Arminianismo Perguntas Frequentes Por Roger Olson

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Tesouros do Reino para Teu Deleite de Leitura

Copyright 2014 by Roger E. Olson

Traduzido para o Português por Wellington Mariano.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode


ser reproduzida, armazenada em um sistema de recuperação ou
transmitida por quaisquer meios, sejam eles eletrônicos, mecânicos,
de fotocópia, de gravação ou outros, sem a prévia autorização, exceto
para citações breves em resenhas ou artigos.

PDF ISBN: 978-1-62824-162-4

Cover & page design by Andrew Dragos


3
SOBRE O AUTOR
Roger E. Olson
Roger Olson é um teólogo cristão
de persuasão evangélica batista,
assumidamente arminiano, e influenciado
pelo pietismo. Desde 1999, é professor de
Ética Cristã do Centro Foy Valentine no
George W. Truett Theological Seminary
da Baylor University. Antes de se unir
à comunidade Baylor, ele lecionou no
Bethel College (agora Bethel University) em St. Paul, Minnesota.
Graduou-se pela Rice University (PhD em Estudos Religiosos) e pelo
North American Baptist Seminary. Durante meados da década de
90, serviu como editor do periódico Christian Scholar’s Review e é
editor-contribuidor da revista Christianity Today há vários anos. Seus
artigos apareceram nessas publicações assim como na Christian
Century, Theology Today, Dialog, Scottish Journal of Theology, e
muitos outros periódicos teológicos e religiosos. Entre suas obras
publicadas estão: A Teologia do Século 20 (em coautoria com o
falecido Stanley J. Grenz); História da Teologia Cristã: 2000 anos
de Tradições e Reformas; Teologia Arminiana: Mitos e Realidades;
Contra o Calvinismo; Reformed and Always Reformed (Reformado e
Sempre se Reformando) e The Westminster Handbook to Evangelical
Theology (Manual Westminster de Teologia Evangélica). Olson
gosta de viajar, ler (teologia, filosofia e romances históricos) e de
se exercitar.

Visite o blog do Roger Olson em http://patheos.com/blogs/


rogereolson
SUMÁRIO
1: O que é arminianismo clássico?

2: O arminianismo é uma seita ou uma denominação?

3: Por que identificar uma teologia com o nome de um


homem? Por que não ser simplesmente cristãos?

4: Por que há um interesse crescente no arminianismo? Por


que blogs e livros sobre uma “teologia criada por homem”?

5: Não existe um meio-termo entre calvinismo e


arminianismo?

6: Qual a diferença entre arminianismo e wesleyanismo?

7: O arminianismo inclui a crença no livre-arbítrio


absoluto? Caso inclua, como Deus poderia ter inspirado os
autores da Bíblia?

8: O arminianismo rouba a soberania de Deus?

9: O arminianismo leva ao teísmo aberto?

10: Um arminiano pode resolver o mistério entre


presciência divina com o molinismo?

11: O arminianismo não supõe que o elemento decisivo


na salvação é a livre decisão do pecador em aceitar a
Cristo, e, consequentemente, concedendo às pessoas salvas
a permissão de se gabar de parcialmente merecer sua
salvação?

12: O arminianismo não leva ao liberalismo teológico?

13: O primeiro princípio do arminianismo é o livre-


arbítrio?

14: Como o arminianismo explica Romanos 9?

15: Por que não há porta-vozes arminianos, grandes


pregadores ou líderes tais como John Piper, John
McArthur, R. C. Sproul, Matt Chandler, e outros?

16: O que torna uma pessoa arminiana?

17: Onde a graça preveniente é ensinada na Bíblia?

18: O arminianismo clássico realmente diz a mesma coisa


que o calvinismo quando se trata de soberania? Afinal
de contas, se Deus previu tudo o que aconteceria
e mesmo assim criou este mundo, ele não estava
preordenando tudo simplesmente em virtude desse ato
criativo?

19: Um arminiano pode explicar aos leigos as poucas


ideias cruciais que diferenciam o arminianismo do
calvinismo?
Pergunta Frequente 1: O que é
arminianismo clássico?

