Geografia e Mocambique

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 19

Índice

Introdução........................................................................................................................................3

1. Agricultura...................................................................................................................................4

1.1. Agricultura Familiar.................................................................................................................4

2. Agricultura em Moçambique.......................................................................................................7

2.1. Características da Agricultura em Moçambique.......................................................................7

2.2. Caracterização das potencialidades..........................................................................................8

2.2. Importância da agricultura familiar em Moçambique..............................................................9

2.3. Factores sócio-económicas que influenciam na participação de homens e mulheres na........10

2.4. Principais Constrangimentos do Sector Agrário em Moçambique.........................................11

2.4.1. Baixa Produtividade Agrícola..............................................................................................11

2.4.2. Fraco Acesso aos Mercados.................................................................................................11

2.4.3. Elevada Insegurança Alimentar e Desnutrição Crónica......................................................12

3. Problemas ambientais da agricultura em Moçambique.............................................................13

4. Análise do nível de rendimento dos agricultores familiares......................................................14

5. Agricultura Familiar na Província da Zambézia........................................................................16

5.1. Reprodução socioeconómica das famílias rurais....................................................................16

5.2. Segurança Alimentar das Famílias Rurais e da Sociedade.....................................................17

Conclusão......................................................................................................................................18

Bibliografia....................................................................................................................................19
Introdução

O presente trabalho com o tema "Impactos sócio ambientais da agricultura familiar em


Moçambique “Caso da província da Zambézia", traz distinções sobre o vasto estudo sobre a
agricultura em Moçambique. Neste sentido abordou-se obre as linhas de orientação do
desenvolvimento da agricultura familiar em Moçambique, passa necessariamente por analisar a
realidade da agricultura familiar hoje, o contexto das transformações sócio-económicas porque
passa o país e as directrizes políticas traçadas pelo Governo de Moçambique, rumo ao
desenvolvimento.

Moçambique é um dos países em via de desenvolvimento com muitos recursos naturais, onde o
seu desenvolvimento está profundamente ligado ao sector extracção e ao sector agrícola com
cerca de 70% da população na área rural e 55% desta vive abaixo da linha da pobreza. Nas áreas
rurais, a agricultura é a principal fonte de renda, mas, com a baixa produtividade, as famílias
dificilmente conseguem satisfazer as suas necessidades nutricionais, além de estarem vulneráveis
às intempéries climáticas.

O sector agrário em Moçambique é constituído essencialmente pelo sector familiar, que pratica
uma agricultura de subsistência, a qual depende principalmente das chuvas.

Objectivo geral

 Descrever os Impactos sócio ambientais da agricultura familiar em Moçambique “Caso


da província da Zambézia".

Objectivos específicos

 Conceituar a agricultura e agricultura familiar;


 Caracterizar a agricultura familiar em Moçambique;
 Mencionar os Problemas ambientais da agricultura em Moçambique.

Metodologia

Para a realização do trabalho, foram usadas fontes bibliográficas.


3
1. Agricultura

1.1. Agricultura Familiar

O termo agricultura quer dizer “arte de cultivar”. É o conjunto de técnicas concebidas para
cultivar a terra a fim de obter produtos dela. (WANDERLEY, 2003)

Os produtos da agricultura são primariamente os alimentos, contudo, com os avanços nas


técnicas e na tecnologia, a agricultura tem servido cada vez mais ao fornecimento de géneros
para a produção de fibras, energia, matéria-prima para roupas, combustível, construção,
medicamentos, ferramentas, ornamentação e inúmeras outras finalidades. (WANDERLEY,
2003)

O conceito de agricultura familiar é também polissémico e tem ultimamente levantado


controvérsias em vários autores. Alguns conservadoristas ainda apegam-se na concepção
tradicional da agricultura familiar e outros que advogam a adaptação ao contexto actual referem-
se à nova abordagem do conceito. (WANDERLEY, 2003)

WANDERLEY (2003) apresenta uma das definições segundo a qual, “a agricultura familiar
corresponde a uma certa camada de agricultores, capazes de se adaptar às modernas exigências
do mercado em oposição aos demais pequenos produtores incapazes de assimilar tais
modificações. São os chamados agricultores consolidados, ou os que têm condições, em curto
prazo, de se adaptar”.

