DRC - BNCC - Arte
DRC - BNCC - Arte
DRC - BNCC - Arte
ANOS FINAIS
CUIABÁ/MT
2018
64
1.2. COMPONENTE CURRICULAR ARTE
A arte é um dos componentes curriculares que compõem a área de linguagem, como tal,
possui uma gama de teorias e reflexões sobre o objeto arte como produção humana. Desde os
primórdios da humanidade, o ser humano vem se valendo de suas produções artísticas para
interagir com o meio em que vive, assim como para deixar mensagens para seus descendentes.
Sobre esse ponto, Azevedo Júnior assim observa:
Arte é conhecimento, e partindo deste princípio, pode-se dizer que é uma das
primeiras manifestações da humanidade, pois serve como forma do ser humano
marcar sua presença criando objetos e formas que representam sua vivência no
mundo, o seu expressar de ideias, sensações e sentimentos e uma forma de
comunicação (AZEVEDO JÚNIOR, 2007).
A arte surgiu com os primórdios da humanidade, se revelou com suas primeiras ações,
principalmente através de seu trabalho, condição necessária para sua sobrevivência,
em que o homem utiliza a natureza transformando-a. As pinturas rupestres, também
caracterizavam essas primeiras formas de ação, demonstrando que o homem da
caverna, naquele tempo, já interesse em se expressar de maneira diferente (FISCHER,
1983).
Todavia, conceituar a arte é não é fácil. Dentre os diferentes conceitos, a Arte é vista
como uma experiência humana de conhecimento estético que transmite e expressa ideias e
emoções, por isso, para a apreciação da arte é necessário aprender a observar, a analisar, a
refletir, a criticar e a emitir opiniões fundamentadas sobre gostos, estilos, materiais e modos
diferentes de fazer arte (AZEVEDO JÚNIOR, p. 7, 2007).
Então, ao fazer Arte o homem cria um objeto artístico que não precisa ser uma
representação fiel das coisas no mundo natural ou vivido e, sim, como as coisas podem ser, de
acordo com a sua visão, ou seu desejo. Baseado nisto, a função da arte e o seu valor estão na
representação simbólica do mundo humano.
Considerando tais pressupostos, se concebe a arte como um complexo que possui um
sentido amplo intrínseco à cultura e que se revigora nas relações entre o ser humano e o seu
entorno. Portanto, há um processo de troca de conhecimento, de valores, de símbolos e de
signos próprios desse saber que compõe a experiência e a estética dentro de um determinado
contexto. A partir dos fragmentos de manifestações artísticas, conforme afirmam os
65
pesquisadores da Arte, da Antropologia, História, é possível identificar características
peculiares de diferentes grupos sociais, no que diz respeito às manifestações culturais no
decorrer da história.
A arte é um conhecimento intercambiado nos processos de mudança e de transformação
dos contextos de espaço e tempo. Assim sendo, toma-se como ponto de partida a concepção de
aprendizagem em arte. A partir das teorias do desenvolvimento cognitivo humano, de Jean
Piaget e de Vygotsky, estruturaram-se também teorias sobre a construção do conhecimento
artístico. Os pressupostos da Gestalt trouxeram suas contribuições para o entendimento de que
há um processo crescente de aprendizagem artística.
Para abordar as concepções de aprendizagem em arte e os marcos teóricos que
empreendem estudo sobre o tema, buscamos partir da compreensão de Elliot (2005) sobre as
dimensões que fazem parte do processo de criação artística, e em que medida tais dimensões
podem ou devem acontecer para contribuir no processo de aprendizagem do componente Arte
e suas respectivas modalidades.
A compreensão da aprendizagem artística perpassa de forma indispensável pelo modo
como se aprende a criar as formas artísticas, as formas visuais, musicais, e de movimento em
arte, assim como conhecer os aspectos que contribuem para a compreensão da arte. Ao se
conceber a arte enquanto campo de conhecimento próprio, se considerará a aprendizagem
artística como um saber pautado na experiência, na vivência, na construção de conceitos que,
por meio dela, se articulam e dão suporte a uma diversidade de outros conhecimentos.
Eisner Elliot aborda as dimensões da aprendizagem artística nos aspectos produtivo,
crítico e cultural. Acrescenta que o desenvolvimento de um saber artístico não acontece de
maneira automática e isolada, pois é de ordem complexa e se constrói num processo de ensino,
assim como os demais conhecimentos no contexto da educação. Nesse sentido, importa trazer
as contribuições de Dewey no que se refere à sua visão pragmática na aquisição de
conhecimentos em arte, pois considera a experiência como fator preponderante num caminho
crescente de aprendizagem.
A partir de tais considerações, compreende-se que esta aprendizagem se dá numa
relação entre sujeitos menos experientes com sujeitos mais experientes, como pressupõe a teoria
sociointeracionista de Vygotsky (2007), quando sugere a zona de desenvolvimento proximal na
interação professor-aluno. A psicologia Gestaltista contribui também na construção das teorias
da aprendizagem artística, principalmente na abordagem de Elliot sobre a aprendizagem
artística, ancorada nos pressupostos de Arnheim que afirma que cognitivamente o processo de
66
maturação do adulto propicia maior capacidade de discriminação das qualidades sobre objetos
e fenômenos.
No que se refere ao processo crescente de aprendizagem em arte, de acordo com a
Gestalt, a criança percebe primeiramente as generalidades, no seu processo de maturação, passa
a cada vez mais perceber sutilezas, ou seja, a aprendizagem se dá a partir do macro para o micro,
isso nas relações entre as qualidades, e a tendência seria perceber, identificar estruturas mais
complexas no objeto de arte, quando adulto. Nesse aspecto, tanto Dewey como Elliot pontuam
que aquilo que o sujeito aprende vai depender, em parte, de tudo aquilo que foi possibilitado a
ele experimentar, formando, assim, a sua estrutura de referência e as representações que se
construiu a partir dessas estruturas.
Orientados por essas teorias, da Gestalt, da Cognição, da Educação e da Arte, são
pensadas políticas que regulamentam o ensino de arte como componente curricular obrigatório.
