Quem Manda Já Morreu - Marcos Rey
Quem Manda Já Morreu - Marcos Rey
Quem Manda Já Morreu - Marcos Rey
com/group/digitalsource
Marcos Rey
QUEM MANDA
JÁ MORREU
2
TEXTO
Editor
Fernando Paixão
Assistente editorial
Carmen Lúcia Campos
SupIemento de trabalho
Maria Helena Teixeira da Silva
ARTE
Editor
Marcus de Sant’Anna
Diagramação
Fernando Monteiro
Ilustrações
Rogério Borges
Arte-final
Fukuko Saito
Antonio U. Domienicio
Ayrton Quaresma
Coordenação de composição
Neide Hiromi Toyota
ISBN 85 08 03370 2
1989
Todos os direitos reservados pela Editora Ática S.A.
Rua Barão de Iguape, 110 Tel.: (PABX) 278-9322
-
3
Para morrer
de medo... ou de rir
Desta vez vocês vão conhecer Edu, aluno de Comunicações que, ao
fazer um trabalho jornalístico nas férias, acaba se envolvendo com uma
perigosíssima máfia de traficantes. E ele próprio quem conta a história,
informalmente e com uma graça de quem não perde o pique mesmo nos
momentos de maior tensão.
Conhecerão também o impagável Tio Palha, detetive particular meio
biruta, que ajudando o sobrinho a cumprir sua tarefa escolar acaba sendo
arrastado por uma enxurrada de lances de arrepiar os cabelos. E o mais
espantoso é que se diverte com isso!
Na mesma onda embarca ainda a Expedita Coca Gimenez, secretária
e talvez namorada do detetive, ex-cantora e maquiadora excepcional,
qualidade esta que permite aos três ingressarem disfarçadas na sede da
terrível quadrilha.
Tudo isso para descobrir a verdadeira identidade do chefe da
quadrilha, a enigmático Boss (patrão, em inglês), figura sinistra, herdeiro
da organização criminosa de um tal TONY GRAND, delinqúente famoso
cuja biografia Edu tenta inocentemente levantar em seu trabalho
jornalístico.
Quanto ao autor dessa alucinada comédia policial, é a mesmo que
escreveu para a Vaga-lume O mistério do cinco estrelas (que vai virar
filme), O rapto do garoto de ouro (que já foi peça teatral), Um cadáver
ouve rádio, Sozinha no mundo, Dinheiro do céu (o preferido das 7ªs e 8ªs
séries), Bem-vindos ao Rio, Enigma na televisão e Garra de campeão ▬ —
Marcos Rey. Isso, sem falar, claro, de outros romances fora da Vaga-lume
como Malditos paulistas, A arca dos marechais e A última corrida,
também muito lidas pelos jovens.
E é Marcos Rey quem diz: se você não curte um bom texto de
humor, não será capaz de levar nada a sério.
Isto dito e assegurado, divirtam-se.
4
SUMÁRIO
5
45. Santo Deus! ... 78
46. A vez do empresário ruivo ... 80
47. O punk sozinho no salão ... 81
48. Ele está aqui! ... 82
49. Onde está o diabo do punk? ... 83
50. Ele escapou! ... 84
51. Quando a luz assusta mais que a escuridão ... 85
52. As feras mostram os dentes ... 86
53. Eu, descoberto ... 87
54. A casa do fim da rua ... 88
55. Uma breve pausa e o choque ... 91
56. Eu, repórter ... 94
57. A nota 10 ... 95
58. O repórter faz um breve noticiário ... 96
6
7
VEJAM SE VOCÊS
PREFEREM ESTE COMEÇO:
OU ESTE:
8
MELHOR COMEÇAR PELO COMEÇO:
9
2
TONY GRAND
12
Se não fossem os documentos ninguém diria que era Tony Grand.
13
tudo que a eletrônica já inventou para complicar a vida dos bandidos.
Mas ainda é cedo.
— Então, como me arranjo?
— Vou lhe dar um cartão para vasculhar o arquivo dos
jornais. Ninguém nega nada ao Palha da Leão.
Nesse momento entraram dois homens aflitos, clientes da
agência.
— Vovô fugiu de novo — disse um deles.
— De ceroulas, como da outra vez?
— Nu — informou o segundo homem.
— Nu? — admirou-se o detetive.
— Nu e dirigindo um automóvel, o que não fazia há trinta
anos!
Coca começou a fazer anotações. Tio Palha ia entrar em ação.
Saí.
14
dos velhos.
No portão topei com o Renatinho, que me quebrou a onda com
uma pergunta:
— Você não vai com a gente pra Serra Negra?
E eu queria?
NO ARQUIVO DO JORNALÃO
Fiquei um pouco perdido no arquivo do grande jornal em que
comecei a pesquisa. Em grossos volumes encadernados lá estava um
século da vida do matutino.
Pelo menos não precisaria copiar as notícias de meu interesse,
um funcionário xerocaria tudo. Animado, passei a folhear os jornais
atento à seção policial. Moleza. O nome de Tony Grand sempre surgia
ligado a assaltos, contrabandos e assassinatos. E quanta notícia
sobre sua morte, atribuida a gangues rivais. Fotos de seu corpo
desfigurado, do carro torradinho encontrado pela polícia e do
delegado Maranhão, incumbido do caso. Xeroquei tudo e voltei para
casa.
Usando a velha máquina de escrever que meu pai aposentara,
comecei a redação. Não fui longe. Era chatíssima aquela mera
compilação, espécie de resumo da vida criminosa de Tony Grand, e
mais nada. Serviria apenas para refrescar a memória das pessoas que
já o tinham esquecido.
No dia seguinte fui à Agência Leão de Detetives e mostrei a tio
Palha o que escrevera.
— Está na cara que andei copiando jornais, não é?
— Isso é coisa já sabida.
— Acha que devo ir a outros?
— Todos contam a mesma história. Mas tenho uma idéia —
disse o detetive. — Vá ao arquivo da polícia. Conheço uma pessoa lá,
o Adonias. Quem sabe ele possa lhe passar melhores informações
sobre Tony Grand. Vou escrever umas linhas apresentando você.
Já estava saindo quando lembrei de perguntar:
— E o velho nu, encontrou?
— Ainda não, mas soube que acaba de entrar num cinema.
Estou indo para lá. Só espero que o filme seja impróprio para
menores.
15
O tal Adonias, antigo funcionário do arquivo policial, recebeu-
me bem e logo referiu-se ao meu tio.
— Geraldo Palha seria um grande detetive se tudo acontecesse
como nos romances policiais. Mas numa coisa lhe faço justiça. Nem
Sherlock Holmes seria capaz de pegar um leão a unha. No que posso
ser útil, mocinho?
— Estou fazendo uma reportagem sobre Tony Grand.
— Jornalista na sua idade?!
— É apenas um trabalho para a faculdade. Já estive no
arquivo de um jornal e xeroquei uma montanha de informações sobre
ele. Mas como o trabalho saiu paradão, morno, meu tio aconselhou
que o procurasse.
Adonias começou com uma informação sinistra.
— Até algemado Tony dava medo. O pior delinqüente que
conheci em trinta anos de profissão. Sua morte foi um alívio. Nem
acreditei quando o vi morto, na geladeira.
— Nunca souberam quem o matou?
