, entretanto, somos
subdesenvolvidos, quase tão agressivos e inconsequentes como os
habitantes das cavernas, e, se o verniz de civilidade nos impede de usar a
clava, usamos a língua, atendendo a propósitos de autoafirmação, revide,
justificação ou pelo simples prazer de atirar pedras em vidraças alheias.
Não se dá conta aquele que se compraz em criticar a vida alheia, que a
maledicência é um ato de autofagia (condição do animal que se nutre da
própria substância, que come o próprio corpo). O maledicente pratica a
autofagia moral. A má palavra, o comentário desairoso contra alguém
geram, no autor, um clima de desajuste íntimo, em que ele perde força
psíquica e se autodestrói moralmente, envenenando-se com a própria
maldade. Por isso, pessoas que se comprazem nesse tipo de
comportamento são sempre inquietas e infelizes.
Jesus adverte que o maldizente fatalmente será vítima da maledicência,
quer porque onde estiver criará ambiente propício à disseminação de seu
veneno, quer porque a vida o situará, inelutavelmente, numa posição que o
sujeitará a críticas e comentários desairosos, a fim de que aprenda a
respeitar o próximo.
Deixando bem claro que a ninguém compete o direito de julgar, o
Mestre recomenda que, antes de procurarmos ciscos no olho de nosso
irmão, tratemos de remover a lasca de madeira que repousa, tranquila, no
nosso. Se possuímos incontáveis defeitos, se há tantas tendências
inferiores em nossa personalidade, por que o atrevimento de criticar o
comportamento alheio?
E há os estudos de Psicologia que oferecem uma dimensão bem maior
ao ensinamento evangélico. Admitem hoje os psicólogos que tendemos a
identificar com facilidade nos outros o que existe em abundância em nós.
O Mal que vemos em outrem é algo do Mal que mora em nosso coração.
Por isso, as pessoas virtuosas, de sentimentos nobres, são incapazes de
enxergar maldade no próximo.
É preciso, portanto, treinar a capacidade de enxergar o que as pessoas
têm de bom, para que o Bem cresça em nós. O primeiro passo — difícil,
mas indispensável — é eliminar a maledicência. Um recurso valioso para
isso é usar os três crivos, segundo velha lenda de origem desconhecida,
que vários escritores atribuem a Sócrates, lembrada pelo Espírito Irmão X,
psicografia de Francisco Cândido Xavier, em mensagem publicada pela
revista Reformador, no mês de junho de 1970:
O aspecto sagrado
Não deis aos cães as coisas santas, nem lanceis as vossas pérolas diante dos porcos, para que
não suceda que as pisem e, voltando-se, vos estraçalhem (Mateus, 7:6).
As respostas do Céu
Pedi e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-á. Pois todo aquele que pede,
recebe; o que busca, encontra e a quem bate, abrir-se-lhe-á. Ou qual de vós é o homem que, se
porventura o filho lhe pedir pão, lhe dará pedra? Ou se lhe pedir um peixe, lhe dará uma
cobra? Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso
Pai, que está nos Céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem (Mateus, 7:7 a 11).
Tudo o que quiserdes que os homens vos façam, fazei-o assim também a eles, pois isso resume a
Lei e os profetas (Mateus, 7:12).
Atletismo espiritual
Entrai pela porta estreita, pois larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição e
muitos são os que entram por ela. Porque estreita é a porta e apertado o caminho que conduz
para a Vida e são poucos os que acertam com ela (Mateus, 7:13 e 14).
Profetas transviados
Acautelai-vos dos falsos profetas, que vêm ter convosco com vestes de ovelha, mas que, por
dentro, são lobos rapinantes. Conhecê-los-eis pelos seus frutos. Porventura se colhem uvas dos
espinheiros ou figos dos abrolhos? Assim, toda árvore boa dá bons frutos, porém, a árvore má
dá maus frutos. Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar bons frutos. Toda
árvore que não dá bom fruto é cortada e lançada ao fogo. É, pois, pelos frutos que os
conhecereis (Mateus, 7:15 e 20).
