RAE-229 - Janeiro 2021
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Janeiro 2021
Admiração e afeto
João é apenas um Profeta?
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Ano XX, nº 229, Janeiro 2021
SumáriO
Escrevem os leitores ���������������������������������������� 4 Modelo e mestre
incomparável
ISSN 1982-3193
Admiração e escravidão (Editorial) . . . . . . . . . 5 ...................... 32
Revista de cultura
e inspiração católica
publicada por: A voz dos Papas – A música instrumental
“Sede como crianças” no santuário
Associação Brasileira
Arautos do Evangelho
CNPJ: 03.988.329/0001-09 ........................ 6 ...................... 34
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Comentário ao Evangelho – Voz da Igreja,
Onde mora Jesus? voz da França
Diretor Responsável:
Mario Luiz Valerio Kühl
........................ 8 ...................... 38
“Esperava deles justiça, Arautos no mundo
Conselho de Redação:
mas brotou iniquidade”
Severiano Antonio de Oliveira;
Silvia Gabriela Panez;
Marcos Aurelio Chacaliaza C. ...................... 14 ...................... 42
Do longínquo Oriente… Aconteceu na Igreja e
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Admiração e afeto História para crianças... –
da Virgem-Mãe Aguardando o retorno
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Santo Antão – Pai da Onde os Reis Magos uma
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E screvem os leitores
Admiração e escravidão
S e pudéssemos sintetizar com uma palavra o movimento das almas que acor-
riam a Jesus, essa seria a “admiração”. De fato, após a narração dos inúme-
ros portentos – milagres de cura, ressurreição, exorcismos, etc. –, os evangelis-
tas insistem em revelar o estado geral de maravilhamento: “E a multidão ficava ad-
mirada”, “todos se admiravam de tudo o que ele fazia”, ou ainda, “todos admira-
vam-se das palavras cheias de graça que saíam de sua boca” (cf. Mc 9, 15; Lc 9, 43;
Lc 4, 22). Ora, qual a razão de tanto enlevo?
A admiração nasce quando a alma deseja, a partir dos efeitos, reconhecer a cau-
sa. Trata-se da porta de todo percurso metafísico, ou seja, o primeiro olhar da inte-
ligência, como a própria origem da palavra nos indica: “voltar os olhos a” (ad + mi-
rar). Se de fato um belo panorama tanto nos enleva, o que dizer da divina mirada do
Redentor? Como sabemos, porém, muitos – como Judas – negaram este sacratíssi-
mo olhar, preferindo a cegueira da alma aos raios do Sol de Justiça.
Nossa Senhora, pelo contrário, foi o arquétipo das almas admirativas: na
Número
229
Anunciação fez-Se “escrava do Senhor” porque o Salvador olhou para a sua hu-
mildade (Lc 1, 38), na Visitação o seu espírito exultou em Deus (cf. Lc 1, 47) e no
2021
Janeiro
Nascimento de Jesus pôde Ela finalmente glorificar, junto com os Anjos, a pró-
pria causa da admiração. Entre essas três moções da alma de Maria – isto é, a es-
cravidão, a exultação e a glorificação a Deus –, a primeira talvez seja a mais cru-
cial. De fato, na atitude de escravidão já se encontrava em gérmen a sua obediên-
to cia ímpar, o seu amor entranhado pelo Filho e, por fim, a entrega incondicional
ção e afe
Admira aos desígnios da Providência, ou seja, àquilo que desde todo sempre a Trindade
proveu (“viu antes”) para Ela.
A história dos Santos, em particular dos fundadores, nada mais é do que o espe-
lho dessa admiração primeva e consequente atitude de escravidão. De fato, foi sob
Mons. João esse influxo que Mauro obedeceu a seu pai espiritual Bento para salvar Plácido. Foi
Scognamiglio por contemplar as chagas do Poverello que uma coorte de almas se uniu a Francis-
Clá Dias, EP, co, o “outro Cristo crucificado”. Foi como num relance que Dom Bosco se admi-
em 14/12/2020 rou pela inocência de Domingos Sávio, chamando-o carinhosamente de “bom te-
Foto: Teresita Morazzani
cido” (diante da mãe que era costureira). E a resposta do jovem brotou como num
flash: “Sou um tecido; que tu sejas então o alfaiate para preparar uma bela veste
para o Senhor”!
Após um 2020 tão conturbado, nosso espírito certamente anseia por um ano
novo bem diferente. Como ele será? Não sabemos. Mas basta contemplar o exem-
plo admirativo de Maria e da constelação de almas bem-aventuradas para consta-
tar que uma autêntica mudança da sociedade só pode começar por uma conversão
individual. Urge, portanto, buscar um novo “olhar”, que se traduz em dar as costas
ao egoísmo e tantos outros vícios que nos impedem de admirar. E assim, a todo mo-
mento, poderemos rogar ao Altíssimo com propriedade: “Eis aqui o vosso escravo,
faça-se em mim a vossa vontade!” ²
A
recordação dos atos do Sal- do que foi dado como medicina para majestade, nascer como homem e
vador do gênero huma- quem estava morto surgiu uma nor- morrer pelos homens.
no será de grande utilida- ma de costumes. Deus fez com que uma causa tão
de para nós, irmãos caríssi- Não foi, pois, sem razão que os difícil como a nossa fosse salva gra-
mos, se fizermos desse objeto de nos- três Magos, guiados pela luz de uma ças à sua humildade, pela qual Ele
sa Fé o ideal de nossa imitação. estrela para ir adorar o Menino Je- destruiu a morte e o autor da morte,
Com efeito, na ordenação dos sus, não O viram imperando sobre os nada recusando de tudo quanto seus
mistérios de Cristo, os próprios mi- demônios, nem ressuscitando mor- perseguidores Lhe impuseram. Ao
lagres são graças e estímulos que so- tos, nem restituindo aos cegos a vis- contrário, obediente ao Pai, supor-
lidificam a doutrina, para que imite- ta, aos coxos a faculdade de andar e tou com doçura e paciência os tor-
mos com o exemplo das obras o que aos mudos a de falar, nem operando mentos de seus algozes.
confessamos com espírito de Fé. Pois qualquer outra ação divina. Encon-
até mesmo esses primeiros instantes traram, pelo contrário, uma criança
Cristo ama a verdadeira e
de vida do Filho de Deus nascido da silenciosa e tranquila, entregue à so-
voluntária humildade
Virgem-Mãe nos ensinam a progre- licitude de sua Mãe. Sendo assim, quanto devemos ser,
dir na piedade. N’Ele não aparecia nenhum si- também nós, humildes e pacientes,
Os corações retos aí veem apare- nal de seu poder, mas sim uma pro- uma vez que, se alguma provação nos
cer simultaneamente, numa só Pes- digiosa humildade. A contempla- assaltar, nunca a sofreremos sem tê-
soa, a pequenez própria à humanida- ção deste Santo Menino, que era ao -la merecido!
de e a majestade própria à divindade. mesmo tempo Filho de Deus, apre- “Quem se gloriará de ter um co-
Aquele que o berço atesta ser um me- sentava diante dos olhos um ensi- ração limpo ou de estar livre de pe-
nino, o Céu e os espíritos celestiais namento que mais tarde seria pro- cado?” (Pr 20, 9). E, como diz São
proclamam seu Criador. clamado para os ouvidos. Aquele João: “Se dizemos que não temos pe-
Esse menininho é o Senhor e Mes- que ainda não proferia sequer uma cado, enganamo-nos a nós mesmos,
tre do mundo; recolhe-se no regaço palavra, ensinava já pelo simples e a verdade não está em nós” (I Jo
de sua Mãe Aquele que nada pode fato de ser visto. 1, 8). Logo, quem pode considerar-se
conter. Mas é nisso que estão a cura Com efeito, toda a vitória do tão isento de pecado que nele a justi-
de nossas feridas e nossa restauração, Salvador sobre o demônio e o mun- ça nada encontre a censurar ou a mi-
porque a natureza humana não pode- do, Ele a começou pela humildade sericórdia a perdoar?
ria ter se reconciliado com Deus se e rematou pela humildade. Iniciou Donde, meus diletíssimos, a re-
duas realidades tão diversas não tives- na perseguição sua vida predesti- gra da sabedoria cristã não consis-
sem se encontrado para se unirem. nada e na perseguição a terminou. te na abundância de palavras, na
A este Menino não faltaram os so- subtileza da discussão nem no afã
A vida de Jesus iniciou-se e frimentos, mas nunca neles per- de obter glória e louvores, mas sim
terminou na perseguição deu a mansidão infantil, pois o Fi- na verdadeira e voluntária humil-
O remédio que nos foi administra- lho Unigênito de Deus aceitou, por dade que Nosso Senhor Jesus Cris-
do tornou-se, assim, regra de vida, e um singular rebaixamento de sua to abraçou e ensinou com grande
v alor desde sua concepção até o su- tado de menino, tomemos por mes- rado pelos Magos. E para nos mani-
plício da Cruz. tre São Paulo. Diz-nos ele: “Não sede festar o troféu que reserva a seus imi-
Discutindo certo dia seus discípu- como meninos no modo de entender, tadores, Jesus glorificou com o martí-
los sobre qual deles seria o maior, Je- mas sim no que se refere à carência rio aqueles que vieram ao mundo ao
sus colocou no meio deles um meni- do mal” (I Cor 14, 20). mesmo tempo que Ele. Nascidos em
no e lhes disse: “Em verdade vos de- Não se trata, portanto, de voltar Belém, como o Cristo, foram a Ele as-
claro: se não vos transformardes e aos brinquedos e às debilidades da in- sociados pela idade e pelo holocausto.