R: O arminianismo clássico não tem nada a ver com a


Armênia. O arminianismo um tipo de teologia cristã
principalmente associada a Jacó Armínio (m. 1609),
teólogo holandês do século XVII. Todavia, também
me refiro ao arminianismo clássico como “sinergismo
evangélico” (sinergismo aqui se referindo à cooperação
entre Deus e criatura), pois as crenças de Armínio não
se iniciaram com ele. Por exemplo, o teólogo anabatista
Balthasar Hubmaier promoveu uma visão muito seme-
lhante, quase um século antes de Armínio. Em suma,
o arminianismo clássico é a crença de que Deus genu-
inamente quer que todas as pessoas sejam salvas e que
enviou Cristo para viver, morrer e ressuscitar igualmente
para todos. É a crença de que Deus não salva as pessoas
sem o livre-consentimento delas, mas que as concede
graça preveniente (graça que vem antes e prepara) para
liberar suas vontades da escravidão do pecado e torná-las
livres para ouvir, entender e responder à chamada do
evangelho. É a crença de que a graça de Deus é sempre
resistível, e a eleição para salvação — predestinação — é
condicional: Deus decreta que todos os que creem serão
salvos e conhece de antemão os que crerão. O armin-
ianismo clássico é uma forma de teologia protestante,

1
portanto, ela já pressupõe (em todas as questões acima)
que a salvação é um dom gratuito da graça de Deus que
não pode ser merecido; ele só pode ser aceito. De acordo
com Armínio e todos os arminianos clássicos, a justifi-
cação e Deus dos pecadores é “pela graça mediante a fé
somente” e apenas por conta da obra de Cristo. A graça
de Deus em e através de Jesus é a causa eficaz da salvação/
justificação, mas a fé é a causa instrumental.

Pergunta Frequente 2: O arminianismo é


uma seita ou uma denominação?

R: Não é nenhuma das duas coisas, mas existem denom-


inações que ou tomam o arminianismo clássico como
sua doutrina da salvação, ou têm o arminianismo em
suas confissões. João Wesley, o fundador do metodismo,
foi um arminiano assim como a maioria de seus segui-
dores. O metodismo, em todas as suas formas (incluindo
as que levam seu nome), tende a ser arminiano. (Igrejas
metodistas calvinistas já existiram. Elas foram fundadas
por seguidores de George Whitefield, coevangelista de
Wesley. Mas, até onde posso dizer, todas essas igrejas
fecharam ou se uniram a denominações tradicionalmente
calvinistas). Denominações oficialmente arminianas
incluem aquelas inseridas no que é chamado de movi-
mento de “Santidade” (ex. Igreja do Nazareno) e na

2
tradição pentecostal (ex. Assembleias de Deus). O armin-
ianismo também é a crença comum dos Batistas Livres
(também conhecidos como Batistas Gerais). Muitas
“Igrejas dos Irmãos” (Bethren) também são arminianas.
Mas se pode encontrar arminianos em muitas denomi-
nações que não são histórica e oficialmente arminianas,
tais como muitas convenções/conferências batistas.

Pergunta Frequente 3: Por que identificar


uma teologia com o nome de um
homem? Por que não ser simplesmente
cristãos?

R: Isso seria o ideal, mas agora é tarde demais para isso.


Os arminianos não veneram Armínio; ele não foi nada
mais do que um expositor especialmente claro e defensor
de uma perspectiva bíblica da salvação. Os arminianos
apenas utilizam esse rótulo para que possam se distinguir
dos calvinistas e dos luteranos −− duas tradições protes-
tantes que histórica e teologicamente defendem o que é
conhecido como “monergismo” e rejeitam todas as formas
de sinergismo na salvação. (Monergismo é a crença de
que a salvação não envolve uma cooperação entre Deus
e o pecador; Deus salva sem o livre consentimento do
pecador). Os arminianos não se importam com o rótulo
“arminianismo”. Muitos sequer o utilizam. Todavia, ele

3
é uma categoria e um rótulo teológicos frequentemente
mal interpretado por seus críticos (principalmente
calvin-istas conservadores), então aqueles que sabem
que são arminianos sentem a necessidade de defender
o arminianismo contra falsas acusações e distorções.
Existem alguns que preferem se autodenominar de “não
calvinistas”, mas essa não é uma opção melhor que
“arminiano”, e é menos clara (pois os luteranos, por
exemplo, também são “não calvinistas”, mas eles frequen-
temente são tão contrários à crença arminiana no
sinergismo evangélico quanto o são os calvinistas). Os
arminianos não são um movimento, nem um partido,
ou nem uma tribo de cristãos. Eles são simplesmente
cristãos protestantes que, diferente de muitos outros,
acreditam na liberdade da vontade restaurada pela graça
para resistir ou aceitar a graça salvífica.