— Os maiores suspeitos foram mortos em seguida. Guerra de
quadrilhas, entende?
— A polícia soube de alguma coisa que os jornais não
publicaram?
— Oh, não, os jornais publicaram tudo.
Meio desanimado admiti:
— Terei de me limitar às informações que já tenho.
— Espere um momento — disse-me o arquivista, saindo da
sala. Voltou logo em seguida com uma pequena lista de nomes.
Aqui estão algumas pessoas que seria interessante entrevistar.
— Jornalistas?
— Não, gente muito ligada a Tony Grand. Os nomes já
riscados são de mortos ou desaparecidos. Procure Bruna Grand, irmã
do bandido, é dona de um salão de beleza. Sempre negou que
pertencesse à quadrilha do irmãozinho. O segundo é um borracheiro,
Mossoró, um cara da pesada, agora em liberdade. E Zoé, trapezista de
circo, que também cumpriu pena.
— Acredita que poderão me ajudar?
— Não garanto — ponderou Adonias, — mas se você quer fazer
um bom trabalho tem de tentar.
16
6
PRIMEIRA ENTREVISTA
18
Com medo de que ela me desse uma mordida, tentei explicar:
— Tudo. Por exemplo...
Houve uma pausa.
— Por exemplo?
— Sei lá... por exemplo... a senhora foi reconhecer o cadáver
dele na polícia?
— Interessa?
— Segundo a polícia nenhum parente de Tony apareceu
para... — disse lembrando a informação do jornal.
— Diga logo o que está querendo. Abra o jogo.
— Não há jogo algum, minha senhora.
— Esses tiras! Mandando um garoto boboca me prensar! O
que querem mais que eu diga?
— Não foram os tiras que me mandaram.
A voz dela trovejou:
— Não disse que seu tio é um tira?
— Detetive particular, da Agência Leão.
Quase empurrado pela irmãzinha de Tony Grand, ouvi:
— Ele está a serviço de quem?
— De ninguém. Quer apenas me ajudar a fazer a reportagem
para a faculdade.
Puxa! Até para mim soou falso. Quem acreditaria nessa
história? Se eu fosse irmão de Tony Grand não acreditava.
— Suma daqui, fedelho. Meu irmão está morto e não tenho
mais nada a dizer sobre ele.
Depressa ganhei a rua e fui me afastando. Perto da esquina
parei e olhei para trás. A troncuda irmã de Tony estava à porta de seu
salão acompanhando meus passos com uma cara irritada e
preocupada.
SEGUNDA ENTREVISTA
TERCEIRA ENTREVISTA
A VOLTA DO VELHO NU
23
10
24
Reli tudo empolgado. Ia sacudir a classe. Pude até ver olhares
de admiração, principalmente da Anabel, minha paixão secreta na
faculdade. Nem sei como até agora não falei dela, ou falei? Mas nem
teria o quê. Nunca trocamos mais que algumas palavras, ela sempre
rodeada de veteranos.
Corri para a agência do tio.
— Quer dar uma lida?
O detetive pegou a reportagem e a leu a jato.
— Está uma parada!
— Verdade?
— Quentíssima! Um jornalista de verdade precisa ler isto.
Conheço o Jair, redator-chefe da Gazeta da Tarde. Vou mostrar a ele.
Gostando, talvez convide você pra fazer um estágio no jornal. É assim
que muitos jornalistas começam.
— Ainda sou novo pra trabalhar na imprensa.
— Eu sei, mas pode pintar uma reportagem de quando em
quando, e um pouco de dinheiro não faz mal a ninguém. Faz?
11
12
26
— Pra que delegacia estão me levando?
— 35º.
Não conhecia nenhuma delegacia pelo número. Chutei:
— A 35º não é nessa direção. Vocês não são tiras.
O que me segurava declarou:
— Isto é um seqüestro. Entendeu agora?
Não me calei.
— Meus pais não são ricos, cara.
— Ninguém falou em resgate — disse o motorista. — O chefe
vai fazer umas perguntinhas.
— Sobre?
— Calma, moleque.
Como no caso do leão do tio Palha o medo não veio na hora,
mas veio, e todo de uma vez. Concentrei forças e esperei o primeiro
farol vermelho. Mas só dava verde. No finzinho da avenida pintou
enfim o vermelho e o carro brecou atrás de um Fuscão. Me vi com três
anos de idade enfiando dois dedos nos olhos dum garotão de seis que
tentava roubar meu sorvete.
27
Foi o que fiz com o orangotango ao lado.
Antes de ouvir um ai, abri a porta do carro — ele tinha quatro
— e saltei feito um doido, costurando entre os veículos parados no
semáforo. Os bandidões não me perseguiram. Assim que o farol ficou
verde, partiram com os pneus cantando. Com a impressão de que
engolira um mata-borrão, todo seco por dentro, entrei num bar e
tomei um refrigerante pelo gargalo. Depois peguei um ônibus de volta
à agência.
Meu tio conversava amenidades com Coca Gimenez.
— Fui seqüestrado! — berrei.
— Brincadeira tem hora.
— Não, tio, aconteceu agorinha mesmo. Um cara me jogou
dentro de um carro. Se fosse boboca ainda estaria com eles.
Coca foi buscar às pressas um copo de água.
— Conte tudo direitinho — pediu tio Palha.
Ajuntando palavras, e atropelando algumas, contei o fato como
pude.
— Minhas pernas ainda tremem.
Enquanto eu bebia a água, Coca perguntou:
— Isso não teria algo a ver com as entrevistas?
— Creio que não — tio Palha respondeu por mim. — Lembra
da cara deles?
— A do homem que me empurrou, sim. O motorista, nem vi.
Tio Palha me puxou para a porta.
— Vamos à polícia ver os álbuns. Os homens podem estar
fichados.
13
14
29
fecharam no armário.
— O que disseram?
— Não estavam com vontade de papear. Mas eram pessoas
honestíssimas: não levaram nem meu colar nem o relógio.
— O que queriam então?
— Trazer um recadinho.
— Que recadinho?
“Diga ao tal Palha que estamos por perto. Se publicar a
reportagem alguém morre.” E comentou: — Preferiram o estilo
sintético.
Estava claro: o motivo eram as entrevistas.
— Deviam ser os mesmos que tentaram seqüestrar você —
concluiu o detetive. — Não perderam tempo. Assim que escapou,
vieram para cá. Parece que não gostaram do tema que escolheu para
o trabalho.
— Acho que eles podem ficar tranqüilos — afirmei. — Não vou
tocar mais no assunto. Farei a reportagem sobre algodão-doce. Creio
que vou lidar com pessoas menos agressivas. Devolva meu trabalho,
tio, vou queimar tudo.
— Não está aqui.
— Onde está?
— Não lembro.
Susto compartilhado com Coca.
— Não lembra?
Houve uma pausa dolorosa em que a sede voltou. Mas tio
Palha deu um tapa na testa e sua memória funcionou.
— Levei ao Jair, o redator-chefe da Gazeta da Tarde. Ele ficou
de dizer se você nasceu ou não pro jornalismo.
— Já não estou interessado na minha vocação. Vamos lá
correndo.
Quando saíamos, Coca avisou:
— Se eu não estiver aqui quando voltarem, procurem no
armário.
