Entre o Antigo e o Moderno

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ENTRE O ANTIGO E O MODERNO

(arquitetura manuelina, João de Castilho etc).

A arquitetura do período manuelino deverá ser entendida como uma síntese pragmática e
eficiente. Desenvolve-se num período de transição e de conjugação de influências múltiplas,
congregando elementos do gótico final, bem como princípios do pensamento renascentista e
maneirista. Apesar da permanência dos modelos góticos, introduzem-se alterações na
composição do espaço interior e na volumetria. Segundo Vitor Serrão, o manuelino traz uma
dinamização espacial moderna: podemos encontrar novas soluções na articulação espacial,
como as abóbodas de combados e a adoção das igrejas-salão, permitindo levantar as três naves à
mesma altura, com uma luminosidade homogénea e uma conceção unitária do espaço.

A arquitetura manuelina traduz uma forte relação com o território e com o planeamento
da cidade.

O período do reinado de D. Manuel é, sem dúvida, o momento de charneira para a arquitetura,


onde no mesmo espaço construtivo podia coabitar a tradição e a inovação.

O Manuelino, termo cunhado em meados do Séc. XIX, é um “estilo” de Arquitetura híbrido,


estruturalmente de natureza gótica, de abóbadas nervuradas, e ornamentação profusa, do tipo
flamejante. No entanto, na sua espacialidade, com o equilíbrio harmonioso entre altura, largura
e profundidade da
nave, e a curvatura pouco pronunciada das abóbadas, parece denotar-se uma
sensibilidade espacial mais dentro do espírito renascentista, com predomínio
da horizontalidade, do que afim ao verticalismo gótico. De certo modo, pode
dizer-se do Manuelino, que se trata de vinho novo, acidulado e fresco, cheio de espírito e
vivacidade, metido dentro de uma empoeirada garrafa velha.

Mas não é apenas na espacialidade que se denota uma nova sensibilidade. Na decoração, com a
profusão de ornamentos (naturalistas, vegetais, cordas, redes), e a iconografia do poder régio (a
profusão de escudos, cruzes, esferas armilares), expressa-se com júbilo a nova visão da natureza
e do mundo, que então se gizava no Ocidente, e o cometimento venturoso dos Descobrimentos
que consolidou o Império, expandindo-o do Norte de África para a Índia e o Brasil, e veio
proporcionar a D. Manuel I um sentimento de poder novo, triunfal e também de uma riqueza
nova, desconhecida dos tempos anteriores.

É certo que o tipo de Arquitetura, mais tarde designado de Manuelino, começa antes do reinado
de D. Manuel I, observando-se já desde o tempo de D. João II, tendo a sua génese na Igreja do
Convento de Jesus em Setúbal, a partir de 1494, com Diogo Baitaca (falec. 1529) primeiro
arquiteto dos Jerónimos, autor do plano inicial, tendo-se-lhe seguido Diogo de Arruda (falec.
1521), a quem se deve a Sala do Capítulo e sua famosa Janela, no Convento de Cristo em
Tomar, e João de Castilho (1470-1553), talvez o mais notável desse grupo de arquitetos, com
quem, quer o Manuelino, quer o Renascimento atingem a culminância.

A. O mosteiro dos Jeronimos

A construção do mosteiro dos Jerónimos, principalmente com o impulso que tem em


1516/17, é uma tentativa de criar uma arquitetura que fosse a imagem eternizada de D. Manuel
e do seu poder enquanto Estado.
B. Mobilidade artística

As viagens efetuadas entre diferentes regiões pelos mestres de arquitetura, aparelhadores,


oficiais ou por executantes do labor cantaril permitiram uma difusão de soluções, de formas e
modelos arquitetónicos. É inegável que este transito foi importante quer para a renovação da
arquitetura tardo-gotica, quer para a introdução de elementos do primeiro renascimento
português. Essa ação de mobilidade vai intensificar-se, principalmente durante o período de
governação de D.Manuel I, onde a arquitetura marca a consolidação do poder, um pautar do
ritmo de governação e uma maneira de lograr uma projeção politica.

A cidade de Lisboa é uma verdadeira síntese de todos esses locais, sendo o mosteiro dos
Jerónimos o espaço de maior destaque. Este estaleiro, sob comando de João de Castilho ganha
outra dimensão, passando acolher uma legião de estrangeiros experimentados na arte da
arquitetura, o que torna o estaleiro de Belem num verdadeiro laboratório de formas.

C. João de Castilho e o classicismo

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