Gabaritos Temas 05 e 06 Processo Penal

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Tema 05:

Procedimento sumaríssimo (continuação): Suspensão condicional do processo: natureza


jurídica. A suspensão como poder discricionário (extensão do direito de ação) ou direito
subjetivo do acusado. Iniciativa e momento da proposta. Aceitação e não aceitação da
proposta. Pressupostos. Condições obrigatórias e facultativas. Extinção da punibilidade.

1ª QUESTÃO:
Proferida sentença condenatória sem que tenha o Ministério Público ofertado a proposta de
suspensão condicional no curso da ação penal, ainda que presentes todos os seus requisitos, pode o
Defensor, posteriormente, em qualquer tempo e grau de jurisdição, requerer tal concessão?
Fundamente a sua resposta em, no máximo, 15 (quinze) linhas.

RESPOSTA:
"É importante sublinhar que, presentes os pressupostos legais, não poderá o Ministério Público
deixar de oferecer a suspensão condicional do processo, que poderá ser aceita ou não pelo réu. Não
se pode esquecer que a medida insere-se na lógica do consenso, não apenas no sentido de que o réu
é obrigado a aceitar a proposta, mas também na perspectiva de que poderá negociar a duração e
demais condições.
Ainda que o dispositivo legal mencione que o Ministério Público "poderá propor", isso não significa
que seja uma faculdade do acusador. (...) Não é, assim, disponível para o Ministério Público e
tampouco pode transformar-se em instrumento de arbítrio.
E se, mesmo presentes os pressupostos legais, o Ministério Público não o fizer?
Voltamos ao mesmo ponto explicado anteriormente, quando analisados a transação penal, ou seja:
predomina o entendimento de que deverá o juiz aplicar o art. 28 do CPP, por analogia. Nesse sentido,
novamente citamos a Súmula n. 696 do STF, cujo verbete é: Reunidos os pressupostos legais
permissivos da suspensão condicional do processo, mas se recusando o Promotor de Justiça a
propô-la, o juiz, dissentindo, remeterá a questão ao Procurador-Geral, aplicando-se por analogia
o art. 28 do Código de Processo Penal.
...
Em que pese ser esse o entendimento prevalente, insistimos em nossa posição de que essa é uma
solução excessivamente burocrática e fora da realidade diuturna dos foros brasileiros. Ademais,
atribui a última palavra ao próprio Ministério Público, retirando a eficácia do direito subjetivo do
acusado. Dessarte, presentes os pressupostos legais e insistindo o Ministério Público na recusa em
oferecer a suspensão condicional, pensamos que a melhor solução é permitir que o juiz o faça,
acolhendo o pedido do imputado, concedendo o direito postulado. Novamente, afirmamos que o
fato de atribuir-se ao juiz esse poder em nada viola o modelo constitucional-acusatório por nós
defendido. A sistemática é outra. O imputado postula o reconhecimento de um direito (suspensão
condicional do processo) que lhe está sendo negado pelo Ministério Público, e o juiz decide,

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mediante invocação. O papel do juiz aqui é o de garantidor da máxima eficácia do sistema de direitos
do réu, ou seja, sua verdadeira missão constitucional."
(LOPES JR, Aury. Direito Processual Penal. 10 ed. São Paulo: Saraiva, 2013. pág. 973-974).

"13.4.3.4 Suspensão condicional do processo


(...)
Semelhante ao que ocorre com a transação penal, há divergência quanto à natureza jurídica da
suspensão condicional do processo. Parte da doutrina entende que se trata de direito público
subjetivo do acusado, pelo que, satisfeitos os requisitos legais, o Ministério Público não poderia
deixar de formular a proposta. Outra corrente entende que se trata de ato consensual, não sendo
possível imporaoMinistério Público a formulação da proposta. Quem entende tratar-se de direito
público subjetivo do acusado, ante a recusa do Ministério Público em propor a suspensão, admite
que o juiz, de ofício, formule a proposta. Por sua vez, quem considera tratar-se de um ato de
consenso, se não houver proposta do Promotor de Justiça, o juiz deverá, aplicando por analogia o
art. 28 do CPP, remeter o processo ao Procurador-Geral de Justiça, para que este: (1) formule a
proposta; (2) designe outro promotor para formular a proposta; (3) insista na não formulação da
proposta. Esta segunda posição foi referendada recentemente, pela Súmula n. 696 do STF: Reunidos
os pressupostos legais permissivos da suspensão condicional do processo, mas se recusando o
Promotor de Justiça a propô-la, o juiz, dissentindo, remeterá a questão ao Procurador-Geral,
aplicando-se por analogia o art. 28 do Código de Processo Penal".
(BADARÓ, Gustavo. Processo Penal. 3 ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2015, pág. 634-635).

"Caso a proposta não seja formulada pelo titular da ação penal por ocasião do oferecimento da peça
acusatória, deve a defesa técnica protestar por sua apresentação, sob pena de preclusão. Na visão
dos Tribunais Superiores, a nulidade decorrente do silêncio, na denúncia, quanto à suspensão
condicional do processo é relativa, ficando preclusa se não versada pela defesa no momento
próprio."
(LIMA, Renato Brasileiro de. Curso de Processo Penal. Volume único. Rio de Janeiro:
Impetus, 2013, pág. 1.484).

"AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. EXPLORAÇÃO DE


RECURSOS MINERAIS. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. TRÂNSITO EM
JULGADO DA CONDENAÇÃO. PRECLUSÃO. INTIMAÇÃO DA SENTENÇA
CONDENATÓRIA. RÉU SOLTO. INTIMAÇÃO DO ADVOGADO. POSSIBILIDADE.
AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. Se a preclusão alcança aqueles casos em que a suspensão condicional do processo não foi
ventilada até a sentença, com muito mais razão também alcança as hipóteses em que, com
aprolação da sentença, o acusado passa a fazer jus a proposta de suspensão do processo, mas

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a defesa e o Ministério Público se mantêm inertes, permitindo o trânsito em julgado da
condenação.
2. De acordo com a jurisprudência desta Corte, em se tratando de réu solto, é suficiente a intimação
de seu advogado acerca da sentença condenatória, procedimento que garante a observância dos
princípios da ampla defesa e do contraditório.
3. Agravo regimental não provido."
grifei
(STJ. Sexta Turma. AgRg no AResp 1.273.432/RJ. Relator Ministro Rogério Schietti Cruz.
Julgamento em 19/05/2020).

"AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. EXPLORAÇÃO DE


RECURSOS MINERAIS. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. TRÂNSITO EM
JULGADO DA CONDENAÇÃO. PRECLUSÃO. INTIMAÇÃO DA SENTENÇA
CONDENATÓRIA. RÉU SOLTO. INTIMAÇÃO DO ADVOGADO. POSSIBILIDADE.
AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. Se a preclusão alcança aqueles casos em que a suspensão condicional do processo não foi
ventilada até a sentença, com muito mais razão também alcança as hipóteses em que, com a
prolação da sentença,o acusado passa a fazer jus a proposta de suspensão do processo, mas a
defesa e o Ministério Público se mantêm inertes, permitindo o trânsito em julgado da
condenação.
2. De acordo com a jurisprudência desta Corte, em se tratando de réu solto, é suficiente a intimação
de seu advogado acerca da sentença condenatória, procedimento que garante a observância dos
princípios da ampla defesa e do contraditório.
3. Agravo regimental não provido."
grifei
(STJ. Quinta Turma. AgRg no HC 496.414/SP. Relator Ministro Jorge Mussi.Julgamento em
26/03/2019).

"AGRAVO REGIMENTAL. HABEAS CORPUS. INDEFERIMENTO LIMINAR. WRIT


IMPETRADO EM SUBSTITUIÇÃO AO RECURSO CABÍVEL. UTILIZAÇÃO INDEVIDA DO
REMÉDIO CONSTITUCIONAL. VIOLAÇÃO AO SISTEMA RECURSAL. FURTO
QUALIFICADO. PROPOSTA DE SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. NÃO
OFERECIMENTO. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO OPORTUNA DA DEFESA.
PRECLUSÃO. NÃO PREENCHIMENTO DO REQUISITO OBJETIVO PREVISTO NO
ARTIGO 89 DA LEI 9.099/1995. COAÇÃO ILEGAL INEXISTENTE. DESPROVIMENTO DO
RECLAMO.

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1. A via eleita revela-se inadequada para a insurgência contra o ato apontado como coator, pois o
ordenamento jurídico prevê recurso específico para tal fim, circunstância que impede o seu formal
conhecimento. Precedentes.
2. Eventual omissão do órgão acusatório ou ilegalidade na negativa do benefício da suspensão
condicional do processo deve ser arguida no momento oportuno pela defesa, sob pena de preclusão.
Precedentes.
3. Na espécie, embora a defesa alegue que requereu a designação de audiência para a proposta
de suspensão condicional do processo por ocasião da resposta à acusação, não se insurgiu
contra a ausência de propositura da benesse antes da prolação da sentença condenatória,
arguindo a aludida mácula apenas por ocasião da interposição do recurso de apelação, o que
revela apreclusão do exame do tema.
4. Conquanto sustente no presente agravo regimental que arguiu a mácula em questão na audiência
de instrução e julgamento, a Defensoria Pública não anexou ao presente mandamus qualquer
documento que comprove tal afirmação.
5. O rito do habeas corpus e do recurso ordinário em habeas corpus pressupõe prova pré-constituída
do direito alegado, devendo a parte demonstrar, de maneira inequívoca e tempestiva, por meio de
documentação que evidencie a pretensão aduzida, a existência do aventado constrangimento ilegal,
ônus do qual não se desincumbiu a defesa, exercida pela Defensoria Pública Estadual.
6. A pena mínima cominada ao crime pelo qual o paciente foi denunciado é de 2 (dois) anos de
reclusão, quantum que inviabiliza a concessão do sursis processual, nos termos do caput do artigo
89 da Lei 9.099/1995. Inteligência do verbete 243 da Súmula deste Superior Tribunal de Justiça.
7. Não é possível considerar nocálculo da pena mínima cominada ao crime imputado ao paciente a
causa de diminuição reconhecida apenas quando do julgamento do recurso de apelação. Precedente.
8. Agravo regimental desprovido."
grifei
(STJ. Quinta Turma. AgRg no HC 496.414/SP. Relator Ministro Jorge Mussi. Julgamento em
26/03/2019).

"PROCESSO PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. AUSÊNCIA DE


OFERECIMENTO DE PROPOSTA DE SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO.
SENTENÇA CONDENATÓRIA TRANSITADA EM JULGADO. PRECLUSÃO.
NULIDADE RELATIVA. RECURSO DESPROVIDO.
1. Nos moldes do consignado no acórdão ora recorrido, a ausência de oferta da suspensão
condicional do processo pelo querelante não foi impugnada durante o curso do processo-
crime, não sendo razoável admitir que a sentença condenatória venha a ser anulada por tal
fundamento,por se tratar de nulidade relativa, a qual deveria ter sido alegada pela defesa na
primeira oportunidade em que se manifestou nos autos. Precedentes.
2. Recurso desprovido."

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grifei
(STJ. Quinta Turma. RHC 92.258/PA. Relator Ministro Ribeiro Dantas. Julgamento em
27/02/2018).

2ª QUESTÃO:
O Ministério Público formulou proposta de suspensão condicional do processo, tendo ela sido aceita
pela acusada TERESA CRISTINA.
Durante o período de prova, TERESA CRISTINA foi denunciada pela prática do crime previsto
no art. 28 da Lei 11.343/2006, motivo pelo qual o ilustre membro do parquet requereu ao magistrado
a revogação obrigatória da suspensão condicional do processo, com fundamento no disposto no art.
89, §3º, da Lei 9.099/95.
Com base na situação hipotética acima narrada, esclareça, a partir do entendimento do Superior
Tribunal de Justiça, se o magistrado deve acolher o pleito ministerial.