Na vigência da LDB 9393/96, os PCN são construídos com a função de sugerir um norte para
o currículo brasileiro:
67
do ensino de Arte, como os sociais, educacionais e culturais. A Semana da Arte Moderna, em
1922, foi outro marco importante, pois deu início ao movimento modernista no Brasil, quando
um grupo de artistas plásticos e intelectuais se reuniu no Teatro Municipal de São Paulo, onde
realizaram recitais de músicas e poesias, palestras e danças e exposições de pinturas, esculturas
e arquitetura.
No ano de 1946, através da Constituição Liberal, foi aprovada a elaboração de um
estatuto que viria a estabelecer as diretrizes e as bases da educação nacional. Para atender a
determinação preconizada na Constituição, Clemente Mariani, então ministro da Educação e
Saúde, determinou a formação de uma comissão composta por educadores para elaborar o
projeto de Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Porém, somente em 1948 o projeto
foi encaminhado para o Congresso, permanecendo em arquivo até 1949. O Congresso, por sua
vez, não deu prosseguimento às discussões sobre a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, resultando na paralisação do projeto por mais de uma década para sua aprovação.
Somente em 20 de dezembro de 1961, a Lei 4024/61 foi sancionada, instituindo, assim,
a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Essa Lei estabelecia uma nova estrutura para
os currículos do ensino primário e médio. Sob essa lei, o ensino da Arte estava restrito ao
desenho e ao canto orfeônico nas matrizes curriculares da maioria dos estados e municípios
para o ensino primário. Já no ensino médio, o Art. 38, Inciso IV do Capítulo I, Título VII reduz
o ensino de arte às atividades complementares de iniciação artística, não obrigatórias.
Em 11 de agosto de 1971, em pleno regime militar do Presidente Médici, foi publicada
a Lei de Diretrizes e Bases nº. 5.692. O cenário era de um governo que estava desenvolvendo
políticas de expansão econômica e recebendo influências de tendências neoliberais e tecnicistas.
Através desta lei, a Arte foi incluída de forma obrigatória no currículo escolar, não como
disciplina, mas, sim, como atividade educativa, pois a ênfase era dada ao processo expressivo
e criativo dos estudantes. Porém, essa obrigatoriedade do ensino de Arte não garantiu de fato
que os estudantes tivessem acesso a ela, haja vista o número deficitário de profissionais
preparados para atender tal demanda. Esse contexto não permitiu um maior aprofundamento do
sentido artístico e estético envolvido na área.
Para atender a essa demanda de falta de profissionais capacitados para o ensino de Arte,
em 1973 foram criados os primeiros cursos de Licenciatura em Educação Artística, que eram
estudados por dois anos e que visavam formar os futuros professores de Educação Artística
habilitados em Música, Teatro, Artes Plásticas e Dança. A polivalência no ensino de Arte se
mostrou insuficiente, pois não deu conta de formar profissionais que fossem capazes de atuar
nas quatro áreas devido ao não aprofundamento em nenhuma delas.
68
Na década de 1980, surge o movimento Arte-Educação que procurou resolver o
problema de identidade do professor de Arte, normatizando a área do conhecimento específico
com questões voltadas ao ensino da Arte. Os Arte-Educadores foram assim denominados por
participarem diretamente com esse movimento. Os objetivos pedagógicos da Arte-Educação
foram os de retomar a integração do fazer artístico da apreciação da obra de arte e seu contexto
histórico e cultural.
Com a promulgação da Constituição Federal em 1988, os educadores responsáveis por
modificações no ensino de Arte buscaram reconhecimento da disciplina através da criação da
nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional que tornou o ensino de Arte um
componente obrigatório na Educação Básica, através da Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de
1996 em seu art. 26, § 2º. Os movimentos Educação Através da Arte e o Arte-Educação
apoiaram todo esse processo de busca por melhorias do ensino de Arte desde a Educação
Infantil até o Ensino Médio, compreendendo toda a Educação Básica. Com isso, a Arte se
consolidou nas escolas, não mais como Educação Artística e, sim, como uma disciplina,
possuindo conteúdos próprios, deixando de ser apenas uma simples atividade para se tornar
parte da cultura e de maneira significativa.
Em 18 de agosto de 2008 foi sancionada a Lei nº. 11.769 que altera o parágrafo 26 da
Lei 9.394/96, incluindo a obrigatoriedade do ensino de Música na Educação Básica. Após a
implantação dessa lei, uma mobilização em favor do ensino das outras linguagens artísticas foi
iniciada, foi elaborado um Projeto, fixando as diretrizes e bases da educação nacional para
instruir, como conteúdo obrigatório no ensino de Artes, a Música, as Artes Plásticas e as Artes
Cênicas. Esse projeto foi encaminhado para a Câmara dos Deputados em 23 de março de 2010,
buscando alterar os parágrafos 2º e 6º do artigo 26 da Lei nº. 9.94/96, este ainda aguarda
aprovação.
69
Com base na literatura, entre pesquisas e teorias que ao longo dos anos foram e ainda
estão sendo construídas, é possível perceber as contribuições da arte no processo de
humanização do indivíduo, no que diz respeito às construções éticas, religiosas, socioafetivas e
estéticas.
É nesse movimento de ensinar e aprender, pautados na necessidade de se despertar a
consciência para a arte como formadora do humano, que o estudante vai encontrar condições
de desenvolver a profundidade da sua expressão e construir o conhecimento em arte que
envolve o fazer e pensar artísticos e estéticos.
Assim, o ensino de arte nas escolas necessita ser pensado a partir das diferentes
possibilidades de trabalho como meio de formação dos sentidos humanos, o que certamente
contribuirá para o desenvolvimento de uma atitude crítica frente ao mundo que cerca o
estudante envolvido neste processo.
Na medida em que a experiência estética mobiliza a dimensão sensível (estésica) do
saber, a educação dos sentidos será apreendida como educação estética, como forma de
realização da essência humana que é a sua liberdade ou omnilateralidade.
