Saúde Mental 3
Saúde Mental 3
Saúde Mental 3
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3
9 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 68
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1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável -
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum
é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.
Bons estudos!
3
2 A REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL
Fonte: redehumanizasus.net
4
Sob a ótica de Amarante (2006 apud MIRANDA S; 2019), o campo psiquiátrico
foi o mais explorado pelas empresas privadas no período ditatorial. A falta de direitos
dos usuários juntamente com a baixa exigência de qualidade na área, colaborava para
a chamada “indústria da loucura”, o número de leitos privados subiu nesse período de
3 mil para quase 56 mil, houve uma expansão dos leitos privados e uma diminuição
de investimentos do setor público na área em questão.
Toda via, nos anos 1970, seguindo a influência de outros países, instalaram--
se no país críticas com proposições para a transformação do modelo de assistência
psiquiátrica e ao paradigma da psiquiatria tradicional (Devera e Costa Rosa, 2007
apud MIRANDA S; 2019). Mobilizações sociais e políticas impulsionaram o movimento
da RP brasileira, que teve como um marco histórico as mobilizações ocorridas em
1978.Neste ano, estagiários do Centro Psiquiátrico Pedro II do Rio de Janeiro-RJ,
denunciaram uma série de violações aos direitos humanos dos internos da instituição
que também abrangiam presos políticos nos quais eram ali eram torturados. Após as
denúncias, além dos estagiários, 263 profissionais que defendiam os denunciantes e
confirmavam as denúncias foram demitidos (Amarante, 2006 apud MIRANDA S;
2019).
Esse episódio foi denominado como a crise da Divisão Nacional da saúde
Mental do Ministério da Saúde- DINASM. As denúncias publicitadas pelos
profissionais que atuavam nos hospitais que estavam sob a responsabilidade dessa
Divisão, repercutiram nacionalmente, ocasionando debates na esfera da sociedade
civil, indignada com a forma como Estado tratava os sujeitos internados (Amarante,
2006 apud MIRANDA S; 2019).
Os trabalhadores começam a denunciar a ausência de recursos das
instituições, as precárias condições de trabalho. É assim que surgiu o Movimento dos
Trabalhadores da Saúde Mental-MTSM, que seguiu com a crítica à função segregada
a do hospital psiquiátrico e juntou-se com a intensiva mobilização nacional em prol da
redemocratização, conforme MIRANDA S; (2019).
5
Os trabalhadores de saúde mental, manifestaram-se intensamente contra a
privatização da saúde mental e as práticas desumanas que ocorriam também nas
instituições privadas. Por isso, a defesa por um acesso à saúde pública incluía as
pautas do movimento da RP no Brasil, conforme MIRANDA S; (2019).
O ano de 1978 também foi marcado pela chegada ao Brasil de Franco Basaglia,
o psiquiatra italiano que liderava naquele momento, uma das principais experiências
de superação do modelo asilar-manicomial no mundo. Basaglia retornou ao país no
ano seguinte e ao visitar o Hospital Colônia de Barbacena -Minas Gerais, um dos mais
cruéis manicômios brasileiros, comparou o hospital a um campo de concentração que,
por sua vez, é denominado por Arendt (2005 apud MIRANDA S; 2019) como campo
de extermínio.
Para a autora nos campos de concentração e extermínio os sujeitos perdiam a
liberdade e a capacidade da ação. O horror era instaurado de tal forma que os internos
vivenciam um processo de anulação do eu. Arendt (2005, p.376 apud MIRANDA S;
2019) considerava que o verdadeiro horror dos campos de concentração e de
extermínio reside no fato de que os internos, mesmo que consigam manter-se vivos,
estão mais isolados do mundo dos vivos do que se tivessem morrido, porque o horror
compele ao esquecimento. No mundo concentracionário mata-se um homem tão
impessoalmente como se mata um mosquito. Uma pessoa pode morrer em
decorrência de tortura ou de fome sistemática, ou porque o campo está superpovoado
e há necessidade de liquidar o material humano supérfluo.
Tal comparação feita por Basaglia indicava o caráter mortificador do Hospital
de Barbacena, despertando a atenção especial da imprensa, que juntamente com a
exposição do documentário “Em nome da Razão” e de uma série de reportagens de
Hiran Firmino, intituladas “Nos porões da loucura” divulgadas na época trouxeram
visibilidade para da questão da saúde mental no Brasil (Amarante, 2006 apud
MIRANDA S; 2019).
Cenas de outros grandes manicômios do Brasil, tais como o Juqueri, no Estado
de São Paulo; a Colônia Juliano Moreira, no Rio de Janeiro foram veiculadas pelos
meios de midiáticos. Percebe-se, que estes fatores favoreceram para a comoção da
sociedade civil e o envolvimento tanto de pacientes como de familiares ao movimento
da RP (Silva, 2012 apud MIRANDA S; 2019).
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Na década de 1980, de acordo com Tenório (2002 apud MIRANDA S; 2019)
houve dois fatores cruciais para a consolidação do movimento da RP: a
ampliação dos atores sociais envolvidos no movimento; e a iniciativa de
reformulação legislativa nos quais estabeleceram um novo horizonte de ação:
não apenas as macros- reformas às instituições psiquiátricas, mas a cultura,
o cotidiano, as mentalidades, incorporando novos atores, entre eles, os
usuários e seus familiares.
Por estas características Diaz (2009 apud MIRANDA S; 2019) entende que a
RP é um movimento social que tem como pauta a luta pela cidadania e dos direitos
das pessoas com sofrimento mental. Com base nisto, pode-se compreender que tal
movimento tem como bandeira de luta o reconhecimento social destes sujeitos. Sobre
8
este aspecto, Axel Honneth (2003 apud MIRANDA S; 2019) ao discorrer sobre a teoria
crítica do reconhecimento, traz contribuições para subsidiar a reflexão da trajetória
dos sujeitos com sofrimento mental na esfera das políticas sociais e no âmbito do
direito. Este autor busca mostrar que os conflitos sociais são essencialmente
baseados numa luta por reconhecimento social e que esta luta é o motor das
mudanças sociais.
Honneth (2003 apud MIRANDA S; 2019) considera como um tipo de
desrespeito, o fato do sujeito permanecer estruturalmente excluído da posse de
determinados direitos no interior de uma sociedade e para ele a experiência de
desrespeito está sempre acompanhada de sentimentos afetivos que podem revelar
ao indivíduo que determinadas formas de reconhecimento lhe são socialmente
denegadas e é “nessas reações emocionais de vergonha, que a experiência de
desrespeito pode tornar-se o impulso motivacional de uma luta por reconhecimento”
(2003, p.224 apud MIRANDA S; 2019), assim, o desrespeito converte-se num motivo
da resistência política.
A particularidade nas formas de desrespeito, como as existentes na privação
de direitos ou na exclusão social, não representa somente a limitação violenta da
autonomia pessoal, mas também sua associação com o sentimento de não possuir
status de um parceiro da interação com igual valor, moralmente em pé de igualdade.
Nesse sentido, para Honneth (2003 apud MIRANDA S; 2019) a dimensão do auto
respeito é resgatada na participação em um movimento social: “A aceitação por um
grupo na luta política restitui ao indivíduo um pouco do seu auto respeito negado”
(2003, p. 96 apud MIRANDA S; 2019).
No que tange à Reforma Psiquiátrica, observa-se que o movimento foi iniciado
pelos trabalhadores de saúde e que posteriormente passou a incluir os usuários e
seus familiares e diversos segmentos da sociedade. Foi a ação política dos
profissionais, inicialmente, que colocou à vista a luta por reconhecimento social dos
sujeitos com sofrimento mental, conforme MIRANDA S; (2019).
Lembrando que para Arendt (2004 apud MIRANDA S; 2019), em sua obra A
condição humana, é na pluralidade que se revela a ação e é partir da ação é possível
instaurar interrupções e novos processos. Frente a baixa vocalização dessa parcela,
é que se observa o quão crucial foram e são as articulações dos trabalhadores em
saúde mental para o início das mudanças na forma do Estado tratar tal parcela.
9
Contudo, o movimento é caracterizado por um instável conjunto de acentuados
conflitos e tensões (Diaz, 2009 apud MIRANDA S; 2019). Amarante (1995 apud
MIRANDA S; 2019) mostra que alguns setores da sociedade eram (e ainda são)
resistentes à Reforma Psiquiátrica, ele realça que na época de efervescência do
movimento, os principais opositores foram:
A Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP, que não optou por
afrontar os segmentos tidos como conservadores da universidade, do
aparato estatal, do empresariado de saúde, até porque parte destes
setores eram membros da própria ABP e estavam comprometidos com
um olhar mais tradicional da psiquiatria, conforme MIRANDA S; (2019).
A Indústria farmacêutica, haja vista, que a RP brasileira tem como uma
das bandeiras de luta o posicionamento contrário à medicalização da
vida e à cronificação dos sujeitos por meio de psicofárrmacos,
conforme MIRANDA S; (2019).
setor privado, sobretudo a Federação Brasileira de Hospitais -FBH,
que embora seja uma entidade de prestadores privados de saúde em
geral, tinha em sua composição uma parcela significativa de
“empresários da loucura”. Segundo Amarante (1995) no contexto do
governo ditatorial houve uma ampla expansão de serviços psiquiátricos
particulares, e ao final da década de 1980, com a promulgação da
CF/1988, estes serviços passaram a disputar o cliente psiquiátrico com
o setor público.