vos tornardes como criancinhas, não fância, mas de imitar certas coisas que Amem, pois, os fiéis a humilda-
entrareis no Reino dos Céus. Aquele são convenientes também à maturi- de e, sobretudo, fujam de toda sober-
que se fizer humilde como esta crian- dade. Por exemplo, que passem logo ba. Cada qual dê a preferência a seu
ça será o maior no Reino dos Céus” nossas agitações interiores e recupe- irmão; ninguém procure seu provei-
(Mt 18, 3-4). remos rapidamente a paz; não guar- to particular, mas sim o do próximo
Cristo ama a infância que Ele vi- demos rancor pelas ofensas recebidas (cf. I Cor 10, 24).
veu em sua alma e em seu corpo. nem ambicionemos altos postos; gos- Quando todos estiverem cheios de
Cristo ama a infância, mestra de hu- temos de estar juntos e mantenhamos sentimentos recíprocos de amor, o
mildade, modelo de inocência, exem- a igualdade de ânimo. veneno da inveja desaparecerá, “por-
plo de doçura. Cristo ama a infân- Grande qualidade é não saber cau- que todo aquele que se exaltar será
cia, para a qual orienta os adultos e sar prejuízo nem tramar maldades, humilhado, e todo aquele que se hu-
reconduz os anciãos. Ele a dá como porque em injuriar e replicar às injú- milhar será exaltado” (Lc 14, 11). É o
exemplo a todos quantos desejam al- rias consiste a astúcia deste mundo; ao que testifica o próprio Nosso Senhor
cançar o Reino eternal. contrário, não retribuir a ninguém o Jesus Cristo, que com o Pai e o Espí-
mal pelo mal (cf. Rm 12, 17) é próprio rito Santo vive e reina pelos séculos
Semelhantes a crianças da equanimidade da infância cristã. dos séculos. Amém. ²
na carência do mal A ter esta semelhança com as
Entretanto, se queremos enten- crianças vos convida, irmãos caríssi- SÃO LEÃO MAGNO.
der plenamente como é possível con- mos, o mistério que hoje celebramos. Sermão VII
seguir tão admirável transformação Esta é a forma de humildade que vos na Epifania do Senhor:
e como fazer para voltarmos ao es- ensina o Salvador Menino, ao ser ado- SC 22, 276-283
a Evangelho A
Naquele tempo, 35 João estava do?” Eles disseram: “Rabi (que seguiram Jesus. 41 Ele foi en-
de novo com dois de seus dis- quer dizer: Mestre), onde mo- contrar primeiro seu irmão
cípulos 36 e, vendo Jesus pas- ras?” 39 Jesus respondeu: “Vin- Simão e lhe disse: “Encontra-
sar, disse: “Eis o Cordeiro de de ver”. Foram pois ver onde mos o Messias” (que quer di-
Deus!” 37 Ouvindo essas pa- Ele morava e, nesse dia, per- zer: Cristo). 42 Então André
lavras, os dois discípulos se- maneceram com Ele. Era por conduziu Simão a Jesus. Jesus
guiram Jesus. 38 Voltando-Se volta das quatro da tarde. olhou bem para ele e disse: “Tu
para eles e vendo que O esta- 40
André, irmão de Simão Pe- és Simão, filho de João; tu se-
vam seguindo, Jesus pergun- dro, era um dos dois que ou- rás chamado Cefas” (que quer
tou: “O que estais procuran- viram as palavras de João e dizer: Pedra) (Jo 1, 35-42).
nn
Um encontro preparado
ma
havia muito ele prepara-
apóstolo e fiel
oll
desde toda a eternidade
oH
va aqueles discípulos para o
rgi
encontro com o Messias. Qui-
38a
Voltando-Se para eles
restituidor,
Sé
çá até mesmo prometera apon- e vendo que O esta-
São João tá-Lo, quando surgisse vam seguindo, Jesus
uma oportunidade.
Batista Provavelmente am-
São João Batista - Catedral de
Notre-Dame, Paris
perguntou: “O que
bos faziam parte de um estais procurando?”
procura núcleo de seguidores mais admirativos, mais ar-
transferir dorosos e mais dispostos, cujas perguntas sobre o
Desejado das Nações haviam permitido ao Pre-
A princípio, os dois O acompanham de lon-
ge; depois apertam o passo a fim de se aproxi-
para Jesus cursor narrar o início de sua missão na visita de marem. Percebendo sua presença, Nosso Senhor
Nossa Senhora a Santa Isabel, contar as maravi- volta-Se para eles e lhes dirige a palavra. É a pri-
todo o encanto lhas que conhecia a respeito de Jesus, transmitir meira vez que a voz do Redentor se faz ouvir no
que André e as inspirações que a graça soprava em seu interior.
Tais comunicações estavam num crescendo, e
Evangelho de São João.
“O que estais procurando?”, pergunta-lhes.
João nutriam naquele dia João deve ter notado que se tratava Mais do que obter uma resposta, que enquan-
de uma situação especial criada pela Providên- to Deus já conhecia, Jesus desejava dar àqueles
por ele cia. Sem dúvida foi no auge da conversa, quando discípulos a oportunidade de estreitarem os la-
as graças místicas atingiam um verdadeiro cume, ços com Ele e, sobretudo, de explicitarem para si
que ele exclamou: “Eis o Cordeiro de Deus!” mesmos, com clareza, o que buscavam.
Cabe recordar que tal cena não foi fruto do
Flexibilidade ao chamado divino acaso. Desde toda a eternidade o Verbo Divi-
37
Ouvindo essas palavras, os dois discí- no havia escolhido João e André, e idealizado
pulos seguiram Jesus. as circunstâncias nas quais se daria aquele en-
contro. E o mesmo se passa conosco. Com cari-
No mesmo instante André e João se despe- nho eterno Nosso Senhor nos elegeu e em incon-
dem do antigo mestre e, aceitando o convite táveis ocasiões de nossas vidas toma a iniciativa
da graça, acompanham Nosso Senhor. Exímio de falar em nosso interior. Para que isso aconte-
apóstolo e fiel restituidor, São João Batista apro- ça, Ele põe apenas uma condição: que abramos a
veita a ocasião a fim de transferir para Jesus todo alma para sua graça.
o encanto que ambos nutriam por ele.
As paragens onde o Mestre habita
Não os move uma mera curiosidade, mas a
profunda ação do Espírito Santo em suas al-
38b
Eles disseram: “Rabi (que quer dizer:
mas, que os arrebata. Se a companhia e os en- Mestre), onde moras?”
lhes robustecesse a fé. Jesus olhou bem para ele e disse: “Tu és
Infelizmente as páginas da História não regis-
traram o conteúdo daquela abençoada conver- Simão, filho de João; tu serás chamado
sa… O certo é que, partindo dali, Santo André Cefas” (que quer dizer: Pedra).
apressa-se em transmitir a boa nova a seu irmão.
Novamente chama a atenção que uma simples
Quem descobre onde Jesus mora, frase tenha movido São Pedro a procurar o Mes-
Naturalmente deseja conduzir outros até Ele tre, como acontecera com São João e Santo An-
cristã, a André, irmão de Simão Pedro, era um
40
dré, sem levantar objeção alguma. Ainda mais se
dos dois que ouviram as palavras de João e tratando do primeiro Papa, que se mostraria tão
alma humana seguiram Jesus. 41 Ele foi encontrar primei-
inquiridor e renitente em outras circunstâncias
(cf. Mt 16, 22; 18, 21; Mc 14, 29-31; Jo 13, 6-9). A
voa em ro seu irmão Simão e lhe disse: “Encon- prontidão com que ele atende ao chamado do ir-
seguimento de tramos o Messias” (que quer dizer: Cristo). mão permite supor que ele já esperava a alvissa-
reira notícia sobre o Messias.
