Artigo Literatura No Ensino Da Lingua Espanhola
Artigo Literatura No Ensino Da Lingua Espanhola
Artigo Literatura No Ensino Da Lingua Espanhola
PIRACICABA, SP
(2016)
A LITERATURA NO PROCESSO DE ENSINO-
APRENDIZAGEM DE LÍNGUA ESPANHOLA NOS
CENTROS DE ESTUDOS DE LÍNGUAS
PIRACICABA, SP
2016
Ficha Catalográfica elaborada pelo Sistema de Bibliotecas da UNIMEP
Bibliotecária: Marjory Harumi Barbosa Hito CRB-8/9128
CDU – 371.13
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________
Profa. Dra. Josiane Maria de Souza (Orientadora)
Universidade Metodista de Piracicaba - UNIMEP
________________________________________
Prof. Dr. Alexandre Mauro Bragion
Universidade Metodista de Piracicaba - UNIMEP
_______________________________________
Profa. Dra. Isabel Gretel María Eres Fernández
Universidade de São Paulo - USP
AGRADECIMENTOS
Gabriel Celaya
RESUMO
LE – Língua Espanhola
2015.......................................................................................................................... 97
INTRODUÇÃO 25
REFERÊNCIAS 171
ANEXOS 180
APÊNDICES 187
Antonio Machado
26
espanhol oferecidos nos Centros de Estudos de Línguas (CEL) no Estado de São
Paulo.
Durante os primeiros levantamentos desta pesquisa identificamos, por meio de
Callegari (2008), Santos, (2011) e Godoy (2013), que a origem dos Centros de
Estudos de Línguas está intimamente relacionada ao anseio de reinserir o ensino da
língua espanhola no currículo da Educação Básica no Brasil. Assim, percebemos
que não bastaria estudar apenas o surgimento desses centros de estudos; faltariam
elementos para compreender realmente sua origem. Dessa forma, um dos objetivos
específicos do nosso trabalho é percorrer os principais momentos da história da
educação, para verificar idas e vindas do ensino da língua espanhola no currículo
das escolas públicas do país.
Além disso, os objetivos específicos incluem identificar a utilização dos textos
literários no processo de ensino-aprendizagem de língua espanhola (LE) nos CEL;
analisar as formas de uso dos referidos textos em sala de aula; reconhecer os
efeitos da inserção de textos literários no processo de ensino-aprendizagem de LE e
investigar a receptividade dos alunos quanto ao aproveitamento, ou não, de textos
literários em sala de aula de LE.
Estudos de Albaladejo (2007) e Cárcamo (2013) sobre a importância da
literatura no ensino de língua espanhola e na formação docente, aliados aos nossos
dezenove anos de experiência no magistério de cursos de Espanhol como Língua
Estrangeira (E/LE) em escolas particulares e públicas de Educação Básica, têm
constatado que o ensino de língua espanhola, tanto nas escolas como nas
universidades, segue ainda uma orientação predominantemente gramatical. Isso
ocorre apesar do advento de novas metodologias de ensino de línguas estrangeiras,
tais como o método comunicativo.
Considerando o que foi exposto, partimos do pressuposto que muito embora os
textos literários apresentem características e potencialidades linguísticas
importantes no ensino de LE, eles ainda são pouco ou nada explorados nessas
práticas de ensino. Essa hipótese nos motiva a investigar se isso ocorre de fato na
prática e, em caso afirmativo, quais as possíveis causas dessa ausência. Quais são
os obstáculos e as dificuldades que impedem a utilização de um recurso tão rico e
valioso para o desenvolvimento de práticas educativas em LE? Que medidas podem
ser tomadas para se adicionar nos processos de ensino-aprendizagem de LE os
27
textos literários sem desconsiderar as diferentes possibilidades de exploração
linguística e a aproximação crítica, reflexiva e democrática com a cultura
estrangeira? Esses questionamentos nortearão os passos de nossa investigação.
Cientes dessa realidade e da importância de se investigar processos
educativos que promovam um ensino efetivo, crítico e reflexivo – que além de
desenvolver a competência comunicativa dos alunos contribua na formação cultural
do indivíduo –, reiteramos a relevância de estudos como este, que refletem e
analisam a função dos textos literários no ensino de LE.
A seguir, descrevemos os quatro capítulos que compõem a presente
dissertação.
No Capítulo I, abordamos três pontos centrais de nossa pesquisa, o percurso
histórico sobre a inserção do ensino da língua espanhola no currículo escolar no
Brasil; análise dos documentos oficiais sobre o ensino de línguas estrangeiras na
Educação Básica e, por último, tratamos do surgimento dos CEL. Para tal,
primeiramente traçamos um percurso paralelo com o ensino de línguas modernas no
sistema educativo do país, a partir dos estudos de Almeida Filho (2009), Leffa
(1999), Martínez Cachero-Laseca (2008), Chagas (1979) e Paraquett (2009a), além
da leitura e análise de documentos, legislações e outros estudos sobre o tema.
Na segunda parte do primeiro capítulo, analisamos, por meio de um
levantamento bibliográfico, as principais orientações dos documentos oficiais
relacionadas aos aspectos pedagógicos do ensino de E/LE na Educação Básica do
país. Assim, examinamos os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino
Fundamental e do Ensino Médio (PCN, BRASIL, 1998; PCNEM, BRASIL, 2000) e as
Orientações Curriculares para o Ensino Médio – Linguagens, Códigos e suas
Tecnologias (OCEM, BRASIL, 2006) que, no decorrer do tempo, se estabeleceram
como referências para diretrizes curriculares de Estados e Municípios da Federação.
Além desses documentos, e considerando a contemporaneidade deste trabalho,
também revisamos brevemente a Base Nacional Comum Curricular (BNCC, BRASIL,
2016).
Na terceira parte do primeiro capítulo, traçamos um breve percurso histórico
dos Centros de Estudos de Línguas do Estado de São Paulo e apresentamos, de
forma sucinta, sua estrutura organizacional e funcionamento.
28
No Capítulo II, continuamos a fundamentação teórica do trabalho,
apresentando os pressupostos teóricos sobre língua(gem), literatura e o ensino de
Espanhol como Língua Estrangeira (E/LE). Destacamos as diferentes concepções
de língua segundo Koch (2006), Travaglia (2005) e Orlandi (1987), focalizando
nosso estudo na perspectiva dialógica do sociointeracionismo a partir de Bakhtin
(2011, 2014). Com relação à literatura, abordamos questões relacionadas à
literariedade a partir dos estudos de Culler (1999), as funções da literatura conforme
os estudos de Candido (2002, 2004) e Cosson (2006); e o texto literário no ensino
de língua espanhola, aportando suas especificidades e benefícios de acordo com
Acquaroni (2007), Albaladejo (2007) e Gonçalves (2011).
No Capítulo III, descrevemos os passos relativos ao trabalho de campo
realizado nos CEL, bem como os aspectos referentes à sua sistematização. Nossa
abordagem metodológica é qualitativa, pautada nos preceitos de Lüdke & André
(1986), e segue como fundamento teórico-metodológico a perspectiva sócio
histórica, com ênfase no processo discursivo-enunciativo de Bakhtin (2011).
Apresentamos também os instrumentos utilizados para a coleta dos dados e os
sujeitos participantes desta pesquisa.
No Capítulo IV apresentamos os dados coletados na pesquisa de campo e, em
paralelo, realizamos a análise sob uma perspectiva enunciativo-discursiva. Para
explorar e interpretar os dados de forma mais detalhada, dividimos o quarto capítulo
em três partes. Na primeira, é apresentada a descrição dos CEL pesquisados,
destacando as principais particularidades de cada centro de estudos. Na segunda
parte, expomos e analisamos os dados dos professores participantes deste estudo.
Para aproximar os dados obtidos à luz da nossa fundamentação teórica, dividimos
esta parte em seis eixos temáticos: 1) Graduação; 2) Experiência docente; 3)
Concepção de língua, metodologia e material didático; 4) A literatura no aspecto
formativo do professor; 5) A literatura no aspecto formativo do aluno; 6) A literatura
no aspecto didático. Na terceira parte do quarto capítulo apresentamos e analisamos
os dados dos alunos deste estudo, e, da mesma forma que no item anterior,
dividimos esta parte em cinco eixos temáticos: 1) Perfil geral dos alunos; 2) Material
didático utilizado em sala de aula; 3) A literatura na sala de aula; 4) A prática da
leitura; 5) Aspectos gerais sobre o processo de aprendizagem da língua espanhola.
29
No desenvolvimento de nossas considerações finais, procuramos sintetizar os
principais aspectos discutidos no decorrer deste estudo. Também, apontamos
algumas possibilidades para o desenvolvimento de práticas de ensino em E/LE por
meio de textos literários, abrindo espaço para novas perspectivas de estudo e outros
desdobramentos relacionados ao tema.
30
CAPÍTULO I - A LÍNGUA ESPANHOLA NA EDUCAÇÃO BÁSICA E OS CENTROS
DE ESTUDOS DE LÍNGUAS.
31
latim, e posteriormente mediante as línguas modernas: francês, inglês, alemão,
italiano e espanhol. No caso desta última, considerando a perspectiva histórica,
Leffa (1999) destaca que ela só começou a ser inserida no currículo escolar no início
do século XX.
Durante o período colonial, especificamente antes e depois da expulsão dos
jesuítas pelo Marquês de Pombal, predominou o ensino humanista clássico da Ratio
Studiurum1, quando o grego e o latim eram as disciplinas dominantes, e as outras
disciplinas, como o vernáculo, a história e a geografia, não tinham um estudo
autônomo, pois eram ensinadas por intermédio das línguas clássicas utilizando-se
exercícios de tradução e comentários sobre autores lidos (FRANCA 1952 apud
CHAGAS, 1979).
Com a vinda de D. João VI e da corte portuguesa para o Brasil, em 1808,
houve inúmeros benefícios ao país, desde a abertura dos portos até a fundação da
Imprensa Régia, da Biblioteca Real e do Museu Nacional, entre tantos outros
investimentos e intervenções na infraestrutura física, econômica e cultural do Rio de
Janeiro, que nessa época passou a ser a capital do Brasil e de Portugal. Na área da
educação, D. João VI também trouxe muitos benefícios, pois implantou grandes
instituições, como a Academia de Ensino da Marinha, a Academia Real Militar, a
Escola Real de Artes, Ciências e Ofícios, além de instituir os primeiros cursos
superiores de direito e medicina (LEFFA, 1999).
No que diz respeito ao ensino de línguas estrangeiras e à constituição do
ensino secundário, houve ainda no período imperial outro fator relevante: a fundação
do Colégio Pedro II2, o qual teve um papel importante na implantação e
centralização do sistema secundário de ensino no Brasil. Fundado em 2 de
dezembro de 1837, sob a determinação do ministro Bernardo Pereira Vasconcelos,
1
Método de ensino elaborado pelos jesuítas, no final do século XVI. Caracteriza-se por um conjunto
de regras com indicações de responsabilidade, desempenho, subordinação, relacionamento entre os
membros da Companhia até orientações para o professor na organização de sua aula. Além das
regras e das normas, o Ratio Studiorum apresentava dois níveis de ensino: as classes inferiores que
compreendia o estudo de retórica, humanidades, gramática (latim e grego) inferior, média e superior;
e as classes superiores que faziam parte os cursos de Filosofia e Teologia. (PAIVA, 1981).
2
De acordo com estudo de Guimarães (2014), o nome desse estabelecimento de Ensino Secundário
passou por diferentes denominações no curso de sua história, por exemplo: “Colégio de Dom Pedro
II”, “Colégio do Pedro II” e “Colégio Pedro II”.
32
objetivava a melhoria do ensino secundário, que até então era apenas oferecido por
meio de aulas régias3.
3
Para Silva (1969 apud ZOTTI, 2005), o termo “aula” nesse período era entendido como sinônimo de
escola. Nesse período, devido à expulsão dos jesuítas pelo Marques de Pombal, o ensino no Brasil
passou por uma fragmentação, época em que se instituíram as aulas régias, como explica Zotti (2005
p. 32): “As aulas régias foram instaladas somente 13 anos depois, em 1772, com a criação do
subsídio literário, e estavam destinadas a suprir a falta dos colégios jesuítas. Então, o ensino
secundário, que era organizado no curso de humanidades no ensino jesuítico, com unidade de
professor, de método e de matéria, passa a ser fragmentado em aulas avulsas, cada uma com um
professor”.
33
Colégio Pedro II e passaram a ser matérias obrigatórias, enquanto o italiano era
disciplina optativa.
Em se tratando da língua espanhola, embora alguns autores como Paraquett
(2009a) e Martínez-Cachero Laseca (2008) apontem o ano de 1919 como início da
inserção do E/LE no país, o estudo minucioso sobre a institucionalização do ensino
de espanhol no Brasil realizado por Guimarães (2014, p.29) destaca duas datas
relevantes. A primeira delas refere-se ao ano de 1870, considerado marco inicial do
ensino de E/LE no currículo do Colégio Pedro II, porém não como ensino de língua
em si, mas sobre sua literatura com a criação da cadeira, “Retórica e poética,
história da literatura em geral, e em particular a portuguesa e nacional”, o que hoje
denominaríamos de estudos das literaturas espanhola e hispano-americana, como
explica o pesquisador. E a segunda, a 1905, ano em que o ensino de E/LE foi
realmente institucionalizado no país.
34
favoreceu o surgimento das primeiras escolas bilíngues no sul do país, as quais
inicialmente contaram com o apoio do governo brasileiro.
Outro movimento relevante vinculado ao ensino de línguas estrangeiras no
Brasil, apontado por Martínez-Cachero Laseca (2008), diz respeito às instalações de
várias instituições educativas estadunidenses de caráter religioso, sobretudo
protestantes e evangélicos, no início do século XX, em vários estados do país, entre
eles, Rio de Janeiro, Pernambuco, Bahia, São Paulo e Minas Gerais. Vieira (2011)
cita que, no campo educacional, a atividade norte-americana favoreceu o processo
de organização escolar e a implantação dos modelos didáticos, no período da
Primeira República.
35
exigências da modernização nacional. Entre as principais mudanças apontadas pelo
autor, citamos as seguintes:
36
CHAGAS, 1979 p. 115). Diante disso, podemos observar a preocupação de
Capanema com o cunho patriótico na formação da personalidade do adolescente.
Um aspecto relevante da reforma educacional de Capanema apontado por
Tobias (1986, p. 285) foi a iniciativa de colocar pela primeira vez na Lei Federal nº
4.244, de 9 de abril de 1942, a “referência, oficial e solene, à socialização da
educação como qualidade necessária à educação brasileira: no caso, ao ensino
médio”. Desse modo, essa reforma reestruturou o ensino secundário, que passou a
ser dividido em dois ciclos: primeiro ciclo ou ginásio, com duração de quatro anos
(referente aos quatro últimos anos do atual Ensino Fundamental); segundo ciclo ou
colegial, equivalente ao atual Ensino Médio, dividido em duas modalidades: Clássico
e Científico, com duração de três anos cada uma delas, e qualquer um dos dois
ciclos dava igualmente acesso ao curso superior.
A reforma de Capanema apresentou o que havia de mais avançado na época
para o ensino de línguas estrangeiras no Brasil. Podemos considerá-la como a
reforma que mais valorizou o ensino delas, tanto as clássicas como as modernas,
além de ser a primeira legislação que inseriu a língua espanhola como disciplina
obrigatória. Cabe destacar a justificativa e a defesa que o ministro Gustavo
Capanema apresentou sobre a escolha das três línguas modernas, expressas no
documento “Da exposição de Motivos”, o qual acompanhou o projeto original da
reforma de 1942:
38
Germânicas. Em 1940, também passaram a funcionar as cadeiras de Língua e
Literatura Espanhola, Língua e Literatura Inglesa e Língua e Literatura Alemã. Em
relação ao ensino das línguas estrangeiras, Fiorin (2006, p. 20) também revela que
os estudos eram de orientação nitidamente literária e “a língua era ministrada
indiretamente por meio da análise dos textos literários”.
Em 1951, a Universidade Federal Fluminense (UFF) também criou o curso de
Letras Neolatinas, incluindo, portanto, a formação de professores de espanhol.
Entretanto, a especificidade da habilitação português/espanhol, na UFF, só ocorreu
em 1961, e na UFRJ, em 1963, como relata Paraquett (2009a).
Segundo Barros (2001), desde 1958 até 1999, foram apresentados à Câmara
dos Deputados quinze projetos de lei que tratavam sobre o ensino da língua
espanhola no Brasil e três ao Senado Federal, porém nenhum deles obteve
aprovação. Dentre eles, destacamos o Projeto de Lei nº 4.606/58 do Poder
Executivo, que propunha a alteração do Decreto-Lei nº 4.244/42, com o intuito de
obrigar o ensino do espanhol nos dois ciclos do ensino secundário e nas mesmas
bases do ensino de inglês. Convém destacar que, em 1958, Juscelino Kubitschek
era o presidente do país e tinha forte preocupação com a política de integração
continental, a qual, na época, se traduzia na ideia do pan-americanismo.
A autora assevera que, entre os anos de 1983 e 1995, mais seis projetos de lei
foram apresentados, e todos defendiam também a inclusão da língua espanhola nos
currículos dos cursos do 2º grau, ou Ensino Médio, alegando a “importância da
integração econômica, social, política e cultural dos povos da América Latina”
(BARROS, 2001, p.7). Ademais, destaca uma das seis justificativas apresentadas:
39
importantes e insubstituíveis publicações, tanto originárias de países onde
se fala o espanhol, como de muitos outros países 4 (BARROS, 2001, p. 7).
4
Projeto de Lei nº 200/1991 de autoria do senador Márcio Lacerda, arquivado em 11/4/97.
40
artigo 35, do 1º ao 3º §, até cinco matérias obrigatórias deviam ser determinadas
pelo Conselho Federal de Educação, as matérias complementares, pelos Conselhos
de Educação dos Estados e as matérias optativas, pela própria instituição escolar, a
partir de uma lista prévia estabelecida pelo Conselho Federal de Educação.
Dessa forma, como elucida Martínez-Cachero Laseca (2008), com a
determinação do Conselho Federal de Educação das disciplinas obrigatórias –
Português, Matemática, Geografia, História e Ciências –, as línguas estrangeiras
passaram de matérias obrigatórias para matérias optativas ou complementares,
cabendo a cada unidade de ensino escolher que idioma, ou idiomas, incorporaria a
seu plano de estudos.
Para Leffa (1999, p. 13), a LDB de 1961 comparada à Reforma Capanema, “é
o começo do fim dos anos dourados das línguas estrangeiras”, pois ela reduziu o
ensino de línguas a menos de 2/3 do que tinha sido determinado pela reforma de
1942. Sem justificativas aparentes que fundamentassem essas alterações, as
reformas desse período relativas ao ensino de línguas no 2º grau se consolidaram
da seguinte forma: o latim foi retirado do currículo na maioria das escolas, o francês
teve sua carga semanal diminuída, e em alguns casos foi também retirado do
currículo, e o inglês, de forma geral, permaneceu sem grandes alterações (LEFFA,
1999).
41
estrangeira moderna deveria constar no currículo escolar brasileiro. Portanto, o que
justificaria, então, a presença quase exclusiva do Inglês por muitos anos e em
muitas instituições públicas e privadas? Para a pesquisadora, a resposta está em
questões político-linguísticas:
Por outro lado, em 1979, conforme estudo de Lisboa (2009, p.207), começam a
surgir vários acontecimentos relevantes para a revitalização do ensino da língua
espanhola, principalmente no Estado do Rio de Janeiro, considerado pela autora
como o “precursor das iniciativas em relação ao ensino dessa língua”. Nesse ano, na
cidade de Niterói, são fundados alguns dos primeiros Centros de Estudos de
Línguas Estrangeiras Modernas do país, os quais depois se espalharam em outros
estados como São Paulo5 e Paraná6, e isso, de certa forma, no entendimento de
Paraquett (2009a, p. 7), substitui “o compromisso que deveriam ter as escolas
regulares da rede pública estadual desses estados”.
Outro fator relevante apontado por Paraquett (2009a) e Lisboa (2009) foi o
surgimento das primeiras associações de professores de língua espanhola no país.
A primeira foi a Associação de Professores de Espanhol do Estado do Rio de
Janeiro (APEERJ) em 1981, no Rio de Janeiro, em seguida, a Associação de
Professores de Espanhol do Estado de São Paulo (APEESP), em 1983. Depois
surgiram outras associações em todo o território nacional. Paraquett (2009a, p. 8),
compreende que essas associações tiveram um papel importante “na organização
de uma comunidade que passou a encontrar-se a cada dois anos, em congressos
que serviram para definir questões de ordem política e científica de grande
importância”, bem como muito contribuíram para a implantação do espanhol no
currículo escolar.
Em 1984, é implantado o Espanhol no 2º grau no Estado do Rio de Janeiro. Em
1985, é realizado o primeiro concurso público da rede estadual, com objetivo de
5
No Estado de São Paulo, foram fundados em 1987 e chamados de CEL (PARAQUETT, 2009a).
6
No Estado do Paraná, são conhecidos por Centros de Estudos de Línguas Modernas (CELEM) e
foram fundados em 1986 (PARAQUETT, 2009a).
42
selecionar professores dessa língua. Já em 1988, é aprovado um artigo na
constituição estadual do referido estado, que estabeleceu a obrigatoriedade de
oferta da língua espanhola nas escolas públicas estaduais do 2º grau, com a
possibilidade de livre escolha da disciplina por parte dos alunos, que poderiam optar
entre Espanhol, Francês ou Inglês. Apesar do avanço com relação à inserção da
língua espanhola nesse estado, Paraquett (2009a, p. 7-8) ressalta que:
7
Dados retirados do site oficial brasileiro do Mercosul. Disponível em:
<http://www.mercosul.gov.br/index.php/saiba-mais-sobre-o-mercosul>. Acesso em: 18 jul. 2015.
44
vulneráveis, em um processo de desenvolvimento com justiça social e
respeito à diversidade cultural dos povos da região (ANDRÉS8, 2010, p. 26).
8
Anexo IV da Acta de la XXXª RME Mercosur. Disponível em: <www.sic.inep.gov.br>, conforme cita o
autor.
45
como dos países hispânicos, atualmente está presente em 90 cidades de 43 países
nos cinco continentes, segundo dados obtidos no site da instituição9. Além disso,
conta com duas sedes: a central de Madri e a de Alcalá de Henares, cidade de
nascimento do escritor Miguel de Cervantes.
No Brasil, o primeiro Instituto Cervantes foi implantado na cidade de São Paulo,
em 1998, e o segundo no Rio de Janeiro, em 2001. Passados alguns anos, com a
determinação da obrigatoriedade do ensino da língua espanhola, por meio da
promulgação da Lei nº 11.161 em 5 de agosto de 2005, mais conhecida como a “Lei
do Espanhol”, foram instalados mais institutos no Brasil. Assim, entre 2007 e 2009
foram implantados nas principais capitais do país, como: Brasília, Curitiba, Porto
Alegre, Salvador, Recife e Belo Horizonte. Atualmente, ao todo são oito centros e,
conforme dados do site da instituição, o Brasil é o país com o maior número de
centros no mundo.
