Aspectos Psicologicos Da Obesidade
Aspectos Psicologicos Da Obesidade
Aspectos Psicologicos Da Obesidade
da Obesidade
Brasília-DF.
Elaboração
Produção
Apresentação................................................................................................................................... 4
Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa...................................................................... 5
Introdução...................................................................................................................................... 7
Unidade i
A RELAÇÃO ESTRESSE, DEPRESSÃO E ANSIEDADE NA OBESIDADE............................................................ 9
CAPÍTULO 1
Aspectos emocionais da obesidade na infância e adolescência.................................. 9
CAPÍTULO 2
Aspectos emocionais da obesidade em adultos............................................................ 12
Unidade iI
ALTERAÇÕES PSICOLÓGICAS RELACIONADAS À OBESIDADE............................................................... 15
CAPÍTULO 1
Imagem corporal, autoestima e obesidade na infância,
adolescência e fase adulta.............................................................................................. 16
Unidade iII
TRANSTORNOS ALIMENTARES............................................................................................................... 20
CAPÍTULO 1
Diagnóstico....................................................................................................................... 20
CAPÍTULO 2
A imagem corporal nos transtornos alimentares....................................................... 23
CAPÍTULO 3
Comorbidade psiquiátrica nos transtornos alimentares............................................. 25
Unidade iV
TRATAMENTO PSICOLÓGICO............................................................................................................... 27
CAPÍTULO 1
Tratamento dos transtornos alimentares...................................................................... 27
CAPÍTULO 2
Tratamento da obesidade.................................................................................................. 32
ANEXO
Avaliação psicológica de crianças acompanhadas em programa de atenção
multiprofissional à obesidade.......................................................................................... 48
Referências..................................................................................................................................... 52
Apresentação
Caro aluno
A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.
Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.
Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a
como instrumento para seu sucesso na carreira.
Conselho Editorial
4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e
pesquisas complementares.
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos
e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Praticando
Atenção
5
Saiba mais
Sintetizando
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).
Avaliação Final
6
Introdução
A obesidade é considerada uma doença de etiologia multifatorial caracterizada pelo acúmulo
excessivo de tecido adiposo no organismo e é fator de risco para patologias graves como diabetes,
doenças cardiovasculares e hipertensão. Além disso, a obesidade com frequência pode gerar
sofrimento e comportamentos de esquiva social associados ao comprometimento da qualidade de
vida. Hoje é claro o papel essencial de fatores biológicos no desenvolvimento da obesidade, no
entanto, seus correlatos psicológicos tem sido relevantes na intervenção clínica desse problema.
Assim, pesquisadores e profissionais de diversas áreas têm-se interessado pelo estudo do perfil
psicológico de indivíduos obesos.
A obesidade pode ter início em qualquer época da vida, mas seu aparecimento é comum na infância
e na adolescência. A obesidade, um dos problemas de saúde mais frequentes entre os transtornos
nutricionais infantis, é considerada um grave problema de saúde pública. Existe recentemente um
grande interesse de pesquisadores e clínicos nos aspectos psicológicos da obesidade, especificamente,
na forma como ela afeta crianças e adolescentes. Nesse sentido, este Caderno irá abordar os
principais aspectos psicológicos da obesidade, tanto em crianças quanto em adultos.
Objetivos
»» Compreender as alterações psicológicas e emocionais que estão associadas ao
desenvolvimento da obesidade.
7
8
A RELAÇÃO ESTRESSE,
DEPRESSÃO E ANSIEDADE Unidade i
NA OBESIDADE
(DALLMAN, M. F. (2010). Stress-induced obesity and the emotional nervous system. Trends
Endocrinol. Metab. 21(3):159-165)
Ser obeso ou mesmo estar acima do peso é uma condição altamente estigmatizada
na sociedade. As pessoas obesas que sofrem estigma pela sua condição lidam
constantemente com reações de hostilidade por parte dos outros. O estresse
produzido por antecipação dessas reações adversas pode levar à depressão.
(MacLean, L. et al. (2009) Obesity, stigma and public health planning.
Health Promot Int. 24(1):88-93)
CAPÍTULO 1
Aspectos emocionais da obesidade na
infância e adolescência
Em crianças obesas, o comportamento alimentar da família tem um papel importante no que diz
respeito ao aparecimento e à manutenção do excesso de peso e da obesidade. As crianças aprendem
por meio da observação e da imitação, bem como pela modelagem do comportamento de seus pais.
Buzzo e Kerbauy (1995) procuraram esclarecer, em estudo com cinco mães de classe
média, com filhos de 6 a 8 anos, quais os fatores que influenciam a escolha e a
instalação das regras alimentares que a mãe ensina aos filhos. Observaram: (a) uma
9
UNIDADE I │ A RELAÇÃO ESTRESSE, DEPRESSÃO E ANSIEDADE NA OBESIDADE
incoerência entre o que a mãe faz e o que diz em relação a ela e a própria criança,
(b) o conceito de obesidade é negativo, mas quanto ao bebê, há menor ênfase no
aspecto aversivo, (c) a história alimentar de uma mãe é repetida no filho e duas
mães a reformularam e corrigiram, (d) as orientações médicas quanto à alimentação
infantil não são seguidas por todos. Uma das crianças era obesa e as demais tinham
peso normal. Concluiu-se pela necessidade de programas preventivos com as mães
para ensiná-las a lidar com a sua história alimentar com ênfase na quantidade, na
qualidade e no horário e aprender conceitos e comportamentos relacionados à
alimentação. Esses resultados podem ser referendados pelo trabalho de Epstein,
Valoski, Wing, e McCurley (1994) com crianças e suas famílias. Há risco de uma criança
obesa tornar-se um adulto obeso e este risco aumenta com a idade. Há também
evidências de que quando a perda de peso é na infância e adolescência esse ganho
permanece.
Existe uma forte associação entre obesidade em crianças e o estresse familiar. Situações de
estresse tais como transtornos mentais ou doenças somáticas dos pais, nível socioeconômico baixo,
contribuem ainda mais para manifestação e manutenção de sobrepeso na infância. Negligência dos
cuidadores e presença de estresse e angústia materna estão também associadas com a obesidade
em crianças. Do ponto de vista social, as autossituações de pobreza e o estigma social de obesidade
podem representar fatores de risco para depressão no futuro, especialmente em indivíduos mais
vulneráveis.
10
A RELAÇÃO ESTRESSE, DEPRESSÃO E ANSIEDADE NA OBESIDADE │ UNIDADE I
11
CAPÍTULO 2
Aspectos emocionais da obesidade
em adultos
Pessoas e animais escolhem alimentos com alto conteúdo de açúcar e de gordura durante situações
de estresse. Sob circunstancias controladas de laboratório, a exposição a eventos de estresse físico
ou emocional induz a ingestão de alimentos gratificantes, mesmo sem fome e sem necessidade
homeostática de calorias. Aliviar um sentimento ocasional intenso de estresse comendo algo
prazeroso não causa obesidade, no entanto, alívio de desconfortos habituais da vida usando essa
estratégia pode levar à obesidade.
