S. João de Alporão

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CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nº 8 - 1996 37

S. JOÃO DE ALPORÃO:
REALIDADE E TRANSFORMAÇÃO DE UM MUSEU
Jorge Custódio

As origens do Museu Distrital de Santarém

A nacionalização dos bens das ordens religiosas e religioso-


militares transfere para a órbita do Estado partes significativas do
património monumental de Santarém. Entre esses bens figurava a
Igreja e anexos do mosteiro de S. João do Hospital ou de Alpram, da
Ordem dos Hospitalários. A escolha do momento de edificação não
andará longe dos últimos anos do reinado de Afonso Henriques e do
início do de seu filho, Sancho I. O Foral de Santarém de 1179 preve-
se, senão já refere, a instalação da Ordem dos Hospitalários na cidade.
Será esta ordem (mais tarde chamada de Malta), quem superintenderá
na vida deste templo, desde a Baixa Idade Média até 18 de Maio de
1834.
Eis, pois, o tempo de vida do templo na sua função religiosa.
Em 1207 já a Igreja, ou pelo menos o seu presbitério, estaria
construído porque no seu interior, na parede do lado direito, junto ao
arco triunfal, foi sepultado o primeiro mestre da ordem em Santarém,
D. Afonso de Portugal ou Fernando Afonso, filho bastardo do rei
Afonso Henriques e XIº Grão-Mestre da Ordem, entre 1194-1196 e/ou
1204-1206(1). Nesse local encontra-se, hoje, uma inscrição coeva em
letra carolina, sobre a sepultura em arcossólio de volta inteira, que
permite datar a sua construção, aproximadamente. O que é certo é que,
depois desse enterramento, o edifício encontra-se ao culto, cerca de
1269, visto que nessa altura a Igreja se encontrava interdita pelo Bispo
de Lisboa, por motivo ainda desconhecido.
Enquanto templo S. João de Alporão tem uma carga
histórica na sua relação com a sociedade, o espaço e o
tempo, que se manifesta na sua arquitectura, na função
desempenhada no seio da Comenda hospitalária local, na
lógica do urbanismo de Santarém, pela sua situação
privilegiada junto à Porta de Alpram (al+planus = o
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[chão] plano) e na vida religiosa da cidade e suas


idiossincrasias. Esta carga encontra-se incorporada no
templo enquanto sítio e, essa característica, transmitir-se-
á ao espaço, na mudança das suas funções, na passagem
de lugar de culto e repouso dos mortos "ad sanctus", para
as vocações oitocentistas e novecentistas que foi
adquirindo.
Depois de 1834 a Igreja do Alporão esteve relativamente
abandonada. Mas quinze anos depois, já se admirava a
sua arquitectura "roman". A instâncias do Visconde da
Fonte Boa foi cedida a uma sociedade de teatro
particular, que no espaço exíguo armou uma sala de
espectáculos, com palco, proscénio, plateia, balcões e
duas ordens de camarotes. A função teatro manteve-se
durante vinte e sete anos, entre 1849 a 1876. Alguns
documentos desse período chegaram até nós e dão-nos,
não só uma ideia do teatro aí representado, como também
o modo como o espaço foi aproveitado, sem romper com
as componentes estéticas da arquitectura religiosa.
Apenas, para se subir para o balcão e camarotes, foi
necessário rasgar a meia altura um acesso para levar,
através de escada exterior, a burguesia escalabitana a
assistir ao melhor teatro romântico da província(2).
Todavia a função teatro suscitou sucessivas críticas da
sociedade civil esclarecida. Os clérigos, mesmo os
liberais como João António Pereira (1796-1862), viram
esse novo destino com amargor. Era o avanço da
sociedade laica e profana, contra o sagrado subjacente ao
espaço religioso, sacralizado no passado pelas entidades
eclesiásticas(3). A mentalidade vigente, aliás, soube
sobrepor-se aos conceitos revolucionários do liberalismo,
através da mudança dos sinais do século.
Em Lisboa, Alexandre Herculano, pregara na Voz do
Profeta, as novas realidades culturais, da defesa do
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património, na ideia vaga ainda - mas igualmente


generosa - de "monumentos nacionais"(4).
Eis que, nos primeiros meses de 1876 (16 de Fevereiro),
por iniciativa do Governador Civil de Santarém, José
Ferreira da Cunha e Sousa (1813-1912), constitui-se uma
1ª Comissão Administrativa para a instalação de um
Museu Distrital em Santarém, com funções relativamente
amplas e uma originalidade sem paralelos entre nós.
Interpretava-se a vontade de um conjunto de
personalidades do Distrito de Santarém, criando-se um
Museu com duas amplas finalidades: o de ser
simultaneamente um museu arqueológico e uma
exposição permanente dos produtos das indústrias do
Distrito. A comissão, composta de pessoas interessadas,
foi nomeada por Alvará do mesmo dia, com a missão de
instalar um museu onde "o passado e o presente se devem
associar para conduzir o melhoramento do futuro"(5).
Uns meses depois, o mesmo Governador obteve do
Governo a concessão provisória (tornada definitiva, mais
tarde) do edifício de S. João de Alporão para nele ser
instalado um Museu Distrital(ó).
Simultaneamente uma primeira valorização da
arquitectura daquele edifício religioso, no âmbito dos
primitivos estudos da história de Arte Românica em
Portugal, criou as condições para a sua divulgação e o
seu futuro aproveitamento como espaço museológico. Era
uma oportunidade única para:

1 °) Se salvaguardar um importante templo das origens de


Portugal, na linha do movimento lançado por Herculano
e continuado pelo director da Associação dos Arquitectos
Civis e Arqueólogos Portugueses, Joaquim Possidónio
Narciso da Silva (1798-1896);
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2 °) Para impedir alguma sangria do património da cidade que


seguia destino a Lisboa, aliás tendência essa representada
também pelo mesmo Possidónio, então a constituir
espólio para o Museu do Carmo;

3 °) Para guardar espólios resultantes da demolição da cidade


antiga, desiderato de grande significado para os
intelectuais locais, face à problemática da modernização
da cidade e ao estádio e nível cultural das populações;

4 °) para criar um movimento cultural descentralizado de


âmbito local e regional, como resposta ao excessivo peso
da capital.

