Oralidade Na Pratica Docente
Oralidade Na Pratica Docente
Oralidade Na Pratica Docente
ABSTRACT The work results from an investigation that aims to understand the
perception of teachers who work in primary education about orality as didactic object.
The survey data were obtained through interviews and were treated qualitatively, with
the use of technical elements of categorical content analysis. The teachers reveal in
their speech understanding oral as one of the objectives of the Portuguese language,
but have greater security to discuss the axes of reading, production and linguistic
analysis. Although no clarity on didactization oral, their statements reveal an
emergency overview of this oral teaching, albeit incipient way.
1 INTRODUÇÃO
1
Estamos nos referindo a documentos oficiais na esfera dos Parâmetros Curriculares Nacionais
(BRASIL, 1997) e do Programa Nacional do Livro Didático (2013).
Atos de Pesquisa em Educação - ISSN 1809-0354 95
Blumenau, v. 11, n.1, p.92-113, jan./abr. 2016
DOI: http://dx.doi.org/10.7867/1809-0354.2016v11n1p92-113
para sua atividade escolar e para o professor, em uma ferramenta concreta de
didatização (KOCH, 2002; MARCUSCHI, 2005, 2008; CAVALCANTE; MELO, 2006).
Os gêneros específicos aos quais nos referimos, dizem respeito, segundo
Dolz, Schneuwly e Haller (2004), aos gêneros formais públicos, cujos protótipos
devem ser tomados como ensino, uma vez que se constituem em formas de
linguagem que apresentam restrições impostas do exterior e implicam um controle
mais consciente do próprio comportamento do usuário da língua. Os gêneros
formais, mesmo sendo produzidos, em geral, de forma presencial (face a face), se
inscrevem em uma situação mediata, exigem, assim, planejamento.
Ao apresentarmos o gênero oral formal como objeto de ensino, tomamos o
oral como eixo específico e autônomo (DOLZ; SCHNEUWLY; HALLER, 2004).
Porém, essa autonomia não isola o oral dos outros eixos didáticos, os quais
articulados se movem para uma perspectiva de oralidade letrada e agem no
continuum tipológico. Ou seja, no continuum a fala e a escrita (a oralidade e o
letramento) são atividades interativas e complementares (MARCUSCHI, 2001). Sob o
prisma do continuum, é possível concluir que tanto na oralidade quanto na escrita
podemos encontrar situações de maior ou menor formalidade.
Dolz, Schneuwly e Haller (2004) reforçam a necessidade de se planejar um
trabalho sistemático com o oral, de modo a favorecer no indivíduo o domínio dos
jogos interativos e de estratégias de negociação em situações interlocutivas públicas.
Diante desse olhar teórico, nos questionamos sobre qual a compreensão do
professor frente ao que lhe é proposto para o ensino da oralidade. De que modo ele
constrói os saberes sobre o oral como objeto de ensino? Como analisa as suas
ações frente ao que planeja para ensinar a oralidade? Alguns desses
questionamentos serão tomados como ponto de reflexão nesse texto, através do qual
pretendemos abrir caminhos para o diálogo com outras investigações.
Assim, temos que, para P3, formar sujeitos leitores e produtores de texto é
oportunizar experiências de letramento. Entendemos, apoiadas em Soares (2008),
que o letramento se efetiva no desenho das propostas reais que fazem parte do
cotidiano escolar do grupo-sala, despertando os sujeitos educativos para a função
da escrita em seu dia a dia.
Nessa direção, vemos que o movimento propiciado por P3, em relação à
prática de produção de texto, envolveu os alunos em uma reflexão sobre o gênero
textual; no caso específico, a tirinha, envolvendo momentos de escrita (fala dos
Atos de Pesquisa em Educação - ISSN 1809-0354 97
Blumenau, v. 11, n.1, p.92-113, jan./abr. 2016
DOI: http://dx.doi.org/10.7867/1809-0354.2016v11n1p92-113
personagens) e de produção de texto imagético, que, como sabemos, oportuniza
uma vivencia da língua pelos sujeitos, ajudando-os a pensar sobre o texto a ser
empregado em cada situação proposta.
No que se refere à outra docente pesquisada, P4, ao sinalizar para os
objetivos do ensino da língua materna, ela os relaciona à preparação para a vida, de
modo que a língua seja utilizada de forma competente nas esferas mais restritas,
como no seio familiar; e nas esferas mais amplas, em outros espaços de
convivência. Para P4, estão imbricadas, portanto, a preparação e a formação do
leitor e produtor de gêneros textuais, sejam esses textos escritos ou imagéticos.
