Orçamento Participativo E Governança Solidária Local Na Prefeitura Municipal de Porto Alegre
Orçamento Participativo E Governança Solidária Local Na Prefeitura Municipal de Porto Alegre
Orçamento Participativo E Governança Solidária Local Na Prefeitura Municipal de Porto Alegre
ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
Porto Alegre
2007
AGRADECIMENTOS
Agradeço inicialmente à minha família que forneceu os meios para que eu chegasse
até aqui e sempre apoiou todas as minhas jornadas.
Agradeço ao meu orientador, Clezio Saldanha dos Santos, que sempre soube conduzir
o trabalho e driblar os percalços do caminho.
Por fim, um agradecimento especial a Professora Maria Ceci Misoczky que foi
companheira na graduação, no mestrado e em aventuras distantes pelo Brasil. Mais do que
professora, foi (e sempre será) amiga, companheira, confidente e guia.
RESUMO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................7
2 OBJETIVOS ..........................................................................................................15
6 GOVERNANÇA....................................................................................................26
7 PARTICIPAÇÃO...................................................................................................29
8 MÉTODO...............................................................................................................32
11 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................72
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................78
ANEXOS ................................................................................................................................84
7
1 INTRODUÇÃO
O que ocorre então, é que estão juntos dois programas participativos na atual
administração. Mais do que modelos diferentes sob o ponto de vista operacional, ou seja, em
sua estrutura e funcionamento, o Orçamento Participativo e a Governança Solidária Local são
modelos diferentes sob o ponto de vista político. São modelos que estão em disputa e não em
paralelo como infere o governo. Este respondeu a diversos questionamentos sobre qual seria o
futuro do OP na atual administração e ainda se a GSL não virá, no futuro, a suplantar o OP
8
Ao longo dos 16 anos no governo de Porto Alegre, o PT, como parte da coligação
“Frente Popular”, foi o grupo que operou o OP como instrumento de gestão pública, passando
por diversas fases em sua história. Conforme Fedozzi (2001), o OP teve em Porto Alegre
quatro fases marcantes: a primeira (1989/90) identificada pela inexperiência dos atores
envolvidos, a presença da frustração das comunidades e dificuldades de institucionalizar a
participação; a segunda (1990/91), quando ocorrem modificações internas e montagem de
estrutura político-administrativa específica para a participação que possibilitaram a retomada
do processo participativo e criação de instâncias institucionais permanentes de participação; a
9
1
Conforme Fedozzi (2001), neste caso, o planejamento estratégico tem sua fonte em Carlos Matus que
considera a interação do planejamento com a realidade social. Para Matus (1996; 1996b; 1997), o planejamento
deve considerar problemas presentes na realidade percebida pelos atores sociais e, através de operações entre os
interessados, buscar as soluções, ao contrário do planejamento tradicional, que pressupõe situações ideais, ações
setorizadas e sujeitos que não fazem parte daquilo que planejam.
10
Seguindo até 2004, o OP sofreu algumas modificações em seu ciclo (2002), contando
com uma Rodada Única de Assembléias para a participação direta nos meses, ao invés das
duas rodadas anteriores. Tendo o PT contado com a permanência da Prefeitura de Porto
Alegre por mais dois mandatos, o modelo de participação tornou-se maduro, consolidando sua
estrutura, níveis de participação e estabelecendo-se como a experiência mais significativa de
participação popular no país (GRAZIA, 2003). O processo do OP é detalhado no anexo 1.
11
Participativa e a Terceira Via, mais o referencial que envolve os estudos sobre o Orçamento
Participativo quando da administração do Partido dos Trabalhadores, bem como referências
sobre governança e participação, conceitos chave dos dois programas analisados. O item
seguinte, o método do estudo, é seguido da apresentação dos dados obtidos, ou seja, da
descrição do Orçamento Participativo no atual governo (a partir de 2005) e da Governança
Solidária Local. Após seguem a análise dos dados e as considerações finais.
2 OBJETIVOS
A origem da GPP está, segundo Paula e Prestes Motta (2003), nos movimentos
mobilizatórios historicamente existentes no país que tiveram seu auge nos anos 60 durante o
governo João Goulart e que, após a repressão do golpe de 64, ressurgiram nos anos 70 a partir
da organização das Comunidades Eclesiais de Base que, inspiradas pelos ideais da teologia da
libertação e educação popular, contribuíram para a organização de instâncias de mobilização
política que estimulavam a participação popular no debate político e contribuíram para a
formação de lideranças populares. Os diversos episódios de mobilização que seguiram, com
demandas centradas na qualidade de vida e reivindicações junto ao poder público ficaram
conhecidos como “novos movimentos sociais” (PAULA; PRESTES MOTTA, 2003).
O que é constituído a partir desta visão da gestão pública é uma “gestão social” que se
entende como uma “ação política deliberativa, na qual o indivíduo participa decidindo seu
destino como pessoa, eleitor, trabalhador ou consumidor” (PAULA; PRESTES MOTTA,
2003), baseada na lógica da democracia e não do mercado.
Milani (2005, p.6) descreve dois modelos de reforma do Estado: no primeiro, com
mais fundamento econômico do que político, estão envolvidos aspectos estruturais de reforma
do setor público e banalização da participação como ingrediente de democratização das
políticas públicas; no segundo, associado aqui à GPP, há a inspiração nos pressupostos da
democracia deliberativa, o surgimento da idéia do “público não-estatal”, distribuição de poder
18
Paula (2003) sintetiza a gestão pública participativa em quatro pontos: (a) a busca de
um novo modelo de desenvolvimento para o país, que enfatiza a qualidade de vida e a
expansão das capacidades humanas; (b) uma reinvenção político-institucional, com o
estabelecimento de uma administração pública co-gestionária; (c) a renovação do perfil dos
administradores públicos, capazes de pesquisar, negociar, aproximar pessoas e interesses,
planejar executar e avaliar numa referência de integração entre a visão administrativa e a
política; e, (d) uma concepção participativa e deliberativa de democracia.
4 ORÇAMENTO PARTICIPATIVO
O OP para Fedozzi (2000; 2001), é uma experiência que tem como efeito romper com
a tradição patrimonialista de gestão do orçamento público e também com o monopólio
tecnocrático das decisões orçamentárias e seu desenvolvimento assenta-se em três princípios
básicos: (a) regras universais de participação em instâncias institucionais e regulares de
funcionamento; (b) um método objetivo de definição dos recursos para investimentos, que
perfazem um ciclo anual de atividades públicas de orçamento do Município; e, (c) um
processo decisório descentralizado tendo por base a divisão da cidade.
Para Avritzer (2003), a base do OP são quatro elementos: cessão da soberania pelos
detentores de poder a partir de um processo representativo local; reintrodução de elementos de
participação local (conselhos, assembléias etc.); auto-regulação soberana, com definição de
regras pelos próprios participantes; e tentativa de reversão das prioridades de distribuição de
recursos públicos. Além disso, o autor considera que o OP, em Porto Alegre, consegue, ao
contrário de outros modelos participativos, que a participação se aproxime da configuração
sócio-econômica da cidade, evitando que setores da classe média se apropriem do processo
participativo (2003, p.28).
20
Wampler (2003, p. 61) vê o OP como uma inovação e uma forma de oferecer aos
cidadãos a oportunidade de envolvimento direto nas questões públicas, a esperança de justiça
redistributiva e a possibilidade de reforma dos processos decisórios nos municípios e estados
brasileiros. Seu conceito sobre o OP (p. 63) é de que se constitui como (a) uma força inicial
de transformação social, (b) uma instituição democrática e (c) uma instituição de elaboração
de políticas públicas. Em relação à transformação social, Wampler (2003, p.64) considera
ainda, que o OP carrega o potencial para “educar, transferir poder e socializar os
participantes”, que pode ser conceituado como uma “escola” onde:
5 TERCEIRA VIA
A sociedade civil é “parte básica” da política de terceira via, conforme Giddens (2005,
p.88) e é a única capaz de “restringir o poder dos mercados e do governo”. Ao governo cabe
fortalecer essa esfera em busca da “renovação cívica” e o poder local para um maior senso de
solidariedade e “comunidade” e, ao mesmo tempo, proteger os indivíduos dos conflitos de
interesses presentes na sociedade civil:
2
Tradução do inglês governance, termo para o qual adota-se daqui em diante a palavra “governança”.
24
fim, os capitais social e humano, “essenciais para o sucesso econômico” (GIDDENS, 2001,
p.58) dizem respeito à rede social e aos cidadãos como uma possibilidade de “investimento”
para obtenção de “apoio social” e “desenvolvimento” (idem, p.83).
Como crítica à Terceira Via, Giddens define seis categorias, que agrupariam as
principais oposições, independentemente de sua origem (2001, p.31-34): falta de definição
como projeto político; falta de visão adequada da esquerda e conseqüente deslocamento para a
direita; aceitação da estrutura básica do neoliberalismo, em especial ao que se refere ao
mercado; marca de sua origem anglo-saxã, que restringe a utilização de tais políticas em
locais ou contextos diferenciados; falta de nitidez em relação a política econômica, exceto
pelo aceite dos ditames do mercado; constatação apenas dos problemas ecológicos e não a
definição de meios para enfrentá-los.