RESPOSTA:
"PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO ESPECIAL. NEGATIVA DE VIGÊNCIA AO
ART. 89, § 4º, DA LEI N. 9.099/95. PROCESSAMENTO DO RÉU PELA PRÁTICA DA
CONDUTA DESCRITA NO ART. 28 DA LEI N. 11.343/06 NO CURSO DO PERÍODO DE
PROVA DE SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. CAUSA OBRIGATÓRIA DE
REVOGAÇÃO DO BENEFÍCIO. DESPROPORCIONALIDADE. ANALOGIA COM A
PRÁTICA DE CONTRAVENÇÃO PENAL. ANÁLISE COMO CAUSA FACULTATIVA DE
REVOGAÇÃO. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
1. A conduta prevista no artigo 28 da Lei n. 11.343/2006 não foi descriminalizada, mas apenas
despenalizada pela nova Lei de Drogas. Assim, em princípio, não tendo havido a abolitio criminis,
a prática do crime descrito no artigo 28 da Lei n. 11.343/2006 tem aptidão de gerar os mesmos
efeitos secundários que uma condenação por qualquer outro crime gera, como a reincidência
e a revogação obrigatória da suspensão condicional do processo, como previsto no artigo 89,
§ 3º, da Lei n. 9.099/1995. Todavia, importantes ponderações no âmbito desta Corte Superior têm
sido feitas no que diz respeito aos efeitos que uma condenação por tal delito pode gerar.
2. Em recente julgado deste Tribunal entendeu-se que "em face dos questionamentos acerca da
proporcionalidade do direito penal para o controle do consumo de drogas em prejuízo de
outras medidas de natureza extrapenal relacionadas às políticas de redução de danos,
eventualmente até mais severas para a contenção do consumo do que aquelas previstas atualmente,
o prévio apenamento por porte de droga para consumo próprio, nos termos do artigo 28 da Lei de
Drogas, não deve constituir causa geradora de reincidência" (REsp 1.672.654/SP, Rel. Ministra
MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 21/08/2018, DJe
30/08/2018). Outrossim, vem-se entendendo que a prévia condenação pela prática da conduta
descrita no art. 28 dda Lei n. 11.343/2006, justamente por não configurar a reincidência, não pode
obstar, por si só, a concessão de benefícios como a incidência da causa de redução de pena prevista

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no § 4º do art. 33 da mesma lei ou a substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de
direitos.
3. O principal fundamento para este entendimento toma por base uma comparação entre o delito do
artigo 28 da Lei de Drogas e a contravenção penal, concluindo-se que, uma vez que a contravenção
penal (punível com pena de prisão simples) não configura a reincidência, revela-se desproporcional
considerar, para fins de reincidência, o prévio apenamento por posse de droga para consumo próprio
(que, embora seja crime, é punido apenas com advertência sobre os efeitos das drogas, prestação de
serviços à comunidade e medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo, ou
seja, medidas mais amenas).
4. Adotando-se tal premissa por fundamento, igualmente, mostra-se desproporcional que o
mero processamento do réu pela prática do crime previsto no artigo 28 da Lei n. 11.343/2006
torne obrigatória a revogação da suspensão condicional do processo (art. 89, § 3º, da Lei n.
9.099/1995), enquanto que o processamento por contravenção penal (que tem efeitos primários
mais deletérios) ocasione a revogação facultativa (art. 89, § 4º, da Lei n. 9.099/1995). Assim, é
mais razoável que o fato de o recorrente estar sendo processado pela prática do crime previsto
no artigo 28 da Lei n. 11.343/2006 seja analisado como causa facultativa de revogaçãodo
benefício da suspensão condicional do processo, cabendo ao magistrado proceder nos termos
do § 4º do artigo 89 da Lei n. 9.099/2006 ou extinguir a punibilidade do recorrente (art. 89, §
5º, da Lei n. 9.099/1995), a partir da análise do cumprimento das obrigações impostas.
4. Recurso especial parcialmente provido."
grifei
(STJ. Quinta Turma. Resp 1.795.962/SP. Relator Ministro Ribeiro Dantas. Julgado em
10/03/2020).

Tema 06:
Aspectos processuais relativos aos crimes contra a propriedade imaterial. Condições de
procedibilidade. Prazo para o exercício do direito de queixa. Particularidades no
procedimento relativo aos crimes ambientais (Lei 9.605/98). Transação penal e sursis
processual: regência especial (artigos 27 e 28). Aspectos processuais referentes aos crimes de
trânsito (Lei 9.503/97): conciliação civil, transação penal e representação: artigo 291, CTB.
Suspensão da habilitação ou proibição de obtê-la como medida cautelar: artigo 294 do CTB.
A multa reparatória e o princípio do contraditório: artigo 297 do CTB. Aspectos processuais
nos crimes contra o consumidor e a economia popular.

1ª QUESTÃO:
ALEXANDRE LOVATELLI foi denunciado como incurso no artigo 306 do Código de Trânsito
Brasileiro. Segundo o Ministério Público, o denunciado, no dia 06/05/2018, foi encontrado por
policiais rodoviários caído no solo ao lado de sua motocicleta. Ao realizar o teste de alcoolemia,
constatou-se que ALEXANDRE LOVATELLI estava embriagado com concentração de álcool em
0,89 mg/l, sendo preso em flagrante.
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A autoridade policial arbitrou fiança e, após o recolhimento do valor de R$ 730,00 (setecentos e
trinta Reais), ALEXANDRE LOVATELLI foi posto em liberdade.
Na exordial, o parquet, com fundamento no art. 294 do CTB e com a necessidade de garantir a
ordem pública, pleiteou medida cautelar que determinasse a suspensão da habilitação para
ALEXANDRE LOVATELLI dirigir veículos automotores, tendo em vista a elevada concentração
de teor alcoólico constatada no exame do denunciado.
O magistrado singular indeferiu o pedido de aplicação da medida cautelar disposta no art. 294 do
CTB, ao fundamento de que não restaram demonstrados, de pronto e de maneira concreta, os
supostos efeitos lesivos que a permanência da habilitação ao denunciado poderá ensejar.
Com base no exposto, esclareça, fundamentadamente, se foi correto o proceder do magistrado.

RESPOSTA:
"RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. DIREITO PENAL E PROCESSUAL
PENAL. PRISÃO PREVENTIVA. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE. NÃO PREENCHIMENTO
DO REQUISITO OBJETIVO DA PRISÃO PREVENTIVA. PENA MÁXIMA INFERIOR A
QUATRO ANOS. SUSPENSÃO DO DIREITO DE DIRIGIR. SUFICIÊNCIA. RECURSO
PROVIDO.
1. A prisão preventiva, para ser legítima à luz da sistemática constitucional, exige que o Magistrado,
sempre mediante fundamentos concretos extraídos de elementos constantes dos autos (arts. 5.º, LXI,
LXV e LXVI, e 93, inciso IX, da Constituição da República), demonstre a existência de prova da
materialidade do crime e de indícios suficientes de autoria delitiva (fumus comissi delicti), bem
como o preenchimento de ao menos um dos requisitos autorizativos previstos no art. 312 do Código
de Processo Penal, no sentido de que o réu, solto, irá perturbar ou colocar em perigo (periculum
libertatis) a ordem pública, a ordem econômica, a instrução criminal ou a aplicação da lei penal.
2. Além disso, de acordo com a microrreforma processual procedida pela Lei n.º 12.403/2011 e com
os princípios da excepcionalidade (art. 282, § 4.º, parte final, e § 6.º, do CPP), provisionalidade (art.
316 do CPP) e proporcionalidade (arts. 282, incisos I e II, e 310, inciso II, parte final, do CPP), a
prisão preventiva há de ser medida necessária e adequada aos propósitos cautelares a que serve, não
devendo ser decretada ou mantida caso intervenções estatais menos invasivas à liberdade individual,
enumeradas no art. 319 do CPP, mostrem-se, por si sós, suficientes ao acautelamento do processo
e/ou da sociedade.
3. O crime previsto no art. 306 do Código de Trânsito Brasileiro, além de ser punido com
detenção - a impossibilitar estabelecimento de regime inicial fechado -, não preenche o
requisito objetivo para a decretação de prisão preventiva (art. 313, inciso I, do CPP), pois
prevê pena privativa de liberdade máxima inferior a 4 anos.
4. Hipótese em que a prevenção de novos delitos de trânsito pode ser efetivada com a imposição
de medida cautelar menos gravosa, a saber, a suspensão da CNH do Recorrente, nos termos
do art. 294 do CTB.
5. Recursoprovido,parasubstituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa."

