Resumo de Linguística Portuguesa

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 26

Resumos de Linguística Portuguesa

1. Língua e Linguagem natural


Língua não é:
Escrita
Pensamento
Regras de correção gramatical

O que significa conhecer uma língua?


Significa que podes falar (sinal) e ser entendidos por pessoas que falam a mesma língua que nós.
Como fazemos isso? Produzimos sons/ sinais que transmitem um significado e entendemos os sons
produzidos por outros.
Conhecer uma língua significa também saber quais os sons ou sinais fazem parte dessa língua.
Precisamos saber mais do que o sistema de sons e padrões de som da nossa língua. Precisamos
saber que certas sequências de sons correspondem a certos conceitos ou significados. Conhecer
uma língua significa saber que determinadas palavras pertencem ou não a essa língua.
[Q: Se uma criança portuguesa nascer a saber que casa de banho se diz WC, ela só vai conhecer a
sua língua quando perceber que a palavra é um empréstimo da língua inglesa? Ou como já é um
empréstimo e está tão espalhado e comum, já pertence á língua?]
Mas as palavras por si só não constituem uma língua; as palavras são unidas para formar
estruturas/ frases para comunicação e expressão.
Mas não podemos unir palavras, precisamos de regras para formar frases. Essas regras são finitas
para que possam ser armazenadas no nosso cérebro. Com um número finito de regras, que
aplicamos inconscientemente, podemos formar um conjunto infinito de novas frases. Tudo isso
requer um conhecimento linguístico profundo que a maioria das pessoas desconhece.
Ex: Colocação de Clíticos
1) Ela contou-me tudo. Ela- sujeito contou-me- verbo tudo- complemento direto
2) Ela não pode contar-lhe a verdade.
“não” influencia o verbo poder daí o “lhe” não vir para trás do “pode”

3) Não posso não lhe contar a verdade.


O “não” influencia o verbo contar, daí a troca

4) Eu já lhe disse a verdade.


“já” é um adverbio intensificador o que provoca a troca Ex: também e
até
5) Não parou de se queixar.
6) Não parou de queixar-se.

Agramaticalidade: Frases que nenhum falante de uma determinada língua produz ou reconhece na
sua língua.
O que é que a linguagem humana permite fazer?
A linguagem permite-nos trocar um número infinito de ideias usando um número finito de palavras
memorizadas (léxico pessoal) e um número finito de regras gramaticais (ferramentas mentais).

Competência linguística vs. Performance Linguística


Competência linguística é o termo que denomina a capacidade do usuário da língua de produzir e
entender um número infinito de sequências linguísticas significativas, que são denominadas frases,
a partir de um número finito de regras e estruturas
Performance linguística extravasa a língua natural e é uma forma criativa do uso da linguagem
uso criativo  uso social
Língua natural é o resultado da aprendizagem de uma língua. É produzida espontaneamente por
falantes que deriva da sua competência linguística. Fácil interpretação.
UKIEKE O que é que?
Unidade fonológica unidades ortográficas
O que é uma palavra?
Palavra é aquilo que o falante consegue produzir.
Lexema representa todas as formas que existem para uma palavra.

1.1. Linguagem Verbal e Linguagens não verbais


1.2. Linguagem como sistema de signos

Ferdinand Saussure Defende a relação entre conceito e imagem acústica, que permite que as
Quando produzida pode ser
variações façam parte da língua diferente

Esta relação (entre conceito e imagem acústica) é arbitrária, isto é, não há uma língua que faça isto
bem ou mal, existe formas diferentes para as diferentes línguas.

Ferdinand Saussure (1916) Mas o que é a língua? Para nós, ela não se confunde com a linguagem;
é antes uma parte determinada, essencial da linguagem. É ao mesmo tempo um produto social da
faculdade da linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para
permitir aos indivíduos o exercício desta faculdade. (…) A fala é, pelo contrário, uma ato individual
da vontade e da inteligência, no qual convém distinguir: 1, as combinações pelas quais o sujeito
falante utiliza o código da língua em ordem a exprimir o seu pensamento pessoal; 2, o mecanismo
psicofísico que lhe permite exteriorizar essas combinações.

2
David Crystal (1980) - Linguagem: capacidade humana de comunicar através do uso sistemático e
convencional de sons, sinais ou símbolos escritos. O termo é utilizado para exprimir outros
conceitos como os meios de comunicação dos animais ou os sistemas de programação em
informática.

Signo linguístico e estrutura da linguagem verbal - teoria geral do sinal, segundo Charles Pierce

Ícone
- há uma semelhança entre o sinal e aquilo que ele
significa;
- não tem uma conexão física com o objeto que representa,
mas as suas qualidades parecem-se com as dele, pelo que
provoca sensação análogas na mente.
Ex: uma fotografia é um sinal da pessoa fotografada

Índice
Sinal - há uma contiguidade entre o sinal e aquilo que ele
significa;
- algo (significante) - está conectado fisicamente com o objeto, fazem um par
manifesta, leva ao orgânico.
conhecimento de algo Ex: corar como sinal de vergonha; fumo como sinal de fogo
(significado) distinto
de ele mesmo Símbolo
-ou singo
há uma convenção que liga o sinal àquilo que ele significa;
- está conectado com os seu objeto em virtude da mente,
sem a qual não existiria tal conexão; é um signo
convencional.
Ex: balança como símbolo da justiça

