TPB Estudo de Caso Bioenergética
TPB Estudo de Caso Bioenergética
TPB Estudo de Caso Bioenergética
PRESIDENTE PRUDENTE - SP
2019
EDNA KAZUE UEMURA
PRESIDENTE PRUDENTE
2019
LIGARE - CENTRO DE TERAPIA CORPORAL
BANCA EXAMINADORA
________________________________________
Prof. (Nome do orientador)
Afiliações
________________________________________
Prof. (Nome do professor avaliador)
Afiliações
________________________________________
Prof. (Nome do professor avaliador)
Afiliações
_________________________________________
Edna Kazue Uemura
Resultado _______________________________
AGRADECIMENTOS
Ao Instituto Ligare de Presidente Prudente, dirigido por Marli Bonini, pela oportunidade de
realizar o curso e ao Instituto Ligare de Americana pelo aprendizado proporcionado pelos
professores e toda a equipe.
A todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação, о meu muito obrigado.
Somos feitos para a felicidade. Para a troca.
Para a paz. Para a bondade.
Para facilitarmos a existência uns dos
outros. Para a coragem e alegria de
simplesmente ser.
(Ana Jácomo)
RESUMO
O objetivo deste estudo é analisar como a terapia corporal bioenergética pode se
associar em trabalhos com um paciente que sofre de transtorno de personalidade borderline. A
leitura corporal é complexa e demanda da constatação quanto às características clínicas do
caráter proposta por Reich e Lowen e o levantamento dos fatores históricos e etiológicos
determinantes que auxiliam na elaboração do diagnóstico. Assim, este trabalho foi definido
como um estudo de caso com abordagem qualitativa. Ao analisar a paciente portadora do
transtorno de personalidade borderline, através de estudos e práticas, observamos através dos
exercícios, da fala e da escuta terapêutica, os traumas vividos pela paciente. Embora o caso
seja complexo verificamos alguns avanços no tratamento. Demonstrou ser uma grande
ferramenta para auxiliar no tratamento da paciente.
Palavras Chave: Terapia Corporal, Bioenergética, Lowen, Transtorno de
Personalidade Borderline, Tratamento.
ABSTRACT
The objective of this study is to analyze how the bioenergetic body therapy can
associate in works with a patient who suffers from borderline personality disorder. The body
reading is complex and demands identifying in the patient the clinical characteristics proposed
by Reich and Lowen collecting historical and etiological decisive facts that help the diagnosis.
Therefore, this is a case study with a qualitative approach. When analyzing the patient with
borderline personality disorder, her traumas could be identified through sessions of physical
exercises, speech and therapeutic listening, taking, into account studies already done in this
field. Even though it is a complex case, some advances in the treatment were identified,
showing that the bioenergetic body therapy has proven to be a great tool to assist patients with
borderline.
INTRODUÇÃO
Com este trabalho pretendeu-se apresentar em linhas gerais o conteúdo teórico dos
conceitos e fundamentos da terapia corporal bioenergética para realizar a leitura corporal da
paciente, analisar e elaborar o significado das tensões musculares crônicas que nortearam o
diagnóstico corporal e as discussões sobre o processo de acompanhamento e dos resultados
obtidos, assim como, os efeitos e ou contribuições que a terapia corporal bioenergética trouxe
à paciente borderline.
Umas das descrições das características borderline está contida no CID – 10 que o
descreve da seguinte maneira:
Em busca das respostas para este trabalho, foram propostos dois objetivos:
Criada nos anos 50, tendo como seu principal fundador Alexander Lowen, a Análise
Bioenergética surgiu da identificação de Lowen com as ideias reichianas a respeito do corpo e
emoção. Para Lowen (Lowen & Lowen 1985, p. 11) a bioenergética é o modo de entender a
personalidade com relação ao corpo e a produção da energia através da respiração, do
metabolismo e da descarga de energia no movimento. Afirma, também, que a bioenergética é
uma terapia que combina o trabalho com o corpo e a mente no sentido de ajudar as pessoas a
resolverem seus problemas emocionais e melhor perceberem o seu potencial para o prazer e
para a alegria de viver. Lowen assim a descreve:
O precursor da terapia corporal, Wilhelm Reich, descobriu que o nosso corpo é dotado
de uma carga energética, que circula em nosso organismo através do processo “tensão-carga,
descarga-relaxamento” (Reich, 1975, p. 138).
