07 - MAIAS - Passeio Final de Carlos e Ega

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Escola Básica e Secundária da Batalha

PORTUGUÊS – 11º ANO

OS MAIAS, de Eça de Queirós


CRÍTICA DE COSTUMES/AMBIENTES

Episódio do passeio final de Carlos e Ega em Lisboa (Capítulo


XVIII)

O passeio final de Carlos e Ega em Lisboa funciona como um epílogo do romance, dez anos
depois de encerrada a intriga.
Carlos regressou de Paris, dez anos após a partida, depois de ter viajado por outras
capitais, onde observou um superior desenvolvimento e pode agora comparar o atraso do nosso
País: a estagnação, a decadência, o envelhecimento e a ociosidade da classe política.
Este passeio é, portanto, um passeio simbólico e traduz o sentido de degradação
progressiva e irremediável da sociedade portuguesa, para a qual não se visualiza qualquer saída
airosa. Os espaços que Carlos e Ega atravessam têm profundas conotações históricas e
ideológicas:
• o Loreto com a estátua de Camões, que representa o Portugal heroico, glorioso, mas
perdido, envolvido por uma atmosfera de estagnação (p. 706);
• o Chiado, que representa o Portugal do presente, o País decadente da Regeneração (p.
706);
• os Restauradores, símbolo de uma tentativa de recuperação falhada, e a prová-lo está o
ambiente de decadência e amolecimento que cerca o obelisco (pp. 710-711);
• os bairros antigos da cidade (Graça e Penha), que representam a época anterior ao
liberalismo, o Portugal absolutista, um tempo que, não obstante a sua autenticidade, é
recusado por Carlos por causa da intolerância e do seu clericalismo, que levam a que toda a
descrição esteja eivada de conotações negativas (p. 713).
Por seu lado, o Ramalhete que Carlos encontra passados dez anos já não é o espaço dos
alegres convívios de outrora. Está em ruínas e aproxima-se do estado em que se encontrava
antes da reconstrução. O Ramalhete é, pois, o símbolo do País atrasado e decadente, é utilizado
como sinédoque de Lisboa e de Portugal.
A conclusão a que Carlos e Ega chegam é que, tal como aconteceu durante a sua vida, em
que sempre foram arrastados pelo romantismo e em que fracassaram nos seus projetos, o
Romantismo foi uma das causas do atraso do País.

EM SÍNTESE:

Episódio caracterizado por:


– subdesenvolvimento
ambiência – ociosidade
Passeio alta sociedade lisboeta
de – ridículo
Carlos
e de Ega
(Cap. XVIII) à estagnação de Portugal
crítica à falta de originalidade
à incapacidade de evoluir

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Professora: Maria Helena Pintor
LISBOA REVISITADA

HOTEL BRAGANÇA

Carlos e Ega almoçam em amena cavaqueira. Destacam-se:


 a ociosidade voluntária de Ega e o seu envelhecimento
 a política, uma ocupação dos inúteis
 a visita de Alencar, mais velho, mas sempre com verbe romântica
 a visita de Cruges, mais velho, mas sempre bom compositor
 o convite de Carlos para um jantarinho à portuguesa

AAROMAGEM
ROMAGEMSAGRADA
SAGRADA
LARGO DE CAMÕES

Nada mudara. Camões triste: séc. XVI vs. séc. XIX


a mesmice  a estagnação  a ociosidade

PELO CHIADO

As coisas: nada mudara. As pessoas:


 o Dâmaso, mais velho, mais nédio, casado e traído
 a “Adozinda”, uma mulher inverosímil, alvo de troça
 o Craft, doente, alcoolizado
 o Taveira, sempre com alguma espanhola
 a besta do Steinbroken, em Atenas

PELA AVENIDA

As coisas:
o obelisco, símbolo do fontismo fracassado; os prédios
velhos mas requintados; o castelo, sórdido e tarimbeiro
As pessoas:
 a nova geração, ajanotada, ociosa, exibicionista e postiça
 o Eusébio, casado com uma mulher que o desanca
 o Cavalão, tornado político
 o Alencar, o único português genuíno

NO RAMALHETE

A passagem pelo inferno: catarse


 um ar de claustro abandonado
 os móveis quebrados ou embrulhados em lençóis de algodão (morte)
 os móveis ricos da Toca a caminho da destruição = promiscuidade de lixo
 o famoso jardim: – a ferrugem cobria os membros de Vénus Citereia
 o cipreste e o cedro envelheciam juntos
 a cascata: a água caía gota a gota
O RAMALHETE EM RUÍNA = SINÉDOQUE DE LISBOA = SINÉDOQUE DE PORTUGAL

