Introdução À Filosofia

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Filosofia

Introdução à Filosofia

Teoria

O que é Filosofia?
Não há uma resposta fácil para essa pergunta. Passaremos muito tempo juntos tentando responder essa
questão. Mas, para começar, podemos dizer que, por toda a história, vários pensadores tentaram definir o que
é Filosofia, alguns refutando outros, alguns logrando mais sucesso que outros. Ao longo dessa história
também foram levantadas muitas questões diferentes. Perguntas como por que estamos aqui, como tudo ao
nosso redor foi criado, do que a matéria é feita, como saber se algo ou alguém é bom e de onde vem as ideias
são alguns exemplos dos temas encarados pela Filosofia, constantemente colocados como problemas a
serem resolvidos.

Por essas perguntas, poderíamos dizer então que a Filosofia é uma área do conhecimento dedicada a
investigar questões fundamentais sobre existência, conhecimento, valores, razão, mente e linguagem. Só que,
na Filosofia, não importa só o tema, importa como eles são abordados. A abordagem lógica das questões
filosóficas é essencial para construir um saber propriamente filosófico. E como a logos se tornou importante
é o que vamos ver a seguir

A passagem do mito ao logos

Razão

A mitologia grega consiste na forma mais antiga de crença do homem ocidental, através da qual os gregos
buscavam explicar a realidade através de entes sobrenaturais e figuras mitológicas. Nesse sentido, podemos
dizer que a mitologia surge, na Grécia Antiga, a partir do espanto do ser humano com o mundo, ou seja, a
partir do estranhamento com tudo aquilo que o rodeava e que, naquele momento, ainda não possuía uma
explicação racional. A mitologia era narrada em forma de poesia e era cantada nas ruas pelos poetas, dentre
os quais o mais famoso foi Homero, que teria vivido por volta do século IX A.C. Assim, a mitologia era passada
de geração para geração através dos poetas, o que garantia a divulgação e manutenção dos valores, hábitos,
crenças e crenças do povo grego.

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Num dado momento da cultura grega, as explicações mitológicas tornam-se insuficientes e o homem sente
a necessidade de buscar respostas mais racionais para as questões que o afligiam. Diversas transformações
no âmbito da cultura grega contribuíram para o surgimento do pensamento filosófico, tais como: a
redescoberta da escrita, o surgimento da moeda, a formulação da lei escrita, a consolidação da democracia,
entre outras. A partir dessas transformações puderam surgir no século VI A.C os primeiros filósofos, que
ficaram conhecidos como filósofos pré-socráticos. Esses primeiros pensadores se interessavam em
descrever a natureza (physis) sem apelar para seres sobrenaturais e para figuras mitológicas. Sua grande
tarefa era explicar a natureza a partir de elementos naturais.

A mitologia era tida como uma verdade absoluta, um conhecimento inquestionável no âmbito da cultura grega
antiga. Já a filosofia, enquanto tentativa de um pensamento mais racional, tem como fundamento o
questionamento, a interrogação, a dúvida, a suspeita, o que provoca uma ruptura na cultura grega. A
passagem do mito para a filosofia não foi rápida, mas sim um lento processo de transformação, em que a
mitologia deixa de ser entendida como uma verdade absoluta, possibilitando o surgimento de explicações
mais racionais da realidade e da natureza.

Mitologia Filosofia

• Explica as origens e a realidade a partir de • Explicação racional da realidade e da origem do


alianças e desavenças entre divindades mundo
• Narrada em forma de poesia • Filosofia da Physis
• Cosmogonias e teogonias • início da ciência antiga
• Mito • Cosmologias
• Crença • Lógos
• Arché - princípio originário
• Razão

Enquanto a mitologia explicava a origem das coisas da natureza apelando para seres divinos. Por exemplo:
A origem dos mares era explicada a partir da existência do Deus Poseidon. Já a filosofia buscará uma
explicação da origem das coisas a partir da própria natureza. Uma das questões principais desses primeiros
filósofos era a definição do princípio primeiro (arché) que rege toda a natureza (physis). Alguns deles dirão
que o princípio que rege a natureza é a água, outros dirão que é o fogo, outros dirão que é a conjugação de
fogo, água, terra e ar, entre outras concepções. O que é fundamental, entretanto, é a ruptura que esses
filósofos provocam na medida em que se recusam a explicar a natureza a partir de seres sobrenaturais para
tentarem, ainda que de maneira precária, a formulação de um pensamento mais racional. Assim, observamos
a lenta passagem do pensamento mitológico para o pensamento filosófico.