Lowen (1982, p. 40), afirma que todas as atividades requerem e utilizam energia, e
está associada em todos os processos da vida, nos movimentos, sentimentos e pensamentos. A
quantidade de energia que um indivíduo possui e como ele a usa irá determinar e refletir na
sua personalidade. Sendo assim, pessoas possuem mais energia e outras são mais debilitadas,
por exemplo no caso de uma pessoa impulsiva, esta não consegue conter qualquer aumento no
seu nível de excitação ou energia e descarrega-o o mais rápido possível.
12
Lowen (1982, p. 13) acrescentou que as couraças estão ligadas ao padrão geral das
tensões musculares crônicas do corpo, sendo assim definidas porque servem para proteger o
indivíduo contra experiências emocionais dolorosas e ameaçadoras.
1.1 COURAÇA
Reich (apud Navarro, 1996, p. 20), propõe que essas couraças estariam localizadas nos
sete segmentos ligados entre si, cada qual afetando aspectos específicos do comportamento
dos indivíduos.
1.2 CARÁTER
Lowen (1982, p. 50) também esclarece que a experiência de vida está registrada no
corpo do paciente, e revela seus sentimentos e seu estilo pessoal. Aliás, o padrão de defesa
desenvolvido pelo corpo é a base do trabalho sobre o caráter na bioenergética, e assim define
essa tipologia:
O trauma aconteceu entre a fase pré-natal e os dias logo após o nascimento. A rejeição
materna foi acompanhada por uma hostilidade que criou o medo. Faltou segurança e alegria.
É comum o retraimento e a raiva.
A criança não foi aceita na sua existência, e criou um conflito entre existência e
necessidades. É um individuo que investe muito pouco na realidade. Evita relacionamentos
íntimos e afetuosos, o contato com o meio é deficitário, as emoções são desvalorizadas, o ego
é fraco e o contato com o corpo também é comprometido.
A pessoa sente que só pode existir se não tiver necessidade de intimidade, e tenta
permanecer em isolamento.
O trauma ocorreu entre a primeira infância até doze meses. O que houve foi uma
carência afetiva ou física. Esta privação inicial pode ser devida à perda real de uma figura
materna calorosa e amiga, seja por morte, doença ou ausência determinada pela necessidade
de trabalhar. Houve a redução da força do impulso de sugar, ou também ter tido outras
experiências de desamparo. Esta frustação tende a deixar marcas de amargura na
personalidade, e por ter medo do abandono, cria uma fachada de independência, em conflito
com suas necessidades.
Esse caráter apresenta muitos traços da primeira infância como uma sensação interna
de precisar ser carregado, apoiado e cuidado. Não consegue ficar em cima de seus pés. Tende
a inclinar-se ou amparar-se em alguém. Não consegue ficar sozinho. Há um desejo exagerado
de estar em companhia de outras pessoas, para receber seu calor e apoio. Pode manifestar a
ideia de que o mundo deve sustentá-lo. Fisicamente e energeticamente, o corpo é frágil, não
há substância muscular caracterizada pela baixa carga, não há força.
A sensação das pessoas bloqueadas nessa fase é de carência, de vazio interior, e pela
falta de força para reagir diante de uma tensão, seus sentimentos são reprimidos. A
agressividade é precária e manifesta principalmente pela boca. Há a alternância de humor
entre depressão e elação.
As vivências traumáticas ocorreram na fase anal com inicio da fase genital, que é a
terceira fase do desenvolvimento emocional, entre os 18 a 30 meses, e envolve as questões de
sedução e controle. O indivíduo foi traído em sua essência e manipulado na fase de
desenvolvimento de sua autonomia. Para ser aceito e reconhecido, o indivíduo aprende a não
ser ele mesmo e tende a atender as expectativas do que os outros projetam nele, negando a sua
própria identidade.
Há dois tipos de corpos que corresponde a estrutura psicopática. O tipo tirânico que se
utiliza da manipulação mental para obter mais poder que outra pessoa e tem a sensação de
superioridade. O outro é o perfil sedutor, que se utiliza da sexualidade para dominar e
controlar. Em ambos os casos há um distúrbio entre estas duas metades do corpo.
O trauma nessa estrutura deu-se também na fase anal, no segundo ano de vida. Vem de
um lar acolhedor e com amor, o pai é passivo e submisso, porém a mãe é dominadora, que
sufoca a criança, embutindo-lhe o sentimento de culpa em qualquer tentativa de libertação. A
18
criança não tem direito a expressão de sua independência e integridade. Ao mesmo tempo em
que é amada, ela é repreendida. As manifestações física ou emocional são reprimidas.
