Dist Cristaos Novos
Dist Cristaos Novos
Dist Cristaos Novos
Minha História
Os Judeus do Papa
Judaizante e Hebraísta
O Mistério do Pe. Sanctos Saraiva
Bandeirantes e Cristãos-Novos
em Curitiba
Raphael Mayer, Italian (1894-1978) was a self made man of meteoric success in Brasil. He arrived here in the
early century. Here he built a carreer becoming an important banker, contemporary with Getulio Vargas and
Oswaldo Aranha, President of the UN General Assembly at the time of the creation of the State of Israel. As the
racist laws of Italy were implemented, he helped many refugees with his money and influence.
Jona Mayer Regina Valenzin Girolamo Levi Elvira Guttman Abramo Leonello Morpurgo Maria Zoé Morpurgo
Rafael Mario
Emma Giuseppe Giuditta Vittorio Mario Elio Carlo Alberto
Nora Adele Liliana
c. Hans Rosenthal
Lya Silvana Guido
Franca Finzi
Edda Bergman Gina
sileiro, que me ofereceu um lugar em sua firma. E eu aceitei e come- 4 O comediante Totó teve uma vida plena de lances rumorosos. Ele
cei a trabalhar. (Este sr. Mayer teve grande importância em minha nasceu como filho ilegítimo de uma jovem trabalhadora e de um
vida, como veremos em seguida. Ele era uma das personalidades moço pertencente à nobreza, recebendo o nome de Antonio Clemen-
importantes do setor bancário: infelizmente, por negócios errados, te, porém, com o casamento de sua mãe, ele foi reconhecido pela fa-
ele decaiu muito na escala financeira...Para recomeçar a trabalhar, mília paterna, tomando o nome de Antonio Maria de Curtis dei
fui novamente ajudado pelo sr. Mayer, o qual me ofereceu a direção Griffo Focas (Nápoles, 1898 – Roma, 1967), herdando assim os tí-
de uma pequena fábrica de caixas de papelão que, por estar quase tulos nobiliárquicos pertencentes aos seus ancestrais. Mas Totó fêz o
falida, o banco de Mayer havia adquirido. Essa firma havia sido seu nome e fortuna como comediante em vários filmes.
agregada a uma outra indústria de propriedade do banco, a COPAM 5 Até os reis sem reinos são biografados. Foi difícil mas encontra-
(Cia. Paulista de Artefactos de Metal), que fabricava armações de mos a biografia deste obscuro Marziano II, “Basileus Titolare di
celulóide para óculos”. Costantinopoli, Despota di Nicea e della Bitinia, Gran Duca, Se-
Se sua vida profissional foi, até certo ponto, plena de satisfações, bastocratore e Patrizio Bizantino, dei Basilei di Trebisonda,
não se pode dizer o mesmo da familiar. Raphael Mayer casou-se, em Sovrani di Cefalonia e dell´Asia Minore, Erede Porfirogenito,
setembro de 1941, com Emília Frioli, filha do adido cultural italiano em Principe Imperiale e Reale Lascaris-Doukas, Gran Capo della
São Paulo. Ele teve três filhos Alberto Jonas Mayer, que morreu com Casa Lascaris, Dinastia IX del S.R.I d´Oriente...” Ele nasceu ita-
apenas sete anos, de tuberculose; Raphael Mayer Junior, que teve liano em 17 de março de 1921, filho de Olga e Prospero Gottardo
morte violenta aos vinte e três anos e Lia Mayer Lustosa que vive Lascaris Ventimiglia Lavarello di Turgoville, professor de Direito
atualmente com dois filhos, Fernanda e Jonas, ambos estudantes e Oficial do Exército montenegrino. Sua genealogia (???) inclui
universitários. um rio, uma ninfa, os Giulli (de Júlio César) e a dinastia bizantina
Edda Bergmann mostrou-me um livro que Raphael Mayer man- dos Lascaris, mas nenhuma soberania sobre qualquer palmo de
dou imprimir por ocasião da morte do filho Jonas. Trata-se de uma terra nos últimos quinhentos anos. Dele há uma fotografia no
obra sobre o Talmud, intitulada: artigo citado. V. “Imp. Casa “Lascaris” (Relig. Cattolica). Sua
Altezza Imperiale Marziano IIº”, em “Anuário Genealógico
Seleção de Máximas, Parábolas e Lendas8 Latino”, do Coronel Salvador de Moya, vol. 2, 1950, pp. 3-16.
Em memória do inesquecível Alberto Jonas, que teria sido 6 Por lei, durante a guerra, de 1942 a l945, todos os bens que esta-
educado com a orientação espiritual do Talmud. Aos meus caros vam no nome de cidadãos do Eixo Roma-Berlim-Toquio, foram
filhos Lia e Raffaele, aos quais indico o Talmud como mestre intelec- temporariamente confiscados.
tual para a formação de uma alma perfeita. 7 O general Umberto Beer, nasceu em Ancona e morreu em S. Paulo
Ao Brasil, terra bendita, na qual encontrei Pátria, Família, Paz. (1896-1979), era filho de Ercole e Adelaide (Camerini) Beer. Foi
A morte do segundo filho perturbou profundamente Raphael ajudante de ordens do rei Vítor Manuel III e era um dos soldados
Mayer, que começou a perder o interesse pelo trabalho e pela polí- mais condecorados do Exército Italiano. Deixou inédita suas memó-
tica. Mas manteve o banco até o fim do governo de Jânio Quadros. rias: “Và Fuori D´Italia, Doce Pinceladas de Umberto Beer”.
Com a renúncia do mesmo, desgostoso com os altos e baixos da polí- 8 Organizada por Moisés Bilinson e Dante Lattes. Tradução de
tica, vendeu a sua empresa para o grupo Bradesco. Vicente Ragognetti. Com dedicatória de Raphael Mayer. Edigráfi-
ca São Paulo – Rua de Nascimento, 114, São Paulo
Notas
2 Raffael Jedidia Mayer, nasceu em Trieste (20-08-1894), filho de Jona Anna Rosa Campagnano, autora de “A árvore de Avraham” (1991), dire-
e Regina (Valenzin) Mayer, e faleceu em S. Paulo (22-09-1978). tora do Arquivo Histórico Judaico Brasileiro, prepara uma dissertação de
mestrado sobre o bagitto (dialeto dos judeus livorneses) na USP.
3 Filho do Imperador.
I n the XIV century, Avignon, France was the headquarters of the Popes and until 1791 it belonged to the
Catholic Church. The jews who came from this town were subject to peculiar legislation, they became
known as “the Pope’s jews”. Jean-Jacques Leopold Monteux one of the descendants of these families
tells the story of the group, identifying people and their customs.
A Genealogia, mais que um passatempo, mais que uma pesquisa-é um
tributo; é um ato de amor aos nossos ancestrais.
vocar a historia dos Judeus do Papa é relembrar a história milenar do
Eaconteceu
próprio judaismo . Retrocedamos para o ano 66 D.C. quando
a primeira guerra entre judeus e romanos; Jerusalem é tomada
por Tito em 70 d.C.; o Templo é destruido tem inicio a segunda diáspora.
Lendas e antigas tradições orais nos dão conta de três barcos com exi-
lados judeus que são lançados ao mar. Errando pelo mar Mediterrâneo
aportam ao acaso na costa sul da então Gália — atual França —
iniciando deste modo as primeiras implantações judaicas em solo gaulês.
Essa lenda adquire um contôrno de realidade quando em 1967 junto à
cidade de Cavaillon, em Provence , é descoberto um candelabro de sete
ramos, que de acordo com H. Morestin “trata-se do mais antigo
testemunho de uma presença judaica em Gália”, que pelo seu estilo é
datado da segunda metade do primeiro século e cuja peça ,é hoje con-
servada no museu judaico daquela cidade. A população judaica do sul
da França sempre se baseou nessa lenda para provar a sua presença na
região desde os tempos mais remotos. René Moulinas em sua obra “Les
Juifs du Pape” cita uma petição endereçada em 1808 a Napoleão pela
comunidade judaica de Avignon:
“O estabelecimento de israelitas em Avignon remonta aos
tempos mais antigos e não se distancia muito da época de sua
dispersão após a queda de Jerusalém; duas familias existem ainda,
que são descendentes daqueles primeiros hebreus”
Leopold Jacob Monteux, circa 1920
O primeiro registro formal da presença judaica nessa região , na
região de Provence, data de 1178 quando por um ato do Imperador constituirem ainda em “ghetos”. Relacionamentos entre judeus e ca-
Frederico I do Sacro Império Romano Germânico que detinha o tolicos eram rigorosamente proibidos e sujeitos a severas punições.
poder sobre as terras da região, a comunidade judaica de Avignon é Essas medidas, no entanto, eram muitas vezes quebradas pelos seus
colocada sob a proteção do bispo local. Após reinados e impérios do- próprios autores, ou seja , por papas e cardeais que recorriam sempre
minando a região, são os condes provençais que no século XIII que necessário aos serviços prestados pelos talentosos médicos ju-
detem os direitos sobre as terras do sul da Gália. Afonso, conde de deus, cuja tecnica fora obtida, não em escolas , mas na experiência da
Poitiers ao fazer em 1268, inventário de seu dominio, dominio esse prática diária de sua comunidade. A comunidade judaica, podia
que mais tarde receberia a denominação de Comtat Venaissin , naquele momento exercer diversas atividades, tais como: alfaiates;
registra a presença judaica nas comunidades de Avignon, Bollène, pedreiros; carpinteiro ; padeiros; tintureiros etc. Tinham acesso à pro-
Bonnieux, Carpentras, Cavaillon, Lapalud, L’Isle-sur-la-Sorgue , priedade imobiliária , sendo que muitos possuiam imóveis rurais,
Monteux, Mornas et Valréas. Em 1274, as terras do Comtat principalmente vinhedos. Somente era vetado o acesso à função pú-
Venaissin, em decorrência do Tratado de Paris, tem seus direitos blica, pois isso poderia criar uma condição de superioridade em rela-
transferidos ao Papado. Um acontecimento singular transformou a ção aos católicos. Esse cotidiano, no entanto, iria mudar de forma
historia de toda a região: eleito Papa o arcebispo de Bordeaux, Bertrand dramática em decorrencia de acontecimentos externos.
