Gabaritos Temas 05 e 06 Processo Penal
Gabaritos Temas 05 e 06 Processo Penal
Gabaritos Temas 05 e 06 Processo Penal
1ª QUESTÃO:
Proferida sentença condenatória sem que tenha o Ministério Público ofertado a proposta de
suspensão condicional no curso da ação penal, ainda que presentes todos os seus requisitos, pode o
Defensor, posteriormente, em qualquer tempo e grau de jurisdição, requerer tal concessão?
Fundamente a sua resposta em, no máximo, 15 (quinze) linhas.
RESPOSTA:
"É importante sublinhar que, presentes os pressupostos legais, não poderá o Ministério Público
deixar de oferecer a suspensão condicional do processo, que poderá ser aceita ou não pelo réu. Não
se pode esquecer que a medida insere-se na lógica do consenso, não apenas no sentido de que o réu
é obrigado a aceitar a proposta, mas também na perspectiva de que poderá negociar a duração e
demais condições.
Ainda que o dispositivo legal mencione que o Ministério Público "poderá propor", isso não significa
que seja uma faculdade do acusador. (...) Não é, assim, disponível para o Ministério Público e
tampouco pode transformar-se em instrumento de arbítrio.
E se, mesmo presentes os pressupostos legais, o Ministério Público não o fizer?
Voltamos ao mesmo ponto explicado anteriormente, quando analisados a transação penal, ou seja:
predomina o entendimento de que deverá o juiz aplicar o art. 28 do CPP, por analogia. Nesse sentido,
novamente citamos a Súmula n. 696 do STF, cujo verbete é: Reunidos os pressupostos legais
permissivos da suspensão condicional do processo, mas se recusando o Promotor de Justiça a
propô-la, o juiz, dissentindo, remeterá a questão ao Procurador-Geral, aplicando-se por analogia
o art. 28 do Código de Processo Penal.
...
Em que pese ser esse o entendimento prevalente, insistimos em nossa posição de que essa é uma
solução excessivamente burocrática e fora da realidade diuturna dos foros brasileiros. Ademais,
atribui a última palavra ao próprio Ministério Público, retirando a eficácia do direito subjetivo do
acusado. Dessarte, presentes os pressupostos legais e insistindo o Ministério Público na recusa em
oferecer a suspensão condicional, pensamos que a melhor solução é permitir que o juiz o faça,
acolhendo o pedido do imputado, concedendo o direito postulado. Novamente, afirmamos que o
fato de atribuir-se ao juiz esse poder em nada viola o modelo constitucional-acusatório por nós
defendido. A sistemática é outra. O imputado postula o reconhecimento de um direito (suspensão
condicional do processo) que lhe está sendo negado pelo Ministério Público, e o juiz decide,
"Caso a proposta não seja formulada pelo titular da ação penal por ocasião do oferecimento da peça
acusatória, deve a defesa técnica protestar por sua apresentação, sob pena de preclusão. Na visão
dos Tribunais Superiores, a nulidade decorrente do silêncio, na denúncia, quanto à suspensão
condicional do processo é relativa, ficando preclusa se não versada pela defesa no momento
próprio."
(LIMA, Renato Brasileiro de. Curso de Processo Penal. Volume único. Rio de Janeiro:
Impetus, 2013, pág. 1.484).
2ª QUESTÃO:
O Ministério Público formulou proposta de suspensão condicional do processo, tendo ela sido aceita
pela acusada TERESA CRISTINA.
Durante o período de prova, TERESA CRISTINA foi denunciada pela prática do crime previsto
no art. 28 da Lei 11.343/2006, motivo pelo qual o ilustre membro do parquet requereu ao magistrado
a revogação obrigatória da suspensão condicional do processo, com fundamento no disposto no art.
89, §3º, da Lei 9.099/95.
Com base na situação hipotética acima narrada, esclareça, a partir do entendimento do Superior
Tribunal de Justiça, se o magistrado deve acolher o pleito ministerial.
