TCC Tatiane Marinz de Souza
TCC Tatiane Marinz de Souza
TCC Tatiane Marinz de Souza
NITERÓI,
2012
TATIANE MARINZ DE SOUZA
Niterói
2012
S729 Souza, Tatiane Marinz de.
As demandas educacionais dos cuidadores de crianças
em situações de emergências pediátricas domésticas /
Tatiane Marinz de Souza. – Niterói: [s.n.], 2012.
72 f.
BANCA EXAMINADORA
Enfermeira / Bombeiro
Niterói
2012
AGRADECIMENTOS
Agradeço à Deus por me guiar e iluminar o meu caminho, dando-me força, fé e saúde
para que eu conseguisse realizar mais essa conquista. Sem Ele nada disso seria possível.
Aos meus pais, Silézia e Antônio, agradeço pelo carinho, ensinamentos, apoio,
compreensão e por acreditarem em mim e me incentivarem em todos os meus objetivos.
Muito obrigada, o apoio de vocês foi fundamental!
Aos meus irmãos e irmãs, sobrinhas, sobrinho e toda minha família, agradeço pelo
carinho, incentivo e torcida pelo meu sucesso. Vocês foram importantíssimos para que eu
chegasse até aqui!
As minhas amigas e companheiras inesquecíveis de faculdade Amanda, Eleinne, Lívia,
Joseane e Nattasha agradeço pelos ótimos momentos de descontração, conversas e por
estarem sempre me apoiando e torcendo por mim.
Aos meus amigos que mesmo longe torceram por mim e mantiveram-se presentes
através de mensagens, conversas, telefonemas e encontros banhados de incentivo e carinho.
Aos professores e colegas especiais de turma e da faculdade os quais tive o prazer de
conviver durante todos esses anos e aprender um pouquinho com cada um.
A minha orientadora Rosane, com quem aprendi muito, agradeço pela amizade,
paciência, motivação, pelo aprendizado e pelas contribuições e auxílios indispensáveis para
a construção deste trabalho. Obrigado pela confiança e carinho!
Aos cuidadores agradeço por contribuírem com os seus saberes para a realização da
minha pesquisa.
Agradeço a todos que participaram na construção deste trabalho, de forma direta ou
indireta, por me transmitirem coragem, carinho e por contribuírem para o meu crescimento.
EPÍGRAFE
The scientific literature discusses more about prevention of Pediatric emergencies than
domestic care for children in emergency situations, especially when related to preparation of
caregivers for such care. The objectives of this research were to describe the care carried out
by caregivers when faced with the following Pediatric emergencies domestic: falls and cuts,
burns, intake medicines and substances, and shock; identify the main questions of caregivers
in relation to child care in these situations; and analyze the educational demands of caregivers
from child care in these situations. This is a qualitative research, descriptive and exploratory.
The technique of data collection was through the Group Discussion, with the completion of
three Wheels of Conversation. The survey was conducted in the area of Pediatrics 5th floor of
a University Hospital of Rio de Janeiro Federal University-bound. Included thirteen subject
caregivers, these being: nine mothers, one father; a grandmother; and two aunts. The data
were analyzed through content analysis proposed by Bardin (2010). The research was
approved by the Committee of ethics in research University Hospital where the study was
conducted, with Protocol number 276/11. Considering the Pediatric emergencies domestic
situations addressed realized that caregivers have brought in description of how care is
performed, the boundary between the error and the right. Because now the familial care is
sufficient to meet the child in particular pediatric emergency home and has some scientific
explanation. However, the care is not enough to meet the needs of care and knowledge
required by certain situations, and is often devoid of any scientific explanation, not the best
suited for the situation. In addition, through the questions set out by caregivers and reported
as is completion of care, it was possible to understand that they have many questions and
identify the educational demand for this theme. So, how much the care that must be
performed by caregivers to the child who suffers these types of accidents, realize that there is
still a popular and familiar very strong issue in what would be the right conduct to perform at
those times. Through the educational demand identified realized the importance of health
literacy achievement of these caregivers. Therefore contributes to a new discussion and
findings on the subject and encourages the search for a health education process efficient and
able to promote the qualification and improvement of nursing as an educator. In addition to
enhance the teaching and research in pediatric emergencies situations, and improves the
quality of life or prevention of diseases for children.
abr abril
ago agosto
dez dezembro
ed. edição
jan janeiro
jul julho
jun junho
mar março
n. número
out outubro
p. página
set setembro
v. volume
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO, p.11
1.1 OBJETO DE ESTUDO, p.13
1.2 QUESTÕES NORTEADORAS p.14
1.3 OBJETIVOS p.14
1.4 JUSTIFICATIVA, p.14
1.5 RELEVÂNCIA, p.15
2. REVISÃO DE LITERATURA, p. 16
2.1 SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS, p.16
2.2 EDUCAÇÃO EM SAÚDE EM SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS,
p.18
3. METODOLOGIA, p.21
3.1 TIPO DE PESQUISA E MÉTODO, p. 21
3.2 O CENÁRIO DA PESQUISA, p. 23
3.3 OS SUJEITOS DA PESQUISA, p. 24
3.4 COLETA DE DADOS DA PESQUISA, p. 25
3.5 OS ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA, p. 27
3.6 OS PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS, p. 27
4 RESULTADO E DISCUSSÃO, p. 30
4.1. O CUIDADO FAMILIAL E O LIMITE ENTRE O ERRO E O ACERTO NO
CUIDADO A CRIANÇA EM SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS
DOMÉSTICAS, p. 31
4.2. AS DEMANDAS EDUCACIONAIS DOS FAMILIARES CUIDADORES DE
CRIANÇAS EM SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS DOMÉSTICAS,
p. 49
5. CONCLUSÃO, p. 57
6 OBRAS CITADAS, p. 60
7 OBRAS CONSULTADAS, p. 65
8 APÊNDICES, p. 66
8.1. APÊNDICE 1: ROTEIRO DA RODA DE CONVERSA, p. 67
8.2. APÊNDICE 2: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO, p. 69
9. ANEXO, p. 70
9.1. ANEXO 1: PARECER CEP, p. 71
1. INTRODUÇÃO
1
VELDE SV et al. European first aid guidelines. Resuscitation. 2007, v. 72, n.2, p. 240-251.
2
SABÓIA, Vera Maria. A Enfermeira e a prática educativa em saúde: a arte de talhar pedras. Rev Nurs. 2005,
v. 83, n.8, p.173-177.
Considera-se dessa forma, a Educação em Saúde, um dos mais importantes elos entre
os desejos e expectativas da população por uma vida melhor, podendo a intervenção educativa
contribuir para mudanças no estilo de vida, favorecendo o conhecimento, prática e reflexão
efetiva para o desenvolvimento de capacidades individuais e coletivas visando à melhoria da
qualidade de vida e saúde. Desta forma, acredita-se que este instrumento possa fornecer um
suporte teórico e prático para proporcionar qualidade na assistência em saúde à crianças em
situações de emergências, em especial os acidentes domésticos. (MARTINS, 2007, p.254;
PEREIRA, A. L. F., 2003, p. 1527).
Em reflexão a esta problemática, para que a educação em saúde atinja os objetivos de
informar, promover e estimular o debate acerca de um determinado tema, deve ser elaborada a
partir de uma investigação prévia dos conhecimentos, práticas e experiências dos sujeitos,
visando a sua adequação à realidade da população. Assim, a articulação entre o conhecimento
científico e o saber popular são essenciais na implementação de ações de educação em saúde.
(OLIVEIRA, T. et al, 2008).
A enfermagem possui um papel importante e forte de educador. Neste contexto,
segundo Lopes (2009, p.273), o melhor recurso metodológico a ser utilizado pelo enfermeiro
será definido pelos próprios problemas cotidianos de cada profissional, pensando educação
em saúde como processo criativo, dialógico e de construção.
Entendo que, o maior índice de sobrevivência com melhor qualidade de vida da
população pediátrica depende da atuação dos cuidadores, pois geralmente são os que estão
presentes no momento de emergência pediátrica, porém também depende da educação em
saúde voltada para esta temática. Dessa forma, a demanda educacional dos cuidadores de
crianças em situações de emergências domésticas é essencial para realizar uma prática
educativa que atenda as reais necessidades dos cuidadores.
1.3 OBJETIVOS
1.4 JUSTIFICATIVA
1.5 RELEVÂNCIA
Rodríguez, Kolling e Mesquida (2007, p. 60), discorrem sobre como a educação pode
contribuir para a saúde e relatam que para a saúde exercer o papel sanitário e educativo, é
indispensável que a população tenha uma instrução que lhe permita aprender as medidas
recomendadas, além de se conscientizar da importância do cumprimento e divulgação das
mesmas.