No que se refere à visão da sociedade civil de Giddens, Lima e Martins (2005, p.52)
criticam a proposição do autor de que o mundo está arranjado como tal em resposta à
“incertezas artificiais” e não como produto do poder humano; as mudanças do mundo são
“um dado estabelecido, irreversível e sem contradições” e não produto de um embate
histórico pelo poder em uma sociedade de classes. Lima e Martins (2005, p. 53) destacam,
inclusive, que a “coesão social” ao invés do contexto de conflito é o ideal na perspectiva da
terceira via, perdendo-se assim a dimensão da sociedade civil como “arena de antagonismos
sociopolítico-econômicos e de disputas pela hegemonia (idem, p.54)”.
O argumento central, destacado por Lima e Martins (2005, p. 58), presente tanto no
neoliberalismo quanto na terceira via em relação ao Estado é o da “eliminação de qualquer
25
política estatal que imobilize o indivíduo, gere obstáculos à expansão do mercado e crie
dificuldades para o pacto entre capital e trabalho”. O Estado aparece como “sujeito” e como
instância “imparcial e imune aos interesses particulares”, com capacidade de discernir entre
valores universais e naturais para governar.
Em resumo, os autores (2005, p. 61) afirmam que a concepção objetiva: (a) construir
uma consciência política que não permita a compreensão do individuo de seu papel
sociopolítico-econômico; (b) induzir a percepção de que é possível definir os próprios
objetivos e metas independentemente das condições concretas; e, (c) orientar e estimular a
possibilidade de associação a um ou outro indivíduo para participação em processos políticos
mais simples.
26
6 GOVERNANÇA
Milani e Solinis (2002, p. 274) descrevem, a partir de Rhodes (1996), seis “visões de
governança” que destacam como as principais entre a literatura acadêmica produzida sobre o
conceito:
27
Visão Idéia
Necessidade de redução dos déficits públicos; nova forma de intervenção
Estado Mínino
pública; papel do mercado nos serviços públicos
Corporativa Necessidade de eficácia e accountability nos serviços públicos
Introdução de métodos de gestão do setor privado e de medidas incitativas
New Public Management
no setor público
Norma que supõe a eficácia dos serviços públicos, privatizações, rigor
Boa Governança
orçamentário e descentralização administrativa
Co-estratégias: co-gestão, co-regulação, parcerias público-privadas. (Base
Sistema Sociocibernético
na complexidade, dinâmica das redes e complexidade dos atores)
Estado é um ator e não o único no sistema mundial. Os atores em redes
Redes Organizadas integradas e horizontais modelam o sistema através do desenvolvimento de
suas próprias políticas
Quadro 1: Visões de Governança
Fonte: adaptado de Rhodes, 1996.
Santos (1996, p.7) resume a idéia do conceito de governança incorporado pelo Banco
Mundial como “o modo como a autoridade é exercida no gerenciamento dos recursos do país
em direção ao desenvolvimento”. Ao analisar a capacidade governativa, contrapondo os
conceitos de governança e governabilidade, a autora chama a atenção para a relação dos dois
conceitos com a capacidade de governar. A governança, inicialmente simplificada aos
aspectos da máquina estatal, da operação do governo, deixava de lado aspectos essenciais para
debates sobre a capacidade governativa. Para Santos, na medida em que as discussões sobre
governança passam a incorporar os aspectos políticos, de articulação e cooperação dos “atores
sociais e arranjos institucionais”, da agregação e articulação de interesses, bem como das
redes sociais e associações, há uma ampliação do conceito e este se aproxima, então, do
conceito de “governabilidade” (idem, 1996, p. 8).
Para Zawislak (2004, p. 185, nota 4) governança nada mais é do que um sinônimo para
“administração, direção ou gestão”.
29
7 PARTICIPAÇÃO
Gohn (2003), em seu estudo sobre os Conselhos Gestores, propõe a pergunta: “O que é
afinal participação?” (GOHN, 2003, p. 13, grifos da autora). A autora comenta que
“participação” é uma das palavras mais utilizadas no vocabulário político, científico e popular
da modernidade e que entender os processos de participação e sua presença nas políticas
públicas permite um entendimento do processo de democratização da sociedade brasileira e
nos leva às lutas da sociedade por acesso aos direitos sociais e cidadania (idem, p. 14).
Destaca ainda que “participação” é encontrada nas ciências sociais como “noção, categoria ou
conceito desde os primórdios de seu desenvolvimento” e que a palavra ganhou, nas últimas
décadas, o “estatuto de uma medida de cidadania e está associada a uma outra categoria, a da
exclusão social” (GOHN, 2003, p. 27).
Para Prestes Motta (1984, p.10), a participação é “um conceito ambíguo que reflete
realidades múltiplas”, assim, seu entendimento ou definição, estão relacionados ao contexto
em que a participação está inserida. O autor entende que participação evoca e envolve a
proximidade com o poder, mas não, necessariamente, de ter o poder. Entretanto, mesmo a
“proximidade” envolve questões técnicas, organizacionais e econômicas e sugere “níveis de
participação” (PRESTES MOTTA, 1984, p.11).
3
A denominação traduzida dos degraus de participação (ARNSTEIN, 1969) é a utilizada em Brose
(2002) e Misoczky e Amantino-de-Andrade (2002).
31
Nos dois primeiros níveis o que ocorre, segundo o autor é uma “não participação”, isto
é, ainda que existam mecanismos para que os cidadãos participem, os atores que conduzem o
processo têm como objetivo apenas “educar” os participantes (Manipulação) ou mantê-los sob
controle (Terapia). Os três degraus seguintes fazem parte da participação “simbólica”, onde é
possível às pessoas falar e serem ouvidas ao longo do processo participativo (Informação e
Consulta), mas não há garantias de que aqueles com poder de decisão irão cumprir o que foi
prometido, ou considerar o que ouviram dos outros atores; a falta de garantia também ocorre
no degrau da Pacificação, sendo que nesse nível a influência do cidadão é maior, ainda que
não haja obrigação dos tomadores de decisão. Finalmente, no bloco de “Poder Cidadão”, a
Parceria é o degrau em que os atores têm a possibilidade de negociar com os tradicionais
detentores de poder e realizar trocas e cooperação, com o compartilhamento de atividades de
planejamento e de tomada de decisão (BROSE, 2002, p.13). Os dois últimos degraus, a
Delegação de Poder e o Controle pelo Cidadão representam níveis em que há um real poder
de decisão por todos os atores que fazem parte do processo, com a população assumindo a
gestão em sua totalidade.
32
8 MÉTODO
A opção por tal concepção de pesquisa justifica-se por tratar-se um novo governo, que
tem em suas mãos um objeto longamente estudado, o Orçamento Participativo, estando,
entretanto em uma situação nova, isto é, operado por atores políticos diferentes daqueles que
ocuparam a Prefeitura durante dezesseis anos, bem como por envolver um segundo objeto, o
programa Governança Solidária Local, idealizado e implantado nesta administração
municipal.
4
www.portoalegre.rs.gov.br
33
tanto à GSL quanto ao OP; material de divulgação da GSL, composto por cartilhas, folder,
DVD/VHS e CD-ROM; atas do Conselho, Regimentos Internos, Planos de Investimentos e
ciclos do OP, bem como foram feitas visitas à Assessoria de Comunicação e à Gerência da
GSL e ao Gabinete de Planejamento Orçamentário. As informações a partir de tais fontes
foram reunidas por meio de análise documental e de entrevistas não estruturadas com os
componentes da Prefeitura visitados. Registra-se que uma das limitações da pesquisa foi em
relação aos dados, uma vez que o OP conta com uma extensa pesquisa e informações ao longo
de sua existência, o que não ocorre com a GSL, ainda em implantação na atual gestão.
A opção desse trabalho, no que se refere à estratégia, é o estudo de caso, pois se trata
do estudo onde são envolvidas “mais variáveis do que pontos de dados”, onde existem várias
fontes de evidência para o estudo e onde existe o interesse de verificar o contexto do
fenômeno estudado (Yin, 2001, p.32).
O modelo de análise5 delineado tem como base a referência dos tipos ideais de Weber
(1999). Para o autor, a sociologia “constrói tipos e procura regras gerais para os fenômenos”,
possibilitando compreender a unidade e a adequação do sentido dos fenômenos a partir da
análise do tipo ideal delineado. Aqui, a Gestão Pública Participativa e a Terceira Via, as duas
concepções políticas envolvidas no contexto do Orçamento Participativo e da Governança
Solidária Local são tratadas como tipos ideais a partir dos quais são analisados os objetos de
interesse, OP e GSL. O quadro abaixo ilustra as categorias escolhidas para este estudo.
5
Metodologia semelhante é utilizada em Misoczky (2000; 2002).