Convêm contextualizar que a década de 1990 e o princípio do século XXI foi
um período muito significativo no aspecto econômico tanto para o Brasil quanto para
a Espanha. A economista Sabrina Pivello (2011, p. 13) relata que a década de 1990
foi marcada pela entrada de empresas estrangeiras: “a partir de 1995, associado ao
processo de privatizações, o Brasil se torna um dos principais destinos dos
investimentos diretos externos entre os países em desenvolvimento e da América
Latina”, e a Espanha foi um dos principais investidores, como destaca o economista
Cobuccio (2011, p. 55):
9
Disponível em: <http://www.cervantes.es/sobre_instituto_cervantes/informacion.htm>. Acesso em:
17 jul. 2015.
46
privado e as estatais, o que consolidou os grandes grupos espanhóis, os quais,
associados ao capital financeiro internacional, surpreenderam o mundo com sua
capacidade de internacionalização. Tais fatores destaca a autora, favoreceu a
inserção da Espanha no sistema internacional financeiro e, internamente, despertou
o sentimento de “modernidade”, bem como fortaleceu os valores democráticos no
país.
47
[…] en la década de los noventa es cuando la gran producción didáctica
española y brasileña afecta de manera significativa el mercado editorial y la
disponibilidad de materiales. El boom del español en Brasil se manifiesta
con la implantación de un gran número de centros de enseñanza que
ofrecen cursos de español, a la vez que las escuelas regulares de
enseñanza básica también empiezan a incluir el castellano entre las
asignaturas —opcionales u obligatorias. Nos vemos, ahora, frente a una
situación muy distinta de la que hemos vivido en la década de los setenta,
por ejemplo.10
Já no Ensino Médio, o artigo 36º, inciso III, estabelece que “será incluída uma
língua estrangeira moderna, como disciplina obrigatória, escolhida pela comunidade
escolar, e uma segunda, optativa, dentro das possibilidades da instituição” (BRASIL,
1996).
Martínez-Cachero Laseca (2008) afirma que tais medidas pressupõem uma
melhora importante com relação às LDB anteriores, ao incluírem a língua estrangeira
como matéria obrigatória tanto no Ensino Fundamental como no Médio. Entretanto,
o autor aponta que, no aspecto prático, a situação não variou muito no Ensino
10
“[...] na década de noventa é quando uma boa produção didática espanhola e brasileira afeta de
forma significativa o mercado editorial e a disponibilidade de materiais. O boom do espanhol no Brasil
se manifesta com a implantação de um grande número de centros de ensino que oferecem cursos de
espanhol, ao mesmo tempo que nas escolas regulares de ensino básico também começam a incluir o
castelhano entre as matérias —opcionais ou obrigatórias. Estamos, agora, diante de uma situação
bem diferente daquela que vivenciamos na década de setenta, por exemplo.” (Tradução nossa).
48
Fundamental no tocante ao que já vinha sendo feito, ou seja, o predomínio quase
absoluto do ensino da língua inglesa. Embora no Ensino Médio tenha sido
introduzida a possibilidade de uma segunda língua estrangeira como optativa, o que
sem dúvida, abriu um importante espaço para o desenvolvimento do ensino da
língua espanhola.
Paraquett (2009a) compreende que a LDB de 1996, ao determinar a escolha
de mais de uma língua estrangeira pela comunidade escolar, motivou o oferecimento
da língua espanhola, inicialmente nas escolas privadas e depois nas escolas
estaduais e municipais, como ocorreu na cidade do Rio de Janeiro. Nesta, em 1988,
foi realizado o primeiro concurso para docentes da rede pública municipal para o
nível de Ensino Fundamental, a qual passou a ser a primeira rede municipal a incluir
a língua espanhola em seu currículo como língua obrigatória, ainda que opcional
para o aluno.
Outro aspecto relevante apontado pela pesquisadora, o qual ocorreu antes da
implantação da Lei nº 11.161/2005, também conhecida como a “Lei do Espanhol”, foi
a fundação da Associação Brasileira de Hispanistas (ABH), em 2000, durante a
realização do primeiro congresso dela na Universidade Federal Fluminense, sob a
coordenação do professor André Trouche. Essa associação tornou-se mais
representativa que as associações de professores fundadas nos anos de 1980 e
teve um papel relevante no processo de implantação e cumprimento da “Lei do
Espanhol” em alguns estados do país.
Sobre a implantação dessa lei, sancionada pelo então presidente Luís Inácio
Lula da Silva em 5 de agosto de 2005, podemos observar que teve um percurso
bastante longo e truncado. Como já citamos anteriormente, desde 1958 no Brasil já
foram apresentados, na Câmara dos Deputados, quinze projetos de lei que tratam
sobre a inserção da língua espanhola no currículo do ensino básico do país, e três
no Senado, entretanto nenhum deles obteve sucesso em sua aprovação.
Para Martínez-Cachero Laseca (2008) e Rodrigues (2010a, p.188), o Projeto
de Lei nº 4.004/93 apresentado pelo Poder Executivo à Câmara Federal, cujo
objetivo era tornar “obrigatório o ensino da língua espanhola nos currículos plenos
dos estabelecimentos de ensino de 1º e 2º graus”, como sendo o projeto precursor
do Projeto de Lei nº 3.987/2000 de autoria do deputado Átila Lira, culminou na
prescrição da “Lei do Espanhol”.
49
O minucioso estudo de Rodrigues (2010a) detalha que o Projeto de Lei nº
4.004/93 passou por seis longos anos de trâmites na Comissão de Educação e
Cultura. Entretanto, em 28 de outubro de 1999, quando o documento deu entrada
novamente nessa Comissão, recebeu como relator o deputado Átila Lira o qual se
deu conta de que, com as novas mudanças estabelecidas pela LDB de 1996, o
referido projeto de lei apresentava incompatibilidade com a nova legislação. Por
isso, o deputado apresentou um novo projeto que incluísse o ensino da língua
espanhola nas escolas brasileiras, o qual foi protocolado com o n° 3.987/2000.
Após cinco anos de tramitação por diferentes comissões e de receber
algumas emendas na Câmara dos Deputados, principalmente para deixar claro o
caráter optativo para o aluno, esse novo projeto acabou culminando na aprovação
da mencionada Lei nº 11.161/2005, que determina finalmente a obrigatoriedade da
oferta do ensino da língua espanhola no currículo do Ensino Médio em todas as
escolas do país.
Após ter analisado o percurso histórico sobre a inserção do ensino de E/LE na
Educação Básica do país. Podemos afirmar que a implantação dessa lei foi um
grande marco para a valorização do ensino da língua espanhola, no currículo
escolar brasileiro. Entretanto, estamos de acordo com Gonzalez (2009 apud
RODRIGUES, 2010b, p. 22) quando ela afirma que não é suficiente a aprovação de
uma lei para que de fato seja implantada a língua espanhola nas escolas do país, é
preciso acima de tudo “[...] um efetivo desejo político, nascido de interesses e
necessidades nacionais e não alheias, e que se traduzam em gestos firmes e
legítimos, em boas inversões e em trabalho sério”.11
Nesse sentido, como destaca Rodrigues (2010b), uma das medidas
importantes para o estabelecimento do espanhol nas escolas brasileiras foi a
publicação pelo Ministério da Educação (MEC), em 2006, das Orientações
Curriculares para o Ensino Médio – Conhecimentos de Espanhol (OCEM, BRASIL,
2006). Este documento, além de poder contribuir para a regulamentação da língua
espanhola como disciplina regular do currículo escolar do Ensino Médio, também
tem o papel de servir como guia norteador para os professores que atuam no ensino
de E/LE.
11
Tradução nossa do texto original: “[…] un efectivo deseo político, nacido de intereses y
necesidades nacionales y no ajenas, y que se traduzca en gestos firmes y legítimos, en buenas
inversiones y en trabajo serio.
50
Desse modo, considerando a importância desse documento, apresentamos a
seguir os principais documentos oficiais relacionados ao ensino de LEM de forma
geral e direcionamos nossa análise às questões concernentes ao ensino da língua
espanhola.
53
indivíduo uma formação mais ampla e, ao mesmo tempo, mais sólida
(BRASIL, 2000, p. 26).
54
Espanhola, com o intuito de sinalizar os caminhos que o ensino de E/LE deve trilhar
(BRASIL, 2006).
Esse capítulo, cuidadosamente elaborado pelas consultoras, Isabel Gretel
María Eres Fernández e Neide Therezinha Maia González, contempla vários pontos
relevantes sobre o ensino e a aprendizagem da Língua Espanhola, dos quais
destacamos os que apresentam maior relação com o nosso tema em questão, muito
embora o documento não contemple nenhum ponto específico sobre o uso de textos
literários no ensino de E/LE.
Incialmente, apontamos a preocupação do documento em reforçar as
diferenças que existem entre o ensino de língua estrangeira no âmbito da escola
regular e o das escolas de ensino livre ou institutos de línguas. Mencionamos essa
questão não com o intuito de criticar o que o documento apresenta, mas, sim,
esclarecer que o ensino de línguas estrangeiras nas escolas regulares não pode ter
um fim unicamente no estudo somente da língua. É preciso haver interação dessa
disciplina com as outras do currículo, em busca de encontrar convergências e
interdependências com a realidade do aluno. Dentro dessa perspectiva, em que a
formação do cidadão é um dos aspectos primordiais a ser desenvolvido pela escola,
surge então a seguinte questão: como abordar aspectos sobre a cidadania em aula
de língua estrangeira?
Para poder responder essa questão, as consultoras alertam que de antemão
é preciso conceber a língua para além de seu aspecto comunicacional, isto é,
contemplar toda sua complexidade na relação com o mundo e com o sujeito que
fala, o qual, por sua vez, também o constitui. Portanto, ganha destaque a
importância de refletir sobre “[...] o papel da língua que se estuda e das
comunidades que as falam, na sua complexa relação com o mundo em geral e com
o nosso próprio espaço e a nossa própria língua [...]” (BRASIL, 2006, p. 132). Esses
aspectos da língua, sua relação com o mundo e o cidadão que faz uso dela são
aspectos primordiais para trabalhar o ensino de Língua Estrangeira para a promoção
da cidadania.
Todavia, isso demanda respeito e compreensão com a língua estrangeira, a
qual detém formas insubstituíveis das identidades individuais e coletivas de sua
comunidade. Partindo desses pressupostos, as OCEM (BRASIL, 2006, p. 133)
defendem a importância de “[...] levar o estudante a ver-se e constituir-se como
55
sujeito a partir do contato e da exposição ao outro, à diferença, ao reconhecimento
da diversidade”, pois é meio do outro que nos constituímos como sujeitos falantes de
outra língua.
Outro ponto abordado pelas OCEM sobre o ensino da Língua Espanhola está
relacionado a questões que envolvem a heterogeneidade da língua. Desse modo,
embora seja comumente discutido qual espanhol ensinar diante de diversas
variantes existentes na Língua Espanhola, o documento apresenta uma reflexão
profunda e abrangente sobre como uma língua tão heterogênea deva ser ensinada
sem que sofra reduções simplistas e excludentes de sua rica pluralidade linguística.
Nesse aspecto, além de refutar a ideia de um ensino dicotómico da língua, por
exemplo, o espanhol peninsular versus variedades hispano-americanas, o
documento aponta para a importância de pensar o ensino da Língua Espanhola sob
uma perspectiva pluricêntrica12 e reforça esse aspecto destacando o pensamento de
Bugel (2000 apud BRASIL, 2006, p. 135):
12
Segundo estudo de Bugel (2000), são consideradas línguas pluricêntricas aquelas formadas por
dialetos ou variedades, que se diferenciam entre si em aspectos relacionados à pronúncia, léxico e
gramática, mas que linguisticamente têm igualdade de condições de uso.
13
“Evidentemente, essa proposta de pensar o espanhol e seu ensino a partir de um modelo
pluricêntrico obriga a repensar também a questão dos materiais didáticos e a dinâmica atual da
disciplina, que hoje parece deslocar-se somente em uma direção – desde o centro peninsular para a
periferia mundial. Provavelmente, optar por um exercício mais realista, do ponto de vista sócio
linguista, seja menos difícil do que parece e sem dúvida será muito mais enriquecedor porque nos
permitirá pôr em prática, cabalmente, todas as possibilidades de nossa língua.” (Tradução nossa).
14
Na concepção de Kachru e Nelson (apud BUGEL, 2000), uma comunidade discursiva é um
conjunto de falantes que compartilham uma língua e suas regras de uso.
56
heterogeneidade é uma marca presente em todos os povos, culturas, línguas e
linguagens (BRASIL, 2006).
Nesse contexto, “o papel do professor passa a ser quase o de articulador de
muitas vozes” (BRASIL, 2006, p. 136), mas não pode se reduzir a passar apenas
listas de vocabulário e suas respectivas equivalências. Para Ventura (2005 apud
BRASIL, 2006), é muito importante que os alunos tenham contato com as
variedades linguísticas sempre de forma contextualizada e preferentemente por
meio de um falante real que mostre sua variedade em funcionamento, e não de
forma simplificada e estática mediante listas de palavras e curiosidades lexicais,
como explica a autora: “El profesor no puede sólo hablar sobre las variedades y ser
la única voz que las representa, es importante que transmita la palabra a otros
hablantes que mostrarán cómo funciona realmente cada variedad” 15 (VENTURA,
2005 apud BRASIL, 2006, p. 137).
Assim, independentemente da variedade adotada pelo professor para o
ensino da língua, ele precisa sempre buscar meios para poder mostrar aos alunos a
existência de outras variedades dentro da mesma língua, tão ricas e válidas quanto
a que ele usa, além de possibilitar-lhes oportunidades de aproximarem-se delas,
sempre com o intuito de derrubar preconceitos ou estereótipos já criados de
algumas variantes.
Outro aspecto relevante abordado pelo documento em questão, diz respeito à
proximidade e à distância entre a língua materna e o espanhol e quais são os
benefícios, ou não, de ambas para o processo da aprendizagem.
Segundo as OCEM (BRASIL, 2006), a língua materna, no decorrer do
percurso histórico das metodologias de ensino de línguas estrangeiras, teve
momentos de muita aproximação e também de exclusão total do ambiente de
ensino. Em se tratando do espanhol, por apresentar uma proximidade muito estreita
com o português desde sua origem, determina maior atenção sobre que lugar a
língua materna deve ocupar no processo de ensino e aquisição da língua espanhola.
Devido a essa proximidade, ao longo do tempo surgiram muitos estereótipos
e visões simplistas em relação à falsa ideia de que aprender espanhol seria algo
simples e fácil, que bastaria memorizar uma lista de “falsos amigos” e pronto, isso já
15
“O professor não pode falar somente sobre as variedades e ser a única voz que as representa, é
importante que transmita a palavra a outros falantes que mostrarão como funciona realmente cada
variedade.” (Tradução nossa).
57
seria o suficiente para dominar a língua, explica Celada (2002 apud BRASIL, 2006,
p. 139).
Entretanto, o documento aponta que, graças a diferentes estudos contrastivos
entre o espanhol e o português em diferentes níveis linguísticos – fonético-
fonológico, morfológico, sintático, pragmático – e também no aspecto discursivo, foi
possível observar “complexos feixes de problemas interdependentes que podem
chegar a ter efeitos os mais variados sobre o processo de aquisição” (BRASIL, 2006,
p. 139). Por isso, é preciso identificar que lugar deve ocupar a língua materna no
processo de ensino e aquisição da língua espanhola.
Nesse contexto, o documento destaca a importância da utilização da língua
meta em sala de aula tanto como meio quanto como fim do ensino, sem
desconsiderar o peso da língua materna no decorrer do processo de ensino-
aprendizagem da língua espanhola. Desse modo, sempre que for necessário, o
professor poderá recorrer ao uso da língua materna, quando julgar que essa medida
auxiliará o aluno a entender a língua estrangeira.
Outro ponto abordado pelas OCEM é a utilização da gramática no ensino de
língua estrangeira. Para Jovanovic (1986 apud BRASIL, 2006), ela sempre teve uma
posição de destaque, principalmente por meio de aplicação de exercícios estruturais,
como se mediante sua prática repetitiva e mecânica o aprendiz conseguisse
reproduzir sempre respostas corretas.
Embora essa visão sobre o ensino da gramatica de forma estrutural e estática
já tenha sido superada por outras metodologias, ela ainda está muito presente no
cotidiano escolar do ensino de língua estrangeira. Porém, o documento deixa claro
que essa postura “não pode ser mantida quando o enfoque adotado sinaliza
direções e propósitos muito mais abrangentes” (BRASIL, 2006, p. 144), por exemplo,
contribuir para o desenvolvimento da cidadania do aluno. Assim, “o foco da
gramática deve voltar-se para o papel que ela desempenha nas relações
interpessoais e discursivas” (p. 144), proporcionando ao aluno uma visão mais
reflexiva e menos prescritiva com relação ao uso da língua.
Assim, o documento deixa claro que o papel do professor deve ser o de agente
ativo em sintonia com o aluno no processo de ensino-aprendizagem do E/LE
considerando em primeiro lugar a língua como meio de integração, formação e
desenvolvimento da cidadania.
No que se refere aos objetivos e temas que podem ser desenvolvidos nas
aulas de língua espanhola, o documento, a título meramente sugestivo, elenca
alguns grandes temas que viabilizam o desenvolvimento de projetos transversais tão
preconizados pelos PCN, entre eles, política, economia, educação, cidadania,
esportes, lazer, informação, língua e linguagens. Isso desde que, para o
desenvolvimento desses temas, sempre seja considerada a abordagem da língua
estrangeira subordinada à análise de temas relevantes na vida dos alunos, na
sociedade que estão inseridos, na formação de cidadãos e na sua inclusão social.
Nesse sentido, para obtenção desses objetivos, as OCEM dão ênfase à ideia
de que:
[...] é preciso adotar uma visão ampliada dos conteúdos a serem incluídos
nos programas de curso para além das tradicionais habilidades (ouvir, falar,
ler, entender) e das consequências lexicais e componentes gramaticais
próprios da norma culta. […] Todos os elementos e competências devem
assumir o papel de permitir o conhecimento sobre o outro e a reflexão sobre
o modo como interagir ativamente num mundo plurilíngue e multicultural,
heterogêneo (BRASIL, 2006, p. 150).
16
Disponível em: <http://movimentopelabase.org.br/a-base/>. Acesso em: 3 jul. 2016.
17
Idem.
18
Idem.
62
apresenta os direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento que devem
nortear a elaboração dos currículos nas diferentes etapas de escolarização do país.
64
desenvolvimento a partir de práticas sociais que apresentam possíveis horizontes
para o uso da linguagem por meio de gêneros do discurso.
65
desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais
compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante”. Esse e
outros aspectos sobre a importância dos textos literários nas práticas de ensino e
aprendizagem de língua estrangeira, especialmente da língua espanhola,
apresentamos no próximo capítulo.
Em suma, podemos observar que os documentos tratados nesta seção buscam
orientar, contribuir e levantar questões sobre o ensino de Língua Estrangeira nas
escolas públicas brasileiras. Após a leitura deles verificamos, principalmente nos
dois últimos, que as orientações estão pautadas em abordagens pedagógicas
voltadas para as práticas sociais. Essa perspectiva de ensino visa à formação de
cidadãos autônomos, críticos e reflexivos, muito além do simples ensino da língua
como instrumento de comunicação.
Cabe também salientar que em todos os documentos o papel do professor é o
de protagonista, para definir as linhas metodológicas, as estratégias mais
adequadas para a obtenção dos resultados previstos, a escolha do material didático
adequado, etc., sempre levando em consideração todo o processo de ensino-
aprendizagem preestabelecido. Contudo, para que de fato todos esses estudos e
reflexões ganhem sentido e produza efeitos, é preciso que esses documentos sejam
cada vez mais lidos, analisados e discutidos no âmbito acadêmico, principalmente
no meio escolar.
Nesta terceira e última parte do primeiro capítulo, nosso foco de estudo são os
Centros de Estudos de Línguas criados pelas Secretarias de Educação em
diferentes estados do Brasil no final da década de 1980, com a finalidade de
oferecer o ensino de Línguas Estrangeiras Modernas para alunos das escolas
públicas.
Entretanto, foi em função do aquecimento econômico entre os países do Cone
Sul, no início da década de 1990, e da criação do MERCOSUL que o ensino da
Língua Espanhola ganhou maior ênfase nesses Centros de Estudos.
Inicialmente, a criação dos CEL recebeu críticas por “mascarar” a inserção de
uma segunda Língua Estrangeira Moderna dentro da grade curricular. Hoje essas
66
instituições têm recebido elogios em função dos resultados satisfatórios no ensino
de Línguas Estrangeiras Modernas na escola pública, além do aumento significativo
da implantação de novos CEL em todo o Estado de São Paulo.
A seguir, apresentaremos um breve histórico sobre o surgimento dos referidos
Centros e aspectos relacionados a suas propostas de ensino.
67
criação de 22 CELEM, em 15 de agosto de 1986, por meio da Resolução nº
3.546/86. Entretanto, segundo a autora, esses centros de estudos de línguas
somente passaram a funcionar efetivamente em 1988, depois de dois anos de forte
pressão por parte da (APEEPR), que teve um papel decisivo para a implantação
efetiva dos CELEM no referido estado.
No estado de São Paulo, a criação dos Centros de Línguas ocorreu em
convergência com os anseios políticos e econômicos de integração com os países
da América Latina, na segunda metade da década de 1980, mais precisamente no
ano de 1987.
Segundo estudo de Gasparelo (2008), a Secretaria de Estado da Educação,
com o intuito de cumprir uma decisão política do Governo do Estado de São Paulo
em efetivar a integração latino-americana, formou uma comissão para discutir a
implantação das disciplinas de Língua Espanhola e de História da América Latina no
currículo das escolas estaduais.
Para viabilizar tal determinação, em 10 de agosto de 1987, no governo de
Orestes Quércia, foram criados os Centros de Estudo de Línguas por meio do
Decreto nº 27.270. O objetivo disso foi enriquecer o currículo das escolas públicas
estaduais, além de propiciar aos alunos diferentes oportunidades de desenvolver
novas formas de expressão linguística e superar a situação de monolinguismo
presente na escola pública estadual. E por meio dessas instituições o Estado de São
Paulo viabilizou o ensino de Línguas Estrangeiras Modernas com ênfase no
espanhol, como dispõe o artigo 1º do referido decreto:
19
Relação de escolas de Centros de Estudos de Línguas (CEL) com número de alunos e classes por
idiomas. Data base: 31/08/2015. Fornecido pela CGEB_SG_EC_LCT Língua Estrangeira Moderna.
69
Podemos observar que praticamente duplicou o número dessas instituições em
menos de cinco anos. Nesse sentido, houve, portanto, um aumento significativo.
Contudo, se consideramos que o Estado de São Paulo se subdivide em 645 20
municípios e os 220 Centros de Línguas encontram-se distribuídos em 170 deles, é
preciso ainda bastante empenho por parte da Secretaria de Educação para ampliar
muito mais a rede dos Centros de Línguas no Estado de São Paulo. Entendemos
que essa ampliação é necessária para que o Estado possa ofertar aos alunos da
rede pública, as mesmas condições e o acesso ao ensino de Línguas Estrangeiras
Modernas de qualidade.