A tarefa de aliar o conhecimento inteligível ao saber sensível pode ser desenvolvida,
trabalhando com os conhecimentos artísticos produzidos e acumulados historicamente pela
humanidade. Assim sendo, a educação é fundamental para a formação do ser humano no que
diz respeito a aspectos socioculturais. Nesse sentido, Favaretto ressalta a importância da arte na
formação humana, portanto inserida no processo de educação do sujeito.
Assim, é preciso fazer outras perguntas antes de se assumir as ideias consensuais que
dizem respeito tanto à consideração unânime de que a arte tem uma função na
educação, através do papel que desempenha, e de que ela é indispensável à formação
integral do educando, quanto à própria maneira de se entender o que quer dizer arte e
o que quer dizer formação, para que a suposta contribuição de uma à outra tenha a
importância que se lhes atribui (FAVARETTO, p.227).
Dessa forma, espera-se que traga à tona fatores que foram colocados de lado devido ao
modelo atual de sociedade. Esses fatores são relativos à afetividade e podem ser desenvolvidos
a partir de uma abordagem do currículo de Arte, possibilitando a apropriação dos de princípios
estético-éticos para auxiliar o ser humano no processo de entendimento do outro. É necessário
reconhecer o valor fundamental da arte na vida dos seres humanos. A arte pode educar para a
sensibilidade, para a expressão humana e para o diálogo das coisas tangíveis com as intangíveis
no cotidiano.
No que diz respeito às realidades brasileiras, nelas inclui-se o estado de Mato Grosso,
há que se refletir nos princípios estéticos e éticos de aprender com o outro. Nesse sentido, é
70
importante destacar que os estudos e pesquisas sobre Multiculturalidade e Interculturalidade
colaboram sobremaneira como base para defender a arte como componente fundamental dos
processos subjetivos e intersubjetivos na construção do sujeito.
A considerar as ideias de Lópes (2012), quando afirma que não há estado que não seja
multicultural ou multiétnico, e olhar para o atual cenário mato-grossense, é perceptível que este
seja eminentemente multicultural e multiétnico. Os processos de migração interna e externa e
o vasto território foram terrenos férteis para que viessem povos de distintos lugares, sejam de
dentro do país ou de outros países passassem a compor o povo de Mato Grosso. Esse movimento
de fato contribuiu, para que na contemporaneidade o estado se apresente com culturas
peculiares em cada uma de suas regiões.
Antes de conceber ou delimitar diferenças entre os grupos sociais dos quais se compõe
o estado, é preciso pontuar que as produções artísticas de cada povo são construções a partir da
visão de mundo nele engendrado.
71
sempre antropocêntrico, etnocêntrico, e assim por diante especificado (GINZBURG
1989; p. 163-164).
72
interesses individuais sobre a coletividade, dificilmente a peça terá um resultado realmente
promissor.
Observe, por exemplo, numa dança de salão. Se a parceira não confia ou não aceita
plenamente o seu cavalheiro, o casal terá muitas dificuldades na execução dos passos, de
maneira que a sequência e o resultado serão prejudicados.
No canto coral, por exemplo, se não há interação, a divisão de vozes, bem como a
execução de algumas músicas poderá ter sérios problemas. Mesmo numa mostra coletiva de
pinturas, desenhos ou fotografias os níveis de interação devem ser sempre observados com
cuidado.
Nos últimos decênios, um dos temas recorrentes na escola é a prática de bullying. As
tentativas de uma interação deleite estão centradas exatamente no combate a esses maus tratos.
Assim, além de tornar as relações mais acessíveis no ambiente escolar, essas práticas
pedagógicas favorecem enormemente o potencial criador do estudante. Essas interações se
propõem, inclusive, a dirimir preconceitos relacionados à cor, credo ou orientação sexual.
Num ambiente acolhedor, diante de uma proposta pedagógica que estimule a liberdade
e o potencial criador do estudante, é muito provável que determinadas barreiras sejam
quebradas, para que o estudante consiga se expressar artisticamente. É num espaço saudável
como este que o professor poderá estimular o potencial crítico do estudante, a fim de que seus
pupilos possam desenvolver um acurado poder de análise e interpretação dos seus processos
criativos, assim como dos colegas de turma, ou da escola.
73
Um professor que estimula os seus estudantes a compreender os contextos, assim como
os processos em que cada obra foi criada, dota-os da capacidade de entender o “aqui e o agora”
da obra de arte. O estudante passa a entender as motivações, as afiliações e engajamentos dos
artistas, bem como os escândalos causados por determinadas obras, veiculadas por seus autores
nas sociedades das quais faziam parte, ainda que seus pensamentos, em muitos dos casos,
estivessem à frente de seu tempo.
Todos nós, quando vemos um quadro, somos fatalmente levados a recordar mil e uma
coisas que que influenciam o nosso agrado ou desagrado. Na medida em que essas
lembranças nos ajudam a fluir no que vemos, não temos por que nos preocupar. Só
quando alguma recordação irrelevante nos torna preconceituosos, quando
instintivamente voltamos as costas a um quadro magnífico de uma cena alpina porque
não gostamos de praticar o alpinismo, é que devemos sondar o nosso intimo para
desvendar as razões para a aversão que estraga um prazer que, de outro modo,
poderíamos ter tido ( GOMBRICH, 2001,p.).
Conhecer tais circunstâncias colabora para que o estudante, enquanto apreciador de uma
obra de arte, dialogue com o seu respectivo criador, de maneira que a análise e a interpretação
dos processos criativos de cada artista se revelem numa prazerosa descoberta.
Estabelecer intertextos, diálogos entre artistas de outros tempos e de outras culturas, em
contraste com artistas nacionais e locais, corroboram para elevar os níveis de análise e
compreensão das dinâmicas estéticas e sociais que uma obra de arte oferece.
Desta maneira, Willian Shakespeare, Cecília Meireles ou Manoel de Barros, aos olhos
do estudante devidamente iniciado neste processo de análise e interpretação, compartilha das
delícias da arte da escrita, em que desvelam personagens, narram histórias mirabolantes, seja
na prosa, na peça de teatro ou na poesia.
