Luciano Azevedo Semântica e Pragmática
Luciano Azevedo Semântica e Pragmática
Luciano Azevedo Semântica e Pragmática
ISBN - 978-85-7856-059-1
CDU 415
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5
Semântica e
Pragmática
Prof. Luciano Taveira de Azevedo
Carga Horária | 60 horas
Ementa
Semântica da palavra, do texto e do discurso. Campos semânticos. Sinonímia,
antonímia e polissemia. A semântica do enunciado e da enunciação. As semânti-
cas estrutural e cognitiva. Sentido e referência. Enunciado e Enunciação. Semân-
tica e pragmática. Enfoque epistemológico dos conteúdos. Planejamento do en-
sino. Metodologia e recursos didático-pedagógicos. Avaliação de competências.
Objetivo Geral
Contribuir com a formação do aluno de Letras no que diz respeito à reflexão acer-
ca dos processos semânticos e pragmáticos envolvidos na construção do sentido.
Apresentação da Disciplina
Estimado(a) estudante,
Semântica:
Perspectivas Teóricas
Prof. Luciano Taveira de Azevedo
Carga Horária | 15 horas
Objetivos Específicos
• Apresentar ao aluno os conceitos basilares da semântica e da pragmática
linguística;
Introdução
Caríssimo(a) estudante,
mens, identificou-se o sentido das relações internas a um siste- semântica que liga as palavras às coisas é a de ‘de-
ma que liga os diferentes elementos (Tamba-Mecz, 2006:27) nominar’” (Lyons, 1979:429). Daí surge a seguinte
(Grifos da autora). questão:
Nessa abordagem, o sentido resulta das relações es- a relação entre “palavra” e “coisa”
tabelecidas entre os signos no sistema da língua em denominada, ou melhor, entre “nomes”
seu estado sincrônico. Segundo Araújo (2004:35): e “coisas” é de origem natural ou convencional?
“os signos designam, isto é, querem dizer algo, significam,
Ainda segundo Lyons (1979), no desenvolvimento
porém não referem” (Grifo da autora).
da gramática tradicional tornou-se hábito distin-
guir entre o significado da palavra e a “coisa” ou
Ou seja, nessa perspectiva, a significação não pro- “as coisas” por ela “denominadas.” Nesse sentido,
vém de uma relação direta entre a palavra e a “coi- os estudos semânticos desenvolvidos pelos filóso-
sa” no mundo, mas decorre das relações opositivas fos gregos e que se encontram na base da gramá-
estabelecidas entre os signos linguísticos no inte- tica tradicional referem-se à relação entre “nome”
rior do sistema. ou “palavra” e “coisa” denominada. De acordo
com essa perspectiva de estudos semânticos, a pa-
2.3. O Período das Teorias Linguísticas lavra não refere, apenas nomeia, denomina. Há
uma relação direta, ou seja, termo a termo entre
Os três campos de trabalho que se encontram nes- “palavra” e “coisa.”
se período da história dos estudos semânticos se-
rão desenvolvidos mais detidamente nos próximos Se dermos um salto histórico e também episte-
sub-títulos e, por isso, optamos por uma apresenta- mológico, veremos que os formalistas Saussure e
ção breve desse período. Chomsky passam a questão significado/realidade
para os filósofos e afirmam que cabe à filosofia
O primeiro deles é denominado Semântica Formal e resolver as questões que envolvem a relação entre
seus princípios teórico-metodológicos estruturam- língua e mundo, “uma vez que a linguística de veio
-se entre 1963 e 1982 sob a influência da gramá- estruturalista ocupa-se com a designação (...) e não
tica gerativa desenvolvida pelo linguista america- com denotação” (Araújo, 2004, 57).
no Noam Chomsky. O segundo campo reúne os
trabalhos do linguista francês Oswald Ducrot e é Assentada na lógica aristotélica, ou seja, aquela de-
denominado Semântica Argumentativa. A terceira senvolvida pelo filósofo grego Aristóteles, a Semân-
orientação de estudos faz parte desse período e, tica Formal “descreve o problema do significado a
denominada de Semântica da Cognição, procura ex- partir do postulado de que as sentenças se estrutu-
plicar a questão do sentido por meio de processos ram logicamente” (Oliveira, 2006:19). De acordo
cognitivos. Esse segmento teve seu marco inaugu- com esse postulado de base aristotélica, algumas
ral com a publicação, em 1980, de Methaphors we relações de significado entre sentenças são autôno-
live by de George Lakoff e Mark Johnson. mas e se dão independentemente dos conteúdos
das sentenças. Veja o exemplo:
ATIVIDADE |
Leia o capítulo 2 (A significação linguística:
lugar e características dos sentidos na língua) Relação entre as proposições
do livro A semântica de Irène Tamba-Mecz (ver Premissa Todo homem é Todo o A é B
referência bibliográfica). Após a leitura atenta, maior mortal.
faça um breve resumo dos sub-títulos procu- Premissa Sócrates é homem. Todo o C é A
rando ater-se aos conceitos e ideias centrais. menor
Conclusão Logo, Sócrates é Todo o C é B
mortal.
2.3.1. A Semântica Formal
Como já dissemos em outro lugar, questões rela- Se considerarmos apenas as relações lógicas exis-
cionadas ao significado foram tratadas pelos filóso- tentes entre as premissas, chegaremos à conclusão
fos gregos do tempo de Sócrates e, posteriormente, independente do significado de homem ou mortal
Platão, entre outros. Para esses filósofos, “a relação e é por isso que essas relações são lógicas “ou for-
Capítulo 1 11
mais, porque podemos representá-las por letras va- A diferença entre as sentenças (A) e (B) só pode
zias de conteúdo, mas que descrevem as relações de ser explicada se distinguimos sentido de referência,
sentido” (Oliveira, 2006:20). pois, se por um lado, essas sentenças se referem ao
mesmo objeto, por outro lado, veiculam sentidos
Tomando como escopo as relações lógicas estabe- diferentes. Desse modo,
lecidas entre as sentenças, o lógico alemão Gottlob
Frege (1848-1925) abre caminho dentro do campo se o sentido é o caminho que nos permite alcançar a re-
da semântica para a reflexão sobre a distinção en- ferência, quando descobrimos que dois caminhos levam
tre sentido e referência (OLIVEIRA, 2001). à mesma referência, aprendemos algo sobre esse objeto,
sobre o mundo (Oliveira, 2006:21).
Essa distinção entre as noções de sentido e referên-
cia será indispensável para dar conta do problema Nessa direção, dizer sentido é dizer referência, pois
seguinte: aquele só nos permite conhecer algo se correspon-
de a uma referência, ou seja, o sentido possibilita
A. A estrela da manhã é a estrela da manhã. alcançarmos um objeto no mundo, mas é só a par-
B. A estrela da manhã é a estrela da tarde. tir da verificação das condições em que uma sen-
tença pode ser verdadeira que podemos avaliar se
De saída, queremos esclarecer que a referência de essa sentença é verdadeira ou falsa.
uma sentença tem a ver com seu valor de verdade,
ou seja, o verdadeiro ou o falso. Assim, acerca da
referência de uma sentença, Oliveira (2001:92) sa- SAIBA MAIS!
lienta que r a questão sentido/
Para entender melho
teórico fregeano, re-
referência no quadro :
a dos seguintes textos
comendamos a leitur
“dar significado a uma sentença é estipular em que condi-
ções ela é verdadeira.” F.;
ntica. In: MUSSALIN,
OLIVEIRA, R. P. Semâ ísti ca : do mí nio s
à Lingü
Voltemos ao problema colocado acima. Vamos BENTES. Introdução o Pa ulo : Co rte z,
ed . Sã
e fronteiras. vol. 2. 5.
pensar o seguinte: se o conceito de significado tem
2006.
a ver com o de referência, então as sentenças (A) -
ntica Formal: uma bre
e (B) são idênticas, pois se referem a um valor de OLIVEIRA, R. B. Semâ do de
inas: SP: Merca
verdade. Em (A), temos uma verdade óbvia, uma ve introdução. Camp
vez que o verbo ser estabelece que um objeto é Letras, 2001.
xto:
idêntico a si mesmo. Isso será sempre verdadeiro. Significação e conte
MOURA, H. M. M. ân tica e
estões de sem
No caso de (A), não há necessidade de verificar sua uma introdução a qu ula r, 20 06 .
polis: Ins
veracidade em relação ao mundo, pois aquilo que pragmática. Florianó
afirma independe dos fatos do mundo (Oliveira, ia.
sentido e a referênc
FREGE, G. Sobre o . Sã o Pa ulo :
2006:21). No entanto, em (B) temos uma senten- linguag em
Lógica e filosofia da
ça em que o verbo ser estabelece uma relação de Cultrix, 1978.
igualdade, de modo que a veracidade daquilo que
afirma deve ser verificada no mundo. Para Oliveira
(2001:94),
1
Lingüista e gramático, Émile Benveniste (1902-1976) desenvolveu, dentro da corrente estruturalista, a noção de enunciação e a definiu como a
apropriação da língua pelo locutor que a coloca em funcionamento. Pensando esse processo enquanto um aparelho formal de enunciação, reflete
sobre a função dos dêiticos pessoais (eu-tu) e dêiticos espaço-temporais (esse, este, aqui, amanhã etc) enquanto conjunto de marcas que envolvem
uma situação de enunciação. Segundo ele, esses parâmetros que estão implicados no processo enunciativo e que são descritos como o locutor, o
interlocutor, o lugar e o momento são construídos no interior da frase e sua natureza é estritamente lingüística.
Capítulo 1 13
“É porque falamos de algo que esse algo passa a ter sua 2.3.3. Semântica Cognitiva
existência no quadro criado pelo próprio discurso”, diz
Oliveira (2006:28). George Lakoff e Mark Johnson são os teóricos que
lançaram, em 1980, os alicerces conceituais da Se-
mântica Cognitiva a partir da publicação de Meta-
VOCÊ SABIA? phors we live by. Esse campo dos estudos semânticos
resenta as primeiras
re- postula que o significado é que é central nos tra-
Em 1969, Ducrot ap pre ssu po siç ão . balhos sobre a linguagem. Essa afirmação vai de
nceito de
flexões acerca do co zid o
o enunciado produ encontro à abordagem gerativa que elege a sintaxe
De acordo com ele,
po de ser desdobrado em dois
por um locutor como central nos estudos linguísticos. Embora re-
asserção (posto) e ato
atos ilocutórios: ato de r- cente, a Semântica Cognitiva conta hoje com vá-
essuposto). O posto co
de pressuposição (pr cia do , de rios pesquisadores que investigam vários níveis de
á dito no enun
responde ao que est a-
mp etê nc ia do locutor que, atr análise da linguagem. Além da centralidade dada
exclusiva co o do dis cu rso :
rea liza çã
vés dele, garante a e o faz ao estudo do significado, os pesquisadores desse
s se encadeiam
as novas informaçõe lo- campo asseveram que a forma é proveniente do
o pre ssu posto possibilita ao
progredir. Já o, rec orr en do significado e não o contrário, como pensam os for-
mente alg
cutor dizer implicita ret are mo
jun tos , int erp malistas. Essa mudança estabelecida pelos seman-
ao interlocutor para,
1999). ticistas cognitivos inscreve a Semântica Cognitiva
que foi dito (GUERRA,
na perspectiva de estudos linguísticos denominada
funcionalismo.
Antes de finalizar este tópico, reiteramos o fato de
que um enunciado se constitui de vários enuncia- Se, para a Semântica Cognitiva, os significados
dores que, por sua vez, constroem o quadro que emergem da nossa relação sensório-corpórea com
institui o espaço discursivo onde o(s) sentido(s) se o mundo, então pensar, dentro desse quadro te-
constitui(em). Assim, ao enunciarmos, colocamos órico, em uma relação de correspondência direta
em cena vários enunciadores, cujas vozes dialogam entre linguagem e mundo torna-se inviável. Desse
no sentido de levar o ouvinte a aceitar essas vozes modo, a Semântica Cognitiva afasta-se de uma vi-
que se encontram pressupostas no enunciado, de são de significado que se baseia na referência e na
modo que possamos convencê-lo da nossa verdade. verdade. Nessa perspectiva, “a significação lingüís-
Vejamos como isso acontece: tica emerge de nossas significações corpóreas, do
movimento dos nossos corpos em interação com o
Maria parou de fumar. meio que nos circunda” (Oliveira, 2006:34).
E¹: Maria fumava.