20
Dados retirados de site. Disponível em:
<http://produtos.seade.gov.br/produtos/atlasecon/intro/cap2_intro.pdf>. Acesso em: 7 set. 2015.
70
O aluno pode inscrever-se em até dois cursos de idiomas entre os oferecidos
pelo Centro de Línguas, a fim de ampliar suas possibilidades de conseguir matrícula
de acordo com a quantidade de vagas que cada curso oferece. Entretanto, somente
poderá efetivar sua matrícula em um único idioma, bem como não é permitido cursar
mais de um curso concomitantemente. Em relação às faltas, o aluno não poderá
atingir o índice de ausências injustificadas igual ou superior a 25% do total de aulas
dadas em qualquer dos estágios do CEL, pois, caso contrário, perderá o direito à
renovação de sua matrícula no curso.
Os cursos de línguas modernas oferecidos pelo CEL, com exceção da língua
inglesa, apresentam uma carga horária total de 400 horas que correspondem a 480
aulas, as quais são divididas em dois níveis (I e II), e cada nível é subdividido em
três estágios semestrais de 80 aulas cada, distribuídas em quatro aulas semanais
com duração de cinquenta minutos. Ao todo, os cursos com essa carga horária têm
a duração de três anos ou seis semestres divididos em dois níveis. Nesse período
deverá ser garantida ao aluno uma aprendizagem progressiva no idioma de sua
opção.
O curso de inglês tem uma duração de 100 horas, correspondendo a 120
aulas, e deverá ser desenvolvido, obrigatoriamente, em um único nível/estágio de
estudos ao longo de um ano letivo. Esse curso destina-se unicamente a alunos do
Ensino Médio e seu objetivo é o desenvolvimento da compreensão e da fluência na
conversação oral desse idioma.
Embora esteja vinculado a uma escola estadual, o Centro de Línguas tem
funcionamento próprio, pois independe de organização curricular, seriação e
funcionamento da escola que o sedia. Entretanto, ele deve atender às normas
regimentais básicas estabelecidas para as escolas estaduais, ao calendário
previamente estabelecido pela escola vinculadora, bem como precisa constar de sua
proposta pedagógica e de seu regimento.
No levantamento que realizamos sobre o percurso histórico da língua
espanhola no currículo de Educação Básica no Brasil, observamos que o processo
de reinserção do espanhol no currículo escolar resultou em dois momentos
importantes. O primeiro foi a criação dos CEL, e o segundo, a aprovação da Lei
Ordinária nº 11.161/2005, a qual, depois de várias décadas de trâmites legislativos,
71
concretizou e regulamentou a inserção do ensino de LE no currículo do Ensino
Médio em todas as escolas do país.
Percebemos também que houve uma evolução de pensamento sobre as
diferentes abordagens de ensino de LE de modo geral nos documentos analisados.
Além disso, destacamos os aspectos mais pertinentes com relação ao ensino de
E/LE, os quais foram fundamentais para a análise dos dados obtidos em nossa
pesquisa. E por último, apresentamos um pouco sobre o histórico dos CEL do
Estado de São Paulo, bem como sua organização e funcionamento, elementos
importantes para reconhecimento e compreensão de nosso objeto de estudo.
72
CAPITULO II - LÍNGUA(GEM), LITERATURA E O ENSINO DE LÍNGUA
ESPANHOLA (E/LE)
73
fala é considerado monológico e individual, e não sofre interferência do outro e nem
das circunstâncias que permeiam a ocasião social de sua produção.
76
constituídos, e a língua é tratada em seus aspectos discursivos e enunciativos, e
não em suas peculiaridades formais.
Segundo essa definição de linguagem, como processo de interação, Marcuschi
(2005) aponta que o estudo da língua não pode mais se deter exclusivamente na
análise das palavras ou estruturas frasais. Essa abordagem precisa ser abandonada
em favor de um ensino-aprendizagem que leve em conta as realizações empíricas
da língua, isto é, os textos (falados e escritos) que se concretizam na forma de
gêneros textuais.
Existe uma diversidade extremamente rica de gêneros do discurso ou gêneros
textuais, uma vez que eles são uma fonte inesgotável das diferentes possibilidades
de manifestação humana por meio da língua. E devido à complexidade e
heterogeneidade dos gêneros discursivos, Bakhtin (2011) os diferenciou em
primários (simples) e discursivos secundários (complexos) para poder aprofundar o
estudo e a análise deles.
Os gêneros complexos incorporam e reelaboram diferentes gêneros primários,
ou simples; estes, por sua vez, foram formados nas condições da comunicação
discursiva imediata. Por exemplo, um romance caracteriza-se como um enunciado
complexo, pois ele é composto por diálogos, réplicas de cartas e outros enunciados
simples. Juntos, os enunciados simples tornam o romance um enunciado complexo.
Já os diálogos de uma conversa cotidiana são um exemplo de enunciado simples.
Eles estão inseridos na comunicação discursiva imediata.
Bakhtin (2011, p. 265) destaca a importância dos estudos a respeito da
natureza e diversidade dos gêneros dos enunciados nas diferentes esferas da
atividade humana, visto que “a língua passa a integrar a vida por meio de
enunciados concretos; é igualmente através de enunciados concretos que a vida
entra na língua.” Desse modo, o filósofo assevera que o enunciado é o núcleo mais
relevante dentro dos estudos da língua. Igualmente, os gêneros discursivos, pois
organizam o ato da enunciação.
79
enfoques que subsidiam a nossa escolha e definição da literariedade presente no
texto.
Mas o que é exatamente um texto literário? O linguista norte-americano
Jonathan Culler (1999), em sua obra Teoria literária: uma introdução, ilustra bem a
complexidade da questão e apresenta a metáfora das ervas daninhas. Para o
linguista, as plantas consideradas daninhas não têm um elemento único que as
diferencie das outras, pois não apresentam nenhuma “daninheza” especial. Sua
forma e sua essência podem ser muito semelhantes às das plantas cultivadas.
Igualmente, o texto literário pode ter formas muito semelhantes às de outros tipos de
textos, por outro lado, pode ser muito diferente de outro do mesmo gênero.
Assim, por meio dessa metáfora, Culler (1999) busca demonstrar a
dificuldade que existe em determinar as características dos textos literários, pois
esse processo depende de diversos fatores, os quais mudam à medida que ocorrem
câmbios na sociedade. Basta lembrar que a palavra literatura, antes do século XVII,
remetia a qualquer texto escrito ou ao conhecimento de livros, e até hoje, no meio
científico, por exemplo, a palavra literatura compreende o conjunto de obras e
estudos realizados sobre um determinado assunto. Como o próprio Culler (1999,
p.28) exemplifica: “a literatura sobre evolução é imensa”, referindo-se ao conjunto de
estudos e obras que abordam o tema. Outra situação diz respeito ao estudo de
muitas obras que hoje são consideradas literárias, mas que antigamente não eram,
pois apenas serviam como bons exemplos de uso da linguagem e da retórica.
Com o intuito de explicar os principais traços de literariedade nos textos
literários, Culler (1999, p. 35) destaca que a literatura pode ser identificada pelo uso
da “linguagem com propriedades ou traços específicos” e como “produto de
convenções e certo tipo de atenção”. Para melhor compreensão, o autor aponta e
explicita cinco pontos relacionados às características da natureza literária, ou
literariedade, propostos pelos teóricos.
O primeiro deles analisa a organização da linguagem: “literatura é linguagem
que coloca em primeiro plano a própria linguagem”, e, para exemplificar, Culler
(1999, p. 35) cita a composição poética e sua preocupação com a organização do
plano sonoro, a repetição rítmica de sons e as combinações verbais incomuns,
demostrando uma organização da linguagem focada nas estruturas linguísticas.
80
O segundo traço destacado pelo linguista é a literatura como integração da
linguagem, em que diversos elementos componentes do texto relacionam-se de
forma complexa, como conexões de reforço ou contraste e dissonância entre as
estruturas de diferentes níveis linguísticos. Esse traço não é exclusivo dos textos
literários, ele pode estar presente em propagandas, slogans e outros tipos de
mensagens. O teórico assevera que essas explicações ou traços linguísticos servem
para dirigir atenção à organização de sua linguagem. Entretanto, não podem ser
considerados os únicos pontos a serem observados, pois impedem de ter a
linguagem “como a expressão da psique de seu autor ou como reflexo da sociedade
que a produziu” (CULLER, 1999, p. 37).
O terceiro ponto explicitado pelo teórico determina a ficção como um dos traços
de literariedade no texto, pois a obra literária é um evento linguístico que projeta o
mundo ficcional, incluindo falantes, atores, acontecimentos e um público implícito.
Segundo Culler, esse público vai tomando forma por intermédio das informações
fornecidas pela obra (como, por exemplo, o que deve ser explicado e o que se
supõe que o público já saiba). O crítico afirma que “a ficcionalidade da literatura
separa a linguagem de outros contextos nos quais ela poderia ser usada e deixa a
relação da obra com o mundo aberto à interpretação” (CULLER, 1999, p. 39).
A quarta marca da literariedade apresentada pelo crítico é a função estética, a
qual, historicamente, é a denominação outorgada à teoria da arte, que envolve
questões e debates sobre o papel e a relação do belo com a verdade e com o bem.
Para um melhor detalhamento, o linguista faz referência ao grande filósofo alemão
Immanuel Kant, um dos maiores teóricos da estética ocidental. Ele explica que:
Em outras palavras, os objetos estéticos devem ter “uma finalidade sem fim”,
ou seja, sua construção deve estar vinculada ao prazer pela obra ou ao prazer que a
obra proporciona, e não a algum aspecto externo. Em termos de literatura, equivale
a ponderar a contribuição de suas partes para o efeito do todo, sem considerar que
81
a obra precise alcançar algum fim específico, como informar ou persuadir, assegura
o linguista.
O último aspecto exposto pelo teórico é a literatura como construção
intertextual ou auto-reflexiva. Culler (1999) explica que um texto literário existe em
meio a outros textos e da relação entre eles.
Ler algo como literatura é considerá-lo como um evento linguístico que tem
significado em relação a outros discursos: por exemplo, como um poema
que joga com as possibilidades criadas por poemas anteriores ou como um
romance que encerra e critica a retórica política de seu tempo (CULLER,
1999, p. 40).
82
implicações dos meios de expressão e a atenção em como o sentido se faz
e o prazer se produz (CULLER, 1999, p. 47).
Após abordar a literatura e sua literariedade, seguimos nossa análise com base
nos preceitos finais defendidos por Culler (1999), ou seja, para ler e analisar os
textos literários precisamos, inicialmente, nos despreocupar em encontrar qualquer
informação imediata ou orientação persuasiva. Por outro lado, devemos procurar
enfatizar a reflexão sobre a relação dos meios de expressão e sua produção de
sentido, bem como o seu efeito estético e o seu desdobramento no prazer da leitura.
83
No segundo aspecto vinculado à sua formação, o crítico revela a literatura de
maneira bem ampla e abrangente, como uma manifestação universal elaborada por
todos os homens em todos os tempos. Uma criação com “toque poético, ficcional ou
dramático em todos os níveis de uma sociedade, em todos os tipos de cultura,
desde o que chamamos folclore, lenda, chiste, até as formas mais complexas e
difíceis da produção escrita das grandes civilizações”. (CANDIDO, 2004, p.174).
Já no terceiro ponto, que envolve a função da literatura e a formação humana,
o autor indaga o aspecto educativo e revela que a função educativa da literatura
transcende ao pressuposto meramente pedagógico, pois o papel da literatura no
processo formativo do ser humano tem efeitos extremamente complexos e
profundos na pisque humana, difíceis de mensurar.
Por isso, seria artificial considerar que a literatura funcione como “os manuais
de virtude e boa conduta”, uma vez que as obras consideradas indispensáveis para
a obtenção de uma boa formação dentro dos preceitos de boa conduta
estabelecidos pela sociedade, normalmente, também trazem aspectos da condição
humana, que muitos moralistas desejariam extirpar, chegando a casos extremos de
censura e proibição de circulação dos livros condenados.
Desse modo, o crítico literário mostra o conflito entre a ideia convencional que
a literatura “eleva e edifica” e “sua poderosa força indiscriminada de iniciação na
vida”. Ele defende que a literatura ensina na medida em que atua com toda a sua
gama, como ensina a vida. “Ela não corrompe nem edifica, portanto; mas, trazendo
livremente em si o que chamamos o bem e o que chamamos o mal, humaniza em
sentido profundo, porque faz viver” (CANDIDO, 2002, p.85).
84
2.2.3 O texto literário e o ensino de espanhol como língua estrangeira
85
métodos tinham por objetivo romper com a metodologia tradicional. Assim, os textos
literários foram suprimidos dos programas de ensino de línguas, e o estudo das
estruturas linguísticas e do vocabulário passou para o primeiro plano. Além disso,
esses novos métodos de ensino seguiam uma sequência por níveis em função da
dificuldade que as estruturas e o vocabulário apresentavam para os alunos.
Ademais, as obras literárias não se adequavam à referida nivelação (ALBALADEJO,
2007 e GONÇALVES, 2011).
Nos anos 80, com o surgimento do modelo comunicativo, acontece uma
verdadeira “revolução”, e toda a ênfase dos estudos recai sobre a aquisição da
competência comunicativa.
Segundo Germain (1993 apud Gonçalves, 2011, p. 44), a partir do método
comunicativo a língua passa a ser considerada um instrumento de comunicação ou
de interação social. Desse modo, a aprendizagem da língua estrangeira tem por
meta o desenvolvimento da capacidade de produzir enunciados na língua-alvo,
diferente da formação de hábitos proposta pelo behaviorismo. Em resposta a essa
nova demanda, a abordagem comunicativa privilegia a utilização de textos
autênticos com o intuito de aproximar os alunos da realidade do uso da língua-alvo.
Essa valorização do uso de documentos autênticos como materiais textuais
dava indícios que beneficiaria diretamente a reincorporação da literatura no ensino
de língua estrangeira. Entretanto, de acordo com Albaladejo (2007), o movimento
comunicativo dos anos 80 e seu carácter utilitarista desvia de seu foco tudo aquilo
que não tivesse um propósito prático, e a literatura passou a ser vista como uma
língua estática e muito distante das expressões comunicativas utilizadas no
cotidiano.
21
“E mais, a necessidade por parte do aluno de um arsenal de términos críticos pertencentes à
metalinguagem dos estudos literários, e a enorme carga de conotações culturais não desejadas, convencia aos
professores de línguas estrangeiras de que as obras literárias não poderiam ser estudadas satisfatoriamente na
língua estrangeira.” (Tradução nossa)
86
enfoque comunicativo, principalmente com o desenvolvimento de manuais didáticos
baseados no foco por tarefas. Assim, a autora explica que o método comunicativo
vai abrindo espaço à integração da literatura, embora de forma “desigual e
assistemática”.
Finalmente, a partir dos anos 90 o uso da literatura volta a ganhar espaço e,
pouco a pouco, ela começa a ser incorporada nos materiais e métodos de ensino de
línguas estrangeiras. Segundo Albaladejo (2007), a revalorização da literatura como
instrumento didático para o ensino de línguas estrangeiras favoreceu ao
aparecimento de várias obras dedicadas à exploração de textos literários no campo
da metodologia da língua inglesa. Porém, o mesmo não ocorreu com o ensino da
língua espanhola, e são escassas as pesquisas relacionadas ao tema. Além disso,
embora nos livros didáticos exista uma preocupação em inserir a literatura, esta,
normalmente, aparece como um apêndice ao final das unidades, como um mero
traço ornamental, cultural e quase exótico, sem qualquer relação com a proposta
metodológica da unidade didática.
Nesse sentido, ainda que se referindo, em particular, à poesia, não obstante
podendo ser aplicado a todos os textos literários em geral, Acquaroni (2006 apud
Albaladejo 2007) discorre sobre as dificuldade enfrentadas pelo professor em
incorporar os textos literários no desenvolvimento da aula.
22
“Já o fato de situar o poema no final da unidade revela, em muitos casos, as dificuldades que esse
material apresenta para que o professor possa incorporá-lo realmente no desenvolvimento da aula: o poema
fica assim relegado a uma posição de fechamento marginal, de exercício voluntario que geralmente e por
motivos de tempo para o cumprimento da programação não chega a ser realizado nunca na aula.” (Tradução
nossa)
87
de uma língua estrangeira: compreensão leitora, compreensão auditiva, expressão
oral e expressão escrita.
88
Todos os documentos oficiais, anteriormente citados, elaborados a partir da
LDBEN 9394/96, desde os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino
Fundamental (BRASIL, 1998), os PCN para o Ensino Médio (BRASIL, 2000 e 2002),
as Orientações Curriculares para o Ensino Médio – Linguagens, Códigos e suas
Tecnologias – (BRASIL, 2006) e a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL,
2016), reverberam e reforçam diferentes reflexões acerca da relevância da prática
da leitura na escola, e apontam os benefícios que ela oferece, considerando sempre
o viés formativo do aluno, e não somente o da língua como instrumento de
comunicação.
A partir dessa fundamentação, entendemos que o uso do texto literário nas
aulas de língua estrangeira e, no caso em questão, de língua espanhola, contempla
todos esses aspectos, dado que, entre tantos suportes de ensino, os textos literários
ganham destaque, principalmente por seu valor autêntico, cultural, pragmático e
sociolinguístico, e possibilitam a formação crítica e leitora do aprendiz.
89
CAPÍTULO III - METODOLOGIA DA PESQUISA
90
“perspectiva dos participantes”, ou seja, a forma como os informantes compreendem
as questões que estão sendo investigadas. Desse modo, “ao considerar os
diferentes pontos de vista dos participantes, os estudos qualitativos permitem
iluminar o dinamismo interno das situações, geralmente inacessível ao observador
externo” (LÜDKE & ANDRÉ,1986, p. 12).
O quinto e último ponto está relacionado à análise dos dados, que tende a
seguir um processo indutivo a preocupação principal dos investigadores não está
na busca de evidências que comprovem as hipóteses formuladas antes de dar início
aos estudos e sim, na observação e inspeção dos dados “num processo de baixo
para cima (LÜDKE & ANDRÉ,1986, p. 13).”
Em suma, a pesquisa qualitativa compreende a aquisição de dados descritivos
por meio do contato direto do pesquisador com o caso estudado, valoriza mais o
processo do que o produto final e se empenha em descrever as perspectivas dos
participantes da pesquisa.
Em consequência disso, e por entendermos que esses aspectos contemplam
as características de nosso trabalho investigativo, adotamos essa metodologia de
pesquisa.
Além disso, tomamos como referencial teórico-metodológico a perspectiva
histórico-cultural com ênfase no método discursivo-enunciativo de Bakhtin (2011).
Concordamos com esse parecer no sentido de que é por meio da linguagem e na
relação com o outro, dentro de um modo dialógico, que o homem se constitui,
constrói sua história e é constituído por ela. Portanto, torna-se importante conhecer
os processos históricos e sociais para se compreender o desenvolvimento humano,
indo além das aparências. Mais detalhes acerca dessa abordagem estão disponíveis
no Capítulo II.
91
professora de espanhol. Essa experiência gerou motivação para conhecer melhor o
percurso histórico dos referidos Centros, desde sua implantação até o seu
funcionamento, englobando, inclusive, os CEL de outras Unidades de Ensino.
O segundo estímulo deu-se pelo fato dos CEL oferecerem, para os alunos
matriculados nas escolas públicas, cursos de línguas estrangeiras modernas, dentre
elas a língua espanhola. Assim, como já abordado no primeiro capítulo, a criação e
implantação dos CEL tem o intuito de enriquecer o currículo das escolas públicas
estaduais e viabilizar o oferecimento de ensino de línguas estrangeiras, em especial,
a língua espanhola.
Embora no início tenham recebido críticas por oferecerem os cursos fora da
grade curricular, entendendo que esses CEL estariam fora do contexto da educação
global, atualmente a grande maioria é reconhecida pela sua excelência de ensino,
como revelam os estudos de Gasparelo (2009), Santos (2011) e Godoy (2013).
Outro fator importante para a escolha do nosso objeto de estudo é com relação
à duração do curso de língua espanhola, que acontece em três anos. Ele está
dividido em dois níveis (I e II), e cada nível subdivide-se em três estágios de 80
aulas de 50 minutos cada, totalizando uma carga horária de 200 horas por nível.
Portanto, ao final do curso o aluno terá completado uma carga horária de 400 horas.
A divisão do curso é semestral, e as quatro aulas semanais são oferecidas,
normalmente, em dois dias por semana. Na Figura 1, mostramos um fluxograma que
sintetiza a organização do curso. Devido a essa carga horária significativa,
entendemos que existe a possibilidade de desenvolver um ensino da língua
espanhola com qualidade, possibilitando a exploração e o uso de textos literários
dentro do processo de ensino-aprendizagem de língua estrangeira.
Como critério para a escolha dos CEL, indicamos, preferencialmente, aqueles
próximos à instituição sede (UNIMEP) nas cidades de: Piracicaba, Rio das Pedras e
Indaiatuba. Além dessas cidades mais próximas, também realizamos a pesquisa nos
municípios de Araraquara e Matão, por apresentarem escolas pioneiras, inclusive a
implantação do Centro de Estudos de Línguas no Estado de São Paulo, há mais de
vinte e cinco anos.
92
Figura 1 – Fluxograma dos cursos do CEL
1º. estágio
(80 aulas = 4 aulas semanais
de 50 minutos cada)
3º. estágio
(80 aulas = 4 aulas semanais
de 50 minutos cada)
Carga horária total:
400 horas
(480 aulas)
4º. estágio
(80 aulas = 4 aulas semanais
de 50 minutos cada)
6º. estágio
(80 aulas = 4 aulas semanais
de 50 minutos cada)
23
Aula de trabalho pedagógico coletivo.
94
instrumento é considerado um dos principais meios de investigação para realizar a
coleta de dados.
Triviños (1987) afirma que a entrevista semiestruturada tem como
característica questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses que estão
relacionadas ao tema da pesquisa. Desse modo, os questionamentos dão frutos a
novas hipóteses surgidas a partir das respostas dos informantes. Entretanto, o foco
principal deve ser colocado pelo investigador-entrevistador. Ainda sobre esse
aspecto, o autor explica que a entrevista semiestruturada “[...] favorece não só a
descrição dos fenômenos sociais, mas também sua explicação e a compreensão de
sua totalidade [...]”, além de manter a presença consciente e atuante do pesquisador
no processo de coleta de informações (TRIVIÑOS, 1987, p. 152).
Tendo em vista esses aspectos, a entrevista semiestruturada que aplicamos
aos professores contém os seguintes eixos norteadores: graduação e formação
continuada, experiência docente, concepção de língua, metodologia e material
didático, a importância da literatura na formação do professor, a importância na
formação do aluno e como recurso didático (Vide Apêndice C).
