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Zilli Et Al - 2021 - "Esse Território É Nosso

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CAPÍTULO 18

“ESSE TERRITÓRIO É NOSSO!”: O CASO DE


SOBREPOSIÇÃO DOS PARQUES NACIONAIS
APARADOS DA SERRA (PNAS) E SERRA GERAL
(PNSG) SOBRE O TERRITÓRIO TRADICIONAL DA
COMUNIDADE QUILOMBOLA DE SÃO ROQUE

DOI: http://dx.doi.org/10.18616/planar18

Ana Clara Ferruda Zilli


Bianca Hammerschmidt
Elis do Nascimento Silva

VOLTAR AO SUMÁRIO
PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL:
ÁREAS PROTEGIDAS
Nilzo Ivo Ladwig – Juliano Bitencourt Campos

INTRODUÇÃO

Ô de casa, ô de casa, ô de casa, cavalheiro!


Pra chegar na sua grota, peço permissão primeiro.
(Cantiga de Festa da Comunidade Quilombola de São Roque)
(BRASIL, 2008)

O presente artigo1 versa sobre o conflito socioambiental envolven-


do a sobreposição do território tradicional da Comunidade Quilombola São
Roque – situada entre a região dos Campos de Cima da Serra e a planície
costeira, fronteira com os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul –, e as
seguintes Unidades de Conservação de proteção integral: os parques Nacionais
de Aparados da Serra (PNASG) e da Serra Geral (PNSG), administrados pelo
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio). A partir
do olhar ao direito das comunidades quilombolas no Brasil, enquanto povos e
comunidades tradicionais, analisaremos o caso da complexa negociação envol-
vida no processo de elaboração e implementação do Termo de Compromisso
com a Comunidade Quilombola São Roque relacionado à ocupação e uso dos
recursos naturais de seu território tradicional, uma longa trajetória de racis-
mo ambiental, racismo institucional e violência estrutural perpetrada contra
esta comunidade.

1 Uma primeira versão deste artigo foi produzida no âmbito da disciplina “Diálogos
Interdisciplinares: Territórios, Sociobiodiversidade e Desenvolvimento - Estudos de Caso”, ofere-
cida e realizada no segundo semestre de 2019 através do Acordo de Cooperação Técnica fir-
mado entre o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Sociobiodiversidade Associada
a Povos e Comunidades Tradicionais (CNPT), do Instituto Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade (ICMBio), e o Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências
Humanas (PPGICH), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

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PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL:
ÁREAS PROTEGIDAS
Nilzo Ivo Ladwig – Juliano Bitencourt Campos

BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DO DIREITO DOS


REMANESCENTES DAS COMUNIDADES DE QUILOMBO
NO BRASIL

O reconhecimento da propriedade dos remanescentes de quilom-


bos sobre suas terras, proposta pelo Movimento Negro Unificado (MNU) à
Assembleia Nacional Constituinte e aprovada no art. 68 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias (ADCT) da Carta de 1988, representou um mo-
mento significativo para a reparação da dívida histórica à população negra
no Brasil. Dispõe este artigo que: “Aos remanescentes das comunidades dos
quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade
definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos”. A partir desse
marco histórico, os territórios dos quilombos foram considerados parte do
patrimônio cultural por esse povo, nas quais exercem ocupação a sucessivas
gerações, cabendo ao Estado assegurar sua proteção e garantir seu direito
(LEITE, 2008). Conforme destaca Santilli:

Cabe ao Estado emitir os títulos de propriedade em fa-


vor das associações representativas das comunidades
quilombolas. Embora os títulos concedidos a estas co-
munidades sejam de propriedade privada, eles possuem
características especiais, como a sua titularidade coletiva
e caráter pró-indiviso (não pode ser fracionada entre os
indivíduos), e as cláusulas obrigatórias de inalienabilida-
de, imprescritibilidade e impenhorabilidade, nos termos
do decreto n. 4.887/2003. (SANTILLI, 2014, p. 403).

Embora contemplado com efetividade somente após a Constituição


de 1988, o direito de propriedade e posse das terras que tradicionalmente
ocupam já era reconhecido pelo art. 11 da Convenção n. 107 da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), criado em 1957 e incorporado ao ordena-
mento jurídico brasileiro através do decreto n. 58.824 de 1966. Esta Convenção

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representou uma primeira tentativa de codificar em um instrumento legal de


âmbito internacional, os direitos fundamentais dos “povos indígenas e tribais”.
Considerada obsoleta pelo seu cunho paternalista e integracionista (VEIGA;
LEIVAS, 2017), fora substituída pela Convenção 169/OIT em 1989, passando
a ser um importante instrumento legal internacional que estabelece os direitos
dos povos indígenas e tribais ao reconhecer o direito de posse, propriedade
e autoidentificação desses povos. Dentre as determinações desta Convenção
internacional, destaca-se que:

Os direitos de propriedade e posse de terras tradicional-


mente ocupadas pelos povos interessados deverão ser re-
conhecidos. Além disso, quando justificado, medidas de-
verão ser tomadas para salvaguardar o direito dos povos
interessados de usar terras não exclusivamente ocupadas
por eles às quais tenham tido acesso tradicionalmente
para desenvolver atividades tradicionais e de subsistên-
cia. (Parte II, art. 14).