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grifei
(STJ. Sexta Turma. RHC 105.042/SC. Relatora Ministra Laurita Vaz. Julgamento em
12/02/2019).

"RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. HOMICÍDIO. DOLO EVENTUAL. ART. 294, CTB.


SUSPENSÃO DO DIREITO DE DIRIGIR. A medida cautelar de suspensão da habilitação
para dirigir veículo automotor, regulada pelo artigo 294 da Lei 9.503/97, dada sua natureza
cautelar, é medida excepcional, que apenas tem lugar quando concretamente demonstrada a
necessidade de garantir a ordem pública, compreendida, no caso da Lei 9.503/97, como a
segurança do trânsito. Assim, sua aplicação, em cada caso concreto, depende, além da observância
do disposto no artigo 312 do Código de Processo Penal, da prévia e inequívoca demonstração da
necessidade de acautelamento da segurança do trânsito, a indicar, além do fumus comissi delicti,
também do periculum libertatis. Não há elementos suficientes a indicar a necessidade da medida
cautelar de suspensão do direito de dirigir, ou seja, não há nada indicando que caso permaneça
autorizado a conduzir seu veículo automotor, o réu venha a colocar em risco a segurança do trânsito.
Dessa forma, entendo impositiva a reforma da decisão a quo, especificamente na parte em que
suspende cautelarmente a permissão do réu para dirigir veículo automotor, pois não comprovada a
necessidade de acautelamento da segurança do trânsito. RECURSO PROVIDO."
grifei
(TJRS. Terceira Câmara Criminal. Recurso em Sentido Estrito n. 70082706078. Relator Rinez
da Trindade. Julgado em 21/11/2019).

"RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. DELITO DE EMBRIAGUEZ AO VOLANTE.


ARTIGO 306 DA LEI Nº 9.503/97. MINISTÉRIO PÚBLICO QUE SE INSURGE CONTRA O
INDEFERIMENTO DO SEU PEDIDO DE SUSPENSÃO DA CARTEIRA DE
HABILITAÇÃO PARA DIRIGIR VEÍCULO AUTOMOTOR DO DENUNCIADO.
RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. Pretende o Parquet o acautelamento da carteira de habilitação do acusado, ao fundamento de que
restou demonstrada a necessidade depreservação da ordempública, na forma do artigo 294 do CTB.
2. Consta da exordial que, no dia 9 de setembro de 2017, o réu foi abordado na Operação Lei Seca,
na qual verificou-se que sua capacidade psicomotora estava alterada, em razão de ingestão de bebida
alcoólica, condição que foi confirmada por laudo de exame de alcoolemia.
3. O Juízo, ao receber a denúncia, indeferiu o pedido ministerial, por entender que se encontram
ausentes os requisitos autorizadores da medida cautela.
4. Em que pesem os argumentos formulados pelo Parquet, a sua pretensão não merece acolhimento.
Não se discute que embriaguez ao volante representa conduta imprudente e perigosa, que coloca em
risco a segurança da coletividade, especialmente, diante dos alarmantes índices de acidentes de
trânsito.

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5. Entretanto, no caso em apreço, o Ministério Público não comprovou a efetiva necessidade
da suspensão cautelar da carteira nacional de habilitação do recorrido, pois não trouxe aos
autos qualquer elemento que demonstrasse haver possibilidade de reiteração da conduta e,
por conseguinte, a existência de grave risco à ordem pública.
6. Nos termos do que dispõe o artigo 294 do Código de Trânsito Brasileiro, nos crimes
cometidos na direção de veículos automotores, a decretação da cautelar depende da análise do
caso concreto, devendoa autoridade judiciária fundamentar a sua decisão.
7. In casu, não se verificou que o denunciado játenha praticado, anteriormente, conduta
semelhante, a demonstrar a sua periculosidade e necessidade de prevenção cautelar, pautada
na garantia da ordem pública, restando correto o decisum atacado. RECURSO A QUE SE
NEGA PROVIMENTO."
grifei
(TJRJ. Oitava Câmara Criminal. RSE 0017394-36.2017.8.19.0061. Relator Des.
ClaudioTavares deOliveira Junior. Julgamento em 14/03/2018).

2ª QUESTÃO:
THEODORO FRANCISCO foi denunciado nas sanções do art. 7º, IX, da Lei 8.137/90 c/c art. 18,
§6º, II, do Código de Proteção e Defesa do Consumidor, tendo em vista que teria exposto à venda
mercadorias impróprias para consumo, as quais se encontravam com prazo de validade vencido.
Sobreveio sentença que condenou o réu à pena de 3 (três) anos e 4 (quatro) meses de detenção,
sendo a pena privativa de liberdade substituída por duas restritivas de direitos.
Inconformado, THEODORO FRANCISCO interpôs recurso de apelação, no qual afirmou que
seria alvo de evidente constrangimento ilegal, pois o delito tipificado no artigo 7º, IX, da Lei
8.137/90 só se configuraria com a existência de laudo pericial atestando a impropriedade dos
produtos para consumo.
Afirmou, para tanto, que o laudo pericial teria se limitado a descrever a data de validade dos produtos
apreendidos, não tendo atestado se seriam próprios ou impróprios para consumo.
O Tribunal de Justiça proveu o recurso e absolveu THEODORO FRANCISCO, nos termos do art.
386, VI, do CPP.
Irresignado, o Ministério Público interpôs recurso especial, no qual sustentou a negativa de vigência
ao art. 7º, IX, da Lei 8.137/90, diante da defeituosa valoração dos elementos de convicção carreados
aos autos, sob a alegação de que restou devidamente demonstrada a prática do crime de exposição
ou depósito para a venda de produtos em condições impróprias para o consumo.
Posto isso, esclareça se o recurso ministerial merece ser provido.