Segundo Shanin (p. 46)

A ideia central, segundo a autora, é a de que o agricultor familiar é um actor social de


agricultura moderna e ela resulta da própria actuação do Estado, diferenciando-se da
agricultura camponesa cuja sua base é dada pela unidade de produção gerida pela família,
o que vai ao encontro de economia camponesa caracterizada “por formas extensivas de
ocupação autónoma (trabalho familiar), pelo controle dos próprios meios de produção,
economia de subsistência e qualificação ocupacional multidimensional”.

4
A afirmação da autora tem uma dimensão profunda de análise que por um lado a agricultura
familiar deve ser vista sob a abordagem moderna, e por outro lado, existem os pequenos
produtores que podem ser tratados sob ponto de vista da abordagem camponesa.

Muitos estudos advogam a decomposição do campesinato e a emergência de uma nova forma de


reprodução social, ou um novo actor social que corresponde ao mundo moderno, que é o
agricultor familiar. Não se trata de negar que o agricultor familiar seja um actor social do mundo
moderno, mas de admitir também que não é lógico falar da decomposição do campesinato.
(WANDERLEY, 2003)

A abordagem trazida por LAMARCH (1993) citado por WANDERLEY (2003) ilustra que os
agricultores familiares são portadores de uma tradição, mas devem se adaptar às condições
modernas de produzir e de viver em sociedade, uma vez que todos, de uma forma ou de outra,
estão inseridos no mercado moderno e recebem a influência da sociedade englobante.

O aspecto fundamental que se deve ter em conta ao analisar o conceito de agricultura familiar é a
consideração da capacidade de resistência e de adaptação dos agricultores aos novos contextos
económicos e sociais.

Daí, urge a necessidade de não mais explicar a presença de agricultores familiares na sociedade
como uma simples reprodução do campesinato tradicional, dado que nota-se um processo de
mudanças profundas que afectam a forma de produzir a vida social dos agricultores bem como a
própria importância da lógica familiar. (WANDERLEY, 2003)

Não obstante, o agricultor familiar ainda permanece camponês na medida em que a família
continua sendo o objectivo principal que define as estratégias de produção e reprodução e a
instância imediata da decisão (WANDERLEY, 2003).

Relativamente a essa temática paradigmática de agricultura familiar e campesinato, posso dizer


que uma agricultura familiar, altamente integrada ao mercado, capaz de incorporar os principais
avanços técnicos e de responder às políticas governamentais não pode ser nem de longe
caracterizada como camponesa. (WANDERLEY, 2003)

5
SCHNEIDER (2003) foi mais atencioso em apresentar alguns elementos que permitem a
elaboração de uma definição ampla e abrangente do conceito de agricultura familiar ou da forma
familiar de organizar o trabalho e a produção na actividade agrícola:

 O primeiro elemento diz respeito à forma do uso de trabalho, que refere ao


funcionamento das unidades familiares com base na utilização da força de trabalho dos
membros da família que, por sua vez, podem contratar, em carácter temporário, outros
trabalhadores sem, no entanto, considerar o limite de quantificação da força de trabalho
contratada;
 O segundo elemento refere aos obstáculos oferecidos pela natureza, que impedem uma
eventual correspondência entre a actividade agrícola e industrial. A produção agrícola,
neste contexto, é uma actividade que ainda depende muito de factores naturais como
clima, solo ou equilíbrio dos ecossistemas;
 O terceiro elemento pode ser extraído da teoria social que consiste no ajustamento do
enfoque marxista sobre o desenvolvimento agrário como um processo macrossocial e
económico com um ambiente constituído por um conjunto de instituições que fornece
estímulos e determina os limites e as possibilidades, exercendo assim, uma influência
decisiva sobre as decisões individuais e familiares.

A agricultura familiar não é entendida como trabalho familiar. O que a distingue da maioria das
formas sociais de produção como familiar é o papel preponderante da família como estrutura
fundamental de organização da reprodução social, através da formulação de estratégias
familiares e individuais que remetem diretamente à transmissão do patrimônio material e
cultural. (WANDERLEY, 2003)

A forma de exploração agrícola familiar pressupõe uma unidade de produção onde propriedade e
trabalho estão intimamente ligados à família.