A história do Museu Distrital de Santarém, entre Fevereiro de


1876, altura da nomeação da Comissão(7), e 1882, momento em que a
função museológica para S. João de Alporão se consolida, não é
linear.
Num primeiro momento não há espaço destinado (entre
Fevereiro e Julho) o que levou a obreira Comissão a realizar a
primeira exposição num espaço cedido pela Câmara Municipal, no
piso térreo dos Paços do Concelho, na Praça Visconde da Serra do
Pilar. Um segundo tempo inicia-se perante a expectativa da cedência
oficial da Igreja/Teatro, entre 1876 e os inícios das obras de restauro.
Impunha-se agora demolir o teatro, restaurar o monumento, adaptá-lo
minimamente às novas funções e adquirir os equipamentos
necessários à exposição permanente dos espólios. O terceiro
correspondeu as obras de restauro, entre Abril de 1877 e 1882, obras
morosas, desgastantes, desmobilizadoras e por vezes sem os
suficientes meios financeiros(8).
No voluntarismo da primeira Comissão o projecto inicial era o
ideal. Mas as ideias para o Museu Distrital eram tantas e tão dinâmicas
que se tornavam contraditórias, senão mesmo opostas. No ímpeto
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criativo, foram motor de recolha diferentes "patrimónios", donde


radica a origem das diversificadas colecções do actual Museu.
Quando, em 1882, terminaram as obras a Comissão primitiva já
não era a mesma. Novos elementos, com outra formação espiritual e
técnica, se tinham juntado aos mais resistentes. As ideias haviam
evoluído, distinguindo-se com maior nitidez a função museológica da
função comercial(9). Aquilatava-se sobre as cargas valorativas dos
diferentes espólios. Tudo factos que irão determinar a gradual
passagem da ideia generosa e abrangente de Museu Distrital, para um
tipo de museu de antiguidades, modelado pelas noções oitocentistas de
arqueologia. Nascia aqui a terceira função de S. João de Alporão,
aquela que ainda se mantêm, apesar das vicissitudes do Museu e das
suas concepções e por vezes ausência de objectivos, função que se
decorre entre o final de oitocentos e o actual fim do milénio. Na
realidade cento e treze anos de instituição museológica.
Foi também neste espaço de tempo, desde os primeiros estudos
de Possidónio da Silva, em 1868 e 1882, que S. João de Alporão é
objecto de alguma controvérsia histórico-artista, o que de alguma
forma catapultou o monumento arquitectónico para as páginas dos
livros, das revistas, da pintura, da litogravura e da fotografia.

A Teoria e a prática de um museu oitocentista

A instalação do Museu Distrital de Santarém processou-se entre


1882 e 1889. Seguiu-se a um importante restauro do Templo,
realizado com muita eficiência e respeito pela obra de arte.
Criado no último quartel do séc. XIX, o Museu Distrital de
Santarém era uma iniciativa de grande alcance nacional e regional,
face à realidade museológica portuguesa contemporânea.
Dispomos de algumas fontes para o estudo das concepções
museológicas dos seus promotores(10). Através delas verifica-se não
só os pontos de partida teóricos, como os que acabaram por se tornar
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vitoriosos ou os que simplesmente soçobraram. A prática moldou


muitas das concepções teóricas e até políticas...
Tendo como modelo teórico o Museu dos Monumentos
Franceses de Alexandre Lenoir (1790-96)(11) e ainda o ideário Saint-
Simoniano de organização do trabalho - o que implicava a criação de
um "museu industrial" dos produtos da região, com uma componente
interessante de "museu ambulante" - o Museu de S. João de Alporão
teve como padrão prático o Museu Arqueológico do Carmo ( 1866),
iniciativa da Associação dos Arquitectos Civis e Arqueólogos
Portugueses, na liderança de Joaquim Possidónio Narciso da Silva,
como vimos.
Analisemos pois as diferentes componentes iniciais e o modo
como elas se transformaram pela dialéctica da prática museológica e
das expectativas e realidades envolvidas no processo(12).:
1. O Museu Distrital era entendido como um local "sagrado"
para a preservação e conservação das antiguidades. A comissão
propõe não só conservá-los, como divulgá-los no país e no
estrangeiro. Uma das suas principais missões seria o "vigiar pela
conservação dos monumentos e objectos de arte que existirem no
distrito". Assumiam um papel interventor e esclarecido em relação as
tendências da modernização da cidade, na linhagem do ideário
herculaneano e pós-herculano de protecção aos valores patrimoniais.
A perspectiva não era apenas local e regional, mas nacional, europeia
e mundial, querendo tornar-se garantes da divulgação dos bens
distritais de que lhes eram confiados.
2. Propõe-se promover e executar escavações arqueológicas,
numa esfera de actuação distrital.
3. Pretender promover o Distrito por meio de exposições
permanentes da actividade agrícola, manufactureira e fabril, tanto no
que se refere às matérias-primas, como às máquinas, como ainda aos
produtos transformados. Não excluem, nesta matéria, as exposições
temporárias, autenticas mostras das potencialidades do distrito como
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da realização de concursos nestas áreas. Defendem igualmente o