Nosso Senhor, São João e Santo André poderiam ter guar- As famílias eram numerosas naquele tempo,
dado para si a grande descoberta. Entretanto, e com muita probabilidade André tinha outros
pois foi criada sendo o bem eminentemente difusivo,1 a prova irmãos. Portanto, o fato de ele procurar Simão
de que alguém encontrou o Senhor é o empenho não se deve apenas a que a caridade começa na
para Ele que manifesta em fazer apostolado com os ou- própria casa… O futuro Príncipe dos Apóstolos
tros, a fim de salvá-los. também havia sido formado por São João Batista
Assim nós devemos agir: quando descobrir- e, sabendo que o Redentor prometido já aparece-
mos onde “mora” Jesus em um determinado as- ra em Israel (cf. Jo 1, 26), aguardava com ansie-
pecto de sua doutrina, mentalidade ou modo de dade o momento de encontrá-Lo.
ser, procuremos logo levar aqueles que nos são Talvez aqueles três discípulos tivessem feito, in-
próximos a seguir o mesmo caminho e, dessa for- clusive, o pacto de imediatamente comunicar aos
ma, conviverem com Ele. outros quem era o Messias, assim que algum de-
Sérgio Hollmann
ki
“Devemos
za
iya
sobrenatural que, ante as cir- sar como a Igreja pensa, sen-
M
io
rg
cunstâncias mais diversas, tir como a Igreja sente, agir
pensar como
Sé
1
Cf. SÃO TOMÁS DE das almas, naturalmente cazes. Ano I. N.3 (mar., dição exige proceder de
AQUINO. Suma Teológi- cristãs”. 1951); p.4. forma adequada a ela.
ca. I, q.5, a.4, ad 2. 3
CORRÊA DE OLIVEI- 4
Do francês, literalmente: 5
Do latim: “O cristão é ou-
2
TERTULIANO. Apolo- RA, Plinio. Via-Sacra. “a nobreza obriga”. Ex- tro Cristo”.
geticum, XVII: PL 1, 377. VI Estação. In: Catolicis- pressão usada para indi- 6
CORRÊA DE OLIVEI-
Do latim: “Ó testemunho mo. Campos dos Goyta- car que uma elevada con-
RA, op. cit., p.4-5.
O
Livro de Isaías é o maior dos israelitas sobre eles mesmos, de- data aproximada do nascimento de
dos escritos proféticos vido à sua má conduta. Isaías. Suas indicações precisas sobre
do Antigo Testamento. O cântico da vinha manifesta o Jerusalém dão a entender que ele nas-
Seus sessenta e seis capí- desvelo de Deus para com Israel, do ceu na capital do Reino de Judá. Era
tulos ricos em conteúdo teológico e qual esperava colher bons frutos, mas casado e tinha dois filhos, aos quais
espiritual fazem dele uma verdadei- auferiu apenas desgostos. É a expe- deu nomes simbólicos (cf. Is 7, 3; 8, 3).
ra obra catequética. Em meio a ta- riência amarga do vinhateiro dedica- Esse grande profeta exerceu seu
manha riqueza, pode passar inad- do que trabalhou em vão; mas é, so- ministério durante quarenta anos
vertido um pequeno trecho que, en- bretudo, o fracasso das relações entre (740-700). O início de sua atividade
tretanto, constitui uma magnífica li- Deus e seu povo, de um amor não cor- coincide com um período de pros-
ção sobre o amor de Deus às suas respondido. Apesar de todos os cui- peridade deixada pelo falecido Rei
criaturas, das quais Ele espera uma dados do Senhor com a nação eleita, Ozias (781-740), como resultado de
retribuição. Trata-se do cântico da esta não Lhe deu senão ingratidão. O suas vitórias militares a leste e oeste
vinha (cf. Is 5, 1-7). que fará Ele com tal “vinha”? de Israel. Entretanto, esse bem-estar
Escrito muito provavelmente no ocultava uma realidade sócio-religio-
começo da atividade de Isaías, esse
O profeta e sua época sa cada vez mais decadente, a qual
cântico – conhecido também como o A maioria dos comentaristas con- Isaías não deixou de censurar.
poema da vinha – faz parte do bloco corda em apontar o ano 760 como Mais adiante, já no reinado de
literário composto por vaticínios diri- Acaz (736-727), agravou-se a situa-
gidos a Israel (cf. Is 1-12). Nesta seção ção. Este monarca introduziu em
há um conjunto de oráculos comina- Judá o culto pagão a fim de agradar
tórios e salvíficos entrelaçados (1-5), o
O cântico da vinha ao rei assírio, do qual havia recebi-
relato da vocação de Isaías (6) e o Li- manifesta o desvelo do ajuda militar para enfrentar uma
vro do Emanuel (7-12), no qual predo- ameaça por parte da Síria e do Reino
minam os textos messiânicos. Ou seja, de Deus para com Norte de Israel.
alternam-se ameaças e promessas. Desejando rebelar-se contra a in-
Esse poema ou cântico pode ser
Israel, do qual fluência assíria na região, estes dois
contemplado de duas perspectivas esperava colher bons estados pediram a Acaz que se unis-
diversas: a teológica e a psicológica. se a eles. Ante sua resposta negati-
A primeira, por uma interpretação frutos, mas auferiu va, declararam-lhe guerra e amea-
da história das relações entre Deus e çavam destroná-lo. Nessa perigo-
seu povo, uma relação de Pai e filho; apenas desgostos sa conjuntura, Acaz pediu ajuda ao
a segunda, na instigação de um juízo próprio rei assírio, contrariando os
Gustavo Kralj
que não se esforçou para fazer ren- como demonstração de seu amor.
der o talento recebido de seu senhor Vamos agora atualizar o problema.
(cf. Mt 25, 14-30). Por isso a vinha fi- O Senhor dá a todo ser humano
cará sem proteção e será pisoteada. São Tiago e São Pedro - Catedral de as graças necessárias para agir reta-
Um terreno sem cuidados está desti- Cristo Rei, Hamilton (Canadá) mente e santificar-se, para adorá-Lo
nado ao fracasso, assim como a alma e servi-Lo. Como correspondemos a
sem o auxílio da graça. Ninguém se tantos favores recebidos? A restitui-
interessa por um campo que produz “Se a vinha houvesse ção é uma virtude difícil de praticar.
erva selvagem. Quando o homem Muitas vezes julgamos que os suces-
não colabora com o plano de Deus, correspondido às sos obtidos em nossa vida são fruto
sua vida perde o valor.
Muitas vezes o Senhor espera um
intenções do amado, de nossas qualidades, de nosso esfor-
ço pessoal. Raramente reconhece-
arrependimento de quem anda mal mão alguma mos que tudo vem de Deus.
e, de um modo ou de outro, envia “si- O que quer de nós o Senhor? Fo-
nais” para a pessoa dar-se conta de a teria tocado. mos criados com uma intenção; nin-
seu erro, mas tudo tem um limite. guém está neste mundo sem uma fi-
“Negar a chuva aos campos é o últi-
Os obedientes são nalidade. Se queremos gozar da eter-
mo gesto de Deus ao seu povo para intocáveis” na bem-aventurança, não podemos
chamá-lo à conversão”.3 fazer ouvidos moucos à voz de Deus;
Não se pode abusar da bondade devemos viver de acordo com as obri-
divina; viver como se Deus não exis- Caso restasse alguma dúvida, o gações de todo batizado. Portanto,
tisse é uma insensatez. Fugir da pró- profeta faz uma dura aplicação: aque- não nos tornemos uma vinha estéril,
pria responsabilidade acarreta suas les que eram testemunhas de um juízo mas produzamos frutos de justiça! ²
consequências. Pelo contrário, cum- tornam-se réus.
prir o dever é garantir proteção para Quantas vezes Javé foi pródigo
si: “Se a vinha houvesse correspondi- com eles! Como nação eleita, tinha 1
ALONSO SCHÖKEL, SJ, Luis; SICRE
do às intenções do amado, mão algu- Israel o dever de ser santa, de ser mo- DIÁZ, SJ, José Luis. Profetas. Isaías, Je-
ma a teria tocado. Os obedientes são delo para os demais povos. Deus não remías. 2.ed. Madrid: Cristiandad, 1987,
intocáveis”.4 deixou de enviar profetas para lhes v.I, p.133.
transmitir sua vontade. Sempre que 2
MARCONCINI, Benito. Guía espiritual
As testemunhas tornam-se réus pediam ajuda, Ele escutava seus ge- del Antiguo Testamento. El libro de Isaías
(1-39). Barcelona-Madrid: Herder; Ciudad
“A vinha do Senhor dos exércitos é midos e os socorria. Nueva, 1995, p.84.
a casa de Israel, e os homens de Judá De que valeu todo esse esforço? 3
JIMÉNEZ HERNÁNDEZ, Emiliano.
são a planta de sua predileção. Espe- Com linguagem magistral, Isaías re- Isaías: el profeta de la consolación. Madrid:
rava deles justiça, mas brotou iniqui- produz comparações rítmicas: mišpāṭ Caparrós, 2007, p.34.
dade; esperava deles retidão, mas se / miśpāḥ… ṣedāqâ / ṣeՙāqâ (justiça / ini- 4
MOTYER, J. Alec. Isaías. Barcelona: An-
ouviram alaridos” (5, 7). quidade… retidão / alaridos). O povo damio, 2005, p.93.