O carácter familiar de produção não pode ser reduzido à utilização do trabalho familiar. O
recurso à contradição do trabalho assalariado externo e o assalariamento de membros da unidade
familiar fora do estabelecimento não são suficientes para afirmarmos a decomposição do carácter
familiar da unidade de produção. (WANDERLEY, 2003)

6
De acordo com Wanderley, (2003)

A total separação entre família e unidade de produção ocorreria quando as contradições


entre o individual e o colectivo resultassem na preponderância do primeiro com o
segundo, ou seja, quando fosse rompido o comprometimento do indivíduo com os
interesses da propriedade e da exploração económica que nela se realiza levando a
fragmentação da propriedade e extinção dos laços valorativos os quais identificam a
família à propriedade, quando a terra passaria a ter valor somente como mercadoria.

2. Agricultura em Moçambique

2.1. Características da Agricultura em Moçambique

De acordo com os dados TIA (2002), Moçambique possui 49 milhões de hectares de terra arável
com aptidão agrícola, contudo apenas 5 milhões de hectares estão a ser utilizados. A agricultura
e pesca têm um peso de 31% no PIB e envolvem cerca de 80% da população. Infelizmente ainda
98% da agricultura é familiar com técnicas de produção muito rudimentares e apenas os restantes
2% de agricultura comercial.

Nos últimos anos, a agricultura familiar tem sido apoiada pelo governo, organizações
internacionais e algumas instituições financeiras, mas ainda se encontra num estado muito
precário e inicial no qual são utilizadas poucas tecnologias para melhorar a produção e com um
baixo nível de diversificação de produção. (TIA, 2002)

Segundo CUNGURA, (2011), salienta que a limitada diversidade de produção leva a deficientes
índices de nutrição com implicações graves para a saúde pública da população mais carenciada.
Facto que se reflecte nos dados apresentados pelo ministério da saúde, em que pouco menos de
metade da população apresenta desnutrição crónica.

Segundo o INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICAS (2011), na última década o número


de explorações agrícolas em Moçambique aumentou 25%, paralelamente à área cultivada com
44% de aumento. Neste período notou-se um significativo crescimento da actividade agrícola
mas o mesmo não se manifesta na utilização de serviços e práticas agrícolas.

7
A comparação proporcional entre o número de explorações existentes e a utilização de serviços e
práticas agrícolas revela que a utilização de fertilizantes e irrigação apenas aumentou cerca de
1% e o uso de pesticidas decresceu cerca de 2%. TIA (2002)

O diminuto desenvolvimento dos serviços e práticas agrícolas nos últimos anos, demonstra que
os esforços envidados no apoio da agricultura e no desenvolvimento dos seus sistemas de
produção, ainda não deram os frutos desejados e muito dificilmente se alterará este cenário caso
não se tomem medidas gerais e catalisadoras para a agricultura de Moçambique.

Diversos factores estão na origem desta baixa utilização de insumos, tal como o alto custo dos
mesmos e a frequente variação de preços, falta de apoio ao crédito financeiro, falta de
conhecimento técnico por parte dos agricultores, deficiente rede de extensão agrária, baixo nível
de exigência dos consumidores, entre outros. (JASSE, 2013).

O aumento da rentabilidade de produção implica uma maior procura e disponibilidade de


insumos e produção, que a seu tempo ficam mais baratos para o produtor, (JASSE, 2013).

A população vive principalmente de actividades agro-silvo-pecuárias de pequena escala, com


uma heterogeneidade de actividades económicas de geração de rendimentos dentro das famílias.
Dentro das diferentes actividades a produção de alimentos para o consumo constitui a base
principal da estrutura produtiva d o sector familiar.

De acordo com o TIA/2002, existe uma diversidade de produtos alimentares praticados; nesta
diversidade, o milho e a mandioca ocupam posições preponderantes da área cultivada, sendo o
milho cultivado por cerca de 80% das explorações e a mandioca por 76%. Apenas 3.3% das
pequenas explorações têm bovinos e cerca de 11% utilizam tracção animal, 71% criam galinhas,
27% caprinos e 16% suínos.

No concernente ao uso de meios de produção e serviços, apenas cerca de 11% usam rega dentro
das pequenas explorações; em termos do uso de insumos, somente 3.7% das pequenas
explorações utilizam fertilizantes e 6.7% utilizam pesticidas; cerca de 16% das explorações
contratam mão-de-obra. (JASSE, 2013).