de Got, sob o nome de Clemente V, decide ficar por algum tempo em Os judeus são expulsos do reino da França por Felipe o Belo em
Avignon, para se refugiar da agitação constante de Roma. Em 1309 o 1394, e em consequência um contingente expressivo vem buscar abrigo
Papa se instala provisoriamente na cidade. Seu sucessor em 1316 trans- nas terras do Papado. O aumento incessante desse fluxo migratório em
fere definitivamente a sede do governo pontifício para Avignon. direção ao Comtat Venaissin representou o início de tensões no seio da
Durante quase setenta anos Avignon será a sede do Papado. A vida comunidade cristã local. Como forma de aplacar os ímpetos anti-
cotidiana da população judaica do Comtat Venaissin sob administra- judaicos de seus fieis cristãos, o Papado criou os primeiros “ghetos” em
ção pontifical é permanentemente marcada pelo perigo da contamina- seus domínios, em 1453. Os problemas se agravam com a chegada de
ção doutrinal “que ela representa para os cristãos e em decorrência judeus, expulsos da Espanha em 1492 e de Portugal em 1496, os quais
medidas discriminatórias são aplicadas. As mulheres judias são encontraram refugio no Imperio Otomano, na Italia e no Comtat
obrigadas a ostentar um determinado tipo de penteado, enquanto que Venaissin. Novas medidas discriminatórias são aplicadas. Uma bula
os homens trazem pregado às suas vestes um símbolo em forma de papal obrigou aos judeus o uso de um humilhante chapéu amarelo. Para
roda. Em cada localidade de Provence, a comunidade judaica era continuar atendendo ao sentimento anti-judaico da população cristã, as
obrigada a se agrupar em quarteirões específicos, sem no entanto se autoridades pontifícias determinam que os judeus do Comtat somente
5 • GERAÇÕES / BRASIL, Junho 2001, vol. 10 • 5
poderão residir em “ghetos” situados nas localidades de Carpentras, • Isaac Adolphe Crémieux (1796-1880). Advogado, Deputado,
Cavaillon, Isle-sur-Sorgue e em Avignon. Essas quatro cidades são Senador, Ministro de Estado. Autor da “ Lei Crémieux” que
designadas por seus habitantes judeus de “As Quatro Santas Comunida- conferiu cidadania franceêsa aos judeus de Argélia.
des” numa terna lembrança das comunidades de Jerusalém, Safed , • Alfred Joseph Naquet (1834-1916). Químico e político republi-
Hebron e Tiberíades. Esses “ghetos” recebem o nome de “carriere” cujo cano. Autor da “Lei Naquet”, que regulamentou o divórcio na
significado era rua. O talento e o espirito dos ocupantes dessas quatro França (1884).
comunidades judaicas acabaram por transformar as “carrières” em • Pierre Monteux (1875-1964) Maestro das Orquestras: Sinfônica
verdadeiras repúblicas autônomas, perfeitamente estruturadas, dispondo de Paris; Opera de Paris; Metropolitan Opera de New York; Sin-
de organismos institucionais, administrativos e financeiros, regidos por fônica de Boston; Filarmonica de San Francisco; London Symphony
uma peculiar forma de constituição interna. A língua falada nas Orchestra; Concertgebouw de Amsterdam. Introdutor dos Ballets
“carrières” é um dialeto em que o hebreu e o provençal se fundem. Russos no Ocidente.
Diversas peças do folclore judaico-provençal foram escritas nesse dia- • Darius Milhaud (1892-1974) Músico com mais de 450 composi-
leto: Cantos de circuncisão ; Pequenas Comédias; A Tragédia da ções. Viveu dois anos no Brasil. Fundamental para a história da
Rainha Ester,etc. Entretanto a vida nessas “carrières” é dificil. Diversas música do século XX.
familias ocupam a mesma casa. A saida do “gheto” é permitida somente • Isaac Gaston Crémieux (1836-1864) Mártir francês — Fuzilado
em horas autorisadas. Para o cristão, a presença de um judeu é consi- em Marseille. Seu ultimo brado foi “Viva a Republica”.
derada ofensiva. Durante a Semana Santa e na passagem de procissões • Armand Lunel (1892). Novelista francês. Autor de várias obras
existe a proibição do judeu de sair de sua casa. Muitas das condições baseadas nos judeus de Carpentras. Uma delas, “Esther de Carpen-
humilhantes aplicadas encobre sutilmente um convite à conversão ao tras”, sobre uma velha peça de Purim provençal, foi musicada por
catolicismo sempre rechassado pela comunidade judaica. seu amigo Milhaud.
As medidas discriminatórias se mantiveram até a Revolução Fran- • Pierre Vidal-Naquet (1930) — Historiador. Autor de “Os Assas-
cesa de 1789 que anexou à República as terras do Comtat Venaissin per- sinos da Memória”, dedicado “á memória de minha mãe, Margue-
tencentes ao dominio papal. Esse extraordinário evento marcou uma ver- rite Valabrégue. Marselha, 20 de maio de 1907. Auschwitz, 2 de
dadeira libertação para a comunidade judaica das quatro “carrières”, que junho (?) de 1944. Eternamente jovem”.
são são extintas. Após uma participação ativa no movimento revolucio-
Esses homens construiram um patrimônio inestimável, classi-
nário, os judeus do Comtat tornam-se cidadãos franceses. Tem início a
ficado hoje de monumento histórico e representado pela sinagoga de
dispersão para outras cidades da região e posteriormente para Paris.
Carpentras, cuja primeira construção data de 1367, reconstruida em
A necessidade de controle da população judaica até a Revolução foi
1741 sobre as fundações originais e pela Sinagoga de Cavaillon cuja
tão intensa, que propiciou um legado extraordinário de registros civis. O
construção data igualmente do século 18. Esses homens jamais aban-
genealogista francês Michel Mayer-Crémieux assim se expressou :
donaram suas crenças, suas idéias, suas convicções. Esses homens,
“Felizes os genealogistas que possuem ascendendência judaica no
meus ancestrais, eram os “Judeus do Papa”.
Comtat Venaissin”. Além dos registros pertencentes aos Arquivos
Departamentais e Nacionais da França o genealogista poderá consultar
os registros civis de Carpentras em hebreu, pertencentes aos Arquivos REFERÊNCIAS
Centrais para a Historia do Povo Judeu localizados em Jerusalém e que • Alicia Arias-Crémieux — “Quienes fueron los Judios del Papa”,
compreende dois volumes: Pinkas Ha-yahas (casamentos, circuncisões e publicado no Boletim nº 10 Toldot, Asociacion de Genealogia
nascimentos) e Hazkarat nefachot (falecimentos). Esses nossos an- Judia de Argentina
cestrais, judeus de Provence, apesar das humilhações e provações • Cercle de Genealogie Juive (França) — Documentos
sofridas souberam preservar sua liturgia, seus modos, seus costumes. • Darius Millaud — “Notes sans musique” (autobiografia).
Esses homens atendiam pelos nomes de Crémieux , Monteux , • Elisabeth Sauze-Ministerio da Cultura — França — “Les
Naquet, Vidal, Milhaud, Lunel, Baze, Alphandery, Lisbonne, Mosse, Synagogues du Comtat “
Valabregue, etc. Eles não tiveram papel preponderante na história • Michel Mayer Crémieux — “Mes ancêtres: Les Juifs du Pape”
universal do judaísmo, mas deixaram no entanto, descendentes com • René Moulinas — “Les Juifs du Pape” (1992)
brilho invulgar na politica , na literatura, na música e na na defesa de sua • Thierry Jacob — “Les Juifs du Comtat Venaissin”
pátria, como: http://www.chez.com/tjacob
Padre Sanctos Saraiva foi uma celebridade no Brasil nas últimas ram com filhos de Mestre Thomaz da Victória, “Rabino q[ue] lhe
O décadas do séc. XIX, pois era uma “figura singular de erudito,
sacerdote (ou ex-sacerdote), filólogo, cientista, professor, poeta, po-
ensinava a sua seita” e que são troncos de uma farta descendência
com este apelido Saraiva ou Cardoso, espalhada pelo nordeste de
lemista, tradutor e exegeta”, como enumerou suas atividades o je- Portugal4. A lista dos “99 chefes de família” atingidos pelo pogrom
suíta Arthur Rabuske, um de seus biógrafos1. Sua singularidade es- de Vila Nova de Fózcoa, composta por António Joaquim Ferreira
tava não apenas no enorme leque de interesses que ele pesquisava, Pontes, trás entre eles membros desta estirpe5. António José Saraiva
mas também em sua própria figura misteriosa, de quem se dizia ser (1917-1993), autor de “Inquisição e Cristãos-Novos” reconhecia-se
filho de um rabino sírio, ter vivido em locais e situações tão diferen- como sendo de origem judaica6. Creio que o Padre Sanctos Saraiva
tes, conviveu com orientalistas em Londres, discutiu hebraico com D. viesse desta mesma origem. Não tenho ainda a ligação entre uma e
Pedro II, colheu plantas e minerais na Serra da Cantareira. Pregou outra linhagens, mas os indícios que tenho apontam nesta direção.
para bispos e viveu como rústico agricultor no interior de Santa Ca-
tarina. Hoje ele é uma figura quase ignorada no ambiente intelectual
brasileiro. Nosso interesse é recuperar este personagem para a histó-
ria cultural brasileira e devolver aos cristãos-novos portugueses um
de seus vultos mais interessantes.
