Vem Comigo No Leva-Me Contigo
Vem Comigo No Leva-Me Contigo
Vem Comigo No Leva-Me Contigo
Vem Comigo no
Leva-me Contigo
Afonso Reis Cabral, 2019. “Leva-me Contigo”
24 de novembro de 2021
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 3
1º relato: .................................................................................................................... 8
2º relato: .................................................................................................................. 10
3º relato: .................................................................................................................. 10
6. CONCLUSÃO ....................................................................................................... 16
CITAÇÕES ................................................................................................................... 18
2
1. INTRODUÇÃO
Afonso Reis Cabral quis fazer isso mesmo: transformar uma viagem inédita
numa perpetuação de memórias escritas para todos aqueles que tenham vontade de
viver um pouco do que ele viveu. Assim, escreveu um livro onde relatava os
acontecimentos mais marcantes de uma das maiores viagens da sua vida.
Ao longo deste relatório vamos perceber o que fez com que este viajante quisesse
viajar e partilhar a sua experiência com o mundo, tentando fazer sempre pontos de
encontro com outros autores viajantes que também tenham partilhado as suas viagens
em livro.
3
2. QUEM É O AUTOR?
A sua vida no mundo na escrita começou muito cedo. Em 2005 Reis Cabral
lançou o seu primeiro livro de poesia com o título “Condensação”. No ano de 2008,
participou num concurso de estudantes europeus, onde foi o único português a
participar, tendo ficado em oitavo lugar, no meio de 3500 concorrentes.
Em 2014 laçou o livro “O Meu Irmão” e foi em 2019 que se sagrou vencedor do
Prémio Literário José Saramago 2019, com o livro “Pão de Açúcar”. Foi nesse ano que
Afonso Reis Cabral escreveu o seu mais recente livro e aquele que vai servir de mote
para este relatório. “Leva-me Contigo” é um relato na primeira pessoa do jovem de 24
anos, que decidiu realizar uma viagem pela maior estrada de Portugal, aquela que liga o
Norte ao Sul, aquela que percorre Portugal ao longo de 739 quilómetros: a Estrada
Nacional 2. Uma viagem que podia ser simples, mas que Afonso Reis Cabral quis fazer
diferente.
Foi a pé.
4
3. O PORQUÊ DE VIAJAR
Quando Reis Cabral toma a decisão de percorrer a Estrada Nacional 2 a pé, não
está ciente de todo o conhecimento que irá reter desta viagem. Ao longo do livro o autor
relata diversos episódios que mostram a humanidade que é vivida como sentimento, a
alegria em forma de atos e a aventura em obstáculos. O que é certo é que Afonso sentia.
E sentia verdadeiramente. Sentia tudo, as sensações, os pensamentos, as atitudes. E este
sim é o verdadeiro porquê de viajar. Na introdução apresentei a definição do porquê de
viajar como “um espírito livre que tem a vontade e a curiosidade de conhecer o mundo
e de se conhecer a si próprio”, e é exatamente este o porquê de o Afonso querer partir
para a aventura.
Quando falamos no porquê de Afonso Reis Cabral querer fazer esta viagem, não pode
faltar a tentativa de “re”elevar a importância que esta estrada tem e que em tempos teve para todo
o Portugal. Se pensarmos bem, esta é a primeira (e única) estrada que liga Portugal inteiro, de
Norte a Sul, sem desfazer o centro do nosso país. Como refere no seu livro:
5
Para mostrar a beleza e a grandiosidade da N2, Reis Cabral descreve-a de uma forma
quase épica, elevando-a a um patamar, que em tempos foi esquecido, como referiu na citação
anterior.
Esta caracterização da estrada faz com que a vontade de a fazer seja elevada e traz para os
leitores uma ânsia de a descobrir, que talvez não existia antes de ouvir/ler o que Afonso Reis
Cabral nos conta.