8
2.2. Caracterização das potencialidades

O país possui condições naturais para a longo prazo desenvolver um sector agrário diversificado
e dinâmico.

Do ponto de vista do potencial agro-ecológico para agricultura, Moçambique possui dez (10)
zonas agro-ecológicas com diferentes aptidões, as quais em geral, são definidas principalmente
pela precipitação e tipo de solos. (JASSE, 2013).

As distintas zonas agro -ecológicas podem ser agrupadas em três macro-zonas: Norte, CentroSul.

As zonas Norte e Centro de Moçambique possuem um bom potencial agrícola e possuem bacias
hidrográficas com regimes de escoamento mais permanentes do que no Sul. (JASSE, 2013).

Estas zonas são, geralmente, produtoras de excedentes agrícolas, mas o desenvolvimento da


pecuária de bovinos é dificultada pela mosca tsé-tsé. No entanto, essas zonas são importantes
produtoras de gado suíno e caprino, e de aves. (JASSE, 2013).

A zona Sul é caracterizada por solos arenosos pobres e por um regime de precipitação irregular e
de baixas quantidades. Estas condições não são favoráveis para agricultura de sequeiro. A
presença de barragens e sistemas de regadio nesta zona potencia a agricultura regada. (JASSE,
2013).

As actividades agrárias mais importantes são as florestas e a pecuária; a produção animal


geralmente é afectada por doenças tais como a febre aftosa, a peste suína africana e a Newcastle.
(JASSE, 2013).

2.2. Importância da agricultura familiar em Moçambique

De acordo com a PDER (2007), a agricultura desempenha um papel importante no âmbito do


combate à pobreza, na geração de emprego rural e contribui para a segurança alimentar familiar e
nacional, além de contribuir na redução da pobreza essencialmente rural, representa em termos
económicos, 20%, do PIB e 80% das exportações.

9
Além disso, a nível do país cerca de dois terços da força de trabalho encontra-se neste sector,
ocupando cerca de 90% das mulheres activas e 70% dos homens activos. Isto significa que 80%
da população activa do país esta empregue no sector agrário.

Por outro lado, é de destacar o papel fundamental desempenhado pela agricultura familiar como
garante da subsistência do produtor e sua família, contribuindo de forma decisiva para a sua
segurança alimentar e satisfação de necessidades básicas, bem como a geração de rendimentos
no caso de venda de excedentes nos mercados. (CPLP, 2012)

Efectivamente, tratando-se da forma principal de abastecimento dos mercados locais (e,


consequentemente, da população urbana na maior parte dos casos), ela funciona como uma caixa
de poupança essencial na melhoria das suas condições de vida, (CPLP, 2012).

Importa destacar a importância extensível da agricultura familiar a outros níveis: esta


desempenha um papel crucial na manutenção da paisagem rural, conservação do património
genético das plantas, de harmonização com o ambiente, exploração sustentável de recursos
naturais e defesa do património cultural das comunidades locais, (CPLP, 2012).

2.3. Factores sócio-económicas que influenciam na participação de homens e mulheres na


agricultura família

De acordo com BATALHA et al. (2001), os factores sócio-económicos afectam de forma directa
a participação de homens e mulheres na agricultara familiar.

 Nível educacional

O nível educacional pode ser um factor importante na adopção de novas tecnologias. Segundo a
FAO (1994), a experiência, como também a capacidade de obter e processar informações e a
habilidade no uso de técnicas agrícolas e de métodos de gerenciamento mais sofisticados podem
contribuir para o sucesso do empreendimento. Um bom indicador desta capacidade é o nível de
escolarização e de formação profissional.

 Composição do agregado familiar:

10
Segundo MPCAA (2005), existe uma ampla evidência de que tanto o tamanho como a taxa de
dependência da família (número de membros que não trabalha em relação aos que trabalham)
afecta directamente a capacidade de acumulação das unidades de produção familiar.

Como a unidade de produção familiar tem como base a capacidade de trabalho da família, um
núcleo familiar com alta taxa de dependentes (ex. filhos menores) significa menos braços para
trabalhar e mais bocas para alimentar. Em casos como esse, o excedente para acumulação tende a
ser insignificante, em particular quando o nível tecnológico e a produtividade do trabalho são
baixos. (MPCAA, 2005)

 Disponibilidade de mão-de-obra

De acordo com BATALHA et al. (2001), a mão-de-obra familiar é o principal activo da


agricultura familiar. Isto não significa que seja abundante, como em geral se assume.

