MENDONÇA. A Etnografia Literária (INTRO)
MENDONÇA. A Etnografia Literária (INTRO)
MENDONÇA. A Etnografia Literária (INTRO)
Financiadora: CAPES
Financiadora: CAPES
Comissão Examinadora
AGRADECIMENTOS
À CAPES.
RESUMO
ABSTRACT
Through a concept we call literary ethnography, we seek to demonstrate how the subject-
writer Guimarães Rosa, focused on anthropology, in particular, the ethnography, builds with
materials such as his travel notes, letters, notes of your diary and poetic reports and, through
them, showed how this construct contaminates the later narrators your literature. On
construction of literary ethnography, we called the narrator as an ethnographer built through
the travel, of the observation that values the synesthesia and of the empathy with the
characters, the other. This empathy can be seen through the direct speech or free indirect
speech, essential to the literary ethnography, because represent access to alterity. We
demonstrate how notions of ethnography are present in the narratives of Ave, Palavra,
"Sanga Puytã”, “Cipango", "Uns índios – sua fala", "Ao Pantanal”and “Pé-duro, chapéu-
de-couro as well " "Entremeio: com o vaqueiro Mariano”, of Estas Estórias and "O recado
do Morro" and "Uma estória de amor", of Corpo de Baile. We find the travel diary of a
writer, A Boiada, such ethnographic vision that converses with other texts studied in the
thesis.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO..................................................................................................................10
2. OS NARRADORES EM GUIMARÃES ROSA................................................................17
2.1.O viajante......................................................................................................................18
2.1.1.A escrita da viagem..............................................................................................31
2.1.2. Alquiste e o narrador: dois viajantes..................................................................... 42
2.1.3. Alquiste................................................................................................................... 51
2.1.O sinestésico......................................................................................................................62
2.3. Em suspeição....................................................................................................................70
2.3.1. Com os vaqueiros....................................................................................................78
2.3.1.1. Manuelzão.......................................................................................................78
2.3.1.2. Mariano............................................................................................................85
2.3.1.3. Os pés-duros com chapéus de couro................................................................88
8. CONCLUSÃO..............................................................................................................273
9. BIBLIOGRAFIA..........................................................................................................277
10
1. INTRODUÇÃO
Nos dez anos que separam Sagarana de Corpo de Baile e Grande Sertão: Veredas,
Guimarães Rosa produziu vários escritos que, após suas publicações em jornais, foram
recolhidos pelo autor em Ave, Palavra. Costa (2006) conta 23 textos. Dentre eles estão:
contos, relatos de viagens, notas de um diário, descrições de animais e o livro Com o vaqueiro
Mariano. A esmagadora maioria dos trabalhos de crítica literária sobre o autor concentra-se
no romance Grande Sertão: Veredas. Quando muito selecionam alguns contos e novelas. O
livro Ave, Palavra aguarda uma leitura crítica como um todo, pois muito de seus estudos,
assim como é o caso do nosso, são fragmentados e estão concentrados dentro de dissertações
e teses não publicadas. Há ainda estudos sobre o mencionado livro que se encontram
incorporados à análise do romance Grande Sertão ou de contos anteriores.
Deste Ave, Palavra, de publicação póstuma, separarmos “Sanga Puytã”, um conto-
crônica; “Cipango”, “Uns índios – sua fala” e “Ao Pantanal”, como exemplares de notas
poéticas de viagem; “Pé-duro, chapéu-de-couro”, reportagem poética mesclada a ensaio,
conto e crônica”; e, também, “Entremeio: com o vaqueiro Mariano”, publicado como livro de
tiragem mínima, e, posteriormente, republicado em Estas Estórias, a fim de estabelecer um
diálogo com duas narrativas de Corpo de Baile: “O recado do morro” e “Uma estória de
amor”. Incluímos também para fazer parte desse diálogo o diário de viagem A Boiada1..
O eixo norteador de nossa leitura está na presença de um tipo de narrador gestado nos
textos de Ave, Palavra como também em “Entremeio” e que nasce completamente nas
narrativas de Corpo de Baile. Desde o início, chama a atenção nestes textos de Ave, Palavra,
a presença de um olhar etnográfico poético presente nas notas de viagem recolhidas, bem
como na reportagem poética com o vaqueiro do Pantanal. Tal olhar passa por uma elaboração
mais sofisticada para voltar em “O recado do morro” e “Uma estória de amor”.