A educação e a saúde são ambientes de produção e aplicação de saberes designados ao
desenvolvimento humano, havendo uma ligação entre esses dois campos de saberes. Assim, o
enfermeiro utiliza, mesmo que inconscientemente, um ciclo permanente de ensinar e de
aprender. (PEREIRA, A. L. F., 2003, p. 1529). A educação e a saúde são necessidades sociais
que devem ser garantidas pelas instituições governamentais, e a população acoplada ao seu
direito de desfrutá-las, possui o dever de cooperar para sua consolidação. (RODRÍGUEZ;
KOLLING; MESQUIDA, 2007, p.61).
Em relação às situações de emergências com crianças, seja estas com recém nascidos,
lactentes, pré-escolares e escolares, a enfermagem como profissão tem grande
responsabilidade na sociedade de projetar caminhos adequados de orientação a população, e
neste contexto inclui-se os cuidadores, devendo assim, preparar-se para ensinar esses
indivíduos a desenvolverem ações de cuidados básicos à crianças em situações de
emergências. (LIRA; MELO, 2002, p. 150).
Entretanto, educação em saúde deveria ser responsabilidade não só dos profissionais
de saúde, mas também dos órgãos do Estado, instituições, escolas e professores. Uma vez
que, um trabalho conjunto e integrado em todos os níveis, estabelece qual o conhecimento e a
melhor forma de oferecê-lo para a população, levando em conta o grau de informação e nível
escolar das pessoas para as quais é dirigida a educação em saúde. Ainda assim, deve-se levar
em consideração a sua maneira de pensar, de produzir e de perceber o mundo, permutando de
forma criativa o conhecimento comum com o científico de tal modo que se enriqueçam
mutuamente (PEREGRINO3, 2000; SANTOS4, 2001; VALLA5, 1996 apud RODRÍGUEZ
KOLLING; MESQUIDA, 2007, p. 64)
Os dados de morbimortalidade decorrentes de situações de emergência propiciam
algumas informações sobre o evento ocorrido, dentre elas as causas de morte e de doença, as
faixas etárias de alto risco para certos distúrbios e perigos e as áreas específicas para
realização de orientação em saúde. Estas informações são de extrema importância para que os
enfermeiros com o objetivo de oferecer uma assistência pautada nas verdadeiras necessidades
da população, oriente o planejamento de suas ações e implementação do cuidado de
enfermagem. (HOCKENBERRY; WILSON, 2011, p. 11).
Tais ações devem levar em conta as condições ambientais da localidade e as
características culturais, sociais e econômicas dos grupos populacionais, alvo das ações
educativas. (Oliveira, T. et al, 2008). Desta forma, deve-se desenvolver novas práticas de
saúde pautadas nas necessidades adequadamente identificadas da população. Portanto
atingindo práticas que vão além do modelo biomédico essencialmente curativo e centrado no
profissional e não no cliente. (MARTINS et al, 2007, p. 256).
A ação educativa em saúde é um processo dinâmico que tem como objetivo a
capacitação dos indivíduos e/ou grupos em busca da melhoria das condições de saúde da
população. (Martins et al, 2007, p. 256). De tal modo que essa prática com cuidadores de
crianças pede permitir que estes tornem-se portadores de conhecimentos básicos para
realizarem durante uma situação de emergência e mais confiantes para desenvolverem tais
práticas.
Vale apena lembrar que o processo de educação em saúde, não se estabelece através
de uma verdade imposta pelo educador, mas que proporciona a população que está passando
3
PEREGRINO, M. Uma questão de saúde: saber escolar e popular nas entranhas da escola. In: Valla VV, org.
Saúde e Educação. Rio de Janeiro: DP&A; 2000. p. 61-85.
4
SANTOS, BS. Um discurso sobre as Ciências. Porto: Afrontamento; 2001.
5
VALLA, VV. A crise de interpretação é nossa: procurando compreender a fala das classes subalternas.
Revista Educação e Realidade. 1996; v. 21, p. 117-190.
pelo processo de educação, de aceitar ou rejeitar as novas informações, podendo também,
adotar ou não novos comportamentos frente aos problemas de saúde. Assim sendo, não basta
apenas recomendar normas, mas sim, realizar a educação em saúde em um processo que
estimule o diálogo, a indagação, a reflexão, o questionamento e a ação partilhada. (MARTINS
et al, 2007, p. 256).
Pereira A. L. F. (2003, p. 1530), apresenta a prática educativa orientada pela
pedagogia da problematização, como a mais adequada pratica educativa em saúde. Pois a
identificação inicial dos problemas promove a valorização do saber do educando e
instrumentaliza-o para a modificação de sua realidade e de si mesmo, permitindo a efetivação
do direito às informações de forma a estabelecer sua participação ativa nas ações de saúde,
assim como para o desenvolvimento contínuo de habilidades humanas.
De tal modo que estas características e conseqüências encaminham os indivíduos para
uma sociedade mais democrática objetivando o desenvolvimento das potencialidades dos
indivíduos e coletividade. Esse pensamento é defendido por Freire, que afirma:
6
POLIT, D. F.; HUNGLER, B. P. Fundamentos de pesquisa em enfermagem. 3. ed. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1995.
dúvidas e necessidades desses sujeitos, visando a compreensão dos cuidados e dúvidas sobre a
temática.
Para a realização desta pesquisa foi desenvolvido um trabalho de campo. “O trabalho
de campo permite a aproximação do pesquisador da realidade sobre a qual formulou uma
pergunta, mas também estabelecer uma interação com os atores que conformam a realidade”.
(Minayo; Deslandes; Gomes, 2007, p. 61). Para o trabalho de campo desta pesquisa foi
utilizado como técnica de coleta de dados a Discussão de grupo.
Segundo Minayo (2004, p. 129), a Discussão de grupo tem como especificidade as
opiniões, relevâncias e valores dos participantes. Agindo coletivamente por fatos ou situações
específicas, de tal forma que ocorra a inter-comunicação sobre tais fatos, expondo-os,
influindo na consciência e no comportamento dos indivíduos.
A prática da Discussão de grupo utilizada para a realização dessa pesquisa e coleta de
dados foi baseada no Método da Roda de Conversa. Foram realizadas três (03) Rodas de
Conversas, quantidade necessária para que se atingisse a saturação dos dados. A
operacionalização do método na forma de roda constitui espaços coletivos de encontro, de
diálogo, de troca de experiências, onde os participantes podem se expressar, escutar os outros
e a si mesmos. Este espaço permite que ocorram debates acerca de uma temática,
desenvolvido para valorizar os saberes e os atores envolvidos, e isto proporciona a criação de
estratégias coletivas de mudança no modo como o trabalho se organiza. (NASCIMENTO;
SILVA, 2009; GOMES et al, 2008).
A Roda de Conversa é um momento especial de diálogo, interação e troca de idéias,
proporcionando comunicação e expressão dos participantes. Por meio de suas falas, modos de
agir e de pensar, os sujeitos iniciam discussões que possibilitam intervenções de
aprendizagem. Assim, os envolvidos na roda deparam-se com um conjunto de trocas de
experiências vividas e questões práticas, conversas, discussão e divulgação de conhecimentos.
(BRUM, 2009; NASCIMENTO; SILVA, 2009; MARTINHO; TALAMONI, 2007; GOMES
et al, 2008).
O coordenador do grupo, segundo Schrimshaw7 (1987, apud Minayo, 2004, p. 130),
deve usar técnicas para introduzir a discussão e mantê-la acesa, encorajar a palavra de todos
os participantes e observar as comunicações não-verbais e o ritmo próprio do debate, dentro
do tempo previsto, que geralmente não deve ultrapassar o tempo de discussão de 1:30 horas.
Neste contexto, o moderador da Discussão de grupo, deve atuar de forma estimulante e
7
SCRIMSHAW ,S. Anthropological Approaches for programme improvement. Los Angeles. University of
Califórnia, p.12, 1987.
criativa, cabendo a utilização de estratégias geradoras de discussões e reflexões acerca da
temática, como uma pergunta inicial, uma notícia, o fragmento de um poema, uma cena de
novela, uma situação-problema, palavras soltas, dentre outros.
A organização e gerência do grupo de discussão foi realizada pela pesquisadora, que
expôs a temática a ser discutida, a qual girou em torno da identificação das ações que os
cuidadores desempenham quando deparam-se com situações de emergências pediátricas
domésticas e quais as principais demandas educacionais relacionadas a temática. A partir de
tal ponto, os participantes apresentaram suas elaborações sobre a temática.
Uma estratégia relevante utilizada durante a realização da Discussão de grupo foi a
gravação da Roda de conversa através de um dispositivo de áudio a fim de facilitar a
transcrição dos dados para posterior avaliação.
