A Construcao Social Do Papel Da Mulher
A Construcao Social Do Papel Da Mulher
A Construcao Social Do Papel Da Mulher
Resumo
Este artigo visa proporcionar uma discussão entre a conceituação dos termos
“sexo” e “gênero” no sentido de esclarecer que apenas ser do sexo masculino ou feminino,
não é uma condição suficiente para que os papéis sejam definidos socialmente. Há uma
construção social que direciona o comportamento de homens e mulheres na sociedade.
Aborda ainda, a concepção social da mulher dentro da esfera doméstica, evidenciando a
diferenciação da educação dada às mulheres pela mãe e a educação dada aos homens,
demonstrando que as jovens por uma questão tradicional continuam tendo a mãe como
modelo, já os homens precisam passar por uma ruptura com a mãe, assumindo seu papel na
esfera pública. Portanto, será salientada a questão biológica na determinação do sexo, em
conjunto com a questão social, responsável pela constituição do “gênero”.
que merecem ser analisados de acordo com a perspectiva de “sexo”e “gênero”. O compositor
“Quando chego em casa a noitinha, quero uma mulher só minha, mas para quem deu a luz não
tem mais jeito, porque o filho quer seu peito, o outro já reclama a sua mão, o outro quer o
amor que ela tiver. Quatro homens dependentes e carentes da força da mulher”.
discussão sobre o papel da mulher, buscando a conceituação do que é ser mulher dentro de
obtendo-se assim, elementos para dialogar com diversos autores tendo como foco central que
HEILBORN, 1981:18).
Neste sentido, as variáveis que serão analisadas e discutidas neste trabalho serão:
sexo/gênero, esfera pública e privada, papel social, e família, pois acredita-se que a partir
Como ponto de partida, deve-se proceder a uma distinção entre sexo e gênero,
padronizado incorporado por esta categoria no decorrer dos anos, verificando que apesar dos
movimentos feministas terem tido uma grande repercussão mundial principalmente a partir do
na sociedade, não perdendo de vista que ainda falta muito para que a mulher assuma um lugar
de destaque no universo social, ela está na posição tão bem definida por Simone de Beauvoir
(1970) como o segundo sexo, estando ligada diretamente ao primeiro, ocupado pelos homens.
Mas afinal o que é ser mulher? Dois aspectos merecem ser analisados diante deste
BEAUVOIR (1970) “Não se nasce mulher, torna-se mulher” tendo como elemento de análise
homem. Seus órgãos genitais, a sua capacidade de dar a vida a outro ser humano, o fato de
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manifestação ocorrida em 1968, durante um concurso de beleza. Episódio em que foi pedido às mulheres que jogassem
dentro de uma grande lixeira tudo que fosse representativo de tortura feminina, tal como: rolos de cabelo, salto alto, dentre
outros.
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possuir uma menstruação mensalmente e outras características que serão citadas
posteriormente, nos fornece subsídios para uma discussão sobre o assunto do que é ser
“mulher”.
condições singulares que a encerram na sua subjetividade; diz-se de bom grado que ela pensa
com suas glândulas”. A mulher está presa de certa forma a sua condição biológica, assim, a
doméstico. “O organismo feminino, subjugando a mulher à função reprodutora, seria uma das
sociedade.
biológico.
Nesta linha de pensamento, Anne Fausto Sterling (2001) faz uma análise da
Nossos corpos são complexos demais para dar respostas claras sobre a
diferença sexual. Quanto mais procuramos uma base física simples para o
“sexo”mais claro fica que o “sexo” não é uma categoria física pura. Aqueles
sinais e funções corporais que definimos como masculinos e femininos já
vêm misturados em nossas idéias sobre o gênero. (FAUSTO-STERLING,
2001:19)
certificar a feminilidade, e que apesar de evidências externas próprias do corpo feminino, não
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Até 1968 as mulheres que competiam nas olimpíadas eram frequentemente
convidadas a desfilar nuas diante de um corpo de examinadores. Seios e uma
vagina era tudo o que se necessitava para certificar a feminilidade. Mas
muitas delas reclamavam que o processo era degradante. Em parte pelo
aumento dessas reclamações, o COI decidiu fazer uso do moderno teste
científico do cromossomo. (FAUSTO-STERLING, 2001: 14-15)
Na citação acima, fica claro o constrangimento que as mulheres sentiam por esta
forma de certificação, mas ao passar para o estudo dos cromossomos, a ciência não consegue
determinar com precisão os critérios necessários para se afirmar o que é ser mulher. Por
exemplo:
social e que até mesmo aspectos biológicos que a primeira vista seriam incontestáveis, sofrem
“mulher”, mas somente eles, não seriam suficientes para explicar um ser tão complexo, o fato
de não se “nascer mulher, mas tornar-se mulher”de acordo com Beauvoir, faz com que
A autora não descarta a questão biológica como fator determinante de sexo, mas
apresenta uma nova categoria, denominada de gênero, que se diferencia de sexo pela maneira
pela qual os papéis são construídos socialmente. “Nessa linha de pensamento, a categoria
E nesta relação biológica e social torna-se claro que a mulher tem pautado a sua
vida em conjunto com as relações que ela estabelece com o sexo oposto. A mulher no
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decorrer da história esteve ligada ao homem de alguma forma, seja pelos laços de parentesco,
na relação familiar com o pai e irmãos, seja através do casamento, no relacionamento com o
Isto significa que na sociedade, o sexo feminino não é visualizado como algo
subordinação dela para com o homem, pois a construção social que se formou no decorrer dos
chegar a idade adulta se espera que a mulher tenha a perspectiva de ter filhos, e quando esta
ideia não é um fator fundamental para ela, se torna um comportamento pouco aceitável
socialmente.