Guimarães Rosa, como expõe Santiago (1982), está dentro da tradição literária
brasileira de busca etnológica que teve em Mário de Andrade não apenas um “turista
aprendiz”, mas um pesquisador arguto. A crítica literária já apontou que o escritor paulista
valeu-se de farto material etnográfico para produzir Macunaíma. Tratava-se para a literatura,
naquela ocasião, de descobrir o Brasil para os outros redescobrirem, o que muito orientou a
1
A obra de Guimarães Rosa é relativamente vasta. Outras narrativas do escritor poderiam ser analisadas à luz da
etnografia literária. Porém privilegiamos, nesse estudo, narrativas menos estudadas do autor; por outro lado, por
se tratar de um estudo interdisciplinar, julgamos apropriado limitar o corpus.
11
ideologia da Semana de 22 paulista. De modo similar, Rosa também atua como pesquisador.
Mas isso não é tão evidente como Mário de Andrade em sua rapsódia. É mais sutil, ao deixar
marcas desse caráter nos textos provenientes de sua viagem ao Pantanal mato-grossense e no
diário A Boiada, em que se dá a construção de um narrador etnógrafo ligado à antropologia2.
Considerando essas observações, argumentamos que literatura e antropologia estão em
diálogo, uma vez que a onisciência total não é mais possível na literatura nesse período. Não
há mais espaço para os narradores que controlavam todo o escrito, falando pelos personagens.
Na antropologia contemporânea, na sua virada epistemológica, conforme aponta Teresa
Caldeira (1988), a voz do antropólogo como produtor único e controlador da textualidade
etnográfica resultaria num apagamento do informante e de toda a subjetividade que a sua
presença poderia trazer ao texto etnográfico. O etnógrafo passa, segundo a antropóloga
brasileira, a ser igualado ao nativo, não sendo mais o único produtor de conhecimento sobre a
sociedade que estuda. Assemelha-se assim ao o narrador onisciente da literatura que estava
por detrás de tudo o que estava sendo contado, apagando muitas vozes dos personagens. Se a
polifonia invadiu a literatura há muito tempo, na antropologia atual as vozes também se fazem
ouvir. Nos textos de Rosa mencionados, as vozes são escutadas ora em discurso direto, ora em
indireto livre. Em “Entremeio”, por exemplo, o informante não subsumiu a voz do narrador.
Eles partilham a narrativa, por isso temos a conversa, o diálogo que resultaria no relato de
Mariano e não numa entrevista formal. São importantes as palavras de Walter Mignolo sobre
a literatura que parece antropologia ou a antropologia que parece literatura:
Se o relato de Mariano que ocupa parte da narrativa é literário, ele não deixa de ser
2
Na Tese, tomamos como base as diferenciações que Lévi-Strauss faz, em Antropologia Estrutural, sobre
etnografia, etnologia e antropologia. Acompanhemos suas palavras: “etnografia corresponderia aos primeiros
estágios da investigação: observação e descrição, trabalho de campo. [...] também inclui os métodos e técnicas
relativos ao trabalho de campo, a classificação, a descrição e a análise de fenômenos culturais particulares. [...]
Etnologia representa, em relação à etnografia, um primeiro passo em direção à síntese. Sem excluir a observação
direta, ela tende a conclusões suficientemente amplas para que seja difícil fundamentá-las exclusivamente num
conhecimento de primeira mão. [...] Quer se declare ‘social’ ou ‘cultural’, a antropologia sempre aspira ao
conhecimento do homem total, considerado a partir de suas produções num caso, e de suas representações, no
outro. [...] Etnografia, etnologia e antropologia não constituem três disciplinas diferentes, ou três concepções
diferentes das mesmas investigações. São, na verdade, três etapas ou três momentos de uma mesma pesquisa”
(LÉVI-STRAUSS, 1975, p. 378-379).
12
antropológico também, pois a busca do narrador pela alteridade, deixando o outro, o vaqueiro
experiente do Pantanal assumir o controle da entrevista, transformando-a em um relato
autobiográfico, aproxima à literatura da antropologia. Está criado, portanto, o narrador
etnógrafo que passa a estar no texto literário de Guimarães Rosa, que se constitui assim como
uma etnografia literária.