CONCLUSÃO INDIVIDUAL PROVISÓRIA

COMPLETO FRACASSO DE CARLOS E EGA: O SEU PERMANENTE ROMANTISMO =


INDIVÍDUOS INFERIORES QUE SE GOVERNAM NA VIDA
PELO SENTIMENTO E NÃO PELA RAZÃO

A CAMINHO DO HOTEL BRAGANÇA

 a teoria definitiva da vida: «Nada desejar e nada recear» (estoicismo clássico, fatalismo
muçulmano e resignação cristã)
 a prática:
– os dois amigos romperam a correr desesperadamente

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Professora: Maria Helena Pintor
Linhas de leitura

O desencantado passeio final de Carlos e Ega situa-se dez anos após a partida de Carlos
para a viagem à volta do mundo e consequente instalação em Paris:

«E numa luminosa e macia manhã de Janeiro de 1887, os dois amigos, enfim juntos,
almoçavam num salão do Hotel Bragança, com as duas janelas abertas para o rio.» (p. 699).

Os aspetos fundamentais relativos à sociedade portuguesa dos finais do séc. XIX presentes
neste episódio são:

 a sensação de total imobilismo da sociedade portuguesa


Ex.: «Estavam no Loreto; e Carlos parara, olhando, reentrando na intimidade daquele velho
coração da capital. Nada mudara.» (p. 706).

 o provincianismo da sociedade lisboeta


Ex.: «[...] o rapaz recolheu ao seu rancho – onde todos, já calados, com uma curiosidade de
província, examinavam aquele homem de tão alta elegância [...]» (p. 708).

 a aceitação do fracasso e do desencanto por parte dos dois amigos: o vencidismo


Ex.: « — Em que tudo ficou!
— Em que tudo ficou! Mas rimos bastante!» (p. 709).

 a falta de fôlego nacional para acabar os grandes empreendimentos


Ex.: « — Ora aí tens tu essa Avenida! Hem?... Já não é mau!
[...] E ao fundo a colina verde, salpicada de árvores, os terrenos de Vale de Pereiro,
punham um brusco remate campestre àquele curto rompante de luxo barato – que partira
para transformar a velha cidade, e estacara logo, com o fôlego curto, entre montões de
cascalho.» (pp. 710-711).

 a imitação acrítica do estrangeiro


Ex.: «[...] Porque essa simples forma de botas explicava todo o Portugal contemporâneo.
Via-se por ali como a coisa era. Tendo abandonado o seu feitio antigo, à D. João VI, que tão
bem lhe ficava, este desgraçado Portugal decidira arranjar-se à moderna: mas, sem
originalidade, sem força, sem caráter para criar um feitio seu, um feitio próprio, manda vir
modelos do estrangeiro – modelos de ideias, de calças, de costumes, de leis, de arte, de
cozinha... Somente, como lhe falta o sentimento da proporção, e ao mesmo tempo o domina
a impaciência de permanecer muito moderno e muito civilizado – exagera o modelo,
deforma-o, estraga-o até à caricatura.» (p. 712).

 a decadência dos valores genuínos


Ex.: « — Resta aquilo, que é genuíno...
E mostrava os altos da cidade, os velhos outeiros da Graça e da Penha, com o seu casario
escorregando pelas encostas ressequidas e tisnadas do sol [...] E abrigados por ele, no escuro
bairro de S. Vicente e da Sé, os palacetes decrépitos, com vistas saudosas para a barra,
enormes brasões nas paredes rachadas, onde, entre a maledicência, a devoção e a bisca,
arrasta os seus derradeiros dias, caquética e caturra, a velha Lisboa fidalga!
Ega olhou um momento, pensativo:
— Sim, com efeito, é talvez mais genuíno. Mas tão estúpido e sebento! Não sabe a gente
para onde se há de voltar... E se nos voltarmos para nós mesmos, ainda pior!» (p. 713).

 o aspeto simbólico dos espaços

 a estátua de Camões – a grandeza perdida;


 a Avenida – o esforço inglório de progresso;
 os bairros antigos – a decadência atual;
 o Ramalhete (solitário e amortalhado) – o fim dos Maias.

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Professora: Maria Helena Pintor

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