09-09-2013 Manual de Cuidados Paliativos ANCP 2
09-09-2013 Manual de Cuidados Paliativos ANCP 2
09-09-2013 Manual de Cuidados Paliativos ANCP 2
Ampliado e atualizado
2 edio
Ficha catalogrfica
Agosto/2012
Organizadores:
Ricardo Tavares de Carvalho
Henrique Afonseca Parsons
Expediente
O Manual de Cuidados Paliativos ANCP uma publicao da
Academia Nacional de Cuidados Paliativos.
Organizadores
Dr. Ricardo Tavares de Carvalho SP
Dr. Henrique Afonseca Parsons SP
Coordenadora de Comunicao
Carla Drea Bartz
Diretoria da ANCP Gesto 2010
2013
Presidente
Dr. Robeto Bettega PR
Vice-Presidente
Dr. Luiz Fernando Rodrigues SP
Diretor Cientfico
Dr. Ricardo Tavares de Carvalho SP
Tesoureira
Dra. Dalva Yukie Matsumoto SP
Secretria Geral
Dra. Veruska Menegatti SP
Conselho Consultivo
Dra. Cludia Burl RJ
Dra. Maria Goretti Sales Maciel SP
Instituto Paliar
Agradecimentos
A diretoria da Academia Nacional de Cuidados Paliativos agradece a colaborao de todos os autores, cuja dedicao foi fundamental para a realizao desta
obra, e tambm a cada um de seus associados, cujo apoio tem sido essencial para
a concretizao dessas e outras atividades.
Sumrio
Apresentao ........................................................................................... 11
Prefcio ................................................................................................... 13
Autores..................................................................................................... 15.
Parte 1 Introduo
1.1 Cuidados Paliativos: conceitos, fundamentos e princpios...................... 23
Dalva Yukie Matsumoto
1.2 Avaliao do paciente em Cuidados Paliativos....................................... 31
Maria Goretti Sales Maciel
1.3 Diagnstico e abordagem do sofrimento humano.................................... 42
Luis Alberto Saporetti, Letcia Andrade,
Maria de Ftima Abrantes Sachs, Tnia Vanucci Vaz Guimares
1.4 Indicaes de Cuidados Paliativos........................................................... 56
Ana Cludia de Lima Quintana Arantes
1.5 Comunicao em Cuidados Paliativos..................................................... 75
Maria Jlia Paes da Silva e Mnica Martins Trovo de Arajo
1.6 Modalidades de atuao e modelos de assistncia
em Cuidados Paliativos............................................................................ 86
Lus Fernando Rodrigues
1.7 Organizao de servios de Cuidados Paliativos..................................... 94
Maria Goretti Sales Maciel
Parte 2 Controle de Sintomas
2.1 Classificao, fisiopatologia e avaliao da dor..................................... 113
Mirlane Guimares de Melo Cardoso
2.2 Opioides Farmacologia bsica ........................................................... 123
Fabiola Peixoto Minson, Joo Batista Santos Garcia,
Jos Oswaldo de Oliveira Jnior, Jos Tadeu Tesseroli de Siqueira,
Levi Higino Jales Jnior e colaboradores
2.3 Analgsicos no opioides....................................................................... 143
Ariel de Freitas Quinto Amrico e Ins Tavares Vale e Melo
2.4 Dispneia, tosse e hipersecreo de vias areas....................................... 151
Ricardo Tavares de Carvalho
Apresentao
11
dados Paliativos. O desejo da diretoria da ANCP que este livro ajude todos os
seus leitores nesta tarefa.
Boa leitura!
Abraos PaliAtivistas,
Roberto Bettega
Presidente (2010 2013)
Academia Nacional de Cuidados Paliativos
12
Prefcio
Vivemos em um cenrio onde h um progressivo envelhecimento populacional, associado a um predomnio de doenas crnico-degenerativas de evoluo
lenta, a um crescente e constante aumento de novos casos de cncer, a nmeros
tambm impressionantes de infeco pelo vrus HIV, que geram de forma direta,
comprometimento funcional e dependncia.
Alm destes fatores, h uma nova reorganizao familiar, com mais pessoas
morando solitariamente, que acompanham algumas mudanas sociais dos nossos
tempos, onde permeiam o individualismo, racionalismo e falta de espiritualidade.
Desta forma, ter uma doena que ameaa a vida pode resultar em um morrer lento,
com muito sofrimento fsico, mental, social e emocional.
Dentro deste contexto, os Cuidados Paliativos se inserem como uma medida
extremamente necessria, com a certeira abordagem de promover a qualidade de
vida, de prevenir e aliviar o sofrimento de indivduos e de seus familiares diante
de doenas que ameaam a continuidade da existncia. Entretanto, ainda pouco
se educa em nosso pas sobre estes cuidados. Muitos profissionais de sade desconhecem tcnicas de paliao e so escassas as publicaes dirigidas para esta
rea de atuao.
Com a misso de garantir nossa comunidade o acesso compreenso a
protocolos e orientaes escritas por profissionais de muita experincia em paliativismo, a Academia Nacional de Cuidados Paliativos preparou este livro, que
contribuir como resultante final em um melhor cuidado de muitos indivduos.
A Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor sente-se honrada de ser parceira desta iniciativa, onde se preza a multidisciplinaridade e a integrao de todos
envolvidos na arte de cuidar.
Joo Batista Santos Garcia
Presidente (2011 2012)
Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor
13
Autores
15
Flvia Firmino
Enfermeira oncologista; membro da Unidade de Cuidados Paliativos do INCA/HC IV;
professora assistente da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro (UNIRIO).
Henrique Afonseca Parsons
Mdico generalista e sanitarista; membro do Servio de Cuidados Paliativos do Hospital
Alvorada (SP); diretor do SABER MAIS Centro de Ensino e Pesquisa em Cuidados Paliativos
do Grupo MAIS (SP).
Ins Tavares Vale e Melo
Mdica anestesiologista; presidente da Regional Norte-Nordeste da Academia Nacional
de Cuidados Paliativos; especializao na rea de atuao em Dor; coordenadora do Servio de
Cuidados Paliativos do Hospital Regional UNIMED Fortaleza.
Ivanyse Pereira
Enfermeira; especialista em Assistncia Domiciliar; coordenadora do Programa de Sade
da Famlia da Irmandade do Hospital da Santa Casa de Poos de Caldas (MG).
Ivone Bianchini de Oliveira
Assistente social; membro do Ncleo de Assistncia Domiciliar Interdisciplinar (NADI)
do Hospital das Clnicas (FMUSP).
Joo Batista Santos Garcia
Mdico anestesiologista; presidente da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED
2011-2012); professor doutor da Disciplina de Anestesiologia, Dor e Cuidados Paliativos
da Universidade Federal do Maranho (UFMA); responsvel pelo Servio de Dor do Hospital
Universitrio da UFMA e pelo Servio de Dor do Instituto Maranhense de Oncologia.
Jos Eduardo de Siqueira
Mdico; doutor em Medicina; presidente da Sociedade Brasileira de Biotica (20052007); membro do board de Diretores da International Association of Bioethics (IAB).
Jos Henrique Rodrigues Torres
Juiz de Direito; titular da Vara do Jri de Campinas; diretor da Escola Paulista de Magistratura (EPM); presidente do Conselho Executivo da Associao de Juzes para a Democracia
(AJD); professor titular da Faculdade de Direito da PUC-Campinas.
Jos Oswaldo de Oliveira Jnior
Mdico anestesiologista; diretor da SBED; professor adjunto da Faculdade de Medicina
da Universidade Federal do Maranho (UFMA); responsvel pelo Ambulatrio de Dor do Hospital Universitrio (UFMA).
Jos Tadeu Tesseroli de Siqueira
Cirurgio-dentista; coordenador da Residncia em Odontologia Hospitalar, rea de Dor
Orofacial, do HC-FMUSP; vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED).
Julieta Carriconde Fripp
Mdica intensivista; presidente da Regional Sul da Academia Nacional de Cuidados Paliativos; mestre em Sade Pblica; coordenadora do Programa de Internao Domiciliar Interdisciplinar para Pacientes Oncolgicos da Universidade Federal de Pelotas (PIDI/UFPel).
19
20
Parte 1
Introduo
Introduo
Temos assistido nas ltimas dcadas a um envelhecimento progressivo da
populao, assim como o aumento da prevalncia do cncer e de outras doenas
crnicas(1). Em contrapartida, o avano tecnolgico alcanado principalmente a
partir da segunda metade do sculo XX, associado ao desenvolvimento da teraputica, fez com que muitas doenas mortais se transformassem em doenas crnicas, levando a longevidade dos portadores dessas doenas. No entanto, apesar
dos esforos dos pesquisadores e do conhecimento acumulado, a morte continua
sendo uma certeza, ameaando o ideal de cura e preservao da vida, para o qual
ns, profissionais da sade, somos treinados.
Os pacientes fora de possibilidade de cura acumulam-se nos hospitais, recebendo invariavelmente assistncia inadequada, quase sempre focada na tentativa de cura, utilizando mtodos invasivos e de alta tecnologia. Essas abordagens,
ora insuficientes, ora exageradas e desnecessrias, quase sempre ignoram o sofrimento e so incapazes, por falta de conhecimento adequado, de tratar os sintomas
mais prevalentes, sendo o principal sintoma e o mais dramtico, a dor. No se
trata de cultivar uma postura contrria medicina tecnolgica, mas questionar a
tecnolatria(2) e refletirmos sobre a nossa conduta, diante da mortalidade humana, tentando o equilbrio necessrio entre o conhecimento cientfico e o humanismo, para resgatar a dignidade da vida e a possibilidade de se morrer em paz.
Cada vez mais encontramos em nossos servios pacientes idosos, portadores de sndromes demenciais das mais variadas etiologias ou com graves sequelas neurolgicas. Devemos enfrentar o desafio de nos conscientizar do estado de
abandono a que estes pacientes esto expostos, inverter o atual panorama dos
cuidados oferecidos e tentarmos implantar medidas concretas, como: criao de
recursos especficos, melhoria dos cuidados oferecidos nos recursos j existentes,
formao de grupos de profissionais e educao da sociedade em geral(3). Os Cuidados Paliativos despontam como uma alternativa, para preencher esta lacuna nos
cuidados ativos aos pacientes.
23
Baseados no princpio biotico da autonomia do paciente atravs do consentimento informado, possibilitando que ele tome suas prprias decises, no princpio
da beneficncia e da no maleficncia, os Cuidados Paliativos desenvolvem o
cuidado ao paciente visando qualidade de vida e manuteno da dignidade
humana no decorrer da doena, na terminalidade da vida, na morte e no perodo
de luto.
Referncias
1. Monteiro, M. G. F. Transio demogrfica e seus efeitos sobre a sade da populao. In. Barata, R. B., Barreto, M. L., Almeida Filho, N.,Veras, R. P. Equidade
e Sade: Contribuies da Epidemiologia. Rio de Janeiro: FIOCRUZ/ABRASCO, 1997.
2. Pessini, L. Distansia: at quando investir sem agredir? Biotica 4, p. 31-43, 1996.
3. GALRIA NETO I. Pequeno Manual Bsico de Cuidados Paliativos Regio de
Sade de Lisboa.
4. Saunders, D. C. Introduction Sykes N., Edmonds P.,Wiles J. Management of Advanced Disease 2004, p. 3-8.
5. Cortes, C. C. Historia y desarrollo de los cuidados paliativos. In: Marcos G. S., ed.
Cuidados paliativos e intervencin psicossocial em enfermos com cncer. Las palmas: ICEPS;
1988.
6. PESSINI, L. Cuidados paliativos: alguns aspectos conceituais, biogrficos e ticos.
Prtica Hospitalar, 2005; (41), p. 107-112.
7. MACIEL, M. G. S. Definies e princpios. Cuidado paliativo, CREMESP, 2008; (1-I),
p. 18-21.
8. TWYCROSS, R. Medicina Paliativa: Filosofia e consideraes ticas. Acta biotica,
ano VI, n 1.2000.
9. SIQUEIRA, J. E. Doente terminal. Cadernos de biotica do CREMESP. Ano 1 vol. 1.
2005.
10. SAPORETTI, L. A. Espiritualidade em Cuidados Paliativos. Cuidado paliativo,
CREMESP, 2008; (4-I), p. 522-523.
11. FRANCO, M. H. P. Multidisciplinaridade e interdisciplinaridade-psicologia. Cuidado
paliativo, CREMESP, 2008(1-III) 74-76.
30
Introduo
Um dos paradigmas da medicina paliativa no contexto atual afirmar que
a morte parte da vida e fenmeno fisiolgico, que, quando inicia seu processo,
cursa de forma irreversvel. O desafio a boa avaliao do doente e identificao
de parmetros que apoiem de forma cientfica e clnica o diagnstico deste processo.
Cuidados Paliativos e medicina paliativa requerem conhecimento tcnico
refinado, aliado percepo do ser humano como agente de sua histria de vida
e determinante do seu prprio curso de adoecer e morrer. Valoriza-se a histria
natural da doena, a histria pessoal de vida e as reaes fisiolgicas, emocionais
e culturais diante do adoecer. Promove-se, em contrapartida, uma ateno dirigida
para o controle de sintomas e promoo do bem-estar ao doente e seu entorno.
Familiares precisam compreender a evoluo da doena e da cadeia de acontecimentos que levar ao evento final.
por esta questo que h necessidade de uma prtica altamente individualizada. Medicina Paliativa no Medicina de Protocolos Clnicos, mas uma Medicina de Princpios.
E como tal deve partir do princpio que a melhor ferramenta para a boa paliao de sintomas a avaliao do paciente.
Independentemente da modalidade de atendimento em regime de internao ou ambulatorial , a avaliao do doente deve conter elementos fundamentais
que possibilitem a compreenso de quem a pessoa doente, o que facilita identificar preferncias e dificuldades, qual a cronologia da evoluo de sua doena e os
tratamentos j realizados, as necessidades atuais e sintomas do doente, o exame
fsico, os medicamentos propostos, as demais decises clnicas e a impresso a
respeito da evoluo e prognstico e das expectativas com relao ao tratamento
proposto.
As evolues subsequentes devem registrar o impacto do tratamento proposto, a avaliao dos sintomas, o exame fsico, resultados de eventuais exames e novas propostas, assim como as informaes trocadas com o paciente e familiares.
A concluso do caso clnico deve resumir os principais fatos da internao
quando for o caso, estabelecer um plano de cuidados que contemple as necessida31
Dados biogrficos
Deve conter:
Nome e forma como gosta de ser chamado.
Sexo e idade.
Estado marital, filhos e netos, se os tiver.
Trabalho que realizou por mais tempo ou com o qual mais se identificou.
Local de nascimento e regio de moradia.
Com quem mora e quem cuida a maior parte do tempo.
Religio e crenas.
O que gosta de fazer.
O que sabe sobre sua doena e o quanto quer saber.
Estes dados podem ser colhidos com o doente em conversa aparentemente
informal para que possa estimul-lo a descrever-se e para que permita a percepo
de quem . Se algo na conversa chamar ateno do profissional, deve ser descrito.
Exemplo:
Maria de Ftima (Ftima), 56 anos, casada por 25 anos e divorciada h 5.
Trs filhas (29, 25 e 20 anos) e duas netas (5 e 3 anos). Professora do ensino fundamental, aposentada h 2 anos. Gosta de cozinhar e cuidar das netas. Nasceu em
Minas, mora na Aclimao com as duas filhas mais novas, catlica praticante e
muito religiosa. Sabe de sua doena e da gravidade, mas tem f na possibilidade
de cura.
Avaliao funcional
Avaliao funcional em Cuidados Paliativos fundamental para a vigilncia
da curva evolutiva da doena e se constitui em elemento valioso na tomada de
decises, previso de prognstico e diagnstico da terminalidade.
Existem algumas escalas de avaliao funcional que podem ser usadas em Cuidados Paliativos. Os servios de oncologia costumam usar a escala de Karnofsky,
elaborada nos anos de 1940. A escala de Karnofsky ainda muito usada em Oncologia para a tomada de decises(1, 2).
Em 1996 o Victoria Hospice, no Canad, desenvolveu um instrumento de
avaliao de performance, baseado no Karnofsky e adaptado aos Cuidados Paliativos. Trata-se da Palliative Performance Scale PPS. Em 2002, aperfeioou a
escala, agregando um texto de instrues e definies(3,4).
A escala possui 11 nveis de performance, da 0 a 100, divididos em intervalos de 10. Ou seja, no existem valores intermedirios.
O PPS deve ser utilizado todos os dias para pacientes internados, em todas as
consultas ambulatoriais e visitas domiciliares.
A traduo oficial para o portugus est sendo desenvolvida por profissionais
da ANCP, em So Paulo. A figura 1 mostra a traduo preliminar Brasileira.
O PPS tem sido usado na tomada de decises em Cuidados Paliativos e parece ter algum valor prognstico, quando associado a outros sintomas como edema,
delirium, dispneia e baixa ingesta alimentar(5, 6, 7, 8).
Figura 1 - Palliative Performance Scale - PPS:
Deambulao
Atividade e evidncia
da doena
Autocuidado
Ingesta
Nvel da
Conscincia
100
Completa
Atividade normal e
trabalho; sem evidncia
de doena
Completo
Normal
Completa
33
90
Completa
Completo
Normal
Completa
80
Completa
Completo
Normal
ou reduzida
Completa
70
Reduzida
Completo
Normal
ou reduzida
Completa
60
Reduzida
Assistncia ocasional.
Normal
ou reduzida
Completa
ou perodos
de confuso
50
Maior
parte do
tempo
sentado ou
deitado
Assistncia considervel
Normal
ou reduzida
Completa
ou perodos
de confuso
40
Maior
parte do
tempo
acamado
Assistncia quase
completa
Normal
ou reduzida
Completa
ou sonolncia. +/confuso
30
Totalmente
acamado
Dependncia
completa
Normal
ou Reduzida
Completa
ou sonolncia. +/confuso
20
Totalmente
acamado
Dependncia
completa
Mnima
a pequenos
goles
Completa
ou sonolncia. +/confuso
10
Totalmente
acamado
Dependncia
completa
Morte
Cuidados
com a
boca
-
Sonolncia
ou coma.
+/- confuso
-
Fonte: Victoria Hospice Society. J Pall Care 9 (4): 26-32. Traduo oficial, com referncia no
link: http:www.victoriahospice.org/sites/default/files/pps_portuguese.pd.pdf.
34
Exemplo:
O Sr. AS, 89 anos, com diagnstico de Carcinoma Espinocelular de esfago,
era acompanhado no domiclio e o ltimo registro de PPS era de 60% em 4 de
janeiro, uma semana antes da internao hospitalar, que durou 19 dias. No prontosocorro, em 12/01, a queixa inicial era de confuso e sonolncia e PPS de 40%,
atribudo inicialmente infeco do trato urinrio. No primeiro dia na enfermaria,
fez quadro de delirium agitado, seguido de torpor, caindo o PPS para 10%. O
diagnstico definitivo foi de hipercalcemia. Iniciado o tratamento, houve resposta
razovel, elevando o PPS a 30%. Aps 7 dias de tratamento e ajustes teraputicos,
comea a recuperar desempenho funcional e retorna a 50%, patamar ideal para
alta hospitalar, em 29 de janeiro. Ver grfico 1.
Grfico 1 - PPS dirio, paciente AS, 89 anos, CEC esfago.
Avaliaes de sintomas
Objetivo e tarefa dos Cuidados Paliativos, a avaliao de sintomas deve ser
realizada de forma sistemtica na admisso, evolues dirias, consultas ambulatoriais e visitas domiciliares.
A escala de avaliao de sintomas desenvolvida em Edmonton no Canad
ESAS um instrumento valioso nesta tarefa. Consiste num pequeno questionrio
com nove sintomas determinados e um dcimo, de livre escolha do paciente, que
passar a ser registrado diariamente. A cada sintoma solicita-se ao paciente que
atribua uma nota de zero a dez, sendo zero a ausncia do sintoma e dez a sua
maior intensidade. O profissional deve se manter imparcial e permitir que o paciente expresse a sua prpria avaliao. O ESAS inclui sintomas objetivos e subjetivos. Na impossibilidade de o paciente estabelecer uma comunicao coerente
35
(dementados, por exemplo), a ESAS pode ser preenchida por seu cuidador com
base na observao cuidadosa do seu comportamento e, neste caso, os sintomas
subjetivos (cansao, depresso, ansiedade e bem-estar) devem ser deixados em
branco(9,10,11,12).
A traduo para o portugus que apresentamos foi realizada pela Dra. Isabel
Galria Neto, de Portugal e sua validao no Brasil est em andamento.
O ESAS deve ser avaliado criteriosamente todos os dias e ser usado como
plataforma para as aes necessrias para o alvio de sintomas, usando-se todos
os recursos necessrios para este fim. Figura 2.
Por princpio, nenhum questionamento deve ser feito ao paciente se no for
utilizado em seu benefcio. Por isso que os interrogatrios devem ser breves, objetivos e prticos tambm para a equipe. Em Cuidados Paliativos, escalas longas
e cansativas devem ser evitadas.
Figura 2 - Escala de Avaliao de Sintomas de Edmonton ESAS
Avaliao de sintomas
Paciente:
Registro:
Preenchido por:
Data:
Por favor circule o n. que melhor descreve a intensidade dos seguintes sintomas neste
momento. (Tambm se pode perguntar a mdia durante as ltimas 24 horas)
Sem DOR =
Sem Cansao =
Sem Nusea =
Sem Depresso =
Sem Ansiedade =
Sem Sonolncia =
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 =
Fonte: Regional Palliative Care Program, Capital Health, Edmonton, Alberta, 2003.
Traduzido e adaptado ao portugus por Neto, IG. 2006.
36
Decises teraputicas
Um pronturio em Cuidados Paliativos deve conter todas as decises teraputicas tomadas a partir de uma avaliao clnica:
Medicamentos e doses.
Incio ou suspenso de medidas.
Solicitaes de exames e avaliaes.
Necessidades de intervenes psquicas.
Necessidades sociais.
Intervenes realizadas ou solicitadas com a famlia.
Necessidades espirituais.
Efeito esperado das aes.
Impresso e prognstico
Componente fundamental da avaliao em Cuidados Paliativos, a impresso
acerca do estado em que se encontra o doente, a expectativa acerca do tratamento
proposto e a impresso prognstica devem constar na admisso e todas as vezes
em que forem modificadas ao longo do tempo.
37
Uma forma simplificada de fazer o registro e comunicar o prognstico estabelecer prazos como:
Horas a dias (pacientes com perfil de ltimas 48 horas)
Dias a semanas (perfil de ltimas semanas de vida)
Semanas a meses (habitualmente at 6 meses de expectativa)
Meses a anos (para expectativas superiores a seis meses).
Plano de cuidados
Considerando a possibilidade de trabalho em rede assistencial, fundamental
que cada consulta, visita ou internao resulte em um plano de cuidados ao paciente e famlia. Qualquer que seja a fase da doena, fundamental ter clareza do
problema, das necessidades, da evoluo em que se encontra e a possibilidade de
antever e prevenir novas crises.
O plano de cuidados deve ser claro o bastante para que o tratamento proposto
possa ser continuado por toda a rede assistencial, inclusive em unidades de emergncia e hospitais gerais onde o paciente poder ser atendido por outras equipes.
A figura 3 prope um modelo de plano de cuidados de preenchimento simples e objetivo. Nele, prioriza-se o registro da identificao do doente, do cuidador e do mdico responsvel, dos principais diagnsticos, do PPS (em caso
de internao inicial e final), do ltimo ESAS, medicaes em uso e por fim as
recomendaes para as prximas semanas.
Exemplo:
Manter curativos das feridas com metronidazol tpico;
Vigiar capacidade de degluitio;
Vigiar sintomas de hipercalcemia;
Ateno filha mais nova e netas;
Providenciar iseno de transporte para a filha cuid adora.
38
PLANO DE CUIDADOS
Idade:
Pronturio:
NOME:
Cuidador:
Mdico:
CRM:
N CP:
Data:
Diagnsticos:
PPS inicial:
PPS atual:
Sexo:
1.
FADIGA = 0.1.2.3.4.5.6.7.8.9.10
2.
NUSEA = 0.1.2.3.4.5.6.7.8.9.10
3.
DEPRESSO = 0.1.2.3.4.5.6.7.8.9.10
4.
ANSIEDADE = 0.1.2.3.4.5.6.7.8.9.10
5.
SONOLNCIA = 0.1.2.3.4.5.6.7.8.9.10
6.
7.
FALTA de AR = 0.1.2.3.4.5.6.7.8.9.10
8.
MAL-ESTAR = 0.1.2.3.4.5.6.7.8.9.10
9.
10.
39
Recomendaes:
Retorno:
Profissional:
Sugesto de impressos
Os impressos usados em unidades de Cuidados Palaitivos devem ser simples,
de fcil visualizao e preenchimento, sem omitir informaes fundamentais.
No anexo 1 h uma ficha de encaminhamento para ser usada por outros servios ou especialidades para referir pacientes Unidade de Cuidados Palaitivos.
No verso, a equipe preenche dados sobre o cuidador e endereos, determina o PPS
circulando os itens compatveis e, baseado na performance, determina a forma de
atendimento. Pacientes com PPS igual ou superior a 50% podem ser atendidos em
Unidade ambulatorial. Pacientes com PPS entre 30 e 40% devem ser atendidos
no domiclio e PPS de 20 ou 10% devem ser referidos para atendimento imediato
em Unidade de internao, quando forem portadores de doena rapidamente progressiva.
O anexo 2 composto por uma ficha mdica ambulatorial, para ser usada na
primeira consulta, em frente e verso.
O anexo 3 uma sugesto de ficha de pronturio domiciliar, baseada no plano de cuidados que deve ser renovado a cada visita. O verso da ficha usado para
texto livre, caso o profissional julgue necessrio.
As fichas esto acessveis para download no site da ANCP: www.paliativo.
org.br.
Referncias
1. OToole, D.M., GOLDEN, A.M. Evaluating cancer patients for rehabilitation potential. West J Med.1991;155:384-387.Oxford Textbook of Palliative Medicine, Oxford University
Press.1993, p. 109.
2. SCHAG, C.C., HEINRICH, R.L., GANZ, P.A. Karnofsky performance status revisited:
Reliability, validity, and guidelines. J Clin Oncology. 1984; 2:187-193.
40
41
Introduo
O objetivo principal do Cuidado Paliativo a melhora da qualidade de vida
de pacientes e familiares e realizado atravs da preveno e alvio de sofrimento fsico, psquico, social e espiritual(1). Desse modo, um diagnstico adequado do sofrimento e suas causas imprescindvel para o adequado manejo no
Cuidado Paliativo. Mesmo profissionais treinados na rea percebem a dificuldade de analisar, abordar e integrar as diferentes facetas do ser humano, em especial
diante da finitude. Considerando a complexidade das demandas apresentadas por
pacientes e familiares em situaes de fim de vida, torna-se necessria a definio
de uma estratgia completa e focada no alvio e preveno do sofrimento em suas
diversas dimenses. O presente captulo discutir a abordagem desse tema atravs de um modelo didtico de discusso multidisciplinar de casos, desenvolvido
em nosso servio, abordando as esferas fsica, social, psquica e espiritual.
42
Reunio famlia
Institucionalizao
43
OBJETIVOS
Controle de Sintomas
Alocao Adequada de Recursos
Diretrizes Avanadas
Sem prolongamento artificial vida
Morte Digna e Pacfica
Estresse cuidador
Escolaridade
Cuidador/vnculo
Local de moradia
Assistncia Domiciliar
Composio familiar
Rede de suporte social
Profisso/Aposentadoria
Pendncias legais/financeiras
Conflitos familiares
Feridas/Ostomias
Sondas alimentao
ASPECTOS FSICOS
Planejamento recursos
NADI - HD - Hosp. Retag
Orientao Familiar
Esclarecimento diagnstico
Esclarecimento prognstico
Imobilidade
Anorexia, Dispneia
Disfagia
Sintomas
Leses orais
Causa reversvel?
Causa irreversvel?
Abordagem MultiProfissional
Desconhece
Diagnstico/Prognstico M aderncia?
Tratamento intervencionista
Tratamento da Causa/
Sintoma
Ausncia cuidador
Baixa renda familiar
Orientao de bito
Acompanhamento familiar
Acompanhamento individual
Orientao legal/financeira
Providenciar cuidador
Sofrimento
Paciente/Cuidador/Equipe
Dor, Cansao,
Nusea, Obsptipao
Depresso, Ansiedade,
Tratamento farmacolgico
Confuso, Insnia
Tratamento no farmacolgico
OBJETIVOS
Organizar testamento/benefcios
Regularizar questes financeiras
Providenciar funeral/atestado
Ser cuidado por algum
Amparar o cuidador/famlia
Definir local de bito
Estimular espiritualidade
Orientaes familiares
Orientao religiosa
OBJETIVOS
Estar em paz com o Criador
Receber o perdo de Deus
Receber ritos de sua tradio
Sentimento de Transcedncia
Sntese de Vida
Legado Espiritual
Orientao espiritual
Estimular religiosidade
Culpa Religiosa
Expectativa miraculosas
Ritos/sacramentos pendentes
Promessas e obrigaes pendentes
Sofrimento
Religioso/Existencial/Espiritual
Reunio de famlia
Psicoterapia breve
Biografia
Sentido de vida
Conflitos afetivos familiares
Dinmica familiar
Estgio Kubler Ross
Formas de
Conspirao do Silncio
enfrentamento
Perdas, mortes passadas
Risco de luto patolgico
Religio de batismo?
Prtica inst./privada
Outras crenas/prticas?
Importncia?
Signif. Transcendente?
Comunidade R/E
Suporte comunidade
Religio da famlia
OBJETIVOS
Resignificar mgoas, medos e culpas
Resgatar e reforar mecanismos de enfrentamento
Aceitao da morte
Resignificao da vida
Previnir luto patolgico
Psicoterapia de apoio
No aceitao da doena
No aceitao da morte
Culpas e Preocupaes
Medo de morrer
Encaminhamento externo
Acompanhamento familiar
ASPECTOS PSICOLGICOS
Percebemos o Ser Humano como uma unidade indivisvel, mas que para
nosso melhor entendimento pode ser analisado em vrias dimenses, a saber: a
dimenso fsica, familiar/social, psquica e espiritual. O Diagrama est dividido
em quatro quadrantes, onde no centro esto as caractersticas do paciente nas
respectivas dimenses. O centro de nossa anlise o paciente e a esfera a ser percebida a seguir a do seu sofrimento. Nesse momento importante notar que o
sofrimento pode ser atual, devendo ser aliviado; ou futuro, devendo ser prevenido.
Outro aspecto a ser ressaltado que nem sempre o sofrimento do paciente, mas
sim projeo do sofrimento da famlia e at mesmo da equipe. A esfera a seguir
compreende as atitudes a serem tomadas diante dos sofrimentos identificados.
Usamos o termo atitudes, pois no so, necessariamente, condutas ativas a serem realizadas, mas atitudes ativas e passivas que facilitam o alvio. Por exemplo,
a simples presena tranquila do profissional junto ao leito de morte uma atitude
que pode aliviar o sofrimento de todos. Na parte externa do diagrama encontramse objetivos a serem perseguidos, os quais nem sempre podero ser atingidos devido a uma srie de circunstncias. Nossa equipe considerou esses objetivos como
mais importantes, no entanto uma anlise crtica do significado de cada item deve
ser realizada. Por exemplo, um dos objetivos da dimenso fsica atingir uma
Morte Digna e Pacfica, o que no necessariamente significa morrer em casa. A
morte digna ser aquela que traz ao paciente e sua famlia uma noo de sentido
e ela ser pacfica toda vez que for aceita. Desse modo, os objetivos projetam-se
para alm das esferas por se tratarem de sonhos daquilo que consideramos uma
boa morte. O DAM no um protocolo a ser preenchido, mas sim uma forma de
raciocnio sujeito a constantes aprimoramentos e ajustes.
Durante uma discusso multiprofissional de caso, definimos inicialmente
nosso paciente preenchendo a esfera central com seus dados, a segunda esfera
com seus respectivos sofrimentos e por fim as atitudes da equipe. Dessa forma
podemos notar facilmente o quanto determinados sofrimentos se refletem em outras dimenses e diferenciar aspectos que ficam misturados levando a equipe a
atitudes no produtivas. Tratar a dor da alma com antidepressivos e/ou neurolpticos pode no ser uma estratgia adequada e inclusive causar dano ao paciente, do mesmo modo que introduzir alimentao artificial baseado nas angstias da
famlia e/ou do profissional sem dvida alguma poder causar sofrimento.
O DAM uma ferramenta que amplia a dimenso das discusses em Cuidados Paliativos por ser uma forma visual e interativa. Em nossas discusses utilizamos uma folha grande de papel com os crculos e quadrantes em branco sobre
uma mesa. A equipe interdisciplinar permanece ao redor e os espaos so preenchidos ao longo da discusso, (Fig. 2).
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trazer a sensao de impotncia ou de no ter feito o suficiente, o que poder acarretar em complicaes no processo de luto dos envolvidos(7).
Alm disso, a famlia deve ter informaes precisas a respeito do que fazer
assim que ocorre o bito, a quem recorrer para a obteno da declarao de bito
(a prpria equipe, mdico da famlia ou na impossibilidade destes a comunicao
delegacia mais prxima do bairro e os procedimentos de praxe), servios funerrios disponveis na regio, documentos exigidos e todas as demais questes burocrticas que nem sempre so explicadas e que trazem tantos transtornos quando
no encaminhadas da forma adequada.
Em nossa prtica cotidiana reafirmamos sempre: a necessidade, quando possvel, da diviso de tarefas e responsabilidades entre os familiares mais prximos,
evitando-se assim a sobrecarga de alguns; o fornecimento de informaes, por
parte do profissional, sempre que necessrio, a disponibilidade para auxiliar na
resoluo de pendncias e providncias legais que demandam o consentimento do
paciente em questo e a capacidade e disponibilidade imprescindveis de oferecer
apoio e escuta sempre. Em algumas ocasies s necessrio estarmos junto da
famlia, ouvir, entender e esperar; no h mais o que ser dito, quando tudo j foi
explicado, no h mais o que cobrar quando tudo j est sendo feito, e esta a
abordagem mais difcil: a necessidade que temos de nos mostrar ativos, em abordagem e atividade constantes nos faz esquecer de que s vezes s necessrio
estarmos presentes, e o no fazer j , por si s, uma ao.
breve, acompanhamento familiar, apoio equipe e em alguns casos o encaminhamento externo equipe.
Vale dizer que nem todos os pacientes e familiares necessariamente desejam
e beneficiam-se do atendimento psicolgico todo o tempo. No conversar sobre
o adoecimento e finitude pode ser uma forma legtima de enfrentamento e deve
ser respeitada e compreendida. Em alguns casos, o trabalho indireto de suporte
equipe para que esta seja capaz de gerenciar contedos afetivos junto ao paciente
colabora para que a interveno psicolgica seja possvel em outro momento.
Por seu lado, os profissionais da equipe podem ter, em alguns momentos, a
sua capacidade de acolhimento comprometida pela constante frustrao e desgaste emocional decorrentes do lidar com a finitude, cabendo ao psiclogo o apoio e
compartilhamento destas angstias, o que favorece um maior fortalecimento da
equipe e melhor atendimento aos pacientes e familiares.
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Concluso
A abordagem em Cuidados Paliativos deve ser realizada preferencialmente
em equipe multiprofissional, adequadamente treinada e com foco no sofrimento
do paciente, sua famlia e equipe responsvel pelo caso. Longe de esgotar o tema,
esse captulo demonstra atravs do Diagrama de Abordagem Multidmensional
(DAM) uma forma racional de lidar com as diferentes esferas do sofrimento humano mantendo o foco em objetivos bem definidos.
Agradecimentos
Nosso agradecimento aos demais profissionais do Ambulatrio de Cuidados
Paliativos do HCFMUSP que contriburam para o desenvolvimento do DAM:
Alini Maria Orathes Ponte Silva, Keite Priscila Pai, Mary Helen Lessi dos Santos, Marcelo Altona, Silvia Massue Irya, Solange Bricola, Sumatra da Costa Pereira Jales, Tiago Pugliese Branco e Thiago Resende.
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Referncias
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Introduo
Pela definio da Organizao Mundial de sade para Cuidados Paliativos,
todos os pacientes portadores de doenas graves, progressivas e incurveis, que
ameacem a continuidade da vida deveriam receber a abordagem dos Cuidados
Paliativos desde o seu diagnstico. Entretanto, sabemos que, se esta referncia
tivesse de ser cumprida, a maioria dos pacientes permaneceria sem nenhuma assistncia paliativa, pois no temos ainda disponibilidade de profissionais e servios que pudessem dar conta do atendimento desta populao.
No Brasil, segundo dados do DATASUS (1), em 2006, faleceram
1.031.691 brasileiros. Se avaliarmos apenas os bitos decorrentes de doenas
de evoluo crnica ou degenerativa e neoplasias, teremos um montante de mais
de 725 mil pessoas que morreram no Brasil com grande possibilidade de sofrimento intenso (tabela 1). Mais de 690 mil pessoas faleceram em hospitais e
224 mil brasileiros morreram em casa (tabela 2).
Tabela 1
Mortalidade - Brasil
bitos p/ Residncia por
Captulo CID-10 e Regio
Perodo:2006
Captulo CID-10
I. Algumas doenas infecciosas e
parasitrias
II. Neoplasias (tumores)
III. Doenas sangue rgos hemat
e transt imunitrios
IV. Doenas endcrinas nutricionais e metablicas
V. Transtornos mentais e comportamentais
VI. Doenas do sistema nervoso
VII. Doenas do olho e anexos
VIII. Doenas do ouvido e da
apfise mastoide
Norte
Nordeste
Sudeste
Sul
C.Oeste
Total
3271
12735
21171
6158
3173
46508
6439
31803
77260
31238
9056
155796
390
1665
2517
624
300
5496
2659
17923
26790
8374
3158
58904
270
3040
4802
1444
700
10256
686
4
3620
12
10262
7
3448
3
1150
2
19166
28
43
67
18
145
56
147933 49073
18305
302817
53983
18215
5875
102866
25830
8073
3159
51924
1401
217
115
2466
1851
579
252
3597
9468
2497
967
17421
521
237
134
1637
9838
2932
1940
28336
4069
1543
869
10397
40372
9424
3081
85543
55708
19291
10198
128388
493850 163388
62442
1031691
Tabela 2
Mortalidade - Brasil
Perodo: 2006
Local
ocorrncia:
Hospital
Domiclio
Regio Norte
33658 14222
Regio Nordeste
144946 82682
Regio Sudeste
358906 78740
Regio Sul
110765 35648
690856 223439
que este critrio foi importado do MEDICARE americano (2), que estabelece o
tempo de sobrevida esperado como um dos critrios de indicao para assistncia
de HOSPICE. So os critrios do MEDICARE:
1. A expectativa de vida avaliada menor ou igual a seis meses;
2. O paciente deve fazer a opo por Cuidados Paliativos exclusivos e abrir mo
dos tratamentos de prolongamento da vida
3. O paciente deve ser beneficirio do MEDICARE.
Avaliao de prognstico
Nas razes da prtica da medicina encontramos uma certa harmonia entre a
cincia e o sacerdcio mstico que envolvia os poderes do mdico em avaliar e
curar doenas. Apesar disso, a arte de prever o futuro ainda no se tornou suficientemente cientfica a ponto de especializar o mdico no exerccio de prognosticar.
Esta avaliao busca reforos constantes em escalas, sinais e sintomas que podem
identificar o processo de morte em fases precoces, mas ainda envolve julgamentos
fisiolgicos e sociais bastante complexos. Mesmo que a morte seja um fenmeno
biolgico claramente identificado, as percepes do significado, tempo e circunstncias em que o processo de morrer e a morte se sucedem ainda permanecem
num conhecimento pouco estabelecido e ensinado.
O maior perigo deste exerccio de avaliar tempo de sobrevida de uma pessoa determinar a morte social antes da morte fsica propriamente dita. Uma
vez que se estabelece que um paciente tenha uma expectativa de vida pequena,
em dias ou semanas, corremos o risco de subestimar suas necessidades e negligenciar a possibilidade de conforto real dentro da avaliao do paciente e de sua
famlia.
Em geral, a avaliao prognstica de pacientes em fases avanadas de doenas graves ainda apresenta erro otimista considervel, principalmente quando avaliamos pacientes com doenas no neoplsicas. Um estudo em 2000, por
Christakis e colegas(3) demonstrou que a acurcia de prognstico geralmente apresenta erro para o lado do otimismo. Apenas 20% dos mdicos tm acurcia de
prognstico de 33% dos pacientes dentro do perodo atual de sobrevida, sendo
que 63% so muito otimistas e 17% subestimam o tempo de sobrevida. Uma
concluso interessante foi que medida que aumenta o tempo de relao mdicopaciente, a acurcia de prognstico diminui, demonstrando que o vnculo que se
estabelece entre o mdico e seu paciente determina um desejo do mdico de
prever uma condio que implica menor capacidade de avaliar a realidade. Este
resultado nos permitiria iniciar uma discusso pertinente de o quanto os desejos e
expectativas do prprio mdico no poderiam interferir na avaliao do prognstico de seu paciente.
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Doena Cardaca
Nos Estados Unidos, 58% das mortes foram causadas primria ou secundariamente pelas doenas cardiovasculares(4). No Brasil, em 2005, mais de 302 mil
brasileiros faleceram por causa de uma doena cardiovascular (29%). A doena
cardiovascular a principal causa de morte em todos os anos do sculo 20, exceto
1918. Embora as doenas cardiovasculares sejam mais comuns com a idade avanada, principalmente a insuficincia cardaca, elas no se restringem aos idosos.
Mais de 152.000 americanos com idade inferior a 65 anos morrem de doenas
cardiovasculares por ano(5). A morte de causa cardiovascular mais caracterstica
a morte sbita.
Pacientes com Insuficincia Cardaca (IC) representam um desafio adicional
na arte do prognstico, pois cerca de 60% deles (Classe Funcional II NYHA)
morrem subitamente. Se incluirmos os pacientes com classe funcional IV, este
nmero representa 25% dos pacientes, levando a mdia de 35%. Os critrios para
previso de morte sbita nestes pacientes ainda permanecem controversos(6,7). Os
estudos mais recentes sobre estes fatores prognsticos incluem o peptdeo natriurtico do tipo B (BNP), a frao de ejeo, dimetro diastlico final, presena de
taquicardia ventricular no sustentada, Diabetes Mellitus(8,9). A presena de fenmenos tromboemblicos, PCR prvia, diagnstico de AIDS e outras arritmias
ventriculares complexas tambm contribuem para a avaliao de prognstico reservado. A avaliao precisa da incidncia de morte sbita tem sido mais com-
60
Doena Pulmonar
Assim como a maior parte das doenas crnicas, determinar o prognstico ou
ainda a esperana de vida em pacientes que tenham Doena Pulmonar Obstrutiva
Crnica (DPOC) um campo cheio de incertezas. Em todos os grupos, a idade,
tabagismo, perda da funo pulmonar e baixo IMC so importantes preditores de
mortalidade(19, 20, 21, 22, 23).
Em pacientes idosos, os preditores de mortalidade em DPOC incluem VEF1,
a gravidade da debilidade fsica, idade avanada, e o uso de oxignio a longo prazo. Tabagismo, depresso, qualidade de vida e presena de comorbidades, bem
como a frequncia das internaes por qualquer outra causa parecem no predizer mortalidade(24). Se analisarmos as internaes decorrentes de um aumento da
frequncia de exacerbaes da DPOC, observamos que correlaciona-se com o
aumento da mortalidade, sendo ento um preditor independente de mau prognstico(25). Em pacientes com 65 anos ou mais, a mortalidade aps uma internao
em unidade de terapia intensiva, por exacerbao de DPOC, pode ser elevada,
chegando a 30% em cerca de 30 dias aps a alta hospitalar. Cinquenta e nove por
cento falecem em um ano(26).
O mesmo estudo mostrou que a mortalidade hospitalar e a de longo prazo
estiveram fortemente correlacionadas com o comprometimento de outros rgos
e aumento da gravidade da doena pulmonar, mas no com a necessidade de ventilao mecnica(26).
Na evoluo de uma internao por exacerbao da DPOC em idosos, a presena de comorbidades, depresso maior, estado civil e ndice de qualidade de
vida demonstraram ser fortes preditores de mortalidade(27). Mesmo assim, pode
ser difcil identificar quando um paciente que tem DPOC esteja entrando na fase
final da evoluo da sua doena. Alm disso, grande parte do tratamento habitual
DPOC relacionado aos sintomas e de baixo risco. Estes fatores limitam a utilidade de uma distino ntida entre tratamento ativo da doena e o tratamento paliativo, principalmente em pacientes que apresentam perodos de relativa estabilidade.
62
Cerca de 20% a 25% dos pacientes que apresentam DPOC grave experimentam dor, depresso, ansiedade e dispneia intensa no fim da sua vida(28, 29, 30).
A interveno de Cuidados Paliativos pode oferecer a oportunidade de discusso
de escolhas no fim de vida, como renunciar a intubao e ventilao mecnica,
limitar a durao destas intervenes ou, at mesmo, recusar internao hospitalar. Porm, como so pouco referidos para Cuidados Paliativos, essas discusses
so infrequentes.
Doena Renal
Sabe-se que quase 20% dos pacientes com Insuficincia Renal sob tratamento
dialtico param a dilise antes da morte. Provavelmente, quase todos os nefrologistas esto envolvidos nos cuidados de fim de vida destes pacientes com doena
renal terminal (DRT)(31). No entanto, os mdicos so mal treinados em Cuidados
Paliativos e, muitas vezes, se sentem desconfortveis com o cuidado de pacientes que morrem(32, 33). Em um estudo com mdicos americanos e canadenses, por
exemplo, apenas cerca de 40% dos 360 nefrologistas entrevistados afirmaram que
sentiam-se muito bem preparados para discutir decises de fim de vida com seus
pacientes(33).
No Brasil esta tendncia ainda pior, pois estamos longe das condies ideais de formao adequada na rea de Cuidados Paliativos.
Com a progresso da doena renal, os Cuidados Paliativos assumem uma grande importncia, levando a um gerenciamento mais adequado do controle de sintomas e discusso sobre as diretrizes avanadas, considerando a possibilidade de
interrupo do tratamento dialtico por escolha do paciente e de sua famlia. Os
principais critrios de terminalidade para Insuficincia Renal so descritos na tabela 7.
Doena Heptica
Nos Estados Unidos, a Doena Heptica crnica determina mais de um milho de visitas mdicas e mais de 300 000 internaes por ano(35). A progresso da
doena heptica leva os pacientes a experimentarem complicaes clnicas, tais
como encefalopatia, desnutrio, perda muscular, ascite, hemorragia de varizes
esofagogstricas, peritonite bacteriana espontnea, fadiga e depresso.
O transplante de fgado, uma opo vlida de tratamento, aumenta o tempo
de vida e reduz muitos sintomas, mas, com a atual escassez de rgos, 10% a 15%
desses pacientes morrem sem receber um rgo. Muitos pacientes tambm no
so candidatos a transplante devido presena de comorbidades. Alm disso, alguns pacientes transplantados sucumbem diante das complicaes do transplante
63
em si. Tais pacientes e suas famlias enfrentam o dilema de uma doena potencialmente tratvel, mas ainda frequentemente fatal(35).
A atuao dos Cuidados Paliativos se prope a oferecer ao paciente o controle dos sintomas, tanto na espera do transplante como nos cuidados aps o procedimento. Os critrios de indicao para Cuidados Paliativos so os mesmos
da indicao do transplante, mas direcionada para os pacientes que no podem
realizar o transplante (tabela 7). A interface mais intensa se apresenta na condio
de falha do transplante ou deteco de condies mrbidas que agravem o quadro
do paciente, como, por exemplo, o cncer heptico. Deve-se observar o compromisso de maximizar a qualidade e, se possvel, o tempo de vida.
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HIV/SIDA
Apesar dos avanos no tratamento do HIV/SIDA, ainda no existe cura conhecida.
Ao contrrio de outras doenas terminais como o cncer, no fcil de prever
quando a morte iminente. Um paciente com SIDA pode morrer em consequncia de sua primeira manifestao do HIV ou em constante risco de adquirir novas
doenas que podem abreviar sua vida. A maioria dos pacientes, no entanto, vai
viver com frequentes problemas de sade at a fase de imunossupresso grave,
ao longo de vrios anos. medida que a doena progride, a necessidade de alvio
sintomtico tornar-se- mais importante do que o tratamento curativo.
Os pacientes com SIDA estaro na fase terminal da sua doena se: (2)
1. CD4 + <25 clulas / mcl
2. Carga viral persistente > 100.000 cpias / ml
Associado com qualquer uma das situaes abaixo
Linfoma de SNC;
Perda de 33% de massa corporal magra;
Bacteremia por Mycobacterium avium (no tratada, que no responde ao tratamento, ou tratamento recusado);
Leucoencefalopatia progressiva multifocal;
Linfoma sistmico, com doena avanada pelo HIV e resposta parcial a quimioterapia;
Sarcoma de Kaposi visceral no responsivo terapia;
Insuficincia renal que no elegvel ou no deseja dilise;
65
Deficincia Mental
As pessoas com doenas mentais morrem prematuramente em comparao
com a populao em geral. Apesar disso, existem poucos relatrios ou estudos de
investigao sobre planejamento dos cuidados no fim de vida destes pacientes.
At mesmo informaes bsicas sobre as circunstncias da morte, preferncias
dos cuidados de sade, ou a disponibilidade de Hospice e servios de Cuidados
Paliativos nunca foram avaliadas para esta populao, mesmo em pases desenvolvidos. Essa informao importante para o planejamento sensato de prticas,
procedimentos e orientaes a fim de proporcionar qualidade de vida para pessoas
com doena mental.
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Demncia
Para a doena de Alzheimer e outras doenas relacionadas, a identificao
de determinadas alteraes estruturais e comprometimentos funcionais, alm das
frequentes comorbidades, devem servir como base para intervenes e planejamento dos Cuidados Paliativos. Em ltima instncia, na fase terminal de doena,
os efeitos combinados da doena de Alzheimer (FAST estdio 7)(51) e qualquer
outro estado de comorbidade ou condio secundria (delirium, lceras de presso, pneumonia aspirativa) devem ser tais que caracterizem um prognstico de 6
meses ou menos(2).
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tem relao com o tempo de sobrevida. Em sua fase final de ELA, dois fatores
so cruciais para determinar o prognstico: a capacidade de respirar e, em menor
medida, a capacidade de deglutio(2).
Na tabela 6 encontramos as indicaes de Cuidados Paliativos para ELA. O
paciente considerado como estando em fase terminal de ELA se apresentar uma
das seguintes situaes ocorridas dentro dos ltimos 12 meses.
Tabela 6 - Indicaes de Cuidados Paliativos para pacientes com Esclerose Lateral Amiotrfica
A. Capacidade respiratria diminuda conforme critrios:
1. Capacidade vital inferior a 30% do normal;
2. Significativa dispneia em repouso;
3. Necessidade de oxignio suplementar em repouso; e
4. Paciente recusa ventilao artificial.
B. Outros critrios para indicao de Cuidados Paliativos:
1. Progresso para deambulao dependente de cadeira de rodas;
2. Dificuldade para falar: discurso pouco inteligvel ou ininteligvel;
3. Progresso da dieta normal para pastosa;
4. Progresso de dependncia na maioria ou em todas as principais Atividades
da Vida Diria (AVD) ou necessidade de assistncia para todas as AVDs.
C. Comprometimento nutricional crtico:
1. Ingesto de nutrientes e fluidos insuficientes para sustentar a vida;
2. Perda de peso continuada;
3. Desidratao ou hipovolemia; e
4. Ausncia de mtodos de alimentao artificial.
D. Complicaes com risco de vida:
1. Pneumonia aspirativa recorrente;
2. Infeco do trato urinrio superior;
3. Sepse;
4. Febre recorrente aps a terapia antibitica.
Consideraes especiais
Alguns pacientes idosos apresentam condies de fragilidade intensa, sem
diagnstico especfico, mas que parecem estar em declnio progressivo de vitalidade e aparentemente desenvolvendo uma trajetria previsvel em direo morte
dentro dos prximos meses.
Para esses pacientes, a indicao de Cuidados Paliativos importante com o
objetivo de atingir a condio de bem-estar global. Indicaes no convencionais
para Cuidados Paliativos como a Sndrome da Fragilidade incluem indivduos
idosos com comprometimento funcional progressivo, perda de peso progressiva e que podem ter vrias doenas crnicas simultneas (por exemplo, hipertenso arterial, doena coronariana, diabetes), mas sem nenhuma condio fatal
iminente.
69
Eles podem ter tido uma acelerao recente do declnio cognitivo e funcional
ou ter tomado uma deciso de no prosseguir tratamento agressivo devido idade
avanada, m sade geral, estado cognitivo, ou custos excessivos.
Em pacientes idosos, um dos mais sensveis nestas condies da Sndrome da
Fragilidade, a perda de peso inexplicvel de 10% ao longo de um perodo de 6 meses, ou um ndice de massa corporal (IMC) <22 kg/m2 indica Cuidados Paliativos.
A combinao de perda de peso progressiva e dificuldades com as atividades
da vida diria (AVDs) so um importante preditor de mortalidade em 6 meses,
geralmente mais importantes do que o diagnstico, estado mental, ou admisso
em unidade de Cuidados Intensivos(2). Se estas condies estiverem presentes, a
comunicao adequada com estes pacientes e suas famlias pode facilitar o planejamento das diretrizes avanadas. Isso reduz muito o estresse causado pelas
condies de agudizao e intercorrncias clnicas nesses pacientes.
As tabelas 7 e 8 resumem as indicaes de Cuidados Paliativos
Tabela 7 - Indicaes de Cuidados Paliativos segundo as condies do paciente:
Paciente no candidato terapia curativa
Paciente tem uma doena grave e prefere no ser submetido a tratamento de prolongamento
da vida
Nvel inaceitvel de dor por mais de 24 horas
Sintomas no controlados (nusea, dispneia, vmitos, etc.)
Sofrimento psicossocial e/ou espiritual no controlado
Visitas frequentes ao atendimento de emergncia (mais de 1 vez no ms pelo mesmo diagnstico)
Mais do que uma admisso hospitalar pelo mesmo diagnstico nos ltimos 30 dias
Internao prolongada sem evidncia de melhora
Internao prolongada em UTI
Prognstico reservado documentado pela equipe mdica
Tabela 7 Considerar a consulta sobre Cuidados Paliativos para pacientes com critrios de
terminalidade de suas doenas de base:(52)
Cncer
Doenas
Cardacas
70
Doenas
Pulmonares
Demncia
Doenas
Hepticas
Doenas Renais
Sndrome da
Fragilidade
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74
76
78
Verbais
No verbais
Ouvir reflexivamente.
Utilizar sorrisos.
Utilizar o silncio.
80
Etapas
Estratgias
Prepare-se
para comunicar
Descubra o
quanto o paciente sabe, o
quanto quer ou
aguenta saber
Utilize perguntas abertas: O que voc sabe sobre sua doena? O que
voc teme sobre sua condio?
Atente aos sinais no verbais do paciente durante suas respostas.
Identifique sinais de ansiedade extrema ou sofrimento exacerbado,
avaliando as condies emocionais do paciente.
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informao
81
Acolha os
sentimentos
Planeje o
seguimento
Necessidades
relacionadas
Construir um sentido
para vida e a prpria
existncia.
Agradecer e demonsPreocupaes com o
trar amor a quem lhe
importante.
legado.
Resgate dos relaciona- Perdoar e ser perdomentos.
ado.
Despedir-se.
82
Estratgias de comunicao
Ouvir atentamente.
Estimular reflexo e expresso de sentimentos (perguntas abertas).
Estimular, permitir e promover reencontros.
Conversar com familiares, flexibilizando
horrios de visita.
Promover ambiente agradvel para estas interaes familiares (disponibilizar cadeiras,
ambiente privativo).
Ouvir atentamente.
Utilizar toque afetivo para demonstrao de
compreenso e apoio.
Respeitar momentos de silncio do outro.
Necessidades
relacionadas
Estratgias possveis de
comunicao
Sentimentos de tristeza.
Autoimagem e autoestima
alteradas.
Medo de incapacidade e
deteriorao fsica.
Medo de ter dor.
Medo de estar sozinho no
momento da morte.
Luto pelas perdas antecipadas
(vida, relacionamentos, etc.).
Ser ouvido
Ser aceito.
Ser confortado.
Ser valorizado.
Sentir-se seguro.
Exercer sua autonomia.
Estar sempre
acompanhado.
Ter valores e crenas
respeitados.
Ouvir.
Utilizar toque afetivo.
Estar mais presente junto
ao paciente.
Verbalizar no abandono.
Verbalizar disponibilidade e interesse.
Estimular visitas e
permanncia de cuidador/
acompanhante.
Consideraes finais
Relacionar-se com o outro essencial para a vida, porque confirma a existncia do homem e fundamenta sua experincia humana. Por meio dos relacionamentos, os seres humanos compartilham experincias comuns, fortalecendo seus
elos e revelando suas similaridades, anseios e necessidades. Na terminalidade,
permite que no antecipemos a morte de algum, medida que continuamos
ouvindo e respeitando suas necessidades e desejos. Para o profissional atento, a
comunicao em CP o questiona sobre a prpria vida e lhe permite redirecion-la,
quando necessrio.
Referncias
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85
Introduo
A primeira publicao sobre implantao de um servio de Cuidados Paliativos no Brasil data de 1993, na Revista Brasileira de Cancerologia(1), onde Dra.
Magda Cortes Rodrigues Rezende, oncologista do Instituto Nacional de Cncer,
ao lado de outros colegas, descreve a implantao do CSTO Centro de Suporte
Teraputico Oncolgico naquela instituio. Embora tenhamos informaes no
publicadas sobre outros hospitais e grupos com iniciativas semelhantes, entendemos ter sido esse o primeiro servio implantado em uma Instituio. Desde ento
temos assistido a um forte crescimento no movimento dos profissionais de sade
em torno dos Cuidados Paliativos no nosso pas, principalmente de meados da
primeira dcada de 2000 at os dias de hoje, seguindo uma tendncia mundial.
O contraste que observamos, no entanto, diz respeito justamente aos modelos de
assistncia empregados nos diversos pases para atender necessidade dos cuidados em fim de vida. Na Europa, a referncia aos hospices como locais de cuidado
intensivo na terminalidade (entendendo intensivo como presena intensa junto
ao paciente visando execuo de reavaliaes e ajustes constantes de medidas
para alvio de sofrimento e no emprego de maquinrio de tecnologia avanada)
evidencia o quo diferente a organizao dos servios pode ser.
Desde o Cuidado de Nvel 1, executado por equipes de Sade da Famlia
para necessidades mais bsicas, at os de Nvel 3, com equipes capacitadas para
resoluo de problemas complexos, os cenrios de atuao so diversificados(2).
O objetivo deste texto explorar cada um desses cenrios, suas vantagens e dificuldades para execuo de cuidados.
Modelos de assistncia
A) Hospital
Historicamente, quando falamos em cuidado de sade, e principalmente
quando falamos em cuidados em etapa terminal de enfermidade, imediatamente
nossa mente nos remete ao cuidado hospitalar, j que quem est muito doente, em
86
nossa cultura, deve procurar por um hospital. E nesse ambiente que temos visto
se desenvolver alguns dos principais servios de Cuidados Paliativos no Brasil
Hospital Emlio Ribas de So Paulo SP, Instituto Nacional do Cncer no Rio de
Janeiro RJ, Hospital do Servidor Pblico Estadual de So Paulo SP, Hospedaria do Hospital do Servidor Pblico Municipal de So Paulo SP, Hospice do
Instituto de Cncer de So Paulo em Cotia SP, NASPEC (Ncleo Assistencial
para Pessoas com Cncer) de Salvador BA, GISTO (Grupo Interdisciplinar de
Suporte Teraputico Oncolgico) do Hospital Erasto Gaertner em Curitiba PR,
Centro de Estudos e Pesquisas Oncolgicas (CEPON) de Florianpolis SC,
Hospital So Judas Tadeu Fundao PIO XII do Hospital de Cncer de Barretos SP, Hospital Costa Cavalcanti de Foz do Iguau PR, EICPO (Equipe
Interdisciplinar de Cuidados Paliativos Oncolgicos) do Hospital de Cncer de
Londrina PR, IMIP (Instituto de Medicina Materno Infantil) de Recife PE,
Programa de Internao Domiciliar Interdisciplinar de Pelotas RS, que apesar
de ser um programa de ateno domiciliar est ligado ao Hospital Universitrio da
Universidade Federal de Pelotas, GAPPO (Grupo de Apoio Paliativo ao Paciente
Oncolgico) do Hospital Arajo Jorge da Associao de Combate ao Cncer de
Gois na cidade de Goinia GO, Hospital Regional da UNIMED de Fortaleza
CE, Servio de Terapia da Dor e Cuidados Paliativos da Fundao Centro de
Controle de Oncologia do Amazonas STDCP/FCECON de Manaus AM, entre
tantos outros servios que se multiplicam pelo nosso pas. Na Amrica do Norte
(EUA e Canad), os Cuidados Paliativos so realizados preferencialmente em
dois cenrios: Hospitais e Domiclio(3). A estrutura tipo hospice, por sua vez,
est profundamente arraigada na cultura europeia de forma natural. Os registros
mostram presena dessas instalaes dirigidas a ...ajudar e confortar os pobres,
doentes, cegos, idosos e pessoas incapazes de se autocuidar e sem ter um lugar
onde possam ser alojados, protegidos ou recuperados nas palavras de Sir Thomas Vicary, cirurgio ingls do sculo XVI descrevendo a funo paliativa do
Hospital So Bartolomeu de Londres para o rei Henrique VIII(4). Em uma recente
reviso no sistematizada sobre fatores que influenciam o bito no domiclio,
todos os estudos revisados mostraram que, embora a preferncia do lugar para
morrer da maioria das pessoas seja o domiclio, o ambiente Hospitalar, com suas
peculiaridades, aparece como o lugar onde a maioria das mortes ocorrem(5, 6, 7, 8,
9, 10, 11)
. Por conta dessa realidade, a tendncia de criao de equipes de Cuidados
Paliativos ainda se concentra nos Hospitais, como resposta presso crescente
por demandas de cuidados e como consequncia de uma poltica de cuidados
domiciliares ainda incipiente no nosso pas.
Uma das maiores desvantagens do ambiente hospitalar o fato de o paciente
estabelecer associao com procedimentos invasivos e por vezes dolorosos, como
87
89
90
5. Desejo e/ou permisso expressa para permanecer no domiclio dado pelo paciente
ou familiar no impedimento deste.
Obs.: De acordo com RDC 11 da Anvisa de 28/01/2006 e portaria MS2529 de 19/10/2006(15).
Ambulatrio
H pouca matria escrita sobre os Cuidados Paliativos em nvel ambulatorial,
muito menos sobre Cuidado Paliativo na Ateno Primria(16,17). Seria desejvel
que, a exemplo do que ocorre no Reino Unido ou na Espanha (pases onde a rede
de Cuidados Paliativos est bem estabelecida), a ateno bsica do nosso Sistema
nico de Sade estivesse apta a ofertar Cuidados Paliativos de qualidade, de acordo com o que esse nvel de ateno permite realizar. Em uma consulta de Cuidados Paliativos em nvel ambulatorial, no apenas os aspectos fsicos so passveis
de ser abordados, mas inerente a esse tipo de consulta que tenham que ser dadas
ms notcias, discutir a morte, explorar emoes profundas e explicar as opes
complexas de manejo(17). Isso pode ser particularmente difcil e complicado em
uma estrutura como as de nossas unidades de sade que convivem com a realidade de agendas saturadas, m remunerao dos profissionais da sade pblica
e oferta precria de recursos humanos e materiais. No entanto, o gestor pblico
ou o administrador privado que intencione ofertar Cuidados Paliativos no nvel
primrio no pode, em hiptese alguma, sacrificar o aspecto de comunicao e os
aspectos subjetivos da consulta em detrimento de melhorar a produtividade.
Uma nica consulta ambulatorial pode mesmo no ser suficiente para abordar todos os aspectos envolvidos no planejamento dos cuidados. Assim, uma sequncia de consultas por perodos de semanas ou meses deve ser planejada a
fim de se permitir que as dimenses psquicas, emocionais, sociais e espirituais
possam ser avaliadas adequadamente. As perguntas abertas Como voc est?
ou Como voc tem enfrentado esta situao? seguidas de escuta atenta, no
devem ser economizadas(17).
O papel da Unidades Bsicas de Sade, ou mais contemporaneamente
falando, da Unidades de Sade da Famlia, no mbito dos Cuidados Paliativos,
tem que ser entendido dentro de um modelo de ateno sade que pode ser
descrito como um modelo de ateno compartilhada(16), ou, na linguagem brasileira, o modelo de ateno em rede e linhas de cuidado. Desta forma, as unidades de Cuidados Paliativos devem compartilhar a responsabilizao pelo cuidado dos pacientes em etapa final de enfermidade, oferecendo suporte do nvel II
ou III, com equipes especializadas em resoluo de problemas difceis. No modelo de ateno compartilhada, a estrutura de comunicao bem como a presena
91
Referncias
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18. Secretaria de Sade do Estado do Paran www.sesa.pr.gov.br/programaparanasemdor
93
Introduo
Cuidado Paliativo significa valer-se de conhecimento apropriado, com objetivos bem determinados e com foco na Vida, at seu ltimo momento. Reconhece
a morte como algo inexorvel e parte de um processo a ser monitorado e aliviado,
mas no como um objetivo final.
O termo Hospice, que por muito tempo designou a prtica dos Cuidados Paliativos no mundo, tem origem nas hospedarias medievais que abrigavam peregrinos doentes, rfos e pobres com necessidades de cuidados, realizados de forma
emprica e caridosa. Nos sculos XVIII e XIX, instituies religiosas assumiram
o papel do cuidado aos enfermos pobres e portadores de doenas incurveis como
o cncer e a tuberculose(1).
Em meados do sculo XX, a ento enfermeira Cicely Saunders, trabalhando numa instituio destas em Londres, percebeu que os doentes precisavam de
ateno especfica e de conhecimentos mdicos para o alvio da dor e de ateno
s necessidades espirituais. Decidiu formar-se em medicina para desenvolver este
conhecimento(1).
Em 1968, a Dra. Cicely Saunders fundou em Londres a primeira instituio
voltada para o conceito moderno do cuidado ao doente no final da vida e com
isso deu incio ao Movimento Moderno de Hospice. Em 1975, o Canad adotou
o termo Cuidado Paliativo para designar a prtica clnica associada ao Hospice,
e, desde ento, o Cuidado Paliativo tem passado por vrias discusses e aperfeioamentos(1).
Atualmente, o termo Hospice tem sido mais frequentemente utilizado para
designar uma instituio de mdia complexidade, como um hospital especializado na prtica dos Cuidados Palaitivos e que tem por caracterstica principal a
excelncia da prtica clnica associada ao trabalho muito bem articulado de uma
equipe multiprofissional, com espaos apropriados para tal fim. O objetivo compreender e assistir as necessidades de doentes portadores de doenas terminais.
No Brasil, a prtica dos Cuidados Paliativos relativamente recente. A maioria dos grupos atuais iniciou suas atividades por volta de 2000, com acentuado
progresso nos ltimos 4 anos(2).
94
Princpios da atuao
Qualquer que seja o modelo de prestao de servios, o que h de comum no
trabalho das equipes de Cuidados Paliativos (3):
Reconhecimento e alvio da dor e de outros sintomas, qualquer que seja sua
causa e natureza.
Reconhecimento e alvio do sofrimento psicossocial, incluindo o cuidado
apropriado para familiares ou crculo de pessoas prximas ao doente.