Ao contrário, a adopção de sistemas de produção potencialmente mais rentáveis é bloqueada pela


disponibilidade de mão-de-obra familiar, insuficiente para permitir sua adopção por produtores
menos capitalizados e sem condições de contar com trabalho assalariado temporário nos
momentos de maior demanda. (BATALHA, 2001)

2.4. Principais Constrangimentos do Sector Agrário em Moçambique

2.4.1. Baixa Produtividade Agrícola

Apesar de que a baixa produtividade e produção seja característica do sector agrário no seu todo,
a maior preocupação está na produção alimentar. As principais razões têm sido as dificuldades
em aumentar a utilização de insumos e tecnologias modernas, limitado acesso e controle da
parcela de terra pelas mulheres, limitada disponibilidade de aconselhamento técnico e serviços
de apoio no sector; a dispersão dos produtores. (GM, 2011)

Apesar dos esforços do governo e dos doadores que apoiam o sector para diversificar a produção
de culturas, e promover o uso de insumos modernos para aumenta os rendimentos e renda dos
produtores, ainda há muito caminho pela frente.

11
Segundo o CAP (2010), somente 4% dos produtores usavam fertilizantes, e apenas 7% usam
qualquer tipo de pesticidas. Como resultado, o rendimento médio actual de, por exemplo milho
situa-se em 0.9 ton/ha, a mapira em 0.6 ton/ha, e do arroz em cerca de 1.0 ton/ha, que são cerca
de metade dos padrões regionais.

Para além dos cereais, a mandioca é um tubérculo que desempenha um papel significante na
dieta das famílias sofre igualmente. O outro grupo importante para a renda dos produtores é o
das culturas de rendimento viradas para a exportação, onde destacam-se o caju, algodão, cana-
de-açúcar, o tabaco, a soja, gergelim e o chá que juntos ocupam cerca de 25% da área cultivada
total.

2.4.2. Fraco Acesso aos Mercados

Segundo o MINISTÉRIO DA AGRICULTURA (2011), os factores que concorrem para o baixo


uso de insumos melhorados são a sua disponibilidade e altos custos de aquisição e transacção.

O acesso ao mercado, tanto de insumos quanto o de produtos é particularmente constrangido pela


deficiência em, e por vezes ausência de: serviços financeiros rurais, estradas rurais de ligação dos
mercados de consumo aos centros de produção, e sistemas de informação agrários. (MINAG,
2011)

Segundo o MINISTÉRIO DA AGRICULTURA (2011):

É necessária uma acção coordenada dos esforços em curso relativos a melhoria das infra-
estruturas de transporte, avanços nas ligações de mercados, controle da inflação e taxas
de câmbios, liberalização de preços e a redução de tarifas na importação de insumos sem
a qual vai ser difícil qualquer intervenção com vista ao aumento da produtividade e ao
incentivo à adopção de tecnologias e retorno dos investimentos.

O financiamento ao sector agrário em Moçambique depende fortemente da ajuda externa ao


orçamento do Estado através do Ministério das Finanças; apoio de fundos comuns como o
PROAGRI; ou através de fundos fora do orçamento na forma de apoio directo aos projectos. A
despesa total destinada a agricultura e desenvolvimento rural, excluindo os juros da dívida tem
sido baixa, (MINAG, 2011).

12
2.4.3. Elevada Insegurança Alimentar e Desnutrição Crónica

Parte da insegurança alimentar em Moçambique resulta de défices alimentares esporádicos


causados por calamidades naturais. A maior e mais recente calamidade natural com efeitos
dramáticos na situação de segurança alimentar aconteceu em 2000. Chuvas torrenciais e ciclones
provocam sistematicamente inundações com maior gravidade para as províncias de Maputo,
Gaza, Inhambane, Sofala e Manica causando devastação. (MINAG, 2011)

Para além de pessoas que são deslocadas, e danos materiais avultados em infra-estruturas
públicas como escolas, hospitais, sistemas de abastecimento de água e energia eléctrica, redes
viárias, férreas e telecomunicações, os prejuízos incluem perda de culturas, particularmente
alimentares e pecuária. Os períodos de cheias são seguidos de anos de seca que afectam uma
parte significativa de culturas levando muitas famílias a enfrentar défices alimentares severos,
(MINAG, 2011).