15
O PIOR ACONTECE
16
32
para ler a página e ainda sobrou tempo para desmaiar. Tivemos de
abaná-la e massagear-lhe os pulsos.
— Acho que li nossa sentença de morte — concluiu assim que
voltou a si. — Nossos amigos vão voltar. Que tal pedirmos pelo
telefone três sanduíches caprichados? Todo condenado tem direito a
satisfazer um último desejo.
— Meu último desejo é morrer de velhice — balbuciei.
— Você nos meteu numa enrascada, Edu — disse tio Palha. —
O melhor que temos a fazer é fugir para o Nepal.
— Não sei onde é o Nepal — respondi.
— Então reze para que os bandidos também não saibam.
O grande detetive começou a andar pelo escritório ao encalço
de uma idéia que teimava em escapar-lhe. Coca apontava o revólver
para a porta desajeitadamente, como se estivesse numa trincheira.
Fiz uma sugestão desesperada.
— E se comprássemos todos os exemplares da Gazeta da
Tarde?
— Contratando vinte caminhões podemos recolher a edição
em apenas vinte e quatro horas — respondeu tio Palha. — Eh, Coca,
pare de apontar esse revólver para a porta. Pode matar o carteiro.
— Prefiro morrer em combate.
— Se está tão apavorada pode abandonar o emprego.
— É isso que você quer, não é? Só pra não pagar os três
salários que me deve!
— Três meses? Não tenho culpa se o tempo passa tão
depressa! — E retirando uma cartolina da gaveta ordenou à
secretária, já que ela insistia em continuar na agência: — Escreva
qualquer coisa aí. É para colocarmos na porta.
— Qualquer coisa como?
— Ora, qualquer coisa.
— Que tal: “Não entrem: sarampo” — sugeriu ela.
Tio Palha tinha idéia melhor:
— Escreva: “Brevemente alfaiataria São Miguel — Preços
populares”.
Minha sugestão era outra,
— Eles já estiveram aqui e não vão se iludir. Escreva, Coca:
“A Agência Leão de Detetives encerrou suas atividades”.
— Um pouco melhor — admitiu Coca, — mas não afasta
totalmente o perigo. Basta empurrarem a porta e verão que é um
truque.
Aí tio Palha recorreu àquele recurso de dar um tapa na testa.
Assim sua cabeça funcionava prontamente.
— Há um conjunto vago na outra ala do edifício. Enquanto faz
o cartaz, Coca, eu trato do novo endereço com madame Geni. Vou lhe
33
quebrar um galho.
— Quem é madame Geni? — perguntei.
— Não tenho tempo para explicações — respondeu o ex-chefe
da Agência Leão de Detetives atirando-se ao telefone.
17
MADAME GENI
ENSINA-SE CROCHÊ E TRICÔ
METODO PRÓPRIO
Levando quase nada da agência, além da máquina de escrever
e do pôster enrolado do leão, tio Palha, Coca e eu entramos na
escolinha de crochê e tricô que madame Geni, uma francesa idosa,
amiga do detetive, fechara provisoriamente por falta de alunos. Desta
vez, porém, madame Geni teria alguém para pagar o aluguel, pelo
menos era a intenção de tio Palha.
O estabelecimento era pouco maior que a agência, porém
mais limpo, acortinado e tinha um belo tapete. Em tudo o toque
caprichoso das mãos de madame Geni, segundo o detetive uma
senhora muito requintada. Era impressionante seu grande sortimento
de agulhas, dedais, meadas, novelos e carretéis. Havia também uma
pilha de pequenos volumes ilustrados, o método desenvolvido por
madame Geni.
Assim que entramos o telefone tocou: Coca atendeu. Eu e tio
Palha imaginamos que ela daria uma mancada, dizendo o número e o
nome da agência, como sempre fazia, mas a secretária estava atenta,
apesar de suas queixas trabalhistas.
— Madame Geni, escola de crochê e tricô. — E logo em
seguida: — Não há mais vagas, minha senhora. O curso está
completo. Todo mundo resolveu aprender crochê e tricô ultimamente.
Estamos pensando até em dar aulas numa quadra de basquete. Tente
na semana que vem.
— Se saiu bem, Coca! — Tio Palha felicitou-a. — É bom
saberem que a escolinha está funcionando.
— Meu receio é que o pessoal da portaria informe que estamos
aqui.
— Ninguém sabe que mudamos de ramo.
Eu não estava entendendo nada. Fui sincero.
— Sabe, tio, nem sei por que mudamos para cá. Pretende
34
continuar atendendo seus clientes aqui da escolinha?
A revelação: tchan-tchan-tchan-tchan...
— Vou me dedicar exclusivamente a exterminar a quadrilha
do falecido.
Coca ouviu e rebateu:
— Loucura! Eles são muito fortes!
— O leão também era e agora só sai da jaula para dar shows
no circo. Mas se acalmem. Só eu vou trabalhar nisso.
Coca devia estar um tanto apaixonada pelo tio Palha:
— Não vou deixá-lo sozinho nessa, Palha.
O que me restava dizer?
— Se eu puder fazer alguma coisa...
— Agradeço, mas antes previno: não me responsabilizo por
vidas nem por extravio de bagagens.
Coca não se abalou e saiu com uma de suas idéias:
— Usarei uma peruca loira, lentes de contato verdes e sapatos
bem altos. Nem minha mãe me reconheceria.
Pensei também num disfarce:
— Vou usar um boné bem enterrado na cabeça e um paletó.
Tio Palha deu um tapa na testa e disse:
— Esqueci uns badulaques na agência. Volto num minuto.
Algum tempo depois alguém bateu à porta, entrando em
seguida: um homem que usava chapéu, óculos escuros e uma
bengala com a qual tateava o chão, inseguro. O que um tipo assim
queria na escolinha? Coca abriu a gaveta para pegar o revólver.
— Procura alguém? — perguntei.
— Quero fazer um curso de tricô e crochê — disse ele. —
Aceitam cegos?
Rimos. Era o detetive Geraldo Palha, o do leão, já disfarçado.
18
E AGORA?
19
20
A ESCOLINHA INVADIDA
21
22
40
— Eu o levo à rodoviária.
— Não, tio, antes tenho de passar pelo meu apartamento para
pegar algumas roupas.
Dei um beijo de despedida em Coca, que já estava na metade
da leitura do método, e um abraço forte no detetive. Francamente
estava ansioso para espairecer no interior e mostrar aos meus pais a
reportagem que o primogênito publicara na Gazeta da Tarde. Disse
um tchau e com meu boné e paletó fui arrumar minhas tranqueiras.
No ônibus, relembrando o abraço no tio, senti que minha
partida o aliviara. Não queria agüentar o peso da responsabilidade,
caso os bandidos me fizessem algum mal. Mas eu me esquecera de
perguntar se mesmo sem pista e sem amparo policial tentaria ainda
localizar a quadrilha. Imaginei que não. Ficaria com Coca na
escolinha por algum tempo até seu regresso ao antigo endereço.
No apartamento vazio senti um certo mal-estar, e por isso bem
depressa tratei de jogar algumas roupas numa pequena mala,
inclusive o boné e o paletó do disfarçe, saindo já ansioso para dizer
“cheguei” aos velhos, em Serra Negra.
Afastei-me do edifício e fui à esquina esperar um táxi que me
levasse à rodoviária. Como não passava nenhum, logo lamentei não
ter aceito a condução que tio Palha oferecera.