RESPOSTA:
"PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO ESPECIAL. NEGATIVA DE VIGÊNCIA AO
ART. 89, § 4º, DA LEI N. 9.099/95. PROCESSAMENTO DO RÉU PELA PRÁTICA DA
CONDUTA DESCRITA NO ART. 28 DA LEI N. 11.343/06 NO CURSO DO PERÍODO DE
PROVA DE SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. CAUSA OBRIGATÓRIA DE
REVOGAÇÃO DO BENEFÍCIO. DESPROPORCIONALIDADE. ANALOGIA COM A
PRÁTICA DE CONTRAVENÇÃO PENAL. ANÁLISE COMO CAUSA FACULTATIVA DE
REVOGAÇÃO. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
1. A conduta prevista no artigo 28 da Lei n. 11.343/2006 não foi descriminalizada, mas apenas
despenalizada pela nova Lei de Drogas. Assim, em princípio, não tendo havido a abolitio criminis,
a prática do crime descrito no artigo 28 da Lei n. 11.343/2006 tem aptidão de gerar os mesmos
efeitos secundários que uma condenação por qualquer outro crime gera, como a reincidência
e a revogação obrigatória da suspensão condicional do processo, como previsto no artigo 89,
§ 3º, da Lei n. 9.099/1995. Todavia, importantes ponderações no âmbito desta Corte Superior têm
sido feitas no que diz respeito aos efeitos que uma condenação por tal delito pode gerar.
2. Em recente julgado deste Tribunal entendeu-se que "em face dos questionamentos acerca da
proporcionalidade do direito penal para o controle do consumo de drogas em prejuízo de
outras medidas de natureza extrapenal relacionadas às políticas de redução de danos,
eventualmente até mais severas para a contenção do consumo do que aquelas previstas atualmente,
o prévio apenamento por porte de droga para consumo próprio, nos termos do artigo 28 da Lei de
Drogas, não deve constituir causa geradora de reincidência" (REsp 1.672.654/SP, Rel. Ministra
MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 21/08/2018, DJe
30/08/2018). Outrossim, vem-se entendendo que a prévia condenação pela prática da conduta
descrita no art. 28 dda Lei n. 11.343/2006, justamente por não configurar a reincidência, não pode
obstar, por si só, a concessão de benefícios como a incidência da causa de redução de pena prevista
Tema 06:
Aspectos processuais relativos aos crimes contra a propriedade imaterial. Condições de
procedibilidade. Prazo para o exercício do direito de queixa. Particularidades no
procedimento relativo aos crimes ambientais (Lei 9.605/98). Transação penal e sursis
processual: regência especial (artigos 27 e 28). Aspectos processuais referentes aos crimes de
trânsito (Lei 9.503/97): conciliação civil, transação penal e representação: artigo 291, CTB.
Suspensão da habilitação ou proibição de obtê-la como medida cautelar: artigo 294 do CTB.
A multa reparatória e o princípio do contraditório: artigo 297 do CTB. Aspectos processuais
nos crimes contra o consumidor e a economia popular.
1ª QUESTÃO:
ALEXANDRE LOVATELLI foi denunciado como incurso no artigo 306 do Código de Trânsito
Brasileiro. Segundo o Ministério Público, o denunciado, no dia 06/05/2018, foi encontrado por
policiais rodoviários caído no solo ao lado de sua motocicleta. Ao realizar o teste de alcoolemia,
constatou-se que ALEXANDRE LOVATELLI estava embriagado com concentração de álcool em
0,89 mg/l, sendo preso em flagrante.
DIREITO PROCESSUAL PENAL - CP08 - 03 - CPIII - 1º PERÍODO 2022 37
A autoridade policial arbitrou fiança e, após o recolhimento do valor de R$ 730,00 (setecentos e
trinta Reais), ALEXANDRE LOVATELLI foi posto em liberdade.
Na exordial, o parquet, com fundamento no art. 294 do CTB e com a necessidade de garantir a
ordem pública, pleiteou medida cautelar que determinasse a suspensão da habilitação para
ALEXANDRE LOVATELLI dirigir veículos automotores, tendo em vista a elevada concentração
de teor alcoólico constatada no exame do denunciado.
