Psicologiasocial Livro Texto
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PSICOLOGIA SOCIAL
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Sumário
PSICOLOGIA SOCIAL
TEMA 01
Ainda segundo Aroldo (2009), a ação mútua afeta, de uma forma ou de outra,
pensamentos, emoções comportamentos das pessoas envolvidas. Seja diretamente, como
no exemplo já mencionado, seja indiretamente, como ocorre na mídia, através de alguma
campanha publicitária. Aqui, técnicas de persuasão são empregadas para que o leitor
(ouvinte ou telespectador) mude de marca de sabonete, disponha-se a levar seus filhos a um
posto de vacinação, ou até, em períodos pré-eleitorais, incline-se a dar seu voto a
determinado candidato.
Para completar tal conceito de Psicologia Social Kimbal Young (apud RAMOS, 2003)
traz uma concepção de Psicologia Social bastante interessante e completa. Segundo ele, o
estudo da personalidade é o grande objetivo da Psicologia Social, no entanto, enquanto que
a Psicologia individual estuda os aspectos organopsicológicos da personalidade, a Psicologia
Social trata do estudo da personalidade e do desenvolvimento em relação à ambiência
social. Essa definição deixa claro o grande objetivo e o recorte bastante específico da
Psicologia Social: estudar a personalidade como expressão da interação do indivíduo em seu
meio social e cultural.
Para Ramos (2003), após o exercício de buscar definir Psicologia Social, normalmente
se chega à conclusão de que ela acaba por estudar três ordens gerais de fenômenos: em
primeiro lugar, a Psicologia Social estuda as bases psicológicas do comportamento social e,
nesse sentido, aproxima-se da Psicologia do indivíduo. Em seguida, estuda as interações
psicológicas dos indivíduos na vida social. Por último, a Psicologia Social se atém à influência
dos grupos sobre a personalidade, acaba, então, sendo uma espécie de Sociologia
psicológica ou uma Psicologia cultural.
Partindo dessas definições, podemos afirmar que a psicologia social não é apenas
uma ciência autônoma, é mais que isso. A seguir, iremos estudar toda a sua trajetória até a
atualidade, para que possamos compreender bem o que se tratara a Psicologia Social, sua
evolução, principais autores e também como ela se constitui no Brasil e na rede de serviços.
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PSICOLOGIA SOCIAL
TEMA 01
Psicologia Social, a não ser em certas circunstancias especiais em que se faz indispensável o
recurso ao experimento de laboratório.
PSICOLOGIA SOCIAL
TEMA 01
• 1895 – Gustave Le Bom publica o seu livro La psychologie des foules, suscitou o
estudo científico dos processos grupais e, principalmente dos movimentos de
massa.
• 1898 – Norman Triplett conduz os primeiros experimentos relativo a fenômenos
psicossociais.
• 1908 – william McDougall e Edward A. Ross – publicam os primeiros livros
intitulados de Psicologia Social.
• 1921 – Morton Prioce inicia a publicação do primeiro jornal sobre Psicologia Social,
o qual se constitui até 1965.
• 1924 – O primeiro manual de Psicologia Social por Floyd H Allport.
• 1927 – Louis L. Thurstone inicia seus estudos relativos à mensuração das atitudes
em seu artigo “Atitudes Can Be Measured”.
• 1936 – Cria-se no EUA a Sociedade para o Estudo Psicológico de Questões Sociais.
• 1936 – Kurt Lewin e seus associados dedicam-se com afinco à aplicação de
princípios teóricos na resolução de problemas sociais.
• 1936 – George Gallup inicia o movimento de opinião pública em base amplas
tornando tal atividade uma realização de notável repercussão e alcance em
Psicologia, Sociologia e Ciência Política.
• 1936 – Muzafer Serif mostra experimentalmente como se formam as normas
sociais.
