Conceito de Mínimo Na Arquitetura: Proposta para A Quinta Do Canavial (Covilhã)

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UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR

Engenharia

Conceito de Mínimo na Arquitetura: proposta para


a Quinta do Canavial (Covilhã)

Ana Catarina Novais Gavina

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em


Arquitetura
(ciclo de estudos integrado)

Orientador: Prof. Doutor Ana Maria Tavares Ferreira Martins


Co-orientador: Prof. Doutor Miguel Costa santos Nepomoceno

Covilhã, Abril de 2016


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Dedicatória

Aos meus pais e irmã.

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Agradecimentos

A todos aqueles que me acompanharam neste percurso, família, amigos, orientadores mas
em especial aos meus pais e irmã que sem eles era impossível chegar até ao fim.

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Resumo
A presente dissertação irá abordar como tema fulcral a Habitação tendo de conceito

principal o mínimo nas suas múltiplas vertentes. Desta forma, intrínsecos a esta temática, estão

conceitos como o Minimalismo, a Flexibilidade e Funcionalidade.

Apesar do Minimalismo ter tido as suas origens nas Artes Plásticas, em meados do séc. XX, já

anteriores movimentos arquitétónicos tinham revelado resultados concordantes com os do

Minimalismo (enquanto corrente estilística), como poderemos analisar através de exemplos

escolhidos a nível do património histórico e do património contemporâneo da cela mínima e da

habitação mínima, na Parte I. Respetivamente, o primeiro refere-se às celas monásticas e o segundo

é relativo ao habitar mínimo tipicamente japonês, analisando pormenorizadamente os seus

componentes e formas de habitar. Conclui-se a Parte I com um estudo da flexibilidade e

multifuncionalidade de uma habitação, anunciando a filosofia “a forma segue a função”.

Seguidamente, a Parte II, é exclusivamente dedicada à proposta do protótipo da habitação

minimalista. Analisa-se primeiramente o terreno em questão, avaliando as suas considerações

juntamente com as condicionantes da família do cliente. Reúne-se a história familiar e a memória

de uma infância passada no local, como um estudo dos hábitos e atividades exercidas no quotidiano,

percebendo-se o papel da habitação e prevendo a vivência dos espaços sociais e privados da

habitação nesta família.

Deste modo, pretende-se levar à mínima expressão a questão da habitação com uma

proposta que resultará na concetualização de um protótipo de uma habitação segundo a corrente

estilística Minimalismo, que surge como conclusão e consequência da Parte I.

Palavras-chave
Habitação | Minimalismo | Mínimo | Simplicidade | Covilhã | Memória

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Abstrat
This present thesis has as a crucial theme Housing related to the concept of minimal in its

multiple aspects. Thus, fundamental to this subject, there are notions like Minimalism, Flexibility

and Functionality.

Despite the Minimalism had had its origins in the Plastic Arts in the mid of the twentieth

century, earlier architectural movements had revealed similar results to those of Minimalism (as

stylistic trend) as one can analyze through the selected examples of historical and contemporary

heritage of the minimum cell and the minimum housing described in Part I of this present thesis.

Correspondingly, the first example refers to the monastic cells and the second one is for the

typically minimum Japanese lodge, further analyzed in its all components and ways of living. Part I

is concluded with a study of flexibility and multi-functionality of a lodging, announcing the

philosophy "the form follows function".

Following, Part II, is exclusively dedicated to the minimal housing prototype proposal. The

property in question it is firstly analyzed, the client and family requirements were taken into

consideration. The work meets the family history and the memory of their childhood spent on the

site, as well as the study of the habits and activities performed in daily life, realizing the role of

housing and providing the experience of social and private spaces of the house to this family.

As a result, we intend to bring the minimum to the housing with a proposal that will result

in the conceptualization of a prototype of a housing according to minimalism as a stylistic trend

which ascends as a result and conclusion of Part I.

Keywords

Housing | Minimalism | Minimum | Simplicity | Covilhã | Memory

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Índice

Parte I

1. Introdução................................................................................................1
1.1. Objetivos................................................................................................2
1.2. Estado de arte..........................................................................................3
1.3. Metodologia.............................................................................................5
2. O mínimo na arquitetura .............................................................................9
2.1. Aproximações históricas ao conceito de mínimo na arquitetura: o caso das celas
monásticas das Cartuxas como habitação mínima...............................................10
2.2. Da arquitetura tradicional Japonesa ao mínimo contemporâneo.............................14
2.3. Minimalismo como corrente estilística............................................................21
2.3.1. Minimalismo..............................................................................21
2.3.2. Simplicidade..............................................................................33
3. Habitar versos Habitação.............................................................................37
3.1. Segundo a tradição japonesa........................................................................39
3.2. Flexibilidade e multifuncionalidade...............................................................49

Parte II

4. Quinta do Canavial....................................................................................53
4.1. Contextualização e localização.....................................................................53
4.2. Enquadramento legislativo..........................................................................57
4.3. Condicionantes........................................................................................58
4.4. Programa...............................................................................................62
4.5. Considerações e premissas da solução a aplicar.................................................65
5. Proposta arquitetónica................................................................................68
5.1. Memória descritiva...................................................................................68
6. Conclusão...............................................................................................85

Referencias bibliograficas.........................................................................................87

Anexos ..............................................................................................................89
Anexo I – Levantamento
Anexo II – Proposta arquitetónica
Anexo III – Modelação 3D
Anexo IV – Fichas técnicas

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Lista de figuras

Figura 1...................................................................................................12
a-Vista aerea da Cartuxa do Vale d’Ema (fonte
http://aprendizesdepedreiro.blogspot.pt/2014/01/cartuxa-de-galluzzo-florenca-e-
cartuxa.html acedido online em 15 de Agosto de 2015)
b- Perspetiva da entrada da igreja (fonte
http://www.wikiwand.com/it/Certosa_di_Firenze acedido online em 12 de Abril de 2016)
c- Vista do Claustro (fonte http://aprendizesdepedreiro.blogspot.pt/2014/01/cartuxa-de-
galluzzo-florenca-e-cartuxa.html acedido online em 15 de Agosto de 2015)
Figura 2. Planta da Cartuxa do Vale d’Ema (fonte http://www.sismus.org/blog/wp-
content/uploads/2011/01/MUSEOGRAFIA_5.jpg acedido online em 12 de Abril de
2016)......................................................................................................12
Figura 3...................................................................................................13

a- Perspetiva do cemitério para as arcadas no claustro (fonte CH. E. Jeanneret; Les


Voyages d’Allemagne Carnets; Electa Fondação Le Corbusier; Paris; 1994)

b- Perspetiva do lado exterior da Cartuxa (fonte CH. E. Jeanneret; Les Voyages


d’Allemagne Carnets; Electa Fondação Le Corbusier; Paris; 1994)

Figura 4...................................................................................................13

a-Perspetiva do cemiterio para o centro do claustro (fonte CH. E. Jeanneret; Les Voyages
d’Allemagne Carnets; Electa Fondação Le Corbusier; Paris; 1994)

b- esquisso da planta do claustro (fonte CH. E. Jeanneret; Les Voyages d’Allemagne


Carnets; Electa Fondação Le Corbusier; Paris; 1994)

c- Perspetiva da varanda e do jardim da cela com medidas (fonte CH. E. Jeanneret; Les
Voyages d’Allemagne Carnets; Electa Fondação Le Corbusier; Paris; 1994)

d- Perspetiva da varanda com o jardim da cela (fonte CH. E. Jeanneret; Les Voyages
d’Allemagne Carnets; Electa Fondação Le Corbusier; Paris; 1994)

e- perspetiva da varanda e do jardim da cela (fonte CH. E. Jeanneret; Les Voyages


d’Allemagne Carnets; Electa Fondação Le Corbusier; Paris; 1994)

Figura 5...................................................................................................14

xiii
xiv
a- Casa tradicional japonesa (fonte
http://projetoicjapao.blogspot.pt/2011/06/arquitetura-tradicional-japonesa-possui.html
acedido online 20 de Setembro de 2015)

b- Varanda da casa tradicional japonesa (fonte


https://gaztelujerezblog.files.wordpress.com/2010/08/2986932826_3d3b91b63e.jpg
acedido online 20 de Setembro de 2015)

c- Sala com biombos e painéis shoji de separação (fonte http://locurajapon.com/wp-


content/Fusuma-las-puertas-correderas-que-separan-las-habitaciones-en-una-casa-en-
Jap%C3%B3n.jpg acedido online 21 de Setembro de 2015)

d- Relação com o exterior (fonte http://pt.dreamstime.com/photos-images/tatami-e-


shoji-o-quarto-japon%C3%AAs-velho.html#details5977482 acedido online 21 de Setembro
de 2015)

Figura 6...................................................................................................15
a.Vista aérea da cidade de Toquio, Japão (fonte
http://modernmarketingjapan.blogspot.pt/2012_02_01_archive.html acedido online 25 de
Setembro de 2015)
b- Vista aérea da cidade de Hakodate, Japão (fonte
http://alikgriffin.smugmug.com/keyword/Hakodate/ acedido 26 de setembro de 2015)

Figura 7. Estratégias relativas às restrições de espaço e ganhos a nível de luz: núcleo


central (a), pátio (b), duplo pé direito (c), pilares (d) (fonte MACHADO, Luis Filipe Alves
dos Santos Batista; Casas para viver e Habitar em Toquio – Universidade Tecnica de Lisboa;
2010)......................................................................................................16

Figura 8...................................................................................................17

a-Máquinas de venda automática pelas ruas de Tóquio (fonte


http://gobackpacking.com/vending-machines-tokyo-japan-photo/ acedido 6 de Outrubro
de 2015)

b-Máquinas de venda automática pelas ruas de Tóquio (fonte http://muza-


chan.net/japan/index.php/blog/japanese-vending-machines acedido 6 de Outrubro de
2015)

xv
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c-Sistema de parques de estacionamento automóvel em Tóquio (fonte
http://www.ivarhagendoorn.com/photos/series/tokyo-56 acedido 6 de outubro de 2015)

d-esquema de parque de estacionamento automóvel em Toquio (fonte


http://www.treehugger.com/sustainable-product-design/in-tokyo-parking-cars-makes-
more-money-than-parking-people.html acedido online 6 de outubro de 2015)

Figura 9...................................................................................................18

a- Casa 4x4 vista exterior (fonte https://s-media-cache-


ak0.pinimg.com/736x/3c/cd/d4/3ccdd4c0c6e2f66ff3768ddc56c29cee.jpg acedido online 7
de outubro de 2015)

b- Vista de duas casas 4x4 (fonte https://s-media-cache-


ak0.pinimg.com/236x/ce/23/0d/ce230df28a8e71d147409ca8bd1a9b98.jpg acedido online 7
de outubro de 2015)

c-prespetiva da zona de refeições (fonte


https://arquiteteblog.files.wordpress.com/2013/07/tadao-ando-41.jpg acedido online 13
de Abril de 2016)

d perspetiva cozinha (fonte https://s-media-cache-


ak0.pinimg.com/236x/fb/10/df/fb10df95f8daf0a8d2a894ee12130c60.jpg acedido online 13
de Abril de 2016)

perspetiva do duplo pé direito do piso superior (fonte


http://4.bp.blogspot.com/_HCFuHK4mCtQ/TFG0SV2TB1I/AAAAAAAAEWU/vuLIM8Y7Oi4/s1
600/casa+4x4+tadao+ando+2.jpg acedido online 13 de Abril de 2015)

esquema com plantas alçados e corte da casa 4x4 (fonte https://s-media-cache-


ak0.pinimg.com/736x/f9/4b/93/f94b93d3e5ca5dcb899ae45716d281df.jpg acedido online
14 de abril de 2016)

Figura 10.................................................................................................19

a-Vista do exterior da habitação (fonte


http://phaidonatlas.com/sites/default/files/styles/c_standard_thumb_sq/public/buildin
gs/8446/p4874-4716.jpg?itok=vHwxXEkZ acedido online 20 de Novembro de 2015)

xvii
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b- Vista do exterior da habitação (fonte
http://media.tumblr.com/tumblr_ldlrdpmE3C1qaiq3o.jpg acedido 20 de Novembro de
2015)

c- Vista do exterior da habitação (fonte http://www.phaidon.com/resource/whwa-018.jpg


acedido 20 de Novembro de 2015)

d- Perspetivas do interior da habitação (fonte https://s-media-cache-


ak0.pinimg.com/736x/db/29/84/db2984b5b3da2eeae61d6bd31c31c629.jpg acedido 20 de
Novembro de 2015)

e- Perspetivas do interior da habitação (fonte http://ideasgn.com/wp-


content/uploads/2013/06/Ring-House-Japan-by-TNA-Architects-018.jpg acedido 20 de
Novembro de 2015)

f- Perspetivas do interior da habitação (fonte https://s-media-cache-


ak0.pinimg.com/736x/f6/69/7a/f6697a4fab69265ec5725ab4cca7a346.jpg acedido 20 de
Novembro de 2015)

g-Corte (fonte http://www.detail-


online.com/inspiration/sites/inspiration_detail_de/uploads/imagesResized/projects/780_
327-6931-downloadansichten-Wochenendhaus-Karuizawa-Schnitt.jpg acedido 20 de
Novembro de 2015)

h- esquema da habitação (fonte http://ideasgn.com/architecture/ring-house-tna-


architects/ 20 de Novembro de 2015)

Figura 11.................................................................................................20

a-Pista de escola de condução no topo de um edifício- fotografia (fonte TSUKAMOTO,


Yoshiharu, KAIJIMA, Momoyo; Pet Architecture Guide Book ; Torino Geodesign; Tokyo;
2009)

b- Pista de escola de condução no topo de um edifício -esquema (fonte TSUKAMOTO,


Yoshiharu, KAIJIMA, Momoyo; Pet Architecture Guide Book ; Torino Geodesign; Tokyo;
2009)

Figura 12.................................................................................................20

a-Cemitério em cima de um viaduto- fotografia (fonte TSUKAMOTO, Yoshiharu, KAIJIMA,


Momoyo; Pet Architecture Guide Book ; Torino Geodesign; Tokyo; 2009)

xix
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b-Cemitério em cima de um viaduto- fotografia (fonte TSUKAMOTO, Yoshiharu, KAIJIMA,
Momoyo; Pet Architecture Guide Book ; Torino Geodesign; Tokyo; 2009)

Figura 13.................................................................................................23
a-Composição de Mondrian (fonte
http://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.088/208 acedido online em 27 de
Agosto de 2015)
b-Composição de Mondrian (fonte
http://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.088/208 acedido online em 27 de
Agosto de 2015)
Figura 14.................................................................................................24
a-Torres de la Ciudad Satélite – vista aerea (fonte
https://es.wikiarquitectura.com/images/thumb/9/98/11_Torres_de_Ciudad_Sat%C3%A9lit
e.jpg/200px-11_Torres_de_Ciudad_Sat%C3%A9lite.jpg acedido online 3 de Setembro de
2015)
b-Torres de la Ciudad Satélite – vista frontal (fonte
http://www.travelbymexico.com/blog/imgBase/2012/10/Las-Torres-es-lo-primero-que-
se-ve-al-llegar-a-Sate%CC%81lite.jpg acedido online 3 de Setembro de 2015)

Figura 15. a-Cubo galvanizado de Donald Judd (fonte


http://www.scielo.br/img/revistas/ars/v7n13/img1a9.jpg acedido online 2 de Dezembro
de 2015)..................................................................................................25

b-Interiores imaculados de John Pawson (fonte https://s-media-cache-


ak0.pinimg.com/736x/49/39/07/4939078d6d0f6e7481a9658552094994.jpg acedido online 2
de Dezembro de 2015)

c-Escultura em betão de Donald Judd (fonte


https://apaixonadaporarquitetura.files.wordpress.com/2015/04/donald-judd.jpg?w=504
acedido online 2 de Dezembro de 2015)

Figura 16.................................................................................................26

a-Signal box de Herzog e Meuron (fonte


http://farm9.staticflickr.com/8195/8080744889_29a71cc9c0_b.jpg acedido 5 de
Dezembro de 2015)

b- Igreja da luz de Tadao Ando (http://blogs.estadao.com.br/daniel-


piza/files/2010/11/tadao_ando.jpg acedido 5 de Dezembro de 2015)

xxi
xxii
c- Museu Brasileiro da escultura de Paulo Mendes da Rocha (fonte
http://www.vitruvius.com.br/media/images/magazines/grid_9/44ae_018-02-02.jpg
acedido 5 de Dezembro de 2015)

Figura17.................................................................................................29

a-Vista exterior do Seagram Building (fonte


http://s3.transloadit.com.s3.amazonaws.com/4b30ae61b7c84e42b6be045272ec3211/60/2
8afb18ff3241b63d3fbf1ac1b1ec2/HIST_-_Seagram_Dusk_full_lit.jpg acedido online 10 de
Dezembro de 2015)

b-Vista frontal do pátio do Seagram Building (fonte


http://www.thecityreview.com/seagram2.gif acedido online 10 de Dezembro de 2015)

c-Esquema geral de composição do Seagram Building (fonte https://s-media-cache-


ak0.pinimg.com/736x/4d/de/ff/4ddeff287b06359f1fb424024ec404b9.jpg aedido online 12
de Abril de 2016)

Figura 18.................................................................................................31
a-Vistas diferentes do exterior de Neuendorf House (fonte
http://www.johnpawson.com/resources/32/Neuendorf_House_02_medium.jpg acedido
online 15 de Dezembro de 2015)
b- Vistas diferentes do exterior de Neuendorf House (fonte http://4.bp.blogspot.com/--
lROWh3b-vI/US02x-vpdSI/AAAAAAAAACY/1YYZZjyOnM8/s1600/Neuendorf+3.jpg acedido
online 15 de Dezembro de 2015)

c- Vistas diferentes do exterior de Neuendorf House (fonte


https://c1.staticflickr.com/3/2914/14195360228_02000b9f4d_b.jpg acedido online 15 de
Dezembro de 2015)

Figura 19 ................................................................................................31

a-Vistas diferentes do interior da D Gallery Residence (fonte http://living.corriere.it/wp-


content/uploads/2015/01/16-kjnD-U50205682080ZHC-1140x589@Living_MGbig.jpg acedido
online 18 de Dezembro de 2015)

b-Vistas diferentes do interior da D Gallery Residence (fonte


http://www.floornature.com/media/photos/30/4831/wr639_2_popup.jpg acedido online
18 de Dezembro de 2015)

xxiii
xxiv
c- vista exterior da D Gallery Residence (fonte
http://www.floornature.es/media/photos/30/4831/wr639_1_popup.jpg acedido online 18
de Dezembro de 2015)

Figura 20.................................................................................................32

a-Vistas diferentes do exterior de Tily Barn (fonte http://ideasgn.com/wp-


content/uploads/2013/07/Tilty-Barn-Conversion-Essex-by-John-Pawson-004.jpg acedido
online 19 de Dezembro de 2015)

b-Vistas diferentes do exterior de Tily Barn (fonte http://i42.tinypic.com/35moco3.jpg


acedido online 19 de Dezembro de 2015)

c- Vistas diferentes do interior de Tilty Barn (fonte http://www.remodelista.com/wp-


content/uploads/2015/03/img/sub/pawson-tilty-barn-dining-475x360.jpg acedido online
19 de Dezembro de 2015)

d- Vistas diferentes do interior de Tilty Barn (fonte http://img.ffffound.com/static-


data/assets/6/e48fe51f52a947f4e0cce9a238accbee425caf31_m.jpg acedido online 19 de
Dezembro de 2015)

e- Vistas diferentes do interior de Tilty Barn (fonte http://ideasgn.com/wp-


content/uploads/2013/07/Tilty-Barn-Conversion-Essex-by-John-Pawson-012.jpg acedido
online 19 de Dezembro de 2015)

Figura 21.................................................................................................35

a-Vista do interior de DBJC House (fonte


http://www.archello.com/sites/default/files/imagecache/header_detail_large/Casa_DBJ
CJavier_Callejas06.jpg acedido online 18 de Dezembro de 2015)

b- vista do exterior de DBJC House (fonte https://s-media-cache-


ak0.pinimg.com/736x/57/1e/3b/571e3bfdf729e913919b0bac72792f71.jpg acedido online
18 de Dezembro de 2015)

Figura 22.................................................................................................36

a-Vistas diferentes do interior da House O (fonte http://blog.gessato.com/wp-


content/uploads/2011/04/house-o-sou-fujimoto-gessato-gselect-gblog-1.jpg acedido
online 17 de Dezembro de 2015)

xxv
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a-Vistas diferentes do interior da House O (fonte
http://www.phaidon.com/resource/livingnewmillennium-140-01.jpg acedido online 17 de
Dezembro de 2015)

c- vista do exterior da House O (fonte


http://www.floornature.com/media/photos/30/5011/houseO_1_popup.jpg acedido online
17 de Dezembro de 2015)

Figura 23.................................................................................................37

a-Modulor de Le Corbusier (fonte http://www.neermanfernand.com/images/corbu.jpg


acedido online 19 de Dezembro de 2015)

b sequencia de Fibonacci (fonte


http://vignette1.wikia.nocookie.net/starcraft/images/3/3b/Fibonacci_Spiral_Real1.jpg/r
evision/latest?cb=20090718005108 acedido online 19 de Dezembro de 2015)

Figura 24.................................................................................................41

a-Ligação do interior para o exterior (fonte PARRAMORE, Lisa; Japan Home – inspirational
design ideas; Tutle, Vermonte, 2010)

b- Sala japonesa (fonte PARRAMORE, Lisa; Japan Home – inspirational design ideas; Tutle,
Vermonte, 2010)

c- Gekan (fonte PARRAMORE, Lisa; Japan Home – inspirational design ideas; Tutle,
Vermonte, 2010)

Figura 25.................................................................................................42

a-Quarto de dormir (fonte PARRAMORE, Lisa; Japan Home – inspirational design ideas;
Tutle, Vermonte, 2010)

b- Varanda (fonte PARRAMORE, Lisa; Japan Home – inspirational design ideas; Tutle,
Vermonte, 2010)

c- Banheira com vista para o exterior (fonte PARRAMORE, Lisa; Japan Home – inspirational
design ideas; Tutle, Vermonte, 2010)

Figura 26.................................................................................................44

a-Mesa de chá sobre os tatamis (fonte PARRAMORE, Lisa; Japan Home – inspirational
design ideas; Tutle, Vermonte, 2010)

xxvii
xxviii
b- Casa do chá (fonte PARRAMORE, Lisa; Japan Home – inspirational design ideas; Tutle,
Vermonte, 2010)

c-Implementos do chá no interior da casa do chá (fonte PARRAMORE, Lisa; Japan Home –
inspirational design ideas; Tutle, Vermonte, 2010)

Figura 27.................................................................................................45

a-Painéis shoji em duas aplicações (fonte PARRAMORE, Lisa; Japan Home – inspirational
design ideas; Tutle, Vermonte, 2010)

b-Painéis shoji em duas aplicações (fonte PARRAMORE, Lisa; Japan Home – inspirational
design ideas; Tutle, Vermonte, 2010)

c- Painéis Sudare (fonte PARRAMORE, Lisa; Japan Home – inspirational design ideas;
Tutle, Vermonte, 2010)

Figura 28.................................................................................................47

a-Percurso de pedra (fonte PARRAMORE, Lisa; Japan Home – inspirational design ideas;
Tutle, Vermonte, 2010)

b- Jardim de pedra (fonte PARRAMORE, Lisa; Japan Home – inspirational design ideas;
Tutle, Vermonte, 2010)

c- Lago (fonte PARRAMORE, Lisa; Japan Home – inspirational design ideas; Tutle,
Vermonte, 2010)

d- Lanterna (fonte PARRAMORE, Lisa; Japan Home – inspirational design ideas; Tutle,
Vermonte, 2010)

Figura 29.................................................................................................51

a-Flexibilidade da arquitetura na Mima House (fonte


https://smallhousebliss.files.wordpress.com/2012/11/mima-house-configurations-via-
smallhousebliss.png acedido online 20 de Dezembro de 2015)

b- Flexibilidade de elementos no apartamento de Gary Chang (fonte


http://cooltownstudios.com/wp-content/uploads/2013/05/hongkong-mccmcreations-
plans.jpg acedido online 20 de Dezembro de 2015)

Figura 30.................................................................................................53

xxix
xxx
a-Fotografias aéreas da Covilhã e da Quinta do Canavial (fonte
https://www.google.pt/maps/@40.2701938,-7.5101305,9418a,20y,270h/data=!3m1!1e3
acedido online 14 de Dezembro de 2015)

b-Fotografias aéreas da Covilhã e da Quinta do Canavial (fonte


https://www.google.pt/maps/@40.2580219,-7.5165319,1378a,20y,270h/data=!3m1!1e3
acedido online 14 de Dezembro de 2015)

c-Fotografias do terreno no inverno e no verão (fonte cedidas pelo proprietário)

d- Fotografias do terreno no inverno e no verão (fonte cedidas pelo proprietário)

Figura 31. Panorâmica 1965 (fonte cedida pelo proprietário)..................................54

Figura 32. Panorâmica 2015 (fonte cedida pelo


proprietário).............................................................................................54

Figura 33.................................................................................................55

a-Fotografia do pasto de ovelhas no terreno (fonte cedida pelo proprietário)

b-Fotografia do pasto de ovelhas no terreno (fonte cedida pelo proprietário)

Figura 34. Panorâmica com vistas (fotografia e montagem de Gavina, Catarina)........56


Figura 35.................................................................................................58

a-Esquissos de uma cadeira de rodas com medidas (desenho elaborado por Gavina,
Catarina, adaptado de guia de acessibilidades; www.inr.pt)

b-Esquissos de uma cadeira de rodas com medidas (desenho elaborado por Gavina,
Catarina, adaptado de guia de acessibilidades; www.inr.pt)

c-Esquissos de uma cadeira de rodas com medidas (desenho elaborado por Gavina,
Catarina, adaptado de guia de acessibilidades; www.inr.pt)