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Exercícios

1. A filosofia surgiu na Grécia, no século VI a.C. Seus primeiros filósofos foram os chamados pré-
socráticos.
Sobre o tema, é correto afirmar que a filosofia:

a) Estabeleceu-se como um discurso acrítico e teve suas teses endossadas pela força da tradição.
b) Desprezou os conhecimentos produzidos por outros povos, graças à supremacia cultural dos
gregos.
c) Reafirmou a aspiração ateísta dos gregos, vetando qualquer prova da existência de alguma força
divina.
d) Retomou os temas da mitologia grega, mas de forma racional, formulando hipóteses lógico-
argumentativas.
e) Surgiu como um discurso teórico, sem embasamento na realidade sensível, e em oposição aos
mitos gregos.

2. Quando soube daquele oráculo, pus-me a refletir assim: “Que quererá dizer o Deus? Que sentido oculto
pôs na resposta? Eu cá não tenho consciência de ser nem muito sábio nem pouco; que quererá ele
então significar declarando-me o mais sábio? Naturalmente não está mentindo, porque isso lhe é
impossível”. Por longo tempo fiquei nessa incerteza sobre o sentido; por fim, muito contra meu gosto,
decidi-me por uma investigação, que passo a expor.
(PLATÃO. Defesa de Sócrates. Trad. Jaime Bruna. Coleção Os Pensadores. Vol. II. São Paulo: Victor Civita, 1972, p. 14.)

O texto acima pode ser tomado como um exemplo para ilustrar o modo como se estabelece, entre os
gregos, a passagem do mito para a filosofia. Essa passagem é caracterizada:
a) pela transição de um tipo de conhecimento racional para um conhecimento centrado na fabulação.
b) pela dedicação dos filósofos em resolver as incertezas por meio da razão.
c) pela aceitação passiva do que era afirmado pela divindade.
d) por um acento cada vez maior do valor conferido ao discurso de cunho religioso.
e) pelo ateísmo radical dos pensadores gregos, sendo Sócrates, inclusive, condenado por isso.

3. “O Podemos caracterizar a mitologia como resultante dos primeiros esforços do ser humano no
Ocidente para dar explicações para as coisas e atribuir sentido à realidade. Com base nesta
compreensão, é correto afirmar:
a) Os mitos foram as primeiras formas de manifestação escrita do homem no Ocidente e, nesse
sentido, podem ser considerados registros fiéis da realidade no período pré-clássico.
b) O período mitológico teve pouca relevância para a história da humanidade, na medida em que se
baseava sempre na religião predominante e, como tal, cumpriu um papel de dominação do homem.
c) Os mitos cumprem um papel importante na história do pensamento ocidental, dada, entre outras
coisas, sua importância para o nascimento da filosofia.
d) A filosofia dos filósofos pré-socráticos construiu-se como uma radical oposição aos relatos
mitológicos, rebatendo as ilusões epistemológicas e respondendo aos anseios de cientificidade da
época.
e) Mito e filosofia pré-socrática se confundem. O que os diferencia é o rigor metodológico dos
primeiros filósofos.

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4. Considerando-se a Filosofia como um constructo da cultura grega na antiguidade, é correto afirmar:

a) A teogonia compreende um estudo sistemático e válido por critérios de cientificidade sobre a


origem do mundo.
b) A mitologia representa um conjunto de conhecimentos válidos e comprovados pelos critérios
científicos.
c) A filosofia em sua trajetória histórico-social é caracterizada por ser um conhecimento absoluto.
d) A cosmologia é o estudo racional que tem em seu escopo investigar a ordem do mundo.
e) A ciência grega, em suas manifestações epistemológicas, defendia a perspectiva criacionista.

5. Considerando-se os mitos como forma de expressão e produção de conhecimentos, pode-se afirmar:


a) O conhecimento, produzido pelas representações mitológicas, é decorrente de uma exaustiva
verificação lógica analítica.
b) Os mitos oportunizam a compreensão verdadeira sobre o que é o ser, o homem em todas as suas
manifestações existenciais.
c) As representações mitológicas trazem em seu escopo um conhecimento tradicional e manifesto
oralmente.
d) Os critérios de validade dos conhecimentos mitológicos perpassam pelo empirismo e
racionalismo.
e) O Existencialismo, enquanto corrente do pensamento filosófico brasileiro, tem suas raízes na
concepção mitológica.