Portanto, este tipo de pesquisa e métodos escolhidos possibilitou uma riqueza de
coleta de informações. Pois o trabalho de grupo em suma, instiga a fala dos sujeitos,
mobilizando todo o grupo, garantindo voz a todos, possibilidade de expressarem as suas
inquietações e vivências a cerca do tema, além de promover a troca de experiência e permitir
a colocação de idéias individuais no âmbito coletivo. Além disso, permite como forma
complementar um maior contato entre o pesquisador e os sujeitos da pesquisa, sendo possível
a coleta de informações relevantes que nem sempre estão implícitas nas falas, mas na
descrição de comportamentos e gestos, através da escuta e observação.
A pesquisa contemplou um número total de treze (13) sujeitos cuidadores, sendo estes:
nove (09) mães, um (01) pai; uma (01) avó; duas (02) tias, escolhidos aleatoriamente
conforme os critérios de inclusão. Os critérios de inclusão contemplaram sujeitos voluntários;
de idade igual ou superior a 18 anos; ambos os sexos; cuidadores que estavam no período da
pesquisa atuando como acompanhante de crianças internadas no setor de pediatria do Hospital
Universitário onde foi realizada a pesquisa que tivessem ou já tiveram filhos, ou mesmo sem
filhos, já atuaram ou atuam como cuidadores de crianças na faixa etária de 1 a 4 anos
internadas ou não. Os critérios de exclusão compreenderam sujeitos menores de 18 anos; e
cuidadores de crianças que não fossem da faixa etária de 1 a 4 anos.
Esta faixa etária da criança foi selecionada como critério de inclusão, pois atende aos
dados estatísticos relacionados a acometimentos de crianças à situações de emergências
abordadas. Neste contexto, assim como já relatado, as crianças de 1 a 4 anos são as mais
acometidas a situações de emergências pediátricas domésticas, como queimaduras, quedas e
ingestão de medicamentos e substâncias, e choque e em segundo lugar estão as crianças
menores de 1 ano. Assim sendo, optou-se por desenvolver a pesquisa com cuidadores
referentes ao grupo mais acometido, ou seja, nas crianças de 1 a 4 anos, pois este grupo
possibilitou abranger de melhor forma o problema investigado.
De acordo com Hockenberry e Wilson (2011, p. 86), crianças em idade pré-escolar
desenvolvem maior segurança na movimentação, tornando-se mais impulsivas e curiosas.
Esta é a idade do explorar e do brincar. As crianças gostam de subir na cama, em escadas e de
explorar partes da casa. Têm interesse em explorar armários de louças, medicamentos, mesas
de cabeceira, interior do guarda-roupa, geladeiras, fornos e conseguem abrir muitos
recipientes. Sentem-se “atraídas” pelo fogo, comem rapidamente e podem se engasgar, além
de gostar de brincar na água. Todas estas características refletem nas altas taxas de acidentes
domésticos que acontecem diariamente com as crianças desta faixa etária, pois elas por sua
vez, não sabem julgar o perigo em algumas de suas ações.
Sendo assim, depois da exposição das imagens foi solicitado que os cuidadores
relatassem o que fazem quando deparam-se com estas situações de emergências e quais os
cuidados por eles desenvolvidos, além de suas dúvidas em relação a temática. Cada
participante seja por uma forma direta ou indireta, instigou a fala do outro, através de
argumentos e contra-argumentos, e posicionamentos dos participantes. Desta forma atendendo
a atividade proposta, os participantes apresentaram suas elaborações sobre o tema.
3.5. OS ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA
Segundo a Resolução 196/96, que visa assegurar os direitos e deveres que dizem
respeito à comunidade científica, aos sujeitos da pesquisa e ao Estado, pesquisa envolvendo
seres humanos é a pesquisa que, individual ou coletivamente, envolva o ser humano, de forma
direta ou indireta, em sua totalidade ou partes dele, incluindo o manejo de informações ou
materiais. Neste contexto, toda pesquisa envolvendo seres humanos deverá ser submetida à
apreciação de um Comitê de Ética em Pesquisa (CEP). (Brasil, 1996).
Atendendo a esta condição, o projeto de pesquisa foi encaminhado ao CEP – do
Hospital Universitário o qual foi realizado a pesquisa e foi analisado e aprovado na Reunião
com data de 04/11/11. (Anexo 1). Assim, a pesquisa foi desenvolvida mediante aprovação do
CEP atendendo aos pré-requisitos estipulados pela Resolução nº 196/96. Desta forma, esta
pesquisa é pautada em princípios éticos que respeitam a dignidade humana e justiça,
assegurando que não ocorreu e não haverá nenhum tipo de dano aos participantes.
Todos os cuidadores os quais atenderam ao critério de inclusão e que desejaram
participar voluntariamente da pesquisa, assinaram duas vias do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido, (Apêndice 2), autorizando sua participação voluntária na pesquisa. Uma
via foi entregue ao participante e outra ficou arquivada com a pesquisadora. Nesse
documento consta os objetivos da pesquisa, procedimentos, riscos e desconfortos, benefícios
previstos, garantia de recusa de participação em qualquer momento, garantia de acesso aos
resultados da pesquisa e a garantia de acesso ao pesquisador quando os sujeitos julgarem
necessário, todas essas informações em linguagem acessível e simples. (Brasil, 1996).
Atendendo assim, as exigências da Resolução 196/96.
Nesse capítulo, apresento as duas categorias temáticas que emergiram após a análise
de dados. Estas categorias responderam satisfatoriamente aos objetivos da pesquisa, trazendo
assim considerações e dados importantes a serem discutidos. Na categoria denominada “O
cuidado familial e o limite entre o erro e o acerto no cuidado a criança em situações de
emergências pediátricas domésticas” serão apresentados e descritos como os cuidadores
realizam os cuidados a criança quando deparam-se com situações como: quedas e cortes;
queimaduras; ingestão de medicamento e substâncias; e choque.
Entende-se cuidado familial como o cuidado que acontece no mundo da vida, por meio
das relações sociais, contribuindo para a formação do sujeito à medida que proporciona a
apreensão de experiências e conhecimentos de seus antecessores. Além disso, o próprio
sujeito adquire suas próprias vivências, gerando assim significado particular de cada
indivíduo para cada situação. Através de todo esse processo tem-se a construção de valores,
crenças e símbolos, resultante dos saberes provenientes da família de origem; do ambiente
sociocultural, o qual as interações sociais entre parentes, amigos e vizinhos são peças
fundamentais no cuidado familial; e do convívio com a nova família, ou seja, as experiências
adquiridas no dia-a-dia. (ELSEN8 et al, 2002 apud STAMM; MIOTO, 2003, p.164).
Dessa forma, o cuidado familial por ser um cuidado baseado no que foi passado de
geração para geração e no saber da experiência feita, em alguns momentos esse cuidado
familial apresenta-se suficiente no atendimento da criança, porém em outras situações o
cuidado familial realizado não é o suficiente ou até mesmo o mais adequado. Por isso o
cuidador ao longo da sua história prossegue desenvolvendo um cuidado a criança em situação
de emergência pediátrica no domicilio beirando o limite entre o erro e o acerto. Evidenciando
8
ELSEN, I; Cuidado familial: uma proposta inicial de sistematização conceitual. In: ELSEN, Ingrid; MARCON,
Sônia Silva; SANTOS, Mara Regina dos. O viver em família e sua interface com a saúde e a doença. Maringa:
Eduem, 2002. p. 11-24.
assim, a necessidade de preparo desse cuidador para atender as crianças em situações de
emergência, de forma que o primeiro atendimento feito por esses cuidadores, ou seja, o
atendimento pré-hospitalar, não leve ao maior prejuízo da criança e não venha a prejudicar o
cuidado no âmbito hospitalar.
Na segunda categoria, denominada “As demandas educacionais dos familiares
cuidadores de crianças em situações de emergências pediátricas domésticas”, serão
apresentadas as dúvidas dos cuidadores, extraídas das suas próprias falas, em relação a como
agir diante das situações abordadas e qual o cuidado que deve ser feito a criança. Através das
dúvidas identificadas e da falta de certeza em como deve ser realizado o cuidado diante das
situações abordadas, foi possível identificar a demanda educacional desses cuidadores em
relação a temática pesquisada.
Outro cuidado além do gelo, que apareceu nas falas dos cuidadores foi o fato de não
permitir que a criança durma, se a mesma cair e bater a cabeça. Pois os familiares através do
ensinamento popular afirmam que esse cuidado deve ser feito nessa situação. Muitos afirmam
que esta prática é para observar se vai ocorrer alguma complicação com a criança depois da
queda, como alterações no nível de consciência e dor, e muitos apenas realizam a prática, pois
“as pessoas” dizem que é o que deve ser feito.
