Entre o Antigo e o Moderno
Entre o Antigo e o Moderno
Entre o Antigo e o Moderno
A arquitetura do período manuelino deverá ser entendida como uma síntese pragmática e
eficiente. Desenvolve-se num período de transição e de conjugação de influências múltiplas,
congregando elementos do gótico final, bem como princípios do pensamento renascentista e
maneirista. Apesar da permanência dos modelos góticos, introduzem-se alterações na
composição do espaço interior e na volumetria. Segundo Vitor Serrão, o manuelino traz uma
dinamização espacial moderna: podemos encontrar novas soluções na articulação espacial,
como as abóbodas de combados e a adoção das igrejas-salão, permitindo levantar as três naves à
mesma altura, com uma luminosidade homogénea e uma conceção unitária do espaço.
A arquitetura manuelina traduz uma forte relação com o território e com o planeamento
da cidade.
Mas não é apenas na espacialidade que se denota uma nova sensibilidade. Na decoração, com a
profusão de ornamentos (naturalistas, vegetais, cordas, redes), e a iconografia do poder régio (a
profusão de escudos, cruzes, esferas armilares), expressa-se com júbilo a nova visão da natureza
e do mundo, que então se gizava no Ocidente, e o cometimento venturoso dos Descobrimentos
que consolidou o Império, expandindo-o do Norte de África para a Índia e o Brasil, e veio
proporcionar a D. Manuel I um sentimento de poder novo, triunfal e também de uma riqueza
nova, desconhecida dos tempos anteriores.
É certo que o tipo de Arquitetura, mais tarde designado de Manuelino, começa antes do reinado
de D. Manuel I, observando-se já desde o tempo de D. João II, tendo a sua génese na Igreja do
Convento de Jesus em Setúbal, a partir de 1494, com Diogo Baitaca (falec. 1529) primeiro
arquiteto dos Jerónimos, autor do plano inicial, tendo-se-lhe seguido Diogo de Arruda (falec.
1521), a quem se deve a Sala do Capítulo e sua famosa Janela, no Convento de Cristo em
Tomar, e João de Castilho (1470-1553), talvez o mais notável desse grupo de arquitetos, com
quem, quer o Manuelino, quer o Renascimento atingem a culminância.
A cidade de Lisboa é uma verdadeira síntese de todos esses locais, sendo o mosteiro dos
Jerónimos o espaço de maior destaque. Este estaleiro, sob comando de João de Castilho ganha
outra dimensão, passando acolher uma legião de estrangeiros experimentados na arte da
arquitetura, o que torna o estaleiro de Belem num verdadeiro laboratório de formas.