Final
Francisco Rodrigues dos Sanctos Saraiva morreu no Hospital
Samaritano em S. Paulo, em 3 de junho de 1900. Mas o seu corpo foi
levado para Santa Catarina, onde foi sepultado ao lado de sua com-
panheira Ana Felícia, mãe do seu filho Eliézer19. Deste modo, quase
sorrateiro, terminou a vida desta figura tão peculiar. Mesmo assim é
possível encontrar na sua trajetória alguns traços comuns a tantas
biografias de cristãos-novos anônimos, que sem acreditar nos dogmas
católicos, inconformados com a hegemonia da Igreja, mas sem acesso
ao Judaísmo, procuraram outras saidas religiosas, atraidos pelo
Protestantismo histórico, onde levaram suas convicções, dando a este,
um caráter filo-semita. Outros, como Sanctos Saraiva, foram edu-
cados como católicos, flertaram com o Protestantismo, enfim não fo-
ram judeus, nem cristãos integrais, apenas cristãos-novos ou juif en
potentiel, como na classificação de I. S. Revah.
Notas
1 “Francisco Rodrigues dos Santos Saraiva: Algo de sua vida e
obra, máxime no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina”, em
Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina”,
3a fase, nº 5, 1984, pp. 119-157. Agradeço a Sra. Arina Lopes
Vieira, de Imaruí, e ao Dr. Mário Gentil Costa, Florianópolis, a
cessão de grande parte da bibliografia sobre o nosso personagem.
2 Arquivo Distrital de Viseu, fl. 30/30, v., maço 17, nº 1, freguesia
de Armamar (1831).
3 João Nunes Saraiva, nascido em Trancoso, foi banqueiro de Feli-
pe IV. Denunciado como judaizante participou de dois autos-da-
fé. V. “El Proceso Inquisitorial de Juan Núñez Saravia, banquero
de Felipe IV” , de Antonio Domínguez Ortiz, Hispania (Tomo
XV, nº LXI, Madrid, pp. 559-581).
4 Luís de Bivar Guerra, “Lista dos judeus q[ue] se baptizaram em
Barcellos e das gerações q[ue] delles procedem” (Armas e Tro-
féus, II Série, Tomo 1, 1960, Lisboa). No título “Da Casa do
M[estr]e Thomaz Rabino” (pp. 286-291) ele reconstruiu seis gera-
ções da família Saraiva. A onomástica é semelhante a da família
do Padre Sanctos Saraiva. P.ex., Filipa Cardosa, filha de um
Saraiva, casou-se com Francisco Rodrigues e tiveram filhos, netos
e bisnetos com o sobrenome Saraiva (séc. XVI e XVII).
“Lashilton shel Brasil — Petrus Beit: Shira Leiom Hazikaron kol Umah begvul 5 O pogrom de Vila Nova de Fozcoa atingiu os cristãos-novos desta
Hamilchama al Paraguai” (Ao Governo do Brasil — Pedro II: Poema para o
cidade e foi descrito por um dos autores que registrou o fato as-
Dia da Recordação de toda a Nação na Guerra do Paraguai)
sim: “Escorraçando as que não tinham sido varejadas pelas
balas, como a do barão de Vila Nova de Fozcoa, as dos Campos
Sua despedida do sacerdócio foi registrada num manifesto de título Henriques, dos Lopes Cardoso, dos Cavalheiros, dos Campos,
agressivo, “O Catholicismo Romano ou a Velha e fatal Ilusão da dos Almeidas, dos Navarros, dos Margaridos, dos Saraivas, dos
Sociedade” onde ele formulou suas idéias religiosas, escrito em 1888 e Tavares. O exodo é em massa, tal qual nos tempos de Israel sob a
republicado em 193217. Este livro foi reeditado como uma reação a lança dos filisteus. Das noventa e nove famílias foragidas, no
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terror do ferro e do fogo, umas acolhem-se aos concelhos de Além com a brasileira Louise Marie Josephine Meyrad, como teve uma
Douro, outras poisam mais longe, no Porto e em Lisboa”. Cf. filha, Marie Louise (1869), que se casaria com o médico Hans
Sousa Costa, “ Páginas de Sangue. Brandões, Marçais & Co.” Naegli, de Genebra. Marie Louise Ingeborg Naegli, nascida em 1894,
(1919), p. 200. Veja também, J. Silvério de Campos Henriques de foi a última descendente de Akerblom. V. Axel Paulin, “Svenska
Andrade, “A quadrilha dos Marçais”, p. 265. öden i Sydamerica” , pp. 150-3. Nele há uma fotografia de Akerblom
6 Carlos Cãmara Leme, “Eu sou Israelita”, em Jornal Público/Fim e afirma que ele não era judeu. Agradeço a Nair Pacheco e Maillie
de Semana (Lisboa, 01-02-1991) Fjalgren, da representação diplomática sueca pelo auxílio biblio-
7 Nos registros de casamentos da comunidade holandesa há um só gráfico; a Ian Hamilton (Genealogiska Föreningen, Estocolmo), a
Saraiva constando daquele rol. É Mozes Isaac Saraiva, que se Ulf Goranson e Hakan Hallberg (Uppsala Universietsbibliotek), por
casou com Rachel David Jessurun, em 20 de Siwan de 5449. V. outras informações e contatos.
“Handleiding bij de index op de Ketuboth van de Portugee- 14 Eliézer dos Sanctos Saraiva, ob. cit., p. 20-1.
Israelietische Gemeente te Amsterdam van 1650-1911”, organiza- 15 Exposição iconográfica: “Luzes do Império. D. Pedro II e o Mun-
do por D. Verdoomer e H.J.W. Snel. do Judaico” (S. Paulo, 1999), Prof. Reuven Faingold (Curador),
8 O livro era dedicado aos “Nobilissimos, y magnificos señores, catálogo, pág. 17.
...David Senior Coronel; ...Doctor Abraham de Mercado;. 16 (“Ele é socorro”, Bereishit, 15:2), outros nove personagens bíblicos
..Jahacob Mvcate; ..Ishac Castanho; Y mas Señores de nuestra reeberam o mesmo nome, inclusive um filho de Moisés e um profeta.
nascion, habitantes en el Recife de Phernambuco” (1651). 17 Há um exemplar na Biblioteca Mário de Andrade (S. Paulo) e que
9 Flávio Mendes Carvalho (1954-1996) foi neto materno de Osmun- trás um carimbo curioso: “Livraria do Globo. L. Marrano (...)”
do Saraiva Leão. V. Obituário, em Gerações/Brasil, novem- 18 Jornal do Comércio, Desterro, dezembro de 1888
bro/96 e abril /97, vol.3, 1 e 2, pp. 13-4. 19 Eliézer dos Sanctos Saraiva nasceu em Picadas do Norte, S. José,
10 Eliézer dos Sanctos Saraiva, “O Sabio das Picadas” (1939), p. 15. 13 de novembro de 1879 e morreu em S. Paulo, em 19 de junho
11 Eliézer dos Sanctos Saraiva, ob. cit., p. 17. de 1944. Formado engenheiro, trabalhou no Observatório Astro-
12 O diário imperial desta viagem foi publicado por Reuven Faingold nômico de S. Paulo e lecionou idiomas no Mackenzie College.
sob o título “D. Pedro II na Terra Santa. Diário de Viagem – Dirigiu uma escola chamada “Instituto Sanctos Saraiva”, onde
1876” (1999). Oswaldo Aranha e Marcondes Filho foram seus alunos. Autor de
13 Leonhard Akerblom (Solleftea, 1830 – 1896), filho de Carl Magnus e “O sábio das Picadas”, uma biografia paterna. Pertenceu ao Ins-
Catharina Margareta (Eneroth) Akerblom, era Doutor em Filosofia tituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina. Casado com
pela Universidade de Uppsala. Ele começou a carreira diplomática Lígia “dos Sanctos Saraiva”, não teve filhos. Agradeço a Adonias
representando os paises nórdicos no Brasil e terminou sua carreira Costa da Silveira (Instituto Presbiteriano Mackenzie, 08-07-1997)
como “generalkonsul” da Suécia em Lübeck Akerblom foi casado pela ajuda em compor a biografia deste personagem.
The inquisitorial processes document the persecutions that the judaizing new-christians suffered. It is possible
to read the physical description of the accused, his genealogical relationship and his habits. Rubens R. Câmara
took the process No. 2742 of 1618 against Inês Henriques de Leão and explains all the steps of the judiciary
process which was common to all others. Inês Henriques de Leão belongs to an important jewish family. She is
related to the Aboabs and a cousin of the philosopher Baruch de Espinoza.
1. O processo movido pelo Tribunal do Santo Ofício contra Inês ou pérolas incrustadas. Havia também um relicário de ouro com
Henriques de Leão tem, em linha gerais, a seguinte estrutura: motivos religiosos católicos, ou seja, com imagem de Nossas Se-
a) Termo de Entrega da ré à Inquisição de Coimbra nhora de um lado e Santa Catarina, de outro.