Teoria geral dos signos, signos verbais e signos não verbais


Simiologia (Saussure) ou Semiótica (Pierce)

Signos Exemplos
Visuais cartão amarelo do árbirto
sinal de sentido proibido
abanar a cabeça para dizer sim ou não
Auditivos sirene da ambulância
Táteis escrita Braille
Olfativas perfume
Quinésicos mímica (ex: gestos insultuosos)
Verbais signos linguísticos
 Fonética/ Fonologia
 Morfologia/ Sintaxe
 Semântica/ Pragmática
 Linguagem do discurso

3
Uma tipologia dos modos de expressão

O que distingue a linguagem humana?


Charles Hockett procurou definir as características da linguagem humana que a distinguem da
linguagem de outros animais.
1. canal vocal auditivo: a linguagem é um continuum sonoro produzido pelo aparelho fonador e
percebido pelo aparelho auditivo;
2. intercambiabilidade: os papéis de locutor (falante) e alocutário (ouvinte) podem ser trocados
numa situação de interação comunicativa;
3. especialização: os sinais linguísticos têm funções comunicativas, sociais, psicológicas, não apenas
biológicas e não necessitam de muito esforço ou energia para a sua produção.
4. semanticidade: a comunicação realiza-se por signos que se referem a entidades ou eventos;
5. arbitrariedade1: a relação entre o signo e o seu referente na realidade é puramente convencional
e imotivada (significante);
6. carácter discreto2: a linguagem humana é constituída por segmentos distintos e separáveis entre
si;
7. distanciamento: a linguagem humana pode ser usada para referir coisas distintas no espaço e no
tempo;
8. abertura (ou criatividade): a linguagem humana permite que se combinem os seus constituintes
que existem em número limitado de forma a produzir frases sempre novas e nunca antes
produzidas;
9. tradição: a linguagem humana, através das línguas, é aprendida de geração em geração, não é o
resultado de um mecanismo de hereditariedade;
10. prevaricação3: a linguagem humana permite mentir, falar de coisas fictícias ou inexistentes,
criar outros mundos, etc;
11. reflexividade4: a linguagem humana permite explicar-se a si própria, falar da própria linguagem;
12. aprendibilidade5: qualquer falante de uma dada língua pode aprender outra língua nova.

4
1. arbitrariedade: em cada língua não existe uma ligação perfeita entre conceito e imagem
acústica.
2. carácter discreto: as unidades que usamos para o discurso são facilmente destingidas.
3. prevaricação: linguagem humana pode ser usar as palavras de forma diferente do convencional.
4. reflexividade: temos capacidade de perguntar o que não percebemos; capacidade de perceber a
incapacidade na comunicação.
5. aprendibilidade: capacidade de aprender uma língua nova.

1.3. Aspetos biológicos da linguagem

A linguagem é uma capacidade humana que reside essencialmente no nosso cérebro, mas também
tem uma questão de capacidade cognitiva, ou seja, não é só o conhecimento que temos de uma
língua que se relaciona também com todos os outros aspetos cognitivos, ou seja, a nossa
capacidade de processar informação que contribui para a linguagem. Ex: memória
Uma pessoa pode ter a capacidade da linguagem, mas pode não se lembrar e isso não está
relacionado com a linguagem, está relacionado com capacidades cognitivas porque somos todos
diferentes a pessoa pode ter perdido a capacidade de memorizar coisas ou aceder à informação
que tem memorizada.
A forma como produzimos linguagem vai estar sempre relacionada com aspetos que andam à volta
do nosso próprio conhecimento da língua, portanto, existe necessariamente, uma relação entre o
cérebro e a linguagem humana.
1º momento do conhecimento da relação da parte biológica e do funcionamento da linguagem foi
quando se percebeu que o cérebro funciona em duas partes e quando se percebeu que lesões que
afetavam uma parte do cérebro podiam ou não influenciar a linguagem.

Localização das zonas do cérebro responsável pela linguagem


Teorias desenvolvidas a partir da observação de afasia adquirida, resultante de lesões cerebrais
provocadas por doenças ou traumas.
 Paul Broca (c.1860) propõe que a linguagem está localizada na parte frontal do hemisfério
esquerdo, após observar pacientes com lesões nessa área (área de Broca).
 Afasia de Broca- problemas sintáticos (ou seja, as pessoas conhecem as palavras, mas
produzem frases agramaticais), mas não o conhecimento dos conceitos [Ex: O pato João
Jardim  O pato do João está no jardim]

5
 Carl Wernicke (c. 1870) descreve afasia em resultado de lesões em áreas do lobo temporal
esquerdo (área de Wernicke).
 Afasia de Wernicke- afeta a relação entre conceitos e imagens acústicas, o que significa
que as pessoas podiam trocar palavras, inventar palavras ou produzir palavras que mais
ninguém conhecia. [Ex: Sapo homem jardizaze  O pato do João está no jardim]