Em torno do movimento da Reforma Psiquiátrica no Brasil há uma gama de
conflitos, interesses e disputas de espaço. Apesar dessas tensões, surgiram as
normatizações que fortaleceram as propostas da Reforma. Um marco que colaborou
para a responsabilização do Estado quanto à questão da saúde mental no país refere-
se à assinatura da Declaração de Caracas, em 1990. Esta descrevia que os governos
deveriam assegurar os direitos humanos às pessoas com sofrimento mental e
organizar serviços comunitários de saúde mental, conforme MIRANDA S; (2019).
Os desdobramentos da declaração são percebidos no Brasil com a
intensificação de serviços “substitutivos” implantados. No início dos anos 1990 foram
aprovadas as portarias 189/91 e 224/92 do Ministério da Saúde, que originaram a
possibilidade, inexistente até então, para o SUS financiar programas de assistência
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externos ao hospital psiquiátrico para as pessoas com sofrimento psíquico e seus
familiares, conforme MIRANDA S; (2019).
Oficializaram, ainda, as normas para o funcionamento dos CAPS, delimitando
suas atribuições e diferenciando suas modalidades de acordo com a complexidade
dos atendimentos e abrangência populacional (Brasil, 1992 apud MIRANDA S; 2019).
Tais portarias indicam o caminho que vai sendo traçado pela saúde mental no Brasil
num contexto de ideologia neoliberal. Os serviços que vão sendo preconizados se
assimilam com os serviços extra hospitalares da psiquiatria preventiva dos EUA, de
caráter intermediário (CAPS), ao invés de apresentarem um caráter de fato
substitutivo (NAPS).
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Na opinião de Souza (2015, p.51 apud MIRANDA S; 2019) é preciso substituir
não só os hospitais psiquiátricos, mas sobretudo a lógica do modelo hospitalar”, ou
seja, a existência de serviços físicos não necessariamente caracteriza uma mudança
na perspectiva da “desinstitucionalização”, um CAPS pode funcionar como um serviço
aberto, porém não está livre de reproduzir práticas manicomiais.
Com base na Lei 10.216 de 2001, em 2002 foi publicada a portaria 336,
estabelecendo distintas modalidades de CAPS. O incentivo ao financiamento destes
serviços foi prescrito na portaria nº 245, de 17 de fevereiro de 2005 no qual foi
republicada em dezembro 2011 pela portaria Nº 3.089 que institui o recurso financeiro
fixo para as diversas modalidades de CAPS que estejam credenciados pelo Ministério
da Saúde, conforme MIRANDA S; (2019).
Ademais, no mesmo ano, em dezembro de 2011, foi criada a principal portaria
que diz respeito aos serviços “substitutivos”, a de nº 3088 que institui a Rede de
Atenção Psicossocial-RAPS, dispondo sobre a criação, ampliação e articulação de
pontos de atenção à saúde para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com
necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do SUS.
As diretrizes que norteiam o funcionamento da RAPS- Rede de Atenção Psicossocial
pautavam-se no respeito aos direitos humanos; no reconhecimento dos determinantes
sociais da saúde; na oferta de cuidado e assistência multiprofissional sob a lógica
interdisciplinar; diversificação das estratégias de cuidado com o foco em serviços de
base territorial e comunitária e na inclusão da participação e controle social dos
usuários dos serviços e de seus familiares (Brasil, 2011 apud MIRANDA S; 2019).
Entende-se aqui, a relevância de expor estas diretrizes, pois estas mostravam
que a proposta da RAPS- Rede de Atenção Psicossocial era totalmente oposta à
lógica de tratamento do modelo centralizado no hospital psiquiátrico. Tanto é que, na
descrição de seus componentes o hospital psiquiátrico não se apresenta como
dispositivo da Rede. Ele pode até ser acionado por ela, mas a ênfase da RAPS está
nos serviços abertos, conforme MIRANDA S; (2019).
No entanto, seis anos após o estabelecimento da RAPS, em 21 de dezembro
de 2017, foi publicada no Dário Oficial da União a portaria nº3.588 que trouxe
alterações profundas na RAPS- Rede de Atenção Psicossocial. Uma das principais
mudanças dizem respeito à inclusão do Hospital Psiquiátrico Especializado como
componente da Rede (Brasil, 2017 apud MIRANDA S; 2019). Os defensores da RP
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fizerem críticas às modificações propostas por entenderem que a portaria favorece o
fortalecimento dos hospitais psiquiátricos indo contra os princípios da Lei nº
10.216/2001, que enfatiza o cuidado nos serviços de base territorial e por acreditarem
que a inclusão destes hospitais na Rede de atendimento traz prejuízos de
investimento em serviços de base territorial e comunitária, por isso, os estudiosos da
Reforma ponderam que as alterações são retrocessos para a política de saúde mental
que vinha tentando se consolidar no país (ABRASME, 2018 apud MIRANDA S; 2019).
A partir destes marcos, para Paulo Amarante (2006 apud MIRANDA S; 2019) a
RP como um processo complexo abrange quatro dimensões, sendo:
Dimensão técnico-conceitual, que se refere ao questionamento das
bases teóricas e conceituais do paradigma clássico de olhar os sujeitos
com sofrimento mental. Descontrói, portanto os conceitos de doença
mental, de normalidade, concepção de cura, conforme MIRANDA S;
(2019).
Dimensão técnico-assistencial, que se reporta à construção de
dispositivos estratégicos, como lugares de acolhimento e de trocas
sociais, conforme MIRANDA S; (2019).
Dimensão jurídico-política, que demarca a necessidade de revisão na
legislação (sanitária, civil e penal), no que concerne as ações que
historicamente relacionaram a loucura com a periculosidade,
irracionalidade, incapacidade civil, de exercício de cidadania,
irresponsabilidade, e a necessidade da criação de um arcabouço jurídico
que respalde dos direitos dos sujeitos com sofrimento mental, como por
exemplo a instituição da lei 10.216 de 2001; referindo assim,
essencialmente ao aspecto da cidadania, conforme MIRANDA S; (2019).
Dimensão sociocultural, pauta-se pela transformação do imaginário
social sobre a loucura e de relações que não sejam baseadas na
intolerância, mas sim na reciprocidade e solidariedade. Também inclui o
envolvimento da sociedade com a RP (Amarante, 2007 apud MIRANDA
S; 2019).
Portanto, este processo complexo permeado por tais dimensões ora segue
com avanços significativos ora com impasses e recuos, o momento atual é
apreensivo. Fato é que tem havido no Brasil profundas mudanças para a política de
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saúde mental. Ao refletir tais mudanças é crucialsituar asinterferências neoliberais
para o desenrolar desta política, conforme MIRANDA S; (2019).
Se o século XIX foi o século dos manicômios o século XX será o século das
Reformas Psiquiátricas. Como elucidado, no período pós-guerra, houve críticas e
experiências reformistas em relação aos hospitais psiquiátricos. Com base em
Amarante (1995 apud MIRANDA S; 2019), abaixo está uma síntese das principais
propostas no mundo:
- Comunidade Terapêutica (Inglaterra -1959 apud MIRANDA S; 2019):
Processo de reformas institucionais predominantemente restritas ao espaço do
hospital psiquiátrico, marcado por medidas administrativas e técnicas que enfatizavam
aspectos democráticos, participativos e coletivos, como o envolvimento de pacientes
e familiares no tratamento, com vistas a uma transformação da dinâmica institucional
asilar.
- Psiquiatria de Setor (França apud MIRANDA S; 2019): Enfoque na criação
de novas instituições intermediárias, extra hospitalares, setorizando o território.
- Psicoterapia institucional (França-1952 apud MIRANDA S; 2019):
Recebeu influências da psicanálise. O movimento pautou-se no resgate do potencial
terapêutico do hospital psiquiátrico com ênfase ao coletivo dos pacientes e técnicos,
de todas as categorias, em oposição ao modelo tradicional, da hierarquia e da
verticalidade.
- Psiquiatria preventiva (EUA- 1955 apud MIRANDA S; 2019): Caracterizou-
se pelo deslocamento da lógica de doença mental para saúde mental. Buscou realizar
intervenções na comunidade com o objetivo da promoção da saúde mental. Foco em
serviços para prevenção. Requer sublinhar a criação de serviços extra hospitalares
de caráter intermediário. Caráter este que pode ter dois sentidos:
14
- Psiquiatria Democrática (Itália Déc.1970 apud MIRANDA S; 2019): criticou
radicalmente os fundamentos do paradigma psiquiátrico clássico.
Destaca-se o movimento de RP na Itália, em especial na década de 1970,
denominado de “Psiquiatria Democrática” conduzido pelo psiquiatra Franco Basaglia
que ao fazer uma crítica ao paradigma psiquiátrico até então instituído, propôs
processo de desinstitucionalização fundamentado no desmonte do hospital
psiquiátrico tendo em contrapartida a implantação de novos espaços e maneiras de
lidar com o sofrimento psíquico. Segundo Amarante (1995 apud MIRANDA S; 2019),
a tradição Basaglia trouxe em seu centro a exigência de uma análise histórico-crítica
em relação a como a sociedade interage com o sofrimento e a diferença.
A crítica ao paradigma psiquiátrico tradicional teve início na experiência do
hospital psiquiátrico de Goriza. Basaglia assumiu a direção do hospital em 1960 e
introduziu mudanças sob a influência Comunidade Terapêutica e da Psicoterapia
Institucional, só que indo além ao preconizar a modificação das relações de poder na
instituição, extinguindo os métodos punitivos/coercitivos e abrindo alguns espaços
para a comunidade (Gomes, 2013 apud MIRANDA S; 2019). Será, porém, no hospital
de Trieste a grande experiência de desinstitucionalização encabeçada por Basaglia.