b) Inventário dos bens 4. As imputações contra a ré, nos autos denominadas de “Culpas”,
c) “Culpas” [Imputações] são constituídas por vários traslados de depoimentos constantes
d) Genealogia da ré em processos da Inquisição contra outros cristãos novos, a maioria
e) Audiências de inquirição e admoestações parentes da ré, que a incriminavam. O primeiro desses traslados é
f) Libelo relativo ao processo contra um tio da ré, Luis da Cunha:
g) Procuração do defensor
“Do processo de Luis da Cu-
h) Contestaçao e contradita das testemunhas
nha, cristão-novo, médico na
i) Confissões, admoestações e contradição
cidade do Porto, o qual foi pre-
j) Libelo “diminuto” [Aditamento]
so e recolhido nos cárceres do
k) Confissões e admoestação
Santo Ofício da Inquisição de
l) Novo libelo
Coimbra ao primeiro dia do
m) Audiência de “tormento” [Tortura]
mês de setembro do presente
n) Sentença condenatória
ano [1618] e aos seis dias do
o) Abjuração
dito mês e anos pedia audiên-
p) Termo de Segredo
cia e começou por confessar
q) Contas
suas culpas e desta ré entre
r) Termo de Soltura
outras coisa o que se segue:
2. A primeira peça do processo é o “Termo de Entrega” da ré à Aos seis dias do mês de setem-
Inquisição de Coimbra: bro de mil e seiscentos e de-
“Aos quatorze dias do mês de outubro do ano de seiscentos e zoito anos em Coimbra na ca- Baruch de Espinoza, primo de Inês
dezoito nesta cidade de Lisboa nos Estaus e Cárceres do Santo sa do notário da Santa Inqui- Henriques de Leão
Ofício desta cidade, foi entregue Inês Henriques de Leão, cristã- sição, estando ai o senhor Simão Barreto de Meneses, Inquisidor,
nova, solteira, filha do Licenciado Luis Gomes de Leão, por um em audiência pela manhã, mandou vir perante si um homem que
oficial da Inquisição de Coimbra, o alcaide destes Cárceres Hei- viera preso do Porto para estes cárceres e sendo presente, para
tor Teixeira, nele se deu por entregue e como assim fez, assinou em tudo dizer a verdade, lhe foi dado juramento dos Santos
este termo e sendo assinado se lhe não achei nada contra o regi- Evangelhos em que ele pôs a mão e sob encargo dele prometeu
me, eu Francisco de Sousa escrevi.” dizê-la e disse que se chama Luis da Cunha, doutor em medicina,
da cidade do Porto, casado com Florência Dias, cristã-nova, da
3. A seguir vem o “Inventário” dos bens que a ré possuía, declaran- mesma cidade e que ele é de idade de 39 anos. Disse entre outras
do que origem desses bens era, em parte, proveniente de Florença, coisas que havia onze anos, pouco mais ou menos, não se lembra
onde seus pais faleceram e de onde viera há cerca de sete ou oito o mês, nem a era certa, nesta cidade de Coimbra em casa de seu
anos, e outras peças eram presentes de seus avós e parentes. Ao irmão Antônio Dias da Cunha, estando ele confitente com Inês
final, declarou que não possuía bens de raiz. Há nessa parte há Henriques, sua sobrinha, filha de sua irmã Maria da Paz e de
uma descrição detalhada desses bens, na verdade, uma grande Luís Gomes Leão, seu cunhado, ambos defuntos, ele confitente e a
quantidade de jóias, englobando metais e pedras preciosos. São dita sua sobrinha se deram conta um ao outro, não se lembra a
descritos anéis, brincos, colares, gargantilhas, pulseiras e outras que propósito, nem quem começou a prática, de como criam e
peças, sendo a maioria de ouro com diamantes, rubis, esmeraldas viviam na Lei de Moisés e nela esperavam se salvar, e que então
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não falaram mais, porém daí por diante se ficaram conhecendo e ele, natural de Lisboa; ela, do Porto, donde se foram para Roma,
tratando como judeus e se declaravam por tais quando havia e de Roma para Florença; e que seus avôs paternos se chamaram
ocasião para isso. Aos costumes, disse nada.” Antônio Gomes e Isabel Gomes, já defuntos, e não sabem onde
Os demais depoimentos trasladados para os autos contêm pratica- viveram; e seus avós maternos se chamam Lopo Dias da Cunha,
mente as mesmas declarações, variando um pouco a época, o local físico no Porto, e Inês Henriques; e não tem outros antepassados,
e as pessoas envolvidas que, como diziam, se davam conta umas nem lhe sabe o nome e que da parte de seu pai não tem tio, nem
às outras de como criam e viviam na Lei de Moisés e nela espe- tia; e da parte de sua mãe, tem três tios e três tias e que se cha-
ravam se salvar. Há, num ou outro depoimento, relatos sobre co- mam: Antônio Dias da Cunha, cônego em Coimbra; Luís da
mo observavam o Sábado, jejuavam em datas especiais e acen- Cunha Henriques, médico, marido de Florência Dias do Porto;
diam candeeiros às sextas-feiras ao pôr do sol. Paulo Lopes da Cunha, mercador, casado com Catarina de Pina,
Além do depoimento de Luís da Cunha, foram trasladados tam- moradores no Porto; Filipa de São Francisco e Grácia do Espí-
bém os das seguintes pessoas: Diogo de Pina; Paulo Lopes, tio da rito Santo, freiras no Mosteiro de Monchique do Porto; e Ângela
ré; Francisco Rodrigues Villa Real; Grácia Vaz; Lucrécia Macha- Henriques, casada [pela] Segunda vez com Cristóvão Lopes, mer-
do, prima da ré; Antônio Vaz, filho de Thomé Vaz e irmão de cador, morador em Viana; e que tem um irmão que se chama
Florência Dias, mulher de Luis da Cunha; Felipa de São Fran- Antônio Gomes de Leão, pensador em Madrid, de vinte e um para
cisco, freira e tia da ré; Inês Henriques, avó da ré; João Batista e vinte e dois anos, solteiro; e que ela é solteira e não tem filho,
sua mulher Camila Dias; Isabel Nunes, mulher de Álvaro Annes e nem filha; e que ela nunca foi presa, nem penitenciada pelo Santo
Florência Dias, mulher de Luís da Cunha. Ofício e que por ele ficaram presos os ditos seus avós, tios e tias e
A quase total literalidade dos depoimentos deveu-se a um possível as mulheres deles e os maridos delas no mesmo dia em que pren-
arranjo que os confitentes engendraram para miminizar as conse- deram a ela, exceto as ditas freiras e o dito seu irmão e que ela é
qüências desse processos contra si e outros de sua progênie. Nesse cristã, batizada na Sé do Porto e não sabe quem foram seus pa-
sentido, aponta a “denunciação que fez Heitor Teixeira, Alcaide drinhos, o deão que então era um desembargador que não sabe o
destes Cárceres, a qual está no processo de Miguel Soares”, que nome e que ela é crismada na Igreja de São João do Porto e não
disse ter ouvido fragmentos de uma conversa entre a ré e Miguel sabe por que Bispo e foi seu padrinho Jorge Lopes”.
Soares: A ré declarou que não sabia mais sobre outros antepassados e a
“...e denunciando disse que ontem, dois deste presente mês e ano mesa inquisitorial parece não ter se preocupado em avançar mais
[dezembro de 1618], às horas de jantar, indo ele para a vigia, ouviu na genealogia, pois, estando presos e processados seus avós, pode-
falar Inês Henriques de Leão com Miguel Soares, marido de Maria ria ter requerido que se trasladasse para os autos a parte genealó-
de Sousa, presos que estão no lado do corredor do meio velho, ela na gica pertinente. Pesquisas recentes trouxeram uma pequena
oitava e ele na nona casa, ficando ao meio a porta do dito corredor extensão à genealogia de Inês Henriques de Leão: o doutor Lopo
da vigia, que não se abre pela banda de dentro; ele não tem Dias da Cunha era filho de Antônio Dias e Felipa Mendes, neto
companheiro, ela, uma velha que se chama Catarina Henriques; paterno de Isaac Rua e Velida, judeus batizados em pé no ano de
porquanto ele testemunha ouviu que se falavam, se chegou à dita 1496 em Barcelos.
porta do corredor e se pôs a escutar; conhecendo-os bem na fala, No que se refere à idade da ré, a mesa demonstrou uma certa
ouviu o que estavam falando, ela dando-lhe conta do que se passara desconfiança, pois, tendo Inês declarado que tinha idade de vinte e
naquela manhã na mesa, como quem se aconselhava e ele res- dois para vinte e três, a mesa achou que “parecesse de mais”. A
pondendo-lhe; o que foi dito por Miguel Soares entendia ele suspeita do inquisidor com relação à idade da ré tinha fundamen-
testemunha melhor porque falava mais alto, [...], ouviu deles os to. Localizou-se recentemente o assento de batismo de Inês Hen-
seguinte: Já que tendes confessado, o que nos querem mais? E ela riques de Leão na freguesia da Sé da cidade do Porto no dia 02 de
respondeu algumas palavras que ele testemunha não percebeu mais novembro de 1590:
que a última delas na seguinte forma: E pedem mais pessoas. [...], “Aos dois dias do mês de novembro [de 1590] batizei a Inês, filha
que na mesa lhe diziam que ela fora judia mais tempo que tinha de Luis Gomes de Leão e de sua mulher Maria da Paz, moradores
confessado e que lhe falavam em mais cerimônias; o dito Miguel na rua São Domingos, foram padrinhos Agostinho[?] da Grão[?]
Soares respondeu falando mais alto como falava e de maneira que e o doutor Melquior Dias [...]”
ele testemunha entendeu o seguinte: Não sei, logo, o que mais nos Ora, tendo sido batizada em novembro de 1590, evidentemente
querem, se ainda não estão contentes e nos querem mais, confessai Ignês terá nascido naquele ano, ou mesmo antes, o que a colocaria
embora mais tempo que há dois anos mais ou o que quiseres que com mais de 28 anos de idade, não de vinte e dois para vinte e três
críeis em Deus dos Céus e que tiráveis da lampreia o quarto traseiro, anos, como declarara. A par dessa questão cronológica, a aparên-
mas mais pessoas, contudo, não lhe deis nenhuma; confessai cia física da ré, que era “grossa de corpo”, ou seja, obesa, como
‘diminuta’ que assim é bom; eles tomam nos por um dedo e por ele declarou uma testemunha, terá cooperado para que a idade decla-
nos levam a mão toda e depois o braço, assim nos pescam todo o rada por ela fosse desacreditada pela mesa.
corpo e depois que nos têm de dentro, fazem-nos espremer; eu se Observa-se, ainda, que a ré declinou os nomes de alguns parentes,
soubera quem aqui me meteu houvera lhe de dar mil estocadas pelo que se achavam também presos, excetuando as tias freiras e o irmão
coração...” que morava em Madrid. É bem provável que omitiu nomes de outros
Confessar “diminuta” significava admitir menos culpas do que as parentes ou conhecidos que não estavam envolvidos com o Santo
imputadas à pessoa. Por outro lado, fica patente a estratégia de Ofício, tudo em conformidade com a postura que recomendava não
admitir cerimônias e ritos, sem contudo dar novos nomes à mesa dar novos nomes à mesa. De fato, não há notícia de prisão de seu
inquisitorial. irmão Antônio Gomes de Leão, mas quanto às freiras, talvez a ré
5. A seguir, trata o processo da genealogia da ré: ainda não tivesse conhecimento de que as mesmas já se achavam
“disse que se chama Inês Henriques de Leão, cristã-nova de vinte presas por ocasião dessas declarações. Por outro lado, Inês Henriques
e dois para vinte e três anos, porquanto parecesse de mais, natu- afirmou que, por parte de seu pai, não tinha tios ou tias. Ou ela omitiu
ral e moradora na cidade do Porto, e que seu pai se chama Luís propositadamente os parentes de seu pai, ou eles já teriam falecido.
