Pasta Guedes Pinto

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PULPECTOMIA DE MOLAR DECÍDUO OBTURADO COM PASTA GUEDES-

PINTO: RELATO DE CASO

Josilaine Soares1, Ludimila Cosendey², Ana Paula Dornellas3


1Graduanda em Odontologia, Universidade Iguaçu- Campus V, josilainesoaress@hotmail.com

²Graduanda em odontologia, Universidade Iguaçu- Campus V, cosendeypludimila@gmail.com


³Mestre em odontopediatria , Universidade Iguaçu- Campus V, apdornellasmetodologia@hotmail.com

Resumo: O presente trabalho descreve o atendimento clínico de uma criança de 7 anos na


graduação de Odontopediatria, na Universidade Iguaçu- Campus V, destacando os materiais
utilizados, bem como a metodologia e a sequência de execução do mesmo. Ela apresentava grande
destruição coronária do elemento 75, após realização do exame clínico e radiográfico, o diagnóstico
foi de necrose pulpar. O tratamento de escolha foi a realização da Pulpectomia, com a remoção de
toda a polpa sem vitalidade, por meio da técnica manual instrumentada e o material obturador
utilizado foi a Pasta Guedes- Pinto, já que a criança era bastante colaboradora para a realização do
tratamento. Após, este procedimento foi feito o acompanhamento do caso. A Pasta Guedes- Pinto foi
muito eficaz para a obturação do conduto radicular do dente decíduo, sendo obtido um resultado
satisfatório, neste relato de caso.

Palavras-chave: Odontopediatria; Dente Decíduo; Pulpectomia; Pasta Guedes- Pinto.

Área do Conhecimento: Ciências da Saúde.

1 INTRODUÇÃO

O sucesso na Endodontia depende da remoção completa do conteúdo do canal, seguida do


fechamento apical usando um material de compatibilidade adequada para evitar possível irritação nos
demais pulpares e tecidos periapicais. A constante evolução dos conceitos é trazida com novos
métodos, novas técnicas e o desenvolvimento de materiais e instrumentos mais eficazes. Na
odontologia pediátrica, a terapia pulpar é realizada devido à exposição ou necrose pulpar e visa
manter os dentes decíduos no local até o período de esfoliação (LACATIVA et al., 2012).
Diversos materiais são utilizados na terapêutica endodôntica de dentes decíduos. Idealmente
eles devem apresentar potencial bactericida, bacteriostático e anti-inflamatório, mantendo as
propriedades de biocompatibilidade. A pasta Guedes-Pinto foi proposta por Antônio Carlos Guedes
Pinto e colaboradores em 1981 para obturação de condutos de dentes decíduos. É composta por
Iodofórmio, Paramonoclorofenol Canforado e Rifocort. O Iodofórmio age como antisséptico quando
em contato com os tecidos. O Paramonoclorofenol Canforado (PMCC) age como bacteriostático se
administrado por via tópica ou sistêmica. A ação bactericida do PMCC deve-se às propriedades anti-
sépticas do fenol e dos íons cloro. A pomada Rifocort, componente da pasta, é composta por um
corticosteroide, a prednisolona e por um antibiótico, a Rifamicina. Estes medicamentos têm como
objetivo promover ação anti-inflamatória e bacteriostática respectivamente (CHAGAS et al., 2015).
A técnica mais utilizada no tratamento endodôntico de dentes decíduos é realizada com limas
manuais em aço carbono. Essa técnica é amplamente utilizada devido ao seu baixo custo. A
instrumentação químico-mecânica reduz o número de microrganismos nos canais radiculares
(PINHEIRO et al., 2014).
O objetivo desse trabalho foi descrever um caso clínico do tratamento de um molar decíduo,
utilizando a técnica da Pulpectomia, tendo como material obturador a Pasta Guedes- Pinto.

2 METODOLOGIA

O presente relato de caso clínico, teve início após consentimento livre e esclarecido do
responsável pelo paciente, na Universidade Iguaçu- Campus V.
Paciente, de 7 anos de idade, sexo feminino, compareceu á clínica de Odontopediatria da
graduação, no dia 06 de novembro de 2018, com a queixa principal do elemento 75. Ao qual, foram
realizados anamnese, exame físico e radiográfico, para obtenção do diagnóstico e posterior
planejamento do tratamento.
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No exame físico, observou- se o elemento 75 com uma lesão cariosa Escore 6 e presença de
fístula. E no exame radiográfico a lesão apresentava- se muito profunda e com comprometimento
pulpar, indicando tratamento endodôntico (Figura 1).