Figura 36. Esquisso das alturas de um armário para um portador de mobilidade reduzida
(desenho elaborado por Gavina, Catarina, adaptado de guia de acessibilidades;
www.inr.pt)..............................................................................................59

Figura 37. Esquissos das medidas para uma casa de banho adaptada.........................60

xxxi
xxxii
a-poliban (desenho elaborado por Gavina, Catarina, adaptado de guia de acessibilidades;
www.inr.pt)

b-sanita (desenho elaborado por Gavina, Catarina, adaptado de guia de acessibilidades;


www.inr.pt)

c-sanita (desenho elaborado por Gavina, Catarina, adaptado de guia de acessibilidades;


www.inr.pt)

Figura 38. Esquissos de dimensões de uma mesa adaptadas (a), alcance lateral prateleiras
(desenho elaborado por Gavina, Catarina, adaptado de guia de acessibilidades;
www.inr.pt)..............................................................................................60

Figura 39.................................................................................................62

a-Planta síntese do terreno (desenho elaborado por Gavina, Catarina)

Figura 40.................................................................................................63

a-Iluminação controlada por brisas (fonte http://www.archdaily.com/778980/white-


house-studio-mk27-plus-eduardo-chalabi acedido online 3 de Janeiro de 2016)

b-Iluminação zenital (fonte http://mayarasantin.blogspot.pt/search?updated-max=2010-


11-09T09:49:00-08:00&max-results=5&start=25&by-date=false acedido online 3 de Janeiro
de 2016)

c-Iluminação a dois níveis (fonte http://www.besoniasalmeida.com/portfoliocasa-ss


acedido online 3 de Janeiro de 2016)

Figura 41. ...............................................................................................64

a-Fotografias do tanque (fonte cedida pelo proprietário)

b-Fotografias do tanque (fonte cedida pelo proprietário)

c-Lago na habitação japonesa (fonte PARRAMORE, Lisa; Japan Home – inspirational design
ideas; Tutle, Vermonte, 2010)

Figura 42. Estudo solar nos diferentes solstícios – inverno e verão(desenho elaborado por
Gavina, Catarina).......................................................................................64

Figura 43.................................................................................................65

xxxiii
xxxiv
a-Forma pura geométrica minimalista - casa Guerrero de Alberto Campo Baeza (fonte
http://www.campobaeza.com/guerrero-house/?type=catalogue acedido online 3 de
Janeiro de 2016)

b-Forma pura geométrica minimalista - casa Guerrero de Alberto Campo Baeza (fonte
http://www.campobaeza.com/guerrero-house/?type=catalogue acedido online 3 de
Janeiro de 2016)

Figura 44.................................................................................................66

a-Diferentes entradas de luz natural vistas do exterior (fonte fonte


http://www.archdaily.com/118906/house-in-leiria-aires-mateus acedido online 5 de
Janeiro de 2016)

b-Diferentes tipos de texturas e cor vistas no interior (fonte


http://arquitetesuasideias.com.br/2011/02/18/arquitetura-minimalista-japonesa-02/
acedido online 5 de Janeiro de 2016)

c-Diferentes tipos de texturas e cor vistas no interior (fonte


http://www.gazetadopovo.com.br/haus/wp-content/uploads/2016/01/jonas-lindvall-
villa-n1-sweden-designboom-09.jpg acedido online 5 de Janeiro de 2016)

Figura 45.................................................................................................66

a-Relação próxima entre o interior e o exterior de um espaço interior amplo (fonte


http://www.arkpad.com.br/blog/arquitetura-e-design/casa-de-vidro-com-arquitetura-
minimalista/ acedido online 6 de Janeiro de 2016)

b-Espaços interiores amplos e nivelados entre divisões (fonte


https://www.hometeka.com.br/f5/palmgren-house/ acedido online 6 de Janeiro de 2016)

c-Espaços interiores amplos e nivelados entre divisões (fonte


http://www.archdaily.com/19961/house-of-depth-form-kouichi-kimura acedido online 5
de Janeiro de 2016)

Figura 46.................................................................................................67

a-Diferentes tipos de jardim: relvado e gravilha (fonte


https://www.homify.com.br/livros_de_ideias/23642/homify-360-casa-moderna-na-
capital-baiana acedido online 6 de Janeiro de 2016)

xxxv
xxxvi
c- Nivelamento de percursos entre o jardim e a habitação (fonte
http://aldeiatem.com/blog/wp-content/uploads/2012/07/paisagismo-
contemporaneo3.jpg acedido online 6 de Janeiro de 2016)

Figura 47.................................................................................................67

a-Diferentes percursos no jardim japonês (fonte


http://www.japanesegardensinnewyorkandnewjersey.com/wp-
content/uploads/2010/03/stepping_stone_path.jpg acedido online 6 de Janeiro de 2016)

b-Diferentes percursos no jardim japonês (fonte


http://www.thaigardendesign.com/landscaping/20/10/04/new-thai-garden-pond-
planting-pathway.html acedido online 6 de Janeiro de 2016)

c-Jardim de pedra japonês (fonte http://ferncreekdesign.org/japanesegarden.html


acedido online 6 de Janeiro de 2016)

Figura 48. Esquisso de conceito da proposta (desenho elaborado por Gavina, Catarina).69

Figura 49. Esquissos de cruzamento dos volumes e acessos (desenho elaborado por Gavina,
Catarina).................................................................................................70

Figura 50. Esquisso de ritmos da proposta (desenho elaborado por Gavina, Catarina)..71

Figura 51. Esquisso da distribuição interior (desenho elaborado por Gavina, Catarina).72

Figura 52. Esquissos das escadas (desenho elaborado por Gavina, Catarina)................73

Figura 53. Esquissos dos móveis da sala (desenho elaborado por Gavina, Catarina)......74

Figura 54. Esquissos da janela em “L” (desenho elaborado por Gavina, Catarina)........75

Figura 55.................................................................................................75

a-Esquissos da iluminação controlada- brisas (desenho elaborado por Gavina, Catarina,


adaptado de http://www.hunterdouglas.com.br/ap/br/linea/controle-solar/ufq-
brises/9v-termobrise-150-335)

b-Iluminação (desenho elaborado por Gavina, Catarina)

Figura 56. Esquissos da iluminação zenital (desenho elaborado por Gavina, Catarina)..76

Figura 57. Esquisso do lavatório (desenho elaborado por Gavina, Catarina).................77

xxxvii
xxxviii
Figura 58.................................................................................................78

a-Chalk White – tinta de acabamento (fonte


http://www.cin.pt/portal/pdf/Tendencias2015PT.pdf acedido online 7 de Janeiro de
2016)

b-Distric LS56 – pavimento porcelânico (fonte https://www.refin-ceramic-


tiles.com/series/district/ acedido online 11 de Janeiro de 2016)

c-Aço corten – revestimento (fonte http://www.dartemoveis.com.br/wp-


content/uploads/2014/06/aco-corten.jpg acedido online 11 de Janeiro de 2016),

d-Zenith – revestimento (fonte http://dekton.com.pt acedido online 11 de Janeiro de


2016),

Figura 59. Esquisso de alinhamentos exteriores (desenho elaborado por Gavina,


Catarina).................................................................................................79

Figura 60. Esquissos da reabilitação do tanque (desenho elaborado por Gavina,


Catarina).................................................................................................80

Figura 61.................................................................................................81

a-Jasmim de inverno (fonte


http://www.jardimdasideias.com.br/public/userfiles/image/30%2008/640px-
Jasminum_polyanthum2.jpg acedido online 15 de janeiro de 2016),

b-Alfazema (fonte http://omeujardim.com/artigos/melhores-flores-perenes-para-seu-


jardim acedido online 15 de janeiro de 2016),

c-Aloe Vera (fonte http://www.jardineiro.net/wp-


content/uploads/2011/05/xaloe_arborescens.jpg.pagespeed.ic.lzSCJo3WCT.jpg acedido
online 15 de janeiro de 2016),

d-Heuchera (fonte http://omeujardim.com/artigos/melhores-flores-perenes-para-seu-


jardim acedido online 15 de janeiro de 2016),

e-Capim (fonte http://i0.statig.com.br/fw/du/wi/jv/duwijv6f3nc2yix7dvvl79psl.jpg


acedido online 15 de Janeiro de 2016)

xxxix
xl
f-Berberis Japonesa (fonte http://mlb-s1-p.mlstatic.com/1-muda-da-fruta-barberry-
japons-berberis-thunbergii--13703-MLB3647700589_012013-F.jpg acedido online 15 de
Janeiro de 2016)

Figura 62. . Esquissos do logotipo (desenho elaborado por Gavina,


Catarina).................................................................................................82

Figura 63. Lopotipo final (desenho elaborado por Gavina, Catarina).........................83

Figura 64. Esquisso do exterior da habitação sobre o muro (desenho elaborado por Gavina,
Catarina).................................................................................................84

Figura 65. Modelagem 3D da proposta .............................................................86

a-Alçado este (modelagem elaborada por Gavina, Catarina)

b- alçado norte (modelagem elaborada por Gavina, Catarina)

xli
xlii
Lista de Acrónimos

UBI.......................................................................Universidade da Beira Interior

EUPS ..............................................................Equação Nacional de Perda de Solo

PDL……………………………………………………………………………. Pessoas com dificuldade de locomoção

REN..........................................................................Reserva Ecológica Nacional

RCM................................................................Resolução do Conselho de Ministros

xliii
xliv
Parte I

1. Introdução
Esta dissertação irá abranger a habitação como tema principal apresentando o conceito de
mínimo nas suas múltiplas vertentes. Desta forma, intrínsecos a esta temática, estão conceitos
como o minimalismo, a flexibilidade, a funcionalidade e a simplicidade.
O Minimalismo teve como origem as Artes Plásticas, em meados do séc. XX e inúmeras foram
as situações de uma génese embrionária que levaram a resultados coincidentes com os mesmos da
corrente estilística do Minimalismo, em diversos movimentos arquitetónicos anteriores, como
poderemos analisar através dos exemplos escolhidos, a nível do património histórico, o caso da cela
monástica das Cartuxos e do património contemporâneo na habitação mínima tipicamente japonesa.
O primeiro exemplo, como referido anteriormente, as celas monásticas, apareceram no
início do seculo XI e estão presentes nos Mosteiros segundo a Ordem dos Cartuxos. Aí, os monges
cartesianos habitavam uma casa de espaço e ornamentação reduzida, dedicando toda a sua vida ao
silêncio e à devoção. Temos como exemplo a Cartuxa do Vale d’Ema em Florença, a mesma que
inspirou Le Corbusier em muitas das suas obras.
O segundo exemplo é relativo ao habitar contemporâneo com raízes no mínimo da habitação
tradicional japonesa, analisando pormenorizadamente os seus componentes e formas de habitar.
Postos estes dois exemplos, explica-se como este movimento se tornou o que é hoje conhecido,
expondo as suas características e comparando-o com a simplicidade que o arquiteto minimalista
John Pawson contempla.
A primeira parte é rematada pelo estudo da flexibilidade e multifuncionalidade de uma
habitação, anunciando a filosofia “a forma segue a função”, com exemplos reais de obras em que a
sua flexibilidade e multifuncionalidade se torna um ganho para a vivência do Homem-habitação.
Seguidamente, a Parte II, é exclusivamente dedicada à proposta do protótipo da habitação
seguindo a corrente do minimalismo na Quinta do Canavial. Analisa-se primeiramente o terreno em
questão, avaliando as suas considerações juntamente com as condicionantes da família do cliente,
bem como as especificações pedidas por este. Reúne-se a história familiar e a memória de uma
infância passada no local, como um estudo dos hábitos e atividades exercidas no quotidiano,
percebendo-se o papel da habitação e, prevendo a vivência dos espaços sociais e privados da
habitação nesta família.
Deste modo, pretende-se levar à mínima expressão a questão da habitação com uma
proposta que resultará na concetualização de um protótipo de uma habitação segundo a corrente
estilística minimalista, que surge como conclusão e consequência da Parte I.
1.1 Objetivos
Esta dissertação centra-se no estudo da habitação minimalista, tendo em consideração a
riqueza da produção, concretizada e teórica, acerca da produção da habitação mínima, desde o
século XI, na criação das celas monásticas. Faz uma síntese histórica no sentido de perceber os
contextos, as ideias e a vivência que os monges tinham nas suas habitações, até ao atual século.
Inclui também o estudo de outro exemplo paradigmático do habitar: a arquitetura
tradicional japonesa e a sua contemporaneidade. Deste modo, é feita uma análise da habitação
mínima contemporânea japonesa, a sua típica arquitetura, o modo de habitar, os seus ornamentos e
a vincada relação do exterior-interior, passando pelo movimento arquitetónico Minimalismo, onde o
mesmo se originou e a evolução que sofreu para ser considerado um movimento independente.
Após a compreensão do espaço de habitação minimalista, a sua origem e evolução, é
necessário valorizar temáticas como a flexibilidade e multifuncionalidade.
Além da base teórica contextualizadora do conceito de mínimo na arquitetura, desenvolver-
se-á um estudo histórico de um terreno, a Quinta do Canavial: um espaço situado na cidade da
Covilhã, com uma memória familiar deixada ao longo de gerações. A concetualização de um
protótipo pretende levar à mínima expressão a questão da habitação com uma proposta que
resultará uma célula habitacional minimalista, onde está prevista a distribuição flexível e funcional
do espaço, adaptada à família em questão, de modo a concluir a base teórica em estudo.

2
1.1. Estado da arte
Relativamente ao estado da arte, registam-se alguns dos documentos consultados durante a
realização desta investigação que se enquadram nos conteúdos que constituem a dissertação.

O livro de Encarna Castillo, dá-nos a entender a origem do Minimalismo, a forma como a


Minimal Art se formou e como se foi desenvolvendo e conquistando ao longo dos anos.1

Do livro da Marcia Iwatate, retira-se uma citação de Le Corbusier que nos leva a perceber a
sua temática da Casa Máquina que sempre esteve presente nos seus projetos. “Le Corbusier, the
founding father of Modernism, once claimed: “If we eliminate from our hearts and minds all dead
concepts in regard to houses and look at the question from a critical and objective point of view,
we shall arrive at the House Machine.”2

Pawson ao longo do seu livro “Minimum” vai descrevendo e caraterizando o que no seu
entender são as bases do cinceito de mínimo e como o podemos encontara na simplicidade das
coisas. Este autor, dá-nos a conhecer a simplicidade na sua forma mais pura e será um fator a
incorporar em toda a dissertação. Estes dois parágrafos retirados do seu livro resumem-no de uma
forma bastante simples. “The minimum could be defined as the perfection that an artefact
achieves when it is no longer possible to improve it by subtraction. This is the quality that one
object has when every component, every detail, and every junction has been reduced or condensed
to the essentials. It is the result of the omission of the inessentials. (…) Definition of simplicity is
not easy. It’s an elusive quality, and wide geographical and historical spread of the very different
cultures that have been interested in its attractions over the ages not make it any easier to define
its essence.”3

“Le Corbusier e as casas dos monges brancos” é um documento do III Encontro da Associação
Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo em São Paulo, no ano de 2014,
que teve como tema “Arquitetura, Cidade e Projeto: Construção Coletiva”, escrito pela Professora
Doutora Marta Sequeira da Universidade de Évora. Com este documento aprofundámos o
conhecimento sobre as viagens que este arquiteto fez pelos mosteiros da Ordem dos Cartuxos e foi

1
CASTILLO, Encarna; Minimalism Design source; HarpperCollins; 2004; p.15
2
IWATATE, Marcia e Mehta, Geeta K. ; Japan Houses: ideas for 21st century living; Tuttle, Vermonte, 2011, p.10; Tradução
livre: “Le Corbusier, o pai fundador do Modernismo, uma vez afirmou: ‘se eliminarmos dos nossos corações e mentes todos os
conceitos mortos em relação às casas e olharmos para a questão a partir de um ponto de vista objectivo e critico,
chegaremos à casa maquina”
3
PAWSON, John; Minimum; Phaidon Press, Londres, 2006; p.7-8; tradução livre: “O mínimo pode ser definido como a
perfeição obtida por um artefacto quando já não é mais possível melhorá-lo pela subtracção. Isto, é a qualidade que um
objecto possui quando cada componente, cada detalhe, cada ligação foi reduzida ou condensada ao essencial. É o resultado
da omissão do não essencial. (…). A definição de simplicidade não é fácil. É uma qualidade subtil,de vasta difusão geográfica
e histórica de diferentes culturas que se interessaram pela sua atracção ao longo dos tempos o que não torna mais simples a
definição da sua essência”.

3
possível avançar percebendo como funcionavam e se caracterizavam estes mosteiros e entender o
quanto esta ordem influenciou as primeiras obras de Le Corbusier.

Lisa Parramore, com o seu livro, complementa a informação do livro de Marcia Iwatate,
onde foi possível entender a forma de viver e habitar dos japoneses, pois é um livro onde explica
cada detalhe da habitação deste povo.4

O livro “Minimalismos” abrange, de uma forma geral, tudo relacionado com esta corrente
estilística, desde a relação que existiu entre arte-escultura-arquitetura, como as suas
características e modo de funcionamento. Orienta o conhecimento base principal para a
organização e conclusão desta dissertação.5

Com o artigo “O ensino da arquitetura inclusiva como ferramenta para a melhoria da


qualidade de vida para todos”6, de Cristiane Rose Duarte e Regina Cohen, do núcleo pro-acesso da
Universidade Federal do Rio de Janeiro da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e o artigo
“Ergonomia no terceiro milénio: requisitos humanos para o objeto, para o ambiente, para a
cidade”7 de Mário dos Santos Ferreira da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul –
Brasil, ganha-se consciência das problemáticas existentes, que muitas vezes de forma irrefletida um
arquiteto concebe. Deste modo, nesta dissertação presta-se especial atenção aos exemplos
apontados de pessoas com dificuldade de locomoção (PDL), onde é necessário que a proposta
projetual seja realizada em prol do bem-estar destes e que facilite o acesso a toda a habitação para
que não se sintam impedidos de realizar as suas tarefas do quotidiano devido a barreiras
arquitetónicas.

O capítulo “Good House Design”8, apresenta uma visão no que diz respeito a entender como
um bom design funciona. Para esta autora, existem alguns parâmetros que se devem respeitar e
explica-os de forma a servirem de orientação. Estes nove parâmetros são: inovação, estética,
entendimento, discrição, honesto, longa duração, análise aprofundada, amigo do ambiente e
simplicidade. A leitura dos mesmos ajudou na realização da proposta projetual.

4
PARRAMORE, Lisa; Japan Home – inspirational design ideas; Tutle, Vermonte, 2010
5
ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodríguez; Minimalismos. Barcelona: Gustavo Gili S.A, 2001
6
Duarte, Cristiane Rose de Siqueira; Cohen, R.; “O ensino da arquitetura inclusiva como ferramenta da qualidade de vida
para todos”, in: projectar 2003. (org). Projetar: desafios e conquistas de pesquisa e dos ensino. Rio de Janeiro: Virtual
Cientifica, 2003; p. 159-173
7
DOS SANTOS FERREIRA, M.; “Ergonimia no terceiro milenio: requesitos humanos para o objeto, para o ambiente, para a
cidade”, in Revista nodo nº1, vol.6, Ano 6: 55-64 Julho-Dezembro, 2011.
8
ROWAN, Gerald; Compact Houses: a lot of living in 1400 square feet or less. 50 creative floor plans for well-designed small
homes; Storey Publishing, LLC; Nova Iorque; 2003; p.117

4
1.2. Metodologia
Iniciou-se a presente dissertação com uma aprofundada investigação “in situ” a par com
uma intensa e rigorosa pesquisa bibliográfica, cartográfica e fotográfica em bibliotecas e arquivos e,
posteriormente, foi necessário organizar a informação por partes e capítulos. Para mais clareza
concetual e analítica, optou-se por fazer uma divisão em duas partes.
A Parte I trata a base teórica que funciona como contextualização do mínimo na
arquitetura, desde os primórdios ate à contemporaneidade do espaço mínimo. Apresentam-se
também algumas obras em exemplo, que após analisadas ajudam a perceber esta temática.
Inicialmente, houve a necessidade de estudar e perceber o minimalismo, onde e como se
originou, os seus intervenientes e como se desenvolveu. Estudou-se também as origens deste
movimento, que foi denominado pelo que hoje conhecemos de Minimal Art. Assim, foi necessário
introduzir como tema de pesquisa a arte. Facilmente se reúne informação de livros ou páginas de
internet que fazem a explicação da Minimal Art e a ligação com a arquitetura. Livros como
“Minimalism Design Source”9 ou “Minimalismos”10, e que foram fundamentais para tal
entendimento.
Com o conhecimento necessário do que era o Minimalismo, recua-se na história e procura-se
nos nossos primórdios obras e ideologias que foram feitas com base nos mesmos princípios,
características ou simplesmente o mesmo conceito que esta corrente estilística. Encontram-se
exemplos de carácter religioso no século XI, na Ordem dos Cartuxos de S. Bruno, principalmente nos
seus mosteiros e na forma de viver dos monges. A informação inicial incidiu na leitura da página
online da própria Ordem dos Cartuxos, chartreux.org. contendo informação útil para o
conhecimento e a compreensão inicial da Ordem. Os seus mosteiros exaltavam a sua beleza
arquitetónica pelos materiais expostos de forma bruta e pelas suas linhas retas e simples, onde
nunca exibiam ornamentações ou ostentação. A vida que os seus monges seguiam perante o mundo
era de solidão e separação total que se reflectia igualmente na independencia das suas celas.
Posteriormente, dois livros vieram completar a informação até ali adquirida, “Monasteries of
western Europe”11 e “Stones laid before the Lord”12, estes sobre, como o próprio nome pode
antecipar, a história de diversas ordens e a sua arquitetura, devido ao exemplo dado sobre a
Cartuxa de Florença, onde foi possível encontrar a planta individual da cela com a devida legenda
que nos leva a compreender o modo de vida do monge que a habita. Estas pequenas casas de espaço
reduzido e mobiliário limitado têm caraterísticas que se aproximam do conceito e ideologias que os
minimalistas vieram a utilizar. No seguimento de concluir a fase da história, foi analisado um artigo
sobre a visita de Le Corbusier a uma das Cartuxas desta Ordem, o que rematou a sua compreensão.