Gomes de Leão, letrado, pensador, que morreu em Florença; e Nessa parte genealógica, a ré é questionada sobre sua própria bio-
sua mãe, mulher de seu pai, Maria da Paz, também lá morreu; grafia:
(Josuá Habillo)
Miguel Dias Antonio Dias Isabel Henriques Duarte Fernandes
Duarte Dias, “o feio” Dr. Lopo Dias da Cunha Inês Henriques Maria Nunres
Manuel Dias Henriques Florencia Dias Dr. Luis da Cunha Maria da Paz Luis Gomes de Leão Ana Débora Garcês
c.g.
Isaac de Matatias Aboab Inês Henriques de Leão Baruch d’Espinoza
(1631-1707)
Genealogista
c.g.
“perguntada por que terras andou e que línguas sabe, e se sabe ler e “Relaxada à Justiça Secular” significava que, não sendo da filo-
escrever, disse que sabe ler e escrever e falar português que é a sua sofia do Tribunal do Santo Ofício da Santa Madre Igreja impingir
língua e a italiana; e que seria de três para quatro anos [de idade] aos réus a pena de morte, o condenado era colocado à disposição
quando se foi com sua mãe por terra a Roma, onde estaria quatro da Justiça Comum que, se fosse o caso, referendava a recomen-
anos, e daí se foi com seus pais para Florença, onde esteve cinco dação da pena capital.
anos, um com os ditos seus pais e quatro no mosteiro que se chama Após o Libelo, seguem-se a habilitação do procurador da ré, no
Mente Dominis [sic] de freiras descalças de São Francisco [...] e caso o licenciado Manoel Rodrigues Cabral, a contestação, feita
mortos os ditos seus pais, se veio com seu irmão e uma criada de por negação geral das imputações, e a contradita das testemunhas.
sua mãe que se chama Brites Gomes, a qual tinha vindo com eles e Nessa última parte, tenta a ré mostrar que as imputações a ela
não sabe se é cristã-nova, mas sabe que está casada no Porto com feitas basearam-se em testemunhas que eram suas inimigas ou de
um alfaiate de quem não sabe o nome; chegados a Livorne se algum de seus parentes. Como exemplo, cite-se o caso de Maria
embarcaram e aportaram nesta cidade a cerca de oito anos pouco Cardoso, que segundo Inês Henriques de Leão lhe tinha grande
mais, ou menos; e aqui esteve perto de dois meses, depois foi para ódio e “lhe beberia o sangue se pudesse”. Segundo a contradita,
Coimbra com o dito seu tio Antônio Dias da Cunha que veio aqui essa Maria Cardosa era empregada na casa do tio da ré, o cônego
buscar e em sua casa esteve oito meses e daí se foi para o Porto Antônio Dias da Cunha, onde Inês passou seis ou sete meses
para a casa dos avós e com eles viveu ai até ser presa”. depois que voltou da Itália. Faltava ao serviço e andava pela casa
Nessa parte, fez também uma demonstração de que era doutrinada dos criados, sendo que Inês “pelejava com ela” sem obter re-
na fé católica dizendo que: sultado. Houve uma briga entre as duas e a ré cortou-lhe o rosto.
“ia à igreja ouvir missa e pregação e se confessava e comungava Mais tarde, Maria Cardosa veio a ficar grávida de um pajem cha-
quando manda a Santa Madre Igreja e fazia as mais obras de mado Domingos e, por vingança, colocou a culpa no tio de Inês.
cristã; e logo após se pôs de joelhos, se benzeu e disse o Pai Nos- Para provar sua inocência, o Cônego Antônio Dias da Cunha ajui-
so, Ave Maria, Credo, Salve Rainha, mandamentos da lei de Deus, os zou uma ação, conseguindo contra Maria Cardosa e o dito pajem
da Santa Madre Igreja e os artigos da fé e das obras de miseri- sentença de morte, que, ao que tudo indica, foi comutada e os
córdias e virtudes teológicas”. condenados “ficaram com grande ódio contra o dito seu tio e, por
Finalmente, nessa audiência, informavam à ré que estava presa em conseguinte, contra ela, ré, pelo que seus testemunhos lhe não
virtude de ter se apartado da fé católica, professando a lei de Moisés e podem, nem devem, prejudicar em coisa alguma”. Outro caso, foi
era aconselhada a confessar suas culpas, bem como fornecer detalhes o do físico Nicolau Lopes que pretendia se casar com uma filha
das práticas hereges e nomes de pessoas envolvidas. Inês Henriques de Lopo Dias, avô da ré, mas que teve sua pretensão frustrada.
de Leão, no entanto, disse que não tinha culpas a confessar. Respondeu-lhe Lopo Dias, na ocasião, “que nem uma negra lhe
Regularmente admoestada das conseqüências de sua atitude, foi-lhe daria, quanto mais sua filha”. Anos mais tarde, Nicolau Lopes
nomeado curador e enviada ao cárcere do Santo Ofício. voltaria à casa de Lopo Dias para, dessa vez, pedir-lhe a mão da
própria ré, Inês Henriques, e mais uma vez recebeu uma negativa.
6. Em novas audiências perante o inquisidor, o licenciado Pero da Além disso, a causa da inimizade de Lopo Dias e Nicolau Lopes é
Silva de Sampaio, foram-lhe repetidas todas as acusações de prá- que sendo ambos da mesma profissão, o segundo andava “desa-
ticas de ritos judaicos, que ela negou sistematicamente. Admoes- creditando suas [de Lopo Dias] curas, dizendo que as não fazia
tada mais um vez sobre sua postura de negar as acusações, foi-lhe como convinha por ser muito velho”. Enredados nessa mesma
lido o libelo que, ao final, pedia: malquerença estavam Grimaesa Cardosa, mulher do dito Nicolau
“[que] a ré Inês Henriques de Leão seja declarada por herege e Lopes, e Branca Rodrigues, sua tia. Refutou, também, o testemu-
apóstata de nossa Santa Fé Católica, porquanto incorrendo em nho de um tio, Luis da Cunha Henriques, físico, natural do Porto,
sentença de excomunhão maior; em confisco de seus bens para o sendo a razão da inimizade o fato de o avô dela, o doutor Lopo
fisco e câmara real; e nas mais penas contra os semelhantes esta- Dias da Cunha, ter-lhe destinado um rico dote que o dito tio da ré,
belecidas; e como herege e apóstata pertinaz e negativa seja re- por inveja, não queria que se efetivasse. Outro depoimento tam-
laxada à Justiça Secular” bém contestado foi o de Pero Aires Vitória que tinha negócios
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em canaviais no Brasil em sociedade com o avô da ré, mas que o mandou que a desatassem e fosse levada a seu cárcere, onde seria
dito Pero Aires Vitória não dava contas a Lopo Dias, surgindo daí curada”.
grandes desavenças. Outra testemunha contraditada foi a do 9. A sentença final foi prolatada aos 5 de abril de 1620, confir-
próprio tio, Luis da Cunha, que segundo Inês lhe tinha granve mando-se os termos do Libelo (abjuração, perdimento de bens,
inveja e queria apoderar-se de um dote que seu avô, o doutor cárcere e hábito).
Lopo Dias da Cunha, lhe destinara. O tio fazia também arranjos
para casá-la “com um mancebo que não cria na lei de Moisés”, 10.Aos aos 5 de junho de 1620, Inês Henrique de Leão peticionou,
razão pela qual tinham desentendimentos. sob o argumento de que abjurara sua fé, bem como cumpria suas
obrigações religiosas cristãs, penitências, uso do hábito e do cár-
7. A seguir, no processo, lêem-se as confissões da ré que, na verda- cere, requerendo sua soltura, que foi, aos 22 de fevereiro de 1621,
de, repete os depoimentos das testemunhas sobre como se encon- deferida.
traram há “três anos pouco mais, pouco menos”, mas sem se
lembrarem do “dia ou mês”, e se deram conta que criam na lei de Rubens Rodrigues Câmara, advogado e genealogista, autor de “A Grande
Moisés e esperavam nela se salvar, mas não se lembravam tam- Família. Homenagem aos 75 anos de Luíza Soares de Jesus” (1996).