Reconhecimento e alvio do sofrimento espiritual/existencial.
Comunicao sensvel e emptica entre profissionais, pacientes, parentes e
colegas.
Respeito verdade e honestidade em todas as questes que envolvem pacientes, familiares e profissionais.
Atuao sempre em equipe multiprofissional, em carter interdisciplinar.
95
96
97
98
Ambiente hospitalar como fator de agravo ao humor, em especial para pacientes idosos.
Em hospitais pequenos o custo de uma unidade menor que dez leitos pode
ser demasiadamente elevado pela necessidade da equipe treinada em perodo
integral.
Necessidades
Alm da rea fsica, leitos e acomodaes para pelo menos um familiar
acompanhante, h necessidade de estabelecer:
Fluxo de internaes para pacientes externos, pronto-socorro e transferncias
de outras clnicas do hospital.
Impressos apropriados ou templates especficos de internao e evoluo diria, quando houver pronturio eletrnico.
Fluxo de encaminhamento para pacientes no perodo ps alta, pois todos
devem continuar inseridos no atendimento em Cuidados Paliativos, seja ambulatorial ou domiciliar, de acordo com o desempenho do doente.
Poltica de padronizao dos medicamentos necessrios boa paliao, bem
como facilidades de dispensao na alta hospitalar.
Espao fsico e horas semanais destinadas discusso de casos por equipe
multiprofissional, bem como espao e aes que ajudem a equipe a elaborar
o prprio luto decorrente dos bitos e situaes de estresse pela convivncia
estreita com situaes de sofrimento humano.
Vantagens
Baixo custo e rapidez de implantao do servio pela necessidade de poucos
profissionais.
Possibilidade de interao de profissionais com alto conhecimento em Cuidados Paliativos com diversas equipes do hospital.
Desvantagens
Dificuldade de aceitao pelas equipes especializadas dos novos paradigmas
clnicos dos Cuidados Paliativos.
Receio do profissional mdico de ser invadido em suas decises e condutas
pessoais(3).
Baixa adeso ao tratamento proposto, especialmente no tocante ao uso de
opioides, proposio de novas vias de administrao de medicamentos e suspenso de procedimentos e de teraputica considerados fteis. Para minimizar estes problemas, o grupo precisa retornar diariamente ao leito, checar
prescries e interagir constantemente com a equipe local.
Necessidade de equipe muito bem treinada e com perfil de educadores para o
enfrentamento destas dificuldades.
100
101
Desvantagens
A maior desvantagem da unidade de Cuidados Paliativos a necessidade de
transferncia do doente para uma unidade distinta.
Distncia do hospital de referncia pode elevar custos com transporte e servios de apoio, quando necessrios.
As visitas dos profissionais que previamente participavam ativamente do seu
tratamento so raras.
Risco de o paciente sentir-se abandonado ou relegado a segundo plano na
rede assitencial.
Tendncia equivocada de outros especialistas de verem como Unidade de doentes crnicos ou apenas destinada ao final da vida, o que distorce o conceito
dos Cuidados Paliativos.
Necessidades
A organizao de uma Unidade Hospitalar em Cuidados Paliativos exige a
construo ou a adaptao de um prdio apropriado e agradvel, que conte com
jardins, reas de lazer e salas especiais para as atividades coletivas.
As acomodaes devem ser preferencialmente individuais, com espao para
acomodao de um familiar ou acompanhante, com mobilirio leve e agradvel.
Idealmente deve ter espao para atividades de terapia ocupacional e de reabilitao, exames laboratoriais, ultrassonografia, endoscopia e radiologia, assim
como sala para pequenos procedimentos paliativos como gastrostomia por via
endoscpica.
Deve contar com equipe multiprofissional completa com formao em Cuidados Paliativos, que inclui mdicos, enfermeiros, psiclogos, assistentes sociais,
fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, musicoterapeutas, fonoaudilogos, nutricionistas, farmacuticos, odontlogos, assitentes espirituais e voluntrios.
O corpo clnico deve ser organizado segundo as exigncias regionais com
regimento adequado, comisses de tica mdica e de bitos, comisso de controle
de infeco hospitalar, ncleo de reabilitao, alm de consultores nas reas de
geriatria, oncologia, cirurgia geral e outras de acordo com a necessidade e objetivo do trabalho.
O parmetro mdico sugerido pela IAHPC de 10 a 15 leitos por mdico em
perodo integral, inclusive nos feriados e fins de semana. Os plantes noturnos
devem ser dirios e h necessidade de profissional igualmente treinado em Cuidados Paliativos(3).
As Unidades Hospitalares de Cuidados Paliativos no Brasil tm em mdia 50
a 60 leitos disponveis. Podem abrigar uma unidade dia, atividade ambulatorial
integrada e ncleo de atendimento domiciliar.
102
A atividade de ensino deve contar com centro de estudos dotado de biblioteca, sala de estudos, aulas e reunio clnica. Os profissionais devem ser estimulados a manter ao menos trs horas semanais de estudos e atualizao em Cuidados
Paliativos, segundo sugesto do Dr. Doyle, IAHPC(3).
Por fim, o fluxo de pacientes em sistema de referncia e contrarreferncia deve ser claro e objetivo: quem encaminha, quais os critrios de admisso,
qual o propsito da internao, para onde ser encaminado o paciente aps alta
hospitalar: atendimento domiciliar, ambulatrio ou hospedaria de Cuidados Paliativos.
Se houver inteno de conciliar o espao da Unidade Dia de Cuidados Paliativos com o atendimento ambulatorial, o que tende a ser uma otimizao de espao fsico e uma oferta de conforto para os doentes e familiares, haver necessidade
de agregar no espao fsico do ambulatrio espaos para:
Atividade de terapia ocupacional.
Pequeno ncleo de reabilitao.
Refeio supervisionada.
Descanso de pacientes em poltronas confortveis.
Amenidades (leitura, msica, cuidados com a aparncia).
rea verde e de jardinagem, com possibilidade de utilizar-se da presena
de animais treinados (pet terapia).
Os benefcios da Unidade Dia no se estendem apenas aos doentes, que passam a ter oportunidades e acesso a diversas teraputicas complementares. A permanncia do doente no local tambm beneficia o cuidador domiciliar, que pode
usar o tempo desobrigado do doente em qualquer outra atividade segundo sua
necessidade.
A folga do Cuidador domiciliar por um ou mais dias da semana propicia melhor adeso ao tratamento, sentindo-se estimulado ao acompanhamento do doente
em sua residncia por maior tempo.
De modo geral, as Unidades Dia de Cuidados Paliativos funcionam de cinco
a seis horas durante o dia. Permanncias mais longas s se justificam por necessidade clnica. A equipe precisa de tempo antes e depois para se organizar, e
permanncias longas podem ser cansativas para o doente(3).
Atendimento domiciliar em Cuidados Paliativos
A modalidade de atendimento a pacientes em Cuidados Paliativos no domiclio caracteriza-se por atividade destinada a pacientes portadores de doena avanada, em progresso, e com necessidade contnua de monitoramento de sintomas
e aplicao de um plano de cuidados previamente estabelecido(3).
As visitas podem ser realizadas por mdico ou enfermeira treinados para este
fim e atentos s especificidades dos Cuidados Paliativos. Porm, o paciente deve ser
referenciado para ambulatrio ou unidade especializada que elabora o seu Plano de
Cuidados, que consiste em uma srie de aes determinadas para aquele paciente de
forma individualizada.
Idealmente deve ser realizada pela equipe de ateno primria mais prxima
de sua residncia, em consonncia e em contnua troca de informaes com a
equipe especializada.
No Brasil, a equipe do Programa de Internao Domiciliar Interdisciplinar de
Pelotas, RS, exemplo de gesto desta modalidade de servio no mbito do SUS.
105
Vantagens
A permanncia do doente em sua residncia e ao lado de sua famlia sem
dvida a condio ideal que assegura a melhor qualidade de vida para o mesmo.
Seja como for, a casa do doente seu local de maior identidade e onde as suas
relaes de vida se mostram mais presentes.
O acompanhamento do doente pela equipe primria de sade ajuda a desmistificar a complexidade de sua doena, os medos com relao aos medicamentos, sobretudo os opioides, e o faz sentir-se inserido em sua histria de vida e
adoecimento.
O controle de medicamentos e insumos tende a ser mais eficiente, assim
como a adeso aos tratamentos propostos. O maior envolvimento da comunidade
ajuda no apoio ao doente e famlia.
No caso do paciente optar pela morte no domiclio, aumenta a segurana
quanto aos trmites legais a serem seguidos, quando se tem uma equipe presente
e atuante, prxima da residncia.
Desvantagens
H necessidade de cuidador familiar atento e bem preparado para acionar a
rede de apoio em caso de surgimento de novas necessidades, sintomas mal controlados e mudanas no quadro clnico.
As visitas a pacientes em Cuidados Paliativos tendem a ser demoradas, com
durao mnima de 45 a 50 minutos, exigem ateno a detalhes e tempo despendido com repetidas orientaes.
O treinamento das equipes de ateno primria precisa ter qualidade tima
e, ainda assim, vrias ocorrncias podem passar despercebidas e serem negligenciadas. Normalmente as equipes da ateno comunitria atendem a demandas diversas de sade e no se sentem preparadas para a complexidade dos Cuidados
Paliativos. A estrutura ideal inclui uma equipe especfica s para as visitas a pacientes em Cuidados Paliativos.
Necessidades
Para um bom programa de atendimento domiciliar, a primeira necessidade
treinamento da equipe visitadora, vinculada ateno primria.
Enfermeiras muito bem treinadas podem monitorar as necessidades do doente e sua famlia e alertar para possveis mudanas nas prescries, novas orientaes, outras necessidades de assistncia.
necessrio a compreenso de gestores de sade no sentido de prover
uma equipe exclusiva para os Cuidados Paliativos no domiclio, o que em
106
107
Consideraes gerais
Seja qual for a necessidade e objetivo em se montar um servio de Cuidados
Paliativos, alguns parmetros devem ser respeitados na hora de se conceber o
modelo de escolha.
O quadro 1 abaixo sugere parmetros a serem considerados e os diferentes
modelos sugeridos acima. Ele foi originalmente construdo pelo Dr. Derek Doyle.
Foi necessrio adaptar algumas situaes realidade nacional, alm de transformar as indicaes de leve, moderada e severa em: +, ++ ou +++, respectivamente.
Quadro 1 - Parmetros de insero de pacientes em diferentes modelos.
Equipe
Consultora
Hospitalar
Unidade
Hospitalar
Especializada
Ambulatrio e
Unidade
Dia
Servio
Domiciliar
Hospedaria
+++
++/+++
++/+++
+/++
+/++
Instabilidade
Psicossocial
++/+++
+/++
++/+++
+/++
+/++
+/++
Instabilidade
Clnica
+++
+++
+++
+/++
+/++
Dependncia
Funcional
+ /+++
+ /+++
+/+++
+/+++
+/+++
+++
+++
++/+++
+ a +++
+ a +++
+ a +++
+++
+++
+++
+++
+/++
+++
Parmetro
do Cuidado
Sintomas
Necessidade
de Mdico
Contnuo
Necessidade
de Estrutura
Social
Necessidade
de Cuidados
de Enfermagem
Enfermaria em
Hospital
Geral
Fonte: Doyle D., Getting Started. 2008. Adaptado por Maciel M.G., 2009.
108
Referncias
109
Bibliografia recomendada
110
Parte 2
Controle de Sintomas
1. Classificao da dor
Tradicionalmente existem muitas maneiras de se classificar a dor, e distines claras nem sempre so possveis. Classificaes simples invariavelmente resultam em algumas omisses e sobreposies. Frequentemente essas discusses
nos direcionam a trs tipos de dor: (a) Aguda com uma durao previsvel, sendo
autolimitada e facilmente diagnosticada (ex.: dor ps-operatria e trauma), (b)
Crnica Oncolgica e (c) Crnica No Oncolgica caracterizada por uma durao
indeterminada e no autolimitada associada inflamao tecidual persistente (ex.:
dor por osteoartrite), perda tecidual (ex.: dor por amputao e remoo cirrgica)
e/ou leso neuroptica (ex.: neuralgia ps-herptica, leso actnica ps-radioterapia e neuropatia diabtica) que induzem a alteraes persistentes no sistema
nervoso perifrico (SNP) e central (SNC).
A dor pode ser ainda classificada quanto aos mecanismos fisiopatolgicos
em dor nociceptiva, neuroptica e mista. Na nociceptiva, as vias nociceptivas se
encontram preservadas, sendo ativadas pelos nociceptores de tecidos cutneos
(Dor somtica) ou profundos (Dor visceral). J na neuroptica, as vias nociceptivas apresentam alteraes na estrutura e ou funo, resultante de leso seletiva do
trato neoespinotalmico (Dor central) ou resultante de leses no sistema nervoso
perifrico (Dor perifrica)(1). Em alguns casos, a leso original ocorre nos nervos
perifricos (ex.: amputao), mas o mecanismo de dor (dor de membro fantasma)
parece ser primariamente no SNC (Tabela 1)(2).
Alguns pacientes apresentam ambos tipos de dor, por exemplo, dor nociceptiva resultante do crescimento do tumor e das metstases e dor neuroptica
resultante da compresso do tumor em estruturas neurais. Sendo assim, a dor oncolgica frequentemente considerada uma dor mista. Nos pacientes com cncer,
a dor neuroptica apresenta uma prevalncia mais baixa (33%) em relao dor
nociceptiva (72%). Nesta ltima, a dor msculo-esqueltica a mais frequente,
sendo um importante preditor de mortalidade, especialmente quando localizado
nos membros inferiores e nas costas(3,4).
Adicionalmente dor oncolgica, diferentemente de outras sndromes lgicas, pode estar associada em 64% a 93% dos pacientes em cuidados paliativos a
uma dor intensa, de incio sbito com pico em cinco minutos, conhecida como
113
Neuroptica
SUBTIPOS
CARACTERSTICAS
EXEMPLOS
Somtica
Visceral
Cncer ou metstases
abdominais. Infiltrao
visceral ps-quimioterapia (cistite hemorrgica, mucosite)
(1) Deaferentao
Dor do membrofantasma
Central
Perifrica
Sndrome Complexa
Regional tipo I e II
(1) Polineuropatias
Neuropatia diabtica,
neuropatia ps-quimioterapia e radioterapia
(2) Mononeuropatias.
Invaso de plexo
braquial, neuralgia
trigeminal.
114
O termo nociceptor empregado para descrever terminaes livres de fibras aferentes primrias que respondem a estmulos de uma ampla variedade de
tecidos, como as vsceras, polpa dentria, msculos, articulaes, alm da pele.
As fibras aferentes nociceptivas primrias, normalmente fibras A-delta (A-d) e
C, transmitem sinais qumicos (cidos, prostaglandinas, bradicinina), mecnicos
(presso e vibrao) e trmicos (calor, frio e aquecimento) atravs do trato de
Lissauer, fazendo sinapse com neurnios do corno posterior da medula espinhal
(CPME).
Em condies normais, a informao sensitiva captada transmitida para
unidades do SNC, onde decodificada e interpretada. Dependendo da interao
entre as unidades excitatrias e inibitrias, das condies ambientais, dos traos
constitucionais, da experincia de vida pregressa e a presena de anormalidades
orgnicas ou funcionais do indivduo, essa informao ou no transferida para
o SNC que participa da percepo ou das reaes reflexas frente ocorrncia da
dor.
Na sequncia, numerosos neurotransmissores e mediadores bioqumicos excitatrios (glutamato, substncia P, fatores de crescimento) e inibitrios (opioides, c. gama-aminobutrico/GABA e glicina) so liberados no CPME provenientes de trs fontes principais: fibra aferenre primria, interneurnios e sistema de
fibras descendente. As clulas do CPME posuem receptores especficos para essas
substncias. Portanto, essa sinapse no CPME seria o ponto no qual as informaes
dolorosas so conduzidas atravs do trato espinotalmico e espino-hipotalmico
aos centros superiores ou so inibidas por ativao do sistema analgsico descendente, proveniente de trs componentes principais inter-relacionados funcionalmente: o sistema opioide, noradrenrgico e serotoninrgico.
Os centros mais elevados do SNC esto envolvidos na discriminao da dor,
incluindo componente afetivo da dor, componentes relacionados memria e controle motor relacionado resposta imediata aversiva aos estmulos dolorosos5,7.
2.1. Dor nociceptiva
A sensibilidade do nociceptor no fixa, e sua ativao, seja por estimulao
repetida ou pela presena de mediadores inflamatrios (prostagrandina, bradicinina), gera modificaes na cintica dos canais inicos com aumento da excitabilidade da membrana do nociceptor e diminuio do limiar de iniciao de um potencial de ao no neurnio sensorial primrio. Este fenmeno de sensibilizao
dos neurnios perifricos denominado hiperalgesia primria e acompanhado
de alodnea termomecnica, ou seja, dor no local da leso evocada por estmulos
trmicos ou mecnicos que no so suficientes para desencadear a sensao dolorosa nos locais sadios. Portanto, o nociceptor passa a um estado de sensibilizao/
115
Na prtica clnica, a falta de sistematizao na avaliao da dor frequentemente leva a um subtratamento apesar dos avanos teraputicos. A elucidao
das possveis causas e dos efeitos da dor na vida do paciente, investigando fatores desencadeantes e atenuantes alm dos fatores psicossociais que possam estar influenciando o seu impacto so frequentemente negligenciados. Portanto, na
avaliao da dor, a possibilidade de o paciente discorrer sobre ela mediante a um
autorrelato, o ponto de partida para o diagnstico, implementao teraputica
e posterior avaliao de sua eficcia. Nesse sentido, as equipes multiprofissionais dedicadas aos Cuidados Paliativos devem estabelecer precocemente vias de
comunicao clara para esta avaliao, dado o carter progressivo, individual e
multidimensional (sensitivo-descriminativo; afetivo-emocional e comportamental) da dor crnica.
Figura 2 - Mecanismos perifricos e centrais da Dor Neuroptica adaptados(2).
MECANISMOS PERIFRICOS
MECANISMOS CENTRAIS
Brotamento colateral
117
Falta de amigos
Demora no diagnstico
Mdicos inacessveis
Fracasso teraputico
D
O
R
T
O
T
A
L
DEPRESSO
IRA
ANSIEDADE
Medo do hospital. Medo da dor. Medo da morte
Preocupao com a famlia. Angstia e culpa
Figura 02. Esquema de TWYCROSS(4,5)
Figura 03. Esquema de TWYCROSS(11)
118
10
ESCALA NUMRICA
Sobre esta linha o paciente deve marcar a posio mais aproximada intensidade da sua dor. Podemos utilizar a escala numrica para qualificar a dor. A dor
considerada leve quando a intensidade de 1-3 na EVA, a intensidade de 4-7
considerada dor moderada e 8-10 dor severa. O registro da intensidade deve
incluir no somente o momento da dor, mas tambm quando a mesma aliviada
ou exacerbada. Por esta razo o mdico deve ensinar os pacientes e familiares a
utilizar as escalas de avaliao da intensidade da dor(15).
As escalas multidimensionais servem para medir e avaliar o efeito da dor no
humor, nas atividades dirias e na qualidade de vida. Algumas j so validadas e
traduzidas para o portugus, como: Questionrio McGill de Dor (multissensitivo)
o mais conhecido de todos e tambm mede a localizao da dor. Inventrio
Breve de Dor, que mede a interferncia da dor na qualidade e vida do doente.
Escala de Ansiedade e Depresso, que avalia alterao de humor relacionada com
a intensidade da dor(16,17).
119
Ateno especial deve ser dada ao paciente idoso e aos portadores de demncia em qualquer grau. Nestes, as alteraes de humor e de comportamento podem
ser interpretados como dor e modificam se adequadamente tratados. De maneira
geral, os idosos so mais lentos para descrever seu sintoma e alguns tm dificuldades para entender e lidar com escalas.
3.2. Exame fsico e exames complementares
O exame fsico tradicional deve ser direcionado, salientando a avaliao osteomuscular e funcional, onde os principais grupamentos musculares e articulaes sero avaliados sistematicamente quanto amplitude de movimentos, fora
e presena de sinais patolgicos.
Os exames provocativos de dor devem der feitos no final da avaliao buscando a correlao entre as queixas, fatores de melhora e de piora da dor e os
achados clnicos. A investigao da sensibilidade fundamental pois, a presena
de fenmenos positivos (alodnea mecnica e trmica ao frio, hiperpatia, hiperalgesia mecnica e sinais de irritao radicular) ou negativos (hipoparestesia,
hipoalgesia e hipoestesia ttil e trmica ao frio) sobre a rea de dor, em territrio
topograficamente relacionado a uma leso do sistema somatossensitivo base
do diagnstico da dor neuroptica e deve der pesquisado em todos os pacientes
com dor(19).
A avaliao funcional visa avaliar a capacidade de os pacientes realizarem
tarefas no seu dia a dia, como higiene, alimentao, transferncia e vesturio, e
tambm nas atividades instrumentais (preparar refeies, fazer compras e executar tarefas domsticas), que auxilia na deteco do impacto funcional da doena,
como tambm da sua evoluo. Existem alguns questionrios para avaliao da
capacidade mecnica funcional validada para diferentes populaes, como pacientes com dor miofascial e pacientes oncolgicos(19,20). Em Cuidados Paliativos
essa avaliao um elemento importante na tomada de decises, na previso de
prognstico e no diagnstico de terminalidade.
Os exames de imagem e neurofisiolgicos no paciente com dor servem para
evidenciar o comprometimento do sistema somatos-sensitivo, fundamental para
diagnstico de dor neuroptica, assim como a cintilografia ssea essencial para
o diagnstico de dor ssea nociceptiva. Tanto a dor neuroptica como a ssea
frequentemente tornam-se refratrias teraputica farmacolgica, em parte pela
inadequada avaliao e diagnstico precoce.
De uma forma geral, a avaliao do paciente com dor deve ser ampla no
sentido de abordar todas as causas potenciais de dor e detalhada para identificar
peculiaridades das diferentes populaes que sofrem com dor. Ressaltando que a
120
4. Referncias
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121
122
1. Introduo
Este captulo uma adaptao feita a partir do II Consenso Nacional de Dor
Oncolgica, iniciativa da Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (2011), com
autoria do prprio corpo editorial(1).
Os opioides permanecem como os frmacos mais efetivos e mais comumente
utilizados no tratamento da dor moderada a intensa, especialmente no cncer. O
uso dos opioides mais benfico para o paciente com cncer quando usado como
um dos componentes da terapia multimodal. As diferenas de respostas ao uso
dos opioides so aceitas, atualmente, como devidas a polimorfismos genticos
relacionados aos receptores opioides(1).
Analgsicos so referidos como o grupo de frmacos que alivia a dor. Opiceo qualquer agente derivado do pio. Opioide qualquer componente, endgeno ou exgeno, que se liga ao receptor opioide(2).
So designados receptores opioides: mu (), delta () e kappa (). Frmacos
que se ligam ao receptor mu so a maioria dos atualmente disponveis; poucos
frmacos se ligam ao receptor kappa, com farmacologia clnica desconhecida, e
no existe nenhum frmaco em uso clnico que se liga ao receptor delta(2).
Os receptores opioides so parte do sistema endgeno que inclui um grande
nmero de peptdeos ligantes opioides endgenos, das quais trs famlias distintas
de peptdeos endgenos so descritos: as encefalinas (originrias da pr-encefalina); as endorfinas (da pr-opiomelano-cortina); e as dinorfinas (da pr-dinorfina).
A fisiologia completa destes pepteos opioides endgenos no completamente
esclarecida, parecendo funcionar como neurotransmissores, neuromoduladores e,
em alguns casos, como neuro-hormnios(2).
Os receptores esto dispostos em todo o Sistema Nervoso Central (SNC)
(encfalo e medula espinhal) e no Sistema Nervoso perifrico (SNP). Na medula,
os receptores so mais concentrados na lmina II de Rexed da substncia gelatinosa; esto presentes no sistema simptico, moncitos, linfcitos e macrfagos.
Os genes de receptores opioides do tipo MOR existem em tecidos perifricos aps
ativao por leso ou inflamao, assim como na medula espinhal, no tlamo,
sistema lmbico e no crtex somatossensitivo(3).
123
Agem nos centros da tosse, deprimindo, por sua vez, os seus reflexos. Produzem queda da temperatura, por efeito hipotalmico. Ocorre uma deficincia
andrognica induzida pelo uso de opioides. Convulses, dose-dependentes, so
comuns em pequenos animais, mas raras em seres humanos. No entanto, normeperidina, o principal metablito da meperidina, produz ansiedade, tremores,
mioclonia e convulses generalizadas, quando acumulada por doses repetidas. A
naloxona no reverte, mas pode at exacerbar esta excitabilidade pela normeperidina.
3. Frmacos opioides(3-11)
3.1. Morfina
o frmaco de escolha para dor intensa. A dose analgsica varia de 5mg
at mais de 200mg, a cada 4 horas. Na maioria dos casos, a dor controlada com
doses de 10 a 30mg, de 4/4 horas. A dose adequada a dose que alivia a dor com
mnimos efeitos adversos.
O uso da morfina deve ser decidido com base na avaliao da dor do paciente. errado aguardar os ltimos dias de vida do paciente para administr-la apenas pelo risco de dependncia psquica, ocorrncia rara em doentes com dor. Deve
ser usada de 4/4 horas. O paciente deve ser orientado para usar doses de resgate,
caso haja dor nos intervalos da medicao. Atualmente disponvel a morfina de
eliminao prolongada, que pode ser utilizada, aps sua titulao com a morfina
simples, num intervalo de 12/12 horas. Aps administrao oral, o pico de concentrao plasmtica atingido em aproximadamente 60 minutos. A alimentao
no altera a biodisponibilidade da morfina.
Os comprimidos de liberao prolongada no devem ser fracionados (quebrados, macerados ou cortados) ou mastigados, pelo risco de liberao imediata
de dose excessiva.
A morfina metabolizada formando: morfina-3-glicurondeo e morfina-6glicurondeo, tendo o ltimo ao analgsica significativa. O primeiro inativo,
mas liga-se aos receptores, impedindo a ligao da morfina. Os metablitos se acumulam em pacientes com insuficincia renal. bem tolerada em pacientes com
hepatopatias, sendo que, nestes pacientes, a sua meia-vida pode aumentar e a dose deve ser espaada para trs a quatro vezes ao dia. Na maioria dos casos, a dor
controlada com doses de 10mg a 30mg, de 4/4 horas, devendo ser aumentada
gradativamente, sendo que a dose noturna pode ser dobrada a fim de evitar dor ao
despertar.
125
Cuidados especiais devem ser adotados em pacientes com comprometimento pulmonar, asma, aumento da presso intracraniana, insuficincia renal e
heptica.
3.2. Codena
o opioide de escolha em dor leve a moderada, no controlada com antiinflamatrios. Possui baixa afinidade com os receptores opioides. utilizada sob
a forma pura em doses de 30 a 60mg, de 4/4 horas ou em associaes em intervalos mais prolongados, com dose mxima diria de at 360mg. Acima desta dose,
deve-se avaliar a indicao da morfina, para evitar efeitos adversos com doses
mais altas de codena.
Sua biodisponibilidade de 40% a 60%. metabolizada no fgado e pela
desmetilao forma norcodena e morfina. Aproximadamente, 10% da codena
transformada em morfina, que responsvel pela sua ao analgsica. Sua potncia analgsica 1/10 em relao morfina. Porque cerca de 10% da populao
no possui a isoforma da enzima heptica citocromo P-450 necessria para o seu
metabolismo, muitos pacientes no tm ou tm uma analgesia fraca com a codena. O efeito analgsico ocorre em 20 minutos aps administrao oral, com efeito
mximo em 1-2 horas. Tem bom efeito antitussgeno, semelhante morfina. No
recomendada por via venosa, pelo efeito de apneia e hipotenso arterial intensa
pela liberao de histamina. Constipao, nuseas e vmitos, tontura e sonolncia
so seus principais efeitos colaterais. A constipao mais prevalente com codena do que com outros opioides.
3.3. Tramadol
estruturalmente relacionado codena e morfina, possuindo dois enantimeros que contribuem para o seu efeito analgsico. Aumenta a liberao de
serotonina e inibe a recaptao de noradrenalina. No classificado como opioide
por alguns por causa de suas caractersticas e mecanismos de ao. Causa menos
constipao intestinal, depresso respiratria e dependncia do que outros opioides em doses analgsicas equipotentes.
A absoro do tramadol rpida e completa aps administrao oral, com
biodisponibilidade de 90%. Possui meia-vida plasmtica de 6-7 horas. Excreo
quase totalmente feita pelos rins (90%). No provoca imunossupresso e o risco de dependncia baixo. Sua potncia analgsica 1/6 a 1/10 da morfina. O
tramadol indicado para dor ps-operatria, traumtica, clica biliar ou renal,
trabalho de parto e dor crnica oncolgica ou no oncolgica, particularmente a
dor do tipo neuroptica.
126
127
3.5. Hidromorfona
Disponvel desde 1920, s recentemente foi liberada para utilizao no Brasil. um congnere semissinttico da morfina, com meia-vida de 4 horas. aproximadamente 5 vezes mais potente do que a morfina e sua dose usual de 2 a
4mg, a cada 4 ou 6 horas.
A formulao disponvel no Brasil utiliza uma tecnologia chamada OROS
(osmotic-controlled release oral delivery) para liberao monofsica prolongada
e manuteno de uma analgesia prolongada.
disponvel em comprimidos de 8, 16 e 32mg, para uso de um comprimido
a cada 24 horas.
3.6. Oxicodona
um agonista mu, com atividade como agonista kappa. Por sua ao nos
receptores kappa, tem vantagens na dor de origem visceral como na clica biliar
ou doenas do pncreas. um derivado da tebana.
Biodisponibilidade oral de 60% a 87%, duas vezes maior do que a morfina
(20% a 25%). A ingesto de alimento no altera a farmacocintica da oxicodona.
metabolizada no fgado.
mais potente que a morfina por via oral e a relao da sua dose com a morfina varia entre 1:2 e 3:4. No Brasil, a oxicodona s disponvel em formulao
prolongada. Dos seus metablitos, apenas a oximorfona tem demonstrado atividade opioide agonista significativa em humanos, com potncia estimada em quatro
vezes a da oxicodona. Devido sua baixa concentrao plasmtica, a oximorfona
promove pequeno ou nenhum efeito analgsico. A noroxicodona o principal metablito circulante, com atividade analgsica mais fraca que a oxicodona (1/100)
e no contribui para o seu efeito.
A oxicodona de liberao cronogramada caracterizada por mecanismo de
absoro bifsico, isto , inicialmente o princpio ativo rapidamente liberado e
absorvido, seguido de uma fase de liberao prolongada apresentando meia-vida
de absoro de aproximadamente 0,6 hora na primeira fase (38% da dose disponvel) e 6,9 horas na segunda fase (62% da dose disponvel). Atua, ento, com
rpido incio de ao e durao prolongada, permitindo a administrao a cada
12 horas.
O perfil farmacodinmico previsvel e o alvio da dor ocorre aps uma hora,
persistindo por cerca de 12 horas na formulao de liberao cronogramada. Os
efeitos adversos so os mesmos dos outros opioides. disponvel no Brasil em
comprimidos de 10, 20 e 40mg.
128
3.7. Meperidina
aproximadamente 10 vezes menos potente que a morfina por via parenteral. Apresenta biodisponibilidade de 30% a 50%, devido grande extrao heptica na primeira passagem e baixa absoro aps uso oral.
Aps injeo IM, a absoro bastante varivel. Aps injeo EV, a meperidina rpida e extensivamente distribuda para os tecidos, se completando aps
30, 45 minutos. Possui tempo de ao muito curto, tornando-a inadequada para o
alvio da dor que, somado ao fato da sua neurotoxicidade, torna-a no recomendvel para tratamento da dor.
Seu principal metablito, a normeperidina, extremamente neurotxico, podendo levar a convulses generalizadas. Pela maior meia-vida do seu metablito,
pode acumular-se rapidamente. A maioria dos hospitais e centros de sade descontinuou o seu uso por esta razo.
Na insuficincia renal e heptica, h acmulo de metablitos da meperidina.
Seu uso com IMAO catastrfico, causando aumento da temperatura, delrio e
convulso. Causa taquicardia, reduo da contratilidade do miocrdio e diminui
o dbito cardaco em 20%. Deprime mais o volume-corrente do que a frequncia
respiratria. Causa midrase, enquanto os outros opioides causam miose. A meperidina sistmica causa anestesia da crnea, mas, apesar de seu efeito anestsico
local, causa irritao tissular.
Recomendao: a meperidina no deve ser usada para tratamento de dor
aguda e muito menos para a dor crnica, pois causa vcio. O desenvolvimento de
tolerncia muito rpido, podendo ocorrer mesmo com o uso de dose nica.
3.8. Fentanil transdrmico
um potente agonista com meia-vida longa, que no deve ser usado
para titulao rpida. O fentanil transdrmico deve ser considerado quando o
paciente j est em terapia com opioide, com dor constante, mas com pouca dor
episdica.
indicado em pacientes impossibilitados de usar a via oral (odinofagia e/ou
disfagia), em casos de nuseas e vmitos persistentes, em situaes que podem
levar broncoaspirao (delrio), em casos de intolerncia morfina e aos outros
opioides e por sua facilidade de uso.
Pode ser usado em pacientes com insuficincia renal e nos pacientes em dilise, com cuidado quanto titulao de sua dose. o opioide que menos provoca
constipao intestinal.
Como ocorre com todos os outros opioides de ao longa, a dose-resgate
deve ser feita com opioide de ao curta (preferencialmente morfina oral de ao
129
130
A troca do opioide e/ou de sua via de administrao pode beneficiar doentes que apresentem efeitos adversos. Para maximizar a efetividade do tratamento
analgsico e reduzir esses efeitos, importante selecionar os doentes, orient-los
e tratar antecipadamente os possveis efeitos adversos.
4.1. Tolerncia, dependncia fsica e vcio com uso de opioides
A reduo de eficcia analgsica chamada de tolerncia e um fenmeno
previsvel, que leva ao aumento das doses necessrias para analgesia efetiva. Essa
tolerncia resulta de mudanas celulares, moleculares e ao da medicao aps
administraes repetidas. A tolerncia ocorre primariamente para os efeitos secundrios e posteriormente para os efeitos analgsicos.
Dependncia fsica um fenmeno neurofarmacolgico em que a suspenso
do opioide ou o uso de antagonistas provoca efeitos de sndrome de abstinncia
com a retirada sbita da medicao, com hiperatividade somtica e autonmica
(taquicardia, diaforese, nusea, vmito, dores pelo corpo, etc.). A dependncia
fsica no sinnimo de vcio.
O vcio uma doena neurobiolgica crnica, e os fatores genticos, psicossociais e ambientais influenciam seu desenvolvimento e manifestao.
composto de quatro elementos principais: uso compulsivo, inabilidade
para controlar a quantidade do uso, busca pelo efeito psicolgico da substncia
e manuteno do uso mesmo quando apresenta efeitos adversos. O doente pode
apresentar um ou mais desses comportamentos. Doentes com esse comportamento usam a medicao pela sensao que ela proporciona, e no para alvio da dor,
que bastante raro em paciente com dor crnica.
4.2. Sedao
Os efeitos sedativos dos opioides em doentes virgens de tratamento com essas medicaes so bem conhecidos. A sedao e tontura induzidas por opioides
relacionada com seu efeito anticolinrgico. Esse efeito costuma desaparecer,
e o doente desenvolve tolerncia. Porm, uma dose maior de incio ou aumento
rpido na dosagem do opioide pode resultar em sedao e levar no adeso do
tratamento ou reduo da qualidade de vida do doente.
Recomendao: reduo da dose ou troca do opioide, e o uso de psicoestimulantes (p.ex.: metilfenidato, modafinil) podem ser tentados para tratar a sonolncia e a tontura.
131
4.3. Constipao
Os opioides ativam os receptores mu perifricos, do sistema nervoso entrico, responsveis pelo peristaltismo. E agem tambm no sistema nervoso central,
alterando o sistema autonmico intestinal.
Constipao um efeito adverso comum e ocorre em 40% a 95% dos doentes
que recebem analgesia com opioide. Esse problema pode, a longo prazo, resultar
em aumento da morbidade e mortalidade, com efeito significativo na qualidade de
vida desses doentes. Constipao grave pode causar o surgimento de hemorroida,
dor retal, obstruo intestinal e possvel abdome agudo e morte.
Diferentemente dos outros efeitos adversos dos opioides (sedao, vmitos,
etc.), a constipao no melhora com o tempo, e, dessa forma precisa ser prevenida, tratada e investigada durante o tratamento com medicaes opioides.
Alm das medicaes laxativas j bem conhecidas, surgiu uma nova proposta para tratar a constipao induzida pelos opioides, que envolve o bloqueio
dos receptores opioides perifricos no trato intestinal, o recente antagonista de
receptores um, a metilnaltrexona, que aps um breve perodo de comercializao,
agora est indisponvel no Brasil.
Outras medidas que podem ser tomadas para melhor controle do hbito intestinal so:
1. Ingesto lquida de 1,5L a 2L de gua por dia;
2. Ingesto de fibras de 25 a 35g/dia doentes maiores de 20 anos e 10 a 13g por
1.000Kcal para idosos;
3. Ingesto de alimentos funcionais: prebiticos e probiticos;
4. Exerccio fsico aerbico, caminhada, ou movimentao passiva em pacientes muito debilitados fisicamente;
5. Massagem abdominal por 10 minutos;
6. Acupuntura.
4.4. Nuseas e vmitos
Nuseas e vmitos relacionados aos opioides resultam da interao da medicao com os receptores localizados na zona de gatilho para vmito (rea postrema). A sensibilizao do sistema vestibular e reduo do esvaziamento gstrico
tambm podem contribuir para o desenvolvimento das nuseas e vmitos.
Recomendao: sintomas gerados principalmente pela sensibilizao vestibular costumam melhorar com o uso de prometazina ou escopolamina. Os sintomas causados por reduo do esvaziamento gstrico e constipao podem ser
aliviados com metoclorpramida, medicaes laxativas. As nuseas e os vmitos
relacionados ativao da zona de gatilho para vmito respondem ao droperidol,
132
Recomendao: dose titulada de naloxona pode reverter os feitos de depresso dos opioides agonistas puros, porm, geralmente seu efeito mais curto que
o efeito da medicao opioide que est causando a alterao respiratria, e, dessa
forma, o doente pode apresentar insuficincia respiratria quando passar o efeito
do antagonista opioide. Manter avaliao constante de extrema importncia.
4.8. Efeitos cardiovasculares
Os efeitos cardiovasculares dos opioides no so muito comuns. A morfina
pode causar a liberao de histamina, que, por sua vez, pode causar vasodilatao
e hipotenso. Recentemente, com o uso crescente da metadona para tratamento
de dor crnica, uma sndrome de alargamento do intervalo QT e torsade des
pointes tem chamado a ateno. Essa alterao pode levar a uma mortalidade
de at 17%, e, portanto, recomenda-se monitorar o ECG e o aparecimento de
prolongamento do intervalo QT nos doentes em tratamento com metadona. Doses
dirias de 30mg ou mais de metadona j esto sendo relacionadas com aumento
do QT. Aumentos de mais de 30mg do intervalo QT de base so considerados clinicamente significativos, e aumentos de 60ms do intervalo de base j so fatores
de risco para desenvolvimento de torsade des pointes.
Esse efeito pode ser potencializado em doentes que recebem outras medicaes como os inibidores da CYP3A4 (fluoxetina, claritromicina, fluconazol, valproato), em vigncia de hipocalemia, ou reduo da funo heptica. Antidepressivos tricclicos, haloperidol, droperidol, cocana, tambm j foram implicados no
aumento do intervalo QT no ECG em doentes tratados com metadona.
Recomendao: os efeitos dopaminrgicos podem ser revertidos com a
naloxona. Monitorar o ECG de doentes em uso de metadona, que so tratados
com inibidores da CYP3A4, hipocalmicos ou hepatopatas. Para pacientes idosos
e em uso crnico, diminuir a dose e aumentar os intervalos da administrao de
metadona.
4.9. Efeitos imunolgicos
sabido que o uso agudo e crnico de opioides pode causar efeitos inibitrios nos anticorpos e na imunidade celular, na atividade celular dos natural
killers, expresso da citocina, e atividade fagocitria. Esses efeitos imunolgicos
dos opioides so mediados por mecanismos centrais e perifricos. O possvel mecanismo pelo qual os receptores opioides centrais promovem imunossupresso
perifrica pode envolver o eixo hipotlamo-hipofisrio-adrenal e o sistema nervoso autonmico. Apesar de os opioides exgenos poderem causar imunossupresso, seus semelhantes endgenos (p.ex.: endorfinas) produzem imunoativao.
134
O papel dos diferentes receptores opioides na modulao da imunidade varivel. A ativao dos receptores kappa e delta podem estimular a resposta celular
imune, enquanto os efeitos dos receptores mu podem estar mais relacionados
atividade do natural killer, secreo de citocina e fagocitose dos macrfagos.
Na prtica clnica, nem todos os opioides tm efeitos semelhantes no sistema
imune, e tambm importante ressaltar que a dor forte por si prpria tem um efeito imunossupressor significante. A relao entre dor, analgesia e imunossupresso
causada por opioides ainda no foi bem esclarecida.
4.10. Alteraes hormonais
O efeito dos compostos opioides sobre a funo hormonal denominada
endocrinopatia por opioide. Os efeitos do uso dos opioides afetam homens e mulheres. Estudos j demonstraram os efeitos dos opioides sobre vrios hormnios,
como a testosterona, estrognio, cortisol, hormnio da liberao de gonadotrofina, dehidroepiandrosterona e sulfato de dehidroepiandrosterona. A maioria dos
trabalhos foca as alteraes dos hormnios andrognicos, devido a sua relao
com efeitos adversos bastante sintomticos.
Muitos homens que fazem uso de opioides, lcitos ou ilcitos apresentam
vrios efeitos, como disfuno sexual (disfuno ertil e diminuio da libido),
depresso e reduo do nvel de energia. Os nveis de testosterona caem aps
administrao de opioides e voltam ao normal aps suspenso da medicao. Importante ressaltar que ainda no est completamente claro que nveis reduzidos
de testosterona contribuem diretamente com disfuno sexual. Mulheres tambm
apresentam efeitos hormonais relacionados ao uso de opioides, como depresso,
dismenorreia, disfuno sexual, potencial reduo na densidade mineral ssea. A
reduo do estrognio pode ter implicaes em osteoporose e fraturas sseas nas
populaes idosas. Porm, ainda no existe relao causal dos efeitos hormonais
do uso de opioides reduo da densidade mineral ssea.
4.11. Hiperalgesia
Hiperalgesia geralmente descrita como um aumento da sensibilidade dor.
Essa sensibilizao se apresenta como um aumento da dor, apesar do aumento da
dose do opioide. O uso de opioides pode estar relacionado ao desenvolvimento
de hiperalgesia, e pode estar ligado aos metablitos dos opioides, como a morfina
3-glucorondeo. A apoptose celular induzida por opioide tambm pode estar envolvida com a hiperalgesia.
Os receptores NMDA (N-metil-D-aspartato) e neurotransmissores excitatrios tambm tm um importante papel no desenvolvimento da hiperalgesia. Exis135
tem estudos sugerindo que a glia possa estar envolvida tambm no desenvolvimento da hiperalgesia.
Recomendao: o tratamento da hiperalgesia ainda limitado, existem evidncias de que a cetamina possa prevenir a hiperalgesia induzida por opioides.
4.12. Distrbios do sono
Distrbio do sono comum em doentes oncolgicos. Pode ser atribudo
dor. Geralmente acredita-se que opioides melhoram o sono, mas isso no est
determinado. O sono e o despertar so regulados por diversos neurotransmissores
(noradrenalina, serotonina, acetilcolina, dopamina, histamina, GABA, hormnios
hipofisrios, melatonina), e qualquer droga que altere o equilbrio desses neurotransmissores pode afetar o sono. A maneira como os opioides prejudicam o sono
REM ainda no foi completamente estabelecida.
4.13. Performance psicomotora
No incio do uso com opioides para o tratamento de dor, a habilidade do
doente de operar equipamento pesado ou dirigir pode estar diminuda e, portanto,
no deveria poder exercer essas atividades.
138
Via oral
Via parenteral
Morfina
30mg
10mg
Codena
200mg
Metadona
20mg
10mg
Oxicodona
20-30mg
10-15mg
7,5mg
1,5mg
Hidromorfona
Tabela 4 - Dose de fentanil transdrmico recomendada, com base na dose diria de morfina
oral
Dose de morfina/
24h (mg/dia)
Dose de fentanil
transdrmico (mg/hora)
25
45 - 134 (crianas)*
12 - 25
135 - 224
50
225 - 314
75
315 - 404
100
405 - 494
125
495 - 584
150
585 - 674
175
675 - 764
200
765 - 854
855 - 944
225
250
Faz-se em mdia uma reduo da dose equianalgsica em 25% a 50%. Quando pela metadona deve-se reduzir a dose em 75% a 90%. Para fentanil TD, no h
necessidade de reduzir a dose equianalgsica.
Considerar que a dose equianalgsica deve ser baseada na condio clnica
do doente, na idade, nas funes hepticas, renais, cardiopulmonares. Quando o
doente apresenta uma dor de forte intensidade, devemos considerar uma menor
reduo da dose inicial. Calcular uma dose de resgate de 5% a 15% da dose total
diria e orientar para administrao nos intervalos quando necessrio. A titulao
ideal deve ser baseada no alvio da dor, nos efeitos adversos e no nmero de resgates.
5.3.1. Rotao para metadona
Protocolos de rotao de outros opioides para metadona tm sido publicados
por grupos de mdicos no EUA, Itlia, Inglaterra, Alemanha, China e Canad,
mostrando a dificuldade em ter um tabela nica e totalmente segura para a rotao. Todos os protocolos concordam que a dose da metadona deve ser baseada na
do opioide que est sendo utilizada, e considerar a situao clnica e caracterstica
do doente, como a idade, funo renal, heptica e pulmonar e o estado mental.
Tem sua indicao em pacientes com dor neuroptica, pela sua ao anti-NMDA,
e quando altas doses de morfina so necessrias.
A dose de metadona deve ser calculada na razo da dose total diria da morfina e utilizando esta escala de converso:
Dose de morfina/dia Morfina: metadona
< 100mg
4:1
101 a 299mg
8:1
> 300mg
12:1
Se o paciente est fazendo uso de morfina 180mg/dia, a razo de equivalncia de 8:1, o que daria 25mg de metadona/dia, dividida em intervalo de 8 horas.
So necessrias doses de resgate nos intervalos de 5% a 15% da dose total diria,
conforme a evoluo do doente. Na rotao, algumas vezes deve ser utilizada a
morfina como dose de resgate, pela sua ao mais rpida que a metadona.
Este cuidado especial deve-se tolerncia cruzada parcial que observada
entre todos os opioides, e de particular importncia em relao metadona.
5.3.2. Resultados da rotao do opioide
Diversos trabalhos cientficos mostram que a rotao de opioide pode melhorar a neurotoxicidade em 60% a 70%, e a dor em 50%. Numerosos fatores influen140
6. Concluso
Os opioides so analgsicos considerados como ncoras no tratamento da
dor tanto aguda como crnica. O conhecimento de seus princpios farmacocinticos e farmacodinmicos aplicado prtica clnica de fundamental importncia
para que mais e mais pacientes possam ser beneficiados com o alvio da dor que
proporcionam.
Referncias
141
142
Analgsicos no opioides
Ariel de Freitas Quinto Amrico
Ins Tavares Vale e Melo
1. Coadjuvantes
Os analgsicos coadjuvantes pertencem s seguintes classes: antidepressivos, anticonvulsivantes, anestsicos locais, neurolpticos, bloqueadores de receptores NMDA (N-Metil-D- Aspartato), Alfa 2 adrenrgicos agonistas, corticoides,
relaxantes musculares, ansiolticos (benzodiazepnicos), bisfosfonatos e radiofrmacos.
O uso de analgsicos coadjuvantes pode ser indicado com o objetivo de aumentar o controle da dor, tratar dor refratria a outros medicamentos, reduzir a
dose de analgsicos e de efeitos adversos dos frmacos associados(1).
A escolha do coadjuvante requer conhecimento prvio sobre o paciente e sua
dor, como caractersticas, funes heptica e renal, susceptibilidades individuais, patologias concomitantes, predominncia da dor e seu impacto na qualidade de vida.
Ao utilizarmos estes frmacos, necessrio maior contato com o paciente a fim de
observar e manejar o aparecimento de possveis efeitos adversos. Estes pacientes comumente utilizam mais de um medicamento e por isso tem maior possibilidade de
experimentar efeitos indesejveis devido a possveis interaes medicamentosas.
A dose inicial deve ser sempre baixa com possveis aumentos escalonados de
acordo com a evoluo do paciente. Podem ser iniciados a qualquer momento, ou
seja em qualquer degrau da escada analgsica sugerida pela Organizao Mundial
de Sade(2,3).
A descrio minuciosa de cada classe de coadjuvantes foge do objetivo deste
manual. Entretanto apresentamos as doses recomendadas e algumas consideraes dos principais frmacos coadjuvantes: antidepressivos Quadro 1, anticonvulsivantes Quadro 2, e outros coadjuvantes Quadro 3.
Os antidepressivos so importantes e indicados no controle de vrias sndromes de dor crnica e dor neuroptica. Os tricclicos e os inibidores seletivos de
recaptao de serotonina e noradrenalina so citados como frmacos de primeira
143
linha para vrios tipos diferentes de dor neuropatica(4). A escolha do antidepressivo deve privilegiar as caractersticas de cada paciente, a presena de comorbidades e de fatores importantes associados, como a ansiedade e a insnia. A
descontinuidade destes medicamentos deve ser realizada lenta e gradualmente.
Quadro 1 - Antidepressivos
Antidepressivos
tricclicos
Antidepressivos
inibidores da
recaptao de
serotonina
Sertralina: 50 a 200mg/dia VO
Paroxetina: 10mg (idoso) a 20mg/dia VO
Citalopram: 10mg (idoso) a 20mg/dia VO
Escitalopram 10 a 20mg/dia VO
Fluoxetina: 10-80mg/dia VO
Obs.: bom efeito ansioltico.
Antidepressivos
inibidores da
recaptao de
serotonina e noradrenalina
Antidepressivos
que atuam na
recaptao de
norepinefrina e
dopamina
Os anticonvulsivantes so amplamente utilizados no manejo da dor neuroptica caracterizada como lancinante, paroxstica, em queimao, agulhada, choque ou formigamento. Geralmente, inicia-se com dose baixa, principalmente em
idosos, com aumentos progressivos de acordo com a evoluo do paciente. Pode
estar ou no associado a outros coadjuvantes como antidepressivos(1).
144
Quadro 2 - Anticonvulsivantes
Gabapentina
Carbamazepina
Pregabalina
Lamotrigina
Fenitona
300mg/dia at 500mg/dia
Topiramato
Outros medicamentos utilizados podem ser eficazes no alvio da dor. Nenhum destes frmacos, citados no quadro 3, recomendvel isoladamente ou sem
acompanhamento especializado. Incluem-se, ainda: capsaicina, canabinoides,
anti-histamnicos e psicoestimulantes.
Quadro 3 - Outros coadjuvantes
Corticoides
Dexametasona:
4 mg/dia a 20mg/dia VO indicada para dor e outros sintomas
100mg/dia para dor intensa associada a plexopatia, dor por
compresso.
Metilpredinisolona: 30mg a 50mg/dia(1)
Obs.: indicados em vrios tipos de cncer com infiltrao de
estruturas nervosas (compresso epidural e intracraniana),
metstases sseas, obstruo intestinal, alm de favorecer o
controle de nuseas, melhora do apetite e qualidade de vida por
curto prazo.
Clonidina espinhal ou sistmica
Dexmedetomidina (Obs: disponveis no Brasil apenas
para uso parenteral.)
Neurolpticos
Ansiolticos
Anestsicos locais
Agonista GABA
Bloqueador de
NMDA
Bisfosfonatos
Alendronato
Pamidronato
cido Zoledrmico
ou
Concluso
A utilizao de novos frmacos coadjuvantes vem aumentar o leque de opes farmacolgicas para o tratamento adequado da dor aguda e crnica, nociceptiva ou neuroptica, propiciando uma melhora significativa na qualidade de vida
dos pacientes.
antes de iniciar terapia com AINHs, pois diminui o risco de lceras e hemorragias
digestivas(8)
Leses agudas gastrointestinais esto entre os efeitos colaterais mais frequentes e graves associados com AINHs convencionais. O risco de perfurao intestinal e ulcerao gstrica 3 a 4 vezes maior em usurios de AINHs(7). Na tentativa de reduzir o dano gastrointestinal induzido por AINHs, devemos prescrever
doses mais baixas de AINHs, lanar mo sempre que possvel de outra classe de
analgsicos, administrar tratamento concomitante com inibidores de bomba de
prtons e utilizar AINHs menos txicos, como os inibidores seletivos de COX-2
por perodos curtos. Isto , inferior a duas semanas(7).
O fato do avanar da idade ser associado com o declnio progressivo da funo renal gera srias implicaes para a segurana do uso de AINHs em pacientes
idosos. J nos adultos jovens, sem histria prvia de alteraes renais, os AINHs
no parecem interferir na funo renal.
Nos pacientes com insuficincia cardaca, hipertenso arterial, hepatopatas,
nefropatas, gestantes, ou histrico de reao alrgica aos AINHs, devem-se adotar
cuidados especiais. Ateno especial aos pacientes que apresentam alteraes da
coagulao. Avaliar riscos e benefcios nestes pacientes ao administrar os AINHs.
Nos pacientes que necessitam fazer uso prolongado de AINHs, recomendase realizar pesquisa de sangue oculto nas fezes e monitorizao hematolgica,
heptica e renal (dosagem de creatinina e de eletrlitos sricos, exame de urina) a
cada quatro ou oito semanas(9).
Os efeitos colaterais mais comuns so citados no quadro 5. As doses recomendadas podem ser vistas no quadro 6.
Quadro 4 - Principais derivados analgsicos anti-inflamatrios no hormonais
INIBIDORES NO SELETIVOS (COX-1 e COX-2)
Salicilatos: cido acetilsaliclico (Aspirina) e Diflunisal
Pirazolnicos: Dipirona (metamizol)
Indis: Indometacina
cido propinico: Ibuprofeno, Naproxeno, Cetoprofeno, Cetorolaco
cido fenilactico: Diclofenaco
cido antranlico: cido mefenmico
Oxicans: Piroxicam, Tenoxicam
INIBIDORES SELETIVOS de COX-2 (Coxibes)
Rofecoxibe, Celecoxibe, Etoricoxibe, Parecoxibe, Valdecoxibe, Lumiracoxibe
Fonte: Dor Princpios e Prtica, 2009.
147
148
Paracetamol
Dipirona
Cetorolac
Cetoprofeno
Diclofenaco
Ibuprofeno
Meloxican
Adulto: 7,5-15mg/dia VO
Naproxeno
Nimesulida
Piroxican
Adulto: 10-30mg/dia VO
Celecoxibe
Etoricoxibe
Parecoxibe
(composto ativo
valdecoxibe)
Concluso
Os AINHS so analgsicos que possuem ao predominantemente perifrica,
porm j tendo sido demonstrado sua ao no Sistema Nervoso Central por inibio da reao inflamatria espinhal que mediada pela micrglia. So bastante utilizados apresentando excelente eficcia analgsica, podendo ser prescritos
como monoterapia para dores leves a moderada. Ao serem prescritos, deve-se ter
conhecimento dos seus efeitos colaterais e de como preveni-los, pois ocasionalmente podero ser catastrficos.
149
Referncias
1. Doyle, D. Hanks, G. Oxford textbook of Palliative Medicine. 3rd ed. Oxford: Oxford
University Press, 2005.
2. EPEC Project, The Robert Wood Johnson Foundation, 1999. Module 4. Pain Manengement.
150
A abordagem dos Sintomas Respiratrios em Cuidados Paliativos complexa e envolve no apenas o controle ou alvio dos sintomas envolvidos (principalmente dispneia, mas tambm a tosse e a hipersecreo brnquica broncorreia),
mas tambm o conhecimento de nuances na apresentao clnica e o fato de que
o significado do sintoma para o paciente pode ser diferente a depender do diagnstico(1) (DPOC, ICC, Cncer, Doena do Neurnio Motor, etc.). Alm disso,
h aspectos emocionais que envolvem no apenas o paciente e sua famlia, mas
tambm toda a equipe de sade.
A abordagem do assunto exige conhecimento clnico para compreenso da fisiopatologia, boa compreenso das bases farmacolgicas para o uso de medicao
opioide, benzodiazepnicos, alm do racional para o uso apropriado do oxignio
e teraputicas no farmacolgicas que podem auxiliar o controle dos sintomas.
Dispneia
Dentre os sintomas presentes nesse contexto, sem dvida o mais comum a
dispneia.
Trata-se de uma sensao eminentemente subjetiva caracterizada pela percepo desconfortvel da respirao, ou receio de no conseguir respirar, ou, ainda, sensao de avidez por ar.
um sintoma muito frequente, acometendo cerca de 21 a 90% dos pacientes
com cncer com ou sem envolvimento pulmonar(2). importante ter em mente
que 24% dos pacientes que apresentam dispneia no apresentam nenhuma patologia cardiopulmonar. Isso se explica pela complexidade do sintoma e as diversas
possibilidades de etiologias, alm do componente emocional, que deve ser cuidadosamente avaliado.
Como princpio, na abordagem de qualquer sintoma em Cuidados Paliativos,
a primeira preocupao do profissional de sade deve ser a minuciosa avaliao
da situao.
Nesse contexto, a avaliao da dispneia apresenta uma particularidade: no
existe uma forma ainda padronizada de se abordar este sintoma em todos os seus
aspectos: fsico, emocional, comportamental e circunstancial. Dessa forma, a
avaliao apropriada e, portanto, a conduta a ser tomada, depende de uma
151
percepo muito acurada da equipe toda e principalmente do mdico que acompanha o paciente.
Existem 33 escalas diferentes para avaliao de dispneia, mas nenhuma delas
adequada para uso isolado porque avaliam caractersticas unidimensionais do
sintoma(3): ou somente a intensidade fsica, ou somente o componente emocional,
etc. Aspectos diferentes e importantes a serem avaliados so o impacto na funcionalidade de vida, e a resposta teraputica.
Quando se faz uma avaliao dos sintomas respiratrios, fundamental que
se avalie no s a intensidade (pequena, mdia ou grande), mas tambm as suas
caractersticas, desencadeantes, ritmo de evoluo, fatores de melhora e piora
alm da doena que leva ao sintoma (Figura 1).
Figura 1 - Avaliao da Dispneia
Avaliao
Intensidade
Caracterstica
Disparadores
Evoluo temporal
Fatores de melhora
Resposta a intervenes
Componente emocional
ICC
DPOC
Cncer
Snd. Neurnio
Motor
Outras
Reversvel?
H tratamento especfico?
Quando se quer explicar, e esta a prxima etapa da abordagem desses pacientes em Cuidados Paliativos, necessrio que o paciente entenda o que ocorre
de forma que ele seja parceiro do mdico e da equipe no controle dos sintomas.
o paciente quem nos sinaliza se o sintoma est sendo adequadamente abordado
ou no.
fundamental ter em mente que a abordagem do paciente dever ser sempre
individualizada. Assim, nos parece difcil a definio de protocolos especficos
para controle de dispneia em diferentes situaes clnicas.
Pela natureza angustiante do sintoma para o paciente e a equipe levando em
conta um contexto de doena avanada, s vezes terminal, comum a ideia de que
a sedao acabe sempre por ser a via final comum e alternativa intubao orotraqueal, frequentemente contraindicada. A comunicao para o paciente, famlia
e equipe assistente de que o sintoma pode ser controlado desde que abordado
precocemente, de forma tcnica e minuciosa, fundamental para a tranquilidade
de todos.
152
A fisiopatologia da dispneia se caracteriza por uma interao bastante complexa entre receptores sensveis a estmulos qumicos presses parciais de gs
carbnico e oxignio no sangue e mecanorreceptores sensveis ao grau de expanso da caixa torcica. Os impulsos aferentes a partir desses receptores integram-se
no Sistema Nervoso Central, sofrem influncia de estruturas pontinas e geram
uma resposta eferente que se traduz em expansibilidade torcica e aumento da
frequncia respiratria.
Realizada a insuflao pulmonar, existe um reflexo, Hering Breuer, que faz
um feedbacknegativo para com o centro respiratrio, enviando sinais para que
se interrompam os estmulos para a musculatura respiratria. Isso tem tambm
influncia direta do crtex cerebral, e por isso que as questes emocionais so
importantes componentes dessa sintomatologia4 (Figura 2).
Figura 2 - Fisiopatologia da Dispneia
Centro respiratrio
Ponte
Receptores centrais
(pCO2 e pH)
e perifricos (pO2)
mecanoceptores
Musculatura
respiratria
Recept J + (congesto)
Insuflao
Pulmonar
153
Dispneia Mecanismos
esforo respiratrio de causa mecnica
Derrame pleural
Obstruo na via area
D. pulmonar restritiva
na proporo do uso da musculatura
fraqueza neuromuscular
caquexia
demanda ventilatria
Hipoxia
Hipercapnia
Anemia
Acidose metablica
Causas
Manejo da Dispneia
Manejo
- Diurticos, VNI
- Puno, drenagem pleurodese
- Anticoagulao
- Radioterapia
- Laser
- Stents
- Corticoides (dexa 8-12mg/d)
- Antibiticos
- Sangue
Congesto
Derrame Pleural
TEP
Obstruo na via area
Linfangite carcinomatosa
Infeco respiratria
Anemia
154
O ltimo princpio na ateno aos sintomas em Cuidados Paliativos a ateno aos detalhes.
Os detalhes so sempre o diferencial que evidencia, na prtica, quem a
equipe e quem principalmente o mdico que est cuidando do paciente. Nesse
sentido, importante, tambm, como princpio em Cuidados Paliativos, a lembrana de que cada paciente individual.
Alm disso, tambm importante atentar para qual etapa da doena o seu
paciente est, tentar entender o que podemos e devemos fazer para que nossa
atitude seja pertinente com o diagnstico e prognstico e observar necessidades
individuais sempre. Nesse sentido, sempre importante entender que a histria
natural de diferentes doenas tambm varivel: o cncer, por exemplo, tem uma
evoluo bastante mais previsvel, com a fase final mais bem marcada.
Um perfil de evoluo diferente o dos pacientes com falncias orgnicas
que evoluem com descompensaes repetidas, como cardiopatas e pneumopatas.
Nesses casos, difcil saber se a agudizao atual culminar com a morte ou se
vai ocorrer recuperao. Alm disso, existe a possibilidade de ocorrncia de morte sbita, o que um evento relativamente frequente nessa populao.
De qualquer forma, importante que se tenha em mente, por exemplo, que
se a dispneia ou insuficincia respiratria ocorre aps esforo fsico, isso provavelmente denota uma fase mais inicial na qual possvel corrigir uma srie de
distrbios lanando mo de tratamentos farmacolgicos, com diurticos, broncodilatadores e medicaes que tendam a reverter a causa de base da insuficincia
respiratria. Assim, nessa fase em que isso factvel, no devemos nos prender
apenas aos aspectos meramente paliativos relacionados ao controle de sintomas,
mas tambm em intervenes para tentar conter a evoluo da doena. medida
que os sintomas passem a surgir em repouso, o tratamento sintomtico toma uma
importncia maior, o que fica muito mais evidente na fase final(5) (Figura 5).
155
Tratamento
farmacolgico
Tratamento
sintomtico
Corrigir o
corrigvel
EXERCCIO
REPOUSO
FASE FINAL
Tratamento
farmacolgico
Tratamento
sintomtico
Tratamento
sintomtico
A
B
Corrigir o
corrigvel
Corrigir o
corrigvel
Tratamento
farmacolgico
Tratamento
sintomtico
C
Corrigir o
corrigvel
Opioides
O mecanismo de ao dos opioides no controle da dispneia relativamente
desconhecido. Sabe-se que existem receptores opioides no Sistema Nervoso Central, em toda rvore respiratria e principalmente nos alvolos.
Existe um potencial efeito de depresso respiratria advinda dos opioides e
que faz com que seu uso seja temido. Entretanto, esse efeito infrequente, apresenta desenvolvimento rpido de tolerncia quando a droga usada de uma forma
apropriada, e tende a ocorrer somente em pacientes que no so usurios crnicos
de opioides.
157
De qualquer maneira, acredita-se que isso ocorra por uma alterao da sensibilidade dos receptores centrais hipercapnia e hipxia, alm de alterao da
sensibilidade do mecanoceptores da caixa torcica. Um contraponto importante
nesse contexto que, frequentemente, pacientes que apresentam dispneia, principalmente em fase avanada de doena, apresentam conjuntamente o sintoma de
dor, que se beneficia tambm do uso do opioide. A dor um estmulo excitatrio
e isso contribui para minimizar a eventual depresso respiratria.
Assim, o que se recomenda para tratamento da dispneia em casos leves e
em pacientes virgens de tratamento o uso de codena na dose de 30mg via oral
a cada 4 horas. Frequentemente a dose pode ser menor do que isso, mas deve-se
sempre respeitar a posologia a cada 4 horas para que o paciente no fique perodos
sem a ao do medicamento. A prescrio em intervalo posolgico diferente
inadequada.
Para pacientes com dispneia grave e virgens de tratamento, as doses eficazes
so extremamente individuais. Sugere-se: sulfato de morfina 5mg VO 4-4 horas(3),
doses baixas (10 a 30mg) de morfina de liberao lenta 1x/d(11) ou at outros opioides (Fentanyl).
Apesar de recomendada na literatura internacional para uso a cada 4h, a oxicodona em nosso meio existe sob a forma de liberao lenta e pode ser usada a
cada 12 horas. A ressalva que ela uma medicao cara e acaba por no ser
vantajosa, principalmente em servios pblicos.
Vale lembrar que podem ser dadas doses de resgate nos intervalos entre as
tomadas programadas e deve-se titular as doses totais dirias cuidadosamente,
com aumentos de 50% a cada 24 horas.
Pacientes com doena pulmonar obstrutiva crnica e cardiopatas so mais
sensveis e devem ter incio do seu tratamento com metade da dose usual(3). Em
pacientes tolerantes ao opioide, o manuseio das doses pode ser mais liberal, sempre lembrando dos resgates. Esses ajustes de dose para cada tipo de paciente um
detalhe importante (Figura 7).
Figura 7 - Uso de opioides na dispneia.
Uso de Opioides
Dispneia leve
Pacientes virgens de tratamento
Dispneia grave
Pacientes virgens de tratamento
158
Resgastes S/N
Titular doses (50 - 100% a cada 24 horas)
Para DPOC e cardiopatas - 1/2 dose
Do acordo com as evidncias na literatura, os opioides por via oral ou parenteral so medicaes de uso reconhecidamente aprovado em controle de sintomas
respiratrios, inclusive se refratrios a medidas clnicas voltadas para a causa de
base(12).
O uso de opioides por via inalatria controverso na literatura.
Com relao aos efeitos adversos, esses tendem a ser iguais queles
observados no tratamento de dor e no existe uma evidncia forte, muito pelo
contrario, de que o uso de opioides possa trazer algum tipo de alterao na saturao de oxignio por conta do potencial efeito de depresso respiratria. Isso
demonstra que os opioides so, portanto, uma medicao segura para o controle
de dispneia mesmo em pacientes em fase avanada de doena(13).
A crtica que se coloca sempre para os estudos relativos aos opioides que
so extremamente heterogneos quanto s populaes estudadas, diferentes tipos
de doenas em fases de evoluo diferentes, alm do uso de doses e vias de administrao variadas. Tudo isso torna a comparao entre os estudos extremamente
problemtica.