Fonte: revistahsm.com.br
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De acordo com Andreoli (2007 apud MIRANDA S; 2019) novas modalidades de
tratamento têm sido disponibilizadas, incluindo o acesso gratuito aos psicotrópicos,
contudo, apesar das expansões dos serviços, a RP não foi seguida pelo aumento do
investimento público em saúde mental.
O autor esclarece que a Reforma não consiste numa estratégia de redução de
custos; pelo contrário, ela necessariamente implica a expansão de investimentos se
de fato os governos estabelecessem aprimorar os cuidados em saúde mental aos
distintos grupos sociais, em especial, aos grupos em desvantagens. A lógica da RP
não é meramente suprimir à assistência psiquiátrica asilar, mas de deslocar e
incorporar investimentos públicos em outros modos de assistência. A questão que
cabe levantar é se os investimentos feitos nesses novos modos de cuidar têm
viabilizado os cuidados necessários à população com sofrimento mental no Brasil,
conforme MIRANDA S; (2019).
De acordo com Bandeira (1991 apud MIRANDA S; 2019), a implementabilidade
de um sistema depende do apoio financeiro que obtém e neste aspecto, o campo da
saúde mental no formato da atenção psicossocial baseada em serviços substitutivos
ao modelo asilar de cuidado, vive um dilema estrutural quanto ao financiamento
adequado. Para Fonseca (2007, p.38 apud MIRANDA S; 2019), diferentemente das
outras áreas da saúde, os problemas de sofrimento psíquico.
Não são transmissíveis por vírus ou bactérias, não são identificáveis por
radiografia, ou exame de sangue e não afetam, portanto, de modo claro, a taxa de
mortalidade da população. As terapêuticas custam caro porque dependem
fundamentalmente de pessoas que cuidam de pessoas, por um prazo, em geral,
indeterminado. Ou seja, é uma área da saúde para o qual o conceito “cura” não faz
qualquer sentido, e o resultados terapêuticos, portanto, não podem ser apresentados
sem uma boa dose de elementos subjetivos e qualitativos de análise, conforme
MIRANDA S; (2019).
Por estas razões, do ponto de vista do autor, para os gestores públicos, que de
modo geral são orientados pelo horizonte do curto prazo de quatro anos de mandato,
a saúde mental é uma área de investimento de baixa rentabilidade político-eleitoral.
Por exemplo, “Diz-se efetuamos 15000 operações de catarata, ou aplicamos 1 milhão
de vacinas, mas não se pode dizer “realizamos 200 reabilitações psicossociais”
(Fonseca 2007, p.39 apud MIRANDA S; 2019).
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Com base nesse raciocínio o autor pondera que a defesa por uma política de
saúde pública eficaz, já é difícil, do ponto de vista de se assegurar os recursos
necessários à implementação dos princípios básicos do SUS, os desafios postos à
saúde Mental são ainda mais corpulentos, conforme MIRANDA S; (2019).
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3.1 Rede de Atenção Psicossocial: a Atual Política de Saúde Mental no Brasil
20
Conforme Moura (2011 apud ZANELLA F; 2019), o primeiro CAPS no Brasil foi
inaugurado em março de 1986, em São Paulo. O Centro de Atenção Psicossocial
Professor Luiz da Rocha Cergueira, conhecido como CAPS da Rua Itapeva, com mais
de trinta anos de funcionamento, serviu de referência para as instalações de mais
CAPS por todo o país.
Os Núcleos de Apoio Psicossocial (NAPS) ou Centros de Atenção Psicossocial
(CAPS) foram criados oficialmente a partir da Portaria nº 224/1992, que regulamentou
o funcionamento de todos os serviços de saúde mental em acordo com as diretrizes
de descentralização e hierarquização das Leis Orgânicas do SUS, conforme
ZANELLA F; (2019).
Essa Portaria define os NAPS/CAPS como unidades de saúde
locais/regionalizadas que contam com uma população adscrita definida pelo nível
local e que oferecem atendimento de cuidados intermediários entre o regime
ambulatorial e a internação hospitalar. Os NAPS/CAPS podem constituir-se também
em porta de entrada da rede de serviços para as ações relativas à saúde mental e
atendem também a pacientes referenciados de outros serviços de saúde, dos serviços
de urgência psiquiátrica ou egressos de internação hospitalar (MOURA, 2011 apud
ZANELLA F; 2019).
A pessoas dependentes químicas e as pessoas com transtornos mentais têm
seu tratamento e acompanhamento priorizados pela RAPS, principalmente nos CAPS
ou UA, pois a dependência química é definida pela 10ª edição da Classificação
Internacional de Doenças da OMS como um conjunto de fenômenos
comportamentais, cognitivos e fisiológicos que se desenvolvem após o uso repetido
de determinada substância, conforme ZANELLA F; (2019).
De acordo com ZANELLA F; (2019), em 2003, o Ministério da Saúde publicou
“A Política do Ministério da Saúde para a Atenção Integral a Usuários de Álcool e
outras Drogas”, assumindo o compromisso de prevenir, tratar e reabilitar esses
usuários através dessa política. Para isso, desenvolveu algumas práticas a serem
contempladas, entre elas:
21
Para que o tratamento da saúde das pessoas com dependência de álcool e
outras drogas seja atendido de forma integral, devem ser vistas para além do aspecto
econômico e social para a recuperação do usuário. Neste mesmo movimento, o
Ministério da Saúde, com a implementação da política de atenção a usuários de álcool
e outras drogas, buscou implantar novos programas, como a criação de Centros de
Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPSAD). Criaram-se também redes de
dispositivos comunitários, integrados ao meio cultural e articulados à rede assistencial
em saúde mental e aos princípios de Reforma Psiquiátrica para dar suporte aos
dependentes, conforme ZANELLA F; (2019).
A Portaria nº 336/MS, publicada em 19 de fevereiro de 2002, um ano após a
implementação da Lei Federal nº 10.216/2001, que atualizou a Portaria nº 224/92,
regulamenta o funcionamento dos CAPS. Uma vez necessário projetar serviços
públicos de saúde, substitutivos ao modelo asilar, de referência nos territórios
comunitários e de livre acesso para as pessoas com transtornos mentais sejam
crianças, adolescentes ou adultos, um dos mais populares modelos de assistência
para esse público foram os CAPS, que propõem serviços de atenção psicossocial
através do SUS em um local destinado a dar atenção, oferecer tratamento,
acompanhamento e, ao mesmo tempo, espaço social no sentido de produção de
projetos de vida e de exercício de direitos, conforme ZANELLA F; (2019).
23
dos profissionais que compõem uma equipe de CAPS, seja de que porte for, conforme
ZANELLA F; (2019).
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psiquiatra; 01 enfermeiros com formação em saúde mental; 1 médico clínico,
responsável pela triagem, avaliação e acompanhamento das intercorrências clínicas;
4 profissionais de nível universitário, 6 profissionais de nível médio (BRASIL, 2013, p.
14 apud ZANELLA F; 2019).
Como há também o CAPSADIII, que atende adultos, crianças e adolescentes,
com funcionamento no período de 24 horas e que possui até doze leitos, quando
pessoas em atendimento pelo CAPSAD necessitam fazem uso do CAPSADIII quando
houver necessidade e disponibilidade na cidade. Este possui Serviço com no máximo
12 leitos para observação e monitoramento, de funcionamento 24 horas, incluindo
feriados e finais de semana; indicado para municípios ou regiões com população
acima de 150.000 habitantes. Equipe mínima: 1 médico clínico; 1 médico psiquiatra;
1 enfermeiro com experiência e/ou formação na área de saúde mental; 5 profissionais
de nível universitário, 4 técnicos de enfermagem; 4 profissionais de nível médio; 1
profissional de nível médio para a realização de atividades de natureza administrativa
(BRASIL, 2013, p. 14 apud ZANELLA F; 2019).
Considerando as normativas do Estatuto da Criança e do Adolescente, quando
há crianças ou adolescentes com necessidades de cuidados clínicos contínuos em
instituições, inclusive nos CAPSIII e CAPSADIII, prioriza-se o menor tempo possível
de permanência para que a criança ou adolescente possa dar continuidade de seu
tratamento e acompanhamento de forma ambulatorial, conforme ZANELLA F; (2019).
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Para o funcionamento do CAPSi, está previsto como equipe técnica mínima:
um médico psiquiatra, ou neurologista ou pediatra com formação em saúde mental;
um enfermeiro; quatro profissionais de nível superior e cinco profissionais de nível
médio (BRASIL, 2013 apud ZANELLA F; 2019).
Segundo BRASIL (2004 apud ZANELLA F; 2019), os municípios com menos
de vinte mil habitantes não obrigatoriamente precisam ter CAPS, segundo a lógica de
organização proposta pelo Ministério da Saúde, e podem começar a estruturar sua
rede de cuidados a partir da Atenção Básica do próprio município.
Há como serviço extra-hospitalar na área da saúde mental as UA para adultos,
destinada às pessoas que fazem uso de álcool e outras drogas maiores de dezoito
anos. Com funcionamento 24 horas, conforme consta no manual (2013 apud
ZANELLA F; 2019), são previstos pelo menos um profissional de nível superior
(médico, psicólogo, assistente social, profissional de educação física, entre outros),
por período de atendimento manhã, tarde e noite, além de dois profissionais de nível
médio no local.
