Teste PT
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GRUPO I
Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.
A
Leia com atenção o poema «Reticências», de Álvaro de Campos.
Reticências
Arrumar a vida, pôr prateleiras na vontade e na ação.
Quero fazer isto agora, como sempre quis, com o mesmo resultado;
Mas que bom ter o propósito claro, firme só na clareza, de fazer qualquer coisa!
GRUPO II
Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.
Escreva, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção
escolhida.
Leia com atenção o texto seguinte.
OUTROOO
GRUPO I
4
FERNANDO PESSOA, Ficções do interlúdio — 1914-1935, O
guardador de rebanhos, de Alberto Caeiro, edição de Fernando
Cabral Martins, Lisboa, Assírio & Alvim, 1998.
1. Este poema consiste num diálogo entre alguém que passa na estrada e um «guardador de
rebanhos», interpelado pelo primeiro. Os dois têm maneiras distintas de ver a natureza.
2. Segundo o «guardador de rebanhos», o vento «[…] passa / E […] já passou antes, / E […]
passará depois.» (versos 4 a 6).
2.1. Interprete a utilização das três formas do verbo «passar» na segunda estrofe do poema.
3.1. Comente o efeito expressivo das repetições presentes nas duas estrofes, relacionando-as com
as ideias transmitidas nestes versos.
GRUPO II
Leia o texto.
Em toda a natureza que nos rodeia, principalmente nos espaços em que a intervenção do
Homem é menos percetível, são agora bem evidentes os sinais que dizem estarmos em pleno
inverno. Entre as ima-gens mais expressivas associáveis a este período do ano, evidencia-se a que
é construída pela vegetação natural, arbórea e arbustiva, maioritariamente despida da sua
5 folhagem.
O inverno fica mais bem caracterizado se à paisagem desnudada acrescentarmos os tons
cinzentos de dias curtos e pouco luminosos, uma chuva que tende a ser persistente e o frio que,
nalgumas montanhas mais elevadas, a transforma em neve. Quando o vento sopra forte, estão
reunidos os ingredientes para uma invernia perfeita.
10 Esta convergência de fatores extremados torna-nos mais relutantes em sair para o campo,
em desfru-tar da natureza, especialmente agora, nestes primeiros dias do mês de fevereiro, no
pico da estação.
Mesmo considerando uma menor atividade da vida selvagem, já pressentida e anunciada
num texto anterior, há animais que não se detêm perante o inverno, período invariavelmente duro
15 para a maioria deles. É que, além dos efeitos gravosos do tempo agreste que nesta época do ano
se abate por todo o lado, as espécies de fauna selvagem também se confrontam com um
problema maior: a escassez de alimento, realidade que é acentuada quando o estado de
conservação dos habitats de que dependem se encontra alterado e empobrecido.
Os bichos contrariam a adversidade decorrente da perda de biodiversidade, aproximando-se
20 dos povoados onde se concentram os agentes destas alterações do meio, procurando alternativas
para saciar a fome, numa luta inadiável pela sobrevivência. Estes desvios forçados da sua
conduta geram movimenta-ções, das quais resultam aproximações e encontros próprios do
inverno. Esta é uma das razões por que devemos vivê-lo no monte, no campo.
Se desejamos sentir a natureza de uma forma intensa, o inverno é a estação indicada.
25 Pressionando- -nos mais, revela-se também mais envolvente, pelo que é nos momentos em que
tendemos a manter-nos na nossa zona de conforto, afastados da vida selvagem, que devemos sair
de casa, para, por exemplo, nos determos em pormenores do mundo natural quando as condições
atmosféricas nos reduzem o campo de visão ou afetam, em termos de segurança ou proveito,
uma maior progressão no terreno. São pormenores que nos escapam nos meses mais propícios a
30 grandes caminhadas, em que todos os nossos sentidos estão dirigidos para o muito que se pode
captar em cenários amplos e abrangentes, repletos de uma atividade intensa e permanente.
Nossa e dos seres selvagens que nos rodeiam.
35 5
As margens de pequenos cursos de água e a vegetação, normalmente discreta, que as reveste
são um excelente motivo para caminhar nesta altura do ano. Nos lamaçais e bancos de areia das
suas margens, confere-se a presença de quem aí vive pelas pegadas e outros sinais no terreno.