A ideia de fazer uma viagem nunca antes realizada, talvez por ser um pouco dolorosa,
não fez com que o viajante desistisse de ir. Um dos fatores que talvez o tenha influenciado a
seguir em frente, foi o simples facto de ainda ser jovem. E ao contrário do que se pode pensar
isso é um peso importante quando se pensa em fazer uma viagem como esta. Um outro jovem
que viajou sem nunca desistir foi Gonçalo Cadilhe, que planeou a sua viagem de percorrer o
mundo em 12 meses, e não foram os 30 anos de espera que o fez desistir. Um exemplo de força
para seguir o sonho é João Leitão, que apesar de todas as adversidades que teve durante as suas
viagens e que o faziam repensar a ideia de continuar, conseguiu sempre dar a volta por cima e
seguir em frente com a ideia e conhecer o mundo. Assim como não foi a malária que fez com
que o blogger desistisse da sua viagem, não foram também as bolhas nos pés, a solidão, o
cansaço, e todos os outros obstáculos, que fizeram com que Afonso Reis Cabral desistisse da sua
viagem.
Estas comparações servem para mostrar que o que importa numa viagem é tudo o que se
vive nela, e que nunca serão as pedras que aparecem no caminho que farão um verdadeiro
viajante desistir da sua aventura, porque para ele, na realidade, o que importa mesmo é o
caminho e todas as experiências que vive ao percorrê-lo, sejam elas boas ou más.
6
4. “LEVA-ME CONTIGO”
De forma a dar voz à sua vontade de elevar e de partilhar a sua viagem, Afonso
Reis Cabral decidiu escrever um livro com o título “Leva-me Contigo – Portugal a pé
pela estrada nacional 2”.
Este livro foi escrito com o desejo de poder dar a conhecer ao mundo a sua
experiência, no entanto, o viajante já o havia feito diariamente, ao longo de toda a sua
viagem, através de publicações no Facebook. Essa é a grande particularidade deste
livro. É que esta não é a primeira vez que Afonso Reis Cabral partilha a sua viagem.
Neste livro existe um relato das suas experiências e aventuras, que vêm sempre
acompanhados por uma compilação de reações por parte do público, às publicações
feitas pelo aventureiro.
Quando tentamos perceber o porquê de Afonso Reis Cabral ter tido a vontade de
partilhar a sua história, basta olharmos e pensarmos no título que atribuiu ao seu livro.
“Leva-me Contigo” representa um apelo que agarra os leitores e que dá a entender que
estes querem partir à aventura com o autor.
7
dos caminhos e da vida. Talvez só quisesse continuar a
brincar com os amigos. Mal o percebia. Antes de eu partir,
conseguiu por fim endireitar o português e disse-me: “Leva-
me Contigo”” 4
A citação acima retrata um episódio que Afonso Reis Cabral viveu durante a sua
viagem. Enquanto saia de Torrão, uma freguesia perto de Alcácer do Sal, Afonso
deparou-se com 3 crianças. Ao olhar para elas, Reis Cabral ficou em baixo por perceber
que estas não viviam com as condições que três crianças normais precisariam. Com
roupa suja e com um corpo e um olhar de fome, os meninos ficaram muito
entusiasmados por verem o viajante. O mais novo dos três, o rapaz de 8 anos, em êxtase
por ter visto o autor, começou a apontar para todos os caminhos que conhecia perto de
onde estava. No final, o menino que falava um “romenês” conseguiu fazer com que
Afonso Reis Cabral percebesse duas palavras por si pronunciadas: “Leva-me Contigo”.
1º relato:
“A mim faltava-me a força para andar mais depressa do que
o burro” 5
8
“Fui buscar um iogurte líquido e a mulher da caixa não mo
vendeu porque só vendiam o pacote de seis. Incapaz de levar
os seis, fui-me embora. (...) Quinhentos metros depois, um
carro acelerou na minha direção, apitou, o vidro desceu. Era
uma senhora que assistira à cena do supermercado. Uma
senhora com um iogurte na mão. (...) Mal acabei de o beber,
outro carro com outra senhora trouxe-me outro iogurte. (...)
Qual inveja das quatro patas do burro- estas pessoas é que
são invejáveis.” 6
Como foi referido anteriormente, o autor junta as suas histórias com as reações
das pessoas que o acompanhavam através do Facebook. Através de um comentário
divulgado no livro, podemos concluir este capítulo citando o mesmo:
9
2º relato:
"(...) estava uma família de ciganos. Interromperam o almoço
para me observarem: quinze pessoas e respectivos olhos.
Como me encaravam sem ceder, decidi sentar-me com eles.