Na teoria antropológica, Lévi-Strauss (1976) assinala a redução de distância entre o
antropólogo e o nativo, chegando a uma identificação com o outro para assim compreender o
funcionamento da cultura daquele que é estudado, uma vez que a integração é fundamental na
perspectiva antropológica. Para se identificar com o outro, o narrador tenta reduzir tal
distância, estando no lugar. A isso se presta muito bem o discurso indireto livre, pois ele, por
exemplo, pode saber o que pensa o personagem Manuelzão, de “Uma estória de amor”. Tal
narrador acessa a mente do outro, realizando a utopia do etnógrafo ideal proposta por Lévi-
Strauss (1976).
Para isso é fundamental na etnografia literária de Guimarães Rosa que o narrador seja
um viajante, aquele que se desloca em busca do outro. De acordo com Lévi-Strauss (1976), a
procura pela universalidade humana é o principal objetivo da etnografia. Para tanto, é
necessário que o profissional especializado esteja nos lugares remotos do globo, que viaje,
separando-se assim de sua cultura, daquela da qual saiu e se integre plenamente à cultura do
outro. Em sua etnografia literária, Guimarães Rosa emprega portanto, o discurso indireto
livre, um dos mais adequados, ao lado do discurso direto, para simular a integração à cultura
do outro. Um narrador culto, aquele que assumiria totalmente o contar, não daria conta de tal
aspecto. Por isso, em muitas de suas narrativas, o citadino, o “culto” é silenciado ou é
marcado por aquele que veio de fora e entra em contado com o outro, em um diálogo. É
importante ressaltar, porém, que nos textos de Ave, Palavra e em “Entremeio”, o narrador
etnógrafo é, claramente, alguém de fora. Em “Uma estória de amor” e em “O recado do
morro”, ele se camufla, mas deixa marcas, traços e gestos que revelam ser os de um citadino,
alguém de fora, que faz a mediação entre dois mundos. As duas narrativas são marcadas pelas
descrições pormenorizadas, pela valorização daquilo que seria comum para o morador local,
no caso, o capataz da fazenda Samarra, o vaqueiro Manuelzão e o guia-roceiro Pê-Boi.
Sabiamente, para fazer a mediação entre o mundo do qual veio o narrador etnógrafo e o
mundo do personagem destas mencionadas narrativas de Corpo de Baile, o recurso usado pela
etnografia literária é a projeção da visão dos personagens, numa tentativa de apagamento do
narrador etnógrafo, cujas pegadas podem, contudo, ser seguidas pelas narrativas.
É importante ressaltar que uma das características fundamentais da etnografia literária
13
3
Estudo ou conhecimento do Ser, dos entes ou das coisas tais como são em si mesmas, real e verdadeiramente.
(Cf. Chauí, 2003).
14
Mariano e Manuelzão, mas não perde de vista a coletividade presente em “Pé-duro, chapéu-
de-couro”. O escritor não está interessado no nacionalismo redutor marcado dentro de
fronteiras geográficas e ideológicas e que está presente, muitas vezes, na noção de
coletividade. A figura de seu vaqueiro ideal cavalga por todas as paragens do mundo, é,
portanto, universal.
Na etnografia literária roseana, também há um discurso marcado pela busca de um
mundo com elementos culturais como também àqueles ligados à fauna e à flora que
chamamos de etnografia de “resgate”, a partir da definição do historiador e antropólogo
estadunidense James Clifford. Tendo necessidade de fixar mundos em vias de extinção, a
descrição pormenorizada, num exercício intenso de pesquisa e de memória, a estrutura do
“resgate”, é importante para a etnografia literária do escritor.
Na construção de nossa proposta de leitura para os textos escolhidos de Guimarães
Rosa, ou seja, para o que estamos chamando de etnografia literária, é necessário
apresentarmos as várias etapas percorridas pelos narradores na constituição do narrador
etnógrafo. Portanto, no Capítulo I, intitulado “Os narradores em Guimarães Rosa”,
apresentamos um viajante que possui como recurso um sensorialismo apurado capaz de
capturar, nos espaços percorridos, a essência das coisas, tão cara a Guimarães Rosa. Para
tanto, a visualidade é explorada ao extremo e, através dela, resulta a composição de imagens
poéticas. Tal observação sensorial é fugaz, pois tudo foge pela velocidade imposta na viagem.
Já o encontro com o outro, com a diversidade, apresentado como a busca pela alteridade tão
cara à antropologia, é explorada no repouso, na parada, uma vez que a presença humana é
valorizada e é com ela que se pode aprender.