Para fins de aplicação dos direitos estabelecidos nestes documentos


legais, os quilombolas são considerados “povos tribais”, tendo em vista a auto-
determinação dessas comunidades em função de sua identidade étnica, seus
costumes e sua cultura, sua história ancestral e as relações que estabelecem
com os territórios que tradicionalmente ocupam (INCRA, 2020, p. 5).
A Convenção n. 169/89 da OIT, promulgada pelo decreto n. 5.051,
de 19 de abril de 2004, subsidiou a formulação do decreto n. 4.887, de 20 de
novembro de 2003, que regulamenta o procedimento de identificação, reco-
nhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por re-
manescentes das comunidades dos quilombos. Este dispõe que:

Art. 2° Consideram-se remanescentes das comunidades


dos quilombos, para fins deste decreto, os grupos étnicos
raciais, segundo critérios de auto-atribuição, com traje-
tória histórica própria, dotados de relações territoriais

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específicas, com presunção de ancestralidade negra re-


lacionada com a resistência à opressão histórica sofrida.
§ 1º Para fins desse decreto, a caracterização dos rema-
nescentes das comunidades dos quilombos será atestada
mediante autodefinição da própria comunidade.
§ 2º São terras ocupadas por remanescentes das comuni-
dades dos quilombos as utilizadas para a garantia de sua
reprodução física, social, econômica e cultural.
§ 3º Para a medição e demarcação das terras, serão levados
em consideração critérios de territorialidade indicados
pelos remanescentes das comunidades dos quilombos,
sendo facultado à comunidade interessada apresentar as
peças técnicas para a instrução procedimental.

Podemos evidenciar, desse modo, que o direito de propriedade reco-


nhecido constitucionalmente2 aos remanescentes das comunidades dos qui-
lombos, signo de inclusão social (ANDRADE; PEREIRA; ANDRADE, 2000,
p. 50) e reparação histórica, diz respeito não somente à garantia de sua repro-
dução material e imaterial, mas também respeita a relação de pertencimen-
to estabelecida por estes povos na medida em que se identificam nos e com
os territórios que ocupam de modo ancestral. Ademais, essas comunidades
possuem suas territorialidades específicas (ALMEIDA, 2008) atreladas a um
histórico de sobrevivência e resistência face às opressões e violências sofridas
por estes sujeitos desde o tempo da escravidão, tendo em vista que:

A forma de ocupação das terras em todo o Brasil se deu


por meio da lógica da expulsão dos indígenas e dos ne-
gros, da exploração da mão-de-obra compulsória dos
africanos e seus descendentes. A territorialidade negra,
portanto, foi desde o início engendrada pelas e nas situa-
ções de tensão e conflito. (LEITE, 2008, p. 967).

2 Para conhecimento mais aprofundado, ver “Direitos Quilombolas”, da Comissão Pró-


Índio, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Mr2N3WS-Z78&list=RDMr2N3WS-
-Z78&start_radio=1&t=11. Acesso em: 04/03/2020.

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O reconhecimento e regularização de posse e permanência nas áreas


tradicionalmente ocupadas pelos remanescentes das comunidades de qui-
lombos devem, assim, assegurar os modos específicos e tradicionais de uso
coletivo da terra e dos recursos naturais3, reconhecendo seus costumes, cul-
tura e valores (como os laços de parentesco, vizinhança e ancestralidade) que
somente podem ser exercidos quando garantido o direito de propriedade e
titulação de seus territórios. Nesse sentido, é de suma importância a realização
do relatório e laudo antropológicos para o reconhecimento da propriedade
definitiva do território, por meio do processo de demarcação e titulação da
terra, das comunidades de quilombos (cf. INCRA, 2020).
Povos e comunidades tradicionais detêm direitos regidos por legis-
lações especiais, tais como a Constituição Federal de 1988 (a qual é regida
pelos princípios do multiculturalismo e da valorização da diversidade étnica
e cultural) e convenções internacionais já ratificadas pelo Brasil (a exemplo
da Convenção sobre a Proteção e a Promoção da Diversidade das Expressões
Culturais / Convenção da Diversidade Cultural, Convenção para a Salvaguarda
do Patrimônio Cultural Imaterial - UNESCO e Convenção 169 da OIT)
(SANTILLI, 2014, p. 407-408).
Embora os direitos dos remanescentes de comunidades de quilom-
bos no país são reconhecidos através da já referida Constituição Federal de
1988, sendo também contemplados em normas e instrumentos legais federais,
estaduais e municipais, cabe ressaltar que ainda existem desafios e obstáculos

3 As comunidades de quilombos em sua maioria sobrevivem da agricultura e do extra-


tivismo vegetal, possuindo um forte vínculo com o território que ocupam e contribuindo para
a conservação dos ecossistemas e biodiversidades locais. Ressalta-se que o modo descontinuado
de ocupação da terra dos quilombolas, que não é feita em termos de lotes individuais e prioriza
seu uso comum, tende a obedecer a sazonalidade das atividades agrícola-extrativistas e a inte-
gração com o ciclo das águas que tanto acompanham o ritmo de vida destas comunidades. Estas
práticas agrícolas incluem: sistemas de pousio e de coivara, rotação de culturas e agricultura
itinerante, que muitas vezes deixam porções temporariamente desocupadas das terras, e cons-
tituem alvos das ações políticas preservacionistas - que tendem a restringir o acesso aos bens e
serviços ambientais nelas contidos ou mesmo considerá-las devolutas. Em relação às territoria-
lidades específicas das comunidades remanescentes de quilombos, veja-se, entre outros, LEITE
(1991); ANDRADE; PEREIRA; ANDRADE (2000); ALMEIDA (2008); MOMBELLI (2009),
O’DWYER (2002), ABA (2006).

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de grandes dimensões no país para a garantia e cumprimento dos direitos das


comunidades quilombolas assegurados na Carta Magna, sobretudo no que tan-
ge à posse e regularização de seus territórios tradicionais (OLIVEIRA, 2016).
Ao reconhecermos a centralidade das formas próprias de organiza-
ção, dos valores, práticas e representações dessas comunidades tradicionais
para compreensão de suas territorialidades específicas, veremos no tópico a
seguir os sentidos e memórias mobilizadas pelos sujeitos e sujeitas que habi-
tam a Comunidade Quilombola São Roque, situada entre os municípios de
Praia Grande-SC e Mampituba-RS.