bém que iniciara a conversa, nem a que propósito. Ademais, re-
petem-se as confissões, por negação geral, e novos libelos. Mas
nessa parte do processo, é importante destacar que os iniquisido- Diplomacia Portuguesa
res fizeram admoestações à ré, “antes do tormento”, para que Foi criada em Portugal (22-02-2000) a Fundação Aristides de
confessasse suas “mais culpas” e tendo ela dito que nada mais ha- Sousa Mendes, com recursos do Ministério dos Negócios Estrangei-
via a confessar, foi-lhe lida a “sentença do tormento” : ros, para homenagear o seu ex-cônsul em Bordeaux, que durante a II
“Acórdão os inquisidores ordinários e deputados da Santa Inqui- Guerra Mundial emitiu vistos de entrada salvando muitos judeus do
sição que vistos estes autos, dos urgentes indícios que deles e da Holocausto. O objetivo da Fundação é a criação de um museu que
prova da Justiça resultam contra Inês Henriques de Leão, consta sirva para a educar contra a intolerância das novas gerações. O presi-
nestes autos do não fazer inteira e verdadeira confissão de suas dente da Fundação é a escritora Maria Barroso, auxiliada por um
culpas, porquanto não disse todas as pessoas que sabe andarem Conselho formado por Álvaro de Sousa Mendes (filho do Cônsul),
apartadas de nossa Santa Fé Católica e terem crença na Lei de António de Sousa Mendes (neto) e José Manuel Duarte. Aristides de
Moisés e quem a denunciou, nem das mais cerimônias que fez por Sousa Mendes do Amaral e Abranches nasceu em Cabanas de
guarda da mesma Lei e sendo por tudo perguntada com muita Viriato em 19-07-1885 e morreu em Lisboa, em 03-04-1954. Sendo
caridade e admoestada a confessar a verdade delas para se usar os seus pais, o juiz José de Sousa Mendes e Angelina Ribeiro de
com ela da misericórdia, o n ão quis confessar. O que tudo visto Abranches. Era descendente direto de um “cavaleiro da Ordem de
e com o mais que dos autos consta, mandam que antes de outro Cristo, Familiar do Santo Ofício” (Luiz Ribeiro de Abreu Castelo
despacho a ré Inês Henriques de Leão seja posta a tormento, Branco), e o seu irmão gêmeo César de Sousa Mendes foi Ministro
conforme o assento que neste processo está tomado onde será dos Negócios Estrangeiros do Governo Salazar. O ilustre genealo-
perguntada pelas sobreditas culpas para que manifeste a verdade gista português José António Severino da Costa Caldeira (Associa-
para salvação de sua alma e das ditas pessoas” ção Portuguesa de Genealogia), é autor do artigo “Ascendência
arganilense de Aristides de Sousa Mendes (Glosando um mote do
8. Publicada a sentença, inicia-se, no processo, sua parte mais dra- padre José da Costa Saraiva)”, publicado num jornal de Arganil, em
mática. Novamente admoestada para dizer toda verdade, Inês 1989, revelando que o “heróico diplomata tenha tido antepassados
Henriques de Leão foi, por fim, levada à tortura. No “Termo de arganilenenses, ainda que muito remotos, e que esses antepassados
admoestação na casa e tribuna junto ao tormento”, lê-se que como a hajam sofrido também o labéu, então ignominioso, de judeus”. No
ré não confessasse mais coisas do que já dissera, “foi mandado vir o caso a sua 7ª avó, Maria Mendes da Silva (1653 - ? ), por linha
ministro ao qual o Senhor Inquisidor Pero da Silva de Sampaio deu materna. Outro diplomata português que também deu a sua
juramento dos Santos Evangelhos, sob o encargo dele lhe foi dito que contribuição à salvação dos judeus durante a II Guerra Mundial foi
fizesse bem e fielmente seu ofício, executando nessa mulher o que lhe Alberto Carlos de Lis-Teixeira Branquinho (1902-1973). Ele en-
fosse mandado e que tivesse segredo em tudo que visse ou ouvisse,o trou para o serviço diplomático em 1930, exerceu funções no Rio de
que ele prometeu cumprir sob encargo do dito juramento. E logo Janeiro, e em 8 de abril de 1943, assumiu um posto em Budapeste,
levou a ré para a casa do tormento e despojada de seus vestidos a onde permaneceu até 1944. Alí “emitiu mais de 800 vistos a
assento no escabelo na forma ordinária, estando nesse estado, o refugiados e deu proteção a judeus na capital da Hungria”, segundo
Senhor Inquisidor a admoestou de novo [para que] confessasse suas noticiou um jornal português. Tanto Souza Mendes, quanto Teixeira
culpas, protestando que se morressse, ou quebrasse algum membro, Branquinho, foram homenageados na ONU por seus atos
ou lhe causasse algum mal no dito tormento, a culpa seria sua e não humanitários em janeiro de 2000.
dele, Senhor Inquisidor, nem dos mais ministros do Santo Ofício. E
por dizer que tinha dito a verdade, o ministro, fazendo seu ofício, lhe
pôs as mãos para trás e atadas, lhe foi dando voltas com a correia O último marechal brasileiro
nos braços, e a ré foi sempre gritando, dizendo que tinha dito a Marechal já foi o último posto do Exército Brasileiro. Era
verdade. E logo lhe foi posto o cordel por cima da correia, dando concedido ao General-de-Exército que tivesse participado de com-
voltas e ela sempre gritando que tinha dito a verdade e que Deus lhe bate. O posto foi extinto em 1967. Do grupo de marechais brasileiros
valesse e a Virgem Nossa Senhora. E sendo perfeitamente atada, foi vive o último deles, o carioca Waldemar Levy Cardoso, que
outra vez admoestada pelo Senhor Inquisidor [para que] acabasse de completou 100 anos. Cardoso, irmão de outro marechal. É filho do
confessar a verdade, e por dizer que a tinha dito, lhe foi posto o português António de Almeida Cardoso e da judia magrebina
calebre [= corda grossa] e começado a levantar até o lugar do libelo, Estella Levy. Ele nasceu no Rio de Janeiro (04-12-1900). Sua
onde foi outra vez admoestada para que acabasse de confessar suas carreira militar foi brilhante. Ocupou todos os postos militares, lutou
culpas, e ela dizia que não tinha culpas que confessar. Foi levantada na II Guerra Mundial e um de seus destaques profissionais foi ter
até a roldana, onde foi novamente admoestada pelo Senhor sido Presidente da Petrobrás. A Folha de S. Paulo publicou um
Inquisidor, e por dizer que não tinha mais o que confessar, foi artigo com fotografia registrando a efeméride. [“Último marechal do
deixada cair [...]. Por estar satisfeito ao assento, o Senhor Inquisidor Brasil chega aos 100”, Isabel Clemente, 14-01-2001]
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Bandeirantes e Cristãos-Novos em Curitiba.
Tempo e comemoração em família. Um casamento de herdeiros de Bandeirantes e Cristãos-Novos
em Curitiba. Uma interpretação genealógica e sociológica de alguns dos primeiros curitibanos.
Ricardo Costa de Oliveira.
T he lawyer and playwriter Antonio Jose da Silva, tied and burnt in 1739 is the most well known victim of
the Inquisition in Brazil. It is known that he had children but until now there is no genealogy of his
descendants. In Paraná there lives a family called Miranda Coutinho who belongs to the local elite and is
descendant of from the same branch as Antonio Jose da Silva. In this article Ricardo Costa de Oliveira,
member, of this family writes about their origins from the XVIII century to modern date.
Miguel Cardoso
Chefe da Comunidade Criptojudia Francisca Coutinha
do Rio de Janeiro, séc. XVII
Diásporas Contemporâneas
Um judeu italiano no Brasil Afeganistão
O professor Armando Foá, judeu italiano, quando das “Leis Em 1948 cinco mil judeus viviam no Afeganistão Hoje o país é
Raciais” fascistas refugiou-se no Brasil. Aqui integrou-se ao corpo dominado por milícias de estudantes islâmicos radicais (taleban).
docente da Universidade Católica de Campinas (depois renomeada Neste Afeganistão intololerante vive o último judeu local. É Ytzhak
PUCCAMP) como professor de cálculo vetorial. Por sua alta qua- Levy, 59, o guardião da antiga sinagoga e do cemitério em Herat,
lificação intelectual era considerado uma estrela desta universidade, capital do país. Todos os outros foram embora, inclusive sua mulher
sendo muitas vezes convidado a proferir conferências, numa delas sofreu e cinco filhos. Ele porém recusa-se a partir. “Não abandono a
uma crise dos nervos, saindo do salão nobre para uma clínica em Santos, sinagoga e nosso cemitério. Se eu for, quem cuidará dos mortos e de
onde morreu em 18 de novembro de 1957. A razão ? Depressão e pavor nosso prédio?”. Levy, descende dum grupo de judeus vindos da
ao ver que a Krupp, que sustentara o Nazismo, estava construindo uma Pérsia há duzentos anos, que escaparam das conversões forçadas em
filial próxima a Jundiaí. Esta dolorida história foi recuperada e contada Meshed. A história do país registra que três tribos islâmicas locais,
de forma sensível pelo jornalista e escritor Eustáquio Gomes, publicada Afridi, Yussafzai e Durrani (de onde saiu a dinastia real), são
como “Foá e a mecânica celeste” na Revista do Correio Popular (Cam- descendentes do rei Saul. No Cemitério Israelita do Butantã, em S.
pinas, 30-04-2000, p. 50). Paulo, encontra-se sepultado, Moisés Behor Issaharof (Herat, 1905-
S. Paulo, 1964), judeu de origem afegã.
Ostrowiec, Polônia
O genealogista americano Harry Stein publicou na revista Silva e a genealogia dos Abravanéis
“The Kielce Radom Special Interest Group Journal” (vol. 4, nº 2, Aparece na trama do livro “Agosto” de Rubem Fonseca o
Spring 2000, pp. 3-8) o artigo “Ostrowiec: The Witches Survived, repórter Arlindo Silva. É o mesmo que está no “Chatô” de Fernando
The Jews Are Dead”. Nele, Stein, descreveu sua viagem em maio de Morais. Dentre suas façanhas jornalísticas ele foi o primeiro a entrar
1999 a Ostrowic Swietokrzyski, conhecida por “Ostrovya”, 180 kms no quarto de Vargas morto. Mas ele não é um personagem de ficção,
ao sul de Varsóvia. Ostrowiec, de 50 mil habitantes, é uma cidade pois em um de nossos encontros dominicais da SGJ/Br., ele apareceu e
industrial. Ela foi uma cidade de maioria judaica: 80% de judeus em não foi notícia. Ele nos deu a notícia: Estava terminando uma bio-
1857, 63% em 1899, 60% em 1910, 51% em 1921 e 38% em 1938. O grafia do empresário e apresentador de TV Silvio Santos, mas
brasão municipal possui uma estrela de David. Stein, cujo nome precisava de uma genealogia dos Abravanéis, que lhe fornecemos.
original é Brochsztajn, visitou a casa de seus avós, o cemitério e Todos nós ficamos satisfeitos com a carreira que, “A Fantástica
encontrou registros de sua família, para compor a sua genea História de Silvio Santos” vem fazendo, desde o seu lançamento, é o
logia. Dois websites estão relacionados com este artigo: primeiro lugar em vendas. Só nos resta cumprimentá-lo. Parabéns,
www.jewishgen.org/krsig e www.ostrowiec.to.pl/~um/e_index.htm Silva !