6. Precisamos recuperar o mito, hoje, em sua importância como forma fundamental de todo viver humano.
Ele é a primeira leitura do mundo, e o advento de outras abordagens do real não retira do homem aquilo
que constitui a raiz da sua inteligibilidade. Sua função fabuladora é a forma que o homem utiliza para
explicar o mundo. Explicar o mundo visando responder questionamentos sobre o sentido da vida, o
surgimento do universo e do homem assim como justificar as normas que garantem a vida em
comunidade.
ARANHA, Maria Lúcia e CORDI, Cassiano. (Adaptado)
É CORRETO afirmar, então, que a função do mito é a de

a) apenas explicar a realidade diante de um mundo caótico.


b) levar o homem a não imitar exemplarmente nem repetir, nos ritos, as ações dos deuses.
c) concretizar os fatos naturais sem a necessidade dos ritos.
d) estender-se a toda a atividade humana, sendo um discurso de tal força que abranja todas as
dependências da realidade vivida e não apenas o campo do sagrado.
e) mostrar-se como uma ocasião de representar o evento sagrado conforme teve lugar no passado
mítico, sem necessitar de uma atualização

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7. Para os gregos, mito é um discurso pronunciado ou proferido para ouvintes que recebem como
verdadeira a narrativa, porque confiam naquele que narra; é uma narrativa feita em público, baseada,
portanto, na autoridade e confiabilidade da pessoa do narrador.
(CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia, 1996, p. 28).

Sobre esse aspecto do conhecimento mitológico, é CORRETO afirmar que

a) a função do mito é obscura, e o discurso a ele referente, pronunciado pela autoridade, está fundado
na realidade e não explica a existência.
b) o mito retrata um tipo de compreensão não significativa, possibilitando ao homem viver e lutar
contra tudo o que lhe é contraditório.
c) na narrativa mitológica, proferida para os ouvintes, está presente o puro delírio da fantasia e a
confiabilidade na pessoa do narrador.
d) a narrativa do mito é baseada na lógica da abstração e deixa, à margem, o desejo de dominação
do mundo.
e) o mito revela alguma coisa que é aceita sem contestação nem questionamento. Trata-se, portanto,
de uma primeira narrativa que atribui sentido ao mundo

8. Há [...] algo de fundamentalmente novo na maneira como os gregos puseram a serviço do seu problema
último — da origem e essência das coisas — as observações empíricas que receberam do Oriente e
enriqueceram com as suas próprias, bem como no modo de submeter ao pensamento teórico e casual
o reino dos mitos, fundado na observação das realidades aparentes do mundo sensível: os mitos sobre
o nascimento do mundo.
(JAEGER, 1995, p. 197).

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a relação entre mito e filosofia na Grécia Antiga, é
correto afirmar:
a) A filosofia, em que pese ser considerada como criação dos gregos, originou-se no Oriente, sob o
influxo da religião e, apenas posteriormente, alcançou a Grécia.
b) A filosofia representa uma ruptura radical em relação aos mitos, tendo sido uma nova forma de
pensamento plenamente racional, desde a sua origem.
c) A filosofia e o mito sempre mantiveram uma relação de interdependência, uma vez que o
pensamento filosófico necessita do mito para se expressar.
d) A filosofia, apesar de ser pensamento racional, desvinculou-se dos mitos de forma gradual.
e) O mito busca respostas para problemas que são objeto da pesquisa filosófica e, nesse aspecto, é
considerado parte integrante da filosofia.

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9. Sobre a Filosofia na história, leia o texto a seguir:

A filosofia surge no contexto cultural grego, no século V a.C. A atividade filosófica, enquanto
abordagem racional, se expressa inicialmente como tentativa de explicar a realidade do mundo sem
recorrer à mitologia e à religião.
(SEVERINO, Antônio Joaquim, Filosofia, 1996, p.56 Adaptado.)

É CORRETO afirmar que esse período na história da filosofia compreende os chamados


a) Filósofos pós-socráticos.
b) Filósofos socráticos.
c) Filósofos pré-socráticos.
d) Filósofos pós-aristotélicos.
e) Filósofos platônicos.