34
6
Grupo de Estudos sobre a Construção Democrática.
35
Para este estudo foram consideradas duas esferas para a coleta dos dados e posterior
análise do OP e da GSL, bem como de suas relações. A primeira diz respeito à base conceitual
de cada programa, ou seja, os conceitos relacionados à idealização e objetivos de cada modelo
participativo e a concepção política com o qual se relacionam. A segunda refere-se à estrutura
(elementos que compõem os programas e sua organização) e funcionamento dos dois
programas, incluindo no caso da GSL, uma descrição da metodologia do programa.
Base Conceitual
Aparato Operacional
região ou temática, nos dois anos anteriores à sua eleição e com no mínimo 60% de
presença comprovada em lista de presença dos fóruns de sua região ou temática.
A seguir são apresentados os dados obtidos a partir da leitura das atas do Conselho do
Orçamento Participativo. São descritos os assuntos de interesse, que são seguidos de
transcrições de trechos que mais ilustram o dado apresentado.
No ano de 2005, ano em que o atual governo iniciou o trabalho com o OP em todo o
seu ciclo, diversas são as manifestações dos Conselheiros em relação ao desempenho do
executivo, à execução do Ciclo do OP, ao papel das Temáticas no processo, bem como à
implantação da Governança Solidária Local.
Câmara de Vereadores vai votar ipsis literis a proposta que foi apresentada pelo Conselho,
não temos como garantir isso.”(COP, ata 19/2005).
“Cabe lembrar que o Plano de Investimentos e Serviços está colado, é alma gêmea da
Matriz Orçamentária que aqui foi aprovada. A partir do momento que o Orçamento do
Município está sendo entregue à Câmara de Vereadores qualquer um dos 36 vereadores pode
começar a fazer emenda no Orçamento. Qualquer um pode fazer, como as entidades
populares podem fazer, porque tem direito! (...). Essa proposta preliminar serve para
garantir que o conjunto dos vereadores da Câmara Municipal de Porto Alegre não mexa, não
modifique os recursos que já foram decididos pelos FROP’s de vocês. No documento estão
elencadas todas as demandas, de acordo com o que ficou decidido. Naquelas regiões onde
ocorreram problemas, deixamos em aberto, colocamos que vai ser definido em momento
posterior, pelo FROP junto com o DEMHAB, junto com a SMED, junto com a SMS. De nossa
parte essa questão é bem tranqüila, o governo quer manter o processo do OP, por intermédio
da co-gestão, companheiro Dilmair, por intermédio da parceria que sempre vimos mantendo
ao longo deste ano. Ao entregar a proposta de investimentos e do plano de serviços, junto
com o Orçamento de 2006, o governo nada mais quer senão garantir para o conjunto do OP
que aqueles recursos não serão modificados.” (COP, ata 25/2005)
“Houve um instrumento tão bom, foi uma invenção do então prefeito Tarso Genro.
Ele inventou uma cidade mais competente, cujo resultado foi atirado na Temática de Saúde,
Temática de Educação, Temática disso e daquilo, porque ao meu ver um determinado público
da classe média para cima abandonou por desencanto o Orçamento Participativo, pois foi
40
um instrumento tão bom, diga-se de passagem, que o povão, a periferia pegou logo e disse:
isso é nosso, nós queremos isso! E a classe média para cima saiu fora. Mas posso entender
que este público tinha que participar também das Comissões Temáticas. Mas para que as
Comissões Temáticas? Para discutir as diretrizes, os planejamentos, as bases, mas só para
isso! Aos poucos as Comissões Temáticas começaram a ficar vazias e foram passando a
solicitar recursos e distribuir recursos. Distribuir recursos para que e para quem? Vão me
dizer que é para toda a cidade. Mas a toda a cidade está representada pelo OP. (...).A cidade
já está representada por todas as 16 Regiões. Isto é uma redundância! É um despautério!
Não tem sentido! Por isso é que sempre fui contra estas Comissões. As Regiões é que vão
lutar por saúde, por habitação, por iluminação, por pavimentação, por assistência social, etc.
Esta distribuição de verbas por temática é totalmente desnecessária, inócua e só prejudica o
processo! (COP, ata 17/05).
“(...)gostaria de esclarecer que em reuniões anteriores pessoas colocaram em dúvida
a questão das Temáticas. A Temática é uma coisa que é regimental, e essa situação só poderá
ser mudada no momento em que se mexer no Regimento do OP. Aliás, o prefeito Tarso teve
uma boa idéia, porque naquela época somente as vilas eram atendidas em Porto Alegre pelo
OP. Parecia que o resto de Porto Alegre, o Centro, a classe média, ninguém mais existia. Só
eram atendidas casas, remédios de graça, e na verdade quem segura a cidade são as pessoas
que pagam impostos.” (COP, ata 21/05).
“(...)Nunca tive implicância com as temáticas, não, eu sou radicalmente contra as
temáticas. Temos que acabar com essa instância espúria, que é redundante, que fica
discutindo assuntos quando foi criada para discutir diretrizes, tão somente, e agora já está
disputando dinheiro com as regiões! Isso não tem sentido. Eu não estou implicando, sou
contra mesmo!” (COP, ata 21/05).
implantação da GSL, mas que como o “governo não conseguiu” fazê-lo, retornava ao OP para
conseguir o canal de acesso às comunidades (ata 24/05).
conflitos; vocês construíram este Regimento com esta previsão, não previram que o governo
devesse resolver conflitos.” (COP, ata 02/06).
“Quero informar que temos instrumentos no Regimento Interno para solucionar
qualquer impasse e qualquer crise. Fora disso, temos a pressão política, que é legítima, que é
do processo. Por isso, não é necessário recorrer a outras instâncias. Esse é um parecer no
sentido de preservar a autonomia deste Conselho, que é o que tem sustentado o Orçamento
Participativo, a sua autogestão, sem precisar recorrer a terceiros para mediar conflitos.”
(COP, ata 04/06).
oficial das secretarias, e até representa-los perante o Gabinete do Prefeito.” (COP, ata
12/06).
A publicidade do OP foi tema nos debates e informes sob dois enfoques: do uso da
projeção do programa em nível internacional e da visibilidade do OP na cidade (logomarca,
slogan e presença de conselheiros em eventos). Em relação ao primeiro, alguns conselheiros
manifestaram descontentamento em relação ao governo, por entenderem que existe promoção
do governo através do OP, uma vez que há visibilidade internacional do Programa (atas 18 e
35/06) e que isso seria um “meio” para o governo apresentar seus próprios projetos. Sob o
enfoque dos símbolos do OP, alguns conselheiros reclamaram da ausência da logomarca do
OP, da ausência da frase “mais uma obra do Orçamento Participativo” em obras concluídas
que foram demandadas pelo programa, bem como a visibilidade do trabalho realizado no OP
através da participação dos conselheiros em situações envolvendo o programa, como eventos,
pesquisas ou nos meios de comunicação (atas 03, 12, 19, 26, 32 e 35/06).
45
“Uma última questão que trago, e pasmem senhoras e senhores conselheiros, é com
relação à desconstituição do símbolo do nosso Orçamento Participativo. Na verdade para
nós, que somos conselheiros de comunidades, de regiões, de grupos, enfim, atuamos nos mais
diversos vieses, o Orçamento Participativo é emblemático, e a nossa logomarca deve ser
respeitada. Mas o que está acontecendo na gestão desse governo? Em todas as obras e
serviços que o governo inaugura e presta às comunidades, ele desconstitui a logomarca do
OP. Lançamos na segunda-feira passada, aprovado na Temática da Cultura que foi, a
Memória do Destaque do Carnaval de Porto Alegre, mas só que a logomarca do OP não sai
mais, sai somente a logomarca da Governança. Temos também o exemplo do Condomínio
João Pessoa. Em todas as obras que estão acontecendo não existe mais a simbologia do
Orçamento Participativo.” (COP, ata 12/06).
“Secretário Portela, o que eu gostaria de pedir é que mediante o que se conversou
das propostas dos conselheiros e da sua que isso ficasse constado em ata, no regimento, onde
quer que fosse que foram propostas dos conselheiros e do governo. Mas isso tem que ir para
a mídia. Porque normalmente quando chega em tocar, ah, foi o governo que fez a proposta!
Acho que está na hora de o governo tomar uma posição, fazer referência a estes
conselheiros que se debruçam no trabalho que tentam de alguma forma mediar estas
questões.”(COP, ata 27/06).
No ano de 2006 a Governança Solidária Local não apareceu com intensidade nos
debates do COP, entretanto, em dois momentos conselheiros referiram-se diretamente ao
programa, destacando a relação de sua implantação na região com o OP (atas 34 e 35/06).