Necessita cumprir as regras sociais e é muito repreendida quando erra, e por essa razão
questiona sobre o certo e errado, os prós e os contras e sobre as ambivalências. Há uma
contradição entre as suas emoções e as respectivas exteriorizações. A submissão e a
cordialidade são traços característicos do comportamento masoquista. Ao nível consciente há
a tentativa de agradar, mas inconscientemente reprime seu sentimento de despeito,
negativismo e por hostilidade. Então faz muita força muscular de contenção, seus músculos
são densos e poderosos, restringindo qualquer acesso direto sobre si, e seus sentimentos se
expressam através das queixas e de lamentos.
Assim, carregam para a idade adulta a sensação de que os outros é que devem lhe
dizer o que, como, quando e quanto fazer. O masoquista, nome dado a esse caráter, tem medo
de ser afastado dos relacionamentos e submete-se, abdica-se de sua independência, causando-
lhe um conflito interno com relação a sua intimidade, da proximidade e da sua liberdade, pois
não respeita suas próprias necessidades, tanto emocionais quanto físicas.
O corpo é enrijecido. A cabeça é bem erguida, a coluna reta e rígida. Há uma carga
poderosa em todos os pontos periféricos de contato com o meio ambiente. Isto favorece a
capacidade de testar a realidade antes de agir. A contenção da energia é periférica; sendo
assim, os sentimentos podem fluir, mas sua manifestação é limitada. Há inúmeros pontos de
tensão ao longo do corpo, representando sua defesa contra os sentimentos e sensações,
principalmente a de exercer o amor.
Há uma rigidez no contato e justamente o nome dado a esse caráter é rígido. No ciclo
carga-descarga o que se apresenta sob bloqueio é a capacidade de entrega à satisfação das
próprias necessidades e de relaxamento. O conflito interno está entre sentir e entregar-se às
sensações, por isso a Análise Bionergética deverá focalizar a entrega e a expressão.
Lowen (1982, p. 120) comenta que na bioenergética não se encaixa uma pessoa como
exemplar deste ou de outro tipo de caráter. Esta pessoa é olhada com seus aspectos
particulares onde a busca do prazer foi bloqueada pela ansiedade e precisou montar um
sistema para se defender todo seu. A estrutura de caráter define melhor o seu problema mais
20
1.3 GROUNDING
contato consigo mesmo, através de seu corpo, pode se comunicar com a realidade ao seu
redor, encontrando a sua possibilidade do contato com outras pessoas.
Boadella continua a pontuar sobre essas formas de contato e de como a energia flui no
corpo através do grounding (firmar):
Para Lowen (Lowen & Lowen, 1985, p. 23), conseguir fazer o grounding é uma
maneira de dizer que uma pessoa está com seus pés firmados no chão, a pessoa sabe qual é o
seu lugar, onde está e quem se é. O grounding proporciona uma sensação nas pernas intensa,
mesmo depois de terminado o exercício, aumentando a sua função de sustentação com o peso
do corpo. A visão e a percepção também se ampliam. A respiração se torna mais profunda. É
22
quando o individuo entra em contato com as realidades de sua existência. A pessoa está
firmemente identificada com seu corpo, consciente de sua sexualidade e orientada para o
prazer. Quando não se consegue fazer o grounding, todas essas sensações e formas de
comunicações, faltam à pessoa que esta “suspensa no ar” ou na sua cabeça, em vez de estar
em cima dos próprios pés.
Reich (1995, apud Volpi, 2003, p.24) conceitua as formas de acessar o corpo para o
trabalho terapêutico: uma delas é a leitura corporal que compreende como o corpo do cliente
se estrutura e de que forma sua postura, suas tensões seus movimentos e sua expressão
mostram a historia de sua vida. Outra forma de acessar o corpo é através da conscientização
das sensações e mudanças que vão ocorrendo durante uma sessão de psicoterapia. Também
pontuar gestos e posturas habituais aumenta a consciência corporal do cliente. Outra
ferramenta é o toque em pontos específicos que tem por objetivo maximizar algumas
expressões emocionais. Todas essas técnicas associadas à fala e escuta do processo
terapêutico formam o trabalho corporal expressivo da análise do caráter proposta por Reich
(1897 – 1957) psicanalista, o precursor da terapia corporal.
23
Segundo Volpi (2003, p.100), a estrutura borderline caracteriza-se pela depressão, pela
confusão e pela angústia frente à perda objetal. As principais características são a atuação, as
percepções difusas e a impulsividade que gera esgotamento. Podem ter experimentado
situações abusivas na infância, experiências que se traduzem por abusos físico, psicológico e
até sexual.