princípio de aquisição de produtos de outros distritos ou países no
sentido de promover a comparação, assim como se instituem como
organismo para "mandar fazer estudos sobre diversos produtos" e
ainda vender qualquer produto que esteja exposto, em determinadas
circunstâncias.
Encontra-se aqui uma vertente que mais tarde se especializará e
emancipará da amalgama inicial da actividade museológica,
originando as Exposições-Feiras do Distrito, das quais se conhecem as
de 1880, 1923 e 1936, antes da consagração das Feiras do Ribatejo a
partir de 1954(13).
4. Toda a actividade teorizada pressupunha a colaboração dos
presidentes das Câmaras do Distrito e dos Administradores dos
Concelhos, que eram chamados a coadjuvar a Comissão nos seus
diversos trabalhos e exposições, como estabeleceriam uma rede de
informação a respeito dos achados arqueológicos e dos bens artísticos
em perigo, de modo a prever a sua aquisição pelo Museu ou as
medidas achadas convenientes. Esses "delegados naturais" do Museu
seriam uma espécie de guardiões dos monumentos de arte nas suas
áreas de influência, "representando à comissão sobre as providências
que entenderem precisas para a restauração, guarda e conservação dos
mesmos monumentos". Eles eram ainda encarregados de informar
sobre os aperfeiçoamentos industriais do distrito, remeter relatórios
sobre achados e descrições de monumentos dos quais tivessem
conhecimento. Podiam também promover concursos e exposições
temporárias.
5. Finalmente os membros da Comissão integrariam as três
sessões previstas no Regulamento do Museu, documento que foi
impresso pela Tipografia da Imprensa Nacional. As secções que
compunham o Museu Distrital eram a Científico-Artística, a Agrícola
e a Fabril(14). Os fundos para o funcionamento deste plano foram
retirados do orçamento distrital.
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A constituição do primeiro fundo patrimonial decorreu de 1876


a 1882, a partir do que a experiência acumulada ditou algumas regras.
Esse primeiro fundo compunha de objectos recolhidos no Governo
Civil, de espólio em depósito na Câmara(15), matérias-primas da
actividade mineira, produtos agrícolas, manufactureiros e fabris. A
partir de 1877 começa, verdadeiramente a recolha das demolições,
readaptações e ou alterações ocorridas nos monumentos da cidade,
conforme a seguinte lista:

Arco e Ermida do Bom Sucesso - 1876-77


Igreja do Convento de S. Domingos - 1877-80
Adro da Igreja de Santa Maria da Alcáçova - 1878
Igreja de S. Martinho - 1877-80
Torre da Igreja de Marvila - 1877
Paço da Alcáçova de D. Afonso Henriques - 1878
Convento de S. Bento - 1880
Convento de S. Francisco (alterações) - 1860-1889
Convento de Santa Clara - 1906
Paço dos Condes de Rio Maior, ao Pereiro - ?
Convento dos Agostinhos da Graça - 1890
Hospital de Jesus Cristo - 1897
Postigo da Carreira - ?
Ermida de Santo Ildefonso - ?
Convento do Carmo - 1878
Igreja de Santiago Maior - c. 1877
Paços do Conde de Unhão - 1909-1911
Ermida do Espírito Santo - ?
Convento das Capuchas - 1910
Igreja do Salvador - 1909-1911

A elas se deve acrescentar os espólios oriundos de escavações


ocasionais, por motivos de obras, tais como no Paço dos Condes de
Óbidos, Alcáçova, Rua Guilherme de Azevedo, etc, e os objectos
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enviados de outros concelhos, quer arqueológicos, quer referentes à


arquitectura ou à agricultura ou à actividade industrial.
A quantidade e a variedade dos espólios das demolições ia ao
encontro de um tendência da museologia contemporânea e teorizada
por Lenoir, que transformara o museu oitocentista numa espécie de
museu dos monumentos, isto é, a memória do património demolido na
voragem das mudanças urbanas, sociais e políticas. Em França, o
Museu de Cluny tornou-se um exemplo desta concepção. Em
Portugal, o Museu do Carmo fora o pioneiro e, averiguámos, que
exerceu uma profunda influência sobre o de Santarém. A relação entre
espólio protegido dos monumentos demolidos (no fundo bens móveis)
e a salvaguarda e conservação dos monumentos estabeleceu-se
implicitamente. As diferentes comissões administrativas do Museu
dos finais do séc. XIX tinham essa relação presente, porque fazia parte
das ideias iniciais e dos regulamentos aprovados. Todavia os
responsáveis do Museu do primeiro quartel do séc. XX, colocaram,
acima da protecção dos bens móveis, a salvação patrimonial dos
edifícios, os próprios imóveis in situ. Desenvolveram uma política de
pressão sobre as autoridades com vista à classificação e protecção dos
"Monumentos de Santarém", chegando a integrar-se no 1° Conselho
de Arte e Arqueologia, criado pela legislação republicana de 1911.
Na realidade, esta inversão de perspectiva, tornou-se responsável pela
manutenção de monumentos condenados pelas autoridades locais e
pela grande sensibilização da opinião pública. Em 1917-1928, a
Comissão de Salvação dos Monumentos de Santarém(16), anexa ao
Museu, é liderada por um dos mais infatigáveis cultores da defesa dos
monumentos, o funcionário camarário e conservador Laurentino
Veríssimo,. Foi ele acima de tudo o líder, aquele que consegue que a
maioria dos monumentos da cidade fossem classificados oficialmente.
Radicava, por outro lado, no espólio exumado dos monumentos de
Santarém, a riqueza do Museu em construção. Mas também nascia um
primeiro problema. S. João de Alporão seria um espaço exíguo para
abarcar espólios diversificados. Tal facto fez divergir, da ideia inicial
do museu, a componente arqueológica, prevista no Regulamento de
1878, mas assumida agora como essência da matéria museológica.
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A criação de um museu arqueológico em Santarém, permitia dar