A linguagem reside em áreas específicas do cérebro que são modelares, comunicam entre si, mas
que têm especializações diferentes. Os problemas de linguagem podem afetar somente um dos
módulos. Pode afetar o módulo semântico lexical que é as palavras e o seu significado ou pode
afetar o módulo essencialmente sintático que é a forma como as palavras se combinam. Significa
que a linguagem existe em zonas específicas do cérebro, mas essas zonas específicas do cérebro
têm de comunicar entre si.
Além disto, as pessoas com problemas de afasia revelam que as palavras não estão organizadas de
uma forma gradual.
Os doentes de afasia podem fazer, essencialmente, duas coisas. Podem fazer substituição de
palavras por palavras com um som semelhante, o que significa que existe uma troca, uma
complicação no sistema de armazenamento das imagens acústicas
Ex: Eu posso identificar corretamente o que é um caso, que é o verbo casar, mas na altura de
produzir, produzo vaso.
Isto significa que os conceitos e as imagens acústicas também não estão organizados no mesmo
sítio. Nós podemos identificar o conceito e trocar a imagem acústica. Se elas estivessem no mesmo
sítio ao invocar uma a outra estava ao lado. O conceito e imagem acústica têm que estar
armazenados num sítio diferente porque em algum momento tem de haver uma relação entre elas.
Ou também podem fazer substituição de palavras por palavras com um sentido contíguo.
Ex: Eu quero dizer monitor, mas em vez disso digo televisão; em vez de dizer sal digo pimenta.
Isto acontece uma vez que a palavras estão armazenadas por sentidos contíguos, ou seja, palavras
com sentido logicamente relacionáveis estarão armazenadas no mesmo sítio, o que significa que se
as palavras estão armazenadas, a nossa representação dos sons está armazenada num sítio
diferente de onde estão os conceitos.
Se nós temos um problema na ligação entre os conceitos e as representações podemos ir buscar
uma produção diferente daquela que estamos à espera, portanto, as imagens acústicas vão ser
diferentes.
Se há um problema no acesso aos conceitos, podemos não ir buscar o conceito esperado, mas o
que está armazenado ali perto porque estamos a ter problemas no acesso.
Ex esquemático: conceito

a c a
c
O conceito que quero é o a, mas como existe uma lesão, se quero
b d b d
ir buscar o conceito pretendido, em vez de ir para o lugar certo,
que está lesionado, o neurónio vai levá-lo para o que está próximo.
O que está mais próximo está conceptualmente relacionado, isto
lesão significa que, se quer dizer monitor vai dizer televisor. 6
A linguagem de sinais que não tem imagem acústica.
Os sítios onde iam ser armazenadas as informações relacionadas com as imagens acústicas, o sítio
está lá, estamos programados para o receber, o problema é que não chega.
Os surdos vão apresentar afasia de linguagem gestual nos mesmos moldes que nós produzimos
sons, significa que da mesma forma que existem zonas para armazenar as imagens acústicas, essas
zonas vão ser utilizadas para armazenar imagens típicas de gestos, portanto os problemas vão ser
os mesmos.
Curiosamente, o que se verificou, é que os mesmos tipos de problemas biológicos físicos vão afetar
ambos os grupos de falantes de língua da mesma forma, ou seja, quem tem problemas em associar
um conceito ao som, vai ter problemas em associar o conceito ao gesto. As coisas foram para o
mesmo sítio.

Dislexia e afasia não são a mesma coisa


A dislexia é uma questão cognitiva porque já se relaciona com algo que não é linguagem, é escrita.
Enquanto que a afasia é um problema de linguagem, isto é, não consigo produzir determinadas
frases porque não consigo ir buscar as palavras corretas para os conceitos, isto tudo acontece é um
problema de linguagem.
A dislexia é incapacidade de concretizar a relação entre a linguagem e uma coisa que existe ao lado
da linguagem, que é a representação na forma escrita das palavras e das frases.
As frases que nós escrevemos não são iguais à nossa linguagem. Dizendo de outra forma, uma
pessoa com dislexia pode ou não falar perfeitamente normal.

Existem dois tipos de dislexia


A dislexia profunda que é semântica, significa que ao fazer a leitura das palavras vai ter um
problema que é identificar o significado das palavras ou a função da palavra e claramente existe um
problema de conexão entre onde os conceitos estão armazenados e a parte onde estamos a
armazenar imagens de letras que vamos tentar interpretar como associadas a palavras. Tal como na
linguagem normal vamos ter dois tipos de principais de dificuldades na leitura. Uma que afeta a
compreensão do significado das palavras ou a função das palavras escritas, portanto troca palavras
ou lê uma palavra e não sabe o que ela significa embora seja capaz de a ler.
A dislexia de superfície é a necessidade de associar a palavra escrita a uma imagem acústica, o que
significa que se um disléxico de superfície vê uma palavra que nunca a ouviu.
Ex: A pessoa pode conhecer a palavra termo, mas pode não conhecer a palavra termos. Basta
mudar o “s” e a palavra já não está reconhecida.
O cérebro não consegue fazer a relação entre a escrita e um conceito.