• 1939 – Kurt Lewin, Ron Lippit e Ralph White publicam os seus estudos relativos à
conduta de grupos funcionando em diferentes atmosferas no que concerne ao tipo
de liderança exercida.
• 1943 – Theodore M. Newcomb reporta seu estudo de quatro anos no Bennington
College, mostrando como as atitudes podem modificar em função da adesão a
diferentes grupos de referência.
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• 1946 - Fritz Heider publica seu artigo Attitudes and Cogniteve Organization,
considerado o berço das teorias de consistência cognitiva que floresceram na
década de 1950, e que continuam a ter papel na Psicologia Social contemporânea.
• 1946 – Solomon Asch reforca o ponto anteriormente salientado por Muzafer a
cerca do papel desempenhado pela pressão grupal.
• 1954 - Gardner Lindzey coordena o Handbook of Social Psychology, obra em
dois extensos volumes, que passou obrigatoriamente ser referência durante toda a
década de 1950 e grande parte de 1960.
• 1957 – Leon Festinger apresenta sua teoria da dissonância cognitiva que, sem
qualquer dúvida, constitui a teoria de maior valor heurístico em Psicologia Social,
inspirado há 50 anos uma infinidade de testes empíricos de suas proposições.
• 1965 - Dois novos periódicos destinados a artigos de Psicologia social aparecem nos
EUA.
• 1968 - G. Lindzey e E. Aronson coordenam a 2ª edição do Handbook of Social
Psychology, apresentado agora em cinco volumes.
• 1970 - Atraves dos trabalhos de Edward E. Jones, Harold H. Kelley, Keith E. Davt.
Richard Nisbett, Bernard Weiner, John Harvey, etc., extraordinário impulso e dado
ao estudo do fenômeno de atribuição de causalidade em Psicologia Social, cuja
origem remonta aos estudos de Fritz Heider.
• 1970 - Ganha grande proporção o movimento que se tornou conhecido como a
"crise da Psicologia Social", durante o qual fortes ataques foram dirigidos às
pesquisas de laboratório, aos procedimentos metodológicos e éticos e à falta de
aplicação da Psicologia Social aos problemas sociais.
• 1981 - Harry C. Triandis e colaboradores editam a obra Handbook of Cross-Culltlral
Psychology em seis volumes.
• 1985 -Gardner Lindzey e Elliot Aronson editam mais uma educação do Handbook of
Social Psychology.
• 1986-0 pensamento atribuicional em Psicologia Social serve de base para a Teoria
Atribuicional de Motivação e Emoção proposta por Bernard Weiner.
• 1991 - Susan Fiske e Shelley Taylor lançam a segunda edição da obra Social
Cognition, livro que poderia servir como um marco da influência da abordagem
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PSICOLOGIA SOCIAL
TEMA 01
É nesse contexto que os anos de 1970 irão assistir ao surgimento da chamada “crise
da Psicologia Social”, motivada pela excessiva individualização da Psicologia Social
Psicológica e dos movimentos sociais ocorridos nos anos de 1970 (como o feminismo, por
exemplo). Nesse sentido, a crise da Psicologia Social se caracterizou, sobretudo, pelo
questionamento das bases conceituais e metodológicas da Psicologia Social Psicológica até
então dominante, no que tange à sua validade, relevância e capacidade de generalização
(APFELBAUM, 1992).
PSICOLOGIA SOCIAL
TEMA 01
Os anos de 1920 e 1930 serão dominados pelo estudo das atitudes, da influência
social interpessoal e da dinâmica de grupos. No que tange às atitudes, a investigação
concentrou no desenvolvimento de diferentes técnicas destinadas a mensurar tal constructo
tomado como um fenômeno mental (MCGARTY & HASLAM, 1997). No que se refere à
influência social e dinâmica de grupos, merecem destaque os experimentos realizados por
Muzar Sheriff e Kurt Lewin, psicólogos europeus que imigraram para os EUA e receberam
fortes influências do gestaltismo. Sheriff (1936) estava interessado no processo de formação
de normas sociais, tendo chegado à conclusão de que os grupos desenvolvem normas que
governam os julgamentos dos indivíduos que dele fazem parte, bem como dos novos
membros que a elas também se adaptam, em função das normas grupais existirem à revelia
de seus membros individuais.