Da mesma forma, bailarinos como Nijinsky, Ana Botafogo, ou os dançarinos da Flor
Ribeirinha, que ganharam o mundo em busca de reconhecimento, encontraram na dança a
oportunidade de apresentar sua arte.
Como não citar as pinturas de Piet Mondrian, ou de Hélio Oiticica, ou Victor Arruda,
num universo pictórico cheio de grandes nomes, aclamados pela História da Arte? E por que
não se lembrar das belas vozes de Aretha Franklin, Elis Regina ou Vanessa da Mata, que
eternizaram em suas performances, canções que marcaram época, eternizou paixões e
transbordaram corações apaixonados?
Todos esses artistas, todos esses contextos e circunstâncias foram apresentados para
indicar que não importa onde ou quando esteja o artista, se sua arte é genuinamente criativa,
suas obras sempre tocarão os corações humanos.
74
1.2.6. Objetivos do Componente Curricular Arte
Conforme disposto na Base Nacional Comum Curricular, o objetivo deste componente
curricular é desenvolver o pensamento artístico e a percepção estética, caracterizando um modo
próprio de ordenar e dar sentido à experiência humana, por meio da sensibilidade, da percepção
e da imaginação no domínio do conhecimento artístico, necessário para compreender a arte
como meio de humanização da realidade. Essa concepção já se tinha em mente na implantação
da Arte como disciplina na LDB 9394/96.
É sabido que, dentro de um senso comum, conceber o fazer artístico e descrevê-lo como
um tipo de conhecimento tão necessário quanto os conhecimentos engendrados nas ciências
matemáticas, por exemplo, tem desencadeado debates ao longo da história da arte no contexto
da educação. Apoiado nos preceitos de Dewey, é possível afirmar que tanto o que fazer de um
cientista quanto de um artista passam pela mesma ordem de experiência. Em suas palavras, o
autor afirma que tanto o artista pensa o que faz, como o cientista torna em objeto aquilo que
pensa, pois,
O pensador tem seu momento estético quando suas ideias deixam de ser meras ideias
e se transformam nos significados coletivos dos objetos. O artista tem seus problemas
e pensa enquanto trabalha. Mas seu pensamento se incorpora de maneira mais
imediata ao objeto. Em função do caráter comparativamente remoto de seu fim, o
trabalhador científico opera com símbolos, palavras e signos matemáticos. O artista
desenvolve seu raciocínio nos meios muito qualitativos em que trabalha, e os termos
ficam tão próximos do objeto que ele produz que se fundem diretamente com este.
(DEWEY, 1953 p.78)
75
determinado evento histórico ou social, a dança como uma atividade de relaxamento ou de
atividade dentro do calendário cívico para o professor de educação física.
Percebe-se, aqui, que a essência da disciplina ou da criação artística está na condição
simples de atividade para outro fim, como se este último fosse maior, ou mais coerente. Tais
práticas podem, evidentemente, acontecer no cotidiano escolar, contudo, a disciplina de arte
não pode ser compreendida apenas nessa dimensão. O ensino da arte não deve ser vinculado a
uma ação metodológica para auxiliar outra disciplina, e nem como um mero passatempo, em
que os professores solicitem para os estudantes a “desenhar alguma coisa” ou para pintar um
desenho fotocopiado.
O valor da arte na cultura escolar e na vida do estudante deve ser melhor compreendido.
A arte não deve ser entendida apenas como uma oportunidade para aliviar as tensões causadas
pelas outras disciplinas, aquelas consideradas de maior relevância. Acima de tudo, a arte não
pode estar vinculada apenas como prática de ilustração de fatos e eventos.
Em diversos contextos, quando a disciplina de arte não é entendida como uma simples
ação didática para outras áreas ou eventos, ela é vinculada a um estudo teórico que, em muitos
dos casos, é meramente conteudístico, abstrato, cansativo e longe da realidade do estudante. O
componente curricular fica, então, desvinculado do seu objetivo maior: o de oportunizar a
sensibilidade artística por meio da expressão de sentimentos, visão de mundo e da interação,
numa relação direta com a realidade do estudante.
Desta forma, a disciplina de arte deve exceder a essa desvalorização, marcadamente
influenciada pela herança cultural escolar que categoriza o fazer artístico a um plano inferior às
outras vivências epistemológicas e científicas, uma vez que a disciplina se ocupa da
subjetividade e da experiência sensível.
O fazer artístico, no componente Arte, estimula o desenvolvimento de processos
criativos expressos na dimensão estética, contribuindo para a formação do senso crítico.
Contribuí para estabelecer relações de individualidades, compreendendo suas subjetividades.
Para que isso aconteça, é necessário que o fazer artístico seja proposto numa distância segura
da imposição de modelos padronizados, muitos deles carregados de estereótipos incorporados
que diminuem a capacidade de criação e análise do estudante.
Segundo as Orientações Curriculares da Área de Linguagens da Secretaria de Estado de
Educação de Mato Grosso, o fazer artístico é o momento de criação, de releitura, de fazer, de
repensar, de expressar-se artisticamente num espaço-tempo para criar. A arte, como forma de
aprendizagem, oportuniza o estreitamento entre os povos ao se conectarem de alguma forma
pelas produções artísticas. O cantar em grupo, por exemplo, pode aproximar um grupo a partir
76
de suas diferenças e semelhanças ao mesmo tempo, mobilizando sentidos e emoções. Nessa
atividade, são articulados movimentos “físico, emocional, sensorial, estético e intelectual”
(ZAMPRONHA, 2002, P. 23).
Quando o estudante observa obras de arte, é estimulado, e não obrigado, a escolher uma
delas como suporte de ideias para o seu trabalho artístico, o objeto de arte que produziu é sempre
um suporte interpretativo e não um modelo a ser copiado, reproduzido. Dessa forma, o fazer
artístico precisa explorar a sensibilidade, lidar com o jogo de emoções, transcender a ditadura
da forma e dos conceitos, para tornar-se livre expressão idiossincrática do estudante.