Pergunta Frequente 4: Por que há um


interesse crescente no arminianismo? Por
que blogs e livros sobre uma “teologia
criada por homem”?

R: Começando por volta de 1990, o arminianismo e a


teologia arminiana vieram a sofrer nova pressão dos
francos proponentes do calvinismo — a crença de que

4
Deus elege pessoas para a salvação incondicionalmente,
de que Cristo morreu apenas para os eleitos, e de que a
graça salvadora é irresistível. Esses novos e agressivos
calvinistas não estavam dispostos a assumir uma postura
de “viva e deixe viver” em relação às diferenças evan-
gélicas na teologia, mas tentaram marginalizar, e as vezes
até mesmo excluir, os arminianos do evangelicalismo
— retratando o arminianismo como sendo mais católico
do que protestante. Um proeminente teólogo calvin-
ista, editor de uma revista mensal, disse por escrito que
ser “evangélico arminiano” é tão impossível quanto ser
“católico evangélico”. Durante o período dos últimos
vinte a trinta anos o calvinismo está em ascensão, prin-
cipalmente no cristianismo evangélico estadunidense.
Juntamente com esse aumento se seguiu também o
retrato crescentemente negativo dos arminianos como
cristãos imperfeitos, que não são verdadeira e autenti-
camente evangélicos. O evangelicalismo estadunidense
por muito tempo havia sido ecumênico — incluindo
cristãos protestantes de muitas perspectivas teológicas.
De repente, muitos calvinistas/reformados evangélicos
estavam chamando o arminianismo de “humanista”,
“centrado no homem”, “heterodoxo”, “à beira do precipício
da heresia”, “não honrando a Bíblia”, etc. Gradualmente,
os arminianos evangélicos sentiram a necessidade de
defender sua teologia contra equívocos, más represen-
tações e distorções. Todas as teologias são “feitas por
5
homem”, inclusive o calvinismo. Mas isso não quer dizer
que as teologias são unicamente invenções humanas.
Elas são as melhores tentativas humanas de interpretar
a Bíblia sob a orientação do Espírito Santo, da tradição
cristã, e da razão. Muitos calvinistas reivindicam que o
calvinismo é uma “transcrição do evangelho”, mas os
arminianos rejeitam essa reivindicação para qualquer
teologia, incluindo o calvinismo e o arminianismo. Nós
(teólogos, intérpretes da Bíblia) somos nada além de
“vasos quebrados” (conforme o apóstolo Paulo denom-
inou a si mesmo) procurando seguir a luz da Palavra de
Deus aonde ela nos guiar.

Pergunta Frequente 5: Não existe


um meio-termo entre calvinismo e
arminianismo?

R: Não, não existe, não um meio termo que seja logi-


camente coerente. Na verdade, o arminianismo é o
meio termo entre o calvinismo e o semipelagianismo,
que é a heresia (assim declarada pelo Segundo Sínodo
de Orange em 529 e com o qual todos os reformadores
concordaram) de que os pecadores são capazes de exercer
uma boa vontade para com Deus sem a assistência da

6
graça de Deus. Como o semipelagianismo (ainda uma
visão extremamente popular no evangelicalismo esta-
dunidense), o arminianismo defende que os pecadores
têm livre-arbítrio. Contudo, o arminianismo também
defende (como o calvinismo) que o livre-arbítrio, em
questões de salvação, deve ser dado por Deus através da
graça preveniente e auxiliadora. Os pecadores sozinhos,
sem o poder libertador da graça, não exercerão uma
boa vontade para com Deus. Mas sob a pressão de graça
liberadora e capacitadora, muitos realmente buscam
a Deus, que já os buscou, chamando-os para que se
arrependam e creiam. Contra o semipelagianismo e
juntamente com o calvinismo, o arminianismo acredita
e ensina que a iniciativa na salvação é de Deus e que
toda a habilidade na salvação é de Deus. Mas contra o
calvinismo e juntamente com o semipelagianismo, os
arminianos creem que os pecadores podem resistir a
graça de Deus e, a fim de que sejam salvos, devem aceitar
livremente a graça.