7
1.4. Tipologia linguística e famílias de línguas

Tipologia dedica-se à categorização dos tipos de língua de acordo com as suas características, que
não é o mesmo que juntar as línguas em famílias.
Os tipos de língua que é estudar as línguas para ver o que têm de semelhante entre si, mas não
vamos ter em conta, para ver as semelhanças entre elas, os seguintes fatores:
 relacionamento genético, ou seja, se são da mesma família
 os contactos que historicamente tiveram entre elas
 as condições ambientais compartilhadas

Temos que perceber não porque é que as línguas do centro da Europa são todas iguais, mas quais
são as propriedades das línguas em aproximar uma língua da Europa e uma língua nativa da
Austrália. Ou seja, se todos humanos nascem com a mesma capacidade de aprender língua,
compreender como é que as línguas se comparam entre si se nós só estamos a olhar para as que
estão ao lado? Ignoramos propriedades da linguagem que podem ser desenvolvidas da mesma
forma em língua que geograficamente não estão relacionadas.
A partir do momento em que nós dizemos que os humanos têm a capacidade da linguagem e que
os cérebros são todos iguais, não podemos limitar a comparar língua uma ao lado da outra,
podemos ter que presumir que duas línguas geograficamente separadas vão ter características
semelhantes.

A comparação de tipologias passa sobretudo pela análise das estruturas que é comparar língua
diferentes e ver de que forma é que estruturas que têm o mesmo significado, se estão presentes na
mesma frase e como é que elas se ordenam.

Nós vemos que esta mesma estrutura


corresponde a posições diferentes da
frase e vai necessariamente
corresponder a palavras diferentes

Analisando:
 Em algumas línguas o verbo aparece no final
 A posse pode ser em algumas línguas uma palavra diferente enquanto que noutras é um
segmento que se junta à palavra

A tentação é aproximar as que são semelhantes, mas não podemos limitar a isto. Vai haver
proximidades em línguas da mesma família, mas não queremos excluir que existem semelhanças
fora da mesma família.

8
As semelhanças aqui já são mais claras.
A posição dos elementos na frase até é a
mesma e que existem semelhanças
lexicais.
Ex: A palavra todos os dias (daily) tem a mesma estrutura de redobro [tägliches e dagliga]. A
estrutura é a mesma apesar de não serem necessariamente nem com as mesmas consoantes, mas
é com o mesmo número de sílabas e com a mesma estrutura alternando as consoantes.

Olhando para as línguas fora destas famílias, o que a tipologia linguística faz é analisar como é que
estas propriedades estruturais, ou seja, a distribuição dos elementos da frase vai ser diferente de
língua para língua independentemente da família linguística.

O que é que não interessa à tipologia?


 Casos que sejam de origem histórica compartilhada porque ignora a probabilidade de algo
acontecer fora da linguística
 Contacto entre línguas- aquilo que uma língua empresta a outra não é próprio dessa língua. Dito
de outra forma, se nós introduzirmos na nossa língua portuguesa estruturas novas que resultam
da convivência com o inglês, resultam da aquisição de outras palavras de outra língua para
significar a mesma coisa, neologismo. Isso não diz nada sobre a estrutura do português porque
são um acrescento que usamos, mas que na verdade são diferentes daquilo que nós
aprendemos a falar quando somos crianças. Um adulto pode introduzir estruturas novas de
outra língua, mas isso não se deve confundir com aquilo que aprendeu. Não é uma questão de
egoísmo, é uma questão que perceber que existem estruturas da língua que são influenciadas
com línguas com as quais se contacta.
Porque é que a tipologia vai ignorar as línguas que são da mesma família?
Porque isso pode induzi-los em erros onde estamos a descrever as
características de uma determinada língua, ou seja, um exercício que é Inglês - sugar
habitual fazer-se é encontrar palavras fundamentais para objetos Alemão - Zucker
fundamentais e assumir que as línguas partilham palavras fundamentais Sueco - socker
é porque estão relacionadas, portanto devo haver uma proximidade Holandês - suiker
entre as duas.
Porque é que isto deve ser retirado do contexto? Se nós olharmos para palavras, nós vemos que
existe relação entre as línguas.
A comparação de duas línguas não é pela sua escrita é pela reprodução.
Ter palavras iguais não significa que as línguas estejam relacionadas. Os falantes dessas línguas é
que em algum momento se relacionaram.
Olhar para as palavras para as línguas pode correr mal porque as palavras são blocos que os
falantes adicionam a estruturas já existente na língua, ou seja, tudo aquilo que resulta dos falantes
não ajuda a esclarecer.

9
Um léxico não é um bom critério para dizer que as línguas estruturalmente se relacionam porque
pode basear-se em palavras introduzidas por pequenos falantes num momento da história da
língua, em contraste, com palavras que fazem parte da fundação daquela língua.