Nas notas de viagem de Ave, Palavra percebe-se que a tentativa de aproximação com a
alteridade é falha, pois o narrador viajante vê apenas a exterioridade. Já na marcha lenta dos
bois, no diário A Boiada, verifica-se a preocupação com a alteridade nas anotações da
cosmovisão dos vaqueiros, uma vez que o sujeito escritor, um etnógrafo amador, coleta
informações em uma viagem cuidadosamente planejada para a construção de futuros
narradores, considerando a perspectiva da etnografia literária.
A visão e a audição trazem uma das marcas mais significativas da textualidade em
Guimarães Rosa: a descrição pormenorizada. As descrições funcionam nos textos como um
constituinte da visão tanto dos personagens como do narrador. Há muito cuidado na atribuição
da visão da paisagem aos personagens. Como eles são essenciais no desenrolar das narrativas,
ao recolher a visão dos personagens, descreve-se o que eles veem, apresentando o seu ser.
Na etnografia literária, há uma espécie de arquivo poético, uma vez que a catalogação
15
evoca uma espécie de detalhismo funcional que tem na figura do viajante o seu principal
requisito. Tanto que ele, o viajante-narrador, está integrado à fauna e à flora, pois nada lhe
escapa. Não é, portanto, uma catalogação natural, mas um arquivo poético. Esse narrador
maneja também os discursos das ciências naturais, mas traz com ele o literário.
É interessante ressaltar que temos aspectos da viagem física para se chegar à
alteridade. Ambos são constituintes da construção do narrador. Por vezes, existem
deslizamentos constantes entre o olhar científico e a criação literária, e, muitas vezes, é difícil
definir onde termina o narrador viajante e começa o etnógrafo.
O acesso à alteridade, para o viajante, está no conhecimento da língua do outro, na
focalização múltipla que traz pontos de vistas díspares, um dos recursos essenciais em “O
recado do morro.”
Já o narrador sinestésico, outra faceta do narrador etnógrafo, recurso fundamental da
etnografia literária, está concentrado no jogo de andar e ver, uma vez que o seu olhar tátil, ao
imbricar-se com o narrador viajante, faz, por vezes, elidir as fronteiras entre eles. Assim, um
não funciona sem o outro, não há entre eles contornos definidos. O aparato fundamental do
narrador sinestésico está na descrição, assim como o do viajante.
O narrador em suspeição, cujo discurso direto e indireto livre são recursos para o
acesso ao outro, não o distanciando, procura na filosofia do vaqueiro, do pastor do boi, criar
uma ontologia. O seu olho está colado a Manuelzão, Mariano e os chapéus-de-couro numa
afetividade que o coloca em suspeição pela simpatia para com os seus personagens e para com
a figura do vaqueiro rústico.
Para estar junto a seus personagens vaqueiros, com os quais mantém uma relação de
simpatia, é necessário que o narrador etnógrafo, apresentado no Capítulo 3, o último que se
desenvolve a partir do viajante, do sinestésico e daquele que está em suspeição, marque sua
presença física no local, filiando-se ao lema tão caro à antropologia: o estudo do homem
estando com ele. Em “Uma estória de amor”, pode-se ver sua presença na festa. Ela é um bom
índice para a observação etnográfica, pois funciona como uma espécie de cerimonial que
reúne inúmeras pessoas, apresentando várias representações díspares de uma mesma cultura.
Tal narrador atua como um arquivista tanto da cultura material quanto de tipos humanos, uma
vez que os usos e costumes são essenciais para se entender a cultura, pois os detalhes
encontram-se nas pequenas relações, no dia a dia, no desenrolar da festa. Há um cuidado na
recolha da cultura imaterial, pois ela é interpolada às narrativas, como no caso de “Uma
estória de amor” e “O recado do morro”, que funciona como um todo, uma unidade.
16
8. CONCLUSÃO
Neste arremate final, podemos afirmar que o sujeito-escritor Guimarães Rosa voltado
para a antropologia, em especial, a etnografia, constrói-se ao longo de suas notas de viagens,
cartas, anotações de seu diário e reportagens poéticas. Além disso, esse seu fazer contamina
os narradores posteriores de sua literatura, conforme constatamos ao longo deste trabalho.