9
Castillo, Encarna; Minimalism Design source; HarpperCollins; 2004
10
ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodríguez; Minimalismos. Barcelona: Gustavo Gili S.A, 2001
11
BRAUNFELS, Wolfgang; Monasteries of western Europe – the architecture of the orders; Thames and Hudson, Londres, 1993
12
DIMIER, Anselme; Stones laid before the Lord – A history of monastic architecture; Cistercian Publications, Spencer, 1999

5
“Le Corbusier e as casas dos monges brancos”13 dá-nos a visão que este arquiteto teve sobre estes
mosteiros e sobre a sua conotação poética, influenciando-o nas suas obras futuras. Esta visita
ocorreu durante as suas viagens pelo oriente, que registou graficamente em vários cadernos, que
foram publicados mais tarde. Em “Le Voyages d’Allemagne”14 encontram-se seis desenhos que
realizou dentro da Cartuxa usada como exemplo. Com uma recente pesquisa realizada, descobre-se
que hoje em dia este mosteiro, a Cartuxa de Ema, está ocupada por outra ordem religiosa, a Ordem
de Cister cujo conceito de simplicidade e austeridade se aproximam em muito dos defendidos pelos
minimalistas tal como foi referido antes.
A arquitetura tradicional japonesa foi outro exemplo encontrado que usa as mesmas bases e
pensamentos de simplicidade que mais tarde foram conotados com o conceito deminimalismo. Para
este capítulo, houve dois livros que ganharam elevada importância no seu desenvolvimento, “Japan
Home – inspirational design ideas”15 e “Japan Houses – ideas for 21st century living”16. Estes livros
ajudaram e entender como é que a habitação tradicional é composta, pensada e realizada, e
explicam os detalhes da sua evolução para o minimalismo contemporâneo.
A contemporaneidade desta arquitetura foi vista com base num documentário do canal BBC
“Tokyo: living small in a big city”17 Este povo, com base na ideologia e uma filosofia de vida, teriam
que ter uma habitação que refletisse isso mesmo. Dão à construção, ao pormenor e ao detalhe dos
objetos uma atenção redobrada, eliminam tudo o que é desnecessário e importam-se com a
essência dos materiais. São preocupações como estas que irão, no seu devido tempo, aparecer junto
das preocupações minimalistas.
Com o tempo, a área disponível para construção foi diminuindo e as suas habitações
passaram a ser de espaços mínimos, mas mantendo as mesmas preocupações. Estes livros foram
também bastante úteis para um outro capítulo que se refere à forma habitacional dos japoneses.
Assim, vê-se que as caraterísticas do minimalismo, apesar de só ter aparecido no século XX, já
vinham a ser utilizadas e a ser uma preocupação em muitas culturas.
Com intuito de aprofundar o capítulo do minimalismo, fez-se uma pesquisa de arquitetos
que fizeram deste movimento parte da sua agenda. Além de pesquisa online, o livro, “Minimalist
architecture”18, mostra-nos um destes exemplos e aponta algumas das suas obras e os elementos
usados. Desta forma analisa-se a obra de dois arquitetos , onde se percebem casos reais de
aplicação. John Pawson e Claudio Silvestrin, são os arquitetos que foram pesquisados nesta fase,

13
SEQUEIRA, Marta; “Le Corbusier e as casas dos monges brancos”, III Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-
graduação em Arquitetura e Urbanismo – Arquitetura, cidade e projeto: uma construção colectiva; São Paulo, 2014
14
JEANNERET CH. E, Le Corbusier; Le Voyages d’Allemagne – carnets; Eleta Fundação Le Corbusier; Milão;1994
15
PARRAMORE, Lisa; Japan Home – inspirational design ideas; Tutle, Vermonte, 2010
16
IWATATE, Marcia e Mehta, Geeta K.; Japan Houses: ideas for 21st century living; Tuttle, Vermonte, 2011
17
Documentário “Tokyo: living small in a big city”,episodio do national geographic, 2008, acessivel online in
http://channel.nationalgeographic.com/man-made/galleries/episode-tokyo-living-small-in-the-big-city/at/manmade-tokyo-
2-11740/
18
BERTONI, Franco; Minimalist Architecture; Birkhauser, Berlim, 2002

6
usando uma obra realizada em conjunto e duas individuais; a pesquisa online dos seus respetivos
sites foi de elevada importância.
Com base na leitura de “Minimum”19, foi considerado a simplicidade um dos temas
merecedores de pesquisa mais aprofundada e atribuído um capítulo próprio. A simplicidade é uma
característica que está presente no minimalismo, na arquitetura japonesa e na Ordem dos Cartuxos.
A pesquisa sobre a simplicidade passa pelos mesmos livros usados para o minimalismo,
acrescentando a pesquisa com base online de arquitetos que adotam este tema no seu conceito
projetual, complementada pelo livro “Architecture Now: Houses”20 e “Principia Arquitetonica”21.
Usam-se como exemplos arquitetos como Sou Fujimoto e Alberto Campo Baeza e duas das suas obras
caraterizadas pela simplicidade.
Nesta parte, seria também importante completar o seu entendimento com uma pesquisa da
temática habitar-habitação, para conseguir compreender a ligação que existe entre estes dois,
sendo um ponto de partida da parte prática.
Outro tema também necessário de pesquisa para a sua introdução foi o da flexibilidade e da
multifuncionalidade dos espaços, devido a condicionantes de mobilidade presentes na proposta. Foi
essencialmente online esta pesquisa.
A Parte II centra-se no protótipo habitacional, mas, primeiramente faz-se um estudo da
Quinta do Canavial. Após o estudo, são apresentadas as suas características e as condicionantes da
família a respeitar.
Posteriormente à reunião com o cliente, que expôs todas as suas preferências e
condicionantes familiares, foi realizada uma visita ao local. Trata-se de uma família composta por
um agregado de quatro pessoas, sendo um destes elementos de mobilidade reduzida. Considerando
esta a principal condicionante, realizou-se uma pesquisa aprofundada sobre a locomoção de uma
cadeira de rodas, realizando esquissos, prevendo espaços mínimos livres e mobiliário adequado.
Utilizaram-se programas 2D de suporte ao desenvolvimento do desenho, complementando-o com
modelação 3D no âmbito da confirmação territorial e a nível conceptual. A análise do levantamento
topográfico, esclareceu algumas dúvidas deixadas nas visitas ao terreno, no que diz respeito às
diferenças de cotas entre zonas. Esta fase foi dedicada à realização de esquissos de terreno com
estudo de comportamento solar e das primeiras ideias de conceito. Seguiram-se reuniões de
proposta com outras visitas ao local, discutiram-se as propostas e onde se poderiam inserir.
Atingindo objetivos por fases, concluem-se metas. A base do conceito foi suportada pela revisão
bibliográfica, alinhando-se com elementos de destaque do terreno referenciados pelo cliente.
Dando forma ao conceito, chega-se à proposta em questão, incluindo os elementos condicionantes
apoiados no estudo realizado anteriormente. Alinham-se ritmos, acessos, volumes, espaços
exteriores e finaliza-se o início da proposta, com a aprovação do cliente. Realiza-se uma maquete,
com a proposta final para obter melhor visualização do resultado. A intervenção passa pela

19
PAWSON, John; Minimum; Phaidon Press, Londres, 2006
20
JODIDIO, Philip; Architecture Now! Houses; Taschen; Colonia; 2009
21
BAEZA, Alberto Campo; Principia Architectonica; Caleidoscopio, Casal de Cambra, 2013

7
adequação territorial. Sendo estes dois a complementação dos próprios e dando ao cliente
oportunidade de ver toda a sua herança, memorial e familiar, por todas as áreas, distribuída.
Para completar a proposta realizada, que será apresentada em anexo, houve uma pesquisa
de todos os materiais utilizados e cuidadosamente escolhidos, desde a vegetação exterior à torneira
da instalação sanitária, que será incluída na dissertação em forma de catálogo de fichas técnicas em
anexo.
Como conclusão, retira-se uma frase que se destacou em toda a pesquisa realizada e que
por sua vez resume toda a dissertação: “A redução levada ao extremo é uma condição indispensável
do minimalismo arquitetónico”22.

22
ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodríguez; Minimalismos. Barcelona: Gustavo Gili S.A, 2001; p.80

8
2. O Mínimo na arquitetura
Para ser possível entender o que realmente é o conceito de mínimo na arquitetura, é
necessário ter o conhecimento de noções base que fazem com que o entendimento desta temática
seja melhorado. Sendo eles o Mínimo, Minimalismo e Simplicidade, que por muitas vezes estes
podem ser confundidos em ocasiões do quotidiano.
O mínimo é qualificado como adjetivo, que é “excessivamente pequeno, diminuto ou mesmo
ao menor”23 (por exemplo: salário; conjunto; escala entre outros). De uma forma geral o seu
significado é o mesmo, independentemente da área ou sentido em que é aplicado.
O minimalismo, por outro lado, não é caraterizado como um adjetivo mas sim um
substantivo e tem de significado a “procura de soluções que requeiram um mínimo de meios ou
esforços”24. O seu conceito é aplicado essencialmente às artes, quer sejam teóricas ou práticas.
Estes dois conceitos podem ter interpretações distintas quando aplicadas à arquitetura. O
mínimo por si só indica-nos algo que é de pequena escala (por exemplo, habitação de espaço
mínimo), mas também pode ser referido ao diminutivo de minimalista (por exemplo, habitação
mínima).
Ou seja, o mínimo é uma característica/adjetivo segundo um espaço ou habitação e o
minimalismo é uma corrente estilística que abrange um todo. A maior diferença entre estes dois
conceitos é a escala, pois o minimalismo enquanto corrente estilística não tem como característica
ser mínima de tamanho.
Associado a estes dois conceitos, encontra-se também a simplicidade, uma característica
patente neste movimento arquitetónico. A simplicidade é a “qualidade de simples; naturalidade;
singeleza”25 de um ato ou de um objeto. Aplicado na arquitetura, a simplicidade entra no
minimalismo como característica dos elementos presentes no espaço em si, ou mesmo dos materiais
utilizados.
Entendendo os três principais conceitos, pode-se dizer que o principal será o minimalismo e
que o mínimo e a simplicidade funcionam como sub-conceitos, a complementar o principal. Posto
isto, pode-se concluir que o mínimo e a simplicidade são características deste movimento
arquitetónico.

23
Mínimo, in Dicionário da Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico; Porto: Porto Editora, 2003-2015. Disponível
online:http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/mínimo [consult. 2015-11-24]
24
Minimalismo, op.cit., disponivel online: http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/minimalismo [consult.
2015-11-24]
25
Simplicidade, op. cit., disponivel online: http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/simplificade [consult.
2015-11-24]

9
2.1 Aproximações históricas ao conceito de mínimo na arquitetura: o caso das
Celas Monásticas das Cartuxas como habitação mínima

É no século XI, mais propriamente no ano de 1085 em França, que surge a Ordem dos
Cartuxos, uma ordem religiosa católica semi-eremítica de clausura monástica, fundada por São
Bruno. Logo após alguns anos espalharam-se pelo mundo. Esta ordem, batizou os seus mosteiros de
“Cartuxas” e é nestas que os monges e priores (governadores de cada Cartuxa) habitavam.26
A primeira cartuxa a ser construída foi A Grande Cartuxa em 110927 onde se exigiam algumas
regulamentações concentradas na pobreza e na simplicidade. A igreja não continha nenhuma
decoração em ouro ou prata, à exceção do cálice. Os tapetes e cortinados eram também proibidos.
Uns anos mais tarde, os quadros foram também proibidos e retirados da igreja. Este mosteiro
cartesiano, em 1132, acabou por ser demolido por uma avalanche que matou a maior parte dos
monges que nela habitavam, acabando por ser reconstruido em outro local mais seguro, que é onde
anda hoje esta cartuxa se situa.28
Estes monges cartuxos tinham como caminho a atingir o amor de Deus, que a tradição
monástica chamava de “oração pura e contínua”, onde a solidão era uma das características
essenciais. Assim se remetiam ao silêncio e à solidão de sua cela, como referem os estatutos “ A
nossa principal aplicação e propósito consistem em nos dedicar ao silêncio e à solidão da cela.”29
As cartuxas eram constituídas por três partes principais: o claustro grande, os lugares
comunitários e as oficinas. O claustro grande é onde se situa o jardim, o cemitério e todas as celas,
onde os monges têm a sua vida solitária; os lugares comunitários são sítios como a igreja, o
capítulo, o refeitório e algumas zonas de trabalho, por fim, as oficinas são as zonas de mais ruído,
tal como a carpintaria e que ficam o mais afastadas possível.

26
DIMIER, Anselme; Stones laid before the Lord – A history of monastic architecture; Cistercian Publications, Spencer, 1999;
p.183
27
DIMIER, Anselme; op. cit.;p184
28
Idem; p.186
29
Livro da ordem dos cartuxos; Estatutos, 4.1, in http://chartreux.org/pt/textos/estatutos-livro-1.php#c4

10
a b c
m

Figura 1. Vista aerea da Cartuxa do Vale d’Ema (a), Perspetiva da entrada da igreja (b), Vista do Claustro (c)

Figura 2. Planta da Cartuxa do Vale d’Ema

A cada monge era atribuída uma cela, a sua moradia. Uma pequena cela que poderia variar
ente 1 ou 2 pisos, consoante a cartuxa, de poucas e simples divisões, rodeado de um pequeno
jardim dando-lhe assim a solidão completa durante toda a sua vida.
O acesso a cada cela é feito através do corredor do claustro, que tem ligação a um corredor
isolado para casa uma das celas, prevenindo o ruído do claustro. Neste mesmo corredor, além do
acesso à cela, tem também o acesso ao jardim da cela e ao corredor da latrina; existe ainda uma
abertura do corredor para a passagem da comida30. Cada uma destas celas era dividida por três
espaços: uma antecâmara aquecida, o quarto e uma pequena câmara. O quarto era formado por
algumas e únicas peças de mobiliário permitido, uma cama, uma estante, um banco e uma mesa.
Éra neste espaço que o monge dormia, estudava e fazia as suas refeições; o crucifixo era o único

30
BRAUNFELS, Wolfgang; Monasteries of western Europe – the architecture of the orders; Thames and Hudson, Londres,
1993; p.114

11
objeto artístico permitido31. O jardim da cela era entre o triplo e o quádruplo do tamanho da
habitação e construído de forma que o monge não fosse visto nem visse ninguém32.
As cartuxas que preservam a construção inicial têm 12 celas que se situavam em redor do
cemitério; as cartuxas cuja construção é datada do séc. XVII, chegam a ter 36 celas33. Estas
situavam-se sempre em banda, do lado oposto às zonas comuns da cartuxa, junto ao jardim,
isoladas de todo o ruído que poderia haver. Neste alinhamento, os mosteiros tinham um aspeto de
pobreza, mas por outro lado tornaram-se exemplos das mais belas obras de arquitetura. A
simplicidade que está presente nestes edifícios dá ênfase à sua riqueza arquitetónica.
A Cartuxa de Galluzzo, no Vale d’Ema, a sul de Florença, construída em 1342, foi também
uma das fundações principescas edificada sobre um planalto rochoso. Esta cartuxa é também
conhecida por Cartuxa do Vale d’Ema, Cartuxa de Florença ou Cartuxa de São Lourenço de Galluzzo,
e é esta que vai influenciar Le Corbusier nas suas obras.
Le Corbusier descreveu as suas viagens pelos conventos da ordem dos cartuxos em alguns
livros. “Les Matins à Florence” e “Italie Septentrionale” eram dois dos três livros que transportara
consigo na primeira viagem e que terá influenciado o seu itinerário, pois estes faziam referência à
cartuxa do vale d’Ema.34 Numa tarde de domingo, 6 de setembro de 190735, chega ao mosteiro, e
depara-se com as “obras de arte da igreja principal, das capelas, do claustro, da sala de
capítulo.”36 Pelas palavras de Le Corbusier “um belo claustro”37, que teria sido o que mais interesse
despertou, na passagem para o cemitério, ladeado por dezoito celasmaioritariamente vazias, com
um terraço a norte com vista para as colinas de Florença e Fiesole. O pátio que nos dá o acesso à
cartuxa, é onde se pode encontrar a farmácia, num piso inferior e ligado à restante edificação. A
fachada principal rege a geometria do pátio, as restantes fachadas correspondem ao Palácio
Acciaioli e à hospedaria. Em torno dos dois pequenos claustros regiam os espaços de uso cenobítico
e os de uso laico. À data da sua visita, o mosteiro ainda era habitado por monges eremitas. Estes
habitavam três das alas do claustro em pequenas celas de planta em “L”. As situadas a noroeste e
sudeste do claustro, divididas em dois pisos e com um pátio. Os horários dos monges eram bastante
rigorosos, apenas três vezes por dia saíam das suas celas para atividades em comunidade e só
romperiam o seu silêncio durante uma hora duas vezes por semana. Le Corbusier, após a sua visita
descreve a cartuxa aos seus pais, através de cartas, mostrando especial interesse nas celas

31
BRAUNFELS, Wolfgang; Monasteries of western Europe – the architecture of the orders; Thames and Hudson, Londres,
1993; p114
32
DIMIER, Anselme; Stones laid before the Lord – A history of monastic architecture; Cistercian Publications, Spencer, 1999;
p.186
33
Sequeira, Marta; in “Le Corbusier e as casas dos monges brancos”, São Paulo, 2014; p.31
34
Sequeira, Marta; op. Cit.;p.15
35
Referenciado na nota de rodapé numero 13; Sequeira, Marta; in “Le Corbusier e as casas dos monges brancos”, São Paulo,
2014
36
Do livro “Italie Septentrionale” Citado por Sequeira, Marta; in “Le Corbusier e as casas dos monges brancos”, São Paulo,
2014; p.8-9
37
Citação de Le Corbusier in Sequeira, Marta; “Le Corbusier e as casas dos monges brancos”, São Paulo, 2014;pg.9

12
qualificando-as como “casa de trabalhadores de tipo exclusivo”, que ilustra com dois desenhos, uma
planta e uma secção. Passados quatro anos, a 26 de outubro de 1911, Le Corbusier faz uma viagem
pelo Médio Oriente e volta a visitar a Cartuxa do vale d’ Ema, onde terá feito seis desenhos
representativos do grande claustro e de uma cela.38 São desenhos a lápis num traço rápido, dois
deles com cor e com medidas.

a b

Figura 3. Perspetiva do cemitério para as arcadas no claustro (a), Perspetiva do lado exterior da
Cartuxa (b)

a b c

d e

Figura 4. Perspetiva do cemiterio para o centro do claustro (a), esquisso da planta do claustro (b),
Perspetiva da varanda e do jardim da cela com medidas (c), Perspetiva da varanda com o jardim da
cela (d), perspetiva da varanda e do jardim da cela (e)

38
Desenhos do sexto caderno de desenhos da “Viagem de Oriente”, p.7,9,11,13,15 e 17

13
2.2 Da arquitetura tradicional japonesa ao mínimo contemporâneo

Abrigando a mais antiga e a maior quantidade de edifícios em madeira de todo o mundo, os


japoneses possuem a mais ampla experiência e tradição na criação de obras em madeira, onde a
arquitetura japonesa faz referência às tradicionais estruturas de madeira que atravessam séculos.
Neste tipo de construção, as colunas são o suporte principal e as paredes são usadas unicamente
como divisórias.
Devido ao clima húmido do Japão, tiveram que desenvolver métodos para lidar com as
temperaturas que variam drasticamente consoante as estações. As casas japonesas são feitas de
materiais naturais como a madeira e o papel. A madeira consegue absorver a humidade e o papel
permite que o ar e a luz penetrem na habitação.
Para os arquitetos japoneses o maior foco era a delicadeza e os detalhes, preocupações que
foram herdadas para a arquitetura contemporânea, fazendo-os ser especialistas de alta precisão. O
sentimento de simplicidade, elegância, clareza e refinação é também predominante nesta
arquitetura, visto nas coordenações do branco dos painéis Shoji, o verde dos tatames e o cinzento
dos telhados, na apreciação aguçada deste povo.
O telhado, para além um símbolo de beleza da arquitetura tradicional, é um dos elementos
mais importantes. Estes originam uma marcante característica, os beirais, que aumentam a
estabilidade e a harmonia da forma de construir, não sendo só decorativos. A largura dos beirais é
também um ponto importante na época das chuvas ou durante as altas temperaturas do verão,
fazendo uma adequada proteção. Um típico símbolo intrínseco na arquitetura tradicional é o Masu-
Gumi, detalhe decorativo e estrutural dos beirais.

a b c d
Figura 5. Casa tradicional japonesa (a), Varanda da casa tradicional japonesa (b), Sala com biombos e painéis
shoji de separação (c), Relação com o exterior (d)

Quando se fala em arquitetura tradicionalmente japonesa, existem alguns elementos que se


destacam, sendo esses grandes ícones os tatames, Kamoi, Fusuma e Shoji. Estes quatro elementos
foram transportados até aos dias de hoje na arquitetura deste povo. Os tatames são os tradicionais
tapetes feitos de palha compactada amarrada com um fio e coberta de palha entrelaçada,
debruados a linho. Cada espaço era planeado para conter um determinado número de tapetes e as
habitações eram qualificadas pelo número que continham. Kamoi é uma moldura que se estende ao
longo da divisão, sobre uma superfície de madeira rasa no piso, criando um encaixe onde correm os

14
biombos de separação de divisões. Fusuma, são as portas de correr opacas dos dois lados, ao
contrário do Shoji que são de papel fino translúcido. Estes dois últimos elementos dão flexibilidade
interior às habitações, uma das mais afamadas caraterísticas da casa tradicional japonesa.
A casa japonesa sofreu com o passar dos anos muitas alterações, principalmente depois da
Segunda Guerra Mundial, embora ainda continue com a mesma espiritualidade, simplicidade, pureza
e leveza da casa tradicional japonesa.
39
O Japão, segundo Marcia Iwatate, no livro “Japan houses” , é uma das nações mais ricas
de pessoas inovadoras e tradições arquitetónicas altamente desenvolvidas. A sua arquitetura
contemporânea continua a seguir as linhas da arquitetura tradicional japonesa. O uso de materiais
contemporâneos dão um novo vigor ao projeto, contrastando com as características japonesas, a
sensação de fluir o espaço exterior com o interior, a essência de cada material e a forte existência
de artesanato requintado, ganham agora uma nova vivência na contemporânea casa japonesa.
Para os japoneses, considerações como a longevidade da estrutura, o tamanho ou o conforto
não estão nas suas principais prioridades para o bem-estar, ao contrário do que acontece na
sociedade ocidental.40
A arquitetura japonesa, sofreu algumas restrições devido à escassez de terrenos e dos
pequenos lotes residenciais típicos desta tão densamente povoada ilha. Por outro lado, a casa
japonesa, é pequena devido a sucessivas subdivisões de terra em áreas residenciais, resultado dos
altos impostos sobre herança. Por norma, estes têm que vender uma parte do seu terreno para
pagar os chamados “direitos sucessórios”41. Assim resulta, nas cidades japonesas, uma densidade de
mosaicos – pequenos lotes.

a b

Figura 1. Vista aérea da cidade de Toquio, Japão (a), Vista aérea da cidade de Hakodate, Japão (b)

39
IWATATE, Marcia e Mehta, Geeta K. ; Japan Houses: ideas for 21st century living; Tuttle, Vermonte, 2011; p.9
40
IWATATE, Marcia e Mehta, Geeta K. ; Japan Houses: ideas for 21st century living; Tuttle, Vermonte, 2011; p.9
41
IWATATE, Marcia e Mehta, Geeta K.; op. Cit.; p.10

15
Com estas restrições relativas ao espaço de construção, houve a necessidade de arranjarem
novas estratégias, como a manipulação da luz ou a elevação dos tetos, que nos leva a ter a sensação
de espaço e amplitude. Um correto estudo da luz pode levar o espaço a parecer maior do que
realmente é, assim como o jogo de pés direitos duplos ou as várias alturas de tetos conforme o
espaço. Devido às casas serem bastante reduzidas em termos de área, os japoneses aproveitam todo
o espaço que não é usado ou era desperdiçado para arrumação.42 É usual que a parte de baixo das
escadas ou mesmo o chão da cozinha sejam transformados em armários devidamente disfarçados
dando-nos a sensação de não estarem lá.43

a b c d

Figura 7. Estratégias relativas às restrições de espaço e ganhos a nível de luz: núcleo central (a),
pátio (b), duplo pé direito (c), pilares (d)

Mais de 35% da população do Japão vive em pequenos ou médios apartamentos dentro de


um grande projeto chamado HUDCO, que foi fundado depois da Segunda Guerra Mundial, com o
44
objetivo de abrigar os milhares de desalojados depois dos bombardeamentos de 1945.
Para quem não tem alargadas possibilidades monetárias, as casas pré-fabricadas são uma
solução muito utilizada. A Daiwa House é uma empresa de casas pré-fabricadas que proporciona ao
cliente a escolha entre várias plantas de piso, que são construídas em fábricas e posteriormente
montadas no local, e em poucos dias estão prontas a habitar. Hoje em dia, 18% das novas casas são
pré-fabricadas e são 20% mais baratas que as convencionais. Mais de metade da população habita
em apartamentos a que chamam de “Maison”45, com 18 m2 de área, o que corresponde a cerca de
três vezes menos que um apartamento em Manhatan.46
Os japoneses foram ganhando aptidão para viveram em casas pequenas devido à qualidade
dos espaços públicos, municipais e comerciais em seu redor. Não têm o hábito ocidental de receber
e conviver em casa, o que é mais uma razão para que as suas casas não tenham grandes e espaçosas

42
BULL, Brett; Small House Tokyo: how Japanese live well in small spaces; DH Publishing, Tóquio, 2008; p.6
43
Documentário “Tokyo: living small in a big city”, episódio do National Geographic Channel, 2008, acessível online em
http://channel.nationalgeographic.com/man-made/galleries/episode-tokyo-living-small-in-the-big-city/at/manmade-tokyo-
2-11740/
44
IWATATE, Marcia e Mehta, Geeta K. ; Japan Houses: ideas for 21st century living; Tuttle, Vermonte, 2011; p.10
45
BULL, Brett; Small House Tokyo: how Japanese live well in small spaces; DH Publishing, Tóquio, 2008; p.4
46
Documentário “Tokyo: living small in a big city”,episódio do national geographic, 2008, acessível online em
http://channel.nationalgeographic.com/man-made/galleries/episode-tokyo-living-small-in-the-big-city/at/manmade-tokyo-
2-11740/

16
salas ou cozinhas. Saem de casa para bares ou restaurantes para essa interação social, mas até estes
espaços públicos são, muitas vezes, extremamente pequenos, tendo espaço somente para seis
pessoas.
As cidades cosmopolitas, sobrepovoadas e confusas já não deixam grande espaço à casa
tradicional japonesa. De facto, o japonês contemporâneo é fortemente pró-citadino. Hoje em dia, a
maioria da população japonesa vive nas cidades, para onde partem à procura de uma vida melhor.
Tóquio é uma das maiores e mais populosas cidades no mundo, tem uma área de 2,188 km2
e 37 milhões de habitantes47. No decorrer das suas ruas e nas esquinas, existem máquinas de venda
para tudo que seja possível vender, desde comida a roupa ou brinquedos. O que já está a ser parte
da cultura pois já existe um rácio de uma máquina por cada 11 pessoas.48
Para além das restrições de espaço na construção, existem também as dos automóveis. No
Japão é excessivamente caro estacionar o carro na cidade, cerca de 155€ por mês. Existem nove
milhões de carros e houve a necessidade de criar um novo sistema de estacionamento automático.
São parques subterrâneos em que o automobilista entra no estacionamento deixa o carro numa
plataforma que funciona como uma empilhadora, desta forma começa-se a usar o subsolo deixando
o solo mais livre. 49

a b

c d

Figura 8. Máquinas de venda automática pelas ruas de Tóquio (a - b), Sistema de


parques de estacionamento automóvel em Tóquio (c), esquema de parque de
estacionamento automóvel em Toquio (d)

47
Tóquio, in Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2015. Disponível
online: http://www.infopedia.pt/$toquio [conult. 2015-11-24]
48
Documentário “Tokyo: living small in a big city”, episódio do National Geographic Channel, 2008, acessível online em
http://channel.nationalgeographic.com/man-made/galleries/episode-tokyo-living-small-in-the-big-city/at/manmade-tokyo-
2-11740/
49
idem

17
O arquiteto Tadao Ando, Pritzker em 1995, construiu em 2003 a sua primeira habitação
mínima50 que surgiu a partir de um concurso organizado por uma revista. A casa de 4 m de largura
por 4 m de comprimento está adaptada para as necessidades do local. Local este que foi decisivo
para o projeto, pois o terramoto Hashin causou uma terrível devastação na área. Localiza-se ao
longo da costa de Hyogo, fora da Kabe na faixa comercial, numa área de 5 m de largura por 5 m de
comprimento que condicionou o seu design e deu origem ao seu nome. O módulo é um volume de
betão que se desenvolve em altura e funciona como um farol com vista sobre o mar.

a b f

c e

Figura 9. Casa 4x4 vista exterior (a), Vista de duas casas 4x4 (b), prespetiva da zona de refeições (c),
perspetiva cozinha (d), perspetiva do duplo pé direito do piso superior (e), esquema com plantas alçados e
corte da casa 4x4 (f)