Com relação à seleção dos alunos participantes desta pesquisa, solicitamos
que cada professor escolhesse uma turma, desde que o grupo escolhido pelo
docente, preferencialmente, não estivesse no primeiro estágio. Essa condição foi
colocada por entendermos que os alunos de estágios mais avançados teriam maior
conhecimento sobre o andamento do curso e um pouco mais de maturidade para
poder responder, de forma mais abrangente, às perguntas do questionário.
Ao todo, 128 alunos responderam ao questionário (vide apêndice B), o qual
apresentava os seguintes eixos norteadores: idade; estágio do curso; materiais e
recursos didáticos utilizados pelo professor; reconhecimento dos gêneros textuais
utilizados em aula; reconhecimento dos gêneros literários lidos ou trabalhados em
aula; identificação do interesse pela leitura, ou não; reconhecimento das principais
dificuldades no processo de aquisição da língua espanhola; sugestões para melhoria
das atividades docentes, entre outros.
A seguir o próximo capítulo apresentará a análise dos dados coletados por
meio de pesquisa realizada com alunos e professores dos CEL.
95
CAPÍTULO IV - APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
96
quanto de todos os cursos de línguas oferecidos em cada CEL são aproximados e
referem-se ao mesmo período.
24
Conforme informações da coordenadora do CEL de Araraquara, essa língua parou de ser oferecida
em 2015, porque o governo não renovara o convênio com a China.
25
Idem.
97
trabalho de Professor Coordenador o CEL que apresente o total de, no mínimo, 240
(duzentos e quarenta) alunos por semestre” (SÃO PAULO, 2014).
Essa determinação representa uma diferença bastante significativa para
regular o bom andamento e funcionamento do CEL. Observamos durante o trabalho
de campo que, os CEL que possuíam uma coordenação exclusiva, proporcionava
um direcionamento mais preciso e objetivo, em busca de soluções e novas medidas
para manter a manutenção e o progresso dos trabalhos realizados nos respectivos
CEL. Assim, estamos de acordo com a seguinte definição de coordenador feita por
Eres Fernández (1993, p. 42 apud Santos, 2011, p. 199):
O coordenador é uma figura chave nos CEL, já que muito do que se faz ou
se deixa de fazer depende dele. O coordenador, em muitos CEL, é o
responsável pelos êxitos alcançados e pela motivação e interesse que
demonstram professores e alunos.
26
Resposta dada pela coordenadora de Núcleo Pedagógico de Inglês e Espanhol da Diretoria
Regional de Capivari.
27
Resposta dada pela coordenadora do CEL de Matão.
99
Como já foi explicitado na metodologia, para a coleta de dados sobre os
professores, aplicamos dois instrumentos de investigação. Primeiramente, utilizamos
um questionário com perguntas objetivas, com intuito de coletar os principais dados
pessoais deles, como idade, nacionalidade, formação, tempo de docência, etc.
(Apêndice A). Em um segundo momento, realizamos entrevistas semiestruturadas
(Apêndice C), as quais foram gravadas com o consentimento de todos os
participantes. Após a coleta dos dados, as respostas dos questionários foram
tabuladas e as entrevistas, transcritas. Cabe ressaltar que adotamos a letra “Q” mais
os respectivos números (Q1, Q2 e assim sucessivamente) para nos referirmos às
perguntas realizadas tanto no questionário quanto na entrevista.
Devido ao volume de informações obtido e em busca de facilitar a análise e
apreciação dos dados, dividimos a apresentação dos resultados e a análise em seis
eixos temáticos: 1) Graduação; 2) Experiência docente; 3) Concepção de língua,
metodologia e material didático; 4) A literatura no aspecto formativo do professor; 5)
A literatura no aspecto formativo do aluno; 6) A literatura no aspecto didático.
4.2.1 Graduação
Mesmo que o foco principal do estudo não seja a formação dos professores,
esse tema, por sua vez, tem uma relação intrínseca com o objeto do nosso estudo,
que trata sobre o processo de ensino-aprendizagem da língua espanhola por meio
da literatura. Dessa forma, procuraremos focar nossa análise nos aspectos
relacionados diretamente à questão principal do estudo, ou seja, como foi o ensino
da graduação de forma geral e, de modo específico, em relação aos estudos
literários e aspectos correlatos.
Com o intuito de compreender melhor as colocações dos professores
participantes desta pesquisa sobre os aspectos relacionados à graduação e à
formação continuada, recorremos à obra Os saberes docentes e a formação
profissional do filósofo e sociólogo canadense Maurice Tardif (2014). De acordo com
o autor, a formação do professor é uma construção social e engloba uma série de
fatores, que vão desde a formação pessoal, a constituição de identidade, as
experiências de cunho pessoal até todo o percurso em direção ao magistério.
100
Embora os sete professores participantes tenham cursado Licenciatura em
Letras-Espanhol, visto que, para ministrar aulas no CEL, essa é uma das exigências
da Secretaria de Educação, eles tiveram uma formação inicial bem diferente. Três
deles fizeram o curso de graduação em faculdades particulares e quatro em
universidades públicas. Dois professores que cursaram a licenciatura em faculdades
particulares já tinham outra formação: um em administração de empresas e outro em
engenharia.
Inicialmente pensávamos que os professores formados nas universidades
públicas teriam, a priori, uma formação mais consistente que os demais. No entanto,
os depoimentos dos professores não confirmaram essa hipótese, como veremos a
seguir.
No tocante à formação inicial, especificamente a graduação, foram realizadas
duas perguntas: Q1: Quais foram as principais contribuições de sua formação
inicial?; Q2: Sentiu falta de algum conteúdo relevante? A seguir apresentamos os
trechos mais significativos das respostas dadas por cada professor entrevistado. E
para se observar melhor o resultado da pesquisa, em função do tipo de formação,
agrupamos as respostas em dois grupos denominados A e B.
Grupo A: Professores formados em faculdades particulares: P1, P5 e P7,
sendo que os dois últimos estudaram na mesma instituição, porém em épocas
diferentes. Na sequência, apresentamos as respostas dos referidos professores em
relação a essas duas perguntas.
Q1: A faculdade mesmo quase nada, infelizmente (...). Eu acho que aprendi
mais no dia a dia, eu acho que a minha formação, pra mim, é agora, é agora
que eu sei, eu acho que aprendi mais dentro da sala de aula, preparando as
aulas, procurando na internet, os vídeos, as aulas (...). (P1).
Q2: A literatura, nós aprendemos muito pouco de literatura, e acho que, pra
você ensinar o aluno, a literatura é a base. (...) também acho difícil passar
para o aluno o verbo, a parte da gramática o verbo, que ficou, assim, a
desejar. (P1).
Q1: Bom, como todo curso de letras, tive gramática e tive literatura, só que,
quando fui fazer o curso, eu já tinha dado alguma aula (...) e no segundo
ano de faculdade, eu já peguei aula no regular de espanhol 28. Então,
mesmo no regular, começou com duas aulas, depois passou pra uma aula
só, então literatura não dava tempo de trabalhar, era gramática. Então na
faculdade, pra própria aula que eu tinha que dar, eu me foquei mais na
gramática... então o que me ajudou bastante foi isso aí. Tinha a literatura,
28
Aulas de espanhol oferecidas no ensino médio como disciplina optativa.
101
mas eu sempre buscava coisa da gramática, que era o que eu tinha que
dar. (P5).
Q2: Eu acho que faltou a parte que estou trabalhando agora que é a parte
de projetos, a parte de planejamento, a parte de jogos, não ser tão
estático... (na sala de aula), quais são os objetivos, quais são os materiais,
quais são as palavras-chave (para a elaboração dos projetos). (P7).
Q1: Na área de espanhol, meu curso foi muito bom, tive uma professora
espanhola, uma argentina, uma chilena. A parte de literatura na
universidade pública é muito bem dada, muito bem trabalhada, no entanto a
parte gramatical é muito deixada (...). (P2).
Q2: A parte gramatical eles não focam muito, eles deixam um pouco de lado
(...) tanto que quando fui dar aula, porque eu peguei aula de CEL, aonde
que levei? Que eu não sabia tanto gramática, puxa vida, eu não aprendi a
dar aula, eu não sabia dar aula, eu não sabia a parte gramatical (...). (P2).
Q1: Para dar aula, tive aulas bem específicas, com professor
acompanhando todas as minhas aulas, a gente era gravado, depois a gente
se assistia dando as aulas, com feedback praticamente imediato do
professor. Isso me deu muita segurança na hora de entrar na sala, e não
senti como que entrei despreparada, me senti que tinha segurança. E com
relação à língua, eu acho que vários aspectos foram fundamentais, aulas
específicas de gramática e com certeza a literatura específica, porque é
onde a gente mais aprende e dá uma base para falar com mais propriedade
sobre a cultura e tudo o que perpassa uma língua estrangeira. Então, eu
tive aulas de literatura hispano-americana e espanhola, na hora da língua
mesmo a literatura foi fundamental, além da gramática e todo o restante.
(P3).
102
Q2: Acho que o contato um pouco mais de perto com a escola pública,
porque no estágio, que a gente não dava aula ainda, que era só
observação, poucas escolas públicas ofereciam o espanhol (...) eu não
convivi muito no estágio de observação com adolescentes para ver como é
que é, né? Trabalhar com os adolescentes, então, foi uma coisa que,
quando eu entrei em sala..., os adolescentes são, assim, um pouco mais
complicadinhos. (P3).
Q1: (...) o curso é um curso muito rápido, ele foca mais a gramática, só os
dois últimos anos que trata a literatura. Como são cinco anos (...), são oito
semestres de língua espanhola, depois tem dois semestres de literatura
hispano-americana e dois semestres de literatura espanhola, mas, assim, é
jogado, né? Porque é só pra você saber quem são os mais importantes, o
que eles tratam por cima, e depois se você se interessar, mas é jogado
mesmo. (P4).
Q2: Acho que mais conversação, acredito que sim, porque hoje é tranquilo,
mas eu sofri muito pra começar a falar (...). (P4).
Q1: Foi tudo de ruim, o espanhol foi o meu objetivo principal e foi o pior... o
pior, foi muito negativo, não tinha outra professora de espanhol, ela29 que
cuidava dos três anos (...) por isso que eu digo meu amor é tão grande por
essa área que eu estudei sozinha, com os meus alunos que eu aprendi a
ser professora, não foi na faculdade, lá eu aprendi o que não fazer como
professora, principalmente com ela. (P6).
Q2: (...) o que eu tive de escola foi aqui, não foi lá, não adianta a gente
tapar o sol com a peneira, porque... acho que todas as professoras que eu
tive na universidade, nenhuma delas tinha passado aqui, elas sabiam teoria,
todas, inclusive as que me deram aula no último ano. (...) quer dizer não foi
lá que eu aprendi, mas aqui, a carga de retorno deles foi me fazendo olhar,
é isso que eu tenho que dar, eu tenho que falar isso, eu tenho que dosar o
português e o espanhol (...). Então /na faculdade eu aprendi muita coisa do
não fazer. (P6).
29
Refere-se à professora que ministrava aulas tanto de língua espanhola como de literatura na
Universidade que tanto o P4 como o P6 estudaram.
103
Com base nas respostas obtidas nas entrevistas, das quais extraímos os
trechos destacados, pudemos observar vários aspectos. Primeiramente, com relação
à graduação, verificamos que os professores P2, P3 e P7 apresentaram de forma
bem positiva, aspectos relevantes de sua formação, o que se observa na fala do P2:
“(...) a parte de literatura na universidade pública é muito bem dada, muito bem
trabalhada”, na do P3: “(...) com relação à língua, eu acho que vários aspectos foram
fundamentais, aulas específicas de gramática e com certeza a literatura específica”
e na do P7: “Então, a parte de literatura espanhola foi muito bem aproveitada e era
uma pessoa que sabe muito na parte de literatura”.
Esses recortes expressam a relevância que o ensino e a aprendizagem da
literatura tiveram na formação inicial desses professores, apesar de que essa
importância não reflita diretamente na melhor utilização de recursos literários em
sala de aula por esses professores, como mais adiante analisaremos.
Por outro lado, os professores P4 e P5 não foram tão enfáticos ao se
lembrarem das principais contribuições de sua formação inicial durante a graduação.
O P4 destacou que, mesmo tendo oito semestres de língua espanhola e quatro
semestres de literatura, considerou que o curso foi rápido e não aprofundou muito
nem no ensino da língua nem em literatura. Por outro lado, o P5, pelo fato de já
estar atuando em sala de aula, foi em busca de saciar suas necessidades. Desse
modo, segundo esse professor, a gramática era o conteúdo considerado mais
importante para sua formação.
E por último, os professores P1 e P6 consideraram que não tiveram uma boa
formação. O P1 não entrou em detalhes, apenas disse o seguinte: “A faculdade
mesmo quase nada, infelizmente”. Entretanto, o P6 relatou a experiência negativa
que teve com a única professora responsável pelo ensino de língua espanhola
durante todo o curso, tanto com relação ao ensino dos conteúdos gramaticais como
os de literatura. Segundo esse professor, os procedimentos adotados pela
professora de língua espanhola dificultaram seu processo de formação e aquisição
da língua, a ponto de repetir em vários momentos da entrevista a seguinte
afirmação: “na faculdade eu aprendi muita coisa do não fazer”.
Além disso, tanto o P6 como o P4, ambos graduados na mesma instituição,
comentaram que houve necessidade de aulas particulares para poderem aprender a
língua, já que na universidade, conforme esses professores, houve falhas nesse
104
aspecto, como podemos constatar pela fala do P4: “eu já estava no 4º ano e eu não
estava falando nada (...) fiz aula particular com outro professor (...) precisei procurar
um outro lugar para ficar mais à vontade, porque pela professora pode esquecer”.
Esses depoimentos demonstram que, alguns alunos ingressantes nos cursos
de Letras de Língua Espanhola parecem confundir a graduação com os cursos
oferecidos nas escolas de línguas, ou seja, acreditam que durante sua formação
docente aprenderão a falar espanhol, quando na verdade já deveriam ter uma base
de conhecimento sobre a língua espanhola.
Sobre as colocações dos professores P1, P4, P5 e P6, Tardif (2014) explica
que, como os saberes dos professores têm origens muito diversificadas, as quais
vão desde os saberes pessoais, da formação inicial escolar, da formação
profissional para o exercício docente, da leitura e uso dos livros didáticos até sua
experiência docente, muitas vezes eles não correspondem aos conhecimentos
teóricos obtidos em sua formação profissional na universidade.
Com relação à segunda pergunta: Q2: Sentiu falta de algum conteúdo
relevante?, as respostas foram bem diversificadas. Assim, P1 e P2 explicitaram que
sentiram falta de mais estudos gramaticais, tal como o P2 reforçou: “A parte
gramatical eles não focam muito, eles deixam um pouco de lado”. É interessante
observar com mais atenção o comentário desse professor, pois, apesar de ter tido
uma boa formação no âmbito da literatura, não se sentia preparado para dar aula,
uma vez que, segundo ele, durante sua graduação não houve um foco específico
para o estudo da gramática. Além disso, o P2 enfatizou na entrevista o quanto isso
representou para ele: “eu não aprendi a dar aula, eu não sabia dar aula, eu não
sabia a parte gramatical”, ou seja, pelo prisma desse docente, ter conhecimento da
parte gramatical é de suma importância para poder dar aula de língua espanhola.
Já o P5, mesmo que não tenha respondido especificamente a essa pergunta,
quando comentou quais foram os principais aspectos relevantes de sua formação,
ele deixou claro sua ânsia em aprender a gramática para poder dar aulas de
espanhol no ensino regular. Isto é, também reforça a ideia de que, para poder dar
aula de língua espanhola é preciso saber prioritariamente a gramática.
Ainda que tenhamos destacado apenas dois professores que enfatizaram a
necessidade de dominar a gramática como aspecto principal para o ensino da língua
espanhola, essa preocupação com o saber gramatical esteve em evidência na fala
105
de todos os participantes no decorrer das entrevistas. Isso demonstra que, de
acordo as concepções de língua apresentadas no Capítulo II desta dissertação, os
professores ainda estão muito arraigados, principalmente, na segunda concepção,
em que a língua é considerada um sistema monológico estável, constituído de
léxico, gramática e fonética, e que pode ser ensinada por meio da apresentação de
suas regras que a regem e a organizam, como um simples instrumento pronto a ser
utilizado.
Ainda sobre esse aspecto da relevância da gramática no ensino-aprendizagem
de língua estrangeira, discutiremos mais adiante no terceiro eixo temático, quando
trataremos sobre as questões de concepção de língua, metodologia e material
didático.
Retomando as repostas da segunda questão, os professores P3, P4 e P7
destacaram outros aspectos relacionados ao ensino-aprendizagem da língua.
Conforme o P4 destacou, a falta de mais atividades para o desenvolvimento da
expressão oral, como revela seu depoimento: “Acho que mais conversação, acredito
que sim, porque hoje é tranquilo, mas eu sofri muito pra começar a falar (...)”.
Já o P3 e o P7 identificaram, durante sua formação, a ausência de aspectos
relacionados a práticas de ensino como, por exemplo, atividades para trabalhar com
adolescentes e como elaborar projetos de ensino. Embora esses aspectos sejam
temas também importantes, percebemos na fala desses docentes que a falta de
maiores estudos sobre eles não prejudicou seu desempenho em sala de aula,
diferentemente do que ocorreu com os professores que notaram falta da gramática
e, por isso, não se sentiram preparados o suficiente para dar aula de língua
espanhola. Ou então, que não dominavam a expressão oral e, assim, tiveram de
buscar uma formação complementar para considera-se seguros e poderem enfrentar
a sala de aula.
Após análise das repostas sobre as duas questões iniciais e com base em
temas que mais adiante aprofundaremos, podemos de antemão observar que os
professores que tiveram uma graduação com base mais sólida, tanto no aspecto do
estudo da língua como no da literatura, apresentaram uma predisposição e,
aparentemente, um preparo melhor para o ensino da língua por meio de textos
literários.
106
Com relação aos grupos A e B que preestabelecemos para análise, não
podemos tirar conclusões sobre possíveis diferenças relacionadas à qualidade da
formação docente, visto que tanto os professores que se formaram em
universidades públicas quanto os que se graduaram em faculdades particulares
ressaltaram contribuições significativas em sua formação. Da mesma forma,
professores de ambos os grupos criticaram os aspectos negativos.
109
4.2.3.1 Concepção de língua e metodologias de ensino
30
Pergunta nº 11 da entrevista (vide Apêndice C).
31
Pergunta nº 1 sobre a metodologia e o material didático do questionário (vide Apêndice A).
110
Quadro 1 – Concepção de língua
Professores Quais aspectos da língua considera mais relevantes para o Enfoque Justificativas
ensino de LE? metodológico
P1 (Você disse a gramática), e falei da literatura (...), por exemplo, Gramatical O gramatical é necessário para a escrita.
trabalhar a cultura porque chama a atenção, trabalhar filmes e Sociocomunicativo O comunicativo, para tornar os alunos competentes
contos. comunicativamente.
P2 O professor não respondeu diretamente essa pergunta, mas, Nas aulas, enfoco a gramática dentro de textos, canções e áudios.
pelas respostas já dadas e pelo seu discurso no decorrer da Outros
entrevista, ficou evidente o predomínio do aspecto gramatical.
P3 Eu acho que pra ele aprender é a leitura, e ele vivenciar a Sociocomunicativo De cada unidade estudada priorizo e simulo a situação comunicativa
situação comunicativa, tentar fazer a situação comunicativa na possível ou possíveis de ocorrer.
sala de aula.
P4 (...) Na gramática acredito que os verbos... porque sem os Não respondeu
Eu acho que o foco maior seria esse, não é a fala, porque, se for
verbos não tem como a gente interpretar bem um texto (...) procurar um emprego, não é isso que vão procurar na pessoa, vão
aqui no Brasil, eu acho que a leitura e a interpretação... por procurar mais, que ela interprete um texto ou escreva algo. No
causa da realização de concursos. geral, é tudo mesmo... mas, pensando no mercado de trabalho, eu
acho que aqui no Brasil, interpretação textual.
P5 Olha, eu gosto muito da cultura, porque você ter contato com o Não respondeu Eu acho importante que os alunos conheçam não só o idioma, não
outro, você conhecendo o outro se torna um pouco o outro, só a gramática, não só a literatura, mas também como funciona.
né? Nesse mundo globalizado, a gente tem que ter contato com o outro
para poder sobreviver, então acho muito importante que eles
conheçam isso.
P6 O que eu acho que pode ser colocado em primeiro lugar é a Gramatical Porque eu conheci duas culturas pessoalmente, que foi a Argentina
parte cultural, porque ali já entra a fala e as diferenças e a Espanha, e aí você entende muita coisa inclusive de ritmo de
linguísticas que acontecem; então, vamos conhecer um pouco fala. Então eu acho que a parte cultural traz outras coisas, abre um
da cultura e aí é o que me encanta. leque que vai levar no que é que eu quero, que é a fala. (Esta
justificativa foi sobre o aspecto cultural, pois sobre o enfoque
gramatical o professor não respondeu.)
P7 Eu trabalho a parte oral, a parte comunicativa, a parte Sociocomunicativo Para mim, o aluno pode fazer a parte de projetos, mas, às vezes,
interpretativa, sem esquecer ou desmerecer a parte gramatical, falta a parte oral e a parte escrita. Se você não domina a parte oral,
tem que ter a estrutura gramatical para poder falar. é que você não domina a parte escrita, é uma contradição... eu
trabalharia esses aspectos: comunicação, interpretação e a
oralidade, sem esquecer a parte escrita, que é a base.
Fonte: Elaborado pela autora.
111
Ainda que essa metodologia tradicional do ensino de línguas não seja a mais
utilizada, a concepção de língua que embasa esse método ainda está muito
presente na prática docente, ao considerar a gramática um elemento básico para o
ensino de línguas. Nesse sentido, as OCEM apontam algumas considerações sobre
esse tema:
[...] O conceito e a valorização da gramática estão ligados à concepção da
linguagem com algo homogêneo, fixo e abstrato, composto por regras
abstratas – tudo isso distante de qualquer contexto sócio-cultural específico,
de qualquer comunidade de prática e de qualquer conjunto específico de
usuários.
[...] a função prescritiva e normatizadora da gramática na linguagem está o
conceito igualmente prescritivo e normatizador da cultura como sistema
homogêneo e fixo – o que gera por sua vez, a concepção de cultura como
cultura padrão, contendo ‘o melhor’ dos valores, das crenças e da
expressão de um povo, sendo esse povo visto como homogêneo e igual,
sem variações ou diferenças.
Na base desses dois conceitos de língua como gramática e de cultura
padrão está a homogeneidade; e na base da promoção e da defesa da
homogeneidade na língua e na cultura está a exclusão social. (BRASIL,
2006, p. 107-108, grifos nossos).
112
palavras e curiosidades lexicais. De acordo com a autora, o professor não pode ser
o único elemento representativo das variedades linguísticas, por isso é essencial
que ele transmita a palavra a outros falantes que mostrarão como funciona
realmente cada variedade.
Tudo o que foi acima exposto nos leva a defender o uso dos textos literários
como uma das possibilidades de dar voz à riqueza das variantes linguísticas da LE.
Assim como a possibilidade de apreciar a língua fora do uso cotidiano.