Teixeira (2011, p. 258/259) esclarece que os tipos de violência com a criança são os
atos ou omissões que causam danos ao desenvolvimento psicológicos, cognitivos, físicos com
reflexos na área social e compreendem a carência de condições mínimas de sobrevivência, de
proteção e atenção às necessidades básicas da pessoa. Pode gerar traumas na criança,
expressas sob a forma de dificuldades de relacionamentos, medos constantes, dificuldades
alimentares, pesadelos, isolamento, ansiedade e sintomas depressivos. A forma mais frequente
é caracterizada pela negligência e abuso físico, e a relação mais direta entre abuso e maus
tratos ocorre entre a criança e as figuras cuidadoras, em particular, os familiares, tais como
exposição da criança a situações familiares de violência, de uso de drogas, e promiscuidade
dos pais e responsáveis.
25
Para Navarro (1996, p. 21/22), se o período neonatal acontecer com uma maternagem
inadequada pode gerar um estresse emotivo ligado ao medo de perda, e resultará na
necessidade de dependência. A maternagem, entre amamentação e o desmame, é simbiótica, e
também se traduz em contato, calor e amor, indispensáveis a gênese da comunicação. É um
período de intensa e profunda ressonância afetiva. O desmame, rompimento da condição
simbiótica, é um momento delicado, que necessita uma separação gradual do campo materno
ao campo familiar, passando da motilidade à mobilidade muscular intencional.
Bachbauer (apud Volpi, 2003, p.101) afirma que entre um ano e meio e dois anos de
idade, a criança descobre que existe um mundo gigantesco além da mãe e que ela própria é
um ser separado e frágil. Vivencia, de forma ansiosa, a ambivalência entre aproximar-se e
afastar-se da mãe. É de suma importância que a mãe dê suporte aos dois momentos de
aproximação e afastamento, pois caso contrário abre-se um caminho para a estruturação
borderline, ao estabelecer um vínculo traumático para a criança, no qual se confunde amor,
dependência e maus tratos. A fragmentação entre objeto bom e objeto mau não é superada
pelo borderline e a constância objetal não é alcançada.
Segundo Romaro (2008, p. 27), o ambiente familiar pode ser considerado um dos
possíveis fatores predisponentes à patologia Borderline. Famílias em que há predominância de
dificuldades conjugais, de hostilidade, agressividade, brigas recorrentes, quadro de alcoolismo
são frequentes nos casos borderlines.
Outra condição que se instala no período neonatal é a distimia que também pode ser
associada ao borderline e expressa uma depressividade de tipo psicótico como reação ás
lesões narcisísticas associada ao sentimento de perda (Navarro, 1996, p.45/46). Navarro
26
Teixeira (2011, p.263) sinaliza sobre os riscos do suicídio e os grupos com maior
incidência são os jovens e idosos. Ressalta que entre os borderlines são marcados por traços
de impulsividade, agressividade e frequentes alterações do humor. Entre a maioria dos
eventos estressores de quem comete o suicídio estão: problemas interpessoais, eventos de
perda como separação, luto, perda financeira, perda de emprego e aposentadoria.
Hegenberg (2009, p.96) fala sobre a ocupação do borderline. São pessoas produtivas,
inteligentes e capazes. Por causa do vazio, tédio e falta de sentido em sua vida nem sempre
tem um trabalho ou estudam. O borderline em razão das exigências do seu ideal de ego
considera-se exageradamente capaz tornando-se arrogante, crítico e irritando quem está ao seu
redor mas de fato se está diante de uma pessoa frágil e insegura que sempre está solicitando
ajuda. Com apoio e suporte o borderline tem um desempenho satisfatório, se tirar seu apoio o
borderline tem dificuldade de se virar sozinho e não consegue terminar o que começou. As
vezes esse apoio tem de ser constante. O borderline não é capaz de se ligar muito tempo a
alguma coisa que não seja de seu interesse.
Bowlby (1985-2004) refere-se ao luto como a elaboração das perdas e o autor dividiu
o luto em algumas fases de passagem sendo a primeira reação a de entorpecimento ou choque,
seguida da segunda fase que seria a de anseio , protesto e busca da pessoa perdida sendo esta
fase muito emotiva e com muito sofrimento psicológico. A terceira fase seria a de
desorganização e desespero onde nada vale a pena. E por fim a recuperação e restituição onde
se estabelece novas relações e reatamento de antigos laços. No luto complicado, o enlutado
tenta negar ou evitar aspectos da perda e segurar ou evitar o desligamento da pessoa perdida
(Bowlby, 2004, vol 3) .
27
Second (1992, p. 437) em seus estudos, situa a delinquência como uma transgressão
familiar e é vista como “um gesto e se pensa logo em passagem ao ato, ao acting-out” e que
tem a ver com a perda da noção de limites.