resposta à inoperacionalidade da capital. Era a afirmação da província
contra o centralismo lisboeta. De facto a capital ficou estupefacta com
o avanço de "civilização" de Santarém. Lisboa dispunha já do Museu
do Carmo, mas este era um museu privado. O Museu de Belas Artes,
falado e discutivo nos corredores do poder e das comissões
governamentais, só surgirá em 1882. Não havia qualquer outra
instituição museológica para as quantidades de espólio aí depositado,
após da vitória do liberalismo. Situação semelhante passava-se no
Porto e em Coimbra. Por todas estas razões o Museu de Santarém foi
uma bomba nos meios culturais do país. Um evidente sinal da luta
pela descentralização, pois transmitia aos agentes culturais amadores a
ideia da necessidade de um museu oficial em cada sede de
distrito(17)...
Mas o Museu Distrital de Santarém continha uma outra ideia
fundamental e generosa. Pretendia ser uma exposição permanente de
características industriais. Nesse momento os museus dos
Conservatórios de Artes e Ofícios, criados pela lei de Passos Manuel,
tinham desaparecido. O Museu Industrial criado por Joaquim
Henriques Fradesso da Silveira (1825-1875) desfizera-se após a morte
prematura do seu genial criador. Só nos finais da década de 80
surgem, de forma muito embrionária, e ligados às Escolas Industriais,
os Museus ditos Comerciais e Industriais de Lisboa e Porto. O de
Lisboa instalar-se-á no Mosteiro dos Jerónimos, na ala ocidental. O do
Porto ficou anexo, também, a um centro de exposição - o Palácio
Cristal.
A ideia destes museus, próprios de uma sociedade que vive para a
organização e produção, encontra-se nos textos teóricos de Saint-
Simon(18) e dos socialistas franceses da 1ª metade do séc. XIX e
ganham corpo durante as exposições universais das actividades
económicas das diversas nações. A Exposição do Crystal Palace de
Londres, em 1851, incentivou a criação de exposições permanentes
das actividades industriais das nações nos diversos países,
estimulando na prática o princípio aos museus técnicos europeus. É
essa ideia que os membros da Comissão do Museu de Santarém
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tentam concretizar em 1876-1880. A exposição inaugurada em 18 de


Maio de 1876, na Câmara de Santarém, não é senão o início das
Exposições-Feiras, que preencherão a vida cultural do município a
partir de 1880. A exposição permanente do Museu, que abrirá ao
público a partir de 1889, ressentir-se-á desta componente, pois, nas
prateleiras do Museu foram colocados fracos com amostras de
sementes, amostras de mármores, ferros fundidos de uma fundição
local, azulejos vistos como material de revestimento, etc.
Até aqui temos falado do museu oitocentista. A inauguração em 1889
fora um acontecimento de grande alcance na Região. Uma capital de
Distrito passa a dispor de uma instituição cultural moderna. A abertura
do Museu resultara das sinergias postas em movimento pela
criatividade da sociedade fim de século. Era lógico que depois
surgisse uma relativa inércia. Ora o Museu de S. João de Alporão, na
sua versão de "Museu dos Cacos" (1968-1992), não era senão o velho
museu oitocentista, com todas as suas virtudes, fantasmas e defeitos.
Era o esgotamento total das suas potencialidades, do seu vigor
original.
Depois de um bom início, pautado pelas ideias das primeiras
comissões, o Museu acaba por se municipalizar depois da 1ª
República, consolidando as características de um museu arqueológico
local, com as componentes técnicas e expositivas inerentes aos
museus contemporâneos do mesmo tipo: o Museu do Carmo que
servira de modelo; o Museu de Évora e ao Museu Arqueológico Leite
de Vasconcelos.
A fluidez do conceito de Museu de Região (que era o que pressupunha
a sua área de influência distrital), esvanecera-se entretanto, perante a
impossibilidade de liderança da Junta Geral de Distrito. Com a
implantação da 1ª República (1910-1926), a Câmara Municipal, que
pagava os funcionários, passa a dispor dos encargos, da gestão e por
fim da propriedade (1949). Transita o seu nome de um vago sentido
Distrital, para a componente principal do espólio - a arqueologia - para
depois fixar-se na designação de Museu Arqueológico de S. João de
Alporão - um caminhar dirigido para o conceito de museu local.
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Com um guarda e um conservador dependentes de nomeação


camarária, a história do museu resume-se à protecção do património
móvel, às orientações expositivas dos seus conservadores ao longo do
tempo e à mostra pública de todo o seu acervo, salvo raras excepções.
Antes de 1910, como vimos, o velho Museu Distrital transformara-se
em Museu Arqueológico pela natureza das suas colecções. Na
passagem da direcção de Laurentino Veríssimo (1914-1936) para a
gestão de Zeferino Sarmento (1937-1968) o museu esgota-se nas suas
possibilidades de espaço, sem que se conseguisse obter a área
contígua do antigo cenóbio hospitalar, para a instalação dos serviços
administrativos, pessoal técnico e reserva museológica. Esta acaba por
se instalar, em condições precárias e sem verdadeira orientação, no
piso térreo da Casa-Museu Anselmo Braamcamp Freire, convivendo
com um Museu dos Coches, obra de Zeferino Sarmento.
No ambiente provinciano de Santarém o Museu Arqueológico de S.
João de Alporão, soube ainda adaptar-se a algumas modificações
museográficas desenvolvidas nos museus deste tipo (como as do
Museu Machado de Castro, em Coimbra). Encontra-se aqui a
diferença de orientações dos seus mais importantes conservadores.
Laurentino Veríssimo não manteve o Museu como o recebeu.
Imprimiu-lhe um sentido de valorização pela divulgação. Procurou
acautelar os objectos arqueológicos encontrados. Foi incansável no
apetrechamento da sala expositiva. Batalhou para a integração de
novos espólios, pondo empenho pessoal no seu transporte para S. João
de Alporão. Concretizou a elaboração de um Catálogo manuscrito,
tomando em conta os esboços já realizados. A sua acção estendeu-se a
uma tentativa de ocupação dos terrenos anexos, inviabilizada pela
Câmara, com a venda de terrenos que já lhe pertenciam.
Zeferino Sarmento, quando foi nomeado como conservador, apenas
pode contar com o espaço da Igreja e a infinidade e variedade de
objectos deixados no chão, nas prateleiras e nos armários(19). Como
uma formação artística invulgar, este engenheiro de profissão, viu-se
na contingência de encontrar soluções museográficas, de modo a
modernizar a exposição permanente. A ele se devem uma nova
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arrumação do espaço, a integração de objectos em estruturas fixas


construídas, seguindo exemplos de outros museus portugueses que
conhecia e visitava, em especial o Museu Machado de Castro, e a
colocação de objectos do museu a decorar outros espaços artísticos da
cidade.
Mas era inevitável! O Museu acabou por soçobrar após Zeferino
Sarmento. Entre 1867 e 1992 adquire um fácies de anti-museu, ao
qual se acopulou a designação pejorativa de "museu dos cacos". Essa
situação manteve-se num período difícil da Instituição e da Câmara,
gerando um movimento de crítica das associações não-
governamentais, da comunicação social e da população em geral(20).

