Resumo Bleger

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BLEGER- Temas em psicologia

A entrevista psicológica
Seu emprego no diagnóstico e na investigação

 Para Bleger outros profissionais também podem fazer entrevista


psicológica

A entrevista pode ser de dois tipos fundamentais: aberta e fechada.


Aberta: Na entrevista aberta, pelo contrário, o entrevistador tem ampla
liberdade para as perguntas ou para suas intervenções, permitindo-se toda a
flexibilidade necessária em cada caso particular.
Fechada ( questionário): as perguntas já estão previstas, assim como a
ordem e a maneira de formulá-Ias, e o entrevistador não pode alterar nenhuma
destas disposições.
entrevista fechada é, na realidade, um questionário que passa a ter uma
relação estreita com a entrevista, na medida em que uma manipulação de certos
princípios e regras facilita e possibilita aplicação do questionário.
Contudo, a entrevista aberta não se caracteriza essencialmente pela
liberdade de colocar perguntas, porque, como veremos mais adiante, o
fundamento da entrevista psicológica não consiste em perguntar, nem no propósito
de recolher dados da história do entrevistado. Embora os fundamentos sejam
apresentados um pouco mais adiante, devemos desde já sublinhar que a liberdade
do entrevistador, no caso da entrevista aberta, reside numa flexibilidade suficiente
para permitir, na medida do possível, que o entrevistado configure o campo da
entrevista segundo sua estrutura psicológica particular, ou - dito de outra maneira -
que o campo da entrevista se configure, o máximo possível, pelas variáveis que
dependem da personalidade do entrevistado.
De outro ponto de vista, considerando o número de participantes, distingue-
se a entrevista em individual e grupal, segundo sejam um ou mais os
entrevistadores e/ou os entrevistados. A realidade é que, em todos os casos, a
entrevista é sempre um fenômeno grupal,já que mesmo com a participação de um
só entrevistado sua relação com o entrevistador deve ser considerada em função
da psicologia e da dinâmica de grupo.
A consulta consiste na solicitação da assistência técnica ou profissional,
que pode ser prestada ou satisfeita de formas diversas, uma das quais pode ser a
entrevista.
Consulta não é sinônimo de entrevista; esta última é apenas um dos
procedimentos de que o técnico ou profissional, psicólogo ou médico, dispõe para
atender a uma consulta.
entrevista não é uma anamnese. Esta implica uma compilação de dados
preestabelecidos, de tal amplitude e detalhe, que permita obter uma síntese tanto
da situação presente como da história de um indivíduo, de sua doença e de sua
saúde. Embora uma boa anamnese se faça com base na utilização correta dos
princípios que regem a entrevista, esta última é, sem dúvida, algo muito diferente.
Na anamnese a preocupação e a finalidade residem na compilação de dados,e o
paciente fica reduzido a um mediador entre sua enfermidade, sua vida e seus
dados por um lado, e o médico por outro. Se o paciente não fornece informações,
elas devem ser "extraídas" dele.
Diferentemente da consulta e da anamnese, a entrevista psicológica objetiva o
estudo e a utilização do comportamento total do indivíduo em todo o curso da
relação estabelecida com o técnico, durante o tempo em que essa relação durar.
A entrevista psicológica é uma relação, com características particulares, que se
estabelece entre duas ou mais pessoas. O específico ou particular dessa relação
reside em que um dos integrantes é um técnico da psicologia, que deve atuar
nesse papel, e o outro - ou os outros - necessita de sua intervenção técnica.
Dessa teoria da entrevista originam-se algumas orientaçõespara sua realização. A
regra básica já não consiste em obter dados completos da vida total de uma
pessoa, mas em obter dados completos de seu comportamento total no decorrer
da entrevista. Esse comportamento total inclui o que recolheremos aplicando
nossa função de escutar, porém também nossa função de vivenciar e observar,de
tal maneira que ficam incluídas as três áreas do comportamento do entrevistado.
ENTREVISTA X ANAMNESE ( diferença)

A diferença básica, neste sentido, entre entrevista e qualquer outro tipo de relação
interpessoal (como a anamnese) é que a regra fundamental da entrevista sob este
aspecto é procurar fazer com que o campo seja configurado especialmente (e em
seu maior grau) pelas variáveis que dependem do entrevistado.
Uma diferença fundamental entre entrevista e anamnese,no que diz respeito à
teoria da personalidade e à teoria da técnica, reside em que, na anamnese,
trabalhasse com a suposição de que o paciente conhece sua vida e está
capacitado, portanto, para fornecer dados sobre ela, enquanto a hipótese da
entrevista é que cada ser humano tem organizada uma história de sua vida e um
esquema de seu presente, e desta história e deste esquema temos de deduzir o
que ele não sabe.