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história judaica foi em dois momentos; primeiro como autor de
“Livro da Visitação do Santo Ofício da Inquisição do Grão-Pará” e
atualmente como orientador de Ariel Elias numa dissertação de
mestrado sobre a presença dos judeus em Campinas no final do
século XIX.
• Faleceu em Lima (21-06-2000), o camponês peruano Ezequiel
Ataucusi Gamonal, aos 83 anos, líder messiânico da seita Israe-
litas del Nuevo Pacto Universal, candidato à presidência da repú-
Falecimentos blica do seu país. O seu grupo religioso de cerca de oitocentos mil
• Faleceu em Berlim (13-01-2000), o cantor alemão Estrongo seguidores, espalhados pelas regiões amazônicas de Peru, Bolívia,
Nachama, nascido em Salônica (04-05-1918), filho de um ce- Brasil, Colômbia e Venezuela, o considerava como o terceiro pro-
realista grego. Ele foi deportado para Auschwitz, onde seus pais e feta histórico (Noé foi o primeiro e Abrãao, o segundo). Desde o
irmãs foram assassinados (gassed). Foi poupado graças ao seu momento que aderem a seita eles não cortam o cabelo, nem a bar-
talento como barítono. Após o Holocausto manteve-se em Berlim, ba, usam túnicas, guardam o Sábado e nas luas novas sacrificam
como cantor sacro e também profano. Há disco gravado por ele ovelhas, cabritos e pombas. Apesar do nome eles não possuem
que registra a sua voz; “Chasanut Gesänge Aus der Synagoge” nenhuma ligação com os judeus ou com Israel.
(Repertório do Hazan e cantos da sinagoga). Ele também aparece • Faleceu em Los Angeles (01-07-2.000), o ator norte-americano
rapidamente no filme “Cabaret”. O seu filho Andreas Nachama é o Walter Matthau, nascido em New York (01-10-1920), com o nome
lider da comunidade judaica alemã. de Walter Matuchanskayasky, filho de Melas Matuchanskayasky
• Faleceu em Roma (13-04-2000), o escritor italiano Giorgio Bassani, (segundo sua biografia oficial, um sacerdote ortodoxo russo) e Rose
nascido em Bolonha (04-03-1916). Ele foi também poeta, ensaísta Berolsky, uma costureira judia. O ator participou em mais de 45
e editor na Casa Feltrinelli. É dele a descoberta do romance “O filmes, destacando-se “Uma Loura por um Milhão” (1966), quando
Leopardo” do Príncipe Giuseppe Maria Fabrizio Salvatore Stefa- ganhou um Oscar como coadjuvante. Ele começou a vida profis-
no Vittorio Tomasi di Lampedusa. Porém é mais conhecido como sional vendendo sorvetes e refrigerantes em teatros ídiches, tornou-se
o autor do romance semi-auto-biográfico “Il giardino dei Finzi depois o “ponto” nestes teatros até deslanchar sua carreira como ator.
Contini”, que descreveu a burguesia judia de Ferrara antes das leis Na II Guerra Mundial foi criptógrafo de rádio numa unidade de
raciais e da II Guerra Mundial, publicado em 1962, traduzido para bombardeio na Europa.a.
vários idiomas, inclusive ao hebraico. • Faleceu em Washington (13-07-2000), o diplomata e escritor
• Faleceu em S. Paulo (04-05-2000), o engenheiro e professor norte- polonês Jan Karski, nom de guerre de Jan Kozieleweski, nascido
americano, Hanns John Maier, de 76 anos. Nascido na Alemanha, em Lodz (1914). Tenente do Exército Polonês, católico fervoroso
migrou com a família nos anos trinta para os EUA, onde adquiriu a e anti-comunista, sobreviveu ao massacre dos oficiais poloneses
nacionalidade. No Brasil, foi professor do Instituto Tecnológico da em Katyn ordenado por Stalin. Em 1943 foi a primeira pessoa a
Aeronáutica em S. José dos Campos, entre 1954 a 1957; vice-pre- informar Anthony Eden e Franklin Roosevelt da existência dos
sidente da Case Corporation e administrou uma pousada em Uba- campos de extermínio. Felix Frankfurter, juiz da Suprema Corte
tuba. Sua notoriedade veio da grande quantidade de cartas que pu- americana, que era judeu, reagiu cético a esta notícia: “A man like
blicou nas seções de jornais e revistas nacionais e estrangeiros, me, talking to a man like you, must be totally frank. So I say, I am
opinando sobre os mais diversos assuntos. unable to believe what you told me”. Em 1994 ele foi reconhecido
• Faleceu no Rio de Janeiro (05-06-2000), o jornalista, escritor e como cidadão honorário de Israel e indicado quatro anos depois
publicitário Hélio Kaltman, de 61 anos. Ele começou a carreira no para um Prêmio Nobel da Paz.
jornal “Última Hora”, passou por outros jornais, esteve na publi- • Faleceu em Copenhague (28-07-2000), o físico holandês Abraham
cidade e escreveu vários livros. Porém a sua fama deve-se ao perso- Pais, nascido em Amsterdam (1918). Era considerado um dos
nagem “Dr. Palhares, do Gabinete”, um suposto assessor de minis- principais historiadores da ciência. Escreveu vários livros, des-
tro, que ele criou para agilizar uma devolução de descontos indevidos tacando-se dentre todos a sua biografia de Albert Einstein, “Subtle
em folha, que não conseguia vencer a burocracia. Bem sucedido no Is The Lord – The Science and Life of Albert Eisntein”. Ele
desencalhe do processo ele escreveu um livro sobre a burla. também elaborou conceitos fundamentais da teoria moderna das
• Faleceu em Lisboa (09-06-2000), o engenheiro agrônomo português partículas elementares. Sua genealogia foi descrita na autobio-
António Poppe Lopes Cardoso, nascido em Praia, Santiago, Cabo grafia “A Tale of Two Continents”. “Eu, Abraão (os amigos
Verde (27-03-1933), filho de Álvaro Eurico Lopes Cardoso, Presi- chama-me Bram), sou filho de Isaías, filho de Abraão, que era
dente do Supremo Tribunal de Justiça, e de Maria Júlia Cohen Poppe, cortador de diamantes, filho de Isaías, também cortador de
descendente de judeus e cristãos-novos trasmontanos. Seguindo a diamantes, filho de Abrãao Pays – que casou por duas vezes e
tradição familiar, desde cedo dedicou-se a atividade política, esteve teve onze filhos, do seu primeiro e segundo casamentos – filho de
exilado na França, Brasil e Marrocos (onde foi assessor do Ministro Natham Paes, filho de Benjamin Paes, filho de Natham Paes.
da Agricultura). Após o 25 de Abril de 1974 entrou para o Partido Todos estes meus antepassados, tal como eu próprio, nasceram
Socialista, ocupou a pasta de Ministro da Agricultura no VI Governo em Amsterdam. A razão pela qual posso saber da existência de
Provisório e foi deputado por várias vezes. Quando o seu ministério tantos antepassados paternos é que todos estes Pais pertenciam à
iniciou um processo de reforma agrária ouviram-se insinuações anti- congregação Talmud Torá de Amsterdam e estão registrados nos
semitas contra ele e os “cristãos-novos” das Beiras e de Trás-os-Mon- livros que foram preservados. Não consigo ir para trás na desco-
tes. Segundo o Presidente Jorge Sampaio, o amigo era “um homem berta dos meus predecessores, mas estou certo de que eles che-
lúcido e coerente, um homem que não vergava”. V. “Uma Teia garam a Amsterdam provindos da Península Ibérica após 1590,
Familiar: Cristãos-novos Portugueses Nobilitados no Século Pas- altura em que os primeiros judeus sefarditas chegaram às terras
sado” (Gerações/Brasil, maio 1999, vol. 5, nº 1/2, p. 6 em diante). baixas (hoje Bélgica e Países Baixos), por via da cidade frísia de
• Faleceu em Campinas (19-06-2000), o historiador e professor Emden, quase certamente que provindos de Portugal”
brasileiro José Roberto do Amaral Lapa, natural da mesma cidade • Faleceu em Joanesburgo (19-08-2.000) o empresário sul-africano
(04-08-1929), descendente de tradicionais troncos paulistas e Harry Frederick Oppenheimer, nascido em Kimberly (28-10-
fundador do Centro de Memória da UNICAMP. Sua relação com a 1908), filho de “Sir” Ernest Oppenheimer (1880-1957), um judeu
21 • GERAÇÕES / BRASIL, Junho 2001, vol. 10 • 21
alemão de Friedberg, que de um princípio modesto, formou a An- • Faleceu em Paris (03-02-2001), o jornalista e empresário francês
glo American Corporation of South Africa, Ltd., para a exploração Gilbert Trigano, aos 80 anos. Ele exerceu várias atividades dife-
mineira, controlando através dela o comércio mundial de dia- rentes na sua vida. Foi ator, jornalista do “L´Humanité”, membro
mantes. O Sr. Oppenheimer teve uma educação sofisticada, es- da Resistência. Porém a sua notoriedade, veio por ter criado, junto
tudou em Oxford e depois sucedeu como chairman no grande com o belga Gérard Blitz, o Club Mediterranne, o Med, em 1950.
conglomerado, cargo que ocupou por 25 anos, ao seu pai. Ele foi Que foi dirigida por ele durante mais de trinta anos. Sendo sucedi-
um empregador sensível, construindo casas para os negros que do por seu filho Serge Trigano.
empregava, encorajando a criação de sindicatos e fomentando a • Faleceu em Campinas (25-02-2001), Iandira Valadares, aos 73
educação para eles. Acredita-se que ele teve uma participação anos, mãe de Sara e Paulo Valadares (nosso colaborador).