Benzodiazepnicos
Em reviso sistemtica recente, no foi possvel demonstrar o benefcio do
uso de benzodiazepnicos para alvio da dispneia em pacientes portadores de
cncer avanado e DPOC(9). O uso desse tipo de medicao se justifica pela
presena de componente emocional importante nos sintomas de natureza respiratria. Quando este componente marcante, o uso de benzodiazepnicos tem papel
mais claro.
A droga mais estudada para esse fim, nesse contexto, o midazolan. As doses
utilizadas so baixas, em torno de 5 a 10mg em 24 horas. frequente o uso em
associao com o opioide, tanto por via oral, intravenosa ou subcutnea. Apesar
de alguns estudos mostrarem que o efeito da associao no controle da dispneia
semelhante ao uso do opioide isolado, a experincia mostra que, quando o componente emocional, afetivo, marcante, existe melhora adicional expressiva. Alm
do uso do midazolan, descreve-se tambm o uso de lorazepan em doses de at 0,5
a 1mg VO por hora e tambm diazepan. A manuteno se faz com doses tituladas,
ministradas a cada 6 ou 8h(11).
Oxignio
O uso de oxignio como medida paliativa vem sendo estudado de forma
sistemtica apenas mais recentemente. Entretanto, na prtica, recurso bastante
comum.
159
Dessa forma, existe uma preocupao em se identificar um ponto de equilbrio para a indicao de um artefato nem sempre benfico por um lado e de custo
bastante elevado, por outro.
Em reviso bibliogrfica sobre o uso de oxignio em Cuidados Paliativos(12)
(1996 a 2006), classificando somente artigos envolvendo populao adulta, de
lngua inglesa e estudos randomizados e placebo controlados, identificamos 29
artigos.
Nos cinco artigos relacionados a cncer, o nmero de pacientes estudados foi
pequeno (14 a 51 pacientes), e o que se observa que em quatro estudos houve
melhora na dispneia tanto com oxignio como com ar comprimido.
Isso pode ser explicado porque existem receptores de estmulos mecnicos
na regio da face que so estimulados com fluxo areo. Assim, no necessrio
muitas vezes que se coloque oxignio nasal. Abrir uma janela, deixar o doente em
lugar arejado e fresco ou mesmo o uso de um ventilador frequentemente tem um
efeito positivo que pode ser explicado por serem, esses receptores, responsivos ao
contato mecnico do ar com o rosto, diminuindo a sensao subjetiva de dispneia.
De qualquer maneira, alguns estudos tambm mostram que ocorre melhora s
com oxignio e que isso ocorreu de forma mais consistente somente nos pacientes
com saturao de oxignio menor que 90%.
Em pacientes com doena pulmonar crnica, que representa a maior populao analisada (21 artigos), existem estudos em situaes diferentes (repouso e
durante atividade fsica) e os resultados so controversos. Excetuando-se aqueles
que j apresentem indicao clara para oxigenioterapia contnua, o uso de oxignio acaba sendo preconizado para as agudizaes no responsivas a outros tratamentos e nas quais a saturao de oxignio fica abaixo de 90%.
Na Insuficincia Cardaca existem apenas trs estudos, em pacientes em classe funcional I II (NYHA), um deles com uso em repouso e dois com uso em
exerccio. A grande dvida se esses resultados so extrapolveis para os pacientes com ICC CF IV. Os resultados so inconclusivos.
Portanto, no h estudos que demonstrem que o uso de oxignio para paliao da dispneia seja inequivocamente indicado para pacientes com ICC.
Assim, do ponto de vista geral, existe ainda pouca evidncia do benefcio
concreto do uso indiscriminado de oxignio em Cuidados Paliativos. Recomendase a realizao de estudos randomizados para estabelecer se h uma indicao
mais geral para a oxigenioterapia em Cuidados Palaitivos(13). A indicao precisa em subgrupos e situaes especiais(14) (Figura 8).
160
Pouca evidncia
de
BENEFCIO!!
Tratamento no farmacolgico
Avaliar o doente............... e ficar
calmo
Apoio psquico, social e espiritual
Exerccios respiratrios
Planejamento de atividades
Planejamento de conteno de ener gia
Tcnicas de relaxamento
Posicionamento no leito
Decbito elevado
Acupuntura
Ateno e escuta ativa
Aspirao???
VNI - situaes especficas!
Tosse
A tosse afeta cerca de 37% dos pacientes com cncer avanado (principalmente pulmo), 38% destes, com sintomas moderados ou intensos. Ocorre mais
de 10 vezes por dia em cerca de 2/3 dos pacientes, interferindo na respirao, sono
162
Causas de Tosse
Outras causas
Relacionadas ao cncer
Asma
DPOC/bronquiectasia
Infeces
D. pulmonar intersticial
Sinusopatia
TEP
Sarcoidose
Outros
Sistemas
ICC
Refluxo gastroesofgico
Irritao timpnica
Linfangite carcinomatosa
Envolvimento mediastinal
Derrame pericrdio
Sndrome da Veia Cava Superior
Droga especfica
Todos
Midazolan
Bleomicina
Metotrexate
Ipatrpio
Salbutamol
Cromoglicato de sdio
Corticosteroides
Agentes inalatrios
Anti-Inflamatrios no hormonais
163
O tratamento se baseia em drogas que atuem nos receptores de tosse espalhados por toda via area superior, rvore brnquica, diafragma, membrana timpnica, seios paranasais, vasos pulmonares, pleuras, etc., que iniciam a conduo do
estmulo at o centro da tosse, no tronco cerebral.
Em havendo uma doena cardaca ou pulmonar, o uso de medicaes especficas para esse fim deve ser tentado inicialmente. Em caso contrrio, no se
espera que o uso destas medicaes tenha grande impacto na tosse presente, por
exemplo, nas doenas neoplsicas.
Os opioides so as drogas que apresentam melhor efeito antitussgeno no
cncer. Porm, devido aos potenciais efeitos colaterais, outras medicaes tm
sido aventadas como de primeira linha para o tratamento(20) (Figura 12,13 e 14).
Entretanto, por no estarem disponveis, em sua maioria, no Brasil, os opioides
acabam ocupando papel de destaque no controle desse sintoma. Podem tambm
ser usados anestsicos locais, de forma inalatria.
Figura 12 - Fluxograma do tratamento da tosse
Sim
Doena cardaca
ou pulmonar
(ICC, Asma, DPOC)?
Diurticos
Broncodilatador ou
Corticosteroide
No
O paciente tem
dor e tosse?
No
Tosse persiste?
Dextromethorphan
Tosse persiste
Doses progressivas de
codena, oxicodona ou
morfina
164
Sim
Doses progressivas
de codena,
oxicodona ou morfina
Tratamento da Tosse
Codena o mais comum 02-20mg 4-4h
Inibio do receptor u no pulmo e via area
Suspresso do centro da tosse
Opioides
Produo de muco e clearance ciliar
Morfina 5mg 4-4h ou Oxicodona 10mg 12/12h
Sinergismo com opioides
No Opioides
Potncia = Codena
Dextrometorfan
Comum nos xaropes - EUA
Ao NMDA!!
10-20 mg 4-4 ou 6-6h
Risco - alucinaes
Tratamento da Tosse
No Opioides
Anestsicos
locais
Nebulizao
Bipuvacana
- 5ml (soluo 0,25%) 8-8h
Xilocana
- 5ml (soluo 2%) 6-6h
Risco - Broncoespasmo
- Aspirao alimentar at 1h aps
Referncias
166
167
Nusea e vmito
Maria Goretti Sales Maciel
Roberto Bettega
Introduo
Nuseas e vmitos so sintomas de alta prevalncia em Cuidados Paliativos
e bastante estressantes para o paciente e familiares. Contribuem para o desenvolvimento da sndrome da anorexia-caquexia, provocam desequilbrios eletrolticos e novos sintomas associados e comprometem a qualidade de vida. Episdios
de vmitos so degradantes.
So particularmente frequentes em pacientes com cncer, em especial nos tumores gstricos, ginecolgicos e intestinais. Um tero dos pacientes com cncer avanado tm vmitos e at 60% dos mesmos tm nuseas(1).
Nem sempre esto associados. O paciente com nusea crnica habitualmente
queixa-se pouco. Quando apresenta vmitos notado e mais eficientemente tratado.
Descreve-se a nusea como a sensao subjetiva e desagradvel em epigstrio e orofaringe associada urgente necessidade de vomitar. O vmito consiste
no esvaziamento forado do contedo gstrico pela boca, ocasionado pela contrao espasmdica do diafragma, parede gstrica, musculatura respiratria e parede
torcica(1).
Fisiopatologia
Para que o vmito ocorra, um complexo mecanismo pecisa ser acionado e
nem todas as etapas deste mecanismo esto esclarecidas. As aes incluem desde
a salivao que precede a expulso do contedo gstrico at o fechamento da epiglote para proteger as vias respiratrias e abertura da glote, sem a qual o aumento
da presso em esfago pode levar a sangramento da mucosa gastroesofgica (sndrome de Mallory-Weiss) ou a rotura da parede esofgica(1,2,3).
O centro controlador deste mecanismo localiza-se em rea primitiva do encfalo, prximo dos centros de controle da respirao e outras funes vitais. O
que faz crer na nusea e vmito como proteo da vida em situaes como envenenamentos, por exemplo(1).
Importncia deve ser dada tambm a nusea e vmito desencadeados por
fatores ligados emoo. Vomitar no deixa de ser uma forma de tentar eliminar
emoes e sentimentos desagradveis, muitas vezes relacionadas presena da
168
Crtexcerebral
Gaba
Influncia
Psicolgica
5ht = Serotonina
+
Bdiazepnicos
Ondansetrona
Granisetrona
D = Dopamina
+
Drogas
Toxinas
Haloperidol
Metoclopramida
Fenotiaznicos
Tratogastrointestinal
Via Vago Ncltrato
Solitrio
Sistemavestibular
5ht/Ach(m)/D/H/NMDA
+
Drogas
Quimioterapia
Radioterapia
Ondansetrona
Granisetrona
H = Histamina
Dimenidrinato
Prometazina
Corticosterides
Centrodovmito
Troncoenceflico
Dimenidrinato
Ach(m)
HioscinaHidb/Atropina
Motilidade Trato
Gastrointestinal
Dopamina
Serotonina
Metoclopramida Cisaprida
Domperidona
Eritromicina
Vmito
Centro do vmito
Localizado no mesencfalo, na formao reticular lateral, tambm conhecida
como rea medular, o centro de vmito recebe estmulos de distintas reas atravs
de diferentes neurotransmissores e controla as aes complexas envolvidas com o
vmito.
Os pricipais mediadores envolvidos no centro do vmito so: acetilcolina
muscarnica (acth-m) e histamina (H1). Drogas que bloqueiam estes mediadores,
como hioscina hidrobromide, atropina e anti-histamnicos podem prevenir nuseas e vmitos mediadas pelo centro do vmito(1, 2).
Zonas quimiorreceptoras
A mais importante zona quimiorreceptora est localizada na rea postrema,
no assoalho do quarto ventrculo, fora da barreira hematoenceflica. Estruturas
especializadas em detectar substncias qumicas potencialmente perigosas na circulao sangunea e lquido crebro-espinhal so acionadas na presena das mesmas e se comunicam com o centro de vmito acionando-o.
Os principais mediadores qumicos na rea postrema so: Dopamina (D2) e
Serotonina (5HT3).
Os estmulos qumicos podem ser desencadeados por:
1. Medicamentos:
a. Opioides
b. Antidepressivos tricclicos e inibidores seletivos da serotonina
c. Anti-inflamatrios
d. Quimioterpicos
2. Toxinas:
a. Infeces
b. Insuficincia heptica e renal
c. Fatores tumorais
3. Metablicas:
a. Hipercalcemia
b. Hiponatremia
Os medicamentos com ao antidopaminrgica como a metoclopramida e o
haloperidol e os fenotiaznicos de modo geral (levemopromazina, clorpromazina)
so portanto excelentes antiemticos de ao na zona quimiorreceptora. Na falncia destes, pode-se lanar mo de antisserotoninrgicos, que so medicamentos
mais recentes e de custo muito mais elevado. Sua melhor indicao ainda reside
no vmito induzido por quimioterapia e ps-radioterapia, pela presena de media170
Sistema vestibular
Relacionado ao vmito por discinesia e outras alteraes vestibulares propriamente ditas como compresso tumoral e hipertenso craniana.
Os principais mediadores no sistema vestibular so a histamina e a acetilcolina muscarnica. Nesse caso, o dimenidrinato a medicao com melhor indicao, em especial na preveno do vmito relacionado discinesia(1).
Trato gastrointestinal
Vrios mecanismos envolvem o trato gastrointestinal TGI, no desencadeamento da nusea/vmito.
1. Quimiorreceptores em parede do TGI: serotonina e neurocininas sensveis
particularmente aos quimioterpicos.
2. Estmulo vagal mediado por neurotransmissores ao Ncleo do Trato Solitrio: envolve serotonina, dopamina, histamina, acetilcolina muscarnica,
histamina e possivelmente o sistema NMDA (N-Metil Dietil Aspartato). O
estmulo pode ser desencadeado na orofaringe, obstruo intestinal, estmulo
mecnico na obstruo intestinal e na carcinomatose peritoneal.
3. Motilidade do TGI: esvaziamento gstrico lentificado e motilidade intestinal
prejudicada por tumores (compresso extrnseca), distrbio metablico, drogas como opioides e anticolinrgicos, distrbio autonmico, gastrites e lceras ppticas, ascite. Envolve como mediadores principalmente a dopamina e
a serotonina(1,2,3,4).
171
1.
2.
3.
4.
5.
Investigao criteriosa;
Explicao do sintoma;
Tratamento de causas reversveis;
Terapia medicamentosa criteriosa e individualizada;
Reavaliao contnua dos resultados.
Investigao
Inclui conhecer o doente e a trajetria de sua doena, tratamentos realizados
e medicamentos atualmente em uso, bem como a concomitncia de outros sintomas. Performance anterior ao quadro e atual so fundamentais para as decises
teraputicas.
Avaliar incio, intensidade do sintoma em escala de zero a dez (preferencialmente usando o ESAS), fatores desencadeantes, caractersticas do vmito (fecaloide, biliar, alimentar, caracterstica de lquido de estase), presena ou no de
sintomas prodrmicos. O vmito desencadeado por hipertenso intracraniama e
meningismo, por exemplo, aparece sem prdromos e tem caracterstica de jato.
Exame fsico em busca de sinais como desidratao, distenso abdominal,
presena de massas de topografia abdominal ou ascite, exame da boca e orofaringe, sinais de localizao neurolgica e meningismo.
Avaliao complementar inicial deve constar de hemograma, urinlise e raio
X de trax para afastar foco infeccioso, avaliao bioqumica de funo heptica
e renal e eletrlitos como clcio, sdio e potssio.
Na suspeita de obstruo de TGI, o raio X simples de abdome em p e decbito horizontal so exames importantes e acessveis. Sinais de falncia renal
devem ser investigados com USG de vias urinrias especialmente nos portadores
de tumores plvicos.
Explicao
O profissional de Cuidados Paliativos tem por obrigao explicar muito bem
ao paciente e familiar, aps primeiras investigaes clnicas, usando linguagem
accessvel, o que acontece, qual ou quais as causas mais provveis e quais as
condutas possveis neste momento. Compartilhar decises sempre que possvel
fundamental.
A equipe tambm deve entender o que se passa, quais as medidas tomadas e a
expectativa com relao ao tratamento para que todos possam reavaliar o impacto
das medidas e propor novas intervenes, cada qual em sua rea de conhecimento.
172
Manejo medicamentoso
A instituio de terapia com antiemticos no controle da nusea/vmito,
deve ser bastante criteriosa e sempre pautada no mecanismo fisiopatolgico mais
provavelmente envolvido.
Estase gstrica
d. Considerar sondagem nasogstrica de alvio se disteno abdominal e sintoma muito intenso. Retirar a sonda aps melhora identificvel.
e. Usar inibidores de bomba de prton ou antagonista H2.
f. Preferir gastrocinticos: metoclopramida, bromoprida, domperidona e eritromicina nos casos no responsivos.
173
Irritao peritoneal
i. Metoclopramida ou haloperidol como antidopaminrgicos;
j. Antisserotoninrgicos como a ondansetrona em segunda escolha.
k. Anti-histamnicos como o dimenidrinato: via SC a cada 6 a 8 horas e considerar a prometazina na dose de 12,5mg SC a cada 6 a 8 horas ou em infuso
contnua. Evita-se a prometazina pela alta sonolncia que provoca.
Obstruo intestinal
l. Usar haloperidol como primeira escolha, em dose de at 15mg/24 horas.
m. Ondansetrona e dimenidrinato podem ser ambos teis como segunda escolha.
n. Restringir volume de hidratao.
o. Usar antissecretores como hioscina butilbromida ou octeotride.
p. Usar SNG at melhora da distenso e reduo do volume de drenagem. Retirar se o paciente concordar com o jejun.
q. Corticosteroides podem diminuir edema de ala e de massa tumoral, reduzindo
o fator de compresso alm de fatores inflamatrios locais.
Referncias
1. pace, V. Nausea and Vomiting, in Sykes, N., Edmond, P.: Management of Advanced Disease. Arnold 4th ed, London, 2004.
2. Watson, M., Lucas, C., Hoy, A., Wells, J. Oxford Handbook of Palliative Care.
Oxford University Press, 2 ed, Oxford, 2009.
3. Fallon, M., Welsh, J. Management of Gastrointestinal Symptoms in Faull C, Carter
Y, Woof R. Handbook of Palliative Care. Blakweel Science, London, 1998.
4. Elsayem, A., Driver, L., Bruera, E. The MD Anderson Symptom Control and
Palliative Care Handbook. MD Anderson Cancer Center, 2 ed, Houston, 2003.
5. Twycross, R. Cuidados Paliativos. Climepsi editores, 2 ed, Lisboa, 2003.
175
Obstipao e diarreia
Veruska Menegatti Anastcio Hatanaka
Alteraes do hbito intestinal so queixas comuns dentre pacientes em Cuidados Paliativos, sejam determinadas pela patologia de base e/ou pelo tratamento
a ela direcionado, paliativo ou no. Cerca de 50% dos pacientes admitidos em
hospices so obstipados. O problema, porm, ainda maior ao se considerar que
muitos j se encontram em terapia laxativa. Menos comum, a diarreia queixa
premente em 7 a 10% dos pacientes com cncer admisso em hospices e em
27% dos pacientes HIV positivos. A ateno a estes sintomas orienta-se em conformidade com os preceitos abaixo delineados.
Obstipao
Caracterizada por episdios de evacuaes difceis ou dolorosas, associados
diminuio da frequncia das evacuaes e/ou presena de fezes endurecidas,
a obstipao assume natureza multifatorial em pacientes em Cuidados Paliativos (quadro 1)(1, 2), podendo determinar complicaes como as listadas no quadro
2(3). Opioides interferem diretamente com a motilidade do trato gastrointestinal,
atravs da reduo da atividade neural e diminuio da atividade propulsora, determinando retardo do trnsito do contedo intestinal e aumento da capacidade
absortiva de fluidos.
Quadro 1 - Causas de obstipao em Cuidados Paliativos
Neoplasia
Obstruo intestinal
Dano medula espinal, cauda equina
Hipercalcemia
Diminuio do apetite
Dieta pobre em fibras
Desidratao
Fraqueza
Inatividade
Confuso mental
Depresso
Alteraes dos hbitos de toillete
176
Drogas
Opioides
Drogas com efeitos anticolinrgicos
Anticidos contendo clcio e alumnio
Diurticos
Anticonvulsivantes
Ferro
Agentes anti-hipertensivos
Vincristina
Doenas concomitantes
Diabetes
Hipotireoidismo
Hipocalemia
Hrnia
Doena diverticular
Retocele
Fissura ou estenose anal
Prolapso mucoso anterior
Hemorroidas
Colite
Modificado de Sykes et al(2).
Quadro 2 - Possveis complicaes da obstipao
Dor em clica ou contnua
Obstruo intestinal
Reteno urinria
Diarreia por transbordamento
Incontinncia fecal
Confuso mental
O manuseio efetivo da obstipao em Cuidados Paliativos exige que se proceda atentando para o que se segue:
Antecipar-se a este problema comum.
Questionar o paciente sobre sua funo intestinal habitual.
Iniciar laxantes profilticos em concomitncia ao incio do uso de opioides.
Dar preferncia a laxantes orais aos retais.
Combinar laxantes se necessrio.
Titular o tratamento visando atingir evacuaes confortveis.
Considerar, sempre que possvel, medidas no farmacolgicas como aumento da ingesto de lquidos e fibras na dieta, aumento da atividade fsica e
177
Laxantes retais
Esto indicados em situaes especficas: (1) para o tratamento da impactao
fecal; (2) como tratamento adicional em pacientes cuja constipao no responde
adequadamente aos laxantes orais; (3) como tratamento alternativo para pacientes
que no toleram laxantes orais e (4) para o esvaziamento retal em pacientes com
compresso da medula espinal.
O quadro 4 sugere tratamento para pacientes com impactao fecal(6).
179
Fezes amolecidas
Supositrio de bisacodil
(10 a 20mg) seguido aps 2 horas
por enema salino
Fezes endurecidas
O quadro 5 sugere sequncia teraputica para pacientes com constipao induzida por opioides. Embora o bloqueio do receptor opioide com antagonistas especficos constitua-se em uma interveno racional, as experincias iniciais com
antagonistas opioides tradicionais no corresponderam s expectativas. Novas
terapias abordam o uso de antagonistas opioides com absoro sistmica limitada
(naloxone) e antagonistas do receptor de ao restrita periferia (metilnaltrexone e alvimopan). Naloxone pode reverter a constipao induzida por opioides,
porm predispe reverso da analgesia e presena de sintomas de abstinncia,
mesmo em doses insuficientes para promover evacuao(7).
Metilnaltrexone, por sua vez, no atravessa a barreira hematoenceflica e,
portanto, no antagoniza os efeitos centrais da morfina ou precipita sndrome de
abstinncia. Sua administrao por via subcutnea rapidamente induz evacuao
em pacientes com doena avanada e constipao induzida por opioides, na dose
de 0,15 mg/kg(8).
Alvimopan um antagonista seletivo do receptor opioide que no sofre
absoro gastrointestinal ou cruza a barreira hematoenceflica. Seu uso est aprovado especificamente para acelerar a recuperao gastrointestinal aps resseco
intestinal. Sua disponibilidade restrita visto aumento da incidncia de infartos
do miocrdio em estudo de longo-prazo envolvendo pacientes em terapia crnica
com opioides(9).
180
Laxante estimulante
(ex.: sena, 15mg a cada 12-24 horas)
Boa resposta
Sem resposta
Sem resposta
Boa
10-12h
Bisacodil supositrio
20-60min
Dantron 6-12h
Docusato 24-48h
Glicerina sup
1-6h
Lactulose 48h
Sena
8-12h
O tratamento da obstipao em Cuidados Paliativos baseia-se ainda em inadequada evidncia, com poucos estudos controlados e randomizados disponveis,
incluindo estudos que permitam comparaes diretas entre classes distintas de
laxantes. Persiste, portanto, dvidas acerca do melhor manuseio teraputico da
constipao neste grupo de pacientes(10).
Diarreia
Define-se pela passagem de trs ou mais fezes no formadas em um perodo
de 24 horas. O quadro 7 delineia causas de diarreia em pacientes em Cuidados
Paliativos(3).
181
O tratamento da diarreia dever focar-se inicialmente na busca de causa especfica que justifique o quadro, permitindo-se, assim, direcion-lo de maneira mais
apropriada. No caso de diarreia persistente, agentes no especficos, incluindo agentes
absorventes, adsorventes, inibidores da prostaglandina e opioides, podero ser iniciados.
Agentes absorventes
Incluindo substncias formadoras de bolo (metilcelulose e pectina), atuam
absorvendo gua, constituindo uma massa coloidal ou gelatinosa que fornece s
fezes maior consistncia.
Agentes adsorventes
Caracterizam-se pela capacidade em acumular molculas em sua superfcie,
sendo tal capacidade tanto maior quanto a superfcie disponvel para adsoro.
Encontram-se disponveis para uso em combinao com outros agentes antidiarreicos, recomendando-se as seguintes doses: caolin, 2 a 6g a cada 4 horas e atapulgita, 1,2g inicial, seguida por 1,2g a cada nova evacuao, at dose mxima
de 8,4g/dia.
Inibidores de prostaglandinas
Sua ao reside na reduo da secreo de gua e eletrlitos pela mucosa.
O subsalicilato de bismuto apresenta ao adicional antibacteriana e est indicado para tratamento de diarreia no especfica (525mg a cada 30min at 5mg/
dia), enquanto a mesalazina (1,2 a 2,4g/dia) e a aspirina (300mg a cada 4 horas)
respectivamente esto indicadas para tratamento da diarreia decorrente de colite
ulcerativa e radiao. H que se pesar sempre a relao risco/benefcio do uso de
doses altas de aspirina com relao aos efeitos colaterais potenciais.
182
Agentes opioides
Drogas de escolha para o tratamento da diarreia em Cuidados Paliativos, os
agentes opioides aumentam as contraes tnicas e diminuem as peristlticas, com
reduo subsequente de gua e eletrlitos nas fezes.
Destes, a loperamida a droga antidiarreica de eleio, sendo seu uso recomendado em doses de 4 a 8mg/dia (iniciar com 4mg, seguido por 2mg a cada
evacuao, no ultrapassando a dose de 16mg/dia).
Consideraes finais
Alteraes do hbito intestinal imprimem mudanas significativas no cotidiano de pacientes em Cuidados Paliativos, motivando intervenes frequentes
em unidades de pronto-atendimento, com prejuzo e desvio da ateno concernente a questionamentos psquicos e emocionais que permeiam esta fase da vida.
A continncia destas queixas exige abordagem correta e premente, permitindo ao
paciente seguir seu trajeto sem obstculos adicionais.
Referncias
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183
Delirium
Daniel Azevedo
Definio
Delirium um diagnstico comum na prtica dos Cuidados Paliativos, sobretudo em pacientes idosos portadores de doena terminal associada a mltiplas
doenas crnicas. Toda a equipe de sade precisa estar capacitada para reconhec-lo.
De acordo com os critrios da quarta reviso do Manual Diagnstico e
Estatstico de Transtornos Mentais (DSM IV-TR), delirium consiste em uma
alterao do nvel de conscincia de instalao aguda (horas ou dias) e curso flutuante, acompanhada de dficit de ateno e alterao da cognio, como dficit
de memria ou desorientao. Deve existir evidncia na histria, no exame fsico
ou nos exames laboratoriais de que a alterao seja causada por uma condio
orgnica subjacente ou consequncia direta de uma condio mdica geral ou de
seu tratamento.
A apresentao do delirium pode assumir duas formas: hiperativa ou hipoativa. Na forma hiperativa, que a mais diagnosticada, ocorrem agitao, hipervigilncia e alucinaes. O paciente encontra-se inquieto, com discurso incoerente e at
agressividade fsica, o que leva os familiares ou a enfermagem a solicitar de imediato uma avaliao mdica. Por outro lado, na forma hipoativa, o paciente parece
confuso e sedado, com retardo no funcionamento motor, olhar fixo e apatia(1). O delirium hipoativo ocorre em at 85% dos pacientes idosos internados em unidades de
terapia intensiva(2) e geralmente passa despercebido, possuindo prognstico pior.
A abordagem do paciente no diferente daquela usada para o delirium hiperativo. Os pacientes podem alternar as duas formas, caracterizando um delirium
misto.
Em pacientes portadores de doena em fase terminal, o delirium costuma ser
um preditor confivel de morte em dias a semanas(3). Pode ser irreversvel quando a correo das causas subjacentes no possvel ou quando o paciente morre
antes que ela acontea(4).
Para o diagnstico, emprega-se o Confusion Assessment Method (CAM),
que uma ferramenta simples e validada em lngua portuguesa(5,6), cuja verso
curta pode ser aplicada em poucos minutos (Quadro 1). O delirium traz desconforto para o paciente e interfere na avaliao de seus sintomas, provocando ansie184
Fatores de risco
Um dos objetivos dos cuidados deve ser a preveno do delirium. Para isso,
o profissional precisa ficar atento aos principais fatores de risco (Quadro 2) e
procurar limit-los. Uma reviso sistemtica da prescrio vital para reduzir a
incidncia de iatrogenias medicamentosas, evitando-se o uso regular de benzodiazepnicos de meia-vida longa ou de anticolinrgicos sempre que possvel. A
identificao dos fatores de risco e medidas preventivas voltadas para os mesmos
resultam na reduo de 40% do delirium em idosos hospitalizados(7).
Causas
O delirium uma alterao classicamente multifatorial em que um paciente
j vulnervel, portador de fatores de risco, desenvolve o quadro aps exposio a
uma srie de fatores precipitantes. As principais causas de delirium encontram-se
no Quadro 3. A lista de drogas que podem induzir delirium longa, com destaque para antidepressivos anticolinrgicos, benzodiazepnicos, bloqueadores H2 e
anti-histamnicos. Processos infecciosos de qualquer stio podem ser responsveis
pelo delirium e a equipe precisa estar apta a reconhecer manifestaes atpicas em
idosos, que nem sempre apresentam leucocitose ou resposta febril. Uma idosa que
habitualmente consegue comer sem ajuda e caminhar com apoio em bengala e que
desenvolve em poucos dias dificuldade para se alimentar e leve confuso mental,
seguidas de uma queda da prpria altura, pode ter uma infeco oculta. Nesse
caso, obrigatrio investigar em carter de emergncia as hipteses de infeco
urinria ou pneumonia, mesmo que a anamnese no evidencie disria, dor lombar,
tosse ou dispneia.
Constipao intestinal secundria a imobilidade ou uso de opioides outra
causa comum, assim como dor e distrbios hidroeletrolticos. A simples mudana
de um ambiente com o qual o paciente encontra-se familiarizado, como o de sua
casa, para um ambiente novo, onde ele assistido por pessoas desconhecidas,
como um quarto de hospital, pode ser suficiente para desencadear delirium.
185
Tratamento
A abordagem de um paciente em delirium comea necessariamente pela
identificao das causas provveis, que costumam ser mltiplas. O tratamento
envolve a correo dessas causas, quando possvel, e o controle dos sintomas(8).
Toda avaliao de delirium comea com a reviso criteriosa da prescrio
atual, buscando identificar se existe algum frmaco que possa ser responsvel
pelo quadro agudo de desorientao. Quando possvel, os frmacos potencialmente indutores de delirium devem ser suspensos ou trocados por outros que no
apresentem esse risco. Ao mesmo tempo, o ambiente em que o paciente se encontra precisa ser analisado de forma crtica: existe algum fator que possa estar contribuindo para causar desconforto ou agitao no momento da avaliao? Muitas
vezes, a mudana de pequenos detalhes do ambiente ser suficiente para o sucesso
no controle do delirium.
As medidas de tratamento mais importantes so as no farmacolgicas (Quadro 4), que buscam otimizar a orientao do paciente. A presena constante de
um familiar ou cuidador contribui para melhorar a comunicao, que deve ser
feita com instrues pausadas e claras. importante estimular o uso de relgios,
calendrios e crachs dos profissionais com nomes bem visveis. Um quarto com
janela contribui para a organizao do ciclo sono-viglia. Com frequncia, pacientes idosos em delirium so contidos no leito, principalmente em terapia intensiva,
o que costuma representar um atestado de insuficincia de pessoal de enfermagem
ou m prtica, tendendo a agravar a agitao. A imobilizao deve ser evitada
sempre que possvel, retirando contenes e sondas vesicais e encorajando o paciente a manter a independncia e caminhar precocemente. A privao de sono
pode ser tratada com estratgias para reduo de rudos ambientais e atravs da
adoo de horrios de medicao que no interrompam o descanso noturno do
paciente. A correo de dficits sensoriais crucial para o tratamento do delirium.
Portanto, portadores de dficit visual ou auditivo devem permanecer em uso de
culos ou de prtese auditiva para manter a orientao em relao ao ambiente,
cuja iluminao precisa ser adequada. Recomenda-se luz natural durante o dia e
suave durante o perodo noturno. Por ltimo, a desidratao deve ser reconhecida
para imediata reposio de volume, que pode ser feita com segurana e conforto
por hipodermclise(9), mesmo em indivduos muito idosos.
O tratamento farmacolgico do delirium (Quadro 5) serve para o controle
dos sintomas enquanto as causas bsicas ainda no foram revertidas e deve ser
institudo sempre que as medidas no farmacolgicas no forem suficientes(10). A
droga mais estudada para o tratamento do delirium o haloperidol, feito por via
oral ou subcutnea em dose inicial de 0,5 a 1mg, que pode ser repetida a cada 30
186
minutos at que seja alcanada a sedao do paciente(11,12). Em geral, a dose necessria fica entre 3 a 5mg. Nos dias subsequentes, a prescrio deve incluir 50%
dessa dose de maneira regular, com reduo progressiva aps resoluo dos sintomas. A prtica de prescrever 5mg de haloperidol intravenoso ou intramuscular
como dose inicial para tratamento deve ser evitada: no somente no est descrita
em referncias clssicas sobre o tema como tambm costuma induzir sedao
excessiva com risco de broncoaspirao e, em curto prazo, tende inclusive a ter
efeito contrrio ao desejado, criando novas situaes que aumentam o risco de
cronificao do delirium. Alm disso, uso de haloperidol intravenoso tem risco
de causar alteraes eletrocardiogrficas como prolongamento do intervalo QTc
e torsades de pointes.
O tratamento com outros medicamentos, como benzodiazepnicos e antipsicticos atpicos, encontra respaldo cada vez maior na literatura13. Em casos de
delirium refratrio, com agitao incontrolvel que causa grande desconforto para
pacientes e familiares, pode ser indicada a sedao paliativa.
Concluso
Um nmero expressivo de pacientes em Cuidados Paliativos (cerca de 2575%) desenvolvem algum tipo de delirium ao longo da evoluo da doena(14). O
quadro geralmente multifatorial e prejudica a comunicao do paciente, podendo ser impactante para a famlia. Os profissionais de sade precisam identificar os
fatores de risco, procurando adotar medidas preventivas sempre que possvel. Em
caso de delirium j instalado, importante reavaliar a prescrio e enfatizar a adoo de medidas no farmacolgicas para revert-lo. Quando isso no suficiente,
podem ser usadas algumas medicaes para controle dos sintomas, principalmente o haloperidol, respeitando-se o aumento progressivo das doses para minimizar
o risco de efeitos colaterais.
187
Quadro 1
Verso em portugus do Confusion Assessment Method (CAM)
(Presena dos 3 itens do primeiro bloco + 1 ou 2 itens do segundo sugere delirium)
1) Incio agudo e curso flutuante
H evidncia de mudana aguda do estado mental de base do paciente?
Esse comportamento (anormal) variou durante o dia, isto , tendeu a surgir e
desaparecer ou aumentar e diminuir de gravidade?
( )
( )
2) Distrbio de ateno
O paciente teve dificuldade em focalizar sua ateno, isto , distraiu-se facilmente ou teve dificuldade em acompanhar o que estava sendo dito?
( )
3) Pensamento desorganizado
O pensamento do paciente era desorganizado ou incoerente, com conversao
dispersiva ou irrelevante, fluxo de ideias pouco claro ou ilgico, ou mudana
imprevisvel de assunto?
4) Alterao do nvel de conscincia
O paciente encontra-se hiperalerta (hipersensvel a estmulos ambientais,
assustando-se facilmente), letrgico, em estupor ou coma?
Quadro 2
Fatores de risco para delirium
Dficit cognitivo
Uso de psicofrmacos
Imobilidade
Desidratao
Desnutrio
Idade avanada
Dficit auditivo ou visual
Quadro 3
Principais causas de delirium
Medicaes
Desidratao
Dor
Hipxia
Infeco
Distrbios metablicos
Impactao fecal
Mudana de ambiente
Reteno urinria
Imobilidade
Privao sensorial
Procedimentos cirrgicos
Conteno fsica
Privao de sono
188
( )
( )
Quadro 4
Tratamento no farmacolgico do delirium
Suspenso de medicamentos potencialmente causadores de delirium
Reorientao para o ambiente
Permanncia de pessoas conhecidas com o paciente
Remoo de causas de incmodo (sondas, acessos venosos)
Preservao do sono noturno
Retirada de contenes fsicas
Estmulo a caminhadas
Hidratao adequada
Quadro 5
Tratamento farmacolgico do delirium
Medicamento
Dose
Comentrios
Haloperidol
Tratamento de escolha
Efeitos extrapiramidais com
doses > 4,5mg/dia
Risco de arritmia se uso
intravenoso
Clorpromazina
Risco de sedao
Quetiapina
Tratamento de escolha em
pacientes com doena de
Parkinson pela menor incidncia de efeitos extrapiramidais
Risperidona
0,5-1mg a cada 4h
Risco de sedao
Uso em abstinncia de benzodiazepnicos ou lcool
Antipsicticos tpicos
Antipsicticos atpicos
Olanzapina
Benzodiazepnicos
Lorazepam
189
Referncias
190
1. Introduo
Ansiedade e depresso podem ser caracterizadas como enfermidades mdicas com sinais e sintomas especficos, frequentes na prtica clnica, mas nem
sempre reconhecidas e tratadas de forma correta.
Atualmente a depresso considerada problema de sade pblica. Os custos
da assistncia mdica, o tempo de trabalho perdido e a diminuio da qualidade
de vida geram prejuzos sociais e funcionais importantes.
Os transtornos de ansiedade precisam ser diferenciados da ansiedade fisiolgica, necessria para a realizao das atividades do dia a dia. A ansiedade patolgica
se manifesta como uma reao exagerada a diversos estmulos, levando a sintomas
fsicos incapacitantes e tal qual a depresso gera encargos para toda a sociedade.
Dentro deste contexto h um grupo de indivduos que merece ateno e tratamento especial: pacientes em Cuidados Paliativos. A medicina paliativa nasceu
da necessidade de melhorar a qualidade de vida dos pacientes para os quais a
cura no mais possvel e a qualidade de vida est ou estar em breve deteriorada. Nesses indivduos, o fator desencadeante do seu transtorno, ansiedade ou
depresso justamente o de ser colocado no limite da sua existncia, na incerteza
de quanto tempo permanecer vivo, o quanto ter que lutar para aumentar a sobrevida, passando por perdas reais, sejam elas emocionais, sociais, financeiras e
afetivas.
Neste captulo, tentaremos definir a melhor estratgia teraputica para os
pacientes em Cuidados Paliativos que desenvolvem depresso e transtornos de
ansiedade, visando minimizar o sofrimento e desenvolver condies pessoais de
enfrentamento.
2. Depresso
As doenas crnicas so sabidamente associadas ao maior risco de ocorrncia de quadros depressivos. Os pacientes portadores de doenas crnico-degenerativas costumam criar estratgias de enfrentamento de situaes que os levaro
terminalidade, sem necessariamente cursar com depresso. No entanto, a queda
na qualidade de vida com comprometimento social e afetivo dita o grau de impacto na vida de cada um.
191
192
Dose inicial
Dose mxima
25 a 50mg
100 a 300mg
Clomipramina (Anafranil)
25mg
100 a 250mg
Mianserina (Tolvon)
30mg
30 a 90mg
Doxepin (Sinequan)
25 a 50mg
100 a 300mg
Imipramina (Tofranil)
25 a 50mg
100 a 300mg
Maprotilina (Ludiomil)
50mg
100 a 225mg
Nortriptilina (Pamelor)
25mg
50 a 200mg
Mirtazapina (Remeron)
15mg
15 a 45mg
193
Droga
Dose inicial
Dose mxima
10 a 20mg
20 a 60mg
Escitalopram (Lexapro)
10mg
10 a 20mg
10 a mg20
20 a 60mg
Fluvoxamine (Luvox)
50mg
50 a 300mg
10 a 20mg
20 a 60mg
Paroxetina CR
12,5a 25mg
25 a 75mg
50mg
50 a 200mg
Dose inicial
Dose mxima
37,5mg
75 a 300mg
37,5mg
75 a 300mg
Desvenlafaxina (Pristiq)
50mg
50mg
Duloxetina (Cymbalta)
30mg
60 a 120mg
Dose inicial
Dose mxima
75 a 150mg
300 a 450mg
100/150mg
300 a 400mg
194
Dose inicial
Dose mxima
10mg
10 a 60mg
10mg
5 a 10mg
Moclobemida (Aurorix)
150mg
150 a 600mg
Dose inicial
Dose mxima
Nefazodona (Serzone)
50mg
300 a 600mg
Trazodona (Donaren)
50mg
150 a 400mg
terais e menor complicao em casos de doses muito elevadas foi o grupo ISRS,
ficando como recomendao de primeira escolha para iniciar o tratamento, com
destaque para citalopram, escitalopram e sertralina. O ACP enfatiza, entretanto,
que os demais grupos tm eficcia comprovada, a maioria com respostas equivalentes, e que a escolha dever ser individualizada, de acordo com o grau de
comprometimento de funes sistmicas, dos efeitos colaterais e das limitaes
que cada antidepressivo apresentem para a patologia de base e comorbidades associadas(10, 11).
O paciente em Cuidados Paliativos geralmente faz uso de vrias medicaes,
portanto se faz necessrio:
Checar medicaes de uso regular e avaliar os riscos de interaes medicamentosas que contraindiquem determinado antidepressivo.
Deve ser iniciado tratamento com doses baixas mnimas preconizadas.
Cuidado especial com doses de antidepressivo no idoso. A desvenlafaxina
mostra um perfil ideal nesta faixa etria, no necessitando ajuste de dose, no
necessria titulao. Demais grupos, exceto os que tenham contraindicao
ou restries por comorbidades, devem ter sua dose ajustada para metade da
dose mnima preconizada.
Pacientes com dor de difcil controle e depresso se beneficiam com o uso
da duloxetina e venlafaxina. Caso a caracterstica da dor seja neuroptica,
antidepressivo tricclico tem resposta excelente para ambas as condies.
2.10. Resposta ao tratamento
Se no houver melhora dos sintomas depressivos nas seis primeiras semanas
do tratamento, preconiza-se aumento da dose gradativamente at obter sinais de
resposta, podendo-se tambm associar ansiolticos(8). A mudana do frmaco est
indicada se ocorrerem efeitos colaterais indesejveis graves ou intolerveis ou
ausncia de resposta teraputica aps as modificaes.
2.11. Contraindicaes para grupos especiais
IMAO: portadores de asma, hipertensos, usurios de anticonvulsivantes.
ADT: portadores de cardiopatias com distrbios de conduo, epilepsia, hipertenso, glaucoma de ngulo fechado e prostatismo. Contraindicao relativa para uso em idosos.
Evitar dose elevada de ISRS em pacientes com alteraes plaquetrias, exceo para o citalopram.
Duloxetina e nefazodona: evitar em portadores de doena heptica.
196
3. Transtornos de Ansiedade
A ansiedade definida como um estado de humor desconfortvel vivenciado
como sentimento difuso de medo e apreenso. Nos pacientes em Cuidados Paliativos, o estmulo desencadeador costuma ser o diagnstico de uma doena grave
sem proposta curativa ou mesmo a percepo de que sua doena evolui de forma
refratria. Diante de um estmulo to intenso, o paciente tem uma tendncia a
evoluir com ansiedade que comumente evolui para um estado patolgico. Essa
ansiedade patolgica deve ser reconhecida precocemente para que se possa iniciar
a terapia adequada.
Aps um correto diagnstico, os transtornos de ansiedade devem ser ainda
classificados em: transtorno de ansiedade generalizada, transtornos de pnico e
fobia social, que merecem abordagens diferenciadas.
3.1. Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG)
Os sintomas caractersticos do TAG podem ser agrupados em trs categorias:
tenso motora, hipervigilncia e hiperatividade autonmica.
3.1.1. Tratamento:
A Terapia Cognitiva Comportamental (TCC) tem eficcia comprovada no
tratamento do TAG, particularmente em pacientes na fase intermediria de
Cuidados Paliativos.
A atividade fsica deve ser indicada para pacientes com condies fsicas
adequadas. Quando o paciente est restrito ao leito, recomenda-se fisioterapia de conforto.
A acupuntura possui tcnicas bem estabelecidas para reduo dos sintomas
de ansiedade com bloqueio de pontos especficos.
Massoterapia, cromoterapia e outras tcnicas de relaxamento.
Terapia Farmacolgica:
3.1.1.1. Benzodiazepnicos (BZD)
o grupo de escolha para o tratamento do TAG. Os BZD possuem boa absoro oral, atingem concentrao plasmtica mxima em uma hora com forte ligao proteica e alta solubilidade lipdica. Os seus efeitos principais so exercidos
no sistema nervoso central com reduo da ansiedade, sedao e induo de sono.
Os seus principais efeitos colaterais so sonolncia, confuso, amnsia e dficit de
coordenao motora, acentuados nos idosos.
197
Preconiza-se que o seu uso deva ser iniciado com a menor dose que promova
alvio da ansiedade, e o uso de doses fracionadas diminuem a ocorrncia de efeitos colaterais. O diazepan, por possuir a meia-vida mais longa, considerado uma
droga mais fcil de ser retirada.
BZD
Equivalncia com
5mg de diazepan
Dose mdiaansiedade
Dose geritrica
Alprazolam
0,5
1-2
0,25-0,5
Clordiazepxido
10
15-75
5-30
Clonazepan
0,25
0,5-1,5
0,25-1,0
Clorazepato
7,5
15-67,5
15-60
Cloxazolam
01
2-8
2-8
Lorazepan
01
2-6
0,5-1,5
Oxazepam
15
30-60
10-30
3.1.1.2. Buspirona
um composto ansioltico do grupo das azapironas, diferindo dos BZD por
no apresentar efeitos miorrelaxantes, anticonvulsivantes ou hipnticos. agonista parcial de receptores serotoninrgicos. Possui uma boa absoro oral, sendo
metabolizado pelo fgado. Uma caracterstica interessante dessa classe que no
provoca sintomas de abstinncia na retirada e no possui efeitos colaterais graves,
podendo ser usado em longo prazo. Os efeitos adversos mais comuns so cefaleia,
fadiga, nuseas, insnia e tontura. A dose inicial de 15mg divididas em trs
doses, com dose mxima de 30-40mg/dia. A buspirona indicada quando no se
consegue o efeito desejado com os BZD, especialmente quando h necessidade
de uso em longo prazo.
3.1.1.3. Antidepressivos
Os frmacos antidepressivos podem ser usados para controle do TAG, principalmente quando os BZD so necessrios em longo prazo e/ou no apresentam
resposta satisfatria(8). O grupo de escolha dos ISRS, podem ser usados em
segunda escolha a venlafaxina ou imipramina (ver doses em 2.3, 2.4 e 2.6).
importante ressaltar que o efeito teraputico somente se inicia a partir do dcimo
dia, com ao plena aps quatro semanas.
198
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May 2, p. 743-56. 2000.
201
Os sintomas fadiga, sudorese e prurido tm em comum o fato de serem pouco reconhecidos, valorizados ou tratados pelos mdicos. De fato, sintomas como
dor, nuseas e vmitos ou dispneia, quando no controlados, em geral, so mais
dramticos e necessitam ser paliados prioritariamente. Mas aps o controle inicial
desses sintomas, as queixas de fadiga, sudorese ou prurido muitas vezes assumem
uma grande proporo do sofrimento sentido pelos pacientes em Cuidados Paliativos, e por isso devem receber a mesma ateno por parte dos mdicos e de toda
a equipe multidisciplinar, ainda que as opes teraputicas sejam mais escassas
ou menos efetivas. A maioria das publicaes no assunto so relativas a pacientes
oncolgicos. So necessrios mais estudos para definir se existem de condutas
especficas e diferentes destas, para pacientes com outras doenas.
Fadiga
Fadiga relacionada ao cncer definida como uma perturbadora sensao
subjetiva e persistente de cansao e exausto fsica, emocional e/ou cognitiva,
desproporcional ao nvel de atividade fsica e que interfere no status funcional do
paciente(1). Diferencia-se da fadiga do dia a dia que temporria e aliviada com o
repouso. um dos sintomas mais prevalentes e mais desgastantes para o paciente com cncer, com impacto negativo na qualidade de vida(2,3). Sua prevalncia
pode chegar a 95%, sendo que h grande variabilidade nos estudos a depender do
critrio diagnstico utilizado. Apesar da alta prevalncia e do alto impacto para o
paciente, dados de literatura mostram que a fadiga pouco diagnosticada e tratada
pelos mdicos(4).
A fisiopatologia da fadiga relacionada ao cncer pouco compreendida, mas
vrias causas podem sobrepor-se e contribuir para o agravamento deste sintoma.
As principais causas de fadiga esto relacionadas na tabela 1.
Tabela 1. Causas relacionadas a fadiga
202
Deficincias/sndromes carenciais
Anorexia/nuseas e vmitos
M absoro
Comorbidades
Insuficincia cardaca/coronariana
DPOC/pneumopatias intersticiais
Insuficincia renal/heptica
Psiquitricas Depresso/ansiedade
Distrbios do sono
Medicamentos
Opioides
Ansiolticos/hipnticos/antidepressivos
Anti-histamnicos, diurticos, anti-hipertensivos,
hipoglicemiantes, etc.
A avaliao da queixa de fadiga deve ser feita de forma ativa por parte do
mdico, que dever questionar especificamente sobre a presena/ausncia deste
sintoma, e buscar quantific-lo de forma objetiva. O mais recomendado utilizar
a escala numrica de 0 a 10 por ser de fcil aplicao e boa para seguimento. Na
presena de fadiga moderada a intensa (4 a 10), deve-se proceder a anamnese e
exame fsico detalhados na busca de causas contribuintes potencialmente tratveis. O tratamento das causas contribuintes para a fadiga constitui-se na principal
opo teraputica, visto que as medidas de tratamento puramente sintomtico so
escassas.
O uso de corticoides (dexametasona 1 a 4mg/dia ou prednisona 5 a 20mg/
dia) pode ser recomendado com base na experincia clnica de melhora sintomtica em alguns pacientes, entretanto no h evidncias cientficas para tal uso.
Alm disso, deve-se considerar que a corticoterapia prolongada acelera a perda
de massa muscular. Os psicoestimulantes podem ser indicados para o tratamento
da fadiga com base em alguns estudos clnicos. Numa recente metanlise com
203
Sudorese
Sudorese excessiva pode ser um sintoma muito desgastante e de difcil controle para o paciente em Cuidados Paliativos. A prevalncia foi de 16% num estudo entre os pacientes de um hospice(8), mas dados de literatura revelam prevalncia de at 28%(9). Muitas vezes a sudorese pior ou limitada ao perodo noturno,
levando a distrbios do sono. A sudorese pode ser um sintoma tpico de alguns
tipos de neoplasia, como linfoma, feocromocitoma e tumores carcinoides, mas
qualquer neoplasia avanada pode ser a causa primria deste sintoma. As principais causas de sudorese em pacientes com cncer esto listadas na tabela 2.
Tabela 2 - Causas de sudorese em pacientes com cncer
Infeco (associada ou no a febre)
Paraneoplasica (associada ou no a febre):
linfoma
tumores carcinoides
feocromocitoma
mesotelioma
metstases sseas
cncer avanado no especificado
Alteraes hormonais em decorrncia do prprio cncer ou de seu tratamento
Medicamentos (quimioterpicos, opioides, antidepressivos tricclicos, inibidores hormonais)
204
O tratamento mais adequado dever ser escolhido conforme a causa da sudorese, levando-se em conta que muitas vezes a etiologia mltipla, e a causa nem
sempre reversvel. Para os casos de sudorese relacionada a quadro infeccioso, o
tratamento adequado com antibiticos dever resolver o sintoma. A sudorese associada a tumores neuroendcrinos pode ser controlada com o anlogo da somatostatina, octreotide por via subcutnea na dose de 50 a 500mcg 3x/dia. Os casos
de sudorese associada a fogachos em pacientes menopausadas ou naqueles com
cncer de prstata submetidos a castrao (cirrgica ou farmacolgica) podem ser
tratados com terapia de reposio hormonal (acetato de megestrol 20mg VO 2x/
dia ou acetato de medroxiprogesterona 500mg IM quinzenal(10,11)), mas as contraindicaes relativas e absolutas frequentemente limitam o seu uso em pacientes em Cuidados Paliativos. Homens com cncer de prstata castrados tambm
podem usar estrgenos ou o antiandrognico acetato de ciproterona (50mg VO
2x/dia)(11). Quando a sudorese associada ao uso de opioide pode-se tentar fazer
rotao para outro opiceo, embora os dados de literatura sugiram que a rotao
pouco eficaz nesses casos(12). Os principais frmacos utilizados para o controle
sintomtico da sudorese so:
Anti-inflamatrios no hormonais: particularmente indicados para os casos
de febre paraneoplsica, mas tambm podem ser utilizado para controle da
sudorese sem febre naproxeno 250-375mg VO 2x/dia.
Neurolpticos: olanzapina 5mg VO 1-2x/dia descrita como alternativa para
tratamento da sudorese(12). A tioridazina em doses baixas (10-25mg/dia) tambm descrita(13), mas o risco de alargamento do intervalo QT e arritmias
fatais praticamente contraindica o seu uso.
Antidepressivos: venlafaxina (75mg/dia, liberao prolongada) tem se mostrado efetiva no controle da sudorese associada a fogachos em pacientes
menopausadas e nos pacientes com cncer de prstata submetidos castrao(11,14,15). Outros antidepressivos inibidores de recaptao de serotonina (paroxetina, fluoxetina) tambm podem ser empregados(16,17).
Gabapentina: na dose de 900mg/dia mostrou-se efetiva na reduo de sudorese e fogachos em pacientes sob os efeitos da menopausa ou castrao, e
pode ser efetiva tambm nos casos de sudorese sem causa estabelecida(9,11,18).
Outras medicaes so citadas na literatura como alternativa para controle
sintomtico da sudorese, mas seu uso limitado pelo alto risco de efeitos colaterais ou pela eficcia questionvel. Exemplos so cimetidina (400-800mg 2x/dia),
talidomida (100mg noite), clonidina e hioscina.
Algumas medidas gerais que devem ser recomendadas aos pacientes com
queixa de sudorese so listadas na tabela 3.
205
Prurido
Prurido representa sensao distinta provinda de camada superficial de pele,
mucosa incluindo trato respiratrio alto, ou de conjuntiva(19).
O manejo mais adequado possvel de um caso clnico resulta de uso racional
de uma medicao atravs de entendimento de fisiopatogenia e a compreenso
dos mediadores que provocam o prurido em cada situao (tabela 4).
Doena sistmica
Prurido na ausncia de erupes cutneas pode ser devido a: ictercia, insuficincia renal, uso de opioide, anemia (deficincia de ferro), tireoidopatia, mieloma, linfoma, policitemia vera e diabetes (tabela 5).
Prurido por Problema Local: frequentemente pele seca ou escoriada causa
coceira por ciclo vicioso de prurido-coadura. Eventualmente, o simples uso de
hidratante ou emoliente pode resolver.
Prurido por causa no cutnea Vide roteiro e tabela 6
Roteiro e opes de manejo de prurido de causa no cutnea, conforme a
etiologia(19): (acompanhar tabela 6)
1. Medidas gerais corte de unhas, hidratante aps banho.
2. Excluso de dermatoses (especialmente escabiose)
3. Tratamento de causa removvel (p.ex.: drenagem biliar, rotao de opioide)
4. Clorfeniramina: 4mg VO 8/8h inefetivo em IRC e colestase
5. Loo de Calamine ou Mentol, localmente
6. Pururido associado colestase
a. Colestiramina: 4 a 8g VO ao dia,
b. Rifampicina 150mg VO 12/12h
7. Ondansetron: para prurido induzido por opioide e uremia
a. 4 - 8mg ev, inicialmente, depois 4mg VO de 12/12h(20)
206
8. Paroxetina: 20mg 1cp VO, 1x/d. nos casos de prurido relacionado neoplasia.
Efeito esperado aps 4 a 7 dias(20).
9. Cimetidina: 200mg 6/6h em doena lifoproliferativa, policitemia vera e uremia(20).
10. Capsaicina: creme de 0,025% a 0,075%, 8/8h. Prurido urmico localizado(20).
11. Hidroxizine: 25 a 100mg VO at de 8/8h, caso insnia caracterizar uma consequncia importante no prurido(20).
Tabela 6 - Manejo de prurido em doenas no cutneas(20)
Condio
Etapa 1
Etapa 2
Etapa 3
Corrigir o corrigvel
Creme emoliente
Sedativo, ex.:
benzodiazepnico e
clorfenamima 4mg
8/8h
Fototerapia UVB
A ou se localizado
Creme de capsaicina 0,025 a 0,075%
1~2x/d A
Naltrexona 50mg
1x/d A
Talidomida 100mg
A
Colestase
Naltrexone12,5 a
250mg 1x/d A
Rifampicina 75 a
300mg 1x/d A ou
paroxetina 5 a 20
mg 1x/d A
Metiltestosterona
25mg SL 1x/d ou
alternativa, ex.:
Danazol 200mg 1 a
3 x/d U
Linfoma de
Hodgkin
Predinisolona 10 a
20mg 3x/d
Cimetidian 800mg
/ 24h B
Mirtazapina 15 a 30
mg VO
Bupivacana intratecal A
Ondansetron 8mg
EV A
Sedativos, ex.:
benzodiazepnico
Ondansetron 8mg
VO 2x /d
Rotao de opioide
Prurido paraneoplsico
Paroxetina 5 a 20
mg VO 1x/d A
Mirtazapina 15 a
30mg vo U
Talidomida 100mg
U
Paroxetina 5 a 20
mg VO 1x/d A
Mirtazapina 15 a
30mg vo U
Talidomida 100mg
U
Medidas Gerais b
Uremia
207
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209
Parte 3
Sndromes Clnicas
Caquexia e anorexia
Henrique Afonseca Parsons
Introduo e definio
Etimologicamente, caquexia significa mau estado, do grego kaks (mau) e
hexis (estado). Tradicionalmente, a caquexia relacionada ao emagrecimento excessivo e claramente aparente associado a determinadas enfermidades(1). Nos dias
de hoje, entretanto, no frequente encontrar pacientes tipicamente caquticos,
extremamente emagrecidos e com proeminncias sseas aparentes. Isso parece
decorrer em parte da epidemia de obesidade e tambm da evoluo da cincia
mdica, que permite melhor tratamento das doenas de base nestes pacientes.
Nos ltimos anos, tambm a definio de caquexia vem evoluindo, e atualmente
ela pode ser considerada uma sndrome que cursa com perda de peso, associada a
outros fatores, inclusive a anorexia (reduo do apetite com consequente reduo
do aporte calrico)(2) (Tabela 1)(3,4).
Epidemiologia
Estima-se que a caquexia esteja presente em cerca de 2% da populao geral(5).
Em pacientes com cncer, sua prevalncia de aproximadamente 80%, aparecendo
mais frequentemente nos estgios avanados da doena(6). Cerca de 30% dos pacientes com AIDS apresentam caquexia(7) (embora esta frequncia seja bem maior em
pacientes sem acesso terapia antirretroviral, chegando a nveis semelhantes aos
dos pacientes com cncer avanado)(2). Cerca de 30% dos pacientes com doena
pulmonar obstrutiva crnica (DPOC) apresentam caquexia, sendo ainda maior em
pacientes com apresentaes mais severas(8,9). Pacientes portadores de insuficincia
renal crnica tambm esto sujeitos ocorrncia de caquexia (aproximadamente
50%)(10). Insuficincia cardaca crnica tambm causa de caquexia, embora sua
prevalncia ainda seja incerta (estima-se algo em torno de 15-30%)(11,12). A sndrome
da caquexia considerada fator de mau prognstico em todas as patologias descritas
(9,11-15)
, e claramente associada pior qualidade de vida(16-20).
Mecanismo e classificao
A caquexia pode ser classificada quanto sua etiologia em caquexia primria
ou secundria. A caquexia primria aquela que ocorre como resultado da des213
Diagnstico
Clnico. Valores de peso, tanto o pr-mrbido quanto outros valores anteriores consulta devem ser obtidos, pois sero fundamentais na determinao da
proporo de peso perdido. Deve-se dar preferncia aos dados de pronturio, mas
aceitvel utilizar dados reportados pelo paciente e/ou cuidador bem informado
quando da inexistncia de dados registrados.
Atravs de detalhada histria clnica, aspectos nutricionais como preferncias e hbitos alimentares devem ser explorados. Mudanas de hbitos alimentares devem ser identificadas desde o incio da doena e, quando possvel, dirios
alimentares devem ser obtidos (alguns dias ou mesmo apenas o dia anterior ao
da consulta). O objetivo destes mtodos estimar a ingesta calrica e com isto
determinar se existe dficit energtico.
A anorexia parte frequentemente integrante mas no obrigatria na sndrome da caquexia. De fato, na maioria das vezes a caquexia pr-data o surgimento
de alteraes do apetite(23). Este fato no reduz a importncia do correto diagnstico das alteraes de apetite, que deve ser realizado de forma sistemtica atravs
do uso de escalas numricas ou visuais como o Edmonton Symptom Assessment
System, atravs do qual se solicita ao paciente que gradue o seu apetite em uma
escala de 0 a 10 onde 0 est ancorado a o melhor apetite e 10 a o pior apetite
possvel(24,25). A impresso do paciente sobre a evoluo do seu apetite (se pior
desde o incio da doena, ou desde o ltimo contato com a equipe, ou desde o
incio de uma terapia, por exemplo) tambm fornece dados aceitveis sobre problemas nesta rea(26,27). Sintomas do trato digestrio como nuseas e vmitos e
as complicaes orais devem ser explorados durante a anamnese. necessrio
questionar ativamente sobre a saciedade precoce, que causa comum de anorexia
e fator associado gnese da caquexia. As alteraes do paladar so frequentes e
214
devem ser tambm investigadas. O exame fsico da cavidade oral deve ser completo, em busca de mucosites, estomatites, infeces, leses, ou quaisquer outras
alteraes que possam dificultar a alimentao.
A astenia, que pode ser definida como uma reduo na capacidade de realizar atividades fsicas ou psicolgicas(28), pode fazer parte da sndrome da caquexia e seu diagnstico clnico por excelncia. A anamnese orientada para o
diagnstico da astenia deve, obrigatoriamente, explorar a presena de uma sensao generalizada de fraqueza (que resulte na inabilidade de iniciar atividades),
cansao precoce (associado dificuldade de manter eficazmente certas atividades)
e fadiga mental (que pode incluir dificuldade de concentrao, perda de memria
e labilidade emocional)(39,30).
Como a astenia, cada vez mais as alteraes de fora muscular vm sendo
descritas como parte integrante da sndrome da caquexia(31). Sua avaliao portanto se faz necessria e pode ser realizada atravs de medidas padronizadas como
a dinamometria, ou atravs da avaliao subjetiva da fora muscular ao exame
fsico.
Alimentao, apetite, aparncia fsica so extremamente relacionados a emoes. A avaliao psicossocial do paciente sob risco de caquexia fundamental.
Diversos problemas familiares costumam aparecer em conjunto com a caquexia,
geralmente baseados na associao quase automtica do aspecto fsico caqutico
com a proximidade da morte, ou em questes relacionadas com a alimentao.
Portanto, uma avaliao abrangente do estado psicolgico do paciente, bem como
dos familiares e cuidadores quando possvel podem ser teis para o manejo do
caso.
Antropometria. Evidentemente, peso e altura devem ser determinados em
todos os encontros com o paciente. Recomenda-se tambm registrar dados sobre
a presena de edema (membros inferiores ou ascite, por exemplo) no mesmo formulrio onde ser registrado o peso. Para o diagnstico e acompanhamento da
evoluo da caquexia, deve-se utilizar a proporo de peso perdido, e no medidas individuais de peso que so pouco informativas.
A determinao da massa magra significativamente importante no diagnstico da caquexia. Este dado pode ser facilmente obtido subtraindo-se do peso
total a massa adiposa determinada com o uso de medidas de pregas cutneas(32).
Entretanto, como a maioria das tabelas de converso disponveis so baseadas em
indivduos saudveis, o uso das pregas cutneas pode no ser o ideal em pacientes
severamente doentes. Idealmente, a massa magra deve ser determinada, quando
possvel, atravs de bioimpedncia ou mtodos de imagem(33,34).
Exames laboratoriais. Ao menos hemoglobina, albumina srica e protena
C reativa devem ser avaliados em pacientes sob risco de caquexia, pois podem
215
auxiliar na determinao do plano teraputico. Outras avaliaes laboratoriais podem ser necessrias em casos especficos, especialmente relacionados s causas
secundrias de caquexia, como a dosagem do Zinco srico em pacientes com
alteraes de paladar, da testosterona em pacientes com suspeita de hipogonadismo e do hormnio tireoestimulante em pacientes com suspeita de alteraes
tireoidianas, entre outras.
Conduta
No existe at o momento tratamento comprovadamente capaz de reverter a
caquexia primria. Diferentes combinaes teraputicas tendo como alvo os diversos mecanismos concomitantes causadores da sndrome vm sendo estudadas,
visto que j foi identificada a necessidade de tratamentos abrangentes(35-37).
O primeiro passo para o adequado manejo da sndrome da caquexia a
boa comunicao com o paciente e seus familiares. comum a interpretao da
caquexia como um sinal de morte iminente por falta de alimentao, causa de
grande sofrimento psicolgico em todos os envolvidos(38). A comunicao franca,
combinada com o suporte psicossocial, deve permitir que paciente e famlia realizem a transio do conceito comum de morte por fome para o entendimento
do real quadro de desbalano metablico (geralmente irreversvel) envolvido na
caquexia. O ato de alimentar-se uma atividade social per se, portanto, nos casos
em que o paciente consegue alimentar-se mesmo tendo pouco apetite ou saciedade precoce, o aconselhamento importante para manter esta atividade durante o
maior tempo possvel. Orientaes gerais como evitar odores durante a elaborao das refeies, uso de condimentos de acordo com a preferncia do paciente,
reduo do tamanho das pores e realizao de refeies mais frequentes podem
melhorar o aporte nutricional, mas infelizmente no parecem influenciar os sintomas ou a sobrevida(39).
O tratamento deve ser orientado para as causas secundrias de caquexia, que
so em sua grande maioria reversveis ou controlveis. Sintomas gastrointestinais
e da cavidade oral devem ser tratados de maneira sistemtica e intensiva. Alteraes do paladar, se relacionadas a deficincia comprovada de Zinco, podem
ser tratadas com reposio deste mineral(40) (25mg via oral, 3x ao dia durante as
refeies, durante cerca de 3-4 semanas). Xerostomia na ausncia de desidratao
pode ser prevenida evitando-se ctricos, lcool e cafena, e tratatada com o uso
de preparaes de saliva artificial como carboximetilcelulose ou carmelose. A
saciedade precoce pode ser tratada com o uso de procinticos cerca de 30 minutos
antes das refeies (Metoclopramida 10mg via oral, 3-4x ao dia). Outros sintomas
associados, como a depresso ou o delirium, devem ser tratados adequadamente.
216
Agentes estimulantes do apetite tm seu uso sustentado por slidas evidncias cientficas. O uso de progestgenos (Acetato de Megestrol via oral iniciando
com 160mg/dia e progredindo de acordo com a resposta clnica at doses ao redor
de 480-800mg/dia, ou Medroxiprogesterona iniciando com 1g/dia at cerca de 5g/
dia tambm de acordo com a progresso da resposta clnica) recomendado, pois
permite rpida melhora do apetite, da fadiga e na sensao de bem-estar geral(26, 41,
42)
. Os efeitos colaterais do uso de progestgenos so: hipertenso, hiperglicemia,
reteno hdrica, hipogonadismo e trombose. Seu uso est formalmente contraindicado em pacientes com histrico de trombose venosa profunda ou tromboembolismo pulmonar, e deve-se realizar o monitoramento dos nveis de testosterona.
