Filo - Kant e o Criticismo1
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O primeiro passo para obter a resposta é fazer a crítica da razão pura. Nas
palavras de Kant, a crítica é um convite feito à razão para empreender de novo a
mais difícil das tarefas, o conhecimento de si mesma, e para instituir um tribunal
que a garanta nas suas pretensões legítimas e que possa, em contrapartida,
condenar todas as usurpações sem fundamento". Para empreender essa tarefa,
Kant propõe o “método transcendental”, método analítico com o qual
empreenderá a decomposição e o exame das condições de conhecimento e dos
fundamentos da ciência e da experiência em geral. Feita a reflexão crítica, chega à
conclusão de que há duas fontes de conhecimento:
Só pela conjugação das duas fontes é possível ter a experiência do real.
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Como consequência, só conhecemos os fenômenos enquanto se
relacionam a nós, sujeitos, e não à realidade em si, tal qual é, independentemente
da relação de conhecimento.
As formas a priori dividem-se em:
formas a priori da sensibilidade - espaço e tempo;
formas a priori do entendimento puro – formas relacionais como causa e efeito,
substância e atributo.
A experiência, portanto, é uma unidade sintética, ou seja, não é só a
combinação de matéria ("aquilo que no fenômeno corresponde à sensação") e
forma ("aquilo que faz com que a diversidade do fenômeno seja ordenada na
intuição, através de certas relações"), mas, também, a combinação das formas da
intuição e do entendimento e suas relações funcionais.
As formas tornam a ciência possível, porque introduzem ordem e
coerência nos fenômenos. Por essa via, é resguardada a possibilidade do
conhecimento dos fenômenos. Kant, entretanto, conclui pela impossibilidade do
conhecimento por meio do uso puramente especulativo da razão.
A razão especulativa, porém, embora não possa conhecer o ser em si -
abstrato, que não se oferece à experiência e aos sentidos pode pensá-lo e coloca
problemas que só serão resolvidos no âmbito da razão prática, isto é, no campo da
ação e da moral. Ou seja, embora Deus, a liberdade e a imortalidade não possam
ser conhecidos (agnosticismo) por não terem uma matéria que se ofereça à
experiência sensível, nem por isso têm sua existência negada. Se o conhecimento
não nos leva até eles, devemos encontrar uma outra via de acesso, uma vez que a
liberdade, por exemplo, é o fundamento da vida moral.
JUÍZO ANALÍTICO
É um juízo que formulamos a priori, sem a necessidade de recorrer à experiência, dado
que, com, ele, expressamos no sujeito. Consequentemente, ele é universal e necessário,
mas não amplificador do conhecer. Portanto, a ciência se vale amplamente desses juízos
para esclarecer e explicar muitas coisas, mas não se baseia neles quando amplia seu
próprio conhecimento. O juízo típico da ciência. Ex: O triângulo possui 3 lados; Todo
corpo é extenso; Princípio da identidade.
JUÍZO SINTÉTICO
É um juízo a posteriori ao contrário do analítico, amplia o conhecimento, à medida que me
diz sempre algo de novo do sujeito, que não estava contido implicitamente nele. Os juízos
sintéticos mais comuns são aqueles que formulamos baseando-se na experiência. Ex: A
régua é verde; Todo homem é moral; Todo homem é racional; 7 + 5 = 12.
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A Consciência
Em Kant para que algo exista, deve ser determinável no tempo, isto é,
devemos ser capazes de dizer quando ele existe e por quanto tempo. Mas como isso
funciona no caso da consciência?
Embora a consciência pareça estar mudando constantemente com um fluxo
contínuo de sensações e pensamentos, podemos usar a palavra "agora" para nos
referirmos ao que está acontecendo neste momento em nossas consciências. Mas
"agora" não é um tempo ou data determinada: toda vez que digo "agora", a
consciência é diferente.
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Aqui se encontra o problema: o que torna possível especificar o "quando" da
minha própria existência? Não podemos experimentar o tempo em si, diretamente;
em vez disso, experimentamos o tempo por meio das coisas que se movem, mudam
ou permanecem iguais. Considere os ponteiros de um relógio, girando de maneira
lenta. Os ponteiros que se movem são inúteis para determinar o tempo por si só -
precisam de algo diante do qual mudar, como os números no mostrador do relógio.