Por outro lado, os professores P5 e P6, apesar de terem enfatizado o ensino da
gramática em suas aulas, quando responderam sobre os aspectos que
consideravam mais relevantes para o ensino de LE, destacaram a questão cultural,
pela possibilidade de trabalhar a língua em sua forma de uso e por entenderem a
necessidade de conhecer o outro dentro do processo de ensino-aprendizagem de
língua estrangeira. Como explica o P5: “Olha, eu gosto muito da cultura, porque
você ter contato com o outro, você conhecendo o outro se torna um pouco o outro,
né?”.
Essa preocupação com o outro vem ao encontro das OCEM, uma vez que elas
apontam a necessidade de “levar o estudante a ver-se e constituir-se como sujeito a
partir do contato e da exposição ao outro, à diferença, ao reconhecimento da
diversidade” (BRASIL, 2006, p. 133), pois é por meio do outro que podemos nos
constituir como sujeitos falantes de outra língua.
Convém destacar que esses dois professores tiveram oportunidade de cursar
LE na Espanha e na Argentina. Além disso, no decorrer da entrevista, pudemos
observar a preocupação de ambos em trabalhar aspectos culturais da língua, como
algumas tradições, festas típicas, música e também a própria literatura.
Com base nesses indícios, podemos dizer que o P5 e o P6 apresentam maior
entendimento da terceira concepção de língua apresentada no Capítulo II, a qual
considera a linguagem como forma de diálogo entre os falantes, isto é, a língua não
é mais vista de forma isolada, separada do sujeito que a utiliza, e sim num lugar de
interação humana.
O P4, além do estudo gramatical, em especial os verbos, também destacou a
leitura e a interpretação como aspectos relevantes no processo de ensino-
aprendizagem de LE. Para esse docente, são as duas competências mais exigidas
nas provas seletivas de concursos e atualmente nas provas do Exame Nacional do
113
Ensino Médio (ENEM). Essa ênfase do ensino de língua estrangeira mediante
práticas de leitura foi muito defendida pelos PCN (BRASIL,1998), como abordamos
no Capítulo I.
Contudo, entendemos que priorizar o ensino da LE centrado na competência
leitora sem considerar as outras competências discursivas não atende plenamente
aos objetivos das OCEM (BRASIL, 2006) e da BNCC (BRASIL, 2016), as quais se
pautam em abordagens pedagógicas voltadas para as práticas sociais, visando à
formação de cidadãos autônomos, críticos e reflexivos. E isso vai muito além do
simples ensino da língua como instrumento de comunicação.
114
os tipos de materiais que utilizavam (pergunta Q4 – Apêndice A)32, todos eles
citaram listas de exercícios gramaticais, textos reais, como notícias de jornal,
anúncios, receitas, etc. No tocante aos textos literários, somente quatro docentes
mencionaram contos, e dois disseram que também faziam uso de poemas. Esses
dados estão ilustrados no Gráfico 1.
Já o Gráfico 2 mostra os recursos audiovisuais mais utilizados pelos
professores entrevistados: vídeos, filmes e músicas. Apenas dois deles
mencionaram que faziam uso do PowerPoint, e somente um dos docentes comentou
que utilizava jogos didáticos confeccionados por ele próprio, por exemplo, bingo de
vocabulário.
Gráfico 1 – Materiais didáticos escritos
120%
100% 100%
100%
80%
57%
60%
40% 29%
20%
0%
Exercícios gramaticais Texos diversos Contos Poemas
120%
100% 100%
100%
80%
57%
60%
40% 29%
20% 14%
0%
Videos didáticos Filmes Músicas Power- point Jogos didáticos
32
Pergunta do questionário sobre a Metodologia e Material Didático.
115
No decorrer da apresentação e análise dos dados relativos aos materiais
didáticos utilizados pelos professores, observamos a preocupação de todos eles em
buscar meios para diversificar ao máximo a dinâmica de suas aulas. Durante as
entrevistas, um fato nos chamou a atenção: todos apontaram como a principal fonte
de busca de materiais extras a internet, na qual podemos encontrar um leque muito
grande e diversificado de atividades e recursos, entre eles, materiais audiovisuais,
para o ensino de línguas de maneira em geral. Isso justifica o motivo de todos os
docentes fazerem uso de vídeos e filmes como recurso didático.
Cabe salientar que as salas de aula dos CEL visitados estão bem equipadas
com os recursos audiovisuais básicos, tais como: equipe de som, telão, projetor e
notebook.
Devido à relevância do tema e no intuito de apresentarmos e analisarmos com
mais atenção os materiais didáticos utilizados pelos professores participantes desta
pesquisa, eles serão tratados de forma mais detalhada no sexto eixo temático, no
qual abordaremos a literatura no aspecto didático.
116
Quadro 2 – A literatura e o aspecto formativo do professor: questionário
Professores Q1. Na graduação, teve aulas Q3. Qual sua visão sobre as funções da literatura?
de literatura espanhola e
hispano-americana?
P1 Sim, foi boa. (Apesar de ele ter Quanto à função psicológica: todo ser humano necessita de
citado no início da entrevista ficção e fantasia para viver. Função formadora: ela contribui
que sua graduação foi bem para a formação da personalidade dos indivíduos. Função
deficiente, tanto no aspecto do social: traz conhecimento, crenças, valores, culturas.
ensino da língua como da
literatura).
P2 Sim, foi muito boa. Acredito que as funções da literatura são várias, entre elas, a
de colocar o aluno em contato com uma cultura diferente, um
vocabulário, etc. O aluno que lê se desenvolve
intelectualmente, escreve com clareza, enriquece o
vocabulário.
P3 Sim, foi muito boa. A literatura representativa de cada país expressa a cultura e a
forma de pensar de um povo.
33
O professor refere-se ao poeta Fernando Pessoa.
117
Com relação à pergunta Q16, se na graduação tiveram aulas de literatura
espanhola e hispano-americana, todos os professores responderam
afirmativamente. Porém, nem todos tiveram a opinião de que elas foram muito bem
ministradas. Por exemplo, o P4 e o P6, que estudaram na mesma instituição,
consideraram que as aulas foram regulares, ou seja, poderiam ter sido melhores.
Observamos com mais atenção as respostas dadas pelo P6, pois ele praticamente
não respondeu às perguntas relacionadas à literatura. Uma das justificativas
apresentadas por esse docente está na resposta da pergunta Q12 da entrevista, a
qual aborda a importância de utilizar textos literários para ensinar língua estrangeira:
“Bem, como não tive nunca a prática de ensino de literatura, não vejo como ensino
ou no ensino. Falha das próprias universidades”. Além disso, em vários momentos
da entrevista, também fez questão de destacar que não lhe foi ensinado como um
docente deveria atuar, mas o contrário: “(...) na faculdade, lá eu aprendi o que não
fazer como professor, principalmente com ela (referindo-se à professora de LE)”.
As respostas do P6 revelam, de certo modo, uma frustração pelo fato de o
curso não ter atendido a suas expectativas. Na verdade, é um sentimento que
muitos alunos sentem ao final da graduação dos cursos de Letras em geral. O
discurso de vários professores recém-formados: “Eu não aprendi a dar aula” é muito
recorrente. E de fato, dificilmente alguém sai um excelente professor ao terminar o
curso de graduação, o mesmo ocorre com um médico, um dentista ou qualquer
outro profissional.
A formação do professor é um processo lento. Segundo Tardif (2014, p. 14), é
“um processo em construção ao longo de uma carreira profissional”, que envolve
diferentes saberes desde toda a história de vida pessoal, do convívio social, do
conhecimento adquirido durante o período escolar inicial, daquele proveniente da
formação profissional, até a prática em sala de aula e todo o contexto que integra a
dinâmica escolar.
É preciso desmistificar a ideia que nos cursos de Letras ou de das licenciaturas
de modo geral vão ser aprendidas “fórmulas mágicas” ou “receitas implacáveis” de
como ministrar uma boa aula. Os cursos de graduação devem oferecer, sim, todo o
suporte teórico-metodológico, para formar uma base sólida sobre as diferentes áreas
do saber relacionadas a eles. Andrade (2004 apud SILVA; ARAGÃO, 2011, p. 1649)
compreende que “o professor bem formado é aquele que se sente seguro para
118
buscar conhecimentos em razão de situações encontradas em sua prática, ou seja,
em decorrência das necessidades provenientes da sua prática”.
Dessa forma, comentários como o do professor P6 revelam, de certo modo,
frustração e, ao mesmo tempo, certo comodismo. Os docentes que assim pensam
acabam não se propondo a buscar ou refletir sobre possíveis saídas que possam
suprir a falta desse conhecimento que dizem não ter adquirido.
Com isso, não queremos dizer que os cursos de licenciatura não apresentem
problemas, entre eles, aspectos relacionados à falta de estudos e reflexões sobre
como inserir a literatura nas aulas de LE, tema que logo a seguir debateremos.
Por outro lado, os professores P2, P3 e P7 relataram que o ensino de literatura
na graduação foi muito bom. O P2 destacou que, para ele, as aulas de literatura
foram mais completas do que as de ensino de gramatical. Já o P3 comentou que a
literatura foi fundamental para poder entender melhor a língua: “(...) eu tive aulas de
literatura hispano-americana e espanhola, na hora da língua mesmo, a literatura foi
fundamental”. E o P7 elogiou os professores que ministraram as aulas de literatura:
“Nós tivemos uma doutora da Unesp que deu literatura (...). Então, a parte de
literatura espanhola foi muito bem aproveitada e era uma pessoa que sabe muito na
parte de literatura”.
Na opinião de P5, ele teve uma boa formação na graduação: “(...) eu acho que
foi bem trabalhado na faculdade, sim, tanto que eu busquei algum material que eu já
tinha visto na faculdade para poder dar aula no curso de Letras”, referindo-se às
aulas que ministrou em um curso de Letras de uma faculdade particular da região
onde trabalha.
Todavia, ao relacionarmos os depoimentos dos professores que, no
entendimento deles, tiveram uma boa formação em literatura, observamos que isso
não refletiu diretamente no ensino ou na utilização de textos literários em sala de
aula de todos esses professores. Em nossa análise, verificamos que somente quatro
docentes (P1, P3, P4 e P5) relataram que fazem uso de textos literários em classe
de LE, além dos que aparecem no livro didático, ainda que não tenham especificado
atividades diferentes da prática de leitura ou compreensão textual.
Contudo, nos chamou a atenção as atividades desenvolvidas com textos
literários realizadas pelo P3 e pelo P5. O primeiro foi o único a relatar que realiza
leitura de fruição no início das aulas, para desenvolver nos alunos o gosto pela
119
leitura. E o segundo desenvolveu uma atividade de releitura e adaptação de uma
obra clássica da literatura espanhola a qual descreveremos com mais detalhes
quando tratarmos da análise do sexto eixo temático, relativo à literatura no aspecto
didático.
Ainda dentro do aspecto da formação específica na área de literatura, foi feita
na entrevista a seguinte pergunta: Q17: Teve algum trabalho que realizou durante
sua graduação que levasse em consideração o uso de textos literários no ensino da
língua? (Apêndice C), e os professores foram unânimes em responder que não. Isto
é, nenhum deles realizou algum trabalho que vinculasse o ensino da língua
espanhola a textos literários, como comentou, por exemplo, o P4: “Para o ensino
não, só para entregar para a professora mesmo, não era com fim didático, era leitura
e interpretação ou leitura e resumo do livro, mas assim nada prático”. Ou o P3: “Não,
eu fazia muito parte de projetos, até ganhei bolsa do CNPq 34, (os projetos) tinham
que ver com literatura sim, mas na área da semiótica, análise do discurso, plano de
expressão do conteúdo (...) não voltado para aluno, não”.
Entendemos que antes de pensar no ensino é preciso conhecer pelo menos
aspectos gerais da literatura espanhola e da hispano-americana, bem como ler e
analisar algumas das principais obras de ambas. Dessa forma, reconhecemos a
importância e a preocupação dos cursos de Letras em primeiro formar o professor
em um leitor, para depois ele poder pensar e refletir a respeito das práticas de
ensino. Entretanto, também compreendemos que as instituições de ensino de Letras
precisam refletir sobre a necessidade de desenvolver estudos e práticas pertinentes
à transposição didática da literatura.
Estudo realizado por Silva e Aragão (2011) com alunos em formação do curso
de Letras Espanhol da Universidade Estadual do Ceará entre os anos 2000 e 2004
revela a falta de preparo dos professores recém-formados, bem como destaca
aspectos relacionados aos estudos literários e a formação docente:
O tratamento dos textos literários como recurso para o ensino não apareceu
no depoimento sobre as atividades que a maioria dos estudantes fez em
seus estudos literários na universidade. Dois aspectos que consideramos
fundamentais na prática de um professor que recebeu uma formação
literária adequada nos mostraram resultados decepcionantes: na questão
sobre se eles se sentiam preparados para ensinar literatura, a maioria dos
alunos (especialmente aqueles que já haviam concluído seus estudos
literários ou já tinham saído da universidade) não estava muito certo disso,
34
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
120
ou, em todo caso, não se sentia muito preparada para exercer a atividade;
no caso da pergunta sobre se eles se sentiam capazes de usar materiais
literários no ensino E/LE, foi claramente constatado que de maneira geral
eles não estavam preparados para isso, ou eles não tinham certeza de que
fossem capazes de atender à demanda. (ARAGÃO, 2006, apud SILVA;
ARAGÃO, 2011, p. 1650).
121
experiência do outro, como também vivenciar essa experiência”. Sobre essa
questão, Candido destaca:
Mesmo que a maioria dos professores tenha afirmado ter interesse por
literatura, poucos indicaram os nomes de alguns autores. Também verificamos nas
respostas deles certa dificuldade em expressar sua opinião sobre a importância da
literatura em sua formação docente. Essas colocações e as respostas às perguntas
anteriores denotam certo distanciamento das questões concernentes à literatura,
122
vários professores apresentam comentários generalistas, muito próximos do senso
comum.
Esses aspectos dão indícios de que esses docentes falam a respeito da
literatura como se fosse algo do passado, com o qual eles já não tenham mais
nenhum contato, como se a literatura fosse uma aprendizagem clássica, no sentido
de aprender a história dela, alguns autores e ponto final. Isto é, parece que a
literatura é um estudo fechado com começo, meio e fim, bem como não apresenta
mais nenhuma relação com a vida desses docentes. Essas observações nos levam
a considerar que os professores entrevistados não se constituem como leitores de
literatura.
Ao tentarem buscar nas lembranças como foram suas aulas de literatura, as
hesitações e o esforço de trazer à memória nomes de livros ou autores, indicam que
a literatura não está tão presente na vida deles. Parece que tudo o que eles
poderiam aprender sobre ela só seria possível nas aulas da graduação e pronto!
Tudo isso denota que ao final da graduação houve uma ruptura, ou seja, os
professores não estabeleceram com a literatura uma relação constante, como se
supõe que deveriam fazê-lo.
Travaglia (2010), ao comentar sobre a importância de um professor de língua
ter conhecimento tanto dos aspectos linguísticos, quanto dos aspectos da literatura,
faz a seguinte reflexão:
[...] ser professor de Língua Portuguesa tem mais brilho, mais sabor, mais
verdade, mais possibilidade quando se acredita, mais ainda, quando se
sabe que a língua e a literatura são uma só coisa e que a segunda é a
primeira transformada em arte, que a literatura é o que há de mais livre,
mais forte, porque não dizer, de mais belo de tudo o que se pode fazer com
a língua (p. 37-38, grifos nossos).
[...] o profissional de Letras terá que conhecer muito bem a língua, as suas
variantes, a sua norma culta. Mas terá também de conhecer literatura,
como uma das formas de expressar essa língua e tudo que possa
significar. Terá ainda de estar atento às teorias da linguagem em geral
para ser capaz de enfrentar textos e fazer deles seu instrumento de ver
e mostrar o mundo.
123
Desse modo, embora alguns professores demonstrem manter o hábito da
leitura, parecem estar distantes de uma relação mais estreita com a literatura, seja
como leitores ou professores de língua.
Outro aspecto relevante apontado pelo P7 é que “falta mais intensidade por
parte das orientações para falar da parte da literatura”. O docente refere-se às
Orientações Técnicas, mais conhecidas por OTs, as quais são oferecidas
normalmente duas vezes por ano pela SEE 35 de São Paulo e têm por objetivo
aprofundar e aperfeiçoar o conhecimento dos profissionais sobre a língua
espanhola. No tocante a esse aspecto, o P5 também se manifestou: “não me lembro
de ter visto uma OT que focou na literatura, talvez seria importante ter, pra gente
saber como trabalhar”.
Ainda que a maioria dos professores participantes desta pesquisa tenha
apontado o conhecimento da literatura como um fator relevante para sua formação
docente, podemos dizer que existe um hiato entre o discurso e a prática deles.
35
Secretaria da Educação do Estado.
124
Quadro 4 – A literatura e o aspecto formativo do professor
Professores Q15. Você tem interesse por literatura? Lê com frequência? Quais Q20. Apresente seu ponto de vista sobre a importância, ou não, da literatura para a
são suas preferências? formação do professor.
P1 Eu gosto, não leio tanto porque não tenho tempo, mas já li muito, eu (...) Fala da literatura, que é um texto literário... mas nunca ensina como trabalhar a
escolhi fazer Letras porque eu gostava de ler, sempre gostei de ler e literatura com o aluno. Eu fico até indecisa, eu gostaria de saber como que eu vou ensinar
escrever. Adoro Machado de Assis, Drummond, Neruda, sempre gostei essa literatura para o aluno.
de poesia.
P2 Não tem o hábito de ler e falta tempo. Quando tive literatura na Universidade pude conhecer e entender a formação de muitas
nações, compreender a formação de muitos povos. Enriqueci muito, pois aprendi sobre
diversos escritores, pintores, sobre a cultura e costumes de vários países.
P3 Tudo que aprendi de espanhol foi dentro desse mundo universitário... É muito importante, pois enriquece e amplia a aprendizagem da língua espanhola. Ajuda
(sobre suas preferências) Pedi para a coordenadora imprimir o livro no aperfeiçoamento do idioma, e o professor tem um panorama e um contexto muito
inteiro “Cuentos de amor, locura y muerte” de Horácio Quiroga y Julio melhor sobre tudo o que perpassa o conhecimento de uma língua estrangeira.
Cortázar, que eu adoro. Horácio Quiroga, geralmente eu acho que os
contos dele são muito interessantes.
P4 Leio, eu estou lendo alguns livros de minha filha, essa literatura mais
Eu acho que é muito importante, porque a partir dos temas que o professor dá acho que
jovem, mas eu tenho em casa um livro de contos de Granada, então o aluno vai se interessar. Às vezes eu falo de alguns autores para eles, e até outro aluno
eu gosto, sim, de ler. esses dias falou assim: “isso aí não tem a ver com o barroco?” E falei: tem (...) Então, sem
as leituras prévias como é que poderia acrescentar isso pra ele, jamais! Então, o professor
precisa disso, não tem como ele fugir disso. (Entendemos que a palavra “disso” pelo
contexto, refere-se à literatura).
P5 Sempre que eu posso eu leio, assim é bom mesmo para treinar, pelo Ah, tem que conhecer, porque você acaba conhecendo um pouco da história também,
próprio contato com a língua, para você conhecer novas palavras, né? (...) quando você aprende a literatura brasileira ou portuguesa acaba conhecendo a
também porque a gente não sabe tudo. Por mais anos que você passe história do povo também. Então acho que por trás disso tem também um conhecimento
dando aula sempre aprende uma coisa nova. Então sempre que eu da história, como que funcionou, porque que é assim. O mesmo da língua, do uso da
posso, nem que seja uma leitura básica, eu gosto de fazer. língua, é nesse aspecto que eu gosto da literatura.
P6 O professor estendeu muito em algumas perguntas, e esta não foi Ajudaria para aprender e ensinar o contexto histórico e cultural dos países de fala
realizada. espanhola.
P7 Eu gosto de literatura, de toda a literatura, não posso falar da É muito importante, é outra escala, outra referência para o professor, não pode
espanhola, não posso falar de exclusividade não, eu gosto em geral. descuidar dessa parte. Acho que falta mais intensidade por parte das orientações
Gosto mais de Garcia Márquez, quero explorar mais Garcia Márquez, para falar da parte da literatura.
não tive tempo de trabalhar muito com ele porque estou esperando
algum dia a possibilidade e continuar, esse é meu foco.
Fonte: Elaborado pela autora.
125
4.2.5 A literatura no aspecto formativo do aluno
126
Quadro 5 – A literatura e o aspecto formativo do aluno - A
Professores Q4. Qual sua visão sobre as funções da Q12. Qual sua opinião com relação ao uso de Q21. Apresente seu ponto de vista sobre a
literatura no ensino da língua espanhola?36 textos literários no ensino da língua espanhola?37 importância, ou não, da literatura para a
formação do aluno.38
P1 A literatura possibilita o desenvolvimento da Acredito ser uma ferramenta para o ensino da língua A literatura tem grande importância na formação
imaginação e da criatividade. Trabalhar espanhola. Com textos variados possibilita aos do aluno, sua função é dar sustentabilidade para
poemas, canções, contos, o aluno se sentirá alunos uma pluralidade de leitura, riqueza da cultura que o indivíduo enfrente a vida, formar leitores
estimulado a aprender a literatura em língua dos povos. críticos em relação ao mundo.
espanhola de uma forma dinâmica e eficaz.
P2 Muito importante, a literatura é muito Acredito que é muito importante para a formação, Acredito que a literatura e a gramática devem
importante; no entanto, o plano de aula, os para o aluno conhecer mais profundamente a caminhar juntas, porque o ensino através de
conteúdos para serem ensinados são muitos cultura, costumes, para conhecer a formação das textos literários ajuda no ensino da gramática. No
e acabamos não dando tanta prioridade para nações e sua cultura, para ampliar vocabulário. entanto, penso que nós professores ficamos
a literatura. Sem dizer que não temos livros muito presos ao ensino da gramática e não
de espanhol nas escolas para o uso dos damos atenção para o uso da literatura.
alunos.
P3 É fundamental a abordagem da literatura no Importante para uma aprendizagem mais completa Eu acho que é tão importante quanto para a
ensino de E/LE, pois a língua é também e significativa para o aluno. A leitura, a construção gente, professores. Eu acho que ele vai ampliar o
cultura, e a literatura é um recurso muito de uma ideia (da história), a compreensão, auxilia vocabulário, vai aprender dentro de um contexto,
propício para abordar a cultura de um povo. em todos os aspectos da aprendizagem, amplia contextualizado. É fundamental! (...) É tudo uma
vocabulário, enriquecimento cultural e linguístico cadeia, primeiro aprendo a falar um pouquinho,
como um todo. mas, para eu conseguir desenvolver a minha fala,
a minha escrita, eu preciso da leitura. É
fundamental, mesmo que for para escutar
alguém te contando uma história e conseguir
reproduzir depois, é importantíssimo!
Fonte: Elaborado pela autora.
36
Pergunta Q4 do questionário na parte de Aspectos específicos sobre literatura (vide Apêndice B).
37
Pergunta Q12 da entrevista (vide Apêndice C).