A alimentação induzida pelo estresse também é observada em mulheres com peso normal que
realizam regime alimentar. Como tal restrição requer um grande esforço emocional, torna-se por
si só um tipo de estresse crônico. Alguns indivíduos parecem destinados a enfrentar uma batalha
para emagrecer. Esse processo de luta pode produzir excessiva preocupação com alimentação, peso,
autocondenação, ansiedade e depressão, bem como repetidos ciclos de perda e recuperação de peso.
O estresse pode ser definido como (1) a soma de respostas físicas e mentais
causadas por determinados estímulos externos (estressores) e que permitem ao
indivíduo (humano ou animal) superar determinadas exigências do meio-ambiente
e (2) o desgaste físico e mental causado por esse processo. O estresse pode ser
causado pela mudança brusca no estilo de vida e pela exposição a um determinado
ambiente, que leva a pessoa a sentir um determinado tipo de angústia. A síndrome
geral de adaptação, uma teoria inicial de estresse proposta por Seyle (1936), diz que
o organismo reage à percepção de um estressor com uma reação de adaptação. Esse
processo atravessa as três fases a seguir.
12
A RELAÇÃO ESTRESSE, DEPRESSÃO E ANSIEDADE NA OBESIDADE │ UNIDADE I
As bases para comportamentos que levam à obesidade estão sendo entendidas. Elas incluem
circuitos cerebrais relacionados à aprendizagem e à memória de recompensa, bem como à formação
de hábitos e à diminuição do controle cognitivo.
13
UNIDADE I │ A RELAÇÃO ESTRESSE, DEPRESSÃO E ANSIEDADE NA OBESIDADE
Além disso, tem-se constatado que a realização de dietas e programas de redução de peso podem
levar ao aumento de ansiedade e, em longo prazo, à depressão em indivíduos obesos. Assim,
ansiedade, depressão e estresse são aspectos emocionais identificados como causadores ou como
consequências da condição de obesidade.
DEPRESSÃO
Sugerimos que conheça a série de vídeos do Programa Globo Repórter, onde são
abordadas diversas dimensões da obesidade, incluindo aspectos emocionais.
14
ALTERAÇÕES
PSICOLÓGICAS Unidade iI
RELACIONADAS À
OBESIDADE
O ser gordo ou magro na sociedade atual é veiculado pela mídia, na maior parte
das vezes, sem relação com a saúde. O ideal é o corpo magro, sem que se levem em
conta diferenças genéticas. O ser gordo pode também significar falta de controle
de impulsos, preguiça, ser relaxado. Com a transmissão desses conceitos é evidente
que o sobrepeso pode ser um fator de sofrimento para aqueles que não alcançaram
um corpo perfeito.
A cultura ocidental divulga uma imagem de corpo inatingível para a maioria dos indivíduos, e
muitos passam a viver uma grande discrepância entre o corpo real e o corpo ideal. Tal discrepância
vem sendo associada a (1) um decréscimo na autoestima, (2) a distorções na imagem corporal e (3) a
depressão. A experiência de “sentir-se gordo” mesmo quando o peso corporal real não corresponde
a tal sentimento, parece ser um sentimento compartilhado socialmente.
A imagem corporal, não é unicamente a forma como os outros nos veem, porém, é a concepção que
nós temos sobre nossa imagem. A autopercepção corporal, as atitudes, as crenças, as práticas, as
representações, os sentimentos, as sensações e os comportamentos relativos ao corpo são apenas
alguns dos aspectos envolvidos no fenômeno da imagem corporal.
Nesta unidade, iremos discutir a relação entre imagem corporal, autoestima e obesidade em
diferentes estágios do desenvolvimento.
15
CAPÍTULO 1
Imagem corporal, autoestima e
obesidade na infância, adolescência e
fase adulta
A imagem visual é um processo que envolve não apenas representações visuais, mas também
outros elementos subjetivos. Toda vez que uma imagem é lembrada, pensamentos e sentimentos
relacionados podem afetar a imagem resultante.
Depoimentos
Sueli (16 anos) acha que a imagem sem dúvida é um princípio de inclusão ou de
exclusão. Para ser bem-aceita nos relacionamentos, é fundamental cuidar tão bem
do corpo quanto se cuida da alma:
– Eu li numa revista sobre anorexia e fiquei com vontade de ter para ser muito magra...
li aquela reportagem e acho que inconscientemente eu desenvolvi a anorexia. Eu lia
muito Boa Forma, e, se você for ver no armário quanta Boa Forma tem aí... E isso é
muito ruim sabe? As revistas fazem muito mal... Eu acho que comecei a me sentir
mais feia depois que comecei a ler...(Sueli)
– Ahhhh... mas vai ver uma Daniela Cicarelli, sei lá, uma dessas modelos aí, todo
mundo baba e você vai se sentir pior. Na verdade se você tem cinquenta e oito quilos
pensa “nossa sou uma baleia!”. Nossa eu acho revista uma coisa ridícula, parece que
fazem pensando para deixar a pessoa mal! E eu acho que a imagem que você passa
para os outros importa muito!” (Sueli).
Dinora (26 anos), que tem uma história de sobrepeso anterior à anorexia, conta
que sentia-se socialmente discriminada pelo excesso de peso. Seu depoimento é
marcadamente entoado por grande sofrimento subjetivo, e, várias vezes, atribui
16
ALTERAÇÕES PSICOLÓGICAS RELACIONADAS À OBESIDADE │ UNIDADE II
como causa de sua doença o fato do sobrepeso ter se constituído uma marca social,
um tipo de atributo depreciativo imputado à sua pessoa.
É exatamente o valor que o atributo físico adquire na vida social do indivíduo que
pode estigmatizá-lo. Dinora, em algum momento, assumiu como sua imagem real,
essa imagem disforme e desvalorizada de indivíduo, e simbolicamente parece ser
exatamente dessa “gordura” que ela tenta se livrar.
Em homens, e mais ainda em mulheres, a imagem corporal é um tema relevante associado ao peso
corporal, ao estresse e, por sua vez, ao comprometimento da qualidade de vida. Diversos estudos
relacionam as desordens alimentares à percepção da imagem corporal, à autoestima e à satisfação
com a própria aparência física. Os estudos sobre distorção e insatisfação com a imagem corporal
focalizam-se principalmente em populações portadoras de transtornos alimentares como anorexia
nervosa e bulimia, sendo recente a observação desse tipo de distúrbio em populações isentas desses
transtornos, mas que têm desenvolvido hábitos alimentares que colocam em risco sua saúde. Na
unidade III serão discutidos, de forma mais detalhada, os principais aspectos dos transtornos
alimentares.
17
UNIDADE II │ ALTERAÇÕES PSICOLÓGICAS RELACIONADAS À OBESIDADE
que era agradável sim. Por mim eu emagreceria em uma semana, emagreceria cinco
quilos na outra semana, mais cinco na outra, mais cinco na outra, mais cinco... até
zerar, entendeu, virar uma formiguinha! (Depoimento de Kely, 23 anos, sobre o
período em que esteve doente).
Em um trabalho recente, Griffiths, Parsons e Hill (2010) realizaram uma revisão dos artigos
publicados a partir de 1994 que versavam sobre obesidade, autoestima e qualidade de vida em
crianças e adolescentes. Os autores concluíram que jovens obesos apresentam baixa autoestima e
comprometimento da qualidade de vida, especificamente na percepção da sua aparência física, da
sua competência atlética e do seu desempenho social.