2. Os níveis de análise linguística


2.1. Fonética e fonologia

Conceitos

 A fonética é a ciência que estuda as características físicas, articulatórias e percetivas da


produção e perceção dos sons da fala e fornece métodos para a sua descrição e classificação.
 A fonologia determina as distinções fonéticas essenciais para a comunicação linguística, o seu
número e a sua natureza, as suas relações mútuas no sistema da língua, a sua distribuição e as
regras às quais elas se encontram submetidas. [descrição abstrata dos sons de uma língua e a
forma como se distinguem na mente dos falantes]
 A grafética é o estudo das particularidades físicas de manuscritos, impressos e outras formas de
expressão gráfica.
 A grafémica é um estudo abstrato do sistema de escrita.
Assim como fone e o fonema são unidades resultantes da análise do plano da expressão das
línguas, levada a cabo, respetivamente pelo Fonética e pela Fonologia, assim também letra e
grafema constituem unidades sui generis que resultam da descrição da representação escrita
daquele plano, operada, também respetivamente, pela Grafética e pela Grafémica, disciplinas
auxiliares das primeiras.
Representação: [fonemas] /fone/
Fonética
-Disciplina que estuda os sons da fala humana, o modo como são produzidos pelos locutores e
como são percebidos pelos ouvintes.

 Fonética acústica (sons usados na fala) –


 Fonética articulatória (produção dos sons) – como estão a ser produzidos
 Fonética percetiva (perceção dos sons) – como os sons são percebidos
-Questões de investigação:

 Que sons são os humanos capazes de produzir?


 Que sons são efetivamente utilizados na fala?
 Que operações mentais do som e a sua produção?
-O controlo de um ato de fala situa-se no sistema nervoso central

10
-Aparelho de produção de fala a nível periférico: estruturas anatómicas que participam na
produção da fala a nível periférico (pulmões, laringe, faringe, boca, fossas nasais)
-A atividade do aparelho de produção de fala opera sobre o ar que é expirado dos pulmões. Daí
resultam variações de pressão (sinais acústicos), que se propagam pelo ar e são captados e
processados pelo aparelho auditivo. O aparelho auditivo transforma-os em sinais elétricos,
adequados ao sistema nervoso.

Aparelho fonador humano

Fonética
-A perceção da fala depende do conhecimento da língua.
-Conhecimento das restrições impostas à língua quanto à ocorrência de determinadas sequências
de sons em diferentes posições da sílaba ou da palavra.
Ex: ERRAR  irrar, êrrar, èrrar vs. ôrrar vs. urrar
-Conhecimento da língua permite produzir frases com entoações diferentes (perguntas, afirmações)
Ex: Não vais embora vs. Não vais embora?
-Não conseguimos segmentar os sons das línguas desconhecidas
-Mas, em línguas conhecidas, identificamos segmentos sonoros (sequências de unidades menores).
Basta a substituição de uma dessas unidades para haver uma mudança de significado.
Ex: Bato no pato
fato/fato; fato/fito; fito/figo; figo/figa
-Outras alternâncias não estão relacionadas com o significado, mas com o contexto sonoro.
Ex: Asas pretas; Asas amarelas
-Alternâncias quanto ao acento
Ex: Neve, nevar; menos, menor
11
-Alternância devidas a diferenças regionais, de grupo social ou de estilo individual
Ex: “S beirão”, “u micaelense” são variantes fonéticas de um segmento fonológico.

Fonemas do português europeu


Vogal: som produzido sem uma obstrução do trato
vocal. Em português, foneticamente, é possível
identificar catorze vogais, que se distinguem em
função do seu ponto de articulação (estabelecendo-se
distinção através dos movimentos da língua e dos
lábios), bem como da passagem ou não de ar pela
cavidade nasal.
Semivogal: som produzido com características articulatórias e acústicas semelhantes às das vogais
e que ocorre junto de uma vogal formando com ela um ditongo. Uma semivogal nunca pode
receber acento. A semivogal também pode designar.se glide.
Consoante: som produzido com uma obstrução ou estreitamento do trato vocal em que a
passagem do ar é total ou parcialmente bloqueada.

2.1.1 Fonética e fonologia: Sílaba e encontro de palavras

A sílaba é uma construção percetual, criada no espírito do ouvinte, com propriedades específicas
que não decorrem da simples segmentação fonética das sequências de elementos
As palavras podem ser constituídas por uma única sílaba:
 É
 Má
 Mar
As vogais são o núcleo da RIMA (R) das respetivas sílabas.
A rima pode ser constituída pelo Núcleo (N), ou ser constituída pelo núcleo e pela consoante que se
lhe segue, a CODA (C).

Representação das sílabas na


palavra patas.
A consoante que antecede a
RIMA constitui o ataque (A).

12
Exemplos de restrições do ataque em português

Fenómenos de supressão da vogal átona

Denomina-se sândi um fenómeno de fonética sintática que ocorre quando uma vogal ou uma
consoante, inicial ou final de sílaba, se encontra em determinado contexto.
O sândi externo resulta do encontro entre dois segmentos separados por uma fronteira de palavra
e depende das características das vogais e/ou das consoantes que entram em contacto.

perdeu a coda ataque

a posição de ataque passou a ser coda

supressão da coda

13
Quando se trata de duas sílabas seguidas, iniciadas pela mesma consoante e separadas, apenas, por
um vogal átona [ɨ] ou [u]) pode dar-se a simplificação das duas sílabas. Esta simplificação de sílabas
denomina-se haplologia.

No que diz respeito ao encontro das vogais átonas finais de palavra ([ɐ], [ɨ] e [u]) e as iniciais da
palavra seguinte, podem ocorrer diferentes realizações. DE um modo geral, a átona final é
suprimida, ressilabificando-se a sequência das duas palavras, ou seja, as duas sílabas em contacto
simplificam-se numa única.