A COMUNIDADE QUILOMBOLA DE SÃO ROQUE

Os moradores da Comunidade Quilombola de São Roque remon-


tam à formação histórica da comunidade ao início do século XIX, período
marcado pela intensificação da produção pecuária e agrícola nas fazendas da
região de São Francisco de Paula de Cima da Serra, por vezes chamada por
Cima da Serra ou São Francisco. Os proprietários dessas fazendas utilizavam-
-se de mão de obra de pessoas escravizadas, para execução de diversos serviços
manuais, envolvendo, sobretudo, afazeres domésticos e trabalhos na lavoura.
Os fazendeiros obrigavam que eles se deslocassem à região serrana, conhecida
por Roça da Estância, atual Mãe dos Homens, para cuidarem da lavoura que,
depois de colhida, era encaminhada pelos lavradores à parte de Cima da Serra.
(FERNANDES; BRUSTOLIN; TEIXEIRA, 2006).
Nos trânsitos em meio às escarpas e cânions da Serra Geral, e re-
sistindo aos domínios escravistas, alguns deles passaram a ocupar os vales e
grotas que se delineavam nas encostas da região, caracterizando-se como uma
rota alternativa para fugas, tendo em vista o difícil acesso e a fertilidade do solo.
O Relatório Antropológico (2006), produzido pelos pesquisadores do NUER-
UFSC, e que será contextualizado mais adiante, aponta que se criou nesses
espaços um modo próprio de organização social denominado sistema de grota,

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que definia os parâmetros da comunidade na divisão territorial, o qual perdura


até os dias de hoje. (FERNANDES; BRUSTOLIN; TEIXEIRA, 2006).
As grotas, termo empregado pela própria comunidade ao se referir a
esses espaços, eram vales encaixados nas escarpas da Serra, cuja ocupação era
caracterizada pela predominância de uma família nuclear ou extensa, pelas ro-
ças de subsistência e a criação de animais. Segundo o Relatório Antropológico
(FERNANDES; BRUSTOLIN; TEIXEIRA, 2006), elas seguem operando como
um dos modos de localização das diferentes famílias que residem na comuni-
dade, e configuram uma concepção específica e tradicional de território, cujas
origens remetem às estratégias de resistências desenvolvidas durante a econo-
mia escravagista regional.
As famílias originárias da Comunidade São Roque possuem como
marcos da memória coletiva a economia escravista do século XIX, as histórias
de vida de seus antepassados cujas (re)existências estavam ligadas a diferentes
senhores de escravos. Os Nunes, os Monteiro e os Fogaça, todos proprietários
das terras em Cima da Serra, são reconhecidos pela comunidade como os ex-
-senhores de seus antepassados. A ocupação das grotas pelos ascendentes dos
moradores da comunidade seguia um padrão vinculado à família de origem.
Assim, os descendentes de pessoas escravizadas pelos Nunes ocupavam as
grotas do Faxinalzinho e do São Gorgonho; já os descendentes das famílias
escravizadas pelos Monteiro, as grotas do Josafaz; enquanto as famílias escravi-
zadas pelos Fogaça se estabeleceram nas grotas do Mampituba (FERNANDES;
BRUSTOLIN; TEIXEIRA, 2006). Ou, nas palavras do morador:

O primeiro rio aqui é o São Gorgonho, no causo, e depois


ele vem abrindo aqui pra Santa Catarina, aqui ele volta
pra trás. A direita daí é o Faxinalzinho, no causo. Eles se
dividiam e as base eram as grotas. Dessa pra cá é do Pedro,
dessa pra lá é do Paulo, essa pra lá é do Juca, a outra pra
cá é de Manduca. O nosso sistema seguia pelas grotas, no
causo. (Dirceu Nunes, morador da Comunidade de São
Roque. In: BRASIL, 2008).

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É importante lembrar que o conhecimento relacionado aos senhores


e às famílias escravizadas não se baseia em qualquer documento oficial e/ou
registo escrito (FERNANDES; BRUSTOLIN; TEIXEIRA, 2006). Mas, assim
como ocorre em diversas comunidades que privilegiam a oralidade nos pro-
cessos de transmissão de saberes, está presente e constitui as memórias coleti-
vas que perpassam as narrativas orais dos moradores:

O pai contava pra mim, eu conheci meu avô. Quando


meu avô faleceu eu tava com oito anos, então, pouca lem-
brança eu tenho das histórias que ele contava. Mas o que
ele contava que as coisas, por exemplo, naquela época eles
sofriam muito, era difícil, né? Eles tinham que trabalhar
era pro senhor, não ganhavam nada. Então por isso que
a maioria, quando eram maltratados demais, eles fugiam.
Para cá foram um grupo que fugiu (...) Escravos de Nunes,
Fogaça e Monteiro. (Maria Rita dos Santos, moradora da
comunidade de São Roque. In: BRASIL, 2008).

Relatos que navegam pelos rios Faxinalzinho, São Gorgonho, Josafaz


e Mampituba, os quais possuem como elemento unificador a Pedra Branca,
um paredão de pedra localizado no encontro dos rios e que dá nome àqueles e
àquelas descendentes das pessoas outrora escravizadas pelos proprietários de
terra de Cima da Serra, que resistiram e originaram a Comunidade Quilombo
de São Roque, também conhecido como comunidade Pedra Branca, localizado
nos atuais municípios de Praia Grande-SC e Mampituba-RS (FERNANDES;
BRUSTOLIN; TEIXEIRA, 2006).