A postura de um narrador enquanto etnógrafo, arquitetado dentro do que
denominamos de etnografia literária, é encontrada em embrião no percurso da viagem, cuja
técnica é a de recolha de tudo o que observa, pois necessita para isso andar e ver, numa
catalogação, fazendo uma espécie de arquivo do mundo natural. Neste mesmo mundo, está o
elemento humano para quem o narrador lança um olhar antropológico cuja observação direta
da realidade lhe dá o acesso à alteridade, e, sobretudo, a valoriza sob o ponto de vista do
outro, fazendo desta literatura examinada uma etnografia literária. Desta maneira, Guimarães
Rosa se aproxima da antropologia cultural, pois é através do ponto de vista dos personagens
que nos é apresentada a cultura deles.
Este narrador “está lá”. É um etnógrafo, age como um, deixa marcas, traços e gestos
que se camuflam dentro das narrativas estudadas de Corpo de Baile. Difere do narrador que
veio de fora, uma espécie de etnógrafo afastado da cultura, visto nos textos de Ave, Palavra
referentes à viagem ao Pantanal mato-grossense, o qual tem, portanto, dificuldade de acesso à
alteridade. Por isso, nestes textos abundam muita paisagem, uma vez que o narrador não
consegue chegar totalmente ao elemento humano, que visita em “Entremeio”. Há, no
mencionado texto, uma separação entre o narrador e o vaqueiro através de marcas textuais e
na própria estrutura da narração, diferentemente do narrador de Corpo de Baile, que tenta
desaparecer para mostrar a etnografia literária, a cultura do outro. Geertz (2009) afirma que o
trabalho antropológico revela as bases da vida social e, a rigor, para além delas, as bases da
existência humana como tal. Esta é a busca da etnografia literária roseana.
Quando falamos de etnografia literária, não podemos perder de vista que Guimarães
Rosa está inserido numa tradição de crítica à sociedade moderna. Portanto, sua preferência
pela vida rústica para ambientar as narrativas, como também pelo arcaico em detrimento do
moderno, que vai desde a língua até os mitos, é uma busca político-estética perpassada por um
olhar antropológico. Recolher a cultura do outro na etnografia literária não é mera recolha
etnográfica, mas sim uma forma de acesso à cosmovisão do vaqueiro através de seus mitos.
Guimarães Rosa mergulha no espaço interiorano, mas não pode falar como um local,
uma vez que um dos princípios literários é transfiguração da realidade. Se tentar falar da
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realidade tal qual é, de maneira descritivista, reforçaria preconceitos entre o narrador culto e o
homem rústico, como bem problematiza Candido (1972). Faria com isso uma caricatura do
outro, pois este lhe é inacessível. O escritor é, nesse aspecto, essencialmente cosmopolita,
pois se adapta facilmente ao próximo, ao ambiente e ao outro como pode ser visto em seu
diário A Boiada. Tal atitude seria impossível a um vaqueiro limitado ao seu espaço local. Por
isso, ao voltar de seu mergulho na sociedade visitada, Guimarães Rosa criou um tipo de
linguagem única que marca o distanciamento e não a identificação com o outro, uma vez que
a identificação só reproduziria os estereótipos das representações literárias sobre o homem do
interior. Esta é a linguagem dos seus personagens na sua etnografia literária. O que resta do
outro é apenas a intepretação filtrada de sua mentalidade através de sua fala direta ou ainda
pela presença do discurso indireto livre.
Na etnografia literária, o narrador pode ser visto através de uma visão salvacionista – e
por que não ecológica? –, pois tenta preservar, “resgatar”, pelo menos enquanto memória,
uma região geográfica em que todos os elementos de fauna e flora se embaralham, criando
aquilo que Candido (1942) qualificou de Arca de Noé. Vasconcelos (1997) assinala que o
resgate do universo arcaico que sucumbiu a paisagem moderna faz com que o narrador de
Guimarães Rosa recupere a experiência dos sentidos, valorizando a escuta. Há o interesse na
etnografia literária pelo salvacionismo do mundo falado, ouvido e cheirado, uma volta
sinestésica a um tempo harmonioso, uma época em que era necessário ao homem ouvir e
compreender os sinais da natureza.
Lukács (1936) observa que Flaubert e Zola foram escritores que não participaram
ativamente das transformações políticas e sociais francesas, mas que se tornaram
observadores críticos, pois
a alternativa participar ou observar corresponde, então, a duas posições socialmente
necessárias, assumidas pelos escritores em dois sucessivos períodos do capitalismo.