E²: Maria não fuma mais2.
VOCÊ SABIA?
Essa enunciação põe em jogo dois enunciadores: o
s ditas formalistas vã
um que diz que Maria fumava e refere-se àquilo que Formalismo: as teoria ob jet o de in-
ística como
se encontra pressuposto no enunciado e outro que eleger a forma lingu
em de trim ento da função. Nessa
vestigação s
diz que Maria não fuma mais e tem a ver com o pos- ntram-se os trabalho
vertente teórica, enco Ch om sky .
to. Desse jogo discursivo, estabelece-se o quadro sure e Noam
de Ferdinand de Saus
enunciativo que sustenta o(s) sentido(s) possível(is) m-
nte teórica que co
para um enunciado. Funcionalismo: verte qu e, sem
s de linguistas
preende os trabalho
ns ide rar a forma em suas in-
deixar de co da
ATIVIDADE | prioridade à função
vestigações, deram o. Ins -
concretas de us
Pesquise e elabore um quadro com os concei- língua em situações ric os co mo
rspectiva, teó
tos centrais da teoria da Semântica da Argu- crevem- se nessa pe
Ha llid ay e Ro man Jakobson.
mentação: Locutor, Enunciado, Enunciador, Michael
Polifonia, Pressuposição e Argumentação.
2
Exemplo extraído do livro Introdução à lingüística: domínios e fronteiras organizado pelas professoras Fernanda Mussalim e Anna Christina Bentes.
14 Capítulo 1
RESUMO
Nesse primeiro capítulo, nossa intenção foi apresentar a você, querido estudante, os percur-
sos históricos envolvidos na construção de um objeto de estudos: o significado. Com essa
finalidade em mente, desenvolvemos um roteiro de estudo que permitisse, dentro do espaço
reservado a este capítulo, a apropriação das bases históricas que precederam o desenvol-
vimento dos estudos sobre o significado numa perspectiva das teorias linguísticas que se
destacam no cenário dos estudos sobre a língua(gem). Assim, passamos do conhecimento
histórico da disciplina Semântica aos campos epistemológicos que definiram diferentes pon-
tos de vista para dar conta do fenômeno da significação e daí podemos apresentar as três
abordagens teóricas (Semântica Formal, Semântica Argumentativa e Semântica Cognitiva)
que se destacam no campo dos estudos do significado. No próximo capítulo, analisaremos
diferentes fenômenos relacionados ao sentido das sentenças, de modo que passaremos de
um conhecimento teórico à aplicabilidade desse conhecimento em análises de sentenças
variadas. Assim procedendo, acreditamos estar em consonância com aquilo que o curso
propõe: criar situações de aprendizagem das noções gerais relativas à Semântica.
Semântica:
Conceitos Fundamentais
Prof. Luciano Taveira de Azevedo
Carga Horária | 15 horas
Ementa
Semântica da palavra, do texto e do discurso. Campos semânticos. Sinonímia,
antonímia e polissemia. A semântica do enunciado e da enunciação. As semânti-
cas estrutural e cognitiva. Sentido e referência. Enunciado e Enunciação. Semân-
tica e Pragmática. Enfoque epistemológico dos conteúdos. Planejamento do en-
sino. Metodologia e recursos didático-pedagógicos. Avaliação de competências.
Objetivos Específicos
• Apresentar ao aluno os conceitos basilares da semântica e da pragmática
linguística;
• Refletir acerca dos processos de construção do sentido a com base nas perspec-
tivas teóricas, concernentes aos campos teóricos da semântica e da pragmática;
Introdução
Caro(a) estudante,
matizar modelos de apresentação dos fatos semân- (admitamos, por enquanto, a legitimidade destas) num
ticos. Desse modo, esse estudo passa pela forma dado contexto concreto. Para ele, o centro de gravidade
linguística e usos dessas formas em contextos es- da língua não reside na conformidade à norma da forma
utilizada, mas na nova significação que essa forma adquire
pecíficos que determinam os processos comunica-
no contexto.
tivos e seus respectivos efeitos de sentido. Assim
procedendo, o estudante interessado nos processos
A reflexão bakhtiniana sobre a linguagem e a reali-
de significação abrirá caminhos que não se aterão
zação dela partem desse lugar que traz na esteira da
apenas à forma linguística descontextualizada e
sua formulação o contexto e os sujeitos envolvidos
sem vínculo com a situação concreta de uso da lín-
na situação enunciativa. É no fluxo da comunica-
gua, mas percorrerá aqueles caminhos que tomam
ção discursiva que a língua se realiza sob a forma de
a língua em seus aspectos formais e enunciativos.
enunciados concretos e os sentidos se atualizam.
É com esse propósito que abrimos o segundo ca-
pítulo deste livro, de modo que convidamos você,
Embora a Semântica se ocupe da análise linguísti-
caro estudante, a caminhar conosco, imbuído de
ca, referida aos processos de produção de sentidos,
um espírito reflexivo e disposto a debruçar-se sobre
procuramos antecipar reflexões que incluam a si-
as questões que envolvem a produção de sentidos.
tuação de comunicação que envolve e determina
esses processos.
Prof.º Luciano Azevedo
VOCÊ SABIA?
“sinonímia imos quando
mos são ditos sinôn
du as ac ep çõ es dif erentes: ou dois ter do iso lad o (para uma
A sinonímia pode ter ao ou tro num único enuncia os
de se substitu íre m um mos são ditos sinônim
têm a possibilidade im os é en tão im po rtante), ou os dois ter tão , nã o exi ste m
de sinôn contextos. En
palavra dada, a lista sã o int erc am biáveis em todos os em po rtu gu ês, em
qu an do r exemp lo,
(sinonímia absoluta) línguas funcionais (po mplos
rda de iro s sin ôn im os senão entre duas ura po pu lar ofe recem numerosos exe
ve fic a e a no me nc lat do e só se em-
ura cientí mesmo referi
zoologia, a nomenclat dis so , du as un idades podem ter o ag ua rde nte , ma s
a). Alé m dúvida, um copo de
de sinonímia absolut de pin ga é, sem un ida de s
diferentes: o copo s restrições que há
poucas oport
pregar em contextos tro de pe nd e de tai ltu ral . É ma is
ou de ou sociocu
o aparecimento de um os em conta o contexto
em fac ilm en te int ercambiáveis se tiverm tor na r-s e-á , as sim , simplesmente a
de eles ser on ím ia; ela
que se pode falar de sin em substituíveis umas
em termos de graus de ter em o me sm o significado e de ser
des do léxico a ou não, total ou nã
o. [...]
tendência das unida de, então, ser complet
s. A sin on ím ia po
pelas outra tido (hiponímia,
ma is qu e as outras relações de sen oo
e do contexto, mu ito ito bem exprimir tud
A sinonímia depend , ind isp en sá ve l à língua. Poder-se-ia mu
é, contudo 56)
antonímia). Ela não ois et alii, 2006:555-5
tem qu e diz er sem sinônimos. [...]” (Dub
que se
Fonte: Cereja W.; Magalhães T. Gramática Reflexiva: texto, reflexão e uso. São Paulo: Atual, 2004
20 Capítulo 2
Esse e-mail apresenta palavras ao longo do texto A relação de semelhança entre os sentidos dessas
que substituem Mirella, destinatária da mensagem. palavras é clara, mas isso só é possível dentro do
São elas: menina, garota, criança, jovem e mulher. Em- contexto específico do poema. Certamente em
bora algumas palavras denotem aspectos distintos outro contexto comunicativo, não seria possível
do referente (p. ex., jovem e mulher aproximam-se fazer a substituição da palavra menino por pulga,
mais da figura adulta, enquanto menina, garota Hércules, Sansão vencedor e peito de aço, de maneira
e criança da figura infantil), essas palavras têm o que a substituição de menino por todas essas pala-
mesmo referente, ou seja, Mirella. Podemos, então, vras e expressões sem que haja prejuízo de sentido
concluir que essas palavras (menina, garota, criança, só é possível considerando o contexto construído
jovem e mulher) são sinônimas, uma vez que substi- pelo próprio poema. Apenas fazendo referência
tuem Mirella sem prejuízo de sentido. Esse é um e mobilizando os conhecimentos relacionados às
caso típico de sinonímia lexical. Esse tipo de sinoní- situações e comportamentos vivenciados por uma
mia ocorre no nível do léxico e pode ser verificada criança é possível aproximar sentidos como os de
entre pares de palavras cujos significados são seme- menino e mosca. A sinonímia, nesse poema de Pe-
lhantes. É o que acontece entre as palavras secar e dro Bandeira, também se dá no nível do léxico,
enxugar, por exemplo. Vamos analisar outro texto. mas, para estabelecermos as relações de sentido
entre as palavras sinônimas, é imprescindível mo-
Identidade bilizarmos uma série de elementos contextuais que
tornam possíveis essas relações.
Às vezes nem eu mesmo
Sei quem sou. A paráfrase é uma relação de semelhança de sen-
Às vezes sou tido entre frases, de modo que “certas expressões
“o meu queridinho”, possam ser substituídas por outras, comprometen-
Às vezes sou
do um pouco mais o sentido geral do texto, mas
“moleque malcriado”.
Para mim sem alterar a coisa representada (...), ou seja, o refe-
Tem vezes que eu sou rei, rente” (Ferrarezi, 2008:157).
Herói voador,
Caubói lutador, Palavras sinônimas podem servir de base para o
Jogador campeão. estabelecimento das relações parafrásticas. Essas
Às vezes sou pulga, relações, como a sinonímia, devem ser analisadas
Sou mosca também, levando em consideração a forma da expressão e
Que voa e se esconde o contexto de uso em que são realizadas. Ainda
De medo e vergonha. segundo Ferrarezi (2008:160),
Às vezes eu sou Hércules,
Sansão vencedor,
embora, quando usamos paráfrases, se mantenha o mesmo
Peito de aço,
referente representado, uma das peculiaridades desse tipo
Goleador!
de substituição é a de que novos aspectos desse referente
Mas o que importa
passam a ser enfocados e isso pode alterar bastante o sen-
O que pensam de mim?
tido geral do texto. Inclusive, algumas vezes, pode-se usar
Eu sou quem sou,
desse expediente, de propósito, para ressaltar característi-
Eu sou eu,
cas positivas ou negativas de algo ou alguém que está sendo
Sou assim,
representado.
Sou menino.
(Pedro Bandeira. Cavalgando o arco-íris. São Paulo.
São Paulo: Moderna, 1993.) As relações de paráfrase vão bem além do exemplo
apresentado abaixo, uma vez que dizemos e produ-
O eu-lírico do poema de Pedro Bandeira pode zimos sentidos valendo-se de dizeres anteriormente
ser identificado como uma criança, um menino. produzidos, ou seja, com base no já-dito. Assim sen-
Esse eu-lírico, ao longo do poema, descreve as ma- do, não podemos falar em textos e em sentidos des-
neiras como é visto pelos outros de acordo com providos de relação com outros textos e sentidos
o comportamento que apresenta. Desse modo, “o historicamente produzidos. A relação parafrástica
meu queridinho”, “moleque malcriado”, heroi voador, é constitutiva da linguagem e os textos que produ-
cauboi lutador, jogador campeão, entre outras quali- zimos sempre encontram outros textos nos quais se
ficações, possuem o mesmo referente: o menino. assentam. Vamos ao exemplo.
Capítulo 2 21
Nesse exemplo, em todas as sentenças, estamos A relação de sentido entre as sentenças é resultado
falando do mesmo referente: a cidade de Gara- da relação de acarretamento ou consequência que
nhuns. Isso estabelece entre essas sentenças uma se estabelece por meio das palavras flores e orquí-
relação de paráfrase, uma vez que o referente per- deas. Assim, o falante que afirma a não terá pro-
manece o mesmo em todas elas. Nessas sentenças, blemas em aceitar a verdade apresentada em b. Ele
foram ressaltados aspectos positivos dessa cidade e a aceita necessariamente. Em Moura (2006:15),
apresentadas novas informações acerca do referen- lemos:
te. Embora o referente seja o mesmo em todas as
sentenças, as novas informações alteram o sentido “a definição de acarretamento é a seguinte: se uma propo-
das frases, mas não o referente. É isso que, a prin- sição a implica uma proposição b, isso significa que se a é
cípio, determina uma relação parafrástica. verdadeira, então b é necessariamente verdadeira.”
ser acessados por meio do conhecimento de mun- Nessas duas sentenças, a análise passa por dois
do, do contexto, da situação de comunicação etc. níveis: o primeiro diz respeito ao posto, ou seja,
Ferrarezi (2008:174) diz que àquilo que está explícito no enunciado e aponta
para o sentido literal das palavras que o compõem.
compreender integralmente os sentidos possíveis em uma Desse modo, em a somos informados de que João
língua engloba, também, ser capaz de compreender o sen- parou de fumar e em b de que Maria quebrou o
tidos implícitos, aqueles que vão além do que foi aberta- vaso. Num segundo nível, a enunciação de a e b im-
mente dito e também como somos capazes de suscitar esses
plicam a consideração de outras informações que
implícitos usando uma língua natural.
não estão ditas literalmente nos enunciados, mas
podem ser inferidas valendo-se dessas sentenças.