Quando uma forma verbal termina em [ɨ] é seguida por um pronome átono, a vogal final do verbo
semivocaliza.

14
2.2. Morfologia

Objetivos de estudo da morfologia:

 Análise da estrutura interna das palavras existentes.


 Descrição dos processos morfológicos de formação de novas palavras.

Quais os limites das palavras?


A definição varia consoante os subdomínios dos estudos linguísticos.
Critérios fonológicos, semânticos ou sintáticos?
Palavras da língua
Desde que não chova, passamos o fim de semana na Serra da Estrela, enquanto não nos cortam o
subsídio de férias.
Desde que- estas palavras são uma estrutura que pode ser alterada, por exemplo por “se”
Palavras fonológicas
Desde que não chova, passamos o fim de semana na Serra da Estrela, enquanto não nos cortam o
subsídio de férias.

Dum interessa ser estudado pela morfologia?


Sim, porque tem uma estrutura portuguesa, isto é, tem número e género que pode ser alterado. Ex:
duma, duns, dumas.

Para a morfologia, as palavras são estruturas, ou seja, são formas analisáveis em unidades menores
a que se dá o nome de constituintes morfológicos.

Palavra
RADICAL (simples ou complexo)
+
CONSTITUINTE TEMÁTICO (especificador morfológico)
+
FLEXÃO MORFOLÓGICA (especificador morfo-sintático)

15
Os nomes e os adjetivos exigem flexão em número, os verbos flexionam em tempo-modo-aspeto e
pessoa-número.

Diferente variação, que pode ser realizada pelo constituinte temático

Substantivos

Adjetivos

16
Verbos

Palavras complexas (derivação)

Palavras complexas (modificação)

17
Composicionalidade e lexicalização
Composicionalidade é um princípio de análise das palavras complexas, que identifica aquelas cujas
propriedades são integralmente determinadas pela sua estrutura e pelas propriedades dos seus
constituintes

[ [ [ [gord] [ur] ] [os] ] [o] ]


radical
[ [ [janel] [inh] ] [a] ]

Exercício:
Considere a seguinte lista de palavras.

a) Indique que palavras têm uma estrutura simples;


b) Indique que palavras contêm afixos

1. cardíaco – inalisável, pois “cardio” não tem significado em português


2. pedrada - analisável
3. patriarcado – patriarca – poder dado aos homens
4. impossibilidade - analisável
5. reprovável – reprova(r)-vel; algo que pode ser reprovado
6. cantador - analisável
7. canção - inalisável
8. fotografia – não pode ser analisada- palavra importada
9. ciclismo - não pode ser analisada- palavra importada (ciclo não significa bicicleta em pt)

Lexicalização, trata-se de um processo de perda da Composicionalidade, sempre que pelo menos


um dos constituintes morfológicos sofreu alterações semânticas ou formais ou é desconhecido para
os falantes.
Lexicalização semântica, consiste na intervenção de operações de extensão ou substituição do
significado original da palavra – se de um processo de perda da Composicionalidade morfológica
sofreu alterações semânticas ou formais ou é desconhecido para os falantes
sombrinha, obrigação
sombrinha – guarda-chuva no Brasil e sombra pequena ou guarda-sol; obrigação – (dívida)financeira

A lexicalização formal pode afetar qualquer uma das


propriedades dos constituintes da palavra. A situação mais
frequente diz respeito a palavras complexas, reconhecíveis
como tal, mas cujos constituintes (ou alguns deles) não
correspondem a formas atestadas no português.
As palavras agredição, construição, governal, inamigo e
sobre-realismo não podem ser analisadas.

18
Exemplos de palavras que não podem ser analisadas:
1. costa/ costas Ocidental e Sul de Portugal 1. olho/ olhos – órgão responsável pela visão
2. costas - parte de trás de alguma coisa 2. olhos - perspetiva

1. óculo/ óculos – objeto que ajuda à visão


2. óculo – testemunha de um acontecimento

1. Afixação
Afixação é tradicionalmente descrita como envolvendo processos de prefixação e sufixação.
Todavia, há que considerar a função gramatical que desempenham na estrutura das palavras.
Em português, os afixos que formam palavras podem ser predicadores ou modificadores.
Em português:

 Todos os predicadores são sufixos


 Todos os prefixos são modificadores
 Alguns sufixos são modificadores (os sufixos avaliadores)

1.1. Sufixos derivacionais


A principal característica dos sufixos derivacionais é a de que eles são o núcleo das estruturas em
que ocorrem, dado que lhes cabe definir as propriedades morfossintáticas das palavras derivadas.
As formas de base podem ser raízes nominais, verbais ou adjetivais.
a. sufixos de b. sufixos de c. Sufixos de d. sufixo de
substantivalização adjetivalização verbalização adverbialização
livr-aria metód-ico desert-ificar sensível-mente
clar-eira iniciát-ico ampl-ificar
cans-eira ferv-ilhar

*Sufixos que formam palavras categoricamente ambíguas


-ista
pianista
abolicionista

Há sufixos que selecionam bases substantivais, outros que selecionam bases adjetivais e outros que
selecionam bases verbais, sendo a natureza morfológica desses complementos igualmente objeto
de restrições de seleção dos sufixos derivacionais.