Se a criança cai e bate a cabeça não pode deixar a criança dormir porque tem que
observar. Fiquei pra lá e pra cá com meu filho quando ele caiu e bateu a cabeça,
não deixei ele dormir. (Cuidadora Falcatrua).
Minha avó, mãe, e outros parentes sempre falam que se a criança cair, para não
colocar a criança pra dormir. Porque se a criança dormir, ela pode piorar e a gente
não perceber. Então a importância de não deixar dormir é para ver se a criança
está inconsciente. Se ela dormir, não dá para saber se a criança está bem ou se está
com algum problema. Se a criança sentir alguma coisa, não vai saber. (Cuidadora
Arruda).
O uso do gelo e não deixar a criança dormir após a queda exemplificam o limite entre
o erro e o acerto. Na fala dos cuidadores percebemos, de maneira geral, um cuidado familial
que atende as demandas de cuidado das crianças em situação de queda, cuidado este
desprovido de qualquer explicação científica para esses cuidadores, pois eles afirmam que
realizam esses cuidados baseados apenas no ensinamento popular. A partir dos significados
das falas dos cuidadores podemos entender a afirmação de Rossi e Rodrigues (2010, p.641),
em que “o mundo da vida” nos coloca em relação uns com os outros, por meio de nossas
ações carregadas de significações nele exercidas, que expressam as vivências pessoais de cada
sujeito envolvido e isto por sua vez reflete na forma de cuidado realizado por esses
indivíduos, que vai sendo repassado de geração para geração.
Os cuidadores estão certos quando afirmam que utilizam o gelo logo após a queda da
criança e quando observam a criança após bater a cabeça. A literatura científica possui
explicações que baseiam a realização desses cuidados como adequados nessas situações.
Oliveira (1990, p. 139) afirma que após pancadas, hematomas, lesões musculares recomenda-
se a aplicação de gelo, já que este é o tratamento de escolha, de imediato, para as lesões
agudas em geral. Pois quando utilizado adequadamente diminui a quantidade de tecido lesado,
o edema, o espasmo muscular, a dor e o tempo de incapacidade, permitindo recuperação
rápida da lesão. (OLIVEIRA, O., 1990, p. 139).
Neste contexto, Potter e Perry (1998, p.919) trazem os efeitos terapêuticos da
crioterapia, ou seja, aplicação de frio, esta conduta gera benefícios ao local lesado como:
vasoconstrição, reduzindo o fluxo sanguíneo para o local lesado, prevenindo a formação de
edemas e reduzindo a inflamação; efeito anestésico e diminuição da tensão muscular,
reduzindo a dor localizada; aumento da viscosidade sanguínea, promovendo a coagulação do
sangue no local lesado. Porém este cuidado deve ser realizado imediatamente após a
ocorrência do trauma direto, pois depois do local apresentar edema, a aplicação fria não é
mais indicada. Assim os cuidadores acertam o seu cuidado quando utilizam o gelo após a
queda das crianças. Pode-se dizer que o erro está presente na fala da cuidadora que afirma
colocar gelo para diminuir o edema e não para sua prevenção. Esta ação por sua vez também
baseada no cuidado familial.
Em relação ao cuidado de não permitir que a criança durma após uma queda quando
bate a cabeça, os cuidadores afirmam corretamente o porquê da realização deste cuidado. A
fala da cuidadora Arruda exemplifica muito bem o cuidado familial acertado. Nesse contexto,
a literatura científica relata características específicas na criança que devem ser consideradas
em caso de trauma, como o suporte musculoesquelético insuficiente na cabeça da criança. Isto
eleva a incidência de trauma fechado e traumas pediátricos mais graves, que quando ocorrem
costumam comprometer vários sistemas. Desta forma, é indicado levar a criança para uma
avaliação de um profissional de saúde e observar esta criança a fim de identificar sinais
indicativos de um trauma que demande atendimento hospitalar urgente. (HOCKENBERRY;
WILSON, 2011, p. 1009).
Deste modo é indispensável ficar atento para sinais que podem indicar além do
trauma, algum comprometimento neurológico como: diminuição do nível de consciência da
criança, dificuldade respiratória, alterações motoras, observar se a criança mantém-se
orientada, se há vômito, letargia e sonolência. Portanto na realidade não é que a criança não
possa dormir, mas, se a criança dormir não será possível observá-la e identificar sinais de
complicações. Neste contexto, podemos observar através das falas dos cuidadores o cuidado
familial desprovido de explicações científicas visto que os cuidadores relatam não ter certeza
do porquê da realização do cuidado ou até mesmo afirmam apenas realiza-lo devido
orientações, no entanto conseguem realizar o cuidado ideal nesta situação. .
(HOCKENBERRY; WILSON, 2011, p. 998).
Um cuidado diferencial relatado por uma cuidadora foi o fato de utilizar uma faca para
auxiliar na diminuição do edema causado pela queda. E este cuidado também reflete as
informações adquiridas pelo o seu meio social e o aprendizado popular.
Se a minha filha cair e ficar inchado, eu pego uma faca, aperto em cima onde está
inchado e faço uma cruz, apertando. (Cuidadora Família Buscapé).
Se a criança caiu no chão e ficou com a cabeça inchada eu levaria para o médico.
Quando a criança cai às vezes eu coloco um pouquinho de compressa quente, um
pouquinho gelado. (Cuidadora Girassol).
Depende da forma que a criança caiu. Se a criança não tiver normal, se tiver
alguma coisa estranha, tem que levar pra tirar uma tomografia da cabeça, pra ver
se não deu nada ou algo mais. Lá o médico vê o que tem que colocar. (Cuidadora
Flor).
Nesta situação o fato dos cuidadores relatarem que levariam a criança para o hospital é
muito importante, pois nos casos relatados as crianças demandavam atendimento de
profissionais de saúde. Em relação ao uso das compressas frias e quentes alternadas,
mencionada pela cuidadora Girassol, a literatura descreve esta forma de terapia mista ou de
contraste como muito usada pós-imobilização, pois a alternância de compressas quentes e
frias, acabam funcionando como uma bomba, estimulando a circulação de sangue na região
imobilizada como o membro inferior após a retirada de gesso. (OLIVEIRA, O., 1990, p. 140).
Além disso, aplicação de gelo em pancadas pode ocorrer nas primeiras 24/ 48 horas.
E após esse tempo, em casos indicados, pode-se iniciar aplicação de compressas de água
quente. Este procedimento é explicado devido o frio contrair os vasos sanguíneos diminuindo
a sangria. E o calor, aplicado quando não há mais perigo de hemorragia, dilata os vasos
provocando afluxo de sangue ao local e apresentando regeneração dos tecidos. Isso demonstra
que o cuidado relatado pela cuidadora não está fora das explicações científicas, no entanto
para a realização desta prática o cuidador deve ser devidamente orientado por um profissional
de saúde para realiza-la quando indicada, a fim de não causar complicações e piora no estado
da criança. (OLIVEIRA, O., 1990, p. 140).
Em relação aos cortes alguns cuidadores utilizam pó de café, açúcar e sal para cessar o
sangramento. Alguns relatam que utilizam antissépticos na lesão, como iodopovidona e
clorexidina tópica, outros lavam com sabão. Podemos observar nesses relatos que o uso do pó
de café, açúcar, sal, cabelo para cessar o sangramento, são recursos altamente ligados a
questões populares e ensinamentos familiares que são repassados de pais para filhos. Em
contra partida, a utilização de medicamentos na lesão e lavar com água e sabão estão ligado
não somente ao cuidado familial, mas também ao cuidado profissional, pois os cuidadores que
utilizam esses produtos, provavelmente já viram ou escutaram algum profissional utilizando
esses produtos. Então este também é um cuidado que é repassado de geração a geração.
Seguem algumas falas:
Quando corta, eu acho que é bom lavar com sabão e passar povidine® ou
mertiolate®. E minha mãe costuma dizer que também é bom lavar com vinagre pra
parar de sangrar. (Cuidadora O Senhor é minha vida).
Dá ultima vez que eu coloquei o pó de café parou de sangrar na hora, mas depois
eu tirei porque sei lá se poderia infeccionar. Tem gente que coloca até rapadura em
cima do sangramento e depois leva para o hospital. (Cuidadora Rosa).
Quando o machucado está sangrando, tem que jogar uma “aguinha” com sal para
estancar o sangue. Oh, eu falei errado, não é sal não, é açúcar. E depois eu vou
cuidar do machucado: lavar com água, água oxigenada de 10 volumes e passar
uma pomada. Mas não vai curar, tem que depois procurar um médico. (Cuidadora
Planta Cheirosa).
