04 - Aula Do Curso Formação Dos Professores - A Gramática-1
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Começaremos agora, com essas próximas 6 ou 8 aulas, o coração do nosso curso. Por
elas, vamos entender o que é, como, e por que chamamos a educação que propomos
de Católica e Clássica ou Clássica e Católica.
Em tudo isso, vemos que, para além do treinamento lógico necessário para bem
realizar estas operações do intelecto, a matéria básica, o instrumento dessas
operações foi a linguagem humana. Assim, podemos dizer que nossa inteligência é
discursiva e, do mesmo modo que ela não funcionaria sem o concurso dos sentidos
corporais externos e internos, também não seria capaz de ir do conhecido rumo ao
desconhecido sem o concurso da Linguagem.
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É sempre muito importante termos uma noção histórica ampla de qualquer coisa que
formos estudar, sobretudo se esse estudo for a “Educação” do homem, fenômeno
naturalmente humano, intrínseco à sociedade humana e tão pouco palpável senão
visto a um saudável distanciamento histórico. (Os malfadados pedagogos revolucionários
quase sempre morrem antes de ver, na prática, os frutos que plantaram!)
Assim sendo, onde começa a história de nossa Educação? Ela é ocidental. Ela é
eminentemente GREGA. Haverá outras influências, junto das quais o Cristianismo fará
uma síntese magistral, mas ela começa a tomar corpo robustamente na Grécia.
E a educação grega começa como? Com Homero. Com Hesíodo (os Trabalhos e Dias e
Teogonia) também, mas sobretudo com as Epopéias Homéricas: Ilíada e Odisséia. Elas
eram a base da formação humana dos povos gregos.
A Pátria dava a oportunidade ao indivíduo de ser homem, por isso quando dele a Pátria
precisava, o indivíduo deveria estar preparado, na alma e no corpo, nas virtudes
morais e na força física.
Suas duas epopéias relatam a história de dois heróis oriundos da chamada Guerra de
Tróia, Aquiles com toda sua fúria e força e Odisseu, com sua astúcia e perseverança.
Duas virtudes são buscadas maximamente pelo povo grego a partir dessas narrações: a
Kléos (κλέος) e a Xeinia (ξένος), a Glória e a Hospitalidade com estrangeiros.
A Honra, portanto, era a base dessa cultura, dessa sociedade. A Glória é honra
desejada em sua imortalidade, e a Hospitalidade pode ser entendida como a honra
vivida no tempo... A glória vinha pela memória do próprio nome pelas gerações futuras
e isso só se daria se as obras da vida deste homem fossem grandiosas, se fossem
dignas de memória! E, sobretudo, a morte deve ser digna de memória!
- Mas como se dará essa memória às gerações vindouras senão por algum poeta que
narre, que cante estes feitos heróicos? –
A Ilíada narra a busca pela Kléos nos feitos militares, a Odisséia narra o desejo de um
estrangeiro que anseia por voltar à sua Pátria, que anseia por uma morte que possa
ser capaz de fazer sua vida ser lembrada; esta voltada à pátria, por sua vez, só será
possível pelo uso astuto e nobre da hospitalidade.
Ótimo! No entanto, por que o “estudo” desses poemas era (ou ainda é) tão
necessário? A literatura sempre será sumamente necessária porque através dela o
homem (mais ainda a criança, o jovem a ser formado!) pode contemplar outras vidas –
possíveis ou reais – e ter inspiração e critérios para moldar a sua própria vida, suas
escolhas. E a vida meramente cotidiana costuma não oferecer tantas possibilidades
existenciais para nossa contemplação, ela costuma estar geográfica e temporalmente
limitada nesse ponto; a literatura, a História, a mitologia ampliam nossos horizontes,
dando-nos objetos variados para contemplação, para reflexão, para a inspiração:
VIDAS HUMANAS possíveis, verdadeiramente dignas de serem imitadas, desejadas.
E para encerrar essa parte de nossa exposição, cito os três gêneros literários mais
propícios e necessários: a Épica (que relata a vida e as obras de Regum et Ducum, dos
generais e reis, das grandes batalhas; e o faz sempre por meio da narração, com tom e
ritmo apropriado, que inspiram a coragem, a grandiloqüência, etc), a Tragédia (que
relata, não por narração, mas por encenação, a vida de homens muito melhores que
nós, que sofrem alguma peripécia e tem suas vidas mudadas de forma brutal; servem
para nos purificar os sentimentos – a Katarse –, incitando em nós a compaixão, o
medo, etc) e a Comédia (que encena a vida de pessoas mais medíocres do que nós,
ridicularizando suas escolhas e hábitos, tem a função de relaxar e divertir o espírito –
normalmente acabrunhado após uma encenação trágica).
E como tudo isso chega até nós, como nos influencia? Roma conquista a Grécia e
apreende esse amor grego pela atividade literária, torna-o mais pragmático e produz
seus poetas e autores. Cristo se encarna em meio a essa nova sociedade, um híbrido
de Roma e Grécia. Será no embate, por meio de aceitações e rejeições, com essa
cultura que os primeiros cristãos irão sedimentar as bases de uma nova etapa da
história humana: a Cristandade, a chamada Idade Média.
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Muitas coisas serão alteradas, mas muitas também serão mantidas! Interessa-nos,
sobretudo não os livros e assuntos mais estudados pelos medievais (para além das
sagradas escrituras e comentários dos Santos Padres, é claro), mas quais eram os
mecanismos pelos quais o desenvolvimento lingüístico e gramatical se dava e quais
suas etapas.
Mecanismos
a) estudo do Latim, não enquanto língua materna, mas comparativa à língua materna;
como porta de acesso à cultura letrada.
b) a Enarratio Poëtarum que transmitia não apenas o conteúdo dos textos, mas
analisava com os alunos o discurso (seja poético, sobretudo em Virgílio; seja em prosa,
sobretudo em Cícero) desde o seu grau mais básico – a recitação, as classes
gramaticais das palavras, a estrutura morfossintática da língua latina e seus usos no
texto literário – até a crítica estética do autor, do estilo, das peculiaridades, das
relações profundas na forma-conteúdo.
Etapas
Para entendermos melhor como nos reeducar, vamos seguir a teoria contemporânea
do professor e latinista Rafael Falcón que divide (teoricamente e a posteriori) as etapas
do ensino gramatical medieval (e possível!) em quatro níveis, sendo que há um
primeiro grau nível zero. São eles:
2 – Passivo Incipiente
3 – Passivo Refinado
4 – Passivo Culto
Após estas etapas, o aluno iria desenvolver enfim e de forma definitiva suas
capacidades ativas: suas capacidades retóricas e lógicas. É o aluno que percorreu o
Trivium, este é realmente livre intelectualmente, é o aluno ideal dos estudos
superiores, da filosofia e da teologia!