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Lewin e seus colegas Lewin, Lippitt & White (1939) dedicaram-se à análise da
influência dos estilos de liderança e do clima grupal sobre o comportamento dos membros
do grupo, tendo observado que o estilo de liderança democrático produzia normas grupais
construtivas e independentes, que levavam à realização de um trabalho produtivo,
independentemente da presença ou não do líder. Já a liderança laissezfaire deixava os
membros passivos, enquanto os grupos com liderança autocrática tornavam-se agressivos
ou apáticos.
A investigação sobre percepção de pessoas, que até hoje consiste em uma das áreas
centrais de estudo da Psicologia Social Psicológica, inicia-se com os trabalhos de Fritz Heider
(1944, 1946, 1958), que também imigrou da Alemanha para os EUA durante a Segunda
Grande Guerra e recebeu forte influência do gestaltismo. Na publicação de 1944, o autor
realiza o primeiro tratamento sistemático dos processos atribuicionais Goethals (2003), ao
lançar o argumento de que os indivíduos associam as ações das pessoas a motivos e
disposições internas, em função de perceberem uma justaposição ou gestalt entre o modo
pelo qual as pessoas se comportam e a natureza de suas qualidades pessoais. Tal argumento
sobre como as pessoas realizam atribuições causais será aprofundado no livro de 1958,
traduzido para o português com o nome de “Psicologia das Relações Interpessoais”.
algum dos elementos da situação. Tal princípio encontra-se na base das teorias da
consistência cognitiva que irão proliferar nos anos seguintes.
Festinger (1954), sob a influência das investigações realizadas por Lewin, propõe a
teoria dos processos de comparação social, na qual defende que as pessoas necessitam
avaliar suas habilidades e opiniões a partir de comparações realizadas com outros indivíduos
que lhes são similares. A referida teoria suscitou uma série de experimentos, reemergiu
algumas vezes ao longo dos anos 70 e se encontra solidamente estabelecida no momento
atual, sendo usada, de forma recorrente, como mecanismo explanatório dos processos de
formação da identidade pessoal e social (GOETHALS, 2003).
são escassos, somente aquelas dotadas de maiores habilidades competitivas irão conseguir
sobreviver, bem como transmitir tais habilidades para a geração seguinte. Em gerações
sucessivas, mudanças nas espécies acabam por ocorrer no sentido de acentuarem cada vez
mais essas capacidades de sobrevivência (MESOUDI, 2009).
De acordo com Maner e Kenrich (2010), a Psicologia Social Evolucionista não se opõe
às tradicionais teorias da Psicologia Social, mas, ao contrário, procura explicar alguns
resultados controversos obtidos em diferentes áreas psicossociais. Para tanto, apoia-se no
pressuposto de que muitos pensamentos, sentimentos e comportamentos sociais
encontram-se associados a mecanismos biológicos que interagem de forma dinâmica com
processos psicológicos e de aprendizagem, no interior de uma determinada cultura.
Nesse sentido, vários temas abordados pela Psicologia Social Psicológica têm sido
reexaminados sob a perspectiva da Psicologia Social Evolucionista, como, por exemplo, as
relações interpessoais e intergrupais, com resultados promissores que evidenciam a
pertinência e propriedade de se utilizar tal abordagem de forma complementar, na
investigação de determinados fenômenos psicossociais (MANER & KENRICH, 2010;
MESOUDI, 2009).
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PSICOLOGIA SOCIAL
TEMA 01
De acordo com Ross, Lepper e Ward (2010), em capítulo publicado na quinta e mais
recente edição do Handbook of Social Psychology, três tópicos podem ser considerados
centrais à psicologia social, em função do continuado interesse que vêm despertando, razão
pela qual que se encontram presentes na maioria dos livros textos e palestras sobre o
assunto. São eles a cognição social, as atitudes e os processos grupais.