O mais importante
Nem todo aquele que me diz: “Senhor, Senhor!” — entrará no Reino dos Céus, mas aquele que
faz a vontade de meu Pai que está nos Céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: “Senhor,
Senhor! porventura não temos nós profetizado em teu nome? não expelimos demônios em teu
nome? e não fizemos, em teu nome, muitas maravilhas?” Eu, então, lhes direi claramente:
“Nunca vos conheci; afastai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade” (Mateus, 7:21 a 23).
A Legislação Maior
Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica, será comparado a um homem
prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha. E caiu a chuva, transbordaram os rios,
sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque fora
edificada sobre a rocha. E todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica, será
comparado a um homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia. E caiu a chuva,
transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, e ela
desabou, sendo grande a sua ruína (Mateus, 7:24 a 27).
As leis civis disciplinam as relações sociais. Sem elas não há ordem, nem
segurança ou equilíbrio. A vida comunitária seria impossível sem a
definição do que se pode ou não fazer, tendo por base o velho princípio —
o nosso direito termina onde começa o do próximo.
Não podemos, a nosso bel-prazer, desrespeitar uma autoridade, roubar,
matar, invadir a propriedade alheia, subjugar pela força, violentar... São
infrações passíveis de prisão, em pena correspondente à natureza do delito,
o que é compreensível, já que nenhuma lei poderá impor-se sem sanções
aos infratores.
Todavia, a justiça humana tem limitações. Há maneiras sutis de
perturbar a ordem e conturbar a paz, sem que o criminoso possa ser
conduzido à presença do juiz.
Um ato de agressão: vibramos de ódio contra alguém, desejando-lhe
todo Mal, emitindo dardos mentais envenenados que poderão provocar-lhe
variados desajustes psíquicos, com reflexos danosos em sua economia
física...
Um ato de poluição: há indivíduos tão obcecados por ideias fixas em
torno de dinheiro, sexo, álcool, fumo, mágoa, ressentimento, crítica,
maledicência, revolta, extravasando-as, intemperantes, em suas conversas,
que poluem o ambiente psíquico onde estejam, semeando malícia,
inquietação e desequilíbrio!...
Cometemos até assassinatos: com gestos impensados, indisciplina,
agressividade ou incompreensão podemos matar a confiança numa
criança; o estímulo ao trabalho, num subordinado; o afeto, no familiar; o
respeito, no amigo.
Estes e muitos outros crimes, que conturbam a ordem e semeiam a
confusão no mundo, não podem ser penalizados pela legislação humana.
Todavia, não ficam impunes, porquanto, acima da cidadania terrestre,
somos cidadãos do Universo, regidos por um código moral perfeito, que
jamais será infringido impunemente. Infalível, ele funciona não por meio
de coações exteriores, mas dentro de nós mesmos, submetendo-nos à mais
severa de todas as penas — a infelicidade, que perdurará até que tenhamos
modificado nosso comportamento e reparado nossas faltas.
Esse código foi magistralmente sintetizado por Jesus no Sermão da
Montanha, cujo conteúdo tem validade universal e cuja observância é
indispensável a que possamos viver bem, na Terra ou no Além. Seu
princípio fundamental é a atenção que devemos dar ao próximo, não
apenas no sentido de respeitar-lhe a integridade, mas, sobretudo,
atendendo-o em suas limitações e necessidades.
Analisando-o, é fácil concluir que há um crime fundamental, como que
o pecado original teimosamente repetido pela Humanidade, a gerar toda a
miséria do mundo e todas as angústias do homem. Lembrando a legislação
humana, poderíamos defini-lo como omissão de socorro.