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A CRIAÇÃO DOS PARQUES NACIONAIS SERRA GERAL E


APARADOS DA SERRA E A COMUNIDADE QUILOMBOLA DE
SÃO ROQUE: CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS, RACISMOS E
NEGAÇÃO DE DIREITOS

Os filhos da Pedra Branca – forma como os membros da Comunidade


São Roque se identificam – possuem a ancestralidade e o parentesco como
meio de pertencimento a esse espaço, opondo-se aos identificados como de
fora, pessoas que não pertenciam à comunidade e ao seu sistema de trocas.
Segundo as narrativas dos moradores da comunidade presentes no Relatório
Antropológico (FERNANDES; BRUSTOLIN; TEIXEIRA, 2006), a entrada
dos de fora aconteceu principalmente a partir da enchente de 1974, acon-
tecimento que desabrigou grande parte das famílias da comunidade e os de
fora se apossaram das terras abandonadas ou as compraram com valores
irrisórios, construindo sítios de recreação, e implementando outros cultivos
agrícolas e criação de gado. (FERNANDES; BRUSTOLIN; TEIXEIRA, 2006;
SPAOLONSE, 2013).
As ameaças ao Quilombo de São Roque continuaram no decorrer
das décadas de 1970 e 1990 com a implementação dos parques Nacionais
Aparados da Serra (PNAS) e Serra Geral (PNSG). O PNAS, criado em 1959,
e que abrangia uma área do município São Francisco de Paulo Cima, no es-
tado do Rio Grande do Sul, teve seu limite modificado em 1972 pelo decreto
n. 70.296, que visava “excluir áreas demasiadamente ocupadas e degradadas”
(FERNANDES; BRUSTOLIN; TEIXEIRA, 2006, p. 173 apud IBAMA, 1995, p.
2), e passou a incluir áreas da Mata Atlântica e parte considerável do território
da Comunidade Quilombola de São Roque. Segundo Diegues (1996):

O território das sociedades tradicionais, distinto do das


sociedades urbanas industriais, é descontínuo, marcado
por vazios aparentes (terras em pousio, áreas de estuário
que são usadas para a pesca somente em algumas esta-

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ções do ano) e tem levado autoridades de conservação


a declará-la parte das ‘unidades de conservação’ porque
‘não é usada por ninguém’. Aí reside, muitas vezes, parte
dos conflitos existentes entre as sociedades tradicionais e
as autoridades conservacionistas (Ibidem, p. 45).

Na década de 1980, foi empreendido um processo de negociação das


terras, operada entre funcionários do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento
Florestal (IBDF), órgão responsável pela gestão das Unidades de Conservação
na época, e proprietários de terras. Segundo as narrativas dos moradores
da comunidade aos pesquisadores vinculados ao NUER (FERNANDES;
BRUSTOLIN; TEIXEIRA, 2006), tais negociações ocorreram entre re-
presentantes do governo e pessoas que não possuíam vínculos com a área,
sendo comum os relatos que denunciavam as vendas das mesmas áreas por
diferentes pessoas.
O Relatório Antropológico aponta que paralelamente à criação do
primeiro Plano de Manejo do parque Nacional de Aparados da Serra (PNAS),
iniciaram-se os estudos para a criação do parque Nacional da Serra Geral
(PNSG) (FERNANDES; BRUSTOLIN; TEIXEIRA, 2006), o qual foi oficial-
mente estabelecido através do decreto n. 531, de 20 de maio de 1992, nos es-
tados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina e vizinho ao primeiro parque
(SPAOLONSE, 2013). Com a implementação desses dois parques, o Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (IBAMA), órgão que se
tornou responsável pelas Unidades de Conservação (UC) em 1989, instalou-
-se na comunidade visando gerenciar e fiscalizar a região. Neste momento, há
a intensificação dos conflitos e criminalização envolvendo os moradores da
comunidade pois, caracterizando a ocupação histórica da região como irre-
gular, as pessoas da comunidade passaram a ser consideradas “ilegais” e suas
práticas de subsistência qualificadas como “crime ambiental” (FERNANDES;
BRUSTOLIN; TEIXEIRA, 2006; SPAOLONSE, 2013).
Em 2004, fora realizado um plano de manejo dos parques Nacionais
Aparados da Serra (PNAS) e Serra Geral (PNSG). Entretanto, chama a atenção

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o fato de que em espaço algum deste importante documento é reconhecida e


citada a existência da Comunidade Quilombola de São Roque, cujos membros
são sujeitos de direitos que histórica e tradicionalmente ocupam seus territó-
rios e que, posteriormente, passaram a se situar nas áreas delimitadas pelos
órgãos federais para constituição dos parques. Há, portanto, a negação de sua
existência e de seus direitos, especialmente o de consulta prévia (Art. n. 6,
Convenção n. 169/OIT), bem como a exclusão de sua participação no processo
de construção do plano de manejo e demais espaços decisórios em que são de-
finidas as resoluções que impreterivelmente interferem em seu modo de vida e
reprodução física, sociocultural e econômica.
Destaca-se do Resumo Executivo deste Plano de Manejo (2004) no
item “História, Cultura e Socioeconomia Regional” o apagamento, racismo e
invisibilização desta comunidade na área interna e do entorno dos parques, o
que pode ser demonstrado na caracterização histórico-cultural a seguir:

Antes de iniciada a ocupação europeia nesta região, as


populações nativas eram formadas por índios de três
grupos distintos: os Guarani, os Pampeano e os do tronco
linguístico Jê. Nesta época remota, eram predominantes
as atividades de coleta, principalmente do pinhão no
planalto e de moluscos na planície. Atualmente, os traços
culturais são marcados tanto por aquela herança dos pri-
meiros habitantes, como também pelos hábitos e tradi-
ções trazidos pelos grupos europeus de diferentes nacio-
nalidades. (...) Assim, a paisagem natural, tão exuberante
e que demanda cuidados comuns a um patrimônio, é aqui
entendida não só como resultado dos processos naturais,
mas também daqueles processos sociais, expressão e vida
dos grupos que ali estão e que viveram anteriormente.
A combinação das tradições campeiras – do churrasco
e do chimarrão -, do trato e cultivo da terra, do artesa-
nato, da culinária, dos jogos e brincadeiras da planície
demandam também em cuidados a serem incorporados
àqueles com o patrimônio natural dos parques. De um
modo geral, as levas de imigrantes portugueses, alemães

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e italianos que se sucederam na região, principalmente


nos séculos XVIII e XIX, influenciaram sobremaneira a
cultura e a socioeconomia no Rio Grande do Sul e em
Santa Catarina, com a diversificação da agricultura, em
pequena propriedade, e com a produção artesanal em
uma escala que, até então, não fora praticada. A partir das
primeiras décadas do séc. XX que começa a se desenhar a
divisão política dos municípios do entorno dos parques.
(MMA/IBAMA, 2004, p. 4).