10. As origens gregas da filosofia revelam historicamente um processo de ruptura com a mitologia e,
consequentemente, com os deuses e as crenças até então predominantes culturalmente. Essa cultura
mitológica fundamentava-se em dogmas que, por sua vez, sustentavam a força de divindades sobre os
homens, colocando-os em um lugar comum e lhes fazendo acreditar nas mesmas coisas de maneira
comum. Nesse contexto, a primeira necessidade dos primeiros pensadores, conhecidos como pré-
socráticos, foi conhecer a natureza a partir da sua origem. Desse modo, entre os séculos VII e VI a.C,
defendiam a existência de um princípio universal de que todas as coisas nasceram.

Qual é esse princípio (arkhé) para o primeiro filósofo Tales de Mileto?


a) O elemento ar.
b) O elemento fogo.
c) O elemento terra.
d) O elemento água.
e) O Ápeiron

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Gabaritos

1. D
Os pré-socráticos foram pensadores que, ao perceber a insuficiência do pensamento mítico em explicar
a realidade, procuraram produzir explicações lógicas sobre o mundo. Assim, os mesmos temas
abordados pelos mitos eram visitados pelos filósofos, mas através da logos.

2. B
O conhecimento mitológico é útil para organizar o mundo e permitir uma compreensão sobre o
funcionamento deste. Entretanto, esse modelo deixava muitas brechas e alguns pensadores passaram
a se dedicar a buscar uma explicação racional para o mundo a sua volta. Assim, a passagem do mito à
filosofia se caracteriza pela tentativa de mitigar as dúvidas deixadas pelo pensamento mitológico através
de uma nova forma de pensar o mundo, o logos.

3. C
Assim como a mitologia, a filosofia, em seus primórdios, também surge como uma narrativa de origem,
com a intenção de explicar o mundo. A diferença entre elas está no fundamento da explicação. O
pensamento mitológico explica o mundo sempre recorrendo aos seres sobrenaturais (deuses). A
filosofia, por sua vez, explica o mundo a partir da razão. Ou seja, os primeiros filósofos observavam a
natureza buscando definir um elemento primordial (arché), para explicar não só a origem das coisas, mas
também do cosmo.

4. D
A cosmologia é o estudo racional que tem em seu escopo investigar a ordem do mundo. Note-se que o
primeiro período da filosofia é chamado tanto de pré-socrático quanto de cosmológico, pois seus
filósofos buscavam entender a origem e a composição do Universo (cosmo).

5. C
O mito é uma narrativa de origem, isto é, um relato que busca explicar, geralmente recorrendo ao
sobrenatural, a origem dos fenômenos e das coisas. Essas narrativas, compostas a partir do
conhecimento tradicional, eram construídas coletivamente e, portanto, não tinham uma autoria definida.
Uma vez que, na antiguidade, pouquíssimas pessoas tinham acesso à leitura e à escrita, tais narrativas
eram difundidas, principalmente, por meio da oralidade.

6. C
Embora associemos, imediatamente, a mitologia à religião dos povos antigos, num contexto mais amplo,
o pensamento mitológico vai muito além da nossa concepção atual de religião. Na Grécia Antiga, por
exemplo, os mitos narrados por Homero e Hesíodo formavam a base da educação. Através deles eram
transmitidos os costumes, os conhecimentos, a cultura e os valores populares. Cada narrativa, permeada
por esses elementos, contribuía para a formação moral e intelectual do indivíduo.

7. E
A mitologia era tida como uma verdade absoluta, um conhecimento inquestionável no âmbito da cultura
grega antiga. Já a filosofia, enquanto tentativa de um pensamento mais racional, tem como fundamento
o questionamento, a interrogação, a dúvida, a suspeita, o que provoca uma ruptura na cultura grega.

8. D
A passagem do mito para a filosofia não foi rápida, mas sim um lento processo de transformação, em
que a mitologia deixa de ser entendida como uma verdade absoluta, possibilitando o surgimento de
explicações mais racionais da realidade e da natureza.

9. C
Os filósofos pré-socráticos, como o próprio nome sugere, são aqueles que vieram cronologicamente
antes de Sócrates. Eles foram os primeiros a buscar explicações para a realidade sem o auxílio dos

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mitos. A partir da observação da physis (natureza) tentavam encontrar o arché, isto é, o princípio ou o
elemento que teria dado origem a tudo o que existe.

10. D
Tales de Mileto é considerado o primeiro de todos os filósofos. Para ele, a água constitui a arché, que
corresponde tanto à acepção de "fonte originária" quanto à de "processo de surgimento e de
desenvolvimento". Em outras palavras, ele afirmava que a água é a origem de todas as coisas.

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