RESPOSTA:

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Para o conceito de produto impróprio podemos citar os ensinamentos de Antônio Herman V.
Benjamin, a saber:

"Impróprios, na perspectiva do consumidor, são, por exemplo, os produtos ou serviços que se


encaixem, respectivamente, em quaisquer das figuras dos arts. 18, §6º e 20, §2º do CDC."
(MARQUES, Claudia Lima, BENJAMIN, Antônio Herman V., MIRAGEM, Bruno.
Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. 2 ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2006, pág. 902).

O Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul já apreciou a questão:

"HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO. ART. 7º, INCISO


II, DA LEI Nº 8.137/90. VENDER E EXPOR À VENDA MERCADORIA COM
EMBALAGEM, TIPO, ESPECIFICAÇÃO, PESO E COMPOSIÇÃO EM DESACORDO
COM AS PRESCRIÇÕES LEGAIS. NORMA PENAL EM BRANCO, DEPENDENDO DE
COMPLEMENTAÇÃO. LEGISLAÇÃO ALTERADA NA DATA DO FATO. AUSÊNCIA DE
PERÍCIA. MATERIALIDADE NÃO DEMONSTRADA. FALTA DE JUSTA CAUSA PARA
A AÇÃO PENAL. ORDEM CONCEDIDA. UNÂNIME."
grifei
(TJRS. Quarta Câmara Criminal. HC 70084629849. Relator Des. Aristides Pedroso de
Albuquerque Neto. Julgado em 27/10/2021).

Igualmente, o Superior Tribunal de Justiça já se manifestou:

"Trata-se de recurso especial interposto por ANDERSON CASTORINO DA SILVA, com


fundamento no art. 105, inciso III, alínea a, da Constituição da República, contra acórdão proferido
pelo Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais na Apelação Criminal n. 10625.13.005756-
9/001.
Consta dos autos que o Juízo de primeiro grau condenou o Recorrente à pena de 2 (dois) anos
de detenção, emregime inicial aberto, como incurso no art. 7.º, inciso IX, da Lei n. 8.137/90. A
sanção corporal foi substituída por 2 (duas) restritivas de direitos (fls. 660-670).
Irresignada, a Defesa interpôs apelação, à qual a Corte de origem, por maioria de votos, deu parcial
provimento para reduzir a prestação pecuniária substitutiva a 1 (um) salário mínimo, nos termos da
seguinte ementa (fl. 833):

"APELAÇÃO CRIMINAL - CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO - VENDER,


TER EM DEPÓSITO PARA VENDER OU EXPOR À VENDA OU, DE QUALQUER FORMA,
DIREITO PROCESSUAL PENAL - CP08 - 03 - CPIII - 1º PERÍODO 2022 41
ENTREGAR MATÉRIA-PRIMA OU MERCADORIA, EM CONDIÇÕES IMPRÓPRIAS AO
CONSUMO (LEI N° 8.137/90, ART. 70, INCISO IX) - RECURSO DEFENSIVO: PRELIMINAR
DE NULIDADE POR INOBSERVÂNCIA À ORDEM DO INTERROGATÓRIO - REJEIÇÃO -
ABSOLVIÇÃO POR AUSÊNCIA DE MATERIALIDADE - DESCABIMENTO - REDUÇÃO DO
VALOR DA PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA SUBSTITUTIVA - IMPERATIVIDADE - ISENÇÃO
DAS CUSTAS PROCESSUAIS - JUÍZO DA EXECUÇÃO - RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO. 1. Não há nulidade na inversão da ordem do interrogatório do réu e da oitiva de
testemunhas, se não foi demonstrado qualquer prejuízo suportado pela defesa quando o acusado foi
(re)interrogado e, diante da ausência de demonstração de prejuízo concreto. 2. O delito insculpido
no art. 7º , inc. IX da Lei n° 8137/90 é formal, de perigo abstrato ou presumido, bastando para a
consumação que seja constatado pela autoridade sanitária competente a impropriedade do uso por
ausência de inspeção e selo de qualidade da mercadoria (carne) em estabelecimento comercial
fiscalizado. 3. Para a fixação da sanção pecuniária devem ser consideradas as diretrizes previstas no
art. 59 do Código Penal em conjunto com a condição financeira do acusado. Na espécie, além de
não haver prova da situação econômica do acusado, todas as circunstâncias judiciais foram
consideradas favoráveis, sendo a pena-base fixada no mínimo legal. Assim, ao substituir a pena
corporal por restritiva de direitos, não há razão para estabelecer montante acima do piso legal para
a sanção pecuniária, pelo que ser reduzida para 01 (um) salário mínimo. 4. Nos termos do no artigo
804 do Código de Processo Penal, o pedido de isenção do pagamento deve ser promovido no Juízo
da Execução, momento adequado para a aferição da alegada miserabilidade jurídica. V.V.P. -
ISENÇÃO DE CUSTAS - IMPOSSIBILIDADE - SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE -JUÍZO
DA EXECUÇÃO. Em observância à declaração de inconstitucionalidade formal do art. 10, inciso
II, da Lei Estadual n° 14.939/2003 pelo Órgão Especial deste Tribunal, não é possível a isenção das
custas processuais. Eventual suspensão da exigibilidade do pagamento das custas processuais deve
ser examinada pelo Juízo da Execução Penal."
Os embargos de declaração opostos foram rejeitados (fls. 858-864).
Sustenta a Defesa, nas razões do apelo nobre, contrariedade ao art. 158 do Código de Processo
Penal; ao art. 18, § 6.º, inciso II, da Lei n. 8.078/90; bem como ao art. 7.º,inciso IX, da Lei n.
8.137/90.
Alega que, para a comprovação do delito ora sob análise, é indispensável a elaboração de laudo
pericial que ateste ser o alimento impróprio para o consumo humano, providência essa que não foi
levada a efeito na espécie, não se prestando para tanto a existência de outros meio de prova conforme
considerado pela Corte a quo.
Foram apresentadas contrarrazões (fls. 880-889). O recurso especial foi admitido (fls. 891-893).
O Ministério Público Federal apresentou parecer, opinando pelo conhecimento e desprovimento do
apelo nobre (fls. 905-907).
É o relatório.

