Oficinas Terapêuticas Com Música em Saúde Mental
Oficinas Terapêuticas Com Música em Saúde Mental
Oficinas Terapêuticas Com Música em Saúde Mental
Editora Unijuí
Programa de Pós-Graduação em Atenção Integral à Saúde
http://dx.doi.org/10.21527/2176-7114.2018.34.15-19
RESUMO
Objetivo: Discutir sobre a utilização de oficinas terapêuticas com o uso de música para indivíduos em sofrimento psíquico
em um Centro de Atenção Psicossocial. Método: Relato de experiência realizado por uma enfermeira e uma psicóloga em
um Centro de Atenção Psicossocial com 40 usuários, que participam das oficinas de música juntamente com as profissionais
responsáveis. Resultados: O uso da música para fins terapêuticos mostrou-se efetivo. Ocorreram manifestações dos usuários
referentes à sensação de bem-estar, raciocínio, expressão corporal, integração com os demais participantes e melhora do
vínculo com a equipe técnica. Discussão: Redefinir o objeto de trabalho implica repensar os meios de intervenção, e adotar
tecnologias que respondam ao projeto proposto e que possibilitem momentos de intersecção de sujeitos. Essas ações certa-
mente contribuem no sentido de potencializar a interação entre usuário e trabalhador, saberes e representações, de maneira
democrática e respeitosa. A música exerce influência psicológica sobre o comportamento do indivíduo. Ela possui a capacida-
de de reconstruir identidades, integrar pessoas por meio de seu poder de inserção social e redução da ansiedade, melhorar
a autoestima, além de funcionar como importante meio de comunicação. Conclusões: A experiência vivenciada promoveu a
amplitude do conhecimento acerca das ações e promoção da qualidade de vida dos usuários e do incentivo da capacitação
de profissionais técnicos para aperfeiçoar na prática clínica do processo de reabilitação psíquica dos usuários assistidos.
Palavras-chave: Serviços de saúde mental. Enfermagem. Música.
THERAPEUTIC OFFICES WITH MUSIC, IN MENTAL HEALTH
ABSTRACT
Objective: Discuss therapeutic workshops with the use of music, for individuals in psychological distress, in a Psychosocial Care
Center. Method: Experience report performed in by a nurse and a psychologist a Psychosocial Care Center, with 40 users parti-
cipating in the music workshops, along with the professionals responsible. Results: The use of music for therapeutic purposes
was effective. Users’ manifestations related to the sensation of well-being, reasoning, corporal expression, integration with the
other participants and improvement of the link with the technical team. Discussion: Redefining the work object involves re-
thinking the means of intervention, adopting technologies that respond to the proposed project and that allow moments of in-
tersection of subjects. These actions certainly contribute to maximize the interaction between user and worker, knowledge and
representations, in a democratic and respectful way. Music exerts psychological influence on the behavior of the individual. It
has the ability to rebuild identities, integrate people through their power of social insertion and reduction of anxiety, improves
self-esteem, and functions as an important means of communication. Conclusions: The lived experience promoted the amplitu-
de of the knowledge about the actions and promotion of the quality of life of the users, and of the incentive of the qualification
of technical professionals to improve in the clinical practice of the process of psychic rehabilitation of the assisted users.
Keywords: Mental health services. Nursing. Music.
1
Enfermeira. Especialista em Enfermagem em Saúde Mental. lisinascimento12@gmail.com
2
Enfermeira. Mestre em Atenção Integral à Saúde. Docente no curso de Graduação em Enfermagem na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das
Missões, campus Santo Ângelo. vivillobo@hotmail.com
3
Enfermeira. Mestre em Atenção Integral à Saúde. carol_pretto14@yahoo.com.br
4
Mestre em Atenção Integral à Saúde. Docente no curso de Graduação em Enfermagem na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do
Sul (Unijuí). catiacmatte@yahoo.com.br
5
Enfermeira. Mestre em Atenção Integral à Saúde – Unijuí/Unicruz. Especialista em Gestão e Saúde no Sistema Prisional – UFMG e Gestão em Saúde: Práticas
Coletivas – URI. sabrina.benetti@hotmail.com
6
Enfermeira. Doutora em Ciências-Enfermagem pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Docente permanente no Mestrado PPGAIS na Universidade
Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí). eniva@unijui.edu.br
Editora Unijuí – Revista Contexto & Saúde – vol. 18, n. 34, jan./jun. 2018 – ISSN 2176-7114 p. 15-19
Vivian Lemes Lobo Bittencourt – Elisiane Damasceno Marques Nascimento – Carolina Renz Pretto
Cátia Cristiane Matte Dezord – Sabrina Azevedo Wagner Benetti – Eniva Miladi Fernandes Stum
de aos usuários para a escolha das canções e ritmos, A oficina terapêutica na lógica da atenção psi-
para que cada um desenvolvesse estímulos musicais cossocial é um modelo inovador para o processo de
conforme sua condição física e psíquica. tratamento da doença mental. Ela permite a projeção
As ações consistiram em atividades artísticas, de conflitos internos e/ou externos dos sujeitos por
meio de atividades artísticas, de maneira a valorizar o
artesanais, com acesso ao convívio e comunicação,
potencial criativo, imaginativo e expressivo do usuário
com a finalidade de recuperar sua cidadania. Na exe-
(AZEVEDO; MIRANDA, 2011).