III

A transformação da realidade museológica

Após uma ampla reacção da cidade à última metamorfose do Museu


do Alporão, começou a desenvolver-se um plano para a sua
transformação, plano esse que passou a ter como pano de fundo a
proposta de Candidatura de Santarém a Património Mundial, iniciativa
da Câmara Municipal de Santarém.
Numa primeira fase procedeu-se a uma inventariação e classificação
moderna do espólio, criou-se uma reserva municipal, beneficiou-se o
espaço expositivo, organizou-se uma estrutura mínima de
responsabilidade e de apoio.
Os trabalhos de inventariação estiveram todavia na génese do
pensamento do actual museu (uma espécie de negação da negação).
Os condicionalismos do velho museu oitocentista eram uma pesada
realidade que urgia transformar. A ideia central, donde partiu a actual
concepção museológica, nasceu da observação da própria natureza do
museu oitocentista e da própria complexidade e variedade dos
espólios. No séc. XIX partira-se da demolição dos monumentos da
antiguidade, medievais e pós-medievias para a salvaguarda das peças
mais preciosas dos seus recheios (tumularia, capitéis, fragmentos
arquitectónicos, inscrições epigráficas, estatuária, heráldica, peças
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curiosas). O desenvolvimento das políticas e práticas da salvaguarda e


conservação do património, a vivificação dos monumentos
classificados espalhados pelo centro histórico (muitos dos quais sem
qualquer valorização) por se encontrarem fechados e a
impossibilidade material de continuar a manter o museu com as
mesmas características iniciais sugeriram a mutação da lógica do
museu. Trata-se, agora, de devolver parte dos bens móveis ao
património edificado de modo a gerar um museu polinucleado assente
numa ideia de cidade-museu. Assim tanto o património classificado
com os espólios museológicos beneficiariam de um projecto dinâmico
e criativo de conservação integrada na tripla perspectiva
arquitectónica, arqueológica e museológica. Assim esta nova fase
seria o corolário do dinamismo posto em acção, quer pela Comissão
de Salvação dos Monumentos de Santarém, quer das iniciativas das
associações voluntaristas e da sociedade civil(21).
A nova estrutura do Museu tem, por isso, correspondência com um
"Plano Museológico para a Cidade", no qual S. João de Alporão passa
a ser um espaço de exposições temporárias de "Arte e Arqueologia
Medievais". A Reserva Municipal (onde se guarda o antigo fundo de
S. João de Alporão, além de outros fundos espalhados pela cidade e os
achados das modernas escavações arqueológicas) transformou-se
assim num centro de bens museológicos, para gestão e conservação.
Daí sairão as colecções para os outros núcleos espalhados na cidade e
os materiais das exposições temáticas a realizar em S. João de
Alporão.
Estamos na presença, pois de um Museu polinucleado, cujas próximas
realizações serão o núcleo museológico do Tempo - um museu de sítio
na Torre Relógio ou das Cabaças - e o Museu de Arte Sacra.
A ideia principal que norteia o plano não é já a criação de um "museu
dos monumentos", onde se guardava os resultados das demolições,
mas a transformação dos monumentos em potenciais centros de
cultura e de desenvolvimento museológico. Uma nova dialéctica,
adequada ao desenvolvimento das indústrias de cultura. As iniciativas
que actualmente visam a salvaguarda e conservação do centro
histórico de Santarém não são estranhas a esta mudança de
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perspectiva, evidentemente num plano municipal e com a colaboração


da sociedade civil e das instituições nacionais e locais.
Entre 1992-1994 por iniciativa camarária procedeu-se a uma reforma
do Museu, à remodelação do espaço museológico e a novas obras de
conservação, agora da responsabilidade da Divisão de Núcleos
Históricos. Dignificou-se o edifício religioso libertando-o do peso da
exposição permanente, valorizou-o artisticamente na sua relação com
os objectos de uma exposição temporária e respeitou-se na sua
envolvência exterior(22), sem se lhe negar a função adquirida no
último quartel do séc. XIX. Transformou-se, a partir de então, em
novo espaço museológico da cidade, um Museu em construção, cujo
primeiro núcleo assume e articula-se com a natureza das suas pedras -
elas mesmas a relíquia arqueológica medieval. Transformou-se assim
o pesado museu de antiguidades, numa sala que vive da dinâmica em
construção. Uma razão constituinte e não constituída. Um espaço de
diálogo entre as tendências da nova museologia e os constrangimentos
da museologia tradicional.
Depois de 11 de Setembro de 1994 - Dia das Jornadas Europeias do
Património - S. João de Alporão passou a ser o primeiro núcleo
museológico do Museu Municipal de Santarém. É um dos locais mais
visitados do património escalabitano(23). Pretende ser também um
centro de investigação e desenvolvimento museológico da cidade. Um
espaço da cidade, na cidade e para uma cidade no mundo.

Miratejo, 28 de Novembro de 1994.


CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nº 8 - 1996 52

ANEXO I

"José Ferreira da Cunha e Sousa, do Conselho de Sua Magestade,


Commendador da ordem militar de Nosso Senhor Jesus Cristo e governador
civil do districto de Santarém.
Existindo ao cuidado d'este governo civil, muitos objetos dignos de serem
conservados, já pela sua incontestável antiguidade, já pelo seu valor artístico;
e havendo muitos outros, cuja acquisição é de muito interesse, para com
todos se formar um museu archeologico:
Considerando por outro lado que é de grande utilidade pratica estabelecer
também n'este governo civil uma exposição permanente da industria agricola,
manufactureira e fabril do districto e que acompanhe o progresso e
desenvolvimento que as mesmas industrias forem tendo.
Considerando que da nomeação para este fim de uma comissão composta de
pessoas competentes poderá advir grande auxilio e coadjuvação, tenho por
conveniente nomear para esta comissão aos ex.mos srs. João Dally Alves de
Sá, secretario geral d'este districto Visconde de Athougia - Francisco de
Freitas e Macedo - João Duarte da Silva Caldas - Francisco José do
Nascimento Menna - Isidoro Ferreira Pinto - José Peixoto da Silva - José
Xavier da Silva - João Cezar Henriques - João Fagundo da Silva - Alexandre
Marques Sampaio Junior - Silvério Alves da Cunha - António Lourenço da
Silveira - Jacinto de Almeida Sousa Falcão e João Manuel de Carvalho;
devendo servir de presidente o primeiro d'estes individuos e de secretário o
ultimo.
Para coadjuvar esta commissão ficam considerados vogaes auxiliares e
correspondentes os srs. presidentes das camaras municipaes e
administradores d'este districto.
Confiado, portanto, na intelligencia, zelo e boa vontade dos individuos que
compõem esta commissão e bem assim no seu reconhecido amor pelo
progesso das artes e industrias, espero que não se recusarão a concorrer para
o maximo desenvolvimento do referido museu e exposição.
Passado e sellado em Santarém e governo civil do districto, aos 16 de
fevereiro de 1876. - José Ferreira da Cunha e Sousa.(*)”.

Bibliografia:
CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nº 8 - 1996 53

A- HISTÓRIA, ARTE E TEATRO

Dias, Pedro; - A Arquitectura Gótica Portuguesa, Lisboa,


Editorial Estampa, 1994, pp. 59-61.

CHICÓ, Mário Tavares; - A Arquitectura Gótica em Portugal,


Lisboa,
Livros Horizonte, 1968 (1ª ed. 1954), pp. 41-42, 70, 88 e 119; Museu,
128. BMS - BAJD. 228 A.

CUSTÓDIO, Jorge - “As linhas de força da história social de


Santarém no séc. XIX", em Santarém. A Cidade e os Homens,
Comunicações, Santarém, Junta Distrital de Santarém, 1977,
sobretudo pp. 52-58 e estampa. BMS - HG 2527 B.

HERCULANO, Alexandre; - “Na Estremadura (fragmento). Carta


Primeira. A Antonio de Mello S. Lourenço", em O Panorama, Vol.
XI, Tomo III, 3ª Série, Lisboa, Typographia do O Panorama, 1854, p.
202. Este trabalho, bem como a resposta do Pe. João Pereira foram
impressos no volume Apontamentos de Viagem, Cenas de um ano
da Minha Vida, das Obras Completas de Alexandre Herculano,
Lisboa, Livraria Bertrand, 1973, pp. 198-200. BMS - 716/119.
ORTIGAO, Ramalho; - “O Culto da Arte em Portugal” (1896), em
Arte Portuguesa, Vol. I, Lisboa, Livraria Clássica, s. d., pp. 71-77.
Existe 1ª ed. na BMS - R. 127.

PEREIRA, João António; - “Antiguidades de Santarém. Carta do Sr.


Desembargador (...)", em O Panorama, Vol. XI, Tomo III, 3ª Série,
Lisboa, Typographia do O Panorama, 1854, p. 263-64. BMS - 7/6/19.

SILVA, Joaquim Possidónio Narciso da; - Mémoire de Archéologie


sur la veritable signification des signes qu'on voit gravés sur les
anciens monuments du Portugal, Lisboa, Imprimerie Nationale,
1868, pp. 11, mapa e estampa. BN - BA 281 / 82 A.
CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nº 8 - 1996 54

SILVA, Joaquim Possidónio Narciso da; Noções Elementares de


Archeologia, Lisboa, Lallemant Frères, 1878, pp. 139-140 e estampa.
BMS - D 80.

S. João de Alporão, na História, na Arte e na Museologia,


Exposição. Catálogo, Santarém, CMS, 1994 (com cronologia e acervo
bibliográfico). BMS.

B- MUSEOLOGIA:

1. FONTES

Catálogo do Museu Arqueológico de S. João d’Alporão,


organizado por Laurentino Veríssimo e completado até ao nº 814 por
Granado Vidal, 3 vols., 1927. Arquivo do Museu. Cópia
dactilografada na BMS.

Inscrição dos Visitantes do Museu de S. João de Alporão, Anos


1889-1901; 1901-1915; 1915-1925; 1925-1929; 1930-1935; 1935-
1939. BMS - 38/214.

Muzeu Archeologico. Catálogos e esboços ms., Arquivo do Museu.

Réglement du Museé du Districto de Santarém, Lisbonne,


Imprimée dans l'Academie Royale des Sciences de Lisbonne, 1878.
BN - SC. 7911/14 V.

Regulamento do Museu Districtal de Santarém, aprovado pela


Junta Geral em sua sessão de 8 de Maio de 1885, Santarém, Typ. de
Bernardino Santos, 1886. BMS - G. 289 B.

Relatório apresentado ao Illmo. Exmo Sr. Governador Civil do


Districto de Santarém pela Comissão Administrativa do Museu
Districtal em 30 de Abril de 1878, Lisboa, Typ. Lisbonense, 1878.
BMS - F. 56.
CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nº 8 - 1996 55

"Relatório apresentado ao Illmo. Exmo Sr. Governador Civil do


Districto de Santarém pela Comissão Administrativa do Museu
Districtal em 15 de Abril de 1880", em Relatório da Comissão
Executiva da Junta Geral do Districto de Santarém apresentado
na Sessão Ordinária de Maio de 1880, Lisboa, Typ. das Horas
Românticas, 1880. BMS - D. 444.