O magistrado singular indeferiu o pedido de aplicação da medida cautelar disposta no art. 294 do
CTB, ao fundamento de que não restaram demonstrados, de pronto e de maneira concreta, os
supostos efeitos lesivos que a permanência da habilitação ao denunciado poderá ensejar.
Com base no exposto, esclareça, fundamentadamente, se foi correto o proceder do magistrado.
RESPOSTA:
"RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. DIREITO PENAL E PROCESSUAL
PENAL. PRISÃO PREVENTIVA. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE. NÃO PREENCHIMENTO
DO REQUISITO OBJETIVO DA PRISÃO PREVENTIVA. PENA MÁXIMA INFERIOR A
QUATRO ANOS. SUSPENSÃO DO DIREITO DE DIRIGIR. SUFICIÊNCIA. RECURSO
PROVIDO.
1. A prisão preventiva, para ser legítima à luz da sistemática constitucional, exige que o Magistrado,
sempre mediante fundamentos concretos extraídos de elementos constantes dos autos (arts. 5.º, LXI,
LXV e LXVI, e 93, inciso IX, da Constituição da República), demonstre a existência de prova da
materialidade do crime e de indícios suficientes de autoria delitiva (fumus comissi delicti), bem
como o preenchimento de ao menos um dos requisitos autorizativos previstos no art. 312 do Código
de Processo Penal, no sentido de que o réu, solto, irá perturbar ou colocar em perigo (periculum
libertatis) a ordem pública, a ordem econômica, a instrução criminal ou a aplicação da lei penal.
2. Além disso, de acordo com a microrreforma processual procedida pela Lei n.º 12.403/2011 e com
os princípios da excepcionalidade (art. 282, § 4.º, parte final, e § 6.º, do CPP), provisionalidade (art.
316 do CPP) e proporcionalidade (arts. 282, incisos I e II, e 310, inciso II, parte final, do CPP), a
prisão preventiva há de ser medida necessária e adequada aos propósitos cautelares a que serve, não
devendo ser decretada ou mantida caso intervenções estatais menos invasivas à liberdade individual,
enumeradas no art. 319 do CPP, mostrem-se, por si sós, suficientes ao acautelamento do processo
e/ou da sociedade.
3. O crime previsto no art. 306 do Código de Trânsito Brasileiro, além de ser punido com
detenção - a impossibilitar estabelecimento de regime inicial fechado -, não preenche o
requisito objetivo para a decretação de prisão preventiva (art. 313, inciso I, do CPP), pois
prevê pena privativa de liberdade máxima inferior a 4 anos.
4. Hipótese em que a prevenção de novos delitos de trânsito pode ser efetivada com a imposição
de medida cautelar menos gravosa, a saber, a suspensão da CNH do Recorrente, nos termos
do art. 294 do CTB.
5. Recursoprovido,parasubstituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa."
2ª QUESTÃO:
THEODORO FRANCISCO foi denunciado nas sanções do art. 7º, IX, da Lei 8.137/90 c/c art. 18,
§6º, II, do Código de Proteção e Defesa do Consumidor, tendo em vista que teria exposto à venda
mercadorias impróprias para consumo, as quais se encontravam com prazo de validade vencido.
Sobreveio sentença que condenou o réu à pena de 3 (três) anos e 4 (quatro) meses de detenção,
sendo a pena privativa de liberdade substituída por duas restritivas de direitos.
Inconformado, THEODORO FRANCISCO interpôs recurso de apelação, no qual afirmou que
seria alvo de evidente constrangimento ilegal, pois o delito tipificado no artigo 7º, IX, da Lei
8.137/90 só se configuraria com a existência de laudo pericial atestando a impropriedade dos
produtos para consumo.
Afirmou, para tanto, que o laudo pericial teria se limitado a descrever a data de validade dos produtos
apreendidos, não tendo atestado se seriam próprios ou impróprios para consumo.