Ouvi passos.
— Você é aquele garoto curioso, não é? — perguntou o homem
alto e gordo que ostentava um cravo na lapela, olhando-me lá de
cima.
Não tive dúvidas: o figurão devia pertencer à quadrilha do
falecido Tony Grand. Quem sabe, o novo chefe. Primeiro levei um
susto, depois senti pavor.
— Não sou curioso, mas se o senhor pensa assim prometo me
corrigir.
— Ótimo! — exclamou o facínora tirando um revólver deste
tamanho da cintura. — Mas terá apenas trinta segundos para isso.
— Posso me corrigir em menos tempo — garanti.
— Ora, não tenha tanta pressa. Trinta segundos dá para se
arrepender e ainda aproveitar um pouco mais a vida — rebateu o
homem do cravo, fixando os olhos em seu relógio de pulso. Estava
tendo início a contagem.
Outro homem se aproximou. Reconheci. Um dos orangotangos
do seqüestro, o que levara os dedos nos olhos! Foi logo dizendo:
— Se tentar fugir, mando bala.
Para mim aquilo não estava acontecendo, era só um pesadelo.
E como não estava, me deixei levar até um carro, dobrando a esquina,
o do primeiro “passeio”. Ao entrar, ladeado pelos dois, reconheci o
cara ao volante. A mesma nuca.
41
— Ia fugindo pra onde? — um deles perguntou.
— Eu, fugindo? Por quê?
Então o homem do cravo me deu um bofetão. Acordei e vi que
não se tratava de pesadelo, pois em nenhum pesadelo uma bofetada
dói tanto.
— Você não vai mentir mais, espertchinho — disse o do cravo.
Dizia espertchinho, com um sotaque estrangeiro. — Só a verdade
manterá você vivo.
Que verdade? Mas isso foi só pensamento para evitar
bofetadas. Perguntei, apenas pra disfarçar o medo:
— Pra onde vão me levar?
A resposta foi uma pretíssima venda nos olhos.
23
O DIA SEGUINTE
47
25
LEMBRAM DE MIM?
SOU UM TAL DE EDU
48
Meu tio:
— Você disse um cantor de voz rouca?
— Talvez um cantor negro, cheio de bossa. Devia ser a grande
atração da casa, muito aplaudido.
O detetive concentrou-se, desenrolou por um momento o
pôster, encarou o leão sisudamente e concluiu:
— Temos de encontrá-lo.
— O cantor do tchimbá-tchimbá? Por quê? Ele não é assim
tão formidável.
Tio Palha fez uma pausa e- explicou:
— Só ele nos levará ao tal Boss, o chefe da gangue. Fui claro?
— Mas como, se nem sei onde estive?
— Esteve preso no porão de uma danceteria, não é?
— Disso não tenho dúvida.
— Pois é, só resta localizá-la.
— Há centenas na cidade.
— Mas a maioria situada na região central. E quanto às dan-
ceterias dos bairros, só deve existir uma com um cantor negro que
cante esse tchimbá-tchimbá. Certo?
Peguei a mala pela alça.
— Tio, já saltei desse barco. Voltei só pra saber quando
começa o novo curso de tricô.
— Deixe essa investigação por minha conta, Edu. Madame
Geni está tão grata por termos tomado conta da escolinha que me
emprestou seu carro. E preciso de um para rodar a cidade.
— Vou com você — aderiu Coca. — Adoro ambientes alegres,
com muita música. O que precisamos é de uma relação desses
lugares.
O detetive Palha pensava em tudo:
— Há um órgão oficial que controla as atividades musicais
dessas casas, recolhendo uma taxa para os compositores. A sede é
aqui perto. — E voltando-se para mim: — Edu, desta vez o levo
mesmo à rodoviária. Vamos.
— Espero o senhor aqui, tio. Me deixe matar saudade de
Coca. Tá?
49
26
27
28
51
— Comi tanto que não vou agüentar viajar agora — disse. —
Me faria mal.
Fomos à escolinha de madame Geni, onde Coca logo deu
outros telefonemas para resumir ainda mais sua lista de danceterias.
Restavam: Canto da Lua, Clube da Lanterna, A Girafa, Roque e seus
Roqueiros, Me Myself and I, Boys meet girls, Vamos nós, Saloon...
— Já digeriu o almoço? — perguntou-me o detetive.
— Estive pensando, tio, se apanharem vocês, quem chamará a
polícia?
— Ele tem razão, Gê. Melhor que fique no apartamento.
Sugestão aprovada.
29
O CANTOR NEGRO
30
53
— Sorry, não é quem procuramos.
Fomos a mais três salões e decidimos que o próximo seria o
último. A casa se chamava Montanha de Ali, alusão à história de Ali
Babá e os quarenta ladrões, um casarão simpático, cheio de janelas,
que a julgar pelo entra-e-sai era um ambiente alegre e badalado.
Acomodados a uma mesa assistimos a um show inteiro,
desesperançados. O cego mexicano bebia cerveja quando anunciaram
o número de encerramento, já de madrugada. A cantora não era,
porém, nenhum negro, mas uma mulher baixota e gorducha.
— A conta — pediu o detetive.
— Foi tudo perda de tempo — lamentou Coca.
Já saíamos do salão, passando entre as mesas, quando
ouvimos:
Tchimbá! Tchimbá!
Tchin!
Uulê-lá-lá
Tchimbá-tchimbá !
54
saltava como um canguru. Curioso, o medo que eu sentira no porão
voltou, e meu impulso foi o de correr para fora.
— Foi o que você ouviu? — perguntou o detetive.
— Foi.
Tchimbá! Tchimbá!
Ali-Ali Babá!
Venham à Montanha de Ali
Uulê-lá-lá.
Era uma criação especial para a casa, um número exclusivo,
daí não ser conhecido pelos outros cantores.
— Você disse que passou por um chão ladrilhado, talvez uma
cozinha — lembrou o cego mexicano.
— Devo ter passado por aquela porta — indiquei. Tio Palha,
sem a bengala, afastou-se e no finalzinho da música voltou para
confirmar:
— Tem de fato uma cozinha e no final uma escada. Coca,
como se fosse a fã número um, foi abraçar a cantora. Trocaram
algumas palavras, depois voltou para junto de nós com informações.
— Ela chama-se Paola com “o”. Está hospedada no hotel
Tebas, onde poderei entrevistá-la, se for necessário.
O medo não passara, queria sair.
— Vamos embora, pessoal, está muito calor, não acham?
Gentilmente os dois concordaram, estava calor, e saímos.
Tinha a impressão de que os seqüestradores me espreitavam
Só fui respirar no carro.
31
56
32
OS BONS VELHINHOS
33
TROCANDO FIGURINHAS
34
O VENDEDOR DE ALGODÃO-DOCE
35
36
MAIS ALGODÃO-DOCE
Já que tio Palha passaria o dia todo fora da escolinha, Coca
aproveitou parte da tarde para fazer compras. Eu, sem nenhum
disfarce, fui à lanchonete freqüentada pelos colegas da faculdade.
Júlio veio logo com gozação:
— Está escrevendo sobre os vendedores de algodão-doce?
— Estou. É emocionante.
— Emocionante? — ele estranhou.
— Quando eu apresentar o trabalho vão ficar boquiabertos.