“Quero comunicar e registrar em ata que não é uma conotação radical, não é
sectarismo com as pessoas que participam do FROP Leste. Mas a Governança Solidária não
vai ser implantada na Leste com o apoio da comunidade em função da desconstituição do
fórum de delegados que, no Orçamento Participativo, não teve nenhuma demanda atendida
em 2006. Por isso, parece que para a Região Leste ficou extremamente difícil aceitar este
programa da prefeitura. Então, a governança Local vai se reunir em algum lugar e momento
sem a presença da comunidade da Região Leste. (...) Talvez seja a primeira região que esteja
reagindo com este tipo de postura.”(COP, ata 34/06).
“Em primeiro lugar eu trago um convite da Associação Timbaúva, para o dia 14, às
10 horas, inauguração da escola Infantil Crescer com Lazer, que foi feita pela Governança
Local. E o Orçamento Participativo está junto porque as metas deliberadas foram no FROP
da região, apoiadas por todos os delegados. O Prefeito de Porto Alegre disse várias vezes
que continua o OP. É o slogan de campanha dele. Aceitamos na Nordeste a Governança
Solidária Local, mas chamais (sic) abriremos mão do nosso OP, que é o nosso carro-chefe.”
(COP, ata 35/06).
Por fim, no ano de 2006, houve uma articulação de alguns conselheiros no sentido de
fortalecer o OP e combater o que denominaram “desmonte do OP” por parte do governo (ata
19/06). Tal organização incluiu a elaboração de documentos, manifestações e diversos
informes nas reuniões do Conselho do Orçamento Participativo (atas 16, 21, 27 e 32/06).
46
Entre as críticas mais contundentes, destaca-se o uso do OP como “marketing” no exterior por
parte do governo (ata 18/06); e a tentativa de “desarticulação das regiões” pela ausência de
membros do governo para os debates e esclarecimentos (atas 22 e 34/06).
Base Conceitual
Os passos necessários para atingir tal objetivo passariam, em primeiro lugar, pela não
restrição à “participação cidadã apenas à disputa em torno de prioridades governamentais que
atendam a interesses particulares”, pois, para o governo, tal prática “gera dispersão de
esforços podendo transformar as instâncias de participação em campos adversariais de
confronto, tendo como resultado experiências de democracia de baixa intensidade e com alto
grau de antagonismo”. Para tanto, propõe “ao lado do Orçamento Participativo, planejamento
participativo, protagonismo local, empreendedorismo coletivo, parcerias entre os diversos
tipos de agenciamento para uma governança solidária”. Em segundo lugar, propõe formas
“não-assembleísticas” de democracia, que teriam como resultado a redução da dimensão
participativa a uma dimensão “predominantemente delegativa” (idem, p.13).
7
Secretaria de Coordenação Política e Governança Local
50
De acordo com o governo, “da acumulação teórica dos últimos quinze anos”, é
possível referir que tais estratégias possuem as seguintes características (PMPA, 2006i, p.15-
18): (a) descentralizadas em termos de gestão; (b) compostas por ações integradas e
convergentes; (c) promovidas em parceria por vários atores (estatais, empresariais e sociais);
(d) com desenho aberto para promover e estimular a negociação; (e) flexíveis (capazes de
desencadear inovações que modifiquem seu desenho original); (f) planejadas para exigir
obrigatoriamente contrapartidas de seus participantes (público-alvo ou beneficiários); (g)
planejadas para realizar investimentos em capacidades permanentes e em ambientes
favoráveis ao invés de tentar realizar gastos para ofertar recursos e coisas; (h) capazes de
mobilizar e alavancar recursos novos ao invés de ficarem eternamente dependentes da
execução do orçamento governamental; (i) desenhadas com mecanismos que permitam a
fiscalização permanente dos participantes e evitem interferências políticas indevidas, como a
violação de critérios em virtude da prática do clientelismo; e, (j) capazes de permitir
monitoramento e avaliação constantes como mecanismos ou procedimentos previstos no seu
próprio desenho original
Aparato Operacional
• Passo 8 – Celebração do Pacto pela GSL: etapa em que ocorre a “negociação” das
prioridades com a população, governo e instituições que apóiam e participam da
governança em cada região. Após a negociação, é celebrado o pacto pela
governança em que estão formalizados os compromissos dos participantes da
governança e dos envolvidos para a realização das ações (parceiros, trabalhadores,
etc.).
55
8
O Blog da Governança é um link (http://www.governancalocal.com.br/) presente na página da
Secretaria Municipal de Coordenação Política e Governança Local no portal da PMPA.
56
da GSL, bem como o Documento de Referência (PMPA, 2006i) da GSL. Através de consulta
a tal ferramenta foram observados os resultados dos Seminários “Visão de Futuro” (passo 4)
em 13 das 17 regiões (anexo 2), sendo que dos passos seguintes, ainda não há informação
disponibilizada.
9
http://www.observapoa.palegre.com.br/
57
Neste tópico é realizada a análise dos dois objetos de estudo, Orçamento Participativo
e Governança Solidária Local, através de suas concepções políticas, a Gestão Pública
Participativa e Terceira Via, respectivamente, consideradas como tipos ideais e considerando-
se as características já apresentadas no quadro de análise na metodologia.
Responsabilidade
A responsabilidade diz respeito à análise daqueles que são os que devem responder
pelas ações que garantem os direitos e atendem as necessidades da sociedade. No caso da
Gestão Pública Participativa, o Estado é responsável por tais respostas, sendo que compartilha
decisões e ações com a coletividade. No caso da Terceira Via, o Estado é um “facilitador” de
ações e mediador, mas não necessariamente o responsável pela garantia de direitos e atenção
às necessidades da coletividade, esperando, que para cada “direito deva haver uma
responsabilidade” (GIDDENS, 2003), numa lógica de “troca” assim como no mercado, o que
acaba por reduzir, ainda que gradativamente, suas responsabilidades (LIMA; MARTINS,
2005).
p.47) que concluem que a democracia (sob tal concepção política – a Terceira Via) é
assumida apenas como categoria política de participação formal, livre iniciativa individual e
possibilidade de diálogo.
Ocorre nesse caso, o que Dagnino (2004, p. 96) define como “encolhimento de
responsabilidades sociais [do Estado] e transferência para a sociedade civil”, que é um dos
passos na emergência do projeto de Estado Mínimo. A execução das ações e o atendimento de
demandas sociais baseiam-se na responsabilidade privada ou “moral”, isto é, são deslocadas
para a sociedade civil atribuições do Estado que eram parte da esfera dos direitos (GECD,
1999, p.28), gerando o “assistencialismo filantrópico” (MILANI, 2005) derivado da
participação nos espaços públicos, sem a presença (ou, no máximo, com a mediação) do
Estado (LIMA e MARTINS, 2005).
No caso do OP, a presença do Estado é regimental, ou seja, ele deve fazer parte do
processo, visto que o estão envolvidas discussões e decisões sobre a destinação do orçamento
público (FEDOZZI, 2001; SILVA 2001; PAULA, 2003; ZANOTELLI, 2003). O que ocorre é
o compartilhamento da responsabilidade no que diz respeito às escolhas sobre os recursos a
serem investidos, com as comunidades definindo necessidades e prioridades e o governo
destinando os recursos e executando tais definições dentro de seu planejamento orçamentário
como um todo. Há uma partilha do poder público e sociedade, além da ampliação da esfera
pública. Os recursos e as políticas públicas que os envolvem também são passíveis de
discussão no OP, deixando o orçamento de ser uma “caixa preta” (FEDOZZI, 2001) da
administração e ficando claro quem deve responder por qual ação, obra ou demanda atendida
59
(ou não). Além disso, não há exigência de “contrapartida” sobre as demandas atendidas, uma
vez que contemplam direitos da coletividade. Como avaliar, por exemplo, a “contrapartida”
dos cidadãos para com o Estado quando uma região tem um programa e obras de saneamento
executadas, uma vez que o envolvido é um direito desta mesma coletividade.
Participação
2004), ainda que se concorde com as críticas de alguns autores que incluem a baixa
participação, estrutura complexa, “clientelismo reverso” e acúmulo de poder por parte do
governo (NAVARRO, 2003; MISOCSKY, 2000, 2002).
governança solidária irá ocorrer, ou seja, os planejamentos são feitos em cada região por
aqueles que participam das ações de governança a partir de um compromisso formal assinado
pelos agentes de governança.
A participação ocorre ainda, sob a regra da contrapartida, isto é “para cada direito
cobrado do Estado deve corresponder uma responsabilidade assumida pela sociedade”
(PMPA, 2006i, p.13), ainda que não fique claro no modelo proposto como se dá essa relação,
qual direito corresponde a que responsabilidade, ou ainda, como essa “cobrança de
responsabilidade” ocorre ou irá ocorrer.
Milani (2004, p.18) que conclui que na ausência de tais instâncias, corre-se o risco de
“diluição” de responsabilidades daqueles que participam. Por outro lado, em experiências
institucionalizadas, como é o caso do OP, o problema pode estar na “burocratização do
processo de participação em um esquema mais corporativo”. Esta última análise, sobre a
burocratização do processo é verificada também em Misoczky (2000; 2002) e Navarro (2003).