Decido.
O voto condutor do acórdão recorrido, na parte que interessa, está calcado nas seguintes razões de
decidir (fls. 838-841; sem grifos no original):
DIREITO PROCESSUAL PENAL - CP08 - 03 - CPIII - 1º PERÍODO 2022 42
"2.1. Absolvição por insuficiência de provas por ausência de materialidade Conforme relatado, o
apelante foi condenado pela prática do delito insculpido no do art.7 0 , inciso IX da Lei n°8.137/90,
que dispõe:
[...] Aduz a defesa, todavia, que, em razão da ausência de materialidade, o apelante deve ser
absolvido.
Ocorre, todavia, que o tipo penal previsto no art. 7, inciso IX, da Lei n° 8.137190 é crime de perigo
abstrato que é aquele em que ‘a lei proíbe certas formas de condutas que, segundo a experiência
geral, são perigosas‘ (HANS JOACHIM HIRSCH, ‘Derecho Penal - obras completas‘, tomo V, ed.
Rubinzal Culzoni, 2011, p. 62), ou seja, para que seja considerada de perigo abstrato, basta que ela
seja perigosa em geral para algum bem jurídico, ainda que não chegue a colocá-lo em perigo
concreto e imediato de lesão, bastando para que a ação, por si só, vislumbre possibilidade de perigo.
Nesse sentido, é a jurisprudência:
[...] Atrelado a isso, ao contrário do afirmado pela defesa, a materialidade delitiva restou
comprovada pelo boletim de ocorrência (f.03- 06), pela cópia do processo administrativo instaurado
pela Secretaria Municipal de Saúde/Coordenadoria de Vigilância Sanitária (f.20-51), bem como pela
prova oral colhida.
Releva, pois, trazer à baila, excertos dos depoimentos colhidos, os quais ratificam a imprestabilidade
da carne. Confira-se:
[...] Dessa forma, em restando constatado que a carne apreendida estava em desacordo com as
normas regulamentares, porquanto transportadas e armazenadas inadequadamente, fato evidenciado
pelo odor fétido, pela coloração diferenciada, bem como pela infestação de moscas.
Inequívoco, pois, que eram oferecidas a consumo já em avançado estágio de putrefação, conforme
apontado no Processo Administrativo n° 001/2013 (f.20-51) e nas fotografias carreadas aos autos
(f. 182-200v), sendo, assim, suficiente para a sua consumação a ausência de inspeção e selo de
qualidade da mercadoria (carne) em estabelecimento comercial fiscalizado.
Como se vê, o entendimento adotado pela Corte a quo destoa da jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça, fixada no sentido de que, para a comprovação de prática das condutas
delitivas previstasno inciso IX do art. 7.º da Lei n. 8.137/90, é imprescindível a elaboração de
laudo pericial que comprove ser a mercadoria imprópria (nociva) para o consumo humano.
Nesse sentido:

"HABEAS CORPUS SUBSTITUTO DE RECURSO ESPECIAL. INADEQUAÇÃO DA VIA


ELEITA. CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO (ART. 7º, INCISO IX, DA LEI N.
8.137/1990). TIPICIDADE DA CONDUTA. AUSÊNCIA DE LAUDO PERICIAL.
IMPRESCINDIBILIDADE. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.
[...] 2. O crime previsto no art. 7º, inciso IX, da Lei n. 8.137/1990 (vender, ter em depósito para
vender ou expor à venda ou, de qualquer forma, entregar matéria-prima ou mercadoria, em
condições impróprias ao consumo) é não transeunte, sendo indispensável a realização de

DIREITO PROCESSUAL PENAL - CP08 - 03 - CPIII - 1º PERÍODO 2022 43


perícia para a sua comprovação, nos termos do artigo 158 do Código de Processo Penal, sob
pena de se admitir responsabilização objetiva.
3. Neste caso, não foi realizada perícia para comprovar que a mercadoria apreendida era imprópria
para o consumo, havendo apenas o relato de uma agente de fiscalização afirmando ter encontrado
alguns produtos expostos na calçada, sob o sol, e que tais mercadorias dependiam de refrigeração.
Diante desse quadro, a servidora parou para fiscalizar o estabelecimento, encontrando outros
produtos armazenados em temperatura inadequada, além de outros, cujos prazos de validade
estavam expirados.
4. Tais elementos não se mostram suficientes para autorizar a condenação, que, diante da falta de
elementos mais sólidos que sustentem a materialidade delitiva, deve resultar na absolvição do
acusado, nos termos do art. 386, inciso VII, do Código de Processo Penal.
5. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício para absolver o paciente Ricardo Luiz
De Sá Juliari do crime previsto no art. 7º, inciso IX, da Lei n. 8.137/1990, objeto da Ação Penal n.
0000652-84.2016.8.26.0348." (HC 551.700/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA
FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 04/02/2020, DJe 12/02/2020.)

"AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PENAL. ALEGAÇÃO


DE QUE NÃO FOI VEICULADO PLEITO ABSOLUTÓRIO NAS RAZÕES DO APELO
NOBRE. INSUBSISTENTE. PEDIDO QUE DEFLUI DA ARGUMENTAÇÃO VEICULADA NO
RECURSO. MÉRITO RECURSAL. ANÁLISE. PRESSUPOSTOS DEADMISSIBILIDADE.
PREENCHIMENTO. ART. 7.º, INCISO IX, DA LEI N.º 8.137/90. NÃO ELABORADO LAUDO
PARA COMPROVAR QUE AS MERCADORIAS MANTIDAS EM DEPÓSITO E EXPOSTAS
À VENDA ERAM IMPRÓPRIAS AO CONSUMO HUMANO. AUSÊNCIA DE PROVA DA
MATERIALIDADE DELITIVA. ABSOLVIÇÃO. NECESSIDADE. AGRAVO REGIMENTAL
DESPROVIDO.
1. Não subsiste a alegação de que, na petição do recurso especial, não foi veiculado pedido de
absolvição, porquanto, da análise sistemática dos argumentos expostos na citada peça processual,
verifica-se que, da alegação de afronta ao art. 158 do Código de Processo Penal - por não ter sido
comprovada a conduta delitiva em razão de inexistir prova pericial a comprovar serem os produtos
impróprios para consumo humano -, deflui, sem sombra de dúvida, pleito absolutório.
2. Quanto à pretensa ausência de prequestionamento, se a decisão agravada apreciou o mérito do
recurso especial, é porque concluiu estarem atendidos todos os pressupostos de admissibilidade.
3. Para a comprovação de prática das condutas delitivas previstas no inciso IX da Lei n.º
8.137/90, é imprescindível a elaboração de laudo pericial que comprove ser a mercadoria
imprópria (nociva) para o consumo humano.
4. Agravo regimental desprovido." (AgRg no AREsp 1.399.883/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ,
SEXTA TURMA, julgado em 14/05/2019, DJe 24/05/2019.)