Romaro (2008, p. 17) com relação a impulsividade, cita as consequências desta forma
autodestrutiva de lidar com a vida que podem gerar perdas tanto nas relações interpessoais
quanto de trabalho, levando a uma desestabilização. Pode haver história de consumo de
drogas ou álcool e vários parceiros sexuais ao mesmo tempo.
Romaro (2008, p. 46) relata que em função desta falta de integração do superego, o
borderline conduz a reprojeção de núcleos do próprio superego sob a forma de tendências
paranóides e também a representação de objetos sádicos e idealizados. O Borderline tem
fortes sentimentos de culpa e oscilações depressivas.
Com relação à formação do caráter, Volpi (2003, p. 102) considera que o borderline
desenvolve padrões de defesa esquizoide, com medo de aniquilação pelos pais. Por causa
desse medo, perde os limites, como se isso garantisse sua integridade. Do oral o borderline
captou o medo do abandono, o que o faz buscar nutrição nas relações. E também defesa
29
Em uma leitura corporal do borderline Fréchett (1995) observa que o borderline pode
apresentar descuido de seu corpo da mesma maneira que pode se importar demais com sua
aparência, mas de qualquer forma, aparenta não ter contorno definido do corpo e não tem
muito tônus; eles podem ser obesos ou muito magros. A couraça parece ter migrado dos
músculos para o campo energético. Existe um profundo conflito interno que causa
hipersensibilidade, rigidez defensiva e baixa autoestima.
Por essa razão, segundo Aalbese (1997, p. 128) pode-se dizer que, na bioenergética, o
Borderline tem pavor do grounding, pois ao estrar em contato consigo mesmo através do
exercício de grounding, este se deparara com um vazio apavorante, sente-se abandonado e
passa a ter medo do abandono absoluto. Uma criança sente-se abandonada ao ser privada de
algo que lhe é muito importante para sua vida, ao ser rejeitado, ofendido, ridicularizado, ao
ver seus sentimentos não reconhecidos ou postos de lado. Esta sensação de ter sido
abandonada se aprofunda quando os pais não podem reconhecer a dor da criança e responder
a ela com compaixão. A criança introjetará aos poucos a rejeição dos pais, tanto para manter
algum tipo de conexão com seus pais quanto para não entrar em contato com seus
sentimentos de abandono.
Para Volpi (2003, p.104) o trabalho corporal com o borderline tem o objetivo de
desenvolver a corporiedade e seus limites. Quanto ao aspecto energético trabalha-se melhor o
campo e depois a musculatura. Seus sentimentos negativos devem ser olhados para que supere
a clivagem entre o amor e o ódio, o bom e o mau. Com a ajuda do terapeuta, estruturar seu
corpo, a contenção, a respiração e o grounding.
30
3 ESTUDANDO UM CASO
A queixa inicial da paciente foi depressão por luto e de muita tristeza. O tratamento
recomendado foi tratamento psiquiátrico com tratamento psicológico. No ano de 2012
faleceram seus três avós. B. foi criada pelos avós maternos, a avó materna faleceu por infarto
e quatro meses depois, o avô. Um mês após o falecimento do avô materno faleceu a avó
paterna.
B. é a primeira filha do casal, sendo o esperado pelo pai um menino, e foi entregue aos
cuidados dos avós maternos, com quem habitou até os 15 anos. Quando os avós faleceram se
viu órfã. Seu tio, que também morava com seus avós, havia prometido que cuidaria dela, mas
não cumpriu o prometido e entregou B. aos seus pais. Tem duas irmãs mais novas, que
permaneceram em casa e foram criadas pelo casal. O padrão socioeconômico da família é de
classe média, o pai A.C.S.L tem 44 anos, possui negócio próprio e ensino médio e a mãe
A.E.C.L. 43 anos, possui o magistério e é evangélica da igreja Senhor dos Exércitos
(Assembleia de Deus). B. contou que o ensino fundamental foi conturbado, mas gostava das
professoras das 1ª a 4ª séries, pois achava que cuidavam dela. Das 5ª a 8ª séries estudou em
escolas distintas e reclamou que não tinha amigos. B gostaria de ajudar crianças abandonadas,
e por essa razão pretendia ser professora.
Sua mãe a culpava pela morte da avó. B. tinha muitos conflitos com seus pais,
inclusive pelo sentimento de abandono, de vazio e de que não podia contar com eles. Seu pai
não a ajudava no sustento da faculdade, sequer para os medicamentos.