Em 2006, os arquitetos Makoto Takei e Chie Nabeshima projetaram a Ring House no Nagano,
Japão. Uma invulgar casa situada no meio da floresta, de estrutura de madeira laminada, com cave
e dois pisos acima da cota de soleira. A principal inspiração foi a floresta, criando uma vista de
360º, dando origem ao seu nome “anel”. De interiores vazios de uma leveza extrema, pavimentos
de bétula e tetos brancos, que quase se dissipam no cenário, a casa dá a sensação de estar a levitar
sobre a floresta. Apesar de ter uma planta rigorosamente quadrangular, a leveza da simplicidade
dos seus interiores desmonta qualquer padrão rigoroso.51

50
Casa 4x4, disponivel online : http://www.pt.wikiarquitetura.com/index.php/Casa_4_x_4 [consult.2015-11-12]
51
JODIDIO, Philip; Architecture Now! Houses; Taschen; Colonia; 2009; p.382

18
a d g

b h

Figura 10. Vistas do exterior da habitação (a, b, c), Perspetivas do interior da habitação (d, e , f), Corte (g),
esquema da habitação (h)

Nas maiores cidades no Japão verificam-se altos níveis de densidade populacional, o que
acarreta desafios em virtude da falta de espaço. Esse facto obriga a adoção de soluções criativas,
coabitando construções velhas, novas, de diferente qualidade estética, zonas comerciais e
residenciais. Aproveitam todo o espaço possível existente, e cita-se o exemplo uma escola de
condução com o próprio circuito no topo de um edifício de escritórios; o aproveitamento da parte
de baixo de uma via rápida para um centro comercial; ou até a parte de cima de um viaduto para
um cemitério.52

52
Documentário “Tokyo: living small in a big city”, episódio do National Geographic Channel, 2008, acessível online in
http://channel.nationalgeographic.com/man-made/galleries/episode-tokyo-living-small-in-the-big-city/at/manmade-tokyo-
2-11740/

19
a b

Figura 11. Pista de escola de condução no topo de um edifício- fotografia (a), esquema (b)

Figura 12. Cemitério em cima de um viaduto- fotografia (a), esquema (b)

Le Corbusier defende “Se eliminarmos dos nossos corações e mentes todos os conceitos
mortos no que dizem respeito às casas e olharmos para a questão como um crítico e objetivo ponto
de vista, chegamos à Casa Máquina”53. No século XXI, com máquinas prontas para tudo, a casa não
precisa de ser uma máquina, mas sim uma base para lidar com o resto do mundo e as suas
mudanças, acrescenta Marcia Iwatate e Geeta K. Mehta do livro “Japan houses”.
Tudo o que pode ser eliminado é-o, e a calma espacial é reforçada com alguns símbolos que
evocam a natureza e beleza. Os espaços residenciais conduzem à contemplação do sagrado na vida,
são exemplo disso as casas de chá.
Assim, conclui-se que as casas de hoje devem equilibrar a forma de habitar e o modo como
vivemos e desejamos o mundo que nos rodeia,54 “já não se trata de subtrair, mas de não
adicionar.”55

53
Le Corbusier citado por John Pawson in Minimum; Phaidon Press, Londres, 2006; p.8
54
IWATATE, Marcia e Mehta, Geeta K. ; Japan Houses: ideas for 21st century living; Tuttle, Vermonte, 2011; p.10
55
ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodríguez; Minimalismos. Barcelona: Gustavo Gili S.A, 2001; p.9

20
2.3 Minimalismo como corrente estilística

2.3.1 Minimalismo

O termo «moderno» é genericamente usado para definir um estilo que se sobrepõe ao


antigo, ou seja, hoje o moderno é algo que não se podia fazer no passado. Especificando, na
arquitetura, o termo "moderno" define o período do Movimento Moderno. Este movimento teve
grande influência não só na arquitetura mas também no âmbito social, político e cultural da época.
Ainda hoje, muitos conceitos importantes revelados na altura do modernismo possuem uma grande
influência nos arquitetos contemporâneos. O movimento moderno introduziu, em parte, o conceito
de flexibilidade na habitação, o princípio da planta livre que permite interiores com espaços amplos
e a separação da estrutura de suporte da distribuição interior, caracterizado pela máxima supressão
de paredes intermédias, assim como de fachadas. Os modernistas foram ainda criativos na
construção e na tecnologia, como por exemplo nos métodos de construção inovadores como as
estruturas em betão e os novos materiais industriais permitindo aos edifícios uma maior leveza e
abertura.56 Estes princípios, para além de outros, foram defendidos pela maioria dos arquitetos
modernistas mais influentes e fazem parte dos cinco pontos indispensáveis da arquitetura moderna:
a planta livre, a fachada livre, os pilares, o terraço jardim e os vãos horizontais.57 Nesta
transformação, diversas individualidades foram relevantes e entre eles destacam-se pelos diversos
contributos, os utópicos Saint-Simon, Fourier e Ebenezer Howard, Cabet que iriam mais tarde
influenciar outras individualidades, estas mais sonantes, como William Morris, John Ruskin, Walter
Gropius, Bruno Taut, Le Corbusier e Frank Lloyd Wright58.
Todavia, o século XIX foi visto como o momento de quebra em que o pensamento e postura
do homem mudam radicalmente, em função do seu grande poder de produção. A Revolução
Industrial foi o grande incitador de inovações técnicas sem precedentes, de novas necessidades
geradas pelo êxodo rural e consequente crescimento desmedido das populações nas cidades, que
levaram a um aumento vertiginoso da produção contribuindo exatamente para essa reestruturação
da sociedade, inclusivamente a nível do seu espaço construído, sendo a revolução industrial a
grande responsável pelas mudanças a nível da produção e no trabalho pelas novas descobertas.59
Esta deu origem a uma das principais características da Arquitetura Moderna: o conceito de
industrialização e produção em série60. Honrava-se que o arquiteto era um profissional responsável
pela socialmente e correta construção do ambiente habitado pelo homem.

56
Disponível online http://www.educacional.com.br/reportagens/arquitetura/moderna.asp [consult. 20015-12-10]
57
Disponível online http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.088/208 [consult.2015-11-10]
58
Disponível online http://home.fa.ulisboa.pt/~al005625/arq.htm [consult 2015-11-15]
59
in Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2015. [consult. 2015-11-25 01:17:16].
Disponível na online: http://www.infopedia.pt/$revolucao-industrial
60
Disponível online http://www.tipografos.net/bauhaus/missao-bauhaus.html [consult. 2015-11-10]

21
Nesta transformação, novos conceitos foram repensados, “o mínimo” era uma conquista. A
habitação passou a ser construída com base nas medidas mínimas admissíveis de habitabilidade,
deveria responder às necessidades mínimas do homem, partindo do princípio de que as necessidades
do ser humano são igualmente padronizadas, como as casas em série ou o mobiliário produzido
neste período.61 A conceção deste tipo de habitação envolveria resoluções de amplas necessidades
biológicas e psicológicas no sistema da própria construção.62
Neste seguimento pode-se dizer que a habitação mínima surgiu no fim do século XX, e que
era um instrumento social indispensável para esta nova era. Mas não podemos dizer que o
minimalismo surge também nesta altura, pois este aparece inicialmente junto das belas artes63, na
arte minimalista, no início do mesmo século. A arte minimalista foi ampla e diretamente
influenciada por correntes abstracionistas no início do século XX, esta nova avant-garde surge ao
64
longo da década de 1960 nos Estados Unidos da América com a designação de Minimal Art pela
mão dede Jackson Pollock e Bernett Newman.65
Inicialmente não foi fácil caracterizar ou denominar o novo movimento artístico que estava
a surgir. Muitos dos seus artistas não queriam ser etiquetados, Donald Judd contestou “não gosto da
palavra ‘minimalismo’”66. Foram surgindo vários nomes para a arte minimalista: “estruturas
primárias”, “arte ABC”, “arte negativa”, até que em 1965 intitularam um artigo de “Minimal Art”67,
onde falava dos que hoje em dia são conhecidos como artistas minimalistas; Donald Judd, Sol Lewitt
e Robbert Morris.
Inicialmente esta corrente extrapolou os limites artísticos tradicionais, pois, não era
exatamente pintura nem escultura, não eram obras de volumes que renunciavam ao ilusionismo,
não tinham carácter tridimensional. Era uma nova arte absolutamente livre de objetos puros.68
A Minimal Art tinha a procura da máxima tensão formal e concetual, usando formas
geométricas elementares, de austeridade e monocromatismo onde a sua contemplação ganha nova
apreensão intelectual e sensorial.69 Esta nova arte também como as vanguardas precedentes se
manifestou a favor da valorização de universalizar o sentido da obra artística, devido à sua
necessidade de originalidade estética com a utilização de formas repetidas e de processos que nos
remetem a seriação e industrialização, e são nestes dois últimos que vemos a perfeição desta arte
pois estes apagam qualquer vestígio da intervenção do artista.70 O uso do rigor da pura geometria,

61
Disponível online http://www.tipografos.net/bauhaus/missao-bauhaus.html [consult. 2015-12-15]
62
ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodríguez; Minimalismos. Barcelona: Gustavo Gili S.A, 2001, p.20
63
ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodríguez; op. Cit.; p.36
64
Idem; p.20
65
CASTILLO, Encarna; Minimalism Design source; HarpperCollins; 2004; p.15
66
ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodríguez; Minimalismos. Barcelona: Gustavo Gili S.A, 2001; p.20
67
ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodríguez.op.cit.; p.20
68
Idem; p.24
69
Ibidem; p.15
70
Ibidem; p.26

22
de formas retilíneas, favorecem as obras dando-lhes uma vigorosa ideia de unidade sintética e
essencial71, tornando-as uma composição tridimensional sem efeitos ou ornamentação.
Além desta unidade e da simplicidade uma obra minimalista também é caracterizada pela
precisão técnica e do enaltecimento da materialidade dos elementos, a partir da qual exibe a
beleza própria.
“Para mim é fundamental não sujar as mãos”72 – afirma Dan Flavin, com este pensamento a
aproximação da forma de trabalho do artista com a do arquiteto fica mais próxima devido à
produção industrial e em série, projetando mas não executando, e assim supera-se o vínculo
tradicional da escultura. Ao serem produzidas industrialmente, as obras deixaram de ser camufladas
para se parecerem a algo, passam a ser o material e a forma no seu estado puro.73
Theo van Doesburg, pintor e editor da revista De Stijl, publica um manifesto com o nome
“Towards a plastic architecture”74, onde relaciona a vanguarda artística aos princípios formais
básicos de uma nova conceção de arquitetura, caracterizando-a como “abstrata, objetiva,
elementarista, informe, económica, de planta livre, assimétrica, antidecorativa, antimonumental,
anticúbica, aberta, flutuante e em equilíbrio dinâmico”75. Como a pintura neoplasticista que se
reduz a pontos, linhas, planos e cores primárias, esta abstrata arquitetura parte também de
elementos constitutivos essenciais, tais como massa, superfície, luz, cor e materiais. Ainda nesse
manifesto, o autor, assegura que se o contributo de todas as artes plásticas não fosse realizado, a
arquitetura era incompleta. Fundamentando isto com a estreita relação da arte abstrata com a
arquitetura76.

a b
Figura 13. Composições de Mondrian (a – b)

A escultura moderna começou a distanciar-se da figurada lógica do monumento, e inclina-se


para a representação dos seus próprios materiais e ao fetichismo da base, apropriando-se do
pedestal. A nova preocupação da escultura era criar formas abstratas com os novos materiais – aço,
vidro, betão – que vinham a ser incorporados na arquitetura.

71
ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodríguez; Minimalismos. Barcelona: Gustavo Gili S.A, 2001; p.16
72
ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodríguez; op.cit.; p.20
73
Idem; p.27
74
VAN DOESBURG, Theo; Towards a plastic architecture in De Stijl; Vol. VI, No. 6/7, p.78-83
75
VAN DOESBURG, Theo; op. cit.; p.78-83
76
Idem; p.78-83

23
Por muitos anos a arquitetura minimalista foi vista como escultura minimalista, onde a
relação entre um objeto minimalista e o espaço arquitetónico andavam a par, sendo difundidas. Em
1967, Michael Benedikt faz uma crítica às obras de Morris e Judd, “A escultura de Morris era um
bloco branco de 3,5 metros de largura que atraia a atenção de uma maneira especial para os limites
da galeria, especialmente para as paredes, com as quais tinha forte semelhança. Apesar da
coloração cinzenta que dominava, a fila de seis caixas de ferro galvanizado também parecia esculpir
o espaço exterior a elas, conduzindo o interesse mais ao espeço que as rodeava do que ao seu
próprio”.77 Aqui a escultura e a arquitetura começam a separar as fronteiras.

a b

Figura 14. Torres de la ciudad satélite – vista aereal (a), vista frontal (b)

É denominada de arquitetura minimalista quando a obra é apreciada unicamente com o


essencial, pela sua simplicidade, ou seja, com uma pureza de forma livre e limpa de excessos que
podem aparecer tanto exterior como interiormente.78 Dedica-se à repetição, ao equilíbrio, à
ordem.79 Diz-se então que o minimalismo foi adaptado de várias formas na arquitetura e no design
de interiores, onde podemos facilmente identificá-lo pela sua construção simples, o uso da cor
neutra80 e de materiais com essência militar81. Usufrui de uma geometria primária e de superfícies
puras, subtis. As fachadas uniformes convertem-se em planos contínuos de um simples material:
betão, pedra, vidro. A crescente redução de ornamentação e materialização exterior transpõe-se
para o interior. A ausência de rodapés, as estantes embutidas, redução dos aros das portas e
janelas, inexistência de puxadores e a transparência de divisórias são exemplos onde vemos isso.
Caraterística fundamental é também a necessidade de precisão na construção e fabrico.82 Pode-se
ainda destacar, nos espaços minimalistas a grande dimensão das peças de mobiliário utilizado, ou
mesmo a dimensão dos módulos de material dos pavimentos ou os panos de vidro. Esta caraterística

77
ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodríguez. Minimalismos. Barcelona: Gustavo Gili S.A, 2001; p.35
78
CASTILLO, Encarna; Minimalism Design source; HarpperCollins; 2004; p.35
79
ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodríguez. Minimalismos. Barcelona: Gustavo Gili S.A, 2001; p.24
80
ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodrígue; op. Cit.; p.25
81
PAWSON, John; Minimum; Phaidon Press, Londres, 2006; p.9
82
PAWSON, John; op.cit.; p.7

24
traz regularidade física e visual.83 A procura desta pela essência e pela atenção do detalhe
caminham lado a lado, dependendo uma da outra, e que revela questões importantes para o seu
funcionamento. A essência “explica o porquê de algo ser assim”84 enquanto a atenção do detalhe
deixa-os “respirar por si mesmo”85. O uso primário de estruturas, sendo estas imunes de formas
orgânicas ergonomicamente diferentes, elimina por si só o que é supérfluo e procura conseguir
formas intemporais que permitam uma perspetiva e um raciocínio complexo.86 Temos como exemplo
os arquitetos Herzog e Meuron que usam este elemento de forma natural como composição dos seus
projetos, o centro de sinalização “Signal Box” (fig.44) foi construído dessa forma, um edifício em
que as bandas de cobre escondem o seu interior revelando somente o seu material exterior.87
O minimalismo contém alguns elementos que podem ser entendidos como contraditóriosà
primeira vista. Apesar do nome nos indiciar para o mínimo, algo que exige pouco, o que
verdadeiramente acontece é o contrário: misturas como a humildade ascética e a soberbia
aristocrática, o uso de matérias-primas nobres ou de última tecnologia para que seja garantido o
acabamento perfeito, as formas que seriam previsivelmente neutras e anónimas são extremamente
afamadas e exaltadas como o exemplo do cubo galvanizado de Donald Judd e os interiores
imaculados de John Pawson.88
a b c

Figura 15. Cubo galvanizado de Donald Judd (a),Interiores imaculadores de John Pawson (b),Escultura em
betão de Donald Judd (c)

Alguns críticos, criaram três hipóteses sobre a génese do minimalismo89, quer no design
como na arquitetura, que dos anos noventa até agora, encontrou uma nova substância. Essas
hipóteses são: o minimalismo como oposição aos excessivos anos oitenta, mas como objeção, nega
as contribuições feitas antes desta altura; o minimalismo como resultado da crise económica, onde
a arquitetura oferecia novos modelos de sobriedade, simplicidade e compostura, mas tinha objeções

83
ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodríguez. Minimalismos. Barcelona: Gustavo Gili S.A, 2001; p.90
84
BERTONI, Franco; Minimalist Architecture; Birkhauser, Berlim, 2002; p.21
85
BERTONI, Franco; op.cit; p.21
86
Idem; p.22
87
Ibidem; p.22
88
ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodríguez. Minimalismos. Barcelona: Gustavo Gili S.A, 2001; p.15 e 16
89
BERTONI, Franco; Minimalist Architecture; Birkhauser, Berlim, 2002; p.23

25
como a anterior; e, por último, o minimalismo como um período de retorno. Devido à absoluta
necessidade de conseguirem classificar e catalogar esta arquitetura, criaram estas hipóteses.90
De forma prática, algumas palavras ganham uma conotação diferente, passando de um
sentido abstrato para único, por exemplo, luz para aquela luz; céu para aquele céu; sol para aquele
sol.91
Pode-se afirmar que é uma arquitetura nobre de luxo, que requer bastantes meios para
alcançar a pureza total de formas e materiais que garanta a sua perfeição imaculada92, “o que antes
era austero, simples ou sóbrio hoje é minimalista ou minimal, utilizando o feliz termo anglo-
saxónico” 93, o minimalismo, que nem sempre foi bem visto na arquitetura, mas que conseguiu o seu
lugar de destaque juntamente com as outras correntes estilísticas.94 Com a eliminação de todo o
ruído contemporâneo e com a procura pela natureza essencial das coisas, esta minimalista
arquitetura ganha contra a sua antecessora.95

a b c

Figura 16. Signal box de Herzog e Meuron (a), Igreja da luz de Tadao Ando (b), Museu Brasileiro da escultura de
Paulo Mendes da Rocha (c)

As construções que hoje são etiquetadas de minimalistas não têm como antecedentes artistas
do Minimal Art como Donald Judd, Sol Lewitt ou Robbert Morris, mas sim os projetos de Le
Corbusier, Adolf Loos ou Mies Van der Rohe. Na verdade muitos dos procedimentos usados pelos
minimalistas já tinham sido postos em prática na arquitetura modernista, vemos isso quando
falamos na abstração, economia de meios, a produção industrial, uso literal dos materiais e na
ausência de ornamentos. 96

90
BERTONI, Franco; Minimalist Architecture; Birkhauser, Berlim, 2002; p.24
91
BERTONI, Franco; op.cit.;p.21
92
ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodríguez. Minimalismos. Barcelona: Gustavo Gili S.A, 2001; p.15
93
ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodríguez; op. Cit.; p.6
94
CASTILLO, Encarna; Minimalism Design source; HarpperCollins; 2004; p.8
95
BERTONI, Franco; Minimalist Architecture; Birkhauser, Berlim, 2002; p.23
96
ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodríguez; Minimalismos. Barcelona: Gustavo Gili S.A, 2001; p.56

26
Como as obras minimalistas eliminam a referência alheia à sua qualidade de objeto, a
arquitetura elimina as referências para se libertar da armadura existente nos estilos históricos.97 A
arquitetura e a arte foram conduzidas a caminhos formalmente paralelos embora de filosofias
opostas. Quando a escultura se liberta da sujeição ao antropomorfismo da estátua ou do
monumento, a arquitetura segue a funcionalidade para se libertar, tornando-se purista.98
Peter Collins99 salienta que a ideia de pureza deveria ter uma forte presença estética, até
mais do que as rigorosas necessidades funcionais defendidas por Le Corbusier, ou então a exaltação
da estrutura de Mies. Complementa ainda que a pureza exige a simulação da estrutura onde as
superfícies são deixadas lisas, “puras” e quando existem elementos estruturais são estucados
uniformemente. “Os interiores reduziam-se a paredes brancas com um ou dois quadros abstratos
pendurados, e toda a arquitetura era qualificada de sala de cirurgia”100, com esta expressão “sala
de cirurgia” caracterizava-se os espaços interiores como “quadros mais perfeitos do mundo”101 da
arquitetura de Le Corbusier, e assim vemos a obsessão pela pureza que se alinhou com a pureza
estrutural que está presente nos arquitetos minimalistas atuais.
«O que está ausente na casa japonesa é tão importante como o que la está. Eliminação do
não essencial sempre foi parte intrínseca da arquitetura japonesa.»102 Ao analisar a arquitetura e o
design de interiores tradicionalmente japonês, iremos encontrar inúmeras semelhanças. Poucos
adornos, cores simples, formas e linhas limpas são das suas principais características, as quais
também se encontram no minimalismo uns séculos mais tarde. A ideia de que o minimalismo é
sustentado exclusivamente numa visão dos japoneses é tão errada como dizer que o minimalismo é
apresentado como um especial de desdobramento do modernismo.103 Dado ao facto do minimalismo
estar presente em várias épocas e culturas, este poderia vir a ser universal se a sua redução fosse
aceite em todas as culturas existentes.104
O escritor Antoine de Saint Exupery afirmava que o artista quando tinha que melhorar um
trabalho não se deveria perguntar “o que adicionar” mas sim “o que pode ser retirado”105. Critério
este que Mies celebrava do mínimo máximo, ou seja, o máximo definia o menor: o pormenor. Os

97
Saint Exupery, Antoine de citado por ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodríguez; Minimalismos. Barcelona:
Gustavo Gili S.A, 2001, p.56
98
ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodríguez;op.cit.; p.57
99
Idem; p.57
100
Citação de Petter Collins in ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodríguez. Minimalismos. Barcelona: Gustavo Gili
S.A, 2001, p.59
101
Citação de Petter Collins in ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodríguez. Minimalismos. Barcelona: Gustavo Gili
S.A, 2001, p.59
102
IWATATE, Marcia e Mehta, Geeta K. ; Japan Houses: ideas for 21st century living; Tuttle, Vermonte, 2011, p.9
103
PAWSON, John; Minimum; Phaidon Press, Londres, 2006, p.13
104
ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodríguez. Minimalismos. Barcelona: Gustavo Gili S.A, 2001, p.77
105
ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodríguez; op. Cit.; p.77

27
grandes do modernismo106: Le Corbusier, Mies van der Rohe e Loius Kahn, têm o seu trabalho
espelhado por diversos registos. Adolf Loos, um dos maiores polémicos escreveu de forma
deliberadamente provocadora, num artigo, que “ornamentos deviam ser considerados crime”.107
Mies van der Rohe criou a máxima do minimalismo, influenciado pelo seu mestre Peter
Behrens, quando disse “less is more”108, um dos maiores impulsionadores de referência das bases
deste movimento. Arquitetos como Bruno Tout e Frank Lloyd Wrigth foram influenciados por esta
filosofia, apesar de serem arquitetos com fortes bases modernistas.
Os pioneiros do modernismo, num certo momento do seu percurso, tornaram a simplicidade
parte da sua agenda, começaram a ter preocupações que iam ao encontro com as ideologias mais
tarde defendidas pelos minimalistas. Apesar das suas obras nunca se assumirem como minimalistas,
estes modernistas seguiam uma linha de simplicidade e de pureza que se aproximava a este
109
movimento. Arquitetos como Barragan, Silvestrin, Souto Moura, Pawson ou Zumthor afastam-se
dos típicos edifícios modernistas, que são completamente abertos para o exterior usando grandes
panos de vidro, preferindo, ao invés o uso de vidro opaco ou de pequenas aberturas, diferenças
estas que os distanciam dos mestres do modernismo.110 Sem retirar mérito a outros arquitetos, Mies
Van der Rohe foi quem conduziu aos seus limites extremos a abstração e a essencialidade, este
arquiteto é quem tem mais influência num estilo internacional e é devido aos seus cuidados que
sempre teve a nível de pormenores e materiais que é o arquiteto que se aproxima às preocupações
111
dos atuais arquitetos minimalistas.
Para Mies Van der Rohe, a regularidade simples, a abstração e a lei construtiva pura são os
meios para conseguir alcançar a máxima desmaterialização possível. O seu processo de abstração
reduzia o objeto com a finalidade de revelar a forma essencial oculta deste, onde a sua simples
geometria seria a imagem elevada fundamental e objetiva da ideia. Mesmo não indo pelo mesmo
caminho, Mies, chega ao mesmo destino que a arquitetura minimalista no que toca ao tipo de
tratamento de materiais, sempre garantindo a beleza e o seu uso literal, com o cuidado dos
detalhes e acabamentos. A beleza, que para este é um dos fatores principais, nas suas obras
manifesta-se pela subtração, onde cria um processo rigoroso que elimina tudo que não é essencial.
O que o difere nos minimalistas é o fim do processo, enquanto que para os minimalistas o fim é a
forma pura, o objeto específico, para Mies, a forma nunca se refere a si mesma, e a sua essência é
para aquilo que se remete112, e ainda escreve “Não me oponho à forma, mas unicamente à forma

106
BAEZA, Campo; Principia architetonica; Caleidoscopio, Portugal; 2013; p.48
107
LOOS, Adolf; Ordemanento e Crime; Cotovia, Lisboa, 2006; p.223
108
ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodríguez. Minimalismos. Barcelona: Gustavo Gili S.A, 2001, p.77
109
PAWSON, John; Minimum; Phaidon Press, Londres, 2006, p.10
110
BERTONI, Franco; Minimalist Architecture; Birkhauser, Berlim, 2002, p.22
111
ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodríguez. Minimalismos. Barcelona: Gustavo Gili S.A, 2001, p.62
112
ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodríguez;op. Cit.; p.65