O uso do cabelo para cessar o sangramento foi um cuidado relatado por apenas um
cuidador, o que mostrou-se uma novidade para os cuidadores participantes da Roda de
Conversa no cuidado a essa situação.
Eu coloco cabelo no corte para parar de sangrar. Pega um cabelo, coloca em cima,
que para de sangrar na hora. Eu já fiz isso, é só cortar o cabelo e colocar em cima
do sangramento. É só colocar e depois tirar. E depois leva no posto de saúde para
fazer o curativo. Eu acho que usar essas coisas como açúcar, café também funciona
para parar de sangrar. (Cuidador Beija-flor).
Uma vez meu filho decepou a ponta do dedo com a tesoura. Eu peguei a fralda dele,
torci, coloquei de volta a pontinha do dedo dele no local, enrolei, amarrei e levei
para o hospital. Do meu ponto de vista eu faço assim, pois a maioria das vezes que
eu escuto é que temos que estancar com alguma coisa que aperta, com um pano até
você conseguir um socorro maior e melhor. E quando chegamos no hospital, “o
médico” tirou a fraldinha, pegou, lavou e costurou. (Cuidadora Rosa Vermelha).
Se a criança estiver com algum objeto perto da queimadura, acho melhor retirar.
Ah, porque pode ter uma bactéria no anel, e piorar a queimadura. Eu tiraria o anel
porque está arriscado até perder o dedo, pode dá uma infecção, pode dá pus, sei lá.
E se estiver com roupa também tira a roupa. (Cuidador Beija-flor).
Se a criança queimou uma mãozinha, e naquela mão ela tava com um anel, eu vou
cortar o anel. Eu retiro logo, porque sei lá, depois o dedo pode inchar e o anel vai
ficar apertando. O negócio todo é que vai prejudicar a circulação ali não é? Porque
vai apertando e apertando. E se a criança estiver de roupa, eu tiro a roupa toda.
(Cuidadora Família Buscapé).
Se a criança queimou uma mãozinha e tem um anel ou uma pulseira eu acho que
não tem nada haver não. Não precisa tirar. Colocando um remédio, com 2 ou 3 dias
vai desinchando, vai inchar até o limite do anel. E eu acho que eu tiraria a roupa
para não agarrar no local e para não provocar mais queimadura. (Cuidadora
Planta Cheirosa).
Eu não daria leite para o meu filho se ele bebesse desinfetante ou amaciante. Eu
levaria ele para o hospital para fazer uma lavagem. (Cuidadora Lene).
De acordo com as falas acima os principais cuidados relatados pelos cuidadores foram
a administração de leite, administração de água e êmese provocada. Essa tentativa de
descontaminação realizada pelos cuidadores é a etapa em que se procura diminuir a exposição
do organismo da criança ao tóxico, através da redução do tempo e/ou a superfície de
exposição, ou através da redução da quantidade do agente químico em contato com o
organismo (Ferreira et al, 2001, p. 11). Porém segundo Ferreira (2001, p.11), procedimentos
como a administração de líquidos, como água ou leite, podem aumentar a absorção do tóxico
ingerido e medidas como êmese provocada, podem agravar ainda mais a situação,
dependendo da composição do produto e das condições da criança.
A exposição de crianças a agentes tóxicos ocorre principalmente por meio do sistema
digestivo. Segundo Schvartsman9 (1991, apud Aleixo; Itinose, 2001, p. 10), em algumas
intoxicações como, por exemplo, as causadas pelos produtos derivados de petróleo e com
substâncias caústicos, o cuidado de oferecer leite para as crianças que estão em situação de
intoxicação de medicamentos e substâncias é contra-indicada por apresentar riscos de
complicações e /ou piora do quadro, podendo ocasionar pneumonia aspirativa e estenose de
esôfago.
Em relação as condutas apontadas pelos cuidadores, uma das práticas mais relatadas é
a êmese. No âmbito científico, há relatos na literatura do uso de produtos indutores de vômito,
no tratamento de situações de ingestão de substâncias ou medicamentos. Porém atualmente
essa medida terapêutica não é mais recomendada devido o risco de danos aos tecidos expostos
à substância tóxica mais de uma vez, o que ocorre caso o paciente vomite. Além disso, em
caso de pacientes em coma ou convulsões, ou seja, pacientes com vias aéreas desprotegidas,
induzir o vômito pode aumentar o risco de aspiração nesses pacientes. Portanto hoje como
principais medidas de descontaminação são utilizadas a lavagem gástrica e o carvão ativado.
(BARBOSA, 2011, p.51; OLIVEIRA; MENEZES, 2003, p. 473).
A lavagem gástrica citada pela cuidadora Lene é o procedimento realizado com maior
frequência. Porém, possui contra-indicações como nos casos de ingestão de corrosivos, pela
possibilidade de haver perfuração esofagogástrica; ingestão de compostos hidrocarbonetos
pela possibilidade de pneumonite, se houver aspiração; e coma. O ideal é que a lavagem
gástrica quando indicada, seja realizada em até 2h após a ingestão do conteúdo. O controle
das convulsões e a proteção das vias aéreas, nos pacientes comatosos, são as precauções
necessárias antes de se proceder à lavagem do conteúdo gástrico. (OLIVEIRA; MENEZES,
2003, p. 473).
Já o carvão ativado geralmente é a medida posterior à lavagem gástrica. As contra-
indicações mantém-se as mesmas para a lavagem gástrica e adicionando-se quando a
peristalse está ausente. Seu efeito é melhor dentro da primeira hora após a intoxicação. Seu
mecanismo de ação consiste na absorção de compostos, não somente os presentes na luz
intestinal, mas, também aqueles já absorvidos. A primeira dose deve ser drenada do estômago
após 30 minutos e as demais devem permanecer no trato gastrointestinal para eliminação com
as fezes. Porém o carvão ativado não tem efeito contra alguns compostos, entre eles: álcalis
cáusticos, lítio, álcoois e sais de ferro. (OLIVEIRA; MENEZES, 2003, p. 473).
9
SCHVARTSMAN, S. Intoxicações agudas. 4. ed., São Paulo: Sarvier, 1991.
Desta forma podemos perceber que os cuidados relatados pelos cuidadores não estão
de acordo com a literatura científica, o que reforça a importância de cuidadores
instrumentalizados para lidarem com essas situações.
Um fato importante mencionado por alguns cuidadores em relação a situação de
ingestão de medicamentos e substâncias foi a importância de levar o recipiente do produto
que a criança ingeriu para o serviço de saúde.
Eu acho que deve levar o pote do produto, para que no hospital eles possam saber o
que a criança bebeu. (Cuidadora Rosa Vermelha).
Eu também acho importante levar o vidro do produto para o hospital, para que eles
saibam o que a criança bebeu. (Cuidadora Rosa).
O mecanismo das lesões por choque elétrico não é completamente entendido, acredita-
se que os danos resultam dos efeitos diretos da corrente e conversão da eletricidade em calor
durante a passagem pelos tecidos. A gravidade das lesões é determinada por diversos fatores,
entre eles: a voltagem, a intensidade, o tipo e o padrão da corrente; a duração da exposição; a
resistência dos tecidos; a superfície de contato e a extensão do envolvimento. (MAGARÃO;
GUIMARÃES; LOPES, 2011, p. 289-91; BARBOSA, 2011, p.35).
Os achados encontrados nas lesões por choque elétrico variam desde queimaduras
superficiais a disfunção de múltiplos órgãos e sistemas, que comumente evolui para óbito. As
principais apresentações clínicas são: perfuração da membrana timpânica, catarata, pupilas
fixas e dilatadas ou assimétricas, queimaduras na face e pescoço, lesões da medula espinhal e
traumatismo cranioencefálico em choque de alta voltagem. (MAGARÃO; GUIMARÃES;
LOPES, 2011, p. 289-291).
As queimaduras cutâneas são as complicações mais frequentes e podem variar de
queimaduras de 1º a 3º. Quanto menor a área do corpo, maior a intensidade do calor e menor a
área para dissipação. Por isso, pequenas partes do corpo como dedos, mãos, pés e antebraços
apresentam maior dano que o tronco. Porém deve atentar para o fato que o grau de lesão
externa pode subestimar a lesão interna, especialmente nos casos de lesões por baixa-
voltagem. Nesta situação, queimaduras superficiais pouco significativas podem coexistir com
coagulação muscular maciça e necrose além de comprometimento de outros órgãos e vísceras.
(MAGARÃO; GUIMARÃES; LOPES, 2011, p. 289-91; BARBOSA, 2011, p.35).