Tem assim, a oralidade envolve tudo, tem a questão do simples ato de falar, então
tem alguns muito tímidos que são muito difíceis de se expor, quando fala é aquela
coisa bem baixinho que pra fazer uma leitura, pra qualquer coisa desse tipo,ninguém
escuta, até eles mesmo dizem; tia eu num to ouvindo nada, não estou ouvindo nada.
Então essa questão até de perder o medo, perder a vergonha, alguns precisam ser
trabalhados, que envolve a oralidade também (P3).
Se eu vejo que a turma, que essa turma, como te falei, ela tem dificuldade em
oralidade, eu tento trabalhar, não somente na questão da roda de conversa,
na hora da novidade, mas também, até mesmo na hora da expli... quando
estiver explicando algum assunto, seja de matemática, seja ciências, eu
procuro não trazer a coisa pronta. Eu procuro fazer de uma forma que eles
Atos de Pesquisa em Educação - ISSN 1809-0354 103
Blumenau, v. 11, n.1, p.92-113, jan./abr. 2016
DOI: http://dx.doi.org/10.7867/1809-0354.2016v11n1p92-113
respondam, que eles falem, que eles conversem, que oralizem, porque pra
mim essa é a dificuldade, essa é a dificuldade deles falarem. Realmente o
que eu estou sentido muita dificuldade nessa turma é a questão da oralidade
(P4).
É como eles se tratam entre eles. Como eles falam de outras pessoas que, de
casa. A seu filho daquilo, daquela. Menino precisa não... Ah, desculpa
professora. Vem cá fulano [...] Ai foi quando eu parei, gente olha; se a gente
fala é de um jeito, mas quando a gente vai falar com o público é de outra
forma, se você no futuro for fazer uma conferencia, alguma coisa assim, um
produto, eu até disse bem assim, se você trabalha numa empresa de grande
porte, você tem que apresentar esse produto e vai ser assim [...] (P5).
Pra alguns sim. Alguns que pegam com mais facilidade, alguns que tem uma
compreensão mais clara, sim. Mas assim, eu tenho um planejamento diário,
que muitas vezes eu consigo atingir outros não, hoje, ontem mesmo eu tive
que desmontar todinha a paisagem no quadro. Muitas vezes não consegue
atingir tudo que a gente tinha... Eu tenho um planejamento toda segunda eu
trabalho com as disciplinas, ditado, na semana a gente tem uma série de
atividades pra fazer (P3).
Segundo esta fala, a efetivação dos objetivos por parte da professora diz
respeito à compreensão de que o trabalho com a oralidade representa mais do que
colocar os alunos para falarem sobre determinado conteúdo. É posicionar-se
criticamente, argumentar, fazer-se compreendido e expressar-se de forma coerente.
Quanto ao cumprimento dos objetivos ligados à oralidade, P5 os relaciona à sua
compreensão de um oral ajustado à norma ortográfica como notamos em um trecho
de sua resposta:
É eu acho que eu preciso até estudar mais nessa área, você agora me
despertando falando muito de oralidade, ta assim, eu tenho poucas idéias
nisso. Não sei se até por conta das capacitações não terem nada nessa área
Atos de Pesquisa em Educação - ISSN 1809-0354 108
Blumenau, v. 11, n.1, p.92-113, jan./abr. 2016
DOI: http://dx.doi.org/10.7867/1809-0354.2016v11n1p92-113
específica, eu assim tenho poucas idéias de como trabalhar isso, então pode
ser que tenha coisas que eu poderia puxar mais e realmente eu não tenho
nem a visão disso. Nem de como problemática, nem de como necessidade de
que eles tenham, realmente eu não...eu preciso estudar mais (P3).
[...] Então é essa atividade né, que o objetivo é a oralidade mesmo, e eu tentei
fazer e nesse ponto de vista eu achei que falhou não pela atividade em si, eu
acho que pela, por ser uma turma muito copista. É uma turma copista, é uma
turma que veio com aquela idéia que atividade é só escrever. Então, tem que
escrever, tem que fazer tarefa, tem que anotar é, então assim, é uma coisa
que eu to tentando quebrar mas, então essa atividade hora da novidade é
uma coisa que eu tentei fazer e agor..parei, e tô tentando é retomá-la
novamente, mas eu trabalho oralidade, sempre tô trabalhando, é um eixo que
pra mim é uma das prioridades. E tendo em vista que é uma turma muito
dificultosa em falar (P4).
4 (IN)CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
DOLZ, J.; SCHNEUWLY, B.; HALLER, S. O oral como texto: como construir um
objeto de ensino. In: SCHNEUWLY B.; DOLZ, J. Gêneros orais e escritos na escola.
Tradução e organização Roxane Rojo e Glaís Sales Cordeiro. Campinas/SP:
Mercado de Letras, 2004. p. 149-185.
POSSENTI, S. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: ALB, Mercado
de Letras, 1997.