28
como meta...”.113 Mies herdou de Behrens a ideia de transcendência e de Hendrik Berlage o
interesse pela contenção.114
Com características idênticas, o minimalismo escultórico e o ideário do movimento moderno
arquitetónico, Mies Van der Rohe coloca-os em prática como nenhum outro arquiteto tinha feito no
seu século. Sob a sua sombra tutelar, a arquitetura minimalista que é hoje conhecida como tal,
conjugou duas disciplinas para se formar, o nome de uma e o método de outra; seria uma espécie
de melhoria da modernidade, a sua versão corrigida. Esta nova arquitetura unia a sobriedade formal
moderna, aproveitando o que o novo século lhe dá como os materiais e as novas tecnologias.
O edifício Seagram, construído em Nova Iorque, impõe a sua presença na Park Avenue,
recuando discretamente da linha da rua, criando uma praça com 31 metros, contraria as habituais
construções dos arranha-céus. Com trinta e oito andares, uma torre de linhas simples formadas por
perfis I em aço e módulos retangulares de vidro. Embora os perfis em aço da fachada não sejam
estruturais, representam a ordem estrutural subjacente.115

a b

Figura 17. Vista exterior do Seagram Building (a), Vista frontal do pátio do Seagram Building (b), Esquema
geral de composição do Seagram Building (c)

A arquitetura minimalista é caraterizada por um vazio formal e um silêncio expressivo, esse


silêncio visto nas obras de Adolf Loos, Louis Kahn, Luis Barragan, AG Fronzini, Claudio Silvestrin,

113
Citação de Mies Van der Rohe in ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodríguez. Minimalismos. Barcelona: Gustavo
Gili S.A, 2001, p.68
114
ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodríguez. Minimalismos. Barcelona: Gustavo Gili S.A, 2001, p.68
115
"Clássicos da Arquitetura: Edifício Seagram / Mies van der Rohe" 14 Nov 2012.ArchDaily Brasil. Consultado online 9 Dez
2015. <http://www.archdaily.com.br/80364/classicos-da-arquitetura-edificio-seagram-mies-van-der-rohe>

29
John Pawson, Peter Zumthor, Alberto Campo Baeza, Eduardo Souto de Moura, Tadao Ando e Michael
Gabellini pode ser interpretado como intencional e uma motivada abstração, ou então como um
diálogo com dimensões espirituais extensas.116
Somente nos últimos anos, alguns dos arquitetos como Silvestrin, Pawson, Campo Baeza,
Zumthor, Souto Moura ou Tadao Ando, ganharam credibilidade suficiente para obter maior crédito
nesta corrente, apesar de apenas os dois primeiros serem conotados com esta corrente estilística..
Relembrando alguns dos trabalhos destes arquitetos que têm rasgos ou passagens pela
arquitetura minimalista, vale a pena referenciar algumas citações, ditas pelos mesmos, e
características sobre a sua arquitetura. Alolf Loos é o arquiteto caracterizado por “aristocrata”117,
por ser aquele que sabia misturar arquitetura e objetos com a forma de viver do sujeito. Silvestrin
contesta que “existem conteúdos cuja arquitetura quase representa uma consequência lógica. São
os valores éticos, mas é importante não transformar esses valores filosóficos ou de estilo de vida
numa bandeira, no sentido de que eles devem ser expressos em forma, através da arquitetura, onde
as coisas são o que são. Parte do meu trabalho é questionar convenções. Então decide como chegar
118
e o que fazer.” Tadao Ando, afirma que a “arquitetura deve conter espaços vivenciais que
119
conduzam para um desenvolvimento físico e psicológico do Homem” e identifica-se tentando
fazer esta arquitetura. Baeza explica que “a arquitetura nasce da ideia, forma-se pelo essencial,
com espaços de luz, e permite que as pessoas encontrem na beleza a única coisa que a arquitetura
é capaz de lhes oferecer” 120. Por último, Zumthor comenta o seu processo de criação: “quando eu
tento identificar as intenções estéticas que me motivam no processo de desenhar um edifício,
percebo que os meus pensamentos resumem-se a temas como lugar, materiais, energia, presença,
memórias, imagens, densidade, atmosfera, permanência e concentração... eu gosto da ideia que a
casa que construo contribui para a densidade atmosférica do local, um lugar inabitado que os
transeuntes se vão lembrar com prazer”121.
Esta arquitetura minimalista tem contribuído na tentativa de trazer paz tanto no mundo
como a nós próprios, com pensamentos e ideias de uma vida simples mas ao mesmo tempo com
consciência de sua estreiteza e imensidão.122
Dois dos principais e assumidos arquitetos minimalistas dos dias de hoje são John Pawson e
Claudio Silvestrin, e têm as suas obras espalhadas por vários pontos do mundo. John Pawson,
assume-se como minimalista e tem como principal foco a simplicidade que leva ao limite em cada
projeto. Claudio Silvestrin, que por um período de tempo chegou a ter uma sociedade com John
Pawson, tambem é dos arquitetos minimalistas que leva a simplicidade e a pureza ao máximo, como

116
BERTONI, Franco; Minimalist Architecture; Birkhauser, Berlim, 2002, p.11
117
BERTONI, Franco; op. cit.; p.56
118
Idem; p.56
119
Ibidem; p.56
120
Ibidem; p.57
121
Ibidem; p.57
122
Ibidem; p.58

30
se pode ver em todos os seus registos arquitetónicos. Em conjunto desenharam a Neuendorf
House123, uma casa de férias em Maiorca, Espanha, com vista para o mar e para as montanhas. A
habitação reúne certas convenções a nível do espaço interior e exterior, jogando assim com a
oposição da natureza crua e a formalidade da natureza; usa pigmentos do solo para tingir as
fachadas, uniformizando-as. O átrio é enfaticamente vertical, a altura exagerada dos muros
dramatiza a estreiteza da abertura da fenda. Interiormente a habitação é despida do supérfluo e de
ornamentações, com interiores brancos imaculados que transmitem uma pureza única, com vãos
estrategicamente posicionados, dando ainda mais ênfase à perfeição de cada divisão.
a b c

Figura 18. Vistas diferentes do exterior de Neuendorf House (a,b,c)

Silvestrin, desenha em 2002 em Dublin, a D Gallery Residence124. Esta situa-se sob um


penhasco com frente para o mar da Irlanda. De uma forma gráfica, a cobertura e o piso são duas
linhas horizontais que espelham o horizonte e o mar. A fachada de frente para o mar, é um grande
pano de vidro e é a fonte de luz durante o dia. É devido a esta fachada que os interiores
permanecem em contacto com o exterior. Esses interiores, unicamente de cor branca e de
mobiliário minimalista, contrastam com pontuais objetos existentes, dando ao utilizador uma
regularidade física e visual.
a b c

Figura 19 Vistas diferentes do interior da D Gallery Residence (a-b), vista exterior da D Gallery Residence (c)

123
Disponível online http://www.johnpawson.com/works/neuendorf-house/, [consult. 2015-12-13]
124
Disponível online
www.claudiosilvestrin.eu/mobile/index.php?option=com_content&view=article&id=15%3Adgalleryresidence&catid=1&Itemid
=9, [consult. 2015-12-13]

31
Como exemplo da arquitetura de Pawson, Tilty Barn125, em Essex, embora seja um projeto
de reabilitação, o arquiteto transformou um típico celeiro numa habitação. Tem forma em U, com
grandes envidraçados e paredes em gesso branco que contrastam com a complexa estrutura original
que foi deixada propositadamente. São os tão afamados interiores imaculados de Pawson, em cada
divisão as janelas são propositadamente posicionadas com determinadas vistas que impõem o seu
devido respeito e são merecedoras de uma pausa. A atenção do detalhe126 é levado ao pormenor,
desde a parede que não toca diretamente no piso de betão, deixando uma pequena margem de
5mm que a faz parecer levitar, até as estantes para livros que ficam viradas para a parede, para a
sala continuar com o seu espírito puro e perfeito. Exteriormente, a casa cerca um pátio destinado a
um cavalo, este também tem o seu estábulo com linhas simples e livre de excessos.

a b

c d e

Figura 20. Vistas diferentes do exterior de Tily Barn (a-b), Vistas diferentes do interior de Tilty Barn (c, d, e)

Assim conclui-se que o minimalismo pode ser definido como a perfeição dos objetos, quando
já não é possível melhorar através da subtração; é a qualidade dos objetos, pelos detalhes e
pormenores de cada componente que foi reduzido ao seu essencial; é o resultado da omissão do
inútil.

125
Disponível online http://www.johnpawson.com/works/tilty-barn/, [consult. 2015-12-14]
126
Programa Living with the future, episódio 4:Tilty Barn, BBC Four, Abril de 2007, Disponível online
https://www.youtube.com/watch?v=wH5WlOOD668, [consult. 2015-12-13]

32
2.3.2 Simplicidade

A simplicidade foi ao longo dos tempos seguida pelos ideais de inúmeras culturas e o
minimalismo arquitetónico partilhou dessa mesma procura que resultou no contacto com o essencial
da existência e na conceção zen da beleza e na nudez extrema. Numa simplicidade exaltada através
dos verdadeiros valores da vida e na eliminação de tudo o que é supérfluo e descartável na vida127.
Como a pobreza defendida no pensamento zen, o Homem originalmente não tem a posse de nada e,
à luz da cultura japonesa, Wabi é a qualidade que se consegue obter da pobreza voluntária
apreciando a beleza das coisas incompletas128. Como se pode perceber, várias religiões partilham do
ideal de pobreza que culmina na não possessão, desde o budismo zen aos seguidores protestantes,
onde a pobreza material é unida à riqueza espiritual.
Esta simplicidade minimalista não foi só seguida por várias religiões, como foi também por
um vasto número de tendências, influências e movimentos artísticos que reconstruiu e desenvolveu
a folga entre a forma concisa e a perfeita simplicidade.129
A arquitetura de simplicidade transporta-nos para uma forma de viver e sentir diferente,
sendo assim uma vertente mais calma, serena e compensadora130. Reduzindo o mínimo ao essencial,
o minimalismo defende a verdade, a autenticidade dos lugares e objetos, a nudez para conseguir
alcançar a expressão máxima da simplicidade. Este radicalismo tanto para Le Corbusier como para
Mies requeria uma especial disposição espiritual.131 Espiritualidade, essa, que juntam com o
equilíbrio entre as qualidades físicas, abstracionistas e o quotidiano e o absoluto.132
Ao falar-se numa arquitetura de repetição, equilíbrio, ordem, jogo de figuras geométricas,
materiais e cores reduzidas, pensa-se em simplicidade, a qual é tão difícil de alcançar.133
Na arquitetura minimalista, a aproximação da simplicidade é difícil de conseguir alcançar,
John Pawson acrescenta ainda que “A pura geometria é outra qualidade que torna a simplicidade
mais apreciada.”134 Pawson argumenta que composições que são baseadas na larga escala de
repetições tende a exibir a qualidade e a simplicidade. Os templos clássicos com as suas fachadas
ritmadas são exemplos disso. Esta repetição invoca o sentido de ordem. Muito do impacto visual da
idade da pedra encontra-se na simples repetição das formas massivas e monolíticas, isto mostra que
mesmo grandes estruturas podem ter a qualidade da simplicidade igualmente às de menor escala.135

127
BERTONI, Franco; Minimalist Architecture; Birkhauser, Berlim, 2002, p.10
128
ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodríguez. Minimalismos. Barcelona: Gustavo Gili S.A, 2001, p.80
129
BERTONI, Franco; Minimalist Architecture; Birkhauser, Berlim, 2002, p.19
130
BERTONI, Franco; op. Cit.; p.10
131
ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodríguez. Minimalismos. Barcelona: Gustavo Gili S.A, 2001, p.81
132
BERTONI, Franco; Minimalist Architecture; Birkhauser, Berlim, 2002, p.21
133
ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodríguez. Minimalismos. Barcelona: Gustavo Gili S.A, 2001, p.81
134
PAWSON, John; Minimum; Phaidon Press, Londres, 2006, p.9
135
PAWSON, John; op. cit.; p.8

33
Definir simplicidade é uma tarefa difícil, pois é uma qualidade de grande escala, que
abrange histórico e geograficamente todas as culturas ao longo de gerações. Há quem equacione a
simplicidade com a falta de densidade no modernismo, com a estética da idade da máquina,
despida de ordenamentos e cada detalhe é reduzido ao mínimo pormenor. A simplicidade torna-se
difícil de alcançar devido a indução em erro ou mesmo do que irrefletido utilitarismo ou
pragmatismo, onde exclusivamente a arte no seu lado abstrato depende do domínio da capacidade e
rigor da representação do desenho.
Embora as suas referências literais vão ao encontro da década de 1960, como acima descrito
(subcapítulo 2.3.1.), existiram algumas manifestações arquitetónicas anteriores à época datada da
sua criação.136 Na época medieval a ordem dos cartuxos, como referido anteriormente (subcapítulo
2.1) definiam nos seus mosteiros a pureza e a simplicidade levada ao máximo. Neste alinhamento,
os mosteiros tinham um aspeto de pobreza, mas por outro lado tornaram-se exemplos das mais
belas obras de arquitetura. A simplicidade que está presente nestes edifícios dá ênfase à sua
riqueza arquitetónica. Esta simplicidade, neste caso também era levada à forma de habitar, pois
estes viviam em pequenas celas sem adornos ou bens pessoais.137 Igualmente no caso dos simples
bancos de pedra dos mosteiros medievais ou as bases dos edifícios renascentistas, existe um sentido
de valores como a pausa e o respeito perante eles que, não são induzidos no que é considerado mais
confortável ou ergonomicamente correto.138
Do resultado de culturas e arquitetos de conotações distintas e de diferentes formações,
existiu a obra de redenção formal do século passado, hoje, áreas e arquitetos, igualmente de ideias
e formação independentes, contribuem139 para a delineação do movimento internacional da
simplicidade minimalista. Enquanto no alto modernismo abrange, a simplicidade na arquitetura não
pode ser equiparada somente com o modernismo. Existe uma antiga, rica e ampla tradição que está
presente.
Fra Angelico140 afirma “a verdadeira riqueza consiste em começar com pouco” e quatro anos
depois Ludwing Wittgenstein141 escreveu “a diferença entre o bom e o mau arquiteto é que o mau
cede a todas as tentações e o bom resiste.”. Pawson refere que Dieter Rams, designer industrial,
afirma que para conseguirmos um bom design é uma questão de desenhar o mínimo possível e
acrescenta “a única solução é a simplicidade”.142

136
PAWSON, John; Minimum; Phaidon Press, Londres, 2006, p.9-10
137
ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodrígue;. Minimalismos. Barcelona: Gustavo Gili S.A, 2001, p.77
138
BERTONI, Franco; Minimalist Architecture; Birkhauser, Berlim, 2002, p.22
139
BERTONI, Franco; op. cit.; p.54
140
Fra Angelico, in PAWSON, John; Minimum; Phaidon Press, Londres, 2006, p.11
141
Ludwig Wittgenstein citado por PAWSON, John; Minimum; Phaidon Press, Londres, 2006, p.11
142
PAWSON, John; Minimum; Phaidon Press, Londres, 2006, p.11

34
A arquitetura de simplicidade não nasceu a partir do nada, esta pertence à história: desde o
palácio de Katsura a Piet Mondrian, do moderno às evoluções orientais presentes no trabalho de
Louis Kahn até aos trabalhos de Herzog e Meuron.143
A poluição visual dos meios de comunicação tem influenciado o termo “simplicidade
minimalista”144 e isso tem-se refletido nos trabalhos e nos arquitetos da pior forma. Não é uma
tarefa fácil, a nova simplicidade minimalista afirmar-se no mundo arquitetónico que adotou a
superfluidade estética e a exuberância técnica como padrões de suporte.
Pawson, refere-se ao seu livro como “uma tentativa de cristalizar os pensamentos da noção
de simplicidade que pode ser aplicada na arquitetura ou na arte. Para além disso, para discutir a
simplicidade como forma de viver, olhando a simplicidade de forma a ordenar e definir os rituais e
necessidades do quotidiano.”145
Alberto Campo Baeza, projeta DBJC House, uma habitação com frente para o oceano em
Cadiz. Com uma forma retangular, de espaços horizontais, ladeado por paredes brancas em que o
volume se sobrepõe, fundindo-se com o terreno. É formada por três lajes de betão paralelas ao mar
e formadas a partir da rua. Toda a habitação tem luz direta, devido aos vãos direcionados a
nascente. O piso intermédio, por ser maioritariamente em vidro dá a sensação de leveza e pureza
devidos ao seus brancos interiores, fazendo o andar superior levitar sobre ele.

a b

Figura 21. Vista do interior de DBJC House (a), vista do exterior de DBJC House (b)

Outro exemplo de simplicidade arquitetónica é a House O, de Sou Fujimoto, uma habitação


pensada para férias, de um único piso, inserida numa zona rochosa da costa do Pacífico, Chiba, no
Japão. Inspirada nos ramos de uma árvore, é capaz de transmitir a sensação de proximidade com o
oceano, possui espaços básicos, sem divisórias criando a ideia de casa privativada, com uma forte
relação entre a natureza e o Homem. É uma casa de mobiliário simples e de aparência bastante
austera, a sua articulação angular de caixas de betão e vidro impõe-se no cenário de forma a
estabelecer um diálogo com a linha costeira.

143
BERTONI, Franco; Minimalist Architecture; Birkhauser, Berlim, 2002, p.41
144
BERTONI, Franco; op. Cit.; p.54
145
Idem; p.57

35
a b c

Figura 22. Vistas diferentes do interior da House O (a-b), vista do exterior da House O (c)

A ideia de simplicidade é o ponto principal partilhado por várias culturas onde o olhar para a
vida é livre de excessos e pesos. Dos conceitos japoneses do zen até Henry David Thoreau, questões
como a simplicidade ou o mínimo para viver sempre levaram a oferecer a sensação de liberdade,
sendo que “evitar o irrelevante é caminho para enfatizar o importante”146
Concluindo com o pensamento de Pawson no seu livro147, podemos afirmar que conquistar a
simplicidade requer um enorme esforço, criando-a através da redução ao essencial minimalista, é
algo que requer paciência, esforço e cuidado. O vazio permite-nos apreciar o espaço como ele
realmente é, contemplando-o de forma serena e calma, com a capacidade de tornar a arquitetura
viva.

146
ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodríguez. Minimalismos. Barcelona: Gustavo Gili S.A, 2001, p.75
147
PAWSON, John; Minimum; Phaidon Press, Londres, 2006, p.21

36
3. Habitar versus Habitação
Na perceção do vínculo Homem-Arquitetura o importante a entender são as questões
envolvidas na conceção da habitação. O Homem apropria-se de um espaço habitacional de forma
pessoal para concretizar as suas atividades diárias, sempre em função da arquitetura. Existe, assim,
uma relação intrínseca entre o modo de habitar e os hábitos do Homem, sendo este, o Homem, que
interliga a relação entre os conceitos habitar e hábito, que não existiriam sem a sua influência.
Naturalmente, a habitação tem que funcionar em comunhão com o Homem, tal como uma
máquina que responde a determinadas funções, e que, Le Corbusier denomina “máquina de
habitar”, como foi referido anterior no capítulo “mínimo japonês”.148
Este arquiteto, Le Corbusier, com esperança de chegar à perfeição, descobre a regra que
uniformiza a aplicação da razão dourada em relação com o corpo humano: o Modulor.149 Um sistema
organizado e rigoroso com base na matemática e na escala humana, onde as medidas ganham corpo
e ocupam um espaço físico. Este sistema vem a ser, inicialmente, uma mais-valia para a construção
em série. Com esta fusão torna-se possível a conceção da habitação com dimensões reduzidas.
Desta forma, sendo o “modulor” um instrumento que segue as medidas do corpo humano
dadas pela secção de ouro e a sequência de Fibonacci150, podemos então dizer, que também estes
dois estão implícitos na arquitetura de épocas passadas que seguiam uma lógica projetual da escala
humana. É com esta descoberta que as obras de Le Corbusier passam a ser regulamentadas a partir
do “modulor”, quer seja na escala da habitação mínima ou mesmo na escala da cidade.

a b

Figura 23. Modulor de Le Corbusier (a), sequencia de Fibonacci (b)

Esse interesse pela otimização do espaço é alimentado pelo desafio de conseguir com o
mínimo possível, que este se adeqúe às necessidades dos seus habitantes e aos potenciais usos que
estes lhe poderão atribuir, de modo a que os espaços, embora mínimos, sejam interessantes e
agradáveis, numa procura que tem por base uma visão poética do essencial.

148
Le Corbusier citado por John Pawson in Minimum; Phaidon Press, Londres, 2006, p.8
149
Neufert – arte de projetar em arquitetura 17º edição; Editorial Gustavo Gili, SL, Barcelona, 2010; p.43
150
Neufert – arte de projetar em arquitetura 17º edição; Editorial Gustavo Gili, SL, Barcelona, 2010; p.41

37
Desta forma, a “máquina de habitar” tem que ser capaz de se adaptar a qualquer homem,
pois quando é apropriada, o espaço acaba por se moldar aos hábitos de cada um. Seguindo esta
linha de pensamento, ainda que duas casas sejam conceptuais, formal e materialmente idênticas,
nunca existem duas iguais, pelo facto de terem sido apropriadas por pessoas distintas.
No caso da arquitetura minimalista, esta reflexão é uma mais-valia, uma vez que a
conjugação de tais aspetos num espaço destes poderá resultar numa habitação ideal. Eliminando
tudo o que é supérfluo e em excesso, ficando só o essencial. Para a conceção de um espaço
minimalista a versatilidade e multifuncionalidade de funções que articulam entre si e o homem é
um ponto de elevada importância. Desta forma, o espaço é rapidamente adaptado às rotinas do
Homem, tudo “O espaço propõe e o individuo dispõe.”151

151
ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodríguez. Minimalismos. Barcelona: Gustavo Gili S.A, 2001, p.124

38
3.1. Segundo a tradição japonesa

A casa tradicional japonesa é um testemunho vivo da cultura da simplicidade, das premissas


Budistas, tanto como do relacionamento particular dos japoneses com a natureza, com origem no
Xintoísmo. Na crença Budista, a casa era um local temporário de passagem o que coincide com a
construção flexível, de estruturas leves mas preparadas para proteger os seus habitantes do calor e
do frio extremo. A flexibilidade da estrutura, foi também pensada de modo a aguentar as
frequentes investidas dos terramotos.152
Os japoneses apoiam-se num princípio moral e estético chamado Wabi que valoriza a beleza
da simplicidade e austeridade que procura a serenidade e transparência que a ela pertence. Wabi
defende que o excesso de possessão e consumo é um peso e diminui bastante o enriquecimento da
vida. 153
O uso do módulo na arquitetura japonesa é de importância fulcral e é uma característica
que ainda hoje se mantém. Com o uso deste esquema, pretende-se poupar em trabalho e espaço,
conseguindo ao mesmo tempo a racionalização do processo de produção e providenciando um
sistema de vários componentes compatíveis flexíveis e intercambiáveis. O tapete Tatami, tapete
grosso de palha de arroz que pode ir desde o verde-claro a um ligeiro dourado, com os limites
bordados a linho ou a brocados de diferentes cores, transformou-se no módulo tradicional de 1,8 x
0,9 metros (o espaço ocupado por um adulto no seu sono) do design arquitetónico de interiores. A
disposição dos Tatami transformou-se num padrão pré-organizado, em que o tamanho de cada sala
podia ser descrito como tendo as dimensões de três tapetes, quatro tapetes e meio, seis tapetes ou
dez tapetes e assim sucessivamente. Ainda hoje este sistema é usado pelas agências imobiliárias na
informação descritiva das propriedades que vendem.154
Os espaços interiores de características minimalistas, de coloração neutra em que as
paredes fixas são rebocadas e uniformemente pintadas com cores de tons terra, não são apenas
resultado de uma estética inspirada nos princípios do Budismo, como já vimos, mas é também
resultado da necessidade de maximizar o espaço, o que conseguem, usando com os outros artifícios,
o da transformação na função dos espaços.
A simplicidade no Japão é significado de sofisticação, o shubui155, que significa, austeridade
no gosto, seja na forma de vestir ou de se comportar, tem o seu exemplo máximo nos interiores
tradicionais japoneses. Na criação de uma estrutura aparentemente simples, que é no entanto o
resultado de séculos de evolução. A estrutura do edifício é constituída por lintéis e pilares, estes
são deixados sem adornos, mas a sua madeira é cuidadosamente escolhida pela sua cor e o seu
padrão, de modo a combinarem entre si, sendo depois niveladas e envernizadas. Certas vigas são

152
ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodríguez. Minimalismos. Barcelona: Gustavo Gili S.A, 2001, p.82
153
ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodríguez; op. Cit.; p.80
154
PARRAMORE, Lisa; Japan Home – inspirational design ideas; Tutle, Vermonte, 2010, p. 27
155
ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodríguez. Minimalismos. Barcelona: Gustavo Gili S.A, 2001, p.83

39
deixadas praticamente no seu estado natural como troncos de árvores fazendo assim a ligação com
o jardim, e contrastando com o aspeto retilíneo do todo. A simplicidade na cultura japonesa, está
também associada à utilização dos materiais no seu estado natural, o uso da madeira simples está
bastante presente nas suas habitações assim como também do aproveitamento das qualidades
naturais dos materiais no artesanato.
Nota-se, de facto, uma certa frugalidade e simplicidade nos interiores devido à necessidade
de criar um espaço vivencial mais amplo, e para tal não o carregam com adornos.
A relação entre os espaços interior e exterior é da maior importância, e na casa há de facto
certas barreiras que desenham a linha de separação.
Segundo a escritora Lisa Parramore do livro “Japan home”156, para os japoneses existem
três coisas fundamentais que fazem parte do seu espaço de vivência – a chuva, o jardim e o
exterior. A palavra casa para os japoneses é Katei que é uma combinação de casa “ka” e de jardim
“tei”, pois o jardim é parte fundamental das suas casas.
A abordagem da beleza numa perspetiva da habitação japonesa, pode ter vários conceitos
para a descrever, o sukiya e o shibui são dois deles. O primeiro é um estilo arquitetónico do século
XVI, remetente à prática da cerimónia do chá que permanece até os dias de hoje. Rejeita a
abundância e a estravagância. Enquanto que o outro, shibui refere-se à própria beleza. A um objeto
é-lhe atribuído o nome de shibui quando este tem características como simplicidade, utilidade mas
elegância. Relativamente à filosofia de vida japonesa, têm uma aguçada sensibilidade para a
natureza e os seus ritmos, como o uso de materiais naturais que os leva a entrar em contacto com a
natureza. A tradicional katei é composta por palha, papel, madeira, bambu, pedra e água, tratados
e nunca disfarçados. A madeira é deixada sem acabamento para melhor apreciação do seu grão e
patina; o papel é usado pela sua translucidez e luminescência; a água da chuva flui através de uma
trabalhada corrente em vez de uma calha escondida.
A assimetria dos arranjos dos materiais e da arquitetura é indispensavelmente importante.
Existe sempre uma tensão agradável na estética japonesa, uma consciência de como a arte interage
com o espaço.
Lisa Parramore divide o seu livro em quatro capítulos, os quais acha serem os principais
princípios de uma casa japonesa. O primeiro capítulo fala dos espaços existentes e nos aspetos do
estilo de vida. O segundo explica que uma divisão pode ter a funcionalidade que é necessária. O
terceiro contesta o uso de mobiliário e acentos e, por último, o quarto capítulo é dedicado ao
jardim, o espaço que complementa uma casa japonesa.