Relatórios das Comissões Executivas da Junta Geral do Districto


de Santarém apresentados nas Sessão Ordinária de 1879, 1980, 1881,
1882, 1883, 1884, 1885, 1886, 1888, 1889. Duas sessões por ano.
Várias tipografias. BMS - D. 444.

2. ESTUDOS

BRANDÃO, Zephyrino N. G.; - Monumentos e Lendas de


Santarém, Lisboa, David Corazzi, 1883, pp. 474-507. BMS - D. 993.

CHARRÉU, Leonardo, - Espólio Romano do Museu Arqueológico


de S. João de Alporão, Trabalho para o Mestrado de História de Arte
da Cadeira de História da Antiguidade, da Faculdade de Ciências
Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa, Fotocópia,
Lisboa, 1992. Arquivo do Museu.

CHOAY, Françoise, - L'Allégorie du Patrimoine, Paris, Editions du


Seuil,
1992.

CUSTÓDIO, Jorge; - Dia Internacional dos Museus. 18 de Maio de


1993. Museu de S. João de Alporão, Santarém, CMS, 1993 (reedição
em 1994). BMS.
CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nº 8 - 1996 56

CUSTÓDIO, Jorge; - “Fundos Documentais para o Museu de


Santarém. I. S. João de Alporão (1) e (2); II. Museu do Carmo, em
Lisboa; III. Arquivos do subsolo transferidos para Lisboa", em O
Ribatejo, 25 de Maio a 24 de Julho de 1987, BMS - J 92 A

CUSTODIO, Jorge; - "Os Museus Industriais e a Arqueologia


Industrial", em Museologia e Arqueologia Industrial. Estudos e
Projectos, Lisboa, APAI, 1992, pp. 16-17. BMS - H() 2808 B

CUSTÓDIO, Jorge; - “Um Museu para Santarém", em O Ribatejo,


1987, BMS - J 92 A
CUSTÓDIO, Jorge; - “S. João de Alporão na História dos Museus”
em S. João de Alporão, na História, na Arte e na Museologia,
Exposição. Catálogo, Santarém, CMS,1994, pp. 113-133. BMS.

GOUVEIA, Henrique Coutinho; Para a História dos Museus Locais


em Portugal. A propósito da criação do Museu de Lorvão, Lisboa,
IPPC, 1984.
CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nº 8 - 1996 57

LEAL, Augusto Barbosa de Pinho; - “Santarém", em Portugal Antigo


e Moderno, vol. VIII, Lisboa, Livraria-Editora de Mattos Moreira &
Cª, 1879, pp. 455-460. BMS - K 25.

Museu Arqueológico. Santarém, Desdobrável, Santarém,


CMS/Departamento de Cultura, 1985. Arquivo do Museu.

“Museu Arqueológico. S. João de Alporão", em Magazine VS, n°s 3,


5, 7, 8, 9. BMS - PPP. 295.

Museu de Região. Pólo Dinamizador de Acção Cultural, Actas do


Colóquio da APOM, Lisboa, APOM, 1982.

" Museu Industrial e Distrital de Santarém", em Portugal.


Diccionario Histórico, Tomo 83, Lisboa, Romano Torres, s.d. BN.

PEREIRA, Gabriel; "O Museu Districtal de Santarém", em Boletim de


Architectura e Archeologia da Real Associação dos Architectos e
Archeologos Portugueses, Tomo IX, 4ª Série, n° 8, Lisboa, Lallement,
1909, pp. 5-9. BMS - 1/7/37.
CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nº 8 - 1996 58

SARMENTO, Zeferino; “Museu de S. João de Alporão", em História


e Monumentos de Santarém, Santarém, C.M.S., 1993, pp. 7, 9, 12-
13, 20, 26, 28, 43, 50, 58, 137-39, 141-158, 179-80, 63, 182-83, 185,
187, 227, 232, 237-38, 242, 246, 252, 254, 282. BMS - HG 1777 A

SEQUEIRA, Gustavo de Matos; - Inventário Artístico de Portugal,


Vol. III - Distrito de Santarém, Lisboa, Academia Nacional de Belas
Artes, 1949, pp. 67-74 e Estampas III; CXIII; CXIV; CXV. BMS -
BAD 53 A

Tumulária Artística de Santarém. Visita Guiada por Florindo


Custódio - 10 de Outubro de 1992. Brochura. Santarém,
AEDPHCS, 1992. Arquivo do Museu.

NOTAS

(*) Técnico Superior do IPPAR, Coordenador da Secção de


História da Candidatura de Santarém a Património Mundial,
responsável pelo Museu.

1. Novos elementos sobre este filho bastardo de Afonso


Henriques podem colher-se em José Mattoso, História
de Portugal. Monarquia Feudal (1096-1480), vol. II,
Lisboa, Círculo de Leitores, 1993, pp. 88-89, onde o
autor segue recente investigação sobre Fernando Afonso
da autoria do historiador brasileiro, José Ariel Castro.
CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nº 8 - 1996 59

2. Essa marca ou rasgão na espessa parede da fachada Sul


permanece no edifício e foi integrada no Museu desde
logo, para dar mais luz natural ao espaço museológico.
Atenda-se que a nave interior, tem pouca luz, facto que é
próprio dos edifícios românicos, nos quais se integra a
primeira campanha da Igreja.

3. A extinção das ordens religiosas e o encerramento de muitos


lugares de culto por parte das entidades civis, não
implicava que esses espaços deixassem de ser sagrados.
Nas paredes de S. João de Alporão podem observar-se
ainda as cruzes de sagração da Igreja medieval.

