07 - MAIAS - Passeio Final de Carlos e Ega
07 - MAIAS - Passeio Final de Carlos e Ega
07 - MAIAS - Passeio Final de Carlos e Ega
O passeio final de Carlos e Ega em Lisboa funciona como um epílogo do romance, dez anos
depois de encerrada a intriga.
Carlos regressou de Paris, dez anos após a partida, depois de ter viajado por outras
capitais, onde observou um superior desenvolvimento e pode agora comparar o atraso do nosso
País: a estagnação, a decadência, o envelhecimento e a ociosidade da classe política.
Este passeio é, portanto, um passeio simbólico e traduz o sentido de degradação
progressiva e irremediável da sociedade portuguesa, para a qual não se visualiza qualquer saída
airosa. Os espaços que Carlos e Ega atravessam têm profundas conotações históricas e
ideológicas:
• o Loreto com a estátua de Camões, que representa o Portugal heroico, glorioso, mas
perdido, envolvido por uma atmosfera de estagnação (p. 706);
• o Chiado, que representa o Portugal do presente, o País decadente da Regeneração (p.
706);
• os Restauradores, símbolo de uma tentativa de recuperação falhada, e a prová-lo está o
ambiente de decadência e amolecimento que cerca o obelisco (pp. 710-711);
• os bairros antigos da cidade (Graça e Penha), que representam a época anterior ao
liberalismo, o Portugal absolutista, um tempo que, não obstante a sua autenticidade, é
recusado por Carlos por causa da intolerância e do seu clericalismo, que levam a que toda a
descrição esteja eivada de conotações negativas (p. 713).
Por seu lado, o Ramalhete que Carlos encontra passados dez anos já não é o espaço dos
alegres convívios de outrora. Está em ruínas e aproxima-se do estado em que se encontrava
antes da reconstrução. O Ramalhete é, pois, o símbolo do País atrasado e decadente, é utilizado
como sinédoque de Lisboa e de Portugal.
A conclusão a que Carlos e Ega chegam é que, tal como aconteceu durante a sua vida, em
que sempre foram arrastados pelo romantismo e em que fracassaram nos seus projetos, o
Romantismo foi uma das causas do atraso do País.
EM SÍNTESE:
1
Professora: Maria Helena Pintor
LISBOA REVISITADA
HOTEL BRAGANÇA
AAROMAGEM
ROMAGEMSAGRADA
SAGRADA
LARGO DE CAMÕES
PELO CHIADO
PELA AVENIDA
As coisas:
o obelisco, símbolo do fontismo fracassado; os prédios
velhos mas requintados; o castelo, sórdido e tarimbeiro
As pessoas:
a nova geração, ajanotada, ociosa, exibicionista e postiça
o Eusébio, casado com uma mulher que o desanca
o Cavalão, tornado político
o Alencar, o único português genuíno
NO RAMALHETE
a teoria definitiva da vida: «Nada desejar e nada recear» (estoicismo clássico, fatalismo
muçulmano e resignação cristã)
a prática:
– os dois amigos romperam a correr desesperadamente
2
Professora: Maria Helena Pintor
Linhas de leitura
O desencantado passeio final de Carlos e Ega situa-se dez anos após a partida de Carlos
para a viagem à volta do mundo e consequente instalação em Paris:
«E numa luminosa e macia manhã de Janeiro de 1887, os dois amigos, enfim juntos,
almoçavam num salão do Hotel Bragança, com as duas janelas abertas para o rio.» (p. 699).
Os aspetos fundamentais relativos à sociedade portuguesa dos finais do séc. XIX presentes
neste episódio são:
3
Professora: Maria Helena Pintor