— Claro, ninguém come nada com a boca fechada.
Suportei a piadinha e me afastei porque Anabel acabava de
entrar, usando botas. A gata de botas. Não esperava que meu coração
fosse dar aquele disparo.
— Olá, Anabel!
— Você está proibido de telefonar pra minha casa.
— Você é muito gentil, Anabel. Quase me faz chorar de
emoção. Mas agora estamos conversando ao vivo e não pelo telefone.
Posso lhe oferecer alguma coisa?
Ela esperava por alguém, que chegava.
— Rolando, como você demorou!
62
Abraçaram-se e beijaram-se. Não conhecia o tal Rolando. Um
sujeito horrível: alto, loiro, olhos azuis e cabelos ondulados. Outras
garotas na lanchonete olharam interessadas para ele. Viam o quê no
cara? Não pensem que me aborreci. Apenas dei um pontapé numa
lata de cerveja, que voou até a Lua.
Alguém louvou o feito esportivo: o professor Rubens.
— O que há, Edu? Nervoso porque não consegue fazer a
reportagem?
Tive de me conter para não desferir o segundo pontapé.
— Minha reportagem vai fazer a faculdade tremer nas bases.
— Algodão-doce é um tema tão sensacional assim? —ironizou.
— Tão sensacional que talvez todos os jornais publiquem a
reportagem — ironizei.
Voltei ao apartamento. Coca chegou logo depois com uma
sacola de coisas gostosas. Já era noite quando o detetive abriu a
porta.
— Bateu novas fotos? — perguntei.
Mostrou a primeira.
— Reconhece este?
— Mossoró — reconheci. — A gangue está completa.
Tio Palha não se mostrava muito satisfeito.
— Está faltando o Boss, o manda-chuva. Mas não entrou nem
saiu ninguém com cara de chefe. Apenas os empregados.
— Isso prova que algum dos nossos conhecidos é o Boss —
argumentou Coca.
— Bristol e os dois orangotangos não — disse eu. — Recebem
ordens, segundo o que eu ouvi.
— Restam Bruna e Mossoró. Fico com Bruna — palpitou
Coca.
Levantei outra hipótese:
— Pode ser que o Boss nunca saia do salão. Vive nos porões,
como naquele filme que vi na televisão, O fantasma da ópera.
Coca exigia providências imediatas:
— Vá procurar o delegado Maranhão, Gê. Agora você já sabe
onde a quadrilha se reúne. É só chegar e prender.
— Pra mim é cedo.
— O que vai fazer, então? — perguntei. — Vender mais
algodão-doce?
— Devolvi o carrinho. Parece que não ia longe na profissão.
A interrogação continuava no ar.
— Você não tem plano algum na cabeça? — quis saber a
secretária de cabelos loiros.
Ao ouvir a palavra “cabeça” o detetive recorreu ao expediente
que sempre dava resultado: deu um tapa estalado na própria testa.
63
Eu e Coca ficamos na expectativa de que o cérebro de Geraldo
Palha, sacudido pela pancada, voltasse a funcionar.
— Alguma idéia? — perguntou Coca.
— Não ainda — respondeu o ex-vendedor de algodão-doce. E
sem mais palavra, com muita agilidade, fincou as mãos no chão e
ergueu as pernas para o alto, plantando bananeira.
— Para que isso? — perguntou a secretária.
— O tapa não deu resultado. Assim a pressão na cabeça é
maior pela força da gravidade, e todas as pecinhas do cérebro se
encaixam no lugar certo. Mas não fiquem parados aí. Peguem a
máquina e batam uma foto. Será interessante registrar o momento em
que o grande detetive Geraldo Palha produzia uma grande idéia.
Meio contra a vontade, Coca fotografou seu chefe naquela
posição incômoda. Duvido que alguma secretária tenha feito isso no
mundo a pedido do patrão.
— Pronto — disse ela.
— Agora comam os sanduíches — ordenou tio Palha.
64
— Guardar nada — ele protestou. — Me dê um. Posso comer
perfeitamente bem de cabeça para baixo. Não há nenhuma lei que
obrigue uma pessoa a comer apenas quando está com os pés no chão,
não é?
Coca passou um sanduíche para tio Palha, que
momentaneamente se apoiou numa só mão, pegou o sanduíche e
comeu sem dificuldade.
— Me impressiona ver você assim, Gê.
— E eu não gosto que me olhem como se estivesse fazendo
uma coisa extraordinária. Dificulta a concentração.
Coca e eu saímos da sala. Na cozinha, ela me disse:
— Receio que seu tio esteja doido.
— Eu tinha esse receio. Agora estou certo — confessei. — Vou
para Serra Negra aproveitar as férias.
Meu tio entrou na cozinha já com os pés no chão.
— Não disse?
— Disse o quê? — perguntei, observando nele um sorriso
triunfante.
— Que o processo era infalível? Já tive a idéia. Acalmem-se.
— Que idéia? — perguntamos eu e Coca em dueto.
— Como apanhar o tal Boss. Desta vez, Edu, não fará uma
reportagem baseada só em palpites, mas em fatos reais. Ah! Sabem
que fico tonto assim sobre os pés?
37
65
— Ela está voltando aos palcos e não cobra muito. Aceita o
que pagarem. E por uma temporada curta. Quinze dias, no máximo.
Consiga isso, Paola, que eu a contrato.
— Posso falar com o Bristol. Me telefone amanhã a esta hora.
No dia seguinte o detetive telefonou para o Hotel Tebas. Paola
tinha uma boa notícia.
— Sua cantora está com sorte — disse. — O salão estava
mesmo precisando de uma intérprete de músicas latino-americanas.
Mas como já disse: pagam quase nada.
— Não importa. Obrigado, Paola. A vida é assim. Uma mão
lava a outra. Tchau.
Luz del Sol usava uma cabeleira que chegava à cintura e só
falava castelhano. Formava um estranho par com seu empresário de
cabelos avermelhados. Infelizmente desse lance eu não poderia
participar. Senti muito quando vi os dois saírem naquela tarde.
Luz e seu empresário, logo à porta da Montanha de Ali,
encontraram um conhecido, o motorista dos seqüestros, e que com
seu companheiro ajudara a enfiar Coca no armário na invasão da
agência. O orangotango nº 1.
— O gerente está esperando — informou.
A Montanha de Ali de dia cheirava a mofo. O orangotango nº 1
conduziu os dois através do salão e depois por um corredor. Entraram
numa pequena sala em cujas paredes não havia mais espaço para
retratos de cantores. Ficaram à espera do gerente.
O homem do cravo, alto e grandalhão, entrou. Uma cara
adequada à seção policial de qualquer jornal. Olhou para Luz e
sorriu. Gostou dela.
— Sou o gerente — apresentou-se. — Paola falou de você. O
senhor é o empresário?
Matias Mateus apertou a mão de Bristol sem inibição.
— E me orgulho disso. Luz del Sol foi um estrondo nos anos
60 e ainda está em forma.
— Talvez seja boa demais para a Montanha de Ali. Mas se o
preço não for salgado...
— Que diz de um contrato de duas semanas apenas na base
de dez dólares diários? — disse o ruivão. — O que nos interessa é o
retorno de Luz aos palcos. Queremos constatar como o público a
recebe.