O Tribunal de Justiça proveu o recurso e absolveu THEODORO FRANCISCO, nos termos do art.
386, VI, do CPP.
Irresignado, o Ministério Público interpôs recurso especial, no qual sustentou a negativa de vigência
ao art. 7º, IX, da Lei 8.137/90, diante da defeituosa valoração dos elementos de convicção carreados
aos autos, sob a alegação de que restou devidamente demonstrada a prática do crime de exposição
ou depósito para a venda de produtos em condições impróprias para o consumo.
Posto isso, esclareça se o recurso ministerial merece ser provido.
RESPOSTA:
Decido.
O voto condutor do acórdão recorrido, na parte que interessa, está calcado nas seguintes razões de
decidir (fls. 838-841; sem grifos no original):
DIREITO PROCESSUAL PENAL - CP08 - 03 - CPIII - 1º PERÍODO 2022 42
"2.1. Absolvição por insuficiência de provas por ausência de materialidade Conforme relatado, o
apelante foi condenado pela prática do delito insculpido no do art.7 0 , inciso IX da Lei n°8.137/90,
que dispõe:
[...] Aduz a defesa, todavia, que, em razão da ausência de materialidade, o apelante deve ser
absolvido.
Ocorre, todavia, que o tipo penal previsto no art. 7, inciso IX, da Lei n° 8.137190 é crime de perigo
abstrato que é aquele em que ‘a lei proíbe certas formas de condutas que, segundo a experiência
geral, são perigosas‘ (HANS JOACHIM HIRSCH, ‘Derecho Penal - obras completas‘, tomo V, ed.
Rubinzal Culzoni, 2011, p. 62), ou seja, para que seja considerada de perigo abstrato, basta que ela
seja perigosa em geral para algum bem jurídico, ainda que não chegue a colocá-lo em perigo
concreto e imediato de lesão, bastando para que a ação, por si só, vislumbre possibilidade de perigo.
Nesse sentido, é a jurisprudência:
[...] Atrelado a isso, ao contrário do afirmado pela defesa, a materialidade delitiva restou
comprovada pelo boletim de ocorrência (f.03- 06), pela cópia do processo administrativo instaurado
pela Secretaria Municipal de Saúde/Coordenadoria de Vigilância Sanitária (f.20-51), bem como pela
prova oral colhida.
Releva, pois, trazer à baila, excertos dos depoimentos colhidos, os quais ratificam a imprestabilidade
da carne. Confira-se:
[...] Dessa forma, em restando constatado que a carne apreendida estava em desacordo com as
normas regulamentares, porquanto transportadas e armazenadas inadequadamente, fato evidenciado
pelo odor fétido, pela coloração diferenciada, bem como pela infestação de moscas.
Inequívoco, pois, que eram oferecidas a consumo já em avançado estágio de putrefação, conforme
apontado no Processo Administrativo n° 001/2013 (f.20-51) e nas fotografias carreadas aos autos
(f. 182-200v), sendo, assim, suficiente para a sua consumação a ausência de inspeção e selo de
qualidade da mercadoria (carne) em estabelecimento comercial fiscalizado.
Como se vê, o entendimento adotado pela Corte a quo destoa da jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça, fixada no sentido de que, para a comprovação de prática das condutas
delitivas previstasno inciso IX do art. 7.º da Lei n. 8.137/90, é imprescindível a elaboração de
laudo pericial que comprove ser a mercadoria imprópria (nociva) para o consumo humano.
Nesse sentido:
Ante o exposto, CONHEÇO e DOU PROVIMENTO ao recurso especial, a fim de, com
fundamento no inciso VII do art. 386 do Código de Processo Penal, absolver a Agravante
quanto ao delito previsto no inciso IX do art. 7.º da Lei n.º 8.137/90.
Publique-se. Intimem-se."
grifei
(STJ. Resp 1.908.725. Relatora Ministra Laurita Vaz. Julgamento em 11/11/2021).