Já as Unidades de Acolhimento Infanto-Juvenil, destinadas às crianças e aos
adolescentes entre dez e dezoito anos incompletos, possuem a mesma necessidade
mínima de equipe técnica que uma UA para adultos, porém com 12 horas diárias de
funcionamento e com o requisito de “40 horas de profissionais de nível superior na
área de educação, distribuídas de maneira a garantir a presença mínima de 1
profissional por período em todos os dias úteis da semana, das 7h às 19 horas”
(BRASIL, 2013, p. 16 apud ZANELLA F; 2019).
Todos esses dispositivos foram criados para organizar a rede municipal de
atenção a pessoas com transtornos mentais. Os CAPS em todas as suas
modalidades, são serviços de saúde municipal, abertos, comunitários, que oferecem
atendimento diário. Eles devem ser territorializados, devem estar circunscritos no
espaço de convívio social daqueles usuários que os frequentam, conforme ZANELLA
F; (2019).
Os CAPS, dentro da atual política de saúde mental do Ministério da Saúde, são
considerados dispositivos estratégicos para a organização da rede de atenção em
saúde mental. Com a criação desses centros, possibilita-se a organização de uma
rede substitutiva aos hospitais psiquiátricos que mantinham longos internamentos e
impossibilitavam que muitas pessoas não tivessem convívio social e familiar. O
26
principal objetivo é oferecer atendimento à população, realizar o acompanhamento
clínico e a reinserção social dos usuários pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos
direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários, conforme ZANELLA
F; (2019).
As práticas realizadas nos CAPS têm como característica ocorrerem em
ambiente aberto, acolhedor e inserido na cidade, no bairro. Os projetos desses
serviços, muitas vezes, ultrapassam a própria estrutura física, em busca da rede de
suporte social, preocupando-se com o sujeito e sua singularidade, sua história, sua
cultura e sua vida cotidiana (BRASIL, 2004 apud ZANELLA F; 2019). Com o objetivo
de promover a ressocialização da pessoa com transtorno mental, proporciona de
forma emancipatória o exercício da cidadania, ao invés da exclusão que vinha sendo
praticada por muitos anos no país. Os CAPS possuem, por fim, um papel estratégico
na organização da rede comunitária de cuidados às pessoas com transtorno mentais,
além de direcionar e de desenvolver projetos terapêuticos e comunitários para seus
usuários.
O processo de construção dos serviços de atenção psicossocial tem revelado
outras realidades, conforme (BRASIL, 2004 apud ZANELLA F; 2019) as teorias e os
modelos prontos de atendimento vão se tornando insuficientes diante das demandas
das relações diárias com o sofrimento e a singularidade desse tipo de atenção que o
sujeito requer e necessita. É preciso criar, observar, escutar, estar atento à
complexidade da vida das pessoas, ir para além do que se está previsto em legislação,
visto como mínimo para estruturar um CAPS e modelo terapêutico de tratamento.
Para tanto, é necessário que, ao definir atividades, como estratégias
terapêuticas nos CAPS, sejam repensados os conceitos, as práticas e as relações que
podem promover saúde entre as pessoas: técnicos, usuários, familiares e
comunidade. É preciso que todos os envolvidos participem desta construção o
máximo possível, questionando e avaliando permanentemente os direcionamentos do
serviço, tratamento e acompanhamento, para que possam estar próximos de garantir
os direitos humanos de cada usuário, conforme ZANELLA F; (2019).
Temos ainda previsto em legislações como serviço na rede extra hospitalar o
Serviço Residencial Terapêutico (SRT). Segundo o Ministério da Saúde (2004 apud
ZANELLA F; 2019), as residências terapêuticas constituem-se como alternativas de
moradia para as pessoas que estiveram internadas há anos em hospitais psiquiátricos
27
por não contarem com suporte adequado na comunidade e, principalmente, por não
contar com suporte familiar e social suficientes para garantir espaço adequado de
moradia. O “número de usuários pode variar desde 1 indivíduo até um pequeno grupo
de no máximo 8 pessoas, que deverão contar sempre com suporte profissional
sensível às demandas e necessidades de cada um” (BRASIL, 2004, p. 6 apud
ZANELLA F; 2019).
A reabilitação psicossocial deve buscar a inserção do usuário na rede de
serviços, organizações e relações sociais da comunidade. Ou seja, a inserção em um
SRT é o início de longo processo de reabilitação da pessoa com transtorno mental,
serviço que deverá buscar a progressiva inclusão social do morador que possui algum
tipo de transtorno mental em sociedade mesmo que já não possua vínculos familiares,
conforme ZANELLA F; (2019).
Fonte: exactstringask.com
28
por todas as pessoas e políticas públicas, inclusive a política de saúde mental,
conforme ZANELLA F; (2019).
O princípio da dignidade da pessoa humana está previsto no art. 1º, inciso III
da Constituição Federal de 1988, sendo um princípio fundamental da República
brasileira e norma constitucional que permeia todo o ordenamento jurídico no país
(BRASIL, 1988 apud ZANELLA F; 2019). O princípio da dignidade da pessoa humana
é um valor moral e espiritual inerente à pessoa, ou seja, todo ser humano é dotado
desse preceito. Ainda acerca da Constituição, o art. 6º trata dos direitos sociais pelos
quais todo ser humano está, ou deveria estar, assegurado em nosso país,
[...] são universais, o que quer dizer que são aplicados de forma igual e sem
discriminação a todas as pessoas; os direitos humanos são inalienáveis, e
ninguém pode ser privado de seus direitos humanos; eles podem ser
limitados em situações específicas. Por exemplo, o direito à liberdade pode
ser restringido se uma pessoa é considerada culpada de um crime diante de
um tribunal e com o devido processo legal; os direitos humanos são
indivisíveis, inter-relacionados e interdependentes, já que é insuficiente
respeitar alguns direitos humanos e outros não. Na prática, a violação de um
direito vai afetar o respeito por muitos outros (ONUBR, 2019, p. 2 apud
ZANELLA F; 2019).
30
e incorporou a noção de igualdade e justiça na Constituição, assumindo o Programa
de Direitos Humanos, selou um compromisso expresso e formal, necessitando pensar
políticas públicas voltadas a atender as mais variadas necessidades humanas, como
na área da saúde pública, na saúde mental, educacional, habitacional, entre tantas
outras, conforme ZANELLA F; (2019).
É preciso que se assimile efetivamente o significado dos direitos humanos,
exigindo cidadania plena e dignidade para todos, seja legalmente, seja no cotidiano.
Respeitar e reconhecer as diferenças é o exercício de democracia na busca de um
mundo mais justo para todos. Segundo a cartilha Direito à Saúde Mental, produzida
em 2012 pelo Ministério Público Federal, a saúde mental “é um direito fundamental do
cidadão, previsto na Constituição Federal para assegurar bem-estar mental,
integridade psíquica e pleno desenvolvimento intelectual e emocional” (BRASIL, 2012,
p. 14 apud ZANELLA F; 2019).
Para aqueles que necessitam de tratamento na área da saúde mental, é preciso
considerar que ela não é apenas o contrário de doença mental. Em seu conceito mais
profundo está implícito o respeito ao direito à dignidade humana, isto é, uma vida sem
preconceitos, sem discriminações e sem violência em qualquer nível que preserve a
saúde física e mental de todos, conforme ZANELLA F; (2019).
Conforme a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), um ambiente que
respeite e proteja os direitos básicos civis, políticos, socioeconômicos e culturais é
fundamental para a promoção da saúde mental. De acordo com a ONUBR (2016),
somente é possível ter saúde quando há completo bem-estar físico, mental e social.
Sem a segurança e a liberdade asseguradas por esses direitos, torna-se muito difícil
manter um elevado nível de saúde mental, conforme pontuou a organização no dia
mundial para o tema, conforme ZANELLA F; (2019).
Saúde mental é determinada por uma série de fatores que, são eles,
socioeconômicos, biológicos e ambientais, ainda conforme a OMS, diversos fatores
podem colocar em risco a saúde mental dos indivíduos: rápidas mudanças sociais,
condições de trabalho estressantes, discriminação de gênero, exclusão social, estilo
de vida não saudável, violência e violação dos direitos humanos. ONUBR (2016 apud
ZANELLA F; 2019).
31
A promoção da saúde mental envolve ações que permitam às pessoas adotar
e manter estilos de vida saudáveis ou, aos que adoeceram e desenvolveram algum
tipo de transtorno mental, acompanhamento e tratamento que preserve sua dignidade
humana. A Organização Mundial de Saúde afirma que não existe definição "oficial" de
saúde mental. Diferenças culturais, julgamentos subjetivos e teorias relacionadas
concorrentes afetam o modo como a "saúde mental" é definida. Saúde mental é um
termo usado para descrever o nível de qualidade de vida cognitiva ou emocional, e
pode incluir a capacidade de um indivíduo de apreciar a vida e procurar um equilíbrio
entre as atividades e os esforços para atingir a resiliência psicológica. Admite-se,
entretanto, que o conceito de Saúde Mental é mais amplo que a ausência de
transtornos mentais (ONUBR, 2016 apud ZANELLA F; 2019).