E nquanto a Sagrada Famí- Disfarçando seu ódio, Herodes so astro avançava em direção a uma
lia voltava para Belém de- chamou os Magos em segredo a fim região situada ao sul de Belém. Se-
pois da Apresentação do de informar-se com detalhes sobre guiram-no até que, em meio a uma
Menino Jesus no Templo o surgimento do astro (cf. Mt 2, 7). campina, avistaram uma estância
de Jerusalém, a muitos quilômetros Como ignoravam suas péssimas in- pobre, mas digna; sobre ela pousou
da Judeia uma caravana de persona- tenções, estes lhe contaram com en- a estrela.
gens ilustres também viajava rumo à tusiasmo as profecias que conheciam Tratava-se, em realidade, de um
Cidade de Davi. sobre o futuro Rei e como desponta- Anjo do Senhor1 que, sob a forma de
Provenientes do longínquo Orien- ra sua estrela no firmamento, claro luz, os conduziu até a casa onde es-
te, alguns Magos, com seu imponen- sinal do cumprimento próximo das tava instalada a Sagrada Família.2
te séquito, seguiam uma misteriosa predições. Desse modo, viajando de Jerusalém
estrela, cujo surgimento contempla- Tendo consultado os príncipes dos a Belém numa noite fria e estrelada,
ram numa noite escura e de céu des- sacerdotes e os escribas, enviou-os descobriram com toda a facilidade o
coberto. Vinham em busca do Rei a Belém, cidade anunciada por Mi- discreto lugar que albergava o Me-
dos judeus que havia nascido e trazia queias como berço do Messias (cf. Mq nino.
a salvação ao mundo inteiro (cf. Mt 5, 1). Ainda lhes pediu que retornas- Tomados pela graça, os Magos
2, 1-2). sem a ele para dar-lhe indicações pre- desceram de seus camelos e saudaram
cisas sobre o Menino pois, segun- São José, que os esperava à entrada,
Fria acolhida na Cidade Santa do dizia, também queria adorá-Lo com a deferência devida ao mais dig-
Chegados a Jerusalém, pergunta- (cf. Mt 2, 8)… no dos príncipes. Pediram-lhe licença
ram com candura onde estava o Mo- Surpresos com a fria acolhida do para fazer seu ingresso na habitação
narca que acabara de nascer. Ao con- povo de Jerusalém, os Reis puseram- com todas as honrarias.
trário do que se poderia pensar, He- -se a caminho da Cidade de Davi, com Tendo ele consentido, vestiram
rodes e toda Jerusalém perturba- certa perplexidade. Logo no início da suntuosos mantos sobre sua roupa-
ram-se com a notícia divulgada por viagem, porém, viram novamente a gem faustosa, a melhor que possuíam,
essa caravana tão prestigiosa e nobre estrela que refulgira no Oriente. Seus estenderam tapetes de lindíssimas
(cf. Mt 2, 3). corações se encheram de profunda cores e formas, acenderam incensá-
A opinião pública da capital rea- alegria: ela não mentira, estava ali rios e organizaram um solene cortejo.
giu com desconfiança e suspeita: para guiá-los! “Entrando na casa, acharam o Meni-
como poderia ter nascido o Salva- no com Maria, sua Mãe. Prostrando-
dor sem que eles o soubessem? Para
Numa pobre habitação, brilha a -se diante d’Ele, O adoraram. Depois,
os Magos a interrogação não foi me-
gala mais sublime da História abrindo seus tesouros, ofereceram-
nor: não devia alegrar-se pelo ad- Era uma noite belíssima, que pa- -Lhe como presentes: ouro, incenso e
vento do Messias o povo eleito por recia prenunciar um dos mais gran- mirra” (Mt 2, 11).
Deus para recebê-Lo e introduzi-Lo diosos amanheceres da História. Os A piedosa atitude dos Magos indi-
no mundo? Magos perceberam que o lumino- ca bem a fé e a retidão que os movia.
1
São João Crisóstomo afirma CRISÓSTOMO. Homilías so- indizível e sua novidade admi- (SANTO INÁCIO DE AN-
que se tratava “de uma for- bre el Evangelio de San Ma- rável. Todos os astros, junta- TIOQUIA. Lettre aux Éphé-
ça invisível que tomou a apa- teo. Hom.VI, n.2. In: Obras. mente com o sol e a lua, for- siens, c.XIX, n.2: SC 10, 75).
rência de estrela. O que se 2.ed. Madrid: BAC, 2007, v.I, maram coro em torno daque- 2
Cf. SÃO TOMÁS DE
prova, sobretudo, pelo cami- p.106). E Santo Inácio de An- le astro, e ele projetou sua luz
AQUINO. Suma Teológica.
nho que seguiu” (SÃO JOÃO tioquia observa: “Sua luz era mais do que todos os outros”
III, q.36, a.7.
A
o meditarmos sobre o rela- do que o comum dos homens, daría-
cionamento de Maria San- mos risada, porque é tal a distância
tíssima com seu Divino Fi- entre a Terra e o Sol que cabe per-
lho ainda criança, conside- guntar: o que são dez centímetros em
raremos a adoração da criatura para comparação a ela?
com seu Deus e Criador e, ao mesmo Sendo Deus infinito, até a imensa
tempo, o afeto d’Aquela Mãe celeste distância que separa Nossa Senhora
para com seu Filho único e incompa- de todos nós é pequena quando com-
rável. parada com a que A separa de N osso
Senhor.
A admiração é o É compreensível, portanto, a série
fundamento do amor de atos de humildade que Ela fazia
Sendo modelo de humildade, Nos- na presença do Menino Jesus e que
sa Senhora não se aproximaria do não estavam fundados em considera-
Menino-Deus antes de ter-Lhe mani- ções egocêntricas, mas teocêntricas.
festado todo o respeito e toda a admi- Nossa Senhora não dizia “sou a últi-
ração que Ele merecia. Sabendo que ma das criaturas”, mas tinha em vis-
seu Filho era, enquanto criatura, a ta, mais do que a sua própria contin-
chave de cúpula da Criação, não po- gência, a grandeza infinita de Deus.
dia deixar Ela de Se colocar nessa po- Por isso, suas manifestações de afeto
sição humilde diante do Salvador. começavam por atos de admiração.
A mais alta das criaturas está tão Há nisso uma ordenação lógica
infinitamente abaixo do Criador que que merece um rápido comentário.
pode falar a Nosso Senhor como se Quando queremos muito bem a al-
fosse a última. Por exemplo, se uma guém, devemos começar por admi-
pessoa se julgasse mais próxima do rá-lo. Porque a admiração é o funda-
João Paulo Rodrigues
Reprodução
Pouco tempo depois, Da. An- nódulo havia desaparecido. Eu
dréia pôde entender a quem de- tinha alguns nódulos, mas o mais
via aquele inesperado e gratuito grave, o de categoria 5, desapa-
ato de generosidade: Melanie Magalhães com sua mãe, recera. E os outros nódulos en-
“Passaram-se uns dias, re- Andréia contrados, que não tinham chan-
cebemos a visita de duas irmãs dos ce de ser malignos, diminuíram”.
Arautos. Conversando com elas, a Jéssica procurou explicações médi-
Melanie, minha filha, relatou que ha- “Minha filha cas, mas logo pôde constatar a enor-
via pedido a Da. Lucilia que nos aju- me graça que recebera:
dasse, pois estávamos passando por relatou que havia “Pegamos o laudo e voltamos ao
dificuldade”.
Estava aí a resposta para a incóg-
pedido a Da. Lucilia médico oncologista. Mostramos para
ele e perguntamos se é normal isso
nita que há dias Da. Andréia procu- que nos ajudasse, acontecer. E ele disse: ‘Olha, não é
rava decifrar: sua benfeitora encon- normal, e eu não sei explicar o que
trava-se mais perto do que imagi- pois estávamos aconteceu. Mas realmente o nódulo
nava, amparando e protegendo sua não está mais aí’.
família através da súplica de sua pe-
passando por
Solução para todos os
quena filha. Aquela misteriosa en- dificuldade” problemas
comenda tinha, sim, um remeten-
te: o maternal e infalível socorro de Também Cristiano Pires, acostu-
Da. Lucilia. correspondia à categoria 5, ou seja, al- mado a recorrer sempre à interces-
tamente suspeito de ser maligno. são de Da. Lucilia, nos envia seu tes-
Inexplicável desaparecimento “Logo que descobrimos o nódulo, temunho, desejoso de relatar o quan-
de um nódulo eu teria que fazer a biópsia, mas des- to foi socorrido nos momentos de
Jéssica Deponti Gobbi, de São cobri que estava grávida… Então, eu grande provação e necessidade pelo
Carlos (SP), ainda com certa surpre- e meu marido procuramos um padre dadivoso e maternal socorro dessa
sa, relata-nos a graça que recebeu Arauto e pedimos uma bênção para bondosa senhora.
por intermédio de Da. Lucilia, atra- ele por intercessão de São Brás. Ele Conta-nos que tinha certa dívi-
vés da qual foi curada de modo inex- nos levou na igreja e nos deu a bên- da no banco, e recebeu uma pro-
plicável. ção de São Brás com a vela na gar- posta para quitá-la. Entretanto, fez
Após mais ou menos dois anos de ganta e também fez uma oração pe- o pagamento de forma errada e cor-
casamento, ela e seu marido, Felipe, dindo a intercessão de Da. Lucilia ria o risco de perder todo o dinhei-
apesar de desejarem, ainda não ti- para que o nódulo desaparecesse ou ro usado com essa finalidade. Uma
nham filhos. Resolveram, então, pro- fosse benigno”. vez que isso poderia trazer-lhe gran-
curar um médico: Pouco tempo depois, Jéssica pro- de prejuízo e uma enorme dor de
“Começamos a fazer vários exa- curou novamente o médico: cabeça, pediu a ajuda de Da. Luci-
mes. E, num deles, descobri que es- “Estava muito nervosa de ter de lia. Pouco tempo depois, antes mes-
tava com um nódulo na tireoide, que fazer a biópsia e tudo… Então, vol- mo que fizesse algo para solucionar
segundo a classificação de TI-RADS, tei no médico e ele disse: ‘Como você o caso, constatou que sua dívida es-
Reprodução
dois hospitais, e já estava can- Nossa Senhora, pela interces-
sado de trabalhar à noite. Esta- são de Da. Lucilia, recebi essa
va há dezessete anos nesse hos- imensa graça”.
