Aula 3 - Final
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INSTITUTO FEDERAL DE
EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
PARAÍBA
1 OBJETIVOS DA APRENDIZAGEM
2 COMEÇANDO A HISTÓRIA
Como vimos na aula passada, Machado de Assis teve uma colaboração frutífera
e duradoura na Revista de moda A Estação. Além de contos e textos de gêneros
variados, inclusive, os dois contos que estudamos recentemente, o autor fluminense
publicou, entre 15 de junho de 1886 a 15 de setembro de 1891, o romance
Quincas Borba, nosso objeto de estudo a partir de agora. Durante mais de cinco
anos, precisamente, cinco anos e três meses, o romance machadiano dividiu as
páginas do Suplemento Literário da revista com propagandas de remédio para
dor de dente, pó de arroz, perfumarias, espartilhos entre outros produtos que
eram vendidos nas lojas afrancesadas da Rua do Ouvidor.
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3 TECENDO CONHECIMENTO
A outra hipótese, defendida por Crestani, de que o autor de Quincas Borba não
teria se adaptado ao pequeno espaço dado por A Estação também não nos
parece crível. Quando Machado começou a publicação do romance nas páginas
desse periódico, ele já colaborava para imprensa carioca há 32 anos e já havia
lançado três romances em rodapé de jornais, estava então muito acostumado
às condições de produção do seu tempo. É bastante relevante lembrar também
que ele já colaborava para A Estação há 7 anos, o autor estava, portanto, bem
acostumado ao espaço para narrativas que esse periódico lhe disponibilizava
(FARIAS, 2013, 169).
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Ainda Machado de Assis: Quincas Borba e a Ironia
Para Farias (2014), a resposta a essas questões estão no suporte em que Machado
de Assis publicou a narrativa. Como temos visto, A Estação era uma revista,
prioritariamente, dedicada à moda. No entanto, seu complemento literário
apresentava matérias variadas que não eram do interesse apenas do público
feminino. Então, devido à variedade de seções presentes no suplemento, Machado
teve muita dificuldade em saber para quem realmente estava escrevendo a
narrativa. Essa hipótese pode ser ainda melhor comprovada, levando em conta
o longo tempo que ele passou publicando o romance em fatias, e o curto
espaço de tempo que passou para a publicação em livro, apenas 30 dias. Sendo
assim, a pesquisadora afirma a hipótese de que Machado de Assis escreveu
simultaneamente duas narrativas: uma menos densa para circular na revista,
pensando então em um leitor menos habilidoso, e a outra mais densa pensando
no leitor do livro. As alterações presentes nas narrativas nos levam a ver essa
possibilidade como bastante crível.
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Com a loucura, Rubião passa a se considerar Napoleão III e sua loucura é comentada
por toda a cidade. Fingindo preocupação, o casal se incube de cuidar dele e
Rubião é internado em um hospício, de onde ele foge com o cão para regressar
a Barbacena. Ignorado pelos moradores da cidade, ele morre no dia seguinte a
sua chegada, acreditando ser Napoleão III.
Segundo Lígia Chiappini Moraes Leite (1985,26), “este tipo de narrador tem a
liberdade de narrar à vontade, de colocar-se acima, por trás, adotando um ponto
de vista divino”. Para Leite, seu “traço característico é a intrusão, ou seja, seus
comentários sobre a vida, os costumes, os caracteres, a moral, que podem ou
não estar entrosados com a história narrada” (1982, p. 27), tanto que a autora traz
como exemplo o romance ora estudado. Além do exemplo trazido por ela, há
inúmeros ao longo da narrativa. Tomemos como exemplo a passagem a seguir:
CAPÍTULO CVI
Observe que o narrador faz uma emenda entre o número do capítulo e o seu
conteúdo que inclui, como se observa na parte sublinhada, a reação do leitor,
desorientado com assuntos inconciliáveis. Do mesmo modo, ao afirmar que se
trata de um engano de Rubião o fato de ter compreendido e atribuído à história
contada pelo cocheiro a Sofia e Carlos Maria, ele demonstra que tão enganado
quanto Rubião estava o leitor, que confiou no encaminhamento que ele, narrador
deu à conversa.
Exercitando
Bem, agora é a sua vez. Leia o romance Quincas Borba, selecione um capítulo no
qual você possa identificar a ironia do narrador. Depois de identificada a ironia,
escreva um parágrafo comentando qual o propósito do narrador. Releia a análise
que fizemos para relembrar os efeitos de sentido que o seu uso possibilita ao leitor.
4 TROCANDO EM MIÚDOS
Vimos também que a ironia, sua marca mais notável de escrita, se revela,
sobretudo, pela figura do narrador. Um “narrador onisciente intruso”, que
confunde, desmascara e desrespeita o leitor e os sentidos que ele atribui ao
que está sendo lido.
Por fim, com relação ao romance Quincas Borba, observamos que Farias (2014)
defende a hipótese de que Machado de Assis escreveu simultaneamente duas
narrativas: uma menos densa para circular na revista, pensando então em um
leitor menos habilidoso, e a outra mais densa pensando no leitor do livro. As
alterações presentes nas narrativas nos levam a ver essa possibilidade como
bastante crível.
Figura 3
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6 AUTOAVALIANDO
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Ainda Machado de Assis: Quincas Borba e a Ironia
REFERÊNCIAS
CRESTANI, Jaison Luís. Machado de Assis no Jornal das Famílias. São Paulo:
Nankin Editorial, 2009.
FARIAS, Virna Lúcia Cunha de. Machado de Assis na imprensa do século XIX:
práticas, leituras e leitores. Tese e Doutorado, PPGL, UFPB, João Pessoa, 2013.
FARIAS, Virna Lúcia Cunha de. ‘Quincas Borba: duas histórias e vários leitores’. In:
LEITE, Ligia Chiappini Moraes. O foco narrativo. São Paulo: Ática, 1985.
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