Todos verberamos a conduta do motorista que, após atropelar o
pedestre, foge do local do acidente. Mas nós também nos omitimos,
sempre que deixamos de socorrer o necessitado, de atender o doente, de
confortar o aflito, de oferecer solidariedade àquele que atravessa uma
situação difícil.
Alguém diria: “O motorista tem obrigação de atender o pedestre que
atropelou, enquanto eu não tenho culpa pela angústia da Terra”.
No entanto, se em nossa casa a criança espalha objetos e suja o chão,
não ficamos alheios, a proclamar que a culpa não é nossa. Tratamos de
providenciar a limpeza, preservando a ordem. O mesmo acontece em
relação ao mundo. Ainda que não nos julguemos responsáveis por seus
males, vivemos nele, e, se esperamos que Deus o melhore, não podemos
ignorar que Ele não dispõe de outro recurso senão a utilização dos homens
de boa vontade. Por isso, o Senhor envia consolações aos fiéis que o
procuram nos templos, mas somente o encontraremos ao lado dos que
arregaçam as mangas e trabalham, com dedicação e entusiasmo, pela
construção do Reino Divino, onde, lembrando Jesus, o maior será aquele
que mais servir.
A grande dificuldade, quando se trata do Evangelho, é deixar o terreno
acanhado da teoria e entrar, realmente, na seara do Senhor, com
observância de suas recomendações. As lições de Jesus são recebidas
como algo sublime que comove, enleva, conforta, edifica. Fracassamos
lamentavelmente, porém, quando convocados a aplicá-las a nós mesmos,
principalmente em face dos testemunhos maiores.
Uma senhora, mãe de cinco filhos, sofreu durante vários anos maus-
tratos do marido, alcoólatra inveterado que, quando embriagado, tornava-
se agressivo e fazia a família passar por maus pedaços. O infeliz arruinou
a saúde e ultimamente estava muito doente. Extremamente debilitado,
permanecia preso ao leito, com total desprezo da esposa, que sequer se
dignava de dirigir-lhe a palavra. Frequentadora assídua de um Centro
Espírita, ouvia de um dos diretores a recomendação para que perdoasse o
marido; que se reconciliasse com ele e o ajudasse nesse seu penoso final
de existência, a fim de que estivesse em paz consigo mesma.
Sua resposta era invariável: “Não ponha o Cristo nessa história. Meu
marido foi muito mau para mim e meus filhos. Tenho aversão por ele e
não lhe perdoo”.
Esta mulher passou pelo Centro Espírita de ouvidos fechados para a
mensagem cristã e vive infeliz e amargurada, o que é natural — vinagre no
coração azeda a existência. Cultivar aversão por alguém que mora sob o
mesmo teto é extremamente incômodo, além de constituir grave infração à
Lei Divina.
Ainda que pretendamos coisa diferente, não nos furtaremos ao fato de
que nossa personalidade, moldada à imagem e semelhança de Deus, é
orientada para a bondade, e jamais seremos felizes enquanto não formos
bons.
Por isso, Jesus termina o Sermão da Montanha com a preciosa alegoria
da casa construída sobre a rocha. A vivência evangélica nos dá segurança e
equilíbrio indestrutíveis. Os vendavais da existência jamais perturbarão
um coração capaz de compreender, amar, servir, perdoar, em divino
empolgamento pelo roteiro sagrado do Cristo, com plena observância de
seus deveres como filho de Deus.
Conselho Editorial:
Jorge Godinho Barreto Nery – Presidente
Geraldo Campetti Sobrinho – Coord. Editorial
Evandro Noleto Bezerra
Marta Antunes de Moura
Miriam Lúcia Herrera Masotti Dusi
Produção Editorial:
Rosiane Dias Rodrigues
Revisão:
Elizabete de Jesus Moreira
Lísia Freitas Carvalho
Diagramação:
Rones José Silvano de Lima – www.bookebooks.com.br
Normalização Técnica:
Biblioteca de Obras Raras e Documentos Patrimoniais do Livro
E-Book:
Diego Henrique Oliveira Santos