38
Pergunta Q21 da entrevista (vide Apêndice C).
127
Quadro 6 – A literatura e o aspecto formativo do aluno - B
Professores Q12. Qual sua opinião com relação ao uso de textos literários no Q21. Apresente seu ponto de vista sobre a importância, ou não, da literatura
ensino da língua espanhola? para a formação do aluno.
P4 Eu acho muito relevante em questão cultural pra você entender um Eu acho até para comparar com o nosso país, para comparar com o dia a dia deles,
país. Eu acredito que aí você vê os costumes que era determinada mesmo sendo de outros países, eu acredito, sim, que é importante.
época, o pensamento, o ideal mesmo da população, que é o que eles
buscam, o que é interessante, o que é valorizado por eles. Eu acho que
não dá pra ficar sem a literatura.
P5 É importante sim, mas eu acho que não sei, é complicado trabalhar com Olha, eu acho que para o aluno de hoje e aprender mesmo o idioma, ajuda muito na
esses alunos que não gostam de ler. Tudo bem que dá pra nós leitura, né? Vocabulário...
trabalharmos um texto, um simples texto até curto. Um continho dá
pra trabalhar, mas aí se tem que... motivar muito bem o aluno antes,
pra ele poder se apaixonar pela literatura.
P6 Não sei onde colocá-la, como inserir as obras junto com o conteúdo. (...) Uma vez uma aluna me questionou: “Mas professora, pra que que eu vou usar
Bem, como não tive (nunca) a prática de ensino de literatura, não vejo isso?” E eu não soube responder pra que que ela ia usar. (...) “Professora, se você me
como ensino ou no ensino. Falha das próprias universidades. mostrar (uma boa aluna, né?), se você me mostrar aonde vou usar a literatura, te
Porque a gente gosta de ler, a gente quer levar isso para o aluno, mas a garanto que eu vou aprender”, e eu não sabia a resposta! Então, eu coloquei isso lá no
congresso: como eu vou ensinar o meu aluno, se eu não sei o objetivo disso também?
gente não sabe! Mas não tem coragem de falar que não sabe!!! E eu
Como é que eu vou ensinar para quê? (...) Então eu não sei aonde colocar a literatura.
não tenho vergonha, eu aprendi com eles muita coisa, então por que Eu vou na parte da cultura, pode ser que em algumas situações apareça algo de
esse impasse? literatura, mas eu não consigo entrar com uma abordagem maior.
P7 Por exemplo, nesse livro tem vários textos de literatura (...) eu O professor tem mais responsabilidade, o aluno não tem essa responsabilidade, mas o
considero texto literário qualquer coisa que convide o aluno a refletir, professor tem que passar essa responsabilidade para o aluno. (...) Por exemplo, se
sobre literatura, por exemplo a “Aquarela do Brasil”, pode ser uma aparece Eduardo Galeano no livro, qual a importância dele? Tenho que saber alguma
poesia, pode ser uma música, pode ser por exemplo pode ser a figura coisa (...) Mas falta mais capacitação para o professor testar, para avaliar a parte do
texto em destaque, eu acho (...) para isso, é preciso colocar as mãos na massa, como
de Pessoa39. Essa parte da literatura coloca o aluno em contato com
posso passar Borges para um menino? Como posso passar Gabriel García Márquez para
outra realidade. um menino? Através de que história? Por exemplo, uma forma de passar a literatura
seria através dos desenhos em quadrinhos, é uma forma de ampliar o panorama da
literatura.
Fonte: Elaborado pela autora.
39
O professor refere-se ao poeta Fernando Pessoa.
128
Muito embora a falta de livros de literatura seja realmente um ponto nevrálgico,
de certa forma essa questão pode ser contornada, pois a maior parte dos CEL
possui um pequeno acervo de livros de literatura, por exemplo: exemplares da série
Colección Leer en español, da editora Santillana, ou da coleção Lecturas Modernas,
da editora Moderna, uma série de livros direcionada para adolescentes, entre outros
com títulos diversificados. Essas obras podem ser utilizadas em algumas atividades,
por exemplo, no desenvolvimento da leitura de fruição, prática desenvolvida pelo
professor P3, como veremos na análise do sexto eixo temático sobre a literatura e o
aspecto didático.
De acordo com as respostas das perguntas Q12 e Q21 (Quadros 5 e 6),
podemos dizer que a maioria dos entrevistados considera relevante o uso de textos
literários para o ensino da língua espanhola e entendem que a literatura tem um
papel importante na formação dos alunos, como revela a resposta de um dos
professores:
Eu acho que é tão importante quanto para a gente professores, eu acho que
ele vai ampliar o vocabulário, vai aprender dentro de um contexto,
contextualizado. É fundamental (...) É tudo uma cadeia, primeiro aprendo a
falar um pouquinho, mas, para eu conseguir desenvolver a minha fala, a
minha escrita, eu preciso da leitura. É fundamental, mesmo que for para
escutar alguém te contando uma história e conseguir reproduzir depois, é
importantíssimo. (P3).
Não sei onde colocá-la, como inserir as obras junto com o conteúdo. Bem,
como não tive (nunca) a prática de ensino de literatura, não vejo como
ensino ou no ensino. Falha das próprias universidades.
(...) Uma vez uma aluna me questionou: “Mas professora, pra que que eu
vou usar isso?” E eu não soube responder pra que que ela ia usar. (...)
“Professora, se você me mostrar (uma boa aluna, né?), se você me mostrar
aonde vou usar a literatura, te garanto que eu vou aprender”, e eu não sabia
a resposta! Então, eu coloquei isso lá no congresso: como eu vou ensinar o
meu aluno, se eu não sei o objetivo disso também? Como é que eu vou
ensinar para quê? (...) Então eu não sei aonde colocar a literatura. Eu vou
na parte da cultura, pode ser que em algumas situações apareça algo de
literatura, mas eu não consigo entrar com uma abordagem maior. (P6).
129
primeiro que ele apresenta é a dificuldade de conciliar o conteúdo da disciplina com
o ensino da literatura: “Não sei onde colocá-la, como inserir as obras junto com o
conteúdo”. Essa mesma preocupação também foi apresentada pelo P2. Porém,
podemos observar que ele, além de detectar um dos obstáculos enfrentados para
uso da literatura no ensino de língua estrangeira, foi capaz de formular uma hipótese
para identificar a possível causa dessa dificuldade:
130
língua. Realmente, visto por esse prisma, a literatura não tem uma aplicação prática.
Essas colocações sobre por que ensinar literatura nos remetem a um texto de Olga
de Sá (1996, p.3), no qual a autora dialoga com essa questão:
Em outras palavras, a literatura nos ajuda a conhecer melhor o mundo, nos faz
pensar e refletir sobre os grandes dilemas da vida humana: o amor e o ódio, a vida e
a morte. Segundo Candido (2004),
131
4.2.6 A literatura no aspecto didático
132
Com relação à pergunta Q8: Você faz uso dos textos literários? (Que aparecem
no livro didático) (Apêndice A), todos os professores responderam que sim. Para
alguns, sempre que esses textos aparecem e, para outros, às vezes, mas nenhum
comentou que não utiliza os textos literários que o livro didático apresenta. Inclusive
o professor P6, que quase não respondeu às perguntas referentes à literatura,
especificou o seguinte: “Eu trabalho o que aparece no livro, eu leio, normalmente é
um texto que entra como texto principal, e aí eu faço a leitura e a compreensão”.
E por último, antes de analisarmos as demais questões apresentadas nos
Quadros 7 e 8, comentaremos as respostas da pergunta Q9: Em sua opinião, para
que fim o texto literário é utilizado? (No livro didático) (Apêndice A). Os professores
P2 e P3 responderam: “Para compreensão textual, reforço de vocabulário e
aspectos culturais”. Entretanto, ao analisarmos alguns textos literários dos referidos
livros didáticos, percebemos que estão muito mais voltados aos aspectos
gramaticais e ao vocabulário da língua do que às questões culturais propriamente
ditas.
Por exemplo, no livro Síntesis volume 1, o qual está dividido em oito capítulos,
após o quarto e ao final do oitavo capítulo há uma seção denominada “Apartado”,
que, como o próprio nome já diz, está separado, está à parte dos demais capítulos.
Essa seção, formada por seis páginas (nos dois “apartados”), apresenta um subtítulo
em comum, “Reflexión sobre textos y contextos”, e compõe-se de um pot-pourri de
textos de gêneros diversos, sendo que cada um deles vem acompanhado de uma
série de exercícios, todos de interpretação ou relacionados principalmente a
aspectos gramaticais da língua.
Somente ao final desse “Apartado” encontramos a letra de uma canção cujo
título é “La gramática en la canción”, com seis a oito exercícios puramente
gramaticais. É nessa parte que aparece uma brevíssima apresentação do cantor e
nada mais. Ou seja, é nessa seção do livro que se propõe a reflexão sobre textos e
contextos. Em primeiro lugar, apresenta apenas um exemplo do gênero canção em
meio a tantos outros possíveis gêneros literários, como poemas ou contos. Em
segundo lugar, a maioria dos exercícios está relacionada a particularidades
gramaticais da língua, sem qualquer estímulo à reflexão sobre aspectos culturais e
muito menos a questões literárias da língua. Exemplos como esse nos preocupa e
evidenciam mais um dos motivos que levam os professores a se prenderem tanto à
parte gramatical da língua, pois o livro didático basicamente segue esse princípio.
133
Tendo em vista o tratamento dos textos literários nos livros didáticos
analisados, estamos de acordo com Santos (2004) quando a autora afirma que:
[…] El discurso literario se inserta en las clases como un recurso que tendrá
la misma utilidad de cualquier otro material auténtico. Se subutiliza el texto
literario, tornándolo un recurso más que servirá para la práctica de un tema
para la escritura o la conversación, de una lectura ascendiente o
descendiente del texto o la práctica de los aspectos gramaticales. No se
suele analizar sus particularidades, sus aspectos estilísticos40 (SANTOS,
2004, p. 72).
Como eu vou ensinar o meu aluno? Se eu não sei o objetivo disso também?
Como é que eu vou ensinar para quê? (...) Então eu não sei aonde colocar
a literatura. Eu vou na parte da cultura, pode ser que em algumas situações
apareça algo de literatura, mas eu não consigo entrar com uma abordagem
maior. (P6).
Ou seja, o docente deixa explícito que não faz uso da literatura porque não
sabe sua serventia para o aluno. A postura dele revela que sua relação com a língua
é meramente instrumental e utilitarista, e isso o impede de perceber que os textos
literários, além de toda a sua carga artística e estética, exprimem uma cultura, um
pensamento e uma relação com o mundo.
40
[…] O discurso literário é inserido nas aulas como um recurso que terá a mesma utilidade de
qualquer outro material autêntico. Se subutiliza o texto literário, transformando-o num recurso a mais
que servirá para a prática de um tema para a escrita ou a conversação, de uma leitura ascendente ou
descendente do texto ou a prática dos aspectos gramaticais. Não se costuma analisar suas
particularidades, seus aspectos estilísticos. (Tradução nossa).
134
Por outro lado, os demais professores comentaram que utilizam outros textos
literários, conforme a resposta do P1: “Sim, poemas de Pablo Neruda: Puedo
escribir los versos más tristes esta noche, Gloria Fuertes: Ecología esencial e o
conto: Ladrón de sábado de Gabriel García Márquez, e a do P3: “Sim, o gênero que
mais uso é o conto, por exemplo, Cuentos de amor, locura y muerte de Horácio
Quiroga e Julio Cortázar, que eu adoro”.
O P5, por sua vez, comentou sobre a realização de um projeto elaborado em
parceria com um grupo de alunos de um curso de Letras, aprovado e apoiado pela
coordenação deste, cujo objetivo foi trabalhar a obra Romeu e Julieta de
Shakespeare. No entanto, o professor comentou que uma de suas turmas sugeriu
trabalhar a obra La Celestina, um clássico da literatura espanhola, a qual apresenta
uma temática semelhante.
135
Quadro 7 – A literatura e o aspecto didático – A
Professores Q10. Além dos textos Q11. Que recursos didáticos faz uso para trabalhar os Q12. Em sua opinião, como é a receptividade dos
literários que aparecem no textos literários? alunos ao trabalhar textos literários em sala de aula?
livro didático, você explora
outros?41
P1 Sim, poemas de Pablo A leitura, para que haja interação do aluno com o texto, A receptividade é boa, mas tenho ainda dificuldade
Neruda: “Puedo escribir los reconhecendo o conhecimento de mundo que o texto para chegar a uma compreensão 100%. Os textos
versos más tristes esta propõe. As perguntas e respostas relacionadas ao texto para literários possuem uma linguagem que nem sempre
noche”. Gloria Fuertes: maior compreensão. condiz com o cotidiano do aluno.
“Ecología esencia”, e o
conto “Ladrón de sábado”
de Gabriel García Márquez.
P2 Trabalho com poucos textos Geralmente lemos o conto, cada aluno lê um trecho, Eles gostam de textos, mas às vezes reclamam porque
literários, geralmente utilizo fazemos a interpretação, fazemos comparações, têm que interpretar ou responder as questões e achar o
contos de fadas, trechos de respondemos algumas questões. Mas reforço: não faço vocabulário.
contos. Na verdade, não faço muito uso de textos literários.
muito uso de textos literários.
P3 Sim, o gênero que mais uso Desconstrução da história (não entrou em detalhes) e leitura de Eu acho que é 50 a 50%. 50% gosta, e pede pra trazer mais, a
é o conto, por exemplo, fruição: levo para a aula várias obras de literatura, os alunos semana que eu não trago eles falam: “A senhora não ia trazer
“Cuentos de amor, locura y escolhem e passam 15 minutos lendo. o livro essa semana...?” Eu ia, mas a gente está atrasado... E
muerte” de Horacio Quiroga Antes disso, o professor comentou que: Primeiro abordo o aspecto alguns, quando eu trago, se vê que dormem na carteira, se
do gênero, porque a gente faz uma revisão do gênero textual, e tem que falar: Pelo menos abre o livro lê o resumo atrás. (...)
e Julio Cortázar, que eu
geralmente eu peço sugestões, eu pergunto que tipo de conto Sempre eu tento motivá-los, falo que é uma forma de viajar
adoro. vocês gostam de suspense de terror? E daí a literatura, eu explico sem gastar dinheiro, sem sair de casa e tentar se por no lugar
sempre o realismo mágico e o fantástico, acho que infelizmente da personagem.
sou um pouco egoísta! Acabo trazendo coisas que eu gosto muito,
o critério é sempre pedir sugestões, né? Mas eu gosto de trazer o
realismo mágico, para diferenciar com o realismo fantástico, pois
acho que algo que eles não aprendem muito na escola.
Fonte: Elaborado pela autora.
41
Perguntas Q10, Q11 e Q12 do questionário na parte de Aspectos específicos sobre literatura (vide Apêndice A).
136
Quadro 8 – A literatura e o aspecto didático - B
Professores Q10. Além dos textos Q11. Que recursos didáticos faz uso para trabalhar os Q12. Em sua opinião, como é a receptividade dos
literários que aparecem no textos literários? alunos ao trabalhar textos literários em sala de aula?
livro didático, você explora
outros?42
P4 Livrinhos paradidáticos. O professor explicou que, com os alunos do CEL, No começo nunca é muito bom, aí, com a leitura, eles
(Também explicou que leva normalmente faz roda de leitura. se interessam. Às vezes eu começo lendo... vou pedindo
às vezes alguns contos para ler. (...) Tem uns que nunca querem... mas a maior
curtos). parte participa sim, e acaba gostando.
P5 Estudo das obras A Celestina (Comentário sobre o estudo da obra La Celestina) A obra Eu acho que, assim, já tive turmas super empolgadas,
e Romeu e Julieta, pela adaptada que eu estou trabalhando com eles, mesmo a de montar um teatrinho assim em uma aula. Quando a
realização de um projeto adaptada dá uma viajada legal, e aí eu vou fazer uma coordenadora jogou a história do Shakespeare, falei
com todos os alunos do CEL, releitura com eles da adaptação, eles, porque vou jogar a com eles em uma aula, na aula seguinte trouxeram
sobre a obra Shakespeare bola para eles. Como você pensou essa releitura? Assim, vai corações com pirulito, escrito frases que eles buscaram
sob a orientação da ter que montar um teatro mesmo escrito, só que com um na internet, passaram para o espanhol, ou encontraram
coordenadora e em parceira vocabulário mais simples, e aí eu vou falar se eles querem mesmo Shakespeare em espanhol.
com alunos de uma jogar para os dias de hoje. Por que dá pra fazer isso também,
Universidade. né?
P6 Não, eu nunca busquei algo Eu trabalho o que aparece no livro, eu faço a leitura e a Não respondeu.
fora, por causa disso compreensão.
mesmo, porque eu não
encontrei o objetivo disso,
(a literatura), então eu
trabalho o que aparece no
livro.
P7 Não. Eu aproveito o que tem Faço leitura, faço análise, faço também comparativos com a Eles gostariam de ter mais parte gramatical, eles acham
no livro (não traz outros literatura daqui, faço um tipo de paralelos e faço um livro como esse para eles é muito.
textos). transversais também.
Fonte: Elaborado pela autora.
42
Perguntas Q10, Q11 e Q12 do questionário na parte de Aspectos específicos sobre literatura (vide Apêndice A).
137
Passando à análise da pergunta Q11: Que recursos didáticos faz uso para
trabalhar os textos literários?, todos responderam que utilizam leitura e análise e
interpretação dos textos por meio de exercícios escritos ou de forma oral.
Além do P5, que comentou sobre a realização do projeto de leitura da obra La
Celestina, destacamos a prática do P3, pois foi o único a afirmar que faz leitura de
fruição: “Levo para a aula várias obras de literatura, os alunos escolhem e passam
15 minutos lendo”. Apresentamos a seguir o comentário do professor sobre como
ele realiza esse tipo de atividade e qual material dispõe:
138
dos estudos de Bakhtin (2011), trata da necessidade de desenvolver nos alunos a
capacidade responsiva, ou seja, a compreensão que movimenta o leitor a refletir e a
agir, colocando-se em atitude de alteridade diante do outro. Assim, o aluno se
transforma em um sujeito ativo, responsável pela sua aprendizagem, o que
logicamente demanda esforços, tirando-o de sua zona de conforto.
Por outro lado, na percepção do professor P3, metade dos alunos gosta, mas a
outra metade não. Alguns alunos cobram a leitura prevista naquela semana, e
outros, no dia de fazê-la, acabam dormindo. Realmente não podemos nos iludir e
pensar que todas as atividades vão atingir sempre os mais diferentes gostos dos
alunos. Porém, é papel do professor conhecer o perfil de seu corpo discente e,
assim, poder selecionar e realizar as escolhas sobre quais devem ser as atividades
mais adequadas para desenvolver em sala de aula, ainda que nem todos os alunos
gostem delas. Isso deve ser feito sempre com o intuito de promover o ensino da
língua de forma mais ampla, para além de seu aspecto comunicacional, buscando
contemplar toda sua complexidade na relação com o mundo e o cidadão que faz uso
dela. Como já destacamos nesta dissertação, são aspectos fundamentais para
trabalhar o ensino de língua estrangeira pensando em suscitar a cidadania no aluno.
Por isso, como defendemos anteriormente, a leitura de forma geral, em
especial a leitura de textos literários, tem muito a contribuir no processo formativo do
aluno.
139
4.3.1 Perfil geral dos alunos
14 12 10
13 17 11 88
11
7 8 5
6 6 5 40
3
0
1 2 3 4 5 6 7 TOTAL
TURMAS DE ALUNOS
140
27% no 1º ano do Ensino Médio, o que corresponde à faixa etária predominante
nesta pesquisa.
20%
16%
15%
10%
9% 9%
10%
5% 3%
2%
0%
12 anos 13 anos 14 anos 15 anos 161 anos 17 anos 18 anos mais de 18
30%
27% 27%
25%
20%
15%
14%
15%
10%
10%
4%
5% 2%
0%
7o. Ano 8o. Ano 9o. Ano 1o. EM 2o. EM 3o. EM Univer.
141
Gráfico 6 – Distribuição dos alunos por estágio
13% 12%
24%
51%
50%
40%
30%
20%
9% 9%
10% 7%
4% 4% 3% 2%
2%
0%
142
cursando no 5º. estágio do CEL, 27% estavam matriculados no 9º ano do Ensino
Fundamental e 27% no 1º ano do Ensino Médio na época da realização da pesquisa.
E por último, 60% decidiram cursar espanhol para aprender uma segunda língua
estrangeira.
143
Gráfico 8 – Livro didático utilizado nos CEL
80% 73%
70%
60%
50%
40%
30% 27%
16% 16% 18%
20% 15% 13%
11% 12%
10%
0%
CEL 1 CEL 2 CEL 3 CEL 3 CEL 4 CEL 4 CEL 5 Total
Livro Síntesis Livro Enlaces
2%2%
19% 27%
50%
144
No que se refere aos tipos de materiais que os professores utilizam, dividimos
os dados em dois segmentos: materiais escritos, representados pelo Gráfico 10, e
materiais audiovisuais, presentes no Gráfico 11.
Em primeiro lugar, verificamos no Gráfico 10 que 70% dos alunos, isto é a
maioria, apontaram exercícios gramaticais. Esse alto índice de indicação nos
possibilita entender que essa é uma das atividades mais utilizadas pelos professores
em sala de aula. Em segundo lugar, com 64% de indicação, foram os textos
diversos, do tipo informativo, por exemplo, notícias, propagandas, entre outros.
Além dos textos diversos, no questionário também estavam discriminados para
ser marcados outros gêneros textuais, sendo quatro deles literários (poemas,
contos, romances, obras adaptadas) e diálogos. Entre eles, os gêneros mais
apontados foram os textos literários, os quais tiveram uma indicação bastante
representativa, pois 54% dos alunos apontaram os contos, 36% citaram a leitura de
poemas, 21% mencionaram os romances e 34% declararam ser as obras
adaptadas. Esses dados coincidem com as turmas do P3 e do P5, professores que
mais demonstraram fazer usos de textos literários em sala, uma vez que seus alunos
apontaram a maioria dos gêneros literários citados no questionário. Além disso,
também coincidem com as respostas dadas pelos respectivos professores, que
demonstraram fazer uso da leitura de textos literários em sala de aula. Em menor
número, mas também ganharam destaque, as respostas das turmas dos professores
P4, P1 e P2 em ordem decrescente.
145
A respeito dos materiais didáticos audiovisuais, 54% dos alunos apontaram
vídeos didáticos e 41% indicaram vídeos do Youtube como os recursos mais
utilizados (Gráfico 11). Esses dados também confirmam as respostas dadas pelos
professores quando indagados sobre os tipos de materiais que usam, e os mais
citados foram estes: vídeos do Youtube, vídeos didáticos, filmes e músicas.
Basicamente, os resultados obtidos com os alunos seguem essa mesma sequência.