O atendimento das pessoas com transtornos mentais deve ser realizado na
perspectiva de garantia dos direitos humanos, sendo que, para isso, as iniciativas
governamentais são fundamentais, com destaque para a construção e consolidação
de uma política de saúde mental fortalecida, com investimentos que possibilitem a
expansão de atendimento e, mais importante ainda, a possibilidade de preservar e
prevenir o adoecimento, pois saúde mental engloba vários outros segmentos,
conforme ZANELLA F; (2019).
Segundo a ONUBR (2016 apud ZANELLA F; 2019), a saúde mental é uma
parte integrante e essencial da saúde e significa mais do que a ausência de
transtornos mentais ou deficiências. Trata-se de um estado de bem-estar no qual cada
pessoa realiza e desenvolve suas próprias habilidades, podendo trabalhar e participar
da vida societária. Pensar na saúde mental e no bem-estar é fundamental para nossa
capacidade coletiva e individual, como seres humanos, como seres sociais, para que
todos tenham a possibilidade de gozar de uma vida digna, independente de idade,
raça, sexo, religião, condições econômicas, pensar e promover a saúde mental é
pensar em garantia de direitos humanos.
É nesse sentido que podemos afirmar que a Política de Saúde mental proposta
pela Lei nº 10.216/10 é um instrumento que possibilita, através de seus serviços e
legislação, a promoção de direitos humanos das pessoas com transtorno mental.
Prioriza-se o tratamento e o acompanhamento das pessoas com transtorno mental
com humanização, o desenvolvimento da sociabilidade em meio à família e à
comunidade, além de se respeitar e promover o exercício da cidadania, ao contrário
32
do isolamento e exclusão como eram tratadas essas pessoas por longos anos em
nosso país e mundialmente também, conforme ZANELLA F; (2019).
5 SAÚDE MENTAL
Fonte: folhadeirati.com.br
Como saúde não significa somente a ausência de doenças, mas sim o bem-
estar completo do indivíduo, torna o tema mais complexo, gerando uma
reflexão sobre o que ditaria um indivíduo como “normal”, ou seja, em
sanidade mental (AMARANTE, 2013 apud SOUZA A; et al., 2019).
33
ao estrangeiro, “alienígena”, semelhante a algo fora da realidade ou de outro mundo
(AMARANTE, 2013 apud SOUZA A; et al., 2019).
O modo de trabalhar da ciência, com o passar do tempo, começou a se chocar
com os fundamentos éticos, principalmente, por causa da criação dos hospícios,
desencadeando um processo social complexo de novas objeções e enfrentamentos;
agentes sociais demonstrando novos interesses, novas ideologias, com diferentes
visões do mundo e da ciência; novas formações teóricas, religiosas, étnicas em
diferentes classes sociais (AMARANTE, 1998, 2013 apud SOUZA A; et al., 2019).
Porém, para se concretizar uma intervenção no modo de tratamento mental da
população, necessitava-se de uma ligação entre a ciência, a ideologia, a ética e a
política, algo muito custoso para acontecer na história, levando muitos anos para a
sua construção. A construção baseava-se, principalmente, em colocar o sujeito, que
sofre com a doença, em foco e não a doença em si, para não tornar o sujeito em um
objeto natural de estudo; deixando então a doença subentendida para romper com a
coisificação da experiência humana (AMARANTE, 1998, 2013 apud SOUZA A; et al.,
2019).
Houve criação de redes de ponto de encontro para cooperação, iniciativas
simultâneas e envolvimento de atores sociais, gerando a Rede de Atenção à Saúde
Mental. Dentro desta rede se estabelecem os CAPS (Centros de Atenção
Psicossocial), residências terapêuticas, hospital geral, instituições de defesa dos
direitos do usuário, centro comunitário, entre outras áreas mais pessoais como família,
escola, trabalho e esportes. Uma das formas também utilizadas na atenção primária
em saúde da família atualmente é a Estratégia Saúde da Família (ESF) (AMARANTE,
2013; BRASIL, 2005 apud SOUZA A; et al., 2019).
Com isto, atualmente, o termo “sujeitos em sofrimento psíquico ou mental” é
utilizado em vez de “alienado”, já se notando um avanço social na área da saúde
mental. Entretanto, a construção dos direitos de cidadania não depende só de
decretos políticos e nem somente de determinados indivíduos que lutam pela saúde
mental, mas da população como um todo durante um processo social (AMARANTE,
2013; BRASIL, 2005 apud SOUZA A; et al., 2019).
34
Com base no avanço social em relação à saúde mental, são analisados as
fases e os acontecimentos ao longo da história que foram significativos para a melhora
no tratamento de transtornos mentais e, principalmente, dos indivíduos que vivem em
sofrimento psíquico, conforme SOUZA A; et al., (2019).
Saúde e saúde mental têm conceitos complexos e historicamente influenciados
por contextos sociopolíticos e pela evolução de práticas em saúde. Os dois últimos
séculos têm visto a ascensão de um discurso hegemônico que define esses termos
como específicos do campo da medicina. Entretanto, com a consolidação de um
cuidado em saúde multidisciplinar, diferentes áreas de conhecimento têm,
gradualmente, incorporado tais conceitos, conforme GAINO L; et al, (2018).
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a saúde é um estado
de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de
doença ou de enfermidade. Essa definição, de 1946, foi inovadora e ambiciosa, pois,
em vez de oferecer um conceito inapropriado de saúde, expandiu a noção incluindo
aspectos físicos, mentais e sociais. Apesar das intenções positivas pressupostas
nessa definição, ela tem recebido intensa crítica ao longo de seus 60 anos de
existência. Isso se deve especialmente ao fato de que é proposto um significado irreal,
em que as limitações humanas e ambientais fariam a condição de completo bem-estar
impossível de ser atingida, conforme GAINO L; et al, (2018).
Decorrentes das críticas ao conceito da OMS e somadas aos vários eventos
políticos e econômicos, surgiram as discussões sobre um novo paradigma, a saúde
como produção social. Essa nova visão constitui-se da combinação das abordagens
da medicina preventiva e da saúde integrativa, da expansão do conceito de educação
em saúde e da rejeição da abordagem higienista, conforme GAINO L; et al, (2018).
Seguindo propostas de reforma do sistema de saúde brasileiro, o conceito de
saúde foi formalmente revisitado e influenciado por experiências internacionais
envolvendo políticas de saúde, como discutido principalmente na 8° Conferência
Nacional de Saúde, em 1986. Naquela ocasião foi sugerido que a saúde incluísse
fatores como dieta, educação, trabalho, situação de moradia, renda e acesso a
serviços de saúde, conforme GAINO L; et al, (2018).
35
Como resultado, o conceito brasileiro de saúde começou a ser entendido de
forma mais complexa, considerando os princípios de universalidade, integralidade e
equidade no cuidado à saúde. Esses princípios, contudo, coexistem com abordagens
claramente ligadas à antiga visão. O termo ‘bem-estar’, presente na definição da OMS,
é um componente tanto do conceito de saúde, quanto de saúde mental, é entendido
como um constructo de natureza subjetiva, fortemente influenciado pela cultura,
conforme GAINO L; et al, (2018).
36
O Sistema Único de Saúde brasileiro adota um conceito ampliado de saúde e
inclui em suas prioridades o cuidado à saúde mental. Entretanto, este estudo
pressupõe que que tal perspectiva não foi naturalizada pelos profissionais de saúde
que integram esse sistema, ainda prevalecendo o paradigma biomédico, conforme
GAINO L; et al, (2018).
37
5.2 Saúde mental e vulnerabilidade
38
Esta condição propiciaria uma espécie de abertura nos espaços onde vivem os
pobres que favoreceria espaços aproximativos e de criatividade. Em algumas
situações, ocorreria a produção de novos debates sobre a realidade cotidiana, novos
usos e finalidades para objetos e técnicas, novas práticas e novas normas na vida
social e afetiva, conforme GAMA C; et al., (2014).
É importante reconhecer elementos que nos permitam perceber os territórios
mais vulneráveis com outros olhos, não somente negatividade, mas certa potência
que se alicerça exatamente num tipo de exclusão. Quando saímos da análise macro,
globalizada, e tentamos apreender as dinâmicas singulares de determinadas pessoas,
percebemos que o mundo é muito fragmentado e não globalizado. Este aspecto é
fundamental para a nossa discussão, pois permite o vislumbre de possibilidades de
produções singulares na relação entre a área da saúde e a população que vive em
condições precárias, conforme GAMA C; et al., (2014).
Para Kaës (1991; 2005 apud GAMA C; et al., 2014) a saúde psíquica estaria
diretamente relacionada com a capacidade associativa, interpretativa, de elaboração
e simbolização do psiquismo. Estaria ligada também à capacidade de fazer laços
sociais. Ele mostra que as características da sociedade contemporânea vão
exatamente dificultar estas operações, fragilizando o psiquismo do sujeito.
Nossa intenção é trabalhar com um conceito de saúde mental que possibilite
uma certa liberdade ao sujeito de modo que ele possa dialogar com as diversas
instâncias sociais (saúde, justiça, trabalho etc.) e com seus pares, sem submeter-se
totalmente a um discurso normativo, restando um espaço para sua singularidade, para
seu desejo aparecer. É importante destacarmos este aspecto de eterna criação e
recriação das condições de manutenção da saúde mental do sujeito. Consideramos
esta questão de vital importância, pois a saúde mental na atenção básica pode
facilmente se converter num programa higienista para controlar a vida da população
de baixa renda, conforme GAMA C; et al., (2014).