Mesmo que o atual governo refira-se aos dois processos como “paralelos” ou à GSL
como um programa que vem para “somar” e não para “substituir programas existentes”
(PMPA, 2006f; 2006h; 2006i) é necessário considerar a análise de Dagnino (2004), sobre a
“confluência perversa entre projetos políticos distintos” (2004, p. 95, grifos no original),
sendo estes o “projeto político democratizante” de um lado e de outro o “projeto neoliberal”,
já relacionados anteriormente com o que denomina-se nesse estudo de “concepções políticas”,
respectivamente a Gestão Pública Participativa e a Terceira Via. Dagnino identifica a
confluência de referências no que concerne à definição de participação, sociedade civil e
cidadania (idem, p.99). Para a autora, o projeto neoliberal vem se apropriando de tais
conceitos e práticas a partir de referências comuns, como estratégia política, provocando,
inclusive, um “deslocamento de significados” de tais conceitos. Sobre a participação
(sociedade civil e cidadania são comentados nos tópicos a seguir), a autora refere que vem
ocorrendo a emergência da “participação solidária” (p.102), baseada em uma “perspectiva
privatista e individualista, redefinindo o significado coletivo da participação social” e que
despolitiza a participação, “na medida em que as novas definições (de participação)
dispensam os espaços públicos” onde o debate dos objetivos participativos ocorre e
restringem-se a formas individualizadas no trato de questões de interesse da sociedade. Além
disso, a participação como mera transferência de responsabilidade de implementação e
execução de políticas públicas reduz a participação (e a redefine) a um caráter de gestão
(DAGNINO, 2004, p. 103) também extraindo seu caráter político e de partilha de poder
existente dentro do “projeto democratizante”.
63
Papel/Visão do Indivíduo
Nesta categoria é analisada a visão de cada concepção política sobre o indivíduo e sua
relação com o Estado, isto é, se cada indivíduo constitui-se cidadão, com consciência de seus
direitos e do “direito a ter direitos” (CARVALHO, 1998), bem como da possibilidade de
participar, questionar e mudar o sistema em que se encontra (DAGNINO, 2004), ou, por outro
lado, se é visto como um tipo de capital (LIMA e MARTINS, 2005).
O capital social, por sua vez, refere-se ao valor das relações sociais, ou seja, que as
associações e redes possuem valor para aqueles que delas participam (PUTNAM, 2001) e que
tal valor depende do contexto em que está inserido (COLEMAN, 1990 apud EDWARDS e
FOLEY, 1998). Alinhado e somado à idéia de “capital humano”, que define o conhecimento e
capacidades dos trabalhadores como forma de capital capaz de gerar riqueza, o capital social é
central na Terceira Via (LIMA e MARTINS, 2005).
Lima e Martins (2005, p. 62) dizem que tal noção é empregada largamente por
organismos internacionais como Banco Mundial e Organização das Nações Unidas (ONU)
“para designar a capacidade de articulação dos grupos de pessoas ou de toda uma comunidade
local na busca de soluções de seus problemas mais imediatos”. Frequentemente associado a
idéia de “desenvolvimento social sustentado”, o capital social traz a solução de problemas e
realização de demandas através da mobilização de “pequenos grupos” e “parcerias”,
juntamente com o esvaziamento da idéia do homem como “bloco histórico” e
responsabilização dos sujeitos (e não da história) pela estabilidade social e política (idem,
p.63, 65).
Essa “redefinição” de cidadania de que trata Dagnino (1994; 2004) é uma referência
pertinente quando da análise da Governança Solidária Local. Embasada nos princípios da
cidadania pela valorização do “capital social”, com ênfase na “cooperação” e “solidariedade”
em torno de interesses comuns.
As noções de cidadania (em seu caráter transformador) e capital social são associadas
respectivamente aos dois modelos de estudo, o Orçamento Participativo e a Governança
Solidária Local, e contrapostas, na medida em que no primeiro a base está na reivindicação de
direitos, participação no poder e ampliação do espaço público, enquanto a segunda
exatamente como descrito em seu referencial, baseia-se no capital social e propõe ações para
a solução dos problemas em nível local, sem referências universalizantes, como analisado por
Lima e Martins (2005).
65
A ação dos atores envolve dois aspectos: ação de maneira coletiva ou individual e se
de maneira contestadora (e de negociação) ou apenas na busca do consenso.
De maneira geral, então, observa-se nos dois casos a associação coletiva, sendo no
caso do OP uma associação que se acontece permanentemente nas comunidades, que se
organizam para demandar no processo do Orçamento Participativo, considerados aí todos os
aspectos políticos do processo como já referido. No caso da Governança as ações ainda que
66
Sociedade Civil
destacando-se que, ainda que bem intencionadas, as atuações de tais organizações acabam por
traduzir os desejos de suas equipes diretivas (idem, p.101) e não necessariamente daqueles a
quem “representam”. A expansão do terceiro setor como sinônimo de sociedade civil e sua
tomada de ações complementares às do Estado reforça a “desresponsabilização” deste
(GECD, 1999) e desloca o sentido da representatividade e interlocução Estado – sociedade
civil (DAGNINO, 2004).
11 CONSIDERAÇÕES FINAIS
participação nos dois anos imediatamente anteriores ao da eleição e 60% de presença nas
reuniões, ao invés do um ano em qualquer tempo, entende-se que há uma restrição da
participação aos atores mais recentemente envolvidos com o OP, ou para com aqueles que
desejem participar pela primeira vez.
enquanto este é um programa consolidado que não necessitaria ser “apresentado”, mas apenas
ter suas informações disponibilizadas. No entanto, a desatualização prejudica o
acompanhamento do que acontece a cada ciclo no OP, justificando as críticas feitas por alguns
conselheiros de que a visibilidade do programa é reduzida. Além disso, tal desatualização é
controversa tanto para o governo como para o OP, uma vez que abre espaço para que outros
atores assumam a função de disponibilizar informações sobre o programa. Considerando a
disponibilização de informação como uma forma de comunicação e que esta envolve o
processo de persuasão, e ainda que, por mais bem intencionadas que sejam tais organizações,
suas ações sempre refletem as intenções de seus dirigentes ou componentes, abrir mão do
espaço de comunicação é abrir mão de um recurso estratégico para quaisquer dos atores
envolvidos com o OP. A Ong Cidade é o maior exemplo de tal ação. Presente nas reuniões do
Conselho do Orçamento Participativo, bem como em reuniões regionais, o Cidade elabora
boletins informativos, disponibiliza artigos e notícias relacionados ao OP em seu site10, com
sua leitura sobre as ações do governo e dos conselheiros no âmbito do programa, leituras estas
nem sempre bem recebidas pelos atores envolvidos com o OP, sejam membros do governo
(COP, ata 22/06) ou os conselheiros (COP, ata 21/06).
O posicionamento do governo sobre a relação dos dois programas é de que estão “lado
a lado”, ou de que há uma “continuidade” ou “soma” entre o Orçamento Participativo e a
Governança Solidária Local. No entanto, analisando os dois programas no atual governo,
reforça-se o entendimento de que os dois estão em disputa como programas participativos.
Um dos fatores que reforça tal entendimento é o atendimento das demandas das comunidades
por parte de cada programa. A partir das ações mediadas pela GSL é possível atender
demandas das comunidades, no entanto, existem demandas que podem estar contempladas
também no Orçamento Participativo, gerando uma sobreposição entre os dois programas. A
realização de demandas “por fora” do OP é um aspecto possível e que poderia enfraquecer o
processo. Considerando-se os aspectos de autonomia das regiões, bem como do governo
como “facilitador” na concepção do programa, seria possível uma organização de forma local
que atendesse demandas deliberadas no âmbito do OP. Um fato próximo ocorreu em 2006,
quando da pavimentação de uma estrada pela iniciativa privada, em projeto de construção de
condomínio na zona sul (COP, ata 34/06), que havia sido demanda pelo OP. A ação da
iniciativa privada de realizar a obra está dentro dos parâmetros da GSL, de uso dos “ativos das
10
www.ongcidade.org
75
regiões”, entretanto, ainda que atendida a necessidade, houve a desqualificação do que foi
decidido no OP e a não previsão de tal situação gerou um desgaste no âmbito do programa,
para decisão do que fazer com o recurso, uma vez que tal situação não estava prevista na
regulação do processo. Sendo “soma” e “continuidade” e sendo ainda, conforme o governo, o
OP um “ator parceiro” na GSL, tais ações não deveriam acontecer à revelia das instâncias do
Orçamento Participativo.
A divergência de interesses entre as regiões fica clara quando da leitura das “visões de
futuro” elaboradas na GSL (anexo 2). Um exemplo é o conflito da retirada dos ônibus da
região e transferência das linhas para terminais (projeto de revitalização do centro), com a
solicitação de regiões mais afastadas de contarem com linhas que vão até o centro. Caberá ao
governo gerenciar tais divergências, não havendo, no entanto, nenhuma garantia em relação a
quaisquer dos “desejos” das comunidades em seu “futuro sonhado”. Por outro lado, em
havendo autonomia, não poderiam as regiões com seu próprios “ativos” atenderem suas
necessidades e chegarem aos objetivos? Eventualmente, deverá o executivo tomar posições,
favorecendo talvez, uma das regiões em detrimento de outra. No OP, por outro lado, existem
critérios que hierarquizam necessidades inter e intra regiões, ficando claro quais são as
prioridades e quais recursos serão disponibilizados.