A água é também uma fonte de atração para quem procura cenários maiores, ou até um lado
mais espetacular da natureza bravia. Por esta altura é expectável encontrar cascatas e quedas
de água na sua força maior, animando os troços mais acidentados dos rios que escaparam às
diversas barreiras edificadas pelo homem e que, por isso, se mantêm livres.
Num texto anterior, já se referiu o valor acrescido que o inverno representa para quem
acompanha com regularidade a vida selvagem nas montanhas, atendendo à raridade de algumas
das espécies de aves que, principalmente nos anos em que a estação se revela mais rigorosa, nos
podem surpreender. Mas, em redutos protegidos, beneficiando de ambientes mais amenos,
também por isso procurados pelas aves, resulta proveitoso despender tempo a observar, a
identificar, a fotografar. Estuários e lagoas interiores são espaços naturais especialmente indicados
para visitar nesta época do ano. E, mesmo em espelhos de água de parques e jardins criados em
ambientes urbanos, vale a pena investir algumas horas. Em todos eles poderemos encontrar
espécies de aves que só nesta época estão entre nós.
45 O inverno deve ser vivido na natureza mesmo por aqueles que desejam que ele acabe
depressa e que aguardam com alguma impaciência a explosão primaveril e todo o tempo quente
e longo que lhe suce-derá. Depois de um inverno intensamente sentido, a primavera e todas as
mudanças que na Natureza a anunciarão serão mais valorizadas e apreciadas.
6
(D) a dificuldade em percorrer um terreno quando estão reunidas determinadas condições
meteorológicas.
9. Classifique a oração «para, por exemplo, nos determos em pormenores do mundo natural»
(linhas 24 e 25).
10. Indique o valor da oração subordinada adjetiva relativa «que nos rodeiam» (linha 29).
OUTROOOOO
Três andamentos no movimento perpétuo da obra pessoana
Seria decerto ingénuo relacionar diretamente a perenidade1 do génio de Fernando Pessoa com
a pro-fusão de edições do autor que têm marcado o panorama editorial português nos últimos
meses. No entanto, essa presença deverá ser tida em conta. E, quase no rescaldo do ano, talvez
5 valha a pena destacar o aparecimento de alguns títulos (apenas alguns, sublinhe-se) que dão
visibilidade atual a este autor da nossa maioridade cultural.
Um desses livros é assinado por Fernando Cabral Martins, que produziu uma admirável
síntese em torno de alguém que pouco se presta a sumas proveitosas. […] Se o terreno biográfico
é escasso e friável2, a obra, de tão polimórfica, mostra‑se de quase impossível cartografia.
10 Pessoa albergava «uma sociedade dentro de si» (como notou Richard Zenith, em Livro do
desassossego, Assírio & Alvim, 2014), e encontrou no trabalho de Cabral Martins um tratamento
simultaneamente exaustivo e arejado. Introdução ao estudo de Fernando Pessoa é exatamente o
contrário do que a singeleza do seu título poderia fazer adivinhar. […]
Apenas um conhecimento profundo da constelação pessoana permite a Cabral Martins um
15 manejo tão articulado dos materiais à sua disposição. […] O fenómeno dos heterónimos
merece‑lhe a fórmula «apoteose da montagem» (p. 91); ao longo do seu estudo, converge para a
heteronímia […] um amplo conjunto de fluxos interpretativos, que se vão retomando e ampliando,
em leituras progressivamente enri-quecedoras.
Dos heterónimos de Pessoa, Álvaro de Campos é certamente o mais complexo, o único que
20 trilha um percurso com etapas claramente distintas, e porventura o mais fascinante deles. Numa
conhecida carta enviada por Pessoa, enquanto Campos, à Contemporanea, e endereçada a José
Pacheco, está patente essa «evolução», mas também o risco de falácia que essa noção envolve:
«Fui em tempos poeta decadente; hoje creio que estou decadente, e já o não sou» (Obra completa,
Álvaro de Campos, ed. Jerónimo Pizarro e Antonio Cardiello, Tinta-da-China, 2014, p. 544). Como
25 confirmam Pizarro e Cardiello, Campos é «a síntese de uma evolução poética e ficcional». No
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entanto, uma vez que esta edição congrega não só a poesia mas também a prosa de Campos — o
que acontece pela primeira vez —, os organizadores destacam um aspeto que deveria merecer
reflexão: «Não conhecemos a prosa decadente de Campos, nem a sua prosa sensacionista […],
nem a prosa tardo-modernista, mas uma prosa mais ou menos sempre idêntica a si mesma,
muito semelhante à de Fernando Pessoa, embora com algumas diferenças que parecem de
«carácter»» (p. 16). […] Esta edição surge na sequência de um volume, igualmente assinado por
Pizarro e Cardiello, devotado uni-camente à prosa de Campos […]. No tocante ao corpus dos
poemas, a revisão do cânone é substancial-mente mais profunda, e as propostas de leitura são,
em alguns casos, razoavelmente distintas de leituras anteriores. […] [M]esmo um poema tão
omnipresente como «Ode marítima», por exemplo, enverga nada menos do que três emendas. O
trabalho de Pizarro e Cardiello resultou numa edição histórica, profusa-mente anotada e
comentada, que autoriza uma sólida visão de conjunto do heterónimo pessoano.