Corticosteroides tambm podem ser utilizados pelo seu efeito estimulador do
apetite(43-46), mas o seu uso restrito a poucas semanas devido aos riscos associados com o seu uso prolongado (Dexametasona 4mg via oral 1x ao dia pela manh,
por exemplo).
O suporte nutricional est indicado em pacientes com caquexia causada por
obstrues do trato digestivo ou por impedimentos alimentao como graves
sequelas neurolgicas, grandes tumores de cabea e pescoo ou mucosites graves,
por exemplo. O uso de nutrio enteral ou parenteral em pacientes com caquexia
por outras causas controverso e geralmente contraindicado. Em pacientes com
cncer e caquexia, seu uso no associado resposta clnica relevante(47, 48).
A administrao de talidomida em baixas doses (100mg via oral ao dia)
gerou melhoras significativas no apetite, nas nuseas e na sensao de bem-estar
geral aps 10 dias de uso em pacientes com cncer avanado e caquexia (49). Um
estudo posterior utilizando 200mg/dia por seis meses comprovou a tolerabilidade
da droga e a sua eficcia como estabilizador do peso e da massa magra, entretanto
as melhoras sintomticas no foram reproduzidas(50). Pacientes com AIDS e caquexia tambm foram estudados para o tratamento com talidomida, com resultados semelhantes(51).
O uso de testosterona ou derivados (oxandrolona, nandrolona) para o tratamento de caquexia parece ser eficaz para o aumento de massa magra em pacientes
com AIDS e DPOC que apresentam caquexia, e seu uso pode ser recomendado
nessas populaes(52-55).
O uso do hormnio de crescimento recombinante para o tratamento de
caquexia j se mostrou eficaz em pacientes com AIDS e caquexia(56, 57). Entretanto,
seu custo geralmente proibitivo.
O cido eicosapentaenoico (leo de peixe) apresentou resultados preliminares promissores que no foram completamente comprovados em estudos posteriores em pacientes com cncer avanado(58-61). Entretanto, efeitos positivos sobre
qualidade de vida e apetite esto comprovados nestes pacientes(62).
217
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223
Introduo
Obstruo Intestinal Maligna (OIM) uma complicao bem conhecida e um
problema complexo em pacientes com cncer avanado, especialmente de origem
gastrointestinal e plvica. Embora possa ocorrer em qualquer perodo da doena,
ocorre com maior frequncia no estgio avanado(1).
A prevalncia global de OIM oscila entre 3-15% nos pacientes com cncer, alcanando de 5-51% nos casos de cncer de ovrio e 10-28% em pacientes
com cncer de clon. As neoplasias de origem primria abdominal que com mais
frequncia provocam OIM so clon (40-25%), ovrio (29-16%), estmago (196%), pncreas (13-6%), bexiga (10-3%) e endomtrio (11-3%). Em termos de
neoplasias de origem primria extra-abdominal que com mais frequncia provocam OIM devido infiltrao peritoneal so mama (3-2%), pulmo e melanoma
(3%), podendo ocorrer muitos anos aps a apresentao da doena primria(1-6).
A expectativa de vida de 6 meses de 50% nos pacientes cirrgicos e de 8%
naqueles com OIM inopervel. Deve-se ressaltar que a consistncia destes dados
limitada devido maioria dos estudos serem embasados em subpopulaes selecionadas ou srie de casos retrospectivos, com estados evolutivos diferentes e
critrios diagnsticos heterogneos(1,2).
OIM, uma interrupo do trnsito gastrointestinal por ocluso da luz e/ou
alteraes da motilidade intestinal, foi definida por um grupo internacional de
consenso a partir do uso de alguns critrios: a) evidncia clnica de obstruo
intestinal (histria, exames fsico e radiolgico); b) obstruo distal ao ngulo
de Treitz; c) presena de cncer de origem primria intra-abdominal ou cncer
extra-abdominal, com claro comprometimento peritoneal; d) doena incurvel(2,7).
Fisiopatologia
O trnsito intestinal pode ser impedido por diferentes mecanismos; a obstruo pode ser mecnica ou funcional, parcial ou completa e pode ocorrer em um
ou muitos locais. Pode se originar no intestino delgado (61%), no intestino grosso
(33%) ou em ambos, simultaneamente (20%) [1,2,8]. Nos pacientes com cncer
avanado e inoperveis, os nveis de ocluso so mltiplos em 80% dos casos e
224
225
Obstruo intestinal
parcial ou completa
Dor contnua
distenso,
massa tumoral,
hepatomegalia
Distenso intestinal:
Aumento do contedo do lmen
Aumento da superfcie epitelial
Secreo intestinal H2O, Na, Cl
Danos ao epitlio intestinal
Resposta inflamatria intestinal com edema, hiperemia e produo de
#
PG**, PIV , mediadores nociceptivos
Nusea e/ou
vmito
Manifestaes clnicas
Os diferentes nveis de obstruo podem determinar os vrios padres de sintomas, influenciando em sua apresentao, intensidade, gravidade e consequente
resultado. Quanto mais alta a obstruo, mais graves os sintomas e mais sutis os
sinais (quadro 1). Dor contnua atribuda ao crescimento de massa visceral que
comprime o intestino, distenso intestinal ou hepatomegalia, enquanto que a
dor tipo clica, pela atividade para sobrepor a obstruo no intestino delgado ou
grosso, pode piorar os sintomas. Diarreia paradoxal pode ocorrer como escape
de fluido pela impactao fecal, resultante de atividade bacteriana (liquefao do
contedo digestivo) e hipersecreo intestinal, geralmente no intestino grosso.
226
Gstrica ou
intestino delgado proximal
Vmitos
Dor
Distenso
abdominal
Anorexia
Presente
Sempre
O incio da OIM pode ser subagudo, com presena de dor em clica, distenso abdominal, nuseas e vmitos que cedem espontaneamente (subocluso). A
prevalncia dos sintomas quando a OIM est consolidada : nusea 100%, vmitos 87-100%, dor em clica 72-80%, dor por distenso 56-90% e parada de
eliminao de gases e fezes nas ltimas 72h 84-93%(1,2,4,5).
No exame fsico destaca-se a distenso abdominal, marcante nas obstrues
baixas e alteraes no peristaltismo. Inicialmente, podem-se auscultar borborigmos e peristaltismo de luta. Conforme a OIM se estabelece, o peristaltismo pode
reduzir at sua completa abolio, auscultando-se rudos metlicos devido tenso hidroarea. Nos pacientes com cncer avanado, associam-se tambm anemia
(70%), hipoalbuminemia (68%), alterao heptica enzimtica (62%), desidratao e disfuno renal pr-renal (44%), caquexia (22%), massas tumorais abdominais palpveis (21%) e deteriorao cognitiva (23%)(8).
Avaliao
A abordagem inicial inclui uma avaliao clnica para descartar causas agudas de obstruo e assegurar que o paciente no se apresenta em uma emergncia
cirrgica. Embora a localizao da obstruo possa ser determinada pela natureza
e apresentao dos sintomas (quadro1), recomendado que exames de imagem
adicionais sejam realizados com o intuito de determinar o plano de cuidados a ser
implementado.
A radiografia simples de abdmen tem uma especificidade e sensibilidade
modestas na deteco da obstruo intestinal. A ausncia de nveis hidroareos,
dilatao de alas intestinais ou edema de alas no exclui OIM. Apesar dessas
limitaes, a radiografia simples de abdmen til para avaliar constipao e
227
228
Obstruo colorretal
A insero com xito de um stent em cncer de clon oscila entre 80-100%
e os casos em que se consegue uma melhoria dos sintomas ocorrem em mais de
230
Antiemticos
Drogas procinticas
Metoclopramida 60-240mg/dia SC
em
Pacientes com ocluso parcial e
sem clica
Drogas antissecretoras
Drogas anticolinrgicas
Hioscina 40-120mg/dia
SC,IV
Drogas neurolpticas
Haloperidol 5-15mg/dia SC ou
Clopromazine 50-100mg a cada
8h IM/VR
e/ou
Anlogo de somatostatina
Octreotide 0,2-09mg/dia SC/
IV
ou
Drogas anti-hisstamnicas
Ciclizina 100-150mg/dia SC ou
50mg a cada 8h VR
SC = Subcutneo IM
= Intramuscular
IV = Intravenoso
VR = Via Retal
Mais de 80% dos pacientes com OIM apresentam dor contnua ou em clica de alta intensidade(1,2,3,4,5). A administrao de analgsicos, em sua maioria
opioides fortes de acordo com a Escada Analgsica da Organizao Mundial de
Sade (OMS)(36), permite o adequado controle deste sintoma em mais de 80% dos
casos(36,37). A dose do opioide deve ser titulada e, de modo geral, as vias subcutnea, intravenosa, sublingual e transdrmica so de preferncia pela presena de
nusea e vmitos. A morfina o primeiro opioide de eleio segundo a EAPC e a
OMS, na ausncia de ensaios clnicos controlados comparando os diferentes opioides nesta indicao, mas hidromorfona, fentanil, oxicodona e mesmo metadona
podem ser utilizados(38,39,40,41). Se a clica persistir, hioscina deve ser administrada
em associao(42,43).
232
Concluso
A qualidade de vida do paciente com OIM severamente prejudicada e a
conduta frente a estes casos requer uma avaliao muito cuidadosa por um time
interdisciplinar experiente. Tempo deve ser dedicado ao processo de tomada de
deciso que requer uma abordagem altamente individualizada, talhada na condio clnica, prognstico e objetivos do cuidado.
234
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238
Introduo
A Sndrome da Veia Cava Superior caracterizada por um conjunto de sinais
e sintomas, decorrentes da obstruo do fluxo sanguneo atravs da veia cava superior em direo ao trio direito.
Esta obstruo pode ser causada por compresso extrnseca do vaso, invaso
tumoral, trombose, ou por dificuldade do retorno venoso ao corao secundria
a doenas intra-atriais ou intraluminais. Aproximadamente, 73% a 97% dos casos de SVCS ocorrem durante a evoluo de neoplasias malignas intratorcicas,
que comprimem ou invadem a veia cava superior. Este processo pode ser causado
pelo prprio tumor ou por linfonodos mediastinais acometidos(1,2,3).
A neoplasia maligna que mais frequentemente causa a SVCS o carcinoma
broncognico (75% dos casos), sendo que 3% a 5% dos pacientes portadores
de neoplasias malignas de pulmo desenvolvem a SVCS durante a evoluo da
doena(3,4). Os linfomas constituem a segunda maior causa neoplsica da sndrome (15% dos casos), sendo que 17% dos linfomas com envolvimento mediastinal
causam a SVCS(5). As neoplasias metastticas correspondem a 7% dos casos (5%).
Os sintomas mais frequentes so dispneia, tosse, dor torcica e/ou disfagia.
Ocasionalmente, teremos cefaleia, tontura, viso turva ou sncope, todas exacerbadas quando o paciente inclina a cabea para a frente. A rouquido um sintoma
incomum.
Os sinais mais frequentes so edema de face e membro superior, dilatao
das veias do pescoo, pletora facial e cianose. Edema de conjuntiva tambm pode
ocorrer, assim como a Sndrome de Horner (ptose, miose e anidrose unilateral da
face), mais raramente. Veias dilatadas nas mos que no se colapsam quando o
membro elevado um outro sinal que pode ocorrer(6,7).
Fisiopatologia
A veia cava superior suscetvel obstruo devido a algumas caractersticas, tais como: sua localizao estratgica no compartimento visceral do mediastino, cercada por estruturas rgidas como o esterno, a traqueia, o brnquio
fonte direito, a aorta e a artria pulmonar direita; sua parede fina, facilmente com239
Tratamento
O tratamento depende da gravidade dos sintomas, da causa da obstruo, do
tipo histolgico e do tamanho do tumor que a produz.
Medidas gerais podem ser utilizadas at que o diagnstico seja feito e o tratamento definitivo seja indicado. Consistem em: elevao da cabea, repouso,
controle da dispneia com uso de opioides, esteroides no caso de linfomas. O uso
de diurticos pode trazer algum alvio sintomtico, mas deve ser evitado quando
possvel, pois eles diminuem a pr-carga e podem comprometer o dbito cardaco. Em alguns pacientes, estas medidas podem bastar, porm em outros podem
ser necessria medidas especficas, tais como radioterapia, quimioterapia, stents
endovasculares, trombolticos ou anticoagulantes.
O uso de stents endovasculares tratamento definitivo, se disponvel, promovendo importante alvio da obstruo, superior a 90%.
Na SVCS associada s neoplasias, a escolha do tratamento depende do tipo
de tumor. Por exemplo, linfomas e carcinomas pulmonares de clulas pequenas
podem responder rapidamente quimioterapia isolada, enquanto outras neoplasias provavelmente exigiro a radioterapia. A utilizao da radioterapia nos pacientes com SVCS antes da obteno do diagnstico histolgico considerada
inapropriada por muitos autores(6,7,8).
Geralmente, com a SVCS associada a neoplasias, 75% dos pacientes apresentaro melhora em 3 a 4 dias e 90% ter grande melhora uma semana depois
de institudo o tratamento. Os pacientes que no melhorarem na primeira semana
podem ter desenvolvido uma trombose venosa central, necessitando de uma terapia fibrinoltica ou antitrombtica.
Devido friabilidade de alguns tumores e presso venosa central elevada,
necessria cautela ao instituir o uso de anticoagulantes. Portanto, no deve ser
usual a anticoagulao profiltica.
240
Consideraes finais
A presena das emergncias oncolgicas costuma ser um sinal de doena progressiva. Neste momento, fundamental se estabelecer o estadiamento correto da
neoplasia maligna e o momento da evoluo da doena em que o paciente se encontra, para que se possa escolher a conduta mais adequada, de forma individualizada.
Para isso, a atitude do mdico deve ser cuidadosa e solidria, levando-se em conta a
autonomia do paciente em escolher, seu conforto e bem-estar.
Referncias
241
5. Nogeire, C.; Mincer, F.; Botstein, C. Long survival in patients with bronchogenic
carcinoma complicated by superior vena cava obstruction. Chest 1979; 75(3):325-9.
6. Roswit, B.; Kaplan, G.; Jacobsen, H. G. The superior vena cava obstruction
syndrome in bronchogenic carcinoma pathologic, physiologic and therapeutic management.
Radiology 1953; 61(5):722-37.
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AS, editors. Cancer: principles and practice of oncology. 4th ed. Philadelphia, PA: JB Lippincott;
1993. p. 2111-8.
8. Pollock, R. E.; Doroshow, J. H.; Khayat, D.; nakao, A.; O Sullivan B,
editors. Manual de Oncologia Clinica da UICC. 8th ed. Sao Paulo, SP: A John Wiley&Sons,
Publicacion e Fundaao Oncocentro de Sao Paulo; 2006. p. 757-60.
9. Putnam, J. S.; Uchida, B. T.; Antonovic, R.; Rosch, J. Superior vena cava
syndrome associated with massive thrombos is: treatment with expandable wire stents. Radiology 1988; 167(3):727-8.
10. Effeney, D. J.; Windsor, H. M.; Shanahan, M. X. Superior vena cava obstruction: resection and bypass for malignant lesions. Aust N Z J Surg 1973; 42(3):231-7.
11. Anderson, R. P.; Li, W. I. Segmental replacement of superior vena cava with spiral
vein graft. Ann Thorac Surg 1983; 36(1):85-8.
12. Doty, J. R.; Flores, J. H.; Doty, D. B. Superior vena cava obstruction: bypass
using spiral vein graft. Ann Thorac Surg 1999; 67(4):1111-6.
13. Duvnjak, S.; Andersen, P. Endovascular treatment of superior vena cava syndrome. Int Angiol 2011; 30(5):458-61.
14. Hague, J.; Tippett, R. Endovascular techniques in palliative care. Clin Oncol
2010; 22(9):771-80.
242
Introduo
A compresso medular ocorre em 3% a 5% dos doentes com neoplasia maligna avanada, sendo uma causa de morbidade muito importante nestes pacientes. O diagnstico precoce a arma mais importante para garantir a efetividade
teraputica. Os cnceres de mama, dos brnquios e da prstata so responsveis
por mais de 60% dos casos(1). O stio de maior incidncia o trax, existindo
compresso em mais de um nvel em mais de 20% dos casos. Abaixo do nvel da
segunda vrtebra lombar (L2), a compresso se d na cauda equina, ou seja, nos
nervos perifricos, e no no cordo medular.
A compresso medular maligna ocorre por invaso direta do tumor primrio
ou por suas metstases.
A velocidade de instalao da clnica indica a gravidade dos danos. A probabilidade de reverter um quadro clnico de paresia est inversamente relacionado
ao tempo de manuteno do mesmo: assim sendo, uma paresia instalada h 8h
tem grande chance de ser revertida, de 24-48h pode ainda ser revertida, mas aps
7 dias j se torna irreversvel(2).
A paralisia e a disfuno dos esfncteres so os estdios clnicos finais desta
urgncia oncolgica e que esto diretamente relacionados ao menor tempo de
sobrevida(2).
Fisiopatologia
A invaso pelo tumor altera a relao entre o plexo venoso epidural corpo
vertebral , canal medular, provocando uma estase venosa e edema medular que
leva a uma diminuio do fluxo capilar e a liberao de PG-E, citocinas, neurotransmissores e mediadores da inflamao e que so responsveis pelas alteraes
associadas hipxia, isquemia e dano tissular neurolgico.
Caractersticas clnicas
A dor o sintoma mais frequente e est presente em mais de 90% dos casos,
e antecede a disfuno neurolgica. progressiva, localizada no nvel da leso
243
Diagnstico
O diagnstico se baseia na histria e nos achados clnicos e neurolgicos
presentes e que indicam o nvel medular afetado.
A ressonncia magntica de toda a coluna e estruturas adjacentes a forma
de investigao de escolha e imprescindvel para planejar o tratamento. necessria a utilizao de contraste intravenoso para complementar o estudo nos casos
de presena de massas tumorais paravertebrais e metstases intramedulares.
A radiografia simples de coluna pode mostrar alteraes sseas, tais como
colapsos vertebrais, leses blsticas ou lticas, destruio do pedculo vertebral
em torno de 70% dos casos.
Tratamento
Embora a compresso medular seja frequentemente de instalao insidiosa,
deve ser tratada como uma emergncia.
A droga de escolha a Dexametasona, na dose inicial de 10-20mg IV em bolus. Durante as prximas 48h, manter a dose de 4-8mg a cada 6h e posteriormente
a mesma dose usada via oral. Manter esta dose durante o tratamento radioterpico, reduzindo progressivamente aps o seu trmino. recomendado associar-se
medicamento inibidor da bomba de prtons, assim como o controle dos nveis de
glicemia, da presso arterial e dos eletrlitos no sangue(2).
A radioterapia tem um papel central no tratamento da compresso medular maligna. Realizada junto com a administrao da dexametasona, apresenta
os seguintes resultados: descomprime o tecido nervoso por citorreduo tumoral,
244
Consideraes finais
O diagnstico precoce antes da instalao do dano neurolgico grave e a
instaurao imediata do tratamento so fatores essenciais para evitar a paralisia.
O prognstico e a expectativa de vida devem ser levados em conta para a
tomada de deciso.
Devemos sempre nos lembrar de incluir o paciente e seus familiares no processo de escolha do tratamento a ser implementado, baseado no preceito tico da
autonomia.
Referncias
245
Introduo
Obstrues do trato urinrio so complicaes que podem causar comprometimento do tempo e da qualidade de vida de pacientes sob Cuidados Paliativos.
Ocorrem por causas benignas ou malignas e se localizam em qualquer ponto do
trato urinrio: na pelve renal, ureteres, bexiga ou uretra.
Os sintomas mais comuns so dor e comprometimento de funo renal. Pela
proximidade com outros rgos abdominais, observa-se frequentemente fstulas,
infeces e hematria. Esse ltimo sintoma pode necessitar de investigao para
localizao (trato urinrio alto ou baixo) e tratamento especfico.
Assim como em todas as decises teraputicas em pacientes em Cuidados
Paliativos, deve-se considerar o status/performance do paciente, efetividade clnica da conduta, progresso da doena e risco x benefcio do procedimento. A
dificuldade atuar de maneira proporcional ao prognstico e sempre aps cautelosa e transparente discusso com o paciente, que deve participar ativamente das
escolhas teraputicas.
Incidncia
Calcula-se que 75% das obstrues urinrias sejam causadas por neoplasias
plvicas, principalmente tumores de colo uterino em mulheres e carcinoma de
prstata em homens. Neoplasias avanadas de trato digestivo, outros tumores ginecolgicos (incluindo mama), cncer de bexiga, pulmo e melanoma tambm
so causas de obstruo de vias urinrias. Observa-se raramente tumores de testculos e linfomas com a obstruo e a insuficincia renal at abrindo o quadro,
situaes que so potencialmente reversveis e curveis.
Como outras etiologias, encontramos linfonodos plvicos de doena metasttica, compresso ureteral por massas em retroperitneo e hematria macia com
cogulos em bexiga. Por vezes encontramos causas benignas, como fibrose retroperitoneal, infeces graves com piria e litase renal. O diagnstico diferencial
entre essas causas deve ser realizado para tratamento adequado.
246
Quadro clnico
Os sintomas de obstruo do trato urinrio geralmente so insidiosos, o que
permite identificao precoce e adequado planejamento do tratamento especfico.
Variam de intensidade e apresentao conforme comprometimento alto ou baixo,
unilateral ou bilateral.
Interrupo sbita do jato urinrio sugere leso de trato urinrio baixo (do
trgono vesical, prstata, uretra), obstruo de ambos ureteres ou de rim nico. A
ausncia de repleo vesical sugere obstruo alta bilateral.
Observa-se desconforto abdominal em flancos, clicas, diminuio do jato
urinrio, noctria, incontinncia e incapacidade de esvaziar totalmente a bexiga.
Em fase mais avanada, pode haver dor de variada intensidade e sintomas
tpicos da insuficincia renal aguda: edemas e/ou anasarca, edema agudo de pulmo, mioclonias, nuseas e vmitos, anemia e sintomas secundrios de alteraes
metablicas da uremia.
O exame fsico pode apresentar massa plvica de limite impreciso-bexigoma
ou massa tumoral, visvel e palpvel, distenso e descompresso brusca dolorosa.
Deve-se sempre incluir no exame fsico o toque retal e a avaliao ginecolgica
cuidadosa.
Investigao diagnstica
Os exames iniciais devem incluir funo renal (ureia, creatinina) e todos os
metablicos (sdio, potssio, clcio total e inico, gasometria venosa, fsforo),
assim como hemograma completo e coagulograma.
O ultrassom de abdome (US) extremamente til para avaliar localizao da
obstruo, detectar grau de hidronefrose e presena ou no de atrofia cortical renal. Tambm possibilita avaliar litase e caractersticas da bexiga. De custo baixo
e sem contraindicaes, deve fazer parte da investigao em todos os pacientes.
A tomografia de abdome e pelve colabora com detalhes sobre as informaes
obtidas no US, principalmente na presena de grandes tumores ou distenses/gases. Assim como a ressonncia nuclear magntica, deve ser realizada em pacientes com performance para procedimento e sem contraste na insuficincia renal.
Na presena de obstruo ureteral bilateral, deve-se proceder a cistoscopia e,
se necessrio, pielografia ascendente bilateral.
Est contraindicada a realizao de urografia excretora na presena de insuficincia renal.
247
Possibilidades teraputicas
A conduta clnica depender do prognstico do paciente e deve-se considerar: tempo de diagnstico, tipo de doena, extenso de doena, idade, tratamentos
j realizados, comprometimento de outros rgos e, principalmente, performance geral. Por exemplo, enquanto um jovem com carcinomatose por neoplasia de
testculo deve ser submetido a dilise, stents e tratamento oncolgico especfico,
um idoso com demncia avanada e neoplasia de prstata obstrutiva pode receber
uma sonda vesical de demora e reposio hidroeletroltica proporcional a diurese.
Essas escolhas devem ser adequadamente discutidas e proporcionadas.
Em obstruo de via urinria alta unilateral com rim contralateral normal, observa-se elevao da presso no sistema pielocalicial, diminuio do fluxo
plasmtico renal, progressiva perda da funo e atrofia do rim obstrudo. A recuperao da funo renal depende da durao da obstruo, morfologia da pelve
renal e da presena ou no de infeco. A colocao de cateter ureteral retrgrado
(stent duplo J ou cateter ureteral) o tratamento de escolha. Quando a obstruo
est complicada por septicemia ou insuficincia renal, o quadro considerado
uma urgncia.
So condies clnicas que indicam nefrostomia percutnea:
Impossibilidade tcnica de alvio da obstruo por via retrgrada;
Septicemia por foco urinrio em pacientes sem condies de anestesia geral;
Comprometimento tumoral em orifcios ureterais que impede passagem do
cateter.
As causas das obstrues baixas so variadas: anatmicas (tumores de prstata sendo a mais frequente, neoplasias da bexiga, estenose uretral secundria a
radioterapia), funcionais (hipocontratilidade da bexiga neuroptica por diabetes,
leso sacral, choque espinhal, disfuno do detrusor) ou farmacolgica. A colocao de sonda de Folley reverte a situao e deve ser acompanhada de cuidadosa
reposio de volume e manejo de distrbios hidroeletrolticos. Se o quadro for
acompanhado de insuficincia renal ps-renal, a reposio deve ser mais intensa,
pois cursa com poliria na maioria das vezes.
A impossibilidade de colocao de cateter em uretra por traumatismo prvio
ou leso intransponvel indica cistostomia, que pode tornar-se definitiva.
O tratamento clnico da insuficincia renal aguda (equilbrio de volume
sempre considerar participao de componente pr-renal, correo de potssio,
acidose e clcio) deve ser institudo at discusso detalhada do prognstico.
As terapias de reposio renal (hemodilise e dilise peritoneal) so reservadas aos pacientes com diagnstico recente, virgens de tratamento oncolgico
248
Prognstico
H poucos trabalhos de seguimento clnico de pacientes em Cuidados Paliativos e obstruo renal na literatura mdica. Questiona-se a qualidade de vida
desses indivduos e h relatos de morbidades dos procedimentos (fstulas e infeces). Uma srie de 33 pacientes nessa situao mostrou reverso do quadro em
75% dos casos com uso de cateter ureteral, somente dois (10%) pacientes foram
submetidos nefrostomia percutnea e 15% a cirurgia aberta. A maioria teve boa
ou tima paliao e a sobrevida mdia do grupo foi de 13 meses (variando de 6 a
29 meses).
Um artigo retrospectivo de 148 casos com obstruo ureteral maligna que
foram submetidos a nefrostomia percutnea ou cateter ureteral mostrou igual incidncia de febre ou pielonefrite em ambos grupos, porm a resolutividade do
procedimento foi estatisticamente maior na nefrostomia em comparao ao cateter (11 vs. 1,3%).
Outra srie de 25 pacientes com cncer cervical avanado mostrou que em
ambos procedimentos a indicao e a durao prvia da doena no tiveram influncia no prognstico, porm a radioterapia posterior aumentou a sobrevida. E que
a funo renal normalizou em 7/9 pacientes, 41% obtiveram alta hospitalar e 62%
permaneceram em casa at falecerem.
A enorme diversidade de idade, extenso de doena e performance inicial
devem interferir nesses resultados e s colaboram para optarmos por condutas
individualizadas baseadas nesses critrios.
Referncias
1. Hanks et al. Oxford Textbook of Palliative Medicine. Fourth edition. Oxford University Press, 2010.
2. Eyerly, Gaynor. The Handbook of Surgical Intensive Care. Third Edition. Mosby
Year Book, 1991.
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involved by recurrent cancer. Arch Surg. 1987, Apr; 122(4): 493-8.
4. Ku, J. H.; Lee, S. W.; Jeon, H. G.; Kim, H. H. et al.. Percutaneous nephrostomy
versus indwelling ureteral stents in the management of extrinsic ureteal obstrution in advanced
malignangies: are there diferences? Urology. 2004, Nov; 64(5):895-9.
5. Fukuoka, M.; Suzuki, A.; Fuji, S. et al.. Palliative urinary diversion in patients
with advanced cervical cancer. Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol. 1983, Dec; 16 (4): 293-8.
250
Hemorragias
Sara Krasilcic
Introduo
Hemorragias volumosas so quadros dramticos e uma das situaes mais
estressantes para o paciente e seus familiares. Tambm para a equipe de Cuidados
Paliativos pode ser uma situao que exige grande equilbrio emocional, decises
rpidas e posturas assertivas, porque com frequncia torna-se o evento final da
vida de alguns pacientes.
As causas mais frequentes de hemorragias exteriorizadas so bem conhecidas e por isso podem ser previstas. Devemos nos antecipar a essas situaes com
orientaes para a equipe de Cuidados Paliativos, assim como para os familiares.
Essa preparao e a conduta adequada ao prognstico do paciente iro caracterizar a maturidade da equipe e sua capacidade de cuidar de seus pacientes.
Causas
Os sangramentos ocorrem por invaso tumoral de vasos, destruio tecidual
e inflamao causada pelo cncer, principalmente em leses de cabea e pescoo,
bexiga, vagina e pulmo. Causas sistmicas tambm levam a episdios de sangramento: insuficincia heptica, infiltrao medular levando trombocitopenia e
coagulao intravascular disseminada. Aproximadamente 6 a 10% dos pacientes
com cncer tero algum sangramento ao longo de sua doena, enquanto que at
50% dos tumores de pulmo apresentaro hemoptise.
Alguns tratamentos oncolgicos so conhecidos por causarem cistite hemorrgica, como ciclofosfamida e ifosfamida. Tambm a radioterapia em baixo
ventre leva tardiamente cistite actnica por formao de telangiectasias. Uso
de anticoagulantes, antiagregantes plaquetrios e antitrombticos devem ser suspensos aps a reavaliao do quadro prioritrio no conforto do paciente, dentro
do contexto de Cuidados Paliativos. Da mesma maneira devem ser reavaliadas
medicaes de uso paliativo como anti-inflamatrios hormonais e no hormonais,
que so causas de sangramento digestivo no obrigatoriamente relacionados
fase final de vida imediata.
251
Quadro clnico
A apresentao clnica de um sangramento pode ser variada, desde uma
ferida tumoral ulcerada com pequena e contnua perda sangunea a volumosas
hematmeses, hemoptises, hematrias, epistaxe e melenas que podem levar ao
bito em minutos. Pequenos sangramentos contnuos podem tornar-se subitamente volumosos, e equimoses ou petquias podem representar alteraes sistmicas
significativas. A contnua avaliao do paciente e situar os sinais de sangramento
dentro de sua performance clnica determinam o tratamento mais adequado em
cada fase de sua doena.
Tratamento
Medidas gerais
O tratamento, assim como todas as condutas em Cuidados Paliativos, deve
ser individualizado. Sempre que possvel o objetivo ser identificar e tratar a causa do sangramento. Reforando o que j foi descrito: uma das primeiras condutas
dever ser a suspenso de tratamentos que causam sangramento como: antiagregantes plaquetrios, anticoagulantes, trombolticos em uso profiltico e corticoides. A reverso farmacolgica pode ser indicada.
Aps adequada avaliao do significado do sangramento no quadro do paciente, devemos orientar os pacientes sobre as medidas a serem tomadas, assim
como acalmar seus acompanhantes.
Providenciar lenis e toalhas escuros (vermelhos, vinhos, verdes ou azuis)
colabora para menor impacto da viso do sangue nas pessoas que assistem a situao.
Tratamento local
Tamponamento com presso local ou com soluo de adrenalina (epinefrina
com soro fisiolgico) em superfcies cruentas ou em nariz, vagina ou reto podem
ser suficientes para estancar a hemorragia, mas tornam-se desconfortveis com o
tempo. Outras medidas de conforto podem ser necessrias, como sondagem vesical de demora com irrigao contnua para evitar-se obstruo urinria e limpeza
de cogulos em cavidade oral e nasal.
Curativos hemostticos com nitrato de prata, alumnio (soluo a 1% via
irrigao vesical para hematrias), sucralfato (em enemas para proctite actnica),
alginatos (principalmente com zinco), hidrogel e novas substncias que incluem
colgeno bovino e gelatina porcina so descritos como eficazes, mas dependem
de disponibilidade no servio e habilidade da equipe de enfermagem para seu
252
Nome
Apresentao
comercial
Dose habitual
Orientao
500mg/compriDiluir em SF, SG ou
2 a 4 cps. 8/8h
mido
Ringer
1g 8/8h at 4g 8/8h
1g ou 4g/20ml
infuso contnua
Transfuses de concentrado de hemcias ou de plaquetas devem ser prescritas conforme prognstico geral do paciente. So situaes que sugerem transfuso: menos que 10.000/mm3 plaquetas e sangramento oral, digestivo, ginecolgico contnuos, hematoma extenso doloroso, quadro neurolgico agudo (cefaleia
intensa ou alterao visual). Nesse mesmo contexto, discute-se a reposio de
plasma fresco ou crioprecipitado: geralmente contraindicados na insuficincia heptica de pacientes com doena oncolgica avanada.
253
Radiologia intervencionista
A embolizao arterial de tumores sangrantes em casos selecionados pode
ser benfica para indivduos com muito boa performance. Trata-se de medida
avanada em hemoptise, hematria, hematmese, sangramento vaginal e retal, de
custo elevado e dependente de disponibilidade no servio.
Radioterapia
Radioterapia hemosttica est indicada em hemoptise, hematria, sangramento vaginal e retal.
Est particularmente indicada em hemoptise causada por tumores primrios
do pulmo, no raro como parte do tratamento oncolgico, com sucesso em at
80% dos casos. Seu uso em metstases pulmonares menos eficaz e preconiza-se
realizao de broncoscopia para localizao do stio de sangramento. Tumores
maiores de 10cm, primrios ou metastticos, merecem radioterapia hemosttica
profiltica por apresentarem risco elevado de sangramento.
Em hematrias (por tumores do trato urinrio ou metastticos) sem possibilidade cirrgica e refratrias a medidas locais e sistmicas, a radioterapia tem
sucesso em mais da metade dos casos. Os mais frequentes efeitos colaterais so
diarreia e vmitos, que devem ser controlados com sintomticos apropriados.
Outros locais que se beneficiam de radioterapia hemosttica so vagina, trato
digestivo alto ou baixo, leses em trax por cncer de mama ou primrio de pele.
Sangramentos em regio cervical causadas por recidiva de tumores de cabea e pescoo tem limitao no uso da radioterapia paliativa frequentemente por
fstulas e infeces associadas, quando no por ter esgotado a dose de tratamento
local.
Cirurgia
Procedimentos de ligadura de vasos sangrantes, particularmente em tumores
de cabea e pescoo so situaes de excluso para casos muito selecionados.
Plaquetopenia
reas cruentas com sangramento contnuo
Quando alertados a equipe e os familiares sobre a possibilidade de sangramento volumoso j devem ser providenciados os lenis escuros, luvas e curativos para compresso local.
A sedao com midazolam (dose inicial 2,5 a 5mg) subcutneo ou endovenoso deve ser repetida aps 10 a 15 minutos se a situao persistir, at conforto
do paciente. Preconizamos que a dose necessria para conforto seja prescrita em
soluo e infuso contnua a cada 8 horas.
Outras medidas para conforto em fase final de vida devem ser associadas.
Referncias
255
Parte 4
Intravenosa
Intramuscular
Subcutnea
Oral
Tempo
Esse perfil de absoro pela via SC mais lento possibilita uma concentrao
srica estvel do medicamento e impede picos plasmticos os quais podem determinar o possvel aparecimento de efeitos colaterais indesejveis. Se for usada
uma infuso contnua por via SC, a concentrao plasmtica se mantm em nveis suficientes para impedir o ressurgimento de sintomas antes controlados(3). Por
outro lado, essa caracterstica faz com que a via SC no seja a ideal, quando se
necessita de ajuste rpido de dose ou infuso de solues de grande volume em
curto perodo de tempo.
A velocidade de absoro dos fluidos por via SC tambm reduzida na presena de edemas e hematomas no stio de infuso, j que esta ocorre por difuso
capilar(5).
260
Contraindicaes
As principais contraindicaes esto relacionadas aos distrbios de coagulao, situaes de emergncia (como falncia circulatria), desequilbrio hidroeletroltico severo, sobrecarga de fluidos (como insuficincia cardaca congestiva,
edema acentuado) e desidratao severa. Nestes casos, esta prtica desaconselhvel, pois os resultados obtidos so insatisfatrios. Quando houver risco severo
de congesto pulmonar (ex.: Insuficincia Cardaca Congestiva e Sndrome de
Veia Cava Superior), deve-se avaliar criteriosamente cada caso(5, 7-8).
Vantagens
uma via segura, com pouco risco de complicao, de fcil manipulao e
manuteno.
Mnimo desconforto ou risco de complicao local: Com possibilidade de
maior mobilidade, j que apresenta opes variadas para a instalao dos stios
de puno (comumente distante de articulaes) e dispensa a imobilizao de
qualquer membro. Alm disso, a infuso de reidratao pode ser interrompida a
qualquer momento sem o risco de complicaes (como formao de cogulos ou
trombose de vaso). Tal prtica apresenta, ainda, baixa incidncia de infeco(9-11).
Risco mnimo de complicaes sistmicas: o RISCO DE COMPLICAES
SISTMICAS como a hiper-hidratao e a sobrecarga cardaca MNIMO e pode
ser monitorado ao longo da infuso da soluo(7).
Baixo custo: Quando utilizada em situaes apropriadas, pois os materiais
necessrios para a instalao da HDC so relativamente pouco onerosos quando comparados aos utilizados em outros tipos de punes. Alm disso, pode ser
mantida por semanas (embora haja recomendao de troca a cada 96 horas, ou
antes, se forem evidenciados sinais flogsticos) e exige menos horas de superviso
tcnica da equipe de sade(5, 12).
Possibilidade de alta hospitalar precoce e permanncia do paciente em domiclio: Por ser um mtodo seguro, sem graves complicaes e de manuseio simples, possibilita a alta precoce do paciente, j que o dispositivo pode ser manejado
em domiclio pelo cuidador/familiar e/ou pelo prprio paciente aps treinamento
pela equipe de enfermagem. Pode ainda ser aplicado em domiclio, sem a necessidade de internao do paciente desidratado(5, 13).
Desvantagens
A HDC apresenta limitaes nas situaes em que se deseja uma velocidade
de infuso de reidratao rpida e grande volume de lquidos. Recomenda-se at
3000ml em 24 horas (dividindo-se em dois stios separados e simultneos, 1500ml
por stio de infuso). Por isso, em casos emergenciais como reverso de choque
261
Dor
Sedao
Nuseas/vmitos
Obstruo
intestinal
maligna
MEDICAMENTO
DOSE
Cetamina
0,3 1,2mg/kg/h
+
Dexametasona
Morfina
+
0,5 1mg
0,8 10mg/h
SF 0,9% ou SG 5%
Midazolam
0,05 0,15mg/kg/h
Ondansetrona
8 24mg
Bromoprida
Dexametasona
Octreotida
20 60mg
0,1 0,6mg
Hioscina
4 40mg
10 20mg
262
DILUENTE
ESTABILIDADE
TA: 24h
SR: 48h
TA: 24h
TA: 24h
TA: 24h
TA: 24h
SF 0,9% 250ml
SR: 48h
Medicamentos no recomendados
Os medicamentos que tm baixa solubilidade em gua e por isso so veiculados em solues de caractersticas oleosas, como propilenoglicol, no apresentam
bom perfil de segurana para utilizao por via SC, em funo do dano que tais
solues podem causar a este tecido. Medicamentos como diazepam, diclofenaco
e fenitona apresentam tal particularidade. Solues com extremos de pH (< 2
ou > 11) apresentam risco aumentado de precipitao ou irritao local, sendo
incompatveis com a via SC. Assim, contraindica-se a utilizao de: DIAZEPAM,
DICLOFENACO (CONTROVERSO), FENITONA e ELETRLITOS NO
DILUDOS(5, 16, 22).
Existem outras solues que no podem ser administradas pela via SC, como
aquelas que apresentam teor de glicose superior a 5%; solues com teor de potssio superior a 20mmol/l; solues coloidais; sangue e seus derivados e nutrio
parenteral total (NPT)(6).
263
Fenobarbital
Furosemida
Haloperidol
Hioscina
Insulina
Ketamina
Metadona
Metoclopramida
Midazolan
Morfina
Octreotide
Ondansetrona
Ranitidina
Tramadol
Clorpromazina
Dexametasona
Compatvel J
Incompatvel
No testado
Clorpromazina
Dexametasona
Fenobarbital
Furosemida
Haloperidol
Hioscina
Insulina
Ketamina
Metadona
Metoclopramida
Midazolam
Morfina
Octreotide
Ondansetrona
Ranitidina
Tramadol
Dessa forma, so descritas como preferenciais as seguintes regies topogrficas: a regio deltidea, a regio anterior do trax, a regio escapular, a regio
abdominal e a face anterior e lateral da coxa, conforme a figura 2(6, 24). A tolerncia
de cada regio para a infuso de solues de reidratao varia conforme as condies gerais de cada paciente e o volume a ser infundido.
Figura 2 - Localizao topogrfica das regies do corpo que podem ser escolhidas como
stio de puno SC.
ANTERIOR
POSTERIOR
Devem ser evitadas as reas de pele com linfedema, com irradiao recente, com presena de erupo de qualquer tipo, sobre proeminncias sseas, nas
proximidades de articulaes, em tumoraes, em pele lesionada, infectada ou
inflamada e sobre ascite(6).
Dispositivos recomendados
O dispositivo mais utilizado para o procedimento o scalp, tipo butterfly nos
calibres 25 e 27, que pode permanecer por at 5 dias. Outros dispositivos como os
cateteres de teflon podem ser utilizados por tempo maior de durao(5).
Execuo da tcnica
Materiais necessrios(5):
Soluo preparada para ser instalada (soro, medicamento);
Equipo com dosador (ml/hora) ou bomba de infuso;
Soluo antissptica;
Gaze, luva de procedimento;
Dispositivo (scalp ou cateter de teflon);
Filme transparente para fixar;
Esparadrapo para datar.
265
SUBCUTNEA
Angulao
45
INTRAMUSCULAR
Angulao
90
EPIDERME
DERME
INTRADRMICA
Angulao
10 - 15
TECIDO SUBCUTNEO
MSCULO
266
Recomendaes
Passo a passo
267
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269
Introduo
De acordo com o Instituto Nacional do Cncer (INCA)(1), no Brasil, as estimativas para o ano de 2013 apontam a ocorrncia de aproximadamente 518.510
casos novos de cncer, reforando a magnitude do problema do cncer no pas.
Em nosso pas, a mortalidade proporcional por neoplasias cresceu consideravelmente ao longo das ltimas dcadas, acompanhando o crescimento da mortalidade relacionada s doenas do aparelho circulatrio e por causas externas, ao mesmo tempo em que diminuram as mortes por doenas infectoparasitrias esse
perfil da mortalidade retrata a transio epidemiolgica e demogrfica verificada
no pas.
Nos EUA, um em cada trs norte-americanos ser diagnosticado com um
tipo de cncer em sua vida e mais de um terodestes pacientes morrero da doena.Trs das quatro famliaster um membro da famlia com cncer(2).O tratamento oncolgico envolve muitas formas de terapia destinadas a curar ou paliar
a doena, que incluem a quimioterapia, radioterapia, cirurgia e outras. A cirurgia
paliativa no cncer avanado uma opo teraputica para doenas cujas complicaes comprometem funes vitais e geram sintomascomo dor, dispneia, nuseas, vmitos, sangramento e outros que comprometem a qualidade de vida (QV).
A cirurgia sempre desempenhou um papel fundamental no cuidado do paciente com cncer, independentemente da inteno de tratamento. Os avanos
recentes tm expandido esse papel, no s em termos de modalidades disponveis,
mas de forma mais ampla em termos das expectativas do cirurgio como o mdico
envolvido no atendimento interdisciplinar do paciente com doena sintomtica
incurvel.
importante destacar que a cirurgia paliativa goza de uma tradio antiga,
que se iniciou muito antes da era antibitica e muitos antes da definio de padres de tratamento do cncer, como no tratamento de complicaes ortopdicas
e pulmonares crnicas, de condies resultantes de tuberculose e estafilococcias.
Tratamentos cirrgicos para doena obstrutiva coronariana sintomtica e comissurotomia mitral por insuficincia cardaca congestiva sintomtica foram esmagadoramente aceitos antes que qualquer melhora na sobrevida fosse demonstrada
com estas intervenes. Como a cura cirrgica para todos os tipos de doenas se
270
tornou mais frequente, com o tempo, o apelo da cirurgia paliativa foi diminudo
porque se tornou erroneamente sinnimo de procedimento no curativo(17).
Isso criou um sentimento de dissonncia cognitiva para os cirurgies que tentam conciliar a necessidade de interveno para sintomas aflitivos, com a percepo cada vez mais comum de que a cirurgia paliativa representa fracasso. Dessa
forma, cria-se a necessidade de fornecer um contexto significativo e apropriado
para a cirurgia paliativa. Este tipo de abordagem no paciente com doena oncolgica melhor apreciada no contexto maior de cuidado paliativo cirrgico, que
o tratamento da dor e sintomas e promoo da qualidade de vida para pacientes
terminais sob o cuidado cirrgico.
Atravs da perspectiva dos Cuidados Paliativos, uma prtica atual, atraente
e baseada em evidncias, baseada na abordagem interdisciplinar de atendimento
ao paciente com doena grave ou avanada, existe agora uma tima oportunidade para uma redefinio mais consistente e afirmativa da cirurgia paliativa. Esta
transio tem sido orientada por maior nfase na determinao da relevncia pessoal para alvio dos sintomas (centrada no paciente), minimizando a morbidade,
melhorando aspectos no fsicos de cuidado e expandindo a durabilidade do alvio
dos sintomas.
Histrico
No dia a dia, para os cirurgies, os cuidados com grandes queimados representam o modelo mais bvio e que se aproxima de Cuidados Paliativos para
doentes crticos. um excelente modelo, porque os cuidados ao paciente no se
baseiam no prognstico, mas em sua necessidade de conforto durante a tentativa de preservar ou melhorar a funo. Um paciente com grande rea queimada
registra nveis extremamente altos de sofrimento em todas as dimenses de percepo (fsica, psicolgica, socioeconmicas e espirituais). As queimaduras so
verdadeiramente uma experincia transformadora para todos os envolvidos, e at
recentemente, era a nica condio cirrgica, onde entorpecentes eram rotineira,
liberal e adequadamente empregados com o intuito de aliviar a dor, o que nos
aproxima de um princpio bsico dos Cuidados Paliativos.
O prprio termo Cuidados Paliativos foi colocado em uso na cirurgia por
Balfour Mount, um urologista oncolgico, em 1974, no Royal Victoria Hospital
em Montreal, para descrever um tipo de cuidado abrangente, interdisciplinar e
centrado no paciente, que propiciasse alvio dos sintomas de pacientes terminais.
Cuidados Paliativos hoje um modelo seguro de cuidados, apoiado em evidncias
cientficas, aplicado por servios de sade independentes, mas com alguns conceitos j conhecidos e de alguma forma praticados por mdicos e cirurgies na maior
271
Definio
Surpreende que, embora muitos tratamentos de cncer sejam paliativosna
inteno, no h definio consensual de alvio ouuma abordagem padro para
a sua mensurao(3). No h uma definio nica de paliao cirrgica e a terminologia vigente aumenta a discordncia entre os cirurgies e investigadores,
existindo diversos motivos para a existncia de divergncia conceitual: os procedimentos paliativos podem ser vistos como procedimentos nicos cuja inteno aliviar os problemas diretamente relacionados com o tumor ou pode incluir
definies mais amplas, que incluem a preveno decomplicaes da evoluo
tumoral, problemas/sequelas relacionadas terapia oncolgica ou emergncias
cirrgicasem pacientes com doena incurvel.
272
Atualmente na literatura, os cirurgies empregam o termo cirurgia paliativa para diferentes situaes. Estas definies so baseadas diretamente no modelo de tratamento centrado na doena oncolgica, sem qualquer referncia ao
controle dos sintomas ou qualidade de vida e tem sido utilizada para descrever:
Cirurgia que tem como objetivo aliviar sintomas ou complicaes da evoluo da doena de base;
Cirurgia de resseco tumoral padro que apresenta como resultado final
massa residual microscpica ou no;
Resseco ou abordagem cirrgica da doena recorrente ou persistente aps
falha de tratamento primrio.
Em ltima anlise, estes termos devem ser definidos de modo que um vocabulrio comum possa ser utilizado e os resultados possam ser analisados de
maneira mais uniforme.
O papel da cirurgia em cuidados paliativos considerado multifacetado e
ainda no bem caracterizado. De acordo com Ball et al(6), seriam cinco as funes
essenciais da cirurgia paliativa oncolgica convencional, quais sejam: (a) avaliao inicial da doena, (b) controle local da doena, (c) controle de sangramento,
(d) controle da dor e (e) reconstruo e reabilitao. Embora essas definies
amplas proporcionem uma compreenso global dos alcances dos cuidados cirrgicos, interpretaes alternativas sobre o que constitui um procedimento cirrgico
paliativo invasivo por mdicos e investigadores diferentes geram comparaes e
estudos problemticos. Uma vez que os Cuidados Paliativos idealmente exigem
uma abordagem de necessidades individuais do paciente e valores, procedimentos idnticos podem desempenhar papis dramaticamente diferentes para cada
paciente. Assim, definir a paliao cirrgica pelo tipo de procedimento realizado
ou extenso de doena, em vez dos objetivos e intenes do processo, tem valor
limitado e geralmente intil(17). Deve-se considerar de que forma o modelo curativo atual vem afetando os objetivos da interveno cirrgica e como essas metas
devem ser alteradas com uma mudana para um modelo paliativo.
Paliao cirrgica ento melhor definida como o uso deliberado de um
procedimento em um paciente com doena incurvel, com a inteno de aliviar os
sintomas, minimizando a aflio do paciente e melhorando a qualidade de vida,
sem causar morte prematura(9). Paliao no , portanto, o oposto da cura. Ao definir paliao com base em fatores como controle de sintomas e inteno cirrgica,
o foco principal em uma abordagem individualizada para cirurgia mantida.
Definies anteriores so conflitantes porque so baseadas em seu impacto
(ou a falta dele) sobre a doena, em vez de impactos sobre o controle de sintomas.
Neste artigo, para evitar dvidas, utilizaremos o termo Procedimentos Invasivos
em Cuidados Paliativos, como sendo aquele em que o cirurgio ou radiologista
273
intervencionista ou endoscopista executa o ato cirrgico, com a inteno de proporcionar alvio de sintomas que afetam o paciente acometido por doena crnica
e ameaadora de vida, o que inclui o cncer e outras condies de doena benigna,
no existindo perspectiva de cura. Neste artigo no abordaremos procedimentos
para controle de dor, executados por profissional habilitado em Clnica de Dor.
Objetivos
Os objetivos primrios e bsicos da realizao de qualquer procedimento
invasivo paliativoem tratamento paliativocirrgicoincluem(24):
o alviopossvele durvel de sintomas
restaurao da funode rgos
melhoria de qualidadede vida
melhora da imagem corporal
otimizao de cuidados com o paciente
Esses benefciosdevem ser equilibrados com a carga total de doena, o desempenho funcional dopaciente,durao da hospitalizao, a morbidadee a mortalidade cirrgica e a necessidade demedidas paliativasadicionais. O oncologista
cirrgico tem despendidoa sua experinciaem um papel dual, em que se equilibram a realizao decomplexas e desafiadorascirurgias para tratamento curativo
do cncer e no maior nvelde julgamentocirrgico para selecionar com cuidado
ospacientesque podem se beneficiar ao mximo de procedimentospaliativos invasivos(19), mudando o papel de sua atuao na equipe de cuidado ao paciente com
doena no curativa e limitadora da vida, como mostra a tabela 1.
Uma associao entre inteno e resultado cirrgico paliativo tem sido bem
demonstrada em pacientes com cncer na literatura. A eficcia de uma interveno paliativa deve ser julgada pela presena e durabilidade da resoluo dos sintomas. Durante a fase de Cuidados Paliativos, esforos para melhorar a sobrevida
global no podem ser sobrepostos aos esforos para minimizar a morbidade ou
mortalidade. Embora a paliao do sintoma possa resultar em sobrevivncia aumentada para o paciente, no apropriado selecionar um procedimento paliativo
com base exclusivamente no desejo de aumento do tempo de sobrevida(17).
274
Por qu?
Condio terminal
Doena crnica
Critrios de ressecabilidade
Critrios de irressecabilidade
Curativa/paliativa
Citorredutora/higinica
Adaptado de Hanna, NH, Bellevance, E, Keay,T Palliative Surgical Oncology. Surgical Clinics
of North America, Abril 2011.
Seleo de pacientes
A realizao de procedimentos cirrgicos invasivos em doentes com CA
avanado tem sido associada com hospitalizao prolongada, maior custo e excesso de morbidade e mortalidade. Induzidos pela cirurgia, estresse e supresso
imune foram creditados como resultando em disseminao fsica e piora de prognstico. Estudos bem delineados e com definio precisa do tratamento paliativo
clarearam as indicaes para a cirurgia paliativa, entretanto ainda nos faltam medidas mais adequadas para avaliar a eficcia da cirurgia paliativa(19).
Embora a considerao de risco em termos de toxicidade relacionada ao tratamento, morbidade e mortalidade seja uma parte importante do processo de tomada de deciso cirrgica, a ateno para esse elemento no deve ser o nico fator
na tomada de decises sobre a terapia paliativa(12).
Decises devem ser tomadas em pontos fundamentais, como a probabilidade
de resoluo dos sintomas, o efeito sobre a qualidade geral de vida e durabilidade
das aes. A paliao cirrgica deve ser realizada na medida das necessidades e
sintomas do paciente (in primo non nocere). Entretanto, o benefcio do paciente
depender da escolha do momento, do tipo e da amplitude do procedimento(23).
Alguns fatores devem ser previamente analisados para o sucesso da indicao:
condio clnica e performance/status do paciente
histria natural dos sintomas primrios e secundrios
extenso da doena e prognstico do paciente
sucesso potencial e a durabilidade do procedimento
disponibilidade e sucesso de terapia no cirrgica
impacto sobre qualidade de vida e expectativa do paciente relacionada ao
procedimento
275
Avaliao prognstica
A realizao de procedimentos paliativos corresponde a cerca de 12,5 a 21%
de todos os procedimentos cirrgicos para o tratamento do cncer. Entretanto, por
falhas na definio e abordagem comum, ainda carecemos de prognosticao adequada e definio clara e consensual de fatores de preditivos que indiquem pobre
resultado e sobrevida curta ps-procedimento. Miner et al(12), com taxa de mortalidade de 11%, definiram como fatores prognsticos adversos os achados de:
ECOG > 2 (KPS < 50%)
Albumina < 3,5
Astenia
Perda ponderal recente
Hemoglobina < 10mg/dl
Badgwell et al(27), em estudo com mortalidade de 7%, definiu como fatores de
curta sobrevida a presena de:
Tumores hematolgicos
Neutropenia
Ascite
Carcinomatose/sarcomatose
Mais de 2 stios de leso metasttica
Como desafios para futuros estudos que clarifiquem os resultados da Cirurgia Paliativa com realizao de procedimentos para alvio de sintomas no cncer
276
Comunicao e abordagem
A tomada de deciso em Cuidados Paliativos sempre facilitada por interaes efetivas e comunicao direta entre o paciente, seus familiares e cirurgio,
atravs de uma relao indomvel descrita como tringulo paliativo. Diante de
qualquer deciso, um fator importante antecipar, compreender e abordar expectativas de paciente/famlia sobre a inteno do procedimento proposto. A inteno
paliativa precisa ser entendida e explicitamente comunicada(21).
inapropriado prometer aumento ou prolongamento de sobrevida com resultado da realizao de um procedimento invasivo paliativo. Ao invs de focar
no que no pode ser fornecido (a cura, por exemplo), a nfase deve ser colocada
sobre as coisas que podem ser entregues de forma realista. Uma abordagem de
sucesso coloca a definio de esperana no centro dos cuidados global de um
paciente. racional para o paciente com doena avanada ter esperana em qualidade de vida, na resoluo dos sintomas, em operaes paliativas tecnicamente
superiores, em dignidade e compaixo(20).
Embora os pacientes, familiares e cirurgies tenham s vezes expectativas
incongruentes, a dinmica da comunicao em tringulo ajuda a moderar crenas
e orientar o processo de tomada de deciso para a melhor escolha possvel para o
paciente. Esta forte relao pode tambm explicar a observao de grande satisfao do paciente para cirurgies aps operaes paliativas, mesmo em pacientes
que no tm nenhum benefcio comprovado de uma cirurgia ou em pessoas que
277
Indicaes
Trabalhos recentes da literatura cirrgica esto agora fornecendo dados crticos sobre a tomada de decises clnicas no tocante paliao cirrgica. Um
estudo prospectivo, com anlise de 1022 procedimentos paliativos do Kettering
Cancer Memorial Sloan-Center (MSKCC)(12), demonstrou resoluo de sintoma
em 80% dos pacientes, embora outras intervenes tenham sido necessrias para
o controle de um sintoma novo (25%) ou recorrente (25%). Os procedimentos
foram cirrgicos (70%) ou por via endoscpica (30%) e foram realizados eletivamente em 82%, com urgncia em 16% e em carter de emergncia em 2%. A
melhora sintomtica foi observada dentro de 30 dias nesses pacientes que apresentaram progresso em sua condio clnica. Procedimentos paliativos foram
associados com morbidade significativa (40%), mortalidade (10%) e sobrevida
mdia de 6 meses(12).
Por causa da morbidade e mortalidade associadas com os procedimentos paliativos em doentes em fase terminal, tem sido sugerido que a cirurgia antecipatria deve ser realizada para problemas iminentes quando os pacientes esto mais
aptos e em melhores condies clnicas para a operao. Tal preferncia contradiz
o aforismo cirrgico que impossvel para paliar o paciente assintomtico, e
sugere que os melhores resultados clnicos podem ser esperados de procedimentos
realizados para pacientes sintomticos. Isto foi examinado no estudo do Memorial
e observou-se que procedimentos paliativos antecipatrios foram realizados em
107 (13%) dos 823 pacientes submetidos paliao, com a preveno do sintoma
antecipado observado em 84% desses pacientes. Entretanto, taxas de morbidade
operatria (29%), a mortalidade (11%) e tratamento para sintomas debilitantes
adicionais (24%) foram semelhantes aos observados em pacientes operados com
sintomas ativos.
278
Paliao de complicaes de cncer avanado exige um maior nvel de julgamento e expertise cirrgica. As indicaes para realizao de procedimento cirrgico paliativo geralmente envolvem trs reas principais de preocupao: sangramento, obstruo e perfurao. Ao considerar a utilizao adequada e eficaz dos
procedimentos paliativos, um cirurgio frequentemente confrontado com uma
gama completa de opes de tratamento multidisciplinares e consideraes tcnicas que poderiam potencialmente aliviar alguns dos sintomas da doena maligna
avanada. Sistemas de classificao descritiva para a seleo de tratamento paliativo podem ser utilizados. Exemplos incluem derrames, complicaes relacionadas ao rpido e descontrolado crescimento do tumor, a obstruo de uma vscera
oca, infiltrao extensiva de um rgo de secreo, sangramento agudo ou crnico
e dor no controlada. As principais indicaes, no considerando tipos tumorais
ou aparelhos envolvidos, esto resumidas na tabela 2(24), abaixo.
Manejo peroperatrio
Muitos pacientes que necessitam de procedimentos paliativos cirrgicos
tambm tm significativos riscos anestsicos. Consulta pr-operatria com um
anestesiologista evita cancelamentos de ltima hora, permite um planejamento
abrangente da induo anestsica e melhora o cuidado peroperatrio desses pacientes. Por outro lado, ordens de no reanimar e no entubar para pacientes
que tm essas diretivas antecipadas um contnuo problema em muitas instituies americanas e europeias,(28) no sendo culturalmente encontradas no Brasil.
O consentimento livre e esclarecido em nosso pas, por fora de processos de
Acreditao hospitalar, tem se tornado mais frequente, mas no deve substituir a
boa comunicao entre mdico e paciente.
Quanto s tcnicas empregadas, os princpios seguem aqueles da boa prtica
de medicina cirrgica: usar tcnicas simples, ter cuidado no uso de fios e escolha
das suturas, cuidado rigoroso com uso de antibioticoprofilaxia e atentar para o
risco de tromboembolismo em pacientes investidos com bom performance/status
e sem contraindicao para tromboprofilaxia.
A maioria dos pacientes que so considerados por um procedimento cirrgico paliativo provavelmente tem dor crnica que requer o uso crnico de opioide.
Os pacientes que esto em terapia opioide crnica esto em maior risco de dor mal
administrada e disfuno cognitiva no peroperatrio perodo(30). Alm disso, esses
pacientes esto sob risco significativo para delrio peroperatrio. Avaliao repetida e cuidadosa de cada paciente para evoluo de delrio evoluo pode detectar
os sinais prodrmicos de perda de orientao e diminuio de atividade cognitiva.
Rpido reconhecimento e tratamento de delrio pode impedir a apresentao com279
Controle de sintomas
Obstruo esofagogastrointestinal
Obstruo biliar
Sangramento tumoral
Obstruo da via area
Falncia renal
Controle da dor
Controle de odor
Controle de dispneia restritiva
Complicaes de lceras por presso
Infeco cutnea
Procedimentos realizados
Aparelho respiratrio
Desobstruo de vias areas
o Traqueostomia
o Colocao de endoprteses
o Resseces a laser
Toracocentese
Pericardiocentese
Pleurodese
Aparelho digestivo
Obstruo esofagogastricaduodenal
o Endoprtese esofageanas com ou sem dilatao
o Endoprteses antropilricas
o Gastroenteroanastomoses
o Gastrostomia
Tratamento endoscpico de fstula esofagotraqueal
Controle de sangramento gstrico por gastrectomia paliativa
Controle de obstruo intestinal alta ou fstulas entricas.
o Bypass
o Resseco de pequeno porte
Controle de obstruo intestinal baixa e fstulas retovaginais
o Colostomia
o Prtese de reto
o Derivao/bypass
280
Controle de ictercia obstrutiva
o Derivao heptica interna com prteses biliares
o Drenagem biliar externa
o Derivaes biliodigestivas
Controle de ascite
o Paracentese
o Colocao de cateter para drenagem intermitente
Controle e drenagem de colees intrabdominais
Aparelho urinrio
Controle de obstruo ureteral/uretral
o Nefrostomia
o Cistostomia
Sangramento tumoral
o Ligadura de artrias cartidas
o Embolizao heptica
o Embolizao renal
o Embolizao de artrias hipogstricas
o Esclerose vascular com agentes
Outros
o Cuidados com lcera por presso
o Leses tumorais fungoides (debulking)
o Correo de fraturas patolgicas
o Abordagem minimamente invasiva para compresso de medula
Alm dos fatores j listados anteriormente avaliados na seleo adequada de
pacientes para realizao de procedimentos invasivos, existem algumas contraindicaes ao procedimento cirrgico e que se aplicam fortemente ao aparelho
digestrio, quando da possibilidade de realizao de laparotomia. Estas incluem
obstruo em presena de carcinomatose peritoneal difusa, massas abdominais
palpveis, laparotomia recente mostrando impossibilidade cirrgica, ascite volumosa, metstases extra-abdominais produzindo sintomas de difcil controle, radiao abdominal prvia e albumina < 2,0. As duas ltimas configurando contraindicaes relativas.
Nos ltimos anos, em face s altas taxas de morbidade e mortalidade associadas aos procedimentos, ganha terreno a opo por mtodos realizados por vias
menos invasivas, tais como endoscopia, radiologia intervencionista e abordagens
por laparoscopia. Trabalhos mostram melhores resultados para os procedimen-
281
Concluso
A realizao de procedimentos invasivos paliativos em oncologia um conceito relativamente novo, mas baseia-se numa longa tradio em cirurgia. Como
o campo da medicina paliativa cresce e se torna uma especialidade em muitos
pases, os cirurgies tm recebido alguma formao especializada nos Cuidados
Paliativos, na elaborao de procedimentos especficos e na reavaliao da tica
de suas interaes com os pacientes, especialmente para a seleo dos procedi282
mentos cirrgicos paliativos. Isso est levando a uma nova forma de prtica cirrgica na qual a nfase est no alvio dos sintomas presentes ou antecipados, mesmo
que as intervenes no prolonguem a sobrevida de um paciente(12). A inteno
por trs do procedimento o que faz da cirurgia paliativa uma disciplina e transforma a realizao de um procedimento invasivo paliativo em uma ferramenta
para alcanar uma meta. , portanto desejvel a criao de protocolos especficos
para cada instituio que auxiliem a deciso do cirurgio e dos profissionais que
esto atendendo o paciente com doena avanada(22).
Pareceparticularmente apropriadona era atualdas redes sociais e da globalizao perguntar seo cirurgiodosculo XXIse destacar pela sua capacidade
de reconhecer oimpacto da suainterveno,para alm dosaspectos meramentefsicos, mas focado nas necessidades e experincias vivenciadasdos pacientes.
Afinal, a riqueza dos Cuidados Paliativos reside no reconhecimento do possvel
onde h incerteza. Por esta razo, a realizao de procedimentos invasivos para
correo e controle de sintomas deve ser vista como uma das ferramentas principais de Cuidados Paliativos cirrgicos.
LEMBRE!
So recomedaes formais para o sucesso do procedimento invasivo que visa
ao controle de sintomas na doena avanada a ateno aos seguintes pontos:
Conhecimento da evoluo natural da doena
Avaliao criteriosa de performance/status
Avaliao prognstica formal
Mapeamento estruturado de sintomas
Esclarecimento de paciente e famlia
Referncias
283
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285
1. Introduo
O portador de ostomia e o paciente em Cuidados Paliativos so pacientes
que permitem que a enfermagem exera em toda a sua plenitude sua principal
atuao: o cuidado. Cuidar desses pacientes abrange desde o pr-operatrio, na
escolha do melhor local para um estoma, o ps-operatrio imediato onde ele e/
ou cuidador precisam aprender a cuidar desse estoma, at o ps-operatrio tardio,
que demanda acompanhamento para prevenir ou tratar as possveis complicaes.
3. Assistncia ao ostomizado
Descreveremos os tipos de ostomias e sugestes para o plano de cuidados
que os profissionais devem saber e orientar o paciente e seu cuidador, lembrando
que a principal meta o autocuidado, porm dentro da filosofia dos Cuidados
Paliativos podemos encontrar pacientes dependentes.
Gastrostomia:
Criao de um orifcio externo no estmago para alimentao e suporte nutricional, devido impossibilidade de usar a via oral.
Plano de cuidados:
Limpar o estoma com gua ou soro fisiolgico 0,9%.
Secar ao redor. Colocar esponja absorvente comercializada por empresas de
curativo.
Se houver leso peristomal, poder ser aplicado cido graxo essencial (AGE).
Colocar placa hidrocoloide extrafina para proteger ou tratar a pele periestoma.
Traqueostomia:
uma pequena abertura feita na traqueia, localizada na parte anterior do pescoo, onde introduzida uma cnula para permitir a entrada a de ar.
Plano de cuidados:
Limpar o estoma com gua ou soro fisiolgico 0,9%.
Secar ao redor.
Trocar a cnula metlica quando necessrio, e quando no estiver na posio
transtumoral com risco de sangramento.
Orientar limpeza da subcnula:
- Passar a cnula em gua corrente e depois limpar o interior com gaze
enrolada num cotonete para retirar placa de secreo.
Proteger a rea ao redor do estoma com gaze, ou esponja absorvente para
traqueostomia comercializada por empresas de curativo.
Se houver leso peristomal, poder ser aplicado cido graxo essencial (AGE).