Pergunta Frequente 6: Qual a diferença


entre arminianismo e wesleyanismo?

R: Nem todos arminianos são wesleyanos. Certamente


Armínio não foi! Ele viveu um século antes de Wesley.
Os Batistas Livres, muitos pentecostais (ex. Assembleias

7
de Deus), e restauracionistas (ex. Igrejas de Cristo e
Cristãos Independentes) são arminianos sem ser wesley-
anos. Mas todos os wesleyanos (que eu conheço) são
arminianos (embora nem todos gostem do rótulo). Os
wesleyanos acrescentam ao arminianismo a ideia de
“perfeição cristã” (que diferentes wesleyanos definem
de maneiras diferentes). Os arminianos não wesleyanos
não acreditam na “plena santificação”. (Embora, curio-
samente, meu estudo pessoal sobre Armínio me levou
a pensar que ele talvez concordaria com Wesley e os
wesleyanos acerca disso).

Pergunta Frequente 7: O arminianismo


inclui a crença no livre-arbítrio absoluto?
Caso inclua, como Deus poderia ter
inspirado os autores da Bíblia?

R: Não, o arminianismo não inclui (e jamais incluiu)


a crença no livre-arbítrio absoluto. Nem mesmo Deus
tem livre-arbítrio absoluto. A vontade de Deus é gover-
nada por Seu caráter. O arminianismo foca no pecado
e salvação. Ele diz (em relação ao livre-arbítrio) que
as vontades dos pecadores estão presas ao pecado até
que libertadas pela graça preveniente de Deus (conse-
quentemente, “arbítrio liberto” e não “livre-arbítrio”!).
O arminianismo não inclui nenhuma crença particular

8
sobre se ou em que extensão Deus manipula as vontades
do homem (pessoas humanas) em relação a fazer com
que Seus planos (ex. Escritura) sejam realizados.

Pergunta Frequente 8: O arminianismo


rouba a soberania de Deus?

R: Não de forma alguma. Ele só diz que Deus é soberano


sobre Sua soberania. Em outras palavras, Deus pode (e
aparentemente o faz) limitar Seu poder para permitir
que os humanos se oponham à Sua vontade — até certo
ponto. Tudo o que acontece (diz o arminianismo) está
dentro da vontade soberana de Deus — quer a vontade
antecedente de Deus ou a vontade consequente de Deus.
A vontade antecedente de Deus é que todos sejam salvos;
a vontade consequente de Deus (após a Queda) é que
todos os que creem sejam salvos.

Pergunta Frequente 9: O arminianismo


leva ao teísmo aberto?

R: Os teístas abertos e calvinistas acham que sim, mas


os arminianos clássicos acham que não. De acordo com
o arminianismo clássico, Deus conhece o futuro exaus-
tivamente — como já resolvido em Sua própria mente

9
embora ainda não determinado. Como Deus pode
conhecer decisões e ações livres futuras (que não foram
predeterminadas por coisa alguma) é um mistério com
o qual arminianos clássicos estão dispostos a viver, pois
acreditam que ela (uma simples presciência divina sem
o determinismo abrangente divino) é ensinada nas
Escrituras e porque ela é a única alternativa a outras
visões da presciência de Deus que eles (os arminianos
clássicos) não podem abraçar. Não há contradição lógica
nesse mistério. Em algum ponto, toda teologia inclui
mistérios. Assim também as ciências naturais.

Pergunta Frequente 10: Um arminiano


pode resolver o mistério da presciência
divina com o molinismo?

R: Alguns arminianos clássicos pensam que sim. Outros


não. Duas perguntas não resolvidas importunam esse
debate intra-arminiano. A primeira é filosófica: A liber-
dade libertária contrafatual é um conceito viável? A
segunda pergunta é teológica: Deus pode Se utilizar de
conhecimento médio (pressupondo que Ele possua tal
conhecimento) no lidar com as questões humanas sem
determiná-las? Os arminianos clássicos estão divididos
acerca dessas perguntas e suas respostas.