O objetivo desse estudo foi avaliar a percepção da imagem corporal, o comportamento alimentar e
o estado nutricional de estudantes de cursos das áreas da saúde e humanas de uma universidade de
Ribeirão Preto, Brasil, para comparação entre estas.
18
ALTERAÇÕES PSICOLÓGICAS RELACIONADAS À OBESIDADE │ UNIDADE II
A partir dos conceitos aprendidos nesta unidade, elabore um texto que discuta por
que os adultos obesos parecem ter maiores alterações psicológicas, relacionadas
com imagem corporal e autoestima, quando comparados com crianças obesas.
19
TRANSTORNOS Unidade iII
ALIMENTARES
CAPÍTULO 1
Diagnóstico
Anorexia e bulimia nervosa são duas das principais patologias que constituem os transtornos da
alimentação. Segundo o manual para o diagnóstico dos transtornos mentais DSM-IV-TR (APA,
2000), essas duas patologias apresentaram um maior número de incidência durante as últimas
décadas. A tabela 1 ilustra a presença/ausência de critérios diagnósticos em transtornos alimentares.
20
TRANSTORNOS ALIMENTARES │ UNIDADE III
»» anorexia de tipo restritivo, que descreve quadros clínicos nos quais se consegue a
perda de peso fazendo dieta, jejuando ou realizando exercícios intensos, e nunca
por meio de purgantes;
2. Atitudes negativas para com a própria imagem e peso. Essa opinião negativa estará
influindo, como no caso da anorexia nervosa, no comportamento alimentar e no
estado de humor do paciente.
21
UNIDADE III │ TRANSTORNOS ALIMENTARES
Restrição alimentar
Ataques de gula
Vômitos
Conduta purgativa
compensatória
Conduta
compensatória não
purgativa
Amenorreia
Evidente peso
baixo
Importância à
imagem corporal
Tabela adaptada de Fernandez-Aranda F. Tratamento passo a passo dos transtornos do comportamento alimentar. In:
Tratamento cognitivo-comportamental dos transtornos psicológicos da atualidade, 2008.
22
CAPÍTULO 2
A imagem corporal nos transtornos
alimentares
O peso e a forma do corpo influenciam fortemente a autoavaliação dos sujeitos acometidos por
anorexia nervosa e bulimia nervosa, ou seja, este é entendido e descrito como um critério diagnóstico
comum nos dois grupos clínicos. Porém, estudos recentes mostram que existem diferenças
significativas na distorção da imagem corporal se comparamos as duas entidades nosológicas.
Na anorexia nervosa a distorção autoperceptiva sobre o peso e a forma do corpo é mais grave do
que no caso da bulimia nervosa e pode variar no que se refere ao conteúdo do conflito. O paciente
anoréxico pode tanto negar o baixo peso, ou seja, não perceber nenhum tipo de problema com a
23
UNIDADE III │ TRANSTORNOS ALIMENTARES
forma do seu corpo, bem como superestimar a forma ou o peso corporal, como, por exemplo, julgar-
se ou perceber-se mais gordo do que de fato está.
Pacientes bulímicos apresentam maior motivação para tratamento, o que se deve, em parte, à
maior insatisfação com o peso e a forma do corpo mencionada anteriormente. Essa motivação
está influenciada pelos episódios de compulsão alimentar, pois estes têm consequências diretas na
forma como eles se percebem e avaliam sua imagem corporal. Outro aspecto importante, é que esses
pacientes estão em geral mais distantes do “peso ideal” fantasiosamente estabelecido por eles. Por
esta razão, sentem-se desmotivados com relação a suspender os episódios de compulsão alimentar.
A experiência subjetiva com relação ao corpo pode ser bastante variável, como o curso da doença. Sentir -se
gordo depende muito do que o paciente conseguiu cumprir em termos de metas e de rotina alimentar.
Por isto, as avaliações sobre a imagem corporal revelam, em geral, a dinâmica da doença naquele
determinado momento. Avaliações sobre a imagem corporal devem ser realizadas constantemente,
pois a ênfase nesta ou naquela dimensão varia drasticamente durante o tratamento e conforme a
evolução do caso.
24
CAPÍTULO 3
Comorbidade psiquiátrica nos
transtornos alimentares
O estudo das comorbidades dos transtornos alimentares (TA) tem aplicabilidade clínica, visto que
a presença de outros transtornos psiquiátricos pode influenciar o curso dos TA, camuflar a presença
de um TA subjacente, influencia a procura de assistência e ter um impacto no planejamento do
tratamento. Além disso, o estudo das comorbidades pode auxiliar nas pesquisas relacionadas
à etiologia dos transtornos alimentares, porque as comorbidades podem sugerir a presença de
mecanismos patológicos compartilhados.
Os pacientes portadores de mais de um transtorno psiquiátrico têm mais chance de ser encaminhados
para tratamento. Estudos que utilizam questionários e outras formas de avaliação psicométrica
fornecem mais informações sobre a gravidade de sintomas, embora, frequentemente, não sejam
indicados para gerar diagnósticos ou retratar todo o comprometimento no funcionamento social
dos pacientes.
Transtorno obsessivo-compulsivo
Obsessões relacionadas à comida, ao peso e à forma corporal são aspectos psicopatológicos
importantes dos TA, e os portadores destes transtornos podem desenvolver compulsões.
Transtornos de ansiedade
Estão fortemente associados aos transtornos alimentares, sendo muito mais frequentes nestes
pacientes do que na população em geral, relação observada tanto em amostras clínicas quanto
na comunidade. Os transtornos de ansiedade mais frequentes são a fobia social e o transtorno de
ansiedade generalizada. Tanto na anorexia quanto na bulimia, há uma prevalência aumentada
de história de transtorno de ansiedade de separação em relação à população em geral. Tem-se
observado que a frequência de episódios de compulsão alimentar e comportamentos purgativos
em paciente bulímicos é diretamente proporcional à intensidade da sintomatologia ansiosa. Não
se pode afirmar que a diferença na época de surgimento dos sintomas se deva a uma relação causal
específica entre os dois tipos de transtornos, que ambos tenham a mesma base etiológica ou que
essa relação temporal se deva apenas ao curso e à idade de aparecimento de cada tipo de transtorno
separadamente.
25
UNIDADE III │ TRANSTORNOS ALIMENTARES
Transtornos de humor
A associação entre transtornos alimentares e depressão está bem-estabelecida. Sintomas depressivos
são frequentes nos indivíduos com TA e sua prevalência pode chegar a 98% na anorexia. Embora
menos frequente que sintomas depressivos isolados, o diagnostico clínico de depressão maior é
significativamente maior na população com TA do que na população em geral.
Enquanto há uma ideia geral de que a desnutrição e suas complicações clínicas é a maior causa de
morte no curso dos TA (notadamente na anorexia), uma metanálise recente mostra que o suicídio
é a causa mais frequente de morte entre pacientes anoréxicos, com prevalências variando de 1,8 a
7,3%. Os principais fatores de risco para tentativas de suicídio entre os pacientes com anorexia são:
anorexia de tipo purgativo, baixo índice de massa corporal (IMC), sintomas obsessivos, abuso de
drogas e depressão maior.