— Vamos ao palco — sugeriu o gerente. — Tem um pianista e
um baterista lá. Se ela se sair bem, a gente fecha.
Tio Palha nem lembrava há quanto tempo Coca não cantava,
mas ela não se mostrava embaraçada.
O pianista e o baterista trocaram algumas palavras com Luz, e
diante do empresário Matias Mateus e do bandido do cravo ela
66
começou a cantar um dos maiores sucessos dos dias em que meus
pais namoravam.
Chachachá
de la se-cre-ta-ria-á
chachachá
de la es-te-no-gra-fá
chachachá
O pianista, mais velho, logo se entusiasmou, e o baterista,
embora jovem, entendeu e aprovou o agitado chachachá. O bandidão,
coroa como Luz e Matias, sorriu, já entregue. A ele logo se juntaram
os orangotangos nº 1 e nº 2. Devia ser difícil cantar diante de um
auditório tão seleto, mas Luz tinha cancha e balanço, e continuou
saracoteando e cantando sem se abalar. Chachachá.
— Estamos combinados — disse o gerente. — Hoje às onze
horas. Está aprovada.
38
O PERIGOSO CHACHACHA
A idéia maluca do detetive Palha era fazer com que Coca (Luz
del Sol) circulasse pelo ventre da Montanha de Ali como gente da
casa, para tentar descobrir a identidade do Boss, o mandão. Então,
com o nome do sr. X, procuraria o delegado Maranhão, e tintim por
tintim, além de outros tintins, contaria à autoridade tudo que
soubesse sobre a perigosa quadrilha.
Coca sempre alimentara um sonho: voltar a cantar. Ela, que já
contava com muitos anos de estrada. Mesmo com outro nome e com
outro objetivo, o plano de Gê lhe agradara. Adorava badalações e
aplausos.
Precisavam ver que bárbara ela estava quando se aprontou
para sair em companhia do empresário! Eu não poderia perder aquela
avant-premiêre. Em poucos minutos as mãos mágicas de Coca me
transformaram outra vez no punk, agora usando um paletó folgado do
titio. Seria mais um punk no Ali, onde qualquer um se vestia da
maneira que lhe agradasse. Até cavalheiros de smoking iam lá,
misturados com gente de jeans, bermudas, bombachas, culotes e
tudo mais.
Chegando no Ali sentei-me sozinho a uma mesa, enquanto a
estrela e seu empresário se mandaram pelos corredores. O
orangotango nº 1 levou-os para o camarim, que ela dividiria com
67
Paola. O gerentão, de cravo novo, logo apareceu.
— Nossas instalações são modestas — disse.
— Já cantei até em Las Vegas, mas para quem está
recomeçando a Montanha de Ali é um luxo — disse Luz.
— Ela vai brilhar outra vez — garantiu o empresário. — Luz
sabe tudo sobre emoções.
— Estejam à vontade — e saiu.
Em seguida chegou Paola. Tio Palha fez as apresentações.
— Paola, Luz del Sol...
— Obrigada pela colher de chá — agradeceu Coca. — Sem sua
ajuda não estaria aqui.
Perto da meia-noite, no palco, a própria Paola anunciava:
— Com vocês, agora, uma velha amiga minha, a rainha do
chachachá. Palmas para ela!
Sob palmas la Gimenez pisou o palco confiante, e sob a luz de
um spotlight começou a cantar o chachachá que encantara o gerente.
Se os mais jovens não se manifestaram muito a princípio, entraram
na onda da cantora quando um punk, eu, saltando no meio da pista,
se pôs a aplaudir vibrantemente. O sucesso de Coca interessava ao
nosso plano. Ninguém desconfia dos vencedores. Vi Bristol e os dois
orangotangos batendo palmas.
Cumprimentando o publicão, Coca encerrou o show.
— Chachachá.
E dirigiu-se ao camarim onde alguém a esperava: Gê.
— Enquanto você cantava, sondei o corredor. Todas as portas
estão fechadas, mas há luz na última. Espiei pelo buraco da
fechadura e vi um quarto de dormir luxuoso.
— Pode ser de Bruna.
— Não vi objetos femininos. Deve ser o quarto do Boss.
— Psiu, vem gente!
Bristol entrou com uma braçada de flores.
— Devia ter entregue no palco, desculpe...
— Muita gentileza! O senhor gostou?
O gerentão estava exultante:
— Eu gostei, o público gostou, até o chefe gos... — deixou as
flores e retirou-se.
Meu tio, baixinho.
— Ouviu?
— Até o chefe gostou — ela repetiu. — Não é o que se chama
lapso ou uma escorregadela? Bonitas flores.
O detetive foi até a porta e comentou:
— Há mesmo um chefe, e do sexo masculino. Mora no quarto
dos fundos com certo luxo, assistiu ao seu show e gosta de
chachachá.
68
— Ele me assistiu! Que honra!
— Fique aqui e veja se alguém passa pelo corredor. Vou dar
uma espiada no salão.
Tio Palha passou por mim, que tomava um refrigerante no
salão, e se pôs a observar o pessoal dançando. A tarefa de reconhecer
entre eles o Boss era quase impossível. Voltou ao camarim. Coca lhe
disse que ninguém entrara no tal quarto dos fundos e que os
orangotangos estavam vigilantes, cada um numa ponta do corredor.
Vi o tio e sua secretária deixando o salão e fui atrás. Como
haviam estacionado o carro um pouco distante, ninguém viu o punk
acomodar-se no banco traseiro. Luz mostrava-se radiante com o êxito,
o empresário nem tanto.
— O mistério continua —disse. — Quem é o Boss? Quem é?
Me lembrei de uma coisa:
— Conhecemos quase toda a quadrilha. Mas um deles não
estava na Montanha de Ali. Talvez quem ocupa aquele quarto. O
chefão.
— Quem não estava?
— Mossoró.
— O borracheiro! — exclamou Matias Mateus. — É verdade. O
único ausente. Acertou no alvo, Edu. O borracheiro de mentira pode
ser o Boss, como não?
— Aí está uma coisa mais concreta para informar ao
Maranhão — disse Coca. — Faça isso.
39
ALGUÉM NA GELADEIRA
70
40
41
Luz del Sol agradou tanto nessa noite que Paola, vendo as
flores, ficou despeitada. Não trocou nenhuma palavra com ela no
camarim e fechou a cara até para o empresário. Saiu bufando.
Assim que a rainha do chachachá voltou ao camarim, Bristol
entrou acompanhado de um homem muito elegante. Raros
freqüentadores da Montanha vestiam-se com aquela classe. O que
faria o gentleman numa danceteria de periferia?
— Este é o sr. Reynold — apresentou o gerente-bandido.
— Ah, que mandou as flores! Obrigada, são lindas!
— Seu Reynold é um grande amigo da casa.
— Então gostou do show? — perguntou Coca.
— Seu repertório é do meu tempo — disse Reynold, quarentão
como Coca e seu empresário. — Mexeu com minhas lembranças.
Recordar faz bem. Mas vim para lhe fazer um convite. Aceita cear
comigo? Conheço um restaurante muito reservado por aqui.
Coca não esperava pelo convite, hesitou:
— Meu empresário...
Bristol:
— Direi a ele que foi cear.
Coca-Luz, a secretária-cantora, estava lá para descobrir a
identidade de um criminoso, não para cear com fãs. Além do mais,
isso provocaria muito ciúme no patrão-detetive.