Todo recurso que tenho para medir o meu "agora" constantemente em mudança é
encontrado nos objetos materiais fora de mim, no espaço (incluindo meu próprio
corpo físico). Dizer que eu existo exige um determinado momento no tempo, e isso,
por sua vez, exige um mundo externo realmente existente no qual o tempo ocorre.
Meu nível de certeza sobre a existência do mundo externo é, por conseguinte, igual
ao meu nível de certeza sobre a existência da consciência - o que Descartes
acreditava que era absolutamente certo.
A Ciência
Kant também investigou como a ciência entendia o mundo exterior.
Kant, junto com outros filósofos, indagava-se sobre o que era feito de maneira
correta na pesquisa científica. A resposta dada por muitos filósofos do período foi
o empirismo. Os empiristas, tais como John Locke e David Hume, argumentavam
que não há conhecimento, exceto aquele que chega a nós através de nossa
experiência do mundo. Eles se opunham às visões de filósofos racionalistas como
Descartes ou Gottfried Leibniz, que argumentavam que a capacidade da mente
para raciocinar e lidar com conceitos é mais importante para o conhecimento do
que a experiência.
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Intuições e Conceitos
Em sua obra mais famosa, Crítica da razão pura, Kant argumenta que
nossa experiência de mundo envolve dois elementos. O primeiro é o que ele
chama de "sensibilidade" – nossa capacidade de experimentar diretamente coisas
particulares no espaço e no tempo, como este livro, por exemplo. Essa experiência
direta ele chama de "intuições". O segundo é o que Kant chama de
"entendimento", nossa capacidade de ter e usar conceitos. Para Kant, um conceito
é uma experiência indireta com as coisas, como o conceito de "livro"em geral. Sem
conceitos não saberíamos que nossa intuição era a de um livro; sem intuições,
nunca saberíamos que existem livros.
Cada um desses elementos tem, por sua vez, dois lados. Na sensibilidade
está a minha intuição de uma coisa particular no espaço e no tempo (como o livro)
e minha intuição de espaço e tempo como tal (minhas experiências com o espaço e
o tempo se assemelham, em geral). No entendimento está o meu conceito de
algum tipo de coisa (livros) e meu conceito de uma "coisa" como tal (substância).
Um conceito como substância define o que significa ser uma coisa em geral, em
vez de definir algum tipo de coisa como um livro. Minha intuição de um livro e o
conceito de um livro são empíricos - como eu poderia saber qualquer coisa sobre
livros a menos que tivesse deparado com eles no mundo? Mas minha intuição de
espaço e tempo e o conceito de substância são a priori – o que significa que eles
são conhecidos antes ou independentemente de qualquer experiência empírica.
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TREINANDO PARA O ENEM
1. (Uerj) O Iluminismo é a saída do homem do estado de tutela, pelo qual ele próprio é
responsável.
O estado de tutela é a incapacidade de utilizar o próprio entendimento sem a condução de
outrem. Cada um é responsável por esse estado de tutela quando a causa se refere não a uma
insuficiência do entendimento, mas à insuficiência da resolução e da coragem para usá-lo sem
ser conduzido por outrem. Sapere aude!* Tenha a coragem de usar seu próprio entendimento.
Essa é a divisa do Iluminismo.
IMMANUEL KANT (1784)
*Expressão latina que significa “tenha a coragem de saber, de aprender”.
In: BOMENY, Helena e FREIRE-MEDEIROS, Bianca. Tempos modernos, tempos de sociologia. São Paulo: Ed. do Brasil, 2010.
As leis morais juntamente com seus princípios não só se distinguem essencialmente, em todo
o conhecimento prático, de tudo o mais onde haja um elemento empírico qualquer, mas toda a
Filosofia moral repousa inteiramente sobre a sua parte pura e, aplicada ao homem, não toma
emprestado o mínimo que seja ao conhecimento do mesmo (Antropologia).
KANT, I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Trad. de Guido A. de Almeida. São Paulo: Discurso Editorial, 2009. p.73.