Abuso de substâncias
É muito mais frequente nas amostras de pacientes que apresentam episódios de descontrole alimentar
(bulimia nervosa e anorexia nervosa do tipo bulímico) do que em pacientes com comportamento
alimentar puramente restritivo. O abuso e a dependência de álcool e outras drogas psicoativas estão
associados ao comportamento impulsivo.
26
TRATAMENTO Unidade iV
PSICOLÓGICO
A obesidade e os transtornos alimentares são patologias difíceis de abordar devido às suas complexas
etiologias. Os aspectos multifatoriais requerem a integração de várias técnicas psicoterápicas, como
a psicoeducacional, a cognitivo-comportamental e as psicodinâmicas.
Neste capítulo serão abordados os tipo de intervenção psicológica para o tratamento da obesidade
e dos transtornos alimentares.
CAPÍTULO 1
Tratamento dos transtornos alimentares
Anorexia Nervosa
Para descrever os diferentes tipos de tratamento existentes, independentemente do enfoque ou do
quadro teórico empregado (psicanalítico-psicoterápico, cognitivo-comportamental, sistêmico e/ou
familiar etc.), a maioria dos autores enfatiza a necessidade de atingir três objetivos essenciais em
pacientes com anorexia nervosa:
»» prevenção de recaídas.
27
UNIDADE IV │ TRATAMENTO PSICOLÓGICO
O tratamento deve centrar-se tanto nos aspectos relacionados com a sintomatologia e a psicopatologia
alimentar, como nos não sintomatológicos. Para determinar que quadro seria o mais adequado para
tratar esses pacientes, aconselha-se seguir uma árvore de decisões que permite objetivar fatores
como gravidade do transtorno e ineficácia de tratamentos prévios que determinarão a necessidade
de utilizar abordagens mais invasivas, enquanto os pacientes que se encontrarem em fases iniciais
e/ou apresentarem uma menor sintomatologia alimentar poderão beneficiar-se de procedimentos
ambulatoriais (ver Figura 2).
»» monitoração de refeições;
28
RATAMENTO PSICOLÓGICO │ UNIDADE IV
»» reestruturação cognitiva;
»» resolução de problemas;
GRUPO DE AUTOAJUDA
AMBULATÓRIO
ENFOQUE PSICOEDUCATIVO
GRAVIDADE TRANSTORNO
TRATAMENTO GRUPAL
TRATAMENTO INDIVIDUAL +
INTERNAÇÃO
T. FARMACOLÓGICO
INTERNAÇÃO HOSPITALAR OU
TRATAMENTO HOSPITAL DIA
Tabela adaptada de Fernandez-Aranda F. Tratamento passo a passo dos transtornos do comportamento alimentar. In:
Tratamento cognitivo-comportamental dos transtornos psicológicos da atualidade, 2008.
29
UNIDADE IV │ TRATAMENTO PSICOLÓGICO
30
RATAMENTO PSICOLÓGICO │ UNIDADE IV
31
CAPÍTULO 2
Tratamento da obesidade
O programa está dirigido a pessoas que precisem perder menos de 20kg e que não apresentem
nenhuma patologia psicológica significativa nem outros problemas de alimentação relacionados
com a obesidade. Por isso é necessário fazer uma avaliação diferencial, realizada fundamentalmente
por meio de entrevistas clínicas individualizadas.
As sessões dividem-se em duas partes. A primeira parte é realizada pelos terapeutas com todo o
grupo e é estruturada da seguinte forma.
»» Pesar todos os participantes e anotar seu peso em uma tabela elaborada para isso,
onde aparecerão recolhidos os nomes dos membros do grupo e o peso que cada um
quer atingir ao final do programa.
Na segunda parte da sessão, divide-se o grupo em dois subgrupos, se houver dois terapeutas. Dessa
forma, é possível atender melhor aos problemas individuais, embora a metodologia de trabalho
32
RATAMENTO PSICOLÓGICO │ UNIDADE IV
continue sendo em grupo. Isto é, os membros do grupo são estimulados a apresentar soluções, eles
mesmos, aos diversos problemas propostos.
1ª sessão
Objetivos a cumprir: conhecer os membros do grupo entre si, criar um bom relacionamento de
trabalho, motivar participantes, informar acerca do problema da obesidade e de que fatores podem
ser mais relevantes em cada caso específico, realizar autorregistros principais.
O primeiro a se discutir no grupo é o peso-meta que cada um quer adquirir; tanto o peso atual
quanto o peso a adquirir são anotados em uma cartolina grande, onde vai sendo registrado, semana
a semana, o peso marcado pela balança. O peso-meta é adaptado a um peso razoável depois de
discutido em grupo.
2ª sessão
Objetivos específicos: começar a avaliar a motivação para perder peso, introduzir em autorregistros
cognitivos, iniciar a análise funcional do problema, avaliar o companheiro.
É importante que os participantes analisem as razões que os levam a perder peso e estejam motivados
para trabalhar para consegui-lo. Se essa meta não é atingida durante o período de avaliação, é
preferível que não passem ao tratamento nesse momento.
Os pacientes aprendem a realizar um novo autorregistro, esse registro é realizado em dois níveis,
sobre as situações que os levam a comer e a beber em excesso e sobre esses comportamentos uma
vez realizados.
3ª sessão
Objetivos específicos: completar a análise motivacional, analisar os principais pensamentos negativos
recolhidos, completar a análise funcional do problema, realizar um contrato comportamental.
São analisadas as diferentes motivações para entrar no programa, corrigindo rações incorretas,
como as de querer perder peso para agradar outra pessoa, evitar as críticas sociais ou chegar a ser
modelo. Ainda, são corrigidas as expectativas incorretas de custos do programa, como passar muita
fome, sacrificar-se ou, ao contrário, não se esforçar nada. A pessoa tem de querer perder peso por si
mesma, para se sentir melhor e prevenir uma obesidade maior.
4ª sessão
Objetivos específicos: começar o controle de estímulos e a educação nutricional, o questionamento
dos “devo” e aumentar a atividade física.
33
UNIDADE IV │ TRATAMENTO PSICOLÓGICO
Dentro do controle de estímulos, começa-se com os objetivos de fixar um horário determinado para
comer, fazer de 3 a 4 refeições organizadas, mudar de posição habitual na mesa e comer sempre no
mesmo lugar sem realizar outras atividades. Gera-se motivação para aumentar a atividade física,
discutindo em grupo suas principais vantagens: é saudável para o organismo, aumenta o bem-estar
psíquico, incentiva o acompanhamento do programa aumentando o sentimento de autoeficácia,
diminui o apetite, ajuda a perder peso porque aumenta o gasto energético, aumenta a beleza corporal
fortalecendo a musculatura estriada e mantém as perdas de peso durante mais tempo. As atividades
físicas dessa sessão e das seguintes são registradas previamente como metas a conseguir durante
cada semana, anotando mais tarde, no mesmo formato de registro, se realmente são realizadas.
Em educação nutricional, discute-se sobre o que são as calorias, o nível ótimo de calorias diário e a
relação que desempenha no aumento de peso.
5ª sessão
Objetivos específicos: alcançar progresso no controle de estímulos, modificar “Tudo ou Nada” e as
“autodepreciações”.