1.“Espaços flexíveis na casa japonesa”157


A tradicional casa japonesa apresenta-se ao mundo com um grande telhado e acomoda uma
série de espaços flexíveis no seu interior. Esta capta a sua essência contendo espaços que mudam
consoante a sua utilização. Painéis deslizantes dão a privacidade necessária como também fazem

156
PARRAMORE, Lisa; Japan Home – inspirational design ideas; Tutle, Vermonte, 2010, p. 8
157
PARRAMORE, Lisa; op. Cit.; p. 17

40
com que espaços adjacentes se tornem num só, mais amplo, e as paredes amovíveis são usadas para
a incorporação do jardim no seu espaço vivencial.
Quando os espaços são pequenos a exposição das vigas ou treliças expande a área, o facto
do pé-direito ser mais alto do que o comum abre o espaço trazendo a sensação de amplitude e
oferece-nos uma maior conexão com a arquitetura.
O exterior está presente em todos os interiores, através de grandes painéis de vidro,
combinados entre portas deslizantes e vidros fixos, que transportam o jardim para suas habitações.
A aplicação de painéis shoji, portas translúcidas de moldura de madeira e papel no seu interior, ao
longo do vidro têm várias funções, como por exemplo difundir a luz solar.
A autora completa esta introdução de capítulo dizendo “Da mesma forma, o papel do
espaço vazio em um quarto japonês é tão importante quanto o que é tangível.“
As transições desta tradicional habitação são deliberadas através da visão pública/privada e
exterior/interior. Criar um entendimento entre a descoberta do portão ladeado por um muro ou
uma cerca ou uma ponte que sobrepõe a água, sugere que o mundo para lá do muro é deixado para
trás. A entrada da casa é a transição mais importante, o genkan, é um pátio, ladrilhado ou de betão
nivelado, onde o calçado é removido para manter a pureza do espaço interior e criar uma atmosfera
mais serena e tranquila. 158
As salas de estar japonesas são despidas de mobiliário ocidental, são prósperos numa
simplicidade e modernidade de cores. São espaços projetados para o apreciamento dos tatames,
tapetes típicos japoneses, e sempre que possível com vista para o jardim. O mínimo de móveis
contribui para a sensação de espaço e tranquilidade do espaço que por vezes é bastante pequeno. A
combinação de linhas horizontais e verticais criam ordem e harmonia. Os adornos existentes passam
pela escolha de umas flores num vaso, plantas ou uma paisagem pintada nas portas dos armários. 159
a b c

Figura 24. Ligação do interior para o exterior (a), Sala japonesa (b), Gekan (c)

Os espaços para jantar, estão muitas vezes nas salas de estar, com a mesa baixa sobre os
tatames e almofadas onde se sentam. A esta mesa baixa chamam de kotastu que contém um
elemento de aquecimento elétrico na sua parte inferior. Alguns kotastus têm uma base para maior

158
PARRAMORE, Lisa; Japan Home – inspirational design ideas; Tutle, Vermonte, 2010, p. 21
159
PARRAMORE, Lisa; op. Cit.; p. 27

41
conforto para a colocação dos pés. Este é um elemento central onde realizam maior parte das suas
atividades. A decoração deste espaço é feita com uma pedra ou um bule de chá de ferro. A loiça
que usam são belas cerâmicas que elevam os objetos diários a obras de arte. 160
Muito antes de se tornar popular a “divisão exterior” (outside room) 161, o japonês já tinha
aproveitado a área ao longo do beiral do telhado criando o engawa, uma varanda especial que
funciona como interface entre o jardim e a casa. É feita de madeira ou bambu, com uma largura
média de um metro, pode ainda ser interior ou exterior. No inverno colocam umas persianas de
madeira fazendo deste um corredor.
Esta área beneficia a ligação da casa com o exterior, abrindo os shoji e os painéis de vidro,
cria a agradável sensação do exterior entrar no seu interior.
162
Os quartos por muitas vezes têm várias funções para além da cama para dormir. No piso
de tatame é colocado o futon, que é a típica cama japonesa, na hora de dormir e pela manhã esta é
arrumada para tornar a divisão mais ampla ou mesmo dando-lhe outra função.
Como é um país de atividade vulcânica, tem muitas nascentes de água quente e desde
sempre este povo as procurou para o relaxamento ou mesmo para fins terapêuticos. Este espaço é
subdividido em três áreas, área para trocar de roupa, área da pia e a área do banho. A área de
trocar de roupa é um espaço exclusivo para seguidamente ir para o banho, é aqui que há o uso do
sabão antes de entrar na banheira ou ofurô. 163
As banheiras podem ser feitas de betão, azulejo, fibra de vidro mas o mais utilizado é
cipreste perfumado. O seu principal requisito é ter a profundidade suficiente de água para chegar
ao nível do pescoço. Existe sempre um jardim privado do lado exterior a banheira, o que eleva o
banho para um ritual de limpeza da alma. Este não precisa de ser grande, é vedado com bambus ou
madeira para haver privacidade.
Os painéis shoji são perfeitos para disfarçarem as prateleiras ou armários existentes.

a b c

Figura 25. Quarto de dormir (a), Varanda (b), Banheira com vista para o exterior (c)

160
PARRAMORE, Lisa; Japan Home – inspirational design ideas; Tutle, Vermonte, 2010; p. 33
161
PARRAMORE, Lisa; op.cit.;p. 39
162
Idem; p. 44
163
Ibidem; p. 51

42
2.”Tatami e o chá”164
A cerimónia do chá tem um lugar de elevada importância na cultura japonesa, o ato de
beber chá é um sagrado ritual chamado chanoyu. Igualmente importante, o cenário tem uma grande
influência. Esta atividade é realizada numa espaço que é construído especificamente para ele, a
casa do chá que segue o estilo arquitetónico sukiya. Hoje em dia este espaço é também usado para
a prática de yoga ou meditação.
“Se o coração é puro, o chá saberá bem” 165, esta frase explica a filosofia que está por trás
da cerimónia do chá. Esta sala deve-se manter simples e livre do excesso de ornamentação.
Privilegia-se o uso de materiais como a madeira o papel e a palha, sempre com cores suaves.
O piso é de esteiras de palha cobertas por tatamis, as paredes são de tinta de areia de cor
ocre ou musgo; o teto em madeira ou pano de grama. Uma alcova, tokonoma é o ponto principal da
sala de chá.
166
A casa do chá é, como a sala do chá, inspirada num design refinado e sóbrio. Situa-se no
jardim o que oferece uma serena e natural cerimónia do chá.
A importância da transição, que foi referida no capítulo um, aparece de novo para o jardim
de chá. O percurso realizado para chegar à casa de chá tem que ser gratificante, um momento para
esquecer os problemas do dia e entrar em um interlúdio excecional. Existe uma separação física
entre o jardim de chá e o jardim da habitação, com um caminho desenhado por pedras. Na parte
exterior existe uma pia de pedra no seu estado robusto e um simples banco para que se preparem
para o ritual dentro da casa do chá.
O irori167, é uma lareira construída no piso situada no centro da sala e considerada um
ponto fulcral de inspiração japonesa. É por norma de forma quadrangular com uma tampa em
tatami, nivelando-a com o piso. Com um gancho, jizaikagi que suporta uma chaleira de ferro, usada
para ferver a água para o chá. Este elemento pode ainda ser visto como uma atraente peça de
design.
O principiante da cerimónia do chá tem que ter um elevado cuidado na escolha dos
utensílios tanto para o armazenamento do chá, como para a preparação ou a escolha dos chawan,
chávenas, para servir. O chadogu, implementos do chá autênticos que acrescentam beleza a sala
japonesa, fazem parte da etiqueta pela qual o convidado mostra gratidão ao anfitrião. Chawan é a
peça central de toda a cerimónia, umas elegantes chávenas cerâmicas. 168

164
PARRAMORE, Lisa; Japan Home – inspirational design ideas; Tutle, Vermonte, 2010; p. 55
165
PARRAMORE, Lisa; op.cit.; p. 56
166
Idem p. 64
167
Ibidem; p. 73
168
Ibidem; p. 77

43
a b c

Figura 26. Mesa de chá sobre os tatamis (a), Casa do chá (b), Implementos do chá no interior da casa do chá
(c)

Uma sala japonesa com seus padrões estéticos, segue uma linha entre a arquitetura e os
acessórios. Como já foi explicado, a impermanência é umas das grandes caraterísticas intrínsecas ao
design japonês, onde as paredes podem ser movidas, os deslizantes painéis shoji; o que durante o
dia era uma sala, torna-se um quarto durante a noite.
Distingue-se a linha da forma-função. As portas dos armários pintadas com elementos da
natureza passarem por obras de arte ou mesmo a área posterior de uma escada que é uma área de
arrumação, estes aproveitamentos dão ao arquiteto versatilidade. Ao mesmo tempo dão ao
habitante diferentes formas de integrar o mobiliário e de habitar os espaços. 169
É um facto assente que a luz natural melhora o estado psicológico e aumenta a criatividade
e produtividade, o que nos faz reduzir a luz artificial. Assim os painéis shoji170 são cada vez mais
utilizados. É um elemento de design japonês e é inserido na parte interior dos painéis de vidro, é
bastante elegante e tem como papel fundamental trazer luz natural e difundir o brilho do sol.
Também podem ser usados como divisória, cobrir uma janela ou esconder armários.
Estes painéis são feitos de papel artesanal washi que é de casca de algumas árvores e
arbustos específicos, ou de papel casca de amoreira que é o mais comum.
Hoje em dias os shoji são feitos de materiais que tem uma duração maior como mylar ou
fibra de vidro.
Denominados de sudare171, as persianas de bambu são afixadas nos beirais interiores e
desenrolam-se para proporcionar alívio de calor ou sol, especialmente quando a sala principal está
direcionada para sul. Estas também no inverno têm uma função, maximizar o ganho de luz.
Estas persianas são montadas numa armação leve de madeira, chamada de yoshido, quando
as portas de vidro deslizantes ou os painéis shoji são retirados para permitir a circulação de ar de
todo o interior.

169
PARRAMORE, Lisa; Japan Home – inspirational design ideas; Tutle, Vermonte, 2010, p. 84
170
PARRAMORE, Lisa; op.cit.; p. 86
171
Idem; p. 91

44
Os painéis decorativos japoneses, byobu172, são considerados uma obra-prima com forma e
função. Tanto na arte como na arquitetura, estes painéis são usados como parede amovível ou para
tapar a vista, ou então pendurados na parede para serem apreciados como pinturas.
São feitas com quadrados de papel leve e articuladas em conjuntos de dois ou seis painéis.
O típico painel consiste em seis painéis com uma cena que percorre toda a sua extensão. São
normalmente pintados em ouro ou folha de prata, produzindo um brilho subtil. Por muitas vezes
estas são usadas como pontos focais em salas formais.

a b c

Figura 27. Painéis shoji em duas aplicações (a-b), Painéis Sudare (c)

As mesas japonesas variam consoante o seu fim. Kotatsu173, a mesa de escrever é


tradicionalmente baixa e reflete a carpintaria japonesa bem como as técnicas decorativas
tradicionais.
O amor dos japoneses pela madeira e a necessidade de armazenar pertences fundiu-se e deu
origem a uma linha de baús conhecida como tansu. Ganharam uma beleza incondicional que é hoje
uma peça de colecionador no ocidente.
As tansu podem ser feitas com vários tipos de madeira e com vários tipos de adornos em
ferro. Podem ser utilizadas como mesa de cabeceira, se forem de pequena escala, ou como apoio de
sala ou cozinha, se forem de grande escala. Tansi chest ou kaldan dansu é um baú específico, que
se encontra na parte inferior de umas escadas, feito à medida, aproveitando o espaço desperdiçado
para arrumação. O getabako é o baú específico dos sapatos, situado sempre nas entradas.
As diferenças nas habitações refletem o status social dos habitantes. Os das classes mais
ricas integrantes da arquitetura sukiya, incluem a sala de chá, a tokonoma e os refinados
ornamentos e arte. Os comerciantes e artesãos, conhecidos como machiya, adornam as suas
habitações com o seu artesanato. Os objetos que relembram estilos de vida agrícola, como cestas e
chapéus de palha ou artesanato popular, são vistos nas habitações de agricultores, chamados minka.
As aldeias agrícolas são conhecidas pelos seus cestos folclóricos que se distinguem do resto do
artesanato, conhecidos por mingei. Este artesanato tomou um valor diferente nos dias de hoje,
tendo o seu valor artístico evoluído e é encontrado em muitas habitações das classes ricas. 174

172
PARRAMORE, Lisa; Japan Home – inspirational design ideas; Tutle, Vermonte, 2010; p. 92
173
PARRAMORE, Lisa; op.cit.; p. 99

45
175
4.”O jardim”
A imagem que habitualmente surge quando se pensa num jardim japonês, é composta por
um percurso por entre colinas artificiais e lagos, cheio de cores e com uma ponte pitoresca, mas
nem todos seguem esta imagem. Os jardins abertos ao público, conhecidos por kaiyuushiki teien,
podem ter esta imagem. No filme “Memórias de uma Gueixa” consegue-se ver vários jardins
japoneses que reforçam a imagem romântica do jardim público.
Muitas vezes, as propriedades não são grandes o suficiente para a existência destes jardins,
e, quando existem, a sua manutenção não é fácil. Contudo, mesmo num espaço mais modesto, é
possível encontrar elementos parciais de um jardim, como um lago de carpas ou até uma cascata,
sendo também comum a incorporação de colinas artificiais, conhecidas por tsukiyama, criando um
jardim com variedade e diversidade que torna a sua vivência interessante.
Os jardins de paisagem seca ou karesansui, são para ser vistos como uma pintura abstrata,
sendo localizados num espaço limitado por paredes e compostos por uma grande extensão de
cascalho. A utilização de pedras com determinados posicionamentos definidos e a parca ou
nenhuma existência de plantas são também elementos caracterizadores. Podem ser vistos em alguns
espaços públicos, como no último andar de escolas, como é exemplo a Escola Oriental e de Estudos
Africanos em Londres.
Outros estilos de jardins são: tsuboniwa (jardim de inverno), hiraniwa (jardim plano) e
chaniwa (jardim de chá).
As questões de segurança e privacidade podem ser resolvidas, em parte, por cercas e
176
portões . As cercas são pequenos muros em altura que permitem a separação de várias zonas do
jardim ou incentivar os visitantes à contemplação, podendo servir para esconder o equipamento de
piscinas ou jardim.
Para além do seu papel funcional, as cercas japonesas e portões têm também um sentido de
descoberta. As ornamentais cercas de manga ou cercas de asa usam-se perpendicularmente à
habitação, continuando com a linha da arquitetura e subtilmente direcionando para o jardim. São
conhecidas como sodegaki, como consequência de a sua forma se assemelhar a uma manga de
quimono. Podem ter várias alturas, formas e padrões.
Nos jardins públicos, os percursos guiam quem lá passa através de um jogo hide and reveal.
O jardim de chá, da mesma forma guia pelos longos roji, dewy path, com o intuito de acalmar a
mente, focando-a para a cerimónia na casa de chá.
Os percursos pavimentados ou nobedan, vinculam o elo da arquitetura com o jardim,
criando uma tensão dinâmica entre pedra de cortes irregulares com peças de laje. Estes percursos
são delineados por um leito de cascalho ou musgo.

174
PARRAMORE, Lisa; Japan Home – inspirational design ideas; Tutle, Vermonte, 2010; p. 108
175
PARRAMORE, Lisa ; op.cit.;p. 113
176
Idem; p. 114

46
Num jardim com uma lagoa, um percurso de grandes pedras chamado suwatari, permite um
saltitar de pedra em pedra para fazer a sua passagem, enquanto que uma ponte pode bifurcar o
lago em duas partes de tamanhos diferentes. 177
Para contrastar com as plantas que vão, ao longo das estações, mudando a sua aparência, a
pedra a gravilha ou areia adicionam estabilidade ao jardim, o que é útil para tornar o conceito de
shibui viável.
A pedra dá uma ideia de design versátil, uma rocha pode representar uma montanha ou uma
ilha, enquanto que, o cascalho, um rio ou o mar. A gravilha fina é usada em composições mais
económicas e para manter a serenidade do local, que é representada por desenhos feitos na mesma.
178

A água179 dá uma caraterística única ao jardim. O movimento, som, reflexos são elementos
acrescentados no jardim através do uso da água. Esta pode ser apresentada de diversas formas:
cascata, lago, espelho de água.
O seu uso deve ser equilibrado com o uso da pedra, com os seus elementos decorativos ou a
vegetação envolvente.
a b c d

Figura 28. Percurso de pedra (a), Jardim de pedra (b), Lago (c), Lanterna (d)

Os elementos decorativos ou artefactos180 adicionam um toque humano à atmosfera


florestal dos jardins japoneses. Alguns destes artefactos têm uso prático, como as lanternas. A
função estético-prática de uma lanterna varia, principalmente, com o seu tamanho. Uma lanterna
pedestal, tachi-doro, ou uma lanterna enterrada, ikegomi-doro, em que a pedra está praticamente
enterrada no chão, é um arranjo comum no jardim de chá.
As lanternas também são colocadas junto dos percursos. Nos jardins contemporâneos, a luz
das lanternas é tratada de forma diferente: ilumina diretamente o chão em vez de iluminar
essencialmente a caixa, como originalmente era feito.

177
PARRAMORE, Lisa; Japan Home – inspirational design ideas; Tutle, Vermonte, 2010;p. 118
178
PARRAMORE, Lisa; op.cit.;; p. 124
179
Idem p. 130
180
Ibidem, p. 136

47
Nas cidades do Japão, muitos dos blocos de apartamentos possuem uma instalação sanitária
181
comunitária de acesso a todos os moradores e esta só tem a típica sanita do estilo japonês. Os
apartamentos que possuem uma instalação sanitária privada são considerados de luxo. Milhares de
japoneses vão pelo menos duas vezes por semana aos banhos públicos. Desde o seculo XV, que este
hábito está presente nas suas vidas e, após a Segunda Guerra Mundial, foram construídos muitos dos
banhos públicos existentes.182
Para John Pawson, referido no livro “Minimum”, o Japão atingiu a perfeição nos anos 60,
concretamente no Katsuna Palace, onde se podia olhar para a lua sobre o lago, com o típico bolo e
chá, em que toda a essência atraía a simplicidade. Nada estava no sítio errado, nem em excesso.
Acrescenta que não é possível repetir tal perfeição no ocidente, existindo algo misterioso nos
jardins japoneses, não pelo seu detalhe particular mas pelo que está por detrás dele. 183

181
Documentário “Tokyo: living small in a big city”, episódio do National Geographic Channel, 2008, acessível online em
http://channel.nationalgeographic.com/man-made/galleries/episode-tokyo-living-small-in-the-big-city/at/manmade-tokyo-
2-11740/
182
IWATATE, Marcia e Mehta, Geeta K. ; Japan Houses: ideas for 21st century living; Tuttle, Vermonte, 2011, p.10
183
PAWSON, John; Minimum; Phaidon Press, Londres, 2006, p.12

48
3.2. Flexibilidade e multifuncionalidade

A adaptação do espaço ao Homem pressupõe uma consciencialização muito bem delineada


das dimensões humanas e da relação com os componentes da habitação, o que se torna uma
questão mais evidente numa habitação minimalista, pois o aproveitamento do espaço é diferente de
uma habitação de grande dimensão.184
Leonardo Da Vinci e Le Corbusier foram dois entre muitos dos que estudaram a relação
entre as dimensões humanas. Embora de épocas diferentes, foram igualmente marcantes devido às
teorias e estratégias, o Homem Vitruviano e o Modulor.
Anteriormente, Vitrúvio, arquiteto e engenheiro, introduziu no seu Tratado de Arquitetura a
ideia que a Arquitetura, para ser bela, deve conter proporções e simetrias perfeitas, iguais às da
Natureza. Assim, se a premissa inicial assume o Homem como um modelo de simetrias e proporções
perfeito, então, para Vitrúvio, deverá ser ele o elemento que permite atingir a perfeição na
Arquitetura: “a Natureza de tal modo compôs o corpo humano que o rosto, desde o queixo até ao
alto da testa e à raiz dos cabelos, corresponde à sua décima parte, e a mão estendida, desde o
pulso até à extremidade do dedo médio, outro tanto; a cabeça, desde o queixo ao cocuruto, à
oitava; da parte superior do peito, na base da nuca, até à raiz dos cabelos, à sexta parte, e do meio
do peito até ao cocuruto da cabeça, à quarta parte. Por sua vez, da base do queixo à base das
narinas vai a terça parte da altura do citado rosto, e do nariz, na base das narinas, ao meio das
sobrancelhas, vai outro tanto; daqui até à raiz dos cabelos temos a fronte, que é também a terça
parte. O pé, por seu turno, corresponde à sexta parte da altura do corpo; o antebraço, à quarta; o
185
peito, também à quarta. (...)”
Foi com base na teoria de Vitrúvio que Leonardo Da Vinci totalizou o desenho onde captou a
perfeição do corpo humano. Denominado “Homem Vitruviano”, atinge a perfeição da geometria e a
proporção do corpo humano e dá uma nova perceção do Homem e, consequentemente, da
Arquitetura. Anos mais tarde, Le Corbusier desenvolveu, a partir desse desenho, o seu próprio
Modulor, seguindo a sua visão de perfeição, influenciando muitos arquitetos da Era Moderna.
Uma vez que já foram abordadas questões do espaço e a influência do Homem na
Arquitetura e vice-versa, existe agora a necessidade de refletir sobre a mecânica do espaço, que
aborda o seu funcionamento sob a visão de questões de flexibilidade e multifuncionalidade,
inseparáveis nestas tipologias.
O conceito de flexibilidade permite que a multifuncionalidade dos espaços seja viável,
ganhando adaptabilidade às diferentes situações que surgem durante o dia/noite. A introdução

184
ROWAN, Gerald; Compact Houses: a lot of living in 1400 square feet or less. 50 creative floor plans for well-designed
small homes; Storey Publishing, LLC; Nova Iorque; 2003; p.117
185
M. JUSTINO, Maciel; Vitrúvio-Tratado de Arquitetura; IST – Instituto Superior Técnico; Lisboa, 2006; p.109.

49
desta temática num espaço torna-o possível de se moldar ao Homem, direcionando-se, assim, ao
máximo conforto.186
Tendo em conta que uma habitação é beneficiada por estes aspetos referidos, é possível
distinguir dois tipos de flexibilidade: flexibilidade da arquitetura, em que é a própria que se move
em relação ao Homem; flexibilidade de elementos ou objetos internos da arquitetura, em que se vê
a multifuncionalidade dos referidos elementos.
Em relação à flexibilidade de elementos ou objetos da arquitetura, aparecem exemplos
frequentes de arquitetura de espaço mínimo. Têm uma base de estrutura fixa; no seu interior é
aplicada a flexibilidade dos elementos ou objetos e, assim, é fixada uma margem para que haja
uma multifuncionalidade de espaço livre. Espaços mínimos habitacionais como a Lego House de
Christian Schallert, a Mima House dos Mima Architects ou o apartamento de Gary Chang são
soluções capazes de demonstrar esta vertente de flexibilidade e multifuncionalidade. Este tipo de
flexibilidade está também presente em habitações adaptadas a mobilidade reduzida, onde é
necessário encontrar soluções para que uma pessoa com este tipo de condicionante consiga viver a
habitação.