3. Problemas ambientais da agricultura em Moçambique

Na actualidade a análise do desenvolvimento não pode ser feita apenas em função da informação
sobre a riqueza ou Produto Interno Bruto - PIB, a qual é inadequada para alcançar os desafios das
análises de desenvolvimento, é preciso incorporar outros aspectos relacionados com o
desenvolvimento do capital social e humano, como sejam: a questão das liberdades políticas,
desenvolvimento intelectual e cultural, estabilidade familiar, liberdade de escolhas com
responsabilidade, paz, democracia e não violência. (MINAG, 2011).

Duas teorias estão relacionadas com o desenvolvimento: a teoria de modernização de Walter


Rostow (1960) e a teoria de dependência de Samir Amin (1976). (MINAG, 2011).

A teoria da modernização baseia-se na ideia de que o desenvolvimento é produto de


investimento, particularmente na indústria.

Rostow define dois estágios de desenvolvimento: a industrialização e o estabelecimento de


estruturas sociais. Ao mesmo tempo que ocorre o desenvolvimento industrial, verifica-se o

13
estabelecimento de estruturas sociais e políticas para suportar esse desenvolvimento. (MINAG,
2011).

A teoria de Samir Amin (1976), é a teoria da dependência, a qual preconiza nos países
subdesenvolvidos a dupla estrutura (moderna e informal). Essa dupla estrutura ocorre ao nível
político, económico e social; por exemplo ao nível político essa dupla estrutura reflecte-se por
um Estado moderno e também através de autoridade tradicional. (MINAG, 2011).

Samir Amin sustenta que o subdesenvolvimento dos países do terceiro mundo é estrutural e a
solução é o desacoplamento. (MINAG, 2011).

De acordo com Samir Amim (1976), o desenvolvimento não deve ser apenas analisado ao nível
de produção e reprodução de bens, mas também ao nível de produção e reprodução de estruturas
de poder e ideologia, a qual é mais complexa. (MINAG, 2011).

As características do sector agrário anteriormente descritas, sugerem a necessidade de adopção


de um modelo de desenvolvimento sustentável da agricultura familiar em Moçambique,
alicerçado sobre: o crescimento económico e a segurança alimentar. Aliás, esta visão é
consistente com muitos documentos orientadores. (MINAG, 2011).

A PAEI enquadra a actividade agrária em quatro (4) objectivos de desenvolvimento económico


do País, nomeadamente:

 A segurança alimentar;
 O desenvolvimento económico e sustentável;
 A redução das taxas de desemprego;
 A redução dos níveis de pobreza. (MINAG, 2011).

4. Análise do nível de rendimento dos agricultores familiares

Em Moçambique, o sistema de cultivo mais proeminente dos produtores é um sistema de três


culturas composto por milho, leguminosas, feijão típico, amendoim ou ervilhas de guandu e
alimentos básicos alternativos, tais como mandioca ou sorgo. (SITOE, 2005)

14
Este sistema é adoptado por 47 por cento dos agricultores em Moçambique e está associado a
níveis de utilização de insumos relativamente baixos – apenas 3 por cento usam fertilizantes
inorgânicos – e rendimento médio relativamente baixo das culturas. Portanto, este sistema
dominante é essencialmente orientado para a subsistência. (SITOE, 2005)

Os agricultores são atraídos por este sistema, em parte porque as barreiras de acesso são
relativamente baixas comparados com a produção de culturas de rendimento e trata-se de um dos
dois sistemas exclusivos em Moçambique, que está intrinsecamente associado a uma redução da
volatilidade de rendimentos provenientes de culturas.