No controle, os sujeitos aprendem a discriminar entre fome e apetite, de forma que a ingestão de
alimentos seja controlada pela primeira. Chega-se ao acordo de fazer compras sempre com uma
lista já feita e com o estômago cheio. Também nessa condição devem ser preparados os alimentos,
evitando as frituras e os pré-cozidos. Aprendem a como guardar a comida, de maneira que o acesso
a ela não seja fácil. Ainda, ensina-se os participantes a se autorreforçarem quando conseguirem
atingir essas metas.
6ª sessão
Objetivos específicos: começar a controlar de maneira específica a quantidade de comida, aumentar
a atividade física de caminhar e modificar o “não posso suportar” e o “fatalismo”.
Aumenta-se o tempo de caminhada para uma hora, utilizando os meios necessários para tornar o
hábito agradável, não uma obrigação.
7ª sessão
Objetivos específicos: orientar a educação nutricional com a finalidade de mudar o estilo de se
alimentar e propor a mudança da vida sedentária por vida ativa.
Dedica-se grande parte da sessão à educação nutricional. Não se pretende implantar uma dieta
alimentar estrita, mas orientar os participantes em princípios nutritivos para que comam de forma
34
RATAMENTO PSICOLÓGICO │ UNIDADE IV
mais equilibrada. Não se deve perder mais de 1kg por semana. Recomenda-se comer de tudo, mas de
maneira equilibrada, reduzindo ao máximo o consumo de gordura, principalmente polissaturada,
que é a procedente de manteiga, maionese, leite integral, queijos gordurosos, embutidos etc.
Os sujeitos irão incorporar ao hábito de andar uma hora diária o resto dos hábitos da vida ativa
versus sedentária.
8ª sessão
Objetivos específicos: mudar o estilo de comer de rápido a lento e modificar as “desculpas” e
“generalizações”.
Comer rápido tem duas desvantagens: (1) os alimentos ingeridos levam mais tempo para ser
absorvidos e, portanto, a sensação de fome demora mais para desaparecer e (2) reduz o tempo de
saborear e desfrutar a comida. Os pequenos truques que se ensinam para isso são:
»» colocar pedaços pequenos de comida na boca e não repetir a operação até que não
tenha mais nada nela;
Pela mesma razão, é conveniente beber antes de comer, e não durante as refeições, já que o alimento
seco colabora com a sensação de saciedade. É aconselhável beber cerca de dois litros de água diários
para o correto funcionamento do organismo.
9ª sessão
Objetivos específicos: modificar do “tremendismo”, aprendendo estratégias para quando comer
fora, e programar os exercícios físicos.
São incentivados a realizar algum exercício programado, além de continuar com os hábitos
cotidianos de vida ativa.
10ª sessão
Objetivo específico: aprender a romper cadeias comportamentais, utilizando, para isso, todas as
técnicas cognitivo-comportamentais aprendidas até o momento.
35
UNIDADE IV │ TRATAMENTO PSICOLÓGICO
Pede-se aos sujeitos, como tarefa para casa, a realização de pré-registros e de registros de cadeias
comportamentais. Os registros não são feitos apenas quando ocorrem os comportamentos finais,
mas também como previsão deles. Assim, devem escrever possíveis situações de alto risco que
possam enfrentar em um determinado dia, comportamentos e pensamentos que podem levar ao
comportamento final de transgredir seus objetivos e possíveis estratégias para quebrar a cadeia o
quanto antes possível.
11ª sessão
Objetivo específico: aprender a evitar as quedas e a enfrentá-las quando acontecerem.
Tanto essa sessão como a seguinte são de preparação para que no seguimento não se percam as
conquistas adquiridas. Explica-se a diferença entre queda, recaída e perda total das conquistas.
Ensinam-se estratégias de “solução de problemas” para evitar possíveis quedas futuras. Dessa
maneira, os participantes identificam possíveis situações futuras de alto risco e as cadeias
comportamentais que levariam a uma queda. Uma vez posta em prática, avalia-se se o plano
funcionou e, se não, aplicam-se as estratégias ensinadas depois do enfrentamento das quedas para
evitar que se tornem recaídas.
»» Partir para ação; uma vez decidido o que se vai fazer, pôr em prática o antes possível.
12ª sessão
Objetivos específicos: iguais aos da sessão anterior. Preparar-se para terminar o programa e
trabalhar para que os hábitos adquiridos sejam permanentes.
36
RATAMENTO PSICOLÓGICO │ UNIDADE IV
37
Para (Não) Finalizar
Lembre-se de que o assunto não termina aqui. Há muito o que aprender. O que foi visto nesta etapa
é um caminho apontando para fontes inesgotáveis de estudos e de experimentações.
Comece efetuando as leituras a seguir, reflita, faça relações entre dados, informações e ideias, desafie
o senso comum, pesquise, troque opiniões.
Em pouco tempo você estará surpreendido. Verá que além de ter alcançado maiores conhecimentos,
a aprendizagem foi um acontecimento natural e que sua capacidade de estudos terá sido ampliada
pelo exercício e pela satisfação em sentir o próprio crescimento.
Caminhe sempre rumo à descoberta. Dessa forma, seus horizontes se ampliarão e, consequentemente,
seu desempenho profissional.
Desejamos-lhe sucesso!
Texto 1
A denominação de obesidade é conhecida e remete a uma doença, mas coloca pouca ênfase na
análise do comportamento alimentar. Antes de empregar técnicas que podem ter sucesso em curto
prazo, é preciso descrever contingências conflitantes, que atuam em comportamentos complexos
como neste caso.
De fato, consideramos o comportamento alimentar como que transformado e com funções diferentes
em casos de excesso de peso. Estímulos do contexto têm história de reforço e de propriedades que se
desenvolveram e são difíceis de identificar em situação natural e clínica. É frequente encontrar-se
relatos de procura de alimento em grandes quantidades, após eventos agradáveis ou desagradáveis,
e a sequência de estímulos e comportamentos decorrem de história pessoal construída muitas vezes
38
para não finalizar
desde tenra idade. É prematuro ainda, apesar das pesquisas desenvolvidas em vários laboratórios,
poder explicar o comportamento de alimentar-se em excesso, seja em relação à quantidade e à
qualidade, distribuição no tempo, sem descrever a história pessoal em relação ao alimento.
Stuart (1980) conclui que para se obter resultados mais duradouros nos tratamentos comportamentais
para a perda de peso, deve-se levar em consideração quatro pontos no momento de se proceder ao
delineamento experimental de um programa: (1) a obesidade é uma doença complexa de origem
fisiológica, psicológica, social e situacional; (2) a obesidade é um distúrbio de estilo de vida que
implica investimento para ser corrigido; (3) a obesidade só pode ser combatida por meio de
alternativas para os problemas comportamentais que levem ao enfraquecimento da motivação para
a emissão de comportamentos problemáticos e à supressão de respostas-problema; (4) para efetuar
as mudanças necessárias os clientes deveriam ser ajudados a superar quatro estágios do controle
de peso: (a) a decisão de agir, (b) a manipulação da necessidade de comer seguida da manipulação
do comportamento alimentar em si ; (c) a manipulação do período imediatamente anterior ao
tratamento quando a não adesão é iminente; (d) a manipulação do período após o tratamento, em
médio e longo prazo, quando as dificuldades aparecem.