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De acordo com a análise do autor,
a) a racionalidade instrumental, sob o ponto de vista da filosofia de Kant, fornece os
fundamentos para a apreciação estética.
b) um mundo empobrecido seria aquele em que ocorre o esvaziamento do campo estético
de suas qualidades intrínsecas.
c) a transformação da arte em espetáculo da indústria cultural é um critério adequado
para a avaliação de sua condição autônoma.
d) o critério mais adequado para a apreciação estética consiste em sua validação pelo
gosto médio do público consumidor.
e) a autonomia dos diversos tipos de obra de arte está prioritariamente subordinada à
sua valorização como produto no mercado.
5. (Uema) Fraqueza e covardia são as causas pelas quais a maioria das pessoas
permanece infantil mesmo tendo condição de libertar-se da tutela mental alheia. Por isso,
fica fácil para alguns exercer o papel de tutores, pois muitas pessoas, por comodismo, não
desejam se tornar adultas. Se tenho um livro que pensa por mim; um sacerdote que dirige
minha consciência moral; um médico que me prescreve receitas e, assim por diante, não
necessito preocupar-me com minha vida. Se posso adquirir orientações, não necessito
pensar pela minha cabeça: transfiro ao outro esta penosa tarefa de pensar.
Fonte: I. Kant, O que é a ilustração. In: F. Weffort (org). Os clássicos da política, v. 2, 6 ed. São Paulo: Saraiva, 2006.
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7. (Uel) Leia o texto a seguir: Kant, mesmo que restrito à cidade de Königsberg, acompanhou
os desdobramentos das Revoluções Americana e Francesa e foi levado a refletir sobre as
convulsões da história mundial. Às incertezas da Europa plebeia, individualista e provinciana,
contrapôs algumas certezas da razão capazes de restabelecer, ao menos no pensamento, a
sociabilidade e a paz entre as nações com vista à constituição de uma federação de povos –
sociedade cosmopolita.
(Adaptado de: ANDRADE, R. C. “Kant: a liberdade, o indivíduo e a república”. In:
WEFORT, F. C. (Org.). Clássicos da política. v.2. São Paulo: Ática, 2003. p.49-50.)
Com base nos conhecimentos sobre a Filosofia Política de Kant, assinale a alternativa
correta.
a) A incapacidade dos súditos de distinguir o útil do prejudicial torna imperativo um
governo paternal para indicar a felicidade.
b) É chamado cidadão aquele que habita a cidade, sendo considerados cidadãos ativos
também as mulheres e os empregados.
c) No Estado, há uma igualdade irrestrita entre os membros da comunidade e o chefe de
Estado.
d) Os súditos de um Estado Civil devem possuir igualdade de ação em conformidade com
a lei universal da liberdade.
e) Os súditos estão autorizados a transformar em violência o descontentamento e a
oposição ao poder legislativo supremo.
8. (Unesp) "Religião sempre foi um negócio lucrativo." Assim começa uma reportagem da
revista americana Forbes sobre os milionários bispos fundadores das maiores igrejas
evangélicas do Brasil. A revista fez um ranking com os líderes mais ricos. No topo da lista, está o
bispo Edir Macedo, que tem uma fortuna estimada em R$ 2 bilhões, segundo a revista. Em
seguida, vem Valdemiro Santiago, com R$ 400 milhões; Silas Malafaia, com R$ 300 milhões; R.
R. Soares, com R$ 250 milhões, e Estevan Hernandes Filho e a bispa Sônia, com R$ 120 milhões
juntos. A Forbes também destaca o crescimento dos evangélicos no Brasil – de 15,4% para
22,2% da população na última década –, em detrimento dos católicos. Hoje, os católicos
romanos somam 64,6% da população, ou 123 milhões de brasileiros. Os evangélicos, por sua
vez, já somam 42 milhões, em uma população total de 191 milhões de pessoas.
(Forbes lista os seis líderes milionários evangélicos no Brasil.uol.com.br, 19.01.2013. Adaptado.)