Atualmente esse princípio da implicitude que de- Nesse sentido, inferimos de a que Pedro fumava
termina os sentidos representa um consenso entre antes e de b que o vaso está quebrado.
os estudiosos da linguagem e parece não haver dis-
cordâncias em relação a esse aspecto constitutivo Assim, denominamos, de acordo com Ducrot
dos processos de significação. É comum encontrar- (1987), de conteúdo posto a informação literal das pa-
mos nos manuais de linguística que tratam do as- lavras de uma sentença, e de conteúdo pressuposto ou
sunto: nem tudo está dito no dito. O que, à primeira pressuposição as informações a serem inferidas com
vista, parece uma tautologia representa uma ideia base na própria sentença. Dito isso, podemos con-
compartilhada e consensual entre os estudiosos da cluir que o conteúdo posto depende do conteúdo
linguagem. Assim, algumas informações podem pressuposto, ou seja, aceitar a verdade do posto im-
ser inferidas valendo-se da sentença por meio de plica aceitar a verdade contida no pressuposto. A fim
um raciocínio baseado na própria sentença ou por de esclarecer melhor, citamos Ferrarezi (2008:174):
meio de um trabalho orientado pela situação co-
municativa. Só para ilustrar, imaginemos a seguin- Quando eu digo “O carro da sua mãe quebrou.”, além de
te situação: minha afirmação sobre a quebra do carro, eu estou “dizen-
do” mais algumas coisas que são necessárias para a com-
Um casal de namorados encontra-se num restaurante preensão da frase ou que dela decorrem. Algumas delas
para comemorar o noivado. Enquanto o garçom serve parecem bem claras:
a mesa, a moça o chama e diz: 1. “Você tem mãe”;
- Tem uma mosca no meu prato. 2. “Sua mãe possui um carro”;
3. “Carros são do tipo de coisas que quebram.”
O garçom retira o prato e leva para a gerência avaliar
a situação.
Se o pressuposto é inferido valendo-se do sentido
Atente para o fato de que a moça não precisou literal das palavras, a implicatura é “um tipo de
dizer tudo ao garçom, pois o contexto permitiu inferência pragmática, baseada não no sentido
que ele fizesse uma “leitura” daquilo que não es- literal das palavras, mas naquilo que o locutor
tava dito no enunciado da moça. De acordo com pretendeu transmitir ao interlocutor” (Moura,
o conhecimento que temos desse tipo de situação, 2006:13). Para entender a implicatura, pensemos
sabemos que, quando chamamos a atenção do gar- na seguinte situação:
çom de um restaurante para uma mosca caída no
prato, na verdade, não queremos apenas mostrar
Fonte: http://sallinos.blogspot.com/2009/08/angeli.html
Na charge acima, o enunciador não produz o texto com a intenção de que o entendamos literalmente. Se
assim o fosse, a charge perderia sua função social que é promover uma reflexão acerca de uma situação
social, política, econômica etc, com base nos sentidos implícitos ao texto. Quando o enunciador põe em
cena pai e filho conversando sobre um morro que está prestes a desabar e vivendo em condições subu-
manas, ele não pretende afirmar a crença de que extraterrestres são seres detentores de uma inteligência
superior a dos humanos. Não é essa a sua intenção. Nesse texto, a linguagem verbal e não-verbal dialogam
e constroem o sentido do texto que traz implicado uma crítica aos poderosos, governos e instituições que
relegam uma parcela significativa da sociedade à miséria. E isso é prova de pouca ou nenhuma inteligência.
Assim, quando enunciamos uma sentença em que aquilo que é dito não tem aparentemente nada a ver
com o que deve ser entendido, temos um caso de implicatura.
Embora pressuposto e implicação constituam sentidos inferidos valendo-se do posto, ou seja, do enuncia-
do efetivamente realizado, compreendem fenômenos distintos e não devem ser tomados um pelo outro
indistintamente1.
ATIVIDADE |
Os enunciados produzidos em anúncios publi-
citários representam um verdadeiro celeiro de
SAIBA MAIS! sentidos implícitos. Uma vez que a intenção da
-
undar seus conheci
Não deixe de aprof ac arr eta me n- propaganda é convencer o interlocutor a com-
posto e
mentos sobre pressu prar o produto que anuncia, a produção de im-
m a lei tur a do liv ro:
to co
plícitos nos anúncios faz parte das estratégias
-
à semântica: brincan de convencimento. De acordo com isso, leia as
ILARI, R. Introdução ulo : Co ntexto ,
. Sã o Pa
do com a gramática frases de efeito retiradas de anúncios publica-
2001, p. 85. dos na revista Veja de 17 de março de 2010 e
aponte o que há de implícito nestes enunciados:
1
Sobre essa questão, recomendo a leitura do tópico Pressuposto e Acarretamento que se encontra em MOURA, M. M. H. Significação e contexto: uma
introdução a questões de Semântica e Pragmática. Florianópolis: Insular, 2006, p. 15-17.
Capítulo 2 25
4. Polissemia e Ambiguidade
As palavras de uma língua não possuem apenas
um sentido literal e fixo, mas podem assumir dife-
rentes sentidos que lhes são atribuídos conforme o
contexto em que figura. Desse modo, o sentido li-
teral é apenas uma possibilidade de sentido, entre
outras, que uma palavra abriga em seu horizonte
Fonte: http://baudodino.com.br
enunciativo. A significação resulta de um processo
determinado por fatores extralinguísticos, como os
interlocutores, a situação de comunicação, o con-
texto mediato e imediato, as representações que
os falantes constroem de si e do outro etc. Assim
sendo, o sentido de uma palavra possui margens
pontilhadas por outros sentidos que são potencia-
lizados pelo contexto de uso. Ainda acerca da Po-
lissemia, é importante destacar que Nesse anúncio publicitário, o autor lança mão da
polissemia implicada nas palavras broto e mina e
essa multiplicidade de sentidos de um sinal é um recur- promove um deslocamento do sentido literal des-
so importante de economia para as línguas naturais, pois sas palavras – rebento e jazida, respectivamente –
permite multiplicar os textos com o uso de um mesmo e para sentidos que estão ligados a movimentos cul-
menor conjunto de sinais do que seria necessário se cada turais e momentos históricos de uso da língua. Vale
sinal tivesse um e apenas um sentido (Ferrarezi, 2008). lembrar que o anúncio publicitário chama a aten-
ção do leitor para o relançamento de sucessos do
A polissemia constitui um recurso fundamental movimento musical que ficou conhecido no Brasil
para a construção textual, uma vez que possibilita como Jovem Guarda. Iniciado na década de 60, a
ao produtor de textos mover-se por processos de Jovem Guarda não apenas implicou um estilo musi-
significação que extrapolam os limites do sentido cal, mas também um estilo de vida e linguístico, de
fixo, tal como apresentados pelo dicionário. No modo que algumas palavras e sentidos tiveram esse
que diz respeito à leitura, conhecer os possíveis movimento como berço. Assim, a palavra broto, ge-
sentidos que uma palavra pode assumir, quando ralmente usada para se referir às mulheres, assume
mobilizada em determinados contextos, é impres- no contexto da Jovem Guarda dos anos 60 o sentido
cindível para a construção de um processo maior de mulher bonita, atraente. O mesmo deslizamento
que envolve a interpretação e a compreensão textu- de sentido é compartilhado pela palavra mina que
al. Exemplifiquemos: tem o seu sentido deslocado e representa uma gíria
bastante usada pelos jovens das últimas décadas.
a. Paula tem uma mão para cozinhar que dá inveja!
b. Vamos! Coloque logo a mão na massa! A ambiguidade ocorre quando uma sentença ad-
c. As crianças estão com as mãos sujas. mite interpretações alternativas. Isso pode ser veri-
d. Passaram a mão na minha bolsa e nem percebi. ficado na frase abaixo:
Nas sentenças acima, a palavra mão assume senti- a. A secretária disse ao patrão que comprou seu
dos diferentes em relação ao contexto comunica- almoço.
tivo em que é usada. Em c, mão foi usada em seu
sentido literal e apresenta a significação atribuída No caso de a, a alternativa é de que a secretária
pelos dicionaristas. Já em a, b e d, a palavra mão pode ter comprado o almoço dela ou do patrão.
26 Capítulo 2
5. A Negação
VOCÊ SABIA? A negação nas línguas naturais ocorre quando ex-
o
baixar gratuitamente cluímos uma possibilidade. Essa exclusão pode ser
Você sabia que pode nc an do co m
mântica : bri verificada no uso de palavras, expressões, prefixos
livro Introdução à Se Le-
má tica do Pro fº Rodolfo Ilari no site etc que carregam um sentido negativo ou são reves-
a gra site :
É só acessar o
tras USP Download? tidos desse sentido em situações específicas de uso.
load.wordpress.com
/ Para Ilari (2001:123),
http://letrasuspdown k htt p:/ /
ri/ e clicar no lin
category/rodolfo-ila “diante de uma frase negativa, não é sempre fácil determi-
lix.in/-853a36
nar de maneira exata o que se pretende negar. A negação
udos!
Aproveite e bons est interage com outras operações, determinando diferentes
possibilidades de interpretação.”
VOCÊ SABIA?
foi um dos grandes
fivetogo.blogspot.
fra nc ês Os wa ld Ducrot (Paris, 1930) teórica
O linguista ntro da perspectiva
tra tam ento da negação de Ma rion
rot.html
exp oe nte s no Em co-au tor ia co m
entação e polifonia. icas
da enunciação, argum crot escreve As pro pri ed ad es lin gu íst
bé m lin gu ista , Du cu rso s pa-
Carel, tam idade dos dis
duc
. Ess e art igo apresenta a especific un do mo -
Fonte: http://onedown
do pa rad oxo momentos. No seg
ald-
se dividido em dois o.
radoxais e encontra- ades for ma is da ne ga çã
osw
discutem as propried
mento, Ducrot e Carel
12/
Segue a referência:
08/
paradoxo: pa-
ades lingüísticas do
com/20
As pro pri ed
Carel; Ducrot (19 99 b). Oliveira. Línguas e
ga çã o. Tra du çã o de Sheila Elias de 01b.
radoxo e ne s, nº 8, p. 33-50, 20
tru me nto s lin gu ísti cos. Campinas: Ponte
ins
ATIVIDADE |
SAIBA MAIS! Há na lingua portuguesa prefixos que servem
aixo e conheça para negar, como a-, i-, des- etc.
Acesse os artigos ab
o:
mais sobre a negaçã
Verifique as formas de negação das palavras
.br /e stu do sli n-
htt p: //w ww.ge l.o rg abaixo:
8/EL_V38N1_26.
guisticos/volumes/3
pdf
a. moral
br/paginas/ensi-
http://www3.unisul. b. necessário
101/04.htm
no/pos/linguagem/0
l.o rg .b r/E nc on -
ht tp :// ww w. ce lsu
negacao.pdf
tros/08/estudos_da_
RESUMO
Chegamos ao fim de mais um capítulo. Durante esse percurso, pudemos entrar em contato
com várias questões que envolvem a produção de sentido. Vimos que o significado de uma
sentença resulta das relações que as palavras entretêm na estrutura da língua e das relações
estabelecidas entre essa estrutura e o contexto em que o processo comunicativo encontra-se
inserido.
Tomando-se por base esse olhar lançado sobre os fenômenos linguísticos, trouxemos al-
guns casos que envolvem os processos de significação: sinonímia e paráfrase, hipônimo
e acarretamento, pressuposto e implicatura, polissemia e ambiguidade e negação. Assim,
apresentamos um panorama dos principais casos abordados pela Semântica, a fim de per-
mitir a você, estudante do Curso de Letras a Distância, o contato com as noções básicas que
configuram esse campo do saber.