O fazer artístico deve propor ao estudante momentos em que perceba que muitas das
grandes obras, ainda que concebidas numa profunda exploração da sensibilidade de seu criador,
são dotadas de expressividade inteligível, cuja comunicação entre artista e fruidor se estabelece,
rompendo as barreiras do tempo e do espaço, preservando a livre expressão.
Antes de quaisquer análises, é necessário esclarecer as diferenças entre experiências
sensoriais e experiências sensíveis. Define-se aqui as experiências sensoriais, todas aquelas
relativas aos processos de ativação do sistema sensorial, ou seja, as experiências que estimulam
sentidos relacionadas ao ver, ao tocar, ao ouvir, ao sentir o cheiro ou o sabor.
O prazer está ligado puramente às sensações, em muitos casos, de efeito muito mais
biológico do que cultural. Quando se trata de experiência sensível, estas estão relacionadas aos
sentimentos, emoções, experimentados pela suscetibilidade humana para ofender-se, melindrar-
se, rir, chorar, temer ou apresentar qualquer outro tipo de reação a uma abordagem que lhe é
feita.
Todo e qualquer processo de criação perpassa pelo repertório emocional. Ninguém que
seja impassível a determinado assunto será capaz de produzir qualquer objeto, seja artístico ou
mercadológico, sem dotá-lo de fraquezas e adiaforia. O fazer artístico está diretamente ligado
à experiência sensível. Quanto maior for a sensibilidade do artista, mais profunda será a
tradução da realidade ou do pensamento da sociedade em que ele está inserido.
É na experiência sensível que se entra em contato com as mazelas sociais, com as
dinâmicas do amor e do ódio, com as inquietações psíquicas, com os valores morais e
emocionais, e consegue-se traduzir alegrias e tristezas em obras artísticas.
É pela experiência sensível que se compreende determinadas obras, concebidas em
outros séculos, em outras culturas, mas que, em muitos casos, traduzem o estado de espírito,
aplacam ou enfurecem as emoções, e transportam as pessoas para determinados mundos nos
quais querem viver ou esquecer.
77
A experiência sensível e que permite as obras nunca envelhecerem rompem as fronteiras
do espaço e aproxima a todos do fazer artístico autêntico. É pela experiência sensível que se
exteriorizam ou se manifestam as criações subjetivas.
78
Segundo Perrenoud (2001), grande parte das estratégias de ensino utilizadas pelo
professor deve ser adaptada às características dos alunos, à composição da classe e à história
das relações entre os educandos e entre eles e o professor. Dessa forma, no planejamento
devem-se evidenciar as estratégias de ensino que determinem o quê, quando e como ensinar.
Um plano de aula, ou uma sequência didática pode contemplar regulações organizativas
nas habilidades, nas unidades temáticas, nos objetos de conhecimento, nas estratégias, nos
recursos ou na avaliação. Quando se frisa que é necessário pontuar o quê ensinar, sugere-se
analisar a partir de um olhar crítico a aplicação e as dificuldades de assimilação, com base nos
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), as conquistas no decorrer da história, na tentativa de
contribuir para as possíveis mudanças no processo ensino-aprendizagem.
Analisar a metodologia na relação teoria/prática dos conteúdos, bem como as propostas
de avaliação das unidades temáticas com base nos Parâmetros Curriculares Nacionais, a ética
dos envolvidos no contexto escolar, discutindo as possibilidades de negligências, propondo
alternativas para a melhoria da qualidade do ensino e um bom desenvolvimento e resposta ao
conteúdo proposto, na perspectiva de repensar a qualidade do ensino, partindo do princípio que
a valorização dos objetos de conhecimento tem início no compromisso do profissional com a
educação e suas consequências no desenvolvimento sócio-histórico-cultural.
É preciso que o planejamento da ação pedagógica esteja adequado à realidade da
comunidade escolar. Esse planejamento deve ser alinhado ao PPP (Projeto Político
Pedagógico) da unidade escolar. Para isso, a coordenação pedagógica deve se manter atualizada
quanto às legislações, principalmente no que se refere às resoluções dos órgãos e secretarias de
educação, que fiscalizam e mantém a regulamentação das matrizes da Base Nacional Comum
Curricular.
Sendo a principal referência do ensino da arte no Brasil, a proposta Triangular de Ana
Mae Barbosa engloba vários pontos de ensino/aprendizagem ao mesmo tempo, entre os
principais estão: leitura da imagem, objeto ou campo de sentido da arte (análise, interpretação
e julgamento), contextualização e prática artística (o fazer). Por meio dessa proposta, Ana Mae
suprimiu, naquele momento, a abordagem da Estética por entender que o professor brasileiro
ainda não estava preparado para trabalhar com conteúdo tão adensado.
Depois de alguns anos, o termo metodologia é revisto e Ana Mae passa a chamá-lo de
proposta. Posteriormente, a partir de novas discussões, a palavra proposta foi substituída por
abordagem. Independente dos esforços em reparar equívocos conceituais, caiu em lugar comum
como Metodologia Triangular.
79
Nos conceitos apresentados por Ana Mae estão impingidos os conceitos de
metodologias ativas para o ensino de arte, principalmente para a música e artes plásticas, que
ainda reverberavam o ensino conservatorial da academia europeia, ensinando arte a partir do
plano técnico-filosófico. Com novas ideias, no que diz respeito ao processo de ensino e de
aprendizagem em arte, fica a cargo dos cursos de Licenciatura, cada uma em sua respectiva
modalidade da Arte, dar suporte ao egresso, como mediador na construção do conhecimento
em arte.
Antes de colocar em prática aquilo que é considerado necessário ao desenvolvimento
do conhecimento em Arte, o professor precisa definir e ter claro em sua prática pedagógica o
público a quem se destina, e o que se destina a esse público. Para isto, é necessário muitas vezes
recorrer a conceitos, investigar a especificidade da turma em questão, como faixa etária,
gêneros, linguagem, gostos, para que sua articulação não seja descabida ou mesmo rejeitada
pelo grupo de sujeitos.