5[
9. (Unioeste) “A necessidade prática de agir segundo este princípio, isto é, o dever, não assenta
em sentimentos, impulsos e inclinações, mas, sim, somente na relação dos seres racionais entre
si, relação essa em que a vontade de um ser racional tem de ser considerada sempre e
simultaneamente como legisladora, porque de outra forma não podia pensar-se como fim em si
mesmo. A razão relaciona, pois, cada máxima da vontade concebida como legisladora universal
com todas as outras vontades e com todas as ações para conosco mesmos, e isto não em virtude
de qualquer outro móbil prático ou de qualquer vantagem futura, mas em virtude da ideia da
dignidade de um ser racional que não obedece à outra lei senão àquela que ele mesmo
simultaneamente dá a si mesmo. [...] O que se relaciona com as inclinações e necessidades gerais
do homem tem um preço venal [...], aquilo, porém, que constitui a condição só graças a qual
qualquer coisa pode ser um fim em si mesma, não tem somente um valor relativo, isto é, um
preço, mas um valor íntimo, isto é, dignidade”. Kant
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Considerando o texto citado e o pensamento ético de Kant, seguem as afirmativas abaixo:
I. Para Kant, existe moral porque o ser humano e, em geral, todo o ser racional, fim em si
mesmo e valor absoluto, não deve ser tomado simplesmente como meio ou instrumento
para o uso arbitrário de qualquer vontade.
II. Fim em si mesmo e valor absoluto, o ser humano é pessoa e tem dignidade, mas uma
dignidade que é, apenas, relativamente valiosa, por se encontrar em dependência das
condições psicossociais e político-econômicas nas quais vive.
III. A moralidade, única condição que pode fazer de um ser racional fim em si mesmo e
valor absoluto, pelo princípio da autonomia da vontade, e a humanidade, enquanto capaz
de moralidade, são as únicas coisas que têm dignidade.
IV. As pessoas têm dignidade porque são seres livres e autônomos, isto é, seres que se
submetem às leis que se dão a si mesmos, atendendo imediatamente aos apelos de suas
inclinações, sentimentos, impulsos e necessidades.
V. A autonomia da vontade é o fundamento da dignidade da natureza humana e de toda
natureza racional e, por esta razão, a vontade não está simplesmente submetida à lei, mas
submetida à lei por ser concebida como vontade legisladora universal, ou seja, se
submete à lei na exata medida em que ela é a autora da lei (moral).
Das afirmativas feitas acima
a) somente a afirmação I está incorreta.
b) somente a afirmação III está incorreta.
c) as afirmações II e IV estão incorretas.
d) as afirmações II e III estão incorretas.
e) as afirmações II, III e V estão incorretas.
10. (Ufsm) Os filósofos Ame Naess e George Sessions propuseram, em 1984, diversos
princípios para uma ética ecológica profunda, entre os quais se encontra o seguinte: O
bem-estar e o florescimento da vida humana e não humana na Terra têm valor em si mesmos.
Esses valores são independentes da utilidade do mundo não humano para finalidades humanas.
Considere as seguintes afirmações:
I. A ética kantiana não se baseia no valor de utilidade das ações.
II. “Valor intrínseco” é um sinônimo para “valor em si mesmo”.
III. A ética utilitarista rejeita a concepção de que as ações têm valor em si mesmas.
Está(ão) correta(s)
a) apenas I.
b) apenas II.
c) apenas III.
d) apenas I e II.
e) I, II e III.
11. (Ufu) Autonomia da vontade é aquela sua propriedade graças à qual ela é para si mesma a
sua lei (independentemente da natureza dos objetos do querer). O princípio da autonomia é,
portanto: não escolher senão de modo a que as máximas da escolha estejam incluídas
simultaneamente, no querer mesmo, como lei universal.
KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Tradução de Paulo Quintela. Lisboa: Edições 70, 1986, p. 85.
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12. (Enem) Até hoje admitia-se que nosso conhecimento se devia regular pelos objetos; porém
todas as tentativas para descobrir, mediante conceitos, algo que ampliasse nosso
conhecimento, malogravam-se com esse pressuposto. Tentemos, pois, uma vez, experimentar se
não se resolverão melhor as tarefas da metafísica, admitindo que os objetos se deveriam regular
pelo nosso conhecimento.
KANT, I. Crítica da razão pura. Lisboa: Calouste-Gulbenkian, 1994 (adaptado).
13. (Enem) Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é
culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de
outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se
encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo
sem a direção de outrem. Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema
do esclarecimento. A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma tão grande parte dos
homens, depois que a natureza de há muito os libertou de uma condição estranha, continuem,
no entanto, de bom grado menores durante toda a vida.
KANT, I. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento? Petrópolis: Vozes, 1985 (adaptado).
Gabarito
1.D 2.E 3.B 4.A 5.B 6.A 7.D 8.A 9.C 10.E
11.A 12.A 13.A
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