Introduzimos, sempre que possível, reflexões que permitissem ao estudante de Letras pensar
os fenômenos abordados neste capítulo de maneira crítica. Desse modo, acreditamos ter
contribuído com uma reflexão sobre a língua que vai além daquela apresentada pela Gra-
mática Normativa.
Capítulo 2 29
Embora a Semântica aporte suas reflexões sobre o sentido, considerando a forma linguís-
tica, ou seja, a palavra ou a sentença, decidimos oferecer uma reflexão que passasse pela
situação de comunicação em que essa palavra/sentença é realizada. Assim, pudemos an-
tecipar uma preocupação que cabe à Pragmática – disciplina que estudaremos no próximo
capítulo – e possibilitar ao estudante uma maneira de entender esses processos dentro de
uma perspectiva relacional, interativa e contextual. No próximo capítulo, dedicado à Prag-
mática, aprofundaremos aspectos do contexto que determinam a produção de sentido.
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal.
4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
Pragmática:
Perspectivas Teóricas
Prof. Luciano Taveira de Azevedo
Carga Horária | 15 horas
Ementa
Semântica da palavra, do texto e do discurso. Campos semânticos. Sinonímia,
antonímia e polissemia. A semântica do enunciado e da enunciação. A semân-
tica estrutural e a cognitiva. Sentido e referência. Enunciado e Enunciação. Se-
mântica e Pragmática. Enfoque epistemológico dos conteúdos. Planejamento do
ensino. Metodologia e recursos didático-pedagógicos. Avaliação de competências.
Objetivos Específicos
• Apresentar ao aluno os conceitos basilares da semântica e da pragmática
linguística;
• Refletir acerca dos processos de construção do sentido com base nas perspec-
tivas teóricas concernentes aos campos teóricos da semântica e da pragmática;
Introdução
Caro estudante,
Iniciamos este terceiro capítulo com a apresentação dos princípios teóricos que
norteiam o campo da Pragmática. Durante nossa trajetória, não será difícil per-
ceber que os campos da Semântica e da Pragmática não são dicotômicos nem
excludentes, mas se encontram em permanente diálogo. Assim, contribuições
oriundas da Semântica deram à Pragmática um amplo repertório de questões
sobre as quais pôde definir seu campo de estudo. Esse diálogo com a Semântica
tanto se encaminha no sentido de fazer convergir, bem como de negar determina-
dos pressupostos teórico-metodológicos dessa disciplina. Em relação à Semânti-
32 Capítulo 3
es.
John su
que a pragmática as
bibliográficas.
Fonte: http://www.philosophypag
Austin nasceu em tempo. Ver referê nc ias
Lancaster, no dia 26
de março de 1911 e
faleceu em Oxford,
no dia 8 de fevereiro
com/vy/aust1.jpg
de 1960. Ligado ao
movimento que fi-
2. Definições da Pragmática
cou conhecido como
Filosofia Analítica Ao longo da história da constituição do seu campo
ou Filo sofi a da Lin- de estudos, foram atribuídos à Pragmática diferen-
dos grandes
guagem Ordinária, Austin é um tes definições que emergiam de perspectivas distin-
mov ime nto que “concebe a
expoentes desse
e construída tas. Enfatizando aspectos diversos dos elementos
linguagem como uma atividad
(...) – a linguagem
pelos/as interlocutores/as constituidores do uso linguístico, essas definições
ão do mun do, mas ação”
não é, assim, descriç que se diversificam apontam para a tentativa de
(Pinto, 200 6:57 ).
organização de um campo de estudos que buscam
uma concisão teórico-metodológica e um objeto
John Rogers Sear-
m-
le nasceu em 31 de delimitado.
Fonte: http://opovodemaxial.foru
julho de 1932, em
Denver, no Colo-
-livre.com/t53-john-searle
gmatism.org/
William
de questões concernentes ao sentido e aos aspec-
Charles
Mo rri s (1901- tos extralinguísticos em ambas faz surgir no campo
1979), filósofo es- dos estudos linguísticos uma terceira abordagem
tadunidense, cuja
Fonte: http://www.pra
que se ocupará desses aspectos deixados de fora
obra, Fundamen-
jpg
por uma abordagem estritamente formal da lín-
rris.
tos da teoria do
gua: a pragmática.
signo (1938), é o
/mo
primeiro projeto
ges
completo de uma
ima
A mobilização de conceitos que marcaram essa
semiótica. Conhe- á- mudança do ponto de vista teórico acerca da
fo positivista e pragm
cido como um filóso mi óti ca
âmbito da Se língua(gem) foi determinante para a implantação
tico, seu trabalho no las ide ias de
nciado pe de um campo que permitisse ver a língua em seus
foi fortemente influe
Sa nd ers Pe irc e. usos concretos. De saída, apresentaremos, em li-
Charles
nhas gerais, alguns dos conceitos fundamentais
para a inauguração e o desenvolvimento do campo
como o lugar da análise daquilo que o falante faz
Outra definição aparece nos textos de Anne-Ma- quando usa a língua.
rie Diller e François Récanati. Eles afirmam que
a pragmática estuda a utilização da linguagem no O primeiro desses conceitos é o de ato de fala, que
discurso, de modo que essa disciplina deveria ocu- se entende-se por ações realizadas quando falamos.
par-se do sentido das formas linguísticas em uso. Desse modo, falar não é simplesmente produzir
uma sequência delimitada de fones, mas agir. A
Em Francis Jacques, encontramos uma definição linguagem não é um artefato que serve tão somen-
que procura integrar diferentes aspectos pragmá- te para representar o mundo. Ela o constitui e o
ticos determinantes da língua(gem). Para ela, a molda. Na apresentação desse conceito, Armen-
pragmática aborda a linguagem como fenômeno gaud (2006:12) diz que “falar é agir. Em um sen-
a um só tempo discursivo, comunicativo e social. tido óbvio: é, por exemplo, agir sobre outrem. Em
Armengaud (2006:11) diz que, para Jacques, “a lin- um sentido menos aparente, mas absolutamente
guagem é concebida como um conjunto intersub- real: é instaurar um sentido e é, de todo modo,
jetivo de signos cujo uso é determinado por regras fazer ‘ato de fala’.”
compartilhadas.” Tais regras compartilhadas pelos
falantes constroem as condições de possibilidade O segundo conceito tem a ver com o contexto. Nas
do discurso. primeiras investigações pragmáticas, o contexto refe-
ria-se à situação imediata em que se davam os atos
de fala. Essa situação envolvia os interlocutores, o
3. O Surgimento do Ponto de lugar e o tempo em que o processo comunicativo
Vista Pragmático se realizava e respondia às perguntas:
a realização do ato em contexto, seja atualizando a competência dos falantes, isto é, seu saber e seu domínio das regras, seja
integrando o exercício linguístico a uma noção mais compreensiva, como a de competência comunicativa.
Esses conceitos inicialmente permitem ao pragmaticista abordar os fenômenos que envolvem as diferen-
tes realizações linguísticas, ou seja, os atos de fala em situações específicas de enunciação. É importante
destacar que esses conceitos foram cunhados na interface entre Linguística e Filosofia, de modo que seu
aparecimento resulta da preocupação de filósofos em responder acerca da relação entre representação e
linguagem. Em Pinto (2006:49), lemos que
explicar a linguagem em uso e não descartar nenhum elemento não-convencional: esses dois pontos comuns aos estudos
pragmáticos formam uma linha derivada da história da preocupação com o uso linguístico. No final do século XIX, a Filoso-
fia iniciou um redirecionamento na forma de responder a suas perguntas. Desde Kant, os estudos filosóficos passaram a ser
entendidos como um conjunto de critérios para avaliar a maneira pela qual a mente é capaz de construir representações. Mais
tarde, então, no final do século XIX, os estudos filosóficos cunharam sua variante da filosofia kantiana, defendendo principal-
mente que representação é antes linguística do que mental, e que se deve refletir antes em filosofia da linguagem que em crítica
transcendental. Assim, objetivos filosóficos de discutir e descrever nossa representação do mundo respaldaram um movimento
em direção às usuárias e usuários da linguagem, acarretando uma tendência análoga no âmbito da Linguística. A pragmática é
fruto desse movimento em direção aos problemas relativos ao uso da linguagem, por isso, ao estudarmos a constituição dessa
área, devemos acompanhar também um pouco da história dos grupos filosóficos que a influenciaram.
É precisamente isso que faremos agora: (I) entender como o campo da Pragmática diferenciou-se em
correntes teóricas; (II) que aspecto do uso linguístico foi recortado por cada corrente; (III) que contribui-
ção cada corrente deu aos estudos pragmáticos. Percorrer esse trajeto teórico-metodológico permite ao
estudante vislumbrar um panorama mais amplo dos estudos pragmáticos, a fim de entender como cada
corrente constrói seu objeto de estudo e enriquece o campo com novas abordagens e propostas.
SAIBA MAIS!
Caro estudante, erca da
ar o conhecimento ac
ão en tre Fil os ofi a e Pragmática e ampli ca mp os de co nheci-
a relaç s nos respectivos
a fim de aprofundar de sen vo lvi do -
os e das metodolo gia s filosofia conte orâmp
trajetória dos conceit ro Re vir av olt a lin gu ístico-pragmática na ntr ará alg un s
leitura do liv la. Você enco
mento, recomendo a aú jo de Ol ive ira e publicado pela Loyo
edo Ar
nea escrito por Manfr
liv ro no Go ogle Acadêmico. São Paulo:
capít ulo s do ntemporânea. 2. ed.
a lin gu ísti co -pr ag mática na filosofia co
avolt
OLIVEIRA, M. A. Revir
20 01 . no Brasil do
Loyo la, nhos da Pragmática
da Pra gm áti ca , ind ico o artigo Os cami ap lica da : De lta. O artigo
Ainda sobre o percu
rso
na rev ista de lin gu ística teórica e
opalan publicado de ser encontrado em
:
Profº Kanavillil Rajag mp o em nosso país e po
lvi me nto do ca
foca o desenvo 0300013&script=sci_
arttext
o.b r/s cie lo. ph p? pid =S0102-4450199900
http://www.sciel
1
Grifos da autora.
36 Capítulo 3
De acordo com Peirce, o homem pensa por signos Outros deslocamentos que o pensamento peirce-
e o pensamento só existe nos signos. Ele próprio ano produzirá no âmbito da língua(gem) são os
– o pensamento – é signo. O filósofo ainda acres- seguintes:
centa que uma das propriedades fundamentais do
signo é remeter a outro signo. Se assim o é, então o I. o signo não é marca ou etiqueta de um objeto,
pensamento, que é um signo, remete a outro pen- de modo que não serve apenas para designar
samento, que é seu intepretante (ARMENGAUD, ou nomear esse objeto;
2006). Disso, temos a relação triádica que constitui
a semiose, ou seja, o processo pelo qual os signos se II. o uso de signos implica interpretação;
constituem e são intepretados.
III. a linguagem não é um mero código que serve
para codificar mensagens a serem decodificadas;
VOCÊ SABIA?
omunicacao.blogspot.
San- IV. a linguagem é o lugar de onde emergem as sig-
Charles
ders Peirce nas- nificações;
ceu em dia 10
de setembro de V. sem linguagem não há pensamento sem lin-
Fonte: http://antrodec tml
bridge, Estados
Unidos e faleceu
em 19 de abril VI. linguagem e pensamento são constitutivos da
de 1914, em realidade.
Milford (EUA).
Fil ho de pa i ma-
Essas ideias lançaram as bases para uma aborda-
temático, físico e
astrônomo, for- ica
gem pragmática dos processos de significação. Ao
de de Havard em Fís
mou- se na Universida ím ica pe la sair dos limites impostos pela estrutura da língua
rou-se em Qu
e Matemática e douto ou Fil os ofi a em como estabelecido pelo estruturalismo saussurea-
. Ensin
mesma universidade .
rd e na Un ive rsi dade Johns Hopkins no, Peirce possibilita pensar a linguagem em rela-
Harva , Fil olo gia
em Linguística ção aos sujeitos que a produzem.
Interessado também ci-
fun do u o Pragmatismo e a
e História, ele de Se mi óti ca .
ad os
ência dos signos cham Destacamos que as ideias de Peirce são complexas
e não se esgotam nas linhas aqui apresentadas.