cução das oficinas priorizou-se o trabalho com o uso
da música. Inicialmente, a oficina era realizada nas Atualmente, a música e seus elementos con-
tribuem no sentido de favorecer a expressão sonora.
manhãs de segunda-feira; gradativamente, com a ade-
Para ampliar fronteiras internas são utilizados o som,
são dos usuários, o número de participantes aumen-
o ruído, o silêncio, as intensidades em frequências
tou e foi necessário ampliar os dias de oferta da ofici-
regulares e irregulares, constantes e inconstantes, es-
na de música. Atualmente, são realizadas às segundas táveis e instáveis, definidas e indefinidas, afinadas e
e quartas-feiras com 40 participantes em tratamento desafinadas. A música é um instrumento terapêutico
psiquiátrico; homens e mulheres com média de 45 complementar, capaz de promover um ambiente mais
anos de idade. tranquilo e acolhedor, além de propiciar relaxamento,
Na experiência ora vivenciada nas oficinas pro- entrega e escuta. A utilização da música motiva resul-
postas, evidencia-se que os usuários participantes de- tados positivos por não ser realizada isoladamente,
monstraram e referiram bem-estar, melhora do racio- mas inserida no planejamento junto a outras medidas
cínio, expressão corporal, integração com os demais terapêuticas, tornando perceptível a contribuição des-
participantes e aumento do vínculo com a equipe téc- se recurso (AVELINO et al., 2014).
nica. Durante as oficinas de música, os instrumentos A música exerce influência psicológica sobre o
utilizados sempre eram de escolha dos usuários, com comportamento do indivíduo. Ela possui a capacida-
certa flexibilidade do coordenador do grupo. Nesse de de reconstruir identidades, integrar pessoas por
contexto, observou-se que as seleções de instrumen- meio de seu poder de inserção social e redução da
tos e meios a serem utilizados nas intervenções musi- ansiedade, melhora a autoestima, além de funcionar
cais baseavam-se na criatividade do profissional que como importante meio de comunicação. A música in-
as realizava. Os instrumentos variaram de acordo com tegra elementos históricos, sociais e culturais das pes-
soas, de modo que é importante considerar a indivi-
o interesse do usuário, preferencialmente instrumen-
dualidade de cada participante (SILVA et al., 2013).
tos de cordas, como violão, violino, cavaquinho, tecla-
do e de percussão, ou aparelhos musicais como, CD Oficinas terapêuticas desenvolvidas em uma
player e rádio. instituição de saúde proporcionaram um clima agra-
dável, com compartilhamento de sentimentos e com
A maioria dos participantes da oficina de mú- questões relativas ao estado psíquico trabalhadas. A
sica apresentou alegria no semblante no horário da música promove a criação de um ambiente terapêu-
mesma. Percebe-se que a relação do profissional com tico, no qual o usuário sente-se valorizado e acolhi-
os usuários é fortalecida, facilita o desempenho do do, além do sistema convencional de atendimento à
trabalho, diminui a ansiedade e sofrimento, no mo- saúde. Nesse contexto, a realização de uma oficina de
mento em que é executada a atividade, por alguns mi- música no ambiente terapêutico no campo da saúde
nutos todos parecem se transportar às letras que as mental proporciona uma gama de respostas. A dispo-
canções expressam. sição dos usuários é refletida ou provocada pelos pa-
drões musicais, mediados pelo contexto cultural e pe-
DISCUSSÃO las experiências anteriores com a música, isto é, pelo
fator aprendizagem (RADOCY; BOYLE, 2012).
Redefinir o objeto de trabalho implica repen- O Caps deve se constituir em território existen-
sar os meios de intervenção, adotar tecnologias que cial que possibilite reinventar a vida em seus aspectos
respondam ao projeto proposto, que rompam com a diários, pois é no cotidiano que pessoas com trans-
organização médica do serviço e possibilitem momen- tornos mentais se encontram privadas de liberdade
tos de intersecção de sujeitos. Essas ações certamen- e são nominadas de doentes mentais. As atividades
te contribuem no sentido de potencializar a interação funcionam como catalisadoras existenciais em que os
entre usuário e trabalhador, saberes e representações, usuários podem reconquistar ou conquistar o seu co-
de maneira democrática e respeitosa (RAUTER, 2012). tidiano. Quanto às atividades terapêuticas, igualmen-