287
Nefrostomia:
uma ostomia urinria resultante de uma interveno cirrgica para efetuar
uma abertura no rim para drenar a urina. indicada na obstruo uretral e recuperao da funo renal em pacientes com uropatia obstrutiva e obstruo das vias
urinrias por neoplasias abdominais.
Plano de cuidados:
Limpar o estoma com gua ou soro fisiolgico 0,9%.
Secar ao redor.
Se houver leso periestomal, poder ser aplicado cido graxo essencial
(AGE).
Adaptar adequadamente o dispositivo coletor(7).
Jejunostomia:
Na maioria das vezes, realizada como via acessria ou isolada para nutrio
quando h impedimento da utilizao das pores mais altas do tubo digestrio.
Algumas vezes tem finalidade descompressiva apenas.
Plano de cuidados:
Fixar adequadamente a sonda pele utilizando adesivo microporoso.
Lavar a sonda com gua logo aps o trmino da medicao e/ou dieta.
Fazer curativo diariamente na pele, especialmente quando h extravasamento
pelo pertuito.
Esponjas no aderentes para traqueostomia podem ser adaptadas para o jejunostomia para absoro do exsudato e consequente proteo da pele(8).
Colostomia:
Construda aps o trmino de uma amputao do reto ou aps cirurgia de
Hartmam(9).
Plano de cuidados:
1. Assistncia no pr-operatrio:
neste momento que se deve fazer um preparo e uma orientao objetivando
prevenir problemas no ps-operatrio(10).
A orientao deve ser psquica e fsica.
- Elucidar as dvidas sobre a doena e tratamento, ou seja, confirmando o que
o mdico disse, numa linguagem adequada quele paciente, e sobre os aspectos fsicos que incluem a demarcao do estoma, os cuidados higinicos e
detalhes sobre os dispositivos.
288
-
-
290
4. Consideraes finais
Dentro da filosofia dos Cuidados Paliativos, o cuidado ao ostomizado pelo
profissional uma maneira eficiente de permitir uma melhor qualidade de vida,
prevenindo, tratando ou fazendo por ele (ou ainda orientando a famlia a fazer) o
que ele no consegue mais fazer.
5. Referncias
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292
Uma das principais atividades da equipe de enfermagem a de prover a higiene, seja auxiliando a sua execuo ou realizando-a, e entre as atividades para a
promoo da higiene esto os cuidados com a cavidade oral.
O foco do atendimento de enfermagem o bem-estar e o autocuidado(1). Sendo assim, devemos avaliar o grau de dependncia do paciente (funcionalidade)
para adequar a atuao frente a higiene oral, seja na orientao a pacientes independentes, no auxlio ou superviso a pacientes parcialmente dependentes ou
na sua realizao quando o paciente dependente, pois apesar de a higiene oral
ser uma tarefa simples, pode ser considerada altamente desgastante para algum
debilitado.
Sade bucal inadequada pode levar a problemas de sade secundrios, incluindo dor, desconforto, dificuldade na ingesto alimentar, reduo da qualidade
de vida(2), dificuldade em transmitir os sentimentos e emoes atravs de expresses faciais(3), alterao da auto-imagem e a predisposio a distrbios (como a
placa e a crie dentria) e a doenas (como infeces). dever da enfermeira
assegurar que as necessidades dos pacientes sejam supridas, e com isso, os riscos
de doena oral e sistmica sejam reduzidos(4-6).
A placa dentria uma substncia semelhante a gelatina, pegajosa composta
pelo acmulo de bactrias da microbiota oral (biofilme) sendo um fator determinante para a ocorrncia de crie e outras doenas orais. Se no for retirada, ir
se tornar mineralizada, com o tempo pela ao de bactrias aps a alimentao,
sendo assim designado trtaro(4,6-8).
A crie dentria ocorre devido a ao de cidos produzidos pelas bactrias
do biofilme, sobre o esmalte dos dentes ao nos alimentarmos com amidos e carboidratos, ocasionando pequenos orifcios em alguma fissura do dente ou em rea
difcil de limpar(6,9).
A higiene oral previne o acmulo de placa dentria e estimula a imunidade
oral local durante o incio da hospitalizao e pode reduzir a ocorrncia de pneumonia associada ventilao mecnica(7).
A flora da cavidade oral de pessoas doentes comea a ser alterar a partir de 48
horas da hospitalizao, com a presena de patgenos virulentos (gram-negativos
e fungos) capazes de ocasionar infeces, j a de uma pessoa saudvel permane-
293
Exame fsico
A sade bucal mais do que apenas limpar os dentes, a placa ou crie dentria; envolve um avaliao clnica sistemtica da cavidade oral utilizando mtodos
padronizados, o que importante para o planejamento e avaliao dos cuidados
orais ao paciente. A avaliao deve incluir a condio dos dentes, gengivas, lngua, muco, membranas e dos lbios para elaborar um plano individualizado de
cuidado, prevenindo e tratando problemas(4,11).
Em uma boca saudvel, a aparncia normal das gengivas de colorao rosa
e de textura firme. A lngua deve ser rosa e, embora haja certa textura, no deve
ter lceras. J a mucosa deve ser rosa, lisa, mida e livre de lceras(12).
A saliva favorece a remoo mecnica da placa dentria e de micro-organismos medida que circula na cavidade oral, pois contm uma variedade de
componentes imunolgicos inata (lactoferrina efeito bactericida) e especfica
(imunoglobulina A IgA evita a absoro e a penetrao de micro-organismos
no trato respiratrio superior)(7). Deve ser de consistncia fluida e de colorao
clara(13).
Sem os efeitos de limpeza da saliva e a funo de neutralizar os cidos produzidos pela placa bacteriana, a crie dentria e outros problemas de sade bucal
se tornam mais comuns(9).
Quando h presena de sangramento nas gengivas, reas brancas ou vermelhas, manchas ou lceras na cavidade oral com durao maior que duas semanas,
isso indicativo de problemas, e o dentista deve ser procurado(12).
1. Escova
A utilizao de escova pequena de cerdas macias pode remover detritos e a
placa e, por conseguinte, ajudar a diminuir a colonizao microbiana(14). Este tipo
de escova pode ser utilizado em pacientes sem dentes, desde que a escovao seja
suave(4,11,15), e em pacientes inconscientes(16).
2. Swab oral
No h consenso, na literatura, quanto ao seu uso. Em alguns estudos, foi observado que o swab oral no remove a placa dentria e os detritos eficientemente
quanto o uso da escova (em pacientes com dentes)(4,16).
Alguns autores o recomendam para uso em pacientes sem dentes, pois no
agride a mucosa oral, ou quando h contraindicao para realizar a escovao,
por exemplo, quando h risco de sangramentos associados a trombocitopenia(10)
ou ocorrncia de dor(17).
Na minha prtica, observo que efetivo se utilizado em pacientes com higiene oral prvia regular a boa. Nos casos de higiene oral ruim, em que h presena
de lngua saburrosa, o mais efetivo a escovao. Nestes casos, pode-se utilizar o
swab oral aps a retirada da saburra com a escovao.
3. Creme dental
Com relao ao creme dental, deve ser utilizado um que contenha flor em
sua formulao, de acordo com a American Dental Association (ADA)(9) e o Centers for Disease Control and Prevention (CDC)(3); e a quantidade adequada para
realizar a escovao equivalente ao tamanho de uma ervilha(9,18).
4. Enxaguatrio bucal
O cuidado oral mecnico envolve a remoo da placa dentria por escovao
e/ou enxaguando a cavidade oral. Estas intervenes no cuidado oral tm um
grande potencial para melhorar a sade oral, reduzir a ocorrncia de pneumonia
associada ventilao e de outras complicaes sistmicas, tais como bacteremia(7).
295
Vantagem
Desvantagem
gua
Eficaz na remoo de
detritos; no agride
a mucosa; pode ser
utilizada em diferentes
temperaturas
No h
Bicarbonato de sdio
Eficaz na remoo de
detritos
Eficaz na remoo de
detritos
Se no for diludo cuidadosamente, pode causar queimadura superficial; gosto ruim; se uso regular,
pode promover o crescimento
fngico
Eficaz na remoo de
detritos; no agride a
mucosa
No h
Estimula a produo
de saliva
Clorexedina 0,12%
Perxido de hidrognio
Soluo de cloreto de
sdio a 0,9%
(pode ser preparado
com 250ml de gua e
meia colher de ch de
cloreto de sdio sal
de cozinha)
Swabs de limo e
glicerina
Abacaxi
Vitamina C
296
O enxaguatrio bucal deve ser utilizado aps cada refeio. Caso o paciente
no esteja se alimentando por boca, deve ser aplicado de 3-4 vezes ao dia, com o
uso de swab oral ou gaze (na direo da base da lngua para fora)(17,19).
297
Manejo no farmacolgico
Manejo no farmacolgico
FONTE: Adaptado de Millership R. Nuseas e vmitos. In: Guia prtico de Cuidados Paliativos
em Enfermagem. Editado por Margareth OConnor e Sanchia Aranda. Traduo: Jos Ricardo
Amaral de Souza Cruz. Andrei Editora Ltda.193-197.
298
3. Dor oral
Pode ser causado por infeco, ulcerao, mucosite ps-quimioterapia ou
radioterapia, anemia, deficincia de vitamina C, xerostomia, infiltrao tumoral e
problemas dentais(10).
Quadro 3 Manejo da dor oral
Manejo farmacolgico
(conforme prescrio mdica)
Manejo no farmacolgico
4. Estomatite/Mucosite
uma inflamao e sangramento dos tecidos moles da boca dos lbios, bochechas, gengivas e lngua, devido radiao ou quimioterapia. Podem ocorrem
ulceraes nas estruturas da cavidade oral(22).
Quadro 4 Manejo da estomatite/mucosite
Manejo farmacolgico
(conforme prescrio mdica)
Manejo no farmacolgico
299
5. Gengivite
Inflamao da gengiva secundria ao acmulo de placa dentria. As gengivas
se tornam vermelhas (eritema), edemaciadas e com risco de sangramento (costumam ocorrer escovao). Pode ocorrer halitose e gosto ruim na boca. Gengivite
um sinal de alerta a doena periodontal(9,23).
Quadro 5 Manejo da gengivite
Manejo farmacolgico
(conforme prescrio mdica)
Manejo no farmacolgico
FONTE: Chalmers J, Wiseman M, Ettinger R, Spector EL. Info-connect: oral hygiene care
for palliative care residents in nursing homes. Iowa Geriatric Education Center - University of
Iowa. 2009. [http://www.healthcare.uiowa.edu/igec/publications/info-connect/assets/ oral_hygiene_palliative.pdf]
300
Manejo no farmacolgico
7. Sialorreia
a produo excessiva de saliva ou inabilidade em deglutir o volume normal
de saliva produzida (cerca de 1500ml por dia). Causada por doenas neuromusculares (acidentes vasculares enceflicos, doena do neurnio motor, paralisia cerebral, carcinoma de faringe, doena de Parkinson, tumores cerebrais), problemas
orais (dentaduras mal adaptadas, deformidade ps-cirrgica, disfagia) e efeito de
medicamentos (anticolinestersicos, agentes colinrgicos, ltio)(10,17).
Quadro 7 Manejo da sialorreia
Manejo farmacolgico
(conforme prescrio mdica)
Manejo no farmacolgico
Posicionar adequadamente o paciente
em decbito lateral, colocando um
leno sob a boca.
Aspirar a cavidade oral, sempre que
necessrio.
Higiene oral adequada (3 vezes ao dia,
ou mais, se necessrio).
Manejo no farmacolgico
Tratar a causa de base, se possvel (por
exemplo, infeco, desidratao).
Higiene oral adequada (3 vezes ao dia,
ou mais, se necessrio).
Umedecer a cavidade oral com gua
filtrada a cada 1-2 horas, seja ofertando
pequena quantidade ao paciente ou com
uso de swab ou gaze.
Ofertar um pouco de gelo triturado a 3
cada 1-2 horas.
Mastigar pequenos pedaos de abacaxi1
ou goma de mascar sem acar (se
paciente solicitar).
Aplicar protetor labial2 ou gel lubrificante base de gua, 3 vezes ao dia e se
necessrio.
leo.
FONTE: Adaptado de Watson M, Lucas C, Hoy A, Wells J. Chapter 6b Gastrointestinal symptons: oral problems. In: Oxford handbook of palliative care. 2nd edition. Oxford University Press
Inc., New York: 2009. / Mirando s. Oral care. Nhs herefordshire. 2010. [http://www. herefordshire.nhs.uk/docs/Policies/Oral_Care.pdf] E / Clinical Knowledge Summaries. Palliative cancer
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com/pdf/2005-18/6/459-466.pdf]
302
Referncias
305
Introduo
A abordagem da ferida oncolgica pelo profissional de sade pode seguir
duas linhas de ao. A primeira a abordagem da leso oncolgica como um ente
clnico isolado, que exige, pelas suas caractersticas e prognstico mpares, uma
srie de condutas e protocolos bem definidos. Estas condutas frequentemente diferem das aes preconizadas para todos os outros tipos de ferida. E elas devem
estar bastante claras a todos os profissionais diretamente envolvidos no tratamento das leses, de modo que os mesmos ofeream cuidados que deem respostas
prontas e efetivas, que atendam s necessidades do doente.
A segunda linha de ao aquela que satisfaz mais plenamente os Princpios Gerais dos Cuidados Paliativos. No se trata da abordagem focada na ferida
oncolgica, mas na pessoa portadora da leso. E essa abordagem compreende as
dimenses fsica, psicolgica, social e espiritual.
Dentre outros estados associados presena da ferida oncolgica, a pessoa
portadora geralmente apresenta: sensao de mutilao, rejeio de si mesma;
perda da autonomia; perda da autoestima; medo; tendncia automutilao;
dficit de autocuidado; perda da esperana; diminuio da libido por fatores
sistmicos e por dficit de informao(1, 2, 3).
A ferida determina discriminao e rejeio social desde o mbito familiar
at as atividades produtivas (humilhao, pena, medo, nojo, desagrado). Os pacientes sentem-se podres por dentro(1), o que os afasta das outras pessoas, para
no se expor a comentrios desagradveis, ou temendo rejeio.
O aparecimento da ferida oncolgica tambm tem repercusses no mbito
familiar. importante ao profissional de sade considerar que, no cncer em seu
curso avanado, normalmente ocorre a transferncia dos cuidados para a famlia. Esse aumento da sobrecarga tem consequncias fsicas, psquicas, sociais e
econmicas para cada familiar. Geralmente, a atividade profissional do cuidador
fica em segundo plano, levando ao desemprego e desestruturao financeira da
famlia(4, 5).
Realizar os curativos em domiclio mencionada como uma das principais
dificuldades encontradas pelos cuidadores(4).
306
Aps considerar estes diferentes aspectos, inserindo paciente, famlia e sociedade, profissionais, instituies e servios num funcionamento dinmico, eficaz e justo, possvel vislumbrar uma resolutividade maior ao problema da ferida
oncolgica.
Conceito
As feridas oncolgicas so formadas pela infiltrao das clulas malignas
do tumor nas estruturas da pele. Ocorre quebra da integridade do tegumento em
decorrncia da proliferao celular descontrolada que o processo de oncognese
induz, levando a formao de uma ferida evolutivamente exoftica(6, 7, 8).
Podem ocorrer por extenso do tumor primrio, ou ainda de uma metstase;
a implantao acidental de clulas na pele durante um procedimento cirrgico ou
diagnstico; ou da invaso de linfonodos prximos ao tumor primrio(9).
O termo ferida oncolgica no consensual na literatura. Encontram-se
ainda outros nomes, como leses tumorais, lceras neoplsicas, feridas malignas, e leses neoplsicas(9).
Classificao
- Quanto localizao e topografia.
- Quanto origem:
* Primria: origina-se no local do tumor primrio;
* Metasttica: tem como origem um local de metstase.
- Quanto aparncia:
* Ferida fungosa: aparncia fungosa, semelhante couve-flor;
* Ferida ulcerativa: forma crateras;
* Ferida fungosa maligna ulcerativa: apresenta ambos os aspectos.
- Quanto ao estadiamento: Vide Quadro 1
Quadro 1 - Estadiamento de feridas oncolgicas, segundo Haisfield-Wolfe e Baxendale-Cox (1999):
Estgio 1
Estgio 1N
307
Estgio 3
Feridas que envolvem derme, epiderme e subcutneo. Tm profundidade regular, mas com salincias e formao irregular. So friveis,
com reas de ulceraes e tecido necrtico liquefeito ou slido e
aderido. Ftidas, secretivas, j com aspecto vegetativo, mas que no
ultrapassam o subcutneo. Podem apresentar leses satlites em risco de
ruptura iminente. Tecido de colorao avermelhada, violcea. O leito da
leso predominantemente de colorao amarelada.
Estgio 4
Caractersticas
As principais caractersticas e sintomas locais da ferida so(7, 8, 10):
- Progresso rpida e inviabilidade de cicatrizao.
- Hemorragias
- Odor ftido
- Exsudato abundante
- Alto risco para infeco
- Alto risco para miase
- Presena de necrose tecidual
- Dor
- Prurido
- Agresso do tecido saudvel perilesional.
Condutas
Alguns tratamentos no especficos so sugeridos para o controle das feridas
oncolgicas. Dentre eles, esto:
308
Radioterapia destri clulas tumorais. Diminui o tamanho da leso, o exsudato e o sangramento(10, 11).
- Quimioterapia reduz o tumor e melhora a dor.
- Hormonioterapia reduz a maior parte dos sintomas, quando indicada.
- Laser reduz a dor e a necrose tissular.
No entanto, a terapia tpica especfica a que traz melhores resultados no
manejo da lcera neoplsica.
A ferida oncolgica uma entidade clnica dinmica. Por esse motivo, exige
avaliao diria e preparo adequado da equipe para identificar os sinais presentes
ou potenciais de complicao. O paciente, famlia e cuidadores devem ser treinados a identificar estas situaes, e report-las aos profissionais de sade.
A conduta teraputica deve ser ajustada s caractersticas da leso, obedecendo os princpios de cuidados com feridas. A meta principal destas condutas
deixa de ser a cicatrizao que improvvel e passa a focar (a) o conforto do
paciente em relao ferida; e (b) a preveno e controle dos sintomas locais.
As condutas sero adequadas aos principais sintomas, conforme descrito a
seguir.
Hemorragias
Esto relacionadas ao crescimento da rede neovascular na regio do tumor,
associada muitas vezes presena de tecido frivel, o que favorece o rompimento
de vasos.
Os sangramentos podem ser espontneos, ou causados por atividades e procedimentos, como as aes de vida diria (banho, cuidados pessoais, movimentao no leito, deambulao), movimentos bruscos, radioterapia local, compresso
mecnica, traumatismos, utilizao ou retirada dos curativos de forma inadequada, abraso durante a tcnica de curativo, ou a realizao de desbridamento.
Os principais stios de sangramento so:
- Feridas cutneas (notadamente leses de cabea e pescoo)
- Cavidade oral
- tero/vagina
- Sangramentos gstricos
Preveno(8, 10, 11, 12):
- Manter o meio mido, evitando a aderncia de gazes no stio ou na superfcie e bordas da leso. Para isso, pode-se utilizar gaze embebida com soro
fisiolgico ou gaze com petrolato. Contraindica-se o uso de leos essenciais,
309
-
-
-
-
Tratamento(8, 10):
- Avaliar intensidade, origem e causa do sangramento.
- Aplicar presso diretamente sobre os vasos sangrantes com o amparo de
gazes ou compressas.
- A aplicao tpica de soro fisiolgico gelado realiza hemostasia principalmente em pequenos sangramentos.
- Considerar a aplicao tpica de adrenalina, pela sua ao vasoconstritora.
- Aplicar gel de alginato de clcio com carboximetilcelulose na leso, com
gazes estreis, ou placa de alginato de clcio. Aps sua aplicao, o curativo com alginato de clcio deve ser mantido no local por no mnimo 24h, a
no ser que haja necessidade de outra interveno no local. Deve-se evitar a
permanncia do alginato de clcio em contato com as bordas da leso, devido
ao risco de macerao da pele ntegra.
- Avaliar a possibilidade de iniciar antifibrinoltico sistmico, interveno cirrgica, sutura, cauterizao ou radioterapia hemosttica, em casos de sangramento intenso.
- Em hemorragias grandes ou frequentes, considerar a coleta de exames laboratoriais com vistas a hemotransfuses.
- No caso de sangramento de leses intravaginais (10):
* Realizar irrigao intravaginal com soro fisiolgico gelado. Utilizar sonda
de nelaton n12, lubrificada com lidocana gel, e introduzida com cuidado
para no aumentar o sangramento;
* Em caso de refratariedade irrigao vaginal com soro gelado, utilizar 2
ampolas de adrenalina diludas em 1 frasco de 250ml de soro fisiolgico
gelado, e realizar irrigao vaginal com esta soluo;
* Considerar a possibilidade de tratamento antifibrinoltico sistmico.
310
Odor ftido
considerado o sintoma mais castigante das feridas oncolgicas, em decorrncia da sensao de enojamento imputada ao paciente(8). Ocorre devido colonizao bacteriana, principalmente de anaerbicas, no stio da ferida. As principais
causas so a presena de necrose; o exsudato abundante, associado a curativos de
baixa absoro; e a prpria ocluso dos vasos sanguneos locais, e a consequente
reduo de oxignio.
Preveno:
- Controlar o exsudato.
- Considerar o risco/benefcio de desbridamento.
Tratamento(8, 10, 13):
Conduta eleita, mantida ou alterada aps a quantificao do odor (vide
Tabela 1).
Tabela 1 Classificao de Odor
Grau I
Grau II
O odor ftido sentido ao se aproximar do paciente, sem abrir o
curativo.
Grau III
311
312
Exsudato
O controle do exsudato diminui o odor, aumenta o conforto e melhora a autoestima do paciente.
O controle da infeco local e da quantidade de tecido necrtico podem diminuir a quantidade de exsudato da ferida, em alguns casos.
Tratamento(8, 10):
- Aplicar curativos absortivos, conforme a quantidade de exsudato. Indica-se
gel de alginato de clcio com carboximetilcelulose, ou a placa seca de alginato de clcio, no leito da leso. Deve-se evitar o contato do alginato de
clcio com as bordas ntegras da ferida.
- Cobrir com gazes ou coxins (curativo secundrio).
- Manter a placa de alginato na leso por no mximo 24h.
- Trocar curativo secundrio sempre que necessrio.
- Na ausncia de qualquer apresentao de alginato de clcio, utilizar cobertura primria e secundria com gazes ou coxins, trocando-os sempre que se
mostrarem saturados de secreo.
- importante avaliar aumento na frequncia de trocas. Cuidado com sangramento nesses casos.
- Em caso de secreo purulenta em grande quantidade, principalmente quando relacionada a odor ftido, considerar a utilizao de antibitico sistmico,
de acordo com os protocolos institucionais e conforme as indicaes de Odor
Grau III.
Miase
uma dermatozoonose, causada pela presena de larvas de insetos, mais comumente moscas, em rgos e tecidos humanos(8, 10, 12). Pode ser classificada, pela
localizao, em cutnea, subcutnea e cavitria(9).
Preveno:
- Controle ambiental: utilizao de sistemas de condicionamento de ar; instalao de telas protetoras em portas e janelas nos locais de exposio ao ar
313
-
-
Dor
A dor pode estar localizada na prpria ferida oncolgica, ou aparecer em
decorrncia da presena da ferida. Est relacionada aos seguintes fatores(14):
- Infiltrao do tumor em reas inervadas.
- Compresso de tecidos e nervos, devido ao crescimento do tumor.
- Necrose tecidual localizada como resultado da invaso tumoral.
- Exposio de terminaes nervosas no local da leso.
- Procedimentos invasivos de diagnstico e tratamento; realizao de tcnicas
de curativo inadequadas.
- Instalao de curativos compressivos ou inadequados no local.
- Complicaes ocasionadas do prprio tratamento, como infeces e inflamao tecidual.
- Incapacidade de movimento ou alinhamento corporal inadequado, determinados pela presena da ferida oncolgica.
H alguns desafios no controle da dor. Um deles a prpria natureza complexa e pluricausal da dor e de suas expresses(11, 15, 16, 17). O outro o convvio
cotidiano e passivo dos profissionais de sade com a dor do outro(17, 18).
A dor ter tratamento adequado apenas quando for prioridade(17).
314
Prurido
Algumas classificaes e escalas de dor consideram o relato de prurido como
um grau de dor.
A dor e o prurido na ferida oncolgica tm vrias causas em comum. Em
alguns casos, a falta de proteo pele ntegra perilesional pode levar irritao
e consequente prurido(8, 10, 12).
Preveno e tratamento(8, 10):
- Investigar alergias prvias do paciente.
- Investigar se a causa do prurido decorrente de alergia aos produtos utilizados no curativo, ou fita adesiva. Neste ltimo caso, utilizar fita hipoalergnica microporosa(19, 20, 21, 22)
- Controlar o exsudato (que potencialmente agressivo pele ntegra).
- Considerar o uso de dexametasona pomada a 0,1% no local referido, ou a
necessidade de terapia sistmica nos casos mais persistentes.
Necrose tecidual
O desbridamento da ferida oncolgica deve ser considerado com muito bomsenso, e esta possibilidade deve passar por uma anlise rigorosa de cada caso
pela equipe interdisciplinar. Leva-se em considerao a extenso da rea a ser
desbridada, a presena de infeces locais, a vascularizao e neovascularizao
do local, os riscos para o paciente (cujo principal o sangramento durante ou
aps o procedimento) e os benefcios (diminuio de volume de feridas fungosas,
controle de odor refratrio s terapias padronizadas)(9,10).
315
Papana a 6%
Papana a 2%
316
-
-
Referncias
317
318
Introduo
Falar sobre higiene em Cuidado Paliativo pode parecer redundante quando
pensamos num contexto hospitalar; no entanto, se partirmos do princpio de que
Cuidado Paliativo uma filosofia de atendimento, muito mais do que o espao
fsico que nos cerca, da higiene parece ter pertinncia ser tratada num captulo
que se prope abordar o conforto do paciente.
A palavra higiene origina-se do grego hugieins, que ajuda a manter a sade.
Na prtica, entende-se por higiene um conjunto de prticas de limpeza tanto com
o corpo quanto com o ambiente em que se vive. Durante sculos, as normas de
asseio inexistiram; foi necessria uma srie de epidemias e consequentes perdas
humanas para que boas prticas higinicas fossem incorporadas ao cotidiano da
humanidade (Silva, 2004). Ainda hoje, h sociedades que vivem em condies
precrias de salubridade e com grandes problemas de sade pblica.
Em Cuidados Paliativos, a tnica no diferente quando se fala em higiene;
o que muda nesta modalidade de atendimento que os padres higinicos preconizados em sade pblica devem ser adaptados ao conjunto de valores socioculturais do paciente. Com a adequao dos conceitos de higiene do cientfico e
contemporneo com o individual e cultural , surge o conforto do paciente.
A equipe que assiste o paciente e sua famlia dever realizar uma anlise sistemtica e contnua do plano de cuidados, objetivando, sempre, um planejamento
assistencial vivel, inclusive economicamente.
Com o declnio clnico e/ou psicolgico dos pacientes, os cuidados voltados
para a higiene e o conforto fsico vo obtendo dimenses cada vez maiores em
consequncia da perda de autonomia e dificuldade do autocuidar-se. Esta realidade
faz com que os pacientes em Cuidados Paliativos tenham uma grande demanda por
ajuda seja parcial ou integral, para a manuteno da sua higiene corprea, inte319
gridade da pele, asseio pessoal e esttica necessria para assegurar a sua dignidade
e manuteno de seus papis sociais frente a si mesmo e famlia. Lembrar que
esta dignidade deve ser estendida tambm no preparo do seu corpo aps o bito.
As prticas que usualmente tm maior impacto na higiene e no conforto fsico dos pacientes so: higiene do ambiente, banho de asperso (banho de chuveiro), banho no leito, higiene do couro cabeludo, oral e ntima, adequao da
cama e sua arrumao, troca de fraldas, tricotomia facial, massagem de conforto,
mobilizao no leito e readequao do vesturio ver Quadro 1.
Quadro 1
Prticas mais comuns para higiene & conforto
Higiene do ambiente
Banho de asperso (de chuveiro)
Banho no leito
Higiene do couro cabeludo
Higiene oral e ntima
Adequao da cama e sua arrumao
Troca de fraldas
Tricotomia facial
Massagem de conforto
Mudana de decbito
Readequao do vesturio
Higiene do ambiente
Como higiene do ambiente, entende-se um conjunto de prticas que faa
a manuteno da ventilao do ambiente, a iluminao adequada do ambiente
e a limpeza do espao fsico sem desvincul-lo da identidade do paciente. Os
apontamentos descritos aqui podem ser adaptados desde instituies hospitalares
com enfermaria de Cuidados Paliativos at hospedarias e domiclios; no entanto,
importante lembrar que higiene do ambiente abrange todos os espaos onde
o paciente circula. O conjunto de prticas objetivando a reduo do nmero de
infeces hospitalares ou comunitrias no fator secundrio na execuo da
assistncia ao paciente em Cuidado Paliativo. O espao fsico onde o paciente
est acomodado deve ser um ambiente que favorea o conforto, acolhimento e
proteo de riscos externos sua condio clnica atual.
Em uma instituio hospitalar, a flexibilidade nos horrios de visitas, companhia permanente no quarto com entrada de crianas e um espao onde as famlias
320
321
Segue abaixo quadro com diretrizes bsicas (Quadro 2) para uma superviso
adequada dessa prtica.
Quadro 2
Instituio
Animais: Possui?
Domiclio
So vacinados?
encerado?
Banho de asperso
A execuo do banho de asperso demanda que o paciente tenha grau de
sustentao corprea condizente com as estruturas fsicas do ambiente. Por exemplo: barras de sustentao, tapetes antiderrapantes, suporte para frascos de soros,
dentre outros acessrios que possam facilitar a permanncia do paciente sob o
chuveiro em posio ortosttica. O banho de asperso tambm possibilita que a
higienizao do couro cabeludo seja realizada com mais praticidade e conforto
para o paciente.
Enquanto que o banho no leito pode representar a oficializao do declnio
das funes cognitivas ou funcionais do paciente, o banho de asperso pode ser
considerado por muitos pacientes como uma prova de autonomia e enfrentamento
da progresso das doenas degenerativas. Ele tambm pode ser um marcador do
nvel de independncia do paciente. Dependendo do estgio de reconhecimento e
enfrentamento da doena, ele poder ser relutante ao banho no leito e optar pelo
banho de asperso em posio ortosttica ainda que seja desprovido de condies
fsicas que assegurem a execuo desta tcnica.
322
Embora seja difcil para uma unidade de internao separar os pacientes segundo critrios de demanda de cuidados, no boa prtica deixar pacientes em
Cuidados Paliativos dependentes com pacientes mais independentes para as atividades de vida diria: invariavelmente, um padro de comparao se estabelece e
o sentimento de impotncia e tristeza aumenta gradativamente.
Para a realizao do banho de asperso h que se ter a garantia de segurana
da integridade fsica do paciente. Ento, faz-se necessrio checar a existncia de
barras de apoio, se no piso do banheiro existem falhas, descolamentos e superfcies cortantes. O banho de asperso em posio ortosttica com auxlio de uma ou
duas pessoas, banho com o uso de chuveirinho e o banho de asperso em cadeira
higinica so opes muito utilizadas para os pacientes sob os Cuidados Paliativos.
As cadeiras higinicas apresentam vrios modelos e preos. Um modelo
acessvel o modelo com adaptador universal para os diversos assentos de vaso
sanitrio. Sempre que possvel, opte por um assento almofadado para preveno
de dor no momento do banho. Pacientes emagrecidos tm maior dificuldade em
adaptar-se aos assentos de polipropileno com consequente dor e pontos de presso
na regio trocantrica, portanto vale a pena improvisar com cadeiras de marfinite,
fazendo furos na base para o escoamento da gua, inclusive.
Os idosos, por terem uma pele mais fina, mais permevel e com menos pelos,
portanto menos protegida contra infeces, o cuidado com a temperatura da gua
e o uso de hidratantes aps o banho fundamental. A secagem dos ps aps o
banho dificulta a proliferao de fungos e bactrias, causadores de odores desagradveis e infeces.
O banho antes de ser uma prtica higinica, deve ser uma prtica prazerosa, relaxante e revigorante; banho de asperso onde o paciente se desgasta, sofre com dores e
solavancos, vale refletir sobre o banho no leito. Afinal, cuidado paliativo conforto.
Banho no leito
Habitualmente indicado para o paciente acamado, muitas vezes torna-se uma
prtica tambm utilizada para aqueles com sensao de extrema fadiga e/ou quadro de depresso. O medo de deambular, o esforo desencadeador de dor ou isolamento social tambm so situaes onde o banho no leito tem indicao.
Em casa, o banho no leito muitas vezes a nica prtica higinica possvel.
Banheiros compartilhados e distantes do leito, bem como o seu difcil acesso ainda so realidades da prtica assistencial. E se considerarmos que, nas construes
atuais, o espao cada vez mais otimizado, o cuidador tem dificuldades para transitar com a cadeira higinica pelos cmodos da casa. Ns, profissionais da sade,
deveramos ter menos restrio e/ou resistncia execuo do banho no leito nos
pacientes em Cuidados Paliativos.
323
Higiene oral
Comida uma maneira de se conectar vida. Ento cuidar da higiene oral
fundamental; atravs do paladar que se inicia essa conexo. Pacientes com dentes devem utilizar escova com cerdas macias e, preferencialmente, escova pequena ou infantil. A indicao do tamanho da escova justifica-se pelo fato de que nem
sempre o paciente consegue expandir a musculatura facial permitindo a higiene
completa dos dentes molares; escovas menores permitem maior alcance dentrio
sem muito esforo do paciente. Na presena de dentes amolecidos ou sangramento gengival, oriente o cuidador a realizar a higiene delicadamente e sem pressa. A
conteno de sangramentos pode ser feita com o uso de gua gelada e compressa
de gaze embebida em SF 0,9% gelado.
Pacientes que no se alimentam por via oral tambm devem ter a higiene oral
realizada quatro vezes ao dia. Na ausncia de dentes, uma gaze embebida em gua
bicarbonatada 10%, enrolada ao dedo indicador, deve ser utilizada para a higiene
da gengiva e da lngua, de maneira suave.
325
Higiene ntima
A limpeza adequada da regio genital e anal contribui para a preveno de
corrimentos e vulvovaginites. Nos pacientes acamados, especialmente do sexo
feminino, devido proximidade do nus com a vagina e a uretra, a troca de fraldas
deve ser frequente e a higienizao da genitlia deve seguir os seguintes passos:
afaste com os dedos polegar e indicador os grandes lbios e proceda a limpeza da
vulva e do perneo, obedecendo o sentido vagina nus. Isso previne problemas
decorrentes do contato com fezes, urina e outros irritantes que podem provocar
infeco. Para os pacientes acamados do sexo masculino, a higiene ntima deve
contemplar a trao do prepcio, higiene local com gua e sabonete e a reduo
da membrana a fim de evitar a balanopostite. No uso de fraldas descartveis,
deve-se realizar a troca a cada 6 horas no mximo para prevenir as dermatites por
fralda, tambm conhecidas por dermatite de contato (Hashimoto, 1997). Fraldas
de algodo, embora mais trabalhosas para processar a limpeza, absorvem melhor
a transpirao com consequente reduo das dermatites.
Arrumao da cama
Pacientes mais dependentes devem ter, sobre o colcho normal, um colcho
que favorea uma maior circulao sangunea e consequente preveno de lceras
por presso. No mercado h uma variedade de colches que oferecem uma boa
relao de conforto e preveno de lceras por presso; no entanto, h que se ter
claro que o paciente o usurio e ele quem determinar se lhe confortvel
ou no. Um colcho de ltima gerao e com mltiplos benefcios tecnicamente
descritos, nem sempre a melhor escolha. Com o paciente em cuidado paliativo,
a prioridade deve ser o conforto, o que necessariamente no est relacionado
melhor tecnologia reparadora.
De modo geral, os colches teraputicos de espuma lacunar ou perfilada,
mais conhecidos como colcho caixa de ovos, so mais acessveis por conta do
326
Readequao do vesturio
As roupas devem ser confortveis, simples de se vestir e adequadas ao clima
e aos desejos do paciente; sempre que possvel, d preferncia aos tecidos de algodo por serem macios e permitir em uma melhor movimentao. Resduos de
produtos qumicos usados na lavagem das roupas podem ser causa de irritaes na
pele. O uso de tecidos sintticos e inflamveis e de colchetes, correntes e alfinetes
deve ser abolido, evitando com isso possveis acidentes e traumatismos.
importante tambm que, para o paciente impossibilitado de manifestar sua
sensibilidade temperatura externa, o profissional esteja atento para a colocao
ou retirada de agasalhos. Oriente o cuidador familiar para que esteja atento a estas
necessidades no domiclio tambm.
importante que os cuidadores mantenham a calma no auxlio do vesturio.
Pacientes em Cuidado Paliativo se cansam com facilidade e, por isso mesmo,
importante manter vestimentas simples com aberturas laterais ou frontais e uso
de velcro para fechamento.Pacientes limitados a cadeiras de rodas ou poltronas,
optar por roupas confortveis, largas, especialmente nos quadris. Para pacientes
com leses extensas de pele independentemente da causa , oriente adaptaes
de roupas e camisolas: as mangas podem sem desmembradas do corpo da roupa e
adaptadas ao corpo do paciente atravs dos dispositivos acima citados.
327
Mudanas de decbito
De maneira ideal, a mudana de decbito deve ser realizada pelo menos a
cada duas horas. No entanto, a mobilizao no leito na fase final de vida deve ser
criteriosa:
Observe as condies do colcho onde o paciente repousa. Como elemento
norteador para maior conforto do paciente, oua o que o prprio paciente
pensa sobre a sua acomodao.
Avalie a dor para a execuo de movimentos simples. Se com movimentos
simples houver dor, escolha outras maneiras de preveno de maiores agravos.
Observe se os lenis esto esticados, se no h excesso de cobertores na
cama.
Observe a pele do paciente, sua hidratao e quais os pontos de presso; use
coxins, apoios macios e hidrocolodes (ver captulo de feridas) para proteger
as reas com risco aumentado para abertura de leses. Pacientes com leses
sseas, por exemplo, no sero mobilizados com esta frequncia.
Para o cuidado paliativo no domiclio, orienta-se o cuidador a fazer uma
tabela com horrios para as mudanas de decbito em associao com uma
escala de avaliao de dor (ver anexo). O objetivo sempre conciliar formas
de preveno de maiores agravos com o mximo conforto do paciente, incluindo a, a ausncia de dor.
Consideraes finais
A reflexo para os cuidados de higiene & conforto no Cuidado Paliativo,
deve partir sempre de que planejamento do cuidar passa sempre pela questo do
tempo do indivduo e suas possibilidades de futuro. O tempo do nosso paciente
certamente diferente do tempo de quem dele cuida. O desconforto e dor no cuidado geralmente so entendidos como uma ponte para a melhora e a recuperao
breve. E quando se fala em melhora, geralmente a ideia remetida a perspectiva
de cura. No entanto, para o paciente em Cuidado Paliativo, fora de possibilidade
de cura, mas com a realidade de viver intensamente o que o tempo lhe concede,
geralmente a barganha no vale a pena. Cabe equipe estabelecer um canal de
comunicao com o paciente, mantendo bom vnculo de confiana para o estabelecimento de prticas de conforto; medidas reais e concretas. O mais importante
no conformar-se com o cuidado bsico; necessria a reavaliao diria e constante para que o conforto impere. Fundamental tambm lembrar que no cuidado
no cabe culpa; e, se esta surgir, h que se ter uma reflexo da prtica assistencial
e uma escuta mais atenta para os valores e desejos do paciente. Planejar para o
328
outro o que o profissional deseja para si no pode ser a regra; e, se houver regra,
esta deve ser sempre a de respeitar o que o paciente deseja, a de respeitar o que ele
julga melhor para si. Um paciente nunca igual ao outro, ainda que a manifestao da doena seja igual para a maioria. Enxergar a singularidade de cada um o
que nos guia para o conforto do paciente.
Referncias
329
Parte 5
A Equipe Multiprofissional em
Cuidados Paliativos
333
Referncias
334
335
Referncias
336
Introduo
O que faz o psiclogo na equipe de Cuidados Paliativos? O que caracteriza
a sua prtica? Acredito que as respostas a tais perguntas devem ser construdas
dentro de um referencial terico consistente Psicanlise, Fenomenologia, Psicologia Analtica, Psicologia Social, Anlise do Comportamento, etc. , pois no
avano articulado entre teoria e prtica que vai se definindo a prtica e a identidade do psiclogo da equipe.
Para se colocar em condio de participar de trocas efetivas com profissionais de outros saberes, necessrio que o psiclogo procure ter clareza sobre as
possibilidades e limites do seu campo de trabalho, evitando tomar para si modelos
estranhos sua prtica (o modelo mdico, por exemplo). desejvel que identifique um objeto de estudo e interveno, reconhecendo o campo epistemolgico
em que se situa sua prtica.
Uma formao bsica em Cuidados Paliativos, que permita ao psiclogo conhecer os princpios e temas relevantes para a rea, amplia o seu campo de compreenso acerca do contexto em que seu trabalho se insere e contribui para uma
atuao sintnica com os objetivos da equipe.
Trabalho em equipe
O trabalho em equipe, um dos pressupostos dos Cuidados Paliativos, demanda do psiclogo (bem como de todos os seus colegas de equipe) a habilidade
de comunicar-se com profissionais de outras reas do conhecimento. Para tanto,
ele precisa ter clareza sobre o seu prprio trabalho, procurando ao mesmo tempo
conhecer o fazer de seus colegas de equipe.
A valorizao da atuao multiprofissional se fundamenta na compreenso
de que o doente sofre globalmente. Cada membro da equipe aborda o sofrimento
desde a perspectiva que seu saber lhe autoriza. O objetivo comum o de garantir
que necessidades distintas do doente, da famlia e da equipe possam ser reconhecidas e atendidas pela articulao de aes de diferentes naturezas.
337
338
Nesses casos, comum que a famlia fique ameaada pela irrupo dessa
temtica e obstrua o canal de comunicao entre a equipe e o doente. Este ltimo,
por sua vez, entrev burburinhos, alm, claro, de perceber as modificaes de
seu corpo e desempenho fsico. Mas fica s e restringido em suas possibilidades
de tornar assimilveis as experincias pelas quais est passando.
por isso que o psiclogo estimula doente e famlia a pensarem e falarem
livremente sobre sua situao. Desse modo procura legitimar seu sofrimento e
contribuir para a elaborao das experincias de adoecimento, processo de morte
e luto.
Ateno equipe
Trabalhar na assistncia a pacientes em Cuidados Paliativos envolve estar em
contato muito prximo com o sofrimento, o que implica certo custo emocional
para o profissional que atua na rea. De maneira geral, as equipes de sade se ressentem de um espao de cuidado e ateno s suas prprias dificuldades.
A prtica permite identificar a recorrncia de algumas circunstncias em que
a interveno do psiclogo solicitada: o doente e/ou a famlia so agressivos,
no seguem as recomendaes que lhe so feitas, burlam as regras do servio,
acusam, culpabilizam, negam a gravidade do estado de sade do doente, so muito solicitantes, etc. Trata-se de situaes que representam importante fonte de estresse para a equipe e que podem estar ligadas quilo que em Cuidados Paliativos
costuma ser chamado de sndrome de burnout.
Os grupos de reflexo sobre a tarefa assistencial, derivados do modelo do
Grupo Balint1, oferecem um espao em que o grupo de trabalho possa funcionar
como ponto de apoio diante das experincias de sofrimento vividas na assistncia
ao doente e familiares, constituindo-se como um dispositivo catalisador do trabalho em Cuidados Paliativos.
Vale destacar que o grupo de reflexo sobre a tarefa assistencial deve ser coordenado por profissional da rea psi que no seja um membro da equipe, uma
vez que s dessa maneira estar em posio favorvel para escutar e manejar as
questes emocionalmente conflitivas ligadas assistncia.
Idealizados pelo psicanalista hngaro Michael Balint (1896-1970), os grupos Balint foram desenvolvidos na
dcada de 1950 em Londres. Visavam capacitar mdicos generalistas a estabelecer uma boa relao mdicopaciente e fundamentavam-se na ideia de que o mdico, a forma como se relaciona com o seu paciente,
um aspecto importante da teraputica.
339
Concluso
A experincia com situaes de adoecimento e morte pode, dependendo do
contexto em que se d, ser favorecedora da aceitao de nossos limites ou ser importante fonte geradora de angstia isso vale no s para o doente ou a famlia,
mas tambm para os profissionais, incluindo o psiclogo.
Trabalhando em Cuidados Paliativos, o psiclogo poder sentir-se impelido
a retroceder, entendendo que no h o que ele possa oferecer. Em outros casos,
poder desejar ocupar a posio de um protetor que restaura as seguranas perdidas. Mas a situao ideal aquela em que ele cria sentidos para a prtica dentro
das possibilidades/limites de seu campo de conhecimento.
Nesse sentido, a participao em espaos de interlocuo sobre questes ligadas atuao (superviso, grupos de estudo, psicoterapia, publicaes, congressos, etc.) pode ser ferramenta valiosa para que faa de seu trabalho em Cuidados Paliativos uma experincia de crescimento pessoal e profissional.
Referncias
340
Introduo
Em nosso entender, cuidar paliativamente de algum, seja em hospitais (ambulatrio e enfermaria), ou em domiclio, requer prioritariamente um trabalho
interdisciplinar, que prima pela complementao dos saberes, partilha de responsabilidades, tarefas e cuidados e negao da simples sobreposio entre as reas
envolvidas. O reconhecimento de que o cuidado adequado requer o entendimento
do homem como ser integral, cujas demandas so diferenciadas, especficas, e
que podem e devem ser abordadas conjuntamente, oferece s diferentes reas
do conhecimento a oportunidade e a necessidade de se perceberem incompletas.
A percepo das necessidades mltiplas do indivduo em Cuidados Paliativos e
a certeza de que somente uma rea no oferecer respostas necessrias fazem
crescer e se consolidar a busca inegvel por um trabalho efetivamente em equipe
interdisciplinar(1,2).
Por isso, o papel do assistente social nas equipes de ateno em Cuidados
Paliativos orienta-se pela atuao junto ao paciente, familiares, rede de suporte
social, instituio na qual o servio encontra-se organizado e junto s diferentes
reas atuantes na equipe.
Em todas as instncias, o conhecimento prvio em consonncia com uma
proposta de ao adequada alcanar resultado satisfatrio para todos os envolvidos na questo.
Informaes detalhadas e atualizadas (direitos e formas de acesso) constantes da parte 6 deste manual.
342
equipe tenha parmetros reais para as solicitaes futuras. Exigncias alm do que
a famlia pode arcar, aqui relacionadas especificamente com custos, costumam
inviabilizar a ateno ao paciente e gerar situaes de estresse desnecessrio para
os envolvidos.
Religio: aspecto cultural importantssimo na avaliao social do paciente
em Cuidados Paliativos. A religio da famlia e do paciente traz subsdios para
abordagens adequadas sobre morte, cuidados ao final da vida, rituais e diferentes
necessidades relacionadas s crenas e significados pessoais. Isso deve ser conhecido e compartilhado com a equipe para que, na medida do possvel, os cuidados
ao final da vida sejam ajustados ao que significativo e simblico para famlia e
paciente.
Rede de suporte social: relaciona-se com entidades (instituies, grupos formais, servios) ou pessoas (parentes, amigos, vizinhos) com que o paciente e seus
familiares podem contar em casos de necessidade. As redes de suporte so to
mais suficientes e eficazes quanto maior disponibilidade e segurana oferecem
aos indivduos que a elas recorrem; tal efetividade no se relaciona renda dos
envolvidos, mas, sim, a vnculos estabelecidos e fortalecidos no decorrer do tempo(5).
Instituio: Aqui nos referimos especificamente a cada instituio onde est
vinculado o servio de ateno em Cuidado Paliativo. Faz parte da proposta de
trabalho do assistente social conhecer a fundo a instituio na qual realiza sua
ao. Esse conhecimento oferecer condies para o profissional se inteirar dos
servios disponveis e dos canais de encaminhamento da clientela. necessrio
que o assistente social saiba criar a sua rede intrainstitucional no intuito de bem
atender aos pacientes e na certeza de que um nico servio tambm no capaz
de solucionar todas as demandas dos que necessitam de cuidado, mesmo estando esse inserido em uma grande instituio. Conhecer as interfaces, estabelecer
parcerias, saber os fluxos adequados de encaminhamento e agilizar a insero do
paciente nos servios tambm parte da atuao do assistente social nos grupos
de Cuidados Paliativos.
Atuao junto equipe: especfico do assistente social o conhecimento
e a abordagem sobre a realidade socioeconmica da famlia, bem como sobre
os aspectos culturais que compem este universo. Assim, a decodificao dessa
realidade para a equipe de trabalho constitui-se em uma de suas principais atribuies. Este profissional torna-se o interlocutor entre paciente/famlia e equipe nas
questes apontadas, que so fundamentais para se alcanar os objetivos almejados
em Cuidados Paliativos: morte digna e cuidado aos que ficam.
343
Concluso
A atuao do assistente social em equipes de ateno paliativa pode ser resumida em: conhecer paciente, famlia e cuidadores nos aspectos socioeconmicos,
visando ao oferecimento de informaes e orientaes legais, burocrticas e de
direitos, imprescindveis para o bom andamento do cuidado ao paciente, e para a
garantia de morte digna. Cabe a esse profissional tambm avaliar a rede de suporte social dos envolvidos, para junto a estes acion-la em situaes apropriadas;
conhecer e estabelecer uma rede intrainstitucional, no intuito de garantir atendimento preciso ao paciente, alm de constituir-se como interlocutor entre paciente/
famlia e equipe nas questes relacionadas aos aspectos culturais e sociais que
envolvem o cuidado de forma geral. Soma-se a isso a importncia da escuta e
da acolhida em momento to especial, que o do enfrentamento de uma doena
incurvel e em fase final de vida.
Referncias
344
Introduo
Considera-se que os Cuidados Paliativos so um ramo da medicina que
enfatiza o cuidar global do paciente, quando este no apresenta mais resposta
aos tratamentos considerados curativos, atravs de uma srie de aes e medidas realizadas pelos profissionais envolvidos, visando, principalmente, fornecer
melhor qualidade de vida ao indivduo e sua famlia. Tanto nos aspectos ticos
e psicolgicos,bem como o nvel de esclarecimento, a forma de abordagem e o
entrosamento dos profissionais so essenciais para esses pacientes e seus familiares(1).
O trabalho em equipe considerado um componente central de Cuidados
Paliativos. Os membros da interdisciplinaridade que compem o atendimento
paliativo devem tomar condutas coerentes, com senso de responsabilidade, dentro
de uma organizao interna e com comunicao considerando as perpectivas a
serem traadas a cada momento de cada paciente(2).
Diante deste enfoque, para muitos profissionais que atuam em Cuidados Paliativos, h um verdadeiro dilema em relao ao emprego da dieta via oral (VO),
terapia nutricional enteral (TNE) e/ou nutrio parenteral (NP) como alternativas
de tratamento. Entretanto, nestes pacientes a nutrio possui diferentes significados, pois depende do indivduo, dos hbitos alimentares, da procedncia e da
religio. Dentre outros fatores, a alimentao pode envolver afeto, carinho e vida,
acima do atendimento das necessidades energticas(3).
Analisando que o alimento exerce papel essencial na vida de todos ns, pois
est relacionado s recordaes agradveis e prazerosas que determinadas preparaes alimentares despertam em nossa vida, a importncia dada ao alimento no
se altera com o passar do tempo ou com a instalao de uma doena grave. Porm,
numa condio de impossiblidades, o alimento acaba sendo mais notado pela sua
ausncia ou pelas dificuldades na sua ingesto do que pela sua presena e o prazer
proporcionados(4).
Em Cuidado Paliativo, comum o paciente apresentar inapetncia, desinteresse pelos alimentos e recusa queles de maior preferncia. Consequentemente,
podem ocorrer: baixa ingesto alimentar; perda ponderal de medidas antropomtricas. Em contrapartida, os efeitos colaterais dos tratamentos medicamentosos
345
podem causar nuseas, vmitos, diarreia, saciedade precoce, m absoro, obstipao intestinal, xerostomia, disgeusia, disfagia, entre outros(5).
Orrevall et al.(6) evidenciaram que o risco nutricional est associado com grupos de diagnsticos especficos, presentes em cncer de prstata, cabea e pescoo, cncer ginecolgico e gastrintestinal. No entanto, a anlise de mais de 50%
dos pacientes estudados indicou que o risco nutricional comum em pacientes em
Cuidados Paliativos, independentemente do diagnstico.
Portanto, a prtica assistencial deve compreender o cuidado nutricional necessrio em todos os estgios da doena e na estratgia teraputica. Em Cuidados
Paliativos, a nutrio tem especial papel preventivo, possibilitando meios e vias
de alimentao, reduzindo os efeitos adversos provocados pelos tratamentos, retardando a sndrome anorexia-caquexia e ressignificando o alimento. Em adio,
auxilia no controle de sintomas, procura manter hidratao satisfatria, preserva o
peso e a composio corporal(7).
O profissional nutricionista um dos profissionais que pode auxiliar na evoluo favorvel do paciente. Mesmo frequentemente deparando-se com verdadeiros impasses em relao conduta dietoterpica, necessria discusso que
envolve comunicao com os familiares e o paciente, valores morais e tica profissional, afinal existe a dvida se instituir uma modalidade de terapia nutricional
consiste em um cuidado bsico ou um tratamento mdico(8).
com cncer terminal ou que estejam recebendo tratamento cirrgico, quimioterpico ou radioterpico. Nenhuma melhora foi notada na sobrevida, toxicidade do
tratamento, estado funcional, fora ou qualidade de vida. Pesquisas em animais
demonstram que o suporte nutricional agressivo acelera o crescimento tumoral,
o que ainda no foi comprovado em humanos, pois em todos os estudos havia o
uso conjunto de quimioterapia. No entanto, os trabalhos avaliados apresentam
populaes heterogneas com diferentes causas de anorexia/caquexia (AC)(111,12).
Pacientes portadores de demncias avanadas frequentemente evoluem com
disfagia, pneumonia de aspirao, perda ponderal e recusa alimentar. Nessas situaes, frequentemente a opo tradicional de tratamento seria a alternativa nutricional de alimentao por sondas nasoenterais de modo a garantir a oferta de
alimentos e assim prolongar a vida. Porm, em Cuidados Paliativos existe o questionamento se haveria algum benefcio para o paciente, pois sabido que terapias
nutricionais agressivas no so efetivas e podem tornar o tratamento mais oneroso
e estressante(13).
A NP possui poucas aplicaes em pacientes com doena avanada, como
em obstrues intestinais irreversveis, presena de fstulas intestinais, vmitos
intratveis, TGI no funcional e impossibilidade de ingerir VO(14). Desde que contribua com uma melhor qualidade de vida e expectativa de sobrevida considervel, alm da participao de familiares e outros cuidadores, a NP pode ser aplicada, tanto em nvel hospitalar como domiciliar. Porm, as alteraes metablicas
advindas da NP, como hiperglicemia, risco de infeco de cateteres e elevado
custo financeiro, tambm precisam ser ponderadas pelos profissionais, para que
no se tornem medidas fteis(15).
Segundo guidelines institudos de TNE, NP e hidratao para pacientes paliativos terminais, devem ser considerados oito passos para a tomada de uma deciso
sobre a TN do paciente: condio clnica, sintomas, expectativa de vida, estado
nutricional, condies e aceitao de alimentao VO, estado psicolgico, integridade do trato gastrintestinal (TGI) e necessidade de servios especiais para oferecimento da dieta. Posteriormente, aconselhvel iniciar o tratamento e reavaliar
seus resultados periodicamente, levando em considerao os sintomas que afetem
a nutrio do paciente; aceitao da dieta VO; expectativa de vida; desidratao e
grau de desnutrio energtico-proteica; alm da funcionalidade do TGI(16).
Em pacientes impossibilitados de se comunicarem, comatosos, com rebaixamento do nvel de conscincia ou confuso mental, a opinio dos familiares deve
ser considerada e a equipe deve discutir e definir junto famlia toda conduta,
tanto clnica como nutricional(17).
Segundo Palecek et. al.(18), esses desafios podem ser superados com a criao
de uma linguagem clara que enfatize os objetivos do paciente cuidado. Uma nova
347
ordem visando apenas a alimentao de conforto afirma que medidas devem ser
tomadas para assegurar o conforto do paciente atravs de um plano de cuidados
individualizado de alimentao, eliminando a aparente dicotomia de cuidados impostos pela preocupao de renunciar a hidratao e nutrio artificial.
A perda do apetite o segundo sintoma mais comum em pacientes com doena avanada. De acordo com Waitzberg et al.(19), em 100 pacientes com cncer
avanado e em Cuidados Paliativos, a anorexia esteve presente em 66%. Estudos
demonstram que o apetite e a habilidade de comer so mais importantes do que
a fora fsica e habilidade de trabalhar. Considera-se que o apetite e a ingesto
alimentar so fatores importantes na qualidade de vida para o paciente. Strasser(20)
refere que a anorexia e a caquexia tm um impacto tambm psicossocial nos pacientes e membros da famlia, afetando profundamente seus hbitos dirios, a
rotina de alimentao do casal e o relacionamento conjugal. Pacientes e familiares
disseram que a perda de peso e apetite no so experincias abstratas, mas invadem e rompem a estrutura da vida diria, provocando confrontamentos, desafios
sociais e questes existenciais. Esses confrontamentos podem causar angstias
nos pacientes e membros da famlia, j que no comer est relacionado ao morrer.
Nesse sentido, a alimentao deve ser orientada aps avaliao do estado
nutricional e das condies clnicas do paciente. Adapta-se como conduta dietoterpica a indicao da ingesto em pequenas quantidades e a intervalos regulares
de alimentos de seu agrado, incentivando as refeies junto famlia(10).
Em decorrncia da desnutrio e da desidratao, surgem tambm inmeras
alteraes corporais e metablicas que, alm de piorarem o processo da deglutio, afetam os sistemas imunolgico e respiratrio e contribuem para o desenvolvimento da insuficincia cardaca, formao de lceras de decbito e deficincia funcional do trato gastrointestinal, que interferem na resposta ao tratamento.
Nesse contexto, os pacientes disfgicos podem se encontrar em risco nutricional
e, por isso, necessitam de assistncia nutricional especfica e acompanhamento
constante(21).
Referente xerostomia e a disgeusia, estas podem ser advindas do prprio
tumor, hidratao inadequada do paciente, tratamento mdico com determinados medicamentos e radioterapia aplicada em cabea e pescoo. O paciente deve
sempre manter boa higiene oral, e pode utilizar saliva artificial, protetores labiais,
evitar respirar pela boca e lamber os lbios(10). As principais recomendaes alimentares so se bem tolerado, chupar frutas ctricas, para estimular a salivao;
ingerir lquidos em pequenos volumes e vrias vezes ao dia, inclusive durante as
refeies, para facilitar a deglutio e a mastigao; consumir alimentos e preparaes mais midas, com caldos, molhos, cremes e/ou maionese, por exemplo;
evitar alimentos muito condimentados, que exijam excessiva mastigao e secos;
348
Alimentao e hidratao, dos pacientes em Cuidados Paliativos na fase final, sem qualquer
expectativa de reverso ou de alterao do prognstico
Quando o final da vida se aproxima, normal a recusa da alimentao, o
que causa muita angstia aos familiares. No entanto, diversas so as causas da
anorexia em doenas avanadas e muitas delas so reversveis. Os profissionais
envolvidos no tratamento paliativo precisam estar aptos a identificar as causas
reversveis de anorexia e combat-las. necessrio tambm uma avaliao criteriosa dos benefcios da alimentao oral, enteral e no que se refere qualidade de
vida do paciente(7).
Por no haver evidncias cientficas para a deciso de alimentar ou no o
paciente e por existir influncia cultural importante no que tange alimentao, a
deciso de nutrir at a morte o paciente deve ser multiprofissional e ter o consentimento da famlia se o paciente no tiver condies de decidir. Caso o paciente
opte por no receber nutrio, sua deciso deve ser respeitada e acatada pelos
profissionais da sade e por seus familiares, pois acima de qualquer evidncia
cientfica est a autonomia do paciente, assim como os princpios de no maleficncia e beneficncia(23).
Diante de um paciente no final de sua vida, devemos priorizar seu conforto
e garantir a troca de afeto, seja ela atravs de pequenas pores de alimento, do
toque, de uma palavra amiga ou de um silncio acolhedor. Uma vez que o alimento vida, pessoas morrendo precisam cada vez menos de alimento. Nos dias
finais, eles podem aceitar apenas lquidos e por fim recusar tudo. Essa fase muito
angustiante para os familiares. necessrio saber que a desidratao dessa fase
no causa sofrimento. Estudos demonstram que a maioria dos pacientes terminais
recebendo o mnimo de nutrio no apresentam sensaes de fome ou sede. O
desconforto ocorre, no entanto, quando os pacientes comem para agradar seus familiares. Sensaes de sede ou fome podem ser aliviadas com pequenas quantias
de sucos, alimentos ou at mesmo higiene oral. Caso hajam sintomas relacionados
desidratao (xerostomia, confuso mental), o uso da hidratao subcutnea
pode oferecer alvio do sintoma com o mnimo de desconforto(24).
A ingesta de alimentos e de lquidos normalmente diminui no estgio terminal de uma doena, sendo que o paciente no deve ser forado a receber alimentao e hidratao. A terapia de hidratao intravenosa em pacientes terminais
aumenta os fluidos gastrintestinais, levando a vmitos e necessidade de sonda
349
Concluso
Em Cuidados Paliativos, a atuao multiprofissional essencial para que o
paciente tenha qualidade de vida e uma sobrevida digna. Respeito, tica, sensibilidade e sinceridade devem sempre nortear a equipe durante o tratamento.
A preocupao em poder alimentar o paciente com estgio avanado da doena, bem como a forma e as estratgias de procedimento ainda so causas de
discusso entre os profissionais de sade. Alm do controle dos sinais e sintomas,
existe a necessidade de se conhecerem os hbitos alimentares dessa populao.
O nutricionista um dos profissionais responsveis por oferecer recursos e
esclarecimento aos pacientes e seus familiares. Portanto, habilidade para se comunicar fundamental, e to importante quanto possuir conhecimento tcnico dentro
de sua especialidade.
essencial, independentemente de qualquer conduta dietoterpica a ser realizada, respeitar a vontade do indivduo. A prescrio diettica, alm de fornecer
as necessidades nutricionais do paciente, deve, acima de tudo, oferecer prazer e
conforto. Dessa forma, juntamente com outras medidas, contribuir com a manuteno da qualidade de vida do paciente em Cuidados Paliativos.
A partir dessas consideraes, conclui-se que a terapia nutricional em Cuidados Paliativos pode ser indicada e utilizada, porm a deciso relacionada sua
prescrio deve considerar o quadro clnico, o prognstico, os riscos e benefcios
da terapia proposta, a vontade do paciente e familiares frente situao.
350
Referncias
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352
353
O paciente peditrico
Ao prestar assistncia ao paciente peditrico, devemos lembrar que, alm de
possuir caractersticas diferentes dos adultos, a criana ainda se encontra em processo de aprendizagem, de amadurecimento fsico, emocional, cognitivo, social
e espiritual, influenciando assim o surgimento de sintomas multidimensionais.
Muitas crianas so restringidas desnecessariamente, ainda que sejam capazes de maiores graus de atividade e independncia(6). So afastadas da convivncia com outras crianas da mesma idade seja no ambiente escolar, domiciliar ou
na sociedade. As mudanas de rotina e inatividade refletem em suas condies
musculoesquelticas. importante manter um mnimo de movimentao que evite o agravamento de sintomas desagradveis como dor, fraqueza, falta de ar e
indisposio(7), gerando imobilismo, acmulo de secreo, tosse ineficaz.
A avaliao de sintomas o primeiro passo para que se desenvolva um planejamento teraputico. H escalas bem descritas na literatura para avaliao de dor
em pediatria que so adequadas para diferentes idades e nveis de compreenso.
Porm, para os outros sintomas a avaliao mais complexa, dificultando ainda
mais no caso de crianas pr-verbais e com atraso do desenvolvimento(8).
355
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356
357
358
Etapa2
RELAXE
Etapa3
Etapa4
BOCEJE
Etapa5
TEXTURA
Etapa6
PROGRA-
ME-SE
Etapa7
SENTE-SE
Etapa8
AO FINAL
359
ROTINA
Pequenas pores
Feche os lbios
Mastigue
Aguarde
Engula
Aguarde
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360
361
Em sua prtica, o terapeuta ocupacional tem como recurso teraputico as atividades, sejam elas artsticas, expressivas, manuais, de lazer, autocuidado, entre
outras. Segundo Castro et al.(3), elas so recursos que proporcionam a conexo
entre o sujeito e seu meio, permitindo ampliar o viver, torn-lo mais intenso; so
enriquecedoras, permitem reestruturar e integrar diferentes experincias, intensificando o sentimento de vida e potncia.
importante ressaltar que, na fase final de vida, o terapeuta ocupacional
acompanha o paciente; h uma mudana no foco, tendo na organizao da rotina
e na diminuio dos estmulos uma maneira de propiciar conforto. Em alguns
casos, possvel manter suas atividades significativas, a partir de recursos como
msica e leitura, trazendo maior acolhimento e conforto ao paciente. No acompanhamento ao familiar, pode-se ajudar nas despedidas, a expresso de sentimentos
e emoes e na abertura de novos canais de comunicao, atravs de atividades.
O acompanhamento ps-bito parte integrante da assistncia teraputica ocupacional, especialmente atravs de ligaes telefnicas ou visitas de luto, em conjunto com outras reas.
Portanto, a atuao em terapia ocupacional nos Cuidados Paliativos fundamental, possibilitando a construo de brechas de vida, potncia, criao e singularidade, em um cotidiano por vezes empobrecido e limitado pela doena. A vida
no pode perder seus sentidos e significados at seu ltimo momento, promovendo-se de fato a dignidade ao paciente fora de possibilidade de cura. E somente
com um trabalho em equipe que possvel oferecer uma assistncia de qualidade,
de maneira que pacientes e familiares sejam acolhidos e cuidados.
362
Referncias
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A morte alcana a todo o ser vivente, mas nunca estamos preparados para
aceit-la. Criados para a vida, alimentamos a esperana de perpetu-la. Por essa
razo, to difcil lidar com pacientes em processo de morte. Ns vemos o nosso
retrato neles. Mesmo sendo quase uma rotina no hospital, nunca nos acostumaremos com ela.
O sofrimento e a proximidade da morte fazem-nos reavaliar a vida, enfocando nossas mentes em seus valores essenciais: valeu a pena? Qual foi o meu saldo?
Estou deixando saudades? O que realizei deu sentido minha vida e de outros?
Para onde irei depois da morte? Qual legado estou deixando?
Quando existe um relacionamento pessoal com Deus, atravs do qual podemos conhecer o Seu amor, a Sua misericrdia e graa, e quando Ele participa de
cada detalhe de nossos dias, a vida no acaba com a morte. A esperana vai alm,
dando foras para viver at o final, sendo somadas: dignidade, qualidade de vida,
utilidade, paz e alegria. Estas permanecem, at mesmo, sombra da morte.
Com a introduo do conceito de Cuidados Paliativos, princpios claros publicados pela OMS em 1990 e reafirmados em 2002 vieram reger as suas atividades. O cuidado espiritual atende a cada um deles, ajudando a promover o alvio da
dor e de outros sintomas estressantes; reafirmando a vida e vendo a morte como
processo natural; integrando aspectos psicossociais e espirituais ao cuidado; oferecendo um sistema de suporte para auxiliar o paciente a viver to ativamente
quanto possvel at a morte; e amparando a famlia durante todo o processo da
doena.