Fez uma tatuagem para lembrar-se da avó materna, mas não conseguia ir ao cemitério
visitar o túmulo. Posteriormente fez outras tatuagens, da sobrinha e de símbolos que lhe
agradavam e significavam que sempre estariam com ela.
31
O pai proibiu-a de dirigir veículos, pois apresentava conduta imprudente com veículos,
porém B. burlava a proibição e utilizava o carro e a moto do pai sem permissão. Já se
acidentou com moto algumas vezes, e em uma delas seus pais não a socorreram, deixando-a
sozinha. Ressentia-se quando o pai permitia que seu namorado usasse a moto e ela não. B.
mantinha forte sentimento de raiva. A paciente se continha com as pessoas amigas, mas tinha
grande dificuldade no relacionamento com os familiares, com quem brigava muito, e fugiu de
casa várias vezes.
B. tinha uma ótima memória por datas. Sabia de todas as datas de acontecimentos.
Mantinha um diário com suas lembranças tristes, mas não relia. Apresentava dificuldades em
organizar seu tempo, esquecia-se dos medicamentos quando visitava a família na casa dos
pais. Seu pai não enviava seus remédios pelo correio, B. não possuía recursos para adquiri-lo
e ficava sem tratamento medicamentoso até novo retorno à casa dos pais.
Aos 10 anos de idade, sua mãe traiu o pai e houve uma breve separação. Os pais,
enquanto separados, voltaram a se encontrar e deste encontro nasceu a 3ª filha, porém o pai
não pagava a pensão. Sua mãe, inconformada, alimentava a raiva que sentia pelo ex-marido
em suas filhas e lhe criava problemas apresentando queixas na delegacia de polícia. Houve
um episódio em que sua mãe viu seu pai com outra mulher e num acesso de raiva, atingiu o
carro que o pai tanto gostava, causando danos no veículo. B. achava a mãe “piradinha” e
“barraqueira”.
B. ingressou no curso superior em outra cidade e voltava para casa dos pais para
visitar as irmãs e sua sobrinha, mas quando isso acontecia se isolava da família, pois ainda
não tinha bom relacionamento com a mãe ou ia para a igreja para ficar com os amigos.
Sua irmã engravidou aos 16 anos com a intenção de sair de casa e foi morar com a
família do namorado. Terminado o relacionamento, a irmã retornou à casa dos pais a quem
entregou a filha para cuidarem. A paciente não se conformava com o fato da irmã entregar a
filha para seus pais cuidarem para se divertir nas baladas. B. queria assumir os cuidados da
sobrinha.
32
B. tentou trabalhar e terminar o curso, porém não conseguiu concluir o semestre por
assumir mais matérias do que suportaria ou por faltar às aulas por desinteresse e dormir
demais.
Na primeira sessão estava com muito sono, não falou muito e já na segunda sessão
falou bastante. A paciente mostrava sua depressão e luto no estágio inicial com baixa carga
energética. Tinha muito sono. Faltava às sessões e relatava que os remédios a deixavam
sedada. De início era muito difícil para a paciente participar dos exercícios.
O primeiro passo é estabelecer um contato onde o paciente possa falar sobre seus
conteúdos e elaborar suas perdas, e nesse sentido Aalbarse orienta que:
Quando tentou um suicídio com atentado a vida real, a paciente relatou que a vontade
de se matar sempre existiu, e que o remédio somente diminuía essa vontade, mas não
desaparecia (ver no anexo 2 o relato da paciente sobre o episódio da tentativa de suicídio).
Ainda que o paciente decida morrer, o compromisso do terapeuta é sempre com a vida e deve
direcionar a terapia no sentido de encontrar outra solução para seus problemas. É muito útil
manter uma relação de endereços e telefones de amigos e dos pais do borderline caso
necessite entrar em contato.
B. namorava rapazes mais novos que ela. Ao término do último namoro, B. sentiu-se
rejeitada e tentou suicídio, ingerindo medicamentos em grande quantidade. Foi acudida pela
amiga e foi levada ao hospital, onde sofreu infarto. Mobilizou muitas pessoas ao seu redor até
chamarem seus pais. Queria embutir o sentimento de culpa em alguém. O suicídio para B.
tinha a função de causar culpa em outros pelo seu sofrimento. Relatou não ter se arrependido
do ato, mas ao mesmo tempo ficou aliviada por não morrer. Nota se neste fato o sentimento
ambivalente entre viver e morrer e uma grande mobilização de pessoas para salvá-la.
A paciente retornou à casa dos pais, onde ficou aos cuidados de tratamento
psiquiátrico, período em que teve que interromper a faculdade.