Uma redução significativa da volatilidade do rendimento das culturas resultante deste sistema
sugere elevados benefícios da resiliência para os agricultores. Deste modo, um importante
desafio político em Moçambique passa por como tornar este sistema dominante mais produtivo e
lucrativo para os agricultores, mantendo paralelamente os respectivos benefícios da resiliência.
(SITOE, 2005)

No total, 19 por cento dos produtores praticam culturas de rendimento ao abrigo de três sistemas
de cultivo diferentes (milho-cultura de rendimento, milho-cultura de rendimento-leguminosa e
milho-cultura de rendimento-leguminosas-alimento básico alternativo). Os sistemas que incluem
culturas de rendimento estão associados a níveis significativamente mais elevados de utilização
de fertilizantes e de culturas de rendimento. (SITOE, 2005)

Além disso, estes sistemas estão associados a um aumento significativo da produtividade do


milho. No entanto, só quando as culturas de rendimento são associadas a leguminosas num
sistema de três culturas é que há uma redução significativa na volatilidade do rendimento das
culturas. (SITOE, 2005)

No seu conjunto, isto sugere que a identificação de políticas para atrair mais agricultores para a
produção de culturas de rendimento pode ter um efeito benéfico em termos de produtividade e
rendimentos por parte de agregados familiares. (SITOE, 2005)

No entanto, na promoção da produção de culturas de rendimento há que prestar atenção ao seu


impacto, nomeadamente a volatilidade do rendimento de agregados familiares. (SITOE, 2005)

15
A promoção de culturas de rendimento conjugado com leguminosas é uma abordagem eficaz
para aumentar o rendimento e a produtividade agrícolas, reduzindo o risco de volatilidade de
rendimentos para os agricultores em Moçambique. (SITOE, 2005)

A análise mostra que a adopção de sistemas de cultivo mais produtivos e lucrativos é limitada
devido à combinação de baixos níveis de recursos por parte de agregados familiares e o acesso
limitado aos mercados. Em termos de recursos de agregados familiares, maiores propriedades de
terra e maior dotação de activos afiguram-se como factores extremamente importantes para a
escolha do sistema de cultivo.

Maiores propriedades de terra e elevados níveis de riqueza em termos de activos permitem que
os agricultores cubram mais facilmente os custos e reduzam os riscos para a segurança alimentar
de agregados familiares, da passagem de um sistema orientado para a subsistência para outro
mais orientado para a comercialização. (SITOE, 2005)

A título de exemplo, um agregado familiar com 3 hectares de terra tem duas vezes mais a
probabilidade de adoptar o sistema de produção de milho-leguminosas-culturas de rendimento do
que um agregado familiar com 2 hectares de terra, que é o tamanho médio de terras dos pequenos
agricultores em Moçambique. (SITOE, 2005)

Isto indica que a superação das limitações de recursos por parte de agregados familiares,
incluindo o acesso à terra, deve ser privilegiada de modo a alcançar uma adopção mais ampla de
sistemas de cultivo orientados para a comercialização.

5. Agricultura Familiar na Província da Zambézia

Constituem aspectos de agricultura familiar, tal como afirmam CAZELLA, et al (2009), os


seguintes: Reprodução socioeconómica das famílias rurais; Promoção da segurança alimentar das
próprias famílias rurais e da sociedade; Manutenção do tecido social e cultural; Preservação dos
recursos naturais e da paisagem rural.

16
5.1. Reprodução socioeconómica das famílias rurais

A reprodução socioeconómica das famílias diz respeito, segundo CAZELLA et al (2009), à


geração de trabalho e de renda que permite as famílias rurais se manterem no campo em
condições dignas. A agricultura familiar, enquanto uma actividade económica, deve garantir a
geração do emprego e da renda para as famílias, principalmente para os jovens que se deparam
com o problema do desemprego e da baixa renda.

De acordo com CAZELLA et al (2009):

Constituem variáveis de análise, de entre várias, a idade do chefe da família, o tamanho


da família, o nível de escolaridade do chefe da família, o sexo, o estado civil, o número
de filhos, a actividade que o chefe da família exerce para além de agricultura, o
rendimento monetário e o rendimento mais importante para a manutenção da família, o
número de membros da família que trabalha na agricultura e o número de pessoas que
trabalham na agricultura mas que não são membros da família.

A literatura, as pesquisas e as experiências de vários países, como as evidências da FAO,


sustentam que tanto as características do agregado familiar assim como as do agricultor chefe da
família desempenham um papel fundamental na trajectória da produção. (CAZELLA, 2009)

O envelhecimento dos agricultores familiares pode constituir um grande problema, sobretudo na


reprodução socioeconómica, pois os jovens com capacidade de trabalhar e produzir têm
emigrado devido a falta do emprego ou de oportunidades de trabalho no meio rural. (CAZELLA,
2009)

Associado às variáveis anteriores, o nível de escolaridade aparece como a que também influencia
o desempenho socioeconómico da agricultura praticada pelas famílias rurais na Província da
Zambézia.