Para que haja condies de oferecer este cuidado integral ao enfermo e sua
famlia, torna-se muito importante a interveno do capelo e de sua equipe de
capelania, tambm chamados de assistentes espirituais.
A Joint Commission on Accreditation of Healthcare Organizations (JCAHO,
2005), notando que os valores espirituais dos pacientes afetavam a maneira como
respondiam ao tratamento, incluram uma norma de acreditao requerendo das
instituies de sade que tratassem das necessidades espirituais dos pacientes.
Quando se fala sobre Religio e Espiritualidade, pode-se pensar na religio
como associada a comunidades religiosas organizadas, artefatos e escrituras, com
regras e mandamentos, oficiais treinados, cerimnias e dogmas. A espiritualidade
364
tende a ser experimentada como algo mais caloroso e espontneo, e est associada
com amor, inspirao, integralidade, profundidade e mistrio, sendo de carter
mais pessoal.
Crenas religiosas esto relacionadas com melhor sade e maior qualidade
de vida. Estudos cientficos(1,2) tm identificado uma relao contrria entre depresso e religiosidade. Estes estudos afirmam tambm que ter uma religio e/
ou pertencer a um grupo religioso melhora o suporte social e a sade fsica, diminuindo os gastos com a sade.
Para o cuidado integral do paciente e sua famlia, tanto um como o outro so
necessrios: o atendimento espiritual individual e dirio trar ao enfermo e seus
cuidadores: ouvidos atentos, condies para reflexes profundas sobre questes
existenciais; confrontos e desafios quanto a propsito de vida, perdo, acerto de
contas, vida eterna, qualidade e utilidade de vida.
Apoiado na f em Deus e no suporte da comunidade religiosa, experimentar
maior senso de bem-estar, de pertencer, de ser amado, de dignidade e paz em ter
a certeza de que ser acompanhado at o fim de seus dias. O fato de saber que sua
famlia continuar a receber suporte, conforto no luto e amparo social, emocional
e espiritual ajudar o enfermo a ter paz.
Oferecer o atendimento espiritual como parte do servio de sade permitir
ao beneficiado expressar seus sentimentos e emoes conversando abertamente
sobre a morte e o morrer e ajudando-o a participar de todas as decises referentes
a seu tratamento e aos desejos finais.
O Cuidado Paliativo reconhece que a cura espiritual e emocional pode
ocorrer mesmo quando a cura fsica ou a recuperao se tornam impossveis.
Muitas pessoas gravemente enfermas ou em fase terminal falam sobre terem descoberto uma riqueza e o preenchimento do vazio de suas vidas que elas nunca
haviam encontrado antes.
A equipe de sade tambm ser muito beneficiada ao receber o suporte do capelo em situaes de estresse pessoal ou na perda de seus pacientes. Mesmo em
seu trabalho dirio, encontrar mais segurana na tomada de decises em questes
de biotica, envolvendo dilemas de fim de vida de seus pacientes.
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365
Introduo
O Cuidado Paliativo em odontologia pode ser definido como o manejo de
pacientes com doenas progressivas ou avanadas devido ao comprometimento
da cavidade bucal pela doena ou seu tratamento, direta ou indiretamente, e o foco
do cuidado melhorar a qualidade de vida (Wiseman, 2000). A condio mais frequente que afeta profundamente as funes bucais o cncer de cabea e pescoo,
principalmente em estgios avanados.
A despeito dos avanos, esta uma rea que necessita de ateno, de modo a
conjugar a necessidade desses doentes por problemas decorrentes da doena, com
a possibilidade de doenas odontolgicas corriqueiras, muitas delas infecciosas,
que comprometem mais ainda sua precria condio de sade. Neste cenrio, a
participao do cirurgio dentista contribui para o diagnstico e tratamentos em
sua rea, mas tambm para a realizao de Cuidados Paliativos bucais que possam
beneficiar esses doentes. Orientar doentes e cuidadores, e discutir estes aspectos
com a equipe multiprofissional, ajuda na sua integrao neste importante segmento da rea da sade (Siqueira et al., 2009a).
Talvez um dos mais relevantes cuidados odontolgicos aos pacientes em
Cuidados Paliativos o controle das infeces buco-dentais atravs de preveno ou tratamento curativo, pois so fontes pontenciais de complicaes locais e
sitmicas devido bacteremia. Por exemplo, risco de endocardite bacteriana em
pacientes susceptveis, septicemia em pacientes imunocomprometidos, infeces
pulmonares em pacientes com endoprteses (sondas).
Este captulo apresenta de forma sucinta as afeces bucais mais comumente
encontradas em pacientes em Cuidados Paliativos geritricos e oncolgicos, com
nfase ao cncer de cabea e pescoo.
Geritricos
Diferentemente dos oncolgicos, nos pacientes geritricos, as complicaes
bucais so mais suaves e as mais observadas so a xerostomia, infeces oportunistas, disfagia e a estomatite (Borbasi et al,. 2002). A disfagia nestes doentes gera
uma grave consequncia sade, pois causa debilidade e perda ponderal, alm de
ser um dos principais fatores de risco na ocorrncia da pneumonia por aspirao
que juntamente com a imunossupresso, diminuio da produo de saliva e a m
higiene bucal fazem com que a orofaringe seja colonizada por micro-organismos
patognicos (Kikawada et al., 2005). Nestes pacientes fundamental o controle
de infeces crnicas, como as gengivais e periodontais, para evitar complicaes
locais (infeces agudas) como as sistmicas atravs de bacteremia ou via dispositivos instalados no aparelho digestivo ou respiratrio (sondas).
367
Em idosos, os achados bucais incluem cries nas superfcies dentrias radiculares, desgastes dentrios (abraso e atrio) (Werner et al., 1998), doena
periodontal, halitose, alteraes de paladar (Figueiredo et al., 1993), cncer de
boca, prteses dentrias fraturadas, mal-adaptadas/ajustadas ou perdidas e traumatismos mucosos por prteses (Martin e Martin, 1992).
Portanto, esses pacientes devem ser questionados e avaliados regularmente tambm nesses aspectos de sade (Sweeney e Bagg, 2000), pois nem sempre
se queixam espontaneamente de seus problemas e desconfortos com a boca por
acreditarem serem prprios de sua doena ou por estarem mental ou fisicamente
inaptos a faz-lo, o que tornam estas condies subnotificadas, subestimadas e
muitas vezes negligenciadas (Dahlin, 2004).
O cirurgio dentista contribui fornecendo intervenes prprias de sua rea
de atuao profissional, alm de cuidados de suporte que assegurem uma boca
mais saudvel, livre de infeco e dor. As complicaes das doenas e dos seus
tratamentos j so bem conhecidas, entretanto em pacientes em Cuidados Paliativos elas podem tomar dimenses exageradas.
Para isso, deve ser avaliada a capacidade que o paciente tem de se cuidar, a
fim de se desenvolver alternativas para melhorar a escovao dos dentes, incluindo indicaes especficas de escova dental (escovas eltricas), pastas, colutrios
que deveriam ser fornecidos ao paciente e seu cuidador (Paunovich et al., 2000).
Escovas de dente extramacias so mais suaves aos tecidos bucais que as convencionais, e devem ser usadas em associao aos cremes dentais sem lauril sulfato
de sdio, para no estimular ou exacerbar a descamao da mucosa oral (Meurman e Gronroos, 2010).
A soluo de clorexidina a 0,12% pode ser usada em doentes com comprometimento mdico, predispostos infeces bucais; pacientes com longa estadia
em hospitais, idosos, a fim de prevenir infeces bucais e sistmicas (Houston et
al., 2002).
Os pacientes devem ser orientados a remover suas prteses noite e deix-las
em soluo antissptica com clorexidina a 0,12% por trinta minutos ou soluo
com cloro a 2% (5ml ou uma colher de ch de alvejante em 250ml ou um copo de
gua) (Paunovich et al., 2000).
Concluso
Quanto boca, vrios avanos permitiram a melhora da qualidade de vida.
fundamental o controle de infeces na preveno de complicaes locais ou
sistmicas. O tratamento sintomtico da dor e cuidados locais, como higiene bucal e limpeza de feridas, contribuem para reduo de dor, desconforto e infeces
oportunistas. Esta uma rea especializada, que envolve geriatria, oncologia e
369
dor, que ainda carente de cirurgies dentistas com formao em dor orofacial e
com experincia no atendimento a estes pacientes, mas que est gradativamente
despertando a conscincia de necessidade de sua integrao nas equipes multidisciplinares especializadas, incluindo os Cuidados Paliativos. Espera-se que no
futuro essa integrao beneficie os doentes com novas teraputicas e cuidados que
aliviem seu sofrimento e que sejam estendidos de modo padronizado a todos os
que deles necessitarem.
Figura 1. Esquema do protocolo sugerido de tratamento odontolgico baseado em medidas
preventivas, curativas ou paliativas.
Orientao de higiene oral
Pacientes e cuidadores
Mecnica e medicamentosa
Prteses dentrias
Limpeza e proteo de
feridas bucais e extrabucais
Orientao diettica
Infeces oportunistas
(Candidase oral)
Xerostomia
Dor
Focos infecciosos
(Doena periodontal e crie)
Traumatismo mucoso
Prtese desadaptada
Restaurao/extrao dentria
Alisamento corono-radicular
370
Referncias
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Parte 6
377
Em ensaio clnico randomizado realizado na Noruega, foram includos pacientes com doena maligna incurvel e com sobrevida de 3 a 9 meses, o total de
pacientes foi de 434, os grupos foram divididos de forma aleatria. O grupo de
interveno foi aquele que recebeu Cuidados Paliativos por equipe especializada.
Os resultados encontrados com relao ao local da morte demonstraram que 25%
dos pacientes do grupo de interveno morreram em casa, enquanto que somente
15% dos pacientes do grupo controle morreram em domiclio (p<0,05). O estudo
conclui que os Cuidados Paliativos favorecem o bito dos pacientes em casa, reduzindo as internaes hospitalares desnecessrias(16).
Outro estudo randomizado, realizado na Califrnia/EUA, buscou avaliar a
satisfao com relao aos cuidados, a utilizao de servios mdicos, o local da
morte, e os custos dos cuidados em sade, sendo o grupo de interveno os pacientes que receberam Cuidados Paliativos em domiclio, enquanto que o grupo
controle recebeu tratamento tradicional. Os participantes do estudo foram pacientes com doenas terminais (n=298) com sobrevida de cerca de 1 ano ou menos. O
grupo de interveno relatou maior satisfao em relao aos cuidados (p<0,05),
os pacientes obtiveram maior probabilidade de morrer em casa (p<0,001) e eram
menos propensos a buscar atendimento em servios de emergncia (p<0,01) ou
internao hospitalar (p<0,001). Os custos foram relativamente mais baixos na
prestao de cuidados em relao ao grupo controle (p <0.03). O estudo demonstra fortes indcios da necessidade de ampliar o olhar e assistncia sade dos
pacientes em situao de terminalidade(17).
Os cuidados contnuos em domiclio veem ao encontro de e favorecem os
princpios dos Cuidados Paliativos que afirmam a vida e reconhecem a morte
como um processo natural, sem antecipar ou retard-la, providenciam alvio da
dor e outros sintomas fsicos, integram os aspectos psicolgicos, espirituais e sociais do cuidado ao paciente, oferecem um sistema de suporte para ajudar os pacientes a viver mais ativamente possvel, oferecem suporte para auxiliar a famlia
a cooperar durante a doena e trabalhar o luto e a perda(18).
Experincia de um servio
Em abril de 2005, foi implantado, no Hospital Escola e Fundao de Apoio
Universitrio da Universidade Federal de Pelotas, o Programa de Internao Domiciliar Interdisciplinar para pacientes oncolgicos em fase de Cuidados Paliativos (PIDI), complementando a ateno integral aos pacientes que necessitavam
de cuidado continuado em ambiente domiciliar. O reconhecimento local das
aes desenvolvidas pelo PIDI evidente, com grande satisfao dos pacientes
379
Pacientes com probabilidade reduzida de sobreviver mais de 30 dias se beneficiam com os cuidados em ambiente domiciliar, por equipe interdisciplinar.
Escala aplicada por profissional mdico
Varivel Pontos
Dispneia
Presente 1
Ausente 0
Anorexia
Presente 1,5
Ausente 0
Estimativa clnica (semanas)
> 12
0
11-12 2
9-10 2,5
7-8 2,5
5-6 4,5
3-4 5
1-2 8,5
ndice de Karnofsky
30
0
10-20 2,5
Leuccitos totais por mm3
< 8.500
0
8.501-11.000 0,5
> 11.000
1,5
Porcentagem de linfcitos
< 12
2,5
12-19,9 1
20
0
Grupos de risco
Total de pontos
A - probabilidade de sobreviver 30 dias > 70%
0 - 5,5
B - probabilidade de sobreviver 30 dias 30 - 70% 5,6 11
C - probabilidade de sobreviver 30 dias < 30 %
11,1 17,5
381
Graduao (%)
100
Significado
90
80
70
60
50
40
Incapacitado, requer cuidados pessoais e assistncia, autocuidado
limitado
Permanece mais de 50% do horrio vigil sentado ou deitado
30
20
10
382
Mnimo sintoma
Intensidade
Mximo sintoma
Sem dor
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Mxima dor
Sem cansao
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Mximo cansao
Sem nuseas
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Mxima nusea
Sem depresso
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Mxima depresso
Sem ansiedade
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Mxima ansiedade
Sem sonolncia
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Mxima sonolncia
Bom apetite
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Sem apetite
Maximo bem-estar
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Mximo mal-estar
Sem dispneia
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Mxima dispneia
Sem insnia
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Mxima dificuldade
para dormir
4. Avaliao socioeconmica
5. Genograma
1. Sente que, por causa do tempo que utiliza com o seu familiar/doente, j no tem tempo
suficiente para voc mesmo?
Nunca
Quase nunca
s vezes
Frequentemente
Quase sempre
1 2 3 4 5
2. Sente-se estressado/angustiado por ter que cuidar do seu familiar/doente e ao mesmo
tempo ser responsvel por outras tarefas? (ex.: cuidar de outros familiares, ter que trabalhar)
Nunca
Quase nunca
s vezes
Frequentemente
Quase sempre
1 2 3 4 5
3. Acha que a situao atual afeta a sua relao com amigos ou outros elementos da famlia
de uma forma negativa?
Nunca
Quase nunca
s vezes
Frequentemente
Quase sempre
1 2 3 4 5
4. Sente-se exausto quando tem de estar junto do seu familiar/doente?
Nunca
Quase nunca
s vezes
Frequentemente
Quase sempre
1 2 3 4 5
5. Sente que sua sade tem-se visto afetada por ter que cuidar do seu familiar/doente?
Nunca
Quase nunca
s vezes
Frequentemente
Quase sempre
1 2 3 4 5
6. Sente que tem perdido o controle da sua vida desde que a doena do seu familiar/doente
se manifestou?
Nunca
Quase nunca
s vezes
Frequentemente
Quase sempre
1 2 3 4 5
7. No geral, sente-se muito sobrecarregado por ter que cuidar do seu familiar/doente?
Nunca
Quase nunca
s vezes
Frequentemente
Quase sempre
1 2 3 4 5
Sobrecarga leve: at 14 pontos
Sobrecarga moderada: 15 21 pontos
Sobrecarga grave: acima de 22 pontos
385
Questionrio que pode ser autoaplicado com 14 itens, integrado por subescalas de 7 itens para depresso e 7 itens para ansiedade.
O paciente dever selecionar para cada item a alternativa que melhor reflete
a sua situao na ltima semana.
A HAD uma escala simples e de fcil aplicao.
Pode ser utilizada para detectar mudanas emocionais durante o curso da
enfermidade.
Sua validade para detectar enfermidade psiquitrica definida limitada.
386
0 ( ) Raramente
D 6) Eu me sinto alegre:
3 ( ) Nunca
2 ( ) Poucas vezes
1 ( ) Muitas vezes
0 ( ) A maior parte do tempo
A 7) Consigo ficar sentado vontade e me sentir relaxado:
0 ( ) Sim, quase sempre
1 ( ) Muitas vezes
2 ( ) Poucas vezes
3 ( ) Nunca
D 8) Eu estou lento para pensar e fazer as coisas:
3 ( ) Quase sempre
2 ( ) Muitas vezes
1 ( ) De vez em quando
0 ( ) Nunca
A 9) Eu tenho uma sensao ruim de medo, como um frio na barriga ou um
aperto no estmago:
0 ( ) Nunca
1 ( ) De vez em quando
2 ( ) Muitas vezes
3 ( ) Quase sempre
D 10) Eu perdi o interesse em cuidar da minha aparncia:
3 ( ) Completamente
2 ( ) No estou mais me cuidando como deveria
1 ( ) Talvez no tanto quanto antes
0 ( ) Me cuido do mesmo jeito que antes
A 11) Eu me sinto inquieto, como se eu no pudesse ficar parado em lugar nenhum:
3 ( ) Sim, demais
2 ( ) Bastante
1 ( ) Um pouco
0 ( ) No me sinto assim
387
D 12) Fico esperando animado as coisas boas que esto por vir:
0 ( ) Do mesmo jeito que antes
1 ( ) Um pouco menos do que antes
2 ( ) Bem menos do que antes
3 ( ) Quase nunca
A 13) De repente, tenho a sensao de entrar em pnico:
3 ( ) A quase todo momento
2 ( ) Vrias vezes
1 ( ) De vez em quando
0 ( ) No sinto isso
D 14) Consigo sentir prazer quando assisto a um bom programa de televiso,
de rdio ou quando leio alguma coisa:
0 ( ) Quase sempre
1 ( ) Vrias vezes
2 ( ) Poucas vezes
3 ( ) Quase nunca
Velocidade de Infuso: a hidratao pode ser em bolus de 500ml em 20 minutos, repetindo at 3 vezes em 24h. Em infuso contnua, o volume dirio
no poder ultrapassar 3000ml. Administrao de volume em perodo noturno mais confortvel, garantindo mais autonomia dos pacientes durante o
dia.
Zonas de puno: regies deltidea, infraclavicular, abdominal, face lateral
da coxa.
Drogas administrveis por via SC [28].
Frmaco Indicaes
Morfina
Dor, dispneia
Tramadol
Dor
Escopolamina
Midazolam
Metoclopamida
Nuseas e vmitos
Haloperidol
Nuseas e vmitos por opioides, vmitos em obstruo
intestinal, delirium
Levomepromazina Ansiedade, agitao
Dexametazona
Mltiplas indicaes em CP
Octreotide
Obstruo intestinal
Ceftriaxone,
cefepime,
ampicilina
Infeco
Furosemida
Concluses
Internao Domiciliar e Cuidados Paliativos, com enfoque interdisciplinar,
obedecendo os conceitos validados de melhor qualidade de vida aos pacientes e
seus familiares, caracterizam-se como uma excelente estrutura para prestar acolhimento integral em situaes de terminalidade, oferecendo suporte humanizado,
com alvio facilitado dos sintomas fsicos, emocionais, sociais e espirituais em
ambiente domiciliar. Escalas de avaliao de sintomas em Cuidados Paliativos
so perfeitamente aplicveis em domicilio, facilitando a pronta resoluo dos sintomas pela equipe interdisciplinar, sempre com apoio do cuidador principal.
389
Referncias
390
392
Atendimento ambulatorial
Para se beneficiar deste tipo de atendimento, necessrio que o paciente
tenha uma funcionalidade que permita que ele consiga se deslocar do seu domiclio para a unidade ambulatorial. importante num ambulatrio de Cuidados
Paliativos a disponibilidade de uma equipe interdisciplinar, para que o paciente
seja atendido no mesmo dia, preferencialmente, j que muitas vezes ele apresenta
dificuldade de se deslocar.
A equipe deve ser constituda por mdicos treinados em medicina paliativa,
enfermeiros, tcnicos e auxiliares de enfermagem, psiclogo, assistente social,
393
Medicamento
Jejum
Caf-daManh
Lanche
Almoo
Lanche
Lanche
Jantar
Ceia
Ao
dormir
Madrugada
Para bochecho:
Para uso externo:
! TOMAR QUANDO SENTIR
Sintoma
Medicao
Quantidade
394
Horrios
Observao
O paciente deve ser orientado, assim como seu cuidador/familiar, incentivando sempre a presena de um acompanhante para reforar o que foi dito, facilitando a adeso ao tratamento.
Assistncia hospitalar
Para a assistncia adequada a esses pacientes, h a necessidade de uma adaptao desse ambiente, desde a sua rea fsica, que deve possibilitar a permanncia
de familiares junto ao paciente 24 horas, transmitindo ideias como o no isolamento. Outro aspecto importante a possibilidade do familiar tambm se sentir
acolhido, inclusive garantindo o acesso s informaes mdicas sobre mudanas
no quadro clnico e etapas do processo de morrer e receber atendimento adequado
por parte dos membros da equipe, especialmente da psicologia, servio social e
assistncia espiritual.
Devido condio desses pacientes, as visitas devem ser facilitadas. O limite
dado pelo prprio paciente e sua famlia. H concesso para a visita de crianas,
sempre orientadas antes pela equipe.
No momento da internao muito importante que sejam realizadas conversas esclarecedoras com os pacientes e familiares quanto a decises, impacto das
medidas adotadas e outras informaes relevantes. Todas essas informaes devem ser registradas e, sobretudo, se est clara para o paciente/cuidador a evoluo
do processo de morrer, assim como as suas opes e desejos expressados.
395
Na medida em que a morte se aproxima, temos que observar sinais e sintomas sinalizadores, para os quais a equipe de sade deve estar atenta para informar
os familiares, especialmente se o paciente estiver em casa.
possvel que tais sintomas no ocorram sequencialmente e que a morte
ocorra rapidamente. Contudo, eles costumam acontecer principalmente se a doena progressiva.
Fraqueza e fadiga intensas: o paciente fica sonolento a maior parte do tempo,
mesmo que antes estivesse mais ativo;
Inapetncia e desidratao: o paciente para de comer e diminui a aceitao de
lquidos;
Alteraes neurolgicas manifestadas principalmente por delrio, mas tambm pode ocorrer diminuio do nvel de conscincia;
Decrscimo do nvel de conscincia: o paciente quase no fala e no quer
mais receber visitas;
Alteraes respiratrias, que vo desde dificuldade respiratria evoluindo
para a respirao agnica e at o desenvolvimento de ronco da morte, a sororoca;
Perda da habilidade de engolir, facilitando broncoaspirao e a sensao de
asfixia;
Perda de controle esfincteriano, levando geralmente incontinncia fecal e
urinria aumentando ou iniciando a necessidade do uso de fraldas; mas podem ocorrer constipao e reteno urinria tambm;
Perda da habilidade de fechar os olhos, principalmente, em pacientes muito
emagrecidos;
Avaliar os sintomas do paciente e manej-los conforme recomendado;
Avaliar integridade da pele e instituir medidas preventivas para preveno de
leses conforme procedimento (manuteno da integridade da pele);
Discutir com equipe mdica situao de terminalidade e instituir de medidas
paliativas, sempre com consentimento dos familiares;
Retirar monitorizao contnua, verificao de sinais vitais rigorosos, medidas no invasivas, minimizando os procedimentos dolorosos;
Realizar hidratao corporal, com emulso base de produtos de origem
vegetal;
Realizar posicionamento no leito priorizando o conforto (a mudana de decbito deve ser aprazada individualmente);
Avaliar o grau de hidratao da pele diariamente e alterar conduta sempre
que necessrio;
Avaliar a indicao de placas de hidrocoloide nas proeminncias sseas e
regio sacra;
396
comum, ao instalar a sedao paliativa, sermos questionados pelos cuidadores dos pacientes: estou matando o meu ente querido? Para minimizar a angstia dos mesmos, preciso passar segurana para a famlia e reforar as orientaes
da equipe que a sedao no vai antecipar nem causar a morte, mas sim fazer com
que o paciente durma, pois ele est sofrendo muito por estar acordado com esses
sintomas.
que ela tenha alguns momentos finais de despedida, muitas vezes no preciso
falar nada.
Na sequncia, enquanto o mdico providencia o registro do bito no pronturio, sua finalizao (epicrise) e a declarao do bito, a famlia se retira do
quarto para que a enfermagem proceda aos cuidados com o corpo, que so feitos
com muito respeito e reserva. Se houver alguma solicitao especial de cunho
religioso ou de crena pessoal no cuidado do corpo, feito um esforo para que
seja atendido.
A morte tem significados diferentes de acordo com cada crena religiosa.
importante saber se o paciente e/ou a famlia tm alguma solicitao especial no
preparo do corpo.
Referncias
399
Introduo
Em Cuidados Paliativos, pressupe-se que no final da vida equipe e famlia
j tenham estabelecido um vnculo adequado e que os dois lados j tenham cincia das possibilidades e dos prprios limites. Porm, esse vnculo nem sempre
possvel e apenas se efetiva quando h tempo hbil, espao e interesse de ambas
as partes. Muito se fala de vnculos entre paciente e famlia ou entre paciente e
cuidador, mas pouco da necessidade de confiana mtua entre paciente/famlia e
equipe de cuidados.
O reconhecimento dos limites e possibilidades de cuidado e ateno de todos
os envolvidos na questo (paciente, famlia e equipe) ponto crucial para que
a assistncia proposta surta o efeito desejado. Afinal, esse reconhecimento traz
a tranquilidade necessria para a equipe atuar adequadamente, nem exigindo e
solicitando em excesso ou insuficientemente da famlia e paciente; no indo nem
alm e nem aqum do que cada um pode oferecer. A justa medida deve ser buscada e pode ser obtida, visto que cuidar em nenhum momento pode se configurar
como uma imposio, e ser cuidado deve ser sempre uma possibilidade e no uma
tortura.
No que se refere equipe, imprescindvel a clareza em relao ao que o servio se compromete a oferecer. Dessa forma, de extrema importncia a abordagem junto famlia sobre o tipo de ateno dispensada, horrio de funcionamento,
o que se espera do cuidador familiar, critrios de dispensao de medicamentos,
frequncia das consultas ou visitas domiciliares, etc.
O reconhecimento destes limites e possibilidades, o controle adequado da
dor e do desconforto, a cincia do diagnstico, a possibilidade de optar pelo local
de sua prpria morte se assim desejar e orientao realista para realizao dos
ltimos desejos e resoluo de pendncias legais podem garantir a to almejada
qualidade de vida nos momentos finais e morte digna.
Os estgios, ou fases, pelos quais passariam os pacientes em processo de
finalizao de vida, propostos por Klber-Ross(1), ainda nos oferecem, nos dias
atuais, parmetros para o melhor cuidado e ateno aos pacientes. A surpresa, a
negao, a barganha, a revolta e a aceitao so ainda passveis de serem reconhecidas nos pacientes e, no nosso entender, nas famlias destes. necessrio dizer
400
que no h passagem obrigatria pelas fases citadas nem tampouco na ordem citada, mas o conhecimento das mesmas auxilia a melhor atender paciente e famlia,
j que nem sempre o desconhecimento a respeito da doena uma realidade.
Em algumas situaes estamos lidando com a negao, e nem sempre a busca
de uma segunda opinio ou o no crdito em relao ao que explicado pela
equipe revelam uma famlia difcil ou no aderente, mas traduzem a surpresa
pelo diagnstico e pelas afirmaes de que o tratamento curativo no se faz mais
possvel. A no aceitao do tratamento proposto e a recusa de medicao e de
medidas de conforto, que tanto angustiam familiares e equipe, pode ser apenas
revolta pela finalizao da vida, pela impossibilidade de cura e pela inexistncia
de tanto tempo de vida como cada um gostaria de determinar. Aqui importante pontuar que a no aceitao tambm pode ser reflexo da desigualdade social
ainda vigente no pas, que condena muitos pacientes ao no acesso adequado aos
servios de sade em diferentes estados brasileiros, aos diagnsticos tardios e, s
vezes, impossibilidade de tratamento curativo somente pelo estgio avanado
da doena quando descoberta. Nesses casos, que no so raros(2), o paciente em
questo no passou pelas fases de diagnstico em tempo hbil e tratamentos com
inteno curativa; simplesmente j se v em fase final de doena e cuidados, sem
nenhuma outra proposta, o que pode gerar revolta e negao por parte deste e da
famlia envolvida.
E finalmente a tristeza, como apontado por Klber-Ross(1), o recolhimento
em si mesmo, a necessidade que alguns pacientes apresentam de ficarem sozinhos, em silncio, de no participarem das atividades em famlia e de estarem
mais consigo mesmos, no necessariamente se caracterizam como sinais de depresso, mas sim de aceitao da situao que vivenciam e de desligamento progressivo da vida.
A grande preocupao e foco do assistente social em Cuidados Paliativos,
nessa fase final de vida, podem ser resumidos em: garantia da qualidade de vida
nos momentos finais e morte digna para o paciente e auxlio na manuteno do
equilbrio possvel para a famlia.
Tal equilbrio familiar refere-se ao respeito a tudo o que j foi mencionado e
tambm ao trabalho efetivo junto s famlias de no s entend-las, mas, e principalmente, de junto a estas propor alternativas que amenizem o sofrimento e a
preocupao enfrentados.
Como parece ser uma ocorrncia que no diz respeito equipe, mas sim somente rotina da residncia, nem sempre atentamos para o fato de que o descanso
do cuidador imprescindvel para a manuteno de sua sade fsica e mental e
para a garantia do cuidado adequado ao paciente. Se no h possibilidade ou interesse de diviso de tarefas, o fato de o paciente no dormir noite (seja pelos
efeitos colaterais da medicao, pela forma como esta est distribuda nos horrios noturnos, ou realmente por medo) representa tambm a impossibilidade
de descanso para este familiar, que no decorrer do dia ter a seu cargo todas as
tarefas que lhe competem e noite ser impedido de descansar. Essa rotina, em
pouqussimo tempo, leva exausto do cuidador e impossibilidade de manuteno dos cuidados adequados.
Reunio de famlia
sempre indicada a realizao de uma reunio de famlia com o objetivo de
clarificar os demais membros sobre a proximidade da morte e de uniformizar as
informaes, geralmente centralizadas no cuidador principal. Essa prtica quase
sempre traz tranquilidade para este indivduo, que passa a no se ver como nico
detentor de informaes e angustiado pela cobrana dos demais familiares pela
cura que no vem. A realizao desta reunio deve ser uma prtica adotada pelas equipes de ateno em Cuidados Paliativos, principalmente nos mbitos hospitalar, ambulatorial e de enfermaria, onde geralmente possvel a presena de
somente um ou dois familiares mais prximos ao paciente, o que invariavelmente
impossibilita a participao de outros interessados.
No domiclio mais comum, principalmente nos dias finais, a presena de
mais pessoas que se envolvem no cuidado e, assim, esto mais esclarecidas sobre
o processo de doena ou de morte pelo qual passa aquele paciente.
As situaes em que h mais de uma famlia envolvida, nos casos de unies
anteriores, o cuidado na abordagem imprescindvel. Nem sempre as separaes
ocorreram de forma consensual e h casos em que a mgoa ainda permanece
em ambos os lados. Quando desejo do paciente rever antigos companheiros ou
filhos distantes pela separao anterior, tal providncia deve ser tomada em consonncia com a famlia atual, do contrrio essa atitude poder exacerbar conflitos
antigos ou fazer surgir novas mgoas. Como j afirmamos, cabe equipe o auxlio
na manuteno do equilbrio familiar, na perspectiva de que este se mantenha
aps o falecimento do paciente.
403
404
Cdula de Identidade
(R.G.), C.P.F., Certido de
Nascimento ou Casamento,
comprovante de residncia
(para que o endereo seja
obtido de forma precisa).
Documentos a serem
apresentados no Servio
Funerrio
Os documentos acima
acrescidos do Atestado
de bito, carto do INSS
(aposentadoria ou penso)
e os documentos comprobatrios de posse de tmulo
(se houver).
Servio Funerrio
local mais indicado para o bito nas situaes em que a religio professada pelo
paciente regulamenta que somente um membro designado pelo grupo religioso
poder tocar no corpo aps o falecimento. J nos casos em que se espera que no
haja a ocorrncia da autpsia para preservao do corpo e, tanto a equipe quanto
a famlia no conseguiro garantir o fornecimento do Atestado de bito, o mais
indicado que o paciente falea durante uma internao, em que a equipe tenha
cincia do caso e possa auxiliar adequadamente nos momentos finais.
Nas situaes em que, apesar de todo o trabalho realizado pela equipe, o ncleo familiar no consegue perceber a morte daquele indivduo como uma ocorrncia natural, mas a vivencia como uma situao extremamente traumtica, no
h porque incentivar a ocorrncia do bito no domiclio, mesmo que seja esse
o desejo do paciente. Deve-se abordar tal assunto demonstrando o quanto essa
ocorrncia pode ser traumtica para esses familiares e o quanto isso pode representar um processo de luto complicado para os que ficam. H que se respeitar a
autonomia do paciente, mas essa autonomia sempre relativa e partilhada quando
se vive em famlia e principalmente quando se vive uma situao de dependncia
de outrem, como nos casos de doenas em fase final de cuidados.
Um cuidado especial deve existir por parte da equipe nas situaes em que h
o envolvimento de crianas, e caso seja um dos pais que est em Cuidados Paliativos. um direito deste indivduo deixar ou recusar a participao de seus filhos
em seu processo de morte. Muitos adultos ainda optam por seus filhos pequenos
no estarem prximos quando ocorrer o bito, no com o intuito de negar a morte,
mas de no for-los a presenciar esse desenlace. Essa participao nunca deve
ser motivo de insistncia da equipe com a justificativa de que necessria a naturalizao da morte; paciente e famlia so autnomos para decidir o que querem
para si e para seus filhos; devem ter o direito de, at o final, definir qual a imagem
que querem que seus filhos mantenham de si prprios.
Concluso
Somado s informaes e orientaes apresentadas, necessrio que o assistente social tenha disponibilidade de oferecer sempre apoio e escuta. Tempo
disponvel e espao adequado, fsico e emocional devem fazer parte da rotina
desse profissional que atende em Cuidados Paliativos. Em algumas ocasies s
necessrio estarmos junto da famlia, ouvir, entender e esperar; no h mais o que
ser dito quando tudo j foi explicado, no h mais o que cobrar quando tudo j
est sendo feito. E essa a abordagem mais difcil: a necessidade que temos de
nos mostrar ativos. Em intervenes e atividades constantes nos esquecemos de
que s vezes s necessrio estarmos presentes, e o no fazer j , por si s, uma
ao.
406
Referncias
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Parte 7
Referncias
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fesa, no praticar um crime8. Realizar um procedimento mdico sem o consentimento do paciente constitui constrangimento ilegal, tipificado no artigo 146
do Cdigo Penal, mas, se o mdico proceder de tal forma para evitar a morte do
doente, diante do iminente perigo de vida, no praticar uma conduta antijurdica,
ou seja, no haver crime, nos termos do inciso I, do pargrafo 3 do mencionado
dispositivo penal. Portanto, para ser criminosa, a conduta deve ser tpica e antijurdica.
3.1.3. A culpabilidade
Para ser considerada criminosa, alm de tpica e antijurdica, a conduta
tambm deve ainda ser culpvel, ou seja, censurvel ou reprovvel. Se o agente
praticar qualquer fato tpico e antijurdico sob coao moral irresistvel, por
exemplo, no haver possibilidade de reprovao penal de sua conduta no mbito
penal, ou seja, no haver culpabilidade, como dispe o artigo 22 do Cdigo
Penal. E, para que haja culpabilidade, imprescindvel a presena de trs requisitos fundamentais: imputabilidade, exigibilidade de conduta diversa e potencial
conscincia da ilicitude da conduta. por isso que, por falta de exigibilidade de
conduta diversa, no h culpabilidade, no h censura e no h possibilidade de
reprovao penal, e no h crime, portanto, quando uma gestante resolve interromper a sua gestao em face de um diagnstico de anencefalia, ou seja, de
uma malformao fetal incompatvel com a vida extrauterina. Definitivamente,
portanto, o crime, no seu conceito analtico, uma conduta tpica, antijurdica
e culpvel. E, em consequncia, para que uma conduta mdica seja considerada
criminosa, obviamente, devem estar caracterizadas a tipicidade, a antijuridicidade e a culpabilidade.
3.2. A ortotansia, conduta prevista na Resoluo/CFM n 1.805/20069 e no
artigo 41, pargrafo nico do Cdigo de tica Mdica/200910. A ausncia de
tipicidade no mbito penal
Como acima ficou esclarecido, para que uma conduta humana seja considerada criminosa, necessrio que ela seja tpica, antijurdica e culpvel. Mas,
CP, artigo 23. No h crime quando o agente pratica o fato (tpico): I.- em estado de necessidade; e II em legtima
defesa.
9
Resoluo/CFM n. 1.85/2006. ARTIGO 1. permitido ao mdico limitar ou suspender procedimentos e tratamentos que prolonguem a vida do doente, em fase terminal, de enfermidade grave e incurvel, respeitada a vontade
da pessoa ou de seu representante legal.
10
CEM/2009. DEFESO AO MDICO:
Art. 41. Abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido deste ou de seu representante legal.
Pargrafo nico. Nos casos de doena incurvel e terminal, deve o mdico oferecer todos os cuidados paliativos
disponveis sem empreender aes diagnsticas ou teraputicas inteis ou obstinadas, levando sempre em considerao a vontade expressa do paciente ou, na sua impossibilidade, a de seu representante legal.
8
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para este estudo, que tem por objetivo examinar os aspectos jurdico-penais da
ortotansia, interessa apenas examinar a tipicidade. Eis, ento, o problema a
ser enfrentado: como o Cdigo Penal define o homicdio como crime11, se o mdico limitar ou suspender procedimentos e tratamentos que estavam prolongando
a vida de um doente em estado terminal de uma doena incurvel, responder
por homicdio diante da superveniente morte do paciente? Ou seja, se o mdico
praticar a conduta prevista no artigo 1 da Resoluo/CFM n 1.805/2006, bem
como no pargrafo nico do artigo 41 do Cdigo de tica Mdica/2009, praticar
uma conduta tpica de homicdio? Enfim, a ortotansia, que exatamente a
conduta descrita nos referidos dispositivos normativos, enquadra-se no tipo do
homicdio, descrito no artigo 121 do Cdigo Penal? Trata-se de uma conduta tpica sob o aspecto penal? Trata-se de um crime de homicdio?
Para responder a essas perguntas, preciso, ento, analisar o tipo penal do
homicdio, que assim est definido, de forma abstrata, no artigo 121, caput do
Cdigo Penal: matar algum. E, para a realizao dessa anlise, imprescindvel lembrar, antes de mais nada, dos conceitos de crime comissivo e crime
omissivo.
a) crimes comissivos e crimes omissivos
Os crimes so classificados, com relao conduta descrita no tipo, em comissivos e omissivos. Os omissivos so aqueles crimes cujo tipo penal
respectivo descreve uma omisso, ou seja, um no fazer algo que deveria ser
feito. O artigo 135 do Cdigo Penal, que tipifica a omisso de socorro, por
exemplo, um crime omissivo, porque descreve um no fazer algo que deveria
ser feito, ou seja, descreve uma omisso: Deixar de prestar assistncia, quando
possvel faz-lo, sem risco pessoal, a criana abandonada ou extraviada, ou a
pessoa invlida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; (...).
Trata-se, pois, de um crime omissivo. O artigo 269 do Cdigo Penal tambm
omissivo, pois tambm descreve, no plano abstrato, uma omisso: Deixar o
mdico de denunciar autoridade pblica doena cuja notificao compulsria. Em consequncia, esses crimes, como todos os demais omissivos, somente
podem ser praticados, materialmente, por uma conduta de omisso.
J os crimes comissivos, diferentemente, so aqueles cujos tipos respectivos descrevem uma ao, ou seja, um fazer. O tipo do furto, previsto no
artigo 155 do Cdigo Penal, por exemplo, comissivo, pois descreve uma ao:
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tambm praticado por ao: Induzir ou instigar algum a suicidar-se ou prestarlhe auxlio para que o faa. No filme Mar adentro, de Alejandro Amenbar,
ocorre exatamente um auxlio ao suicdio: os amigos de Ramn, interpretado
por Javier Bardem, colocam ao seu alcance um frasco com uma substncia letal;
e ele sorve essa substncia, praticando assim o suicdio com o auxlio indireto de
seus amigos.
Como se v, no auxlio ao suicdio, quem causa a ociso a prpria pessoa,
que se mata com o auxlio indireto de terceiros. Assim, se o mdico fornece uma
substncia letal ao doente, que a ingere ou a injeta no prprio corpo, morrendo em
decorrncia dessa prtica (suicdio), a conduta do mdico, comissiva, ser enquadrada no tipo do artigo 122 do Cdigo Penal (auxlio ao suicdio).
Entretanto, evidncia, essa hiptese tambm no se amolda situao normativa prevista na Resoluo/CFM n 1.85/2006 e no pargrafo nico do artigo
41 do Cdigo de tica Mdica de 2009, que no cuidam da eutansia nem do
auxlio ao suicdio.
Alis, vale lembrar que o direito alemo, como o brasileiro, pune a eutansia
com pena reduzida em relao ao homicdio simples, mas, ao contrrio do direito
brasileiro, no pune o auxlio ao suicdio. Assim, se o mdico alemo entrega a
injeo letal ao paciente, possibilitando que ele a aplique em si prprio, cometendo o suicdio, a conduta do mdico ser considerada atpica, ou seja, no haver
crime.
No filme You Dont Know Jack, de Barri Levinson, o mdico Jack Kevorkian, que ficou conhecido por Dr. Morte, vrias vezes presta auxlio a doentes
terminais para a prtica do suicdio, mas no condenado porque o auxlio ao
suicdio no era criminalizado no Estado de Michigan. Contudo, quando, finalmente, pratica uma eutansia, Kevorkian processado e condenado por homicdio.
No Brasil, o Dr. Morte poderia ter sido condenado vria vez por auxlio ao
suicdio, nos termos do artigo 122 do Cdigo Penal, e, tambm, por homicdio,
com pena mitigada, por ter praticado a eutansia, nos termos do artigo 121,
pargrafo 1 do Cdigo Penal.
Contudo, o que interessa para este estudo que a Resoluo CFM n
1.805/2006 e o pargrafo nico do artigo 41 do CEM no cuidam do auxlio ao
suicdio nem da eutansia, mas, apenas e to somente, da ortotansia.
d) a ortotansia
Na ortotansia, o seu autor no pratica nenhuma conduta de ao, no mata o
doente, mas apenas o deixa morrer, praticando, portanto, uma conduta de omisso,
425
14
Cezar Roberto Bitencout, Manual de direito penal, parte geral, 5 edio, RT, p. 209.
426
deixe o doente morrer por piedade, em face de seu sofrimento, poder at mesmo
ficar caracterizada uma eutansia passiva, o que no evitar a condenao do
mdico, mas possibilitar uma diminuio de pena, de acordo com o disposto
no artigo 121, pargrafo 1 do Cdigo Penal. assim que se pode diferenciar
a eutansia ativa da eutansia passiva: na eutansia ativa, o agente mata
outrem por piedade (pratica uma conduta de ao); e, na eutansia passiva, o
agente, omitente, deixa algum morrer por piedade (trata-se de omisso relevante;
o agente tem possibilidade e dever de evitar a morte, mas nada faz para evit-la).
Todavia, apesar da apontada diferena, a eutansia ativa e a eutansia passiva
assemelham-se em razo dos seguintes aspectos: nos dois casos haver crime de
homicdio (homicdio por ao e homicdio por omisso); nos dois casos poder
ficar caracterizado o homicdio privilegiado, nos termos do artigo 121, pargrafo 1 do Cdigo Penal; e nos dois casos o criminoso, sendo condenado, poder ser
beneficiado por uma diminuio de pena.
Enfim, se h esperada reversibilidade e possvel transitoriedade na situao
do doente, a conduta de deix-lo morrer tipificar um homicdio por omisso
se o mdico no agir para evitar o resultado e, na melhor das hipteses, poder ter
a pena mitigada.
Entanto, essa tambm no a situao referida na Resoluo CFM n
1.805/2006 nem a hiptese prevista no pargrafo nico do artigo 41 do Cdigo
de tica Mdica de 2009. que esses dispositivos normativos no se referem
eutansia ativa nem eutansia passiva, mas, sim, ortotansia, que no
tipifica o homicdio, nem por ao nem por omisso. Decididamente, a ortotansia um deixar morrer atpico, ou seja, no criminoso, que no se confunde
com a eutansia ativa nem com a eutansia passiva.
3.4. A ortotansia. Quando deixar morrer no homicdio e no crime, diante
da impossibilidade de evitar o resultado morte de doente terminal e incurvel
Como j ficou consignado acima, de acordo com os conceitos do sistema penal, para que o omitente tenha a sua conduta enquadrada em um crime comissivo,
como o caso do homicdio, imprescindvel que ele tenha, antes de qualquer
outra coisa, a possibilidade material de evitar o resultado. Logo, se o mdico
limitou ou suspendeu determinado procedimento ou tratamento que estava sendo
ministrado a um doente, ele somente ser considerado o causador da morte desse
doente se aqueles tratamentos ou medicamentos tivessem potencial para evitar a
morte, ou seja, se houvesse a possibilidade material de se evitar a morte do doente. Assim, se o mdico no tem a possibilidade material de evitar a morte do
doente, a sua conduta de suspender ou limitar determinados procedimentos des-
427
tinados apenas para prolongar a vida no pode ser enquadrada no tipo do homicdio. Se no h esperada reversibilidade nem possvel transitoriedade com relao
doena, no h falar em possibilidade de se evitar o resultado morte. Portanto,
obviamente, no haver tipicidade possvel. No possvel, juridicamente, admitir a caracterizao do crime comissivo por omisso nessa hiptese.
E exatamente essa a hiptese prevista na Resoluo CFM n 1.805/200 e no
pargrafo nico do artigo 41 do Cdigo de tica Mdica de 2009: o doente terminal e a enfermidade incurvel; a morte materialmente inevitvel; no h esperada reversibilidade e no existe possvel transitoriedade; logo, nessa situao
restrita e especfica, se o mdico limita ou suspende procedimentos e tratamentos
destinados exclusivamente a prolongar a vida desse doente, no est praticando
uma ao dirigida a causar a sua morte e no est praticando a eutansia, nem a
eutansia ativa nem a eutansia passiva, mas, apenas e to somente, est praticando uma omisso de assistncia intil. E essa omisso no relevante para o
direito penal, diante da irreversibilidade da doena e da inevitabilidade da morte.
Essa a situao que caracteriza nitidamente a ortotansia, que no tipifica o
crime de homicdio e que no , portanto, criminosa.
Induvidosamente, se a doena era incurvel e o doente estava em estado terminal, o mdico omitente, sob o aspecto jurdico-penal, no causou a morte do
paciente ao interromper, total ou parcialmente, os procedimentos destinados a
prolongar a vida artificialmente. Nessa hiptese, pois, no possvel dizer, juridicamente, que o mdico matou o doente, mas, sim, apenas e to somente, que ele
deixou o paciente morrer. E o deixar morrer, que uma conduta de omisso,
no passvel de tipificao no artigo 121 do Cdigo Penal nesse caso, pois no
possvel curar uma doena incurvel e impossvel evitar uma morte inevitvel.
Alis, abordando exatamente essa hiptese, Gisele de Carvalho afirma que
no haveria omisso punvel, por atipicidade da mesma, pois, ausente essa
possibilidade (a possibilidade material de evitar o resultado morte), a desconexo
dos aparelhos que mantm vivo o paciente no se amoldaria ao tipo do delito de
homicdio, uma vez que, para que se perfaa a tipicidade nos delitos omissivos
imprprios (comissivos por omisso), como ensina Luiz Regis Prado, no basta
que o autor esteja na posio de garante: faz-se mister que tenha capacidade de
ao (possibilidade de evitar o resultado).15
Como se v, a impossibilidade material de evitar o resultado afasta totalmente a tipificao da conduta do omitente nos crimes comissivos.
Alis, Bitencourt, sobre a inevitabilidade do resultado, assevera que, se a
realizao da conduta no tivesse impedido a ocorrncia do resultado, que, a des15
428
peito da ao do agente, ainda assim se verificasse, deve-se concluir que a omisso no deu causa a tal resultado. E a ausncia dessa relao de causalidade, ou
melhor, no caso, relao de no impedimento, impede que se atribua o resultado
ao omitente, sob pena de consagrar-se uma odiosa responsabilidade objetiva16.
Decididamente, portanto, na ortotansia, que exatamente a situao regulada pela Resoluo CFM n 1.805/2006 e autorizada pelo pargrafo nico do artigo
41 do Cdigo de tica Mdica de 2009, h uma situao de irreversibilidade e
de no transitoriedade e h, obviamente, a impossibilidade de cura, o que afasta
totalmente a tipificao do homicdio por omisso.
por isso que se pode afirmar, com absoluta certeza jurdica, que o deixar
morrer, no caso da ortotansia, no crime, mas, sim, uma conduta tica, lcita
e jurdica.
3.5. A ortotansia. Quando deixar morrer no homicdio e no crime, diante da inexistncia de dever de evitar o resultado morte de doente terminal
e incurvel
Sob o ponto de vista material e naturalstico, somente uma ao pode dar
causa a um resultado. Quem no faz nada no pode dar causa a coisa nenhuma. A
omisso, no mundo real, no pode dar causa a nenhum resultado. por isso que
o artigo 13, pargrafo 2 do Cdigo Penal, para resolver esse dilema naturalstico, criou, juridicamente, uma hiptese de causalidade normativa: o omitente ser
considerado causador do resultado, se era o garantidor de sua no ocorrncia, ou
seja, se tinha a possibilidade e o dever de agir para evitar tal resultado. Como
se v, alm da possibilidade material de evitar o resultado, para que a conduta do
omitente possa ser considerada relevante, e, consequentemente, para que possa
ser subsumida a um tipo comissivo, imprescindvel, tambm, que o omitente
tivesse o dever de evitar esse resultado. Como ensina Bitencourt: preciso que
o sujeito tivesse o dever de evitar o resultado, isto , o especial dever de evit-lo
ou, em outros termos, que ele fosse o garantidor de sua no ocorrncia17. E, obviamente, no se pode dizer que o mdico tem o dever de curar uma doena incurvel, nem de evitar uma morte inevitvel. Lembre-se de que a Resoluo CFM n
1.805/2006 e o pargrafo nico do artigo 41 do CEM/2009 tratam da suspenso
ou limitao de procedimentos e tratamentos mantidos para prolongar a vida de
um doente em fase terminal de uma enfermidade grave e incurvel. por isso que
Silva Snchez assevera que, se j no havia expectativa alguma de se conseguir
salvar uma vida plena e independente para o enfermo, resulta que a desconexo
16
17
429
SILVA SANCHEZ, Jess Maria.La responsabilidad penal del medico por omissin, in Avances de la medicina
y derecho penal, p. 139-140.
19
Direito Penal, Curso completo, p. 69.
20
Crimes omissivos imprprios, p. 92-93.
21
Direito Penal, Parte Geral, p. 180.
18
430
4. A distansia
Recentemente, o Tribunal Federal Alemo decidiu que, se o paciente pede,
expressa ou presumidamente, a suspenso de medidas inteis de prolongamento
da vida, o mdico pode e deve satisfazer esse seu pedido, e pode interromper o
tratamento, sem que esteja cometendo homicdio. Alis, segundo essa deciso, se
o mdico insistir na mantena desses tratamentos fteis, acarretando ao doente
terminal um sofrimento intil, estar praticando a distansia e poder responder
pelo crime de omisso de socorro ou por leses corporais, em razo da tortura
ou do tratamento cruel que impuser ao doente.
E, no Brasil, pode ocorrer, juridicamente, a mesma coisa: o mdico que insistir em manter um tratamento ou qualquer procedimento incuo, artificioso,
postio e gravoso para o doente terminal, acometido de uma doena incurvel,
expondo-o, assim, dor e ao sofrimento, contrariando a vontade do paciente ou de
seu representante legal, estar praticando a censurvel distansia, e tambm estar
sujeito a responder, no mbito da responsabilidade civil e criminal, pelas leses
corporais22, pelo constrangimento ilegal23, pela tortura e pelo tratamento cruel que
impuser ao paciente e, tambm, sua famlia.
por isso que agiu de forma absolutamente correta o Conselho Federal de
Medicina ao editar a Resoluo n 1.805/20006 e o pargrafo nico do artigo 41
do CEM/2009, regulamentando a prtica da ortotansia e reprovando a distansia.
a) tortura e tratamento desumano ou cruel
Lembre-se, ademais, que o inciso III do artigo 5 da Constituio Federal
dispe, expressamente, que ningum ser submetido a tortura nem a tratamento
desumano ou degradante. E no se olvide que o Brasil tambm ratificou a Conveno contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruis, Desumanos ou
Degradantes e, ainda, a Conveno Interamericana para Prevenir e Punir a Tortu-
22
23
431
ra, incorporando esses instrumentos internacionais de defesa dos Direitos Humanos ao nosso sistema jurdico, conferindo-lhes, inclusive, natureza constitucional.
Como se v, juridicamente inadmissvel afirmar que o mdico tem o dever
de manter tais tratamentos inteis, que tm a exclusiva finalidade de prolongar a
vida artificialmente, causando ao doente terminal acometido de enfermidade incurvel sofrimentos fsicos e mentais, alm de inegvel constrangimento.
Induvidosamente, a mantena do suporte vital, com ventilao assistida, reanimadores e outros procedimentos, somente justificvel e aceitvel se tiver
sentido curativo, diante da esperada reversibilidade e da possvel transitoriedade
da situao, o que no acontece quando a doena incurvel e o doente est em
fase terminal.
Assim, inexoravelmente, se a mantena dos mencionados procedimentos e
tratamentos intil, e at mesmo ftil e gravosa para o doente, essa prtica, caracterizadora de censurvel obstinao teraputica, constitui uma flagrante violao
aos direitos humanos do paciente e pode at mesmo constituir conduta criminosa.
b) a dignidade humana
E no se olvide, tambm, que a nossa Constituio Federal elegeu a dignidade
humana, expressamente, no inciso III de seu artigo 1, como um dos fundamentos
da Repblica Federativa do Brasil e do Estado Democrtico de Direito. Como diz
Alexandre de Moraes, a dignidade, inerente condio humana, concede unidade
aos direitos e garantias fundamentais, afasta a ideia de predomnio das concepes transpessoalistas de Estado e Nao em detrimento da liberdade individual, manifesta-se singularmente na autodeterminao consciente e responsvel da
prpria vida e traz consigo a pretenso ao respeito por parte das demais pessoas,
constituindo-se um mnimo invulnervel que todo estatuto jurdico deve assegurar, para garantir a estima que merecem todas as pessoas24. Assim, a dignidade
humana h de ser respeitada como critrio constitucional orientador e corretor de
todas as normas jurdicas e todas as condutas. Em consequncia, como lembra
Gisele de Carvalho, a manuteno de terapias que no oferecem quaisquer expectativas reais de recuperao para o paciente (mormente nos casos de pacientes
em estado vegetativo crnico, cuja sobrevivncia poderia ser artificialmente protrada durante meses ou at anos) implica grave atentado dignidade da pessoa
humana, em tudo contrrio proibio constitucional de submisso a tratamentos
desumanos ou degradantes25.
24
25
432
433
Assim, se o paciente tem o direito autonomia, o direito de autodeterminao, o direito de tomar decises, o direito a informao, o direito de negar consentimento a qualquer tratamento, o direito de respeito sua privacidade, o direito
de no interferncia, de no ingerncia e de no intromisso, o direito de no ser
submetido a tratamento desumano e cruel e o direito de opo pelo tratamento de
sade que lhe for reputado mais favorvel, alm do constitucional direito de respeito sua dignidade, evidente que o mdico no tem o dever de manter, contra
a vontade do paciente, quaisquer tratamentos que, alm de no serem curativos,
so inteis, fteis, degradantes, humilhantes, gravosos ou prejudiciais ao interesse
pessoal do paciente.
por tudo isso que a prtica da distansia , jurdica e eticamente, condenvel.
Portanto, est correto o Cdigo de tica Mdica, quando, no seu Captulo I,
ao eleger os Princpios Fundamentais da conduta mdica, dispe que nas situaes clnicas irreversveis e terminais, o mdico evitar a realizao de procedimentos diagnsticos e teraputicos desnecessrios e propiciar aos pacientes sob
sua ateno todos os Cuidados Paliativos apropriados.
Como se v, o CEM/2009, alm de acolher e estimular a prtica da ortotansia, reprova e censura, eticamente, a distansia31.
434
que, posto que lcita a interrupo dos tratamentos inteis, o doente continuar
a receber todos os cuidados necessrios para aliviar os sintomas que levam ao
sofrimento, assegurada a assistncia integral, o conforto fsico, psquico, social,
espiritual, inclusive assegurando a ele o direito da alta hospitalar. Induvidosamente, dever do mdico, proclamado na resoluo em referncia, zelar pelo
bem-estar dos pacientes, no exp-los a constrangimentos, sofrimentos inteis
e desnecessrios, mxime quando se viola a vontade e a dignidade do ser humano. Como afirmam Mario Roberto Hirschleimer e Clvis Francisco Constantino,
cuidar mais que curar e deve ser o objetivo principal da atuao mdica, mesmo quando no possvel curar. Cuidar inclui controlar os sintomas (medidas de
alvio), definir o local onde os cuidados sero ministrados (domiclio, hospital ou
servios de Cuidados Paliativos) e quem ir efetu-los (familiares ou equipe da
instituio). Isso no significa abdicar de tecnologias que, em algumas situaes,
podem ser utilizadas com finalidade paliativa de alvio32. Assim, a mantena do
tratamento paliativo, que tem o sentido de cuidar, no pode ser ignorada. Segundo Gisele de Carvalho, deve-se ter presente ainda que os cuidados e ateno
dispensadas aos pacientes terminais no so aes que se inscrevem no campo
do curar (cure), mas no mbito do cuidar (care), no tendo finalidade de preservar uma existncia em franca deteriorao, mas to somente assistir, aliviar e
satisfazer, dentro do possvel, suas necessidades vitais bsicas, ministrando-lhe
Cuidados Paliativos (alimentao, hidratao, asseio, controle de sintomas), de
modo que seja possvel suspender ou mesmo no iniciar tratamentos mdicos
que no tragam nenhum benefcio ao moribundo, ainda que isso acarrete o seu
falecimento33.
6 - A omisso de socorro
E no se diga, porque totalmente injurdico, que o mdico estaria praticando
um crime de omisso de socorro ao interromper ou limitar os tratamentos na situao referida na Resoluo n 1.805/20006 e no pargrafo nico do artigo 41 do
CEM/2009. que o artigo 135 do Cdigo Penal, em sua dimenso tpica, cuida
exclusivamente de coibir apenas a omisso de socorro s pessoas invlidas ou
feridas, ao desamparo ou em grave e iminente perigo, o que, obviamente, no se
aplica situao do doente terminal acometido de uma doena incurvel, que no
pode ser sujeito passivo desse delito. Ademais, como acima ficou esclarecido, no
se pode falar em omisso de socorro quando o mdico deixa de praticar condutas
inteis e at mesmo fteis e prejudiciais ao paciente terminal, contrariando a sua
32
33
O direito de morrer em paz e com dignidade, in Boletim IBCCRIM n. 172, ano 14, maro/2007.
Op. cit. p. 71.
435
7 - Deveres ticos
Finalmente, tambm no possvel falar em dever de manter os mencionados tratamentos inteis e gravosos para o paciente terminal de doena incurvel, porque cabe ao mdico, por dever tico, observar os seguintes princpios:
a) princpio da autonomia ( imprescindvel o consentimento do paciente para
qualquer tratamento e no admissvel a deciso mdica isolada; CEM/2009,
artigos 46, 48 e 56; a deciso sempre h de ser compartilhada: Res/CFM, art. 1,
pargrafo 1); b) princpio da justia (se a cincia no pode evitar a morte,
justo interromper um procedimento artificial, postio, que implica sofrimento); c)
princpio da beneficncia (cabe ao mdico fazer o bem para o paciente e para
a sua famlia, o que afasta a possibilidade de uso indiscriminado e abusivo da
tecnologia mdico-cientfica para preservar a vida a qualquer custo; CEM, artigos
6 e 57); e d) princpio da no maledicncia (cabe ao mdico no fazer o mal e,
assim, evitar o sofrimento do paciente e o prolongamento intil de procedimentos
gravosos; CEM, artigos 5 e 21).
Decididamente, portanto, diante de uma doena incurvel em fase terminal, a
interrupo ou a limitao de tratamentos ou de quaisquer procedimentos utilizados apenas para prolongar o momento da morte, nos exatos termos da Resoluo
CFM n. 1.805/2006 e do pargrafo nico do artigo 41 do CEM/2009, constitui
conduta lcita e tica, no viola o preceito proibitivo do artigo 121 do Cdigo
Penal e no tipifica o homicdio, nem por omisso, pois o mdico, ao praticar essa
conduta omissiva, nessa situao especfica, no tem possibilidade material nem
o dever jurdico de evitar a morte.
8 - Encerramento
Deixar morrer diante da impossibilidade teraputica de cura, na hiptese
prevista na Resoluo CFM n 1.805/2006 e no pargrafo nico do artigo 41 do
CEM/2009, no matar. No se trata de praticar a eutansia, nem ativa nem
passiva. E tambm no se trata de auxlio ao suicdio. Trata-se, sim, de ortotansia, procedimento absolutamente lcito e tico. A ortotansia a boa morte,
natural, justa, sem sofrimentos. Alis, alm da lembrana da origem etimolgica
dessa palavra, que significa morte correta, possvel tambm lembrar do significado lxico de orto: o princpio, a origem de algo, o processo de surgimento de
um astro no horizonte, de acordo com o Dicionrio Houaiss da lngua portuguesa.
Assim como os poetas, que dizem que o nascimento do sol o orto resplandecente
436
do astro rei, a ortotansia pode ser observada como o incio do processo natural da
morte, que, se inevitvel, deve ser respeitado. Alis, at mesmo o Papa Joo Paulo II
afirmou, com sensibilidade e amor pelos desgnios sagrados da existncia humana,
que, distinta da eutansia a deciso de renunciar ao chamado excesso teraputico, ou seja, a certas intervenes mdicas j inadequadas situao real do doente,
porque no proporcionadas ao resultado que se poderia esperar ou ainda porque
demasiado gravosas para ele e para a sua famlia. (...) A renncia a meios extraordinrios ou desproporcionados no equivale ao suicdio ou eutansia; exprime,
antes, a aceitao da condio humana defronte morte34.
Como lembra Saramago em sua obra As intermitncias da morte, ningum
consegue por talas a uma r e ningum pode ser obrigado, na dimenso de sua
condio humana, a suportar um estado de morte suspensa35.
Fausto, da grande tragdia de Marlowe, do poema pico de Goethe, da original lenda medieval, no suportou a suspenso eternal da vida e descobriu, pelo
remorso e pela compaixo, pelo amor e pelo sofrimento, a necessidade de compreender a luz e a sombra para encontrar a paz interior, o que permitiu que a
sua alma escapasse do poder de Metistfeles e fosse transportada para as esferas
celestiais36.
Alis, somente Catulo da Paixo Cearense descobriu uma frmula infalvel
para escapar da morte: Da morte ningum escapa/Morre o bispo e morre o Papa/
S eu escapo/Meto-me numa panela/E, quando a morte bater, digo: no h ningum nela!. No cabe aos mdicos, entretanto, violar a dignidade humana para
meter seus pacientes em uma panela, na v esperana de vencer a morte. E
no se olvide que Creonte, ao condenar Polinices a ficar insepulto e ao condenar
Antgona a ficar encarcerada eternamente em uma caverna, cometeu dois gravssimos erros: no permitiu que Antgona vivenciasse o mundo dos vivos e, o que
ainda mais grave e terrvel, impediu que Polinices navegasse em direo ao Hades
conduzido por Caronte. Eis um grande desafio para os mdicos: compreender a
dimenso da vida, aceitar o processo natural da morte, admitir a impotncia da
medicina diante da inexorabilidade da morte e, assim, saber conduzir os doentes
terminais, como Caronte, at o mundo dos mortos, com amor, com Cuidados Paliativos, com resignao e com respeito dignidade humana, certos de que no estaro praticando nenhuma conduta ilcita, e muito menos criminosa, ao suspender
tratamentos e procedimentos inteis e gravosos, nos exatos termos da Resoluo
n 1.805/2006 do Conselho Federal de Medicina e do pargrafo nico do artigo 41
do Cdigo de tica Mdica, de 2009.
in O direito de morrer em paz e com dignidade, in Boletim IBCCRIM n. 172, ano 14, maro/2007.
Jos Saramago. As intermitncias da morte.
36
Liz Greene e Juliet Sbarman-Burke, Uma viagem atravs dos mitos, p. 179.
34
35
437
Referncias
438
1. Introduo
No ltimo sculo, com o aumento do acesso da populao a leitos hospitalares,
a epidemiologia do local de morte mudou progressivamente do domiclio para os
hospitais, e, nas ltimas dcadas do sculo XX, para dentro de Unidades de Terapia
Intensivas (UTIs)(1). O bito que acontece na UTI pode ser o resultado de tentativas infrutferas de reverter uma situao crtica. No entanto, algumas situaes
clnicas so sabidamente irreversveis. Em ambas as situaes, o fim de vida na
UTI frequentemente acompanhado por procedimentos dolorosos(2,3), com o paciente longe de seus entes queridos e muitas vezes sem qualquer autonomia para
decidir a respeito de sua morte ou mesmo de aspectos importantes relacionados
a sua vida(3).
Neste incio de sculo XXI, as questes relacionadas a Cuidados Paliativos
dentro da UTI passaram a ser cada vez mais discutidas em medicina intensiva(4,5,6,7,8,9), refletindo no s uma mudana no que se entende por qualidade de
cuidado, mas tambm uma crescente necessidade social e econmica(10) de agir de
forma diferente nestas situaes.
Este captulo abordar uma questo bastante delicada sobre Cuidados Paliativos na UTI: a utilizao de Suporte Artificial de Vida (SAV) no fim da vida.
didas fteis(12). Retir-las ou limitar seu uso nestas circunstncias seria ento uma
opo a ser considerada, mantendo-se ou intensificando-se todos os cuidados que
possam aliviar os sintomas de desconforto. Entende-se que limitar o SAV pode
ser, por exemplo, no aumentar a dose de noradrenalina ou dos parmetros da
ventilao mecnica. Retirar SAV seria desligar a infuso contnua de vasopressores, suspender a hemodilise ou extubar o paciente(5).
Nos Estados Unidos, a discusso na sociedade sobre os aspectos ticos e
legais da retirada ou limitao de SAV no fim de vida em UTI acontece desde
1976, sendo atualmente aceita tanto do ponto de vista tico quanto jurdico(8,9). Na
dcada de 90 pases, como Inglaterra(13), Alemanha(14), Holanda, Blgica e Israel15,
tambm debateram esta questo em suas sociedades e chegaram mesma concluso sobre a licitude da retirada ou limitao de SAV em fim de vida, considerando
as peculiaridades inerentes a cada pas, como o caso de Israel(15). Em pases como
Frana(16), Itlia(17), Espanha(18), ndia(19) e Brasil(20,21) tal discusso mais recente,
e o debate tambm est levando a importantes modificaes.
Assim, sociedades mdicas internacionais(6,8,9), nacionais(48,51) e bioeticis(12)
tas entendem hoje que quando as medidas de SAV no puderem mais oferecer
benefcio para o paciente, mas apenas prolongar de forma sofrida o seu processo
de morrer, limit-las ou retir-las distingue-se de eutansia. Sua retirada ou limitao nestas circunstncias busca oferecer ao paciente que j est morrendo uma
condio mais natural e com menor sofrimento para enfrentar a sua prpria morte.