"RECURSO EM HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO. ART.


7º, INCISOS II E IX DA LEI N. 8.137/90. ALIMENTOS SEM INDICAÇÃO DE PROCEDÊNCIA
DIREITO PROCESSUAL PENAL - CP08 - 03 - CPIII - 1º PERÍODO 2022 44
E IMPRÓPRIOS PARA O CONSUMO. MERCADORIA COM PRAZO DE VALIDADE
VENCIDA. AUSÊNCIA DE PERÍCIA TÉCNICA. MATERIALIDADE DELITIVA NÃO
DEMONSTRADA. FALTA DE JUSTA CAUSA PARA A AÇÃO PENAL. TRANCAMENTO.
RECURSO PROVIDO.
1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça se firmou no sentido de que a conduta
tipificada no art. 7º, parágrafo único, inciso IX, da Lei 8.137/90 - expor à venda produtos
impróprios para o consumo - deixa vestígios, razão pela qual a perícia é indispensável para a
demonstração da materialidade delitiva, nos termos do art. 158 do Código de Processo Penal
- CPP. Precedentes.
2. Da mesmaforma, o tipo previsto no inciso II do art. 7º da Lei n. 8.137/90, ‘vender ou expor à
venda mercadoria cuja embalagem, tipo, especificação, peso ou composição esteja em desacordo
com as prescrições legais, ou que não corresponda à respectiva classificação oficial‘ deve ser
considerado de natureza material a exigir perícia para a sua tipificação. Assim, no caso dos autos a
criminalização da exposição à venda de carne bovina, sem a indicação de procedência, depende
também da realização de prova pericial para que fique demonstrado que a mesma é imprópria para
o consumo humano, sob pena de restar configurada a responsabilidade objetiva.
3. Recurso em habeas corpus ao qual se dá provimento para determinar o trancamento da ação penal
por falta de justa causa."
(RHC 97.335/SC, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em
19/03/2019, DJe de 28/03/2019.)

Ante o exposto, CONHEÇO e DOU PROVIMENTO ao recurso especial, a fim de, com
fundamento no inciso VII do art. 386 do Código de Processo Penal, absolver a Agravante
quanto ao delito previsto no inciso IX do art. 7.º da Lei n.º 8.137/90.
Publique-se. Intimem-se."
grifei
(STJ. Resp 1.908.725. Relatora Ministra Laurita Vaz. Julgamento em 11/11/2021).

"HABEAS CORPUS SUBSTITUTO DE RECURSO ESPECIAL. INADEQUAÇÃO DA VIA


ELEITA. CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO (ART. 7º, INCISO IX, DA LEI
N. 8.137/1990). TIPICIDADE DA CONDUTA. AUSÊNCIA DE LAUDO PERICIAL.
IMPRESCINDIBILIDADE. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.
1. O Supremo Tribunal Federal, por sua Primeira Turma, e a Terceira Seção deste Superior Tribunal
de Justiça, diante da utilização crescente e sucessiva do habeas corpus, passaram a restringir a sua
admissibilidade quando o ato ilegal for passível de impugnação pela via recursal própria, sem
olvidar a possibilidade de concessão da ordem, de ofício, nos casos de flagrante ilegalidade.
2. O crime previsto no art. 7º, inciso IX, da Lei n. 8.137/1990 (vender, ter em depósito para
vender ou expor à venda ou, de qualquer forma, entregar matéria-prima ou mercadoria,em
condições impróprias ao consumo) é não transeunte, sendo indispensável a realização de
DIREITO PROCESSUAL PENAL - CP08 - 03 - CPIII - 1º PERÍODO 2022 45
perícia para a sua comprovação, nos termos do artigo 158 do Código de Processo Penal, sob
pena de se admitir responsabilização objetiva.
3. Neste caso, não foi realizada perícia para comprovar que a mercadoria apreendida era imprópria
para o consumo, havendo apenas o relato de uma agente de fiscalização afirmando ter encontrado
alguns produtos expostos na calçada, sob o sol, e que tais mercadorias dependiam de refrigeração.
Diante desse quadro, a servidora parou para fiscalizar oestabelecimento, encontrando outros
produtos armazenados em temperatura inadequada, além de outros, cujos prazos de validade
estavam expirados.
4. Tais elementos não se mostram suficientes para autorizar a condenação, que, diante da falta de
elementos mais sólidos que sustentem a materialidade delitiva, deve resultar na absolvição do
acusado, nos termos do art. 386, inciso VII, do Código de Processo Penal.
5. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício para absolver o paciente Ricardo Luiz
De Sá Juliari do crime previsto no art. 7º, inciso IX, da Lei n. 8.137/1990, objeto da Ação Penal n.
0000652-84.2016.8.26.0348.
grifei
(STJ. Quinta Turma. HC 551.700/SP. Relator Ministro Reynaldo Soares da Fonseca.
Julgamento em 04/02/2020).

"PROCESSUAL PENAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO EM HABEAS


CORPUS. CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO. ARTIGO 7º, IX, DA LEI
8.137/90. MATERIALIDADE. PERÍCIA. IMPRESCINDIBILIDADE. INEXISTÊNCIA DE
VÍCIOS. ANÁLISE DE MATÉRIAS NÃO ARGUÍDAS EM CONTRARRAZÕES. INOVAÇÃO
RECURSAL. IMPOSSIBILIDADE. EMBARGOS ACOLHIDOS PARA FINS DE
ESCLARECIMENTOS, SEM EFEITOS INFRINGENTES.
1. O crime do art. 7º, IX, da Lei nº 8.137/90 exige para a caracterização da materialidade seja
realizada perícia técnica nos alimentos tidos como impróprios para o consumo, o que não foi
efetivado na espécie, acarretando, por consequência, o trancamento da ação penal por
ausência de justa causa.
2. Osaclaratórios não constituem veículo próprio para o exame de questões que não foram apreciadas
pelo acórdão recorrido, por não terem sido deduzidas nas razões ou contrarrazões do recurso,
caracterizando, assim, inovação recursal, inadmissível na via eleita.
3. Embargos de declaração acolhidos apenas para fins de esclarecimento, no sentido de que o
trancamento da Ação Penal n. 0000574-87.2016.8.24.0076 restringe-se ao delito do art. 7º, IX, da
Lei n. 8.137/90, imputado ao embargado, sem efeitos infringentes."
grifei
(STJ. Sexta Turma. Edcl no RHC 81.251/SC. Relator Ministro Nefi Cordeiro. Julgamento em
22/03/2018).