Apesar de todo emergente ser sempre situacional ou, dito em outras


palavras, provir de um campo, dizemos que na entrevista tal campo está
determinado, predominantemente, pelas modalidades da personalidade do
entrevistado. De outra forma, poder-se-ia dizer que o entrevistador controla a
entrevista, porém quem a dirige é o entrevistado. A relação entre ambos delimita e
determina o campo da entrevista e tudo o que nela acontece, porém, o
entrevistador deve permitir que o campo da relação interpessoal seja
predominantemente estabelecido e configurado pelo entrevistado.
Nenhuma situação pode conseguir a emergência da totalidade do repertório
de condutas de uma pessoa e, portanto, nenhuma entrevista pode esgotar a
personalidade do paciente, mas somente um segmento dela. A entrevista não
pode substituir nem excluir outros procedimentos de investigação da
personalidade, porém eles também não podem prescindir da entrevista. De modo
específico, a entrevista não pode suprir o conhecimento e a investigação de
caráter muito mais extenso e profundo que se obtém, por exemplo, em um
tratamento psicanalítico, o qual, no decorrer de um tempo prolongado, permite a
emergência e a manifestação dos núcleos e segmentos mais diferentes da
personalidade.

ENQUADRAMENTO RÍGIDO
Transformar um conjunto de variáveis em constantes. Dentro deste
enquadramento, incluem-se não apenas a atitude técnica e o papel do
entrevistador tal como assinalei, como também os objetivos, o lugar e o tempo da
entrevista.
Cada entrevista tem um contexto definido (conjunto de constantes e
variáveis) em função do qual ocorrem os emergentes, que só têm sentido em
função de tal contexto!.
O campo da entrevista também não é fixo e sim dinâmico, o que significa
que ele está sujeito a uma permanente mudança e que a observação se deve
estender do campo específico existente em cada momento à continuidade e
sentido destas mudanças.
deve-se dizer que o campo da entrevista cobre a sua totalidade, embora
"cada campo não seja senão um momento desse campo totale da sua dinâmica
(Gestalting)
CONCORDÂNCIAS E DIVERGÊNCIAS
A simulação perde o valor que tem na anamnese como fator de
perturbação, já que na entrevista a simulação deve ser considerada como uma
parte dissociada da personalidade que o entrevistado não reconhece totalmente
como sua.
Pode acontecer que o mesmo entrevistador ou diferentes entrevistadores
recolham, em momentos diferentes, partes distintas e ainda contraditórias da
mesma personalidade.
deduz-se facilmente que a técnica e sua teoria estão estreitamente
entrelaçadas com a teoria da personalidade com a qual se trabalha; o grau de
interação que um entrevistador é capaz de conseguir entre elas dá o modelo de
sua operacionalidade como investigador.A entrevista não consiste em "aplicar"
instruções, mas em investigar a personalidade do entrevistado, ao mesmo tempo
que nossas teorias e instrumentos de trabalho.
Para Bleger:

Poder-se-á insistir, ainda, em que a entrevista não tem validade de


instrumento científico porque as manifestações do objeto que estudamos
dependem, nesse caso, da relação que se estabeleça com o entrevistador,e
portanto todos os fenômenos que aparecem estão condicionados por essa relação.
Esse tipo de objeção deriva de uma concepção metafisica do mundo: o supor que
ca

Em outros termos, a entrevista é um campo de trabalho no qual investiga a


conduta a personalidade de seres humanos.
A chave fundamental da entrevista está na investigação que se realiza
durante o seu transcurso. As observações são sempre registradas em função de
hipóteses que o observador vai emitindo.Afirma-se, geralmente de maneira muito
formal, que a investigação consta de etapas nítidas e sucessivas que se
escalonam, uma após a outra, na seguinte ordem: primeiro intervém a observação
depois a hipótese e posteriormente a verificação.
Assim, a forma de observar bem é ir formulando hipóteses enquanto se
observa, e durante a entrevista verificar e retificar as hipóteses no momento
mesmo em que ocorrem em função das observações subseqüentes, que por sua
vez se enriquecem com as hipóteses prévias.
Quem não utiliza a sua fantasia poderá ser um bom verificador de dados,
porém nunca um investigador.