Em relação ao sistema cardiovascular aproximadamente 15% dos pacientes
desenvolvem arritmias, geralmente benignas até 48 horas após a lesão. A parada
cardiorrespiratória (PCR) por fibrilação ventricular ou assistolia é a principal causa de óbito
após a lesão elétrica. Os pacientes também podem apresentar perda transitória da consciência,
confusão mental e déficits de memória. Nos casos em que ocorrem traumatismos cranianos é
frequente o aparecimento de depressão respiratória e evolução para o coma. O aparecimento
de fraqueza e parestesias podem ocorrer poucas horas após a lesão e comprometimento dos
membros inferiores é mais comum do que dos membros superiores. Lesões neurológicas
tardias podem se apresentar dias ou anos após a lesão. E no sistema respiratório pode ocorrer
o comprometimento do centro respiratório e contusão pulmonar por lesão traumática com
hemoptise e hemorragias. (MAGARÃO; GUIMARÃES; LOPES, 2011, p. 289-291).
É indispensável que a pessoa que prestará socorro certifique-se de que a vítima do
choque não está em contato com a fonte de energia, que esta esteja desligada e que o local é
seguro para iniciar a abordagem. A maior causa de morte é o desenvolvimento de PCR, deve-
se assim utilizar o protocolo do Advanced Cardiology Life Support (ACLS) de suporte básico
de vida em pediatria para PCR. Pacientes que não possuem esta condição apresentam chances
muito pequenas de morrer, porém sempre deverão ser encaminhados para avaliação médica
para uma investigação mais detalhada, devido as chances de complicações. (MAGARÃO;
GUIMARÃES; LOPES, 2011, p. 289-91; BARBOSA, 2011, p.35).
Portanto baseado no que a literatura científica afirma e a partir das falas dos
cuidadores podemos perceber a falta de preparo para lidar com uma criança vítima de choque,
além de identificarmos nas falas um potencial de gravidade nas situações relatadas, que
poderia necessitar de reanimação cardiopulmonar e de um atendimento profissional, como nas
falas dos cuidadores Empadão e O Senhor é minha vida. Este fato exemplifica mais uma vez o
cuidado familial não apropriado para o cuidado especializado que a criança necessita nessa
situação.
De forma geral, através da análise desta categoria entende-se que o cuidado familial
ainda é o cuidado que norteia as ações desempenhadas pelos cuidadores quando as crianças
estão em situações de emergências pediátricas domésticas. Percebe-se que os cuidadores
trazem na descrição de como o cuidado é realizado, o limite entre o erro e o acerto. E esses
cuidados são praticamente todos baseados no cuidado familial. Entendo ainda que nem
sempre o cuidado familial é suficiente para a complexidade do cuidado exigido por
determinadas situações, o que sugere a importância da instrumentalização e do preparo dos
cuidadores para lidarem com essas situações. Desta forma é primordial orientar os cuidadores
sobre o que realmente deve ser feito nessas situações, levando em consideração o que esses
sujeitos já aprenderam e adquiriram através dos ensinamentos popular, familiar e social.
Assim, o enfermeiro enquanto profissional de saúde, conhecendo o que habitualmente
é feito pelos cuidadores, deve traçar uma intervenção educativa para essa temática. Pois fala-
se muito mais em prevenção de acidentes domésticos do que de tratamento, ações rápidas que
devem ser realizadas no momento do acidente. É claro que a prevenção é de extrema
importância, pois se não ocorrer esses acidentes, não é necessário um tratamento. Além disso,
é essencial para a diminuição do número desses acidentes. Porém sabemos que criança
sempre está se machucando e se acidentando, levando ainda em consideração a idade
escolhida para tal pesquisa, de 1 a 4 anos, crianças nessa idade passam pelo processo natural
de exploração e conhecimento do ambiente que está relacionado ao seu desenvolvimento, isso
por sua vez, contribui para novos casos de acidentes domésticos.
Sabemos ainda que o tipo da lesão e as circunstâncias envolvidas estão altamente
relacionadas ao crescimento normal e ao comportamento nas etapas do desenvolvimento. À
medida que a criança se desenvolve, sua curiosidade inata a leva a investigar atividades e a
imitar comportamentos dos outros e isso predispõe as crianças a inúmeros perigos.
(Hockenberry; Wilson, 2011, p. 3). Desta forma, é necessário instrumentalizar os cuidadores
quanto os cuidados básicos e mais complexos em situações de emergências pediátricas
domésticas, pois algumas situações exigem do cuidador o conhecimento do saber científico,
para assim prestar um primeiro socorro eficaz e evitar maiores complicações para a criança.
Através das falas dos cuidadores e da forma relatada por eles de como é realizado o
cuidado às crianças nas situações de quedas e cortes; queimaduras; ingestão de medicamentos
e substâncias; e choque emergiram-se muitas dúvidas, estas dúvidas ás vezes relatadas
claramente pelos cuidadores e outras através da dúvida no que fazer no momento ou até
mesmo através de um cuidado relatado pelo cuidador que é dito pela literatura como não
recomentado. Isso mostrou que há uma importante lacuna de conhecimento dos cuidadores e
deficiência na instrumentalização e diálogo entre os profissionais de saúde e os cuidadores em
relação essa temática.
Um fator que merece destaque é que através da utilização da Roda de conversa
algumas dúvidas mencionadas por cuidadores que surgiram durante a coleta de dados, foram
sendo sanadas pelos próprios participantes da Roda, que respondiam as dúvidas de alguns
cuidadores de acordo com o seu conhecimento. Isso demonstra o quão ricas são as
experiências populares e a importância da troca de saberes entre as pessoas.
No contexto da demanda educacional dos cuidadores, seguem algumas falas que
exemplificam o fato dos cuidadores afirmarem que apesar de realizarem certos cuidados como
o uso do gelo, da faca e o fato de após a criança cair e bater com a cabeça, não deixa-la
dormir, são cuidados utilizados devido às pessoas dizerem que é apropriado, essas pessoas são
os familiares e pessoas do seu contexto de vida, que trazem o saber popular para a vida dos
cuidadores.
Eu não sei, mas esse negócio de colocar gelo deve ser mito então. Eu não sei o
porquê da compressa de gelo. As pessoas que mandam colocar, porque é bom.
(Cuidadora Girassol).
Eu acho que o gelo pode ajudar para melhorar o roxo. Eu não sei o certo, eu iria
ver o que eu posso fazer na hora. (Cuidadora: Planta Cheirosa).
Eu não sei se o uso da faca melhora, mas “vou na lenda”, sigo a lenda. No
desespero a gente acaba fazendo qualquer coisa. (Cuidadora Família Buscapé).
Quando a criança cai e bate com a cabeça no chão, eu não sei se é verdade ou
“mito”, mas falam que não pode deixar dormir. Mas eu também não sei o porquê
disso. (Cuidadora Girassol).
Eu não tenho idéia do que podemos causar quando usamos pó de café e açúcar no
ferimento para parar de sangrar. Só seguimos mesmo as orientações de pai, mãe,
avó. Mas não sei o que é certo. (Cuidadora Girassol).
Eu não sei se é bom colocar água gelada na queimadura. Será que não dá choque
térmico? Eu não sei direto o que fazer nesses casos. (Cuidadora Lene).
A manteiga não alivia nada não, continua queimando. Mas na hora a gente que não
sabe, coloca qualquer coisa. (Cuidadora Família Buscapé).
Os cuidadores afirmam que apesar de realizarem esses cuidados, muitas vezes não
sabem se funciona ou se é apenas um ensinamento popular. Além de relatarem muitas vezes
não saber o porquê, se deve ou não fazer a utilização de determinado produto e de
determinado cuidado, mostrando não ter certeza se a prática realizada é eficaz. Além disso,
confirma que no momento em que ocorrem esses tipos de situações, com o desespero
enquanto cuidadores, e vontade de fazer algo que auxilie na melhora ou evite complicações na
criança, tendem a fazer qualquer cuidado. Segue a fala da cuidadora Rosa Vermelha, a qual
afirma que se passasse por situações de emergência pediátrica doméstica faria o que pensasse
na hora, seguindo o “reflexo de mãe”:
Tem coisa que é no reflexo, “o reflexo de mãe”, porque filho é no dia a dia, não
adianta. Cada um cuida de um jeito, na hora eu não sei o que fazer, mas você vai
fazer alguma coisa. Filho é vida, dia a dia. (Cuidadora Rosa Vermelha).
Isto reafirma o que vem sendo discutido ao longo da pesquisa, acerca do despreparo
dos cuidadores para agir nessas situações. Dessa forma, muitas ações relatadas pelos
cuidadores refletem o nervosismo, falta de preparo e instrumentalização dos cuidadores no
que deve ser feito com a criança em situações de emergências pediátricas domésticas.