Fisher Jr., Levenkron, Loue, Loro e Green (1985), sugerem que uma das falhas na manutenção
do peso perdido em pacientes submetidos a programas comportamentais deve-se ao fato de os
tratamentos serem muito estruturados, diretivos ou invasivos. Além disso, esses procedimentos
são aplicados uniformemente e ignoram as diferenças individuais, bem como a variação dos hábitos
de cada indivíduo. A fim de resolver esse problema, esses autores desenvolveram uma técnica para
mudança comportamental chamada auto-iniciação no treino de autocontrole. O objetivo dessa
técnica era desenvolver nos clientes estratégias de autocontrole adequadas às suas necessidades, ou
seja, promover um tratamento individualizado e ajudar os indivíduos a perceber as consequências
de suas ações.
Esgotados ou não os recursos comportamentais para perder peso, e tendo em vista o reconhecimento
das dificuldades envolvidas, soluções são procuradas via medicação ou outros procedimentos.
39
Para Não Finalizar
Os hábitos alimentares, em geral, e a relação que a pessoa estabelece com o alimento, em particular,
não se alteram apenas com o procedimento cirúrgico e com a diminuição do estômago. Tanto para
os pacientes obesos que seguem um tratamento de dieta e exercícios, quanto para aqueles que
passam pela cirurgia, o acompanhamento em longo prazo e a manutenção devem ser considerados.
Uma das autoras deste estudo (Ades), em sua experiência com ambulatório, em Recife, relata que
uma questão essencial para M., uma paciente (e para os outros pacientes), é a nova relação com
o alimento que, após a cirurgia, precisou ser estabelecida. Percebe-se que há um grande prazer
em antecipar, na imaginação, a quantidade de comida, a ideia de “deliciar-se” comendo. Assim, a
frustração é experimentada pelos pacientes que reduziram o estômago e que não podem mais comer
em quantidade. M. diz logo de início que sente muita raiva diante de um bom prato de comida,
porque antes estava acostumada com muito, e podia comê-lo, e agora só aguenta um pouquinho.
Por exemplo: “Estou com muita vontade de cachorro-quente...”. Mas é a vontade de um cachorro-
quente grande que vem à sua cabeça: “... aquele com purê, com molho, com tudo. Só de pensar que
só posso um tequinho... nem adianta comer. Fico com aquela raiva em mim”.
Pacientes que entram no programa de mudança comportamental e que iniciam a dieta antes da cirurgia
parecem estar mais prontos a aceitar a alimentação no período pós-operatório (líquidos, papas etc.) e
parecem ter mais consciência de que uma reeducação alimentar é necessária. O prognóstico é bastante
melhor.
É fato aceito hoje que múltiplos fatores de risco atuam, em diferentes combinações, para as pessoas.
Há: (1) riscos para a população (disponibilidade de alimento rico em gordura; dieta rica em gordura;
níveis decrescentes de atividade física; padrões alimentares que estimulam a obesidade); (2) riscos
para os indivíduos (fatores biológicos: genéticos, baixa taxa metabólica em repouso, número elevado
de células adiposas) e fatores comportamentais (como padrões alimentares, negação do exercício e
vida sedentária). Segundo Brownell e Neil (1993/1999), as controvérsias e os modismos das dietas
alimentares podem trazer riscos à saúde e inúmeras questões: a perda de 10% do peso corporal é
suficiente para melhorar os fatores de risco? A dieta provoca alimentação desordenada (compulsão,
bulimia, anorexia)? Quem deveria perder peso? Quais as condições para a dieta? Quanto uma pessoa
deveria perder? Qual a melhor maneira?
Além da dieta, o outro ponto para o controle de peso é evitar a vida sedentária e efetuar exercício. É
um tópico específico bastante disseminado no mundo e no Brasil. Andar tornou-se fator relevante
e de fácil manutenção, pois pode ocorrer em qualquer situação. É recomendação nos programas
comportamentais, pois auxilia o balanceamento de energia envolvendo e energia ingerida e gasta,
apesar das controvérsias a respeito de qual a prescrição melhor.
40
para não finalizar
O ponto básico para as pesquisas é, ainda, descobrir as diferenças individuais no valor reforçador
do alimento e verificar seu papel na manutenção de comportamentos alimentares novos. Será que
existem regras sobre alimentação que quando aprendidas dificilmente entram em desuso? É, no
entanto, interessante constatar que pré-adolescentes têm mais sucesso em manutenção de peso que
adultos. Será o processo biológico mais maleável em tenra idade ou será que novos comportamentos
quase incompatíveis com comer são aprendidos e mantidos pela gratificação continuada?
Texto 2
Introdução
Evidências sugerem que a ingestão de nutrientes, assim como o metabolismo destes nutrientes,
podem ser controlados ou modulados por estruturas neurais e por sistemas neuroquímicos
e neuroendócrinos específicos. Alterações nestes sistemas neurais podem estar associadas às
mudanças no comportamento alimentar.
Informações atualizadas sobre as relações entre algumas áreas específicas do Sistema Nervoso
Central, sistemas de neurotransmissão, processos sensoriais e a ingestão de alimentos nesta revisão,
abordando vários tópicos de interesse da psicobiologia sobre o comportamento alimentar.
41
Para Não Finalizar
Nível neurofisiológico
As informações científicas que vêm surgindo da neuroanatomia, da eletrofisiologia, das imagens
computadorizadas, da neurocitologia e da psicofísica têm tornado possível a compreensão da
modelagem global da dinâmica neural. O Sistema Nervoso Central, constituído por estruturas
com características citoarquitetônicas e neuroquímicas heterogêneas, encontra-se geralmente
fortemente interconectado.
O hipotálamo exerce influência na autosseleção de alimentos, nas respostas a dietas com alto
conteúdo proteico, no desbalanceamento de aminoácidos, na placentofagia, no estresse alimentar,
na textura dietética, na consistência e no paladar, na aprendizagem aversiva, no olfato e nos efeitos
de manipulações hormonais. O hipotálamo lateral está envolvido nos sistemas catecolaminérgico e
serotoninérgico, participa do controle circadiano da alimentação, de atividades espontâneas devidas
à excitabilidade de neurônios no Sistema Motor e de diferenças sexuais típicas na alimentação.
É provável que a regulação gastrointestinal esteja compreendida entre o tronco cerebral caudal,
onde o sistema neural requerido para resposta metabólica parece estar mais largamente distribuído.
Ratos cerebelotomizados apresentam três aspectos de drásticas alterações: mudanças qualitativas
e quantitativas na ingestão de alimentos, diminuição no peso corporal e mudanças em parâmetros
bioquímicos relacionados à ingestão e à digestão de alimentos.
42
para não finalizar
Apesar da ablação do bulbo olfatório não influenciar o total de alimento ingerido, afeta
profundamente o padrão alimentar de ratos e resulta em diminuição do tamanho da refeição com
aumento compensatório no número de refeições, além da atividade de cheirar durante e entre
refeições aumentadas.
Funções neuroquímicas
Entre diversas espécies, em várias condições experimentais, existe forte evidência de que o aumento
na atividade pós-sináptica dos receptores serotoninérgicos provoca, posteriormente, redução na
quantidade de alimento ingerido durante uma refeição e modifica o padrão de alimentação. A
mesma evidência existe para o papel anorético da serotonina, particularmente como resposta às
dietas com desbalanceamento de aminoácidos.