Figura 1- Radiografia Inicial

Fonte: PORTES, L. C. 2018

O próximo passo foi a decisão da técnica e dos materiais, optou- se então pela Pulpectomia,
com a técnica instrumentada e obturação com a Pata Guedes- Pinto, já que durante o exame a
criança mostrou- se bastante colaboradora , receptiva ao tratamento e por ser uma técnica com muita
eficácia para dentes decíduos, de acordo com a literatura.
Os materiais usados foram: solução anestésica, carpule com refluxo, grampo, lençol de
borracha, Arco de Yong, perfurador de lençol de borracha, vaselina, baixa e alta rotação, ponta
diamantada esférica 1012, broca gates, broca Endo- Z, Solução de Milton( Hipoclorito de Sódio 1%),
sugador endodôntico, Endo- PTC(composto por Tween 80, Peróxido de Uréia e Carbowax), alargador
de Moura, três limas do tipo K e uma lima da série especial, EDTA- T 17%, Pasta Guedes- Pinto(
Rifamicina pomada+ Iodofórmio+ Paramonoclorofenol Canforado), placa de vidro, espátula n°
24,guta- percha, álcool e CIV.
A primeira fase do tratamento, foi a profilaxia, seguindo com a aplicação da solução
anestésica, através do bloqueio regional da mandíbula no lado esquerdo. Depois foi feito o preparo
do lençol de borracha para efetuar o isolamento absoluto, deixando o campo operatório livre de
fluidos e com uma melhor visão.
Iniciou- se então a remoção do tecido cariado com a baixa rotação e ponta diamantada
esférica 1012 e a Pulpectomia: primeiramente, houve o acesso cirúrgico à câmara pulpar (Figura 2),
com a alta rotação e broca gates, em seguida, irrigação com 20 ml de Solução de Milton e aspiração
com sugador endodôntico (Figura 3), para localização dos canais. E colocação do Endo- PTC
juntamente com duas gotas de Solução de Milton ( Figura 4), para suspensão de fragmentos,
facilitando a instrumentação.

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Figura 2- Acesso Cirúrgico Figura 3- Irrigação com Solução de Milton

Fonte: PORTES, L. C. 2018. Fonte: PORTES, L. C. 2018.

Figura 4- Irrigação ENDO- PTC

Fonte: PORTES, L. C. 2018.

Após a obtenção da Odontometria, à partir da radiografia inicial, com uma régua milimetrada, foi
determinado o comprimento de trabalho (10 mm), 1mm aquém do ápice, as entradas dos canais
foram preparadas com o alargador de Moura (Figura 5) e irrigação com 20 ml de Solução de Milton,
aspiração.
Iniciou- se o preparo dos canais radiculares, através da técnica instrumental mecânica, com
três limas do tipo K , em 1 mm aquém do ápice. A lima inicial foi a lima K15 branca (Figura 6A), que
melhor ajustou no diâmetro do canal radicular e mais duas limas subsequentes, lima K20 amarela
(Figura 6B) e lima K25 vermelha (Figura 6C); concomitante irrigação com 20 ml de Solução de Milton
e aspiração à cada lima. Sendo que, a irrigação final é com 10 ml de EDTA- T 17%, para remoção da
Smear Layer.

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Figura 5- Preparo das entradas dos canais

Fonte: PORTES, L. C. 2018.

Figura 6 A,B,C - Instrumentações dos canais

A B C
Fonte: PORTES, L. C. 2018.

O próximo passo foi a secagem dos canais com cone de papel absorvente (Figura 7) para
consequente obturação dos canais com a Pasta Guedes- Pinto. A obturação ocorreu da seguinte
forma: manipulação da Pasta Guedes- Pinto no momento do uso, em uma placa de vidro foi
colocado 1 cm de Rifamicina (pomada), 1 cm de Iodofórmio e 2 gotas de Paramonoclorofenol
Canforado ( PMCC), separados e espatulação com a espátula n° 24; a pasta foi levada ao canal com
o auxílio da lima 10 da série especial, introduzindo no canal e girando no sentido anti- horário( pois,
durante a técnica observou-se que nesse sentido, era mais favorável para que o material ficasse
retido dentro do canal) e puxando para fora do canal, essa sequência foi realizada por 10 vezes,
completando- se a obturação.
Logo, colocou-se uma camada de guta- percha no assoalho da câmara pulpar, vedando as
entradas dos canais; lavagem da câmara coronária com álcool para remoção dos restos de materiais
obturadores e restauração com Cimento Ionômero de Vidro de alta viscosidade ( Maxion R, cor A 2 ),
(Figura 8).