pital e já tinha pedido umas três, Jéssica Gobbi com seu esposo na casa
quatro vezes para me mandarem dos Arautos, em São Carlos
Suave odor de rosas
embora, pois não estava aguentando.
no travesseiro
Então, resolvi recorrer à intercessão Lilibeth Caruso, de Houston
de Da. Lucilia”. “Procuramos um (EUA), escreve-nos contando um
significativo fato através do qual
Rápida intercessão da padre Arauto pôde confirmar ainda mais o quanto
“Senhora do Quadrinho”
Não tardou muito para que suas
e pedimos uma esta bondosa senhora, que tanto bem
fez ao próximo durante sua vida ter-
preces fossem ouvidas: bênção... Estava rena, está disposta a ajudar desde a
“Começou a correr um boato de eternidade aqueles que a ela recor-
que quem quisesse ser demitido po- muito nervosa rem e dela se aproximam por meio da
dia dar o nome aos responsáveis. Pedi, oração.
e graças a Deus em janeiro deste ano,
de ter de fazer a Ao visitar uma amiga que se en-
graças à intercessão de Da. Lucilia, biópsia e tudo” contrava há mais de sete anos numa
fui dispensado, recebendo todos os cadeira de rodas, procurou levar-lhe
Inexplicável desaparecimento
de um nódulo
Reprodução
sua amiga, aceitou o presente, Muitos são, como vemos, os
dizendo que iria colocá-lo debai- que, no Brasil e no exterior, se
xo de seu travesseiro. Em segui- sentem protegidos pelo socorro
da, ela se retirou por alguns ins- Cristiano Pires com um quadrinho de maternal dessa generosa senhora
tantes do local e, após retornar, Da. Lucilia ou experimentam a ação alenta-
notou algo diferente: dora de sua presença. Ela lhes incute
“Quando voltou ao quarto me per- coragem diante das renhidas lutas da
guntou se eu estava usando perfume. “É algo incrível, vida, mas sobretudo oferece-lhes se-
Disse-lhe: ‘Não, por quê?’ Então, me renidade e confiança mesmo ante os
respondeu que começou a sentir chei- você pede a piores infortúnios e desmentidos.
ro de rosas, que seu travesseiro estava
cheirando rosas. E acrescentou: ‘Mi-
intercessão dela e Certos de que está ela junto ao
trono do Sagrado Coração de Jesus
nha avó dizia que quando uma pessoa você vê que é rápido. conquistando com seu maternal jeiti-
vai ser canonizada cheira a rosas. As- nho uma sentença em favor dos mais
sim, esta senhora Dona Lucilia vai ser Em questão de necessitados, um número cada vez
canonizada’”. maior de pessoas tem recorrido a ela,
Apesar de até hoje não conhecer-
uma semana confiando em sua intercessão para
mos inteiramente o motivo deste re- resolvi tudo” conquistar de Deus não só o imereci-
pentino aroma, podemos interpretá- do, mas até o impossível. ²
Dona Lucilia
Uma biografia de Dona Lucilia Ribeiro dos Santos Corrêa de Oliveira,
escrita por Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP, e editada pela Libreria Editrice Vaticana.
Pedidos pelo telefone (11) 2971-9040, ou pelo Fax: (11) 2971-9067
Pai da vida
monástica
Foi um luzeiro nos primórdios da vida ascético-monacal
e, por sua constância e fidelidade, tornou-se um
sólido rochedo sobre o qual a Igreja se
apoiou para dissipar as pérfidas
Francisco Lecaros
investidas da heresia.
Isabelle Guedes Farias
N
o alto das montanhas vinte anos de idade, ele ficou incum- exímio do conselho dado pelo Di-
ou na vastidão dos de- bido dos cuidados da irmã mais nova vino Mestre.
sertos, varões cheios de e da casa. Foi nesta época que tomou Algum tempo depois, ouviu du-
fervor descobriram for- a decisão que mudaria o rumo de sua rante a Missa a seguinte passagem do
mas heroicas de viver a solidão como existência. Evangelho: “Não vos preocupeis com
meio de se unirem mais a Deus. Tal Certo dia em que se dirigia para o dia de amanhã” (Mt 6, 34). Então,
estilo de vida foi eleito por muitos a igreja, pensava especialmente no distribuiu decididamente o que lhe
cristãos dos primeiros séculos da Igre- modo de vida dos Apóstolos, que restava da fortuna e confiou a irmã a
ja e desenvolveu-se até dar origem às abandonaram tudo a fim de seguir algumas virgens cristãs, para ser edu-
diversas formas de vida religiosa que Nosso Senhor Jesus Cristo. Tendo cada por elas.
hoje conhecemos. chegado ao templo, ali entrou no exa- Deste modo, seguindo com fideli-
É neste primigênio contexto de to momento em que era lido um tre- dade a voz da graça, começou a tri-
isolamento e rigor ascético que en- cho do Evangelho de São Mateus: lhar a via a que o Espírito Santo lhe
contramos a figura de Santo Antão. “Se queres ser perfeito, vai, vende destinara e abraçou exteriormente a
teus bens, dá-o aos pobres e terás um vida ascética que de certa forma já
Abandono completo nas tesouro no Céu. Depois, vem e se- habitava em seu coração.
mãos da Providência gue-Me” (19, 21).
A história deste Santo inicia-se Movido por uma graça, Antão
Busca pela perfeição
por volta do ano 251, no Egito. compreendeu que tais palavras di- Após renunciar ao mundo, An-
Os poucos dados que nos chega- tas outrora por Nosso Senhor ao jo- tão buscou os meios necessários para
ram sobre sua infância indicam que vem rico eram, naquele instante, pôr em prática o seu ideal. Primeiro
esta foi muita tranquila e piedosa. dirigidas a ele. Resoluto e arreba- aconselhou-se com um ancião que
Sabe-se que seus pais eram cristãos, tado de entusiasmo, imediatamen- morava perto de sua aldeia natal,
dispunham de boas condições finan- te distribuiu a herança deixada por o qual levava vida solitária e tinha
ceiras e educaram os filhos no cami- seus pais e vendeu seus bens. Par- fama de ser muito piedoso. Seguindo
nho da santidade. te da quantia recebida destinou aos seu exemplo, o Santo procurou um
Com a morte dos pais, ocorrida pobres e o restante reservou para lugar isolado para morar, fora do po-
quando Antão contava por volta de a irmã, fazendo-se assim executor voado.
“Eu estava aqui, Antão. Esperava para ver-te combater. Como resististe e não te deixaste vencer,
serei sempre teu socorro”
À esquerda, Santo Antão atormentado pelos demônios - Museu Episcopal de Vic (Espanha);
à direita, aparição de Nosso Senhor - Museu Nacional de Arte da Catalunha, Barcelona (Espanha)
Tal testemunho, dotado do tim- cípulos, que também cuidavam de souberam glorificar a Deus cumprin-
bre da verdade, arrebatou os presen- lhe levar víveres. Permaneceu cons- do seus desígnios.
tes. “Mais que a bela e lógica doutri- tante na vida de austeridade, entre Nesse sentido, Santo Antão cons-
na exposta no Concílio, a imponente penitências e orações, e num cres- titui-se num luzeiro da vida ascéti-
voz desse homem, para quem a ver- cente convívio místico com Deus. co-monacal, abrindo caminho para
dade da natureza divina de Cristo Em um destes contatos sobrenatu- uma miríade de almas que escolhe-
se tornara quase uma evidência em rais, o Salvador lhe revelou as dificul- riam abandonar o mundo para en-
virtude de uma visão sobrenatural, dades que a Santa Igreja teria de so- contrar-se com seu Criador através
foi o maior golpe que a heresia re- frer e seu futuro triunfo.9 de uma via de penitência. Por sua
cebeu”.8 Já próximo da morte, e tendo mais constância e fidelidade, o Senhor fez
de cem anos, Antão era auxiliado por dele o rochedo sobre o qual a Igreja
Últimos anos dois discípulos. Segundo a tradição, pôde apoiar-se para dissipar as pérfi-
Depois de exortar o povo de Deus entregou sua alma a Deus no dia 17 das investidas da heresia.
a ser fiel à verdadeira Religião e a de janeiro, data em que a Igreja cele- Que seu exemplo possa sustentar
combater as heresias e seus fautores, bra sua memória. todos aqueles que, nos dias atuais,
o monge do deserto retornou à sua travam combates quiçá maiores con-
morada no Monte Colzim.