Destaca-se a exclusão e invisibilização desta comunidade também


nos itens do documento intitulados “Relação com o entorno – Percepção so-
cioambiental dos moradores sobre os parques” (MMA/IBAMA, 2004, p.19) e
“Riscos e conflitos socioambientais” (MMA/IBAMA, 2004, p. 21). Nestes não
há nenhuma menção à existência da Comunidade Quilombola de São Roque
nas áreas do interior e entorno das UCs, evidenciando mais uma ocorrência de
racismo e negação de direitos constitucionalmente garantidos.
Com a promulgação do decreto n. 4.887, de 20 de novembro de
2003, o qual regulamenta a identificação, reconhecimento, delimitação, de-
marcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades
dos quilombos, a Comunidade Quilombola de São Roque obteve a Certidão
de Autonomia emitida em junho de 2004 pela Fundação Cultural Palmares
(FCP). Reconhecida oficialmente como comunidade quilombola, em 2004,
pesquisadores vinculados ao Núcleo de Estudos sobre Identidade e Relações
Interétnicas (NUER), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),
realizaram os estudos sócio-históricos e antropológicos da comunidade, em
convênio com o INCRA. (FERNANDES; BRUSTOLIN; TEIXEIRA, 2006)
No ano seguinte, em 2005, a Comunidade Quilombola de São Roque
solicitou formalmente a regularização fundiária e deu abertura ao processo
de reconhecimento e titulação de seu território (FERNANDES; BRUSTOLIN;
TEIXEIRA, 2006). O Território Quilombola foi delimitado com uma área
de 7.327,6941 hectares, sendo que cerca de 36% desta área, equivalente a
2.668,8218 hectares, encontram-se sobrepostos pelos parques Nacionais.

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Todavia, até o momento, o processo de regularização pouco avançou, ainda


não foi expedida sua titulação, e segue repleto de conflitos, negando os direitos
aos moradores do Quilombo de São Roque e envolvendo novos atores como
o INCRA, Ministério Público Federal (MPF) e o Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
As iniciativas de proteção da biodiversidade voltadas para a criação
de Unidades de Conservação (UCs) no Brasil são tributárias da Convenção
da Diversidade Biológica, assinada na ocasião da Cúpula da Terra em 1992. A
criação e o controle de áreas protegidas, que podem ser de proteção integral e
de uso sustentável, são reguladas pelas normas dispostas no Sistema Nacional
de Unidades de Conservação (SNUC), instituído pela lei n. 9.985, de 18 de
julho de 2000.
Dentre as normas e critérios estabelecidos nesta lei para a criação,
implantação e gestão das UCs, destacamos a seguir, para fins de análise, a re-
gulamentação do SNUC relacionada às comunidades tradicionais cujos terri-
tórios situam-se dentro dos limites de áreas protegidas:

CAPÍTULO VII
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS

Art. 42. As populações tradicionais residentes em unida-


des de conservação nas quais sua permanência não seja
permitida serão indenizadas ou compensadas pelas ben-
feitorias existentes e devidamente realocadas pelo Poder
Público, em local e condições acordados entre as partes.
§ 1° O Poder Público, por meio do órgão competente,
priorizará o reassentamento das populações tradicionais
a serem realocadas.
§ 2° Até que seja possível efetuar o reassentamento de
que trata este artigo, serão estabelecidas normas e ações
específicas destinadas a compatibilizar a presença das
populações tradicionais residentes com os objetivos da
unidade, sem prejuízo dos modos de vida, das fontes de

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subsistência e dos locais de moradia destas populações,


assegurando-se a sua participação na elaboração das refe-
ridas normas e ações.

Embora esteja se consolidando um novo paradigma de conservação


dos recursos naturais, que reconhece a profunda inter-relação existente entre a
sociodiversidade e a biodiversidade, podemos facilmente constatar que os mo-
dos de atuação destas políticas e legislação ambiental continuam atrelados ao
paradigma reducionista-preservacionista, que tende a isolar as áreas naturais
da participação e ação antrópicas. A gestão de recursos naturais de uso comum
pelas políticas do Estado brasileiro que se pretendem no discurso conserva-
cionistas têm frequentemente excluído a participação social no manejo dos
espaços ambientais que, cabe lembrar, foram historicamente gestionados por
diversas comunidades tradicionais, o que se agrava com a intervenção de agen-
tes ambientais despreparados frente à comunidade local envolvida, gerando os
conflitos socioambientais4.
Esta contradição entre o discurso e prática das instâncias governa-
mentais pode ser indubitavelmente constatada em diversos aspectos do caso
de sobreposição dos parques Nacionais Aparados da Serra (PNAP) e Serra
Geral (PNSG) sobre o território da Comunidade Quilombola de São Roque,
bem como em outros casos similares envolvendo a criação de unidades de
conservação e comunidades tradicionais no Brasil5.

4 Segundo VIVACQUA; VIEIRA (2005): “o termo conflito socioambiental designa as


relações sociais de disputa/tensão entre diferentes grupos ou atores sociais pela apropriação
e gestão do patrimônio natural e cultural. Essas situações de litígio, vigentes nos níveis ma-
terial e simbólico, podem ou não assumir a forma de um embate mais direto. Elas decorrem,
muitas vezes, do esforço investido na simples prevenção ou mesmo na reparação de da-
nos ambientais” (p.140).
5 A exemplo da criação dos de parques ecológicos e Áreas de Proteção Ambiental
(APA) nos territórios das comunidades de remanescentes de quilombos do Vale do Ribeira
(SP) e da criação da Reserva Biológica do Trombetas pelo IBAMA, que levou a expulsão de
várias famílias das comunidades quilombolas que tradicionalmente ocupam a região dos rios
Trombetas, Eripecuru e Cuminá, no Estado do Pará. Em ambos os casos grande parte das práti-
cas tradicionais de manejo e cultivo da terra tornaram-se ilegais devido à restrição e regulamen-
tação do uso dos sistemas naturais da região, que foram tangenciadas e fiscalizadas pelas UCs.