4. O libelo político Voz do Profeta serviu-lhe para escrever os


artigos em “O Panorama", sobre os “Monumentos
Pátrios", como mais tarde lhes chamou (vide Herculano,
Opúsculos I, ed. da Presença, Lisboa, 1980. Refira-se
também que Herculano era um acérrimo defensor do
teatro romântico de características nacionais.

5. Relatório da Comissão de 1878.

6. Esta iniciativa decorreu já na vigência das funções da


Comissão nomeada em Março, em 1 de Julho. Contudo o
Teatro de S. João de Santarém, só abandona os palcos em
Agosto.

7. Ver Anexo 1. O presidente da 1ª Comissão foi José Daly


Alves dos Santos, Secretário do Governador Civil.

8. Um conjunto de critérios estribados nas concepções


oitocentistas de restauro (Viollet-le Duc) orientaram os executores da
obra, que procuraram restitui-lo à sua feição arquitectónica e estilística
CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nº 8 - 1996 60

primitiva, sem lhe introduzir alterações apreciáveis e dramaticamente


irreversíveis. Os trabalhos foram dirigidos pelo Eng. João Fagundo da
Silva, natural dos Açores e funcionário da Câmara e pelo artista
plástico, Visconde de Atouguia. As obras de conservação e restauro
encontram-se hoje historiadas (ver bibliografia) e apesar de alguma
polémica contemporânea que suscitaram podem considerar-se
razoavelmente boas e executadas "com singular consciência” (Pereira,
1907).

9. Que inclusive transparece claramente no primeiro


regulamento do Museu.

10. Ver Bibliografia, no final.

11. No ambiente da Revolução Francesa, Alexandre Lenoir,


discípulo de Doyen, foi quem criou em 1796 um Museu dos
Monumentos Franceses, a partir do depósito de peças que segundo
reunira. A estratégia de Lenoir, em relação às práticas demolidoras da
Revolução Francesa, era guardar tudo o que podia dando origem à
ideia de museu como “cemitério das artes", conceito muito criticado já
no séc. XIX, como por exemplo, em Alexandre Herculano.

12. Em 17 de Março de 1876 a comissão concluiu a primeira


fase dos trabalhos preparatórios e do programa de actividades, de que
foram autênticos teorizadores. Se se quiser averiguar quais são as
ideias museológicas em Portugal no séc. XIX é necessário ter presente
o Relatório apresentado ao Illmo. Exmo Sr . Governador Civil do
Districto de Santarém pela Comissão Administrativa do Museu
Districtal em 30 de Abril de 1878, Lisboa, Typ. Lisbonense, 1878.
Ver excertos no Anexo II.
CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nº 8 - 1996 61

13. A primeira exposição permanente de objectos industriais


realizou-se em 18 de Maio de 1876, aniversário da entrada dos liberais
em Santarém (1834). Foi prestada uma enorme colaboração à
comissão pelos agricultores e industriais do distrito. Nos seus
documentos a Comissão informa sobre a participação de Alexandre
Herculano, então lavrador em Vale de Lobos (Azóia de Baixo).

14. O Regulamento foi elaborado pelo Presidente, pelo


Visconde de Atouguia, Jacinto Falcão, Fagundo da Silva, Marques
Sampaio, filho, Ferreira Pinto e Francisco Menna. O Museu teve
segundo Regulamento em 1886, onde já se notam profundas
diferenças em relação ao primeiro. Ver anexo II.

15. Entre o qual se contava com algumas pedras lavradas da


demolição da Porta da Atamarma (1868) .

16. A Comissão de Salvação dos Monumentos de Santarém formou-se


em Julho de 1916. Ver O Século de 2 de Agosto de 1916, p. 2, col. 4 e
Diário de Notícias de 8 de Agosto do mesmo ano, p. 3. Neste último
jornal para além das personalidades conhecidas que constituíam o
grupo, referem-se ainda, como membros da comissão Afonso
Dornelas, Alberto Cordeiro Cargueiro e Virgílio Correia.

17. A problemática dos museu locais, neste período, não se colocava,


apesar de curiosas notícias, sobre o nascimento desta tendência, nos
periódicos do último quartel do séc. XIX, e primeiros anos do XX.
Existia o Museu de Évora, mas nesse momento vivia um período de
crise.

18. Especialmente em L'Organisateur.

19. Contudo tentou obter outros espaços para o grande Museu


Arqueológico de Santarém .
CADERNOS DE SOCIOMUSEOLOGIA Nº 8 - 1996 62

20. As fases do Museu de S. João de Alporão foram as seguintes: I.


Período da 1ª Comissão (1876-1880); II. Período da gestão da Junta
Geral de Distrito (1880-1910), com dois momentos a) Instalação do
Museu (1882-1889); b) Museu Distrital/Arqueológico (1889-1910);
III. Museu Arqueológico S. João de Alporão gestão Camarária (1910-
1992...), com os seguintes sub-períodos: a) transição (1910-1914); b)
período do conservador L. Veríssim (1915-1936); c) período do
conservador Z. Sarmento (1937-1968); d) período do “Museu dos
Cacos" (1968-1992); IV. Museu Municipal de Santarém. Núcleo de
Exposições Temporárias de Arqueologia e Artes Medievais (1994-
1995).

21. Conhecem-se diversas iniciativas quer da Associação de Estudo e


Defesa do Património Histórico-Cultural de Santarém, como de outras
instituições (Assembleia Distrital) e particulares no sentido da
valorização museológica da cidade, entre 1970 e 1987. Evidentemente
que os diversos projectos e ideias foram tomados em devida conta no
Plano Museológico de Santarém.

22. Valorizando o edifício com a iluminação exterior e equipamento


informativo à entrada especialmente concebido para esse fim.
Publicou-se um catálogo.

23. Cerca de 10.000 visitantes entre 11 de Setembro de 1994 e 31 de


Março de 1995

(*) No arquivo do Governo civil não foi possível obter este


documento, felizmente publicado no periódico Aurora do Tejo, nº 15,
3 de Março de 1876. A lista completa dos nomes da comissão só aqui
se encontra.

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