A matriarca entregou-me de imediato a sua cadeira e deu
ordens aos familiares para me porem confortável. (...) Apesar
das dores a companhia acalmou-me. (...) Aliviado naquela
cadeira de plástico, lembrei-me do empregado do restaurante
nos arredores de Viseu, que resistira a deixar-me sentar
quando pedi um café." 8
Outro retrato da bondade das pessoas para com Afonso é a reação que ele vai
tendo ao longo da sua viagem. A seguinte citação prova que, mesmo à distância, é
possível criarmos uma forte ligação com alguém:
3º relato:
“Naveguei neste grande rio que desce Portugal, vendo na
sua água de asfalto o que nunca tinha visto, encontrando
quem nunca tinha encontrado. Comi banquetes de iogurtes.
Dormi sozinho em albergues que guardavam a memória de
10
peregrinos e caminhantes. Acordei em camas alheias no
cume de serras. Visitei olarias onde a forma do barro
revelava a forma da mão. Aprendi a ser bicho da chuva e
do sol. Soube andar quando só era possível descansar e
descansar quando só era possível andar.” 10
Estas duas citações foram retiradas do último capítulo do livro, o que quer dizer
são referentes à última caminhada desta viagem feita por Afonso Reis Cabral. Neste
último capítulo percebemos que o viajante caminha com o sentimento de nostalgia
sempre muito presente. Talvez por se estar a aperceber que conseguiu cumprir o seu
objetivo e que a viagem está a acabar. Quando Reis Cabral afirma, na última citação,
que a estrada foi um rio, mostra que esta viagem cumpriu o seu dever, conhecer novas
pessoas e histórias que elas tinham para contar. Mais uma vez, o Facebook também teve
muita influência no tópico de histórias, porque foi através dos comentários que foram
sendo feitos ao longo da viagem, que o autor ia encontrando alguma motivação para não
desistir. Quando afirma que: “O que agora escrevo já estava escrito em forma de
saudade” percebemos que, mesmo ainda não tendo terminado a sua viagem, a vontade
de a viver novamente é imensa.
A forma de viajar é escolhida por cada viajante. Alguns viajam de barco, outros
de carro, mas Afonso Reis Cabral destacou-se por ter utilizado a forma mais comum do
ser humano: a pé. Este viajante decidiu caminhar pelo desconhecido. Pode parecer uma
11
loucura, no entanto, desde o início que Afonso tinha a certeza que este era o método
certo para cumprir esta viagem.
Para Afonso Reis Cabral, esta viagem nunca poderia ter sido realizada com outro
meio de transporte. Para o autor, arte de ver a andar é muito ampla e muito mais
sensacional, ou seja, a andar, não estamos fechados entre quatro paredes. Temos a
liberdade de olhar para todos os lados sem nos restringir-mos àquilo que uma janela nos
permite ver. E é isso mesmo: ver não é através da janela do carro. É ver fisicamente,
com um campo de visão amplo, onde pode sentir tudo, a forma das coisas, os cheiros, o
vento, sentir, no verdadeiro significado da palavra. E estas sensações só são possíveis de
obter se andarmos a pé. A célebre frase: “O verdadeiro tesouro foi o que viveram até
encontrarem o baú” prova que a importância desta viagem foram exatamente estas
sensações que Afonso viveu intensamente no decorrer da mesma.
O olhar de Afonso é o único que não o deixa duvidar das coisas, porque os
nossos olhos não mentem. Aquilo que vemos é a realidade, mesmo que seja a nossa
realidade, e é nisso que acreditamos. Essa é mais uma das vantagens que o nosso olhar
nos dá. A veracidade daquilo nos mostra é quase indubitável. Um outro autor que se
destacou na história de viagens pelo seu olhar foi Cesário Verde. Apesar de serem
viagens completamente diferentes, Cesário também deambulava pela cidade para
observar e perceber o mundo. Apesar de não esquecer a subjetividade das coisas o poeta
viaja pela cidade e observa tudo à sua volta, para tentar entender o porquê das coisas.
Afonso, como muitos outros, decidiu partilhar a sua história. O que não foi tão
similar aos restantes escritores de viagens, foi o facto de antes de lançar o livro, a sua
história já estar publicada nas redes sociais, o que servia de motivação para Reis Cabral
continuar a sua viagem.