Em muitas situações os cuidadores afirmam que não sabem o que fazer e os danos que
podem ser causados nas crianças, como no caso da provocação de vômito, oferecer leite a
criança que ingere substância ou medicamento, e retirar ou deixar roupas e adornos, como
anel e pulseira no local da queimadura. Seguem algumas falas:
Eu não sei o que fazer se a criança queimar a mão e tiver algum anel, uma pulseira,
não sei de devo tirar ou deixar. (Cuidadora Girassol).
Eu nunca ouvi falar se é para deixar ou tem que tirar os adereços. E esse negócio
de roupa eu também não sei o que eu iria fazer. Eu no momento não tenho idéia do
que fazer. E se tirar a roupa e a pele sair junto, já pensou? (Cuidadora Rosa
Vermelha).
Eu não sei, quando a criança bebe o leite, corta mesmo a substância? (Cuidadora
Lene).
Se a criança engolisse algum comprimido eu não sei o que fazer e o dano que pode
causar para as crianças quando acontecem essas coisas. (Cuidadora Girassol).
A minha filha já bebeu um vidro de antibiótico. Eu não fiz nada. O que eu ia fazer?
(Cuidadora Planta Cheirosa).
A gente não sabe o que pode “dá” depois do choque. Não sei o que um choque pode
causar na criança e não sei o que fazer se a criança levar um choque. (Cuidadora
Flor).
Se a criança desmaiar eu não sei o que fazer não. É pular, abanar, sacudir. A gente
deveria saber como fazer aquela massagem. (Cuidadora Rosa).
10
ELSEN, Ingrid. Concepto of health and illness and related behaviour among families living a brasilian fishing
village. 1984. (Tese Doutorado - Ciências de Enfermagem) - University of California, San Francisco, 1984.
Para Freire, (1987, p.8) reproduzir uma realidade sem pensar sobre ela é chamado de
visão ingênua da realidade. Para ele a prática problematizadora propõe uma mudança de
percepção dos homens sobre sua realidade, transformando a visão ingênua dos sujeitos para
uma visão mais crítica sobre sua realidade. A partir disso, acredita-se que será possível chegar
ao objetivo de uma educação/alfabetização problematizadora e libertadora.
Freire (1987, p.42) afirma ainda que o diálogo entre educador e educando, numa
perspectiva libertadora, passa a dar visibilidade daquela situação como algo passível de
mudança, e se desenvolve um clima de esperança e confiança que leva os homens a se
empenharem na superação destas situações limites. Ou seja, com a educação
problematizadora, há a transformação de uma visão ingênua para uma visão crítica da
realidade.
A partir dessa problemática podemos perceber que por trás dessa falta de visão crítica
e conhecimento dos cuidadores, pode estar presente a falta de diálogo entre os cuidadores e os
profissionais de saúde. Pois a partir dos depoimentos apresentados, é possível perceber que
muitas situações de emergências pediátricas domésticas aconteceram mais de uma vez com a
mesma criança, e como o cuidador não foi instrumentalizado por um profissional de saúde,
ele continua sem saber o que fazer em determinada situação. Entende-se ainda que exista a
possibilidade desse cuidador ter procurado um serviço de saúde apenas para um cuidado
resolutivo, porém não procurou saber se o cuidado que realizou foi correto. Uma das
explicações para tal fato segundo Zanatta e Motta (2007, p.560), pode ser relacionado pela
credibilidade e facilidade de acesso as condutas populares, pelo custo reduzido e pela
proximidade das pessoas que as recomendam. Outro aspecto é a dificuldade de acesso aos
serviços de educação em saúde para esta temática.
Além disso, ainda neste contexto o profissional de saúde muitas vezes não se preocupa
em instrumentalizar esse cuidador. Portanto os cuidadores continuam com as dúvidas em
relação aos cuidados que devem ser realizados com as crianças em situações de acidentes
domésticos, o que implica em um atendimento muitas vezes inadequado a criança. Portanto,
cabe reiterar, a importância dos profissionais de saúde empregarem mais tempo ao
atendimento à população, interagir com ela, preocupar-se com a qualidade do atendimento,
reconhecer as pessoas como portadoras de saberes, com necessidade de serem ouvidas e com
direito de serem atendidas e instrumentalizadas.
Sem dúvida esta ação do profissional de saúde é um caminho difícil para quem está
acostumado a tomar todas as decisões relativas ao processo saúde-doença. Exige-se dos
profissionais uma diversificação de enfoques teóricos e práticos em todas as áreas do
conhecimento humano. Isto significa que a intervenção deve ser não só no sentido de
reconhecer a existência de um sistema profissional e de um sistema popular de saúde, mas
também de preservar o cuidado já conhecido pelo cuidador, seja acomodando-o ou
repadronizando-o. (MARCON; ELSEN, 1999, p.23)
Em exemplo disso, é o fato de quando a criança cai e bate a cabeça, ao invés de
colocar gelo para evitar a formação de hematoma e de edema, coloca-se uma faca, o que é
exemplificado pela fala da cuidadora Família Buscapé. Entendo que mesmo sem haver uma
explicação científica para tal cuidado, precisa-se que o cuidador entenda o cuidado que está
sendo realizado, como ele funciona, e se este tem alguma ligação científica, entendendo assim
que o importante nessa situação é a compressa fria. Estas ações favorecem o respeito as
crenças e os ensinamentos populares dos cuidadores e sempre que possível adequando o
cuidado familial ao saber científico.
Este tipo de atitude profissional, a de reconhecer e compreender as diferenças de
saberes, respeitando-as e introduzindo quando necessário no saber popular o conhecimento
dos malefícios dessa prática, possibilita um cuidado equivalente com as reais necessidades do
indivíduo ou sua família. (Marcon; Elsen, 1999, p.23) Assim, o dialogo entre os profissionais
de saúde e cuidadores favorece um relacionamento de confiança e a obtenção de bons
resultados para assistência com qualidade às crianças em situações de emergências pediátricas
domésticas. O sujeito cuidador também precisa saber ouvir, estar presente e respeitar o
profissional de saúde, assim como o conhecimento e experiências deste. Desta forma, ambos
se fortalecerão e poderão encontrar a solução para o problema de saúde. Isto remete a um
significado de humanização da assistência de enfermagem, através da interação entre os
cuidadores e profissionais de saúde. (SIQUEIRA, 200, p. 74).
Diante disso, percebe-se a necessidade de instrumentalizar os cuidadores para realizar
o cuidado nessas situações, pois para alcançar um nível adequado de saúde e ações
necessárias em situações de emergências pediátricas domésticas, os cuidadores precisam saber
identificar e satisfazer suas necessidades básicas. Devem ser capazes de adotar mudanças de
comportamentos, práticas e atitudes, além de dispor dos meios necessários à
operacionalização dessas mudanças. Neste sentido, a educação em saúde mostra-se como um
meio importante para que os cuidadores adquiram autonomia para identificar e utilizar as
formas e os meios para e melhorar e adequar o seu cuidado a crianças nessas situações.
(OLIVEIRA; GONÇALVES, 2004, p. 761).
Considerando que a educação em saúde está relacionada à aprendizagem, desenhada
para alcançar a saúde e estratégias eficientes para preservá-la, torna-se necessário que esta
seja voltada a atender a população de acordo com sua realidade. Isto porque a educação em
saúde deve provocar conflito nos indivíduos, criando oportunidade da pessoa pensar e
repensar a suas crenças e saberes populares, e através de um processo de instrumentalização,
ele próprio transformar a sua realidade. Nesse contexto, a atribuição dos profissionais de
saúde passa a ser de facilitadores no processo da educação em saúde. (OLIVEIRA;
GONÇALVES, 2004, p. 761).
Para uma intervenção eficiente do profissional de saúde nesse contexto, um elemento
fundamental é o fato de tomar como ponto de partida o saber anterior das classes populares.
Assim como vem sendo relatado na literatura, as pessoas vão adquirindo um entendimento
sobre a sua inserção na sociedade, na natureza, no trabalho, na vida social e na luta pela
sobrevivência e pela transformação da realidade. Este conhecimento fragmentado e pouco
elaborado é a matéria prima da educação popular. A valorização do saber popular permite que
o educando, nesse caso os cuidadores, sintam-se a vontade e mantenham as suas iniciativas de
aprendizado e aperfeiçoamento.
As falas dos cuidadores refletem a importância da prática da educação em saúde como
um caminho integrador do cuidar. Constituindo um espaço de reflexão-ação, fundado em
saberes técnico-científicos e populares, culturalmente significativos para o exercício de ações,
capaz de provocar mudanças individuais e prontidão para atuar na família e na comunidade,
interferindo no controle e na implementação de políticas públicas, contribuindo portanto para
a transformação social. (MACHADO, 2007, p. 340).