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PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL:
ÁREAS PROTEGIDAS
Nilzo Ivo Ladwig – Juliano Bitencourt Campos

A violência estrutural por parte do Estado (através do IBAMA e do


ICMBio) que a comunidade vem sofrendo, há décadas, tem forte expressão
na burocratização intensa no tocante à garantia dos direitos da comunidade;
na judicialização dos conflitos entre os órgãos e sujeitos quilombolas envolvi-
dos; na invisibilização e negligência de sua existência e criminalização de suas
práticas tradicionais na área dos parques. Tal violência e racismo estrutural
podem ser evidenciados na fala de um dos moradores e lideranças da comu-
nidade a respeito do impedimento do Estado de cultivarem em seu território:

O que eu tenho dito aí pros companheiro, que nós tamo


impedido de manter nossa cultura aí. Esse território é
nosso, de muitos anos, mas nós não podemos trabalhar
nele para sobreviver. Essa semente que nós joguemo ali
era para ter sido plantada. Isso ia produzir nem sei quan-
tas toneladas de alimento, que hoje não precisava nós
andar dependendo de cesta básica, podia estar vivendo
com as nossas próprias mãos e hoje nós não temos con-
dições porque fomos impedidos de trabalhar no nosso
território. A nossa cultura está morrendo é por causa
disso aí, nós estamos sendo sufocados porque não po-
demos trabalhar no nosso território, nós tamo preso
aqui (Seu Vilson Omar da Silva, morador da Comunidade
de São Roque. In: ABREU, 2014c, destaques nossos).

Outro senhor quilombola também expõe e desabafa sobre a situa-


ção de criminalização e impedimento, pelo Estado, da prática da agricultura
tradicional voltada à subsistência da comunidade, tendo como efeito a saída
de alguns membros de seus territórios em busca de sobrevivência física e ma-
terial. Segundo ele:

Primeiro nós transportava mantimento para vender


para fora e agora ao invés de transportar, nós temos
que trazer para cá. Comprando milho para criar uma
galinha, se quiser. Se quiser criar um leitão, um por-

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PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL:
ÁREAS PROTEGIDAS
Nilzo Ivo Ladwig – Juliano Bitencourt Campos

quinho, tem que trazer tudo de lá para cá, porque não


podemo plantar. Então, eu, graças a Deus, hoje tenho um
salariozinho razoável, de pobre. Mas tem muitas pessoas
aqui que não tem salário para sobreviver e não podem
plantar. Tá séria a situação, completamente séria.
(Paulo Oliveira, morador da Comunidade de São Roque.
In: ABREU, 2014d, destaques nossos).

As propostas e tentativas do governo de retirar, realocar e indenizar


esta comunidade exemplificam a negligência, o racismo ambiental e institu-
cional do Estado com a mesma, à medida em que nega e ameaça os direitos de
propriedade e de continuidade social, histórica e cultural destes sujeitos, com
os quais possui uma dívida incontestável. Prática que se expressa, também,
como violência psicológica na história e experiência desses sujeitos e de toda
comunidade, se manifestando nas vozes de alguns de seus membros:

Há cem anos atrás, há cento e poucos anos tivemos o


nosso bisavô, que foram criados, nossos pais, nossos
tios, aqui. Como é que agora vamos entregar esse
território aqui? Pra onde vamos? Eu pergunto para
as autoridades, cada vez que eu converso, pergunto:
pra onde vamos? Se nós não temos uma formação para
poder trabalhar como funcionário. O que nós sabemos
e o que nós queremos é segurar nossa cultura, porque
nós não podemos deixar a cultura dos nossos antepas-
sados morrer. Cada vez que eu falo isso, assim, fico até
emocionado mesmo. Da raça negra, em um país que
se diz democrático, estar implorando às autoridades.
Claro que nós temos que respeitar às autoridades, mas
a gente tem que estar implorando pra poder plantar,
para sobreviver. Que país é esse? Isso parece que ain-
da é aquele regime militar que nós vivemo há poucos
anos…. Enquanto tiver negro morando no porão, tiver
negro embaixo da ponte, pra mim essa democracia pode
ser um arremedo de democracia. Agora democracia ela
não é! (...) Enquanto eu não ver esse povo liberto, essa

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PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL:
ÁREAS PROTEGIDAS
Nilzo Ivo Ladwig – Juliano Bitencourt Campos

raça liberta, eu também não vou me acomodar, nós vamo


pra luta porque semo obrigado a ir. (Seu Vilson Omar
da Silva, morador da Comunidade de São Roque, In:
ABREU, 2014c, destaques nossos).

E eles dizem “tirar nós daqui, nos mata em primeiro”,


porque significa matar. Você tirar um quilombola do
seu território de origem, onde tem os seus marcos
culturais, é matar essa comunidade (Maria de Lourdes
Mina - Coordenação Estadual do Movimento Negro
Unificado - MNU, durante o Ato no Quilombo de São
Roque (SC), em 26 de abril de 2014, destaques nossos).