19
a. sufixos denominais b. sufixos deadjetivais c. sufixos verbais
(base = radical substantival) (base = radical adjetival) i. base = radical verbal
livr- ari-a clar-eir-a cans-eira
metód-ic-o ampl-ific-a-r estend-al
desert-ific-a-r fuj-ão

ii. base = tema verbal do


infinito
apresen-a-dor
venc-e-dor
segu-i-dor

Classificação dos sufixos derivacionais

Quanto ao sufixo, pode ser: denominal, deadjetival, deverbal


Quanto ao resultado final: substantivalização, adjetivalização e verbalização

Ex: livr- ari-a – substantivalização denominal


ampl-ific-a-r – verbalização deadjetival
estend-al – substantivalização deverbal
fuj-ão – adjetivalização deverbal

1.2. Afixos modificadores


Os afixos modificadores incluem a globalidade dos prefixos e os chamados sufixos avaliativos. A sua
propriedade mais relevante é a de que não interferem com nenhuma das propriedades gramaticais
das formas às quais se associam.

20
A lista de prefixos que ocorre na generalidade das gramáticas escolares do português assenta-se
em exemplos que não têm uma estrutura composicional. Os prefixos aí identificados não podem
ser dissociados das suas bases e não permitem formar novas palavras.
Exemplos de formas lexicalizadas:
conduzir – cf. aduzir, deduzir, reduzir, seduzir
1.3. Estruturas parassintéticas
A parassíntese é um tipo especial de derivação, que envolve prefixação e sufixação em simultâneo.
Por vezes o prefixo parece ser um elemento expletivo.
a-joelh-ar
a-ligeir-ar
en-cabeç-ar
en-gord-ar
es-burac-ar
es-fri-ar

es-farrap-ar mas des-membr-ar


es-casc-ar mas des-casc-ar

es-pedaç-ar mas des-pedaç-ar

Cf. trocar e destrocar (exemplo de expletivo)

Exercício:

Considere a seguinte lista de palavras.

empirismo
sacarose
açucareiro – sufixo denominal, categoria da base: substantivo
antipirético – categoria da base: adjetivo
irresponsavelmente – sufixo adjetival; categoria da base: adjetivo
excedentário
informática
repovoar – categoria da base: verbo
repovoamento – sufixo deverbal; categoria da base: verbo
desconfinamento – sufixo deverbal; categoria da base: verbal

a)     Indique que palavras têm uma estrutura simples.


b)    Indique que palavras contêm sufixos derivacionais e classifique a categoria lexical da base.
c)     Indique que palavras contêm afixos modificadores e classifique a categoria lexical da base.

21
1.4. Conversão

Também descrita como derivação regressiva, ou imprópria, é um processo que implica a recategorização da
base, sem intervenção de afixos

atacar  ataque
olhar  olhar

Por vezes, a conversão ocorre em distribuição complementar:

mistura vs. *misturação


*grava vs. gravação
melhorar vs. *melhorificar
*purar vs. purificar

2.3. Léxico

Hipótese de definição:
O léxico é um repositório das unidades lexicais de uma língua.

Suscita imediatamente problemas de definição do conceito de língua, delimitada politicamente ou


pela sua descrição normalizadora.
Problemas:

 Gramáticas e dicionários são textos de referência, vinculados a uma autoria e especialmente


elaborados para o uso escrito da língua.
 Servem para garantir unidade linguística numa comunidade de falantes.
 Oferecem uma descrição abstrata e particular.
 No léxico, não é o conceito de erro aquele que melhor serve para avaliar o estatuto das palavras
na língua e no seu uso.
 A descrição do léxico de uma língua pode cobrir realidades bastante diferentes, incluindo ou
excluindo a oralidade, registos discursivos mais ou menos prestigiados, ou diferentes
delimitações temporais.
O léxico e a diacronia
passivo
Diacronia ------------- conhecimento do léxico antigo
ativo
Sincronia ------------- capazes de interpretar e usar as palavras em contextos comunicativos

22
 Que palavras identifica como existentes no português contemporâneo?
 Que palavras não têm sentido?

Do cellareyro do mosteyro de que condiçon deue de seer.


O Cellareyro do mosteyro seja eligido e tomado dos da congregaçon. o qual seja sabedor de
sabeduría spiritual e de boõs e saãos custumes. deue de seer no falar e no obrar sobrio e mesurado
e temperado. nõ seer muyto comedor e garganton. nõ soberuoso.

“temperado” – conhecimento passivo

Que palavras identifica como existentes no português contemporâneo?


vertuoso (cf. Lat. virtus)
veçoso (cf. Lat. vitiosus)
fremoso (cf. Lat. forma)
benditoso (cf. Lat. benedictus)
lagrimoso (cf. Lat. lacrimosus)
escozer (= cozer) — cf. Lat. coquere, cozer
estrever (=atrever) — cf. Lat. attribuere, dar, imputar
estroir (= destruir) — cf. Lat. delere, destruir

mas:
Casco da cabeça. Craneum.
taludo. Adultus.
quitamento. Diuortium

Qual a origem das palavras sublinhadas e quais os seus equivalentes na língua não literária?