Rochedo de constância e ortodoxia tra os inimigos de Deus e sua Igre-
Seus últimos anos transcorreram Quão belo é contemplar o alvore- ja, recordando-lhes a promessa in-
na meditação e ascese. Cultivava tri- cer da história da Cristandade! Nele falível do Salvador: “As portas do in-
go e preparava o próprio pão. De vez reluzem damas e varões cheios de ferno não prevalecerão contra ela”
em quando visitavam-no alguns dis- fé que, suscitados pela Providência, (Mt 16, 18). ²
1
QUEFFÉLEC, Henri. Santo 3
Idem, 9, 8, p.96-97. do. 7.ed. Rio de Janeiro: José ria na mente, vida e obra de Pli-
Antão do deserto. Lisboa: As- Olympio, 1968, p.32. nio Corrêa de Oliveira. Cit-
4
Idem, 10, 3, p.98.
ter, 1961, p.63-64. tà del Vaticano-São Paulo:
7
SANTO ATANÁSIO DE
5
QUEFFÉLEC, op. cit., LEV; Lumen Sapientiæ, 2016,
2
SANTO ATANÁSIO DE ALEXANDRIA, op. cit.,
p.90-91. v.I, p.16.
ALEXANDRIA. Vita di An- 46, 6, p.134.
tonio, 8, 2. 3.ed. Milano: Paoli-
6
FÜLÖP-MILLER, René. Os 9
SANTO ATANÁSIO DE
8
CLÁ DIAS, EP, João Scog-
ne, 2011, p.95. Santos que abalaram o mun- ALEXANDRIA, op. cit., 82,
namiglio. O dom de sabedo-
p.166-168.
A
elevação de nosso Pai e ções para obter graças ou para agra- agora, repete às suas filhas: “Dei-vos
Fundador Dom Bosco à decer as graças recebidas. Estou cer- o exemplo, para que façais o mesmo;
honra dos altares,1 que sus- to de que tudo isso tornou quase vivo assim agindo, atingireis certamente a
citou indizível entusias- e palpável para cada Filha de Maria perfeição à qual o Senhor vos chama”.
mo universal e confiança total no Auxiliadora o presente de Natal des- Oh! que grande coisa esta, a de ter
seu poder de intercessão, aguçou no te ano que está por finalizar. no Pai e Fundador do próprio Insti-
meu coração o desejo, já tão vivo, de Impossível é para uma Filha de tuto o infalível modelo e mestre de
ver as boas Filhas de Maria Auxilia- Maria Auxiliadora não ter habitual- perfeição!
dora, que são filhas também dele, mente presente este atraente mode-
progredirem muito na perfeição re- lo de educador e mestre de vida re-
Cada uma se tornará o ornamento
ligiosa. ligiosa que refulge, na auréola do
de seu próprio Instituto
Se o nosso Beato já nos era pro- Bem-Aventurado, de todas as virtu- O supremo Magistério da Santa
posto como modelo e mestre incom- des próprias à sua missão, pois, para Igreja nos garante isso; e sua vida –
parável no início do ano que em bre- cumprir sua vocação, a Filha de Ma- lida, meditada e estudada com amo-
ve não terá mais amanhã, agora com ria Auxiliadora deve possuir a per- roso empenho – será para as Filhas de
mais razão sobreviverá eternamen- feição religiosa definida pelo Funda- Maria Auxiliadora o luminoso espe-
te esse sentimento em nossos cora- dor. Esta é traçada nas regras, no ma- lho no qual poderão ver o desenvol-
ções. […] nual dos atos de piedade, mas, sobre- vimento progressivo de sua perfeição,
tudo, na sua vida, nos seus exemplos baseada na caridade e na atividade,
Ter continuamente presente e nos seus escritos. como a do Bem-Aventurado Padre.
este atraente modelo Peço-vos, pois, Revda. Madre, que Compete a vós, Revda. Madre,
Primeiro a ansiosa expectativa; exciteis cada Filha de Maria Auxilia- proporcionar às suas filhas esse es-
depois as triunfais e insuperáveis co- dora a haurir desta fonte o sopro vital pelho de perfeição. Como? Forne-
memorações; mais tarde a crescen- de sua própria perfeição, isto é, o caris- cendo-lhes, ou ao menos lhes facili-
te devoção ao novo Bem-Aventura- ma do Instituto, que não pode ser en- tando ter à disposição, biografias do
do que logo se tornou quase univer- contrado alhures, nem sequer nos li- Bem-Aventurado, já muito numero-
sal pela grande quantidade de gra- vros que visam conduzir a alma quase sas; dando-lhes tempo de fazer uma
ças e favores, expressos nos ex-votos, passo a passo nas vias da santificação. boa leitura cotidiana, individual ou,
nas centenas de velas continuamen- Podemos encontrar nesses livros melhor ainda, em conjunto; animan-
te acesas diante da urna das relíquias princípios e normas gerais, mas não as do-as a valorizar de todos os modos e
no Santuário de Maria Auxiliado- aplicações conformes ao espírito do em todas as oportunidades os abun-
ra e nos incessantes pedidos de ora- Fundador que, com maior autoridade dantes ensinamentos nelas contidos.
A música instrumental
no santuário
Do profano ao sagrado, os instrumentos musicais contribuíram para
criar nas ações litúrgicas um ambiente adequado a seu
momento festivo ou recolhido, preparando as almas
para o amoroso encontro com Deus.
Adriel Brandelero
Q uando a simplicidade dos Os instrumentos musicais prudência, para não chamar a aten-
dias feriais cede lugar aos na Igreja primitiva ção sobre os locais de culto em tem-
esplendores das solenida- Os instrumentos musicais esta- pos de perseguição. Porém, o prin-
des litúrgicas, os dons e vam muito presentes no culto judai- cipal motivo para rejeitá-los parece
sentidos do homem se harmonizam co, e assim o comprova o Antigo Tes- ter sido seu uso nos cultos idolátri-
em gestos de adoração que permitem tamento em passagens como esta: cos e festas pagãs: “Provavelmen-
à alma penetrar-se do divino e mani- “Celebrai o Senhor com a cítara, en- te foram desterrados do templo
festar, através da melodia, o seu amor toai-Lhe hinos na harpa de dez cor- pelo seu caráter profano, sensual e
ao Criador. das. Cantai-Lhe um cântico novo, clamoroso”,2 declara Mons. Mário
As harmônicas vozes de um coro acompanhado de instrumentos de Righetti em sua célebre História da
bem afinado, acompanhadas do ór- música” (Sl 32, 2-3). Liturgia.
gão ou de outros suaves instrumen- A Sagrada Escritura lhes atribui Clemente de Alexandria defendia
tos, e por vezes alvejadas com alta- também um efeito curativo e exor- que, para glorificar a Deus, bastava
neiras clarinadas de trompetes, cons- cístico – foram os acordes da harpa aos cristãos um instrumento, a Pa-
tituem uma verdadeira oração se des- de Davi que livraram Saul do espíri- lavra, portadora de paz.3 Via-se “na
tinadas à glória de Deus. to mau (cf. I Sm 16, 16-23) –, enquan- homofonia do canto sagrado uma
Todavia, ao ouvir a pujança da to sua ausência era considerada sinal imagem e paralelismo com a harmo-
música instrumental, os bons apre- inequívoco de desgraças prestes a se nia do Universo e das esferas celes-
ciadores do cantochão lembrarão abater sobre o povo eleito: “Farei ca- tes”,4 enquanto a heterofonia entre o
– não sem saudades – da gravidade lar a voz dos cânticos, não mais se es- canto e os instrumentos era conside-
monódica do gregoriano entoado a cutará o som das tuas harpas” (Ez rada contrária à unidade da comuni-
capella. A austeridade de sua linha 26, 13). dade cristã.
melódica, regida por um ritmo sem “Esta tradição hebraica relacio- Estabeleceu-se assim nos primór-
compassos, parece muito mais pró- nada com os instrumentos musicais dios da Cristandade uma separação
pria a fazer sentir a grandeza e eleva- não passou, porém, para a Igreja pri- irreconciliável entre o canto sacro
ção do Sagrado Mistério. mitiva; pelo menos os escritos apos- e as melodias instrumentais. Quiçá
Ante esse paradoxo, cabe pergun- tólicos e os imediatamente posterio- essa dicotomia tivesse origem num
tar como os instrumentos se uniram res não fazem alusão alguma a ela”.1 sopro divino, que freava os impulsos
ao coro na Liturgia, inaugurando as- Embora os cristãos não ignorassem desequilibrados da música profa-
sim um novo gênero de música sa- tal costume, sua assimilação no cul- na para fazer nascer e chegar ao seu
cra. Qual é sua função? Ajudam eles, to divino foi repudiada. esplendor o canto gregoriano, cujos
realmente, a aproximar a alma das Certos autores afirmam que se neumas compõem melodias serenas
harmonias celestes? deixou de usá-los como medida de e cheias de paz.