Ainda que não seja um dos objetivos deste trabalho, é cabível uma menção aos
resultados obtidos a partir de cada programa, uma vez que tal questionamento foi feito a esta
autora quando do levantamento dos dados. A pergunta referia-se mais precisamente, a se a
76
Governança, em termos dos resultados obtidos, não seria mais eficiente que o Orçamento
Participativo. Analisando o funcionamento daquela e deste, pode-se pensar que sim, a GSL
poderia ser mais eficiente, considerados os atores envolvidos, a autonomia das regiões e a não
necessidade de perpassar todo o processo de decisões sobre o orçamento. No entanto, ao dar
tal resposta, deixam-se de lado todas as considerações já feitas sobre a responsabilidade do
Estado, da participação efetiva no espaço público dos cidadãos e do papel da sociedade civil.
É muito mais rápido reunir empresas “socialmente responsáveis” com recursos em uma
determinada região e atender uma demanda de pavimentação, por exemplo, do que disputar
tais demandas em um fórum que nem sempre obtém os resultados esperados e/ou não conta
com os recursos para tanto, ainda que tal necessidade seja da comunidade enquanto portadora
de direitos. Passa-se daí para frente à espera pela “benevolência” do mercado que, em última
análise, é onde estão os “ativos” das regiões, incluídos os indivíduos, esvaziando a esfera
pública e baseando apenas no fim objetivado. O que se pretendeu com tal estudo, é expor os
dois projetos participativos não como forma de avaliá-los comparativamente. Não foi objetivo
saber qual o “melhor” dos dois programas [indagação também feita], mas sim explorá-los de
forma a deixar claro a que se referem e que, ainda que nos dois exista participação ela é
diferente nos dois casos.
Finalmente, analisa-se uma das questões centrais do presente trabalho, a disputa dos
dois programas como modelos participativos. As ações por parte do governo que colaboram
para o enfraquecimento do OP são o que denomina-se “lavar as mãos” em frente aos diversos
problemas que o OP enfrenta de forma geral, entre eles, sua organização, disputas internas
pessoais e desgaste dos participantes; a não disponibilização de informações atualizadas sobre
o OP, bem como de informações sobre suas ações e resultados de forma geral; a ausência das
Secretarias ou mesmo de pessoal qualificado presentes nas instâncias do OP para responder
aos questionamentos das comunidades ou do COP. Por outro lado, o OP possui ao seu favor o
fato de continuar sendo um programa reconhecido e institucionalizado, enquanto a GSL é
recente e ainda não conta com resultados consolidados ou visibilidade como o Orçamento
Participativo. Ainda que o atual governo utilize o OP como “meio” para inserir ou divulgar a
GSL fora de Porto Alegre, uma desconstituição total do programa não seria, talvez, a melhor
estratégia política. Em longo prazo, considerando talvez, uma efetiva organização das ações
de governança nas regiões, pode-se pensar que venha a ocorrer o que já foi referido: uma
“encampação” das demandas do OP pela governança, vista a maior possibilidade de
realização de articulações e parcerias dentro de tal programa, com conseqüente retirada do
77
Espera-se que tenha sido possível contribuir para estudos futuros em relação ao tema,
que possam, superando as limitações deste trabalho, considerar toda a gestão do atual
governo, bem como contar com dados mais consistentes em relação à Governança Solidária
Local, programa ainda em desenvolvimento na atual administração, e mesmo em relação ao
Orçamento Participativo gerido pelos atuais agentes da Prefeitura Municipal de Porto Alegre.
Considerando as diferenças e semelhanças que os dois programas participativos apresentam,
bem como toda a gama de conceitos relacionados a ambos, as possibilidades para novos
questionamentos é ampla. Além disso, a disponibilidade e acessibilidade com que se coloca a
administração no apoio a estudos acadêmicos favorece não só a exploração do tema aqui
estudado como a busca por novos questionamentos.
78
REFERÊNCIAS
ZAWISLAK, Paulo. Nota técnica: economia das organizações e a base para o pensamento
estratégico. In: CLEGG, S.; HARDY, C.; NORD, W. Handbook de Estudos Organizacionais,
vol. 3. São Paulo: Atlas, 2004.
84
ANEXOS
Regiões
Região Bairros
Anchieta – Arquipélago (Ilha das Flores, da Pintada, do Pavão e Ilha
a) HUMAITÁ/NAVEGANTES/ILHAS Grande dos Marinheiros) – Farrapos – Humaitá – Navegantes – São
Geraldo
Boa Vista – Cristo Redentor – Higienópolis – Jardim Itú – Jardim
b) NOROESTE Lindóia – Jardim São Pedro – Passo D’areia – Santa Maria Goretti –
São João – São Sebastião – Vila Floresta – Vila Ipiranga
Bom Jesus – Chácara das Pedras – Jardim Carvalho – Jardim do Salso
c) LESTE
– Jardim Sabará – Morro Santana – Três Figueiras – Vila Jardim
d) LOMBA DO PINHEIRO Agronomia – Lomba do Pinheiro
e) NORTE Sarandi
f) NORDESTE Mário Quintana
Cel. Aparício Borges – Partenon – Santo Antônio – São José – Vila
g) PARTENON
João Pessoa
h) RESTINGA Restinga
i) GLÓRIA Belém Velho – Cascata – Glória
j) CRUZEIRO Medianeira – Santa Tereza
k) CRISTAL Cristal
Camaquã – Campo Novo – Cavalhada – Nonoai – Teresopólis – Vila
l) CENTRO-SUL
Nova
m) EXTREMO-SUL Belém Novo – Chapéu do Sol – Lageado – Lami – Ponta Grossa
n) EIXO-BALTAZAR Passo das Pedras – Rubem Berta
Espírito Santo – Guarujá – Hípica – Ipanema – Pedra Redonda –
o) SUL
Serraria – Tristeza – Vila Assunção – Vila Conceição
Auxiliadora – Azenha – Bela Vista – Bom Fim – Centro – Cidade
Baixa – Farroupilha – Floresta – Independência – Jardim Botânico –
p) CENTRO
Menino Deus – Moinhos de Vento – Mont-Serrat – Petrópolis – Praia
de Belas – Rio Branco – Santa Cecília – Santana
Temáticas
sustentável.
Leste Os moradores da Região Leste sonham com uma cidade mais humana, solidária, e ética.
Que busque o desenvolvimento sustentável, e onde a constituição seja aplicada e cumprida,
com todos sendo iguais perante a lei, onde se priorizem escola, cidadania, união, e cultura, e
onde haja uma rede integrada de informações entre as todas as instituições da Região.
Para tanto é preciso ter uma educação de qualidade, com mais escolas de ensino médio, e
escolas técnicas profissionalizantes para geração de renda e pré-vestibulares, e creches em
todas as vilas. Prioridade para a educação em todos os níveis, com nenhuma criança sem
creche e fora da escola, e nenhuma criança na rua se drogando.
Escolas com merenda escolar mais saudável e nutritiva, e melhoria nas condições de trabalho
dos profissionais de educação.
Políticas para jovens, inclusão digital, e combate às drogas, trabalho infantil e prostituição.
Na assistência social, todas as crianças e idosos sem fome, e adolescentes de 14 a 18 anos
longe das drogas, violência, e com ocupação para a geração de renda.
Um SASE mais estruturado e com mais dinheiro, planejamento familiar, restaurante popular,
banco de alimentos, e comerciantes solidários.
Na saúde, postos funcionado 24 horas nas comunidades da Região, um hospital de pronto-
atendimento, e um atendimento de qualidade e multidisciplinar.
Mais postos de saúde, com melhores equipamentos, e com atendimento em saúde bucal e
mental. Para a geração de renda e trabalho, a construção de shoppings populares, atração de
indústrias para a Região, dando ênfase na geração de renda para as mulheres, organizando a
produção em cooperativas e associações.
Na habitação, toda a Região com regularização fundiária e construção de conjuntos
verticalizados, sem prejuízo a paisagem e ao meio ambiente.
Toda a Região urbanizada, pavimentada, iluminada, saneada, e com os arroios sem lixo.
Na infra-estrutura, a duplicação da Av. Panamá para melhor circulação entre as Av. Protásio
Alves e a Av. Ipiranga, iniciando na Antonio de Carvalho até Manoel Elias, controladores de
velocidade em frente as escolas, e ônibus com ar condicionado para toda a Região.
Que seja garantido o transporte até o Centro entre todas as Regiões.
No lazer, cultura, e esportes, um anfiteatro público com centro cultural, praças, pistas de
skate, centros culturais, rádio comunitária com formação profissionalizada, centros
esportivos, com diversos esportes, atletismo, artes marciais, com livre acesso as áreas de lazer
e ocupando os jovens.