O balanço na ingestão de carboidrato parece envolver a ação do ácido gama aminobutírico (GABA),
da noradrenalina e do neuropeptídeo Y, em associação com corticosterona e glicose circulantes
no sangue. Um dos locais de ação destas substâncias no cérebro é a região medial do hipotálamo.
Experimentos nos quais ratos podem selecionar os três macronutrientes (proteína, carboidrato e
gordura), separadamente oferecidos, revelam que estes neuroquímicos especialmente potencializam
a ingestão de carboidrato e têm pequeno ou nenhum impacto no consumo de proteína e de gordura.
Precursores alimentares
Numerosos peptídeos agem como neurotransmissores ou peptídeos hormonais, que aumentam ou
diminuem a ingestão de alimento. A alimentação está sob controle de um sistema central que é
regulado por um delicado balanço entre monoaminas e neuropeptídeos.
43
Para Não Finalizar
Uma questão relevante é determinar em que circunstância particular poderia o triptofano exibir
uma possível ação antidepressiva.
A serotonina tem efeito inibitório em agressão, e dados clínicos sugerem que seu baixo nível no
cérebro está associado à agressão direcionada a outros e à agressão por suicídio. Estudos animais
sugerem que a serotonina esteja também envolvida no controle da ingestão de alimento, com altos
níveis de serotonina diminuindo a ingestão energética total, ou seletivamente diminuindo a seleção
de carboidrato em relação à proteína.
44
para não finalizar
Processos sensoriais
Um órgão sensorial é a parte especializada do corpo que é seletivamente sensível a alguns tipos de
mudanças no ambiente e não a outros. Paladar, olfato, visão e audição, agindo principalmente por
intermédio do hipotálamo, podem afetar o estado corporal e o comportamento; promovem reflexos,
liberação de hormônios e ajustamento visceral, assim como performance somática.
O sabor do alimento e o estado corporal podem não ser tão essenciais ou críticos no controle da
ingestão proteico-energética de animais de laboratório. Independentemente da fonte de carboidrato
(sucrose ou amido), animais adultos geralmente apresentam constante ingestão energética, apesar
de que animais que consomem sucrose apresentam maior peso corporal.
45
Para Não Finalizar
A motivação para comer e o consumo de alimento podem ser afetados pelos sons associados à
alimentação e também à observação do processo mastigatório. Características do alimento podem
contribuir para o processo motivacional alimentar. Outros mecanismos, além da transmissão de
informação social e ambiental, afetam a preferência alimentar, e a exposição ao odor também
influencia a preferência pela dieta. Experimentalmente isto pode refletir em uma situação em
que o animal simplesmente prefere uma dieta com algum odor familiar em relação a uma dieta
completamente nova. Fatores sociais e estímulos sensoriais influenciam a preferência alimentar,
sendo que os fatores sociais são marcadamente importantes neste contexto.
Apetite e saciedade
Sob condições usuais, o alimento é ingerido após a percepção da fome e a ingestão termina quando
a sensação de saciedade é alcançada. Sistemas distintos são responsáveis pelo início e pelo término
do consumo de alimento; cada um é regulado por sinais de respostas oriundos do sistema central
e periférico, incluindo trato gastrintestinal, fígado, cérebro e sistemas sensoriais periféricos.
Alterações do apetite são observadas nas várias fases do ciclo reprodutivo e, nas fêmeas, geralmente
os períodos gestacional e lactacional ocorrem com maior consumo alimentar, tanto em relação aos
outros períodos quanto em relação ao consumo alimentar verificado em machos da mesma espécie.
As dietas afetam a secreção corporal de hormônios e estes influenciam o comportamento. Variação
na ingestão de nutrientes depende do sexo e pode estar relacionada, em parte, com os hormônios
circulantes, em particular os hormônios adrenais e esteroides gonadais.
Um regulador circadiano parece dominar a motivação alimentar durante o final da noite, interagindo
com os sinais que reportam a quantidade de calorias nos intestinos. Estudo com ratas, conduzido por
Strubbe & Gorissen, demonstrou a contribuição dos sinais de saciedade e de regulação circadiana,
no controle do comportamento alimentar. Estes sinais podem contribuir para a saciedade durante
outras partes do ciclo claro-escuro, quando a alimentação é dependente dos requerimentos de energia
mais imediatos. Muitos neuropeptídeos têm sido propostos como fatores centrais da saciedade,
mas poucos têm uma função fisiológica bem-definida. A diminuição na ingestão de alimento
provavelmente envolve também alguns dos processos reguladores da saciedade na manifestação do
comportamento alimentar em condições experimentais. A redução na ingestão de dieta é o primeiro
sinal comportamental de resposta à deficiência de aminoácidos, induzida após a refeição com uma
dieta desbalanceada quanto ao conteúdo destes. Estudos que envolvem efeitos pós-ingestivos do
desbalanceamento de aminoácidos têm mostrado que respostas a estas dietas envolvem, primeiro,
reconhecimento do desbalanceamento e, após, rejeição da dieta.
46
para não finalizar
Considerações finais
Claramente muitos neurotransmissores e muitas estruturas do Sistema Nervoso Central participam
na regulação do comportamento alimentar. Metodologias comportamentais sofisticadas têm-nos
permitido compreender alguns dos parâmetros psicológicos que estão envolvidos nos processos
neurais; no entanto, há reduzida informação sobre as mudanças celulares e moleculares que estão
envolvidas na manifestação do comportamento e ação de eventos ambientais na modificação dos
processos fisiológicos básicos. A psicobiologia tem contribuído com um impressionante conjunto de
informações, que revela a plasticidade do Sistema Nervoso em todos os estágios de desenvolvimento.
Os pesquisadores reconhecem que a dieta tem um profundo efeito no cérebro e no Sistema Nervoso
e, assim, nas condições mentais e emocionais. A aplicação da dieta no estudo das desordens
comportamentais representa uma nova fronteira no campo da Psicobiologia. Precauções devem ser
tomadas quanto ao uso dos conhecimentos gerados a partir de pesquisas com animais em assuntos
específicos de áreas do Sistema Nervoso, de neurotransmissão e de sistemas endócrinos.
No nível humano, devem ser levados em conta fatores como variáveis sociais, hábitos alimentares,
nível de informação ou educação. A pressão das indústrias de alimentos e da mídia leva a
distorções no consumo de alimentos, com aumento excessivo da ingestão de alimentos comerciais
desequilibrados (basicamente carboidratos e gorduras), com consequências preocupantes quanto
ao consumo alimentar da população. Entre os jovens, a alimentação desajustada tende a gerar
défices em mecanismos atencionais e reflexos na aprendizagem escolar, com eventual aquisição
de maus hábitos alimentares que podem resultar em obesidade e outras consequências para o
desenvolvimento e a saúde física e mental.
47
ANEXO
Avaliação psicológica de crianças
acompanhadas em programa de
atenção multiprofissional à obesidade
(CARDOSO, Luceli Kelly de Oliveira; CARVALHO, Ana Maria Pimenta. Interface – Comunic., Saúde,
Educ., v. 11, n. 22, p. 297-312, 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_artt
ext&pid=S1414-32832007000200009> Acesso em: 11 ago. de 2011. Texto adaptado).