Outro aspecto que pode ser observado empiricamente, é que a mulher quando faz
opção de não se casar, é considerada uma pessoa sozinha, e taxada como solteirona, pois a
sociedade tem como padrão o sexo feminino ligado ao masculino, numa estruturação cultural
que a seus olhos soa como natural, mesmo tendo conhecimento de que há um processo
emancipatório das mulheres que tem levado a diversas mudanças neste sentido.
ressalta que
ela não tem um companheiro está sozinha, tendo que justificar a presença de um ser
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Este pensamento nos remete a ideia de que o sexo feminino relacionado sempre ao
masculino, tem se processado através da história da mesma forma, o que não é verdade, pois a
mulher no inicio do século XX, por exemplo, em que nem o divórcio era algo comum na
Pode-se dizer como exemplo desta afirmativa que a mulher atual estabeleceu um
padrão diferente da mulher do início do século passado. Hoje a mulher ocupou um lugar em
espaços antes freqüentados somente para homens, como a universidade, a política, o mercado
de trabalho, etc. A partir daí ela conseguiu sua independência financeira, buscando cada vez
mais autonomia. Mas apesar dos avanços adquiridos no decorrer dos anos, ainda se verifica a
dominação masculina.
encontro com a necessidade de evidenciar que por um determinismo biológico ou por outros
imaginário coletivo e tanto homens e mulheres por mais que alguns segmentos lutem contra
esta perspectiva, acabam reforçando os padrões existentes, colocando a mulher como um sexo
Nesta citação, aparece outro elemento que deve ser analisado. Nem sempre as
mulheres se mostram insatisfeitas com a dominação masculina, que parece tão natural, elas se
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sentem protegidas pelo homem, utilizando a maternidade para dar a satisfação necessária para
“camuflar” a sua situação de subordinação. Este não se apresenta como um fato conflitante
status e poder na esfera pública e privada, enquanto ORTNER (1979) trabalha com a idéia de
transcende a natureza.
relação da mãe com a educação dos filhos, assim como a relação entre ela e o marido, que por
sua vez assume a esfera pública dedicada essencialmente a eles elevando o seu status.
Assim (ROSALDO, 1979:53) diz que “o status feminino será mais baixo nas
sociedades onde há uma firme diferenciação entre as esferas de atividades doméstica e pública
e onde as mulheres são isoladas umas das outras e subordinadas à autoridade de um único
homem no lar”.
Desta forma há uma tradição em fazer com que a subordinação feminina seja vista
como algo natural e por este motivo, deve ser aceita sem questionamentos para a maioria das
dominação além do aspecto cultural em que coloca o homem desvencilhado dos aspectos
relacionados ao lar, colocando-o numa posição de destaque na sociedade, tem a ver com
aspectos biológicos.
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Nota-se através do pensamento de ORTNER (1979) a clara distinção entre a
como função organizar a vida dentro do lar, sendo responsável pela educação dos filhos e pelo
conforto do marido em casa, deixando os assuntos da esfera pública aos homens, que ainda se
apresentam como o provedor do alimento, mesmo que as despesas da casa sejam divididas
entre o casal
A justificativa para esta distinção está no fato da mulher dar a vida, assim ela fica
presa ao universo doméstico. Ao ter os filhos, o homem está livre para desenvolver qualquer
da esfera doméstica, pois este papel cabe à mãe. A divisão do trabalho social vai se
distinguindo e ficando claro para ambos qual a sua função dentro da família.
socialmente quanto à subordinação feminina. Ela cuida igualmente de seus filhos do sexo
masculino ou feminino, mas os educa de maneira diferenciada. A menina é educada para ter a
mãe como modelo, e o seu papel vai sendo incorporado paulatinamente. “As maneiras e as
atividades femininas são adquiridas de uma forma que parece fácil e natural. A família da
Os modelos socialmente construídos do que deve ser uma mulher, vão sendo
dados a jovem, para que ela se enquadre no padrão comportamental esperado pela sociedade.