1
RIGHETTI, Mario. Historia 7
Cf. DELLA CORTE, A.; 14
Cf. RIGHETTI, op.cit., p.631. 22
BENTO XVI. Carta ao grão-
de la Liturgia. Madrid: BAC, PANNAIN, G. Historia de la -chanceler do Pontifício Ins-
15
Cf. SÃO PIO X. Tra le solleci-
1955, v.I, p.630. música. De la Edad Media al tituto de Música Sacra, por
tudini, n.20.
siglo XVIII. Barcelona: Labor, ocasião do centenário de fun-
2
Idem, ibidem.
1950, t.I, p.143.
16
Idem, n.16. dação, 13/5/2011.
3
Cf. CLEMENTE DE ALE- 8
PAHLEN, Kurt. La grande
17
PIO XII, op. cit., n.29. 23
Idem, ibidem.
XANDRIA. Le Pédagogue.
aventure de la musique. Ver- 18
Cf. CONCÍLIO VATICA-
L.II, c.4, n.42, 3: SC 108, 93. 24
DUCHESNEAU, Claude;
viers: Gérard & Co, 1947, p.48. NO II. Sacrosanctum Conci- VEUTHEY, Michel. Musique
4
RIGHETTI, op. cit., p.631 9
PIO XII, op. cit., n.5. lium, n.120. et Liturgie. Le document “Uni-
5
Tradicionalmente se atribui ao versa laus”. Paris: Du Cerf,
10
Cf. RIGHETTI, op. cit., p.631.
19
Idem, n.118.
Papa São Vitaliano, cujo pon- 1988, p.90.
tificado se estendeu de 657 a 11
DELLA CORTE; PAN-
20
Idem, n.116. 25
BENTO XVI. Saudação no fi-
672, a introdução do órgão no NAIN, op. cit., p.579. 21
ALCALDE, Antonio. Canto e nal do concerto em sua honra,
culto litúrgico. música litúrgica: reflexões e su-
12
PAHLEN, op. cit., p.127. no Palácio Pontifício de Castel
6
PIO XII. Musicæ sacræ disci- gestões. 2.ed. São Paulo: Pauli- Gandolfo, 2/8/2009.
13
Cf. BENTO XIV. Annus qui
plina, n.28. nas, 2000, p.44-45.
hunc, n.12. 26
Idem, ibidem.
A
voz humana tem extraordi- Como o órgão começou a um teclado eletrônico que recrie, tão
nária capacidade de expres- ser usado na Liturgia fielmente quanto possível, o timbre e
sar as disposições interio- Nos primeiros tempos da Igreja, o o ambiente do órgão tradicional.
res de quem a possui. Assim, uso de instrumentos musicais na Li-
o brado tonitruante de um general turgia foi visto com reserva, devido à
A “soma das idades” aplicada
transmite a força e a valentia que de- sua utilização nos eventos profanos
a um instrumento
vem caracterizar um bom comandan- ou idolátricos, e o mesmo aconteceu No desenvolvimento humano
te e incute ânimo nos soldados que o em relação ao órgão. ocorre um fenômeno curioso, deno-
seguem; enquanto que na forma de fa- Porém, no século VII o Papa Vi- minado por Dr. Plinio Corrêa de Oli-
lar de uma mãe transparecem as tor- taliano autorizou o uso desse ins- veira de “soma das idades”.2 Cada
rentes de afeto que emanam de seu trumento nas cerimônias religiosas, fase da vida do homem tem caracte-
coração, seja ao corrigir o filho, seja e no ano de 757 o envio de um pri- rísticas próprias e, quando alguém se
ao acariciá-lo. mitivo órgão ao Rei Pepino, o Breve, desenvolve em harmonia com a ino-
Ora, o que dizer de alguém que ti- por parte do Imperador Constanti- cência, não perde os aspectos bons
vesse mais de cem registros para ex- no V, marcou uma virada nos acon- da idade anterior, mas os soma à pró-
primir os diferentes imponderáveis tecimentos. O presente do monarca xima etapa. Assim, com o passar dos
que povoam seu espírito, com nuan- bizantino permaneceu na capela de- anos a pessoa constrói um arcabou-
ces próprias a representar cada esta- dicada a São Cornélio, que o rei dos ço de conhecimentos e virtudes que
do de alma? Francos, pai de Carlos Magno, pos- marcam definitivamente sua perso-
Pois bem, o Espírito Santo, de- suía em Compiègne e não deixou nalidade e a tornam capaz de trans-
sejoso de aproximar os homens das de ser registrado pelos cronistas ca- mitir para os seus semelhantes o fru-
realidades celestes, inspirou ao enge- rolíngios. to desse amadurecimento espiritual.
nho humano a criação de um instru- No século seguinte a presença de A expressão de Dr. Plinio pode
mento musical capaz de fazer ressoar órgãos já era comum nos templos ca- ser aplicada, mutatis mutandis, a um
a rica e matizada voz da Santa Igre- tólicos e mosteiros.1 E, com o passar dos maiores e mais famosos órgãos
ja. Contendo em si timbres diversos do tempo, este instrumento tornou- da Cristandade, considerado “o mais
que permitem infindas harmonias e -se o acompanhamento natural dos importante da França e, sem dúvida,
combinações de sons, o órgão tem a cânticos litúrgicos. Todas as cate- o mais célebre do mundo”:3 o da Ca-
virtude de expressar, aqui na terra, as drais e as igrejas de certo porte pas- tedral de Notre-Dame de Paris.
melodias do Paraíso. saram a possuir pelo menos um. No desenrolar dos séculos, ele
Como nasceu este instrumento? Hoje em dia, faltando o tem- foi se aperfeiçoando e ampliando
Quando foi incorporado às celebra- po ou os recursos para instalar tão sem perder aquilo que anteriormen-
ções litúrgicas? complexo instrumento, recorre-se a te recebera de bom, até alcançar um
Reprodução
expansão geral: alargou o apara- defeituosa, a chuva e o vento que en-
dor, ampliou o número de registros e travam pelas janelas haviam inutiliza-
acrescentou um positiv de dos.5 do o valioso instrumento.
O resultado desta profunda remo- A pedido de Viollet-le-Duc, Aris-
delação foi entregue em 5 de maio de tide Cavaillé-Coll fez em 1860 uma
1788. análise geral do estado em que ele se
encontrava. E como os gastos nos tra-
Ameaçado, mas não balhos de arquitetura absorviam qua-
destruído, pela Revolução se todo o montante disponível, Viol-
Durante a Revolução Francesa, let-le-Duc pediu-lhe que o restaurasse
o grande órgão corria o risco de ser usando ao máximo possível o material
destruído ou vendido, mas a Provi- existente. Tratava-se de contar com
dência Divina, agradada com suas um instrumento digno de uma cate-
celestiais harmonias, decidiu poupar dral, mas sem luxos desnecessários.
este tão importante elemento do pa- Tendo sido recusado por Viollet-
trimônio histórico-simbólico da filha -le-Duc seu projeto original, no qual
primogênita da Igreja. O grande órgão da Catedral de Notre-Dame o gabinete do positiv de dos era man-
A Catedral de Notre-Dame foi fotografado em inícios do século XX tido, Cavaillé-Coll optou por dese-
profanada e transformada em “tem- nhar um “órgão revolucionário”8 que
plo da razão”, mas o grandioso ins- refazia completamente, segundo sua
trumento permaneceu de pé. Apenas Impregnado nas própria concepção, a disposição in-
alguns ornamentos que lembravam a terna do instrumento.
monarquia e as flores de lis presentes bênçãos que O grande órgão de Notre-Dame
na base das colunas do aparador fo-
ram arrancadas a golpes de machado.
marcaram séculos passou a contar com oitenta e seis re-
gistros, repartidos em cinco teclados
No ano de 1794, o cidadão Godi- de cerimônias, ele de cinquenta e seis notas e uma pe-
not convocou alguns organistas para daleira de trinta notas. O término da
tocarem o instrumento a fim de evi- continua ressoando obra deu-se em dezembro de 1867,
tar o seu deterioramento e um deles, permitindo que o órgão fosse toca-
o cidadão Desprez, afirmou: “A com-
com um timbre do na noite de Natal, mas sua inaugu-
binação dos registros produz diferen- quase angélico ração ocorreu apenas em 6 de mar-
tes efeitos, cada um mais belo do que ço de 1868.
Configuração do órgão
contemporâneo
Uma restauração concluída em
1992 incorporou elementos ele-
Gustavo Kralj
trônicos ao grande órgão. Ele foi
abençoado pelo Cardeal Jean-
-Marie Lustigier, Arcebispo de
Paris, e inaugurado em dezembro.