Vale ressaltar que sujeitos nascidos nesta época têm características tecnológicas, e há
um estranhamento compreensível quando este adentra aos prédios escolares e se depara com
atuações e empreendimentos em práticas que podem ser consideradas arcaicas e retrógradas a
esta geração. Portanto, experimentos e inserções de tecnologias nas aulas são bem-vindos e
podem servir como meio de aproximação entre os sujeitos, pois estes podem ensinar a utilização
de itens que muitas vezes o professor desconhece, mas sua utilização só terá sentido se houver
um objetivo relacionado ao desenvolvimento da aula.
Conforme a BNCC, os estudantes dessa fase, Ensino Fundamental – Anos Finais, se
deparam com desafios de maior complexidade, além de agregar uma faixa etária de transição
entre infância e adolescência, marcada por mudanças de transformações biológicas,
psicológicas, sociais e emocionais.
Contudo, como contribuição para os procedimentos metodológicos sobre a fruição e
análise do objeto estético, cabe observar a importância do uso das concepções de Erwin
Panofsky, cuja teoria se debruça sobre as Artes Visuais, mas que podem ser aplicadas muito
satisfatoriamente às outras modalidades da Arte. Desse modo, uma análise calcada nas
considerações iconográficas descreveria as primeiras impressões que são obtidas em cada obra.
São os aspectos mais evidentes num objeto estético, observáveis por qualquer espectador.
Assim, um quadro da sagrada família, seria apenas uma imagem de um casal com uma criança.
Uma peça teatral sobre a tragédia de Romeu e Julieta apresentaria somente duas famílias
antagônicas, com dois jovens desobedientes. A Nona Sinfonia de Beethoven seria somente uma
música longa para instrumentos e vozes, ou o prelúdio à tarde de um fauno, seria tão somente
80
uma peça de balé dançada por um homem fantasiado. A iconografia corresponde no nível de
compreensão e de análise primário.
Num entremeio, já saindo deste nível mais básico, pode-se observar o secundário, em
que detalhes sociais, culturais ou históricos, ainda de forma convencional, são compreendidos
na obra. Assim, observa-se o desenho das auréolas, nos personagens da sagrada família, a
diferença de idade entre o marido (José) e a esposa (Maria), bem como a relação com o bebê
diretamente apoiado nos braços da mãe, estabelecendo-se o contato mais direto com a mãe (sua
genitora) do que com o senhor que a envolve (seu tutor) que cuida e protege a ambos por ser o
mantenedor da família. Na peça das famílias dos Montéquios e Capuletos, a verificação do
poder social de cada família, das justificativas para o antagonismo, assim como do namoro entre
os dois jovens desobedientes.
Na Nona Sinfonia de Beethoven, a observação do uso de determinadas células rítmicas
que são repetidas em outros timbres ou naipes, propondo unicidade na obra. Na apresentação
do prelúdio, observa-se a forma como o personagem marca o ritmo da música, torna-se mais
agressivo em alguns pontos, mais suscetível em outros, apresentando uma mensagem com o
seu bailado. Já no terceiro momento de análise, observa-se o significado intrínseco de cada
obra. É a análise iconológica. Neste ponto, a compreensão sobre os valores bíblicos de José,
Maria, e o menino Jesus devem representar as ponderações narradas neste grande livro.
A história de uma Maria casada virgem com um carpinteiro muito mais vivido e que
cujo primogênito fora concebido pelo Espírito Santo, sem que o seu marido lhe acusasse de
traição, ou qualquer tentativa de adultério, apresentam deste a fé deste homem em Deus, assim
como nas Sagradas Escrituras, ou mesmo no amor de sua jovem esposa. A representação da
inocência da criança, para evidenciar que era a encarnação viva do Deus Pai, e que viria, mais
tarde, a se tornar o Messias, costuma ser observada nesta criança-símbolo.
A disposição dos personagens na obra apresenta formas triangulares ou piramidais,
como a indicar Pai-Filho e Espírito Santo oferecem os toques finais para uma compreensão que,
inicialmente, fora observada apenas como um casal com um bebê. Na tragédia de Romeu e
Julieta, a morte por amor, fruto do altruísmo tomado ao extremo pelos jovens, que os levam
para o outro plano às custas do bem querer que brotara em seus corações. Por mais que houvesse
violência, vilania e cólera entre os personagens de ambas as famílias, o casal alcançou a
redenção, enternecendo os corações dos espectadores com suas mortes desencontradas.
Destino? Infortúnio? Vitimização? Há perdão nestas mortes? Morre-se por amor? Por serem
famílias diferentes, deveriam perpetuar o antagonismo entre eles? Questões como estas
norteiam as análises mais intrínsecas sobre os personagens e seus respectivos dramas. Na Nona
81
Sinfonia de Beethoven, a única com a inserção de canto coral, chamada de Ode à Alegria, a
única também inacabada, apresenta um compositor que, apesar de surdo, rende-se à satisfação
causada por uma grande música. Uma música majestosamente forte, cujos acordes apresentam
um compositor que faz as pazes com o mundo, apresentando a sua magnanimidade como um
artífice do seu ofício, celebrando a alegria em cada timbre ou naipe, comovendo o espectador,
trazendo para a celebração desta alegria em todos os acordes de sua sinfonia.
Por que não observar os movimentos do bailarino, fantasiado de fauno, bailando,
apresentando o seu regozijo numa extrema concordância com a proposta de Sigmund Freud,
em que o onírico vem carregado de satisfação e êxtase, chegando ao ápice num orgasmo
desenfreado que, mesmo sobre as vaias e protestos do público escandalizado de sua época,
fizeram de Nijinski um dos mais inesquecíveis bailarinos da história da dança?
Esta é uma análise que foge ao primariamente observável. Só um observador consciente
pode desfrutar da obra em suas mais profundas e discretas nuances. Desvendar cada pequeno
símbolo, detalhe muitas vezes não notado pelo grande público, permite a cada fruidor analista
vislumbrar-se como coautor da obra analisada. Uma vez que compreende os fatos, bem como
as situações em que ocorreram, as consequências desencadeadas, assim como as causas que
geraram tal problemática, um estudante consciente deste processo de análise e fruição está
muito mais apto para encarar s problemas que lhes são apresentados cotidianamente.