Assim:
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Crescendo numa família, a jovem provavelmente tem mais
experiência dos outros como indivíduos do que como possuidores de
papéis institucionalizados formais; então, ela aprende como
perseguir seus próprios interesses obtendo a simpatia de outras
pessoas, sendo educada, compreensível e amável. Ela desenvolve
uma psicologia “feminina” (ROSALDO, 1979:42)
A mesma mãe que educa a filha para incorporar a docilidade feminina, precisa
educar o menino para que ele tenha uma ruptura com ela e incorporar os padrões esperados
percebe-se que o gênero que é a construção social da realidade , nos leva a verificação de que
a mulher é preparada na esfera doméstica para o cuidado que deve ter com o marido e os
filhos. E mesmo rompendo alguns laços com este ambiente, não está desvinculada dele, e por
mais que ela tenha alcançado uma autonomia e independência financeira, ainda está ligada ao
homem por laços de submissão, que pode ser explicada pelas questões de sexo/gênero.
vida da mulher, e ao negar esta vontade natural, nem sempre ela é aceita socialmente.
Exemplo desta afirmativa se apresenta no comentário que Heleieth Saffioti (1999) faz com
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Criou-se um modelo feminino a ser seguido, e aceitar as mulheres que desviam
deste padrão, ainda se configura como uma forma de conduta pouco aceitável. É como se toda
século passado, sendo referência para os estudos de gênero na atualidade, perpassa pela teoria
de Gayle Rubin em seu texto “o tráfico de mulheres” (1975) em que faz referência à
submissão pelo parentesco tomando como base o estudo de Marx, com relação aos estudos de
em que o mesmo coloca em seu estudo sobre as classes sociais, que um negro é um negro, e
que se torna escravo através dos acontecimentos sociais, isto quer dizer que o fato de ser
negro, não é condição o bastante para que alguém seja escravo, mas a partir do momento em
que se convenciona que o negro é um escravo, significa que esta situação é uma construção
social que foi elaborada por uma elite. No caso feminino, como evidencia Gayle Rubin
(1975), seguindo a lógica marxista sobre os negros, ser mulher não é condição necessária para
que ela seja objeto de opressão, mas o que a faz ser oprimida pelos homens é a maneira com
Portanto, ao se falar de sexo/gênero pode-se afirmar que sexo se refere mais aos
aspectos biológicos que distinguem homem-mulher, e gênero é uma construção social dos
papéis assumidos por estes sexos dentro de um determinado contexto histórico, social e
cultural.
Considerações finais
Este artigo teve como proposta analisar o papel da mulher na sociedade atual
trazendo a tona uma discussão sobre sexo/gênero relacionando estes aspectos à esfera pública
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e privada. Assim as conclusões sobre o assunto evidencia as diferenças entre homens e
mulheres de acordo com a construção social que se processou através dos tempos.
social, sendo considerado como o primeiro sexo, como mencionado por Simone de Beauvoir
(1967).
qual, mesmo tendo ocupado posições diferenciadas na sociedade, estando inserida ao mercado
de trabalho, continua presa à esfera doméstica, sendo responsável pelo bem estar dos filhos e
do marido.
maternidade para a mulher e para a sociedade na qual ela está inserida. A mulher segundo as
Observou-se ainda que ser mulher não é somente uma questão biológica, mas a
construção social dos papéis desempenhados por ela na sociedade, dão a exata medida da
filhos reforça o padrão que vem sendo seguido socialmente, uma vez que as meninas são
educadas para ter a mãe como exemplo e os meninos para “romper” com ela para seguir uma
É evidente que este romper não significa se separar da mãe, mas o filho é educado
para ocupar seu lugar na esfera pública enquanto a filha permanece ligada à esfera doméstica.
Enfim, este artigo não tem a pretensão de dar uma explicação aprofundada sobre o
assunto, mas pretende que a partir das questões levantadas, outras pesquisas possam surgir
com o objetivo de se estudar qual o papel desempenhado pela mulher na sociedade atual.
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Referência Bibliográfica
BEAUVOIR, Simone. O Segundo Sexo: A Experiência Vivida. 2 ed. São Paulo: Difusão
Européia do livro, 1967.
BEUAVOIR, Simone. O Segundo Sexo: Fatos e Mitos. 4 ed. São Paulo: Difusão Européia
do livro, 1970.
ORTNER, Sherry B. Está a mulher para o homem assim como a natureza para a cultura? In:
ROSALDO, Michelle e LAMPHERE, Loise. (orgs) A mulher, a cultura e a sociedade. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
RUBIN, Gayle. The Traffic in Women: notes on the political economy of sex. In: REITER,
R. (org) Toward an Anthropology of woman. New York: Monthy Review Press, 1975.
SAFFIOTI, Heleieth. Primórdios do conceito de gênero. Cadernos Pagu (12). Campinas:
Núcleo de Estudos de Gênero. Pagu/Unicamp, 2001.
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