A esses tópicos, Ross e Cols (2010) ainda acrescentam algumas novas vertentes da
Psicologia Social que, mais recentemente, vêm também se mostrando promissoras. Entre
elas, merecem destaque a Neurociência Social e a Psicologia Social Evolucionista. Uma
revisão dos principais desenvolvimentos conceituais e empíricos desses tópicos e vertentes
será, então, realizada a seguir, como forma de situar o atual estado da arte da Psicologia
Social norte americana.
Segundo Carlston (2010), a cognição social pode ser vista atualmente como uma
subárea da Psicologia, responsável por integrar uma série de microteorias que, ao longo do
tempo, foram se desenvolvendo no contexto da Psicologia Social para explicar os modos
pelos quais as pessoas pensam sobre si mesmas e sobre as coisas, formam impressões
acerca de outras pessoas ou grupos sociais e explicam comportamentos e eventos. Apoiada
no modelo de processamento de informação (que considera a atenção e percepção, a
memória e o julgamento como diferentes etapas do processamento cognitivo), a cognição
social dedica-se, assim, a estudar o conteúdo das representações mentais e os mecanismos
que se encontram subjacentes ao processamento da informação social. Ela se focaliza,
portanto, nos modos pelos quais as impressões, crenças e cognições sobre os estímulos
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sociais (o próprio indivíduo, bem como outras pessoas, grupos e eventos sociais) são
formadas e afetam o comportamento.
Tal acesso ocorre por meio do processamento da informação social, mediante o qual
o percebedor social identifica inicialmente os atributos salientes na pessoa alvo de sua
percepção (QUINN & COLS, 2003). Em seguida, ele procura na memória as representações
mentais ou esquemas similares aos atributos identificados, seleciona o mais apropriado e o
usa para realizar inferências acerca daquela pessoa, armazenando na memória de longo
prazo a avaliação daí resultante.
Nesse sentido, muitos dos julgamentos sociais ocorrem de forma inconsciente, não
intencional, não controlável e demandam pouco da já limitada capacidade humana de
processamento. Contudo, fenômenos mais complexos podem exigir um processamento mais
consciente e controlado, o que irá depender da habilidade cognitiva do percebedor e/ou do
fato de o processamento automático mostrar-se contrário a seus objetivos e metas.
Os achados empíricos mais recentes nesse campo de estudos têm demonstrado que
as pessoas costumam realizar inferências iniciais (formação e percepção de pessoa)
baseadas em estereótipos, o que significa dizer que essas categorias sociais são ativadas de
modo automático ou inconsciente, tão logo o percebedor identifica um determinado
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6.2 ATITUDES
A mudança de atitudes, por seu turno, costuma ocorrer no plano consciente e vem
sendo mais recentemente explicada pelos modelos de processos duais (CHAIKEN & TROPE,
1999), que atualmente dominam a pesquisa na área de persuasão. Tais modelos sustentam
que quando os percebedores são competentes e se encontram adequadamente motivados,
eles costumam se engajar em um processo de análise sistemática das mensagens
persuasivas. Se elas contiverem argumentos consistentes, isto é, apoiados na realidade e
estruturados de maneira lógica e racional, serão capazes de gerar mudanças atitudinais
apoiadas em tais argumentos, as quais se mostrarão duradouras e resistentes a mudanças.
Adicionalmente, evidências têm sido reunidas sobre o fato de que atitudes mais
automáticas costumam predizer comportamentos mais espontâneos, ao passo que atitudes
mais deliberadas costumam predizer comportamentos mais conscientes (PETTY & BRIÑOL,
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2010). Por outro lado, mudanças atitudinais apoiadas em processos lógicos, motivados e
conscientes apresentam maior probabilidade de influenciar o comportamento (CRANO &
PRISLIN, 2006).