"Só esperava não ficar pelo caminho, o que era bem
possível, embora um bom falhanço também fosse uma
coisa boa; (...) para o conter, propus-me publicar um diário
do caminho" 14
No final do dia, antes de se deitar, o viajante publicava no Facebook um relato do
que havia acontecido nesse dia. No entanto, percebeu que a história não devia ficar por
aí. Rapidamente, e quando acabou a sua viagem, começou a escrever o seu livro. Apesar
de, ao primeiro pensamento, não parecer fazer sentido dar-se ao trabalho de escrever um
livro quando já tinha tudo publicado, se pensarmos melhor, o reviver da viagem, o ter de
escolher os momentos mais marcantes, aqueles que lhe deram outro rumo, tanto à
viagem como à sua própria pessoa, faz com que o autor faça um introspeção mais
profunda sobre tudo o que aprendeu. Escrever após a viagem dá aos leitores uma visão
um pouco mais profunda, pelo simples facto de o autor já ter tido tempo para pensar
13
naquilo que viveu e aperceber-se das situações realmente marcantes e importantes ao
longo do percurso.
Também a vontade de partilhar com o público foi um fator decisivo na
publicação do livro. A necessidade de enriquecer as pessoas com as suas histórias e com
as histórias daqueles com que se cruzava faz com que Afonso queira transmitir a maior
parte de tudo o que aprendeu.
No entanto não nos podemos esquecer que, apesar de tudo o que foi escrito e
publicado no livro ter sido verdade, uma leitura nunca vai ser uma experiência tão
enriquecedora como aquela que é viajar. Aquelas sensações descritas por Afonso vão
ser sentidas somente por ele. Nós podemos imaginar, mas para ele vão ser sempre uma
memória.
14
5. O DOCUMENTÁRIO: “LEVA-ME CONTIGO
Após o sucesso atingido com o lançamento do livro, surgiu pela mão de João
Pedro Félix a ideia de transformar a história num documentário, onde estivesse
registado certos pormenores que podiam ser ainda mais aprofundados.
O filme, que se baseia na experiência de Afonso Reis Cabral na Estrada Nacional
2, enaltece uma vez mais, a vontade do autor do livro, de partilhar a sua história, e com
isto, dar a conhecer às pessoas, um lado da história que podia ter ficado em aberto.
O documentário estreou a 16 de agosto de 2020 e é protagonizado pelo próprio
autor do livro.
Um pormenor digno de um parágrafo é a música que foi escrita propositadamente
para o documentário. “Memórias de Amor” canta a história de Afonso Reis Cabral,
enfatizando sempre as pessoas e as memórias que perpetuam na mente do viajante. Uma
música com o mar sempre como som de fundo, que mostra que o caminho andando por
Afonso teve sempre como principal objetivo, ir a pé até ao mar. Deixo agora o refrão
escrito, considerando que é uma boa conclusão para este parágrafo (e sentindo-me mal
por não poder fazer com que ouçam a música com a forma que eu ouço):
“Leva-me Contigo,
Perder a terra à vista,
Memórias de amor,
Saio do meu canto.
A saudade por cantar,
Deixo tudo atrás,
Leva-me contigo,
Só o vento faz mudar.” 15
15
6. CONCLUSÃO
16
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
https://www.google.com/search?q=AFONSO%20REIS%20CABRAL%20POR
QUE%20A%20NACIONAL%202
https://www.comunidadeculturaearte.com/primeiro-trailer-de-leva-me-contigo-
documentario-de-afonso-reis-cabral-o-jovem-escritor-que-percorreu-a-en2-a-pe-
em-24-dias/
https://vidaextra.expresso.pt/artes/2019-09-25-Leva-me-Contigo-conheca-o-
documentario-que-acompanha-Afonso-Reis-Cabral-pela-Nacional-2
https://umaturistanasnuvens.com/15-motivos-pelos-quais-viajar-e-tao-bom/
https://www.researchgate.net/publication/308227227_Literatura_Portuguesa_de_
Viagens_pensar_viajar_e_escrever_no_seculo_XVI
https://www.almadeviajante.com/livros/
http://www.mediotejo.net/a-descoberta-afonso-reis-cabral-e-escritor-e-
descobriu-a-peos-738km-da-en2/
17
CITAÇÕES
18