5.2. Segurança Alimentar das Famílias Rurais e da Sociedade

A segurança alimentar é um elemento importante para manter um bom estado nutricional, e é


definida como o acesso físico e económico aos alimentos de qualidade e em quantidades

17
suficientes que sejam cultural e socialmente aceitáveis. Ela é o resultado de boa saúde, de um
ambiente saudável e de boas práticas e cuidados com as mães e crianças. (CAZELLA, 2009)

Sobre o desempenho da segurança alimentar das famílias rurais e da sociedade no sector


agrícola, MOSCA (2012:56) afirma que o Pais continua a não produzir o necessário para sua
auto-suficiência alimentar. Este facto é exacerbado pela fraca rede viária especialmente na
ligação sul – norte, o que torna o transporte de bens alimentares não competitivo neste eixo.

18
Conclusão

Chegado no final do trabalho, vale salientar que no passado o desenvolvimento era apenas
medido em função do crescimento económico. Hoje para além do crescimento económico é
preciso incorporar outros aspectos relacionados com o desenvolvimento do capital social e
humano, como sejam: a questão das liberdades políticas, desenvolvimento intelectual e cultural,
estabilidade familiar, liberdade de escolhas com responsabilidade, paz, democracia e não
violência.

O sector agrário no País é constituído essencialmente pelo sector familiar. É um sector


heterogéneo, que pratica uma diversidade de actividades agro-silvo-pecuárias; emprega mais de
80% da população que pratica uma agricultura de subsistência caracterizada pela fraca utilização
de tecnologias modernas. Estes factos enfatizam a necessidade de que a estratégia de
desenvolvimento tenha em conta o crescimento económico e a segurança alimentar.

19
Bibliografia

1. BATALHA, M., et all, (2001). Agricultura Familiar e Tecnologia no Brasil:


características, desafios e obstáculos.
2. CAZELLA, Ademir. A, et al. (Org.). (2009) Agricultura Familiar: Multifuncionalidade e
Agricultura Familiar no Brasil. Rio de Janeiro. Mauad X.
3. Censo Agro-pecuário (CAP). (2010).
4. CPLP. (2012). Agricultura Familiar e Segurança Alimentar e Nutricional na CPLP.
5. CUNGUARA, B., et al. (2011). The effect of nonfarm incomes in reducing drought
vulnerability and rural poverty in southern Mozambique. Agricultura Economics.
6. FAO/INCRA (1994). Programa de Desenvolvimento Agrário Sustentável.
7. Governo de Moçambique (2011). Plano de Acção de Redução da Pobreza, 2011-2014.
Maputo, Moçambique.
8. Instituto Nacional de Estatística (INE). 2011. Censo Agro-pecuário. Moçambique.
9. JASSE, Aladino (2013). Promoção do Desenvolvimento das Fieiras de Cereais e
Oleaginosas Distrito de Nhamatanda – Sofala, Moçambique.
10. Ministério Para a Coordenação da Acção Ambiental (MPCAA). (2005). Avaliação da
Vulnerabilidade as Mudanças Climáticas e Estratégias de Adaptação. Maputo.
11. MOSCA, Joao (coord.). (2012) Contributos para o Debate da Agricultura e do
Desenvolvimento Rural. Maputo-Moçambique. Escolar Editora.
12. Plano Director de Extensão Rural (PDER). (2007). Relatório da Inspecção de Finanças.
Moçambique.
13. SCHNEIDER, Sérgio. (2003) Teoria Social, Agricultura Familiar e Pluriactividade.
Revista Brasileira de Ciências Sociais, Vol. 18, N°. 51.
14. SHANIN, Teodor. (2001). A Definição de Camponês: Conceituações e
Desconceituações. O Velho e o Novo em uma Discussão Marxista. Universidade de
Manchester. P. 43-80.
15. SITOE, Tomás A. (2005) Agricultura Familiar em Moçambique: Estratégias de
Desenvolvimento Rural. Maputo.
16. WANDERLEY, Maria de N. B. (2003) Agricultura Familiar e Campesinato: Rupturas e
Continuidades. Estudos Sociedade e Agricultura. Rio de Janeiro, 21. 42-61.

20

Você também pode gostar