O estudo dos fenômenos grupais tem uma longa história na área da Psicologia Social,
tendo se constituído no objeto de preocupações de vários pioneiros da Psicologia
norteamericana, como Lewin, Sheriff e Asch. Com o passar do tempo, porém, as
investigações nessa área tenderam a se concentrar em níveis cada vez mais micros de
análise, que se focalizavam sobremaneira nas qualidades, características e ações dos
membros individuais, quando na presença de um grupo.
Nesse sentido, pouca atenção foi dada durante algum tempo aos processos
dinâmicos que levam o indivíduo a participar da vida grupal e aos efeitos da não
participação, aos processos que levam o grupo a modificar o comportamento de seus
membros e a agir como uma unidade autônoma e diferenciada de qualquer um de seus
membros etc., especialmente no contexto norte-americano (FORSYTH & BURNETTE, 2010).
A área de Neurociência Social, assim chamada pela primeira vez por Cacioppo e
Berntson (1992), surge movida principalmente pelo interesse de investigar as possíveis
associações existentes entre a cognição social e as funções cerebrais, com o intuito de
compreender o papel desempenhado pelas estruturas neurais no processamento da
informação social (ADOLPHS, 2009). O pressuposto básico é, portanto, o de que
determinados mecanismos neurocerebrais são responsáveis pelo raciocínio social, isto é,
que existem determinadas estruturas cerebrais especializadas nas atividades de
autopercepção e percepção dos demais indivíduos e grupos sociais, bem como nas ações
que permitem a vida em sociedade (HEATHERTON & WHEATLEY, 2010). Em resumo, a
Neurociência Social dedica-se à análise das bases neurobiológicas da cognição social.
Assim, por exemplo, a meta-análise realizada por Overwalle (2009) reuniu evidências
de que a percepção de estados mais temporários (metas, desejos e intenções) está
relacionada à ativação da junção parietal temporal, enquanto a inferência de disposições
mais duradouras ou de normas e eventos interpessoais encontra-se associada à ativação do
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córtex pré-frontal medial, ainda que alguns estados temporários possam também ativá-lo.
Tais dados levaram o autor a concluir que esses dois substratos neurais se vinculam
particularmente à cognição social. Contudo, Adolphs (2009) adverte que cognição social
também é sensível ao contexto, o que faz com que a interface entre cérebro e cognição
social seja modulada pelo contexto social e pelo autocontrole volitivo.
Assim é que a análise das inter-relações entre cérebro e comportamento social tem
se limitado até aqui à consideração de processos intraindividuais e situacionais, o que lança
dúvidas sobre a efetividade de tal abordagem para o estudo de fenômenos que se
encontram na convergência de variáveis individuais e macrossociais, como, por exemplo, os
processos intergrupais (DOVIDIO, PEARSON & ORR, 2008). De todo modo, ela poderá atuar
como uma perspectiva complementar a outras mais apropriadas à investigação das
influências macrossociais na conduta social.
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PSICOLOGIA SOCIAL
TEMA 01
Assim, por exemplo, a revisão de 34 estudos conduzida por Aberson, Healy e Romero
(2000) observou que as pessoas de autoestima elevada exibiam maior favoritismo ao próprio
grupo do que as de autoestima mais baixa. Outros estudos têm verificado que as pessoas
que vivenciam uma diminuição de sua autoestima tendem a expressar maior preconceito
(FEIN & SPENCER, 1997).
A teoria da identidade social, em suas múltiplas vertentes, pode ser vista, portanto,
como uma abordagem que, nos últimos 30 anos, vem procurando elucidar o papel
desempenhado pelo autoconceito nos processos e relações intergrupais, mediante a
articulação de fenômenos de natureza sociocognitiva, motivacional e macrossocial que
permeiam a vida coletiva. Inicialmente surgida na Europa, ela tem sido adotada cada vez
mais como referencial por pesquisadores de diversas partes do mundo, incluindo-se aí
muitos psicólogos norte-americanos, podendo ser considerada atualmente uma das mais
significativas teorias para a análise das relações entre o indivíduo e o grupo (HOGG, 2006).