Nordeste O sonho de futuro dos moradores da região Nordeste é ter um maior acesso à informação e
mais subsídio e enriquecimento da participação individual. Para tanto, seminários, oficinas, e
eventos, para a conscientização dos moradores da Região em relação ao meio ambiente, sua
poluição e a destruição dos arroios, e da natureza, devem ser realizados.
É preciso se fazer cumprir as leis ambientais. Na área do lazer, cultura, e educação, um
campo de futebol, mais praças públicas e áreas de lazer, além de um ginásio de esportes
multi-uso com uso para esportes, cultura, e lazer, para tirar as crianças da rua.
A revitalização do Parque Timbaúva (Recanto do Sabiá), um melhor aproveitamento do
Parque Chico Mendes, e mais cultura para as Vilas Wenceslau Fontoura e Loteamento
Timbaúva.
Uma educação integrada à saúde, com atenção as doenças mentais e ao atendimento
odontológico, creche em número suficiente e de qualidade, em todas as comunidades,
funcionando 24 horas, mais e melhores escolas de 1º e 2º graus, e especialmente, escolas
profissionalizantes para a geração de ocupação e renda, com ênfase nas mulheres.
Na saúde, Postos de Atendimento 24 horas, com serviço de odontologia, e multi-
especialidades.
Na assistência social, mais “SASEs”, e um asilo para tirar os idosos das ruas. Casas de
recuperação para jovens viciados, e programas de qualificação profissional para jovens a
partir dos 16 anos.
Mais empregos, maior e melhor geração de renda, mais fábricas e empresas, e maior apoio
aos grupos de geração de renda já existentes.
Um supermercado decente, para que não precisemos mais fazer compras em botecos. Um
posto bancário, e um cartório eleitoral na região. Uma segurança pública de qualidade, sem
abuso de poder, com uma abordagem mais digna às pessoas, guarda patrimonial, e maior
presença nas ruas, além de um corpo de bombeiros.
Re-assentamento nas áreas de ocupação e regularização fundiária, mais e melhores
habitações, com a criação de cooperativas habitacionais, e casas com mais terreno, não
geminadas, e com saneamento e infra-estrutura básicos.
Melhoria nos transportes, mais e melhores vias de cesso, e início das obras da 4ª Perimetral
(até a Restinga e prevista no Plano Diretor) ligando os bairros Rubem Berta/Mário Quintana,
com a cidade de Alvorada, na denominada Rua da Poesia. Via cruzada paralela de acesso à
Protásio Alves, um quilômetro de via, com ponte, ligando a Nilo Peçanha e a Alberto
Pasqualini e a Manoel Elias. Integração dos ônibus no terminal da Timbaúva.
Partenon Os moradores da Região Partenon, sonharam com mais desenvolvimento econômico para
91
suprir a falta de emprego e renda local, mais Educação com a construção de escolas, e um
atendimento de saúde durante 24 horas com ambulância, e em local apropriado, com farmácia
para superar a falta de medicamentos após o atendimento dos pacientes. Uma segurança mais
integrada e preventiva com interação entre a Guarda Municipal, a Brigada Militar, e a Policia
Civil.
Hortas comunitárias e preservação das áreas ambientais.
Na habitação, espera-se que toda a região esteja regularizada fundiariamente e que não haja
construções de casas em áreas de risco.
Que as crianças estejam nas escolas e creches e que a juventude esteja ocupada em trabalhos
em oficinas, e que haja mais áreas de lazer, com pista de skate, e esportes para todos.
Que o transporte público seja mais eficiente, e que atenda a população em todos os horários e
linhas. Que haja união e parceria entre as secretarias de governo e que haja menos burocracia,
e que a comunidade tenha mais acesso as informações, estando a Prefeitura mais próxima.
Um centro cultural, uma escola técnica industrial de ensino médio, e uma empresa de grande
porte capaz de gerar empregos, e menos burocracia e imposto na criação de pequenos
negócios
Cruzeiro Nossa Cruzeiro uma comunidade forte, unida, e trabalhando em harmonia no seu
desenvolvimento, crescendo e resolvendo todos os seus problemas.
Uma educação de qualidade com creches em todas as vilas, com escolas de turno integral e de
orientação pedagógica que construa o conhecimento, e um projeto de leitura e dicção para
preparar as crianças para se manterem na escola, além do ensino profissionalizante nas
escolas de 2º grau preparando os jovens para o mercado de trabalho, através de incubadora de
pequenos negócios.
Um grande centro comunitário atendendo toda a nossa região, onde teremos programas extra-
classe para nossas crianças retirando-as das ruas, desenvolvendo a educação ambiental e
programas para jovens com palestras sobre sexo, drogas, gravidez precoce dentre outros.
Um centro cultural em cada comunidade trazendo conhecimento para todos, fazendo a
inclusão digital. Ginásios esportivos onde os jovens pratiquem cidadania através do esporte.
Um parque amplo, e praças bem equipadas e seguras.
Uma Região arborizada, uma rede de abastecimento de água completa, esgotos em todas as
casas, com a macro-drenagem funcionamento efetivamente na prevenção das enchentes e
alagamentos.
Duplicação da Moab Caldas e abertura de vias de acesso bem sinalizadas. Abertura de novos
acessos, que facilitem e estimulem o comércio local.
Atrair para a Região, indústrias de pequeno porte que incentivem a geração de renda. Corpo
de Bombeiros e Posto Policial locais, aumentando a segurança e reduzindo até o fim a
violência na Região.
Saúde com Postos funcionando 24 horas ao dia, com diversas especialidades e atendimento
odontológico. Toda a comunidade regularizada fundiariamente, e um grande projeto
habitacional implantado, encerrando de vez o problema da necessidade habitacional.
Lomba do Pinheiro Construção de moradias que atendam as demandas da comunidade, com regularização
fundiária e infra-estrutura urbana, valorizando os aspectos históricos da região, num ambiente
ecologicamente equilibrado e socialmente justo para todos os moradores, garantindo trabalho
e renda de forma participativa e auto-gestionária.
Glória Nossa região será o melhor lugar do mundo para se viver, pois teremos nossa regularização
fundiária completada, um belo projeto habitacional com casas lindas em ruas asfaltadas,
saneadas, e bem sinalizadas.
A Oscar Pereira duplicada, e uma ligação ampla com as Regiões Leste e Extremo Sul.
Ampliação e regularização do comércio local, e atração de indústrias que incentivem a
economia solidária e que gerem renda para os moradores.
Criação de um posto do SINE que encaminhe a mão-de-obra local ao mercado de trabalho, e
uma agência bancária para que não mais precisemos sair o bairro para utilizar esse serviço.
Atendimento médico do PSF durante 24 horas e com qualidade, um pronto-socorro, e um
programa de atendimento diferenciado para famílias carentes, além de farmácias populares.
Um grande centro comunitário onde realizaremos oficinas de música, dança, artesanato, e
diversas outras atividades culturais que estimulem jovens e crianças a manterem-se ocupados,
e livre das drogas e longe das ruas.
Um centro cultural para contarmos a história da Glória, um cinema, e o desenvolvimento do
turismo com o aproveitamento turístico do potencial do Morro da Polícia/Cruz com a
construção do teleférico.
Educação interdisciplinar com interligação entre os temas de saúde, meio ambiente,
educação, empreendedorismo, cooperação e solidariedade, e esportes, com vila olímpica,
quadras poliesportivas e ginásios, e campos de futebol.
Escolas de 2º grau na Região, creches bem equipadas, supletivos, e programas de
alfabetização. Segurança exemplar, trabalhando na prevenção e um corpo de bombeiros
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atendendo com eficiência. Espaços de lazer e um parque amplo onde se aprenda a conviver,
preservar, e proteger o meio ambiente.
Centro Sul Mais ajuda para as instituições da região, que prestam atendimento, propiciar também
incentivo aos esportes, fazendo do esporte um elemento de integração para crianças e
adolescentes da comunidade.
Criar e equipar praças na região com brinquedos, resgatando assim a alegria e o lazer das
crianças. Instalações prédios e salas das escolas de ensino estadual e municipal, reformadas,
ampliadas. Escolas técnicas e profissionalizantes, para que o jovem chegue no mercado de
trabalho já treinado, ajudando assim a combater a violência.
Educação infantil, ensino médio e fundamental, mais escolas de 1º e 2º graus.
Centro Cultural que beneficie toda região principalmente os de baixa renda.
Melhorar o atendimento a saúde em toda a região aumentando o numero de postos (PSF) e
médicos, construir um grande hospital público infantil. Atendimento integral a saúde das
crianças.
Criação de ações de geração de renda para ajudar as comunidades da região.
Melhorar o transporte publico, maior presença de policiamento em toda a região.
Grupos de incentivo e solidariedade para terceira idade.
Preservar os morros e áreas rurais, preservando assim o meio ambiente.
Centro para mulheres e crianças vitima s de maus tratos. Centro para tratamento do câncer.