Não acabava, quando uma figura


Se nos mostra no ar, robusta e válida,
De disforme e grandíssima estatura,
O rosto carregado, a barba esquálida,

Lusíadas, 5, 39

Robustus (a. um). Cousa forçosa.


Validus (a. um). Cousa valente & saã.
Statura (ae.). A marca do corpo.
Squalidus(a. um). Cousa çuja.

Cardoso, Dictionarium (1569-1570)

23
2.3.1 Unidades multilexicais
Unidades com sentido que são formadas por palavras que conseguem ter contexto separadas, mas
juntas adquirem um novo sentido

Ex: … tinha bom ouvido – isto significa que sabe o que está a ouvir, tem conhecimento profundo em
relação à música.
Este termo recobre vários outras designações. “frases feitas”, “expressões/ frases estereotipadas/
cristalizadas”, “unidades multilexicais”, “expressões pluriverbais”, “locuções”, “lexias completas”,
“frasemas”, “pragmatemas”, “clichés”, “idiomatismos”, etc.
Nestas sequências estabeleceram-se progressivamente relações combinatórias (mais ou menos)
fortes entre os seus elementos, relações essas que se foram consolidando formal, semântica e
pragmaticamente, em maior ou menor grau, dando origem a grupos (mais ou menos) fixos, mas
muito recorrentes no uso, qualquer que seja o seu grau de fixidez.

Combinações Livres: A + B= AB
Ex: baixar a cabeça A + B= AB
Frases idiomáticas: A + B= C [não conseguimos retirar o contexto a cada unidade]
Ex: baixar a cabeça (=resignar-se) A + B=C
Colocações: A + B= AC [uma das palavras mantem o significado que tem separadamente]
Ex: ódio de morte; amor cego A + B= AC
Quase-frasemas: A + B= ABC
Ex: cinturão negro [tanto pode ser o objeto como a pessoa que o tem] A + B= ABC

Nem sempre o carácter fixo de uma expressão pluriverbal implica o carácter idiomático da mesma.
Existe um grande número de combinações lexicais que formalmente se caracterizam por um certo
grau de fixação, mas que não são estritamente expressões idiomáticas porque semanticamente
têm um claro carácter “composicional”.
Geralmente são descritas pelos dicionários como variações ou manifestações de um único sentido
figurado ou metafórico aceções cujo valor só é atualizado quando combinado com outras palavras,
como por exemplo as do lexema forte em: café forte (intenso); comida forte (‘concentrado,
substanciosa, nutritiva’); cheiro forte (‘intenso’); som forte (‘elevado de volume’); razão forte
(‘importante’, ‘convincente’), etc.

24
Colocações: A + B= AC
café forte (carregado, intenso),
chá forte (carregado, intenso),
vinho forte (carregado, intenso),
comida forte (‘concentrado, substanciosa, nutritiva’);
cheiro forte (‘intenso’);
som forte (‘elevado de volume’);
vento forte (‘intenso’);
sol forte (‘intenso’);
luz forte (‘intenso’, ‘vivo’);
cor forte (‘intenso’, ‘vivo’);
claridade forte (‘intenso’, ‘vivo’);
razão forte (‘importante’, ‘convincente’)

Consolidação semântica, perda do significado composicional de elementos da unidade multilexical,


através de um processo de semantização. [percebemos que só o conjunto tem sentido]
Ex: Cara de caso
Estar de pé a atrás.
Estar com a pulga atrás da orelha.

O grau máximo de fixidez formal e consolidação semântica corresponde a um processo de


idiomatização, isto acontece quando não é possível ser alterada as palavras e não é possível
uma tradução da expressão, por unidade, com o mesmo sentido.

Consolidação pragmática, habituação (ou rotinização) do uso combinado das palavras que a
formam. As palavras não perdem necessariamente o seu significado.
Ex: cabeça no ar, consciência tranquila, apinhado de gente
acidente vascular cerebral, artrite reumatoide, massa molecular
Bom dia! Como está?

Valores semânticos e classes lexicais

i. Expressões com que se designam realidades extralinguísticas do quotidiano (pão com manteiga,
café com leite, vinho branco, ferro elétrico, serviço de chá, trem de cozinha);
ii. Expressões que correspondem à necessidade de criar denominações especializadas, científicas,
técnicas, artísticas, etc (água forte, água-pesada, órgão consultivo, sequenciação do genoma
humano, deduzir acusação, natureza-morta);
iii. Variantes “expressivas” de palavras ou sintagmas com um significado expressivo mais neutro (dias
a fio, por dias seguidos; tratar alguém abaixo de cão por tratar alguém muito mal);

25
iv. Expressões de natureza geral ou específicas de determinadas áreas (cultura geral, fluxo
migratório, drogas ilícitas, sinais exteriores de riqueza, fora do comum, do foro privado, matar à
fome, estar em foco);
v. Expressões com função pragmática: bom dia, quem sai aos seus não degenera, não deixes para
amanhã o que podes fazer hoje;
vi. Provérbios (grão a grão enche a galinha o papo, cão que ladra não morde, dezembro frio, calor no
estio).

26

Você também pode gostar