Ele fez um trabalho minucioso e extenso e buscou
Foi com base nessas contribuições que a filosofia explicitar em detalhes sua teoria do signo na ten-
da linguagem, a lógica e a semiótica experimenta- tativa de explorar ao máximo sua capacidade in-
ram um novo impulso inovador. Essa relação ter- terpretativa e seu alcance teórico (PINTO, 2006).
nária é assim expressa em Bougnoux apud Araújo Por ora, importa conhecer, mesmo que de maneira
(2004:46): breve, seu trabalho e a repercussão para as ideias
que se desenvolverão.
Peirce partiu de um esquema triangular muito diferente do
de Saussure (a quem, aliás, não conheceu): a relação de se-
Seguidores de Peirce, William James e Charles W.
miose designa uma ação, ou uma influência, que é, ou que
Morris, difundiram suas ideias e apresentaram
supõe, a cooperação de três sujeitos, que são o signo, seu
objeto e seu interpretante. Esta relação ternária de influ-
interpretações para sua obra. Em contato com as
ência não pode, em nenhum caso, reduzir-se a ação entre pesquisas desenvolvidas pelo Círculo de Viena,
pares. Significar supõe aqui três termos, não somente dois. Morris conhece a proposta de Rudolf Carnap em
dividir as pesquisas acerca da linguagem em três
Essa concepção de signo inaugura uma nova con- esferas:
cepção de sujeito, de modo que o sujeito deixa de
ser o centro da atividade linguística, ou seja, não há I. a sintaxe, que se ocuparia das relações lógicas
para Peirce o sujeito com sua mente como se fosse estabelecidas entre os elementos da sentença;
uma substância plena de representações (ARAÚ-
JO, 2004). Nessa perspectiva, a intersubjetividade II. a semântica, que se voltaria para os estudos so-
constitui-se na atividade linguística, de maneira bre o significado;
que não há um sujeito anterior a essa atividade.
Capítulo 3 37
Essa tríplice relação entre a sintaxe, o significado e os usos que os locutores fazem da língua(gem), em situ-
ações específicas, lembra a tríade fundada por Peirce: signo-significado-interpretante. Morris entusiasma-se
com a proximidade entre os dois pensamentos – Peirce e Carnap -, e
em 1938, Morris atesta, com Foundations of the theory of signs, a doutrina pragmática de Peirce, defende a interdependência,
combatendo a hierarquização dos três campos. Assim, Morris mostra-se fortemente influenciado pelo grupo de empiricistas de
Viena, mas, ao mesmo tempo, busca minimizar a força da separação entre os três campos de estudo, o que, consequentemente,
afastaria, na prática da pesquisa linguística, os três elementos da tríade pragmática. Entretanto, ainda que esse gesto de Morris
seja bastante apropriado ao pensamento de Peirce, é forte a ascendência do empirismo lógico em seu pensamento [...] (Pinto,
2006:52-53).
Assim, desde 1938, Morris dá sinais de que sua pesquisa assumirá rumo distinto daquele proposto por
Peirce, embora mantenha pontos em comum com as ideias iniciais desse pensador.
SAIBA MAIS!
do responsável
me ira s dé ca das do século XX, sen
surgiu nas du as pri ico. Esse movimento
“O Círculo de Viena ns am en to int itulada positivismo lóg s uni-
pela criação de uma
corrente de pe iva que prevalecia na
rea çã o à filo so fia idealista e especulat filó so fos au str íacos
surgiu na Áustria, co
mo
ira dé ca da do séc ulo, um grupo de fun da-
partir da prime a buscar nas ciências
a base de
versidades alemãs. A iga çã o qu e ten tav
to de invest
iniciou um movimen
o de co nh eci mentos verdadeiros.
mentaçã
rdade por causa
e o co nh eci me nto possui valor de ve que
Nesse sentido, tal gru
po constat ou qu deiro na medida em
, isto é, o co nh eci me nto científico é verda co mp ree nd iam
da sua vinculação em
pírica es filósofos
a dim en sã o, à exp eriência. Contudo, ess qu e est as ob tiv era m
um ca, com o avanço
se relaciona, em alg ica e a ma tem áti mi na çã o
andonar a lóg e a deter
que não se pode ab xil iam de ma ne ira determinante a busca qu e pro cu ra
; ambas au pensamen to,
na virada do século cessa. Assim, a esse
nd içõ es em qu e o conhecimento se pro po siç õe s, au xiliado pelas regras
da
das co últ im o de su as pro pir ism o
lor de verdade ico, ou em
na experiência o va tem áti co s, de no mi nou- se positivismo lóg 82 -19 45 ) e
lógica e dos proced
imentos ma Otto Neurath (18
ma do po r Ph ilip p Frank (1884-1966), lf Ca rna p, qu e log o
lógico. A este grupo
, for
da de vin te, Mo ritz Schilick e Rudo ura th
ram-se, na déca Em 1929, Carnap, Ha
hn e Ne
Hans Hahn, incorpora s ma is ativos membros. cu lo de Viena.
nd içã o de seu Mu nd o: o Cír
passaram à co itu lad o A Co nc ep ção Científica do o grupo cien-
esto int fos, compunha m
publicaram um manif mo vim en to. Além desses filóso
do ess e
Estava, assim, forma
juristas.
tistas, economistas e
38 Capítulo 3
nsamen-
lo de Viena são: o pe
nc ias rec eb ida s pe los filósofos do Círcu he ad , Pe an o e Frege,
As principais influê 38 -19 16 ), a lóg ica de Russell, White sco bertas
to do positivista Ern
st Mach (18 almente as de
igm as da fís ica co ntemporânea, especi de seu Tra ctatus
bem como os novos
parad A leitura
foi , ain da , a filo sofia de Wittgenstein. fic o a co mp ree nsão
na nte ximo alcance filo só
de Einstein. Determi gru po lev ar ao má do s fun-
permitiu ao ão empírica
Logico-Phylosophicus o, as sim , inc orp orá -la a uma interpretaç
bilitand
da nova lógica, possi
nto s do co nh eci me nto.
dame .
o de verificabilidade
es do Cír cu lo de Viena reside na noçã ion ad o à su a
contribuiçõ ão está intrinsecamen
te relac
Uma das principais
ree nd e qu e o sen tido de uma proposiç da sen ten ça só possui significado
Esta co mp dizer: determi na
rifi ca çã o. Iss o qu er ten ça seria verdadei-
possibilidade de ve r em qu e condições tal sen s
para aqueles que sã
o capazes de ind ica ontar as possibilidade
sa . Ind ica r tai s co ndições equivale a ap De sse mo do , as
ra e em quais ela ser
ia fal questão.
ade da sentença em
pír ica s de ve rifi ca r a verdade ou falsid ali jad as da s pro posições que contribu
em
em me taf ísic a sã o a” , da da s
fia idealista ou “ser” e “nad
afirmações da filoso nto ; seu s ter mo s centrais, tais como na as sen ten -
nheci me ção, o que tor
para a questão do co ad e, nã o sã o passíveis de verifica a co nc ep çã o,
am big uid os, segun do ess
sua generalidade e enunciados metafísic trinta, o
sem significado. Os partir da década de
ças dessas filosofias so s; an tes , ca rec em de sen tid o. A
ra os Estados
não são verdadeiros
nem fal e de outros pa
dis pe rsa r. Co m a mudança de Carnap su a co esã o inicial.”
a se o Círculo perdeu
movimento começou Sch ilic k e Ne ura th,
rtes de Hahn,
Unidos e aliada às mo
de-viena.html
.al go so bre .co m. br/ sociofilosofia/circulo-
/www
Disponível em: http:/
Além de Peirce e Morris, contribuíram com a cor- 5. A Teoria dos Atos de Fala
rente americana de estudos pragmáticos:
A Teoria dos Atos de Fala nasceu da preocupação de
• William James: desenvolveu uma reflexão so- alguns filósofos, entre eles, John Austin, Peter Fre-
bre os sinais e seus significados com base nas derick Strawson e Gilbert Ryle, em voltar-se para a
formulações de Peirce; linguagem ordinária a fim de resolver problemas
filosóficos. Esse movimento ficou conhecido como
• Willard V. Quine: tomando Peirce e James Filosofia Analítica e teve uma repercussão determi-
como base do seu pensamento, esse autor nante no rumo que os estudos da linguagem toma-
empenhou-se em dar prosseguimento às ideias riam nos anos seguintes. A principal contribuição
pragmatistas. Inicialmente filia-se ao empiris- dessa guinada nos estudos filosóficos no campo da
mo lógico, mas abandona em seguida a termi- Linguística foi a teoria dos atos de fala.
nologia logicista. Com isso, estreita vínculos
com as ideias de Peirce e dar uma nova roupa- Essa teoria foi exposta na conferência How to do
gem a essas ideias numa proposta que chamou things with words ministrada por Austin em 1962.
de pragmatismo radical. Nesse texto, Austin explica que a linguagem é uma
atividade construída pelos interlocutores, de modo
• Donald Davidson e Richard Rorty: tributários que “é impossível discutir linguagem sem conside-
das ideias de James Dewey e Wittgenstein, Da- rar o ato de linguagem, o ato de estar falando em
vidson e Rorty deram aos estudos pragmáticos si – a linguagem não é assim descrição do mundo,
americanos uma perspectiva historicista e de- mas ação” (Pinto, 2006:57).
fenderam o ponto de vista de que é a coerên-
cia interna e não a verdade que apoia qualquer Assim, a Escola Analítica Inglesa – que conta com
sistema interpretativo. a contribuição de Strawson e Austin – volta-se para
a linguagem usada no cotidiano pelos falantes que
Ancorado em perspectivas teóricas que ora se apro- mobilizam os enunciados em situações concretas
ximavam, ora se afastavam, o pragmatismo ameri- de enunciação. Ou seja, esses autores, inclusive
cano procurou, em suas investigações, relacionar Wittgenstein e Searle (este último, americano) de-
signo e falante e, com esse gesto, entender os pro- monstram particular interesse nos atos de fala que
cessos de significação. compreendem os interlocutores e a situação em
que realizam a atividade linguística.
Capítulo 3 39
Ao propor uma abordagem diferente dos atos de e desdobrou os atos performativos e constativos em
discurso, Austin “pretende com sua análise resol- três: atos locucionários, atos ilocucionários e atos perlo-
ver ou pelo menos esclarecer os problemas filo- cucionários. Assim,
sóficos” (Araújo, 2004:128). É nesse sentido que
podemos dizer que Austin intenciona colocar a ele propôs chamar atos locucionários aqueles que dizem
problemática filosófica num outro lugar e, nesse alguma coisa; atos ilocucionários, aqueles que refletem a
deslocamento, resolver alguns dos problemas com posição do(a) locutor(a) em relação ao que ele(a) diz; e atos
perlocucionários, aqueles que produzem certos efeitos e con-
os quais a filosofia vinha se deparando.
sequências sobre os/as alocutários/as, sobre o/a próprio/a
locutor ou sobre outras pessoas. Esses três níveis atuam
Apoiado no pressuposto que afirma que a unidade
simultaneamente sobre o enunciado (Pinto, 2006:58)
mínima da comunicação é o ato de fala, Austin lis-
ta alguns manifestando essa unidade, entre outros,
Para entender melhor essa reformulação da teoria
podemos citar atos como descrever, prometer, cri-
austiniana, segue o exemplo:
ticar, sugerir, afirmar, ordenar, perguntar, acusar,
agradecer.
c. Por favor, sirva-se de mais uma caldeirada!
A primeira diferenciação que Austin apresenta
Nesse exemplo, temos a realização dos três atos
em sua teoria é a de enunciados performativos e
concomitantemente:
enunciados constativos. Por enunciados perfor-
mativos entende-se aqueles que realizam uma ação
I. o ato locucionário seria o conjunto de sons
pelo fato de terem sidos ditos e por enunciados
que estão organizados a fim de realizar um sig-
constativos aqueles que realizam uma afirmação,
nificado;
declaram algo sobre alguma coisa. Vejamos um
exemplo:
II. o ato ilocucionário é a ação que o enunciado
produz. No caso de c, trata-se de uma ordem
a. Ordeno que você saia.
que é dada com polidez;
O enunciado acima é performativo, uma vez que
III. o ato perlocucionário é o efeito produzido no
“realiza” uma ação enquanto é enunciado. Ao
falante que ouve o enunciado, que pode ser
pronunciar Ordeno..., o falante realiza a ação de or-
de coação a fazer algo não disposto ou não do
denar. É isso que caracteriza a performatividade.
agrado.