B. foi orientada sobre o quanto é agressivo ter muitos parceiros, pois não se ama dessa
forma e magoam as pessoas que não tem culpa da sua raiva e impulsividade.
O impulsivo não suporta carga, logo quer descarregar. Um exercício proposto pela
bioenergética é o de inspirar, segurar a respiração, contar até quatro e expirar. Este exercício
tem com premissa a de que a respiração representa a emoção. Então quando o paciente
consegue manter o ar dentro de si por poucos momentos, isto aumenta a sua tolerância a
emoção. Vão surgir conteúdos emocionais relacionados à impulsividade e a dificuldade do
34
borderline em querer soltar logo a emoção, sem pensar. No entanto, B. não gostava de
exercícios, não gostava da maioria dos exercícios para sentir.
B. oscilou em tentar o suicídio e não tentar. Sua namorada levou-a para uma Unidade
de Pronto Atendimento porque B. dizia que ia se matar, que ia se cortar ou tomar remédios.
No entanto, não a atenderam, pois não havia cometido o suicídio. Após muita insistência,
sedaram B. que dormiu por um bom tempo. Terminaram o relacionamento e B. não tentou o
suicídio.
35
Quando se faz uma análise bioenergética, esta observação do caráter tem como
objetivo mostrar o estágio em que o individuo ficou fixado no seu desenvolvimento em
função de um trauma.
Este tipo de abordagem faz com que o paciente entre em contato com suas
necessidades reais e que fazem sentido para ele podendo agir conforme o que necessita. A
despersonalização acontece quando não faz sentido o que fazemos com nossa vida.
Aqui o conflito de seu caráter pode aparecer. Então o paciente pode relatar que se
precisar demonstrar seu amor por alguém ficará vulnerável a rejeição. Na análise
bioenergética percebemos que um caráter rígido reagiria dessa forma. A Bioenergética
colocaria exercícios de expressividade do amor para ajudar este caráter.
B. também apresentava características do caráter oral, pois “não tinha vontade de fazer
nada”, faltava à terapia, chegava atrasada. Quando se sentava na poltrona seu corpo
escorregava e ficava largado. Denotava baixa energia significando uma energia depressiva.
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Quando convidada a fazer exercícios relatava que não conseguia. O corpo era mediano
para pequeno.
Apresentou também outras características orais, pois achava que os outros tinham
obrigação de cuidar dela, grudava nas pessoas, e não se preocupava com os sentimentos do
próximo, lhe faltava empatia.
Sua forma de falar era oral por falar muito e não conseguia fazer exercício de descarga
de raiva. Suas pernas fraquejaram quando foi pedido para bater no banquinho stool com
raquete de tênis ou torcer uma toalha e não tinha boa coordenação motora. De acordo com
Aalberse:
O grounding pode ser definido como um equilíbrio dinâmico entre dois polos:
elevar-se acima do solo e afundar-se nele”. Encontrar o ponto de contato ótimo é o
objetivo do trabalho. São duas maneiras de evitar o grounding: A primeira é
recusando-se a ficar sobre os próprios pés, dependurando-se nos outros e
responsabilizando-os pela sua existência e bem estar. A pessoa se coloca
completamente dependente, vulnerável e incapaz. Se isto falha, afunda-se no chão.
Primeiramente a sensação é de pernas extremamente pesadas. Depois se o estado se
agrava, ocorre uma desernegização das pernas, que são sentidas como de borracha e
incapazes de sustentar o corpo. Todo tônus postural é rebaixado, a pessoa
literalmente cai sobre uma pelve sem vida. Nessas condições, a tendência é buscar a
fusão com o outro; A segunda é o oposto desta. Há uma recusa a apoiar-se nos
outros, erguendo-se acima do chão para não sentir o contato com a realidade da
interdependência humana. É uma personalidade narcisista. A pessoa se eleva para
compensar uma baixa autoestima, tentando manter uma autoimagem idealizada de
alguém especial, que está acima e é melhor que os outros. (AALBERSE, 1997
p.127)
na medida que vai melhorando seu grounded, o cliente entra em contato com
sentimentos aterrorizantes de abandono , componentes emocionais da depressão de
abandono que vão surgindo. A medida que a terapia progride, o cliente se move do
abandono a aceitação da solidão existencial. O cliente pode se tornar tão preocupado
com sua solidão que precise se abrir para a dimensão coletiva ou universal de sua
experiência. Manter a polaridade existencial de ser só e pertencer a algo. A
confrontação e o trabalho com a depressão de abandono são aspectos essenciais do
crescimento rumo a um vínculo maduro e uma percepção unitiva. (AALBERSE,
1997 p.127)
Keleman faz uma descrição gráfica das estruturas corporais do que ele chamaria de
estrutura em colapso explicando as deformações à forma corporal sofrida pelo transtorno de
personalidade borderline. Ele explica como a postura emocional se forma em função da
privação de nutrição emocional (Keleman, 1992, p. 150 a159).
atarracada, o pescoço enterrado, denotando uma compressão nessa área, provocando tensão na
região occiptal, que pode gerar a ansiedade. Lowen (1982, p. 165/166) também descreveria
como um “corpo de gancho de açougue”, que é uma massa de tecido que se acumula
exatamente da sétima vértebra cervical, na junção de pescoço, ombros e tronco.