Entre os 136 «subautores e tarefeiros criados por Fernando Pessoa» (Eu sou uma antologia),
encontra-se o Sr. Pantaleão, «desdobramento natural de um Pessoa inconformado com um país
corrompido, plantado à beira do abismo» (Cartas, visões e outros textos do Sr. Pantaleão, Assírio &
Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva e Ana Maria Freitas, p. 7). Mas também «um ensaísta com
vocação de agitador» e «um visionário», como lhe chamou Teresa Rita Lopes (Pessoa por conhecer I,
Estampa, 1990). Este livro não vai mudar a nossa imagem de Pessoa, mas é verdade que ela fica
mais completa com esta adição ao cosmos pessoano. A edição dos escritos de mais esta
«personalidade fictícia» (p. 17) é menos do que uma novidade explosiva, mas mais do
que uma simples curiosidade. Não totalmente inédita, embora em grande medida por publicar, a
obra de Pantaleão ajuda a compreender Pessoa, especialmente o jovem — estes escritos datam
dos 19, 20 anos do autor. Há, contudo, sinais que antecipam o autor da maturidade. Pensemos
45 nós no palco dos heterónimos […], em poemas como «A ceifeira» […] ou até no Livro do
desassossego […], Pantaleão antecipa já, ainda que de forma embrionária, muito Pessoa posterior.
Como dizia Eduardo Lourenço, «os heterónimos são a Totalidade fragmentada» de Pessoa.
O estabe-lecimento rigoroso dos escritos que nos legou, o estudo deles e a leitura crítica da sua
vida são a melhor forma de garantir que este movimento se perpetua.
https://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/pessoa-ilimitado-1678285,
consultado em 12 de outubro de 2016 (com adaptações).
NOTAS
11. Para responder a cada um dos itens, de 1.1 a 1.6, selecione a opção correta. Escreva, na folha
de respostas, o número de cada item e a letra que identifica a opção escolhida.
11.1. O artigo consiste numa apreciação crítica sobre três obras relacionadas com Fernando
Pessoa:
(C) uma edição do Livro do desassossego feita por Richard Zenith; a Introdução ao estudo de
Fernando Pessoa, de F. Cabral Martins; uma edição da poesia de Campos feita por J.
Pizarro e A. Cardiello.
(D) uma edição do Livro do desassossego feita por Richard Zenith; uma edição da poesia de
Campos feita por J. Pizarro e A. Cardiello; uma edição de textos do Sr. Pantaleão, alter ego
de Pessoa, feita por Manuela Parreira da Silva e Ana Maria Freitas.
(E) a Introdução ao estudo de Fernando Pessoa, de F. Cabral Martins; uma edição da poesia
de Campos feita por J. Pizarro e A. Cardiello; a obra Pessoa por conhecer I, de Teresa Rita
Lopes.
(F) a Introdução ao estudo de Fernando Pessoa, de F. Cabral Martins; uma edição da poesia
de Campos feita por J. Pizarro e A. Cardiello; uma edição de textos do Sr. Pantaleão, alter
ego de Pessoa, feita por Manuela Parreira da Silva e Ana Maria Freitas.
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11.2. O passo «alguém que pouco se presta a sumas proveitosas» (linha 8) traduz a ideia de
que
(G) os textos de Fernando Cabral Martins costumam ser análises e não sínteses.
(H) os textos de Fernando Cabral Martins costumam ser sínteses e não análises.
(I) é difícil fazer sínteses da obra de Pessoa, dada a diversidade da sua produção literária.
(J) é importante fazer sínteses da obra de Pessoa, dada a diversidade da sua produção
literária.