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Figura 7- Secagem dos canais

Fonte: PORTES, L. C. 2018.

Figura 8- Restauração com CIV

Fonte: PORTES, L. C. 2018.

Concluída a técnica, foi obtido o raio-x final para análise do tratamento, e ele mostrou que os
canais foram obturados até a medida esperada (Figura 9). A paciente foi liberada, com a orientação
do responsável para que ela retornasse à clínica após 15 dias.

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Figura 9- Radiografia Final

Fonte: PORTES, L. C. 2018.

Passados os 15 dias, a paciente retornou, ao exame físico, a fístula já havia desaparecido


completamente, não constatando alterações na restauração e o exame radiográfico feito novamente,
apresentando normalidade também. E foram orientados, para retornarem de tempos em tempos, para
proservação do caso.
Aproximadamente 1 ano após o tratamento, a paciente retornou, não relatando qualquer
desconforto no elemento tratado, então foram feitos exames para acompanhamento, no exame físico
e radiográfico (Figura 10), não foram detectadas quaisquer anormalidades, apenas reabsorção do
material obturador.

Figura 10- Radiografia após 1 ano

Fonte: PORTES, L. C. 2018.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Segundo Amorim et al. (2006), o principal objetivo da terapia do canal radicular em


odontopediatria é a manutenção dos dentes decíduos até a correta erupção da dentição permanente,
em condições saudáveis.
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A manutenção dos dentes decíduos até a ocorrência de esfoliação fisiológica contribui para a
mastigação, a fonação, a estética e evita hábitos deletérios da criança. Portanto, é importante manter
os dentes decíduos na cavidade oral até a esfoliação fisiológica. Alterações pulpares causadas por
cárie ou trauma são a indicação mais comum para o tratamento endodôntico. O sucesso do
tratamento endodôntico em dentes decíduos depende de significativa redução microbiana após
instrumentação químico-mecânica (PINHEIRO et al., 2014).
A compatibilidade com os tecidos vivos da região periapical é uma das propriedades mais
importantes de um material utilizado no preenchimento radicular de dentes decíduos, pois estará em
contato permanente com esses tecidos durante a reabsorção fisiológica das raízes. Além disso, uma
possível lesão no germe de dentes permanentes é uma preocupação constante (LACATIVA et al.,
2012).
Uma etapa importante no tratamento endodôntico de dentes decíduos está relacionada com o
uso de substâncias irrigadoras. O ENDO PTC promove aumento da permeabilidade dentinária e não
há alteração de suas propriedades quando usado em creme ou em gel. O EDTA é eficaz na remoção
do magma dentinário, o que não pode ser visto com a utilização do Tergensol ( CHAGAS et al.,
2015).
O selamento da câmara pulpar com guta-percha após a obturação com a pasta Guedes-Pinto
é bem aceito pelas Faculdades de Odontologia do Brasil. Sua associação com o Ionômero de vidro
modificado por resina (CIVr) apresenta baixos níveis de infiltração ( CHAGAS et al., 2015).
De acordo com, Pinheiro et al. (2014), a falha do tratamento endodôntico pode estar
associada à variação anatômica da curvatura e diâmetro dos canais radiculares ou à falha da técnica
cirúrgica . No tratamento endodôntico de dentes decíduos, além da dificuldade de desbridar o sistema
de canais radiculares por causa dos canais secundários, acessórios e reabsorção radicular, a criança
pode não ter maturidade psicológica para cooperar durante o tratamento.

4 CONCLUSÃO

A técnica e o material utilizados neste caso clínico mostraram sucesso no tratamento do


dente decíduo, devido a remoção dos microorganismos e o efeito antimicrobiano da Pasta Guedes-
Pinto. Após 15 dias os resultados clínicos e radiográficos de acompanhamento eram excelentes.
Completado 1 ano, aos exames foi observado que o dente estava com função adequada, não
sendo relatado qualquer desconforto no elemento. No exame radiográfico foi possível observar
reabsorção interna do material.
É importante destacar que para alcançar o sucesso, é necessário rigor em cada fase do
tratamento, desde o isolamento absoluto correto, instrumentação adequada, irrigação abundante e
obturação satisfatória e não menos importante a restauração deve apresentar- se com boa adesão,
impedindo a penetração de microorganismos. Garantindo um tratamento duradouro, que mantenha o
dente decíduo em função até sua esfoliação.

5 REFERÊNCIAS

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