39
Assim, a aproximação entre vulnerabilidade social e saúde/doença mental deve
ser trabalhada com elementos que extrapolem o discurso técnico-científico tradicional
incorporando outros saberes ligados aos sujeitos que são afetados pelo sofrimento. O
papel do profissional de saúde teria que ser repensado, saindo do lugar tradicional
que é de imposição de uma certa lógica para transformar-se numa espécie de
mediador entre comunidade e recursos da sociedade no processo de construção da
saúde (Ayres, 2003 apud GAMA C; et al., 2014).
Vislumbramos uma mudança na direção do tratamento saindo de práticas
centradas na doença, na assistência curativa e na intervenção medicamentosa para
intervenções que valorizem a criação de sentidos para o sofrimento mental e que
produzam ampliação das relações sociais do sujeito portador de sofrimento mental,
conforme GAMA C; et al., (2014).
40
de decisões e a consequente responsabilidade dessa medida, conforme BRAUNER
M et al., (2017).
41
Impõe-se evitar que se negue autonomia a outrem, precipuamente diante de
circunstâncias em que seria facilitado o desrespeito à dignidade humana. O
paternalismo e a beneficência nem sempre são adequados no que atine à saúde
psicológica, servindo a tutela estatal e o controle médico muito mais à contenção e à
estigmatização do que ao tratamento individual. Assim, “diante de uma proposta
terapêutica ou de pesquisa médica em que os princípios bioéticos da
autodeterminação e autonomia não possam ser plenamente aplicáveis, há que se
valorizar especialmente os princípios da beneficência e não maleficência” (Almeida,
E., 2010, p. 392 apud BRAUNER M et al., 2017).
De acordo com BRAUNER M et al., (2017), A Declaração Universal sobre
Bioética e Direitos Humanos, nessa conjuntura, além de prescrever que “devem ser
tomadas medidas especiais para proteger direitos e interesses dos indivíduos não
capazes de exercer autonomia” (art. 5), estabelece como um de seus princípios:
42
5.4 A investigação no domínio da saúde mental
45
comprometem o desenvolvimento emocional normal, com reflexos negativos na
adolescência e na idade adulta, conforme NOGUEIRA M; (2017).
Experiências negativas precoces: A privação de um processo de vinculação
positiva e de atitudes empáticas por parte dos adultos dificulta a expressão das
experiências emocionais da criança, limitando posteriormente a capacidade de gestão
e controle emocional de forma ajustada. A adversidade reiterada na infância associa-
se a processos intrapsíquicos negativos, como sentimento de impotência, baixa
autoestima e dependência interpessoal, conforme NOGUEIRA M; (2017).
46
5.7 Os determinantes socioeconômicos
Por outro lado, a doença mental contribui para perpetuar os ciclos da pobreza,
provocando a degradação do ambiente familiar, que por sua vez alimenta as
experiências negativas precoces, a discriminação sexual e a violência de gênero. Os
estudos têm demostrado que o desemprego, a precariedade e a insatisfação ou stress
laboral têm igualmente uma importante influência sobre doença, a vulnerabilidade e a
mortalidade precoce, podendo mesmo conduzir ao suicídio. Por oposição, a
estabilidade e satisfação laboral associa-se ao bem-estar e a melhores níveis de
saúde mental, conforme NOGUEIRA M; (2017).
48
ou menos nocivo, dependa do tipo de consumo: experimental (período curto- baseado
na curiosidade); situacional (usado para gerir um problema pontual); intensivo
(consumo é diário) e compulsivo (consumo intensivo e dependência extrema). Não
obstante, independentemente das razões ou do tipo, todos os consumos têm efeitos
adverso na saúde, conforme NOGUEIRA M; (2017).
Fonte: unichristus.edu.br
49
enfrentadas, crises oriundas de uma teia complexa de aspectos individuais, familiares
e sociais, conforme QUINDERÉ P; et al., (2014).
São serviços destinados a articular as ações de saúde mental em rede e junto
à atenção básica (Programa Saúde da Família – PSF), ambulatórios, leitos de
internação em hospitais gerais e ações de suporte e reabilitação psicossocial
(ONOCKO-CAMPOS; FURTADO, 2006 apud QUINDERÉ P; et al., 2014). Os Caps
subvertem a lógica da hierarquização e se organizam agregando os diferentes níveis
de atenção à saúde em uma só unidade. Fazem, pois, surgir importantes questões na
própria organização do SUS. Prestam atendimento especializado dos casos de
transtornos mentais e são responsáveis pelo acompanhamento dos pacientes nas
unidades de internação nos hospitais gerais.
50
descentralizados, o desenvolvimento de políticas de saúde mental deve enfatizar a
comunicação entres os vários níveis de complexidade do sistema de saúde, trazendo
a discussão dos modelos assistenciais em saúde para o campo da saúde mental,
sobretudo em relação aos serviços alternativos ao modelo manicomial, conforme
QUINDERÉ P; et al., (2014).
O atendimento dos usuários está baseado em um projeto terapêutico singular
e individualizado, ou seja, um planejamento do processo terapêutico em que o
indivíduo e sua família estão envolvidos para a superação de suas dificuldades em
razão a sua condição de saúde mental. Com este, será definido se o usuário terá
atendimentos intensivos, ou seja, diários, semi-intensivo aproximadamente três vezes
por semana, ou não intensivo, com periodicidade semanal de atendimento (Brasil,
2004 apud LEAL B; et al., 2013). Com esta organização do serviço, é esperado que
se promova a saúde mental, dando atenção às demandas das relações diárias como
sofrimento às singularidades deste tipo de cuidado, estando articuladas com as redes
de saúde, redes sociais do território assim como as redes de outros setores.
Fonte: holiste.com.br
51
De acordo com GARCIA P; et al., (2018), em 2011, foram incorporados dados
sobre Saúde Mental no Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB) (sistema de
informação vigente naquele momento) e aspectos determinantes sobre a Rede de
Atenção Psicossocial também foram significativamente discutidos durante o
desenvolvimento do Programa de Melhoria do Acesso e Qualidade da Atenção Básica
(PMAQ-AB). Entre os indicadores incorporados, têm-se:
53
Esquizofrenia e outros transtornos psicóticos, conforme GARCIA P; et
al., (2018).
Transtornos de humor, conforme GARCIA P; et al., (2018).
Transtornos de ansiedade, conforme GARCIA P; et al., (2018)
Transtornos somatoformes, conforme GARCIA P; et al., (2018).
Transtornos factícios, conforme GARCIA P; et al., (2018).
Transtornos dissociativos, conforme GARCIA P; et al., (2018).
Transtornos sexuais e da identidade de gênero, conforme GARCIA P; et
al., (2018).
Transtornos da alimentação, conforme GARCIA P; et al., (2018).
Transtornos do sono, conforme GARCIA P; et al., (2018).
Transtorno do controle dos impulsos não classificados em outro local,
conforme GARCIA P; et al., (2018).
Transtornos da adaptação, conforme GARCIA P; et al., (2018).
Transtornos da personalidade, conforme GARCIA P; et al., (2018).
Outras condições que podem ser foco de Atenção Clínica, conforme
GARCIA P; et al., (2018).
54
Sintomas somáticos e outros transtornos relacionados, conforme
GARCIA P; et al., (2018).
Alimentação e transtornos alimentares, conforme GARCIA P; et al.,
(2018).
Transtornos da excreção, conforme GARCIA P; et al., (2018).
Transtornos do sono-vigília, conforme GARCIA P; et al., (2018).
Disfunções sexuais, conforme GARCIA P; et al., (2018).
Disforia de gênero, conforme GARCIA P; et al., (2018).
Transtornos disruptivo, controle dos impulsos e conduta, conforme
GARCIA P; et al., (2018).
Transtornos relacionados a substâncias e adição, conforme GARCIA P;
et al., (2018).
Transtornos neurocognitivos, conforme GARCIA P; et al., (2018).
Transtornos de personalidade, conforme GARCIA P; et al., (2018).
Transtornos parafínicos, conforme GARCIA P; et al., (2018).
Outros transtornos mentais, conforme GARCIA P; et al., (2018).
Transtornos do movimento induzidos por medicamentos, conforme
GARCIA P; et al., (2018).
Outros efeitos adversos de medicamentos, conforme GARCIA P; et al.,
(2018).
Outras condições que podem ser foco de Atenção Clínica, conforme
GARCIA P; et al., (2018).
Publicado pela Associação Americana de Psiquiatria (APA), o Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) é o dispositivo oficial de traçar
os diagnósticos psiquiátricos nos Estados Unidos, sendo utilizado em grande escala
no mundo e, tendo assim, grande influência sobre a Classificação Internacional de
Transtornos Mentais da Organização Mundial de Saúde (OMS). Além de ser usado
por profissionais da área clínica, o DSM visa a ser incorporado globalmente em outras
áreas de atuação, tais como a jurídica, escolar e organizacional, conforme RESENDE
M; (2015).
55
O DSM, principalmente a partir de sua terceira versão (Associação Americana
de Psiquiatria [APA], 1980 apud RESENDE M; 2015), foi elaborado com a pretensão
de ser um instrumento científico e principalmente a teórico de diagnóstico. Ou seja, a
perspectiva era de que esse manual conseguisse ultrapassar as diversas teorias que
existem no campo da psicopatologia, de modo a unificar os sistemas diagnósticos no
campo do sofrimento psíquico. Mas como realizar essa tábula rasa se a própria
história da psicopatologia é de debates, composta essencialmente por teorias que
divergem entre si?