DIREITO PROCESSUAL PENAL - CP08 - 03 - CPIII - 1º PERÍODO 2022 46


"PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. ART. 7º, INCISO IX, DA LEI
8.137/1990. TRANCAMENTO DAAÇÃOPENAL. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA.
PRODUTOS IMPRÓPRIOS PARA CONSUMO. EXPIRAÇÃO DO PRAZO DE
VALIDADE. PROVA PERICIAL. INEXISTÊNCIA. INTELIGÊNCIA DO ART. 158 DO
CPP. ORDEM CONCEDIDA.
1. O trancamento da ação penal por ausência de justa causa exige comprovação, de plano, da
atipicidade da conduta, da ocorrência de causa de extinção da punibilidade, da ausência de lastro
probatório mínimo de autoria ou de materialidade, o que não se verifica na presente hipótese.
2. A jurisprudência da Sexta Turma é assente em considerar que a caracterização do crime
previsto no art. 7º, IX, da Lei n. 8.137/1990 depende de realização de laudo pericial atestando
a impropriedade dos produtos em questão, no intuito de comprovar a inequívoca nocividade
para o consumo, mesmo se expirado o prazo de validade do produto.
3. "Conquanto parte da doutrina e da jurisprudência entendam que o delito previsto no art. 7º, IX,
da Lei n. 8.137/1990, crime formal, de perigo abstrato, seja norma penal em branco, cujo elemento
normativo do tipo "impróprio para consumo" deve ser complementado pelo disposto no art. 18, §
6º, do Código de Defesa do Consumidor, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça entende
que há necessidade de realização de exame pericial nos produtos pretensamente impróprios, afim
de que seja comprovada a sua real nocividade para consumo humano, sob pena deinaceitável
responsabilidade penal objetiva" (RHC 69.692/SC, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ,
SEXTA TURMA, julgado em 6/6/2017, Dje 13/6/2017).
4. Ordem concedida para restabelecer a decisão de primeiro grau querejeitou a denúncia."
grifei
(STJ. Sexta Turma. HC 388.374/SC. Relator Ministro Antonio Saldanha Palheiro. Julgamento
em 21/11/2017).

"RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE


CONSUMO. ART. 7º, IX, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI N. 8.137/1990. LAUDO
PERICIAL. IMPRESCINDIBILIDADE. IMPROPRIEDADE DO ALIMENTO PARA
CONSUMO HUMANO. COMPROVAÇÃO. MATERIALIDADE DELITIVA.
JUSTACAUSA PARA AÇÃO PENAL. AUSÊNCIA. TRANCAMENTO DA PERSECUÇÃO
PENAL. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO. RESPONSABILIZAÇÃO
ADSTRITA AO ÂMBITO ADMINISTRATIVO. RECURSO ORDINÁRIO PROVIDO.
1. Esta Corte pacificou o entendimento de que o trancamento de ação penal pela via eleita é medida
excepcional, cabível apenas quando demonstrada, de plano, a atipicidade da conduta, a extinção da
punibilidade ou a manifesta ausência de provas da existência do crime e de indícios de autoria.
2. Conquanto parte da doutrina e da jurisprudência entendam que o delito previsto no art. 7º,
IX, da Lei n. 8.137/1990, crime formal, de perigo abstrato, seja norma penal em branco, cujo
elemento normativo do tipo "impróprio para consumo" deve ser complementado pelo
disposto no art. 18, § 6º, do Código de Defesa do Consumidor, a jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça entende que há necessidade de realização de exame pericial nos produtos

DIREITO PROCESSUAL PENAL - CP08 - 03 - CPIII - 1º PERÍODO 2022 47


pretensamente impróprios, a fim deque seja comprovada a sua real nocividade para consumo
humano, sob pena de inaceitável responsabilidade penal objetiva.
3. Inexistente prova pericial, produzida diretamente sobre os produtos alimentícios apreendidos,
falta justacausa para a persecução penal, sendo insuficiente concluir pela impropriedade para o
consumo exclusivamente em virtude da ausência de informações obrigatórias na rotulagem do
produto e/ou em decorrência do prazo de sua validade estar vencido.
4. Ausente a prova da materialidade do crime, a eventual responsabilização e punição pelo
descumprimento de normas relativas à conservação e exposição, para venda, dos gêneros
alimentícios apreendidos no estabelecimento comercial, reserva-se apenas ao âmbito dos Direitos
Administrativo e Civil.
5. Recurso ordinário provido para determinar o trancamento da persecução penal, por ausência de
justa causa."
grifei
(STJ. Sexta Turma. RHC 69.692/SC. Relator Ministro Rogério Schietti Cruz. Julgamento em
06/06/2017).

"PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.


ART.7º, INCISO IX, DA LEI Nº 8.137/90. PRODUTO IMPRÓPRIO PARA CONSUMO.
PERÍCIA. NECESSIDADE PARA CONSTATAÇÃO DA NOCIVIDADE DO PRODUTO
APREENDIDO.
1. Em relação ao delito previsto no inciso IX do art. 7º da Lei n. 8.137/1990 - vender, ter em depósito
para vender ou expor à venda ou, de qualquer forma, entregar matéria-prima ou mercadoria, em
condições impróprias ao consumo -, a jurisprudência desta Corte é no sentido de que a venda
de produtos impróprios ao uso e consumo constitui delito que deixa vestígios, sendo
indispensável, nos termos do artigo 158 do Código de Processo Penal, a realização de exame
pericial que ateste que a mercadoria efetivamente é imprópria para o consumo, não bastando,
para tanto, mero laudo de constatação (AgRg no RESp 1.556.132/SC, Rel. Ministra MARIA
THEREZA DE ASSIS MOURA, Sexta Turma, DJe 31/3/2016).
2. Na espécie, não houve laudo pericial para detectar que o alimento estava impróprio para o
consumo, o que contraria o entendimento desta Corte Superior.
3. Agravo regimental não provido."
grifei
(STJ. Quinta Turma. AgRg no Resp 1.582.152/PR. Relator Ministro Reynaldo Soares da
Fonseca. Julgamento em 20/04/2017).

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