— Quem sabe outro dia.
Reynold não gostou do contra e Bristol, mais ofendido ainda,
fez cara de gerente daquela baiúca e usou de um argumento
irrefutável.
— Sr. Reynold não é um freguês comum. É nosso sócio.
Coca, mais depressa do que Luz, imaginou: será apenas sócio?
Até ele, o Boss, havia gostado de seu show... Não seriam o Boss e o
Reynold das flores a mesma pessoa? Evitando aparecer, discreto
como pedia seu perfil, preferira passar por simples amante dos ritmos
latinos.
— Está bem, vamos cear.
— Meu carro está na porta — disse Reynold. — Levo as flores.
Vamos.
72
Coca acompanhou Reynold pelo corredor mas não sairam pela
porta principal. Havia outra saída, uma portinha para a rua lateral,
que nem ela nem Palha conheciam.
A namorada do detetive até tremeu quando reconheceu o
motorista do Mercedão de Reynold: o orangotango nº 1, que invadira a
agência Leão.
Enquanto isso, no salão de baile, Matias Mateus passou por
um punk, eu, e disse sem me olhar:
— Vamos sair, Coca já foi.
Somente dentro do carro de madame Geni explicou:
— Bristol disse que ela saiu com um admirador. Mas não a vi
passar.
— Estou estranhando. Ela sai com um admirador e nos deixa
assim, aflitos?
— Também estou estranhando. Mas vamos esperar por ela no
apartamento.
42
O INCÓGNITO
73
— A turma é simpática, mas ainda não decidi voltar a cantar
realmente. — E como era preciso referir-se a Matias Mateus para
testar reaçôes, disse: — Se voltei a cantar foi por insistência do meu
empresário. Ele orientou minha carreira quando estava no auge.
— É aquele homem ruivo, gordo?
Então ele já vira o Palha, embora até então estivesse brincando
de Homem Invisível?
— Quer conhecê-lo? Uma boa pessoa.
— A parte artística está sob os cuidados de Bristol, que já foi
proprietário de casas noturnas. Mas seja franca. Se não estiver
satisfeita com o acordo mando dobrar seu pagamento.
— O senhor é muito bondoso, mas não sei se mereço.
— Não me chame de senhor — ele pediu. — Basta Reynold.
Mas você merece, sim. Não viu o entusiasmo do público? Agradou em
cheio.
A ceia, segundo Coca, foi ótima e teria sido espetacular se não
estivesse tão nervosa. Jamais saboreara pratos tão caros e um vinho
estrangeiro como aquele.
74
Reynold não tirava os olhos dela. Gamadão.
— Podemos sair outras vezes?
— Claro. Vai sempre ao salão?
— Minha presença lá é dispensável, mas vou. E agora irei com
mais freqüência.
Muito antes da ceia terminar Coca já enfrentava um problema:
“Ele certamente vai me acompanhar até meu apartamento, e não é
bom que saiba onde moro. Pode perguntar por Luz del Sol na
portaria, e ela não existe!”. Preocupação que com goles de vinho e
sorrisos conseguiu disfarçar.
Paga a conta, o orangotango abriu a porta para Coca e Reynold
e tomou lugar na direção do carro. A maneira como o orangotango se
portava, curvo e servil, eficiente guarda-costas, acabava com qualquer
dúvida: Reynold era o mandão, o chefe, o Boss, o sucessor de Tony
Grand. Seu nome certamente não era esse, talvez tivesse sido
inventado na hora, mas o acaso colocara Coca e a figura misteriosa
frente a frente, na mesma mesa.
O orangotango nº 1 brecou o carro diante de um pequeno
edifício de apartamentos. Reynold beijou a mão de Coca
cavalheirescamente.
— Adiós — disse no idioma de Coca, apressando intimidades.
A cantora-secretária abriu a porta do edifício, entrou e
respirou fundo. Depois, em voz alta, repetiu os números decorados da
placa do carrão de Reynold.
43
PAOLA DA UM SHOW
FORA DE CONTRATO
75
Quem disse que ela era ótima? Eu não fui.
— Ela é um lixo.
— Fala assim de todos os seus amigos?
— Ela não é minha amiga.
— Ah, não é?
Então Paola, despeitada, pôs tudo para fora.
— Disse que era minha amiga a pedido do empresário. Como
tenho um coração de ouro, fiz o que me pediu.
Bristol, desconfiado:
— Então não conhecia essa cantora?
— Nunca ouvi falar dela. E olhe que sou veterana.
— E o empresário, conhecia?
— Também não.
— Não???
— Mas vejo que é outro tapeador. Disse que me levaria pelo
mundo afora e agora nem liga pra mim. É gente assim que vocês
prestigiam, é?
— Espere, nem de nome conhecia Matias Mateus?
— O senhor diz que foi dono de boate. Conhecia Matias
Mateus?
Contaram-me que o diálogo entre os dois foi assim mesmo,
transformando-se num monólogo, já no camarim, quando Paola
começou a dizer palavrões e a dar pontapés em tudo que via pela
frente. Quebrou até cadeiras.
Bristol não se interessou por essa parte do espetáculo. Dirigiu-
se ao quarto dos fundos à espera de alguém.
44
45
SANTO DEUS!
Tio Palha fez seu relatório e levou à delegacia. Como o delegado
não estava lá, escreveu no envelope: URGÊNCIA URGENTISSIMA, e
entregou-o, com recomendações, ao delegado substituto. Mais tarde
nos encontramos, os três, na escolinha muito visitada por alunas que
pretendiam fazer o novo curso de tricô e crochê. Tio Palha, marotão,
continuava vendendo os métodos para financiar nossas despesas.
À noite fomos para seu apartamento, e de lá saíram um
empresário ruivão, uma cantora de cabelos longos e um punk da
periferia. O detetive, por medida de segurança, decidiu que eu pegaria
um táxi para que ninguém nos visse chegando juntos, e me deu
algum dinheiro para gastar na danceteria.
Foi o que fizemos. Matias Mateus e sua contratada entraram
juntos. Eu entrei em seguida e fui me colocar numa ala onde estava a
moçada. Imediatamente pedi um refrigerante para que não me
julgassem um penetra. Logo perdi os dois de vista, porque era sábado,
e a Montanha estava lotadíssima.
Depois eu soube como tudo aconteceu.
Luz estava em seu camarim quando o orangotango nº 1 entrou
e disse:
— Seu Reynold quer falar com a senhora.
— Onde?
— No quarto dos fundos. Venha.
Coca seguiu o orangotango até a porta dos fundos do corredor.
Abriu e fez sinal para Luz entrar. Quando ela entrou viu Reynold e
uma mulher. Lembrando da foto reconheceu Bruna Grand, grandona
para fazer jus ao nome e com pinta de bandida. O orangotango
também entrou.
— Boa noite! — cumprimentou Coca com a espontaneidade de
Luz del Sol.
78
Mas não ouviu outro boa-noite como resposta. Reynold e
Bruna olhavam fixamente para ela como se fosse uma peça de um
jogo de armar.
— Tire a cabeleira — ordenou a irmã de Tony.
— Tirar a cabeleira? Pra quê?