10
Pergunta Frequente 11: O arminianismo
não supõe que o elemento decisivo
na salvação é a livre decisão do
pecador em aceitar a Cristo, e,
consequentemente, concedendo às
pessoas salvas a permissão de se gabar
de parcialmente merecer sua salvação?

R: Não. Em nenhuma circunstância uma pessoa que


recebeu livremente um dom gratuito pensaria ter mere-
cido o presente simplesmente porque ele/ela o aceitou.
Um presente recebido ainda é um presente. Isso é
bastante intuitivo para a maioria das pessoas — a única
exceção são os calvinistas que acusam o arminianismo
de importar mérito para a livre aceitação da salvação.
Mas esses mesmos calvinistas jamais permitiriam que
alguém a quem eles deram um presente alegasse que eles
o mereceram.

Pergunta Frequente 12: O arminianismo


não leva ao liberalismo teológico?

R: Não mais que o calvinismo. Friedrich Schleiermacher,


o “pai da teologia liberal”, foi um calvinista que se tornou
liberal sem jamais adotar o arminianismo. Muitos,

11
talvez a maioria, dos liberais do século XIX (na teologia)
foram criados como calvinistas e, vendo o dano que o
calvinismo causa ao caráter de Deus, saltaram para
a teologia liberal sem jamais sequer considerarem o
arminianismo. O arminianismo evangélico é teologica-
mente conservador. Alguns arminianos evangélicos
são fundamentalistas. A maioria jamais foi tentada pela
teologia liberal. Não existe conexão lógica nem histórica
entre o arminianismo clássico e a teologia liberal.

Pergunta Frequente 13: O primeiro


princípio do arminianismo é o livre-
arbítrio?

R: Não, não é. O primeiro princípio é Deus revelado em


Jesus Cristo ou, para dizer de outra maneira, Jesus Cristo
como a plena e perfeita revelação do caráter de Deus.
Os arminianos apenas acreditam no arbítrio libertário
(poder de escolha contrária) porque 1) ele está implícito
em toda a Escritura, 2) apenas ele impede que Deus
seja retratado como monstruoso, e 3) ele é uma reali-
dade da experiência necessária para a responsabilidade.
Poderia ser acrescentado ainda que ele (o livre-arbítrio
libertário) era pressuposto por todos os Pais da Igreja
antes de Agostinho.

12
Pergunta Frequente 14: Como o
arminianismo explica Romanos 9?

R: Essa é, sem dúvida, uma das perguntas mais frequente-


mente feitas pelos calvinistas extremados, mas até mesmo
muitos arminianos querem saber a resposta, uma vez que
sempre só ouviram a interpretação calvinista de Romanos
9. Primeiro, é importante prestar atenção ao fato de que
Romanos 9 jamais foi ensinado como ensinando dupla
predestinação (para a salvação e condenação) incondi-
cional antes de Agostinho no quinto século. Por quatro
séculos, os cristãos leram o Novo Testamento (incluindo
Romanos 9) e jamais chegaram a essa interpretação.
Segundo, é importante ler Romanos em contexto —
Romanos 9 até 11 é uma “unidade [indivisível] de
pensamento”. As divisões de capítulo não existem nos
textos autógrafos. Romanos 10 e 11 completam o argu-
mento e mostram que Paulo não estava falando de
indivíduos e da salvação de cada um deles (ou falta de
salvação), mas sobre grupos e serviço em Seu plano.
As interpretações arminianas de Romanos 9–11 não
são difíceis de se encontrar. Procure pelo assunto no
website da Society of Evangelical Arminians (www.
arminianevangelicals.org). Naquele website você encon-
trará artigos e listas de comentários. Mas, para mim, o
que é mais importante é o que Wesley disse acerca da

13
interpretação calvinista de Romanos 9: “Seja lá o que
esse capítulo quer dizer, ele não pode significar isso!”
Ele não estava simplesmente desconsiderando a inter-
pretação calvinista. Ele quis dizer (e eu concordo) que se
a interpretação calvinista de Romanos 9 for verdadeira,
então Deus é um monstro moral, um condenador arbi-
trário, em nada parecido com o Jesus que chorou acerca
de Jerusalém e disse: “Eu quis... mas tu não quiseste.”

Pergunta Frequente 15: Por que não


há porta-vozes arminianos, grandes
pregadores ou líderes tais como John
Piper, John McArthur, R. C. Sproul, Matt
Chandler e outros?