Seguindo a lógica da casa que se adapta, molda ou transforma de acordo com as


necessidades do Homem, denota-se uma aproximação ao conceito da máquina de habitar de Le
Corbusier o que remete à época do Maquinismo que este arquiteto refere 187.
Estes dois temas são bastantes importantes numa habitação, principalmente quando esta
tem habitantes de mobilidade reduzida, caso em que precisam de funcionar em plena comunhão.
Tendo a ergonomia certa, esta consegue funcionar na perfeição, concluindo-se “Let ergonomics
guide the aesthetic.”188

186
ROWAN, Gerald; Compact Houses: a lot of living in 1400 square feet or less. 50 creative floor plans for well-designed
small homes; Storey Publishing, LLC; Nova Iorque; 2003; p.118
187
IWATATE, Marcia e Mehta, Geeta K. ; Japan Houses: ideas for 21st century living; Tuttle, Vermonte, 2011, p.10
188
ROWAN, Gerald; Compact Houses: a lot of living in 1400 square feet or less. 50 creative floor plans for well-designed
small homes; Storey Publishing, LLC; Nova Iorque; 2003; p.120

50
a

Figura 29. Flexibilidade da arquitetura na Mima House (a), Flexibilidade de elementos no apartamento de Gary
Chang (b)

51
52
Parte II

4. Quinta do Canavial
4.1. Contextualização e localização189

A Quinta do Canavial localiza-se na encosta sudeste da Serra da Estrela, entre a cidade da


Covilhã e a vila de Tortosendo, mais precisamente entre o Ribeiro Negro e o Ribeiro Seco,
desenvolvendo-se entre as altitudes de 615 m e de 660 m e ocupando uma área de
aproximadamente 3,45 ha. Pertence ao Distrito de Castelo Branco, à Região Centro e à sub-região
da Cova da Beira. O clima local é tipicamente mediterrânico, sendo que os verões apresentam
temperaturas altas, enquanto os invernos têm temperaturas amenas durante o dia e mais baixas à
noite. A ocorrência de neve à altitude da Quinta do Canavial é escassa, ocorrendo pontualmente nos
meses de dezembro a março. O mês mais quente é agosto, com temperatura média de 22,2°C,
enquanto que o mês mais frio é janeiro, com média de 6,2°C. A temperatura média anual da
Covilhã, cidade mais próxima, é de 13,6°C e a precipitação média anual é de 1.082 mm. 190

b c
Figura 30. Fotografias aéreas da Covilhã e da Quinta do Canavial (a-b), Fotografias do terreno no inverno e
no verão (c-d)

189 A contextualização e descrição da Quinta do Canavial foi elaborada com base na informação fornecida pelo proprietário
através de entrevistas no próprio local.
190
Disponivel online: https://pt.wikipedia.org/wiki/Covilh%C3%A3 [consult. 2016-04-13]

53
Cerca de dois terços da área da Quinta do Canavial é composta por terreno arável de cultivo
hortícola e de regadio, sendo a restante constituída por zonas rochosas com afloramentos graníticos
de elevado declive, com pouca retenção de solo e, em alguns casos, de difícil acesso. A zona arável
desenvolve-se em socalcos, quer através de muros em alvenaria de pedra seca irregular – alguns
com 3 a 4 m de altura e provavelmente com algumas centenas de anos, quer através de taludes. O
desenvolvimento do terreno em socalcos permite controlar o risco elevado de erosão hídrica. A
propriedade é abastecida por três nascentes de água em galeria, sendo que duas delas se situam
dentro do perímetro da propriedade e uma terceira provém de uma zona situada numa propriedade
vizinha a uma distância de cerca de 270 m e desnível de 17 m. No total, em pleno verão, as
nascentes fornecem cerca de 15 a 20 m3 de água por dia, que escoa por gravidade.
Estrategicamente, na cota mais elevada da propriedade existe um depósito de água para rega que
abastece toda a propriedade através de tubagens enterradas.
Outrora, na zona arável predominava a cultura hortícola com vinhas em cordão contornando
os muros e os taludes e ponteada com árvores de fruto de diferentes espécies. Na zona rochosa
predominava a cultura arvense, nomeadamente o pinheiro bravo (pinus pinaster). Na sequência do
grande incêndio de 1990, que devastou toda a encosta da Serra da Estrela, desde o Tortosendo até à
Vila do Carvalho, passando pelas Penhas da Saúde, a vegetação arvense à base do pinheiro bravo
desapareceu quase por completo da Quinta do Canavial, e no seu lugar desenvolveu-se mato
rasteiro. O risco de erosão agravou-se e o arrastamento de terras pela chuva deixou a nu a rocha e
diminuiu a aptidão do solo para repor a cultura do pinheiro bravo. Ainda na sequência do incêndio,
perdeu-se quase toda a vinha e árvores de fruto então existentes. Após alguns anos de abandono, de
1990 a 1998, iniciaram-se os trabalhos de desmatação e limpeza para repor a situação inicial. A
imagem que hoje se observa da Quinta do Canavial resultou desses trabalhos, que se prolongaram
por vários anos.

Figura 31 Panorâmica 1965

Figura 32. Panorâmica 2015

54
Atualmente, a zona arável recuperou a sua aptidão hortícola e de regadio, mas não existem
quaisquer árvores de fruto. No lugar das árvores de fruto existem carvalhos e freixos, que
germinaram espontaneamente no local, mas apenas no contorno dos chãos. Os carvalhos são árvores
endógenas de folha caduca, muito resistentes ao clima mediterrânico e às pragas, existindo desde o
início do povoamento da Península Ibérica. Por outro lado, não sendo resinosas, são mais resistentes
ao fogo e dificultam a propagação de incêndios. Pontualmente, entre culturas na zona arável,
sempre que existam condições propícias ao desenvolvimento de pasto, as terras são usadas para o
pastoreio de ovelhas, que podem atingir cerca de 130. A zona rochosa, que representa cerca de um
terço da área da propriedade, onde antes predominava o pinheiro bravo para produção de madeira,
de natureza exógena e muito sujeito a pragas, é agora preenchida gradualmente por carvalhos que
igualmente germinaram de forma natural por entre as rochas ou no pouco solo existente nesse local.
Existem pontualmente alguns pinheiros bravos (pinus pinaster) e mato espontâneo constituído por
giestas e algumas espécies invasoras como as acácias (mimosas). O controlo das espécies invasoras
tem-se feito gradualmente.

a b

Figura 33. Fotografia do pasto de ovelhas no terreno (a-b)

A Quinta do Canavial, cujo nome teve origem nas canas que cresciam em redor das
nascentes dessa quinta, também designadas de Minas do Canavial, integrava um vasto conjunto de
outras quintas contíguas a esta (Cerca, Latadas, Ferrão, Desbranca, entre outras) outrora de um
único proprietário que nasceu no final do século XIX e faleceu em meados do século XX. Por
heranças sucessivas as quintas foram-se subdividindo e muitas foram vendidas, sendo que, nos dias
de hoje, apenas escassos hectares são propriedade dos descendentes do referido proprietário. A
Quinta do Canavial, objeto do presente estudo, é um desses casos. Talvez por isso, consegue-se
sentir a carga emocional existente sobre este terreno e os circundantes, resultado de uma infância
passada por entre estes caminhos, árvores e socalcos e na memória familiar que foi deixada ao
longo de gerações. Estas premissas que têm carácter emocional levam o proponente a ter um
cuidado especial com a proposta a desenvolver. Para além do princípio emocional, existe um outro
fator que tem elevada importância, a vista arrebatadora de 180º para a Cova da Beira.

55
S. da Malcata
Covilhã Fundão
Belmonte Ferro
Peraboa

Figura 34. Panoramica com vistas

Para a elaboração da proposta arquitetónica, foi necessária a realização de um estudo


esclarecedor dos hábitos e atividades exercidas por esta família para a concretização desta
habitação. A topografia deste terreno é bastante interessante, pois é feita por socalcos que
demarcam diferentes zonas. A vasta área da quinta, suporta diferentes áreas de vegetação, entre
carvalhos e canas, há ainda uma zona que está a ser utilizada para cultivo de hortícolas. No seu
socalco de maior cota, existe um tanque que foi feito para rega dos terrenos.

56
4.2. Enquadramento legislativo

Em termos dos planos gerais de ordenamento do território, o Plano Diretor Municipal (PDM)
do concelho da Covilhã enquadra a Quinta do Canavial na Reserva Ecológica Nacional (REN),
abrangida pelas áreas de prevenção de riscos naturais, mais precisamente no ecossistema de zona
de elevado risco de erosão hídrica do solo. A delimitação destas áreas, com base no RCM nº81/2012,
baseia-se na aplicação da EUPS que foi adaptada a Portugal Continental. Na zona centro, a região
da Serra da Estrela e Caramulo são associados a elevada precipitação de curta duração, sendo este
um dos principais fatores que determinam a avaliação do risco de erosão hídrica do solo.
A Reserva Ecológica Nacional (REN) foi criada em 1983, pelo Decreto -Lei n.º 321/83, de 5
de julho, na sequência da instituição da Reserva Agrícola Nacional, em 1982. No referido diploma, a
REN é concebida como uma estrutura de enquadramento e proteção dos espaços produtivos,
agrícolas e urbanos, destinada a garantir a permanência de determinadas ocorrências físicas e um
mínimo de atividade biológica. Desde então o regime jurídico da REN tem sofrido várias alterações
sucessivas, através do Decreto-Lei n.º 93/90 de 19 de março, Decreto-Lei n.º 166/2008 de 22 de
agosto e finalmente o Decreto-Lei n.º 239/2012 de 2 de novembro. Este último introduz alterações
ao Decreto-Lei n.º 166/2008 de 22 de agosto e traduz o estado atual ao nível das políticas em
matéria de ambiente e ordenamento do território.
As áreas pertencentes à REN, traduzem-se na interdição (segundo o DL-166/2008; cap.III),
entre outras, de operações de loteamento e obras de construção ou ampliação. Contudo, consoante
a sua qualificação, excetuam-se alguns usos e ações, desde que haja compatibilidade dos princípios
da REN. Sendo assim, segundo o DL-166/2008 anexo II, os usos e ações permitidos na zona em
estudo, área de elevado risco de erosão hídrica do solo, entre muitos, os mais importantes são:
habitação de residência própria ou habitual dos agricultores; cabines para motores de rega não
superior a 4m2; muros de vedação ou suporte de terras com cota não superior a 0,20 m acima do
limite do terreno.
Assim, nos termos do Decreto-Lei n.º 166/2008 de 22 de agosto, com as alterações
introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 239/2012 de 2 de novembro, os usos e ações compatíveis com os
objetivos de proteção ecológica e ambiental e de prevenção e redução de riscos naturais de áreas
integradas na REN são os que constam do anexo II (referido no artigo 20.º). Pode ler-se na alínea b)
do Ponto I - Obras de construção, alteração e ampliação - do anexo II do referido diploma, relativo
às Áreas de elevado risco de erosão hídrica do solo, enquadradas na Prevenção de riscos naturais,
que é admitida, mediante comunicação prévia, a construção de Habitação, turismo, indústria,
agro-indústria e pecuária com área de implantação superior a 40 m2 e inferior a 250 m2.
Note-se que a área de 250 m2 corresponde à área máxima de impermeabilização do solo,
sendo que os pavimentos e acesso que se venham a construir terão de ser necessariamente
permeáveis. Da mesma forma, os muros deverão ser de alvenaria de pedra seca, sem
preenchimento das juntas. A habitação pode ter no máximo dois pisos acima da cota de soleira.

57
4.3. Condicionantes

Deverá ter-se em conta a mobilidade condicionadaentre os utilizadores desta proposta


arquitetónica, proporcionando uma maior desafio na elaboração daproposta. De facto, ésta a maior
condicionante de toda a proposta, levantam-se questões como o número de pisos da habitação, a
área mínima necessária para a deslocação de uma cadeira de rodas e que áreas serão necessárias
para o bem-estar de uma pessoa com mobilidade reduzida.
Fazendo um estudo do comportamento de uma cadeira de rodas, desde as suas dimensões
até a área de manobra do deslocamento, criam-se, à partida, todas as áreas de deslocação que a
proposta apresentará. O comportamento de uma cadeira de rodas dentro de uma habitação,
condiciona-a desde o acesso ao terreno à altura de um puxador numa porta. Com base no
DL-163/2006, parte-se do princípio que uma cadeira de rodas tem de dimensão 0,92 m x 0,70 m x
1,00 m (altura x largura x comprimento), e começa-se a definir algumas medidas necessárias para a
sua deslocação, como por exemplo de corredor 1,10 m livres de largura máxima, com intervalos a
cada 10 m onde seja possível rotação de 180º ou 360º.
As dimensões necessárias para a rotação a 90º ou a 180º são diferentes. Para uma esquina de
90º, as dimensões mínimas necessárias são de 1,40 m x 1,70 m, enquanto para a rotação de 180º é
necessário ter livre um círculo com 1,50 m de diâmetro.
A entrada de uma habitação deve cumprir dois aspetos importantes: entrada com uma zona
de manobra de 1,50 m x 1,50 m e zona de conexão com os corredores de 1,50 m x 0,90 m. Ainda em
relação a áreas livres e acessos, estes últimos seguem diferentes normas ao tomarem a forma de
escada ou rampa. Relativamente à escada, os seus lanços, patins ou patamares devem respeitar a
largura máxima de 1,20 m e os seus degraus de 0,28 m de cobertor e 0,18 m de espaço, medidas
máximas também. No caso da rampa, a sua inclinação varia consoante a altura a vencer, sendo
aconselhado não ultrapassar os 8%; a largura destas assemelha-se à das escadas tendo exceções
pontuais.

a b c

Figura 35. Esquissos de uma cadeira de rodas com medidas (a,b,c)

58
O espaço doméstico necessita de ter algumas alterações. A zona destinada essencialmente à
mobilidade reduzida, o quarto e a instalação sanitária, tem forçosamente que ser projetada de
forma adequada. O quarto, assim como a instalação sanitária, primeiramente tem que disponibilizar
uma área livre de 1,50 m para rotação da cadeira de rodas a 180º; a cama deve entre 40 cm a 55 cm
de altura, para um melhor deslocamento da cadeira para esta. O roupeiro deve ter os seus
compartimentos flexíveis, sendo possível chegar a todos os elementos do armário. O alcance a estes
armários, em termos de altura máxima é até 1,40 m, enquanto que para uma gaveta de mínimo é
0,40 m do chão.

Figura 36. . Esquisso das alturas de um armário para um portador de mobilidade reduzida

A instalação sanitária tem que ter, além da área livre referida acima, barras de apoio tanto
na sanita como na base de duche, uma base de chuveiro acessível à entrada da cadeira de rodas. As
barras de apoio podem ser móveis, com o comprimento de 0,80 m, entre 0,70 m e 0,75 m de altura
do piso e, no caso da sanita, com afastamento entre 0,35 m e 0,40 m. A base de duche segue as
medidas mínimas de 0,80 m x 0,80 m (largura x comprimento), com uma inclinação máxima no piso
de 2% e, se necessário adicionar, um assento rebatível de medidas máximas 0,70 m x 0,40 m
(largura x comprimento) a uma altura de 0,45 m do piso. Os lavatórios têm que ter uma zona livre
de aproximação de 0,75 m x 1,20 m (largura x comprimento), tendo este uma altura de 0,65 m e
profundidade de 0,50 m, ambas máximas. Na existência de espelhos, a uma altura mínima de
0,90 m do piso e a uma altura máxima de 1,80 m até ao final.

59
Figura 37. Esquissos das medidas para uma casa de banho adaptada- poliban (a), sanita (b-c)

Nas áreas comuns, a mesa de refeições deve ser alta o suficiente e livre de entraves para
que seja possível o posicionamento parcial debaixo desta. A altura recomendável para a mesa varia
entre 1,00 m a 1,15 m, contudo o alcance frontal e lateral pelo utilizador da cadeira de rodas vai
até aos 0,55 m. Na cozinha, deve existir, entre bancadas ou bancada e parede 1,20 m largura
máxima, sempre com uma zona de manobra de 360º. Na sala de estar, deve existir espaço suficiente
para o posicionamento de uma pessoa portadora de deficiência motora orientado para o exterior e
para a área de entretenimento. As portas, de interior ou exterior, de batente ou pivotante, devem
ter de largura e altura mínima 0,77 m e 2,00 m, e os seus puxadores com altura entre os 0,80 m e
1,10 m.
Tendo em conta que, para além de uma pessoa com mobilidade condicionada, existe
também neste agregado uma pessoa idosa que irá passar a maior parte do seu tempo em casa, é
necessário que esta seja confortável no quotidiano e que não contenha barreiras arquitetónicas.
Nesse sentido, há a necessidade de proceder ao nivelamento de pavimentos exteriores e interiores
bem como a que a conexão entre eles seja uniforme.

Figura 38. Esquissos de dimensões de uma mesa adaptadas (a), alcance laterar prateleiras (b)

60
Por outro lado, a altura de visão de uma pessoa numa cadeira de rodas é diferente: cerca de
1 m do chão enquanto uma pessoa sem problemas de deslocação é a cerca de 1,60 m do chão. Neste
caso, a existência de janelas deve ter uma menor distância do chão, para que não seja uma
barreira. O mesmo se aplica ao mobiliário.
Também o exterior terá que ser nivelado, embora haja a possibilidade de ter diferentes
zonas. A facilidade de acesso ao exterior para uma pessoa de mobilidade reduzida ou para um idoso
é de elevada importância. Assim, com o nivelamento apropriado e a criação de vários acessos e
percursos exteriores irá ser apropriado para o seu aproveitamento.
Todo o espaço da habitação deve ser um espaço inclusivo para estes, que lhes transmita
segurança, conforto e qualidade de vida, assim como a liberdade de dirigir as suas ações o que, por
sua vez, cria um ambiente harmonioso.

61
4.4. Programa

Atendendo a todas as necessidades deste agregado, aos pedidos do cliente, e acrescentando


as condicionantes do terreno, consegue-se reunir de forma clara o programa para esta proposta
arquitetónica: uma habitação de tipologia T3, com uma cave servindo de garagem, de apoio para
arrumação das alfaias agrícolas e para um depósito de acumulação dos coletores e caldeira a
biomassa. Uma distribuição interior simples e funcional com, pelo menos, uma casa de banho
adaptada com ligação direta para um quarto; cozinha e sala com barreira física; escada com
possibilidade de posteriormente ser colocada uma cadeira elevatória. Acesso direto para automóvel
no piso superior com zonas ajardinadas e o aproveitamento do tanque.

Figura 39. Planta síntese do terreno

Sendo assim, desenvolver-se-á a habitação de forma horizontal, ou seja, sendo somente de


piso térreo e cave. O piso térreo irá conter os três quartos, duas instalações sanitárias completas e
uma de serviço, a sala, um pequeno escritório e a cozinha. Um dos quartos e uma das instalações
sanitárias terão as áreas e as comodidades necessárias para uma pessoa com mobilidade
condicionada. A entrada para a habitação, colocar-se-á na mesma zona do acesso vertical de ligação
entre a cave e o piso térreo. A cave irá conter as restantes divisões.
Seguir-se-á uma forma geométrica de linhas puras e simples, referenciando-se nas formas
máximas do minimalismo. Sendo este o principal tema para a proposta, elementos-chave como a
funcionalidade, luz, cor ou linhas se irão repetir.
Relativamente à funcionalidade interior, os corredores terão 1,20 m de largura livres. As
portas interiores irão ter 1,00 m e serão de correr dentro da parede e sem aros, remetendo para os

62
painéis shoji utilizados pelos japoneses, para que, quando abertas, deem a sensação de
continuidade entre as divisões, aludindo à transparência de divisões, característica do minimalismo,
tal como a ausência dos rodapés, molduras de portas ou janelas e o contraste de materiais. Os vãos
exteriores irão ter um grande destaque na proposta, sendo um elemento base da caraterização do
minimalismo, sendo de grande dimensão.
Seguindo a temática da habitação japonesa, relacionando-se com a luz do minimalismo, há a
intenção de relevar esta importância , por sua vez feita através de iluminação zenital. Este tipo de
iluminação, repetir-se-á ao longo das divisões para que a luz natural seja parte intrínseca da
proposta. Por outro lado, as restantes iluminações naturais, terão o propósito de levar o exterior
para o interior tornando-o num só espaço, referência estabelecida com a relação que o povo
oriental cria nas suas habitações.

a b c

Figura 40. Iluminação controlada por brisas (a), Iluminação zenital (b), Iluminação a dois níveis (c)

Embora haja garagem para duas viaturas no piso -1, irá ser feito um acesso a viaturas para o
piso térreo, onde haverá lugar de estacionamento exterior, de modo a facilitar em alguns casos o
acesso da pessoa com mobilidade reduzida ao automóvel, feito diretamente do arruamento na cota
superior.
Exteriormente, a área circundante à habitação irá ter uma proposta para diferentes áreas
ajardinadas. Como é uma área bastante grande, desenhar-se-ão várias áreas que se combinarão
entre si. Estas serão de diferentes tipos mas combinando e repetindo materiais, fazendo a ligação
natural entre elas. Existirão sempre percursos acessíveis, e que, por sua vez, terão que estar
nivelados e interligados com os pátios.
Visto que a água é um elemento de destaque na arquitetura japonesa, o aproveitamento do
tanque existente no terreno irá trazer a leveza da natureza para junto desta habitação.

63
a b c

Figura 41. Fotografias do tanque (a-b), Lago na habitação japonesa (c)

Relativamente à orientação das áreas comuns, a cozinha terá a orientação mais a norte. A
sala por sua vez irá ter uma orientação central, visto que será uma das áreas mais utilizadas e que
assim aproveita maior parte da luz natural fornecida. Por fim, as zonas privadas, os quartos terão a
orientação mais privilegiada de toda a habitação e irão dispor-se entre nascente e sul.

Solstício inverno
Solstício verão

Figura 42. Estudo solar nos diferentes solstícios – inverno e verão

64
4.5. Considerações e premissas da solução a aplicar

Tendo em conta tudo o que foi referido anteriormente, é possível chegar a conclusões
relativamente aos princípios que se irão aplicar na solução arquitetónica. Baseando-se a nível
concetual no minimalismo, define-se à partida um vasto conjunto de caraterísticas que a proposta
vai contemplar: material, forma, luz, cor e textura. Por outro lado, a nível funcional, irá ter
intrínseco a leveza e a funcionalidade dos espaços tão caraterística do minimalismo, mas também
abordará vários aspetos da típica casa japonesa, como: banhos, quartos, varandas, jardins. A
temática da arquitetura japonesa, e sua consequente simplicidade, aparecerá em pequenos
detalhes no interior da habitação, enquanto que no exterior se organizará com base dos seus
jardins.
Parte-se da materialidade dos espaços, interior e exteriormente, com harmonia,
reproduzindo-se como se fossem uma peça única, dando continuidade a todos eles. Interiormente,
usando o exemplo do pavimento, pretende-se que seja uniforme, conferindo a toda a habitação uma
continuidade entre todas as divisões e que seja um fio condutor para o exterior, isto é, embora de
diferentes tipos, verificar-se-á semelhança de cor e textura. Exteriormente, usando essa linha
condutiva, idealiza-se que seja atribuído um pavimento único com uma pequena diferença na zona
de acessos. Relativamente a outros materiais, a ideia parte do mesmo princípio: prevê-se a
continuidade ao nível das fachadas, das paredes interiores e dos revestimentos. Esta linguagem tem
como objetivo oferecer a toda a proposta uma linha condutora que remete para a leveza e
simplicidade.
A forma passa por ter linhas retas, originando uma das formas geométricas regularmente
usadas neste movimento. Juntamente com o terreno, integrar-se-á uniformemente, replicando-o
paralelamente, não só na habitação mas em toda a intervenção que irá ser feita em todo o terreno.

a b

Figura 43. Forma pura geométrica minimalista - casa Guerrero de Alberto Campo Baeza (a-b)

Relativamente à iluminação, o aproveitamento máximo da luz natural é uma mais-valia


devido às orientações que o terreno consegue oferecer, uma exposição solar direta durante todo o
dia. Para o melhor aproveitamento, criar-se-á três tipos de iluminação: direta, controlada e zenital.
A iluminação direta será feita através de simples envidraçados, preferencialmente alinhados; a
controlada, sob alguns dos envidraçados umas brisas ou ripas metálicas verticais, controlando a

65
entrada de luz, mas conferindo continuidade à fachada quando fechadas, se possível; iluminação
zenital, rasgos na continuidade da cobertura trazendo luz para o interior da habitação em zonas
desfavorecidas.
A cor e a textura vão-se conjugar, transformando-se num elemento caraterístico. Em linha
com o minimalismo, a cor vai prolongar-se entre as divisões, mantendo-se, havendo pontualmente
pontos de cor quando necessário para destacar alguns elementos. As texturas, por outro lado,
mantêm uma linguagem minimalista. Os materiais utilizados vão estar na sua textura original, nunca
disfarçados, embora tratados. É exemplo disto a fachada, em reboco, que é mantido com a sua
textura e cor, embora leve tratamento para que a sua durabilidade se mantenha; interiormente,
relativamente à cor, será um tom de branco.

a b c

Figura 44. Diferentes entradas de luz natural vistas do exterior- casa em Leiria de A ires Mateus (a),
Diferentes tipos de texturas e cor vistas no interior (b-c)

De forma geral, os espaços interiores vão ser amplos, mantendo sempre uma ligação visual do
interior para o exterior ou interiormente entre divisões. Esta premissa vai ao encontro de lógicas
japonesas da conexão do interior/exterior, sendo um momento de contemplação e de relaxamento.
Cada divisão ganha o seu espaço próprio mas sempre respeitando as linhas condutoras da linguagem
da habitação. Apesar de exteriormente também ter a sua importância, interiormente, as
considerações a ter são maiores. Todos os espaços interiores têm que ser pensados e desenhados
para responder da melhor forma e dar mais conforto ao utilizador da cadeira de rodas. Assim, é
necessário criar uma instalação sanitária adaptada às suas necessidades e uma outra com a
possibilidade de ser adaptada. O cuidado com pormenores como as alturas dos armários, bancadas,
mesas ou janelas são importantes, os desníveis ao nível do piso ou entre o interior para o exterior
também, caso contrário tornam-se barreiras arquitetónicas.
a b c

Figura 45. Relação próxima entre o interior e o exterior de um espaço interior amplo (a), Espaços interiores
amplos e nivelados entre divisões (b-c)

66
Assim, neste seguimento, os espaços exteriores continuam a responder às considerações e
premissas aplicadas interiormente. Os acessos são sempre pensados e ponderados para que sejam
executados de forma simples através de rampas na ligação dos desníveis. Os pavimentos exteriores
são entre eles alinhados e nivelados. Quando existir afastamento entre eles, nunca será superior a 5
cm. Dentro da lógica da forma, o exterior também vai seguir o mesmo alinhamento e conceito.
Haverá o aproveitamento do muro existente para fazer a conexão com a habitação e neste
seguimento, o aproveitamento do tanque, com o elemento água e um ajardinado em seu redor
conectando-o com o ajardinado em volta da habitação. A vegetação será simples, com o
aproveitamento do pinheiro que já existia e que tem elevado significado para a família, destacando-
o num jardim superior junto do tanque.
a b c

Figura 46. Diferentes tipos de jardim: relvado e gravilha (a-b), Nivelamento de percursos entre o jardim e a
habitação (c)

Relativamente ao restante terreno, terá uma intervenção para um melhor acesso a todas as
zonas que eram de cultivo e que se irão manter, mas também a um jardim zen de influências
japonesas. Haverá mais dois acessos para o terreno aproveitando uns percursos naturais que já
existiam.

a b c

Figura 47. Diferentes percursos no jardim japonês (a-b), Jardim de pedra japonês (c)

67
68
5. Proposta arquitetónica
5.1. Memória descritiva

Relativamente ao Conceito, a inspiração desta proposta nasceu a partir de duas vertentes do


terreno: o muro e a vista. O muro, devido ao interesse que o cliente mostrou em mantê-lo e por ser
um ponto de destaque de todo o terreno e também pelas qualidades da zona em que está inserido,
para além de ficar na zona mais alta, consegue tirar partido do pouco desnível que tem a nível
interno e externo. A vista foi outro fator essencial, por estar ligado à memória que o próprio
cliente tem do local onde cresceu e passou maior parte da sua adolescência. Ao interligar estes dois
elementos, eles complementam-se entre si. Do topo do muro tem-se a arrebatadora vista ímpar de
180º, entre a Covilhã e o Fundão. Desta forma, começa-se a juntar elementos e a obter a forma
figurativa do conceito. Embora haja a intervenção quase total do terreno, exclui-se a zona de
arvoredo denso de elevado desnível na encosta sul. A área destinada à habitação é onde se
consegue unir os principais elementos, ficando assim na cota elevada de 655.
Percebe-se ainda que o terreno tem três direções por ele desenhado naturalmente e que
irão ser utilizadas como pontos de vista e aproveitamento da paisagem.
Refletido da parte teórica anteriormente escrita, são retirados alguns pontos que se usam
como palavras-chave do conceito: simples, leve e luz; ou seja, de forma simples, de aspeto leve e
rico em luz natural. Estes três elementos são o que mais caraterizam uma obra minimalista, são as
que se apreciam e vivenciam dentro desta corrente estilística.