Os DSM partem de uma perspectiva teórica pragmática, em que o sujeito deve
estar no melhor funcionamento social possível, o invisível aos olhos, mas que habita
na língua do DSM, é o consenso sobre a “ordem” que a sociedade espera dos filhos
das famílias “normais”: que sejam bons, carinhosos, tranquilos, adaptados, que
aprendam bem “suas” lições, que comam e durmam bem e que, chegando o momento,
estejam dispostos a defender até a morte, na guerra ou na paz, os valores do sistema.
[...] A norma, a ordem, a média não explícita é a (classe) média, “modelo”, cujos filhos
não devem ser “diferentes” dos pais, moldados pelo american-way-of-life.
(Jerusalinksy & Fendrik, 2011, p. 34 apud RESENDE M; 2015).
No entanto, como diz a premissa foucaultiana: “Onde há poder, há resistência”
(Foucault, 1988, p. 91 apud RESENDE M; 2015), em 2011, foi lançado o Movimento
Internacional Stop-DSM, uma iniciativa que tem como objetivo a crítica ao critério
único de diagnóstico clínico proposto pelo DSM. Esse movimento propõe um
questionamento em relação à lógica classificatória do DSM, defendendo, em
contrapartida, uma abordagem subjetiva e clínica do sofrimento psíquico. (Lanaspa,
2014 apud RESENDE M; 2015).
O Stop-DSM conta com a adesão de diversos profissionais, grupos e
instituições ao redor do mundo que, implicados com as consequências do
desenvolvimento de novas categorias diagnósticas do DSM-5, elaboraram manifestos
para recolher assinaturas e apresentá-las à Organização Mundial da Saúde. Este
trabalho é decorrência desse movimento de crítica que ainda perdura. O manual está
em sua quarta versão, DSM-IV-TR (APA, 2002 apud RESENDE M; 2015), e é previsto
para o primeiro semestre de 2013 o lançamento de sua quinta versão. O advento do
DSM-5 acarretará mudanças estruturais no próprio manual que darão um caráter
preditivo aos diagnósticos.
56
Portanto, durante a elaboração DSM-5, os trabalhos de campo foram
posteriores à captação de uma diversidade de opiniões e comentários publicados por
mais de 8.000 pesquisadores, clínicos, pacientes e familiares, além dos grupos de
trabalhos designados. O enfoque principal foi a medição da gravidade dos sintomas e
a avaliação em forma dimensional e transversal daqueles que apresentavam ampla
diversidade de diagnóstico. Apesar do grande esforço para atingir os objetivos das
tarefas propostas pelos organizadores, houve o apontamento de muitos erros nas
estratégias para alcançar estes objetivos, como sigilo desnecessário, ambições de
risco, métodos desorganizados e prazos irreais para o término (MALDONADO et al,
2011 apud MARTINHAGO F; et al., 2018).
Esta última edição do DSM foi publicada em maio de 2013, com mais de 300
categorias, compondo 947 páginas, organizado em três sessões. A seção I apresenta
as orientações para o uso clínico e forense. A seção II descreve os critérios e códigos
diagnósticos dos transtornos. E por fim, na seção III estão os instrumentos para as
avaliações dos sintomas, os critérios sobre a formulação cultural dos transtornos, o
modelo alternativo para os transtornos de personalidade e uma descrição das
condições clínicas para estudos posteriores (APA, 2013 apud MARTINHAGO F; et al.,
2018).
Assim como as demais versões, o DSM-5 está fundamentado no modelo
categorial. Entretanto, sabendo das limitações deste sistema, seus autores
incorporaram um enfoque mais dimensional em relação aos outros. Deste modo, é
possível analisar se o sintoma é leve, moderado ou severo em diversos quadros
clínicos. O sistema multiaxial foi suprimido porque gerava distinções superficiais e era
pouco utilizado, conforme MARTINHAGO F; et al., (2018).
Deste modo, as categorias diagnósticas dos eixos I e II do DSMIV-TR foram
incluídas na seção II do DSM-5 com anotações separadas em cada categoria para as
condições médicas associadas que pertenciam ao eixo III, para os fatores
psicossociais e ambientais que caracterizavam o eixo IV e para incapacidades, ou
seja, dificuldades no funcionamento social, laboral ou em outras áreas importantes da
vida cotidiana que constituía o eixo V do DSM-IV-TR, conforme MARTINHAGO F; et
al., (2018).
57
Na seção III, foram incluídas em todos os grupos diagnósticos, medidas
dimensionais de severidade ou de frequência das últimas semanas em 13 conjuntos
de sintomas, sendo 12 para crianças e adolescentes. Nesta edição do DSM, os
capítulos foram organizados de modo que considerassem mais o ciclo de vida, em
relação às edições anteriores, conforme MARTINHAGO F; et al., (2018).
No início do Manual, estão os quadros clínicos que se manifestam nas
primeiras fases do desenvolvimento, como os transtornos do desenvolvimento; na
parte central, estão os transtornos que geralmente aparecem na adolescência e na
idade adulta, como os transtornos de ansiedade, depressão ou do espectro da
esquizofrenia; no final, estão os transtornos neurocognitivos, relacionados a velhice
(ECHEBURÚA; SALABERRIA; CRUZ-SAEZ, 2014 apud MARTINHAGO F; et al.,
2018).
O DSM-5 traz uma lista de questões sociais que passam a ser consideradas
como patologia, por exemplo: problemas de relacionamento, rompimentos familiares,
negligência ou abuso parental, violência doméstica ou sexual, negligência ou abuso
conjugal, problemas ocupacionais e profissionais, situações de falta de domicílio,
problemas com vizinhos, pobreza extrema, baixo salário, discriminação social,
problemas religiosos e espirituais, exposição a desastres, exposição a terrorismo e a
não aderência ao tratamento médico. O que induz a exclusão da noção de sofrimento,
somados à disseminação gerada pela recusa em pensar os sintomas no quadro como
uma forma de vida (DUNKER, 2014 apud MARTINHAGO F; et al., 2018).
Dunker (2014 apud MARTINHAGO F; et al., 2018) nota que as renovações
apresentadas no DSM-5 são questionadas por muitos psiquiatras por não se
configurarem como descobertas científicas, mas redefinições dos nomes dos
sintomas e definições operacionais de síndromes. Desta forma, o diagnóstico é
sobrevalorizado mediante a análise retrospectiva dos efeitos de medicações em que
o mecanismo de ação ainda é desconhecido (DUNKER, 2014 apud MARTINHAGO F;
et al., 2018).
Entretanto, para Alarcón e Freeman (2015 apud MARTINHAGO F; et al., 2018),
o DSM-5 apresentou diversos pronunciamentos ontológicos que enriqueceram o
Manual: etiologia dos transtornos mentais fundamentadas em orientações
neurobiológicas; confiabilidade e validade na classificações de modo equiparável ao
que exige a medicina; avanços nas pesquisas básicas e clínicas, devido a muitos anos
58
de trabalhos, com continuidade garantida de forma que possam ser atualizadas as
novas versões do DSM, que está atualmente classificada com números arábicos
DSM-5, justamente para ser seguida por DSM-5.1 e assim sucessivamente.
59
Dados do governo (Brasil, 2011 apud RESENDE M; 2015) mostram que 44%
dos remédios controlados vendidos em farmácias e drogarias no Brasil são
para o tratamento de transtornos mentais e de comportamento, sendo os
ansiolíticos os mais consumidos no País nos anos de 2007 a 2010.
60
No Brasil, uma recente pesquisa (Andrade et al., 2012 apud RESENDE M;
2015) sobre a saúde mental dos moradores da metrópole de São Paulo, que teve
como base os critérios diagnósticos presentes no DSM-IV-TR (2002 apud RESENDE
M; 2015) e no CID-10, demonstrou que cerca de 30% da sua população sofre de
algum transtorno psiquiátrico, sendo que 1 em cada 16 (5,9%) entrevistados
apresentaram comorbidades de 2 transtornos e 5,8% dos entrevistados apresentavam
comorbidade de 3 ou mais transtornos mentais.
Fonte: livrozilla.com
61
A criação do Programa, depois Estratégia de Saúde da Família (ESF) tem sido
apontada como um modo de promover a transformação do modelo tradicional de
atenção à Saúde, valorizando o trabalho multidisciplinar, buscando aproximar as
ações do território, fortalecendo o vínculo entre equipe de saúde e população, o
trabalho de prevenção de doenças e promoção da Saúde (Santana e Carmagnani,
2001 apud GAMA C; 2011). Entendemos esse espaço como estratégico para se fazer
a aproximação entre a Saúde Mental e a Atenção Básica, haja vista que existe uma
comunidade de concepções e objetivos que facilitariam este processo.
Neste sentido, desde 2001 pode-se notar uma maior preocupação do Ministério
da Saúde para enfrentar esta questão. Através de Oficinas, Seminários e
participações em Congressos, há um início de debate a respeito de como se fazer
esta aproximação. Em novembro de 2003, houve a edição de uma Circular Conjunta
da Coordenação de Saúde Mental e Coordenação de Gestão da Atenção Básica, nº
01/03, denominada “Saúde Mental na Atenção Básica: o vínculo e o diálogo
necessários – Inclusão das ações de Saúde Mental na Atenção Básica”, conforme
GAMA C; (2011).
Este documento começou a delinear algumas diretrizes para esta aproximação,
propondo o Apoio Matricial da Saúde Mental às Equipes da Atenção Básica, a
Formação como estratégia prioritária e a Inclusão da Saúde Mental no Sistema de
Informações da Atenção Básica. O modelo propõe uma rede de cuidados articulada
ao território com parcerias intersetoriais, possibilitando intervenções transversais de
outras políticas públicas, conforme GAMA C; (2011).