Criar um banco de Dados para as entidades “para Trabalho”.
Fomentar o comercio local para que a renda fique na região. Linha do Trensurb até a região.
Placas de identificação nas ruas.
Cristal Nosso Cristal será totalmente urbanizado, com todas as casas com água encanada e tratada,
esgoto, e rede elétrica.
Nossas ruas asfaltadas e bem sinalizadas, mais linhas de ônibus e lotação circulando durante a
madrugada, com segurança pública de qualidade.
Um grande projeto habitacional com muitas praças para nossas crianças, e todas bem
equipadas. Nossos jovens utilizando quadras poliesportivas com o desenvolvimento de
projetos sociais que os tirem de situações de risco, como a rua e a criminalidade.
Um melhor aproveitamento da orla do Rio Guaíba, não esquecendo do ginásio municipal.
O Programa Socioambiental solucionando o problema dos nossos arroios, retirando as casas
de sua beira e os arborizando.
Uma ótima saúde, com aumento do número de equipes do PSF, todas com ambulância,
gabinete odontológico, e atendimento 24 horas.
A educação de excelente qualidade, com escolas de 1º e 2º graus, educação infantil, e de
tempo integral, e novas creches em número suficiente para a Região. Vários telecentros
disseminando tecnologia e uma faculdade pública. Nossa cultura com um excelente centro
cultural, um centro de tradições gaúchas, e uma rádio comunitária na faixa de 11 metros.
Todos com emprego e renda assegurados, favorecido pelo Shopping Cristal, e pelo
crescimento do centro de reciclagem com cursos profissionalizantes. Cooperativas formadas
em todas as vilas, algumas explorando o potencial turístico de nossa orla urbanizada
Sul Montar uma rede de cooperação, solidariedade e parceria, não deixando tudo por conta dos
governantes.
Mais ajuda para as instituições da região em especial a Aldeia da Fraternidade, que presta um
atendimento diferenciado a mais de 300 crianças, propiciar também um ginásio de esportes
coberto para esta entidade, fazendo do esporte um elemento de integração para crianças e
adolescentes da comunidade.
Equipar e reformar as praças da região com novos brinquedos, resgatando assim a alegria e o
lazer das crianças. Ampliação da Escola Estadual Custódio de Mello para ensino fundamental
completo com cessão do terreno do quartel. Instalações prédios e salas das escolas de ensino
estadual e municipal, reformadas, ampliadas, com pátios com canchas poliesportivas, ensino
de informática, em especial na escola Santos Dumont, para que todas as crianças, jovens e
adolescentes tenham gosto em ir a escola.
Ter professores bem treinados e bem pagos, proporcionando assim um ensino de melhor
qualidade, ter mais escolas técnicas e profissionalizantes, oportunizando para que o jovem
chegue no mercado de trabalho já treinado e capaz de competir pelo seu emprego, ajudando
assim a combater a violência.
Ter uma escola de ensino fundamental na Moradas da Hípica. Crianças atendidas após o
horário escolar com atividades socioculturais e esportivas.
Duas faculdades para a região, educação infantil, ensino médio e fundamental, mais escolas
de 1º e 2º graus. Incentivar através de leis de incentivo aos empresários para adoção de
escolas e doação de recursos para a educação. Ônibus gratuito para estudantes (2º grau e
Faculdade).
Saneamento Básico para toda a região, e a conclusão da rede de esgoto da Dorival Castilhos
Machado, resolvendo também o problema do coletor de fundos do Beco das Flores.
Canalização de dessassoriamento do Arroio do Salso, há 15 anos problemático.
Centro Cultural que beneficie toda região principalmente os de baixa renda, como sugestão
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A Visão de Futuro da Região Restinga foi finalizada em 2007 e a informação disponibilizada
diretamente pela Gerência da Governança Solidária Local.
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esportes náuticos na região Extremo Sul. Seu público alvo serão as crianças e os adolescentes
carentes da região. Parcerias serão efetivadas com as iniciativas públicas e privadas, levando
a idéia a todas as outras regiões que margeiam o Guaíba, como Lami e Ponta Grossa.
Trabalhos com a terceira idade, através de passeios de escuna, também serão realizados.
Como resultado do Projeto Vela Social, buscaremos parcerias para a inclusão no mercado de
trabalho dos nossos jovens: ingresso na Marinha Mercante; marinas públicas e clubes
náuticos; estaleiros; fabricas de velas; equipamentos náuticos; concursos públicos.
Na saúde será construído e utilizado o Hospital da Restinga com pronto-socorro e melhoria
nos postos de saúde, ambulâncias, mais ambulatórios, e investimentos na profissionalização
da saúde, nos técnicos, enfermeiros, e médicos. A nossa Região Extremo Sul, vocacionada
em Meio Ambiente, o respeitará, e terá mais qualidade de vida. Os projetos serão todos
socialmente sustentáveis e economicamente viáveis. Seu desenvolvimento contemplará essas
características de Região única em Porto Alegre do ponto de vista do meio ambiente.
Sua pavimentação será de tipo adequado ao meio ambiente e o aproveitamento da sua
vocação agrícola, utilizará os esgotos para compostagem e produção de adubo orgânico e
reaproveitará o resíduo industrial de fósforo para a produção de adubo para toda a região,
além da utilização da biomassa.
Toda a produção, seja ela qual for, será consumida na própria comunidade, sendo vendido
somente o excedente. Será criada a Feira do Peixe da Região. Será criado o Centro Cultural
de Belém Novo, com eventos, teatro, cultura, tradicionalismo, e cursos em várias
modalidades artísticas. Teremos uma biblioteca.
Na organização política, mais parcerias entre comunitários e depois com o governo, com
maior velocidade e integração. Implantação de um canal de interlocução, mais efetivo para
comunicação com outras instâncias de governo, e maior eficiência. Autonomia da
comunidade, nos negócios e na política, e projetos com características próprias.
Maior articulação comunitária, aprendendo a se relacionar, e estabelecer uma teia de relações
e fortalecendo politicamente toda a comunidade. Mais desenvolvimento de atividades
comunitárias e investimento na melhoria da auto-estima, fazendo as coisas funcionarem para
o benefício de todos. O CAR de Belém Novo conhecendo os problemas e potenciais da
Região, pois a estrutura já existe e está à disposição. A administração deverá ser
microrregionalizada evitando o deslocamento para a Restinga e para o Centro.
Na infra-estrutura, um projeto de urbanização, um Plano Diretor para a Região do Extremo
Sul e Região de Ponta Grossa. Uma fábrica de paquetes a ser utilizada pela prefeitura para o
calçamento de todo o município gerando emprego dentro da própria Região. Arado todo
asfaltado, recuperação da Av. do Lami, e mais ruas asfaltadas. As ruas serão todas
urbanizadas e calçadas, com quadras poliesportivas e praças suficientes e bem cuidadas. Os
terrenos deverão ter regularização fundiária, emancipando a comunidade, e as moradias
dignas e unifamiliares, resolvendo os problemas dos assentamentos irregulares e atendendo a
população menos favorecida. As enchentes controladas. Saneamento para todos.
No transporte, mais sinaleiras, mais pavimentação, mais sinalização, mais faixas de
segurança, e sua manutenção. Um transporte viável que não leve de 1:10h a 1:30 para chegar
no Centro, com o aumento no número de horários dos ônibus no destino Centro-Bairros-
Centro. Uma lotação (ônibus seletivo). Uma linha Guaíba de navegação ligando Porto Alegre
pelo Rio, e Belém Novo no sentido de Rio Grande. Mais Segurança. Mais viaturas, mais
treinamento para não entrarem atirando nas vilas, maior atuação em cima dos traficantes.
Mapeamento aéreo para proporcionar maior controle e segurança, e maior frequência na
circulação de viaturas policiais, e mais segurança para as crianças.
As prioridades serão: ninguém sem teto; todos com saneamento; hospital na Região;
ambulâncias e pronto-socorro; escolas técnicas; biblioteca; cursos de música, capoeira, e
defesa pessoal.
Que a Região Extremo Sul daqui a 10 anos seja a Região com a melhor qualidade de vida
dentre todas de Porto Alegre-RS, e que sirva de modelo, com emprego na própria Região,
qualidade na saúde, hospital com pronto atendimento, escolas de tempo integral em todos os
níveis, e segurança e transporte eficientes.
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Transcrição do trecho correspondente da ata de reunião do Conselho do Orçamento Participativo nº
30, de 31 de outubro de 2006.
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A autora é bióloga, formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul no ano de 2001 e
graduanda em Administração também pela UFRGS, tendo iniciado o curso em 2002. Ao longo do
Mestrado publicou artigos na EBAPE/FGV e desenvolveu inúmeras atividades de pesquisa
dedicadas, em sua maioria, aos estudos em administração pública. Atualmente é servidora pública
federal no Tribunal Regional do Trabalho da 4ª região, onde exerce a função de Diretora de
Secretaria na 2ª Vara do Trabalho de Gramado.