O orangotango nº 1, por trás de Coca, arrancou-lhe a
cabeleira e a olhou bem de frente, sério. Porém, logo esboçou um
sorriso breve.
— E ela, patrão, a moça da agência.
Reynold fez uma cara de quem preferia que seu auxiliar tivesse
se enganado. A sensação de ter sido ludibriado o incomodava.
— Então é a secretária de Geraldo Palha?
— Fui secretária de muita gente — respondeu Coca. — Mas
voltei aos palcos. Sempre cantei profissionalmente. Meu verdadeiro
nome é Coca Gimenez. Impossível que não se lembrem. Troquei-o por
Luz del Sol porque não estava mais dando sorte.
— Não parou aí, continuou falando na esperança de que Gê,
não a encontrando no camarim, tomasse providências. — Mas como é
que souberam quem eu sou? — perguntou, falsificando uma
curiosidade não muito comprometedora.
Reynold, para mostrar que não se deixava enganar facilmente,
contou:
— Paola confessou ter mentido. Jamais conheceu você e seu
empresário. Fomos ao edifício onde a deixei ontem e falamos com o
porteiro. Disse que lá não morava cantora alguma e que a moça que
entrara durante a madrugada costumava visitar uma inquilina do 21.
Fomos procurá-la e ela deu o serviço. Num minuto disse seu nome e
para quem trabalhava. Mas não se preocupe. Vamos chamar seu
empresário e depois poderá voltar ao camarim.
O orangotango nº 1, teleguiado, recebeu uma ordem-comando
do patrão e saiu.
Falei do medo que Coca sentia? Imaginem e multipliquem por
mil.
Gentil, Reynold serviu-lhe uma bebida:
— Beba e acalme-se. Está tudo bem.
Bruna, a fera, sorriu.
79
46
47
Fazia algum tempo que não via meu tio na Montanha de Ali, o
que me inquietava. Meus nervos ficaram ainda mais tensos quando vi
81
Paola subir ao palco no lugar de Luz del Sol. Apesar da dificuldade,
pois o salão estava repleto, circulei entre as mesas à procura do
empresário ruivo. Num canto vi um dos macacôes e Bristol
conversando nervosamente. Em seguida separaram-se, cada um para
seu lado, como se procurassem alguém. Vendo que um vinha em
minha direção fui para o banheiro, onde me demorei alguns minutos,
e depois, rente à parede, rumei para a portaria. A intenção era sair e
telefonar para o delegado Maranhão. Desviando de uns e
acotovelando outros cheguei ao saguão. Não pude sair. Em frente da
estreita porta de saída estava o altíssimo Bristol, favorecido pela sua
visão panorâmica.
Se eu tentasse sair, reconhecendo-me ou não, Bristol me
seguraria, pois devia estar lá para impedir a saída de rapazes
suspeitos. “Fantasiado de punk, espertchinho!”
Eu precisava chegar à rua para salvar duas vidas... ou três.
Decidi arriscar e fui em frente.
Estava a uns cinco metros da liberdade quando o gigantesco
Bristol olhou fixamente para mim. Eu, como punk, não convencia
muito. O que devia fazer? Prosseguir? Não, dei meia-volta e regressei
ao salão. Assim que pisei nele, olhei para trás e vi a cabeça de Bristol,
que abandonara seu posto em minha perseguição.
Agora tudo era espanto, pesadelo. Por sorte a Montanha de Ali
aquela noite batia recorde de público. Por trás de uma coluna vi meu
perseguidor falar com o orangotango nº 1, que correu para o corredor
dos camarins enquanto ele voltava para a portaria. Adivinhei: ia
avisar os outros que o sobrinho do detetive, um punk, estava no
salão.
48
49
50
ELE ESCAPOU!
O orangotango nº 1 foi o primeiro a entrar no quarto do Boss.
— Ele escapou!
Todos se agitaram mas a reação de tio Palha e de Coca foi mais
facial: esperança.
— Como escapou? — berrou Reynold. — Não vigiaram a
saída?
— Todos já saíram, menos ele. Bristol bobeou.
— Pode ser que o garoto ainda esteja aqui — opinou Bruna. —
Continue procurando.
84
O macacão tornou a sair, com menos gás.
— Esse Bristol está me pondo desconfiado — disse Reynold. —
Era amigo de Mossoró, um traidor. Foi quem contratou esses dois...
Agora deixa o garoto escapar.
— Quando se uniu a nós traiu sua antiga quadrilha —
lembrou Bruna.
Reynold voltou-se para o detetive disposto a terminar um
assunto.
— Como é que nos descobriram aqui? Explique ou acabamos
com vocês já.
Tio Palha se deu um tapa na testa. Será que ia funcionar?
— Recebi um telefonema e alguém me deu este endereço
dizendo que era o lugar onde meu sobrinho tinha ficado preso.
— Era a voz de Bristol?
— Não estou certo — respondeu o prisioneiro. — Dos outros
dois não era. Ele é estrangeiro? Parecia.
51
52
53
EU, DESCOBERTO
54
90
55
56
EU, REPÓRTER
94
57
A NOTA 10
95
tudo com naturalidade, como se não tivesse feito nada de notável. A
modéstia pode ser também uma estratégia.
Na saída Anabel veio mansinha. Não tinha pedras nas mãos.
Queria pedir desculpa:
— Acho que fui muito grossa com você no telefone. Se quiser,
podemos comer um sanduíche, e depois ir a um cinema.
— Lamento, mas estou com mil compromissos. Procure
garantir seu lugar na fila, tá?
Meus pais e meu irmão leram a reportagem mas não
acreditaram que tudo aquilo acontecera. E mesmo quando tio Palha
confirmou, duvidaram. Acham que inventei. E talvez tivesse inventado
um pouco. Sabem como são os jornalistas...
58
O REPÓRTER FAZ UM
BREVE NOTICIÁRIO
96
Os grandes detetives como Sherlock Holmes, Hercule Poirot, Philip
Marlowe nunca se casaram, e tio Palha costuma apegar-se fielmente
às tradições.
Quanto a mim, Edu, continuo estudando Comunicações, mas
nem sempre me saio tão bem como no caso de Tony Grand. Anabel
virou amiga, mas só. Ás vezes, confesso, quando a vida cai na
mesmice e não pintam novas emoções, sinto saudade daqueles dias,
daqueles medos. Isso acontece também com tio Palha e Coca
Gimenez. Então, sabem o que fazemos? Saímos à procura de um
carrinho, e rindo como bobos ficamos comendo intermináveis
montanhas de algodão-doce.
FIM?
97
Esta obra foi digitalizada pelo grupo Digital Source para proporcionar,
de maneira totalmente gratuita, o benefício de sua leitura àqueles que não
podem comprá-la ou àqueles que necessitam de meios eletrônicos para ler.
Dessa forma, a venda deste e-book ou até mesmo a sua troca por qualquer
contraprestação é totalmente condenável em qualquer circunstância. A
generosidade e a humildade é a marca da distribuição, portanto distribua este
livro livremente.
Após sua leitura considere seriamente a possibilidade de adquirir o
original, pois assim você estará incentivando o autor e a publicação de novas
obras.
Se gostou do trabalho e quer encontrar outros títulos nos visite em
http://groups.google.com/group/expresso_literario/, o Expresso Literário é
nosso grupo de compartilhamento de ebooks.
Será um prazer recebê-los.
98