R: Essa não é uma indagação acerca do arminianismo


como um sistema de crença; é uma pergunta sobre um
modismo cultural passageiro. Cerca de trinta anos atrás
essa pergunta teria sido feita acerca de Bill Gothard e
os “não gothardistas”. Por que os não gotharditas não
têm algum porta-voz influente como Gothard? Gothard
e seu movimento de seminário de Conflitos Básicos da
Juventude (Basic Youth Conflicts) surgiu entre os evan-
gélicos [estadunidenses] como o Monte Santa Helena,
e então o movimento todo desvaneceu. Toda vez que
uma mensagem estranha e incomum (mesmo se muito

14
antiga) é proclamada a todos os pulmões e frequente-
mente por um, dois ou três defensores extremamente
persuasivos, ela ganha seguidores. Isso não diz coisa
alguma acerca das alternativas — que não se levantam
para lidar com a nova mensagem/onda com igual fervor
e paixão. Geralmente, a nova mensagem/onda é extrema
e proclamada por extremistas. Elas ganham seguidores
— principalmente constituídos de pessoas atraídas a
extremos. Após certo tempo o extremismo esvanece e o
movimento amadurece, e as pontas e cantos grosseiros
são aparados. Durante esse período, a maioria em volta
da “nova mensagem/onda” prossegue com o ministério
e evita o extremo. Mas a mídia adora extremos, portanto,
os extremistas ganham toda a atenção — por agirem
de maneira extremada! Considero uma boa coisa que
poucos arminianos tenham se tornado absolutistas obsti-
nados para rivalizar os líderes do movimento Jovem,
Incansável e Reformado (Young, Restless, Reformed;
YRR) — sendo que a maioria deles é (na minha opinião)
fundamentalista.

Pergunta Frequente 16: O que torna uma


pessoa arminiana?

R: O rótulo arminiano é pouco utilizado fora dos círculos


wesleyanos. Muitos teólogos (e outros) que eu acredito

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que sejam arminianos (no sentido de que a soteriologia
dos mesmos se encaixa no perfil do arminianismo clás-
sico) se esquivam do rótulo ou o negam por completo.
Suspeito que isso se dá em razão das maneiras que o
arminianismo tem sido distorcido por seus críticos
(principalmente) calvinistas. Há alguns anos me encon-
trei com Thomas Oden e conversamos sobre isso. Ele
rejeitava o rótulo “arminiano” ainda que ele fosse meto-
dista e seu livro O Poder Transformador da Graça
(The Transforming Power of Grace) apresente uma das
melhores exposições da teologia arminiana que já li.
Meu falecido amigo Stanley Grenz me admitiu que ele
era arminiano, mas me pediu para que não dissesse isso
a ninguém. (Na época ele era colega de J. I. Packer que
fortemente se opõe ao arminianismo). No passar dos
anos eu ouvi metodistas livres, pentecostais e outros me
dizerem que eles não são arminianos, mas em contra-
partida eles afirmam todos os elementos históricos do
arminianismo clássico. Isso, para mim, é como o pres-
biteriano que afirma a Confissão de Fé de Westminster
e, ao mesmo tempo, diz que não é calvinista. (e, de fato,
ouvi isso recentemente) Portanto, ao meu ver, qualquer
pessoa é arminiana se: 1) for classicamente protestante,
2) afirmar a depravação total (no sentido de incapaci-
dade de salvar a si mesma ou contribuir meritoriamente
para sua salvação, de sorte que o pecador é totalmente
dependente da graça preveniente para até mesmo a
16
primeira inclinação da vontade para Deus), 3) afirmar
a eleição condicional e a predestinação embasada na
presciência, 4) afirmar a expiação universal, 5) afirmar
que a graça sempre é resistível, e 6) afirmar que Deus, de
jeito algum ou forma alguma, é o autor do pecado e do
mal, mas afirmar que estes são permitidos pela vontade
consequente de Deus.

Pergunta Frequente 17: Onde a graça


preveniente é ensinada na Bíblia?