A regulação do uso dos recursos naturais e das condições de perma-


nência das comunidades tradicionais nas UCs, bem como de situações tran-
sitórias (como a recategorização dessas áreas), tem sido realizada e conduzida
pelo ICMBio através dos Termo de Compromisso (TC), o qual consiste num
importante instrumento que visa normatizar a relação entre populações tradi-
cionais residentes no interior das UCs de proteção integral, como o PNAS e o
PNSG, onde não são permitidos a presença humana nem o uso direto de seus
recursos naturais.
A Instrução Normativa n. 26/2012 visa regular a “elaboração, im-
plementação e monitoramento de termos de compromisso entre o ICMbio
e populações tradicionais residentes em UCs onde sua presença não seja
admitida ou esteja em desacordo com instrumentos de gestão” (destaques
nossos). Reside aí uma das problemáticas centrais do caso de sobreposição dos
parques Nacionais AP e SG sobre o território da Comunidade Quilombola
de São Roque. Enquanto remanescentes de comunidade de quilombo, esses
sujeitos possuem garantidos, nacional e internacionalmente, seus direitos de
reconhecimento, autodeterminação e propriedade da terra de forma legítima
e anterior à criação das UCs, visto que, conforme analisa Figueiredo (2006):

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PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL:
ÁREAS PROTEGIDAS
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1) o art. 68 do ADCT realiza diretamente direitos funda-


mentais coletivos que asseguram a dignidade da pessoa
humana ligada ao mínimo existencial, já o direito ao
meio ambiente realiza direito difuso
2) o direito dos remanescentes de quilombos são direitos
de segunda geração, enquanto o direito ao meio ambiente
é de terceira geração.
3) constatar-se-ia, então, uma prevalência das terras de
quilombo sobre áreas de preservação permanente ou uni-
dades de conservação (FIGUEIREDO, 2006, p. 66).

Tendo em vista que a conservação e o equilíbrio do patrimônio am-


biental e dos recursos naturais nele contidos são de caráter intergeracional e
constitui um direito fundamental, de terceira geração e difuso, assinalamos
que o direito inalienável conquistado pelos remanescentes das comunidades
de quilombos na CF de 1988, no tocante à sua territorialidade específica e
tradicional, deve prevalecer e ser respeitado na categorização e objetivos da
unidade.
Observamos, nesse sentido, que o art. 42, § 2°, da lei n. 9.985/00, é
contraditório em si mesmo, na medida em que determina realocação das po-
pulações ao mesmo tempo em que admite a possibilidade da compatibilização
da presença com os objetivos da unidade (FIGUEIREDO, 2006). Além disso,
este mesmo artigo n. 42 estabelece que as populações tradicionais localizadas
nas áreas estabelecidas como unidades de conservação devem ser “indeniza-
das ou compensadas pelas benfeitorias existentes e devidamente realocadas
pelo Poder Público, em local e condições acordados entre as partes”. Estamos,
portanto, diante de um contexto de racismo institucional e violência estrutu-
ral, em que o Estado nega-lhes o reconhecimento de sua existência, de seus
direitos territoriais e de autodeterminação, o qual age de modo a ameaçar e/
ou inviabilizar a presença dessas comunidades e seus territórios tradicionais.
Importante lembrar que o art. 16 da Convenção n. 169/89 da OIT,
promulgado pelo decreto n. 5.051/04, dispõe expressamente que “os povos

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PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL:
ÁREAS PROTEGIDAS
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interessados não deverão ser transladados das terras que ocupam”, salvo “com
o consentimento dos mesmos”. Destaca-se também a proposta e diretrizes do
Plano Estratégico Nacional de Áreas Protegidas (PNAP), criado através do
decreto n. 5.758, de 13 de abril de 2006, que visa “IX – assegurar os direitos
territoriais das comunidades quilombolas e dos povos indígenas como instru-
mento para conservação de biodiversidade”.
Essa problemática violência praticada contra a comunidade qui-
lombola de São Roque pode ser identificada no longo processo de elaboração
do Termo de Compromisso celebrado entre o ICMBio e a Associação dos
Remanescentes de Quilombo São Roque em 2013, “visando regulamentar o
uso e o manejo nas áreas de sobreposição entre o território quilombola de São
Roque o os parques Nacionais de Aparados da Serra e Serra Geral”. Segundo
relata Santilli (2014) acerca deste contexto:

Após complexas negociações entre o ICMBio e a co-


munidade quilombola de São Roque (que tem seu ter-
ritório tradicional superposto aos parques Nacionais de
Aparados da Serra e da Serra Geral), chegou a ser assina-
do, em 08/03/2013, um termo de compromisso pelo pre-
sidente do ICMBio, pela Associação dos Remanescentes
de Quilombo São Roque (ARQSR) e pelo representante
do Ministério Público Federal em Santa Catarina, Dr.
Darlan Airton Dias. O TC se destinava a regulamentar
o uso e o manejo dos recursos naturais pela comunidade
quilombola de São Roque, dentro da área de sobreposi-
ção de seu território tradicional e os referidos parques
nacionais. Entretanto, antes que o TC fosse publicado
pelo Diário Oficial, o presidente do ICMBio voltou
atrás em sua decisão de assiná-lo, e determinou a sua
suspensão, em virtude do posicionamento contrário da
Diretoria de Áreas Protegidas do MMA. A suspensão do
TC foi motivo de grande decepção para a comunidade
quilombola, que havia se empenhado durante anos em
negociações com a administração local do ICMBio, com
apoio e intermediação do MPF e do INCRA. A comu-
nidade quilombola divulgou uma nota denunciando o

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PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL:
ÁREAS PROTEGIDAS
Nilzo Ivo Ladwig – Juliano Bitencourt Campos

“racismo ambiental do ICMBio”, em que afirma o rigor


usado pelo órgão ambiental contra os quilombolas não é
aplicado aos grandes e médios proprietários que ocupam
UCs (SANTILLI, 2014, p.421-422).