A sua energia corporal foi percebida mais forte e tensionada nos ombros e pescoço, na
parte superior. Na parte inferior do corpo era sentido como mais fraco, com tendência para
pernas sem tônus, com pouco suporte de um exercício com carga.
B. está planejando comprar uma moto. Sua intenção era comprar uma moto de mais
cilindradas, porém reconhece que está além das suas condições e se conformou com uma de
menor potência. Sua parceira lhe fornece muita firmeza e a ajuda para que conquiste suas
coisas.
Sua irmã engravidou de outro rapaz e está morando com ele. B. tem pena da irmã
caçula, pois acha que não está sendo bem cuidada, mas B. tem evitado voltar para casa.
39
4 CONCLUSÃO
Para Volpi (2003, p.21) o resultado na bioenergética está ligado à ideia de reviver o
passado que se encontra no corpo, criando raízes na própria história promovendo o reencontro
entre o individuo e seu corpo. Quando se fala em corporiedade, na bioenergética, observa-se a
respiração, o movimento, o sentimento, a auto-expressão e a sexualidade. É através do corpo
que se chega á liberdade, a graça e á beleza. A liberdade é ausência de restrição nos
sentimentos e nas sensações, a graça é a capacidade de se expressar e a beleza é a harmonia.
Lowen (1982, p. 37) assim resume a terapia corporal, afirmando que [...] “a vida de um
indivíduo é a vida de seu corpo”.
41
Ademais, dada à complexidade da patologia entendo que mais estudos são necessários
para a sua compreensão e orientação.
42
5 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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6 ANEXOS
ANEXO I
_____________________________________
PACIENTE (RG)
_____________________________________
Acordei, era aula de didática, detestava aquela aula, então faltei. Levantei da cama
depois do almoço para ir para o estágio no colégio A., fiquei até às 5 da tarde e depois fui
direto para o consultório da psicóloga, seria a minha primeira consulta depois de muitos
meses.
Uns dias antes pedi para que voltássemos a terapia, pois como sempre, estava afetando
a minha faculdade de novo. Quando cheguei ao consultório, o dia tinha sido normal, tão
bonito, passei o dia na escola, o lugar que eu mais adorava ficar, nenhum tipo de pensamento
tinha passado pela minha cabeça o dia todo.
Eu só sei que a consulta seria de apenas uma hora, mas viraram exatamente 3 horas.
Durante o tempo todo da consulta eu falava que não tinha mais vontade de viver e que me
mataria caso eu mandasse mensagem para meu ex-namorado e ele não quisesse mais nada
comigo. Mas eu falava de uma forma tão comum, tão natural, que qualquer pessoa que
ouvisse, não acreditaria que eu estava falando sério.
O ritmo da conversa foi sobre isso o tempo todo, parecia que eu estava dopada, como a
psicóloga mesma disse, mas eu não tinha tomado remédio nenhum, acho que eu só tinha
desistido da vida mesmo.
Saí do consultório as 20h30 e fui direto para a residência, cheguei as 20h50, já tinha
mandado a mensagem e ele não se importou, disse que eu podia me matar se quisesse. Depois
disso sentei na cama com uma garrafa de água e bebi por volta de 100 comprimidos, logo em
seguida mandei fotos dos remédios vazios e só disse: eu fiz. Ela me mandou vomitar, passar o
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telefone para alguém e eu apenas ignorei e desliguei o celular. (eu tinha que mostrar que ela
não podia duvidar de mim). Não passou 5 min e o remédio começou a fermentar no meu
estômago, então logo corri para o banheiro, não consegui segurar o vômito. Só lembro de
estar sentada no chão do banheiro abraçada ao vaso enquanto vomitava e um telefone fixo me
ligou, atendi, já estava dopada, então não respondia mais por mim. Era a psicóloga, ela pediu
que eu passasse o telefone para alguém e eu o fiz.
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ANEXO IV - MOTVIVAÇÃO
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V – ANAMNESE
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