Assim sendo, o ato não pode ser confundido com
a expressão ou a frase em que se realizou, pois para
Considerando que os atos de fala geralmente
que o ato seja eficaz é necessário que alguns aspec-
podem apresentar ambiguidade em sua interpre-
tos do contexto estejam presentes. No enunciado
tação, os falantes costumam levar em conta a si-
acima, a pessoa que ordena deve estar em condi-
tuação em que são proferidos e, assim, “podemos
ções de realizar esse ato. Essas condições vão desde
dizer que os atos de um enunciado ocorrem simul-
a posição (social, hierárquica etc) de quem produz
taneamente, são relativos ao contexto de fala e às
até a situação de enunciação.
pessoas que falam, e são interpretáveis com uma
amplitude muitas vezes difícil de ser descrita nos li-
Mas Austin não se ocupou apenas dos atos per-
mites de uma análise linguística” (Pinto, 2006:59).
formativos. Ele debruçou-se também sobre os atos
constativos, ou seja, aqueles que apenas afirmam
John Searle, por meio da teoria dos atos de fala,
algo sobre alguma coisa. Por exemplo:
entrou definitivamente na agenda programática
da Linguística. Com a publicação de Speech acts,
b. O livro está rasgado.
de 1969, Searle organiza e dá um acabamento às
ideias desenvolvidas por Austin. Isso pode ser com-
Nesse caso, não ocorre uma ação enquanto o
provado na organização de um quadro taxonômico
enunciado é proferido. Apenas faz-se uma afirma-
dos atos de fala. Esse empreendimento foi iniciado
ção acerca da condição material do livro.
por Austin, que logo o abandonou ao convencer-se
de que havia uma falta de nitidez para esse tipo de
Austin prosseguiu na construção de conceitos que
classificação.
dessem conta dos fenômenos investigados à época
40 Capítulo 3
As repercussões da teoria dos atos de fala para os que estão presentes em todo processo de comuni-
estudos linguísticos são evidenciadas na quanti- cação bem sucedido. Essa visão do processo comu-
dade de pesquisas científicas que buscam apoio nicativo recebeu de Jacob L. Mey severas críticas,
teórico nos conceitos cunhados por Austin e estu- uma vez que, na leitura desse autor, a noção de
diosos, que apresentaram uma releitura dos seus cooperação implica e sustenta a ideia de parceria
trabalhos e propostas. Atualmente ainda é possível social, que tem como equivalente a ideia da lingua-
encontrar trabalhos científicos que ancoram suas gem isenta de conflitos e desigualdades sociais.
investigações na teoria dos atos de fala, e, nas diver-
sas sub-áreas da Linguística (Análise do Discurso, Seguindo a linha crítica de Mey, os estudos prag-
Linguística Textual, Análise da Conversação, Se- máticos desenvolvidos atualmente descartam a
mântica etc), há trabalhos que trazem contribuição ideia de língua neutra e de comunicação como
dessa teoria para montar seu arcabouço teórico- ferramenta de transmissão do pensamento. A co-
-metodológico. municação é vista, nessa perspectiva, como a base
material sobre a qual se desenvolvem processos so-
ciais. Segundo Pinto (2006:62),
6. A Comunicação:
“atuais pragmatistas apostam em comunicação como traba-
Estudos Híbridos lho social, realizado com todos os conflitos consequentes
das relações na sociedade.”
Os estudos da comunicação caracterizam-se por
receber contribuição da Teoria dos Atos de Fala e Ou seja, a linguagem é constitutiva da realidade.
do Pragmatismo americano. Valendo-se de releitu- Ela constrói e reconstrói realidades, bem como é
ras dos métodos e das propostas apresentadas por afetada pelas contradições sociais que se deixam
tais teorias, os autores ligados a essa corrente inau- evidenciar nos enunciados realizados em situações
guram um novo viés pelo qual a língua(gem) será de comunicação.
abordada. A essas releituras, acrescentam a pers-
pectiva filosófica historicista. Nesse momento dos estudos pragmáticos, o que
vemos é uma tentativa de abertura do campo a fim
A difusão dos estudos marxistas pela Europa le- de incluir em sua margem de interesses objetos
vou ao aparecimento de novas questões sobre a que ainda não receberam a devida atenção da Lin-
língua(gem). Essa mudança epistemológica resul- guística. Essa ampliação dos interesses da Pragmá-
tou na inclusão de aspectos extralingüísticos, como tica pode oferecer uma contribuição consistente e
a diferença de classes, nos estudos da comunica- relevante aos estudos da comunicação humana.
ção. Pinto (2006:61) assevera que
guagem que
res dessa corrente, um grupo de estudiosos da co- se encontra
municação optou por verificar que enfoque estava entre os fun-
sendo dado às questões relativas à comunicação dadores dos
no âmbito da Filosofia, da Etnologia e das ciências estudos prag-
máticos mo-
sociais. derno s, é lem -
brado por sua
udos que relacionam
Nessa reavaliação dos estudos da comunicação, contribuição aos est -
linguístico. Grice postu
o conceito de cooperação elaborado por Herbert falante e significado op era tiv o
princípio co
lou a existência de um
Paul Grice foi alvo de críticas. Para Grice, a comu- nv ers aç ão . Ess e princípio foi des-
geral na co má-
nicação é orientada por princípios de cooperação as co ersacionais:
nv
dobrado em máxim ali da de,
máxima da qu
– que foram sistematizados naquilo que chamou xima da quantidade, a do mo do .
e máxim
de implicaturas conversacionais – e atende a regras máxima da relevância
Capítulo 3 41
ATIVIDADE |
Leia atentamente a tira da Mafalda, analise-a e aponte os
VOCÊ SABIA?
atos de fala realizados nessa situação de comunicação.
Fonte: http://fernandaisobe.blogspot.com/2010_03_01_archive.html
) é pro-
Jacob L. Mey (1926
tituto de
fessor emérito do Ins
Co mu nicação
Linguagem e
da de do Sul da
da Universi
arc a, lec ion a lin guís-
Dinam
za çã o em
tica com especiali -
Em 19 77 , fun
pragmática.
Jor na l de Pra gm áti ca
dou o
cs), que
(Journal of Pragmati
div ulg aç ão das
permitiu a
es, pe sq uis as e fun-
discussõ
áti .
ca
damentos da Pragm
RESUMO
A Pragmática – como campo de estudo dos usos que os falantes fazem da língua(gem) –
longe está de formar um conjunto homogêneo, seja em relação à teoria e à metodologia
utilizadas em seu âmbito, seja em relação ao objeto de pesquisa do qual se ocupa. As-
sumindo diferentes pontos de vista que partem de lugares teóricos distintos, a Pragmática
ainda coloca questões acerca do alcance teórico-metodológico das suas propostas, bem
como repensa o objeto das suas investigações. Ao longo do percurso que fizemos, resu-
mimos três pontos de vista nos quais a Pragmática se ancora, a fim de constituir-se como
disciplina científica que dispõe de um corpo teórico suficientemente organizado e aplicável
a diferentes fenômenos. Assim, as correntes teóricas que aqui apresentamos têm apenas a
finalidade de fazer vislumbrar um panorama alargado pela inclusão de novos interesses e
pela reelaboração dos métodos de pesquisa que visa dar conta da novidade que é a lin-
guagem humana.
Pragmática:
Conceitos Teóricos
Prof. Luciano Taveira de Azevedo
Carga Horária | 15 horas
Ementa
Semântica da palavra, do texto e do discurso. Campos semânticos. Sinonímia, an-
tonímia e polissemia. A semântica do enunciado e da enunciação. As semânticas
estrutural e cognitiva. Sentido e referência. Enunciado e Enunciação. Semântica
e Pragmática. Enfoque epistemológico dos conteúdos. Planejamento do ensino.
Metodologia e recursos didático-pedagógicos. Avaliação de competências.
Objetivos Específicos
• Apresentar ao aluno os conceitos basilares da semântica e da pragmática
linguística.
Introdução
Querido(a) aluno (a),
Chegamos ao último capítulo do nosso curso. Temos por certo que percorremos,
ao longo desses quatro capítulos, o caminho dos estudos que têm o sentido como
o foco da sua abordagem e interesse científico. Neste último, aprofundaremos
alguns conceitos fundamentais da Pragmática a partir da análise de sentenças
e/ou textos. Assim, conceitos, como os de dêixis, implicatura conversacional,
pressuposição, atos de fala, entre outros, ganharão uma reflexão pormenorizada,
a fim de entendermos como os conceitos pragmáticos são operacionalizados no
campo da Pragmática.
44 Capítulo 4
mas se ocupam dos usos feitos pelos falantes, ou seja, da enunciação em situações efetivas de comunicação.
Possenti (1988:47) assevera que
“passaria a fazer parte do objeto da lingüística o estudo dos mecanismos pelos quais o falante, apropriando-se da língua, transforma-
-a em discurso. Nessa visão, o que transforma a língua em discurso é, portanto, a enunciação, de um locutor a um alocutário (...).”
A uma linguística da forma que tem como objetivo de trabalho a análise das relações internas à estrutura,
soma-se uma linguística da enunciação que relaciona essa estrutura às suas condições reais de produção e
a vê como indissociável da atividade social dos sujeitos em interação.
A teoria da enunciação, que então se desenvolve no cenário das investigações linguísticas, reclama a inser-
ção “de outros elementos, que poderíamos por enquanto chamar de discursivos e que são todos aqueles
que não obrigam o locutor a ser absolutamente explícito (pressuposições, implicaturas, consideração de
hábitos regulares, etc)” (POSSENTI, 1988:51). Embora a teoria da enunciação, em suas primeiras produ-
ções, estivesse ainda bastante atrelada à estrutura linguística, já é possível vislumbrar um deslocamento no
sentido de relacionar essa estrutura aos seus contextos possíveis de realização. É com Austin (1990) e sua
teoria dos Atos de Fala que ocorre uma virada determinante no sentido de incluir definitivamente o sujeito
e a situação de fala na agenda programática dos estudos linguísticos. Em oposição à dicotomia saussure-
ana língua/fala que privilegia a língua como objeto por excelência dos estudos linguísticos, a Pragmática
se ocupará prioritariamente da linguagem em suas múltiplas realizações sociais. Os estudos pragmáticos
voltam-se, assim, para a análise da língua em contextos enunciativos reais.
Assim, a partir dos estudos enunciativos e pragmáticos da linguagem, a reflexão sobre os processos de pro-
dução e compreensão dos enunciados teve seus horizontes ampliados e o contexto passou a figurar nessas
reflexões como constitutivo dos processos de significação e não ficou restrito à condição de acessório,
como se estivesse ao redor do enunciado.
Dentro desses novos parâmetros, emissor/locutor e destinatário/alocutário não representam duas instân-
cias em que um (emissor) é a fonte do sentido, e o outro (destinatário), receptáculo desse sentido determi-
nado e único. Embora, no âmbito da pragmática, o locutor tenha uma intenção ao produzir o enunciado,
essa intenção – que o caracteriza como fonte do sentido – é determinada pelo lugar social que ocupa.
Esse fator pragmático responde a pergunta Quem fala? Do outro lado, temos o alocutário que se engaja no
processo comunicativo, de modo que “a pessoa que interpreta o enunciado reconstrói seu sentido a partir
de indicações presentes no enunciado produzido, mas nada garante que o que ela reconstrói coincida
com as representações do enunciador” (Mainguenau, 2005:20). É nesse sentido que podemos dizer que a
interpretação de um enunciado implica um processo em que saberes, hipóteses e raciocínios são mobili-
zados. Dessa maneira, entendemos que o contexto em que os enunciados são produzidos não se refere a
algo preestabelecido, mas, a um processo em que a construção e reconstrução da situação de enunciação
pontilha a interação verbal entre interlocutores sócio-historicamente situados.
Vejamos um exemplo sobre o que foi dito até agora, a fim de entendermos melhor essa concepção de
língua(gem) e processo comunicativo numa perspectiva pragmática:
Fonte: http://juniorcba.wordpress.com/2007/08/26/nada-a-ver-tiras-da-mafalda/
46 Capítulo 4
Nessa tirinha, temos uma situação em que Mafal- Maingueneau (2005:20) diz que
da, menina sempre preocupada em compreender
o mundo, dialoga com a mãe sobre o porquê esta- “fora de contexto, não podemos falar realmente do sentido
mos no mundo. A compreensão dos enunciados de um enunciado”,
produzidos nessa situação de comunicação é deter-
minada por fatores pragmáticos que devem ser con- de maneira que falar em enunciado é falar em
siderados dentro desse processo. O primeiro fator enunciação, ou seja, o processo que provê de signi-
que podemos citar é o estatuto dos enunciadores: ficado a sequência de signos produzida por sujeitos
em situações específicas.