Assim, para Machado (2007, p. 340), o exercício de uma prática educativa crítica
como experiência humana, constitui uma forma de intervenção no mundo comprometida com
o princípio de democracia que rejeita qualquer forma de discriminação, dominação e integra
uma atitude de inovação e renovação na crença de que é possível mudar.
Neste sentido, a educação em saúde inspirada nos pensamentos de Freire (1996, p.36),
deve ser “coerente e competente, testemunha do gosto pela vida, sua esperança no mundo
melhor, que atesta sua capacidade de luta, seu respeito às diferenças da realidade, e a maneira
consistente com que vive sua presença no mundo”. Assim, para educar em saúde, se faz
necessário estar aberto ao contorno geográfico, social, político, cultural do indivíduo, família
e comunidade. (MACHADO, 2007, p. 340).
Portanto baseado na demanda educacional dos cuidadores nessa temática percebe-se
que ainda há uma questão popular e familiar muito forte no que seria a conduta certa para se
realizar nesses momentos. Percebe-se também que os cuidadores não são orientados quanto a
conduta correta que deve ser realizada nessas situações, e muitas vezes não são orientados
nem mesmo em relação ao perigo do uso dos produtos e condutas que eles acreditam serem
resolutivas.
Entendo que o presente tema usado como educação em saúde é muito complexo, pois
os conceitos e condutas passam pela vida cultural, familiar e social dos cuidadores. Porém
vejo com os depoimentos, que nós enquanto profissionais de saúde temos uma importante
lacuna de educação em saúde nessa questão. Precisamos atentar para o fato de que a
prevenção de acidentes domésticos é muito importante, mas que a prevenção de complicações
após esses acidentes também é essencial. Dessa forma, cuidadores instrumentalizados no
cuidar à criança após sofrer esses tipos de acidentes domésticos, podem refletir em menores
complicações e seqüelas para a criança, refletindo assim em uma melhor qualidade de vida
para estas crianças.
5. CONCLUSÃO
Através desse estudo foi possível conhecer e descrever a conduta realizada pelos
cuidadores a crianças em situações de emergências pediátricas domésticas tais como: quedas e
cortes, queimaduras, ingestão de medicamentos e substâncias, e choque. Além disso, a
realização da pesquisa permitiu identificar as principais dúvidas dos cuidadores em relação ao
cuidado à crianças nessas situações. E a partir de tais dúvidas conseguiu-se analisar as
demandas educacionais dos cuidadores nessa temática.
Diante disso, percebeu-se que o os cuidados realizados pelos cuidadores são
aprendidos e muitas vezes influenciados por atitudes, experiências feitas, conhecimento e
características do seu meio de convívio, ambiental e familiar, e que são passadas de geração
para geração, influenciando assim no processo de cuidar desempenhado pelos cuidadores a
crianças em situações de emergências pediátricas domésticas.
Através da análise dos cuidados relatados pelos cuidadores percebeu-se que o
despreparo em lidar com situações dessa temática favorecem a busca de auxílio seja em outras
pessoas da própria família, como os avós, tias e familiares com mais idade, como também de
vizinhos e amigos. Dessa forma, os cuidados domiciliares prestados variam devido aos
valores populares enraizados no contexto em que o cuidador está inserido. Valores estes, que
geralmente são transmitidos de geração a geração, apesar de muitas vezes não possuírem um
respaldo científico.
Outro aspecto a ser considerado é a falta de educação em saúde direcionada para os
cuidadores contendo informações específicas sobre emergências pediátricas domésticas, o que
permite a continuação de uma importante lacuna de conhecimento na vida dos cuidadores
acerca dessa temática. Pois fala-se muito sobre prevenção de acidentes domésticos, porém
mesmo sabendo que esses acidentes são situações habituais na vida de crianças e seus
cuidadores, estes não são orientados quanto a conduta que deve ser realizada caso deparem-se
com a criança nessa situação.
Essa realidade contribui para que os cuidados prestados pelos cuidadores prossigam
beirando o limite entre o erro e o acerto. Pois ora o cuidado familial é suficiente para atender a
criança em determinada situação de emergência pediátrica doméstica e possui alguma
explicação científica. Ora esse cuidado não é suficiente para atender as necessidades de
cuidados e conhecimento exigidos por determinadas situações, não sendo suficiente e muitas
vezes desprovido de qualquer explicação científica, não sendo assim o mais adequado para a
situação, realidade essa que acontece com maior frequência. Deste modo, a partir da demanda
educacional identificada referente a temática pesquisada, percebe-se a importância da
realização de alfabetização em saúde desses cuidadores.
Diante do reconhecimento da necessidade e importância da educação em saúde, tanto
para os cuidadores quanto para a vida das crianças vítimas de situações de emergência
pediátricas domésticas, propõe-se a partir destas informações, como uma contribuição da
realização desse estudo, elaborar futuramente um material educativo que atenda a essas
questões, tendo como base as demandas educacionais identificadas nessa pesquisa.
Contribuindo-se assim para produção de um material educativo que deverá refletir a realidade,
necessidade e vivências dos cuidadores, a fim de instrumentaliza-los sobre como agir diante
das situações de emergências pediátricas domésticas.
Portanto, vale ressaltar que conhecer os valores, costumes, tradições, ou seja, os
saberes populares e a influência do contexto sociofamiliar dos cuidadores, são fundamentais
para o desenvolvimento das práticas de saúde eficientes e de qualidade. Pois, entende-se que a
utilização de forma adequada e criativa do saber popular, baseado nas demandas
educacionais, permite intervenções, inovações e invenções.
O educador, para produzir um material educativo, deve conhecer onde se encontram as
dúvidas dos sujeitos educandos e sabendo o que é necessário abordar no material.
Conhecendo assim, as características desses indivíduos, sendo mais eficaz para conseguir
mudanças comportamentais desejadas através do material educativo. Desta forma, produzir
um material educativo a partir desta ação favorece a eficácia desse material e que este atinja o
seu real objetivo.
A responsabilidade social dos pesquisadores é fator importante a ser considerado neste
contexto, visto que o profissional enfermeiro é um ser atuante e fundamental na educação em
saúde, e portanto, ao realizar uma pesquisa, o produto desta deve ser devolvido aos cidadãos
através de resultados, pois é desta forma que tem-se o sentido em uma pesquisa científica.
Assim, o enfermeiro pesquisador que atualiza e orienta os cuidadores, pode contribuir para
assistência, ensino e pesquisa nas situações de emergências pediátricas domésticas e melhora
da qualidade de vida ou prevenção de agravos para as crianças.
Dessa forma a realização dessa pesquisa permitiu uma vivência acadêmica que trouxe
inúmeras reflexões no âmbito das emergências pediátricas domésticas e na atuação dos
cuidadores nessas situações. Contribuindo assim, para uma nova discussão e descobertas
acerca do tema e incentivando a busca por um processo de educação em saúde eficiente e
capaz de promover a qualificação da assistência dos cuidadores e aprimoramento da
enfermagem.
Contudo, entende-se que o processo de educação em saúde para auxiliar nos cuidados
básicos de atendimento às crianças em situações de emergência realizados por cuidadores é
um processo complexo que deve envolver muitos estudos e aperfeiçoamento ao longo das
atividades desenvolvidas, pois o conhecimento é uma verdade que está a todo tempo em
movimento, o que precisa de constante avaliação de novas necessidades e de atualização.
Além disso, as necessidades de saúde dos usuários devem ser atendidas bem como às
dos sujeitos trabalhadores da saúde, estimulando-os a tronar-se participantes de todo o
processo. Desfazendo assim, a visão de que o direito de pensar esteja ao encargo de
profissionais da área de saúde, enquanto aos outros, incluindo neste grupo os cuidadores,
restará apenas cumprir o que foi pensado.
Com isso, a mudança desse pensamento e a intervenção baseada na demanda
educacional podem contribuir para a transformação de cuidadores passivos diante de uma
situação de emergência pediátrica doméstica, em cuidadores ativos, que possuem noções
necessárias para embasar a realização de condutas básicas com a criança nesta situação. Estes
que podem fazer a grande diferença no processo de vida de uma criança.
Portanto, um cuidador que passa por intervenções adequadas de educação em saúde
nesta temática, consegue associar informação, conhecimento e boa vontade, e pode tentar
garantir, além de todo amor, atenção e carinho essenciais ao bom desenvolvimento e
qualidade de vida das crianças, um quadro clínico após uma situação de emergência pediátrica
doméstica, com menores índices de complicações e mortes.
6. OBRAS CITADAS:
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_____________________________ ________________________________
(Participante da pesquisa-voluntário) (Responsável por obter o consentimento)
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(Testemunha) (Testemunha)
9. ANEXO
9.1. ANEXO 1: PARECER CEP