Organizou-se, então, uma série de Notre-Dame fotografada em 2011
concertos, que acolheram cinquen-
ta mil pessoas no período de uma Sinal de predileção
semana! pela filha primogênita Ainda que a
Os acréscimos que modernizaram da Igreja
a “voz” de Notre-Dame não a fize- O grande órgão de Notre-Dame Igreja pareça ser
ram perder sua nobreza e originali-
dade. As bênçãos que marcaram sé-
é peça essencial na vida litúrgica da
célebre catedral. Testemunha de sé-
atingida pelas piores
culos de cerimônias carregadas pela culos de História, elemento desta- catástrofes, ela
tradição o impregnaram de tal ma- cado do patrimônio religioso-cultu-
neira, que seus tubos, agora meca- ral do povo francês, foi ele poupa- nunca poderá ser
nizados e informatizados, continua- do pela Providência das catástrofes
vam fazendo ressoar seu som quase que a própria catedral teve de sofrer.
morta, vencida e nem
angélico no interior da histórica ca- E nem sequer as chamas do incêndio sequer silenciada
tedral. que recentemente a fustigou atingi-
Por fim, para celebrar o Jubi- ram sua estrutura.
leu de Notre-Dame de Paris, no seu Tal preservação não será um sinal tos, a Igreja pareça ser atingida pelas
850º aniversário, em 2012 ele pas- da predileção de Deus pela França, piores catástrofes, ela nunca poderá
sou por uma renovação de seu sis- filha primogênita da Igreja, à qual, ser morta, vencida e nem sequer si-
tema de transmissão e uma limpe- por assim dizer, ele serve de grandio- lenciada. Na hora em que menos se
za geral dos seus 7.952 tubos, núme- sa e matizada voz? espera, sua voz ressurge gloriosa bra-
ro mais de dez vezes superior àquele O tempo o dirá. Mas uma coisa é dando a Verdade pelos quatro cantos
com o qual fora fabricado. certa: ainda que, em certos momen- da terra. ²
1
Cf. RIGHETTI, Ma- men Sapientiæ, 2016, gão contidas no presen- independente situado mou inúmeros edifícios
rio. Manuale di Storia v.V, p.18-19. te artigo foram tiradas nas costas do organis- na França, tendo fica-
Liturgica. 3.ed. Mila- desta obra. ta. Atualmente é acio- do célebre sobretudo
3
LEFEBVRE, Phi-
no: Àncora, 2005, v.I, nado a partir do tecla- por seu trabalho na Ca-
lippe. Les orgues. In: 4
LEFEBVRE, op. cit.,
p.695. do principal. tedral de Notre-Dame
VINGT-TROIS, An- p.451.
de Paris, onde, junto a
2
Cf. CLÁ DIAS, EP, dré (Dir.). La grâce 6
Idem, p.452.
5
Literalmente: “Órgão Jean-Baptiste-Antoine
João Scognamiglio. O d’une cathédrale. Notre-
positivo do dorso”. Tra- 7
Eugène Viollet-le-Duc Lassus, buscou retor-
dom de sabedoria na Dame de Paris. Stras-
ta-se de uma réplica, (1814-1879), arquite- nar com máxima fideli-
mente, vida e obra de bourg-Paris: La Nuée
em tamanho menor, to, restaurador e histo- dade ao estilo original
Plinio Corrêa de Olivei- Bleue; Place des Vic-
dos principais registros riador francês do sécu- do templo.
ra. Cittá del Vaticano- toires, 2012, p.449. As
do grande órgão. No lo XIX, dedicado es-
São Paulo: LEV; Lu- informações históri- 8
LEFEBVRE, op. cit.,
período barroco, cons- pecialmente à arquite-
cas sobre o grande ór- p.453.
tituía um instrumento tura medieval. Refor-
Itália – No dia 2 de novembro o Patriarca de Veneza, Dom Francesco Moraglia, deslocou-se até a Ilha de
São Miguel para celebrar Missa em sufrágio dos fiéis defuntos e abençoar os túmulos do cemitério. Como já é
tradição, os Arautos do Evangelho o auxiliaram no cerimonial litúrgico.
Sergio Plaza
Eric Salas
Espanha – Cooperadores dos Arautos do Evangelho da cidade de Valência conduziram a Imagem Peregrina de
Nossa Senhora de Fátima a diversas residências de Cartagena (esquerda), enquanto missionários dos Arautos do
Evangelho visitavam lares da Paróquia San José, em Gijón (direita).
Fotos: Rafael Nin
República Dominicana – Fiéis pertencentes a diversas comunidades reuniram-se na Paróquia Nossa Senhora
da Evangelização para fazer sua consagração a Maria Santíssima. Os Arautos do Evangelho foram convidados a
participar da Missa e cerimônia, presididas por Dom Faustino Burgos, Bispo Auxiliar de Santo Domingo.
Aleilton Chavenco
Nazaré Paulista (SP) – A festa da padroeira foi comemorada com uma Santa Missa presidida por Dom Sérgio
Aparecido Colombo, Bispo Diocesano de Bragança Paulista. Um conjunto musical dos Arautos do Evangelho foi
convocado para abrilhantar o evento.
Aguardando o
retorno da nobre
caravana
6. Santo André Bessette, religio- 13. Santo Hilário de Poitiers, Bispo 20. São Fabiano, Papa e mártir
so (†1937). Membro da Congre- e Doutor da Igreja (†367 Poitiers (†250 Roma).
gação da Santa Cruz, exerceu a - França). São Sebastião, mártir
função de porteiro do Colégio São Godofredo, religio- (†séc. IV Roma).
de Nossa Senhora das Neves, em so (†1127). Sendo conde de Santa Maria Cristina da
Montreal, Canadá, e erigiu junto Kappenberg, Alemanha, decidiu Imaculada Conceição, virgem
a ele um eminente santuário de- tomar o hábito premonstratense, (†1906). Fundou em Casória, Itá-
dicado a São José. por influência de São Norberto. lia, a Congregação das Irmãs
A
sudeste do Mar Morto, po- melos de portentosa resistência e uma identificam com Petra – “pelo deser-
dem-se avistar ainda hoje secreta habilidade para armazenar to, ao monte de Sião” (16, 1).
as fascinantes ruínas de água, unidos à perícia em se guiarem Indo mais longe nesta ligação, al-
uma cidade talhada na pe- pelas estrelas, tornaram-lhes possível guns autores afirmam que os Reis
dra, que durante séculos permaneceu estabelecer a chamada Rota do incen- Magos foram, na realidade, sacerdo-
oculta no inóspito deserto de Edom. so, que unia o porto de Gaza ao Gol- tes nabateus que uniam o conheci-
Para aceder até ela é preciso percor- fo de Aden e às míticas minas de Sabá mento dos persas à proximidade físi-
rer uma estreita garganta de mil e du- através de dois mil e quatrocentos ca e espiritual com o povo eleito.1
zentos metros de cumprimento, ser- quilômetros de deserto. Qual será a resposta a esse intri-
peando entre paredes rochosas que No transcurso dos séculos, esse gante enigma?
alcançam, em certos pontos, até cen- povo nômade passou a comandar um Seja ela qual for, as chuvas torren-
to e oitenta metros de altura. vasto território. Graças a seus enge- ciais do inverno e os tórridos ventos
Refiro-me a Petra, cidade cons- nhosos sistemas de irrigação, que do deserto ainda não conseguiram
truída pelos nabateus, povo que de- ainda hoje maravilham os estudio- desvanecer a imponência de Petra,
sapareceu nas areias ressequidas do sos, foram eles capazes de edificar a elusiva e intrigante como os olhos do
Oriente tão misteriosamente como magnífica Petra, cuja grandeza per- beduíno. Por trás das mudas pedras
surgiu: de forma semelhante ao re- dura até os nossos dias. de suas fachadas parece habitar o se-
voar da seda levada pelo vento do de- Sem embargo, mais além dos mu- gredo da verdadeira identidade dos
serto ou ao aroma do incenso dima- dos testemunhos de ruínas milena- Reis Magos, esses sábios, astrólogos
nado de um conto de As mil e uma res, a cultura dos nabateus ocupa a e místicos que, guiados por uma es-
noites. atenção dos estudiosos por uma re- trela, um dia chegaram à Judeia para
Enquanto os romanos construíam lação ainda mais enigmática e fasci- adorar o Menino Deus.
práticas estradas, obrigando os po- nante: com os Reis Magos. E, enquanto arqueólogos e aca-
vos por eles dominados a se confor- Terão eles passado por Petra ao dêmicos revelam novos traços do seu
marem negligentemente com as rotas longo do seu intérmino percurso? É passado milenar, a magnificência des-
estabelecidas, os nabateus guiavam muito provável que sim, pois não em sa cidade pode, quiçá, resumir-se em
os seus passos seguindo o movimen- vão diz o profeta Isaías: “Serás invadi- uma frase simples em palavras, mas
to dos astros. da por uma multidão de camelos, pe- densa em conteúdo: Petra, onde os
Navegantes exímios nos mares de los dromedários de Madiã e de Efá; Magos uma vez caminharam… ²
areia, tinham uma incomparável ca- virão todos de Sabá, trazendo ouro e
pacidade de transportar ouro, incen- incenso, e publicando os louvores do 1
Cf. LONGENECKER, Dwight. Mys-
so e mirra para vendê-los e despachá- Senhor” (60, 6). E em outro lugar:
tery of the Magi: The Quest to Identify the
-los a distantes terras como Síria, Egi- “Enviai o cordeiro ao soberano deste Three Wise Men. Washington DC: Reg-
to, Pérsia, Turquia e Roma. Seus ca- país de Selá” –, que muitos estudiosos nery History, 2017.