I. Mafalda reconhece-se como filha e, por conse-
guinte, mais jovem que sua mãe. Por ter vivido O próximo exemplo aparece no livro Análise de
bem menos que sua mãe, entende-se inexpe- textos de comunicação de Dominique Maingueneau.
riente, ignorante das coisas do mundo; Estamos trazendo para o nosso porque julgamos o
exemplo esclarecedor dos vários aspectos pragmáti-
II. a mãe encontra-se em outra posição em rela- cos mobilizados no momento da interpretação de
ção à filha e, pelo fato de ser mãe, é tida pela um enunciado. Desse modo, atribuímos ao referi-
filha como alguém que acumulou experiências do professor a análise sem deixar de acrescentar o
e, por isso, capaz de responder e desfazer as ponto de vista que nos concerne.
dúvidas que carrega.
Fonte: http://buededicas.blogspot.com/2009/07/proibido-
Além disso, a mãe reconhece o papel social assumi-
do por Mafalda na interlocução: ela é filha, mais
jovem, e, com efeito, não conhece muito sobre o
mundo. Essas representações das posições sociais
referentes à filha e à mãe são mobilizadas durante
o processo de compreensão dos enunciados.
-fumar-no-club.html
enunciados é a condição material em que os enun-
ciados são produzidos: trata-se de uma conversa in-
formal, provavelmente em casa, entre mãe e filha.
Não se trata de um debate nem de uma conferência
sobre o sentido do mundo. Essa situação imediata
em que os enunciados são produzidos oferece pis- O enunciado Proibido fumar colocado numa pare-
tas que orientam o reconhecimento da intenção de de um escritório ou consultório médico parece
dos interlocutores inseridos nesse processo. simples e seu sentido, evidente. Assim nos pare-
ce, porque desconhecemos todas as instâncias que
Desse modo, podemos concluir que não basta o mobilizamos a fim de interpretar esse enunciado.
reconhecimento da sequência de signos produzida Na verdade, a interpretação do enunciado encon-
pelos interlocutores. Sem considerar esses fatores tra-se submetido a uma série de dispositivos que
pragmáticos que constroem o contexto do processo são acionados no momento que o processo de
comunicativo, a compreensão seria praticamente compreensão é desencadeado. Dentre esses dispo-
impossível. É por que levam em consideração ele- sitivos, temos o reconhecimento da sequência de
mentos extratextuais que constituem os sentidos signos, ou seja, de uma sequência verbal que confi-
produzidos nessa situação comunicativa que a mãe gura um enunciado. Ao tomarmos consciência de
de Mafalda entende sua pergunta e responde pron- que se trata de um enunciado, passamos à instân-
tamente. Por sua vez, Mafalda – lançando mão de cia seguinte que é atribuir uma fonte enunciativa
sua postura crítica e considerando o contexto mais a esse enunciado, ou seja, um sujeito responsável
amplo em que vivemos – entende a resposta da por sua formulação. Esse sujeito, ao formular esse
mãe como uma tentativa de fazer humor. É nesse enunciado, teria uma certa intenção, um certo sen-
sentido que podemos dizer que a reconstrução do tido a produzir. Mas não consideramos apenas o
enunciado feita pelo alocutário pode não coinci- enunciado e o sujeito que o produziu, levamos em
dir com a representação construída pelo locutor. consideração também as condições materiais de
Capítulo 4 47
apresentação – no dizer de Maingueneau (2005) O texto foi produzido para funcionar como
– para que o enunciado produza os efeitos que se capa do filme O Menino do Pijama Listrado.
pretende. Maingueneau (2005) afirma que, se em No enredo, temos a história de amizade entre
vez da sóbria placa com letras maiúsculas pretas, duas crianças (um é judeu e o outro alemão)
tivéssemos uma placa toda colorida, protegida por durante a Segunda Gerra Mundial. Levando
um vidro, assinada no canto, certamente, as pes- em consideração que apenas a consideração
soas que se encontram na sala pensariam tratar-se dos aspectos linguísticos não é suficiente para
de uma obra de arte e não, de um aviso proibitivo. atribuir sentido ao enunciado acima e compre-
endê-lo, levante hipóteses acerca dos elemen-
Se assim o fosse, se a proibição de fumar tivesse tos extralinguísticos (pragmáticos) que preci-
sido apresentada sob a forma de um objeto deco- sam ser mobilizados quando da leitura desse
rativo (uma obra de arte, p. ex.), as pessoas não enunciado.
se sentiriam intimidadas por ela nem proibidas de
fumar. Por outro lado, ao verem uma placa criada
sob um certo padrão e colocada num lugar de des-
taque, pensam que se trata de um enunciado sério
e importante. SAIBA MAIS!
o acerca da relação
Aprofunde a discussã tu-
Além disso, o enunciado deve reunir os aspectos ntexto a partir da lei
entre enunciado e co
:
necessários e instituidores de uma proibição, uma ra das seguintes obras
vez que “não se trata simplesmente de um enun- de
minique. Análise
ciado verbal: ele possui aqui um certo valor prag- MAINGUENEAU, Do ed . Sã o Paulo:
aç ão . 4.
textos de comunic
mático, isto é, pretende instituir uma certa relação
Cortez, 2005.
com o seu destinatário” (Maingueneau, 2005:21). os
svendando os segred
Ou seja, o enunciado deve “mostrar” aos seus in- KOCH, Ingedore. De 20 06 a.
ulo: Cortez,
terlocutores por meio de marcas linguísticas e pis- do texto. 5. ed. São Pa
no
tas materiais que a fonte que o produziu é séria, o mais detidamente
O assunto é abordad e ca pí-
de modo a realizar o ato que pretende: proibir Maingueneau
capítulo 1 do livro de
um determinado comportamento. Nisso consiste do liv ro de Koch. Boa leitura!
tulos 1 e 2
o valor pragmático de um enunciado. Ao interpre-
tarmos um enunciado, mobilizamos uma série de
dispositivos que não são apenas linguísticos, mas
também, pragmáticos. 2. A Dêixis
ATIVIDADE | Enunciar é pôr o sistema linguístico em funcio-
namento, de modo que numa situação de enun-
Fonte: http://www.omelete.com.br/cinema/o-menino-do-pijama-listrado/
“diz respeito às maneiras pelas quais as línguas codificam ou gramaticalizam traços do contexto da enunciação ou do evento da
fala e, portanto, também diz respeito a maneiras pelas quais a interpretação das enunciações depende da análise desse contexto
de enunciação.
Vejamos um exemplo:
Essa tira da Mafalda ilustra bem o que acabamos “a linguagem humana tem como característica o fato de
de apresentar. Susanita encontra Mafalda e de- que os enunciados tomam como ponto de referência o pró-
sencadeiam um processo comunicativo baseado prio ato enunciativo do qual são o produto.”
em enunciados verbais e não-verbais. No diálogo
do segundo quadrinho entre Mafalda e Susanita, Isso aponta para o fato de que as línguas naturais
aparecem alguns elementos dêiticos que referem à não são “indiferentes” à situação em que o proces-
situação de enunciação. Vamos ver quais são eles: so de interação verbal acontece.
Fonte: http://www.sempretops.com/diversao/tirinhas-da-mafalda/
pessoa do discurso, ou seja, a mãe
de Mafalda. Temos, nesse exemplo,
um elemento dêitico (você) que re-
mete ao co-enunciador presente na
situação de comunicação. Outro
elemento que podemos citar como
exemplo de dêitico de pessoa é a
expressão a gente usada por Mafal-
da no primeiro quadrinho. Essa
expressão corresponde à primeira
pessoa do plural e poderia ser subs-
tituída por nós, sem ter o sentido
comprometido.
As marcas dêiticas de tempo têm o momento da enunciação como referência. É por meio do uso dos
dêiticos temporais que podemos localizar um acontecimento presente, passado ou futuro em relação ao
momento em que se fala.
• marcas de presente, passado e futuro acrescentadas aos radicais dos verbos, como: ando, andei, andarei;
• palavras ou expressões com valor temporal, como: ontem, daqui a um ano, hoje, amanhã, dentro de
um ano etc. que têm como ponto de referência o momento da enunciação. Assim, dentro de um ano
designa uma duração de um ano a partir do momento em que se fala; o advérbio ontem designa o dia
anterior; hoje designa o próprio dia da enunciação (MAINGUENEAU, 2005:108).
Analisemos a tirinha:
Fonte: http://clubedamafalda.blogspot.com/
50 Capítulo 4
No primeiro quadrinho, Mafalda conversa com Nessa situação comunicativa, Mafalda levanta uma
Susanita sobre o fato de ter deixado o tinteiro questão que poderíamos denominar de filosófica ao
cair em cima do caderno. No momento em que perguntar a Miguelito:
fala, utiliza o advérbio ontem que refere ao dia an-
terior ao momento da enunciação. Através desse - Alguma vez você já se perguntou para que a gente está
expediente, o enunciado é ancorado na situação neste mundo?
de enunciação que é anterior ao momento da sua
produção. A unidade dêitica ontem é uma entidade O demonstrativo neste, que aparece no primeiro
do sistema da língua que tem uma ligação imediata quadrinho, localiza o espaço onde Mafalda, Migue-
com a situação enunciativa, de modo que permite lito e toda a humanidade se encontram. A referên-
organizar as coordenadas do processo comunicati- cia ao lugar mais amplo, o planeta Terra, é feita por
vo. É a partir desse sistema de coordenadas que se meio do demonstrativo neste que aponta para um
realizam as operações de referenciação que tornam lugar próximo dos interlocutores implicados no
possível a significação. processo enunciativo. É nesse sentido que Levin-
son (2007:97) assevera que
2.3. Dêixis de Lugar
“a dêixis de lugar ou espaço diz respeito à especificação
O lugar onde a enunciação acontece é marcado de localizações relativamente aos pontos de ancoragem no
no enunciado por elementos que especificam a acontecimento discursivo.”
localização de pessoas e objetos relativamente ao
ponto de referência constituído pelo espaço onde Assim, elementos que se localizam fora da língua
se dá a enunciação. Esses elementos não são mui- são codificados pela língua e apresentados aos in-
tos e estão restritos alguns advérbios e pronomes terlocutores dentro de um processo que envolve
demonstrativos: enunciado e enunciação, ou seja, sequência de sig-
nos linguísticos e contexto de produção.
• aqui designa o espaço onde falam os interlocu-
tores; Por fim, a dêixis está relacionada com o gesto de
apontar. Esse gesto é de caráter verbal e realiza-se
• lá designa um lugar distante em relação aos in- em enunciados concretos, cujo significado encon-
terlocutores; tra-se acorado na língua e nos fatores pragmáticos
que os constituem.
• este/esta/isto; esse/essa/isso e aquele/aquela/
aquilo fazem referência a objetos e pessoas lo-
calizados no processo enunciativo. SAIBA MAIS!
,
iticos apresentados
Vamos ver como isso acontece analisando o exem- Além dos casos dê ne au (20 05 )
Maing ue
plo abaixo: Levinson (2007) e ou de tex to.
dis cu rso
falam da dêixis de
respeito às referen-
Esse tipo de dêixis diz
no interior do texto
ciações que são feitas -
ntos ou parte do pró
para retomar eleme ) va i fa-
ueneau (2005
prio discurso. Maing
nc ia pe lo enunciado e exem-
lar de referê
do seguinte:
plifica com o enuncia
-
15 de maio. Na véspe
Paulo chegou no dia rat on a.
uma ma
ra, ele tinha corrido
Fonte: http://clubedamafalda.blogspot.com/
-
nesse exemplo a pa
O autor afirma que erê nc ia 15 de
mo ref
lavra véspera tem co e
io, ou sej a, um elemento do texto
ma O me s-
enunciação.
não, o momento da
ser dit o do pro nome ele que re-
mo pode
e é um elemento do
toma o termo Paulo qu
situ aç ão de enunciação.
cotexto e não, da
Capítulo 4 51
VOCÊ SABIA?