silenciosa, mas importante, na dissolução do regime de apartheid. • Faleceu em Los Angeles (09-03-2001) o comerciante americano
• Faleceu no Rio de Janeiro (20-08-2.000), a socialite brasileira Leopold Page (Poldek Pfefferberg), nascido em Krakow (20-03-
Beki Klabin, nascida em Istambul (10-09-1921), filha de José 1913). Ele foi o número 173 da “Lista de Schindler”, e também
Alfasso, dono de um moinho. No Brasil ela casou-se com o multi- quem convenceu ao diretor Spilberg a fazer um filme com o epi-
milionário Horácio Klabin, da importante família de industriais e sódio que viveu.
benfeitores do mesmo nome, com quem teve dois filhos: Paulo e • Faleceu em Ma`aleh Yisrael (08-05-2001), o agricultor Arnaldo
Cláudio, que lhe deram sete netos. Ela tornou-se conhecida nacio- (Arieh) Leão Agranionik, nascido em Erexim, RS (1953), des-
nalmente, aparecendo em programas de auditórios, transmitidos cendente de uma família gaúcha, notável pelo cultivo do soja e da
pela TV, como jurada, simulando inclusive um namoro com o criação de cavalos. Ele foi o primeiro brasileiro a ser assassinado por
cantor popular Waldick Soriano. Beki Klabin foi a precursora das grupos terroristas árabes em Israel. Arieh Agranionik deixou três
“emergentes”, mulheres de fortuna recém-adquirida que atraem filhos: Oren, Dudu e Orian.
com sua ostentação a curiosidade popular, tornando-se uma cari-
catura estereotipada da milionária. Visita ao Cemitério da Consolação
ocê acharia interessante participar de uma reunião que estivessem
• Faleceu no Rio de Janeiro (27 -09-2000), o editor brasileiro Abrahão
Koogan, de 88 anos, nascido na Ucrânia. Foi o primeiro editor de
V presentes, dois Presidentes da República (Campos Sales, Was-
hington Luís), Governadores e Presidentes de S. Paulo (Carvalho Pin-
Freud no Brasil. Celebrizou-se pelos dicionários e enciclopedias
to, Abreu Sodré, Bernardino de Campos e outros), além de milioná-
editados por ele. Foi um “editor que nos trouxe uma visão cos-
rios, mecenas, escritores? Dia 3 de junho, último, alguns membros da
mopolita dos fatos culturais, editando e contatando autores inter-
SGJ/Br participaram de uma visita ao Cemitério da Consolação, guia-
nacionais, abrindo um generoso leque de dicionários e enciclopédias
dos pelo Dr. Délio Freire dos Santos, a maior autoridade no assunto,
que hoje compõem as estantes de professores e alunos, pesquisa-
participando de uma reunião semelhante. Num cemitério, além da
dores e eruditos” (Carlos Heitor Cony, “Abrahão Koogan” (FSP, 04-
observação etnocultural – devoção a santos populares, cultos primiti-
10-2000)
vos, é possível encontrar informações históricas (personalidades, fa-
• Faleceu em S. Paulo (?-11-2000), Felícia (Felá) Mester, aos anos, mílias, dados vitais, etc) e principalmente a arte cemiterial. O Dr.
diretora e redatora do Caderno Cultural, publicação da Na´amat Délio, nos introduziu a compreensão da simbologia utilizada nestes
(Pioneiras). “Ativista abnegada, de alma judia e coração sionista, túmulos: a papoula, símbolo do sono eterno; a ampulheta e as asas do
impregnada de amor à Israel e fidelidade à Na´amat. Na Organi- morcego, a passagem do tempo e a sabedoria; a coluna quebrada, a
zação, o expoente máximo de companheirismo e amor; sabedoria, vida interrompida bruscamente; o pelicano, o amor materno. Além de
criatividade, conhecimentos amplos e intelectualidade” lendas milenares, como a de Orfeu e Eurídice descrita em mármore
• Faleceu em New York (04-12-2000), a enxadrista americana nos túmulos dos Trevisioli. A mulher, que forma uma interrogação,
Gisela Kahn Gresser, nascida em Detroit (08-02-1906). Foi a no túmulo do poeta Moacir Piza. O suntuoso conjunto estatuário,
primeira mulher a ser eleita para o Chess Hall of Fame (1992). ninfas dispostas em forma de navio, mais algumas figuras alegóricas
Entre 1944 a 1969 ela venceu o campeonato feminino americano da vida do homenageado, como a caridade amparando a pobreza, no
por nove vezes. túmulo de Name Jafet. Foi uma visita que nos agradou muitíssimo,
ensinou-nos bastante e despertou-nos o interesse para fazer uma
• Faleceu em New York (03-01-2001), o atleta e cronista esportivo visita destas aos cemitérios judaicos de S. Paulo.
americano Marty Glickman, nascido em New York (14-08-1917).
Ele e Sam Stoller, ambos judeus, pertenciam a equipe de reve- Espanha arabizada
zamento 4 x 100, que competiria na Olimpíada de Berlim (1936),
O Último Omeíada ? Assim como há um movimento de pessoas
mas foram excluidos por Avery Brundage, Presidente do Comitê
identificando-se como descendentes de cristãos-novos, há também os
Olímpico dos EUA, que temia desagradar o ditador nazista. Foram
que alegam descender dos moriscos, restos da população árabe que
substituidos pelos negros Owens e Metcalfe que venceram a
compuzeram os reinos islâmicos da região. Várias famílias espanholas,
competição. Mesmo com todo este ambiente anti-semita doze atletas
originárias da região andaluza, são reconhecidas como herdeiras destas
judeus ganharam medalhas olímpicas nestes jogos, inclusive a esgri-
tradições: Abela, Adelmón, África, Alcázar, Allobar, Ambasil,
mista Helene Mayer, filha de pai judeu, que defendeu a equipe
Aranda, Arenós, Belvis, Benajara, Benasar, Benegas, Benjumea,
alemã. Glickman abandonou o esporte, para narrar partidas de
Brea (Será a família da atriz brasileira Sandra Brea ?), Ceuta,
basquete, futebol americano e beisebol, tornando-se um dos mais
Cuéllar, Gali, Granada, Granada Venegas, Hazera, Jaén, Madrid,
populares cronistas esportivos do seu país.
Marín, Muley, Palacios de Moro, Xama e Zegrí. A mais importante
• Faleceu em Long Island (?-01-2001), a juiza americana Beatrice delas é a dos Granada Venegas, possuidores do título “Marqués de
Sobel Burstein, nascida em New York ( 05-1915), filha de Joseph e Campotéjar”, descendente da dinastia que reinou em Granada entre
Tillie Sobel, imigrantes poloneses. Esposa do advogado Herbert 1232 a 1492. Outra família destacada, é a Bejumea (Ibn Ummayya), a
Burstein e mãe de outra juiza, Karen Burstein, ela pertencia a mesma de Julio Salvador y Díez-Benjumea (1910), Ministro da
chamada “primeira família legal de Nassau County”. A juiza Aeronáutica no Governo Franco (1973-4), de quem foi dito: “siendo la
Burstein era Democrata e defendeu fundamentalmente os Direitos da ultima vez por ahora que una persona del linaje de los Omeyas haya
crianças e dos prisioneiros. participado en la gobernación de España”.
Relendo a coleção de HaLapid — a revista publicada pela Nascido no Porto, ele passou a infância na freguesia de Fornos,
comunidade reunida em torno da Sinagoga Kadoorie Mekor Haim, concelho de Freixo de Espada à Cinta, terra de seus avós, o que lhe
Porto, entre as décadas de vinte e cinqüenta passadas, encontramos a marcaria a personalidade. Tanto que anotou no seu curriculum vitae:
seguinte notícia sobre um de seus membros: “Um jovem cripto-judeu “embora “tripeiro” por nascimento é transmontano pelo sangue e pelo
trasmontano de 18 anos de idade, natural do concelho de Freixo de fogo vivo do seu amor perene ao Nordeste de Trás-os-Montes”.
Espada à Cinta, Amílcar Nascimento Calvo Paulo, foi recebido na Amílcar Paulo teve várias atividades na sua vida. Freqüentou
Aliança de Abraham a fim de ser pùblicamente um servidor do Deus dois cursos superiores, mas não concluiu nenhum. Foi redator do
Altíssimo e Único. O novo israelita recebeu o nome de Levi Ben-Har. “Diário da Noite”, trabalhou com teatro e principalmente a partir de
Mazal tob a este jovem resgatado1.” Este é o registro formal da en- 1956 um etnógrafo interessado nas tradições criptojudaicas de sua
trada naquela comunidade de mais um criptojudeu atingido pela região. Algumas de suas pesquisas foram utilizadas para o volume IV
“Obra do Resgate” liderada pelo Capitão Artur Carlos de Barros de “Etnografia Portuguesa”, de J. Leite de Vasconcelos. Suas pu-
Basto, o “Guia dos Maranos” (é assim mesmo). Este “baalei teshuvá” blicações encontram-se esparsas por várias revistas portuguesas. O
(retornado ao Judaísmo) ganharia importância posteriormente com seu artigo mais conhecido, foi escrito em parceria com a Profª Anita
suas originais pesquisas etnográficas. Novinsky: “The Last Marranos”, in Commentary, New York, vol.
Amílcar Nascimento Calvo Paulo nasceu em Monte dos Judeus, 43, nº 5, May 1967, pp. 76-81. O Prof º Reuven Faingold lembra-se
freguesia de Miragaia, Porto, em 27 de janeiro de 1929. Era filho do dele como “baixinho e fumando muito”. O Dr. Inácio Steinhardt
guarda-fiscal Francisco Augusto Paulo e Maria do Nascimento cedeu-me a fotografia que ilustra o seu perfil. Ele faleceu em Mira-
Calvo, neto paterno de Manoel Inácio Paulo e Josefina Augusta gaia, Porto, em 15 de março de 1983.
Pereira, neto paterno de Joaquim Maria Calvo e Angélica Camila
Caló. Amílcar Paulo casou-se com Maria de Lourdes da Fonseca Nota
Cordeiro, natural de Reigada, Castelo Branco. Não tiveram filhos. Ha-Lapid, nº 132, luas de março e abril 1946/5706), p. 4.
www.ceveh.com/ahib
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