Figura 48. Esquisso de conceito da proposta

Juntando as palavras-chave da parte teórica, a inspiração retirada do terreno e não


esquecendo as condicionantes que esta família apresenta, desenvolve-se a forma generalizada do
conceito da proposta.
Primeiramente, e o mais importante fator de todos: os acessos. Devido aos desníveis por
todo o terreno, a criação de rampas era indispensável, pois não é desejado limitar o acesso ao
utilizador de cadeira de rodas. Seguidamente, importante para este conceito é a forma. Parte-se do
princípio que teria que ser simples, pura e de linhas retas, chegando a forma de um retângulo. Estes
dois elementos vão encontrar-se e cruzar-se em toda a proposta, sendo assim os pontos de partida
do conceito.

69
Os acessos são também um fator importante, pois fizeram a proposta ganhar força e forma.
O muro, elemento principal, rasga-se horizontalmente a uma distância de 14,50 m da quebra,
criando a ligação das duas cotas de desnível que já existiam: 655 m - 652,5 m.
Sendo o muro um dos principais elementos, a ideia de o replicar na habitação era de
elevada importância. Assim, não só pertence à funcionalidade interior da sala mas também à cave,
onde dá forma à zona de garagem.
Com a abertura no muro, foi possível corresponder ao pedido do cliente, visto que era
importante ter uma garagem que fosse coberta com zona de arrumação e conectada com a
habitação. Neste segmento, existe um outro rasgo no muro, criando uma rampa que atravessa o
muro no extremo sul e faz a ligação do jardim da habitação com todo o terreno, com uma
inclinação de 8º.
Complementando o conceito das aberturas, sendo o muro e o volume da habitação
retângulos posicionados horizontalmente, as mesmas atravessam o muro verticalmente.
Acrescenta-se um novo módulo retangular que atravessa o volume da habitação verticalmente, pois
havia a necessidade de ter um acesso interno entre a cave e a habitação. Os retângulos verticais são
as formas poéticas dos acessos entre os diferentes níveis. Este último elemento vertical criado
ganha um especial significado no desenvolvimento da habitação: independentemente onde ficasse
posicionado ou da forma que pudesse ganhar, iria completar o conceito e, neste caso, é delineado
por um paralelepípedo com um pé direito superior ao da habitação, aproveitando o destaque que
este elemento proporciona, e a entrada é colocada nesta forma também.

Figura 49. Esquissos de cruzamento dos volumes e acessos

70
Com a forma de um retângulo, que se transforma em um paralelepípedo, com a ligação do
piso inferior e a abertura do muro, cria-se um ritmo que vai distribuir cada divisão pelo espaço. A
abertura no muro e a largura do acesso de escada, faz uma medida por meia medida do ritmo, que
se transmite de forma quantitativa em 4 m mais 2 m, em largura; o comprimento foi determinado
pelo dobro da largura do ritmo usado, 8 m (medidas entre paredes). Ou seja, o ritmo da habitação,
consoante as divisões necessárias para a família, ficou determinado por sete medidas mais duas
meias medidas, 6 x 4 m + 1 x 2 m o que dá um total de 26 m.

Figura 50. Esquisso de ritmos da proposta

De forma a que estes volumes criados tenham a aparência de leveza que era desejada,
foram delicadamente pousados sobre o muro, onde as próprias vigas perfiladas em “L” são
parcialmente expostas e sob o muro dão a este a ideia de leveza que o conceito ansiava. A
habitação, assim, transmite a sensação que está a levitar sobre o muro, um dos principais
elementos desta proposta, acabando por evidenciá-la. Para enfatizar ainda mais este efeito, a
habitação é ladeada por uma margem em gravilha de mármore branco ao nível do piso exterior que
se forma a partir da viga com 28 cm de largura.
Por fim, finalizando as palavras-chave do conceito, a luz, toma um lugar de grande
destaque: todas as aberturas são cuidadosamente posicionadas e a luz delicadamente direcionada,
quer seja luz zenital, luz controlada ou simples janelas.

71
Interior
Relativamente ao interior da habitação, e tendo em conta os eixos necessários para a
deslocação de pelo menos uma cadeira de rodas, os espaços ganham forma juntamente com o ritmo
destinado, por si só. Junto à entrada, no módulo vertical, ficam as zonas de domínio público (sala,
cozinha e arrumos) e, devido ao ritmo pré-definido dos espaços, a sua organização interior foi
natural.

Figura 51. Esquisso da distribuição interior

A norte, na direção menos favorecida, temos a cozinha que segue umas linhas muito simples
e leves em toda a sua disposição. É composta por uma linha de armários junto à parede, onde fica
camuflada toda a arrumação deste espaço, zona de refrigeração, congelação e forno. Uma ilha com
o alinhamento da abertura no piso das escadas com zona de lava-loiça e zona de confeção dos
alimentos, sofre um leve rebaixamento de 15 cm onde se destina o espaço de refeições diário com a
altura de 90 cm, o ideal para a realização confortável a partir de uma cadeira de rodas da sua
refeição. Em volta desta, existe uma área de circulação de 1,20 m facilitando também a
deslocação. Fecha-se a cozinha com um pano de vidro junto da escada, servindo também de guarda
para esta, e ladeado com portas, prevenindo que os odores da cozinha passem para o resto da
habitação. Pelo facto de ser em vidro, esta separação traz regularidade visual para toda a
habitação. A cozinha contém uma janela, sobre o muro e vista para a Covilhã. Existe uma janela em
“L” nesta fachada, no limite com a fachada oeste, que fornecerá alguma luz para o corredor de
acesso aos arrumos e é também um acesso direto para o exterior, para que não seja necessário a
deslocação à porta principal. A colocação da cozinha nesta orientação passou pelo facto de ser
bastante desfavorecida a nível solar e também por ser a entrada para o terreno, o que leva à
necessidade de ter um nível de privacidade maior, onde a família tem uma barreira física do
transeunte que passa na via.

72
Figura 52. Esquissos das escadas

No seguimento da cozinha está posicionada a escada como anteriormente descrito, que faz
o acesso com a garagem, e está inserida num módulo retangular com o pé direito superior 2 m
relativamente ao da habitação.
Centralmente, a sala com zona de jantar e de estar, contempla a melhor vista do terreno,
com uma janela alinhada com a da cozinha e sobre o muro, avistando-se a zona da cidade da
Covilhã. Contrária a esta e, por sua vez, alinhada ao ritmo de construção, uma janela ao nível do
chão faz uma entrada de luz para o início do corredor que, por sua vez, liga as diferentes zonas,
públicas/privadas. Esta janela está ainda alinhada ao móvel principal da sala, em que o seu término
é o início da abertura deste. Ainda na sala, com duas medidas de ritmo, e para tornar a habitação
inquestionavelmente ligada com o terreno, e uma vez mais dando importância ao muro, uma parede
é erguida com a inclinação de 51º, a mesma de quebra deste, fazendo uma zona resguardada que,
ao ser dividida, dá lugar a uma instalação sanitária de serviço e a uma pequena biblioteca com zona
de leitura. Aqui é utilizada a ideia patente no minimalismo, onde se retira tudo o que pode ser
confuso para o espaço e prejudicar a essência da sua arquitetura. Utilizando uma lógica poética, do

73
lado oposto a esta parede referenciada pelo muro, juntamente com o módulo da escada, existe o
armário principal da divisão, com uma abertura que se alinha com as duas janelas opostas presentes
na sala. O seu simples alinhamento dá origem a uma lareira, de forma retangular e simples, o que a
torna especial.

Figura 53. Esquissos dos móveis da sala

A zona privada é conectada por uma corredor posicionado na parte de trás da habitação,
ladeado por armários a oeste e as áreas privadas a este. Sobre esta parede de armários, existe uma
das iluminações zenitais, tornando o que antes seria um corredor escuro e sem vida num corredor
apelativo e com luz. Os quartos vão tomando o seu lugar seguindo o seu ritmo, as suas entradas
recuadas a 1,5 m do corredor facilitam a sua organização, dando também áreas para instalação
sanitária ou closets dentro dos quartos. No total são 3 quartos, em que o último, como é destinado a
mobilidade condicionada, é ligeiramente maior do que os outros, tem acesso direto à instalação
sanitária adequada e ao espaço exterior.
No total, há três instalações sanitárias: uma de serviço no início do corredor fazendo a
conexão das duas zonas; uma casa de banho completa com banheira, servindo de apoio a dois dos
quartos e, por fim, a adaptada para dificuldades motoras que se interliga diretamente com o último
quarto.
O fim do corredor é beneficiado por uma janela em “L”, igual ao corredor da cozinha, que
igualmente a esta tem os mesmos propósitos, iluminação, acesso exterior e ênfase, que no final de
tudo estão inseridas no final de corredores e funcionam como uma ligação direta ao exterior,
trazendo-o para o interior, dando singularidade ao mesmo.

74
Figura 54. Esquisso da janela em “L”

Cada quarto é iluminado naturalmente através de uma janela. Ao contrário dos outros
quartos, a janela do último quarto toma uma direção e proporções diferentes, com o propósito de
oferecer um acesso direto ao exterior e a possibilidade de usufruir da luz natural de sul. Os
restantes três quartos, têm as suas janelas simétricas entre si, mas estas têm uma particularidade:
são de entrada de luz controlada, ou seja, exteriormente a janela alinhada à fachada é colocada
uma brisa. Estas são móveis de duas direções com rotação de 60º, permitindo a sua abertura
durante o dia para o aproveitamento solar e, quando fechadas, conferem a continuidade da fachada
por ela pedida. As brisas verticais em aluzinc branco dão à fachada verticalidade e o seu aspeto
estético difunde-se na continuidade horizontal, não a interrompendo, tornando-a simples e de
forma pura. A escolha pelas brisas verticais em vez das horizontais remete-se à luz por estas
transmitidas. Desta forma, durante o dia, enquanto abertas, a sua luz é refletida para a divisão
criando um efeito visual transversal à fachada.

Figura 55. Esquissos da iluminação controlada- brisas (a), Iluminação (b)

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Duas outras entradas de luz controlada existem no módulo transverso: uma junto à entrada
direcionada a sul e a outra na fachada a oeste, na direção das escadas. Estas duas entradas de luz
têm o mesmo sentido: oferecer um jogo de cheio e vazio visual, tanto interiormente como
exteriormente.
A iluminação zenital é o último tipo de luz cuidadosamente pensado. Aparece em três sítios
distintos conferindo-lhes singularidade. Sobre o armário da cozinha, encontra-se um deles, pois a
forma estreita deste rasgo que acompanha a linha de armários com 30 cm de largura dá ao espaço
uma nova dinâmica, acentuando a própria linha de armários camuflados. Com um fundamento
semelhante, o corredor de ligação para os quartos mantém um rasgo na cobertura igualmente de 30
cm e com o comprimento de 14 m, esta iluminação dá ao corredor um sentido de descoberta que o
torna especial. Por último, na instalação sanitária central, que serve de apoio aos quartos, é
contemplada por um rasgo sobre a banheira, com as suas dimensões, trazendo assim um sentido
poético e de conotação própria da importância que os japoneses dão ao banho, como um momento
de relaxamento e contemplação da paisagem. Neste caso, a esse sentido é dado uma outra direção:
enquanto que o relaxamento japonês é feito com o olhar no horizonte, neste caso é através do olhar
para o céu, recebendo a iluminação direta do sol.

Figura 56. Esquissos da iluminação zenital

Com a lógica do minimalismo de fluidez de espaços, todas as portas da zona privada são de
correr dentro da parede, havendo menos obstáculos e mais facilidade de deslocação entre divisões.
As três outras portas existentes são de folha simples de batente ou pivotante; as duas situadas na
divisão do segmento do pano de vidro da cozinha são em vidro para que não seja quebrada a visão
do alinhamento dos corredores; a outra, a porta de entrada, de folha pivotante, em aço corten
segue a mesma linguagem do módulo em que se insere.
Toda a habitação segue a mesma linguagem e o mesmo sentido, tanto a nível do detalhe
como de mobiliário ou da cor. As paredes exteriores são de 30 cm em alvenaria com isolamento e

76
reboco exterior, deixando o exterior com a riqueza do material bruto reboco branco. As paredes
interiores são de alvenaria simples rebocada. A cor que domina o interior é Chalk White, um tom
branco silencioso e intemporal. Estas paredes como as portas estão livres de molduras ou rodapés,
fazendo a sua junção com o teto falso, constituindo um outro detalhe que se pode encontrar nesta
corrente estilística usada como base. O cuidado destes detalhes é visto também no mobiliário e na
decoração que foi cuidadosamente escolhida.
Relativamente ao mobiliário, todos têm pontos em comum que os faz ter uma linguagem
uniforme. A cor predominante é o branco, as suas formas ortogonais e o material vai-se mantendo
entre peças. O lacado branco mate está como base de todos os armários, principalmente nas portas
dos mesmos; nas zonas de bancada da cozinha ou das instalações sanitárias, utiliza-se Dekton. Na
cozinha, a ilha tem duas cores diferentes; o móvel mantém o lacado branco dos armários mas a
placa superior que faz o desnível para a mesa de refeições ganha um acabamento inspirado na
pedra natural, de tonalidade escura, o Kelya da Dekton é a escolha para este acabamento.
O armário da sala, que sustenta a lareira em aço corten, é dividido em duas partes e esse
seu rasgo tem acabamento em cor Zenith da Dekton, um tom branco gelo, para não tirar a linha do
móvel.
Nas instalações sanitárias, a aplicação é diferente. A utilização do Dekton passa pelo
revestimento de parede na zona de banho das duas casas de banho, com as placas de Zenith. O
lavatório ganha um grande destaque em todas as instalações, pois é desenhado especificamente
numa base de aço corten com o lava-mãos sobre a placa e uma pequena prateleira alinhada,
também em aço corten.

Figura 57. . Esquisso do lavatório

Devido às caraterísticas e vantagens do Dekton, a sua resistência a altas temperaturas,


abrasão, manchas, frio, raios UV, à flexão, com estabilidade de cor e de baixa manutenção, torna
este material ideal para interiores e exteriores, revestimentos e acabamentos.
O pavimento é um dos materiais em destaque: um porcelânico de cor neutra com aspeto
rude e envernizado, que se repete em todas as divisões. A cave segue as mesmas diretrizes do piso
térreo, as suas paredes são rebocadas a cor Chalk White, à exceção da parede da escada que é em
aço corten como todo o seu módulo. A escada é em betão polido fazendo a conexão com o piso e o
exterior.

77
a b

c
d

Figura 58. Chalk White – tinta de acabamento (a),Distric LS56 – pavimento porcelânico (b), Aço corten –
revestimento (c), Zenith – revestimento (d)

78
Exterior
O exterior da habitação, segue alguns alinhamentos que são transportados do interior e
reproduzidos no exterior: a norte, a ligação pedestre do arruamento; a sul, a ligação automóvel
para o piso da habitação. A uma cota inferior, 647m, existe outro acesso automóvel que faz a
ligação com o piso inferior. A distinção entre o jardim e a zona automóvel à cota 655 m, é feita
através do pavimento que se alinha com o eixo de entrada e da habitação do terreno, mas também
por uma pequena limitação de 15 cm em aço corten que estreita na sua continuidade ao interligar-
se com o acesso pedestre. Sobre o relvado e fazendo a ligação do acesso pedestre em lajetas de
betão branco e na entrada existem umas lajetas igualmente em betão branco estreitas que se
agrupam e alinham com o módulo da entrada.

Figura 59. Esquisso de alinhamentos exteriores

Junto ao acesso automóvel, existia um tanque que foi mantido, com algumas alterações
estéticas. Com uma altura de 1,20 m da cota do terreno, foi pintado de Chak White, cor remetente
à habitação, com um pequeno depósito revestido a aço corten nas laterais que não estavam em
contacto com a água. O depósito a uma cota de 1,50 m do terreno, ganha uma nova guarda de
segurança, como o resto da reabilitação. Em sua volta existia um passeio em cimento que foi
coberto de deck, na cota inferior e na entrada para este na cota superior. Reabilitou-se o espaço
verde que existia na sua cota superior, com um novo muro de suporte alinhado ao tanque, passando
a ser uma zona de destaque para um pinheiro pinus cembra que existia no terreno e que era de
elevada importância para a família em questão. Este espaço passou a ser coberto de gravilha, pois
caso fosse relvado era de difícil manutenção. Em agregado ao novo muro de suporte deste espaço
verde, adicionou-se um canteiro no seu comprimento, em aço corten, com a plantação de
herbáceas de pequeno porte com folha estreita, “capim santo”, o que acabou por se repetir numa
outra zona.
Relativamente à envolvente da habitação, é um simples ajardinado que faz com que a
habitação seja o ponto central e principal sem lhe retirar brilho. A moldura de gravilha que se
desenvolve em torno da habitação dá-lhe o espeto de leveza desejado desde o início.

79
Figura 60. Esquissos da reabilitação do tanque

A intervenção no terreno foi inspirada nele mesmo. O principal requisito era mantê-lo o
mais fiel a ele mesmo, pelo que todos os percursos foram mantidos ou os novos delineados pelos
muros de suporte ou taludes. Com o intuito de oferecer a oportunidade de percorrer o terreno sem
limitações, criaram-se zonas de rampas e zonas de escada, fazendo a ligação a vários pontos do
terreno. Há dois percursos que partem do mesmo ponto e seguem diferentes orientações. Da
conexão da rampa existente no extremo sul, existe o percurso que faz duas ligações: para um
jardim de pedra e para o acesso automóvel inferior. O resto do terreno é deixado de uma forma
mais livre, para o cultivo que sempre se fez ao longo dos anos, havendo pontualmente e quando
necessário, conexão entre vários níveis através de escada.
Em relação ao jardim de pedra ou, como lhe chamam os japoneses, jardim zen, segue uma
linha de percurso que já estava trilhado no terreno e cria ao longo do próprio três zonas distintas
com diferentes orientações, que são de contemplação da vista. Este jardim tem as suas bases nos
jardins japoneses e a simplicidade que estes impõem. Localiza-se sobre um maciço rochoso e, por
ser uma área pouco protegida de intempéries, torna-se um local que merece cuidado em relação à
sua vegetação. Os elementos deste tipo de jardim passam por diferentes tipos de pedra, percurso e
vegetação. O percurso é feito pelas mesmas lajetas de betão utilizadas na habitação, embora os
restantes percursos sejam de cor diferente (cinza). Este, com uma conotação japonesa representa a

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evolução de nível no que diz respeito ao amadurecimento: o seu todo é para ser utilizado como
contemplação e tem a intenção de captar a essência da natureza; com estética minimalista induz o
utilizador a um estado de calma e reflexão. A sua vegetação passa por plantas perenes, arbustos e
flores perfumadas; os dois primeiros, segundo os japoneses, representam a eternidade, enquanto os
últimos, os maus espíritos. Esta vegetação, é de pequeno porte devido ao seu local pouco abrigado,
sendo elas escolhidas especialmente. Sendo as árvores existentes no terreno já caraterizadas como
plantas perenes, complementam e dão continuidade ao jardim. As plantas perenes serão de dois
tipos diferentes: o capim limão e a heuchera; os arbustos serão berberis japonesa e aloe vera; por
fim, as flores perfumadas, serão alfazema e jasmim de inverno. Todas estas escolhas passaram por
serem de pequeno porte, indicadas a jardins rochosos e tendo em conta a resistência a baixas
temperaturas.
a b c

d e f
Figura 61. Jasmim de inverno (a), Alfazema (b), Aloe Vera (c), Heuchera (d), Capim (e),Berberis Japonesa (f

Todas as árvores que existiam anteriormente foram mantidas nos seus respetivos lugares,
pois davam ao terreno um sentido único e, acima de tudo, fazem parte da memória do local. A
árvore predominante é o carvalho.
A escolha do pavimento remete à necessidade de deixar o solo permeável; assim, as lajetas
de betão que fazem os percursos ou que interligam acessos são deixadas com juntas secas.

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Logotipo

A criação de um logotipo para a conclusão desta proposta era de elevada importância. Poder-se-ia
escolher um simples nome para a denominação da habitação, sendo a Casa da Quinta do Canavial.
Sinteticamente, seria a Casa do Canavial, dando a importância à habitação, mas não seria correto
do ponto de vista de toda a quinta. Desta forma optou-se por ficar com o nome pela qual já é
conhecida: Quinta do Canavial.

Figura 62. . Esquissos do logotipo

A evolução do logotipo decorreu em torno do canavial, que toma uma forma vetorial minimalista
com o destacamento da palavra canavial. Com o evoluir da ideia surgem diferentes fontes,
posicionamentos e cores.
A forma vetorial escolhida das canas, parte da sua forma para uma linhagem minimalista; a sua
disposição, espessura e cor, tenciona transmitir uma noção de profundidade e sobreposição das
mesmas. Não é errado encontrar uma semelhança ou interligação deste vetor com a iluminação
controlada entrada na habitação.

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O destacamento da palavra canavial surge devido à sua relevância para a denominação da quinta,
pelo que esta palavra vai-se camuflando e ganhando destaque no logotipo, passando por ser
inicialmente a palavra claramente escrita sobre as canas até à forma final, onde não aparece
definidamente escrita, tendo só o seu contorno.
O logotipo tem uma forma e uma linguagem simples que remete para o minimalismo de conceito,
nas suas linhas retas e cores neutras, concluindo-se a proposta de forma única.

Figura 63. Lopotipo final

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Figura 64. Esquiços do exterior da habitação sobre o muro

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6. Conclusão
Durante a elaboração desta dissertação procurou-se reunir uma base de conhecimentos
teóricos e práticos que permitisse a formulação de uma visão crítica sobre o assunto abordado, a
qual pudesse servir de base para uma adequada e estratégica caraterização dos conceitos como o
minimalismo, a simplicidade, a flexibilidade e funcionalidade, refletidos numa fase final.
Os estudos referidos, bem como a indispensável consideração pela história familiar e da
respetiva envolvente, permitem criar o suporte teórico necessário à realização da componente
prática – a proposta do protótipo da habitação minimalista.
O protótipo, como parte integrante e fundamental desta dissertação, atua por si só como
conclusão, assumindo o papel culminante na concetualização da questão da habitação minimalista.
Foram estudadas e apresentadas referências minimalistas no modo de habitar que recuam no
tempo, desde o século XI até à contemporaneidade, abordando as celas monásticas e a habitação
tradicional japonesa, respetivamente.
Deste modo, e como objetivo principal desta dissertação, pretendeu-se proceder ao estudo
teórico-prático e à divulgação do movimento, como exemplo de boa filosofia arquitetónica, cujo
princípio pretende relacionar a forma consoante a função, tornando-se assim um ganho para o
habitar do Homem.
Ambicionou-se que a proposta para a Quinta do Canavial fosse o reflexo do estudo teórico
apresentado, reunindo todos os aspetos que definem a arquitetura minimalista, de acordo com as
normas legais e com os processos construtivos que permitem a sua execução.
Em suma, os objetivos a que se propôs este documento foram alcançados, as problemáticas e
condicionantes existentes na Quinta do Canavial foram superadas e contribuíram para a sua
potencialização e materialização do tema com a proposta arquitetónica, que conclui esta
dissertação.

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Figura 65. Modelagem 3D da proposta – Alçado este (a), alçado norte (b)

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Referencias bibliograficas

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Legislação

- RCM nº 81/2012
- Decreto de lei nº 166/2008 de 22 de Agosto
- Decreto de lei nº 239/2012 de 2 de Novembro
- Decreto de lei nº 321/83 de 5 de Julho
- PDM C

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ANEXOS

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