Nesse sentido, ela vem sendo utilizada mais recentemente não apenas no estudo das
relações intergrupais, mas também na investigação da autocategorização e de vários
processos grupais, como a coesão, a liderança, a influência social etc. No entanto, ela
continua sem resolver um de seus principais desafios, qual seja promover a maior
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compreensão dos aspectos afetivos que se encontram subjacentes às formas mais hostis e
destrutivas de comportamento intergrupal (BROWN, 2000).
A teoria das representações sociais foi amplamente difundida nas décadas seguintes
à sua introdução na literatura sociopsicológica, especialmente entre os psicólogos europeus
e latino-americanos, com os pesquisadores de tal corrente procurando aplicar seus
princípios teóricos a inúmeros eventos aos quais podem ser atribuídos significados que
emergem do senso comum. Nesse sentido, a análise das teorias mantidas pelo homem
comum tem contribuído para a compreensão de fenômenos tão diversificados quanto a
saúde/doença, a doença mental, a violência, a justiça, o desemprego, a amizade, os sistemas
tecnológicos, os sistemas econômicos etc.
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PSICOLOGIA SOCIAL
TEMA 01
Como forma de ajudar a minorar a situação estrutural de injustiça social que permeia
a maioria dos povos latino-americanos, Martín-Baró (1996) enfatiza que a principal tarefa do
psicólogo social deve ser a conscientização de pessoas e grupos, como forma de levá-los a
desenvolver um saber crítico sobre si e sobre sua realidade, que lhes permita controlar sua
própria existência.
De acordo com o autor, urge, portanto, que os psicólogos sociais contribuam para a
construção de identidades pessoais, coletivas e históricas capazes de romper a situação de
alienação das maiorias populares oprimidas e desumanizadas que vivem à margem da
sociedade dominante e, consequentemente, levar à mudança social. Trata-se, assim, de
desenvolver um saber psicológico historicamente construído que se mostre capaz de
compreender e contribuir para sanar os problemas que atingem as maiorias populares e
oprimidas. Para Martin-Baró (1989), a construção teórica em psicologia social deve emergir
dos problemas e conflitos vivenciados pelo povo latino-americano, de forma contextualizada
com sua história.
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PSICOLOGIA SOCIAL
TEMA 01
De acordo com Carvalho e Dunker (2006), tal movimento constitui atualmente uma
das principais correntes da Psicologia brasileira, e vem procurando abordar, sobretudo,
alguns dos problemas sociais enfrentados pelo país, como, por exemplo, a violência
doméstica, as crianças de rua, a pobreza, a desigualdade social e a exclusão educacional.
Outro evento que marcou a evolução da Psicologia Social brasileira foi a criação, em
1980, da Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO), estabelecida com o propósito
de redefinir o campo da Psicologia Social e contribuir para a construção de um referencial
teórico orientado pela concepção de que o ser humano se constitui em um produto
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PSICOLOGIA SOCIAL
TEMA 01
Conhecendo o território, a equipe do CRAS pode apoiar ações comunitárias, por meio
de palestras, campanhas e eventos, atuando junto à comunidade na construção de soluções
para o enfrentamento de problemas comuns, como falta de acessibilidade, violência no
bairro, trabalho infantil, falta de transporte, baixa qualidade na oferta de serviços, ausência
de espaços de lazer, cultural, entre outros
Essa ação está no âmbito do Programa Brasil Sem Miséria e é uma parceria entre
Ministério do Desenvolvimento Social e a Marinha do Brasil. O MDS é responsável pela
doação das embarcações aos municípios. A construção e transporte das lanchas, além do
treinamento dos pilotos, são feitos pela Marinha.
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