R: Claro, existem passagens individuais que se referem


a ela, mas o termo propriamente dito não está na Bíblia.
É um conceito teológico construído (assim como a
“Trindade”) para expressar um tema encontrado em toda
a Escritura, e para explicar aquilo que, caso contrário,
permaneceria aparentemente contraditório. João 12:32
talvez seja a expressão escriturística mais clara de graça
preveniente, que é a graça resistível que convence, chama,
ilumina e capacita os pecadores, de forma que eles são
capazes de se arrepender, crer em Cristo e ser salvos.
Na passagem em questão, Jesus diz que quando Ele for
levantado, atrairá todas as pessoas para Si. A palavra
grega traduzida como “todos” é pantas e ela claramente
se refere a todos inclusivamente, e não a “alguns” (ex.
“os eleitos”). A palavra grega traduzida como “atrair” é

17
muito debatida. Os calvinistas frequentemente defendem
que ela deveria ser melhor traduzida como “compelir”.
Todavia, se esse fosse o sentido da palavra nessa
passagem, o resultado pareceria ser o universalismo.
Contudo, a crença na graça preveniente não depende de
textos-prova. O conceito é ensinado em todos os lugares
de maneira implícita na Bíblia. A graça preveniente é a
única explicação para a seguinte cadeia de ideias clara-
mente bíblica: 1) ninguém busca a Deus (depravação
total), 2) a iniciativa da salvação é de Deus, 3) toda a
habilidade de exercer uma boa vontade para com Deus é
de Deus, 4) a salvação é um dom de Deus, não uma real-
ização humana, e 5) as pessoas são capazes de resistir à
oferta divina de salvação. Todas essas ideias estão resu-
midas na expressão “graça preveniente”. Os arminianos
discordam entre si acerca dos detalhes, tal como quem
é afetado pela graça preveniente e sob quais condições
específicas. Todos concordam que a cruz de Jesus Cristo
misteriosamente realizou algo em relação à graça preve-
niente, mas há certa discórdia acerca da necessidade do
evangelismo (comunicação do evangelho) para a pleni-
tude da graça preveniente exercer seu impacto sobre os
pecadores.

18
Pergunta Frequente 18: O arminianismo
clássico realmente diz a mesma coisa
que o calvinismo quando se trata de
soberania? Afinal de contas, se Deus
previu tudo o que aconteceria e, de
qualquer forma, criou o mundo desta
forma, ele não estava preordenando tudo
simplesmente pela virtude de criar?

R: Essa é uma pergunta muito boa, mas que está


embasada em um equívoco da presciência divina. O
arminianismo clássico não imagina que Deus “previu”
todos os mundos possíveis e então escolheu criar este
mundo. Deus escolheu criar um mundo e incluir nele
criaturas criadas à Sua própria imagem e semelhança,
criaturas com livre-arbítrio para amá-Lo e obedecê-Lo,
quer para desobedecê-Lo. O conhecimento de Deus
do que acontece neste mundo corresponde (na falta de
uma palavra melhor) ao que acontece; ele não o causa,
nem mesmo o torna certo. Reconhecidamente nós não
podemos explicar plenamente a presciência de Deus sem
cair no determinismo. Mas os mistérios do livre-arbítrio
(o poder de escolha contrária) e a presciência divina não
determinante são muito mais facilmente aceitos do que
qualquer determinismo divino que, dado a forma deste

19
mundo, inevitavelmente lançaria sombras sobre o caráter
de Deus.

Pergunta Frequente 19: Um arminiano


pode explicar aos leigos as poucas ideias
cruciais que diferenciam o arminianismo
do calvinismo?

R: Sim. Existem três ideias cruciais. Primeira, Deus é


absoluta e incondicionalmente bom de uma maneira
que podemos entender como bom. (Em outras palavras,
a bondade de Deus não viola nossas intuições básicas
concedidas por Deus acerca da bondade). Segunda, a
vontade consequente de Deus não é a vontade antecedente
de Deus, exceto que Deus antecedentemente (à Queda)
decide permitir a rebelião humana e suas consequências.
Todos os pecados e males específicos são permitidos por
Deus de acordo com Sua vontade consequente, e não
são projetados, nem ordenados, nem tornados certos de
acordo com a vontade antecedente de Deus. Terceira,
a salvação de indivíduos não é determinada por Deus,
mas é proporcionada (expiação e graça preveniente) e
realizada por Deus (regeneração e justificação pela graça
mediante a fé).

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