A alternativa narrar ou descrever corresponde aos dois métodos fundamentais de
representação próprios destes dois períodos (LUKÁCS, 1936, p. 57).
mergulhar na sua viagem de 10 dias pelo interior mineiro, vem do mundo da modernização e
da modernidade no qual ocupava o papel de diplomata. Tal universo sofre uma tentativa de
apagamento em sua literatura, mas há vestígios que mostram tal tentativa. Nisso, há um gosto
em sua etnografia literária pelo primitivismo, o que aproxima a sua literatura da antropologia.
Dissertando sobre a literatura da segunda metade do século XIX, Lukács (1936)
assinala que a descrição realista quer mostrar objetivamente a decadência do capitalismo
responsável por gerar o estado dos personagens. A descrição em Rosa parece ser o contrário.
O autor descreve fotografando para dizer que este mundo é melhor do que o outro, por isso há
a expulsão de vestígios do outro mundo, embora suas sombras sejam mantidas para reforçar o
outro, o escolhido, o vaqueiro. É esta figura que está no cerne da filosofia que sustenta a
visada antropológica do escritor.
Este “resgate” do mundo arcaico traz o exemplarismo ligado à idealização dos
vaqueiros, que tem em Mariano, de “Entremeio”, um representante, pois, na introdução do
texto que nos remete a uma crônica, o narrador já descortina o vaqueiro, determinando-o.
Toda a sua performance, seja ela enquanto fala ou cavalga, confirmam a essência do
personagem quando ele é apresentado para o leitor. Mariano está fechado desde o início,
portanto, é imutável. É o exemplo que o narrador quer, tal qual as estórias exemplares que o
personagem conta. Toda a narrativa é assim duplamente exemplarista.
Rosa, em sua ontologia do vaqueiro, tem um papel que é tão político quanto o de
Assis Chateaubriand, que ele deprecia em “Pé-duro, chapéu-de-couro”. Tanto o escritor
quanto Chateaubriand impõem uma visão política de mundo. A sua é a do vaqueiro ideal,
universalizado, numa ontologia. Para tanto, cria esse vaqueiro. Já o outro, parte do
nacionalismo enquanto projeto para criar o seu vaqueiro. O escritor é assim sempre muito
ambíguo, escorregadio, pois ao mesmo tempo em que critica a intenção folclórica e ideológica
de Chateaubriand, é a partir dela que transforma o vaqueiro em pastor do boi. Portanto, não
em uma figura qualquer, mas em uma que tem origem na tradição bíblica, que se espalhou
amplamente pelo mundo. É com essa figura que Rosa constrói a sua filosofia.
Em “Pé-duro, chapéu-de-couro”, há um apagamento do ciclo do gado em terras
brasileiras, que foi uma das grandes vitórias da colonização. O gado servia mais ao
colonizador do que ao colonizado. Foi uma forma de extermínio das populações indígenas,
que, sendo massacradas no litoral, fugiam para o sertão. Contrariando este apagamento, em
“Uma estória de amor”, percebemos que o tema da criação bovina de forma extensiva foi feita
a custa de massacres de indígenas e percebemos também o quanto é sofrida a vida do
vaqueiro Manuelzão, que oscila entre o herói e o explorado. Rosa, no ensaio, parece enaltecer
276
a colonização do boi, a qual é mostrada criticamente em sua literatura. Por fim, a ordem do
vaqueiro recebida por Getúlio Vargas em pleno sertão baiano nada mais é que uma pastoral
moderna que explora o sentido medieval de dar título de vaqueiros aos nobres, mas com todo
o fundo nacionalista brasileiro e midiático. O que Rosa faz é inverter a pastoral moderna e dar
o título aos vaqueiros. Assim, o escritor eleva a figura de seus vaqueiros a uma condição
utópica, em que todos vencem, não são vencidos.
Tal figura é criada a partir de um vaqueiro individual que representa uma coletividade.
Neste aspecto, temos Pê-Boi, Manuelzão e Mariano como indivíduos que carregam em si
dramas humanos, mas cujas configurações representam a filosofia de vaqueiros ideais. Assim,
através desta filosofia, o individual tende para o coletivo, pois, na sua etnografia literária, é a
partir de um vaqueiro universal, de uma ideia de base, que Rosa cria os seus personagens.
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