O objetivo deste estudo foi descrever e analisar os resultados das avaliações psicológicas de crianças
atendidas no Programa de Atenção Multiprofissional à Obesidade, da Universidade de São Paulo,
nos anos de 2001 e 2002, ao iniciar o atendimento proposto pelo programa e ao seu final. Também
foram analisados peso, altura e IMC (índice de massa corpórea) iniciais e finais das 19 crianças
participantes do programa. Essas possuíam percentil do IMC igual ou acima de 95 e idades entre
10 e 12 anos. Resultados indicam que a maioria das crianças investigadas encontram-se dentro da
média em relação aos aspectos de funcionamento psicológico. Não houve alteração significativa
desses aspectos após o trabalho realizado.
A obesidade tem aumentado de forma significativa em todo o mundo, atingindo todas as faixas
etárias, especialmente as crianças. Associam-se à obesidade problemas de saúde, como diabetes
tipo II, problemas de articulação de membros inferiores, hipertensão, entre outros. O excesso de
peso é uma das condições precursoras de distúrbios alimentares, que se constituem em desordens
mais severas que acometem indivíduos jovens, a partir da adolescência.
É a insatisfação com a condição de peso excessivo que mobiliza pais a buscarem ajuda para seus
filhos. Aliam-se a essa insatisfação com a saúde física as preocupações com a dinâmica emocional
da criança. Justifica-se, assim, no contexto de atenção multiprofissional, avaliar crianças quanto
ao aspecto psicológico. Uma das vertentes teóricas para essa abordagem é a psicanalítica, em que
se investigam as relações criança – mãe – família, mediadas pelo valor simbólico da alimentação
(MÜLLER, 1999). Outra vertente é a cognitivo-desenvolvimentista, que busca, a partir da própria
criança, acessar as percepções que ela tem de si mesma em diferentes domínios da vida. A
operacionalização dessas percepções é feita por meio de instrumentos autoaplicáveis e de produção
gráfica como medida cognitiva e emocional.
48
anexos
o ato de comer, autoestima e, para complementar, elegeu-se a técnica do desenho da figura humana
para avaliar as crianças quanto ao desenvolvimento cognitivo e emocional. Essa operacionalização
levou à escolha de instrumentos padronizados disponíveis. A incursão bibliográfica mostrou
trabalhos realizados com adultos e, com base neste modelo, buscaram-se instrumentos de avaliação
infantil que permitissem avaliar os aspectos focalizados.
A obesidade está relacionada a fatores psicológicos (como o controle, a percepção de si, a ansiedade, o
desenvolvimento emocional de crianças e de adolescentes) e demanda uma investigação sistemática,
quando se propõe a construir conhecimentos que possam subsidiar práticas de assistência.
Os dados da literatura não são conclusivos em relação aos aspectos emocionais relacionados com a
obesidade. Alguns discutem que nem todos os obesos têm sentimentos negativos sobre o seu corpo;
esses sentimentos seriam mais comuns em pessoas com o início da obesidade na infância, cujos
pais e amigos depreciam o seu corpo (STUNKCARD & WADDEN, 1992). O distúrbio da imagem
corporal, que se desenvolveria na adolescência, representa uma internalização da censura dos pais
e pares e persiste com a contínua desvalorização.
Metodologia
Participantes
Os sujeitos do estudo foram 19 crianças com idades entre dez e 12 anos, no início do atendimento,
que chegaram até o final do programa em 2001 e 2002. Os critérios para inclusão no programa
foram: a criança estar no percentil igual ou maior que 95, que corresponde à obesidade, segundo
critérios da National Center of Health Statistics, Height and Weight of Youth (MUST et al., 1991); e
não apresentar problemas orgânicos evidentes e/ou alterações no desenvolvimento, como retardo
psicomotor e défices sensoriais.
49
anexo
A Escala de Ansiedade “RCMAS” foi desenvolvida por Reynolds & Richmond (1978) e padronizada
por Gorayeb (1994), com o título “O que penso e sinto”. Compõe-se de 28 frases em que o sujeito
deve escolher a resposta sim ou não. Este é um instrumento que propõe medir a ansiedade enquanto
traço de personalidade.
A Escala de Lócus de Controle, construída por Milgram & Milgram (1975), e padronizada por Feres
(1981), é composta por 24 itens, que retratam situações de sucesso ou fracasso, com alternativas que
atribuem o sucesso ou o fracasso totalmente ao outro e aquelas que os atribuem a si mesmo.
A Escala Infantil Piers-Harris de Autoconceito – “O que penso e sinto sobre mim mesmo”,
originalmente proposta por Piers & Harris (Piers, 1984), foi utilizada na forma traduzida e adaptada
por Jacob & Loureiro (1999). Esta escala não tem ainda padronização brasileira e é composta por
frases para as quais a criança deve assinalar sim ou não.
Discussão
Nas análises das variáveis psicológicas avaliadas no presente estudo, verificou-se que a maior parte
das crianças obesas teve resultados dentro da média.
Com relação à autoestima, Strauss (2000) também não encontrou diferenças entre obesos e não
obesos na faixa etária de nove a dez anos. As diferenças em relação a essa avaliação fizeram-se
presentes em indivíduos de 13 e 14 anos. Parece haver uma tendência evolutiva nesse aspecto,
condizente com os dados de Harter (1993) relativos a decréscimo na autoestima na adolescência
devido a maior alerta quanto à comparação social. Santos & Cardoso (1999/2000) apontam que, na
fase da adolescência, surgem outros interesses e expectativas. Os adolescentes obesos ficam mais
50
anexos
incomodados que quando crianças, com os problemas que ocorrem na compra de roupas; mostram
mais preocupação com a aparência e incomodam-se com os apelidos que despertam sentimentos de
mágoa e revolta. Sentem-se feios e apresentam baixa auto-estima. Quanto à avaliação de crianças
em tratamento, não foram encontrados trabalhos que focalizassem as variáveis do presente estudo,
com medidas antes e depois. Há estudos mostrando que crianças que estão em tratamento devido à
obesidade apresentam maiores indícios de problemas comportamentais, autoconceito mais baixo e
são mais ansiosas (LUIZ, 2004; BRAET et al., 1997).
Finalmente, é necessário apontar que a faixa etária das crianças abordadas no presente estudo
parece constituir-se em importante etapa de transição em que, de modo geral, não há sofrimento
psicológico instalado de forma evidente, mas seus sinais se fazem presentes e emergem em etapas
posteriores do desenvolvimento (HERVA, 2006; STRAUSS, 2000). Dessa forma, acredita-se que
a atenção a esse período do ciclo vital constitua-se em prática de prevenção ao agravamento de
problemas emocionais.
51
Referências
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p.197-216.
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2008; 5(3):136-141.
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DOBROW, Ilyse J.; KAMENETZ, Claudia; DEVLIN, Michael J Aspectos psiquiátricos da obesidade.
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FRENCH S. A; STORY, M.; PERRY, C. L. Self–esteem and obesity in children and adolescents: a
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Psicol. Soc., Ago. 2006, v.18, n. 2, p. 81-88.
GRIFFITHS, L. J, PARSONS, T. J.; HILL, A. J. Self-esteem and quality of life in obese children and
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2010;34 Suppl 2:S37-43.
SIMOES, D.; MENESSES, R. F. Autoconceito em crianças com e sem obesidade. Psicol. Reflex.
Crítica. 2007, v. 20, n. 2, p. 246-251
53