Segundo a nota6 publicada pela antropóloga Raquel Mombelli (2018),


do Comitê Quilombos da ABA7, a morosidade do Estado brasileiro, através
do ICMBio, em reconhecer a assinatura do TC firmado com a Comunidade
Quilombola São Roque, perdurou durante dez anos, sendo redigidas, nesse
tempo, dezessete versões do TC para se chegar ao consenso do conteúdo final
deste documento de fundamental importância para a comunidade, fruto de
sua luta e resistência pela garantia de seus direitos constitucionais. Ainda que,
em 2018, tenha ocorrido a instalação do Grupo de Trabalho Interinstitucional
(GTI), previsto no referido TC, dando início a um processo de diálogo entre a
comunidade e os agentes do ICMBio, constata-se que ainda inexiste um plano
de manejo que reconheça a comunidade quilombola de São Roque e garanta
seu direito de participação, colaboração e consulta na elaboração do mesmo.
As contradições e negligências do Estado em relação ao reconhe-
cimento e à garantia dos direitos da comunidade quilombola de São Roque
ainda é uma realidade vivida por ela diariamente, configurando-se, nos ter-
mos colocados em nota pela própria comunidade, como práticas de racismo
ambiental8.

6 Disponível em: http://www.portal.abant.org.br/wp-content/upload-


s/2018/08/20180523_5b05c61aab770.pdf. Acesso em: 18 out. 2020.
7 Associação Brasileira de Antropologia.
8 De acordo com a definição e consideração de Pacheco: “Chamamos de Racismo
Ambiental às injustiças sociais e ambientais que recaem de forma implacável sobre etnias e po-
pulações mais vulneráveis. O Racismo Ambiental não se configura apenas através de ações que
tenham uma intenção racista, mas, igualmente, através de ações que tenham impacto “racial”,
não obstante a intenção que lhes tenha dado origem. (…) O conceito de Racismo Ambiental
nos desafia a ampliar nossas visões de mundo e a lutar por um novo paradigma civilizatório, por
uma sociedade igualitária e justa, na qual democracia plena e cidadania ativa não sejam direitos
de poucos privilegiados, independentemente de cor, origem e etnia” (PACHECO, 2007 apud
PACHECO, 2008, p. 11).

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PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL:
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O respeito ao direito de autodeterminação da comunidade enquan-


to povo remanescente de quilombo, garantindo sua autonomia, suas formas
próprias e específicas de viver, seu autogoverno, como também dos modos
de uso dos recursos naturais de seus territórios, faz-se fundamental para que
um diálogo efetivamente virtuoso e socialmente mais justo se realize entre o
Estado (a partir de suas normas e agentes) e os sujeitos quilombolas.

O ICMbio dizia que aqui não existiam negros. (...) E o


que nós vêm discutindo com eles é que só nós, negros,
podemos dizer o que somos; que não tem IBAMA, que
não tem decreto nenhum que pode dizer o que somos.
Quem pode dizer o que somos, somos nós mesmos,
nós, negros. Assim como os alemães dizem o que são,
assim como os italianos dizem o que são. Nós, negros, te-
mos o direito a nossa história (Maria de Lourdes Mina,
Coordenação Estadual do Movimento Negro Unificado
(MNU), durante o Ato no Quilombo de São Roque (SC),
em 26 de abril de 2014. In: ABREU, 2014a, grifos nossos).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho buscou compreender e analisar as complexida-


des presentes nas relações entre a Comunidade Quilombola de São Roque e
a existência dos parques Nacionais de Aparados da Serra e Serra Geral, cujos
territórios estão sobrepostos há décadas.
Mais do que conclusões e respostas, o que emergiu durante o debru-
çar e reflexões tecidas sobre este caso foram perguntas e questionamentos. A
primeira delas consiste na própria noção de sobreposição “entre” o território
quilombola e a área dos parques. Em que medida essa noção corrobora com
a despolitização do histórico de lutas e direitos das comunidades quilombolas
no país, contribuindo para a negação e/ou invisibilidade do direito de posse,
demarcação e titulação de seus territórios tradicionais?

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PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL:
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Visto a grande quantidade de leis, convenções, normas, diretrizes,


entre outros documentos legais oficiais, que asseguram o direito e reconheci-
mento das comunidades tradicionais – nacional e internacionalmente – por
que ainda existe um abismo e contradição entre o discurso e a prática dos
mesmos para sua efetivação (a exemplo do problemático processo de elabora-
ção do referido TC e da invisibilização da existência e presença da comunidade
no Plano de Manejo realizado, negando-lhe sua participação na gestão dos
parques)? Na mesma direção, por que ainda não foi realizado o Plano Diretor?
Também, por que ainda se mantém a categorização preservacionista “proteção
integral” das UCs, restringindo o acesso aos recursos naturais e práticas de
sobrevivência pelos membros da comunidade que há tantos anos são respon-
sáveis pela conservação ambiental destes territórios?
Como a prática e discurso racista do Estado são reproduzidos por
seus atores sociais na implementação das políticas públicas ambientais e gestão
das UCs, configurando-se muitas vezes em violação dos direitos humanos dos
povos e comunidades tradicionais?
Consideramos, neste momento conclusivo, serem necessárias refle-
xões de cunho crítico que possam movimentar reais e profundas transforma-
ções nas questões abordadas brevemente neste trabalho, as quais visam apon-
tar para medidas efetivas que se fazem urgentes para a garantia dos direitos
dos povos e comunidades tradicionais. Evidenciamos, nesse sentido, o quanto
há ainda a ser percorrido para alcançarmos o respeito, nas diversas esferas e
setores da sociedade, para com os povos e comunidades quilombolas. Cabe
destacar que algumas das problemáticas trazidas nessas reflexões são violenta-
mente vivenciadas pelos sujeitos das comunidades remanescentes de quilom-
bos nas mais diversas regiões do país. Estes sujeitos sofreram e sofrem não só
por sua invisibilização na sociedade brasileira, mas também pelo impedimen-
to de permanecerem em seus territórios ancestrais e vivenciarem suas práticas
tradicionais, sob a alegação da bandeira global da “preservação ambiental” que
invisibiliza os povos e comunidades responsáveis pela conservação dos recur-
sos naturais há tempos e gerações.

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PLANEJAMENTO E GESTÃO TERRITORIAL:
ÁREAS PROTEGIDAS
Nilzo Ivo Ladwig – Juliano Bitencourt Campos

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