De acordo com GAMA C; (2011), há uma aposta no acolhimento,
estabelecimento de vínculos e incentivo à responsabilização compartilhada dos casos
como forma de combater a lógica do encaminhamento.
Os princípios fundamentais são: Noção de território, intersetorialidade,
reabilitação psicossocial, multiprofissionalidade/interdisciplinaridade,
desinstitucionalização, promoção da cidadania e construção da
autonomia, conforme GAMA C; (2011).
Outro ponto importante sobre esta questão é que as iniciativas do Ministério da
Saúde com relação à saúde mental, sempre visaram municípios com população acima
de 100.000 habitantes que representam 4,78% dos 5564 municípios brasileiros, sendo
que 45,8% da população brasileira ficam fora deste critério. Assim, 95% dos
62
municípios brasileiros devem utilizar outros arranjos, que não o CAPS para dar
atendimento a demanda de saúde mental, conforme GAMA C; (2011).
Recentemente, em janeiro de 2008, o Ministério da Saúde lançou a portaria 154
que criou o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), com a finalidade de ampliar
a abrangência e a resolubilidade da Atenção à Saúde. O NASF pode ser considerado
a primeira iniciativa no sentido de pensar a Saúde Mental na Atenção Básica incluindo
todos os municípios. Os NASF serão formados por profissionais que não estão
contemplados dentro da Equipe mínima da ESF, sendo destinados a fazer o
matriciamento das equipes. A portaria determina que na equipe do NASF, pelo menos
um profissional deve ser da área da saúde mental, conforme GAMA C; (2011).
Os Núcleos de apoio à Saúde da Família não funcionarão como porta de
entrada do sistema, mas, sim, apoiando os profissionais das Equipes de Saúde da
Família no atendimento das demandas do território. A proposta tenta rever a prática
do encaminhamento com base na referência/ contra-referência, objetivando um
acompanhamento longitudinal. Cada Núcleo ficaria responsável por um número de
unidades de ESF realizando apoio matricial e construindo articulações com os
serviços de referência existentes, tais como Caps, Centros de Reabilitação, Centros
de Lazer e Esporte e com profissionais de serviços especializados, conforme GAMA
C; (2011).
Segundo Campos (2007 apud GAMA C; 2011), o apoio matricial é uma
metodologia de trabalho que pretende oferecer tanto retaguarda assistencial como
suporte técnico pedagógico às equipes de referência. Baseados na concepção deste
autor, técnicos do ministério propuseram a seguinte definição:
Figueiredo e Onocko Campos (2009 apud GAMA C; 2011) afirmam que este
arranjo tem como objetivo aumentar a resolutividade das ações de saúde, propondo
um contato mais horizontal entre as áreas especializadas e a atenção básica.
63
A partir de discussões clínicas conjuntas com as equipes ou mesmo
intervenções conjuntas concretas (consultas, visitas domiciliares, entre outras), os
profissionais de Saúde Mental podem contribuir para o aumento da capacidade
resolutiva das equipes, qualificando-as para uma atenção ampliada em saúde que
contemple a totalidade da vida dos sujeitos. A responsabilização compartilhada pelos
casos permite regular o fluxo de usuários nos serviços. Através do Apoio Matricial,
torna-se possível distinguir as situações individuais e sociais, comuns à vida cotidiana,
que podem ser acolhidas pela equipe de referência e por outros recursos sociais do
entorno, daquelas demandas que necessitam de atenção especializada da Saúde
Mental, a ser oferecida na própria unidade ou, de acordo com o risco e a gravidade,
pelo CAPS da região de abrangência. Com isso, é possível evitar práticas que levam
à “psiquiatrização” e à “medicalização” do sofrimento e, ao mesmo tempo, promover
a equidade e o acesso, garantindo coeficientes terapêuticos de acordo com as
vulnerabilidades e potencialidades cada usuário. Isso favorece a construção de novos
dispositivos de atenção em resposta às diferentes necessidades dos usuários e a
articulação entre os profissionais na elaboração de projetos terapêuticos pensados
para cada situação singular. (p. 130), conforme GAMA C; (2011).
O matriciamento é um dispositivo que tem a função de facilitar o contato e a
transmissão de informações entre os diversos níveis do sistema e entre os diversos
componentes da rede de cuidados do município. Para que ele ocorra, é necessário a
existência de profissionais que possuam uma visão mais complexa da saúde tendo
condições de contribuir para a ampliação do olhar dos trabalhadores da atenção
básica, conforme GAMA C; (2011).
Este processo de implantação da Saúde Mental na Atenção Primária ainda está
em construção. Na cidade de Campinas, por exemplo, os gestores optaram por inserir
profissionais da área de Saúde Mental (psicólogos, psiquiatras, Terapeutas
Ocupacionais), nas equipes do PSF. Desta forma, a população conta com
atendimentos destes profissionais no nível primário. Sabemos que a maioria dos
municípios não fez esta opção por questões orçamentárias e não possuem uma
retaguarda especializada para atendimento de casos de saúde mental. Assim,
determinados casos que necessitam de um suporte especializado, mas não são
considerados graves, ficam desassistidos. O desenho da rede de Saúde Mental de
cada município dependerá de uma série de fatores relacionados aos recursos já
64
existentes e as características singulares de cada localidade, conforme GAMA C;
(2011).
Apesar destas iniciativas do Ministério da Saúde, a aproximação entre Saúde
Mental e Atenção Básica tem esbarrado em dificuldades relacionadas às
particularidades do campo da Saúde Mental. A ESF propõe mudanças paradigmáticas
na maneira de se conceber a relação do profissional com a população e com a questão
saúde-doença. Estas mudanças são muito difíceis de serem realizadas porque
implicam em uma cadeia de transformações que afetam desde concepções pessoais
dos diversos agentes a respeito do problema até questões políticas mais amplas,
conforme GAMA C; (2011).
No nível individual, o tema saúde–doença envolve a mobilização muito grande
de questões emocionais no profissional. Muitas vezes, o diagnóstico apressado, a
conduta extremamente técnica e desumana, a medicalização de toda a queixa e a
barreira ao contato pode obedecer a mecanismos de defesa contra identificações e
angústias relacionadas ao tipo de trabalho, conforme GAMA C; (2011).
Pode, também, ocorrer o contrário, uma abertura muito grande do profissional
ao sofrimento vivenciado pelo usuário de forma que seja invadido pelo problema, não
conseguindo manter uma distância que lhe permita certo discernimento a respeito da
situação, perdendo assim a potência de sua intervenção. É comum encontrarmos
equipes trabalhando cindidas, uma parte trabalhando os problemas físicos e outra
responsável pelos problemas psíquicos. Há grande dificuldade de implantação do que
é preconizado pelas políticas públicas. As práticas de Saúde Mental na Atenção
Básica ainda estão muito vinculadas ao modelo biomédico, faltando preparo aos
profissionais. Isto acarreta uma série de posturas inadequadas como práticas
discriminatórias e preconceituosas com relação ao portador de sofrimento psíquico,
ações moralistas, normatizadoras e repressivas, infantilização, etc, conforme GAMA
C; (2011).
Até mesmo os profissionais que têm formação específica na área da Saúde
Mental como Psicólogos e Psiquiatras possuem dificuldades, que estão ligadas a
própria formação acadêmica que tiveram, para atuar na Atenção Básica. A formação
do psicólogo ainda está centrada numa clínica tradicional e elitizada com enquadre
rígido, privilegiando aspectos individuais e curativos dando pouca evidência às
questões sociais e de promoção da saúde (CFP, 1994 apud GAMA C; 2011).
65
A formação dos psiquiatras, com raras exceções, tem privilegiado o biológico
com ênfase nas medicações. Os cursos técnicos e de graduação na maioria
das vezes propõem conteúdos da Saúde Mental muito descontextualizados
da Atenção Básica. Valentini et al. (2004 apud GAMA C; 2011), afirmam,
frequentemente, esses profissionais da rede de atenção primária à saúde
aprenderam sobre temas relativos à psicologia e psicopatologia em situações
clínicas muito distantes da prática de seu dia a dia. Na realidade, a maioria
dos médicos no Brasil, e frequentemente em outros países, é treinada em
hospitais e ambulatórios psiquiátricos, onde os problemas dos pacientes são
totalmente diferentes daqueles encontrados na prática diária do centro de
saúde. (p. 527).
66
profissionais frente a essa permanente reestruturação. (São Paulo, 2007,
pag. 8 apud GAMA C; 2011).
Este mesmo documento vai recomendar que a proposta pedagógica deva partir
de metodologias ativas e participativas levando em conta os aspectos concretos e
práticos, contextualizando e problematizando situações cotidianas. Há uma
preocupação de democratizar os espaços de trabalho, a busca de soluções criativas,
desenvolvimento do trabalho em equipe e desenvolvimento da capacidade de
aprender e ensinar a todos os autores envolvidos. Na prática, há uma grande
dificuldade por parte dos gestores de operacionalizar este tipo de proposta, seja por
deficiência no planejamento, falta de recursos financeiros e mesmo falta de
profissionais capacitados para implementar este processo, conforme GAMA C; (2011).
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9 BIBLIOGRAFIA
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TRINDADE GARCIA, Paola. Redes de atenção à saúde: Rede de Atenção
Psicossocial - RAPS. Ufma, [S. l.], p. 1-67, 2018.
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