Entrevistador e entrevistado formam um grupo, ou seja, um conjunto ou uma


totalidade, na qual os integrantes estão inter-relacionados e em que a conduta de
ambos é interdependente.
Diferencia-se de outros grupos pelo fato de que um de seus integrantes assume
um papel específico e tende a cumprir determinados objetivos.
O tipo de comunicação que se estabelece é altamente significativo
da personalidade do entrevistado, especialmente do caráter de suas relações
interpessoais, ou seja, da modalidade do seu relacionamento com seus
semelhantes.

A primeira refere-se à atualização, na entrevista, de sentimentos, atitudes e


condutas inconscientes, por parte do entrevistado, que correspondem a modelos
que este estabeleceu no curso do desenvolvimento, especialmente na relação
interpessoal com seu meio familiar.
Na transferência o entrevistado atribui papéis ao entrevistador e comporta-
se em função deles. Em outros termos, transfere situações e modelos para uma
realidade presente e desconhecida,e tende a configurá-Ia como situação já
conhecida, repetitiva.
Com a transferência o entrevistado fornece aspectos irracionais ou imaturos
de sua personalidade, seu grau de dependência, sua onipotência e seu
pensamento mágico. É neles que o entrevistador poderá descobrir aquilo que o
entrevistado espera dele, sua fantasia da entrevista, sua fantasia de ajuda, ou seja,
o que acredita que é ser ajudado e estar são, incluídas as fantasias patológicas de
cura, que são, com muita freqüência, aspirações neuróticas.
Na contratransferência incluem-se todos os fenômenos que aparecem no
entrevistador como emergentes do campo psicológico que se configura na
entrevista: são as respostas do entrevistador às manifestações do entrevistado, o
efeito que têm sobre eles. Dependem em alto grau da história pessoal do
entrevistador, porém, se elas aparecem ou se atualizam em um dado momento da
entrevista é porque nesse momento existem fatores que agem para que isso
aconteça. Durante muito tempo foram considerados como elementos
perturbadores da entrevista, porém progressivamente reconheceu-se que são
indefectíveis e iniludíveis em seu aparecimento, e o entrevistador deve também
registrá-Ios como emergentes da situação presente e das reações que o
entrevistado provoca. Portanto, à observação na entrevista acrescenta- se também
a auto-observação.
Transferência e contratransferência são fenômenos que aparecem em toda
relação interpessoal e, por isso mesmo, também ocorrem na entrevista. A
diferença é que na entrevista devem ser utilizados como instrumentos técnicos de
observação e compreensão.
A ansiedade constitui um indicador do desenvolvimento de uma entrevista e
deve ser atentamente acompanhada pelo entrevistador, tanto a que se produz nele
como a que aparece no entrevistado. Deve-se estar atento não somente ao seu
aparecimento como também ao seu grau ou intensidade, porque, embora dentro
de determinados limites a ansiedade seja um agente motor da relação
interpessoal, pode perturbá-Ia totalmente e fugir completamente ao controle se
ultrapassar certo nível. Por isso, o limite de tolerância à ansiedade deve ser
permanentemente detectado.
Se esses fatores não se apresentam, faz parte da função do entrevistador
motivar o entrevistado, conseguir que apareçam em uma certa medida na
entrevista.
Em alguns casos, a ansiedade acha-se delegada ou projetada em outra
pessoa, que é quem solicita a entre vista e manifesta interesse em que ela se
realize.
Diante da ansiedade do entrevistado, não se deve recorrer a nenhum
procedimento que a dissimule ou reprima, como o apoio direto ou o conselho. A
ansiedade somente deve ser trabalhada quando se compreende os fatores pelos
quais ela aparece e quando se atua segundo essa compreensão. Se o que
predomina são os mecanismos de defesa diante dela, a tarefa do entrevistador é
"desarmar" em certa medida estas defesas para que apareça certo grau de
ansiedade, o que será um indicador da possibilidade de atualização dos conflitos.
Toda essa manipulação técnica da ansiedade deve ser feita tendo-se sempre em
conta a personalidade do entrevistado e, sobretudo,o beneficio que para ele pode
significar a mobilização da ansiedade, de tal forma que, mesmo diante de
situações muito claras, não se deve ser ativo se isso significar oprimir o
entrevistado com conflitos que não poderá tolerar. Isso corresponde a um aspecto
muito dificil: o do denominado timing da entrevista, que é o tempo próprio ou
pessoal do entrevistado - que depende do grau e tipo de organização de sua
personalidade – para enfrentar seus conflitos e para resolvê-Ios.