Fonte: http://neurasdeneuza.blogspot.com/p/prosa-e-desverso.html
Fonte: http://revistaep -15228,00.html
Dominique
oca.globo.com/
Maingueneau
ensina ciên-
cias da lin-
846
guagem na
MI8
Un ive rsi da de
/0,,E
Paris XII-Val-
de-Marne. In-
oca
teressa- se por
/Ep
fenônemos da
Revista
enunciação e
do discurso.
ras e, entre as que fo-
Publicou diversas ob s
o português, citamo
ram traduzidas para An áli-
Tendências em
as principais: Novas de Tex tos de
), Análise
se do Discurso (1993
aç ão (20 05 ), Cenas da Enuncia-
Comunic
do s Discursos (2008).
ção (2008) e Gênese
Agora conclua: como esses fatores pragmáti-
cos, ou seja, relacionados à situação de enun-
ciação, constroem o sentido de um enunciado?
3. A Implicatura Conversacional
ATIVIDADE |
Identifique, nas tiras, os elementos dêiticos e, A teoria da implicatura conversacional introduzida
em seguida, aponte os elementos da situação por H. P. Grice nos estudos pragmáticos provocou
de enunciação aos quais se referem. um impacto bastante significativo nesses estudos.
Os primeiros textos de Grice que receberam noto-
riedade no meio acadêmico foram produzidos en-
tre os anos 1956-1957. Meaning, escrito em 1957,
tornou conhecida a sua teoria da comunicação que
trazia os conceitos de significação natural e não-na-
tural. Mas foi com Logic and conversation (publica-
do em 1975), texto que apareceu nas conferências
proferidas na Universidade de Harvard durante
um evento em homenagem a William James, que
Grice apresenta sua maior contribuição teórica
aos estudos da significação. Em seus textos, Grice
Fonte: http://clubedamafalda.blogspot.com/
1
Exemplo extraído do artigo A Teoria Inferencial das Implicaturas: descrição do modelo clássico de Grice escrito por Jorge Campos da Costa – PUCRS.
Capítulo 4 53
2
No capítulo 3, expusemos o trajeto histórico da teoria dos atos de fala e tecemos comentários acerca das motivações que levaram ao aparecimento
dessa teoria.
Capítulo 4 55
Fonte: http://www.fa7.edu.br/recursos/imagens/File/publicidade/monografia/2011/
daqueles ficha suja – discursa durante um comício
e enuncia: Prometo mais segurança. O verbo prometer
enunciado nessas circunstâncias realiza uma ação e
não se restringe a declarar apenas. Para que o ato
realizado pelo verbo produza efeito, há toda uma
conjuntura extralinguística, ou seja, um procedi-
mento tido como convencional que apoia e permi-
te que a ação seja efetivada. No caso dessa charge,
temos a figura do político discursando num comí-
cio para uma multidão de eleitores. Essa situação
constrói as condições de realização do ato expres-
so pelo enunciado. É nesse sentido que Levinson
(2007:301) afirma que
ATIVIDADE |
SAIBA MAIS! Nos enunciados abaixo, aponte o ato realizado
os percursos teórico- e o efeito produzido sobre o interlocutor:
Aprenda mais sobre
gmática lendo o li-
-metodológicos da Pra
: fases e feições de
vro Nova Pragmática a) Protesto contra o aumento da tarifa de ônibus.
pelo linguista apli-
um fazer organizado b) Ordeno que venha aqui!
opalan. A introdução
cado Kanavillil Rajag c) Desculpo todos os meus amigos.
contrada no site:
do livro pode ser en
d) Juro falar a verdade.
-
editorial.com.br/dia e) Suplico seu perdão.
http://www.parabola
gfeicoes.pdf
5. Análise da Conversação
VOCÊ SABIA? A conversação, entendida como interação face a
s
uma classificação do face entre interlocutores por meio da língua(gem),
Austin (1962) propôs ele , ess a cla s-
atos ilocucionários. Se
gund o é a forma primeira de exposição ao fenômeno lin-
çã o de ve ria ser tom ada como material guístico. Por isso, a conversação contribui efetiva-
sifica
como algo definitivo:
para discussão e não, mente para o entendimento dos fatos pragmáticos
s consistem em pro- que regulam a produção da linguagem em contex-
“ – os ‘veridctivos’: ele -
nto (veredicto) funda tos específicos.
nunciar um julgame raz õe s, ac er-
em boas
do na evidência ou
um va lor ou de um fato. Exemplos: Entende-se por conversação “aquele tipo conheci-
ca de
, calcular, descrever,
desculpar, considerar - do e predominante de fala em que dois ou mais par-
ssificar, avaliar, carac
analisar, estimar, cla ticipantes se alternam livremente e que geralmente
terizar.
ocorre fora de contextos institucionais específicos,
-
s consistem em formu
- os ‘exercitivos’: ele no sen tid o de como serviços religiosos, tribunais, salas de aula e
favor ou
lar uma decisão em semelhantes” (Levinson, 2007:361). A disciplina,
seq uê nc ia de aç ões. Exemplos: orde-
uma dentro da grande área da Linguística, que se ocupa
der, suplicar, reco-
nar, comandar, defen :
onselhar assim como dos fenômenos relacionados à conversação é deno-
mendar, implorar, ac o ab ert a, fe-
a ses sã minada Análise da Conversação. Aqui não nos ocu-
nomear, declarar um
a, ad ve rtir, pro cla mar. paremos em expor os pressupostos teórico-metodo-
ch ad
s comprometem o lei
- lógicos da Análise da Conversação, de modo que nos
- os ‘comissivos’: ele nc ia de aç ões. restringiremos a expor alguns aspectos pragmáti-
seq uê
tor com determinada
fazer voto de, compro- cos que se encontram implicados na conversação.
Exemplos: prometer,
, garantir, jurar, ado-
meter-se por contrato
aderir a um partido.
tar uma convenção, 5.1. Algumas Características
s são utilizados para Organizacionais da Conversação
- os ‘expositivos’: ele
conduzir uma argu-
compor concepções, la-
r a utilização de pa
mentação, esclarece . Exe mp los : A conversação caracteriza-se, a princípio, por ser a
referências
vras, assegurar as ob jet ar, co nc e- primeira forma de linguagem a que somos expos-
nd er,
afirmar, negar, respo
r, exe mp lifi ca r, pa rafrasear, relacionar tos. Um exemplo típico desse modo de exposição é
de
metas.
a conversa que a mãe tem com o bebê ou a conversa
entre familiares que visitam o recém-nascido. Con-
s’ (behabitives): trata-
- os ‘comportamentai - cordamos com Marcuschi (1991:15) quando afirma
mportamento dos ou
-se de reações ao co e lhe s diz em haver cinco características básicas da conversação:
entos qu
tros, aos acontecim
ito ; sã o exp res sõ es de atitudes acerca
respe
to ou de seu destino. a. Interação entre, pelo menos, dois falantes;
de seu comportamen ici-
r-se, agradecer, fel
Exemplos: desculpa tica r, exp rim ir b. ocorrência de, pelo menos, uma troca de falantes;
ndas , cri
tar, desejar boas-vi ar, fa- c. presença de uma sequência de ações coorde-
çoar, amaldiço
condolências, aben :
e, be be r à saúde de. E ainda nadas;
zer um brind (Ar me ng au d,
desafia r” d. execução numa identidade temporal;
protestar, provocar,
20 05 :10 3-1 04 ). e. envolvimento numa interação centrada.
Capítulo 4 57
Essas características que constituem a conversação O exemplo acima ilustra duas situações muito co-
apontam para fatores pragmáticos que determi- muns ao processo conversacional: a alternância
nam o processo conversacional. Esses fatores estão de turno e a tomada de turno quando há fala si-
ancorados naquilo que é central na conversação: multâneas por meio de mecanismos reparadores.
a interação verbal centrada. Essa interação desen- Tomando como base a situação social específica
volve-se durante “o tempo em que dois ou mais em que se encontram, professora e alunos iniciam
interlocutores voltam sua atenção visual e cogniti- uma conversa sobre o tema da aula. Orientados pe-
va para uma tarefa comum” (Marcuschi, 1991:15). las normas inerentes a essa situação de interação,
a professora inicia o turno que é tomado por A1.
Levando em consideração que a conversação ocor- Logo após expor sua resposta, A1 devolve o turno
re num determinado tempo e lugar, vale ressaltar à professora que alterna com a turma que começa
o papel dos interlocutores que mobilizam certos a falar ao mesmo tempo. Em seguida, a professora
conhecimentos partilhados, como o conhecimen- procura retomar o turno e reparar a situação invo-
to linguístico, cultural e da situação social em que cando normas que regem a conversação.
estão inseridos.
Uma vez que a conversação se trata de um fenô-
5.2. Turnos meno empírico em que os falantes realizam a
língua(gem) numa situação real de interação, suas
Uma das características básicas da conversação é o normas são ditadas por essa situação. Assim sendo,
turno que pode ser definido – grosso modo – na fatores pragmáticos entram em jogo e são conside-
frase: “fala um de cada vez”. Marcuschi (1999:18) rados pelos falantes que intencionam o sucesso da
esmiuça dizendo que “o turno pode ser tido como comunicação em curso. O exemplo acima ilustra
aquilo que um falante faz ou diz enquanto tem a bem esse aspecto da comunicação. A todo mo-
palavra, incluindo, aí, a possibilidade do silêncio.” mento, os falantes deixam-se guiar pelas normas
pragmáticas que orientam e constituem o processo
Durante a conversação, nem todos falam ao mes- conversacional.
mo tempo, ou seja, um espera o outro concluir
para tomar a palavra nem um só fala o tempo 5.3. Pares Conversacionais
todo. Essa distribuição de turnos faz do processo
conversacional uma ação disciplinada. Há normas Os turnos alternados são uma característica básica
tácitas, ou seja, aceitas por todos, que disciplinam da conversação. Esses turnos, por sua vez, são con-
a conversação e permitem que todos se entendam duzidos por normas pragmáticas que orientam a re-
durante o processo. Passemos a um exemplo: alização das sequências linguísticas realizadas pelos
falantes de maneira coordenada e cooperativa em
Kazue – Recife – 1984 – III situações de fala. Algumas dessas sequências são al-
(contexto: a professora realiza exercícios de soma e tamente padronizadas no que diz respeito à sua es-
divisão com os alunos na aula de Matemática.) truturação. Schegloff (1972) deu a essas sequências
... o nome de pares adjacentes devido à contiguidade
P : e agora como é que vou terminar isso”
entre elas e ao tipo de relações que estabelecem.
A1 : cinco sexto
P : como cinco sexto Marcuschi (1999) apresenta os seguintes tipos de
A2 : [[quinze dividido por pares adjacentes (ou pares conversacionais):
As : [[(incompreensível) ((muitos falando ao mesmo
tempo)) a. pergunta-resposta
P : olha/ peraí peraí não fala todos ao mesmo tem-
po ninguém consegue entender/ um de cada vez/ b. ordem-execução
não é possível’
/.../3 (Kazue apud Marcuschi, 1999:23-24) c. convite-aceitação/recusa
3
Códigos usados na transcrição: [[: usados para indicar que dois falantes iniciaram ao mesmo tempo um turno; (+): para pausas e silêncios; ( ):
usado para marcar trechos incompreensíveis da fala; /: usado para indicar quando um falante corta uma unidade e provoca um truncamento brusco.
58 Capítulo 4
d. cumprimento-cumprimento
4
Extraído de Marcuschi (1999:37).
Capítulo 4 59
ATIVIDADE |
Fonte: http://vintum.wordpress.com/2008/08/
RESUMO
A Pragmática interessa-se pela língua em uso, ou seja, debruça-se sobre fenômenos da
linguagem e analisa a relação entre a situação de enunciação e as estruturas linguísticas.
Assim, entende que o sentido de um enunciado não se encontra ligado ao enunciado, mas
é resultado da relação entre a língua e o mundo em que é realizada. Nesse sentido, pro-
curamos apresentar neste capítulo alguns pressupostos teóricos que orientam os trabalhos
realizados no campo da Pragmática. Foi com esse intuito que trouxemos conceitos centrais
nesse campo, como dêixis, implicatura conversacional, teoria dos atos de fala e análise da
conversação. Acreditamos que o conhecimento desses conceitos dá uma ideia da perspecti-
va e alcance da Pragmática. Em todos eles, fatores pragmáticos são mobilizados no sentido
de explicar os processos de significação em sua relação constitutiva com o contexto.
60 Capítulo 4
REFERÊNCIAS
ARMENGAUD, F. A pragmática. São Paulo: Pa-
rábola Editorial, 2006.