Não se trata apenas de ensinar a arte pela arte, mas de apresentar determinadas obras
que provoquem a reflexão do estudante, desenvolvendo a sua força, assim como explorando a
sua sensibilidade, para que ele possa amadurecer sua relação com as coisas que o cercam.
Após análise e considerações sobre o próprio sujeito protagonista das ações a serem
realizadas, bem como quais elementos do saber a serem trabalhados, o professor tem diante de
si questões e alinhamentos a serem realizados, para que sua ação seja capaz de significar e (re)
significar as aprendizagens em Arte, ao longo do desenvolvimento do sujeito na fase de sua
formação na educação básica de ensino.
Cabe ao professor, no momento de planejar, ter visão abrangente sobre o processo
cognitivo de seus estudantes e propor, no processo de ensino, uma carga de sentidos em que os
estudantes possam dar sentido a esse ensino na sua própria experiência, de maneira que
contribua com a formação do estudante. Este perceberá que o conhecimento que é local pode
ser também globalizado nos processos de rápida expansão de informações na era da
comunicação.
Para que o ensino de Arte flua com resultados satisfatórios é necessário que não fique
restrito a debates inflamados nas academias, seminários, congressos entre outros e, sim, seja
82
uma realidade evidente nas salas de aulas. Tal eficácia se dará através da disponibilidade de
materiais adequados para as aulas práticas, material didático de qualidade para dar suporte às
aulas teóricas e da aplicação da disciplina por profissionais formados na área, bem como pelo
comprometimento do profissional.
Dentre as alternativas para melhoria do ensino, vale considerar a necessidade de se
ampliar os espaços e que os mesmos sejam apropriados, com pelos menos uma sala que abranja
todas as modalidades do ensino de Arte: artes visuais (bancadas, pia, armários, suportes), dança
(barra, espelhos), música (instrumentos musicais, equipamentos de sons) e teatro. A ampliação
do tempo/aula por semana é importante para melhor aplicação e assimilação dos conteúdos e
disponibilidade de materiais específicos do componente.
Além disso, diante de tantas possibilidades tecnológicas, não se pode mais permitir que
o professor fique preso ao livro didático e ao quadro, quando há tanto a explorar sobre os
conhecimentos tecnológicos. É expressivo o quanto os estudantes estão em busca de novas
informações, por diversos meios de comunicação, como a televisão, o rádio, a internet. Diante
dessa realidade, cabe ao professor selecionar, avaliar, compilar e processar as novas tecnologias
para transformar o conhecimento em algo válido, relevante para o desenvolvimento do
estudante.
83
(EF69AR01) Pesquisar, apreciar e analisar formas distintas das artes
visuais tradicionais e contemporâneas, em obras de artistas brasileiros
e estrangeiros de diferentes épocas e em diferentes matrizes estéticas
e culturais, de modo a ampliar a experiência com diferentes contextos
e práticas artístico-visuais e cultivar a percepção, o imaginário, a
capacidade de simbolizar e o repertório imagético;
84
indígenas e africanos, assim como demais manifestações
observadas em outros estados brasileiros.
(EF69AR10) Explorar elementos constitutivos do movimento
cotidiano e do movimento dançado, abordando, criticamente, o
desenvolvimento das formas da dança em sua história tradicional e
contemporânea; Elementos da linguagem
(EF69AR10.1MT) Reconhecer as danças regionais como
manifestação cultural que retrata o cotidiano e identidade mato-
grossense em suas diversidades.
(EF69AR11) Experimentar e analisar os fatores de movimento
(tempo, peso, fluência e espaço) como elemento que, combinados,
geram as ações corporais e o movimento dançado;
Materialidades
(EF69AR11.1MT) Experienciar as mais diversas possibilidades
de movimentos tipicamente regionais, considerando a linguagem
corporal, verbal e o gesto, inserido na dança.
(EF69AR12) Investigar e experimentar procedimentos de
improvisação e criação do movimento como fonte para a construção
de vocabulários e repertórios próprios;
85
(EF69AR20) Explorar e analisar elementos constitutivos da música
(altura, intensidade, timbre, melodia, ritmo etc.), por meio de recursos
tecnológicos (games e plataformas digitais) jogos, canções e práticas
diversas de composição/criação, execução e apreciação musicais;
86
(EF69AR26.3MT) Reconhecer o tema abordado no enredo da
peça teatral como uma visão implícita de moral e de inquietações A escolha do tema
humanas, direta ou indiretamente indagadas na peça.
87
unidade de ensino, de outras escolas locais, de outros municípios),
assim como os mais distantes (outros estados, produções de atores
já consagrados pela mídia, do teatro profissional), ampliando o
repertório de análise das diversas produções, e como inspirador
nos processos de criação.
(EF69AR31) Relacionar as práticas artísticas às diferentes dimensões Contextos e práticas
da vida social, cultural, política, histórica, econômica, estética e ética.
(EF69AR31.1MT) Explorar diferentes elementos desenvolvidos Elementos da Linguagem
na composição de obras abrangendo duas ou mais modalidades
Artística
artísticas.
(EF69AR31.2MT) Explorar e analisar fontes e materiais de duas
ou mais modalidades artísticas em práticas de Materialidades
composição/criação, execução e apreciação, reconhecendo
técnicas e características de gêneros e especificidades diversos.
(EF69AR31.3MT) Conhecer as técnicas, os estilos, os métodos de
cada modalidade, experimentados de acordo com as
intencionalidades a serem observadas no processo de criação, na Teorias e técnicas:
sugestão de elementos expressivos, sob a ótica de quem a produz
ou na temática a ser evidenciada.
(EF69AR31.4MT) Reconhecer as possibilidades de exploração de
temas abordados que garantam expressividade ente modalidades
diferentes, numa revelação de mensagem sobre as inquietações A escolha do tema;
humanas, direta ou indiretamente suscitadas no produto
artístico.