Deixa-se assim de prolongar o processo de morte de forma artificial, permitindo
a morte natural e diferenciando-se assim da eutansia, que ativamente causa a
morte.
A American Thoracic Society(8), por exemplo, recomenda em seu consenso sobre fim de vida em UTI que os mdicos devam iniciar as discusses sobre retirada da ventilao mecnica quando o paciente ou seu representante legal
abordarem a questo, quando os profissionais de sade que cuidam do paciente
acreditam que a ventilao mecnica j no satisfaz os objetivos do tratamento do
paciente, ou tornou-se mais malfico do que benfico para o paciente.
As sociedades europeias de medicina intensiva reconhecem a necessidade
da limitao de tratamentos que prolonguem a vida, quando a situao clnica
irreversvel e um tratamento parece ftil ou desaconselhvel(6).
O Conselho Federal de Medicina do Brasil (CFM) em sua resoluo 1805/06,
em vigor desde 2010(51), estabelece que permitido ao mdico limitar ou suspender procedimentos e tratamentos que prolonguem a vida do doente, em fase
terminal, de enfermidade grave e incurvel, respeitada a vontade da pessoa ou de
seu representante legal.
440
442
Tabela 1
Pas
Autor
N de N de pa-
Reti-
Limi-
UTIs cientes/
rada de tao
N de
SAV
de
bitos
SAV
Sem
limitao
de
SAV#
131
EUA
Prendergast,1
199834
23%
74.502/5.9
10
38%
32%
Canad
Cook, 200332
15
851/304 54%
No disponvel:
estudado apenas
a retirada de ventilao mecnica
Europa
Sprung, 200335
38%
37, 17 31417/4248
pases
33%
Reino
Wunschm
127
118.199/
31,8%
Unido 200536
11.694
20%
No disponvelestudado somente
a retirada de todos
os SAV
Frana
Ferrand, 200136
Espanha
Esteban, 200137
Itlia
Lbano
Yazigi, 200541
1 446/51
7% 39% 54%
ndia
Mani, 200919
1 830/88
3% 45% 51%
No Brasil, motivos legais e culturais obscureceram por muito tempo a discusso e o estudo deste tema(20,21). Assim, ainda h poucos estudos brasileiros que
abordaram de forma prospectiva a frequncia da retirada ou limitao de SAV em
UTI, embora a literatura existente sugira que estas medidas tambm so adotadas
por aqui. A maior parte das pesquisas sobre o assunto no pas foram conduzidas
em UTIs peditricas do Sul do pas(42) ou so dados derivados de estudos realizados com outros propsitos, como avaliao de escores prognsticos(43) ou de
443
evoluo de pacientes com insuficincia renal(44). Estes estudos mostram que algum tipo de limitao de SAV precede 11 a 36% dos bitos de adultos nas UTIs
estudadas(42-44).
Mas, nos ltimos anos, o cenrio parece mudar, e mais estudos sobre este
assunto tm sido publicados em nosso pas. Assim, uma recente pesquisa realizada com mdicos intensivistas de Brasil, Argentina e Uruguai(21) observou que
mais de 90% dos participantes j decidiram alguma vez por limitar ou retirar
algum tipo de suporte artificial de vida, sendo a reanimao cardiorrespiratria, a
administrao de drogas vasoativas, os mtodos dialticos e a nutrio parenteral
as terapias mais frequentemente suspensas ou limitadas nos trs pases, havendo
diferenas pontuais entre os mesmos.
Um estudo realizado em 12 UTIs na cidade de So Paulo constatou que 81%
das famlias de pacientes internados em UTI gostariam de que os mdicos discutissem a possibilidade de retirada da ventilao mecnica em um cenrio hipottico de um paciente inconsciente em fase final de vida(45). Este nmero foi
significativamente maior do que os 60% dos mdicos que responderam que deveriam discutir com as famlias este assunto, sugerindo que pressupostos sobre as
preferncias sobre fim de vida podem subestimar esta discusso.
Outro estudo recente nacional, avaliando condutas de mdicos intensivistas
frente a um caso hipottico, observou expressiva disparidade entre condutas e
crenas relacionadas ao manejo do SAV em fim de vida na UTI(33). Assim, 44%
destes mdicos apresentavam respostas discordantes para as questes sobre 1) o
que provavelmente fariam e 2) o qu considerariam melhor para o paciente. Destes, 98% acreditavam que a melhor conduta envolveria o uso de menos SAV do
que mais provavelmente fariam. O nmero de respostas que envolveriam retirada
de SAV aumentou de 19% para 40% (P<0,01), enquanto o nmero de mdicos
que aplicariam todos os SAV disponveis diminuiu de 21% para 10% (P=0,037).
Este resultado bastante sugestivo de que um nmero expressivo de mdicos participantes desta pesquisa prolonga mais a vida de forma artificial de um paciente
em fase final de vida do que acreditam ser o melhor.
No Brasil, tanto os aspectos de tica Mdica quanto os aspectos jurdicos
permaneceram por muito tempo dbios em relao ao manejo dos SAV em fim
de vida(20).
A legislao brasileira apresenta diversas peculiaridades que podem interferir no cuidado ao paciente que est morrendo. No cabe aqui uma discusso
detalhada do assunto jurdico, a qual pode ser encontrada em outras fontes(46).
Ressaltaremos apenas alguns tpicos.
Como na maioria dos pases, eutansia ou qualquer forma de suicdio assistido crime (artigo 121, Cdigo Penal) e proibido pelo Cdigo de tica Mdica
444
(artigo 41). J retirada ou limitao de SAV com o objetivo de permitir uma morte
mais natural em um paciente que est morrendo um assunto que gera intenso
debate em nosso meio. De uma forma bastante simplificada, as maiores limitaes
jurdicas para as condutas mdicas de permitir uma morte natural em um paciente que se encontra em uma situao de fim de vida tinham como argumentos
uma interpretao absoluta do artigo 57 do Cdigo de tica Medica de 1988, que
determinava a obrigao do mdico de utilizar todos os meios disponveis de
diagnstico e tratamento a seu alcance em favor do paciente, uma interpretao
do artigo 121 do Cdigo Penal de 1940, ainda em vigor em nosso pas, que consideraria que o ato mdico de permitir uma morte natural ao paciente poderia ser
entendido como homicdio culposo por omisso; tendo a inviolabilidade do direito vida, princpio fundamental da Constituio Brasileira, como base(29). Cabe
lembrar que a lei penal foi criada numa poca em que medidas de SAV como ventilao mecnica, hemodilise, drogas vasoativas, reanimao cardiopulmonar ou
mesmo UTI no existiam.
Por outro lado, so mais recentemente reconhecidos outros inmeros embasamentos legais para a conduta de Cuidados Paliativos no final da vida. Assim,
temos tambm como princpio fundamental da Constituio Brasileira a proteo
dignidade da pessoa humana, que conduz ao direito da morte digna(29). H tambm na Constituio a garantia a inviolabilidade da integridade fsica, moral e
psicolgica, incluindo o respeito s crenas e valores do cidado, assim como o
repdio tortura.
Enquanto a distansia pode ser entendida como uma forma de tortura e uma
violao dos valores morais e da integridade fsica quando imposta ao paciente,
o Cuidado Paliativo aos que esto morrendo prope o respeito vida e o entendimento da morte como parte da vida. uma forma de tratamento, que ativa,
exige cincia, estudo e reconhecido como parte essencial da medicina moderna,
tanto pela Organizao Mundial de Sade quanto pelo Conselho Federal de Medicina, Conselho Regional de Medicina de So Paulo e Associao de Medicina
Intensiva do Brasil. O prprio Cdigo de tica Mdica de 1988, em seu artigo 57
colocava que vedado ao mdico deixar de utilizar todos os meios disponveis
de diagnstico e tratamento a seu alcance em favor do paciente.
Em uma viso no paternalista da relao mdico-paciente, o melhor para o
paciente no um saber exclusivo do mdico, e, sim, fruto da relao entre o mdico, com o seu conhecimento, e o paciente, com sua biografia, suas preferncias,
seus valores e suas crenas.
Autores jurdicos tambm sustentam o argumento que deixar morrer diante
da impossibilidade teraputica de cura e da inexistncia de dever de manter procedimentos incuos no matar, e, portanto, no pode ser tipificado nos artigos
445
4. Concluso
O desafio no manejo de Suporte Artificial de Vida no fim de vida de UTI
evitar a obstinao teraputica, que prolonga o sofrimento e adia a mudana de
objetivos de tratamentos que visam cura para cuidados que visem ao conforto,
ao mesmo tempo em que se procura evitar decises prematuras de retirada de
SAV que poderiam levar a mortes potencialmente evitveis. Nestas situaes,
no h uma nica frmula que determine o melhor ou o pior tratamento no fim
da vida. H o bom tratamento. E este o tratamento oferecido com compaixo e
cuidado, resultado do encontro entre o profissional da sade, com seus conhecimentos, e o paciente e sua famlia, com sua biografia, valores e preferncias.
Referncias
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449
Introduo
A AIDS uma doena infecciosa conhecida desde 1981, causada por um
retrovrus (HIV), cuja principal caracterstica uma imunossupresso progressiva
causada pela destruio de linfcitos CD4+, tornando o paciente suscetvel a infeces e tumores oportunistas.
Calcula-se que o nmero de casos de doentes no mundo seja de 34 milhes,
68% dos quais vivem na frica subsaariana(33). No Brasil h 592.914 doentes
notificados at 2010 e desses, 30% vivem no estado de So Paulo(4) O impacto
da doena varia de acordo com a raa, gnero, estado socioeconmico e prticas
sexuais. Logo no incio da epidemia a AIDS era considerada uma doena terminal. Com o advento da terapia antirretroviral (TARV) de alta potncia, tambm conhecida por HAART, houve um dramtico declnio nas taxas de doenas
oportunsticas, grande melhora na sobrevida e na qualidade de vida dos pacientes
que fazem uso correto da medicao(6). Vrios estudos, em pases desenvolvidos,
demonstram que as taxas de mortalidade ps-advento da TARV so muito mais
prximas daquelas da populao geral nos primeiros 5 anos aps a infeco. O
excesso de mortalidade comea a se mostrar, entretanto, medida que a durao
da infeco aumenta(14,3).
Atualmente, a AIDS considerada uma doena crnica e mais da metade dos
eventos clnicos e mortes no relacionada a eventos oportunsticos.
Os Cuidados Paliativos em pacientes com HIV/AIDS seguem a mesma filosofia de qualquer doente, ou seja, abordam os pacientes em todos os seus sofrimentos (fsicos, psquicos, sociais e espirituais), os sofrimentos dos cuidadores e
dos familiares no momento da doena e do luto.
H algumas particularidades a serem consideradas em pacientes com AIDS
em Cuidados Paliativos e que podem ser responsveis pelo aumento do seu sofrimento(28):
os pacientes em geral so mais jovens que os portadores de cncer;
a doena multissistmica, com muitos diagnsticos simultneos;
h necessidade de uso de vrios medicamentos (o paciente com AIDS em
cuidados domiciliares faz uso, em mdia, de 33 comprimidos ao dia);
ocorrem repentinas e dramticas mudanas na condio clinica, gerando dificuldade em identificar a fase terminal;
h grandes e dinmicas mudanas nos padres de tratamento, exigindo atualizao constante da equipe de sade;
h maior ndice de sofrimento psquico quando em comparao com pacientes com cncer;
h grande isolamento, estigma e falta de compaixo da sociedade pelo paciente e sua famlia;
comum a falta de estrutura e de suporte familiar e social; pode haver mltiplas mortes na famlia e alto ndice de luto complicado;
falta de experincia dos mdicos na abordagem paliativa destes pacientes.
deveria ser considerado terminal sem que um mdico com expertise no tratamento
de pacientes com HIV faa uma avaliao completa das condies do paciente(31).
O Centers for Diseases Control (CDC) elaborou um guideline para orientar
mdicos para indicar Cuidados Paliativos em pacientes com HIV-AIDS avanado
(disponvel no site: www.cms.gov).
Os principais parmetros de mau prognstico relacionados a AIDS so divididos em parmetros gerais (parte I), parmetros especficos da AIDS (parte
II) e parmetros auxiliares (parte III). Para ser considerado um paciente terminal
(expectativa de vida abaixo de 6 meses), necessrio que as partes I e II estejam
presentes simultaneamente.
Parte I- Parmetros gerais de mau prognstico em pacientes com HIV/AIDS
1. comprometimento fisiolgico do status funcional medido pelo ndice de Karnofsky
ou Palliative Performance Score<70% e
2. dependncia em 2 ou mais atividades de vida diria
a. alimentao
b. deambulao
c. continncia
d. transferncia
e. banho
f. vestimenta
452
Um ndice prognstico elaborado pelo Antiretroviral Therapy Cohort Collaboration (ATCC) tambm encontra-se disponvel no site http://www.art-cohortcollaboration.org.
453
1. Sofrimentos fsicos
Pacientes com AIDS em fase avanada de doena tm, em mdia, 10,9 a
12,7 sintomas concomitantes, grande parte negligenciada por eles prprios e seus
mdicos(11, 24).
Os sofrimentos fsicos em doentes em fase avanada variam em diferentes
trabalhos, sendo, principalmente: dor (84%), astenia/caquexia (61%), anorexia
(41%), confuso mental/demncia (29%), nusea/vomito (21%)(18,28).
A dor altamente prevalente e h em mdia 2,9 dores concomitantes(7). Um
trabalho realizado no Brasil aponta prevalncia de dor em 54% dos pacientes
hospitalizados (em diferentes fases de doena), sendo maior quanto mais grave
for o estgio clnico(1).
Os principais tipos de dores apresentadas pelos pacientes com HIV/AIDS
(1,29)
so :
cefaleia (por neurocriptococose, neurotoxoplasmose, neurotuberculose, linfoma cerebral);
neuropatias (por HIV, citomegalovrus, terapia antirretroviral, entre outras)
ulceraes genitais, orais e esofgicas (por cndida, citomegalovirus, herpes
vrus, HIV);
454
dor abdominal (por infeces intestinais, pancreticas, hepticas, linfadenopatias, acidose ltica, neoplasias);
Dores osteomusculares (mialgia, artralgia, etc. pelo prprio HIV, medicaes, infeces).
O manejo da dor tem sido bastante negligenciado nesses doentes quando em
comparao com portadores de cncer, com subtratamento mdio de 83%(1,5,12).
A abordagem da dor e outros sintomas na AIDS segue tradicionalmente os
mesmos preceitos de outros doentes em Cuidados Paliativos, ou seja, avaliao
rigorosa, medida com escalas, abordagem multiprofissional (farmacolgica e no
farmacolgica) com reavaliaes rigorosas. Algumas particularidades devem ser
consideradas: maior ateno funo heptica e renal (em grande parte comprometidas em fase final de vida), ateno s interaes medicamentosas, principalmente com inibidores de protease, alergias (bastante frequentes nesta populao),
alto ndice de uso de drogas ilcitas (maior ateno dependncia psquica com
opioides), alto ndice de ulceraes gastrintestinais, entre outras.
Os principais problemas psiquitricos apresentados por pacientes HIV-positivos so distrbios de humor (depresso e doena bipolar)(22,23). A depresso
bastante frequente em pacientes com HIV em estgio avanado de doena (2
vezes mais frequente que em pessoas HIV-negativas); necessrio estar atento ao
risco de suicdio. Outros problemas tambm frequentes so distrbios de ansiedade e de comportamento.
O problema do uso de drogas ilcitas muito frequente em pacientes com
HIV e, muitas vezes, responsvel pela no adeso ao tratamento e maior frequncia de doena terminal.
Alguns aspectos importantes e peculiares no manejo psiquitrico so: frequentes interaes medicamentosas entre TARV e drogas psiquitricas, sendo necessrio consulta a manuais e tabelas especficas; dependncia de drogas ilcitas;
alto ndice de doenas hepticas.
H tambm alto ndice de sofrimentos espirituais, algumas vezes decorrentes
de culpas por comportamentos sociais pouco convencionais, falta de religiosidade
e sentido de vida, entre outros.
456
O luto na AIDS
Os familiares ou cuidadores de pacientes com AIDS tm vrios fatores de
risco para luto complicado que devem ser abordados profilaticamente durante
o curso da doena. Os principais so(8): mltiplas mortes na famlia, alto ndice
de desagregao familiar, cuidadores idosos (principalmente avs cuidando de
crianas com AIDS), doentes ou cuidadores contaminados, preconceito e falta
de apoio da sociedade com relao aos sobreviventes, alto ndice de enlutados
tambm usurios de drogas ilcitas e com comorbidades psiquitricas e falta de
recursos financeiros. Isso pode gerar sintomas depressivos, ansiedade e estresse
pos-traumtico(27). Estudo verificou, em mulheres, um maior ndice de ansiedade,
pensamentos e atos suicidas(32).
Crianas e AIDS
As crianas com AIDS em geral tm sobrevivido cada vez mais, graas aos
progressos teraputicos e conhecimentos mdicos. Com isso, a morte tem ocorrido mais frequentemente na adolescncia ou incio da idade adulta, rodeada de
grande sofrimento.
As principais particularidades dos Cuidados Paliativos em crianas com relao aos adultos so(9): doena de curso imprevisvel, em geral mais lenta que no
adulto, mudanas constantes no desenvolvimento fsico e psquico, aspectos cognitivos muito variveis, de acordo com faixa etria e com o grau de acometimento
do crebro pelo HIV (demncia), grande ndice de orfandade, falta de cuidador e
limitaes quanto sexualidade.
A equipe de Cuidados Paliativos tem enfrentado grande dificuldade na abordagem eficaz dessa populao.
Concluso
Apesar do grande impacto positivo na sobrevida dos pacientes com HIV/
AIDS aps a era da TARV de alta potncia, os Cuidados Paliativos continuam
a ter um papel fundamental para a melhora de qualidade de vida destes doentes.
Quase metade dos doentes no utilizam corretamente a medicao, principalmente pela dificuldade de acesso e adeso (efeitos colaterais, problemas socioeconmicos, psiquitricos, etc.). Estes, mais precocemente, chegam fase terminal
de doena. Os pacientes que aderem medicao tm maior sobrevida, porm,
com grande frequncia, apresentam efeitos colaterais, principalmente: toxicidade
precoce ou efeitos a longo prazo, como lipodistrofias, dislipidemias e diabetes ou
doenas crnicas associadas maior sobrevida, como cnceres e cirrose hepti-
457
ca. Assim sendo a maioria, em algum momento da vida, necessitar de Cuidados Paliativos. Os Cuidados Paliativos seguem os mesmos preceitos dos outros
pacientes, porm com algumas peculiaridades como: idade mais jovem, doena
multissistmica, dificuldade de prognosticar, interaes medicamentosas, problemas psicossociais graves, entre outros. Isso leva necessidade de treinamento
multiprofissional especfico.
Referncias
458
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459
460
462
A definio da Organizao Mundial da Sade enfatiza o conceito do cuidado total ativo dos pacientes e tem como meta a melhor qualidade de vida possvel
para os pacientes e suas famlias, consistente com os seus valores, independentemente da localizao do paciente(6,7). De uma forma ideal, o Cuidado Paliativo
uma interveno precoce que deve ser instituda no tempo do diagnstico atravs
do curso da terapia curativa. Quando o processo de doena no responde mais s
intervenes curativas, o foco do cuidado passa a ser a maximizao da qualidade
de tempo passados juntos pela criana e por seus familiares enquanto se minimizam o sofrimento e a dor. A interveno paliativa precoce deve ser considerada
para todos os pacientes que apresentam condies que colocam a vida em risco.
Deve-se sublinhar que a relao entre os Cuidados Paliativos e os cuidados curativos no so de excluso mtua. Os Cuidados Paliativos no so a filosofia do
cuidado que substitui os esforos curativos ou que estendam o tempo de vida. Ao
contrrio, a terapia curativa e a terapia que maximiza o conforto e a qualidade de
vida devem se sobrepor como componentes do cuidado(8).
Os Cuidados Paliativos peditricos apresentam peculiaridades que o difereniam dos cuidados de pacientes adultos e geritricos. Decorrente das caractersticas do seu desenvolvimento, as crianas so um grupo de pacientes especial que
merecem algumas reflexes no que tange ao seu cuidado(3).
Fato que, afortunadamente, o nmero de casos peditricos com doenas
crnicas e/ou terminal que necessitam de Cuidados Paliativos limitado. As variveis das doenas, sua durao e prognstico merecem ateno dentre as diversas condies que podem necessitar de Cuidados Paliativos peditricos (doenas
neurolgicas, cardiovasculares, oncolgicas, metablicas, cromossmicas, respiratrias, infecciosas, efeitos da prematuridade, traumas, etc). Tais fatos implicam
a complexidade do atendimento e seguimento(3).
Os pacientes peditricos necessitam de uma abordagem teraputica temporalmente longa sendo que na grande maioria dos casos as aes multidisciplinares
necessrias so de natureza altamente complexa. O desenvolvimento da criana
implica uma evoluo fsica, emocional e cognitiva, sendo que este fato pode
afetar todos os aspectos de seu cuidado, incluindo-se a a dosagem dos medicamentos, a escolha dos mtodos de comunicao e rede de apoio.
importante lembrar o papel da famlia. Na prtica peditrica, os pais representam legalmente os seus filhos em todos os aspectos das decises clnicas e
teraputicas, nas decises ticas e sociais. As questes ticas e legais devem ser
respeitadas. Quando o paciente uma criana, nem sempre fcil falar de liberdade de escolha, de respeito aos desejos dos pacientes e de seu direito a uma comunicao honesta e de qualidade. A referncia legal so os pais da criana e/ou seu
463
Plano
Medicao de emergncia em
casa
Identificao da forma de reao
da criana e dos estilos de
comunicao
Ajuste o cuidado s
possibilidades de resposta da
famlia e da criana e aos estilos
de comunicao
Encaminhar, se necessrio, a
criana e seus familiares para
profissionais de sade mental
Preocupa-
es
espirituais
465
Tabela 1: (Continuao)
Cuidado
Identificao dos responsveis
avanado
Discusso da trajetria
da doena
Identificar as metas do cuidado
Estabelecer se as medidas so
curativas, incertas ou de conforto
primrio
Itens dos cuidados e
preocupaes prximas ao
fim da vida
Preocupa-
Estabelecer comunicao e
es prticas coordenao com a equipe
mdica
Identifique o coordenador do
cuidado e mostre que o contato
sempre possvel
Tabela 1: (Continuao)
Preferncias de local de cuidado
para a criana e sua famlia
Avaliao do status corrente
presente e futuro
Dose
Intervalo
Observaes
DOR
Paracetamol - VO 10-15mg/kg
6/6 horas
(Dose mxima:
2,6g)
Necrose heptica
dose dependente
Deficincia de
G6PD
Dipirona
6/6 horas
Agranulocitose
(VO ou EV)
fatal, prpura,
trombocitopenia,
anemia aplsica,
anemia hemoltica,
Lactentes
10mg/kg (1g)
rash, edemas,
tremores, nuseas,
vmitos,
hemorragia
468
25-30mg/kg (3g)
Ibuprofeno
5-10mg/kg
6/6h -8/8h
Irritao gstrica,
( > 6 meses)
(40mg/kg)
alt funo
plaquetria,
nuseas, vmitos,
diarreia, azia,
Adultos
200-600mg
6/6h - 8/8h
constipao
Distese hemor
rgica, ps-ope
ratrio com risco de
sangramento
Naproxeno
5 a 7mg/kg
8/8h a 12/12h
Irritao gas(>2 anos) trointestinal,
plaquetopenia,
cefaleia, tontura,
vertigem, zumbido
Distese hemorr gica, ps-opera
trio com risco de
sangramento
Cetoprofeno
Irritao gastroin(>1 ano)
testinal, broncoesVO pasmo, plaqueto1 a 7 anos
1mg/kg
penia, cefaleia,
7 a 11 anos
25mg
6/6h a 8/8h
tontura
>11 anos 50mg
Distese hemor rgica, ps-ope ratrio com risco
de sangramento,
doentes renais,
lceras de estma go ou duodeno
469
Dose inicial
Codena Oral
0,5 a 1mg/kg
120mg/dose
dose mxima
4/4h a 6/6h
Tramadol Oral/Parenteral
0,7 a 1mg/kg
Dose mxima: 100mg/
dose (400mg/dia)
4/4h a 6/6h
4/4h
Morfina Parenteral
0,1mg/kg
4/4h
Oxicodona
(Oral liberao lenta)
**
12/12h
Metadona Oral
0,1 a 0,2mg/kg
6/6h a 12/12h***
Metadona Parenteral
0,1mg/kg
6/6h a 12/12h***
Fentanil Parenteral
1mcg/kg (1mcg/kg/h)
1/1h ou ev contnuo
Fentanil Transdrmico
48/48h a 72/72h
470
Comentrios
ANTIDEPRESSIVOS
Amitriptilina
Dor neuroptica
contnua, com
insnia
0,2 a 0,5mg/kg
1x/d
Aumentar 0,25mg/kg
a cada 5 a 7 dias se Auxilia na dor associada depresso
necessrio
(utilize nortriptilina se o paciente estiver
sedado)
5mg/kg noite
Dor neuroptica
Mecanismo de ao desconhecido
Dose mx 3.600mg/d
Carbamazepina
Dor neuroptica
lancinante
Neuropatias perifricas
Dor do membro
fantasma
<6anos
2,5 a 5mg/kg 2x/d
Aumentar 20mg/kg/d
divididos 2x/d a cada
semana; mx. 100
mg/d 2x/d
6 a 12 anos
5mg/kg 2x/d
Aumentar 10mg/
kg/d divididos 2x/d
a cada semana; mx.
100mg/dose 2x/d
>12 anos
200mg 2x/d
Aumentar 200mg/d
divididos 2x/d a cada
semana; mx. 1,6 a
2,4 g/d
ANSIOLTICOS
Lorazepam
Espasticidade
0,03 a 0,1mg/kg
4/4h a 6/6h
471
Diazepam
Hidrato de Cloral
Agitao
25 a 100mg/kg
6/6h
Efeitos colaterais: irritao gstrica potencia anticoagulantes. Evitar em neonatos, disfuno renal e heptica e sedao
prolongada
Tcnicas no
farmacolgicas
Constipao
Aumentar ingesta
hdrica
Vmitos
Suco de ameixa,
farelo de trigo,
aveia, vegetais
472
Referncias
473
Conceito
Demncia um prejuzo adquirido e permanente da capacidade intelectual
que afeta pelo menos trs das cinco reas da cognio: memria, linguagem, capacidade visoespacial, emoo e personalidade. As principais causas de demncia so a Doena de Alzheimer (60-70% dos casos) e as demncias vasculares,
por corpos de Lewy e frontotemporal. O risco de uma pessoa ser portadora de
demncia dobra a cada cinco anos a partir dos 60 anos de idade, de modo que se
estima, aproximadamente 50% das pessoas com 85 anos apresentam algum tipo
de demncia. Esse percentual alarmante, aliado ao atual envelhecimento populacional, torna premente a discusso dos Cuidados Paliativos nas demncias, uma
vez que o nmero de pessoas dementadas crescer exponencialmente nas prximas dcadas1. Este captulo toma como base a Doena de Alzheimer para discutir
a abordagem paliativa nas demncias.
Diagnstico
Conforme o texto revisado da quarta edio do Manual Diagnstico e Estatstico de Transtornos Mentais (DSM IV-TR), a Doena de Alzheimer definida por
mltiplos dficits cognitivos. Para o diagnstico da Doena de Alzheimer, alm
da memria, que obrigatoriamente tem que estar comprometida, deve estar presente pelo menos uma das seguintes alteraes: afasia (distrbio da linguagem),
apraxia (distrbio da execuo), agnosia (incapacidade para identificar objetos) e
disfuno executiva (incapacidade de planejamento e pensamento abstrato). As
alteraes so graves e causam prejuzo do funcionamento ocupacional e social
de uma pessoa que antes era capaz de desempenhar adequadamente suas funes.
O diagnstico depende da anamnese e as informaes prestadas por cuidadores
ou familiares do paciente so vitais, uma vez que este costuma j apresentar dificuldade para reconhecer suas prprias limitaes. Aps anamnese, exame fsico
e avaliao cognitiva, exames laboratoriais ajudam a descartar causas potencialmente reversveis de demncia (como hipotireoidismo e hipovitaminose B12) e
mtodos de imagem cerebral contribuem para a excluso de outras causas (como
hematoma subdural, tumor ou hidrocefalia).
474
Em 2011, a Alzheimers Association e o National Institute on Aging publicaram uma atualizao de diretrizes sobre o diagnstico da Doena de Alzheimer(2).
Os novos critrios reconhecem uma fase pr-clnica da doena na qual biomarcadores podem ser detectados mesmo enquanto a pessoa ainda no desenvolveu
qualquer prejuzo cognitivo e uma fase pr-demncia em que existe alterao
cognitiva leve, evidenciada por comprometimento objetivo em uma das reas da
cognio (tipicamente a memria) sem declnio funcional. Acredita-se que, com
a incorporao desses critrios, o nmero de casos diagnosticados de Doena de
Alzheimer seja ainda maior do que o previamente estimado. Dados do World Alzheimer Report 2011 alertam para o fato de que existem atualmente 36 milhes de
pessoas dementadas em todo o planeta, das quais 28 milhes no receberam um
diagnstico e, portanto, no tm acesso a tratamento, cuidado e rede de suporte(3).
Estabelecer um diagnstico formal de demncia fundamental para possibilitar
que isso mude.
A Doena de Alzheimer progressiva e, no momento atual, incurvel desde
o momento do diagnstico. Seu curso previsvel, assim como o de outras doenas
crnicas, faz com que ela seja um modelo ideal para a aplicao de Cuidados
Paliativos. Afinal, ao longo de sua evoluo, o profissional tem a oportunidade
de conhecer bem a pessoa portadora da doena, estreitar os laos com a famlia e
discutir antecipadamente os cuidados que sero adotados.
475
A fase inicial, que dura em mdia dois a quatro anos, caracteriza-se por
dificuldade de adaptao a novas situaes e confuso espacial. Durante a fase
intermediria, que pode durar de dois a dez anos, costumam surgir agitao, insnia, afasia e apraxia, com confuso mental cada vez mais acentuada. Na fase
avanada, de durao imprecisa, ocorrem prejuzos mais graves de linguagem,
incontinncia e dificuldades de alimentao. A capacidade funcional do paciente
encontra-se francamente prejudicada e ele passa a depender cada vez mais do auxlio dos cuidadores para executar at mesmo as tarefas mais simples, como tomar
banho e comer. J a fase final (Quadro 1), que dura de um a trs anos, caracterizase por mutismo, disfagia, desnutrio e imobilidade. Podem surgir ulceraes na
pele em decorrncia da presso prolongada do corpo sobre uma superfcie. comum o paciente aspirar comida ou saliva para as vias respiratrias e desenvolver
pneumonia. O processo de morrer tende a ser lento e a morte acontece, na maioria
dos casos, por infeco respiratria. Nessa fase, a interveno medicamentosa
pouco eficiente e cuidados intensivos e proteo passam a ser mais importantes.
Quadro 1 - Reconhecendo a fase final da demncia
- comunicao verbal precria evoluindo para o mutismo
- mxima dependncia funcional para atividades de vida diria
- alimentao pela via oral comprometida
- perda de peso
- risco de broncoaspirao
- infeces recorrentes
- incontinncia urinria e fecal
Modalidades de Interveno
Uma equipe interdisciplinar essencial nos cuidados a uma pessoa portadora
de Doena de Alzheimer. Mdico, enfermeiro, psiclogo, fisioterapeuta, fonoaudilogo, terapeuta ocupacional, musicoterapeuta, nutricionista, assistente social e
odontlogo precisam trabalhar em conjunto e falar a mesma linguagem para atingir os objetivos do cuidado (Quadro 3). Ao longo da progresso da demncia, as
intervenes so dinmicas, porm o foco reside sempre no conforto do paciente
e de seus familiares, com base no alvio e na preveno das complicaes.
Quadro 3 - Objetivos do cuidado na demncia
Identificar e tratar intercorrncias clnicas
Estimular o uso da via oral para alimentao
Reconhecer a caquexia da demncia avanada
Manter a integridade da pele
Assegurar o funcionamento intestinal adequado
Otimizar a utilizao de frmacos
Trabalhar em equipe multi-interdisciplinar
Reconhecer os distrbios do comportamento
Maximizar e manter a capacidade funcional
Oferecer suporte psicolgico ao paciente e seus familiares
477
478
A morte, na maioria das vezes, acontece em decorrncia de infeces (pneumonia, infeco urinria ou originada em lcera por presso) ou por incapacidade
de manter ingesta hdrica ou calrica compatvel com a vida. Os profissionais
precisam concentrar esforos para tornar o ambiente mais acolhedor, o que pode
ser feito com msica e interveno religiosa, se conveniente.
confeco de gastrostomia por via endoscpica tenha se tornado comum em funo da relativa facilidade tcnica do procedimento, existem evidncias de que a
gastrostomia no aumenta a sobrevida, no melhora as condies de nutrio, no
melhora a imunidade e no previne broncoaspirao de secreo bucal(14). Alm
disso, a gastrostomia pode ser fonte de desconforto e de infeces cutneas. Por
essa razo, razovel respeitar a recusa alimentar da pessoa com demncia avanada, que deve ditar a quantidade e o horrio do alimento que deseja receber. No
existe restrio diettica: permite-se que ela consuma seus alimentos preferidos e
vontade. A mucosa oral tende a se ressecar pela recusa de lquidos ou por efeito
colateral de medicaes, e deve-se atentar para que ela fique constantemente hidratada usando-se gaze embebida em gua ou gelo picado.
Comentrios finais
Todo caso de demncia representa uma histria de perdas, com profundas
repercusses sobre a famlia que acompanha o declnio cognitivo, social e motor
de um ente querido. Na fase final da doena, a famlia lida com uma pessoa emagrecida, restrita ao leito, com imobilismo, incapaz de se comunicar e com mxima
dependncia. A demncia uma doena que submete a famlia ao processo de luto
antecipatrio de uma pessoa que ainda vive.
Sugere-se a introduo, ao longo do cuidado, de suporte psicolgico para
permitir que a famlia trabalhe sua relao emocional e afetiva com o paciente,
que mantm sua identidade at o momento da morte. Grupos de apoio voluntrios
ou vinculados a instituies costumam oferecer uma boa oportunidade para reunir
e instruir familiares e cuidadores.
A fase final da doena caracterizada por fragilidade, declnio funcional e
falncia orgnica. Nessa situao, o paciente encontra-se em situao irreversvel
ante qualquer teraputica aplicada. Diante do comprometimento de sua autonomia, ou seja, sua incapacidade de tomar decises, a famlia e a equipe enfrentam
conflitos ticos e precisam fixar bem o objetivo do tratamento. O foco deve ser o
cuidado da pessoa, e no de um determinado rgo ou sistema que j se encontra
em condio de falncia evidente. Nas palavras de Cicely Saunders, lembre-se
que uma pessoa um ser integral, fsica e espiritualmente, e a atitude para com
essa pessoa deve ser de respeito. Cuidar de quem est morrendo , acima de tudo,
agir com respeito a essa pessoa. Nesse momento, exigem-se do profissional o
mximo de competncia tcnica no controle dos sintomas e a sensibilidade para
uma comunicao efetiva com os familiares, acolhendo suas dvidas e os tranquilizando. Acima de tudo, diante da fragilidade em que os pacientes se encontram,
o profissional tem o dever de proteg-los de iatrogenias.
481
Bons Cuidados Paliativos representam uma questo de sade pblica. A demncia pode ser uma doena previsvel, mas seu ritmo evolutivo, no. Com a expectativa de aumento da prevalncia das demncias ao longo das prximas dcadas, os profissionais de sade devem estar preparados para lidar com os aspectos
particulares da evoluo dessas doenas, reconhecendo a finitude e proporcionando aos pacientes um fechamento digno para suas histrias de vida.
Referncias
Introduo
O consumo de alimentos e bebidas parte fundamental da cultura de todos os
povos. considerado, alm de um meio de subsistncia, uma experincia prazerosa que ajuda a promover conforto, comunicao e interao social. Alimentar-se,
pode tambm ajudar o indivduo a manter seu senso de autonomia e esse pode ser
o fato que d sentido a uma vida.
Alm de o alimento ser fonte de energia e fora, para muitos, comida
amor. Por essa razo, o alimento parte integrante de eventos e comemoraes
nas diferentes culturas.
O alimento desempenha um papel central na vida de todos ns. Este fato
no alterado com o passar do tempo ou com a instalao de uma doena grave.
Entretanto, numa condio de doena grave, o alimento acaba sendo mais notado
pela sua ausncia ou pelas dificuldades na sua ingesto do que pela sua presena
e prazer proporcionados.
Anorexia e perda de peso so achados frequentes em diversas doenas em
evoluo final e podem ocorrer por uma srie de razes. Podem estar relacionadas
ao processo da doena em si, devido ao tratamento, como resultado de distrbios
metablicos ou at de um quadro depressivo secundrio. Nestes casos, o diagnstico muitas vezes no realizado.
Entretanto, para o adequado manuseio das questes referentes nutrio e
hidratao no fim da vida, crucial que seja entendido o contexto do surgimento
desses sintomas e o seu significado para os pacientes e seus familiares. Como
resultado disso, comum considerar-se a nutrio artificial como um cuidado
bsico e no um tratamento mdico.
Cabe equipe de sade compreender essas questes e informar, orientar pacientes, familiares e cuidadores da distino que existe entre o alimento que consumimos e compartilhamos e a nutrio artificial.
Os objetivos do suporte nutricional em Cuidados Paliativos vo variar medida que a doena evolua. Nos estgios iniciais, quando o paciente encontra-se
em tratamento, o objetivo garantir que ele receba nutrientes em quantidades
suficientes para restaurar ou manter seu estado nutricional, visando:
483
-
-
-
Aspectos ticos
O progressivo aumento no uso de recursos tecnolgicos contribui para o envelhecimento da populao e aumento do nmero de pacientes com doenas crnicas, demenciados e com sequelas que no teriam condio de sobrevida sem esses recursos. Isso acaba por aumentar o nmero de pacientes assistidos sob regime
domiciliar e com isso a demanda por mtodos para aliment-los com o mximo de
segurana e comodidade, principalmente aqueles incapazes de deglutir de forma
adequada para evitar complicaes como a broncoaspirao.
485
486
Finalmente, informados e adequadamente esclarecidos dos benefcios e riscos do ponto de vista mdico, o paciente dever esclarecer suas dvidas e dar sua
opinio exercendo seu direito autonomia.
sabido que os mdicos muitas vezes so mais rigorosos no julgamento da
capacidade de escolha quando o paciente no concorda com a sua opinio. Apesar
de eticamente inadequado, este aspecto abre a perspectiva de se considerar, uma
opinio adicional, por exemplo, de outros clnicos, ou at mesmo de uma comisso de tica.
De uma forma geral, se o paciente nunca expressou seus desejos e impresses relativos ao final de sua vida, a(s) pessoa(s) responsvel (eis) pela deciso
deve(m) base-los no que seria supostamente a vontade do paciente ou ento naquilo que seria de seu melhor interesse. Nesse ltimo caso existe ainda a difcil
deciso sobre a possibilidade de considerar que a morte possa eventualmente ser
o melhor interesse do paciente.
Estima-se que somente 10% dos indivduos nos EUA tenham feito uma opo documentada antes de perder a capacidade decisria(11). No caso de no haver um substituto nomeado pelo paciente, a equipe deve tentar identificar quem
melhor se adqua a essa necessidade. Idealmente, esse indivduo deve conhecer
quais so os valores e objetivos daquele paciente com relao a sua vida e cuidado
com sua sade. Nos Estados Unidos, alguns estados estabelecem uma hierarquia
para escolha do substituto. No Brasil, isso tambm ocorre sendo a sequncia por
ordem de importncia ou prioridade na deciso: cnjuge, pai e me e depois os
filhos.
McMahon e cols.(10) propem dois fluxogramas a serem adotados no processo
de tomada de deciso com pacientes e/ou familiares.
Indicao da dieta enteral
O paciente tem capacidade de tomar decises?
Sim
No
No
Identificar um representante
Revisar com o paciente e/ou representante se os objetivos do tratamento mdico so curativo, de reabilitao
ou paliativos e, antecipar consequncias da introduo ou retirada da alimentao enteral
Paciente e/ou representante fazem uma declarao formal quanto alimentao enteral
487
Incerto
Avaliao da deglutio
No
Normal
Dieta oral
Alterada (risco de
aspirao)
Baixa
Sim
Alto
Respeite os desejos do
paciente e as orientaes do
fonoaudilogo relativas
oferta de dieta oral
Sim
Considere o uso de
Gastro ou Jejunostomia No
No
O paciente/responsvel
concorda com a SNE?
Sim
Aspectos Clnicos
Disfagia
A incidncia da disfagia varia de acordo com a causa e o estgio da doena. Em um estudo amplo realizado no St. Christophers Hospice em Londres, de
7.000 pacientes avaliados, 23% apresentavam disfagia(19) .
Eventos agudos como AVC, traumatismo craniano, leses da medula cervical e procedimentos cirrgicos que afetam o encfalo ou os nervos cranianos, polimielite, Sndrome de Guillain-Barr e doenas neurolgicas congnitas podem
levar a desordens de deglutio, para as quais uma certa recuperao esperada(20).
Por outro lado, muitas doenas neurolgicas degenerativas so caracterizadas por problemas de deglutio que podem surgir no incio ou final da doena e
que vo se agravar conforme a evoluo do quadro21.
A demncia uma doena progressiva que leva a uma srie de dificuldades
na alimentao e na deglutio. Tais dificuldades podem variar quanto ao grau,
tendendo a uma piora conforme a evoluo do quadro, culminando, muitas vezes,
com alto risco de broncoaspirao.
Pelo fato desses pacientes apresentarem alterao de linguagem e das habilidades comunicativas, torna-se difcil identificar seus desejos.
O tratamento da disfagia nos pacientes que apresentam doenas degenerativas envolve mudanas progressivas das estratgias, modificaes ou restries de
determinados alimentos (geralmente devido consistncia) e, em alguns casos, a
recomendao de uma dieta mista (via oral e enteral). Geralmente uma pequena
oferta via oral mantida para satisfazer o desejo do paciente. Para que isso seja
possvel, importante que a capacidade de deglutio do paciente seja avaliada
com regularidade para que as pioras funcionais sejam compensadas o mximo
possvel, evitando riscos como broncoaspirao.
Indicaes gerais e vias de administrao
O suporte nutricional e hidratao artificiais podem ser oferecidos de vrias
formas.
As indicaes de suporte nutricional e hidratao artificiais so relacionadas
a vrios problemas clnicos especficos e tm impactos diferentes em cada um
deles: o procedimento aumenta o tempo de sobrevida de pacientes com estado vegetativo persistente(22). Pode haver melhora de sobrevida e qualidade de vida em
pacientes com esclerose lateral amiotrfica(23, 24). Alm disso, o suporte nutricional
e hidratao artificiais podem melhorar a sobrevida em pacientes na fase aguda
de um acidente vascular cerebral, traumatismo craniano(26, 26) e em pacientes inter489
490
Indique gastrostomia se o
tratamento for durar mais de 4
sem e o TGI estiver intacto
No indicar gastrostomia
No oferea gastrostomia
No indicar gastrostomia
Disfagia com
rebaixamento de
sensrio ou aspirao
documentada
Sugira e recomende
gastrostomia
Benefcios para o
paciente
Disfagia sem
evidncia de
aspirao/e
desnutrido
Discutir alternativas
gastrostomia (SNE) exceto se recomendado em
contrrio pelo neuro
Discutir a colocao
de gastrostomia com
os familiares
Estado Vegetativo
Persistente
Gastrostomia no
recomendada
Populao geritrica
Demncia em estgio avanado
(sem dficit neurolgico agudo)
Existem algumas justificativas clnicas para o uso de nutrio enteral prolongada por meio de gastrostomia. Entretanto, a literatura mdica no mnimo
controversa quanto ao real benefcio desse procedimento em pacientes no final de
vida. Na maioria dos casos, em se tratando de pacientes demenciados ou terminais, no existiria um real benefcio clnico no emprego desse tipo de teraputica,
de tal forma que, nesses casos, ela poderia ser considerada ftil.
Alm disso, Sanders et al. (2004)(29) identificaram que pacientes com demncia e incapazes de se alimentar sozinhos no teriam indicao para a nutrio e
hidratao artificial uma vez que tal fato seria um marco do estgio pr-terminal.
491
492
essa clareza sempre que se atua em Cuidados Paliativos. O objetivo final o paciente, ou a unidade paciente/famlia. Desse modo, as condutas e o planejamento
dos cuidados devem ser focados neles e pode mudar com o passar do tempo. Cabe
equipe mostrar de forma clara e emptica qual a viso tcnica do problema e
permitir que a famlia participe da deciso. No adequado, por exemplo, deixar
de indicar nutrio enteral para um paciente demenciado s porque tecnicamente
os benefcios so incertos. H que se considerar toda uma constelao de circunstncias em cada momento da evoluo sem se esquecer que diferentes patologias
tm uma forma prpria de evoluo esperada.
Frequentemente, a m informao mdica um obstculo clara comunicao e tomada de deciso. Criam-se falsas expectativas e objetivos que podem ser
irreais. Shega et al. (2003)(34) avaliaram 195 mdicos do American Medical Association Masterfile e identificaram que 75% haviam discutido sobre a colocao da
gastrostomia em pacientes com demncia nos ltimos dois anos, subestimando o
ndice de mortalidade em 30 dias nesta populao. Setenta e cinco por cento acreditavam que a gastrostomia reduzia a aspirao e melhorava as lceras de presso,
aproximadamente 25% referiram que tal interveno melhorava a qualidade de
vida e o status funcional e 60% defendiam que a gastrostomia aumentava a sobrevida. Esses dados demonstram que tais profissionais superestimam os benefcios
e subestimam os riscos da colocao da PEG.
Existe uma boa alternativa colocao de gastrostomia endoscpica em pacientes demenciados graves?
Algumas alternativas possveis nessa populao so:
evitar distraes na hora da refeio, manter contato verbal e visual com o
paciente.
dar o tempo adequado para que o paciente se alimente, respeitando seu ritmo
de ingesto.
seleo adequada de alimentos.
atentar para temperatura, consistncia e paladar do alimento.
ofertar alimentos que sejam preferidos e com sabor marcante.
seguimento com o fonoaudilogo para melhoria do padro de deglutio e introduo de manobras compensatrias conforme evoluo do quadro de disfagia.
Essa medidas apesar de simples podem ser de difcil aplicao na prtica.
Nenhum estudo randomizado confirmou que essas tcnicas sejam plausveis, custo efetivas ou capazes de mudar o prognstico.
Controle de sintomas
Pacientes que no se alimentam e tambm no recebem suporte nutricional
e hidratao artificiais podem apresentar fome e sede. Entretanto, em pacientes
493
portadores de cncer avanado, 63% dos pacientes nunca chegam a ter sensao de fome. Desses pacientes, aqueles que tiveram algum sintoma o relataram
como transitrio, ocorrendo apenas na fase inicial e satisfatoriamente aliviados
com medidas como colocar algum alimento preferido na boca para sensao oral
do paladar e limpeza e umidificao da cavidade oral(4). Embora a fome se resolva
em alguns dias, a sensao de sede pode persistir principalmente pela presena de
boca seca. Outros sintomas que podem surgir nesse contexto so confuso, delirium e rebaixamento do nvel de conscincia. Alguns desses sintomas so parte do
processo de morte e podem ocorrer na evoluo de qualquer processo de doena.
Quando se decide por suspenso ou no introduo de suporte nutricional
e hidratao artificiais, a equipe de Cuidados Paliativos deve atuar junto aos pacientes e familiares esclarecendo que a maior parte dos sintomas desconfortveis
pode ser manejada de forma satisfatria e que essas intervenes esto associadas
a uma morte confortvel(9). Alm disso, conhecido o fato de que a insistncia
em alimentar um paciente inapetente pode causar outros sintomas desagradveis
como nuseas e dor abdominal.
De qualquer maneira, os sintomas devem ser avaliados regularmente. Isso
inclui no apenas a avaliao tcnica do profissional, mas tambm a possibilidade
de ouvir o que o paciente tem a dizer sobre suas percepes sobre a gravidade do
sintoma, do tratamento e participar dessas decises.
Dicas prticas
Existem algumas medidas simples e de cunho prtico que podem ser utilizadas no sentido de promover maior conforto ao paciente quando ele se alimenta
por via oral.
comum achar que o conceito de suporte nutricional se limite definio de
mtodos de nutrio artificial e clculo de calorias e nutrientes. Isso no leva em
conta outras habilidades e intervenes possveis da equipe multiprofissional no
cuidado individualizado do paciente.
necessrio que haja um planejamento do cuidado nutricional para suas necessidades imediatas e de longo prazo e um preparo antecipado para as diferentes
fases da doena.
Por exemplo, neste momento o paciente pode ser capaz de deglutir e de falar,
mas essa pode no ser a realidade no futuro.
So opes prticas interessantes:
Avaliar a possibilidade de mudanas na dieta ou do esquema medicamentoso
para minimizar sintomas.
Mudar a rotina alimentar de forma a oferecer refeies no horrio em que o
paciente esteja menos fatigado, nauseado ou com menos dor.
494
Usar uma combinao de diferentes mtodos: dieta oral, enteral e tentar, com
o tempo, criar condies para que seja priorizada a via oral.
Utilizar equipamento ou dispositivos simples para propiciar condies para
que o paciente se alimente de forma independente. Ex.: adaptar colheres com
angulao adequada a eventuais limitaes de movimentos, utilizar canudos
com vlvula unidirecional para evitar que uma debilidade de suco possa
impossibilitar a ingesto (com esse dispositivo, o lquido fica retido no ltimo
nvel aspirado).
Oferecer alimento com consistncia adequada a cada situao e se possvel
enriquecido, permitindo ingesto de quantidades menores.
Evitar oferecer os pratos preferidos durante o perodo de quimio ou radioterapia
para que, se houver desenvolvimento de averso alimentar, esta no ocorra
justamente com um alimento do qual o paciente possa sentir falta futuramente.
Promover um ambiente claro, arejado e um prato com cores variadas. O processo alimentar comea na visualizao do prato e do ambiente.
Mudar o processo de preparao. Usar cozimento e forno de micro-ondas pode
minimizar a eliminao de odores que possam ser aversivos.
Oferecer, quando apropriado, suplementos nutricionais sob diferentes formas:
pirulitos, mousses, sopas, cremes.
Atentar para o fato de que a depresso, sensao de isolamento, medo e ansiedade podem contribuir para uma ingesto alimentar diminuda. Assegurar que o
paciente receba sua alimentao em um contexto agradvel e psicologicamente
confortvel um dos maiores desafios para a equipe.
O paciente nas fases finais no deve ficar com um sentimento de culpa por
no comer se ele se recusar a isso. Oferecer pequenas quantidades de forma
regular e dentro do que ele expresse como vontade em geral mais apropriado
do que iniciar uma terapia nutricional de forma invasiva e agressiva.
495
Consideraes finais
importante que haja uma correta explanao sobre as reais consequncias,
riscos e benefcios de promover suporte nutricional e hidratao artificiais.
Existe muita dificuldade em se fazer esse juzo de forma apropriada, pois em
geral no se foca especificamente o determinado procedimento e o que especificamente se espera dele. Costuma-se contaminar a anlise com outros parmetros,
em geral secundrios e subjetivos. Alm disso, o critrio mdico para se considerar futilidade pode no ser o mesmo do paciente e da famlia. Dessa forma, o
que ftil para a equipe mdica pode no ser para o paciente. E isso precisa estar
muito claro entre as partes.
496
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499
Introduo
Tradicionalmente, a reabilitao est associada a doenas estveis, com pacientes que possam participar ativamente do processo de reabilitao, aplicando
na vida prtica o contedo aprendido durante as terapias. So pacientes com bom
prognstico funcional, que tm o potencial de atingir os objetivos de ganho funcional significativo em curto e mdio prazo: tal populao facilmente encontrada em centros de reabilitao.
No entanto, uma nova populao vem sendo incorporada neste mbito de
tratamento: os pacientes com incapacidades graves crnicas e estveis de mau
prognstico funcional e aqueles com doenas graves e progressivas. Pertencem
a este grupo os pacientes com dupla hemiplegia com dependncia total, Paralisia
Supranuclear Progressiva e outros parkinsonismos, insuficincia cardaca/renal
avanadas e neoplasias incurveis. Tais pacientes no possuem expectativa de ganho de funo, e sim de declnio generalizado lento (como num acidente vascular
cerebral) ou rpido (como numa neoplasia). Para estes pacientes, os objetivos de
curto ou longo prazo e as estratgias da reabilitao se imbricam com os conceitos de Cuidados Paliativos e focam nos ganhos na qualidade de vida, controle de
sintomas, alvio do sofrimento e melhor aproveitamento do tempo remanescente
que estes pacientes possuem para sua vida.
importante ressaltar ainda que muitos pacientes com doena avanada so
restringidos em suas atividades cotidianas desnecessariamente, quando so capazes de realizar atividades e ter independncia(1).
A busca pela independncia funcional e pela autonomia ocorre respeitandose o declnio fsico/cognitivo do paciente, que ocorre em funo de uma doena
em evoluo; deve-se encorajar a resoluo criativa de problemas de forma interdisciplinar, criando parceria com a famlia e o paciente. A reabilitao em Cuidados Paliativos deve ser definida como: transformar o paciente em uma pessoa de
novo(2). Complementa-se sobre o papel da reabilitao em Cuidados Paliativos,
enfatizando a restaurao da dignidade e da autoestima ao reinseri-los em suas
atividades de vida diria de maneira ativa e independente(2,3).
500
Intervenes paliativas propriamente ditas: quando a incapacidade aumenta e a doena est avanada, as aes e objetivos focam na minimizao
ou eliminao de complicaes e proviso de suporte e conforto. Objetivos
paliativos incluem controle de dor, prevenes de contraturas e lceras de
presso, preveno de imobilismo, adaptaes estruturais no leito e apoio
psicolgico para os membros da famlia.
Para um adequado programa de reabilitao, tambm necessria uma abordagem integral, considerando-se os aspectos fsicos, mas tambm psicossociais e
espirituais.
O paciente avaliado do ponto de vista funcional e clnico no incio da reabilitao, para a definio das demandas, etapas do programa e plano teraputico.
A avaliao do paciente deve ser sistemtica e rigorosa, incluindo(2):
- Histria da doena e seu tratamento (item que pode ser obtido atravs de registros prvios em pronturio, evitando-se repetir sempre as mesmas questes
ao paciente e famlia);
- Sintomas atuais;
- Percepo do paciente sobre seus problemas;
- Avaliao fsica, emocional e cognitiva.
Uma avaliao integral compreende ainda: escuta, observao, testes apropriados para cada sintoma/problema apresentado. importante ressaltar que esta
avaliao pode ser dividida em mais de uma sesso, de acordo com a tolerncia
do paciente.
Para o plano de tratamento, fundamental instituir metas realsticas, discutidas com o paciente e/ou com a famlia. Frequentemente, os pacientes vivenciaram muitas perdas, sobre as quais tiveram pouco ou nenhum controle; o foco
da reabilitao oferecer uma oportunidade de readquirir controle sobre alguns
aspectos de sua prpria vida, de maneira ativa, participativa e com mais esperana
inclusive.
Um programa deve buscar intervenes focando os elementos que compem
a qualidade de vida, que incluem: preocupaes fsicas, habilidades funcionais,
bem-estar familiar/espiritual/individual, sexualidade, habilidade social e ocupacional.
Os componentes bsicos de um programa genrico de reabilitao em Cuidados Paliativos so:
Atividades fsicas/ocupacionais/esportivas, exerccios de relaxamento;
Prescrio de equipamentos e adaptaes para autocuidado e mobilidade;
Terapias manuais, uso de meios fsicos, medicamentos e procedimentos mdicos especficos;
Instruo e aconselhamento do paciente e familiares sobre estratgias de
503
Dor. A dor altamente prevalente entre pacientes recebendo Cuidados Paliativos, perfazendo uma taxa de 40 a 90%. O conhecimento da histria natural do
tipo neoplsico e manejo teraputico auxiliam no controle sintomtico nos casos
oncolgicos. Nos casos de Esclerose Mltipla, por exemplo, dor aguda ou crnica
ocorre em 30% a 80% dos pacientes, e a dor tem sido relatada em 73% dos pacientes com doena do neurnio motor(10).
Este sintoma, em conjunto com o descondicionamento e a sndrome do imobilismo, cria-se um ciclo vicioso, conforme explicitado no quadro abaixo2:
Dor
Rigidez articular
Fraqueza muscular
Encurtamento miotendneo
Medo de se movimentar
Fraturas patolgicas. As metstases sseas acometem 70 a 85% dos pacientes com tumores avanados, principalmente de mama, prstata, pulmo, rins
e tireoide. Em 9,5% dos casos, as metstases levam a fraturas patolgicas, complicaes graves que levam a hospitalizaes, necessidade eventual de tratamento
cirrgico e controle agressivo da dor.
Em decorrncia de leses enceflicas adquiridas, tem-se observado osteoporose neurognica, exigindo os mesmos cuidados teraputicos e reabilitacionais de
um quadro de osteoporose ps-menopausa. O risco aumentado de fraturas patolgicas observado incrementado com a presena de sndrome do imobilismo (vide
acima), que promove piora da arquitetura e massa sseas(11).
Xerostomia. A xerostomia uma queixa comum e compromete deglutio
e comunicao, causa halitose, cries e infeces, e reduz gustao. muito frequente aps radioterapia de cabea e pescoo, em que ocorre agresso em glndulas salivares. Medicamentos com efeito colinrgico como tricclicos e opioides
tambm so causas comuns. Os pacientes devem ser avaliados na busca de candidase oral, mucosites e fissuras(11).
506
Fadiga. A fadiga um dos sintomas mais comuns e incmodos experimentados entre os pacientes com cncer, sendo incapacitante em 17 a 40%. Afeta de 70
a 100% dos pacientes sob quimioterapia, radioterapia e TMO e com metstases.
Na maioria dos casos, a fadiga tem origem multifatorial e pode ser conceituada como uma sndrome. Pode ser causada pelo tumor em si, pelo tratamento,
ou pela anemia relacionada anemia. Fatores sabidamente associados fadiga
so: caquexia, descondicionamento, altos nveis de citocinas, alm de ansiedade,
depresso, m qualidade de sono e dor. Alguns tipos especficos de cncer, como
de pulmo, de testculo, de clon e hematolgicos esto mais relacionados com
a fadiga, em relao a tumor de mama e de prstata, por exemplo. Entre os pacientes sob quimioterapia, a fadiga tipicamente tem um pico em 48-72 horas e cai
aps 3 semanas. Na radioterapia, a fadiga se agrava linearmente at um pico de 4
semanas de tratamento, com queda ao longo de 3 meses(11).
A fadiga influencia todos os aspectos da qualidade de vida e agrava a experincia frente a outros sintomas, como nusea, dispneia ou dor. Sendo assim,
diretrizes vm sendo desenvolvidas com o objetivo de se detectar e acompanhar
a presena de fadiga, gradu-la e tratar as condies clnicas subjacentes (como
anemia, distrbio de sono, comorbidades, imobilismo, desnutrio)(11).
Linfedema. O linfedema do brao, levando a aumento da circunferncia
em mais de 2 cm, uma condio incapacitante e crnica que afeta um nmero
significante de mulheres que so submetidas ao tratamento de cncer de mama.
Qualquer disseco dos vasos linfticos axilares e linfonodos, cirurgia axilar e
radioterapia levam ao risco de linfedema do brao. Fibrose da axila secundria
cirurgia e radioterapia causa obstruo venosa/linftica ao comprimir troncos
vasculares e bloquear a regenerao de colaterais venosos e linfticos. Trauma e
infeco so outros fatores causais, que tambm predispem a reduo da amplitude articular no ombro. O aumento da circunferncia do brao no ps-operatrio
comum e resolve-se em semanas. A gravidade se relaciona idade avanada da
paciente, extenso da disseco axilar. O linfedema fator predisponente para
celulites, tromboflebites e linfangites; pode ser agravado por comorbidades como
hipertenso arterial, nefropatias e diabetes(11).
O linfedema traz incmodos fsicos, como diminuio da amplitude de movimento, sobrepeso do membro acometido, assimetria na composio, corporal e
incmodos psicossociais, tais como perda da autoestima, prejuzo esttico, dificuldades para o relacionamento interpessoal e sexual(1).
Alteraes psquicas. Em 50% dos pacientes portadores de cncer com dficits fsicos, h demandas psicolgicas associadas e em 29% dos que no possuem
507
Estratgias de interveno
Como objetivos especficos da interveno da equipe de reabilitao em Cuidados Paliativos, possvel elencar:
- Prevenir dor ou outros sintomas;
- Maximizar a independncia e/ou a autonomia;
- Manter a capacidade funcional;
- Minimizar esforos para realizao das atividades cotidianas;
- Aumentar a segurana na realizao das atividades;
- Enriquecer o cotidiano;
- Resgatar a vida ocupacional, familiar e social.
Para que tais objetivos possam ser alcanados, toda a equipe multiprofissional dever estar envolvida na assistncia ao paciente, atravs de atendimentos
individuais, grupais e orientaes aos familiares e cuidadores.
508
510
Consideraes finais
Os pacientes em Cuidados Paliativos necessitam de cuidado amplo para o
alvio de sintomas de dor, fadiga, fraqueza, alm de educao para auxili-los na
habilidade de ganho de independncia funcional e qualidade de vida. Tais demandas so mais bem supridas por meio da atuao dos profissionais de reabilitao,
513
Passividade
Bem estar
514
Referncias
19. NIELAND, P.; KLASCHIK, E.; CLEMENS, K. E. Evaluation of the clinical effectiveness of physiotherapeutic management of lymphatic oedema in palliative care patients. European
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516
Sedao paliativa
Clia Maria Kira
Introduo
bem documentado pela literatura que, pacientes numa fase avanada de
doena (oncolgica ou no) apresentam vrios sintomas causadores de sofrimento intenso. Esses sintomas podem ser fsicos (como dor, dispneia, constipao),
psicoemocionais (como agonia, delirium) ou espiritual (desesperana). Tais sintomas se no tratados adequadamente geram angstia e mais sofrimento ao paciente
e aos seus familiares. E quando existe refratariedade no controle desses sintomas,
a sedao paliativa uma opo de tratamento.
A prevalncia de sedao paliativa varia, na literatura mundial, entre 16 a
52%. Em pacientes domiciliares, no estudo de Ventafridda et al.(1), a sedao para
controle de sintomas ocorreu em 52%, e Fainsinger et al.(2) no Canad, em uma
unidade de Cuidados Paliativos, encontraram uma prevalncia de 16% de sedao.
Em hospices, Morita et al.(3), no Japo, descreveram 48% de sedao, enquanto
que Fainsinger(4), na frica do Sul, encontrou uma taxa de 30% e Chiu et al.(5) em
Taiwan, relataram 20% de pacientes sedados. No Brasil, em So Paulo, Ferreira(6),
na enfermaria de Cuidados Paliativos do Hospital do Servidor Pblico do Estado
de So Paulo, encontrou uma prevalncia de sedao paliativa de 36,7%. A variao entre os percentuais de prevalncia de sedao paliativa nos diversos estudos
deve-se diferena entre as populaes estudadas, sintomas refratrios, tipo de
doena, aspectos socioculturais e religiosos, treinamento da equipe de sade e
tipo de ambiente (hospitalar ou no).
A sedao paliativa ainda hoje confundida com eutansia mascarada e com
suicdio assistido por alguns profissionais da rea da sade, bem como por pacientes e familiares, por acreditarem que tal procedimento apresse a morte do
paciente. As diferenas entre Sedao Paliativa, Eutansia e Suicdio Assistido
sero apresentadas e discutidas no item Consideraes ticas.
Muitos estudos no incio dos anos 2000 mostraram que a sobrevida aps
o incio da sedao paliativa era muito pequena, variando de horas a poucos
dias(7,8,9,10,11). Contudo Stone(12) j questionava que a necessidade de sedao paliativa sugeria mais um indicador de uma morte iminente que a causa de uma morte
prematura.
517
Conceitos
Sedao Paliativa a administrao deliberada de frmacos em doses e
combinaes necessrias para reduzir o nvel de conscincia, com o consentimento do paciente ou de seu responsvel, e que tem como objetivo o alvio de um ou
mais sintomas refratrios em pacientes com doena avanada terminal(15,16,17).
Sedao paliativa se faz com drogas sedativas e no com drogas analgsicas ou coquetel de drogas aleatrias. No se deve usar meperidina (Dolantina), pelo seus vrios efeitos colaterais e poder analgsico baixo; no se usa soro
M1, M2, etc.
Sedao Terminal foi o primeiro termo utilizado para nomear a sedao paliativa, porm tem sido abandonado nos ltimos anos devido falta de clareza da
palavra terminal15).
Considera-se Sintoma Refratrio todo sintoma que no pode ser controlado
adequadamente, apesar de repetidas e intensas tentativas de tratamento tolervel,
sem que se comprometa o nvel de conscincia. Os critrios para designar sintoma
refratrio incluem que, a despeito de outras possveis intervenes (invasivas e
no invasivas) no controle desse sintoma, existam: (i) incapacidade de promover
um alvio adequado, (ii) associao com excessiva e intolervel morbidade aguda e crnica e (iii) improvvel obteno de alvio dentro de um prazo curto(16,17).
Sugere-se que a determinao da refratariedade do sintoma deva ser, sempre que
518
519
Sedao paliativa
Eutansia
Inteno
Meios
diminuio do nvel
de conscincia
Objetivo final
alvio do sofrimento
morte rpida
Reversibilidade
sim, a princpio
NO
sim
NO
sim
NO
Classificao
Porta Sales(20) sugere uma classificao didtica quanto sedao paliativa,
baseada em objetivo, temporalidade e intensidade, como pode ser visto na Tabela
2:
520
Tempo-
Sedao Intermitente: aquela que permite perodos de alerta
ralidade do paciente;
521
sintomas refratrios
delrio agitado, agitao terminal ou inquietude refratria a neurolpticos
dor refratria a opioides e analgsicos adjuvantes
vmitos refratrios agressiva teraputica antiemtica
dispneia refratria a oxignio, broncodilatadores e opioides
sofrimento psicolgico ou existencial refratrio interveno apropriada
(antidepressivos, suporte religioso e espiritual)
quadro agudo ameaador da vida em tempo curto
morte iminente (horas a dias) com sofrimento intenso leia o texto com cuidado
522
Antes de iniciar uma sedao paliativa, vrias questes devem ser respondidas para garantir que ela seja a opo mais adequada(27). No Quadro 2 so listadas
essas questes.
Quadro 2 - Questes para ser respondidas antes da indicao da sedao paliativa. Traduzido de Capital Health/Caritas Health Group Regional Palliative Care Program 2005; Palliative Sedation Guideline(27)
Todos os esforos foram feitos para identificar e tratar as causas reversveis geradoras do
sofrimento?
Interconsultas foram feitas com equipe em Cuidados Paliativos e/ou com outros especialistas?
Todas as abordagens no farmacolgicas j foram aplicadas? Por exemplo: tcnicas de
relaxamento e distrao para ansiedade e dispneia.
Todos os outros tratamentos farmacolgicos foram aplicados? Por exemplo: titulao
adequada de opioides no caso de dispneia ou dosagem adequada de neurolpticos para o
delrio agitado, rodzio de opioides.
Sedao intermitente foi considerada nos casos de delirium potencialmente reversvel ou
nos casos de sofrimento psicoexistencial extremo?
Os objetivos da sedao foram explicados e discutidos com o paciente e seus familiares?
A sedao foi consensual (paciente, famlia e equipe)?
Dvidas?
Consulta com especialista
SIM
Dvidas?