Na sua atuação, o entrevistador deve estar dissociado: em parte, atuar com uma
identificação projetiva com o entrevistado e, em parte, permanecer fora desta iden
tificação, observando e controlando o que ocorre, de maneira a graduar o impacto
emocional e a desorganização ansiosa.
Outro perigo é o da projeção dos próprios conflitos do terapeuta sobre o
entrevistado e uma certa compulsão a centrar seu interesse, sua investigação ou a
encontrar perturbações justamente na esfera na qual nega que tenha
perturbações. A rigidez e a projeção levam a encontrar somente o que se busca e
se necessita, e a condicionar o que se encontra tanto como o que não se encontra.
Quanto mais psicopata for o entrevistado, maior a possibilidade de que o
entrevistador assuma e represente os papéis.

a entrevista atua sempre como um fator normativo ou de aprendizagem, embora


não se recorra a nenhuma medida especial para conseguir isso. Em outros termos,
a entrevista diagnóstica é sempre, e ao mesmo tempo, em parte, terapêutica.
Na entrevista diagnóstica, segundo nossa opinião, deve se interpretar, sobretudo,
cada vez que a comunicação tenda a interromper-se ou distorcer-se. Outro caso
muito freqüente em que temos de intervir é para relacionar aquilo que o próprio
entrevistado esteve comunicando.
Para interpretar, devemos guiar-nos pelo volume de ansiedade que estamos
resolvendo e pelo volume de ansiedade que criamos, tendo-se em conta, também,
se serão dadas outras oportunidades para que o entrevistado possa resolver
ansiedades que vamos mobilizar. Em todos os casos, devemos interpretar
somente com base nos emergentes,no que realmente está acontecendo no aqui e
agora da entrevista.
Contudo,convém que o entrevistador principiante se limite primeiro, e durante
algum tempo, a compreender o entrevistado, até que adquira experiência e
conhecimento suficientes para utilizar a interpretação.
Nesse sentido, freqüentemente uma entrevista tem êxito quando consegue
esclarecer qual é o verdadeiro problema que está por trás daquilo que é trazido de
modo manifesto.

O informe psicológico tem como finalidade condensar ou resumir conclusões


referentes ao objeto de estudo. Incluímos aqui somente o informe que se refere ao
estudo da personalidade, que pode ser empregado em diferentes campos da
atividade psicológica, e em cada um deles se deverá ter em conta e responder
especificamente ao objetivo com que tal estudo se efetuou. Trata-se, por outro
lado, apenas de um guia e não de formulários a preencher.

1) Dados pessoais: nome, idade, sexo, estado civil, nacionalidade, domicílio,


profissão ou oficio
2) Procedimentos utilizados: entrevistas (número e freqüência, técnica
utilizada, "clima", lugar em que se realizaram). Testes (especificar os
utilizados),jogo de desempenho de papéis, registros objetivos (especificar)
etc. Questionários (especificar).Outros procedimentos.

3) Motivos do estudo: por quem foi solicitado e objetivos. Atitude do entrevistado e


referência a suas motivações conscientes.
4) Descrição sintética do grupo familiar e de outrosque tiveram ou têm importância
na vida do entrevistado. Relações do grupo familiar com acomunidade: status
socioeconômico, outras relações.Constituição, dinâmica e papéis, comunicação e
trocas significativas do grupo familiar. Saúde, acidentes e doenças do grupo e de
5) Problemática vital: relato sucinto de sua vida e conflitos atuais, de seu
desenvolvimento, aquisições, perdas, mudanças, temores, aspirações, inibições e
do modo como os enfrenta ou suporta. Diferenciar aquilo que é afirmado pelo
entrevistado e por outras pessoas de seu meio daquilo que é inferido pelo
psicólogo.

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