60%
54%
50%
41%
40%
32%
30%
30%
20% 18%
10% 8%
4%
0%
Vídeos didáticos Youtube Filmes Power-point Músicas Jogos Aúdio Cd
146
Desse modo, entendemos que esse é um dos pontos relevantes do nosso
estudo, ou seja, identificamos que há um alto índice de atividades relacionadas ao
ensino da gramática. Assim, uma vez identificado o problema, o próximo passo é
buscarmos soluções para contorná-lo, ou seja, é necessário parar, refletir e pensar
em novas formas de abordar o ensino da língua, sem tratar tanto sobre os aspectos
gramaticais de forma estrutural, e buscar desenvolver práticas e atividades
fundamentadas na concepção sociointerativa de língua.
39%
45%
16%
147
Podemos observar no Gráfico 12 que 45% dos alunos responderam que os
textos literários apareciam em todas as unidades, 39% apontaram que isso ocorria
em algumas unidades e 16% destacaram que em algumas partes do livro. Como já
colocamos anteriormente, de fato nos dois livros didáticos, Síntesis e Enlaces, há
textos literários. Entretanto, como aparecem realmente de forma esporádica, além
do fato de o primeiro livro apresentar mais textos literários do que o segundo,
entendemos a dificuldade dos alunos para identificá-los.
59% 58%
28%
23%
6%
2%
148
dificuldade para distingui-los, pois os gêneros mais apontados, foram, em primeiro e
segundo lugar, respectivamente, crônicas e contos, e em terceiro lugar, poemas.
Quando na verdade predominam os gêneros poemas e contos.
Após a análise dos livros, principalmente, como já dissemos, sobre o livro
Enlaces, a presença de textos literários é tão pequena que é difícil identificá-los. Por
exemplo, no volume 1 dessa série, o primeiro texto literário aparece ao final da
unidade 6 e é um fragmento do poema Eu etiqueta, em português, de Carlos
Drummond de Andrade, e o segundo e último texto literário nesse livro, ou seja,
nesse volume há apenas dois poemas. Já nos volumes 2 e 3, embora apareçam
outros gêneros literários, como canções e fragmentos de romances, nenhum deles
são contos nem crônicas.
Por outro lado, o livro Síntesis, o qual apresenta um número maior de textos
literários e é o livro mais utilizado pelos participantes desta pesquisa, realmente
apresenta contos e poemas, mas não crônicas. Talvez os alunos tenham associado
esse gênero a outros, por exemplo, reportagens ou artigos de opinião adaptados,
bastante presentes nos dois livros.
De acordo com a pergunta Q8, questionamos os alunos sobre se aparece
algum tipo de apresentação ou referência no livro sobre o autor ou a obra. Os
resultados foram os seguintes: 91% dos alunos responderam afirmativamente, 7%
disseram que não e apenas 2% não responderam a essa questão. De fato, em todos
os textos apresentados nos livros didáticos são citados normalmente ao final, dados
essenciais como as referências bibliográficas, mas nada além disso. Curiosamente,
pudemos observar no livro Síntesis que, no caso de letras de canção, além das
referências bibliográficas, havia também um breve resumo da vida e obra dos
cantores, os quais, em sua maioria, são também os compositores delas. Porém,
quando apresenta um texto literário, aparece somente no fim do texto o nome do
autor e a fonte do livro do qual ele foi retirado. Não é feita qualquer referência, nota
ou comentário ao autor ou à obra.
149
Gráfico 14 – Os textos literários em sala de aula
1%
44%
55%
150
lembrado o nome de algum texto em especial. A segunda possibilidade é que,
apesar de os livros didáticos, principalmente os de língua materna, apresentarem
uma forte ênfase no ensino por meio de gêneros textuais, a questão dos gêneros
literários é também muito pouco explorada devido à predominância dos gêneros
jornalísticos.
Dessa forma, o contato que os alunos têm com os textos literários ainda é
muito pequeno em comparação com outros gêneros. Além disso, quando aparecem
os traços marcantes da literariedade desses textos, eles são pouco explorados,
como já evidenciamos anteriormente.
7%
39% 54%
36%
21%
14% 13%
11% 10%
151
O Gráfico 16 apresenta o resultado da pergunta Q11 do questionário: Você
poderia relatar como foi o estudo desse texto em sala de aula? Conforme os
resultados obtidos, 21% deles não responderam à pergunta, 36% indicaram a
realização de leitura compartilhada em sala de aula, 14% apontaram a realização de
exercícios de compreensão leitora, 13% apenas comentaram que foi uma atividade
boa, sem entrar em detalhes, 11% indicaram a realização de leitura em casa e 10%
citaram a visualização de filme relacionado ao tema proposto. Esses dois últimos
dados são resultado das respostas dos alunos do professor P5, que sugeriu a leitura
da obra La Celestina, para a realização do projeto sobre a obra de Shakespeare
implantado nesse CEL.
A questão Q12 teve o objetivo de verificar se, na opinião dos alunos, os textos
literários que apareciam no livro eram interessantes. De acordo com o resultado
obtido, a maioria, 77%, respondeu que às vezes, em contrapartida, 20% disseram
que sempre são interessantes e somente 3% apontaram que nunca são
interessantes.
Ainda com relação à pergunta Q12 no questionário, solicitamos que
justificassem sua resposta. Do total dos alunos, 12% não justificaram, 48%
explicaram que nem sempre os textos são interessantes, 29% afirmaram que são
importantes para “praticar a leitura, aumentar o conhecimento e o vocabulário”, 11%
declararam que não são adequados para a idade deles. Nesse universo, uma
porcentagem pouco representativa de alunos, apenas 1%, afirmou que gosta de
literatura e outro 1% registrou que só gosta de histórias em quadrinhos. O Gráfico 17
ilustra o resultado sobre as justificativas que os alunos deram em relação ao grau de
interesse por textos literários.
152
Gráfico 17 – Justificativa sobre o grau de interesse por textos literários
11% 12%
29%
48%
É pertinente observar que, conforme mostra o Gráfico 17, para a maioria dos
alunos os textos literários nem sempre são interessantes. A primeira questão que
surge diante esse resultado é se eles realmente estão se referindo aos textos
literários ou a algum outro gênero textual, pois, como comentamos anteriormente,
quando analisamos os dados apresentados no Gráfico 15, percebemos que não está
bem claro para os alunos quais são os textos literários estudados.
Outro aspecto diz respeito ao fato de os textos não serem interessantes do
ponto de vista do aluno, ou como 11% apontaram: não eram adequados para a
idade deles, o que retoma a questão do estranhamento que o texto literário provoca
e a postura que o leitor deve estabelecer com ele, ou seja, é importante ler o texto
literário atento a novas possibilidades de significação, como se essa leitura abrisse
um mundo novo. Nesse sentido, estamos de acordo com Cosson (2006, p. 27),
quando ele afirma que “É preciso estar aberto à multiplicidade do mundo e à
capacidade da palavra de dizê-lo para que a atividade da leitura seja significativa”.
153
A pergunta Q13 questionou aos alunos se eles gostavam de ler. Do total de
alunos participantes, 80% responderam que sim, 19% declararam que não e apenas
1% não respondeu à questão.
Com relação aos espaços propícios para a prática de leitura, questionamos na
Q14 se na escola havia biblioteca, e os resultados foram estes: 87% dos alunos
responderam afirmativamente e 13% disseram que não há biblioteca na escola
deles. Em seguida, a próxima questão Q15 indagou o seguinte: Em caso afirmativo,
é frequentado esse espaço nas aulas de espanhol? Apenas 11% dos alunos
responderam que sim, 78% disseram que não e 11% não responderam à pergunta.
Depois, na Q18, solicitamos aos alunos que relatassem alguma atividade
realizada na biblioteca, cujos resultados apresentamos no Gráfico 18.
12% 15%
73%
Conforme exposto no Gráfico 18, podemos observar que a maioria dos alunos
(73%) não utiliza as bibliotecas de suas escolas. E quando os alunos vão a suas
bibliotecas, é somente para fazer uma simples visita ou confirmar se elas de fato
existem (15%).
No que se refere à questão das bibliotecas das escolas visitadas, gostaríamos
de fazer algumas observações. Em primeiro lugar, constatamos que na maioria
delas não há uma biblioteca operante, isto é, existe o espaço e até livros, mas
permanecem fechadas, sem manutenção mínima de limpeza, sem material básico
de apoio, como mesas e cadeiras, e principalmente sem funcionários habilitados
para viabilizar seu uso. Somente em duas escolas existem salas de leitura, um
154
projeto da SEE que visa promover um espaço pedagógico de trabalho
interdisciplinar para incentivar a leitura e apoiar o currículo escolar.
Entretanto, como as salas de leitura têm uma proposta diferenciada para
atender às necessidades da escola em geral, não existe uma integração com as
práticas realizadas pelo CEL. Por exemplo, nas escolas onde há salas de leitura, os
livros de literatura que o CEL possui não ficam nesses locais, mas permanecem em
um armário dentro da coordenação dele. As salas que visitamos são espaços muito
bem organizados e convidativos para praticar a leitura, no entanto eles seguem uma
programação que muitas vezes não pode atender às necessidades do Centro de
Estudos. Em síntese, é mais um espaço que, apesar de estar em verdadeiras
condições de uso, falta um elemento que integre as atividades desenvolvidas pelas
salas de leitura e o CEL.
Outro aspecto que observamos sobre as práticas de leitura refere-se às
respostas dadas pelos alunos quando disseram “livros na sala”. A princípio
poderíamos pensar que eles retiravam os livros da biblioteca e os levavam à sala de
aula para lê-los. Entretanto, a realidade é bem distinta, pois os que responderam
dessa forma são alunos do professor P3, que tem a prática de realizar atividades de
leitura de fruição, nas quais utiliza livros de sua biblioteca pessoal e exemplares da
biblioteca do CEL. Ele permite que os alunos escolham o título de seu interesse para
realizar a leitura por um tempo de mais ou menos entre quinze a vinte minutos,
antes de começar a aula.
Esse professor relata que a aceitação dessa atividade é praticamente de 50%
da sala, ou seja, a metade dos alunos gosta e pede sugestões sobre qual livro ler e
até pedem para levá-lo para casa e continuar a leitura, já os outros 50% não se
interessam. Conforme relato do docente, ele sempre tem de pedir a esses alunos
que, em vez de dormirem, leiam um pouco do livro. Destacamos um comentário do
professor sobre essa atividade de leitura de fruição:
Mas eu acho, assim, que os que gostam, eles pedem para trazer, e a hora
que acaba o tempo da leitura, “Mas já acabou?” Quando a gente gosta da
leitura o tempo passa rápido, né? E sempre eu tento motivá-los, falo que é
uma forma de viajar sem gastar dinheiro, sem sair de casa e tentar se pôr
no lugar da personagem. (P3).
155
Os resultados pertinentes à pergunta seguinte Q18: Em caso afirmativo, relate
como foi realizada essa leitura, estão expostos no Gráfico19.
Atividades complementares
13%
13%
48%
14%
12%
156
quando o livro apresenta um CD e tem exemplares para todos os alunos, faz uso
desse material de áudio como recurso para essa prática.
O Gráfico 19 também mostra que 12% dos alunos responderam que a leitura é
realizada de forma individual, ou seja, cada discente faz sua leitura em voz baixa.
Esse dado é resultado das respostas dos alunos do professor P3, que realiza a
atividade de leitura de fruição anteriormente comentada.
Os outros dois dados apresentados no Gráfico 19 são: 13% dos participantes
disseram que realizavam a atividade de leitura em casa e os outros 13%, em
atividades complementares. Esses resultados referem-se às respostas dos alunos
do professor P5. Ele solicitou que lessem a obra adaptada La Celestina43 em casa e,
depois de um determinado prazo, exibiu o filme espanhol que retrata essa obra.
Segue o comentário do professor sobre essa atividade.
Olha, essa turma tem mais alunos de Ensino Médio, então todos não, mas
vamos colocar metade, metade tem interesse em leitura, eles leem muito,
alguns, então isso dá diferença. (P5).
43
Tragicomédia de Calisto y Melibea ou La Celestina, atribuída a Fernando de Rojas, um clássico da
literatura renascentista espanhola.
157
4.3.5 Aspectos gerais sobre o processo de aprendizagem da língua
espanhola
40%
30%
30% 26%
22%
20% 17%
10%
9%
10% 7%
4%
0%
Aulas práticas e conversação Músicas
Leitura vídeos
Professor ensina bem Cultura dos países
Jogos Tudo
De acordo com o Gráfico 20, as quatro atividades mais apontadas foram: aulas
práticas e conversação (30%), atividades com música (26%), prática de leitura (22%)
e assistir a vídeos ou filmes (17%). Depois seguem mais quatro atividades que,
apesar de apresentarem números menos expressivos, possuem aspectos que
consideramos relevantes para a análise: o professor ensina bem (10%);
conhecimento da cultura de outros países (9%); gostam de participar de jogos (7%),
nesse caso os alunos se referem a jogos elaborados pelo professor P2, como bingo
158
de vocabulário, entre outros; e por último, gostam de tudo nas aulas de espanhol
(4%).
Podemos verificar que as quatro primeiras atividades mais destacadas pelos
alunos, as quais podemos sintetizá-las em conversar, ouvir e cantar músicas, ler e
ver vídeos, exigem deles uma participação mais ativa e envolvem as quatro
habilidades linguísticas: falar, ouvir, ler e escrever. Entretanto, com relação à escrita,
mais adiante observaremos que foi apontada como uma das habilidades que os
alunos apresentaram maior dificuldade.
Outro aspecto interessante, foi o fato de os alunos destacarem as práticas de
ensino realizadas pelos professores como um dos pontos relevantes, que os
levaram a gostar das aulas de espanhol. Realmente, durante as entrevistas,
pudemos perceber professores muito comprometidos com o projeto de ensino-
aprendizagem da língua espanhola, todos, de uma forma ou de outra, procuram
oferecer aos alunos o melhor. Desse modo, preparam atividades diversificadas,
buscam principalmente na internet recursos audiovisuais, bem como novas ideias
para inovar e preparar melhor suas aulas. Ficou evidente em seus comentários e
relatos que eles têm um gosto especial pela língua espanhola e tudo que a
circunscreve. E apesar das inúmeras dificuldades que a carreira docente enfrenta,
como baixos salários, falta de reconhecimento perante a sociedade, más condições
de trabalho, carga horária excessiva, entre tantos outros condicionantes, notamos
que mesmo assim, gostam muito do que fazem.
Na sequência, apresentamos, no Gráfico 21, os resultados decorrentes da
pergunta Q22: Em sua opinião, quais são os aspectos mais fáceis com relação à
aprendizagem da língua espanhola?
159
Gráfico 21 – Aspectos mais fáceis de aprender
35%
30%
30%
25% 23%
20%
15% 13%
11% 10% 9%
10%
5%
0%
Falar Ler Compreensão textual Vocabulário Gramática Escrita
160
Gráfico 22 – Atividades menos apreciadas pelos alunos na aula de espanhol
25% 23%
20%
15%
15% 14%
10% 8% 7% 6%
5%
0%
Gramática e verbos Não respondeu Conversas paralelas
Gosta de tudo Horário de aula Provas
50%
40%
30%
161
em todas as turmas houve alunos que apontaram tanto os verbos como a gramática,
e em vários casos apontaram os dois.
Ainda com relação à gramática, ao observarmos os dados do Gráfico 23
relativos às principais dificuldades apresentadas pelos alunos, verificamos que 59%
deles indicaram ter maior dificuldade para aprender a gramática. Nesse caso, tal
como consta no Gráfico 22, os discentes apontaram separadamente os verbos da
gramática, só que dessa vez 40% dos alunos indicaram maior dificuldade em
relação aos verbos e 19% à gramática.
Os dados dos Gráficos 22 e 23, os quais representam o ponto de vista dos
alunos com relação à aprendizagem dos aspectos gramaticais da língua espanhola,
podem ser interpretados de duas formas. A primeira é que os alunos não gostam da
parte gramatical, em especial o estudo dos verbos. Por outro lado, também podemos
entender que ele seja a parte gramatical mais reforçada em sala de aula, e talvez
seja esse o motivo pelo qual eles apontaram os verbos separadamente da
gramática. De qualquer forma, o resultado final é que a gramática é considerada a
vilã da aprendizagem da língua espanhola do ponto de vista desses discentes.
Sem dúvida, não podemos negar que tanto os verbos quanto a gramática da
língua espanhola apresentam uma complexidade real, assim como em toda e
qualquer língua de origem latina, por exemplo, o português, o italiano, o francês,
entre outras.
Porém, o que gostaríamos de discutir aqui não é o fato da complexidade
gramatical da língua, e sim chamar a atenção sobre esse resultado. Isto é, os alunos
apontaram o aspecto gramatical como a parte menos atraente e, ao mesmo tempo,
a mais difícil, o que é aparentemente normal.
Contudo, ao confrontarmos os dados dos alunos com os dados sobre as
atividades extras mais realizadas pelos professores, verificamos novamente que os
exercícios gramaticais são os mais utilizados, como mostramos no Gráfico 10. Esses
dados, somados às atividades do livro didático, tanto o Síntesis quanto o Enlaces,
que tratam de forma bem explícita e estrutural os aspectos gramaticais da língua.
Além das colocações já discutidas, sobre a preocupação da grande maioria dos
professores com o ensino do aspecto gramatical da língua, são indícios de que a
gramática é ostensivamente trabalhada como os alunos nas aulas de E/LE.
Desse modo, tudo isso revela que existe um alto índice de desenvolvimento de
atividades gramaticais em todas as turmas pesquisadas. O que nos leva a formular
162
as seguintes questões: os alunos não gostam da gramática devido às dificuldades
de compreensão dela? Ou devido à intensidade e à forma como ela é apresentada
em sala de aula? Não temos condições nem a pretensão de responder a essas
duas perguntas, porém servem como forma de reflexão sobre as práticas de ensino
realizadas em sala de aula de E/LE.
Apresentamos, a seguir, o último gráfico que ilustra o resultado das sugestões
e dos comentários dos alunos sobre as aulas de espanhol (Gráfico 24).
5%
5%
12%
18% 60%
Com relação à última questão Q 23: Este espaço está aberto para sugestões
ou comentários gerais sobre o curso de espanhol. Podemos verificar no Gráfico 24 o
resultado, no qual 60% dos alunos deixaram em branco, 18% reforçaram que
gostam de tudo, 12% sugeriram a realização de passeios, 5% destacaram
novamente as boas práticas de ensino dos professores e os outros 5% reclamaram
em relação ao horário, especificamente à forma como as aulas são disponibilizadas
no decorrer da semana. Esses poucos alunos que se manifestaram, em virtude de
as aulas serem concentradas em um único dia, relataram que é muito cansativo, por
isso sugeriram que as aulas sejam distribuídas pelo menos em duas vezes na
semana.
163
CONSIDERAÇÕES FINAIS
164
Bakhtin (2014, p.127), que compreende a linguagem como meio de interação e que
esta, por sua vez, não é mais vista de forma isolada, separada do sujeito que a
utiliza, e sim “(...) pelo fenômeno social da interação verbal, realizada através da
enunciação ou das enunciações”. Desse modo, a interação verbal constitui a
realidade essencial da língua.
Os aspectos sobre a concepção de língua e as funções da literatura no
processo pedagógico, são elementos fundamentais para refletir e viabilizar a
inserção dos textos literários no ensino de LE, como podemos ver mais adiante,
quando comentamos sobre a análise dos dados relativos aos professores e aos
alunos participantes da pesquisa.
Ainda com relação aos documentos oficiais, destacamos a preocupação da
BNCC em sistematizar os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento em práticas
sob a perspectiva de que o aprendizado de língua estrangeira se dá “no uso e para o
uso” (BRASIL, 2016, p. 125). Essa perspectiva metodológica implica em promover
atividades que coloque em prática a língua em situações significativas de aquisição,
veiculando o conjunto de recursos fonológicos, morfológicos, lexicais ou sintáticos
relevante para as situações de comunicação, e principalmente com uma postura
aberta para tratar outras formas de fazer e dizer (BNCC, BRASIL, 2016).
Nesse sentido, observamos as atividades sociais sugeridas pelo documento,
em especial as práticas artístico-literárias. Consideramos que essa prática social
contempla aspectos relacionados à arte, e de modo específico à literatura, sendo
uma medida extremamente inovadora, principalmente por orientar e incentivar o uso
de textos literários nas práticas educativas de língua estrangeira. Entendemos, que
medidas como essa revelam um grande avanço, para a implantação de um currículo
mais direcionado ao desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento
crítico dos alunos.
Após a análise e comparação dos dados referentes aos sujeitos participantes
constatamos, como havíamos pressuposto, que o trabalho com os textos literários
nas aulas de E/LE nos CEL investigados ainda é pequeno e subutilizado pela
maioria dos professores entrevistados.
Cabe mencionar que, em nosso trabalho investigativo, além de verificarmos a
utilização da literatura no ensino de E/LE, também nos propusemos a identificar os
obstáculos e as dificuldades que impedem a utilização dos textos literários nas
práticas pedagógicas de E/LE, e o primeiro ponto que verificamos relaciona-se à
165
formação docente. Esse é um tema complexo, assim vamos nos ater aos problemas
que observamos no decorrer da análise do primeiro eixo temático, que diz respeito à
graduação, e do quarto eixo, em que tratamos aspectos pertinentes à literatura no
aspecto formativo do professor.
O primeiro aspecto observado nessa análise trata-se da dicotomização do
ensino de língua e de literatura nos cursos de Letras como um todo. Concordamos
com Silva e Pinheiro-Mariz (2015), quando afirmam que a separação de elementos
indissociáveis da língua, acaba conduzindo os futuros professores a fazer sua
escolha entre o ensino de uma ou de outra. Em se tratando de língua estrangeira,
percebemos que essa separação parece ainda maior, pois, embora os cursos
abordem o ensino da literatura, nenhuma das faculdades ou universidades
frequentadas pelos professores entrevistados proporcionaram estudos e práticas
sobre a transposição didática da literatura.
Por outro lado, percebemos que muitos aspirantes a professores de língua
estrangeira ingressam no curso de graduação com expectativas que não
correspondem à realidade, por exemplo, o ensino básico da língua-alvo de estudo.
De acordo com alguns professores entrevistados, mesmo com uma carga de oito
semestres de língua espanhola e quatro semestres de literatura, eles consideraram
que não tiveram uma boa base sobre a língua. Esse tipo de comentário demonstra,
que alguns alunos ingressantes nos cursos de Letras de Língua Espanhola parecem
confundir a graduação, com os cursos oferecidos nas escolas de línguas, ou seja,
acreditam que durante sua formação docente deveriam aprender a falar espanhol,
quando na verdade, ao ingressar na faculdade já deveriam ter uma boa base de
conhecimento sobre a língua espanhola.
Outro aspecto sobre a graduação, está relacionado com a expectativa que os
futuros professores têm de aprender “fórmulas mágicas” ou “receitas prontas” sobre
como ministrar uma boa aula. Nesse aspecto, conforme nosso entendimento, o que
os cursos de graduação devem de fato oferecer é todo, o suporte teórico-
metodológico para formar uma base sólida, sobre as diferentes áreas do saber no
tocante à língua, à literatura e às práticas de ensino. Como afirma Andrade (2004
apud SILVA; ARAGÃO, 2011), um professor bem-formado sente-se seguro para
buscar conhecimentos em função das diferentes necessidades provenientes de sua
prática. Além disso, de acordo com Silva e Aragão (2011), durante a formação inicial
do professor não há como prever todas as situações que poderá enfrentar no
166
decorrer de sua trajetória profissional, contudo é imprescindível que ele reflita
sempre sobre os problemas e as dificuldades, no intuito de encontrar soluções para
ambos, ainda que isso resulte na transformação de suas ações.