Competncia do paciente
NO
1 vontades antecipadas,
diretrizes prvias
2 valores e desejos
prvios (histria
clnica)
3 famlia, agregados
SIM
SIM
Valorizar o
desejo da famlia
SIM
Consentimento informado
(verbal ou escrito)
- compartilhar deciso
com a equipe
- registrar no pronturio
INDICAR SEDAO
PALIATIVA
523
524
SINTOMAS
Midazolam
ampola de 3ml
5mg/ml
*dobrar a dose se
houve uso prvio de
benzodiazepnico
DOSE
Clorpromazina
(uso mais comum
no Brasil)
OBSERVAES
Dose mxima de
120-160mg/dia
Interao com outras
drogas (ver texto)
Induo: bolus de
Uso VO, SC
12,5-25mg
Dose mxima diria:
Iniciar infuso con- 300 mg
tnua SC: 100mg/dia
Resgate: bolus de
12,5mg
ampola de 5ml
5mg/ml
525
Dose mxima: 25 a
37,5mg/dia
delrio
Fenobarbital
ampola de 2ml
100mg/ml
2,5 a 5mg SC de
12/12h
Dose mxima de 5 a
10mg/dia
Antes de iniciar a
perfuso, suspender
benzodiazepnicos
e neurolpticos. Reduzir opioides pela
metade
refratariedade a
outros sedativos
Induo: bolus de
1-1,5mg/kg
Inicial infuso contnua IV: 2mg/kg/h
Resgate: bolus com
metade da dose da
induo
+Necessidade de
superviso de mdico
anestesista ou treinado
Ketamina
ampolas de 2ml
50mg/ml
Antes de iniciar a
perfuso, suspender
benzodiazepnicos
e neurolpticos. E
reduzir opioides pela
metade. Somente uso
IV, no misturar com
outras drogas.
Bloqueio de receptores NMDA
Uma outra sugesto de esquema de sedao paliativa o utilizado no Hospital do Servidor Pblico Estadual de So Paulo(6) ver Tabela 4.
Tabela 4 - Drogas em sedao paliativa
MIDAZOLAM
CLORPROMAZINA HALOPERIDOL
Iniciar
0,6 1,0mg/hora
25 a 37,5mg/dia 5 a 10mg/dia
com (15-24mg/dia)
Soro
SG% ou SF0,9%
250 ou 500ml
Midazolam
5mg ou 7,5mg
IV ou SC 8/8h
no mesmo soro do
midazolam
no mesmo soro do
midazolam
526
Indicado sedao
que sintoma
predomina?
Dor
Dispneia
Hemorragia
Ansiedade
Pnico
Outros
DOMICLIO
1 opo:
midazolan,
clorpromazina
2 opo:
fenobarbital
Delrio
1 opo
levomepromazina
clorpromazina
HOSPITAL
IV: midazolan
levomepromazina
clorpromazina
propofol
fenobarbital
SC: midazolan
clorpromazina
fenobarbital
DOMICLIO
(SC)
midazolan,
fenobarbital
2 opo
HOSPITAL
IV: midazolan,
propofol,
fenobarbital
SC: midazolan,
fenobarbital
Figura 2 Algoritmo para a escolha do tratamento farmacolgico em Sedao Paliativa. Traduzido e adaptado de Sedacin Paliativa. Capitulo 8 do Guia de Prctica Clnica sobre Cuidados
Paliativos(28).
527
Uma vez prescrita a sedao paliativa, algumas aes devem ser efetivadas(6,27)
e esto compiladas no Quadro 4.
Quadro 4 - Aes aps incio da sedao paliativa
reavaliao sintomtica quanto ao tipo e dose da medicao escolhida (individualizada)
com monitorizao contnua e regular do processo para ajuste da sedao
titulao da dose sedativa utilizando uma escala de avaliao escala de Ramsay (ver
Tabela 5)
manter as medidas de higiene e conforto
manter as medicaes para controle de dor (opioides)
suspender medicaes no essenciais (vitaminas, hormnios tireoidianos, etc.) ou
tratamentos mdicos ineficazes (= fteis) para o bem-estar do doente
atentar para a reteno urinria e impactao fecal (fecaloma), que geram grande
desconforto nos pacientes sedados
orientar os familiares que a sedao paliativa no eutansia e que no apressa a morte
orientar os familiares sobre os sinais do processo da morte: ronco da morte (sororoca),
cianose de extremidades, mudana da cor da pele, hipotenso e diminuio da diurese.
fornecer suporte psicolgico e espiritual famlia.
proporcionar presena ativa da equipe que cuida, compreenso, privacidade e disponibilidade
528
Referncias
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de Educao Continuada, Mdulo de Cuidados Paliativos. Conselho Regional de Medicina do
Estado de So Paulo (CREMESP), Junho de 2006.
530
Parte 8
Introduo
Muitas questes envolvem os ltimos momentos de vida. As ltimas horas de
vida no podem ser consideradas apenas como uma continuidade do processo de
morte, muitas vezes j iniciado na evoluo de uma doena incurvel. Apesar de
alguns sintomas serem mais comuns neste momento, novas causas de sofrimento
podem surgir tanto para o paciente quanto para sua famlia(1). Sintomas devem ser
detalhados e cuidadosamente abordados.
A conceituao precisa do incio das ltimas horas no exata na literatura. Entretanto, esta definio transcende a necessidade real, que a identificao
deste momento cercado de sintomas exacerbados e que exige alterao do planejamento de tratamento e cuidados contnuos.
O uso de recursos teraputicos de forma ftil ou obstinada (repetio de exames, uso de respiradores, infuso de medicamentos vasoativos e outros procedimentos essenciais manuteno de funes vitais e que no se prestem exclusivamente
melhor compreenso e manejo dos sintomas) deve ser evitado, pois seus efeitos
so nocivos e os benefcios so menores. Submete as pessoas a mais dor e sofrimento do que sua prpria doena lhe provocaria. Isto acontece nos ambientes em que
no se aceita a morte como evento natural e esperado, ou onde os profissionais tm
medo de infundada responsabilizao civil ou criminal(2). O uso desmedido destes
recursos pode resultar num nmero crescente de pessoas completamente dependentes do suporte hospitalar de ltima gerao, sem possibilidade de contato com
sua famlia e sem individualidade, como em situaes de internao em centros
de terapia intensiva. Estas questes devem ser preferencialmente abordadas com
antecipao, respeito e clareza ao paciente e seus familiares.
As ltimas horas costumam ser inundadas de tristeza, melancolia e saudade.
Desejos de paz, de boa partida, de boa hora. So momentos cercados de
medo, incertezas, onde a espiritualidade do doente e de sua famlia pode emergir
de forma colaboradora e pacfica. Questes pessoais antigas so redimensionadas
e podem se dissolver pela proximidade do fim esperado.
533
Assim como o nascimento, o momento da morte nico e sozinho. Cuidadores e familiares o descrevem de forma sucinta como sendo de muito sofrimento,
mesmo quando os sintomas esto bem controlados.
534
BITO
Domiclio ou
Hospital
535
Conduta
A equipe e cuidadores domiciliares deve ser muito bem treinada para a realizao da movimentao passiva do doente e auxiliar ativamente nas transferncias, as quais devem ser evitadas por serem muito desconfortveis e dolorosas
nesta fase. Familiares devem ser orientados quanto limitao deste momento.
Insistncias e tentativas desnecessrias devem ser evitadas.
Ordens explcitas sobre preveno de lceras de presso, mobilizao, cuidados com pele e mucosas, mobilizao passiva no devem faltar s prescries.
Familiares devem ser estimulados a tocar no paciente como forma de expressar
carinho, conversar ainda que o mesmo no esboe respostas, e evitar conversas
desagradveis no ambiente. Deve-se manter o quarto o mais calmo possvel, o que
deve se estender tambm s atitudes de todos os membros da equipe de sade.
Todas as alteraes de condutas, intercorrncias e impresses do caso devem ser
anotadas no pronturio.
3. Sonolncia
No final, o doente dorme praticamente todo o tempo, embora continue sendo
despertvel em alguns raros momentos. Pode se comunicar precariamente, abre
os olhos com muita dificuldade e momentaneamente, retornando ao sono a seguir.
Conduta
Este sintoma esperado nas ltimas horas e no justifica reduo ou suspenso das doses de sedativos. Entretanto, a avaliao dos medicamentos deve
ser considerada se a sonolncia surgir concomitante ao incio do uso dos medicamentos.
4. Alteraes da cognio
Sintoma frequente na maioria dos pacientes, variando em intensidade. Nesta
fase, a memria e o raciocnio se deterioram. As respostas so demoradas e por
vezes inadequadas ou inexistentes. s vezes, podem surgir vises, alucinaes
e experincias sensoriais diferentes. O doente fala com pessoas que no vemos,
comunica-se com parentes mortos h muito tempo, sinais que podem ser avaliados do ponto de vista mstico ou religioso por familiares. Seu olhar se torna fixo
e muito profundo.
Nas ltimas horas, podem surgir quadro de delirium e agitao motora, ou,
simplesmente um rebaixamento progressivo do nvel da conscincia, caracterizando um semicoma e coma que antecedem a morte. O delirium terminal, frequente em 80% dos pacientes com cncer avanado na ltima semana, sinal de
536
Medicao
Forma de administrao
Haloperidol
(delirium agitado)
Clorpromazina
Associar medicamentos. A conjugao de delirium mais agitao pode requerer a associao de um ansioltico de curta ao em pequenas doses ou
infuso contnua. O medicamento mais usado o midazolam, por infuso
contnua de 0,5 at 6mg/hora ou por via subcutnea em bolus de 2,5 a 5,0mg,
inicialmente(1,5).
5. Mioclonus
Os abalos musculares involuntrios so frequentes e indicativos de neurotoxicidade. Podem ser secundrios a medicamentos, distrbios metablicos (uremia), hipxia, desidratao ou por edema do Sistema Nervoso Central, no caso
de tumores e metstases centrais. So precursores de convulses e devem ser
controlados o mais rpido possvel. No domiclio, o cuidador deve ser minucio537
Forma de administrao
Consideraes
Midazolam
A partir de 1mg/hora
Infuso contnua
No momento da crise
Clonazepam
Diazepam
5 a 10mg EV bolus
Fenitona
300mg/dia EV
Se j em uso anteriormente
6. Dor
Sintomas que estavam sendo razoavelmente controlados podem se exacerbar nos ltimos dias de vida e tornarem-se refratrios teraputica habitual. O
tratamento de sintomas como dor e dispneia deve ser mantido at o final da vida,
mesmo quando se instala um coma e no se conhece mais a dimenso do sintoma.
A dor um sintoma preponderante entre pacientes em Cuidados Paliativos,
mas dificilmente surge nesta ltima fase se j no existisse previamente. A suspenso abrupta de sedativos e opioides pode levar abstinncia fsica e provocar
desconforto desnecessrio ao doente. Entretanto, a suspenso de frmacos coadjuvantes como antidepressivos pode ser necessria, a fim de evitar efeitos adversos
exacerbados e dificuldade de controle dos efeitos colaterais(1).
Conduta
Para controle do quadro lgico, os analgsicos usados anteriormente podem
ser mantidos em doses equipotentes, na maior parte dos pacientes1, procedendo-se
os ajustes necessrios para a via de administrao escolhida, seguindo as tabelas
de converso (vide captulo que aborda uso de opioide). A via endovenosa s
deve ser utilizada para as infuses contnuas. A via subcutnea, porm, pode ser
usada para infuso contnua ou intermitente de opioides. O controle do quadro lgico pode ser mantido atravs de opioides. O mais usado a morfina que permite
ampla utilizao devido ao fato de colaborar para o controle de outros sintomas
(dispneia, fadiga, tosse), alm da facilidade de administrao por vrias vias e
538
ausncia de dose teto(5). O uso do fentanil transdrmico tambm deve ser considerado em relao a facilidade de administrao e sua potncia.
7. Dispneia
Para o controle da dispneia, afastadas as possveis causas reversveis como
os derrames pleurais, infeces respiratrias ou desconforto causado por ascite,
por exemplo, o medicamento de escolha a morfina em baixas doses, associada
ou no a benzodiazepnicos, como o midazolam, ambos em infuso contnua e parenteral. A dose inicial da morfina para alvio da dispneia em doentes em final de
vida de 10mg/24 horas. No caso do midazolam pode-se iniciar com infuso de
0,5mg/hora a 1mg/hora. Naqueles pacientes que j recebem opioides para analgesia, a dose pode ser aumentada em aproximadamente 50%(1). Em casos resistentes,
Diazepam (2,5 a 5mg/dia) ou Clorpromazina podem ajudar(1). Quanto aos broncodilatadores, s devem ser indicados nos casos de comprovado broncoespasmo.
Os corticoides, como hidrocortisona 300 a 500mg IV, podem ser usados no broncoespasmo e tambm nas condies em que seu uso como anti-inflamatrio pode
ajudar a reduzir um edema peritumoral, que provoca dispneia, como nas linfangites pulmonares, compresses de veia cava superior, compresses de traqueia por
tumores extrnsecos(9,6). A eficcia dos corticoides varivel, e seu emprego deve
ser seguido por avaliao contnua e descontinuado se ineficaz(1). O excesso de
secreo brnquica pode ser aliviado pelo uso de anticolinrgicos, como indicado
a seguir na conduta para ronco.
8. Colapso perifrico
As perdas de funo orgnica que se desencadeiam neste processo levam
ao colapso perifrico, caracterizado por palidez cutnea, extremidades frias, pele
marmrea e cianose perifrica. So comuns as alteraes de padro respiratrio,
com irregularidades no ritmo e perodos cada vez mais prolongados de apneia.
Conduta
As vias de administrao de medicamentos necessitam ser reavaliadas e
adaptadas a cada caso. Os acessos venosos perifricos tornam-se difceis e as repetidas tentativas de puno podem ser bastante dolorosas. Acessos venosos centrais no devem ser instalados nesta fase pelo alto risco que representam e por no
encontrar justificativa diante do quadro clnico instalado. de grande valor nesta
fase o manejo adequado da hipodermclise(8), ou acesso subcutneo. Atravs da
instalao de um pequeno scalp do tipo butterfly, de calibre 25 ou 27 no tecido
celular subcutneo, preferencialmente abdominal, pode-se proceder hidratao
539
do doente e administrar frmacos diversos. A maioria dos medicamentos essenciais ao controle de sintomas nesta fase pode ser administrada por via subcutnea
com boa efetividade e sem efeitos colaterais indesejveis. Ver no Quadro 2 os
medicamentos que podem ser usados por via subcutnea.
9. Ronco (sororoca)
um evento comum maioria dos doentes e caracteriza-se por uma respirao ruidosa, plena de secrees. Tem como causa a incapacidade de deglutir saliva e outras secrees. um dos sintomas que mais incomodam os acompanhantes
e a famlia, provocando sensao de sofrimento.
Conduta
O ronco deve ser prevenido ou minimizado. No h diferena significativa de
eficcia entre os anticolinrgicos atropina, escopolamina, hioscina(14). A hioscina
em doses generosas: 10 a 20mg a cada 4 ou 6 horas suficiente para atenuar o sintoma. Devem ser evitadas as repetidas aspiraes de vias areas, pelo desconforto
que causam ao doente. Na escolha de outros medicamentos nesta fase, considerar
aqueles de maior efeito anticolinrgico, como a clorpromazina mais eficiente
para diminuir secrees e melhor indicada que o haloperidol nas ltimas horas de
vida.
10. Momento da morte
As ltimas incurses respiratrias podem ser longas e suspirosas ou muito
superficiais e pausadas. A cessao da respirao normalmente precede a parada
dos batimentos cardacos. Aps a morte, ocorre o relaxamento da expresso facial.
Conduta
O apoio e algum preparo espiritual torna-se essencial neste momento. No
deve ser confundido com os rituais religiosos. A religio do doente deve ser sempre respeitada e jamais o doente pode ser pressionado no final da vida a aceitar
qualquer tipo de preceito religioso novo. Devem-se evitar atribuies de possveis
culpas, temores divinos ou qualquer outra situao que possa induzir medo no paciente(10). A assistncia espiritual deve ser essencialmente amorosa, livre, simples
como um toque ou olhar. Escutar mais importante que se fazer ouvir. Essencialmente: transmitir ao outro a presena de um acolhimento constante e sincero.
540
Consideraes
Nas ltimas horas, todos os sintomas devem ser minuciosamente tratados e
sempre que possvel antevistos. A preveno a melhor medida. Alm da teraputica especfica, medidas de conforto, bem como de apoio espiritual e familiar,
so fundamentais nesta fase.
A teraputica dirigida a pacientes em final de vida tem que seguir a lgica da
racionalidade teraputica de forma muito cuidadosa. A maioria dos medicamentos usados para o tratamento de doenas crnicas como a hipertenso e diabetes
pode ser suspensa quando o paciente entra em perfil de ltimas 48 horas, para
evitar interaes medicamentosas indesejveis. Os sintomas desconfortveis so
prioridades absolutas e muitas vezes a teraputica se dirige exclusivamente a estes(11). O uso de profilticos contra tromboses, antidepressivos, diurticos, protetores gstricos (a menos que se esteja em corticoterapia) tambm no se justificam
nesta fase.
Quadro 2: Drogas que podem ser usadas por via subcutnea
Grupo farmacolgico
Medicamentos
Hidratantes
Soluo de Ringer
Analgsicos opioides
Tramadol
Sulfato de morfina
Metadona
Antiemticos
Metoclopramida
Ondansetron
Dimenidrinato
Anticolinrgicos Hioscina
Esteroides
Diurtico
Furosemida
Antitrmico
Protetores gstricos
Ranitidina
Anti-inflamatrios
Ketorolaco
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Quadro 2: (Continuao)
Neurolpticos Haloperidol
Sedativos
Midazolam
Clonazepam
Concluso
Os cuidados dirigidos aos ltimos momentos de vida requerem trabalho em
equipe, de forma sincronizada e detalhada, respeitando a racionalidade teraputica
e as singularidades de cada paciente e sua famlia. O medo, a tristeza, a saudade,
a angstia de familiares e de membros da equipe no devem ser desconsiderados
ou tratados apenas com medicamentos .
A deciso sobre o local da morte, seja em hospital ou em domiclio, deve ser
feita em conjunto com a famlia, previamente discutida com a equipe, e consideradas as condies e recursos de apoio, como estrutura domiciliar, familiar e do
cuidador.
O auxlio de um assistente espiritual pode ser importante para o conforto
da famlia, respeitando os preceitos religiosos, as crenas e a histria de vida do
doente.
Ainda que vrias questes sobre o processo de morte sejam desconhecidas,
muitos sintomas desconfortveis podem ser controlados com carinho, interesse
e tcnicas mdico-cientficas. Cabe a ns perceber o doente como uma pessoa
diante da sua maior limitao: o fim da vida. Este confronto pelo qual todos ns
passaremos requer humanidade, carinho e amor. Tambm exige de ns, profissionais em Cuidados Paliativos, o mximo possvel de conhecimento acerca deste
momento e a legtima habilidade de torn-lo o mais sereno possvel.
542
Referncias
1. Doyle, D.; Hanks, Geoffrey. Oxford Textbook of Palliative Medicine. 3nd ed.
Oxford University Press. Oxford, 2005.
2. Torres, J. H. Rodrigues. Deixar morrer matar? Revista do Conselho Regional
de Medicina do Estado de So Paulo. Edio 43, 2008.
3. Adam, J. ABC of Palliative Care:the Last 48 hours. BMJ 1997; 315:1600-1603. British
Medical Association, London, 1997.
4. Barbosa, A.; Neto, I. G. Manual de Cuidados Paliativos. Lisboa, Faculdade de
Medicina de Lisboa, 2006.
5. Bonica, John J. The Management of Pain, second edition volume II London, 1990.
6. Breitbart, W.; Colen, K. Delirium in the terminally ill. In: Chochinov HM,
Breitbart W. Handbook of psychiatry in palliative medicine. Oxford: Oxford University Press;
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7. Doyle, D.; Woodruff, R. The IAHPC Manual of Palliative Care. London, IAHPC
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patients. Journal of Pain and Symptom Management; 9:298-302; 1994.
9. Holland. Frei. Cncer. Medicine 6. American Cncer Society. BC Becker Inc.
Hamilton.London,2003.1101-21.
10. Pimenta, Cibele A. M. Dor e Cuidados Paliativos. Enfermagem, Medicina e
Psicologia. So Paulo, Manole, 2003.
11. Twycross, R.; Litcher, I. (1998) The terminal Phase in Doyle D, Hanks GWC,
Macdonald N Oxford Textbook of Palliative Medicine, 3nd Edn. Oxford: Oxford University
Press, 2005: 459-587.
12. World Health Organization (WHO). Cncer pain relief and palliative care report.
Genebra; 1990.
13. World Health Organization (WHO). National Cancer Control Programmes: Policies
and Managerial Guidelines, 2nd Ed. Geneva: WHO, 2002.
14. Wildiers, H., et al. Atropine, Hyoscine Butylbromide, or Scopolamine are equally
effective for treatment of death rattle in terminal care. Journal of Pain and Symptom Management Vol. 38 No. 1 July 2009.
15. Ellershaw et al. Dehydration and dying patient. Journal of Pain and Symptom
Management Vol 10 N 3 1995.
543
544
Lembramos que, de forma alguma, tem a pretenso de substituir o advogado ou habilitador de benefcios previdencirios ou outros. Assim, sempre que
houver dvidas, mesmo porque so constantes as mudanas nas Leis, portarias e
regulamentos, deve-se recorrer ou encaminhar para as Instituies e profissionais
habilitados para estas questes. O importante que diante de uma situao seja
reconhecida a necessidade de um encaminhamento responsvel para evitar prejuzos futuros.
Assim, para melhor organizar as aes e intervenes que daro apoio ao
paciente e famlia, optou-se por dividir o foco da ateno em dois momentos:
545
Para a comprovao da condio de companheira ou companheiro, a Previdncia Social exige trs provas plenas. necessrio antecipar-se nesta orientao, pois
algumas informaes como a localizao da documentao, s vezes, depende do
prprio paciente. Assim, preciso verificar previamente a existncia destas provas
e reunir documentos comprobatrios sobre a convivncia sob o mesmo teto: conta
bancria conjunta, beneficirio em seguro de vida ou seguro sade, bens adquiridos
conjuntamente, comprovante de residncia no mesmo endereo, filhos em comum
e declarao firmada em cartrio, pelo prprio paciente, a respeito da vida em comum.
Ainda quando o paciente, internado ou em seu domiclio, impedido por doena grave ou com risco de falecimento iminente, desde que em seu juzo, manifestar a vontade de casar-se, poder faz-lo, cumprindo as formalidades legais,
conforme dispe os art. 1539 a 1541 do Cdigo Civil.
H pendncias que so mais difceis de serem abordadas, como o reconhecimento de filhos fora do casamento, e preciso muita habilidade para tratar de
assunto to delicado, propiciando que o paciente possa manifestar sua vontade,
evitando-se o desconforto comum a estas situaes. O reconhecimento voluntrio
de filhos poder ser feito conforme dispe o Art. 1.609 do Cdigo Civil. A importncia destas orientaes se deve ao tempo abreviado do paciente e a urgncia de
medidas para a proteo da famlia e, principalmente de filhos menores, evitando
demora com pendncias judiciais, que dificultam acesso aos benefcios previdencirios e outros.
Portanto, casar-se, quando possvel, registrar em cartrio a Declarao de
Unio Estvel, inclusive a unio homoafetivas recomendvel para se evitar
transtornos futuros, assim como o reconhecimento dos filhos, para no deix-los
em desamparo. Em alguns casos, demora-se tanto para estas providncias serem
tomadas que, com o agravamento do estado do paciente, isto j no possvel, seja
pelo tempo exguo, seja pela impossibilidade do paciente manifestar sua vontade.
rio mdico que afirme sua incapacidade para os atos da vida civil, nomeando-se
um curador.
Para lavrar a curatela, exige-se um tempo maior, pois se trata de um processo judicial, com a assistncia de um advogado. A curatela visa proteger o paciente
e seu patrimnio. Visa, tambm, evitar transtornos com o no recebimento de benefcios e outros numerrios e permite movimentar a conta bancria, evitando-se
dificuldades com a prpria manuteno do paciente e famlia.
Para filhos menores de pacientes vivos ou solteiros, j com a ausncia de
um dos pais, recomendvel se pensar quem ser o responsvel por ele quando
ocorrer o falecimento. Se for possvel e houver a oportunidade, o paciente poder
manifestar esta vontade, para que facilite o processo de tutela, necessria para representar o menor junto ao INSS e outras instituies, para solicitao da penso
por morte e para outras providncias.
Todas as aes devem ser preventivas, so orientaes que visam garantir a
manuteno da famlia e do paciente e propiciar melhores condies de cuidados.
Documentao de seguro
Normalmente, familiares no tocam em assuntos que possam parecer ao paciente que estes preveem seu falecimento. Assim, por se tratar de um assunto
complicado para a famlia, deixa-se de verificar quais so os beneficirios constantes em aplices de seguro. Quando o paciente solteiro, comum ter os pais
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PIS/PASEP e FGTS
Uma vez regularizada a documentao, importante identificar quais as alternativas que iro viabilizar os recursos que o paciente e famlia tm direito. Dentre
os recursos que podem ser viabilizados mais rapidamente, esto o PIS e FGTS.
O saque do FGTS e PIS por doena grave pode minimizar as dificuldades financeiras, quando paciente e familiares so surpreendidos por uma doena grave,
principalmente quando este o mantenedor da famlia. O paciente inscrito no PIS
at 04/10/1988, mesmo que no momento esteja desempregado, pode sacar a cota
do PIS\PASEP e FGTS, conforme dispe a Res. n 2 de 17/12/1992 (HIV) e Res.
N 1 de 15/10/96 (neoplasia maligna).
Quanto ao FGTS, em se tratando de HIV o saque tem como base a Lei n
7.670/88 e a neoplasia maligna a Lei n 8.922/94, que permite levantar o total que
ele tem na conta vinculada, inclusive os saldos dos planos econmicos.
importante lembrar que h a possibilidade de saque do PIS e do FGTS
pelo titular das contas se um de seus familiares, dependente, adoecer e estiver nas
condies acima.
Para efetuar o saque do PIS/PASEP por doena grave necessrio estar munido do relatrio mdico, que ateste o diagnstico e as condies clnicas do paciente e da documentao abaixo:
Documentao pessoal do titular
Comprovante de inscrio PIS/PASEP
Carteira de Trabalho
RG - Cdula de Identidade
CPF - Cadastro de Pessoa Fsica
Documentao pessoal do dependente
RG - Cdula de Identidade
Certido de casamento ou nascimento
Documentao mdica comprobatria
Atestado mdico em papel timbrado contendo:
Diagnstico expresso da doena
Classificao Internacional de Doenas (CID) *
548
Para efetuar o saque do FGTS por doena grave necessrio estar munido de
relatrio mdico que ateste o diagnstico e condio do paciente e da documentao abaixo:
Documentao pessoal do titular
Carteira de Trabalho
Comprovante de inscrio PIS/PASEP
RG - Cdula de Identidade
CPF - Cadastro de Pessoa Fsica
Documentao pessoal do dependente
RG - Cdula de Identidade
Certido de casamento ou nascimento
Documentao mdica comprobatria
Atestado mdico em papel timbrado contendo:
Diagnstico expresso da doena
Classificao Internacional de Doenas (CID) *
Estgio clnico atual da doena
Resultado do exame especfico que comprove a doena (ex.: anatomopatgico)
Meno Lei 8922 de 25/07/94
Carimbo que identifique o nome/CRM do mdico
* Mencionar no relatrio mdico Paciente encontra-se sintomtico para patologia classificada
no CID. (modelo disponvel no site www.caixa.gov.br)
Afastamento do trabalho
A orientao quanto necessidade de justificar a ausncia no trabalho, atravs de relatrios mdicos e a realizao de percia para embasar o afastamento,
tem pontos comuns independentemente das instituies ou empresas. Paciente
em Cuidados Paliativos, nesta fase da doena, normalmente, j recebeu orientaes quanto ao afastamento do trabalho. imprescindvel se atentar para esta
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Auxlio-doena
O paciente que contribui para a Previdncia Social, filiado ao RGPS, estando
incapaz para o trabalho por mais de 15 dias, tem direito aps 12 contribuies a
solicitar Auxlio-doena. Para a concesso deste benefcio, necessrio cumprir
algumas exigncias como a carncia, e ser considerado incapaz para o trabalho
pela percia mdica da Previdncia Social. Esta carncia(4) pode ser dispensada se
o paciente for portador de algumas doenas. Dispensa-se a carncia, mas permanece a obrigatoriedade de vinculao Previdncia.
houve registro do desemprego no Ministrio do Trabalho. Este registro normalmente se d pela solicitao do seguro desemprego.
O paciente desempregado, sem contribuir e esgotado seu perodo de graa,
poder solicitar retroao do Auxlio-doena, desde que a doena tenha se iniciado em uma poca em que ele ainda se encontrava na condio de segurado.
Evidentemente, exige-se documentao comprobatria, como relatrios mdicos,
declarao de internao hospitalar, exames e outros. Quando isto ocorre, a retroao somente da data do incio da doena, o que possibilita a concesso do
benefcio, porm sem retroao do pagamento.
sempre bom reforar que o pedido do Auxlio-doena deve ser feito dentro
de 30 dias da data do afastamento do trabalho. Se isso no ocorreu, o incio do
auxlio-doena considerado a partir da data do protocolo. Da a importncia de
enfatizar ao paciente e seus familiares a necessidade de protocolar o requerimento
dentro do prazo estipulado. Atentar-se tambm sobre a necessidade de solicitar ao
mdico ou Instituio, que presta assistncia, relatrios para o empregador, visando ao abono dos primeiros 15 dias e outro para fundamentao junto Percia da
Previdncia Social. Se h dvidas a respeito da concesso do benefcio, deve-se
procurar uma agncia do INSS.
Para solicitar Auxlio-doena no necessrio intermedirio. O paciente ou
familiar pode marcar a Percia atravs de contato direto com a Previdncia pelo
telefone 135 ou site www.previdencia.gov.br. importante ter em mos toda a
documentao pessoal: Cdula de Identidade, CPF, PIS, Carteira Profissional,
carns, comprovante de endereo e anotar corretamente o dia, local, e horrio
da percia. Quando do comparecimento Percia, acrescentar aos documentos os
relatrios mdicos e os resultados de exames.
Ainda, se o paciente estiver internado ou sem condies de comparecer na
agncia do INSS, solicitar a Percia no hospital ou no domiclio.
O Auxlio-doena um benefcio temporrio, devendo o segurado submeterse periodicamente percia e, em todas elas, comprovar a doena e o tratamento, atravs de relatrios mdicos e exames.
Este benefcio tambm cabe aos idosos maiores de 65 anos(6), em igual condio econmica, ou seja, renda per capita menor que 1/4 do salrio mnimo. Este
benefcio no se transforma em penso, sendo extinto com o falecimento do paciente.
552
553
telefone 135 da Previdncia Social o mais rpido possvel. Essa a forma mais
simples de contato com o INSS, inclusive para tirar dvidas. Deve comparecer
no dia, hora e local agendados, munidos da documentao necessria para a concesso da Penso. Os filhos menores sero representados pela me ou pai, seus
tutores naturais e, na falta deles, por quem detiver a tutela(7).
Documentao necessria (cpias e originais):
Documento de identificao do segurado
Certido de bito
Certides de nascimento, casamento ou comprovao de unio estvel
RG - Cdula de Identidade
CPF - Cadastro de Pessoa Fsica
Carteira de Trabalho ou outro documento que comprove a atividade
Inscrio no PIS\PASEP
Carns de Recolhimento quando for Contribuinte Individual
Ttulo de Eleitor
Comprovante de residncia
Para o paciente que j se encontrava em benefcio, aposentado ou em Auxlio-doena, os familiares devero apresentar tambm o comprovante do benefcio.
No caso de companheira(o), acrescentar as provas plenas exigidas pelo INSS
(ver item sobre regularizao civil). Filhos invlidos devero submeter-se percia mdica e comprovar esta condio antes dos 21 anos.
Na ausncia dos dependentes considerados preferenciais, outros que dependem economicamente do paciente, como pais, irmos menores ou invlidos tero
que provar esta dependncia quando da solicitao da Penso. O direito Penso
no prescreve, porm o pagamento no retroage, por isso importante reforar a
necessidade de se protocolar o benefcio o mais rpido possvel.
A Penso tem o mesmo valor da aposentadoria do segurado falecido.
Se o segurado ainda no estiver aposentado, calcula-se uma Aposentadoria
por Invalidez com incio na data do bito.
Caso o vivo ou viva volte a se casar, no perde o direito a penso.
Caso o dependente j seja pensionista, poder optar pela penso de maior
valor(8).
Havendo mais de um pensionista, a penso por morte ser rateada entre todos, em partes iguais. A parte daquele cujo direito a penso cessar ser revertida em favor dos demais dependentes.
A Penso permite o saque do PIS e FGTS pelos dependentes atravs da Certido de Dependentes, que acompanha a Carta de Concesso da Penso emitida pelo
554
Concluso
A Legislao ampla e no seria possvel coloc-la na ntegra, mesmo porque no a inteno substituir os profissionais que dela tm a competncia, como
os advogados, aos quais se deve recorrer sempre que a situao exigir. A inteno, na verdade, contribuir para que o assunto seja conhecido, possibilitar que o
profissional que esteja atendendo o paciente e famlia, nesta condio, reconhea
quando e como encaminhar estas questes de forma adequada, evitando, assim,
perda de um tempo precioso para as resolues que dizem respeito manuteno
da famlia.
Referncias
1. BRASIL. Cdigo Civil. Lei n 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (art. 1591) ndice alfabtico remissivo. Bauru, SP: EDIPRO, 2002. (2) BARBOSA, A. Cncer: Direito e Cidadania
Como a Lei pode beneficiar os pacientes e seus familiares. So Paulo: As, 2003.
3. HOSPITAL DO CNCER A. C. CAMARGO. Cncer Direitos do Paciente: Manual
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4. Tudo o que voc quer saber sobre a Previdncia Social.- Braslia: Ministrio da Previdncia e Assistncia Social, 2002.
5. BRASIL. Lei n. 8.742, de 7 de dezembro de 1993- Lei Orgnica da Assistncia Social
- (LOAS) Dispe sobre a organizao da Assistncia Social e d outras providncias. Disponvel em http://www.cresssp.org.br/index.asp?fuseaction=leg_reg&id_subsecao=9. Acesso
em 16/06/2009.
6. Estatuto do Idoso Lei n. 10.741. So Paulo: editora Saraiva, 2006.
7. BRASIL. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990 Estatuto da Criana e do Adolescente.
Disponvel em <http://www.cress-sp.org.br/index.asp?fuseaction=leg_reg&id_subsecao=9#>.
Acesso em 16/06/2009.
8. DIVISO DE SERVIO SOCIAL DO ICHC-FMUSP. Cartilha de Atualizao de
Previdncia Social. So Paulo, 2008.
555
Figura 1: Dimenses do ser Humano: fsica, psquica, familiar-financeira, social-cultural, existencial, espiritual e transcendente. A dimenso espiritual relaciona o existencial com o transcendente,
seja ele Deus, a natureza, o sobrenatural ou o sagrado (Saporetti 2008).
557
O sofrimento humano pode nascer em qualquer dessas dimenses e integrado pelo significado e sentido associado a ele. O sofrimento espiritual se alicera
na violao da essncia do eu, o que se caracteriza, frequentemente, pela perda de
sentido e identidade, assim como do prazer de viver seguido ento pelo desejo de
abreviar a vida(2,14,15). O sofrimento religioso se caracteriza pela dor moral conduzida pela quebra de dogmas e preceitos daquela religio(15). Muito embora alguns
autores vejam a distino entre religiosidade e espiritualidade como desnecessria, a espiritualidade move-se para alm da cincia e da religio instituda. Ela
considerada mais primordial, mais pura e mais diretamente relacionada com a
alma em sua relao com o divino. J a religio uma forma secundria, dogmtica e frequentemente distorcida por foras socioeconmicas, culturais e polticas(6).
Importance
(Importncia)
Community
(Comunidade)
Address
(Abordagem)
558
SPIRIT - Maugans
Spiritual belief system
(Crena religiosa)
Personal spirituality
(Espiritualidade pessoal)
Os ritos de passagem
Ritos de passagem so celebraes que marcam mudanas na condio do
indivduo. As principais transies marcadas por esses ritos so o nascimento, a
entrada na idade adulta, o casamento e a morte.
Sempre que a fora de um ato maior em seu significado simblico do que
no seu resultado prtico estamos falando de um gesto ritual. Os ritos constituemse de uma sequncia de gestos rituais que visam estabelecer uma conexo entre
a realidade relativa do mundo consciente e a realidade absoluta ou imaterial do
inconsciente coletivo(20).
O mundo moderno carente de rituais claros de passagem, o que frequentemente causa uma dificuldade na identificao de um momento para outro da vida.
Muitos rituais cumprem apenas uma funo social, o que no auxilia as pessoas
559
Alm de garantir ao falecido seu caminho no plano imaterial, os ritos pretendem dar aos entes que o ficam conforto e a possibilidade de vivenciar a morte
numa dimenso transcendente.
corpo fsico, enquanto o esprito imortal retorna a sua verdadeira vida, que a
vida espiritual. A doutrina esprita acaba com o conceito da morte como algo
mrbido e finito a partir do momento que a encara como processo de renovao e
reconstruo para outra etapa.
O velrio dirigido ao esprito do falecido, so realizadas preces em inteno
a alma criando-se um clima de vibrao positiva em favor do esprito desencarnado, inclusive utilizando msica. Os espritas no adotam o uso de velas. Na comunidade esprita no h a prtica do luto. Aps o enterro, os espritas no preveem
nenhuma cerimnia. Sempre que desejam e de acordo com o foro ntimo de cada
um, fazem preces para pedir boas vibraes para os desencarnados. Segundo O
Livro dos Espritos, a visita ao tmulo uma maneira de mostrar que se pensa no
Esprito ausente: a imagem. A prece que santifica o ato da lembrana, pouco
importa o lugar, quando se ora com o corao.
Judasmo(29,30)
O judasmo cr que a morte o fim do corpo material. A verdadeira pessoa,
que a alma, eterna. A prpria morte considerada uma parte da Criao. No
pensamento judaico, vida e morte formam um todo, sendo aspectos diferentes da
mesma realidade, complementares uma da outra. A morte no significa a extino
do ser, mas o comeo de uma nova fase.
No h para o judasmo motivos para o prolongamento artifical da vida ou
deixar a pessoa em sofrimento, exceto por desejo prprio do mesmo(31). Assim, o
uso de analgsicos para alvio da dor e at mesmo a sedao para conforto so estratgias possveis desde que com a concordncia do paciente/famlia. Prolongar
a agonia atravs de recursos artificiais tambm no justificado, no entanto a suspenso de medidas j estabelecidas que causem a morte no considerada
adequada(31).
O enterro ocorre logo aps a morte; adiar o sepultamento visto como um
desrespeito para com o morto e uma interferncia nos planos do Criador (exceto
nas datas: Shabat e no Yom Kipur). A cremao no permitida. O corpo do falecido lavado, vestido com uma roupa branca e colocado num caixo de madeira
simples, os homens so enterrados com seu xale de orao. No se usam flores
nem msica na cerimnia. O rabino faz um discurso em memria do morto, e os
filhos homens, ou o parente mais prximo do sexo masculino, recitam cantos de
louvor a Deus (o Kadish). Aps o funeral, a famlia fica de luto por uma semana
(Shiv). Durante uma semana, os enlutados ficam em casa, abstendo-se de quaisquer atividades profissionais ou de lazer. Parentes e amigos fazem visitas de condolncias a casa dos enlutados, e trs vezes por dia (de manh, tarde e noite)
realizam servios religiosos.
563
A noo de vida aps a morte uma declarao da crena na vinda do Messias, que ressuscitar fisicamente os mortos. Por este motivo o judasmo probe a
mutilao do cadver.
A instituio da Shiv tem como finalidade dar famlia folgas psicolgicas e espirituais para continuar depois da perda de um ente querido. O enlutado
no est s; muito pelo contrrio, ele faz parte da comunidade dos enlutados de
Sion. esta conscincia de grupo que lhe d conforto, j que recebe o apoio e
o consolo dos familiares e amigos durante estes dias, e que lhe permite emergir
fortalecido, preparado para enfrentar as vicissitudes da vida, e pronto para reassumir suas responsabilidades perante o seu povo. No aniversrio de falecimento
(Yahrzeit), costuma-se visitar o tmulo do falecido e mantm-se uma vela acesa
durante 24 horas. Os filhos recitam o Kadish na vspera, noite e no prprio dia
do Yahrzeit, de manh e tarde. Algumas pessoas jejuam no dia do Yahrzeit de
um parente chegado, em sinal de pesar. Os chassidim, entretanto, consideram o
Yahrzeit uma ocasio de jbilo com base no conceito mstico de que a cada ano
que passa a alma do falecido ascende a um nvel espiritual mais alto.
A comunidade judaica conta em vrios estados brasileiros com a Chevra
Kadisha, uma entidade que providencia os cuidados com o corpo e organiza o
funeral de acordo com a tradio.
Islamismo(22, 23)
O islamismo deixa claro aos muulmanos que a morte e a vida so presentes
de Deus. Desde a infncia passada a noo de que tudo o que comea tem um
fim, e estimulam a usar este mundo sabiamente e a fazer o bem, para preparar-se
para a vida que est por vir. Os muulmanos acreditam no dia do juzo final e na
vida aps a morte, o praticante da religio recebe sua recompensa ou sua punio pelo que fez na terra. A morte humana o ingresso para a vida eterna num
outro mundo. Morrer no significa trmino da existncia, mas o comeo da eternidade.
Sendo a morte e vida presentes de Deus, devem ser respeitados como tal.
O sofrimento humano deve ser aliviado, a eutansia no permitida e o uso de
suporte artificial de vida deve ser desencorajado pela equipe mdica. Cuidados
especiais devem ser tomados com o corpo, em especial das mulheres. O uso de
sedativos e opioides para fins mdicos permitido sendo necessria uma explicao clara a respeito dos objetivos. A sedao para conforto pode prejudicar as
prticas religiosas e assim s ser aceita se realmente necessria para alvio do
paciente(32,33).
Constatado o bito, deve-se tirar-lhe os adornos (anis, brincos, aliana, relgio, correntes, etc.), coloca-se o corpo olhando em direo Meca.
564
No cemitrio o corpo retirado do caixo e despido, para realizar trs banhos, preces em inteno de purificao sero recitadas, e ento uma mortalha
feita de tecido branco 100% natural cobre o corpo. Por considerar a morte uma
coisa natural, no h ritual de luto. A primeira noite vista como a mais difcil
para o falecido, ento deve-se orar em inteno alma. No 2 e no 7 dia, missas
so celebradas na Mesquita, costume tambm celebrar no 30, 40 e 60 dia, bem
como uma vez por ano. Visitas ao cemitrio so importantes para no se esquecer
do falecido(a). O islamismo prega que os falecidos s conseguem um vnculo com
este mundo pelas obras de caridade que fizeram em benefcio aos outros e por
intermdio de seus filhos orando por eles.
Tradies Afro-brasileiras(34)
Nas tradies afro-brasileiras, a percepo da natureza e do mundo espiritual
esto integradas, e seus ritos so de acordo com essa perspectiva. Ao contrrio de
tradies judaico-crists, no h uma separao ntida entre a vida e a morte, o
cu e a terra, o material e o imaterial, o homem e a natureza, o bem e o mal. Tudo
encontra-se unido pela enorme teia da vida.
No candombl, morrer passar para outra dimenso e permanecer junto com
os espritos, orixs e guias. A morte bem-vista para os idosos, pois completaram
seu destino e podem seguir seu caminho no run (plano espiritual ou imaterial),
livres das amarras terrenas e adquirindo poderes que podem auxiliar seus descendentes na terra. J a morte de um jovem vista como tragdia. A morte prematura
entendida como uma consequncia de uma infrao grave contra os orixs, ou
uma inobservncia de suas obrigaes com a comunidade, as quais os ancestrais
resolvem disciplinar.
Os ritos fnebres na tradio Yorub visam preparar a passagem do morto do
iy (mundo material) para o run (mundo do alm), assim como restabelecer as
relaes sociais e espirituais causadas pela ausncia do falecido. Quanto maior a
posio social e religiosa do indivduo, maiores sero os vnculos a serem cortados e os esforos para o reequilbrio. Nada deve reter o morto no iy! O falecido,
aps receber seus rituais, passa a ser um ancestral e poder ser invocado como
gn. Esse ritual, o ss, ocorrer por 7 dias aps a morte.
A umbanda, cujo nome deriva do termo quimbundo (angolense), quer dizer
feiticeiro, xam ou curandeiro. O termo umbanda u + mbanda significa arte
mgica da cura, ou simplesmente magia. uma religio essencialmente brasileira, fruto da unio do candombl, prticas amerndias, catolicismo popular e de
conceitos espritas kardecistas.
565
Finalizando
Longe de querer esgotar o tema, este captulo apenas abre as portas do tema
queles que cuidam do ser humano no final de sua vida. Muitas so as religies
no descritas aqui, maiores ainda as subdivises e fragmentaes de todas elas.
No entanto, podemos perceber em todas uma relao de aceitao da morte e continuidade da existncia junto ao Criador.
A natureza religiosa e espiritual do ser humano uma rea ainda pouco abordada pelos profissionais de sade e torna-se vital nos cuidados com aqueles que
esto partindo. Conhecer nossas prprias questes sobre a finitude, religio e espiritualidade o ponto de partida para auxiliarmos melhor nossos pacientes.
A equipe deve ser treinada para aceitar os diferentes valores religiosos e espirituais, no impondo conceitos prprios, mas sim respeitando e incentivando a
participao do paciente em sua prtica.
A abordagem das questes espirituais e religiosas dos pacientes deve ocorrer
no incio do acompanhamento para que as medidas necessrias sejam tomadas em
direo resoluo de possveis demandas do paciente, famlia e equipe.
Sites de interesse
Associao Cemitrio Israelita de So Paulo - Chevra Kadisha (ACISP)
http://www.chevrakadisha.org.br/ ou http://www.chevrakadisha.com.br/
Centro de Dharma da Paz Shi De Choe Tsog http://www.centrodedharma.com.
br/ index.php
Federao Esprita Brasileira http://www.febnet.org.br/
Sociedade Beneficente Muulmana do Rio de Janeiro www.sbmrj.org.br
Templo Guaracy do Brasil www.temploguaracy.org.br
Vaticano http://www.vatican.va/phome_po.htm
566
Referncias
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568
Assistncia ao luto
Dbora Genezini
Se perdem gestos,
cartas de amor, malas, parentes.
Se perdem vozes,
cidades, pases, amigos.
Romances perdidos,
objetos perdidos, histrias se perdem.
Se perde o que fomos e o que queramos ser.
Se perde o momento.
Mas no existe perda,
existe movimento.
Bruna Lombardi (2006)
Perdas
Ao longo do ciclo vital nos deparamos com inmeras perdas. A definio
de perda nos dicionrios populares refere-se privao de algo que possuamos.
Podemos passar por perdas, saindo ilesos da vivncia, no entanto algumas
delas nos so caras e significativas, mobilizando sentimentos conflitantes e dolorosos.
Quando falo em perdas no me refiro somente morte, mas perdas psquicas,
fsicas, materiais, entre outras. Autores como Fonseca e Parkes(4, 11) citam outros
tipos de experincias que envolvem perdas, como a separao entre as pessoas
vivas, a doena como parte da pessoa que morre, o prprio desenvolvimento humano como formas de evoluo e morte, a morte psquica, as amputaes, a perda
de uma casa, entre outras tantas possibilidades.
Desde o nascimento somos treinados por meio da vivncia de perdas e mortes simblicas a nos aproximarmos da noo de finitude. No entanto, o condicionamento pelo no perder imperativo: no podemos perder a hora, o controle da
nossa rotina e no admitimos sequer deixar de ganhar uma competio.
Sabemos da vulnerabilidade humana e que existe adoecimento e fragilidade,
mas no ntimo vivemos com a iluso de que isso s ocorre a nossa distncia. Contudo, somos forados a olhar para o que temamos quando ns, algum familiar ou
um amigo querido adoece.
569
570
571
Processo do luto
Para o profissional que trabalha em contextos de perdas e morte, imprescindvel o conhecimento a respeito da definio de luto e das reaes comuns suscitadas por ele, uma vez que esse evento causar muitas mudanas de comportamento
nos familiares e no prprio doente.
Bromberg(2) aponta o luto como um conjunto de reaes a uma perda significativa e pontua que nenhum igual ao outro, pois no existem relaes significativas idnticas.
Engel apud Worden(17) pontua que a perda de uma pessoa amada psicologicamente traumtica na mesma medida em que sofrer uma queimadura grave
fisiologicamente traumtico. Ele refere que o luto representa uma sada do estado
de sade e bem-estar e, assim como a cura necessria no campo fisiolgico, um
perodo de tempo necessrio para que o enlutado retorne ao estado similar de
equilbrio.
Worden(17) lista categorias no processo de luto normal, dividindo-as em:
sentimentos tristeza, raiva, culpa, ansiedade, solido, fadiga, desamparo,
choque, anseio, emancipao, alvio e estarrecimento;
sensaes fsicas vazio no estmago, aperto no peito, n na garganta, hipersensibilidade ao barulho, sensao de despersonalizao, falta de ar (respirao curta), fraqueza muscular, falta de energia e boca seca;
cognies descrena, confuso, preocupao, sensao de presena e alucinaes;
comportamentos distrbios de sono, distrbios do apetite, comportamento
areo, isolamento social, sonhos com a pessoa que morreu, evitar lembranas
do falecido, procurar e chamar pela pessoa, suspiros, hiperatividade, choro,
visitar lugares e carregar objetos que lembrem o falecido.
572
racterstica dessa fase), e mostra-se obsessivamente preocupada com lembranas, pensamentos e objetos do falecido. Ocorrem tambm sentimentos
contrrios ou incompatveis, como esperana e desapontamento;
desespero nessa fase o enlutado deixa de procurar pela pessoa perdida e
reconhece a imutabilidade da perda. O enlutado duvida de que qualquer coisa
que valha a pena na vida possa ser preservada, assim podem surgir apatia e
depresso. O processo de superao lento e doloroso. comum que ocorra
afastamento das pessoas e das atividades, falta de interesse e inabilidade para
se concentrar em funes rotineiras ou para iniciar atividades. Os sintomas
somticos persistem, incluindo falta de sono, perdas de apetite, peso e distrbios gastrointestinais;
recuperao e restituio a depresso e a desesperana comeam a se entrelaar, com frequncia cada vez maior, a sentimentos mais positivos e menos devastadores. A pessoa enlutada pode aceitar as mudanas em si e na
situao. Vem da uma nova identidade, que lhe permite desistir da ideia de
recuperar a pessoa morta. D-se o retorno da independncia e da iniciativa.
Mesmo com o processo de recuperao ainda em andamento, comum a
volta de sintomas que haviam cedido, particularmente em datas que ativam
lembranas, como dias de nascimento, morte e casamento.
A descrio das fases permite, inclusive, a identificao de alteraes no
adaptativas frente ao processo de luto, ao que chamado luto complicado, sendo
muito til o encaminhamento ao profissional especializado para acompanhamentos mdico e psicolgico.
Vale ressaltar novamente que o luto um processo individual e subjetivo e
que no existe uma regra rgida quando pensamos nas fases e no enfrentamento
do mesmo.
Elizabeth Kbler Ross(14) descreve as fases de enfrentamento do luto como
negao, revolta, barganha, depresso e aceitao, mas nem todo processo de enlutamento e resoluo do luto compe todas as etapas, que so vlidas apenas
como um norte para os profissionais que assistem pacientes e familiares em
situaes de doena e morte. A prpria autora em uma de suas ltimas obras pontuou que, se soubesse que a ideia de fases seria compreendida de forma to literal
e estanque, no a teria escrito.
Percebe-se uma banalizao da ideia das fases pensadas por Kbler Ross,
como se todos os enlutados em algum momento tivessem que obrigatoriamente
vivenciar e se enquadrar nelas. Isso tira a percepo do individual e subjetivo, to
importantes na elaborao do processo de luto.
Rando(13) tambm outro autor que dividide as fases do luto em:
reconhecer a perda;
574
575
Existem algumas variveis que podem agir como facilitadores ou afetar adversamente nos processos de luto das famlias. Franco(5) descreve fatores que podem interferir significativamente no processo de morte e luto:
natureza e significados relacionados com a perda;
qualidade da relao que se finda;
papel que a pessoa morte ocupa no sistema familiar/social;
recursos de enfrentamento do enlutado;
experincias prvias com morte e perda;
fundamentos culturais e religiosos do enlutado;
idade do enlutado e da pessoa morte;
questes no resolvidas entre a pessoa morte e o enlutado;
percepo individual sobre o quanto foi realizado em vida;
perdas secundrias, circunstncias da terminalidade.
Todos esses fatores oferecem ao profissional possibilidades de compreenso
da dinmica e relao do ncleo de cuidados, e facilitam o estabelecimento do
ritmo e tempo da comunicao.
Situaes de crise tendem a exacerbar padres de relacionamento tanto positivos quanto negativos. Esse dado deve ser considerado pelo profissional.
O padro de comunicao da famlia deve receber uma ateno especial por
parte da avaliao da equipe de cuidados. Comunicao bloqueada, permeada
de segredos, mitos e tabus influencia na forma com que as informaes circulam
dentro do sistema familiar, levando a mal-entendidos e interferindo, muitas vezes,
no processo de elaborao da perda.
Quando o profissional no est atento a esses padres de comunicao, pode
acabar fazendo alianas com familiares, acobertando mentiras ou sustentando silncios prejudiciais.
Segundo Carter e McGoldrick(3), os terapeutas, como tambm as equipes de
sade, devem ser modelos para as famlias, informando de forma factual e clara
consideraes sobre a morte, para que assim no haja m interpretao dos consulentes e se evite a transmisso de informaes distorcidas a outros membros da
famlia.
A proximidade com a morte, mesmo que no seja anunciada pelo mdico e
pela equipe, muitas vezes clara para o doente, que chega mesmo a verbaliz-la,
gerando sentimentos de desconforto tanto para a famlia como para a equipe. Embora a eficincia da comunicao durante todo o processo de tratamento da doena
at o desfecho da morte dependa da clareza com que informaes e sentimentos
so expressos, no exime de sofrimento para quem ouve e sente que o fim est
prximo.
576
A equipe de cuidados que acompanha a famlia tambm pode ajud-la a seguir em frente, esclarecendo possveis reaes normais de luto. No so raros os
relatos de familiares que dizem abertamente: Mas eu no tenho direito de estar
sorrindo, sendo que eu perdi a pessoa mais importante da minha vida. Autorizar
a famlia a seguir em frente, por meio de uma conversa acolhedora e franca, pode
desmistificar possveis inadequaes em termos de comportamentos esperados
diante do luto, como culpa e autorreprovao.
Com relao s famlias com crianas pequenas, importante, segundo
Walsh(16), auxili-las a abordarem a questo da morte do familiar, ao invs de
manterem-se os vus do segredo. As informaes devero ser abordadas levando
em considerao as aptides cognitivas para compreenso do fenmeno da morte
conforme a idade, no as sobrecarregando nem as superprotegendo. Grupos de
irmos geralmente so negligenciados afetivamente quando os pais esto enlutados, uma vez que no esto disponveis em recursos internos para acolher as
crianas. Dessa forma, importante que o profissional de sade auxilie a identificar quem a rede de apoio com que a famlia poder contar e aponte para os
membros do sistema familiar a possibilidade de acionar a rede para dar conta dos
cuidados bsicos, como quem ficar com as crianas durante as providncias de
funeral, por exemplo.
A dificuldade dos pais em acolher crianas e adolescentes sobreviventes
pode desencadear nestes culpa e persecutoriedade, o que s amplifica sofrimento
e conflitos de toda a famlia. As intervenes teraputica e educativa so necessrias no luto.
Idosos tambm costumam ser excludos de alguns passos do processo da
perda, pois so subestimados pela representao de fragilidade do velho, o que
bastante negativo e provoca a sensao de falta de lugar, ser um peso e de que
ele quem devia ter morrido.
Finalizando
O que se observa que o ser humano no preparado para a finitude. Fomos
introduzidos ao universo da celebrao dos nascimentos, mas no da morte. Os rituais de perda e morte da cultura ocidental elucidam o quanto sofrida a vivncia
da morte. A morte do outro nos impe o confronto com nossa vida e nossa prpria
morte, e isso gera desconforto, ansiedade e sofrimento. Somos forados a olhar
atentamente para a qualidade da nossa vida e de nossas relaes, uma vez que a
morte a fase final do ciclo vital.
Os Cuidados Paliativos representam, nesse sentido, o resgate do valioso cuidar, abrindo espao para o viver e o morrer com paciente e familiares, considerados agentes ativos no processo junto equipe de sade. Nesse cenrio, possvel
legitimar os desafios inerentes fase final de vida, morte e ao luto.
580
Sendo o luto a ltima etapa da interveno da equipe, surge a dvida a respeito de quando ele termina. No h resposta pronta. Parkes(11) diz que o processo
de luto est terminado quando uma pessoa completa a fase final do luto de restituio, em que uma pessoa pode reinvestir suas emoes na vida e no viver.
Worden(17) explica que o luto est terminado quando suas respectivas tarefas so
completadas. Completa ainda com o fato de que uma pessoa, ao ser capaz de pensar em quem faleceu sem dor, est dando um sinal de reao de luto terminado.
Existe sempre uma sensao de tristeza quando se pensa em algum que se amou
e se perdeu, mas um tipo diferente de tristeza, sem a presena de manifestaes
fsicas, como o choro intenso. De modo bem simplista,o luto pode estar sendo
elaborado quando a dor se transforma em saudades, e o enlutado consegue utilizar
a saudade e as lembranas da relao significativa como combustvel para continuar tocando a vida em diante. Quando consegue sentir a relao vivida, mesmo
que findada de certa forma, como um privilgio.
O recolhimento um movimento essencial para a reorganizao dos sentimentos que se confundem diante de uma perda significativa. necessrio um
tempo para organizar um espao para a dor, como tambm outros espaos para
significar e ressignificar essa perda. Reflexes sobre que parte do enlutado foi
ferida e perdida junto com a pessoa quemorreu e sobre os caminhos possveis
de trilhar sem a pessoa amada revelam que a morte gera uma crise nos sistemas
individual e familiar, sendo necessria uma reorganizao.
No existe amor sem perda. E no existe a superao da perda sem alguma
experincia de luto. No ser capaz de vivenci-la ser incapaz de entrar no grande ciclo da vida humana de morte e renascimento ser incapaz, isto , de viver
novamente (Lifton, 1975, apud Walsh & Mcgoldrick, 1998).
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Editora Livro Pleno, 2005.
581
582
Parte 9
Anexos
Quadro-sntese dos principais sintomas que no a dor, presentes na fase final de vida, e as condutas sugeridas a serem implementadas.
SINTOMAS
CAUSAS
PRINCIPAIS
a causa principal
dor noturna
depresso/
ansiedade
maior inatividade
de dia
cochiladas diurnas
efeito colateral de
medicaes
lcool e cafena
TRATAMENTO
NO FARMACOLGICO
TRATAMENTO
FARMACOLGICO
Alterao do
sono/viglia
(insnia ocorre
em 29-59%
nos casos de
cncer avanado)
-
-
-
-
-
-
- tcnicas de relaxa - -
mento
-
- ouvir os medos
do paciente
- diminuir as
-
cochila das
-
- incentivar exer -
ccios e atividades moderadas
-
durante o dia
- evitar lcool e
cafena
Anorexiacaquexia
(tratamento
polmico)
- a causa principal
a progresso da
doena
- alterao do
paladar
- vmitos
- dor intensa, dispneia ou depresso
- boca seca
- dieta fracionada
em pequenas
quantidades,
vrias vezes ao
dia
- dieta colorida com
levantamento do
cardpio alimentar
prvio (anamnese
alimentar)
- se indicado, dieta
por SNE em posio gstrica ou
gastrostomia,
Astenia
(= Fadiga)
- progresso da
doena
- anemia
- dor
- depresso
- insnia
- infeces crnicas
e agudas
- m absoro
585
Boca seca
- efeito colateral de
medicao
- desidratao
- respirar de boca
aberta
- candidase oral
- vmitos, anorexia
- depresso/
ansiedade
Broncorreia
(hiperssecreo)
Confuso
Mental
(demncia ou
delrio)
Convulses
(10% dos
pacientes na
fase terminal podem
apresentar
convulses)
Constipao
- inatividade,
fraqueza
- menor ingesto
alimentar e de
lquidos
- obstruo intestinal
pelo tumor
- hipercalcemia
- confuso mental,
depresso
- efeito colateral de
medicaes
- manter o paciente
num ambiente
seguro e familiar
- remover objetos
perigosos
- usar frases simples
- diminuir sons (TV,
rdio)
- medicao deve ser
supervisionada
- encorajar atividade
fsica, se possvel
- oferecer mais gua
- dieta rica em fibras
- ch de sene
- movimentar os
membros
inferiores
- realizar massagem
abdominal no
sentido horrio
586
Delrio (mais
de 40% dos
pacientes vo
apresentar
confuso
mental ou
delrio na fase
final de vida)
- fase terminal da
doena
- alteraes do nvel
de conscincia
- encefalopatia
metablica
- distrbios hidroeletrolticos (Na, Ca,
glicose)
- infeco
- efeito colateral da
morfina
Depresso
Diarreia
- medicao laxativa
em excesso
- abstinncia de
opioides
- antibiticos,
anticidos
- infuso rpida da
dieta por SNE
- gastroparesia (DM,
hipertiroidismo,
doena inflamat.
intest. etc.)
Disfuno
urinria
- progresso da
- dispositivo urin- - se incontinncia: introduzir s/n
doena
anticolinrgicos, antidepressirio no invasivo
- alteraes do nvel
vos tricclicos
(Uripen) + bolsa
(a prioridade
de conscincia
- se reteno, rever medicao
coletora ou
melhorar o
- efeito colateral de
constipante: codena, morfina,
garrafa plstica
desconforto do
medicaes
antidepressivos tricclicos
(homens)
bexigoma)
- antibitico, se infeco de trato
- uso de comadre
urinrio
(mulheres)
- uso de fraldas
descartveis
- preveno de
dermatite
Dispneia cau- - linfangite carcino- - reposicionar
- corticoides nas linfangites e
sas multifatomatosa/metstases
compresses tumorais
paciente na cama
riais
pulmonares
ou cadeira
- broncodilatores s/n
- elevar o decbito - se hipersecreo: hioscina
587
-
-
-
-
abrir janelas
ventilar o paciente
oferecer gua
fazer exerccios
respiratrios
- oxignio suplementar: CPAP,
O2 contnuo
- ef. colateral de
- explicar o que
medica es: metomioclonia e as
clopramida, opiocausas
ides (dose alta),
neurolpticos
- abstinncia de: lcool, benzodiazepnicos, barbitricos,
anticonvulsivantes
- por hipxia SNC
10mg 8/8hs VO
- se tosse seca: codena 10-20mg
6/6h
- se indicado: toracocentese de
alvio nos derrames pleurais
- morfina (iniciar com 2,5-5mg
4/4hs VO ou 2mg 4/4h SC)
- sedao paliativa, se dispneia
incontrolvel.
1a opo midazolan associada
morfina
-
-
-
-
rever medicaes
rever dose de opioides
considerar rodzio de opioides
sedar com midazolam 5-10mg
SC de h/h at cessar e depois
manter 20-30mg/dia
- alternativas: diazepam 1020mg VR h/h
- obstruo intestinal
- dismotilidade
gstrica
Obs.: no
- ef. colateral
medicaes
administrar
gastrocinticos, - efeitos da QT
se vmitos por - distrbios
obstruo do
metablicos (hipercalcemia, uremia,
trato GI
hiponatremia)
- infeco
- dieta fracionada
e em pequenas
pores
- alimentos e lquidos frios e azedos:
gelatina, sorvetes,
sorbets, pedaos
de gelo, mousses
- tcnicas de
relaxamento
- higiene oral pr e
ps-prandial
- antiemticos: metoclopramida
10-30 mg 8/8-4/4h ou
dramamine
- outras drogas: haloperidol
1-2mg/dia, clorpromazina 2550mg a cada 6-12h, diazepam
5mg
- ondansetron (4-8mg 8/8h, se
ps-QT)
- haloperidol 1 a 3mg SC de 1 a
3x/dia
- clorpromazina 25-50mg SC
- via de administrao preferencial SC ou supositrios
Prurido
- hidratao da pele
(leo com cido
graxo essencial:
girassol ou canola)
- banho: gua no
muito quente
- checar medicao/alimentos
- tratar dermatites
- anti-histamnicos: hidroxizine
25-100mg VO de 8/8h
- corticoides s/n
- tratar infecco (fungo/
parasita)
Nuseas e
Vmitos
-
-
-
-
pele seca
alergias
dermatites
infeco fngica
ou escabiose
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Ronco da
morte (sororoca), em
ingls: death
rattle
- dieta fracionada
- dispepsia
- tumor ou metstase
e lquidos frios
SNC
- esfregar com gaze
o cu da boca
- irritao nervo
- xylocana gel + 1
vago/frnico
- ef. colateral medicolher de sopa
caes: corticoiacar diludo em
des, bloqueadores
um pouco de suco
de limo ou laranja
de canal de clcio,
anticonvulsivantes
- checar medicao
- se distenso abdominal dimeticona (30-60gt na boca)
- tratar dispepsia
- metoclopramida 10-20mg VO
ou SC 3 a 4x/dia OU
- haloperidol 1-2,5mg 1-x/dia
- clorpromazina 10-25mg at
3-4x/dia
- baclofeno 5-10mg cada 8-12hs
- gabapentina 300mg at 3x/dia
Soluos
(checar a
causa)
Difcil
tratamento
Sudorese
(checar a
causa)
- febre, infeco
- pelo prprio tumor,
geralmente associado a Linfoma
de Hodgkin, Tu.
malignos e/ou metstase heptica
- suspenso abrupta
de opoides
- secar sudorese
- tratar a causa da febre, infeccom tecido
o
- abaixar a tempera- - descontinuar antipirticos
tura do ambiente - diminuir sudorese paraneopl - propiciar fluxo de
sica: naproxeno 250-375mg
ar no ambiente
2x/dia VO, cimetidine 400 - evitar alimentos
800mg 2x/dia VO, propanolol
quente e/ou pican10-20mg 2x/dia VO, olanzapites
na 5mg 1-2x/dia VO; estudos
com talidomida (100mg/dia)
- trocar antidepressivos por
venlafaxina 37,5mg a 75mg/
dia VO
- considerar rodzio de opoides
- hidratao
- umidificao do
ar
- nebulizao
- posicionamento
mais ereto
- fisioterapia respiratria
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Referncias
WHO Palliative Care: symptom management and end-of-life care, 2004. http://www.who.
int/3by5/publications/documents/en/genericpalliativecare082004.pdf
Doyle, D.; Hanks, G.; Cherny, N.; Calman, K. in Oxford Textbook of Palliative
Medicine, 3rd ed, 2005.
Guia farmacogeriatrica-Madrid. Disponvel em http://www.semer.es/docs/Farmacogeriatrica.pdf
Symptoms and Symptoms Management Forum in Enciclopedia of Death and Dying: SyVi. Site: http://www.deathreference.com/Sy-Vi/Symptoms-and-Symptom-management.html
INCA.Cuidados Paliativos Oncolgicos-controle de sintomas. Disponvel em http://www.
inca.gov.br/rbc/n_48/v02/pdf/condutas3.pdf
Bruera, E.; Higginson, I. J.; Ripamonti, C.; von Gunten, C. in Textbook of
Palliative Medicine, 1st ed, 2006.
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Fone: 51 3779.6492