(EF69AR31.5MT) Conhecer o domínio de técnica, ambientação e A definição do tempo no
enredo nas diversas linguagens, observando as especificidades de
processo de criação e na
cada modalidade artística, dentro de suas complexidades
espaciais e temporais. obra;
88
práticas e repertórios artísticos, de modo reflexivo, ético e
responsável.
89
verificação é uma ação que “deixa estático” o objeto, quanto à avaliação, esta tem outra nuance,
apresenta ao objeto uma trajetória dinâmica para ação pedagógica.
Tomando como princípio a teoria espiral de Swanwick, é possível transpor o seu
pressuposto sobre o processo de construção do conhecimento em música para as demais
modalidades, uma vez que as dimensões nesse processo serão equivalentes em cada uma delas.
É importante ressaltar também que todas as atividades artísticas se concretizam na prática. Os
elementos constituintes da arte pressupõem níveis qualitativamente diferentes e são
sequenciados de maneira hierárquica e cumulativa.
Conforme explica Swanwick,
90
observar “concepções historicamente negativas”, considera-se que os trabalhos não venham com
elogios, por exemplo, ao “nazismo”, ao preconceito contra as minorias, ao juízo de credo, de cor,
de gênero, enfim, que sejam trabalhos que apresentem resultados socialmente positivos, de
inclusão, de prática da cidadania.
O mesmo se refere às análises de obras já concebidas por grandes artistas, ao longo da
história da humanidade. Toda e qualquer análise, como no processo de criação, deve trazer parte
da sensibilidade daquele que entra em contato com o objeto estético, provocando sensibilidades,
ainda que compreendidas numa dimensão marcadamente ponderada, realista, coerente,
condizente com as habilidades esperadas. Cabe ainda observar se o estudante consegue fazer uso
das concepções de Erwin Panofsky nas suas análises. Um professor que compreenda sobre os
processos iconográficos e iconológicos pode ensinar aos estudantes esta forma de análise,
tornando-os aptos a reler o mundo que os cerca, para que observem nuances, pequenos detalhes,
sob o intuito de situá-los dentro de contextos, a fim de compreendê-los ou, melhor ainda, de
encará-los como obstáculos a serem transpostos, buscando forças para melhor se posicionarem
no mundo, defendendo-se de maneira crítica, no interesse de exercer a cidadania.
A avaliação é um procedimento de suma importância, considerando que é um
instrumento cujos principais objetivos são a verificação da aprendizagem em relação ao
conteúdo mediado pelo professor, o conhecimento das dificuldades e deficiências dos estudantes
em relação à matéria, além da identificação do progresso dos estudantes e o diagnóstico de
eventuais problemas a serem solucionados, tanto pelo professor, como pelos demais integrantes
da equipe responsável pela elaboração do planejamento escolar, através do qual buscarão
encontrar novas abordagens e estratégias para a prática avaliativa.
Dessa forma, o pensar e o fazer avaliativo devem ser uma das práticas pedagógicas que
permitam verificar, qualitativa e quantitativamente, até que ponto se dá o grau de efetivação dos
objetivos de aprendizagem, através da comparação das metas com os resultados, permitindo
diagnosticar possíveis falhas no processo de ensino e aprendizagem, além de facilitar a
distribuição dos resultados escolares dos estudantes de acordo com uma escala previamente
definida.
Segundo Perrenoud (1991 apud Hadji 2001), “é formativa toda avaliação que auxilia o
estudante a aprender e a se desenvolver, ou seja, que colabora para a regulação das aprendizagens
e do desenvolvimento no sentido de um projeto educativo”. Nesse sentido, a avaliação
possibilita, tanto ao professor, quanto ao estudante, respectivamente, conhecer o processo de
ensino-aprendizagem, quanto aos efeitos reais de suas ações docentes e a oportunidade de tomar
91
consciência de suas dificuldades de aprendizagem e a interagir junto aos pares a fim de corrigir
seus erros, formando novos construtos mentais.
92
Referências
_______. As Escuelas de Pintura al Aire Libre do México: liberdade, forma e cultura, In:
PILLAR, A. D. A educação do olhar no ensino de artes. Porto Alegre: Mediação, 1999. p.
101-117.
93
CUNHA, M. I. O bom professor e sua prática. Campinas/SP: Papirus, 1989.
(Coleção magistério: Formação e Trabalho pedagógico).
DEWEY, John: Arte como Experiência. Trad. Vera Ribeiro. São Paulo: Martins Fontes,
2010. (Coleção Todas as Artes).
DUARTE JR. J.F. O sentido dos sentidos: a educação (do) sensível. Curitiba: Criar, 2001.
GAINZA, V. H. de. Estudos de psicopedagogia musical. 3. ed. São Paulo: Summus, 1988.
GOMBRICH, E.H. A História da Arte. Tradução Álvaro Cabral.Rio de Janeiro: LTC, 2001.
HORKHEIMER, Max. Eclipse da razão; trad. Sebastião Uchoa Leita. São Paulo: Centauro,
2002.
KOSIK, K. Dialética do concreto. Trad. Célia Neves e Alderico Toríbio. 2. ed. Rio de
Janeiro, Paz e Terra, 1995.
94
LIBÂNEO José Carlos: A didática e a aprendizagem do pensar e do aprender: a Teoria
Histórico-cultural da Atividade e a contribuição de Vasili Davydov. Revista Brasileira de
Educação.
LUCKESI, C. Avaliação da aprendizagem escolar. 12. ed. São Paulo: Cortez, 2005.
SOUZA, C. P. Avaliação escolar: limites e possibilidade. Série Ideias, São Paulo, n. 22, p.89-
90, 2001.
95
BARBOSA, Flávia Aparecida S. e FREITAS, Fernando Jorge Correia. A Didática e sua
Contribuição no Processo de Formação do Professor. Disponível
em: <http://fapb.edu.br/media/files/35/35_1939.pdf>. Acesso em: Acesso em: 04/mai/2018.
Tarde.
96