Com isso, não queremos dizer que os cursos de licenciatura não apresentem
problemas, um deles, por exemplo, é a falta de discutir o papel da literatura no
processo de ensino-aprendizagem da língua. Segundo o estudo de Santos (2004),
os futuros professores não são orientados e nem estimulados a desenvolver
atividades que envolvam o trabalho específico com o discurso literário. Essa falta de
discussão, implica a ausência do desenvolvimento de atividades que explorem a
literariedade presente nos respectivos textos.
Esse aspecto chamou nossa atenção durante a análise, pois os professores
que afirmaram ter boa formação em estudos literários não demonstraram
desenvolver práticas expressivas com textos literários em sala de aula, exceto
alguns deles, que realizam ações interessantes, como práticas de leitura de fruição
ou atividades de releituras com base em clássicos da literatura.
Outro problema observado no decorrer de nossa análise está relacionado à
concepção de língua dos professores participantes da pesquisa. Talvez esse seja o
ponto nevrálgico, uma vez que as práticas pedagógicas desenvolvidas por eles
estão diretamente relacionadas a seus conceitos de língua. Desse modo, ainda que
alguns docentes apresentem, em seu discurso, preocupações com o ensino da
língua em situações sociointerativas, a maioria deles revela tanto em seu discurso
como na parte prática, que ainda mantém uma concepção de língua monológica,
estável e homogênea, isto é, percebe o idioma como um simples instrumento de
comunicação, que pode ser aprendido por meio de estruturas gramaticais. Por isso,
a preocupação da maior parte dos professores com o ensino da gramática em suas
práticas pedagógicas.
Ainda com relação à formação dos professores, percebemos pelos seus relatos
que, apesar de todos eles terem tido o ensino de literatura, não se constituíram
leitores. Parece que tudo o que eles poderiam aprender sobre a literatura foi
oferecido nas aulas da universidade, quando, certamente, a relação estabelecida
com os textos literários poderia ter sido constante, sem limitar-se apenas ao que foi
visto nas aulas de graduação. A continuidade da leitura de obras literárias poderia
ter-lhes transformado em professores leitores e fruidores de literatura, uma vez que,
como já apontamos na análise e de acordo com o pensamento de Brait (2000 apud
167
Silva; Pinheiro-Mariz, 2015), o professor de Letras deve conhecer muito bem a
língua desde suas variantes à norma culta e também a literatura. Desse modo, ele
estará preparado para identificar nos textos literários, um instrumento para ver e
mostrar o mundo, sob outras perspectivas e diferentes formas de expressar a língua.
Todavia, não podemos deixar de ressaltar dois aspectos relevantes sobre a
formação do professor leitor. Primeiro, a dura realidade que envolve a rotina dos
docentes, desde a elevada carga horária de trabalho, em virtude da qual eles têm
pouco tempo para o descanso e a realização de atividades de lazer, até os baixos
salários e o desprestígio perante a sociedade. Segundo, o contexto da realidade do
Brasil, um país que apresenta baixos índices de leitura de modo geral, o elevado
preço dos livros, principalmente os de língua estrangeira, a falta de espaços de
incentivo à leitura, por exemplo, a situação precária das bibliotecas das escolas
públicas, que praticamente se encontram sucateadas e inoperantes. Todos esses
fatores contribuem para dificultar ainda mais a formação de professores leitores e o
desenvolvimento de práticas de leitura com os alunos.
Por outro lado, em nosso estudo também observamos práticas interessantes
para a utilização de textos literários nas aulas de E/LE, por exemplo, as de leitura de
fruição realizadas antes do início das aulas, com o intuito de desenvolver o gosto
pela leitura. Outra prática observada envolveu a leitura de um clássico da literatura
espanhola adaptado, o desenvolvimento de atividades relativas à obra e, por último,
a montagem e apresentação de uma peça de teatro ambientada à realidade
vivenciada pelos alunos. Consideramos que atividades como essas são formas
expressivas para a inserção de novas práticas de ensino, por meio de textos
literários, além das atividades tradicionalmente desenvolvidas, como a leitura e
interpretação textual.
Embora essas medidas sejam pertinentes e motivadoras, compreendemos que
precisam ser pensadas outras possibilidades para viabilizar a utilização de textos
literários no processo de ensino de E/LE de forma mais preponderante. Assim, os
professores precisam refletir sobre vários aspectos. Em primeiro lugar, perceber a
riqueza dos textos literários para o ensino da língua, não só pelo seu valor
linguístico, mas também pelo valor cultural, estético e formativo da essência
humana.
Em segundo lugar, é necessário buscar novas formas de explorar os textos
literários, diferentes das tradicionais atividades de leitura e compreensão textual. A
168
literatura oferece diversas possibilidades para o desenvolvimento de atividades que,
além de promoverem a prática das quatro habilidades linguísticas: compreensão
leitora, auditiva, produção escrita e oral, permitem também o desenvolvimento da
competência comunicativa. Para isso, é muito importante refletir e elaborar
estratégias com objetivo de explorar e promover procedimentos estimulantes, que
tencionem atividades comunicativas, em busca de tanto integrar as quatro
habilidades linguísticas fundamentais, quanto possibilitar a comunicação entre os
alunos como um dos principais objetivos.
Nesse sentido, o papel do professor é essencial no processo de seleção dos
textos literários, o qual, de acordo com Albaladejo (2007 apud Silva; Aragão, 2013)
deve considerar cinco aspectos importantes. Primeiro, a acessibilidade, ou seja, o
texto deve ser adequado ao nível de conhecimento da língua dos alunos, com o
intuito favorecer o processo de aprendizagem deles, e não o contrário. Segundo, os
textos devem ser significativos e motivadores. E para isso, é muito importante
conhecer as preferências e os interesses dos alunos. Terceiro, observar as
possibilidades que o texto oferece para trabalhar as quatro habilidades linguísticas,
bem como identificar quais delas são as mais requisitadas e quais atividades devem
ser desenvolvidas. Quarto, desenvolver estratégias que permitam a integração dos
alunos à aula, por exemplo, realizar dramatizações, debates, vídeos, entre outras. E
por último, deve ser levado em consideração a originalidade dos textos literários e
sua adequação ao nível de conhecimento dos alunos.
Assim, a partir da escolha adequada desses textos, da elaboração de
estratégias estimulantes e interativas, bem como de atividades que promovam a
reflexão sobre os aspectos culturais e as variações estilísticas éticas, os textos
literários resultarão em material valioso para o ensino de E/LE em sala de aula.
Contudo, nosso estudo revela que, embora a literatura apresente um rico
potencial para o desenvolvimento de práticas educativas para o ensino de E/LE,
ainda é muito pouco explorada. Desse modo, destacamos a necessidade de
fomentar estudos e pesquisas que desenvolvam trabalhos práticos em parceria com
os professores, pois estamos de acordo com o entendimento de Tardif (2014). O
autor ressalta que as pesquisas sobre o ensino devem apoiar-se no fecundo diálogo
com os professores, vendo-os não apenas como objetos de pesquisa, mas como
sujeitos competentes que detêm saberes específicos sobre seu trabalho.
169
Para finalizar, este instigante e laborioso estudo acadêmico proporcionou o
desenvolvimento de nossa prática reflexiva ao reconhecer os obstáculos, as
dificuldades, as experiências e os saberes docentes e discentes dos diferentes
sujeitos participantes deste estudo. No decorrer do processo, construímos e
desconstruímos paradigmas, teorias, metodologias e análises que nos possibilitaram
um valioso enriquecimento teórico e prático enquanto pesquisadora e docente da
preciosa língua de Cervantes.
170
REFERÊNCIAS
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comunicação. Campinas: Pontes, 2009.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Tradução Paulo Bezerra. 6. ed. São
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<http://basenacionalcomum.mec.gov.br/documentos/bncc-2versao.revista.pdf>.
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COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2006.
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TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Da infância à ciência: língua e literatura. In: BRAIT, Beth
(Org.). Literatura e outras linguagens. São Paulo: Contexto, 2010. p. 36-38.
179
ANEXOS
180
Anexo A1 – Parecer do Comitê de Ética
181
182
Anexo A2 – Aprovação do Comitê de Ética
183
Anexo A3 – Certificado Comitê de Ética
184
Anexo B1– Termo de consentimento livre e esclarecido (Professor)
Você está sendo convidado(a) a participar, como voluntário(a), da pesquisa intitulada
“A literatura como instrumento didático no ensino da língua espanhola”, conduzida pela
mestranda Nilza Yolanda Ruiz Leite Ribeiro, orientada pela professora doutora Josiane Maria
de Souza. Este estudo tem por objetivo investigar e levantar as diferentes formas de uso de
textos literários em sala de aula de língua espanhola, em escolas de Educação Básica, em
especial nos cursos de espanhol oferecidos nos Centros de Estudos de Línguas. Bem como,
qual a recepção e percepção dos alunos no processo de ensino-aprendizagem, na utilização de
textos literários em sala de aula.
Você foi selecionado(a) por ser professor de língua espanhola no Centro de Estudos de
Línguas da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Sua participação não é
obrigatória. A qualquer momento, você poderá desistir de participar e retirar seu
consentimento. Sua recusa, desistência ou retirada de consentimento não acarretará prejuízo.
Sua participação não é remunerada e nem implicará em gastos para o participante. Sua
participação nesta pesquisa consistirá em responder um questionário que será realizado na
própria Unidade de Ensino em que será feita a pesquisa. Após análise dos mesmos, serão
escolhidos alguns participantes para realização de entrevista, focando compreender a prática
do profissional com relação ao uso, ou não, de textos literários em sala de aula. As entrevistas
também serão realizadas pela pesquisadora, haverá registro de áudio e transcrição das
mesmas.
Os dados obtidos por meio desta pesquisa serão confidenciais e não serão divulgados
em nível individual, visando assegurar o sigilo de sua participação. O pesquisador responsável
se comprometeu a tornar públicos nos meios acadêmicos e científicos, os resultados obtidos
de forma consolidada sem qualquer identificação de indivíduos participantes. Caso você
concorde em participar desta pesquisa, assine ao final deste documento, que possui duas vias,
sendo uma delas sua, e a outra, do pesquisador responsável. Seguem os telefones e o endereço
institucional do pesquisador responsável e do Comitê de Ética em Pesquisa – CEP, onde você
poderá tirar suas dúvidas sobre o projeto e sua participação nele, agora ou a qualquer
momento. Contatos do pesquisador responsável: Nilza Yolanda Ruiz Leite Ribeiro,
mestranda, e-mail: yolandarlr@hotmail.com, telefone: (19) 98107-5747. Caso você tenha
dificuldade em entrar em contato com o pesquisador responsável, comunique o fato à
Comissão de Ética em Pesquisa da UNIMEP: Rodovia do Açúcar km 156 - bloco 7 sala 08,
Caixa Postal 68 - CEP 13400-970- Piracicaba/SP. Fone: (19) 3124-1515 ramal: 1247, e-
mail: comitedeetica@unimep.br. Horário de funcionamento: Segunda a sexta-feira das 8h
às 12h e 13h as 16h30. Declaro que entendi os objetivos, riscos e benefícios de minha
participação na pesquisa, e que concordo em participar.
________________, ____ de _______________ de 2015.
Assinatura do(a) participante: ____________________________________________
Assinatura da pesquisadora: _____________________________________________
185
Anexo B2 – Termo de consentimento livre e esclarecido (Aluno)
Você está sendo convidado(a) a participar, como voluntário(a), da pesquisa intitulada
“A literatura como instrumento didático no ensino da língua espanhola”, conduzida pela
mestranda Nilza Yolanda Ruiz Leite Ribeiro, orientada pela professora doutora Josiane Maria
de Souza. Este estudo tem por objetivo investigar e levantar as diferentes formas de uso de
textos literários em sala de aula de língua espanhola, em escolas de Educação Básica, em
especial nos cursos de espanhol oferecidos nos Centros de Estudos de Línguas. Bem como,
qual a recepção e percepção dos alunos no processo de ensino-aprendizagem, na utilização de
textos literários em sala de aula.
Você foi selecionado(a) por ser aluno(a) de língua espanhola no Centro de Estudos de
Línguas da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Sua participação não é
obrigatória. A qualquer momento, você poderá desistir de participar e retirar seu
consentimento. Sua recusa, desistência ou retirada de consentimento não acarretará prejuízo.
Sua participação não é remunerada e nem implicará em gastos para o participante. Sua
participação nesta pesquisa consistirá em responder um questionário que será realizado na
própria Unidade de Ensino em que será feita a pesquisa. Após análise dos mesmos, serão
escolhidos alguns participantes para realização de entrevista, focando compreender a recepção
e percepção dos alunos sobre a importância de uso de textos literários, ou não, na
aprendizagem de uma língua estrangeira. As entrevistas também serão realizadas pela
pesquisadora, haverá registro de áudio e transcrição das mesmas.
Os dados obtidos por meio desta pesquisa serão confidenciais e não serão divulgados
em nível individual, visando assegurar o sigilo de sua participação. O pesquisador responsável
se comprometeu a tornar públicos nos meios acadêmicos e científicos, os resultados obtidos
de forma consolidada sem qualquer identificação de indivíduos participantes. Caso você
concorde em participar desta pesquisa, assine ao final deste documento, que possui duas vias,
sendo uma delas sua, e a outra, do pesquisador responsável. Seguem os telefones e o endereço
institucional do pesquisador responsável e do Comitê de Ética em Pesquisa – CEP, onde você
poderá tirar suas dúvidas sobre o projeto e sua participação nele, agora ou a qualquer
momento. Contatos do pesquisador responsável: Nilza Yolanda Ruiz Leite Ribeiro,
mestranda, e-mail: yolandarlr@hotmail.com, telefone: (19) 98107-5747. Caso você tenha
dificuldade em entrar em contato com o pesquisador responsável, comunique o fato à
Comissão de Ética em Pesquisa da UNIMEP: Rodovia do Açúcar km 156 - bloco 7 sala 08,
Caixa Postal 68 - CEP 13400-970- Piracicaba/SP. Fone: (19) 3124-1515 ramal: 1247, e-
mail: comitedeetica@unimep.br. Horário de funcionamento: Segunda a sexta-feira das 8h
às 12h e 13h as 16h30. Declaro que entendi os objetivos, riscos e benefícios de minha
participação na pesquisa, e que concordo em participar.
Piracicaba, ____ de _______________ de 2015.
Assinatura do(a) participante: ___________________________________________________
Assinatura do(a) responsável do aluno(a) participante: _______________________________
Assinatura da pesquisadora: ____________________________________________________
186
APÊNDICES
187
APÊNDICE A – Questionário para professores
Questionário para professores de Língua Espanhola no Centro de Estudos de Línguas.
Perfil:
Código da pesquisadora:__________________________________________________
Para identificação escreva somente as iniciais de seu nome: ______________________
CEL: _________________________________________________________________
Idade: Menos de 35 ( ) Entre 35 e 50 ( ) Mais de 50 ( )
Sexo: Masculino ( ) Feminino ( )
Brasileiro ( ) Estrangeiro ( ) país de origem: _____________________________
Formação inicial:
1. Qual sua formação inicial? Licenciatura Letras-português ( ) Letras-português-inglês ( ) Letras-
português-espanhol ( ) Pedagogia ( ) Outros: ______________________________
2. Caso sua formação inicial não seja em língua espanhola: Obteve a titulação por meio de:
Curso de licenciatura regular ( ) Curso de complementação ( ) Curso de línguas ( ) Outros
_____________
3. Já prestou o DELE alguma vez? ( ) sim ( ) não
Caso afirmativo, qual (is) nível (is) você possui o(s) diploma(s)?
____________________________________
4. Onde iniciou a carreira docente de língua espanhola?______________________________________________
5. Relate como foi sua experiência inicial:
___________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
6. Há quanto tempo leciona espanhol? Menos de 2 anos ( ) Entre 2 e 5 anos ( ) Entre 5 e 10 anos ( ) Mais
de 10 anos ( )
8. Há quanto tempo leciona? Menos de 2 anos ( ) Entre 2 e 5 anos ( ) Entre 5 e 10 anos ( ) Mais de 10
anos ( )
10. Leciona a língua espanhola em escola pública de Educação Básica? ( ) sim ( ) não
Caso afirmativo, qual (is)? ____________________________________________________
Em quais séries? ____________________________________________________________
Qual é a carga horária por semana? _______________É igual para todas as séries? Explique:
Qual é a média de alunos por sala? _____________________________________
188
11. Leciona a língua espanhola em escola de idiomas? ( ) sim ( ) não
Caso afirmativo, qual (is)? ____________________________________________________
Em que níveis? Básico ( ) Intermediário ( ) Avançado ( )
Qual é a carga horária por semana? _______________É igual para todos os níveis? Explique:
Qual é a média de alunos por sala? _____________________________________
Formação continuada:
1. Participa das Orientações Técnicas oferecidas pelo CEL? Sim ( ) Não ( )
Caso afirmativo, em quantas já participou? _____________________________________________
6. Possui outro tipo de Diploma de Espanhol como Língua Estrangeira? Sim ( ) Não ( )
Em caso afirmativo qual? E em que nível? ______________________________________________________
190
8. Você faz uso dos textos literários? Sempre que aparecem ( ) às vezes ( ) Nunca ( )
Explique:
___________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
9. Em sua opinião para que fim o texto literário é utilizado? (Pode marcar o(s) item(s) que julgar pertinente(s))
a) Para reforço gramatical ( )
b) Compreensão textual ( )
c) Reforço de vocabulário ( )
d) Aspectos culturais ( )
e) Outros ( ) Explique __________________________________________________________________
10. Além dos textos literários que aparecem no livro didático, você explora outros? Qual(is) costuma trabalhar?
___________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
11. Que recursos didáticos faz uso para trabalhar os textos literários?
___________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
12. Em sua opinião, como é a receptividade dos alunos ao trabalhar textos literários em sala de aula?
___________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
13. Caso não explore nenhum outro texto literário em sala de aula, explique por quê?
_______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
14. Qual sua opinião com relação ao uso de textos literários no ensino da língua espanhola?
___________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
15. Apresente seu ponto de vista sobre a importância, ou não, da literatura para a formação do aluno.
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
16. Apresente seu ponto de vista sobre a importância, ou não, da literatura para a formação do professor.
___________________________________________________________________________________________
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APÊNDICE B – Questionário para alunos
Questionário para alunos do Centro de Estudos de Língua – Curso: Espanhol
Perfil:
Código da pesquisadora:__________________________________________________
CEL: _________________________________________________________________
Para identificação escreva somente as iniciais de seu nome: ______________________
Data de nascimento: ___/ ___ / ___ Cidade de nascimento:_______________________
Idade: ______________________________
Sexo: Masculino ( ) Feminino ( )
Série: ____________________________________
Estágio do curso de espanhol: __________________________
Questões
1. O que levou a se matricular no curso de língua espanhola no CEL?__________________________________
2. No curso é utilizado algum livro didático de forma regular? ( ) sim ( ) não
Caso afirmativo, qual é o nome do livro? ____________________________________________________
3. Com relação ao livro:
- É de uso comum com outros alunos de outras turmas? ( ) sim ( ) não
- É de uso individual? ( ) sim ( ) não
4. Em sala de aula o professor(a) faz uso de outros materiais didáticos? sempre ( ) quase sempre ( ) às vezes
( ) nunca ( )
5. Que tipo de materiais utiliza?
Lista de exercícios gramaticais ( )
Textos reais como notícias de jornal, anúncios receitas, etc.( )
Textos literários: Poemas ( ) Contos ( ) Romances ( ) Obras adaptadas ( )
Outros: _____________________________________
Livro digital ( ) - apresentação de Power-point ( ) Prezi ( )
Vídeos do youtube ( ) - vídeos didáticos ( ) Outros: _____________________________________
6. No livro didático aparecem textos literários, como poemas, contos, crônicas, etc.? ( ) sim ( ) não
Em caso afirmativo qual a frequência?
Em todas a unidades ( ) em algumas partes como leitura extra ( ) fragmentos ou pequenos trechos
em algumas unidades ( ) Outros: _________________________
192
9. Quando aparece alguma poesia, ou outro texto literário no livro didático, é trabalhado na aula pelo(a)
professor(a)? Sempre que aparecem ( ) às vezes ( ) Nunca ( )
10. Teve algum texto literário que você gostou mais? Cite algum exemplo.
___________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
11. Você poderia relatar como foi o estudo desse texto em sala de aula?
___________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
12. Em sua opinião os textos literários que aparecem no livro são interessantes? Sempre que aparecem ( ) às
vezes ( ) Nunca ( ) - Por favor, justifique sua resposta:
___________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
13. Você gosta de ler? ( ) sim ( ) não Por favor, justifique sua resposta:
___________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________
21. Em sua opinião, quais são suas principais dificuldades com relação à aprendizagem da língua espanhola?
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
22. Em sua opinião, quais são os aspectos mais fáceis com relação à aprendizagem da língua espanhola?
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__________________________________________________________________________________________
23. Este espaço está aberto para sugestões ou comentários gerais sobre o curso de espanhol.
_______________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________
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APÊNDICE C – Entrevista professores
Entrevista para professores de Língua Espanhola no Centro de Estudos de Línguas.
Perfil:
Código da pesquisadora:__________________________________________________
CEL: _________________________________________________________________
Data de nascimento: ____/ ___/ _____
Sexo: Masculino ( ) Feminino ( )
Brasileiro ( ) Estrangeiro ( ) país de origem: _____________________________
5. Em sua opinião qual a contribuição das Orientações Técnicas oferecidas pelo CEL, para a sua formação?
7. Em sua opinião existe algum(s) outro(s) tema(s) que deveria(m ) ser mais abordados? Por quê?
8. Já fez algum tipo de intercâmbio ou alguma viagem para fora do Brasil? Comente sua experiência.
10. Para o preparo de suas aulas segue unicamente o livro didático, ou faz uso de outros materiais? Quais e por quê?
11. Quais aspectos da língua você considera mais relevantes, para o ensino de uma língua estrangeira?
12. Em sua opinião, qual a relevância do uso de textos literários para o ensino de uma língua estrangeira?
14. Em sua opinião, existem aspectos relevantes que devam ser considerados na hora de escolher textos literários para
15. Você tem interesse por literatura? Lê com frequência? Quais são suas preferências?
17. Teve algum trabalho que realizou durante sua graduação que levasse em consideração o uso de textos literários no
ensino da língua?
18. Em sua opinião, como é a receptividade dos alunos ao trabalhar textos literários em sala de aula?
19. Caso não explore nenhum texto literário em sala de aula, explique por quê?
20. Apresente seu ponto de vista sobre a importância, ou não, da literatura para a formação do professor.
21. Apresente seu ponto de vista sobre a importância, ou não, da literatura para a formação do aluno.
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